Antenas e Propagação

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Antenas e Propagação

de Ondas

CEFET-Ce
Gerência de Telemática
Curso Superior em Telemática
Prof. Regis C. P. Marques
Apresentação

Este material tem como intuito passar ao tecnólogo uma visão geral dos aspectos
relacionados com a transmissão de informação por meio de ondas eletromagnéticas guiadas
e não guiadas, bem como os de escolha e projeto de antenas e outros elementos do sistema
aéreo.
Inicialmente é feita uma revisão da teoria eletromagnética básica e das
características dos meios de transmissão, necessárias a compreensão de fenômenos
ocorrentes na transmissão. Um estudo completo de toda teoria eletromagnética e suas
inúmeras aplicações não é nosso objetivo.
Após esta revisão é estuda a transmissão através de ondas eletromagnéticas em
suas várias etapas: geração, transmissão e recepção; influências do meio; fenômenos de
transmissão; tipos de transmissão e suas aplicações; entre outros.
A segunda etapa trata do assunto linhas de transmissão, neste ponto espera-se que
o aluno tenha compreendido a geração e transmissão de ondas não guiadas já que muitas
das características de transmissão são observadas em ambos os casos (salvas algumas
particularidades). Aqui são estudados os tipos básicos de linhas de transmissão (bifilar e
coaxial), casamento de impedância e SWR.
A última etapa trata do assunto antenas. Em enlaces de rádio difusão, a escolha do
sistema radiante é um ponto crítico e que merece uma atenção especial. Mesmo quando não
é tratado o problema de se projetar uma antena, a simples necessidade de se escolher entre
as inúmeras possibilidades existentes no mercado, requer o conhecimento de vários
aspectos envolvidos. Nossa abordagem começa com o estudo dos tipos básicos de antenas e
do problema de se projetar uma e por fim a análise de sistemas irradiantes encontrados no
mercado.
Primeira Parte:
Propagação de Ondas
1 Campos e Materiais

Até aqui o aluno teve contato e deve estar ciente do princípio de geração de
campos elétrico e magnético, causados pela existência de cargas e correntes elétricas em
condutores ou meios eletromagnéticos e deve conhecer leis básicas da eletricidade e
magnetismo. O conhecimento destas leis não é fundamental para os estudos que serão
realizados, mas do ponto de vista físico, compreender algumas destas leis facilita ao aluno
compreender os fenômenos ligados à propagação de ondas. Com tudo as necessidades
esporádicas de invocar tais relações serão atendidas de forma pontual, não sendo abordadas
neste curso.

1. Campos

O primeiro contato com o termo campo ocorre normalmente no estudo da força


gravitacional. Indiferente ao tipo, o termo está estritamente ligado a influência de uma força
qualquer que age em uma determinada região do espaço. Na prática, não medimos a
intensidade de um campo, mas sim a intensidade da força ou de algum fenômeno por ela
causado.

Campo Elétrico
Quando um capacitor é submetido a uma tensão
E
V e logo em seguida é retirado do circuito, pode-se
observar entre seus terminais o mesmo valor da tensão
aplicada, isso porque ele armazenou energia no dielétrico
V
existente entre suas placas formando um campo elétrico E.
Na prática não medimos o campo elétrico entre as placas
Figura 1.1. Campo
do capacitor e sim a tensão que ele gera em seus terminais.
CAMPOS E M ATERIAIS

Campo Magnético
Se uma quantidade de cargas elétricas é colocada em movimento (corrente elétrica
i) o que temos é a formação de um campo magnético H entorno do fluxo de cargas. Na
prática, não medimos o campo magnético e sim a corrente elétrica que ele induz em outros
materiais ao seu redor.

i H

Figura 1. 2. Campo magnético

Campo Eletromagnético
Os campos citados anteriormente têm como objetivo básico justificar os
fenômenos ocorridos em materiais próximos a concentrações de cargas estáticas (campo
elétrico) ou em movimento (campo magnético). A princípio o estudo de ambos os campos
era realizado de maneira independente, pois se presumia não existir relação direta entre o
campo elétrico e o magnético.
No entanto, se considerarmos uma fonte de tensão alternada, será observado um
campo elétrico devido à diferença de potencial, ao mesmo tempo em que é observado um
campo magnético, devido ao movimento de cargas. De forma que as componentes elétrica e
magnética são indissociáveis, o que dá origem a um campo eletromagnético. O campo
eletromagnético consiste da existência mútua de um campo elétrico e um campo magnético,
e a região do espaço na qual sua presença é constatada é chamada meio eletromagnético.

2. Características dos Meios

Permeabilidade Magnética
A experiência mostra que as grandezas que determinam as influências do campo
eletromagnético dependem de diversas propriedades do meio. Por exemplo, quando o meio
for o vácuo, a indução magnética assume determinado valor que se modifica para outro

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meio material. Ou seja, existe uma característica que altera o valor da indução em cada
meio. Esta propriedade é denominada permeabilidade magnética (µ), medida em
Henrys/metro (H/m). Em meios simples, trata-se de uma grandeza escalar, representada
apenas pelo seu valor numérico. Assim, estabeleceu-se que a indução magnética b é
diretamente proporcional ao valor da permeabilidade, determinando a relação com o campo
magnético h,
b = µh (1.1)
Quando o meio for o vácuo, a permeabilidade magnética, expressa em valores do
Sistema Internacional de Unidades, é introduzido por definição como
µ0 = 4π × 10 −7 H/m (1.2)
Em geral costuma-se comparar a permeabilidade do meio com a do vácuo,
introduzindo um fator µr conhecido como permeabilidade relativa.
µ = µ r µ0 (1.3)

Segundo a definição, µr é adimensional seu valor e o comportamento definem o


tipo de meio no qual se estabelece a indução magnética. Segundo o comportamento, o
material é classificado como:

o Diamagnéticos: Os meios diamagnéticos apresentam permeabilidade relativa


constante, independente da amplitude do campo magnético, e ligeiramente
inferior a unidade. Por exemplo, cobre, prata, ouro e sódio.

o Paramagnéticos: Os meios paramagnéticos apresentam permeabilidade


relativa também independente da amplitude do campo magnético, mas
ligeiramente maior que a unidade. Por exemplo, alumínio, berílio e titânio.

o Ferromagnéticos: Nestes meios, a permeabilidade magnética depende da


amplitude do campo magnético, e em geral possui valor absoluto muito
maior que o vácuo. Por exemplo, ferro, aço, níquel e cobalto.

Permissividade Elétrica
Uma análise semelhante deve ser feita para os efeitos que o meio exerce sobre o
valor do campo elétrico, que depende de uma propriedade denominada permissividade
elétrica. Por conseqüência da orientação da polarização interna do meio material, o campo

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CAMPOS E M ATERIAIS

resultante em seu interior tende a ser menor do que o existente no vácuo. O valor final será
tanto menor quanto maior for a permissividade.
No vácuo a permissividade está relacionada com a permeabilidade magnética e
com a velocidade da luz.
1 10−9
εo = = F/m (1.4)
µo c 2 36π

Novamente, este resultado é válido com excelente aproximação para o ar, mas há
que se fazer uma modificação para outros materiais, podendo-se nestes casos introduzir o
fator conhecido como permissividade relativa, permissividade específica ou constante
dielétrica.
ε = ε rε o (1.5)

Condutividade Elétrica
Outra importante propriedade dos materiais é sua condutividade elétrica, que
indica a maior ou menor possibilidade desse meio permitir o deslocamento de cargas
elétricas livres. A condutividade depende de características de cada meio. Se um meio for
condutor perfeito esse parâmetro tende ao infinito (condição não prática). Por outro lado,
em um dielétrico perfeito a condutividade seria nula.
No estudo de fenômenos eletromagnéticos, esta propriedade deve ser considerada
em termos do tempo despendido no deslocamento das cargas, em comparação com período
do campo eletromagnético aplicado. Assim, uma classificação mais conveniente dos
materiais incluirá o conhecimento da freqüência do campo aplicado, sendo utilizada a
seguinte classificação:
σ ≥ 100ωε Meio condutor
ωε
σ≤ Meio dielétrico (1.6)
100
1 σ
< < 100 Meio quase-condutor
100 ωε

O mesmo meio pode comportar-se como dielétrico ou condutor, dependendo da


faixa de freqüência de operação. Por exemplo, o solo comporta-se como condutor para

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freqüências inferiores a 180 kHz e comporta-se como dielétrico para freqüências superiores
a 1,8 GHz.

