Apostila História Da Igreja

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Curso breve de História da Igreja

Curso de Iniciação Teológica – Diocese de Guaxupé


Setor Guaxupé

I. IDADE ANTIGA (aprox. 0 a 476 d.E.C)

1. De Jerusalém a Roma

Na história do cristianismo, a comunidade primitiva sempre exerceu fascínio nos cristãos,


como modelo, às vezes como questionamento, sempre como ideal de vida cristã. O retrato mais
famoso desta comunidade é aquele descrito pelos Atos dos Apóstolos. Mesmo para os que se
aproximam com olhos mais críticos, fora de perspectiva de fé, a comunidade primitiva torna-se
interessante pelo seu extraordinário dinamismo, numa pobre província, com uma intensa penetração
externa em muitas áreas e no próprio coração do Império.
Na verdade não temos uma comunidade primitiva, mas várias comunidades cristãs no
século I. Lucas sintetiza com uma frase toda a missão de Jesus: “Eu devo anunciar a Boa-Nova do
Reino de Deus... Para isso é que fui enviado” (Lc 4,43). Desde os primórdios, a Igreja entende que a
missão de EVANGELIZAR todos os homens constitui sua missão por excelência. “Evangelizar é,
de fato, a sua mais profunda identidade” (Paulo VI). Os Atos dos Apóstolos – que são a história da
Igreja nascente – descreveram a vida cristã como comunidade consolidada pela Palavra e pela
Eucaristia, animada intensamente pela vivência dos valores evangélicos, mas também aberta à
irradiação da verdade do Evangelho ao mundo inteiro.
Da primitiva comunidade de Jerusalém os cristãos se espalham pelas várias regiões do
Império Romano de então, procurando, inicialmente, como ponto de apoio, as comunidades
judaicas da diáspora (“dispersão”: núcleos de judeus fora da Palestina, especialmente nas cidades
mais importantes do mundo greco-romano). É a comunidade cristã de Antioquia, na Síria, que
enviará, pela imposição das mãos, dois de seus membros em missão (cf, At 13,2-3). Aos poucos,
são fundadas por toda parte pequenas comunidades de cristãos que vão se estruturando em torno da
Palavra e da Eucaristia, dando também origem a uma variedade de ministérios, isto é, serviços
vistos como dons do Espírito (carismas) para a construção da comunidade. O termo “ekklesia”
confirma que todas as comunidades designadas como “ekklesia tou Theou” (igreja de Deus) são
comunidades locais, cada uma delas se considerando plenamente “igreja de Cristo”. Podemos dizer
que o cristianismo se espalhou em três ambientes diversos:
 O judaísmo tradicional da Palestina: judeus por nascimento, mesmo convertidos,
que frequentavam as sinagogas e respeitavam o sábado;
 O judaísmo da Diáspora, adaptado ao meio helênico: centrado nas sinagogas,
onde se lia e interpretava os textos bíblicos. Não pregavam a literalidade da Lei, mas
a sua interpretação moral e espiritual;
 O paganismo greco-romano: que possuíam aspectos como o culto ao imperador,
politeísmo, superstições e crenças populares.

Os textos bíblicos, sobretudo os Evangelhos, apresentam finalidades teológicas que


dificultam a construção de fatos históricos. Há, porém, uma grande possibilidade: após a morte de
Jesus, os discípulos retornam à Galileia, onde fazem uma experiência profunda com o Ressuscitado,
levando-os de volta à Jerusalém, lugar dos últimos acontecimentos e da crucificação. Após o evento
chamado Pentecostes, inaugura-se a pregação de Jesus como Messias e espera-se a sua volta. Na
imagem tradicional da Igreja primitiva aparece a seguinte descrição: os doze Apóstolos tendo
recebido o Espírito Santo, saíram correndo para pregar o Evangelho no mundo inteiro. Antigas
tradições chegam a dizer onde foi cada Apóstolo. Esses dados são incertos e contraditórios. Pouco
sabemos, com certeza, da atuação dos Doze. O certo é que, de início, permaneceram em Jerusalém.
O Apóstolo Paulo é o grande responsável pela difusão do cristianismo fora da Palestina. Ele
deu um grande impulso missionário à Igreja; “Ai de mim se eu não anunciar o Evangelho!” (1Cor
9,16). Paulo nasceu em Tarso, cidade da Silícia. Dele são os primeiros escritos do Segundo
Testamento: 1Ts, 1 e 2Cor, Gl, Rm, Fl, Fm; redigidos entre os anos 50 e 60 d.E.C. De formação
farisaica, perseguiu os cristãos, sobretudo fora da Palestina, que eram laxos em relação às leis
judaicas. Convertido ao cristianismo, criou inúmeras comunidades cristãs no território do Império
Romano.
De fato, a Boa-Nova do Reino segue seu caminho no mundo antigo até chegar à capital do
Império: Roma. É lá que as duas colunas do cristianismo, Pedro e Paulo, se encontram, e ambos são
martirizados.

2. Cristianismo e a Antiga Sociedade Pagã

No século I tem-se a morte dos grandes Apóstolos, como Pedro e Paulo


na década de 60, a guerra dos judeus contra Roma e a destruição do Templo de
Jerusalém (anos 70), a separação definitiva das comunidades cristãs com relação
ao judaísmo e às sinagogas: tudo isto marca uma nova etapa do crescimento do
cristianismo.
Podemos dizer que a partir do ano 70, inicia-se uma fase voltada mais
para a organização interna das comunidades, o desenvolvimento da liturgia, a
definição de sua doutrina e normas de vida. As dificuldades e obstáculos eram
muitos. Tornou-se necessário escrever o que foi transmitido oralmente (a
Tradição). Entre os anos 70 a 100 é redigida a maior parte do ST (Segundo
Testamento) escrita pela segunda geração de cristãos (Mc: aprox. 70; Lc: aprox.
80; Mt: aprox. 75; Jo: aprox. 90 e as cartas atribuídas a Paulo, mas que foram
redigidas por discípulos dele: Hb, 2Ts, Cl, Ef, 1 e 2 Tm, Tt).
Os primeiros cristãos tinham absoluta predominância pelo ministério da Palavra. O
querigma (primeiro anúncio) tinha importância vital. Ao longo do século II começa a prevalecer,
como modelo de organização: cada cidade terá um bispo (epíscopo), um presbitério (conselho de
presbíteros), os vários diáconos (haviam diaconisas). O bispo presidirá a Liturgia (Batismo e
Eucaristia). Os presbíteros terão funções de conselheiros e de juízes. Somente após o século IV, o
presbítero poderá presidir sozinho a Eucaristia, pregar e batizar.
O cristianismo do século I (e mesmo séculos II e III) é uma religião urbana espalhada nas
cidades. A penetração no meio rural, particularmente no Ocidente, só se intensifica no final do
século IV. Um grande número de pobres, inclusive escravos, entra nas comunidades cristãs, mas nas
comunidades paulinas há também ricos, comerciantes e artesãos, talvez até funcionários. O número
de cristãos era certamente muito pequeno: poucas dezenas ou centenas de pessoas mesmo em
cidades como Alexandria, Corinto ou Roma, que contavam com várias centenas de milhares de
habitantes.
Na época Patrística (fim do século I até cerca da metade do século V), a evangelização
penetra nos recantos mais remotos do mundo conhecido. De particular importância para o
cristianismo é sua expansão no norte da África com a impressionante figura de Agostinho de
Hipona (354-430). Na península itálica destaca-se o grande bispo Ambrósio de Milão (339-397).
Realiza-se neste período dos Santos Padres (Patrística) o primeiro sério confronto entre
cristianismo e filosofia pagã, no qual Justino (morto por volta de 165) toma parte ativa.
O testemunho gera o martírio. Os séculos II e III (até o ano 313) são marcados pelas
perseguições do Império Romano e pelo sangue derramado dos mártires. Numa primeira fase as
perseguições foram esporádicas, localizadas em determinada região. Numa segunda fase (século III)
foram sistemáticas e generalizadas por toda parte, motivadas pela obrigatoriedade do culto aos
deuses do império e ao próprio imperador, o que para os cristãos era inadmissível. As acusações
feitas aos cristãos eram que eles praticavam uma forma de ateísmo (por causa da ausência de
templos e práticas religiosas), incestos (devido a reuniões noturnas) e que esta nova religião pode
gerar desagrado aos deuses do império.

