Contexto Do N.T e V.T PDF

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ASSEDUP – ASSOCIAÇÃO EDUCACIONAL CÂNDIDO PORTINARI

TEOLOGIA SUPERIOR - BACHARELADO

SUMARIO
NOVO TESTAMENTO I
I- PERÍODO INTERBÍBLICO
II - TEOLOGIA DOS EVANGELHOS
III - A TEOLOGIA DE MATEUS
IV - A TEOLOGIA DE MARCOS
V - A TEOLOGIA DE LUCAS
VI - A TEOLOGIA DE JOÃO
VII - O EVANGELHO
VIII - ATOS DOS APÓSTOLOS
IX - A EPÍSTOLA DE PAULO AOS ROMANOS
X - AS EPÍSTOLAS AOS CORÍNTIOS
XI - A PRIMEIRA EPÍSTOLA DE PAULO AOS CORÍNTIOS
XII - A SEGUNDA EPÍSTOLA DE PAULO AOS CORÍNTIOS
XIII - EPÍSTOLA DE PAULO AOS GÁLATAS
XIV - CARTA DE PAULO AOS EFÉSIOS
XV - EPÍSTOLA DE PAULO AOS FILIPENSES
XVI - EPÍSTOLA DE PAULO AOS COLOSSENSES
XVII - EPÍSTOLAS DE PAULO AOS TESSALONICENSES
XVIII - SEGUNDA EPÍSTOLA DE PAULO AOS TESSALONICENSES

NOVO TESTAMENTO II
XIX - EPÍSTOLAS DE PAULO A TIMÓTEO
XX - SEGUNDA EPÍSTOLA DE PAULO A TIMÓTEO
XXI - A EPÍSTOLA DE PAULO A TITO
XXII - EPÍSTOLA DE PAULO A FILEMOM
XXIII - EPÍSTOLA AOS HEBREUS
XXIV - A EPÍSTOLA DE TIAGO
XXV - O APÓSTOLO PEDRO
XXVI - PRIMEIRA EPÍSTOLA DE PEDRO
XXVII - SEGUNDA EPÍSTOLA DE PEDRO
XXVIII - EPÍSTOLAS DE JOÃO
XXIX - SEGUNDA EPÍSTOLA DE JOÃO
XXX - TERCEIRA EPÍSTOLA DE JOÃO
XXXI - EPÍSTOLA DE JUDAS
XXXII - APOCALIPSE
XXXIII - CONCLUSÃO
XXXIV - BIBLIOGRAFIA

NOVO TESTAMENTO I E II 1
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I- PERÍODO INTERBÍBLICO

INTRODUÇÃO
O escopo da disciplina Novo Testamento I abrangerá o estudo panorâmico dos Evangelhos e do livro de Atos, com
enfoque nos aspectos histórico, literário e teológico nas epistolas paulinas. A contextualização histórica é de
fundamental importância no estudo das Sagradas Escrituras. Tal preocupação se apresenta com freqüência nas
páginas bíblicas. Tomemos como exemplos os escritos proféticos, onde se nota constantemente a citação dos
nomes dos reis, o ano do seu reinado, o local onde o profeta se encontrava e outros dados contextuais (Jr.1.1-3).
Tais informações situam a vida do profeta e sua mensagem em um cenário real e historicamente conhecido. Da
mesma forma, é mister que tenhamos o conhecimento do contexto histórico que emoldura os fatos narrados nos
Evangelhos e em Atos. A localização histórica das origens cristãs evidenciam seu caráter factual, o que não é
possível demonstrar em relação a diversas religiões, cujas raízes estão amparadas em lendas, sonhos e visões.
Iniciaremos nossa contextualização pelo chamado "Período Interbíblico", afim de traçarmos a ligação histórica
entre o Velho e o Novo Testamento. Tal exame também possibilitará melhor compreensão dos fatores que
construíram o cenário político, social e religioso encontrado por Cristo na Palestina. Ao lermos o Novo
Testamento, deparamos com muitos problemas cujos motivos se encontram no período interbíblico.

O PERÍODO INTERBÍBLICO
Esse período teve a duração de aproximadamente 450 anos. Normalmente se faz referência a esse tempo como uma
época em que Deus esteve em silêncio para com o seu povo. Nenhum profeta de Deus se manifestou ou, pelo
menos, nenhum deixou escritos que tenham sido considerados canônicos.
Vamos examinar a situação da Palestina durante esse período, principalmente no que se refere aos impérios,
governos, as relações de Israel com os povos vizinhos e as implicações religiosas e sociais destes elementos.

O IMPÉRIO PERSA - FINAL DO V.T.


O Velho Testamento termina com as palavras de Malaquias, o qual profetizou entre 450 e 425 a.C.. Nesse tempo, a
Palestina estava sob o domínio do Império Persa, o qual se estendeu até o ano 331 a.C.. Embora o rei Ciro tenha
autorizado os judeus a retornarem do exílio, o domínio Persa continuava sobre eles. De volta à Palestina, o povo
judeu passou a ter um governo local exercido pelos sumo sacerdotes, embora não houvesse independência política.
Eram comuns as disputas pelo poder.

O IMPÉRIO GREGO - 335 a 323 a.C.


Paralelamente ao Império Persa, crescia o poder de um rei macedônico, Felipe, o qual empreendeu diversas
conquistas na Ásia menor e ilhas do mar Egeu, anexando a Grécia ao seu domínio. Desejando expandir seu
território, entrou em confronto com a Pérsia, o que lhe custou a vida. Foi sucedido por seu filho, Alexandre Magno,
que também ficou conhecido como Alexandre, o Grande, o qual havia estudado com Aristóteles. A mitologia
grega, com seus deuses e heróis parece ter inspirado o novo conquistador. Alexandre tinha 20 anos quando
começou a governar. Seu ímpeto imperialista lhe levou a conquistar a Síria, a Palestina (332 a.C.) e o Egito.
Notemos então que o território israelense passou do domínio persa para o domínio grego.
No Egito, Alexandre construiu uma cidade em sua própria homenagem, dando-lhe o nome de Alexandria, a qual se
encontrava em local estratégico para o comércio entre o Mediterrâneo, a Índia e o extremo Oriente. Essa cidade se
tornou também importante centro cultural, substituindo assim as cidades gregas. Entre suas construções
destacaram-se o farol e a biblioteca.
Em 331, Alexandre se dedicou a libertar algumas cidades gregas do domínio da Pérsia. Seu sucesso militar foi tão
grande que considerou-se capaz de enfrentar a própria capital do império. E assim conquistou a Pérsia. Contudo,
nessa batalha, que ficou conhecida como Arbela ou Gaugamela, as tropas gregas tiveram de enfrentar um exército
de elefantes, os quais foram usados pelo rei da Pérsia. Alexandre venceu o combate, mas os elefantes foram motivo
de grande desgaste para seus soldados. Alexandre se denominou então "Rei da Ásia" e passou a exigir para si o
culto dos seus subordinados, de conformidade com as práticas babilônicas.
Em 327 a.C., em suas batalhas de conquista rumo ao Oriente, Alexandre encontra outro exército de elefantes, o que
fez com que seus soldados se amotinassem, recusando-se a prosseguir. Terminaram-se assim as conquistas de
Alexandre Magno. Em 323 a.C., foi acometido pela malária, a qual lhe encontrou com o organismo debilitado pela
bebida. Não resistiu à doença e morreu naquele mesmo ano. Não deixou filhos, embora sua esposa, Roxane,
estivesse grávida. Quanto aos judeus, Alexandre os tratou bem e teve muitos deles em seu exército. Após a sua

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morte, o Império Grego foi divido entre os seus generais, dentre os quais nos interessam Ptolomeu, a quem coube o
governo do Egito, e Seleuco, que passou a governar a Síria.

O GOVERNO DOS PTOLOMEUS


A Palestina ficou sob o domínio do Egito. Os descendentes de Ptolomeu foram chamados Ptolomeus. Eis os nomes
que se sucederam enquanto a Palestina esteve sob o seu governo (323 a 204 a.C.):
Ptolomeu I (Sóter) - 323 a 285 a.C.
Ptolomeu II (Filadelfo) - 285 a 246 a.C. – Durante o seu governo foi elaborada, em Alexandria, a Septuaginta,
tradução do Antigo Testamento para o grego. Filadelfo foi amável com os judeus.
Ptolomeu III (Evergetes) – 246 a 221 a.C.
Ptolomeu IV (Filópater) - 221 a 203 a.C. - Ao voltar de uma batalha contra a Síria, Filópater visitou Jerusalém e
tentou entrar no Santo dos Santos. Contudo, foi acometido de um pavor repentino que o fez desistir do seu
propósito. Foi um grande perseguidor dos judeus.
Ptolomeu Epifânio – 203 a 181 a.C. – Tinha 5 anos de idade quando seu pai, Filópater morreu. Aproveitando a
situação, Antíoco - o Grande, rei da Síria, toma o poder sobre a Palestina no ano 204.

O GOVERNO DOS SELÊUCIDAS


Os reis da Síria, descendentes do general Seleuco, foram chamados Selêucidas. De 204 a 166 a.C., a Palestina
esteve sob o domínio da Síria. Eis a relação dos selêucidas do período:
Antíoco III - O Grande – 223 a 187 a.C.
Seleuco IV (Filópater) – 187 a 175 a.C.
Antíoco IV (Epifânio) - 175 a 163 a.C. - Em Israel, o governo local era exercido por Onias, o sumo sacerdote.
Contudo, Epifânio comercializou o cargo sacerdotal, vendendo-o a Jasão por 360 talentos. Epifânio se esforçou
para impor a cultura e a religião grega em Israel, atraindo sobre si a inimizade dos judeus. Tendo ido ao Egito,
divulgou-se o boato da morte de Epifânio, motivo pelo qual os judeus realizaram uma grande festa. Ao tomar
conhecimento do fato, o rei da Síria promoveu um grande massacre, matando 40 mil judeus.
Em 168 a.C., Antíoco Epifânio sacrifica uma porca sobre o altar em Jerusalém e entra no Santo dos Santos. Ordena
que o templo dos judeus seja dedicado a Zeus, o principal deus da mitologia grega, ao mesmo tempo em que proíbe
os sacrifícios judaicos, os cultos, a circuncisão e a observância da lei mosaica.
Segue-se então um período em que não houve sumo sacerdote em atividade em Jerusalém (159 a 152 a.C.).
Realiza-se então um processo de helenização radical na Palestina.
Vendo todos os seus valores nacionais sendo destruídos e profanados, os judeus reagiram contra Epifânio.

O GOVERNO DOS MACABEUS - 167 a 37 a.C.


Surge no cenário judaico uma importante família da tribo de Levi: os Macabeus. Em 167, o macabeu Matatias se
recusa a oferecer sacrifício a Zeus. Outro homem se ofereceu para sacrificar, mas foi morto por Matatias, o qual
organiza um grupo de judeus para oferecer resistência contra os selêucidas. Tal movimento ficou conhecido como a
Revolta dos Macabeus. A Palestina continuou sob o domínio da Síria. Contudo, a Judéia voltou a possuir um
governo local, exercido pelos Macabeus. Ainda não se tratava de independência, mas já havia alguma autonomia. A
seguir, apresentamos os nomes dos governantes macabeus e alguns de seus atos em destaque.
Matatias (167-166 a.C.)
Judas (filho de Matatias) (166-160 a.C.) - Purifica o templo, conquista liberdade religiosa, restabelece o culto.
Jônatas (filho de Matatias) (160-142 a.C.) – Reinicia a atividade de sumo sacerdote.
Simão (filho de Matatias) (142-135 a.C.) - Reforça o exército e consegue isenção de impostos. Nesse momento a
Síria se encontrava fraca, e a Judéia se torna independente. A independência durou entre 142 e 63 a.C.. Simão foi
sumo sacerdote e rei da Judéia. Pediu apoio de Roma contra a Síria.
João Hircano (filho de Simão) (135-104 a.C.) – Tinha tendência imperialista. Conquistou a Iduméia e Samaria.
Destruiu o templo samaritano e sofreu oposição dos "hassidim", seita dos "santos".
Aristóbulo I – (104-103 a.C.) – prendeu a mãe e matou o irmão.
Alexandre Janeu (103-76 a.C.) - conquistou costas da Palestina – O território de Israel chegou a ter extensão
semelhante à que tinha nos dias do rei Davi. Janeu sofreu a oposição dos fariseus.
Alexandra Salomé (esposa de Alexandre) (76-67 a.C.) – foi uma governante pacífica.
Aristóbulo II - (67-63 a.C.) briga pelo poder com seu irmão, Hircano II.
Em 63 a.C., Aristóbulo provoca Roma. Pompeu invade Jerusalém, deporta Aristóbulo e coloca Hircano II no poder.
Hircano II (63-40 a.C.)
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Em Roma, o governo é exercido por Pompeu, Crasso e Júlio César, formando o primeiro Triunvirato. O três brigam
entre si pelo poder. Júlio César vence e torna-se Imperador Romano. Em seguida, nomeia Antípatro, idumeu, como
procurador sob as ordens de Hircano. Faselo e Herodes, filhos de Antípatro, são nomeados governadores da Judéia
e Galiléia; Um ano depois, Antípatro morre envenenado. Passados 3 anos, o Imperador Júlio César morre
assassinado. Institui-se um novo triunvirato, formado por Otávio, sobrinho de César, Marco Antônio e Lépido.
Marco Antônio e Herodes eram amigos.
Herodes casa-se então com Mariana, neta de Hircano, vinculando-se assim à família dos macabeus.
Na tentativa de tomar o poder, Antígono, filho de Aristóbulo II, corta as orelhas de Hircano II, impossibilitando-o
de continuar a exercer o sumo sacerdócio.
Antígono (40-37 a.C.) - Uma de suas ações foi perseguir Herodes, o qual dirigiu-se a Roma, denunciou a desordem
e foi nomeado rei da Judéia (37 d.C.). Antígono foi morto pelos romanos.
Termina assim, a saga dos macabeus, cujo princípio foi brilhante nas lutas contra a Síria. Entretanto, foram muitas
as disputas pelo poder dentro da própria família. Perderam então a grande oportunidade que os judeus tiveram de se
tornarem uma nação livre e forte. Acabaram caindo sob o jugo de Roma.

O IMPÉRIO ROMANO
Sendo nomeado por Roma como rei da Judéia, Herodes passou a governar um grande território. Contudo, sua
insegurança e medo de perder o poder o levaram a matar Aristóbulo, irmão de Mariana, por afogamento. Depois,
matou a própria esposa e estrangulou os filhos.
A violência de Herodes provocou a revolta dos judeus. Para apaziguá-los, o rei iniciou uma série de obras públicas,
entre as quais a construção (reforma) do templo, que passou a ser conhecido como Templo de Herodes.
O domínio direto do Império Romano sobre a Palestina iniciou-se no ano 37 a.C., estendendo-se por todo o período
do Novo Testamento. Quadro histórico social do Novo Testamento
Política 37 a.C. a 70 d.C.
Esquema parcial da hierarquia no Império Romano

O esquema acima apresenta alguns elementos da hierarquia do Império. Nosso objetivo é visualizar principalmente
os modelos administrativos estabelecidos sobre os povos conquistados.
No tempo do nascimento de Cristo, o Imperador era Augusto, o qual instituiu o culto a si mesmo por parte dos seus
súditos.
Em algumas regiões havia a figura do rei. Naquele mesmo período o rei da Palestina era Herodes. Esta região teve
sua divisão política alterada diversas vezes, sendo até governada por mais de um rei em determinados momentos.
Além do rei, havia em algumas épocas e lugares a figura do procurador, ou governador. Quando Jesus nasceu, o
procurador se chamava Copônio. Na seqüência aparecem os publicanos, os quais não possuíam poder
administrativo mas tinham a função de coletar impostos. Eram necessariamente nativos da província. Seu
conhecimento da terra, do povo, dos costumes e da língua tornava-os mais eficientes na coletoria do que poderia ter
sido um cidadão romano que fosse enviado para esse fim. Os publicanos eram considerados por seus compatriotas
como traidores, já que cobravam impostos dos seus irmãos para entregar ao dominador inimigo. A palavra
publicano se tornou sinônimo de pecador.
Sob esse domínio se encontrava a província. Assim era chamada qualquer região conquistada pelos romanos fora
da Itália. As províncias que se encontravam dentro desse modelo eram administradas mais diretamente pelo
Imperador. Tratava-se de regiões ainda não pacificadas, recém conquistadas, cuja população ainda não se
acomodara sob o jugo de Roma. Nessas terras havia a presença constante das tropas romanas, as quais se dividiam
principalmente em legiões (com 6000 homens), coortes (com 1000 homens) e centúrias (com 100 homens).
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Na província da Judéia havia uma instituição local chamada Sinédrio, o qual era formado por 71 membros e
presidido pelo sumo sacerdote. O Sinédrio era o supremo tribunal local e tinha poderes para julgar questões civis e
religiosas, uma vez que as duas coisas eram tratadas pela mesma lei. Tais autoridades tinham até mesmo a
prerrogativa de aplicar a pena de morte contra crimes cometidos na comunidade local. A polícia recebia ordens do
Sinédrio.
Essa estrutura pode ser claramente observada nas páginas dos evangelhos, principalmente nos relatos que tratam da
prisão, julgamento e crucificação de Cristo, o qual foi preso pela polícia do Sinédrio, e levado diante desse tribunal
local. Os integrantes do Sinédrio, embora tivessem poder para matá-lo, parecem ter vacilado diante de tamanha
responsabilidade. Levaram-no diante do Procurador da Judéia, Pilatos, o qual encaminhou-o para a presença de
Herodes, o rei da Galiléia. Ninguém queria assumir a responsabilidade pela crucificação. Contudo, Cristo é
devolvido a Pilatos, que considerou o lavar da mãos como ato suficiente para isentá-lo da culpa de matar o Filho de
Deus. (Mt.26.44,57,59; 27.2; Lc.23.7) Vemos aí a hierarquia governamental em evidência. O imperador também
foi lembrado naquelas circunstâncias, mas apenas para um menção rápida em João 19.12 para pressionar o
Procurador.
Havia ainda outro tipo de província. Eram aquelas conquistadas há mais tempo e já pacificadas. Os habitantes
desses lugares tinham cidadania romana. Era o caso do apóstolo Paulo, que nasceu em Tarso, e tinha o direito de
ser considerado cidadão romano. Tal prerrogativa proporcionava diversos direitos, principalmente tratamento
respeitoso e especial nas questões jurídicas. Um cidadão romano não podia, por exemplo, ser açoitado. Paulo foi
submetido a açoites, mas seus algozes ficaram atemorizados quando souberam que tinham espancado um cidadão
romano (Atos 16.37-38). Com base no mesmo direito, Paulo apelou para César quando quis se defender das
acusações que lhe eram feitas (Atos 25.10-12).

CULTURA E INFRA-ESTRUTURA
Nos dias de Cristo, embora o império fosse romano, a cultura predominante continuava sendo grega. O extinto
império de Alexandre Magno deixou um grande legado: o helenismo, que significa a influência cultural grega entre
os povos conquistados. Helenismo é derivado de Helas, outro nome da Grécia. Helenização é o processo de
propagação dessa cultura. Devido a essa difusão, a língua grega se tornou de uso comum. Daí vem a expressão
"grego koiné" (= comum). As cidades gregas eram bem estruturadas. Contavam com teatros, banhos públicos,
ginásios, foros, amplas praças, hipódromos e academias. Assim, por onde quer que o helenismo se expandisse iam
surgindo cidades desse tipo. Algumas cidades antigas se adaptavam e chegavam até a mudar de nome, adotando
nomes gregos.
É por causa desse contexto que o Novo Testamento foi escrito em grego, com exceção do evangelho de Mateus.
Além dos elementos helênicos, o cenário contava com estradas calçadas construídas pelos romanos. Elas
facilitavam a circulação das milícias entre as províncias e a capital. Por essas vias transitavam também
mensageiros, comerciantes e viajantes em geral. Outro destaque da engenharia romana eram os aquedutos: canais
para levar água das montanhas para as cidades.

ATIVIDADES ECONÔMICAS
Com toda a importância das cidades, as construções eram constantes. Além das casas, estradas e aquedutos, as
muralhas também faziam parte dos projetos. Em Jerusalém havia uma grande obra em andamento nos dias de
Jesus: o templo de Herodes, cuja construção ocorreu do ano 20 a.C. até 64 d.C..
Outras atividades importantes eram: transporte, agricultura, comércio, pesca, metalurgia, cerâmica, perfumaria,
couro, tecidos e armas. Em Israel, a pecuária, além de atividade econômica, possuía status religioso por causa dos
sacrifícios.

POPULAÇÃO E RELIGIÃO
A DIÁSPORA
Nos dias do Novo Testamento, a população judaica encontrava-se dispersa por vários lugares. Além da própria
Palestina, havia inúmeros judeus em Roma, Egito, Ásia Menor, etc. (Atos 2.9-11; Tiago 1.1; I Pedro 1.1). Tal
dispersão, que recebe o nome de Diáspora, tem razões diversas, começando pelos exílios para a Assíria e Babilônia,
e se completando por interesses comerciais dos judeus, e até mesmo em função das dificuldades que se verificavam
em sua terra natal. Esse quadro se apresenta como cumprimento claro dos avisos divinos acerca da dispersão que
viria como conseqüência do pecado de Israel (Dt.28.64).
Assim, o judaísmo acabou se dividindo em função da distribuição geográfica. Havia o judaísmo de Jerusalém, mais
ligado à ortodoxia, e o judaísmo da Diáspora, ou seja, praticado pelos judeus residentes fora da Palestina. Estes
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últimos encontravam-se distantes de suas origens. Se até na Palestina, os costumes gregos se impunham, muito
mais isso ocorria na vida dos judeus em outras regiões. Estavam profundamente helenizados, embora não tivessem
abandonado o judaísmo. Isto fez com que eles se preocupassem com o futuro de suas tradições e sua religião.
Tomaram então providências para que o judaísmo não sucumbisse diante do helenismo. Uma delas foi a tradução
do Velho Testamento do hebraico para o grego, chamada Septuaginta. Já que este idioma estava se tornando
universal, havia o risco de que, no futuro, as escrituras não pudessem mais ser lidas, devido à possível extinção do
hebraico. Outras obras literárias foram produzidas, incluindo narrativas históricas, propaganda e apologia judaica,
tudo escrito em grego e com influências gregas. Destacaram-se nessa época os escritores: Fílon de Alexandria e
Flávio Josefo. Tais escritos não foram aceitos pela comunidade de Jerusalém. Até a tradução bíblica foi rejeitada,
uma vez que, para eles, toda escritura sagrada devia ser produzida necessariamente em hebraico. Essa obra no
idioma grego foi vista pelos ortodoxos como uma descaracterização do judaísmo.
Para muitos judeus conservadores, o judaísmo era propriedade nacional e não devia ser propagado entre outros
povos. Já os judeus da Diáspora se dedicaram a conquistar gentios para a religião judaica. Tal fenômeno recebe o
nome de proselitismo. Os novos convertidos eram chamados prosélitos (Mateus 23.15 Atos 2.9-11; 6.5; 13.43).
Essa prática difusora da religião também foi adotada por judeus de Jerusalém, mas em escala bem menor.
Os judeus da diáspora cresciam em número e em poder econômico. Isso se tornou incômodo para muitos cidadãos
dos lugares onde residiam. A guarda do sábado e a recusa em participar do culto ao Imperador tornaram-se também
elementos que atraíram a perseguição. Tendo, muitos deles, fugido da opressão na Palestina, encontraram
problemas semelhantes em outras terras.

AS SINAGOGAS, OS RABIS E OS ESCRITOS RELIGIOSOS


O surgimento das sinagogas é normalmente atribuído ao período do exílio babilônico, quando os judeus deixaram
de ter um templo para adorar e sacrificar. O fato indiscutível é que nos dias do Novo Testamento, tais locais de
oração, ensino e administração civil eram muito valorizados. Em qualquer localidade onde houvesse 10 judeus,
podia ser aberta uma sinagoga. Em cidades grandes poderia haver várias, como era o caso de Jerusalém. A
liderança da sinagoga era exercida pelo rabi (mestre), o qual era eleito pelos membros daquela comunidade. Essa
autonomia de eleição do rabi favoreceu o surgimento de muitos mestres com idéias religiosas distintas. Todos
estudavam a lei e elaboravam seus ensinamentos com interpretações e comentários acerca da Torá.
Assim surgiram as midrashs e as mishnas. Midrash era o comentário da lei. A primeira surgiu no ano 4 a.C.. As
mishnas eram os ensinamentos rabínicos. A primeira surgiu em 5 a.C.. Tudo isso compunha a tradição, que passou
a ser mais utilizada do que a própria lei. A interpretação da lei era tão desenvolvida que chegava ao extremo de
contradizer o código original (Mt.15.1-6). Assim, os escribas e fariseus, doutores da lei, ocupavam o lugar de
Moisés (Mt.23.2). Devido a essa posição dos rabis (mestres), Jesus orientou seus discípulos a não utilizarem esse
mesmo título (Mt.23.8).

JUDAÍSMO DIVIDIDO
Nos dias de Cristo, a religião judaica encontrava-se dividida em seitas: fariseus, saduceus, essênios, e outras. Cada
facção se considerava o remanescente fiel a Deus e via os demais como relaxados. Entre os fatores que
contribuíram para essa divisão, podemos citar:
- Diáspora – A dispersão geográfica dificultou a manutenção de uma religiosidade padronizada.
- Sinagogas – Significaram a descentralização da orientação religiosa. Muitos rabis representaram muitas linhas de
pensamento e prática divergentes.
- Linhagem - As misturas étnicas ocorridas no norte de Israel contribuíram para a discriminação religiosa contra os
samaritanos.
- Interpretação – Diferentes interpretações da lei conduziam a diferentes crenças.
- Tradição – Esta era o resultado de muitos elementos: interpretação, comentário da lei, influências estrangeiras
(gregas, romanas e babilônicas).
- Política – Alguns judeus apoiavam Herodes e os romanos. Outros eram radicalmente contra tais dominadores.
- Helenismo – Os judeus se dividiam também quanto ao apoio ou combate à cultura grega que se expandia em todo
o mundo. Tais costumes eram vistos como os que hoje chamamos de "mundanismo". Muitos judeus se deixavam
levar, admirados com o pensamento grego e o sucesso de sua cultura.

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DINASTIA HERODIANA (parcial)


As setas indicam filiação. O posicionamento dos quadros inferiores demonstra a sucessão no governo da Palestina.

Apresentamos apenas parcialmente a dinastia herodiana porque nos limitamos aos nomes mais próximos aos fatos
do Novo Testamento. Nosso maior interesse é apresentar a sucessão política na Palestina, principalmente na Judéia.
Herodes Magno, também conhecido com Herodes, o Grande, governava a Judéia quando Jesus nasceu. Herodes
teve 10 mulheres e 15 filhos, ou mais. Citamos 7 deles: Antípatro II, Aristóbulo I, Alexandre, Filipe I, Filipe II,
Arquelau e Antipas II. Herodes matou seus filhos Alexandre, Aristóbulo I e Antípatro II. Deserdou Filipe I, que era
casado com Herodias, a qual veio a adulterar com Antipas II (Mc.6.17). Após a morte de Herodes Magno, seu reino
foi dividido entre três de seus filhos: Arquelau recebeu a Judéia, Samaria e Iduméia. Antipas II passou a governar a
Galiléia e a Peréia. Filipe II recebeu os territórios do nordeste: Ituréia, Tracomites, Gaulanites, Auranites e
Batanéia.
Arquelau foi deposto pelos Romanos no ano 6 d.C.. A Judéia passou então a ser governada por procuradores
romanos. Um desses procuradores foi Pôncio Pilatos (de 26 a 36 d.C.). Antipas II governou a Galiléia durante todo
o ministério de Cristo. Foi ele quem mandou degolar João Batista. À sua presença Jesus foi encaminhado por
Pilatos, já que este era procurador sobre a Judéia e foi-lhe dito que Cristo era galileu, sendo portanto da jurisdição
de Antipas.
Agripa I, filho de Aristóbulo e, portanto, neto de Herodes Magno, foi o sucessor de Filipe II. Aos poucos foi
herdando também os territórios dos outros tios. Recebeu de volta dos romanos a administração da Judéia e Samaria,
tornando-se então rei de quase toda a Palestina. Foi ele quem mandou matar o apóstolo Tiago e morreu comido por
vermes (At.12). Seu filho, Agripa II, foi seu sucessor. Seu território foi então ampliado por determinação do
Imperador Cláudio e ainda mais por Nero. Foi perante Agripa II que Paulo se apresentou (At.25.23). Com a
destruição de Jerusalém no ano 70, Agripa II mudou-se para Roma e lá esteve até o ano de sua morte (100 d.C.). Os
membros da dinastia herodiana são muitas vezes mencionados no Novo Testamento. Todos eles possuíam o título
de Herodes. Por esta razão, muitas vezes pode-se imaginar que as diversas passagens se referem à mesma pessoa, o

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que não é verdade. Pela observação dos quadros anteriores, pode-se identificar cada "Herodes" nas passagens
bíblicas em que são citados.