Exemplo 1.1

O solo em determinadas regiões apresenta as seguintes características eletromagnéticas:


condutividade de 2x10-2 S/m, permissividade de 8 o e permeabilidade magnética igual a do
vácuo. Determine as faixas de freqüência para as quais esse meio comporta-se como
condutor e dielétrico.
R. 450 kHz e 4,5 GHz

Exercícios

i. Quais são as grandezas mais importantes para quantificar o campo eletromagnético?


ii. Por que nos meios não-magnetizáveis pode-se considerar o desempenho igual ao do
vácuo do ponto de vista do campo magnético?
iii. Explique o significado das seguintes grandezas: permeabilidade magnética,
permissividade elétrica, condutividade elétrica, constante dielétrica, permeabilidade
relativa.
iv. Em qual categoria pode-se enquadrar a atmosfera terrestre (condutor, dielétrico ou
quase condutor)?
v. Supondo que a água do mar apresente as seguintes características eletromagnéticas
aproximadas: condutividade de 5S/m, permissividade de 80ε0 e permeabilidade
magnética igual à do vácuo. Determine as faixas de freqüência nas quais esse meio
se comporta como um condutor, dielétrico e quase condutor.
vi. O solo de certa região apresenta condutividade de 10-2 S/m, permissividade relativa
igual a 10 e permeabilidade igual a do vácuo. Determine as faixas de freqüência nas
quais esse meio comporta-se como condutor, dielétrico e quase condutor.

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2 Onda Eletromagnética

Aqui são vistos os princípios da geração de ondas eletromagnéticas e sua relação com o
meio eletromagnético, o princípio de frente de onda e onda plana uniforme. O último tópico
consiste do estudo das características do meio e para isso faz-se uso do conhecimento da
equação de onda, o que justifica a apresentação das equações de Maxwell. Em sua forma
diferencial, no entanto, o estudo destas equações torna-se inviável devido sua
complexidade, por outro lado não poderíamos deixar de citá-las e expor seu significado
físico.

1. Geração

As ondas de rádio que se propagam entre a antena transmissora e a antena


receptora são chamadas ondas eletromagnéticas. Este tipo de onda é composto por um
campo elétrico e um campo magnético que interagem mutuamente. A antena transmissora
transforma variações de tensão e corrente elétrica, produzida pelo equipamento transmissor,
em ondas eletromagnéticas, sendo a antena receptora responsável pela captação e conversão
das ondas transmitidas em sinais elétricos.
A geração da onda eletromagnética pode ser
melhor compreendida através do uso de uma antena
isotrópica, mostrada na Figura 2.1.
A antena isotrópica é um modelo teórico e
consiste de uma fonte pontual cujo campo elétrico
apresenta uniformidade radial. Quando submetida a
Figura 2.1. Antena isotrópica
uma tensão alternada, gera um campo elétrico (Ei)
cujas linhas de campo são perpendiculares à superfície da antena. O efeito imediato é a
formação de um campo magnético variável (Hi) e perpendicular ao campo elétrico.
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Frente de Onda
A circunferência mostrada na Figura 2.1 é chamada frente de onda, todos os
pontos desta circunferência representa o lugar geométrico dos pontos de mesma fase,
associados ao campo eletromagnético, ou seja, a suas componentes (campo elétrico e
magnético).
A forma geométrica da frente de onda depende diretamente do elemento irradiante
utilizado, no caso da antena isotrópica a frente de onda é esférica, já um fio condutor
apresenta frente de onda cilíndrica.
A propagação da onda eletromagnética se dá pelo fato de um campo elétrico gerar
um campo magnético induzido e este por sua vez gerar um campo elétrico também
induzido, este efeito repete-se ao longo da direção de propagação. A onda eletromagnética
é normalmente representada com um campo elétrico senoidal e um campo magnético
também senoidal, sendo importante observar que os dois campos são perpendiculares entre
si e à direção de propagação.

Figura 2. 2. Onda eletromagnética

Polarização

A forma como os campos se orientam no espaço é conhecida como polarização e


é definida como função do campo elétrico, diz-se que a onda tem polarização horizontal
quando o campo elétrico é paralelo à superfície da Terra e vertical se é perpendicular a esta.

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ONDA ELETROMAGNÉTICA

Figura 2. 3. Polarização vertical e polarização horizontal.

Na prática a polarização vertical é utilizada nas faixas de baixa freqüência, para as


quais a superfície da Terra apresenta maior condutividade. Utilizando, neste caso, a
polarização vertical, a onda sofre menos interferência. Já nas faixas de VHF e UHF é
comum a utilização da polarização horizontal.

2. Equações de Maxwell

A teoria das ondas eletromagnéticas envolve a interação de campos elétrico e


magnético, variáveis no tempo, cuja formulação foi apresentada por James Clerk Maxwell
em 1864 e é conhecida com Equações de Maxwell.
Através de suas equações, Maxwell provou e modelou matematicamente as
relações entre a teoria elétrica e magnética, em sua forma diferencial as equações ficam
escritas com:
∂e
∇×h =σe +ε
∂t
∂h
∇ × e = −µ (2.1)
∂t
∇⋅d = ρ
∇⋅b = 0
sendo e o campo elétrico, b a indução magnética, h o campo magnético, d o deslocamento
elétrico, σ a condutividade do meio, ρ a densidade volumétrica de cargas, ε a
permissividade elétrica e µ a permeabilidade magnética do meio.

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A partir destas equações conclui-se que a presença de uma corrente elétrica ou a


variação de um campo elétrico no tempo dará origem a um campo magnético induzido. Tal
como apresentada, esta lei corresponde a uma situação mais geral proposta por Maxwell,
∂e
com a adição do termo ε . Nota-se que esta parcela tem dimensão de densidade de
∂t
corrente, indicando que a variação do campo elétrico no tempo tem o efeito de uma
corrente elétrica na formação do campo magnético induzido. Por este motivo, este termo
recebe o nome de densidade de corrente de deslocamento. Simetricamente, a equação
indica que quando houver um campo magnético variando no tempo, surgirá um campo
elétrico induzido. Desta maneira, a presença de um campo magnético variável no tempo,
implica em um campo elétrico variável. Portanto, a partir do momento em que uma dessas
grandezas varia no tempo, ter-se-á outra originada por indução. O resultado é uma sucessão
de campos elétrico e magnético que se induzem mutuamente e afastam-se da origem,
constituindo a onda eletromagnética.
Para o caso particular de grandezas que variam harmonicamente no tempo, com
freqüência constante , as equações são simplificadas para:

∇ × H = (σ + iωε ) E
∇ × E = −iωµ H
(2.2)
∇⋅D = ρ
∇⋅B = 0
Equação de Onda
Considerando que o campo eletromagnético é composto pelos campos elétrico e
magnético, em princípio seriam necessárias duas equações para descrevê-lo. A partir das
equações de Maxwell para uma onda harmônica, a solução das equações considerando-se
que =0, leva às expressões
∇2 E − γ 2 E = 0
(2.3)
∇2 H − γ 2 H = 0
das quais temos que

E = E0 e ± γ ⋅r
(2.4)
H = H 0 e ± γ ⋅r

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ONDA ELETROMAGNÉTICA

sendo Eo e Ho constantes que indicam os valores dos campos na origem do vetor posição r,
que define o ponto do espaço no qual se deseja determinar os valores das diversas
componentes de campo. A grandeza é chamada vetor de propagação, cujo módulo ou
valor escalar é dado por
γ = iωµ (σ + iωε ) (2.5)
esse também é conhecido como fator de propagação.

Fator de Propagação
O fator de propagação ou constante de propagação é um fator complexo, cujo
valor depende das constantes eletromagnéticas do meio de propagação e da freqüência do
sinal. Uma vez complexo este parâmetro pode ser expresso da seguinte forma:

γ = iωµ (σ + iωε ) = α + i β (2.6)


Substituindo esta expressão na equação de onda e realizando-se as manipulações
algébricas corretas, obtemos a forma final da equação de onda, dependente de dois fatores,
o fator de atenuação α e o fator de fase β.

A = A0 e±αξ cos(ωt ± βξ ) (2.7)


Em que A pode representar tanto o campo elétrico, quanto o campo magnético. Observa-se
que o α altera a amplitude do campo e β altera sua fase, proporcionalmente a distância
percorrida ξ.
As expressões gerais para α e β são facilmente derivadas da Equação 2.5, das
quais se encontra os valores que compõem o fator de propagação:
2
µε σ
α =ω 1+ −1
2 ωε
(2.8)
2
µε σ
β =ω 1+ +1
2 ωε

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Exemplo 2.1
Uma onda eletromagnética de freqüência 12 MHz propaga-se em um meio cujas
características são: condutividade 0.002 S/m, permissividade 3ε0. Nestas condições,
determine o fator de atenuação e o fator de fase.
Lembre: σ=ωε

Exercícios

i. Explique o princípio de geração e propagação da onda eletromagnética.


ii. Explique o significado de frente de onda e de onda plana uniforme.
iii. Qual a importância de se polarizar a onda eletromagnética?
iv. Por que a ma grande distância da fonte a frente de onda é considerada plana
v. Por que o comprimento de uma onda eletromagnética depende do meio onde esta se
propaga?
vi. O que ocorre com o fator de atenuação e de fase de uma onda eletromagnética plana
que se propaga em um meio dielétrico perfeito? Justifique sua resposta do ponto de
vista físico.
vii. Um meio real apresenta condutividade de 10-4 S/m, permissividade de 1,2 o e
permeabilidade igual a do vácuo. Qual é o fator de fase e de atenuação desse meio
para uma onda eletromagnética com freqüência de 20 MHz?
viii. A água do mar é um meio que apresenta as seguintes características
eletromagnéticas: condutividade de 4S/m, permissividade de 81ε0. Determine a
distância necessária para que a amplitude de um campo eletromagnético caia de 1%
de seu valor original nas freqüências de 20kHz e 200kHz.

