Georg
Georg
Georg
Georg Grünberg
res o julgamento disso e agradeço a
Thekla a tradução cuidadosa da mi-
nha tese.
A iniciativa para a publicação de um
“Livro Kaiabi”, incluindo este
testemunho histórico, veio dos
professores Kaiabi da Atix, do
Parque Indígena do Xingu, apoiada
pela equipe do Programa Xingu do
Georg Grünberg Georg Grünberg, 2003
junho, 2004
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Grünberg, Georg
Os Kaiabi do Brasil Central : História e Etnografia / Georg Grünberg ;
posfácio Klinton V. Senra, Geraldo Mosimann da Silva, Simone Ferreira de
Athayde ; [tradução Eugênio G. Wenzel ; tradução dos mitos João Dornstauder].
-- São Paulo : Instituto Socioambiental, 2004.
ISBN 85-85994-27-4
04-2467 CDD-980.417
Índices para catálogo sistemático:
1. Índios Kaiabi : Brasil Central : Pesquisa etnográfica 980.417
Os Kaiabi do Brasil Central
História e Etnografia
Georg Grünberg
Posfácio
autor
Georg Grünberg
tradução
Eugênio G. Wenzel
tradução dos mitos
Padre João Dornstauder
revisão da tradução
Thekla Hartmann
Equipe ISA
edição e revisão
Klinton V. Senra, Marina Kahn, Simone Ferreira de Athayde
textos do posfácio
Klinton V. Senra, Geraldo Mosimann da Silva e Simone Ferreira de Athayde
revisão bibliográfica
Ângela Galvão
projeto gráfico/editoração
Vera Feitosa
editoração eletrônica
Ana Cristina Silveira
Apoio
“... Na ausência do Jorge tudo que acontecia a gen-
te
contava pra ele...”
Na década de 60, na aldeia Tatuy no Rio dos Peixes, quando os Kaiabi come-
çaram a conhecer os brancos o primeiro contato foi com um padre, chamado padre
João (Donstauder). Através desse padre os Kaiabi foram conhecendo outros brancos,
como seringueiros, pessoal que tirava palmito, caçadores... Os Kaiabi na época lidavam
melhor com o padre João. Os índios consideravam ele uma pessoa importante, como
se fosse um chefe. Através desse padre nós conhecemos um branco chamado Jorge.
Esta pessoa foi muito importante na vida dos índios, uma vez que se dava muito bem
com os Kaiabi. Ele se dedicava muito em conhecer o artesanato e as coisas tradicio-
nais dos Kaiabi. E os índios faziam muito artesanato naquela época. Então o Jorge
juntava os Kaiabi para mostrar para ele as diferenças dos artesanatos, os desenhos
das peneiras... E também os Kaiabi traziam os cocares,
mostravam como faziam as armações utilizadas para
o início da grande cerimônia do Jawasi. Durante a
ausência do Jorge tudo o que acontecia depois a gente
contava para ele.
Nós Kaiabi também tínhamos diversas plantas
de roças. E ele viu como as índias preparavam as ca-
baças e faziam as cuias... o prato dos índios. O velho
Sabino (falecido no Xingu) andava com o Jorge e
mostrava como os Kaiabi produziam e faziam as roças.
Tudo isso, na época, o Jorge registrava. E também nós
organizamos uma grande festa para o padre João e para
o Jorge onde também demonstramos para esses dois
Kupe´ap, 1966
brancos a maneira como recebíamos um branco para ser homenageado e como era
para lembrar do passado. Então os índios começaram a pintar o padre e o Jorge e as
moças também dançaram. E o canto de cada cantor era uma lembrança. Lembrava dos
inimigos antigos de outros povos. Naquela festa demonstravam tudo isso para o Jorge.
Passavam urucum na barriga dele e aquele urucum era uma lembrança dos inimigos
do passado. Os Kaiabi gostavam muito do Jorge porque ele trabalhava em favor dos
índios e pela maneira que ele estava registrando todos os costumes tradicionais. Uma
vez mataram muito macaco com flecha para mostrar pra ele que podiam matar bicho
sem arma de fogo. E então botaram o Jorge pra carregar estes macacos e prepararam
mutap(*). Juntavam tudo e tiravam o caldo para ele tomar. E então perguntaram se
havia gostado e ele disse: gostei. Depois deram mutap e ele então aceitou a comida
do povo Kaiabi.
O Jorge lidava muito bem com os Kaiabi. Quando Cláudio Villas Bôas chegou
no Tatuy com a turma do Xingu para trazer os Kaiabi pra cá (PIX) o Jorge ficou muito
bravo. Inclusive o Jorge trouxe uma carta do padre João para o Cláudio, exatamente
por não aceitar levar os Kaiabi para o Xingu. Mas o Cláudio Villas Bôas falou para o
Jorge que ele não ia deixar o povo Kaiabi abandonado no Xingu. O Cláudio insistiu
em trazer o pessoal para cá. Então o Jorge foi junto com o povo até a picada de onde
pegou o avião para vir com o pessoal para o Xingu. Era assim que o Jorge convivia
com o povo Kaiabi lá no Tatuy. Os índios, quando o Jorge viajava para outra aldeia
ou para sua cidade, sentiam a falta dele. Mas quando chegava, todos os Kaiabi o
recebiam com o maior respeito. O Jorge foi uma pessoa muito importante, como se
fosse um cacique nosso. Porque só ele é que cuidava bem de nós. Quando os Kaiabi
vieram para cá ele veio junto porque não queria que o pessoal
viesse ao PIX, então ele veio ver. Padre João falou para ele:
“vai no Xingu e faz levantamento por lá, para conhecer como
é lá”. Então o Jorge veio com a gente. Depois ele retornou
para o Tatuy e nunca mais voltou. Ele era meu amigo. Então
eu queria ver tudo o que ele fez naquela época, as fotos dos
artesanatos, das festas... eu queria ver isso tudo. Talvez esse
livro possa servir pra nós no futuro. Esse livro pode ser muito
importante pra nós, pra nossas crianças. A gente está aqui
aguardando esse livro que vocês prometeram.
1
Nota do tradutor: com a autorização do autor, alguns trechos não essenciais do alemão
foram suprimidos na presente tradução.
2
Anos 60 (n.t.).
3
Nota dos editores: decidimos manter a grafia dos nomes dos povos indígenas, dos
indivíduos mencionados e dos termos citados na língua Kaiabi conforme o texto original
de Grünberg.
4
Em 1967, o SPI foi extinto com a criação da Fundação Nacional do Índio - Funai. (n. ed.)
2. Informantes
Dos numerosos informantes mencionados no texto, salientaremos apenas os mais
importantes.
Moanyan/Joaquim - Viúvo relativamente jovem, havia perdido esposa e duas
crianças (provavelmente apenas em 1964) e voltara ao status de konomioo, ou seja, de
um jovem solteiro, embora seus conhecimentos e sua reputação como o melhor caça-
dor de todo o grupo o tornasse uma personalidade importante. Desde o primeiro dia
procurei imitá-lo em tudo e, felizmente, ele aceitou este comportamento, tornando-
se meu companheiro constante e meu principal informante, embora fosse pouco lo-
quaz. Mais tarde passou a chamar-me com leve ironia de pequeno irmão. Foi o
único a criticar meus erros e enganos de maneira franca, por vezes grosseira. Em
todas as viagens ele era o organizador ou, então, auxiliava-me na sua organização.
Mas sempre mantinha distância e nossas relações eram freqüentemente tensas, em-
bora amigáveis. Os demais homens tomavam seus conselhos muito a sério, mas na
presença de Temeoni o chefe ele mal abria a boca. Suas informações eram par-
cas, dadas, porém, com muita segurança e senso de responsabilidade. Ele negou-se
terminantemente a ensinar-me Kaiabi e quase só falava português comigo, língua que
5
A partir do início dos anos 70, com a promulgação do Estatuto do Índio (Lei nº 6.001 de
1973) que criou a figura jurídica de Parque Indígena, o Parque Nacional do Xingu passou
a ser denominado Parque Indígena do Xingu. (n. ed.)
6
Temeoni faleceu no Parque Indígena do Xingu em 1976. Ele era o cacique da aldeia
Capivara, que congregava a maior parte dos Kaiabi provenientes do Rio dos Peixes. (n. ed.)
7
Canísio foi cacique da aldeia Capivara e há alguns anos retornou para o Rio dos Peixes
com parte de sua família. (n. ed.)
8
Ipepuri (Prepori ou, mais corretamente, Jepepyri) faleceu em 2000 na aldeia Kwaruja no
Parque Indígena do Xingu. (n. ed.)
9
Há algum tempo está bem estabelecido que a língua Kaiabi pertence à família tupi-guarani
(tronco Tupi). (n. ed.)
Homens Mulheres
Total de indivíduos 18 14
Estatura média 154,81 cm 144,32 cm
com desvio padrão s = 4,54 cm 4,45 cm
Comprimento máximo da cabeça 18,16 cm 17,21 cm
s= 0,53 cm 0,35 cm
Largura máxima da cabeça 14,50 cm 14,22 cm
s= 0,33 cm 0,32 cm
Índice comprimento/largura 79,90 82,68
10
Atualmente a terra indígena habitada pelos Kaiabi no Rio dos Peixes encontra-se
no município de Juara que foi desmembrado de Porto dos Gaúchos. (n. ed.)
