Psicologia Do Controle Social - Celso Pereira de Sá
Psicologia Do Controle Social - Celso Pereira de Sá
Psicologia Do Controle Social - Celso Pereira de Sá
_ ^Psicologia
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lSocial
r Celso Pereira de Sá
achiamé
PSICOLOGIA DO
CONTROLE SOCIAL
PSICOLOGIA DO
CONTROLE SOCIAL
Dissertação de mestrado apresentada
ao Centro de Pós-graduação em Psicologia Aplicada
da Fundação Getulio Vargas
achiamé
Rio de Janeiro
1979
SÉRIE UNIVERSIDADE
Orientador: Luiz Felipe Baeta Neves
Celso Pereira de Sá
1
SUMÁRIO
Agradecimentos 7
Prefácio 11
Bibliografia 165
PREFÁCIO
15
INTRODUÇÃO
CONTROLE SOCIAL E
CONTROLE DO COMPORTAMENTO
Segundo a perspectiva da Análise Experimental do Com
portamento desenvolvida por B. F. Skinner, o controle social
surge como um caso particular de controle do comportamento,
inteiramente explicável pelos mesmos conceitos e proposições
operacionais que dão conta desta questão mais geral. Exercí
cios intelectuais desse tipo, isto é, de estudo do fenômeno do
controle social através de uma extrapolação do enfoque psico
lógico behaviorista do controle do comportamento, têm sido
realizados não só por Skinner, mas também por vários de seus
seguidores. Embora constituam empresas de inegável valor cultu-
ral-científico, tais exercícios apresentam comumente sérios in
convenientes acadêmicos, pelo fato de tenderem a assumir um
caráter autocontido, não fazendo caso das tradicionais coloca
ções sociológicas, antropológicas ou históricas do problema do
controle social. Uma conseqüência disso é a de que os cien
tistas sociais, eles próprios pouco familiarizados com a termi
nologia psicológica comportamentista, são assim levados a sus
peitar de que os dois grupos de estudiosos não estejam absolu
tamente falando sobre a mesma coisa, sobre o mesmo complexo
e dramático assunto humano. Com freqüência, inclusive, esse
desentendimento evolui para uma denúncia de propósitos redu-
cionistas. Confunde-se o despojamento semântico característico
de uma abordagem comportamental básica com uma atitude de
negação da autonomia explicativa das construções teóricas
17
que operam em um nível superior (no sentido de menos básico)
de estudo da vida humana e de sua organização. Por outro lado,
os elaboradores e os usuários dessas construções superiores, ri
cas em diferenciações conceituais e sutilezas semânticas, reagem
ao suposto reducionismo dos primeiros, acusando-os de simpli-
ficadores ou simplistas, empobrecedores enfim da complexidade
inerente ao fenômeno humano.
Do que foi dito, deve-se prontamente depreender que evi
tamos desenvolver o tema “controle social”, segundo os parâ
metros proporcionados pela análise experimental do compor
tamento, em um estilo autocontido. Com efeito, acreditamos
que os esforços mais produtivos para a diluição das fronteiras
artificialmente levantadas entre dois empreendimentos cultu
rais, como a Sociologia e a Psicologia, dados os seus status
autônomos atuais historicamente conquistados, sejam aqueles
que proporcionem uma familiarização e uma articulação com
preensível de ambas as ordens de proposições teóricas, e não
os que busquem assimilar uma à outra, afirmá-las ou negá-las,
ou ainda propor alguma síntese ambiciosa e prematura como
a dos fracassados projetos antropológicos dos séculos XVIII
e XIX denunciados por Duchac (12). Adotamos, aqui, a ati
tude acadêmica realista de considerar o núcleo central do pro
blema estudado como pertencendo de fato e de direito ao do
mínio da Sociologia, mas não por isso inacessível ou refratário
a uma análise psicológica, ou em particular à análise compor-
tamentista. Acreditamos, ainda, que a adição de tal análise
ao campo de estudos do controle social (não sua redução
àquela análise) deve ter o efeito de ampliá-lo teoricamente,
e não o de empobrecê-lo ou descaracterizá-lo como julgam
outros.
