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Aula 4

PEPTÍDEOS E PROTEÍNAS
META
Apresentar ao aluno os peptídeos e as proteínas, suas estruturas e reações.

OBJETIVOS
Ao final desta aula, o aluno deverá:
reconhecer um peptídeo ou proteína. Entender o que é estrutura primária,
secundária, terciária e quaternária. Saber determinar a estrutura primária de uma proteína.

PRÉ-REQUISITOS
Aula 03 de aminoácidos, reações de ácidos carboxílicos, aminas e amidas.

André Luís Bacelar Silva Barreiros


Marizeth Libório Barreiros
Química de Biomoléculas

INTRODUÇÃO

Olá aluno, na aula passada você foi apresentado aos aminoácidos.


Você aprendeu sobre a sua nomenclatura, estereoquímica e reações. Você
viu que os aminoácidos podem ser classificados por sua estrutura, por sua
função química ou polaridade. Nesta aula nós iremos ver como os ami-
noácidos se ligam formando os peptídeos e as proteínas. Estudaremos a
ligação peptídica, sua configuração, conformações, e como influenciam a
estrutura dos peptídeos e proteínas como um todo. Veremos os tipos de
interação existentes numa proteína, suas estruturas primárias, secundárias,
terciárias e quaternárias.
Vamos começar então? Mãos a obra!

LIGAÇÃO PEPTÍDICA

Figura 1 - Formação de uma ligação peptídica.


Fonte: NELSON, D. L., COX, M. M. Princípios de Bioquímica de Lehninger. 5ª. Ed. Artmed,
Porto Alegre – RS, 2011. Pg. 82.

Quando duas moléculas de aminoácido se unem elas sofrem uma rea-


ção de condensação formando uma ligação amida. O produto desta união
é denomidado peptídeo, e a ligação amida ganha um nome especial de
ligação peptídica (Figura 1). Por convenção o grupo amino livre é sempre
representado a esquerda, e o grupo carboxila livre a direita (Figura 2).

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Peptídeos e Proteínas Aula 4

Figura 2 - Convenção na representação de peptídeos e proteínas.


Fonte: BRUICE, P. Y. Química Orgânica. Vol. II, 4ª. Ed. Pearson Prentice Hall, São Paulo – SP, 2006.
Pg. 387.

A ligação peptídica apresenta deslocalização de elétrons entre o ni-


trogênio da amida e sua carbonila, dando 40% de caráter de dupla a esta
ligação (Figura 3). O caráter parcial de dupla da ligação peptídica faz com
que a rotação livre em torno desta não seja possível. Já impedimento estérico
faz com que a configuração trans seja mais estável que a cis, os seja, os car-
bonos α carbonílicos dos aminoácidos adjacentes são trans um em relação
ao outro. Estes C-α, juntamente com a carbonila e o nitrogênio estão num
plano rígido (Figura 4), e esta planaridade afeta a maneira como a cadeia
de aminoácidos num peptídeo ou proteína pode se dobrar, influenciando
a sua forma tridimensional.

Figura 3 - Deslocalização dos elétrons na ligação peptídica.


Fonte: BRUICE, P. Y. Química Orgânica. Vol. II, 4ª. Ed. Pearson Prentice Hall, São Paulo – SP, 2006.
Pg. 388.

Figura 4 - Planaridade em torno da ligação peptídica.


Fonte: BRUICE, P. Y. Química Orgânica. Vol. II, 4ª. Ed. Pearson Prentice Hall, São Paulo – SP, 2006.
Pg. 388.

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Química de Biomoléculas

LIGAÇÕES DISSULFETO

Figura 5 - Ligações dissulfeto.


Fonte: NELSON, D. L., COX, M. M. Princípios de Bioquímica de Lehninger. 5ª. Ed. Artmed, Porto
Alegre – RS, 2011. Pg. 77.

Juntamente com as ligações peptídicas, as ligações dissulfeto (Figura 5)


são as únicas ligações covalentes que mantém os aminoácidos ligados em um
peptídeo ou proteína. Mas ao contrário das ligações peptídicas, as ligações
dissulfeto se formam entre aminoácidos não adjacentes, contribuindo com
a forma como a proteína ou peptídeo se dobra (Figura 6).

Figura 6 - Efeito das ligações dissulfeto na estrutura da proteína.


Fonte: BRUICE, P. Y. Química Orgânica. Vol. II, 4ª. Ed. Pearson Prentice Hall, São Paulo – SP,
2006. Pg. 389.

Os tióis ao serem oxidados formam dissulfetos, substâncias com ligação


S-S. Se a oxidação forma dissulfetos, a redução retorna aos tióis. Nos pep-
tídeos e proteínas, o aminoácido que apresenta um grupo tiol é a cisteína.
Quando dois resíduos de cisteína não adjacentes são oxidados eles formam
um dissulfeto denominado cistina (Figura 5). Você sabia que é a quantidade
e a posição das ligações dissulfeto na queratina, proteína do cabelo, que
determina se o seu cabelo é liso, cacheado ou crespo? Hoje em dia o seu

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Peptídeos e Proteínas Aula 4
cabelereiro já pode alterar essas ligações quimicamente. Primeiramente ele
usa um agente redutor para quebrar todas a ligações dissulfeto, transfor-
mando as cistinas em cisteínas. Em seguida ele coloca seu cabelo no formato
que você deseja, esticado no alisamento ou enrolado na permanente. Por
fim aplica um agente oxidante, que forma as novas ligações dissulfeto na
nova posição onde as cisteínas se encontram, deixando seu cabelo liso ou
cacheado definitivamente, pelo menos até que ele cresça novamente.

Peptídeos

Dois aminoácidos ligados formam um dipeptídeo. Três um tripeptídeo,


quatro um tetrapeptídeo, cinco um pentapeptídeo, e assim por diante. Pou-
cos aminoácidos unidos formam um oligopeptídeo, muitos aminoácidos
unidos formam um polipeptídeo. A diferença entre um polipeptídeo e uma
proteína é a massa molecular. Com uma massa molecular abaixo de 10.000
temos um polipeptídeo, acima de 10.000 temos uma proteína. Não existe
correlação entre o comprimento de um peptídeo e sua atividade biológica.
Peptídeos de ocorrência natural podem variar em comprimento de dois
a muitas centenas de resíduos de aminoácidos, mas mesmo os menores
peptídeos podem apresentar importantes efeitos biológicos.
Tomemos por exemplo o dipeptídeo sintetizado comercialmente, o
éster metílico da L-aspartil-L-fenilalanina, mais conhecido como aspartame
ou NutraSweet (Figura 7). Sua estrutura é extremamente simples, mas pos-
sui um poder adoçante 200 vezes superior a D-glicose, sendo utilizado em
diversos produtos diet e light (Figura 8).

Figura 7 - Aspartame.
Fonte: NELSON, D. L., COX, M. M. Princípios de Bioquímica de Lehninger. 5ª. Ed. Artmed, Porto
Alegre – RS, 2011. Pg. 83.

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Química de Biomoléculas

Figura 8 - Exemplo de produto contendo Aspartame.


Fonte: http://detudoblogue.blogspot.com/2009/05/coca-cola-zero-faz-mal-veja-os.html

Muitos peptídeos pequenos exercem atividade biológica em concen-


trações muito baixas. É o caso de diversos hormônios dos vertebrados
como o fator liberador de tireotropina (TSH), um tripeptídeo produzido
pelo hipotálamo e capaz de fazer a tireóide liberar a tireotropina (Figura 9).

Figura 9 - Fator liberador de Tireotropina.


