Os Mapas Mentais Como Suporte para o Ensino Da Geografia

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Ana Luzia de Barros Andrade Marques 65

Deise Juliana Francisco

Os Mapas Mentais como Suporte à Mental Maps as Support to Cartogra-


Cartografia: um Estudo Com Futuros phy: a Sutdy With Future Educators
Pedagogos

Ana Luzia de Barros Andrade Marques1


Deise Juliana Francisco2

Resumo: Abstract:

A partir da preocupação com o ensino de geografia, o The research sought to understand how future educa-
presente artigo buscou compreender como futuros pe- tors represent the university space through the mind
dagogos representam o espaço universitário por meio map. Participants were 25 undergraduates of the se-
do mapa mental. A mesma referenciou-se teórica e me- venth period of Pedagogy course of a Public Universi-
todologicamente na cartografia no ambiente educativo ty. Referenced to theoretically and methodologically
e nos mapas mentais. Participaram do estudo 25 gra- authors concerned with mapping the educational en-
duandos do sétimo período do curso de Pedagogia de vironment and with that question the perspective of
uma universidade pública federal. Adotou-se o método mental maps. We adopted the method of qualitative
qualitativo do tipo pesquisa participante. Foram utili- research participant type. Were used as research tools
zados como instrumentos de pesquisa mapa mental, mental map, interview and field diary. The results sho-
entrevista e diário de campo. Os resultados apontaram wed that the university was represented as a place of
que a universidade foi representada como lugar de experience, in which the subjects showed familiarity
vivência, em que os sujeitos revelaram familiaridade e and belonging. Thus, the subjective perspective sco-
pertencimento. Assim, a perspectiva subjetiva marcou as red graphical representations, which reinforced the
representações gráficas, o que reforçou a necessidade de need to use other forms of representation that mobili-
se utilizar outras formas de representação que mobilizem ze the encounter / confrontation space.
o encontro/confronto espacial.

Palavras-chave: Ensino de geografia. Cartografia. Mapa Keywords: Teaching geography. Cartography. Mental
mental. Google Earth. map. Google Earth.

1
Licenciada em Geografia, Mestra em Educação pelo Programa de Pós
Graduação em Educação/ Universidade Federal de Alagoas - PPGE/
UFAL, professora de Geografia da rede estadual de Alagoas.
E-mail: [email protected].

2
Psicóloga, Doutora em Informática na Educação pelo Programa de Pós
Graduação em Informática na Educação/Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, orientadora de Mestrado pelo PPGE/UFAL, Docente da UFAL.
E-mail: [email protected].
66 OS MAPAS MENTAIS COMO SUPORTE À CARTOGRAFIA: UM ESTUDO COM FUTUROS PEDAGOGOS

Este artigo é fruto de uma dissertação que teve como Além disso, vivemos em uma era em que as inovações
foco o reconhecimento espacial de futuros pedagogos, tecnológicas têm ganhado espaço em vários contextos:
pois se entende que este público faz parte de um seg- fala-se da agricultura, das telecomunicações, da infor-
mento importante de atuação na Educação Básica, sen- mática, entre outros. Esses diferentes setores ganharam,
do a base inicial para a alfabetização cartográfica. Assim, com a introdução tecnológica, maiores possibilidades de
os pedagogos são os responsáveis pelas séries iniciais e acesso, difusão de informações e de produção (KENSKI,
possuem a relevante tarefa de estimular os alunos a de- 2004). A partir da difusão da tecnologia no meio escolar
senvolver as noções de espaço. Entende-se que o exercí- é interessante pensar como ela pode ser uma aliada para
cio de reconhecimento do espaço, da orientação e da re- o ensino da Cartografia. E, neste sentido, entender como
presentação é importante para o conhecimento daquele as noções espaciais e sua aplicabilidade ocorrem no con-
que irá se graduar em Pedagogia. Portanto, é interessan- texto professor e aluno. É importante que o professor es-
te que futuros pedagogos recebam em sua formação as teja preparado para estimular os alunos a desenvolver as
abordagens da Geografia que contemplem o estudo so- noções da Cartografia junto ao que a tecnologia oferece
bre a percepção espacial. como suporte ao aprendizado.

