Impulsividade e Controle Inibitorio
Impulsividade e Controle Inibitorio
Impulsividade e Controle Inibitorio
CDU: 612.8
Adélia Prado
[“O Homem da Mão Seca”]
Agradeço aos meus pais, Antônio e Perpétua, com o receio de que minhas palavras não
possam expressar com fidelidade minha admiração por serem quem são e por terem me
apoiado de maneira tão consistente e carinhosa por toda vida.
A minha grande família, na figura dos meus irmãos e minhas sobrinhas, que tiveram que
compreender, a duras penas, que eu não podia estar disponível muitas vezes, inclusive
aos domingos.
Aos meus caros amigos Abraão, Bruna, Eduarda, Flávia, Giselle, Júlia, Ju Giosa, Ju
Oliveira, Lafaiete, Lucas Ed., Monique, Renata e Thaís [em ordem alfabética], que
continuam meus amigos como evidência de que reforçamento intermitente funciona.
Ao meu orientador, Prof. Dr. Leonardo Cruz de Souza, que me ressignificou os conceitos
de “conhecimento” e “gentileza”, me ensinando muitíssimo mais que eu poderia merecer,
e mostrando paciência tibetana para lidar com esse acadêmico de escrita faulkeneriana.
Aos meus mestres da graduação cujos ensinamentos ainda persistem: Prof. Dr. Vitor
Haase, Profa. Ms. Larissa Rodrigues e Profa. Dra. Elizabeth do Nascimento.
Aos pacientes e seus familiares, cujas histórias sempre me comoveram. Aos participantes
do grupo controle também reitero meus agradecimentos.
Tabela 7: Resultados dos testes de fluência verbal (semântica e fonológica) por grupo 62
Tabela 8: Resultados de Testes de Controle Inibitório (Stroop e Hayling) por grupo ... 63
Tabela 10: Testes post-hoc (valor p) por grupo para desempenho cognitivo ................. 67
Tabela 13: Descrição dos resultados da Escala Barratt de Impulsividade (BIS-11) ...... 71
Tabela 14: Testes post-hoc para cada um dos itens e grupos pesquisados ..................... 72
Tabela 15: Área sob a curva para cada instrumento executivo de controle
1.INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 13
2.OBJETIVOS .............................................................................................................. 40
3.MÉTODOS ................................................................................................................. 42
4.RESULTADOS .......................................................................................................... 58
5.DISCUSSÃO .............................................................................................................. 82
6.CONCLUSÃO.......................................................................................................... 103
GRUPO......................................................................................................................... 120
Reza a lenda que a mais bela das mulheres que já passou pela Terra, provocou em
Páris tamanho sentimento, que ele a sequestrou e a levou para Tróia. O que Páris não
previu foi a resposta dos gregos, que encheram a baía com mais de mil navios a fim de
resgatar a bela Helena. É preciso considerar que Páris estava sob a influência de Afrodite
impulsivo. Ao se deixar levar pela ânsia de satisfazer seus desejos presentes, Páris
Ou será que teria lhe faltado “controle inibitório”? Ou ambos? Como Páris, todo mundo,
cedo ou tarde, tem algum ato impulsivo e, pior, precisa encarar as consequências desse
comportamento. Como para a vasta maioria das pessoas não é mais possível acreditar à
do campo das doenças neurodegenerativas, com a expectativa de que tal empreitada não
tenha os mesmos efeitos daquele famoso presente grego dado aos troianos.
1.1.Impulsividade
populares, sua conceptualização não é simples. Uma das mais comuns definições de
impulsividade foi cunhada por Moeller e cols. (2001) que compreenderam impulsividade
como uma predisposição para reagir à estímulos internos ou externos, reação essa
para o próprio sujeito ou para outrem. No entanto, outras definições estão disponíveis,
como em Rachlin (2000), que entende impulsividade como uma tendência em escolher
Por outro lado, Dickman (1990) que define impulsividade como uma “tendência a
deliberar menos do que a maioria das pessoas de igual capacidade” (pg. 95) antes de
(McAdams, e Olson, 2010; McCrae, 2006; Heine e Buchtel, 2009; Buss, 1984).
trabalho a teoria dos traços, que estuda “eixos” estruturais da personalidade e admite a
Costa, 1987) propõe a existência de cinco fatores principais de personalidade: (I) abertura
à experiência, que se caracteriza pelo interesse por ampla variedade de áreas; (II)
as atitudes de disciplina e zelo para com os objetivos necessários para atingir determinado
maior ou menor interesse pelo bem-estar alheio; e, (IV) Neuroticismo, que se refere à
tempo, incluindo a velhice. Em uma meta-análise com 152 estudos longitudinais, Roberts
terceira idade. Os autores incluíram diversos fatores nas análises e encontraram resultados
de que os traços de personalidade vão se mantendo mais estáveis com o passar dos anos,
Assim sendo, tem-se que os traços se tornam mais consistentes e que sua avaliação na
Embora o Modelo dos Cinco Grandes Fatores seja o mais replicado dentro da
Teoria dos Traços, em diversas culturas (Heine e Buchtel, 2009), é preciso mencionar que
existem outros modelos (ex. Zuckerman e cols., 1993), embora não sejam tema desse
trabalho.
personalidade, entende-se que ela segue o mesmo padrão de ser relativamente estável ao
que já foi analisado, nas décadas de 1960 e 1970, pela Psicologia das Diferenças
associados.
duplo da impulsividade, que pode ter impacto na sociabilidade, mas também pode se
O ponto chave foi que tais aspectos tiveram correlações com diferentes fatores de
nem todas as escalas empregadas seguem uma fundamentação teórica no desenho dos
Impulsivity Scale) (Patton et al., 1995) um dos recursos mais comumente empregado para
um traço e pode ser acessado por meio de auto-relato, mas foi construída por meio de
e colaboradores,2012a).