IMPERADORES ROMANOS NO PERÍODO DO NOVO TESTAMENTO


César Augusto Otaviano - ano 27 a.C. a 14 d.C. - Nascimento de Jesus - Início do culto ao Imperador. (Lc.2.1)
Tibério Júlio César Augusto - 14 a 27 - Ministério e Morte de Jesus. (Lc.3.1).
Gaio Júlio César Germânico Calígula - 37 a 41 - Quis sua estátua no templo em Jerusalém. Morreu antes que sua
ordem fosse cumprida.
Tibério Cláudio César Augusto Germânico - 41 a 54 - Expulsou os judeus de Roma. (At.18.2).
Nero Cláudio César Augusto Germânico - 54 a 68 - Começa perseguição de Roma contra os cristãos. Paulo e Pedro
morrem (At. 25.10; 28.19).
Sérvio Galba César Augusto 68 - Cerco a Jerusalém.
Marcos Oto César Augusto - 69 – mantém o cerco a Jerusalém.
Aulus Vitélio Germânico Augusto - 69 - mantém o cerco a Jerusalém.
César Vespasiano Augusto - 69 a 79 – Tinha sido general de Nero. Coloca seu filho Tito como general. No ano 70,
determina a destruição de Jerusalém.
Tito César Vespasiano Augusto - 79-81.
César Domiciano Augusto Germânico - 81 a 96 - Exigia ser chamado Senhor e Deus. Grande perseguição. O
apóstolo João ainda vivia durante o governo de Domiciano.

Fonte Ministério Virtual Vivos

II - TEOLOGIA DOS EVANGELHOS

INTRODUÇÃO
O ÁPICE DA TEOLOGIA
"Havendo Deus outrora falado muitas vezes e de muitas maneiras aos pais pelos profetas, a nós falou-nos nestes
últimos dias pelo Filho". (Hb.1:1)
O Velho Testamento apresenta uma revelação progressiva de Deus na medida que seu povo ia andando com ele, ou
mesmo quando deixava seu caminho. Em todas as situações da história de Israel, Deus veio se revelando
paulatinamente. Nesse percurso, vários nomes foram usados para Deus. Cada um representava o nível de revelação
alcançado. Tais experiências vinham ocorrendo juntamente com a preparação de uma linhagem especial. Deus
chamou Abraão e dele formou um povo inumerável. Dentre esse povo foi separada uma tribo : Judá. Nessa tribo foi
escolhida uma família : a casa de Jessé. Desse tronco veio o ápice da revelação de Deus na história da humanidade.
Da raiz de Jessé veio Jesus, o Verbo Eterno de Deus. Jesus Cristo é o ponto máximo da manifestação de Deus aos
homens.
No passado, o conhecimento divino se dava através de visões, mensagens, sonhos, etc. No Novo Testamento, Deus
vem em pessoa humana, em carne e osso, para que o homem o conhecesse como nunca antes. Jesus é o resplendor
da glória do Pai e a expressa imagem da sua pessoa (Hb.1:3). Muitos não tiveram o privilégio de estar ao lado de
Jesus durante sua vida terrena. Para esses, entre os quais estamos nós, Deus providenciou que a vida, a obra e a
mensagem de Jesus fosse registrada, afim de que, por meio de tais registros viéssemos a crer nele e conhecê-lo
experimentalmente. Tais escritos são os Evangelhos. Neles temos o glorioso testemunho daqueles que viram e
tocaram na Palavra da Vida (I Jo.1:1).
Nesse estudo, procuraremos focalizar, de modo sucinto, a teologia dos quatro evangelhos. Nos dedicaremos a
extrair a visão teológica de cada um de seus escritores, de maneira que possamos aprender um pouco mais sobre a
luz que a encarnação do Verbo lançou sobre a teologia bíblica.

III - A TEOLOGIA DE MATEUS


O primeiro evangelho desenvolve uma teologia da história: Deus faz história com o homem de maneira única e
decisiva em Jesus, Cristo e Filho de Deus. Ao cumprir a Aliança por total submissão à vontade de seu Pai, Jesus
abre o futuro da Igreja e do mundo à realização das antigas promessas; transforma o presente dos homens em
esperança para sempre.
Mateus apresenta, intimamente ligados, o itinerário terreno de Jesus revelando-se pouco a pouco às multidões
enquanto formava seus discípulos, e a construção progressiva de sua Igreja, comprovação para o mundo da
presença do Reino dos Céus.

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1 - JESUS CRISTO, SENHOR DA IGREJA


O Ressuscitado anima a sua comunidade com sua presença e atuação. Dela é efetivamente, o "Senhor", realizando a
primeira profecia consignada no evangelho... "e o chamarão com o nome de Emanuel, o que traduzido significa :
Deus está conosco" (1:23).

MESSIAS DE ISRAEL
Jesus é o Messias esperado por Israel e anunciado pelas Escrituras. Mateus o afirma claramente diante do
particularismo judaico exacerbado após a queda de Jerusalém. Desde o primeiro capítulo (1:1,16,18 16:20 27;17),
Jesus é chamado "Cristo", quer dizer, "ungido" de Deus. Sua genealogia estabelece sua filiação de Davi e de
Abraão. Por se o Messias em quem confirma a longa história das benevolências divinas, compete-lhe a última
palavra; ele é o Salvador que Moisés prefigurava.
O evangelho da infância explicita, com o auxílio dos profetas, a maneira como Jesus realiza as esperanças judaicas;
Mateus atribui-lhe os títulos messiânicos tradicionais. Segundo o anúncio profético, ele nasce em Belém, cidade
real; é verdadeiramente "Filho de Davi" (9:27 12:23 15:22 20:30-31). Mas Mateus rejeita o conceito de um Messias
nacionalista que seus contemporâneos criaram. A fim de corrigi-lo, apela para a figura do "Servo" de Deus (8:17
12:18-23), extraídas de Isaías (Is.42:1-4); ele é rei (21:5 2:2 27:11,39,42). De toda maneira, são as Escrituras que,
incessantemente, autenticam sua identidade.

O ISRAEL REALIZADO
Ao ressaltar a realização em Jesus das expectativas messiânicas alimentadas pelo povo eleito, Mateus determina
dois tempos da comunidade da salvação: o Israel realizado e o Israel irrealizado. Através do evangelho cresce, de
um lado, uma tensão entre aqueles que procuram Jesus e prendem-se a ele - multidão e discípulos - e de outro, os
"escribas e fariseus", intérpretes titulares das Escrituras que, através dos "sumos sacerdotes e anciãos",
representantes oficiais do povo , são notórios adversários de Jesus. Este denuncia sua hipocrisia, não para rejeitá-
los mas para fazê-los compreender sua recusa da realização que os pagãos vão acolher.
A inversão aparece tanto no início como no termo do evangelho: magos, astrólogos idólatras, descobrem o Rei dos
Judeus (2:2), enquanto o rei Herodes quer matá-lo (2:16); o pagão Pilatos tenta agraciar Jesus (27:21-24), enquanto
o povo da aliança recusa reconhecê-lo não sem chamar sobre si seu sangue redentor (27:25). Assim se consuma na
Paixão o que a infância anunciava. A parábola dos vinhateiros homicidas o indica com clareza: tomando sobre si a
sorte dos profetas (21:39 23:34-36), Jesus, Filho de Deus, assume o pecado de Israel infiel à Aliança. Salva-o, ao
mesmo tempo, pois se denuncia sua caducidade como povo particular, abre-o à universidade eclesial. A afirmação
de Jesus: "O Reino de Deus vos será tirado e confiado a um povo que produza seus frutos" (21:43) anuncia a
entrada na Igreja dos pagãos que acatam a gratuidade da salvação. Ao mesmo tempo, Jesus julga o Israel
perseguidor (10:22-23 22:7 23:35) com carinho e faz-lhe ver sua recusa e a esperança de uma conversão (23:37-
39).
A instituição eucarística, da qual Jesus faz sinal de seu sofrimento e sua morte, dá à aliança sua forma definitiva e
seu significado decisivo em "o sangue do inocente"(27:4) "derramado por muitos para o perdão dos
pecados"(26:28). A paixão de Jesus justifica a existência do Israel realizado, da qual a comunidade de Mateus faz
parte. O centurião e os soldados do Calvário lhe são as primícias: no meio da assembléia dos santos ressuscitados,
ele confessam a divindade de Jesus, cuja morte aparece, em Mateus, como uma "teofania", uma aparição de deus
(27:51-54). O Messias de Israel torna-se assim a esperança das nações (12:21), realizando "a Galiléia das
nações"(4:15); é da Galiléia, com efeito, que os discípulos partem, no final do evangelho (28:16-20), para a missão
universal.

O MESTRE TRAZ O REINO DOS CÉUS


Como autêntico Messias, cumprindo a expectativa de Israel, Jesus traz a todos os homens "o Reino dos Céus". Este
último aparece como força de cura e proclamação de uma mensagem de felicidade (4:23 9:35). Os "milagres", ou
antes, os "gestos de poder" de Jesus apresentam-se como sinais de sua missão (9:33 11:2,6 19:15,31). Ele próprio
age como Servo obediente que executa a vontade salvadora de Deus, encarregando-se das enfermidade e das
fraquezas dos homens (8:17). Ele usa de doçura e de piedade, atento em aliviar os seres sofredores e desprezados, e
, mais ainda, em perdoar os pecados (1:21 9:2).

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O ADVENTO DO FILHO DO HOMEM


Com Jesus, o Reino dos Céus aproximou-se do homem (3:2 4:17). Esse Reino cresce como uma semente (13:4-9)
que abre caminho através do joio (13:24-30) e torna-se árvore frondosa. O termo deste crescimento é a "parosia" do
filho do Homem (24:3,27,37,39), feliz entrada na história humana da misteriosa personagem de Daniel 7:13,
tornada carne em Jesus, o Rei-pastor, juiz e salvador das nações (25:31-46). Inaugura, então, o Reino definitivo de
Deus: através de sua morte e ressurreição, Jesus dá início aos últimos tempos (24:42,44). Daí em diante, a cada
momento, no terreno da história onde a vigilância dos homens deve desenvolver-se, o Filho do Homem vem em seu
Reino. No fim do mundo, o Reino do filho se identificará com o do Pai (13:41-43).
Para Mateus, o Filho do Homem é realmente o Filho do Deus Vivo. Antes de tudo, ele evoca a concepção virginal
do Cristo (1:16,20), operada pelo Espírito santo; depois, a sua entronização messiânica no batismo, quando a voz
do pai proclama a todos: "Este é o meu Filho Amado"(3:17). O hino de júbilo e louvor (11:25-27) realça a
consciência que Jesus tem de sua filiação divina; esse aparece nas relações com seu Pai e na discussão sobre a
identidade do Messias, Filho de Davi (22:41-45).

2 - A IGREJA DO SENHOR JESUS


Os cinco grandes discursos de Jesus desenham o perfil da vida em Igreja. Essa encontra-se reunida (10:1),
instituída (16:18) e enviada (28:19-20) por Cristo. Por sua inserção no quadro da atividade histórica de Jesus, os
discursos provam que é ele a regra viva e única do comportamento dos discípulos.

O ESPÍRITO DA COMUNIDADE
Os cristãos devem ser pessoas felizes, convidados a descobrir, no fundo das situações exteriormente menos
favorecidas, uma plenitude nova: aquela que Jesus Cristo vive e da qual dá-lhes compartilhar. Essa é a mensagem
primordial, a das "bem-aventuranças" (5:3-10); nela devemos ver um apelo para ir avante em vez de um conselho à
resignação. A promessa feita em cada uma das bem-aventuranças diz respeito ao Reino de Deus, já presente pela
vinda de Jesus (5:3,10), mas continuamente por receber, como realização definitiva (5:4-9).
A "justiça" reclamada por Jesus (5:20,47) radicaliza as atitudes ordenadas pelo Lei e instaura novas relações
fraternas no seio da comunidade. Exortando seus discípulos a promover o acolhimento mútuo e a reconciliação, a
fidelidade conjugal e o respeito ao lar alheio, a verdade no diálogo, a benevolência humilde e generosa diante dos
aproveitadores e mal-intencionados, e sobretudo o amor aos inimigos, Jesus parece prescrever-lhes uma perfeição
impossível; convida-os a imitar a própria perfeição do Pai celeste. Com efeito, o essencial desses preceitos repousa
na pessoa de Jesus e na revelação que ele faz de Deus; o agir de seu Pai, que se torna nosso Pai, é apresentado
como modelo da ação do discípulo. Mister se faz, então, que a própria força de Deus permita-lhe realizar este
impossível, sem diminuir-lhe a responsabilidade da conduta, pela qual será finalmente reconhecido (12:23) e
julgado (7:23 25:40,45).

O SERVIÇO MISSIONÁRIO
A comunidade reunida por Jesus é automaticamente missionária, pois a missão nada mais é do que a participação
do discípulo na ação do Mestre (10:24-25). As condições do testemunho prestado pelos enviados juntam-se à
mensagem das bem-aventuranças: como seu Mestre, o discípulo terá de sofrer, mas o espírito de Jesus é prometido
ao perseguido (10:20 12:28); o enviado é mensageiro da paz, mas nem sempre bem acolhido, e sua vinda será, por
vezes, sinal de contradição. As lutas que, em nome de Cristo, colocam os irmãos em oposição (10:35-36),
anunciam uma paz superior que nasce dolorosamente através da longa história do choque das liberdades humanas
(24:8)

IV - A TEOLOGIA DE MARCOS
É interessante observarmos que Marcos sustenta um tipo de "economia da revelação". A confissão de Pedro marca-
lhe a vertente. Antes dela, Jesus ao mesmo tempo se revela como Messias e exige ciosamente o segredo desse fato
(1:34,44 3:12 5:43 7:36 8:26), revelação e segredo que atingem seu ponto culminante na confissão de Pedro (8:29-
30). Por outro lado, os discípulos nada entendem do mistério de Jesus (4:41 6:51 8:16-21).
Depois da confissão messiânica, os discípulos continuam a mostrar a fraqueza de sua fé (9:18), mas o tema se
concentra daí em diante na sorte de Jesus, e não mais apenas em sua missão (8:32). Se a menção do filho do
homem já foi feita em 2;10,28, tratava-se então de seu papel terrestre. Enfim nenhum segredo é exigido do cego de
Jericó que proclama em Jesus o Filho de Davi (10:46-52). Em contraprova, a intenção de Marcos poderia se
confrontada com a de Mateus. Este antecipa a liberdade de proclamação em Mt.9:27 12:23 1:22 14:33. Segundo
Mateus, Jesus assume antes da confissão de Pedro seu papel escatológico.
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Marcos parece, portanto, ter querido distinguir na revelação do evangelho dois períodos: o mistério do Messias e o
do Filho do homem - sendo que o segundo aprofunda o primeiro.
Examinando-se os pormenores, é claro que muitos matizes podem ser apresentados e uma dúvida razoável
subsistirá sobre a intenção última de Marcos. Por exemplo, pode-se perguntar se os milagres da mulher sírio-fenícia
e do surdo-mudo (7:24-37) devam ser vinculados à primeira ou à segunda multiplicação dos pães; se a confissão de
Pedro (8:27-30) é somente conclusão da primeira parte ou introdução à segunda; se a discussão sobre a autoridade
de Jesus (11:27-33) deve ser unida às três controvérsias que seguem. Ao contrário, parece mais seguro afirmar que
os três anúncios da Páscoa anunciam teologicamente o início da segunda parte; isto explicaria como os matizes
topográficos (9:30,33 10:1) tenham sido absorvidos na apresentação catequética da passagem. Quando muito, pode-
se ver na "subida a Jerusalém"(10:32) o suporte topográfico que, em Lucas tomará valor teológico.

PERSPECTIVA DOUTRINAL
A moda crítica falou outrora do "paulinismo doutrinal de Marcos". Loisy, por exemplo, via no segundo evangelho
uma "interpretação paulina... da tradição primitiva". Mas, pouco depois, A. Schweitzer e M. Werner mostravam
que não se podia reconhecer em Marcos o vestígio de uma influência doutrinal de Paulo. As idéias paulinas
características estão ausentes, somente os temas do Cristianismo primitivo aparecem.
O vocabulário sugere, quando muito, que Marcos viveu num meio paulino e talvez tenha conhecido I
Tessalonicenses e Romanos. Mas o vocabulário da justiça, da prova, da salvação aí não se encontra. Por outro lado,
ao contrário, o final canônico posterior de Marcos 16:9-20 apresenta numerosos contatos com as cartas paulinas.

JESUS, O FILHO DE DEUS


O título do livro fixa a intenção de Marcos : "Começo do evangelho de Jesus Cristo, o Filho de Deus". Eis como
Jesus mostra que é o Filho de Deus. alguns manuscritos não trazem estas últimas palavras, mas sólidas razões de
crítica textual autorizam a sua retenção.
Contrariamente a Mateus, que semeia com abundância o epíteto de Filho de Deus, Marcos reserva seus efeitos,
porque se trata provavelmente para ele do título teológico. Além da confissão do Filho de Deus pelos demônios
num relato (5:7) e um sumário (3:11) , a expressão se encontra nos pontos culminantes do evangelho : pela voz de
Deus no batismo (1:11) e na transfiguração (9:7), enfim na boca do centurião que , em nome dos pagãos, proclama
a eficácia da morte de Jesus: "Verdadeiramente este homem era o Filho de Deus" (15:39). O segundo evangelho
quer, portanto, revelar aos pagãos a boa nova: Jesus Cristo é o Filho de Deus, no sentido próprio e não somente no
sentido messiânico.
Esta sobriedade na apelação de Filho de Deus se reflete no uso dos outros títulos. Habitualmente, trata-se de Jesus
(81 vezes), nunca de Cristo Jesus, e de Jesus Cristo comente em 1:1 e 16:19. O termo Cristo não se encontra nunca
na boca de Jesus e deve permanecer sigiloso (8:29). Os títulos de Filho de Davi (10:47 e 12:35), de Profeta (6:15
8:28), de Senhor (11:3 7:28) são excepcionais.
Correntemente, Jesus é chamado de Mestre, mas o título que Jesus reivindica é o de Filho do Homem, e isto nos
introduz mais adentro na mensagem característica do segundo evangelho.

JESUS, O FILHO DO HOMEM


O evangelho é um "apocalipse", porque a vinda do Senhor é um mistério. Mateus o apresenta sob o aspecto do
Reino dos Céus; Marcos o concentra sobre a figura de Jesus, que é o Reino em pessoa. tudo converge em Marcos
para o mistério do Filho do Homem.
Segundo a primeira interpretação, tomada, por exemplo, por Lagrange, Filho do Homem não seria um título
messiânico corrente; a passagem das Parábolas de Henoc que fala disto seria uma interpolação cristã. A expressão
deveria ser relacionada à tradição de Ezequiel. Ela equivaleria a "o homem que sou, para atrair a atenção sobre sua
pessoa, sem tomar abertamente, e por assim dizer, oficialmente, o título de Messias". Somente o contexto evidente
de glória em 13:26 e 14:62 estabeleceria uma ligação coma profecia de Daniel

V - A TEOLOGIA DE LUCAS
Na literatura do Novo Testamento, por muitas razões, a obra de Lucas é original.
Enquanto Mateus, Marcos e João se concentram, aparentemente, apenas na vida de Jesus, Lucas divide seu trabalho
em dois volumes, o evangelho e os Atos; distingue, assim, com maior clareza, o tempo de Jesus e os primórdios da
Igreja.
Desde a primeira frase, Marcos tem o "evangelho" como referência de seu projeto literário. Mais modestamente,
Lucas declara fazer um "relato" de tudo o que se passou.
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Lucas é o mais grego dos autores do Novo Testamento. Maneja com certa elegância a língua comum falada então;
preocupa-se em ser compreendido pelos ouvintes poucos afeitos às tradições judaicas; o leitos ocidental moderno
sente-se logo a vontade em sua companhia.
A delicadeza de Lucas foi sempre realçada. Poetas como Dante apresentaram-no como o evangelista da
"mansuetude de Cristo"; pintores, como Rembrandt nele encontraram fecunda fontes de inspiração. Relatos como o
do filho pródigo ou dos discípulos de Emaús ficaram bem retidos na memória dos cristãos, e todos os movimentos
do despertar religioso ao longo dos tempos, a começar pelas ordens religiosas procuraram um modelo na descrição
da primeira comunidade em Jerusalém.

A VIDA DE FÉ
De Lucas 9:51 a 13:21, caso façamos uma subdivisão neste ponto, o evangelista orienta a atenção dos leitores para
a vida de fé: que significa tornar-se discípulo? Que conduta adotar para permanecer neste estado ? Alguns temas
fundamentais da fé e da ética lucanas aparecem: a pertença a Deus e a seu Cristo como uma atitude de ruptura
(abandono da família , de seus bens, de seus privilégios sociais etc.); uma vida de crença marcada pela oração e
pela confissão de fé; a obediência que contrasta com a dos fariseus; esta obediência é caracterizada pela confiança
unicamente em Deus e pela vigilância. Não se trata de vidas mais ou menos morais, mas da vitória de Satanás ou de
Deus (10:18), de vidas prisioneiras do Diabo (13:16) ou submissas a Deus, um Deus que não é o justiceiro, mas o
Deus atento cuja benevolência foi revelada aos humildes. Existe, pois, um contraste, uma oposição, entre aqueles
que aceitam a mensagem e os que a rejeitam: "Pensais que vim estabelecer a paz sobre a terra? Não, eu vos digo,
mas uma divisão"(Lc.12:51). Jesus é o sinal eficaz do amor de Deus. Para representar o Pai, Lucas coloca o Filho
em cena. Os discípulos e os fariseus representam os crentes e os incrédulos.
Mas, para que esta manifestação do Reino chegue aos homens, urge haver intermediários : Jesus, primeiro, os Doze
a seguir, depois os Setenta e dois cujo apelo e missão abrem esta parte do Evangelho (Lc.10:1-11). É significativo
que Lucas conceda um lugar privilegiado a essa missão: o discurso de envio que a Coleção de Logia associava ao
mandato dos Doze, é por Lucas ligado à expedição dos Setenta e dois. A missão dos doze prefigura a evangelização
de Israel, enquanto a dos setenta e dois antecipa a vocação universal dos gentios, bem encaminhada no tempo do
evangelista. Se ele dá uma atenção discreta à primeira, atribui uma importância decisiva à segunda.

VI - A TEOLOGIA DE JOÃO
MUDANÇAS DE PERSPECTIVA
Um certo número de dados que ocupavam um lugar capital nos evangelhos sinóticos são no quarto evangelho como
que relegados para o segundo plano ou transformados. É assim que o anúncio do Reino, tema fundamental da
pregação de Jesus nos sinóticos, não aparece em João senão uma ou duas vezes: 3:3-5 e também 18:36. Ele é
substituído pelo tema da vida, conhecido aliás já dos sinóticos que estabelecem a equivalência entre "entrar no
Reino" e "entrar na vida" (Mc.9:43 10:17 Mat.18:3 19:17 Lc.18:29-30). Mas, enquanto neles a vida é sempre um
bem puramente escatológico (salvo em raras passagens como Lc.15:32), no quarto evangelho, ao lado de passagens
em que a palavra "vida" conserva este sentido, há um grande número de outras em que ela constitui um bem divino
possuído desde agora.
Os sinóticos nos oferecem todo um conjunto de ensinamentos morais sobre as condições de entrada ou de
existência no Reino: a pureza de intenção, a prece, o jejum, a esmola, a castidade, a fidelidade conjugal, o desapego
das riquezas. No quarto evangelho, Jesus fala, sem dúvida, da necessidade de guardar os mandamentos, mas ele não
se explicita sobre nenhum ponto particular. Toda a moral de Jesus é relacionada ao mandamento do amor fraterno
inculcado com grande instância (13:34-35 15:12 17:17-26). É claro, aliás, que as bases desta poderosa unificação se
encontram nos sinóticos.

ESCATOLOGIA
Outra modificação de grande importância: o recuo incontestável no quarto evangelho sob o ângulo escatológico;
nenhum trecho apocalíptico do gênero do apocalipse sinótico, nenhuma menção da vinda do Filho do Homem
sobre as nuvens, nenhuma descrição das côrtes do juizo final. A manifestação da glória de Jesus (1:14 2:11
11:4,40) , a salvação (5:24,27), o julgamento (3:18,19) são parcialmente atualizadas. Contudo, o aspecto
escatológico da mensagem cristã não é rejeitado, e nada nos permite considerar como adições adventícias ao texto
primitivo as passagens sobre a ressurreição corporal do fim dos tempos (5:28-30 6:39,40,44,54). É que a mística de
João não é absolutamente uma mística intemporal; ao modo dos profetas e diversamente dos gregos, João conhece
um progresso dos tempos, progresso que, como nos sinóticos, é ligado à pessoa de Jesus. Apenas, muito mais do
que seus antecessores, ele acentua esta idéia de que no Cristo já se encontra o cume ou o fim da história do mundo.
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Pela morte de Jesus, o mundo é vencido e o príncipe deste mundo banido (12:31 16:33); eis porque esta morte é a
"consumação" escatológica (19:30).

A CRISTOLOGIA
Nos sinóticos como se disse acima, o anúncio do Reino ocupa um lugar considerável; ligado ao Reino de Deus, a
pessoa de Jesus não é esquecida (Mt.11:26-30), mas não tem tanto lugar na pregação; um segredo até a envolve, e
Cristo proíbe aos demônios (Mc.1:24) e também aos discípulos (Mc.8:30) de desvendarem sua identidade. Em
João, ao contrário, é a revelação da personalidade divina do Salvador que aparece por toda a parte em primeiro
plano; aqui nada de parábolas do Reino, mas duas parábolas-alegorias (o bom pastor e a vinha) relativas a esta
revelação. O argumento principal do quarto evangelho, que será exposto, na síntese doutrinal, é , com efeito, este:
que o Filho de Deus encarnado foi enviado pelo Pai aos homens para lhes revelar e lhes comunicar as riquezas
misteriosas da vida divina.
É na igreja que estas riquezas lhes serão ofertadas. Na mesma medida em que o evangelho é cristológico ele é
também eclesial. O ministério público de Jesus, com sua pregação e seus milagres, é apresentado como uma
antecipação da vida da igreja, que santificará as almas pela palavra. Por sua vez, a existência da igreja é
contemplada como uma antecipação da parusia.
A despeito desta importante mudança de perspectiva, o Cristo do quarto evangelho não é essencialmente diferente
do Cristo dos sinóticos. Certamente, João sublinha a divindade de Cristo muito mais vigorosamente do que seus
precursores; mas também entre eles é por toda a parte insinuada, a tal ponto que os sinóticos ficam ininteligíveis
sem esta crença. O título enigmático de Filho do Homem, verdadeiramente próprio de Jesus e que não foi
divulgado pela pregação cristã ulterior, é comum nos sinóticos e em João. Somente que João insiste mais sobre a
transcendência e a preexistência do Filho do Homem; tende além disso a atenuar a distância entre seu estado
terrestre e sua condição gloriosa: a paixão é mantida, mas , compreendida como o começo da glorificação, não
apresenta mais aqui o caráter de humilhação sublinhado nos sinóticos.

CONCLUSÃO
Mateus apresentou Jesus como o Rei que, em princípio, era dos judeus, mas estes o rejeitaram. Marcos mostrou o
Jesus Servo, em toda a humildade. Lucas o apresenta como homem. Cada um desses ângulos é de fundamental
importância para entendermos a revelação de Deus em Cristo. Entretanto, João ultrapassou todas essas facetas
messiânicas. Ele proclamou, acima de tudo, a divindade de Cristo. Jesus é apresentado no quarto evangelho como
Filho de Deus. Tal título vai além de Filho de Davi ou Filho do Homem. Cada um desses nomes apresenta uma
verdade acerca do Senhor e pode também significar pontos de vista que se possa ter sobre sua pessoa. Porém,
nenhuma idéia a seu respeito será completa até que ele seja reconhecido como Deus e como Senhor. Quem chega a
esse ponto, alcançou o objetivo dos evangelhos, que é apresentar o Pai através do Filho.

VII - O EVANGELHO
EVANGELHO – BOAS NOVAS
A palavra evangelho não foi criada por Jesus nem por seus discípulos. Era uma palavra de uso comum nas
comunidades antigas. As guerras entre os povos eram constantes. As dificuldades de comunicação entre os
guerreiros e suas cidades de origem eram muito grandes. As famílias, principalmente, aguardavam ansiosamente
por notícias de seus filhos nos campos de batalha. O meio utilizado para isso era o envio de mensageiros, os quais
traziam notícias sobre o sucesso ou fracasso dos soldados. A chegada do mensageiro era muito esperada. Quando
ele chegava com boas notícias, então recebia uma recompensa por seu esforço. Esse presente era chamado
"evangelho". Era também realizada uma festa comemorativa, que também passou a ser chamada "evangelho".
Jesus é o mensageiro de Deus que veio anunciar sua própria vitória sobre as forças das trevas e a libertação do
homem. Assim, no Novo Testamento, a palavra evangelho adquire o significado de mensagem da salvação através
da obra de Cristo a favor do homem (Mt.4.23; 24.14). A tradição cristã estende esse significado, usando a palavra
evangelho para identificar cada um dos quatro primeiros livros do Novo Testamento, os quais apresentam relatos
sobre a vida de Cristo. Assim, surge o uso plural da palavra. Nos tempos da igreja primitiva, isso seria considerado
absurdo, uma vez que, para os primeiros cristãos, o evangelho era único. Outro evangelho seria considerado
anátema. Como então poderia haver evangelhos? Entretanto, tal designação para os quatro evangelhos se firmou e
se tornou definitiva.

