TJRJ - Falta de Tornozeleira Não Permite Manter Prisão PDF

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 14

82

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

OITAVA CÂMARA CRIMINAL


AGRAVO DE EXECUÇÃO PENAL Nº 0430384-14.2016.8.19.0001
AGRAVANTE: MINISTÉRIO PÚBLICO
AGRAVADO: ALOYSIO GASTALDI VILLALBA ALVIM
ORIGEM: MM. JUIZ DE DIREITO DA VARA DE EXECUÇÕES PENAIS
RELATOR: DES. CLAUDIO TAVARES DE OLIVEIRA JUNIOR

EXECUÇÃO PENAL. RECURSO MINISTERIAL


PLEITEANDO CASSAÇÃO DA DECISÃO QUE
DEFERIU A PROGRESSÃO PARA O REGIME
ABERTO, NA MODALIDADE ALBERGUE DOMI-
CILIAR COM MONITORAMENTO ELETRÔNICO,
AO ARGUMENTO DE QUE A LONGA PENA A
SER CUMPRIDA E O HISTÓRICO DO APENADO
NÃO SE COMPATIBILIZAM COM O BENEFÍCIO,
ALÉM DE DESCUMPRIMENTO AO ARTIGO 114, I
DA LEI 7210/84. DESPROVIMENTO DO RECUR-
SO.
A progressão do regime semiaberto para o aberto
se deu em observância aos requisitos estabelecidos
no artigo 112 da LEP, na medida em que, embora o
término da pena esteja previsto para 20/11/2020,
verifica-se que o agravado, o qual cumpre pena no
regime semiaberto desde 08/11/2014, completou
1/6 de seu cumprimento, além de possuir excelente
comportamento.
A gravidade do crime praticado e o tempo restante
da pena a ser cumprida não são óbices à conces-
são do pleito, desde que preenchidos os requisitos
objetivos e subjetivos previstos em lei.
No caso em comento, alega o recorrente que o
agravado não preenche o requisito subjetivo por ser
portador de patologia psiquiátrica. No entanto, tal
assertiva é negada pelo laudo psiquiátrico que
compõe o exame criminológico, indicando que o
apenado não possui qualquer doença psiquiátrica a
impedir a concessão do benefício.
Agravo Execução Penal nº 0430384-14.2016.8.19.0000 (8ª CCrim) - ACÓRDÃO – Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior Fl. 1 de 14
83

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

De igual modo, não é razoável exigir do apenado a


efetiva prova de estar trabalhando ou a possibilida-
de concreta de fazê-lo, considerando o quadro bra-
sileiro e até mesmo mundial, a registrar uma crise
empregatícia.
A aplicação literal do artigo 114, I, da LEP, importa
na vedação in abstrato à pretendida progressão, in-
viabilizando o direito à reintegração social. Assim, a
exigência legal deve se harmonizar com a realidade
do país. Precedentes Jurisprudenciais.
Inteligência do Enunciado nº: 17 da Vara De Execu-
ções Penais.
Quanto ao cumprimento da pena em albergue do-
miciliar, deve-se ressaltar que o artigo 117 da Lei de
Execuções Penais enumera as hipóteses em que é
possível a concessão de prisão domiciliar ao bene-
ficiário de regime aberto. Entretanto, o dispositivo
não é taxativo, sendo possível admitir o recolhimen-
to do beneficiário de regime aberto em residência
particular, quando inexistir Casa de Albergado, ou
na ausência de vagas na instituição destinada para
acolher o apenado, como é a hipótese dos autos.
Da mesma forma, não se pode negar o benefício ao
apenado por não possuir o Estado condições finan-
ceiras para arcar com o sistema de monitoramento
eletrônico. A indisponibilidade de tornozeleiras ele-
trônicas é resultado da crise financeira, não poden-
do o ônus da má administração da máquina estatal
repercutir no direito de liberdade do agravado.
Destarte, estando presentes os pressupostos legais
para concessão do benefício, impõe-se a manuten-
ção da decisão impugnada.
Prequestionamento - Desnecessária qualquer ma-
nifestação pormenorizada do Colegiado, posto que
toda matéria versada foi, implícita ou explicitamen-
te, considerada na solução da controvérsia. Ade-
mais, a jurisprudência das Cortes Superiores é as-
sente, no sentido de que adotada uma diretriz deci-
Agravo Execução Penal nº 0430384-14.2016.8.19.0000 (8ª CCrim) - ACÓRDÃO – Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior Fl. 2 de 14
84

