Sapiencia 25 PDF
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ISSN 1809-0915
Edição Especial
Ciências Agrárias
Educação e Letras
Ciências Humanas
Ciências da Saúde
Tecnologias
Ciências da Natureza
2 TERESINA-PI, SETEMBRO DE 2010
E
m 2004, nascia o SAPIÊNCIA, órgão de divulgação
científica, editado pela FAPEPI, uma ideia que vin- mos, também, alguns textos de opinião acerca de ques- SAPIÊNCIA Artigos representa a realização de um
gou e deu bons frutos. Neste momento, lançamos tões de interesse acadêmico, sobretudo aquelas projeto que vimos alimentando deste o lançamento do pri-
uma nova versão: SAPIÊNCIA Artigos, uma coletânea de relacionadas à educação, cultura, ética e política. meiro número de nosso informativo. Agora, no momento
textos produzidos por pesquisadores de diferentes insti- O conjunto de textos aqui apresentado resulta numa da concretização deste projeto, congratulamo-nos com
tuições acadêmicas do Estado do Piauí e de outros Esta- considerável diversidade de temas e de áreas de pesquisa, todos aqueles que contribuíram para o êxito do SAPIÊN-
dos do Nordeste. A nossa intenção é divulgar resultados abrangendo, desde as ciências da natureza, como Quí- CIA, ao longo desses seis anos de atividade ininterrupta,
de pesquisas desenvolvidas, tanto no nível de pós-gra- mica, Biologia e Física, até as ciências sociais, como An- e formulamos votos de que a versão Artigos tenha vida
duação, como no nível de iniciação científica, de modo tropologia, História, Geografia, Arqueologia, Sociologia, longa e alcance o mesmo sucesso que vem tendo o SA-
que este número de SAPIÊNCIA reúne trabalhos de alu- Educação, Economia e Administração. As ciências da PIÊNCIA, desde a sua criação.
nos bolsistas de PIBIC/CNPq, bem como trabalhos de saúde, por sua vez, comparecem com significativo nú-
conclusão de especializações, mestrados e doutorados, mero de trabalhos relativos à Medicina, Enfermagem e Acácio Salvador Véras e Silva
AO LEITOR
PARA CRÍTICAS, SUGESTÕES E CONTATO:
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OU PELOS TELEFONES: (86) 3216-6090 - Fax: (86) 3216-6092
TERESINA-PI, SETEMBRO DE 2010 3
CIÊNCIAS AGRÁRIAS
USO DE BIOFERTILIZANTE DE SUÍNO NA PRODUÇÃO DE HORTALIÇAS
O solo agrícola é uma importante fonte de nutrientes mi- mentação esse biofertilizante apresentou as seguintes ca-
FOTOS: DIVULGAÇÃO
nerais para as plantas. No caso particular da Olericultura, os racterísticas, em g L-1: N = 22,7; P = 15,2; K = 11,0; Ca =
nutrientes disponíveis no solo são frequentemente insuficien- 17,0; Mg = 7,7; S = 3,9; C. org. = 2,1 e Na = 5,2 e, em mg
tes, devido à elevada exigência das plantas em nutrientes. L-1, Zn = 2068; Fe = 3859; Mn = 176; Cu = 1166; Cr =
Essa limitação da fertilidade natural é bem conhecida, po- 0,13; Ni = 0,21 e Cd = 0,01; pH (H2O) = 8,61; densidade =
dendo ser corrigida pela aplicação de adubos orgânicos 1,1 g cm-3 e C/N = 0,09.
e/ou minerais. A partir da década de 1970, a denominada Experimento utilizando doses de biofertilizante suíno na
agricultura orgânica começou a ser disseminada em países cultura do quiabo, cv Santa Cruz permitiu concluir que a apli-
europeus, provavelmente como uma reação compreensível, cação do biofertilizante proporcionou aumento nos teores fo-
embora extremada, ao uso indiscriminado e abusivo de de- liares de N, Ca e Mg e redução nos teores de P e S, sem perdas
fensivos e fertilizantes minerais. Nos dias de hoje, há a na produção por planta. A maior produtividade de frutos co-
preocupação em minimizar possíveis danos ecológicos, merciais do quiabeiro foi obtida na maior população de plan-
como a contaminação da água subterrânea por nitratos ou tas (35.714 plantas ha-1) e com 48 m3 ha-1 de biofertilizante
de lagoas por fosfatos. maior dose utilizado no experimento (Figura 1). A maior pro-
Os benefícios da adubação orgânica têm sido reconhe- dutividade obtida nas populações de 35.714 e 23.809 plantas
cidos, ressaltando-se que a incorporação de materiais or- ha-1 foi 31,23 t ha-1 e 21,90 t ha-1, respectivamente, ambas
gânicos, como o esterco animal, torna o solo um substrato alcançadas com a maior dose de biofertilizante aplicada (Se-
mais propício à agricultura. Melhora algumas característi- diyama et al., 2009). Tais produtividades são superiores às ob-
cas do solo que favorecem a agricultura, notadamente a ca- tidas por Oliveira et al. (2003) que avaliaram o rendimento de
quiabo, cultivar Santa Cruz, em função de doses de N, e obti-
pacidade de penetração e retenção de água; a estrutura, o
veram produção máxima estimada de 16,7 t ha- 1, obtida com
arejamento e a porosidade aumentam a vida microbiana da olericultura na microrregião do Vale do Piranga, Zona da 141 kg ha-1 de N. A produtividade média esperada do quia-
útil, inclusive com eliminação de fitopatógenos; favorece Mata Mineira”, foi aprovado pela FAPEMIG e executado na beiro é de 15 a 20 t ha-1 (SILVA et al., 2007).
a disponibilidade e a absorção de nutrientes; os solos ar- Empresa de Pesquisa Agropecuário de Minas Gerais no pe-
gilosos, pesados e compactados, tornam-se mais favorá- ríodo de 2007 a 2009.
veis; e igualmente acontece com os solos arenosos, leves O biofertilizante foi obtido após a fermentação do de-
e sem boa estrutura. jeto líquido de suíno, proveniente da lavagem das baias, a
O esterco bovino é comumente o mais utilizado como fer- fermentação foi feita anaerobicamente em caixas de fibra
tilizante nas olerícolas, por estar presente em quase todas as de vidro tampadas, por um período de 30 dias. Após a fer-
propriedades rurais. Entretanto, em consequência das ativi-
dades suinícolas desenvolvidas na região do Vale do Piranga, Marlei Rosa dos Santos – Profa. Dra. da UESPI
na Zona da Mata mineira, os dejetos líquidos de suínos são [email protected]
Maria A. N. Sediyama - Pesquisadora
resíduos orgânicos disponíveis em grandes quantidades, tor-
Dra. da Empresa de Pesquisa Agropecuária
nando-se viáveis estudos que os envolvam como fonte alter- de Minas Gerais (EPAMIG)
nativa de nutrientes, para a melhoria do sistema de produção [email protected]
e proteção do meio ambiente. O projeto de pesquisa intitulado Sanzio M. Vidigal
“Manejo e utilização de biofertilizante, proveniente da diges- Pesquisador Dr. da EPAMIG
tão anaeróbica de dejetos de suínos, para o desenvolvimento [email protected]
FOTOS: DIVULGAÇÃO
Aleyrodidae); cochonilhas: Pinaspis sp., Aspidiotus des-
zônica nas margens de rios e lugares inundáveis da mata de tructor, Selenaspidus articulatus (Hemiptera: Diaspididae),
terra firme. Ocorre preferencialmente em solos argilosos e Saissetia coffeae, Saissetia oleae, Parasaissetia nigra (He-
férteis na margem de rios e várzeas. miptera: Coccidae) e o percevejo Leptopharsa heveae (He-
Atualmente os países asiáticos Tailândia, Indonésia, Ma- miptera: Tingidae).
lásia, China e Vietnã são os principais produtores mundiais O percevejo-de-renda ou mosca-de-renda da seringueira,
de borracha natural, respondendo por cerca de 90% do total. Leptopharsa heveae é o principal inseto-praga da cultura. O
O Brasil ocupa apenas o nono lugar na produção mundial, cor- ataque em altas infestações provoca uma redução de 28% no
respondendo a aproximadamente 1,4% do total. Em âmbito crescimento em altura e de 44,5% no diâmetro do colo das
nacional, os estados de São Paulo, Mato Grosso, Bahia e Es- plantas, em mudas, podendo ocasionar queda na produção de
pírito Santo são os principais produtores, sendo São Paulo látex em até 30%. Em São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso
responsável pela maior parcela da produção nacional, o que do Sul, Minas Gerais, Bahia e Goiás, regiões de escape da
lhe confere a condição de principal produtor de borracha na- doença conhecida como “mal-das-folhas”, causada pelo
tural do país. fungo Microcyclus ulei, o percevejo-de-renda torna-se ainda
Com a utiliza- mais importante,
ção do cultivo da pois sua ação
seringueira em sis- ocasiona a senes- 600; sendo eles: Ce-
tema de monocul- cência precoce raeochrysa, Chrysoperla, No-
tura, ocorre um ou a queda anor- dita, Chrysopodes e Plesiochrysa. Foram observados
favorecimento à crisopídeos em seringueira no município de Buritama, SP, re-
mal das folhas.
adaptação de inse- lacionados com surtos do percevejo-de-renda, predando tanto
Deste modo, a
tos que se tornam ninfas como adultos do percevejo-de-renda.
seringueira re-
problema, interfe- No Brasil, já foram observados ovos de tingídeos parasi-
nova a folhagem
rindo na fisiologia tados por micro-himenópteros do gênero Erythmelus (Chalci-
em períodos
da planta e redu- doidea: Mymaridae). O pesquisador Valmir Antonio Costa
zindo a produção de quentes e úmi-
dos, favoráveis (APTA/Instituto Biológico, Campinas, SP) e colaboradores
látex. Um número observaram um parasitismo de 7% em ovos de Leptopharsa
considerável de in- ao surgimento da
doença heveae, coleados em folhas do clone PB 235 em Pindorama,
setos e ácaros está SP parasitados pelo parasitoide Erythmelus tingitiphagus.
associado à serin- O controle
Estudos desta natureza também foram realizados pelo
gueira, e uma par- químico dessa
autor, em talhões de seringueira dos clones RRIM 600, PR
cela deles se praga tem ofere-
255, PB 217, PB 235 e GT 1, na fazenda da empresa “Planta-
destaca como pragas, pela frequência e níveis de infestação cido resultados ções Edouard Michelin Ltda.”, município de Itiquira, MT. No
em que ocorrem. satisfatórios, mas o elevado número de pulverizações reque- ensaio realizado em talhão policlonal (sem aplicação de pro-
Dentre as principais espécies de ácaros fitófagos encon- ridas para seu controle e o alto custo destas têm induzido os dutos fitossanitários desde dezembro de 2002), foi observada
trados na cultura da seringueira estão: Oligonychus gossypii, produtores a abandonarem os seringais após o esgotamento uma porcentagem média de parasitismo de 18,8% por Eryth-
Eutetranychus banksi, Tetranychus sp. (Acari, Tetranychidae), destes. Já o controle biológico tem sido utilizado através melus tingitiphagus em condições naturais. Em outro ensaio
Calacarus heveae, Phyllocoptruta seringueirae, Shevtchen- do uso do fungo Sporothrix insectorum, em diversos locais em talhões que sofrem pulverizações periódicas, foi obser-
kella petiolula (Acari, Eriophyidae), Brevipalpus phoenicis e do Brasil. Em surtos ocorridos no Centro Nacional de Pes- vada uma porcentagem média de parasitismo de 24,2% para
Tenuipalpus heveae (Acari, Tenuipalpidae. quisas da Seringueira e Dendê em Manaus, foi utilizado os mesmos clones. Neste sentido, este parasitóide de ovos
Os insetos que apresentam importância econômica na he- este micro-organismo, atingindo o percentual de controle mostra-se um promissor agente de controle biológico, com
veicultura brasileira são as espécies: Agrotis subterranea, de 93% das ninfas e 76% dos adultos em árvores com alto potencial para ser utilizado em estratégias de manejo in-
Spodoptera frugiperda (Lepidoptera: Noctuidae), Erinnyis copas mais densas. Entretanto, sua eficiência está direta- tegrado do percevejo-de-renda em
ello, Erinnyis alope (Lepidoptera: Sphingidae) e Premolis se- mente ligada ao clima, variando de 25,5% a 93,5% do pe- seringais de cultivo, diminuindo o
mirufa (Lepidoptera: Arctiidae); ortópteros: Gryllus assimilis ríodo mais seco ao mais úmido, respectivamente, uso de produtos fitossanitários e
(Orthoptera: Gryllidae) e Neocurtila hexadactila (Orthop- apresentando, portanto, baixo índice de parasitismo e efi- os riscos de contaminação am-
tera: Gryllotalpidae); cupim: Coptotermes testaceus (Isop- ciência em períodos de umidade relativa baixa. biental. No entanto, deve-se esti-
tera: Rhinotermitidae); besouros: Platypus mattai Os crisopídeos (Neuroptera: Chrysopidae) também figu- mular a realização de estudos de
(Coleoptera: Platypodidae), Xyleborus confusus, Hipothemes ram entre os inimigos naturais do percevejo-de-renda. Esses criação em massa deste inseto em
sp. (Coleoptera: Scotylidae), Malacopterus tenellus e Achry- predadores se alimentam de grande variedade de insetos su- laboratório e liberação em campo.
