Aula 15
Aula 15
Aula 15
AULA
A descoberta dos vírus
e as viroses em animais
Meta da aula
Descrever vírus como produto celular sob a forma de
arranjos moleculares, que se prestam, também, como
ferramentas para compreensão da fisiologia das células.
objetivos
Pré-requisitos
Para que você possa ter um bom desempenho no entendimento desta
aula é necessário rever os conceitos de Química Orgânica e Bioquímica da síntese
de proteínas e de ácidos nucléicos. Também será muito proveitoso você rever os
produtos das células na nossa Aula 3, bem como fração cristalizável de anticorpos
da Aula 6 de Imunologia. Para desenvolver a Atividade 2, você precisará de
canudinhos de plástico, fita-crepe e papel crepom.
Microbiologia | A descoberta dos vírus e as viroses em animais
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MÓDULO 1
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Até 2005, a Virologia como disciplina era oferecida em apenas 20% das
escolas de Medicina do nosso país, e em percentual muito menor nas outras
AULA
escolas da área biomédica; portanto, orgulhe-se deste privilégio que você
está tendo agora.
MOSAICO DO TABACO
Doença que acomete
BREVE HISTÓRIA DA DESCOBERTA DOS VÍRUS E DAS as plantas da espécie
VIROSES Nicotiana tabacum,
deixando-as com folhas
salpicadas de regiões
Examinando uma doença que ocorria nas plantações de fumo descoradas, o que levou
os antigos a denominar
utilizado na fabricação de cigarros, os fitopatologistas Dmitri Ivanowski mosaico esse aspecto.
(1864-1920), na Rússia, em 1892, e o holandês Martinus W. Beijerinck
TOXINA
(1851-1931), em 1898, mostraram que a doença chamada MOSAICO DO
Veneno de natureza
TABACO estava associada a agentes infecciosos de tamanho tão diminuto protéica, produzido
por bactérias, parasitos
que podiam passar pelos poros dos filtros que retinham os micróbios. e alguns fungos.
Isto porque, quando o sumo extraído de folhas de plantas infectadas
era filtrado, o líquido obtido continuava infeccioso. Este fato levou-os FEBRE AFTOSA
a pensar que se tratava de possíveis TOXINAS produzidas pelos micróbios Doença que acomete
animais domésticos
que haviam sido retidos na filtração. Por isso foi dado a esse produto ou selvagens com
patas biunguladas,
infeccioso o nome de virus, que em latim significa toxina ou veneno.
ou seja, aqueles que
Entretanto, foi na busca para a caracterização do agente etiológico têm duas unhas em
cada pata (bovinos,
de uma doença infecciosa do gado bovino, a FEBRE AFTOSA, que Friedrich ovinos, caprinos,
suínos e outros). Os
Loeffler (1852-1915) e Paul Frosch (1860-1928), em 1898, na Alemanha, sintomas incluem
demonstraram não só que o agente era filtrável, como também que a aftas generalizadas
por todo o epitélio
quantidade desse agente era amplificada no corpo dos novos animais bucal, que resultam
em descolamento da
inoculados. Isso foi notado porque, mesmo se uma ínfima quantidade da camada de mucosa,
baba filtrada de um animal com febre aftosa fosse inoculada num bovino deixando o tecido em
carne viva. Ocorrem
sadio, quando este adoecia era possível recolher dele uma quantidade do também lesões
pustulares nas patas,
agente infeccioso suficiente para inocular em milhões de outros animais. no espaço entre as duas
unhas. Nos países de
Essa situação diferenciava nitidamente o agente causal da febre aftosa das
língua inglesa, essa
toxinas secretadas por micróbios. O mesmo tipo de fenômeno também virose tem o nome de
foot and mouth disease
foi observado por Martinus Beijerinck (1851-1931) com o mosaico do (doença de pé e boca).
Essas lesões fazem com
tabaco. Diante desses novos conceitos, foram caracterizados os vírus, que o animal pare
como nós os concebemos hoje. de comer, beber e se
deslocar, resultando
na sua morte por
inanição. Uma EPIZOOTIA
EPIZOOTIA de febre aftosa provoca
Epi = sobre; zoo = animais (equivalente às epidemias entre os graves prejuízos para o
seres humanos). pecuarista e, por tabela,
para a economia do
país onde surtos dessa
virose ocorram.
