Creche MEM
Creche MEM
Creche MEM
rência e apoio para dinamizar outros núcleos re seu trabalho em creche. Depois de contactadas, o
gionais onde mais educadores/as procuram evo grupo deslocou-se às instituições onde trabalha
luir nas suas práticas. É o caso do Núcleo Regional vam para uma visita e para a realização de uma
do Seixal/Almada, que, desde 2004, em parceria entrevista. Visitaram-se várias salas e instituições
com Lisboa, e, de forma continuada, se mantem onde se recolheram imagens, documentos, e
até hoje com atividade em grupos cooperativos re se observaram algumas práticas. Nas entrevistas
gionais ou inter-regionais, dinamizados pela Te (Fig. 1) foi pedido que explicitassem o modo como
resa Matos. O Núcleo de Setúbal inicia também organizavam o seu trabalho quotidiano com as
um grupo cooperativo, a partir de 2007, que se crianças, equipa e famílias, quais os fundamentos
mantém ativo até hoje. da sua ação educativa e as suas referências teóri
Este trabalho dos núcleos torna-se visível no cas mais significativas.
seio do movimento especialmente através das co
municações em Congresso. A partir de uma con
sulta dos programas dos congressos pudemos ve
rificar que a primeira comunicação é feita no ano
j Guião para entrevistas
de 2001 pela Adelaide Garcês do núcleo de Tomar. Como organiza o quotidiano em creche:
A partir de 2003 temos comunicações sobre cre 0rganizaço do grupo
—
n.° 1). Para além dos núcleos já referidos, em que Rotina diária e semanal (s,(uaç5es tipo da ratina)
—
2005
À descoberta do MEM na creche: um trabalho de Ana Giões e Évora
parceria com a família Vanda Chaveiro
I1)
2007
o
.
a)
2008 •cl)
o’
‘o
O modelo do MEM na creche. Questões e reflexões Teresa de Matos Seixal/
c)
e Anabela Norte /Almada o’
z
O Modelo Pedagógico do MEM em contexto Lúcia de Lurdes Coelho Coimbra
de Creche de Figueiredo, Patrícia z
‘009 Antunes dos Santos,
Cláudia Pouce Leão o
Processo de Construção de um Portfólio Creche Adriana Jesus e Beja
ou
—
2010 -
2013
A Creche como um direito da criança Marta Botelho e Maria
do Carmo Mendes
Lisboa
+
Vivenciar o modelo do MEM na creche Teresa de Matos e Seixal/
Carla Alves /Almada
ti,
o’
z
tificar os maiores desafios que implicavam uma curámos estudar autores da linha sociocultural
reflexão mais sustentada, quer através do apro que vêm inspirando a nossa cultura pedagógica
fundar de referenciais teóricos, quer pelo diálogo nos últimos anos Bruner (2000) Vygosky (1994),
—
A segunda atividade do grupo cooperativo foi os textos fundamentais do MEM, escritos na sua
então o estudo de referenciais teóricos que susten maioria por Sérgio Niza. Procurámos, igualmente,
8 tam a nossa cultura pedagógica e que têm relevân
cia para o trabalho em creche. Neste trabalho pro
referências de trabalho com crianças até aos
3 anos que partilhassem esta linha teórica e, ao
-*-
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--
deste processo na secção III deste texto). mento humano e de mudança pedagógica” (Niza,
.
No final do ano letivo de 2013/14, o grupo 2009, p. 348). Entendendo a democracia como a c)
cooperativo elaborou uma primeira versão do Per matriz de organização e vivência humana com CI.
fil de utilização do modelo do MEM para a creche, prometida com os direitos do homem e da
z
na linha dos instrumentos de auto-regulação já criança, o modelo orienta-se para três finalidades
disponíveis para os outros níveis de ensino. Este — iniciação às práticas democráticas, reinstituição z
instrumento está a ser trabalhado pelos grupos dos valores e das significações sociais e reconstru
cooperativos em funcionamento, no sentido de o ção cooperada da cultura que reivindicam para a
—
o
depurar e, mais tarde, poderá vir a ser publicado escola a vivência democrática e a atividade cultu
numa versão em que os/as educadores/as se pos ral autêntica (Niza, 1996). O modelo assenta,
sam rever e inspirar. assim, numa organização social fundada na coo ou
No ano letivo de 2014/2015, existem quatro peração, no diálogo e na negociação, capaz de ins w
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tituir uma cultura democrática no trabalho/pro quentemente esta estrutura (ex: caixa do tato, canti
cesso de humanização, que se dá pela apropriação nho dos sentidos, atividade sensorial). Outro exemplo
e reconstrução da cultura. comummente observado é o ensinar as cores atra
A compreensão do processo de aprendizagem vés da exploração exaustiva e ritualizada de cada
no MEM radica, como foi referido atrás, nas uma a semana do amarelo, a semana do vermelho,
—
a partir do trabalho de Vygotsky. Nesta linha teó da experiência estética mais global de apreciação
rica, compreendemos o processo de educação do mundo onde as cores surgem naturalmente in
como um processo de humanização onde, atra terligadas (Folque, no prelo).
vés da interação com os outros em atividades Lutando contra este empobrecimento humano
culturais, nos apropriamos da herança cultural e e cultural da escola, assumimos no MEM a homo
dos seus instrumentos, contribuindo para novas logia de processos como orientação pedagógica.
criações. “Os processos de trabalho escolar reproduzem os
processos sociais autênticos da construção da cul
Ao criar a cultura humana os objetos, os ins
— tura nas ciências, nas artes e no quotidiano” (Niza,
trumentos, a ciência, os valores, os hábitos e cos 1996, p. 143). É assim que procuramos conhecer e
tumes, a lógica, as linguagens criamos nossa
—,
compreender as atividades humanas que consti
humanidade, ou seja, o conjunto das característi tuem a cultura (do quotidiano do trabalho, das ar
cas e das qualidades humanas expressas pelas ha tes e das ciências), procurando desocultar o seu
bilidades, capacidades e aptidões que foram se significado e motivo, bem como os processos so
formando ao longo da história por meio da pró ciais e cognitivos nelas implicados, imprimindo a
pria atividade humana (Mello, 2007, p. 86).
sua especificidade cultural na qual a criança parti
cipa à sua medida. Não podemos perder o alcance
É neste processo constante de humanização, cultural das atividades educativas sob pena de per
pela convivência em atividades culturais autênti
dermos toda a sua complexidade que contém a es
cas, que enquadramos a aprendizagem das crian
ças, assim como a aprendizagem de todos os ou
tros que nelas participam. Como Barbara Rogoff
(1998; 2005) e Jean Lave e Etienne Wenger (1991),
sência da vida humana.
