Projeto de Pesquisa - Marina Gazza Rodrigues Jorge

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 14

MARINA GAZZA RODRIGUES JORGE

Metodologia da Pesquisa em Arte


Prof. Bárbara Cristina de Campos Almeida Passeau

ANIMES E MANGÁS: ARTE QUE SE TORNOU VETOR PARA O


CONHECIMENTO DA CULTURA JAPONESA NO BRASIL

BAURU/SP

OUTUBRO/2021
Resumo

Os animes e mangás fazem parte da infância de milhares de brasileiros. Animes como


Sailor Moon e Cavaleiros do Zodíaco (Figuras 01 e 02) estiveram presentes em canais de
alta audiência e em horários especiais para crianças e adolescentes, fazendo com que a
maioria dos espectadores infantis continuassem interessados nas mídias japonesas mesmo
quando adultos.
Atualmente, os quadrinhos e animações japonesas fazem maior sucesso, garantindo
streamings próprios, como é o caso da Crunchyroll e editoras com vertentes especializadas
em mangás, como a JBC. Esses fatores facilitadores para o contato de crianças, adolescentes
e adultos estão criando um novo interesse pela cultura japonesa, abrangendo a arte, culinária
e língua falada no Japão. Além disso, eventos como Comic Cons, Anime Friends e Sana Fest
reúnem otakus de todo o Brasil para a realização de cosplays, troca de experiências e
atividades relacionadas ao mundo geek de maneira geral.
O interesse pela cultura japonesa tem sido tanto que surgiram não apenas streamings e
editoras especializadas, mas também um número crescente de pessoas buscam pelas aulas de
japonês, procuram por restaurantes que apresentem e ofereçam a culinária vista em animes e
se interessam em aprender simbolismos e significados presentes na literatura japonesa. Além
dos citados acima, ocorreu também a criação de um programa de rádio realizado por alunos
da Universidade Federal de Uberlândia, sobre otakus e seus temas de interesse.

O programa temático “Universo Otaku” foi produzido não só para


as pessoas que são fãs da cultura japonesa, mas também para apresentar as
características deste universo para o público em geral. Isto se justifica pela
raridade de produtos ou programas midiáticos que abordem o tema, de
forma a apresentá-lo para quem não conhece ou para aprofundar os
conceitos de quem faz parte desse meio. (BORGES et al, 2013, Universo
Otaku: uma história milenar pelos olhos da cultura jovem, p. 02).

Ao trazer essas reflexões, o trabalho terá como base a análise de fatores e dados que
mostrarão a influência da cultura japonesa na atualidade dos jovens brasileiros, traçando
elementos históricos, culturais e artísticos.
Introdução

A cultura está diretamente ligada às percepções de uma população. Segundo


Malinowski (apud CUNHA, 2011) a cultura é um conjunto de práticas e costumes que são
realizados em determinado espaço e tempo, variando de acordo com a localidade e crenças de
cada região. Esses nuances podem abranger rituais, vestimentas, comidas e principalmente a
arte.
É impossível desvincular cultura e arte. Entendemos por arte qualquer
manifestação que envolva criatividade e tenha fundamentação para entreter ou não o público,
podendo abranger pintura, escultura, música, atuação e literatura. Segundo Weitz (1956, p.2)
“a arte, tal como a lógica do conceito mostra, não tem nenhum conjunto de propriedades
necessárias e suficientes; logo, uma teoria acerca dela é logicamente impossível e não apenas
factualmente impossível”, portanto, definir arte se torna quase impossível se considerarmos
as diferentes formas de expressão e o resultado da mistura dos exemplos dados acima.
Dentre as diferentes formas de expressão da arte, o mangá foi uma das
manifestações que mais se alteraram ao longo do tempo (Figura 3).

“Em 1814 nasce o termo mangá por intermédio do artista Katsushita


Hokusai, extremamente notório no Ocidente por suas gravuras ukiyo-e.”
(CORRÊA e GOMES, 2012, O MANGÁ NO BRASIL E SUA LINGUAGEM,
p. 499).

O que se conhece como mangá nos dias de hoje é um pouco diferente das
primeiras histórias japonesas, as quais eram feitas em formato de rolo de pergaminho e
pintadas à mão, conhecidas como Ê-Makimono (Figura 4).