3. Expansão e Fortalecimento Interno

Os séculos II e III são também os séculos em que as comunidades adquirem identidade,


definem sua doutrina, desenvolvem suas formas de culto e de vida social, conquistam aos poucos e
às duras penas o respeito do ambiente circunstante. A Igreja de Roma começa a se sobressair por
suas intervenções disciplinares e doutrinais para as outras igrejas.
No início da Igreja, após o primeiro anúncio (querigma), todos aqueles que podiam eram
batizados. Com o passar do tempo foram surgindo heresias, ou seja, grupos que se desviavam da
verdadeira doutrina, como os arianos (crença na qual Jesus seria subordinado a Deus e não o
próprio Deus). Na segunda metade do século II, surge o catecumenato (de catecúmeno: o que deve
ouvir, o que deve ser instruído). É a preparação do Batismo. O candidato é apresentado por um
cristão à comunidade. Segue-se uma etapa de instrução que dura em média três anos, sob a
orientação de mestres ou catequistas. Após avaliação do candidato e o testemunho dos catequistas,
inicia-se a etapa final na Quaresma. O Batismo acontecia na Vigília Pascal, quando também se
recebia a Crisma e a Eucaristia.
O catecumenato é um dos grandes pilares da Igreja Antiga. É a educação da fé de
adultos. Havia todo um cuidado com a iniciação desses adultos na vida cristã em comunidade.
Nesse período a celebração da Eucaristia já estava assim definida: leituras PT e ST e
homilia; oração dos fiéis e apresentação das ofertas; oração eucarística; comunhão sob duas
espécies.
Quanto ao sacramento da Penitência: após o Batismo admite-se a penitência apenas uma
vez. O cristão com culpas graves (homicídio, adultério, sacrifício aos ídolos, negação da fé durante
as perseguições) pode ser afastado da Igreja e da Eucaristia, sendo readmitido após penitência
(arrependimento, oração, jejum, esmolas...) por decisão do bispo. Às vezes, é somente na iminência
da morte que o perdão é concedido. Pecados leves são perdoados pelas formas comuns de
penitência: jejum, oração, esmola.

4. Igreja Atrelada ao Estado

Em 313, o imperador romano Constantino concede liberdade religiosa ao


Império com o Edito de Milão. Concede favores como: a isenção de impostos para o
clero (313); bispos podem arbitrar causas também de pagãos (318); abolição da
crucificação (315); Permissão à Igreja de receber heranças e doação de Igrejas ou
basílicas; reconhecimento do domingo como feriado (325).
Constantino
Com Constantino assistimos a passagem de uma Igreja afastada do
poder, frequentemente perseguida (mas forte no seu espírito evangélico e na firme decisão de seus
fiéis muitas vezes até o martírio), para uma Igreja associada mais intimamente ao poder
político, ao Estado, a qual muitas vezes se utiliza desse poder para seus fins, mas que se arrisca a
perder valores evangélicos essenciais: respeito à liberdade, fraternidade, simplicidade, serviço à
verdade.

Império Romano em 117 d.E.C.

No século IV a Igreja tem um crescimento extraordinário devido sobretudo a grandes bispos


que se destacam pela vida, pregação e escritos (Crisóstomo, Agostinho, Ambrósio, Basílio,
Atanásio...). É um século marcado por profundos conflitos internos na Igreja, principalmente no que
diz respeito à defesa da fé cristã. A doutrina acerca de Deus e, especialmente, das relações entre o
Pai, o Filho e o Espírito Santo se fazem necessárias. Concílios Ecumênicos são convocados para
tentar resolver os problemas doutrinários. O próprio Constantino convoca o Concílio de Niceia
(325) em que a doutrina de Ário é condenada e ele é excomungado junto com outros bispos. As
divergências sobre a doutrina se arrastam até o século VII.
Concílio é a reunião solene de todos os bispos, convocada pelo Papa.
Ecumênico quer dizer universal; significa que é concílio de toda a Igreja.

Com Teodósio, imperador de 378 a 395, o cristianismo torna-se a religião oficial do


Império Romano.
No século IV aparece um ideal e um modelo de vida evangélica de entrega a Deus: o
monaquismo, ou seja, a fuga do mundo, difundido por figuras ilustres como: santo Antão (pai da
vida eremítica, ou seja, a vida solitária “fora do mundo”), são Pacômio (pai da vida cenobítica, que
saem do mundo mas passam a viver em comunidades), são Basílio, santo Atanásio, são Bento, são
Jerônimo.
Além da teologia Trinitária, também a liturgia se desenvolve e se enriquece. Começa a se
esboçar o ano Litúrgico, em torno de dois núcleos principais: a Páscoa (preparada pela Quaresma e
prolongada até Pentecostas), o Natal (celebrado inicialmente no Oriente com a festa da Epifania – 6
de janeiro – enquanto no Ocidente parece ter transformado o dia natalício do Sol – 25 de dezembro
– na festa da Encarnação de Jesus, por volta do ano 336 ou pouco antes). Mais tarde, Natal e
Epifania serão adotadas tanto no Ocidente como no Oriente.
A ação pastoral da Igreja é confiada ao bispo, ajudado por numerosos clérigos. É ainda
uma pastoral mais urbana. O trabalho no meio rural avança lentamente (pagão é o habitante do
interior) e só se intensifica no final do século IV, que também vê o cristianismo expandir-se fora do
Império Romano, atingindo regiões da Pérsia, Armênia, Arábia e Etiópia.
O Império se divide em duas partes no século IV: Oriente e Ocidente. Mas ainda é
concebido como um único Império. Na metade do século V (476 d.E.C.), a parte Ocidental se
dissolve devido a invasões (migrações) germânicas e asiáticas. A parte Oriental continua e passa a
se chamar Império Bizantino, que sobreviverá até 1453 com a invasão dos Turcos Otomanos. A
separação do Oriente e Ocidente é também o começo da separação da grande Igreja. A vida
cotidiana, a liturgia, a organização se diferenciam e a separação definitiva se dará em 1054, com o
cisma oriental.