sem premeditação, “no calor dos eventos”, tanto em ato-resposta motor, quanto não-
motor, ao passo que o aspecto atencional destaca que a diminuição da atenção sustentada,
pela intrusão de pensamentos e/ou outros estímulos externos, concorre para apresentações
Esse último aspecto reflete como a pessoa tende a lidar com a perspectiva do
tempo ao realizar suas escolhas, lidando com o tempo presente e o tempo futuro. Esse
demonstrar privilégio pelo presente refletiria disposições impulsivas, posto que seguem
Por fim, ainda comentando a respeito da BIS-11, vale anotar que a despeito de sua
ampla utilização clínica e acadêmica, a Escala Barratt foi edificada em uma análise
fatorial (Vasconcelos e colaboradores, 2012a), de sorte que ainda lhe falta um modelo
por Barratt e cols. na versão original, como Fossati e cols. (2002). Ademais, a ausência
que é um aspecto agudo no campo da impulsividade, haja vista uma ampla literatura, de
constituem largo corpo de funções cognitivas e que parecem padecer das terminologias
guarda-chuvas, dentro das quais se alocam conteúdos variados. Miyake e cols. (2000)
apresentam dados a respeito de três funções cognitivas que seriam axiais ao que se
entende como funcionamento executivo: (I) flexibilidade cognitiva (mental shifting); (II)
Esse modelo é referendado pelos achados dos autores que utilizaram tarefas
Além desse aspecto de relevo, outro ponto que merece consideração são os
que uma tarefa neuropsicológica não é capaz, por si só, de apenas demandar o conteúdo
cognitivo em apreço, uma vez que depende, em algum grau, de outras funções para seu
neuropsicologia é que muitas vezes testes neuropsicológicos são cunhados para avaliar
pacientes com déficits específicos sem passar por validação de construto, o que é um
não sendo simples a delimitação de um componente sem o aporte de outro (Lezak et al.,
2004).
Lehto e cols. (2003) replicaram o modelo proposto por Miyake e assoc. (2000), a
amostra de crianças. Os resultados foram analisados inicialmente por uma análise fatorial
exploratória, que encontrou três fatores nos testes executivos, que foram nomeados de
acordo com a característica comum entre os instrumentos de cada fator. O primeiro fator
significância estatística de melhor ajuste. Nenhum outro modelo, de fator único, de fatores
(III) flexibilidade cognitiva. Tais elementos possuem relação entre si, mas ao mesmo
tempo certa “autonomia”, reforçando o caráter unitário e diverso das funções executivas
a atenção para um determinado fim e também ativamente impedir que outros estímulos
Tal atividade tem função importante para a Memória de Trabalho, como Diamond
Os dois outros elementos precisam ser considerados, embora não sejam objeto
particular de estudo neste trabalho. A Memória de Trabalho é um conceito que possui por
Como se pode notar, toda essa funcionalidade está vinculada a um propósito maior
frontais, embora, como discutem Alvarez e Emory (2006), haja inúmeras limitações e
Esses autores enumeram fatores para explicar tais dificuldades, como por
fato de que talvez seja mais interessante vincular o achado neuropsicológico às evidências
Cummings (1993) aponta cinco circuitos frontais corticais e subcortais, sendo que
funcionamento executivo “frio” (Zelazo e Carlson, 2012). A área ventromedial, por seu
turno, com suas conexões com o cingulado anterior e o núcleo accumbens, estaria ligada
associação entre alguns testes e o volume pré-frontal, sendo que o WCST é a tarefa que
alcança melhores correlações com o volume do CPF, ao passo que outras tarefas, como
fluência verbal, não se correlacionam com o volume do CPF, o que é um resultado muito
interessante de se considerar, já que a fluência verbal é uma das tarefas executivas mais
utilizadas (Alvarez e Emory, 2006). Isso, como já apontado, não significa que ela não
esteja envolvida em processos executivos, mas sim que não dependa tanto – ou de maneira
detectável – com estruturas frontais. Considerando tarefas como WCST, Teste de Dígitos
Ordem Inversa, Teste de Trilhas e Fluência Verbal, o tamanho de efeito foi considerável
reforçam Kim e Lee (2011). Para os autores, além do córtex pré-frontal, outras estruturas
córtex orbitofrontal, núcleos da base e porções da amígdala, por exemplo, ainda que com
e motivacional.
Embora o papel dos núcleos da base seja destacado, o córtex pré-frontal (CPF)
2014).
neurodegenerativas, como DFT-vc e DA, sendo que na primeira há uma atrofia muito
neuropsicológico experimental válido para descrever esse curioso caso. E.V.R. tinha uma
lesão frontal importante, mas conservava quase a totalidade de seu potencial cognitivo,
Porém, quando avaliado formalmente, atingia escores elevados nos mais diversos
domínios cognitivos.
Os autores propuseram então uma tarefa na qual escolhas monetárias eram feitas
em uma espécie de jogo, em que ganhos e perdas eram mais ou menos frequentes,
conforme o padrão de escolha adotado pelo participante. Essa tarefa viria a ser
amplamente conhecida como Iowa Gambling Task (IGT), tendo as primeiras capacidades
escolha intertemporal, pois não existe mais de um valor para ser escolhido dentro da
dimensão do tempo, mas sim um processo de escolha que leve em conta possibilidades
de perdas e/ou ganhos futuros, de modo que o IGT envolveria tomada de decisão em
decisão em situações de custo/benefício envolve uma circuitaria muito maior que porções
primeiramente uma etapa de aprendizagem que demanda controle cognitivo central para
como um elemento crítico por Bertoux e cols. (2013b), que determinaram sensibilidade e
tarefas. Tal estudo comparou amostras de grupos clínicos com DFT-vc e DA, além de
Reversa – Reversal Learning Test), inclusive com baixo poder de discriminação entre
controles idosos, mas não houve alteração do perfil. O conhecimento explícito acerca do
implícita que poderiam ludibriar os participantes, inclusive pessoas jovens e sem qualquer
foram classificados corretamente pela tarefa de Vai-Não-Vai da FAB, e, por fim, 57,1%
pelo IGT.
