Apostila História Da Igreja
Apostila História Da Igreja
Apostila História Da Igreja
1. De Jerusalém a Roma
A Igreja no Oriente, que ficou na parte do Império Bizantino sofre, a partir de 622, um
grande abalo com a perda de muitos fiéis para o Islã.
A ascensão espantosa do Islã não tem igual na História Universal. Em 622, Maomé, partindo
de Meca, iniciou sua pregação, fundindo elementos judaicos, cristãos e pagãos numa nova doutrina
de fé. Em 632, ano da morte de Maomé, a Arábia encontrava-se já convertida à fé maometana. Em
dez anos (633-643), a Síria, a Palestina, a Pérsia e o Egito caíram nas mãos dos maometanos. O Islã
não teria tido tanto sucesso se não encontrasse uma cristandade enfraquecida pelo sectarismo.
Ao longo dos séculos houve um distanciamento entre a Igreja que ficou no Império
Bizantino (Oriente) e a Igreja ocidental (cuja sede é Roma). Existiam discórdias também em relação
à Liturgia. O cisma se deu em 1054. Os Orientais chama-se até hoje Igreja Ortodoxa, enquanto a
Igreja de Roma, fiel ao Papa se chama Igreja Católica. Existem todavia, Igrejas Orientais unidas a
Roma: entre os imigrantes orientais no Brasil conhecemos assim os maronitas, os melquitas, os
católicos armênios, ucranianos etc., unidos a Roma, mas celebrando a liturgia conforme um rito
próprio oriental.
3. A Vivência da Fé na Idade Média
A grande expansão marítima do século XVI, com a conquista de amplas terras até então
desconhecidas na África, Ásia e América, provoca um extraordinário movimento missionário.
Espanha e Portugal associam de forma direta a Igreja à sua empresa colonizadora nas regiões
ultramarinas. O rei de cada uma destas potências torna-se praticamente o responsável pela
implantação e organização da religião católica nas terras conquistadas. Situa-se aqui o famoso
padroado (tutela do poder civil sobre a Igreja, a partir de concessões feitas pelo próprio Pontífice
Romano) com suas consequências para o desenvolvimento do cristianismo nas nossas regiões. A
cruz e a espada, intimamente ligadas entre si, se lançam à propagação do “Reino de Deus”, fato esse
que deixou profundas marcas no cristianismo do nosso continente.
A religião cristã penetrou na alma do nosso povo e deu origem a uma vivência popular da fé,
que se conservou intacta mesmo sem a presença constante da Igreja Oficial através de seus
ministros ordenados. Por outro lado, a religião, muitas vezes foi manipulada pelos poderes públicos
em seu próprio benefício, tornando-se um instrumento para manter sob seu controle as massas
populares. Assim, o vigor evangélico e transformador do catolicismo em terras americanas não
atuou sempre livremente.
Só depois da crise da Reforma Protestante, a Igreja Católica fez a sua reforma, sustentada
pelo Concílio de Trento (1545 a 1563). O concílio durou 18 anos e seu trabalho foi concluído
somente em 1562, tendo realizado 25 sessões plenárias em três períodos diferentes (1545 a 1547;
1551 a 1552; 1562 a 1563), quando afinal suas sessões foram solenemente promulgadas em sessão
pública.
Os principais resultados de Trento são:
a) Reforma do clero e da hierarquia: numerosos decretos reformistas foram feitos.