II. IDADE MÉDIA (476 a 1453 d.E.C.)

1. Um Cristianismo Comprometido com a Sociedade Civil

Ao desmoronar o Império Romano no Ocidente, o destino da Europa ficava entregue aos


conquistadores germânicos e a única instrução que sobreviveu a esse abalo foi a Igreja.
A Igreja que ficou no lado Ocidental vive uma realidade muito complexa. O papado em
Roma vai ganhando força, como instância de unificação política. Na verdade, a migração dos povos
germânicos nos séculos V e VI trouxe um grande desafio para a Igreja e sua ação evangelizadora: a
necessidade de integrar novos valores culturais no cristianismo, e “traduzir” a Boa-Nova em termos
compreensíveis para os povos não-latinos. Todo esse processo foi acompanhado de tensões e
rupturas.
Inicia-se um período histórico em que a conversão de um Rei significava a conversão de um
povo. A conversão e o Batismo passam a ser para grandes massas de pessoas. O cuidado com o
amadurecimento da fé e da vida na comunidade cristã fica praticamente abandonado. O
catecumenato deixa de existir.
O Cristianismo, inicialmente um fenômeno tipicamente urbano, começa a penetrar entre os
camponeses (até então fiéis às divindades do paganismo: paganus, homem do campo, adorador
destes deuses).
A História da Batina
Nos primeiros séculos, bispos e padres usavam as mesmas roupas dos demais cristãos. O
costume romano era de usar uma longa túnica. Quando apareceram as primeiras tentativas na Gália
(França) de usar roupas diferentes, o papa Celestino reclamou numa carta do ano 428: “Nós,
eclesiásticos, devemos distinguir-nos do povo e dos outros pela doutrina e não pela roupa; pelo modo
de vida e não pelo hábito; pela pureza de coração e não por ostentação”.
A túnica comprida ou veste talar se conservou, porém, como veste dos eclesiásticos e dos
abades (daí o nome: abatina, batina). Suas cores variaram. Antigamente era branca. A partir do
século XVI se firmam as distinções: branca para o Papa, vermelha para os cardeais, roxa para os
bispos e preta para os padres. Esta última norma apareceu pela primeira vez no Concílio Provincial
O século VIII testemunhou o abuso do uso das imagens, que passaram a ocupar inclusive o
santo que representavam. Surgem os iconoclastas, cujo princípio era a retirada e destruição das
imagens das igrejas. Após diversos conflitos entre papas contra o iconoclasmo e imperadores
iconoclastas, o Concílio de Niceia, em 787, explicitou o sentido da veneração das imagens e
condenou toda forma de adoração a ícones.
Na noite de Natal do ano 800, Carlos Magno é coroado Imperador pelo Papa. Esse
acontecimento constitui um marco importante na História da Europa e da Igreja. Encerra uma
preparação de aproximadamente quatro séculos em que a Europa lutou por uma nova ordem. Para
Carlos Magno, Igreja e Estado não são realidades separadas, mas uma espécie de unidade dual, a
manifestação histórica do Reino de Deus. Ele sentia-se rei e sacerdote, Vigário de Cristo tal como o
Papa. Comportava-se como chefe de Estado e da Igreja. A tarefa do Papa era rezar e a sua governar.
Para Carlos Magno a espada
era uma arma tão cristã como a
pregação. Mandou matar trinta mil
saxões. A recusa ao Batismo
implicava automaticamente em
pena de morte.
Carlos regulava a provisão de
cargos na Igreja – uma verdadeira
Igreja Estatal – mas também exercia
autoridade na sua vida interna. O
clero era pago pelo Estado. O
Imperador nomeava bispos e padres e
cometeu abusos em nome de Deus.
Com Carlos Magno houve uma
expansão geográfica do Cristianismo.
O Império Carolíngio entra
em decadência após a morte de Carlos
Território ocupado em 771 Território adquirido em 800
Magno e isso também afeta a Igreja.
O império foi tripartido pelo único filho de Carlos Magno, Luís, o Piedoso. De simples funcionário
público, durante o reinado de Carlos Magno, a nobreza evolui para uma classe de monarcas
soberanos, que apenas formalmente reconhecia a superioridade do Rei. O sistema feudal
(feudalismo), isto é, a concessão de arrendamento de terras e de direitos pertencentes ao Rei, em
troca de certos serviços – já se desenvolvia no reino de Carlos Magno, mas ele soubera controlá-los.
Seus sucessores não conseguiam impor-se aos beneficiados. Assim, a unidade do reino cedeu lugar
a um sem número de mini-Estados. O resultado foi a anarquia e um estado de guerra generalizado.
A Igreja despedaçou-se em pequenas Igrejas estatais. O episcopado tornou-se um clã de
príncipes mundanos e, frequentemente, de cavaleiros que se entregavam ao saque. Davam péssimo
exemplo: ambição desmesurada de poder caça de riquezas, desregramento moral. Um bispo fiel ao
celibato ou pastoralmente engajado chamava a atenção. Príncipes e nobres tratavam as dioceses e
mosteiros como se fossem suas propriedades. A autoridade do Papa caiu. A Igreja era muito rica,
dona de grandes áreas rurais, tornou-se cobiça de muitos.
Muitos cristãos carecendo de direção espiritual não distinguiam fé e superstição e recorrem a
formas religiosas que tendiam ao paganismo. Perdeu-se de vista o Cristo e mergulhou-se em
devoções, costumes e lendas. A sorte da Igreja dependia de um reduzido número de leigos e bispo s
que não aderiram à corrupção da época.
O mosteiro de Cluny, fundado em 910, foi o responsável por um movimento de reforma na
vida monástica, no clero secular e também no povo cristão. Muitos monges restauraram a Regra de
São Bento, com a pobreza, castidade, obediência, Ofício Divino e vida comunitária. A Igreja tenta
se libertar do Estado. Proíbe a nomeação de clérigos por leigos (príncipes e reis).