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3 Propagação no Espaço
Livre

Neste ponto estudamos a geração de ondas e sua relação básica com o meio, serão
abordados agora a transmissão e recepção de ondas eletromagnéticas no espaço livre. Não
se deve confundir transmissão não guiada com transmissão no espaço livre, na verdade a
segunda consiste da transmissão não guiada excluídos os efeitos causados pelo solo e por
obstáculos, bem como considera o meio de transmissão homogêneo. Os efeitos de reflexão,
refração, difração e outros causados pelas condições do meio serão estudados em seguida,
já a transmissão guiada trata da propagação de ondas eletromagnéticas confinadas em guias
de onda ou linhas de transmissão. Por ser intuitivo e em geral similar, o estudo de ondas
guiadas é feito mais a frente e com o enfoque em seu problema básico, o casamento de
impedância.

1. Relações Fundamentais

A partir daqui, estaremos sempre tratando de aspectos como ganho, atenuação,


potência e amplitude, existem relações matemáticas e unidades com as quais devemos estar
familiarizados.

Transformação logarítmica
É usual que equipamentos como amplificadores de áudio e outros circuitos
eletrônicos tragam a informação de ganho ou atenuação causada pelo equipamento, em dB.
Esta nada mais é que a relação entre a potência (ou amplitude) de entrada e de saída, no
entanto em cálculos envolvendo tal informação, normalmente é necessário desfazer a
transformação logarítmica, dada por
N(dB) = 10 log(Pout/Pin)
Esta relação envolve as potências de saída e entrada, quando a relação for de
amplitude a relação torna-se,
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N(dB) = 20 log(Vout/Vin)

Estas relações expressam ganho se a saída for maior que a entrada, apresentando
valores em dB maiores que 0 e menores quando a relação for de atenuação.

Exemplo 3.1
A potência emitida por um circuito primário é de 10W e no estágio seguinte o sinal sofre
uma atenuação total de 112 dB. Determine a potência na saída do segundo estágio.
R. 63.1 pW

Potência em decibéis
Como o decibel tornou-se uma unidade popular e muito conveniente, é também
aplicada para valores próprios de algumas grandezas. A aplicação acima representa uma
relação entre potências, em seguida são apresentadas unidades de potência medidas em dB.

Pm (W) P (mW)
P (dBm) = 10log −3
= 10log m
10 1mW
Pm (W)
P (dBW) = 10log
1W
Pm (kW)
P (dBk) = 10log
1kW

Exemplo 3.2
Segundo um fabricante, um receptor é capaz de captar sinais com amplitude de -96dBm.
Qual é a potência mínima aceitável na entrada deste aparelho?
R. 0,251 pW

Exemplo 3.3
A potência de um transmissor foi especificada como sendo de 28dBW. Qual o valor
absoluto de potência?
R. 631 W

16
LINHAS DE TRANSMISSÃO

2. Propagação no Espaço
Livre

Considerando-se o espaço livre como a região completamente desobstruída e


afastada do solo de modo que não existam obstáculos ou superfícies capazes de influir nos
valores da onda eletromagnética irradiada ou recebida por uma antena. Sendo P a potência
irradiada por uma antena isotrópica, a densidade de potência irradiada a uma distância r da
antena será:
P
S= (W/m2) (3.1)
4π r 2

Esta expressão mostra que em um ambiente desobstruído e sem perdas, a


densidade de potência da onda eletromagnética é inversamente proporcional ao quadrado
da distância. De acordo com a teoria eletromagnética, esta grandeza está relacionada com a
intensidade do campo eletromagnético gerado no ponto do espaço em que está sendo
realizada a medição.

Irradiação
Nas antenas reais ocorrem direções preferenciais nas quais se tem uma maior
densidade de potência irradiada e outras direções, nas quais, essa grandeza assume valores
menores ou mesmo nulos. Assim, para um irradiador real, deve-se prever que a densidade
de potência seja uma função da direção ( , ) do campo no espaço para a qual a onda é
emitida. Portanto, uma generalização da equação anterior deve ser da forma

S (θ , ϕ ) = S max f p (θ , ϕ ) (3.2)

A representação desta função é feita em gráficos tridimensionais ou em planos


específicos, chamada diagrama de irradiação. A comparação entre a densidade máxima de
potência e a densidade média irradiada, que corresponde à densidade de potência da antena
isotrópica, determina a diretividade da antena sob análise.

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ANTENAS E PROPAGAÇÃO PROF. REGIS M ARQUES
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Independentemente do valor numérico, a antena de maior diretividade concentra a


emissão em uma determinada área.

Ganho
Outra consideração para irradiadores reais são as perdas, ou seja, a densidade real
de potência irradiada é ligeiramente inferior a esperada. A relação entre a densidade
esperada e a densidade real define a eficiência de irradiação da antena. Temos então a
relação entre o ganho real de transmissão e a diretividade da antena.

Go = kr D (3.3)

Conclui-se que uma antena de ganho Go irradiando uma potência P produz a


mesma densidade de potência máxima que uma antena isotrópica irradiando uma potência
GoP. Este produto é conhecido como potência equivalente de irradiação isotrópica.
Costuma-se expressar o ganho e a diretividade da antena em decibels,
empregando a expressão
Go (dB ) = 10 log Go (3.4)

E como neste caso a referência tomada para comparação da densidade de potência


foi a antena isotrópica, é comum acrescentar a letra “i” ao símbolo de decibel (dBi). Em
casos nos quais a antena de referência utilizada não é a isotrópica, pode-se realizar a
seguinte conversão:

G (dBr) = Go (dBi) − Gr (dBi) (3.5)

Em que r representa a antena de referência.


Para o exemplo do dipolo de meia onda, comumente utilizado como referência na
faixa de HF e VHF e cujo ganho é de 2,15 dBi, obtêm-se:

G (dBd) = Go (dBi) − Gr (dBd) = Go (dBi) − 2,15dBi (3.6)

18
LINHAS DE TRANSMISSÃO

Já a antena do tipo corneta, apresenta ganho de 14,44 dBi.

Recepção
Quando a onda eletromagnética incide em uma antena receptora, haverá indução
de corrente elétrica e uma potência é desenvolvida nos terminas da linha de transmissão. A
relação entre a potência desenvolvida e a densidade de potência da onda incidente é uma
grandeza com dimensão de superfície chamada de abertura efetiva da antena.

Pr
A= (m2) (3.7)
S

Em que S é a densidade de potência que chega a antena e Pr e potência


desenvolvida nos terminais. Ajustando a antena receptora para a máxima potência, através
da orientação correta, casamento e balanceamento da linha de transmissão e outros
parâmetros, esta relação alcança valor máximo, conhecido como área efetiva:

Pr max
Ae = (m2) (3.8)
S

Note que a abertura efetiva e a área efetiva são parâmetros eletromagnéticos que,
em geral, não têm relação com a área geométrica da antena. Um dipolo de meia onda, por
exemplo, possui área geométrica praticamente nula e área efetiva dependente do
comprimento de onda. Já para antenas de abertura, existe uma relação entre a área
geométrica e a área efetiva, chamada eficiência de abertura.
Ae
(%) = × 100% (3.9)
Ag

Quanto maior for a diretividade e o ganho da antena, maior será a densidade de


potência em uma determinada região. Simetricamente, a antena será também capaz de
captar maior potência para uma mesma densidade de potência incidente. Logo, quanto
maior for a diretividade, maior será sua área efetiva, obedecendo a relação

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λ2 D
Ae = (m2) (3.10)

Em que é o comprimento de onda. Como a diretividade da antena isotrópica é
2
unitária, nota-se que /4 é a área efetiva da antena isotrópica. Logo, a relação entre a área
efetiva e a diretividade de qualquer antena é sempre igual à área efetiva da antena
isotrópica. Uma vez que para antenas reais a diretividade e o ganho são iguais, pode-se na
equação anterior substituir D por Go.