Fonte: http://www.freepatentsonline.com/7067257-0-large.jpg

As encefalinas Tyr-Gly-Gly-Phe-Leu (leucina-encefalina) e Tyr-Gly-Gly-


Phe-Met (metionina-encefalina) são pentapeptídeos sintetizados pelo corpo
para controlar a dor. Elas se ligam aos receptores do cérebro diminuindo
a sensibilidade do corpo à dor, num modo de ação semelhante à morfina
e ao Demerol.

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Peptídeos e Proteínas Aula 4

Figura 10 - Encefalinas.
Fonte: Autoria Própria

A bradicinina é um nonapeptídeo que inibe a inflamação nos tecidos


(Figura 11), a a vasopressina um nonapeptídeo que controla a pressão
sangüínea regulando a contração da musculatura lisa e a reabsorção de
água nos rins (Figura 12) e a ocitocina um nonapeptídeo que induz a dor
do parto e estimula a produção de leite em lactantes (Figura 13).

Figura 11 - Bradicinina.
Fonte: Foto-montagem de Autoria Própria com figura de:
http://nursingpharmacology.info/Pulmonary/respiratory_anesthesiology/respiratory2.htm

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Química de Biomoléculas

Figura 12 - Vasopressina.
Fonte: Foto-montagem de Autoria Própria com figuras de:
http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Vasopressin_structure.png
http://www.newhopechurch.ca/jvsblog/2011/10/04/so-how-exactly-do-you-preach-a-kidney/

Figura 13 - Ocitocina.
Fonte: Foto-montagem de Autoria Própria com figuras de: http://en.wikipedia.org/wiki/
File:Oxytocin_with_labels.png
http://cartilhapacienterenal.cursoseconcursosnosite.com.br/?paged=40

Síntese de peptídeos

Dentre os peptídeos de ação homonal, talvez o mais conhecido e um


dos mais importantes seja a insulina (Figura 14). A insulina é secretada pelo
pâncreas e regura o metabolismo da glicose, sendo que a sua deficiência
causa o diabetes. Trata-se de um peptídeo constituído por duas cadeias
peptídicas A e B, unidas entre sí por duas ligações dissulfeto. A cadeia A é
mais curta com 21 resíduos de aminoácidos, enquanto a cadeia B contém
30 resíduos. A insulina também possui uma ligação dissulfeto intracadeia
na cadeia A.

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Peptídeos e Proteínas Aula 4

Figura 14 - Insulina.
Fonte: Foto-montagem de Autoria Própria com figuras de: BRUICE, P. Y. Química Orgânica. Vol. II,
4ª. Ed. Pearson Prentice Hall, São Paulo – SP, 2006. Pg. 389.
http://www.nlm.nih.gov/medlineplus/ency/imagepages/17194.htm

Como podemos constatar pelos exemplos, os peptídeos possuem


enorme inportância para o nosso organismo. É interessante portanto
efetuar a sua síntese em laboratório. Entretanto, surgem alguns problemas
ao tentarmos esta síntese. Tomemos por exemplo a síntese do dipeptídeo
Gly-Ala. Os aminoácidos possuem dois grupos funcionais, o grupo ácido
carboxílico e o grupo amino. Ao tentarmos formar a ligação amida entre
esses dois grupos da glicina e alanina obtemos na verdade uma mistura de
Gly-Ala, Ala-Ala, Gly-Gly e Ala-Gly (Figura 15).

Figura 15 - Reação entre glicina e alanina.


Fonte: BRUICE, P. Y. Química Orgânica. Vol. II, 4ª. Ed. Pearson Prentice Hall, São Paulo – SP, 2006.
Pg. 392. (Adaptado)

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Química de Biomoléculas

Uma estratégia para contornar este problema é a proteção do grupo


amino da Gly (aminoácido N-terminal) e a ativação da carboxila deste
mesmo aminoácido (Figura 16). Desta maneira a Ala reagirá preferencial-
mente com a Gly formando o dipeptídeo Gly-Ala.

Figura 16 - Proteção e ativação.


Fonte: BRUICE, P. Y. Química Orgânica. Vol. II, 4ª. Ed. Pearson Prentice Hall, São Paulo
– SP, 2006. Pg. 392.

A proteção do grupo amino do aminoácido é efetuada com o dicar-


bonato de di-tert-butila ou t-BOC (Figura 17). A ativação é feita reagindo
o aminoácido com a dicicloexil-carbodiimida (DCC) (Figura 18).

Figura 17 - Proteção com o t-BOC.


Fonte: BRUICE, P. Y. Química Orgânica. Vol. II, 4ª. Ed. Pearson Prentice Hall, São Paulo – SP, 2006.
Pg. 392.

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Peptídeos e Proteínas Aula 4

Figura 18 - Ativação com a DCC.


Fonte: BRUICE, P. Y. Química Orgânica. Vol. II, 4ª. Ed. Pearson Prentice Hall, São Paulo – SP, 2006.
Pg. 392.

Após efetuada a ativação, o segundo aminoácido é adicionado. Seu


grupo amino desprotegido age como nucleófilo atacando o grupo carboxila
ativado numa reação de substituição acílica nucleofílica, onde o grupo
abandonador é a dicicloexil-uréia (Figura 19).

Figura 19 - Adição do segundo aminoácido.


Fonte: BRUICE, P. Y. Química Orgânica. Vol. II, 4ª. Ed. Pearson Prentice Hall, São Paulo – SP, 2006.
Pg. 393.

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Química de Biomoléculas

A repetição da proteção pela DCC seguida da adição de novo aminoá-


cido aumenta a cadeia do peptídeo (Figura 20). Após sintetizar o peptídeo
desejado, o grupo protetor N-terminal é removido com ácido trifluor-
acético (Figura 21).

Figura 20 - Adição de novo aminoácido.


Fonte: BRUICE, P. Y. Química Orgânica. Vol. II, 4ª. Ed. Pearson Prentice Hall, São Paulo – SP, 2006. Pg. 393.

Figura 21 - Legenda: Desproteção do grupo amino.


Fonte: BRUICE, P. Y. Química Orgânica. Vol. II, 4ª. Ed. Pearson Prentice Hall, São Paulo – SP, 2006. Pg. 393.

Em tese esta metodologia poderia ser utilizada na síntese de peptídeos


de qualquer tamanho. Entretanto, trata-se de uma metodologia demorada
e cansativa, pois o produto deve ser purificado a cada etapa para evitar
reações indesejadas com aminoácidos restantes das etapas anteriores. A
maior dificuldade desta metodologia é o rendimento, que é de 80% para
cada adição, mas como as adições são em sequência o rendimento da se-
gunda já cai para 64%, da terceira para 51%, chegando a 17% na oitava
adição, ou seja, num nonapeptídeo. Neste rítmo fica inviável a síntese de
peptídeos maiores.

Aminoácidos
2 3 4 5 6 7 8 9
Rendimento 80% 64% 51% 41% 33% 26% 21% 17%

O químico e prêmio Nobel norte americano Robert Bruce Merrifield


(Figura 22) solucionou este problema propondo uma síntese automatizada
de peptídeos. Nesta síntese o aminoácido C-terminal protegido no grupo
amino é ligado covalentemente ao suporte sólido contido em uma coluna

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Peptídeos e Proteínas Aula 4
(Figura 23) semelhante a uma coluna de cromatografia. Em seguida a pro-
teção é removida passando-se pela coluna o ácido trifluor-acético (Figura
24). O aminoácido que se deseja adicionar é ativado com DCC (Figura 25)
e eluido na coluna, sendo atacado pelo grupo amino do aminoácido imobi-
lizado (Figura 26). Em seguida passa-se novamente ácido trifluoro-acético
na coluna para remover a proteção do grupo N (Figura 27) e o processo se
repete até atingir o tamanho do peptídeo desejado (Figuras 28 e 29). Para
remover o produto da coluna basta passar por ela ácido fluorídrico sob
condições brandas (Figura 30).

