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AULA
A descoberta dos vírus
e as viroses em animais
Meta da aula
Descrever vírus como produto celular sob a forma de
arranjos moleculares, que se prestam, também, como
ferramentas para compreensão da fisiologia das células.
objetivos

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja


capaz de:
• relacionar a expressão das viroses com a quantidade de células,
presentes no corpo de um animal, competentes para produção
de vírus;
• explicar por que as infecções virais são as mais freqüentes entre
os seres humanos;
• descrever os tipos de sistemas biológicos utilizados para a
propagação de vírus em laboratório e como essa propagação
pode ser detectada.

Pré-requisitos
Para que você possa ter um bom desempenho no entendimento desta
aula é necessário rever os conceitos de Química Orgânica e Bioquímica da síntese
de proteínas e de ácidos nucléicos. Também será muito proveitoso você rever os
produtos das células na nossa Aula 3, bem como fração cristalizável de anticorpos
da Aula 6 de Imunologia. Para desenvolver a Atividade 2, você precisará de
canudinhos de plástico, fita-crepe e papel crepom.
Microbiologia | A descoberta dos vírus e as viroses em animais

INTRODUÇÃO O estudo retrospectivo das civilizações humanas mostra que os povos


sempre se preocuparam com as doenças epidêmicas que dizimavam parte
da população, e que eles sabiam que, em determinados episódios de alguns
tipos de doenças, algumas pessoas morriam, outras adoeciam e se curavam,
e outras não apresentavam nenhum sintoma. Quando acontecia um novo
episódio desse mesmo tipo de doença, as que se haviam curado passavam
incólumes e dentre os que nada haviam sofrido, alguns continuavam livres da
moléstia, enquanto outros, ao adquiri-la morriam ou se curavam. Assim, numa
população humana, podem ser identificados três grupos de pessoas: aqueles
que quando infectados sucumbem; aqueles que se infectam e sobrevivem, e
aqueles que nada sofrem.
As doenças em que essas situações podem ser observadas são aquelas de caráter
EPIDÊMICO. Segundo estatísticas da OMS, 66,7% delas são viroses. Em função
EPIDÊMICO
do conhecimento atual, entender os mitos atribuídos às doenças infecciosas
Do grego epi “sobre,
em cima de” e demos pelos nossos antepassados é função da Virologia, ciência que baseia todos os
“região, povo,
seus fundamentos em princípios de Fisiologia Celular e de Físico-química. Dessa
país”. Que atinge,
simultaneamente, forma, à medida que avançam as tecnologias que dão suporte às pesquisas em
grande número de
indivíduos. Virologia, a compreensão dos fenômenos virológicos vem sendo modificada.
Os animais domésticos e as plantas, que também são seres vivos e, portanto,
constituídas de células, são passíveis de desenvolver suas viroses, pois a unidade
fundamental da virologia está na célula viva. Isso pode gerar sérios prejuízos
a setores da pecuária e da agricultura.
Somente após os trabalhos pioneiros desenvolvidos por Louis Pasteur (1822-
1895), na França, e por Robert Koch (1843-1910), na Alemanha, foram instaladas
as bases da Microbiologia, ciência que estabelecia e relacionava para cada tipo de
doença infecciosa um tipo de micróbio como agente etiológico. Já nessa época,
os microbiologistas para exercerem seu trabalho, precisavam ter conhecimento
sobre as técnicas de assepsia e de preparação dos meios de cultura, esterilizando
os nutrientes por filtração. Neste processo, os elementos filtrantes se caracterizam
pelos poros que retêm a passagem de qualquer ser vivo.
Entretanto, os pesquisadores daquela época não conseguiam cultivar o agente
etiológico de muitas doenças infecciosas, mesmo quando utilizavam as melhores
condições nutritivas e ambientais.
É esse o assunto que você irá conhecer ao estudar o conteúdo desta aula. Para
ter um bom aproveitamento, você deve estar com a mente despojada de (pré)
conceitos. Assim, perceberá que as viroses apresentam-se como fatores de
seleção das espécies na Natureza.
A compreensão dos fenômenos biológicos decorrentes das viroses influi
sobremaneira nas mudanças comportamentais da sociedade.

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Até 2005, a Virologia como disciplina era oferecida em apenas 20% das
escolas de Medicina do nosso país, e em percentual muito menor nas outras

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escolas da área biomédica; portanto, orgulhe-se deste privilégio que você
está tendo agora.

MOSAICO DO TABACO
Doença que acomete
BREVE HISTÓRIA DA DESCOBERTA DOS VÍRUS E DAS as plantas da espécie
VIROSES Nicotiana tabacum,
deixando-as com folhas
salpicadas de regiões
Examinando uma doença que ocorria nas plantações de fumo descoradas, o que levou
os antigos a denominar
utilizado na fabricação de cigarros, os fitopatologistas Dmitri Ivanowski mosaico esse aspecto.
(1864-1920), na Rússia, em 1892, e o holandês Martinus W. Beijerinck
TOXINA
(1851-1931), em 1898, mostraram que a doença chamada MOSAICO DO
Veneno de natureza
TABACO estava associada a agentes infecciosos de tamanho tão diminuto protéica, produzido
por bactérias, parasitos
que podiam passar pelos poros dos filtros que retinham os micróbios. e alguns fungos.
Isto porque, quando o sumo extraído de folhas de plantas infectadas
era filtrado, o líquido obtido continuava infeccioso. Este fato levou-os FEBRE AFTOSA
a pensar que se tratava de possíveis TOXINAS produzidas pelos micróbios Doença que acomete
animais domésticos
que haviam sido retidos na filtração. Por isso foi dado a esse produto ou selvagens com
patas biunguladas,
infeccioso o nome de virus, que em latim significa toxina ou veneno.
ou seja, aqueles que
Entretanto, foi na busca para a caracterização do agente etiológico têm duas unhas em
cada pata (bovinos,
de uma doença infecciosa do gado bovino, a FEBRE AFTOSA, que Friedrich ovinos, caprinos,
suínos e outros). Os
Loeffler (1852-1915) e Paul Frosch (1860-1928), em 1898, na Alemanha, sintomas incluem
demonstraram não só que o agente era filtrável, como também que a aftas generalizadas
por todo o epitélio
quantidade desse agente era amplificada no corpo dos novos animais bucal, que resultam
em descolamento da
inoculados. Isso foi notado porque, mesmo se uma ínfima quantidade da camada de mucosa,
baba filtrada de um animal com febre aftosa fosse inoculada num bovino deixando o tecido em
carne viva. Ocorrem
sadio, quando este adoecia era possível recolher dele uma quantidade do também lesões
pustulares nas patas,
agente infeccioso suficiente para inocular em milhões de outros animais. no espaço entre as duas
unhas. Nos países de
Essa situação diferenciava nitidamente o agente causal da febre aftosa das
língua inglesa, essa
toxinas secretadas por micróbios. O mesmo tipo de fenômeno também virose tem o nome de
foot and mouth disease
foi observado por Martinus Beijerinck (1851-1931) com o mosaico do (doença de pé e boca).
Essas lesões fazem com
tabaco. Diante desses novos conceitos, foram caracterizados os vírus, que o animal pare
como nós os concebemos hoje. de comer, beber e se
deslocar, resultando
na sua morte por
inanição. Uma EPIZOOTIA
EPIZOOTIA de febre aftosa provoca
Epi = sobre; zoo = animais (equivalente às epidemias entre os graves prejuízos para o
seres humanos). pecuarista e, por tabela,
para a economia do
país onde surtos dessa
virose ocorram.