2. Demografia(11)
a) Os Kaiabi do Rio dos Peixes em agosto de 1955 e em setembro de 1966
Os dados de Dornstauder registram a situação demográfica dos Kaiabi do Rio dos
Peixes em agosto de 1955 (MSa 1955). Cento e oito indivíduos viviam na margem esquer-
da do alto Tatuí em cinco malocas, distantes 4 a 7 km uma da outra, sendo a distância
máxima entre a superior e a inferior, portanto, de 33 km. Estavam assim distribuídos:
Maloca de Temeoni = 33 pessoas
Maloca de Kwasiari = 31 pessoas
Maloca de Yuruna´i = 19 pessoas
Maloca de Yurupanyé = 14 pessoas
Maloca de Mia´oo = 11 pessoas
TOTAL = 108 pessoas
A estrutura etária de toda a população encontra-se na Fig. 3.
Em setembro de 1966 subsistiam apenas 84 indivíduos do mesmo grupo local,
dos quais 51 viviam nos três sítios junto ao rio dos Peixes, enquanto 22 se encontra-
vam no centro da missão de Utiariti e 11, completamente desintegrados, no Juruena e
seus afluentes.
A pirâmide etária (Fig. 3) também mostra claramente uma perturbação no equi-
líbrio populacional. Há apenas uma pessoa (Temeoni) acima de 45 anos e a falta de
mulheres é particularmente acentuada.
Na consciência dos Kaiabi, a ausência de grande parte dos jovens desempenha
um papel importante. Sempre que eu perguntava porque diversas festas e ritos não
mais se realizavam, recebia a seguinte resposta: Faltam as meninas e os rapazes estão
11
Pagliaro (2002) realizou recentemente um detalhado estudo demográfico dos Kaiabi para
o período de 1970 a 1999 (cf. bibliografia complementar). Dados demográficos atualizados
também podem ser consultados na seção final desta publicação. (n. ed.)
D desintegrados
Kaiabi 1955
` 60
55
a no Rio dos Peixes
50
45
40
35
30
25
20
15
10
5
Kaiabi 1966
` 70
65
a
60
55
50
45
40
U
35
30
D D D D U
25
D D D D D
20
D U U U U U U U D
15
U U U U U U U U
10
U U
5
U U U
Max Schmidt
Primeiro grupo Kaiabi
a chegar ao PI Pedro
Dantas, Rio Verde
(1926)
F. Tolksdorf
Nykato (Nigatu)
Masi’a (Masi)
AS BASES DA ECONOMIA
1. Aspectos gerais
É muito difícil distinguir os aspectos econômicos dos da organização social, princi-
palmente quando se trata de uma sociedade fechada em que quase todo indivíduo tem
relação de parentesco com outro. Deste ponto de vista, toda atividade econômica abrange
também uma atividade social, podendo-se incluir aquela nas considerações sobre a organi-
zação social. Parece-me, contudo, mais correto do ponto de vista metodológico, reunir
num único capítulo aqueles aspectos da economia menos dependentes de uma interpreta-
ção do contexto cultural global, a fim de obter, com esta distinção, maior margem para uma
avaliação crítica. Pois para perceber os fundamentos de uma economia basta ao investiga-
dor realizar observações sobre determinados processos, que podem ser testados com as
suas próprias categorias de pensamento culturalmente moldadas. Os aspectos sociais, en-
tretanto, apenas são observáveis quando se encontra o acesso às categorias êmicas cor-
respondentes da cultura.
A economia dos Kaiabi baseia-se no cultivo de tubérculos e numa coleta
diversificada. A manutenção de animais silvestres não domesticados desempenha
papel ínfimo.
No que diz respeito à agricultura no Brasil tropical, há algumas pesquisas re-
centes a que darei destaque especial (Galvão 1963; Carneiro 1961; Frikel 1959). A
nomenclatura botânica segue Mansfeld (1961) e a zoológica se orienta principalmente
por Carvalho (1951).
12
Na seção complementar ao final desta publicação podem ser obtidas mais informações
sobre a prática agrícola Kaiabi. (n. ed.)
As bases da economia 89
setembro de 1966, media apenas uns 400 m2, embora ele fosse responsável pelo sustento
de sete pessoas. A roça de Mairer, feita na mesma época e prevista para dez pessoas,
abrangia mais ou menos 5 mil m2, e duas roças velhas de Temeoni mediam aproximada-
mente 1.200 e 2.500 m2. De acordo com os Kaiabi, todas são pequenas ou muito
pequenas. Nenhuma roça é usada por mais de três anos, mas como anualmente é
aberta outra, a cada ano resulta uma superfície correspondentemente maior, destinada
ao cultivo.
Logo que se determinam a localização e o tamanho da roça, cortam-se arvoretas,
cipós e arbustos com auxílio de facão e, eventualmente, com a foice. Em seguida as
árvores são derrubadas à altura do peito com o machado, trabalho que deve ser encer-
rado em julho, para que a roça seque nos meses subseqüentes de seca. No começo da
estação chuvosa, em fins de setembro ou começo de outubro, costuma soprar um
vento forte por vários dias, sinal para o início da queimada.Tomam-se palmas secas
dos telhados das choças, assim como tições resinosos de boa combustão e ateia-se
fogo a diversos pontos da roça ao mesmo tempo. A direção do vento é essencial, pois
o primeiro fogo deve queimar a maior parte possível da madeira com chama viva,
evitando produção muito forte de fumaça. No dia seguinte, enquanto ainda fumegam
os troncos maiores, inicia-se a segunda queimada. Partes de galhos e troncos mal
queimados são amontoados em torno da raizama fumegante e o fogo é novamente
atiçado. Ao mesmo tempo, os desníveis do solo que se originaram da queima de raízes
e cupins são aplainados com varas, nivelados, e a lenha carbonizada é esmigalhada e
socada no chão. Procura-se deixar apenas troncos meio queimados naquela parte da
roça mais próxima da casa, prevendo seu uso futuro como lenha. Os trabalhos da
coivara podem prolongar-se por muitos dias, encerrando-se com as primeiras chuvas.
Freqüentemente começa a chover durante a queimada, por uma a duas horas, o que
não chega a atrapalhar. Os trabalhos da queimada são difíceis e perigosos. Ferimentos
devido à queda de galhos e queimaduras são freqüentes. Antigamente os Kaiabi utili-
zavam o machado de pedra no lugar de facão e foice.
Fim de setembro e início de outubro é tempo de plantio, para o que os Kaiabi se
servem da enxada; em raros casos também usam um pedaço de pau com ponta aguçada
que antigamente era o único instrumento de plantio. Com a enxada é feita uma peque-
na cova no solo. Quando se usa o pau-de-plantar, ele é fincado no chão no sentido
oblíquo e depois levado para a posição vertical, formando-se assim uma cova de for-
mato cônico. Então, deita-se a semente, o fruto ou talo, e o solo é novamente alisado
com o pé direito. Para o plantio da mandioca, os talos são cortados em pedaços de
aproximadamente 20 cm, colocando-se três deles em cada cova, dois lado a lado e o
90 Os Kaiabi do Brasil Central História e Etnografia
terceiro sobreposto, de modo a resultar a figura de um H ou A. No plantio do milho, três
grãos são geralmente jogados na cova.
(13)
Em quantidade maior, os Kaiabi plantam regularmente o seguinte.
1. Mandioca (Manihot esculenta)
maniwété: mandioca brava
(Manihot dulcis aipi) mani´akap: mandioca doce
mais raramente: mani´atata: mandioca mansa, recebida dos seringueiros
2. Milho (Zea mays)
awatsiwété: milho mole
awatsi´un: milho preto
mais raramente: awatsi´ux: milho duro, recebido dos seringueiros
3. Inhame (Dioscorea sp)
kara´oo: cará grande
kara´un: cará preto
kara´ita ou karasí: cará branco
mais raramente: karawi: cará pequeno, recebido dos seringueiros
4. Batata (Ipomoea batatas)
yetik: batata doce
5. Feijão (Phaseolus sp)
kumanaté: feijão fofo
6. Amendoim (Arachis hypogaea)
monowi: amendoim
7. Tajá (Xanthosoma sp ?)
tawa´oo: tajá grande
tawarasí: tajá branco
8. Mangarito (Xanthosoma sp ?)
namo´a: mangarito amarelo
9. Banana (Musa paradisiaca ?)
baku´aoo: banana
13
Uma atualização dos nomes científicos e da grafia na língua indígena para as espécies
vegetais utilizadas pelos Kaiabi pode ser encontrada em tabela apresentada na seção
complementar ao final desta publicação. (n. ed.)
As bases da economia 91
Nas orlas da roça ou nas proximidades da casa são plantadas outras espécies:
10. Abacaxi (Ananas comosus ?)
yuparapat: abacaxi
11. Pimenta (Capsicum sp)
iku´ui´été: pimenta cajabi
12. Urucu (Bixa orellana)
uruk: urucu
13. Cabaças (Crescentia cujete e Lagenaria sp)
i´akit: cuia, cabaça
14. Algodão (Gossipium sp)
amuneyo: algodão
15. Tabaco (Nicotiana sp)
putém: tabaco
16. Caju (Anacardium occidentale)
akayu: caju
17. Cana de açúcar (Saccharum officinarum)
kana: cana
18. Mamão (Carica papaya)
mamõ: mamão
Caju, cana de açúcar e mamão foram introduzidos por Dornstauder após 1955.
A ordem das plantas alimentícias acima corresponde aproximadamente à sua
importância; as variedades mais usadas estão grifadas.