son surinamum (Coleoptera: Cerambycidae); formigas: Atta gadores de seiva (pulgões, cochonilhas e psilídeos), ácaros,
Rodrigo Souza Santos
sexdens, Atta cephalotes, Atta laevigata e Acromyrmex sp. tripes, ovos e lagartas de lepidópteros e pequenos hemípteros Bolsista de Pós-Doutorado na
(Hymenoptera: Formicidae); tripes: Actinothrips bondari, (Tingidae). Em Ibitinga, SP, foram observados diferentes gê- Embrapa do Amapá
Anactinothrips distinguendus e Scirtothrips sp. (Thysanop- neros de crisopídeos na cultura da seringueira, no clone RRIM [email protected]
6 TERESINA-PI, SETEMBRO DE 2010
METODOLOGIA
Foram analisadas três amostras coletadas em di-
ferentes regiões do Nordeste com o fruto no estado
maduro. A amostra 1 foi coletada em Caxias , no Es-
tado do Maranhão, a Amostra 2, em Parnarama, tam-
bém no Estado do Maranhão e a terceira amostra, em
União, no Estado do Piauí. Analisou-se também o gra-
nulado preparado a partir do pó do mesocarpo do ba-
baçu. A determinação da granulometria dos pós foi
realizada segundo a metodologia proposta pela Far- com boas propriedades de escoamento um pó com um CONCLUSÃO
macopeia Brasileira (4ª ed.). A determinação do índice de ângulo estático de repouso inferior ou igual a 30°. Ân- Com base nos estudos e testes realizados verificou-
compressibilidade e proporção de Hausner seguiu os cri- gulos de repouso superiores a 40° sugerem difícil fluxo se que o mesocarpo de babaçu apresenta uma grande
térios descritos pela farmacopeia americana (United Sta- dos pós ou granulados. Como pode ser verificado na ta- aceitabilidade de sua utilização como produto alimen-
tes Pharmacopeia, 2006). A determinação do ângulo de bela 01 apenas a amostra 4 apresenta um ângulo de re- tício, não apresentando grandes dificuldades no seu
repouso estático foi realizada conforme método proposto pouso um pouco acima de 30°, ainda estando dentro dos processamento, por apresentar características reológi-
cas adequadas, principalmente quando se encontra na
por Prista et al. (1991) e Staniforth (2005), baseado na limites, o que sugere um bom escoamento. Entretanto,
forma de granulado.
altura fixa do funil. Para obtenção das velocidades de es- o tempo de escoamento não pôde ser mensurado, pois
coamento do pó avaliado, utilizou-se o mesmo aparato tendia ao infinito.
utilizado para a determinação do ângulo de repouso e, O método de granulação de pós que possuem escoa-
com o auxílio de um cronômetro, determinou-se o tempo mento ruim tem sido bastante utilizado pela indústria vi-
necessário para o total escoamento do material através do sando obter componentes com melhores características
funil (Farmacopéia Portuguesa, 2002). reológicas. A avaliação das características reológicas das
quatro amostras utilizadas neste estudo demonstrou um
melhoramento do escoamento de pó de mesocarpo do ba-
RESULTADOS E DISCUSSÃO
baçu com a granulação.
A análise granulométrica das amostras aponta para
uma distribuição com boa uniformidade das partículas nas Lívio César C. Nunes – Prof. Dr. da UFPI
amostras 1 e 4 (granulado). A presença de partículas gran- [email protected]
des e pequenas, segundo Prista, pode melhorar as caracte- Waleska Ferreira de Albuquerque – Profa. Msc. da UFPI
–[email protected]
rísticas de escoamento. (Ver Tabela 01 e Gráfico 01).
André Igor O. Prado – Acadêmico de Farmácia da UFPI
Uma propriedade intrínseca dos pós é a resistência [email protected]
ao movimento relativo das suas partículas quando sub- Marxwell Arruda da Rocha Lima – Acadêmico de
metidos a forças externas. O ângulo de repouso de um Farmácia da UFPI
pó é uma das manifestações desta propriedade e o seu [email protected]
conhecimento tem contribuído para avaliar a dificuldade Kamila Maria de H. Sousa – Acadêmica de
apresentada pelos pós para fluírem livremente através Farmácia da UFPI
de um orifício para uma superfície livre. Considera-se [email protected]
8 TERESINA-PI, SETEMBRO DE 2010
DIVULGAÇÃO
mentos industriais, produz, durante o processo produtivo, resí-
duos. Depois que saem da unidade industrial, os móveis
também podem se transformar em resíduo (pós-venda/pós-
consumo). Isso acontece quando o sujeito que o adquiriu, na
impossibilidade de vendê-lo ou doá-lo, faz o seu descarte. O
princípio do poluidor-pagador estabelece que o fabricante é o
responsável pelo descarte desse material. No entanto, para que
isso aconteça, o móvel tem que fazer o caminho de volta, o que
requer uma logística que aconteça no sentido inverso, a logís-
tica reversa.
A logística reversa é a responsável pelo retorno dos produ-
tos aos fabricantes, para que eles possam reaproveitar os seus
componentes ou lhes dar um destino ambientalmente adequado.
Dessa maneira, o objetivo da pesquisa nas indústrias de móveis
de Teresina/Piauí foi analisar a viabilidade da implantação da
logística reversa nesse setor, motivada por seu suporte econô-
mico e ambiental, o que possibilitando o desenvolvimento de
estratégias de gestão através das quais os resíduos passam a
agregar valor de diversas naturezas, por meio da sua reintegra-
ção ao ciclo produtivo e/ou de negócios.
Como a logística reversa ainda não se constitui uma obri-
gação legal, o estudo da sua viabilidade passa pela observação
de outros fatores ligados à atividade industrial. Há três pontos
que, nesta pesquisa, consideramos fundamentais para as empre-
sas que potencialmente poderiam aplicar a logística reversa: ram algum problema no pós-venda e dos que precisam de ma- trias visitadas não apresentam nenhum indicativo direto de re-
empresas que se preocupam com a gestão da qualidade, com a nutenção. As demais consideram que os custos são elevados e conhecimento desse fator. Se o fazem, é para fins de licen-
segurança e que apresentam indícios de cumprimento de sua não compensa. Dessa forma, eles optam por somente fabricar. ciamento ambiental ou para a economia de matéria-prima,
responsabilidade socioambiental. Para um dos administradores entrevistados, é possível que a in- como no caso do seu corte, que é realizado somente após de-
Identificamos 52 indústrias no setor moveleiro de Teresina, dústria receba o material para reforma, desde que o cliente se finição de projeto, de modo a minimizar perdas, motivo pelo
a partir do Guia da Federação das Indústrias do Estado do Piauí comprometa a comprar o móvel novamente (fidelização do qual o setor de móveis gera poucos resíduos durante o seu
(FIEPI) e do Telelistas.net. Foram visitadas dezesseis, entre- cliente), o que já acontece nessa indústria. Os custos da reforma processo produtivo.
vistamos os seus administradores e observamos os tipos de mó- são, em média, 35% do valor do produto novo. O estabelecimento da logística reversa no setor move-
veis produzidos, as matérias-primas utilizadas e a sua origem, Na opinião de três administradores entrevistados, existe a leiro demanda uma série de atividades, que envolve a co-
as etapas do processo produtivo, os tipos e volumes de emba- possibilidade de reinserir o material pós-consumo na cadeia leta, inspeção, separação (desmontagem), reprocessamento
lagens utilizadas para o acondicionamento dos móveis, os tipos produtiva e de negócios, através de reformas, aplicação de (transformar o móvel usado em um móvel reutilizável) e
de resíduos gerados e o gerenciamento adotado por essas in- novos revestimentos, trocas de estofamentos e pintura. Para os a sua redistribuição. O móvel recuperado pode voltar
dústrias para os mesmos, além dos aspectos gerais de segu- demais entrevistados, a reinserção do material pós-consumo na para o comprador inicial ou pode ser inserido em um
rança, qualidade e meio ambiente. cadeia produtiva e de negócios não é possível, por conta da ine- mercado secundário.
Dividimos as indústrias visitadas em dois segmentos: as xistência de espaço físico nas suas indústrias para o recebi- Existe um fator considerado favorável para o estabeleci-
que produzem móveis para residência (sofás, guarda-roupas, mento e o reprocessamento desses materiais, além da falta de mento da logística reversa nas indústrias de móveis de Tere-
colchões, tábuas de passar roupa, cozinhas e dormitórios feitos mercado para esses produtos. sina: os próprios fabricantes atuam como distribuidores dos
sob medida) e as que produzem móveis para escritórios, escolas Em geral, a estrutura das indústrias visitadas é precária, seus produtos, o que faz com que tenham um contato direto
e hospitais (armários, estantes, mesas, cadeiras, carteiras esco- não possuindo compartimentação dos locais onde são realiza- com o consumidor final, facilitando no momento do resíduo
das as distintas etapas do processo produtivo, além de possuí- pós-consumo fazer o caminho de volta.
lares, gôndolas, estruturas porta-pallets, entre outros). Verifi-
rem piso rústico e pouca ventilação. Assim, constatou-se que, mesmo havendo possibilidades
camos que, geralmente, as indústrias do segmento de móveis
Há um consenso por parte dos administradores da necessi- reais de aplicação da logística reversa no setor moveleiro de
para residência fabricam móveis de alta qualidade e com maior dade de qualificação da mão-de-obra para o setor de móveis. Teresina, a sua efetivação é inviável, pois as indústrias não
número de detalhes de acabamento; pois, em sua maioria, são Inexistem, em Teresina, cursos profissionalizantes direcionados apresentam modelos voltados para a gestão da qualidade, se-
feitos a partir de projetos para um consumidor final específico; para esse segmento industrial. Dessa maneira, os administra- gurança e responsabilidade socioambiental, fatores importan-
enquanto o outro segmento, de móveis para escritórios, escolas dores têm dificuldade em repor mão-de-obra. Em sua maioria, tes que antecedem a sua aplicação. Enquanto não houver
e hospitais, as indústrias produzem móveis padronizados, em os funcionários aprendem o ofício durante a atividade na pró- pressão da sociedade e regulamentação que obrigue a imple-
maior escala. pria indústria. mentação da logística reversa, as empresas analisadas não
As principais matérias-primas utilizadas nos dois segmen- Durante as visitas, observou-se que poucos funcionários terão condição de efetivá-la.
tos são a madeira, o compensado de madeira, o MDF (Medium utilizavam os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs),
Density Fiberboard – Fibra de Média Densidade), chapas de pois a segurança do trabalho não pareceu ser fator de relevân-
ferro e de aço. Utilizam-se, também, tubos de aço-carbono, cia para essas indústrias, tendo em vista que elas não chegam
tubos de aço-inox, laminados de PVC, fibras de plástico, teci- a possuir um setor responsável pela segurança dos trablhado-
dos, couros, espuma (para os acentos das cadeiras), cola fór- res, como a Comissão Interna de Prevenção de Acidentes
mica, cola branca, selador, prego, solventes e tintas. A (CIPA), com exceção de uma, apenas. Contudo, mesmo nessa
matéria-prima é proveniente de diversos estados: Piauí, Ceará, indústria, nem todos os funcionários utilizavam os EPIs no
Pará, Paraná, São Paulo, Santa Catarina, Pernambuco, Minas momento da visita.