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Durante o período de 1900 a 1930, os virologistas voltaram-se,


basicamente, para dois aspectos:
1. a demonstração dos agentes filtráveis nos casos de várias
doenças, associando-os quer aos sintomas macroscópicos quer às
anormalidades citológicas reveladas pela microscopia óptica;
2. as maneiras de transmissão experimental das viroses de animais
de uma espécie para outra, com vistas a ampliar as opções de sistemas
biológicos (ou seja, a coleção de espécies animais com possibilidade de
utilização para estudos).
A partir de 1930, uma nova abordagem da Virologia teve início
com o trabalho do químico orgânico Wendell M. Stanley (1904-1971),
que aplicou métodos físico-químicos, com o intuito de caracterizar os
agentes do mosaico do tabaco. Até aquela época, o que se conhecia sobre
eles era que eram filtráveis, não sedimentavam quando centrifugados,
não podiam ser cultivados como os micróbios e, muito menos, serem
visualizados ao microscópio óptico, embora fossem infecciosos.
Com o intuito de esclarecer que coisa era essa, produzida pelas
plantas infectadas, Stanley partiu do princípio que todo produto
originário de células deve ser constituído por, pelo menos, um dos
seguintes componentes: proteínas, ácidos nucléicos, carboidratos
ou lipídios. Ele conseguiu, em 1935, nos EUA, obter preparações
purificadas desses vírus sob a forma de cristais. Quimicamente, estes
eram constituídos por proteínas e ácidos nucléicos. Além do mais, quando
esses cristais eram dissolvidos em água, o produto era infeccioso e podia
ser recristalizado, mantendo a infecciosidade mesmo quando submetido
a dez ciclos sucessivos de dissolução e recristalização. Outros tipos virais
foram posteriormente obtidos puros sob a forma de cristais, mostrando
assim a natureza orgânica (núcleo-proteína) desses elementos infecciosos.
A cristalização das partículas virais sugeriu que as proteínas que as
formavam eram todas de um mesmo tipo, pois só assim é possível ocorrer
esse fenômeno (você se lembra do boxe sobre
cristalização de proteínas apresentado na
Aula 6 de Imunologia?).
Você pode ver na Figura 15.1 alguns
tipos de cristais formados após a obtenção
20µm 2 µm de preparações virais purificadas.
Figura 15.1: Cristais de uma preparação de vírus da poliomielite.

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Trabalhos desenvolvidos com os vírus do mosaico do tabaco,

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cujo ácido nucléico genômico é do tipo RNA, demonstraram que cada

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molécula de RNA estava coberta por unidades de um mesmo tipo
de proteína, formando um arranjo molecular. H. Fraenkel-Conrat
(1910-1999) e F. Sanger (1918 - ), utilizaram preparações purificadas
de dois tipos de vírus do mosaico do tabaco (TMV) e, a partir destas,
conseguiram construir um novo tipo de partícula viral híbrida, formada
por ácido nucléico de um dos tipos, e proteína do outro.

Utilizando técnicas de precipitação de proteínas, Fraenkel-Conrat & Sanger (1957) publicaram um


trabalho mostrando que, ao separar as proteínas e os ácidos nucléicos das partículas de dois tipos de
vírus, obtinham depois a remontagem com as proteínas de um tipo viral associadas ao ácido nucléico
do outro. Ao infectarem uma planta de fumo com esse tipo de vírus híbrido, eles perceberam que a
planta apresentava infecção correspondente à virose característica do tipo viral de onde foi extraído
o ácido nucléico, mostrando assim que a produção de vírus pelas células independe do tipo de
proteína que esteja presente nas partículas. Esse trabalho estabeleceu o caráter genético do RNA e
está representado na Figura 15.2.

RNA e proteínas

Figura 15.2: Representação esquemática ilustrando o desmonte dos componentes de uma partícula viral e a
evidência da montagem espontânea, dando origem a uma partícula viral híbrida que se presta para demonstrar
que as moléculas de RNA carreiam informações genéticas. Na micrografia eletrônica, podem ser observadas
partículas de TMV.
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A idéia de vírus como sendo arranjos moleculares ficou consagrada


através de experimentos efetuados por A. Molla e colaboradores que,
em 1991, conseguiram sintetizar partículas de vírus da poliomielite por
técnicas moleculares. Nessas condições eles propuseram a fórmula
química destes vírus como sendo C 332.662, H 492.388
, N 98.245
, O 131.196
,
P 7.500, S 2.340.
Entretanto, antes de se chegar a esse nível, a compreensão sobre
a forma como as partículas virais são geradas pelas células infectadas
foi gradualmente alicerçada, a partir de 1930, pelas pesquisas efetuadas
com viroses de bactérias, merecendo destaque os trabalhos efetuados
por Emory Ellis e Max Delbrück, em 1939, e os de Alfred Hershey e
Martha Chase, em 1952, que os fez merecedores, junto com Salvador
Luria, do Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina em 1969. Não perca
nossa próxima aula, na qual traremos mais detalhes sobre a elegância e
a contribuição científica dos experimentos desses pesquisadores.

Vírus e viroses

Considerando os vírus como arranjos moleculares, para que


estes sejam produzidos pelas células faz-se necessário que as mesmas
disponham do repertório enzimático adequado ao exercício desta função.
Por isso, quanto mais amplo for o repertório enzimático de um tipo
celular, maior será a probabilidade de ele ser competente para sintetizar
os componentes virais.

Competência Celular para Produzir Vírus – Você já sabia que vírus são produtos celulares! E sabe,
também, que para uma célula fabricar alguma coisa é necessário que ela possua as “ferramentas”
adequadas para tal. As ferramentas celulares são as enzimas. Portanto, quanto mais tipos diferentes
de enzimas uma célula puder expressar, maior é a chance de que, dentro desse repertório enzimático,
estejam presentes as enzimas que são necessárias à síntese dos diferentes elementos codificados pelos
genomas virais. Daí que, quanto maior for a versatilidade metabólica das células, maior será a chance
de elas serem competentes para a produção de vírus. Atente que o corpo de um animal pode ter
células com diferente versatilidade enzimática. No entanto, quanto mais células competentes (para
fazer um determinado tipo de vírus) ele possuir, mais grave será a virose nesse animal.

Portanto, num indivíduo contaminado, quanto maior for a


quantidade de suas células com essa potencialidade mais acentuado será
o grau de comprometimento do seu organismo com a virose em questão.
VIRION Para reforçar esta idéia, daqui para a frente, você deve ter sempre em
Partícula viral mente que, quanto maior for a quantidade de células competentes para
completa, portanto,
produzir VIRIONS, mais intenso será o quadro de virose. Em linguagem
com potencial
infeccioso. médica, a quantidade de vírus presentes em um indivíduo infectado é
denominada carga viral e está diretamente relacionada com a quantidade
de células que estiverem envolvidas com a virose.
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ATIVIDADE

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1. No cotidiano das pessoas, embora com pouca freqüência, é

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possível encontrar doentes com CATAPORA. Se você conversar com
várias pessoas que já apresentaram esta virose, poderá classificá-
las em três grupos: a. as que tiveram o corpo intensamente coberto
de vesículas; b. as que tiveram pouquíssimas vesículas; e c. as
intermediárias. Diante desta colocação, construa uma tabela
representativa da quantidade de células com capacidade para
produzir vírus da catapora nos três grupos.