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

sória, reputam-se repelidas todas as argumenta-


ções jurídicas em contrário.
Recurso conhecido e desprovido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de


AGRAVO EM EXECUÇÃO nº 00430384-14.2016.8.19.0000, em que
é Agravante MINISTÉRIO PÚBLICO e Agravado ALOYSIO GAS-
TALDI VILLALBA ALVIM.

ACORDAM os Desembargadores que integram a


Oitava Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de
Janeiro, por unanimidade de votos, em conhecer do recurso e despro-
vê-lo, nos termos do voto do Relator, que passa a integrar o presente.

RELATÓRIO

Trata-se de Recurso de Agravo em Execução inter-


posto pelo Ministério Público, em face de decisão que concedeu a
progressão do apenado Aloysio Gastaldi Villalba Alvim para o regime
aberto, na modalidade de albergue domiciliar, sem monitoramento ele-
trônico (e-doc. 2, fls. 19/22).

Nas razões recursais, sustenta o Parquet que o


agravado não faz jus à progressão por ausência do requisito subjetivo.
Argumenta que a decisão impugnada não considerou o resultado do
laudo psiquiátrico, o qual aponta para a existência de uma patologia
impeditiva do benefício e nem o requerimento ministerial de esclare-
cimento do exame médico.

Alega, ainda, ausência de prova de que o agravado


possua efetiva proposta de emprego.

Agravo Execução Penal nº 0430384-14.2016.8.19.0000 (8ª CCrim) - ACÓRDÃO – Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior Fl. 3 de 14
85

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Sustenta, outrossim, que o cumprimento da pena


deve ocorrer em Casa de Albergado, considerando a falta de pulseiras
eletrônicas para o monitoramento.

Por fim, prequestiona toda matéria ventilada (e-doc.


2, fls. 5/16).

Em contrarrazões, a defesa se posicionou em pres-


tígio da decisão hostilizada (e-doc. 2, fls. 52/57).

Quando do exercício do juízo de retratação a deci-


são foi mantida (e-doc 2, fl. 67).

A ilustre Procuradora de Justiça, Dra. Luiza Thereza


Baptista de Mattos, opina pelo provimento do recurso ministerial (e-
doc 75).

É o relatório. Passo a votar.

Razão não assiste ao Ministério Público.

Trata-se de recurso de Agravo no qual o Ministério


Público pretende a reforma da decisão do Juízo da Vara de Execu-
ções Penais, que concedeu ao agravado a progressão para o regime
aberto, nos seguintes termos:

Trata-se de requerimento de progressão de regime para o


aberto na modalidade de Prisão Albergue Domiciliar (PAD),
formulado em favor do apenado, com manifestação contraria
do Ministério Público.
Em que pese a promoção Ministerial de sequência 120, item
2, consta parecer do médico psiquiatra responsável infor-
mando do equivoco de marcação no exame criminológico
juntado aos autos em sequência 101 e ratificando que não
existe patologia que impeça o benefício.
É sabido que o regime aberto é aquele destinado aos con-
denados que não apresentam sinais de periculosidade e
que são responsáveis pelo cumprimento da pena. Fun-
da-se na autodisciplina e senso de responsabilidade do
condenado (artigo 36 do CP), que deverá, fora do estabele-
cimento e sem vigilância, trabalhar, frequentar curso ou
Agravo Execução Penal nº 0430384-14.2016.8.19.0000 (8ª CCrim) - ACÓRDÃO – Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior Fl. 4 de 14
86