Figura 22 - Legenda: Robert Bruce Merrifield.


Fonte: http://www2.chemistry.msu.edu/portraits/PortraitsHH_Detail.asp?HH_
Lname=Merrifield

Figura 23 - Legenda: Imobilização do aminoácido na coluna.


Fonte: BRUICE, P. Y. Química Orgânica. Vol. II, 4ª. Ed. Pearson Prentice Hall, São Paulo – SP,
2006. Pg. 395.

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Química de Biomoléculas

Figura 24 - Remoção do grupo N-protetor.


Fonte: BRUICE, P. Y. Química Orgânica. Vol. II, 4ª. Ed. Pearson Prentice Hall, São Paulo – SP,
2006. Pg. 395.

Figura 25 - Ativação do segundo aminoácido.


Fonte: BRUICE, P. Y. Química Orgânica. Vol. II, 4ª. Ed. Pearson Prentice Hall, São Paulo – SP, 2006. Pg. 395.

Figura 26 - Adição do novo aminoácido.


Fonte: BRUICE, P. Y. Química Orgânica. Vol. II, 4ª. Ed. Pearson Prentice Hall, São Paulo – SP, 2006.
Pg. 395.

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Peptídeos e Proteínas Aula 4

Figura 27 - Remoção do grupo N-protetor.


Fonte: BRUICE, P. Y. Química Orgânica. Vol. II, 4ª. Ed. Pearson Prentice Hall, São Paulo – SP, 2006.
Pg. 395.

Figura 28 - Legenda: Ativação e adição de novo aminoácido.


Fonte: BRUICE, P. Y. Química Orgânica. Vol. II, 4ª. Ed. Pearson Prentice Hall, São Paulo – SP, 2006. Pg. 395.

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Química de Biomoléculas

Figura 29 - Legenda: Remoção do grupo N-protetor.


Fonte: BRUICE, P. Y. Química Orgânica. Vol. II, 4ª. Ed. Pearson Prentice Hall, São Paulo – SP, 2006. Pg. 395.

Figura 30 - Legenda: Remoção do produto da coluna.


Fonte: BRUICE, P. Y. Química Orgânica. Vol. II, 4ª. Ed. Pearson Prentice Hall, São Paulo – SP, 2006. Pg. 395.

A grande vantagem do método de Merrifield é a facilidade em remoção


dos reagentes por simples lavagem da coluna, o que diminui a formação
de subprodutos, aumenta o rendimento de cada etapa já que o produto
encontra-se imobilizado, e reduz o tempo de reação. Outra vantagem é que
o método pode ser automatizado, requerendo menor atenção do operador.

Proteínas

Proteínas são polímeros de aminoácidos, unidos por ligação covalente


do tipo amida denominada ligação peptídica. Uma proteína contém mais

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Peptídeos e Proteínas Aula 4
de 100 resíduos de aminoácido o que equivale a uma massa molar superior
a 10.000g/mol. As proteínas exercem as mais diferentes funções num or-
ganismo, como, por exemplo, a luciferina do vagalume que emite luz através
de uma reação química, a hemoglobina que é a proteína transportadora de
oxigênio ou a queratina que forma os cabelos, unhas e chifres dos animais
(Figura 31).

Figura 31 - lguns exemplos de proteínas.


Fonte: NELSON, D. L., COX, M. M. Princípios de Bioquímica de Lehninger. 5ª. Ed. Artmed, Porto
Alegre – RS, 2011. Pg. 71.

Existem proteínas de diferentes tamanhos, com cadeias peptídicas vari-


ando de 104 aminoácidos e massa molar de 12.400g/mol no citocromo C
até 26.926 aminoácidos e massa molar de 2.993.000g/mol na titina. Essas
proteínas podem conter uma única cadeia peptídica como o citocromo C
e a titina, duas cadeias como a hexocinase, três como a quimotripsina ou
até mais como a glutamina sintetase que contém doze cadeias peptídicas.
Algumas proteínas contêm outros grupos químicos ligados em suas estru-
turas além dos aminoácidos. Essas são denominadas proteínas conjugadas,
e o grupo diferente denominado de grupo prostético. Dependendo da
natureza química dos grupos prostéticos podemos classificar as proteínas
como: lipoproteínas (grupo prostético é um lipídeo), glicoproteínas (grupo
prostético é um carboidrato), fosfoproteína (grupo fosfato), hemeproteína
(grupo heme), metaloproteínas (metais como ferro, zinco, cálcio, molib-
dênio, cobre, etc).
As moléculas de proteínas apresentam vários níveis de estrutura (Figura
32). A estrutura primária é a descrição de todas as ligações covalentes pre-
sentes na proteína, em particular a seqüência de aminoácidos e a posição
de todas as ligações dissulfeto. A estrutura secundária descreve arranjos
de aminoácios particularmente estáveis, o que determina a conformação
regular assumida pelos segmentos protéicos. A estrutura terciária descreve
toda a estrutura tridimensional da cadeia peptídica. A estrutura quaternária
descreve como cadeias peptídias individuais estão arranjadas umas em re-
lação as outras numa proteína. Apenas proteínas com mais de uma cadeia
peptídica possuem estrutura quaternária.

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Química de Biomoléculas

Figura 32 - Níveis estruturais nas proteínas.


Fonte: NELSON, D. L., COX, M. M. Lehninger´s Principles of Biochemistry. 4th Ed. Pg. 89.

Estrutura primária

Como foi dito, a estrutura primária é o conjunto de todas as ligações


covalentes presentes no peptídeo ou na proteína. Isso inclui as ligações
peptídicas e as ligações dissulfeto. Para determinar a ordem ou seqüência
dos aminoácidos é necessário antes romper as ligações dissulfeto, o que
pode ser conseguido através de uma oxidação ou de uma redução (Figura
33). Note que é importante que após o rompimento a ligação dissulfeto
não volte a se formar. No caso da oxidação, geralmente efetuada com ácido
perfórmico, o produto são dois resíduos de ácido cisteico, cujos grupos sul-
fonila não voltam a se unir. Entretanto, no caso da redução, seja ela efetuada
com ditiotetrol (Figura 33) ou 2-mercaptoetanol (Figura 34) o produto são
dois resíduos de cisteína, que precisam ser modificados quimicamente para
evitar nova formação de ligação dissulfeto (cistina). Para tento é feita uma
carboximetilação utilizando o ácido iodo-acético ou iodoacetato.

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Peptídeos e Proteínas Aula 4

Figura 33 - Quebra das ligações dissulfeto em peptídeos ou proteínas.


Fonte: NELSON, D. L., COX, M. M. Princípios de Bioquímica de Lehninger. 5ª. Ed. Artmed, Porto
Alegre – RS, 2011. Pg. 96.

Figura 34 - Quebra das ligações dissulfeto por redução com 2-mercaptoetanol.


Fonte: BRUICE, P. Y. Química Orgânica. Vol. II, 4ª. Ed. Pearson Prentice Hall, São
Paulo – SP, 2006. Pg. 397.