Ocorrem como plantas cultivadas todas aquelas registradas no Alto Teles Pires
por Miranda (1890:146), von den Steinen (1894:392), Sousa (1916:79) e Schmidt
(1942:24): mandioca, milho, batata, amendoim e inhame. Além disso, Tolksdorf (MS
1958) menciona para o Rio dos Peixes: inhame, mangarito, banana e algodão. É inte-
ressante que dois anos antes Dornstauder já encontrara, para sua surpresa, plantações
de banana (MSa 1955).
b) Caça
Do ponto de vista da produção alimentar primária, a caça entre os Kaiabi,
juntamente com a pesca, fornece aproximadamente um terço das calorias da produção
total. Mas, de acordo com a avaliação subjetiva, principalmente por parte dos homens
e em vista das possibilidades de aquisição de prestígio, a imagem se inverte. Em sua
autoconcepção, o Kaiabi é, antes de tudo, um caçador, e as atividades venatórias es-
92 Os Kaiabi do Brasil Central História e Etnografia
tão, juntamente com a guerra, em primeiro lugar na escala de valores. Que a primeira
manifestação amistosa em relação a mim tenha se verificado apenas na tarde em que
abati o primeiro animal, caracteriza bem esta atitude.
Como animais de caça, têm significado especial:
Mamíferos
Macaco prego (Cebus macrocephalus): kai´été
Queixada (Tayassu pecari): taya´oo
Caitetu (Tayassu tajacu): téitetu
Veado (Mazama americana): kérupam
Aves
Mutum (Mitu mitu): muit
Macuco (Tinamus sp): inamu
Pomba (Columba sp): pika´oo
Anfíbios e répteis
Sapo (?): kutap
Sapinho (?): girinos
Tracajá grande (?): yawatsi´oo
Jabuti (?) (Testudo tabulata): yawatsipép
Insetos
Saúva (?) (Atta sp): iya
Esta acentuada limitação da boa caça é muito característica, mas desde o contato
com os brasileiros ela foi relaxada. Moanyan observou:
Só os civilizados comem bichos repugnantes; nós e principalmente o velho (o
chefe Temeoni) não os comemos. Mas agora nós já começamos a comê-los
também.
A caça aos macacos, especialmente importante do ponto de vista econômico, é em
geral empreendida por diversos homens em conjunto: um deles atua como líder, escolhendo
a direção a seguir e abrindo o caminho com o facão. Os outros o seguem, um atrás do outro, a
uma distância de dois a três metros, e estacam quando o primeiro se detém para escutar.
Localizado um bando de macacos, os homens, imitando os gritos dos animais, correm
formando uma corrente que procura impelir a caça numa direção predeterminada de fuga.
Enquanto a comunicação entre os caçadores é mantida através de chamados curtos, eles
tentam ultrapassar no chão os macacos que fogem pelas copas das árvores, para poder
emboscá-los pela frente. Assim diversos macacos podem ser abatidos um atrás do outro, com
o arco ou com a espingarda, pois os animais continuam a fugir sempre na mesma direção.
As bases da economia 93
Queixadas podem ser encontradas em manadas de mais de cem ao longo das mar-
gens do rio dos Peixes, denunciando-se por sua forte catinga. Ao viajar de canoa pelo rio,
os Kaiabi as percebiam, encostavam e iniciavam a caçada, procurando cercar a manada.
Localizados, os animais debandavam numa direção, enquanto os índios tentavam ultrapassá-
los pelos lados e abater quantos pudessem.
Caitetu e veado são capturados em caçada individual.
As aves manifestam-se em geral ao amanhecer e pouco antes do pôr do sol,
podendo, assim, serem facilmente identificadas e caçadas. Geralmente sozinho, o
caçador aproxima-se vagarosamente do mutum, enquanto imita seu pio característi-
co. Outras aves, como o tucano, são abatidas a partir do rio. Ovos de pássaros são
considerados repugnantes e não comestíveis.
Uma determinada espécie de sapos é regularmente apanhada quando se sai de
canoa. Tais sapos assentam-se de preferência em galhos e troncos de árvores que
pendem na água. Como sua coloração se adapta ao fundo, são difíceis de ver. Girinos,
tal como peixes bem pequenos, são ocasionalmente apreendidos com peneiras por
homens e mulheres.
Tracajás raramente são caçados, sendo abatidos apenas em ocasiões
especiais.(14) Seus ovos são considerados comestíveis, embora não se lhes atribua nenhum
valor específico.
Também a saúva alada é objeto de coleta, quando das revoadas em determina-
das épocas do ano.
Quando falam dos animais repugnantes, mencionados acima, os Kaiabi refe-
rem-se àquela segunda categoria de caça que é usada para a alimentação com reservas
e que é considerada imprópria por implicar em perigos físicos e espirituais:
Mamíferos
Coatá (Ateles sp): ka´ioo
Bugio (Alouatta sp): akiki
Cotia (Dasyprocta aguti): akutsi
Coati (Nasua narica): kwatsi
Paca (Cuniculus paca): pakoo
Capivara (Hydrochoerus hydrochoerus): kapiwat
Anta (Tapirus terrestris): tapi´it
Tatu (Dasypus sp): tatu´
14
No PIX são bastante caçados pelos Kaiabi que os apreciam grandemente. (n. ed.)
15
Os nomes destas e de outras espécies frutíferas conhecidas pelos Kaiabi podem ser con-
sultados em tabela apresentada na seção complementar ao final desta publicação. (n. ed.)
16
Esta espécie, de grande importância para os Kaiabi, praticamente não ocorre na área
do PIX. (n. ed.)
17
Estudos posteriores indicam a existência de mais de 40 espécies de abelhas e tipos de mel
conhecidos pelos Kaiabi. (n. ed.)
As bases da economia 99
- de abelhas, do lado de fora da árvore:
iwa´oo
- de térmitas:
gupi´ait
O mel tapé´wa é o mais valorizado pelos Kaiabi. Se descoberta uma colméia du-
rante uma expedição de caça, seu mel constitui propriedade do homem que primeiro per-
cebeu a árvore. Se a saída se encontrar muito alto no tronco, derruba-se a árvore, que é
aberta com o machado a mais ou menos 1,5 m abaixo daquele orifício, expondo os favos,
dos quais pinga o mel amarelo claro. Os favos são espremidos com a mão em folhas de
pacova que, dobradas para cima, servem de recipientes. Nesta ocasião as abelhas atacam,
tornando-se necessário grande domínio e concentração para não esparramar o mel com
gestos descontrolados. Ao fim do trabalho, o homem corre para o rio próximo, lava-se
cuidadosamente, livrando-se das abelhas e dos restos de mel. Em geral o mel é transporta-
do em recipientes para a aldeia; os favos são mastigados nas proximidades da árvore e
cospe-se a cera, que é amassada em forma de roletes. Ela serve para a fabricação de
material adesivo.
As quantidades de mel obtidas variam entre 0,5 e 5 litros. Se a saída das abelhas
estiver muito alta ou se a árvore for demasiado grossa, os Kaiabi constróem um andaime
com pequenas árvores, ramos e cipós, e abrem o tronco em cerrada luta com as abelhas.
Nunca observei a técnica de defumação para afastar as abelhas. A coleta de mel de térmitas,
menos valorizado, é pouco popular, pois as ferroadas dos animais são muito dolorosas.(18)
18
Atualmente os Kaiabi do PIX estão empenhados na produção de mel a partir da criação de
abelhas nativas e de Apis melífera dentro de um projeto de Alternativas Econômicas realiza-
do pela Atix em parceria com o ISA. (n. ed.)
19
Atualmente os Kaiabi praticamente não comem o coco de inajá. (n. ed.)
4. Condimentos e estimulantes
Infelizmente não tive oportunidade de observar entre os Kaiabi o preparo de um
equivalente do sal, pois ele já fora suplantado na ocasião pelo sal grosso dos seringueiros
que, contudo, era raramente usado. Entretanto, o substituto tinha importância secundária
no preparo de alimentos, especialmente quando comparado com a indispensável pimenta.
De acordo com as informações, os homens jovens coletavam antigamente para toda a
aldeia, os brotos de palmeira inajá, entregando-os às mulheres idosas que os queimavam
em trabalho conjunto, socavam bem a cinza e a distribuíam a todas as mulheres. Cada
família nuclear possuía esse sal yukró´oo em solução aquosa, para temperar sobretudo
caldos de carne.
Já se disse que a pimenta é o principal condimento entre os Kaiabi. Ela é con-
servada seca e cozida com os alimentos. Seu sabor extraordinariamente picante lembra
o de pimentões.
Souza (1961:81) diz que os Kaiabi não fumavam e cuspiam com desdém os cigar-
ros oferecidos. No Rio dos Peixes, porém, eles fumavam sempre que podiam e só obti-
nham o fumo através de trocas com os seringueiros. Segundo Moanyan, não havia fumo
antes da chegada dos civilizados, mas Tapa achava que antigamente o xamã preparava e
fumava em sessões de cura pequenos rolos semelhantes a cigarros. Hoje, o tabaco é usado
como estimulante por homens, mulheres e também por crianças, além de ser medicamento
prescrito pelo xamã.
EQUIPAMENTO MATERIAL(20)
1. Circulação e transporte
a) A construção de caminhos
Da maloca partem picadas em todas as direções, elas recebem o nome dos donos
das roças a que se dirigem. Tais caminhos continuam floresta adentro e podem estender-se
em alguns casos até a uma distância de dois dias de marcha. Todas as características locais
são observadas nos seus traçados: nas clareiras abertas pela queda de árvores caminha-se,
sempre que possível, sobre os troncos caídos; brejos e maciços de bambu são contorna-
dos; na proximidade de rios, aproveitam-se as travessias de porcos-do-mato e antas, as-
sim como os vaus usados por esses animais para varar rios. A picada é aberta a partir do
centro do caminho de modo que os golpes de facão se alternam para a direita e para a
esquerda e os galhos talhados são vergados para o lado. Quando há mudança de direção,
20
Na tradução deste capítulo foram incorporadas as informações constantes de um artigo
anterior sobre a cultura material dos Kaiabi, publicado por Friedl e Georg Grünberg em 1967.