Dentre os desafios enfrentados na formação do pedago- A pesquisa norteou-se a partir da seguinte questão:
go, vê-se o pouco conhecimento que os mesmos pos- como os alunos de pedagogia realizam leituras do cam-
suem sobre noções da Cartografia e isso se evidencia atra- pus universitário a partir da representação gráfica, por
vés da formação que receberam ainda na Educação Básica meio do mapa mental? E, como objetivos da pesquisa,
(PASSINI, 2007). Nesse sentido, decidiu-se desenvolver elencou-se, primeiramente, como geral: compreender
uma pesquisa que contempla a discussão acerca da leitura como os alunos de Pedagogia constroem a noção de es-
que os graduandos de Pedagogia possuem e fazem sobre paço e representação a partir da percepção do espaço vi-
o campus universitário que é o espaço por eles vivido. vido: o campus universitário da Universidade Federal de
Alagoas (UFAL). Outro objetivo foi: diagnosticar por meio
Sendo o reconhecimento do lugar e a observação das de mapas mentais o conhecimento espacial dos alunos
diferentes paisagens um dos assuntos mais importantes do sétimo período do curso de pedagogia da UFAL.
da Geografia, analisa-se que a visualização desses seto-
res, avançando-os para noções de mapeamento, possui
sentido importante para o conhecimento discente. Ou 1.Formação Pedagógica e o Ensino da Cartografia
seja, o que se vê pode-se também mapear para dar for-
ma a um lugar por meio do mapa mental, àquilo que se
conhece através do contato visual. Para representar e demarcar espaços, o homem, desde
cedo, se apropriou da confecção de mapas para orientar-se
Observando uma turma de pedagogos do sétimo período no espaço. Segundo Timbó (2001), o homem primitivo já
de uma Universidade Pública Federal, vivenciou-se a rea- sentia necessidade de registrar o espaço a sua volta a fim de
lidade de futuros pedagogos frente ao desafio do estudo marcar os lugares mais importantes para sua sobrevivência.
sobre a alfabetização cartográfica. É interessante que os Desde então, a Cartografia veio evoluindo em relação a ins-
pedagogos conheçam a Cartografia para exercitar com trumentos e métodos utilizados para seu desenvolvimento.
seus alunos a leitura crítica dos diversos acontecimentos Conta-se hoje com as ferramentas tecnológicas que auxi-
do mundo globalizado. Essa preparação envolve, também, liam e produzem equipamentos cartográficos para diversas
a leitura dos mapas. Com o mundo em constante trans- finalidades e aplicações.
formação, torna-se necessário compreender a dimensão
de um espaço, o que ele representa em diferentes escalas A alfabetização cartográfica dá-se como importante para
para que se possa entender e visualizar as ocorrências que a formação do aluno, sendo que a orientação, a localiza-
se fazem presentes na superfície terrestre. ção e a representação são itens que devem ser explora-
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dos na Cartografia. Não se pensa em apenas levar o mapa tação espacial. Diferente da criança, “a organização es-
para a sala de aula e mostrá-lo aos alunos, mas também é pacial do adulto envolve perspectiva e coordenadas, de
interessante contextualizá-lo, demonstrando que espaço modo que é capaz de localizar-se e orientar-se usando
é aquele que está sendo estudado. Deve-se desenhar o referenciais abstratos, baseados em relações espaciais
mapa e não apenas decalcá-lo e, assim, estudar o mapa projetivas e euclidianas” (ALMEIDA e PASSINI, 2010, p.
dentro da realidade do aluno torna-se um exercício inte- 23). Quando o espaço se projeta, o aluno dá significados
ressante, pois o aluno demonstrará seus entendimentos e o compreende como um espaço que pode ser localiza-
e percepções visuais do espaço de vivência. De acordo do através de referenciais da simbologia como a legen-
com Archela e Pissinati (2007), os alunos já possuem no- da. Nesse sentido, observa-se que o aluno está passando
ções cartográficas que fazem parte de sua ação rotineira. de um nível elementar da compreensão do espaço para
É nesse sentido que estudar a área de vivência é um pas- um do campo mais requintado e composto de elemen-
so importante para a compreensão cartográfica, pois as tos que compõem significados.
ações rotineiras dos alunos em seu cotidiano podem ser
incorporadas em um saber formal a partir da inserção de Nas aulas de Geografia, quando o professor faz uso de ma-
conceitos mais elaborados. pas, entende-se que é importante apresentar os diferentes
elementos que compõem o espaço. Esses elementos estão
O pedagogo, responsável pelo ensino nas séries iniciais, baseados no uso de símbolos que estão distribuídos e que
possui um importante papel não só como alfabetizador, se aproximam da imagem real. De acordo com Castrogio-
mas também como formador humano e social. Os alu- vanni, Callai e Kaercher (2010, p. 51), “A representação do
nos, estimulados ao estudo cartográfico, podem pensar mundo necessita de simbolização cartográfica”. Esses sím-
sobre seu espaço que é um espaço humanizado, abrindo bolos são sinais gráficos que a partir de seu uso se confi-
a possibilidade de conhecer o espaço como produzido e guram como legenda. Os símbolos, signos e legendas re-
mutável. Isso favorece a formação do aluno como cida- presentam a leitura cartográfica e, sendo assim, devem ser
dão (CALLAI; CALLAI, 2003). construídos pelo aluno quando se trabalha com mapas.