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Química de Biomoléculas

Em seguida deve-se determinar o número e os tipos de aminoácidos


presentes no peptídeo ou proteína. Para isso precisamos primeiro hidrolisar
todas as ligações peptídicas, o que pode ser conseguido aquecendo-se com
ácido clorídrico HCl 6N a 100ºC por 24h. A hidrólise ácida quebra todas
as ligações amida presentes, incluindo as da asparagina e glutamina, o que
ocasiona um problema, pois elas se convertem em aspartato e glutamato.
A mistura de aminoácidos obtida é então analisada por cromatografia
ou outro método analisador de aminoácidos, de onde obtemos o tipo de
aminoácidos presentes e em qual quantidade. Os valores de aspartato e glu-
tamato, entretanto, estarão majorados, pois seu resultado equivalerá à soma
de aspartato/asparagina e glutamato/glutamina. Outras técnicas devem ser
empregadas para distingui-los. O triptofano é outro problema, pois não
resiste às condições fortemente ácidas, sendo destruído. Para determinar
o teor de triptofano é necessário efetuar uma hidrólise básica e analisar o
produto, o que destrói vários outros aminoácidos. O resultado das duas
hidrólises é analisado em conjunto, nos dando o panorama completo de
todos os aminoácidos presentes.
Existem vários métodos para e determinação do aminoácido N-terminal
em um peptídeo ou proteína, como o uso do cloreto de dabsila ou do cloreto
de dansila (Figura 35). Ambos se ligam na extremidade N e após hidrólise
são identificados no analisador. Estes métodos, entretanto possuem pouca
aplicação, já que não nos informam sobre o resto da seqüência na cadeia
peptídica.

Figura 35 - Cloreto de dabsila e cloreto de dansila.


Fonte: NELSON, D. L., COX, M. M. Princípios de Bioquímica de Lehninger. 5ª. Ed. Artmed, Porto
Alegre – RS, 2011. Pg. 95.

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Peptídeos e Proteínas Aula 4
Para o seqüenciamento completo utiliza-se o método desenvolvido por
Pehr Edman, que marca e remove o aminoácido N-terminal, deixando as
outras ligações peptídicas intactas. O reagente de Edman utiliza isotioci-
anato de fenila (PTC) para reagir com o grupo amino terminal (Figura 36),
formando um derivado tiazolínico. Este derivado é hidrolisado da proteína
em condições fracamente ácidas com ácido trifluoracético (Figura 37),
extraído com solvente orgânico, e devido à presença de ácido sofre um
rearranjo formando uma fenil-tio-hidantoína (PTH), que é identificado
por cromatografia (Figura 38). Como o resto da cadeia peptídica é deixada
intacta, o procedimento pode ser repetido identificando o segundo, terceiro,
quarto aminoácidos e assim por diante.

Figura 36 - Reação de Edman – ataque nucleofílico e rearranjo.


Fonte: BRUICE, P. Y. Química Orgânica. Vol. II, 4ª. Ed. Pearson Prentice Hall, São Paulo – SP, 2006.
Pg. 398.

Figura 37 - Reação de Edman – hidrólise ácida.


Fonte: BRUICE, P. Y. Química Orgânica. Vol. II, 4ª. Ed. Pearson Prentice Hall, São Paulo –
SP, 2006. Pg. 398.

95
Química de Biomoléculas

Figura 38 - Reação de Edman – formação do PTH.


Fonte: BRUICE, P. Y. Química Orgânica. Vol. II, 4ª. Ed. Pearson Prentice Hall, São Paulo
– SP, 2006. Pg. 398.

Esse método foi automatizado e está presente na maioria dos seqüen-


ciadores de aminoácidos. Entretanto surge um problema, a eficiência da
reação varia entre 97% a 99% nos seqüenciadores mais modernos. Isso leva
a um acúmulo de peptídeos onde o aminoácido N-terminal não foi hidroli-
sado, aparecendo como ruído ao ser hidrolisado na etapa subseqüente. Esse
ruído se acumula a cada etapa ao ponto de inviabilizar o seqüenciamento
de peptídeos com mais de 50 aminoácidos.
A solução então é quebrar a proteína em pedaços menores, seqüenciar
cada pedaço e depois juntar a informação obtida de cada fragmento para
determinar a seqüência completa. Um maneira de fazer isto é utilizar ácido
diluído para promover a hidrólise parcial do peptídeo ou proteína. Ocorre
uma quebra parcial e aleatória de algumas ligações peptídicas. A análise em
separado dos fragmentos permite identificar a sequencia original.

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Peptídeos e Proteínas Aula 4

ATIVIDADES

1. A hidrólise parcial de um decapetídeo em meio ácido diluído gera os


fragmentos abaixo. A reação do peptídeo intacto com reagente de Edman
gera PTH-Gly. Qual a sequência de aminoácidos no peptídeo?

2. Fragmentos: a) Ala, Trp; b) Val, Pro, Asp; c) Pro, Val; d) Ala, Glu; e) Trp,
Ala, Arg; f) Arg, Gly; g) Glu, Ala, Leu; h) Met, Pro, Leu, Glu.

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

O reagente de Edman nós dá o aminoácido ¬N¬-terminal como sendo


a Gly, logo devemos buscar fragmentos que contenham Gly, no caso o
fragmento f. Esse fragmento contém Arg e Gly, como já sabemos que a
Gly está a esquerda, então logo após ela vem a Arg. Vamos agora olhar
os fragmentos com Arg. Temos o fragmento e que contém Trp, Ala e
Arg. Sabemos então que ao lado da Arg temos Trp-Ala ou Ala-Trp. O
fragmento a Ala e Trp não nos ajuda em nada, apenas confirma que
Ala e Trp estão vizinhos. Não existe outro fragmento com Trp, mas
o fragmento d possui Ala e Glu. Se Ala estivesse entre Arg e Trp na
ordem Arg-Ala-Trp, então não seria possível ela gerar um fragmento
sozinha com Glu. Logo temos Arg-Trp-Ala-Glu. O fragmento g Glu,
Ala e Leu nós diz que o próximo aminoácido na seqüência é Leu. O
fragmento h Met, Pro, Leu e Glu indica que após Leu temos Met-Pro
ou Pro-Met. O fragmento c Pro e Val, mostra que Pro não pode estar
entre Leu e Met, logo temos Leu-Met-Pro seguido de Val. Por fim o
fragmento c Val, Pro e Asp mostra que o ultimo aminoácido é Asp.
A seqüência completa é:

Gly-Arg-Trp-Ala-Glu-Leu-Met-Pro-Val-Asp

Alternativamente à hidrólise parcial utilizando ácido diluído, podemos


fazer hidrólises mais seletivas utilizando reagentes específicos ou
enzimas. As exopeptidades: Carboxi-peptidase A e Carboxi-peptidase
B são enzimas complementares, já que a Carboxi-peptidase A remove
o aminoácido C-terminal exceto Arg ou Lys, enquanto a Carboxi-
peptidase B remove o aminoácido C-terminal apenas se ele for Arg ou
Lys. Juntas elas nos dizem quem é o último aminoácido a direita, da
mesma forma que o reagente de Edman nós diz quem é o aminoácido
a esquerda (Figura 39).

97
Química de Biomoléculas

Figura 39 - Sítio de ataque das exopeptidases.


Fonte: BRUICE, P. Y. Química Orgânica. Vol. II, 4ª. Ed. Pearson Prentice Hall, São Paulo – SP,
2006. Pg. 399.

As endopeptidases quebram no meio da cadeia peptídica, em locais


específicos. Por exemplo, a Tripsina hidrolisa as ligações peptídicas
apenas do lado-C dos aminoácidos positivamente carregados Arg e
Lys (Figura 40).

Figura 40 - Sítio de ataque da Tripsina.


Fonte: BRUICE, P. Y. Química Orgânica. Vol. II, 4ª. Ed. Pearson Prentice Hall, São Paulo –
SP, 2006. Pg. 400.

A Quimotripsina hidrolisa as ligações peptídicas apenas do lado-C


dos aminoácidos aromáticos com anel de 6 membros Phe, Tyr e Trp
(Figura 41).