Exemplo 3.4

Uma antena parabólica opera em um enlace de 8,5 GHz e fornece a um receptor


uma potência de 275nW. Quando essa antena foi substituída por uma corneta com ganho de
14,44 dBi o sinal recebido foide 1,25nW. Qual o ganho da parabólica?
R. 37,86 dBi

Atenuação no Espaço Livre


A propagação da onda direta no espaço livre pode ser considerada principalmente
em freqüência elevadas (acima de VHF). Nessas faixas do espectro eletromagnético,
conseguem-se antenas de grande diretividade, com as quais se torna possível uma análise
do caso mais simples, em que efeitos de reflexões tornam-se irrelevantes. A equação que
modela o fenômeno de transmissão em meios livres, também conhecida como equação das
telecomunicações ou fórmula de transmissão de Friis, é dada por:

GT ⋅ Gr ⋅ PT
Pr = (W) (3.11)
Ao
Em que Pr é a potência recebida, GT é o ganho de transmissão, Gr o ganho de recepção, PT
a potência desenvolvida no transmissor e Ao a atenuação no espaço livre, definida como:
2
4π r
Ao = (3.12)
λ
Esta equação mostra que a potência da onda irradiada decresce com o quadrado da
distância entre a antena transmissora e a receptora, supondo uma área efetiva constante.

20
LINHAS DE TRANSMISSÃO

Como não está computada a perda por dissipação de potência no meio, significa que o
pequeno valor captado é devido ao fato que a energia da onda espalha-se no meio em todas
as direções, embora haja predominância para as regiões determinadas pelos lobos de
irradiação da antena transmissora.

Exemplo 3.5

Uma sistema de telefonia móvel celular opera na freqüência de 870 MHz, com a
estação base irradiando uma potência de 5W. A antena transmissora tem um ganho de 6dBi.
A 10km de distância tem-se uma antena receptora com diretividade de 1dB. Determine a
potência entregue na entrada do receptor.
R. Pr = 190 pW

Exemplo 3.6
Seja a ligação entre duas cidades distantes de 45 km. O sistema usa antenas idênticas cuja
área efetiva é 10 m2, casadas em seus terminais. Sendo a freqüência de operação 4 GHz e a
potência na saída do transmissor igual a 5W, calcular a potência na entrada do receptor.
Considerar o trajeto totalmente desobstruído e uma perda total nos cabos e conectores de 5
dB.
R. 13,95 W

Resolvendo a equação de Friis para a distância, obtém-se a expressão conhecida


como equação do alcance em comunicações:

λ PT GT GR
r= (m) (3.13)
4π PR

Esta equação não contempla outros fatores que influenciam no sistema real, por
exemplo, obstáculos, atenuações, reflexões, ruído, etc. Toda via, é uma relação muito útil
na análise conjunta de parâmetros com ganho de antenas e alcance. Se PRmin for a menor

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potência detectável no receptor, a máxima separação entre as antenas de transmissão e


recepção é:

λ PT GT GR
rmax = (m) (3.14)
4π PR min

Exemplo 3.7
Um sistema é constituído por duas antenas idênticas com ganho de 30dBi. A potência
transmitida é de 5W e a potência mínima detectável no receptor é de -40dBm. Determinar o
alcance máximo para operação na freqüência de 4GHz.
R. rmax = 42,2 km

Exercícios

i. Uma antena parabólica operando em 4 GHz apresenta um ganho de 40 dBi na


direção de máxima emissão e irradia uma potência de 5W. Qual deveria ser a
potência irradida por uma antena isotrópica para se ter a mesma potência a uma
distância de 10 km?
ii. Tem-se um antena com ganho de 16 dBd irradiando uma potência de 20W na
freqüência de 100MHz. Determine potência a uma distância de 20km. Qual seria o
valor desta potência se fosse utilizada uma antena isotrópica? E se fosse utilizada
um antena com ganho de 23dBi?
iii. Uma antena de microondas possui ganho de 36dBi e é usada como transmissora em
um sistema que opera n freqüência de 2,5GHz. O equipamento fornece a essa
antena uma potência de 6,3W. A uma distância de 36km instala-se uma antena
receptora com ganho de 28dBi. Determine a potência recebida e a atenuação total
do enlace.
iv. Qual a diferença entre área geométrica e área efetiva de uma antena?
v. Em um teste realizado em um enlace, mediu-se um potência de recepção de 2,5 W.
Sabendo que a potência transmitida foi de 10 W qual deve ser aproximadamente a
distância entre transmissor e receptor sabendo que foi empregada uma freqüência de
1 GHz no ensaio.

22
LINHAS DE TRANSMISSÃO

4 Mecanismos de Propagação

O meio de transmissão das ligações via rádio é composto pelo conjunto superfície
terrestre – atmosfera. O comportamento do sinal depende, portanto, das condições
atmosféricas e do relevo do terreno em que o sinal se propaga.
No espaço livre as ondas de rádio propagam-se em linha reta sem influência de
obstáculos, como foi estudado. Este modelo, apesar de estar muitas vezes distante da
realidade, é de grande utilidade no dimensionamento e análise do enlace.
No caso do sinal transpor obstáculos ou meios com características heterogêneas,
fenômenos como reflexão e difração ocorrem, degradando o sinal transmitido.

1. Aspectos Básicos

Composição da Atmosfera
Basicamente a atmosfera é dividida em: troposfera, estratosfera e ionosfera.
o Troposfera: Camada adjacente à superfície terrestre e se estende até uma
altitude de aproximadamente 11km. Nesta camada o principal efeito na
propagação das ondas de rádio é o da refração, que atua na trajetória das
ondas com o aumento da velocidade de propagação devido a elevação da
altitude.

o Estratosfera: Camada seguinte à troposfera que estende da altitude de 11km


até cerca de 50km. È uma camada estável, porém de pouco interesse para
telecomunicações.

o Ionosfera: Vai de 50km até 350km. A ionosfera é utilizada nas faixas de


VLF, LF, MF e HF, quando são aproveitados os efeitos das reflexões e
refrações ionosféricas.

23
ANTENAS E PROPAGAÇÃO PROF. REGIS M ARQUES
CEFET-CE

Zona de Fresnel
Sendo A e B as duas extremidades de um enlace de rádio comunicação, o espaço
entre estas pode ser subdividido em uma família de elipsóides, conhecidas como elipsóides
de Fresnel, todas com pontos focais em A e B. Qualquer ponto M pertencente ao limiar de
uma região satisfaz a relação:
λ
AM + MB = AB + n (4.1)
2
Em que n é um inteiro que representa a ordem da elipsóide.

M
A B

Figura 4.1. Zonas/elipsóides de Fresnel.

Na figura acima se tem uma visão lateral de uma frente de onda esférica em
propagação entre os pontos A e B, e a direita, um conjunto de círculos concêntricos, uma
visão frontal da frente de onda. A dimensão de cada circunferência não é aleatória, e
representa os pontos entre os quais ocorre variação máxima de fase. As regiões entre cada
circunferência são chamadas regiões de Fresnel.
Expandindo-se esta análise a cada plano longitudinal, observa-se que as zonas de
Fresnel geram elipsóides com o transmissor e o receptor em ambos os focos, chamados
elipsóides de Fresnel, cujos raios podem ser obtidos pela expressão:

1/ 2
nλ d1d 2
Rn = (4.2)
d1 + d 2

Em que d1 é a distancia AM e d2 a distância MB.

24
LINHAS DE TRANSMISSÃO

Na prática um enlace é considerado de visada direta, se não existir nenhum


obstáculo na primeira zona de Fresnel, isto porque na primeira zona está concentrada
exatamente metade da potência que se obteria considerando todas as zonas. O
dimensionamento da altura de torres e antenas é baseado no cálculo da percentagem de
liberação da primeira zona de Fresnel.

2. Fenômenos da Propagação

Refração e Reflexão
A refração consiste da mudança parcial de direção que sofre a onda
eletromagnética ao atingir a fronteira entre dois meios com características eletromagnéticas
diferentes. Se a onda atingir esta região em um ângulo reto com a sua superfície, não há
refração, porém em qualquer outro ângulo, ocorrerá refração, esta maior ou menor
dependendo das características de ambos os meios.

ai ar ai: onda incidente


af: onda refratada
Meio 1 ar: onda refletida

Meio 2
af
Figura 4.2. Refração e Reflexão

O ângulo formado pela normal e a raio refratado é chamado ângulo de refração,


enquanto que o ângulo formado pelo raio incidente e a normal é chamado ângulo de
incidência. A relação entre estes ângulos é dada por:

sin α n2
= (4.3)
sin β n1
Em que, n=c/v (c = velocidade da onda no vácuo, velocidade da onda no meio estudado).

