Identidade Sociocultural

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DIDÁTICA DA

GEOGRAFIA
Identidade
sociocultural no
ensino de geografia
Francielly Naves Fagundes

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Reconhecer os princípios e fundamentos do ensino de geografia.


>> Relacionar o espaço à identidade sociocultural em práticas sociais reais.
>> Elaborar um plano de ensino que permita o reconhecimento da identidade
sociocultural no ensino de geografia.

Introdução
Neste capítulo, você vai conhecer algumas considerações para o ensino de ge-
ografia na contemporaneidade, como formas de ensinar e relacionar os conte-
údos, valendo-se de recursos didáticos como facilitadores para o processo de
ensino-aprendizagem.
Além disso, você vai aprender ponderações sobre o ensino de geografia,
a partir de fundamentações da Base Nacional Curricular (BNCC), visando a alicerçar
a aprendizagem dos alunos, quanto à percepção das identidades socioculturais
próprias, dentro da sua comunidade, e dos demais, respeitando os diferentes
contextos geográficos.
Serão apresentados dois planos de ensino, com propostas que contemplem
o conteúdo abordado em específico das identidades socioculturais do aluno e
de demais grupos (como os indígenas), utilizando recursos didáticos, como mapa
mental e história em quadrinhos.
2 Identidade sociocultural no ensino de geografia

Princípios e fundamentos sobre


o ensino de geografia
A geografia, antes tida como uma disciplina de memorização, decorativa e
descritiva, hoje se apresenta de forma sistemática e interativa. Isso porque,
em decorrência de novas metodologias de análise e interpretação dos fenô-
menos naturais e sociais, busca analisar, conhecer e interpretar um emara-
nhado de conexões, das relações entre o homem, a natureza e o território,
os ambientes naturais e a sociedade que estão sob distintas realidades
geográficas (VIEIRA, 2013).
No ensino de geografia, o objetivo principal na escola, segundo Vesentini
(2004, p. 228), é “[...] levar o educando a compreender o mundo em que vive,
o espaço geográfico desde a escala local até a global”. Para o autor, o ensino
de geografia deve apresentar respaldo e contribuir na formação dos alunos
para além do conteúdo/currículo, mas que seja, também, reflexiva (eles devem
compreender as relações — problemáticas — entre a sociedade e a natureza,
em suas múltiplas escalas — local e global) e formativa de cidadãos críticos
e ativos na sociedade.

[...] implica valorizar determinadas atitudes — combate aos preconceitos; ênfase


na ética, no respeito aos direitos alheios e as diferenças; sociabilidade e inteli-
gência emocional — e habilidades (raciocínio, aplicação/elaboração de conceitos,
capacidade de observação e de crítica, etc.) (VESENTINI, 2004, p. 228).

A formação ética também pode ser propiciada pelo ensino de geografia,


conforme apontam Ferreira e Oliveira (2012):

O ensino de geografia possui uma dimensão formadora que passa pela crítica social
e a construção de posturas cidadãs e éticas. Ainda nos PCN é possível perceber
a preocupação da geografia na formação de cidadãos capazes de compreender,
explicar e transformar o mundo (FERREIRA; OLIVEIRA, 2012, p. 10).

Desse modo, o ensino de geografia deve ser fundamentado em uma totali-


dade que abrange desde conteúdos (disciplinares e científicos) a metodologias,
teorias (categorias de análises e conceitos), representações (cartográficas
sistematizadas ou não) e reflexões, para a constituição de um conhecimento,
ou seja, de um pensamento geográfico completo em significados, seja na
geografia humana, seja na física e nas geotecnologias.
No entanto, para a efetividade pedagógica da relação de interação do
ensino-aprendizado, faz-se imprescindível aproximar, associar e estabelecer
relações dos fenômenos geográficos, investigados e abordados em sala de
Identidade sociocultural no ensino de geografia 3

aula, com as realidades, vivências, experiências, ou seja, com a geografia


do cotidiano de vida dos alunos, contextualizando e dando sentido a esse
conhecimento.
Quando os alunos são inseridos e colocados como parte do espaço geo-
gráfico, do lugar, eles têm a compreensão das capacidades explicativas das
teorias pelo entendimento do real e do vivido.
Desse modo, é valiosa a estratégia de ensinar geografia, aproximando
os conteúdos curriculares com a realidade dos alunos. O sentimento de
pertencimento e identidade do aluno, com o objeto da geografia e conteúdo/
temas/fenômenos geográficos, oportuniza o interesse dos alunos em estudar,
pesquisar e debater sobre assuntos locais e do seu cotidiano, por exemplo.

