101.4 - Etica Ministerial
101.4 - Etica Ministerial
101.4 - Etica Ministerial
ÉTICA
MINISTERIAL
Estamos vivendo sem dúvida alguma os últimos dias da Igreja, eu acredito nisso. Dias difíceis
complicados mesmo, a bem da verdade estamos sentindo o mesmo desconforto das narinas de
Noé... O mundo se deteriorando lá fora e um certo mau cheiro exalando dentro da arca.
É tempo de alerta e reflexão, precisamos de paradigmas, exemplos para esta nova geração de
ministros do evangelho.
Tomo a liberdade de parafrasear o Senhor Jesus, dizendo: “A seara é realmente grande, mas são
poucos os exemplos”.
Gosto de escutar os testemunhos sobre os pastores que nos precederam, o que os marcou não
foi a capacidade teológica, mas o vigor moral e ético de uma vida santa, abnegada pela consciência
do que é ser um ministro do evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo.
Que estas marcas sejam alvo de nossas mais sinceras apreciações e que este também seja o selo
de nosso ministério.
O termo “Ética” deriva-se do grego ethos: caráter, modo de ser de uma pessoa.
Ética, do ponto de vista teológico e filosófico, busca identificar o certo e o errado.
Teologicamente, a ética está fundamentada nos princípios esboçados na palavra de Deus.
Filosoficamente, a ética estuda os valores e princípios morais de uma sociedade e seus grupos.
Ética pastoral é a aplicação de princípios fundamentados na palavra de Deus e nos valores
morais da sociedade, que orientarão o obreiro em sua conduta nas diversas áreas da vida.
Todos nós sabemos que não há regras quanto a isso, mas deve ser um ponto claro para cada
obreiro do evangelho. Precisamos estar com o Senhor, precisamos ouvir as suas ordens,
precisamos de sua direção, como trataremos dos negócios do Senhor da seara se não estivermos
com Ele?
O nosso relacionamento com o Senhor deve estar acima de todos os outros relacionamentos.
Dentre todas as outras qualidade que deve possuir um verdadeiro homem de Deus, não
conheço outra mais poderosa do que a sua familiaridade com o “Santo dos Santos”.
Observamos:
a. O ensino de Davi – “De tarde e de manhã e ao meio dia orarei; e clamarei, e ele ouvirá a minha
voz.” Sl 55.17
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b. O costume de Daniel – “Daniel, pois, quando soube que a escritura estava assinada, entrou em
sua casa (ora havia no seu quarto janelas abertas da banda de Jesuralém), e três vezes no dia
se punha de joelhos e orava, e dava graças, diante do seu Deus, como também antes
costumava fazer.” Dn 6.10
c. O exemplo de Jesus – “E aconteceu que naqueles dias subiu ao monte a orar, e passou a noite
em oração a Deus.” Lc 6.12
Perseverar em estar com Deus através da oração e pela leitura da Palavra nos levanta o véu
sagrado e dá-nos graça para entendermos a vontade de Deus.
C. H. Spurgeon dizia “Não ministre no templo enquanto não se lavarem na pia, perto do altar”. O
fato é que todo ministro do evangelho deve separar sua vida com Deus do seu trabalho para Deus. É
o nosso andar com Deus, que dá credibilidade ao nosso falar de Deus. O nosso relacionamento com
o Senhor nos dará condições de suportar os fracassos e nos manter firmes no êxito.
Se há um lugar em que o obreiro precisa ser ético é dentro de sua própria família, como
marido e como pai, lutamos para que as nossas inflamadas mensagens pronunciadas do púlpito
não sejam vítimas de incoerência em nossa maneira de viver entre os nossos familiares.
