Manual de Formação Docente
Manual de Formação Docente
Manual de Formação Docente
de formação
docente
Introdução à neuroeducação
Trabalho por projetos
Aprendizagem cooperativa
Avaliação formativa
Manual
de formação
docente
CONTEÚDOS
I Introdução à neuroeducação 5
IM
PE
ENTO
Desde o início que as aprendizagens a nível cerebral, devem ini-
ciar-se através da observação, da manipulação e da experimen-
tação, em pleno contacto com a natureza e com os seus
elementos. Assim o determinam os códigos do cérebro, integra-
dos neste ao longo de todo o processo evolutivo. É imprescindí-
vel que a realidade entre nas salas de aula para ativar os códigos
que ativaram a curiosidade, a atenção e a aprendizagem dos
alunos e das alunas.
EMOÇ
samento abstrato.
ES
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Õ
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SENSAÇ
Sendo assim, a nossa tarefa como docentes, será preparar os nos-
sos alunos e as nossas alunas, paulatinamente, para que sejam
MU
capazes de dar resposta aos problemas que lhes surgem, tendo em N
DO L
REA
conta a realidade em que vivem, tanto a nível pessoal como social,
FIGURA 1. A REALIDADE E A APRENDIZAGEM
académico e, posteriormente, profissional.
Mais concretamente, nos primeiros ciclos do Ensino Básico, o nosso
trabalho como profissionais da educação vai consistir em proporcio- MA EDUCAÇÃO BASEADA NO CÉREBRO:
U
nar aos nossos alunos e alunas ambientes, contextos ou situações A NEUROEDUCAÇÃO
da realidade, através das quais possa «absorver» e recolher, como se Nós, os docentes, da mesma forma que sucede noutras profissões,
fosse uma esponja, todas as perceções e sensações que o rodeie. precisamos de uma base científica que sustente as decisões corres-
Será através dessa aprendizagem implícita, através do contacto pondentes à nossa prática educativa. Desta forma, uma educação
com a realidade, que se facilitará um constante processo de estabe- baseada no cérebro, a chamada neuroeducação, toma como base
lecer e reforçar as conexões neuronais para aprender e memorizar os conhecimentos que já se possuem sobre os processos cerebrais
aquilo que, posteriormente, servirá de substrato ao pensamento da emoção, da curiosidade, da atenção e da memória.
abstrato. Como docentes, conhecer estes processos cerebrais vai ajudar-nos
a potencializar e a melhorar as capacidades e os talentos das crian-
ças, a detetar défices nas capacidades de leitura, escrita, cálculo
«Uma criança não começa a aprender com ideias e com concei-
mental, etc. Mas também nos ajudará a compreender melhor certos
tos abstratos, mas sim com perceções, emoções, sensações e
aspetos, como o porquê de a emoção ser primordial na aprendiza-
movimento, obtidos do mundo sensorial e como reação ao
gem ou o porquê de não se poder chegar à abstração sem passar
mundo real» (Francisco Mora, 2013).
primeiro pela manipulação de objetos ou de materiais.
Assim, o objetivo da neuroeducação é estabelecer-se como uma
CURIOSIDADE
referência científica da educação que apoie a nossa prática
MEMÓRIA docente e que nos ajude, como professores, a que os nossos
alunos e alunas aprendam de uma forma mais eficiente,
agradável e duradoura.
EMOÇÃO
ATENÇÃO
O FUNCIONAMENTO DO CÉREBRO
O cérebro humano consta de três sistemas interconectados (Casa-
font, 2014):
14 O primeiro sistema cerebral, conhecido como «cérebro reptiliano», é 15
FIGURA 2. NEUROEDUCAÇÃO aquele que permite manter as funções vitais básicas, como respi-
rar, dormir ou comer. O seu objetivo é garantir a sobrevivência do
Descobrir, entre outras questões, que a aprendizagem surge da indivíduo.
atenção sobre aquilo que estimula e gera prazer cerebral, pode aju- O segundo sistema cerebral é o chamado cérebro «mamífero»,
dar-nos a criar métodos didáticos e recursos que tenham como «emocional» ou «límbico», por se situar na zona límbica do cérebro.
objetivo despertar as emoções que, por sua vez, vão estimular a Dispõe de duas estruturas muito importantes para a aprendiza-
curiosidade e a atenção nos alunos. Hoje sabemos que obrigar a gem, o hipocampo e a amígdala cerebelosa. Enquanto a amígdala
memorizar não funciona, apesar de, noutras épocas, o castigo ter cerebelosa é responsável pelas emoções, o hipocampo encarrega-
sido utilizado como estímulo para aprender. -se de guardar na memória aquilo que possa ser relevante.
O terceiro e último sistema cerebral é o neocórtex, que é a parte do
Uma didática baseada nas neurociências vai implicar uma forma
cérebro que nos diferencia, a nós humanos, do resto das espécies.
de ensinar que está mais de acordo com a maneira como o
Dentro desta zona, o córtex pré-frontal, situado atrás do frontal,
cérebro humano aprende e também uma mudança na nossa
é o encarregado de levar a cabo as chamadas funções executivas,
tarefa como educadores.
que analisaremos mais adiante.
Assim, o cérebro humano dispõe de três sistemas que se encarregam
Devemos ter consciência da responsabilidade que temos como
de gerir a nossa sobrevivência e nos permitem planificar e tomar deci-
docentes relativamente ao que ensinamos e à forma como o
sões (fig. 3 da página seguinte).
fazemos, porque o que se ensina e como se ensina tem «a capacidade
de mudar os cérebros das crianças a nível físico e a nível químico, De que é que precisam estas estruturas cerebrais para se desenvolve-
anatomicamente e fisiologicamente, fazendo crescer umas sinapses rem corretamente?
ou eliminando outras e conformando circuitos neuronais cuja função a) De um ambiente psicológico rico em afetos e estímulos sensoriais.
se expressa na conduta» (Francisco Mora, 2013).
b) De uma alimentação equilibrada, com variedade de alimentos
Isto significa que as mudanças sinápticas do cérebro são fruto do ricos em ómega-3, ferro, zinco e magnésio.
ensino e a nossa obrigação, como docentes, é saber que a forma
como ensinamos tem tanta ou mais importância que aquilo que c) De um sono reparador.
ensinamos.
2. A importância das emoções
NEOCÓRTEX na aprendizagem
O QUE É A EMOÇÃO?
Alguma vez se questionou sobre o que é a emoção? Questionou-se se
existe alguma diferença entre emoção e sentimento? Uma possível
resposta a esta pergunta é-nos dada pela Dra. Rosa Casafont,
SISTEMA LÍMBICO
citando António Damásio (2006), diretor do Brain and Creativity Ins-
CÉREBRO REPTILIANO titute, quando nos refere que «a emoção se produz no cenário do
corpo e o sentimento no cenário da mente» (Casafont, 2014).
Segundo esta afirmação, podemos dizer que a emoção e o senti-
16 17
FIGURA 3. SISTEMAS CEREBRAIS mento não são sinónimos, apesar de, algumas vezes, os utilizarmos
como tal.
É ao longo do primeiro ano de vida que o cérebro se vai desenvolver
de forma regulada. Os neurónios crescem e ramificam-se no córtex O que é que entendemos por emoção?
cerebral, estabelecendo-se uma grande quantidade de sinapses ou
A emoção é a resposta automática que o nosso corpo tem
conexões, até alcançar o seu ponto máximo à volta dos oito anos de
diante de um estímulo. Contudo, o sentimento surge quando se
vida (Casafont, 2014).
tem consciência dessa emoção ou estímulo.
A partir daí inicia-se uma fase de eliminação sináptica das uniões
não utilizadas e um reforço das conexões mais utilizadas. Nesta
especialização sináptica da cablagem cerebral vão influir as nossas
vivências afetivas, a alimentação, o sono, etc., assim como todos os
estímulos que recebemos do meio ambiente.
Desenvolveremos estes aspetos nos capítulos posteriores dado que,
nos primeiros ciclos do Ensino Básico, tem grande importância a
atenção às necessidades psíquicas, emocionais e físicas das crianças.
Reação a Consciência
um estímulo da emoção
EMOÇÃO SENTIMENTO
levar a cabo a nossa prática educativa dentro da sala de aula, para: HIPOTÁLAMO
gem dos alunos e das alunas com práticas que sejam benéficas
ao nível cerebral.
FIGURA 6. ESTRUTURAS DO CÉREBRO
Das estruturas mencionadas, centrar-nos-emos na amígdala cere- Conhecer bem os alunos e as alunas
belosa, encarregada de determinar se o que percebemos põe em Estabelecer uma relação de proximidade com os alunos per-
causa a nossa sobrevivência. A sua resposta reativa é muito rápida, mitirá que estes se sintam confortáveis e que, além disso,
pois esta estrutura é fundamental para garantir a sobrevivência do tenham a confiança suficiente para nos contar as dificuldades
indivíduo. Em milissegundos deve decidir se o que os sistemas sen- e os problemas que enfrentam, quer sejam relacionados com
soriais percebem é benéfico. No caso de não ser proveitoso, deve as aprendizagens quer com a sua vida em geral.
proporcionar ao corpo a capacidade de responder rapidamente.
Promover a coesão social da sala de aula
Uma vez ativada a amígdala cerebelosa, a informação é enviada ao
Os alunos passam muito tempo com os seus colegas e com
hipotálamo, que se encarregará de proporcionar a resposta auto-
os docentes. Por esta razão, deve promover-se um ambiente
mática do nosso corpo (palpitações, transpiração excessiva, contra-
de aprendizagem em que se estabeleçam vínculos afetivos,
ção das pupilas, etc.) para que, finalmente, o córtex tenha
para que se crie uma rede de amizades fortes que os pos-
consciência.
20 sam acompanhar no seu dia a dia. 21
Esta forma de funcionar do nosso cérebro é a que nos faz afirmar
Educar as emoções
que as decisões que tomamos são sempre emocionais e não racio-
nais, como se pensa com frequência. O primeiro a reagir aos estímu- Aplicar programas de educação emocional ajudará, quer os
los externos é o cérebro mamífero, chegando depois ao uso da docentes quer os alunos, a desenvolver as suas competên-
razão, localizada no neocórtex. cias emocionais. Um trabalho sistemático e integrado das
competências emocionais melhorará a aprendizagem e
também promoverá a autogestão emocional.
Falar das emoções e dos sentimentos
Deve proporcionar-se um ambiente que permita que os alu-
APLICAÇÃO NA SALA DE AULA
nos expressem as suas emoções, sejam elas positivas ou
negativas. Falar de uma forma aberta sobre as mesmas
Criar um clima afetivo ajudá-los-á a aprender a geri-las e a resolver possíveis con-
Como educadores, a nossa missão é conseguir que a amíg- flitos derivados de uma má gestão emocional. Para alcan-
dala cerebelosa esteja relaxada para que os alunos sintam çar este objetivo podem facilitar-se espaços de reflexão (a
que o centro escolar é um lugar seguro e confortável. Antes partir da visualização de filmes, leitura de contos, jogos de
de mais, devemos preocupar-nos com o bem-estar de cada role play, etc.) ou aproveitando situações reais da sala de
um dos alunos e das alunas para evitar «sinais de alarme» aula (mal-entendidos, brigas, etc). Isto servirá para evitar
da amígdala cerebelosa. que sejam as emoções a dominar o corpo.
Este nível de segurança será necessário para que estejam Proporcionar feedback positivo
predispostos a aprender. Uma maneira para o conseguir é Os feedbacks que proporcionamos aos alunos, quando reve-
criar um clima afetivo positivo dentro da sala de aula, para mos as suas intervenções ou trabalhos durante a aula,
que o cérebro produza um neurotransmissor chamado devem servir não só para proporcionar as ajudas necessá-
serotonina, que se encarrega de transmitir informação ao rias, mas também para evidenciar aquilo que se está a fazer
nosso organismo sobre as nossas emoções. Isto provocará bem e proporcionando um reforço positivo. Os feedbacks
também um aumento da autoestima, pois as crianças vão positivos, na sua justa medida, ajudam a que as crianças se
sentir-se aceites por todos os membros da aula. sintam recompensadas pelo seu trabalho diário.
3. A atenção
PROMOVER A COESÃO
SOCIAL
PORQUE É QUE CUSTA, ÀS CRIANÇAS, MANTER A ATENÇÃO?
Como foi exposto, na infância o cérebro concede respostas
PROPORCIONAR emocionais a estímulos externos, mostrando algumas dificuldades
FEEDBACK
POSITIVO CRIAR UM CLIMA na sua gestão. Por sorte, o cérebro dispõe de um terceiro sistema, o
AFETIVO NA SALA DE AULA
neocórtex, mais precisamente o cortéx pré-frontal, que se encarrega
de realizar o intercâmbio de informação com outros sistemas
sensoriais e motores.
22 23
CONHECER MELHOR CÓRTEX
OS ALUNOS PRÉ-FRONTAL
EDUCAR
AS EMOÇÕES
DAR NOME ÀS
EMOÇÕES E AOS SENTIMENTOS
DOS ALUNOS
FIGURA 8. O CÓRTEX PRÉ-FRONTAL
As funções executivas
São as que nos permitem ter o controlo sobre nós próprios para
podermos dirigir o que fazemos, sentimos e pensamos. Por isso,
é necessário ativar estas funções dentro do ambiente escolar
para poder recordar, de forma voluntária e consciente, aquilo
que se aprendeu.
Este córtex pré-frontal será a última área do cérebro a amadurecer. O descanso: para poderem processar a informação externa, os
De facto, a sua maturação não termina antes dos 24-27 anos. Isto alunos devem dormir as horas necessárias.
implica que as crianças tenham dificuldades para gerir as suas
A motivação: para podermos orientar a atenção dos alunos para
funções executivas, o que se traduz em dificuldades para controlar
o elemento de aprendizagem, precisamos de provocar a sua curio-
voluntariamente três aspetos fundamentais:
sidade. Por isso, é muito interessante apresentarmos os conteú-
A atenção. dos de um modo estimulante, o que ativa as recompensas
O controlo de impulsos. positivas do cérebro que tornam a aprendizagem mais agradável.
A memória de curto prazo. Ambos os elementos são essenciais para poder conduzir correta-
mente a atenção, sendo que um depende do outro, pois, sem um
Estas funções executivas dependem, em grande parte, das emoções
correto nível de descanso por parte dos alunos será muito difícil
e mais concretamente, da amígdala cerebelosa. Assim, será mais
poderem prestar atenção ao que se realiza na sala de aula.
fácil, para um aluno ou uma aluna, gerir as suas funções executivas,
24 25
isto é, a sua atenção e os seus impulsos, se aquilo que se lhe apre-
senta for acompanhado de uma emoção positiva. Por isso, quando
gostam de alguma coisa, ou se algo as emociona, as crianças conse-
APLICAÇÃO NA SALA DE AULA
guem manter mais a atenção e aprendem melhor.