2. A Igreja no Oriente e o Islã

A Igreja no Oriente, que ficou na parte do Império Bizantino sofre, a partir de 622, um
grande abalo com a perda de muitos fiéis para o Islã.
A ascensão espantosa do Islã não tem igual na História Universal. Em 622, Maomé, partindo
de Meca, iniciou sua pregação, fundindo elementos judaicos, cristãos e pagãos numa nova doutrina
de fé. Em 632, ano da morte de Maomé, a Arábia encontrava-se já convertida à fé maometana. Em
dez anos (633-643), a Síria, a Palestina, a Pérsia e o Egito caíram nas mãos dos maometanos. O Islã
não teria tido tanto sucesso se não encontrasse uma cristandade enfraquecida pelo sectarismo.

Ao longo dos séculos houve um distanciamento entre a Igreja que ficou no Império
Bizantino (Oriente) e a Igreja ocidental (cuja sede é Roma). Existiam discórdias também em relação
à Liturgia. O cisma se deu em 1054. Os Orientais chama-se até hoje Igreja Ortodoxa, enquanto a
Igreja de Roma, fiel ao Papa se chama Igreja Católica. Existem todavia, Igrejas Orientais unidas a
Roma: entre os imigrantes orientais no Brasil conhecemos assim os maronitas, os melquitas, os
católicos armênios, ucranianos etc., unidos a Roma, mas celebrando a liturgia conforme um rito
próprio oriental.
3. A Vivência da Fé na Idade Média

A Idade Média se caracterizava pela consolidação de um regime pela CRISTANDADE,


cujas origens remontam à figura de Constantino. São reforçados os laços entre os dois “poderes”: o
“espiritual” (Papa) e o “temporal” (Imperador). A Igreja ocupa lugar de destaque na sociedade com
posição altamente privilegiada. É ela que dita as normas éticas para os povos e seus governantes.
Misturam-se interesses puramente “mundanos”, de cunho econômico-político, com autênticas
aspirações religiosas. Fenômeno tipo desta cristandade são as Cruzadas, expedições de caráter
militar-religioso para conquistar a Terra Santa em poder dos muçulmanos (séculos XI-XIII).
A excessiva clericalização da sociedade e a escandalosa mundanização de homens da Igreja
provocam reações no seio do próprio cristianismo. O chamado baixo clero era numeroso,
despreparado e ignorante (padres pobres e sem instrução, muitos não sabiam nem ler e escrever). O
chamado alto clero, formado por padres vindos de famílias ricas, frequentava universidade e não
possuíam a menor condição de iniciar uma mudança, pelo fato de não querer começar consigo
mesmos.
Surgem movimentos que buscam maior autenticidade evangélica num espírito de pobreza e
simplicidade de vida. São as Ordens Mendicantes: Franciscanos e Dominicanos. Os monges
lideraram um movimento renovador, conseguem reforçar o celibato eclesiástico e colocam as bases
de uma nova visão do ministério sacerdotal. O II Concílio de Latrão (1139) irá radicalizar e definir
a universalização da lei do celibato.
Neste contexto também surgem heresias de grande influência no povo e de extremo
rigorismo e pobreza, uma oposição aos abusos eclesiásticos da época. A Inquisição surgiu como
resposta às heresias, para combatê-las. O poder temporal executava os hereges condenados pelo
Tribunal do Santo Ofício. Este foi um capítulo triste na História da Igreja. Muita gente inocente
morreu e a defesa da fé com opressão prejudicou a evangelização.
A situação do povo era muito difícil. Época de guerras, fome e pestes que eliminaram
grande parte da população europeia. Essa situação foi propícia para o aparecimento de profecias
sobre o fim do mundo. O clima de medo domina e há uma intensa busca de penitências: viassacras,
procissões do Santíssimo Sacramento, representações da Paixão, e outras. Havia uma carência
espiritual imensa. O cristão da Europa Ocidental foi evangelizado superficialmente. O povo
vivia das devoções, venda de relíquias, bruxarias. Havia crenças de todo tipo, supersticiosas e
mágicas; temia-se o mau olhado e o mau sopro.
Se, no início, a Igreja cuidou imensamente do amadurecimento da fé dos cristãos, com o
catecumenato, na Idade Média ela abandonou totalmente este cuidado. A educação da fé era feita
pelo que chamamos de religiosidade popular. O povo não sabia ler, não tinha acesso a livros e
conhecimento de teologia. A Bíblia era proclamada nos sermões, encenada pelo povo, representada
nas pinturas das igrejas, traduzidas em cantos ou narrativas populares. A fé é vivida nas devoções,
festas, romarias, formulações que o povo sabia de cor, imagens de santos... Tudo isso, num clima
de medo que era inculcado: medo de Deus, dos padres, de doença e guerra, de tudo... Reforçaram-
se os feitiços e outros resquícios do paganismo. Mas, apesar de tudo, o povo não deixava de viver
sua fé.
Por outro lado, a Cristandade medieval produziu coisas positivas. A Igreja foi educadora de
uma elite da Europa Ocidental, através de um movimento chamado Escolástica; produziu
admiráveis expressões da fé cristã, não só nas grandes ordens religiosas, mas na música gregoriana,
nos mosteiros, nas catedrais e nos movimentos de pobreza evangélica que surgiram em resposta à
ganância e à crueldade da sociedade.
III. IDADE MODERNA (1453 a 1789)

1. A “Cruz e a Espada” Conquistam um Novo Mundo

A grande expansão marítima do século XVI, com a conquista de amplas terras até então
desconhecidas na África, Ásia e América, provoca um extraordinário movimento missionário.
Espanha e Portugal associam de forma direta a Igreja à sua empresa colonizadora nas regiões
ultramarinas. O rei de cada uma destas potências torna-se praticamente o responsável pela
implantação e organização da religião católica nas terras conquistadas. Situa-se aqui o famoso
padroado (tutela do poder civil sobre a Igreja, a partir de concessões feitas pelo próprio Pontífice
Romano) com suas consequências para o desenvolvimento do cristianismo nas nossas regiões. A
cruz e a espada, intimamente ligadas entre si, se lançam à propagação do “Reino de Deus”, fato esse
que deixou profundas marcas no cristianismo do nosso continente.
A religião cristã penetrou na alma do nosso povo e deu origem a uma vivência popular da fé,
que se conservou intacta mesmo sem a presença constante da Igreja Oficial através de seus
ministros ordenados. Por outro lado, a religião, muitas vezes foi manipulada pelos poderes públicos
em seu próprio benefício, tornando-se um instrumento para manter sob seu controle as massas
populares. Assim, o vigor evangélico e transformador do catolicismo em terras americanas não
atuou sempre livremente.

