Diga Me Comquemanda
Diga Me Comquemanda
Diga Me Comquemanda
Kahlil Gibram
11
O que conta, além dos genes, é o grupo formado pelos pares de uma criança.
Sobre isto, Steven Pinker disse “eu sabia ser verdadeiro, mas havia arquivado
naquela pasta mental em que todos nós guardamos as verdades inegáveis que não
se ajustam aos nossos sistemas de crença”.
Os pais não fornecem apenas os genes do filho; eles também fornecem o meio ao
filho. O tipo de meio que eles propiciam – tipo de pais que eles são – existe, em
parte, em função dos genes deles. Não há como distinguir os efeitos dos genes
fornecidos por eles dos efeitos do meio propiciado por eles.
Ser criado no mesmo lar não torna os irmãos parecidos. Se há realmente “pais
tóxicos”, eles não são tóxicos para todos os seus filhos. Ou eles não são tóxicos da
mesma maneira. Ou, se eles são tóxicos da mesma maneira, cada filho reage à
toxicidade de um modo diferente, ainda que sejam gêmeos idênticos.
88
Segundo Douglas Detterman, não há prova convincente de que as pessoas
transfiram espontaneamente o que aprenderam numa situação para uma situação
nova, a menos que a situação nova se pareça muito com a antiga.
É difícil ensinar o nosso cachorro a não dormir no sofá quando não estamos por
perto, porque o que estamos de fato lhe ensinando é a ficar longe do sofá quando
estamos por perto. Quando não estamos em casa, o cachorro nunca apanha por
pular no sofá.
114
“A família moderna é privatizada, nuclear, doméstica e centrada na criança.”
Na Alemanha do século XIX esperava-se que as mães amassem seus filhos, mas
que elas não os deixassem saber que eram amados, porque afeto e atenção em
demasia poderiam ser maus para eles.
Já na segunda metade do século XX, espera-se que a mãe ame o filho com ardor e
o demonstre sem inibições. Se ela não o faz, ou se há uma leve sombra de
“sentimentos negativos inconscientes” toldando o amor dela, é provável que algo
de gravemente errado se passe com o filho. Os conselheiros atuais chegam a
dizer: “Insistam em passar, diariamente, mensagens não-verbais de amor e
aceitação, através do contato visual, do toque e de abraços. Todos os filhos
precisam de expressões físicas do seu amor, não importa a idade que tenham.”
131
Nas sociedades tradicionais, os pais elogiam pouco, ou não elogiam nada. Quando
uma criança faz algo errado, eles batem nela (o castigo físico é muito difundido em
todas as sociedades, inclusive na nossa), ou riem dela, ou a amedrontam com
ameaças de fantasmas, gente má ou animais ferozes. Muits vezes, não se dá
nenhema explicação para o castigo, e o que se pune é o resultado do
comportamento da criança – uma tigela quebrada, por exemplo – ao invés das
boas ou más intenções dela.
135
Winthrop Kellog, professor de psicologia da Universidade de Indiana, penstou num
experimento: ele propôs criar um macaco num ambiente humano. O resultado foi
publicado em 1933, The Ape and the Child.
141
As pessoas com autismo têm tanto problema com a linguagem (mesmo que
aprendam a falar, a comunicação delas é pobre) porque elas não compreendem
que a finalidade da linguagem é pôr pensamentos nas mentes das outras pessoas
e extrair pensamentos das mentes das outras pessoas.
144
Socialmente, os chimpanzés se parecem mjuito conosco: eles dividem o mendo em
“nós” e “eles”. Um anima, mesmo que seja conhecido, pode ser atacado se ele não
for mais um de “nós” e tiver se tornado um “deles”.
[E logo a seguir ela mesma vem corroborar minha opinião ao dizer sobre os
chimpanzés que eles “têm todas as pré-adaptações necessárias para permitir o
surgimento de uma guerra, nas quais se incluem a vida em grupo, a
territorialidade, a habilidade para a caça e uma aversçao a estranhos”. Desta
relação eu retiro apenas o item “habilidade para a caça” pois isto não é necessário,
ou seja, sem isso também se faz guerra.]
A guerra entre grupos, diz o biólogo evolucionista Jared Diamon, tem sido parte da
nossa herança humana e pré-humana por milhões de anos”. Mais adiante ele diz:
“De todas as nossas características humanas a que provém mais diretamente dos
nossos precursosres animais é o genocídio”.
Mas não somos apenas macacos assassinos: também somos pessoas legais.
Darwin salientou que “um selvagem arriscará a própria vida para salvar a de um
membro da mesma comunicade”.
O escrito Ashley Montagu nos vê como filhos do poder da flor enquanto o escrito
Richard Wrangham nos vê como aqueles que nascem para matar. Tudo depende
se você examina o nosso comportamento com os membros do nosso próprio grupo
ou o nosso comportamento com os membros de outros grupos. Nascemos para
sermos simpáticos com os nossos companheiros de grupo porque por milhões de
anos as nossas vidas e as vidas dos nossos filhos dependeram desses
companheiros. E nascemos para sermos hostis com os membros de outros grupos
porque seis milhões de anos de história nos ensinaram a nos prevenirmos contra
eles.
Uma vez disparado o impulso para obter mais território e mais fêmeas, havia um
novo e melhor motivo par aum indivíduo matar os vizinhos: vamos matá-lo antes
que eles possam nos matar.
151
Os grupos não precisam de motivo para odiar outros grupos; só o fato de
que eles são eles e nós somos nós é em geral suficiente.