Centrar-nos-emos particularmente numa dessas funções executi- Propor tarefas de curta duração para manter uma
vas, a atenção, definida por Tomás Ortiz como «a capacidade de atenção contínua
selecionar a informação sensorial em cada momento e de dirigir os
O tempo de atenção de uma criança de 6 a 12 anos é curto
processos mentais» (2009).
— estima-se entre 8-12 minutos —, já que ainda não dispõe
Estar atento na aula para integrar os novos conhecimentos com os de um controlo correto das suas funções executivas (lem-
anteriores não é uma tarefa fácil. bremo-nos que o córtex pré-frontal, base das funções execu-
tivas, não acaba de se desenvolver até aos 24-27 anos). Isto
Estar atentos implica a ativação de processos mentais para implica, por parte do docente, controlar o tempo de duração
recuperar e/ou armazenar na memória as aprendizagens reali- das atividades para manter a atenção dos alunos.
zadas. Para conseguir isto, o aluno deve focalizar a sua atenção, Propor desafios
deixando de lado outros estímulos externos. Desta forma, Mora A proposta de superar desafios, vinculados à aprendiza-
(2013) evidencia que, para podermos estar atentos de forma gem, que despertem a curiosidade, permitirá motivar os
temporária, precisamos bloquear 99% de tudo o que nos passa alunos. Está claro que, se o objeto de estudo não cria curio-
pela cabeça para podermos prestar atenção ao 1% restante. sidade e, portanto, não capta a atenção, a aprendizagem
vai ser menor. Porquê? Porque quando se suscita a curiosi-
Aprender é um ato muito complexo ao nível cerebral. Por isso, o dade, o cérebro ativa o chamado sistema de recompensa
cérebro precisa de um nível de atenção suficientemente alto para se cerebral, associado a outro neurotransmissor, a dopamina.
concentrar num aspeto específico da realidade e obviar tudo o resto. Por esta razão devemos propor atividades que ativem a
Dentro desta atenção temos de ter em conta dois elementos cru- curiosidade e elevem, assim, os níveis de dopamina. Isto
ciais que ajudarão os nossos alunos a estar mais predispostos a consegue-se favorecendo ambientes de aprendizagem
estar atentos na aula. Estes elementos são, tal como nos indica novos e significativos, onde os alunos possam ver a funcio-
Ortiz (2009): nalidade daquilo que aprendem.
Ter em conta as emoções e o estado anímico – Usar diferentes tons de voz em função da mensagem ou
Como vimos, são as emoções que estão encarregadas da utilizar tons musicais para determinar as atividades do
predisposição positiva para a aprendizagem, aspeto que dia.
será necessário controlar e favorecer. A um aluno que emo- – Introduzir atividades que os alunos devam realizar junta-
cionalmente se sinta bem na aula, ser-lhe-á mais fácil gerir mente com os seus colegas, criando uma aprendizagem
a atenção, aspeto chave para a aprendizagem. Assim social, a partir da participação em tarefas conjuntas com
afirma Francisco Mora (2013): outras crianças (aprendizagem cooperativa).
Propor momentos de calma
«As emoções acendem e mantêm a curiosidade e a Juntamente com estes momentos de atividade, também
atenção e, com isto, o interesse pela descoberta de será necessário criar espaços de calma. Estes momentos de
tudo o que é novo, desde um alimento a um inimigo, ou calma terão duas finalidades:
26 a qualquer aprendizagem na sala de aula. As emoções, – Que os alunos saibam controlar o seu nível de excitação 27
em resumo, são a base mais importante sobre as quais (controlo de impulsos). Isto pode conseguir-se, por exem-
se apoiam todos os processos de aprendizagem e plo, a partir de exercícios de relaxamento ou reservando
memória». um espaço na sala de aula onde o aluno possa ir quando
estiver muito excitado. Neste espaço podem existir puffs
ou almofadas que o convidem a relaxar, a ler um livro, etc.
Favorecer um ambiente seguro
– Que os alunos possam dedicar um tempo a realizar certas
Além da necessidade de captar a atenção dos alunos para
atividades que precisam de longos períodos para serem
que possam ativar o seu córtex pré-frontal, não nos deve-
executadas, como pode ser a consolidação verbal ou
mos esquecer que o cérebro funciona de forma integrada,
escrita daquilo que aprendeu a partir da observação e
motivo pelo qual a atenção também estará condicionada
experimentação no meio ambiente. Esta consolidação
pela sensação de segurança. Se o cérebro mamífero se
pode levar-se a cabo num ambiente tranquilo, podendo
encontra em estado de alerta, porque a criança não se
ser acompanhada de música relaxante.
sente bem dentro do ambiente da sala de aula (por se sen-
tir pouco valorizada, por ter um conflito com outro aluno,
por se sentir assediada, etc), será muito difícil que possa
pôr o foco de atenção naquilo que lhe propomos aprender.
Afastar a monotonia e a previsão
Nos primeiros ciclos do Ensino Básico será necessário cap-
tar a atenção dos alunos e das alunas pondo em jogo vários
recursos para que isto suceda:
– Utilizar jogos para facilitar a aprendizagem.
– Incorporar o movimento ao longo da jornada, para que
possam estar ativos. O movimento, além disso, mobiliza
o fluxo sanguíneo, o qual vai transportar a glicose e o
oxigénio que o cérebro precisa para funcionar.
4. A aprendizagem e a memória Esta visão da aprendizagem proporciona uma visão dinâmica do
cérebro, que está em constante funcionamento, percebendo, com-
O QUE É QUE ENTENDEMOS POR APRENDIZAGEM? preendendo, analisando, associando, elaborando novas conexões
cerebrais e consolidando as que já possui.
Do ponto de vista cerebral, entende-se a aprendizagem como «um
processo mediante o qual diferentes grupos neuronais, de diferentes
áreas cerebrais, se conectam em uníssono para criar uma rede tem- COMO É QUE AS CRIANÇAS APRENDEM NOS PRIMEIROS
porariamente estável até que o exercício e a repetição convertam CICLOS DO ENSINO BÁSICO?
esta rede em permanentemente estável» (Ortiz, 2009). Segundo Nos primeiros anos, as crianças começam a aprender através do
esta definição, para realizar uma nova aprendizagem, o cérebro vai jogo. O jogo produz-se quando se reúnem a curiosidade, a emoção,
precisar, por um lado, de criar novos neurónios cerebrais — processo a recompensa e o prazer. «É o processo pelo qual, nos primeiros anos
conhecido como neurogénese — e, por outro, de estabelecer novas de vida, se realizam quase todas as aprendizagens positivas possí-
28 conexões entre eles, para criar redes neuronais cada vez mais com- veis» (Mora, 2013). 29
plexas que, por sua vez, interconectem diferentes áreas cerebrais.
Através do jogo, a criança ativa esses códigos integrados desde há
séculos no seu cérebro, que o levam a experimentar tudo aquilo que
Uma boa aprendizagem será aquela que permita criar novas lhe dá curiosidade e lhe produz prazer. Mediante o jogo, aprende a
redes neuronais no cérebro ou fortalecer as conexões entre as orientar-se no espaço, a identificar-se como um ser diferenciado, a
redes já existentes. Estes novos neurónios e as suas conexões classificar, a associar, etc.. E será através deste jogo que vai expan-
vão formar-se a partir dos estímulos que se recebem, sobretudo dir o seu conhecimento consciente, construindo novas redes neuro-
durante a infância, complementando-se ao longo das etapas de nais e novas conexões dentro do seu cérebro.
desenvolvimento posteriores. Existem diferentes formas de aprendizagem (Tomás Ortiz, 2009):
Por esta razão, os primeiros ciclos do Ensino Básico são funda- Aprendizagem por repetição. Uma das formas mais comuns de
mentais para consolidar as redes neuronais estabelecidas nos aprender é mediante a repetição de certas condutas ou habilida-
anos anteriores. Esta consolidação criará conhecimentos que des, até conseguir que estas estejam estruturadas e bem conecta-
vão ser guardados na memória a longo prazo, evitando ser des- das cerebralmente. Um exemplo claro é o processo de aquisição da
conectados durante o corte sináptico que se vai produzir depois. linguagem, que se aprende à base de repetir, até desenvolver uma
estrutura que nos permita comunicar. Este sistema não é o mais
adequado para a introdução de novas aprendizagens, para as
Esta capacidade neuroplástica do nosso cérebro vai diminuindo com a
quais são mais eficazes os modelos abertos, baseados em desa-
idade, apesar de não se perder totalmente. Uma pessoa saudável
fios e na procura de soluções mais do que na memorização.
pode aprender durante toda a sua vida, desde que não sofra de doen-
ças cerebrais degenerativas. E isto é assim porque o substrato da Aprendizagem por visualização. É muito utilizada nos primeiros
memória não é a quantidade de neurónios que temos, mas a quanti- ciclos do Ensino Básico e baseia-se na premissa de que se cons-
dade de conexões ou sinapses que se estabeleceram (Romo, 2014). troem melhor os conceitos associados a objetos, lugares ou ima-
gens, do que a palavras abstratas. Neste tipo de aprendizagem,
Assim, poderíamos entender a aprendizagem como o resultado da
o cérebro reforça o sistema de análise e de associação da infor-
interação entre as novas informações recebidas do meio ambiente
mação já aprendida. Por isso, é interessante aplicá-lo sobretudo
e as já aprendidas. Desta forma, os novos estímulos beneficiariam
naquelas áreas em que os alunos se sentem mais inseguros.
daquelas redes neuronais já estabelecidas, evitando que o cérebro
criasse novas redes desnecessárias.
Aprendizagem por imitação. Até há uns anos, pensava-se que era FOMENTANDO A MEMÓRIA A LONGO PRAZO
uma forma de aprendizagem principalmente social, e que não
A memória permite «evocar o aprendido, cada vez que queiramos, e
tinha relação com o cérebro. Atualmente, esta conceção mudou
fazer uso disso, quer no contexto de uma conversa, quer num ato de
devido à descoberta dos denominados «neurónios espelho»
conduta ou simplesmente num processo mental consciente determi-
(Fabbri-Destro e Rizzolatti, 2008), chamados assim por refleti-
nado» (Mora, 2013).
rem, como se se tratasse de um espelho, as condutas observa-
das. No campo educativo, esta aprendizagem é muito importante Memorizar significa consolidar as conexões neuronais estabelecidas
que seja tida em conta, já que os docentes atuam diante dos seus numa rede sináptica. Em termos neurobiológicos significa que uma
alunos como modelos a seguir. determinada sinapse ou conexão se usa repetidamente, isto é,
repete o aprendido, de maneira que o umbral de estimulação para
Aprendizagem por ação. Este tipo de aprendizagem percetivo-mo-
que o sinal elétrico se transmita de um neurónio para outro torna-se
tora, muito presente em todo o tipo de atividades lúdicas e des-
cada vez menor, precisando cada vez de menos estímulos para
portivas, constitui um bom método na etapa escolar, pois permite
30 alcançar uma resposta. 31
que o cérebro adquira novos esquemas muito sólidos. Uma forma
para o fortalecer poderia ser recordar verbalmente, ou assinalar
no papel, os conhecimentos adquiridos durante a aula no fim Se o relacionamos com os tipos de aprendizagem, à medida que
desta, o que facilitará a permanência da informação no cérebro. alguma coisa se repete vai-se reafirmando na memória, de
Aprendizagem implícita e explícita. A aprendizagem implícita é maneira que se vão fortalecendo as conexões e vai melhorando
aquela que se leva a cabo de forma não voluntária ou inconsci- a velocidade a que se pode recuperar uma conduta, habilidade
ente. Associa-se às habilidades percetivo-motoras e de procedi- ou conhecimento aprendido de forma voluntária e consciente
mentos, e organiza-se nas áreas mais profundas do córtex quando se produz um determinado estímulo.
cerebral. A aprendizagem implícita favorece enormemente a
explícita. Isto quer dizer que a exposição contínua a determina-
Da mesma forma que acontece com a aprendizagem, também exis-
dos estímulos favorece a posterior aprendizagem consciente ou
tem diferentes tipos de memória. Por um lado, temos uma memória
explícita. Por esta razão, é importante conceber ambientes com
consciente, que nos permite evocar e relatar factos ou acontecimen-
muitas novidades, para que o cérebro atue de forma positiva.
tos que sucederam. Dentro desta memória consciente está a memó-
ria a longo prazo, que é aquela que nos permite reter as recordações
ao longo da nossa vida; a memória icónica, aquela que nos permite
recordar as coisas durante um breve espaço de tempo; a memória
IMITAÇÃO
de trabalho, etc.
REPETIÇÃO
Por outro lado, dispomos da memória inconsciente, mais relacio-
VISUALIZAÇÃO
nada com atos motores, como andar de bicicleta, conduzir ou escre-
ver no computador. Essas aprendizagens estão guardadas no nosso
IMPLÍCITA OU EXPLÍCITA cérebro e só são evocados quando executamos essa determinada
conduta ou ato motor. Na memória implícita, reside a capacidade de
AÇÃO
executarmos as nossas tarefas diárias ou quotidianas.
Existe também um tipo de memória relacionada com os aconteci-
mentos emocionais.
FIGURA 9. FORMAS DE APRENDIZAGEM
Não nos podemos esquecer que qualquer nova aprendi-
APLICAÇÃO NA SALA DE AULA
zagem precisa de um tempo de consolidação, porque a
NOS PRIMEIROS CICLOS DO ENSINO BÁSICO
repetição do mesmo ajudará a uma boa consolidação.
Criar ambientes de aprendizagem estimulantes Como professores, deveríamos ter consciência deste
processo para podermos introduzir novos procedimen-
As crianças associam as aprendizagens não só com ima-
tos no início de cada semana — e de cada aula —, e
gens, mas também com lugares e situações. Por isso, con-
repeti-los, ao longo da mesma para favorecer a sua
vém ter em conta os seguintes aspetos:
consolidação.
– Fomentar tanto as aprendizagens implícitas como as
aprendizagens explícitas.
– Fazer com que a sala de aula fomente a tranquilidade, A prática diária destes novos procedimentos, que se podem
32 que seja pouco stressante, que promova a estimulação, executar em poucos minutos, será fundamental na 33
a novidade e a linguagem. aprendizagem escolar progressiva, porque, para poder
– Colocar as mesas e formar equipas, fomenta a aprendi- processar e assimilar um novo conteúdo escolar, o aluno
zagem cooperativa. precisa de muito tempo (várias horas), mas uma vez adquirido,
precisa de muito pouco tempo para o poder recordar
– Mudar algum aspeto da decoração da sala em cada tri-
novamente (vários minutos). Por este motivo, os docentes
mestre, ajuda a provocar a curiosidade dos alunos.
devem conhecer este sistema de processamento e aquisição
– Fazer com que a decoração seja alegre e divertida, utili- da informação, para não se esquecerem de, cada dia, fazerem
zando alguns espaços para expor trabalhos dos alunos. uma revisão dos conteúdos ensinados.