Gerais e Rio Grande do Sul. A gestão da qualidade ainda não é valorizada pelo setor
Comumente, a cadeia produtiva do setor de móveis de Te- moveleiro de Teresina, somente uma indústria possui certifica-
resina é formada somente pelos fornecedores de matérias-pri- ção ISO 9000 (a mesma que tem CIPA). Embora, durante as en-
mas, fabricantes dos móveis e pelos consumidores finais pois, trevistas, tenha sido observado que os administradores têm a
em sua maioria, os próprios fabricantes comercializam o seu preocupação de inserir um produto de qualidade no mercado,
produto. Dessa maneira, essas indústrias atuam, também, como estes desconhecem os procedimentos necessários para a certi- Elaine Aparecida da Silva – Mestranda em
distribuidoras dos seus produtos, fazendo com que assumam ficação e desconsideram que ela seja importante para a fideli- Desenvolvimento e Meio Ambiente na UFPI
um duplo papel na cadeia produtiva. zação do cliente, pois acreditam que a melhor propaganda é a [email protected]
Das indústrias visitadas, somente duas apresentaram setor satisfação dos seus clientes. José Machado Moita Neto – Prof. Dr. na UFPI
de reforma, onde é feita a reparação dos móveis que apresenta- Com relação à responsabilização socioambiental, as indús- [email protected]
TERESINA-PI, SETEMBRO DE 2010 9
FOTOS: DIVULGAÇÃO
ticas para a humanidade, pois afetam as condições de foi desenvol-
sobrevivência da vida sobre a terra e as relações entre vido por Ro-
grupos sociais e sociedades. No entanto, a conservação semary da
é frequentemente definida somente em seus aspectos téc- Silva Sousa
nicos e científicos, sem inseri-la em contextos mais am- em comunida-
plos relativos aos estudos das relações homem e des pesqueiras
natureza, posto que os seres humanos dependem da bio- da APA do
diversidade e da capacidade dos ecossistemas de fornecer Delta do Par-
produtos e serviços que sustentem modos de vida saudá- naíba, o qual
veis, conservando ambientes naturais. investigou a
A literatura que aborda a interação dos recursos na- distribuição de
turais e populações humanas tem caracterizado diversas conhecimento
linhas de pesquisa, como a Etnobiologia, definida como sobre a flora e
o estudo do conhecimento e das conceituações desenvol- fauna úteis, iden-
vidas por qualquer sociedade a respeito do mundo vege- tificando que há
tal e animal. Como tema interdisciplinar, possui vários um compartilha-
campos, como a Etnobotânica, que trata do estudo das in- mento de conheci-
terrrelações das sociedades humanas com os vegetais, e mento da flora útil
a Etnozoologia, que visa à compreensão dos modos de por gênero e que
interação entre o homem e a fauna, dentre outras áreas. os idosos são os
Os pescadores artesanais estão em constante contato detentores do saber
com a natureza através da atividade pesqueira e possuem na comunidade.
um conhecimento único e detalhado sobre a dinâmica do Quanto à etnozoolo-
ecossistema fluvio-estuarino-lagunar. A reprodução e gia, inferiu que os
criação de estratégias de pesca com base na experimen- homens possuem
tação se baseiam na utilização dos recursos naturais do maior conhecimento,
ambiente onde vivem, permitindo o desenvolvimento por estarem em maior
econômico, social e cultural. contato com a natu-
Vários trabalhos de enfoque etnobiológico com pes- reza do que as mulhe-
cadores artesanais vêm sendo desenvolvidos no Brasil, res, que se dedicam
concentrando-se principalmente nas regiões Sudeste, aos afazeres domésti-
Norte e Nordeste, versando sobre análise de categorias cos, e os jovens, por atuarem no turismo e ar-
de uso (medicinal, alimentícia, artesanal, tecnológica, tesanato, usando recursos da fauna na
etc.), da diversidade de espécies úteis, da associação do confecção de produtos.
conhecimento às tradições locais, da classificação das O conhecimento etnobotânico e etno-
(etno) espécies, do registro de aspectos socioeconômicos zoológico deve ser considerado na conserva-
e culturais, da potencialidade das artes de pesca e sobre ção e preservação da biodiversidade e da
os pescados capturados. No Piauí, recentemente foram cultura local, valorizando e evidenciando o
desenvolvidos dois trabalhos de cunho etnobiológico, direito e a necessidade da participação das po-
com pescadores artesanais sob a orientação da Profa. pulações, nos planos de manejo, apontando ca-
Dra. Roseli Barros, através do Programa de Pós-Gradua- minhos para estudos que abordem a
ção em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universi- especificidade do conhecimento local que con-
dade Federal do Piauí. tribuam na ciência convencional e nas relações
Um deles foi realizado por Alexandre Nojoza Amo- entre as populações de pescadores artesanais e
rim, na comunidade de pescadores artesanais do bairro o ambiente, incentivando atividades sustentáveis
Poti Velho, o qual, através de estudo etnobotânico, ca- e tornando esses dados úteis na gestão e conser-
racterizou os quintais como espaços de convivência e de vação de áreas.
cultivo, na maioria, de plantas medicinais, principal-
mente exóticas, inferindo que a concentração do
conhecimento tradicional na
população adulta
e do gênero femi-
nino ocorre de-
vido à influência
urbana e a maior
tendência das mu-
lheres em cuidar da
residência enquanto
os homens pescam.
Ao descrever os
modos e artes de
pesca e usos das es-
pécies vegetais na
construção de embar-
cações, constatou a Rosemary da Silva Sousa – Mestre em
transmissão familiar Desenvolvimento e Meio Ambiente
do conhecimento sobre [email protected]
a carpintaria naval, e Alexandre Nojoza Amorim – Mestre em
investigou acerca da Et- Desenvolvimento e Meio Ambiente
nozoologia, registrando [email protected]
principalmente o caráter Roseli Farias M. de Barros – Profa. Dra. da UFPI
da pesca de subsistência [email protected]
10 TERESINA-PI, SETEMBRO DE 2010
FOTOS: DIVULGAÇÃO
versificado e associado ao crescimento demográfico, exigindo
atenção maior às necessidades de uso da água para diversas fi-
nalidades. Essas necessidades cobram seus tributos, tanto em
termos quantitativos quanto qualitativos, e se evidenciam prin-
cipalmente em regiões com características de maiores desenvol-
vimentos urbanos, industriais e agrícolas (MANCUSO;
SANTOS. et al 2003).
Segundo Costa et al (2007), o crescimento populacional,
associado aos processos de degradação da qualidade da água,
vem acarretando sérios problemas de escassez, quantitativa e
qualitativa, bem como conflitos de uso até mesmo em regiões
com excelentes recursos hídricos, que tendem a exigir, cada vez
mais, enormes esforços para reduzir o déficit crônico de abas-
tecimento de água e o esgotamento sanitário adequado.
No entanto, há que se destacar a existência de regiões onde
a escassez e a má distribuição de água tornam-se fatores limi-
tantes ao seu próprio processo de desenvolvimento. Tais limi-
tações são características das regiões áridas e semiáridas,
notadamente no polígono das secas do Nordeste brasileiro.
Portanto, em qualquer circunstância, a grande questão que
se verifica é como equacionar a relação demanda versus oferta
de água, posto que, quase sempre, tem-se uma situação de fla-
grante desequilíbrio. Segundo projeções das Organizações das
Nações Unidas (ONU), em 2025, dois terços da população mun-
dial (5,5 bilhões de pessoas) viverão em locais que sofram com
algum tipo de problema relacionado com a água.
A produção de esgotos, cada vez mais intensa com o au-
mento da população, pode vir a ser a única forma significativa,
crescente e confiável de água para o reuso, em demandas futu- Tilápias cultivadas em esgotos domésticos tratadas em Lagoas de Estabilização.
ras, com destaque para o uso agrícola (Fertirrigação) nestas lo-
calidades, tornando oportuna a reutilização da água dentro da de tilápias do Nilo (Oreochromis niloticus),
própria comunidade geradora do esgoto. em face da rica densidade de nutrientes
O reuso subtende uma tecnologia desenvolvida em maior (compostos de Nitrogênio e Fósforo) com
ou menor grau de eficiência, dependendo dos fins a que se des- elevado valor nutricional na dieta dos peixes,
tina a água e de como ela tenha sido usada anteriormente, além e são encontrados na composição do efluente
de representar uma possibilidade efetiva de economia e racio- de esgoto lançado no corpo receptor (rio
nalização deste recurso natural. O reaproveitamento de águas Poti) desta unidade de tratamento. A unidade
residuárias em piscicultura é uma forma de produção de proteí- experimental é composta de uma bateria com
nas animal de baixo custo, que pode ser explorada pela inicia- 18 tanques de fibra de vidro, com volume útil
tiva privada ou pelo setor público. Este cultivo pode atingir de 3,80m³, distribuídos em três tratamentos,
bons níveis de produtividade em função dos efluentes das ETEs da seguinte forma: Tratamento T-01 (água da
(Estações de Tratamento de Esgotos) serem ricas fontes de nu- rede de abastecimento + ração industrial);
trientes, promovendo, assim, o desenvolvimento, em abundân- Tratamento T-02 (esgoto tratado sem adição
cia, do alimento natural para peixes em viveiros. de ração) e Tratamento T-03 (esgoto tratado,
É possível considerar que as lagoas de estabilização e, par- com oxigênio mecanicamente injetado e sem
ticularmente, as lagoas de polimento e de maturação, são am- adição de ração).
bientes bastante semelhantes aos tanques de piscicultura, em Todos os tanques foram igualmente po-
termos de morfometria e da dinâmica da qualidade da água, cujo voados, com 10 alevinos de tilápia cada (den- Estação de Tratamento de Esgotos da zona leste de Teresina (ETE-Leste).
efluente produzido por este tipo de tratamento biológico de es- sidade de 2,63 peixes /m³), revertidos
goto apresenta enorme potencial de reuso, para o cultivo de pei- sexualmente para macho num total de 180 animais e, após o com os valores normativos vigentes, que permitiriam até mesmo
xes. Neste processo, tem-se como desejável uma reciclagem de ciclo do cultivo de 124 dias, com reciclagem diária de 15% do o consumo deste pescado, desde que, devidamente processado
nutrientes, na medida em que a produção da biomassa de algas volume dos tanques abastecidos com esgoto a titulo de reposi- por cozimento. Este produto também pode ser utilizado na com-
nestes reatores vai sustentar a alimentação básica do estoque de ção de nutrientes, foram obtidos os seguintes resultados: nível posição de ração balanceada fornecida em projetos para desen-
peixes cultivados, neste ambiente. médio de sobrevivência do plantel (>80%); produtividade em volvimento e engorda de alevinos.
Para aproveitar de forma eficiente todas estas biomassas kg/ha.dia( T-01=58,22 ;T-02= 5,12;T-03=8,89); comprimento Esta pesquisa foi viabilizada pela parceria entre a compa-
de qualidade, devem ser utilizadas espécies de peixes que pos- médio em cm/peixe (T-01= 26,0;T-02= 13,36;T-03= 15,50); nhia Águas e Esgotos do Piauí S.A (AGESPISA) e a Universi-
suam a capacidade de assimilar esta fonte protéica com efi- peso médio em g/peixe (T-01=372,51 ;T-02=40,05 ;T- dade Federal do Piauí (UFPI), cujo objetivo primordial foi o de
ciência. Dentre as espécies mais utilizadas nas pesquisas e nos 03=60,45). contribuir para a consolidação e o desenvolvimento das unida-
cultivos com reúso de esgoto ao redor do mundo, estão as car- Com estes resultados, constatou-se que o cultivo com es- des de tratamento de esgotos sanitários, com vistas ao estimulo
pas e as tilápias. goto doméstico tratado era promissor, muito embora não se para o reuso do efluente tratado por este sistema de tratamento
No estado do Piauí, considerando as potencialidades natu- tenha alcançado os parâmetros zootécnicos ditos comerciais, tal biológico, do tipo lagoas de estabilização, tanto na produção
rais, especialmente quanto aos seus recursos hídricos, as ativi- como o peso médio de 380 a 400 g/peixe, obtidos em piscicul- de proteína animal de baixo custo, ou em intervenções favo-
dades em aquicultura, com ênfase na piscicultura, podem ser tura convencional, com oferta de ração balanceada por um pe- ráveis aos preceitos fundamentais
enquadradas dentre as atividades com excelentes perspectivas ríodo de cultivo da ordem de 180 dias. da correta gestão ambiental como a
de crescimento, muito embora o cenário atual seja bastante in- Neste experimento, considerando-se que nos custos de uma redução do lançamento de efluen-
cipiente, se comparado com outros estados da região nordestina piscicultura tradicional a ração pode representar até 70% das tes de esgotos em mananciais de
ou com as estatísticas de outras regiões brasileiras. Mas, no despesas de produção do pescado, os nutrientes remanescentes superfície, conjugando e inte-
contexto das políticas do setor, é possível adotar mecanismos no tratamento biológico do esgoto doméstico apresentam grande grando fatores bióticos e abióticos
capazes de modificar o status quo vigente. vantagem na alimentação de peixes do tipo filtradores, por ser em nome da sustentabilidade, in-
Em Teresina, mais especificamente na área anexa à Estação um subproduto do tratamento de esgotos, normalmente lançado clusive, nos aspectos da dimensão
de Tratamento de Esgotos (ETE) da zona leste, foi implantada nos corpos receptores do efluente tratado, não apresenta, por- socioeconômica.
e encontra-se em pleno funcionamento a Unidade Experimental tanto, custos adicionais.
de Réuso do esgoto doméstico tratado, que recebe o efluente Por outro lado, os resultados das análises físico-químicas Cleto Augusto B. Monteiro
Prof. Msc. da UFPI
final produzido pelo sistema de lagoas de estabilização. e microbiológicas realizadas, na água dos viveiros e nos tecidos
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Determinado volume deste efluente é aplicado no cultivo dos peixes apresentaram os padrões sanitários em conformidade
TERESINA-PI, SETEMBRO DE 2010 11
COMIDA OU COMBUSTÍVEL ?
