A Turquia e A União Europeia - Final
A Turquia e A União Europeia - Final
A Turquia e A União Europeia - Final
• Critérios de adesão
O acordo sobre a União Aduaneira concluído pelo Conselho de Associação
Turquia-UE, entra em vigor a 1 de Janeiro de 1996. A candidatura turca
ganha novo vigor e em 1999 foi-lhe atribuído o estatuto de candidato.
Uma mera questão geográfica de fácil constatação (basta olhar para um mapa para
ver que só cerca de um terço da Turquia se encontra em solo europeu), mas que é
apresentado como o primeiro argumento de todos aqueles que não estão dispostos a ver
a Turquia na família europeia.
Muitos acreditam que a Europa deve crescer primeiro dentro do seu espaço geográfico,
especialmente expandindo-se para Leste, em vez de albergar um estado que é mais
asiático que europeu. Na verdade, se o núcleo do estado turco se encontra na Anatólia,
península asiática, incluindo a sua capital Ancara, também é verdade que desde o século
XV que a Turquia sempre representou um papel importante no xadrez europeu. Só que,
para os turco-cépticos, a Europa deve pertencer aos “europeus”. Para os turcos ficaria
uma “parceria privilegiada”.
Problemas:
O Islão
A economia turca
Os direitos humanos
O caso Leyla Zana é o espelho da política turca em relação aos direitos humanos. A antiga
deputada e militante dos direitos da minoria curda, premiada com o Prémio Sakharov –
que só agora recebeu - esteve detida durante dez anos por lutar pelos direitos dos curdos.
Só este ano, e graças a fortes pressões de Bruxelas, é que Zana foi libertada, juntamente
com três companheiros, pelo governo de Ancara.
O facto de ainda existirem presos políticos na Turquia, da liberdade de
expressão não ser ainda um direito garantido e de que todos os dias existam
mulheres a serem desrespeitadas impunemente é um dos grandes senãos da
adesão turca. Bruxelas já deixou bem claro que se Ancara quer entrar no espaço europeu
tem de eliminar definitivamente estes focos de desrespeito pelos direitos do Homem. A
própria comissão que recomendou o início do processo de negociações foi contundente ao
afirmar que o processo deve ser interrompido se se verificar que a Turquia continua sem se
apresentar como um pais onde as liberdades estejam garantidas para todos os seus
cidadãos, sejam eles da minoria curda, mulheres, crianças ou membros da oposição. É um
dos temas que desperta mais apreensão no seio dos líderes europeus e segundo os
especialistas da própria UE, com grande razão.
Chipre
Outro problema grave e de difícil solução. Aliás, cuja solução é necessária para
o processo ter lugar. A Turquia ocupa a parte norte da ilha do Chipre, tendo aí
instalado uma República reconhecida apenas por Ancara. No sul da ilha está a
Republica do Chipre, que em Maio passado se tornou oficialmente membro da União
Europeia. Ora, como Jack Straw, ministro dos negócios estrangeiros britânico apontou, é
impossível um membro não reconhecer um outro dentro da União. E assim a Turquia tem
apenas uma solução. Retirar as tropas do norte da ilha, desfazer a divisão que existe ainda e
reconhecer a Republica do Chipre como estado legítimo. Só que o processo tem conhecido
complicações. Já este ano um referendo sobre a reunificação da ilha falhou por completo,
para notório desagrado de Bruxelas. A própria população turca sempre reclamou o Chipre
como seu por direito e não verá com bons olhos a desistência do governo nas pretensões à
ilha. E o governo cipriota já ameaçou que vetará o início das negociações no próximo dia 17
se a Turquia não reconhecer oficialmente a Republica do Chipre.
Talvez a razão que está por detrás do anunciado veto francês. Sem o admitirem, a verdade é
que muitos são os países europeus que estão assustados com o facto de a Turquia passar a
ser – caso venha a ser aceite como membro – o segundo maior estado da Europa. E como a
nova Constituição Europeia – aprovada mas ainda não ratificada – explicita que, para a
maior parte das políticas comuns será necessária uma maioria de dois terços dos europeus,
então o papel que a Turquia poderá representar no futuro da Europa salta à vista. Muitos
dos países de pequena e média dimensão (os mesmos que em Nice se bateram
contra a união franco-alemã) acham que é perigoso abrir as portas para um
consulado dos grandes países (Alemanha, França, Turquia, Reino Unido). Já os
grandes países não estão dispostos a perder a sua influência com a entrada de um membro
igualmente poderoso e que, aliado com vários outros estados (Polónia, Espanha, Itália)
pode ditar as regras do jogo europeu.
Os mais perspicazes atentam mesmo que a regra da maioria de dois terços qualificados foi
uma exigência pessoal de Valery Giscard D´Estaign, um notório oponente da entrada da
Turquia, de forma a criar nos europeus a ideia de que uma Turquia na EU será sempre uma
Turquia poderosa demais. E há quem já tenha feito as contas de cabeça apontando que uma
Turquia de 100 milhões de habitantes nos próximos 30 anos pode controlar muitas das
decisões mais importantes do Conselho Europeu aliando-se a países sem expressão politica
na comunidade. Um risco que muitos não estão dispostos a correr.
Objectivos e Medidas
A ENCNB, para vigorar até ao ano 2010, assume três objectivos gerais:
Curdistão
Mais de 35.000 mortos, cerca de 2,5 a 3 milhões expulsos das suas casas e deslocados
só no sudeste da Turquia, milhares de refugiados, dez mil aldeias kurdas destruídas,
instituição de um sistema de aldeias vigiadas, interdição do uso da língua, proibição de
escolas próprias, não reconhecimento da sua existência como nação, eis um balanço
sumário da guerra de extermínio que o regime turco lançou e tem em curso contra o
povo kurdo. É assim na Turquia. Mas também é assim no norte do Iraque.