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ASPECTOS GERAIS DOS QUATRO EVANGELHOS


Pluralidade – Poderíamos ter 1 evangelho nas Escrituras e isso poderia ser satisfatório. Contudo, Deus quis que
fossem quatro. Esta pluralidade tem sua razão de ser e seu objetivo. Um dos motivos nos parece ser o valor do
número de testemunhas. A lei mosaica determinava que o testemunho contra alguém deveria ser dado por duas ou
três pessoas e nunca por uma só (Dt.17.6). O mesmo princípio é utilizado por Cristo em Mt.18.16. O número de
testemunhas é importante na determinação da veracidade de um fato. Assim, era importante que duas ou três
testemunhas dessem testemunho sobre a vida, a morte e a ressurreição de Jesus. Nos processos jurídicos as
testemunhas continuam sendo muito importantes até hoje. Em muitos casos não é possível a prova científica. Cabe
então a prova testemunhal. Todo testemunho deve ser registrado por escrito. Assim também aconteceu com os
relatos sobre Cristo. Alguns escritores dos evangelhos podem não ter sido testemunhas oculares dos fatos ali
narrados. Entretanto, escreveram o que as testemunhas disseram. A pluralidade dos evangelhos é também valiosa
por nos apresentar a mesma história vista sob ângulos diferentes.
Objetividade – Os evangelhos foram escritos tendo-se em vista um objetivo definido: anunciar as boas novas de
salvação. Por esta causa, os escritores não se dedicaram a registrar pormenores da vida de Cristo, sua infância, seus
hábitos diários, seu trabalho na carpintaria, etc. Eles se limitaram a mencionar a origem de Cristo (humana e
divina), seu ministério (ensinamentos, milagres), sua morte, ressurreição e ascensão. Uma grande parte de cada
evangelho se dedica a narrar os fatos da última semana do ministério de Cristo. (Veja João 21.25).
Unidade - Apesar de serem quatro os evangelhos, eles são harmônicos entre si. É possível se construir um relato
coerente reunindo os 4 evangelhos. Eles se completam.
Diversidade – Apesar da unidade entre os evangelhos, eles não são iguais. Se assim fosse, não faria sentido a
existência de quatro. Bastaria um. Existem diversas diferenças entre eles. Contudo, diferença não significa
contradição. São quatro relatos distintos sobre os mesmos fatos. Algumas narrativas ou ensinamentos são
apresentados exclusivamente por um escritor ou apenas por dois ou por três ou pelos quatro E mesmo entre
narrativas do mesmo fato, existem diferenças entre os detalhes. Por exemplo, autor diz que Jesus curou um cego em
Jericó. O outro diz que foram dois cegos. Um não contradiz o outro. Se Jesus curou um cego, ele pode muito bem
ter curado outro. A contradição haveria se um autor negasse a afirmação do outro. As diferenças podem advir de
várias causas. Duas narrativas normalmente relacionadas podem, na verdade, ser referência a dois episódios
distintos. Uma outra possibilidade é a omissão de algum detalhe, já que tais relatos foram, no princípio,
transmitidos oralmente. Assim, algum ponto poderia ser esquecido por um narrador, mas lembrado por outro.
Nesse processo, o que prevalece é a nossa fé no cuidado divino para que a essência do evangelho chegasse a nós de
forma íntegra. Entre os evangelhos, observa-se maior semelhança entre Mateus, Marcos e Lucas. Por isso, são
chamados sinóticos, ou seja, possuidores da mesma ótica. Esse termo foi usado pela primeira vez por J.J.
Griesbach, em 1774. O evangelho de João, por sua vez, apresenta um estilo todo particular.
Ordem - Os livros não se encontram dispostos em nossas Bíblias na mesma ordem em que foram escritos. Além
disso, os próprios fatos narrados não seguem ordem cronológica, principalmente no livro de Mateus.
Motivos – Os evangelhos foram escritos para responder aos questionamentos da comunidade do primeiro século e
também para combater as mentiras dos inimigos a respeito de Jesus. Os apóstolos começavam a morrer e tornava-
se então imperioso que se registrassem suas memórias sobre o Salvador. Além disso, existiram também os motivos
particulares de cada escritor, conforme veremos no estudo de cada livro.

FORMAÇÃO DOS EVANGELHOS SINÓTICOS


Sobre a formação de todos os evangelhos podemos considerar a seguinte equação:
Fonte oral + fonte escrita + testemunho pessoal (em alguns casos) = evangelho
Sobre os evangelhos sinóticos, existem várias sugestões do processo de formação. Isto se deve às semelhanças
observadas entre Mateus, Marcos e Lucas, o que leva a se supor que um tenha utilizado o escrito do outro, ou que
tenham tido acesso às mesmas fontes.
Uma das principais hipóteses das fontes apresenta o evangelho de Marcos como o primeiro a ser escrito. Além
deste, haveria também uma fonte denominada "Q", contendo relatos sobre a vida de Cristo. Mateus e Lucas teriam
então se utilizado do evangelho de Marcos e da fonte "Q" para produzirem seus evangelhos. Teriam também usado
material exclusivo. Mateus teria tido acesso a uma fonte "M" exclusiva e igualmente Lucas a uma fonte "L".
Assim, os relatos comuns entre Mateus, Marcos e Lucas, seriam material original de Marcos. Os relatos comuns
entre Mateus e Lucas e desconhecidos por Marcos seriam o conteúdo da fonte "Q". O material exclusivo de Mateus
seria da fonte "M" e o material exclusivo de Lucas seria da fonte "L". Contudo, existem muitas dúvidas sobre a
existência dessas fontes (Q,M,L) e se elas seriam escritas ou orais. Sobre a fonte "Q", por exemplo, existe a

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hipótese de que a mesma não tenha existido, mas que todo esse material tenha sido transferido de Mateus para
Lucas ou vice-versa.
Marcos possui 678 versículos.
Mateus possui 1071 no total. Destes, 600 versículos correspondem a 606 de Marcos, ou seja, Mateus faz as mesmas
narrativas de modo quase idêntico. Mateus possui 300 versículos exclusivos (M). Os outros 171 podem ter vindo da
fonte "Q" e encontram semelhança com parte de Lucas.
Lucas possui 1151 no total. Destes, 380 versículos correspondem a 280 de Marcos, ou seja, Lucas faz as mesmas
narrativas de modo mais extenso. Lucas possui 520 versículos exclusivos (L). Os outros 251 podem ter vindo da
fonte "Q" e encontram semelhança com parte de Mateus.
Isolando-se o material atribuído à fonte "Q", obtém-se um escrito semelhante ao estilo profético do Velho
Testamento. Seriam partes referentes a João Batista, o batismo, a tentação, muitos ensinos, pouca narrativa, e nada
sobre a morte de Cristo.

PROPAGAÇÃO DO EVANGELHO E TIPOS DE EVANGELHO


Motivo, conteúdo e objetivo estão interligados. Motivo é o elemento que impulsiona alguém para determinada
ação. Objetivo é o que se espera atingir ou realizar. No caso dos evangelhos, os motivos foram as necessidades da
comunidade, a carência de registros fidedignos sobre Cristo. O objetivo maior é a salvação das almas. O evangelho
é o "poder de Deus para a salvação..." (Rm.1.16). A preposição "para" determina o objetivo.
Precisamos questionar hoje os motivos que nos movem como pregadores do evangelho. Nos dias de Paulo, foram
observados motivos diversos (Fil.1.15-19): inveja, contenda, boa mente e amor. Contudo, disse o apóstolo, importa
que o evangelho seja pregado. Isto porque, mesmo com motivos errados, o objetivo pode, eventualmente, ser
atingido, ou seja, mesmo que alguém pregue por inveja muitos podem ser salvos, já que o evangelho é o poder de
Deus. Não obstante, o mau obreiro não ficará impune. Poderá até mesmo ser alguém que ajudou a construir a arca
mas não entrou nela, ou como uma placa que aponta o caminho mas não o segue.
O problema torna-se maior quando aos motivos errados somam-se objetivos estranhos ao evangelho. Então, o
próprio conteúdo passa a ser deformado a fim de atingir propósitos escusos (II Pd.2.1-3). Observa-se então o
surgimento de um "evangelho comercial", onde as pessoas são estimuladas a fazerem negócios com Deus. Desse
pensamento surge o "evangelho da prosperidade", o qual deixa para segundo plano a questão da salvação das almas
e se dedica à salvação do orçamento. Toda benção material sempre será bem-vinda. Contudo, não podemos fazer
disso o propósito do evangelho nem efeito essencial da sua eficácia. Zacarias profetizou sobre Cristo,
apresentando-o como um rei pobre, humilde e que vinha montado em um jumentinho, quando o natural seria um rei
rico montado num elegante cavalo. Contudo, o profeta diz que o Messias é justo e salvador. Eis aí o valor e o
propósito do evangelho: justiça e salvação (Zc.9.9). Cai no mesmo erro a Teologia da libertação, a qual interpreta a
salvação e a libertação oferecidas por Cristo como um rompimento das opressões sociais.
Cabe a cada um de nós o zelo pelo evangelho bíblico e por seu legítimo objetivo. Que não sejamos mercadores da
palavra de Deus. É legítimo o sustento aos que trabalham na obra de Deus. O erro consiste em fazer do benefício
pessoal a causa da obra. Igreja não é empresa. Ministério não é profissão. Evangelho não é negócio.

O EVANGELHO DE MATEUS
AUTORIA – Mateus. Seu nome significa "dom de Deus". (Mat.9.9-13; 10.3 Mc.2.13-17 - Lc.5.27-32). Era também
conhecido pelo nome de Levi (Associado). Era um judeu cristão, discípulo e apóstolo de Jesus Cristo. Antes de ser
chamado pelo Mestre, exercia a função de publicano, isto é, coletor de impostos para o Império Romano. Os
publicanos eram tão desprezados pelos judeus que não podiam falar nos tribunais, nem se aceitava seu dízimo no
templo. Sobre sua autoria em relação ao primeiro livro do Novo Testamento, tem-se o testemunho de Papias, bispo
de Hierápolis (Frígia), do 2o século d.C..
DATA - 60 d.C.? (existem muitas opiniões datando entre 45 a 85 d.C.)
LOCAL - Antioquia da Síria.
DESTINATÁRIOS - Judeus
VERSÍCULO CHAVE - 27.37
PALAVRA CHAVE - cumprir (Mt.5.17). O Novo Testamento não deve ser visto como oposição ao Velho
Testamento mas como seu cumprimento. O verbo "cumprir" e algumas de suas variações são encontrados em
muitas passagens de Mateus. Ele pretendia mostrar na vida de Cristo o cumprimento das profecias do Velho
Testamento. Sobre a lei, Jesus disse que veio para cumprir e não para revogar. Isso significa não apenas a
obediência de Jesus à lei, mas também indica que, em alguns aspectos especiais, a obra de Cristo representou o

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cumprimento último e definitivo da lei, a consumação. Podemos afirmar isto, principalmente em relação aos
sacrifícios de animais, cuja determinação teve no calvário seu cumprimento suficiente e eterno.
Em Mateus 3, no episódio do batismo, temos o questionamento de João Batista quanto ao ato de batizar Jesus. Este
respondeu que era necessário cumprir toda a justiça. Era, de fato, estranho que Jesus viesse se submeter a um ato
representativo de arrependimento sendo que ele nunca havia cometido nenhum pecado. O batismo é um símbolo da
morte e da ressurreição de Cristo. Da mesma forma como era estranho o fato de Cristo ser batizado, seria também
estranha sua morte numa cruz, considerando-se que a crucificação era destinada a pecadores. Podemos até mesmo
imaginar que Deus, sendo o todo poderoso, poderia salvar toda a humanidade sem que Cristo morresse. Contudo, a
resposta que lemos em Mateus 3 é suficiente para explicar tudo isso: "É necessário para que se cumpra toda a
justiça". A justiça exige que para todo pecado seja imposta a punição correspondente. Impunidade seria injustiça.
Assim, se fôssemos salvos sem que ninguém morresse em nosso lugar, a justiça não seria cumprida.

OBJETIVO PARTICULAR - Mateus procurou apresentar os vínculos de Jesus com a nação judaica e com o Velho
Testamento, demonstrando que ele era o Rei Messias esperado por Israel. Por isso, o livro começa com a
genealogia de Cristo, ligando-o a Abraão e a Davi. Como foi dito no tópico da palavra chave, o autor apresenta a
ligação da vida de Cristo com o Velho Testamento através da freqüente expressão: "Para que se cumprisse o que foi
dito pelo profeta..." Nota-se nessa expressão a soberania divina em ação. Os fatos da vida de Jesus não foram obra
do acaso, mas o cumprimento do propósito predito na escrituras. Compare os textos a seguir: Mt.1.23 (Is.7.14)
Mt.2.6. (Mq.5.2) Mt.2.18 (Jer.31.15) Mt.21.4 (Zc.9.9). Mateus apresenta mais de 60 citações do VT em seu
evangelho.

CARACTERÍSTICAS E CONTEÚDO
Apologético - apresenta defesa do evangelho diante do judaísmo.
Doutrinal - com destaque para os ensinamentos de Cristo.
Narrações breves – Os fatos narrados são poucos e sucintos, já que a doutrina tem prioridade.
Sem ordem cronológica – O livro não apresenta fatos e ensinos na ordem em que ocorreram ou foram ditos. A
ordem só é seguida em parte: no início do livro (nascimento, batismo, tentação) e no final (última semana, morte,
ressurreição e ascensão). No meio, as parábolas, milagres e ensinamentos não se encontram ordenados
cronologicamente.
Organização temática – Mateus faz apresenta um arranjo temático em seu conteúdo. Os ensinamentos são reunidos
em cinco grandes blocos. As parábolas e os milagres também são organizados convenientemente.
Escrito para um público religioso: os judeus.
Escrito em hebraico – já que se dirigia aos judeus. Apesar desse direcionamento aos judeus, Mateus não se
apresenta como um bajulador de seus compatriotas. Ele demonstra claramente que os judeus tinham prioridade no
ministério de Cristo (Mt.15.24 10.6), mas mostra também a perda do espaço para os gentios, que vão dominando a
cena. Mateus começa mencionando os magos no capítulo 2. Eles eram gentios e foram presentear o menino Jesus,
enquanto que os judeus que serviam a Herodes não se dirigiram a Belém, embora estivessem bem informados sobre
o local onde o Messias haveria de nascer. Finalmente, Mateus cita a ordem de Cristo de se pregar o evangelho e se
fazer discípulos em todas as nações. (Mt.4.15; 8.10-12; 12.18-21; 21.42-34; 28.18-20.)
Mateus é o único evangelho a apresentar a palavra igreja (3x) (16.18 e 18.17).
O evangelho de Mateus contém 6 discursos de Cristo: Mt.5-7; 10; 13; 18; 23; 24-25.
Contém 15 parábolas (10 exclusivas). Um dos efeitos das parábolas é a fixação do ensinamento. Isto quando o
mesmo é compreendido. Trata-se então de um recurso didático. Aliás, tal propósito encontra-se subjacente a muitos
elementos e práticas do judaísmo e do cristianismo. As festas judaicas continham propósito didático. O mesmo
acontece com a ceia e o batismo, embora seu sentido e objetivo não esteja restrito a esse propósito.
Mateus narra 20 milagres (3 exclusivos). Embora o número seja grande, as narrativas são resumidas.
Mateus apresenta Jesus como Rei. Tal propósito já se nota na apresentação da genealogia. A expressão "Filho de
Davi" ocorre 9 vezes no livro. A palavra reino aparece 55 vezes.

MACRO DIVISÃO DO LIVRO


I - genealogia, nascimento e infância - 1 - 2
II - Ministério na Galiléia - 3 - 18
III - Ministério na Judéia - 19-28

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ESBOÇO DO LIVRO (adaptado do esboço de Scroggie)


I - A preparação do rei 1.1 a 4.11
1 - a descendência do Rei 1.1-17
2 - O advento do Rei - 1.18 a 2.13
3 - O embaixador do Rei - 3.1-17
4 – A prova do Rei – 4.1-11
II - O programa do rei - 4.12 a 16.12
1 - O começo do reino 4.12-25
2 - O manifesto do reino - 5-7
3 - Os sinais do Reino 8-9
4 - Os mensageiros do Reino - 10-11
5 - Os princípios do reino - 12
6 - Os mistérios do reino 13.1-52
7 - A ofensa do reino 13.53 a 16.12
III - A paixão do Rei - 16.13 a 28.20
1 - A revelação do rei 16.21 - 17.27
2 - A doutrina do rei 18-20
3 - A rejeição do rei 21-22
4 - As censuras do rei 23
5 - As predições do rei 24-25
6 - Os sofrimentos do rei - 26-27
7 - O triunfo do rei 28

ESBOÇO COMENTADO
Todo os esboços de livros bíblicos dependem muito de quem os elabora. Podem ser encontrados diversos esboços
de Mateus diferentes entre si. Isto se deve ao fato de que o texto original não continha divisões em capítulos,
versículos e blocos como temos hoje. Assim, o presente esboço é uma entre tantas maneiras de se apresentar o
evangelho de Mateus. Scroggie trabalhou sobre o tema do reino. O esboço mostra o conteúdo de Mateus como a
apresentação do reino de Deus na pessoa do Rei Jesus.
I - A preparação do rei 1.1 a 4.11
1 - A descendência do Rei 1.1-17 – a genealogia.
2 - O advento do Rei - 1.18 a 2.13 – advento = vinda.
3 - O embaixador do Rei - 3.1-17 – Era comum entre os reis o envio de mensageiros diante de si para anunciar a
aproximação da comitiva real. Iam estes anunciando em alta voz a chegada do rei. Os súditos deviam então se
colocar em atitude e posição de reverência. Muitas vezes era comum que todos se prostrassem diante do rei. Da
mesma forma, João Batista foi enviado na frente de Jesus para anunciar a sua chegada, cumprindo-se assim a
profecia de Isaías (40).
4 – A prova do Rei – 4.1-11 – A tentação no deserto.
Dr. G. Campbell Morgan apresenta as passagens acima como a relação de Cristo com a terra (genealogia), o céu (a
pomba e a voz no batismo), e o inferno (tentação).
II - O programa do rei - 4.12 a 16.12
1 - O começo do reino 4.12-25 – Jesus começou a pregar dizendo: arrependei-vos. O arrependimento é o começo
do reino de Deus na vida do homem. A seguir Jesus escolhe seus discípulos. Depois do arrependimento deve vir o
compromisso de seguir o Mestre. No capítulo 4 aparecem os discípulos (4.22) e as multidões (4.25). A grande
diferença entre os discípulos e as multidões é o compromisso com Jesus. No fim do dia as multidões vão para suas
casas, mas os discípulos continuam com Jesus. As multidões só querem receber as bênçãos. Os discípulos deixam
tudo para seguir o Mestre (4.22).
2 - O manifesto do reino (as leis) - 5-7 – Manifesto = declaração pública. Jesus vem a público apresentar as
propostas do seu reino. Assim como Moisés recebeu no monte Sinai as leis da antiga aliança, Jesus também sobe ao
monte e promulga a lei do reino. Pode parecer estranho se falar em lei no Novo Testamento. Contudo, Paulo chega
a usar a expressão "lei de Cristo" (Gálatas 6.2). Seus mandamentos atingem o interior do homem, enquanto que a
lei mosaica se aplicava principalmente ao exterior. A lei de Moisés proibia o homicídio. Jesus foi além quando
falou do ódio contra o próximo. Ele foi mais fundo. Como disse João Batista: "O machado está posto à raiz das
árvores." (Mt.3). No Novo Testamento, Deus atinge a raiz do pecado no coração humano. Encontramos em Mateus
o constante confronto entre questões exteriores e interiores. A religiosidade judaica, constituída de rituais
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exteriores, é permanentemente confrontada pelos ensinamentos de Cristo, não exatamente para condenar os
aspectos exteriores mas para mostrar o vazio interior daqueles religiosos. Jesus veio levar o povo de Deus de um
estágio superficial para um relacionamento de intimidade com o Senhor. Ao invés da idéia de um Deus distante,
Jesus nos ensinou a chamar o Senhor de "Pai nosso". Vejamos uma relação dos elementos apresentados no texto e
que mostram esse confronto:

Folhas e frutos são igualmente produções da árvore. Contudo, o fruto só é produzido no tempo oportuno. Nos
momentos em que podemos agir com espontaneidade é que o fruto aparece. Nos nossos momentos de maior
liberdade de expressão é que os nossos frutos se manifestam. Em outras circunstâncias podemos estar agindo
apenas em cumprimento às exigências e expectativas sociais, atendendo a ordens ou pressões diversas. São folhas
que se multiplicam, mas não são suficientes para a identificação da árvore. "Pelos seus frutos os conhecereis." Estas
palavras de Jesus nos levam a concluir que podemos identificar o joio no nosso meio. Contudo, não vamos
condená-lo. "Não julgueis para que não sejais julgados." (Mt.7.1).
Ainda no capítulo 5, Jesus fala sobre o caráter do cidadão do reino de Deus. Logo se observa que tudo o que ali se
encontra é contrário aos ditames mundanos. É por essa diferença que os discípulos podem ser sal e luz (Mt.5.14).
Sendo positivamente diferentes, poderão ser força de influência. O sal dá sabor e evita a putrefação. Porém, se o sal
vier a cair por terra, será pisado pelos homens. Este é o caso daqueles servos de Deus que se tornam motivo de
escândalo e vergonha para o evangelho.
3 - Os sinais do Reino 8-9 – Nessa parte Mateus apresenta alguns milagres de Jesus. Seu reino não é composto
apenas de palavras, ensinamentos, mas demonstração de poder. Vemos então nesses capítulos a autoridade do Rei
Messias sobre: homens, toda sorte de enfermidades (Mt. 9.35), deficiências físicas, morte, pecado, natureza,
demônios. Fica em evidência o absoluto alcance do Reino de Deus. Ele abrange todas as áreas. Temos referência ao
natural, ao humano e ao espiritual. Poderíamos considerar o humano como parte do natural, mas dividimos assim
para visualizarmos o homem em relação ao que é natural e ao que é espiritual. É importante separarmos bem essas
coisas. Nem toda doença é provocada por demônios, mas algumas são. Nem toda ventania é provocada por
demônios, mas algumas podem ser, conforme se vê no livro de Jó. O que não se deve fazer é generalizar. Em
muitos casos será necessário o discernimento dado por Deus. Seja de que tipo e origem for o fato, nada se encontra
fora do alcance do poder de Deus.
4 - Os mensageiros do Reino - 10-11 – Os mensageiros aqui citados são: João Batista, seus discípulos, e os
discípulos de Jesus. João estava passando por uma crise de dúvidas. O rei Jesus, que ele mesmo anunciara não
havia tomado nenhuma providência para libertá-lo do cárcere. Surgiu então o questionamento: "Será este mesmo o
Cristo?" Muitas vezes o evangelho pode não atender às nossas expectativas particulares. Alguns problemas podem
persistir e isso pode trazer a frustração. Contudo, os propósitos divinos são superiores aos nossos. "E Jesus,
respondendo, disse-lhes: Ide, e anunciai a João as coisas que ouvis e vedes: Os cegos vêem, e os coxos andam; os
leprosos são limpos, e os surdos ouvem; os mortos são ressuscitados, e aos pobres é anunciado o evangelho." O
plano de Deus está se cumprindo e se alguma tribulação é permitida em nossas vidas, ela também faz parte desse
plano.

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Quanto aos discípulos, Jesus os envia para uma espécie de treinamento. São enviados a pregar o evangelho do reino
e operar milagres. Sua missão estava restrita ao ambiente judaico. Estavam proibidos de se dirigirem aos gentios e
aos samaritanos. Tais pessoas não estavam eliminadas do plano de Deus. Entretanto, para tudo há um tempo
apropriado. Os judeus tinham primazia no objetivo de Cristo. Por outro lado, os próprios discípulos ainda não
estavam preparados para fazer a obra entre os gentios e samaritanos. Em Mateus 28, Jesus lhes dá a ordem de
pregarem a todas as nações, mas não sem o revestimento do Espírito Santo que lhes seria dado (Lc.24.49 At.1.8).
5 - Os princípios do reino – 12 – Jesus dá destaque para a misericórdia e o amor em detrimento de uma observação
apenas literal da lei. Apresenta-se nesse trecho a superioridade de Cristo sobre o templo, o sábado, o profeta Jonas e
o rei Salomão. (Mt.12.6,8,41,42.). O rei Jesus é superior a todos os valores e figuras importantes do judaísmo. Isso
foi um choque para os religiosos tradicionais. Em seguida, observa-se o reconhecimento de Cristo por parte da
multidão como sendo "Filho de Davi" (12.23). Diante de tudo isso, manifesta-se o ciúme dos líderes religiosos
contra Cristo, os quais se dedicam a persegui-lo e tomam a decisão de matá-lo (Mt.12.14,15,24). Observam-se
então diferentes reações diante de Cristo, e assim ocorre até hoje.
Os fariseus, saduceus, escribas e sacerdotes são mencionados nas seguintes passagens do evangelho de Mateus: 3.7;
5.20; 7.29; 8.19; 9.11,14; 12.14; 13.52; 15.12; 16.1,21; 21.23; 22.23; 23,2,13,14,15; 23.23,25,27; 27.1,41. Ao
observarmos a grande quantidade de referências, notamos que esses religiosos eram assíduos seguidores de Cristo
(perseguidores). Eles compareceram a todos os eventos mais importantes da vida de Cristo, desde o batismo até a
cruz. O que poderia ter sido um experiência transformadora em suas vidas foi perdido por um erro de propósito.
Estavam seguindo a Cristo para matá-lo. Que tipo de seguidores somos nós? Judas também era um seguidor. Seu
propósito em seguir o Mestre era a obtenção de vantagem pessoal, financeira. Tal ganância era tão grande que, não
satisfeito com as ofertas que furtava, vendeu o próprio Senhor para obter mais 30 moedas.
6 - Os mistérios do reino 13.1-52 – Jesus apresenta, por meio de parábolas, diversas características do reino, as
quais se encontram ao mesmo tempo ocultas e reveladas. Ocultas para a multidão e reveladas para os discípulos. O
início é uma semente: a palavra de Deus. A obra criadora começa com a palavra dita pelo Senhor: "Haja luz."
(Gn.1). Este é o padrão divino para as suas obras. Por isso ele nos envia sua palavra para que se produza em nós a
sua vontade. Voltando a Gênesis, encontramos, no capítulo 3, a palavra do Diabo, a semente do maligno. Esta se
encontra sempre agindo paralelamente à palavra de Deus. O Senhor nos fala algo e logo vem o inimigo com sua
versão. "É assim que Deus disse?..." Esta mensagem pode vir de várias formas. Uma delas é o conselho dos ímpios
(Salmo 1) ou o conselho de um cristão vacilante (Mt.16.22). Como se vê na parábola do trigo e do joio, cada tipo
de semente gera um tipo de caráter. Em Gênesis 3.15 temos a palavra semente como sinônimo de descendência.
Aparecem ali duas descendências: a semente da mulher e a semente da serpente. Seriam então os filhos de Deus e
os filhos do Diabo que se encontrariam misturados durante a história e inclusive no reino apresentado por Cristo
(trigo e joio). Essas duas linhagens se encontram representadas em indivíduos como Abel e Caim, Isaque e Ismael,
Jacó e Esaú, Davi e Saul, etc. Em todos os casos, o joio está perseguindo o trigo e tentando destruí-lo. No Novo
Testamento, vemos os fariseus perseguindo Cristo e tentando destruí-lo. João os chamou de "raça de víboras".
Jesus também usou a mesma expressão (Mt.23.31-35) e acrescentou que eles seriam réus do sangue dos justos,
desde Abel até Zacarias. Observe o vínculo que Cristo fez entre os justos. Não seria um vínculo genealógico
natural, pois tudo indica que Abel tenha morrido sem deixar descendência. Outro detalhe importante é que Jesus
estabeleceu uma ligação entre Caim e os fariseus ao cobrar destes o sangue de Abel, morto por Caim. Sendo raça
uma descendência e víbora uma serpente, temos então uma ligação com Gênesis 3.15 e a semente da serpente.
Além disso, Cristo chamou os fariseus de "filhos do Diabo" (João 8.44).
As parábolas nos mostram essa mistura até mesmo no reino. Trigo e joio crescem juntos. O reino é também
comparado à rede que apanha toda espécie de peixe. Contudo, Cristo avisa sobre o juízo final, quando haverá a
separação. Isso se mostra também na parte profética do livro (cap.24/25), quando se fala das virgens prudentes e
das néscias, do servo fiel e do infiel, dos bodes e das ovelhas. Nesse ponto, Cristo é apresentado como juiz, pois a
ele cabe a decisão que separa os bons dos maus.
Apesar de mostrar essa diferença entre as pessoas, Jesus não apresenta tudo isso como um quadro imutável. Há
esperança para o ímpio, o joio, o injusto. A palavra de Deus, a santa semente divina, nos é enviada com o propósito
de nos transportar do império das trevas para o reino da luz (Colos.1.13). Todos nós éramos, por natureza, filhos da
ira (Ef.2.3), filhos da desobediência (Ef.5.6; Colos.3.6), mas fomos regenerados pela palavra de Deus (I Pd.1.23).
Foi enxertada em nós a semente bendita do Senhor, por meio da qual somos feitos filhos de Deus (João 1.12).
Outro aspecto abordado por Jesus é o crescimento do reino. Ele começa do interior do homem para o seu exterior.
O reino de Cristo começa nos corações, mas no futuro atingirá todo o mundo (Apc.11.15). Outra figura para o
crescimento do reino é o fermento, o qual não se vê, mas apenas seu efeito é notado. Nota-se novamente o aspecto
do reino com algo interior, oculto, guardado no íntimo. O mesmo se observa em sua comparação com a pérola e o
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tesouro escondido. Nessas parábolas, acrescenta-se ao reino a característica de grande valor, ao ponto de ser sensata
toda a renúncia que se fizer para alcançá-lo. Tal renúncia não é compreendida pelas pessoas, pois não estão vendo a
pérola nem o tesouro (II Cor.4,2,3,4,7).
7 - A ofensa do reino 13.53 a 16.12 – Após encerrar suas parábolas, Cristo se dirigiu à sua Nazaré, onde foi
rejeitado por seus compatriotas. Em seguida temos o relato da morte de João Batista. As reações negativas contra o
reino tornam-se mais intensas. Os fariseus entram em cena novamente em perseguição ao Mestre (15.2; 16.1).
Surge então o fermento maligno contra o fermento do reino (16.6). As obras malignas também crescem. A
perseguição contra Cristo estava crescendo. As falsas doutrinas, as palavras do inimigo, podem produzir algum tipo
de crescimento. A serpente disse que Adão e Eva iriam adquirir conhecimento. Isso poderia ser visto como um tipo
de desenvolvimento para eles. Contudo, tal crescimento não estava no plano ou na hora de Deus para o homem. Da
mesma forma, existem muitas maneiras de se crescer na vida. Algumas delas incluem a exploração ao próximo e a
transgressão de normas. Não deixa de ser um crescimento, porém cresce também o ônus para quem assim age. É o
fermento maligno, acerca do qual o apóstolo Paulo adverte os coríntios (5.7). Dentro desse raciocínio alegórico se
encaixam as determinações de abstinência de tudo o que fosse fermentado ao se realizar a páscoa. A fermentação,
vista sob o seu aspecto negativo, está relacionada à putrefação.

