Discursos e Relações Dialógicas em Noragami

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL

INSTITUTO DE LETRAS - DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS

Teoria do Texto
Profa. Dra. Alessandra Jacqueline Vieira

Discursos e relações dialógicas em Noragami

Acadêmica: Marina Carvalho Dummer

Porto Alegre, 2019

Resumo:
O presente trabalho se propõe a analisar as relações dialógicas e os discursos contidos
dentro do mangá Noragami, da dupla de autoras Adachitoka. Com base em ideias de Mikhail
Bakthin (1997) e da escola francesa de Análise do Discurso (AD), a intenção é mostrar como textos
canônicos da cultura japonesa, tais como o Kojiki, estão inseridos na narrativa. Em um segundo
momento, o foco de análise do trabalho é a comparação entre o texto original japonês e a tradução
brasileira da página 6 das duas edições do mangá, e o questionamento de escolha tradutória para o
português brasileiro baseado em conceitos bakthinianos.

DISCURSOS E RELAÇÕES DIALÓGICAS EM NORAGAMI


INTRODUÇÃO
NORAGAMI é um mangá (história em quadrinhos japonesa) que começou a ser serializado
no Japão em 2010, e é publicado até hoje. O gênero deste mangá é conhecido como shonen, um
gênero voltado principalmente para o público masculino, e é publicado na Monthly Shonen
Magazine Comics. Pouco se sabe sobre as autoras além do fato de que são uma dupla de
ilustradoras chamada Adachitoka. Elas possuem apena um outro mangá chamado ALIVE: the final
evolution, publicado na mesma revista de Noragami, e elas ficavam responsáveis exclusivamente
pelas ilustrações desse mangá. Noragami é o primeiro trabalho feito integralmente por Adachitoka.
Noragami (que como tradução seria algo próximo de ‘deus vira-lata’) tem sua história em
torno de um deus chamado Yato. Porém, mesmo que o protagonista seja um deus criado
exclusivamente para a narrativa, ele está inserido em um contexto guiado por uma parte
importantíssima da cultura japonesa. Na história são mencionados diversos outros deuses,
principalmente deuses que vêm do Xintoísmo (religião oficial do Japão) e do Budismo (religião
advinda da China). Para compreender um melhor o que significam esses conceitos, é necessário
falar mais sobre as origens do Xintoísmo e do Kojiki, livro que serviu para consolidá-lo.
O Kojiki é um livro mitológico compilado durante a dinastia Genmei (661-721 d.C.) junto
com outro livro denominado Nihonshoki, e se apresenta como o relato da criação do Japão. O
Nihonshoki é mais aberto à influência chinesa, já o Kojiki tenta se prender a tradições japonesas
que estavam desaparecendo e precisavam ser reforçadas. O livro milenar começa na chamada Era
do Deuses, a qual narra o surgimento das primeiras divindades, terminando com a criação do
arquipélago e com o nascimento do primeiro imperador lendário do Japão, Jimnu. Ele é união de
elementos considerados místicos e históricos, de tempos míticos até o surgimento dos primeiros
imperadores. Esse livro foi utilizado principalmente para consolidar o poder do povo Yamato sobre
os outros povos que habitavam o Japão. Segundo o glossário da edição brasileira do mangá
Noragami, até o fim do período Edo (1603-1868), o budismo e o xintoísmo eram fortemente
ligados por uma prática que permitia que templos budistas e sanutários xintoístas dividissem o