Ficou proibido ao bispo residir fora de sua diocese, a fim de combater o acúmulo
de funções eclesiásticas e devolver ao episcopado sua função apostólica de pastor
de fiéis. Determinou a criação de seminários para a formação de futuros padres,
na tentativa de remover uma das principais causas da fraqueza da Igreja no
passado: um clero mal selecionado e precariamente formado.
b) Reforma na vida sacramental e na instrução da fé, a catequese: o concílio
recomendou a recepção frequente dos sacramentos em vez da expansão
incontrolada de devoções populares mais ou menos suspeitas. As já existentes
obrigações da missa dominical, da comunhão e da confissão anual foram
reconfirmadas. A Igreja retoma o cuidado com a educação da fé. Catecismos serão
elaborados para das aos fiéis a instrução da fé.
c) Fixou a doutrina católica: os dogmas receberam formulações precisas, que
eliminaram dúvidas a respeito de sua interpretação. O concílio traçou clara a linha
divisória do que considerou ortodoxia e desvio doutrinal. Isso foi importante para
a relação com o protestantismo, o simples fiel não conseguia perceber as
diferenças.
Em 1566 é publicado o primeiro Catecismo Romano (para bispos e padres), endereçado à
catequese paroquial. Na idade antiga a educação da fé – catequese – recebia o maior cuidado e na
idade média foi esquecida pela Igreja. A partir de Trento a Igreja novamente passa a “tomar conta
da educação da fé, mas o método adotado estava longe de uma vivência da fé e da vida na
comunidade cristã. Educar a fé passou a significar ensinar um livro (o catecismo), sem nenhuma
ligação com a vida da pessoa e da comunidade. Bastava aprender a teoria ensinada. A catequese foi
reduzida a um livro, local e método: o Catecismo. Pior: ficou identificada como “coisa de criança”.
Os séculos seguintes foram o tempo das grandes descobertas e da expansão colonial, mas
também da emancipação da tutela da Cristandade, ou seja, os Estados Nacionais se emancipam.
Cresce o movimento de valorização do homem (antropocentrismo) e de suas capacidades
intelectuais e artísticas. Cresce também o desejo de liberdade em relação às normas da Igreja.
Após Trento temos intermináveis lutas religiosas entre católicos e protestantes. Consolida-se
a autoridade do rei que se apresenta como onipotente e a Igreja também fica exposta ao seu poder.
O monarca utiliza a Igreja para seus interesses. Papas fracos e inexperientes cedem facilmente
diante das pressões dos monarcas.
A razão humana ocupa o primeiro lugar. Ciência e fé se distanciam e se opõem. A fé cristã e
a Igreja passam a ser contempladas com desprezo. A Igreja é alvo de inúmeras críticas e é
considerada autoritária. Propaga-se uma religião natural em que todos possam buscar uma
fraternidade universal.
O movimento de emancipação, também chamado Iluminismo ou Ilustração, culminou na
Revolução Francesa, em 1789, sob forte onda de anticlericalismo, inclusive nas colônias de
Espanha e Portugal na América Latina. Quanto ao Brasil, se o Império (1822-1889) foi
relativamente conservador neste ponto, a República, a partir de 1889, praticou a estrita separação
entre Igreja e Estado.
Em nível mundial, a crise entre Igreja e Estado chegou ao auge em 1870, com a abolição dos
Estados Pontifícios pelo governo revolucionário da Itália. O Concílio Vaticano I (1870) reforçou
a responsabilidade do Papa e consolidou a posição defensiva da Igreja Católica na sociedade. A
Igreja parece fechar os olhos às mudanças em sua volta (Revolução Industrial e Política).
Os Papas do século XX
1. 1878 a 1902: Leão XIII
2. 1903 a 1914: Pio X
3. 1914 a 1922: Bento XV
4. 1922 a 1939: Pio XI
5. 1939 a 1958: Pio XII
6. 1958 a 1963: João XXIII
7. 1963 a 1978: Paulo VI
8. 1978: João Paulo I
9. 1978 a 2005: João Paulo II
10. 2005 até hoje: Bento XVI
João XXIII
pastor. Em janeiro de 1959, após celebrar missa por intenção da unidade de todos os cristãos, na
Basílica de São Paulo fora dos muros em Roma, torna pública a sua decisão de convocar um
Concílio Ecumênico. O concílio deveria servir à unidade dos cristãos e a um programa de
Aggiornamento (atualização) da Igreja e sua inserção no mundo moderno.
