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Todos os direitos garantidos. Qualquer parte desta obra pode ser reproduzida,
transmitida ou arquivada desde que levados em conta os direitos dos autores.
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SUMÁRIO
PREFÁCIO 9
Jane Bittencourt
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4) COLEGIALIDADE E GESTÃO DEMOCRÁTICA DO ENSINO 85
PÚBLICO: DIMENSÕES DA REPRESENTAÇÃO E DA
PARTICIPAÇÃO EM DISPUTA NO ÂMBITO DOS ÓRGÃOS
COLEGIADOS DA GESTÃO ESCOLAR.
Edson Maciel Peixoto
Vania Carvalho de Araújo
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PARTE III – A ATUAÇÃO E A FORMAÇÃO CONTINUADA DE 187
CONSELHEIROS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO.
7
13) A REESTRUTURAÇÃO DO CONSELHO MUNICIPAL DE 277
EDUCAÇÃO DE DOMINGOS MARTINS
Eliana de Deus Sobrinho
Genilda Maria Coutinho Simon
Marciane Cosmo
8
PREFÁCIO
9
cotidiano o exercício das funções deliberativas, fiscalizadoras e
propositivas de um Conselho Municipal, consigo responder melhor
esta pergunta. Um programa de formação de conselheiros
municipais de educação pode trazer subsídios para a compreensão
da realidade educacional; pode apontar possibilidades de inserção
na dinâmica das escolas; pode incentivar a reflexão sobre as ações
educativas do município; pode problematizar políticas. Mas sempre
cabe aos sujeitos passar para a ação.
A obra que temos em mãos, retrato da implementação de um
programa de formação no Estado do Espírito Santo, é a evidência de
muitas respostas sobre este alcance. Aborda a realidade educacional
de maneira multifacetada. Aponta diversas possibilidades de
inserção nas práticas pedagógicas escolares. Oportuniza inúmeras
reflexões sobre a gestão e as políticas educacionais. Problematiza o
papel dos conselhos, dos conselheiros e das ações no âmbito dos
municípios.
Além disso, expressa os frutos da dedicação de todas e de
todos que, no estado do Espírito Santo, reuniram esforços para
estudar, conviver, dialogar, refletir e compartilhar. Que confiaram
no potencial do trabalho coletivo, que tiveram coragem de agir por
meio do engajamento em ricos processos de educação/formação,
sempre tão transformadores!
É uma alegria compartilhar com vocês esta obra. Que as
leitoras e os leitores se deliciem!
Jane Bittencourt
Florianópolis/SC
Outubro de 2017
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APRESENTAÇÃO
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A concretização do programa no ES deve-se ao esforço
conjunto de professores e alunos membros de grupos de pesquisa
vinculados ao Lagebes, ao Centro de Educação e Conselhos
Municipais de Educação. Participaram da formação
conselheiros/técnicos de todas regiões do estado por meio de três
edições do curso.
Assim, na composição desta obra, os autores (professores
pesquisadores da universidade, conselheiros formadores e
conselheiros cursistas) estiveram diretamente implicados nos
diferentes momentos desse processo formativo. O curso de formação
continuada foi organizado com o propósito de formar Conselheiros
Municipais de Educação e/ou técnicos do quadro efetivo das
Secretarias Municipais de Educação, visando qualificar a atuação do
conselheiro em relação à ação pedagógica escolar, à legislação e aos
mecanismos de financiamento, repasse e controle do uso das verbas
da educação, de modo a tornar os Conselhos Municipais de
Educação instâncias efetivas de proposição, fiscalização e
normatização das práticas educacionais para que este se fortaleça
enquanto lócus de diálogo e mediação entre o poder público e a
sociedade a fim de alcançar a gestão democrática e a qualidade
social da educação pública.
Com esse propósito, ressaltamos a importância do
protagonismo dos Conselhos Municipais de Educação no âmbito da
definição de políticas públicas educacionais. Principalmente no
sentido de fortalecer os processos decisórios democráticos no bojo
das políticas educacionais locais. A esse respeito vale lembrar a
promulgação da Constituição Federal (CF/1988), que define o ensino
público brasileiro como sendo regido por princípios basilares,
dentre eles o princípio da gestão democrática. Esse princípio,
firmado no artigo 206, é reafirmado no artigo 3º da Lei 9.394/96 que
institui as Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN). Em
seu artigo 14 esta Lei dispõe sobre a participação dos profissionais
da educação e da comunidade escolar, nos seguintes termos:
12
Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão
democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as
suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios:
I - participação dos profissionais da educação na elaboração do
projeto pedagógico da escola;
II - participação das comunidades escolar e local em conselhos
escolares ou equivalentes (BRASIL, 1996).
13
serem implantadas ao longo da sua vigência. Duas dessas
estratégias focalizam:
14
processos de autonomia, principalmente porque passaram a definir
suas próprias propostas de educação, tendo como diferencial a
participação da comunidade local em conselhos, conferências,
fóruns e outros espaços de representação popular para discussão e
tomada de decisão. Ao optar pela criação do seu sistema de
educação, o município assume a responsabilidade pedagógica,
administrativa e política da educação local. Entretanto,
considerando o contexto político do Estado do Espírito Santo, são
poucos os municípios que assumiram essa política como prática
democrática.
O Estado do Espírito Santo, contexto no qual o curso de
formação continuada de Conselheiros Municipais de Educação foi
ofertado, possui uma área de 46.078 km², concentrando uma
população de 3.512.672 habitantes em 2010, com projeção estimada
de 3.929.911 habitantes em 2015, conforme dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É um Estado organizado
administrativamente em quatro macrorregiões, a saber: Região
Metropolitana, Região Serrana, Região Norte e Região Sul, que, em
sua totalidade, é composto por 78 municípios. Desses, apenas 26
municípios criaram seus sistemas de ensino específicos. Assim, a
maioria está articulada ao Sistema Estadual de Educação. O que os
leva a seguir as normativas desse sistema. Vitória, capital do Estado,
foi o primeiro município a instituir o seu Sistema de Educação, em
1998. A maioria dos municípios que criaram seus sistemas, o criaram
entre 2006 e 2008. O último município, desses 26, a criar o seu
sistema foi o município de Itapemirim, em 2014.
Analisando essa conjuntura, observa-se que a maioria dos
municípios do Espírito Santo carece de debates que potencializem o
processo de criação de Conselhos Municipais de Educação, como
instância de possibilidade de alavancar reflexões políticas e
democráticas junto à comunidade para a produção de políticas
públicas locais. Esse debate se justifica principalmente se
considerarmos que a maior parte dos estudantes matriculados na
rede pública pertence às redes municipais de ensino. O Censo
Escolar de 2013 registrou que o Espírito Santo contou com um total
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de 691.955 mil estudantes matriculados na rede pública de educação
básica, entre as escolas estaduais e municipais. Desse total, 262.770
estavam vinculados à rede estadual de ensino. O restante, 429.185,
estavam matriculados na rede municipal de ensino.
Foi nesse contexto que o curso de formação continuada de
Conselheiros Municipais de Educação procurou intensificar os
debates relativos à gestão democrática da educação, no sentido de
incrementar a criação e o fortalecimento dessa instância de
participação.
Nessa perspectiva, com as discussões compiladas nesta obra,
entendemos que ao refletir sobre as políticas públicas educacionais
no contexto macro, podemos também ressignificar a escola, a sala de
aula, a gestão da educação, os princípios avaliativos, o acesso e a
permanência do aluno, a ação docente, dentre outros fatores e,
assim, podermos vislumbrar possibilidades de implementação de
princípios inclusivos que contribuirão para que todo aluno se
aproprie dos conhecimentos de acordo com suas potencialidades e
particularidades.
Pensando assim, este livro traz uma coletânea de artigos que
têm como objetivo geral discutir aspectos concernentes ao processo
macro e micro político. Essa coletânea nos dá, além da possibilidade
de repensar ações políticas e pedagógicas, uma visão ampla da
educação no contexto brasileiro e no Estado do Espírito Santo.
O livro está estruturado em artigos que agrupam estudos que
se complementam, proporcionando desde uma discussão macro
política, a aspectos micro políticos da educação. Assim, a obra está
organizada em três partes, a primeira reúne textos que focalizam
debates relativos ao direito à educação e gestão democrática. Os
textos que constituem a segunda parte do livro discutem sobre
políticas públicas educacionais, sistemas de ensino e conselhos
municipais de educação. Já a terceira parte agrupa textos relativos à
atuação e a formação continuada de conselheiros municipais de
educação.
A obra tem início com o texto de Gilda Cardoso de Araújo,
intitulado “Fundamentos sócio-históricos e políticos do pacto
16
federativo e direito à educação”, onde procura analisar os
fundamentos e as origens da ideia de federação como forma de
legitimação de poder e como forma de organização político-
administrativa de partilha de soberania. A autora argumenta que a
desmontagem progressiva do debate em torno da igualdade política
e social, a partir da ênfase nas identidades e autonomias locais, bem
como nos processos de descentralização, coloca a questão dos
direitos sociais e do direito à educação como um vasto campo de
discussão teórica e política a ser desbravado. Considera ainda que o
debate e a disputa em torno da definição de um modelo de Sistema
Nacional de Educação demandará a necessidade de construir níveis
de pactuação muito complexos, se levarmos em conta a
característica marcadamente predatória da federação brasileira.
Daniel Tojeira Cara e Sumika Soares de Freitas escrevem sobre
“O direito à educação e o custo aluno-qualidade inicial como
proposta de justiça federativa: um primeiro passo rumo à educação
pública de qualidade no Brasil”, constituindo o segundo texto do
livro. Os autores apresentam o conceito de Direito à Educação e o
mecanismo do Custo Aluno-Qualidade Inicial (CAQi), criado e
calculado pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação, como
um instrumento capaz de tornar mais equilibrado e eficaz o
federalismo brasileiro no tocante à oferta de matrículas em educação
básica. Argumentam que o mecanismo do Custo Aluno-Qualidade
Inicial (CAQi) é dar condições para que seja ofertada uma educação
plural, emancipadora e justa para todos os brasileiros e brasileiras. E
que tal debate, faz-se necessário junto aos conselhos de educação,
uma vez que acompanham e incidem na luta por uma educação
necessária para um Brasil justo e próspero.
Na sequência encontramos o texto “O direito à educação no
contexto das políticas municipais” de autoria de Eduardo Augusto
Moscon Oliveira e Caroline Falco Fernandes Valpassos. Os autores
articulam o debate sobre o direito à educação em vinculação às três
dimensões que o integram: o acesso, a permanência e a qualidade.
Argumentam que a ampliação do acesso à educação promovido nas
últimas décadas gerou demandas por outras políticas que visavam o
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combate à repetência, ao abandono escolar e medidas de
regularização de fluxo por meio da adoção de ciclos de
escolarização, bem como da promoção continuada e dos programas
de aceleração da aprendizagem que foram difundidos a partir da Lei
de Diretrizes e Bases da Educação, Lei nº 9.394/96. No fluxo do
debate abordam o dilema em torno do Plano Nacional de Educação
(2014-2024) e o cumprimento do direito a educação no contexto dos
municípios brasileiros.
Finalizando a primeira parte do livro, Edson Maciel Peixoto e
Vania Carvalho de Araújo, com o texto intitulado “Colegialidade e
gestão democrática do ensino público: dimensões da representação e
da participação em disputa no âmbito dos órgãos colegiados da
gestão escolar”, falam sobre o contexto das discussões acerca dos
Conselhos Municipais de Educação compreendendo-os como órgãos
colegiados de natureza representativa, cujas práticas de gestão
podem consolidá-los como modelo hegemônico de democracia
representativa, mas também podem implicar, a partir da criação de
práticas de participação ativa, a adoção de um modelo contra-
hegemônico de democracia: a participativa.
A segunda parte do livro, onde encontramos os debates sobre
políticas públicas educacionais, sistemas de ensino e conselhos
municipais, é iniciada com o texto de Márcia Alessandra de Souza
Fernandes e Edson Pantaleão, intitulado “Processo histórico da
constituição dos Conselhos Municipais de Educação no Brasil”. Os
autores procuram compreender esse movimento histórico na relação
entre o instituído e o instituinte, no que tange à participação dos
sujeitos na elaboração das políticas educacionais. O texto aborda o
princípio constitucional da gestão democrática da educação
sustentada na atual formatação que a educação nacional tem
assumido. Para tanto, analisa como o Conselho Municipal de
Educação (CME) se insere nesse movimento de participação,
compreendendo sua fecundidade a partir da instituição do Sistema
Municipal de Educação (SME).
Marcelo Lima e Nilcéa Elias Rodrigues Moreira apresentam
reflexões sobre metodologia de gestão de sistema municipal de
18
ensino, na implantação de tecnologias para democratização da
educação escolar. Discutem sobre as idas e vindas do processo de
implantação de metodologias de gestão de sistema de ensino a partir
de uma experiência municipal que tenta utilizar a tecnologia de
sistemas informatizados para melhorar o acesso às informações
educacionais bem como democratizar a distribuição de recursos às
unidades escolares. Argumentam que mesmo as formas de gestão
que aumentam a isonomia e a transparência da gestão podem estar
sujeitas ao jogo dos interesses políticos, às descontinuidades
administrativas, bem como às contingências financeiras quando
demandam aumentos do investimento público na educação
municipal.
A educação em tempo integral e suas implicações para as
políticas municipais, é o tema trabalhado por Marlene de Fátima
Cararo. O texto traça uma visão contemporânea sobre as concepções
estruturantes e os caminhos percorridos pela Educação Escolarizada
em Tempo Integral (EETI) no Brasil, e suas implicações para as
políticas municipais, com base nas principais intenções/tensões que
configuram esse tipo de oferta de educação. Assim, a autora
problematiza o termo “educação em tempo integral”, cujos significados
são múltiplos, sendo utilizado e adotado por diferentes concepções
filosóficas, pedagógicas e políticas. Algumas delas até opostas entre
si, constando como projeto político-ideológico de anarquistas,
marxistas, liberais, dentre outros.
Debatendo sobre a educação infantil no contexto do Plano
Nacional de Educação, Valdete Côco, Marcela Lemos Leal Reis,
Maria Nilceia de Andrade Vieira, Renata Rocha Grola Lovatti e
Valéria Menassa Zucolotto, finalizam a segunda parte do livro. As
autoras analisam a agenda da Educação Infantil nas metas e
estratégias definidas pelo PNE. Focalizam quatro temas que
envolvem o acesso das crianças à Educação Infantil: a formação de
professores, a valorização do trabalho docente nesse campo, a gestão
institucional e os processos de avaliação. Tomam esses temas numa
perspectiva de diálogo, buscando participar de uma cadeia dialógica
sobre essa etapa da Educação Básica.
19
Na terceira parte do livro, que agrupa textos relativos à
atuação e a formação continuada de conselheiros municipais de
educação. Rayner Raulino e Silva, Mariangela Lima de Almeida e
Edson Pantaleão, com o texto “A formação continuada de
conselheiros municipais de educação e a utilização de ferramentas
tecnológicas”, apresentam aspectos teóricos e práticos do Programa
Nacional de Capacitação dos Conselheiros Municipais de Educação,
cuja formação continuada foi desenvolvida no âmbito da
Universidade Federal do Espírito Santo, entre os anos de 2013 a
2015. Os autores enfatizam a importância no uso das tecnologias da
informação como ferramentas formativas para a promoção de
conhecimentos aos conselheiros participantes do curso do Pró-
Conselho. Destacam, entretanto, o desafio do uso das tecnologias da
informação (TIC’s) nos processos de formação continuada de
profissionais da educação.
Em seguida, três artigos dedicam-se ao Conselho Municipal de
Educação de Vitória-ES e sua atuação na gestão municipal. Elayne
Lellis Porto e Alexandro Braga Vieira falam sobre as ações de
colaboração entre o Conselho e a Secretaria Municipal de Educação,
para a composição da política municipal de educação especial.
Apresentam os movimentos constituídos para a elaboração da
Política Municipal de Educação Especial de Vitória - ES. Destacando
que o documento que delineia a política traz os princípios e as
diretrizes que fundamentam a Educação Especial na rede municipal
de ensino e expressa uma ação conjunta entre a Secretaria Municipal
de Educação (SEME) e o Conselho Municipal de Educação de
Vitória (COMEV) para a constituição da referida política.
Meiriane Linhaus de Sousa Barros e Mariangela Lima de
Almeida destacam o papel do Conselho Municipal de Educação em
Vitória/ES no que o confere como espaço democrático para definição
de políticas públicas. A pesquisa, de cunho exploratório, analisa o
olhar dos conselheiros a respeito do papel do Conselho junto a
sociedade civil na elaboração de políticas públicas educacionais. As
autoras constatam que os conselheiros propõem ações democráticas
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articulando da melhor maneira possível o diálogo entre sociedade,
escola e Governo.
Também abordando o Conselho Municipal de Educação de
Vitória-ES (COMEV), Ana Moscon de Assis Pimentel Teixeira, Célia
Maria Vilela Tavares, Denise Pinheiro Quadros, Keila Bárbara
Ribeiro da Silva, Marcia Sagrillo Smiderle e Zoraide Barboza de
Souza, discutem sobre a atuação desse conselho no processo de
eleição de diretores escolares, destacando questões relativas às
possibilidades e aos desafios da participação de crianças
matriculadas nas escolas municipais. O texto apresenta resultados
de um estudo desenvolvido por uma Comissão Especial do Comev
no ano de 2015. Investigaram a participação dos estudantes com 8 e
9 anos de idade no processo de Eleição para Diretores nas Unidades
de Ensino da Rede Municipal de Vitória.
Os dois capítulos seguintes do livro são dedicados a
problematização de dois projetos de integração construídos durante
a realização do Curso de Formação Continuada de Conselheiros
Municipais de Educação. A reestruturação do Conselho Municipal
de Educação de Domingos Martins-ES é a discussão feita por Eliana
de Deus Sobrinho, Genilda Maria Coutinho Simon e Marciane
Cosmo. Como participante do curso, as autoras tiveram a tarefa de
elaborar um plano de trabalho que se configurasse em um projeto
integrador focalizando a reestruturação do referido conselho. Assim,
o texto relata as experiências vividas pelas autoras que, naquele
momento, eram conselheiras municipais de educação. Já Luciano
Dutra Ferreira discute sobre as contribuições do conselho municipal
de educação no processo de gestão escolar no município de Iúna/ES.
O projeto do Luciano teve o objetivo de elaborar orientações e
procedimentos para a administração escolar daquele municípios.
Por fim, Wandreya Fernandes Ferret escreve sobre “Gestão do
sistema municipal de ensino: contribuições do Conselho Municipal
de Educação”. A autora aborda o processo histórico da constituição
de Conselhos de Educação, destacando os desafios políticas na
implementação desse órgão. Salienta que essa tarefa de constituição
é enredada pelos problemas da Federação com as diversidades
21
regionais e políticas, onde encontramos extremas dificuldades
sociais e econômicas. Faz referência aos desafios relativos à
efetivação do Sistema Nacional de Educação. E, destaca a
necessidade de estudos mais ampliados que englobem todos os
Estados brasileiros, o desenvolvimento dos sistemas municipais de
ensino, a articulação entre os entes federados, a participação dos
conselhos municipais e da comunidade, bem como a investigação
sobre os limites e possibilidades para a sua efetivação.
O conjunto de textos desta obra expressa a construção de um
percurso formativo impulsionado pelo diálogo entre universidade,
sistemas de ensino e conselhos municipais de educação. Desse
modo, os conselhos municipais e seus sujeitos de atuação, são
autores de um processo dinâmico e atual numa configuração social,
política, histórica e educacional, que motivou a construção desta
obra para compreensão e intervenção na realidade atual. Além
disso, trata-se de reflexões teórico-práticas que contribuirão para
outros e novos contextos formativos na área de Educação no Estado
do Espírito Santo e no Brasil.
As produções reunidas neste livro intencionam socializar e
provocar debates sobre questões relativas à área da Educação,
destacando o compromisso público e político com a educação de
crianças, adolescentes, jovens e adultos, bem como com a formação e
as práticas pedagógicas de profissionais da educação, no âmbito da
gestão democrática nos diferentes níveis e modalidades de ensino.
Com este livro temos a expectativa de contribuir para o debate
sobre políticas públicas de educação. Assim, nosso convite a todos
os leitores deste livro é instigar a busca e continuidade de produção
de perguntas que favoreçam investigações e apontamento de
possibilidades para que, no campo da educação, possamos cada vez
mais ampliar nossos olhares, problematizações e compreensões
acerca dos indícios, dos registros e dos processos e práticas de
gestão democrática.
22
Referências
23
24
PARTE I
DIREITO À EDUCAÇÃO E
GESTÃO DEMOCRÁTICA
25
26
FUNDAMENTOS SÓCIO-HISTÓRICOS E POLÍTICOS DO
PACTO FEDERATIVO E DIREITO À EDUCAÇÃO
Introdução
27
oposição ao estado de natureza. O ato voluntário de instituir um
poder e leis para garantir a convivência em sociedade é que teria
fundado uma comunidade política. Da mesma forma, o ato
voluntário ou pacto de unidades territoriais autônomas formarem
uma só comunidade nacional funda a ideia de federação. Todavia, a
palavra “contrato” ou “pacto” designa diferentes concepções ou
níveis de acordo.
É preciso ressaltar que as explicações contratualistas sobre a
instituição da comunidade política e do poder do Estado não estão,
absolutamente, assentadas em fatos, ou seja, na história. Trata-se, na
verdade, de um arcabouço teórico hipotético cujas finalidades
podem ser resumidas a encontrar racionalmente os fundamentos do
poder político, do poder do homem sobre o homem (BOBBIO, 2000).
Embora não estejam assentadas na história, as ideias
contratualistas não podem ser desvinculadas do contexto histórico
específico que as gerou. Nesse sentido, de uma forma bastante
simplificada, podemos afirmar que o Estado Absolutista teve seu
fundamento em Hobbes e a oposição ao absolutismo teve seus
fundamentos em Locke e Rousseau, por exemplo.
No que se refere ao contrato federativo, foram os Estados
Unidos da América que constituíram o modelo clássico. Com a
vitória na guerra de independência, foi criada uma confederação de
estados livres e independentes. Porém, logo começaram a se
manifestar os problemas relativos à necessidade de certa força do
poder central que permitisse estabelecer a lei e a ordem, que
regulasse o comércio, as dívidas e as negociações externas do país,
uma vez que a política americana era caracterizada pela
concentração do poder nas mãos dos Estados confederados e,
internamente, nos legislativos estaduais. Isso colocava dois grandes
impasses para a política nacional e para o republicanismo: a
existência de poderes periféricos e o descompromisso com a
separação entre os três poderes, muito similar ao estado de
desorganização, de absoluta liberdade e de vulnerabilidade descrito
pelos teóricos clássicos do contratualismo.
28
Daí uma solução conciliatória, pactuada, estabelecida em
convenção entre os entes confederados que, do ponto de vista da
organização político-administrativa, mantinha a autonomia (e não
mais a soberania) das unidades territoriais, ao mesmo tempo em que
assegurava a unidade nacional: a federação. É evidente a presença
da ideia de troca da independência absoluta pela segurança da
convenção, do contrato, nos moldes clássicos.
No Brasil, a ideia de federação estava presente desde a
Independência, em 1822, mas só foi consolidada com a instituição do
regime republicano em 1891. Contudo, o contexto histórico
específico do país contribuiu para que o modelo clássico de
federalismo não fosse aplicado, visto que a federação não surgiu da
associação de unidades político- territoriais anteriormente
separadas, como foi o caso do federalismo norte-americano, de
tipificação centrífuga. Apesar disso, ao menos do ponto de vista
formal, o Brasil desde 1891 nunca deixou de ser organizado sob a
forma federativa, integrando atualmente as 23 federações2 existentes
no mundo. A Constituição Federal de 1988 não só reafirmou a
federação brasileira, como inovou com a incorporação do município
como ente federado.
Embora seja relevante analisar a questão do federalismo no
Brasil, a proposta deste texto é discutir sobre a teoria do contrato, a
origem da ideia de federação e a sua relação com a concepção de
(des) igualdade. A proposta é discutir as ideias de contrato social e
de pacto federativo, buscando suscitar questões sobre as
possibilidades de políticas públicas igualitárias na oferta de serviços
educacionais em contextos federativos.
29
Consideramos relevante analisar os fundamentos do
federalismo mediante as teorias contratualistas, elegendo como
categoria de análise a questão da (des)igualdade. Essa categoria
parece constituir o ponto de interseção entre a organização
federativa e a oferta de serviços educacionais pelo poder público. O
apelo aos fundamentos do federalismo e, consequentemente, às
teorias contratualistas tem por objetivo situar as potencialidades
políticas e filosóficas do federalismo enquanto forma de organização
do poder político e as suas relações com a ideia de justiça social e da
igualdade como “medida” dessa justiça.
Apesar de os teóricos clássicos do contratualismo
demonstrarem preocupação com os fundamentos racionais do poder
do Estado e não com os fundamentos de uma sociedade justa, o
princípio da igualdade esteve presente em suas obras desde uma
perspectiva de “[...] igualdade de todos não em tudo (ou quase
tudo), mas somente em algo, um algo constituído, habitualmente
pelos chamados direitos fundamentais, ou naturais [...]” (BOBBIO,
1996, p. 40). Dessa forma, descrevem, tanto no chamado “estado da
natureza” quanto no “estado civil”, as gradações das “medidas” de
igualdade, passando da ideia de subordinação em Hobbes, para a
ideia de liberdade individual de Locke, chegando à ideia mais
próxima do igualitarismo moderno, com o pressuposto da
comunidade política de Rousseau. No presente texto,
relacionaremos essas gradações com os princípios fundadores do
federalismo norte-americano.3
Enfim, a proposta é enfocar as bases conceituais e históricas (os
fundamentos) do federalismo a partir do contratualismo e da análise
do princípio da igualdade, com a finalidade de compreender as
possibilidades e os limites políticos e filosóficos da ideia de direito à
30
educação em contextos cuja organização político-administrativa se
caracteriza pela divisão territorial de poder.
31
vontades, todas as pessoas, todos os súditos que concordaram entre
si, por vontade própria, em submeter-se a um homem ou assembleia
de homens em troca de segurança, ordem e proteção. Nesse sentido,
pode-se afirmar que, em Hobbes, o que é levado em consideração
não é a liberdade individual, aliás, considerada o motivo da
anarquia do estado da natureza, mas sim a liberdade de Estado.
Para Santos (2001, p. 133), Hobbes expressa o “[...] arquétipo do
teorizador do princípio moderno do Estado”, tendo em vista a
renúncia da liberdade e da igualdade do estado da natureza e a
criação de uma sociedade civil baseada na soberania absoluta do
Estado. O protagonismo da comunidade no contrato social de
Hobbes encerra-se no próprio ato de estabelecimento, pois, a partir
de então, o objetivo de segurança vai ensejar absoluta subordinação
ao soberano, deus mortal, mas pouco distinto do Deus imortal
cristão, posto que a tudo controla.
32
outro. Esta violação exige reparação e é por isso que “Deus”
instituiu o governo a fim de impedir a violência e a imparcialidade
dos homens, pois não seria adequado que os homens julgassem em
causa própria.
Em Locke (2001), ao contrário de Hobbes, a fonte do poder
legítimo não é a força ou a tradição, mas o pacto ou contrato social
pela via do consentimento. Contudo, novamente em oposição à
Hobbes, o consentimento não se encerra no ato do estabelecimento
do pacto, mas deve permanecer como dinâmica interna inegociável
no estado civil, mediante a regra da maioria.
O contrato social para Locke consistiria na transição do estado
de natureza para a sociedade política ou civil, em que o governo
atuará como árbitro na garantia dos direitos preexistentes no estado
da natureza: a vida, a propriedade e a liberdade. Não há um pacto
de subordinação, visto que os homens têm poder soberano e o
concede em confiança aos governantes, havendo, assim, o direito à
resistência caso o governante rompa com esse pacto de confiança.
É somente a igualdade de ser livre para dispor e ordenar sobre
sua própria pessoa e sobre seus bens que o Estado deve garantir
mediante as leis. Portanto, sua finalidade não deve ser abolir ou
conter, mas sim preservar e ampliar a liberdade dos homens no
estado civil.
É justamente por isso que Santos (2001) identifica na obra de
Locke uma das formulações fundadoras do princípio do mercado e
o acirramento da tensão moderna entre “[...]a universalidade das
leis civis fundadas no consentimento[...]” (SANTOS, 2001, p. 136) e
“[...] a legitimidade de uma ordem social perturbada por tremendas
desigualdades sociais e conflitos de classes” (Ibidem, p.11) ou,
traduzindo, na tensão moderna entre a liberdade do mercado e a
necessidade de tornar a ordem social mais equânime.
33
natureza, pois situa neste estado uma bondade original corrompida
posteriormente pela evolução social. A partir dessa concepção, o
autor afirma que existe uma igualdade original inscrita no homem
no estado de natureza e que a desigualdade é um artifício, sendo
produzida progressivamente por causas sociais (ROUSSEAU, 1973).
Ao contrário de Hobbes, Rousseau (1973) afirma que não é
porque o homem no estado de natureza não tenha nenhuma ideia
da bondade que ele seja necessariamente mau e não é porque o
homem tenha instinto de preservação que ele seja necessariamente
egoísta a ponto de só satisfazer as suas paixões.
O autor situa no estado de natureza uma igualdade fundada no
instinto de preservação, no sentimento de piedade e no amoralismo
dos homens. Necessariamente não vê, na passagem do estado da
natureza para o civil, sinal de progresso, mas sim a ampliação das
desigualdades entre os homens que decorrem da vida em sociedade,
dos hábitos e da educação. Assim, as desigualdades insignificantes
do estado de natureza são ampliadas pela vida em sociedade que
potencializa os desejos e as necessidades dos homens, tornando-os
racionais e favorecendo, então, sua educação. Esta, por sua vez, é
um dos fatores que amplia as diferenciações sociais e a desigualdade
original do estado de natureza (ROUSSEAU, 1973).
Dessa forma, Rousseau (1973) conclui que a desigualdade seria
praticamente inexistente no estado da natureza e que se desenvolveu
mediante os progressos da razão, se tornando legítima pela instituição
da propriedade e das leis. Ao contrário de Locke, a dimensão da
liberdade em Rousseau é essencialmente humanista, porquanto
considerada um bem inalienável, mesmo por força do contrato social.
Sua renúncia, portanto, significa renúncia à própria vida.
Para Rousseau (2002) não é a força que produz direito, como
pressupunha Hobbes, mas sim a convenção que seria a base de todo
poder legítimo. Esse tipo de contrato é que, segundo o autor, tem a
possibilidade de restituir a igualdade existente no estado de
natureza para o estado civil. O pacto social de Rousseau (2002)
descarta uma concepção individualista, tal qual a de Locke, na
medida em que enfatiza não a pessoa particular de cada contratante,
34
mas o corpo moral e coletivo que produz este ato de associação.
Outro ponto de distinção é que, enquanto em Hobbes a igualdade
no estado civil consistia na obediência e em Locke na igualdade de
liberdade, em Rousseau a igualdade é política e também social, pois
o contrato repõe a igualdade em novos termos: o homem perde a
liberdade natural, mas ganha a liberdade civil limitada tão somente
pela vontade geral. Portanto, o contrato social de Rousseau (2002) é
fundamentalmente um contrato baseado na igualdade política.
35
resulta que, no pensamento de Rousseau, a vontade geral prevaleça e
seja a origem da autoridade de Estado (SANTOS, 2001).
É justamente esse princípio da comunidade assente na vontade
geral enfatizado por Rousseau que trará para a teoria contratualista
a ideia de um Estado que equilibre liberdade e igualdade. Assim,
Rousseau supera a parcialidade do Estado absoluto de Hobbes e o
Estado liberal e desigual de Locke.
Ocorre que as origens do contrato federativo norte-americano
não estão assentadas na ideia de liberdade e igualdade nos termos
do contrato social de Rousseau, tendo em vista que, como veremos
em seguida, o federalismo nos EUA surgiu muito mais em
decorrência da necessidade de refrear as tendências
descentralizadoras e igualitárias, no que diz respeito à participação
política do homem comum. O contratualismo que fundamenta a
federação norte-americana é aquele associado à ideia de igualdade
na obediência e de igualdade na liberdade enfatizados
respectivamente por Hobbes e Locke.
Sendo assim, a característica básica desse primitivo modelo de
organização político-administrativa é a diversidade associada à
unidade, numa relação dinâmica de complementaridade que
necessariamente não contempla, nem a igualdade política,
propugnada por Rousseau, nem a igualdade de oportunidades e a
igualdade de condições inerentes à ideia de direitos sociais,
principalmente do direito à educação.
36
Constituição americana declarava que cada estado deveria conservar a
sua “soberania, liberdade e independência”, integrando uma
confederação de estados autônomos, sem a chancela de um governo
nacional. Contudo, essa confederação carecia de unidade cultural,
política, militar, econômica e religiosa, de maneira que havia um
grande vácuo quanto a um poder central que conferisse autoridade e
integração ao povo das antigas colônias (ARAUJO, 2013).
Gargarella (2002) destaca que o período pós-independência se
caracterizou pela ameaça de anarquia e de tirania, tanto pela ausência de
um poder central, quanto pela ausência de garantias legais contra os
interesses parciais de qualquer grupo político que ocupasse as funções
públicas estaduais. Esse risco entre um desfecho anárquico ou tirânico
decorreu, segundo o autor, das disputas entre as maiorias devedoras e as
minorias credoras a partir do fim da Guerra de Independência, quando
os comerciantes britânicos começaram a negar novos créditos aos
comerciantes norte-americanos que não haviam quitado dívidas
anteriores. Esses, por sua vez, passaram a pressionar seus devedores, os
pequenos proprietários rurais, que passaram a se sentir frustrados em
seus objetivos de progresso econômico, ainda mais por terem
contribuído, muitas vezes, com seus próprios bens para a Guerra de
Independência. Os comerciantes norte-americanos pressionavam os
pequenos proprietários para que pagassem suas dívidas mediante
apelações judiciais que impunham prisão aos que não quitavam seus
débitos.
Conflitos decorrentes desse contexto tiveram grande
ressonância na política dos estados, visto que os pequenos
proprietários endividados passaram a pressionar os legislativos
estaduais e estes começaram a aprovar medidas para aliviar a
situação dos devedores, principalmente pela autorização de emissão
de papel-moeda (GARGARELLA, 2002).
A questão sobre o alcance do Poder Legislativo e a relação entre
representantes e representados se configurou como um dos
principais temas do debate político após a independência. Nesse
período, o emblema era a liberdade diante dos poderes, favorecendo
a ampliação da participação mais direta do homem comum na vida
37
pública, o que, por sua vez, expressou um igualitarismo político em
que 70 a 90% dos homens adultos podiam votar ou serem votados
(KRAMNICK, 1993). Esse foi o contexto mais geral que deflagrou, na
década de 1780, os debates em torno da necessidade não de uma
simples revisão, mas de uma reformulação completa do texto
constitucional. Assim, entre 1787 e 1789, os representantes dos 13
estados iniciaram a discussão sobre a definição uma organização
político-administrativa que reforçasse o poder nacional, sem,
contudo, enfraquecer o poder dos estados. Teve início, assim, o
federalismo nos moldes que conhecemos modernamente.
Nos moldes hobbesianos, os artigos federalistas4 levavam em
consideração a perversidade inerente à natureza humana e a
necessidade de instituições integradoras o suficiente para
neutralizar os efeitos deletérios das ações movidas pelas paixões e
4 A partir de uma disputa comercial entre dois estados em 1786, James Madison,
considerado o ideólogo da convenção de estados e da Constituição norte-americana,
deflagrou o processo de reformulação, solicitando que o legislativo do seu estado
(Virgínia) convocasse a reunião de todos os estados para debater questões comerciais.