Isto favorecerá a sua atenção, melhorará a sua motivação
Aproveitar os neurónios espelho
e criará uma boa atitude face à aprendizagem.
Não há melhor forma de aprender novas habilidades e
– Utilizar todos os sentidos (aprendizagem tátil, visual e
condutas que por imitação. As crianças são esponjas e
auditiva) para que os alunos aprendam, sobretudo nos
imitarão tudo o que os seus docentes fizerem. Desta forma,
primeiros ciclos do Ensino Básico. A nível manipulativo, o
se se pretende que aprendam a ser assertivos, colaborativos,
uso ativo do tato para classificar, analisar, estabelecer
tolerantes, etc., os docentes também têm de o ser.
padrões e até mesmo resolver algoritmos matemáticos,
ajudará a melhorar as suas capacidades cognitivas. Ao Deixar uns minutos, ao fim do dia, para refletir sobre o que
nível da perceção visual, deverão utilizar-se estratégias se aprendeu
que convidem a manter a atenção focal, a discriminar Se se quer melhorar, de forma substancial, a aprendizagem
rapidamente símbolos ou volumes, a realizar descrições, dos alunos, é importante deixar uns minutos de reflexão
etc. Ao nível auditivo, deveriam propor-se exercícios de final sobre o que se aprendeu. Este método, além de melho-
discriminação de sons, tons, ritmos e palavras complexas rar a aprendizagem na etapa escolar, será muito operativo
da vida quotidiana. para a sua vida futura. Não esquecer que a melhor aprendi-
Fomentar a repetição para consolidar a memória zagem se leva a cabo em situação de atividade cerebral
lenta, mais do que de atividade cerebral rápida. Por este
Isto faz com que o corpo docente explique, utilizando, na
motivo, uma boa forma de fomentar a memória e conso-
medida do possível, objetos, lugares, circunstâncias, emo-
lidá-la, é mediante a escrita e a memória verbal, que são
ções, movimento, exemplos da vida real, etc.
processos cerebrais lentos e de grande capacidade de con-
solidação da informação recebida.
5. Neuroalimentação reto desenvolvimento e funcionamento cerebral e, portanto, para
uma boa aprendizagem.
A ALIMENTAÇÃO E O CÉREBRO Vejamos como é que influem no cérebro alguns dos nutrientes cita-
Jogar, manipular, pensar, associar, memorizar ou recordar ideias requer dos. O primeiro deles é o conhecido ómega-3. Os ácidos gordos
muita energia. Para a realização destas atividades, as crianças preci- poliinsaturados ómega-3 foram promovidos nos meios de comuni-
sam de ingerir determinados nutrientes que os ajudarão a estar men- cação social pelos seus benefícios para o coração e para a preven-
talmente ágeis para aprender melhor. Cabe recordar que o nosso ção de doenças cardiovasculares. Ora bem, estes ácidos também
cérebro representa apenas 2% do nosso peso corporal, mas consome influem a nível cerebral, contribuindo para modelar o efeito de
aproximadamente 20% de toda a energia que ingerimos (Romo, 2014). alguns neurotransmissores, como a dopamina, a noradrenalina e a
serotonina. O ómega-3 melhora a plasticidade cerebral — base da
aprendizagem e da memória — e ajuda a que as membranas das
Ter uma alimentação equilibrada, como preconiza a dieta medi- células nervosas sejam mais elásticas, favorecendo e tornando mais
34 35
terrânica, ajudará à construção e à reconstrução do cérebro, eficiente a transmissão de sinais nervosos. A ingestão de ácidos
contribuindo, em grande parte, para a manutenção de uma boa ómega-3 para um correto desenvolvimento do cérebro estima-se
plasticidade neuronal e, consequentemente, para uma melhor em duas vezes por semana e encontra-se, em maior proporção, nos
forma de aprendizagem. peixes e nos mariscos.
Por outro lado, se a dieta das crianças não incluir vitaminas dos gru-
Hoje em dia sabemos que certos nutrientes intervêm diretamente pos B e D, incrementa-se o risco de sofrerem de determinadas doen-
na concentração, na memória, no rendimento intelectual e até ças cerebrais, como a esquizofrenia e a depressão, quando
mesmo no estado anímico. Isto significa que a sua ausência pode alcançarem a idade adulta, devido a uma má conectividade entre
provocar que os neurotransmissores se tornem lentos e não cum- determinadas áreas do cérebro. Desta forma, dentro das vitaminas
pram bem a sua missão. do grupo B existe uma, a vitamina B6, que juntamente com o triptó-
fano e o magnésio, vai contribuir bastante para a produção de sero-
tonina. A serotonina é a encarregada de transmitir ao nosso
QUE NUTRIENTES AJUDAM A DESENVOLVER O CÉREBRO? organismo informação referente às nossas emoções, ao controlo da
Para conseguir um funcionamento ótimo do cérebro é preciso uma temperatura, da fome e do sono, assim como à moderação da
ingestão adequada de certos nutrientes chave, como os ácidos gor- agressividade. Um défice na sua produção pode provocar depressão,
dos poliinsaturados ómega-3, triptófano, vitaminas dos grupos B e problemas de sono, transtornos obsessivo-compulsivos ou transtor-
D e minerais, como o zinco, o magnésio e o ferro, sem esquecer as nos alimentícios, entre outros.
proteínas e os hidratos de carbono (Bueno, 2016). Outros nutrientes essenciais para um desenvolvimento cerebral
A dieta mediterrânica, que inclui cereais, legumes, peixe, porções correto são os minerais, como o zinco, o magnésio e o ferro. O zinco
moderadas de carne, fruta fresca e frutos secos, produtos lácteos, contribui para a neurogénese — formação de novos neurónios —
leguminosas e pouca quantidade de alimentos doces, já proporciona, especialmente no hipocampo — centro gestor da memória — e o seu
por si só, todos os nutrientes essenciais necessários. De qualquer défice pode favorecer estados de depressão, sobretudo em situações
forma, um ritmo de vida frenético, e as situações de risco socioeco- de stress.
nómico em que se encontram algumas crianças, podem fazer com O magnésio merece um capítulo à parte, pois é essencial para a cria-
que as suas dietas não sejam suficientemente ricas nestes nutrien- ção de neurotransmissores e para o normal funcionamento dos sis-
tes. Por isso, a necessidade de consciencializar as famílias destas temas muscular e nervoso. Este aumenta a plasticidade cerebral e
crianças sobre a importância de uma boa alimentação para um cor- otimiza a densidade das conexões neuronais no hipocampo, que é
onde se processa a gestão da aprendizagem e memória. O magné-
sio, juntamente com o triptofano e a vitamina B6, são os elementos
essenciais para a produção de serotonina. APLICAÇÃO NA SALA DE AULA
Quais os alimentos que nos proporcionam magnésio? O chocolate
preto; os peixes como o salmão, o bacalhau ou as sardinhas; os flo- Tomar um bom pequeno-almoço em casa!
cos de aveia integrais; frutas como as framboesas, os kiwis ou as Temos repetido esta frase até à exaustão e não é em vão.
bananas; hortaliças como os brócolos, o feijão verde ou a beterraba; Se os alunos tomam um fraco pequeno-almoço, diminuirá a
frutos secos, como as amêndoas, as nozes ou as avelãs; e as legumi- glicose no sangue, o que afetará o rendimento escolar, já
nosas. que estaremos a privar o cérebro do seu combustível e, pro-
vavelmente, sentir-se-ão apáticos e cansados.
Finalmente, o terceiro mineral essencial é o ferro. Este é importante
para o crescimento e o desenvolvimento dos seres humanos, motivo Seguir uma dieta mediterrânica
36 pelo qual é essencial nas crianças. Tal como nos adultos, a falta de Uma dieta rica em peixe, legumes, cereais, porções modera- 37
ferro pode produzir anemia, cansaço e dificuldade para realizar o das de carne e poucos doces, vai proporcionar ao organismo
nosso trabalho. Nas crianças podem produzir-se alterações no os nutrientes essenciais para o seu desenvolvimento cerebral.
desenvolvimento do sistema nervoso e motor, que podem acarretar
Beber água com frequência
dificuldades de aprendizagem. Como é que o défice de ferro afeta o
desenvolvimento cerebral? O ferro é essencial na produção de mie- O cérebro precisa de muita hidratação. Por esta razão, nos
lina, encarregada de acelerar a comunicação do cérebro. primeiros ciclos do Ensino Básico, que é quando o cérebro
consolida uma maior quantidade de conexões neuronais, é
importante que os alunos bebam água regularmente. Pode
QUE ALIMENTOS SE DEVEM EVITAR? ser adequado programar momentos na aula para beber
Não só devemos ter em conta que alimentos devemos ingerir, como água, sobretudo em épocas de calor. A água, a nível neuro-
também que alimentos é que devemos evitar. A chamada «comida nal, facilita a transmissão dos impulsos nervosos. «Manter-
de plástico» é o conjunto de alimentos que contêm, em geral, altos -se hidratado é decisivo para memorizar, já que basta
níveis de gorduras saturadas, sal, condimentos, açúcares ou aditivos perder mais de 2% de água corporal para diminuir a capa-
alimentares. Apesar de não se falar muito, indiretamente estes ali- cidade de memória a curto prazo» (Romo, 2014).
mentos têm muitos efeitos sobre o cérebro. Vigiar o consumo de açúcares
Em geral, refrescos, sumos, pastéis industriais e guloseimas, contêm O consumo excessivo de açúcares provoca a desidratação
enormes quantidades de açúcar e de gorduras saturadas, que dos neurónios, tendo impacto sobre a concentração dos alu-
podem provocar problemas de atenção e altos índices de nervo- nos. É necessário consciencializá-los, a eles e às suas famí-
sismo e hiperatividade (Egger, Carter, Soothil & Wilson, 1992). lias, de que é mais saudável consumir hidratos de carbono a
Resumindo, um excesso de açúcares e de gorduras de origem animal partir da glicose presente nos chamados «açúcares de
na dieta, pode ter um efeito adverso sobre a atividade e a atenção absorção lenta», como o pão, as batatas, as leguminosas ou
das crianças, diminuindo a sua plasticidade neural e desidratando os a massa, ou através da frutose presente na fruta e no mel.
neurónios, tal como expõem diversos trabalhos publicados entre os Consumir gorduras insaturadas
anos de 2002 e de 2015. Estas gorduras fazem com que os recetores Comer mais peixe, legumes, frutos secos e azeite, ricos em
de alguns neurotransmissores percam sensibilidade, pelo que a sua ómega-3, para proteger e contribuir para a formação de
plasticidade sináptica diminui. novas células cerebrais.
6. Papel do sono no desenvolvimento que tinham de memorizar, para depois realizar um teste no qual se
contablilizavam quantas é que se recordavam. Doze horas depois do
do cérebro teste inicial, dividiram-se os voluntários em dois grupos de forma a
que um grupo passasse as 12 horas seguintes em estado de vigília
É TÃO IMPORTANTE DORMIR? enquanto o outro grupo podia descansar. Ao repetir novamente o
Como já se mencionou, ao falar da atenção, para que o cérebro teste deram-se conta que o grupo ao qual foi permitido dormir, ao
possa ativar os circuitos atencionais, é necessário que o corpo esteja contrário do grupo que não tinha dormido, conseguiu recordar um
descansado e tenha tido horas de sono suficientes. Caso contrário, maior número de palavras comparadamente às que se tinha lem-
será complicado que possa dirigir a atenção para a aprendizagem. brado no primeiro teste, isto é, conseguiu até mesmo reproduzir
novas palavras.
Por esta razão, é importante consciencializar as famílias de que os
seus filhos e filhas devem dormir o número de horas necessário para Isto demonstra-nos que o sono é muito benéfico para a aprendiza-
o bom funcionamento cerebral. gem, já que, além de consolidar aprendizagens realizadas, ajuda a
38 39
O verdadeiro benefício de dormir é a limpeza que o cérebro realiza reproduzir conceitos novos trabalhados durante o dia.
enquanto se dorme. Assim afirma Marta Romo (2014) quando diz Por isso, dormir as horas necessárias ajuda a que, durante o dia, o
que «a natureza reparadora do sono parece ser o resultado da elimi- cérebro se encontre num estado ótimo para a aprendizagem, já que
nação dos tóxicos da atividade neuronal que se acumulam durante contribui para que os circuitos neuronais utilizados durante o dia
a vigília». Desta forma, durante o sono, e com o objetivo de que o possam ser fortalecidos e regenerados.
líquido cefalorraquidiano limpe estes resíduos tóxicos, os neurónios
reduzem o seu tamanho até 60%, deixando lugar ao líquido que lim-
pará os espaços existentes entre eles, que é onde, segundo alguns
estudos, se acumulam as moléculas tóxicas.
APLICAÇÃO NA SALA DE AULA
Por outro lado, como explica a mesma autora, quando dormimos
cria-se um neurotransmissor inibitório da excitação, chamado ade-
Promover hábitos de sono saudáveis
nosina, que é encarregado de limpar o cérebro e de o deixar livre e
preparado para aprender coisas novas no dia seguinte. Assim, o café Será necessário recordar às crianças a importância de dor-
e o chá, atuam como bloqueadores da adenosina, diminuindo o sono mir as horas suficientes para chegarem descansadas à
nas pessoas. escola. Por isso, convém insistir nas horas de sono recomen-
dadas de forma sistemática ao longo dos primeiros ciclos.
O Dr. Nicolas Dumay1 e a sua equipa perguntaram-se se o sono não É interessante informar as famílias da importância do sono
servia só para fixar os conceitos, e propuseram-se investigar para a aprendizagem dos seus filhos, quer durante as con-
se também servia para recordar conceitos que a pessoa previa- versas informais quer durante as reuniões que se possam
mente não conhecia. Foi por esta razão que realizou um estudo com fazer ao longo do percurso escolar. Ressaltar a importância
72 voluntários a quem apresentou uma lista de palavras inventadas do sono no processo de atenção e aprendizagem é impor-
tante para que as famílias tomem consciência e façam com
que os seus filhos durmam o número de horas recomendado.