O Papa João XXIII abriu o Concílio Vaticano II no dia 11 de outubro de 1962 na Basílica
de São Pedro em Roma. É impossível relatar todo o conteúdo das quatro grandes sessões, ocorridas
entre a abertura e o encerramento por Paulo VI, no dia 8 de dezembro de 1965.
No discurso de abertura, João XXIII insiste: “O Concílio deve buscar fidelidade à doutrina,
mas que esta seja estudada e exposta por meio de formulação do pensamento moderno. O Concílio
deveria ter, antes de mais nada, um expressivo caráter pastoral”.
O concílio sintetizou em 16 documentos (constituições, decretos e declarações) o
pensamento católico moderno:
Duas Constituições Dogmáticas:
o Lumen Gentium (LG), documento sobre a Igreja, que tem a intenção de
“oferecer a seus fiéis e a todo o mundo um ensinamento sobre sua natureza e
sua missão universal” (21/11/1964).
o Dei Verbum (DV), documento sobre a Revelação Divina e sua transmissão a
partir da Sagrada Escritura e Sagrada Tradição (18/11/1965).
Uma Constituição Pastoral:
o Gaudium et Spes (GS), documento sobre a Igreja no mundo de hoje,
“pretende falar a todos, para esclarecer o mistério do homem e cooperar na
descoberta da solução dos principais problemas de nosso tempo” (7/12/1965).
Uma Constituição:
o Sacrosanctum Concilium (SC), documento sobre a Liturgia, quer relembrar
os princípios e estatuir as normas práticas para a renovação litúrgica e seu
incremento (4/12/1963).
Nove Decretos:
o Unitatis Redintegratio (UR), sobre o ecumenismo, “quer propor a todos os
católicos os meios, os caminhos e os modos que lhe permitam corresponder a
esta divina vocação e graça (para a restauração da unidade entre todos os
cristãos)” (12/11/1964).
o Orientalium Ecclesiarum (OE), sobre as Igrejas Orientais Católicas,
“resolve estabelecer alguns pontos principais para que aquelas Igrejas
floresçam e realizem com novo vigor apostólico a missão que lhe foi
confiada” (21/11/1964).
o Ad Gentes (AG), sobre a atividade missionária da Igreja, “deseja delinear os
seus princípios” (7/12/1965).
o Christus Dominus (CD), sobre o ministério pastoral dos bispos na Igreja,
“tem a intenção de determiná-lo com maior precisão” (28/10/1965).
o Presbyterorum Ordinis (PO), sobre o ministério e a função dos sacerdotes,
quer “tratar mais ampla e profundamente dos presbíteros (...) com o intuito de
sustentar-lhes com mais eficácia o ministério e prover-lhes melhor a vida nos
ambientes pastorais e humanos tantas vezes inteiramente mudados...”
(07/12/1965).
o Perfectae Caritatis (PC), sobre a atuação dos religiosos, “propõe-se tratar da
vida e da disciplina dos Institutos” e oferecer diretrizes a respeito
(28/11/1965).
o Optatam Totius (OT), sobre a formação presbiteral, “proclama a suma
importância da formação sacerdotal e declara alguns de seus princípios
básicos” (28/11/1965).
o Apostolicam Actuositatem (AA), sobre os leigos, “tem a intenção de ilustrar
a natureza do apostolado dos leigos, sua índole e possibilidades, enunciando
ainda os princípios fundamentais e transmitindo as instruções pastorais para
uma ação mais eficiente” (18/11/1965).
o Inter Mirifica (IM), sobre os meios de comunicação social, “julga seu dever
abordar as principais questões conexas com os instrumentos de comunicação
social” (4/12/1963).