Para elaborar aquele trabalho, os autores analisaram as duas coleções etnográficas, respecti-
vamente de 106 e 55 objetos, recolhidas por G. Grünberg em 1966 e que hoje encontram-
se, a primeira, no Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo e, a se-
gunda, no Museum für Völkerkunde und Schweizerisches Museum für Volkskunde Basel,
na Suíça. Para fins comparativos, os autores ainda se utilizaram dos materiais etnográficos
trazidos do rio dos Peixes em 1957 e 1959/60 por Fritz Tolksdorf, hoje guardados no Insti-
tuto de Etnologia de Göttingen e no Museu de Etnologia e Pré-História de Hamburgo, na
Alemanha. Havia ainda uma pequena coleção de artefatos Kaiabi no Museu de Etnologia de
Berlim, reunidos em 1927 por Max Schmidt no Posto Pedro Dantas do rio Teles Pires
(Schmidt 1942) mas, de acordo com uma informação pessoal do dr. Günther Hartmann,
daquela instituição, ela foi em grande parte destruída durante a Segunda Guerra Mundial.
Os autores do citado artigo organizaram-se de acordo com o trabalho modelar de Gerhard
Baer (1960), baseando-se os termos técnicos em Hirschberg/Janata (1966) e, na área das téc-
nicas têxteis, principalmente em Bühler-Oppenheim (1948). Os trabalho de tradução também
se utilizaram do Dicionário do artesanato indígena, de Berta G. Ribeiro. As citações extraí-
das da escassa bibliografia sobre os Kaiabi têm função confirmatória e, para a identificação
da fauna, usou-se o trabalho de Carvalho (1951). Aqui, na tradução, o esquema descritivo
original de cada item do equipamento material dos Kaiabi não foi obedecido, a fim de ade-
quar-se o conteúdo ao formato da monografia. (n. t.)
2. Instrumentos de trabalho
Segundo informações dos Kaiabi, eles obtinham material lítico para seus instrumen-
tos de trabalho no yu´nap (córrego Machado), um afluente da margem direita do rio dos
Peixes, dois dias e meio de viagem abaixo da aldeia Temeoni. Isto corresponde aos infor-
mes de Guimarães (1844:309) e do Anônimo da Nova Navegação (1856:100), explican-
do também a notícia de von den Steinen (1886:203) de que os Kaiabi detinham o monopó-
lio dos machados de pedra na área do Teles Pires. Naturalmente não me foi possível ob-
servar a confecção das lâminas de facas, machados e pontas de flecha, pois instrumentos
líticos não eram mais utilizados em 1965.
21
Trata-se da peroba (iperomyp), Aspidosperma sp, família Apocynaceae. (n. ed.)
Figura 2: FORMÃO
Figura 3: BORDUNA
22
A siriva foi identificada recentemente a partir de uma coleta realizada no Rio dos Peixes em
1999. Trata-se da espécie Bactris macana, da família das palmeiras Arecaceae. (n. ed.)
Figura 4a
Figura 4b
Para armar o arco, apóia-se a sua ponta inferior no chão, segurando a oposta com
as duas mãos. A empunhadura é vergada para baixo com o joelho e a corda, assim afrou-
xada, é presa e esticada na ponta superior com uma nova laçada.
Carrega-se o arco debaixo do braço esquerdo, ficando o cotovelo um tanto afas-
tado do corpo, e com a corda voltada para cima. As flechas, com as pontas voltadas para
frente, repousam sobre a face interior do arco. Para disparar, segura-se o arco na vertical.
114 Os Kaiabi do Brasil Central História e Etnografia
Quando se pesca de canoa, ele também pode ser mantido horizontalmente. A flecha en-
costa no lado esquerdo do arco, entre o dedo médio e o indicador da mão esquerda,
enquanto os entre os três dedos médios da direita retesam a corda e o indicador e o dedo
médio seguram a extremidade da flecha. Às vezes, o dedo mínimo também é usado.
Para proteger o punho esquerdo do retrocesso da corda, o pulso é envolvido com
um grosso cordel na extensão de uns 10-15 cm.
Documentação: Schmidt (1929:96): No antebraço, logo acima da mão, os ho-
mens usavam um largo anel formado pelo enrolamento em espiral de uma longa corda
grossa. Certamente não se tratava de um enfeite, como Schmidt supunha, mas do protetor
de pulso mencionado acima.
c) Flechas
Na estação seca os Kaiabi cortam hastes retas de camaiúva e levam-nas em gran-
des feixes para a aldeia. Atadas entre si pelas extremidades com fios de algodão, elas ficam
secando ao sol. Leves curvaturas das hastes são corrigidas sobre o fogo. O preparo das
flechas e o seu uso são reservados aos homens.
c.1.) Flechas para fins cerimoniais no Yawotsi (oi/p). (figura 7)
Os exemplares nºs 2-12, 14 e 15 foram recolhidos no Tatuí e o de nº 13 na aldeia
Temeoni. Em todos a haste era de kama´yi/p, camaiúva (Guadua sp.), usando-se
enrolamento de embira, fibra torcida de tucumã, tucum (Astrocarium sp.), algodão finamente
fiado, mistura de cera e resina e, no entalhe, plumas vermelhas e amarelas de tukan, tucano
(Ramphastos sp.). Quanto à emplumação, os exemplares do Tatuí constavam de penas de
kanine´ete, arara (Ara chloroptera) e muit, mutum (Mitu mitu). As penas do exemplar
13 eram de kanine´ete, arara (Ara chloroptera) e kwan, gavião real (Harpyia harpyia).
O exemplar 2 tinha ponta de madeira clara, o de nº 13, ponta de tsi/ri/p, siriva, e os demais
de madeira marrom.
Medidas:
nº 2: comprimento total 151 cm; da ponta, 18,5 cm;
nº 3: comprimento total 152 cm; da ponta, 19 cm;
nº 4: comprimento total 152 cm; da ponta, 18 cm;
nº 5: comprimento total 152 cm; da ponta, 17 cm;
nº 6: comprimento total 152 cm; da ponta, 18 cm;
nº 7: comprimento total 152,5 cm; da ponta, 17 cm;
nº 8: comprimento total 151,5 cm; da ponta, 18 cm;
nº 9: comprimento total 151,5 cm; da ponta, 18 cm;
nº 10: comprimento total 151 cm; da ponta, 14 cm;
6a 6b
5a 5b
7c
b) Colher de pau (kawpi/woa p), feita por homens e usada pelas mulheres tanto
para mexer a chicha quanto a título de separador na confecção das tipóias de algodão (vide
8.c.). Cuidadosamente entalhada e polida, a colher tem o formato de uma tabuinha alongada,
achatada, terminando na extremidade superior com uma largura um pouco maior em forma
de lingüeta.
Medidas: 47 cm de comprimento; 3 cm de largura no punho; 4,2 cm de largura na
extremidade superior.
c) Batedor de feijão (figura 9)
Feito por homens, o batedor é usado exclusivamente para trabalhar o feijão que os
Kaiabi conhecem desde o seu contato com os seringueiros. Dada a semelhança de forma
do batedor entre uns e outros, é provável que os índios tenham obtido o artefato da mesma
fonte.
Medidas: 61 cm de comprimento; 5,5 cm de diâmetro na parte mais grossa e
3,2 cm na parte mais fina.
Equipamento material 123
Feitura: talhado com o facão em um pedaço de madeira e alisado, o batedor é um
bastão reto, mais grosso na parte central. Uma das extremidades é grossa e cilíndrica,
enquanto a outra, cônica, é mais estreita.
23
Atualmente, no Parque do Xingu, os Kaiabi utilizam a tinta da casca da mirtácea Myrcia
deflexa para a impregnação de cuias. (n. ed.)
7. Trançados(24)
a) Apás (araaoo)
Usados para guardar por pouco tempo gêneros alimentícios, os apás são trança-
dos de urui/p, taquarinha(25) (Arundinaria sp.), cipó e fios de algodão. Seu trançado
24
Uma análise dos significados dos padrões de desenhos dos trançados kaiabi pode ser
encontrada em Ribeiro (1987; cf. bibliografia complementar). (n. ed.)
25
As plantas mais utilizadas para as peneiras kaiabi, tanto no Rio dos Peixes como no
Parque do Xingu, pertencem ao gênero Ischnosiphon, da família Marantaceae. Recebem
o nome geral de arumã na língua portuguesa. (n. ed.)
26
Trata-se de uma espécie de jequitibá, Cariniana sp, família Lecythidaceae. (n. ed.)
Exemplar 2: AO CENTRO, ta akya, MULHER-TANGA (ta a É UMA PESSOA MÍTICA) COM DUAS
CRIANÇAS ta atai/ t E MUITOS ea. NUM LADO, UMA FAIXA DE i/wirapu, CIPÓ.
Documentação: Rondon (1953:56), fig. 584, representa um apá tingido com moti-
vo de k atsiarapat.
w
Alguns apás foram desenhados a partir de fotografias de G. Grünberg:
b) Peneira (i/rupem)
Usada para peneirar farinha de mandioca e de milho, também serve para apanhar
pequenos peixes e girinos. Os homens as fazem de urui/p, taquarinha (Arundinaria sp.),
cipó e fios de algodão, em um processo semelhante ao dos apás, apenas o trançado é mais
frouxo. É usada pelas mulheres.
Medidas: aproximadamente 35 cm de diâmetro e cerca de 15 cm de altura.
c) Cesto para transportar a rede durante as viagens (panak) (figura 12)
Usado pelos homens, o cesto é feito por eles de urui/p, taquarinha (Arundinaria
sp.), uma armação de madeira e amarrilhos de fios de algodão. Para o processo de
tingimento, vide 7a.
Medidas: 22 cm X 22 cm de base e 47 cm de altura.