1
Dumay, N. (2016). Sleep not just protects memories against forgetting, it also makes
them more accessible. Recuperado de https://www.journals.elsevier.com/cortex/
featured-articles/sleep-not-just-protects-memories-against-forgetting-it-also
7. O trabalho integral que se habituem rapidamente a estas duas vias sensoriais e, por-
tanto, não decaia o seu nível de atenção.
das áreas cerebrais Além dos contrastes sensoriais, outra questão que normalmente é
esquecida nas salas de aula é o movimento. Se, além de ouvir e
O MELHOR MODO DE APRENDER
escrever, os alunos passarem a maior parte do dia sentados numa
Em capítulos anteriores indicávamos a necessidade de subordinar a cadeira, estaremos a desaproveitar muitas oportunidades para que
abstração à aprendizagem realizada a partir dos sentidos. Os sen- mantenham o cérebro ativo.
tidos conectam o ser humano com a realidade e permitem-nos, por
Demonstrou-se que a prática regular de exercício «cria uma série de
exemplo, aprender a origem dos vegetais que comemos cada dia, a
neurotransmissores como a serotonina, noradrenalina e a dopa-
partir da observação e do cultivo destes numa horta. Tocar, cheirar,
mina, que melhoram o estado de alerta, atenção e motivação, fato-
ver, saborear um tomate depois de o ter cultivado é o que permitirá
res imprescindíveis para a aprendizagem» (Forés et al., 2015). Como
entender como crescem as plantas e, por sua vez, conseguir apren-
40 se fosse pouco, «ao fazer exercício físico liberam-se moléculas e neu- 41
dizagens significativas. Esta mesma aprendizagem não será fixada
rotransmissores que modulam processos cognitivos envolvidos em
da mesma forma na estrutura cognoscitiva de uma criança se ape-
melhorias cognitivas, emocionais e de comportamento» (Casafont,
nas lhe apresentamos uma série de desenhos que mostrem o cres-
2014). Isto implica que o exercício cria substâncias químicas que
cimento de um tomateiro. Este tipo de atividade será útil para fixar
favorecem a aprendizagem. Por isso, devemos considerar o movi-
o conteúdo, mas apenas depois de se ter «apreendido» a partir dos
mento e, especificamente, o exercício físico, como elemento essen-
sentidos.
cial do processo educativo.
Como docentes, o que é que podemos fazer a este respeito?
O essencial é utilizar diferentes metodologias para conseguir que os
neurónios continuem a criar conexões, tal como se detalha neste Segundo o exposto, a aprendizagem não é só uma questão de
fragmento de entrevista do Dr. Bueno (2016): processos mentais, isto é, não se concentra apenas no pensar,
mas no corpo inteiro, que é o que faz com que o cérebro esteja
preparado para a aprendizagem. Conceber a aprendizagem
«Do mesmo modo que, para manter o corpo em forma, é preciso como o resultado da implicação do corpo inteiro tem de servir,
treinar, ainda que seja de vez em quando, e praticar algum des- aos educadores, para planificarem e apresentarem os conteú-
porto, para que a plasticidade neuronal se mantenha da melhor dos usando diferentes estratégias didáticas, que permitam cap-
forma possível é preciso utilizar o cérebro: ler, resolver enigmas, tar a atenção dos alunos e aprender com o corpo todo.
pensar, brincar a jogos que requeiram esforço mental, aprender
idiomas, etc. Tudo isso cria aquilo que se denomina por reserva
cognitiva, que é a capacidade de nos adaptarmos à medida que,
com a idade, inevitavelmente vamos perdendo algumas das nos-
sas conexões neuronais».
1.3. Contribuições dos principais autores para o trabalho A avaliação do projeto 97
por projetos 55
4 Como favorecer o trabalho por projetos
A Escola Progressista norte-americana 56
4.1. Estratégias para decidir o tema do projeto 99
A Escola Nova e a pedagogia científica 59
4.2. Estratégias para motivar os alunos 99
A pedagogia social em França 62
4.3. Estratégias para trabalhar em equipas cooperativas 100
O construtivismo 63
4.4. Estratégias para distribuir o espaço na sala de aula 100
O behaviorismo 69
4.5. Estratégias para o processamento da informação 102
1.4. Chaves pedagógicas no trabalho por projetos 70
4.6. Estratégias para que a aprendizagem seja
1.5. Tipos de projetos 73 «inesquecível» 103
4.7. Estratégias de avaliação imediata 104
2 O trabalho por projetos, algo mais do que um método
4.8. Estratégias para a personalização do projeto 105
2.1. O cérebro e o trabalho por projetos 77
4.9. Estratégias para que ninguém fique para trás 106
O que sabemos do cérebro 78
4.10. Estratégias para usar a tecnologia 106
2.2. Quais são os resultados da aprendizagem ao trabalhar
por projetos? 79 A TÍTULO DE CONCLUSÃO 107
2.3. Inquietudes sobre o trabalho por projetos 80
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 109
Introdução
Eu não te posso ensinar nada, só te posso ajudar a encontrar
o conhecimento dentro de ti próprio, o que é muito melhor
do que transmitir-te a minha pouca sabedoria.
Sócrates
7
A École de I'Ermitage.
8
Escola para a vida e pela vida.
A pedagogia social em França O conceito de funcionalismo adquire em Freinet uma dimensão cen-
tral. Partir da criança supõe criar instituições onde o trabalho escolar
Célestin Freinet (1896-1966)
tenha um sentido, uma utilidade, uma função. Todas as suas técnicas
Freinet é o precursor da Escola Moderna, uma escola que parte da estão ao serviço da capacidade de experimentação e de expressão
criança, respeitando a sua evolução natural e todas as suas poten- das crianças para dar solução às suas necessidades imediatas.
cialidades e que tenta educá-la para a vida. As propostas de Freinet
nascem da realidade escolar quotidiana, já que ele era um professor O construtivismo
de aldeia.
Neste enfoque, encontramos um grande número de teorias, entre as
Os seus princípios educativos são: quais podemos mencionar a epistemologia genética de Jean Piaget,
A educação deve promover o desenvolvimento total da pessoa e a teoria sociogenética ou sociocultural de Lev Vygotsky, a teoria da
não ser uma acumulação de conhecimentos nem um ensino. aprendizagem significativa de David Ausubel e a teoria das inteli-
gências múltiplas de Howard Gardner.
A escola deve estar centrada na criança. Parte-se da ideia de que
é a criança quem aprende e, portanto, a organização curricular
deve estar subordinada à sua capacidade de aprendizagem, o que
leva a organizar a sala de aula a partir dos interesses dos alunos. Características da visão construtivista da
62 63
aprendizagem:
A investigação experimental é a base e a primeira condição do
esforço de modernização escolar para a cooperação. ✓ A aprendizagem é um processo de reorganização cognitiva.
✓ A aprendizagem depende do nível de desenvolvimento do
aprendiz.
Algumas contribuições de Freinet ✓ A aprendizagem é favorecida pela interação social.
✓ A aprendizagem parte da tomada de consciência da realidade.
As técnicas de Freinet constituem um leque rico e coerente
de atividades que propõem:
Jean Piaget (1896-1980)
✓ A tentativa experimental.
A psicologia genética, fundada por Jean Piaget durante a primeira
✓ A livre expressão infantil. metade do século xx, teve um enorme impacto sobre a educação,
✓ A educação pelo e para o trabalho. tanto no que se refere à teoria como na própria prática pedagógica.
✓ A cooperação. Na sua obra, Piaget tenta explicar como é que se constrói o conhe-
cimento. Oferece-nos uma visão do ser humano como um organismo
✓ A investigação do ambiente.
que, ao atuar sobre o meio modifica-o e modifica-se também a si
✓ A importância do bom ambiente escolar e social. próprio. Considera o desenvolvimento da inteligência e a aquisição
✓ A necessidade de criar material para potencializar essas do conhecimento como processos indissociáveis. Para ele, os conhe-
ideias na prática educativa. cimentos derivam da ação, não como simples respostas associativas
mas num sentido mais profundo, que implica um desenvolvimento
✓ O plano de trabalho, as assembleias, as bibliotecas, a intelectual, um exercício da inteligência onde estão presentes quer
revista escolar, etc. os processos de assimilação quer os de acomodação.
Algumas contribuições de Piaget Algumas contribuições de Vygotsky
✓ O conhecimento não pode ser implementado desde fora, ✓ O cérebro não é um mero suporte das funções psicológicas
mas tem de ser construído ou reconstruído pelo aprendiz. superiores, mas parte da sua constituição.
✓ O desenvolvimento intelectual e a aquisição do conheci- ✓ O surgimento das funções superiores não elimina as ele-
mento são dois processos intimamente relacionados. mentares, o que acontece é a superação das funções ele-
mentares pelas superiores.
✓ O professor não tem que ensinar, mas favorecer as condi-
ções para que o aluno aprenda. ✓ O funcionamento do cérebro molda-se ao longo da história
da espécie (base filogénica) e do desenvolvimento indivi-
dual (base ontogénica), como produto da interação com o
Lev S. Vygotsky (1896-1934)9 meio físico e social (base sociogénica).
A teoria do desenvolvimento vygotskiana parte da conceção de
64 que todo o organismo é ativo e estabelece uma contínua interação 65
entre as condições sociais e a base biológica do comportamento David Ausubel (1918-2008)
humano. O ponto de partida são as estruturas orgânicas elemen- David Ausubel define a aprendizagem significativa como «a nova
tares, determinantes para a maturação, a partir das quais se informação que se incorpora de forma substantiva, não arbitrária,
desenvolvem as funções mentais, que dependem em grande parte à estrutura cognitiva do aluno. Por isso existe uma intencionalidade
das experiências sociais da criança. Nesta perspetiva, o processo para relacionar os novos conhecimentos adquiridos com os do nível
de desenvolvimento segue duas linhas diferentes: um processo ele- superior, que são mais inclusivos e que já existiam na estrutura
mentar, de base biológica, e um processo superior, de carácter cognitiva.»
sociocultural.
Ausubel acreditava que a compreensão de conceitos, princípios e
Vygotsky considerava que a aquisição da linguagem constitui o ideias consegue-se através do raciocínio dedutivo. Portanto, as teo-
momento mais significativo do desenvolvimento cognitivo das crian- rias e os métodos de ensino devem estar relacionados com a ativi-
ças. A linguagem representa um importante salto nas funções supe- dade que se realiza na sala de aula e com os fatores cognoscitivos,
riores, já que constitui um complexo sistema simbólico que funciona, afetivos e sociais que nela influem.
não só, como instrumento de comunicação, mas também como ins-
Segundo este autor, a construção do conhecimento começa com a
trumento de planificação e autorregulação.
observação e o registo de acontecimentos e objetos através dos
Este autor ressalta que as possibilidades de aprendizagem de uma conceitos que já temos. Aprendemos mediante a construção de uma
criança estão intimamente relacionadas com o nível de desenvolvi- rede, acrescentando conceitos novos aos existentes.
mento alcançado num determinado momento. Existe, portanto,
A aquisição e a retenção de conhecimentos não se limita aos contex-
uma zona de desenvolvimento potencial.
tos formais de instrução, onde professores e alunos interatuam, já
que se trata de um processo presente durante toda a nossa vida,
que se torna essencial para a atuação competente, a gestão eficaz
9
Lucci, M. (2006). A proposta de Vygotsky: a psicologia sócio-histórica. Revista de e a melhoria do trabalho quotidiano.
currículum y formación del profesorado, 10, 2.
Bruner expõe que «a um aluno não se lhe deve falar de física, histó-
ria, ciências ou matemática, mas deve fazer física, história, ciências
Algumas contribuições de Ausubel ou matemática. O conhecimento verdadeiramente adquirido é
aquele que se redescobre.
✓ É um firme defensor da aprendizagem significativa em vez Por outro lado, ao falar do currículo, este autor defende aquilo que
da memorização. se chamou currículo em espiral, que «se baseia em passos sucessivos
✓ Conhecer a organização da estrutura cognitiva dos alunos de um mesmo domínio de conhecimento e tem o objetivo de promo-
permitirá uma melhor orientação do trabalho educativo, já ver a aprendizagem da estrutura subjacente de forma cada vez
que não se trata de um trabalho que se desenvolva sobre mais poderosa e argumentada».
«mentes em branco». A aprendizagem é um processo ativo, de associação, de construção
✓ Os alunos e as alunas têm uma série de experiências e de e de representação mental. A estrutura cognitiva prévia que possui
conhecimentos que afetam a sua aprendizagem e que um aluno ou uma aluna abastece de significado as aprendizagens e
devem ser aproveitados em seu benefício. Em palavras do permite organizar as novas experiências e ir mais além da informa-
próprio David Ausubel: ção dada.
tural».
Howard Gardner (1943-)11
Gardner questiona a maneira tradicional de compreender a inteli-
gência e pretende ampliar o alcance do potencial humano além do Algumas contribuições de Gardner
número do quociente intelectual. Começa a estudar a inteligência
desde outro ponto de vista, através de diferentes disciplinas e do ✓ Gardner, da mesma forma que Dewey e Kilpatrick, entende
trabalho de campo com pacientes com lesões cerebrais. A partir que os projetos de trabalho são uma estratégia educativa
destas investigações chega à conclusão de que a inteligência é a que deve partir de propostas dos próprios alunos.
capacidade de resolver problemas e criar produtos. ✓ Os projetos fazem com que o processo de ensino-aprendi-
Apresenta o seu primeiro modelo teórico sobre a inteligência: zagem seja mais ativo.
a teoria das Inteligências Múltiplas. Segundo esta proposta, a mente ✓ Os projetos implicam um ensino globalizado e requerem
humana é como um computador que processa a informação. A mente trabalho cooperativo e construtivo; não é a tarefa de um
está organizada em oito inteligências ou habilidades cognoscitivas de um só aluno, mas sim de toda a turma.
diferentes: musical, físico-cinestésica, lógico-matemática, linguís-
✓ O objetivo dos projetos é estimular as crianças para cria-
tica, reflexo-espacial, interpessoal, intrapessoal e naturalista (esta
rem significados mediante interações com o mundo físico e
última foi incluída uns anos mais tarde).
68 social. 69
Com o objetivo de proporcionar uma base teórica às suas afirma-
✓ Os projetos implicam planificação, colocação em prática e
ções, Gardner estabeleceu uns testes básicos que cada inteligência avaliação.
deveria superar para ser considerada como tal e não ficar simples-
mente num talento, numa habilidade ou numa aptidão.
Os pontos-chave da teoria das inteligências múltiplas são:
O behaviorismo
Todos possuímos as oito inteligências.
A maior parte das pessoas pode desenvolver cada inteligência No enfoque behaviorista encontramos o conjunto de teorias
até alcançar um nível de competência adequado. conhecidas com a denominação de teorias do condicionamento
estímulo-resposta. O behaviorismo parte de uma conceção empírica
Em geral, todas as inteligências funcionam juntas de modo
do conhecimento, que se baseia nos estudos da aprendizagem
complexo.
realizada mediante condicionamento, e considera desnecessário
Existem muitas maneiras de ser inteligente em cada categoria. conhecer os processos mentais superiores para a compreensão da
A capacidade cognitiva é específica de um campo ou domínio e conduta humana.
para poder avaliar, num grau suficiente, as capacidades e os Dentro deste enfoque, as teorias mais conhecidas são a teoria cone-
potenciais cognitivos de uma pessoa, é preciso que entre em xionista de Thorndike e a teoria do condicionamento por reforço de
contacto com os materiais e a informação de vários domínios. B. F. Skinner.
Neste sentido, concebe o Projeto Spectrum12.
O ondutismo de Skinner considera três elementos fundamentais: o
estímulo discriminativo, a resposta operante e o estímulo que
11
Prieto, M. D., Ballester, P. (2003). As inteligências múltiplas. Diferentes formas de reforça. Esta teoria exerceu grande influência no campo educativo
enseñar y aprender. Madrid: Pirámide. Gardner, H. (2005). Inteligencias múltiples. La
teoría en la práctica. Barcelona: Paidós.
ao propor o modelo de ensino programado e, com o auge dos com-
12
http://www.pz.harvard.edu/projects/project-spectrum putadores, está a adquirir novas perspetivas.