Três Declarações:
o Gravissimum Educationis (GEd), sobre a educação cristã, pretende “emitir
alguns princípios fundamentais” nesta matéria (28/11/1965).
o Dignitatis Humanae (DH), sobre a liberdade religiosa e sobre os direitos da
pessoa humana (7/12/1965).
o Nostra Aetate (NE), sobre as relações da Igreja com religiões não-cristãs, “no
seu dever de promover a unidade e a caridade entre os homens e mesmo entre
os povos, considera aqui sobretudo o que é comum aos homens e os move a
viver juntos o seu destino” (28/10/1965).
(Obs.: Os documentos do Concílio são os mais importantes na Igreja. Entre esses, as constituições merecem destaque.)
Considera-se, universalmente, a Constituição Dogmática Lumen Gentium e a
Constituição Pastoral Gaudium et Spes como os dois documentos-eixo do Concílio. Na
primeira, a Igreja procurou conhecer-se melhor, para se renovar no espírito da sua origem e da
sua missão. Na segunda, apresenta-se ao mundo, expressando sua vontade de dialogar e
contribuir para a construção de uma sociedade nova, baseada nos valores humanos e cristãos. As
duas Constituições são complementares: era preciso voltar às fontes – como se faz na Lumen
Gentium, para que a Igreja, através do aggiornamento, pudesse mostrar um rosto renovado a um
mundo novo, mas era também necessário contemplar uma humanidade que está plena de
transformação, para apoiar o esforço de volta à fonte em toda a sua pureza.
Esse Concílio muda a vida da Igreja. Sem ele a Igreja não estaria preparada para entrar
no novo milênio. O Concílio Vaticano II apresenta a Igreja como uma comunidade dinâmica,
“um povo de Deus em marcha”, uma comunidade de homens vivos sujeitos a mudanças, tendo
como fundamento imutável somente Jesus Cristo, seu único guia. A expressão Luz dos Povos
não se refere tanto à Igreja, mas, sobretudo, a Cristo e à Igreja enquanto lhe é fiel.
A Igreja reconheceu ser uma Igreja de pecadores que falhou no passado em vários
pontos. O Concílio rejeita o triunfalismo que predominou durante muito tempo.
Igualmente, abandonou o clericalismo e se refere à Igreja como Povo de Deus num todo.
Somente numa segunda instância considera as várias categorias deste único Povo: bispos,
presbíteros, leigos e religiosos. Enfatizando a doutrina sobre o Sacerdócio comum dos fiéis, o
Concílio concebe o ministério eclesial, a autoridade da Igreja como um serviço à comunidade.
Um serviço exercido na forma de diálogo aberto em colegialidade.
A atitude de diálogo predomina, igualmente, nos textos do Concílio, sobre a relação com
Igrejas cristãs não católicas, até a pouco mantidas à distância, como heréticas e cismáticas. São
reconhecidas como formas autenticamente cristãs do único Povo de Deus, não cabendo a culpa
da separação apenas a elas.
Na Gaudium et Spes a Igreja faz uma exposição da sua fé, das suas convicções essenciais
sobre o homem e sobre o mundo. Apresenta o esboço de uma antropologia, ou seja, visão crítica
da pessoa humana, o que constitui seu principal mérito. O sentido da Constituição é muito claro:
uma religião de cunho transformador e libertador na vida concreta do
homem, na sua existência do dia-a-dia.
O Concílio valorizou as realidades terrenas, interessou-se
vivamente pelo estudo do mundo moderno. Disse Paulo VI: “Talvez a
Igreja nunca tenha sentido tanto como nesta ocasião a necessidade de
conhecer, de aproximar, de compreender, de penetrar, de servir, de
evangelizar a sociedade que rodeia e, por assim dizer, de a seguir nas
Paulo VI suas transformações rápidas e contínuas”.
O Concílio Vaticano II foi sem dúvida o maior acontecimento
do século XX para a Igreja Católica, inaugurando um novo período de sua milenar
história. Emerge como divisor de águas, fundamental para a Igreja, originando um processo de
abertura, renovação e participação. Um Concílio é muito mais que os documentos que produz.