É partindo deste pressuposto que não dividi
mos os tempos de vida na creche entre o tempo de
+
atividades e o tempo das rotinas, como tradicio
concebemos que a aprendizagem significa uma nalmente acontece. Todas as atividades são, antes
mudança na participação em atividades comuns, no de tudo, atividades humanas e, por tal, marcadas
uso dos seus instrumentos e na produção de co pela cultura. E nesse sentido que elas contêm o po
nhecimento dentro das comunidades de práticas tencial para o desenvolvimento das qualidades
de que fazemos parte. Esta mudança na participa humanas nas suas diversas dimensões.
ção decorre num contínuo desde uma participação Se, por um lado, é condição de humanização a
periférica, que se concretiza no contacto obser participação das crianças nas atividades próprias
vante e fruidor das crianças com a cultura e os da cultura humana, a apropriação das qualidades
seus autores e objetos, na sua exploração e utiliza humanas ocorre pelos modos próprios das crian
ção, até à sua participação plena na produção de ças se relacionarem com o mundo, tendo em
obras culturais (Lave & Wenger, 1991). conta as suas estruturas biológicas e psíquicas.
Temos assistido ao afastamento da instituição Isto implica a possibilidade das crianças exerce
escolar (incluindo a creche) da vida e da cultura, rem a sua atividade, no contexto social, de acordo
01 criando uma cultura de escolarização específica com o seu modo particular de se relacionar com o
Z
que, como nos diz Niza (1996), está em muitos as mundo. Cada período do desenvolvimento indivi
petos totalmente afastada da herança social e cul dual humano é caracterizado por uma atividade
Z tural. Na creche assistimos por vezes à estimula principal, ou atividade dominante, que se define
ção dos sentidos de forma desligada e a ‘lições’ so pelo que move o interesse da criança na sua rela
o bre conceitos, perdendo-se o horizonte da criança ção com o mundo e a partir da qual se estruturam
enquanto ser humano e a complexidade e riqueza as suas relações com a realidade social. No pri
da sua atividade social e cultural. Os materiais e a meiro ano, este motivo é a comunicação emocio
8 sua organização nas salas, bem como as ativida
des enunciadas nos planos semanais, revelam fre
nal com os adultos, evoluindo para a experimen
tação dos objetos e, depois, para o jogo de papéis
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na idade pré-escolar. Estes são os verdadeiros mo municação atribuam a todos o mesmo direito a ter
tivos/interesses que orientam as crianças a partici uma voz, à mesma legitimidade (simbólica) para
par nas atividades da cultura e que vão evoluindo comunicar, rompendo com o domínio do adulto na
de acordo com as suas necessidades. Ao participa comunicação e no controlo do seu conteúdo, carac
rem em atividades, as necessidades das crianças terístico das interações em contextos escolares e,
também evoluem à medida que vão reconhe infelizmente, já presente em contextos de creche.
cendo, através da ressignificação feita em intera Reafirmamos, assim, a necessidade de instituir “um
ção com os adultos e com os pares, os motivos clima de livre expressão das crianças reforçado pela
próprios da cultura de forma mais alargada. valorização pública das suas experiências de vida,
É assim que se dá a reconstrução cooperada da das suas opiniões e ideias” (Niza, 1996, p. 146).
cultura (Niza, 1996), num diálogo entre culturas: Cabe ainda ao adulto entender a sua responsabili
as experiências das crianças, seus interesses e for dade inequívoca em partilhar com as crianças “no
mas de se envolverem com o mundo; as práticas, vas formas de se relacionar com o mundo (práticas,
interesses, ferramentas culturais e celebrações da instrumentos semióticos e conteúdos), que incor
comunidade de pertença; e a cultura mais abran poram os conhecimentos acumulados na sociedade
gente constituída pelas práticas, interesses, instru e que são necessários para que as crianças partici
mentos e conteúdos acumulados ao longo da his pem plenamente e contribuam para essa socie
tória (Folque, 2014). dade” (Folque, 2014, p. 362). O educador, ao comu
Esta relação da criança com o mundo respon nicar com a criança, utiliza a linguagem verbal para
sável pela sua humanização funda-se na comuni significar os gestos comunicativos das crianças pe
cação. É pela comunicação interativa que a criança quenas, emprestando-lhe a voz e acrescentando
dá significado às ações, aos objetos e à atividade uma matriz humanizadora das relações sociais.
intencional, estabelecendo conexões entre ela e o A comunicação entre crianças de diversas ida
mundo, num processo de negociação e de recrea des e entre crianças e adultos, partilhando experiên
ção de intersubjetividades com os outros. No cias, saberes e ferramentas culturais, atuará assim
MEM, a comunicação constitui-se como motor de como uma zona de desenvolvimento potencial
toda a educação (Niza, 2004, 2010). (Vygotsky, 1994) que dará oportunidade a cada um,
Numa interação de qualidade, as crianças e rio processo de humanização, de ir mais além do
adultos estão em sintonia, num encontro afetivo que seria possível sozinho, apropriando-se das qua
e cognitivo, não porque têm o mesmo ponto de lidades humanas na construção da sua identidade.