III - A paixão do Rei - 16.13 a 28.20


1 - A revelação do rei 16.13 - 17.27 – Embora Jesus já fosse publicamente conhecido há um bom tempo, as pessoas
não sabiam muito bem quem ele era. Sabiam apenas que Jesus curava os enfermos e multiplicava os alimentos.
Nem os discípulos possuíam uma visão definida sobre ele. Ocorre então a revelação. Primeiro Jesus pergunta:
"Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?" E eles disseram: Uns, João Batista; outros, Elias; e outros,
Jeremias, ou um dos profetas." (Mt.16.13-14). Notamos a confusão de opiniões sobre Jesus. Eram muitas e todas
equivocadas. A mais absurda era de quem pensava se tratar de João Batista ressuscitado, uma vez que João e Jesus
foram contemporâneos. A confusão de opiniões persiste ainda hoje. Muitos dirão que Cristo foi um grande mestre,
um profeta, um filósofo, um revolucionário, um fundador de religião, um espírito de luz, etc. Mesmo sendo verdade
sua qualidade de Mestre e profeta, essas palavras são totalmente inadequadas para defini-lo. Jesus continua
interrogando os seus discípulos: "Disse-lhes ele: E vós, quem dizeis que eu sou? E Simão Pedro, respondendo,
disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo." (Mt.16.15-16). Pedro recebeu uma revelação divina, como se faz
necessário até hoje. Jesus é o Filho de Deus e isso supera todas as definições anteriores. Desse modo, fica evidente
a superioridade de Cristo sobre João Batista, Elias, Jeremias e todos os outros profetas (Hb.1.1-3). No capítulo 17,
aparecem no monte Elias e Moisés. Ouve-se então uma voz do céu que diz a respeito de Cristo: "Este é o meu Filho
amado. A ele ouvi." Nesse momento, Moisés entra para a lista. Fica demonstrado que Cristo é superior à lei e aos
profetas. Até esse ponto do livro, já foi apresentada a supremacia de Jesus em relação a todos os valores e figuras
importantes do judaísmo.
A revelação do rei estava se desenvolvendo de forma muito agradável para os discípulos até que Cristo passa a
dizer-lhes que era necessário sua ida a Jerusalém para morrer e ressuscitar (Mt.16.21; 17.22-23). A revelação da
morte do Rei foi assustadora para os discípulos. Isso era totalmente contrário à expectativa que eles haviam
alimentado em relação ao reino de Deus. Pedro chegou a dizer que de maneira nenhuma aquilo aconteceria. Jesus
lhe repreendeu dizendo: "Para trás de mim, Satanás, que me serves de escândalo; porque não compreendes as
coisas que são de Deus, mas só as que são dos homens." (Mt.16.21-23). Tal decepção pode acontecer com muitos
cristãos que possuem apenas uma expectativa humana em relação ao evangelho. Muitos pensam que o cristianismo
deverá nos proporcionar apenas alegrias, felicidade, bem estar, prosperidade e satisfação. Contudo, Jesus nos
advertiu: "No mundo tereis aflições." (João 16.33). Na seqüência de Mateus 16, Jesus diz aos seus discípulos: "Se
alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me" (Mt.16.24). A cruz faz
parte deste caminho. As provas, as tribulações, as tentações, fazem parte do plano de Deus. Paulo escreveu aos
romanos: "...também nos gloriamos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a paciência, e a paciência a
experiência, e a experiência a esperança." (Rm.5.3-4). Se não tivéssemos a tribulação também não teríamos os
resultados positivos que ela produz em nós. "Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se
morrer, dá muito fruto." (João 12.24). Se não houver morte também não haverá ressurreição.
2 - A doutrina do rei 18-20 - Conforme deduzem alguns comentaristas, uma das preocupações de Mateus era o
atendimento das necessidades da sua comunidade, a igreja. Por isso ele selecionou e organizou seu material da
forma com o temos hoje. Nesses capítulos encontramos ensinamentos de Jesus sobre humildade, o valor de uma
alma, o perdão, decisões da igreja, divórcio, o perigo das riquezas e as recompensas aos seus seguidores.

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3 - A rejeição do rei 21-22 – Os judeus recebem Jesus em Jerusalém com entusiasmo. Porém, estranham sua
atuação no templo, quando ele expulsa os comerciantes e derruba suas mercadorias. Da mesma forma muitos
estranham as mudanças que Jesus deseja fazer em suas vidas após terem-no recebido como Salvador. Na seqüência,
Jesus conta uma parábola que mostra a chegada dos gentios para o reino, enquanto que os judeus ficam em último
lugar. Em todo tempo os fariseus ouviam tudo isso. Porém, nunca entendiam o alerta de Jesus. Sempre se viam
ameaçados por ele, quando deviam vê-lo como salvador. E assim, se punham sempre em atitude de perseguição e
isto apenas se tornava cumprimento das próprias palavras de Cristo.
4 - As censuras do rei 23 – Até então, os fariseus vinham praticando um tipo de "perseguição teológica" contra
Jesus. Tentavam colocá-lo em dificuldade afim de apanhá-lo em alguma palavra. Jesus, por sua vez, vinha
administrando o conflito de forma amigável. Porém, no capítulo 23, Jesus parte para o confronto. Ele usa palavras
duras e revela publicamente toda a corrupção dos fariseus. Com tudo isso acrescentado ao episódio do templo,
aqueles religiosos já se consideravam de posse de motivos suficientes para condenar Jesus à morte.
5 - As predições do rei 24-25 - Temos nesse trecho um discurso apocalíptico de Jesus. É a escatologia do Mestre
tratando dos sinais dos últimos tempos, o surgimento de falsos cristos, sua segunda vinda, o arrebatamento, o juízo
e a eternidade. Fica demonstrada então o conhecimento de Cristo sobre os eventos futuros, exceto sobre o dia da
sua vinda. Já que ninguém sabe esse dia, senão o Pai, Jesus reforça bem a necessidade de vigilância por parte de
seus seguidores. Alguns fatos previstos nesses capítulos relacionam-se à destruição de Jerusalém no ano 70. Isso é
claro em relação ao templo (Mt.24.1-2). No texto dos versículos 15 a 21, temos uma referência à Judéia e ao lugar
santo. Nota-se, portanto, uma indicação específica para os fatos que haveriam de acontecer em Jerusalém. Não
obstante, algumas profecias podem se aplicar a mais de um momento histórico. Além disso, muitos versículos dos
referidos capítulos não tiveram seu cumprimento no ano 70. Sobre o próprio templo, uma de suas paredes ainda se
encontra de pé até hoje e recebeu o nome de Muro das Lamentações. Jesus disse que ali não ficaria pedra sobre
pedra. Então, resta ainda um cumprimento final para aquela profecia do Mestre.
6 - Os sofrimentos do rei - 26-27 – As autoridades religiosas levaram às últimas conseqüências sua perseguição ao
mestre. Essa parte trata da traição de Judas, prisão e morte de Jesus. Até nesse momento, o título real acompanha o
Messias. Sobre sua cruz se coloca a inscrição em caracteres romanos, gregos e hebraicos: "Este é Jesus, o Rei dos
judeus." (Mt.27.37 Lc.23.38). O que, para os algozes era uma acusação contra Cristo, tem maior significado como
acusação contra seus próprios malfeitores. Mataram o rei dos judeus. Tal escrita torna-se mais significativa ainda
quando a vemos como uma declaração para o mundo a respeito de Cristo. Ali estava a verdade. A partir de então,
cabe a cada ser humano aceitá-la ou rejeitá-la. Contudo, isso não mudará a essência da afirmação, a qual foi escrita
nos três principais idiomas daquela região. Embora o aramaico não tenha sido usado, bastavam os caracteres
romanos, hebraicos e gregos para que qualquer pessoa que por ali passasse pudesse ser capaz de ler aquela frase. A
mensagem da cruz é para todos, a todos foi dirigida e quem quiser ignorá-la não terá outro caminho de salvação.
7 - O triunfo do rei 28 – Encerrando seu livro, Mateus fala sobre a ressurreição de Jesus. Está então demonstrado o
poder triunfal do Rei Messias sobre sua própria morte. Agora, tendo recebido todo poder nos céus e na terra, ele dá
ordens aos seus discípulos para que levem o evangelho a todas as nações.

O EVANGELHO DE LUCAS
AUTORIA – Lucas, nome grego que significa "aquele que traz a luz". Era médico e passou a ser considerado
historiador devido, principalmente, à produção do livro de Atos. Nascido em Antioquia da Síria, Lucas é o único
escritor bíblico do qual podemos afirmar que era gentio. A autoria lucana para o terceiro evangelho foi testificada
por Tertuliano e Irineu. Este último registrou: "Lucas escreveu em um livro o evangelho que Paulo pregava."
Enquanto o evangelho de Mateus foi escrito por um judeu para judeus e Marcos foi escrito por um judeu para
gentios, o evangelho de Lucas foi escrito por um gentio para os gentios. Temos, portanto, testemunhos diversos a
respeito de Jesus os quais são vistos sob ângulos diferentes e procurando atingir objetivos variados. Sobre o valor
dessa diversidade, é bom lembrarmos que muitos foram os que testemunharam sobre Jesus: os discípulos, os
inimigos, os demônios, e, no fim dos tempos, toda língua confessará que ele é o Senhor (Fp.2.10-11).

REFERÊNCIAS A LUCAS
Cl. 4.7-15 – Fm.23-24 - Lucas com Paulo e Marcos.
At.16.10; 20.6; 21.18; 27.1; 28.16; At.1.1; Lc.1.1-3. – Referências veladas. Em todos esses textos, o escritor é o
próprio Lucas. Sua presença se mostra discretamente através da conjugação verbal em primeira pessoa. Em seus
escritos, Lucas não menciona seu próprio nome.
II Tm.4.11 - Nos momentos finais do ministério de Paulo, Lucas continuava em sua companhia.

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Segundo a tradição, Lucas evangelizou o sul da Europa e foi martirizado na Grécia aos 84 anos de idade. Por falta
de cruz, foi pregado numa figueira.

DESTINATÁRIO
O livro foi destinado a Teófilo. Seu nome significa "amigo de Deus". O tratamento que Lucas lhe dispensa:
"excelente", "excelentíssimo" ou "digníssimo", conforme a versão que se utilize, tem levado a crer que Teófilo era
uma autoridade pública, um oficial romano. Tem-se deduzido que Lucas viu naquele homem a pessoa adequada
para publicar sua obra entre os gentios, o que ocorreu com pleno êxito.
DATA – Por volta do ano 60. As datações têm oscilado entre os anos 58 e 65.
TEXTO CHAVE – 19.10 – "Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido."
FRASE CHAVE – "O Filho do Homem" – Tal terminologia não é exclusiva de Lucas. Ezequiel traz a expressão 91
vezes. Esta era a forma como Deus chamava o profeta. Mateus, Marcos e João também se referem a Jesus através
deste título. O próprio Lucas usa o mesmo tratamento em Atos 7.56. Esse foi um título que Jesus deu a si mesmo.
Observa-se nesse detalhe a humildade do Mestre. Podendo usar nomes gloriosos, ele se chamava apenas de "Filho
do Homem". Apesar da ausência de exclusividade para o uso do título, o mesmo é apresentado como frase chave do
livro de Lucas porque o autor apresenta Jesus como homem, destacando assim a humanidade de Cristo sem omitir
sua divindade. Sendo perfeitamente humano, Jesus estava habilitado a ser o representante legítimo dos seres
humanos.
- Só Lucas menciona o choro de Jesus por Jerusalém, numa demonstração de sensibilidade humana.
- Em sua apresentação de Jesus como homem, Lucas menciona a genealogia do Senhor até Adão. Fica demonstrada
a humanidade de Cristo. A genealogia é uma forma de demonstrar que Cristo não apareceu magicamente, mas
nasceu de uma descendência, embora de modo sobrenatural.
- Lucas oferece mais informações sobre o nascimento e a infância de Jesus do que os outros evangelhos.
- Lucas destaca a atitude ou menção amável de Cristo em relação: aos pobres (6.20); à mulher pecadora (7.37);
mendigos (16.20-21); samaritanos (10.33); leprosos (17.12 – narrativa exclusiva); publicanos e pecadores (17.12);
O ladrão na cruz (23.43 – narrativa exclusiva).

CARACTERÍSTICAS
As características dos evangelhos vão variando de acordo com a "lente" pessoal do autor. Os assuntos que
interessam aos destinatários, sua profissão pessoal, a ênfase que deseja dar à mensagem, tudo isso vai moldando o
livro.
- Lucas apresenta mais parábolas que os outros evangelhos. Mateus inclui 15; Marcos, 4 e Lucas, 23, dentre as
quais duas são exclusivas: O Filho Pródigo e a Dracma Perdida. O caráter dessas duas parábolas confirmam o texto
chave.
- Lucas apresenta tom poético, exultante, festivo. Só ele registrou os cânticos, orações e declarações de Zacarias,
Isabel, Maria, Simeão e dos anjos.
- A universalidade do evangelho é uma tônica do livro – 2.32; 3.6; 24.47. O autor mostra a receptividade de Cristo
para com todo tipo de pessoas: Samaritanos – 9.52-56; Pagãos (2.32; 3.6-8); Judeus (1.33; 2.10); Mulheres;
Publicanos; Pessoas respeitáveis (7.36; 11.37; 14.1); pobres (1.53; 2.7; 6.20); ricos (19.2; 23.50). Mateus até cita
alguns desses fatos, mas Lucas entra em detalhes.
- O livro enfatiza a oração em parábolas e relatos: o amigo importuno (11.5-8); o juiz iníquo (18.1-8); o fariseu e o
publicano (18.9-14 – narrativa exclusiva). Além disso, menciona várias orações de Jesus. Mateus se referiu a 3
orações do Mestre. Marcos citou 4, João, também 4. Lucas apresenta 11 momentos de oração de Cristo: No batismo
(3.21); no deserto (5.16); antes de escolher os discípulos (6.12); na transfiguração (9.29); no Getsêmani (22.44); na
cruz (23.46). etc.
- Lucas honra a mulher em seu livro: Isabel e Maria (1); Marta e Maria (10); Filhas de Jerusalém (23.27 – narrativa
exclusiva); As viúvas (2.37; 4.26; 7.12; 18.3; 21.2).
- Observa-se nesse evangelho um equilíbrio de conteúdo: 23 parábolas, 20 milagres, e um boa quantidade de texto
biográfico.
- O livro de Lucas é mais literário e mais bonito que os outros evangelhos. Comparando, podemos dizer que
Mateus é didático e religioso. Marcos é teatral e prático. Lucas é biográfico e literário. O aspecto literário indica a
habilidade de trabalhar com as palavras. Lendo nossas traduções portuguesas não notamos grande diferença
literária entre os evangelhos. Isso ocorre porque o trabalho do tradutor produziu o efeito de um filtro. Agora, vemos
mais a característica literária do tradutor e menos a do autor. Contudo, ainda é possível se apreciar a beleza do

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evangelho de Lucas. Observe-se, por exemplo, a introdução (Lc.1.1-4). Apresenta um cuidado e um arranjo que
evidenciam o alto nível intelectual do autor.
- Lucas escreve em ordem cronológica semelhante a Marcos (Lc. 1.3).

ESBOÇO
I – Introdução – 1.1-4.
II – O parentesco humano de Jesus – 1.5 a 2.52
III – Batismo, genealogia e provação de Jesus – 3.1 a 4.13
IV – O ministério do Filho do Homem na Galiléia – 4.14 a 9.50
V – A viagem do Filho do Homem da Galiléia a Jerusalém – 9.51 a 19.44.
VI – O Filho do Homem é rejeitado e crucificado – 19.45 a 23.56.
VII - A ressurreição, ministério após a ressurreição e ascensão do Filho do Homem – 24.1-53.

O EVANGELHO DE MARCOS
AUTORIA: João Marcos, um judeu. João é nome hebraico que significa "graça de Deus". Marcos vem do latim e
significa "martelo grande".
O parecer favorável à autoria de João Marcos conta com o testemunho de Papias, bispo de Hierápolis, conforme
registro de Eusébio: "Marcos era intérprete de Pedro." Escreveu de acordo com as informações e ensinos de Pedro.
Irineu diz que Marcos era discípulo de Pedro e escreveu em Roma. Teríamos então nesse evangelho a mão de
Marcos e a voz de Pedro. Observe o resumo do evangelho no sermão de Pedro em At.10.36-43, inclusive a ordem
dos fatos.

CITAÇÕES SOBRE MARCOS


Mc. 14.51-52 – Supõe-se que o moço que foge nu seja o próprio Marcos. A omissão do nome e a exclusividade da
narrativa são elementos que levam alguns comentaristas a julgarem que o autor está falando de uma experiência
pessoal.
At.12.12 – A casa de Maria, mãe de Marcos, era um dos locais utilizados pelos apóstolos para suas reuniões em
Jerusalém. Pedro, ao sair da prisão, foi direto para lá, sabendo que encontraria os irmãos. Tal fato demonstra a
normalidade das reuniões cristãs naquela casa.
At.12.25 – Viagem de Marcos, com Paulo e Barnabé, de Jerusalém para Antioquia.
At.13.5 – Participação na primeira viagem missionária de Paulo (Selêucia, Chipre, Salamina).
At.13.13 – Enquanto Paulo vai para Perge, Marcos abandona a missão e volta para Jerusalém.
At.15.37-39 – Devido à deserção recente, Paulo não quis levar Marcos em outra viagem, motivo pelo qual houve
grande contenda com Barnabé, o qual decide viajar com Marcos para Chipre.
O nome de Marcos não aparece mais em Atos dos Apóstolos. Evidentemente, isso se deve ao fato de ter
abandonado a equipe missionária. Entretanto, as epístolas paulinas nos mostram que Marcos voltou a trabalhar com
o apóstolo Paulo. Parece ter havido um amadurecimento do jovem Marcos e o perdão por parte de Paulo, o qual
chega a fazer declarações positivas e raras a respeito do companheiro de ministério.
Col.4.10 – Marcos encontra-se em companhia de Paulo na prisão em Roma. Aquele que havia abandonado o
trabalho cristão agora está em situação de risco. Não estava preso mas se submetia ao risco de prisão estando junto
de Paulo. Este versículo apresenta diferença entre as versões bíblicas. Em uma encontramos a informação de que
Marcos era primo de Barnabé. Outra nos informa que Marcos era sobrinho. Esta última versão tem sido mais
aceita.
II Tm.4.11 – Marcos estava com Timóteo em Éfeso. Paulo pede que ambos se dirijam ao lugar onde ele se
encontra, pois, de acordo com as palavras de Paulo, Marcos lhe era "muito útil para o ministério."
I Pd.5.13 – Marcos encontra-se com Pedro na Babilônia. Há quem diga que se trata de uma referência à cidade de
Roma. Pedro se refere a Marcos como filho. Tal tratamento tem sido normalmente entendido como uma indicação
de que Marcos era discípulo de Pedro, conforme escreveu Irineu, ou ainda, que Marcos tinha se convertido pela
pregação de Pedro.
Fm. 23-24 – Novamente Marcos aparece como cooperador de Paulo.
Observamos a relação estreita que Marcos teve com os apóstolos e outros líderes da igreja primitiva. Por isso, ele
teve acesso a fontes primárias de informações sobre a vida de Cristo. Seu evangelho é, portanto, um relato tomado
diretamente das testemunhas oculares dos fatos narrados.
A tradição cristã nos informa que Marcos foi para Alexandria, onde fundou a igreja local, tornando-se bispo. Nessa
mesma cidade seria martirizado.
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DESTINATÁRIOS – Cristãos gentios, provavelmente romanos. Alguns detalhes do livro nos mostram que Marcos
não estava escrevendo para judeus.
- Ao contrário de Mateus, ele não se preocupa prioritariamente em demonstrar o cumprimento do V.T. Marcos
explica termos aramaicos e costumes judaicos nas seguintes passagens: 3.17; 5.41; 7.1-4,11 (corbã – Hb.); 7.34;
10.46 14.36; 15.22,34. Informa a localização do monte das Oliveiras em 13.3. Ele tem em mente destinatários que
não possuíam conhecimento desses elementos. Portanto, não eram judeus.

IDIOMA – O evangelho de Marcos foi escrito em grego. Alguns teólogos argumentam a favor de um original em
aramaico. Isto se deve à freqüência de termos aramaicos no livro. Contudo, tal hipótese não foi comprovada e não
conseguiu grande aceitação.

DATA – Foi o primeiro evangelho a ser escrito. Data provável: ano 55. As datações dos comentaristas oscilam
entre os anos 50 e 69.

FONTE – Suas informações se originaram principalmente da pessoa de Pedro. Hipótese não comprovada:
existência de uma fonte complementar em aramaico.

VERSÍCULO CHAVE: 10.45 – "Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a
sua vida em resgate de muitos."

LOCAL E CONTEXTO DO AUTOR – Marcos escreveu em Roma numa época de grande perseguição à igreja e
conflitos violentos. Tudo isso parece interferir nas características do livro.

PALAVRA CHAVE: imediatamente (40x), ou "logo" dependendo da versão. "Em seguida" também aparece com
freqüência, indicando movimento constante e urgente.

CARACTERÍSTICAS
Urgência, rapidez, texto simples, resumido, prático, vívido, dinâmico.
Conteúdo breve mas rico em detalhes. Demonstra testemunho ocular (de Pedro).
Mostra efeitos das palavras de Jesus sobre as multidões e os discípulos - 1.22-27; 2.12; 6.56 etc.
Marcos é mais narrativo. Apenas para fins de entendimento, vamos comparar o livro de Marcos ao script de uma
peça teatral, enquanto que Mateus poderia ser comparado a um livro didático. Assim como o texto de uma peça,
encontramos em Marcos mais detalhes dos fatos observados.
Não tem ordem cronológica rigorosa, mas é mais ordenado do que Mateus.
Apresenta Jesus como servo (Compare com Filipenses 2.5-11).
Marcos apresenta apenas 4 parábolas (Mateus tem 15, e Lucas, 23). Conta 19 milagres (Mateus e Lucas tem 20).
Enfatiza as obras e não as palavras de Jesus. – 1.35-37; 3.20,21; 6.31-34.
Jesus, que foi apresentado por Mateus como rei, é apresentado por Marcos como servo. Temo então um Rei-servo.
Isso parece uma contradição. Contudo, é a realidade. O rei Jesus se humilhou ao ponto de servir a todo tipo de
pessoas, chegando até a lavar os pés aos seus discípulos. Tal contraste pode também ser observado em nossas
vidas. Somos chamados reis e sacerdotes (I Pd.2.9). Porém, não podemos deixar de ser servos (Rm.6.18). Como
disse Salomão: "príncipes como servos sobre a terra" (Ec.10.5-7).

ESBOÇO
I – O Servo do Senhor prepara-se para servir – 1.1-13.
Sem genealogia – a ninguém interessa genealogia de um servo. Interessa sua capacidade para o trabalho.
Narrativas sobre João Batista, o batismo e a tentação de Cristo.
Em destaque: a necessidade de preparação para servir bem – o melhor para Deus. Até mesmo a tentação, as
provações, as dificuldades fazem parte do processo de preparação do homem para o propósito divino.
II – O Servo do Senhor trabalha – (Não apenas teoria).
Na Galiléia – 1.14 a 9.50. Diante do seu trabalho surgem: oposição, rejeição, perseguições. O servo serve, nada
ganha e ainda é perseguido.
Na Peréia (Judéia) – 10.1-34. (Ao leste do Jordão) (Indo para Jerusalém).
Em Jerusalém (Judéia) – 10.35 a 13.37 (Entrada, purificação do templo, exortações, monte das Oliveiras)
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III – O Servo do Senhor obediente até a morte – 14.1 a 15.47.


A palavra "até" inclui a idéia de perseverança, persistência.
Até onde iremos com o Senhor? Seguir a Jesus é muito bom enquanto ele opera milagres, curas, multiplica pães e
peixes. Porém, no meio deste caminho existe uma cruz. Vida cristã não é apenas prosperidade e êxito. É também
renúncia e morte (Lc.9.23; Col.3.5). Sem morte não pode haver ressurreição e sem ressurreição não haverá glória.
"Sê fiel até a morte e dar-te-ei a coroa da vida." Apc.2.10. "Aquele que perseverar até o fim será salvo" Mt.24.13.
IV – O Servo do Senhor ressuscitado e recebido no céu – 16
A recompensa aguarda o servo no céu. Queremos recompensa aqui? Na terra temos algum adiantamento, mas não o
nosso galardão.

POLÊMICA SOBRE O EPÍLOGO DE MARCOS.


O texto de Marcos 16.9-20 é apontado por alguns críticos como adição posterior. Tal trecho é encontrado em
alguns manuscritos e não em outros. Contudo, verificou-se a presença desse versículos no manuscrito mais antigo
entre os que foram comparados. Sua ausência em alguns manuscritos pode ter sido causada pelo próprio desgaste
daqueles escritos devido ao uso excessivo e à má conservação. Nessas condições é compreensível que se perca a
última página ou um pedaço final de uma obra.
Sem o texto citado, o livro de Marcos terminaria de forma brusca em 16.8, o que não seria natural. Verifica-se em
16.20 um término mais convincente. O versículo dá idéia de conclusão em que o autor termina falando sobre a
pregação do evangelho em toda parte. (veja mais sobre Marcos 16. 9-20)

COMPARAÇÃO COM ISAÍAS


Assim como Marcos apresenta Jesus com o servo, o profeta Isaías escreve sua profecia referindo-se ao Messias
como "O Servo do Senhor".
Exaltação: 52.13-15
Rejeição - 53.1-2
Dores - 53.3
Expiação - 53.4-6 -Referência evidente a Jesus. Qualquer servo do Senhor poderia sofrer e morrer, mas só a morte
de Cristo poderia ter valor expiatório.
Sofrimento - 53.7
Morte - 53.8-9
Triunfo - 53.10-12 - Referência evidente a Jesus. Qualquer homem poderia morrer, mas somente Jesus teria triunfo
após a morte. A profecia alcança então o tema ressurreição.

