O documento discute as principais idiossincrasias nutricionais de gatos domésticos, incluindo seu metabolismo gliconeogênico, necessidade elevada de proteína e aminoácidos como arginina e taurina, e capacidade reduzida de metabolizar carboidratos.
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FevIsta CIentifIca EletronIca de |edIcIna 7eterInrIa uma publIcao semestral da Faculdade de
|edIcIna 7eterInrIa e ZootecnIa de Cara - FA|E0/FAEF e EdItora FAEF, mantIdas pela AssocIao Cultural e EducacIonal de Cara ACEC. Fua das Flores, 740 - 7Ila LabIenopolIs - CEP: 17400000 - Cara/SP - Tel.: (0**14) J4078000 www.revIsta.Inf.br - www.edItorafaef.com.br - www.faef.br.
Ano 7 - Numero 15 - Julho de 2010 - PerIodIcos Semestral
ASPECTOS NUTRICIONAIS DE GATOS DOMSTICOS ()HOLVVLOYHVWULVFDWXV - CONSIDERAES SOBRE METABOLISMO, FISIOLOGIA E MORFOLOGIA
RIBEIRO, Leticia Acadmica do curso de Medicina Veterinaria FAMED/ACEG Gara-SP e-mail: leticiaIcavyahoo.com.br
Dias, Luis Gustavo G. G. Docente do curso de Medicina Veterinaria FAMED/ACEG Gara-SP e-mail: gustavogosuengmail.com
RESUMO Durante longo periodo, os gatos Ioram considerados semelhantes aos ces, principalmente quanto a suas necessidades nutricionais. Os Ielinos se diIerem dos ces principalmente pelo seu metabolismo gliconeognico e por apresentar sensibilidades diante das deIicincias dos aminoacidos arginina e taurina, do acido araquidnico e necessidade de vitamina A e niacina pre Iormada. O presente trabalho tem por Iinalidade realizar uma reviso literaria sobre as idiossincrasias nutricionais dos gatos domesticos e os aspectos Iisiologicos e morIologicos ligados a essas caracteristicas. Palavra chave: gatos domesticos, idiossincrasias nutricionais, gliconeognese.
ABSTRACT For a long time, cats were considered similar to dogs, especially about their nutritional needs. Cats diIIer Irom dogs mainly Ior its metabolism by gluconeogenic and present sensitivities on the deIiciencies oI the amino acids arginine and taurine, arachidonic acid and the need Ior vitamin A and niacin previously Iormed. This study aims to review the literature on the nutritional idiosyncrasies oI domestic cats and the physiological and morphological characteristics associated with these. Keyword: domestic cats, nutritional idiosyncrasies, gliconeogenesis.
1. INTRODUO A populao de gatos domesticos (Felis silvestris catus) no Brasil e crescente, com estimativa de um gato para cada doze habitantes e e um dos animais de estimao mais comum do mundo (BELO, 2008). De acordo com Case e Carey, (1998) o gato possui status quase idntico ao co, como animal domestico em nossa sociedade. Entretanto essa condio permitiu que acreditassemos que as necessidades nutricionais de ambas as especies eram semelhantes (DA HORA, 2007). PEVISTA CIENTFICA ELETPDNICA 0E hE0ICINA VETEPINAPIA - ISSN: 167-7353
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Ces e gatos pertencem a especies distintas, portanto, apresentam diIerenas Iisiologicas, de conduta e nutricionais. O gato domestico em comparao ao co apresenta metabolismo especiIico e original de energia e glicose (CASE e CAREY, 1998; STURGESS e HURLEY, 2005), e por isso, so denominados animais gliconeognicos (DA HORA, 2007). Possuem ainda, necessidades superiores de proteina, taurina, e acido araquidnico; sensibilidade a deIicincia de arginina e incapacidade em transIormar triptoIano em niacina e betacarotenos em vitamina A (CASE e CAREY, 1998; CRYSTAL, 2003; NACIONAL RESEARCH COUNCIL, 2006; DA HORA, 2007). Segundo Sturgess e Hurley (2005), o entendimento dessas necessidades permitiu a eliminao de doenas associadas a deIicincia nutricional, possibilitando, vida longa e saudavel aos Ielinos. O presente trabalho tem por Iinalidade realizar uma reviso de literatura identiIicando as principais idiossincrasias nutricionais dos gatos domesticos e os aspectos metabolicos, Iisiologicos e morIologicos ligado a elas.