“Nessa terra, em se plantando, tudo dá.” É provável que não emissão de 644 milhões de toneladas de CO2. energia. Isto fatalmente provocaria oscilações imprevisíveis
nem mesmo Pero Vaz de Caminha, em seu momento de con- Nesse contexto, é imprescindível reduzir a dependência em na oferta de comida e de combustível mundo afora, com im-
templação, imaginou que “tudo” incluiria tão vasta gama de relação ao petróleo, que atualmente responde por aproximada- pactos severos na economia mundial.
produtos oriundos da terra, até mesmo combustível. O Brasil mente 98% da demanda mundial de combustíveis e cujo nível O Brasil não pode atuar como coadjuvante nesta dis-
se destaca no cenário internacional não só como um dos maio- de preços pode impor limites indesejáveis ao crescimento da cussão, sob pena de tornar-se mero fornecedor de energia
res produtores e exportadores de alimentos, mas também de economia mundial. A perspectiva de esgotamento das reservas barata para os países ricos. É fundamental estimular estudos
etanol e biodiesel, incluindo a vanguarda na geração das tec- mundiais de petróleo torna premente, sobretudo para os países científicos e inovações tecnológicas que garantam a susten-
nologias mais avançadas do setor, no mundo. em desenvolvimento, o incentivo à produção de fontes alter- tabilidade no longo prazo da produção de biocombustíveis,
Os biocombustíveis compõem a agenda de prioridades nativas de energia, sob risco de comprometer seriamente o pro- assim como a não interferência de sua produção no cultivo
dos principais atores no cenário internacional. A preocupação cesso de desenvolvimento dessas nações. de alimentos.
com a questão energética está na ordem do dia, e a busca por Por outro lado, vem à tona uma importante questão: até Nosso país possui a maior extensão de terra do mundo
alternativas aos combustíveis fósseis vem assumindo um que ponto a produção de biocombustíveis pode avançar, sem que ainda pode ser incorporada ao processo produtivo. Esta
papel de destaque no processo decisório dos países e em suas comprometer o abastecimento da população em alimentos? O posição privilegiada do Brasil
políticas públicas nesta área. O assunto vem ganhando rele- debate foi lançado há alguns anos na pauta internacional e o quanto à disponibilidade de terras
vância estratégica, impulsionado pelo aumento nos preços do assunto é bastante polêmico, dividindo opiniões de especia- agricultáveis e de água em abundân-
petróleo, pela perspectiva de que esses se mantenham eleva- listas e autoridades, criando espaço para especulações e jogo cia nos credencia a conduzir o debate
dos principalmente em razão da demanda de grandes países, de interesses. A verdade é que o Brasil necessita mais do que e estabelecer as diretrizes que nor-
como EUA, China e Índia. Além disso, a utilização de bio- nunca de regulação, quanto ao uso e ocupação de terras agrí- teiam a solução desse problema. Co-
combustíveis possibilita significativa redução nas emissões colas, pois o crescimento desordenado das áreas exploradas locar a ética na ordem do dia é
de gases de efeito estufa (CO2, principalmente), sendo um in- com matéria-prima da bioenergia provocará um aumento cada condição sine qua non, para viabili-
centivo aos países que possuem compromissos de redução de vez mais acentuado na concentração de renda e nas desigual- zarmos uma saída racional.
emissões assumidos no Protocolo de Quioto das Nações Uni- dades sociais do país. Em todo o mundo, as autoridades
das sobre Mudanças Climáticas. No Brasil, conforme dados devem urgentemente atentar para essa questão, não deixando Luís Gonzaga M. F. Júnior
Prof. Dr. da UESPI
publicados pelo Ministério das Relações Exteriores, o uso do que o mercado por si só encontre o ponto de equilíbrio entre
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etanol combustível significou, no período de 1970 a 2005, a as terras destinadas à produção de alimentos e à produção de
12 TERESINA-PI, SETEMBRO DE 2010
DIVULGAÇÃO
técnicas e meios mais eficientes para estudar as relações que 4. Tabuleiros costeiros: os impactos ambientais estão con-
ocorrem entre os fenômenos naturais e sociais. Isto só será con- dicionados às condições de xeromorfismo bem mais acentua-
seguido através de trabalhos constantes e intensivos de caráter das que nas outras unidades ambientais. Devido ao processo
específico, com a difusão de métodos e técnicas adequadas de de urbanização, que vem se desenvolvendo, bem como as ati-
manejo do meio ambiente, como estratégia de utilização plena vidades agropecuárias, tanto a vegetação natural como a se-
e equilibrada dos recursos naturais, para cumprir seu papel nos cundária têm sido continuamente degradadas. Na avaliação
processos de desenvolvimento e planejamento. dos impactos ambientais, constatou-se que o tabuleiro costeiro
Os impactos ambientais induzidos pela pressão humana requer soluções que reduzam os efeitos negativos como a di-
são extremamente significativos nas áreas costeiras, trazendo minuição da produtividade biológica; alterações no funciona-
sérios problemas, sendo, muitas vezes, superiores à capacidade de produção (uso da terra) e dos impactos ambientais advindos mento e redução da disponibilidade dos recursos naturais.
de assimilação dos sistemas naturais, exercendo pressões no desse uso. Ressalte-se que estes tópicos serão estudados, se-
ambiente ou produzindo vários impactos negativos, como a lo- guindo-se a ordem estipulada quando da determinação dos in- CONCLUSÕES
cação de materiais impróprios, suporte da infraestrutura e mo- dicadores naturais, potencialidades, limitações e impactos. Recomenda-se a priorização das pesquisas científicas
dificação do escoamento superficial e a drenagem subterrânea, 1. Praias e campo de dunas: os impactos ambientais e desenvolvimento tecnológico voltados para as atividades
e desmatamento de áreas naturais. estão vinculados ao desenvolvimento de núcleos urbanos e socioeconômicas e proteção ambiental, no sentido de diag-
a pesca predatória. As formas de uso e ocupação não obser- nosticar o estado, potencialidades e limitações das unida-
DIAGNÓSTICO GEOAMBIENTAL
varam as limitações impostas pela dinâmica natural, consta- des ambientais, de acordo com as necessidades das
O diagnóstico geoambiental trata de analisar as conse- comunidades locais.
tando-se ocupações residenciais de diversas tipologias,
quências das ações ocorridas em uma determinada área, com A incapacidade de atender à demanda de serviços de trans-
construção de áreas de lazer, instalações comerciais, estru-
o intuito de verificar sua qualidade ambiental. Considera ainda porte, habitação, saneamento, saúde e educação vem criando
turação de rodovias, além da retirada de sedimentos para a
os efeitos sobre o meio ambiente de uma nova atividade, o es- um quadro crítico nas localidades, acentuando a degradação
construção civil, em função do crescente incremento de
tabelecimento de planos e programas ou novos projetos e pos- ambiental e deterioração da qualidade de vida, causando sérios
construção de segundas residências, comércio e infra-estru-
síveis alternativas. É fundamentalmente um instrumento problemas e prejuízos às atividades turísticas e de lazer, acen-
específico das políticas ambientais preventivas, com decisões tura para recreação e lazer. tuando o processo de urbanização desordenada e destruição de
baseadas em conhecimento dos efeitos ambientais de uma de- 2. Planícies fluviais: os impactos ambientais decorrem áreas de interesse ecológico.
terminada ação, sobretudo nos planos de urbanização e organi- das atuais formas de uso e ocupação, principalmente as re- Recomenda-se a adoção de medidas de proteção ambien-
zação do espaço, oferecendo subsídios para o desenvolvimento. lacionadas ao extrativismo vegetal, provocando desmata- tal na concepção, implantação e operação dos empreendi-
Este diagnóstico foi obtido através da observação e análise mento das margens dos cursos de água com a retirada da mentos potencialmente impactantes e a priorização no
das condições ambientais, considerando-se as interrelações vegetação nativa para uso energético, construção de em- zoneamento das funções de turismo, lazer, proteção ambien-
entre os componentes físicos, biológicos e humanos, coletados barcações, habitações e cercas, causando modificações tal, cultural e histórica dos bens e recursos costeiros, apon-
através de estudos sistemáticos (de campo e gabinete), sendo que levam ao aumento da temperatura, evaporação hídrica tando espaços favoráveis à ocupação produtiva para
posteriormente interpretados com visão crítica, com o intuito superficial e edáfica, aumentando a perda de água do solo. expansão e melhoria da oferta de
de serem aplicados nas propostas de desenvolvimento. Através do diagnóstico ambiental, constatou-se o aumento serviços básicos. De modo geral,
do processo de erosão nas margens dos canais fluviais e a zona costeira do Estado do Piauí
Avaliação e análise dos impactos ambientais sua capacidade de retenção de águas superficiais e produti- necessita de uma maior articula-
A avaliação e análise dos impactos ambientais passaram vidade biológica. ção entre os diversos setores en-
a serem vistos como uma atividade sistematizada e institucio- 3. Planícies flúvio – marinhas: com relação ao diagnós- volvidos, na busca de inovações
nalizada, sendo incorporada ao processo de desenvolvimento, tico ambiental, observou-se que a dinâmica natural atua de tecnológicas nos métodos e práti-
tornando-se parte constituinte das políticas ambientais, que forma significativa, em função do recobrimento vegetal pro- cas, maior eficiência e controle
abrangem não só a análise dos aspectos físicos e biológicos, piciado pelo manguezal e pela deposição sedimentar ao longo dos processos e observância da le-
mas contempla também os aspectos sociais e econômicos. dos cursos de água e nas margens dos canais. Atualmente ve- gislação ambiental.
A partir das características naturais e antrópicas dominan- rifica-se um gradativo aumento das atividades humanas rela-
tes, foram estabelecidos os graus de artificialização e a carac- cionadas ao extrativismo vegetal e animal, agricultura e Agostinho Paula B. Cavalcanti
terização antrópica foi obtida através da tipologia dos sistemas construção de salinas, ocorrendo, ainda, em algumas áreas, a Prof. Dr. da UFPI [email protected]
EDUCAÇÃO E LETRAS
A NOÇÃO DE GRAMÁTICA NOS ESTUDOS DE REPRESENTAÇÃO RUPESTRE
As representações rupestres constituem uma das principais
FOTOS: DIVULGAÇÃO
evidências da presença humana na pré-história. Esta afirmação,
para o território brasileiro, é sem dúvida adequada, na medida em
que as representações rupestres conformam um dos documentos
acerca das ocupações humanas ocorridas em tempos pré-coloniais
que mais resistem ao tempo, em função da natureza dos materiais
que as constituem: minerais. Entretanto, apesar desta excepcional
característica, que é a durabilidade, tratam-se dos documentos ar-
queológicos de mais difícil abordagem.
Conforme nos orienta María Isabel Hernández Llosas, as re-
presentações rupestres podem ser abordadas de diferentes pers-
pectivas: 1) a partir da ótica das Artes Plásticas, que proporciona
a análise das características estéticas das representações, obser-
vando as técnicas de aplicação dos pigmentos e características dos
desenhos; 2) a partir da perspectiva da História da Arte, que ques-
tiona as formas de desenvolvimento das manifestações plásticas
através do tempo, levando em conta as técnicas aplicadas e pro-
dutos gerados, aliados às variações na confecção e valorização es-
tética ao longo dos tempos; 3) partindo de uma ótica
Antropológica, que se interessará pelas mudanças e análises das
diferentes manifestações culturais que originaram as manifesta-
ções artísticas, tentando observar o sentido estético que cada uma
detenha, de acordo com a noção de beleza imposta pelos distintos
contextos sociais; e, por fim, 4) partindo do ponto de vista da Ar-
queologia, que se orienta pelo viés antropológico, pois busca as
informações e características dos grupos humanos que produziram
as representações.