Autoras como Castellar (2007), Almeida (2007) e Almeida Ao se mapear um determinado lugar, além de se preocupar
e Passini (2010), apresentam estudos que discutem a im- com a simbologia, caminhar e observar com interlocuções
portância da construção do mapa pela criança levando geográficas o espaço de vivência, medir e reduzir objetos
em consideração seu espaço de vivência diária (casa, es- para reproduzir em escala menor no papel é uma prática
cola, trajeto casa-escola). Os mapas mentais, de crianças necessária para auxiliar na construção dos conceitos carto-
ou de adultos, demonstram como estes veem o espaço e gráficos e geográficos. Segundo Romano (2007, p. 158), “O
como o percebem como lugar com o qual possuem inte- processo de alfabetização cartográfica envolve a compre-
ração e intimidade com a paisagem. ensão e construção dos seguintes conceitos: visão vertical
e oblíqua; lateralidade e orientação; proporção e noções de
O conhecimento, no que tange à compreensão sobre lo- escala e legenda”. A construção desses conceitos contribui-
calização, requer que o aluno aprecie conceitos geográ- rá para a compreensão e ajudará o aluno a entender de for-
ficos para que possa construir sua informação. Portanto, ma mais clara a leitura e interpretação do mapa.
entende-se a importância do estímulo ao estudo do que
significa uma fronteira, o espaço em torno, entre outros
fatores importantes à compreensão da espacialidade. 1.1OS MAPAS MENTAIS

As relações projetivas junto com as euclidianas compre-


endem as noções de área, tamanho, parte e todo (CAS- Pensar em Geografia é também pensar em imagens.
TELLAR, 2005). Porém, cabe ressaltar que as euclidianas Imagens que determinam um lugar que tem sua histo-
se utilizam de conceitos matemáticos para a represen- ricidade, seu povo, sua cultura. Os mapas surgiram “pela
68 OS MAPAS MENTAIS COMO SUPORTE À CARTOGRAFIA: UM ESTUDO COM FUTUROS PEDAGOGOS

