As Religiões de Matrizes Africanas No MS

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GORSSO DO SUL

Disciplina optativa; RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANAS EM MATO


GROSSO DO SUL.

Acadêmica: CRISTINA MARA DE SOUZA SANTOS


Docente: ANTONIO LINO

TRABALHO DE CONCLUSÃO DA DISCIPLINA.

Campo Grande MS 06 de dezembro de 2020


INTRODUÇÃO

As religiões de matrizes africanas chegam ao Brasil nos navios negreiros, cuja carga
era muito mais valiosa que vidas humanas para serem utilizadas como mão de obra
escrava, era também carregados de histórias milenares, ricas em costumes, culturas,
línguas, e religiosidade, todo esse vasto conhecimento foi passando oralmente de
geração a geração, entre os escravizados, porém suas praticas foram sendo
modificadas ao longo dos anos, os escravizados eram todos oriundos da África, mas
vinham de lugares diferentes e cultuavam orixás que remontavam as suas regiões , e
ao conviverem juntos na mesma senzala, se deu a mescla desses elementos, criando
uma religião plural e com diferentes rituais e práticas, que remontavam a suas
origens porém com características únicas. A palavra candomblé passou então a
denominar toda reunião ou festas promovidas pelos escravos. Por esse motivo,
antigos Babalorixás e Yalorixás evitavam chamar o “culto dos orixás” de
Candomblé. Eles não queriam, com isso, serem confundidos com estas festas. Mas,
com o passar do tempo a palavra Candomblé foi aceita e passou a definir um
conjunto de cultos vindo de diversas regiões africanas.

Como acadêmica preta de história, considero o tema de fundamental importância


para minha formação, e por isso me inscrevi no RELIGIÕES DE MATRIZ
AFRICANAS EM MATO GROSSO DO SUL, para melhor compreender a
importância do candomblé e da umbanda na formação da sociedade brasileira,
enquanto prática religiosa e sua contribuição para o enriquecimento cultural.
Atualmente rituais de Umbanda e Candomblé são praticadas no país inteiro, e no
estado de Mato Grosso do Sul não é diferente, neste trabalho vamos fazer um
apanhando do que foi vista na disciplina, baseado nas aulas, leituras e palestras de
convidados que enriqueceram as discussões acerca do tema.
O Brasil é considerado um país plural, laico e democrático certo? nem tanto, pois
carrega a herança europeia da intolerância cultural e religiosa, e isso nos remete a
colonização, mau os portugueses pisaram aqui já se iniciou a perseguição as crenças
indígenas, e já trataram de impor suas próprias crenças sobre a alegação de salvação
de suas almas, e que salvação seria essa? logicamente a cristã, a mesma que
praticamente exterminou a população indígena. Aos indígenas ao menos se creditava
uma alma a ser salva, no caso dos africanos que aqui chegaram nos navios negreiros,
se quer deram o benefício da dúvida, a igreja católica decretou; os africanos cultuam
o demônio e por isso não tem alma, portanto é justo e certo servir ao homem branco
como escravos. Obviamente a partir daí a discriminação que remontam á escravidão
e que desde o brasil colonial rotulam suas religiões pelo simples fato de serem de
origens africanas, e o crescimento das denominações evangélicas que se valem de
mitos e preconceitos para demonizar e insuflar a perseguição a umbandistas e
candomblecistas. E neste contexto nefasto temos as escolas que podem ser
consideradas a segunda fase da introdução da criança na vida em sociedade, sendo
que a primeira é a família e um círculo restrito de pessoas, geralmente amigos e
frequentadores da mesma denominação religiosa, a criança só vai se deparar com o
diferente após sua introdução ao círculo escolar e é a partir daí que ela vai perceber
outras identidades religiosas e culturais. O papel da escola nesse cenário seria o de
direcionar o aluno a absorver e tolerar com respeitos as diferenças, ocorre porem que
o currículo escolar ligado a história e cultura acaba replicando e reforçando certos
estereótipos, principalmente relacionado ao continente africano, que é retratado como
sendo uma cultura inferior com pouca ou nenhuma contribuição valida nas áreas de
cultura, arte e religião. A grande questão aqui, é, como mudar esse quadro? talvez a
resposta esteja nos conteúdos dos livros didáticos como observa Samiri da Silva
Mendes; Aline Praxedes de Araújo em seu artigo; “Por ser visto como um continente
de historiografia escassa logo, a África passou a ser vista como insignificante para a
história oficial, graças a isso durante muito tempo construiu-se uma imagem
estereotipada sobre a África mediante a sua quase inexistência nos livros didáticos.
Após a inserção da história desse continente no meio escolar passou-se a conhecer a
África exclusivamente como produtora de escravizados não dando o devido
reconhecimento a suas religiões, cultura, filosofia etc. Dessa forma esse olhar
simplista e superficial para a África acabou gerando uma série de preconceitos,
dentre eles o preconceito religioso.
Em nenhum período da história houve uma única religião em todo o mundo, como
também nunca foram dominantes as atitudes de intolerância no passado da história
das religiões. A associação entre Estado e Igreja é uma dessas formas de
intolerância, não deixando, por isso mesmo, uma boa lembrança. A imposição de
uma fé como oficial e a consequente exclusão das outras (inclusive com
perseguições declaradas) deixou seu rastro perverso no passado. No presente,
muitos conflitos continuam sendo alimentados a partir de convicções ou sob a
justificativa de crença, como vemos no Oriente Médio ou na Irlanda, e no Brasil
mais comumente no caso das religiões de matrizes africanas. É importante salientar
que as religiões são parte importante da memoria cultural e do desenvolvimento
histórico de todas as sociedades, por isso é importante a sociedade entender que a
religião é um direito individual, e não se deve fazer a defesa de sua religião
atacando a religião do outro, tendo ela a origem que for. É saudável e necessário
discutir valores e diferenças tendo sempre em vistas as diferenças, e assim
promover a tolerância e a compreensão do outro. Muito mais que crenças e rituais
a religião está ligada a cultura, no caso das religiões de matrizes africanas isso é
muito marcante, essas religiões foram incorporadas a cultura brasileira, desde que
os primeiros escravizados africanos pisaram na então colônia portuguesa, e
passaram a praticar sua religiosidade como forma de preservação das suas
tradições, idiomas, conhecimentos e valores trazidos de sua terra natal. Mas desde
o início tais crenças e rituais sofreram fortes perseguições, chegando até mesmo a
serem proibidas em determinados momentos da história brasileira, a igreja católica
era sua maior perseguidora nessa época, nos tempos atuais, as mais expressivas
ações de perseguições rejeições e preconceito vem das denominações
neopentecostais. A constituição brasileira tem em suas paginas a declaração de que
o Estado Brasileiro é laico, contudo é comum ainda hoje escolas publicas iniciarem
suas atividades com a oração doo pai nosso, uma oração católica, cuja instituição
por muito tempo foi umas das maiores detentoras do ensino no Brasil, o candomblé
e a umbanda por outro lado ainda sofrem marginalização dentro das instituições de
ensino, a história negra ainda é contada somente pelo ponto de vista da
escravidão, a cultura e a religiosidade africana são ignoradas nos livros didáticos,
então essas expressões culturais e de religiosidade acabaram sendo suprimidas.