25
ANTENAS E PROPAGAÇÃO PROF. REGIS M ARQUES
CEFET-CE

A relação mostrada em (4.3) é chamada lei de Snell. Podemos concluir que a


refração ocorre devido a variação de velocidade de propagação da onda em diferentes
meios.

Difração
A difração ocorre quando uma onda é limitada parcialmente em seu trajeto por um
obstáculo. Os efeitos disto é a propagação de apenas frações da frente de onda para regiões
além do objeto e/ou situadas na sombra deste, ou a propagação da onda em direções
preferenciais. Dois modelos de difração são os observados abaixo.

(a) (b)

Figura 4. 3. (a) Obstáculo parcial e (b) obstáculo com fenda.

O ângulo de difração depende do comprimento de onda incidente. Logo, é


possível efetuar a decomposição de uma onda por meio de sua incidência em um obstáculo,
resultando em um espalhamento que depende das freqüências que a compõem.
Modelos como os apresentados acima podem ser simulados e o comportamento da
onda eletromagnética, bem como as perdas por ela sofridas, podem ser estimadas. Porém,
em muitos enlaces de rádio transmissão, tendo em vista a presença de obstáculos naturais e
evidentemente o fato que tais obstáculos apresentam formas indefinidas, leva-se em conta o
fato da impossibilidade de uma modelagem matemática precisa. Neste caso é útil o uso de
modelos existentes, sendo o mais comum o gume de faca.
Este modelo é utilizado para obstáculos íngremes e não arredondados e suas
perdas podem ser calculadas segundo a Recomendação P 526-7 da União Internacional de
Telecomunicações:

26
LINHAS DE TRANSMISSÃO

J (v) = 6,9 + 20 log ( ( v − 0,1)


2
)
+ 1 + v − 0,1 dB (4.4)

Em que v é um parâmetro que depende do raio equivalente de Fresnel.

2 ( d1 + d 2 )
1/ 2

v = 0, 0316h
λ d1d 2

Desvanecimento
O desvanecimento ocorre quando um enlace está submetido a condições de
elevada atenuação, prejudicando assim a capacidade de comunicação do sistema. Entre as
inúmeras causas de desvanecimento estão:

o Atenuações por chuva e outras alterações atmosféricas;


o Reflexões especulares;
o Obstruções;
o Espalhamento;
o Efeito Doppler, etc.

As variações de um sinal de radiocomunicações devem ser esperadas. Por


exemplo, em certas épocas a região gasosa acima da superfície terrestre pode ser dividida
em faixas estáveis, ocorrendo em cada faixa trajetórias múltiplas bem definidas e
dependentes da freqüência do sinal.
Em terrenos planos e lisos (lagos e mares) ocorrem reflexões especulares,
influenciando de modo significativo o sinal resultante.
Já em comunicações móveis fica mais evidente o efeito Doppler como causa de
desvanecimento, uma vez o receptor pode está em movimento. Nestes casos, há mudança
no valor da freqüência do sinal resultante.

O desvanecimento pode ser classificado quanto ao tempo de ocorrência como:


o Rápido: Quando é causado por situações passageiras e de tempo de duração
não comprometedor para a aplicação em questão

27
ANTENAS E PROPAGAÇÃO PROF. REGIS M ARQUES
CEFET-CE

o Lento: Quando é causado por situações que tendem a se prolongar por tempo
indeterminado ou suficiente para comprometer a comunicação.

Ou quanto ao espectro de freqüência do sinal:


o Plano ou não seletivo: Quando toda a faixa de freqüência do sinal sofre o
mesmo grau de atenuação;
o Seletivo: Quando certas freqüências do sinal sofrem diferentes atenuações.

3. Tipos de Propagação

Ondas Troposféricas
Na região entre 10km e 20km encontra-se a troposfera. Essa região caracteriza-se
por uma alta heterogeneidade e variações acentuadas do índice de refração. Todas estas
características, que em outras situações seriam indesejadas, permitem que uma onda
propagada em direção a esta camada, sofra consecutivas mudanças de direção até que esta
retorne a superfície da terra.
Durante décadas, utilizou-se a transmissão troposférica em longas distâncias, a
faixa comum para isso era entre 1GHz e 2GHz. Neste tipo de transmissão era comum a
utilização de antenas de alta eficiência, transmissores de alta potência e receptores muito
sensíveis e devido a necessidade de ângulos de inclinação muito pequenos, era necessário
ainda instalações com visão desobstruída do horizonte.
Atualmente, a transmissão troposférica foi substituída por enlaces de satélite.

Ondas Ionosféricas
A onda eletromagnética chega a antena receptora após refletir ou propagar em um
trecho da ionosfera, retornando à Terra. Na faixa de baixas freqüências a onda reflete na
base da ionosfera, para freqüências ligeiramente maiores, a onda sofre sucessivas refrações
até retornar a superfície.
A aplicação deste tipo de propagação vai da faixa de 2MHz até 50MHz, podendo-
se obter alcances de até 4000 km. Nas freqüências entre 30MHz e 300MHz, é possível
ocorrer comunicação através do espalhamento ionosférico. Isso ocorre porque um pequena

28
LINHAS DE TRANSMISSÃO

porção da energia transmitida espalha-se na base desta região, ou seja o sinal recebido
nestas situações é sempre de baixa potência e o alcance deste tipo de onda é limitado entre
1000km e 2000km.

Ondas Terrestres
Considerando que as ondas terrestres propagam-se acompanhando a superfície da
Terra, é de se esperar que esta sofra influência das características eletromagnéticas, do
formato e do relevo do solo. Estas ondas são divididas em dois tipos principais, ondas de
superfície e ondas espaciais.
As ondas de superfície representam aquelas que se propagam ao longo do
contorno da terra, em altas freqüências esse tipo de onda é rapidamente atenuada. Por isso
usa-se ondas com freqüência de até 3MHz e polarização vertical para reduzir o efeito do
solo. Alguns enlaces de alcance mundial combinam este tipo de transmissão com ondas
ionosféricas.
Ondas espaciais abrangem a faixa mais comercial do espectro de freqüência
(VHF, UHF e SHF) com alcance limitado a algumas centenas de quilômetros. Elas podem
se dividir ainda em ondas de visada direta e ondas refletidas, sendo mais comum que o sinal
recebido seja, na verdade, a soma de ambas componentes.

29
ANTENAS E PROPAGAÇÃO PROF. REGIS M ARQUES
CEFET-CE

Exercícios

i. Quais as principais causas de atenuação de um sinal de rádio transmissão, estudadas


até agora? Qual destas causas é mais crítica no projeto de um enlace de rádio
comunicações? Por quê?
ii. Explique os tipos e subtipos de transmissão irradiada, suas faixas de aplicação e
exemplifique.
iii. Descreva de forma resumida o funcionamento de um radar e justifique a
necessidade deste equipamento operar na faixa de microondas.
iv. Apresente vantagens relevantes para os sistemas de comunicações na faixa de SHF.
v. Quais tipos de antenas são mais convenientes para trabalhar na faixa de VHF, UHF
e SHF?
vi. Qual a importância de se utilizar de análises prévias das zonas de Fresnel em
projetos de rádio enlaces?
vii. O que é desvanecimento e quais suas causas?
viii. Quais os efeitos que podem causar em uma comunicação, fenômenos de reflexão,
refração e difração?

30
Segunda Parte:
Linhas de Transmissão
5 Análise de Linhas de
Transmissão

Em aparelhos de comunicação mais simples - como o rádio portátil ou telefone celular - a


antena é instalada junto ao receptor. Assim, os sinais que ela capta são injetados
diretamente no receptor. Entretanto, em muitas vezes a antena é instalada longe do receptor
(por exemplo, no telhado ou numa torre) e entre eles deve existir uma linha de transmissão,
neste caso algumas características devem ser observadas entre as duas extremidades da
linha de transmissão (antena e receptor), em síntese o objetivo do estudo de linhas de
transmissão é simples: propiciar sempre a máxima eficiência na transmissão de potência
entre antena e receptor.

1. Propagação em Linhas de
Transmissão

A linha de transmissão mais popular é a de fios condutores paralelos cobertos e


separados por uma fita plástica, muito usada para receptores de TV e conhecida por twin.
Semelhante a ela - mas projetada e executada pelo usuário – podemos ter dois fios
condutores paralelos, cuja separação é mantida por isoladores. O cabo coaxial também é
um par de condutores, um reto e interno e outro trançado em volta do primeiro (mas sem
tocá-lo), com um sistema especial de isolamento. Por fim encontramos a guia (ou duto) de
microondas, canaleta que transmite microondas.
A Figura 5. 1 esboça o processo de propagação em fios condutores paralelos.
Aqui os campos elétricos E1, E2, E3... são aplicados a cargas elétricas existentes nos fios
condutores, criando-se neles corrente elétrica chamada corrente de condução i. Desta
maneira o campo elétrico não completa a volta fechada (como no vácuo), representada pela
linha pontilhada e denominada corrente de deslocamento j. Na verdade sempre aparecem as
duas correntes, i e j, em proporções que dependem das circunstâncias.
LINHAS DE TRANSMISSÃO

i j
E E1 E2

H H1 H2
i j
Figura 5. 1. Propagação eletromagnética em fios condutores paralelos.

