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Professora da Universidade Federal da Fronteira Sul, Campus Erechim. Curso Geografia –
licenciatura. Coordenadora do subprojeto de Geografia PIBID/CAPES. E-mail: [email protected]
dificuldades de leitura, interpretação e elaboração de mapas ao trabalhar com cartografia em
sua prática pedagógica. Diante desse contexto, decidimos que deveríamos focar estudos e
práticas voltados à Cartografia Escolar que possibilitem a aprendizagem da cartografia para
além da reprodução mecânica de mapas, já que a linguagem cartográfica é conteúdo
obrigatório para ser desenvolvido com os estudantes, previsto tanto nos PCN, quanto nas
Diretrizes Curriculares Nacionais.
O tema cartografia escolar é relevante para o contexto educacional, em senso amplo, no que
diz respeito aos processos de ensino e de aprendizagem e, também, para o Ensino de
Geografia/Educação Geográfica, de forma mais específica. Pois, tais conteúdos são
imprescindíveis para que o estudante se reconheça como um sujeito capaz de ler o espaço e
transformar a realidade.
Yves Lacoste em A Geografia: isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra (1988
[1976]), revela as relações de poder institucionalizadas na prática cartográfica, identifica um
caráter dual quanto a produção e reprodução do conhecimento geográfico: denominadas, de
um lado por “Geografia dos Professores” e de outro por “Geografia dos Estados Maiores”.
A “Geografia dos Professores” faz alusão ao modo desinteresseiro/desinteressante pelo qual
2 Para mais informações consultar Girardi (1997), segunda a autora, durante muito tempo se fez uma história da
cartografia que separava os mapas “primitivos” e “antigos” dos “contemporâneos”. Nesta classificação está claro o
preconceito em relação aos mapas tanto das sociedades tecnologicamente não-avançadas e mesmo quanto aos mapas
“não-científicos” (p.16).
a geografia escolar apreende os fenômenos geográficos, descolado da prática social, de seus
conflitos e representações. O mapa e a linguagem cartográfica de escala ampla e adensados
de elementos técnicos, de acordo com as convenções cartográficas, tornam-se estranhos aos
estudantes. Um mosaico de informações desconexas e sem movimento. A “Geografia dos
Estados Maiores” revela o estreito vínculo entre política e conhecimento espacial: a
geopolítica, a arte de pensar a soberania do Estado-nação, defender seus interesses, isto é, as
aspirações burguesas de dominação e expansão, também conhecido pelo eufemismo
“desenvolvimento”. Aqui produz-se um conhecimento geográfico efetivo aos fins
desejáveis. Lacoste (1988) afirma ainda que a “Geografia dos Professores” é uma ideologia
da “Geografia dos Estados Maiores” e serve para mascarar o real conteúdo do conhecimento
geográfico, a saber, o pensar estratégico do espaço. Em nossa leitura é urgente a afirmação
de outra possibilidade de pensar e representar o espaço que parta dos sujeitos sociais, de seus
conflitos e territorialidades.
Iniciamos esta nova fase do projeto de iniciação a docência em julho e os desafios são
muitos. O principal deles é desconstruir “tradições cartográficas” e nos apropriar e usar a
linguagem cartográfica no contexto da construção dos conhecimentos geográficos, do
desenvolvimento do raciocínio espacial, o que significa dizer, como diz (Katuta, 2006) que
não se pode usá-la per se, mas como instrumental primordial, porém não único, para
elaboração de saberes geográficos.
LACOSTE, Yves. A Geografia: isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra.
Campinas: Papirus, 1988.