Os irmãos Johnson (1999) definem os componentes essenciais que
determinam que o trabalho cooperativo seja mais produtivo que o
Algumas contribuições do behaviorismo trabalho competitivo ou individualista:
Interdependência positiva bem definida.
✓ O ensino programado. Interação cara a cara.
✓ A subdivisão das tarefas. Responsabilidade individual e responsabilidade grupal bem defi-
✓ A motivação intrínseca (reforçadores sociais). nidas para conseguir atingir as metas.
Desenvolvimento das habilidades interpessoais.
✓ Cada aluno tem o seu próprio ritmo de aprendizagem.
Por parte do grupo, análise frequente e periódica do seu funcio-
namento atual com o objetivo de melhorar a sua eficácia futura.
Assinalamos a seguir algumas chaves pedagógicas a ter em conta que tem lugar no processo de aprendizagem. A habilidade é a capa-
no trabalho por projetos: cidade para aplicar conhecimentos e utilizar técnicas com o objetivo
de completar tarefas e de resolver problemas.
Aprendizagem significativa As competências manifestam-se na realização de ações num con-
Um dos objetivos que pretendemos com o trabalho por projetos é texto particular e desenvolvem-se através da ação e da interação.
que os alunos e as alunas aprendam de um modo significativo. Um dos desafios que temos como docentes é desenvolver as habili-
A teoria da aprendizagem significativa, proposta originariamente dades e as competências dos nossos alunos, entre as quais se des-
por Ausubel, defende que o processo de construção de significados tacam as chamadas competências do século xxi : colaboração,
é o elemento central do processo de ensino-aprendizagem. O aluno comunicação, pensamento crítico e uso das novas tecnologias. Estas
aprende um conteúdo quando é capaz de lhe atribuir um significado. competências devem ensinar-se explicitamente e, além disso, con-
vém oferecer oportunidades para que os alunos as ponham em prá-
Aprendizagem cooperativa
tica, através das tarefas e atividades propostas no projeto.
A aprendizagem por projetos não se pode separar do trabalho coope-
rativo. Como dizia Pere Pujolàs (2001), «aprender, numa perspetiva Aprender a aprender
curricular, é um processo complexo em que intervêm de forma intera- A Comissão de Cultura e Educação da União Europeia considera
tiva os alunos, o professor e os conteúdos, num determinado contexto «aprender a aprender» como uma competência básica que tem
definido pelas atividades de aprendizagem. Na construção de conhe- grande influência em todas as outras. A definição que realiza é a
cimentos e na realização de aprendizagens significativas, são deter- seguinte: «Aprender a aprender é a capacidade para prosseguir,
minantes as interações sociais que se estabelecem, não só entre o persistir e organizar a própria aprendizagem, o que implica realizar
professor e os alunos, mas também entre os próprios alunos e entre um controlo eficaz do tempo e da informação, individualmente
eles e os conteúdos objeto de aprendizagem». e em grupo.» Esta competência tem grande importância na apren-
dizagem permanente, não só durante a infância e a juventude, mas e a motivação dos alunos, produzem satisfação e criam uma apren-
também na idade adulta. dizagem mais funcional, dado que se dão respostas fundamentadas
Aprender a aprender supõe dispor de habilidades para se iniciar na em evidências.
aprendizagem e ser capaz de continuar a aprender de maneira cada
Desenvolvimento do pensamento crítico e criativo14
vez mais eficaz e autónoma durante toda a vida. Isto é necessário
ser ensinado e treinado. O pensamento crítico é o processo de analisar e avaliar o próprio
pensamento com o propósito de melhorá-lo, e pressupõe o conheci-
O currículo integrado mento das estruturas básicas do pensamento. Quando falamos de
Nos projetos, o currículo deve integrar-se e organizar-se à volta de pensamento crítico e criativo, referimo-nos a um pensamento que
temas, desafios, tópicos geradores, etc., que superem os limites das questiona, que indaga, que faz perguntas e procura respostas.
disciplinas. O objetivo é que o aluno ou a aluna manejem quadros
teóricos, conceitos, procedimentos e habilidades de diferentes disci-
plinas para compreenderem ou solucionarem as questões e os pro-
blemas que lhes são colocados. Chaves pedagógicas no trabalho por projetos
Um projeto não pode abranger a mesma amplitude de conteúdos
72 que outro tipo de metodologias, mas permite trabalhá-los com No trabalho por projetos teremos em conta: 73
maior profundidade. Por isso, é necessário selecionar os conteúdos ✓ Que a aprendizagem seja significativa.
mais importantes e significativos e assegurar que os que podem ser ✓ Que exista trabalho cooperativo.
mais úteis aos alunos sejam de uma ou várias áreas, para serem
✓ Que se favoreça a aprendizagem competencial.
desenvolvidos no projeto.
✓ Que se ensine a aprender a aprender.
A investigação13 ✓ Que se integrem as diferentes áreas do currículo.
Introduzir a investigação na prática educativa supôs um esforço ✓ Que se favoreça a investigação.
importante para romper o estreito espaço formativo que é a trans- ✓ Que se desenvolva o pensamento crítico e criativo.
missão dos conhecimentos para alunos que precisam de compreen-
der e dar respostas às incógnitas que lhes vão sendo colocadas no
dia a dia.
1.5. TIPOS DE PROJETOS
Aprender através da investigação implica participar em experiências
Os diferentes tipos de projetos facilitam que os alunos e as alunas
que despertam o interesse e questionam o conhecimento que se
desenvolvam diferentes classes de conhecimentos e habilidades,
possui sobre um determinado tema, o qual nos leva à forma natural
ainda que entre estas existam importantes aspetos em comum,
que tem o género humano para se aproximar àquilo que desconhece:
como por exemplo, a investigação.
perguntar, procurar informação, comprovar e tirar conclusões. As
interações pessoais e materiais que se põem em funcionamento, A tipologia que aqui se propõe é de carácter indicativo e não deve
quando se explora uma situação controversa, promovem o interesse ser assumida de uma forma estrita. Muitos dos projetos que se rea-
el punto de vista de los futuros docentes. Investigación en la Escuela n.º 54, Paul, R., Elder, L. (2005). Una guía para los educadores en los estándares de compe-
14
Desenvolvem-se habilidades de colaboração. A aprendizagem Quanto às dificuldades expressas pelos professores, alguns dos
colaborativa permite aos alunos compartilhar ideias, expressar principais obstáculos encontrados são a elevada carga de trabalho
as suas próprias opiniões e propor soluções, habilidades necessá- e a dificuldade para avaliar.
rias posteriormente nos postos de trabalho. Um estudo realizado por Marx, Blumenfeld, Krajcik e Soloway (1997)
Aumentam as habilidades para a solução de problemas. mostrava que os professores que aplicam o trabalho por projetos
encontram dificuldades nos seguintes aspetos: tempo, administra-
Aumentam as forças individuais. Entre elas é essencial a melhoria ção da aula, controlo, apoio à aprendizagem dos alunos, uso da
dos estilos de aprendizagem individuais. tecnologia e avaliação. Quanto ao tempo, expunha-se que os proje-
Aprende-se a usar a tecnologia de maneira prática. tos costumam levar, em geral, mais tempo do que inicialmente se
programa. A administração da aula é um problema comum que
requer encontrar o equilíbrio entre permitir aos alunos que traba-
2.3. INQUIETUDES SOBRE O TRABALHO POR PROJETOS16
80 lhem por sua conta e manter uma certa ordem. Algo parecido acon- 81
Quando enfrentamos, pela primeira vez, uma mudança, é frequente tece com o apoio à aprendizagem, já que os professores,
que surjam dúvidas e inquietudes. O trabalho por projetos supõe um frequentemente, têm dúvidas sobre se lhes dão demasiada ou pouca
reajuste relativamente complexo do processo de ensino-aprendiza- liberdade. O uso das TIC como ferramentas que fomentam o desen-
gem e, como todas as mudanças metodológicas, apresenta as suas volvimento de competências no aluno, e não só como ferramentas
dificuldades, especialmente no início da sua aplicação. de apoio à instrução do professor, supõe também alguma dificul-
dade. Por último, a avaliação dos projetos é um dos aspetos mais
Podemos mencionar quatro tipos de inquietudes:
complexos, já que deve evidenciar a aquisição de habilidades e des-
Inquietudes nos alunos trezas e não só a aprendizagem de conceitos.
Um estudo realizado por Krajcik, Blumenfeld, Marz, Bass, Fredericks
Inquietudes nas famílias
e Soloway (1998) descreve que os alunos e as alunas que enfrenta-
vam pela primeira vez um trabalho por projetos, tinham dificuldades Relativamente às famílias, a minha experiência diz-me que não pode-
no momento de levar a cabo as tarefas relacionadas com a criação mos pressupor que todos aceitem este tipo de mudança. Para mui-
de perguntas científicas significativas, administração do tempo, tos, esta metodologia é desconhecida, e surgem-lhes alguns medos e
transformação da informação em conhecimento e desenvolvimento inseguranças. Por isso, uma boa comunicação será fundamental para
de argumentos lógicos para apoiar as suas teses. que compreendam o que é que fazemos e porque é que o fazemos.
A minha experiência pessoal diz-me que os alunos, no início, não Algumas inquietudes que recolhi junto das famílias são:
sabem o que se espera deles. Por esta razão, é conveniente dedicar Que as crianças possam perder o tempo e não aprendam o suficiente.
tempo suficiente a explicar-lhes o processo, as tarefas que devem
Que não se consigam atingir os objetivos de aprendizagem
realizar, para onde é que a ação se dirige, etc. Não podemos esque-
propostos.
cer-nos que, para eles, também é uma nova maneira de trabalhar e
Que não exista esforço.
Que em casa não saibam ajudá-los, já que eles normalmente apren-
Informação extraída de http://actualidadpedagogica.com/estudios_abp/
16
deram com um modelo instrutivo e é o que sabem reproduzir.
Que a aprendizagem dos alunos que costumam obter melhores
resultados, ao trabalhar com outros, se torne mais lenta.
3. Orientações para a prática
de projetos
Inquietudes na Administração educativa
Relativamente à Administração educativa, às vezes surgem dificul- O que temos de aprender
dades com o cumprimento do regulamento e com a falta de flexibi- a fazer, aprendêmo-lo fazendo.
lidade deste. Desta forma, podemos destacar a rutura com os Aristóteles
tempos estabelecidos para as diferentes áreas ou matérias (para
fazer um bom projeto não bastam sessões de 45 ou 55 minutos), o
cumprimento do currículo oficial, a diferente organização da sala de
aula, etc. Antes de começar este capítulo, sugerimos que
Nos seguintes capítulos, encontrará o modo de abordar estas reflita sobre estas questões:
inquietudes. Tê-las presentes desde o momento inicial, ajudar-lhe-á O que quer que os seus alunos aprendam?
a traçar um plano e a adiantar-se às dificuldades.
O que é que eles vão precisar de saber ao longo da vida?
do projeto
2.4. Análise e síntese.
Se dispusesse de oito horas para derrubar uma árvore,
empregaria seis a afiar o machado. COMUNICAÇÃO E APRESENTAÇÃO
Abraham Lincoln 3
2.5. Produção e execução. 3.1. Compilação de
Apesar de cada tipo de projeto necessitar de umas etapas específi- · Exercícios. evidências de aprendizagem.
· Atividades. · Portfólio.
cas para o seu desenvolvimento, podemos assinalar algumas fases
· Tarefa ou produto final. · Blog.
genéricas que são comuns a todos: · ...
Preparação. CONCLUSÃO
Desenvolvimento e execução. 4
en el pensamiento. Cómo desarrollar en los alumnos las competencias del siglo XXI.
Madrid: SM. Biblioteca de Innovación Educativa.
Celebração e reconhecimento. É o momento de reconhecer o tra-
7. Fase transversal. Avaliação
balho bem feito, avaliar o esforço e compartilhar as conquistas.
As quatro primeiras fases propostas no esquema da figura 2 têm o
Classificação. No sistema escolar devemos classificar a aprendi- seu momento de avaliação previsto, que é composto por determina-
zagem, que estará baseada nos critérios de avaliação e nos padrões dos objetivos relacionados com a aprendizagem. Pretende-se que a
de aprendizagem avaliáveis, e dependerá, além disso, dos acordos avaliação esteja constantemente presente na sala de aula. O que é
adotados. É importante que estes critérios estejam muito bem defi- que aprendemos com esta nova experiência? Que evidências de
nidos desde o início para evitar a arbitrariedade. Os alunos e as alu- aprendizagem vou recolher? Que instrumentos vou utilizar?
nas devem conhecer esta informação ao começar o projeto, pois vai
A seguir, apresentam-se algumas ideias para cada uma das fases da
ajudá-los a saber o que se espera deles e do seu trabalho. Algumas
avaliação.
ferramentas que podem ser úteis para a avaliação são as rubricas, as
escalas de observação, etc. Avaliação inicial. Pergunte-se: O que é que sabem os meus alu-
nos? Que conhecimentos são necessários para poder realizar
5. Fase transversal. Reflexão. Cultura de pensamento adequadamente o trabalho prático? Possuem as capacidades
Esta fase, muito relacionada com a avaliação, implica o uso de fer- técnicas que a sua realização requer? As respostas que obtenha
ramentas que favoreçam a reflexão e a compreensão profunda dos a estas perguntas permitir-lhe-ão adequar a planificação às
92 diferentes conteúdos que se trabalharam, fomentando a autorregu- necessidades do grupo e de cada um dos seus alunos e das suas 93
lação e o aprender a aprender. alunas.
Ao longo do projeto podemos disponibilizar aos alunos ferramentas Avaliação contínua. É importante que os alunos vão realizando o
que os ajudem a processar a informação, a resolver problemas, seguimento do seu trabalho, reservando para isso tempo de aula
a tomar decisões, a aclarar ideias, a argumentar, etc. Para atingir e contando com o apoio docente. Este tempo é necessário por-
este objetivo as propostas de David Perkins e Robert Swartz sobre que ajuda a não perder de vista a finalidade do projeto e a corri-
as rotinas e as destrezas de pensamento podem ajudar-nos. gir erros. Pensar sobre o que aprenderam e o que ainda lhes falta
aprender, induz a fazer correções no caminho e a determinar os
6. Fase transversal. Registo. Gestão do conhecimento esforços que devem ser aplicados para ajudar a que todos alcan-
cem a meta proposta.
Nesta fase transversal pretendemos que os alunos e as alunas, em
cada uma das tarefas que se levam a cabo ao longo da execução do Avaliação do produto. Permite, tanto ao docente como ao aluno,
projeto, obtenham a informação necessária e que possam recolher avaliarem o resultado do trabalho. Como ficou o nosso trabalho?
o conhecimento gerado bem como as correspondentes evidências. Está parecido com a ideia original? Para isso será muito útil o uso
de uma rubrica.