Nessa reunião, em conjunto com Alexander Hamilton, representante de Nova York,
saiu a recomendação de que os 13 estados formassem outra convenção com poderes
para debater os problemas políticos, financeiros e comerciais do país, decorrentes do
vácuo de poder no centro (KRAMNICK, 1993). Os debates na convenção foram
secretos. Contudo, Alexander Hamilton, James Madison e John Jay levaram a termo
um esforço conjunto de divulgação jornalística para persuadir os votantes das
convenções estaduais a aprovar o texto elaborado na Convenção da Filadélfia. Essa
divulgação jornalística constitui uma série de 85 artigos chamados “Artigos
Federalistas”, numerados segundo a ordem de publicação. Uma observação
interessante é que a adjetivação federalista representa, em princípio, a defesa da
autonomia das unidades políticas subnacionais. Contudo, no caso dos três políticos e
articulistas da Convenção de Filadélfia, significava, ao contrário, a defesa da
constituição de governo nacional forte, visto que acreditavam ser a preponderância
política dos legislativos estaduais tão ou mais perniciosa do que o despotismo
monárquico (Kramnick, 1993). Ao lado dos debates secretos e da divulgação
jornalística, a ressignificação do termo “federalista” consistiu em mais uma estratégia
utilizada pelos defensores da nova ordem constitucional, visto que ficaria difícil
assumir a defesa da preponderância de um Estado uno e forte logo após a
independência, momento em que o princípio da liberdade contra a autoridade estatal
era ainda muito presente.
38
limitações humanas, instituições estas sob a égide de um governo
nacional minimamente centralizado e sob o controle de homens
dotados de talentos, habilidades e qualificações.
Para os autores dos artigos federalistas, não havia entre os
homens tendência ao bem comum, visto que as diferentes aptidões
humanas conduziriam à impossibilidade de convergência de
interesses tanto religiosos, quanto políticos ou culturais. Essas
mesmas diferenças é que dividiam os homens em diferentes facções,
partidos e opiniões, bem como os tornaram pouco aptos para
cooperar, sendo, então, necessária a existência de regulação destes
distintos interesses por um governo nacional (HAMILTON et al.,
1993).
Além da identificação com os argumentos de Hobbes sobre a
perversidade da natureza humana, o autor do “Leviatã” também
inspirava a defesa da necessidade de um governo nacional e de sua
fundação a partir da ideia de um contrato social. Os federalistas
assumiam a premissa de que o povo deveria ceder alguns direitos
ou liberdades naturais, a fim de favorecer a existência de poderes
indispensáveis ao governo.
Para os autores, a democracia era instável e absolutamente
vulnerável aos malefícios da facção, visto que supunha igualar
direitos políticos, bem como opiniões e paixões, o que tornava as
democracias sempre sujeitas às turbulências e lutas entre os distintos
interesses. Dessa forma, os autores, se afastando da definição de
Montesquieu que considerava a democracia um tipo de governo
republicano,5 opunham republicanismo e democracia, caracterizando
o primeiro como regime de representação e o segundo como regime
de participação direta (HAMILTON et al., 1993).
Todo o debate em torno da reformulação do texto constitucional
e da ratificação do texto elaborado na Filadélfia pelas convenções
estaduais estava centrado na oposição entre a democracia direta
39
advogada pelos antifederalistas e o republicanismo de base
representativa vislumbrado pelos federalistas. Nesse sentido, pode-
se afirmar que o federalismo norte-americano surge para
contrabalançar o poder local e diminuir a força do igualitarismo
político.
O grande embate era em relação à autoridade e à liberdade
tanto do governo central como dos governos locais. As questões
colocadas para aquele contexto de mudança política e institucional
eram: as autoridades locais estariam subordinadas à autoridade
suprema da União? Ou as autoridades locais seriam independentes
desta supremacia? Os federalistas advogavam uma solução
conciliatória em que as autoridades locais constituiriam porções
distintas e independentes de soberania, sendo que o governo não
teria um caráter nacional, visto que a abrangência da sua atuação
seria apenas àquelas relativas ao especificado constitucionalmente,
deixando aos estados uma soberania residual e universal sobre
todos os demais aspectos não especificados no texto constitucional.
A organização política e institucional prescrita no texto
aprovado pelos treze (13) estados norte-americanos, que consolidou
os princípios republicanos e federalistas, pode ser assim descrita: 1)
sistema de governo presidencialista com eleição indireta mediante
colégio eleitoral especificamente designado pela população dos
estados, inclusive como mecanismo de filtragem para as escolhas
apaixonadas e pouco apropriadas do povo e para a consolidação do
governo dos bons;6 2) bicameralismo com uma câmara de
representantes eleitos, em número proporcional, pela população dos
40
estados e um senado que representa igualitariamente os interesses
dos estados; 3) garantia de existência de legislativos, executivos e
judiciários autônomos nos entes federados, bem como de poder
político originário próprio, com leis específicas do âmbito estadual;
4) poder judiciário com dupla hierarquia de jurisdição: federal e
estadual, sendo a Suprema Corte o poder autônomo e independente
capaz de interpretar as leis segundo o espírito da constituição.
Trata-se de um federalismo de base dual com soberanias e
responsabilidades compartidas entre o poder central e os poderes
locais. Contudo, em nenhuma passagem dos 85 artigos federalistas
há menção aos serviços educacionais e à maneira como as
responsabilidades seriam compartidas quanto a este serviço.
Duas hipóteses podem ser evocadas para esta ausência nos
debates travados em torno da proposta do novo texto constitucional:
a primeira delas diz respeito ao fato de a ênfase dos federalistas não
ser absolutamente a defesa ou a preocupação com igualitarismo
social. Ao contrário, o que pretendiam era definir uma base legítima
para centralização política, estabelecendo mecanismos de
diferenciação em que fosse diminuída a força do igualitarismo
político e do poder local em prol de um governo com certa unidade
que permitisse garantir segurança e ordem.
A segunda hipótese é que, de uma maneira geral, os costumes
difundiam certo igualitarismo no que diz respeito ao nível de
instrução da população, visto que os colonos creditavam à educação
um valor importante para a formação moral-religiosa e para a vida
em sociedade. Aléxis de Tocqueville (2001), ao descrever o estado
social democrático na América do Norte e suas correspondentes
instituições, enfatizava que a igualdade, caracterizada como aspecto
essencial da democracia, não decorre em absoluto do desejo de
uniformizar as fortunas ou homogeneizar as condições econômicas
da população. O princípio da igualdade na América do Norte,
segundo Tocqueville (2001), estava assentado na uniformização dos
níveis de instrução, com a oferta de uma educação mínima para
todos.
41
Se as condições geográficas favoreceram a igualdade das
fortunas, a religião favoreceu o que Tocqueville denominava
igualdade de inteligências, visto que “[...] na América, é a religião
que leva às luzes; é a observância das leis divinas que conduz o
homem à liberdade” (TOCQUEVILLE, 2001, p. 50). Para o autor, a
religião foi fator preponderante para a constituição da sociedade
americana, fundamentalmente no que se refere à educação pública.
Tocqueville identifica nos americanos uma instrução apenas
mediana em que a instrução primária está ao alcance de todos e a
instrução superior está muito distante da maioria.
Quaisquer que sejam as motivações para a ausência da
distribuição de competências quanto à oferta de instrução pública
pelos entes federados no modelo original de federalismo dos EUA, a
introdução dos direitos sociais no século XX vai (re) definir o
problema da “medida” de igualdade em novas bases, para além dos
aspectos civis e políticos ligados ao direito de propriedade de
participação no poder. Nesse sentido, novos modelos de relações
intergovernamentais serão concebidos como forma de responder ao
dilema entre uma organização político-administrativa pautada na
autonomia e na desigualdade fiscal das unidades subnacionais e as
crescentes demandas de igualdade social.
À guisa de conclusão
42
O direito à educação como um dos mais relevantes direitos
sociais de cidadania, por essa razão, não deveria sofrer as limitações
das desigualdades ordem político-territorial, jurídica, tributária ou
financeira próprias de contextos federativos. Isso implica em afirmar
que as três dimensões do direito à educação (acesso, permanência e
qualidade) deveriam ser asseguradas em condições equânimes em
todo território nacional.
Colocando a questão nos termos discutidos neste artigo,
enquanto o fundamento do federalismo, traduzido na discussão de
“Os Artigos Federalistas”, enfatiza o equilíbrio entre a igualdade na
obediência de Hobbes e a igualdade na liberdade de Locke, os
direitos sociais e, especificamente, o direito à educação requerem
pressupostos mais próximos à igualdade política e social de
Rousseau.
Sendo assim, como assegurar o direito à educação a partir do
princípio de igualdade de oportunidades e de condições, portanto
como projeto nacional, em contextos cuja organização político-
administrativa seja pautada pelo princípio da autonomia das
coletividades político-territoriais e, portanto, pela admissão da
desigualdade entre elas?
Essa tensão entre o direito à autonomia das unidades
subnacionais e projetos nacionais, como podem ser caracterizadas
todas as políticas sociais (inclusive a educacional) que enfatizam a
dimensão igualitária, parece ter contribuído para muitas
flexibilizações conceituais do federalismo concebido originalmente
nos EUA a partir do modelo dual.
Assim, posteriormente, dois outros modelos de relações
intergovernamentais (modo de distribuição de recursos e de
competências entre os entes federados) foram concebidos para tentar
o equilíbrio entre a autonomia das unidades subnacionais e a
igualdade política e social: o federalismo centralizado, em que as
unidades subnacionais são agentes administrativos do governo
central e o federalismo cooperativo, em que os entes federados e o
governo nacional têm ação conjunta e capacidade de autogoverno.
43
Contudo, esse equilíbrio é sempre frágil, na medida em que as
dinâmicas sociais e de governo recolocam sempre a difícil e
inacabada questão da distribuição de competências e recursos como
dilema das federações.
Além disso, se estabelecer a “medida” da igualdade não é tarefa
fácil para países unitários, torna-se muito mais complicado para
países federativos, visto que a igualdade é sempre uma abstração,
um artifício. Contudo, a desigualdade só pode ser medida por
referência a uma igualdade, ainda que abstrata e artificial. Se, num
primeiro momento, a teoria contratualista situa a medida da
igualdade na propriedade, fundando a igualdade civil, as demandas
de bem-estar social próprias do século XX vão exigir novas e sempre
atualizadas “medidas” de igualdade na direção do Estado, sendo a
forma de organização deste fundamental na construção, sempre
inacabada, desses parâmetros. Daí a importância das pesquisas que
aprofundem as relações entre o federalismo e as políticas
educacionais.
Todas essas considerações indicam o caráter emblemático do
federalismo no Brasil: país em desenvolvimento, com grandes
desigualdades sociais, regionais e de renda e com dimensões
continentais. A desmontagem progressiva do debate em torno da
igualdade política e social, mediante a ênfase nas identidades e
autonomias locais e nos processos de descentralização, sem que, ao
longo da história, fossem construídas referências mais
universalizantes (mas não uniformes), coloca a questão dos direitos
sociais e do direito à educação como um vasto campo de discussão
teórica e política a ser desbravado, sobretudo no atual contexto de
debate e disputa em torno da definição de um modelo de Sistema
Nacional de Educação (exigência do Plano Nacional de Educação –
2014) que demandará a necessidade de construir níveis de pactuação
muito complexos, se levarmos em conta a característica
marcadamente predatória da federação brasileira.
44
Referências
45
SANTOS, Boaventura de Sousa. A crítica da razão indolente: contra
o desperdício da experiência. São Paulo: Cortez, 2001.
TOCQUEVILLE, Aléxis. A democracia na América: leis e costumes.
São Paulo: Martins Fontes, 2000. (Livro 1).
VÁRNAGY, Tomás. El pensamiento político de John Locke y el
surgimiento del liberalismo. In: BORÓN, Atílio (Org.). La filosofia
política moderna: de Hobbes a Marx. Buenos Aires: CLACSO, 2002.
(CD ROM CLACSO: publicaciones 2001-2002).
46
O DIREITO À EDUCAÇÃO E O CUSTO ALUNO-QUALIDADE
INICIAL COMO PROPOSTA DE JUSTIÇA FEDERATIVA
UM PRIMEIRO PASSO RUMO À EDUCAÇÃO PÚBLICA DE
QUALIDADE NO BRASIL
47
1787, na Convenção Constitucional de Filadélfia, mas ratificada
apenas em 1788.
Basicamente, a primeira e única Constituição dos EUA exprime
uma tentativa de equilíbrio entre a visão autonomista e a posição
federalista, que acabou saindo-se preponderante e, claramente,
vitoriosa.
A corrente derrotada defendia grande autonomia política para os
estados que compunham originalmente a Confederação, enquanto os
federalistas acreditavam na necessidade de um poder central mais
forte, capaz de estabelecer um governo efetivo e único, garantidor da
defesa nacional e das responsabilidades governamentais, além da
promoção e da preservação das liberdades civis.
Os esforços para a ratificação da Constituição Federal
Estadunidense estimularam a organização de um dos mais
importantes clássicos da Ciência Política: O federalista, redigido por
Alexander Hamilton (1755-1804), James Madison (1751-1836) e John
Jay (1745-1829). Originalmente, a obra foi publicada em uma série de
ensaios divulgados na imprensa de Nova Iorque em 1788, ganhando
a atenção de toda a opinião pública do país.
Mesmo diante das explícitas tensões e divergências entre seus
autores, o conjunto de 85 artigos de O federalista conseguiu cumprir
seu objetivo primordial: atacar de modo convincente a fraqueza do
governo central instituído pelos Artigos da Confederação,
estabelecida em 1777. Em termos de desafio intelectual, o programa
federalista de Hamilton, Madison e Jay pretendia se impor ao
prestígio alcançado no debate estadunidense pelas “conjecturas de
Montesquieu, que via no sistema confederado a possibilidade de
compartilhar as qualidades positivas dos Estados grandes – a força –
com a dos pequenos – a liberdade.” (LIMONGI, 2006, p. 248). 3
Embora o federalismo dos EUA tenha sido posto algumas vezes
à prova, especialmente com a eclosão da violenta Guerra Civil
48
Americana (Guerra da Secessão – 1861-1865), o sistema perseverou
como um eficaz substituto à frágil Confederação, que dava ao
governo central baixíssimo poder de governo efetivo, atuando quase
somente em tempos de guerra e urgências.
O federalismo no Brasil
49
Fruto do esforço para a superação do Estado autoritário e
centralizador emergido no golpe ditatorial de 1964, o fortalecimento
da agenda autonomista ganha, inclusive, o status de reivindicação e
pauta política no período recente. Assim, a Constituição Federal de
1988, também conhecida como Constituição Cidadã, toma a
descentralização como seu principal mote de organização política e
administrativa do Estado Nacional brasileiro.
Como o empoderamento dos governos subnacionais tornou-se
inerente ao processo de democratização, foi sendo pavimentado o
caminho para a municipalização, até mesmo como forma de
equilibrar o jogo de forças no federalismo brasileiro: era necessário
diminuir o poder dos governadores, denominados pela tradição
política nacional como os “barões da República”. Por força desses
fatores, “o Brasil se tornou uma das pouquíssimas federações no
mundo a dar status de ente federativo aos municípios” (ABRUCIO,
2010, p. 46), sem dotá-los, no entanto, das condições necessárias para
o cumprimento de suas responsabilidades constitucionais.
Com isso, o país estabeleceu um modelo federativo próprio,
denominado por Araujo (2005) de “federalismo tridimensional”,
composto pela “União indissolúvel dos Estados e Municípios e do
Distrito Federal”, tal como reza trecho do caput do art. 1º da CF.
Em resumo, e independentemente das peculiaridades de cada
país, o federalismo é um sistema político caracterizado por um
Estado soberano, composto por diversas entidades territoriais
autônomas, dotadas de governo próprio. Por autonomia
compreende-se um conjunto de competências ou prerrogativas
determinadas e garantidas por uma Constituição, que não podem
ser abolidas ou alteradas de modo unilateral pelo governo central.
Entretanto, apenas o Estado federal, ou a União, é considerado
soberano, inclusive, para fins de direito internacional. Desse modo,
em que pese a autonomia dos entes subnacionais, cabe
exclusivamente ao poder central o monopólio da personalidade
política perante outros Estados Nacionais.
50
O federalismo brasileiro e as políticas sociais
51
Contudo, se não é possível implementar um desenho institucional
ótimo e universal para as Federações, ao menos é conhecido o fator
determinante do sucesso ou insucesso de qualquer modelo federativo:
a capacidade de coordenação entre os entes federados para a realização
de políticas públicas que visem à superação de desigualdades diversas
e à correção de assimetrias intrafederativas. Em outras palavras, a
qualidade de uma Federação depende de sua capacidade de
compatibilizar autonomia e interdependência entre os entes federados,
necessariamente por meio de direitos e deveres bem definidos, além do
estabelecimento de normas e arenas institucionais que,
respectivamente, orientem e arbitrem medidas administrativas
adequadas e legítimas para o conjunto dos entes federados.
Como as assimetrias intrafederativas, ou simplesmente as
desigualdades, é um traço comum de todas as Federações, a
coordenação entre os entes federados exige o estabelecimento de
padrões nacionais de qualidade para as políticas públicas, até
mesmo como um esforço de legitimação das iniciativas dos
governos federais. Como é muito difícil universalizar em um mesmo
território a qualidade da oferta de um serviço público, recorre-se aos
padrões mínimos de qualidade, ou ao “mínimo denominador
comum” das políticas nacionais destacado pela investigação
bibliográfica de Arretche (2004).
Condizente com essa lógica, quando determinou que sua
proposta de Custo Aluno-Qualidade (CAQ) era inicial (CAQi), a
Campanha Nacional pelo Direito à Educação buscou materializar o
padrão mínimo de qualidade da oferta de educação básica no Brasil.
Portanto, o CAQi representa apenas um primeiro passo e não pode
ser tratado como um patamar suficiente de qualidade da educação,
em que pese o fato de que o Brasil esteja distante de concretizá-lo.
52
para o estabelecimento de um modelo de “federalismo cooperativo”
no Brasil, tal como propõe Abrucio (2010).
A primeira tarefa para a emergência de um pacto cooperativo
seria regulamentar o caput do parágrafo único do art. 23 da CF, que
trata da cooperação entre os entes federados.
53
Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração decenal,
com o objetivo de articular o sistema nacional de educação em regime de
colaboração e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de
implementação para assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino
em seus diversos níveis, etapas e modalidades por meio de ações integradas
dos poderes públicos das diferentes esferas federativas [...]. (Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 59, de 2009) (grifo nosso).
O direito à educação
54
Cury (2000) afirma que no Brasil, por exemplo, a constituinte de
88 é um marco quando reconhece o direito público subjetivo. O
Direito público subjetivo é aquele pelo qual o titular de uma
prerrogativa pode fazer cumprir um dever cuja efetivação apoia-se
em um dispositivo legal que visa à satisfação de um bem
indispensável à cidadania. É o Estado o sujeito do dever da
efetivação prévia do direito público subjetivo. Cabe ao cidadão,
titular desse direito, a faculdade de exigi-lo quando lesado.
O direito público subjetivo é um dos mais fortes da lei em
termos de proteção e garantia de uma prerrogativa fundamental.
Neste sentido, o direito público subjetivo está amparado tanto pelo
princípio que ele o é, assim por seu caráter de base e por sua
orientação finalística, quanto por uma sanção explícita quando de
sua negação para o indivíduo cidadão (CURY, 2002, p. 7).
A partir da década de 90, intensificaram as propostas de
democratização, pelo ensino, pela acessibilidade, pela inclusão e
houve tensionamento dos movimentos sociais, na luta pela garantia
do direito à educação de qualidade. A partir dos avanços no
campo das Políticas Educacionais nos últimos 12 anos, com a
aprovação das legislações, assistimos as mudanças no
ordenamento legal da educação.
Nesse sentido, com a questão da obrigatoriedade de 4 aos 17 anos,
aprovada na Emenda Constitucional Nº 59 /2009, verificamos que esses
13 anos obrigatórios não há discriminação de idade, ou seja, qualquer
criança, adolescente, jovem, adulto ou idoso tem este direito e pode
exigi-lo a qualquer momento perante as autoridades competentes.
55
demasiadamente a realização das políticas e, consequentemente, a
consagração dos direitos sociais, inclusive o direito à educação.
Para determinar uma referência de qualidade no investimento
em educação, em 2007, a Campanha Nacional pelo Direito à
Educação publicou o livro Custo Aluno-Qualidade Inicial: rumo à
educação pública de qualidade no Brasil (CARREIRA; PINTO, 2007),
resultado de um estudo inédito conduzido desde 2002.
A partir de insumos como número médio de alunos por turma,
pagamento do piso nacional salarial do magistério, política de
carreira e de formação continuada aos profissionais da educação,
bibliotecas e salas de leitura, laboratórios de ciências, laboratórios de
informática, quadras poliesportiva cobertas, brinquedotecas para
todas as creches, pré-escolas e escolas dos anos iniciais do ensino
fundamental e garantia de recursos para o desenvolvimento de
projetos pedagógicos – o Custo Aluno-Qualidade Inicial (CAQi)
aponta quanto deve ser investido anualmente por aluno de cada
etapa da educação básica para que o Brasil comece a oferecer uma
educação (e uma escola) pública com um padrão mínimo de
qualidade, materializando a demanda disposta no § 1º do art. 211 da
CF, que obriga uma participação mais efetiva da União.
Em termos práticos, o CAQi propõe uma inversão da lógica que
rege hoje a definição dos orçamentos públicos para a educação no
País, pois parte do que é necessário para garantir a educação com
um padrão mínimo de qualidade e não do que está disponível no
orçamento. O estudo do CAQi foi a base da Nota Técnica “Por que 7%
do PIB para a educação é pouco? Cálculo dos investimentos adicionais
necessários para o novo PNE garantir um padrão mínimo de qualidade”
(CAMPANHA NACIONAL PELO DIREITO À EDUCAÇÃO, 2011)5,
até o momento o principal documento produzido pela sociedade
civil para questionar o patamar de investimento de 7% do PIB,
proposto pelo MEC, como meta de financiamento do novo Plano
5 A referida Nota Técnica foi produzida por Daniel Cara e por Luiz Araújo,
doutorando em educação pela Faculdade de Educação da Universidade de São
Paulo e ex-presidente do Instituto de Políticas Educacionais Anísio Teixeira
(Inep).
56
Nacional de Educação (PNE). Essa Nota Técnica foi analisada pelo
Ipea em três publicações: no Comunicado nº 124 (2011), no livro
Brasil em desenvolvimento 2011: Estado, Planejamento e Políticas Públicas
(2012a) e no Políticas Sociais: acompanhamento e análise (2012b).
57
Como as desigualdades são muito gritantes e os custos das
regiões brasileiras são díspares, o Legislador determinou que a
função supletiva e redistributiva da União deve ter como
pressuposto um padrão mínimo de qualidade nacional8, como um
atributo de cidadania e justiça federativa. Em outras palavras,
independentemente de onde esteja residindo a cidadã ou o cidadão,
toda brasileira ou brasileiro deve ter assegurado seu direito à
educação pública com base em um patamar básico de qualidade.
Essa referência pretende reduzir as desigualdades nacionais, tal
como dispõe o inciso I do Art. 206 da Constituição Federal.
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; [...] (grifo
nosso)
58
ativistas, professores e outros educadores, pais e estudantes, a
Campanha Nacional pelo Direito à Educação concluiu uma primeira
versão do CAQi, expressa concretamente pela a lista e a precificação
dos insumos necessários para a garantia do padrão mínimo de
qualidade para cada etapa e modalidade da educação básica.
Em 5 de maio de 2010, o Conselho Nacional de Educação (CNE)
aprovou o Parecer CNE/CEB nº 8, de 2010, que normatiza os
padrões mínimos de qualidade da educação básica nacional de
acordo com o CAQi. O parecer resulta do Termo de Cooperação
firmado entre a Câmara de Educação Básica do CNE e a Campanha
Nacional pelo Direito à Educação em 5 de novembro de 2008, o
primeiro estabelecido entre o Conselho e uma organização da
sociedade civil. Contudo, o parecer aguarda homologação por parte
do MEC9 desde então.
Aprovado nos documentos finais de todas as conferências de
educação, como ferramenta basilar do SNE, a viabilização do CAQi
impõe a necessidade de materialização da função redistributiva e
supletiva da União na educação básica.
Para mensurar essa medida de justiça federativa, inúmeras
metodologias poderiam ser trilhadas. Em Nota Técnica10 recente, a
Associação Nacional dos Pesquisadores em Financiamento da Educação
(Fineduca), optou por calcular a necessidade de participação financeira
da União a partir do melhor mecanismo federativo vigente na educação:
o Fundeb. Este sistema de 27 fundos estaduais financia toda a educação
básica – a creche até o ensino médio, considerando todas as modalidade
– e foi construído por meio de forte interação entre o Poder Público e a
sociedade civil (MARTINS, 2011)11.
Campanha Nacional pelo Direito à Educação foi agraciada em 2007 com Prêmio
Darcy Ribeiro, concedido pela Câmara dos Deputados.
59
Em termos práticos, segundo o ordenamento normativo atual, o
CAQi é uma referência comparativa à definição dos valores
mínimos do Fundeb, que não correspondem a um padrão mínimo
de qualidade. Tanto é assim que menos de 1% das escolas brasileiras
têm infraestrutura mínima segundo os critérios do CAQi (SOARES
NETO, 2013), sendo que além da infraestrutura das escolas, o
mecanismo considera muitos outros insumos, como remuneração
dos profissionais, número de alunos por turma, etc.
60
Tabela 1 – Custo adicional do novo PNE.
Categoria Cálculos da Cálculos do Diferença
Campanha Nacional
MEC (R$)
pelo Direito à
Educação (R$)
A B C = (B-A)
Educação 23.656.775.160,00 9.683.635.930,00 13.973.139.230,00
infantil médio
Ensino 3.643.905.000,00 0 3.643.905.000,00
Educação 3.589.867.120,00 0 3.589.867.120,00
especial
Educação em 23.964.400.000,00 3.766.240.130,06 20.198.159.869,94
tempo integral
Educação de 21.256.661.768,20 0 21.256.661.768,20
Jovens
Educaçãoe Adultos 5.927.954.879,12 4.456.014.000,00 1.471.940.879,12
(EJA)
profissionalizant
Educação 45.266.181.400,00 15.203.801.874,8 30.062.379.525,17
eFormação
superior 9.258.894.000,00 3
923.023.365,76 8.335.870.634,24
docente
Remuneração 33.265.961.706,57 27.025.805.706,3 6.240.156.000,27
docente
TOTAL 169.830.601.033,8 61.058.521.006,90 108.772.080.026,9
% PIB – 2009* 5,4%9 1,9%5 3,5%4
Fonte: Campanha Nacional pelo Direito à Educação, 2011.
* Aqui é apresentado o custo adicional. Segundo o Inep, em 2009, o Brasil
investiu 5% do PIB em educação pública. Portanto, a meta de investimento
do novo PNE deve ser de 10,4% do PIB, segundo a Campanha Nacional
pelo Direito à Educação.
61
respectivos planos. Ampliar e defender o CAQi fortalece o direito à
educação e reafirma a possibilidade de justiça federativa.
Com a implementação do CAQi, todos os professores que
lecionam, receberiam pelo menos o piso salarial e teriam 1/3 de sua
jornada dedicada ao planejamento de aulas. Concomitantemente,
todos os profissionais da educação teriam política de carreira e
formação continuada. Além disso, o número de alunos por turma
seria adequado e todas as unidades escolares teriam infraestrutura
suficiente para a promoção da relação de ensino-aprendizagem, tal
como determina a LDB e demandam os artigos 205 e 206 da CF.
Sem dúvida, trata-se de uma boa introdução a uma
reivindicação imprescindível já apresentada neste texto: efetivar um
investimento equivalente a 10% do PIB em educação pública até o
décimo ano de vigência do PNE, conforme mensura a Nota Técnica
da Campanha Nacional pelo Direito à Educação (2011).
Isso é necessário porque implementar o CAQi via Fundeb
representa um acréscimo de 1,06% do PIB no investimento direto em
educação básica pública no Brasil. No entanto, aumentar o padrão
de qualidade das atuais matrículas de educação básica é insuficiente,
pois há 3,7 milhões crianças e adolescentes de 4 a 17 anos fora da
escola (UNICEF & CAMPANHA, 2012), 14 milhões de analfabetos e
3,4 milhões de matrículas em creche precisam ser criadas nos
próximos 10 anos (CAMPANHA, 2011).
Contudo, para o cumprimento de todas as metas do PNE
relativas à educação básica, o Brasil preciso avançar para um
patamar equivalente a 8% do PIB. Essa é a agenda nacional
prioritária, considerando que aumentar o financiamento das
políticas públicas educacionais é condição necessária, ainda que
insuficiente, para a consagração plena do direito à educação – que
compreende, necessariamente, acesso e padrão de qualidade.
62
Referências
63
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Transitórias para reduzir, anualmente, a partir do exercício de 2009,
o percentual da Desvinculação das Receitas da União incidente
sobre os recursos destinados à manutenção e desenvolvimento do
ensino de que trata o art. 212 da Constituição Federal, dá nova
redação aos incisos I e VII do art. 208, de forma a prever a
obrigatoriedade do ensino de quatro a dezessete anos e ampliar a
abrangência dos programas suplementares para todas as etapas da
educação básica, e dá nova redação ao § 4º do art. 211 e ao § 3º do
art. 212 e ao caput do art. 214, com a inserção neste dispositivo de
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Brasília, DF, 2012.
66
O DIREITO À EDUCAÇÃO NO CONTEXTO
DAS POLÍTICAS MUNICIPAIS
Introdução
67
concreta do direito à educação pública com qualidade social. No
conjunto da educação básica, a matricula obrigatória de 04 a 17 anos
passa a vigorar plenamente em 2016. Dos 14 anos de educação
obrigatória, pelo menos 12 anos são de responsabilidade prioritária
da esfera municipal.
Considerando estes aspectos, o objetivo deste artigo é o de
discutir o direito à educação na esfera municipal, atentando para
algumas demandas (re)apresentadas no PNE (2014-2024), como a
ampliação da idade escolar obrigatória e o compromisso do
município neste processo.
Para tal fim, o artigo foi organizado em dois tópicos. O primeiro
“O direito à educação na constituição federal brasileira e aspectos da
relação entre obrigatoriedade, responsabilidade e judicialização”,
resgata sinteticamente a ausência do estabelecimento da uma relação
entre obrigatoriedade, responsabilidade e a judicialização de
aspectos educacionais nas constituições brasileiras anteriores à de
1988. Ressalta ainda como a CF/88 trouxe estes aspectos. O segundo
tópico, “O Plano Nacional de Educação (2014-2024) e o
cumprimento do direito a educação no município: aspectos da
ampliação da obrigatoriedade e a correspondente responsabilidade
municipal”, vincula a ideia de responsabilidade e responsabilização
do ente municipal na garantia do direito à educação, abordando,
diretamente, a EC nº 59/2009 e o PNE (2014-2024).
68
Hoje, praticamente, não há país no mundo que não garanta, em seus textos
legais, o direito de acesso, permanência e sucesso de seus cidadãos à educação
escolar básica. Afinal, a educação escolar é uma dimensão fundante da
cidadania e tal princípio é indispensável para a participação de todos nos
espaços sociais e políticos e para (re)inserção qualificada no mundo
profissional do trabalho.
69
escolas estavam reservadas às elites e puderam, por isso, ser mais
bem controladas em qualidade” (BOMENY, 2001, p. 17). Consta que
¾ da população brasileira estava à margem do processo de
formação. É nesse sentido que Anísio Teixeira apontava que “[...] a
República não logrou ampliar consideravelmente as oportunidades
educativas” (TEIXEIRA, 1969, p. 295).
Tendo sido constatado o pouco avanço da República face à
educação da população, houve um movimento em defesa pela
ampliação da mesma. Em 1942 foi criado a Associação Brasileira de
Educação (ABE), uma organização da sociedade civil, que reunia
professores e interessados em educação e tinha como objetivo,
basicamente, influir na implantação de políticas para a educação
(BOMENY, 2001). “O ponto culminante da atuação da ABE no
período foi a elaboração do Manifesto dos Pioneiros da Educação
Nova 3, logo após a conferência de 1932, defendendo a
democratização da educação escolar e a modernização dos métodos
pedagógicos” (CPDOC, 2014, p.1). No Manifesto foram
apresentadas propostas quanto ao papel do Estado em face da
educação, dentre as quais: a da laicidade, gratuidade e
obrigatoriedade da educação.
Nesse contexto de efervescência na política de educação, é que a
CF/34 foi aprovada. Apesar das disputas de interesse em jogo, é
considerada uma Constituição que avança na garantia da educação,
ao constar a destinação de recursos para a manutenção e
desenvolvimento do ensino (pela primeira vez na história
brasileira), por prever o plano nacional de educação, atribuição do
Conselho Nacional de Educação3, a liberdade de cátedra e o
provimento de cargos do magistério oficial mediante concurso.
70
As Constituições seguintes (1937, 1946, 1967 e 1988) ora
ampliaram (1946, 1988), ora restringiram (1937, 1967) o direito à
educação numa concepção de educação pública e, portanto, na
perspectiva do direito à educação e sua garantia (VIEIRA, 2007).
Mas, apesar de todos os avanços e retrocessos, foi apenas a de 1988
que procurou, de fato, viabilizar e efetivar esse direito, ao incluir
mecanismos de participação, controle e responsabilização, como
aponta Oliveira (1999) no texto “O Direito à Educação na
Constituição Federal de 1988 e seu restabelecimento pelo sistema de
Justiça”. Nele, o autor analisa os mecanismos introduzidos para a
efetivação do direito à educação declarado na CF/88 e “[...] a
intervenção do sistema de Justiça (Poder Judiciário, Promotoria de
Justiça, Defensoria Pública) neste mister para restabelecer tal Direito
negado pela ação ou omissão do Poder Público” (OLIVEIRA, 1999,
p. 61). E o que seria uma omissão do Poder Público? Dentre os
artigos constitucionais vinculados ao tema, cabe ressaltar quando o
artigo 208 da CF/88 que traz como o dever do Estado com a
educação será efetivado:
71
§ 3º Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino
fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis,
pela frequência à escola (BRASIL, 1988)
72
entes responsáveis e corresponsáveis pela garantia desse direito,
como é o caso da Emenda Constitucional nº 59 de 2009 que dentre
várias alterações, altera o artigo 208, de forma a prever a
obrigatoriedade do ensino de quatro a dezessete anos e ampliar a
abrangência dos programas suplementares para todas as etapas da
educação básica.
É importante destacar que a carta constitucional de 1988,
estabelece absoluta prioridade à criança e ao adolescente:
73
O estatuto reafirma aspectos destacados tanto na CF de 1988
como na LDB 9394/96 e indica outros. O inciso I acima reforça o
direito ao acesso, mas com as devidas condições para a
permanência. Não é somente o acesso por meio da matricula, mas a
organização de uma escola acolhedora, que possibilite o crescimento
pessoal, cultural, social, político, humano e ensine as crianças e
jovens para que avancem nas diferentes etapas da educação básica.
Nos últimos 28 anos o Brasil avançou muito no sistema de
proteção à criança e ao adolescente, especialmente na elaboração de
um conjunto normativo significativo. Um sistema de garantias dos
direitos da criança e do adolescente - que inclui o direito a educação
- foi instituído, envolvendo o poder judiciário, ministério público,
defensoria pública, segurança pública, conselho de direitos da
criança e do adolescente e conselho tutelar (CURY;FERREIRA, 2009)
Portanto, o reconhecimento da educação como direito implica a
obrigação do poder público de garantir a educação das pessoas e,
também, garantir ao interessado a possibilidade de buscar no
judiciário a sua concretização
74
IV - promovam a articulação interfederativa na implementação das políticas
educacionais.