CATAPORA
Do tupi “fogo que
salta”. É a designação RESPOSTA COMENTADA
vulgar para varicela,
que é uma virose,
Você acertou se construiu um quadro semelhante a este.
em geral, benigna,
que, quando expressa Proporção de células competentes Expressão da virose
sintomas, estes se
+++++++++++++++++++++++---------- Grave
caracterizam por
febre acompanhada ++++++++++++++------------------------------ Branda
de máculas (manchas
rosadas), que evoluem Pouco ou nenhum
+++-------------------------------------------------------
para pequenas Sintoma
bolhas ou vesículas
que posteriormente + células envolvidas no processo de infecção de um órgão ou tecido
arrebentam, surgindo – células não envolvidas no processo de infecção.
as crostas. Essas lesões
se espalham, de forma
As células para produzirem os componentes virais precisam ter a
não sincrônica, pelo
corpo, principalmente competência enzimática para tal; portanto, só tem virose quem
no tronco. pode. Esta premissa pode ser facilmente evidenciada quando você
faz uma busca nos jornais sensacionalistas que divulgam casos de
viroses que exterminarão a humanidade. Como exemplo temos os
casos de Ebola, SARS e, até mesmo, os da gripe do frango. Você
já teve a curiosidade de pesquisar quantas foram as pessoas que
entraram em contato com as vítimas, antes que elas morressem?
Inclua nessas os familiares, amigos, colegas de trabalho e colégio,
vizinhos, comerciantes e os profissionais de saúde que cuidaram
delas. Embora seja divulgada uma situação de pânico, os casos
graves só aparecem em quem os pode desenvolver. Com o
Ebola foram 327 indivíduos como você pode constatar lendo o
livro Caçadores de vírus (indicado nas leituras recomendadas).
Com a gripe do frango, desde 1997, não chegaram a 100 casos
humanos fatais. Já em relação à SARS, morreram pouco mais de
100 pessoas, todas de origem asiática (para conferir estes valores,
acesse os endereços eletrônicos que estão indicados nas leituras
recomendadas). Para as vítimas fatais dessas viroses, a infecção se
apresentou como um processo de seleção natural dos elementos
de uma espécie na Natureza.

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Ebola – vírus do grupo dos Filovírus cuja infecção em pessoas susceptíveis


provocam um quadro de hemorragia generalizada. O nome Ebola é
derivado do nome do rio, no Zaire, às margens do qual fica o vilarejo
onde esse tipo de virose foi detectado pela primeira vez. Se você assistiu
ao filme Epidemia viu, de forma hollywoodiana, algumas das características
dessa doença.

SARS – Síndrome Respiratória Aguda e Severa – doença que afetou os chineses


ENZOÓTICO de etnia originária de províncias do sul da China, resultante da infecção
por agentes do grupo dos Coronavirus, em indivíduos susceptíveis.
Enfermidade que
está sempre presente Gripe do frango – infecção pelos vírus da influenza (gripe subtipo H5N1),
em uma comunidade de caráter ENZOÓTICO nos países asiáticos, que pode ser disseminada por
de animais; apenas todo o planeta, através das aves silvestres migratórias ou aves comerciais.
poucos deles evoluem As vítimas humanas foram pessoas que lidavam com aves contaminadas. Em
para doença.
2003, na China, foram relatados dois casos hospitalizados, com uma morte.
Este fato tem sido motivo de pânico, pois a divulgação da mídia o relaciona
com a pandemia de gripe espanhola que ocorreu em 1918, em que se estima
terem ocorrido 50 milhões de mortes. De acordo com o discernimento que
você adquiriu até agora, de que só tem virose quem pode, dá para perceber
que os responsáveis pelas notícias não são virologistas.

AFINAL, O QUE SÃO VÍRUS?

A melhor maneira de definir os vírus é considerá-los quimicamente.


Um vírus é simplesmente um arranjo molecular formado por ácido
nucléico recoberto por proteínas, denominadas capsômeros. Estes são
ENVELOPE agrupados formando uma capa protéica que recebe o nome de capsídio.
Estrutura viral O conjunto ácido nucléico e capsídio é denominado nucleocapsídio.
formada por lipídios,
antes constitutivos das
Muitos tipos virais são formados apenas por esta estrutura. São os
membranas das células chamados vírus não envelopados, para diferenciá-los das partículas virais
nas quais os vírus
foram produzidos. que têm lipídios associados. Estes são os chamados vírus envelopados,
Preparações de
vírus envelopados pois a camada lipídica forma um envoltório que recobre o nucleocapsídio.
são facilmente Os lipídios, que compõem o ENVELOPE das partículas virais, são originários
caracterizadas,
pois, se forem das membranas das células onde foram produzidas. Na Figura 15.3 você
tratadas com agentes
lipolíticos (solventes, encontra esquemas representativos de vírus envelopado e não envelopado.
detergentes), perdem
Atente para o fato de os Adenovírus à esquerda da figura se apresentarem
a infecciosidade.
Esta característica as como uma estrutura geométrica simétrica, enquanto os vírus da influenza
diferencia daquelas de
vírus não envelopados, apresentam-se como uma estrutura arredondada.
pois elas permanecem
infecciosas após serem
submetidas a esse tipo
de tratamento.

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Envelope
Capsômero DNA

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RNA
Capsídio

Glicoproteína
Glicoproteína

Adenovírus Vírus da influenza

Figura 15.3: Na parte superior, representação artística de dois tipos de vírus: um não
envelopado à esquerda (Adenovírus) e um envelopado à direita (vírus da influenza).
Embaixo estão micrografias eletrônicas das respectivas partículas.

Mas preste atenção: quer sejam envelopados ou não, a informação


genética contida nos vírus é restrita a um único tipo de ácido nucléico,
podendo este ser DNA ou RNA, como você poderá constatar observando
a Tabela 15.1.
Embora o conhecimento sobre as características dos vírus
tenha exigido a participação de células vivas para produzi-los, esta
premissa foi alterada após os criativos experimentos efetuados por
Molla e colaboradores, publicados em 1991 na revista Science. Esses
autores demonstraram que partículas virais podem ser produzidas por
processos bioquímicos in vitro. In vivo, esta produção só ocorre quando
o ácido nucléico viral atinge o interior de uma célula com a maquinaria
enzimática capaz de atender à replicação das informações genéticas nele
contidas, e traduzi-las em proteínas.

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Microbiologia | A descoberta dos vírus e as viroses em animais

Para se compreender o fenômeno da interação vírus-célula, basta


fazer uma analogia com o processo envolvendo um computador e um
disquete: se você examinar um disquete minuciosamente, verá que a
película magnética onde são gravadas as informações está coberta por
uma capa rígida, que faz lembrar a capa protéica que protege o ácido
nucléico viral. Se o disquete estiver coberto por um invólucro, este pode
representar a camada lipídica presente em alguns tipos de vírus, à qual
é dado o nome de envelope.
Complementando a analogia, a Figura 15.4 sugere que, se o
computador estiver desligado e você colocar o disquete, nada acontece.
Da mesma forma, célula morta não é infectada. Mas, se estiver ligado,
o conteúdo do disquete é examinado. Entretanto, para que o arquivo
seja interpretado, é necessário que o computador tenha o programa
para tal. Na célula, esse programa (software) corresponde ao repertório
enzimático.