Por fim, através da análise da Tese de Rodrigo Casalli, foi possível chegar a
um panorama das práticas de Umbanda e Candomblé no estado de Mato Grosso do
Sul. Na historiografia do Mato Grosso do Sul nos últimos anos, vem aumentando os
estudos sobre a presença do negro, porém, ainda precisam ser ampliados para outros
espaços temáticos, como por exemplo, a história das religiosidades afro-brasileiras,
uma vez que, seu estudo no campo da História, não é comum, e menos ainda na
história do Mato Grosso do Sul, Rodrigo Cassali em sua tese utiliza a tese de
doutorado de Sá Junior, “Malungos no sertão: cotidiano, práticas mágicas e feitiçaria
no Mato Grosso Setecentista”, defendida em 2008. Na tese o autor fala da ausência
do africano na historiografia relativa ao estado mesmo levando em conta os autores
como: Assis (1988); Bandeira (1988); Volpato (1993); Rosa (1996); Silva (2001) e
Brasil (2002), que ele considera como segunda geração de historiadores onde a
temática do africano passa a ser mais evidenciada. Partindo dessa análise o autor
estudou as práticas mágicas e feitiçarias do século XVIII no Mato Grosso, que serve
de referencial para entendermos a importância dessas práticas na construção de um
imaginário presente no cotidiano de uma sociedade que era formada por culturas
múltiplas: indígena, branca e africana.
Os elementos naturais do estado de Mato grosso do Sul, Cerrado, pantanal, vastidão
de pastos, enfim a proximidade com a natureza, são características que remetem ao
fato de que as religiões afro-brasileiras são adoradoras de entidades que vivem na
natureza: Orixás, Inquices e ancestrais como os Caboclos, todos vivem diretamente
em seu seio. O autor então segui dizendo que além da natureza pode sim ser um dos
motivos para a ampla prática do candomblé é da umbanda no estado, como também a
história da região, com a chegado dos colonos e africanos, e com eles trouxeram
elementos religiosos e culturais, progredindo fincando raízes, lembrando que a região
já era densamente povoada por volta dos 10.000 A.C pelos indígenas denominados
atualmente como sendo os GUARANIS, KAIOWÁS e CAIAPOS. E Posteriormente
a relação das comunidades, bolivianas, paraguaias e brasileira, cuja mescla dos
elementos tornou único as práticas de religiosas, em um misto de; sagrado e profano,
terreno e místico, passado e contemporâneo. Com a consolidação da coroa
portuguesa sobre o território, e a expansão da exploração das minas de ouro da
região, forma se então o estado do Mato Grosso, cuja presença negra nas minas se
torna cada vez mais abundante, e com isso suas práticas religiosas cada vez mais
presente, e a população que até então era predominante de colonos brancos, comece a
ter contornos de uma dinâmica multe cultural, indígena, africana e europeia. As elites
brancas se mudam para a então capital Cuiabá, os poucos brancos que ficaram nas
regiões consideradas interioranas, não conseguem manter sua condição social no
novo quadro político, econômico e social, e assim perderam força, à medida que a
ocupação dos africanos e pretos aumentava. Esses e outros contextos tornaram
possível a consolidação da população negra no então estado do Mato Grosso, atual
Mato grosso do Sul, e com isso foram se aprofundado suas práticas culturais, e
religiosas, o que tornou possível a implantação de dezenas de centros de umbanda e
candomblé. E é importante salientar que os praticantes de umbanda e candomblé no
estado, atualmente não são predominantemente de pretos, cresce a cada ano os
terreiros cujos principais membros e médiuns são brancos, e mesmo que as religiões
de matrizes africanas sofram forte preconceito, principalmente por parte das
denominações religiosas pentecostal, tendem a crescer e se fortalecer no estado,
principalmente na cidade de Corumbá, cuja presença negra é mais marcante, oque a
tornou uma referência em termos de práticas de candomblé e umbanda.