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Trabalhos desenvolvidos com os vírus do mosaico do tabaco,
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cujo ácido nucléico genômico é do tipo RNA, demonstraram que cada
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molécula de RNA estava coberta por unidades de um mesmo tipo
de proteína, formando um arranjo molecular. H. Fraenkel-Conrat
(1910-1999) e F. Sanger (1918 - ), utilizaram preparações purificadas
de dois tipos de vírus do mosaico do tabaco (TMV) e, a partir destas,
conseguiram construir um novo tipo de partícula viral híbrida, formada
por ácido nucléico de um dos tipos, e proteína do outro.
RNA e proteínas
Figura 15.2: Representação esquemática ilustrando o desmonte dos componentes de uma partícula viral e a
evidência da montagem espontânea, dando origem a uma partícula viral híbrida que se presta para demonstrar
que as moléculas de RNA carreiam informações genéticas. Na micrografia eletrônica, podem ser observadas
partículas de TMV.
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Vírus e viroses
Competência Celular para Produzir Vírus – Você já sabia que vírus são produtos celulares! E sabe,
também, que para uma célula fabricar alguma coisa é necessário que ela possua as “ferramentas”
adequadas para tal. As ferramentas celulares são as enzimas. Portanto, quanto mais tipos diferentes
de enzimas uma célula puder expressar, maior é a chance de que, dentro desse repertório enzimático,
estejam presentes as enzimas que são necessárias à síntese dos diferentes elementos codificados pelos
genomas virais. Daí que, quanto maior for a versatilidade metabólica das células, maior será a chance
de elas serem competentes para a produção de vírus. Atente que o corpo de um animal pode ter
células com diferente versatilidade enzimática. No entanto, quanto mais células competentes (para
fazer um determinado tipo de vírus) ele possuir, mais grave será a virose nesse animal.
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1. No cotidiano das pessoas, embora com pouca freqüência, é
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possível encontrar doentes com CATAPORA. Se você conversar com
várias pessoas que já apresentaram esta virose, poderá classificá-
las em três grupos: a. as que tiveram o corpo intensamente coberto
de vesículas; b. as que tiveram pouquíssimas vesículas; e c. as
intermediárias. Diante desta colocação, construa uma tabela
representativa da quantidade de células com capacidade para
produzir vírus da catapora nos três grupos.
CATAPORA
Do tupi “fogo que
salta”. É a designação RESPOSTA COMENTADA
vulgar para varicela,
que é uma virose,
Você acertou se construiu um quadro semelhante a este.
em geral, benigna,
que, quando expressa Proporção de células competentes Expressão da virose
sintomas, estes se
+++++++++++++++++++++++---------- Grave
caracterizam por
febre acompanhada ++++++++++++++------------------------------ Branda
de máculas (manchas
rosadas), que evoluem Pouco ou nenhum
+++-------------------------------------------------------
para pequenas Sintoma
bolhas ou vesículas
que posteriormente + células envolvidas no processo de infecção de um órgão ou tecido
arrebentam, surgindo – células não envolvidas no processo de infecção.
as crostas. Essas lesões
se espalham, de forma
As células para produzirem os componentes virais precisam ter a
não sincrônica, pelo
corpo, principalmente competência enzimática para tal; portanto, só tem virose quem
no tronco. pode. Esta premissa pode ser facilmente evidenciada quando você
faz uma busca nos jornais sensacionalistas que divulgam casos de
viroses que exterminarão a humanidade. Como exemplo temos os
casos de Ebola, SARS e, até mesmo, os da gripe do frango. Você
já teve a curiosidade de pesquisar quantas foram as pessoas que
entraram em contato com as vítimas, antes que elas morressem?
Inclua nessas os familiares, amigos, colegas de trabalho e colégio,
vizinhos, comerciantes e os profissionais de saúde que cuidaram
delas. Embora seja divulgada uma situação de pânico, os casos
graves só aparecem em quem os pode desenvolver. Com o
Ebola foram 327 indivíduos como você pode constatar lendo o
livro Caçadores de vírus (indicado nas leituras recomendadas).