Figura 15.4: Comparação das relações computador/disquete X célula/partícula viral.

O disquete com o arquivo, pelas suas próprias características, é


incapaz de executar qualquer instrução; e os vírus, tal qual o disquete, contêm
o conjunto de informações a serem executadas pelas enzimas celulares.

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2. As partículas de Adenovírus, quando observadas ao microscópio
eletrônico, se apresentam como arranjos moleculares geométricos.
Procure na web quantas faces triangulares compõem essa estrutura
e, usando sua criatividade, construa uma estrutura geométrica
semelhante.

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RESPOSTA COMENTADA

Os Adenovírus são formados por vinte faces triangulares. Portanto,


você deve ter montado um belo icosaedro. Que material você
usou para isso? Talvez tenham sido canudinhos de plástico e, se
você foi criativo, ainda colou uma fita de papel crepom por dentro,
representando o ácido nucléico. Compare sua criação com a que está
na foto, tirada de atividade desenvolvida em uma sala de aula de
um curso de capacitação de professores de ensino médio realizado
na UFRJ.

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BIOSSÍNTESE DOS COMPONENTES VIRAIS

De uma maneira geral, o processo de produção de vírus nas células


de animais obedece a uma seqüência de eventos, que inclui:
– os estágios iniciais de interação que correspondem à adsorção

e ao engolfamento das partículas pelas células;


– internalização do genoma viral;

– reconhecimento desse genoma pelas células para os processos

de replicação, transcrição e tradução;


– aprovação das proteínas neoformadas pelo controle de qualidade

da célula;
– reunião dos componentes virais sintetizados e montagem das

partículas.
Esta última etapa acontece no ambiente intracelular, quando se
trata de vírus não envelopados. A montagem dos vírus envelopados se
faz durante o processo de brotamento das estruturas virais para o meio
exterior. Quando o brotamento acontece, as partículas virais liberadas
trazem em sua constituição fragmentos ou porções lipoglicoprotéicas
das membranas das células nas quais foram produzidas.
A primeira parte da interação vírus-célula tem início com a
adsorção dos vírus às células. Este fenômeno acontece no ambiente
aquático onde as células estão imersas. Se neste ambiente existirem
partículas virais, elas estarão em suspensão na água e em constante
movimento (movimento browniano). Por sua vez, a célula viva,
buscando suprir suas necessidades de elementos essenciais (vitaminas
e aminoácidos), expõe receptores com a finalidade de capturar tais
elementos, como você pode ver esquematicamente na Figura 15.5. Com
isto, propositalmente, a célula “espera” capturar os aminoácidos que
lhe são essenciais. Estes, que geralmente estão associados em peptídios,
podem estar fazendo parte de componentes da superfície viral. Dessas
circunstâncias resulta a adsorção ou, em outras palavras, a captura das
partículas virais pela célula.

Em qualquer tipo de suspensão, as partículas estão em eterno movimento,


devido ao choque das partículas com as moléculas do meio onde elas estão
suspensas. A primeira observação desse movimento é atribuída ao inglês
Robert Brown (1773-1858). Em sua homenagem, foi dado ao fenômeno o
nome de movimento browniano.

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? EPO
TGF β ANF MHC

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PDGF
Membrana Epinefrina
plasmática

β
Guanil ?
Proteína Proteína Tirosina
γ α
Proteína serina tirosina ciclase
cinase Proteína G
Enzimas tirosina treonina fosfatase
cinase tripartida Adenilato
cinase ciclase

Figura 15.5: Representação esquemática de vários tipos de receptores exibidos na


superfície celular.

Fisiologicamente, esse processo celular voluntário de captura pode


ESTRUTURAS
ser percebido, pois as proteínas receptoras, em função de suas ESTRUTURAS TRANSMEMBRANA
TRANSMEMBRANA, sinalizam para proteínas que estão posicionadas na face Parte das proteínas,
interna da membrana plasmática – principalmente aquelas conhecidas pelo formada por
seqüências de
nome de CLATRINAS – pois são estas que vão promover o engolfamento do aminoácidos
hidrofóbicos, que fica
material aprisionado na superfície. O engolfamento resulta na formação fixada nas membranas
celulares.
de uma vesícula coberta de clatrinas, em cujo interior o material capturado
está contido. A participação das clatrinas é a evidência indicativa de que a CLATRINAS
célula pegou o material, no caso uma partícula viral, porque necessitava Do grego clathri, que
significa grade, são
fazê-lo para suprir suas necessidades metabólicas. proteínas encontradas
A vesícula contendo a partícula viral é liberada das clatrinas e na fase interna da
membrana plasmática
carreada para regiões mais internas da célula. Durante este percurso, das células. A função
das clatrinas é
ocorre acidificação gradual do interior da vesícula. A acidez promove formar uma grade
protéica cobrindo
modificações estruturais nas proteínas de superfície da partícula viral
as vesículas que as
que resultam na fusão destes componentes com a membrana da vesícula. células constroem
para transporte de
Dessa fusão ocorre a transferência do material genético viral para o produtos.
interior do citoplasma e a fixação dos componentes da superfície viral na
membrana da vesícula; porém, pelo lado onde estão os elementos externos
da célula. Detalhes das etapas desta seqüência de eventos celulares você
pode ver esquematizados na Figura 15.6.

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Fusão das membranas


viral e endossômica

Figura 15. 6: Esquema mostrando o engolfamento de uma partícula viral pela célula,
pelo processo de endocitose mediada por receptores. É dessa maneira que as células
do corpo humano capturam os nutrientes.

Transcrição

O material genético viral, no interior da célula, precisa ser


submetido aos processos de replicação, transcrição e tradução. A
seqüência desses eventos depende do tipo do ácido nucléico viral
(DNA ou RNA), das características dos filamentos desses genomas, que
podem ser simples ou duplos, e da polaridade dos mesmos. Esta última
característica é relacionada aos genomas de RNA. Os vírus com genoma
de RNA ainda podem ser subdivididos em quatro classes, como você
pode observar na Figura 15.7. Aqueles das classes 5 e 6 têm enzimas
do tipo transcriptase integrando os seus componentes genômicos. Estas
transcriptases utilizam como substrato os RNAs genômicos virais. Podem
ser de duas categorias: quando se trata de uma RNA polimerase RNA
dependente, essa enzima executa a síntese de novas fitas de RNA, a
partir das originais. Todavia, quando se trata de enzimas com atividade
DNA polimerase RNA dependente, estas recebem a denominação de
transcriptases reversas. Este tipo de enzima caracteriza os retrovírus,
sendo os representantes mais conhecidos deste grupo os vírus da
imunodeficiência humana adquirida (HIV).