75
9.494/96, no seu artigo 11, define que os Municípios incumbir-se-ão
de:
76
Campos (1992) e Rosemberg (2002) destacam que no Brasil a
educação infantil nasceu como uma política assistencialista e de
baixo custo. Uma das grandes preocupações foi a urgência de pré-
escola para dar assistência aos filhos das mulheres trabalhadoras,
mães de classe social menos favorecida. A criança passa a ser
reconhecida como um sujeito de direito a partir da constituição de
1988. Tendo como marco a carta constitucional, políticas, programas,
ações e diretrizes foram elaboradas a partir de meados dos anos
1990 para assegurar o atendimento a infância e a oferta da educação
infantil no Brasil.
Conforme destacado acima, ainda é recente nos pais a educação
infantil como uma política de Estado. No Espírito santo, de acordo
com dados disponíveis (INEP, 2014), 92,4% das crianças entre 4 e 5
anos estavam na escola. Tal indicador, faz pensar sobre a
proximidade do cumprimento da Meta 1 do PNE. Porém, a situação
da educação infantil não é tão simples e implica em inúmeros
desafios.
As matriculas e o ingresso das crianças no sistema é apenas o
começo. É necessário um ambiente adequado para essa clientela,
professores qualificados, alimentação, saúde, proteção, lazer e
transporte. Diferente de outras etapas da educação em que se pode
retornar ao sistema por meio da EJA, na educação infantil isso não é
possível. Por isso, a proposta pedagógica para a inclusão das
crianças de 4 anos não pode ser realizada de forma improvisada,
sem uma proposta pedagógica e espaços adequados. Constitui
momento único e particular de formação e a não observância coloca
é uma afronta aos próprios direitos da criança. Conforme disposto
na estratégia 1.13 do PNE:
77
Do ponto de vista da organização, muitos municípios não se
constituíram como sistema, e continuam vinculados ao estado que
tem a competência administrativa para a regulação, autorização e
supervisão da educação infantil. Porém, a rede estadual do Espírito
Santo a muito descentralizou a educação infantil. Há nesta situação
um conflito de interesses, uma vez que para a rede estadual não há
interesse em investir na educação infantil.
Quanto ao financiamento, a prioridade é para o ensino
obrigatório como destaca o parágrafo terceiro do artigo 212 da CF de
1988,
78
Considerações finais
79
Orçamentárias (LDO) e Lei Orçamentária Anual (LOA). Sem a
previsão em lei, a metas do PME perdem efetividade. Ademais, o
financiamento é fundamental para a realização do PME e o alcance
das políticas a serem instituídas até o fim de sua vigência.
Os posicionamentos desenvolvidos nestas considerações, a
despeito de serem imperativos, trazem perspectivas fundamentadas
na educação enquanto um direito social que por prerrogativa deve
ter o constante acompanhamento dos órgãos públicos e da
sociedade civil como um todo. Pois, mesmo em um momento de
crise institucional, a expectativa criada após o movimento nacional
mobilizado para o PNE, para a elaboração dos planos estaduais e
municipais, pode promover avanços para a educação brasileira nos
próximos anos. Ou seja, tanto os Planos, quanto os Conselhos
Municipais assumem um papel de destaque nesse cenário e na
defesa intransigente do direito a educação.
Referências
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83
84
COLEGIALIDADE E GESTÃO DEMOCRÁTICA DO ENSINO
PÚBLICO: DIMENSÕES DA REPRESENTAÇÃO E DA
PARTICIPAÇÃO EM DISPUTA NO ÂMBITO DOS ÓRGÃOS
COLEGIADOS DA GESTÃO ESCOLAR
Introdução
85
Em relação às políticas públicas para a educação, por serem
entendidas como um serviço público destinado a todos, os
constituintes exerceram um duplo movimento. Por um lado,
centralizaram na União a competência tanto para legislar sobre as
diretrizes e bases da educação nacional, quanto para vincular recursos
fiscais destinados ao financiamento dos investimentos e gastos com a
manutenção e desenvolvimento do ensino. Por outro lado, repartiram,
entre a própria União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, as
competências para a execução dessas políticas, ou seja, as competências
materiais e, também, as competências legislativas para discipliná-las de
acordo com o interesse local. Isso em função da condição de autonomia
não irrestrita, diante da qual os entes subnacionais exercem suas
competências.
O fato é que a escolha de um novo modelo de federalismo
implicou, e não poderia ser diferente, consequências para a provisão
das políticas públicas, principalmente as de recorte social que
passaram, predominantemente, a constituir atribuições municipais.
Em se tratando das políticas públicas municipais para a
educação, a Constituição Federal especifica como competência
material a promoção de meios de acesso à educação (BRASIL, 1988,
art. 23, V), mediante a atuação prioritária no ensino fundamental e
na educação infantil (art. 211, § 2º); e, como competências
legislativas exclusivas, a elaboração de leis de interesse local (art. 30,
I) de forma a suplementar a legislação federal e a estadual no que
couber (art. 30, II).
O desenvolvimento de ambas as competências deve ser
realizado a partir do atendimento aos princípios constitucionais
(BRASIL, 1988, art. 206, inc. I a VIII) sobre os quais o ensino deve ser
ministrado, destacando, para fins deste artigo, o princípio da
“gestão democrática do ensino público” que compreende
86
Se a Constituição Federal de 1988 incorporou em sua redação
esse princípio dentre aqueles sob os quais o ensino deve ser
ministrado, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDB/1996) manteve e ampliou aquela determinação constitucional
ao estabelecer “[...] gestão democrática do ensino público, na forma
desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino” (BRASIL, 1996, art.
3º, inc. VIII). Essa ampliação infraconstitucional implica
compreender “[...] na gestão democrática todos os mecanismos
criados pela própria lei e pela legislação que vier a ser elaborada
pelos diferentes sistemas de ensino” (MENDONÇA, 2000, p. 125),
incluindo as instituições (normas, regras e procedimentos formais e
informais que regulam as competências legislativas) aprovadas
pelos Legislativos Municipais e pelos Conselhos Municipais de
Educação, na sua condição de órgãos normativos dos respectivos
sistemas municipais de ensino.
No Brasil, sobretudo na década final do século XX, algumas
iniciativas foram tomadas no sentido de aproximar os representados
dos processos decisórios, no campo das instituições representativas
da administração pública. Servem como exemplos de formas de
participação da sociedade: a elaboração do orçamento participativo;
a instalação de Conselhos gestores de políticas socais e a realização
de fóruns, conferências e audiências públicas, com vistas a debater
temas de interesse comum, os quais podem subsidiar a apresentação
de proposições de políticas públicas. Muitos desses processos
participativos são instituídos no âmbito do Poder Executivo, por se
tratar de temas voltados para o exercício das competências materiais
atribuídas constitucionalmente aos entes federados.
Colocando em destaque a instalação de Conselhos gestores de
políticas sociais, corroboramos com a ideia de que a criação desses
Conselhos é uma das formas para o rompimento do caráter
monocrático no exercício de poder de gestores educacionais
públicos centralizadores e patrimonialistas. O sociólogo político
Max Weber já indicava, no início da década de 1920, que os
Conselhos eram associações limitadoras da dominação monocrática.
Afirmava Weber (2004, p. 179), que “[...] todo tipo de dominação
87
pode estar despojado de seu caráter monocrático pelo princípio de
colegialidade”. Complementa o autor afirmando que para este fim
“[...] as disposições são promulgadas por autoridades institucionais
de caráter não-monocrático, após conferências e votações prévias”.
Inserido neste pressuposto weberiano de colegialidade, o qual
considera fundamental a participação da sociedade em debates,
discussões e deliberações, os Conselhos Municipais de Educação
foram criados, na maioria dos municípios brasileiros, a partir da
instituição dos sistemas municipais de ensino, para o exercício de
funções normativas, consultivas, deliberativas e fiscalizadoras sobre
as políticas municipais de educação. A constituição desses
Conselhos é realizada a partir do modelo hegemônico de
democracia: a representativa. No entanto, a autonomia dos
municípios para organizarem, em regime de colaboração com os
demais entes federados, seu Sistema de Ensino (BRASIL, 1996, art,
8º), pode refletir a adoção de diferentes práticas e dinâmicas de
participação em cada um dos Conselhos Municipais brasileiros, com
a implementação de canais e práticas de participação popular,
possibilitando a conexão entre representantes e representados, que
são, para Santos e Avritzer (2009), ações que combinam a
democracia representativa com mecanismos de democracia
participativa, complementando-as. Provocando, dessa forma, o que
os autores chamam de “[...] reinvenção da democracia participativa”
(SANTOS; AVRITZER, 2009, p. 55).
Esse artigo insere-se no contexto das discussões acerca dos
Conselhos Municipais de Educação compreendendo-os como órgãos
colegiados de natureza representativa, cujas práticas de gestão
podem consolidá-los como modelo hegemônico de democracia
representativa, mas também podem implicar, a partir da criação de
práticas de participação ativa, a adoção de um modelo contra-
hegemônico de democracia: a participativa.
88
mecanismos de participação, possibilitando o fortalecimento e a
ampliação da democracia?
89
povo no exercício direto do poder” (SARTORI, 1994b, p. 37, grifo do
autor), daí, também, designar-se como democracia direta. Nela se
estabeleciam diálogos, discussões e encontros para a tomada de
decisões, predominava uma liberdade que possibilitava ao
indivíduo o exercício da capacidade humana de ouvir, de falar e de
ser visível perante os demais partícipes do espaço público.
Ao final da primeira metade do século XX, a teoria democrática
encontrava-se vulnerável a diversos ataques em função: a) da
atualização do significado e da ampliação que o conceito de
soberania das massas foi adquirindo a partir da maior complexidade
das administrações dos Estados; b) da entrada de interesses
particulares no debate público, deslocando o eixo da livre
argumentação e discussão da vontade geral para a racionalidade dos
interesses particulares e oportunidades de exercício do poder
político; c) da expansão da sociedade e, por conseguinte a
possibilidade de as mobilizações das massas não conseguirem
influenciar os processos de formação da vontade geral (AVRITZER,
1999).
Esse processo trouxe para o centro dos debates, no século XX, as
questões em torno da democracia. Nessa dinâmica, surgiram dois
pontos que se revelam importantes: a “desejabilidade da democracia
como forma de governo” e as “condições estruturais da
democracia”. Saindo vencedora a opção pela democracia como
forma de governo na maioria dos Estados, esta constituiu-se como
hegemônica, ao final das duas guerras mundiais. No entanto, a
adoção do método de escolha dos representantes, pela via eleitoral,
para a formação de governos, acabou por restringir as formas de
participação e o exercício da soberania do povo (SANTOS;
AVRITZER, 2009), ao mesmo tempo em que excluía a argumentação
e o debate, à medida que tornava a decisão elemento central do
processo deliberativo – “concepção decisionística de deliberação”4 –
90
e desconsiderava as opiniões contrárias proferidas no momento da
tomada de decisão (AVRITZER, 2000). Essa concepção foi a base
para a constituição do modelo hegemônico de democracia
denominado por Schumpeter (1984) de “elitismo democrático”.
A característica da representação baseada nessa concepção de
democracia, em que há prevalência do poder de escolha dos
tomadores de decisão em detrimento da opinião dos cidadãos sobre
questões que dizem respeito ao interesse comum foi, para
Schumpeter (1984), fundamental para sua implementação. Isso
porque a soberania do povo era um dos principais problemas da
teoria clássica da democracia, pelo fato de que estava centrada
primordialmente na ideia de que
[...] ‘o povo’ tinha uma opinião definida e racional sobre todas as questões
individuais e que ele objetivava essa opinião – numa democracia – escolhendo
‘representantes’ que zelariam para que essa opinião fosse seguida. Assim, a
seleção de representantes torna-se secundária em relação ao propósito básico
do arranjo democrático, que é investir o eleitorado do poder de decidir
questões políticas (SCHUMPETER, 1984, p. 336).
91
sim, a partir de duas lógicas: a do mandato imperativo e a do
mandato representativo, ambos recebidos dos representados.
A primeira lógica refere-se ao mandato por meio do qual o
representante eleito se constituiu de porta-voz das ideias dos
representados e não pode desvincular-se desse compromisso, sob
pena de perda do mandato. O mando imperativo [...] impõe ao
representante respeitar a promessa feita àquele ou àqueles de que é
porta-voz e a quem deve prestar contas (GOYARD-FABRE, 2003, p.
128).
O que se coloca em xeque com o mandato imperativo é tanto
seu confronto com o interesse de todos – uma vez que se vincula ao
representado individual ou coletivamente, mas cujos interesses são,
a princípio, privados e não comuns – quanto a difícil combinação
entre autonomia do representante e a accountability para a sociedade.
A segunda lógica, a do mandato representativo, é apresentada
pelo autor como um desenvolvimento da noção de democracia
como ideal sociopolítico. Tratar-se-á de um mandato coletivo
outorgado pelo conjunto dos representados ao conjunto dos que o
representarão. Nessas condições, a democracia representativa
implicará a subordinação dos representantes-governantes à vontade
geral dos representados, como se cada um deles representasse não
seus eleitores em particular, mas todos os segmentos que compõem
determinado colegiado (GOYARD-FABRE, 2003).
Emerge, assim, do pensamento do autor, a ideia de uma
democracia representativa que compreende o conjunto não como a
soma das partes, mas como ideal de uma unidade. Assim, o
representante não representa apenas os que o escolheu, um
determinado segmento ou, ainda, uma localidade, mas o conjunto
do agregado social ao qual a instituição representativa se apresenta.
A convergência entre o sentido de representação exposto tanto
por Schumpeter (1984) quanto por Goyard-Fabre (2003) reside na
concepção de que a seleção de representantes é a principal tarefa da
democracia representativa e, quiçá, a única.
Nesse sentido, a democracia representativa implica a
prevalência da escolha dos representantes sobre a forma com que os
92
representados exercerão sua ação no processo de tomada de
decisões. Pensada assim, a democracia representativa parece negar o
próprio sentido de representação, na medida em que o interesse
maior, e quase exclusivo, recai sobre o processo de escolha. Isso
pode indicar que os representantes, ao serem eleitos, se preocuparão
mais com as próprias vontades e opiniões do que com a dos
representados.
Diante desse contexto, é possível resumir as características
negativas da democracia representativa expostas pelos diferentes
autores em, pelo menos, três matizes: a) impossibilidade de
assegurar a subordinação dos representantes à vontade geral dos
representados; b) impossibilidade dos representados de apresentar
suas ideias acerca dos temas em debate; c) percepção, por parte dos
representados, de que o momento da escolha era o único no qual sua
voz seria reconhecida como expressão de um direito, de uma
participação ativa.
O conjunto desses fatores indica o esgotamento do modelo
hegemônico de democracia representativa, porquanto põe em
tensão a accountability e a responsabilidade dos governantes com a
sociedade. Trata-se, assim, de uma degenerescência da democracia
representativa desencadeada, entre outros motivos, pela quase
inexistência de mecanismos de accountability
93
por vezes, denúncia ao Poder Judiciário de possíveis ilegalidades
cometidas no âmbito daqueles Poderes (PERUZZOTTI;
SMULOVITZ, 2002). Essa foi uma forma encontrada por alguns
setores organizados da sociedade civil e alguns meios de
comunicação de massa para a implementação de mecanismos de
controle das ações dos Poderes Públicos. Se, por um lado, o social
accountability não gera sanções que relacionam diretamente causa e
efeito, como no caso do accountability eleitoral, por outro lado,
aciona, intemporalmente, o controle sobre as atividades dos agentes
públicos.
A concepção de representação, na qual o representante possui
um alto grau de autonomia em relação ao representado, concedida a
partir da autorização dos cidadãos por meio dos processos de
escolha, é outorgada formalmente, uma vez que são parcos os
mecanismos de accountability constituídos dos representantes para
os representados, os quais tornam públicos os trabalhos
desenvolvidos e os resultados atingidos.
Assim, ao trazermos para o interior das discussões o processo
de escolha dos representantes nos órgãos colegiados, podemos
inferir que esse processo acaba por exercer o duplo papel, quais
sejam: a) o exercício da democracia direta mediante a escolha de
representantes; e b) a recompensa ou punição dos representantes
estimulando “[...] a sensibilidade destes perante as demandas e
necessidades dos representados (responsiveness)” (LAVALLE;
HOUTZAGER; CASTELLO, 2006, p. 55).
Essa ideia de sensibilidade dos representantes com os desejos
dos representados é designada pelos autores como
“responsividade” e resulta em componentes que dão forma ao
conceito de representação.
Campilongo (1988), por sua vez, aponta que a responsividade
abriga diversos componentes, entre os quais destacamos: a)
“políticas públicas (policy responsiveness)”: trata-se do componente
no qual a preocupação está em conectar as preferências dos
representados com a atuação dos representantes e concentra-se na
construção das políticas públicas; b) “serviços (service
94
responsiveness)”: referem-se à prestação de serviços que os
representantes fazem aos representados, constituindo-se em favores
e benefícios a indivíduos ou grupos particulares. O autor argumenta
que muitos representantes entendem que esses serviços são tão
importantes quanto a atividade que exercem nos órgãos colegiados e
muitos representados, também, sentem-se retribuídos com esses
benefícios; c) “responsividade simbólica (symbolic responsiveness)”:
diferentemente dos demais componentes, que têm como referência
aspectos materiais, a responsividade simbólica implica “[...] relações
psicológicas entre o apoio conferido aos representantes e as
respostas alegóricas fornecidas aos representados” (CAMPILONGO,
1988, p. 37).
Nesse sentido, se por um lado, a prestação de contas de suas
ações – accountability – se relaciona com o conjunto dos
representados, por outro, a sensibilidade aos desejos dos
representados – responsividade – está ligada mais diretamente aos
interesses individuais ou de pequenos grupos de interesses. Por sua
vez, os representantes encontram-se, justamente na sua capacidade
de representar, no entrecruzamento desses dois conjuntos de
mecanismos que fundamentam a sua relação com os representados.
A responsividade e o accountability são dois mecanismos que
buscam ressignificar o conceito de representatividade, a partir de
práticas de participação que foram “chamadas” a fazer parte do
movimento que Lavalle, Houtzager e Castello (2006) intitulam
“reforma da democracia”. Esse movimento implica a emergência de
processos contra-hegemônicos, construídos na contramão do
arrefecimento da democracia representativa, apesar de, na prática,
alguns desses processos estarem mais próximos de uma
responsividade simbólica. Isso significa que mecanismos de
participação são anunciados e criados, mas não são implementados.
E, quando o são, arregimentam-se por meio de instituições com
limitações técnicas, materiais e de infraestrutura, que restringem e
constrangem seu funcionamento.
Na contracorrente da passividade de algumas instituições
políticas, que insistiam em manter o status quo da representação pela
95
via unívoca da autorização dos representantes no momento da
escolha dos representantes, desenvolveram-se movimentos sociais,
formas de organização políticas tanto locais, quanto regionais, bem
como atividades de luta por direitos que “[...] apontam para
horizontes de negação e de superação [...] a alguns dos pressupostos
essenciais da democracia liberal” (SADER, 2009, p. 655), qual seja, de
que as decisões devem ser tomadas pelo corpo restrito dos
representantes.
Na base dessa contracorrente encontra-se a democracia
participativa, entendendo-a como combinação entre democracia
representativa e mecanismos de participação que conecta os
representados aos representantes em períodos inter e intraeleitorais,
portanto, para além dos momentos de autorização da representação
e de prestação de contas.
Em relação à adjetivação “participativa”, significa que não
desarticula a compreensão de democracia, mas, ao contrário,
procura enfatizar o sentido que a ela é dado na conjugação com a
ideia de participação que está presente no conceito de democracia
participativa. Essa ideia “[...] acaba sendo o elemento central que nos
permite compreender que tipo de democracia é esta, como ela se
desenvolve e porque se diferencia frente a outras experiências
semelhantes” (GUGLIANO, 2004, p. 272).
Assim, a democracia participativa constitui-se, a partir desse
elemento central, como um “[...] tomar parte pessoalmente e um tomar
parte desejado, auto-ativado. Ou seja, participação não é um simples
‘fazer parte de’ (um simples envolvimento em alguma ocorrência)
[...]” (SARTORI, 1994a, p. 159, grifo do autor).
A adoção de práticas participativas síncronas à democracia
representativa está longe de ocorrer sem conflitos. A concepção
arraigada na maioria dos Estados e, em destaque, o brasileiro, de
uma democracia indireta, na qual o poder legítimo é do
representante, e não do representado, pode implicar um confronto
entre democracias representativas e democracias participativas
decorrente do fato de aquela rejeitar a legitimidade da democracia
participativa (SANTOS, 2009).
96
Uma das soluções para esse conflito pode estar na instituição de
práticas de participação dos representados em espaços
institucionalizados de representação, contribuindo para a ampliação
das democracias representativa e participativa e não para a
substituição ou concorrência entre elas. A combinação entre
democracia representativa e democracia participativa pode ocorrer,
para Santos e Avritzer (2009), por duas vias: da coexistência e da
complementaridade.
A combinação por coexistência, “[...] implica uma convivência,
em níveis diversos, das diferentes formas de procedimentalismo,
organização administrativa e variação de desenho institucional”
(SANTOS; AVRITZER, 2009, p. 75-76). Por sua vez, a
complementaridade
97
aqueles que têm algum interesse na temática e a administração
pública. Entre os vinculados ao direito social e à educação,
destacamos os: Conselhos, Conferências e Fóruns nacional, estadual,
distrital e municipal de Educação, bem como os Conselhos de
Acompanhamento e Controle Social dos Fundos de financiamento
da educação e os Conselhos de Escola.
Riscal (2010, p. 27), ao trazer para discussão o papel e o processo
de constituição dos Conselhos no âmbito da educação brasileira,
especifica suas principais atribuições:
98
que complementem a democracia representativa, situando-a “[...]
seja na contraposição entre direitos afirmados formalmente, porém
costumeiramente negados na realidade, seja no aprofundamento da
relação entre cidadãos e decisões do poder político [...]” (SADER,
2009, p. 657).
Considerações finais
99
do Espírito Santo5. Os Conselhos Municipais de Educação e os
Fóruns Municipais de Educação são os principais órgãos colegiados
das redes municipais de educação, nos quais há participação da
sociedade civil com poder de voz e de voto. Na esfera das unidades
educacionais, destacam-se os Conselhos Escolares, cuja
implementação e participação da comunidade escolar e local e dos
profissionais estão previstas na LDB/1996. Enquanto partícipes do
Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) ou lançando mão de
sua autonomia financeira e executora, os representantes tomam
parte na elaboração, deliberação e fiscalização do plano de aplicação
de recursos destinados à unidade escolar.
A criação dessa arquitetura participativa, bem como a inserção
de atores até então excluídos dos processos de participação na
deliberação, gestão e fiscalização de políticas públicas configuram-se
como espaços de disputa política. E, como tais, são influenciados por
diversos recursos de poder, forjados tanto pela representação da
administração pública, quanto pela sociedade civil organizada. Esse
campo de luta produz dificuldades para o reconhecimento da
legitimidade de atores sociais individuais e coletivos e de novos
espaços “[...] de expressão da disputa política, mais plural e menos
hierárquicos, nos quais representantes [...] legitimados em processos
eleitorais convivem com os representantes da sociedade civil em
condições mais igualitárias” (FERRAZ, 2009, p. 123).
Na medida em que as práticas de democracia ampliam a
arquitetura participativa no interior das instituições democrático-
representativas, principalmente do Poder Executivo, recursos de
poder começam a ser utilizados por algumas administrações estatais
para mitigar e, no limite, subverter a ideia de igualdade e de
capacidade decisória. Propostas assim compõem a ideologia de
alguns dos defensores da inclusão da sociedade civil nos processos
deliberativos nas organizações políticas.
100
No entanto, esse movimento é, por vezes, realizado a partir da
manipulação de atitudes, de modo que os partícipes não
compreendam as manobras utilizadas como resposta simbólica à
demanda de participação – responsividade simbólica. Algumas
dessas atitudes são descritas por Ferraz (2009): a) não destinação de
recursos financeiros e materiais para o funcionamento das entidades
participativas; b) definição autoritária da pauta de discussões; c)
definição prévia, seguida de informativo da possibilidade de
investimentos possíveis àquela região geográfica; d) indicação de
representantes governamentais com parca autonomia decisória; e)
“tecnoburocratização dos temas”; f) não realização da decisão
tomada.
Outra questão que atenta contra a democracia participativa é o
fato de a criação – e reconhecimento da arquitetura participativa –
depender de ato dos respectivos Poderes Públicos. Desse modo, os
temas disponíveis à participação constituem-se em mais um campo
de disputa política. Por essa razão é que nos referimos à participação
como concedida, quando do funcionamento de práticas
democráticas que manipulam simbolicamente a população, a partir
de mecanismos que sugerem responsividade.
Esse conjunto de questões prejudica a consolidação do modelo
contra-hegemônico de democracia participativa e resulta em
esgotamento político da arquitetura de participação,
101
políticas. A derrota desse modelo poderá provocar o retorno ao
elitismo democrático schumpeteriano, no qual a participação da
sociedade civil se resume ao momento da escolha dos
representantes.
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104
PARTE II
POLÍTICAS PÚBLICAS
EDUCACIONAIS, SISTEMAS DE
ENSINO E CONSELHOS MUNICIPAIS
105
106
PROCESSO HISTÓRICO DA CONSTITUIÇÃO DOS
CONSELHOS MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO NO BRASIL
INTRODUÇÃO
107
assim, se no plano do pronunciamento discursivo avançamos, como
andam nossas práticas simples, cotidianas, sem os holofotes, fora
dos palanques, longe dos veículos de comunicação com seus textos
bem elaborados e revisados por uma afiada equipe?
Na tentativa de compreender esse movimento entre o instituído
e o instituinte no que tange à participação dos sujeitos na elaboração
das políticas educacionais, buscamos no presente texto estabelecer
uma linha entre as demandas postas desde os Pioneiros da
Educação e a dívida ainda não saldada pelo Estado Nacional no que
diz respeito aos fundamentos democráticos assumidos.
O texto procura compreender como o princípio constitucional
da gestão democrática da educação sustenta a atual formatação que
a educação nacional tem assumido. Para tanto, analisamos como o
Conselho Municipal de Educação (CME) se insere nesse movimento
de participação, compreendendo sua fecundidade a partir da
instituição do Sistema Municipal de Educação (SME), que por sua
vez remonta ao Manifesto de 1932, que ao defender a unidade na
multiplicidade como alternativa para superar a descontinuidade das
então incipientes ações educacionais no vasto território nacional,
buscou sustentá-lo no tripé: planos, sistemas e conselhos de
educação.
Na tentativa de compreender o prescrito e o vivido sobre esses
colegiados, trazemos alguns apontamentos de recentes pesquisas
sobre a prática conselhista, evidenciando seus maiores entraves
assim como suas possibilidades.
108
requer maior aproximação da sociedade com a gestão dos recursos e
serviços disponibilizados pelo Estado.
Bordignon (2009) analisa que a atual organização da educação
brasileira resulta das proposições do Manifesto dos Pioneiros da
Educação Nova, que nos idos de 1932 já demandavam urgência na
organização da educação, por concebê-la como elemento
fundamental na construção de um projeto nacional de cidadania. No
documento dos pioneiros, são apontadas como as causas da
situação, considerada caótica, tanto a fragmentação como também a
falta de unidade e sequência das poucas ações no campo
educacional.
Com vistas a superar a fragmentação e a desarticulação das
ações educacionais num país ainda sem projeto de educação
nacional, o documento de 1932 advogava que a política educacional
deveria buscar a coerência interna articulando a unidade na
multiplicidade. Diz o Manifesto:
109
A unidade seria assegurada por meio de políticas e diretrizes
nacionais, e a multiplicidade, pela descentralização com distribuição
de poder e responsabilidades. A sustentação de tal projeto se
constituiria a partir da articulação entre planos, sistemas e conselhos
de educação.
Tais proposições consagraram na Constituição de 1934 os
sistemas educativos e os conselhos de educação (federal e estaduais).
Também atribuiu ao Conselho Nacional de Educação a tarefa de
elaborar o Plano Nacional de Educação, que chegou a ser elaborado,
porém mais caracterizado como lei geral da educação, sem feição de
Plano.
O advento do Estado Novo (1937-1945) retardou as demandas
dos Pioneiros e, apesar de reafirmada na Constituição de 1946,
somente em 1961 é que o país teve a sua primeira Lei de Diretrizes e
Bases da Educação, a Lei 4.024 de 26/12/61. Entretanto, a suspensão
dos direitos constitucionais, protagonizada pelo Golpe Militar de
1964 (1964-1985), retardou, mais uma vez, a busca de unidade na
multiplicidade. Duas novas leis surgiram: uma para o ensino
superior (Lei 5.540/68) e outra para a educação básica (Lei 5.692/71).
A lenta volta do país ao Estado de Direito, fruto de intensa
mobilização de diversos atores da sociedade civil organizada,
durante os longos anos 80, trouxe para o cenário político um novo
personagem: o cidadão.
A atuação desse novo personagem materializa-se na
participação popular, que se no passado constituiu demanda
remota, é possível constatar que a partir da Constituição de 1988 ela
passa a ser textualmente garantida, conforme se verifica em alguns
de seus artigos, contemplando variados campos. Alguns exemplos:
a) o artigo 187 determina que a política agrícola seja planejada e
executada, com a participação efetiva do setor de produção; b) o
artigo 194, que trata da seguridade social, no inciso VII estabelece o
caráter democrático, mediante gestão quadripartite, com
participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados
e do governo nos órgãos colegiados; c) o artigo 198 estabelece que as
“ações e serviços públicos de saúde integram uma rede
110
regionalizada e hierarquizada, constituindo um sistema único”,
organizado seguindo algumas diretrizes, dentre as quais, a
participação da comunidade; d) o artigo 204, que trata das ações
governamentais na área da assistência social, determina que as ações
sejam realizadas com recursos do orçamento da seguridade social, e
organizadas com base em algumas diretrizes, dentre as quais, “a da
participação da população por meio de organizações
representativas, na formulação das políticas e no controle das ações”
(BRASIL, 1988).
No âmbito educacional, o artigo 206, ao definir os oito
princípios a partir dos quais o ensino será ministrado, estabelece o
princípio da gestão democrática, reafirmado no artigo 3º da Lei
9.394/96 que institui as Diretrizes e Bases da Educação (LDB). Esta
Lei dispõe sobre a participação dos profissionais e da comunidade
escolar, nos seguintes termos:
111
Municípios, reconhece esse último como ente federado,
inaugurando experiência inédita na história das 26 federações
distribuídas no globo (ARAUJO, 2013). A LDB, por seu turno,
possibilitou ao Município estabelecer seu próprio sistema de ensino
ou compor com o estado um sistema único ou, ainda, manter-se
integrado ao sistema estadual de ensino. No inciso III do Artigo 11
da mesma Lei é atribuído aos Municípios “baixar normas
complementares para o seu sistema de ensino” (BRASIL, 1996, p.11).
E nessa esteira de possibilidades, surge o Conselho Municipal de
Educação.
Como estratégia da gestão democrática, ele é compreendido
enquanto órgão normatizador da política educacional no âmbito do
sistema municipal de educação, espaço de participação e exercício
efetivo do poder dos cidadãos.
Ainda que nem a Carta Magna nem a LDB façam referência aos
conselhos estaduais e municipais de educação, tal omissão é
compreendida por Bordignon (2009) como coerente com o princípio
da autonomia dos entes federados que têm opção para organizar
seus sistemas de ensino. A opção pela organização dos conselhos
“passou a ser objeto privativo das respectivas leis orgânicas de
estados e municípios” (BORGDIGNON, 2009, p. 59), segundo as
alternativas de organização dos sistemas, acima referidas.
A Lei 10.172/2001 – nosso primeiro Plano Nacional de
Educação, 2001/2011 –, no capítulo de Financiamento e Gestão,
estabelece que cada sistema de ensino deve implantar a gestão
democrática. A Meta 21 desse capítulo teve como objetivo
“estimular a criação de Conselhos Municipais de Educação e apoiar
tecnicamente os Municípios que optarem por constituir seus
sistemas” de ensino (BRASIL, 2001, p.07).
Sobre esse aspecto, se considerarmos que em 2007, sexto ano do
PNE 2001/2011, o País contava 5.563 Municípios, e que apenas 2.840
deles (51%) possuíam CME, segundo dados do Sistema de
Informações dos Conselhos Municipais de Educação (SICME3)
112
(BRASIL, 2007), podemos afirmar, a partir da interdependência
existente entre gestão democrática e CME, que a proposta não
conseguiu o êxito esperado.
Ademais, conforme se verifica no novo PNE, Lei 13.005/2014,
que ao ratificar o princípio da gestão democrática da educação
pública, apresenta na Meta 19 oito estratégias a serem implantadas
ao longo da vigência do Plano 2014/2024, sendo que duas delas se
relacionam com as lacunas não preenchidas no decênio anterior. Do
que interessa, destacamos o par de estratégias que assumem:
113
contraponto de uma deliberação singular. Sobre esse aspecto,
Bordignon (2009) analisa que os conselhos invertem a tradicional
postura da voz do governo falando à sociedade para passar a
expressar a voz da sociedade falando ao governo.
Nessa perspectiva, tais espaços de participação são, antes de
tudo, arenas públicas que visam, na sua especificidade, o exercício
da cidadania, aportado no princípio da gestão democrática da
educação, que por sua vez carrega em si um novo modo de
administrar, que se faz na comunicação, envolvimento e diálogo;
sempre no plano coletivo (CURY, 2006). Esse autor observa que,
enquanto temática histórica, esse novo modo de administrar nos
impulsiona em direção contrária à prática mais comum presente em
nossa trajetória política em que os gestores se pautavam ora por um
movimento paternalista, ora por uma relação declaradamente
autoritária.
A gestão democrática, como princípio da educação, possui lastro
constitucional, como já destacamos anteriormente, reitera a opção
pelo Estado Democrático de Direito, o qual reconhece a soberania das
leis e o poder do regime representativo, tendo a participação como
requisito indispensável. Cury (2005) esclarece que o Estado
Democrático de Direito é aquele que “[...] reconhece e inclui o poder
popular como fonte do poder e da legitimidade e o considera como
componente dos processos decisórios mais amplos de deliberação
pública e de democratização do próprio Estado” (p. 18).
A presença dos cidadãos no processo e no produto de políticas
dos governos espelha um princípio de Estado nas políticas
educacionais, refletindo o próprio Estado Democrático de Direito. A
gestão democrática, ao postular o diálogo como forma superior de
encontro das pessoas, na busca de solução dos conflitos, representa
possibilidade de crescimento do sujeito, no plano individual, como
também representa possibilidade concreta de crescimento da
sociedade enquanto espaço democrático. Para Cury (2005), os
cidadãos querem ser sujeitos atuando nas arenas de elaboração e nos
momentos de tomada de decisão, fazendo desencadear o que ele
entende como “democratizar a própria democracia” (p. 18).
114
Nessa lógica de exercitar a democracia também estão inseridos
os orçamentos participativos, realizados em muitos municípios do
país. No campo educacional, há diversos espaços para esse exercício,
a exemplo, além dos CMEs – aqui inseridos os conselhos intra-
escolares como os Conselhos da Escola e o dos Professores – os
conselhos de controle social e fiscalização de recursos como é o caso
dos Conselhos do Fundeb e do Conselho de Alimentação Escolar
(CAE).