necessidade de referenciar rotas, caminhos e territórios, englobando desde a fase de desenvolvimento do mapa
integrando o vivido e as práticas socioculturais, incorpo- mental do campus até a reescrita da trajetória mapa men-
rando ao longo dos tempos novos valores” (KOZEL, 2007, tal e oficina de Google Earth. Neste artigo será analisada
p. 25). Cosgrove (1998) entende que um mapa nunca apenas a parte referente aos mapas mentais.
deve ser visto como algo isolado, pois a ele se incorpo-
ra uma série de processos culturais complexos que dão Como instrumentos da pesquisa utilizaram-se a observa-
abertura a outros mapeamentos. ção e o diário de campo. A observação se deu em toda
a fase de coleta de dados, desde a elaboração do mapa
Autoras como Kozel e Nogueira (1999) salientam que mental à oficina. Nessas sessões, foram registradas as in-
os mapas mentais se constituem através de questões terações do grupo, bem como as falas consideradas im-
históricas reais, onde o sujeito se incorpora dando exis- portantes para a consecução desse trabalho.
tência a lugares vividos, produzidos e construídos. Nes-
se sentido, entende-se que a apreensão do real se dá
através da percepção e das lembranças conscientes e 4 Análise Dos Dados
inconscientes (KOZEL, 2006).

Partindo do pressuposto dos mapas mentais, cuja repre- A análise é resultado da vivência com a turma de futu-
sentação espacial se dá através da visão humanista, no ros pedagogos, no qual serviu de apoio para responder
qual são dados valores e marcas inerentes ao lugar vivido, o problema da pesquisa. Os alunos foram estimulados a
desenvolveu-se o tipo de visão pelo fato de entender que representar por meio do mapa mental o campus univer-
a um mapa mental são dados valores humanos, deixando sitário, buscando estabelecer os pontos e itens encontra-
de lado a visão técnica do mapa que servia antes, apenas, dos em todo espaço, em uma folha de papel A4 para que
como ponto de orientação no espaço. A concepção de pudessem, através de seu conhecimento e de sua expe-
mapa mental é remetida a Geografia das Representações. riência com o lugar, representar com detalhes o campus.
O termo representação se configura para Kozel (2005, p. Esta tarefa foi realizada no primeiro dia de observação
140-141) “como o processo pelo qual são produzidas for- na sala de aula de Geografia 1, sob autorização prévia da
mas concretas ou idealizadas, dotadas de particularidades professora responsável pela disciplina.
que podem também se referir a outro objeto, fenômeno
relevante ou realidade”. Então, entende-se que a Geogra- Para categorizar a análise dos mapas mentais realizados
fia das Representações possui significativa importância às pelos estudantes de pedagogia, foi utilizada a metodolo-
pesquisas ao que se refere aos mapas mentais. gia desenvolvida por Kozel (2001), que consiste em uma
apreciação no que tange à interpretação de representa-
ções gráficas que, no caso dessa pesquisa, tratou-se do
2. Metodologia mapa mental do campus.