Se o fogo de Deus há de brilhar em algum lugar, que seja primeiro em nossas casas, entre
nossas esposas e filhos. Que nossas esposas e filhos nunca tenham dúvidas sobre o nosso ofício e
se algum dia forem solicitados a se pronunciarem sobre ele, que afirmem com toda a verdade “–
É um pastor!”, nunca “– É um ator”.
a. Abraão – Gn 16;21
b. Moisés – Nm 12.1
c. Samuel – 1 Sm 8.1-5
Diante disso, todo cuidado é pouco. Queira Deus que nossas casas estejam edificadas nestas
bases apontadas por Paulo:
a. Amor – “Vós, maridos, amai vossas mulheres como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo
se entregou por ela.” Ef 5.25
b. Respeito – “Vós, mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos, como ao Senhor.” Ef 5.22
c. Autoridade– “Vós, filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor, porque isto é justo.”Ef 6.1
Nossas famílias precisam de saúde espiritual. É muito triste o lar de um obreiro ter cheiro de
hospital, porque tem sempre alguém sendo atendido na emergência.
a. Deixe sempre claro que você é o pastor, não sua mulher e filhos.
b. Não reúna sua família para falar mal dos outros.
c. Nunca abra dificuldades do seu casamento para as ovelhas.
d. Não exponha publicamente sua esposa ou filhos de forma negativa.
e. Sempre diferencie o que lhe pertence e o que pertence à igreja.
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f. Jamais banalize as coisas sagradas.
Que Deus nos ajude e que as palavras ditas por Josué “Porém eu e a minha casa serviremos ao
Senhor” sejam verdadeiras em nossos lábios.
Um dos modos mais seguros de ver a autenticidade de uma chamada para o ministério é a
importância e a responsabilidade que o obreiro dispõe para realizar a sua tarefa - “Porque diz a
escritura: não ligaras à boca ao boi que debulha e digno é o obreiro do seu salário.” 1 Tm 5.18
Paulo está dizendo: “Aqueles que trabalham, merecem pagamento”. Porém é bom lembrar
“aqueles que trabalham”.
Conta-nos a história que Nero, imperador romano, tocava violino enquanto Roma ardia em
chamas e enviava navios à Alexandria no Egito em busca de areia para arena, enquanto a
população morria de fome. A irresponsabilidade é uma das características mais grosseiras a
serem observadas na vida de um pastor.
Se marcar um compromisso, cumpra. Se alguém lhe pedir auxílio e orientação, não se esquive.
Se chegar aos seus ouvidos um pedido de socorro, não se faça de surdo.
Que Deus nos guarde para que o Senhor Jesus nunca venha olhar para o lugar em que
trabalhamos e chegue à seguinte constatação: “Saindo, viu uma grande multidão, e teve
compaixão deles, porque eram como ovelhas que não têm pastor.” Mc 6.34
Por fim, seja zeloso, honesto e trabalhador, o púlpito não pode transformar-se em escada pela
qual suba a ambição, porque todos que se deixaram levar por esse espírito nunca deram em
nada.
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A Ética de um ministro do evangelho deve estar fundamentada na palavra de Deus e prover
valores que conduzam a sua conduta em todos os relacionamentos.
Ética denota também em reconhecer a nossa posição em função, junto ao pastor presidente da
igreja.
Quero dizer com isso, que bem-aventurado é o obreiro que entende o que é ser um pastor
auxiliar, ele saberá que não estará nesta posição para seguir sua própria visão ou vontade, mas
encontrará verdadeira satisfação em participar da visão que Deus entregou ao pastor da igreja.
Uma das piores coisas que pode acontecer à Igreja é obreiros mal intencionados. Todo
verdadeiro servo de Deus não procura ser grande, e sim ser útil.
Convém que o pastor auxiliar seja um homem dotado de humildade, obediência, prontidão e
honestidade e que respeite o pastor presidente da igreja, porém nunca seja um bajulador, pois o
exagero, mesmo numa coisa boa, causa indigestão e desagrado.
Encerro estas notas citando o apóstolo Paulo em Cl 4.17: “... Atenta para o ministério que
recebeste no Senhor: para que o cumpras.”.
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ÉTICA II
Continuando a falar sobre ética, assim como o direito e outras profissões têm sua ética peculiar,
já está claro que o ministério pastoral tem a sua.
Há sem dúvida, diversos outros princípios que deveriam ser abordados, mas devido ao tempo
destacaremos apenas alguns.
2) O princípio da consciência
O que estamos presenciando é uma total destruição das coisas que realmente são
importantes, nesta época “pós-moderna” em que a troca de valores é evidente e gritante, faz-se
necessário que o pastor como guardador do rebanho esteja alerta, principalmente no que tange a
sua consciência.