O EVANGELHO DE JOÃO
AUTORIA – João, o apóstolo (21.24). Seu nome significa "graça de Deus". Era judeu, pescador (Mt.4.21), irmão
de Tiago, filho de Zebedeu e Salomé (Compare Mt.27.56 e Mc.15.40). Foi chamado de discípulo amado –
Jo.13.23; 19.26; 21.20. Enquanto Lucas precisou fazer uma pesquisa para escrever seu evangelho, João foi
testemunha ocular da maior parte dos fatos que escreveu (1.14; 19.35; 21.24) O registro da hora de alguns
acontecimentos destaca a presença do relator ou, em alguns casos, uma relação bem próxima com os protagonistas
(1.39; 4.6,52; 19.14). Até no momento da crucificação João estava presente. Isso mostra sua disposição de correr
risco de vida para ficar ao lado do Mestre. Apesar de ter fugido no momento da prisão de Cristo, João voltou pouco
tempo depois.
Jesus chamou João e Tiago de boanerges, "filhos do trovão", referindo-se ao seu temperamento indócil, violento
(Mc.3.17; Mc.9.38; Lc.9.54). A última referência mostra que naquele tempo, aqueles discípulos apresentavam
algum conhecimento das escrituras (sobre Elias), uma grande fé, ao ponto de crer que poderiam fazer descer fogo
do céus, mas nenhum amor. Estavam prontos a usar o conhecimento e a fé para matar as pessoas. O próprio João
não mencionou esses episódios. Nota-se sua discrição diante de um episódio vergonhoso.
Alguns dos seus discípulos foram: Policarpo, Papias e Inácio. Irineu, discípulo de Policarpo, mencionou a autoria
de João para o 4o evangelho. Disse que João estava em Éfeso quando escreveu. Note-se a autoridade do
testemunho de Irineu em virtude de sua proximidade com fontes fidedignas. Teófilo de Antioquia (ano 170) e
Clemente de Alexandria (ano 200) também testificaram a favor da autoria de João. Clemente chega a denominar o
livro como "evangelho espiritual".
São várias as citações a respeito de João nos evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas. Seu nome é omitido no seu
evangelho (20.2; 19.26; 13.23; 21.2). A omissão do próprio nome por parte dos autores tem sido observada com
freqüência entre os escritores estudados. Encontram-se referências ao apóstolo também em At.4.13; 5.33,40; 8.14;
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Gl.2.9; 2 Jo.1; 3 Jo.1; Apc.1.1,4,9. Na segunda e na terceira epístola, ele se apresenta como "o presbítero". Podendo
se apresentar como apóstolo, demonstrou humildade ao utilizar título mais simples. Em Apocalipse, apresenta-se
como "servo".
Após o exercício do seu ministério em Jerusalém, João foi pastor em Éfeso, onde morreu entre os anos 95 e 100.
Policrates (ano 190), bispo de Éfeso, escreveu: "João, que se reclinara no seio do Senhor, depois de haver sido uma
testemunha e um mestre, dormiu em Éfeso."

OBJETIVO – João escreveu para que pudéssemos crer em Cristo e ter vida. O conhecimento conduz à fé em Cristo
e este produz vida espiritual e eterna naquele que crê (20.31). Secundariamente, João parecia estar interessado em
combater o gnosticismo. Os gnósticos pregavam a total separação entre Deus e a matéria. Diziam que a matéria era
má. A partir desse raciocínio, uns reprimiam os desejos físicos, outros os liberavam. Eles negavam a humanidade
de Cristo, a encarnação e a ressurreição. A salvação, de acordo com os gnósticos, seria conseqüência do
conhecimento. Criam em anjos e outros seres intermediários para se chegar a Deus. João toma a questão do
conhecimento ligado à salvação. Contudo, fala do conhecimento de Deus através do verbo encarnado, Cristo (17.3).

DATA – O evangelho de João foi escrito, provavelmente no ano 95. As datações têm variado entre 90 e 95. Nesse
tempo, o autor já era idoso. Seus escritos trazem a marca da maturidade e demonstram profundo entendimento dos
assuntos tratados.

DESTINATÁRIOS – João escreve para o mundo (João 3.16). A palavra "mundo" aparece várias vezes no livro.
Nota-se que ele pensa nos não judeus ao dizer "festa dos judeus" – 5.1; 6.4; 2.13; 18.28. Explica o significado de
"rabi" e "Messias" (1.38,41), e fala sobre a oposição entre judeus e samaritanos: 4.9. Tudo isso seria desnecessário
se seus destinatários fossem especificamente os judeus.

TEXTO CHAVE – 20.31 – "Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e
para que, crendo tenhais vida em seu nome."

PALAVRA CHAVE – crer

RELAÇÃO DE JOÃO COM JESUS – A relação de Jesus com as pessoas se dava em vários níveis: Ele falava a
grandes multidões. Dentre estas, ele separou 82 discípulos (Lc.6.13 - menciona os 12; 10.1 menciona outros 70),
muitos dos quais abandonam-no depois (João 6.66). Entre os 82, 12 eram especiais. Tinham uma missão especial.
Entre os 12, 11 se destacavam por sua sinceridade. Nesse ponto, Judas fica para trás. Entre os 11, havia 3 que eram
chamados em particular em determinados momentos: Pedro, Tiago e João (Mt.17.1/ Mc.5.37/ Mt.26.37). Observe-
se que o próprio João, numa atitude de humildade, não mencionou esses episódios particulares. Dentre os três, João
tinha o mais íntimo relacionamento com o Mestre. Foi chamado de "o discípulo a quem Jesus amava". Durante a
última ceia, reclinou-se no peito do Senhor (João 13.25). Ouviu e registrou a oração sacerdotal de Jesus (17). Foi o
1o a voltar para o acompanhar o Mestre após a sua prisão. Assiste o julgamento e a crucificação de Cristo (João
18.16; 19.26). Recebe a incumbência de cuidar da mãe de Jesus (João 19.27). Foi o 1o discípulo a chegar ao túmulo
após a ressurreição (João 20.4). Devido à sua proximidade constante com o Mestre, alguns relatos do seu evangelho
são exclusivos. Em alguns momentos, só ele viu, só ele ouviu, só ele teve informações para escrever. Seu exemplo
deve nos servir como estímulo para uma comunhão íntima com o Senhor, condição essencial para que recebamos
suas revelações. Afinal, "revelação" é o significado de "Apocalipse". E quem poderia tê-lo escrito, senão o próprio
João?

APRESENTAÇÃO DE JESUS NO EVANGELHO DE JOÃO


João apresenta Jesus de uma forma bastante rica e diversificada. Utiliza figuras de linguagem, busca conceitos
importantes para os filósofos da sua época e também linguagem teológica, o que seria bastante significativo para os
judeus. Vemos assim a diversidade de destinatários que o livro alcança. Apresentamos os termos associados à
pessoa de Cristo separando por sentido figurado e sentido literal. É interessante que analisemos tudo isso
separadamente, apesar de que, em alguns casos, fica difícil dizer a que classe determinado termo pertence.
Apresentação figurada ou conceitual - Ao utilizar termos diversos para se referir a Cristo, o evangelho vai
ampliando a revelação cristológica. Isso vai, ao mesmo tempo, aumentando o entendimento de alguns e servindo de
choque para outros. (Observe João 6.51-66). Na maioria das vezes, João apresenta Jesus através da citação das
próprias palavras do Mestre iniciadas pela declaração "Eu sou" (João 4.26; 8.24,28,58; 18.6). Tal expressão, que
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nos lembra o nome de Deus dito a Moisés (Êx.3.14), aparece diversas vezes no evangelho. Isto tem sido entendido
como um indicativo da divindade de Jesus, que vai se apresentando através de palavras que expressam o
suprimento de toda necessidade do ser humano. Ele fala de conceitos simples, como pão, porta, pastor, e também
de conceitos filosóficos como a verdade e a vida. Ele vai tomando idéias já conhecidas e dando-lhes um novo
sentido, uma nova aplicação e, em alguns casos, mostrando que ele é o único sentido real para idéias discutidas
inutilmente pelos sábios da época. Isso foi um escândalo para muitas pessoas, como não poderia deixar de ser.

TERMO SENTIDO REFERÊNCIA


Pão Provisão de necessidades, 6.35,48,51
satisfação para a alma.
Luz Conhecimento 8.12
Porta Acesso ao Pai, oportunidade, 10.7
solução, refúgio, saída.
Pastor Orientação, cuidado 10.11
Ressurreição Esperança, nova vida 11.25
Vida Novo nascimento, vida 11.25; 14.6.
espiritual; vida eterna.
Videira Compromisso, comunhão, 15.1
nossa dependência em relação a
Cristo, vida cristã produtiva,
crescimento.
Caminho Desenvolvimento, progresso 14.6
Verdade Oposição à mentira 14.6

Apresentação literal:
Verbo - Logos – a palavra – Esta expressão fazia sentido tanto para judeus quanto para gregos e cristãos, embora
seu significado fosse um pouco diferente ou muito diferente dependendo do destinatário. De qualquer forma, João
utiliza o termo centralizando-o na pessoa de Cristo, eliminando assim qualquer entendimento distorcido que o
mesmo poderia ter (João 1.1). Observe-se a importância de uma introdução que chama a atenção de vários tipos de
leitores, criando interesse para o exame da obra.
Messias – 1.41; 4.29; 11.27; 20.31
Filho do Homem – 3.14; 5.27; 3.13; 9.35; 12.23,34 – João aborda a natureza humana de Cristo, embora este não
fosse seu principal objetivo. Ele mostra que o homem Jesus nasceu, viveu na Palestina, bebia água (João 4), se
alimentava (João 4), sofreu e morreu (João 19).
Filho de Deus – 1.14,18,34,49 ; 3.16; 19.7; 5.19-29; 11.27;
Jesus é apresentado como Deus (1.1; 20.28; 5.18; I Jo.5.20) – e nos torna filhos de Deus (1.12). Mateus apresentou
o divino Rei-Messias. Marcos apresentou o divino servo. Lucas escreveu sobre o divino homem. João foi o mais
ousado. Apresentou Jesus como sendo o próprio Deus (João 1.1,18; 10.30,38; 14.10,11; 17.21). Jesus é então
mostrado como "objeto de fé", ou seja, aquele em quem devemos depositar a nossa fé (João 3.16), pois é o próprio
Deus.

PALAVRAS E TEMAS EM DESTAQUE


Colocamos também algumas referências à primeira epístola de João devido à grande identificação de seu conteúdo
em relação ao evangelho.
A igreja - é referenciada mas não por este nome. Podemos vê-la no evangelho representada pelo rebanho do Bom
Pastor (cap.10), pela videira (cap.15) e pelos próprios discípulos.
Amor – É de João a célebre declaração: "Deus é amor" – I Jo.4.8. É também de sua autoria aquele que,
provavelmente, seja o mais conhecido versículo sobre o amor de Deus: Jo.3.16. O "amor" é um dos temas

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preferidos do apóstolo. Ele fala do amor apesar das perseguições da época e sua prisão em Patmos. O amor
estabelece as relações entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo e também deve ser a base da relação entre os
discípulos, ou seja é a base para a igreja. Outros elementos podem estabelecer relações humanas ou com Deus:
medo, sentimento de dever, etc. Contudo, o amor é o vínculo desejável. (João 13.1,34; 14.21,23,24; 16.27; 21.15-
17).
Luz – Jo.15-10; 3.19-21; 8.12; I Jo.1.9 – João explora a contraposição de conceitos, luz x trevas e outros, conforme
se vê no quadro a seguir. Em outras palavras, ele está confrontando a nova realidade da vida em Cristo com o
estado pecaminoso do homem.

CONCEITO POSITIVO CONCEITO NEGATIVO ALGUMAS REFERÊNCIAS


Luz (8x) Trevas (4x) João 3.19; I João 1.9
Verdade (17x) Mentira (2x) João 8.32,44; 14.6,17; 17.17;
18.37.
Vida (15x) Morte (6x) João 11.25
Fé (crer e derivados: 11x) Incredulidade (não crer) João 3.16,18

A palavra "verdade" só não aparece nos capítulos 2, 7, 9, 11. A palavra "luz" ocorre nos capítulos
1,3,5,8,9,11,12,16. A palavra "vida" só não ocorre nos capítulos 2,7,9,16,19,21. Embora o número de ocorrências
possa variar em virtude da versão utilizada, a observação dessa freqüência nos chama a atenção para a importância
que determinados temas têm para o autor e que, portanto, devem também ser cuidadosamente estudados por nós.
Comunhão – É também um tema importantíssimo para João no evangelho, assim como na primeira epístola (João
14.11; 15.4,12; 17.21; I Jo.1.3,6,7). A comunhão ocorre basicamente em 3 níveis:

Comunhão entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Comunhão celestial.


Comunhão entre os discípulos e a trindade, tendo Cristo como elo de ligação. Comunhão
individual com Deus. Ligação entre o céu e a terra.
Comunhão dos discípulos entre si, tendo Cristo como elo de ligação. Comunhão entre os irmãos
na igreja.

Novo nascimento – 3.3,5 e 1.12


Conhecimento – 8.55; 14.17; 17.3,7,8,23,25,26
Glória – 1.14; 5.44; 7.18; 8.54; 11.4,40; 17.1,4,5
Obra – 4.34; 5.36; 6.28,29; 8.39; 9.3; 10.25,32,37,38
Sinal – 2.11,18,23; 3.2; 4.48,54; 6.2,14; 9.16
Juízo – 5.22,24,30; 7.24; 8.10,15,26; 12.47-48; 16.8,10,11.
Consolador – João enfatiza mais que os outros evangelhos a pessoa do Espírito Santo e a trindade como um todo.
(7.39; 14.16-17,26; 16.7,8).
Testemunho – Estão em evidência diversos testemunhos a respeito de Jesus: o auto-testemunho -18.37; testemunho
da multidão - 12.17; dos discípulos - 15.27; das pessoas que assistiram à crucificação - 19.35; testemunho do
próprio João - 21.24; testemunho da escrituras - 5.39; testemunho do Pai - 5.37; testemunho dos sinais - 10.25;
testemunhos de João Batista – 1.19,29,32. O objetivo do testemunho: fé para a salvação (4.39; 5.34; 20.31).

CARACTERÍSTICAS
Estilo simples – pensamento profundo.
Mais íntimo – pessoal.
Fatos exclusivos – 14 a 17 – discurso no cenáculo.
Sem parábolas, sem profecias escatológicas.
Discursos diferentes dos sinóticos. Vinculados aos milagres, explicando-lhes o sentido espiritual.
Os milagres: São relatados 8, inclusive o 1o. 6 são exclusivos.

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Os não exclusivos: Multiplicação dos pães e o andar sobre as águas.


Os exclusivos: transformação da água em vinho, a cura do filho do centurião, a cura do homem que estava enfermo
há 38 anos, a cura do cego de nascença, a ressurreição de Lázaro, a pesca maravilhosa. Milagres para os alegres,
moribundos, enfermos, famintos, fiéis, cegos e mortos.
O evangelho de João completa os sinóticos. Quando o quarto evangelho foi escrito, os outros já deveriam estar
circulando há muito tempo entre os cristãos, sendo, naturalmente, do conhecimento do apóstolo João, o qual não
achou necessário repetir o que os outros já tinham escrito. Por isso, seu evangelho vem acrescentar o que faltava
nos demais. Os trechos que constituem repetições de conteúdo são poucos e, quando ocorrem, vêm seguidos de um
discurso de Cristo que os outros escritores não haviam relatado.
João enfatiza a pessoa de Cristo e não seus milagres, parábolas ou ensinamentos. Enfatiza também a nova vida do
crente e a rejeição de Cristo pelo mundo (1.10; 3.19) e não apenas pelos judeus (1.11).

ESBOÇO COMENTADO
I - Prólogo - 1.1-14 – Apresentação de Jesus – Divindade – O verbo era Deus.
Genealogia espiritual – Jo.1.1 – Sua visão foi além dos outros evangelistas. Sentido mais profundo.
Humanidade – O verbo se fez carne.
Sua missão – tornar os crentes filhos de Deus – 1.12.
II - Ministério público na Judéia e arredores. (Revelando-se ao mundo) (narrativa exclusiva).
1o período – 6 meses – (em 27 d.C.) 1.15 a 4.42 – O testemunho de João Batista –
Início ministério PÚBLICO de Jesus – Bodas, Nicodemos, a mulher samaritana.
Os trechos que relatam o encontro de Jesus com Nicodemos e com a samaritana destacam o valor de uma alma para
Deus. Jesus não mandou que voltassem no dia seguinte junto com a multidão, mas deu-lhes toda a atenção,
revelando-lhes maravilhas do plano de Deus. Jesus atendeu tanto a um homem importante com Nicodemos quanto
a uma mulher marginalizada como a samaritana, mostrando assim o valor da pessoa humana e não da sua posição
social.
III - Ministério público na Galiléia (Revelando-se ao mundo).
2o período – 2 anos e ½ - (de 27 a 30 d.C.) – 4.43 a 7.9 – Milagres – Declaração de ser Filho de Deus – Pão da
Vida – Confissão de Pedro. – Cresce a revelação, cresce a fé e cresce a oposição. A chuva faz crescer o trigo e a
erva daninha. Cada solo reage de uma forma. Existe o solo resistente e o solo receptor.
IV - Ministério público na Judéia (Revelando-se ao mundo).
3o período – 6 meses – (em 30 d.C.) – Disputa com fariseus. Jesus fala sobre sua missão, declara ser o Bom Pastor,
ressuscita Lázaro. Os fariseus decidem matar Jesus. (7.10 a 11.57).
V - Ministério oculto junto aos discípulos. (Revelando-se aos discípulos).
4o período – Uma semana (+ ressurreição) – (em 30 d.C.) – Jerusalém e arredores – Últimas instruções, oração,
morte, ressurreição. 12 a 21.

OBSERVAÇÕES
Ao falar sobre a relação de João com Jesus, vimos a progressiva intimidade entre Jesus e um número cada vez
menor de seguidores. O mesmo raciocínio pode ser aplicado sobre o esquema do evangelho de João. Jesus vai se
revelando cada vez mais para um grupo cada vez mais seleto. A partir de certo ponto do livro, Jesus se oculta das
multidões e passa a se revelar exclusivamente aos discípulos (12.36). Em certo momento, Judas Iscariotes sai da
cena íntima (13.30), só encontrando-se com o Mestre novamente para dar-lhe o beijo da traição. No Getsêmani, só
Pedro, Tiago e João estão próximos a Jesus, enquanto ele ora. Ao ser preso pelos soldados, Jesus é abandonado por
todos os discípulos (16.32). Depois, só João volta para perto do Mestre (19.26).
Algumas partes do evangelho de João têm sido questionadas quanto à sua autenticidade. Isto se deve à presença
desses blocos em alguns manuscritos e à sua ausência em outros. São eles: 7.53 a 8.11; 5.4; e capítulo 21. Esses
textos aparecem entre colchetes em algumas versões indicando sua ausência em algumas fontes. O questionamento
do capítulo 21 é agravado pelo fato de que 20.31 parece uma conclusão.

VIII- ATOS DOS APÓSTOLOS


AUTORIA
Lucas - Citações por Clemente de Alexandria e Tertuliano.
DESTINATÁRIO - Teófilo.
DATA - próximo de 65 d.C. As datações têm variado entre os anos 61 e 96. O ano 61 corresponde ao período final
da prisão de Paulo em Roma descrita no último capítulo de Atos. O livro parece ter sido escrito antes do ano 70, já
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que não menciona a destruição de Jerusalém ocorrida naquele ano. Isso, porém, não constitui prova concreta para
determinação de data.

CONSIDERAÇÕES GERAIS
- Atos dos Apóstolos - nome dado no fim do 2o século.
- Livro eixo do NT.
- Provê fundo histórico para todo o NT. (Reforço para os evangelhos).
- Elo entre os evangelhos e as epístolas.
- Documento histórico do início do cristianismo.
- Cobre período de 29 a 61 d.C.
O conteúdo de Atos começa onde o evangelho de Lucas termina: com o período pós-ressurreição e a ascensão do
Senhor Jesus.
O livro de Atos apresenta um novo tempo para o povo de Deus. O Velho Testamento se refere ao tempo antigo. Os
evangelhos mostram um curto período de transição. Por isso, algumas vezes temos dificuldades para situar alguns
fatos dos evangelhos como pertencentes à lei ou à graça. São referências do Novo Testamento mas, em sua maioria,
anteriores à morte e ressurreição de Cristo. Tal indefinição termina em Atos dos Apóstolos. O primeiro capítulo já
nos mostra o confronto final desses dois tempos, dessas duas realidades: o tempo dos evangelhos e o tempo de
Atos. No tempo dos evangelhos os discípulos iam a Cristo para receber suas bênçãos e ensinos. Agora, no tempo de
Atos, período pós-ressurreição, é hora dos discípulos darem algo ao mundo. Eles é que devem fazer a obra de Deus.
Eles são agora o corpo de Cristo na terra. Nos evangelhos, o Filho glorifica o Pai. Em Atos, o Espírito Santo
glorifica o Filho.
Em Atos 1, temos um diálogo entre Jesus e os discípulos. Jesus está falando de uma nova realidade, mas os
discípulos ainda estão presos a uma realidade passada, conforme demonstramos a seguir.

JESUS E A NOVA REALIDADE OS DISCÍPULOS E A VELHA


REALIDADE
Reino de Deus – Atos 1.3 Reino de Israel – Atos 1.6
Confins da terra – Atos 1.8 Uma nação: Israel – Atos 1.6
Tempo futuro (até os nossos dias) – Atos 1.8 Tempo presente - Atos 1.6
Batismo com o Espírito Santo – Atos 1.5 Batismo nas águas – Atos 1.5

Jesus estava apresentando aos discípulos o tempo de romper com os limites humanos, sociais, culturais,
geográficos, etc. Eles deveriam fazer a obra de Deus em Jerusalém. Esta era a cidade onde estavam. Precisamos
fazer a obra de Deus no próprio local onde moramos, trabalhamos ou estudamos. É o início da missão. Contudo,
Deus não quer que sejamos comodistas. Jerusalém pode estar muito confortável. Os discípulos deveriam alcançar
toda a Judéia. Essa parte já idéia de movimento. É preciso caminhar. É preciso sair do "ninho", assim como Abraão
saiu de Ur dos Caldeus em obediência à ordem do Senhor. Depois da Judéia, eles deviam ir a Samaria. Esta cidade
representa os lugares onde não queremos ir e aquilo que não queremos fazer, mas que são parte do plano e do
roteiro de Deus para nós. Os discípulos não queriam ir a Samaria. Havia uma grande barreira social, cultural, e
religiosa a ser rompida. Depois, restavam os confins da terra, representando tudo o que Deus pode fazer através de
nós, mas que não podemos alcançar nem mesmo com nossa imaginação. Os discípulos não tinham a mínima idéia
do que pudessem ser os confins da terra. Contudo, Jesus sabia que os horizontes eram muito mais distantes do que
seus apóstolos imaginavam. E tudo isso somente seria possível através da operação do Espírito Santo. "Recebereis
poder ao descer sobre vós o Espírito Santo e ser-me-eis testemunhas..."

DESTAQUES DO CONTEÚDO
Ação - Pregação do evangelho.
Atividade missionária da igreja. Uma igreja voltada para fora e não para dentro de si mesma.
Agentes – Os apóstolos e demais cristãos.
Destaque ao valor dos apóstolos. O livro de Atos atesta o caráter apostólico de quase todos os autores do NT.
Poder - do Espírito Santo.
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Propósito (da ação) - Exaltação de Jesus e salvação das almas.


Resultado - Aceitação e rejeição - (At.2.) - Perseguição e julgamento. Os perseguidores são judeus e romanos -
como nos evangelhos. Observa-se a crescente aceitação do evangelho pelos gentios e a crescente perseguição por
parte dos judeus.
- Ressurreição – Principal tema da mensagem apostólica. Eram testemunhas da ressurreição (At.1.22; 2.24,31;
3.15,26; 4.2,10,33; ), a qual se constitui até hoje como sinal da supremacia do cristianismo e da divindade de Cristo
(I Cor.15.17). O diabo faz muitos sinais e prodígios mas não tem o poder de dar vida, seja pelo nascimento, seja
pela ressurreição.
- 24 sermões (ou resumos) - 9 de Pedro, 9 de Paulo, e outros.
- 5 visitas de Paulo a Jerusalém.
- Mais de 100 nomes pessoais citados (destaca o valor do indivíduo).

CARACTERÍSTICAS
Eclesiástico – Início da igreja, organização básica e acompanhamento aos fiéis nas igrejas (não um manual mas
exemplo histórico). A igreja para os judeus - começa com Pedro - Cap.2 – A igreja para os gentios começa com
Pedro - Cap. 10.
Apologético (Ex. cap.15)- Basicamente, ao escrever o livro de Atos, Lucas tem o mesmo propósito que possuía ao
escrever o evangelho: informar a Teófilo acerca da verdade sobre Jesus e a igreja. Analisando mais profundamente,
alguns comentaristas sugerem que Lucas também pretendia apresentar um tipo de defesa do evangelho perante as
autoridades romanas, mostrando que o cristianismo não constituía ameaça às leis e ao Império. Há quem chegue a
dizer que, ao escrever Atos, Lucas se preocupava especificamente com a defesa de Paulo, que estaria sendo julgado
por Roma. Por isso é que o apóstolo seria a figura central do livro.
Atos cita julgamentos diversos. No evangelho, Pilatos inocenta Jesus (Lc. 23.4,14,22).
Em Atos, as acusações não são comprovadas: Em Filipos (16.19,35); em Tessalônica (17.6-9); em Corinto (18.12);
em Éfeso (At.19,31,35); na Judéia (At.26.32 – Paulo poderia ser inocentado mas apelou para César).
Os tumultos eram normalmente incitados pelos judeus. Enquanto nos evangelhos, os fariseus perseguem a Cristo,
em Atos o principal perseguido é um ex-fariseu. Teológico (Ex. cap.17- os deuses e o Deus desconhecido) -
Atividade do Espírito Santo (Atos do Espírito Santo) - 1.4,8 Cap.2 Cap.10.
Os apóstolos são cheios do Espírito Santo. Pelo poder do Espírito Santo realizam sinais. Os apóstolos são guiados
pelo Espírito Santo - 8.29,39; 10.19; 16.6.
O Espírito Santo orienta a igreja: 13.2; 15.28; 11.28; 20.23; 21.4,11.
O livro de Atos faz referências à atuação do Espírito Santo no VT: 1.16; 28.25; 20.28; 5.32.
Caráter histórico. O livro cita reis, magistrados, governadores, contextualizando historicamente o início da igreja
cristã. Possui também muitas citações geográficas.

AUTORIDADES MENCIONADAS EM ATOS:


Antipas - Anos 4 a.C. - 39 - Atos 4.27 13.1
Cláudio Nero - anos 41 a 54 - Atos 11.28; 28.2 - Expulsa judeus de Roma.
Nero - anos 54 a 68 - Atos 25.21-25; 27.1; 28.19 - Paulo apela para Nero.
Agripa I - anos 37 a 44 - At.12 - Decapita Tiago. Prende Paulo.
Félix Antônio - anos 52 a 58 - Atos 23 e 24 - Procurador na Judéia e Samaria. Prendeu Paulo.
Pórcio Festo - anos 58 a 62 - Atos 24.27; At.25; At.26 - Mantém Paulo preso e o envia a Roma.
Agripa II - anos 52 a 70 - Atos 25 e 26 - Galiléia, Peréia e Ituréia - Ouviu defesa de Paulo.
Ênfase sobre o ministério de Paulo.
Cap. 9 - Sua conversão
13-14 - Paulo com Barnabé em Antioquia e depois em viagem para ilha de Chipre e Galácia.
15 - Paulo no concílio em Jerusalém.
16-18 - Paulo em viagem com Silas e Timóteo - Filipos, Tessalônica, Macedônia, Grécia e Corinto.
19 - Paulo na Ásia (Éfeso).
20-26 - Paulo na Palestina (2 anos)
27-28 - Paulo preso em Roma (provavelmente nos anos 60 e 61).
Obs.: Paulo teria sido solto em 64, ido a Creta (Tt.1.5) e talvez à Espanha (Rm.15.28). Foi preso em Nicópolis e
morto em Roma por ordem de Nero(ano 67?), o mesmo imperador a quem Paulo havia apelado tentando se livrar
da condenação.

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ESBOÇO 1 (comentado)
(os esboços podem variar de acordo com o enfoque no conteúdo, nos lugares, nos fatos ou nas pessoas. O nível de
detalhamento também influencia.)
I- Início da igreja, perseguição e dispersão. 1-12.
Difusão do evangelho a partir de Jerusalém, tendo como promulgadores principais Pedro, João
e demais apóstolos.
Ênfase inicial sobre a evangelização dos judeus, de modo coerente com a orientação de Jesus em At.1.8.
Depois, os gentios passam a ter destaque: Samaria (8) Romanos (10) Gregos (11).
II - Antioquia da Síria passa a ser o principal polo missionário. Pedro sai de cena e Paulo passa a ser o
apóstolo mais evidente na companhia de seus cooperadores: Barnabé, Silas, Timóteo e Lucas: Atos 13.1 a 21.15.
Obs.: A destruição de Jerusalém no ano 70 não destruiu a igreja porque esta já tinha se expandido pelo mundo.
III - Paulo nas prisões - 21.16 a 28.31 - O evangelho chega à "capital do mundo", Roma.

ESBOÇO 2
I - Os primórdios da igreja - 1.1 a 2.47.
II - O evangelho em Jerusalém - 3.1 a 7.60.
III - Propagação do evangelho em Samaria, Jope e Antioquia - 8.1 a 12.25.
IV - Viagens missionárias de Paulo - 13.1 a 21.16.
V - Prisões de Paulo e viagem a Roma - 21.17 a 28.31.