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Figura 15.7: Esquema mostrando os tipos de áci-
dos nucléicos virais e os processos bioquímicos
a que são submetidos pelas células, até a fase
de RNAm. Esta figura foi adaptada a partir do
modelo apresentado por David Baltimore em
1970. A repercussão dos estudos com o modelo
de replicação de ácidos nucléicos virais consa-
grou os virologistas Howard Martin Temin,
Renato Dulbecco e D. Baltimore, fazendo-os
ganhadores do Prêmio Nobel de 1975, na
categoria de Fisiologia e Medicina.

O avanço nas tecnologias de ácidos nucléicos teve como base


as informações decorrentes dos estudos sobre replicação dos diferentes
tipos de genomas. Esse avanço também contribuiu para aprofundar o
conhecimento sobre os vários modelos com os quais os ácidos nucléicos
virais são processados nas células. Esses estudos também repercutiram
numa maior compreensão dos processos moleculares relacionados
com a Fisiologia Celular. Desta feita, quando você estudou Biologia
Molecular, deve ter sido bombardeado com informações oriundas do
conhecimento virológico. Na Figura 15.8, lhe são apresentados sete
modelos de replicação, e não seis, como mostrado na Figura 15.7.
A diferença deve-se à cronologia dos eventos científicos. Os tipos
virais relacionados ao sétimo
modelo (vírus da hepatite B) só
tiveram o modelo de replicação Parvovírus 2

caracterizado na década de 6 Retrovírus

1980. Em função desses sete Papovavírus


Hepadnavírus 7 Adenovírus
modelos de replicação de
Herpesvírus 1
ácido nucléico viral, os estudos Poxvírus

efetuados continuamente pelos


Picornavírus
virologistas possibilitaram Calicivírus
4 Togavírus Reovírus 3
agrupar os vários tipos de Flavivírus
Ortomixovírus
Coronavírus
vírus de interesse na Medicina Paramixovírus
Rabdovírus
humana de acordo com estes Arenavírus 5

parâmetros moleculares. Bunyavírus

Figura 15.8: Representação dos vários tipos de vírus agrupados de acordo com
o modelo de replicação de seus genomas. Atente para o fato de que os vírus
de DNA de fita dupla podem ser de classe 1 ou classe 7.

CEDERJ 99
Microbiologia | A descoberta dos vírus e as viroses em animais

Tradução

O processo celular de tradução dos RNAs virais que codificam para


síntese de proteínas segue os mesmos padrões de biossíntese dos outros
componentes celulares. A síntese de proteína pode ser efetuada tanto por
polirribossomas livres no citoplasma quanto por polirribossomas ligados
à membrana do retículo endoplasmático. Os primeiros são responsáveis
pela produção de proteínas que ficarão distribuídas no ambiente interno
do citoplasma, enquanto os últimos estão envolvidos com a produção
de glicoproteínas (Figura 15.9). A incorporação de carboidratos às
moléculas de proteína é um sinal de que estas serão inseridas na face
externa das membranas celulares. As proteínas assim inseridas podem
estar ancoradas na face exterior das membranas, ou posicionadas como
estruturas transmembrana. As proteínas transmembrana apresentam a
porção glicosilada voltada para o meio exterior e a face não glicosilada
voltada para o ambiente citoplasmático, como você pode ver na Figura
15.10. Dessa forma, você pode entender que as duas faces da membrana,
pelas suas características, podem ser distinguidas como face externa
(glicosilada) e face interna, não glicosilada, que está em contato com as
demais proteínas citoplasmáticas desprovidas de glicosilação.

Citoplasma

RNAm
Translocador
fechado

Translocador
aberto

NH3+
Peptídio
Seqüência sinal
nascente
Interior do RE Carboidrato
Término da tradução
ancorada do retículo

Figura 15.9: Produção celular de glicoproteínas. Note que a porção glicosilada está
voltada para o lúmen do retículo. Os ribossomas envolvidos nesta tradução dão à
estrutura do retículo o aspecto rugoso.

100 CEDERJ
MÓDULO 1
Espaço exterior (lúmen do Figura 15.10: Representação artísti-

15
retículo endoplasmático, ou ca dos modelos como as proteínas
do Golgi ou face externa da transmembranas podem estar posi-

AULA
NH3+ COO– membrana plasmática) cionadas em relação à superfície
celular, no que diz respeito a seus
NH3+ COO– COO– terminais aminados ou carboxila-
dos. Glicoproteínas utilizadas pelas
células para a montagem dos vírus
da influenza (gripe), da raiva, da
COO– NH3+ dengue e da varíola, apresentam
NH3+ características estruturais relaciona-
das, respectivamente, aos modelos
1, 2, 3 e 4 desta figura.
Citoplasma

PROTEASSOMAS
Controle de qualidade Estrutura celular cilíndrica
oca, constituída por um
Quando as proteínas codificadas pelo genoma viral são sintetizadas agregado de proteases,
responsável pela
e aprovadas pelo controle de qualidade celular, elas são transportadas para degradação das proteínas
celulares identificadas
sítios específicos das células, de acordo com os sinais de endereçamento
como impróprias ao
que apresentem, dando assim continuidade à formação de novas partículas ambiente citoplasmático.
São aquelas proteínas
virais. Quando a célula, embora contaminada, reprova as proteínas com “prazo de validade
vencido”, ou aquelas que
neoformadas codificadas pelo genoma viral, estas são degradadas para não passaram no controle
reaproveitamento dos aminoácidos, particularmente daqueles essenciais. de qualidade. O controle
de qualidade das proteínas
Esta degradação protéica acontece em estruturas celulares denominadas pelas células segue cinco
parâmetros, a saber: 1. o
PROTEASSOMAS. Quando a degradação é completa, todos os aminoácidos posicionamento das pontes
(por estarem individualizados) são reaproveitados. Lembre-se de que cada dissulfeto formadas; 2. a
conformação das estruturas
RNA transportador carreia apenas um aminoácido correspondente ao seu secundária e terciária
adquirida pela molécula
anticodon. Porém, quando a degradação é incompleta sobram pequenos de proteína; 3. a adição
e o processamento de
peptídios (resíduos com pelo menos três aminoácidos) que, por não poderem
carboidratos; 4. exposição
ser aproveitados pela célula, são exocitados. Esta etapa da fisiologia celular de sítios específicos para
clivagem proteolítica e
é essencial para a compreensão das alterações da HOMEOSTASE corporal 5. compatibilidade das
moléculas das proteínas
decorrentes da virose. Mas isto será mais bem compreendido quando você para serem organizadas
tomar conhecimento do conteúdo da nossa Aula 17. sob a forma de dímeros,
trímeros, tetrâmeros ou
pentâmeros.
Sinais de endereçamento – são seqüências específicas de aminoácidos
encontradas na estrutura das proteínas. Essas seqüências são detectadas HOMEOSTASE
pelos elementos celulares denominados Partículas Reconhecedoras de
Termo criado pelo
Sinal (PRS). As PRS têm a função de reconhecer e carrear as proteínas
fisiologista americano
neoformadas para os diferentes sítios celulares. Por exemplo, sinais de
Walter Cannon (1871-1945)
endereçamento das proteínas para inserção nas membranas do retículo do
para designar o estado
Golgi, das mitocôndrias ou do ambiente intranuclear já foram descritos.
de equilíbrio das diversas
Mais detalhes a respeito você pode ver nos capítulos 17 e 18 sobre síntese
funções e composições
e endereçamento de proteínas, do livro Molecular cell biology, nas
químicas do corpo (por
referências desta aula.
exemplo; temperatura,
pulso, pressão arterial,
taxa de açúcar e elementos
figurados no sangue).