Ê-Makimonos são considerados a origem das histórias em


quadrinhos no japão. Muito abundantes nos séculos XI e XII, os
Ê-MAKIMONOS eram desenhos pintados sobre um grande rolo e contavam
uma história, cujos temas iam aparecendo gradativamente à medida que ia
sendo desenrolado. Dessa maneira, era construída, com estilo original, uma
história composta de numerosos desenhos. (LUYTEN, 2012, Mangá, O
Poder dos Quadrinhos Japoneses, p. 77).
Com o advento das inovações tecnológicas dentre os séculos XIX e XX, essas
histórias começaram a ser montadas em formato de charge e continham certo teor político,
passando na mesma época para uma série de quadrinhos sequenciados que apresentavam com
frequência os mesmos personagens (Rakuten Kitazawa, 1876 - 1955) (Figura 5). Foi também
nesse período que os quadrinhos ficaram conhecidos como mangá e se disseminaram pelo
Japão e país afora.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, o Japão


necessitava, mais que nunca, de entretenimento e distração cultural para
apagar os resultados do conflito. A partir disso, os mangás tomaram a
dianteira e se difundiram em grande escala. Exatamente em 1947, surge a
Manga Shonen, primeira publicação mensal composta de mangás, que abriu
caminho para toda uma geração movida pelas histórias em quadrinhos
japonesas, em detrimento das HQs norte-americanas. (BORGES et al, 2013,
Universo Otaku: uma história milenar pelos olhos da cultura jovem, p. 01).

Hoje cerca de 33% da população Japonesa se familiariza com mangás, e aqui no


Brasil, o cenário não é tão diferente. Segundo Corrêa e Gomes (2012), o próprio cartunista
Maurício de Souza, criador da Turma da Mônica (Figura 6), se rendeu ao estilo mangá para
agradar ao crescente público brasileiro que busca esse tipo de arte. A construção de histórias
brasileiras nesse estilo possibilita que esse material seja trabalho dentro de uma sala de aula
na abordagem de um tema transversal e/ou interdisciplinar.
A procura e o interesse por esse tipo de arte foi tanta que a população japonesa se
viu na necessidade de assumir uma identidade própria. Cria-se então o termo otaku. Essa
palavra de origem japonesa é utilizada para se referir a quem se interessa por animes e
mangás (SAITO, 2012). No Brasil, o termo tem ganhado força, visto que cada vez mais
brasileiros vem consumindo as produções originalmente vindas do Japão em meados de
1900, junto com os primeiros imigrantes japoneses.

O termo “otaku” foi citado pela primeira vez pelo jornalista japonês
Nakamori Akio (em 1983) em um artigo escrito para a revista Buricco
(SAITO, 2012a, p. 15). É uma palavra de difícil tradução,
aproximando-se de certo modo ao termo americano nerd, embora nem
mesmo essa semelhança consiga dar conta da explicação ao fenômeno,
que é considerado tipicamente japonês (BARRAL, 2000). (SAITO, 2012,
CULTURA POP JAPONESA E AS NOVAS REFERÊNCIAS MIDIÁTICAS:
O FENÔMENO OTAKU E HIKIKOMORI, p. 04)

Diante desse cenário, onde mangás e animes ganham cada vez mais relevância
junto a população jovem/adulta brasileira, novas pesquisas no ramo da cultura que envolvam
essas manifestações artísticas se mostram necessárias. Sendo assim, esse projeto busca
investigar como essa demonstração artística possibilita o conhecimento da cultura japonesa
no Brasil.

Objetivo

A pesquisa tem como objetivo principal, partindo de um levantamento


bibliográfico, de imagens e de eventos mostrar o quanto uma literatura considerada “infantil”
para leigos pode influenciar no enriquecimento intelectual das pessoas a partir da transmissão
da cultura nipônica pelos animes e mangás.
Além disso, será realizado um agrupamento de textos e artigos que dissertem
sobre a influência da arte japonesa no Brasil, qual o nível de popularidade, como os temas são
abordados, quais os gêneros que fazem mais sucesso e os principais temas de interesse após o
consumo dessa arte literária.
Através desta pesquisa, pretendo agrupar fatos e informações que mostrem o
mangá como uma nova forma de aprendizado, que poderá ser explorada das mais diversas
maneiras possíveis.

Justificativa

Os animes e mangás têm sido a minha principal maneira de distração, chamando


minha atenção principalmente pela estética das ilustrações e pela combinação de vários
assuntos profundos com as expressões super emotivas dos personagens (Figura 7).
O aumento do consumo de mídias vindas do Japão, trazidas pela Netflix e outras
plataformas de streaming, além de editoras como a JBC e Panini traduzindo e imprimindo
lotes de mangás me fez pensar no quanto a cultura presente nesses veículos artísticos está
adentrando no país e despertando a curiosidade de crianças - e adultos - sobre o Japão. Nesse
repertório, me refiro principalmente à língua, comidas e estilos/técnicas de desenho (sendo
esse último o meu maior interesse).