ESBOÇO 3
O evangelho no poder do Espírito Santo - 1.1 - 2.47
O evangelho em Jerusalém - 3.1 - 6.7
O evangelho na Palestina - 6.8 - 9.31
O evangelho em Antioquia - 9.32 - 12.31.
O evangelho na Galácia - 13.1 - 14.28.
O evangelho é de graça, através da fé - 15.1 - 15.40.
O evangelho na Macedônia - 16.1 - 17.15.
O evangelho na Acaia e na Ásia - 17.16 - 19.40
O evangelho na Ásia e de volta à Palestina - 20.1 - 21.17.
O evangelho leva Paulo à prisão em Jerusalém e Cesaréia - 21.18 - 26.32.
O evangelho conduz Paulo a Roma - 27.1 - 28.31.

IX - A EPÍSTOLA DE PAULO AOS ROMANOS


ROMA – "A CIDADE ETERNA"
INFORMAÇÕES HISTÓRICAS E GEOGRÁFICAS
Localização – Roma está localizada no continente europeu, na região central da península Apenina ou Itálica, que
hoje corresponde ao território italiano. Nos primórdios da história romana, não existia um país chamado Itália. A
península era ocupada por várias cidades-estado independentes.
Fundação – A cidade foi fundada em 735 a.C. às margens do rio Tibre, sobre 7 colinas. Sua origem está envolta em
lendas. A principal está relacionada às figuras dos irmãos Rômulo e Remo, os quais teriam sido amamentados por
uma loba. Outra versão nos informa que naquela região foi montado um posto militar dos povos do norte com o
objetivo de resistir às invasões dos povos do sul, principalmente dos etruscos. Esse posto teria dado origem à
cidade de Roma.
Formação da população – os povos latinos, sabinos, e até mesmo os etruscos participaram da formação inicial da
população romana. Posteriormente, outras etnias se introduziram no processo.
Organização social – A população romana, já nos seus primeiros séculos, dividiu-se em classes: patrícios, plebeus,
clientes e escravos. Patrícios eram os nativos da cidade, os quais estavam ligados às famílias tradicionais (gens).
Eram os donos da terra, possuíam cidadania e status de nobreza. Tais famílias se organizavam em "cúrias" que, por
sua vez, formavam as tribos. Daí vinham os membros do senado e o rei.
Os plebeus constituíam a classe popular, a plebe. Eram aqueles indivíduos sem raízes hereditárias entre as famílias
importantes. Normalmente eram imigrantes e não possuíam nenhum direito à terra. Contudo, exerciam alguma
atividade que lhes garantia uma renda. Portanto, pagavam impostos. Os clientes eram aqueles indivíduos que
ocupavam um pedaço de terra de um patrício e, em troca, devia-lhe determinado pagamento. Os escravos eram
aqueles que, por motivo de dívida ou de guerra, tornavam-se propriedade dos patrícios. De uma mistura de lenda e
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história vem a tradição de que Roma teve 7 reis. A monarquia acabou quando os próprios patrícios se ressentiram
da tirania do poder real. Inicia-se então a república romana.
Com o passar dos séculos, a plebe cresceu demasiadamente. Muitos plebeus se tornavam escravos por não poderem
quitar seus compromissos financeiros. Desse modo, a classe dos escravos também crescia. Os menos favorecidos
eram então a maioria da população. Nesse tempo, os patrícios controlavam o Estado, tomando todas as decisões
como bem lhes parecia. Muitos indivíduos da plebe prosperaram por suas atividades comerciais ou por sua
participação no exército. Muitas atividades indispensáveis eram desempenhadas por essa classe sem, contudo,
terem direito à cidadania. Explode então a luta de classes em Roma. Em 494 a.C., os plebeus resolvem abandonar
Roma. Eles saem da cidade, deixando os patrícios sem proteção e serviços. Diante disso, e vendo sua dependência,
os patrícos resolvem dar direitos aos plebeus, os quais passaram a ter representantes eleitos na Assembléia.
Exigiram também a elaboração de leis escritas pois, até então, só havia leis orais em Roma e mudavam de acordo
com a vontade dos patrícios.
Império Romano – Tendo formado um poderoso exército, Roma conquistou toda a península itálica, a Espanha,
Portugal, Sicília, e todas as nações em volta do Mar Mediterrâneo. Forma-se então o Império Romano. Roma se
torna a "capital do mundo", dominando sobre povos de diversas nacionalidades, línguas, religiões e costumes.
Guerra, riqueza, e desenvolvimento – As guerras de conquista aumentaram excessivamente a riqueza romana
através do espólio das outras nações. Todo esse poderio econômico proporcionou um desenvolvimento muito
grande na cidade. As famílias ricas passaram a contratar professores gregos para seus filhos. Além disso, muitos
literatos e artistas gregos se deslocavam para Roma. Comerciantes de várias nacionalidades iam morar em Roma ou
fazer ali os seus negócios. Desenvolveu-se então a literatura, a engenharia, a arquitetura e as artes. Nesse tempo, a
cidadania romana já não estava restrita aos patrícios. Ser cidadão já não dependia apenas da hereditariedade mas se
tornara uma questão financeira.
As construções romanas – Até hoje, o que mais impressiona o visitante de Roma são suas edificações. Entre elas
podemos destacar:
O Panteon, onde se encontravam os deuses romanos;
O Coliseu, grande estádio onde se realizavam as lutas entre os gladiadores e onde muitos cristãos foram lançados às
feras.
Os aquedutos – canais que conduziam água das montanhas para as cidades.
Os relevos – esculturas feitas sobre monumentos.
Além disso, podemos citas os templos, palácios, monumentos (ex.: arcos), estátuas, castelos, e as estradas que
ligavam Roma a todas as partes do Império.
As obras romanas foram muito influenciadas pelo estilo grego. Contudo, os romanos eram mais realistas. Enquanto
que os gregos faziam monumentos em homenagem às figuras mitológicas, os romanos honravam pessoas reais,
principalmente seus heróis de guerra e seus governantes.
As catacumbas – eram buracos cavados em volta da cidade para extração de areia. Eram tão profundos que
acabavam formando túneis e galerias. Na época da perseguição, os cristãos se escondiam nesses lugares e ali
milhares deles morreram e ficaram sepultados.
Religião
Politeísmo – Desde a antigüidade, a religião romana se caracterizava pela adoração a diversos deuses. Inclusive,
chegaram a adorar muitas divindades da mitologia grega.
Culto aos antepassados – As famílias tradicionais adoravam seus próprios ancestrais em seus cultos domésticos.
Culto ao imperador – Estabelecido por Augusto, o culto ao governante tornou-se parte da religiosidade romana.
Cristianismo clandestino – O cristianismo entrou em Roma sem reconhecimento oficial. A recusa dos cristãos em
relação ao culto ao imperador foi um dos motivos que deflagraram a perseguição. Após ter incendiado Roma, o
imperador Nero acusou os cristãos. Este foi um dos momentos de maior perseguição. Segundo a tradição católica,
nessa ocasião Paulo e Pedro foram mortos naquela cidade.
Cristianismo oficial – A partir do governo de Constantino, o cristianismo foi autorizado. Algum tempo depois, o
imperador Teodósio tornou o cristianismo religião oficial do Império. As práticas religiosas antigas passaram a ser
proibidas. Contudo, continuaram a existir no campo, nas regiões afastadas dos centros urbanos. Com isso, entrou
no vocabulário religioso o termo "pagão" que significa "do campo".
Referências bíblicas a Roma: A bíblia se refere a Roma em Atos, Romanos e II Timóteo. Existem comentaristas
que interpretam a "Babilônia" de I Pedro 5.13 como sendo a cidade de Roma. Bem maior é o número dos que tem
essa interpretação com relação à "Babilônia" do Apocalipse (cap.17 etc.). O texto fala de uma mulher sobre 7
montes e embriagada com o sangue dos seguidores de Jesus. Com efeito, quando João escreveu aquele livro,
muitos cristãos já tinham sido mortos em Roma, a cidade das 7 colinas.
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Influência romana – Roma marcou a história da humanidade e até hoje carregamos suas influências em diversas
áreas. Alguns exemplos: o direito romano, o estilo artístico, o calendário, os algarismos, o catolicismo, etc. Este
último, com sua estrutura de domínio mundial, nos faz lembrar o antigo Império.

A IGREJA EM ROMA
Fundação : Em sua epístola, Paulo deixa claro que ainda não conhecia Roma. Logo, a igreja ali não foi por ele
fundada. Entendemos que Pedro também não participou desse processo pois, se este ou outro apóstolo fosse
responsável por aquela igreja, Paulo não escreveria uma carta doutrinária para aqueles irmãos. Por outro lado, se
Pedro estivesse em Roma, o mesmo teria sido mencionado nas saudações do último capítulo. Ambrosiastro, escritor
do século IV disse: "Os romanos abraçaram a fé em Cristo sem ver nenhum sinal de obras poderosas e nenhum dos
apóstolos." No século II surgiu a tradição segundo a qual Pedro teria exercido ministério em Roma. No século IV
iniciou-se a tradição de que ele teria sido o 1o bispo romano. Quem então teria fundado aquela igreja? De fato, isso
não tem grande importância, mas sempre gostamos de ter um nome para a atribuição das honras. É isso que
fomenta o surgimento das tradições. Uma das hipóteses mais prováveis é que a igreja tenha sido fundada no ano 30
pelos judeus de Roma que estiveram em Jerusalém no Pentecostes – At.2.10,11.
A colônia judaica em Roma - Desde a conquista de Jerusalém por Pompeu no ano 63 a.C., muitos judeus foram
morar em Roma. No governo de Cláudio foram expulsos – (At.18.2). A ordem foi revogada por Nero poucos anos
depois. Quando Paulo chegou a Roma, no ano 60 (At.28) ele encontrou judeus que ali residiam. (É bom lembrar
que o envio da epístola é anterior a essa "visita").
A igreja em Roma era composta de judeus e principalmente gentios. Na epístola, Paulo fala aos judeus e aos
gentios de forma específica e direta alternadamente (Rm.1.5-7,13; 2.17-24). Sendo pessoas de origens, tradições e
costumes tão distintos, era natural que a convivência entre eles apresentasse suas dificuldades. O apóstolo procura
tratar dessa questão no capítulo 14.

A EPÍSTOLA AOS ROMANOS


"O EVANGELHO SEGUNDO PAULO" (RM.2.16)
Autor: Apóstolo Paulo
Escritor: Tércio – Rom.16.22.
Data – Ano 58 – entre 53 e 58 (3ª viagem missionária).
Local – Corinto.
Portadora – Febe – (Rm.16.1-2).
Tema- O evangelho de Cristo
Texto chave: 1.16 e 5.1
Classificação: soteriologia (doutrina da salvação).
A epístola de Paulo aos Romanos é uma obra prima da teologia cristã, destacando-se entre os livros do Novo
Testamento. É um tratado teológico sobre a salvação. Lutero chegou a dizer: "Se tivéssemos de preservar somente
o evangelho de João e a epístola aos Romanos, ainda assim o cristianismo estaria a salvo."
A carta nos apresenta um resumo da bíblia e da história humana sob o ponto de vista teológico. O autor menciona
Adão (5.14), Abraão (4.13), Moisés (5.14), Israel (11.25), o Velho Testamento (1.2), Jesus (10.9), a salvação
(10.9), a igreja (16.1), o juízo (2.16) e a glorificação dos salvos (8.30). Esses versículos são apenas alguns
exemplos dentre tantos que mencionam tais temas e pessoas.
Objetivo de Paulo - Paulo queria expor aos romanos seu entendimento a respeito do evangelho e prepará-los para
sua futura visita, quando estivesse a caminho da Espanha. (Rm.15.22-24).

ESBOÇO (RM.)
I – Introdução – 1.1-17
Apresentação pessoal, saudação, tema (16-17).
II – O problema humano – 1.18 a 3.20.
O pecado, sua universalidade e suas conseqüências.
III – A solução divina – A salvação: 3.21 a 5.21.
A origem do pecado e a origem do perdão.
O método da salvação: justificação pela fé no sacrifício de Cristo.
IV – A santificação – 6 a 8.
Ação do Espírito Santo na vida do salvo.
V - A soberania divina – 9 a 11.
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Judeus e gentios no plano de Deus.


VI – O cristianismo prático – 12 a 15.13.
A vida cristã na igreja, na sociedade e nas relações pessoais.
O serviço cristão.
V – Conclusão – 15.14 a 16.27.
Assuntos pessoais, admoestações e saudações finais.

COMENTÁRIO
Deve-se observar a organização de Paulo. A carta apresenta um desenvolvimento em uma seqüência bem ordenada.
Temos: Introdução, histórico, ilustração (Abraão), teoria e exemplos de aplicação prática.
I – Introdução – 1.1-17
Apresentação pessoal, saudação, tema (1.1, 16-17).
As cartas antigas eram iniciadas com três elementos: identificação do remetente, identificação do destinatário e
saudação. Vemos isso na epístola aos Romanos. Paulo se apresenta de forma humilde, como servo, chamado para o
apostolado e separado para o evangelho. Desse modo, a autoria fica bem definida. Os destinatários são claramente
indicados no verso 7. No próprio verso 1, o tema já surge: "o evangelho de Deus". A partir desse ponto, o autor
pára de falar de si mesmo e passa a discorrer sobre a trindade, destacando o Filho. O Pai é mencionado nos versos
1, 2 e 7. O Espírito Santo é mencionado no verso 4. Jesus é mencionado em vários versículos, pois ele é o
personagem principal no tema escolhido.
Em sua introdução, Paulo apresenta o vínculo entre a história, a humanidade e a divindade. O elemento histórico é
o rei Davi. A questão humana é a descendência carnal de Cristo. O elemento divino é a declaração da sua filiação
divina. Esta abordagem demonstra que o evangelho de Deus está cravado no contexto humano de forma
historicamente comprovada. O ápice da apresentação do tema se dá nos versos 16 e 17.
II – O problema humano – 1.18 a 3.20.
O pecado, sua universalidade e suas conseqüências (condenação e morte).
No desenvolvimento da epístola, Paulo vai falar do evangelho, mas os romanos poderiam perguntar: para quê
evangelho? O apóstolo, em sua excelente organização literária, vai demonstrar aos seus leitores os fatores que
evidenciam a necessidade que os homens têm do evangelho. Este seria apresentado como um "remédio", mas, para
isso, torna-se imperioso que a "doença" seja diagnosticada. Isto é feito de forma magistral pelo "doutor" Paulo.
Nesse momento ele quer despertar a consciência dos romanos, então chama a atenção para práticas pecaminosas
tais como a idolatria (1.23-25), o homossexualismo (1.27), a prostituição, o homicídio, e uma lista que inclui até à
desobediência aos pais (1.29-31).
Os romanos eram a elite política do império. Os judeus eram a elite religiosa, pelo menos para si mesmos. Os
gregos eram a elite cultural. Eles poderiam se considerar acima das questões apontadas por Paulo. Entretanto, o
autor apresenta, de forma contundente, a universalidade do pecado. Ao citar gentios, judeus, bárbaros, romanos,
gregos, sábios e ignorantes, ele não deixa ninguém de fora da sua abordagem (1.13-16). Isso se evidencia de forma
definitiva no capítulo 3, onde lemos: "Não há um justo sequer", (3.10). "Toda boca esteja fechada e todo o mundo
seja condenável diante de Deus" (3.19). "Todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus" (3.23).
O pecado é, em si mesmo, maligno. Contudo, muitas vezes só conseguimos ver essa malignidade através das suas
conseqüências. É como uma doença que só é notada e sentida quando surgem os sintomas. Contudo, a doença é
muito mais profunda do que os sintomas. As conseqüências do pecado são diversas e se apresentam nas mais
variadas esferas da vida humana. Contudo, os piores efeitos são: a morte, que é o salário do pecado (6.23), e a
condenação divina (3.19). Se a morte fosse o fim, tudo estaria então resolvido. Porém, o pior vem depois.
Conforme diz a epístola aos Hebreus, depois da morte vem o juízo (Hb.9.27).
III – A solução divina – A salvação: 3.21 a 5.21
A origem do pecado e a origem do perdão.
O método da salvação: justificação pela fé no sacrifício de Cristo.
Fazendo um exame mais profundo, Paulo vai explicar como o pecado entrou na história humana. Após ter
diagnosticado a "doença", o autor vai buscar sua causa. Então, ele menciona Adão, como sendo o primeiro pecador
humano. Na condição de representante da humanidade, o primeiro homem passou a natureza pecaminosa a todos os
homens. Novamente, a universalidade do pecado está evidente (3.23). Para o alívio dos leitores, não só o pecado é
universal, mas também o amor de Deus possui a característica da universalidade. Já no capítulo 1 o autor diz que os
destinatários são "amados de Deus". Afinal, o amor de Deus é o pressuposto fundamental do evangelho, conforme
se observa em João 3.16.

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Paulo não se limita a mostrar o problema humano e suas conseqüências. Afinal, mostrar o problema é muito fácil e
muitos estão fazendo isso a todo tempo. As religiões, as ciências humanas e os meios de comunicação estão
mostrando o pecado humano e suas conseqüências diariamente, embora utilizem outros nomes para tudo isso. O
tema da epístola aos Romanos é o evangelho e o objetivo do evangelho é a salvação (1.16), e não o enriquecimento
material dos convertidos. Depois que o homem está convencido do seu pecado e da respectiva condenação, a
salvação se torna muito interessante. Mas, como ela ocorre? E por quais meios? Faz parte do evangelho a resposta a
essas questões. E Paulo se dedica a explicar o método divino para a salvação do homem.
A salvação não ocorre por meio das obras e nem através da lei. Os mandamentos da lei são santos, justos e bons
(Rm.7.12), porém não salvam. A lei serve para mostrar o pecado e determinar a condenação. Mostrando o pecado,
a lei é útil. Porém, não salva. A lei serve para mostrar ao homem a necessidade que ele tem da obra de Jesus Cristo.
Tal obra foi o seu sacrifício na cruz, sua morte. Entretanto, tal obra não tem efeito automático. Se assim fosse, toda
a humanidade estaria salva a partir do momento em que Cristo expirou. Ao sacrifício de Cristo deve ser aplicada a
fé, pois a salvação é para "todo aquele que crê" (Rm.1.16).
A fé no sacrifício de Jesus produz a justificação. Conforme diz Paulo: "sendo, pois, justificados pela fé, temos paz
com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo." (Rm.5.1). Justificação é o ato divino de nos declarar justos.
Voltando a Romanos 3.10, temos as palavras de Paulo dizendo: "Não há um justo sequer."
No capítulo 5, este problema está resolvido, pois Deus nos declara justos pelos méritos de Cristo. Por natureza, não
somos justos, mas pela graça de Deus somos, pois a justiça de Jesus nos é imputada. "Imputar", de acordo com o
dicionário Aurélio, significa "aplica um pagamento a determinada dívida". Podemos entender a imputação como
um crédito aplicado a uma conta corrente. Paulo disse que Abraão creu e sua fé lhe foi imputada como justiça, ou
seja, a fé de Abraão foi considerada como justiça. Da mesma forma a justiça do homem Jesus, sua vida santa, é
imputada a todo aquele que nele crê. Sua justiça é creditada em nossa "conta" que estava "negativa" por causa da
dívida do pecado. Assim, nossa débito é pago e ficamos em paz com Deus, a quem jamais poderíamos pagar. Por
isso, a salvação é o "dom gratuito de Deus" (Rm.6.23). Sendo gratuito, não faz sentido nenhum tipo de pagamento
que se pretenda estabelecer para a obtenção do perdão divino. A gratuidade da salvação não significa que ela não
tenha um preço, mas indica que esse preço já foi satisfatoriamente pago através do sangue do nosso Senhor e
Salvador Jesus Cristo.
IV – A santificação – 6 a 8.
Ação do Espírito Santo na vida do salvo.
"Onde abundou o pecado, superabundou a graça." (Rm.5.20). Tamanha graça divina poderia ser erroneamente
interpretada como licença para o pecado. "Permaneceremos no pecado para que a graça abunde? De modo nenhum.
Nós que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele?" (Rm.6.1-2).
A obra de Deus na vida do crente não se resume à justificação. Podemos comparar a justificação à saída dos
israelitas do Egito. Esta é uma ilustração excelente para a salvação. Porém, após retirar o povo do Egito, Deus
precisava tirar o Egito do coração do povo israelita. Foi o processo do deserto, o qual nós podemos comparar com a
santificação do salvo. Este consiste na formação do caráter de Cristo em nós. É uma parte essencial do que
costumamos chamar de "crescimento espiritual". Pela justificação, Deus perdoou todos os nossos pecados
passados. Pela santificação, vamos nos livrando dos hábitos pecaminosos. Embora muitos possam alegar que tudo
isso acontece instantaneamente quando se aceita a Jesus, a realidade nos mostra o contrário. O próprio Paulo
demonstra esse conflito quando diz: "não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço." (Rm.7.19).
Qual seria o escape para esse dilema prático? A operação do Espírito Santo na vida do crente em junção com a
vontade humana e o exercício pessoal da obediência. "Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão
em Cristo Jesus, que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito." (Rm.8.1). Nesse processo, entra, de
forma determinante, a Palavra de Deus. O Espírito Santo opera em nós na medida em que conhecemos a Palavra de
Deus e procuramos aplicá-la (Rm.10.17; Ef.5.26). Santificar é "separar". Santificação é a separação do salvo de
tudo aquilo que não condiz com sua nova condição espiritual. Lembremo-nos do relato da ressurreição de Lázaro.
Estando já ressuscitado, ele ainda se encontrava imobilizado por muitas ataduras mortuárias. Era um vivo com cara
de morto, cheiro de morto, aspecto de morto. Era preciso que tudo aquilo fosse removido. A santificação dos
crentes é uma das principais funções do Espírito Santo no mundo. É a preparação da noiva, a igreja, para o seu
encontro com o noivo, Jesus.
V - A soberania divina – 9 a 11
Judeus e gentios no plano de Deus.
Nessa parte da epístola, o apóstolo Paulo se dedica a mostrar aos Romanos o valor dos judeus e sua posição no
plano de salvação. Se os romanos não valorizassem os judeus e não reconhecessem neles a origem da revelação
divina, como poderiam valorizar a pessoa de Jesus? Mesmo nós, hoje, aceitamos o cristianismo porque entendemos
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que "a salvação vem dos judeus" (João 4.22). Esse destaque para Israel parecia incompatível com a rejeição que os
próprios judeus demonstraram à pessoa de Cristo. Paulo então, expõe alguns detalhes históricos do povo de Deus,
sua incredulidade, sua desobediência e seu distanciamento do evangelho. Dizer que Israel era o povo escolhido de
Deus poderia soar muito estranho para os romanos. Paulo demostra enfaticamente que Deus é soberano. Ele
escolhe a quem quer e rejeita a quem quer. Logo, se Deus escolheu Israel, não se deve questioná-lo por isso. Deus
tem razões anteriores às suas soberanas decisões. Sua presciência, conhecimento antecipado, faz com que as
evidências das suas escolhas apareçam antes dos fatos que lhes deram causa. Então, a situação pode ter aparência
de injustiça aos olhos humanos. Antes que Jacó e Esaú nascessem, Deus disse: "Amei a Jacó e aborreci a Esaú."
(Rm.9.11-13). Então, Jacó já nasceu como escolhido de Deus, enquanto que Esaú nasceu rejeitado, mas tudo isso
porque Deus já via qual seria, no futuro, a decisão de cada um daqueles meninos diante do plano divino. Deus, em
sua presciência, sabia que o "enganador" se converteria e que o primogênito desprezaria sua primogenitura.
Contudo, tais atitudes não foram determinadas por Deus, mas por eles mesmos.
O conceito de soberania poderia nos levar a pensar que abaixo de Deus, apenas a sua vontade é feita. Mas não é
assim. A soberania divina significa que acima dele não existe mais ninguém. Abaixo dele, nem todos obedecem à
sua vontade. Contudo, até a desobediência se encontra debaixo da soberania. Os homens desobedecem porque Deus
lhes deu um limitado campo de ação onde a vontade humana prevalece.
Quando pensamos em soberania divina, eleição e predestinação, podemos pensar que toda a história e o destino
humano dependem única e exclusivamente de Deus que, por sua absoluta decisão, escolheu quem haveria de se
salvar e quem haveria de se perder, independentemente de qualquer ato ou vontade dos seres humanos. Esta
posição é defendida por muitos teólogos. A outra maneira de se entender tudo isso é através da consideração da
presciência de Deus como base da eleição e da predestinação. Assim, Deus elegeu e predestinou as pessoas porque
já sabia antecipadamente qual seria a decisão de cada uma delas em relação à pessoa de Jesus Cristo. Como disse
Pedro, somos "eleitos segundo a presciência de Deus" (I Pd.1.2). E voltando a Romanos, "os que dantes conheceu,
também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho Jesus..." (Rm.8.29). Antes da predestinação
existe um conhecimento. Esta é a presciência de Deus a respeito das decisões humanas no uso de seu livre-arbítrio.
A soberania divina não anula a liberdade humana. Paulo mostra que podemos escolher. Ele diz: "Não sabeis vós
que a quem vos oferecerdes por servos para lhe obedecer, sois servos daquele a quem obedeceis, ou do pecado para
a morte, ou da obediência para a justiça?" (Rm.6.16). "Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que
apresenteis os vossos corpos por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional." (Rm.12.1).
Nesses textos, observamos a vontade humana em ativa participação no destino espiritual de cada um.
VI – O cristianismo prático – 12 a 15.13.
A vida cristã na igreja, na sociedade e nas relações pessoais.
A transformação operada pelo evangelho na vida humana deve ter dois aspectos: a pessoa deve deixar de fazer o
mal e começar a fazer o bem (Is.1.16-17). A justificação é quase um sinônimo de perdão. A santificação seria o
"deixar de fazer o mal". É o abandono de práticas pecaminosas. Contudo, o processo de ação do evangelho ainda
não está concluído. Deixamos de fazer as coisas erradas e agora precisamos começar a fazer as coisas certas.
Deixamos de servir ao Diabo e precisamos servir a Deus ativamente. Libertos do pecado, tornamo-nos servos da
justiça (Rm.6.18). Os mandamentos divinos se dividem em proibições e ordens. São mandamentos negativos e
positivos. Os negativos são aqueles que começam com o advérbio "não" e nos mostram os atos e atitudes que
devem ser abandonados: "Não matarás", "Não adulterarás", etc. (Rm.13.9-10). Os mandamentos positivos são
aqueles que nos ordenam à ação. Por exemplo, "honra teu pai e tua mãe." No desenvolvimento da vida cristã, temos
a fase que podemos comparar `a limpeza de um terreno. Talvez haja alguma construção a ser demolida, algum lixo
a ser removido, etc. Depois, deve vir a fase de edificação de acordo com o novo propósito. Por isso Paulo nos
admoesta a apresentarmos os nossos corpos para o trabalho cristão. Entendemos assim pela análise do conteúdo do
capítulo 12. O cristianismo não se resume em espiritualidade, mas em ação. As obras não salvam, mas o salvo
pratica boas obras.
Paulo nos convida ao serviço cristão. O apóstolo usa sempre os conceitos de servo e senhor, figuras tão presentes
na organização social do Império Romano. Ele mesmo fora chamado para ser apóstolo. Sua vocação não era apenas
para a salvação, mas para o serviço sagrado. Somos convidados a apresentar os nossos corpos (12.1) para o serviço
no corpo de Cristo (12.5). Orar é bom e necessário, mas não é tudo. É preciso ação na igreja através dos dons
espirituais e dos ministérios.
A igreja não é o único campo de ação do cristão nem deve ser um esconderijo ou lugar de alienação. Precisamos
enxergar além dos limites do nosso grupo de irmãos, não para lançar mão das imundícies do mundo mas para
desempenharmos nele o nosso papel como bons cidadãos e agentes do bem. Por isso Paulo insere a questão da
sujeição às autoridades, o pagamento dos impostos e de toda dívida (Rm.13.1,6,7,8). Deve haver coerência entre
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nossa ação na igreja e no mundo. Quando Jesus perguntou: "Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?", ele
só obteve respostas positivas, embora nem todas estivessem corretas. E quais serão as respostas se fizermos a
mesma pergunta a respeito de cada um de nós? O que as pessoas dizem a nosso respeito? Que "títulos" receberemos
delas? Ainda que os títulos não tenham grande valor, se forem negativos podem ter grande peso contra o evangelho
e contra o nome de Jesus.
Além das relações a nível social ou institucional, temos relações pessoais diversas. Depois de termos consciência
do nosso papel na igreja e na sociedade, precisamos ter bem em mente alguns princípios que irão reger nossos
relacionamentos individuais. Então, Paulo chega ao nível do tratamento com "o próximo". O evangelho deverá
reger tudo isso.
V – Conclusão – 15.14 a 16.27
Assuntos pessoais, admoestações e saudações finais.

X - AS EPÍSTOLAS AOS CORÍNTIOS

Em nossas bíblias, temos duas epístolas de Paulo aos Coríntios. Entretanto, sabemos que elas seriam pelo menos
três. Em I Cor.5.9, Paulo se refere a uma carta anterior, a qual não chegou às nossas mãos. Em II Cor. 7.8 existe
referência a outra carta que pode ser I Coríntios. Alguns comentaristas sugerem que a carta mencionada em II
Cor.7.8 seja uma outra epístola. Nesse caso, teríamos quatro epístolas. Trabalhando ainda com hipóteses, sugere-se
que essa epístola corresponda aos capítulos 10 a 13 de II Coríntios, os quais poderiam ter sido ali agrupados
posteriormente.
Temos então o seguinte esquema:
1a carta - desaparecida - existência garantida por I Cor.5.9
2a carta - é a que chamamos I Coríntios.
3a carta - desaparecida – existência hipotética.
4a carta – é a que chamamos II Coríntios.