CEDERJ 101
Microbiologia | A descoberta dos vírus e as viroses em animais

INTERFERONS Exocitose de resíduos da digestão proteassomal


Proteínas liberadas pelas
células, como parte do Nas células onde os componentes virais sintetizados foram reprovados e que,
processo fisiológico depois da digestão proteassomal, ainda restaram peptídios com, pelo menos,
de anabolismo, que as três aminoácidos, estes peptídios são exocitados, ou seja, são removidos do
auxilia na competição citoplasma e transportados para a parte externa da membrana plasmática
por nutrientes no corpo pelos componentes do MHC de classe I, atividade celular apresentada na
dos animais. Foram disciplina Imunologia, sendo que esses peptídios passam a ser designados
descritas pela primeira como epitopos. Dentro do corpo de um animal, a apresentação de epitopos
vez em 1957, associadas associados aos MHC de classe I das células suscita o envolvimento de linfócitos
com o processo de virose. T CD8+, que promovem a morte destas células. Os linfócitos assim ativados
Por isso, durante muito entram em processo de mitose, que resulta na expansão clonal. O aumento
tempo, acreditou-se ser populacional dos linfócitos se dá graças aos nutrientes que eles retiram do
uma proteína produzida ambiente corporal. Dentre estes nutrientes estão incluídos os aminoácidos
pelas células como essenciais, as vitaminas, a glicose e os hormônios. Dos hormônios, a insulina
antiviral. Mas, como permite o aproveitamento da glicose. Para assegurar a disponibilidade dos
você já pode deduzir, a nutrientes, os linfócitos liberam citocinas, sendo uma delas definida como
virose é acompanhada INTERFERON (IFN), que, atuando sobre as outras células não linfocitárias, faz
de um processo de com que estas reduzam a atividade de síntese protéica e, assim, diminua a
anabolismo celular. quantidade de receptores para a captura de nutrientes. Quanto mais células
Portanto, toda célula contaminadas expressarem epitopos, maior será a população de linfócitos
em anabolismo libera envolvida na produção de interferon. Quanto maior for a concentração de
IFN. De acordo com o IFN circulante, maior será a disfunção apresentada pelos tecidos ou órgãos
tipo de célula onde são do corpo. Desse grau de disfunção resultam, proporcionalmente, os sintomas
produzidos, os IFNs apresentados pela pessoa infectada. Você já deve ter experimentado esses
são denominados como sintomas: febre, dor de cabeça, dores musculares, prostração, dificuldade
interferon alfa, beta de concentração, falta de apetite e outros que você pode lembrar, quando
ou gama. desenvolveu uma virose sintomática como, por exemplo, gripe, catapora
ou dengue, entre outras.

ATIVIDADE

3. Esquematize de maneira seqüencial as etapas do processo


que resultam em desequilíbrio da homeostase durante um
quadro de virose.

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RESPOSTA COMENTADA

Você já é capaz de entender que só tem virose quem pode e que


a quantidade de vírus produzida é diretamente proporcional ao
número de células competentes, presente no corpo do indivíduo.
Quanto mais vírus forem produzidos, maior é a chance de ocorrer
infecção em células não competentes. Quando a biossíntese
das proteínas codificadas pelo genoma viral ocorre nas células
não competentes, essas proteínas são reprovadas, e tem início
a seqüência de eventos: proteína neoformada reprovada no
controle de qualidade → degradação proteassomal → resíduos
da degradação proteassomal incompleta → exocitose desses

102 CEDERJ
MÓDULO 1
resíduos para a superfície da célula → reconhecimento

15
desses resíduos por linfócitos citotóxicos (CD8 ) → estímulo
para múltiplas seqüências de mitose → produção de interferon

AULA
gama → seqüestro de insulina e outros hormônios pelos
linfócitos estimulados gerando uma expansão clonal
→ sintomatologia inespecífica das viroses (febre, dores
musculares, dor de cabeça, dentre outros).

Montagem e liberação das partículas

O estágio final na produção de vírus consiste na montagem das


partículas. Essa montagem pode ocorrer no citoplasma quando se trata de vírus
não envelopados. Exemplos destes são os vírus da poliomielite e os da hepatite
A. A liberação desse tipo de vírus para o meio extra-celular ocorre quando a
célula infectada lisa (arrebenta). Entretanto, a liberação de vírus envelopados
requer a participação das membranas celulares, por isso a célula deve estar
viável para executar este processo. São exemplos de vírus envelopados: os da
influenza, da dengue, da AIDS, dentre outros. Na Figura 15.11, você observa
uma representação artística do processo celular de síntese de flavivírus, desde
a adsorção até o brotamento das partículas sintetizadas.

Figura 15.11: Apresentação artística das etapas seguidas pela célula para sintetizar os componentes estruturais
e não estruturais das partículas de flavivírus. (Figura gentilmente cedida pelo mestrando do Instituto de Micro-
biologia Professor Paulo de Góes, da UFRJ, Otavio de Melo Espíndola).
CEDERJ 103
Microbiologia | A descoberta dos vírus e as viroses em animais

Na Figura 15.12, além das várias formas em que os vírus se


apresentam, você tem uma comparação entre os tamanhos de células
eucariótica (levedura), procariótica (E.coli), outra procariótica (riquétsia)
e vários tipos de vírus.

Célula
bacteriana

Célula de levedura
(5000 nm)

Riquétsia

Vírus da vaccínia
vírus da varíola

Vírus do herpes
simples

Vírus da
influenza

Vírus da infecção
das adenóides
Vírus T de bactérias

Vírus do mosaico
do tabaco
RIQUÉTSIA
Vírus da febre amarela
Bactérias
intracelulares Vírus da verruga
obrigatórias, Gram
negativas, da família Vírus da poliomielite
Rickettsiaceae, que
infectam artrópodes,
como os carrapatos.
Estes podem Figura 15.12:Tamanhos comparativos entre uma levedura, uma enterobactéria,
transmiti-las pela uma RIQUÉTSIA e partículas virais de várias dimensões. Note que as maiores partículas
saliva ao picarem virais estão na faixa de 250 nm e que essa dimensão é menor que o comprimento
seres humanos e de onda da luz visível, como você viu na Aula 1. Esta característica faz com que as
outros animais. Nos preparações contendo vírus continuem límpidas e transparentes. Este fato levou à
seres humanos estão denominação de meningites assépticas aquelas resultantes de infecção viral, pois,
associadas a diversos embora o líquido cefalorraquidiano (líquor) dos pacientes infectados esteja cheio
quadros clínicos, de vírus, tem a aparência límpida, em contraste com as meningites microbianas nas
entre os quais o tifo quais o líquor aparece turvo.
exantemático e a
febre maculosa.

104 CEDERJ
MÓDULO 1
As características genéticas e estruturais dos vírus relacionados com

15
infecções humanas podem ser entendidas pela análise da Tabela 15.1.