Pelos mangás, os mangakás (autores) retratam muitas vezes suas


vivências no Japão através dos personagens de suas obras. O que mais se
destacam em que as pessoas têm tido curiosidade são por exemplo a
Culinária. Hoje no Brasil é mais popularizado o Sushi e o Lâmen, porém os
personagens comem uma infinidade de comidas durantes as histórias e
muitas vezes isso atiça a curiosidade.
Outro ponto é o vestuário. Cada vez mais pessoas têm aderido a
diversas modas e costumes de vestimenta dos Japoneses, ou até mesmo no
formato de roupas Cosplays representando os personagens dos mangás que
lêem. E claro, a ambientação dos mangás que se passam no Japão, com as
icônicas árvores de Sakura. Há muitos casos de leitores de mangás que se
interessam por visitar o país ou até mesmo começar aulas de Japonês
(informação verbal)¹.

Os mangás e animes não estão presentes apenas em formas de animação e quadrinhos,


mas também no trabalho de tatuadores especializados (Lilian Sekimoto @lili_tattooer; Lua
Hermanni @luahermanni; Phanny @phanny_tattoo), cursos criados para aprender a desenhar
mangá (Curso de personagens de mangá, por Andrea Jen e Desenho de personagens de
mangá do zero, por EUDETENIS, ambos disponíveis na plataforma online de cursos
DOMESTIKA®) e em diversos canais no YouTube que realizam o ensino da língua japonesa
com o uso de mangás e animes.
Além disso, têm sido de meu interesse pessoal aprender mais sobre o Japão pela
quantidade de conteúdo que consumo, tendo estudado também algumas técnicas de desenho
que pretendo utilizar em maior quantidade em meus trabalhos.

____________________________________________
¹Informação fornecida pela lojista especializada em mangás Amanda B. Leal Nunes, dona e
proprietária da loja Amora Book Store, localizada em Joinville, SC, em 08 de outubro de 2021.
Buscar entender como o interesse pela cultura do Japão cresceu por conta de mangás e
animes também ajudará a entender os efeitos positivos que o contato com essa arte
estrangeira têm gerado no Brasil.

Fundamentação teórica

A princípio, será traçada uma linha do tempo que abrangerá toda a história do
mangá, sua disseminação por outros países, sua chegada ao Brasil e as mudanças que
ocorreram a partir de outras influências culturais. Para isso, utilizarei como base trabalhos de
conclusão de curso fornecidos pelo repositório da UNESP que são focados em em quadrinhos
japoneses, além do livro de Sonia Bide Luyten “Mangá, o poder dos quadrinhos japoneses” e
um artigo do professor Flávio Mário de Alcântara Calanzas, que disserta sobre teorias da
comunicação e quadrinhos.
Para complementar a pesquisa, trarei uma síntese de dados fornecidos por lojistas
especializados em comercialização de mangás e o número de acessos em plataformas criadas
para o acesso e consumo de animes japoneses. Além disso, haverá um levantamento sobre
eventos exclusivos para a comunidade otaku, como Comic Cons e reuniões fornecidas pela
Crunchyroll.
Conforme ocorra a evolução da pesquisa, novas informações serão adicionadas
quando se apresentarem relevantes para o direcionamento do projeto final.

Procedimentos metodológicos

A principal metodologia de pesquisa utilizada por mim serão as entrevistas feitas


à público popular, mediante aprovação do comitê de ética e pesquisa, e também a agentes
especializados em mangás. Através das respostas obtidas, poderei criar uma relação entre os
temas e títulos mais consumidos, juntamente dos interesses despertados pelos consumidores a
partir da leitura dos quadrinhos japoneses.
Além disso, irei realizar pesquisas em mídias sociais a ponto de averiguar a
incidência de memes relacionados a animes e a quantidade de vezes que estes aparecem em
um feed de Facebook, por exemplo, e de outros aplicativos de comunicação social, como
Instagram e Discord.
Após coletadas as pesquisas anteriores, partirei para entrevistas focadas na cultura
japonesa adquirida pela arte dos mangás e animes, quais interesses foram gerados, o que
esses interesses influenciaram em estilos de vida e sonhos e o porquê de os estímulos visuais
vindos do próprio Japão terem mais impacto na curiosidade sobre a cultura japonesa do que
veículos midiáticos como filmes e séries produzidas por americanos.
Referências

BORGES, M.T.B.; GUIMARÃES, B.M.; SOUSA, C.F.; CABRAL, D.M.M.; REIS, M.V.;
BATISTA, S.T.; AMARAL, V.C.; SOUSA, S.S.G. Universo Otaku: uma história milenar
pelos olhos da cultura jovem. Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, MG.
Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XX Prêmio
Expocom 2013 – Exposição da Pesquisa Experimental em Comunicação. Disponível em:
https://portalintercom.org.br/anais/sudeste2013/expocom/EX38-0069-1.pdf

POSZAR, C.C. Artemidia sequente: Dragon Tales, consequências do mangá na


publicação de quadrinhos no Brasil. 2012. 69 f. Trabalho de conclusão de curso
(bacharelado - Artes Visuais) - Universidade Estadual Paulista, Instituto de Artes, 2012.
Disponível em: http://hdl.handle.net/11449/120648.