2. CONTEUDO Os gatos domesticos pertencem a ordem Carnivora e a Iamilia Felidae e todas as especies dessa Iamilia evoluiram como carnivoros estritos (CASE e CAREY, 1998; STURGESS e HURLEY, 2005; ELDREDGE, 2008), ou seja, esses animais consumiram uma dieta puramente carnivora ao longo de todo seu desenvolvimento evolutivo (CASE e CAREY, 1998) e dependem de nutrientes encontrados no tecido animal (alto conteudo de proteina com moderadas quantidades de gordura e minimas quantidades de carboidratos) (ZORAN apud DA HORA, 2007). Como consequncia a adeso de dieta muito especializada, Ioi necessario uma serie de adaptaes Iisiologicas e metabolicas especiIicas (CASE e CAREY, 1998).
Metabolismo dos Carboidratos Os Ielinos tm capacidade reduzida de metabolizar carboidratos e dissacarideos (STURGESS e HURLEY, 2005) para tanto apresentam padro diIerente de gliconeognese, PEVISTA CIENTFICA ELETPDNICA 0E hE0ICINA VETEPINAPIA - ISSN: 167-7353
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ou seja, o metabolismo hepatico e capaz de transIormar aminoacidos em glicose para manuteno da glicemia (CASE e CAREY, 1998; STURGESS e HURLEY, 2005). Ainda, apresentam baixa produo de amilase pelo pncreas (STURGESS e HURLEY, 2005; ELDREDGE, 2008); presena de ceco e colon pouco desenvolvidos, limitando a digesto de carboidratos complexos (Iibras) (STURGESS e HURLEY, 2005; NACIONAL RESEARCH COUNCIL, 2006; KIRK et al.; ULLREY apud DA HORA, 2007) e atividade reduzida da enzima glicoquinase no Iigado (ativada quando o Iigado recebe elevada carga de glicose) e ausncia da enzima hexoquinase (ativada quando o Iigado recebe baixas cargas de glicose). Na pratica isso signiIica que caso o consumo de carboidratos aumente a taxa metabolica destes no e aumentada proporcionalmente.
Metabolismo Proteico O metabolismo gliconeognico dessa especie tambem exige elevada necessidade de proteina na dieta (CASE e CAREY, 1998; STURGESS e HURLEY, 2005; NACIONAL RESEARCH COUNCIL, 2006), pois a gliconeognese a partir de proteinas ocorre continuamente, mesmo em condies onde o organismo apresenta balano energetico negativo ou nivel reduzido de proteina na dieta (STURGESS e HURLEY, 2005). Os gatos tm elevada e permanente taxa de atividade das enzimas glicognicas hepaticas que convergem os aminoacidos excessivos da dieta em glicose. Com essa adaptao e possivel manter o nivel glicmico mesmo por longos periodos de jejum (CASE e CAREY, 1998). Os Ielinos tambem so capazes de aumentar ou diminuir a atividade das enzimas do ciclo metabolico da ureia (KIRK et al.; MORRIS apud DA HORA, 2007), ou seja, quando a dieta apresenta baixo teor de proteina o organismo destes animais consegue conservar os aminoacidos e quando consomem alto teor de proteina oIerece um mecanismo que cataboliza o excesso (CASE e CAREY, 1998). PEVISTA CIENTFICA ELETPDNICA 0E hE0ICINA VETEPINAPIA - ISSN: 167-7353
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Outro Iator que contribui para a elevada necessidade proteica e a sua necessidade de aminoacidos essenciais como a arginina e taurina. A arginina e componente Iundamental do ciclo da ureia, esta possibilita que a amnia produzida pelo consumo de proteinas seja biotransIormada em ureia para excreo, e a Ialta desse aminoacido, leva a grave uremia (MORRIS; ROGERS apud CASE e CAREY, 1998; NACIONAL RESEARCH COUNCIL, 2006; ELDREDGE, 2008). Ja a taurina, tem como principal Iuno participar da conjugao dos acidos biliares (PION et al.; HAYES apud CASE e CAREY, 1998). Os Ielinos no so capazes de recuperar pelo sistema entero- hepatico a taurina perdida nas Iezes. Sua deIicincia leva a degenerao da retina, ao desenvolvimento de cardiomiopatias e problemas reprodutivos (CASE e CAREY, 1998; STURGESS e HURLEY, 2005; ELDREDGE, 2008). Segundo Eldredge (2008), os gatos tambem tm alta exigncia de cisteina (importante para o crescimento do plo e para Iornecer Ielinina, que e excretado na urina e pode ser importante para o aroma de marcao), tirosina (importante na produo de melanina, e sua deIicincia leva gatos de colorao preta a desenvolverem colorao marrom) e carnitina, sintetizada nos rins dos Ielinos (ao contrario dos ces e seres humanos), sua importncia se encontra no auxilio a perda de peso em gatos e no tratamento de lipidose hepatica.