[...] no ensino de geografia é importantíssimo — é mesmo indispensável — o estudo


e a compreensão da realidade local onde os alunos vivem, onde a escola se situa.
Isso não está (nem poderia estar) nos manuais — no máximo, existem neles dicas
ou esquemas sempre passíveis de aperfeiçoamento para estudar este ou aquele
aspecto dessa realidade; e no fundo não se trata somente de “aplicar” as defi-
nições ou as explicações contidas no “conteúdo geral”, mas também de (re)criar
conceitos e explicações, de descobrir coisas novas enfim (VESENTINI, 2004, p. 224).

Para além disso, considerar os saberes dos alunos é algo fundamental,


no entanto, sem perder de vista a caráter científico e metodológico da geo-
grafia, que tem objeto, teorias e procedimentos próprios de pesquisa.
O aporte de categorias de análise e conceitos de geografia (espaço, paisa-
gem, lugar e território), quando trabalhados em sala de aula, devem ir além
das definições raras e meramente decorativas. A habilidade com que o aluno
aprende sobre uma teoria geográfica e a visualiza como representativa ou
explicativa dos fenômenos da atualidade, deve ser uma das centralidades
desse ensino.
Além dessas estratégias, a utilização de recursos didáticos, como cola-
borativos para ensinar os conteúdos, é ratificado como valioso para alguns
autores. Em Gusmão, Sampaio, Sampaio (2005), os recursos, quando apro-
priados, são úteis para evidenciar e exemplificar fenômenos da realidade e
que são incontestavelmente geográficos:

A cultura produzida neste mundo de tecnologia é repleta de informações geo-


gráficas: filmes, desenhos, charges, fotografias, slides, anúncios de publicidade,
CD-ROM, músicas, poemas, representam de forma variada os fenômenos geográ-
ficos. É preciso que o professor vença sua dificuldade em utilizá-los sem cair no
fascínio pelo moderno, sofisticado, se apropriando desses recursos como ferra-
mentas auxiliares em seu trabalho (GUSMÃO; SAMPAIO; SAMPAIO, 2005, p. 6752).
4 Identidade sociocultural no ensino de geografia

Para Costa e Moreira (2016), os recursos apresentam códigos e se configu-


ram como linguagens que devem ser trabalhas em conjunto com o conteúdo
de geografia:

A denominação recursos didáticos insere vários tipos de materiais e linguagens,


como: livros didáticos, paradidáticos, mapas, gráficos, imagens de satélite, literatura,
música, poema, fotografia, filme, videoclipe, jogos. Cada uma das linguagens possui
seus códigos e seus artifícios de representação, que necessitam reconhecimento
por parte dos professores e estudantes para serem trabalhadas nos conteúdos
geográficos (COSTA; MOREIRA, 2016, p. 63).

Assim, há diversos recursos didáticos, desde tradicionais e mais utilizados,


como croqui, maquete, canção/música, mapas tradicionais, história em qua-
drinhos, tirinha, jornal, poema/poesia, filme, documentário, vídeos técnicos,
vídeos informativos e cartilhas; outros menos conhecidos, mas interessantes,
como o mapa de pontos e o fanzine; até os mais inovadores e atuais, como
jogos, mapas mentais, mapas interativos, podcasts, entre outros.
Além desses, é importante apontar o papel das geotecnologias, tanto da
área de sensoriamento remoto, quanto de geoprocessamento, aliados ao en-
sino de geografia, as fotografias aéreas, as imagens de satélites e os software
de Sistemas de Informações Geográficas (SIGs), tais como o Quantum GIS.
Desse modo, um ensino de geografia, teórico e prático, para além do
recurso do livro didático, tem importância em se tratando de uma sociedade
globalizada com alunos conectados e integrados às redes. Vieira (2013) destaca
a interatividade que se dá a partir da globalização e as respostas, perguntas
e buscas instantâneas que se desdobram.

Na presente modernidade há uma intelectualidade global interativa capaz de res-


ponder em tempo real aos avanços do conhecimento. Essa realidade proporcionada
pelos instrumentos das tecnologias da informação e da comunicação permitem
aos pesquisadores, em qualquer lugar do mundo, acompanhar e contribuir para
as novas tendências do pensamento (VIEIRA, 2013, p. 77).