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

exercer outra atividade autorizada, permanecendo recolhido


durante o período noturno e nos dias de folga (artigo 36,
§1º, do CP).
Neste contexto, o executado vem demonstrando se en-
contrar apto a ser submetido, nesse
momento, ao regime de albergamento, já tendo cumpri-
do o lapso temporal exigido, com
mérito carcerário (artigo 112 da LEP).
De outro lado, sabemos que a Casa do Albergado é o esta-
belecimento penal destinado ao
cumprimento da pena em regime aberto. Não existe regime
aberto sem a Casa do Albergado
ou outro estabelecimento similar e adequado, preceituando a
Lei de Execução Penal que esse
prédio destinado ao cumprimento do regime aberto deve
situar-se em centro urbano e
separado dos demais estabelecimentos prisionais, sendo
caracterizado pela ausência de obstáculos físicos contra a
fuga, e ainda, a exigência de que cada região (Comarca)
possua,
pelo menos, uma Casa do Albergado (artigos 93, 94 e 95 da
LEP). Daí a denominação de
regime de albergamento.
No Estado do Rio de Janeiro, atualmente, existe apenas
uma Casa de Albergado, situada naComarca da Capital,
além de duas alas (feminino e masculino) no presídio de
Campos dos Goytacazes, duas alas (masculina e feminina)
no presídio de Itaperuna e uma ala feminina no Instituto Pe-
nal Oscar Stevenson, as quais não são suficientes para
abrigar todos os apenados deste Estado em regime aberto.
Sabidamente, as Casas de Albergado, não raro, se encon-
tram com um efetivo bem acima da capacidade, o que ge-
ra sucessivas e reiteradas evasões seguidas de retor-
nos espontâneos, impossibilitando o cumprimento regular
da pena pelos executados, sem contar aqueles que, em ra-
zão das condições socioeconômicas precárias, deixam de
comparecer ao albergue.
Em virtude disso, diversos registros de evasões são
lançados nos históricos penais, em prejuízo de todo efeti-
vo da unidade penal.
Tal situação não tem perspectiva de ser alterada pela
Secretaria de Administração Penitenciária, pois não há pro-
jetos de criação de novas casas de albergado, tampouco de
sua expansão para o interior.

Agravo Execução Penal nº 0430384-14.2016.8.19.0000 (8ª CCrim) - ACÓRDÃO – Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior Fl. 5 de 14
87

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Com efeito, a inexistência de casas de albergado no in-


terior do Estado, por outro lado, acarreta uma situação de
iníqua desigualdade, porquanto aqueles executados cujas
famílias residem no interior são beneficiados com a conces-
são da prisão albergue domiciliar, enquanto aqueles cujas
famílias residem na Capital, são compelidos a se recolher à
casa de albergado no período noturno, feriados e finais de
semana.
Visando erradicar essa absoluta desigualdade na execução
da pena em regime aberto, este Juízo de Execução Penal
passou a adotar o instrumento da prisão albergue domiciliar,
o qual vinha sendo concedido conjuntamente com o sistema
de monitoramento eletrônico previsto na Lei 12.258, de 15
de junho de 2010, aplicável à prisão domiciliar (artigo 146-B,
inciso IV).
Todavia, o desabastecimento dos dispositivos de monito-
ramento (tornozeleiras e pulseiras eletrônicas) por parte da
SEAP, que não possui aparelhos a serem disponibilizados
para a efetivação de novos monitoramentos e substitui-
ção daqueles que apresentam defeito, tornou-se crônico a
reclamar um novo posicionamento desta Vara de Execuções
Penais.
Com efeito, a situação emergencial que se verifica de
desabastecimento dos dispositivos eletrônicos em virtude
de alegada inadimplência do Poder Executivo no paga-
mento dos fornecedores reclama uma atuação imediata
deste Juízo.
Neste contexto, o papel a ser desempenhado pelo juiz de
execução penal fluminense revela-se ainda mais árduo e
desgastante, uma vez que boas práticas de política criminal
reclamam uma sinergia entre os Poderes Judiciário e
Executivo, notadamente no âmbito da execução da pe-
na, cujos resultados voltados à ressocialização dos indiví-
duos estão diretamente atrelados à estrutura, disciplina e
ordem dos estabelecimentos prisionais e demais instru-
mentos de cumprimento de pena a serem providas pela Se-
cretaria de Administração Penitenciária.
Por conta desses fundamentos, alternativa não resta a
este Juízo senão a concessão da progressão para o
regime aberto, na forma de recolhimento domiciliar, sem
o usual monitoramento eletrônico, como já ocorre na grande
maioria dos Estados da Federação.
Importante esclarecer que, tão logo seja regularizado o for-
necimento dos dispositivos de tornozeleira eletrônica pela
SEAP, os executados já beneficiados com a PAD serão
Agravo Execução Penal nº 0430384-14.2016.8.19.0000 (8ª CCrim) - ACÓRDÃO – Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior Fl. 6 de 14
88