Metabolismo Lipdico Os gatos no so capazes de sintetizar o acido araquidnico a partir de acido linoleico, havendo necessidade de receberem, alem do acido linoleico e linolncio, o acido araquidnico atraves da dieta (CASE e CAREY, 1998; LONGLAND et al. apud MAIORKA e OLIVEIRA; 2007; TREVIZAN, 2009 ) e sua deIicincia causa problemas no plo, crescimento, degenerao gordurosa do Iigado e depositos de lipidios nos rins (CASE e CAREY, 1998).
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Os gatos domesticos so incapazes de sintetizar vitamina A e necessitam que essa vitamina esteja pre Iormada em sua dieta. Isto ocorre porque essa especie carece da enzima dioxigenase, essencial para o desdobramento da molecula de betacaroteno. Apesar da necessidade, a deIicincia e rara (CASE e CAREY, 1998; STURGESS e HURLEY, 2005). Os sinais de deIicincia so alteraes nervosas, vascularizao e ulcerao da cornea, degenerao da retina, inIertilidade, perda de peso e Iraqueza muscular (STURGESS e HURLEY, 2005; NACIONAL RESEARCH COUNCIL, 2006). As deIicincias de vitaminas do grupo B so raras, mas pode ocorrer deIicincia de niacina. A maioria dos animais satisIaz a necessidade atraves do consumo de nicotinamida dietetica e pela converso do aminoacido triptoIano em acido nicotinico (CASE e CAREY, 1998) ao que parece os gatos no conseguem realizar essa converso. Os principais sintomas da deIicincia de niacina so anorexia, depresso, dor abdominal e aumento do tecido adiposo (NACIONAL RESEARCH COUNCIL, 2006).
3. CONCLUSO O gato domestico e um carnivoro estrito, como tal, apresenta dieta especializada com necessidades nutricionais especiIicas, representadas pela elevada necessidade de proteina, incapacidade de conjugar algumas enzimas digestivas, morIologia do trato diIerenciado e metabolismo energetico atipico. Tais modiIicaes possibilita ao gato manter o nivel de glicemia constante independente de sua condio Iisiologica, mas essas mesmas caracteristicas podem predispor esses animais a alteraes e doenas metabolicas. Portanto o medico veterinario deve Iicar atento aos sinais clinicos apresentados pelo gato, assim como, instituir o correto manejo alimentar para possibilitar vida longa e saudavel aos Ielinos.
4. REFERNCIAS BELO, P. Um Novo Olhar Sobre o Gato. Revista Galileu, 204 ed, 2008. Disponivel em: http://revistagalileu.globo.com/Revista/Galileu/0,,EDG84040-7943-204-1,00- UMNOVOOLHARSOBREOGATO.html ~ Acesso em 20/07/2009 PEVISTA CIENTFICA ELETPDNICA 0E hE0ICINA VETEPINAPIA - ISSN: 167-7353
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CASE, L.P. CAREY, D.P. Nutrio Canina e Felina: Manual para Profissionais. 1 ed. Lisboa: Harcourt brace, 1998.
CRYSTAL, M. A. Anorexia. In: NORSWORTHY, G. D., et al. O Paciente Felino. 2 ed. So Paulo: Manole, 2003, pg 14 a 17.
DA HORA, A. S. A Importncia dos Aminocidos na Nutrio dos Gatos Domsticos. 2007. Disponivel em: www.Iamiliamax.com.br/incentivo-a- pesquisa5/imagens/.../2ed2lugar.pdI ~ Acesso em 28/02/2010.
ELDREDGE, D. M. et al., Nutrition. In: ELDREDGE, D. M. et al., Cat Owner`s Home Veterinary Handbook. 3 ed. New Jersey : Wiley Publishing, 2008, pg 491 a 512.
MAIORKA, A. OLIVEIRA, S. G. Alimentos Funcionais em Raes para Ces e Gatos. 2007. Disponivel em: http://www.abz.org.br/publicacoes-tecnicas/anais- zootec/minicursos/3573-Alimentos-Funcionais-Raes-para-Ces-Gatos.html ~ Acesso em 28/02/2010.
NACIONAL RESEARCH COUNCIL. Your Cats Nutritional Needs. 2006. Disponivel em: dels.nas.edu/dels/rptbrieIs/catnutritionIinal.pdI.~ Acesso em 20/07/2009.
STURGESS, K., HURLEY, K.J. Nutrition and WelIare. In: ROCHLITZ, I. The Welfare of Cats. 1ed. Netherlands: Springer, 2005, pg 227 a 258.
TREVIZAN, L. Lipideos na nutrio de ces e gatos: metabolismo, Iontes e uso em dietas praticas e teraputicas. R. Bras. Zootec., v.38, 2009, p.15-25.