vista mas porque são capazes de reconhecer os Como vimos afirmando ao longo de cinco dé
pontos de vista uns dos outros e a partir daí criar cadas de trabalho no MEM, olhamos a criança
um interesse ou conteúdo comum, construindo como competente e como nosso semelhante, res
significados partilhados como se de uma boa con peitando-a. Isto significa não a minimizar no seu
versa se tratasse (‘Wells, 1986). estatuto, garantindo antes o seu direito a ter voz e
A comunicação entre os adultos e as crianças protagonismo. Este protagonismo não se con Lt)
dá-se não só através da linguagem verbal mas funde com uma centração na criança mas, sim, o
também através da comunicação emocional, com a sua inserção, mediada pelos adultos e pelos
do toque e dos gestos que carregam significados. seus pares, no mundo cultural que, enquanto so
cl)
.11)
O encontro entre seres humanos necessário para ciedade, fomos capazes de produzir. Neste encon
haver comunicação pressupõe uma atenção mú tro com o mundo reconhecemos o seu modo pró ‘o
tua a todas estas formas de interagir. Os educado prio de agir, de interagir e atribuir significado, tor C)
o’
res empenhados na comunicação autêntica com nando-a sujeito cooperante do seu processo de z
as crianças procuram escutar a criança (compreen humanização.
der o que ela tem para dizer), criar empatia (reco
nhecer e valorizar seu ponto de vista, ser capaz de z
reconhecer os seus sentimentos), respeitar a A função de revitalização cultural
criança (tomá-la a sério, atender aos seus ritmos) e e social da Creche
manter expectativas explícitas sobre a sua capaci E
dade e necessidade de comunicação. O modo como olhamos a instituição creche e
Numa matriz democrática de educação como a
do MEM, importa garantir que os processos de co-
o seu papel no mundo em que vivemos determina
fortemente o enfoque do nosso trabalho neste
8
-.-
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contexto. As raízes histórico-sociais da creche qualquer dimensão da sua vida, sejam crianças ou
marcaram, até há pouco tempo, uma visão redu adultos. É assim que vemos a creche como uma
tora sobre esta instituição e do seu contributo na instituição que apoia, no sentido de prestar aten
sociedade, na medida em que esta surgiu como ção, de se colocar em cuidado para com o outro
uma instituição que respondia às famílias que não (Borges-Duarte, 2010). Temos a consciência de
poderiam assegurar a educação das crianças até que esta dimensão acolhedora requer uma ade
aos 3 anos em contexto familiar, vista, assim, quação à ecologia das crianças e das suas famílias
como um mal necessário e, não, como uma opor (Bronfenbrenner, 1992) procurando, em diálogo,
tunidade a que todos deveriam ter acesso. Infor um conjunto de respostas flexíveis que contri
madas também por teorias do desenvolvimento buam para a sua qualidade de vida.
humano que enfatizam a relação mãe-filho como Por último, compreendemos a creche como
a relação primordial nos primeiros anos de vida, as uma instituição eminentemente educativa e, por
creches de boa qualidade procuravam, assim, isso, onde a cultura constitui o centro da sua ativi
compensar as crianças, valorizando as relações in dade, fazendo circular no seu quotidiano as práticas
dividuais, enquanto, por outro lado, desvaloriza e os instrumentos que constituem o nosso processo
vam a riqueza das relações sociais de que as crian de humanização. Só assim ela pode acrescentar cul
ças poderiam beneficiar, por estarem num con tural e humanamente todos os que nela participam.
texto com mais crianças e com outros adultos
(Bondioli e Mantovani, 1998).
Sabemos hoje, pelas experiências e investiga Trabalho em equipa, com famílias
ções mais recentes, que os bebés não só são capa e comunidade
zes de estabelecer vínculos com mais do que um
adulto como também beneficiam de participarem O isomorfismo pedagógico, característico do
num contexto social alargado, onde crianças e movimento do MEM, desafia-nos a requerer que a
adultos se encontram regularmente e desenvol forma como trabalhamos com as crianças na es
vem atividades culturalmente relevantes (Manto cola (incluindo creche e jardim de infância) seja a
vani e Terzi, 1998). A investigação também nos mesma que escolhemos para trabalhar em equipa
diz que os adultos que cuidam de crianças em am e com as famílias.
bientes isolados (ex: mães sozinhas) e que não Este princípio convida-nos, em primeiro lugar,
participam em atividades da comunidade (ex: pais a que nos constituamos como uma verdadeira co
desempregados) estão mais expostos a desenvol munidade de aprendizagem e, em conjunto (famí
verem estados depressivos que podem ter um im lias, educadoras, auxiliares, e outros), nos apoie
pacto negativo na qualidade das interações e das mos na resolução dos nossos problemas num pro
experiências que proporcionam aos seus filhos cesso de aprendizagem em que todos aprendem e
(Brofenbrenner, 2005). Cuidar de um bebé nos pri todos ensinam. Mais do que realizar determina
meiros anos é uma tarefa exigente para a qual não das práticas, importa assumir a atitude de estar
se nasce preparado. A creche é, assim, um local junto e ao lado das famílias, bem como dos cole
onde, em cooperação (profissionais e famílias), gas de trabalho, para levarmos a cabo esta tarefa
apoiamos a entrada das crianças no mundo social tão estimulante, quão complexa, da educação das
em que vivem. Neste sentido, a creche assume crianças nas primeiras idades. Assumimos assim a
uma centralidade dupla como um direito da potencialidade conflitual da confluência de diver
criança e das famílias. sas perspetivas e saberes, bem como, de diversas
Reportando-nos à matriz inclusiva do MEM, preocupações, de forma a evoluir no sentido de
Z
perspetivamos a creche como uma instituição um espaço de compreensão recíproca de diálogo e
acolhedora de todos na sua diferença, sejam crian de escuta.