Entretanto, apesar dos diferentes olhares, uma das grandes
questões que se apresentam, sobretudo para os estudos de repre- gráficos significativos relacionados, possivelmente, a sociedades
sentações rupestres, é a impossibilidade de interpretação dos sig- que se apropriaram da região. Desta forma, inequivocamente, co-
nificados. Isto se deve a um fator simples: percebemos claramente meçamos a nos afastar da dúvida desta impossibilidade, frente aos
a intenção humana na confecção das representações rupestres, dados empíricos de que dispomos. Os signos geométricos com-
mas, contrariamente a isto, jamais poderemos entender o que as preendidos pelas suas normas próprias de confecção e disposição
mesmas significaram, uma vez que os autores de tais representa- nos sítios, a dita gramática decorativa, passam a ser vistos como
ções não existem mais. Assim sendo, presumimos que os conteú- importantes elementos para as interpretações arqueológicas de
dos significativos destes signos se extinguiram com as populações contextos regionais. Saímos, portanto, da impossibilidade para um
humanas que detinham os mecanismos de leitura e compreensão cenário mais profícuo.
dos mesmos. Esta consideração impõe uma grande limitação aos Por outro lado, trabalhando ainda sobre a noção de gramática
estudos das representações rupestres. Contudo, é justamente esta decorativa, cabe ainda uma breve reflexão. Se observarmos de ma-
impossibilidade que nos leva a refletir sobre a necessidade de neira cuidadosa, perceberemos que os estudos arqueológicos sobre
abordar este documento arqueológico testando outras ferramentas representações rupestres no Brasil têm se orientado, em sua maio-
teórico/metodológicas, que permitam resultados que expressem o ria, à observação desta categoria de cultura material a partir da
que eram e quem eram as sociedades passadas. noção de Tradição Arqueológica. Por sua vez, o conceito de Tra-
É partindo destas perspectivas que temos testado a noção dição Arqueológica, de acordo com as perspectivas de Valentin
de gramática decorativa imposta por Marcel Otte aos estudos Calderón, André Prous e Gabriela Martín, leva em consideração
das representações rupestres. A partir desta noção, interessa-nos três pilares fundamentais: 1) cultura, reconhecida a partir de certas
classificar os diferentes signos dos sítios rupestres e buscar le- características recorrentes nos materiais arqueológicos de diferen-
vantar convergências entre eles. Para tanto, tomamos como pa- uso de determinadas populações, que tinham como elo comum có- tes sítios; 2) tempo, na medida em que o componente cultural de-
râmetros para leitura arqueológica dos motivos gráficos digos gráficos. Em síntese, as representações rupestres entendidas veria, em tese, ter reconhecido um lapso de tempo de ocorrência;
critérios como dispersão, concentração, associação, centraliza- como gramática, no plano dos significados, permite três outras 3) e espaço, no qual estariam distribuídos os vestígios com carac-
ção, isolamento, marginalização, etc. Entendemos que as posi- considerações, que podem ser atribuídas aos indivíduos que con- terísticas similares (cultura), num lapso de tempo circunscrito.
ções que os diferentes signos assumem num sítio rupestre feccionaram os motivos gráficos: 1) que eles tinham a possibili- Ora, como podemos ver, a noção de Tradição Arqueológica detêm
podem indicar a intencionalidade de escolha de locais específi- dade de representação de ideias a partir de códigos gráficos; 2) parâmetros concretos e invariáveis que embasam a observação das
cos no suporte rochoso para a confecção de certos motivos, re- que esta representação por códigos gráficos possibilitava a trans- representações rupestres a partir de uma lógica normatizadora,
presentados em situações igualmente específicas e que, por missão de ideias para outros indivíduos; 3) e que estas ideias es- com uma natureza recorrente num tempo e espaço específicos.
estas características, levavam consigo significados particulares. tariam materializadas e propagadas para além da permanência Neste sentido, do que estaríamos falando, senão de um código es-
Se constatada esta possibilidade, estaremos afinando dados física do indivíduo no espaço. pecífico de linguagem, de uma gramática decorativa? Esta é uma
acerca da citada gramática gráfica. Cabe, ainda, frisar o nosso interesse na condução desta forma pergunta para reflexão.
Frente às discussões preliminarmente esboçadas, cabe expli- de perceber as representações rupestres. Tem sido tendência nos Entendemos que as bases para a discussão estão lançadas, de
citar o que compreendemos, ao utilizar a noção de gramática de- estudos arqueológicos a canalização de energia para observação maneira que ficamos à disposição. Nosso interesse, de fato, é tes-
corativa. Um dos princípios que rege a ideia de gramática é o de dos sítios com pinturas reconhecíveis no nosso plano cognitivo, tar parâmetros de estudos que sejam adequados a nossa realidade
que a recorrência de ícones idênticos, associados com outros íco- com motivos figurativos, exemplo dos antropomorfos, zoomorfos arqueológica. Não sabemos, de fato,
nes e dispostos de maneira semelhante em diferentes espaços re- e fitomorfos. Em face deste interesse, sítios com pinturas geomé- se a construção teórica que fazemos
presentam ideias iguais. Ou seja, estamos tratando as tricas são negligenciados aos estudos, na medida em que paira no é a mais adequada.
representações rupestres como códigos de linguagem, intencio- meio científico um entendimento, que tem certo consenso entre No entanto, sem se testar, e pos-
nalmente elaborados e com princípios rígidos de confecção, cul- os arqueólogos, de que as representações geométricas são univer- sibilitar que outros colegas façam o
turalmente determinados, a ponto de serem identificáveis por sais e, desta modo, seriam genéricas para construção de contextos mesmo, jamais saberemos da vali-
distintos indivíduos que detinham os mecanismos de leitura e arqueológicos. dade de nossos postulados. Este é o
compreensão das representações. Assim, a sugestão do uso na Nossa experiência no estudo de representações rupestres com nosso interesse.
noção de gramática nasce da nossa compreensão de que as repre- padrões geométricos no Piemonte da Chapada Diamantina tem de-
monstrado justamente o inverso. Temos observado que apesar de Carlos Alberto S. Costa
sentações rupestres sugiram códigos gráficos específicos, dos
geométricos, a maneira com que os motivos estão dispostos e as- Prof. Msc. da Universidade
quais jamais saberemos os significados, mas que nos possibilitará,
nos estudos regionais, reconhecer as normas explícitas na confec- sociados nos sítios permite perceber particularidades para inter- Federal do Recôncavo da Bahia
ção dos painéis rupestres e caracterizar territórios particulares de pretação arqueológica, que podem vir a indicar repertórios [email protected]
14 TERESINA-PI, SETEMBRO DE 2010
DIVULGAÇÃO
Os museus de arqueologia ou com acervos arqueológicos são pressões próprias da ciência arqueológica que necessitem de
utilizados como recursos didáticos pelos professores. Em geral, maiores explicações;
as visitas ocorrem sem orientação e planejamento, de forma que, 6.Elaborar jogos para exercitar o que estão vendo no museu.
ao longo dos anos, existe a tendência dos grupos escolares não Para crianças entre cinco a sete anos, os jogos de observação são
voltarem aos museus. Porque isto ocorre? Em parte pela visão os melhores. Faça com que seja valorizado o lado lúdico e que
ainda bastante disseminada de museu como “depósito de velha- não pareça um teste ou avaliação;
rias” e de discursos expositivos que reforçava o culto do objeto 7.Se forem acompanhantes, como outros professores e pais,
pelo objeto. façam com que se inteirem das atividades;
Então, qual seria a função didática dos museus? De acordo 8.Antes de agendar a atividade, verifique se os expositores do
com Joan Santacana e Xavier Hernàndez, “os museus não são so- museu são adequados para a sua visita. As vitrines devem ter uma
mente instituições onde se aprende conceitos, hoje e no futuro, altura que facilite a visualização dos alunos das séries iniciais;
o museu deverá ser o lugar onde atenda os alunos para aprender 9.Agende a sua visita e no dia procure chegar no horário
a formular hipóteses, a classificar, a emitir juízos críticos, em marcado. Informe-se dos serviços do museu e de sua estrutura
suma, a colocar em questão as capacidades próprias de sua física (ex.: banheiros, lanchonete, acesso a portadores de neces-
idade” (1999, p.180). sidades especiais etc.);
Até agora o museu foi utilizado como uma “ilustração” da- orientações são fundamentais para o uso dos museus como ferra- 10.Informe com antecedência aos alunos que alguns procedi-
quilo que o professor havia explicado em sala ou como uma “mo- mentas pedagógicas (Santacana & Hernàndez, 1999; Horta et. al., mentos devem ser respeitados, seguindo as recomendações do pes-
1999; Bruno, 1999; Hérnandez Hérnandez, 2003; Swain, 2007): soal do museu. Verifique a possibilidade do uso de máquina
tivação” para introduzir um tema. O professor pode ultrapassar
1.Preparar as atividades a serem desenvolvidas, observando fotográfica, em coleções que apresentam plumária, por exemplo,
esta visão simplista, ao ver no museu um instrumento útil, como
o tempo necessário para executá-las; não é permitido o uso de flash. Esclareça aos alunos sobre os cui-
um espaço de interação e ação para a sua prática pedagógica. Em
2.Vincular as ações planejadas aos princípios norteadores da dados de não ingerir alimentos nos espaços visitados, pois isto po-
uma exposição de arqueologia, por exemplo, não será importante
Educação Patrimonial, para a sensibilização e apropriação dos derá afetar a conservação do acervo, atraindo insetos e roedores;
somente o resultado da pesquisa arqueológica, colocando à mos- bens arqueológicos pelos estudantes. As atividades que propor-
tra os artefatos e estruturas, mas igualmente será fundamental 11.Se o museu apresentar expostos ossos humanos ou se-
cionem o manuseio de artefatos, a reconstituição de técnicas e pultamentos de sítios arqueológicos, avise aos seus alunos e
conhecer os procedimentos de pesquisas adotados. Este tipo de modos de fazer antigos, a dramatização de acontecimentos his-
análise se preocupa muito mais com o método e com a avaliação aborde o tema com naturalidade. Muitas crianças e jovens
tóricos, a experiência da descoberta através de atividades que si- quando surpresos podem ficar impressionados ou comovidos.
crítica do conhecimento, do que somente buscar sínteses já aca- mulem ou recriem os métodos da arqueologia são algumas
badas. As exposições devem ser um meio de comunicar um con- O mais importante é realizar o trabalho de forma a in-
atividades possíveis em museus de arqueologia;
texto de forma a relacionar os artefatos, as realizações e as ideias tegrar as atividades preparatórias, as desenvolvidas no
3.Estudar o trajeto e salas do museu, o escolar não precisa
(Fernández & Fernández, 1999, p. 157). museu e aquelas novamente realizadas em sala de aula. Para
necessariamente fazer uma visita completa à instituição;
O museu, além de conservar o seu acervo, deve ser um pro- isso, estimule sua criatividade,
4.Selecionar os elementos a serem trabalhados em função da
motor de atividades educativas e não somente um receptor pas- propondo questões e atividades
idade. Não estudar mais de dez peças para alunos de dez anos;
sivo de alunos e visitantes. Um exemplo desta prática é a práticas aos alunos, de forma
acrescentando um elemento a mais, a cada ano até o máximo de
existência de museus de arqueologia no Brasil, que mantêm que eles possam desenvolver
quinze elementos. Esta escolha dependerá da temática de traba-
ações educativas de maneira sistemática, a exemplo do Museu suas habilidades e construir
lho, é importante desvincular a ideia de arqueologia estar rela-
Arqueológico de Sambaqui de Joinville (MASJ), do Museu Ar- uma visão do passado mais plu-
cionada com objetos exóticos. Assim, a sua escolha deve se
queológico de Xingó (MAX) e da Fundação Museu do Homem ral e diversa.
basear não em critérios somente estéticos, mas nas informações
Americano (FUMDHAN). tecnológicas, sociais e simbólicas dos artefatos e, sobretudo, no
Fabiana Comerlato
Com estas considerações, compreendemos que existe um contexto arqueológico;
Prof. Dra. da Univ. Federal
campo amplo a ser explorado pelo educador e, por outro lado, os 5.Ter atenção com os textos escritos, primando por aque-
museus de arqueologia se apresentam como cenários privilegia- do Recôncavo da Bahia
les concisos e com letras legíveis. Evite que o aluno copie e
dos para um aprendizado significante. Assim sendo, algumas [email protected]
observe se existe algum termo de difícil compreensão e ex-
tes plantações, uma adaptação e uma mistura de ritos pagãos, pelo esperado Rei dos Judeus” Elio Ferreira de Souza
sendo vagamente designada como vodu. A associação com os (SILVA, 2007, p.7). Prof. Dr. da UESPI
O texto se constitui de “Prólogo”, [email protected]
senhores, o esforço dos missionários e motivos de conveniên-
TERESINA-PI, SETEMBRO DE 2010 19
CIÊNCIAS HUMANAS
A CIENTIFICIDADE DO TURISMO
Há muito se discute no meio acadêmico a problemática do
DIVULGAÇÃO
turismo frente ao reconhecimento como ciência. A falta de con-
senso se deve ao fato de ser visto como uma atividade prática
que envolve elementos reais ou potenciais, como os destinos
turísticos e os turistas, e de ser um fenômeno dependente de
outras ciências, produzindo uma relação de grande amplitude
e complexidade.
A palavra ciência tem sua origem no Latim e significa co-
nhecimento. Define-se como sendo um “conjunto de conhecimen-
tos socialmente adquiridos ou produzidos, historicamente
acumulados, dotados de universalidade e objetividade que per-
mitem sua transmissão, e estruturados com métodos, teorias e lin-
guagens próprias, que visam compreender e orientar a natureza e
as atividades humanas” (DEMO, 2005 p.15). primeira, ao contrário do segundo, tem um objeto definido de es- rismo encontra resistência de outras ciências ligadas ao tema,
Desta forma, vários são os autores que defendem a com- tudo, utiliza-se de métodos de pesquisa que permitem a verifica- pois tentam, cada uma, aprofundar as bases de uma teoria trans-
preensão do turismo como uma não ciência, sendo Boullón ção dos resultados e, por tratar de aspectos regulares passíveis de ferindo os seus modos de abordagem.