Algumas ideias para documentar um projeto nas diferentes etapas
da sua execução: Avaliação final e global. Os projetos são como icebergues, o que
se vê à primeira vista é apenas uma pequena parte de tudo o que
– F ase de preparação: plano estruturado do projeto, plano de
foi conseguido. Num projeto aprende-se muito mais do que ape-
equipa, manuais do projeto, etc.
nas conteúdos, o que converte os projetos em tarefas complexas
– Fase de desenvolvimento e execução: caderno de equipa, caderno e prolongadas. Determinar, de antemão, todas as capacidades e
pessoal de trabalho, relatório técnico do projeto, etc. as competências que se vão trabalhar e a maneira de recolher
– Fase de comunicação, apresentação e conclusão: portfólio, rela- esta informação, favorecerá a avaliação final. No quadro
tório final, comunicação, etc. seguinte propõe-se o percurso do que poderia ser o processo de
avaliação num projeto.
AVALIAÇÃO INICIAL A gestão dos materiais e dos recursos
Materiais. Convém fazer uma lista do material que vai precisar
para o correto desenvolvimento do projeto: equipas, dispositivos,
PROJETO
salas, material consumível, etc. Partilhe esta lista com os alunos.
Alguns dos materiais podem ser proporcionados por eles próprios
MEMÓRIA DE ou pelas suas famílias.
AVALIAÇÃO Recolher o Atividades, Desempenho
prescritivo técnicas e Recursos humanos. Propomos-llhe que, para o trabalho por pro-
instrumentos jetos, na medida do possível, se apoie em mais alguém. Algumas
ideias para isso:
JUÍZO DE VALOR
– Dois professores.
– Um professor e uma mãe ou um pai.
TOMADA – Um professor e um voluntário de apoio.
DE DECISÕES SELEÇÃO DE INFORMAÇÃO
– Aprendizagem entre pares.
FIGURA 4. DA AVALIAÇÃO À QUALIFICAÇÃO E AO PLANO DE MELHORIA
94 95
Os participantes no projeto
O papel dos alunos
A gestão do tempo O aluno é o protagonista ativo. A partir dos objetivos definidos, e
No trabalho por projetos, a pressa é o maior inimigo. Esta metodo- respeitando as suas qualidades pessoais e o seu estilo de aprendiza-
logia requer tempo suficiente para se poder desenvolver de uma gem, promovem-se a autoaprendizagem e o desenvolvimento das
forma autêntica. É necessário tempo para perfilar o problema ou o competências mediante diferentes recursos. O trabalho por proje-
desafio; tempo para definir o plano de trabalho; tempo para desen- tos supõe um maior compromisso e responsabilidade na própria
volver o que foi planificado; tempo para a comunicação de resulta- aprendizagem. O aluno deverá partilhar informação, assim como
dos, etc. As aulas de 45 ou de 50 minutos não favorecem o trabalho aprender a trabalhar com outros, gerindo os possíveis conflitos que
por projetos, por isso, convém dedicar períodos temporais mais possam surgir. Além disso, terá de dispor de estratégias para plani-
amplos, como uma manhã ou uma tarde completas. Assim, uma das ficar, controlar e avaliar os passos que vai dando.
tarefas mais importantes do docente será organizar os períodos de O papel do professor19
aula da maneira mais ampla possível, e controlar o tempo da reali-
Defendemos um papel protagonista dos alunos, mas esta metodo-
zação do projeto.
logia implica um papel muito ativo por parte do corpo docente.
Algumas ideias para ganhar tempo na sala de aula: Baseando-nos na obra de Perrenoud20 recolhemos as competências
– Leve tudo planificado e medido temporalmente. mais importantes para desenvolver a função docente:
– Comece pontualmente. – Organizar e animar situações de aprendizagem.
– Dê instruções claras. – Gerir a progressão das aprendizagens.
– Prepare a informação e o material necessários com antecipação.
– Impeça que as discussões se prolonguem demasiado tempo.
19
Morales, P. (2005). Implicaciones para el profesor de una enseñanza centrada en el
alumno. Universidad Pontificia Comillas.
– Proporcione um cronograma do projeto. 20
Perrenoud, P. (2004). Diez nuevas competencias para enseñar. Barcelona: Graó.
– Criar oportunidades para todos os alunos. O papel das famílias
– Implicar os alunos na sua aprendizagem e no seu trabalho. Convém planificar qual vai ser o papel das famílias no projeto.
– Trabalhar em equipa. O objetivo é fazer com que as famílias sejam nossas aliadas.
– Participar na gestão da escola. Papel passivo. É importante dar-lhes a conhecer, previamente, o
– Informar e implicar os pais. projeto que vamos realizar, em que consiste esta metodologia,
para resolver de antemão todas as dúvidas que possam surgir.
– Utilizar as novas tecnologias.
Ao longo do processo pode manter as famílias informadas sobre
– Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão.
o desenvolvimento do projeto e sobre as aprendizagens realiza-
– Organizar a própria formação contínua. das, através de um site, blog, das redes sociais, etc.
Alguma das tarefas concretas do corpo docente no trabalho por Papel ativo. Pode pedir a colaboração das famílias, quer para
projetos são: proporcionar materiais, participar no projeto dentro da sala de
Conhecer em profundidade as metodologias ativas. aula, facilitar dados, assistir à exposição final ou até para avaliar
o projeto, etc.
Enriquecer o desenho curricular.
Ajudar a perfilar os temas dos projetos.
96 A avaliação do projeto 97
Adotar o papel de facilitador da aprendizagem. Para isso é neces-
sário fomentar o trabalho autónomo dos alunos, assim como Para saber se realizámos um bom projeto, é preciso ter em conta
conceber atividades e estratégias de aprendizagem em diversos seis princípios21.
cenários, possibilitando que os alunos adquiram um papel ativo e
se interessem por aprender.
Conceber evidências que proporcionem valor, que por si próprias Os seis princípios de um bom projeto
permitam demonstrar as competências e aprendizagens adquiri-
das pelos alunos.
1. Rigor académico.
Ajudar a ampliar o campo de interesses dos alunos, propondo-
-lhes novas vivências e incentivando-os ao uso de novos recursos. 2. Autenticidade.
Ajudar os alunos a aprofundarem as suas reflexões. 3. Aprendizagem aplicada.
Proporcionar explicações. 4. Exploração ativa.
Criar o clima de trabalho adequado. 5. Conexão com o mundo adulto.
Dar um correto feedback. 6. Práticas de avaliação cumulativa.
Fazer do erro um motivo de aprendizagem.
Ajudar no controlo do tempo. Rigor académico. Os projetos devem ter em conta objetivos cur-
riculares específicos e competências das várias disciplinas.
Autenticidade. Os projetos utilizam um contexto do mundo real
e desenvolvem temas significativos para os alunos.
Steinberg, A.: Real Learning, Real Work: School-to-Work as High School Reform.
21
Aprendizagem aplicada. Os projetos envolvem os alunos em pro-
blemas semiestruturados que exigem competências de trabalho
4. Como favorecer o trabalho por
em equipa, resolução de problemas, comunicação, etc. projetos
Exploração ativa. Os projetos vão além da sala de aula e impli-
O valor de uma ideia resideno
cam trabalhos de campo e explorações na comunidade.
uso da mesma.
Conexão com o mundo adulto. Os projetos conectam os alunos
Thomas A. Edison
com mentores adultos e com pessoas da comunidade.
Práticas de avaliação cumulativa. Os projetos implicam apresen-
tações por parte dos alunos e/ou avaliação do seu trabalho tendo
em conta critérios pessoais, curriculares e do mundo real.
Antes de começar propomos-lhe refletir
Partir de algo que os motive. Revisão por pares. Uma das estratégias é promover a «revisão
por pares», de maneira que possam receber retroalimentação
– É necessário que o material seja potencialmente significativo,
não só do professor, mas também dos seus colegas e, assim,
que a aprendizagem tenha sentido para o aluno.
aproveitar os benefícios da escrita e da leitura ativas. Algumas
– É preciso manter certa tensão ao longo do projeto, para que a
ideias podem ser: avaliação entre pares, entrevista, crítica e
motivação inicial não decaia.
feedback, interrogatório, examinar-se um ao outro, comparar
– É importante trabalhar a motivação intrínseca dos alunos. apontamentos, exercícios, etc.
Dotar o projeto de estrutura. O poder de um bom feedback. Estas são algumas recomendações
– Que a informação apresentada esteja estruturada com certa para dar um bom feedback23:
coerência interna (significatividade lógica). – Procure o melhor momento.
– Que os alunos saibam o que têm de fazer. – Vá pouco a pouco.
– Os alunos têm de conhecer para que serve o que se trabalha. – Comece com um aspeto positivo.
104 – Esclarecer com perguntas: O que tenho de saber? O que tenho – Emita uma opinião neutra, sem emitir juízos de valor. 105
de fazer? Quando tenho de o fazer?
– Exponha as consequências.
Autorregulação da aprendizagem. – Fale das causas.
– Procurar a aceitação da meta da atividade por parte do aluno.
– Que o aluno saiba o fundamental que é preciso trabalhar no 4.8. ESTRATÉGIAS PARA A PERSONALIZAÇÃO DO PROJETO
projeto. Pode ajudar a elaboração de um programa de ação
para a consecução da meta. Uma das tarefas do docente na fase de planificação do projeto é
oferecer a cada um dos seus alunos a oportunidade de realizar ati-
Avaliação dos resultados. vidades e tarefas que se ajustem às suas necessidades e aos seus
– Conhecer de antemão os critérios de sucesso. estilos de aprendizagem. Para isso:
– Dispor de informação sobre os resultados reais que se estão a Investigue sobre os estilos de aprendizagem dos seus alunos.
obter. Exponha tarefas em que intervenham os diferentes estilos de
– Analisar a correção da atividade (correspondência entre os aprendizagem. Conceba atividades tendo em conta a teoria das
seus resultados e a meta). Inteligências Múltiplas, por exemplo.
Trabalhar a metacognição. Tire os seus alunos da zona de conforto, mas parta do que sabem,
pois é necessário que tenham uma certa segurança enquanto
– O que é que aconteceu antes, durante, depois?
aprendem.
Exponha atividades de diferentes graus de dificuldade cognitiva,
4.7. ESTRATÉGIAS DE AVALIAÇÃO IMEDIATA seguindo, por exemplo, a taxonomia de Bloom.
Uma das chaves do trabalho por projetos é a avaliação contínua e
processual. Através de diferentes estratégias, podemos conhecer as
expetativas dos alunos, os seus conhecimentos prévios, as suas
Romo, M (2016): ¿Sabes cómo dar un buen feedback? (Disponível em https://mar
23
taromo.wordpress.com/2016/11/28/sabes-como-dar-un-buen-feedback/)
4.9. ESTRATÉGIAS PARA QUE NINGUÉM FIQUE PARA TRÁS
A título de conclusão
No momento de programar as atividades, tenha em conta a diversi- Aquele que aprende e aprende mas não pratica o que sabe,
dade da sala de aula. As atividades devem ser: é como aquele que lavra e lavra mas não semeia.
Variadas, isto é, devem trabalhar os diferentes estilos de apren-
Platão
dizagem, contemplar as diferentes inteligências, capacidades
Partindo de conhecimentos, experiências, teorias e investigações,
cognitivas e modelos de pensamento.
proporcionaram-se ideias de como incorporar o trabalho por proje-
Inclusivas, para as quais haverá diferentes níveis de dificuldade.
tos no dia-a-dia da sala de aula, tendo em conta o currículo e o
Completas e o mais reais possível.
metacurrículo. É a altura de passar à ação.
No momento de realizar um projeto é preciso considerar os diferen-
tes ritmos de aprendizagem, e ter em conta se na sala de aula há
algum aluno com necessidades educativas especiais.
FAZER
Juntamente com a programação das atividades, a avaliação contí-
nua e o feedback terão muita importância para enfrentar as dificul- Agora
dades que se estejam a apresentar e poder reconduzi-las para ter é consigo.
106 107
sucesso na tarefa atribuída.
PARTIR DA
EXPERIÊNCIA
4.10. ESTRATÉGIAS PARA USAR A TECNOLOGIA
Mostraram-se várias
A incorporação da tecnologia no trabalho por projetos é muito ade- estratégias para ter êxito
no trabalho por projetos,
quada, já que facilita muitas das fases da sua realização. Para isso
quer para escolher um tema,
tenha em conta: como para motivar os alunos,
para usar as TIC, para organizar a
sala, etc.
SABER COMO
2 Por que é conveniente incorporar a aprendizagem cooperativa 6.1. O papel do corpo docente 138
nos primeiros ciclos do Ensino Básico? 122 6.2. A formação das equipas cooperativas 139
6.3. A atribuição de papéis específicos 141
3 Os grupos informais e algumas técnicas cooperativas
6.4. As tarefas em puzzle 142
3.1. Processamento interindividual da informação
através dos grupos informais 126 6.5. As tarefas completas 143
No sexto ano, por exemplo, para esta autoavaliação poderia – Se resolveram os conflitos de forma adequada.
expor-se uma rubrica, segundo uma escala de quatro graus, com Avaliação de cada membro do grupo. Convém levá-la a cabo a
as seguintes questões: partir de uma dupla perspetiva: avaliação de cada aluno por
– Tínhamos claro como fazer a tarefa e quais eram os objetivos? parte dos outros membros do grupo e autoavaliação de cada um
– Dedicámo-nos a trabalhar na tarefa? deles relativamente à sua própria contribuição e à forma de
como melhorá-la.
– Fizemos um bom plano para realizar a tarefa e cumprimo-lo?
– Aproveitámos bem o tempo?
– Analisámos cada passo da tarefa para corrigi-lo e melhorá-lo? 8.2. OBSERVAÇÃO DA APRENDIZAGEM COOPERATIVA POR
PARTE DO CORPO DOCENTE
– Fizemos uma avaliação global da tarefa realizada?
Os critérios gerais anteriormente mencionados devem ser observados
em cada aula por parte do corpo docente. Convém anotar os resulta-
dos das observações numa ficha semelhante à que se inclui a seguir.
Em ambos os casos (torneios grupais ou individuais) a pontuação da
OBSERVAÇÃO DO FUNCIONAMENTO DE CADA EQUIPA
equipa resulta da soma das pontuações de cada um dos seus mem-
Aspetos Sim Não Observações bros. Esta condição, proporciona as vantagens da cooperação, evi-
Entendem os objetivos e a tarefa? tando o risco de difusão de responsabilidade que se deteta, por
vezes, quando o aluno não pode comprovar qual a sua contribuição
Observa-se interdependência positiva
e responsabilidade individual?
para os resultados da equipa. Como consequência da difusão de
responsabilidade, o rendimento e a motivação pela aprendizagem
Debatem e resolvem bem os conflitos?
poderiam diminuir.