Assim, uma tribo da Nova Guiné tem a mais alta incidência de lepra,
outras têm uma alta freqüência de surdos-mudos ou de hermafroditas
machos ou de envelhecimento prematuro ou de puberdade retardada. As
diferenças genéticas entre as tribo, provavelmente devidas a mutações
em um ou dois genes, constituem a base dessas diferenças. São
diferenças pequens, mas os grupos não estiveram separados por muito
tempo. Com o tempo, os grupos separados tornam-se cada vez mais
diferentes.
O mais provável é que o aparecimento das diferenças tenha sido ajudado pelas
preferências sexuais: a ocorrência das primeiras pessoas de cabelo louro numa
população pode ter se dado por acaso, mas, se leas eram mais procuradas para
cruzamento, seus descendentes teriam proliferado. Esses traços poderiam acabar
servindo como marcas de distinção entre nós e eles.
[Esse tipo de coisa é mais um fator que me leva a pensar que a evolução da
espécie humana está fadada a tomar um rumo absolutamente diverso ou a
estagnar. A questão é que hoje, e cada vez mais, qualquer um nascido com
qualquer conjunto de características, pode “aparentar/simular” as características
que estejam na moda ou as que são importantes para quem se deseja atrair. Isto
vai levar a que pessoas morenas aparentemente louras, venham a ter filhos
morenos, obviamente, neutralizando (ou modificando) o papel do sexo na
evolução.]
[Por que não temos pelos e os macacos sim? Porque em algum momento algum
macaco/hominídeo nasceu com pouco pelo e iniciou uma linhagem de espécimes
de pouco pelo. Aos poucos eles foram se tornando “nós” e os peludos “eles”.
Simples assim]
William Golding, prêmio Nobel de literatura, como o filósofo ingês Thomas Hobbes,
acreditava que a “vida sem civilização” seria um mundo-cao: salve-se quem puder,
e quem ficar para trás paga o pato. Mntagu, como o filósofo francês Jean-Jacques
Rousseau, acreditava que a vida se assemelharia a uma comunidade hippie bem
administrada: todo mundo participa do trabalho e há muito tempo para se sentir o
cheiro das flores. A meu ver, os quatro estavam errados.
Quem acertou foi Darwin. “As tribos que habitam regiões adjacentes estão quase
sempre em guerra uma com a outa”, observou ele, e no entanto “um selvagem
arriscará a própria vida para salvar a vida de um membro da mesma comunidade.”
(...) Ver os seres humanos como assassinos ou misericordiosos, egoístas ou
altruístas, depende de se estar observando seu comportamento para com os
colegas do grupo ou para com os membros de outros grupos.
A única coisa de que se precisa pára produzir os efeitos de contraste dos grupos é
dividir as pessoas em dois grupos. [Os grupos, para ganharem identidade,
precisarão descobrir diferenças e potencializá-las para que se tornem marca.]
O que faz as pessoas favorecerem o grupo delas e se sentirem hostis, pelo menos
por algum tempo, para com outros grupos? E o que as motiva a se diferenciar de
seus companheiros de grupo, a lutar por sucesso e reconhecimento individuais? O
que determina qual destes dois processos contraditórios, a assimilação e a
diferenciação, irá prevalecer?
Assimilação e diferenciação.
Nos categorizamos desde “eu, um indivíduo único” até “eu, ser humano”.
187
John Turner, psiocologo social, especificou uma condição necessária para que uma
condição social se saliente: quando uma categoria comparável ou contrastante
esteja simultaneamente presente. Assim, a categoria social adulto não se saliente
quando se está numa sala cheia de adultos, mas assim que algumas crianças
entram na sala ela se torna saliente. Ele chama isso de grupo psicológico ou, um
termo mais antigo, grupo de referência.
229
Segundo Turner, as pessoa às vezes se categorizam como “nós” e às vezes como
“eu”, dependendo do contexto social. Quando é a noção de grupo que se saliente,
elas se vêem como indivíduos únicos, sui generis. Mas a maior parte do tempo,
elas não estão em nenhum desses extremos – a maior parte do tempo elas estão
flutuando (mentalmente) em algum lugar do espaço cinzento entre o “nós” e o
“eu”. Então, a maior parte do tempo elas estão suscetíveis tanto à ancisa de se
conformar quanto à ânsia de ser diferente. A solução mais comum é adaptar-se, a
maioria das vezes, e encontrar algum jeito de ser diferente.
237
Crianças criadas numa cultura onde o comportamento agressivo é a norma talvez
sejam recompensadas pelo comportamento agressivo com atenção ou aprovação.
Elas vêem seus pais se comportando agressivamente, elas vêem outros adultos da
sociedade delas se comportando agressivamente, e elas vêem outras crianças se
comportando agressivamente. Enquanto todas essas forças estiverem exercendo
tração conjuntamente, não há como dizer qual delas está fazendo o vagão se
mover. Temos que observar os casos em que as forças estejam exercendo tração
em direções diversas.
“O objetivo da educação que se recebe num colégio de eleite”, relatou Sir Anthony
Glyn, cujo pai era um baronete e recebeu educação tradicional da classe alta
britânica, “não é aprender nada de útil ou melhor, nada de nada. É ter o caráter e
a mente treinados, adquirir a imagem social correta e fazer os amigos certos.”