Com a gripe do frango, desde 1997, não chegaram a 100 casos
humanos fatais. Já em relação à SARS, morreram pouco mais de
100 pessoas, todas de origem asiática (para conferir estes valores,
acesse os endereços eletrônicos que estão indicados nas leituras
recomendadas). Para as vítimas fatais dessas viroses, a infecção se
apresentou como um processo de seleção natural dos elementos
de uma espécie na Natureza.
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Envelope
Capsômero DNA
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RNA
Capsídio
Glicoproteína
Glicoproteína
Figura 15.3: Na parte superior, representação artística de dois tipos de vírus: um não
envelopado à esquerda (Adenovírus) e um envelopado à direita (vírus da influenza).
Embaixo estão micrografias eletrônicas das respectivas partículas.
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ATIVIDADE
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AULA
2. As partículas de Adenovírus, quando observadas ao microscópio
eletrônico, se apresentam como arranjos moleculares geométricos.
Procure na web quantas faces triangulares compõem essa estrutura
e, usando sua criatividade, construa uma estrutura geométrica
semelhante.
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RESPOSTA COMENTADA
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da célula;
– reunião dos componentes virais sintetizados e montagem das
partículas.
Esta última etapa acontece no ambiente intracelular, quando se
trata de vírus não envelopados. A montagem dos vírus envelopados se
faz durante o processo de brotamento das estruturas virais para o meio
exterior. Quando o brotamento acontece, as partículas virais liberadas
trazem em sua constituição fragmentos ou porções lipoglicoprotéicas
das membranas das células nas quais foram produzidas.
A primeira parte da interação vírus-célula tem início com a
adsorção dos vírus às células. Este fenômeno acontece no ambiente
aquático onde as células estão imersas. Se neste ambiente existirem
partículas virais, elas estarão em suspensão na água e em constante
movimento (movimento browniano). Por sua vez, a célula viva,
buscando suprir suas necessidades de elementos essenciais (vitaminas
e aminoácidos), expõe receptores com a finalidade de capturar tais
elementos, como você pode ver esquematicamente na Figura 15.5. Com
isto, propositalmente, a célula “espera” capturar os aminoácidos que
lhe são essenciais. Estes, que geralmente estão associados em peptídios,
podem estar fazendo parte de componentes da superfície viral. Dessas
circunstâncias resulta a adsorção ou, em outras palavras, a captura das
partículas virais pela célula.
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? EPO
TGF β ANF MHC
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PDGF
Membrana Epinefrina
plasmática
β
Guanil ?
Proteína Proteína Tirosina
γ α
Proteína serina tirosina ciclase
cinase Proteína G
Enzimas tirosina treonina fosfatase
cinase tripartida Adenilato
cinase ciclase
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Figura 15. 6: Esquema mostrando o engolfamento de uma partícula viral pela célula,
pelo processo de endocitose mediada por receptores. É dessa maneira que as células
do corpo humano capturam os nutrientes.
Transcrição
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Figura 15.7: Esquema mostrando os tipos de áci-
dos nucléicos virais e os processos bioquímicos
a que são submetidos pelas células, até a fase
de RNAm. Esta figura foi adaptada a partir do
modelo apresentado por David Baltimore em
1970. A repercussão dos estudos com o modelo
de replicação de ácidos nucléicos virais consa-
grou os virologistas Howard Martin Temin,
Renato Dulbecco e D. Baltimore, fazendo-os
ganhadores do Prêmio Nobel de 1975, na
categoria de Fisiologia e Medicina.
Figura 15.8: Representação dos vários tipos de vírus agrupados de acordo com
o modelo de replicação de seus genomas. Atente para o fato de que os vírus
de DNA de fita dupla podem ser de classe 1 ou classe 7.
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Tradução
Citoplasma
RNAm
Translocador
fechado
Translocador
aberto
NH3+
Peptídio
Seqüência sinal
nascente
Interior do RE Carboidrato
Término da tradução
ancorada do retículo
Figura 15.9: Produção celular de glicoproteínas. Note que a porção glicosilada está
voltada para o lúmen do retículo. Os ribossomas envolvidos nesta tradução dão à
estrutura do retículo o aspecto rugoso.