2. A Reforma Protestante e o Concílio de Trento

Ao Papa Leão X (1513-1521) devemos a Basílica de São Pedro em Roma. Necessitando de


uma grande soma de dinheiro, prescreveu uma indulgência para arrecadar os milhões necessários.
Quando a Igreja precisava de um santo, temos na direção um homem de negócios.
Em 1521, Leão X assina a Bula de excomunhão de um monge alemão, de
cujas ideias mal tomou conhecimento. Um detalhe significativo: assinou o
documento no intervalo de duas caçadas. O monge agostiniano, professor de
Sagradas Escrituras, era Martinho Lutero, que em 1517 publicou 95 teses contra
as indulgências. É o início do Protestantismo.
Diante do excessivo peso do poder e, mesmo da corrupção na Igreja Martinho Lutero
medieval, tornava-se necessária uma profunda reforma, mas a hierarquia não
soube responder adequadamente a esse anseio. Em consequência disso, o movimento de reforma
cresceu e radicalizou-se, chegando ao auge no século XVI, com Martinho Lutero e João Calvino.

No Brasil, as Igrejas da Reforma de tradição antiga são os


Luteranos, os Presbiterianos e os Episcopalianos ou Anglicanos; de
tradição mais recente, os Metodistas e os Batistas. No século XX
desenvolveram-se amplamente as Igrejas de caráter pentecostal:
Congregação Cristã, Assembleia de Deus; ou neopentecostal: Deus é
Amor, Igreja Universal da Graça de Deus, Igreja Internacional da Graça
etc.

Só depois da crise da Reforma Protestante, a Igreja Católica fez a sua reforma, sustentada
pelo Concílio de Trento (1545 a 1563). O concílio durou 18 anos e seu trabalho foi concluído
somente em 1562, tendo realizado 25 sessões plenárias em três períodos diferentes (1545 a 1547;
1551 a 1552; 1562 a 1563), quando afinal suas sessões foram solenemente promulgadas em sessão
pública.
Os principais resultados de Trento são:
a) Reforma do clero e da hierarquia: numerosos decretos reformistas foram feitos.
Ficou proibido ao bispo residir fora de sua diocese, a fim de combater o acúmulo
de funções eclesiásticas e devolver ao episcopado sua função apostólica de pastor
de fiéis. Determinou a criação de seminários para a formação de futuros padres,
na tentativa de remover uma das principais causas da fraqueza da Igreja no
passado: um clero mal selecionado e precariamente formado.
b) Reforma na vida sacramental e na instrução da fé, a catequese: o concílio
recomendou a recepção frequente dos sacramentos em vez da expansão
incontrolada de devoções populares mais ou menos suspeitas. As já existentes
obrigações da missa dominical, da comunhão e da confissão anual foram
reconfirmadas. A Igreja retoma o cuidado com a educação da fé. Catecismos serão
elaborados para das aos fiéis a instrução da fé.
c) Fixou a doutrina católica: os dogmas receberam formulações precisas, que
eliminaram dúvidas a respeito de sua interpretação. O concílio traçou clara a linha
divisória do que considerou ortodoxia e desvio doutrinal. Isso foi importante para
a relação com o protestantismo, o simples fiel não conseguia perceber as
diferenças.
Em 1566 é publicado o primeiro Catecismo Romano (para bispos e padres), endereçado à
catequese paroquial. Na idade antiga a educação da fé – catequese – recebia o maior cuidado e na
idade média foi esquecida pela Igreja. A partir de Trento a Igreja novamente passa a “tomar conta
da educação da fé, mas o método adotado estava longe de uma vivência da fé e da vida na
comunidade cristã. Educar a fé passou a significar ensinar um livro (o catecismo), sem nenhuma
ligação com a vida da pessoa e da comunidade. Bastava aprender a teoria ensinada. A catequese foi
reduzida a um livro, local e método: o Catecismo. Pior: ficou identificada como “coisa de criança”.
Os séculos seguintes foram o tempo das grandes descobertas e da expansão colonial, mas
também da emancipação da tutela da Cristandade, ou seja, os Estados Nacionais se emancipam.
Cresce o movimento de valorização do homem (antropocentrismo) e de suas capacidades
intelectuais e artísticas. Cresce também o desejo de liberdade em relação às normas da Igreja.
Após Trento temos intermináveis lutas religiosas entre católicos e protestantes. Consolida-se
a autoridade do rei que se apresenta como onipotente e a Igreja também fica exposta ao seu poder.
O monarca utiliza a Igreja para seus interesses. Papas fracos e inexperientes cedem facilmente
diante das pressões dos monarcas.
A razão humana ocupa o primeiro lugar. Ciência e fé se distanciam e se opõem. A fé cristã e
a Igreja passam a ser contempladas com desprezo. A Igreja é alvo de inúmeras críticas e é
considerada autoritária. Propaga-se uma religião natural em que todos possam buscar uma
fraternidade universal.
O movimento de emancipação, também chamado Iluminismo ou Ilustração, culminou na
Revolução Francesa, em 1789, sob forte onda de anticlericalismo, inclusive nas colônias de
Espanha e Portugal na América Latina. Quanto ao Brasil, se o Império (1822-1889) foi
relativamente conservador neste ponto, a República, a partir de 1889, praticou a estrita separação
entre Igreja e Estado.
Em nível mundial, a crise entre Igreja e Estado chegou ao auge em 1870, com a abolição dos
Estados Pontifícios pelo governo revolucionário da Itália. O Concílio Vaticano I (1870) reforçou
a responsabilidade do Papa e consolidou a posição defensiva da Igreja Católica na sociedade. A
Igreja parece fechar os olhos às mudanças em sua volta (Revolução Industrial e Política).

IV. IDADE CONTEMPORÂNEA (1789 até hoje)

1. A Igreja em Diálogo Crítico com o Mundo Moderno

Substituindo o Papa Gregório XVI, Pio IX assume o pontificado em 16 de junho de 1846 e


governaria a Igreja durante um período de 32 anos: o mais longo governo pontifício da História.
Eleito como “liberal”, combateu o mundo moderno. Publica a encíclica Syllabus errorum (lista dos
erros do liberalismo) – contendo 80 condenações ao mundo moderno (1864).
Convocou o Concílio Vaticano I e inaugurou as sessões do concílio em 8 de dezembro de
1869. Foi proclamado o dogma da Infalibilidade Papal em 1870. O concílio não chegou a terminar
porque Roma foi invadida por tropas talianas.
Pio IX estimulou a devoção Mariana, a Sagrada Família e Sagrado Coração de Jesus. A
Igreja perdeu os intelectuais e os operários. Entrou numa espécie de “gueto” diante da sociedade.
Ao mesmo tempo, porém, a Igreja Católica foi se abrindo para os benefícios das ciências, do
humanismo e das tendências para maior igualdade e justiça social. Tal movimento ganha força a
partir do Papa Leão XIII (1878-1903), que publica em 1891 a Encíclica Rerum Novarum, sobre o
trabalho humano e inicia a Doutrina Social da Igreja.