Portanto, independentemente do conteúdo de geografia a ser tratado


e ensinado em sala de aula ou fora dela, apresentar contextualizações e
relações, bem como dispor os alunos em constantes atividades de pesquisa
e indagações investigativas, utilizando recursos didáticos, mediante uma
relação horizontal entre aluno e professor, faz-se importante para transmitir
os conteúdos didáticos e auxiliar nos estudos de forma prazerosa, provocando
maior interesse e auxiliando no processo de ensino-aprendizado.
Identidade sociocultural no ensino de geografia 5

Espaço e identidade sociocultural


em práticas sociais reais
Para além de um aspecto formativo, de qualificação e de cidadania aos alunos,
a educação preza, segundo o art. 1º das Leis de Diretrizes e Bases da educação
nacional, pelo desenvolvimento de processos que moldam e possibilitam o
entendimento e a ampliação da visão de mundo do aluno frente às questões
e práticas culturais que existem ou o cercam.

Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida


familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa,
nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações
culturais (BRASIL, 1996, documento on-line).

Segundo a BNCC (BRASIL, 2018), os alunos devem ser capazes de com-


preender espaços, tempos, relações e transformações no mundo que estão
inseridos, que é repleto de fenômenos naturais e socioculturais com espaços-
-tempos diferentes:

Assim, é imprescindível que os alunos identifiquem a presença e a sociodiversidade


de culturas indígenas, afro-brasileiras, quilombolas, ciganas e dos demais povos e
comunidades tradicionais para compreender suas características socioculturais e
suas territorialidades. [...] Do mesmo modo, é necessário que eles diferenciem os
lugares de vivência e compreendam a produção das paisagens e a inter-relação
entre elas, como o campo/cidade e o urbano/rural, no que tange aos aspectos
políticos, sociais, culturais, étnico-raciais e econômicos (BRASIL, 2018, p. 368).

Desse modo, a BNCC afirma que a aprendizagem da geografia, dentre outros


objetivos, deve favorecer o reconhecimento da “[…] diversidade étnico-racial
e das diferenças dos grupos sociais, com base em princípios éticos (respeito
à diversidade e combate ao preconceito e à violência de qualquer natureza)”
(BRASIL, 2018, p. 361).
Uma das cinco unidades temáticas da BNCC para o ensino fundamental
visa a que os alunos tenham progressão em habilidades e “[…] percebam e
compreendam a dinâmica de suas relações sociais e étnico-raciais, identi-
ficando-se com a sua comunidade e respeitando os diferentes contextos”
(BRASIL, 2018, p. 362).
Assim, de acordo com a BNCC (BRASIL, 2008), estudar os componentes
curriculares de geografia tem como proposição e oportunidade para os alunos
a compreensão de mundo, no que concerne compreender as ações humanas
construídas e constituídas nas regiões e em distintas formas sociais.
6 Identidade sociocultural no ensino de geografia

Ao mesmo tempo, a educação geográfica contribui para a formação do


conceito de identidade, expresso de diferentes formas: na compreensão per-
ceptiva da paisagem, que ganha significado à medida que, ao ser observada,
se nota a vivência dos indivíduos e da coletividade; nas relações com os lugares
vividos; nos costumes que resgatam a nossa memória social; na identidade
cultural; e na consciência de que somos sujeitos da história, distintos uns
dos outros e, por isso, convictos das nossas diferenças (BRASIL, 2018, p. 359).
A geografia, portanto, apresenta uma multiplicidade de fenômenos a
serem investigados e contempla conteúdos e currículos temáticos, sobre
diversidade de identidades socioculturais presentes no espaço geográfico
brasileiro. Para Ferreira e Oliveira (2012), ela, em virtude de seu objetivo de
análise, contribui para a identificação e formação de sujeitos socioculturais,
podendo os alunos reconhecerem suas próprias identidades, doravante a
compreensão de si mesmos e o reconhecimento das identidades dos demais
sujeitos, via conscientização e criticidade.

Partindo da diversidade dos sujeitos, passa-se a compreender a importância do


aprendizado espacial no contexto sociocultural da sociedade, como um instrumento
necessário à vida das pessoas para que tenham um desenvolvimento de uma visão
consciente e crítica de seu espaço social (FERREIRA; OLIVEIRA, 2009 p. 8).
Diante disso, conhecer o espaço de vivência, onde se dão as interações com o
mundo é essencial para a compreensão dos sujeitos socioculturais (FERREIRA;
OLIVEIRA, 2009, p. 10).