Para baixas freqüências (como fontes de alimentação AC 60Hz) há


preponderância da corrente de condução i, com pouca intensidade da corrente de
deslocamento j. Assim a propagação depende quase que exclusivamente da resistência do
fio.
Em altas freqüências é muito pequena a intensidade da corrente de condução i, e a
corrente de deslocamento j responde por praticamente todo o processo de fechamento da
volta do campo elétrico. Como isto é feito fora do interior dos fios, a propagação
eletromagnética não depende (ou depende muito pouco) do material com que eles são
fabricados. Entretanto, o material - dielétrico - entre os dois fios condutores paralelos é
determinante para as características da propagação; por exemplo, o plástico das linhas tipo
twin.

2. Parâmetros de uma Linha


de Transmissão

o Indutância por Unidade de Comprimento (L) = Indutância associada a linha de


transmissão e representa o campo magnético que envolve o condutor.

o Capacitância por Unidade de Comprimento (C) = Capacitância associada a linha de


transmissão e representa o campo elétrico entre os condutores da LT.

o Velocidade de Propagação (v) = Velocidade com a qual a onda se desloca ao logo


da linha: v = 1/ LC (m/s)

33
ANTENAS E PROPAGAÇÃO PROF. REGIS M ARQUES
CEFET-CE

o Fator Velocidade (VF) = Coeficiente entre a velocidade de propagação em um meio


e a velocidade da luz: VF = V/c. Valores típicos de VF vão de 0,66 para cabo
coaxial até 0,99 para fios condutores paralelos abertos.

o Constante de Fase (β) = Comprimento da LT em termos de graus ou radianos:


β=360º /λ (graus/m) ou β = 2π /λ (rad/m).

o Impedância (Z) = Relação entre os fasores voltagem e corrente: Z = V/I (Ohms).

o Resistência (R) = Parte da impedância correspondendo à perda de energia elétrica


por dissipação de calor (efeito Joule).

o Reatância (X) = armazenagem temporária de energia elétrica em capacitores e


indutores, provocando variação na relação Z = V/I, mas sem perda de energia
elétrica como na resistência.

o Reatância indutiva (XL) é a parte da impedância Z referente à energia acumulada em


indutores.

o Reatância capacitiva (XC) é a parte da impedância Z referente à energia acumulada


em capacitores.

o A impedância pode ser escrita Z= R+X, ou ainda, Z= R+(XL-XC). Veja que se


adotarmos um circuito com capacitância igual à indutância teremos reatância nula
X= 0 e Z= R+(0), ou seja, Z=R, impedância puramente resistiva, sem reatância. A
equação abaixo é valida para qualquer LT

L
Z= (5.1)
C
o Impedância característica (Z0) = impedância total, considerando todos os fatores de
sua fabricação (material, espessura, dielétrico, etc). Para uma linha de transmissão
formada por fios condutores paralelos a impedância característica é dada por

276 2D
Z0 = log (5.2)
εr d

em que D é o espaçamento entre eles e d o diâmetro de cada um. Para uma linha coaxial,
temos que

34
LINHAS DE TRANSMISSÃO

138 D
Z0 = log (5.3)
εr d

em que D é o diâmetro do condutor externo e d o diâmetro do condutor interno.

Exemplo 5.1
Calcule as parâmetros de uma linha de transmissão coaxial RG-8A/U (L = 0,256 µH/m e
C= 97 pF/m) operando a 400Mhz.
R. v = 198x106 m/s; FV = 0,66; β=728º /m; Zo = 52 Ohms

3. Reflexão de Ondas
Eletromagnéticas

Segundo a teoria de propagação de ondas, uma onda eletromagnética que incide


perpendicularmente em uma superfície, tem parte de sua energia refletida em direção a
fonte e a proporção refletida da onda é proporcional as características dos meios de
propagação e do meio onde a onda incidiu. O coeficiente de reflexão

| Z 2 - Z1 |
K= (5.4)
Z 2 + Z1
indica qual percentagem da onda eletromagnética é refletida (volta para a fonte que a
emitiu) e qual é refratada (atravessa para o outro meio); Z2 e Z1 são as respectivas
impedâncias dos meios.

Observando que se Z2=Z1 (os dois meios têm impedâncias iguais) resultará
K=0/(Z2+Z1) = 0, ou seja, o coeficiente de reflexão é nulo - não há reflexão e toda a onda
atravessa para o outro meio. Mas se Z2 e Z1 não são iguais K será diferente de zero,
significando que parte da onda é refletida de volta para sua origem e apenas outra parte
consegue atravessar para o outro meio.

Sabemos que a impedância é Z=R+X, onde X é a reatância (efeitos capacitivos e


indutivos). Os receptores são projetados para que a reatância X seja nula (na freqüência de
trabalho), restando apenas a impedância resistiva R. Isto simplifica o casamento de
impedância do receptor com a linha de transmissão e antena.

35
ANTENAS E PROPAGAÇÃO PROF. REGIS M ARQUES
CEFET-CE

É claro que ao enviar um sinal, temos a intenção que todo ele (a totalidade de sua
onda eletromagnética, sua energia total) chegue ao receptor, evitando reflexões entre os
meios que terá de percorrer. Surge dai o conceito de casamento de impedância: ajustar os
meios por onde fluirá o sinal, deixando todos com a mesma impedância, não permitindo
que parte dele se reflita e volte ao meio anterior.

Reflexão de Ondas em LT’s


Tomemos uma linha de transmissão formada por fios condutores paralelos com as
extremidades curto-circuitadas, cujo comprimento L seja igual ao comprimento de onda λ
da onda eletromagnética que se propaga nela. Nas suas extremidades será registrado campo
elétrico nulo (e máximo de corrente elétrica), devido ao curto-circuito.

Onda Refletida Onda Incidente

Onda Incidente Onda Refletida


(a) (b)

Figura 5.2: Ondas estacionárias em condutores. (a) em curto e (b) em aberto.

A representação gráfica da onda eletromagnética é igual ao campo elétrico, assim


teremos a figura de uma onda que se anula no extremo, é refletida e volta à origem, onde
começa novo percurso semelhante ao anterior.

Processo semelhante ocorre em fios condutores paralelos com extremidade aberta.


Mas na extremidade aberta o campo elétrico é máximo (e a corrente elétrica mínima),
resultando a onda eletromagnética da Figura 5.2b.

Para que a onda seja refletida, volte à origem e inicie nova propagação exatamente
do mesmo ponto (na mesma fase) que o fez da primeira vez é preciso que a linha de
transmissão tenha um comprimento L múltiplo de meio comprimento (λ/2) da onda
eletromagnética. Dizemos então que o meio é ressonante com a onda. Chamamos de picos
os pontos de máxima intensidade da onda, de nós os pontos onde tem valor nulo e anti-nós

36
LINHAS DE TRANSMISSÃO

os pontos de valor mínimo. Veja que picos, bem como nós e anti-nós, se repetem a cada
distância λ/2.

A onda incidindo e refletindo com picos e nós em posições fixas é conhecida por
onda estacionária ("standing wave – SW"). Uma característica importante deste tipo de
onda é que ela se reforça, isto é, tendo sempre a mesma fase as várias frentes incidentes e
refletidas se superpõem e se somam, aumentando a energia transmitida. Já com ondas não
estacionárias ocorre o fenômeno da interferência, diminuindo a energia transmitida.

Para uma linha de transmissão longa em comparação ao comprimento da onda


eletromagnética λ, encontramos 4 situações em relação à carga.

Vmax Vmax

0 λ/4 λ/2 3λ/4 λ 0 λ/4 λ/2 3λ/4 λ

(a) (b)

Vmax Vmax

Vmin

0 λ/4 λ/2 3λ/4 λ 0 λ/4 λ/2 3λ/4 λ

(c) (d)

Figura 5.3. Oscilações próprias e casamento de impedância em linha de transmissão. (a) ZL=Z0, (b) linha em
curto, (c) linha aberta, (d) linha com pequeno descasamento.

(1) casamento de impedância perfeito: Z0=ZL (impedância da linha e da carga iguais), e a


voltagem do sinal mantêm-se em um máximo em toda a extensão da linha de transmissão
(Figura 5.3a).

(2) linha sem carga, as extremidades em curto-circuito: ZL=0, com os nós se repetindo a
cada λ/2 a partir da origem (Figura 5.3b).