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Espaço exterior (lúmen do Figura 15.10: Representação artísti-
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retículo endoplasmático, ou ca dos modelos como as proteínas
do Golgi ou face externa da transmembranas podem estar posi-
AULA
NH3+ COO– membrana plasmática) cionadas em relação à superfície
celular, no que diz respeito a seus
NH3+ COO– COO– terminais aminados ou carboxila-
dos. Glicoproteínas utilizadas pelas
células para a montagem dos vírus
da influenza (gripe), da raiva, da
COO– NH3+ dengue e da varíola, apresentam
NH3+ características estruturais relaciona-
das, respectivamente, aos modelos
1, 2, 3 e 4 desta figura.
Citoplasma
PROTEASSOMAS
Controle de qualidade Estrutura celular cilíndrica
oca, constituída por um
Quando as proteínas codificadas pelo genoma viral são sintetizadas agregado de proteases,
responsável pela
e aprovadas pelo controle de qualidade celular, elas são transportadas para degradação das proteínas
celulares identificadas
sítios específicos das células, de acordo com os sinais de endereçamento
como impróprias ao
que apresentem, dando assim continuidade à formação de novas partículas ambiente citoplasmático.
São aquelas proteínas
virais. Quando a célula, embora contaminada, reprova as proteínas com “prazo de validade
vencido”, ou aquelas que
neoformadas codificadas pelo genoma viral, estas são degradadas para não passaram no controle
reaproveitamento dos aminoácidos, particularmente daqueles essenciais. de qualidade. O controle
de qualidade das proteínas
Esta degradação protéica acontece em estruturas celulares denominadas pelas células segue cinco
parâmetros, a saber: 1. o
PROTEASSOMAS. Quando a degradação é completa, todos os aminoácidos posicionamento das pontes
(por estarem individualizados) são reaproveitados. Lembre-se de que cada dissulfeto formadas; 2. a
conformação das estruturas
RNA transportador carreia apenas um aminoácido correspondente ao seu secundária e terciária
adquirida pela molécula
anticodon. Porém, quando a degradação é incompleta sobram pequenos de proteína; 3. a adição
e o processamento de
peptídios (resíduos com pelo menos três aminoácidos) que, por não poderem
carboidratos; 4. exposição
ser aproveitados pela célula, são exocitados. Esta etapa da fisiologia celular de sítios específicos para
clivagem proteolítica e
é essencial para a compreensão das alterações da HOMEOSTASE corporal 5. compatibilidade das
moléculas das proteínas
decorrentes da virose. Mas isto será mais bem compreendido quando você para serem organizadas
tomar conhecimento do conteúdo da nossa Aula 17. sob a forma de dímeros,
trímeros, tetrâmeros ou
pentâmeros.
Sinais de endereçamento – são seqüências específicas de aminoácidos
encontradas na estrutura das proteínas. Essas seqüências são detectadas HOMEOSTASE
pelos elementos celulares denominados Partículas Reconhecedoras de
Termo criado pelo
Sinal (PRS). As PRS têm a função de reconhecer e carrear as proteínas
fisiologista americano
neoformadas para os diferentes sítios celulares. Por exemplo, sinais de
Walter Cannon (1871-1945)
endereçamento das proteínas para inserção nas membranas do retículo do
para designar o estado
Golgi, das mitocôndrias ou do ambiente intranuclear já foram descritos.
de equilíbrio das diversas
Mais detalhes a respeito você pode ver nos capítulos 17 e 18 sobre síntese
funções e composições
e endereçamento de proteínas, do livro Molecular cell biology, nas
químicas do corpo (por
referências desta aula.
exemplo; temperatura,
pulso, pressão arterial,
taxa de açúcar e elementos
figurados no sangue).
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ATIVIDADE
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RESPOSTA COMENTADA
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MÓDULO 1
resíduos para a superfície da célula → reconhecimento
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desses resíduos por linfócitos citotóxicos (CD8 ) → estímulo
para múltiplas seqüências de mitose → produção de interferon
AULA
gama → seqüestro de insulina e outros hormônios pelos
linfócitos estimulados gerando uma expansão clonal
→ sintomatologia inespecífica das viroses (febre, dores
musculares, dor de cabeça, dentre outros).
Figura 15.11: Apresentação artística das etapas seguidas pela célula para sintetizar os componentes estruturais
e não estruturais das partículas de flavivírus. (Figura gentilmente cedida pelo mestrando do Instituto de Micro-
biologia Professor Paulo de Góes, da UFRJ, Otavio de Melo Espíndola).