mesmo espaço, pois os budas eram consideradas manifestações divinas, assim como os kami
(denominação para os deuses japoneses). Durante a restauração Meiji (1868) as religiões se
separaram por ordem do governo, que queria consolidar o xintoísmo como religião oficial do
Japão.
Desta forma, o Kojiki foi fortemente difundido nessa época. A primeira parte do livro
começa com o nascimento de três divindades (kami) no Takamagahara (“Campos Alticelestes”) e
com a narração das gerações divinas, sendo os mais famosos os deuses Izanagi (homem) e Izanami
(mulher, que também aparece na narrativa de Noragami). Além disso, há mais tarde a história da
deusa Amaterasu, uma das mais famosas e adoradas deusas do Xintô, ela representa a luz e o dia.
No Kojiki os kami fundadores Izanami e Izanagi, par de divindades da sétima geração, são
escolhidos para dar forma ao mundo. É a partir dessa lenda que, supostamente, todas as divindades
do xintoísmo se originam. Os registros do Kojiki não eram de tanta importância ao povo Japonês
até o século VI, época na qual surgiu a necessidade de separar o que era a cultura japonesa da
chinesa. Mais tarde, no século XVI, os japoneses quiseram separar o xintoísmo do budismo para
consolidar a supremacia da cultura Yamato. Esse discurso foi usado outras vezes durante a história,
inclusive na Segunda Guerra Mundial.
Estes registros que fazem parte do cânon ecoam pela história de Noragami, e a
heterogeneidade presente é constitutiva, em momento nenhum o mangá menciona diretamente os
registros do Kojiki. Esse tipo de heterogeneidade é aquela que não aparece marcada
linguisticamente no fio do discurso, o outro não aparece de forma explícita como dizem Mesquita
e Rosa (2010), gerando um interdiscurso segundo os conceitos de Maingueneau (1997). Essa
construção é muito óbvia para o contexto onde o mangá é publicado, a origem da história para os
leitores japoneses é facilmente assimilada por eles, o que não acontece com um leitor brasileiro
que não tem conhecimento sobre o peso cultural das personagens e da narrativa.
Além disso, farei ainda a análise das escolhas dos tradutores em relação à palavras criadas
no japonês a partir do inglês. As principais teorias usadas nesta parte serão as baseadas nas ideias
de Bakthin (1997) em relação ao discurso e sua relação com o interlocutor, no caso dos mangás,
com o leitor.
“[...] um trabalho de pesquisa acerca de um material linguístico concreto
[...] lida inevitavelmente com enunciados concretos (escritos e orais), que
se relacionam com as diferentes esferas da atividade e da comunicação [...]
Ignorar a natureza do enunciado e as particularidades de gênero que
assinalam a variedade do discurso em qualquer área do estudo linguístico
leva ao formalismo e à abstração, desvirtua a historicidade do estudo,
enfraquece o vínculo existente entre a vida e a língua. A língua penetra na
vida através dos enunciados concretos que a realizam, e é também através
dos enunciados concretos que a vida penetra na língua”. (BAKHTIN,
Mikhail. Os gêneros do discurso. 1997 p.282)
Abaixo, encontra-se um esquema elaborado por mim afim de mostrar superficialmente
quantas relações existem dentro da narrativa de Noragami, tanto com textos consolidados quanto
com heterogeneidades constitutivas e não mostradas dentro da sociedade japonesa atual.