(3) linha com carga infinita, extremidades abertas: ZL= ∞, com os nós se repetindo a cada
λ/2 a partir de λ/4 (Figura 5.3c).

37
ANTENAS E PROPAGAÇÃO PROF. REGIS M ARQUES
CEFET-CE

(4) linha com pequeno descasamento, caso mais real: ZL< Z0 ou ZL>Z0, a onda tem a
mesma forma de linha sem carga, mas tendo um valor mínimo Vmin diferente de zero como
nó (Figura 5.3d).

O coeficiente entre voltagem máxima e voltagem mínima é denominado SWR -


standing wave ratio - ou em Português ROE - razão de onda estacionária.

SWR = Vmax / Vmin (5.5)

Como a voltagem é adotada para medição o SWR também é conhecido por


VSWR.

O mesmo valor de SWR será obtido pelo coeficiente de impedâncias


características da linha (Z0) e da carga (ZL), tomando o cuidado de dispô-las de maneira que
o resultado seja maior que 1:

SWR = Z 0 / Z L ou SWR = Z L / Z 0 . (5.6)


O SWR representa perda e distorção do sinal na linha de transmissão. Um sistema
perfeito teria SWR=1, mas SWR=1,5 representa um bom desempenho. Para SWR maior
que 3 o desempenho insuficiente.

Já a relação entre as ondas incidente e refletida é dada pelo coeficiente de reflexão


K, que relaciona as tensões e potências incidentes e refletidas como:

Vref Pref
K= = (5.7)
Vinc Pinc

Exemplo 5.2
São feitas leituras de voltagem e corrente em diferentes pontos de uma LT. O valor máximo
de voltagem lido é 60 Vrms max e o menor valor 20 Vrms min.
a) Calcule o VSWR da linha
b) Se a máxima corrente lida na linha é 2,5 A, qual seria a menor corrente lida?
R. a) VSWR = 3; b) I rms max = 0,833

38
LINHAS DE TRANSMISSÃO

Exemplo 5.3
Uma carga de 50 Ohms é alimentada a partir de uma linha de transmissão de 72 Ohms.
a) Qual a razão de onda estacionária deste acoplamento?
b) Qual o coeficiente de reflexão resultante?
c) Que porcentagem da potência incidente é refletida?
d) Que porcentagem da potência incidente é absorvida pela carga?
R. a)1.44; b)0.180; c)3.24%; d)96,76%

4. Linhas Balanceadas e
Desbalanceadas

Um sistema de transmissão de dois condutores pode ter duas classificações quanto


a sua impedância em relação ao aterramento: (1) desbalanceado (Figura 5.4a) - um dos
condutores é aterrado, enquanto o outro apresenta as variações correspondendo ao sinal e
(2) balanceado (Figura 5.4b) - os dois condutores repartem as variações do sinal, ficando
com sinais simétricos em relação ao terra.

(a) (b)
Figura 5.4. Sinal em dois condutores. (a) desbalanceado e (b) balanceado.

Em uma linha desbalanceada não há fluxo de corrente de terra, por essa razão este
tipo de LT dificilmente utiliza blindagem. Já em linhas desbalanceadas, ocorre fluxo de
corrente em direção ao terra, normalmente através de uma blindagem que envolve o
condutor principal, este tipo de linha normalmente tem a forma de um cabo concêntrico
(coaxial). A utilização de ambos os tipos de linha dependem da conexão utilizada, a
quantidade de interferência gerada no ambiente e a faixa de freqüência do sinal a ser
transportado.

39
ANTENAS E PROPAGAÇÃO PROF. REGIS M ARQUES
CEFET-CE

Linha tipo twin


A linha de transmissão de fios condutores paralelos é uma das mais fáceis de
adaptar e com ótimo desempenho. Tem como vantagem o fato de pode ser projetada e
executada pelo próprio instalador, o que, no entanto, envolve algum cálculo e trabalho.

A linha de fios condutores paralelos é composta por dois fios condutores mantidos
em paralelo separados de uma distância S por espaçadores isolantes, com isso o dielétrico
entre eles passa a ser o ar (desprezando-se os efeitos dos pequenos espaçadores), com fator
de velocidade VF= 0,98. Os fios geralmente são rígidos e esmaltados (mas também podem
ser cabinho), com numeração de 12 a 22 correspondendo ao diâmetro d.

A grande vantagem desta linha de transmissão é que pode ser projetada para
qualquer impedância, adaptando-se às mais variadas antenas. Entretanto, para obter boa
estabilidade é preciso que os fios sejam mantidos bem esticados e os espaçadores
perfeitamente isolantes, caso contrário ocorre variações de impedância. Abaixo segue a
descrição de alguns twins normalmente utilizados.

o 300 Ohms: É o twin mais encontrado, no qual o plástico preenche totalmente


a separação, formando uma fita. Os condutores propriamente ditos ficam nos
extremos, encapados por um plástico mais duro. O fator de velocidade é
baixo, VF= 0,8, devido ao plástico. Se o twin fica molhado a atenuação
quase dobra, pois a água passa a valer como dielétrico, juntamente com o
plástico. Como televisores têm impedância de entrada 300 Ohms ou 75
Ohms, é fácil usar este twin como linha de transmissão.
o 450 Ohms: é mais raro e projetado para antenas de transmissão. É mais largo
(quase o dobro) que o de 300 Ohms e com cortes retangulares no plástico, o
que aumenta seu fator de velocidade VF.
o 300 Ohms/UHF: o plástico forma uma camada envolvendo o núcleo de ar.
Este twin é projetado especialmente como linha de transmissão de receptores
TV UHF.

40
LINHAS DE TRANSMISSÃO

Cabo Coaxial

Provavelmente a melhor linha de transmissão para TV (e em alguns casos para


Rádio), devidamente padronizada, é o cabo coaxial. A atenuação do sinal nele é muito
pequena, e um esquema de blindagens internas o protege de ruídos e interferências.

O cabo coaxial também é feito de fios condutores paralelos, mas um deles forma
uma capa enrolada em torno do outro. O condutor interno é um fio rígido, totalmente
coberto por uma camada de dielétrico, chamada isolador interno. Enrolado em volta do
isolador interno - portanto coaxialmente (mesmo eixo) ao condutor interno - encontramos o
condutor externo, formando uma trança espalhada por toda a superfície. Recobrindo as três
camadas interiores temos uma capa plástica, o isolador externo.

Vários modelos de cabo coaxial apresentam impedâncias características entre 35


Ohms e 125 Ohms , mas o mais comum é 52 Ohms (para Rádio) e 75 Ohms (para TV). A
tabela a seguir registra a impedância de modelos mais usados em Rádio e TV:

o RG-8/U ou RG-8/AU 52 Ohms (diâmetro largo)


o RG-58/U ou RG-58/AU 52 Ohms (diâmetro pequeno)
o RG-174/U ou RG-17 f/AU 52 Ohms (diâmetro fino)
o RG-11/U ou RG-11/AU 75 Ohms (diâmetro largo)
o RG-59/U ou RG-59/AU 75 Ohms (diâmetro pequeno)

A diferença de diâmetros diz respeito apenas à potência do sinal que pode ser
transmitido no cabo; além do mais, cabos mais grossos tem atenuação pouco menor do
sinal. O coaxial de diâmetro fino (RG-174/U ou AU) é mais usado em instrumentação. Para
Rádio e TV recomenda-se RG-58 (U ou AU) ou RG-59 (U ou AU).

O fator de velocidade VF do cabo coaxial depende do material de seu isolador


interno (dielétrico): polietileno - VF= 0,66; espuma - VF= 0,80; Teflon - VF= 0,70. Este
último é empregado para alta UHF e microondas (inclusive com parabólicas).

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ANTENAS E PROPAGAÇÃO PROF. REGIS M ARQUES
CEFET-CE

BALUNS

Em todo caso não necessariamente devemos utilizar linhas balanceadas para


cargas balanceadas ou linhas desbalanceadas para cargas desbalanceadas, uma vez que se
pode fazer uso de conversores que permitam combinar linhas balanceadas com cargas
desbalanceadas ou vice-versa.

Uma forma simples e popular de conversão é utilizando um transformador


balanceador - desbalanceador (BALUN) que converte um tipo de sinal no outro -
balanceado para desbalanceado, ou vice-versa. Além de simultaneamente alterar a
impedância de entrada, convertendo-a em outro valor na saída e desta maneira fazendo o
casamento de impedância. Um exemplo comum de balun são os conectores traseiros de
aparelhos de TV, que permitem a ligação simultânea de antenas cujas LT’s podem ser
coaxiais ou bifilares.

75Ω
Desbalanceado

75Ω
Desbalanceado

75Ω 300Ω
Balanceado Balanceado
(a) (b)
Figura 5.5. Transformador (a) 1:1 e (b) 4:1.