Todos os membros do grupo participam?
Comparação com pares do mesmo nível. Nos torneios grupais
… formam-se grupos de três alunos, tendo em conta que o seu nível
na tarefa seja o mais homogéneo possível, e entregam-se-lhes as
provas de avaliação. Todos os grupos de torneio assim formados
8.3. COMO GARANTIR A IGUALDADE DE OPORTUNIDADES realizam as provas simultaneamente. A criança que melhor
ATRAVÉS DA AVALIAÇÃO resolve a tarefa em cada grupo de torneio consegue dez pontos
A incorporação da aprendizagem cooperativa em áreas avaliáveis, cos- para a equipa que o treinou.
tuma favorecer a sua eficácia, aumentando a relevância que lhe dá o Ao comparar o rendimento com o dos colegas de nível semelhante,
aluno e a autoridade do corpo docente para a levar a cabo. igualam-se consideravelmente as possibilidades de que todos os
Para decidir o procedimento de avaliação, é importante recordar alunos consigam os dez pontos para a equipa da qual fazem parte.
que deve ser coerente com os objetivos e os princípios da coopera- Uma forma muito ágil e simples de organizar os torneios grupais
150 151
ção. Por isso, se se quer favorecer a interdependência positiva e a com grupos do mesmo nível de rendimento pode ser a seguinte:
responsabilidade individual, parece lógico reforçá-las através do – D ar cada papel (porta-voz, coordenador/a, observador/a e
procedimento escolhido para a avaliação. Os torneios grupais e os moderador/a) a alunos/as que tenham um mesmo nível de ren-
torneios individuais ajudam a consegui-lo, contribuindo, além disso, dimento.
para distribuir o protagonismo académico.
– no fim da aula, por exemplo, pedir que saiam os/as moderado-
Uma vantagem importante da aprendizagem cooperativa é que res/as e expor-lhes algumas perguntas, concedendo os pontos
permite modificar a estrutura da avaliação e igualar as oportunida- a quem responda de acordo ao critério escolhido (90% ou a
des de obter sucesso e reconhecimento de todos os alunos e as alu- quem mais responda, por exemplo).
nas. Para isto compara-se o rendimento de cada aluno consigo – Assinalar os pontos obtidos por cada membro à sua equipa e
próprio, na aula anterior (no torneio individual), ou se possível, com apontá-los na cartolina colocada na parede.
colegas de nível de rendimento semelhante (no torneio grupal).
– Proceder da mesma forma com o resto dos papéis atribuídos a
Quando se combinarem estes dois procedimentos de avaliação, cada grupo (porta-voz, coordenador/a e observador/a).
favorece-se a consecução de dois importantes objetivos: Os torneios grupais têm uma grande força motivadora. É neces-
– Ajudar a definir metas realistas, contribuindo para o desenvolvi- sário, no entanto, dar-lhes um aspeto lúdico, enfatizando a
mento da autoestima e da motivação de eficácia. importância de colaborar e relativizando a importância de
ganhar ou perder. Em cada dia, convém atribuir alguns pontos
– Estimular a aquisição de capacidades de comparação intrapessoal
aos alunos que melhor tenham colaborado, apontando-os na
que permitam comprovar o próprio progresso, assim como capa-
equipa a que pertencem.
cidades e oportunidades de comparação interpessoal.
A comparação intrapessoal e o sentido do progresso. Nos tor-
neios individuais cada aluno realiza a prova sozinho e consegue os
Referências bibliográficas
pontos para a sua equipa sempre que o seu rendimento for igual
Allport, G. (1954). The nature of prejudice. Cambridge, Mass.:
(atribuem-se cinco pontos) ou superior (dez pontos) ao alcan-
Addison-Wesley.
çado na aula anterior.
Aronson, E. (1978). The jigsaw classroom. Beverly Hills, Calif.:
Para que a aprendizagem cooperativa produza os resultados
Sage Publications.
esperados, é muito importante que os sucessos se distribuam ao
máximo e que todo o aluno o consiga alcançar com certa periodi- Aronson, E. (2000). Nobody left to hate. Teaching compassion
cidade. Para isso, costuma ser necessário combinar os dois pro- after Columbine. New York: Freeman.
cedimentos de avaliação descritos. No entanto, em algumas
Díaz-Aguado, M.J. (dir.) (1992). Educación y desarrollo de la
ocasiões, o nível de rendimento de um aluno com necessidades
tolerancia. Cuatro volúmenes y un vídeo. Madrid: Ministerio
educativas especiais integrado em salas de aula ordinárias, pode
de Educación y Ciencia.
estar a uma distância excessiva do nível de rendimento dos seus
colegas mais próximos. Nestes casos, é conveniente utilizar só os Díaz-Aguado, M.J. (dir.) (1994). Todos iguales, todos diferentes.
torneios individuais de comparação intrapessoal. Programas para favorecer la integración de alumnos con
necesidades educativas especiales. Cinco volúmenes. Madrid:
Os dois procedimentos de avaliação anteriormente resumidos
ONCE. Disponível na Internet.
permitem educar a comparação intra e interpessoal, processos de
grande importância no desenvolvimento da personalidade, em geral, Díaz-Aguado, M.J. (2003). Educación intercultural y aprendizaje
e na aprendizagem escolar, em particular. Os torneios grupais cooperativo. Madrid: Pirámide.
152 153
ensinam os alunos a utilizar múltiplos grupos de referência, incluindo Díaz-Aguado, M.J. (2006). Del acoso escolar a la cooperación
assim a comparação com colegas de rendimento próximo ao seu e en las aulas. Madrid: Pearson Educación.
com aqueles com quem é possível obter diferente tipo de resultados.
Os torneios individuais ensinam a comparação temporária Díaz-Aguado, M.J. (2015). Da violência escolar à cooperaçao
intrapessoal em função da qual se desenvolve a motivação de na sala de aula. São Paulo: Adonis.
sucesso e a ideia de progresso. Díaz-Aguado, M.J., Andrés, T. (1999). Aprendizaje cooperativo
Para favorecer a motivação pela aprendizagem cooperativa e y educación intercultural. Investigación-acción en centros
aumentar a sua eficácia, convém elaborar uma tabela na qual se de Primaria. Psicología Educativa, 5,2. págs. 141-200.
mostrem os resultados obtidos por cada uma das equipas ao longo Díaz-Aguado, M.J., Baraja, A. (1993). Interacción educativa
do ano, onde devem figurar os seguintes dados: nome da escola e y desventaja sociocultural. Un modelo de intervención para
ano; nomes das equipas; número de torneios ou aulas de avaliação. favorecer la adaptación escolar en contextos interétnicos.
Para garantir que todo o aluno consiga um nível aceitável de reco- Madrid: Centro de Investigación y Documentación Educativa.
nhecimento, e especialmente os que mais precisam, pode ser conve- Disponível na Internet.
niente que o corpo docente vá registando os resultados obtidos por Díaz-Aguado, M.J., Martínez Arias, R., Martín Babarro, J. (2010).
cada estudante num documento à parte, não visível para o aluno, Estudio estatal sobre la convivencia escolar en la Educación
que lhe proporcione dados individuais necessários para assegurar a Secundaria Obligatoria. Madrid: Ministerio de Educación.
eficácia da aprendizagem cooperativa. Observatorio Estatal de la Convivencia. Disponível no site
do Ministério da Educação.
Johnson, D.W., Johnson, R.T. (2008). Social interdependence
theory and cooperative learning: the teacher’s role. Em: R.M.
Gillies, A.F. Ashman, J.Terwel (eds.). The teacher’s role in
implementing cooperative learning in the classroom, págs. 9-37.
New York: Springer.
Johnson, D.W., Johnson, R.T., Holubec, E. (1999). El aprendizaje
cooperativo en el aula. Barcelona: Paidós. Data da primeira
edição em inglês: 1994.
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Avaliação formativa
PATRICIA COMPAÑÓ
ÍNDICE
AVALIAÇÃO FORMATIVA
INTRODUÇÃO 161
CONCLUSÕES 180
Estas autoras propõem uma série de elementos que são vitais para
1 2 3 avaliar baseando-se nesta visão:
RECOLHER ANALISAR OS TOMAR Observação. Sem descartar a utilidade dos exames como ativi-
DADOS DADOS E EMITIR JUÍZOS DECISÕES
dade de avaliação final, a observação vai permitir conhecer o que
FIGURA 2. ASPETOS BÁSICOS DO PROCESSO AVALIATIVO
é que fazem os nossos alunos, que dificuldades é que estão a
encontrar, quais são as suas reações diante das aprendizagens
Nesta conceção sistémica da avaliação formativa, as práticas que propostas, qual é o seu ponto de partida na altura de abordar as
se levam a cabo dependem do quadro teórico de referência. Por isso, tarefas, qual é o seu grau de participação, etc.
é interessante consensualizar no grupo de professores o conceito de
avaliação que se tomará como referência, já que este condicionará Interpretação. Não só é importante observar o que é que fazem
o desenvolvimento da mesma. Desta forma, em função da visão que os alunos e como é que o fazem, como também entender porque
se tenha da avaliação, poderão decidir-se questões importantes, é que fazem o que fazem.
como por exemplo os objetivos que se perseguem, os agentes impli- Juízo. Uma vez recolhida e interpretada a informação, como
cados, os diferentes momentos nos quais avaliar, etc. docentes deveremos emitir um juízo em relação aos parâmetros
166 167
de avaliação propostos e consensualizados.
1.2. A AVALIAÇÃO FORMADORA COMO COMPLEMENTO Ação. A informação recolhida na avaliação deve conduzir a uma
DA AVALIAÇÃO FORMATIVA modificação da nossa intervenção educativa. Se não fosse assim,
os passos anteriores não teriam nenhuma utilidade.
Esta visão de avaliação formativa ou avaliação do processo de
aprendizagem, propõe uma recolha de informação das representa- Explicitação metacognitiva. O feedback que possamos proporcionar
ções mentais que o aluno vai criando, baseando-se nos conteúdos aos nossos alunos e alunas a respeito das suas ações, deve implicar
que deve aprender e nas estratégias utilizadas para realizar essa uma reflexão metacognitiva por parte dos alunos, que implique uma
aprendizagem. tomada de consciência do seu grau de aprendizagem.
Partindo desta conceção, a avaliação entende-se como uma estra- Na visão de avaliação formativa tradicional, a regulação da apren-
tégia de aprendizagem que ajuda, tanto docentes como alunos, a dizagem é levada a cabo, basicamente, pelo corpo docente. É este
terem consciência dos obstáculos que vão aparecendo e que dificul- que se encarrega de detetar as dificuldades de aprendizagem no
tam a aprendizagem. Esta tomada de consciência vai permitir que aluno, de analisá-las e de tomar decisões a este respeito. No
não seja só o corpo docente a detetar as dificuldades, mas também entanto, Sanmartí (2007) opina que «só o próprio aluno pode corri-
seja o próprio aluno ou aluna quem tomem consciência destas e gir os seus erros, dando-se conta do porquê de se enganar e
possam levar a cabo ações para as superar. tomando as decisões de mudança adequadas».
Neste sentido, Sanmartí propõe que o corpo docente partilhe com o 1.3. QUE DIFERENÇAS EXISTEM ENTRE A AVALIAÇÃO
aluno a responsabilidade da avaliação. TRADICIONAL E A AVALIAÇÃO FORMATIVA/FORMADORA?
Partindo do que foi exposto até agora, poderíamos dizer que a ava-
«Não é suficiente que quem ensina corrija os erros e explique a liação atual, que oferece uma visão mais formativa/formadora, é
visão correta. Deve ser o próprio aluno a avaliar-se, propondo plural: nos enfoques, nos conteúdos, nos métodos, nos instrumentos,
atividades com este objetivo específico. Esta avaliação é a que nos agentes, nas audiências, etc.
se chama avaliação formadora».
Analisando as características dos dois tipos de avaliação, podemos
concluir que a avaliação atual implica um enfoque mais construtivo
Será esta a visão formadora, onde têm lugar a autoavaliação e a e é mais personalizada, de forma que não só permite uma maior
coavaliação, já que este tipo de avaliação constitui o motor do pro- atenção à diversidade, mas também corresponsabiliza o aluno pelo
cesso de construção do conhecimento. É interessante, neste sentido, seu próprio processo de aprendizagem.
que tanto os que ensinam como os que aprendem, recolham dados
sobre a aprendizagem, os analisem e tomem decisões a este res-
peito. Desta forma, o aluno corresponsabiliza-se do seu processo de
aprendizagem a partir da tomada de consciência deste.
8
5
Os pontos-chave em que temos de incidir são:
Detetar os erros de aprendizagem quando se produzem.
Assegurar que os efeitos não sejam sancionadores, mas constru- AVALIAÇÃO AVALIAÇÃO ATUAL
tivos relativamente ao processo de aprendizagem. TRADICIONAL (FORMATIVA/ FORMADORA)
Tendo em conta a importância que a avaliação tem no processo de • Utiliza diferentes provas: provas de • Utiliza amostras variadas:
aprendizagem, é interessante concretizar os passos que qualquer escolha múltipla, de associação, etc. experiências dos alunos, projetos,
168
processo avaliador deve ter em conta: • Faz um juízo avaliativo baseado na debates, portefólios, produtos, etc. 169
recolha de informação objetiva, • Faz um juízo objetivo, tendo em
Recolha de dados com rigor e sistematização. tomando o mesmo ponto de conta o ponto de partida, assim
referência para todos ao como as particularidades de cada
Análise da informação obtida.
interpretar os resultados sem aluno.
Formulação de conclusões. considerar o ponto de partida. • Focaliza a avaliação de forma
• Focaliza a avaliação sobre individualizada sobre os alunos, à
Estabelecimento de um juízo de valor sobre o objeto avaliado. a pontuação do aluno em luz da sua própria aprendizagem.
Adoção de medidas para continuar a atuar corretamente.
comparação com a de outros. • Permite ao corpo docente criar
• Permite conhecer o nível do aluno uma história avaliativa relativamente
Como conclusão do até agora exposto, poderíamos dizer que: mediante uma pontuação. ao indivíduo ou ao grupo.
• Tende a ser generalizável. • Tende a ser idiossincrática.
A avaliação faz parte do processo de aprendizagem e tem sen-
• Proporciona uma informação • Provê informação avaliativa que
que inibe a ação curricular. facilita a ação curricular.
tido como ferramenta para construir o conhecimento, já que se
• Coloca a avaliação sob a decisão • Permite ao aluno participar na sua
trata de um elemento da prática educativa que nos permite refle- exclusiva do corpo docente. própria avaliação.
tir sobre o processo e, caso seja necessário, modificá-lo quando
Adaptado de Casanova (2007) e Mateo (2000)
este não se constrói como esperávamos ou como prevíamos.