Desse modo, os alunos, quando estimulados a conhecerem a existência


das diversas formas de representação e de sujeitos socioculturais, se tornam
passíveis a compreenderem as contradições e desigualdades (vivenciadas
por eles e pelos demais) que os permeiam enquanto sujeitos sociais de uma
dada realidade, desenvolvendo habilidades reflexivas e críticas mediante a
realidade vivenciada ou estudada.
A proposta é de um ensino de geografia que expanda e amplie a visão
de país e mundo dos alunos, para olhares e pontos de vistas a significados,
sentidos e à importância das formas de reprodução dos sujeitos socioculturais
e de identidade. Para além disso, espera que os alunos também compreendam
que as instituições, os agentes e os sujeitos da sociedade como um todo fazem
parte de um espaço geográfico próprio. E, a partir de suas formas de uso e
ocupação do espaço e de suas relações sociais (família, escola, igreja, trabalho,
práticas de alimentação, vestuário, lazer, entre outras relações), formam seus
territórios e modificam as paisagens naturais, tornando-as culturais.
Identidade sociocultural no ensino de geografia 7

O entendimento pelos alunos de que as formas de reprodução social dão-se


em períodos históricos e sob múltiplas escalas (local-global) é fundamental.
Após essa compreensão, eles devem visualizar-se como sujeitos sociais que
fazem parte de uma dinâmica geográfica particular e coletiva.
Na temática das identidades socioculturais, os alunos precisam perceber
e reconhecer a diversidade que existe na sociedade que compõe sua família,
sua escola, seu bairro, sua cidade, seu estado, país e mundo, em termos eco-
nômicos (renda), raciais e étnicos, de crenças e religião (práticas e condutas
religiosas), culturais, sexuais, educacionais/intelectuais, políticos, partidários,
físicos, linguísticos, sociais, etc.:

A construção do conhecimento na Educação Contemporânea deve ocorrer cole-


tivamente e estar voltada para questões que contemplem as diferenças, ou seja,
a diversidade humana que compõe a escola, sendo necessário para isso, incluir
questões a serem discutidas e/ou refletidas tais como: etnia, raça, gênero, classe,
sexo, entre outras, valorizando todo o conhecimento que os diferentes grupos
trazem para a sala de aula, enriquecendo muito mais o ensino e a aprendizagem,
onde, infelizmente acabam sendo despercebidos ou ignorados por muitos profes-
sores (SANTOS, 2008, p. 10).

O exemplo da diversidade sociocultural do espaço escolar do aluno pode


ser um ponto de partida apresentado, explicativo e ilustrado, uma vez que
há, na mesma escola, professores, servidores e alunos com distinções em
termos étnicos, religiosos, de costumes, de poder aquisitivo, de questões
familiares, de gênero, de moradia (bairros e tipos, porte de residências),
de locais frequentados para alimentação, de lazer e compras, de meios de
transportes utilizados. Ou seja, há inúmeros exemplos de diferenças do
espaço vivido (vivenciado e experienciado) pelos sujeitos sociais da escola,
em seus cotidianos locais, mas também no contexto nacional e mundial em
que todos estão inseridos.
Cabe ao professor investir em rodas de conversas, debates e seminário,
com o intuito de ouvir sobre a história da comunidade familiar dos alunos,
as atividades que praticam fora da escola e aos finais de semana e o que
eles visualizam como diferenças socioculturais na escola. A partir disso,
complementa-se a aula, apresentando, por meio de imagens, fotografia,
mapas, documentários e filmes, outras diversidades socioculturais no contexto
da escola pública e particular nas regiões do país, como socioeconômicas,
religiosas, ideológicas, de gênero e do campo/cidade:
8 Identidade sociocultural no ensino de geografia

É de extrema relevância que a escola, especialmente a pública, reconheça as


diferenças, valorizando as especificidades e potencialidades de cada um, reconhe-
cendo a importância do ser humano, lutando contra os estereótipos, as atitudes
de preconceito e discriminação em relação aos que são considerados diferentes
dentro da escola (SANTOS, 2008, p. 36).