Com efeito, a gestão democrática compreendida como a
administração que se realiza a partir da comunicação, da
transparência, impessoalidade, autonomia, liderança e trabalho
coletivo nos processos de decisão, é o próprio princípio constituinte
dos CMEs, e os municípios que avançam no que concerne à
autonomia estão organizando seus sistemas e definindo propostas
de educação para suas redes, tendo como diferencial a participação
da comunidade local em conselhos, conferências, fóruns e outros
espaços de representação popular para discussão e tomada de
decisão. Ao optar pela criação do seu sistema de ensino, o município
assume a responsabilidade pedagógica, administrativa e política da
educação local (SARMENTO, 2005).
Sobre a autonomia, há na LDB 9.304/96 uma série de
possibilidades de atuação dos sistemas municipais de educação no
que diz respeito às diferentes formas de oferta que remetem aos
CMEs a tarefa de regulamentá-las, ainda que tenha que considerar
os limites das diretrizes nacionais. De modo específico, destacamos:
a) artigo 14 que diz que os sistemas definirão as normas da
gestão democrática do ensino público na educação básica, em
consonância com as peculiaridades e a participação dos profissionais
da educação na elaboração do projeto pedagógico assim como a
participação da comunidade escolar em conselhos escolares ou seus
equivalentes;
b) artigo 15 que diz que os sistemas deverão assegurar às suas
unidades escolares autonomia pedagógica, administrativa e de
gestão financeira;
115
c) artigo 23 que diz que educação básica poderá organizar-se
em séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de
períodos de estudos, grupos não seriados, com base na idade, na
competência e em outros critérios, ou por forma diversa de
organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem
assim o recomendar. Com dois parágrafos, um trata da
possibilidade de reclassificação e outro, da flexibilidade de
organização do calendário escolar, desde que respeitado o número
de horas letivas;
d) artigo 24 que determina aos níveis fundamental e médio da
educação básica regras comuns a serem respeitadas, mas que admite
possibilidades alternativas no que concerne à progressão parcial
para os estabelecimentos que adotam a progressão regular por série;
possibilidade de organização de classes, ou turmas, com alunos de
diferentes séries, com níveis equivalentes, para o ensino de línguas
estrangeiras, artes, ou outros componentes curriculares; embora
obrigatório os estudos de recuperação, há possibilidades de
diferentes formas, a serem disciplinados pelas instituições de ensino
em seus regimentos;
e) artigo 25 que dispõe sobre o caráter permanente das
autoridades responsáveis alcançar relação adequada entre o número
de alunos e o professor, a carga horária e as condições materiais do
estabelecimento;
f) artigo 28 que trata da oferta de educação básica para a
população do campo, determina que os sistemas de ensino
promoverão as adaptações necessárias às peculiaridades da vida
rural e de cada região;
g) artigo 33 que atribui aos sistemas de ensino regulamentar os
procedimentos para a definição dos conteúdos do ensino religioso
assim como as normas para a habilitação e admissão dos
professores. Importa observar que, neste caso, os sistemas
municipais, por causa dos limites de sua atuação, não têm
competência para a definição da habilitação dos professores, ficando
esta a cargos dos sistemas estadual ou federal;
116
h) artigo 34 que trata da possibilidade de ampliação da jornada
escolar diária do ensino fundamental, e suas ressalvas nos casos do
ensino noturno;
i) artigo 60 que imputa aos órgãos normativos dos sistemas a
tarefa de estabelecer critérios de caracterização das instituições
privadas sem fins lucrativos, especializadas e com atuação exclusiva
em educação especial, para fins de apoio técnico e financeiro pelo
poder público.
Vale ressaltar que entendemos que a função de normatizar as
tarefas acima atribuídas ao sistema municipal seja competência
exclusiva do seu órgão normativo, no caso, o CME. Ressaltamos
também que a listagem acima pretende somente destacar algumas
das demandas postas na LDB que ativam a função normatizadora
do CME, mas que não são as únicas a demandar por
regulamentação. Para citar apenas outro caso que aciona essa
função, lembramos das diretrizes nacionais da educação, por
exemplo, a Resolução CNE/CEB 2/2001, que Institui Diretrizes
Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, que ao
determinar as competências das escolas, redes e sistemas de ensino,
convoca o CME para o centro da conversa uma vez que as políticas,
em âmbito local, deverão ser normatizadas por este colegiado. Na
esfera local, a educação especial, como as demais modalidades,
níveis e etapas de educação municipal, necessita de políticas locais
que façam funcionar o que dispõe a política nacional de modo a
atender às demandas educacionais dos seus sujeitos.
Nesse processo, o CME tem papel de grande relevância por ser
o órgão normatizador e propositivo das políticas educacionais do
sistema municipal. A ele compete, entre outras funções, normatizar
o conjunto das ações atribuídas ao sistema. Isto quer dizer que ele
deve delinear ações que subsidiem a implementação de políticas
educacionais locais que atendam às demandas de educação dos
estudantes dessa ou de qualquer outra modalidade ou etapa,
considerando os limites da política nacional.
Vale ressaltar ainda que os artigos destacados atribuem, de
maneira geral, ao sistema municipal de educação a tarefa de
117
regulamentar os serviços no âmbito de sua atuação prioritária.
Nessa esfera, a educação infantil e o ensino fundamental, com as
modalidades que os atravessam (educação especial, educação de
jovens e adultos, educação do campo), devem ser organizados a
partir das normas comuns, determinados a todos os sistemas no
território nacional, mas podem e devem também contemplar as
peculiaridades locais e regionais.
Ao contabilizar a dívida reclamada na distante década de 30 do
século passado, sobre unidade na multiplicidade, entendemos que a
atual flexibilidade atribuída aos sistemas na elaboração de sua
política educacional – possibilitando que eles contemplem suas
peculiaridades locais, ao mesmo tempo em que estabelece as normas
que devem ser comuns a todos – representa avanço no saldar da
conta. Ainda assim, muito há por resgatar, conforme
apresentaremos adiante.
118
Ao considerar o processo histórico da política educacional do
país, das demandas não cumpridas, como é o caso do SNE ainda por
instituir e do fato de que “na hierarquia dos problemas nacionais,
nenhum sobreleva em importância e gravidade ao da educação”
(AZEVEDO et al., 1932, p. 198), ainda assim, é inegável que a
instituição dos sistemas municipais de educação, como estratégia da
descentralização do ensino, representa vantagens de ordem social ao
trazer os agentes locais para as arenas de decisão. Sobre esse
aspecto, Bordignon (2009) analisa que:
119
descentralização como espaços de participação e da prática
democrática – mesmo que a Constituição de 88 tenha buscado
expressar os valores de nacionalidade, estimulando a participação
social – nossas práticas sociais ainda permanecem impregnadas de
traços culturais imperialistas, de fundo patrimonialista e
paternalista. Sobre tal caracterização, Bordignon (2009) observa que
temos mais aparelhos de Estado do que Nação; mais valores
instituídos, determinados pelas leis, do que práticas sociais de
cidadania ativa. Embora possamos citar inúmeras experiências que
comprovem o aumento da participação popular, ainda assim, há
imensa distância entre os mecanismos democráticos constitucionais
e a sua real aplicação no cotidiano da sociedade brasileira.
Considerando a distância entre o prescrito nas normas legais e
sua efetivação na gestão da educação brasileira, muitos estudos
acadêmicos sobre a temática conselhista têm apresentando
experiências exitosas, sugerido tendências, elucidado conceitos,
como têm também revelado as contradições desse processo. De uma
forma ou de outra, cada um, ao seu modo, lança um pouco mais luz
na trajetória educacional do país que há poucos anos, sequer,
detinha diretrizes para a oferta e o funcionamento desses serviços.
De modo geral, os estudos recentes confirmam os CMEs como
espaços de grande potencial, entretanto, também revelam muitos
entraves a serem enfrentados para que eles se constituam em
verdadeiras instituições da participação democrática.
O primeiro entrave refere-se ao seu formato institucional que
tende à redução de sua capacidade de estabelecer políticas
educacionais, seja por questões materiais ou políticas. Nesse sentido,
parece haver certa simbiose entre secretaria municipal de educação e
CME que acaba por comprometer a autonomia e a legitimidade
conselhista (MARTINIANO, 2010; MOURA, 2010; OLIVEIRA 2011;
PEREIRA, 2013; SOUZA, 2013).
Há entraves na dinâmica de funcionamento sendo que um deles
refere-se às ações que acabam por favorecer as práticas burocrático-
cartoriais: há muitos conselhos que não conseguem informar à
sociedade sobre seus atos; ficando distantes, a sociedade mantém-se
120
alheia de suas ações e deliberações, quiçá de sua existência,
contribuindo ou reforçando o status de submissão; há também pouca
ou nenhuma relação entre conselheiros e os segmentos por eles
representados – desconectados, as demandas não chegam ao órgão,
muito menos suas ações são conhecidas na comunidade escolar.
Outro aspecto recorrente refere-se à composição dos colegiados
que acabam tendo participação limitada dos conselhos de escola e
dos representantes estudantis, além do fato de que a participação
fica limitada a alguns atores que estão presentes em diversos outros
espaços do governo municipal. A burocratização e o corporativismo
também foram apontados já que a maioria do corpo conselhista está
de alguma forma, ligada ao poder público seja como seu
representante, seja por vínculo empregatício. Nesse grupo de
entraves, também estão os relacionados à paridade entre Estado e
sociedade civil. (MARTINIANO, 2010; NATAL, 2011; ALVES, 2011;
PEREIRA, 2013; SOUZA, 2013).
Também há baixa representatividade das entidades junto à
sociedade em geral e a reduzida participação dos segmentos mais
pobres e menos escolarizados da população. Outro aspecto que
compromete a participação das camadas populares e de outros
segmentos da sociedade é a falta de conhecimento, por parte da
sociedade sobre as funções do CME. Há ainda o senso comum de
que a Educação, enquanto área de conhecimento é assunto para os
profissionais da área porque são conhecedores da causa, entendem
das leis, das correntes pedagógicas, dos filósofos da educação,
principalmente por serem letrados e portadores de um saber que irá
transformar o modo de pensar do povo (MARTINIANO, 2010;
NATAL, 2011; OLIVEIRA, 2011; PEREIRA, 2013; SOUZA, 2013).
Os estudos enfatizam que a participação encontra outros
entraves presentes não só nos espaços dos conselhos, mas além
deles, referindo-se à herança de um país fortemente marcado pela
pouca tradição dos componentes republicanos de nossa democracia.
Tais entraves reforçam a construção de uma relação Estado/
sociedade baseada no autoritarismo, na carência e no privilégio de
alguns, mediada pela tutela e o favor e, mais recentemente, pelo
121
populismo e clientelismo (MARTINIANO, 2010; MOURA, 2010;
ALVES, 2011; NATAL, 2011; OLIVEIRA, 2011; BASÍLIO 2012;
PEREIRA, 2013; SOUZA, 2013).
Diante de quadro tão desfavorável, e ao que parece,
generalizado às práticas democráticas, os conselhos são
cotidianamente bombardeados por ações que tentam minar o
exercício do seu papel legal e político. Ainda assim, tais estudos têm
revelado também que esses espaços possuem potencialidades como
arenas de conflitos e negociação.
Algumas Considerações
5 Sociólogo alemão, que ao longo de suas obras, elaborou teoria que conhecemos
como “Sociologia Figuracional” ou “Sociologia Processual”. Esta, caracterizada
por compreender e estudar a relação indivíduo/sociedade a partir do conceito de
“figuração”, ou seja, um conjunto específico de elementos que estabelecem relação
de dependência mútua, numa rede de interdependências entre os seres humanos.
122
Sobre essa compreensão, argumentamos que o CME se constitui
como espaço legítimo de mudanças muito significativas, podendo
assumir centralidade em muitas decisões políticas, ao mesmo tempo
em que se apresenta como possibilidade de superação de modelos
hierarquizados e centralizados no campo das políticas educacionais.
Nossa assertiva baseia-se tanto nos estudos de mais tempo sobre a
temática (SAVIANI, 1999; CURY, 2005; SARMENTO, 2005;
BORDIGNON, 2009) quanto nos estudos recentes, que de modo
geral evidenciam que a efetivação desse espaço ainda precisa, em
sua amplitude, ser alcançada.
A rigor, os CMEs devem se ocupar da mobilização dos
indivíduos e dos grupos com vistas a subsidiar a constituição de
políticas educacionais e a implementação de serviços e de espaços
públicos que atendam tanto às demandas de escolarização,
considerando o tripé acesso, participação e aprendizagem de todos,
quanto à demanda relacionada à instituição de práticas
democráticas no exercício de “democratizar a democracia”.
Referências
123
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de educação infantil: um estudo sobre a atuação do Conselho
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125
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Estado do Rio Grande do Norte, Mossoró, 2013.
126
METODOLOGIA DE GESTÃO DE SISTEMA MUNICIPAL DE
ENSINO: IDAS E VINDAS NA IMPLANTAÇÃO DE
TECNOLOGIAS PARA DEMOCRATIZAÇÃO
DA EDUCAÇÃO ESCOLAR
Marcelo Lima1
Nilcéa Elias Rodrigues Moreira2
Introdução
127
os métodos de gestão se constituem numa ameaça e seus resultados
quase sempre redundam em autoritarismo tecnocrata e achatamento
de direitos e piora nas condições de funcionamento das escolas.
No entanto, nos municípios experiências, tecnicamente
inovadoras e politicamente avançadas, também podem trazer novas
possibilidades de superação dos métodos de gestão da qualidade
neoliberais do tipo “topdow” com vistas à redução de custos. Neste
sentido, apresentamos aqui uma descrição crítica de um processo de
gestão de sistema de ensino. A literatura sobre a gestão escolar
discute pouco o nível meso dos sistemas municipais de ensino
atentando-se mais no nível micro da escola ou no nível macro das
políticas nacionais ou quando muito estaduais.
128
classificar as escolas em níveis de complexidade e assim melhorar a
capacidade da gestão em identificar as especificidades das escolas.
Para orientar este processo a municipalidade elaborou um
documento de 46 páginas denominado “Tipologia Escolar” que
estabeleceu um conjunto de critérios que deveriam ser seguidos pela
gestão do sistema municipal de ensino (conforme FIG 01).
129
ensino em níveis de complexidade com vistas a superar métodos de
gestão baseados na pressão política ou que se baseavam tão somente
no número de alunos, turmas e salas dos estabelecimentos de
ensino. Propôs-se então uma classificação que agrupasse as
unidades escolares por nível de complexidade pedagógica e
administrativa. Cada classificação enquadraria a escola com base
nas características dos usuários e do prédio escolar.
Essas duas características se desdobrariam, por um lado, nos
quantitativos de alunos, turmas, turnos, salas, alunos especiais, níveis
de ensino, modalidades de ensino, pavimentos, blocos, laboratórios,
área construída e salas de apoio, e por outro, nos dados sobre faixa
etária, gênero, etnia, ocupação e trajetória escolar dos alunos.
As principais variáveis que constituíram a tipologia foram àquelas
relativas, por um lado, ao prédio escolar e atendimento educacional e,
por outro, ao contexto dos usuários. Acreditou-se que essas
características extras e intra-escolares seriam as mais relevantes para a
constituição da classificação das unidades escolares.
Os quesitos pontuaram de modo distinto com predominância
do peso atribuído ao número de alunos, número de turmas e turnos,
número de salas de aula, número de pavimentos e alunos especiais
que tiveram peso que variou na contagem entre 05 e 50. As
características que envolvem a renda dos moradores dos bairros; a
taxa de pretos e pardos entre os alunos matriculados; a escolaridade
dos moradores e os índices de violência das regiões onde se
localizam as unidades escolares somaram peso de 12 a 175
determinando pontuação que foi somada as pontuações dos outros
quesitos. Essas características da escola foram definindo em termos
relativos seus graus de complexidade3.
130
O resultado final do acúmulo de pontos das variáveis (intra e
extra-escolares) atribuídos às escolas gerou, assim, uma tabela de
classificação na qual as unidades de ensino foram enquadradas por
níveis decrescentes de complexidade de I a XI. Por exemplo, ficaram
enquadradas no Nível I as EMEFs: Aristóbulo Barbosa Leão,
Ceciliano Abel de Almeida, Juscelino K. de Oliveira e Neusa Nunes
Gonçalves que eram escolas que funcionavam em três turnos e
possuíam mais de 1000 alunos cada. Por outro lado, foram
localizadas no nível XI as EMFEs e CMEIs: Regina Maria Silva,
Ronaldo Soares e Ernestina Pessoa, escolas estas muito menores que
possuíam menos de 500 alunos e funcionavam em apenas dois
turnos.
131
Segundo a minuta de portaria de distribuição de pessoal da
Secretária Municipal de Educação-Vitória, 2006 a distribuição ficou
assim definida em ordem decrescente de complexidade, conforme
FIG 02 e 03.
Podemos observar que a maioria das escolas situou-se entre o
tipo III e o tipo VI e que nos extremos ficaram 04 escolas muito
grandes situadas em regiões complexas e outras 09 unidades de
ensino possuíam dimensões mais tímidas. Este agrupamento já
permitiria ao sistema de ensino um tratamento que respeitasse essas
especificidades.
132
Segundo este resultado, as escolas consideradas mais complexas
foram aquelas que eram maiores fisicamente (mais salas, mais
laboratórios, mais banheiros, mais área e mais pavimentos, etc.) e
que tinham mais alunos, mais turnos e situavam-se em
comunidades mais violentas, com moradores de menor renda e de
menor nível escolar dos pais dos alunos. Para essas, portanto,
segundo as negociações com os diretores no momento de
apresentação da nova metodologia de gestão, seriam obedecidos
critérios isonômicos possíveis dentro de cada agrupamento de
escolas por complexidade.
Após essa classificação foram reunidos os diretores que se
informaram sobre esse processo de organização das escolas em nível de
complexidade, seus critérios e seus objetivos. A aceitação foi acima do
esperado e os diretores posicionaram-se demonstrando em geral muito
a favor dessa sistemática, sobretudo os gestores das maiores escolas
que passaram a perceber que suas especificidades receberiam o devido
tratamento da gestão do sistema municipal de ensino.
No documento da tipologia escolar concluía-se de modo
bastante otimista que “Os dados constitutivos da tipologia nos
permite identificar, classificar e comparar as Unidades Escolares
levando em consideração suas mais distintivas idiossincrasias,
destacando aquelas que devem merecer atenção especial por parte
do poder público (p. 46)”. Firmou-se a crença de que “a partir desse
conhecimento é possível delinear diagnósticos mais precisos”. Mas
no documento foi ressaltado que o conhecimento resultante dessa
tipologia não pretende oferecer resultado definitivo e
inquestionável, objetiva, tão somente, melhorar, cada vez mais, a
elaboração de diagnóstico da educação municipal que permita aos
educadores e ao próprio Sistema de Ensino refletir sobre as
necessidades do sistema de ensino (VITÓRIA, 2005).
133
Desdobramentos da tipologia na distribuição dos recursos
humanos
134
Distribuição de ATDs (coordenadores de turno)
Tipologia Regra
I 07 ATDs (05 de 30 horas e 02 de 40 horas). Exceto a EMEF CAA
que receberá 06 ATDs (04 de 30 horas e 02 de 40 horas) em
decorrência da expressiva redução do número de turmas que
sofreu para o ano de 2006
III 06 ATDs (04 de 30 horas e 02 de 40 horas) nas unidades escolares
que tem ensino noturno e 05 ATDs (04 de 30 horas e 01 de 40
horas) onde só existe o diurno.
IV 05 ATDs (04 de 30 horas e 01 de 40 horas) para as unidades
escolares que tem anexo e 04 ATDs (03 de 30 horas e 01 de 40
horas) nas unidades escolares sem anexo.
V e VI 05 ATDs (03 de 30 horas e 02 de 40 horas) para as EMEFs que
tenham, ao mesmo tempo, ensino noturno e mais de 800 alunos, e
04 ATDs (03 de 30 horas e 01 de 40 horas) para as unidades
escolares que só funcionam no diurno e tenham menos de 800
alunos. No caso das escolas que tenham mais de 800 alunos, mas
não possuam noturno, estão previstos 05 ATDs (04 de 30 horas e
01 de 40 horas).
VII 04 ATDs (03 de 30 horas e 01 de 40 horas)
VIII 03 ATDs (02 de 30 horas e 01 de 40 horas).
IX e X 03 ATDs (03 de 30 horas) para as escolas que tenham ensino
noturno e 02 ATDs (01 de 30 horas e 01 de 40 horas) para EMEFs
sem noturno. Excetua-se o caso atípico da Escola RS que tem
apenas um turno para a qual está previsto 01 ATD de 40 horas
Distribuição de Pedagogos
Tipologia Regra
I e III Escolas com horário noturno - 6 pedagogos de 30h ou 2 pedagogos
de 40 horas e 04 de 30 horas; Escolas sem horário noturno - 5
pedagogos de 30 horas.
IV Escolas sem prédio anexo - 5 pedagogos de 30horas ou 1 pedagogo
de 40 horas e 4 de 30 horas; Escolas com prédio anexo - 6 pedagogos
de 30horas ou 1 profissional de 40horas e 5 de 30 horas.
V Escolas com noturno e mais de 29 turmas - 6 pedagogos de 30
horas ou 1 de 40 horas e 4 de 30 horas.
VI Para todas as escolas - 1 pedagogo para cada 6 turmas.
VII Para todas as escolas - 1 pedagogo para cada 6,5 turmas, sendo
que a escola MA optou por ter 3 pedagogos e 1 Assistente Técnico
de Direção (coordenador de turno).
VIII e IX Para todas as escolas - 1 pedagogo para cada 7,3 turmas.
X e XI Para todas as escolas - 1 pedagogo para cada 5,45 turmas
FIG 05. In: VITÓRIA (2006)
135
Para a gestão de Seme, com essa distribuição seria possível
hierarquizar as escolas por complexidade sem perder de vista a
negociação com os diretores e ao mesmo tempo criar regras que
pudessem dar ao processo de distribuição de recursos humanos
mais transparência e isonomia entre as escolas.
Inicialmente as escolas assimilaram essa metodologia, mas em
seguida alguns diretores cujas escolas ficaram em um nível mais
baixos de complexidade começaram a pressionar a secretaria
municipal de educação pela mudança dos critérios da tipologia para
que suas unidades educativas fossem reclassificadas de modo a
receberem, portanto, mais pessoal.
A subsecretária da Seme-PMV para cumprir o que fora
negociado elaborou uma minuta de portaria para oficializar a
distribuição de pessoal administrativo, técnico e pedagógico.
Entretanto, algumas (não todas, principalmente CMEIs) escolas não
satisfeitas com os resultados da tipologia escolar começaram a
pressionar ora por um reenquadramento na tipologia ou por mais
pessoal e, em razão disso, adiou-se a publicação da portaria.
Semanas depois, surgiu um recuo da gestão em aplicar a
metodologia mesmo após meses de trabalho da equipe técnica e de
intensa negociação com os diretores das escolas.
De acordo com os relatos informais à época, a gestão da
prefeitura considerou que a metodologia criaria uma progressiva
pressão por ampliação de pessoal, o que oneraria em muito o
sistema municipal de ensino, tirando das mãos do setor de pessoal e
da subsecretarias encarregadas tradicionalmente por fazer esta
distribuição o poder de determinar a distribuição dos recursos,
sobretudo de pessoal. Desta forma houve uma démarche na
institucionalização da tipologia escolar, jogando por terra o enorme
esforço empreendido pelos profissionais envolvidos na formulação
desta ferramenta de gestão.
136
A Démarche do segundo mandato
137
arrojado, em alta velocidade. Foi necessário reduzir despesas de custeio,
reprogramar o plano de obras, reduzir o ritmo de algumas obras, paralisar
outras e, com isto, atrasamos a execução do plano de investimentos definido
no Orçamento Participativo (VITÓRIA - Orçamento participativo: entrevista
com o prefeito João Coser6).
138
Implementado em 2010, por meio de um projeto piloto na Emef
Adevalni Sysesmundo, o sistema foi testado, ajustado e reconhecida
sua contribuição como parte da tecnologia de planejamento e de
gestão para sistemas municipais de ensino. A primeira demanda,
para além do projeto piloto, foi a realização da re-matrícula on-line,
com a participação de 751 pais e responsáveis. Em seguida o sistema
foi ampliado para outras 14 escolas municipais de ensino
fundamental, beneficiando cerca de 10 mil alunos.
O sistema foi apresentado com a seguinte finalidade:
Art. 1o. [...] – SGE como ferramenta gerencial da Rede Pública Municipal de
Ensino, com a finalidade de otimizar a administração escolar quanto à
execução, ao acompanhamento e ao controle da atividade-fim das Unidades
Municipais de Ensino e atualizar, em tempo real, a base de dados gerenciais
da Secretaria Municipal de Educação, visando, principalmente a: - fortalecer
controle no as informações âmbito acadêmico existentes, do aluno e
unificando os procedimentos informatizando a emissão de dos documentos
escolares (Atos Oficiais publicados em 11/09/2012)7.
139
De todo modo, em vias de concluir o segundo mandato, apesar
dos avanços e recuos em relação às formas de gestão e as escolhas
políticas em relação aos investimentos públicos em educação, a
educação do município ainda permite vislumbrar uma perspectiva
positiva em termos dos dados educacionais.
No segundo mandato da gestão Coser (2008-2012), a PMV
avançou bastante na gestão pública da educação, mas ainda segue
sem ter um sistema eficaz e transparente como a tipologia escolar
capaz de organizar e negociar os processos de provimento de
recursos às unidades escolares. Mesmo que tenha inovado na gestão
por território com base na metodologia das câmaras territoriais por
meio das quais integrou os vários equipamentos públicos ligados
aos vários setores de serviços prestados pela prefeitura, ainda
permanece a vigência do uso de critérios amadores para gerir o
sistema de ensino que por vezes guiam-se apenas por alguns
indicadores como nº de alunos, turmas, salas etc. Tal prática faz com
que uma rede de ensino com 98 unidades escolares (52 escolas de
ensino fundamental e 46 centros municipais de educação infantil)
que atendem a 45 139 alunos (29.843 alunos no ensino fundamental
e 15.296 na educação infantil) tenha um dos maiores custo-aluno-
ano do Brasil e esteja numa condição desproporcional com o seu
gasto educacional anual per capita em termos do IDEB nacional.
8 Disponível em http://legado.vitoria.es.gov.br/regionais/dados_area/educacao/
custo/cus_5.4.asp
140
O fato é que nos dois mandatos de Coser (2004-2008/2009-2012), o
governo municipal amargou algumas greves dos servidores
municipais da educação, apesar de terem o mais bem estruturado
plano de carreira9 para o magistério entre os municípios capixabas,
bem como o melhor salário médio da educação do Espírito Santo, o
que demonstra uma enorme incapacidade da gestão em corresponder
às expectativas dos trabalhadores da educação do município.
Conclusão
141
informações, por sua vez, estão mais ligadas aos elementos mais
globais e sistêmicos dessa mesma realidade. Já o conhecimento
situa-se num nível maior de abstração e compreensão dessa mesma
realidade, o que possibilita uma visão de seu próprio movimento
histórico e político. O conhecimento resultante do uso das TICs não
oferece resultados definitivos e inquestionáveis e estão submetidos à
lógica política e os interesses em jogo.
Depois de amargar um final de gestão com intensa
desaprovação entre os trabalhadores da educação a secretaria de
educação em cooperação com outros setores ligados as tecnologias
da informação no apagar das luzes de seu governo conseguiu
implantar um sistema de gestão escolar.
Desta vez, o objetivo do sistema de gestão informatizado não
era o de garantir a distribuição de recursos, mas dar acesso aos
resultados e dados da educação no município.
Reconheceu-se que a gestão escolar passa também pela
equiparação das escolas com sistema que possa fornecer uma base
de informações com vistas a conhecer a gestão escolar, acompanhá-
la e avaliá-la, além de informar à comunidade os resultados obtidos
nas avaliações oficiais dos principais indicadores educacionais.
Neste trabalho, buscou-se problematizar as mediações e
contradições que permeiam a implantação de metodologias que
mesmo aumentando a isonomia e a transparência da gestão de um
sistema de ensino está sujeita ao jogo dos interesses políticos
baseada em valores arcaicos e métodos obsoletos de gestão do
sistema municipal de ensino.
Referências
142
ARAUJO, V. C. A cidade como espaço público de educação e de
afirmação da cidadania: a experiência de Vitória/ES, Brasil. Revista
Brasileira de Política e Administração da Educação. v.27, n.1, p. 135-
148, jan./abr. 2011, p. 143.
BRASIL A média do municipal do IDEB. Disponível em:
http://ideb.inep.gov.br/resultado/muncipios <<acesso em
11/11/2012>>.
VITÓRIA. Tipologia Escolar do Sistema Municipal de Ensino
Secretaria Municipal de Educação (Assessoria do Gabinete / Núcleo
de Planejamento Setorial e Estatística), Vitória, 2005.
_______. Orçamento participativo: entrevista com o prefeito João
Coser. Disponível em: httphotsites.vitoria.es.gov.bropindex.
phpentrevista-com-o-prefeito-joao-coser.pdf << acesso em 20/3/2014
13:38>>.
_______. Vitória em dados Disponível em: http://legado.
vitoria.es.gov.br/regionais/dados_area/educacao/matriculas/matric_
003.asp << acesso em 11/11/2012>>.
VITÓRIA. SAEB e Censo Escolar 2009. Disponível em:
http://legado.vitoria.es.gov.br/regionais/dados_area/educacao/ideb/i
deb_001.asp <<acesso em 12/11/12>>
VITÓRIA. Secretaria Municipal de Educação. Minuta de portaria de
distribuição de pessoal técnico – administrativo. 2006.
VITÓRIA. Decreto 14682/2010 - Plano de Cargos e Salários -
Regulamenta a Lei nº 6.754, de 16 de novembro de 2006. Atos
oficiais publicados em 11/11/2006. Disponível em: www.vitoria.
es.gov.br <<. Acesso em 20 de maio de 2012>>.
VITÓRIA. Portaria de nº 060 de 22 novembro de 2004.
Regulamentação da distribuição dos recursos de pessoal. Atos
Oficiais publicados em 22/11/2004. Disponível em: www.vitoria.
es.gov.br <<. Acesso em 20 de maio de 2012>>.
143
144
EDUCAÇÃO EM TEMPO INTEGRAL:
IMPLICAÇÕES PARA AS POLÍTICAS MUNICIPAIS
145
substituindo a família, e onde o mais relevante não é o
conhecimento e sim a ocupação do tempo e a socialização primária.
Essa concepção configura a escola não como espaço do
conhecimento, da aprendizagem, “mas um lugar onde as crianças
das classes populares serão “atendidas” de forma semelhante aos
doentes” (CAVALIERE, 2007, p. 1029).
Outra visão é a de caráter autoritário, na qual a escola de tempo
integral é uma espécie de instituição de prevenção ao crime, com o
objetivo de tirar a criança da rua. “É a concepção dissimulada dos
antigos reformatórios, fruto do medo da violência e da delinquência.
A ênfase está nas rotinas rígidas e é frequente a alusão à formação
para o trabalho, mesmo no nível do ensino fundamental”
(CAVALIERE, 2007, p. 1029).
Já a concepção democrática de escola de tempo integral atribui à
escola uma função emancipatória, em que o tempo integral
possibilitaria uma educação mais efetiva culturalmente, com o
aprofundamento dos conhecimentos, do espírito crítico e das
vivências democráticas. Uma concepção em que “a permanência por
mais tempo na escola garantiria melhor desempenho em relação aos
saberes escolares, os quais seriam ferramentas para a emancipação”
(CAVALIERE, 2007, p. 1029).
Por fim, a autora destaca a visão de EETI como uma concepção
multissetorial, segundo a qual o tempo integral não precisa estar
centralizado em uma instituição e pode/deve se fazer também fora
da escola. Segundo essa concepção, “as estruturas de Estado,
isoladamente, seriam incapazes de garantir uma educação para o
mundo contemporâneo e a ação diversificada, de preferência de
setores não governamentais, é que poderia dar conta de uma
educação de qualidade” (CAVALIERE, 2007, p. 1029).
Mais recentemente, Cavaliere (2009) sintetiza as perspectivas de
jornada ampliada que vêm se configurando no Brasil em duas
grandes vertentes:
146
presença de alunos e professores em turno integral” e outra, os alunos em tempo
integral, que busca “articular instituições e projetos da sociedade que ofereçam
atividades aos alunos no turno alternativo às aulas, não necessariamente no
espaço escolar, mas, preferencialmente, fora dele” (CAVALIERE, 2009, p. 52).
147
A pesquisa concluiu que o panorama constatado revelava um
momento de dinamismo na EETI no Brasil, evidenciando a
necessidade de políticas e ações que subsidiem os projetos em
andamento e estimulem novas experiências, contribuindo para
reduzir as desigualdades e para qualificar as ações, tendo em vista a
garantia do direito à educação numa perspectiva integral.
Em publicação da UNICEF/CENPEC e Fundação Itaú, os
coordenadores analisam que a consolidação da educação integral
enquanto política pública apresenta-se como tendência confirmada
pelas iniciativas presentes em todas as esferas, sobretudo, entre os
anos 2005 e 2009. No entanto, possuem um diferencial que é o de
sua presença em todo o território nacional, o que as distingue de
ações como os CIEPs (Centros Integrados de Educação Pública), da
década de 1980, construídos no Rio de Janeiro, no governo de Leonel
Brizola, que não ganharam expansão nacional, e as confirma
enquanto efetivo ingresso na agenda da política pública de educação
(MOOL et al, 2011).
Considerando o objetivo deste artigo, vamos caracterizar as
principais intenções/tensões que caracterizam atualmente a Educação
Escolarizada em Tempo Integral no Brasil e as suas implicações para
as políticas municipais.
148
trabalho de monitores, sem vínculo efetivo. Relaciona-se, também,
com a intersetorialidade das ações no plano intragovernamental e
intergovernamental.
Abordagens favoráveis à articulação da escola com os diferentes
espaços educativos do seu entorno enfatizam a incorporação, pela
instituição escolar, de outros profissionais e agentes sociais, seja
através de programas de incentivo ao voluntariado, da parceria com
universidades, do fortalecimento de redes sociais, da integração
entre órgãos governamentais e não governamentais, identificando as
praças, parques, igrejas, postos de saúde e organizações não
governamentais como uma comunidade de aprendizagem em favor
da EETI (PARENTE, 2006; GUARÁ, 2009).
Abrindo suas portas para os chamados processos informais, as
escolas ampliam o conceito de EETI, no entendimento de que a
educação de qualidade não retira do Estado a sua responsabilidade
e, sim, reafirma seu papel na condução do processo, em articulação
com a sociedade civil (PARENTE, 2006). Destacam-se as
experiências de parcerias com o chamado terceiro setor, que podem
revelar muita criatividade no aproveitamento de espaços, prédios,
recursos humanos e materiais preexistentes, bem como na sua
utilização de modo renovado (GIOVANNI; SOUZA, 1999). O
paradigma da mudança na concepção da arquitetura na interface
com a educação aponta os espaços públicos das cidades como
instâncias educativas, além de abrangerem políticas de preservação
patrimoniais, ambientais ou de ocupação (FREIRE, 2006).
A articulação da escola com Organizações Não Governamentais
(ONGs) de atendimento a crianças e adolescentes traz contribuições
positivas dessas organizações na metodologia e aprimoramento da
prática escolar, bem como no aprendizado pedagógico das próprias
ONGs (BRITO, 2006), e indicam que o sucesso do estabelecimento
das parcerias depende do tipo de interesses dos parceiros
envolvidos e do nível de confiança na construção de uma forte
cidadania, no acesso igual aos direitos, sobretudo, os sociais
(ANDRADE, 2011).
149
Abordagens críticas às articulações da EETI com a sociedade
civil indicam as mudanças na natureza das políticas sociais sob
influência da nova social democracia mundial ou capitalismo de
terceira via (Giddens) e tendências de “mumificação” dos conflitos de
classe no âmbito da sociedade civil, pelo papel educador do Estado,
e pela hegemonia do bloco no poder (Gramsci), identificando na
proposta do Bairro Escola realizado na cidade de Nova Iguaçu (RJ),
uma concepção assistencialista de educação, com dificuldades de
efetivação quando o território é carente de infraestrutura e de
equipamentos sociais e culturais (BRUNO SILVA, 2009; ROSA,
2011).