Na nossa sociedade, a maioria das cenas reais de sexo e violência ocorre por trás
de ports fechadas. Assim, ao invés de aprender sobre isso olhando os vizinhos, as
crianças de hoje vêem essas cenas na televisão. A televisão tornou-se a janela
delas para a sociedade, a praça da aldeia. Elas tomam o que vêem na tela como
uma indicação do que seja a vida lá fora e incorporam-na às suas culturas infantis.
Os personagens da Vila Sésamo fazem parte da matéria-prima de uma cultura
infantil tanto quanto a língua que essas crianças aprendem no colo da mãe.
Impedir que uma criança veja televisão não pretegeria essa criança contra a
influência desse meio, porque o impacto da televisão não se dá na criança
individualmente – o impacto se dá no grupo.
Ao morar num bairro e não num outro, os pais podem aumentar ou diminuir as
chances de que os filhos venham a cometer crimes, sejam expulsos da escola,
usem drogas ou engravidem.
278
No decorrer do século XX a cultura adulta foi-se tornando cada vez mais
igualitária, mas a infância continua mais sexista do que nunca.
Nem sempre os estereótipos são preciso; eles têm menos probabilidade de ser
precisos quando envolvem grupos que não conhecemos tão bem como
conhecemos os homens e as mulheres. Mas o verdadeiro perigo dos estereótipos
não é tanto a imprecisão quanto à inflexibilidade deles. Podemos estar certos
quando vemos os homens como mais aptos a desempenhar papéis de liderança e
menos hábeis em interpretar os sentimentos das outras pessoas, mas estamos
errados se achamos que todos os homens são assim. Somoa avaliadores bastante
bons das diferenças entre as médias – a diferença entre o membro médio do
grupo X e o membro médio do grupo Y -, mas somos avaliadores fracos da
variabilidade dentro dos grupos. A categorização tende a nos fazer ver os
membros das categorias sociais como mais parecidos do que eles realmente são, e
isso é particularmente válido para a categoria na qual não nos inserimos.
[Mas] o distúrbio bipolar ocorre com a mesma freqüência nos dois sexos, mas a
depressao unipolar (os baixos sem os altos), começando no inicio da puberdde, é
mais comum em mulheres. A queda de auto-estima que algumas garotas
vivenciam nessa idade pode ser um sintoma de depressão mais do que a causa
dela.
Quando algo sai errado no cérebro, o mais provável é que os homens tendam a
tomar a direção da ação, e o resultado é a violência. E é provável que as mulheres
tendam mais a tomar a direção oposta, e o resultado é a ansiedade ou a
depressão. A psicose maníaco-depressiva, então, significaria uma instabilidade do
equilíbrio entre os dois tipos de mecanismo.
305
Para as crianças que estão na escola, as pessoas mais importantes da sala de aula
são as outras crianças. Os fãs de uma criança são as outras cirancas na sala. A
professora não é uma fã – ela é um deles, o complemento necessário sem o qual
os pequenos atos de desafio seriam inúteis.
Sem sair da cadeira – sem mover um músculo – uma ciranca de se sete ou oito
anos pode entrar nas várias autocategorizacoes e delas sair. Numa hora, ela pode
pensar em si própria como uma menina da terceira série, numa outra, como uma
aluna da terceira série, e ainda numa outra, como aluna da Escola Marin Luther
King. Ela pode pensar em si como membro do grupo de leitura mais adiantado ou
como uma das garotas mais inteligentes da turma. Ela também pode ir e vir ao
longo do continuum eu e nós: às vezes ela se sente como membro do grupo, às
vezes a sua posição como indivíduo a interessa mais.
Os grupos às vezes, mas não sempre, têm lideres. O líder não é necessariamente
um membro do grupo; os grupos podem sofrer influencias internas ou externas.
Um professor é um líder que pode influenciar um grupo apesar de não ser um
membro deste grupo.
[Penso que aqui a autora esqueceu do que ela mesma elaborou. Um líder é
SEMPRE membro do grupo. Além disso, um líder é líder apenas enquanto a
existência do grupo é necessária. No exemplo que ela cita, o professor só é líder
quando o que está em jogo é a autocategorização “nós, os alunos da turma da
terceira série da escola Martin Luther King.]
Um artigo recente do New York Times citou uma professora do Bronx que disse
que alguns de seus alunos negros “preferiam ser algemados dinte das câmeras de
uma rede de televisão do que serem pegos lendo um livro.”
334
Para mim, os adolescentes pertencem à mesma espécie que nós, os outros – e
que, apesar de todas as aparências em contrário, eles são membros prestigiados
da raça humana. Eles são dotados do mesmo tipo de cérebro e se sentem
pressionados e atraídos pelos mesmos corretivos e incentivos. Querem
ser como os outros membros do grupo deles, só que melhores. Não
querem ser como os membros dos outros grupos.
As crianças não olham para os adultos para saber como se comportar, falar, ou se
vestir porque crianças e adultos pertencem a categorias sociais diferentes que têm
regras diferentes.
Uma vez que os palavrões perderam o caráter estimulante, os meninos dos lares
de classe média bem arrumados usam a pior palavra que conhece, “negro”, e
rabiscam a pior pichação, uma suástica. Os pais deles não são racistas; os pais
ficariam chocados. E é isso, exatamente, o que interessa. É um erro chamar a
pichação de suáticas feitas pelos meninos de um “crime de preconceito”. E um
errro ainda maior responsabilizar os pais por isso. Eles fazem suásticas porque
ninguém se espanta mais quando escrevem “FODA-SE”.