AULA
Tabela 15.1: Características estruturais dos principais tipos de vírus com exemplos
de viroses associadas

Tipo de Sensibilidade Tamanho Estruturas


Simetria do Envelope Exemplos de Virose
ácido aos agentes da partícula do filamento
capsídio lipídico vírus associada
nucléico lipolíticos viral (nm) genômico

18-26 fs Parvovírus Exanterna


Ausente Resistente 45-55 fd circular Papovavírus Verrugas
Icosaédrica 70-90 fd Adenovírus Conjuntivite

DNA Presente Sensível 100 fd Herpesvírus Catapora

Presente Resistente1 230 X 400 fd Poxvírus Varíola


Complexa
Ausente Resistente 42 fd circular Hepadnavírus Hepatite B

20-30 fs Picornavírus Poliomielite


Ausente Resistente 35-39 fs Calicivírus Hepatite E
Icosaédrica Reovírus Resfriado
60-80 fd segmentado

Presente Sensível 50-70 fs Togavírus Encefalite

45-50 fs Dengue
Flavivírus
RNA 50-300 fs segmentado Arenvírus Febre junin
Desconhecida Presente Sensível
ou complexa 80-160 fs Coronavírus Pneumonia
Retrovírus
100 fs diplóide AIDS

90-100 fs segmentado Febre


Buniavírus
80-120 fs segmentado Ortomixovírus Gripe
Helicoidal Presente Sensível
150-300 fs Paramixovírus Crupe
Rabdovírus
75 X 180 fs Raiva

Legenda: Fs – fita simples; Fd – fita dupla;1- envelope complexo, que confere a esses vírus resistência aos
agentes lipolíticos.

PROPAGAÇÃO DE VÍRUS

Agora que você já está consciente de que os vírus são produtos


celulares, é fácil entender que, se quisermos obter vírus para diversos
tipos de experimentos, vamos precisar propagá-los e, para isso,
usamos células cultivadas em laboratório. Essas células podem estar
fazendo parte do corpo de animais, em diferentes estágios evolutivos
(embrionário, recém-nascido, jovem ou adulto), ou sendo cultivadas
in vitro. A inoculação em animais requer o uso de um infectório
que assegure condições de segurança que evitem fuga dos animais e

CEDERJ 105
Microbiologia | A descoberta dos vírus e as viroses em animais

contaminação do ambiente e do operador. Os animais de experimentação


podem ser de pequeno, médio ou grande porte. Dentre os mais usados,
temos os camundongos recém-nascidos.
Após inoculados, os efeitos da virose se apresentam como doença, o
que pode levar o animal à morte ou não. Se sobreviverem, são sacrificados
para análise histopatológica.
Animais em fase embrionária são utilizados para a inoculação de
vírus para produção de vacinas contra a gripe e contra a febre amarela.
Nestes casos, o sistema biológico utilizado é o ovo embrionado de
galinha. Depois de inoculados com vírus da gripe, após a incubação,
é recolhido o líquido das cavidades do ovo, onde os vírus produzidos
ficam acumulados. No caso da vacina contra a febre amarela, recolhe-se
o embrião, que depois é triturado e centrifugado. Dessa centrifugação o
sobrenadante é diluído e passa a constituir o produto vacinal. Por isso a
vacina não é recomendada para quem tem alergia a ovo.
Na Figura 15.13 você pode observar uma representação
esquemática da anatomia de um ovo embrionado.

Cavidade alantóica
Cavidade amniótica
Membrana cório-
alantóica (m.c.a.) Embrião

Membrana da casca

Albume

Saco vitelino (gema)

Figura 15.13: Esquema representativo de um ovo embrionado de galinha.

106 CEDERJ
MÓDULO 1
Com o desenvolvimento das metodologias de cultura de células in

15
CPE
vitro, foi possível esclarecer muitos aspectos da dinâmica de produção de Sigla do termo em

AULA
vírus. Quando células competentes são infectadas e passam a produzir os inglês Citopathogenic
Efect que significa
componentes virais, conseqüentemente mudam de função. A mudança de efeito citopático (em
português ECP, pouco
função implica mudança da forma. Os primeiros virologistas que observaram usado). Os trabalhos
este tipo de alteração morfológica o denominaram efeito citopático (CPE), que permitiram
reconhecer este
conceito decorrente do conhecimento vigente no final da década de 1940. fenômeno levaram seus
autores J. F. Enders
Esse binômio forma-função permite caracterizar a Virologia como uma (1897-1985), T. H.
Weller (1915-) e F. C.
fisiologia celular aplicada. A forma apresentada pelas células, após a infecção
Robbins (1916-2003) a
viral, varia de acordo com o tipo de vírus que elas estão produzindo. Na serem agraciados com
o Prêmio Nobel de
Figura 15.14, você pode ver as alterações morfológicas em células com Fisiologia e Medicina
de 1954.
virose. Dentro deste princípio, genomas virais são usados como VETORES DE
EXPRESSÃO em procedimentos de Biologia Molecular. VETORES DE
EXPRESSÃO

São pequenos
A observação microscópica de células em cultura inoculadas com suspensões
fragmentos de ácido
virais permite, através de comparação com células não inoculadas, estabelecer
nucléico que, quando
as alterações fisiológicas que nelas ocorrem. As partículas virais são utilizadas como
incorporados ao
traçadores. Várias áreas de conhecimento, tais como a Bioquímica e a Imunologia,
genoma das células,
dentre muitas outras, utilizam os vírus como ferramenta para esclarecer vários
suscitam a produção
fenômenos fisiológicos, principalmente aqueles relacionados à síntese e ao
de componentes
endereçamento das proteínas para os vários compartimentos celulares. protéicos. As proteínas
assim formadas
se prestam como
traçadores dos
processos metabólicos
celulares.

Células de carcinoma de Células de carcinoma de Células de carcinoma de


laringe humana laringe humana produzindo laringe humana produzindo
adenovírus vírus sincicial respiratório

Fibroblasto humano Fibroblasto humano Fibroblasto humano


produzindo rinovírus produzindo citomegalovírus

Figura 15.14: Dois tipos de células cultivadas in vitro não infectadas (1 e 4) e infectadas. A figura apresenta
as alterações morfológicas (CPE) das células de acordo com a função desempenhada. A cada tipo de vírus
corresponde uma função diferente, que se reflete na forma.
CEDERJ 107
Microbiologia | A descoberta dos vírus e as viroses em animais

VIROSES

Vírus + ose. O sufixo ose denota o conceito de muito, cheio de.


Portanto, quando uma célula ou um organismo pluricelular está infectado
e produzindo vírus, dizemos que está com virose.
O corpo humano, como exemplo de sistema fechado, quando
acometido de uma virose apresenta sinais e sintomas característicos.
Cada indivíduo tem um perfil metabólico diferente, por isso
expressa suas viroses de modo diferente, que variam desde a forma
assintomática àquelas letais. Este fato é portanto compatível com a
expressão: "só tem virose quem pode e como pode".
Na Figura 15.15, são apresentados alguns tipos de viroses com as
quais você já pode ter se contaminado ou vir a se contaminar no futuro.
Por quais delas você já passou?

Quem já teve alguma destas viroses?

Dengue

Herpes simples
Hepatite B

Poliomielite
Febre amarela
Conjuntivite viral
Sarampo

Catapora
Hepatite A
Rubéola
Gripe
Citomegalia
Verruga
Caxumba
Gastrenterite
Zoster
Exantema súbito

Mononucleose infecciosa

Figura 15.15: Algumas viroses que fazem parte do seu cotidiano.