ças, famílias ou profissionais. Celebramos a dife Criar espaços de diálogo implica encontrar
rença, pois entendemos que esta garante a riqueza tempo para falarmos uns com os outros, seja em
O do encontro humano e do processo de aprendiza reuniões formais, em encontros de natureza in
gem de todos os que participam no dia-a-dia da formal ou em celebrações. As/os educadoras/es
creche. O compromisso ético com todos os que criam e alimentam circuitos de comunicação en
8 participam implica, igualmente, uma atenção es
pecial aos que necessitam de maior apoio em
tre os adultos (a equipa ou as famílias), assim
como o fazem com as crianças. A organização
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das reuniões implica uma planificação em con mento e, a possibilidade que também eles davam
junto, identificando os problemas que preocu aos profissionais para observar como cuidavam
pam as famílias e/ou os profissionais. A partir os seus filhos, como interagiam, como os alimen
desse levantamento, planeamos as atividades tavam...” (Alexandra Mavioso, 2013 citado por
que, em conjunto, iremos desenvolver, e distri Folque, Bettencourt & Oliveira, 2012).
buímos as responsabilidades de modo a que to
dos participem. É importante que os pais ou os O diálogo com as famílias não se limita ao es
auxiliares e outros profissionais se vejam como paço/tempo institucional, uma vez que nem sem
participantes competentes, com saberes e expe pre as famílias têm disponibilidade para permane
riências a partilhar. cerem por períodos prolongados na creche.
O trabalho com a família tem como objetivo Os cadernos vaivém com as notícias de casa e
promover a comunicação e as conexões (LeeKee da creche, os registos semanais de vida expostos
man & Nimmo, 1999) entre o mundo familiar da em dossiers, enviados por c-mail ou postados em
criança e o mundo da creche, capaz de ampliar as blog, e toda a comunicação exposta nos placards
aprendizagens das crianças. A partir destas trocas, da sala e da instituição complementam a comuni
as famílias participam de forma mais efetiva no cação entre famílias e profissionais e oferecem
planeamento e avaliação das vivências da creche. oportunidades mais flexíveis de serem utilizadas
A família pode ajudar os educadores a conhecer as em diversos horários e contextos. Na organização
crianças, os seus interesses e necessidades e, as destes instrumentos consideramos fundamental
sim, ampliar o potencial comunicativo das crian incluir o espaço para acolher e provocar as vozes
ças mais novas (ver exemplos na secção III deste das famílias e, sempre que possível, fazer com que
texto). a comunicação circule não só entre família e pro
Os primeiros tempos de contacto entre uma fissionais, mas também entre famílias placard
—
família e a creche são momentos determinantes para trocas de anúncios, pedidos, textos, informa
para o conhecimento mútuo e para a construção ções, sugestões. Assim, apoiamos a construção de
da congruência na vida da criança que sofre alte uma rede de apoio alargada entre as famílias e en
rações significativas. A relação de poder entre as tre elas e a instituição.
famílias e os profissionais deve preocupar os edu Esta rede que se fortalece a partir do convívio
cadores nestes primeiros tempos. Mostrar às na creche, pode igualmente ser mobilizada para
famílias que as reconhecemos como peritas na projetos de intervenção na comunidade que res
educação dos seus filhos pode ajudar a construir pondam a problemas sociais que afetam a vida
relações mais equilibradas e a evitar que os profis das pessoas, tais como o lutar por melhores con
sionais sejam vistos como os peritos e as famílias dições de vida numa cidade para as crianças pe
como os aprendizes. quenas ou apoiar pequenos projetos ou negócios
de famílias em dificuldades económicas. A ativi
Conhecer previamente as famílias, reconhe dade da creche surge assim implicada com a pro Lfl
cer nelas os seus filhos, ouvir e escutar as angús moção dos direitos humanos e das crianças e, o
tias de deixar pela primeira vez um filho numa também, com a qualidade de vida das populações. .
instituição. Compreender esta necessidade impli Estas práticas ajudam as famílias a sentirem apoio, cl)
cava o tempo da escuta, do receber e do aceitar não apenas na educação e cuidado dos seus filhos, ‘a)
o,
com respeito as palavras que surgem de histórias mas também na vida em geral. Por outro lado, aju
de vida tão diferentes. Todo este envolvimento dam igualmente a descentrar da criança toda a .
cv)
começava precisamente na organização da sala, o atenção e a envolvê-la em atividades que vão para o’
espaço tinha de ser organizado com a ajuda dos além das suas necessidades imediatas. Este envol z
pais, decorado com objetos de referência ou com vimento das famílias com a comunidade e os seus
alguma coisa que no fundo ligasse a instituição à
família, aos profissionais que recebiam a criança,
recursos culturais e ambientais potenciam trânsi z
e aos seus filhos que iam ficar ao cuidado de pes tos de saberes e de vontades comuns que enrique
soas que os pais ainda não conheciam o sufi cem e são enriquecidos através da creche. Os con o
ciente. A possibilidade de os pais, irmãos ou avós tactos das crianças pequenas com a comunidade
de forma organizada, terem espaço e tempo para são essenciais, desde as primeiras idades, para
acompanharem o dia a dia do nosso trabalho. A construir o sentido de pertença ao território de oIJ
porta aberta para receber os pais a qualquer mo que fazem parte.