A adolescente que entra num grupo chamado pelos pais dela de “turma da
pesada” não terá uma vida tranqüila em casa. Os pais não gostam dos amigos
dela, não gostam do modo de se vestir e de agir dela, e não gostam dos relatórios
que estão recebendo da escola. Eles pedem que ela pare de se encontrar com os
amigos, mas, como os pais não podem controlar o que ela faz quando não está em
casa, ela os encontra escondido dos pais e mente. (...) Os adolescentes que são
membros de grupos “legais” tendem a se dar bem com os pais; os adolescentes
que são membros de grupos de delinqüentes tender a ter relações difíceis com os
pais.
396
O mistério não é por que algumas crianças são violentadas: é por que a maioria
das crianças não o é. As crianças incomodam tanto! Elas podem enfurecer tanto os
outros! Mas a maioria dos pais não maltrata os filhos e a maioria das crianças não
sofre maus-tratos – emso os filhos de pessoas que foram violentadas na infância.
A evolução forneceu às crianças traços e sinais que diminuem a possiblidade de
provocar raiva – que nos fazem nos sentirmos protetores em relação a elas e, se
elas são nossas, amá-las.
405
Como os pesquisadores observaram, esses traços de personalidade desvantajosos
são tão herdáveis quanto os traços saudáveis: as influencias genéticas respondem
por cerca de 50% das variações entre os indivíduos. E os traços aparecem cedo:
os pesquisadores puderam ver sinais deles em crianças de apenas três anos. É isso
mesmo, eles tinham dados desses mesmos indivíduos – do comportamento deles
avaliado por examinadores treinados – obtidos quando eles tinham 3 anos. As
crianças nesta idade que eram mais impuylsivas e se enfureciam mais rapidamente
do que outras da idade delas, e que tinhjam mais dificuldade em se concentrar
numa tarefa, tendiam a permanecer assim, e esses indivíduos tendiam a se meter
em “comportamentos de risco a saude” quando ficavam mais velhos.
481
A teoria da socialização do grupo prediz que as crianças irão se comportar de
forma diferente em contextos sociais diferentes porque o comportamento
aprendido é específico ao contexto no qual ele foi aprendido.
Cinderala descobriu que sua beleza era uma desvantagem em casa, mas uma
vantagem fora dela.
Quando um pai leva sua filha adolescente a um restaurante e confica alguns
amigos dela para irem junto, ele considera a maneira como ela se comporta
estranha para ele? Quando os pais visitam a escola, os filos ficam satisfeitos e/ou
embaraçados? E os filhos, será que eles voltam a se comportar como se
comportam em casa? O que faz um menino quando machuca o joelho na
presença tanto da mãe quando dos amigos: ele chora, como faria junto
com a mãe, ou banca o durão, como faria junto com os amigos?
Já ao final do primeiro ano, o bebê também sabe para onde uma pessoa está
olhando quando esta não está olhando para ele. Observar o rosto da mãe quando
ela está falando com uma pessoa que ele desconhece ajuda-o a decidir se o
estranho é amigo ou inimigo. Se o estranho olha muito intensamente para o bebê
antes que este tenha podido chegar a uma conclusão, o bebê vai provavelmente
virar o rosto. Se o estranho tenta pegá-lo no colo nesse momento, é provável que
o bewbê resista e chore de medo.
Em meados do segundo ano, a criança olha fixamente para a mãe para ver para
onde ela está olhando quando esta lhe diz uma plavra; a criança presume que a
poalavra se aplica ao objeto para o qual a mãe está olhando. Quando a criança
aponta para algo, ela confere para ver se a mãe olha para o objeto apontado.
Apontar para chamar a atenção de uma outra pessoa é uma característica
humana. Os chimpanzés não fazem.
Bebês de 6 meses se mostram precavidos contra adultos desconhecidos, mas
concedem o benefício da dúvida a crianças desconhecidas.
Aos 2 anos e meio, as crianças podem usar tanto palavras quanto ações para
coordenar sua brincadeira.
Aos 3 anos elas são capazes de participar de brincadeiras como casinha, que
requer tanto uma imaginação coordenada quanto uma ação coordenada.
385
Mais precisamente, se a presença ou ausência dos pais teve algum efeito
duradouro nos filhos, deve ter sido um efeito diferente para cada criança.
Educar filhos não é algo que um pai faça a um filho: é algo que o pai e o filho
fazem juntos.
A relação entre um pai e um filho, como qualquer outra relação entre dois
indivíduos, é uma rua de mão dupla – uma transação continua em que cada
sujeito desempenha um papel.
A idéia de que os filhos causam efeitos nos pais vem sendo gradualmente aceita.
A educação de filhos torna-se mais fácil se feita sem culpa e sem você ter que
pensar sobre os efeitos a longo prazo que as suas ações poderão ter sobre a frágil
e pequena psique do seu filho.
A educação de filhos torna-se mais fácil se feita sem culpa e sem você ter que
pensar sobre os efeitos a longo prazo que as suas ações poderão ter sobre a frágil
e pequena psique do seu filho.
“No primeiro dia de aula da minha filha ... ouvi a professora conversando com ela,
mas os murros na porta e os gritops continuavam. Eu quis entrar de novo, mas a
professora tinha me dito para eu não faze-lo, e assim não entrei.” A autora.
Na nossa sociedade nós ouvimos os especialistas. E eles nos dizem que se eles
trilham o caminho errado apesar de nossos esforços, devemos ter falhado na
execução de uma, ou de mais de uma, dessas instruções, ou te-las executado de
uma maneira insuficientemente consciente.