108 CEDERJ
MÓDULO 1
ATIVIDADE

15
AULA
4. Como podem ser efetuados os trabalhos de propagação dos vírus
de origem animal no laboratório, e como pode ser evidenciada
essa propagação?

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RESPOSTA COMENTADA

Você deve ter respondido a esta questão usando uma descrição


contemplando os seguintes itens:

Sistema biológico empregado Evidenciação da virose


Animais de biotério em diferente
Sintomas, morte, histopatologia
estágio evolutivo
Ovos embrionados Detecção dos componentes virais
Alterações morfológicas e
Cultura de células
fisiológicas

No estudo das viroses humanas, os animais foram os primeiros sistemas


biológicos a serem utilizados experimentalmente, substituindo aqueles
humanos que se apresentavam como voluntários para experimentação.
O emprego de ovos embrionados de galinha teve início em 1933. Estes
sistemas vêm sendo substituídos gradualmente pelas culturas de células,
em razão da facilidade que esta tecnologia oferece, e em virtude das
implicações éticas referentes ao uso de animais.

CONCLUSÃO

Os vírus são produtos celulares. Virose só tem quem está vivo e


possui células com repertório enzimático capaz de promover a síntese dos
vários componentes do tipo viral com o qual foi contaminado. Pessoas
acometidas com viroses podem apresentar quadros brandos, graves ou
até fatais, mas na grande maioria, as viroses são assintomáticas. Exemplo
destas acontecem em pessoas que têm, sob a forma crônica, infecções
por HIV, HTLV, Hepatite B, Hepatite C. Outras formas assintomáticas
podem ser induzidas por infecções naturais ou por preparações vacinais
infecciosas. Como exemplo destas últimas, podem ser citadas: a vacina

CEDERJ 109
Microbiologia | A descoberta dos vírus e as viroses em animais

oral contra a poliomielite e aquelas aplicadas por via parenteral contendo


vírus do sarampo, da caxumba e da rubéola. Embora a maioria da
população tenha sido vacinada, em algumas pessoas essas infecções
vacinais evoluem para quadros sintomáticos que podem se apresentar
de forma branda, grave ou até mesmo letal.

ATIVIDADE FINAL

Agora vamos ver se você já está pensando como virologista, ou seja, como alguém
que consegue trafegar por dentro da célula sem esbarrar em nada. Afinal,
viroses só acontecem em células vivas; portanto,os virologistas têm de ter amplo
conhecimento de Fisiologia Celular.

O desafio consiste em considerar a seguinte situação: uma cultura de células foi


inoculada com uma preparação de vírus da caxumba. Estes são vírus envelopados
que, portanto, carregam fragmentos de membrana plasmática das células onde
foram produzidos. Na superfície destes vírus encontram-se espículas formadas
por trímeros de glicoproteínas transmembrana. Considerando que esse tipo
de vírus tem a replicação do genoma, de acordo com o modelo da classe 5 de
Baltimore, descreva, de forma seqüenciada, os processos fisiológicos efetuados
pelas células que possibilitam a produção de novas partículas virais. Considere a
cultura de células como sendo formada totalmente por células competentes para
tal função.

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RESPOSTA COMENTADA

Sem dúvida, tudo começa pela captura dos vírus pelas células. A seguir
ocorrem as fases:
• formação de endossomos;
• fusão dos componentes de superfície virais com a membrana dos
endossomos;
• liberação do genoma viral no citoplasma;

110 CEDERJ
MÓDULO 1
• o genoma dos paramixovírus tem associadas enzimas do tipo RNA

15
polimerase RNA dependente (transcriptase) que transformam o RNA

AULA
de polaridade negativa em RNA mensageiro;
• este, por sua vez, é utilizado pelas células para sintetizar novas
proteínas virais, que são aprovadas no controle de qualidade celular
(visto que estamos tratando de células competentes);
• parte das proteínas neoformadas atuará como transcriptase
amplificando a quantidade de RNAs virais, positivos e negativos,
dentro das células;
• outras proteínas neoformadas serão utilizadas como peças
estruturais na montagem de novas partículas. Para tanto, precisam
ser posicionadas, nas células, de acordo com seus respectivos sinais
de endereçamento;
• aquelas destinadas à formação das espículas virais são traduzidas
por ribossomos que se fixarão ao retículo endoplasmático, dando
origem ao chamado retículo endoplasmático rugoso. A cadeia
peptídica que é transferida para a luz do retículo sofre uma seqüência
progressiva de glicosilação, dando origem às glicoproteínas, que serão
submetidas ao processo de clivagem proteolítica pós-traducional,
quando passam a exibir os sinais de endereçamento que as faz
serem transportadas para a membrana plasmática;
• nesse sítio, essas proteínas transmembrana estão aptas a interagir,
através da porção citoplasmática, com os demais componentes virais
sintetizados pelas células (capsômeros e ácido nucléico), que foram
deslocados para a proximidade da membrana plasmática;
• é nessa região que ocorre a montagem das novas partículas virais,
pelo processo de brotamento.

RESUMO

As bases da Virologia foram estabelecidas em 1892 com o estudo de uma virose


vegetal, conhecida como mosaico do tabaco. Nesses estudos foram revelados
agentes infecciosos de tamanho tão diminuto que podiam passar pelos poros dos
filtros que retinham os micróbios, tinham o tamanho menor do que o comprimento
de onda da luz visível, o que fazia os pesquisadores da época pensarem que se
tratava de toxinas produzidas pelos micróbios que haviam sido retidos na filtração.
A esses produtos foi dado o nome de vírus, que em latim significa toxina ou veneno.
Estudos com a febre aftosa de gado bovino, em 1898, comprovaram a natureza
infecciosa e não apenas tóxica desses agentes filtráveis. Alguns tipos de suspensões
virais, quando purificadas, podem se apresentar sob a forma de cristais. Vírus são

CEDERJ 111
Microbiologia | A descoberta dos vírus e as viroses em animais

arranjos moleculares que podem ser montados e desmontados tanto in vitro como
in vivo. Neste último caso, as células têm repertório enzimático para sintetizar
todos os componentes codificados pelo genoma viral (ácido nucléico e proteínas)
e condições para montá-los sob a forma de partículas. Essas partículas, assim
formadas, podem conter ou não lipídios derivados das membranas celulares.

INFORMAÇÕES SOBRE A PRÓXIMA AULA

Na próxima aula, você travará conhecimento com viroses de plantas e de células


procarióticas, e confirmará a idéia de que todo ser vivo pode desenvolver suas
viroses.

LEITURAS RECOMENDADAS

• REGIS, Ed. Caçadores de vírus: a luta contra os vírus desconhecidos que ameaçam
a humanidade. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 1997. 248 páginas.

• http://www.who.int/csr/sars/epi2003_04_11/en/

• http://www.who.int/csr/sarscountry/2003_04_12/en/

PIZARRO-SUÁREZ Y GAMBA, Enriqueta. Los Virus – Serie de biología: monografía


no 8 do programa regional de desarrollo científico y tecnológico do departamento
de asuntos científicos da secretaria general de la organización de los estados
americanos. Washington, D.C: Ed. OEA, 1971. 67 p.

112 CEDERJ

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