--
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vada da criança (mesmo não vindo de casa) e so vem ser entendidos como atividades humanas au o
bre os quais é ela quem decide a quem e quando tênticas e, por tal, marcadamente culturais. Nesse
emprestar. sentido, mais do que definir a sequência diária das
atividades, consideramos importante identificá ‘a)
O espaço da sala de cada grupo é complemen o,
tado pelos diversos espaços institucionais que es -las pela explicitação do seu motivo, apoiando ‘o
tão permanentemente acessíveis aos bebés e ou assim os/as educadores/as a não perderem o seu e’,
tras crianças, uma vez que estes fazem parte da sentido social e cultural. o’
contacto social que esta oferece. dia na creche são momentos privilegiados para o
O acesso diário ao espaço exterior (munidos estabelecer de relações de confiança e reconheci z
da roupa adequada ao tempo atmosférico) e o mento mútuo entre as famílias e o grupo de per ‘LI
contacto com a natureza é um direito de todo o tença na creche. Este espaço para acolher a família o
ser humano, bem como uma necessidade num privilegia as conversas informais onde os profissio
tempo em que o afastamento entre os homens e o nais trocam informações úteis sobre a vida do bebé
mundo natural tem levado à deterioração da eco e sobre as suas experiências em casa e na creche. oU
logia humana. Esta troca de informações, por vezes apoiada por
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fotografias de momentos importantes para a contexto envolvente, são experiências que enri
criança, pode ajudar os educadores a promover in quecem as suas vidas e, também, as das comuni
terações mais significativas e a planear atividades dades a que pertencem (ver secção III).
que decorrem de interesses das crianças (ver sec Tempo de Comunicações Ao longo do dia va
—
ção III). Nestes momentos de início e final de dia, mos encontrando tempo para contarmos coisas
os adultos e as crianças mais velhas podem envol uns aos outros: mostrar o que se fez, o que já se é
ver-se na preparação de materiais que serão utiliza capaz (na instituição e em casa), celebrarmos as
dos durante o dia (ex: preparar tinta, massa de co conquistas e apresentarmos aos outros as nossas
res, etc.), ou na sua arrumação. referências pessoais e culturais, ampliando os uni
Explorar, descobrir e brincar A atividade explo
—
versos individuais. Pela partilha de identidades e
ratória das crianças sobre o mundo à sua volta (ob experiências individuais, tornamo-nos semelhan
jetos e pessoas) e as atividades de jogo auto-ini tes participando de um lugar comum que cons
ciado marcam a natureza destes tempos. As crian truímos pela força solidária da partilha e que,
ças envolvem-se de forma espontânea com os assim, nos acolhe e fortalece como comunidade
outros e com os objetos à sua volta, perguntando- (o que se põe em comum).
-se “O que é isto?” e depois “O que é que eu posso Estas comunicações ocorrem em pequeno
fazer com isto?”, para mais tarde começar a ante grupo e podem acontecer logo de manhã, ainda
cipar ações e interações (e seus efeitos) que que no tempo de acolhimento, ou durante o dia
rem concretizar. Embora estes sejam momentos de quando convidamos uma das crianças a contar aos
interação também com os adultos, é importante colegas o que fez (ver secção III). Progressiva-
que seja a criança a tomar iniciativas, aprendendo mente estas partilhas podem ser alargadas ao
que ela tem capacidade para responder aos seus in grupo.
teresses e perguntas e para resolver os problemas
que lhe suscitam o questionamento no contexto da Quando iam a qualquer lado, nas férias ou
sala, da instituição ou da comunidade. Estes tem fim de semana, traziam coisas e Lotos que depois
pos podem ser planeados de modo a oferecer no
vos ambientes de exploração às crianças, com base
na observação de um interesse por parte destas.
se afixavam. Até se criou uma certa ligação afec
tiva, servia de conversa e comunicação entre os
pais (circuitos de comunicação), e os educadores
podiam falar com as crianças da ida a Coimbra,
+
Atividades e projetos Nestes tempos concebe
—
mos as propostas de atividades que fazem parte da praia, da horta do avô.” (Martins, 2012 citada
do universo cultural da humanidade e que se apre por Folque, Bettencourt & Oliveira, 2012)
sentam na sua máxima inteireza: danças e jogos
movimentados, histórias, dramatizações, canções, Refeições As refeições são atividades humanas
—
lavar a roupa ou loiça, pintura, desenho, modela carregadas de significado enquanto espaços so
gem, confecção de alimentos, etc. Estas ativida ciais de encontro e espaços de afirmação de cultu
des, desenvolvidas pelos adultos com as crianças, ras próprias e partilhadas. A cultura alimentar é
dão possibilidade aos mais pequenos de observa definida pela qualidade dos alimentos associados
rem os adultos ou os pares mais velhos, partici a diversas idades, bem como à comemoração dos
pando progressivamente de forma mais plena. As ritmos anuais, suas celebrações e respetivas tradi
crianças mais velhas começam já a projetar a sua ções. Ela encerra igualmente a apropriação das re
ação com base num interesse específico por um gras sociais que definem modos próprios de estar
fenómeno ou realidade, ou pelo desejo de se en em comum e revela-se na estética indicadora do
volverem na produção de uma obra cultural a que cuidado com os outros e do prazer associado à ali
o educador dá seguimento (ver secção III). mentação e à partilha. Desde o nascimento que
Saídas e visitas As crianças têm oportunidade
— nos relacionamos com os outros pelas refeições
de, regularmente, sair do seu espaço de sala e in que partilhamos. A interação entre o bebé e o edu
teragirem com outros contextos, ampliando as cador expande-se progressivamente para uma in
suas experiências e o seu sentido de pertença a teração entre crianças e adultos em comunidade,
uma comunidade e promovendo a sua inserção no ao participar na relação coletiva. É neste contexto
mundo. A visita a outras salas da instituição, a relacional e cultural em que as crianças participam
8 participação em atividades em espaços comuns e
o contacto com espaços naturais e culturais do
que se dá a apropriação das qualidades humanas
como a autonomia, a vontade e a auto-regulação,
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a apreciação ou gosto e o assumir de responsabili dos por diversos circuitos de comunicação, que
dades consigo e com os outros (ex: preparar ali permitem aos adultos, em cooperação, ir conhe
mentos, pôr a mesa, arrumar e limpar, servir-se, cendo as crianças e o seu universo cultural, de
escolher alimentos de qualidade). Tantos signifi forma a garantir que a creche acrescente o seu pro
cados e tantas aprendizagens requerem o tempo cesso de humanização através da reconstrução
que permita a cada um participar e fruir estes en cooperada da cultura, de que vimos falando.