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Célula
bacteriana
Célula de levedura
(5000 nm)
Riquétsia
Vírus da vaccínia
vírus da varíola
Vírus do herpes
simples
Vírus da
influenza
Vírus da infecção
das adenóides
Vírus T de bactérias
Vírus do mosaico
do tabaco
RIQUÉTSIA
Vírus da febre amarela
Bactérias
intracelulares Vírus da verruga
obrigatórias, Gram
negativas, da família Vírus da poliomielite
Rickettsiaceae, que
infectam artrópodes,
como os carrapatos.
Estes podem Figura 15.12:Tamanhos comparativos entre uma levedura, uma enterobactéria,
transmiti-las pela uma RIQUÉTSIA e partículas virais de várias dimensões. Note que as maiores partículas
saliva ao picarem virais estão na faixa de 250 nm e que essa dimensão é menor que o comprimento
seres humanos e de onda da luz visível, como você viu na Aula 1. Esta característica faz com que as
outros animais. Nos preparações contendo vírus continuem límpidas e transparentes. Este fato levou à
seres humanos estão denominação de meningites assépticas aquelas resultantes de infecção viral, pois,
associadas a diversos embora o líquido cefalorraquidiano (líquor) dos pacientes infectados esteja cheio
quadros clínicos, de vírus, tem a aparência límpida, em contraste com as meningites microbianas nas
entre os quais o tifo quais o líquor aparece turvo.
exantemático e a
febre maculosa.
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MÓDULO 1
As características genéticas e estruturais dos vírus relacionados com
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infecções humanas podem ser entendidas pela análise da Tabela 15.1.
AULA
Tabela 15.1: Características estruturais dos principais tipos de vírus com exemplos
de viroses associadas
45-50 fs Dengue
Flavivírus
RNA 50-300 fs segmentado Arenvírus Febre junin
Desconhecida Presente Sensível
ou complexa 80-160 fs Coronavírus Pneumonia
Retrovírus
100 fs diplóide AIDS
Legenda: Fs – fita simples; Fd – fita dupla;1- envelope complexo, que confere a esses vírus resistência aos
agentes lipolíticos.
PROPAGAÇÃO DE VÍRUS
CEDERJ 105
Microbiologia | A descoberta dos vírus e as viroses em animais
Cavidade alantóica
Cavidade amniótica
Membrana cório-
alantóica (m.c.a.) Embrião
Membrana da casca
Albume
106 CEDERJ
MÓDULO 1
Com o desenvolvimento das metodologias de cultura de células in
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CPE
vitro, foi possível esclarecer muitos aspectos da dinâmica de produção de Sigla do termo em
AULA
vírus. Quando células competentes são infectadas e passam a produzir os inglês Citopathogenic
Efect que significa
componentes virais, conseqüentemente mudam de função. A mudança de efeito citopático (em
português ECP, pouco
função implica mudança da forma. Os primeiros virologistas que observaram usado). Os trabalhos
este tipo de alteração morfológica o denominaram efeito citopático (CPE), que permitiram
reconhecer este
conceito decorrente do conhecimento vigente no final da década de 1940. fenômeno levaram seus
autores J. F. Enders
Esse binômio forma-função permite caracterizar a Virologia como uma (1897-1985), T. H.
Weller (1915-) e F. C.
fisiologia celular aplicada. A forma apresentada pelas células, após a infecção
Robbins (1916-2003) a
viral, varia de acordo com o tipo de vírus que elas estão produzindo. Na serem agraciados com
o Prêmio Nobel de
Figura 15.14, você pode ver as alterações morfológicas em células com Fisiologia e Medicina
de 1954.
virose. Dentro deste princípio, genomas virais são usados como VETORES DE
EXPRESSÃO em procedimentos de Biologia Molecular. VETORES DE
EXPRESSÃO
São pequenos
A observação microscópica de células em cultura inoculadas com suspensões
fragmentos de ácido
virais permite, através de comparação com células não inoculadas, estabelecer
nucléico que, quando
as alterações fisiológicas que nelas ocorrem. As partículas virais são utilizadas como
incorporados ao
traçadores. Várias áreas de conhecimento, tais como a Bioquímica e a Imunologia,
genoma das células,
dentre muitas outras, utilizam os vírus como ferramenta para esclarecer vários
suscitam a produção
fenômenos fisiológicos, principalmente aqueles relacionados à síntese e ao
de componentes
endereçamento das proteínas para os vários compartimentos celulares. protéicos. As proteínas
assim formadas
se prestam como
traçadores dos
processos metabólicos
celulares.