Em vermelho estão destacados o título e os principais eixos que encaminham a história.

OS PERSONAGENS DE NORAGAMI, POLIFONIA E INTERDISCURSO


Noragami começou a ser publicado em 2010 e a história do mangá se desenvolve no
contemporâneo, onde já há uso de smartphones e notebooks. O deus Yato, protagonista da trama,
tenta conseguir seguidores atendendo pedidos dos que precisam, e para isso espalha seu número
de celular pela cidade. Desta forma, apenas aqueles que precisam de ajuda conseguem enxergar
seu número, e buscam Yato para resolver diversos tipos de problemas. Yato faz uso de uma shinki,
que na história representa a arma sagrada usada pelos deuses para enfrentar o que esteja
perturbando o mundo humano. Normalmente os responsáveis pelo desequilíbrio na terra são as
ayakashis, chamados de fantasmas ou almas corrompidas que acabam por virar espíritos malignos
em Noragami. Além do personagem principal, temos dois outros personagens que estão sempre ao
lado do protagonista: a humana Hyori, e a alma transformada em shinki, Yukine. Hyori é uma
colegial de 16 anos presa entre os dois mundos após ser atropelada por um ônibus para tentar salvar
Yato. Yukine é a alma de um menino de 12 anos que foi encontrado por Yato e foi transformado
em shinki. Estes são os personagens de maior foco na história, e assim como Yato, eles não são
diretamente ligados à história canônica do Xintô ou do Budismo, mas ainda assim são os
personagens mais explorados.
Há ainda personagens que estão presentes em ambos o cânon e o mangá. Alguns que
aparecem nos volumes iniciais da história merecem destaque em especial: Bishamon e Ebisu.
Bishamon faz parte do segundo núcleo de personagens com maior destaque dentro do
mangá. A personagem é inspirada em Bishamonten, tradicional deus da guerra japonês, mas com
origem hinduísta. No mangá Bishamon é representado como uma mulher, e possui diversas
shinkis, sendo a mais antiga delas o jovem Kazuma. Kazuma não tem ligação com textos religiosos
canônicos tal como tem Bishamon, mas a relação entre ele e sua deusa é importante para entender
escolhas e dialogismos dentro da história de Adachitoka.
Há ainda o deus Ebisu, que tem grande importância no primeiro arco da narrativa de
Noragami. O personagem tem origem na cultura xintoísta, e é considerado um dos sete deuses da
fortuna segundo o culto popular do japão. No mangá, ele é associado ao primogênito da deusa
Izanami, Hiruko. Segundo o Kojiki, Hiruko foi um filho que nasceu da primeira relação entre os
deuses Izanami e Izanagi, e como ao invés do homem falar primeiro no começo do ritual para gerar
filhos, Hiruko nasceu “deformado” como um castigo. Depois disso, foi jogado ao mar e não se
soube mais dele. Porém, o deus dos pescadores, Ebisu, não é associado a esta história canon
japonês. Foi uma escolha das autoras unir ambos os mitos para criar uma nova narrativa. Essa
mesma narrativa é centrada em um personagem do mangá sobre o qual há dúvidas em relação a
suas intenções, as quais acabam por ser explicadas mais tarde, sem torná-lo um simples vilão.
A polifonia dentro da história ocorre tanto no uso da cultura xintoísta para sua existência,
como no uso de outras lendas que são ressignificadas dentro de Noragami. Ayakashis são, segundo
o glossário da tradução brasileira do mangá, um termo genérico para entidades sobrenaturais, mas
no mangá o termo é usado principalmente para almas humanas corrompidas por sentimentos ruins,
que acabam por atormentar o mundo dos vivos. Na história e papel dos deuses lidar com esse tipo
de entidade toda vez que ela atrapalha o mundo dos humanos. Além disso, enquanto no cânon as
histórias de Hiruko e de Ebisu não se cruzam, as autoras decidem usar os dois discursos a fim de
criar um discurso “novo”.

A REPRESENTAÇÃO DE BISHAMONTEN EM NORAGAMI


A representação que mais se destaca dentro da narrativa do mangá é a do deus da guerra,
Bishamonten. Segundo o glossário, essa é a denominação japonesa para Vaisravana, o chefe dos
Guardiões das Direções na mitologia budista. No Japão, Bishamonten é tido como um dos Sete
Deuses da Fortuna, sendo um deus da guerra e punidor dos malfeitores.
Tradicionalmente representado como uma figura de características físicas masculinas, a
Bishamonten no mangá é representada como uma poderosa deusa, como uma mulher guerreira.
Mas há um detalhe importante a ser ressaltado em relação a como chamam a personagem, pois no
mangá, a shinki (arma sagrada) mais antiga e mais fiel de Bishamonten a chama de Vina, e essa é
uma abreviação de Vaisravana. Essa é uma heterogeneidade que podemos considerar mostrada,
principalmente pelo uso do nome de um deus advindo de outra cultura, admitindo sua verdadeira
identidade e não excluindo as suas origens.
Mais interessante ainda fica a escolha das autoras Adachitoka quando descobre-se que na
visão tradicional Bishamonten tem uma esposa chamada Kichijouten. Uma leitura alternativa
dessa escolha é o desejo das autoras de remeterem às antigas onna-bugeisha, mais conhecidas
como mulheres samurai, relação que só é possível caso se tenha esse conhecimento sobre a cultura
japonesa e sua história.