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

intimados para colocação do aparelho de monitoramen-


to, sob pena de, não comparecendo, terem suspenso o
benefício ou decretada a regressão cautelar ao regime se-
miaberto.
Considerando que o executado em questão preenche os
requisitos objetivo e subjetivo, CONCEDO A PROGRES-
SÃO para o regime ABERTO na modalidade de RECO-
LHIMENTO DOMICILIAR a ser cumprido na sua residência,
conforme endereço de SEQ. 101.4, qual seja, Rodovia
101,Rua da Cachoeira,S nº , Trindade, Paraty, RJ, mediante
o cumprimento cumulativo das condições abaixo:
1. A prisão albergue domiciliar terá seu cumprimento iniciado
na data do efetivo cumprimento do alvará, após a liberação
do SARQ, sendo que o apenado deverá recolher-se em
sua residência das 20h00min às 06h00min, bem como, per-
manecer nesta, em tempo integral, nos dias de folga, aí in-
cluídos sábados, domingos e feriados, caso não seja dia de
trabalho (este só ocorrerá mediante autorização judicial
prévia, após a devida comprovação)
2. O apenado não poderá se ausentar da cidade onde resi-
de sem autorização para outro Estado da Federação sem
prévia autorização judicial ou transferir sua residência deste
Juízo;

3. Deverá, ainda, comparecer mensalmente ao Juízo compe-


tente para a execução penal na comarca onde resida, sob
pena de revogação do benefício, para informar, justificar
suas atividades e assinar o boletim de frequência;
4. O Apenado que obtiver extensão do horário em ra-
zão do trabalho ou frequência a curso, deverá comprovar
bimestralmente a realização destas atividades através de
documentação idônea referente ao período.
5. Tão logo seja regularizado o fornecimento de dispositivos
de monitoramento eletrônico por parte da SEAP, será o ape-
nado intimado para comparecer para colocação do aparelho,
sob pena de regressão cautelar de regime.
6. O apenado fica cientificado que eventuais transgres-
sões às condições supra estabelecidas acarretarão, de
imediato, a suspensão ou revogação cautelar do benefí-
cio, com o seu recolhimento ao cárcere para o cumprimento
da pena privativa de liberdade imposta (...)”

Agravo Execução Penal nº 0430384-14.2016.8.19.0000 (8ª CCrim) - ACÓRDÃO – Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior Fl. 7 de 14
89

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

A progressão de regime, como disposto no artigo


112, exige o preenchimento de requisito objetivo (lapso temporal) e
subjetivo (comportamento satisfatório durante a execução da pena).

Com o advento da Lei n.º 10.792/03, foi suprimida a


exigência de apresentação de parecer da Comissão Técnica de Clas-
sificação e do Exame Criminológico. No entanto, no caso em apreço,
o parecer da Comissão Técnica não indicou qualquer óbice à conces-
são do benefício.

Impõe ressaltar que o laudo emitido pelo serviço de


psiquiatria conclui pela inexistência de patologia psiquiátrica que im-
peça o benefício, ao contrário do alegado pelo recorrente (e-doc 2, fl.
62/63).