Outros estudos constatam que as parcerias não têm sido
suficientes para atender as necessidades das escolas inseridas no
programa, exigindo um alto nível de organização para essa
articulação e para administrar os conflitos internos decorrentes das
disputas por esses espaços. A descentralização administrativa e a
transferência de responsabilidades comprometem a oferta da EETI
na educação infantil, tornando os serviços precários e evidenciando
suas fragilidades. Já quando a esfera pública assume a gestão desse
espaço público, instaura-se um movimento caracterizado com o
propósito de ressignificar a ação (MOTA, 2013; SANTOS, 2012).
Como percebemos, as pesquisas e análises destacam uma tensão
entre duas concepções em disputa. A primeira, de aluno em tempo
integral, enfoca a educação integral em sua integralidade e múltiplas
dimensões, enfatizando especialmente a potencialidade educativa
dos contextos não escolares, na perspectiva das redes no território,
das parcerias com espaços comunitários e culturais do entorno da
escola e aponta como fundamental a coordenação da escola e a
articulação da EETI ao projeto curricular da escola, assim como
exige a prática da intersetorialidade das ações.
Constatam-se parcerias apenas ocasionais, sem um caráter
institucional e formal que configure uma relação de oferta de
atividades educativas. Em muitos municípios, a existência de
localidades pobres e/ou muito pobres, com alta densidade
populacional ou com grandes distâncias a serem percorridas e com
150
pouca oferta de espaços e serviços comunitários ou equipamentos
públicos inviabiliza, na prática a realização da variedade de oficinas
sugeridas, restringindo os programas de EETI, em muitos casos, a
oficinas de reforço escolar para crianças pobres.
A segunda concepção, de escola em tempo integral, centrada no
espaço físico da unidade escolar e com concepção pública estatal da
EETI, potencializa a função da escola e aponta a necessidade de mais
investimentos e mais criatividade na construção/ampliação e
inovação dos espaços físicos intraescolares, para que possam acolher
com dignidade e organização pedagógica os alunos no ambiente
escolar.
Em nosso entendimento, as duas concepções podem e devem se
complementar mutuamente, se considerarmos a EETI como uma
política afirmativa e/ou de discriminação positiva, historicamente situada
num contexto em que as políticas educacionais - sobretudo o
financiamento, a articulação federativa, a formação/valorização de
profissionais da educação, a gestão democrática, a
construção/reforma/manutenção de espaços escolares - precisam
responder com rapidez ao desafio da área geográfica do Brasil e do
imenso contingente de estudantes da educação infantil e do ensino
fundamental, num país com 5.570 municípios, em que a população
ainda cresce a cada ano.
151
Constata-se uma organização diferenciada entre a dinâmica do
tempo parcial e a do tempo integral, a desarticulação entre as
atividades desenvolvidas no turno regular e no contraturno, entre os
professores regentes do tempo integral e os do tempo parcial, entre
os professores de oficinas e dos pedagogos, apontando o desafio de
criar uma unidade entre a “Escola” e o “Projeto”, e a possibilidade
de um turno único, mantendo um único professor, em tempo
integral, com os mesmos alunos durante a jornada diária
(FIGUEIREDO, 2011).
Evidenciam-se desafios como a inadequada utilização do
tempo, a falta de espaço fora da escola, a desarticulação curricular, a
dinamização das aulas no turno regular; a articulação das
disciplinas entre os turnos e o diálogo efetivo entre coordenadores,
professores e monitores (Nunes, 2011). Destaca-se como positivo o
trabalho com os saberes diferenciados dos professores e monitores e
o início do diálogo entre os educadores dos dois turnos (MATOS,
2011).
Experiências concretas de EETI de longa duração, tais como os
Centros de Educação Integral de Curitiba, que funcionam há mais
de duas décadas, evidenciaram a mudança lenta e gradual nesses
centros e a criação de uma nova cultura escolar, com continuidades e
inovações, revelando discordâncias entre os tempos estabelecidos e
os vividos, com evidências positivas para a democratização da
educação (ARCO-VERDE, 2003). Destacando os espaços e os tempos
nos ciclos de formação adotados no município de Porto Alegre
durante quatro gestões, Fetzner (2009) aponta a importância da
organização dos tempos em mudança e dos tempos escolares de
forma contínua, com horários mais extensos e não tão
compartimentados entre as disciplinas, com aulas interdisciplinares,
práticas avaliativas coletivas e participativas.
Identificam-se formas unilaterais de construção das diretrizes
de implantação da EETI, sem evidências da participação da
comunidade escolar na discussão prévia da proposta. Constatam-se
mudanças em vários aspectos no cotidiano das escolas, sem a devida
preparação dos atores sociais envolvidos, e o fato de as adaptações
152
feitas nas escolas regulares para o tempo integral não atenderam o
que previa a proposta (VALADARES, 2011).
A nosso ver, a tensão acerca das exigências que a EETI provoca e
gera na organização e na gestão da escola pode ser decorrência, por
um lado, de uma postura de acomodação no instituído e no
rotineiro, de descrença e pessimismo em relação às possibilidades
do novo e do instituinte, de distanciamento e às vezes, de confronto
claro da equipe escolar com a proposta de mudança vinda do órgão
central municipal. Por outro lado, pode representar uma forma de
resistência às condições precárias, aligeiradas ou desprovidas de
consistência político-pedagógica da implantação/implementação de
alguns ou muitos programas e projetos.
A nosso ver, essa tensão é inevitável na realidade da maioria das
redes públicas municipais do Brasil, sobretudo em vista das
limitações financeiras, administrativas, pedagógicas e legais com as
quais se lida diariamente na gestão da educação, sobretudo na esfera
do município. A maioria dos projetos/programas/políticas tendem a
ser iniciados e implementados sem as condições plenas que seriam
exigidas para sua execução, realizando-se os ajustes durante o
próprio processo de implementação. Nesse sentido, o
acompanhamento e o controle pelos órgãos colegiados da educação
são indispensáveis.
153
A viabilidade política se relaciona com os pressupostos
filosóficos e político-ideológicos que fundamentam a concepção de
educação e de EETI, os processos de formação inicial e continuada
dos profissionais para assumi-la, a avaliação sistemática na
perspectiva da função social da EETI.
Essa tensão acerca da viabilidade ou não da EETI esteve
presente no debate da jornada integral desde os tempos do Centro
Educacional Carneiro Ribeiro - iniciativa marcante e pioneira
realizada em Salvador (BA) sob a coordenação de Anísio Teixeira -,
tendo assumido enormes proporções em relação aos CIEPS, do Rio
de Janeiro. Paro (1988) destacava os altos custos da EETI como
impedimento para a sua generalização e afirmava que os seus
projetos universalizam não a instrução, mas a solução de problemas
sociais focalizados fora dos limites da escola e de natureza não
estritamente pedagógica.
CELLA (2010) investigou 398 dirigentes municipais de 25
estados brasileiros, das cinco regiões. Constatou que os maiores
entraves para a implantação da EETI foram a insuficiência de
recursos para a implantação, inexistência de espaços e instalações
adequadas, falta de professores e falta de incentivo do MEC e das
Secretarias Estaduais. As motivações para a implementação da EETI
foram a possibilidade de aperfeiçoar o processo ensino-
aprendizagem, a convicção pessoal do (a) secretário (a) quanto à
importância da EETI, a possibilidade e ocupar as crianças no
contraturno escolar e o recebimento do adicional de recursos do
FUNDEB. Os dirigentes municipais apontaram a satisfação dos pais,
a melhoria do aprendizado e o aumento no índice de frequência dos
alunos, o entendimento de que a EETI é uma boa opção pedagógica.
Indicaram a necessidade do incremento de recursos financeiros,
acompanhado de uma gestão eficiente, do melhor aprendizado e
satisfação dos envolvidos.
A avaliação de um projeto de EETI numa escola de alunos de
assentamentos rurais evidenciou que o projeto, aprovado por todos
os envolvidos, apresentava um custo-aluno/ano no valor de R$
5.150,00, levando em conta a metodologia aplicada (COSTA, 2011).
154
Ao comparar esse resultado com o custo-aluno qualidade,
constatou-se a grande distância a maior entre o custo da escola
pesquisada e o padrão de qualidade proposto por Carreira e Pinto
(2005), o que corrobora a opinião dos que apontam a inviabilidade
financeira da EETI, sobretudo nos moldes de financiamento
anteriores ao atual PNE 2014-2024 (Lei 13.005/14).
São apontadas a forma tumultuada dos processos de
implantação dos projetos, a improvisação dos espaços físicos e
recursos materiais/humanos, o imediatismo e o caráter eleitoreiro,
face aos prazos de um mandato governamental, a necessidade de
recursos suficientes para a realização das atividades da EETI
(OSÓRIO DA SILVA, 2011; CASTRO, 2009).
Destacam-se, como aspectos positivos, a boa alimentação, as
parcerias estabelecidas, a boa infraestrutura na escola, as novas
funções sociais assumidas pelas escolas em tempo integral, tendo
como referência o trabalho pedagógico, aspectos da relação
educativa, dos instrumentos didáticos e do espaço físico, a
tranquilidade dos pais trabalharem enquanto seus filhos estão na
escola (NUNES, 2011; CIMA, 2010).
Fica claro, nas pesquisas enfocando o aspecto da viabilidade, a
tensão advinda dos altos investimentos financeiros, administrativos
e políticos que a EETI demanda, nos moldes atuais do financiamento
da educação no Brasil, sobretudo no âmbito da esfera municipal, e
dos desafios a serem superados para a implementação e
consolidação da EETI como política de Estado.
Nesse aspecto é que se baseiam a maior parte das críticas e
problematizações que percebem a ampliação da jornada por meio de
atividades no entorno da escola como uma forma de ampliar o
tempo sem ampliar recursos e de os poderes públicos se eximirem
da tarefa de assegurar as condições básicas estruturais que
viabilizem, de fato, a EETI.
Um dos aspectos mais graves relativos à viabilidade da EETI é
que a grande maioria dos programas se sustenta no trabalho
voluntário ou de estagiários, com bolsas muito pequenas, o que
expressa a fragilidade da relação de trabalho estabelecida e gera
155
rotatividade dos profissionais envolvidos, evidenciando uma oferta
precária de muitos programas de EETI no contexto atual.
No nosso entendimento, o fato das atividades de EETI serem
realizadas em parceria com ONGs, parques, universidades, times de
futebol, bibliotecas, instituições públicas, clubes, espaços educativos
mantidos por fundações, embora menos onerosa e com menos
demandas estruturais, também demanda investimentos financeiros
(transporte, material didático, alimentação, segurança),
profissionais, além de capacidade de gestão, articulação e
organização para coordenar todas essas atividades no seu
planejamento pedagógico e operacional, na sua execução e
avaliação.
Mudanças necessárias na educação exigem mudanças
estruturais na área política e, especialmente, na econômica. A
perspectiva promissora com a promulgação da Lei 13.005/14 (Plano
Nacional de Educação), apontando a ampliação dos investimentos
em relação ao PIB, pode representar um significativo avanço no
alcance das políticas educacionais e da EETI, perceptíveis num olhar
mais atento.
156
entretanto, a uma também grande controvérsia, pois, apesar do que
está inscrito no art. 211 da Constituição da República de que a
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão
em regime de colaboração seus sistemas de ensino, de fato e de
direito esse regime de colaboração ainda não foi regulamentado
segundo o disposto no parágrafo único do Art. 23 da CF de 1988.
Araujo (2005) analisa a configuração das instituições políticas
municipais e federativas, a forma de assimilação dessas instituições
políticas no Brasil e como se articularam à organização da educação
nacional. Aprofunda a forma pela qual as ideias de município e de
federação e a organização da educação foram se configurando no
cenário político e institucional brasileiro e como ganharam
materialidade a partir da promulgação da Constituição Federal de
1988.
Nesse debate, segundo Araujo (2005), foi desconsiderada a
tradição liberal e descentralizadora de Tavares Bastos e Rui Barbosa,
o separatismo como tentativa de solução dos conflitos entre
centralização e descentralização política e a tradição autoritária e
nacionalista do pensamento de Oliveira Vianna. Tal omissão
marcou também o debate sobre a temática da municipalização na
década de 1980 e até os nossos dias, fazendo-se necessário situar a
descentralização municipalista atual no quadro mais amplo das
contradições e complexidade do federalismo brasileiro.
Cassini (2011) verificou que o sentido atribuído pelo Congresso
Nacional ao regime de colaboração seguiu concepções influenciadas
por fatores extraconstitucionais a cada projeto de lei apresentado, o
que resultou na sua distorção conceitual, ocasionada principalmente
pelos princípios da eficiência e subsidiariedade, no período da
Reforma Gerencial do Estado. Assim, instituir “formas de
colaboração” foi a estratégia para encobrir a falta desse instituto,
incluído no jogo defensivo e não colaborativo das unidades
subnacionais.
Cruz (2009) analisa que o modelo federativo brasileiro caminha
para um tipo caracterizado como executivo, porque,
sistematicamente, a União define unilateralmente políticas que
157
confinam a autonomia dos entes federados e o financiamento da
educação, o que não permite a diminuição das disparidades nas
condições de oferta educacional no país.
Martins (2009) aponta perspectivas para que o FUNDEB se
constitua em instrumento efetivo de financiamento da educação
básica pública, na medida em que garanta a equidade na
distribuição de recursos e que contribua para o fortalecimento do
regime de colaboração entre os entes e para o equilíbrio federativo.
Santos (2009) indica como fundamental, conforme traçado na
Constituição de 1988, um federalismo cooperativo e de equilíbrio, e
de redução das desigualdades regionais, cuja finalidade última deve
ser a garantia da realização plena do bem comum, objetivo do
Estado Democrático de Direito.
A questão federativa é hoje uma das mais importantes no Brasil,
especialmente, na educação e na EETI. A Lei 13.005 de 24 de junho
de 2015, relativa ao novo Plano Nacional de Educação, menciona a
questão federativa em três artigos, quais sejam:
158
definição das responsabilidades de cada ente federado e da sua
autonomia na execução das políticas educacionais, com
fortalecimento do regime de colaboração para o equilíbrio federativo
de redução das desigualdades regionais.
159
melhora do desempenho dos alunos em avaliações externas e a
redução das taxas de evasão e reprovação e no aumento do índice
do IDEB (CALDEIRA, 1993; COSTA, 2011).
A realização de oficinas pedagógicas, tais como a de Filosofia,
para a formação ética-cidadã dos alunos; as oficinas de informática
educacional, como apoio às atividades pedagógicas colaborativas/
integradas e as implicações do uso do laptop individual são
apontadas como importante instrumento para desenvolver a
autonomia dos alunos diante das atividades e práticas pedagógicas
(SCARCELLI, 2009; ROSA, 2007; MORAES, 2010).
Destacam-se os aspectos potencializadores dos conteúdos
específicos da Educação Física, trazendo benefícios no tocante à
ética, à cultura, à saúde, à sociabilidade (BANDEIRA, 2011) e da
música, que teve legitimado seu papel no currículo escolar a partir,
sobretudo, de sua inserção na EETI (VEBER, 2009). Em relação às
atividades de lazer planejado, são apontadas como aspectos
positivos, a socialização e a promoção da saúde, o desenvolvimento
de habilidades de natureza social, intelectual e afetiva dos
educandos (PAIVA SILVA, 1998, CORTEZ, 1999).
Araujo (2008) evidencia a questão da brincadeira na EETI na
educação infantil a partir da perspectiva das crianças, que a
apontam como muito importante e significativa, embora prevaleça a
concepção de acolhimento sobre a concepção educativa (GERBASI,
1996). Articulando as funções pedagógicas com as de formação
humana e de prevenção à vulnerabilidade e a integração da escola
com a comunidade como determinante na implantação e
consolidação de projeto de Escola em Tempo Integral, Kirchener
(2009) identifica na EETI uma maior convivência entre as pessoas e
uma alternativa no compromisso com o processo de formação de
pessoas.
Matos (2011) considera as práticas educativas da EETI como
indutoras de uma educação de qualidade, trazendo a melhoria da
autoestima, do interesse e dos resultados escolares dos alunos do
contraturno.
160
A qualidade da escola pública e da EETI e sua função prioritária
de melhoria da aprendizagem e/ou de combate à pobreza e à
vulnerabilidade social depende também do profissional da
educação, um dos seus principais agentes. Vários estudos têm como
eixo o papel do profissional da educação na EETI, suas concepções e
percepções a respeito desses programas e sua formação para nela
atuar.
Estudos críticos denunciam as precárias condições de trabalho
docente na EETI e a complexidade da demanda colocada aos
profissionais da educação. Freitas (2011) destaca as angústias e
desafios vividos pelos professores envolvidos nos Programas de
EETI; Coelho (2011) aponta a falta de estrutura física, o baixo salário
pago aos docentes, a pouca formação exigida por alguns programas,
que trabalham com monitores e estagiários. Na mesma perspectiva,
Roselin (2008) evidencia a problemática estrutural da escassez do
tempo de trabalho docente e suas múltiplas demandas de formação/
profissionalização e a necessidade de mais tempo remunerado para
os professores estudarem/planejarem seu trabalho no locus da
escola.
Numa consideração inquietante acerca da eficácia da formação
docente, Germani (2006) constata que programas sérios e bem
estruturados de EETI foram precedidos e acompanhados de
processos de preparação/formação dos professores, porém não se
revelaram totalmente eficazes. Caldeira (1993) pontua os equívocos
e confusões metodológicas e a adoção de práticas com bases
epistemológicas contraditórias como principais empecilhos e limites
na dimensão da EETI como melhoria da aprendizagem, do currículo
e das práticas pedagógicas multidisciplinares.
Como podemos constatar, muitos enfoques realizam uma
análise dicotômica entre a função pedagógica e a função social e
preventiva da EETI, contrapondo essas duas faces da escola e
pressupondo que uma dimensão exclui a outra. Entretanto, outras
abordagens articulam as funções pedagógicas com as de formação
humana, de assistência e de prevenção à vulnerabilidade, indicando
que a EETI se constitui em alternativa para melhorar a qualidade da
161
educação na escola pública tanto em sua dimensão da aquisição do
conhecimento quanto na humanização e na melhoria da autoestima,
do interesse e dos resultados escolares dos alunos do contraturno.
A nosso ver, a concepção pedagógica da EETI e a de cuidado/
assistência são compatíveis; a tensão reside no caráter de
precariedade, incompatível com a educação de qualidade. Há que se
considerar, na realidade das últimas décadas, a incorporação, pela
escola básica, de milhões de crianças, adolescentes, jovens em
situação de pobreza, extrema pobreza e vulnerabilidade social.
Vários estudos comprovam que o maior tempo de escolarização
pode, sim, interferir positivamente no processo de aprendizagem
do(a) estudante, na superação de bloqueios e etapas não vencidas na
aquisição do conhecimento e na própria postura frente à valorização
da escola.
Um (a) estudante pobre, se não tiver acesso aos direitos sociais
básicos da saúde, educação, assistência social, terá, possivelmente,
muito mais dificuldades de se apropriar do conhecimento escolar. A
criança/adolescente/jovem passa grande parte do seu tempo diário
na escola – sobretudo pela exigência atual da condicionalidade do
Programa Bolsa Família – e, portanto, o espaço escolar pode
incorporar também ações sócio-educativas, desde que isso seja
claramente debatido e assumido pela comunidade escolar. Assim, a
nosso ver, não se deve separar a dimensão pedagógica da dimensão
social, buscando sempre articulá-las no projeto político-pedagógico
da escola e na EETI.
Considerações Finais
162
processo histórico-político de configuração do Estado brasileiro, pela
natureza estrutural da desigualdade social no Brasil, pela enorme
capilaridade da escola pública e pela forma como as políticas sociais
de enfrentamento à pobreza e à vulnerabilidade social têm sido
implementadas; 3) o debate sobre a EETI se ancora, por um lado, na
concepção consensual da educação escolar pública como legado
republicano e direito de toda a sociedade e dever de Estado; por
outro lado, contudo, há tensões na concepção de que os processos
educativos na contemporaneidade vão para além da escola – embora
passando por ela – e que esses processos devem articular-se a uma
ampla rede de políticas e de atores sociais e de equipamentos
públicos.
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163
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168
A EDUCAÇÃO INFANTIL NO CONTEXTO DO PNE1
Valdete Côco2
Marcela Lemos Leal Reis3
Maria Nilceia de Andrade Vieira4
Renata Rocha Grola Lovatti5
Valéria Menassa Zucolotto6
Introdução
1 Este texto foi publicado na Revista ECCOS, n.º 37, p. 77 – 92, em 2015.
Originalmente intitulado “O Plano Nacional de Educação: desafios no campo da
Educação Infantil”, foi produzido a partir de apresentação no II Seminário de
formação continuada de conselheiros municipais de educação, realizado na
UFES pelo Laboratório de Gestão da Educação Básica do Espírito Santo
(LAGEBES), em 13/10/14. Disponível em: <http://www4.uninove.br/ojs/index.
php/eccos>.
2 Doutora em Educação. Professora do Programa de Pós-graduação em Educação,
169
Análises em políticas públicas assinalam a composição de uma
rede interativa que se estabelece nas múltiplas reapropriações dessas
induções, que podem indicar investimentos de adesão ou de
resistência, até mesmo de indeferimentos e encaminhamentos de
outras tratativas. Realçam também que, nessas disputas, emergem,
cada vez mais consistentemente, ações de acompanhamento,
supervisão e controle visando regular os processos de
implementação das políticas (BALL, 1994).
Nessa perspectiva, abordamos o Plano Nacional de Educação
(PNE) (BRASIL, 2014) como uma síntese de pautas disputadas no
quadro processual de fortalecimento do direito à educação, as quais
visam à incidência sobre a expansão e a qualificação da oferta de
ensino que, por sua vez, evidenciam a responsabilidade do Estado
pelos investimentos educacionais. Ainda que se destaque “[...] o
desafio da coerência dos planos estaduais e municipais com o plano
nacional” no encaminhamento dos esforços entre os entes federados
“[...] para a superação dos desafios previstos no PNE” (HENTZ,
2014, p. 131), abordamos o PNE como uma conquista da sociedade
brasileira na orientação da agenda educacional. Articulamos essa
abordagem contextual com o campo da Educação Infantil (EI),
destacando que, nessa agenda de responsabilização do Estado pela
educação pública, a EI vem acumulando reconhecimento social e
visibilidade, agregando novas assertivas ao seu desenvolvimento
institucional.
Assim, buscando analisar a agenda da EI nas metas e estratégias
definidas pelo PNE, focalizamos quatro temas que envolvem o
acesso das crianças (cidadãos de direito) à EI, a formação e
valorização do trabalho docente nesse campo, a gestão institucional
e os processos de avaliação. Tomamos esses temas numa perspectiva
de diálogo proposto por Bakhtin (2011), buscando participar de uma
cadeia dialógica sobre a EI, em que a última palavra nunca está
dada. Com isso, dialogamos com problematizações, conquistas e
desafios que circundam a agenda de negociação de sentidos para a
EI na sociedade brasileira, interagindo com interlocutores que, com
suas lutas e pesquisas, informam sobre o campo da EI na realidade
170
nacional (ROCHA, 1998; ROSEMBERG, 2003; NUNES; CORSINO;
DIDONET, 2011; CAMPOS, 2012; BARBOSA, 2012; FARIA;
AQUINO, 2012; VIEIRA et al., 2013).
171
em apressar a universalização, assegurando um primeiro passo na
garantia do direito à educação. Todavia, é importante avaliar as
implicações em estabelecer distinções vinculadas à obrigatoriedade,
uma vez que se estabelece um par entre oferta obrigatória pelo
poder público e matrícula compulsória por parte das famílias.
Diante disso, move-se uma rede de pressão pela oferta que pode
implicar em prioridade na oferta da EI na faixa da pré-escola em
detrimento da creche (CAMPOS, 2012). Indicadores educacionais
assinalam essa distância entre a oferta destinada à faixa da pré-
escola (com melhores indicadores) e à da creche.
Em face disso, destaca-se a importância da meta do PNE em
buscar avanços no atendimento das duas faixas da EI, ainda que, ao
marcar metas próprias a cada faixa, indique que as crianças menores
não gozam dos mesmos indicadores objetivados para o avanço das
metas educacionais. De todo modo, com as metas próprias à creche e
à pré-escola, espera-se que, na elaboração dos planos municipais e
estaduais de educação, seja favorecido o avanço de acesso,
considerando o direito à educação de todas as crianças.
Além da tensão estabelecida entre o atendimento de 0 a 3 anos e
4 e 5 anos, é fundamental considerar os grupos que, ao longo da
história, tiveram seu direito à educação negado e que ainda hoje
vivem situações de luta por uma educação de qualidade que
respeite suas especificidades, tais como as crianças moradoras do
campo. A estratégia 1.10 referente à meta 1 no PNE especifica a
necessidade de “[...] fomentar o atendimento das populações do
campo e das comunidades indígenas e quilombolas na educação
infantil nas respectivas comunidades”. Na consecução dessa meta,
menciona o “[...] redimensionamento da distribuição territorial da
oferta, limitando a nucleação de escolas e o deslocamento de
crianças”.
Estudos vêm denunciando as condições das escolas do campo
(HAGE, 2011; ARTES; ROSEMBERG, 2012) e, nesse contexto, dos
problemas associados à alternativa de nucleação de escolas. Cabe
observar que as demandas de transporte no contexto da EI
apresentam particularidades e podem dificultar a permanência das
172
crianças nas instituições educativas, ou mesmo inibir as demandas
por esse atendimento (SILVA; PASUCH; SILVA, 2012; YAMIN;
MENEGAT, 2013). No quadro de viabilizar alternativas para o
atendimento na EI, observam-se iniciativas de oferta compartilhada
com o Ensino Fundamental (EF), muitas vezes sem a garantia de
organização do espaço físico para a faixa etária (LOVATTI, 2014;
BARBOSA, 2012). Na relação entre a EI e o EF, além da organização
dos espaços e da dinâmica de trabalho que precisam considerar a
especificidade da EI (ROCHA, 1998) – marcada pela afirmação de
uma pedagogia própria, situada nos eixos da interação e da
brincadeira (BRASIL, 2009b) – emerge fortemente a problematização
da articulação necessária à composição de um itinerário formativo
da oferta de ensino às crianças (NEVES; GOUVÊA;
CASTANHEIRA, 2011).
Assim, na questão do acesso e da permanência na EI,
implicados na oferta, por diferentes âmbitos de análise,
reiteradamente é colocada em questão a qualidade da oferta, em
especial cotejando as propostas e práticas pedagógicas com os
documentos de referência para o trabalho educativo com as crianças
pequenas (BRASIL, 2009b). Nesse contexto, é agenda prioritária
fixar, no planejamento da educação para a próxima década,
reflexões indagando as condições atuais desse atendimento e
especialmente as iniciativas para a qualificação desse atendimento
nas metas a serem alcançadas. Essas reflexões também se articulam
ao provimento de profissionais para esse campo, tema que
passaremos a tratar no tópico seguinte.
173
observando processos de (des)valorização da carreira que incidem
particularmente nos profissionais que se dirigem a esse campo de
trabalho (FERREIRA; CÔCO, 2011). Assim, a abordagem da
formação e do trabalho docente nesse campo também se efetiva em
meio à luta pelo fortalecimento da função pedagógica da EI. Nesse
sentido, os Indicadores de Qualidade na Educação Infantil (BRASIL,
2009c) afirmam que tanto a formação inicial quanto a continuada
dos docentes que atuam na EI são importantes para o
desenvolvimento e melhoria dessa etapa da educação básica, pois
constituem o processo de formação e desenvolvimento profissional
relacionados às especificidades da educação para crianças pequenas.
Em articulação a esses indicadores, o PNE fortalece o pressuposto
básico de que formação e valorização docentes são indissociáveis no
processo de profissionalização dos educadores e devem estar
articuladas à definição de estratégias de políticas consistentes,
coerentes e contínuas de formação inicial e continuada dos
professores, articuladas à necessidade de ampliar a melhoria das
suas condições de trabalho.
As políticas de promoção da formação inicial e continuada para
os professores, apresentadas pelo PNE nas estratégias associadas à
meta 1, inserem-se em um contexto nacional no qual 40% de
professores que atuam na EI não têm formação em nível superior
(INEP, 2013). A esse contexto associam-se também a meta 15 do
plano e as estratégias relacionadas, que discorrem sobre a garantia
da política nacional da formação de professores e a formação em
nível superior também de professores com formação de nível médio
na modalidade normal.
A urgência do quesito formação inicial na política de formação
de professores se estabelece no processo em que a sociedade
brasileira vem buscando superar a ideia de assistencialismo, e,
assim, a docência na EI toma forma de profissão e seu
desenvolvimento vem pautando-se em parâmetros próprios para a
primeira etapa da educação básica. A exigência da formação em
nível superior, associada à meta de garantia progressiva de que o
atendimento às crianças pequenas seja feito por profissionais
174
formadas em nível superior e somada ao novo paradigma de
docência na EI, pode apoiar o investimento na supressão da ideia de
desempenho de um “dom” ou de uma proximidade com a
maternagem no trabalho com as crianças pequenas. Com base nesse
movimento, espera-se “[...] uma nova identidade, talvez até mais
exigente no que diz respeito à fundamentação teórica adquirida na
formação inicial, que visualize outro papel para o professor”
(CAMPOS, 2008, p. 127).
Assim, além do reconhecimento da formação inicial como o
lócus principal para a formação de professores, o reconhecimento da
necessidade de que os processos formativos prossigam após o
período de formação inicial configura a formação continuada como
fundamental para o desenvolvimento do trabalho docente. Nesse
movimento, a meta 16 do PNE prevê a formação em nível de pós-
graduação dos profissionais da educação básica e a garantia de
formação continuada na área de atuação dos professores.
Essas ações se configuram como direito dos professores e estão
diretamente associadas à valorização do magistério, prevista desde a
instituição da LDB (BRASIL, 1996). O PNE reafirma esse direito nas
metas 17 e 18, que apontam a implementação e acompanhamento da
valorização docente dos profissionais da educação básica com ações,
tais como: equiparação do rendimento médio ao dos demais
profissionais com escolaridade equivalente; constituição de um
fórum permanente para acompanhamento da atualização
progressiva e evolução do piso salarial nacional; e implementação
de planos de carreira. A previsão de ações de valorização docente se
assinala como conquistas em um contexto de uma profissão que tem
horizontes cada vez mais fragilizados (GATTI et al., 2009). A falta de
atratividade na carreira docente, o desprestígio social, os baixos
salários e as instáveis condições de trabalho constituem, muitas
vezes, motor para o abandono precoce da carreira ou permanência
contrariada, delongada pela falta de alternativas profissionais
(LAPO; BUENO, 2003). Alertamos sobre esse contexto de desânimo
diante das instabilidades na profissão docente, o que pode incidir
175
sobre a falta de engajamento no acompanhamento dos avanços
propostos nas metas e estratégias estabelecidas pelo PNE.
Por isso, reconhecemos que as metas e estratégias sobre
formação e valorização da docência na EI constituem conquistas
para a carreira docente, podendo incidir estruturalmente no
desenvolvimento dessa etapa. Um desenvolvimento que também
abarca os desafios da gestão democrática.
Gestão democrática
176
intensas dialogias (BAKHTIN, 2011), a participação popular7 e
social8.
Assim, ao conquistarmos a gestão democrática como princípio
constitucional, para serem implementadas as políticas educacionais,
é preciso efetivar a construção coletiva e estabelecer diálogos
descentralizados que tragam legitimidade e concretude na
superação dos desafios constituídos nesses últimos anos.
Desse modo, compreendemos que a gestão democrática se
articula à participação popular e social, considerando as diferentes
vozes dos sujeitos atuantes em instituições educativas, em sistemas
de ensino, na gestão pública educacional e representações públicas.
Com esses excedentes de visão (BAKHTIN, 2011), submersos nas
complexidades dessa implementação, os sujeitos problematizam e
encaminham coletivamente a conquista da gestão democrática
prevista nos marcos legais instituídos há 27 anos, como é o caso da
Constituição Federal (BRASIL, 1988). Nesse mote, Oliveira (2013, p.
95) assinala:
7 Refere-se à atuação política nos grupos das classes populares e trabalhadoras que
se constituem em movimentos sociais, associações, ocupações, marchas, lutas
comunitárias e outros (GADOTTI, 2014).
8 Refere-se a formas de atuação que controlam e fiscalizam o acompanhamento e a
implementação das políticas públicas no exercício do diálogo com o governo e a
sociedade civil (GADOTTI, 2014).
177
do PNE determina que, em um ano, sejam adequados os planos já
aprovados e/ou criados com base em leis, enfatizando o dia 24 de
junho de 2015 como limite para essa legalização nos estados, por
meio dos Planos Estaduais de Educação (PEE), e em municípios, por
meio dos Planos Municipais de Educação (PME). Institui ainda o art.
9º do PNE o prazo de dois anos para que os estados, Distrito Federal
e municípios também aprovem leis específicas para seus sistemas de
ensino, disciplinando a gestão democrática nos respectivos âmbitos
de atuação. Para que esse auditório social (BAKHTIN, 2006) consiga
organizar-se, a meta 19 do PNE prevê
178
Avaliação educacional
179
documento, nenhuma focaliza diretamente a avaliação. No entanto,
a força da avaliação nas estratégias é muito grande, visto que 14
metas (70%) apresentam no mínimo uma estratégia com previsão de
ação avaliativa. Entre as 255 estratégias estabelecidas no documento
analisado, localizamos 26 (10%) com foco na avaliação. Sendo assim,
cabe problematizar os sentidos dessa força da avaliação nas
estratégias e analisar mais cuidadosamente suas implicações na EI.
Como não é o propósito deste texto um estudo mais
aprofundado das 26 estratégias e suas implicações na EI, propomo-
nos, então, analisar a estratégia 1.6 referente à meta 1 do PNE. Essa
estratégia é a única que se direciona simultaneamente à avaliação e à
EI e estabelece a previsão de
[...] implantar, até o segundo ano da vigência deste PNE, avaliação da educação
infantil, a ser realizada a cada dois anos, com base em parâmetros nacionais de
qualidade, a fim de aferir a infraestrutura física, o quadro de pessoal, as
condições de gestão, os recursos pedagógicos, a situação de acessibilidade,
entre outros indicadores relevantes (BRASIL, 2014, grifo nosso).
180
seu processo de desenvolvimento, de aprendizagem e de
apropriação do conhecimento.
Desse modo, é inconcebível concordar que sejam realizados
processos avaliativos em larga escala direcionados ao desempenho
das crianças na EI como os que já são realizados nos ensinos
fundamental, médio e superior. Esses processos avaliativos, mesmo
já consolidados e em prática há mais de duas décadas, são ainda
objeto de muitos estudos e controvérsias (FREITAS, 2012; SOUSA e
LOPES, 2010) e se configuram como inapropriados à dinâmica de
trabalho desenvolvida com as crianças nas instituições de EI.
Demarcando nosso posicionamento de que a avaliação da EI
seja pautada nas condições ofertadas às crianças, faz-se necessário
conhecer algumas possibilidades de efetivar essa ação avaliativa que
fortaleça a implementação de uma sistemática de avaliação coerente
com essa premissa. Nesse sentido, ressaltamos a publicação dos
documentos Indicadores de Qualidade da Educação Infantil (BRASIL,
2009c) e Educação Infantil: Subsídios para uma sistemática de
Avaliação (BRASIL, 2012) como importante contribuição para os
debates em torno da avaliação da EI, no propósito de revigorar
nossa luta para que não ocorram na EI avaliações com testes
padronizados e em larga escala. Nesse sentido, o PNE constitui mais
um espaço de implementação de avaliação que precisa estar
implicado nas premissas pautadas para o campo da EI.