Os Papas do século XX
1. 1878 a 1902: Leão XIII
2. 1903 a 1914: Pio X
3. 1914 a 1922: Bento XV
4. 1922 a 1939: Pio XI
5. 1939 a 1958: Pio XII
6. 1958 a 1963: João XXIII
7. 1963 a 1978: Paulo VI
8. 1978: João Paulo I
9. 1978 a 2005: João Paulo II
10. 2005 até hoje: Bento XVI

No início do século XX cresce no interior da Igreja o movimento de reformas: o


movimento litúrgico e Bíblico. No Pontificado de Pio XII esses movimentos de reforma estão mais
fortes e há uma aproximação entre católicos e protestantes e um diálogo da Igreja com grupos
afastados: operários e intelectuais. A Igreja se defrontou com o crescente fenômeno da
urbanização. Até então sua pastoral se orientava, sobretudo, para o meio rural e agrário. Os novos
desafios encontram um clero em boa parte despreparado. Sente-se a necessidade de engajar os
leigos no apostolado da Igreja, principalmente lá onde a pastoral oficial não tinha acesso. É neste
contexto que surge a Ação Católica, vista como o “exército pacífico” a serviço de Cristo Rei, na
implantação do seu Reino. Embora a mentalidade seja bastante paternalista e clerical, encontramos
na Ação Católica os germes de uma efetiva participação do leigo na vida e missão da Igreja.
A eleição de João XXIII se deu em outubro de 1958. Foi eleito sucessor
de Pio XII, como “Papa de transição” já que sua idade era avançada. Porém,
mostra-se uma figura incomum exatamente porque queria ser comum. Foi um

João XXIII
pastor. Em janeiro de 1959, após celebrar missa por intenção da unidade de todos os cristãos, na
Basílica de São Paulo fora dos muros em Roma, torna pública a sua decisão de convocar um
Concílio Ecumênico. O concílio deveria servir à unidade dos cristãos e a um programa de
Aggiornamento (atualização) da Igreja e sua inserção no mundo moderno.

2. O Concílio Ecumênico Vaticano II

O Papa João XXIII abriu o Concílio Vaticano II no dia 11 de outubro de 1962 na Basílica
de São Pedro em Roma. É impossível relatar todo o conteúdo das quatro grandes sessões, ocorridas
entre a abertura e o encerramento por Paulo VI, no dia 8 de dezembro de 1965.
No discurso de abertura, João XXIII insiste: “O Concílio deve buscar fidelidade à doutrina,
mas que esta seja estudada e exposta por meio de formulação do pensamento moderno. O Concílio
deveria ter, antes de mais nada, um expressivo caráter pastoral”.
O concílio sintetizou em 16 documentos (constituições, decretos e declarações) o
pensamento católico moderno:
 Duas Constituições Dogmáticas:
o Lumen Gentium (LG), documento sobre a Igreja, que tem a intenção de
“oferecer a seus fiéis e a todo o mundo um ensinamento sobre sua natureza e
sua missão universal” (21/11/1964).
o Dei Verbum (DV), documento sobre a Revelação Divina e sua transmissão a
partir da Sagrada Escritura e Sagrada Tradição (18/11/1965).
 Uma Constituição Pastoral:
o Gaudium et Spes (GS), documento sobre a Igreja no mundo de hoje,
“pretende falar a todos, para esclarecer o mistério do homem e cooperar na
descoberta da solução dos principais problemas de nosso tempo” (7/12/1965).
 Uma Constituição:
o Sacrosanctum Concilium (SC), documento sobre a Liturgia, quer relembrar
os princípios e estatuir as normas práticas para a renovação litúrgica e seu
incremento (4/12/1963).
 Nove Decretos:
o Unitatis Redintegratio (UR), sobre o ecumenismo, “quer propor a todos os
católicos os meios, os caminhos e os modos que lhe permitam corresponder a
esta divina vocação e graça (para a restauração da unidade entre todos os
cristãos)” (12/11/1964).
o Orientalium Ecclesiarum (OE), sobre as Igrejas Orientais Católicas,
“resolve estabelecer alguns pontos principais para que aquelas Igrejas
floresçam e realizem com novo vigor apostólico a missão que lhe foi
confiada” (21/11/1964).
o Ad Gentes (AG), sobre a atividade missionária da Igreja, “deseja delinear os
seus princípios” (7/12/1965).
o Christus Dominus (CD), sobre o ministério pastoral dos bispos na Igreja,
“tem a intenção de determiná-lo com maior precisão” (28/10/1965).
o Presbyterorum Ordinis (PO), sobre o ministério e a função dos sacerdotes,
quer “tratar mais ampla e profundamente dos presbíteros (...) com o intuito de
sustentar-lhes com mais eficácia o ministério e prover-lhes melhor a vida nos
ambientes pastorais e humanos tantas vezes inteiramente mudados...”
(07/12/1965).
o Perfectae Caritatis (PC), sobre a atuação dos religiosos, “propõe-se tratar da
vida e da disciplina dos Institutos” e oferecer diretrizes a respeito
(28/11/1965).
o Optatam Totius (OT), sobre a formação presbiteral, “proclama a suma
importância da formação sacerdotal e declara alguns de seus princípios
básicos” (28/11/1965).
o Apostolicam Actuositatem (AA), sobre os leigos, “tem a intenção de ilustrar
a natureza do apostolado dos leigos, sua índole e possibilidades, enunciando
ainda os princípios fundamentais e transmitindo as instruções pastorais para
uma ação mais eficiente” (18/11/1965).
o Inter Mirifica (IM), sobre os meios de comunicação social, “julga seu dever
abordar as principais questões conexas com os instrumentos de comunicação
social” (4/12/1963).
 Três Declarações:
o Gravissimum Educationis (GEd), sobre a educação cristã, pretende “emitir
alguns princípios fundamentais” nesta matéria (28/11/1965).
o Dignitatis Humanae (DH), sobre a liberdade religiosa e sobre os direitos da
pessoa humana (7/12/1965).
o Nostra Aetate (NE), sobre as relações da Igreja com religiões não-cristãs, “no
seu dever de promover a unidade e a caridade entre os homens e mesmo entre
os povos, considera aqui sobretudo o que é comum aos homens e os move a
viver juntos o seu destino” (28/10/1965).
(Obs.: Os documentos do Concílio são os mais importantes na Igreja. Entre esses, as constituições merecem destaque.)
Considera-se, universalmente, a Constituição Dogmática Lumen Gentium e a
Constituição Pastoral Gaudium et Spes como os dois documentos-eixo do Concílio. Na
primeira, a Igreja procurou conhecer-se melhor, para se renovar no espírito da sua origem e da
sua missão. Na segunda, apresenta-se ao mundo, expressando sua vontade de dialogar e
contribuir para a construção de uma sociedade nova, baseada nos valores humanos e cristãos. As
duas Constituições são complementares: era preciso voltar às fontes – como se faz na Lumen
Gentium, para que a Igreja, através do aggiornamento, pudesse mostrar um rosto renovado a um
mundo novo, mas era também necessário contemplar uma humanidade que está plena de
transformação, para apoiar o esforço de volta à fonte em toda a sua pureza.
Esse Concílio muda a vida da Igreja. Sem ele a Igreja não estaria preparada para entrar
no novo milênio. O Concílio Vaticano II apresenta a Igreja como uma comunidade dinâmica,
“um povo de Deus em marcha”, uma comunidade de homens vivos sujeitos a mudanças, tendo
como fundamento imutável somente Jesus Cristo, seu único guia. A expressão Luz dos Povos
não se refere tanto à Igreja, mas, sobretudo, a Cristo e à Igreja enquanto lhe é fiel.
A Igreja reconheceu ser uma Igreja de pecadores que falhou no passado em vários
pontos. O Concílio rejeita o triunfalismo que predominou durante muito tempo.
Igualmente, abandonou o clericalismo e se refere à Igreja como Povo de Deus num todo.
Somente numa segunda instância considera as várias categorias deste único Povo: bispos,
presbíteros, leigos e religiosos. Enfatizando a doutrina sobre o Sacerdócio comum dos fiéis, o
Concílio concebe o ministério eclesial, a autoridade da Igreja como um serviço à comunidade.
Um serviço exercido na forma de diálogo aberto em colegialidade.
A atitude de diálogo predomina, igualmente, nos textos do Concílio, sobre a relação com
Igrejas cristãs não católicas, até a pouco mantidas à distância, como heréticas e cismáticas. São
reconhecidas como formas autenticamente cristãs do único Povo de Deus, não cabendo a culpa
da separação apenas a elas.
Na Gaudium et Spes a Igreja faz uma exposição da sua fé, das suas convicções essenciais
sobre o homem e sobre o mundo. Apresenta o esboço de uma antropologia, ou seja, visão crítica
da pessoa humana, o que constitui seu principal mérito. O sentido da Constituição é muito claro:
uma religião de cunho transformador e libertador na vida concreta do
homem, na sua existência do dia-a-dia.
O Concílio valorizou as realidades terrenas, interessou-se
vivamente pelo estudo do mundo moderno. Disse Paulo VI: “Talvez a
Igreja nunca tenha sentido tanto como nesta ocasião a necessidade de
conhecer, de aproximar, de compreender, de penetrar, de servir, de
evangelizar a sociedade que rodeia e, por assim dizer, de a seguir nas
Paulo VI suas transformações rápidas e contínuas”.
O Concílio Vaticano II foi sem dúvida o maior acontecimento
do século XX para a Igreja Católica, inaugurando um novo período de sua milenar
história. Emerge como divisor de águas, fundamental para a Igreja, originando um processo de
abertura, renovação e participação. Um Concílio é muito mais que os documentos que produz.
O Vaticano II significa, antes de tudo, um “espírito novo”, a experiência de um novo começo,
um aprofundado conhecimento da identidade e missão da Igreja. Ou, como diziam os bispos no
Sínodo de 1985: “A mensagem do Concílio Vaticano II, já acolhida com grande consenso de
espírito pela Igreja toda, é a Carta Magna e continua a ser para o futuro. Chegue, enfim, aos
nossos dias aquele ‘novo Pentecostes’ do qual tinha já falado João XXIII e que nós esperamos
com todos os fiéis cristãos”.
O Concílio suscitou um grande entusiasmo no início. Logo depois veio para muitos uma
grande decepção. Os concílios geralmente provocam impacto e geram resistências. Observando
a história, podemos dizer que as crises, por mais dolorosas que sejam, aparecem benéficas. Elas
são como o parto, condição para que nasça e cresça o novo.
Entre os frutos do Concílio estão:
 O desabrochar da Igreja Particular (Diocese);
 O despertar das Igrejas do Terceiro Mundo;
 Início da desclericalização da Igreja, devolvendo aos leigos a dignidade ea
possibilidade de participação plena.