Segundo se infere dos autos, o agravado preenche


o requisito temporal e possui excelente comportamento, sem praticar
falta grave nos últimos anos, o que é reconhecido pelo próprio Órgão
Recorrente em suas razões.

Assim, como se verifica, para a progressão de re-


gime a lei exige o cumprimento de fração da pena e a comprovação
do bom comportamento carcerário, não estando condicionada ao total
da reprimenda imposta.

Sobre os pressupostos para progressão ao regime


aberto leciona Renato Marcão1 que:

“Preceitua o art.112, caput, da Lei de Execução Penal que a


pena privativa de liberdade será executada em forma pro-
gressiva, com a transferência para regime menos rigoroso, a
ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver cumprido ao
menos um sexto da pena no regime anterior e ostentar bom
comportamento carcerário, comprovado por atestado emitido
pelo diretor do estabelecimento (...) Se a lei exige apenas o
cumprimento de parte da pena à satisfação do requisito ob-
jetivo e a comprovação de bom comportamento carcerário

1
in Curso de Execução Penal, 11ª ed.rev. ampl. e atual. de acordo com a Lei 12.654/2012 – São Paulo - Sa-
raiva, 2013, págs. 236/239.
Agravo Execução Penal nº 0430384-14.2016.8.19.0000 (8ª CCrim) - ACÓRDÃO – Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior Fl. 8 de 14
90

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

para atender a alguma valoração subjetiva, embora falha, é


o que basta que se comprove para a progressão...”

Quanto à alegação ministerial de que o agravado


não cumpriu o requisito previsto no artigo 114, inciso I, da Lei de Exe-
cuções Penais, tal exigência deve ser flexibilizada diante da atual rea-
lidade social do país.

A necessidade da comprovação de atividade laboral


ou a possibilidade de exercício imediato das pessoas oriundas do sis-
tema carcerário, diante do quadro brasileiro e até mesmo mundial, a
registrar uma grave crise empregatícia, nem sempre se mostra viável,
redundando, quase sempre, na vedação in abstrato à pretendida
progressão, inviabilizando, assim, o objetivo da lei de Execuções Pe-
nais, qual seja, a reinserção do apenado na sociedade.

Aliás, nesse sentido é a orientação do Enunciado


nº: 17 da Vara de Execuções Penais, assim como da jurisprudência
pátria:

“HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. PLEITO DE


PROGRESSÃO PARA O REGIME ABERTO. INDEFERI-
MENTO. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE TRABALHO.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL CONFIGURADO. RAZOA-
BILIDADE. ORDEM CONCEDIDA.
1. A regra descrita no art. 114, inciso I, da Lei de Execuções
Penais, que exige do condenado, para a progressão ao re-
gime aberto, a comprovação de trabalho ou a possibilidade
imediata de fazê-lo, deve ser interpretada com temperamen-
tos, pois a realidade nos mostra que, estando a pessoa pre-
sa, raramente possui ela condições de, desde logo, compro-
var a existência de proposta efetiva de emprego ou de de-
monstrar estar trabalhando, por meio de apresentação de
carteira assinada. Precedentes.
2. No caso, pode-se aferir dos autos que o paciente cumpriu
os requisitos exigidos pelo art. 112 da Lei n.º 7.210/84, dei-
xando, apenas, de obter a pretendida progressão prisional
ante a ausência de apresentação de carta de proposta de
emprego, o que configura o alegado constrangimento ilegal.
3. Habeas corpus concedido para deferir ao paciente a pro-
gressão ao regime aberto.” ( Quinta Turma - HC 224676 /

Agravo Execução Penal nº 0430384-14.2016.8.19.0000 (8ª CCrim) - ACÓRDÃO – Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior Fl. 9 de 14
91

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

RS. Relator: Ministro Marco Aurélio Bellizze. DJe


12/06/2012)