Considerações finais
181
metas do PNE agregam fortalecimento à EI, ao evidenciarem
indicadores explícitos ao seu desenvolvimento. Contudo, conforme
assinalamos, as ações voltadas a atingir esses indicadores precisam
considerar as premissas pautadas nesse campo, em especial,
respeitando a especificidade da EI. Essa especificidade agrega um
conjunto de demandas para consecução das metas do PNE,
retratando a complexidade da institucionalidade da EI. Nas
reapropriações possíveis do PNE (BALL, 1994), lembramos que a
complexidade da EI se revigora nas lutas pelo seu fortalecimento,
implicando conquistas rumo a novas conquistas na agenda pública
nacional. Ao problematizarmos as condições da EI nos temas aqui
focalizados, objetivamos movimentar a dialogia em torno dessa
complexidade, convidando a novas interlocuções na luta comum
pelos direitos das crianças pequenas à educação com o intuito de,
ampliando esse direito, melhorar as condições de oferta da EI.
Referências
182
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186
PARTE III
A ATUAÇÃO E A FORMAÇÃO
CONTINUADA DE CONSELHEIROS
MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO
187
188
A FORMAÇÃO CONTINUADA DE CONSELHEIROS
MUNICIPAIS DE EDUCAÇÃO E A UTILIZAÇÃO DE
FERRAMENTAS TECNOLÓGICAS
189
a pesquisa, na difusão personalizada de informações e na sua
capacidade comunicacional. Segundo Castells (1999, p. 46), “[...] a
geração, o processamento e a transmissão de informação tornam-se
fontes fundamentais de produtividade e poder devido às novas
condições tecnológicas surgidas [...]”.
A inserção do computador na educação escolar e suas relações
com a formação docente é foco de análise de Silva (2013), que
buscou compreender a relação desta ferramenta nas formações
pensando na aplicação para os alunos público alvo do primeiro ao
quinto ano do Ensino Fundamental de uma rede municipal do
interior de São Paulo.
190
uma ecologia de informações, podendo, assim, compartilhar valores,
motivações, hábitos e práticas. Cada participante do ambiente torna-
se receptor e emissor de informações, leitor, escritor e comunicador.
Na dinâmica das relações, um ambiente virtual de
aprendizagem pode ser caracterizado como uma ecologia da
informação (NARDI, 1999), pois na produção dos conhecimentos em
que todos estão inseridos nesse espaço, de tal forma, que todos são
construtores desse saber e o próprio pensamento se transforma
mutuamente na dinâmica das relações que se estabelecem ao mesmo
tempo em que vão transformando o ambiente.
Para Nardi (1999), a ecologia da informação caracteriza uma
densa rede de inter-relações entre artefatos, pessoas e suas práticas
em um contexto, no qual o foco não é a tecnologia, mas a atividade
humana em realização, havendo total interdependência entre a TIC
e o seu uso. Para o autor, o conceito de ecologia da informação traz o
sentido de diversidade, evolução contínua e localidade e tal
conceituação favorece compreender o movimento dos ambientes
virtuais de aprendizagem nos quais atividades humanas, recursos e
múltiplas mídias ajustam-se um em relação ao outro e co-modificam
nesses ambientes.
O sentido de localidade diz respeito ao espaço virtual, cujas
condições são continuamente contextualizadas nas ações em
desenvolvimento no ambiente e descontextualizadas na apropriação
destas ações para outras situações e ecologias em que os
participantes encontram-se envolvidos.
Com o uso de ambientes virtuais de aprendizagem redefine-se o
papel do professor que finalmente pode compreender a importância
de ser parceiro de seus educandos e escritor de suas ideias e
propostas. O docente passa ser aquele que navega com os
educandos, apontando as possibilidades dos novos caminhos sem a
preocupação de ter experimentado passar por eles algum dia. O
professor provoca o educando a descobrir novos significados para si
mesmo, ao incentivar o trabalho com problemáticas que fazem
sentido naquele contexto e que possam despertar o prazer da
descoberta, da escrita, da leitura do pensamento do outro e do
191
desenvolvimento de projetos colaborativos. Desenvolve-se a
consciência de que se é lido para compartilhar ideias, saberes e
sentimentos e não apenas para ser corrigido.
Desse modo, ao partimos com a produção de conhecimento
acerca da temática das Tecnologias da Informação como suporte
educacional, percebemos a necessidade de se pensar na formação
daqueles que estão no cotidiano das ações dos conselhos nos
municípios capixabas que articulam as políticas educacionais, por
isso o uso das TIC’s pode transformar-se em espaços dialógicos
entres os conselheiros para a busca de encontros que potencializam
saberes. Com o propósito de ampliar o debate sobre o Pró-
Conselho, com efeito, abordaremos nos próximos tópicos as
seguintes temáticas: Os Conselheiros Participantes e Suas Relações
com as TIC’s; A plataforma moodle® e novas possibilidades;
Organização da Plataforma Moodle® do Pró-Conselhos e A
Utilização do Chat da Plataforma Moodle®.
192
(ROSADO, 2008), que a troca e a cooperação nestes ambientes
virtuais de aprendizagens nem sempre ocorrem de maneira
uniforme, ou seja, com a mesma intensidade e investimento de
tempo dos participantes. Levando todos os fatores em consideração,
os questionários respondidos nos permitiram traçar um perfil a
partir de três questões: faixa etária; local onde acessam a internet e
tipo de usuário em relação ao uso dessas ferramentas. Como
apresentamos a seguir:
193
Gráfico 2 – Onde acessa internet
194
Gráfico 3 – Perfil do cursista diante da informática
Percebemos que a inclusão digital não está sendo tratada de forma correta. A
grande maioria dos usuários domésticos de computadores possuem apenas
conhecimentos básicos, como o sistema operacional Windows e o pacote
Office3. Fazendo uma analogia, podemos dizer que são apenas motoristas, que
não entendem muito bem como seu veículo funciona e quando ele apresenta
problemas, o levam ao mecânico. Contudo, a grande maioria dos motoristas
195
sabe pelo menos ‘trocar um pneu’ e tem conceitos mais esclarecidos sobre o
sistema de funcionamento de seu veículo, pois passaram por um preparo na
auto-escola. O usuário de computador nem sempre teve disponível um
mínimo preparo técnico ou informações que o permitissem ‘trocar o pneu de
seu computador’ (LIMA; SILVA, 2009).
196
Fórum: atividade de discussão assíncrona onde são postadas
mensagens sobre determinado tema. Os participantes têm a opção
de receber, via e-mail, cópias de todas as mensagens trocadas na
discussão.
Glossário: nesta ferramenta os participantes criam e atualizam
uma lista de definições como um dicionário.
Questionários: é um instrumento de composição de questões e
de configuração de questionários. As questões são arquivadas por
categorias em uma base de dados e podem ser reutilizadas em
outros questionários e em outros cursos.
Tarefa: uma tarefa consiste na descrição ou enunciado de uma
atividade a ser desenvolvida pelo participante, que pode ser enviada
no formato digital, utilizando a plataforma. Alguns exemplos:
redações, projetos, relatórios, imagens, etc. Este módulo inclui a
possibilidade de descrever tarefas a serem realizadas off-line.
Wiki: a atividade wiki permite que se construam documentos
de forma coletiva.
Diário: é um editor de texto de usos individual, onde os alunos
podem fazer anotações. O professor tem acesso às anotações dos
diários dos seus alunos e pode tecer comentários a respeito.
Posteriormente os alunos recebem o feedback de seu professor.
197
seguem as orientações das Diretrizes da SEB/MEC5 e foram
articulados da seguinte forma:
Oficina Introdutória
Nesse módulo são ofertadas atividades para ambientalizar os
usuários à formação, toda equipe de apoio das atividades e o
cronograma do curso.
Módulo Um (1)
Introduz a temática da Educação à Distância, nele trata das
questões relativas às TIC’s bem como suas relações com os processos
educativos. Nesse módulo discutiram-se as modificações
introduzidas pela inserção das TIC’s na sociedade.
Módulo Dois (2)
Nesse momento o debate e a formação são sobre a importância
da sociedade civil no processo democrático de gestão das políticas
públicas, destacando a noção de regime de colaboração. Já nesse
módulo é apresentado as principais características, funções e
estrutura dos CME’s.
Módulo Três (3)
O objetivo é a de dar continuidade do módulo 2, com a temática
acerca da educação nacional, a hierarquização legal e normativa no
Brasil e sobre a Constituição Federativa de 1988, para dar suporte
teórico e legal para as ações dos conselheiros.
Módulo Quatro (4)
Nesse módulo o curso propicia um aprofundamento sobre a
articulação do CME com as políticas públicas, para que os cursistas
possam usufruir de uma reflexão e torne-se apto a compreender o
potencial dos conselhos na implementação de políticas.
Módulo Cinco (5)
Ao chegar ao final do curso, nesse módulo os cursistas escolhem
uma questão educacional de seu município para aprofundarem
teoricamente e organizarem um projeto com soluções sobre a
198
questão escolhida. Nesse módulo a articulação do que foi estudado
durante o curso e a promoção de uma ação e intervenção é o intuito.
199
Pensando nesta potencialidade, como nos diz Cruz (2007),
utilizamos o chat para fortalecermos os grupos de estudos
reflexivos, levamos como temática o debate sobre o “A Participação
da Sociedade Civil na Gestão Democrática das Políticas Públicas”
dando continuidade à temática dos grupos de estudos. O chat inicia
com uma questão que a professora-formadora “M.” levanta aos
cursistas:
200
R.: Penso que temos que priorizar a qualificação, nos auxiliará para realizar
certos enfrentamentos sensíveis às necessidades e aos problemas, e à tomada
de decisão coletivamente.
G.: [...] É um desafio bastante significativo. O que percebo é que muitas vezes
as decisões acabam gerando em torno dos representantes da Secretaria de
Educação.
R.: [...] Estamos acostumados às pessoas decidirem por nós.
M.: Temos que descobrir como inverter isso!
G.: A formação a meu ver é um caminho.
M.: Sim, um caminho.
201
M.: Sim. Fico pensando, o representante do magistério, por exemplo, ao
defender algo, discute antes com o coletivo, ou, ele parte do senso comum e de
seus anseios?
K.: Representamos um segmento, mas o foco é um só, a educação do aluno.
Algumas Considerações
202
reativas, de forma a não sobrecarregar os atores com excesso de
interações, que poderia até mesmo vir a prejudicar a aprendizagem.
Consideramos, assim que, as TIC’s podem impulsionar a
inteligência humana e criar ambientes favoráveis para novas
aprendizagens; e concordamos com Santos (2009) que as tecnologias
podem constitui-se num sistema comunicativo que possibilite o
diálogo entre os protagonistas, a participação, o compartilhamento,
as trocas, enfim, os elementos necessários à realização da
aprendizagem dos atores envolvidos, nesse caso gestores e
profissionais da Educação.
Os movimentos nos municípios a partir da formação estão
tomando atitudes articuladas nas organizações dos conselhos. O que
tem demandado o uso frequente desses instrumentos para o
diálogo. Aderir ao modismo das TIC’s pode se constituir em um
grande equívoco se os atores envolvidos persistirem em uma
concepção tradicional, resgatando os princípios da tendência
tecnicista que entre outros pontos, enfatiza os meios em detrimento
dos fins.
Espera-se com este texto, instigar o debate sobre a
interatividade em ambientes virtuais, analisando o verdadeiro
potencial das TIC’s, para que se possam desenvolver mais
ferramentas que estimulem a troca e construção do conhecimento e
aprendizagem entre os profissionais da Educação.
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205
206
AÇÕES DE COLABORAÇÃO ENTRE O CONSELHO
MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE VITÓRIA E A SECRETARIA
MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO PARA A COMPOSIÇÃO DA
POLÍTICA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL1
Introdução
207
dedicarem a pensar na necessidade de trazer para as políticas
educacionais a Educação Especial como uma ação conjugada à
Educação Básica e não substitutiva.
Essas reflexões iniciais nos permitem refletir que a luta pela
escolarização dos alunos apoiados pela Educação Especial na escola
regular vem se perpetuando por muitas décadas, sendo algumas
conquistas promulgadas a partir da Constituição Federativa do
Brasil de 1988 quando a Educação passa a ser subjetivada como um
direito público e subjetivo, garantindo-se, ainda, a oferta do
atendimento educacional especializado, preferencialmente, na rede
regular de ensino. Há de se pensar que tais conquista são frutos dos
debates feitos por vários movimentos sociais e de estudos científicos
que sinalizam a importância da Educação para a formação e
desenvolvimento de alunos com comprometimentos físicos,
psíquicos, sensoriais, intelectuais e os com altas habilidades/
superdotação.
A partir da Constituição Federativa do Brasil de 1988,
fortalecem-se os debates sobre a necessidade de implementação de
políticas públicas comprometidas com a formação escolar desse
alunado no âmbito da Educação Infantil, do Ensino Fundamental,
do Ensino Médio, do Ensino Profissionalizante e no Ensino Superior,
sendo o processo sustentado pela ideia de que o estudante tem o
direito de vivenciar sua cidadania e de se projetar como um cidadão
crítico e consciente de seus direitos e de seus deveres.
Assim, para fazê-la direito de todos, era imprescindível que houvesse algo de
comum ou universal. É dessa inspiração, declarada e garantida na
Constituição, que a educação escolar é proclamada direito. Dela se espera a
abertura, além de si, para outras dimensões da cidadania e da petição de
novos direitos (CURY, 2008, p. 297).
208
dever do Estado, como, por exemplo, na Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB) nº 9.394/96.
Na esteira do fortalecimento desse direito, a Educação Especial
foi apresentada (na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
nº 9.394/96) como uma modalidade de Educação escolar, sendo
expresso, por vários autores (KASSAR, REBELO, 2011; PRIETO,
ANDRADE, RAIMUNDO, 2013; VIEIRA, 2015) que o conceito
modalidade busca referendar a ideia de apoio à escolarização do
aluno no ensino regular.
Se por muito tempo, a Educação Especial foi significada como uma ação
substitutiva à escolarização dos alunos na escola regular, atualmente, a
legislação educacional brasileira a assume como uma modalidade de
Educação Escolar que transversaliza todas as etapas e demais modalidades de
ensino. Desta forma, a Educação Especial faz parte da Educação regular para,
colaborativamente com a escola de ensino comum, constituir novas lógicas de
ensino, de aprendizagem e de formação humana (VIEIRA, 2015, p. 14).
209
atrelada ao direito que o aluno tem de se apropriar dos
conhecimentos historicamente acumulados, respeitando os tempos e
as especificidades de aprendizagem. Esse processo formativo levará
em consideração as experiências que o aluno desenvolve em sua
vida cotidiana, necessitando existir relações de parceria entre escola
e família.
210
Nesse âmbito, outras conquistas foram realizadas e
presentificadas nas legislações nacionais como a incorporação de
disciplinas e de debates sobre a Educação Especial na perspectiva da
inclusão escolar na formação dos educadores, abrindo caminhos
para que os futuros professores possam constituir conhecimentos
sobre o currículo, as práticas de ensino, a avaliação, os serviços de
apoio especializado e as relações de colaboração que precisam ser
realizadas para que os alunos possam se beneficiar de contextos que
favoreçam a sua aprendizagem.
211
Nos últimos anos, novos documentos nacionais também trazem
direcionamentos para a Educação Especial na perspectiva da
inclusão escolar. A Política Nacional de Educação Especial de 2008
redefine os sujeitos que serão atendidos pela modalidade (aqueles
que apresentam deficiência, transtornos globais do desenvolvimento
e altas habilidades/superdotação) e sinaliza que o atendimento
educacional especializado será realizado em salas de recursos
multifuncionais ou Centro de Atendimento Educacional
Especializado (CAEE), no contraturno de matrícula do aluno no
ensino regular, situação também referendada pela Resolução nº
4/2009 e pelo Decreto nº. 7.611/2011.
Ao observarmos como a Educação Especial vai sendo
desenhada no cenário educacional brasileiro, podemos entender que
ela vai se configurando por meio de um misto de desafios e
conquistas, pois situar a escola como um espaço de todos se
configura uma conquista, mas também um desafio. Essas discussões
iniciais sinalizam que cabe ao Estado reconhecer a Educação como
um direito de todos e no caso dos estudantes apoiados pela
Educação Especial cabe a ele assegurar as condições necessárias para
que esses alunos possam aprender e professores ensiná-los. Esse
cenário convoca as redes de ensino a se reorganizarem para a
promoção de políticas locais para fazer materializar os pressupostos
da Educação Especial em uma perspectiva inclusiva.
O reconhecimento dessa necessidade fez com que a SEME e o
COMEV constituíssem uma ação conjunta para a elaboração do
documento Política Municipal de Educação Especial de Vitória, cujo
objetivo é reafirmar a escolarização dos alunos apoiados pela
modalidade de ensino como um direito social e trazer subsídios
teóricos e legais voltados a orientar às unidades de ensino sobre a
inclusão desses alunos nas suas propostas/práticas de ensino.
Considerando que a elaboração da Política Municipal de
Educação Especial de Vitória se constitui em um marco importante
para a escolarização dos alunos na rede de ensino, nos debruçamos a
analisar o documento e entender os movimentos constituídos pela
212
SEME e pelo COMEV para a sua constituição, situação que
passaremos a discorrer na continuidade desse texto.
213
grupo de convidados foi indicado pelos demais profissionais da
rede de ensino.
A maioria desses profissionais pertence ao quadro estatutário
da Rede Municipal de Ensino de Vitória, sendo que todos possuem
formação superior, acrescida de pós-graduação (os de Educação
Especial possuem também formação nas respectivas áreas de
atuação). Apresentam em torno de 10 a 15 anos de magistério e
todos os profissionais assinaram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido. Os dados da pesquisa foram categorizados e analisados
contando com as contribuições teóricas de autores do campo da
Educação e da Educação Especial.
214
Educação Especial na rede) para que a escolarização dos alunos
fosse garantida como um direito social. Em assim sendo, fica
evidenciado que a implantação da Educação Especial em Vitória
como modalidade de ensino, sucedeu-se logo após a promulgação
da Constituição Federativa do Brasil de 1988, pois esse documento
normativo passava a reconhecer a Educação como um direito
público e subjetivo.
Com o intuito de fortalecer o proposto pela Constituição, o
município de Vitória, no início da década de 1990, cria a Divisão de
Educação Especial (hoje Coordenação de Formação e
Acompanhamento à Educação Especial), setor responsável por
articular ações políticas e pedagógicas para a escolarização dos
alunos nas unidades de Educação Infantil e de Ensino Fundamental
da rede.
Diante disso, no ano de 1991, o munícipio de Vitória realiza
concurso público, para a contratação de profissionais para atuação
nas seguintes áreas: a) psicologia; b) fonoaudiologia; c) serviço social
e fisioterapeuta, tendo em vista a necessidade de criar suporte às
unidades escolares. Esses profissionais passaram a compor,
juntamente com professores de Educação Física e pedagogos, uma
equipe multidisciplinar que dentre as suas atribuições tinham a
tarefa de:
215
K. De Oliveira; d) Maria José Costa Moraes; e) Eliane Rodrigues dos
Santos; f) Álvaro de Castro Mattos. Essas escolas eram consideradas
como unidades polo e passaram a receber a matrícula dos alunos,
iniciando os atendimentos na rede de ensino, precisamente no ano
de 1990.
De 1990 a 1999, os alunos apoiados pela Educação Especial
tinham suas matrículas nessas escolas polo. O ano de 2000 trazia
novos direcionamentos políticos e pedagógicos para a inclusão
desses sujeitos na rede de ensino, pois, nesse ano, foram constituídos
Laboratórios Pedagógicos (LP) e os alunos passaram a ser
matriculados em várias unidades de ensino da rede e a receberem
atendimento educacional especializado no contraturno nas escolas
que contavam com esses laboratórios pedagógicos. Conforme
sinaliza a Política Municipal de Educação Especial de Vitória - ES:
216
Habilidade (PDC); b) Centro de Desenvolvimento de Talentos
(CEDET); c) Centro de Talentos (CT). Nesta mesma fase, passou-se
também a ofertar o atendimento educacional especializado para
alunos matriculados na Educação de Jovens e Adultos (EJA), por
meio de trabalhos colaborativos envolvendo pedagogos, professores
do núcleo comum e docentes especializados (VITÓRIA, 2015).
Já no ano de 2003, percebeu-se a necessidade da criação de uma
Resolução própria para a Educação Especial, situação proposta pelo
Conselho Municipal de Educação de Vitória (COMEV), sendo feita a
inserção do município em programas do Ministério da Educação,
tais como: a) Formação de Gestores: Educar para a Diversidade; b)
Sala de Recursos Multifuncionais; c) Escolas Acessíveis.
Já no ano de 2006, devido à grande demanda de alunos público-
alvo da Educação Especial, os Laboratórios Pedagógicos não
conseguiam dar o suporte necessário ao que os alunos necessitavam,
fazendo com que houvesse a implementação do atendimento
educacional especializado em todas as escolas da rede. Prevaleceu a
ideia de que os coordenadores de Laboratórios assumiriam a função
de professores e somariam esforços com os demais especialistas para
o trabalho pedagógico realizado na sala de aula comum.
No ano de 2008, houve a consolidação do atendimento
educacional especializado, reiterado pela Política Nacional de
Educação Especial em uma perspectiva inclusiva. Para tanto, a
Secretaria de Educação firmou uma parceria com o Ministério da
Educação para a constituição de salas de recursos multifuncionais.
Cabe dizer que salas foram implementadas por meio dessa parceria
e que algumas já existiam em função da existência dos laboratórios
pedagógicos. Atualmente a rede de ensino conta com 9 salas de
recursos em unidades de Educação Infantil e 39 em escolas de
Ensino Fundamental.
Neste mesmo período, a Secretaria Municipal de Educação de
Vitória cria o projeto de Educação Bilíngue que tem por objetivo não
somente a inclusão de alunos surdos nas escolas regulares, mas
também o ensino da Libras para toda a comunidade escolar.
Inicialmente os alunos foram matriculados nas seguintes unidades
217
escolares: a) Alberto de Almeida; b) São Vicente de Paulo; c)
Aristóbulo Barbosa Leão; d) Juscelino Kubitschek de Oliveira, e)
Izaura Marques da Silva; f) Maria José Costa Moraes, g) Adelvani
Sysesmundo Ferreira de Azevedo e nos seguintes centros de
Educação Infantil: a) Jacyntha Ferreira de Souza Simões, b) Drº.
Denizart Santos.
Com essa implementação do ensino de Libras e a inclusão dos
alunos surdos nas escolas supracitadas, a Secretária Municipal de
Educação de Vitória, neste mesmo ano, formalizou a criação de três
novas funções: a) tradutor e intérprete de Libras – Língua
Portuguesa – Libras; b) Professor ou Instrutor de Libras (surdo), c)
Professor para o ensino da Língua Portuguesa (Professor Bilíngue).
Com todos os avanços e conquistas, houve também o
fortalecimento de várias outras ações que transversalizaram o
redirecionamento ao atendimento aos alunos com altas
habilidades/superdotação, assessoria por parte do Ministério da
Educação, constituição de um grupo de trabalho para a elaboração
da Política Municipal de Educação Especial, ampliação dos
processos de acessibilidade nos museus de ciências, dentre outras.
Esses movimentos levaram a Secretaria de Educação a buscar por
novas formulações e conquistas que passariam a fazer parte do
cenário da Educação Especial no município.
No que se refere aos marcos normativos, fica evidente que a
Política Municipal de Educação Especial de Vitória busca
embasamento legal em documentos mais gerais, tais como: a)
Constituição Federativa do Brasil de 1988; b) Estatuto da Criança e
do Adolescente (Lei nº 8.069/90); c) Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional nº 9.394/96. Para além das legislações
supracitadas, houve a preocupação de dialogar com várias
normatizações específicas da Educação Especial e com Resoluções e
Leis de âmbito municipal.
Ao pensar na realização da Política de Educação Especial na
Perspectiva Inclusiva da Rede Pública Municipal de Vitória – ES, a
equipe sistematizadora traçou como objetivos desta política:
218
a) subsidiar as ações planejadas e desenvolvidas no cotidiano das unidades
de ensino para a inclusão dos alunos com deficiência, Transtornos Globais do
Desenvolvimento e Altas Habilidades/Superdotação, bem como implementar
as Salas de Recursos Multifuncionais para a oferta do Atendimento
Educacional Especializado;
b) promover a formação continuada de profissionais para o aprofundamento
teórico-prático da educação inclusiva e da modalidade Educação Especial;
c) fomentar ações inclusivas promovidas pela Secretaria de Educação do
município articulada com outras secretarias, visando ao atendimento desse
público;
d) assegurar as ações da Educação Especial em consonância com a política
curricular do município e conforme previsão no Projeto Político Pedagógico
da unidade de ensino, de forma que esse serviço esteja disponível em todos os
espaços-tempos da escola, tanto no turno de matrícula quanto no contraturno;
e) garantir acessibilidade tecnológica, arquitetônica, de mobílias e
equipamentos, de comunicação e informação necessárias à participação dos
alunos em igualdade de direitos e oportunidades de acesso ao conhecimento;
f) antever interlocuções com as várias esferas de governo para a
implementação de políticas públicas condizentes com as necessidades dos
alunos com deficiência, Transtornos Globais do Desenvolvimento e Altas
Habilidades/Superdotação;
g) implementar as Diretrizes Operacionais para Altas
Habilidades/Superdotação;
h) assegurar o ensino e a difusão da Língua Brasileira de Sinais, do Braille, dos
códigos específicos de comunicação, da sinalização e de outras tecnologias
assistivas (VITÓRIA, 2015, p. 18).
219
[...] é um sujeito histórico-cultural, complexo, indivisível, capaz de
compreender o que se passa ao seu redor, necessitando, como qualquer outro,
das mediações pertinentes para organizar sua aprendizagem; e o
conhecimento, por sua vez, é assumido como histórico, prático e social
(VITÓRIA, 2015, p. 12).
220
ações de colaboração com os demais profissionais da escola como
eixo condutor do processo.
O documento descreve o professor para atuar na modalidade
deve possuir formação em Pedagogia ou outro curso de Licenciatura
Plena, acrescida de especialização nas seguintes áreas: deficiências
(visual, auditiva e intelectual), Transtornos Globais do
Desenvolvimento, Altas Habilidades/Superdotação. Isso sempre em
consonância com a área de atuação do profissional. A localização
dos professores se efetiva nas unidades de ensino que contam com a
matrícula de estudantes apoiados pela Educação Especial e a carga
horária de atuação em cada unidade de ensino se dá a partir das
demandas apresentadas pelo contexto escolar.
Para além das ações de colaboração entre professores do núcleo
comum e dos de Educação Especial, a referida Política de Educação
Especial reforça a importância do trabalho colaborativo de outros
profissionais, tais como as auxiliares de serviços operacionais (ASO)
para as atividades de locomoção, higienização e alimentação dos
alunos com maiores comprometimentos matriculados no Ensino
Fundamental. Já os Centros Municipais de Educação Infantil contam
com a colaboração de Assistentes de Educação Infantil (AEI) que
também realizam as mesmas atividades que as ASOs.
A Política Municipal de Educação Especial sinaliza que o
trabalho educacional realizado com os alunos precisa ser assumido
como uma responsabilidade de todo o corpo docente e pedagógico
das escolas, não sendo restrita aos profissionais de Educação
Especial. Para sistematização do trabalho pedagógico, a rede de
ensino conta com um documento sistematizador que é organizado a
cada trimestre, servindo também de registro do processo de
avaliação da aprendizagem do aluno.
Analisando a Política Municipal de Educação Especial em uma
perspectiva inclusiva de Vitória - ES é possível perceber que o
direito à Educação para os estudantes público-alvo da Educação
Especial transversaliza todo o documento, que o respeito à
diferença/diversidade humana também se coloca como um outro
221
pilar, salientando que atitudes propositivas também devem ser
tomadas pela sociedade para que a inclusão se efetive.
222
Na dinâmica de analisar os movimentos constituídos para a
composição da Política Municipal de Educação Especial de Vitória,
um registro chamou nossa atenção. Uma respondente informa que
assim que o documento ia ganhando certa composição, o mesmo era
apresentado para diversos segmentos da comunidade escolar para a
devida apreciação e avaliação, trazendo, com isso, outros olhares
para as questões explicitadas pelo grupo sistematizador. Segundo
essa profissional: “[...] foi elaborado uma versão preliminar pela
CFAEE e no longo dos últimos dois anos este documento foi
compartilhado com os diversos segmentos da comunidade escolar,
que posteriormente incorporou-se as contribuições (TÉCNICA DA
SEME).
Com isso, observamos que a partir das reuniões pré-
estabelecidas e da sua apresentação à comunidade escolar, o
documento começava a ganhar estruturas mais sólidas. Segundo a
equipe de elaboração, o grupo sempre buscava amparo nas
conquistas já adquiridas pelo município, em legislações municipais e
de caráter nacional e em produções realizadas no âmbito da
Educação Especial. “[...] Foi preciso resgatar a história da Educação
Especial na rede, dialogar com documentos municipais e nacionais e
ver o que estava sendo produzido na área” (TÉCNICO DA SEME).
Os movimentos até então apresentados evidenciam a
importância que se tem um setor de Educação Especial e a
necessidade de se articular a elaboração de documentos sempre em
diálogo com os vários segmentos escolares. A escuta de diferentes
docentes, diretores, Conselho Municipal de Educação e da própria
Equipe de Educação Especial vai trazendo um olhar
multirreferencial para o processo fazendo com que a literatura
produzida pela modalidade, as legislações e o vivido nas escolas se
coloquem como elementos que dialogassem e fundamentassem os
pressupostos e metas da Política Municipal de Educação Especial.
223
diretrizes nos planos e programas elaborados, permitindo a (re) definição dos
papéis da educação especial e do lócus do atendimento desse alunado
(PRIETO, 2006, p.35).
[...] o desafio foi elaborar uma política que contemplasse as necessidades reais
das escolas quanto à inclusão, a partir da experiência dos agentes envolvidos.
Ao longo da construção, alguns pontos da política foram revistos
(REPRESENTANTE DE DV).
224
Aqui percebemos a preocupação de fazer a Política Municipal
de Educação Especial tomar a cotidianidade da escola como um
elemento a ser considerado. Isso, a nosso ver, é um ponto positivo,
pois por meio dessa realidade, metas podem se traçadas
potencializando o trabalho docente e as aprendizagens dos alunos,
pois o objetivo central dos processos de inclusão escolar de
estudantes público-alvo da Educação Especial é a
[...] criação de situações pedagógicas em que todo aluno ‘possa entrar no jogo’,
a partir de uma pedagogia possível, criando condições de mediações culturais
que façam da sala de aula e da escola um verdadeiro espaçotempo de
aprendizagem – razão pela qual crianças, adolescentes, jovens e adultos vão à
escola, tendo em vista uma compreensão de mundo e de como é ser-estar nele
[...] (JESUS, 2008, p. 215-216).
225
de determinadas “zonas de conforto”, fazendo com que o Grupo de
Surdez, por exemplo, adensasse seus conhecimentos sobre a
Deficiência Intelectual e vice-versa, acontecendo isso, também, com
as demais áreas. Com isso, sai-se de um olhar focado em uma
determinada área para se buscar as comunalidades sempre em
diálogo com as especificidades.
Diante dos desafios encontrados pela comissão, foram-nos
também apresentados elementos positivos encontrados pelo grupo
na elaboração do documento, pois ao olhar os pressupostos da
Educação Especial na lógica da inclusão escolar e as especificidades
de cada área, o grupo se envolveu em momentos de formação
continuada em contexto, situação que favoreceu o aprofundamento
teórico-prático sobre as questões trazidas pela literatura, pela
legislação e pelas escolas.
226
Melhoria na qualidade dos serviços da educação especial, com a possibilidade
de o professor de educação especial ser mais um articulador e colaborador na
escola em torno da LUTA PELA EDUCAÇÃO INCLUSIVA, e ao mesmo
tempo o documento se remete ao envolvimento dos demais profissionais da
escola (o pedagogo, o diretor e principalmente do professor de sala de aula) na
realização do planejamento e avaliação no processo de inclusão da pessoa com
deficiência na escola (REPRESENTANTE DO COMEV).
227
coloca em permanente estado de elaboração/avaliação/
reflexão/consolidação e nunca como um documento pronto.
O documento já tem sido socializado nas formações e tem sido debatido nas
escolas a fim que todos conheçam as atribuições e objetivos do processo de
inclusão nas escolas (REPRESENTANTE DE DV).
228
cada aluno, garantindo o atendimento conforme as necessidades de cada
aluno (REPRESENTANTE DE DV).
Devido a que apesar de a Educação Especial ter sido iniciada nos anos 1990 e
mais organizadamente para todas as unidades de ensino em 2006, até então
havia apenas Planos de Trabalho da Educação Especial. Faltava um
documento mais específico para o início de uma política de fato específico
para a Rede Municipal de Ensino de Vitória (REPRESENTANTE DO
COMEV).
229
Com o intuito de legitimar a Política Federal no âmbito municipal,
conforme a demanda do município (REPRESENTANTE DE
DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA).
230
escola regular, os colegas têm muito a ensinar aos alunos sujeitos da
Educação Especial em todos os lugares da escola, bem como a
interação social entre pessoa deficiente e adultos (profissionais da
escola) e a rotina escolar interfere na aprendizagem e no
desenvolvimento dos sujeitos atendidos pela Educação Especial
(REPRESENTANTE DO COMEV).
Considerações Finais
231
processo de escolarização dos alunos e oportunidades de formação
continuada para os profissionais envolvidos na elaboração do
documento.
Essa parceria demonstra a assunção da função social da
Secretaria Municipal de Educação como promotora de políticas
públicas educacionais para a garantia do direito à Educação, bem
como o papel dos Conselhos Municipais de Educação como
instância que a tarefa de desenvolver ações de cunho deliberativo,
fiscalizador e consultivo para que a Educação se efetive em uma
ação que se coloca como um direito público e subjetivo.
Referências
232
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Educação, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, 2015.
VITÓRIA, Prefeitura Municipal. Política Municipal de Educação
Especial de Vitória – ES na perspectiva da educação inclusiva,
2015.
234
O CONSELHO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE VITÓRIA/ES
COMO ESPAÇO DEMOCRÁTICO: UM ESTUDO
EXPLORATÓRIO PARA DEFINIÇÃO DE POLÍTICAS
PÚBLICAS1
Iniciando a conversa
235
Em âmbito educacional, com a Constituição Federal de 1988, foi
outorgado aos Municípios o direito de proferir normas e de
estabelecer políticas, facilitando, a implantação do Regime de
colaboração e não mais a perpetuação de relações de hierarquia
entre as três esferas políticas do poder (Federal, Estadual e
Municipal), ao menos legalmente.
Contudo, Ferraz apud Natal (2011) afirma que a democracia
representativa pode até promover mecanismos de controle da
sociedade em assegurar as liberdades de expressão e associação, no
entanto, as decisões políticas, quando essa representação não tem
legitimidade, ficam restritas ao corpo dos eleitos e aos espaços
institucionais destinados ao processamento das decisões.
Em 1996, resultante de exigências constitucionais, a Lei nº
9.394/96 estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Nela,
a autonomia do Município é reiterada, autorizando a organização de
seu sistema de ensino, permitindo a criação de órgãos colegiados
para a fiscalização.
Porém, ressalta-se que a definição clara das competências dos
Municípios para a elaboração do seu próprio sistema de ensino
ocorre das definições previstas na nova LDB (Lei nº 9.394/96) do que
na Constituição de 1988.