Neurocognitivo Maior”, para evitar o uso de “demência”, essa terminologia ainda não é
agentes químicos, como por uso continuado e abusivo de substâncias, como o álcool. As
associadas ao envelhecimento. Esse dado não é trivial, uma vez que o envelhecimento
contexto brasileiro: (I) Doença de Alzheimer (DA); (II) Demência Vascular (DV); (III)
quadro demencial. Como Caramelli e Barbosa (2002) ressaltam. essa não é tarefa vulgar,
atingida pela DCV, fazendo com que quadros de DV tenham heterogênea apresentação
clínica.
com piora ao final do dia, presença de sintomas psiquiátricos positivos, como alucinações
visuais mais pronunciados, e alguns distúrbios motores, como perda postural e quedas. A
DCL tem curso progressivo degenerativo e com o tempo traz maiores incapacidades para
o paciente.
temporal e espacial podem ser comuns. Outros domínios cognitivos são acometidos
em 2011 pelo National Institute of Aging (NIA) (Jack et al., 2011; McKhann et al., 2011).
funcionamento pregresso; (III) não são melhor explicador por delirium ou outros quadros
déficits em pelo menos dois dos seguintes domínios: memória, funções executivas, viso-
terapêuticas farmacológicas tem trazido mudanças nas abordagens e nos estudos dos
frontais e temporais (Neary, et al. 1998) e um espectro de várias doenças com marcadores
temporais.
O termo DFT, por seu turno, tende a designar quadros neurodegenerativos com
de 2011, feita por Rascovsky e associados (2011). Seis eixos diagnósticos são reportados
ações impulsivas ou descuidadas; (II) apatia e/ou inértia; (III) perda da empatia ou da
simpatia, com menor interesse por eventos ou contatos sociais, redução do calor afetivo,
precoce do que a DA, por exemplo (Hodges, et al. 2003). O diagnóstico diferencial entre
DA e DFT é muitas vezes difícil, sendo que o erro diagnóstico tem implicações
contemplado nas três funções cognitivas apontadas. Não obstante, é de se salientar que a
formais e em outros estudos (vide Salmon e Bondi, 2009), na verdade não se mostra como
elemento diagnóstico acurado (Bertoux et al, 2013a; Hornberger, et al. 2010; Hornberger
e Piguet 2012; Graham, et al. 2005). Esse é um achado de grande relevância para reforçar
neuropsicológicos.
resultados são muito similares entre os grupos, mesmo naqueles com prejuízos leves
Stroop, com o volume dos lobos frontais, além de escalas comportamentais, como o item
de “Interferência” do Teste de Stroop com os volumes dos giros mediais frontais esquerdo
Stroop são ainda menos significativas, praticamente não havendo variância explicada
entre tais tarefas. O item que pareceu melhor explicar o desempenho na etapa de
mostra que o volume dos lobos frontais não se associa à tarefa como se esperaria.
Krueger e cols. (2011) também buscam analisar as relações entre testes executivos
testes executivos formais, como Teste de Trilhas, Fluência Verbal e o próprio Stroop.
Novamente, verifica-se que os testes possuem correlações de moderadas a altas entre si,
A correlação com o volume de algumas áreas cerebrais mostra que o item "Desinibição"
verificam relação significativa entre os testes de FE com o giro medial frontal, mas ainda
discriminação de pacientes DFTvc dos DA. Os autores mostram testes como Trilhas e
Fluência Verbal (FAS) não discriminam tais grupos de pacientes. Por outro lado, o teste
discriminaram DA de DFT-vc, mas a porção medial não o faz. No entanto, não foi feita
mensuração de volume, mas sim o uso de uma escala de classificação de padrão de atrofia,
não possuem, na maioria dos casos, correlações significativas com porções frontais que
significância, a força é baixa ou, nos melhores casos, moderada; (II) existe um hiato entre
manifestações, como a apatia afetiva, que pode ser entendida pelas manifestações de
pela dificuldade de engajamento em atividades (Robert et al., 2002; Marin, 1991). Ainda,
tinham por hipótese de que o grupo DFT apresentaria graus elevados de apatia em todos
mostraram que não houve diferença estatisticamente significativa em relação aos tipos de
apatia nos dois grupos. O escore total de apatia é numericamente superior no grupo DFT,
Esses autores também adaptaram a Escala de Apatia de Starkstein (Starkstein et al., 1992)
pacientes não-apáticos (Peters et al, 2006), reforçando a relevância dessa área para as
manifestações de apatia.
2000; Reynolds e Schiffbauer, 2005; Green et al., 1994). Tal conceituação traz uma
Johson, 2010), ou seja, uma recompensa futura passa por um crivo temporal, ela não tem
o mesmo valor de uma recompensa imediata, já que será necessário aguardar um certo
impulsividade é um traço que constitui tal desvalorização, de modo que quanto maior a
foi replicada, por exemplo, em pacientes com Doença de Parkinson (Milenkova e cols.,
2011), mas para fins descritivos e não diagnósticos, demonstrando que pacientes
manifestam maior depreciação temporal que controles, e que entre os pacientes, aqueles
Lebreton et al. (2013) demonstraram que o paradigma pode ser útil para
situações e/ou condições em que deveria escolher entre duas opções de atividade cultural,
comida ou evento esportivo (e.g.: “Um pacote de batatinha frita agora ou um jantar em
separadamente, primeiro o indivíduo era exposto a uma das informações e depois a outra,
e finalmente ambas eram colocadas lado a lado. Nalgumas condições a opção era
de batatinhas na tela.
inferior à futura. De maneira similar à versão episódica, algumas apresentações das opões
moedas ou notas).
estipulassem quão bem eram capazes de imaginar a situação futura, utilizando uma escala
pacientes com DFT são mais impulsivos em todas as condições testadas. As situações em
se alude à mediação do hipocampo para fornecer elementos que apoiem a escolha futura.
Esse dado é significativo, pois mostra que a memória prospectiva também se envolve nos
participante (DFT-vc, DA e CTR), quanto se uma versão ecológica da tarefa seria mais
eficaz em relação a versões menos ecológicas, o que vai ao encontro da percepção de que
critério usado foi a tendência a fazer escolher presentes em detrimento de escolhas futuras
relativamente curtos, como 1 mês, ao passo que DAs apresentaram tendência a descontar
diferiram entre os grupos, o que atraiu a atenção dos pesquisadores, que tinham como
Até onde se saiba, a DDT, e outros paradigmas intertemporais, ainda não foram
2.1.Objetivos
contexto.
Starkstein).
(DFT-vc).