(1990) um desses autores, que apresenta o entendimento de que detectar, possibilita realizar prognósticos relativamente seguros. Assim, o termo turismologia, embora corresponda eti-
as ideias que se derivam dos estudos em turismo estão desligadas Já o saber, no entanto, sustenta-se nas experiências que já passa- mologicamente ao discurso sobre o turismo, veicula uma
entre si, principalmente as que são geradas em outras áreas do ram, apesar de cumulativas, não necessariamente permitem a ve- imagem científica, mas ainda pretensiosa, pois, transforma
conhecimento humano. Este autor afirma, ainda, que o turismo rificação, o que não provém certezas. o turismo em um campo único do saber, omitindo a natureza
não nasceu de uma teoria, mas de uma realidade que foi surgindo Mesmo com correntes de pensamento fortemente fundamen- multidisciplinar.
de maneira espontânea e que se configurou a partir das descober- tadas e contrárias ao reconhecimento do turismo como ciência,
tas em outras áreas. Mas, o que dizer da cientificidade do turismo autores como Jean-Michel-Hoerner (2003), que publicou suas
para caracterizá-lo como ciência? ideias sobre a ciência do turismo ou, como ele intitulou, a turis-
Sabe-se que o estudo do turismo tem passado nos últimos mologia, insistem nos argumentos que revelam o desenvolvi-
anos por um processo de evolução e consagração de teorias e que mento do estudo do turismo para o grau de ciência, como: a
muito do conhecimento adquirido pode ser considerado como turismologia poderá estudar o que estiver relacionado com o ob-
proveniente do desenvolvimento de pesquisa científica e de mé- jeto de estudo “viagem”, desde a sua concepção, a abrangência
todos racionais aplicados à observação empírica. Os estudos que do mercado de viagens, o seu desenvolvimento e suas consequên-
são desenvolvidos na atualidade em universidades públicas e na cias, os contextos sociais e culturais, as relações entre os turistas
iniciativa privada já se valem do fornecimento de elementos para e as sociedades receptoras, ou seja, a turismologia, no entendi-
verificação e contestação das hipóteses apresentadas. Portanto, mento de Hoerner, será uma ciência humana, orientada para o es-
esses estudos já proporcionam provas indicativas, descrevem tudo da viagem e aplicada às profissões relacionadas com o
como foram os procedimentos de construção do novo conheci- turismo e a hotelaria. Hoerner finaliza sua argumentação expondo
mento e informam como se deve proceder para achar outros. que o turismo abarcará um campo vasto de estudos, mas não di- Vicente de Paula Censi Borges - Prof. Msc. da UFPI
Mas, mesmo com todos os indícios elencados acima, que ferente de outras ciências como a geografia, a sociologia, a eco-
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fazem do turismo candidato nato ao reconhecimento como ciên- nomia, a história, entre outras.
cia, grande parte dos pesquisadores ainda concebem o turismo José Pedro da Ros – Prof. Msc. da UFPI
Com tantas contradições e parca compreensão da complexi-
apenas como saber. A diferença entre ciência e saber é de que a dade do fenômeno do turismo, a cientificidade no estudo do tu- [email protected]
DIVULGAÇÃO
Neste artigo, busca-se apresentar o resultado de um es-
tudo analítico realizado a partir da experiência em gestão
compartilhada no governo do Estado do Piauí, na área da
saúde, implementada no Centro Integrado de Reabilitação
– CEIR, fundado nos princípios da descentralização e par-
ticipação social na gestão das políticas públicas, consubs-
tanciados no aparato constitucional e legislações
específicas vigentes.
A partir da Constituição Federal de 1998, institui-se no
país uma nova configuração na gestão das políticas públi-
cas, assegurando-se novos mecanismos legais nos proces-
sos de tomada de decisões, emergindo um regime de ação
pública descentralizada e participativa, no qual são criadas
formas inovadoras de interação entre governo e sociedade,
dentre elas, a gestão compartilhada. Esse novo formato si-
naliza a emergência de novos padrões de interação entre
governo e sociedade, com a inserção da participação da so-
ciedade civil através das chamadas organizações do Ter-
ceiro Setor. Segundo Tenório (1999), o Terceiro Setor é
formado por organizações sociais, sem fins lucrativos, au-
tônomas, isto é, sem vínculo com o governo, voltadas para
o atendimento das necessidades de organizações de base
popular, complementando a ação do Estado. Ele é centrado
em três eixos: “a maior responsabilidade dos governos em
relação às políticas sociais e às demandas dos seus cida-
dãos; o reconhecimento dos direitos sociais; e a abertura
de espaços públicos para a ampla participação cívica da so-
ciedade” (SANTOS JÚNIOR, 2001, p. 228).
A necessidade de implementar esse novo formato de
gestão pública participativa/compartilhada está relacionada
a um processo mais amplo de discussão em torno dos limi-
tes do modelo estatal, marcado pela forte centralização do
poder no governo federal. Mas, a partir da década de 1980,
intensificou-se o debate acerca dos limites da participação,
impostos pelo modelo representativo, com autores incorpo-
rando, em suas análises, a premência de se construir ou am-
pliar os mecanismos diretamente vinculados a essa questão.
Nesse contexto, os princípios da descentralização e parti-
cipação emergem associados à redefinição de atribuições e
competências em torno das políticas públicas, passando a
vigorar, no Brasil, um novo formato institucional, marcado
pela descentralização da gestão das políticas públicas (AR-
RETCHE, 2000).
Nesse novo desenho institucional, cabe ao Estado ofe-
recer as condições necessárias para a inserção da partici- lhada do CEIR foi formalizada, através de um contrato tilhada contribui para uma maior transparência e otimi-
pação da sociedade civil na gestão das políticas públicas. social, legitimado pela Lei Federal nº 9.637/1998, que zação dos recursos públicos, além de estimular a parti-
Entre as diversas razões para isso, destacam-se a proximi- qualifica como organizações sociais pessoas jurídicas de cipação da sociedade civil na formulação, gestão e
dade entre governo e as organizações sociais, na qual se direito privado, sem fins lucrativos. Essa nova modali- controle social das políticas públicas. Contudo, não se
dade de gestão apresenta como resultados a otimização pode desconsiderar que, na área social, por exemplo, o
supõe que exista mais facilidade de comunicação e mobili-
de recursos humanos e financeiros, a busca da qualidade processo de redefinição de competências e atribuições
zação entre estas e os diversos atores sociais, além do que
nos procedimentos administrativos, a transparência, a pode assumir alternativas divergentes, pois tanto é
as ações e intenções do governo são percebidas e acompa-
desburocratização, a descentralização de ações e a exce- capaz de apontar um direcionamento técnico-liberal,
nhadas pela população, e as aspirações e as relações fun-
lência no atendimento. privilegiando o mercado, restringindo ou extinguindo
cionam como uma caixa de ressonância no âmbito da
Com esse novo arranjo institucional, há uma clara per- direitos e retomando práticas seletivas e focalistas de
gestão pública compartilhada.
cepção de que os atores sociais/sujeitos coletivos presen- proteção social, quanto se voltar para uma perspectiva
Nesta perspectiva, destaca-se como uma ação inova-
tes na gestão pública são co-responsáveis na democrática e valorizadora da participação da socie-
dora em gestão pública compartilhada, no Estado do Piauí, implementação de decisões e respostas às necessidades dade, sem minimizar a responsabilidade do Estado no
o Centro Integrado de Reabilitação – CEIR, que surgiu a sociais. Como afirma Carvalho (1999, p. 25), “não é que processo de provisão social.
partir da necessidade de se dotar o Estado de um serviço o Estado perca sua centralidade na gestão do social, ou Sem dúvida, um fato passou a se impor no panorama
de referência nas áreas de reabilitação e readaptação, des- deixe de ser o responsável na garantia de oferta de bens e político brasileiro: a colaboração entre entidades da so-
tinado às pessoas com deficiência física e/ou motora, so- serviços de direito dos cidadãos; o que se altera é o modo ciedade civil e órgãos governamentais multiplicou-se, em
bretudo, à população de baixa renda. É importante destacar de processar esta responsabilidade”. Dessa forma, a des- vários níveis, desde a atuação comunitária até a parceria
que, segundo o Censo Demográfico (IBGE/2000), no centralização, a participação, o fortalecimento da socie- institucionalizada em programas e políticas sociais, como
Piauí, 501.409 pessoas (17,6%) foram identificadas com dade civil pressionam por decisões negociadas, por a experiência do CEIR, aqui
pelo menos algum tipo de deficiência, sendo que 24.978 políticas e programas controlados por organizações so- apresentada. Neste caso, pode-
possuem deficiência física e 145.325 motora. Daí a neces- ciais, por uma relação de parceria que seja publicizada. se afirmar que a construção de
sidade de se implantar um Centro, que contando com a ca- A gestão compartilhada confere maior democratização uma gestão compartilhada seja
pacidade de 1.433 atendimentos/dia, oferece serviços na gestão das políticas públicas, bem como possibilita a ra- a busca de um modelo em que
especializados de saúde, inspirado no modelo de gestão cionalização e a rentabilidade dos recursos do setor social, Estado e sociedade se confir-
compartilhada. permitindo tratamento diferenciado a problemas específi- mem como partes do processo
O Centro é uma idealização da Secretaria Estadual para cos de diversas comunidades. Ademais, permite a proposi- de redefinição e gestão de polí-
Inclusão da Pessoa com Deficiência - SEID, com o apoio ção e a revisão de critérios de aplicação e controle dos ticas públicas.
do Governo Federal, sendo gerenciado por uma organiza- recursos públicos, em comum acordo com a sociedade
ção social sem fins lucrativos e de interesse público, a As- civil, não se tratando, no entanto, de mera apropriação de Roberto Alvares Rocha
sociação Piauiense de Habilitação, Reabilitação e recursos federais ou estaduais pelas organizações sociais. Prof. Msc. da UESPI
Readaptação – Associação Reabilitar. A gestão comparti- Argumenta-se, ainda, que a gestão pública compar- [email protected]
TERESINA-PI, SETEMBRO DE 2010 25
CIÊNCIAS DA SAÚDE
CONSUMO ALIMENTAR E DE ÁLCOOL POR ESTUDANTES DE ESCOLAS PÚBLICAS
A adolescência é a fase intermediária entre a infância
e a vida adulta, durante a qual ocorre intenso crescimento
físico e profundas modificações orgânicas, psicológicas CARACTERIZAÇÃO Nº %
e sociais, que influenciam no comportamento alimentar. SEXO
No sentido de investigar os hábitos alimentares e de be- Masculino 160 44,32
bidas alcoólicas de estudantes do ensino fundamental e Feminino 201 55,68
médio, com idade entre 16 e 20 anos, de escolas da rede TOTAL 361 100,00
pública estadual do Piauí, localizadas em Teresina, foi
desenvolvido estudo transversal cuja amostra se consti- FAIXA ETÁRIA (anos)
tuiu de 10% do total dessas escolas, considerando-se para 14 a 15 22 6,09
seleção das mesmas o critério de regionalização e sorteio 16 a 17 208 57,62
aleatório simples. Participaram do estudo alunos regular- 18 a 20 131 36,29
mente matriculados no ano letivo de 2004 e 2005, no ho- TOTAL 361 100,00
rário diurno. Em cada escola, os estudantes foram Fonte: Pesquisa Direta
sorteados, utilizando-se a tabela de números aleatórios.