A TRADUÇÃO BRASILEIRA VERSUS O ORIGINAL JAPONÊS


Ao comparar duas edições do mangá, uma tradução brasileira e outra original japonesa, há
duas interessantes observações em relação à edições. Para isto, irei trazer uma citação de Bakthin
(1997).
“Enquanto falo, sempre levo em conta o fundo aperceptivo sobre o qual
minha fala será recebida pelo destinatário: o grau de informação que ele
tem da situação, seus conhecimentos especializados na área de
determinada comunicação cultural, suas opiniões e suas convicções, seus
preconceitos (de meu ponto de vista), suas simpatias e antipatias, etc.; pois
é isso que condicionará sua compreensão responsiva de meu enunciado.
Esses fatores determinarão a escolha do gênero do enunciado, a escolha
dos procedimentos composicionais e, por fim, a escolha dos
recursoslingüísticos, ou seja, o estilo do meu enunciado" (BAKHTIN,
Mikhail. Os gêneros do discurso. 1997 p.321)
Essa reflexão é importante principalmente quando nos deparamos com um glossário de 4
páginas na edição brasileira, enquanto não há necessidade de tal adição no original japonês. Para
os tradutores foi de imensa importância e necessidade deixar claro aos leitores a origem de termos
e nomes, já que esses elementos são carregados de significado cultural. As escolhas de tradução
incluíram principalmente deixar os honoríficos usados no japonês (-kun, -chan, -san, usados
principalmente com nomes próprios para fazer uma diferenciação de hierarquia no discurso), e
conceitos que podem ser considerados específicos da cultura japonesa como ayakashi e shinki.
Todas essas escolhas provavelmente tiveram em vista a intenção de introduzir a cultura japonesa
ao leitor brasileiro, além de que a adição de notas de rodapé constantes poderiam prejudicar a
experiência de leitura.
Além disso, há ainda uma curiosa escolha de tradução no começo do mangá. Na versão
brasileira, ao se apresentar para uma pessoa que o chamou (e também, ao se apresentar no mangá
pela primeira vez), o protagonista diz “Muito prazer! Eu sou Yato, o seu delivery god!”. O fato
de um termo em inglês estar presente logo nas primeiras páginas causa curiosidade. Ao comparar
com a tradução japonesa, vemos que a parte escrita em inglês na tradução tem origem no uso de
um dos alfabetos japoneses usados para escrever palavras estrangeiras (katakana). Em japonês é

possível ler デリバリーゴッド (Deribarii goddo), o que remete claramente ao vocabulário vindo do

inglês. A questão é, então, por que o tradutor brasileiro manteria a palavra em outra língua?
Noragami (c) Adachitoka - versão brasileira e versão japonesa (todos os direitos reservados)

Aqui novamente citamos Bakthin:

“2.7.4. "Quando escolhemos uma palavra, durante o processo de


elaboração de um enunciado, nem sempre a tiramos [...] do sistema da
língua, da neutralidade lexicográfica. Costumamos tirá-la de outros*
enunciados, e, acima de tudo, de enunciados que são aparentados ao nosso
pelo gênero, isto é, pelo tema, composição e estilo: selecionamos as
palavras segundo as especificidades de um gênero. O gênero do discurso
não é uma forma da língua, mas uma forma do enunciado que, como tal,
recebe do gênero uma expressividade determinada, típica, própria do
gênero dado. [...] O que se ouve soar na palavra é o eco do gênero em sua
totalidade" (BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. 1997 p.311-2).

É importante refletir sobre essa escolha tanto na língua japonesa quanto na tradução. O
japonês usa um conjunto de três alfabetos para escrever, os kanji, o hiragana e o katakana. O
katakana é um alfabeto antigo japonês, mas que depois da Segunda Guerra Mundial passou a ser
usado para escrever palavras estrangeiras, principalmente as palavras advindas dos Estados
Unidos, país que dominou o Japão após o fim da Guerra. Mesmo que o uso do katakana
completamente inserido dentro da língua japonesa, quando as palavras são escritas com este
alfabeto existe uma motivação. É provável que o tradutor brasileiro tenha escolhido deixar o termo
em inglês para que causasse um estranhamento parecido com o causado no japonês. Mesmo que
as palavras deribarii goddo façam parte do léxico, elas não foram escolhidas ao acaso e ainda
assim se destacam. Elas representam uma forma nova de se referir a um deus que atende chamados,
remetendo à modernidade (delivery), esse termo é de extrema importância na narrativa, e
provavelmente por isso recebe destaque tanto na versão original quanto na tradução para o
português brasileiro.