2.2.2. O Grupo DFT-vc tem desempenho pior nos testes de controle inibitório e de
abaixo. Um terceiro grupo de Controle foi formado com indivíduos saudáveis, dentro da
mesma faixa etária, nível de escolaridade e renda dos grupos clínicos. Esse Grupo
A coleta de dados foi realizada entre dezembro de 2014 e julho de 2016. Todos os
1.
livre esclarecido.
Pareamento por idade, sexo, escolaridade e renda com os grupos clínicos (DA e
DFT).
Ser alfabetizado.
Lateral-Amiotrófica (ELA).
Controles.
etc.) que impeçam a participação no estudo, julgada pela equipe médica colaboradora.
3.2.1. Convocação
3.2.2. Instrumentos
de 0 – 30 pontos.
inibitório e preensão.
partcipante.
máximo de palavras que conseguir evocar iniciando por uma determinada letra, na
versão Fonológica, ou por uma determinada categoria, na versão Semântica. Não são
cada uma das letras “F”, “A” e “S”, obtendo-se como resultado final a soma do total
produzido por letra (Machado et al. 2009). Na forma semântica, utilizou-se palavras
(BCB) (Nitrini et al., 2007): Avalia memória de curto prazo, aprendizagem e memória
que lhe são apresentadas. Após a nomeação, as figuras são imediatamente retiradas e
novamente o cartão e fixe as figuras por um breve intervalo de tempo, devendo evoca-
podem ser preenchidos com alguma tarefa distratora de natureza diversa. Decorrido
No presente trabalho, foi criado um escore geral das etapas mnemônicas, para
diminuir o volume de dados fornecidos, uma vez que as análises individuais não
não apresentadas anteriormente são apontadas como tendo sido vistas, implicam
melhor a performance.
Na Ordem Direta, avalia-se memória verbal de curto prazo, conferindo o span dessa
memória, ou seja, quantas unidades de informação verbal são retidas em curto prazo.
desempenho executivo. Foi empregada a Versão Victoria (Spreen et al., 2006) que
examinando fale a cor que vê e não leia a palavra. Em tese, a última etapa
que é da mesma categoria que a resposta correta (todas são cores), e que deve ser
inibida, portanto.
do participante. O número máximo de erros por etapa é 24. Não há tempo limite.
Teste de Cinco Dígitos (FDT – Five Digits Test) (Sedó, de Paula e Malloy-Diniz,
familiarizar o participante. A Figura 11 ilustra cada uma das etapas, o número de itens
e as respostas corretas.
erros. Entende-se quanto maior o tempo gasto e maior o número de erros, pior o
1
Figura ilustrativa gentilmente cedida pelo Prof. Dr. Jonas Jardim de Paula. A figura foi adaptada por
Magalhães (2013).
2
Na Figura 1, a etapa Escolha foi nomeada Eleição, mas se tratam da mesma tarefa. Optamos por manter
o nome designado pelos autores no manual do teste (Escolha).
devendo dizer qual é o numeral ali presente. A ideia é “simular” um efeito Stroop.
pura, o tempo necessário para os processos de inibição, uma vez que desconta o
tempo para leitura dos números (linha de base); (II) Flexibilidade-FDT, calculado
que esse valor representaria, de maneira mais pura, o tempo necessário para os
processos de flexibilidade cognitiva, uma vez que desconta o tempo para leitura
Teste de Hayling (Burgess e Shallice, 1997; Siqueira et al., 2010) : avalia o controle
complete a palavra final de maneira que as sentenças tenham sentido lógico. Na Parte
palavras que não tenham sentido algum ou conexão com a frase, representando uma
Há outro escore calculado pela subtração entre Tempo Parte B e Tempo Parte A,
resposta.
(ppt), fundo branco, letra preta, com 27 situação de escolha dual, nas quais o
participante deve escolher entre uma quantia menor de dinheiro, que pode ganhar
hoje, e uma quantia maior a ser recebida no futuro, contado em dias. As quantias e os
durante a tarefa.
VP = VF a
1 + kt
Onde:
VP = Valor Presente
VF = Valor Futuro
t = Tempo de Espera
Pela lógica, cada participante escolherá o valor que considerar maior. Embora o
Valor Futuro (VF) seja numericamente maior, ele sofre uma depreciação com o
passar do tempo, daí na equação o Valor Futuro é dividido pelo Tempo de Espera
variação interindividual.
que demonstra que há maior decréscimo do valor no período inicial, havendo uma
calculado para cada situação de escolha e é o resultado da tarefa, uma vez que os
0,000158278 a 0,25.
maneira que se tem: (I) Recompensas Menores, para os valores futuros entre R$15
sendo, a DDT produz quatro parâmetros de k, um para cada grupo de valor futuro
Vale mencionar que a DDT empregada nesse estudo, seja na versão original, seja
tais condições. O questionário é formado por 14 itens ao todo, sendo 7 itens para
e de ansiedade.
alterados.
participante, aplicado apenas nos grupos clínicos. Composta por 14 itens com
participante.
2010): aplicada no Grupo Controle consoante a proposta original dos autores e nos
impulsividade.
usualmente para maior parte dos itens. Os itens revertidos são: 1, 7, 8, 9, 10, 12,
Statistical Package for Social Sciences (SPSS) 22.0, MedCalc 17.1 e GraphPad Prism 5.
Para avaliar a acurácia diagnóstica dos testes, entre os grupos clínicos (DA x DFT-
vc), foi feita análise de curva ROC (Receiver Operator Characteristic – Característica de
3
Tais parâmetros independem da direção da correlação (positivas e negativas).
grupo DFT-vc, não há maior preponderância desse grupo em face dos demais, de sorte
grupo Controle tem-se primazia de indivíduos do sexo feminino, uma vez que se trata de
Grupo (n)
Sexo X2
CTR DFT-vc DA
Masculino 6 14 13
Feminino 18 13 12 0,089
Total 24 27 25
CTR: Grupo Controle
DFT-vc: Grupo Demência Frontotemporal variante comportamental
DA: Grupo Doença de Alzheimer
A Tabela 3 traz os dados de cada grupo de acordo com a idade média, escolaridade
duração de doença tem distribuição não-paramétrica, mas não difere entre os grupos
significativa.