No entanto, ir além da escola local do aluno, ou mesmo da rua, do bairro, da


cidade, e apresentar a diversidade cultural (grupos sociais, tipos de sociedade
e civilizações) e social (mas também a desigualdade social), existentes nos
estados e nos países, e apresentar o papel desses diferentes tipos de grupos
sociais no uso, na ocupação, na produção e na transformação do espaço
geográfico, em especial sua relação e interação com a natureza, também se
faz valoroso.
Também precisa ser esclarecido que depender do tipo de sociedade,
da forma de organização social, e que os sujeitos apresentam uma relação
sociedade/natureza distinta, uma escala de interferência antrópica diferente
(de maior ou menor impacto ambiental.
Sobre a diversidade sociocultural para além da identitário do próprio aluno,
é imprescindível destacar outros sujeitos sociais, como os povos originários
e as comunidades tradicionais.
Sobre eles, segundo o Decreto nº 6.040/2007, que Institui a Política Nacio-
nal de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais
(BRASIL, 2007) e o Sistema Nacional de Informações e Indicadores Culturais,
do IPHAN, são considerados povos e comunidades tradicionais do país:

„„ povos indígenas;
„„ comunidades remanescentes de quilombos;
„„ ribeirinhos;
„„ pescadores artesanais;
„„ caiçaras;
„„ seringueiros;
„„ agroextrativistas da Amazônia;
„„ quebradeiras de coco-de-babaçu;
„„ comunidades de fundo de pasto;
„„ retireiros do Araguaia;
Identidade sociocultural no ensino de geografia 9

„„ geraizeiros;
„„ faxinalenses;
„„ pantaneiros;
„„ agricultores tradicionais;
„„ jangadeiros;
„„ campeiros;
„„ catingueiros;
„„ açorianos;
„„ marisqueiras;
„„ caranguejeiras;
„„ pomeranos, etc.

No que concerne aos povos e comunidades tradicionais, como os indíge-


nas, eles estabelecem relações com a natureza de maneira conservacionista,
utilizando de técnicas que não acarretam impactos ambientais, como a agro-
ecologia e as formas de uso e ocupação sustentável das terras e florestas,
além de alguns casos, como dos povos indígenas que apresentam uma relação
sagrada e espiritual com a terra e os seus territórios:

A maior parte das áreas significativas de alto valor natural remanescentes no


planeta é habitada por povos indígenas, comprovando a eficácia dos sistemas
indígenas de manejo de recursos. Os povos indígenas que vivem nas florestas
contribuem fortemente para sua conservação, por meio de seus conhecimentos
e usos tradicionais. Seus padrões de ocupação territorial e formas de gestão têm
historicamente garantido a permanência de muitas áreas com suas florestas bem
preservadas (FUNDAÇÃO NACIONAL DO ÍNDIO, 2015, p. 91).

O mapa da Figura 1, a seguir, é um exemplo que pode ser utilizado em sala


de aula, representando a localização de terras indígenas geograficamente
próximas de áreas de unidades de conservação, ratificando a proposição de
que os indígenas, devido às suas práticas e ao seu modo de vida, se estabe-
lecem de forma que prezam pela conservação da natureza e com atividades
que causam menores impactos, ou seja, de maneira sustentável.
10 Identidade sociocultural no ensino de geografia

Figura 1. Localização de terras indígenas próximas de áreas de conservação.


Fonte: Fundação Nacional do Índio (2015, p. 93).

Outros materiais cartográficos complementares para o reconheci-


mento da identidade sociocultural dos indígenas, no que diz respeito
à sua distribuição territorial (por biomas, estados, municípios, campo/cidade) e
a maiores etnias indígenas no Brasil, podem ser acessados na página Indígenas,
no site do IBGE.
Identidade sociocultural no ensino de geografia 11

Portanto, quando os alunos reconhecem suas identidades socioculturais,


tornam-se mais aptos a valorizarem suas potencialidades, o que acarreta
melhorias em seu futuro educacional, profissional e pessoal (autoconheci-
mento, autoestima). E quando percebem a diversidade sociocultural existente
na sociedade, moldam suas posturas para uma melhor convivência com as
diferenças.

Reconhecimento da identidade
sociocultural no ensino de geografia
A seguir, são apresentadas duas propostas de planos de ensino de geografia
para trabalhar com o conteúdo da unidade temática “O sujeito e seu lugar no
mundo”, sob o prisma das identidades socioculturais do aluno e dos demais
grupos (como os indígenas), utilizando-se recursos didáticos, como mapa
mental e história em quadrinhos.