Assim, são analisados: 1. Interpretação quanto à forma


A pesquisa visou descrever e analisar como alunos de de representação dos elementos da imagem (ícones, le-
Pedagogia representam espacialmente o campus univer- tras e mapas); 2. Interpretação quanto à distribuição dos
sitário com mapa mental. Foi realizada pesquisa qualita- elementos na imagem (em perspectiva, em forma hori-
tiva, exploratória - descritiva e pesquisa participante. zontal, em forma circular, em forma de quadros, em for-
ma de quadras, de maneira dispersa, isoladas, vertical);
Os sujeitos da pesquisa foram 25 alunos do sétimo perío- 3. Interpretação quanto à especificação dos ícones (Pai-
do matriculados na disciplina Geografia 1 do curso de pe- sagem natural; Paisagem construída; Elementos móveis;
dagogia da UFAL. O número de alunos que participaram, Elementos humanos); 4. Apresentação de outros aspec-
efetivamente, da pesquisa variou entre 25 e 13 pessoas, tos ou particularidades.
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Segundo a metodologia Kozel (2001), determinados as- Entende-se que conhecer o espaço vivido através da mo-
pectos são relevantes para análise sobre os mapas men- bilidade no espaço da Universidade, torna-se um exercí-
tais, pois delineiam pontos nos quais o aluno quis de- cio interessante, pois o aluno não se limita apenas ao seu
monstrar em seu mapa mental. Ao observar os alunos lugar diário das salas de aula (ALMEIDA, 2007). Destaca-
desenvolvendo o mapa mental, foi possível perceber que mos a fala do aluno 03:
grande parte possuía dificuldade em representar os pré-
Preocupei-me em fazer uma representação
dios que estavam mais distantes de seu percurso habitual,
nítida e coerente, portanto iniciei desenhan-
ou seja, desde a entrada até o final do campus. Outro as-
do as vias de trânsito e em seguida acrescen-
pecto observado foi a razoável resistência por parte dos tei os espaços que mais frequento: reitoria,
alunos para a realização do mapa mental, pois alegaram biblioteca, bloco de Pedagogia, fotocopiado-
não saber desenvolver um trabalho desse tipo. Como o ra, restaurante universitário, bancos e posto
bloco do curso de pedagogia fica mais ao centro do cam- de venda de passagem estudantil. Não con-
pus e as partes administrativas estão situadas no início, segui lembrar a distribuição dos blocos e
alguns alunos se restringiram apenas à representação até também o espaço do papel não Foi suficien-
o bloco e salas de aula do curso de pedagogia. Os alunos te, em virtude disso ao analisar o desenho
que representaram os blocos posteriores ao de Pedagogia identifica-se a ausência de muitos elementos.
possuíam dificuldade em representar os prédios em rela-
ção ao lado direito ou esquerdo, levando em consideração A materialização da representação do espaço por inter-
a entrada principal do campus. Sobre isso, o aluno ora inti- médio da produção de um mapa dá maior vivacidade
tulado 01 relata: “Mesmo não sabendo desenhar, aceitei o aos elementos que são perceptíveis à realidade do alu-
desafio e de certa forma consegui representar o campus. no, pois traduz um espaço cotidiano de interação con-
Não desenhei detalhes justamente pela dificuldade que tínua (KOZEL, 2007).
tenho, mas exercitei a memória e consegui representar a
via principal e a maioria dos blocos”. O aluno 02 afirma: A atividade foi realizada com 25 alunos e 3 deles solicitaram
mais uma folha para realizar o mapa mental, pois argumen-
Essa atividade pressupõe que o lugar a ser re-
taram não caber todos os itens que compõem a Universida-
presentado seja conhecido e vivenciado pelos
de. Quanto a isso, Martinelli (2008) propõe que a atividade
alunos. Ao começar o desenho é necessário
idealizar todo ambiente, pensar nas principais
de representação do espaço com o uso da escala, torna-se
partes, ou seja, fazer uma representação men- essencial para que o aluno estabeleça o conhecimento de
tal de como é essa realidade. Além disso, todo o que um espaço a ser representado pode ser ampliado ou
espaço deve ser limitado a uma folha de papel. reduzido, de acordo com a escala. Entende-se que a ativi-
dade de elaboração do mapa mental proporcionou a inter-
No que se refere à espacialização no papel, observou-se pretação de como os alunos veem e percebem o espaço em
que, pelo fato de não haver a preocupação na utilização que interagem há quase quatro anos.
da escala para a compreensão e delimitação dos espa-
ços, a representação do campus universitário não se deu Quanto aos espaços que os estudantes representaram,
de maneira mais abrangente. A redução ou ampliação observou-se que 80% dos alunos destacaram que aque-
feita com o uso da escala torna possível a representação les prédios em que mais eram solicitados a realizar al-
de forma mais completa. guma atividade de interesse de grupo ou pessoal foram
mais bem delineados e destacados como a reitoria, local
Quanto ao desconhecimento do campus universitário, de ida frequente dos alunos para a resolução de proble-
observou-se que este fator também se relaciona às ati- mas referentes à vida acadêmica; a praça onde se locali-
vidades docentes, ou seja, ao passo que a atividade do- zam os bancos e posto de venda de passagem de ônibus,
cente se restringe a apenas a um lugar (a sala de aula) e a biblioteca, ponto de encontro dos alunos para desen-
não há a interação com outros espaços da universidade. volvimento de atividades acadêmicas.
70 OS MAPAS MENTAIS COMO SUPORTE À CARTOGRAFIA: UM ESTUDO COM FUTUROS PEDAGOGOS