160
Posso pensar em 4 motivos para explicar porque o fato de se deixar influenciar em
excesso pelos pais não seria o melhor, a longo prazo, para a prole
1. uma predisposição para aprender apenas com os pais impediria que a prole
assimilasse as inovações úteis introduzidas por outros membros da
comunidade dela. Além do fato de que o que ela aprende com os pares
também tem mais probabilidade de ser mais oportuno, de estar mais
adequado às condições do momento.
2. variedade. Clonagem não é uma boa. A clonagem carrega virtudes e
defeitos. Algo que pudesse matar um, matéria a todos da família. A
evolução só foi (e é) possível graças a mecanismos que provocam a
diversidade. Em tempos bons e maus, a variedade dentro de uma família
pode propiciar uma gama maior de habilidades e uma base mais ampla de
conhecimento que será útil para a família como um todo. Ou seja, se os
pais tivessem o poder de influenciar os filhos tanto por meios ambientais
como geneticamente, os filhos seriam semelhantes demais aos pais e
semelhantes demais uns aos outros. Os filhos se pareceriam muito com
pequenos clones.
3. as crianças não podem contar com o fato de ter pais. Ter dois pais, um de
cada sexo, não era algo de que as crianças dos tempos ancestrais
pudessem ter certeza. Entre os inanomâmis, a probabilidade de que uma
criança de 10 anos ainda esteja morando com os pais biológicos é apenas
de um para três, porque a taxa de mortalidade é alta. Se as crianças
precisassem de pais para aprender o que tivessem de aprender, perder um
pai ou uma mãe seria um certificado de morte sob condições ancestrais.
4. interesses concorrentes de pais e filhos. O que é melhor para os pais não é
necessariamente melhor para os filhos. E vice-versa. O biólogo evolucionista
Robert Trivers conclui que a melhor política para a prole seguir é a de
cuidar dos próprios interesses e ao mesmo tempo procurar permanecer em
bons termos com os pais. [É o que a maioria de nossos filhos faz.] As vidas
das crianças caçadoras-coletoras dependia mais da sobrevivência do grupo
do que dos pais delas, porque memso que os pais morressem elas tinham
uma chance de sobreviver se o grupo delas obrevivesse. (...) As
perspectivas futuras delas dependiam, não em fazer com que os pais as
amassem, mas em se relacionar com os outros membros do grupo –
especialmente, os membros da geração delas, aquele com quem elas
passariam o resto da vida delas. A mente da criança moderna é um produto
destes 6 milhões de anos de historia evolutiva.
[Por que se tem tanto horror à clonagem de seres humanos se o tempo todo o que
os pais mais desejam e se empenham em, é em tornar seus filhos uma cópia de si
mesmo? Por que será que os pais (são, na maioria, sempre 2) insistem em gerar
este terrível conflito em seus filhos que é o de a cada momento ter que ser de um
jeito, uma hora do jeito do papai, outra do jeito da mamãe. Certos estava nosso
avô que se abstinha de interferir e deixava para a vovó toda a tarefa de educar os
filhos.]
Os adolescentes não são empurrados para se ajustar – eles são puxados, pelo
próprio desejo deles de pertencer ao grupo.
A mente da criança não possui apenas um único modelo mas muitos – um para
cada relacionamento. [???]
Não há nenhuma lei da natureza que diga que o sofrimento tenha de ter
seqüelas. As coisas que tornam os bebês (ou os adultos) infelizes não
têm necessariamente conseqüências a longo prazo. [???]
Embora uma mãe não possa atuar como substituta dos companheiros, os
companheiros podem atuar como substitutos da mãe.
O exemplo de William James Sidis. Seus pais acharam que o único filho deles era
tão especial que dedicaram as vidas deles a educa-lo. Ele aprendeu a ler aos 18
meses; aos seis anos, ele lia em diversas línguas. Em seis meses ele passou por
todas as sete series da escola. Foi retirado da escola e passou 3 anos em casa, 3
meses no segundo grau e mais alguns anos em casa.
Aos 11 anos entrou para a Universidade de harvard. Alguns meses depois fez uma
conferencia sobre “Corpos de 4 dimensões” no clube de matemática de harvard.
Esse foi o apogeu. Daí em diante, foi só decadência. Quando adulto, voltou-se
contra os pais – ele até se negou a comparecer ao enterrro do pai – e contra o
mundo acadêmico em geral.
É mais fácil para um bebê brincar com um dos pais ou um irmão: a pessoa mais
velha estrutura o jogo e, através da repeticção, ensina a criança a responder de
forma adequada. Já no primeiro aniversário, a criança americana média pode
brincar de massinha ou de esconder com os pais. Um companheiro da mesma
idade, um par, não é nem de longe tão prestativo nem tão compreensivo. Mesmo
com a melhor da intenções, uma criança de um ano não brinca com outra da
mesma idade.
O fato de quem uma ligação sólida com um dos pais (ou com um substituto de um
dos pais) seja necessária para bebês e crianças pequenas não significa que ela
seja uma necessidade para uma criança mais velha.
Donald Kellogg, não foi criado por maçados - lê fooi criado, durante quase um
ano, com um macaco. Com um ano e sete meses, Donal só falava três palavras em
inglês mas ele se saía muito bem ao se comunicar na língua dos chimpanzés. Por
que Donald preferia imitar a língua do chimpanzé em vez da língua dos pais dele?