contros ritualizados. A participaçâo da criança na gestão cooperada
Higiene Os cuidados de higiene e embeleza
—
do currículo na creche decorre da escuta ativa pe
mento são atividades humanas intimas que se los adultos, fundada na observação e na comuni
orientam para a prevenção de doenças e promo cação com as crianças. A participação das famílias
ção da saúde e para um sentimento de bem-estar neste processo de escuta permite, como foi já re
e relação positiva com o corpo, contribuindo para ferido, ampliar a nossa compreensão acerca dos
uma autoimagem positiva, aspetos determinantes seus filhos e das suas culturas. Para apoiar este
na nossa inserção social. Na creche, o adulto co processo, os profissionais e as famílias partilham e
meça por ser o responsável pela higiene da registam acontecimentos significativos das vidas
criança; cuidando dela e incentivando a sua parti das crianças, em casa e no grupo, através de foto
cipação, promove as condições para uma cres grafias e pequenos descritivos que, ao serem ex
cente autonomia da criança na sua própria hi postos/mostrados, convidam à construção de sig
giene, aprendendo esta a cuidar do seu corpo e a nificados partilhados. Estes registos das vidas das
estabelecer uma relação positiva com ele. Contra crianças em casa ou na creche circulam ao serem
riamente à alimentação, os momentos de higiene expostos nas paredes da sala e da instituição, nos
são essencialmente espaços de individualidade e cadernos individuais vaivém entre a creche e a fa
privacidade, o que, por vezes, é difícil de concreti mília, através de e-mail ou publicados em blogs
zar nas instituições para a infância. (ver secção III).
Repouso O ritmo biológico de sono/vigília é
—
As crianças, ao tomarem progressivamente
um ritmo circadiano indispensável ao restabeleci consciência de si próprias e dos outros, bem como
mento do equilíbrio físico e mental do ser hu da sua vida no grupo, vão-se reconhecendo como
mano. O acesso a espaços de descanso de acordo fazendo parte dele. Esta tomada de consciência
com os ritmos próprios de cada um é um direito permite-lhes antecipar ações, expressar interesses
das crianças. A passagem da vigília para o sono im e modos de agir, participando na definição do pla
plica um corte com a realidade que pode ser fonte neamento. O Mapa de Presenças, com fotografias
de angústia para as crianças. Ora, quando vêm de todos os elementos do grupo (incluindo educa
para a creche, cada criança já desenvolveu os seus doras e auxiliares), é um instrumento fundamental
modos próprios de adormecer, ritualizados, com para promover o sentido de pertença ao grupo e
objetos de referência próprios que constituem para o desenvolvimento de atitudes de cuidado
fonte de segurança e a ajudam a fazer esta transi para com o outro e de indagação sobre as vidas de li)
ção entre o estar com os outros e o recolhimento cada um (“Não está cá o João... será que ele já está o
que permite o adormecer. A realização desta ativi melhor da barriga?”). O Mapa de Aniversários (de .
adultos, crianças e suas famílias) permite anteci a)
dade individual em contexto de grupo, na creche, -a)
coloca alguns desafios aos profissionais. par e planear celebrações em comum. A exposi
ção da Rotina Diária /semanal com fotos que as ‘o
.
crianças vão progressivamente lendo, apoia o en
Acompanhamento/regulação cooperada tendimento das diversas atividades ao longo do o’
cussão, aprendizagem, avaliação da minha prática junto com a minha colega Marta Reis alargámos
e da minha postura enquanto educadora. As an esta partilha em congresso com a comunicação
gústias não deixaram de existir, pelo contrário, au “Quando não existem portas... vive-se(”. No ano
mentaram e ganhavam novos contornos no final seguinte continuei esta caminhada integrando um
de cada sessão de formação. Obrigaram-me a pa grupo cooperativo sobre o trabalho em creche no
rar, a parar para reflectir, para observar, para ava Núcleo de Lisboa.
liar e depois continuar. Esta caminhada na creche Deixo aqui em jeito de ‘retratos’ momentos
foi feita de incertezas, de pesquisa, de reflexão. significativos do meu trabalho ao longo destes
Um trabalho que não foi feito de forma isolada, dois anos.
mas a par com uma equipa que também ela que
ria crescer.
Retratos do quotidiano na creche
Na oficina de formação, em conjunto, partilha
mos os nossos saberes sobre o modelo do MEM e
Promover contextos de Heterogeneidade
as nossas dúvidas quanto à sua implementação
em creche. A partir destas definimos a calendari A interação entre crianças de diferentes salas é
zação, de forma a ver abordados os aspetos mais constante e acontece com grande frequência e na
significativos para todo o grupo. Em cada sessão, turalidade. Convites para experimentar uma nova
partilhamos os problemas, refletimos em grupo e técnica de expressão plástica, ouvir uma história,
em conjuntos tentamos encontrar estratégias. comunicar um projeto ou ir ao parque são situa
Neste processo, expomo-nos, expomos o nosso ções comuns de acontecerem numa escola em que
espaço e expomo-nos enquanto profissionais. A as portas estão abertas.
exposição perante um grupo é dos aspetos mais *
Foi assim numa manhã em que as brincadei
difíceis, pois acreditamos que somos apenas nós ras se desenrolavam a seu ritmo na sala de 1 ano.