Depressão (HAD), 95,8% (23 dos 24 participantes) tiveram pontuação menor ou igual a
8, ou seja abaixo do ponto de corte proposto pelos autores da escala (Marcolino et al.,
2007), sendo que apenas 1 indivíduo pontuou acima (pontuação de 10) apenas no item de
ansiedade, e que não foi excluído da amostra. No item Depressão, 100% dos participantes
Comparação de grupos
Médias e DPs por grupo
(post-hoc test)
Itens/Grupos
CTR x CTR x DFT-vc
CTR DFT-vc DA
DFT-vc DA x DA
Idade (anos)C 70,8 (8,3) 67,8 (9,8) 74,6 (9,7) 0,759 0,429 0,027*
C
: Bonferroni
* Significativa a nível 0,05
CTR: Grupo Controle
DFT-vc: Grupo Demência Frontotemporal variante comportamental
DA: Grupo Doença de Alzheimer
Os resultados cognitivos dos três grupos estudados estão dispostos nas Tabelas 5
Tabela 7: Resultados dos testes de fluência verbal (semântica e fonológica) por grupo
teste alcança tal capacidade quando são comparados, na amostra pesquisada, os grupos
DFT-vc e DA. O padrão identificado é de que os testes possuem poder para diferenciar
Para além do número de acertos por minuto, em cada uma das modalidades,
esse é um parâmetro útil à compreensão dos casos. A análise estatística mostra que o
número de erros e/ou perseverações não possui poder discriminatório entre nenhum
Os resultados do teste de Stroop são dispostos em suas três fases, Cor, Palavras e
estatisticamente inferior ao dos grupos clínicos, não obstante as médias dos grupos DFT-
para diferenciá-los dos DFT-vc. Por outro lado, o parâmetro de tempo é capaz de
distinguir DFT-vc de DA, mas não DFT-vc de Controles, com resultados de tempo muito
valores monetários dispostos ao longo do tempo. Entende-se que quanto maior o índice
0,25.
mesma faixa, não apresentando diferenças estatísticas entre si, tanto no parâmetro geral,
(recompensas maiores, medianas ou menores), quanto em cada um dos três grupos per
se.
uma tendência da média do grupo Controle ser superior à dos grupos clínicos.
presente estudo.
A Escala de Apatia (versão de Starkstein) foi aplicada apenas nos grupos clínicos,
Anexos 3 e 4 desse trabalho. Os resultados com a BIS-11 estão dispostos na Tabela 13.
poder de discriminação dos grupos. Na apatia, o grupo DFT-vc alça escores médios
pontuações alcançadas por cada grupo. A média do grupo DFT-vc pontua visivelmente
maior que a dos demais. As análises post-hoc (Tabela 14) corroboram a primeira
impressão, sendo que os escores são capazes de discriminar os grupos de pacientes, além
nenhum grupo, mesmo o clínico dos não-clínicos, mas todos os demais, incluindo o
Tabela 14: Testes post-hoc para cada um dos itens e grupos pesquisados
Comparação de grupos
Médias e DPs por grupo
(post-hoc test)
Itens/Grupos
CTR DFT-vc DA CTR x CTR x DFT-vc
[n=16] [n=20] [n=22] DFT-vc DA x DA
BIS-11 Total C
59,4 (8,1) 76,1 (9,5) 62,9 (13,5) <0,001* 1,000 0,001*
(pontuação)
BIS-11 Atenção C
15,1 (3,0) 18,8 (3,3) 14,9 (4,7) 0,018* 1,000 0,005*
(pontuação)
BIS-11
Planejamento C 24,6 (4,3) 34,7 (4,3) 27,9 (7,1) <0,001* 0,232 0,001*
(pontuação)
* Estatisticamente significativo a nível de 0,05
C: Bonferroni
BIS-11: Escala Barratt de Impulsividade – 11ª versão
CTR: Grupo Controle
DFT-vc: Grupo Demência Frontotemporal variante comportamental
DA: Grupo Doença de Alzheimer
com o cálculo de áreas sob a curva e, quando adequado, calculado índices de sensibilidade
Foi gerada uma curva (Figura 4) com os melhores resultados de cada instrumento
Tabela 15: Área sob a curva para cada instrumento executivo de controle
inibitório/impulsividade avaliado entre os grupos DFT-vc e DA:
Para a Escala de Apatia, o ponto de corte proposto pelo pacote estatístico (Medcalc
17.1) para DFT-vc foi resultado maior que 19, ou seja, há maior chance de presença de
quadro de DFT-vc em escores acima desse valor. O índice de Youden foi de 0,62,
Para a BIS-11, o ponto de corte proposto pelo pacote estatístico (Medcalc 17.1),
para diagnóstico positivo de DFT-vc foi resultado maior que 60, ou seja, resultados acima
desse valor indicam maior probabilidade de quadro de DFT-vc, com índice de Youden de
17.1) para diagnóstico diferencial foi de uma diferença de tempo maior que 54, ou seja,
Flexibilidade-FDT
Critério Sensibilidade IC 95% Especificidade IC 95% +LR -LR
≥9 100,00 84,6 - 100,0 0,00 0,0 - 19,5 1,00
>22 100,00 84,6 - 100,0 11,76 1,5 - 36,4 1,13 0,00
>25 95,45 77,2 - 99,9 11,76 1,5 - 36,4 1,08 0,39
>29 95,45 77,2 - 99,9 23,53 6,8 - 49,9 1,25 0,19
>32 90,91 70,8 - 98,9 23,53 6,8 - 49,9 1,19 0,39
>37 90,91 70,8 - 98,9 41,18 18,4 - 67,1 1,55 0,22
>38 86,36 65,1 - 97,1 47,06 23,0 - 72,2 1,63 0,29
>54 86,36 65,1 - 97,1 76,47 50,1 - 93,2 3,67 0,18
>59 68,18 45,1 - 86,1 76,47 50,1 - 93,2 2,90 0,42
>60 63,64 40,7 - 82,8 82,35 56,6 - 96,2 3,61 0,44
>67 63,64 40,7 - 82,8 94,12 71,3 - 99,9 10,82 0,39
>83 36,36 17,2 - 59,3 94,12 71,3 - 99,9 6,18 0,68
>84 36,36 17,2 - 59,3 100,00 80,5 - 100,0 0,64
