A Estética Da Idade Média PDF
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Edgar de Bruyne 2
1) BRUYNE, Edgar de. L’Esthétique du Moyen Age. Louvain: Éditions de L’Institut Supérieur de
Philosophie, 1947. p. 109-113. Introdução, e tradução a partir do original em francês, por José Manuel
Victorino de Andrade (IFAT). Manteve-se a metodologia, além das citações latinas clássicas no corpo
do texto, optando-se pela tradução em rodapé.
2) Edgar Firmin Eugène Gustave Corneille de Bruyne (†1959), belga, especializou-se em filosofia medi-
eval e fez o seu doutorado na Universidade de Lovaina com a tese La théorie de la personalité d’après
St.-Thomas. Foi professor na Universidade de Gand. Deixou-nos numerosos livros e escritos de filoso-
fia da arte e estética medieval.
3) Etudes d’Esthétique médiévale, III, 72, 75. [Doravante, usaremos a abreviatura Et.].
Está claro que partindo destas bases, Guillaume projeta por sua vez a esté-
tica na moral, e a moral na estética. Teremos apenas de segui-lo na sua com-
paração da consciência do bem e do mal com a do belo e do feio.
Não haveria vantagens em salientar, neste momento, as influências aris-
totélicas que traem seu ciceronianismo, em particular na sua interpretação
emocionalista da consciência. Se a alma, como ele a considera, não se dis-
tingue das suas faculdades, conhecer é experimentar sentimentos. Ver o belo
está em fruir, porque isto é o ato de amar. 14
Quanto às consequências da emoção estética, procuremos recordar o essen-
cial: a percepção é acompanhada do prazer ou todavia se identifica com ele; o
prazer é seguido de uma aprovação, “puchrum laudabile est”, 15 e esta última,
de um élan para o belo, “intuentium animos delectat et ad amorem sui allicit”. 16
Tudo isso se explica metafisicamente de acordo com os princípios tradi-
cionais: “Nada é belo, que não agrade a Deus”. Se, em consequência, nós nos
deleitamos espontaneamente com o belo, é porque, na forma “que convém por
si mesma”, descobrimos um reflexo de Deus, que é o Ideal absoluto, isto é, que
se impõe como absolutamente digno do ser. Em nossa alma “que se reporta à
bela forma”, sentimos de maneira confusa um élan enigmático para Deus. O
sentimento confuso — mas quão profundo e deleitável —, do belo, seja moral,
seja físico, é portanto o sinal do reencontro consciente de uma parcela realiza-
da da almejada perfeição, com nosso movimento pré-consciente rumo ao ide-
al infinito.
Guillaume ainda vai mais longe: a ação das criaturas não é senão uma
expressiva parte da Atividade divina que lhes é imanente. O desejo do belo,
a alegria da visão, o élan para a beleza, é a Atividade primeira que se mani-
festa: “Hoc cogit vehementia et velut torrens primi fluxus”. 17 Deus nos preen-
che à maneira de um rio de bondades, à semelhança de uma torrente de sua-
vidades que inunda veementemente inumeráveis córregos e riachos. 18 Não é
apenas a Beleza divina que nós fruímos nas belas formas criadas, mas a nos-
sa própria potência de fruir é um sinal particular de seu Ato presente e agin-
do em nós. 19