Um esquema mais simples é visto na Figura 5.5a, convertendo uma impedância Z


desbalanceada para outra Z’ balanceada, ou vice-versa - observe que não há alteração no
valor da impedância, por isso o transformador é dito "1:1".

Na Figura 5.5b temos um transformador 4:1. Além de converter a impedância


desbalanceada em balanceada, ele a divide por 4, de 4Z para Z. O inverso é possível,
multiplicando a balanceada Z para 4Z desbalanceada na saída. Este é o caso, por exemplo,

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LINHAS DE TRANSMISSÃO

de adaptar um cabo coaxial (75 Ohms desbalanceado) para a entrada de um televisor (300
Ohms balanceado).

Em geral os padrões adotados para Rádio e TV são: (1:1; 75 Ohms) ou (4:1; 300
Ohms / 75 Ohms). Entretanto outros valores podem ser encontrados (e projetados),
principalmente para 50 Ohms.

Exercícios

i. Um sistema composto por uma LT de 300 Ohms que alimenta uma carga de 100
Ohms apresenta qual coeficiente de onda estacionária e qual o rendimento do
sistema com relação a absorção de potência?
ii. Qual a função de um BALUN?
iii. Determine a impedância característica de uma LT que tem uma capacitância de 35
pF/m e uma idutância de 0,5 H/m.
iv. São feitas leituras de voltagem e corrente em diferentes pontos de uma LT. O valor
máximo de voltagem lido é 80 Vrms max e o menor valor 20 Vrms min.
a) Calcule o VSWR da linha
b) Se a máxima corrente lida na linha é 2 A, qual seria a menor corrente lida?
v. Uma carga de 300 Ohms está sendo alimentada a partir de uma linha de transmissão
de 72 Ohms.
a) Qual a relação de onda estacionária deste acoplamento?
b) Qual o coeficiente de reflexão resultante?
c) Que porcentagem da potência incidente é refletida?
d) Que porcentagem da potência incidente é absorvida pela carga?

43
6 Casamento de Impedância

Sabe-se que, para a transferência de toda potência de um gerador para uma carga é
necessário que ambos tenham a mesma impedância. Caso o gerador possua elementos
reativos não-cancelados, a impedância da carga deve ser o conjugado da impedância do
gerador e vice-versa. Isto é válido em sistemas de transmissão operando em qualquer faixa
de freqüência, sendo que o estudo realizado neste capítulo é direcionado à sistemas RF e às
formas como corrigir os efeitos causados pelo descasamento.

1. Casamento Com LT de
Quarto-de-Onda

A seção quarto de onda ( /4) é outra maneira de casar impedâncias do sistema


de antena. Consiste em um pedaço de fios condutores paralelos, com impedância e
comprimento determinados, colocado entre a antena e a linha de transmissão (Figura
6.1). Tem como vantagem provocar pouca atenuação do sinal, mas funciona apenas na
freqüência em que é ressonante.

Figura 6. 1: Casamento de impedância por seção quarto de onda.

Uma seção quarto de onda de impedância Zc, quando ligada num extremo a
uma carga de impedância ZL e noutro extremo à linha de transmissão de impedância Zo,
obedece à seguinte equação:
Zc = Z L Zo (6.1)
LINHAS DE TRANSMISSÃO

Exemplo 6.1
Se temos uma carga com ZL = 35 Ohms e uma linha de transmissão de Zo = 300 Ohms ,
a seção quarto de onda deverá ter
R. 100 Ohms

O processo, de fato, é que a seção quarto de onda transforma impedância de


entrada 35 Ohms na impedância de saída 300 Ohms, como se fosse um transformador.
Resta saber o comprimento da seção quarto de onda. Para tanto usamos a fórmula:

c
L= VF (6.2)
4f
em que c = 3 x 108 m/s, f a freqüência do sinal transmitido na linha (em Hz) e VF o
fator de velocidade da linha.

Casamento por acoplamento

Uma forma de se eliminar a onda estacionária é eliminando o componente


reativo da impedância da linha. Uma maneira de fazer isso é através de uma pequena
seção ou “enxerto” de linha em curto ou aberto, colocado em paralelo com a linha de
transmissão. Essa seção será vista como uma reatância capacitiva ou indutiva,
dependendo de seu comprimento e se está em curto ou aberto.

(a) (b)

Figura 6. 2: Seção (a) aberta e (b) curto-circuitada.

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ANTENAS E PROPAGAÇÃO PROF. REGIS M ARQUES
CEFET-CE

A colocação da seção faz com que a fonte veja uma linha puramente resistiva
na freqüência de projeto, e pode ser simplificada utilizando-se gráficos como este, onde
conhecida a razão de onda estacionária são determinados o comprimento da seção e sua
distância de um ponto de maior tensão na linha.

Figura 6. 3: Curvas de dimensionamento.

Exemplo 6.2
Em uma linha com SWR de 4 e operando a 200 MHz, qual o comprimento
do enxerto (L) e sua posição na linha de transmissão (D) para que seja feito o
casamento de impedâncias ?
R. L = 0,135 m e D = 0,271 m

Deve ser observado que D é aposição a partir de qualquer ponto da linha onde
V = Vmax.

46
LINHAS DE TRANSMISSÃO

Exercícios

i. Qual a importância de se ter sistemas de transmissão com perfeito casamento de


impedância?
ii. O que ocorre quando um sistema de transmissão não apresenta casamento de
impedância desejado?
iii. Determine o comprimento necessário para um acoplamento de quarto de onda que
elimine as ondas estacionárias, fornecendo o casamento entre uma carga resistiva de
300Ohms alimentada por uma linha de 72 Ohms, para uma freqüência de 100MHz.
Determine a impedância que o acoplamento de quarto de onda deve apresentar.
iv. É requerido um ”enxerto” para uma LT cuja situação é SWR = 3. Determine o
comprimento do enxerto e sua possível localização na linha. A freqüência central é
de 100 MHz. Considere as curvas de dimensionamento da Figura 6.3.

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Terceira Parte:
Antenas
LINHAS DE TRANSMISSÃO

Exercícios

i. Qual a definição de antena, qual sua função e qual a importância do


dimensionamento correto de uma antena de transmissão para uma estação rádio
base?
ii. Quais propriedades fundamentais de uma antena devem ser conhecidas em um
projeto de rádio enlace? Qual a importância de cada uma?
iii. Que informações podem ser extraídas do diagrama de irradiação de uma antena?
iv. O que são diagramas de azimute e elevação? E como classificamos uma antena em
direcional ou ominidirecional?
v. Por que o ganho de uma antena é dito ser uma medida relativa? Quais fatores
influenciam o ganho de uma antena?
vi. Quais fatores influenciam no valor de impedância de uma antena?
vii. Qual a necessidade de se utilizar arranjos de antenas e quais os tipos de arranjos
possíveis?
viii. Em arranjos horizontais quais são os graus de liberdade possíveis e que efeitos
podem ser obtidos em cada caso?
ix. Idem questão 8 para arranjos verticais.
x. Sobre dipolos responda:
a. Em qual faixa de freqüência o dipolo é comumente utilizado?
b. Por que, na prática, dipolos possuem comprimento menor que λ/2 ?
c. Existem casos onde não é possível obter um dipolo com a impedância
desejada, de que maneira(s) pode-se fazer um ajuste no dipolo para que este
apresente a impedância desejada?
xi. Dimensione dois dipolos um de 100 Ohms e outro de 600 Ohms para operar em
uma freqüência de 14 MHz. Caso seja necessário, o ajuste de impedância do dipolo
deve ser feito via mudança do ponto de alimentação.
xii. Projete um dipolo de meia onda dobrado para ser utilizado na recepção de TV (300
Ohms). A faixa de freqüências em questão é de 174 a 180 MHz, e deve-se usar um
tubo de alumínio de 2cm de diâmetro.

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ANTENAS E PROPAGAÇÃO PROF. REGIS M ARQUES
CEFET-CE

xiii. Um refletor parabólico disponível no mercado e operando em 2 GHz tem um


diâmetro de 1,8 m. Considerando um rendimento usual de 0,7, calcule o ganho deste
refletor.
xiv. Projete uma corneta piramidal para operar a 5GHz e que apresente ganho de 30dB,
dado que esta será colocada na saída de um guia de onda de dimensões a = 3cm e b
= 2cm.
xv. Um enlace de comunicações emprega antenas idênticas com 2m de diâmetro. A
atmosfera da região apresenta uma atenuação de 0,01 dB/km. Se a potência do
transmissor é de 6W e a sensibilidade do receptor for de -88dBm, qual o alcance
máximo possível, se forem empregadas as freqüências de 1GHz e 3GHz?

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