>208 0,00 0,0 - 15,4 100,00 80,5 - 100,0 1,00
Escala de Apatia
Critério Sensibilidade IC 95% Especificidade IC 95% +LR -LR
<3 0,00 0,0 - 14,8 100,00 87,2 - 100,0 1,00
≤10 30,43 13,2 - 52,9 100,00 87,2 - 100,0 0,70
≤11 30,43 13,2 - 52,9 96,30 81,0 - 99,9 8,22 0,72
≤12 34,78 16,4 - 57,3 96,30 81,0 - 99,9 9,39 0,68
≤13 39,13 19,7 - 61,5 92,59 75,7 - 99,1 5,28 0,66
≤18 69,57 47,1 - 86,8 92,59 75,7 - 99,1 9,39 0,33
≤19 73,91 51,6 - 89,8 85,19 66,3 - 95,8 4,99 0,31
≤21 73,91 51,6 - 89,8 77,78 57,7 - 91,4 3,33 0,34
≤23 78,26 56,3 - 92,5 77,78 57,7 - 91,4 3,52 0,28
≤24 78,26 56,3 - 92,5 74,07 53,7 - 88,9 3,02 0,29
≤25 82,61 61,2 - 95,0 62,96 42,4 - 80,6 2,23 0,28
≤28 82,61 61,2 - 95,0 44,44 25,5 - 64,7 1,49 0,39
≤29 86,96 66,4 - 97,2 40,74 22,4 - 61,2 1,23 0,32
≤30 91,30 72,0 - 98,9 33,33 16,5 - 54,0 1,00 0,26
entre si, foi realizada uma análise de correlação entre a Bateria de Avaliação Frontal
11). A matriz de correlação está disponível na Tabela 19 (pg. 81). Foi utilizada a
metodologia correlacional de postos de Spearman, uma vez que parte das variáveis não
pesquisados.
correlação baixo.
mencionada correlação com o Stroop, teve fraca correlação inversa com o escore
sendo que entre Escolha-FDT e PQt tem-se resultados negativas, e PQl e Escolha-FDT
resultados positivos (ρ variando entre 0,32 – 0,39). O mesmo ocorre para os erros do
motora, atencional e por (falta de) planejamento. As correlações entre tais facetas e as
significativo foi com o PQl da Hayling. Desse modo, o escore da impulsividade por
planejamento contribui para uma faixa de 7,1 – 16,7% da variabilidade dos resultados
quadros de DFT-vc, ainda que não exclusivamente, podendo ser encontradas também na
DA, em menor grau (Weiner et al., 2005; Hodges, 2006). Sobreposições de outras
alterações comportamentais, como a apatia, também são relatadas (Chow, et al. 2009),
cerebrais conhecidas por estarem envolvidas nessas funções cognitivas (Heflin et al.,
2011; Krueger et al., 2011; Hornberger et al., 2010), mas não há relatos acerca de
significativamente inferior ao DA, o que é esperado, pois esse grupo é caracterizado por
início mais precoce (Ratnavalli et al., 2002), e tal elemento isoladamente não impede
conclusões acerca dos dados, já que o tempo de doença e o MMSE dos grupos não diferem
estatisticamente.
clínico (Controles) dos grupos clínicos: embora esse não seja o elemento
demenciais.
descritivo da capacidade cognitiva dos pacientes. Não foram encontrados relatos de uso
similar da DDT, pelo menos na versão empregada, no contexto brasileiro, o que faz com
que os achados aqui listados sejam lidos com cautela, em virtude da necessidade de
ter cada vez mais conhecimentos úteis e testados em nosso contexto é fundamental.
a tarefa não se provou eficaz em diferenciar os diferentes grupos, o que restringiria sua
tarefa, o que desvelaria uma impulsividade geral, ao passo que os pacientes com DA
apresentaram maior depreciação temporal apenas para escolhas muito distantes no tempo
destacar também que ao contrário da expectativa dos autores, a versão adaptada, e dita
mais ecológica, não diferenciou nenhum dos grupos pesquisados. Além disso, os
posto que aqueles consideraram o percentual de escolhas presentes diante três tempos
futuros: 1 mês, 1 ano e 10 anos. Na versão adotada nesse trabalho (Kirby et al., 1994), há
futura variam.
Ainda que seja lícito indagar se outro critério de correção traria resultados
diferentes daqueles obtidos no nosso trabalho, temos uma impressão de que o achado final
provavelmente se manteria, e a razão disso é o fato de que os dados dos Controles não
são estatisticamente diferentes dos grupos clínicos, e seus escores brutos são maiores que
os dos grupos clínicos, o que em síntese ilustra que os Controles se comportam de maneira
formado um novo grupo Controle, com idosos saudáveis e selecionados de acordo com
originalmente de 11 passou para 44. A razão de tal escolha foi a impressão de que os
fortemente.
Como todos os valores foram multiplicados por 4, tanto os valores que poderiam
ser ganhos “hoje” quanto os “futuros”, não houve alteração do k nessa tarefa, pois as
proporções e o tempo futuro foram mantidos. O objetivo da tarefa adaptada era, portanto,
uma tarefa final com 54 itens, de escolha monetária dual. A aplicação foi realizada nova
(Médias em testes cognitivos e escala de humor: MMSE: 28,0+1,4; FAB: 14,7+2,5; HAD:
7,8+3,4). Um dado interessante é que a renda média dessa nova amostra foi
Os resultados das versões foram comparados entre si, para determinar se haveria
algum padrão de alteração entre as duas modalidades da tarefa. O dado final mostrou que
não há diferença entre a versão original e a adaptada, denotando que o índice k encontrado
Bertoux e cols. (2015), que tiveram sucesso em se valer da tarefa para propósitos
diferenciais.
