Metodologia Quali-Quantitativa - Bernadete
Metodologia Quali-Quantitativa - Bernadete
Metodologia Quali-Quantitativa - Bernadete
Bernardete A. Gatti
Fundação Carlos Chagas
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Posição empiricista, ou funcionalista, dialética, dialétic-histórica, neo-positiivista, etc.
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em certa perspectiva de análise, em um contexto. Esta é a perspectiva mais
contemporânea, embora não seja a única vigente.
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Quantitativo - Qualitativo
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validade, validade que se produz pelo rigor do método e da teorização que o
sustenta, e de sua confluência com a teorização na área de investigação. O
método não é autônomo. Lembramos, então, que todas as formas de obtenção
de informações, de dados, são criadas, inventadas, consensuadas, e, não
podem ser tomadas como sendo a própria natureza das coisas, muito menos a
totalidade da realidade. Estamos, ao nos voltarmos para a empiria, em
qualquer postura epistêmica que tivermos, observando partes, e, abordando
partes do real, recortes, portando pré-conceitos que precisam ser
conscientizados. Isto também se aplica, tanto ao uso de mensurações como às
categorias dos estudos de análise de conteúdo e outras análises dos modelos
qualitativos. O que se procura ao criar uma tradução numérica ou categorial de
fatos, eventos, fenômenos, é que esta tradução tenha algum grau de
plausibilidade, ou de validade de interpretação, no confronto com a dinâmica
observável dos fenômenos.
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sólido. Não se trata apenas de inferência estatística, mas, de inferência teórico-
lógica: trata-se de interpretação.
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Não é necessariamente o que ocorre nos meios científicos, na vida social acadêmica. Há disputas e
separações arbitrárias, por crenças em certos métodos: de um lado a reificação do quantitativo, de outro
sua rejeição total e adoção da perspectiva fenomenológica dos significados.
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Aqui prevalece a idéia de que a ciência deve trabalhar com simplificações (séc. XVII em diante). Hoje
temos controvérsias com as proposições das teorias da complexidade.
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arbitradas segundo algum critério e seu sentido se limita a esses critérios, que
são racionais e não “naturais”. Crítica cabe bem ao que se pode chamar de
“idólatras” dos números. Estes fazem, conscientemente ou não, a identificação
total do instrumento de medida com o fenômeno; por exemplo, os equívocos
que aparecem quando se toma o conceito de temperatura como aquilo que o
termômetro mede. O Q.I. como aquilo que o teste mede. O que o termômetro
mede, ou o teste de inteligência mede, é uma forma possível, arbitrada, de
aproximação operacional do conceito, mas não é o concreto real. A medida não
substitui o fenômeno e essa substituição, de fato, é indevida e leva a equívocos
investigativos freqüentes. Por exemplo, tomar medidas de quociente de
inteligência (QI) como sendo a inteligência humana.
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“comportamento” é, na maioria dos casos, “complicado”. E, muitas vezes
linearizamos sem maiores questionamentos.
As investigações quali-quantitativas
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Na esteira das reflexões acima postas há caminhos nas ciências da educação
que procuram a convergência ou integração de vários métodos para o estudo
de problemas relevantes, enunciados com a consciência de sua complexidade.
A idéia de fundo é que se necessita de várias perspectivas e variados
procedimentos para a aproximação do real, em sua dinâmica social ou sócio-
educativa. Então, quanto às formas de investigação, o que se observa nos
últimos anos é o uso combinado de formas de abordagem, sob a égide de uma
perspectiva que conduziu à enunciação do problema e que baliza os caminhos
das análises e interpretações oferecidas. Encontramos nas pesquisas o uso de
“surveys” estatisticamente delineados e tratados, combinado com entrevistas
em profundidade, ou estudos de caso, permitindo interfaces que ajudam a
avançar compreensões sobre os achados e o problema tratado; encontramos
investigações com análise de casos de forma clínica, entrelaçados com
estudos experimentais (ou vice-versa); temos estudos quase-experimentais
combinados com entrevistas abertas, ou reflexivas, ou não dirigidas; dados e
indicadores demográficos, com estudos de caso ou observação etnográfica em
campo; estudo etnográfico, de um lado, com aplicação de questionários
abertos, por outro, e construção e uso de escalas de atitudes ou de valores;
etc. Estas abordagens combinadas envolvem análises quantitativas e
qualitativas, sendo integradas e contrastadas segundo eixos analíticos que
permitem interpretações de diversas naturezas. A questão continua sendo o
rigor em seu emprego.
A estatística
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pesquisador, também, como, postular a necessidade de alguns controles,
questionar sobre variáveis intervenientes ou “ocultas”, etc..Para tanto é preciso
haver comunicação eficaz entre os profissionais envolvidos, dado que suas
linguagens e lógicas podem ser muito diferentes.