Figura 41 - Sítio de ataque da Quimotripsina.


Fonte: BRUICE, P. Y. Química Orgânica. Vol. II, 4ª. Ed. Pearson Prentice Hall, São Paulo – SP,
2006. Pg. 400.

A Elastase hidrolisa as ligações peptídicas apenas do lado-C dos


aminoácidos pequenos Gly e Ala (Figura 42).

Figura 42 - Sítio de ataque da Elastase.


Fonte: BRUICE, P. Y. Química Orgânica. Vol. II, 4ª. Ed. Pearson Prentice Hall, São Paulo –
SP, 2006. Pg. 400.

98
Peptídeos e Proteínas Aula 4
A Submaxillarus protease hidrolisa as ligações peptídicas apenas do
lado-C da Arg (Figura 43).

Figura 43 - Sítio de ataque da Submaxillarus protease.


Fonte: Desenhado pelo autor.

A Staphylococcus aureus V8 protease hidrolisa as ligações peptídicas


apenas do lado-C dos aminoácidos negativamente carregados Asp e
Glu (Figura 44).

Figura 44 - Sítio de ataque da Staphylococcus aureus V8 protease.


Fonte: Desenhado pelo autor.

A Pepsina hidrolisa as ligações peptídicas apenas do lado-N dos


aminoácidos aromáticos com anel de 6 membros Phe, Tyr e Trp
(Figura 45).

Figura 45 - Sítio de ataque da Pepsina.


Fonte: Desenhado pelo autor.

É interessante notar que nenhuma das endopeptidases consegue


hidrolizar a ligação peptídica caso o aminoácido ao lado seja Pro (Figura
46). Isso ocorre devido ao nitrogênio de amina secundária, que altera a
geometria na vizinhança, impedindo o encaixe no sítio ativo da enzima.

Figura 46 - Legenda: Vizinhança da prolina.


Fonte: BRUICE, P. Y. Química Orgânica. Vol. II, 4ª. Ed. Pearson Prentice Hall, São Paulo
– SP, 2006. Pg. 400.

99
Química de Biomoléculas

Além das enzimas, reagentes químicos também podem ser utilizados


para quebrar seletivamente a cadeia peptídica. Um exemplo é o
brometo de cianogênio, que hidrolisa a ligação peptídica do lado-C de
Met (Figura 47). Por não ser uma enzima o BrCN é mais específico,
hidrolisando mesmo ao lado de Pro, já que não depende do encaixe
em um sítio ativo. Seu mecanismo envolve o ataque nucleofílico do
enxofre da metionina ao carbono do brometo de cianogênio, com a
saída do bromo como grupo abandonador. Em seguida o oxigênio da
ligação amida, em sua forma de ressonância ataca o grupo metilênico
ligado ao enxofre, numa reação SN2, saindo o tiocianato de metila e
formando um anel de cinco membros (Figura 48).

Figura 47 - Sítio de ataque do BrCN.


Fonte: BRUICE, P. Y. Química Orgânica. Vol. II, 4ª. Ed. Pearson Prentice Hall, São Paulo
– SP, 2006. Pg. 401.

Figura 48 - Mecanismo do BrCN.


Fonte: BRUICE, P. Y. Química Orgânica. Vol. II, 4ª. Ed. Pearson Prentice Hall, São Paulo
– SP, 2006. Pg. 401.

100
Peptídeos e Proteínas Aula 4

ATIVIDADES

1. Determine a estrutura primária de um octapeptídeo sabendo que: A sua


hidrólise ácida total fornece duas Arg, Leu, Lys, Met, Phe, Ser e Pro. O
uso do reagente de Edman no peptídeo íntegro libera PTH-Leu. O uso da
Carboxipeptidase A libera Ser. O uso de BrCN (brometo de cianogênio)
produz dois fragmentos com a seguinte composição: 1) Arg, Phe, Ser; 2)
Arg, Leu, Lys, Met, Tyr. O uso da Tripsina no peptídeo íntegro produz
quatro fragmentos: 1) Arg; 2) Ser; 3) Arg, Met, Phe; 4) Leu, Lys, Tyr.

COMENTÁRIO SOBRE AS ATIVIDADES

Embora a questão já informe tratar-se de um octapeptídeo, essa


informação também poderia ser obtida contando o número de
aminoácidos liberados na hidrólise total que são oito. O reagente de
Edman quebra o peptídeo no lado-N, ou seja como ele liberou PTH-Leu
o primeiro aminoácido a esquerda é a Leu. Já a Carboxipeptidase quebra
o peptídeo no lado-C, ou seja, o último aminoácido no lado direito é a
Ser. O brometo de cianogênio quebra o peptídeo no lado-C (direito) da
Met, isso significa que o fragmento mais a direita não terá Met, sendo
o fragmento 1) Arg, Phe, Ser. Como já sabemos que Ser é o oitavo
aminoácido, o final do peptídeo pode ser Arg-Phe-Ser ou Phe-Arg-
Ser. Do fragmento 2) Arg, Leu, Lys, Met, Tyr sabemos que o primeiro
aminoácido é Leu, e o quinto tem que ser Met, pois foi onde ocorreu a
quebra. Analisemos agora a quebra pela Tripsina. A Tripsina quebra do
lado-C de Lys e Arg, ou seja, o último fragmento não pode conter esses
dois aminoácidos. Este é o fragmento 2) Ser. Isso confirma que o último
aminoácido é a Ser, e nós informa que antes da Ser deve haver uma Arg
ou Lys. Como já sabemos pelo BrCN que o último fragmento tem Arg,
Phe e Ser, então a ordem correta é Phe-Arg-Ser. O fragmento 3) Arg,
Met, Phe confirma essa informação e complementa com a Met que já
sabíamos estar na posição cinco. Além disso, nos diz que na posição
quatro encontra-se Lys ou Arg. O fragmento 4) Leu, Lys, Tyr é o único
que contém Leu, sendo portanto o primeiro fragmento. Como Leu é
o primeiro aminoácido e Lys deve estar no final do fragmento, já que a
quebra ocorre nela, então temos Leu-Tyr-Lys, e portanto o fragmento
1) Arg encontra-se na quarta posição. A seqüência completa é:

Leu-Tyr-Lys-Arg-Met-Phe-Arg-Ser

101
Química de Biomoléculas

Estrutura secundária

A estrutura secundária de um peptídeo ou proteína nos diz a conforma-


ção adquirida por um segmento protéico de forma a minimizar a sua ener-
gia. A conformação envolve os átomos da cadeia principal C-1 (carbonila),
C-α e o N. Como vimos anteriormente, o giro entorno da ligação C-1/N
(ligação peptídica) é proibido, devido ao seu caráter parcial de dupla (Figura
49), o que fixa a configuração desta ligação na posição trans por possuir
menor energia. Entretanto o giro é livre entre as ligações N/C-α (ângulo
ø) e C-α/C-1 (ângulo Ψ) (Figura 50) o que permite à molécula assumir
diferentes conformações. Quando o peptídeo encontra-se completamente
estendido ø e Ψ são iguais a ± 180º. O ângulo ø = Ψ = 0º é proibido,
pois ocorreriam sobreposições de átomos na molécula. Não fossem as ca-
deias laterais, a conformação mais estável seria a completamente estendida,
onde todos os átomos da cadeia principal encontram-se em conformação
antiperiplanar, minimizando assim a repulsão e a energia. Entretanto, a
repulsão ou atração entre as cadeias laterais exercem grande influência na
conformação assumida pela molécula. Vamos agora conhecer as principais
estruturas secundárias. Uma estrutura secundária comum ocorre quando
os ângulos ø e Ψ permanecem iguais ou quase iguais ao longo de um seg-
mento protéico. As mais comuns são as hélices α, as folhas β e as curvas
β. Quando a estrutura secundária é muito complexa para se descrever, ou
não apresenta um padrão regular de repetição, denominamos a estrutura
secundária de espiralada ou em laço.