Porque ele percebeu que ele e Gua estavam na mesma categoria social, na eu se
baseava na idade. Os bebês categorizam por idade e por sexo antes de
completarem um ano.
Só há uma maneira de fazer com que uma crianã em idade pré-escolar aprenda a
gostar de um alimento que despreza: sentá-la à mesa com um grupo de crianças
que gostam dessa comida e servi-la a todas elas.
Uma das características do sentido de grupo é que as pessoas não têm de gostar
de todos os membros do grupo. Alias, elas não têm de cohecer todos os membros
do grupo. Aliás, elas não têm de conhecer nenhum membro do grupo. A única
coisa necessária é saber que vc e eles estão na mesma categoria social. É uma
questão de autocategorizacao:
Eu sou (um) X.
Eu não sou (um) Y.
As relações duais se baseiam em coisas como dependência, amor e ódio, e prazer
na companhia do outro. O sentido de grupo se baseia no reconhecimento de
semelhanças básicas – somos parecidos de algum modo – ou compartilhamos de
um destino – estamos todos no mesmo barco.
[E “se identificar” não significa aceitação.] Embora como aluna da quinta série eu
não interagisse, de nenhuma maneira, com as outras meninas da quinta série, eu
me identificava com elas. Elas eram o meu grupo psicológico e me rejeitaram; por
isso, nesse sentido, fui explusa do grupo.
Valeu, papai. Mas relaxe: não é a sua opinião que conta para a sua filhinha. (...)
As opiniões dela não se baseiam no que ela ouve os pais dizerem; eles, por
exemplo, nunca disseram: “Meninos são... eca!” nem “Ele não pode brincar com a
gente, ele é menino”.
326
Não parece haver nenhuma grande vantagem em ter pais que possam lhe ensinar
os costumes locais antes que você se aventure lá fora. A maior vantagem é que
você se sente menos constrangido quando, mais tarde, quiser levar seus amigos
para a sua casa ao sair da escola.
Uma vez que as crianças tenham se dividido em grupos, ´pe extremamente difícil
faze-las voltar à situação inicial.
Uma outra maneira é criar novos grupos que se entrecruzem. Ou seja, propriciar
às crianças oportuniddes de divisões inofensivas.
366
Vou lhe pedir que vc me prometa não sair por aí dizendo a todo mundo
que eu disse que não importa a maneira como vc trata os seus filhos. Eu
não disse isso; não estou insinuando isso; e nem acredito nisso. Não é
legar sermos cruéis ou negligentes com os nossos filhos. Não é legar por
muitas razões, mas principalmente porque as crianças são seres
humanos pensantes, afetivos e sensíveis, completamente dependentes
das pessoas mais velhas próximas a eles. Podemos não ter o amanhã
deles em nossas mãos, mas sem dúvida temos o hoje deles, e temos o
poder de tornar esse hoje muito infeliz.
Se digo que Amy e Beth “herdaram” essa predisposição dos pais biológicos delas,
não me compreenda mal: os pais tiologicos delas talvez não tivessem nenhum
desses sintomas. Combinações ligeiramente diferentes de genes podem produzir
resultados muito diferentes, e apenas gêmeos idênticos têm exatamente a mesma
combinação. Gêmeos fraternos podem ser surpreendentemente diferentes e o
mesmo vale para pais e filhos: uma criança pode ter características que não se
encontram em nenhum dos pais dela. Mas há uma relação estatística – uma
probabilidade maior de que uma pessoa com problemas psicológicos tenha um pai
biológico ou um filho biológico com problemas semelhantes.
A renda mais alta de uma família que inclui um adulto do sexo masculino significa
que as crianças com os dois pais têm maior probabilidade de morar num bairro
com uma cultura de classe média, e, consequentemente, maior probabilidade de
se adaptar às normas da classe média.
Mas por que a renda familiar mais alta não ajuda as crianças criadas em famílias
com um padastro? A resposta é que essas crianças têm um outro problema:
mudanças demais. Elas foram transportadas de uma residência para a outra com
mais freqüência do que as crianças civendo em qualquer outro arranjo familiar, e a
cada vez que se mudaram elas perderam o grupo de pares delas e tiveram de
começar tudo de novo num outro lugar.
397
É claro que as crianças pequenas precisam de pais ou de pais substitutos. Acredito
que as pessoas que cuidam das crianças sejam um aspecto do ambiente, como a
luz e o padrão, que o cérebro de um bebê requer para se desenvolver
normalmente. Mas os pais ou os pais substitutos talvez não sejam necessários
para as crianças acima dos cinco ou seis anos (pense nas crianças criadas em
orfanatos). Para as crianças mais velhas, um grupo de pares estável talvez seja
mais importante. A teoria por trás dos lares de adoção é a de que crianças
precisam de famílias. Acho que eles precisam mais de um grupo de pares estável
do que de famílias. Ao tentar lhes propiciar famílias – tentar, em alguns casos,
muitas vezes – agências bem-intencionadas roubaram-lhes os pares.
As crianças maltratadas, em geral são mais agressivas do que as outras, mas isso
poderia se dever à herediatiedde: os pais que as maltratam também são
agressivos. Seus outros problemas poderiam se dever mais aos maus-tratos dos
pares do que aos maus-tratos parentais, ou ao fato de se mudarem demais. Não
sabemos exatamente.