A CIDADE DE CORINTO – GRÉCIA

Localização
As quatro cidades mais importantes do Império Romano eram: Roma, Corinto, Éfeso e Antioquia da Síria.
Portanto, Corinto era célebre. A cidade localizava-se em um istmo, que é uma porção de terra que liga uma
península ao continente. Possuía dois portos. Assim, além de ser a única passagem por terra entre o norte e o sul da
Grécia, era também passagem entre a Ásia, a Palestina e a Itália. Os navegantes poderiam dar a volta pelo sul da
península. Porém, o mar na região era muito tempestuoso. Corinto era então um corredor de mercadorias. Além
disso, suas terras eram férteis. A cidade era rica e tinha localização estratégica no cenário mundial.
História
Corinto grega
No auge da civilização grega, Corinto já ocupava lugar de destaque. Em 146 a.C., a cidade foi destruída pelo cônsul
romano Mummius.
Corinto romana
Devido à sua posição estratégica, a cidade foi reconstruída em 46 a.C. por Júlio César, tornando-se capital da
Província Romana da Acaia. A nova Corinto possuía ruas amplas, praças, templos (Netuno, Apolo, etc), estádio (I
Cor.9.24), teatros, estátuas, e o santuário de mármore branco e azul (Rostra), onde se pronunciavam discursos e
sentenças.
A idolatria de Corinto
A idolatria fazia parte da cultura grega com seus inúmeros deuses mitológicos. Ao sul de Corinto havia uma colina
chamada Acrocorinto, que se elevava a 152 metros acima da cidade. Ali estava o templo de Afrodite, também
chamada Astarte, Vênus ou Vésper, – deusa do amor e da fertilidade.
A corrupção de Corinto
Os cultos a Afrodite incluíam ritos sexuais realizados por 1000 sacerdotisas, ou seja, prostitutas cultuais. O fato de
ser cidade portuária, contribuía para que uma série de problemas se estabelecessem. Muitos viajantes que por ali
passavam se entregavam à prostituição e à prática de outros delitos. O fato de estarem de passagem criava uma
sensação de impunidade, o que de fato se concretizava normalmente. Estes e outros fatores contribuíam para uma
corrupção generalizada na cidade.
História recente
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A cidade de Corinto foi destruída por um grande terremoto em 1858. Em seguida foi reconstruída a 6 km do local
anterior. Escavações na cidade antiga permitiram diversas descobertas arqueológicas, tais como monumentos,
imagens e ruínas de casas, templos e palácios.

A IGREJA EM CORINTO
A igreja em Corinto foi fundada pelo apóstolo Paulo durante sua 2a viagem missionária, entre os anos 50 e 52 d.C.
Ali, Paulo permaneceu durante dezoito meses (At.18.1-8). A igreja era composta por judeus e gentios. Entre seus
membros havia ricos e pobres, inclusive escravos.

XI - A PRIMEIRA EPÍSTOLA DE PAULO AOS CORÍNTIOS

Autor: Paulo (1.1)


Escritor: Sóstenes (1.1)
Data: 56 d.C.
Local: Éfeso (16.8)
Texto chave: 5.7
Tema: o comportamento do cristão.
Classificação: eclesiologia (Estudos referentes à igreja).

Principais motivos da carta


Nessa epístola, Paulo não expõe os fundamentos do evangelho, como fez na carta aos Romanos. Afinal, ele já
estivera doutrinando os coríntios pessoalmente durante um ano e meio. Paulo escreveu àquela igreja depois de
receber uma carta com perguntas dos coríntios (I Cor. 7.1; 8.1-13) e a visita de pessoas que vieram trazendo más
notícias (1.11; 16.17). Os problemas dos coríntios eram muitos. Em destaque estavam a divisão e a imoralidade.
Divisão na igreja
Logo que Paulo saiu de Corinto, após ter fundado a igreja, Apolo chegou e deu prosseguimento ao trabalho
(At.18.24-28). Como disse o apóstolo: "Eu plantei, Apolo regou.." (I Cor.3.6). Sua obra foi importante e digna de
reconhecimento. Ele era homem eloqüente e conseguiu conquistar a simpatia de muitos coríntios. Ao que parece,
os irmãos ficaram impressionados com a pessoa de Apolo e começaram a fazer comparações com Paulo, que talvez
não falasse tão bem. (I Cor.2.1-5; II Cor. 10.10). Muitos chegaram a desprezar o apóstolo Paulo, questionando sua
autoridade e seu ministério. (I Cor.1.11-14). Formaram-se então partidos dentro da igreja: os de Paulo, os de Apolo,
os de Cefas (Pedro em Aramaico) e os de Cristo (I Cor.1.12). Não sabemos se Pedro esteve pessoalmente em
Corinto. Pode ser que sim. De qualquer forma, é mais provável que o nome de Pedro tenha sido levado por judeus
cristãos que vieram de Jerusalém. Talvez esse grupo corresponda aos judaizantes que tantos problemas criaram
para Paulo.
O fato de alguns se intitularem "de Cristo" pode ter sentido positivo ou negativo. Isso poderia significar uma
consagração maior, uma rejeição ao partidarismo, mas pode também indicar independência, rejeição a todo tipo de
liderança e uma manifestação "orgulho espiritual". Conquanto não possamos tirar conclusões sobre isso na primeira
epístola, o texto de II Cor. 10.7 parece mostrar que aqueles que se diziam "de Cristo" eram os mais problemáticos.
Influências da cidade
Como vimos, a cidade de Corinto estava dominada pela idolatria, pela imoralidade e pela corrupção generalizada.
Tais fatores estavam "batendo à porta da igreja". Esta situação não é diferente nos nossos dias, quando o
"modernismo" e o "mundanismo" estão querendo entrar no nosso meio. Não podemos simplesmente nos fechar
para tudo o que nos rodeia. Nesse caso, teríamos que "sair do mundo". Contudo, precisamos discernir o que é
aceitável e o que não é. Muitas influências podem até ser positivas. O que não se pode admitir é a entrada do
pecado na igreja. Por exemplo, se usamos instrumentos musicais que foram inventados por ímpios, isso não é
problema, mas se trouxermos a sensualidade mundana para a igreja estaremos recebendo o lixo do mundo. Em
Corinto, as influências da cidade estavam fazendo apodrecer a igreja. Os costumes pagãos estavam influenciando
até mesmo a (des)organização dos cultos.
A carnalidade dos cristãos coríntios
A influência externa só produz resultado quando encontra receptividade interna. A carnalidade daqueles cristãos
era a porta aberta para os males externos. Assim, surgiam diversos problemas na vida da igreja. No capítulo 2,
Paulo fala sobre o "homem natural" (v.14) e o "homem espiritual" (v.15). O homem natural é o ímpio. O espiritual
é o cristão controlado pelo Espírito Santo. No capítulo 3, verso 1, o autor se refere ao "homem carnal". Carnalidade
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é o modo de vida de acordo com os desejos descontrolados da natureza pecaminosa. O homem carnal é o crente
sem o controle do Espírito Santo. Sua vida se torna semelhante à do homem natural, onde o domínio do pecado é
visto com naturalidade.
Especificando as influências
Na seqüência, procuraremos expor o "pano de fundo" dos problemas da igreja de Corinto. Vários elementos
estavam contribuindo para aquela situação de caos. A epístola apresenta o esforço de Paulo para colocar as coisas
em seus devidos lugares. Muitas delas deveriam ser colocadas para fora da igreja.
Religião e imoralidade (I Cor.5.1; 6.15-18; 7.2)
A cultura de Corinto misturava religião e imoralidade. Além disso, a vida passada (6.9-11) de muitos daqueles
irmãos constituía um ponto fraco, motivo pelo qual alguns (ou muitos?) se deixaram levar pelos pecados sexuais.
Paulo deixa bem claro que essa mistura não poderia existir dentro da igreja. O padrão de religiosidade da cidade
não servia para os cristãos. O caso mais grave está relatado no capítulo 5: um homem da igreja havia cometido
incesto com a sua madrasta. O apóstolo aconselhou que o mesmo fosse expulso da igreja. Em casos assim, muitos
poderiam apelar para a tolerância, o amor, etc. Contudo, a impunidade seria um forte incentivo para que outros se
deixassem levar por pecados semelhantes. A exclusão precisava ser feita. Posteriormente, o irmão poderia ser re-
admitido na congregação, como parece ter ocorrido (II Cor.2).
A imoralidade de Corinto acabava por desvalorizar o casamento. Por isso, Paulo lhes dá diversas orientações no
sentido de que o casamento fosse visto como uma instituição divina. Embora o apóstolo afirme que é melhor estar
solteiro para servir a Deus, ele também deixa claro seu conselho no sentido de que os casados não se separem. O
casamento é colocado como um importante antídoto contra a imoralidade.
O problema sexual deturpava também o conceito de amor. Afrodite era considerada a deusa do amor e este possuía
uma conotação principalmente sexual. Desse contexto grego vem a palavra "erotismo", que é derivada do nome
"Eros", um deus da mitologia. Paulo parece estar preocupado com essa questão quando dedica o capítulo 13 ao
amor. Ele quer formar um conceito correto a respeito do amor, mostrando o que ele é e o que ele não é.
Religião e ordem no culto (I Cor.14.23,26-35)
A desordem pagã e a ordem cristã.
Sabendo que o culto a Afrodite era uma orgia, deduzimos que ali não se encontravam ideais de reverência, ordem,
decência e organização. Os cultos da igreja, embora não incluíssem práticas sexuais, estavam bastante tumultuados.
Paulo escreveu então, procurando estabelecer princípios que pudessem regulamentar as reuniões da igreja. Por isso
ele diz para que se evite o falar em línguas sem interpretação. E quando houver, que não se manifestem mais do
que três profetas. Aconselha que as mulheres fiquem caladas durante o culto e que guardem as perguntas para seus
maridos em casa. Entendemos que Paulo não pretendia criar uma "camisa de força" para nós, como se estivesse
ditando um conjunto de "leis eclesiásticas". Tais orientações foram assim radicais pois a situação dos coríntios era
grave. De tudo isso, precisamos guardar os princípios de ordem, decência, reverência e que só se faça no culto
aquilo que puder promover a edificação da igreja.
Religião e comportamento feminino
Por quê será que Paulo foi tão rigoroso em relação às mulheres cristãs? Lembremo-nos de que as mulheres
ocupavam lugar de proeminência na religião pagã de Corinto. A principal divindade era uma deusa. As mulheres
oficiavam os cultos a Afrodite. Eram 1000 sacerdotisas que se prostituíam no templo. Além disso, as prostitutas
proliferavam-se pela cidade. Comentaristas nos informam que, quando uma mulher usava o véu, isso significava
que ela estava submissa a um homem, quer seja seu marido, seu pai ou um parente responsável. Quando se via uma
mulher sem véu e com o cabelo tosquiado ou mesmo raspado, já se deduzia que a mesma estava totalmente
disponível. Essa era a maneira como as prostitutas eram identificadas. Sendo assim, as mulheres cristãs precisavam
agir com modéstia, precisavam usar o véu e manter seus cabelos compridos. Nos cultos não lhes seria dado lugar de
destaque ou liderança. Não se poderia deixar que o estilo pagão de culto influenciasse a igreja. O uso do véu era
importante naquele contexto cultural. Deixar de usá-lo naqueles dias seria motivo de mal testemunho ou escândalo.
Então, era prudente que as mulheres cristãs usassem o véu. Podemos comparar isto ao uso da aliança hoje como
sinal de compromisso matrimonial. Se o homem casado ou a mulher casada deixam de usar aliança, não estarão
desobedecendo a um mandamento bíblico específico mas estarão levantando suspeitas e maus juízos, o que não é
edificante para o cristão nem para o evangelho. Reforça-se então a necessidade que temos de extrair os princípios
que tais passagens nos trazem e não sua aplicação literal. Paulo está ensinando o uso do bom senso em relação aos
costumes culturais e também está orientando sobre a autoridade do homem sobre a esposa.
Religião e alimentação (I Cor.8.10; 10.27).

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Assim como ocorria no judaísmo, os sacrifícios de animais eram comuns em diversas religiões. Parte do animal era
queimado sobre o altar. Outra parte era servida aos ofertantes, sacerdotes e convidados. Eram, portanto, freqüentes
as refeições nos templos pagãos. Desta influência surgiram dois problemas para a igreja:
1 – Os cristãos realizavam refeições na igreja em ambiente tumultuado e chamavam isso de ceia do Senhor. Os
ricos levavam grande quantidade de comida e bebida para a igreja. Chegavam até a ficar embriagados (I Cor.11.20-
22). Enquanto isso, os irmãos pobres muitas vezes não tinham o que levar. Isso se tornava então uma situação
constrangedora e humilhante. Por isso, Paulo perguntou: "Não tendes, porventura, casas onde comer e beber?" As
reuniões da igreja não podiam reproduzir as refeições dos templos pagãos. Então, o apóstolo orienta como deve ser
a ceia do Senhor: com reverência, ordem e santidade (I Cor.11.23-34).
2 – Outro problema é que as refeições nos templos pagãos eram acontecimentos sociais e, eventualmente, os
cristãos poderiam ser convidados para participar. Estariam então diante de um alimento sacrificado aos ídolos.
Paulo diz que, já que o ídolo é nada, é uma ilusão, então a carne sacrificada é como outra carne qualquer. Ali não
existe nenhuma maldição nem contaminação. Porém, se um cristão, que antes adorava naquele templo pagão, vê
um irmão comendo ali a carne do sacrifício, ele pode se sentir tentado a voltar à sua prática antiga. Cria-se então
uma situação de tropeço e confusão. Se a participação em tais refeições pode se tornar motivo de escândalo, então é
melhor evitá-las (I Cor. 8). Ele diz também que o cristão não pode participar da mesa do Senhor (ceia) e da mesa
dos demônios (refeições pagãs). Muitas vezes, a carne desses animais sacrificados ia parar até nos mercados. Sobre
isso, Paulo diz que o cristão deveria comprar sem preocupação (10.25). Não deveria nem perguntar sobre a origem
da carne. Da mesma forma, se o cristão fosse almoçar na casa de um ímpio, deveria comer de tudo sem perguntar
(10.27). Entretanto, se o anfitrião dissesse que aquela carne era de um sacrifício aos ídolos, o cristão deveria
recusá-la, não por causa do ídolo ou por causa do animal, mas porque o comer poderia ser interpretado como
participação na idolatria ou, no mínimo, aprovação (10.28).
Religião e Filosofia
Se, naquele tempo, a filosofia grega era influente em todo o mundo, quanto mais em Corinto, que estava na Grécia.
A filosofia clássica se caracteriza pela interpretação humana da realidade. Tal pensamento formou e ainda forma
muitos conceitos que são geralmente aceitos como verdade. As palavras de Paulo nos fazem entender que os
coríntios possuíam conceitos distorcidos sobre o amor, a liberdade e a sabedoria. Muitas vezes, a filosofia é
utilizada para montar justificativas para o pecado.
Os gregos eram orgulhosos por seu conhecimento filosófico. O apóstolo se esmera por mostrar que o entendimento
humano é loucura. Ele procura mostrar o verdadeiro sentido do amor, da liberdade, da sabedoria, etc.. No texto que
vai de 1.18 a 2.16, Paulo confronta a sabedoria humana com a sabedoria divina. Estava em alta o pensamento
gnóstico, o qual supervalorizava o conhecimento, associando-o à salvação humana. A ciência tomava ares de
virtude espiritual. Além de enfatizar a sabedoria divina contra a sabedoria humana, Paulo também afirma: "A
ciência incha, mas o amor edifica" (I Cor.8.1). A matéria era vista pelos gnósticos como maligna. Daí surgem
várias heresias:
Se a matéria é má, o casamento também. Paulo combate essa idéia em I Cor. 7.5.
A ressurreição do corpo era vista como "materialista". Por isso Paulo expõe e defende a doutrina da ressurreição no
capítulo 15.
Enquanto que alguns gnósticos, diante da suposta malignidade da matéria, optavam pelo ascetismo, ou seja, pela
negação dos desejos sexuais e a total abstinência, outros, combinando gnosticismo e cristianismo, julgavam-se
protegidos contra todos os males e, assim, podiam, supostamente, se entregar aos desejos sem restrições.
Conhecimento, liberdade e amor eram elementos mal interpretados, mal colocados e mal valorizados em Corinto.
Isso veio a causar uma série de problemas na igreja. Alguns julgavam que a liberdade cristã lhes dava direito de
fazer tudo, quer seja a participação nas refeições dos templos pagãos ou mesmo a união carnal com as meretrizes.
Paulo se posiciona contra todas essas variações da influência filosófica e da falsa interpretação do cristianismo.
Assim, ele condena a libertinagem sexual, ao mesmo tempo em que defende a legitimidade do sexo dentro do
matrimônio (I Cor. 6.15-16 e I Cor.7). A liberdade cristã é, de fato, ampla. Contudo, o amor é o seu parâmetro
maior. Assim, se, no uso da nossa liberdade, ultrapassamos os limites do amor a Deus e ao próximo, saímos da
liberdade cristã e entramos nos domínios do pecado. Por isso, Paulo diz: "Todas as coisas me são lícitas, mas nem
todas me convém." (I Cor.10.23). "Não sabeis vós que os vossos corpos são membros de Cristo? Tomarei, pois, os
membros de Cristo e fá-los-ei membros de meretriz? Não, por certo" (I Cor.6.15). Ao usar a expressão "não
sabeis", fica evidente a questão do conhecimento. Os coríntios sabiam muita coisa, mas era urgente que soubessem
sob o ponto de vista de Deus, conforme Paulo estava procurando expor.
Com relação aos alimentos sacrificados aos ídolos, Paulo deixa claro que a liberdade cristã, em princípio, nos
permitiria participar deles, uma vez que o ídolo é uma ilusão. Entretanto, vêm novamente à tona a questão do amor.
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Se tal exercício extremo da liberdade for causar escândalo ao próximo, ou ao irmão, então o amor não estaria
operando. "Ninguém busque o proveito próprio, antes cada um o que é de outrem." (I Cor.10.24).
A solução
Paulo lembra aos coríntios que Jesus é o fundamento de suas vidas. Entretanto, sobre esse fundamento, estava
sendo utilizado material estranho para a construção. Entra aí a questão da responsabilidade dos líderes eclesiásticos.
Não sabemos quem liderava a igreja em Corinto. Ao que tudo indica, faltava ali uma liderança forte que
conseguisse conduzir a igreja. Vemos que a mesma estava dividida em grupos. Certamente, havia líderes, mas estes
não estavam conseguindo uma coesão entre si e entre os membros da igreja. Paulo precisou enviar Timóteo (I
Cor.4.17; 16.10). Ele insistiu para que Apolo fosse até lá, mas isso não foi possível (I Cor.16.12).
O apóstolo chama a atenção da igreja para o seu fundamento: Cristo (I Cor.3.11). Ele é também a solução para
todas aquelas questões e problemas. A edificação precisa ser coerente com o alicerce. O nosso desenvolvimento na
fé precisa utilizar doutrinas e conceitos coerentes com a pessoa e o ensino de Cristo. Ele apresenta Jesus como a
sabedoria de Deus, justiça, santificação e redenção (1.30). Esses elementos precisam estar combinados na vida do
cristão: sabedoria, justiça, santificação e redenção. A sabedoria humana não produz a justiça divina na vida do
homem. O conhecimento humano não se vincula à santificação e, muitas vezes, abona o pecado. O resultado de
tudo isso jamais será redenção, mas sim perdição. A filosofia como material de edificação da igreja não lhe daria
firmeza. Pelo contrário, causaria sua queda e ruína.
Paulo apela para a lembrança da história de Israel no capítulo 10.1-13. Seu objetivo era mostrar que, embora aquele
povo tenha saído do Egito sob a poderosa manifestação do poder de Deus, pereceu depois no deserto pelo fato de
ter se deixado levar por tentações diversas. Fica então traçado um paralelo dessa narrativa com a experiência dos
coríntios, aos quais o apóstolo adverte contra os riscos de fracasso na fé (10.12).
Macro divisão da carta
- Purificação da igreja (1.1 a 11.34);
- Orientação doutrinária (12.1 a 16.24).

ESBOÇO (I COR.)
I – Saudação – 1.1-9
II – Necessidade de purificação da igreja – 1.10-31.
Divisões.
Culto ao homem.
Glória pela sabedoria humana.
III – Exemplo de Paulo – 2.1-16.
Sabedoria humana x sabedoria divina.
IV – Divisão: imaturidade e carnalidade – 3.1-4.
V – Os ministros na igreja – 3.5 a 4.21.
Quem são? 3.5
Como agricultores – 3.6-8.
Colaboradores – 3.10.
Edificadores – 3.10.
Despenseiros – 4.1.
Ministros (servos) – 4.1.
Sofredores! – 4.9-13 (Paulo se refere aos ministros como: últimos, condenados, espetáculo, loucos, fracos,
desprezíveis. Esta seria a visão do mundo a respeito deles).
Exemplo para a igreja – 4.16.
VI – O dever de purificar a igreja – 5.1 a 6.20.
Da imoralidade – 5.1-13; 6.9-20.
Dos litígios entre irmãos – 6.1-8.
VII – O casamento e a vida cristã – 7.1-40.
VIII – A liberdade e o amor (liberdade com responsabilidade) – 8.1-13.
IX – O exemplo de renúncia de Paulo – 9.1-27.
X – Exemplos da história de Israel. Riscos para a igreja. 10.1-15.
XI – A mesa do Senhor e a mesa dos demônios. 10.16-21.
A idolatria e as relações sociais.
XII – A liberdade e o amor – 10.23-33.
Os alimentos sacrificados aos ídolos.
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XIII – Observação dos costumes sociais – 11.1-16.


O risco dos escândalos (obs.: 10.32).
XIV – A ceia do Senhor – 11.17-34.
XV – Os dons espirituais e o corpo de Cristo – 12.1-31.
XVI – A supremacia do amor – 13.1-13.
XVII – O dom de línguas, as profecias e a ordem no culto – 14.1-40.
XVIII – A doutrina da ressurreição – 15.1-58.
XIX – Instruções finais. As ofertas para Jerusalém. Saudações. – 16.1-24.

XII - A SEGUNDA EPÍSTOLA DE PAULO AOS CORÍNTIOS

HISTÓRICO ENTRE AS EPÍSTOLAS AOS CORÍNTIOS.


Ao escrever a primeira epístola, Paulo se encontrava em Éfeso. Ali ocorreu grande tumulto porque os comerciantes
de imagens estavam perdendo seus lucros após as pregações de Paulo. Diante da perseguição, o apóstolo vai para
Trôade. Por esse tempo, ele se sentia angustiado pela expectativa em relação à igreja de Corinto. Eram "combates
por fora e temores por dentro". Paulo aguardava a chegada de Tito. De Trôade, Paulo vai à Macedônia. Pouco
depois, Tito chega com notícias de Corinto. (At.19.30 a 20.1 II Cor.2.12-13; 7.5-10,13).
De acordo com as informações de Tito, a epístola enviada recentemente, havia provocado tristeza e arrependimento
em alguns e rebeldia em outros. O pecador de I Cor. 5 estava arrependido e acerca dele Paulo dá instruções em II
Cor.2 para que a igreja o receba e o perdoe.
Havia falsos apóstolos agindo entre os coríntios (II Cor.11.3,13; 12.11), os quais procuravam desmoralizar a pessoa
e a mensagem de Paulo (I Cor.1.17; 10.9-10; 11.1,6,16).

A HIPÓTESE DA CARTA DESAPARECIDA


Normalmente, se considera que as reações relatadas por Tito se refiram à epístola que conhecemos como I
Coríntios. Entretanto, existe a hipótese de que, após o envio da primeira epístola, Paulo tenha visitado Corinto.
Nessa oportunidade, ele teria sido gravemente ofendido por alguém (II Cor.2.5-11; 7.12). Logo depois, teria
enviado uma epístola muito emocionada, a qual não teria chegado ao nosso conhecimento ou então seria
correspondente aos capítulos 10 a 13 de II Coríntios. De acordo com essa hipótese, as reações mencionadas em II
Cor.7.8-12 seriam referentes a essa suposta epístola e o homem de II Cor.2.5 seria aquele que ofendeu
pessoalmente o apóstolo. Contudo, essa suposição não foi comprovada.

INFORMAÇÕES GERAIS
Autor: Paulo (e Timóteo)
Data: 57 d.C.
Local: Macedônia
Classificação: eclesiologia
Tema: Defesa do apostolado de Paulo
Texto chave: 3.1; 5.12; 6.3; 7.2; 10.2-3; 11.5-6; 12.11; 13.3.

CARACTERÍSTICAS DA EPÍSTOLA
Bastante pessoal e emocionada. Mistura amor, censura e indignação. Fala a dois grupos na igreja: os obedientes e
os rebeldes.

OS OBEDIENTES E OS REBELDES.
No estudo da primeira epístola, vimos que a igreja de Corinto estava dividida em partidos, de acordo com as
preferências individuais. Na segunda epístola vemos a igreja dividida em dois grupos: os obedientes e os rebeldes.
Afinal, esta é diferença que importa. É sob esse ponto de vista que Deus nos observa. Seja qual for a nossa
preferência política ou pessoal, precisamos examinar a nós mesmos afim de sabermos a qual grupo pertencemos no
que diz respeito à obediência.

OS ATAQUES AO MINISTÉRIO DE PAULO


Como acontecia em vários lugares, muitos judeus convertidos ao cristianismo queriam impor a lei mosaica aos
cristãos gentios. Tais judeus são, normalmente, chamados de "judaizantes" devido ao seu esforço por judaizar o
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cristianismo. Estes, fizeram diversos ataques ao ministério de Paulo. Os ataques aos ministros de Deus sempre
ocorrem. O ataque é normal. As perseguições fazem parte da vida cristã. Contudo, é preciso ver se as acusações
contra nós são justas ou não. Como disse Pedro, nenhum de nós deve padecer como transgressor, mas como cristão
(I Pd.4.15-16).
Como não havia nenhum motivo concreto com que pudessem acusar Paulo, os judaizantes apelavam para quaisquer
argumentos possíveis. Até mesmo uma mudança dos planos de viagens de Paulo foi usada por eles para o acusarem
de leviandade, ou imprudência (II Cor.1.17).
Outro ponto muito explorado foi a expectativa grega em relação aos líderes. Ao que tudo indica, Paulo não
correspondia ao padrão grego . As credenciais gregas de um grande líder seriam, entre outras, uma ótima aparência
e admirável eloqüência. Apolo estaria mais próximo desse paradigma (At.18.24). Talvez isso tenha contribuído
para que muitos coríntios tenham se unido em torno do seu nome, formando um partido na igreja (I Cor.1.12).
Enquanto isso, Paulo era alvejado pelas infâmias dos falsos apóstolos que pesavam o seu ministério com base em
valores humanos e filosóficos. Tais argumentos não eram associados ao judaísmo mas bem poderiam servir como
excelentes armas circunstanciais para os ataques dos judaizantes contra o ministério de Paulo. Além de derrubar do
pedestal as credenciais da aparência e da eloqüência, Paulo atinge frontalmente o legalismo dos judaizantes ao se
referir à lei como "ministério da morte" (3.7) e "ministério da condenação" (3.9). Desse modo, Paulo não
ridiculariza a lei, mas coloca-a no seu devido lugar em relação à obra de Cristo.