“EXECUÇÃO PENAL. HABEAS CORPUS. PROGRESSÃO


AO REGIME ABERTO. BENEFÍCIO CONCEDIDO NO JUÍ-
ZO SINGULAR. DECISÃO CASSADA PELO TRIBUNAL A
QUO. EXIGÊNCIA DE PROPOSTA DE EMPREGO. RECO-
LOCAÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO. DIFICULDA-
DES. FLEXIBILIZAÇÃO DA NORMA. GRAVIDADE ABS-
TRATA DO DELITO. LONGA PENA A CUMPRIR. FUNDA-
MENTOS INSUFICIENTES. CONSTRANGIMENTO ILEGAL
EVIDENCIADO. ORDEM CONCEDIDA.
I. Na hipótese, o reeducando cumpriu todos os requisitos
exigidos pelo art. 112 da LEP para obter a progressão ao re-
gime prisional aberto, entendendo o magistrado de primeiro
grau que o pressuposto estampado no inciso II, do art. 114
daquela norma também estaria preenchido.
II. Diante do quadro brasileiro e até mesmo mundial, a regis-
trar uma grave crise empregatícia, exigir-se a apresentação
de comprovante de emprego das pessoas oriundas do sis-
tema carcerário, nem sempre se mostra viável, redundando,
quase sempre, na vedação in abstrato à pretendida progres-
são.
III. Se a oferta de emprego está escassa até mesmo para
aqueles que não possuem algum antecedente penal, imagi-
na-se impor tal obrigação a quem já registra alguma conde-
nação.
IV. A flexibilização não significa dizer que o sentenciado pro-
gredido ao regime aberto esteja desobrigado de trabalhar e
manter ocupação licita, encargo do qual somente estão dis-
pensados as pessoas relacionadas no art. 117 da LEP, nos
termos do art. 114, parágrafo único, da mesma lei.
V. O julgador deve buscar uma interpretação teleológica que
vise à consecução dos objetivos de proporcionar as condi-
ções para uma harmônica integração social do condenado e
do internado, de maneira que eles, em virtude de seus ante-
cedentes e histórico prisional, se apresentarem merecimento
e empenho para recolocarem-se dignamente no mercado de
trabalho, poderão obter a progressão de regime, ainda que
estejam desempregados.
VI. A jurisprudência desta Corte é pacífica no sentido de que
a gravidade dos delitos praticados, tomada abstratamente e
por si só, bem como o montante da pena a ser cumprida,

Agravo Execução Penal nº 0430384-14.2016.8.19.0000 (8ª CCrim) - ACÓRDÃO – Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior Fl. 10 de 14
92

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

não são fundamentos idôneos para o indeferimento de pedi-


do de progressão de regime. Precedentes.
VII. À vista da demonstração do preenchimento de quase to-
dos os requisitos legais para progredir ao regime prisional
aberto, deve ser mantido o beneficio deferido ao paciente na
instância de primeiro grau.
VIII. Ordem concedida, nos termos do voto do Relator.”(
Quinta Turma - HC 217180/ RJ. Rel. Ministro Gilson Dipp
DJe 22/03/2012)

EXECUÇÃO PENAL. HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO


DE RECURSO ESPECIAL.INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA.
PROGRESSÃO AO REGIME ABERTO. AUSÊNCIA DE
COMPROVAÇÃO DE TRABALHO LÍCITO. ESTIPULAÇÃO
DE PRAZO PARA A OBTENÇÃO DE OCUPAÇÃO LÍCITA.
RAZOABILIDADE.
1. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, acompa-
nhando a orientação da Primeira Turma do Supremo Tribu-
nal Federal, firmou-se no sentido de que o habeas corpus
não pode ser utilizado como substituto de recurso próprio,
sob pena de desvirtuar a finalidade dessa garantia constitu-
cional, exceto quando a ilegalidade apontada for flagrante,
hipótese em que se concede a ordem de ofício.
2. "As Turmas que integram a Terceira Seção desta Corte
consagraram o entendimento de que a regra do art. 114, I,
da LEP, a qual exige do condenado, para ingressar no regi-
me aberto, a comprovação de trabalho ou a possibilidade
imediata de fazê-lo (apresentação de proposta de emprego),
deve sofrer temperamentos, ante a realidade brasileira" (HC
292.764/RJ, rel. Min. MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA,
Sexta turma, DJe 27/06/2014).
3. Habeas corpus não conhecido. Ordem concedida de ofício
para, cassando o acórdão impugnado, restabelecer a deci-
são do Juízo da Vara de Execuções Criminais da Comarca
de São Paulo/SP, fixando o prazo de 90 (noventa) dias para
que o paciente demonstre a obtenção de trabalho lícito, for-
malizado em termo de compromisso. (STJ – Quinta Turma –
HC 285115/SP – Relator MInistro Gurgel de Faria – julga-
mento em 24/03/2015)