Figura 49 - Estruturas de ressonância de ligação peptídica.


Fonte: NELSON, D. L., COX, M. M. Princípios de Bioquímica de Lehninger. 5ª. Ed. Artmed,
Porto Alegre – RS, 2011. Pg. 116.

Figura 50 - Ângulos no entorno da cadeia principal do peptídeo.


Fonte: NELSON, D. L., COX, M. M. Princípios de Bioquímica de Lehninger. 5ª. Ed. Artmed, Porto
Alegre – RS, 2011. Pg. 116.

102
Peptídeos e Proteínas Aula 4
Hélice α

As ligações de hidrogênio exercem grande influência na orientação dos


grupos polares nas ligações peptídicas. Para maximizar a força das ligações
de hidrogênio, o arranjo mais simples que a cadeia peptídica pode assumir
é o da hélice α. A hélice α é uma hélice destra, ou seja, gira em sentido
horário a medida quem se desce na espiral (Figura 51). Nesta conforma-
ção cada volta da hélice contém 3,6 aminoácidos, e ocorre uma ligação de
hidrogênio entre a carbonila da amida e o hidrogênio ligado ao nitrogênio
(Figura 52). As cadeias laterais são posicionadas para fora da hélice, o que
reduz a repulsão, e o ângulo ø = -57º e o ângulo Ψ = -47º (podendo oscilar
entre -45º≤ Ψ ≤ -50º).

Figura 51 - Hélice α.
Fonte: BRUICE, P. Y. Química Orgânica. Vol. II, 4ª. Ed. Pearson Prentice Hall, São Paulo –
SP, 2006. Pg. 403.

Figura 52 - Ligações de hidrogênio na hélice α.


Fonte: NELSON, D. L., COX, M. M. Lehninger´s Principles of Biochemistry. 4th
Ed. Pg. 121.

103
Química de Biomoléculas

Alguns fatores estabilizam ou desestabilizam a hélice α. Aminoácidos a


três ou quatro posições de distância que apresentem cargas opostas na cadeia
lateral formam um par-iônico, estabilizando a hélice. Da mesma forma,
grupos apolares a três ou quatro ligações de distância, como por exemplo
aminoácidos aromáticos formam ligações de Van der Waals, estabilizando
a estrutura. Entretanto, grupos vizinhos com mesma carga desestabilizam
a estrutura, por exemplo, numa hélice α não deve haver Glu vizinho de
Asp, pois ambos possuem carga negativa na cadeia lateral, ou Lys vizinha
de Arg, pois ambas possuem carga positiva. Também não é desejável a
presença de grupos vizinhos muito volumosos, portanto não devemos ter
Val, Leu ou Ile vizinhos devido ao impedimento estérico. Por fim, alguns
aminoácidos são incompatíveis com a estrutura de hélice α. São eles Pro
e Gly. A prolina devido a sua rigidez que distorce o ângulo da hélice, além
de dificultar a formação das ligações de hidrogênio. E a Gly devido a sua
flexibilidade que dificulta a manutenção da forma de hélice.

Folha pregueada β

O segundo tipo de estruturasecundária mais comum são as folhas


pregueadas β. Esta é uma estrutura totalmente estendida em zig-zag, com
os ângulos ø e Ψ são iguais a ± 180º. Como vimos, a estrutura totalmente
estendida só não é a mais estável devido às cadeias laterais dos aminoáci-
dos. Entretanto, as folhas pregueadas β resolvem este problema com uma
predominância dos aminoácidos Gly e Ala. A Gly não possui cadeia lateral
e a Ala tem um grupo metila na cadeia lateral, que é muito pequeno para
afetar a estabilidade. Esses aminoácidos não causam impedimento estérico,
permitindo que as ligações de hidrogênio (Figura 53) ocorram entre as
cadeias peptídicas vizinhas, estabilizando a estrutura.

Figura 53 - Ligações de hidrogênio nas folhas pregueadas β.


Fonte: BRUICE, P. Y. Química Orgânica. Vol. II, 4ª. Ed. Pearson Prentice Hall, São Paulo – SP,
2006. Pg. 404.

104
Peptídeos e Proteínas Aula 4
As folhas pregueadas β podem ser de dois tipos: paralelas, quando as
cadeias peptídicas vizinhas possuem mesma direção e sentido (Figura 54)
e antiparalelas com mesma direção e sentidos opostos (Figura 55).

Figura 54 - Folhas pregueadas β paralelas.


Fonte: NELSON, D. L., COX, M. M. Lehninger´s Principles of Biochemistry. 4th Ed. Pg. 123.

Figura 55 - Folhas pregueadas β antiparalelas.


Fonte: NELSON, D. L., COX, M. M. Lehninger´s Principles of Biochemistry. 4th
Ed. Pg. 123.

105
Química de Biomoléculas

Curvas β

As curvas são estruturas muito comuns em proteínas, servindo para


unir diferentes segmentos protéicos. Numa proteína globular as cruvas
podem representar até 1/3 dos aminoácidos presentes na proteína, sendo
portanto o terceiro tipo de estrutura secundária mais comum. Dentre as
curvas, destaca-se a curva β, que une as folhas pregueadas β antiparalelas.
As curvas β envolvem quatro aminoácidos e promovem um giro de 180º.
Sua estabilidade é garantida por uma ligação de hidrogênio entre os ami-
noácidos 1 e 4, e o aminoácido 3 é obrigatoriamente um resíduo de Pro
com configuração cis (Figura 56) ou uma Gly. A prolina en cis, devido à
sua rigidez força o giro, e a glicina devido à sua flexibilidade permite o giro
(Figura 57).

Figura 56 - Configurações da Pro.


Fonte: NELSON, D. L., COX, M. M. Lehninger´s Principles of Biochemistry. 4th Ed. Pg. 124.

Figura 57 - Curvas β Tipo I com Pro e Tipo II com Gly.


Fonte: NELSON, D. L., COX, M. M. Lehninger´s Principles of Biochemistry. 4th Ed. Pg. 124.

106
Peptídeos e Proteínas Aula 4
Conformação espiralada ou em laço

Além das estruturas secundárias citadas, existem outras menos abun-


dantes. O que define uma estrutura secundária são os tipos de aminoácidos
presentes e os angulos ø e Ψ. Entretanto, algumas vezes os angulos variam
tanto ao longo de um segmento curto, e os tipos de aminoácidos também
variam. Neste caso a estrutura secundária é mais difícil de ser descrita, sendo
denominada estrutura espiralada ou em laço. De qualquer forma, foi criada
uma representação gráfica para as proteínas, já que desenhar todos os ami-
noácidos na maioria das vezes é inviável. Nesta representação (Figura 58) as
hélices α são representadas por espirais, as folhas β são representadas por
setas, sendo paralelas quando as setas tiverem mesma direção e sentido e
antiparalelas quando tiverem mesma direção e sentidos opostos. As curvas
β são representadas por curvas com 180º, e as estruturas espiraladas ou em
laço são representadas por cordões.

Figura 58 - Representação gráfica da proteína Carboxi-peptidase A.


Fonte: BRUICE, P. Y. Química Orgânica. Vol. II, 4ª. Ed. Pearson Prentice Hall, São Paulo – SP, 2006.
Pg. 405.