O Vaticano II significa, antes de tudo, um “espírito novo”, a experiência de um novo começo,
um aprofundado conhecimento da identidade e missão da Igreja. Ou, como diziam os bispos no
Sínodo de 1985: “A mensagem do Concílio Vaticano II, já acolhida com grande consenso de
espírito pela Igreja toda, é a Carta Magna e continua a ser para o futuro. Chegue, enfim, aos
nossos dias aquele ‘novo Pentecostes’ do qual tinha já falado João XXIII e que nós esperamos
com todos os fiéis cristãos”.
O Concílio suscitou um grande entusiasmo no início. Logo depois veio para muitos uma
grande decepção. Os concílios geralmente provocam impacto e geram resistências. Observando
a história, podemos dizer que as crises, por mais dolorosas que sejam, aparecem benéficas. Elas
são como o parto, condição para que nasça e cresça o novo.
Entre os frutos do Concílio estão:
O desabrochar da Igreja Particular (Diocese);
O despertar das Igrejas do Terceiro Mundo;
Início da desclericalização da Igreja, devolvendo aos leigos a dignidade ea
possibilidade de participação plena.
O Papa Paulo VI assumiu o pontificado e, 1963, após a morte de João XXIII. Cuidou do
término do Concílio e de sua implantação, tarefa essa não muito fácil. Paulo VI deu grande impulso
à colegialidade dos bispos e instituiu os Sínodos (reunião de representantes dos bispos com o Papa).
Realizou também vários feitos na área do Ecumenismo.
Após o Sínodo sobre a Evangelização, em 1974, Paulo VI publica em 8 de dezembro de
1975 a Encíclica Evangelii Nuntiandi, sobre a evangelização no mundo atual, importante
documento que lembra a toda a Igreja sua essencial missão de evangelizar, sobretudo pelo
testemunho. Paulo VI foi o grande peregrino da paz, num momento em que o mundo estava na
chamada “guerra fria” dividido entre o bloco de países socialistas, liderado pela União Soviética e o
bloco capitalista, liderado pelos Estados Unidos.
Em 25 de agosto de 1978 assume o pontificado o Papa João Paulo I, que veio a falecer em
19 de setembro do mesmo ano, mas marcou a Igreja com sua simpatia, tanto que passou a ser
chamado Papa do Sorriso e com uma frase marcante: “Deus é Pai, ainda mais, é Mãe”. Sucedeu-o
em 22 de outubro de 1978 o Papa João Paulo II.
Desde o início, João Paulo II expressa o desejo de levar avante as determinações do Concílio
Vaticano II. Empreendeu peregrinações apostólicas a várias partes do
mundo, querendo colocar em prática a função do Bispo de Roma e Pastor da
Igreja de “confirmar os irmãos na fé”, dando forma concreta à colegialidade
na Igreja. Viveu o fim da guerra fria, a queda do muro de Berlim (1989),
assistiu ao crescente processo de globalização. Homem de seu tempo,
defende um humanismo que luta pela dignidade humana, os direitos e a
liberdade. João Paulo I
João Paulo II deu grande impulso à Doutrina Social da Igreja,
publicando encíclicas e fazendo importantes pronunciamentos sobre o valor
absoluto da vida humana, sobre o valor do trabalho humano, sobre o evangelho
da caridade. Propõe a globalização da Solidariedade. Fez da Doutrina Social
da Igreja um discurso ético-religioso a todos os homens de boa vontade.
Condenou o liberalismo e toda forma de opressão humana. No seu discurso aos
moradores da Favela do Vidigal, no Rio de Janeiro (1980), disse: “Só tem razão
de ser a sociedade socialmente justa, que se esforça por ser sempre mais justa.