CUNHA, J.L. ANTROPOLOGIA CULTURAL. Universidade Federal de Santa Maria.


Santa Maria, RS, 2011. Disponível em:
https://repositorio.ufsm.br/bitstream/handle/1/16444/Curso_Let-Portug-Lit_Antropologia-Cul
tural.pdf?sequence=1&isAllowed=y

SILVA, M.A.G. MORRIS WEITZ E SEU PENSAMENTO SOBRE TEORIA


ESTÉTICA: UMA INFLUÊNCIA DE WITTGENSTEIN NA FILOSOFIA
ANALÍTICA DA ARTE. Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR, 2020.
Disponível em: https://revistas.marilia.unesp.br/index.php/kinesis/article/view/10603/6577

CORRÊA, S.P. e GOMES, N.S. O MANGÁ NO BRASIL E SUA LINGUAGEM. Circuito


Fluminense de Estudos Filológicos e Linguísticos. Revista Philologus, Ano 18, N° 54 –
Suplemento: Anais da V JNLFLP. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2012. Disponível em:
http://www.filologia.org.br/revista/54supl/047.pdf

LUYTEN, S.B. Mangá, o poder dos quadrinhos japoneses. 3 ed. São Paulo: Editora Hedra,
2012.

QUITINIO, M. Os 10 principais países onde o anime é mais popular e por quê! Epic
Dope, 2020. Disponível em:
https://pt.epicdope.com/10-principais-pa%C3%ADses-onde-o-anime-%C3%A9-mais-popular
-e-por-qu%C3%AA/

SAITO, C.N.I. CULTURA POP JAPONESA E AS NOVAS REFERÊNCIAS


MIDIÁTICAS: O FENÔMENO OTAKU E HIKIKOMORI. REU, Sorocaba, SP, v. 38, n.
2, p.249-260, dez. 2012.

CALAZANS, F.M.A. As Histórias em Quadrinhos no Brasil - Teoria e Prática. São Paulo:


INTERCOM, 1997.

NUNES, A.B.L. [Entrevista cedida a] Marina Gazza Rodrigues Jorge. Instagram, [Amparo],
08 out. 2021.
Apêndice

Figura 1: Anime Sailor Moon

Fonte: Disponível em (https://www.planocritico.com/entenda-melhor-sailor-moon/). Acesso em 14.out.2021.

Figura 02: Anime Cavaleiros do Zodíaco

Fonte: Disponível em
(https://olhardigital.com.br/2021/09/22/cinema-e-streaming/os-cavaleiros-do-zodiaco-live-action-elenco-primeir
as-fotos/). Acesso em 14.out.2021.
Figura 03: Imagens dos mangás de Katsushita Hokusai

Fonte: Disponível em (https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Hokusai_Mang%C3%A1.jpg). Acesso em


14.out.2021.

Figura 04: Exemplo famoso de Ê-Makimono. A imagem em questão é Chojugiga, feita pelo
artista Bonzo Kakuyu Toba, que viveu de 1053 a 1140.

Fonte: Disponível em (https://www.marciorgotland.com/2014/02/historia-do-desenho-japao.html). Acesso em


14.out.2021.
Figura 05: Quadrinho de Rakuten Kitazawa de 1899.

Fonte: Disponível em (https://alchetron.com/Rakuten-Kitazawa). Acesso em 14.out.2021.

Figura 06: Quadrinho de Maurício de Souza, 2004.

Fonte: Disponível em (https://ocapacitor.com/uma-das-melhores-historias-da-turma-da-monica-amizade/).


Acesso em 14.out.2021.
Figura 07: Trecho do mangá “Koe no katachi” da autora Yoshitoki Oima (2013 - 2014) como
exemplo da maneira como as emoções são passadas nos quadrinhos.
Legenda em tradução livre (leitura da direita para a esquerda):
“Capítulo 12: irmã mais velha”
“- Eu não consigo acreditar. Minha irmã nunca havia ficado brava antes.”
“- É por que ela está saindo com aquele cara? Por que agora…?”

Fonte: Disponível em
(https://medium.com/koe-no-katachi/koe-no-katachi-comentarios-dos-capitulos-12-e-13-890e0e455565).
Acesso em 14.out.2021.

Você também pode gostar