2. O processo de avaliação no trabalho 2.1. REDAÇÃO DE INDICADORES E NÍVEIS DE AQUISIÇÃO
por projetos Como docentes, quando iniciamos o trabalho por projetos, planifica-
mos as tarefas que os nossos alunos e as nossas alunas desenvolve-
rão, definimos as atividades que realizarão e quando é que as
Pode ser interessante ordenar as ideias em relação à avaliação dos levarão a cabo. Paralelamente a este processo, também é muito
projetos, concretizando-as numa série de passos que vão permitir importante planificar como é que se vai levar a cabo a avaliação.
que a avaliação seja um processo contínuo, interdependente do pro- Esta avaliação iniciar-se-á com a redação de indicadores e os seus
cesso de ensino-aprendizagem, e não só um elemento final. Desta diferentes níveis de aquisição.
forma, a avaliação estará integrada nos projetos de trabalho e não
se desenvolverá só a posteriori.
«Um indicador define-se como a ação concreta que se observa
Os passos ou fases que seguiremos para avaliar os projetos são: na realização de uma tarefa» (Cortés, 2009).
1. Redação de indicadores e níveis de aquisição (O que é que quere-
mos avaliar?). Indicadores de avaliação e seus níveis de aquisição
2. Seleção de atividades de avaliação (Como é que avaliaremos?). Para concretizar os indicadores de avaliação e os correspondentes
3. Seleção dos instrumentos de avaliação (Como é que recolhere- níveis de aquisição, é necessário conhecer os critérios de avaliação e
mos os dados?). os padrões de aprendizagem avaliáveis que o curriculum proporciona.
4. Retroalimentação da avaliação do aluno (O quê e como é que Para passar dos critérios de avaliação e dos padrões (primeiro nível
devolvemos a informação aos alunos?). de concretização curricular) aos indicadores de avaliação (terceiro
5. Avaliação dos alunos (Como é que os classificaremos?). nível de concretização), é necessário contextualizar estes elementos
ao nível de centro, na forma de resultados de aprendizagem, de for-
ma a que possamos analisar como é que o aluno evolui na aquisição
170 das competências. 171
NÍVEIS DE CONCRETIZAÇÃO
1 3 5
1
Redação de Seleção dos Avaliação
indicadores e níveis instrumentos dos alunos CRITÉRIOS DE
de aquisição de avaliação AVALIAÇÃO
PADRÕES DE
APRENDIZAGEM
2
RESULTADOS
DE APRENDIZAGEM
2 4 3
Seleção de atividades Retroalimentação
de avaliação da avaliação do aluno INDICADORES
DE AVALIAÇÃO
FIGURA 3. PASSOS DO PROCESSO DE AVALIAÇÃO FIGURA 4. CONCREÇÃO DOS CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO
Assim, os critérios de avaliação são o referente específico para ava- 2.2. SELEÇÃO DE ATIVIDADES DE AVALIAÇÃO. PARA LÁ
liar a aprendizagem, e descrevem aquilo que o aluno deve conseguir, DO EXAME
tanto ao nível de conhecimentos como de competências. São pres- As atividades de avaliação são os exercícios e modelos de avaliação
critivos e, portanto, procedem do curriculum oficial. vinculados ao processo de ensino-aprendizagem que se utilizam
A um nível mais específico, mas ainda prescritivo, encontramos os para avaliar o grau de consecução dos indicadores por parte do
padrões de aprendizagem avaliáveis, que são especificações dos cri- aluno.
térios de avaliação que permitem definir os resultados da aprendi- Existe uma grande variedade de atividades com as quais podemos
zagem. Concretizam o que o aluno deve saber, compreender e saber avaliar para lá das tradicionais provas escritas. Isto não significa
fazer em cada área. Devem ser observáveis, mensuráveis e devem que, na avaliação das competências, se descarte este tipo de provas,
permitir graduar o rendimento ou sucesso alcançados. mas convém incluir outras atividades e instrumentos de avaliação.
Os resultados de aprendizagem são uma declaração do que se Vejamos alguns exemplos:
espera que o estudante seja capaz de realizar com êxito em cada
área ou matéria. Um resultado de aprendizagem é uma mudança Perguntas orais a toda a turma. Apesar de ser mais eficaz que
relativamente específica e duradoura que um aluno ou uma aluna cada aluno se responsabilize pelas suas próprias respostas por
conseguem em relação a determinadas aprendizagens. Entende-se escrito, realizar perguntas orais estimula a curiosidade e a aten-
então que os resultados de aprendizagem são concretizações mais ção, levando à ativação de conhecimentos prévios e ao desenvol-
específicas que os padrões. vimento da capacidade crítica.
No entanto, os resultados de aprendizagem não só devem especifi- Para que este tipo de atividade seja um bom método de avalia-
car os critérios e os padrões correspondentes, mas também devem ção, devem cumprir-se algumas condições:
estar contextualizados no centro, em função da realidade sociocul- – É preciso realizar boas perguntas, que incidam no que real-
tural deste. Assim, se um centro decide trabalhar com os seus alu- mente queremos avaliar. É necessário, portanto, tê-las defini-
nos uma série de conteúdos específicos, deverá incluí-los como das de antemão, e não nos limitarmos a perguntas que possam
172 resultados de aprendizagem, de forma a que possam ser medidos. ser respondidas de memória pelos alunos. 173
Este trabalho de derivação dos critérios e padrões a resultados de – É preciso realizar as perguntas tendo em conta para que é que
aprendizagem, vai permitir a sua posterior concretização em indica- se fazem, já que devem estimular a reflexão e favorecer uma
dores de avaliação ou de sucesso com os seus consequentes níveis aprendizagem de qualidade. Esta consciência da finalidade das
de aquisição (terceiro nível de concretização). perguntas ajudar-nos-á a selecioná-las corretamente.
A redação dos indicadores de avaliação ajudará a evidenciar o tra- – Devemos explicar aos alunos e às alunas a finalidade destas
balho diário do aluno, a partir da recolha de amostras e de evidên- perguntas, para que sejam significativas e funcionais.
cias de aprendizagem. A soma das diferentes evidências Outro sistema pode consistir em formular perguntas oralmente,
permitir-nos-á analisar a progressiva aquisição das competências para que cada aluno responda de forma individual, quer seja por
por parte do aluno. No entanto, para uma melhor aproximação à escrito ou mediante o uso de um instrumento como, por exemplo,
aquisição das competências será necessário que, para cada um dos um dado. Assim, o docente pode formular uma pergunta e pro-
indicadores, consensualmente, se estabeleçam diferentes níveis de porcionar duas ou três possibilidades de resposta. Cada aluno
sucesso pela própria equipa docente. Podemos encontrar um bom dará a sua resposta, de forma individual, mostrando no dado o
exemplo disso nas próprias rubricas, onde claramente se podem número da resposta escolhida.
identificar os indicadores e os diferentes níveis de aquisição.
Atividades escritas. Nos projetos de trabalho podem aplicar-se – Relação de objetivos que se querem conseguir com o projeto,
diferentes atividades de avaliação por escrito. Uma delas res- tanto os propostos pelo corpo docente como os sugeridos con-
ponde à avaliação de conhecimentos prévios, onde os alunos indi- sensualmente pelos próprios alunos.
vidualmente deverão responder de forma escrita a uma série de – Uma coleção de material selecionado e ilustrativo das aprendi-
perguntas. zagens realizadas no projeto (atividades das diferentes tarefas
Outro tipo de perguntas que podemos encontrar são as chama- de investigação, mapas conceptuais, fotografias das atividades
das perguntas abertas de resposta breve. Em determinadas oca- e do produto final, etc.).
siões, trata-se de uma só pergunta, de resposta muito breve, em – Reflexões pessoais relativamente às aprendizagens realizadas,
que se pede aos alunos que resumam a ideia principal da tarefa, sobre o trabalho individual e sobre o trabalho em equipa.
que deem a sua opinião sobre o conceito trabalhado, etc.
Diário de aprendizagem. Da mesma forma que o portefólio, o diá-
Portefólio. Os portefólios são uma coleção de materiais e traba- rio de aprendizagem pode ser utilizado como atividade de auto-
lhos selecionados com a intenção de mostrar o rendimento ou a -reflexão por parte do aluno e como instrumento de recolha de
aprendizagem realizada, refletir sobre este e avaliá-lo. O porte- informação por parte do corpo docente.
fólio pode conter também as avaliações qualitativas do docente.
O seu conteúdo, portanto, pode ser qualquer produção realizada,
individualmente ou por equipas de trabalho, acompanhada de O diário reflexivo é, segundo Bordas e Cabrera (2001):
pequenas reflexões pessoais do tipo diário de classe. «Uma estratégia avaliativa para desenvolver capacidades
metacognitivas. Consiste em refletir e escrever sobre o pró-
O portefólio é, pois, um instrumento de avaliação muito completo
prio processo de aprendizagem. As representações que o
e do qual se pode obter muita informação, da mesma forma que
aluno faz da sua aprendizagem, podem centrar-se num ou
os diários de aprendizagem ou as rubricas.
em vários dos seguintes aspetos:
O uso de um portefólio ou pasta de trabalhos especiais, quando a) O desenvolvimento conceptual alcançado.
174 se trabalha por projetos, permite recolher uma grande variedade 175
b) Os processos mentais levados a cabo.
de atividades que realiza o aluno nas tarefas de investigação,
assim como as reflexões deste, e será possível observar a sua c) Os sentimentos e atitudes que se experimentaram».
aprendizagem e o seu avanço no desenvolvimento do projeto.
É importante que o docente guie os alunos no uso reflexivo do Através do diário, o aluno expressa o que julga que aprendeu,
portefólio. Por isso, é conveniente que os objetivos sejam explíci- assim como as dificuldades que encontrou ao longo das diferen-
tos e que se vá realizando um seguimento dos trabalhos que se tes tarefas de investigação do projeto.
vão arquivando. Também se podem incluir, para fomentar esse
Por outro lado, na sua vertente de instrumento de avaliação, a
pensamento reflexivo, mapas conceptuais que organizem as rela-
análise do diário de cada aluno e aluna permitirá ao docente
ções entre os principais conceitos trabalhados, assim como
identificar se os alunos tomaram consciência dos objetivos e se
autoavaliações e coavaliações que evidenciem as aprendizagens
identificaram os obstáculos e dificuldades que tiveram. Neste
realizadas.
sentido, de um ponto de vista de avaliação formadora, a recolha
A estrutura básica do portefólio, ou pasta de trabalhos especiais, de evidências de aprendizagem de um diário vai permitir regular
poderia ser a seguinte: as perceções em relação aos obstáculos identificados pelo pró-
– Índice do portefólio. prio aluno mais do que proporcionar uma avaliação da atividade
em si mesma.
2.3. SELEÇÃO DOS INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO Escala de avaliação
Os instrumentos de avaliação são ferramentas que nos serão úteis 1 2 3 4
para recolher os dados que as atividades de avaliação do aluno pro-
Categorias Indicadores
porcionam. É possível que a atividade e o instrumento de avaliação
sejam o mesmo elemento, como acontece com as rubricas, os por-
tefólios, os diários reflexivos, os questionários, as provas, etc. Este (baixo) (bom) (muito bom) (exemplar)
facto, facilitará a recolha e o tratamento da informação e os dados Descritor Descritor Descritor Descritor
Aa (%)
a avaliar. Aa1 Aa2 Aa3 Aa4
Dado que já se analisaram os portefólios e os diários anteriormente, Descritor Descritor Descritor Descritor
A (%) Ab (%)
Ab1 Ab2 Ab3 Ab4
a seguir centrar-nos-emos nas rubricas, que são um dos instrumen-
Descritor Descritor Descritor Descritor
tos de avaliação mais utilizados nos últimos tempos. Ac (%)
Ac1 Ac2 Ac3 Ac4
As rubricas são matrizes que explicitam, na sua primeira coluna, os Descritor Descritor Descritor Descritor
Ba (%)
indicadores de avaliação de uma competência. No resto de colunas Ba1 Ba2 Ba3 Ba4
da matriz concretizam-se os diferentes níveis de aquisição dos refe- Descritor Descritor Descritor Descritor
B (%) Bb (%)
ridos indicadores. Bb1 Bb2 Bb3 Bb4
Descritor Descritor Descritor Descritor
Bc (%)
Bc1 Bc2 Bc3 Bc4
O uso de rubricas, não só permite a recolha de evidências de
aprendizagem de uma competência ou dos seus vários elemen- FIGURA 5. ESTRUTURA DE UMA RUBRICA
tos, mas também favorece a escolha consensual dos critérios
entre os membros da equipa docente, assim como a comunica- Os elementos que compõem uma rubrica são:
ção destes critérios ao aluno (Alsina, 2013). I ndicadores ou critérios de realização. São os itens que nos ajuda-
176 rão a concretizar os objetos a avaliar. A primeira coluna facilita a 177
categorização de indicadores que têm em comum alguma carac-
Em relação ao corpo docente, o design conjunto e consensual de terística. Segundo a concretização que queiramos desenvolver, a
rubricas entre os vários membros da equipa docente, permite uma referida coluna de categorias será ou não necessária.
avaliação mais objetiva. Ao passo que, em relação ao aluno, o facto
de conhecer de antemão os critérios mediante os quais será ava- Escala de avaliação. Determina os diferentes níveis de aquisição
liado, vai permitir-lhe corresponsabilizar-se pelo seu próprio pro- de cada um dos indicadores. Podem indicar uma avaliação quan-
cesso de aprendizagem. titativa ou qualitativa.
O uso da rubrica, além disso, facilita proporcionar um feedback Descritores. É a informação que concretiza como desenvolver
quase imediato aos alunos e às alunas, já que permite encurtar cada um dos indicadores segundo o nível de concretização que
substancialmente o tempo de retorno da informação, ao oferecer queiramos. Os descritores devem ser muito claros e estar redigi-
uns resultados quantitativos e/ou qualitativos baseados em padrões dos com frases curtas e unívocas.
do conhecimento prévio do corpo docente e dos alunos. As rubricas podem ser utilizadas em qualquer nível educativo, adap-
tando o conteúdo ao nível de desenvolvimento dos alunos. Pode
trabalhar-se com rubricas muito desenvolvidas ao nível de conteúdo,
ou com rubricas simples, construídas com imagens, no caso dos alu-
nos e das alunas mais novos.
A rubrica é, portanto, um instrumento muito completo quando se Esta comunicação dos resultados aos alunos, na perspetiva de ava-
utiliza em consonância e de acordo com a construção cooperativa liação formativa, faz parte do processo educativo. Nela, a análise
do grupo-turma. Pode utilizar-se tanto a nível externo (heteroava- das fortalezas e debilidades dos alunos em torno dos objetivos de
liação) como a nível pessoal de autoavaliação ou a nível grupal para aprendizagem estabelecidos, jogam um papel fundamental, sobre-
fomentar a coavaliação. tudo para expor estratégias de melhoria.
182
Manual de formação docente
TEXTO
Patricia Compañó (Avaliação formativa)
TRADUÇÃO
INCYTA Linguistic Services
EDIÇÃO
Alfredo Solteiro
PAGINAÇÃO
Cláudia Gaminha
©2018
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