Segundo a LDB, Lei nº 9.394/1996. "Os sistemas de ensino são
constituídos, a partir do princípio da autonomia dos entes federados
(Art. 211, CF/1988)" e, compreende-se também observar o princípio
da gestão democrática do ensino público (Art. 206 VI CF/1988).
Destacando o princípio democrático na gestão do Sistema Municipal
de Ensino, concebe-se a existência de espaços públicos para
discussões, formulações e decisões das demandas educacionais.
Sendo assim compreende-se o Conselho Municipal de Educação
como um órgão que compõe o Sistema Municipal de Ensino onde
sua natureza e princípio tem por base a participação e a
representatividade da comunidade na gestão educacional. Como os
demais conselhos sociais ele é um dos elementos considerados
imprescindíveis para o processo de descentralização do poder e para
o fortalecimento dos sistemas municipais.
236
A organização do Sistema de Ensino, prevê a existência de
órgãos executivos e normativos que, no caso da educação, tem sido a
presença de secretarias e conselhos de educação. É normal
diferenciar os órgãos pelo seu caráter, seja executivo, normativo,
fiscalizador etc., sem que essa diferenciação delimite o conjunto dos
variados órgãos, tanto uns quanto outros cumprem o que a lei
determina e o que lhes compete em matéria de atribuições.
A partir da nova legislação que promove a criação de Sistemas
Municipais de Ensino, os Conselhos Municipais de educação
começam a desempenhar novas funções, tornando-se um dos
principais mediadores das demandas da população sobre educação
junto ao Poder Executivo, elaborando em parceria o Plano
Municipal de Educação. Assim sendo, a criação e consolidação dos
Conselhos caracterizam-se como processo de confirmação da
cidadania local, onde os cidadãos vivem e atuam o município.
Buscando informações específicas a respeito das funções definidas
para os Conselhos Municipais:
237
Analisando o significado do vocábulo Conselho, afirma que em
sua origem etimológica greco-latina, refere-se aos conceitos de “ação
de deliberar”, “cuidar”, “cogitar”, “refletir”, “exortar”,
“ajuntamento de convocados”, uma suma, ouvir e ser ouvido,
dialogar, fazer intermediação (TEIXEIRA, 2004). Portanto, quando o
Conselho participa na Elaboração das políticas públicas
educacionais, aponta como fundamento a publicidade significando
que os atos e decisões efetivadas na esfera pública são do interesse
geral, influenciando a vida social.
Ainda, refletindo sobre a participação popular alcançada e que a
população entenda o direito e responsabilidade que possui, Natal
discorre:
238
condições para que o órgão seja de fato um espaço democrático para
definição de políticas públicas.
A metodologia usada baseou-se no preceito da pesquisa
qualitativa de natureza exploratória, que envolve levantamento
documental e entrevista não padronizada, por entender que este
tipo de pesquisa, de acordo com Moreira e Caleffe (2008, p.69), tem
como objetivo proporcionar uma visão geral, aproximada de
determinado fenômeno, com a finalidade de tornar o problema mais
esclarecido, passível de investigação mediante procedimentos mais
sistematizados. Sua tipologia se define no Estudo de Caso.
239
Apresentando a teoria que teremos como base, pontuaremos a
relação estabelecida entre o materialismo de Marx e a pedagogia
histórico-crítica que, segundo Marsiglia (2013), Saviani busca expor
de maneira metodológica o movimento de reflexão sobre a prática
social utilizando-se dos momentos de problematização,
instrumentalização e catarse para superação dos desafios
encontrados nessa prática. A autora ainda destaca que esses
“passos” de Saviani, buscam a superação por incorporação de outras
pedagogias, pois tendo a lógica dialética como referência não se
pode tratar de uma sequência linear. A relação entre o Materialismo
e a Pedagogia histórico-crítica, ocorre ao que observamos na prática
social como ponto de partida, é a aparência do fenômeno que através
dos momentos intermediários busca a teoria para alcançar a sua
essência.
Tomamos por questão-problema aqui o fenômeno inicial do
Conselho Municipal de Educação em Vitória/ES, nos
“instrumentamos” de bibliografia que seria base para nossa então
análise da questão e suas possíveis ramificações por meio da catarse.
Por via, então, dessa abordagem metodológica, e como
referencial Saviani e os demais acadêmicos que trabalham com a
perspectiva da pedagogia histórico crítica, analisaremos o Conselho
Municipal de Educação em Vitória/ES. Buscando descobrir suas
reais condições como espaço democrático para definição de políticas
públicas.
240
É fundamental a participação e essa representação da sociedade num ponto
como esse. Entendendo que o COMEV é um órgão que normatiza a educação,
o nosso interesse é a qualidade da educação, entendendo que a qualidade da
educação passa por diversas perspectivas de quem está na sociedade. Então a
qualidade depende da participação de todos esses fatores. Buscar o espaço da
escola, dos profissionais, dos pais, dos alunos, então o Conselho tenta
aglutinar os mais variados segmentos encontrados na sociedade para fazer
esse debate e conseguir políticas públicas que a gente possa garantir a
qualidade na educação (CONSELHEIRA, 2014).
Para, além disso, o Conselho, ele pode ser acionado a qualquer momento, por
qualquer pessoa, sujeito mesmo ou via essas composições que nós temos aí a
fora para além do Conselho. O Conselho ele é consultivo, tem alguma dúvida?
241
Não. Eu vou perguntar se isso existe, se isso pode, como isso é se dado, qual é
a lei que fundamenta, isso que é ser consultivo, ele é normativo
principalmente falando, é ele quem delibera através de resoluções, como
realmente as coisas têm que acontecer cuja pauta é educação, ele é
mobilizador, ele tem por si só fazer campanhas de, digamos assim, para
sensibilizar, para se fazer conhecido, para se fazer transparente, as pessoas
têm esse acesso, têm essa abertura de virem aqui, não precisar de vinte anos
para poder conhecer, ele tem que ser mobilizador nesse sentido. Ele é também
um órgão de controle social, ele fiscaliza, ele acompanha (se está tudo certo se
não está), atendeu aqui, não atendeu lá. Então assim dentro dessas atribuições
e do que ele é composto, as demandas, as situações problemas elas são
debatidas, elas são trabalhadas e tenta se chegar ao seu foco maior que para
além das unidades de ensino, o sujeito maior que são os alunos. O foco sempre
são eles. (CONSELHEIRA, 2014)
242
Ficamos, então, intrigados a respeito da relação entre o
Conselho e a Secretaria de Educação, já que o sistema por completo,
deve trabalhar de forma coesa e articulada. Contudo, sabemos da
deficiência, do nosso sistema de educação, com relação a falta de
legislação que não dê abertura para diferentes interpretações
[...] Então, nós não temos uma normatização, não é que fique ai à deriva,
porque tem a política nacional, tem a proposta do Governo, tem um
Programa, tal, tal e tal. Mas fica vulnerável, uma hora eu faço, uma hora eu
não faço. Eu faço de um jeito, outro faz de outro jeito. Precisa ter a Política do
Município pra que todos possam trabalhar, e ter o direito, acesso e sucesso
"comum para todo mundo. Então, a lei por si só, ela também não se basta, a
todo um conjunto de fatores, para poder realmente a coisa acontecer. Não é
que, existe a Lei que regulamenta o ensino fundamental do Município e achar
que todos os problemas acabaram. Lógico que não, precisa de mais
normatizações inclusive para não dar margem para outras questões. Ou as
atualizações mesmo que são necessárias. Hoje não é um ensino de 8 anos e sim
de 9 anos, nós temos o 1º ano que não está no EMEF está ainda lá no CMEI,
mas a lei diz assim, mas na prática não aconteceu, então, a lei por si só ela não
se basta, mas ela tem que existir para dar um parâmetro, pra dar um rumo
(CONSELHEIRA, 2014).
243
com a população. Pois dela provém às demandas, e ela que precisa
ser suprida em suas questões educacionais.
Ao conselheiro cabe cumprir seus deveres, como estar no
espaço do Conselho, participar efetivamente das reuniões de
debates, entretanto, a relação de trabalho do conselheiro muitas
vezes o impede de garantir sua participação nesses momentos.
[...] falando, se você é pago, você tem por obrigação e o regimento seria o
melhor, eu não acredito nisso. Principalmente, por que isso ocorre: eu pago,
então, você vai fazer o que eu quero que se faça. Há uma manipulação, há um
jogo de poder pra isso daí. Então conselho, participação popular, participação
social foi algo muito lutado, nos movimentos sociais que nós temos na nossa
história. Eu defendo essa autonomia, essa liberdade e que não é gratuito ao pé
da letra, porque sou servidora, porque se estou aqui eu estou remunerada, não
estou mais remunerada, mas eu estou remunerada, saio do meio local de
trabalho para estar aqui no meu horário, porque quando a gente marca depois,
aí não pode. Então “estou remunerada” sim, mas há gente defende, há um
grupo que defende que tem que ter lá o GETON, município X tem GETON, tal
lugar tem GETON, mas sabemos que internamente que tem situações
terríveis, que o Estado está sendo pago ali. E o rendimento em si, a produção
244
não está na relação direta, eu pago o produto, não é, vocês sabem que “N’s”
coisas perpassam por aí [...] eu dependo a ideia de que, não! O conselho é
participação popular, é algo que eu, com as minhas concepções políticas
contextuais. Eu tenho que ocupar esses espaços, sujeitos da banca, então, eu
não dependo da remuneração (CONSELHEIRA, 2014).
245
novo. Então assim, a participação, a frequência dele aqui e a formação do
conhecimento específico, o que que era para estar aqui, conhecer políticas,
debater políticas, conhecer leis, isso são dois pontos bem importantes
(CONSELHEIRA, 2014).
246
[...] ninguém está esperando seu plano ser aprovado, todo mundo está
trabalhando no seu processo de construção, até porque pra você garantir a
participação de muitos e como muita gente pensa de determinada coisa, é um
processo mais longo. [...] Pode haver corte, município entregue o ensino
fundamental, o menino não vai começar do nada, leva uma carga para o
ensino médio e vai adiante. Então isso aí, até o final do ano, espero que a gente
cumpra todas essas plenárias e novembro uma nova conferência municipal
que a gente fecha a etapa do documento, fecha a minuta de lei que é
encaminhada para câmara que é a câmara de fato que vai publicar a lei e fazer
valer uma expectativa de 2015, isso ser oficializado. Então o município está
trabalhando, o conselho está atuando muito próximo, acompanhando a
participação da escrita mesmo, da formação do plano. (CONSELHEIRA, 2014)
Considerações finais
247
povo, atendendo suas prerrogativas e construindo um cidadão
pleno, completo, e crítico.
Referências
248
de Pós-Graduação em Educação. Universidade Federal do Espírito
Santo, 2011.
SAVIANI, D. Sistema de Educação: subsídios para a conferência
nacional de educação. Texto organizado a pedido da Assessoria do
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conae.mec.gov.br/images/stories/pdf/conae_dermevalsaviani.pdf>.
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teóricos do problema no contexto brasileiro. Revista Brasileira de
Educação. Rio de Janeiro, v.14, n.40, jan./abr. 2008 p 143 – 155.
Último acesso 19/07/2017. Disponível em: <http://www.scielo.br/
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SAVIANI, D. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. 8
ed. Campinas, SP: Autores associados, 2003
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123, dez. 2004. Último acesso 19/07/2017. Disponível em
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15742004000300009&lng=pt&nrm=iso>.
249
250
O CONSELHO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE VITÓRIA-ES E
O PROCESSO DE ELEIÇÃO DE DIRETORES ESCOLARES:
POSSIBILIDADES E DESAFIOS DA PARTICIPAÇÃO DE
CRIANÇAS
Introdução
251
um dos mecanismos para assegurar a gestão democrática é a
qualificação da participação dos diversos sujeitos do espaço escolar
através da eleição direta do(a) diretor(a) escolar.
A eleição direta para gestores das unidades de ensino teve
início, em Vitória, em 1992, constituindo-se em importante
experiência de gestão democrática e configurando-se como fator de
mobilização da comunidade escolar.
De 1992 a 2005, as eleições foram normatizadas por decretos
e/ou portarias emitidas pelo Poder Executivo. A partir de 2008, o
processo passou a ser normatizado pelo COMEV (Conselho
Municipal de Educação). Uma das mudanças do processo de eleição
para o triênio 2015/2018, em relação aos anteriores, cuja idade
mínima para o aluno participar como eleitor era fixada em 10 anos,
foi a inclusão de crianças com 8 e 9 anos entre os eleitores, conforme
o art. 32, inciso III da Resolução COMEV nº 07/2014: “Para o fim do
disposto no artigo 1° e parágrafo único desta Resolução, terão
direito a votar: […] os(as) estudantes que estejam regularmente
matriculados(as) na Unidade de Ensino com idade igual ou superior
a 08 (oito) anos, até o dia das eleições”.
No ano de 2015, após a ocorrência das eleições, foi instituída
uma Comissão Especial à qual caberia um estudo sobre a inclusão
dos estudantes com 8 e 9 anos, como votantes, no processo de
Eleição para Diretores nas Unidades de Ensino da Rede Municipal
de Vitória. Essa Comissão Especial deliberou pela realização de um
Projeto de Pesquisa intitulado Eleição de Diretores: Possibilidades e
desafios da participação das crianças, tendo como objetivo analisar, a
partir dos diferentes sujeitos que compõem o contexto escolar, a
participação das crianças de oito e nove anos no processo eleitoral
para provimento da Função Gratificada de Diretor nas Unidades de
Ensino da Rede Municipal de Vitória-ES.
Inicialmente, foram definidas como questões problematizadoras:
como aconteceu o processo de escolha de diretores com a
participação de estudantes a partir de oito anos? Qual a percepção
do segmento de estudantes sobre a redução da idade de dez para
oito anos? Qual a percepção dos demais segmentos em relação à
252
participação das crianças nessa faixa etária? Qual a percepção das
crianças da faixa etária de oito a nove anos que participaram pela
primeira vez da eleição de diretores?
Este estudo buscou fundamentação na Sociologia da Infância,
bem como em autores que discutem a gestão democrática. Assim,
foram realizados estudos sobre a temática infância e crianças e,
também, sobre processos de participação com suas potencialidades e
limitações para essa faixa etária.
Quanto à metodologia, a opção foi pela pesquisa qualitativa
justificando, para isso, que essa modalidade é baseada na
flexibilidade, singularmente em relação aos instrumentos e
procedimentos da produção de dados; que os vários dados
produzidos qualitativamente demandam dos/as pesquisadores/as,
ou grupos de pesquisa, conhecimento e/ou experiência no sentido
criativo e intuitivo para dialogar com o material produzido no
campo de pesquisa; que tem como objetivo discutir o fenômeno, no
sentido de entender e explicar o objeto pesquisado por meio de
análise das experiências dos indivíduos e grupos, indagações em
relação às interações e comunicações que são processadas, bem
como análise de documentos.
Foram definidos como instrumentos para a pesquisa: entrevista
semiestruturada – com Conselheiros da Comissão de Legislação e
Normas/COMEV e Comissão Eleitoral Central; grupo focal com as
crianças oito e nove anos; questionário online para os demais
estudantes e segmentos da comunidade escolar.
A entrevista semiestruturada é um tipo de interlocução em que
o entrevistador define anteriormente um conjunto de questões, mas
mantém liberdade para inserir outras no decorrer da conversa,
conforme for surgindo o interesse. Essas questões são uma diretriz,
mas não “engessam” a entrevista na medida em que a ordem das
questões e a forma anteriormente definida não necessitam de
obediência absoluta.
As entrevistas foram realizadas com 04 participantes do
processo eleitoral: o ex-Conselheiro do COMEV – relator da matéria;
a Conselheira do COMEV – presidente da Comissão de Legislação e
253
Normas e propositora da matéria em voga; o servidor da SEME –
Presidente da Comissão Eleitoral Central e a Gerente da Gerência de
Gestão Democrática da SEME.
O Grupo Focal é uma técnica que possibilita aos participantes
da pesquisa estabelecerem interações grupais que resultarão em
produção de dados. Nesse ambiente de interações é possível
acontecer trocas, participações e descobertas entre os sujeitos da
pesquisa, o que também contribui para apreender o processo de
percepções, representações sociais e comportamento de um
determinado grupo. Dessa forma, o pesquisador é oportunizado à
compreensão de princípios, convicções, conflitos e ideias, o que
viabilizará o entendimento do tema no cotidiano vivido pelos
participantes. No processo de realização do grupo focal é possível
verificar as mais variadas análises dos participantes no que diz
respeito à temática.
O grupo focal foi realizado com os estudantes da faixa etária
entre oito e nove anos de idade. Para a condução do grupo foi
adotado como disparador de conversa a contação da história Ah
Cambaxirra, se eu pudesse... de Ana Maria Machado. Em cada escola a
dinâmica teve as suas particularidades, por exemplo: com o material
exposto em tela, em uma das escolas, os estudantes tomaram a
frente e começaram a ler e a combinar entre eles como seria a ordem
da leitura; em outra, a leitura foi teatral; nas demais, as
pesquisadoras diversificaram a forma da contação da história a
partir das propostas das crianças. Registra-se que, antes da contação
da história, as pesquisadoras e as crianças apresentavam-se e, em
seguida, era explicado sobre a instituição responsável pelo trabalho
– COMEV, e, também, sobre a intenção e organização da pesquisa.
O questionário é definido por Marconi e Lakatos (2003, p. 201)
como sendo “um instrumento de coleta de dados, constituído por
uma série ordenada de perguntas que devem ser respondidas por
escrito e sem a presença do entrevistador”. Para os autores, este é
um instrumento que atinge grande número de pessoas
simultaneamente, abrange uma extensa área geográfica, não exige o
treinamento de aplicadores, garante o anonimato dos entrevistados
254
e, com isso, maior liberdade e segurança nas respostas. Permite que
as pessoas o respondam no momento em que entenderem mais
conveniente, não expõe o entrevistado à influência do pesquisador,
possibilita mais uniformidade na avaliação, em virtude da natureza
impessoal do instrumento e obtém respostas que, materialmente,
seriam inacessíveis.
Os questionários, disponibilizados no site do COMEV entre os
dias 17/11 e 18/12/2015, foram respondidos por 554 estudantes, 15
profissionais das Unidades de Ensino e 16 familiares dos(as)
estudantes. Através desses instrumentos de pesquisa foram
alcançados 638 sujeitos: 584 respondentes ao questionário online,
dois entrevistados da Comissão de Legislação e Normas, um da
Comissão Eleitoral Central, um da Gerência de Gestão Democrática
e cinquenta estudantes de oito e nove anos em grupos focais.
A partir desse ponto, passamos a dialogar com os dados
produzidos no sentido de problematizar a percepção dos diferentes
sujeitos envolvidos na Pesquisa, em relação à participação das
crianças a partir de oito anos de idade no processo eleitoral para o
provimento da função gratificada de diretor(a) de escolas da Rede
Municipal de Vitória.
255
a gestão qualificará a dimensão da participação e a sustentabilidade
do ambiente democrático educacional.
Nos espaços escolares existem experiências diversas de
participação, pois não são vias de mão única: sua construção sempre
ocorre nos embates das ideias e decisões pautadas no interesse
coletivo, ponderados pela necessidade das pessoas e diferentes
pontos de vista dos que compõem o contexto escolar.
256
dirigente escolar; a criação e a consolidação de órgãos colegiados na
escola (conselhos escolares e conselho de classe); o fortalecimento da
participação estudantil por meio da criação e da consolidação de
grêmios estudantis; a construção coletiva do Projeto Político
Pedagógico da escola; a redefinição das tarefas e funções da
associação de pais, na perspectiva da construção de novas maneiras
de se partilhar o poder e a decisão nas instituições.
Toda essa dinâmica deve ocorrer como um processo de
aprendizado político, fundamental para a construção da gestão
democrática e, consequentemente, para o aprimoramento da
democracia no país.
Na década de 1990, assiste-se a um processo de regulamentação
da gestão descentralizada das políticas públicas em diversas áreas
sociais (saúde, educação, assistência social, etc.), com a inserção da
participação da sociedade civil, via Conselhos Gestores, na sua
formulação e controle. Nesse sentido, tais Conselhos passam a ser
considerados canais de participação mais expressivos da emergência
de um outro regime de ação pública na esfera local caracterizado
pela abertura de novos padrões de interação entre governo e
sociedade na gestão de políticas públicas.
Em Vitória, em 05 de abril de 1990, foi promulgada a Lei
Orgânica do Município que, em seu artigo 219 cria, no âmbito da
Administração Municipal, o Conselho Municipal de Educação
enquanto órgão colegiado de caráter deliberativo sobre a política
educacional do Município. A Lei Orgânica também garantiu o
processo de eleição dos gestores escolares como está expresso em
seu artigo 221.
A história do Conselho Municipal de Educação de Vitória –
COMEV teve início em 12 de fevereiro de 1965, quando foi criado
pela Lei nº 1.376. Porém, seu efetivo funcionamento ocorreu em
1998, através da Lei nº 4.746, que lhe atribuiu funções de caráter
normativo, consultivo e deliberativo sobre a formulação e o
planejamento das políticas de educação do Município. No mesmo
ano de 1998, através da Lei nº 4.747, foi criado o Sistema Municipal
de Educação.
257
As eleições de diretores(as) em Vitória aconteceram em 1992,
1995, 1999, 2002, 2005, 2008, 2011e 2014. De 1992 a 2005, portanto,
por cinco gestões, a normatização ocorreu através de decretos e/ou
portarias emitidas pelo poder executivo. A partir de 2008, o processo
de eleição passou a ser normatizado pelo Conselho Municipal de
Educação.
As resoluções anteriores à de número 07/2014 mantêm, todas
elas, na norma, o direito de voto do segmento estudantil apenas
àqueles com idade igual ou superior a dez anos, da mesma forma
como tratavam as portarias e decretos do executivo ao longo das
normatizações produzidas desde 1992.
Importante ressaltar que com a aprovação do Plano Municipal
de Educação, através da Lei 8.829/2015, ficou garantida a
normatização das eleições dos(as) diretores(as) escolares municipais
como prerrogativa do Conselho Municipal de Educação, conforme
redação aprovada para a meta 19 que está assim exposta:
258
os desafios tornam-se ainda maiores pois ainda são consideradas
como alguém menor ou o não adulto. O reconhecimento das
crianças como sujeitos de direito, que têm vez e voz que necessitam
ser escutadas, é uma conquista recente em nosso processo histórico,
nos marcos legais e conceituais. Assim, podemos sinalizar que
nossas instituições ainda são permeadas por mentalidades que as
julgam “[...] desprovidas de vontade ou racionalidades próprias e
como portadoras de imaturidade social [...]” (SARMENTO,
FERNANDES e TOMÁS, 2007, p. 187).
Acredito que a participação das crianças é muito importante, pois são sinceros
e verdadeiros e sabem se posicionar. Nesse sentido, acredito que os
candidatos(as) devam ter clareza da linguagem adequada para se comunicar
com essa faixa etária, a fim de garantir a efetiva participação destes alunos. Da
forma como alguns candidatos(as) falam ou se colocam acabam por excluir
esses estudantes, uma vez que eles não compreendem com clareza o que é
falado (Fala de profissional no questionário online).
259
Nesse contexto, Antunes (2007, p. 121) ressalta que “O modo como
adultos e crianças se relacionam na escola é decisivo para a
apreensão da criança de valores e conceitos sobre as relações de
poder na sociedade.”
Diversos autores defendem que chegou o momento de dar
visibilidade às posições das crianças e assinalam que elas foram
esquecidas dos espaços de participação e contribuição e, a partir
desse entendimento, novas posturas emergiram nos diversos
estudos sobre essa temática. Poderíamos entender que, com esses
avanços, o impasse estaria resolvido. Entretanto, Dominique
Colinvaux (2009, p. 45) sinaliza que:
[...] o que me aparece como dilema: de um lado a criança como um ser pleno,
potente, inteiro, cuja voz e ação devem, por isso mesmo ser reconhecidas e
respeitadas e, de outro, práticas adultas e institucionais que negam esta
mesma completude e capacidade para estar no mundo, (re)afirmando as
crianças como sujeitos de falta […].
260
[...] participação como um “princípio da democracia que necessita ser
trabalhado” . Sendo uma experiência que “se aprende e que se ensina”, a
participação deve ter lugar na escola pela promoção da convivência
democrática no seu cotidiano, pois se aprende a participar, participando
(ANTUNES, 2007, p. 125).
Tinha uma diretora que era tão chata que escondia um montão de coisa no
armário dela e quando ela foi embora e que abriram o armário tinha giz de
cera e um montão de coisa assim, ela escondia os materiaiss pedagógicos […].
261
Entretanto, as crianças ainda podem ser invisibilizadas, pois em
alguns momentos os adultos discutem assuntos sobre as crianças,
como se elas não estivessem no mesmo ambiente. Nesse aspecto, a
criança é adjetivada como “[...] aquela que não sabe, não pode, que
não tem” (COLINVAUX, 2009, p. 46). Nesse sentido, a criança pode
ser percebida com base no senso comum, e são entendidas como um
ser incompleto, que precisa das experiências pedagógicas por meio
de atividades bem planejadas para se “adultizarem”, que as levem a
solucionar suas falhas e incompletudes. Por isso, alguns teóricos em
um passado recente relacionavam a criança com os índios, os
colonizados, ou seja, o incapaz e impossível de se constituir
autônomo.
262
adolescentes, quando um deles argumenta que “Eles não deveriam
votar porque são pequenos e não sabem de nada”.
263
uma criança que atua, pensa, que age e entendo que essa criança é
capaz, sim! […] elas estão conectadas, antenadas em tudo o que se
passa na vida, na escola, então, por isso, é importante a sua
participação.”
A seguir, passamos a dialogar com os gráficos no sentido de
apresentar as percepções dos segmentos que compõem a
Comunidade Escolar, em relação à condição dos estudantes de 8 e 9
anos saberem escolher o/a Diretor/a da Escola.
Sim
Sim 47% Sim
47% Não 53% Não
53% 50% 50% Não
Eu marquei não, mas acho que talvez as crianças de 8 e 9 anos podem ter
capacidade como não podem, depende de cada um, depende de como foram
264
criados, muitas crianças têm mais idade mental que muitos adultos, depende!
(frase de estudante digitada no questionário online, questão 3.1)
ESTUDANTES
Opinião quanto a participação das Crianças de 8 e 9 anos Indicações
Processo de aprendizagem 15
Processo democrático 3
Idade suficiente / sabem escolher 16
Pouca idade/ não sabem escolher 66
Direito de escolha 30
Muito bom / Muito importante 28
Fonte: Questionários do segmento de estudantes acima de 10 anos - disponibilizado
online(www.comev-es.com.br)
265
maturidade e que a escolha é um direito, pois elas também fazem
parte do contexto escolar.
Tabela 2: Resumo das opiniões apresentadas quanto a participação das
Crianças de 8 e 9 anos (Profissionais)
PROFISSIONAIS
Opinião quanto a participação das Crianças de 8 e 9 anos Indic
ações
Processo de aprendizagem 8
Processo democrático 1
Maturidade 1
Imaturidade 6
Direito de escolha 1
Fonte: Questionários do segmento de profissionais - disponibilizado online
(www.comev-es.com.br)
266
Tabela 3: Resumo das opiniões apresentadas quanto a participação das
Crianças de 8 e 9 anos – (Famílias)
FAMÍLIAS
Opinião quanto a participação das Crianças de 8 e 9 anos Indicações
Processo de aprendizagem 5
Processo democrático 2
Maturidade 5
Imaturidade 5
Direito de escolha 1
Importante 3
Fonte: Questionários do segmento de profissionais - disponibilizado online
(www.comev-es.com.br)
267
[…] concebe as crianças e jovens como agentes sociais imprescindíveis e
participativos na sociedade, implicando não só o reconhecimento formal de
direitos, mas também as condições do seu exercício através de uma plena
participação e de um real protagonismo, em todas as esferas da vida social.
A participação apresenta-se, então, como condição absoluta para tornar
efectivo o discurso que promove direitos para a infância e, portanto, a
promoção dos direitos de participação, nas suas várias dimensões – política,
econômica e simbólica – assume-se como um imperativo da cidadania da
infância (p. 1).
268
tia ... porque ela sempre me ajudou aqui na escola, eu fazia muita
coisa errada e ela conversava comigo, agora eu sou uma criança
melhor, ela é muito legal, ela ajuda cada um aqui, ela tem dialogo,
como os outros falaram”. Nesse sentido, podemos apontar que as
crianças têm, como concepção, que a gestão da escola deve ser
baseada no diálogo, e que este princípio norteia uma gestão
democrática.
O desafio de ouvir as vozes das crianças nos espaços escolares,
coloca-se para além do estabelecimento de metodologias, mas como
um princípio político, de acordo com Sarmento, Soares e Tomás
(2016, p. 3):
269
construção de relacionalidades, atravessadas pelas diferentes
gerações e entre os seus próprios pares. Nesse sentido, podemos
afirmar que as crianças se constituem em contextos híbridos,
perpassados por crianças, jovens e adultos que, em suas
singularidades, influenciam e são influenciadas mutuamente, em
um processo de constantes negociações e, nesse exercício se
reconhecem em suas potencialidades e em seus limites e, assim,
desenvolvem sua capacidade de argumentação e constroem suas
identidades pessoal e coletiva.
270
Os autores Sarmento, Fernandes e Tomás (2007) apontam,
ainda, a importância das propostas educativas contemplarem uma
participação infantil que supere a dimensão dogmática, que se dá
apenas no plano formal, pois é esvaziada de sentido e fica restrita a
um caráter didático. Sinalizam que esforços têm sido empreendidos
no sentido de provocar mudanças nas formas estruturais de como a
escola se organizou na modernidade, a fim de habilitá-la com uma
perspectiva política e cumprir com o seu papel primordial frente aos
direitos das crianças e adolescentes, quer seja na aquisição e
construção de saberes e conhecimentos, quer seja no respeito e
reconhecimento à diversidade cultural e individual, quer seja no
exercício dos direitos políticos que envolve a participação nas
decisões coletivas.
271
viável para a promoção da participação política dos sujeitos. Dessa
forma, é importante pautar a participação infantil em suas
potencialidades e em seus limites. Ainda podemos ressaltar a escola
como um lugar onde se entrecruzam as políticas educacionais e
sociais, e, se por um lado, já avançamos em nossos marcos legais,
por outro, a escola também é permeada por práticas pautadas na
subordinação e disciplinarização, com soberania dos adultos sobre
as crianças, presente no modus operandi de nossa sociedade.
Todavia, afloram experiências nas nossas escolas ancoradas em
propostas educativas que se alicerçam na compreensão das crianças
como seres com capacidades diferenciadas dos adultos, entretanto,
em uma perspectiva válida e necessária para a renovação do mundo.
Considerações finais
[…] podemos afirmar que a participação das crianças no espaço restrito das
relações com os outros que lhe são significativos, sejam eles adultos ou
crianças, é afectada por factores que decorrem das relações de poder e
hierarquia que existem entre adultos e crianças. Assim, considerar a
272
participação das crianças no espaço público exige que tenhamos em conta a
influência das estruturas e instituições que as envolvam – sejam elas
educativas, econômicas, jurídicas ou sociais –, que frequentemente se
apresentam, como estruturas desconhecidas e fechadas, que funcionam como
obstáculos para a construção de espaços de participação infantil.
Referências
273
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escola. São Paulo: Junqueira & Marin Editores. 2007.
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democrática da educação e escolha do diretor. Elaboração Ignez
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275
276
A REESTRUTURAÇÃO DO CONSELHO MUNICIPAL DE
EDUCAÇÃO DE DOMINGOS MARTINS
Introdução
277
municipais de ensino pode ser visto na Constituição de 1988 a qual
estabelece, em seu artigo 18, o município como um ente federado
autônomo e o princípio de “gestão democrática do ensino público”,
no artigo 206, inciso VI. Desde então, com as leis federais de
números 9.426/96 (FUNDEF), 9.394/96 (LDBEN), 10.172/2001 (PNE)
e 11.494 que institui o FUNDEB em substituição ao FUNDEF,
firmou-se um ordenamento legal que direciona a organização da
educação brasileira para a descentralização do poder, a autonomia e
a gestão democrática dos sistemas e unidades de ensino, tendo como
base o regime de colaboração entre os entes federados. Na
atualidade a legislação nacional e local exige a organização
democrática da educação.
A partir deste referencial, os municípios passam a compor seus
próprios sistemas de ensino e a criar ou reorganizar os conselhos
municipais de educação com atribuições de gestão do sistema. Os
conselhos passam a constituir-se em importantes instrumentos
democráticos no sentido de assegurar a participação da comunidade
escolar e local no planejamento e gestão do ensino municipal. Para
realizar esta tarefa, os conselheiros/as precisam desenvolver
competências, práticas e saberes sobre a gestão pública. O projeto
integrador que ora apresentamos, realizou-se no município de
Domingos Martins, situado na região centro-serrana do estado do
Espírito Santo. Atualmente, conta com quarenta e nove escolas
municipais, não sendo sistema de ensino.
Domingos Martins possui instituído desde o ano de 1992 o
Conselho Municipal de Educação criado pela Lei Municipal nº
1.227/9 sendo revogada parcialmente pela Lei Municipal nº 1.235/9.
O presente Conselho não possui sede própria. Sua composição é
feita bienalmente através da eleição direta dos membros assim
representada:
278
Tabela 01. Composição do CME de Domingos Martins
Representantes do Poder Executivo Municipal 04 Titulares
04 Suplentes
Representantes de Pais e Alunos da Rede 01 Titular
Municipal de Ensino 01 Suplente
Representantes de Pais e Alunos da Rede 01 Titular
Estadual de Ensino 01 Suplente
Representantes de Entidades Privadas de 01 Titular
Ensino 01 Suplente
Representantes do Magistério Público 01 Titular
Municipal 01 Suplente
Representantes do Magistério Público Estadual 01 Titular
01 Suplente
Justificativa
279
Objetivos
Tomamos como objetivos norteadores deste projeto de
intervenção:
Reestruturar o Conselho Municipal de Educação de
Domingos Martins;
Revisitar o Regimento do Conselho Municipal de Educação,
visando a retomada das atribuições e funções dos membros;
Fortalecer o Conselho Municipal de Educação de Domingos
Martins.
Análise do Tema
280
conselheiros devem conhecer as leis da Educação em âmbito
nacional, estadual e municipal, além de conhecer seus pareceres e
resoluções.
O segundo princípio, da impessoalidade, dentro das nossas
atribuições e funções, não pode fazer escolha de pessoas ou grupos.
A impessoalidade burocrática que não reconhece o privilégio, ou
seja, dentro do espaço público ninguém pode usufruir de uma
vantagem que os outros não podem. Todo servidor público e
conselheiro deve tratar a todos com igualdade.
O terceiro princípio, a moralidade, fala do resguardo dos bens
públicos e combate à corrupção financeira ou moral. O bem público
deve estar a serviço do interesse coletivo e não individual. O quarto
e último princípio, a publicidade, ponto importante para a atuação
dos membros do CME. Quando lidamos com algo público,
precisamos dar ampla publicidade, porque somos um órgão público
e precisamos prestar contas à sociedade. Todas as informações
obtidas pelos conselheiros devem ser divulgadas e não pode ser
usada a favor ou contra qualquer pessoa. Cabe ao órgão garantir a
gestão democrática da educação e um ensino de qualidade no
município. Suas funções são:
Consultiva – Responder a consultas sobre leis educacionais e
suas aplicações, submetidas a ele por entidades da sociedade
pública ou civil (Secretaria Municipal de Educação, escolas,
universidades, sindicatos, Câmara Municipal, Ministério Público),
cidadãos ou grupos de cidadãos.
Propositiva – Sugerir políticas de educação, sistemas de
avaliação institucional, medidas para a melhoria de fluxo e de
rendimento escolar e propor cursos de capacitação para professores.