Plano de ensino de geografia 1


Segundo Lopes e Richter (2013, p. 11), o mapa mental é “[…] um recurso didático
que não possui os rigores dos produtos cartográficos convencionais, mas que
possibilita uma articulação entre cotidiano, conteúdos, conceitos geográficos
e saberes aprendidos pelos alunos”.
Desse modo, a proposta deste plano de ensino é que os alunos elabo-
rem um mapa, aproximando-se com os objetivos da cartografia social e da
autocartografia, representando as identidades socioculturais e identitárias
de sua comunidade familiar e escolar, usando título, legenda, orientação,
simbologia, cores, uso da escrita (palavras-chave, diagramas). O Quadro 1,
a seguir, traz um exemplo.

Quadro 1. Exemplo de plano de ensino 1

Habilidade (EF02GE02) Comparar costumes e tradições de diferentes


(BNCC) populações inseridas no bairro ou na comunidade em
que vive, reconhecendo a importância do respeito às
diferenças.

Tema Geografia do cotidiano: características socioculturais e


identitárias da família e da escola.
(Continua)
12 Identidade sociocultural no ensino de geografia

(Continuação)

Dispositivo Mapas mentais


didático

Procedimentos Elaborar um mapa mental de forma manual (utilizando


folhas, lápis, lápis de cor, canetas).

Questão Identificar, representar e analisar as diferentes formas


e características socioculturais materiais (naturais e
antrópicos) e imateriais (naturais e antrópicos) dos lugares
e dos sujeitos sociais que compõem a sua família e a sua
escola.

Assista ao vídeo “Como fazer um mapa mental em 5 passos” no You-


Tube, e conheça técnicas e dicas para elaboração de um mapa mental.

Plano de ensino de geografia 2


Com modos de vida, reprodução social, tradições, lendas, crenças, simbolis-
mos, espiritualidades e uma relação conservadora e sagrada com a natureza,
esses povos indígenas buscam incessantemente a permanência de sua cultura,
a sobrevivência nas terras, a legitimação e demarcação de seus territórios.
Configuram características de pertencimento, memória, identidade própria
das etnias das quais são nativos.
Segundo Souza (2013), os povos indígenas disputam e lutam não apenas
por terra e território, mas pela não destruição de seus modos de vida, ou seja,
pela resistência e manutenção de suas identidades. Para esses grupos, a terra
não tem valor de troca, não é considerada uma mercadoria (não apresenta
o caráter da propriedade privada), como em outros grupos sociais, mas tem
valor de uso.

Não é como propriedade privada que se realiza a luta pela demarcação das terras
indígenas, mas sim como modo de vida, como modo de ser, modo de existência,
o que não significa que sua representação social sobre a terra não se transfor-
me, mas efetivamente essa inversão exige compreender uma mudança em sua
essencialidade, a “permanência” também do sujeito, como sujeito social frente a
um modo de produção hegemônico (SOUZA, 2013, p. 13).
Identidade sociocultural no ensino de geografia 13

Segundo o Censo Demográfico do IBGE, de 2010, de 817.963 indígenas,


502.783 vivem na zona rural e 315.180 habitam as zonas urbanas brasileiras,
havendo povos em todos os estados do país, mas com maior concentração nos
estados da região Norte. Há 305 etnias diferentes no país e 274 línguas indí-
genas (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2012). O Quadro 2,
a seguir, traz um exemplo de plano de ensino de geografia nesse sentido.

Quadro 2. Exemplo de plano de ensino 2

Habilidade (BNCC) (EF03GE03) Reconhecer os diferentes modos de vida de


povos e comunidades tradicionais em distintos lugares.

Tema Características socioculturais e identitárias dos povos


indígenas Yanomami.

Introdução Os Yanomami são um dos maiores povos indígenas


relativamente isolados da América do Sul, e seus
territórios abrangem florestas e montanhas do norte do
Brasil e sul da Venezuela (OS YANOMAMI, 2020).

Dispositivo História em quadrinhos


didático

Procedimentos Leitura disponível em: http://www.hutukara.org/images/


stories/pdf/_Povos.pdf

Questão Identificar e analisar narrativas, ilustrações e a crítica do


texto.