Feitura: o cesto é composto de quatro partes, cada uma confeccionada indepen-
dentemente da outra. A base quadrada, as costas retangulares e as laterais ovaladas na
parte superior são trançadas em diagonal, trabalhadas e tingidas da mesma maneira que os
apás. As bordas de cada parte trançada são entaladas entre duas varas de madeira e nelas
se prendem as talas sobressalentes com fios de algodão. A base apresenta um arremate em
forma de trança.
As diversas partes são unidas com fios de algodão, reforçando-se as laterais
com uma a duas varetas de bambu e fechando a abertura da frente com um cordel de
algodão em zigue-zague.
Motivos decorativos no trançado: o do fundo do cesto chama-se inim ta, mui-
tos fios; na extremidade superior das laterais, kwatsiarapat, braços (?); nas laterais pro-
priamente ditas, uma variante de kwatsiarapat, ifa k, dedos estendidos, garras. O
motivo representa quatro animais com braços, garras e ea.
Dados complementares: em 1965/66 existiam no rio dos Peixes dois cestos
cargueiros diferentes, um consta da coleção Grünberg e o outro ficou em poder do
Equipamento material 133
chefe, tendo sido, porém, fortemente danificado numa viagem em fins de 1966. É provável
que tais artefatos não sejam mais produzidos.
15b
15a
15c
27
Denominada jowosipep na língua kaiabi, trata-se do tracajá (Podocnemys cf expansa).
(n. ed.)
28
No Xingu, as mulheres kaiabi passaram a empregar também técnicas de confecção de
têxteis aprendidas com os Yudjá (Juruna).
9. Cerâmica (29)
a) Panelas de barro (yap p ) (figura 18)
São as mulheres que fazem e usam essas panelas, destinadas ao preparo da chicha
e à cocção de carne, peixe, feijão, cogumelos e diversos outros gêneros alimentícios. A
oleira emprega argila branca, carvão obtido da queima da casca da árvore takup i/p (?) e
a seiva da casca de m rii/p, simaneiro (?).
Medidas em três exemplares:
1 10,8 cm de altura e 12 cm de diâmetro;
2 13 cm de altura e 16 cm de diâmetro;
3 18 cm de altura e 25 cm de diâmetro.
Feitura: na estação seca os homens tiram argila do rio, a três dias de viagem acima
da aldeia Temeoni, e os torrões são guardados dentro da casa. Ao iniciar sua atividade, a
29
Há muitos anos os Kaiabi não fabricam mais utensílios de cerâmica, mas recentemente
algumas mulheres têm tentado recuperar esta técnica. (n. ed.)
30
Recentemente, alguns Kaiabi voltaram a fazer as tatuagens faciais. (n. ed.)
23.1 23.2
23.3 23.4
23.9
Feitura: uns 30 pauzinhos afilados são colocados lado a lado e entalados no centro
de duas talas transversais. Um fio de algodão enlaça, em movimento cruzado, cada pauzinho
e as talas. Em seguida, e até a extremidade superior, os dentes são envolvidos dois a dois
por um fino fio duplo de algodão. Entalha-se uma fenda ao longo de quase todo o compri-
mento de um osso de macaco, à qual se ajusta a extremidade superior dos dentes. Dois
dentes de cada lado do pente são enfiados no osso e suas extremidades sobressalentes são
enroladas em um fio de algodão recoberto de resina.
Documentação: Schmidt (1929:95): "Um pequeno pente apresenta o formato co-
mum de pauzinhos com dentes de um lado só". Schmidt (1942:21): "... para peinarlos
sirven pequeños peines formados de palitos, de los cuales un ejemplar de 75, cm de
largo y de 6 cm de ancho está representado en la figura 16a. Los palitos de los cuales los
más largos salen, a cada un lado, al borde de la manija del peine, están ligados con un
trenzado de hilo de algodón, el que llena toda la parte de la manija, a los listones transversales
que los afirman". Lâmina VIII, fig. 16a.
c) Enfeites e indumentárias
É difícil distinguir enfeites e vestuário entre os Kaiabi, pois eles partem da premissa
necessária de que qualquer ser classificado como "humano" deve estar "enfeitado" e, por-
tanto, "vestido". Totalmente nu vi apenas um rapaz débil, de uns 14 anos, que não aprende-
ra falar e que, embora precariamente sustentado, era considerado membro da comunidade
com reservas. Seu nome era Kupi'a térmita alusivo à nudez e à ausência de qualquer
proteção.
Os ricos enfeites dos Kaiabi causaram grande impressão em Sousa (1916:passim).
Para os homens, ele menciona protetores de pulso, cinta de cordéis e joelheiras de algodão
que, para as mulheres, eram de contas de coco, diversos adornos de orelhas, diademas e
coifas de penas. O trabalho com penas desempenha um papel preponderante na sensibili-
dade artística e estética dos Kaiabi. Justifica-se inteiramente falar de um estilo de arte
próprio dos Kaiabi, associados aos estilos de outras tribos Tupi ao sul do Amazonas,
como os Munduruku, Apiaká e Urubú (Ribeiro, D. e B., 1957:17ss).
148 Os Kaiabi do Brasil Central História e Etnografia
Os gorros de pele de animais mencionados por Sousa (1916:79) constituem um
problema:
"Alguns índios traziam chapéus de pelles de animaes (onça, macaco e coati).
Parece-nos que estes enfeites são usados pelos homens em dia de festa".
Estes gorros também são mencionados por Roquette-Pinto (1935:278 e 306), que
reproduz um barrete de pele de onça confeccionado pelos Nambikwara (p.237), seme-
lhante, segundo o autor, ao dos Kaiabi. Como o curioso adorno só era conhecido por estas
duas tribos, além dos Guaiaki, Roquette-Pinto concluiu que os Nambikwara provavelmen-
te o haviam obtido de seus vizinhos Kaiabi (p.306). Enquanto, porém, este tipo de adorno
de guerra pertence ao inventário cultural estável dos Nambikwara, e eu o observei apenas
uma vez entre os Kaiabi, a conclusão inversa é a mais provável, ou seja, a de que se tratava
somente de despojo Nambikwara em mãos dos Kaiabi.
Schmidt (1929:96) completa estas observações sobre os enfeites dos Kaiabi com
alguns detalhes e com a menção a colares feitos de conchas.
Sousa e Schmidt confirmam o atamento do pênis. Entre os homens, o prepúcio é
amarrado com um cordel de algodão junto ao escroto e a glande empurrada para dentro
dele, o que lhe dá um aspecto roliço com três saliências, enquanto o prepúcio fica ligeira-
mente dirigido para cima . No ato de urinar, o cordel tem que ser removido, mas logo é
atado outra vez.
O quadro do vestuário masculino incluía a cinta de cordéis enfiados com contas de
coco tucum, o cordel peniano e, no braço esquerdo, um enrolamento de fio de algodão
para proteger o pulso (ver pág. 115)
Em ocasiões especiais, acrescentam-se pauzinhos auriculares, colares de dentes de
animais e de humanos, joelheiras e adornos plumários para a cabeça, o pescoço e os
quadris; adornos para a guerra eram coifas de penas. Antes da puberdade, meninos e
meninas usam, de acordo com o sexo, diversos tipos de pauzinhos auriculares, colares de
matéria vegetal, braceletes, cordéis nos quadris e nos joelhos. As mulheres não usam penas
em seus enfeites, excetuando-se os brincos, mas os adornos para as ancas e joelhos são
particularmente ricos. O púbis não é coberto.
Estes dados correspondem às representações que os Kaiabi têm de ornamentos e
vestuário, mas elas raramente foram concretizadas durante a minha permanência. Já em 1955,
Dornstauder observara no alto rio dos Peixes alguns tecidos brasileiros com que os Kaiabi
completavam a sua indumentária. Das mulheres, Tolksdorf escreveu o seguinte, em 1958:
"Vestem-se só de tanga, isto é, um trapo pendurado na frente e, às vêzes, tam-
bém atrás, ou então andam nuas. Quando chegamos, várias delas haviam posto
Dados complementares: Nordenskiöld (1920, fig. 34) mostra uma atiradeira ("bean-
shooter") dos Chané que parece idêntica a esta.
j) Konomi
É necessário mencionar ainda, embora sem certeza de trata-se de um brinquedo,
uma boneca antropomorfa feita de um otólito de arap oo, peixe elétrico (Gymnotus
electricus) enrolado com cordéis de algodão. Ela é atada à rede de uma mulher grávida,
sendo feita por homens. Disseram-me tratar-se de uma "boneca", no sentido de brinquedo.
= =
14 15 14 15
=
13 12 12 8 9 10 10 11
17 18 2 4 1 2 EGO 4 3 2 4 17 18
19 20 19 20 5 6 7 7 5 6 5 6 7 7 5 6 7 7 19 20 19 20
16
Como se disse, sistemas bilineares requerem uma limitação. Entre os Kaiabi ela se
encontra predominantemente no casamento preferencial e simétrico de primos cruzados,
cujo princípio estrutural pode ser estendido para a primeira geração ascendente ou des-
31
Fa = father, pai; Si = sister, irmã; So = son, irmão; Da = daugther, filha; Mo = mother,
mãe; Br = brother, irmão. (n. ed.)
= = = = =
15 14 12 13
=
10 11
= = = =
7 6 5 1 2 3 4
= =
8 9
= = = = =
15 14 12 13
=
10 11
= = = =
4 3 2 1 5 6 7
= =
8 9
32
Atualmente há muitos caciques de aldeias kaiabi bastante jovens que operam com mais
desenvoltura a intermediação com o mundo dos brancos. (n. ed.)
8. Conflitos interétnicos(34)
Os Kaiabi tiveram problemas sobretudo para classificar os representantes das tri-
bos com que entraram em contato dentro de seu sistema de preconceitos étnicos. Trata-se,
segundo Ianni (1966:62) de um processo social formado por determinados componentes
ideológicos de relações sociais entre grupos, que se consideram pertencentes a etnias dife-
rentes.