De acordo com a primeira categoria (Interpretação quan- numa visão de cima para baixo, tentando apresentar o
to à forma de representação dos elementos da imagem), que compõe o espaço em estudo. Quando encontradas
apresentou-se, um mapa mental que traz consigo repre- representações verticais nos mapas mentais, elas se mis-
sentações que permeiam o que foi ali definido. turam com as horizontais, ou seja, o aluno ao buscar dar
um formato mais parecido com o que se vê quando está
Mapa mental 1: Representação do aluno 01 na posição de pé, ele traz essa mesma visualização ao re-
alizar o mapa mental. No mapa mental a seguir, pode ser
observado os itens do espaço em diferentes posições:

Mapa mental 2: Representação do aluno 02

Fonte: A autora, 2011, de acordo com dados da pesquisa.

O aluno 01, em seu texto, na fase de escrita da experiên-


cia do mapa mental do campus, relatou que não sentiu Fonte: A autora, 2011, de acordo com dados da pesquisa.
dificuldade em distribuir espacialmente os prédios. Nes-
te mapa mental, observou-se a presença de ícones e le- Na representação do aluno 02, confirmou-se a imagem
tras, sendo que o primeiro demonstra a distribuição dos vertical, pois se tenta representar o formato visto de cima
itens do campus e a segunda retrata as palavras de cada para baixo dos prédios que compõem o espaço universi-
elemento representado. tário. Porém, a representação da Tenda (lugar onde alu-
nos se reúnem para diversos eventos da Universidade),
De forma geral, foram utilizados nos mapas mentais dos e do elemento que corresponde à vegetação (árvores e
alunos 25 ícones e 20 letras. Observou-se que eles tentaram demais plantas) se mostra em posição horizontal e inver-
representar da maneira mais completa o campus universi- tida, dando sentido à lateralidade.
tário. As letras estavam presentes para demonstrar o que o
aluno deseja indicar o que corresponde determinado lugar. Mapa mental 3: Representação do aluno 03
A presença das letras evidencia o que o aluno quer destacar
em seu mapa mental. Isso aumenta a ideia de representa-
ção e início de legenda. Quanto à representação espacial
dando forma e contorno ao lugar que Kozel (2001) denomi-
na por mapa, não foi encontrada não foi encontrada repre-
sentação que contemplasse esse tipo de feição.

Quanto à categoria 2 (Interpretação quanto à distribui-


ção dos elementos na imagem), 24 se deram de forma
vertical, 12 se deram em forma horizontal, duas de ma-
neira dispersa. Sendo assim, a maioria dos mapas men- Fonte: A autora, 2011, de acordo com dados da pesquisa.
tais apresentou o modo de representação vertical. Esse
tipo de representação mostra o formato da paisagem
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Na representação encontrada no mapa mental 3, o aluno No mapa mental 4, a presença de elemento da natureza
03 utilizou o modo de distribuição de imagem horizon- constitui na visualização das árvores que compõem o es-
tal, ou seja, as posições obedecem a maneira como se paço universitário. O aluno 04 não representou nas áreas
vê a imagem real quando se está posicionado em solo. em branco o ambiente em que há densa vegetação. O
Há também a presença de letras que apresentam o local elemento árvore se restringiu apenas à pista de ligação
desenhado e de pessoas transitando no espaço dando o entre as faculdades. Tem-se a paisagem construída que
sentido de movimento ao lugar. foi apresentada por meio dos prédios que também estão
presentes nos demais mapas mentais realizados pelos
A categoria 3 (Interpretação quanto à especificação dos alunos de Pedagogia.
ícones) apresenta a especificação dos itens que com-
põem os mapas mentais. Essa categoria mostrou-se Mapa mental 5: Os elementos da paisagem
importante para análise, pois, a partir dela, foi possível
compreender que tipo de paisagem e elementos foram
encontrados: 20 manifestações de paisagem natural, 25
de paisagem construída, 12 de elementos móveis e 06 de
elementos humanos. Entende-se que esses elementos
fazem parte do espaço vivido e, por isso, configuraram-se
como importantes na análise dos mapas mentais. Esses
elementos dão vida a um lugar, pois se pode entendê-lo
como humanizado, isto é, com interferência humana e
com os traços culturais do povo.