Dissertar sobre „„ Histórico da demarcação das terras dos povos


os temas Yanomami;
„„ relação dos povos Yanomami com a natureza (caráter
sagrado e conservacionistas das terras e das
florestas);
„„ formas de organização social, uso e ocupação dos
territórios (caça, pesca, prática da agricultura, lazer e
educação no campo — língua nativa);
„„ impactos socioambientais aos povos Yanomami com
a chegada de garimpeiros, empresas mineradoras,
latifundiários e exército (transmissão de doenças,
choque cultural, impactos na coleta e produção de
alimentos, impactos ambientais no ar, sonoros, nas
águas — contaminação por mercúrio, assoreamento).
14 Identidade sociocultural no ensino de geografia

Há povos indígenas da etnia Yanomami que vivem isolados em áreas


fronteiriças entre o Brasil e a Venezuela. Confira os registros, por
meio da tecnologia das fotografias áreas, na matéria “Novas fotos incríveis de um
povo isolado na Amazônia”, que pode ser acessada no site da ONG Survival Brasil.

Confira a plataforma on-line Mirando Mundos Possíveis e a 1ª Mostra


CineFlecha, que traz material audiovisual e cinematográficos atual,
relatando os problemas e as estratégias utilizadas por algumas aldeias indígenas
brasileiras no enfrentamento da pandemia da Covid-19.

Essas propostas objetivam apresentar aos alunos um ensino de geografia


que promova um pensamento territorial, estimule raciocínios e leituras geo-
gráficas sobre os múltiplos sujeitos, grupos e suas respectivas identidades
socioculturais que configuram na sociedade brasileira.
Assim, para ensinar sobre o processo de formação da sociedade brasileira
e seus desdobramentos no espaço geográfico do país, é fundamental que os
alunos reconheçam sua própria identidade e a si mesmos como parte de um
espaço geográfico onde particularmente apresentam identidades, formas
de pertencimento e relações entre pessoas e lugares. Para além disso, que
os alunos percebam o papel desempenhado por grupos como os de sujeitos
sociais, povos originários e comunidades tradicionais, no que diz respeito às
suas características indenitárias e suas formas de uso e ocupação no espaço.

Referências
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senvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais. Brasília: Presidência
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2010/2007/decreto/d6040.htm. Acesso em: 26 out. 2020.
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Identidade sociocultural no ensino de geografia 15

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LOPES, A. R. C.; RICHTER, D. A construção de mapas mentais e o ensino de geografia:
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Acesso em: 26 out. 2020.
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TINI, J. W. (org.). O ensino de geografia no século XXI. Campinas: Papirus, 2004. p. 219–248.
VIEIRA. E. F. A geografia atual. Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande
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16 Identidade sociocultural no ensino de geografia

Leituras recomendadas
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da Cidadania e dá outras providências. Brasília: Presidência da República, 2008. Dis-
ponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/dnn/dnn11503.
htm. Acesso em: 26 out. 2020.
COMO fazer um MAPA MENTAL em 5 PASSOS. [S. l.: s. n.], 2019. 1 vídeo (9 min 16 s).
Publicado pelo canal Jéssica Mendes. Disponível em: https://www.youtube.com/
watch?v=IZVf0ugVZqA. Acesso em: 26 out. 2020.
ÍNDIGENAS. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Rio de Janeiro, 2020. Disponível
em: https://indigenas.ibge.gov.br/. Acesso em: 26 out. 2020.
MIRANDO mundos possíveis. Rede CINEFLECHA, [S. l.], 2020. Disponível em: https://
redecineflecha.org/mirando-mundos-possiveis/. Acesso em: 26 out. 2020.
NOVAS FOTOS incríveis de um povo isolado na Amazônia – que pode ser exterminada.
Survival Brasil, [S. l.], 17 nov. 2016. Disponível em: https://www.survivalbrasil.org/
ultimas-noticias/11504. Acesso em: 26 out. 2020.
RESENDE, M. M. S. O saber do aluno e o ensino de geografia. In: VESENTINI, J. W. (org.).
Geografia e ensino: textos críticos. Campinas: Papirus, 1989. p. 57–63.
VANZELLA CASTELLAR. S. M. A formação de professores e o ensino de geografia. Revista
Terra Livre – Associação dos Geógrafos Brasileiros, São Paulo, n. 14, p. 51–59, 1999.
Disponível em: https://www.agb.org.br/publicacoes/index.php/terralivre/article/
view/374. Acesso em: 26 out. 2020.

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