Mobilizadora - Estimular a participação da sociedade no
acompanhamento dos serviços educacionais; informá-la sobre as
questões educacionais do município; tornar-se um espaço de
reunião dos esforços do executivo e da comunidade para melhoria
da educação; promover evento educacional para definir ou avaliar o
PME.
281
Deliberativa – É desempenhada somente em relação a
assuntos sobre os quais tenha poder de decisão. Essas atribuições
deverão ser definidas na lei que cria o conselho, que pode, por
exemplo, aprovar regimentos e estatutos; credenciar escolas e
autorizar cursos, séries ou ciclos; e deliberar sobre os currículos
propostos pela secretaria. Isto no caso do CME funcionar como
Sistema de Ensino.
Normativa – Só é exercida quando o CME for, por
determinação da lei que o criou, o órgão normativo do sistema de
ensino municipal. Ele pode assim elaborar normas complementares
em relação às diretrizes para regimentos escolares; autorizar o
funcionamento de estabelecimentos de Educação Infantil;
determinar critérios para acolhimento de alunos sem escolaridade; e
interpretar a legislação e as normas educacionais.
Fiscalizadora – Promover sindicâncias; aplicar sanções a
pessoas físicas e jurídicas que não cumprem leis ou normas; solicitar
esclarecimento dos responsáveis ao constatar irregularidades e
denunciá-las aos órgãos competentes, como o Ministério Público, o
Tribunal de Contas e a Câmara de Vereadores.
Desenvolvimento do Projeto
282
proposta de interlocução entre os membros do CME, os encontros
de formação foram agendados para os meses de março e abril
conforme o cronograma de ação abaixo discriminado.
Considerações Finais
283
Conselhos Escolares. Uma vez que a Secretaria Municipal de
Educação e Esporte está implementando o Documento Curricular
escrito com a contribuição de todos os profissionais da educação e
com a comunidade, estabelecendo os conhecimentos de cada área do
saber desde o berçário até o 9º ano do ensino fundamental. No
decorrer desta implementação - e daqui para frente - os membros do
Conselho Escola serão corresponsáveis pelas ações desenvolvidas na
unidade escolar.
Ressaltamos ainda, que a participação destes membros é
fundamental, pois cada segmento representa um grupo significativo
de pessoas. Cada Conselho possui representação de pais, de alunos,
de professores, da comunidade, do administrativo e outros
segmentos que a unidade escolar achar necessário. Percebemos que
muitas vezes estes representantes não sabem como agir ou sentem-
se inibidos de participar, pois historicamente a participação dos
conselhos escolares se restringia a aprovar a prestação de contas do
diretor escolar e compor a Comissão Permanente de Licitação –
formada para realizar a compra e análise da prestação de contas da
merenda escolar. Mas nesse movimento novo instaurado pelo
Documento Curricular, a Secretaria Municipal de Educação e
Esporte deseja muito mais para este grupo, ele estará junto com as
escolas pensando nas ações que a escola desenvolverá e é nisso que
o Conselho Municipal de Educação irá ajudar os Conselhos
Escolares.
O município é muito extenso territorialmente e isso exige que
pensemos essa formação em grupos menores e por região; cada
escola possui o Conselho Escola, Associação Escola Comunidade ou
Unidade Executora, e serão 49 conselhos. As regiões e número de
grupos serão assim definidos: Região da Sede – 2 grupos; Região de
Melgaço – 1 grupo; Região de Paraju – 2 grupos e Região de Aracê –
2 grupos. Dentro do CME será instituída outra comissão para
organizar esta formação, pois precisaremos do apoio da SECEDU
com o transporte e alimentação. Inicialmente faremos dois encontros
com os CE nas regiões, o primeiro será uma escuta dos anseios,
desejos e dúvidas de cada Conselho e o segundo um retorno das
284
questões levantadas no primeiro. No final do ano letivo
organizaremos um grande Seminário na Sede, onde todos os CE
poderão se conhecer e trocar experiências.
Além destas propostas, o CME de Domingos Martins
continuará com suas demandas normais de trabalho, reuniões
mensais, acompanhamento da execução do PME, entre outras. O
maior desafio a ser pensado também em 2016 será a instituição do
Sistema de Ensino em nosso município, pois frente à implementação
do nosso documento curricular isso se torna urgente.
Referências
285
286
CONTRIBUIÇÕES DO CONSELHO MUNICIPAL DE
EDUCAÇÃO NO PROCESSO DE GESTÃO ESCOLAR
EM IÚNA/ES
Apresentação
287
de tomada de decisão, resguardando a autonomia das escolas e
fortalecendo o princípio democrático.
Histórico Situacional
288
Ainda em 2012, o Conselho apreciou e aprovou o Regimento
Comum das Escolas da Rede Municipal de Ensino do Município de
Iúna – ES.
Em janeiro de 2013, são nomeados os membros da diretoria
composta por presidente, vice-presidente e secretário-geral na forma
da Lei, e tem continuidade o programa de formação dos
conselheiros, desta feita, tendo por objetivo orientar em relação à
operacionalização das funções do conselho, tais como: elaboração de
pareceres, redação de resoluções e outros atos, realização de
reuniões plenárias e redação de atas, análise de processos, dentre
outros.
Após um exaustivo trabalho em articulação com a equipe
técnico-pedagógica da Secretaria Municipal de Educação, elaborou
as Normas Gerais para a Educação no Sistema Municipal de Ensino,
as quais foram aprovadas em reunião plenária do dia 9 de julho do
mesmo ano, dando conta de seu papel normativo.
Na sua função mobilizadora, o CMEI tem dialogado com
importantes setores públicos como: o Conselho Municipal de
Administração e Remuneração de Pessoal de Iúna – ES (COPARP),
com a Procuradoria Geral do Município e com a Comissão de
Educação da Câmara Municipal, em busca do fortalecimento dessas
relações políticas com a finalidade de aprimorar os mecanismos de
regulação do Sistema em suas áreas de abrangência. O estreitamento
desses laços está permitindo ações importantes como a reformulação
do Plano de Carreira do Magistério, que se reflete na valorização do
profissional da área.
A participação do CMEI junto ao Fórum Municipal Permanente
de Educação de Iúna tem se efetivado no aspecto consultivo,
oferecendo subsídios teóricos e discussões com vistas à construção
do Plano Municipal de Educação.
Atualmente, o Conselho Municipal de Educação de Iúna – ES
tem se debruçado sobre o projeto em pauta, que tem por fim uma
contribuição para a eficácia da gestão escolar.
289
Justificativa
290
em que o CMEI se reunia em torno da definição do tema do projeto
integrador para o Curso de Capacitação de Conselheiros Municipais
de Educação.
Pensando a questão proposta pela Secretaria Municipal de
Educação, o CMEI optou por um projeto que tivesse por objetivo
precípuo a definição de tais diretrizes solicitadas, porém construídas
de forma dialogada com os próprios diretores.
A relevância deste projeto traduz-se em dois benefícios para a
gestão da educação escolar no Sistema de Ensino de Iúna – ES nesse
momento: 1º. em face da metodologia proposta, os novos diretores
receberão, no percurso da execução do projeto, uma capacitação
para o exercício das funções inerentes ao cargo; e 2º. o documento-
base de diretrizes orientadoras, elaborado com a participação dos
próprios diretores, mediado pelo CMEI, possibilitará maior
linearidade do processo de gestão em toda a rede, contribuindo para
a eficácia do sistema.
Questão Proposta
Não basta ser eficiente, tem que ser eficaz, fazer “o que é certo e
da maneira certa”, visando o resultado de todo o processo. Para a
educação deve-se buscar o melhor. Todos os intentos são
objetivados em uma educação de qualidade para que assim se
291
alcance este cidadão que está se formando. O método é importante
(eficiência), mas o resultado alcançado (eficácia) é o essencial.
Há uma preocupação social atual no que tange a formação do
cidadão. Buscam-se profissionais que atuem neste tempo presente,
que se situem no mundo global, munidos de informação e
tecnologia. O mundo requer profissionais polivalentes, que tenham
várias habilidades, e que, acima de tudo, apresentem disponibilidade
de agir sobre pressão na resolução de problemas.
Para alcançar essa eficácia, chegar a esse resultado, a escola não
deve ser um ambiente em que se “faça o que eu mando e não faça o
que eu faço”. Daí a importância de se articular forças para garantir
uma educação que contemple esse novo educando que desponta.
Observa-se aqui uma questão que merece muita atenção. Há
muitas discussões quanto ao perfil do profissional que será o grande
articulador de toda a gestão do ensino, bem como de todos os outros
envolvidos nesta grande tarefa: ensinar. Há de se observar que se
cobra uma escola de qualidade, eficaz, mas não se prepara para
ensinar com qualidade; não se ensina a ensinar, muito menos se
ensina a gerir o ensino.
Mesmo que atualmente o processo de escolha do gestor seja
eletivo, o exercício do cargo de diretor escolar tem revelado
consideráveis desafios: desconhecimento da legislação educacional,
inabilidade nos processos de liderança e fragilidade técnica em
planejamento e gestão, ou seja, esse trabalhador não recebeu
capacitação necessária para atuar considerando aspectos
administrativos, pedagógicos, filosóficos e legais, tão primordiais a
uma unidade escolar.
Na maioria dos casos, o diretor é um professor, com visão
restrita em relação à complexidade dos elementos que constituem a
gerência de uma unidade escolar. Falta-lhe visão sistêmica e
habilidade para mediar as forças internas e externas que se
conjugam neste ambiente. Como isso, os diretores, não raro, acabam
se tornando reféns da sua responsabilidade burocrática em
detrimento do seu papel como empreendedor da educação.
292
Partindo dessa reflexão, de permeio ao princípio democrático,
este projeto propõe desenvolver diretrizes de gestão escolar,
construídas a partir de um diálogo com a realidade que culmine
com a elaboração de um documento-base. O desenho a que se
pretende chegar será uma construção mediada pelo CMEI junto aos
novos diretores que acessarão ao cargo no final deste semestre2.
Este trabalho desenvolvido a partir das referidas parcerias
buscará, através de diretrizes e ferramentas operacionais, articular
ações que reflitam na qualidade da educação em Iúna, e possibilite o
monitoramento da atuação dos gestores e a realimentação do
processo gerencial da educação no município.
Objetivos
Geral:
Definir por meio de um processo dialógico com os diretores
escolares, diretrizes gerais de gestão para a rede municipal do
Sistema de Ensino de Iúna – ES.
Específicos:
Oferecer subsídios teóricos para uma reflexão sobre o lugar
da gestão escolar no desenvolvimento do Sistema de Ensino;
Mediar uma releitura da realidade educacional do município
buscando identificar pontos críticos e necessidade de mudança;
Estabelecer parâmetros para uma gestão democrática das
escolas da rede municipal em consonância com as diretrizes
nacionais da educação básica;
Elaborar documento base de diretrizes gerais orientadoras
para a gestão escolar.
293
Análise Teórica do Tema
294
sociedade civil organizada, é importante salientar que a
representatividade tem sido o “divisor de águas” dos novos
sistemas de gestão democrática. Um cidadão “participante e
representante” precisa estar ciente de sua responsabilidade de
representação social; é a voz do povo que está ali concebida,
portanto, esta deve assegurar legitimidade – os interesses daquele
seguimento em especial. Este nunca deve atuar considerando
interesses pessoais e sim, buscar sempre os coletivos, assegurando a
representatividade autêntica e o pluralismo, além de apresentar
competência para atuação na área em questão.
Só há solução para a educação quando houver um interesse
coletivo em solucionar os problemas. Cada parte assumindo a sua
responsabilidade; cada indivíduo, cidadão, observando suas
capacidades e habilidades, representando o coletivo, garantindo o
que se acredita ser a gestão democrática.
Desse modo, ao serem vistas como organizações vivas,
caracterizadas por uma rede de relações entre todos os elementos
que nelas atuam ou interferem direta ou indiretamente, a sua
direção demanda um novo enfoque de organização e é a esta
necessidade que a gestão escolar procura responder. Ela abrange,
portanto, a dinâmica das interações, em decorrência do que o
trabalho, como prática social, passa a ser o enfoque orientador da
ação de gestão realizada na organização de ensino (LÜCK, 2000).
Em decorrência da situação exposta, percebe-se que o trabalho
do diretor deixa de ser individual e passa a ser um trabalho de
equipe, dele exigindo a adequada habilidade para liderar. Como
afirma Mares Guia (2001), cabe ao diretor ser a mudança que quer
ver nos outros, residindo aí sua principal característica de liderança.
295
que, igualmente importantes, asseguram uma gestão equilibrada de
que tanto a comunidade escolar necessita.
O dicionário Houaiss (2013), define a palavra autonomia como:
296
Como a escola é a base para a mudança da sociedade e como a
comunidade tem cobrado cada vez mais que a instituição escolar
esteja preparada para esta competência, é necessário que a mesma
seja liderada por um diretor com as habilidades básicas para uma
gestão de sucesso.
Esse diretor deve estar preparado para lidar na escola, não em
suas particularidades (administrativa ou pedagógica), mas sim ter
segurança em gerir um processo completo. Assim, preparar o gestor
para atuar nesta nova escola é garantir que a instituição educacional
ofereça um ensino de qualidade, que considera o “como fazer?”
superior ao “o quê?”; quando o processo é o mais importante, o que
torna a educação libertadora. A escola, como lugar de interação e
aprendizado, ainda é o melhor lugar para se transformar as atitudes
de uma sociedade.
Proposta de Ação/Metodologia
297
Eixo 1. Fundamentação teórica
Embasamento - Organização e - Instrutores; Fev./2014
teórico da equipe funcionamento do - Sala Mar./2014
gestora envolvida. ensino. multimídia;
- Estrutura - Literatura
organizacional escolar específica.
no viés da gestão
democrática.
- Legislação educacional.
- Pensamento
pedagógico brasileiro.
- Processos de gestão: do
ensino, de pessoas, de
patrimônio, de materiais
e financeira.
- Regimento escolar e as
normas gerais para a
organização e o
funcionamento das
escolas do Sistema de
Ensino.
298
Eixo 4. Sistematização
Organização de - Legislação educacional - Instrutores e Mai./2014
um documento- federal e municipal. equipe envolvida
base que oriente a - A organização escolar no projeto;
gestão dos no modelo sistêmico de - Leis, normas e
diretores. administração regulamentos;
(hierarquia, liderança e - Literatura
processos de específica.
comunicação).
- Paradigmas modernos
da administração
aplicados à gestão
escolar.
- Avaliação
institucional.
Publicação do Documento elaborado. - A publicação Jun./2014
documento-base será financiada
pela SEME com
recursos próprios.
- R$ 8.500,00
Avaliação
299
O CMEI atuará no acompanhamento e avaliação de todo o
processo de implantação deste projeto.
Referências
300
GESTÃO DO SISTEMA MUNICIPAL DE ENSINO:
CONTRIBUIÇÕES DO CONSELHO MUNICIPAL DE
EDUCAÇÃO
301
formando uma consciência da importância da educação para o
desenvolvimento econômico, social e político da época.
Do início da colonização brasileira até o século 20, uma grande
parte dos brasileiros era analfabeta. Em 1900, 65,3% da população
com 15 anos ou mais não sabia ler e escrever. Em 1950 a metade da
população nesta faixa etária era analfabeta.
Verifica-se que a intensificação da industrialização e a expansão
urbana foram acompanhadas pela diminuição da taxa de
analfabetos. Assim, a industrialização e a urbanização foram fatores
que influenciaram na escolarização da população, pois entre 1920 e
1940 a taxa de urbanização dobrou e o analfabetismo sofreu uma
sensível queda.
A Constituição de 1946 fixou novas leis educacionais que
substituíram as outras consideradas ultrapassadas para o novo
momento econômico e político que o país passava a viver. O final da
Segunda Guerra também intensifica a necessidade dessa mudança.
Foi um período transitório em que havia intensa manifestação no
que se refere aos rumos do sistema educacional.
Em 1961, após muitos debates, foi aprovada a Lei 4.024, que
estabelecia as diretrizes e bases da educação nacional, tendo como
dispositivos fundamentais:
Tanto o poder público como o privado tem direito de
ministrar o ensino em todos os níveis;
O Estado pode subvencionar a iniciativa particular no
oferecimento de serviços educacionais;
A estrutura do ensino manteve a mesma organização anterior:
302
Flexibilidade de organização curricular, o que não
Ensino superior pressupões um currículo fixo e único em todo território
nacional.
303
um único professor, do qual não era exigido formação superior, mas
formação de magistério em nível médio. As quatro últimas séries do
1º grau e o 2º grau permaneceram divididas em disciplinas,
ministradas por diferentes docentes, dos quais se exigia formação
superior. A organização passou a ser:
304
alterou a organização do sistema escolar, bem como a sua
denominação.
O atendimento de 0 a 3 anos e de 4 a 6 anos passou a ser
chamado de Educação Infantil. Já o antigo 1º e 2º graus passaram a
ser denominados Ensino Fundamental e Ensino Médio
respectivamente. Segundo a LDB a educação brasileira passa a ter
dois níveis na Educação Básica, composta pela Educação Infantil,
Ensino Fundamental, e o Ensino Médio, e a Educação Superior.
Articula a educação profissional com esses níveis. E ainda institui
outras modalidades de ensino, como a Educação especial, Educação
Indígena, Educação Quilombola e Educação de Jovens e Adultos,
que ganharam especificidade dentro da nova forma de organização.
A lei 11.274 de 2006, alterou a LDB, e instituiu o Ensino
Fundamental de 9 anos, com matrícula obrigatória a partir dos 6
anos de idade.
Segundo a Emenda Constitucional n.º 59, o Plano Nacional de
Educação passou a ser decenal e vinculou recursos para a sua
execução, isto é passou a ser um plano de Estado, o que obriga que
os planos de governo estejam de acordo com ele, consolidando
políticas com maior articulação federativa. O plano também se
tornou o articulador do Sistema Nacional de Educação.
A efetivação de um Sistema Nacional de Educação até os dias
de hoje resultou em graves fragilidades para a educação brasileira,
como a ausência de qualidade nacional.
Em 2010 o governo federal com a prerrogativa de elaborar o
Plano Nacional de Educação, organizou a Conferência Nacional de
Educação – CONAE 2010, que tinha como tema “Construindo um
Sistema Nacional Articulado de Educação: Plano Nacional de
Educação, suas Diretrizes e Estratégias de Ação”. Naquele momento
de ampla participação popular não ficou muito claro como seria o
funcionamento de Sistema Articulado de Ensino. Apesar disso as
deliberações finais deixaram claro da importância da efetivação do
regime de colaboração para o êxito do Sistema Nacional de
Educação. Legitimando esta ideia central é proposto na CONAE
2014, o tema “O PNE na Articulação do Sistema Nacional de
305
Educação: regime de colaboração, cooperação federativa e
participação popular”. Que discutiu intensamente tentando definir
como seria o funcionamento deste Sistema Nacional de Educação.
A Lei 13.005, que instituiu o Plano Nacional de Educação, em 25
de junho de 2014, para o decênio 2014-2024 é o que se tem de mais
efetivo para a implantação do Sistema Nacional de Educação, pois
define ações e estabelece prazos para diversas iniciativas que se
concretizadas instituirão o SNE. As disposições que merecem
destaque nesta lei são os artigos: 6º, 7º, 8º, 9º, 11 e 13 as metas 15 e 20
e as estratégias 2.1, 2.2, 3.2, 3.3, 17.1, 20.6, 20.7, 20.9 e 20.10.
306
– PIB do país no 5º (quinto) ano de vigência da Lei e, no mínimo, o equivalente
a 10% (dez por cento) do PIB ao final do decênio.
Estratégia 20.6 e 20.7: implantação do Custo Aluno Qualidade inicial (em dois
anos).
Estratégia 20.9: regulamentação do artigo 23 da Constituição Federal em dois
anos.
Estratégia 20.10: caberá à União, na forma Lei, a complementação de recursos
financeiros a todos os estados, ao Distrito federal e aos Municípios que não
conseguirem atingir o valor do CAQi e posteriormente, do CAQ (BRASIL,
PNE, 2014)
307
Devem pactuar aspectos de gestão e financiamento, condições
indispensáveis à qualidade pedagógica almejada. O papel
normativo, deliberativo e consultivo deve ser reforçado e sua
composição deveria combinar capacidades técnicas com
representações dos diversos segmentos.
Nos municípios que instituíram o seu próprio Sistema de
Educação os Conselhos Municipais de Educação, devem ter as suas
competências normativas, deliberativas e consultivas bem definidas
e combinadas com outras atribuições que o Sistema Estadual de
Educação estabelecer.
Assim fica a cargo do Conselho Municipal de Educação em suas
funções normativa, deliberativa e consultiva: credenciamento e
recredenciamento das instituições de ensino municipal pública e da
Educação Infantil privada, autorização e reconhecimento de cursos
no âmbito do Ensino Fundamental, organização curricular e a
elaboração de normas complementares às nacionais, o
assessoramento por meio de pareceres aprovados pelo colegiado
respondendo às consultas do governo ou da sociedade referentes a
projetos ou programas educacionais. Responde também as consultas
a cerca de legislação, acordo, convênio e ainda propõem medidas
prevendo o aperfeiçoamento da educação municipal.
Em 2013 a União Nacional dos Conselhos Municipais de
Educação – UNCME realizou uma pesquisa nos encontros regionais
das regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste com a
finalidade de apresentar a visão desta instituição no que tange à
Articulação do Sistema de Nacional de Educação. Nos resultados
alcançados nestes encontros destacamos alguns pontos comuns,
como o entendimento de que a criação de um Sistema Nacional de
Educação deve levar em conta as vozes de vários atores, e sem
dúvida, a contribuição de arcabouço jurídico nacional. Neste sentido
o pacto federativo brasileiro é o ponto crucial para as primeiras
discussões. Os estudos mostram que o que temos hoje é um
federalismo de cooperação onde vários entes têm responsabilidades
diferentes para cumprir objetivos diversificados. No caso da
educação os entes federados possuem responsabilidades comuns e
308
concorrentes no que diz respeito à oferta do direito educacional
estabelecendo laços de cooperação e de corresponsabilização, como
o caso do Ensino Fundamental que é de responsabilidade tanto dos
municípios como dos estados. Essa receita federativa surgiu na
década de 30 e vem sendo aplicada até os dias de hoje.
A obra “Educação e Federalismo no Brasil: combater as
desigualdades e garantir as diversidades”, publicada em 2010, pela
representação da UNESCO, no Brasil, traz um texto do professor
Carlos Roberto Jamil Cury que contribui com o nosso pensamento:
309
Entendemos que o Sistema Nacional de Educação deve ser um
sistema de sistemas que vive dentro do mesmo organismo jurídico,
formando uma materialidade ordenada e orgânica. Mas para que
isso aconteça é necessário que se promova uma articulação baseada
em um regime plural, descentralizado e cooperativo nas decisões a
serem tomadas.
Neste sentido, pensamos que o Plano Nacional de Educação
possa ser o elemento articulador para orientar e conduzir os demais
entes federados na elaboração dos seus planos, alinhando-os às metas
registradas no PNE. E assim, os municípios e os estados, tendo o PNE
como referência, tornam possível atingir metas nacionais com
esforços locais. Assim o Sistema Nacional de Educação deverá ser
concebido como um sistema federativo cooperativo, com estado
democrático de direito e ao mesmo tempo concorrente e
compartilhado no âmbito das competências de cada ente.
Faz-se necessário pensar no que determina a LDB, no art. 11, e
ainda a Constituição Federal em seu art. 211, que reconhece os
sistemas municipais de ensino e define suas atribuições e formas de
organização da educação dos entes subnacionais.
Entre as responsabilidades dos municípios estão as de autorizar,
credenciar e supervisionar os estabelecimentos do sistema de ensino,
por meio dos Conselhos Municipais de Educação. Esse sistema de
ensino compreende, também, as instituições de educação Infantil,
criada e mantida pela iniciativa privada.
Compreendemos que as competências dos entes municipais e
estaduais não podem ser alteradas ou prejudicadas, mas ampliadas
e explicitadas. Dessa forma as relações dos entes federados não
seriam pelo processo hierárquico, mas por meio do respeito às
competências já estabelecidas e consensuadas pelo regime de
colaboração federativa.
Cabe ao poder público estabelecer normas capazes de dar
sustentação ao Sistema Nacional de Educação sem perder de vista a
valorização e ampliação da qualidade da educação pública. A
Constituição de 1988 dá autonomia aos estados e municípios, mas
não deixa claras essas competências; e é preciso descentralizar os
310
recursos existentes de forma que a instituição do Sistema Nacional
Educação perpasse não somente pelo Plano Nacional de Educação,
mas, além disso, pela responsabilização dos estados e municípios, a
gestão democrática e a ampliação do poder de investimento dos
entes subnacionais.
Não nos cabe apresentar um único caminho possível ou uma única
maneira de se construir um Sistema Nacional de Educação, mas refletir
o que pensam os Conselhos Municipais de Educação do Brasil acerca
do seu papel dentro do sistema. Neste sentido podemos dizer que para
a maioria dos conselhos municipais de educação do Brasil o Sistema
Nacional de Educação não se constitui um novo ente, um novo órgão,
um novo local de normatização e organização da educação nacional. A
não centralização das relações educacionais dentro do Sistema
Nacional de Educação deverá passar pela institucionalização e
fortalecimento dos Conselhos Municipais, Estaduais e Nacional de
Educação, todos autônomos e normativos, propositivos e fiscalizadores
no âmbito de seus sistemas de ensino. Mas o Sistema Nacional de
Educação será o esforço contínuo e articulado de todos os entes
federados na consecução das metas educacionais.
O movimento pela autonomia municipal em educação veio com
a criação da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação
– UNDIME, em 1996, onde se percebe um aumento na organização
dos municípios para a instituição dos seus sistemas de ensino
garantindo recursos e espaços de participação na defesa dos
interesses locais.
O município tem sido apontado como um campo de potência
descentralizadora com experiências democráticas devido à
proximidade do governo local com os cidadãos. A criação dos
sistemas municipais de ensino pode ser entendida como a opção do
município assumir a autonomia em relação à política educacional,
uma vez que a decisão é pautada em lei, devendo ser interesse do
Executivo, aprovado pelo Legislativo e contar com a participação de
setores das comunidades nos Conselhos Municipais de Educação,
como parte integrante do sistema. Neste sentido a municipalização
foi entendida, a partir da década de 90, como uma vontade
311
impositiva do estado transferindo aos municípios a
responsabilidade pelo ensino fundamental; a municipalização,
embora induzida, possibilita ganhos políticos ao ensejar maior
participação da comunidade, descentralização e proximidade do
processo decisório, bem como a ampliação dos espaços de vivência
democrática; foi identificado o receio de a municipalização do
ensino significar um certo regionalismo, tornando a realidade
nacional multifacetada; a questão dos gestores se tornou grande em
relação à questão financeira, receosos com os repasses dos recursos,
inviabilizando, assim, a implantação da política educacional; e
assim para muitos municípios a criação de sistema municipal de
ensino ficou em segundo plano.
Alguns Conselhos Estaduais de Educação buscaram resguardar
a unidade na diversidade, procurando contribuir para a construção
de sistemas municipais de ensino autônomos e flexíveis, mas
articulados e integrados, resguardando padrões necessários para
que os cidadãos possam ter mobilidade geográfica, participação na
vida nacional e acontecimentos internacionais, sem perder sua
identidade e sua capacidade de escolha das políticas que mais
convenham à cultura e às condições da realidade local. A
organização dos sistemas municipais de ensino, como integrantes
dos sistemas estadual e federal, envolve questões relacionadas ao
poder local e significado ante o processo de globalização.
Em todos os municípios a instituição do sistema foi iniciativa do
Executivo e contou com a adesão da Câmara de Vereadores, tendo a
lei de criação sido aprovada em sua maioria sem grandes discussões.
No que tange aos princípios orientadores do sistema a sua
composição, a Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional, foi
respeitada integralmente. Os conselhos municipais de educação
foram valorizados, sendo sua composição e competências
detalhadas na própria lei de criação ou em lei complementar. Todos
são vistos como parte fundamental do sistema e destacados como
espaço de participação da sociedade. Possuem caráter consultivo e
deliberativo e alguns ainda se atribuem a função normativa. Em
relação às representações em quase todos os conselhos aparecem os
312
representantes das secretarias municipais de educação, professores,
pais de alunos e diretores de escolas e ainda representantes de
setores sociais não diretamente vinculados à área educacional, como
OAB, associação de moradores, associação comercial entre outros.
No que diz respeito à competência dos conselhos municipais de
educação as mais constantes são: manifestar-se sobre o Plano
Plurianual e o orçamento, fiscalizando a aplicação de recursos,
diagnosticar os problemas do ensino e propor alternativas para
superá-los. E ainda normatizar sobre autorização e funcionamento
de escolas de educação infantil privada e pública e as de ensino
fundamental pública; estabelecer critérios para a proposta
pedagógica e sugerir medidas para a melhoria da qualidade do
ensino. Participar da elaboração da política educacional,
acompanhar o cadastro e recenseamento de matrículas, pronunciar-
se sobre a ampliação da rede e localização de prédios escolares.
Opinar sobre as formas de cooperação, estado e município ou
articular com os conselhos nacional e estadual de educação.
A criação do Sistema Municipal de Educação oportunizou aos
municípios usarem sua autonomia para encaminhamento das
questões referentes à sua área de atuação: educação infantil e ensino
fundamental. Com isso ficou mais fácil estruturar a rede escolar
municipal contribuindo para solucionar os principais problemas
educacionais locais. Tendo como dificuldades a falta de informação
da sua estrutura, organização e funcionamento, e a financeira que
muito compromete a execução administrativa e de
acompanhamento das escolas.
Em pleno século XXI o Brasil ainda enfrenta dificuldades em
organizar o seu Sistema Nacional de Educação e assim, ofertar uma
educação básica de qualidade para todos, com sistemas autônomos
que devem atuar em cooperação: união, estados e municípios.
Tarefa é enredada pelos problemas da Federação com as
diversidades regionais e políticas, extremas dificuldades sociais e
propostas.
Muitas são as dúvidas no que se refere à efetivação do Sistema
Nacional de Educação. Faz-se necessária uma linha de estudo mais
313
ampliada que englobe todos os Estados brasileiros, o
desenvolvimento dos sistemas municipais de ensino, a articulação
entre os entes federados, a participação dos conselhos municipais e
da comunidade e todos os limites e possibilidades passível para a
sua efetivação.
Referências
314
INFORMAÇÕES DOS ORGANIZADORES
315
pela UFES/PPGE, e Pós-doutorado em Educação pela UFRGS. É
membro do Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão em Educação
Especial (NEESP) e do Laboratório de Gestão da Educação Básica do
Espírito Santo (LAGEBES) do Centro de Educação/UFES. É líder do
grupo de pesquisa (CNPq): Políticas, Gestão e Inclusão Escolar:
contextos e processos sociais (UFES); e membro dos Grupos de
Pesquisa (CNPq): Educação Especial: formação de profissionais,
práticas pedagógicas e políticas e inclusão escolar (UFES); Processos
Civilizadores (UEL). Desenvolve pesquisas com os seguintes temas:
políticas de educação especial; formação continuada de profissionais
para a Educação Especial; gestão da Educação Especial, e; gestão
escolar no contexto da escolarização do aluno com deficiência.
Coordenador do Projeto de Pesquisa Estudo Comparado
Internacional em Educação Especial: o ensino superior em foco
(Financiamento do CNPq).
316
INFORMAÇÕES DOS AUTORES
317
Municipal de Educação de Vitória e do Fórum Municipal de
Educação. Membro da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.
E-mail [email protected]
318
Eduardo Augusto Moscon Oliveira. Professor da Universidade
Federal do Espírito Santo, Centro de Educação, Departamento de
Educação Política e Sociedade. Doutor em Educação pela
Universidade Federal da Bahia. Mestre em Educação pela
Universidade Federal do Espírito Santo. Bacharelado e Licenciatura
em História pela Universidade Federal do Espírito Santo.
Coordenador do Projeto de Pesquisa intitulado “Condições de
Efetivação da Gestão Democrática Presente nos Planos Municipais e
no Plano Estadual de Educação do Espírito Santo”. Vinculado ao
projeto de extensão permanente 'Laboratório de Gestão da Educação
Básica do Espirito Santo' - LAGEBES/UFES. Coordenador do Comitê
Gestor Institucional de Formação inicial e continuada dos
profissionais da Educação Básica da UFES - COMFOR/UFES.
Atualmente diretor coordenador estadual da ANFOPE - Associação
Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação. E-mail:
[email protected]
319
(PPGE-UFES). Doutora em Educação pela Universidade de São
Paulo (USP). Realizou estudos de Pós-Doutorado na Generalitat de
Catalunya (Barcelona-Espanha). Coordenadora do Grupo de
Pesquisa Federalismo e Políticas Educacionais. Coordenadora do
Projeto de Pesquisa “Regulamentação e Implementação do Sistema
Nacional De Educação no Brasil: Relações Intergovernamentais para
a garantia do Direito à Educação” (Processo 427959/2016-0 –
Chamada Universal I - 2016 do CNPq). Integrante da Comissão
Coordenadora de Educação e Cidadania do Grupo de Trabalho do
Conselho Latinoamericano de Ciências Sociais Espaços
Deliberativos e Governança Pública (Gegop-Clacso). E-mail:
[email protected]
320
Atuação de Educadores" (GRUFAE/UFES). E-mail:
[email protected]
321
em Educação Especial e Inclusiva (Universidade Vale do Cricaré).
Membro do FUNDEB – Marechal Floriano; responsável pela
Coordenação Orçamentária e Financeira (SIMEC- PAR/
PDDE/PMDDE/CONVIVA/PCR). Email: [email protected]
322
Federal do Espírito Santo e Especialização em Tecnologias em
Educação pela PUC/RJ, parceria SEED/MEC. Mestrado em Educação
pela Universidade Federal do Espírito Santo (2003), doutoranda em
Educação pela Universidade Federal do Espírito Santo - Brasil.
Participante do grupo de pesquisa: E-mail: [email protected]
323
Valdete Côco. Doutora em Educação pela Universidade Federal
Fluminense. Professora do Departamento de Linguagens, Cultura e
Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação, do
Centro de Educação, da Universidade Federal do Espírito Santo –
DLCE/PPGE/CE/UFES. Coordenadora do Grupo de Pesquisa
“Formação e Atuação de Educadores” - GRUFAE/UFES.
Coordenadora do Projeto de Pesquisa Mapeamento da Educação
Infantil no Espírito Santo (2015-2017): Formação Continuada De
Educadores (Registro PRPPG/UFES 6537/2015). Tutora do Programa
de Educação Tutorial (PET): Projeto Educação (2010 - 2016).
Coordenadora do GT07: Educação de crianças de 0 a 6 anos, da
Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação
(ANPEd) (2016-2017). E-mail: [email protected]
324
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Colatina - FAFIC; Pós-
Graduação Latus Sensu pela Faculdade Salgado Filho. Conselheira
do CAE 2017-2021, FUNDEB 2017-2019 e de Educação 2017-2019 do
Município de Guarapari – ES. Coordenadora do Fórum Municipal
de Educação de Guarapari - ES 2013- 2017; Coordenadora da
CONAI do Município de Guarapari – ES em 2014; Presidente da
Comissão de Elaboração e Acompanhamento do Plano Municipal de
Educação de Guarapari - ES 2015 – 2017; Vice Coordenadora da
União dos Conselhos Municipais de Educação do ES 2013 – 2015;
Coordenadora de Mobilização e Divulgação do Fórum estadual de
Educação do Espírito santo 2013 – 2014 e Conselheira do Fórum
Permanente de Capacitação à Docência do Espírito santo - 2013 -
2014. E-mail: [email protected]
325