33
Os Txikão (autodenominados como Ikpeng) também acabaram sendo transferidos para o
interior do PIX e hoje são vizinhos dos Kaiabi. (n. ed.)
34
Sob este título procurei chamar a atenção, numa comunicação ao 38º Congresso de
Americanistas, para problemas advindos do contato intensivo dos Kaiabi com etnias que até
o momento lhes eram desconhecidas. Eu a reproduzo aqui, com modificações (Grünberg
1969). (nota do autor)
35
Atualmente os Kaiabi e os Apiaká ocupam conjuntamente, junto com alguns Munduruku,
a Terra Indígena Apiaká-Kaiabi no município de Juara-MT. (n. ed.)
36
Os Beiços-de-Pau ou Tapayuna foram posteriormente identificados como um grupo Suyá
que se separou daqueles que migraram para a região do Xingu há cerca de 2 séculos. Após
serem praticamente dizimados pelos brancos, um pequeno grupo também foi levado para o
Xingu onde foi absorvido pelos Suyá. (n. ed.)
CICLO DE VIDA
1. Gravidez e nascimento
Durante a gravidez, os pais submetem-se a determinadas restrições alimentares,
assim como em todas as outras situações consideradas perigosas. Além da alimentação
vegetariana com exceção da castanha-do-pará só podem comer aves, macaco-prego,
peixe pintado e girinos. Os homens não caçam nenhum animal de presa ou, pelo menos,
não os podem tocar. Quando sua mulher estava em estado de gravidez adiantada, Maró
abateu uma jaguatirica. Ele a largou no chão, voltou à aldeia e mandou um outro buscar a
presa. Mairer explicou esse comportamento dizendo que, do contrário, a criança choraria
e apareceria o aimama, que os civilizados chamam de espírito santo; à guisa de ilustra-
ção, começou a tremer em todo corpo. Negou-se a responder outras perguntas.
Maró fabricou para sua mulher uma pequena figura antropomorfa de fios de algo-
dão e de otólito de peixe, chamada konomi, ou seja, menino ou homem jovem, que foi
presa na rede da gestante (Grünberg 1967:86).
A relação sexual é rigorosamente proibida durante esse tempo. A mulher cuida do
serviço da casa até o fim e só no transporte de cargas mais pesadas o marido a auxilia mais
do que de ordinário.
Já que não pude observar pessoalmente um nascimento, transcrevo, sem acrésci-
mos, os dados de meus informantes.
De acordo com Tapa, no dia do nascimento e alguns dias depois só é permitido aos
pais comer mutap de cogumelos e girinos. A mulher dá à luz numa choça (provavelmente
na yeway-móók, ver pág. 122) auxiliada pelas mulheres idosas que entendem; o homem
se deita um dia na rede (Tapa) ou se afasta (Yupari´up). Os pais devem ficar deitados na
rede após o nascimento.
O nascituro é cuidadosamente lavado com água e uma mulher lhe corta o cordão
umbilical com um pedaço de taquarinha. Ele é seco e pendurado no pescoço da criança
como um colar, pois isso é bom, o pai não perderá o filho (Yupari´up). Mais tarde o
cordão é enterrado.
No caso de gêmeos, só o que nasceu primeiro sobrevive, segundo Yupari´up: o que
vem em seguida é jogado fora por ter sido gerado por outro homem durante a gravi-
dez. Mairer, entretanto, afirmava que os gêmeos e trigêmeos são criados, mas o ideal é
ter só uma criança; a gente também não sabe por que são gêmeos!. Apenas crianças
deformadas seriam mortas. Pouco após o nascimento, a mulher mais velha perfura os
4. Morte
Durante a minha permanência no Rio dos Peixes houve apenas um falecimento na
aldeia de Temeoni; eu me encontrava no Posto Tatuí e meus dados baseiam-se, portanto,
no que me contaram.
Conforme Moanyan e Tapa, o homem que morreu é pintado com urucu por sua
esposa, enfeitado com todos os seus ornamentos e amarrado de cócoras, com os braços
cruzados sobre o peito. É deitado assim na sua rede e enterrado perpendicularmente numa
cova redonda dentro da maloca. Suas armas são queimadas. A viúva também se pinta de
urucu e corta bem curtos seus cabelos. Yupari´up descreveu de modo bem semelhante o
enterro de uma mulher, tendo sido queimados seus cestos e suas cabaças. Seu marido não
precisou cortar os cabelos. No caso de gestante, deixa-se a criança no ventre da morta.
Segundo comunicação pessoal de Dornstauder, quando se acumulam os casos de morte,
os Kaiabi não enterram os corpos na maloca, mas no onii (ver pág. 121), lamentando-os
ali. Tolksdorf dá a seguinte descrição (MS 1958):
Morrendo um Kayabi, amarram-se-lhe as mãos e os pés, deixando-o mais ou
menos de cócoras. Colocam-no em sua rede e ele é enterrado na maloca onde
viveu. Faz-se uma cova de 1-1,5m de profundidade e ele é sepultado ali. Depois
o chão é batido com os pés e a vida continua na superfície.
Por diversos dias pude observar os lamentos pela morte de Ri´été na maloca de
Temeoni. Logo que escurecia, três mulheres, que se sentavam juntas numa rede, entoavam
um choro esganiçado e comprido, que era ritmicamente repetido. Depois de uns cinco
minutos, o choro terminava num diminuendo.
Neste capítulo pretendo apresentar diversas observações que visam a análise das
relações internas no sistema de comportamento dos Kaiabi. Pré-requisito para esta aná-
lise é categorizar seu objetivo não a priori, mas à base de critérios indutivamente encon-
trados. Indubitavelmente, isso só foi possível em casos excepcionais, pois em geral só
chamaram-me a atenção os comportamentos diferentes dos meus. Dessa maneira, as
subseqüentes normas de comportamento, formuladas nomoteticamente, apenas podem
ser consideradas como existentes para os Kaiabi; correspondem antes ao meu desejo
de encontrar regras que tornassem menos incômodo o meu próprio comportamento.
A ordem dessas observações não reflete nenhum sistema, orientando-se apenas
por aspectos subjetivos e práticos.
A extraordinária importância de uma etnografia comparada da comunicação já
foi destacada (Hymes 1964); faltam, entretanto, praticamente todos os trabalhos pre-
liminares para as tribos das terras baixas sul-americanas. A exceção é um artigo sobre
gestos de diversas tribos do Oriente boliviano, que propõe uma subdivisão dos gestos
em lexicais, não-lexicais e emocionais (Key 1964b), mostrando algumas semelhanças
surpreendentes com os comportamentos que observei entre os Kaiabi.
1. Formas de comunicação
Os Kaiabi falam em voz baixa, levemente nasal e monótona, fazendo poucos
gestos. Ao falar, viram a cabeça ligeiramente para o lado a fim de não olhar o interlocutor
de frente: não se deve dar a impressão de estar com pressa ou de que a notícia que
transmite seja importante. Por isso mesmo, ridiculariza-se a gesticulação dos brasileiros,
que são comparados aos bugios. Mesmo quando o interlocutor não está presente
porque passa, por exemplo, do lado de fora da casa, enquanto o falante está no interior
não se levanta a voz. Assim, todos os moradores da aldeia podem manter conversas
à noite, deitados em suas redes. As mães falam com crianças pequenas e animais de
estimação em voz baixa e gutural, mas quando estão irritadas, especialmente em
relação aos cachorros, então resmungam. Com fins educativos elas deixam transparecer
seu mau humor com leves resmungos ou emitem um ruído semelhante ao ganir do ca-
chorro.
Ao narrar mitos ou dar ensinamentos de caráter geral, o estilo usado por Temeoni
era diferente de sua maneira habitual de conversa. O tom era mais cantado, fazia mui-
tos acréscimos onomatopéicos e imitava as vozes das pessoas mencionadas.
Normas de comportamento e fundamentos psicomentais 189
Os homens Kaiabi riem freqüente e demoradamente em falsete; quando, em conversa,
concordam com alguma coisa ou convidam ao assentimento, erguem bem as sobrancelhas e
esboçam largos sorrisos. Expressam desagrado com um forte ö. Na floresta, a comunicação
é mantida através de gritos curtos ´üh fortes e de alto registro.
Indicando um objeto nas proximidades, eles erguem levemente o queixo e encres-
pam os lábios, às vezes falando ao mesmo tempo. Quando o objeto está distante, esten-
dem o braço direito e apontam o dedo indicador, mantendo a mão ao lado olho, enquanto
ajustam cuidadosamente a cabeça para fixar a direção.
Momentaneamente assustados ou perplexos, os Kaiabi exclamam ´oyé, acentuan-
do apenas a primeira sílaba. Depois de despender um esforço maior, soltam um ´uh explo-
sivo, alto e forte.
Os homens têm destreza especial na imitação de sons de animais, particularmente
dos de macaco-prego e mutum. Também atraem um peixe, o tucunaré, com um assobio
estridente e trinado. Quando escutam, abaixam às vezes a cabeça e colocam a mão em
concha junto à orelha.
Os Kaiabi têm um pronunciado senso de humor, que corresponde às nossas repre-
sentações: riem demorada e abundantemente em situações cômicas e do comportamento
errado dos outros. No começo, riam praticamente de qualquer coisa que eu fizesse, e
mesmo após cinco meses ainda se repetiam, todos os dias, situações semelhantes. Às
vezes ainda acentuam o cômico fazendo perguntas e constatações irônicas: diante de um
peixe particularmente pequeno, perguntam: É muito grande?. Diante de uma comida muito
quente, exclamam: Isto está muito frio!. Esses gracejos são saudados com grandes risa-
das. Nunca vi adultos ou jovens pós-pubertários chorarem. Deixam as crianças chorarem
por algum tempo; quando elas correm para junto dos pais, estes as levantam para consolá-
las. Nunca observei que cantassem ou tocassem um instrumento com fins de comunicação.