que sentimos fragilidades. No entanto, o receio de A Francisca, de 4 anos, entra na sala exibindo um
errar, da nossa questão não fazer sentido, é supe papel na mão, um convite, e, captando a atenção
rado quando integramos um grupo sensível e soli do grupo que rapidamente se aproxima, uns a ga
dário que apoia o nosso crescimento, mas que nos tinhar e outros já a andar, propõe “Querem vir à
inquieta, nos coloca questões que nos aludam a nossa sala experimentar digitinta?”. Explica que
crescer, a pensar mais além. esta é a técnica preferida da sua sala e que gostava
No decorrer da formação, a nossa prática foi-se que nós também a experimentássemos. A Leonor,
alterando: uma nova forma de olhar para o grupo, de 17 meses, avança pelo corredor com a segu
de observar, uma maior sensibilidade para os rança da mão da Francisca. A mesma segurança
acontecimentos do dia-a-dia e para as interações que a mão da Francisca lhe transmite para tocar na
que acontecem; uma nova forma de encarar a fa digitinta enquanto lhe explica ‘é bom, podes to
mília, e o seu papel no processo educativo; uma car, eu gosto muito. Faz como eu... exemplifi
“
A insegurança da Leonor rapidamente se des uma folha com fotografias. ‘Tosso ajudar a Amé
vanece e dá lugar a um momento de prazer e lia?” perguntou em jeito de confirmação do que
descoberta (ver fig. 3). A digitinta ocupa cada vez sabia de antemão ser um “sim”. Sentados em ca
mais espaço naquela mesa enquanto surgem os deiras, lado a lado, e perante um grupo que os ob
sorrisos trocados e as exclamações de admiração. servava atentos, comunicaram o seu passeio de
Sem medo, a Leonor experimenta, explora e des fim-de-semana ao jardim botânico tropical. En
cobre sentada ao lado da Francisca. quanto o António verbaliza a experiência, a Amé
lia aponta para as fotografias confirmando as vi
vências descritas pelo irmão (ver flg. 5).
Figura 3
*
Q Dinis passa no corredor que leva à casa de Figura 5
banho, quando pára junto da entrada da sala da
irmã Carolina. De 14 meses, a Carolina está a lan A gestão cooperada do currículo
char sentada à mesa com a Teresa de 18 meses.
O Dinis senta-se junto à irmã e começa a brincar Ao longo deste processo, a gestão cooperada do
com ela enquanto a Carolina sorri. Assumindo a currículo foi uma prioridade e, em simultâneo, um
responsabilidade, ajuda a irmã e a amiga a termi desafio. Como garantir a participação de todos os
narem o lanche, acompanhando cada colherada intervenientes na gestão do currículo integrando
com uma canção que sabia ser a preferida da irmã um grupo de um ano? De que forma garantir um
(ver fig. 4). currículo significativo para o grupo de acordo com
*
Da mesma forma, o António entra de manhã os interesses e necessidades de cada criança?
Lfl
fazendo-se acompanhar da sua irmã Amélia e de A relação estreita mantida com os pais revelou
o ser um dos aspetos mais significativos na gestão
CN
. cooperada do currículo. Como defende Homem
a) (2002), a família constitui a primeira instância
‘a)
ti, educativa do indivíduo: é o ambiente onde este
‘o desperta para a vida como pessoa, onde interio
.
ti
c
) riza valores, atitudes e papéis.
o’
Numa sociedade em que os pais se veem mui
z tas vezes sobrecarregados é fundamental que se
4 sintam valorizados e integrados no ambiente edu
z cativo e não como intrusos na escola do seu pró
prio filho. Compete ao educador ser sensível e es
o tar atento às famílias.
O educador deve promover uma comunidade
de aprendizagem com a família de forma a garan
o1 tir uma planificação e avaliação em conjunto, pro
Figura 4 movendo a participação da criança, uma parceria
-*-
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-4
bés e o entusiasmo por dar banho aos bonecos era alegres. A seu lado, a Madalena, concentrada, co co
geral. Naquela manhã salpicos de água saltavam meça a pintar a sua mão com o pincel, esquecendo o’
da banheira onde o boneco tomava banho pela a folha que estava em cima da mesa. A mão pin
z
mão de cada criança, entre gel de duche, champô tada é observada com interesse, interesse que
e brinquedos do banho, as gargalhadas e conver agora se prolonga até à Teresa que lhe estende a z
sas multiplicavam-se (ver flg. 6). sua mão, como quem diz “Pinta a minha mão w
Construímos um registo com os passos neces também!” As mãos da Teresa e da Madalena estão o
sários ao banho e enriquecemos a nossa área do agora cheias de cor. Esfregam-se as mãos, mãos
faz-de-conta com uma banheira e objetos associa que tocam na perna, enquanto o olhar de ambas
dos ao banho. As nossas brincadeiras tornaram-se se cruza e as duas avançam, salpicando agora as ov
mais complexas e passaram a refletir esta vivên suas pernas de cor. Ao observar o que estava a li)
w
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acontecer na mesa, propus pintarmos com o nosso que acontecem com os panfletos que são deixados
corpo, sem reservas. No outro dia, aproveitando o na caixa do correio. Compete ao educador pensar
calor que se fazia sentir, despimos t-shirts e tirá a organização do tempo e do grupo, de forma a ga
mos calções. O papel de cenário cobria o chão da rantir que a criança tenha sempre o seu tempo.
sala e, só de fralda, pintámos as nossas mãos, as
nossas barrigas, andámos por cima da tinta e vi
mos os nossos pés decalcados na folha; pintámos
os braços dos amigos, brincámos com a tinta,
brincámos com o nosso corpo e ficámos às cores
(ver f?g. 7). As aprendizagens das crianças enrique
cem-se quando o adulto, de olhar atento e impul
sionador, está desperto para o grupo, motivando e
alargando as suas experiências.