Dentro, assim, de uma orientação geral de desenvolvi
mento da análise psicológica a partir da colocação sociológica
corrente do problema, preferimos manter presente a multipli
cidade de acepções com que o termo “controle social” tem
sido empregado pelos sociólogos, ao invés de eleger uma única
definição particular como ponto de partida. Um tal quadro
conceituai amplo e complexo é proporcionado pelo soció
logo brasileiro Florestan Fernandes (14), que, após realizar
18
um extenso exame crítico dos sentidos atribuídos ao controle
social por diferentes autores, conclui pela “obscuridade e equi-
vocidade” (sic) de tal conceito. Alguns desses sentidos, diz
Fernandes, são contraditórios ou mutuamente exclusivos. As
quatro aplicações gerais do conceito identificadas por aquele
autor, bem como as diversas definições particulares propostas
em trabalhos de introdução ao pensamento sociológico que po
demos lhes fazer corresponder, demonstram cabalmente o con
trovertido estado teórico-conceitual da questão. O termo
“controle social” surge, assim, nas obras de lavra sociológica
com os seguintes significados:
28
CAPITULO I
30
nãdo é deliberadamente agredida; ele é despojado dos vários
indicadores de seus papéis e vínculos sociais prévios, tais como
o uso de roupas próprias e pertences pessoais, contactos com
familiares e amigos de fora e até a identificação pelo nome
(que é, com freqüência, substituído por um número). É inte
ressante observar, como faz Goffman, que as instituições totais
das nossas sociedades não procuram realmente obter uma vi
tória cultural sobre o indivíduo, quando lhe negam de forma
sistemática confirmações ao seu “eu” anterior. Com esses ex
pedientes, elas simplesmente “criam e mantêm um tipo espe
cífico de tensão entre o mundo doméstico e o mundo institucio
nal, e usam essa tensão persistente como uma força estratégica
no controle dos homens”; o propósito parece ser apenas o de
mantê-los submissos, obedientes e conformados aos padrões
sociais do seu novo ambiente, enquanto lá permanecerem.
As instituições totais constituem, assim, organizações dedi
cadas ao “controle pelo controle”. Na verdade, suas equipes
dirigentes desenvolvem uma intensa atividade intelectual no
sentido de legitimar aquela realidade institucional. As técnicas
de controle social que empregam são freqüentemente apresen
tadas em uma linguagem que reflete os objetivos oficiais da
instituição. Como observa Goffman, “a contradição entre o
que a instituição realmente faz e aquilo que oficialmente deve
dizer que faz, constitui o contexto básico da atividade diária
da equipe dirigente.” Interessa-nos, entretanto, no momento,
discutir apenas aquilo que as instituições totais fazem — o
controle da vida diária dos seus membros — e como o fazem.
As medidas de controle em tais organizações podem ser con
substanciadas no que Goffman chama de “sistema de privi
légios”, constituído de três elementos básicos:
Alternativas de Controle:
Reforçadores Idiossincrásicos e Generalizados
Condasao
43
CAPITULO II
Isolamento Psicológico
e Controle do Pensamento em “1984”
50
passagens seguintes podem proporcionar um esclarecimento ini
cial dessa assertiva:
52
“Não é, então, por nossa memória propriamente pessoal
qiie t) nosso passado tem a consistência, a continuidade, em
uma palavra, a objetividade que o caracteriza a nossos pró
prios olhos. (: . .) [Ele] deve tudo isso à intervenção de fa
tores sociais, à perpétua referência da nossa experiência
individual à experiência comum a todos os membros do nos
so grupo, à sua inserção em quadros coletivos aos quais se
referem os acontecimentos à medida que são vividos,...
Néstas condições se torna verossímil que, com efeito, como
sustenta Halbwachs, nossas recordações propriamente ditas se
jam, não reproduções da nossa vida passada, mas sitn reconsti-
truições ou reconstruções irrealizáveis fora da vida social. ( . . . )
nossà memória histórica se resolve, por assim dizer, em
‘saberes’ que seriamos incapazes de alcançar c utilizar por
nosso próprio esforço, porque são cs marcos e noções que a
coletividade nos garante e impõe, que asseguram a sua fir
meza e coerência c regulam constantemente para nós o seu
emprego” (8).
Isolamento Psicológico
e Controle do Comportamento em Walden D
Conclusão
67
CAPÍTULO III
Conclusão
90
CAPÍTULO IV
IDENTIFICAÇÃO DE CONTROLADORES
E CONTROLADOS
109
CAPITULO V
127
tal como era impossível para o indivíduo na fase da invenção
preservar seu desejo de uma espontaneidade absoluta de adap
tação” (30).
A Viabilidade do Planejamento
A Tecnologia Comportamental
e a Complexidade Humana
As Atitudes Ambivalentes
em Relação ao Planejamento
142
de orientações políticas indispensáveis ao controle racional de
culturas que estão evoluindo com acelerada rapidez” (55).
147
CAPITULO VI
164
BIBLIOGRAFIA
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