João Paulo II
Somente tal sociedade tem diante de si o futuro. A Igreja dos pobres não quer
servir àquilo que causa as tensões e faz explodir a luta entre os homens. A única batalha que a
Igreja quer servir é a batalha pelo bem verdadeiro, a batalha na qual a Igreja é solidária com
cada homem”.
Logo no início do seu pontificado, João Paulo II propõe uma “Nova Evangelização”, com
novo ardor e novo método. Prega a inculturação do Evangelho.
Atualmente, a Igreja vive em meio a forte mudança cultural, em consequência, sobretudo,
das novas tecnologias e da assustadora rapidez da comunicação, que transforma o mundo numa
“aldeia global”. Isto certamente tem lados positivos. Os resultados das ciências se comunicam com
facilidade, os direitos humanos podem ser articulados mundialmente, as diversas religiões entram
em diálogo. Mas a globalização não produz aproximação mútua das pessoas; suas possibilidades
técnicas nem sempre são assumidas com espírito positivo. As novas tecnologias permitem maior
autossuficiência individual, a massificação leva as pessoas a se refugiarem no individualismo ou em
grupos fechados, por vezes fanáticos, em detrimento do senso comunitário e da compreensão
humana universal. Entretanto, acrescentam-se ao pobres e miseráveis de sempre os excluídos, os
refugiados dos conflitos políticos, as vítimas de novas doenças etc. Tudo isso se apresenta como
novo desafio para a vida no Espírito de Cristo hoje: o “fim da Cristandade” não apagou o desafio do
ser cristão.
Assistimos a um “surto religioso”, mas não necessariamente “cristão”.
Hoje, como no seu início, a missão da Igreja consiste em alimentar não o
sentimento religioso e sim o sentido cristão. Ni Império Romano não faltava
“religião”. Faltava era a revelação do rosto de Deus em Jesus de Nazaré,
assassinado pelo mesmo Império. O surto religioso de hoje não é
necessariamente causa de alegria, antes de preocupação. Há muita
religiosidade pagã em torno de nós, mas pouca adesão a Jesus Cristo, o profeta
Bento XVI
rejeitado de Nazaré. Contudo, a Igreja de hoje deve entrar nesse diálogo, consciente de sua
identidade e coerente em sua prática de amor fiel, segundo o modelo de Cristo.
O Papa Bento XVI, que em 2005 sucedeu João Paulo II, tem consciência desses desafios
para o cristianismo.
5. Construindo a História...
Estamos todos construindo a História. Esse momento é único e nunca mais se repetirá.
Construir a história, a vida, ser Igreja hoje é desafiante. Não podemos esquecer que:
“Crer é bem mais que aceitar um conjunto de verdades: é um caminhar, como a própria
vida. Nem sempre o caminho estará claro; mas sabemos onde queremos chegar. Em vista desta
meta, fazemos um roteiro, um itinerário. O itinerário da fé é tarefa para a vida inteira – tarefa
sujeira a novos aprofundamentos e mudanças que o Espírito nos pedir; é um desafio, como a
vida”. (CNBB, Uma Igreja que acredita: o evangelho de João. São Paulo: Paulinas, 1999).
Bibliografia:
- PIERRARD, Pierre. História da Igreja. São Paulo: Paulinas, 1982.
- MATOS, Henrique Cristiano José. Caminhando pela história da Igreja: uma orientação para
iniciantes. Vols 1,2 e 3. Belo Horizonte: O Lutador, 1995.
- ______. Introdução à história da Igreja. Vols 1 e 2. Belo Horizonte: O Lutador, 1997.
- LIBÂNIO, João Batista. Igreja contemporânea: encontro com a modernidade. São Paulo:
Loyola, 2000.
- ______. Cenários da Igreja. São Paulo: Loyola, 1999.
- BEOZZO, José Oscar. A Igreja no Brasil: de João XXIII a João Paulo II; de Medellín a Santo
Domingo. Petrópolis: Vozes.