Segundo Lynch (1980), as paisagens são detentoras de


diversos elementos que dão significado ao lugar. Como Retirando um fragmento do mapa mental do aluno 03, observa-
visualizados nos mapas mentais, esses elementos repre- ram-se fortemente os elementos da natureza, representados pelas
sentam como o aluno vê e percebe seu espaço vivido. árvores. Também a paisagem construída através dos prédios, os
Foi observado nos mapas mentais que os alunos não elementos móveis carros e ônibus e o elemento humano indican-
só representaram o espaço físico, mas também os itens do a circulação de pessoas.
dos aspectos humanos. O mapa mental apresentado a Fonte: A autora, 2011, de acordo com dados da pesquisa.
seguir, apresenta alguns destes itens
Mapa mental 6: Representação do aluno 05
Mapa mental 4: Representação do aluno 04

Fonte: A autora, 2011, de acordo com dados da pesquisa.

Fonte: A autora, 2011, de acordo com dados da pesquisa.


72 OS MAPAS MENTAIS COMO SUPORTE À CARTOGRAFIA: UM ESTUDO COM FUTUROS PEDAGOGOS

Encontrou-se no mapa mental 6 maior visibilidade à pis- sua interação diária com o lugar. Afirma-se que esse tipo
ta de circulação de meios de transporte. Os elementos de representação do espaço através dos mapas mentais,
da natureza não aparecem na representação, dando a pelos alunos de Pedagogia, pode alterar a percepção do
impressão de imagem sem movimento. De acordo com espaço. Isso se configura a partir da etapa ao qual Del
a fala do aluno 05: “Não consegui desenhar o campus por Rio e Oliveira (1996), denominam como estruturas pro-
completo, pois não lembrei os nomes de cada faculdade jetivas e euclidianas. Essas estruturas demandam um co-
no qual representei nessas formas retangulares”. A par- nhecimento mais complexo no sentido de representar as
tir da escrita dos alunos sobre a experiência com mapa distâncias de forma proporcional em relação aos objetos
mental do espaço universitário, visualizou-se que grande apresentados no mapa mental.
parte indagou sobre não saber exatamente o que corres-
ponde cada prédio que há no campus. Entendeu-se que O espaço é uma construção contínua no qual Piaget e
por esse motivo foi encontrado, além do mapa mental Inhelder (1992) denominam como espaço represen-
do aluno 05, outros semelhantes, nos quais os alunos tativo. De acordo com os mapas mentais analisados,
apontam em sua escrita o mesmo ponto de vista. observou-se que as relações projetivas estavam sendo
construídas na esquematização mental apresentada nos
Em relação à categoria 4 (Apresentação de outros aspec- mapas mentais dos futuros pedagogos.
tos ou particularidades), observou-se, nos mapas men-
tais, representações que marcam limites fora do campus
universitário, ou seja, o acesso pela passarela ou pela pis- Referências
ta de ligação de outro lugar para dentro da Universidade.
Kozel (2001) chama atenção para a categoria que se con-
figura como outros aspectos ou outras particularidades ALMEIDA, Rosângela D. Cartografia escolar. São Paulo: Contexto, 2007.
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