Locais de ocupação humana são farejados, provavelmente devido à presença de
fumaça.
Merece ainda atenção o comportamento por ocasião de saudações e despedidas,
nas quais se reprimem expressões emotivas, como se os Kaiabi procurassem diminuir,
através de acentuada formalidade, o elemento perturbador destes acontecimentos.
Quando subimos o rio até Temeoni pela primeira vez, um tiro numa jacutinga traiu
nossa chegada. Foi imediatamente respondido, embora estivéssemos a uma distância de
vários quilômetros da maloca. Após uma hora, mais ou menos, aportamos, descarregamos
a canoa e fomos devagar, em fila indiana, para a maloca. Ninguém nos esperava no porto
e mesmo na casa. Temeoni apenas nos deu um breve sorriso, enquanto pendurávamos
nossas redes ao lado direito da entrada e nelas deitamos sem palavras. Depois de uns vinte
10.1
10.3 10.4
10.5
10.2
1. Esferográfica, ?, homem
2. Lápis, Timaka´i, mulher
3. Lápis, Timaka´i, criança
4. Lápis-cera, Timaka´i, coatá
5. Lápis-cera, Moanyan, coatá
6. Tatuagem, pai de Tapa, macaco-prego
7-8. Lápis-cópia, Moanyan, macaco-prego
9. Lápis-cera, Moanyan, macaco-prego
10-12. Lápis-cópia, Moanyan, onça
13. Lápis-cera, Moanyan, onça
14. Lápis, Timaka´i, onça
15. Lápis-cópia, Moanyan, onça
11.6
11.8
11.7 11.9
11.11 11.12
11.10
11.17 11.18
11.13
11.14 11.15 11.16
12.3
12.4 12.5
12.1 12.2
CRENÇA E RELIGIÃO
Todas as restrições feitas nos capítulos IV e VII ao valor da descrição ética de
características culturais cujo conhecimento foi obtido em condições difíceis de comunica-
ção valem muito mais ainda para aquele setor de cultura que designo pelo nome de religião
em sentido amplo, seguindo a praxe etnográfica.
Baseio-me em Haekel (1958) na organização do presente capítulo e na terminolo-
gia empregada, mas evitarei propositalmente observações comparativas, para não correr o
perigo de preencher as lacunas do meu conhecimento com dados provenientes da descri-
ção de outras culturas.
1. Esferas de representações
a) Alma, morte, Além
As informações subseqüentes foram fornecidas por Yupari´up, Nawé, Moanyan,
Tapa e Temeoni. Eu as condenso aqui.
Todo homem, assim como todo animal grande, possui um aia . Ele não o recebe
ao nascer, mas junto com o nome. Aqueles que não recebem o aia não se tornam seres
humanos e morrerão em breve. Ele é o propriamente humano e, sem ele, o homem é como
um tucano empalhado, um invólucro: aepiri´t. Uma vez dentro do homem, a gente não vê o
aia nem sabe onde ele está. Quando o ser humano fala, ele está em sua boca (Yupari´up).
Nawé achava que ele se localiza no coração.
Quando alguém sonha, o aia sai do corpo e olha tudo em volta. Mas é perigoso
sonhar, porque um panyé ou outro aia podem vê-lo no mato. Ele se parece exatamente
com uma sombra: aia it. A pessoa morre quando teve um sonho muito forte: aifayop.
Quando alguém adoece, isto se refere apenas ao corpo aérété (?) e ele sara outra vez.
Mas, se o corpo é muito mau, se não há nada mais para comer e a pessoa cada vez fica
mais fraca, então o aia não agüenta mais e vai embora aí a pessoa morre. Também
pode acontecer que um panyé o leve e, se outro panyé não for ao mato com a cesta para
procurar o aia , não o encontrar e o trouxer, o indivíduo morre. O invólucro fica no chão
e apodrece, mas o aia caminha em direção ao levante para o iwak. Lá só existem Kaiabi
que vivem juntos em famílias como aqui, têm roça, caçam e pescam. Isto é o i´wa pewak.
Antigamente, os Kaiabi não tinham medo de morrer, mas agora são poucos e têm medo.
b) Espíritos e personificações
Definimos espírito como ... um ser incorpóreo, autoconsciente, dotado de forças e
habilidades sobrehumanas, embora limitadas (Haekel 1958:49).
2. Xamanismo
O xamanismo constitui um complexo de idéias e práticas diversas que são
correlacionadas pela pessoa do xamã e se configuram numa estrutura caracterís-
1o Canto
1. assim está melhor
2. eu o encontrei
3. eu falei com ele
4. eu fiquei de ouvidos fechados
5. eu fui ao seu lugar
6. ao lugar da boca tatuada téméyu´i
7. vou cantar do sapo yu´i
8. eu quero mesmo conhecê-lo
9. ele se deita para morrer
10. de manhã cedo acordei alegre
11. primeiro eu fico aqui
12. eu faço uma sopa de sapos (o espírito auxiliar deve levá-la ao mama´é; ele não
gosta dela, porém, e foge)
13. eu não a ponho na chicha (pois ela não tem bom sabor)
2o Canto
1. o lábio da lagarta, temei i, está aqui
2. eu vou dá-la a vocês (a chicha?)
3. embaixo da margem pendente do rio
4. ali eles cantam (os espíritos auxiliares)
5. eu lhes digo meu nome
6. eu lhes digo para irem junto de vocês
7. eles vão tirá-lo (os espíritos auxiliares ao mama´é)
8. eu mesmo o disse
9. este aqui (o espírito auxiliar)
10. este é panyé
11. este tem muita experiência
12. um panyé
13. eu vou com ele
14. ele é alguém especial
15. ele fica aqui
16. estes não são bons (os outros espíritos auxiliares)
17. canela mole, timaurua, está aqui
18. no lugar de boca pequena, yuru´i
19. no lugar de boca da mosca, yurumero
20. ele é como uma mosca
21. eu o procuro
22. eu não o descobri
23. ei-lo
24. vem depressa aqui
25. todos eles estão aqui (os espíritos auxiliares)
26. quando eles morrem, eu dou um nome (?)
27. boca morta, yurumamumamu
28. eu o pego pelo tornozelo
7. A festa Yawotsi
A festa Yawotsi constitui um cerimonial complexo que, em sua forma original, se
relaciona com a caça a cabeças e parece que, no passado, era organizada uma vez na
estação chuvosa e outra durante a seca (ver pág. 177). Todos os dias, à tardinha, os
homens e mulheres moças exercitavam os cantos e o passo de dança típico no corredor
central da maloca; durante muitos dias preparava-se a farinha e a chicha para todos feste-
jarem juntos (Moanyan).
No Posto Tatuí, ou seja, desde 1960, não se realizara mais nenhum Yawotsi; no
Rio dos Peixes, a última festa foi organizada em 1964 na maloca de Temeoni, ocasião a que
já me referi. Entretanto, quando Temeoni visitou a aldeia do Posto Tatuí em agosto de
1966, vários moços entoaram, uma noite, os cantos, que foram interrompidos às duas
horas da madrugada e reiniciados na manhã do dia seguinte. Finalmente, todos acabaram
por participar desse Yawotsi improvisado sem grande entusiasmo e foi-me possível reali-
zar algumas gravações. Todos os Kaiabi me asseguraram tratar-se de um Yawotsi muito
pequeno: poucas moças Kaiabi e nenhuma casa grande.
Já em março, o bem humorado Temeoni colocou uma noite o braço direito em volta
de meu ombro e dançou comigo o passo característico do Yawotsi, para eu aprender.
Quatro a cinco passos batidos são dados rapidamente para a frente, seguindo-se seis ou
sete para trás ou no mesmo lugar. Na mão esquerda ele segurava um maço de flechas
emplumadas, particularmente bonitas, reservadas para fins cerimoniais (Grünberg
1967:38ss).
Observei pela segunda vez um Yawotsi em Diauarum, no Parque Nacional do
Xingu, quando se festejava, entre 19 e 21 de outubro de 1966, a chegada do grupo Kaiabi
do Rio dos Peixes com o chefe Temeoni. Ele compareceu com um enfeite de cabeça de
penas verdes de papagaio e com um adorno de cintura de penas de harpia, segurando na
mão o aro de penas. Sem aviso prévio, um grupo de moças e mulheres dirigiu-se, por volta
das dez horas, para um poste no interior da casa em que um Kaiabi havia amarrado sua
8. Mitos e narrações
Mitos e narrações sempre são escutados com a máxima atenção pelos homens
presentes. Quando eram recitados por Temeoni, apresentavam caráter nitidamente di-
dático. O estilo de recitação característico já foi mencionado à página 189, outra par-
ticularidade era evitar a menção explícita dos nomes das pessoas míticas, através de
diferentes perífrases. Daí a dificuldade de descobrir, na tradução, os ciclos interde-
pendentes. Como o narrador nunca podia ser interrompido, eu dependia das narra-
ções de segunda mão ou de traduções de gravações, para preencher as lacunas. E
meus informantes não tomavam em consideração o tempo gramatical usado, nem fazi-
am distinção, por exemplo, entre singular e plural, ou entre homem e ser humano. Estas
eram apenas algumas das dificuldades. Esforcei-me por apresentar todas as variantes in-
A Obras de referência
Baldus, Hebert
1954 Bibliografia crítica da Etnologia Brasileira; São Paulo.
1968 Bibliografia crítica da Etnologia Brasileira; São Paulo, In: Völkerkundliche
Abhandlungen, Band 4; Hannover.