Figura 15.14: Dois tipos de células cultivadas in vitro não infectadas (1 e 4) e infectadas. A figura apresenta
as alterações morfológicas (CPE) das células de acordo com a função desempenhada. A cada tipo de vírus
corresponde uma função diferente, que se reflete na forma.
CEDERJ 107
Microbiologia | A descoberta dos vírus e as viroses em animais
VIROSES
Dengue
Herpes simples
Hepatite B
Poliomielite
Febre amarela
Conjuntivite viral
Sarampo
Catapora
Hepatite A
Rubéola
Gripe
Citomegalia
Verruga
Caxumba
Gastrenterite
Zoster
Exantema súbito
Mononucleose infecciosa
108 CEDERJ
MÓDULO 1
ATIVIDADE
15
AULA
4. Como podem ser efetuados os trabalhos de propagação dos vírus
de origem animal no laboratório, e como pode ser evidenciada
essa propagação?
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RESPOSTA COMENTADA
CONCLUSÃO
CEDERJ 109
Microbiologia | A descoberta dos vírus e as viroses em animais
ATIVIDADE FINAL
Agora vamos ver se você já está pensando como virologista, ou seja, como alguém
que consegue trafegar por dentro da célula sem esbarrar em nada. Afinal,
viroses só acontecem em células vivas; portanto,os virologistas têm de ter amplo
conhecimento de Fisiologia Celular.
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RESPOSTA COMENTADA
Sem dúvida, tudo começa pela captura dos vírus pelas células. A seguir
ocorrem as fases:
• formação de endossomos;
• fusão dos componentes de superfície virais com a membrana dos
endossomos;
• liberação do genoma viral no citoplasma;
110 CEDERJ
MÓDULO 1
• o genoma dos paramixovírus tem associadas enzimas do tipo RNA
15
polimerase RNA dependente (transcriptase) que transformam o RNA
AULA
de polaridade negativa em RNA mensageiro;
• este, por sua vez, é utilizado pelas células para sintetizar novas
proteínas virais, que são aprovadas no controle de qualidade celular
(visto que estamos tratando de células competentes);
• parte das proteínas neoformadas atuará como transcriptase
amplificando a quantidade de RNAs virais, positivos e negativos,
dentro das células;
• outras proteínas neoformadas serão utilizadas como peças
estruturais na montagem de novas partículas. Para tanto, precisam
ser posicionadas, nas células, de acordo com seus respectivos sinais
de endereçamento;
• aquelas destinadas à formação das espículas virais são traduzidas
por ribossomos que se fixarão ao retículo endoplasmático, dando
origem ao chamado retículo endoplasmático rugoso. A cadeia
peptídica que é transferida para a luz do retículo sofre uma seqüência
progressiva de glicosilação, dando origem às glicoproteínas, que serão
submetidas ao processo de clivagem proteolítica pós-traducional,
quando passam a exibir os sinais de endereçamento que as faz
serem transportadas para a membrana plasmática;
• nesse sítio, essas proteínas transmembrana estão aptas a interagir,
através da porção citoplasmática, com os demais componentes virais
sintetizados pelas células (capsômeros e ácido nucléico), que foram
deslocados para a proximidade da membrana plasmática;
• é nessa região que ocorre a montagem das novas partículas virais,
pelo processo de brotamento.
RESUMO
CEDERJ 111
Microbiologia | A descoberta dos vírus e as viroses em animais
arranjos moleculares que podem ser montados e desmontados tanto in vitro como
in vivo. Neste último caso, as células têm repertório enzimático para sintetizar
todos os componentes codificados pelo genoma viral (ácido nucléico e proteínas)
e condições para montá-los sob a forma de partículas. Essas partículas, assim
formadas, podem conter ou não lipídios derivados das membranas celulares.
LEITURAS RECOMENDADAS
• REGIS, Ed. Caçadores de vírus: a luta contra os vírus desconhecidos que ameaçam
a humanidade. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 1997. 248 páginas.
• http://www.who.int/csr/sars/epi2003_04_11/en/
• http://www.who.int/csr/sarscountry/2003_04_12/en/
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