monetária são aludidas em relação ao passado socioeconômico do país, que são de amplo
que pode ter interferido no padrão de escolha brasileiro, sobretudo em indivíduos idosos,
Essas hipóteses não puderam ser objetivamente testadas, uma vez que elementos
que não houve correlação entre a renda e o comportamento na DDT (em nenhum
verificamos que uma parcela importante dos resultados dos testes executivos do grupo
entre DFT-vc e DA, o que indica que se valer apenas de critérios executivos na
Embora haja interesse pelo tema das Funções Executivas e suas alterações em
teste executivo pode contemplar aspectos diferentes, como, por exemplo, as fluências
O padrão dos testes executivos foi de não ter capacidade diferencial entre DA e
diagnóstica. Nossos achados vão de encontro ao reportado por Hornberger e cols. (2010),
Por outro lado, em estudo mais recente do mesmo grupo (Flanagan et al., 2016) a
estudo, foram analisados dados retrospectivos de 116 pacientes (39 DFT-vc e 77 DA) em
achados mostram que o teste de Hayling difere estatisticamente o grupo controle dos
grupos clínicos, mas não segrega DA de DFT-vc. Apenas de maneira ilustrativa, o falso
Com efeito, no tocante à Hayling, nossos achados se alinham aos desse estudo e
Hayling; o melhor parâmetro da tarefa na curva ROC foi a Pontuação Quantitativa (PQt),
com área sob a curva de 59,6% (IC: 45,0 – 72,9%), percentual insuficiente e que não
de maior atenção para o teste de Hayling. Embora tenha trabalhado com um grupo de
discriminam controle de pacientes, apenas o escore de inibição AB. Com efeito, é preciso
grupos clínicos, por mais que pacientes DFT-vc tenham queixas comportamentais mais
comportamento, pelo menos em nossa amostra. Uma reflexão crítica pode ser que os
FDT), o qual, por sua vez, não se refere às habilidades de controle inibitório. Tal elemento
teve melhor área sob a curva de todas as medidas incluindo as escalas comportamentais
(0,832 – IC 95%: 0,677 a 0,932). O ponto de corte proposto para diagnóstico diferencial
foi de uma diferença de tempo maior que 54, ou seja, em diferenças temporais superiores
a tal escore, há maior chance de se ter um quadro de DA. O índice de Youden é de 0,6283,
entendimento dos casos, desde que combinado com outros instrumentos de avaliação.
a impressão de que, na nossa amostra, a inibição não teve relevância diagnóstica como se
poderia esperar.
Naturalmente, novos estudos são mandatórios, com amostras ampliadas, a fim de verificar
Uma ressalva em relação ao uso do índice Flexibilidade-FDT é que ele não foi
prática neuropsicológica não pode se basear apenas em um ou dois testes, e esse dado é
útil para que se monte uma bateria de avaliação complementar que pese as potencialidades
Cumpre, por fim, notar que ainda que uma parcela grande dos testes executivos
não tenham sido capazes de diferenciar os grupos, outra tarefa neuropsicológica o fez: o
Bateria Cognitiva Breve (BCB). Ainda que já tenhamos debatido acerca das contínuas
evidências de limitação da memória como marcador diferencial entre DFT-vc e DA, esse
componente teve perfis distintos para nossos grupos pesquisados. Esse dado, porém, foi
um elemento clínico que já veio determinado na nossa amostra, pois a amnésia episódica
foi um critério de inclusão para os pacientes com DA. O design deste estudo não permite
testar a acurácia diagnóstica do teste de memória episódica, sob pena de incorrer em erro
tautológico.
Os critérios diagnóstico para DFT-vc envolvem seis eixos, sendo que apenas um
apresentação comportamental pode ser um dos fatores que contribui para que marcadores
Na nossa amostra, embora os dados de controle inibitório não tenham tido sucesso
espontânea esteve alterado entre os grupos, com pior desempenho para o DA, assim como
integradas.
impulsividade, cada qual mensurada por sua respectiva escala (Apatia de Starkstein e
clínicos.
muito maior. Como destacam Le Ber e cols. (2006), queixas comportamentais de inércia,
como a apatia, são relatadas como muito frequentes, em cerca de 50% dos pacientes DFT-
vc (apatia em si em 46%). Ou seja, existe uma outra parcela de pacientes que não
Liu, Miller, Kramer e outros (2004) apresentam dados relativos ao grau de apatia
para distinguir as variantes frontal e temporal da DFT4. Na amostra dos autores, também
frontal foi a que teve maior escore de apatia dentre os grupos. Assim sendo, embora a
presença de apatia possa ser difusa nos quadros neurodegenerativos, sua gradação pode
com área sob a curva de 0,828 (IC 95%: 0,695 a 0,920). Assim como Liu e cols. (2004)
conseguiram distinguir grupos de pacientes por meio dos escores alcançados, na nossa
amostra também foi possível estabelecer uma distinção entre os grupos clínicos em
O ponto de corte proposto para DFT-vc foi resultado maior que 19, com índice de
corte precisa de ajuste, uma vez que a média de apatia da nossa amostra de DA pontuou
adequação, passando o ponto de corte para 23, que tem sensibilidade de 78,3% (IC 95%:
4
Terminologia dos autores.
de corte proposto para diagnóstico positivo de DFT-vc resultado maior que 60, com índice
ponto de corte proposto pelo programa estatístico não é recomendado uma vez que em
nossa amostra a média de apatia em DA foi de 62,9 (DP: 13,5), de modo que se propõe
um ajuste para que o ponto de corte fique em 68, com sensibilidade de 68,2% (IC 95%:
sensibilidade. De toda forma, os índices finais ainda são limitados e a sensibilidade desses
de tais escalas comportamentais é incluir recursos que possam ser usados de maneira
trazem aspectos relativos a acometimento de substância branca e sua relação com quadros
esquerdo se correlacionaram com apatia, ao passo que alterações na corona radiata direita
estão ligadas a outras regiões que não às frontais, ou mesmo estriatais, como já
comportamentais e testes cognitivos, uma vez que alguns testes demandam ativação de
vimos, a alteração patológica pode difusa, e, com efeito, nem sempre os testes cognitivos
que está íntegra e resulte em um dado objetivo de preservação. Todavia, como outra
comportamentais.