3. Do Vaticano II a João Paulo II

O Papa Paulo VI assumiu o pontificado e, 1963, após a morte de João XXIII. Cuidou do
término do Concílio e de sua implantação, tarefa essa não muito fácil. Paulo VI deu grande impulso
à colegialidade dos bispos e instituiu os Sínodos (reunião de representantes dos bispos com o Papa).
Realizou também vários feitos na área do Ecumenismo.
Após o Sínodo sobre a Evangelização, em 1974, Paulo VI publica em 8 de dezembro de
1975 a Encíclica Evangelii Nuntiandi, sobre a evangelização no mundo atual, importante
documento que lembra a toda a Igreja sua essencial missão de evangelizar, sobretudo pelo
testemunho. Paulo VI foi o grande peregrino da paz, num momento em que o mundo estava na
chamada “guerra fria” dividido entre o bloco de países socialistas, liderado pela União Soviética e o
bloco capitalista, liderado pelos Estados Unidos.
Em 25 de agosto de 1978 assume o pontificado o Papa João Paulo I, que veio a falecer em
19 de setembro do mesmo ano, mas marcou a Igreja com sua simpatia, tanto que passou a ser
chamado Papa do Sorriso e com uma frase marcante: “Deus é Pai, ainda mais, é Mãe”. Sucedeu-o
em 22 de outubro de 1978 o Papa João Paulo II.
Desde o início, João Paulo II expressa o desejo de levar avante as determinações do Concílio
Vaticano II. Empreendeu peregrinações apostólicas a várias partes do
mundo, querendo colocar em prática a função do Bispo de Roma e Pastor da
Igreja de “confirmar os irmãos na fé”, dando forma concreta à colegialidade
na Igreja. Viveu o fim da guerra fria, a queda do muro de Berlim (1989),
assistiu ao crescente processo de globalização. Homem de seu tempo,
defende um humanismo que luta pela dignidade humana, os direitos e a
liberdade. João Paulo I
João Paulo II deu grande impulso à Doutrina Social da Igreja,
publicando encíclicas e fazendo importantes pronunciamentos sobre o valor
absoluto da vida humana, sobre o valor do trabalho humano, sobre o evangelho
da caridade. Propõe a globalização da Solidariedade. Fez da Doutrina Social
da Igreja um discurso ético-religioso a todos os homens de boa vontade.
Condenou o liberalismo e toda forma de opressão humana. No seu discurso aos
moradores da Favela do Vidigal, no Rio de Janeiro (1980), disse: “Só tem razão
de ser a sociedade socialmente justa, que se esforça por ser sempre mais justa.
João Paulo II
Somente tal sociedade tem diante de si o futuro. A Igreja dos pobres não quer
servir àquilo que causa as tensões e faz explodir a luta entre os homens. A única batalha que a
Igreja quer servir é a batalha pelo bem verdadeiro, a batalha na qual a Igreja é solidária com
cada homem”.
Logo no início do seu pontificado, João Paulo II propõe uma “Nova Evangelização”, com
novo ardor e novo método. Prega a inculturação do Evangelho.
Atualmente, a Igreja vive em meio a forte mudança cultural, em consequência, sobretudo,
das novas tecnologias e da assustadora rapidez da comunicação, que transforma o mundo numa
“aldeia global”. Isto certamente tem lados positivos. Os resultados das ciências se comunicam com
facilidade, os direitos humanos podem ser articulados mundialmente, as diversas religiões entram
em diálogo. Mas a globalização não produz aproximação mútua das pessoas; suas possibilidades
técnicas nem sempre são assumidas com espírito positivo. As novas tecnologias permitem maior
autossuficiência individual, a massificação leva as pessoas a se refugiarem no individualismo ou em
grupos fechados, por vezes fanáticos, em detrimento do senso comunitário e da compreensão
humana universal. Entretanto, acrescentam-se ao pobres e miseráveis de sempre os excluídos, os
refugiados dos conflitos políticos, as vítimas de novas doenças etc. Tudo isso se apresenta como
novo desafio para a vida no Espírito de Cristo hoje: o “fim da Cristandade” não apagou o desafio do
ser cristão.
Assistimos a um “surto religioso”, mas não necessariamente “cristão”.
Hoje, como no seu início, a missão da Igreja consiste em alimentar não o
sentimento religioso e sim o sentido cristão. Ni Império Romano não faltava
“religião”. Faltava era a revelação do rosto de Deus em Jesus de Nazaré,
assassinado pelo mesmo Império. O surto religioso de hoje não é
necessariamente causa de alegria, antes de preocupação. Há muita
religiosidade pagã em torno de nós, mas pouca adesão a Jesus Cristo, o profeta
Bento XVI
rejeitado de Nazaré. Contudo, a Igreja de hoje deve entrar nesse diálogo, consciente de sua
identidade e coerente em sua prática de amor fiel, segundo o modelo de Cristo.
O Papa Bento XVI, que em 2005 sucedeu João Paulo II, tem consciência desses desafios
para o cristianismo.