411
Duas gemes idênticas, criadas separadamente desde a infância e cresceram em
lares adotivos diferentes. Uma se tornou uma pianista concertista, talentosa o
suficiente para ter se apresentado como solista da orquestra de Minnesota. A outra
não toca uma nota sequer. Como elas têm os mesmos genes, a disparidade pode
ser atribuída a uma diferença nos meios em que as duas foram criadas. Com
certeza, uma das mães adotivas era uma professora de música que dava aulas de
piano em casa. Os pais que adotaram a outra gêmea não tinham nenhum pendor
musical. [Quase isso! Os pais adotivos que não tinham nenhum pendor musical
eram os pais da gêmea virtuose, e a mãe que era professora de piano era a da
filha adotiva que não tocava uma nota sequer!]
Foi perguntado à virtuose qual tinha sido a motivação para ela ter se dedicado
tanto ao piano. Ela respondeu: “Eu gostava de tocar e queria tocar melhor, e eu
melhorava à medida que praticava.” O virtuosismo contem em si o seu premio.
413
[Outra escorregada autora. quando ela diz que “a prática de uma religião não é
algo que ocorra entre as crianças e seus pares: as criancas praticam alguma
religiao junto com os seus pais. É por isso que os pais ainda têm algum poder de
dar aos filhos uma religião.” Hora, nada disso, e é ela mesma que demonstra que
não é. A razão não são os pais mas o ambiente religioso comum dos seus pares é
que sustenta sua crença religioso.]
414
Algumas coisas que são aprendidas em casa podem ser conservadas mesmo que
sejam levadas para o grupo de pares – ainda que sejam diferentes – porque os
grupos exigem a conformidade apenas até um certo ponto. Há comportamentos
que são obrigatórios e outros que são opcionais, e saber qual é qual depende do
grupo em que se está.
As crianças aprendem a tocar piano em casa. Elas aprendem como é ser médico
ou por que é melhjor ser um democrata ou como embrulhar as palhas do milho em
volta das pamonhas. O que elas não aprendem em casa é a se comportar em
público e a conhecer que tipo de pessoa elas são. Isso elas aprendem no grupo de
pares. [Aqui eu vejo a origem da dificuldade que a maioria das pessoas têm de
falar em público.]
Tiger Woods e o pai tinham ambos a mesma tenacidade que encontrei em Donald
Thornton – a mesma capacidade de se concentrar numa meta e trabalhar com
muita persistência para atingi-la.
Escolher os pares de seus filhos é o único poder que quase todos os pais têm – a
possiblidade de determinar o curso da vida do seu filho. [Fica mais difícil quanto
mais o filhos cresce mas] ao menos nos primeiros anos, eles podem determinar
quem são os pares do seu filho.
O contágio das atitudes tem seu ponto fraco: as atitudes más são tão atraentes
quanto as boas. Muitos pais temem que o filho tenha entrado numa “turma da
pesada” e que essas companhias tenham uma influencia perniciosa nele. Muitas
vezes eles estão certos, embora seja quase certo que o filho deles tanto influencie
como seja influenciado.
Às vezes as pessoas me perguntam: “Você está querendo dizer que o jeito como
eu trato o meu filho não tem importância?” Elas nunca perguntam “Você está
querendo dizer que o jeito como eu trato o meu marido ou a minha mulher não
tem importância?” (...) Eu não espero que o jeito como trato o meu marido vá
determinar o tipo de pessoa que ele vai ser daqui a dez ou 20 anos.
[O problema é que os pais não “querem” que os filhos sejam como eles desejam.
O que os pais querem é evitar a dor: a dor da discusão, a dor da aporrinhacao, a
dor de encarar os pares, a dor da decepção de pensar que o filho não vai atingir o
status sócio-economico que ele conseguir, a dor de ver um filho preso, a dor de
ver um filho ferido, alijado ou moto... Exclua todos estes riscos e qualquer pai não
vai estar nem aí para o que o filho seja ou deseje ser.]
Se você não acha que os imperativos morais sejam motivo suficiente para você ser
bom com o seu filho, tente esse outro: seja bom com o seu filho enquanto ele é
pequeno para que ele seja bom com você quando você for velho. [O melhor seria
você ser bom com ele numa fase em que ele mais tarde vá se lembrar disso.]
Um bebê num bando de caçadores-coletores nômades nunca ficav a sozinho em
cisrcunstancias normais. Se ele se percebesse soainho, e ao começar a chorar não
conseguisse a presença da mãe, ele estava metido numa grande enrascada. Ou a
mãe dle estaria morta ou elea teria decidido não tomar mais conta dele. O grupo
já ia prosseguir e ele estava sendo deixado para trás. Ele estava liquidado se não
os persuadisse rapidamente a mudar de idéia. O único meio de persuasão que ele
tinha era o choro. E ele chorou porque estava aterrorizado e zangado, e com toda
razão.
429
Se o cérebro precisasse de leitura de poesia e de móbiles decorativos para que
suas sinapses ocorressem corretamente, nossos ancestrais teriam perambulado
pelo mundo com cérebros defeituosos.
A razão para os pais que lêem para os filhos terem filhos mais inteligentes é que
esses pais são mais inteligentes. Seus filhos são mais inteligentes porque a
inteligência é em parte herdada [???]. Se houvesse alguma razão ambiental, então
não encontraríamos uma correlação zero no Q.I. entre dois irmãos adotivos criados
pelos mesmos pais. Não há base nenhuma cientifica para a crença de que é
possível tornar as crianças mais inteligentes dando-lhes coisas interessantes para
elas verem e ouvirem.