Essa hipótese tem respaldo no estudo de Cipolotti e cols. (2016), que evidenciam
que as performances dos testes de Hayling e de Stroop foram comparadas entre si,
percebendo-se que aquele recrutava maior participação do CPF lateral direito (lateral
superior direta e giro medial frontal), ao passo que esse demandava maior ativação das
porções esquerdas do CPF (lateral superior esquerda e giro medial frontal). Vale destacar
que ambas as tarefas são verbais. Os autores, portanto, trazem evidências de lateralização
neuropsicológicos executivos foram de fraca a moderada, o que indica que são medidas
co-relacionadas, mas que mensuram aspectos diferentes, o que nos faz retomar a literatura
que demonstra tanto uma baixa associação neuroanatômica entre medidas cognitivas e
Duas das medidas utilizadas não tiveram nenhuma correlação significativa, a DDT
monetária intertemporal não possui vínculo com nenhum processo executivo clássico.
Futuramente, pode ser oportuno conduzir análises com outros dados mais recentes, como
por exemplo a Cognição Sócio Emocional (CSE), com uma hipótese de que tal
que se entende que ela abrange diversos aspectos executivos, como é de se esperar.
sentido inverso, mostrando que esse aspecto possui vinculação com demais mensurações
de controle inibitório, mas também de maneira fraca, possivelmente por não contemplar
elementos de Flexibilidade do FDT. Esses achados são interessantes pois indicam que a
(Heflin et al., 2011). Em seu clássico informe, o próprio John Stroop (1935) emprega o
termo “interferência” para classificar sua tarefa, e admoesta o fato de que os termos
O item Inibição do FDT teve correlações fracas com a FAB. Além do Stroop,
de controle inibitório, sua correlação de força moderada foi com o índice de Flexibilidade
brasileira (Sedó et al., 2015) reportam correlações positivas entre os tempos do teste de
Stroop e o FDT, mas indicam maior especificidade do FDT com o padrão de erros no
Stroop. Tais parâmetros também foram encontrados em nossa amostra, porém, de maneira
interessante, o padrão de correlação com significância e grau moderado (ρ= +0,59, a nível
de 0,01) foram entre diversos parâmetros da tarefa de Stroop com itens de Alternância e
Flexibilidade do FDT, reforçando o aspecto de que o controle inibitório pode não ser o
elemento mais central daquela clássica tarefa. Ademais, a análise fatorial apresentada
pelos autores na versão brasileira do FDT mostra três grandes fatores no teste: medidas
2015), não se localizando, nesses fatores, indicação explícita aos elementos de controle
nível de 0,01).
grande correlação entre si (ρ = -0,91, nível de 0,01), sugerindo que mensuram um único
fator. As correlações entre PQt e PQl com a etapa Escolha-FDT se mostram fracas, sendo
que entre Escolha-FDT e PQt as associações são negativas, e PQl e Escolha-FDT tem
interações positivas (ρ variando entre 0,32 – 0,39). O mesmo ocorre para os erros do
Stroop-Incongruência, com interações inversas entre PQt e PQl. Essa inversão é esperada,
já que quanto maior o erro ponderado, pior o desempenho, e quanto menor o acerto
encontradas entre os erros na etapa Alternância com PQt e PQl (ρ = -0,59 e +0,54,
os grupos clínicos, como discutido anteriormente, não houve correlação com nenhuma
ainda que estatisticamente significativas. Esses achados sugerem que a BIS-11 capta um
compreendido pelos testes neuropsicológicos. Além disso, a correlação, ainda que fraca,
oscila de 6,7% - 14,7%, o que é percentual modesto de influência nos achados, mais um
FAB e com o tempo de Escolha-FDT, ambos em grau muito fraco, mas significativo (ρ =
-0,27, p<0,05).
a nível de 0,05). Uma correlação ainda fraca, mas um pouco mais significativa, é
modo, o escore da impulsividade por planejamento contribui para uma faixa de 7,1 –
Em nossa amostra, a DDT não tem correlação significativa com a BIS-11, o que
É preciso reconhecer que esse é um estudo pequeno, que incluiu em seu desenho
para o acompanhante.
mencionado, posto que existe uma chance de erro associada ao diagnóstico, que por seu
Social, elementos que vem mostrando validade no diagnóstico diferencial (Souza, et al.,
submeteram a investigação por neuroimagem, o que também limita (embora não exclua)
cognição. Nosso estudo mostra que nem sempre há integração desses elementos e que
neurodegenerativas.
ocasionou toda uma épica história que persistiu o suficiente para alcançar nossos dias
A poética que nos embalou, desde o início desse trabalho, persistiu diante de nós
nas jornadas particulares de cada participante que partilhou conosco um pouco de si.
DFT-vc de DA. Esse resultado também ocorre nas avaliações cognitivas específicas de
hipótese de que os pacientes DFT-vc teriam maiores déficits nessas funções por
controle inibitório não possuem capacidade diagnóstica diferencial entre DFT-vc e DA.
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5
O número de erros no grupo Controle foram os mesmos, de maneira que não há distribuição, e, a fortiori,
não há como calcular a distribuição.
Estatísticas descritivas
N Mínimo Máximo Média Desvio Padrão
Idade 21 56 87 71,52 6,794
Escolaridade 21 4 30 12,43 5,996
MEEM_total 21 24 30 28,00 1,449
FAB_total 21 9 18 14,71 2,533
reg_k_general 0,005404436 0,250000000 0,07604106266 0,08527408891
21
0 0 7 31
adap_k_general 0,002888690 0,250000000 0,06820037800 0,08476556552
21
0 0 0 11
HAD_total 21 2 13 7,76 3,404
BIS_total 21 45 77 55,57 8,310
N válido (de
21
lista)
Sexo
Porcentagem Porcentagem
Frequência Porcentagem
válida acumulativa
Masculin
3 14,3 14,3 14,3
o
Válido
Feminino 18 85,7 85,7 100,0
Total 21 100,0 100,0
Estatísticas de testea
TMF MEm. TMF
TMF TMF Incid. TMF Mem. Imed TMF Aprend.
Incidental Intrusões Imediata Intrusões Aprendizado Intrusões
U de Mann-
305,500 290,500 301,500 333,000 235,500 285,000
Whitney
Wilcoxon W 630,500 668,500 626,500 711,000 560,500 663,000
Z -,598 -1,087 -,671 -,132 -1,895 -1,532
Significância Sig.
,550 ,277 ,502 ,895 ,058 ,125
(2 extremidades)
a. Variável de Agrupamento: Diagnostic