Os dados foram colhidos mediante instrumento pró- Tabela 1. Caracterização dos estudantes de escolas públicas estaduais de Teresina, segundo o sexo e a faixa etária. Teresina PI, 2005.
prio, abrangendo a frequência alimentar semanal, tabus,
aversões e alergias alimentares, bem como hábito de con- SEXO
sumo de bebidas alcoólicas. O plano de trabalho foi de- REFEIÇÕES / ALIMENTOS MASCULINO FEMININO
senvolvido com a participação de estudantes do PIBICjr, DESJEJUM Nº % Nº %
que aplicaram os formulários para coleta dos dados, sob
a supervisão e orientação das pesquisadoras. Esta pes- Café c/ leite integral 37 23,13 58 28,86
quisa foi submetida à apreciação do Comitê de Ética em Cuscuz c/ margarina 34 21,25 37 18,41
Pesquisa da UFPI, tendo sido aprovada sob o nº 187/20. Açúcar 77 48,43 91 45,27
Na caracterização dos estudantes, observou-se (Tabela 1),
ALMOÇO
que o gênero foi relativamente equitativo, 55,68% para o
Arroz c/feijão 58 36,25 58 29,00
feminino e 44,32% para o masculino, sendo que mais da
metade se encontrava na faixa etária de 16 a 17 anos Arroz Branco 49 30,82 66 32,84
(57,64%). Sobre o hábito alimentar, nas três maiores re- Frango (cozido/frito) 15 9,38 16 7,96
feições do dia, foi encontrado café com leite integral, Carne gado (cozida/frita) 10 6,25 20 9,95
cuscuz com margarina e açúcar compondo o desjejum, de Salada verde/amarela 04 2,52 15 7,46
ambos os gêneros. No almoço, as frequências alimentares Outros vegetais 08 5,03 16 7,99
foram semelhantes entre os estudantes e as estudantes. Fruta em fatia 02 1,27 15 7,50
Aqueles demonstraram preferir arroz com feijão, Suco de frutas (artificial /natural) 23 14,38 33 16,50
frango e suco de fruta, enquanto estas referiram preferên- Refrigerantes 13 8,18 30 14,93
cia por arroz branco, carne de gado, salada com vegetais
variados, frutas (porções e suco) e refrigerantes. No jan- JANTAR
tar, manteve-se a situação observada no almoço, acres- Arroz c/feijão 47 29,38 50 24,88
cida de outras preferências alimentares mencionadas por Arroz Branco 43 27,04 54 26,87
ambos os gêneros, café com leite integral, bolo doce e Frango (cozido/frito) 19 12,03 21 10,45
salgado e biscoito recheado, (Tabela 2). Observa-se que Carne gado (cozida/frita) 11 6,88 18 8,96
a alimentação das estudantes se aproxima da alimentação Salada verde/amarela 03 1,89 16 7,96
saudável, quando se considera as características diversi- Café c/leite integral 14 8,75 15 7,46
ficadas e variedade alimentar. Sobre consumo de bebidas Bolo doce/Salgado 05 3,14 12 5,97
alcoólicas, o estudo evidenciou tendência crescente, no
Biscoito recheado 10 6,29 17 8,46
final de semana e socialmente, da menor para a maior
faixa etária. Todavia, é preocupante constatar o consumo Fonte: Pesquisa Direta
diário de álcool de 11,11% entre estudantes com idade
entre 14 e 15 anos (Tabela 3). Tabela 2. Hábito alimentar de estudantes de escolas públicas estaduais de Teresina, segundo o sexo e a faixa etária. Teresina PI, 2005.
Tabela 3. Freqüência de consumo de bebida alcoólica de estudantes de escolas públicas estaduais de Teresina, segundo o sexo e a faixa etária. Teresina - PI, 2005.
30 TERESINA-PI, SETEMBRO DE 2010
5. INDICADORES DE PROMOÇÃO DA SAÚDE RELATIVOS À SAÚDE SUBJETIVA José Ivo dos S. Pedrosa – Prof. Dr. da UFPI
a) principais problemas enfrentados pelas famílias; [email protected]
b) ações necessárias para a saúde; Laureni D. de França - Mestre – Dentista da UFPI
c) % de domicílios que procuram os serviços de saúde como primeira providência quando ficam doentes; [email protected]
d) atos realizados pelos indivíduos para promover a saúde. Gláucia A. V. de Azevedo – Profa. Msc. da UFPI
[email protected]
A BIOÉTICA DA PROTEÇÃO
A Assistência ao Planejamento Familiar foi estabelecida Planejamento Familiar e investigar se as mesmas se desenvol- mens. Quanto à igualdade, diagnosticou-se que as ações indi-
pela Lei nº 9.263/1996, pautada no Artigo nº 226, parágrafo vem como deveriam. Sendo assim, o objetivo deste estudo é cativas da existência do Programa ocorrem isoladamente e se-
7, da Constituição da República Federativa do Brasil. Este de- discutir a moralidade dos dispositivos biopolíticos e de biopo- quer existem instrumentos para sua avaliação. Portanto, se os
termina que as instâncias gestoras do Sistema Único de Saúde der da Assistência ao Planejamento Familiar nas maternidades quesitos eficiência e efetividade não existem, não pode haver
(SUS) são obrigadas a garantir a mulheres, homens e casais, públicas de Teresina-PI. Os dados foram coletados por meio como promover a igualdade, nem tam pouco a proteção e o
em toda a sua rede de serviços, a assistência à concepção e à de questionários, posteriormente tabulados e tratados pelo pa- empoderamento.
contracepção como parte das demais ações que compõem a cote estatístico Statistical Package for Social Sciences (SPSS). Em síntese, os dispositivos biopolíticos e de biopoder
rede de saúde. Desta forma, demanda ações cujas finalidades Este estudo possibilitou que se chegasse às seguintes con- utilizados pelo Estado, configurados pelo Planejamento Fa-
principais são: garantir os direitos sexuais e reprodutivos e clusões: 1) as ações de Planejamento Familiar desenvolvidas miliar não cumprem seu dever de proteger. Por isso, é no mí-
promover a saúde reprodutiva. são insuficientes e não atingem seu dever de proteção porque, nimo necessário alertar os gestores das políticas públicas
O Planejamento Familiar pode ser considerado um dispo- sequer o Programa de Planejamento Familiar foi realmente sobre a urgência na reconfigu-
sitivo, ou seja, um instrumento de poder (Biopoder). Entre- implantado; as ações ali constatadas e que se relacionam ao ração do modus operandi de tal
tanto, tendo em conta as insuficiências da atenção à saúde no Planejamento Familiar são isoladas e não integradas, limi- dispositivo. Sendo assim, os re-
Brasil, tais como falta de efetividade nas ações de saúde pú- tando-se ao atendimento no ciclo grávídico-purperal; 2) os ferenciais apontados pela Bio-
blica, má gestão dos recursos e dos programas, poderiam métodos contraceptivos não são disponibilizados de forma in- ética da Proteção poderiam se
constituir uma razão para se duvidar da performance deste tegral, só distribuem camisinhas e contraceptivos orais tornar instrumentos embasado-
dispositivo e, portanto, da própria pertinência de utilizar, (quando disponíveis); 3) os usuários não recebem informa- res das ações desenvolvidas
por tal dispositivo.
neste caso, este termo para caracterizar. ções suficientes sobre as Doenças Sexualmente Transmissí-
A bioética da proteção, na medida em que se ocupa dos veis (DST), a não ser as mais divulgadas por campanhas Francisca Sandra C. Barreto
suscetíveis e vulnerados, parece se legitimar em situações de educativas do Ministério da Saúde, bem como pela mídia. Profa. da FACID e CEUT
falta de desempenho e efetividade dos dispositivos biopolíti- Quanto à universalidade na cobertura, as ações focam apenas fsandracbarreto@
cos e de biopoder, ou seja, pode se ocupar com as ações do os casais e as mulheres, deixando de fora adolescentes e ho- terra.com.br
TERESINA-PI, SETEMBRO DE 2010 33
outros medicamentos que possam interferir no metabolismo pantes da pesquisa foram orientados quanto à forma cor-
do zinco. Ausência de doenças agudas ou crônicas que pu- reta de anotar os alimentos, discriminando o tipo de
dessem interferir na avaliação do estado nutricional rela- refeição, preparações, porcionamento, medidas caseiras,
tivo ao zinco. quantidades e horários em que foram consumidas.
Os inquéritos alimentares foram analisados pelo
PARÂMETROS ANTROPOMÉTRICOS programa computadorizado NutWin versão 1.5 do De-
Peso (Kg): O peso corporal foi determinado, utili- partamento de Informática em Saúde da Universidade
zando-se uma balança digital Plena com capacidade má- Federal de São Paulo (ANÇÃO et al., 2002). Os alimen-
xima de 150 Kg, graduada em 100 em 100 gramas, estando tos não encontrados no programa foram incluídos na de-
os participantes descalços e com roupas leves. terminação da composição de nutrientes, tomando-se
Estatura (cm): A estatura foi mesurada com altímetro por base a Tabela Brasileira de Composição de Alimen-
metálico, graduado em cm e estando o avaliado em posição tos (TACO, 2006).
ortostática, pés descalços e unidos, procurando pôr em con-
tato com o instrumento de medida as superfícies posterio- CONCLUSÃO
res do calcanhar, cintura pélvica, cintura escapular e região O consumo alimentar dos atletas avaliados neste estudo
occipital, estando à cabeça esta orientada segundo o plano apresenta-se inadequado em relação à ingestão de proteínas
de Frankfurt (PETROSKI, 1999). e carboidratos, porém adequado em relação a lipídios. Os
IMPEDÂNCIA BIOELÉTRICA valores médios de zinco dietético apresentam-se superiores
Para avaliação do percentual de gordura dos participan- à recomendação.
tes do estudo foi utilizada a impedância biolétrica como A avaliação da composição corporal dos atletas avaliados
aparelho BYODYNAMICS modelo 310, Body Composi- neste estudo mostra que os mesmos apresentam a adequada con-
tion Analyser – USA. centração de gordura.
TECNOLOGIAS
ATAPULGITA NO PIAUÍ: POSSIBILIDADES TECNOLÓGICAS
As argilas são recursos naturais que sempre foram utilizadas Guadalupe, no Piauí, distribuídos em uma área de 700 km2 com fácil obtenção na natureza, visto que o estado disponibiliza uma
pela humanidade, como, por exemplo, na fabricação de objetos potencial de aproveitamento econômico. A atapulgita ainda grande reserva de atapulgita. Pode ser utilizada em diversos setores
cerâmicos (telhas e tijolos) e utensílios domésticos. Possuem pode ser encontrada nos municípios de Anísio de Abreu, Fron- de atividade humana, despertando o interesse de várias indústrias.
propriedades que podem ser modificadas, possibilitando seu uso teiras, Paulistana, São Raimundo Nonato e Simões. Nos próximos anos, esse aumento será cada vez maior com melho-
na fabricação de vários produtos, colaborando para o desenvol- Várias são as aplicações da atapulgita, que pode ser uti- res formas de processamento e qualidade em sua extração, possi-
vimento de novas tecnologias, competindo no mercado de forma lizada como absorvente de óleos (na limpeza de assoalhos in- bilitando seu uso em diversas aplicações tecnológicas.
igual ou superior a muitos produtos sintéticos. Em virtude da dustriais, em especial), suportes primários para biocidas, para Na Universidade Federal do Piauí, sob orientação do Profes-
gama de aplicações tecnológicas, as argilas têm se tornado ma- banheiro de gatos ("pet" ou "cat litter"), para cobrir o chão sor Doutor José Machado Moita Neto ([email protected]), de-
teriais importantes na indústria brasileira e mundial. de vagões transportadores de gado e para uso como absor- senvolvemos projetos de pesquisa
A atapulgita, também conhecida como paligorsquita, é um vente de óleos e gorduras para rações animais. Outras apli- com a atapulgita, analisando suas
argilomineral que consiste em um silicato de magnésio hidra- cações incluem uso como agente tixotrópico em perfuração propriedades e seu potencial em
tado. Esse nome foi atribuído por Lapparent, em 1935, data de de poços de petróleo em regiões salinas ou com águas sali- novas aplicações tecnológicas,
sua descoberta, em Attapulgus, no estado da Geórgia (EUA) e nas; manuseio e distribuição de fertilizantes líquidos (ex.: como a formação de compósitos
em Mormoiron (França). A partir de técnicas mais sofisticadas, amônia líquida); substituição do amianto crisotila em mate- para uso em tratamento de efluen-
o mesmo pesquisador mostrou que essa argila era a mesma pa- riais de revestimento, vedação e pavimentação à base de as- tes têxteis.
ligorsquita descoberta em 1861 nos Montes Urais na União So- falto; adsorvente e desodorante das frações do petróleo,
viética. Possui fórmula geral R5Si8O20(OH)2(OH2)4.4H2O, especialmente querosene para motores a jato, e adsorventes Cristiany Marinho Araújo
onde o R representa o cátion Mg2+, podendo também ser subs- para fins farmacêuticos. Mestranda em
tituído pelo Al3+, Fe2+e Fe3+. No Piauí, o interesse em pesquisas com esse argilomineral é Química da UFPI
Depósitos de atapulgita foram descobertos no município de cada vez mais crescente. Um dos fatores para tal investigação é sua [email protected]
ARQUITETURA DE RUA
Considerando que a arquitetura deve ser vista antes de tudo sentam com uma organização espacial em consonância com os O passo seguinte é identificar a composição demográfica da
como um ordenamento cujos princípios têm regras básicas, tanto aspectos mais tradicionais de nossa cidade, tais como uma ar- área e verificar como ela se distribui espacialmente. A densidade
para a distribuição espacial dos movimentos urbanos de veículos quitetura que prioriza espaços abertos tratados adequadamente populacional será a variável obtida e principal restrição de pro-
e pedestres, como para a localização das diferentes atividades de forma a propiciar o convívio social, que gera um sistema viá- jeto. Outras informações importantes poderão ser obtidas em ins-
que podem ser realizadas nos espaços urbanos, é necessário in- rio compatível com o da cidade, que busca a vinculação entre as tituições governamentais e dizem respeito à variável “densidade
cluir uma complexa análise do entorno urbano do lugar onde as áreas edificadas e a rua, que promove a interação da comunidade demográfica”, que remete aos dados socioeconômicos e estrutu-
intervenções arquitetônicas têm um significado maior para o com a cidade, através de um fluxo direto, e que produz uma es- rais. Refere-se à educação (número de escolas e creches, de-
funcionamento da cidade do que possa imaginar nossa vã filo- trutura fundiária flexível, possibilitando o manuseio da célula manda atendida, demanda a atender, etc.); economia (renda
sofia. Toda intervenção no espaço urbano vai gerar nova ocupa- habitacional e da unidade de parcelamento, por parte do usuário, mensal/domicílio); meio-ambiente; cultura; esporte e lazer; sis-
ção e novos ocupantes ou usuários, que passarão a usufruir da de forma a adequá-los às suas necessidades, etc. tema viário; saúde e segurança.