Agravo em execução. Pedido liminar. Progressão para o re-


gime prisional aberto. O Ministério Público requereu a refor-
ma do veredicto para ver cassado o benefício da progressão
de regime, sob o argumento de que o agravado teria longa
pena a expiar, além de que não estaria trabalhando e não te-
Agravo Execução Penal nº 0430384-14.2016.8.19.0000 (8ª CCrim) - ACÓRDÃO – Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior Fl. 11 de 14
93

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

ria comprovado a possibilidade de fazê-lo, como exige o


art.114, I da LEP. O agravado preenche os requisitos objeti-
vos elencados no ordenamento jurídico. A lei não autoriza o
julgador a erigir outros requisitos, além dos elencados no
art.112 da LEP. Interpretar literalmente o referido dispositivo
é fechar os olhos à realidade social brasileira. É adequado
exigir-se que o reeducando possua aptidão para o trabalho e
objetive procurar sustento lícito, porém restringir-se o bene-
fício representa uma verdadeira frustração ao objetivo maior
da pena, qual seja, a ressocialização dos condenados e
reinserção à estrutura social. Enunciado nº 17 da VEP. Des-
provimento do recurso, por considerá-lo manifestamente im-
procedente. (8ª Câmara Criminal - Agravo de Execução Pe-
nal 0029510-34.2015.8.19.0000 – Rel. Des. Suely Lopes
Magalhães – julgamento em 01/07/2015)

Demais disso, o artigo 117 da Lei de Execuções


Penais enumera as hipóteses em que é possível a concessão de pri-
são domiciliar ao beneficiário de regime aberto. Entretanto, o disposi-
tivo não é taxativo, sendo possível admitir o recolhimento do benefici-
ário de regime aberto em residência particular, quando inexistir Casa
de Albergado, ou na ausência de vagas na instituição destinada para
acolher o apenado.

Da mesma forma, não se pode negar o benefício ao


apenado por não possuir o Estado condições financeiras para arcar
com o sistema de monitoramento eletrônico. A indisponibilidade de
tornozeleiras eletrônicas é resultado da crise financeira, não podendo
o ônus da má administração da máquina estatal repercutir no direito
de liberdade do agravado.

Sobre a possibilidade de concessão de prisão al-


bergue domiciliar sem monitoramento eletrônico:

“AGRAVO DE EXECUÇÃO PENAL. INSURGÊNCIA DO MI-


NISTÉRIO PÚBLICO CONTRA DECISÃO QUE CONCEDEU
AO AGRAVADO A PROGRESSÃO PARA O REGIME
ABERTO, NA MODALIDADE PRISÃO DOMICILIAR, SEM
MONITORAMENTO ELETRÔNICO. PLEITO DE CASSA-
ÇÃO DA DECISÃO. ALEGAÇÃO DE QUE O CASO EM TE-
LA NÃO SE AMOLDA ÀS HIPÓTESES DO ROL TAXATIVO
Agravo Execução Penal nº 0430384-14.2016.8.19.0000 (8ª CCrim) - ACÓRDÃO – Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior Fl. 12 de 14
94