Figura 8
*
Foi através de uma fotografia da Amélia com
a descrição que ficámos a saber que ela tinha ido
pela primeira vez à praia e que tinha gostado de
brincar e de sentir a areia. Enquanto a mostrava
aos amigos com o apoio do adulto, o João gatinha
até à fotografia e sorri ao tocar na imagem com a
Figura 7 areia. “Já foste à praia brincar com a areia?” per
guntei, recebendo um sorriso do João em jeito de
“sim”. A questão é colocada a todos: “E se trouxés
Num grupo em que as primeiras palavras co semos areia da praia para a nossa sala para brin
meçavam a surgir, as fotografias ganharam uma carmos?”. Os sorrisos e alguns sim revelaram o
importância maior. A fotografia trazida de casa entusiasmo pela atividade. A areia que inicial-
conta a história das vivências daquela criança, mente estava numa caixa espalhou-se pelo chão e
apoiando o seu discurso e enriquecendo a parti as brincadeiras proporcionaram uma manhã ale
lha. Exposta a fotografia, a restante comunidade gre e de descobertas (ver /Tg. 9).
educativa também fica a par destas vivências, es
tabelecendo-se conexões entre a vida em casa e na
creche (LeeKeeman & Nimmo, 1999). A mãe da
Maria Joana contou-me que só percebeu o que a
Maria Joana queria contar sobre a amiga porque
viu a fotografia exposta. Este testemunho alertou
o me para a importância de colocar as fotografias
Z num local visível a todos e da importância que es
tas partilhas têm no grupo, não apenas para a
Z criança que comunica como para o restante grupo
que se identifica com a partilha e que leva estes re
latos consigo, para o seu seio familiar.
*
Sabendo que está inserida num grupo em que
a sua palavra é ouvida, a Sofia gosta de partilhar as
8 suas vivências em casa, quer seja a ajudar a mãe a
fazer o jantar (ver flg. 8), quer com as brincadeiras Figura 9
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Figura 10
*
Ainda a pensar na praia, a Maria Joana levou
para a sala as conchinhas que apanhou durante as
suas idas à praia com a mãe e o pai (ver fig. 10). Na
sala colocámos as conchas numa caixa com água,
juntámos areia da praia e procurámos na caixa dos
animais os animais que vivem no mar, entre eles
uma tartaruga (ver fig. 11).
Figura 12
Lo
o
(‘.4
Figura 11 a)
‘a)
‘4
Figura 13 DI
Figura 15
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periência a um grupo que pela primeira vez iria ao em cooperação mediado pela pedagogia para a
parque. Desde a mãe que nos acompanhou até ao infância do Movimento da Escola Moderna
parque, à senhora dos serviços de limpeza que or portuguesa. Perspectiva,
gulhosa empurrava um carrinho de bebé, todas Folque, M. A., Bettencourt, M & Oliveira, A.
contribuíram para que esta manhã fosse possível. (2012, julho). Ao encontro do modelo pedagó
A alegria em passearmos pela comunidade envol gico do MEM para o trabalho em creche. Iri
vente, por caminhar com os nossos amigos nas 34.° Congresso do jWovinzento da Escola A’Ioderna,
ruas que conhecemos nos passeios com os pais, a Almada, Portugal.
flor que baloiça na relva em que estamos senta Folque M. A. & Bettencourt, M. (no prelo). O mo
dos, a dança de roda que se forma em nossa volta delo pedagógico do Movimento da Escola Mo
para nos fazer feliz. Experiências únicas que tor derna em creche. Porto: Porto Editora.
nam uma manhã numa manhã inesquecível. Homem, L. E (2002). O Jardim de Infância e a fa
Este é o primeiro texto da revista sobre o tra mília: as fronteiras da cooperação. Lisboa: IIE.
balho em creche. Como fica expresso ao longo do Lave, J. & Wenger, E. (1991). SituaredLearning—Le
texto, o modelo do MEM na creche não nasce gitimate peripheral participation. Cambridge:
agora: os primeiros movimentos são patentes na Cambridge University Press.
inquietação de muitas educadoras que traba LeeKeeman, D. & Nimmo, J. (1999). Conexões —
lhando em creche não abdicaram de procurar a uso da abordagem de projeto com crianças de
sua coerência pedagógica no seio do movimento. 2 e 3 anos em uma escola-laboratório universi
O trabalho desenvolvido em grupos cooperati tária. In C. Edwards, L. Gandini & G. Forman
vos, as comunicações em congresso e nos sába (Eds), As cem linguagens da criança: a abordagem
dos pedagógicos são importantes sinais dessa de Reggio Emilia na Educação da primeira infância
aprendizagem em comunidade. A escrita agora (pp. 253-268). Porto Alegre: Artmed.
partilhada constitui-se como um instrumento Leontiev, A.N. (1978). O desenvolvimento do psi
produzido por muitos/as educadores/as no nosso quismo. Lisboa: Livros Horizonte.
caminho de procura, e que, ao ser explicitado
pode, também, ser objeto de discussão e gerador
de novas ideias.
Mantovani, S. & Terzi, N. (1998). A Inserção. In:
A. Bondioli & S. Mantovani, (orgs.), Manual de
edtícação infantil: O a 3 anos uma abordagem
—
+
reflexiva (pp.l
3 184). Porto Alegre: Artmed.
7 —
Peças, A. (2005). Sérgio Niza: A construção de Rogoff, B. (2005). A natureza cultural do desenvolvi
uma democracia na acção educativa. Educaço mento humano, Porto Alegre: Artmed.
— Temas e Problemas, ‘1, 147-167. Vygosty, (1994). A formação social da mente (5.° ed.).
Rogoff, 3. (1998). Cognition as a Coilaborative São Paulo: Martins Fontes.
Process. In D. Kuhn e R. S. Siegler (eds), Hand Wells, G. (1986). The iWeaning Makers: Children
book ofchildps’chology: Cognition, perception, and Learning Language and Using Language to Learu.
language (Vol. 2, pp. 679-744). New York; Chi London: Hodder & Soutghton.
chester: John Wiley & Sons.
t4)
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