107
Química de Biomoléculas

Estrutura terciária

A estrutura terciária de uma proteína ou peptídeo é o arranjo tridimen-


sional de toda a cadeia peptídica. As proteínas se dobram espontâneamente
quando em solução para minimizar a sua energia, maximizando a sua esta-
bilidade. O que mantém a estrutura dobrada são as interações estabilizantes.
Estas podem ser ligações covalentes, onde predominam as ligações dissulfeto,
mas outros tipos de ligações covalentes entre as cadeias laterais dos aminoá-
cidos ocasionalmente também ocorrem, como por exemplo na desmosina,
presente na proteína elastina. Além das ligações covalentes ocorrem pares
iônicos entre os aminoácidos com cadeia lateral positiva Arg e Lys e os
aminoácidos com cadeia lateral negativa Glu e Asp, ligações de hidrogênio
entre aminoácidos como Tyr, Thr, Ser, e interações hidrofóbicas do tipo
força de Van der Waals entre aminoácidos apolares como Phe, Leu, Ile,
Val (Figura 59).

Figura 59 - Interações estabilizantes da estrutura terciária.


Fonte: BRUICE, P. Y. Química Orgânica. Vol. II, 4ª. Ed. Pearson Prentice Hall, São
Paulo – SP, 2006. Pg. 406.

As estruturas terciárias podem ser divididas em dois tipos: Fibrosas e


Globulares. As estruturas fibrosas têm a predominância de um único tipo de
estrutura secundária, possuem estrutura em longos filamentos ou folhas, são
sempre insolúveis em água e sua função é dar suporte, forma ou proteção
externa aos organismos.

108
Peptídeos e Proteínas Aula 4
Proteínas fibrosas

Um exemplo de proteína fibrosa é a queratina. A queratina é bastante


versátil, formando estruturas como lã, cabelo, espinhos, chifres, garras e
unhas (Figura 60).

Figura 60 - Estruturas compostas de queratina.


Fonte: Fotomontagem feita pelo autor.

A queratina possui estrutura secundária quase exclusivamente na forma


de hélice α, sendo que duas hélices se enrolam formando uma bobina ou
super-hélice esquerda. As super-hélices se ligam entre sí por pontes dis-
sulfeto, formando os protofilamentos, e o conjunto dos protofilamentos
forma as protofibrilas (Figura 61). Na queratina predominam resíduos de
aminoácidos hidrofóbicos Ala, Val, Leu, Ile, Met e Phe. O número e posição
das ligações dissulfeto define por exemplo se um cabelo será liso ou crespo,
e pode ser alterado quimicamente com o uso de agentes redutores e oxi-
dantes, como ocorre nos alisamentos definitivos ou na permanente (Figura
62). Nos chifres a resistência da queratina é aumentada pelo número maior
de ligações dissulfetos, podendo conter até 18% de Met.

109
Química de Biomoléculas

Figura 61 - Estrutura da queratina.


Fonte: NELSON, D. L., COX, M. M. Princípios de Bioquímica de Lehninger. 5ª. Ed. Artmed,
Porto Alegre – RS, 2011. Pg. 124.

Figura 62 - Alteração das ligações dissulfeto de um cabelo liso para cacheado.


Fonte: NELSON, D. L., COX, M. M. Princípios de Bioquímica de Lehninger. 5ª. Ed. Artmed, Porto
Alegre – RS, 2011. Pg. 125.

Outra proteína fibrosa importante é o colágeno, encontrado nos tecidos


conectivos como tendões, cartilagens e córnea (Figura 63).

110
Peptídeos e Proteínas Aula 4

Figura 63 - Estruturas compostas de colágeno.


Fonte: Fotomontagem feita pelo autor.

O colágeno possui uma estrutura secundária incomum, com uma


hélice esquerda (anti-horária) com ø = -51º e o ângulo Ψ = +153º. O que
permite esse giro invertido são os resíduos de aminoácidos que o compõe
Gly, Pro e 4-Hyp (4-hidroxiprolina). A ordem desses aminoácidos costuma
ser Gly-Pro-4Hyp. A estrutura rígida da Pro aliada a flexibilidade da Gly
permitem o giro invertido. A Gly é algumas vezes substituída por Ala,
sendo a proporção Gly 35%, Ala 11% e Pro com 4-Hyp 21%. Assim como
na queratina, as hélices do colágeno também se enrolam umas sobre as
outras, só que no colágeno são três hélices enroladas e não duas (Figura
64). Essas super-hélices formam as fibrilas de colágeno. Para manter as
fibrilas unidas o colágeno não faz uso de ligações dissulfeto, ao invés disso
ele possui resíduos de Lys e HyLys (hidroxilisina) que se unem por ligações
covalentes (Figura 65).

111
Química de Biomoléculas

Figura 64 - Super-hélice do colágeno.


Fonte: NELSON, D. L., COX, M. M. Princípios de Bioquímica de Lehninger. 5ª. Ed. Artmed, Porto
Alegre – RS, 2011. Pg. 124.

Figura 65 - Fibrilas do colágeno unidas por ligações covalentes.


Fonte: NELSON, D. L., COX, M. M. Princípios de Bioquímica de Lehninger. 5ª. Ed. Artmed, Porto
Alegre – RS, 2011. Pg. 125 e 128.

Outro exemplo de proteína de estrutura terciária fibrosa é a fibroína


da seda. Diferente das anteriores, a estrutura secundária predominante é
a folha pregueada β antiparalela (Figura 66). Como em todas as folhas β,
temos aminoácidos pequenos Gly e Ala, e as folhas são unidas por forças

112
Peptídeos e Proteínas Aula 4
de Van der Waals e ligações de hidrogênio. A fibroína é totalmente esten-
dida, o que significa que ela não estira, dando uma excelente resistência ao
estiramento unida a uma flexibilidade lateral. Ela é produzida por insetos
como o bicho da seda e aracnídeos como a aranha (Figura 67).

Figura 66 - Fibroína da seda.


Fonte: NELSON, D. L., COX, M. M. Princípios de Bioquímica de Lehninger. 5ª. Ed. Artmed, Porto
Alegre – RS, 2011. Pg. 125 e 128.

Figura 67 - Exemplos de fibroína da seda.


Fonte: Fotomontagem feita pelo autor.
NELSON, D. L., COX, M. M. Princípios de Bioquímica de Lehninger. 5ª. Ed. Artmed, Porto Alegre –
RS, 2011. Pg. 128.

113
Química de Biomoléculas

Proteínas globulares

As proteínas globulares apresentam grande diversidade de estruturas,


sendo que todas têm em comum uma cadeia peptídica dobrada na forma
esférica ou globular. As estruturas secundárias podem ser de vários tipos,
mas as curvas sempre estão presentes, podendo ocupar até 1/3 dos ami-
noácidos. As solubilidade em água depende da disposição dos resíduos
hidrofóbicos na molécula. Para a proteína globular ser solúvel em água é
necessário que a cadeia lateral dos resíduos hidrofóbicos estejam voltadas
para o interior da molécula e as cadeias laterais hidrofílicas voltadas para o
exterior. Qualquer fator externo que perturbe esta disposição altera a solubi-
lidade em água da proteína. As funções exercidas pelas proteínas globulares
são mais amplas e variadas do que as proteínas fibrosas, podendo agir como
enzimas, proteínas regulatórias, imunoglobulinas, proteínas de transporte,
etc. A percentagem das estruturas secundárias varia muito, por exemplo,
a quimotripsina apresenta 14% de hélice α e 45% de folha β, enquanto a
mioglobina apresenta 78% de hélice α e 0% de folha β.
Um exemplo de proteína globular é a mioglobina. Ela é uma proteína
pequena com M = 16.700g/mol e 153 aminoácidos em sua cadeia peptídica
(Figura 68). Além da cadeia peptídica ela possui um grupo prostético heme
ligado a um resíduo de Hys (Figura 69). Sua estrutura é 78% hélice α, sendo
o resto quase todo composto de curvas. Sua função é o transporte de O2
nos músculos.