As principais diferenças entre candomblé e umbanda; Candomblé a crença segue


as leis da natureza e suas divindades são os orixás, vistos como ancestrais divinos que
cuidam e equilibram nossas energias, diferente da Umbanda, onde a comunicação dos
orixás com a terra ocorre por meio da incorporação, no Candomblé ela é feita por meio
da leitura de búzios. A Umbanda é uma religião brasileira que surgiu em 1908 e foi e
mescla elementos do catolicismo, cultos africanos e do kardecismo, acredita nos orixás
como espíritos ancestrais, que se comunicam com a terra por meio da incorporação de
médiuns. Os trabalhos e assistências ocorrem enquanto os espíritos estão incorporados.
Durante a incorporação, alguns orixás/espíritos fazem uso do tabaco e bebida por parte
dos médiuns. Outros, porém, como os espíritos das crianças, preferem doces e
brinquedos.
Considerações finais

Existe na atualidade uma perseguição religiosa contra as religiões de base africana. Estas
religiões possuem diversas denominações regionais e são genericamente chamadas de
Umbanda e de Candomblé. As perseguições são transformadas em formas de medos quantos
estas religiões e difundidos por uma máquina de propaganda no imaginário da sociedade.
Devido estas diversas formas de criar medos e perseguições se produziram tabus em se falar
sobre as religiões de base africana, desconsiderando ou ignorando a importância dessas
religiões para a sociedade, que muito mais que oferecer amparo espiritual, muitas vezes atuam
nas comunidades carentes com projetos sociais, no tocante as mais básicas necessidades
humanas.
Iniciativas como a disciplina Religiões de Matriz Africanas em Mato Grosso do sul, se propôs
como objetivo geral, elaborar um conjunto de elementos que tornaram possíveis a compreensão
das práticas de candomblé e umbanda no Mato Grosso do Sul, através de aulas, leituras e
palestras, foi possível compreender como se originou tais práticas e de que maneira ela se tonou
elemento da cultura religiosa do estado. E como é importante se aprofundar no estudo e na
transmissão de tais conhecimento, como forma de combater a intolerância religiosa, bem como a
preservação de práticas que remetem a história africana na fundação do estado de Mato grosso do
sul.
Como futura profissional da educação pretendo utilizar os conhecimentos adquirido na
disciplina optativa; Religiões de Matriz Africanas em Mato Grosso do sul, para enriquecer meus
planos de ensino da disciplina de história regional, com fatos relevantes sobre as origens de tais
culturas e religiões, e provocar debates entre os alunos, com o objetivo de esclarecer e combater a
intolerância religiosa, dentro das salas de aula.

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