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

DO ARTIGO 117 DA LEI Nº. 7.210/84, QUE NÃO MERECE


PROSPERAR. JURISPRUDÊNCIA ITERATIVA DOS TRI-
BUNAIS SUPERIORES NO SENTIDO DA POSSIBILIDADE
DE CONCESSÃO DA PRISÃO DOMICILIAR EXCEPCIO-
NALMENTE FORA DAS HIPÓTESES DO REFERIDO DIS-
POSITIVO LEGAL, POR QUESTÕES DE POLÍTICA CRIMI-
NAL, COMO NO CASO DOS AUTOS. AS CASAS DE AL-
BERGADOS EXISTENTES EM NOSSO ESTADO, NA MA-
NEIRA COMO HOJE SE APRESENTAM, NÃO SE PRES-
TAM À RESSOCIALIZAÇÃO DO APENADO BUSCADA PE-
LA EXECUÇÃO PENAL. IN CASU, A PRISÃO ALBERGUE
DOMICILIAR, SEM MONITORAMENTO ELETRÔNICO, VI-
ABILIZARÁ A REINTEGRAÇÃO DO AGRAVADO AO MEIO
SOCIAL, QUE É A CLARA INTENÇÃO DA LEI DE EXECU-
ÇÕES PENAIS. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO
DA PROPORCIONALIDADE, EIS QUE PREENCHIDOS OS
REQUSIITOS NECESSÁRIOS À PROGRESSÃO DE RE-
GIME PRISIONAL. RECURSO A QUE SE NEGA PROVI-
MENTO. (TJRJ – 1ª Câmara Criminal – Agravo nº: 0246811-
70.2016.8.19.0001 – Rel. Des. Luiz Zveiter, julgamento em
13/12/2016)

AGRAVO DE EXECUÇÃO PENAL. RECURSO MINISTERI-


AL. DECISÃO QUE DETERMINOU O CUMPRIMENTO DA
PENA EM REGIME ABERTO EM PRISÃO ALBERGUE
DOMICILIAR, SEM O MONITORAMENTO ELETRÔNICO.
Afigura-se mais eficiente a prisão domiciliar com o monito-
ramento eletrônico do que a prisão em Casa de Albergado,
eis que sabemos que as Casas de Albergado existentes
nesse Estado estão com a capacidade esgotada, não supor-
tando a população prisional que se encontra em regime
aberto. O monitoramento eletrônico permite uma fiscalização
mais eficiente e rigorosa, além de minimizar assim, a exces-
siva onerosidade ao apenado em razão de gastos com des-
locamento. Contudo, no caso dos autos, a d. magistrada a
quo justificou, acertadamente, que a ausência dessa monito-
ração com a inadimplência do Poder Executivo no pagamen-
to dos fornecedores, asseverando que outra alternativa não
resta senão a de passar a conceder a progressão para o re-
gime aberto na forma de recolhimento domiciliar sem o usual
monitoramento eletrônico. CONHEÇO DO RECURSO E, NO
MÉRITO, NEGO-LHE PROVIMENTO. (TJRJ – 3ª Câmara
Criminal – Agravo nº: 0246811-70.2016.8.19.0001 – Rel.
Des. Paulo Sérgio Rangel do Nascimento, julgamento em
06/12/2016)
Agravo Execução Penal nº 0430384-14.2016.8.19.0000 (8ª CCrim) - ACÓRDÃO – Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior Fl. 13 de 14
95

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

À conta de tais considerações, mantenho a r. deci-


são impugnada.

Por fim, quanto ao prequestionamento, desnecessá-


ria qualquer manifestação pormenorizada do Colegiado, posto que to-
da matéria versada foi, implícita ou explicitamente, considerada na
solução da controvérsia. Ademais, a jurisprudência das Cortes Supe-
riores é assente, no sentido de que adotada uma diretriz decisória, re-
putam-se repelidas todas as argumentações jurídicas em contrário.

Pelo exposto, conheço do recurso e lhe nego pro-


vimento, permanecendo íntegra a decisão objurgada.

Rio de Janeiro, 26 de abril de 2017.


CLAUDIO TAVARES DE OLIVEIRA JUNIOR
Desembargador Relator

Agravo Execução Penal nº 0430384-14.2016.8.19.0000 (8ª CCrim) - ACÓRDÃO – Des. Claudio Tavares de Oliveira Junior Fl. 14 de 14

Você também pode gostar