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quantificação abrange um conjunto de procedimentos, técnicas e algoritmos
destinados a auxiliar o pesquisador a extrair de seus dados subsídios para
responder à(s) pergunta(s) que o mesmo estabeleceu como objetivo(s) de seu
trabalho.” O grifo dessas duas palavras pelos autores citados é muito
importante porque nos lembra que os métodos quantitativos de análise são
recursos para o pesquisador, o qual deve saber lidar com eles em seu contexto
de construção lógica e técnica (num certo sentido deve dominá-los) e, não,
submeter-se cegamente a eles, entendendo que o tratamento desses dados
por meio de indicadores, testes de inferência, etc. oferecem indícios sobre as
questões tratadas e, não, verdades; que fazem aflorar semelhanças,
proximidades ou plausibilidades e, não certezas.
Instrumentos de medida
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adequar para estudos de natureza social, psicológica, educacional. Em toda
mensuração existe um grau de arbitrariedade, e as mensurações são sempre uma
tentativa de captação dos fenômenos em termos numéricos, por aproximação em
categorias para verificação de intensidade ou freqüência de ocorrências. Nenhuma
categorização, assim como nenhuma escala de medida é totalmente fidedigna e
válida. Atinge-se um relativo grau de validade e fidedignidade dentro de
determinados limites e parâmetros fixados para um certo problema. O viés é
intrínseco a toda quantificação (como a toda qualificação). O reconhecimento disto
é ponto fundamental para o uso de qualquer modalidade de medida com
consciência crítica e ética.
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fatores, é que levam aos estudos compostos com várias modalidades de coleta,
inclusive as chamadas “qualitativas”.
Muitas das críticas à chamada “pesquisa quantitativa” têm sido feitas sob um
ângulo epistemológico, analisando suas estreitas vinculações com uma concepção
de ciência positivada. Isto se prenderia a determinados padrões de produção de
conhecimento científico tidos como limitantes em suas possibilidades
interpretativas e até esterilizantes na construção de um avanço real e significativo
dos conhecimentos científicos. Se isto é verificável para uma grande parte das
pesquisas que têm se utilizado da quantificação não podemos tomar esta asserção
como válida para todas as pesquisas que utilizam ou utilizarão esta modalidade de
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obtenção de dados. Por outro lado, ela é válida também para boa parte do que tem
sido denominado de “pesquisa qualitativa”.
Elaborações analíticas
A escolha do modelo de análise pode não ser tão trivial como parece. É preciso
que ele tenha qualidades para dar respostas enriquecedoras para a
compreensão do problema em exame, e que tenha suficiente consistência. Um
processamento pode dar margem à necessidade de novas análises
estatísticas, ou até de se fazer análises estatísticas completamente diferentes
em relação às pré-definidas. Pode-se ter necessidade de mudar caminhos no
processo de análise. O que se observa é um aprisionamento a um modelo
inicial de tratamento pré-definido que se aplica e fim. Raramente se observam
revisões analíticas dos dados em processo de tratamento que permitem ir
“questionando” os resultados e revendo análises, acrescentando novas
análises e até buscando novos dados. Ao pesquisador cabe tecer elaborações
analíticas, pois ele é o detentor da teorização e da problematização que foi o
ponto de partida para a investigação, e, é ele que tem questões a deslindar e
que procura ou demanda caminhos em função de sua elaboração lógica e
argumentativa. A análise de dados deve centrar-se em torno de uma lógica – a
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lógica do pesquisador – e, não, em torno da mecânica da estatística ou da
mecânica de métodos. Mas, o profissional estatístico também pode avançar
nesta direção quando se especializa em um dado campo de conhecimento.
Nesse caso sua ajuda fortalece os processos de elaborações analíticas
sucessivas. Na verdade, o que se demanda além da especialidade, em ambos
os casos, é também uma certa interdisciplinaridade. As questões teóricas do
tema em análise têm precedência, e a relevância das análises se deve a um
olhar especializado na área e não aos modelos mecânicos de tratamento dos
dados. Os processos de análise devem contribuir para enriquecer, comunicar
vida e vigor à nossa compreensão dos fenômenos. Ou seja, deve haver uma
significação fundamental e teórica da coleta de dados e de sua análise.
Rosenberg (1976) nos lembra que se deve ter atenção às potencialidades
teóricas e analíticas que estão presentes nos dados recolhidos e que não
podem ser ignoradas. As condições de recolha não podem ser esquecidas. A
análise é uma elaboração em relação a cada problema e o pesquisador é o
responsável por esta elaboração no diálogo com outros especialistas. É preciso
esmiuçar os dados e não apenas modelá-los. Indagações pertinentes devem
ser feitas ao longo dos processamentos. Este comportamento ajuda a escapar
do risco de análises primárias, de ocultamentos, de distorções sérias, de
enganos diversos. Não se pode esquecer que essa análise demanda uma
estreita conexão entre teorizações e dados, um realimentando o outro,
permitindo confirmações, alterações, acréscimos, novas elaborações.
Encerrando
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metodológica. A adesão a um ou outro conjunto de princípios analíticos levam a
diferentes formas de captação e interpretação de dados, sejam estes quantitativos,
qualitativos ou quali-quantitavos. Formação de especialistas interdisciplinares entra
em pauta.
Referências
FALCÃO, Jorge Tarcísio da Rocha; RÉGNIER, Jean-Claude. Sobre os
métodos quantitativos na pesquisa em ciências humanas: riscos e benefícios
para o pesquisador. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Brasília :
MEC/INEP, v. 81, n. 198, p. 229-243, mai./ago. 2000.
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