cidade existente. Imagine, o sistema urbano recebendo novos Conhecer as peculiaridades do sítio permite a constatação As informações obtidas até aqui devem fazer o arquiteto
usuários sem que o projetista tenha se preocupado com este as- de fatos que se tornam elementos do partido arquitetônico a ser exercitar o PENSAR. Por exemplo: Como refletir tais informa-
pecto ao implantar o novo projeto. adotado. Mas também se aprende em visitas à arquitetura já ções espacialmente? Esta talvez seja a primeira discussão do ar-
Para tanto, é necessário conhecer as características locais de quiteto com ele mesmo. Ocorre, porque temos que considerar tal
ocupação, tipologia e morfologia urbanas. Explica-se tal neces- construída. Retomando o exemplo dos conjuntos habitacionais
de Teresina, uma visita ao local demonstra o surgimento de uma rebatimento como necessário à integração do objeto arquitetô-
sidade por duas razões. Primeiro para harmonizar a ideia proje-
tual com aspectos morfológicos tradicionais da área, e segundo, arquitetura cheia de constituições, conexões entre espaço pri- nico ao seu entorno. Outro tema bom para esta discussão solitá-
para identificar, dentre as características físicas, sociais e eco- vado e espaço público, que se justifica por permitir à população ria é: a implantação do objeto arquitetônico vai trazer que tipo
nômicas pertinentes ao sítio, aquelas que poderão se tornar res- um maior controle visual da rua, o que contribui para a conser- de consequências à região? Aliás, diga-se de passagem, que o
tritivas ao projeto. Também é preciso identificar e localizar vação e segurança do espaço público e o qualifica. Significa exercício de pensar, de refletir sobre o projeto e sua relação com
equipamentos e serviços urbanos existentes com o objetivo de dizer que intensificar a relação entre os espaços públicos e os as pessoas e com o entorno, acompanha o arquiteto durante todo
conhecer sua capacidade de atendimento em função da demanda espaços privados é uma boa prescrição projetual. o processo de projetação. E se tal discussão for compartilhada,
existente e da demanda pós-intervenção. A preocupação em harmonizar a proposta projetual aos as- ao invés de ser uma atividade solitária, melhor. Trará bons re-
Várias visitas à área de implantação do novo projeto pode- pectos tradicionais da cidade implica a necessidade de sair da sultados para o projeto.
rão fornecer subsídios para evitar equívocos projetuais. Visi- prancheta e ir à rua olhar e assimilar suas feições e suas cicatri- Todas as informações coletadas e as constatações decor-
tando os conjuntos habitacionais de Teresina, por exemplo, zes, para fazer bons projetos. rentes das discussões deverão constituir subsídios para o ar-
observa-se que alguns apresentam sinais de deterioração, en- Como vimos, o processo exige a experimentação do sítio. quiteto projetar corretamente durante todas as fases do
quanto outros apresentam condições urbanas mais aceitáveis. Mas também requer sua identificação no contexto urbano sob o projeto. O resultado? Será um objeto arquitetônico aprazível.
Como explicar a diferença entre eles? A explicação para a dege- ponto de vista de sua complexidade: legal, histórico, social, eco- A análise prévia permite uma
neração urbana ou insucesso projetual desses espaços urbanos nômico, etc. implantação compatível com o
tem várias causas. Em geral, os danos não estão relacionados ao Depois de analisar as legislações pertinentes acerca da exe- sítio em termos de uso e ocupa-
sistema construtivo utilizado, mas sim, à forma como o espaço quibilidade do objeto arquitetônico no terreno selecionado, o ar- ção. Projetado desta forma,
público e privado foi idealizado. A análise das diferenças exis- quiteto deve se perguntar: quais as particularidades do com certeza a intervenção ur-
tentes talvez aponte o caminho para uma projetação que assegure crescimento urbano deste trecho da cidade? Como a área se bana será um sucesso.
o sucesso da implantação desta tipologia. Sabe-se que, em mui- constituiu? E como ela se apresenta hoje? Quais suas permanên-
tos casos, a apropriação, ao longo do tempo e das necessidades cias, transformações e acréscimos? Como esta área se integra à Ângela Martins
que dela decorrem promovem uma correção do projeto. Este foi cidade? Há alguma barreira à continuidade da malha urbana? Napoleão Braz e Silva
o caso do Conjunto Mocambinho. Entretanto, outros conjuntos Conhecer a evolução urbana da área e suas características tipo- Profa Msc. da UFPI
são absorvidos pela cidade desde o início de sua ocupação. Con- lógicas e morfológicas atuais é fator de aproximação com o ob-
juntos habitacionais, como Saci, Parque Piauí, e Itararé se apre- [email protected]
jeto arquitetônico e constitui variável de projeto.
CIÊNCIAS DA NATUREZA
VITAMINA E OU ALFA-TOCOFEROL?
O termo vitamina E é usado como descritor genérico de quer apenas a forma alfa tocoferol natural em conformação inatividade dos Isômeros 2S.
todos os derivados de tocol e tocotrienol com atividade bio- RRR. Essa nomenclatura depende de como os carbonos qui- Além disso, existe mais um aspecto a considerar, que é
lógica de α-tocoferol (IUPAC,1981). As formas encontradas rais presentes na cauda phytyl se ligam ao anel cromanol. a dificuldade em se obter a forma natural do RRR-alfa-
naturalmente incluem quatro tocoferóis (α-, β-, δ- e γ-toco- A forma sintética, também conhecida como all-rac-alfa- tocoferol (antes denominada d-alfa-tocoferol), porque os
ferol) e quatro tocotrienóis (α-, β, δ- e γ-tocotrienol) (Her- tocoferol ou dl-alfa-tocoferol, possui uma mistura equiva- óleos vegetais mais baratos, tais como os óleos de soja e de
rera et al, 2001). lente de oito estereoisômeros, sendo a conformação RRR milho, possuem maior proporção do gama-tocoferol em re-
É um micronutriente que tem como principal ação pro- apenas um desses estereoisômeros (Traber, 2006). Conside- lação ao alfa-tocoferol (Eitenmiller and Lee, 2004).
teger os ácidos graxos poliinsaturados de cadeia longa das rando as recomendações do Instituto de Medicina Ameri- Assim, fica o alerta à população de que apenas a forma
membranas celulares e as lipoproteínas contra a oxidação cano (2000), um adulto deve consumir 15mg/dia da forma natural da vitamina E, representada pelo isômero RRR-alfa-
(Bramley et al, 2000). Alguns estudos têm indicado um natural RRR-alfa-tocoferol. Esse valor é baseado na RDA tocoferol (antes denominado d-alfa-tocoferol) é requerido pelo
provável envolvimento da deficiência de vitamina E na pa- 2000 (Recommended Dietary Allowance) que se refere à ser humano. A vitamina E sinté-
togênese da aterosclerose, diabetes e alguns tipos de cân- quantidade de nutriente que deve ser ingerida para atingir tica, normalmente oferecida em
cer, bem como na modulação da inflamação e resposta as necessidades de quase todos (97-98%) os indivíduos de suplementos, possui apenas uma
imune (Morrissey e Sheehy, 1999). Além disso, ela é im- um grupo. fração do que o organismo neces-
portante nos estágios iniciais de vida, desde a concepção Tal fato resulta em valores diferentes, ao considerar sita e, por isso, é frequentemente
que 1 UI (unidade internacional) de vitamina E corres- encontrada nas farmácias com pre-
até o desenvolvimento pós-natal da criança, e a sua defi-
ponde a 1mg de all-rac-alfa-tocoferil acetato, 0,67mg de ços mais baixos do que a forma
ciência pode causar anemia hemolítica e afetar o desen-
RRR-alfa-tocoferol, ou 0,74 mg RRR-alfa-tocoferil ace- natural, RRR-alfa-tocoferol.
volvimento do sistema nervoso central, principalmente em
recém-nascidos pré-termo, por causa das concentrações tato. Portanto, 15mg/dia de RRR-alfa-tocoferol corres-
mais baixas de tocoferol no plasma (Azzi e Stocker, 2000, ponde a 23UI da forma RRR ou 34UI da mistura racêmica. Roberto Dimenstein
Debier, 2007). Em cálculos de dietas, suplementos na forma all-rac-alfa- Prof. Dr. da UFRN
Do ponto de vista nutricional, o organismo humano re- tocoferol possuem um fator de 0.45mg/UI, refletindo a [email protected]
DIVULGAÇÃO
motora, que varia em suas manifestações, de acordo com a área
ritmo. O ritmo é considerado o elemento musical mais asso- encefálica comprometida. Muitos têm movimentos involuntá-
ciado ao movimento. Na atividade física, o ritmo facilita a rios por ter comprometimento nos gânglios basais do cérebro.
coordenação motora e a integração funcional de todos os as- No Brasil, a capoeira é um esporte ou arte marcial que une
pectos. Coordenação motora é a realização intencional de um a luta, a música e a dança. É um patrimônio cultural afro-bra-
movimento. O fisiologista Charles Fere (cronobiologia) con- sileiro com infinitas possibilidades motoras. O ritmo na ca-
cluiu que são os estímulos rítmicos, antes de quaisquer outros, poeira pode ser vivenciado através dos instrumentos musicais
que conseguem “aumentar o rendimento corporal”. São nume- (berimbau, atabaque, pandeiro, agogô, reco-reco), movimenta-
rosas as pesquisas mundiais que apontam e reafirmam estas ção corporal, palmas e canto. Em centros de reabilitação física,
possibilidades de utilização benéfica. A presença de estímulos a capoeira trabalha com os objetivos de desenvolver noções de
rítmicos acrescenta estabilidade imediata no controle motor, equilíbrio, ritmo, coordenação, harmonia de movimentos, fle-
mais do que através de um processo gradual de aprendizagem. xibilidade, agilidade, força e velocidade. Também estimula a
sociabilização, a integração familiar, inclusão social e melhoria
CÉREBRO, RITMO E MOVIMENTO da autoestima.
O planejamento motor ocorre no lobo frontal, onde o cór-
tex pré-frontal na superfície externa e a área motora suple- A MUSICOTERAPIA E O PRATICANTE ESPORTIVO
mentar analisam os sinais que chegam de outras partes do EXPERIÊNCIAS PRÁTICAS EM O profissional capacitado em musicoterapia pode ser um
cérebro, indicando essa informação como uma posição no es- ATIVIDADES DESPORTIVAS importante aliado no planejamento e nas atividades esporti-
paço e memória de ações passadas. Depois, essas duas áreas Segundo Karageorghis, escutar música animada durante vas. Seus conhecimentos técni-
acessam o córtex motor primário que define quais os múscu- atividade física aumenta a resistência física e estimula o prati- cos podem ser utilizados na
los que precisam se contrair, e envia as instruções pela me- cante a acrescentar mais 15% de tempo ao seu treino. E o me- forma de consultoria, planeja-
lhor: sem perceber. mento ou mesmo na aplicação de
dula espinhal até os músculos. Esses últimos devolvem os
O campeão de natação Michael Phelps utiliza sempre seu algumas práticas musicoterapêu-
sinais para o cérebro. O cerebelo usa essa resposta muscular ticas durante os estressantes e
para auxiliar no equilíbrio e aprimorar os movimentos, sendo Ipod antes de iniciar as competições para melhorar sua concen-
tração. Alguns atletas mentalizam canções preferidas, que jul- exaustivos treinos diários.
responsável pelo ajuste rítmico e reações emocionais à mú-
sica. Os gânglios de base reúnem informações sensoriais das gam adequadas, para melhorar a performance.
Nydia Cabral C. do R. Monteiro
regiões corticais e as transmitem por meio do tálamo até áreas Musicoterapeuta do Centro
motoras do córtex (responsável pela modelação do ritmo, an- PARALISADOS CEREBRAIS E A Integrado de Reabilitação /Piauí
damento e métrica, controle de movimentos intencionais e UTILIZAÇÃO TERAPÊUTICA DA CAPOEIRA nydiadoregomonteiro@
globais do corpo). A característica principal da paralisia cerebral é a desordem yahoo.com.br
Restinga na APA do Delta do Parnaíba: uma paisagem dominada por dunas e carnaúbas.