Nas sociedades tradicionais, pais não são colegas. Eles não são companheiros de
vrincadeiras. A idéia de que os pais devam entreter as crianças é bizarra para as
pessoas dessas sociedades.
439
As crianças não são assim tão frágeis. Elas são mais duras do que você pensa. Elas
têm que ser, porque o mundo lá fora não as trata com luvas de pelica. Em casa
pode ser que elas ouçam “O que você fez me deixou muito triste”, mas lá no
recreio vai ser: “Seu babaca!”
As pessoas pensam que os pais têm grandes efeitos nos filhos, efeitos duradouros.
Ms se eles realmente têm efeitos, deve ser um efeito diferente para cada filho,
porque crianças criadas pelos mesmos pais não resultam em adultos iguais, do
momento em que se afastam as semelhanças devidas aos genes partilhados. Duas
crianças adotadas, criadas na mesma casa, não têm mais semelhanças na
personalidade do que duas crianças adotadas criadas em lares separados. Um par
de gêmeos idênticos criados no mesmo lar não é mais parecido do que um par
criado em lares separados.
O primeiro erro sobre as crianças tem a ver com o ambiente da criança. (...) Na
grande maioria das culturas até recentemente, os homens que tinham condições
podiam ter esposas extras. A poliginia é antiga e muito difundida na nossa espécie.
Muitas vezes as crianças são solicitadas a partilhar o pai com os filhos das oturas
esposas do pai.
O segundo erro tem a ver com a natureza da socialização. (...) A socialização não
é uma ação dos adultos sobre as crianças – lea é uma acao das crianças sobre si
mesmas.
O quinto erro é ignorar a nossa historia evolutiva e o fato de que, por milhões de
anos, nossos ancestrais viveram em grupos. Foi o grupo que permitiu a essas
criaturas delicadas, desprovidas de presas ou garras, sobreviver num ambiente
que tinha presas e garras.
474
Há um par de gêmeas inseparáveis que mora no meio-oeste dos Estados Unidos:
são duas meninas felizes, bonits, que compartilham um único corpo. Abigail
controla o braço e a perna direita, Brittany, o braço e a perna esquerda. Seus
cérebros separados foram constuidos conforme inst5rucoes idênticas codificadas
numa estrutura de DNA idêntica. Seus ambientes também são idênticos – elas vão
a toda parte juntas, não têm outra opção. E, no entanto, as personalidades delas
não são idênticas. Uma das gêmeas é dominante. A atitude dela com a irmã é
maternal, protetora. A outra parece menos segura de sei, mais moça. Talvez essas
diferenças tenham origem no fato de que uma é mais saudável do que a outra
(que tem propensão a ter infecções pulmonares e de ouvido). Seja como for que a
assimetria na relação delas tenha começado, ela se tornou um padrão de interação
que se autoperpetua.
PESQUISAS
Estudos recentes demonstram que a resposta para a pergunta “Os bebês sofrem
prejuízos a longo prazo pela falta de cuidado materno em seus primeiros anos?” é
NÃO.
276
Em 1930, Hugh Hartshorne e Mark May empreenderam uma pesquisa sobre o que
eles chamaram de “caráter”. Os pesquisadores propuseram às crianças diversas
situações em que as tentações eram mentir, roubar ou trapacear. Eles descobriram
que as crianças que se comportaram virtuosamente numa situação não
necessariamente se comportariam da mesma maneira numa outra. Descobriram,
especificamente, que um garoto que resistiu à tentação de desobedecer às normas
de casa, mesmo quando não havia ninguém espiando, tinha tanta probabilidade
quanto qualquer outro de colar numa prova da escola ou trapacear num jogo do
pátio. Os resultados sugerem que o que as crianças aprendem dos pais
sobre padrões morais não ultrapassa a porta da casa delas. Eles concluíram
que “a unidade normal para a educação do caráter é o grupo ou a pequena
comunidade.”
As correlações são resultado de, ou são influenciadas por, algo que os estatísticos
chama de “variância metodológica compartilhada”. As pessoas têm respostas
tendenciosas que influenciam as respostas delas a todas as perguntas que lhes são
feitas: sim, meus pais são bons para mim; sim, estou me saindo bem. Uma pessoa
que se preocupa em apresentar ao mujndo um rosto socialmente aceitável marca
respostas socialmente aceitáveis: sim, meus são bons para mim; não, não me meti
em brigas enm fumei nada ilega. Uma pessoa que está com raiva ou deprimida
marca respostas raivosas ou deprimidas: meus pais são uns babacas e eu fracassei
no teste de álgebra e esse questionário que se dane.
606?
Teorias que não se baseiam em métodos ou resultados científicos são difíceis de
serem derrubadas com argumentos científicos.
478
Para testar as teorias do desenvolvimento infantil, é necessário separar três
possíveis influencias sobre o comportamento e a personalidade das crianças: os
genes, as experiências delas em casa e as experiências delas fora de casa.
Resumirei aqui, por que razão acredito que as evidencias existentes não provam o
que, a primeira vista, elas parecem provar.
Efeito genético indireto – os efeitos dos efeitos dos genes. A timidez de uma
criança (efeito genético direto) faz com que sua mãe reafirme a confiança que tem
nela, com que a irmã zombe dela e com que seus parceiros lhe caiam na pele.
Gêmeos idênticos levam vidas semelhantes por causa dos efeitos genéticos
indiretos.
Díade – termo técnico para um “grupo” de duas pessoas. Tríade, para três.