Figura 68 - Mioglobina.
Fonte: NELSON, D. L., COX, M. M. Princípios de Bioquímica de Lehninger. 5ª. Ed. Artmed,
Porto Alegre – RS, 2011. Pg. 130.

114
Peptídeos e Proteínas Aula 4

Figura 69 - Grupo heme ligado a Hys.


Fonte: NELSON, D. L., COX, M. M. Princípios de Bioquímica de Lehninger. 5ª. Ed. Artmed,
Porto Alegre – RS, 2011. Pg. 130.

Estrutura Quaternária

Algumas vezes uma proteína pode ter mais de uma cadeia peptídica
separada. Nestes casos a proteína apresenta estrutura quaternária. O número
de cadeias peptídicas pode variar de duas a centenas. A maneira como es-
sas cadeias estão arranjadas e interagem umas com as outras é chamado de
estrutura quaternária. Uma proteína com muitas subunidades é chamada de
multímero, com poucas subunidades é chamada de oligômero. Se alguma
dessas unidades se repete ela é denominada de protômero.
A hemoglobina por exemplo, apresenta quatro cadeias peptídicas sepa-
radas sendo portanto um tetrâmero. Dessas cadeias duas se repetem, sendo
dois protômeros α com 141 resíduos de aminoácidos e dois protômeros
β com 146 resíduos de aminoácidos. A massa molar da hemoglobina é de
64.500g/mol e ela ainda apresenta quatro grupos heme em sua estrutura
(Figura 70).

115
Química de Biomoléculas

Figura 70 - Hemoglobina.
Fonte: NELSON, D. L., COX, M. M. Princípios de Bioquímica de Lehninger. 5ª. Ed.
Artmed, Porto Alegre – RS, 2011. Pg. 139.

Existe um motivo para as proteínas apresentarem várias cadeias pep-


tídicas ou cadeias repetidas. Quando o corpo faz uma proteína ocorre um
erro a cada 10.000 aminoácidos, por esse motivo proteínas muito grandes
apresentariam um número maior de erros. Outro problema é que cada
aminoácido é codificado por três nucleotídeos, ou seja, uma proteína muito
grande implicaria num código genético muito grande e complexo. Por esse
motivo, proteínas com mais de 100.000g/mol possuem várias subunidades
ou protômeros. Um caso extremo são os vírus, que possuem código genético
muito pequeno, nesse caso os protômeros podem se repetir inúmeras vezes.
O vírus do mosáico do tabaco possui 2.130 subunidades iguais formando
o seu capsídeo cilindrico que protege o seu RNA (Figura 71).

116
Peptídeos e Proteínas Aula 4

Figura 71 - Capsídeo do vírus do mosáico do tabaco.


Fonte: NELSON, D. L., COX, M. M. Princípios de Bioquímica de Lehninger. 5ª. Ed.
Artmed, Porto Alegre – RS, 2011. Pg. 140.

CONCLUSÃO

Os peptídeos e proteínas são moléculas fundamentais para o bom


funcionamento dos organismos. Suas estruturas, apesar de apresentarem
quatro graus de complexidade podem ser derminadas e estudadas. Conhecer
as estruturas dos peptídeos e proteínas é o primeiro passo para entender
o seu funcionamento.

RESUMO

Nesta aula aprendemos sobre como os aminoácidos se unem for-


mando os peptídeos e proteínas. Vimos que as proteínas possuem estru-
tura primária, secundária, terciária e quaternária. Apendemos como é feita
a síntese de peptídeos e proteínas, e como é identificada a sua estrutura
primária. Vimos os tipos de estrutura secundária e os fatores que determi-
nam a estrutura secundária assumida pelo segmento protéico. Aprendemos
sobre estrutura terciária, sobre as forças que controlam a maneira como
a proteína se dobra. E por fim vimos que algumas proteínas apresentam
estrutura quaternária, porque ela ocorre e como os segmentos protéicos
interagem entre sí.

117
Química de Biomoléculas

AUTO-AVALIAÇÃO

1- Desenhe uma ligação peptídica: Porque uma ligação peptídica tem con-
figuração trans e não cis?
2- Quais ligações num esqueleto peptídico podem girar livremente?
3- O que é uma ligação dissulfeto? Qual a importância dela para a estrutura
de uma proteína?
4- Proponha uma síntese para o tripeptpídeo Ala-Pro-Cys?
5- Um nonapeptídeo sofre hidrólise ácida parcial gerando os fragmentos
abaixo. O peptídeo intacto reage com o reagente de Edman dando PTH-
Leu. Qual a seqüência de aminoácidos no peptídeo?
a) Pro, Ser.
b) Gly, Glu.
c) Met, Ala, Leu.
d) Gly, Ala.
e) Glu, Ser, Val, Pro.
f) Glu, Pro, Gly.
g) Met, Leu.
h) His, Val.
6- Qual a seqüência de aminoácidos num polipeptídeo, sabendo-se que: A
hidrólise ácida total fornece Ala, Arg, His, 2 Lys, Leu, 2 Met, Pro, 2 Ser,
Thr e Val. A carboxipeptidase A libera Val. O reagente de Edman libera
PTH-Leu. A quebra com brometo de cianogênio produz três fragmentos:
a) His, Lys, Met, Pro, Ser; b) Thr, Val; c) Ala, Arg, Leu, Lys, Met, Ser. A
tripsina fornece quatro fragmentos: a) Arg, Leu, Ser; b) Met, Pro, Ser, Thr,
Val; c) Lys; d) Ala, His, Lys, Met.
7- Quais os tipos mais comuns de estrutura secundária?
8- O que é uma estrutura secundária?
9- Por que a pro é incompatível com a hélice α?
10- Qual seria a estrutura secundária se os aminoácidos não tivessem cadeia
lateral? Justifique:
11- Por que a folha pregueada β só comporta aminoácidos pequenos?
12- Qual a importância das curvas β?
13- Quais os tipos de estrutura terciária?
14- Por que a curvas β podem ser até 1/3 dos aminoácidos das proteínas
globulares, mas quase não existem nas fibrosas?
15- Cite um exemplo de proteína fibrosa e de proteína globular:
16- A clara de ovo contém albumina, que é solúvel em água. Que tipo de
proteína a albumina deve ser, fibrosa ou globular? Justifique: Explique como
uma proteína pode ser solúvel em água:

118
Peptídeos e Proteínas Aula 4
17- O que é uma estrutura quaternária? Por que nem todas as proteínas
tem estrutura quaternária?
18- Por que o vírus do mosáico do tabaco possui estrutura quaternária em
seu capsídeo? Justifique:

PRÓXIMA AULA

Na próxima aula, vamos aprender a trabalhar com aminoácidos, pep-


tídeos e proteínas em laboratório.

REFERÊNCIAS

BRUICE, P. Y. Química Orgânica. 4ª. Ed. Pearson Prentice e Hall, São


Paulo – SP, 2006. Vol. 2. capítulo 23,
NELSON, D. L.; COX, M. M. Princípios de Bioquímica de Lehninger, 5ª. Edição,
Artmed, Porto Alegre – RS, 2011, capítulos 3 e 4.
CAREY, F. A. Química Orgânica, Vol 2, 7ª. Edição, AMGH Editora
Ltda, 2011, capítulo27.
SOLOMONS, T. W. G., FRYHLE, C. B. Química Orgânica, Vol 2, 9ª.
Edição, LTC, Rio de Janeiro – RJ, 2009, capítulo 24.

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