Além disso, é importante também focar no público leitor desse mangá, a maioria jovens
japoneses de 14 anos para cima na versão original.

"O índice substancial (constitutivo) do enunciado é o fato de dirigir-se a


alguém, de estar voltado para o destinatário. [...] * Essas formas e
concepções do destinatário se determinam pela área da atividade humana
e da vida cotidiana a que se reporta um dado enunciado. A quem se dirige
o enunciado? Como o locutor (ou o escritor) percebe e imagina seu
destinatário? Qual é a força da influência deste sobre o enunciado? É disso
que depende a composição, e sobretudo o estilo, do enunciado. Cada um
dos gêneros do discurso, em cada uma das áreas da comunicação verbal,
tem sua concepção padrão do destinatário que o determina como gênero"
(BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. 1997 p.320-1).

E esse fator interfere muito no tipo de linguagem que será usado, e esse é um provável fator
por trás do uso de um alfabeto diferente (katakana) que tem origem em uma língua diferente
(inglês), pois essa publicação tem como alvo um público jovem que está provavelmente
procurando algo novo dentro do contexto cultural do japão. O leitor novo provavelmente também
exigirá um conceito novo.
“[...] * Os enunciados e o tipo a que pertencem, ou seja, os gêneros do
discurso, são as correias de transmissão que levam da história da
sociedade à história da língua. Nenhum fenômeno novo (fonético, lexical,
gramatical) pode entrar no sistema da língua sem ter sido longamente
testado e ter passado pelo acabamento do estilo-gênero" (BAKHTIN,
Mikhail. Os gêneros do discurso. 1997 p.283-5).

Yato é “novo” dentro do discurso no qual está inserido, o conceito de deus que ele
representa é novo para a própria cultura japonesa, e por consequência o termo que se refere a ele
é escrito em outro alfabeto já pertencente à língua japonesa. Na versão brasileira há o
estranhamento, mesmo com certa proximidade com a língua inglesa no Brasil a escolha tradutória
para alguém que não conhece muito da língua japonesa pode parecer duvidosa. Porém, quando se
entende o contexto do uso de algo escrito em katakana, o tradutor vê que aquele termo possui valor
dentro da narrativa, e considera que ele não poderia simplesmente ser traduzido como “deus à
domicílio”, tal como coloca no glossário na edição brasileira.
Por fim, ao analisar esse trabalho é possível corroborar as palavras de Bakthin quando ele
afirma que ao ignorar a origem e as particularidades do enunciado e do gênero, tornamos o nível
de análise superficial e o esvaziamos de significado. Há certas relações dialógicas e de
heterogeneidades constitutivas que apenas uma observação mais minuciosa do enunciado pode
trazer à tona.

REFERÊNCIAS:
ADACHITOKA. Noragami. Tradução Panini Brasil Ltda. Bimestral. Tamboré/SP: Panini, 2016-.
16 de 17 v.
ASHKENAZI, Michael. Handbook of Japanese Mythology. Santa Bárbara, Califórnia: ABC-
CLIO Inc., 2003.
CARTWRIGHT, Mark. Kojiki. Ancient History Encyclopedia, 12 maio 2017. Disponível em:
<https://www.ancient.eu/Kojiki/>. Acesso em: 7 nov. 2018.
CUNHA, Andrei; SHIMON, Meiko. História da Literatura Clássica Japonesa, Parte I. Brasil
Nikkei Bungaku, São Paulo, n. 45, p. 35-44, nov. 2013.
ROBERTS, Jeremy. Japanese Mythology: A to Z. 2. ed. Nova Iorque: Chelsea House Publishers,
2009. (A to Z Collection).
WILKINSON, Philip. O livro ilustrado da mitologia: lendas e histórias fabulosas sobre grandes
heróis e deuses do mundo inteiro. São Paulo: PubliFolha, 2005.
BAKHTIN, Mikhail. Os gêneros do discurso. In: Estética da criação verbal. 2ª Ed. São Paulo:
Martins Fontes, 1997.
PEREIRA COELHO DE MESQUITA, Diana. FERREIRA ROSA, Ismael. As heterogeneidades
enunciativas com aporte teórico metodológico para a Análise do Discurso de linha francesa.
Veredas - Análise do Discurso. Juíz de Fora, 2010.

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