A consciência exige do ministro do evangelho a percepção dos meios para se alcançar os fins,
será um péssimo obreiro aquele que anula sua consciência, pois mais cedo ou mais tarde perderá
a confiança do rebanho, e confiança é elemento indispensável na relação “ovelha e pastor”.
O pastor deve sempre ter em vista que as questões que lhes são apresentadas para
aconselhamento não são por parte da ovelha simples elemento rotineiro, é preciso ajuda de Deus
e sensibilidade para dar a orientação e direção oportuna.
3) O princípio do decoro
O exercício do ministério sagrado exige também daquele que o desempenha seriedade e
comportamento equilibrado. O decoro pode ser observado na linguagem do ministro, aja vista
que o apóstolo Paulo faz recomendações a dois obreiros que trabalhavam com ele, a Tito diz:
“Linguagem sã e irrepreensível.” Tt 2.8, a Timóteo recomenda: “Mas rejeita as fábulas
profanas.” I Tm 4.7.
É triste, constrangedor e vergonhoso se observar em um homem que ocupa um púlpito
sagrado toda espécie de palavras indecorosas, chulas e torpes.
O decoro também manifesta-se em nossa maneira de se trajar, ao obreiro cabe discernir como
deve estar vestido avaliando cada ocasião. Não é conveniente a um pastor, salvo em algumas
circunstâncias, ir á uma cerimônia fúnebre com roupas que usaria em momentos de lazer. O
decoro pressupõe comportamento com ele compatível, decência, respeito e conveniência,
estende-se também ao comportamento do obreiro em público principalmente. O ministro do
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evangelho deve evitar todo tipo de leviandade, gestos comprometedores, palavras irrefletidas e
chocarrices, não estamos falando contra o bom humor, não é bom que o semblante do obreiro
lembre as carrancas dos barcos do rio São Francisco, porém, deve lembrar-se sempre que tudo
tem seu momento oportuno.
4) O princípio da disciplina
Este ponto engloba uma das questões mais sensíveis do ministério pastoral, o momento em
que o pastor para preservar a saúde do rebanho precisa exercer a disciplina.
Isto deve ser feito com o maior cuidado possível, o pastor não deve temer a impopularidade e
jamais deve curvar-se á omissão, porém, ele deve ser prudente e diligente nesta área, jamais
expondo de maneira vexatória ou constrangedora a quem quer que seja.
A disciplina, não é perder ou jogar uma vida fora da igreja, mas restaurar, curar a ferida,
reconduzir aos trilhos “a cana trilhada não quebrará, nem apagará o pavio que fumega: em
verdade produzirá o juízo”. Is 42.3.
A disciplina é necessária, mas sempre deve ser aplicada com amor, nunca com qualquer outro
sentimento, também se deve dar ao ofensor todas as oportunidades possíveis para o
arrependimento “irmãos, se algum homem chegar a ser surpreendido em alguma ofensa, vós
que sois espirituais encaminhai o tal com espírito de mansidão, olhando por ti mesmo para
que não seja também tentado.” Gl 6.1.
O pastor que tratar este assunto eticamente tem 90% de possibilidade de não perder a ovelha.
5) O princípio da hospitalidade
Acho esse um ponto interessante de se tocar aja vista que estou pastor em uma igreja no
interior do estado do Espírito Santo e quase sempre recebemos visitas de alguns irmãos.
Considero a hospitalidade uma forma de servir a Deus. Considero a hospitalidade também
uma forma de exercermos a generosidade “comunicai com os santos nas suas necessidades,
segui a hospitalidade.” Rm 12.13.
Tratar com educação, respeito e cortesia uma pessoa é nosso dever principalmente se você a
convida para ministrar na igreja, é intransferível ainda que devido a outras obrigações o pastor
não possa acompanhar o visitante em todo o tempo, recomendo que sua atenção seja constante.
Em Lucas 7 a partir do versículo 36, temos uma clássica história de falta de hospitalidade que foi
condenada por Jesus. “A alma generosa engordará, e o que rega também será regado.” Pv
11.25.