Brasil, Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação
1963 Amazônia. Bibliografia 1614 1962; Rio de Janeiro.
O´Leary, Timothy
1963 Ethnographic Bibliography of South America; New Haven.
B Mapas
Brasil. Conselho Nacional de Geografia
1960 Carta do Brasil 1:1.000.000. Folha SD-21 Cuiabá e Folha SC-21 Juruena.
1963 Carta do Estado de Mato Grosso 1:2.000.000.
Estado de Mato Grosso
1961 Planta cadastral de parte do Município de Diamantino 1:400.000.
- Planta organizada pela Seção de Cadastro do Departamento de Terras e Colonização,
Cuiabá.
C Obras citadas
Abreviaturas:
BICUAER Bulletin of the International Committee on Urgent Anthropological and Ethnological
Research; Wien.
BMN Boletim do Museu Nacional. Nova Série. Antropologia; Rio de Janeiro.
BMP Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Nova Série. Antropologia; Belém Pará.
CA Current Anthropology; Chicago.
CLTE Comissão de Linhas Telegraphicas Estrategicas de Mato-Grosso ao Amazonas; Rio de
Janeiro.
CNPI Conselho Nacional de Proteção aos Índios; Rio de Janeiro.
HSAI Handbook of South American Indians. Bureau of American Ethnology, Bulletin 143,
1946-1959; Washington.
ICA Proceedings of the International Congress of Americanists; Paris etc.
RBG Revista Brasileira de Geografia; Rio de Janeiro.
RdA Revista de Antropologia; São Paulo.
Azevedo, Carlos
1966a Diamante, calibre 38. In: Realidade 4: 84-90; São Paulo.
1966b Resgate de uma tribo. Amazônia: Um povo está salvo. In: Realidade 9: 37- 54.
Baldus, Herbert
1948 Tribos da Bacia do Araguaia e o Serviço de Proteção aos Índios. In: RMP 2: 137-
168.
1958 Cândido Mariano da Silva Rondon. 1865 1958. In: RMP 10: 283-293.
1962 Métodos e Resultados da ação indigenista no Brasil. In: RdA 10: 27-42.
1966 O Xamanismo. Sugestões para pesquisas etnográficas. In: RMP 16: 187-253.
Bodstein,
1903 Relatório na Gazeta Official do Estado de Matto-Grosso, 5-22. dezembro; Cuiabá.
Boglár, Lajos
1962 Besuch bei den Nambikuara. In: ICA Wien 1960: 621-628; Wien.
Bossi, Bartolomé
1863 Viaje pintoresco por los rios Paraná, Paraguay, S. Lorenzo, Cuyabá y el Arinos
tributario del grande Amazonas etc; Paris.
1
À época da transferência, o PIX era designado Parque Nacional do Xingu. O Decreto
nº 82.263, de 13/09/1978, altera seu nome para Parque Indígena do Xingu.
2
Área Indígena Cayabi: demarcação homologada em 1982; área: 117.246 ha; município:
Itaituba-PA. Área Indígena Cayabi Gleba Sul, atualmente denominada Terra Indígena Kaiabi,
aguardando ser declarada pelo Ministério da Justiça: área: 1.408.000 ha; municípios:
Jacareacanga-PA e Apiacás-MT.
3
Terra Indígena Apiaká-Kaiabi: demarcação homologada em 1991; área: 109.245 ha;
município: Juara-MT.
4
Diante da problemática envolvendo a construção de uma barragem no Salto do Rio dos Peixes,
considerado sagrado por eles.
5
Publicada no Diário Oficial da União em julho de 2003, aguardando a assinatura da Portaria que
declara a terra, com extensão de 117.050 hectares, de posse permanente dos Kaiabi.
dos Peixes e no sul do Pará (Teles Pires) também encontra-se em franca recupera-
ção populacional. Estas altas taxas de crescimento também são encontradas em
muitos outros grupos indígenas atualmente após conseguirem superar o nadir de
sua curva demográfica. A conjugação de uma melhor assistência médica curativa e
preventiva, a maior resistência a agentes infecciosos, a garantia de territórios e um
explícito desejo de aumentar a sua população em um novo contexto de fortaleci-
mento político e sócio-cultural são os fatores principais que explicam essa forte
retomada demográfica dos Kaiabi (Pagliaro 2002). [KLINTON V. SENRA]
6
Este texto baseia-se em um relatório técnico referente à expedição realizada para o Rio dos
Peixes em 1999, da qual participaram técnicos e colaboradores do Programa Xingu do ISA e
um grupo de homens e mulheres kaiabi residentes no Parque do Xingu. Veja Silva et al, 2000.
7
O acesso às capoeiras é desigual. Há locais com fácil acesso por terra firme, em distâncias
variáveis. Em outros, o acesso é exclusivamente por água, sendo que nos casos em que a terra
preta está localizada atrás de lagoas temporárias, o transporte é dificultado durante a estação
seca, prejudicando o escoamento da produção.
260
Do ponto de vista agrícola, é importante separar as terras pretas de outros tipos
de terras ocorrentes nas áreas ocupadas pelos Kaiabi. Terras pretas são distinguidas
por critérios fisionômicos, florísticos e estruturais da vegetação, pela presença de
materiais arqueológicos (fragmentos de cerâmica, machados), pela cor do solo e
pela sua elevada fertilidade natural (embora desigual, internamente), pelo cheiro da
terra e pela concentração de algumas espécies da fauna (macacos, anta, pássa-
ros, etc). Em caso de dúvida quanto à qualidade da terra, esta pode ser examinada
com o auxílio do facão, pelo tato e pelo cheiro. As terras pretas têm elevada capaci-
dade de retenção de água, o que conjugado com a topografia do terreno (plano a
suave ondulado) e com as diferenças no estoque e disponibilidade biológica de ele-
mentos nutricionais, faz com que estes sítios arqueológicos constituam as melho-
res terras para cultivo em toda a Amazônia.(8) A probabilidade de se encontrar solos,
em áreas de floresta de terra firme, com este conjunto de características favoráveis
é muito baixa. No Rio Tatuy, há terras vermelhas naturalmente férteis que podem
receber culturas exigentes com desempenho similar ao das terras pretas, que tam-
bém ocorrem lá (Silva et al, 2000). Apesar de apresentar dimensões reduzidas (pou-
cos hectares) e distribuição esparsa na paisagem de terra firme, no Xingu as áreas
de terras pretas assumem um papel similar ao dos solos férteis de outras regiões
(Moran, 1995).
No Xingu, os Kaiabi mantiveram a prática de usar florestas antrópicas para agri-
cultura, dando continuidade à manipulação da vegetação e de solos realizada por
outros povos, há séculos. Hoje, a paisagem regional mostra que as capoeiras de
terra preta formam unidades espaciais abrigando diversas manchas de sucessão
vegetal com histórico, composição e idades diferentes, com ou sem roças atuais.
Muitas destas áreas abrigam casas de roça, nas quais há quintais domésticos. Há
também mosaicos de sucessão em terra vermelha, que podem estar nas cercanias
das terras pretas ou afastadas destas. [GERALDO MOSIMANN DA SILVA E SIMONE FERREIRA
DE ATHAYDE]
Territorialidade
A grande maioria da população Kaiabi atual é xinguana, ou seja, nascida após a
transferência para o Parque Indígena do Xingu, e é com esta terra que mais se
8
A distribuição de terras pretas se dá em praticamente toda a Bacia Amazônica e também na
Bacia do Rio Orinoco (Balée, 1989; Moran, 1995; Posey, 1984; Smith, 1980).
* Variedade ameaçada é aquela que muito poucas famílias cultivavam na época do censo,
refletindo um critério quantitativo. Um zero, ou seja, uma planta sem variedades ameaçadas,
quer dizer que, de fato, muitas pessoas estão plantando todas as variedades identificadas.
** Georg Grünberg cita dois nomes para estas plantas, mangarito e taja. No Xingu, contudo, só
observamos o emprego de mangarito, sendo towa o prefixo da palavra que designa dois tipos
de mangarito: towauu e towanaja, o último ao que parece já extinto.
Fonte: levantamento nas aldeias do Parque do Xingu e Kururuzinho, PA, safra 1999-2000.
9
O Programa Artíndia foi criado no início da década de 1970, em decorrência do acúmulo de
artefatos indígenas adquiridos pelas equipes da Funai e encaminhados ao Museu do Índio.
Além da matriz, em Brasília, conta hoje com mais seis lojas distribuídas em capitais
brasileiras.
André Villas-Bôas
Camila Gauditano
10
O livro reúne fotografias tiradas por Grünberg em 1966, tiradas em museus de São Paulo
(Museu de Arqueologia e Etnologia da USP) e Rio de Janeiro (Museu Nacional e Museu do Índio)
e nas várias aldeias do PIX (Athayde, 1999).
***
11
O Rio Xingu é denominado Wyway na língua kaiabi, e quer dizer rio da cana-brava.
12
Trata-se dos Kayapó Gorotire, do tronco lingüístico Macro-Jê.
Conselho Diretor
Neide Esterci (presidente), Enrique Svirsky (vice-presidente), Beto Ricardo, Carlos Frederico Marés, Laymert Garcia
dos Santos, Márcio Santilli, Nilto Tatto, Sérgio Leitão, Sérgio Mauro [Sema] Santos Filho
Diretor executivo: Sérgio Leitão
Diretor executivo adjunto: Nilto Tatto
Coordenadores de Programas e Atividades Permanentes:
Adriana Ramos, Alicia Rolla, André Villas-Bôas, Ângela Galvão, Beto Ricardo, Fany Ricardo, Márcio Santilli,
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ICCO – Organização Intereclesiástica para Cooperação ao Desenvolvimento
NCA – Ajuda de Igreja da Noruega