4. A Igreja no Brasil Após o Vaticano II

Os bispos do Brasil voltaram do Concílio Vaticano II com a tarefa de implementá-lo. Coube


à CNBB (criada em 1952), de 1966 a 1970, através da proposta de um Planejamento Pastoral,
animar e articular a ação pastoral nacional e regional. Falava-se da necessidade de uma Pastoral de
Conjunto.
O planejamento pastoral é prorrogado até 1975 e a partir daí a CNBB adotou as chamadas
“Diretrizes Gerais da Ação Pastoral da Igreja no Brasil” (DGAP). Limitaram-se a oferecer luzes
para o agir eclesial. A partir de 1995 elas passam a ser chamadas Diretrizes Gerais da Ação
Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE), e passam a dar ênfase à Evangelização.
A Igreja no Brasil teve um papel importante na época do
regime militar. Foi defensora dos direitos humanos e denunciou a
tortura. Nesse período nasceram as Comunidades Eclesiais de Base,
um jeito novo de ser Igreja; a Teologia da Libertação, uma reflexão
teológica a partir da periferia do mundo. Destaca-se também a
renovação na catequese, com a publicação em 1983 do Documento
Catequese Renovada.
No Continente Latino-Americano, o CELAM (Conselho
Episcopal Latino-Americano), fundado em 1956, realizou
importantes conferências:
a) 1968 – Medellín – conferência cujo objetivo era atualizar o Vaticano II na
realidade da América Latina.
b) 1979 – Puebla – conferência cujo acento forte foi na opção pelos pobres e pelos
jovens, feita pela Igreja latino-americana.
c) 1992 – Santo Domingo – conferência cuja palavra chave é a inculturação do
Evangelho. Os leigos são protagonistas dessa evangelização.
d) 2007 – Aparecida – conferência que tratou do discipulado e missionariedade da
Igreja.
Em 1994 o Papa João Paulo II lança a Encíclica Tertio Millenio Advenient. Pede uma
renovação da fé e do testemunho cristão e propõe uma preparação para celebrar os dois mil anos do
Nascimento de Jesus no ano 2000. A CNBB, atendendo ao pedido do Papa, lança em 1996 o Projeto
Romo ao Novo Milênio (PRNM). Este projeto deu novo ardor à missão evangelizadora da Igreja no
Brasil. Foi também este projeto que provocou uma nova dinamização e articulação pastoral na
nossa Diocese de Guaxupé.
Como continuação do PRNM, em 2001 foi lançado o Projeto Ser Igreja no Novo Milênio
(SINM). Em 2003 a CNBB lança as Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil
para o período de 2003-2006. Dando sequência aos projetos e diretrizes anteriores, estas diretrizes
continuam dando ênfase à Evangelização e propõe que a ação pastoral esteja atenta a três eixos: a
pessoa, a renovação da comunidade e a presença da Igreja na sociedade. As atuais DGAE
reforçam estes eixos, inclusive a Diocese de Guaxupé em sua última Assembleia Diocesana de
Pastoral, em 2009, planejou sua ação tendo como parâmetro a pessoa, a comunidade e a
sociedade.

5. Construindo a História...

Estamos todos construindo a História. Esse momento é único e nunca mais se repetirá.
Construir a história, a vida, ser Igreja hoje é desafiante. Não podemos esquecer que:
“Crer é bem mais que aceitar um conjunto de verdades: é um caminhar, como a própria
vida. Nem sempre o caminho estará claro; mas sabemos onde queremos chegar. Em vista desta
meta, fazemos um roteiro, um itinerário. O itinerário da fé é tarefa para a vida inteira – tarefa
sujeira a novos aprofundamentos e mudanças que o Espírito nos pedir; é um desafio, como a
vida”. (CNBB, Uma Igreja que acredita: o evangelho de João. São Paulo: Paulinas, 1999).

Bibliografia:
- PIERRARD, Pierre. História da Igreja. São Paulo: Paulinas, 1982.
- MATOS, Henrique Cristiano José. Caminhando pela história da Igreja: uma orientação para
iniciantes. Vols 1,2 e 3. Belo Horizonte: O Lutador, 1995.
- ______. Introdução à história da Igreja. Vols 1 e 2. Belo Horizonte: O Lutador, 1997.
- LIBÂNIO, João Batista. Igreja contemporânea: encontro com a modernidade. São Paulo:
Loyola, 2000.
- ______. Cenários da Igreja. São Paulo: Loyola, 1999.
- BEOZZO, José Oscar. A Igreja no Brasil: de João XXIII a João Paulo II; de Medellín a Santo
Domingo. Petrópolis: Vozes.

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