Além dos assuntos que já foram abordados, apenas citaremos algumas regras fundamentais ao
bom desenvolvimento da ética pastoral:
1 - Preserve a honra de seu ministério
2 - Não vincule seu nome a coisas duvidosas
3 - Não alimente, nem promova contendas
4 - Procure se aprimorar
5 - Não seja ladrão de ovelhas
6 - Não lute para se promover, deixe que Deus lhe promova
7 - Lembre-se, a soberania de Deus não anula nossa responsabilidade.
Tendo em vista o mundo ao nosso redor cada vez mais mergulhar em um mar de lamas, pois os
homens se distanciam de Deus dando lugar a uma filosofia do desespero, tornando as práticas
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pervertidas cada vez mais comuns, nessa total inversão de valores, o obreiro do evangelho deve sim
com bastante seriedade considerar a questão ética no desempenho de seu ministério.
Um dos ministérios de maior sucesso em todos os tempos foi o do evangelista Billy Graham. Em
1948 na cidade de Modesto estado da Califórnia, Billy Graham e sua equipe tomaram uma decisão,
pautada na palavra de Deus e na ética que lhes assegurou sem dúvida alguma o futuro grandioso
que tiveram.
“Certa tarde, durante os trabalhos em Modesto, reuni a equipe para discutirmos o problema. Pedi-
lhes que permanecessem em seus quartos durante uma hora e relacionassem todos os problemas que
poderiam estar prejudicando os evangelistas e a evangelização.
Quando todos retornaram, notamos que as listas eram bastante semelhantes, em curto espaço de
tempo tomamos uma série de decisões e assumimos compromissos mútuos que serviriam de
orientação para nossos trabalhos evangelísticos futuros. Na realidade, isso representava um acordo
informal entre nós - um compromisso de fazer o possível para defender a integridade e a pureza dos
evangelistas, tendo a Bíblia como padrão de comportamento.
O primeiro ponto da lista a ser debatido era o dinheiro. Quase todos os evangelistas daquela época -
inclusive nós - eram sustentados pelas ofertas recolhidas durante as reuniões. Alguns evangelistas
eram fortemente tentados a extrair o máximo de oferta de público, em geral fazendo uso de veementes
apelos emocionais. Além disso, havia pouco ou nenhum controle sobre o dinheiro arrecadado. A
condição dava margem à se pensar em abusos, levando os evangelistas a serem acusados de realizar
as reuniões apenas por dinheiro.
O segundo item da lista era o perigo da imoralidade sexual. Conhecíamos evangelistas que haviam
cometido atos imorais por estar longe da família. Comprometemo-nos a evitar qualquer situação
passível de levantar a mínima suspeita. Daquele dia em diante, não viajei, não fiz refeições, nem estive
a sós com nenhuma mulher, a não ser minha esposa. Decidimos que a ordem do apóstolo Paulo ao
jovem Timóteo seria também a nossa: “Foge... das paixões da mocidade.” II Tm 2.22
O terceiro item referia-se à tendência da maioria dos evangelistas em desvincular seus trabalhos da
igreja local, chegando a criticar os pastores e as igrejas da cidade de forma explícita e mordaz.
Estávamos convencidos de que além de ser contraproducente, essa conduta contrariava os
ensinamentos bíblicos. Estávamos decididos a cooperar com todos aqueles que cooperassem conosco
para a proclamação do evangelho e evitar atitudes anti-eclesiásticas e anticlericais.
O quarto e último item relacionava-se à autopromoção. Alguns evangelistas tinham o hábito de
exagerar o próprio sucesso ou o número de pessoas presentes às reuniões. Esse tipo de comportamento
também prejudicava o conceito de evangelização e levantava suspeitas contra o trabalho em geral.
Com isso a imprensa passou a desconfiar dos evangelistas, recusando-se a tomar conhecimento de
suas obras.
“Comprometemo-nos em Modesto a manter integridade tanto em nossa promoção como nos
comentários acerca das reuniões.” (GRAHAM, 1998)
Concluindo pedimos a Deus que essas notas sirvam de ajuda e orientação no desempenho do
ministério que temos recebido do Senhor Jesus Cristo. Salta-nos à lembrança a citação de Paulo aos
romanos “A ninguém torneis mal por mal; procurai as coisas honestas, perante todos os homens.”
Rm 12.17
Que Deus nos ajude.
Castelo, 14 de Junho de 2012
Pr. João Ribeiro
Servo de Jesus Cristo
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