A DEFESA DO MINISTÉRIO DE PAULO


Assumindo o papel de seu próprio advogado, Paulo se lança em seu discurso de defesa pessoal. No embasamento
de suas colocações, ele trata da expectativa e da perspectiva da igreja em relação aos ministros de Deus. A
expectativa se refere àquele padrão que temos em mente em relação aos requisitos que um "homem de Deus" deve
preencher. Será que tais requisitos correspondem aos padrões divinos?
A perspectiva é a visão que temos acerca dos líderes que conhecemos. Esta visão pode até não corresponder à
realidade, mas estar alterada por conceitos que formamos em nossa mente a respeito da pessoa. A perspectiva pode
estar errada. Isso acontece quando temos uma idéia a respeito do líder que difere de sua própria realidade ou do
padrão bíblico. Esta abordagem se encontra também na primeira epístola. Os cristãos formavam partidos em torno
dos líderes. Então, Paulo lhes escreve dizendo que os líderes deviam ser vistos de maneira mais simples, embora
importantes quanto à sua missão. Então, em I Coríntios, o apóstolo questiona: "Quem é Paulo? Quem é Apolo?" (I
Cor.3.11). Na seqüência, utilizando figuras de linguagem, ele apresenta os líderes como:
- Agricultores – aqueles que semeiam, plantam, cuidam e colhem – 3.6-8.
- Colaboradores – aqueles que ajudam - 3.10.
- Edificadores – aqueles que constroem - 3.10.
- Despenseiros – aqueles que alimentam no tempo certo - 4.1.
- Ministros (= servos) – aqueles que servem - 4.1.
- Sofredores! – 4.9-13 – (Paulo se refere aos ministros como: últimos, condenados, espetáculo, loucos, fracos,
desprezíveis. Esta seria a visão do mundo a respeito deles).
- Exemplo para a igreja – 4.16.
Tipos de perspectiva em relação aos ministros de Deus.
Vasos de ouro ou de barro?
A perspectiva é a visão que se tem de alguma coisa. Isso varia de acordo com a posição em que o observador se
encontra em relação ao objeto observado. Essa posição pode ser inferior, superior, distante, longínqua, etc. Essas
variações vão alterar, não o objeto, mas a visão que se tem dele. Assim também, a perspectiva a respeito dos
ministros varia e, algumas vezes, torna-se distorcida por posições extremadas.
Erro 1 – Valorização exagerada
Alguns vêem os ministros como vasos de ouro. Assim, o valor não estaria no conteúdo mas no recipiente. Já não
interessa mais o que está dentro do vaso, nem se existe ali algum conteúdo. O valor está no vaso em si. Vistos
como vasos de ouro, os ministros são considerados inquebráveis, infalíveis. Isso pode conduzir ao enriquecimento
material do líder e a idolatria da sua pessoa. Parece que esta era a visão dos coríntios ao formarem partidos em
torno dos nomes dos apóstolos. A história mostrou o agravamento desse problema, ao ponto de hoje haver quem se
refira aos apóstolos como santos, como ídolos, no sentido mais grave do termo. O próprio apóstolo Paulo recebeu o
título de "São Paulo" e inúmeras são as homenagens póstumas à sua pessoa.
Erro 2 – Desvalorização e desprezo

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O outro extremo é a consideração do ministro como um vaso de material desprezível, vazio e inútil. Essa
perspectiva traz como conseqüência a falta de submissão, falta de reconhecimento e até a falta de sustento material
para o ministro.
A perspectiva correta – ponto de equilíbrio
"Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós." (II
Cor.4.7). Os ministros devem ser vistos como vasos de barro contendo um tesouro precioso, que é Cristo. O servo
de Deus não deve ser idolatrado, nem desprezado, mas amado. Sendo de barro, o vaso é quebrável. O servo de
Deus não é infalível. O vaso é quebrável mas não pode estar quebrado. Embora sejamos sujeitos ao erro, não
podemos nos dar ao direito de cometer determinados erros. Evidentemente, precisamos combater todo tipo de erro,
mas alguns são mais destrutivos do que outros, principalmente para a reputação o líder. O vaso quebrado não tem
utilidade. O vaso de barro é frágil e precisa ser tratado com cuidado. O vaso não pode cair. Como disse Paulo,
"aquele que pensa estar de pé, cuide para que não caia." ( I Cor.10.12). Embora seja de barro, esse vaso contém um
grande tesouro. O maior valor está no conteúdo e não no vaso. Contudo, o vaso se reveste de grande importância
em função do seu conteúdo e da sua utilidade.
O mais importante é a mensagem, a notícia, e não o mensageiro. Porém, o mensageiro deve ter credibilidade para
que a mensagem não seja rejeitada ou desacreditada.
Ao falar da fragilidade do vaso, Paulo menciona a mortalidade humana. O corpo humano é um vaso de barro. É
corruptível (II Cor.4.16). É mortal (5.4). Vai se desfazer (5.1). Sua abordagem se concentra então sobre a questão
da morte física. Isso precisava ser enfatizado para combater a supervalorização grega em relação à aparência. (II
Cor.4.16 a 5.12; 10.7). Seu enfoque sobre a fragilidade do vaso inclui também aspectos circunstanciais em
confronto com a condição interna do servo de Deus (II Cor.4.8-11):
Por fora Por dentro
Atribulados não angustiados
Perplexos não desanimados
Perseguidos não desamparados
Abatidos não destruídos
Morte vida

Paulo não deixa o assunto terminar numa atmosfera negativa. Ele diz que a vida de Cristo vai se manifestar em
nossa carne mortal (II Cor.4.11). A manifestação do poder de Deus supera os nossos limites e isso alcançará seu
maior significado na ressurreição dos justos, quando "o mortal será absorvido pela vida" (II Cor.5.4).
Através de suas colocações, Paulo apresentou a fragilidade das credenciais aparentes que os coríntios esperavam
ver nos líderes cristãos (5.16).

CARACTERÍSTICAS DO MINISTÉRIO DE PAULO


Sem lucro pessoal. II Cor.11.9.
Exercido com grande esforço e sacrifício (6.3-10; 11.23-29).
Consolador – 1.4-7.
Sofredor – 1.5-9; 4.8-12; 5.4; 6.4-10; 7.5; 11.24-28.
Santo, simples, sincero, verdadeiro – 1.12; 2.17; 4.2; 7.2.
Constante – 1.17-19; 4.1,16.
Interessado pelo bem da igreja, zeloso – 2.3-4; 7.7-8; 11.2-3,7; 12.20-21.
Triunfante – 2.14; 4.8-9; 12.10.
Abnegado (desprendido) – 4.5,11; 5.13; 11.7,9.
Motivado pelo amor de Cristo – 4.5,11; 5.14.
Espiritual – 4.18; 5.16; 10.4.
Persuasivo – 5.11,20; 6.1; 10.1-2.
Reconciliador – 5.19-21.
Produtivo – 12.12.
Com autoridade – 2.9; 13.2; 10.1-11.
Capacitado por Deus – 3.5.
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CREDENCIAIS DO MINISTÉRIO DE PAULO


Para combater os esforços daqueles que procuravam desmoralizar o ministério de Paulo, ele apresentava suas
credenciais. Credencial é "aquilo que atribui crédito". O que podemos apresentar às pessoas para que creiam na
legitimidade do nosso ministério? Um diploma? Terno e gravata? Um documento de identidade?
As credenciais esperadas pelos coríntios eram apenas boa aparência e eloqüência. Tais fatores não são negativos
em si mesmos. São até desejáveis. Porém, podem constituir meios facilitadores do engano. Portanto, a beleza e a
boa comunicação não servem como parâmetros para se julgar um servo de Deus. Jesus disse: "Acautelai-vos,
porém, dos falsos profetas, que vêm até vós disfarçados em ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores.
Pelos seus frutos os conhecereis..." (Mt.7.15-16). Alguns queriam também que Paulo mostrasse cartas de
apresentação (II Cor.3.1), talvez emitidas pelos apóstolos de Jerusalém.
Paulo não tinha tais cartas, nem beleza, nem eloqüência. Então, quais seriam suas credenciais?
As credenciais do servo de Deus são, primeiramente, espirituais. É o selo do Espírito Santo, a vocação e aprovação
divina, os dons para o ministério, etc. Contudo, isso só serve como testemunho no mundo espiritual. Diante dos
homens, precisamos apresentar credenciais visíveis. Nessa hora, a fé não é suficiente. É necessário que se
apresentem obras. Pedro disse ao aleijado: "Olha para nós!" (At.3.4). As pessoas estão nos olhando e precisam ver
alguma coisa para que creiam. Precisam ver o nosso testemunho.
Isso nos leva a um cuidado para com a nossa vida, afim de que o nosso ministério não seja censurado (II Cor.6.3).
Isso pode levar até à renúncia de coisas legítimas pelo bem da obra de Deus (II Cor.11.9). Por incrível que pareça,
o ministério do servo de Deus precisa de aprovação humana (Rm.14.18). Isso não significa que todos vão aprová-
lo. Contudo, se todos o reprovarem, ele será inútil, pois não alcançará ninguém. A relação do ministro com o poder,
o dinheiro e o sexo são pontos em destaque dentro do testemunho e das credenciais do ministério.
Credenciais do apostolado de Paulo
Autenticado pelo Senhor – II Cor.1.1,21,22; 3.5,6; 4.6.
Pelas obras – II Cor. 12.12.
Pelos perigos e sofrimentos – II Cor.6.4-10; 11.23-27.
Pelas revelações divinas – II Cor.12.1-5.
Paulo se admira de que os coríntios estivessem se deixando levar pela idéia de exigir-lhe credenciais. Eles próprios
eram frutos do trabalho de Paulo. "Vós sois a nossa carta, escrita em nossos corações", disse o apóstolo (II
Cor.3.2). Eles seriam ainda a glória de seu ministério diante de Deus (II Cor.1.14).
Entre suas credenciais, Paulo dá destaque ao sofrimento. Isso não é o tipo de credencial que os gregos esperavam.
Eles devem ter ficado decepcionados. Aliás, isso deve decepcionar a muitos que têm uma expectativa colorida a
respeito do evangelho, aguardando apenas benefícios sem tribulações. Pelo cristianismo poderemos sofrer muitas
perseguições e possíveis privações (II Cor.11.27). Isso não combina com o "evangelho da prosperidade". Paulo e
sua experiência também não combinam com um discurso que promete riqueza e ausência de sofrimento. Jesus não
prometeu isso (João 16.33).
Paulo até se gabava de ter sofrido mais do que outros que se diziam servos de Deus (11.23-28; 12.10). Aquele que
nada sofre, que nenhum risco corre, que nenhum fruto produz, poderá ter o seu ministério desacreditado até por si
mesmo.

GLORIANDO NA TRIBULAÇÃO E NAS FRAQUEZAS


Paulo nos surpreende quando se gloria na tribulação (II Cor.11.30). Isso nos parece estranho, mas tal atitude se dá
porque Paulo tem em vista o resultado de um processo, e também considera uma honra sofrer pelo nome de Jesus.
Como escreveu aos Romanos, "a tribulação produz perseverança" (Rom.5.3). A tribulação não é inútil. Ela produz
alguma coisa. Nisso está o seu valor. Assim como uma cicatriz é um tecido mais resistente do que a pele normal, a
tribulação vai produzindo em nós maior resistência, de modo que nos tornamos cada vez mais capazes para
enfrentarmos diversas dificuldades futuras.
Gloriar-se nas fraquezas não significa gloriar-se no pecado, mas nas limitações e incapacidades próprias do ser
humano. Novamente, a proposição nos surpreende. Qual será o valor da fraqueza? É por causa das nossas fraquezas
que recebemos as manifestações do poder de Deus.
Desenvolvendo o tema, relacionamos então os seguintes elementos:

Fraqueza humana poder de Deus.


Problemas milagres

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Crises oportunidades
Desafios crescimento
Necessidades provisão.
Incapacidade capacidade (II Cor.3.5).

Paulo tinha um "espinho" na carne, o qual não foi tirado pelo Senhor. Isso talvez seja uma enfermidade nos olhos,
conforme dedução incerta de Gálatas 4.15. O certo é que Paulo tinha um problema que Deus não solucionou no
momento em que o apóstolo orou. Isso nos mostra que nem todos os nossos pedidos serão atendidos. Devemos nos
lembrar de que em tudo isso Deus tem um propósito.

ESBOÇO (II COR.)


I – Saudações – 1.1-2.
II – Tribulações antes da volta de Tito – 1.3-14.
III – Primeiro plano de visita. Defesa de Paulo. 1.15-24
IV – Mudança de planos. Arrependimento e perdão. – 2.1-11.
V – Credenciais do ministério – 2.12-17.
VI – Contrastes entre a velha e a nova aliança. – 3.1-18.
VII – A responsabilidade de Paulo.
Sua idoneidade e dependência de Cristo – 4.1-18.
VIII – A vitória sobre a morte – 5.1-9.
IX – O juízo e a urgência da mensagem de salvação.
O ministério da reconciliação – 5.10-21.
X – Os sofrimentos de Paulo e exortação à santidade. 6.1 a 7.1.
XI – Recomendações diversas. Os efeitos da primeira carta – 7.2-16.
XII – A coleta para os irmãos de Jerusalém – 8.1 a 9.15.
XIII – Defesa da autoridade apostólica de Paulo – 10.1-18.
XIV – Defesa diante dos judaizantes. Os falsos apóstolos.
Os sofrimentos de Paulo – 11.1-29.
XV – Os sofrimentos de Paulo. Suas revelações, sinais e receios – 11.30 a 12.18.
XVI – A próxima visita. Saudações – 12.19 a 13.13.

XIII - EPÍSTOLA DE PAULO AOS GÁLATAS

DATA – Entre 55 e 60
TEXTO CHAVE – 5.1
TEMA – A justificação pela fé sem as obras da lei.

ÁSIA MENOR
A Galácia era uma região da Ásia Menor. Para localizarmos melhor, vamos diferenciar Ásia de Ásia Menor. A
Ásia é um continente que inclui diversos países: Rússia, Índia, países do Oriente Médio, países do Extremo
Oriente, etc. A Ásia Menor, por sua vez, corresponde a território bem menor, que hoje é ocupado pela Turquia.

GALÁCIA
O nome Galácia é derivado de gaulês. Os gauleses eram originários da Gália (França hoje), que dominaram a
região centro-norte da Ásia Menor por volta do ano 300 a.C.. Em 189 a.C., esse território foi conquistado pelos
romanos. Em 25 a.C., Roma estabeleceu ali uma província que manteve o nome de Galácia. Contudo, seus limites
eram maiores que a região original. Assim, ao norte havia os gálatas étnicos. Ao sul havia outros grupos que faziam
parte da província mas que não tinham a mesma origem genealógica gaulesa. Por essas questões, quando o Novo
Testamento menciona os gálatas, existe dificuldade em se determinar se os autores se referem a todo o povo da
província ou apenas ao grupo étnico descendente dos gauleses. A qual grupo o apóstolo Paulo teria escrito?

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AS IGREJAS DA GALÁCIA
Enquanto que as epístolas aos coríntios eram destinadas a uma igreja específica, a carta aos gálatas destina-se a
várias igrejas, acerca das quais não temos muitas informações específicas. Sabemos que, entre tantas cidades
localizadas na província da Galácia, Paulo fundou igrejas em Antioquia da Psídia, Icônio, Listra e Derbe, durante
sua primeira viagem missionária (At.13-14).

MOTIVO DA CARTA
Os judeus estavam presentes em todo o Império Romano, principalmente nas cidades mais importantes. Muitos
deles se converteram ao cristianismo e, dentre os convertidos, havia aqueles que queriam impor a lei mosaica sobre
os cristãos gentios. São os já mencionados "judaizantes". Assim como os fariseus e saduceus perseguiram Jesus
durante o período mencionado pelos evangelhos, os judaizantes pareciam estar sempre acompanhando os passos de
Paulo afim de influenciar as igrejas por ele estabelecidas. Essa questão entre judaísmo e cristianismo percorre o
Novo Testamento, tornando-se até um elemento que testifica a favor da unicidade e autenticidade histórica dessas
escrituras.
Os judaizantes estavam também na Galácia, onde se tornaram forte ameaça contra a sã doutrina das igrejas.

ATAQUE DOS JUDAIZANTES CONTRA PAULO E O EVANGELHO


Aqueles judeus davam a entender que o evangelho estava incompleto. Para conseguirem uma influência maior
sobre as igrejas, eles procuravam minar a autoridade de Paulo. Para isso, atacavam a legitimidade do seu
apostolado, como tinham feito em Corinto. Pelas palavras de Paulo, deduzimos os argumentos de seus acusadores.
Eles não admitiam que Paulo pudesse ser apóstolo já que não era um dos 12 nem tinha andado com Jesus.

O EVANGELHO JUDAIZANTE
Os judaizantes chegavam às igrejas com o Velho Testamento "nas mãos". Isso se apresentava como um grande
impacto para os cristãos. O próprio Paulo ensinava a valorização das Sagradas Escrituras. Como responder a um
judeu que mostrava no Velho Testamento a obrigatoriedade da circuncisão e da obediência à lei? Além disso,
apresentavam Abraão como o modelo para os servos de Deus. Só a revelação e a experiência com Deus poderiam
vencer esse desafio. O conhecimento não seria suficiente.
Os judaizantes ensinavam que a salvação dependia também da lei, principalmente da circuncisão. Segundo eles,
para ser cristão, a pessoa precisava antes ser judeu (não por descendência mas por religião).

POR QUÊ NÃO GUARDAMOS A LEI?


1o – A lei de Moisés foi dada aos filhos de Israel (Êx.19,3,6). Nós, cristãos gentios, não somos filhos de Israel.
2o – Jesus cumpriu a lei cerimonial. Tal cumprimento significa não apenas sua obediência mas a satisfação das
exigências da lei cerimonial através da obra de Cristo.
Precisamos entender que os mandamentos da lei mosaica se dividem em vários tipos. Vamos, basicamente, dividi-
los em mandamentos morais, civis e cerimoniais.
Os mandamentos morais dizem respeito ao tratamento para com o próximo: Não matarás; Não adulterarás; Não
furtarás, etc. Tais ordenanças estão vinculadas à palavra amor.
Os mandamentos civis são aqueles que regulamentavam a vida social do israelita. São regras diversas que se
aplicam às relações da sociedade. Um bom exemplo é o regulamento da escravidão.
Os mandamentos cerimoniais são aqueles que se referem estritamente às questões religiosas. São as ordenanças que
descrevem os rituais judaicos.
A classificação de um mandamento dentro desses tipos nem sempre é fácil. Algumas vezes, uma lei pode pertencer
a dois desses grupos ao mesmo tempo, já que a questão religiosa está por trás de tudo. A sociedade israelita era
essencialmente religiosa. O Estado e o sacerdócio nem sempre se encontravam separados. Contudo, tal proposta de
classificação já serve para o nosso objetivo.
A lei moral se resume no amor a Deus e ao próximo (Gálatas 5.14). Os princípios morais permanecem válidos no
Novo Testamento. Hoje, não matamos o próximo, mas não por causa da lei de Moisés e sim por causa da lei de
Cristo (Gálatas 6.2), à qual os gálatas deviam obedecer. A lei de Cristo é a lei do amor a Deus e ao próximo.
As leis civis do povo de Israel não se aplicam a nós. Além dos motivos já expostos, nossas circunstâncias são
bastante diferentes e temos nossas próprias leis civis para observar. O cristão deve obedecer as leis estabelecidas
pelas autoridades humanas enquanto essas leis não estiverem ordenando transgressão da vontade de Deus
(Rm.13.1).

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As leis cerimoniais judaicas foram abolidas por Cristo na cruz. Por esse motivo, mesmo os judeus que se convertem
hoje ao cristianismo estão dispensados da lei cerimonial judaica. Por isso, não fazemos sacrifícios de animais, não
guardamos o sábado, não celebramos as festas judaicas, etc.
Se alguém quiser observar algum costume judaico, isso não constituirá problema (Rm.14.5), desde que a pessoa
não veja nisso uma condição para a salvação, porque, se assim for, a obra de Cristo estará sendo colocada em
segundo plano, como algo incompleto e insuficiente (Gálatas 5.4).
Além de tudo isso, é bom que citemos as palavras de Paulo: "..não estais debaixo da lei mas debaixo da graça."
(Rm.6.14) (Veja também Gálatas 3.24-25).

A RESPOSTA DE PAULO
Diante das alegações e acusações dos judaizantes, Paulo elabora sua resposta: a carta aos gálatas com amor e
censura. Sua epístola apresenta:
- Defesa do seu ministério. Nessa parte, a carta aos gálatas parece continuação de II Coríntios.
- Defesa do seu evangelho – sua origem e conteúdo.
Origem do evangelho de Paulo: revelação direta de Jesus Cristo. No início da epístola, após expor sua perplexidade
diante da inconstância dos gálatas, o autor relata suas viagens e seus poucos contatos com os apóstolos de
Jerusalém. Ele deixa claro que não recebeu o evangelho de homem algum, mas através de uma revelação direta do
Senhor Jesus. Tal colocação tinha o objetivo de demonstrar e defender sua autoridade apostólica.
Conteúdo do evangelho
A perniciosidade da influência judaica na Galácia estava no fato de atentar contra a essência do evangelho. Os
judeus queriam acrescentar a circuncisão como condição para a salvação. Se assim fosse, o cristianismo seria
apenas mais uma seita do judaísmo. Então, Paulo vem reforçar o ensino de que a salvação ocorre pela fé na
suficiência da obra de Cristo. Para se conhecer a suficiência é preciso que se entenda o significado. Em sua
exposição, Paulo toma Abraão como exemplo, assim como fez na epístola aos Romanos, afirmando que o patriarca
foi justificado pela fé e não por obediência à lei. Tal exemplo era de grande peso para o judeu que lesse a epístola.
Na seqüência, o apóstolo expõe diversos aspectos da obra de Cristo e do Espírito Santo na vida do salvo sem as
imposições da lei.

COMPARAÇÃO ENTRE CARACTERÍSTICAS E EFEITOS DA LEI E DA GRAÇA

LEI / MOISÉS GRAÇA / JESUS / CRUZ / EVANGELHO


Mostra o pecado Perdoa o pecado.
Traz maldição Leva a maldição
Traz prisão e morte Traz libertação e vida
Enfatiza a carne Enfatiza o espírito
Infância Maturidade
Conduz a Cristo Conduz ao Pai

ÊNFASE NA CARNE E ÊNFASE NO ESPÍRITO


A lei mosaica se concentrava em questões visíveis, embora não fosse omissa com relação ao espiritual. Os pecados
ali proibidos eram, principalmente, físicos. Assim também, a adoração era bastante prática. Seus preceitos
determinavam o local, a postura, a roupa, o tempo apropriado, etc. No Novo Testamento, Jesus vem transferir a
ênfase para o espiritual, embora não seja omisso em relação ao físico. Ao falar com a mulher samaritana, Jesus
observa que ela estava muito preocupada com os aspectos exteriores da adoração a Deus. Isso era característica da
ênfase do Velho Testamento. Jesus lhe disse: "A hora vem e agora é em que os verdadeiros adoradores adorarão ao
Pai em espírito e em verdade." (João 4.23). Vemos nisso a ênfase do Novo Testamento: o que é espiritual.
No sermão da montanha, Jesus cita a lei mosaica, dando-lhe uma ênfase espiritual, interior. As questões morais são
levadas para uma visão mais profunda. Jesus alcança a raiz do problema humano. Cortada a raiz, o fruto exterior
também seria eliminado.

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INFÂNCIA E MATURIDADE
A lei servia para regulamentar a vida dos servos de Deus num tempo em que pouco se conhecia a respeito do
Senhor. Ainda que não conheçamos muito sobre Deus, conhecemos bem mais do que as pessoas do Velho
Testamento. Aquele tempo primordial da revelação progressiva de Deus pode ser considerado como a infância do
povo de Deus. Algumas exigências que os pais fazem aos filhos quando estes são crianças já não se aplicam aos
mesmos filhos quando são adultos. Assim, a parte cerimonial da lei já não mais se aplica após a vinda, morte e
ressurreição de Cristo. A igreja representa um estágio de maturidade do povo de Deus. Os que hoje se convertem,
não precisam repetir toda a experiência de Israel no Egito, no deserto, no cativeiro, etc. Já recebemos todo o
resultado desse processo através da bíblia e da pessoa de Jesus. Os gentios são "os trabalhadores da última hora"
(Mt.20.1-16). Os judeus são representados pelos que trabalham desde o início do dia e ficam indignados que os que
chegam no fim do expediente não tenham passado por tantas horas de labor e estejam recebendo o pagamento
integral.

SALVAÇÃO E LIBERDADE CRISTÃ


Salvação é libertação. Quando falamos sobre a salvação, normalmente nos referimos ao livramento eterno da alma
e à vida eterna. Entretanto, a obra de Cristo tem também outros efeitos salvíficos. Ele nos salva do castigo, da lei,
do reino das trevas, e "de nós mesmos".
Livres do castigo – Tendo assumido a pena que sobre nós seria imposta, Jesus sofreu o castigo que merecíamos
pelo nosso pecado. Não devemos confundir castigo com disciplina, a qual, muitas vezes vem sobre nós como um
método que Deus usa para nos ensinar. Castigo é punição. Disciplina é correção e instrução. Também não devemos
confundir castigo com conseqüência do pecado. Deus nos livra do castigo, mas, a conseqüência vem naturalmente.
Deus pode retê-la, mas não é garantido que ele o faça. Por exemplo, um fumante pode ser perdoado por ter
destruído o seu corpo e mesmo assim vir a morrer de câncer. Fica livre do castigo mas não da conseqüência.
Livres da lei – Jesus nos livrou do domínio da lei. Essa frase é mais aplicável aos judeus, já que a lei foi a eles
dirigida. Porém, os gentios também podiam se submeter a ela tornando-se prosélitos do judaísmo. Seja como for,
Cristo libertou da lei a todos os que nele crêem.
Livres do reino das trevas – Esse livramento ocorre no momento em que a pessoa se rende a Cristo. É algo
imediato. Quando o homem se sujeita a Deus, o Diabo foge. Nenhum demônio permanece dominando aquele que é
salvo. Não existe possessão demoníaca sobre o cristão. O Diabo só poderá fazer o que Deus permitir. Haverá
tentação, perseguição, sugestão e até opressão se Deus autorizar. Possessão, jamais.
Livre "de si mesmo" - Esta é a parte mais difícil. Refiro-me a sermos liberto de nossas próprias limitações, nossas
próprias fraquezas, nossos conceitos errados, nossa natureza pecaminosa, nossos hábitos pecaminosos, etc. A
experiência nos tem mostrado que isso ocorre em duas etapas: uma imediata e outra gradativa. Usemos como
ilustração a ressurreição de Lázaro. Quando Jesus orou, o milagre ocorreu imediatamente. Ele passou a viver.
Entretanto, o "ex-falecido" ainda estava com cara de morto, cheiro de morto, roupa de morto, etc. Jesus disse:
"Desatai-o e deixai-o ir." (João 11.44). A vida já estava nele, mas, além disso, muitas coisas que nele estavam não
combinavam com o seu novo estado. Esse processo de transformação pelo qual passamos dia a dia recebe também
o nome de santificação. É o desenvolvimento da salvação (Fp.2.13). Muitas mudanças que precisam ocorrer em nós
vão depender do conhecimento que adquirimos da Palavra de Deus. Alguém pode alegar que, quando aceitarmos a
Cristo, somos plenamente transformados imediatamente, mas, se assim fosse, já seríamos perfeitos, não
precisaríamos conhecer a bíblia nem crescer espiritualmente. Paulo exortou os cristãos romanos dizendo:
"Transformai-vos pela renovação da vossa mente." (Rm.12.2).

PRESERVAÇÃO DA LIBERDADE
Paulo admoestou os gálatas para que se lembrassem do significado da obra de Cristo, a qual teve o objetivo de
libertá-los. Agora que eram livres, não deveriam voltar ao domínio da lei.
Voltar à lei é negar a graça e perder os seus efeitos (Cap.5). É renunciar aos direitos de filho e voltar a viver como
servo (Sara e Hagar). É renunciar à liberdade cristã, a qual foi comprada pelo precioso sangue do nosso Senhor. A
história de Israel foi uma seqüência de cativeiros e libertações. Não podemos permitir que a nossa vida seja assim.
Os gálatas precisavam se apegar à liberdade cristã. Essa questão se mostrou complexa na experiência das primeiras
igrejas cristãs. Os gálatas corriam o risco de perder a liberdade. Os coríntios, por sua vez, abusavam da liberdade.
Escrevendo a estes, o apóstolo foi muito enérgico no sentido de expor-lhes os limites que a santidade e o amor
colocam para a liberdade. O diabo sempre quer nos prender. Para isso, ele às vezes nos oferece uma "liberdade"
maior do que a que possuímos (II Pd.2.19). Na linguagem do maligno, liberdade significa ausência de compromisso

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com Deus, ausência de limites. Entretanto, aqueles que se aventuram por essa trilha acabam comprometidos com
Satanás e presos em suas redes.
Escrevendo aos gálatas, Paulo tinha em mente a consciência do risco que havia em se ter uma interpretação errada
acerca da liberdade cristã. Depois de insistir no fato de que os gálatas estavam libertos e não deviam se prender, ele
disse: "Não useis, porém, a liberdade para dar ocasião à carne; mas servi-vos uns aos outros pelo amor." (Gálatas
5.13). O amor é o parâmetro da nossa liberdade. Isto é focalizado também nas cartas aos Romanos e aos Coríntios.
Não existe liberdade absoluta. Ou somos servos do pecado ou servos da justiça (Rm.6.18).
A liberdade cristã existe dentro dos limites estabelecidos por Deus. Os limites não são necessariamente contrários à
liberdade. Somos como os passageiros de um navio, que podem andar para onde quiserem mas sempre dentro dos
limites da embarcação. As restrições que Deus nos propõe são para o nosso próprio bem. São como cercas à beira
do abismo. Só não somos livres para fazer o que destruiria a nossa liberdade.

MARCAS IDENTIFICADORAS
A circuncisão era símbolo de status religioso para os judeus. Era a marca que identificava um adepto do judaísmo.
As marcas sempre foram importantes. Uma marca pode ter vários objetivos. Um dos principais é o seu uso como
sinal de propriedade. Os animais eram e ainda são marcados com ferros em brasa contendo o sinal de seus donos.
Hoje em dia, estamos bastante habituados ao valor das marcas. Sejam marcas de carros, roupas, etc. Elas
representam origem, propriedade, qualidade, ou até a ausência ou falsificação de tudo isso. As grandes marcas
tornam-se símbolos de status social.
Até no Apocalipse, observa-se o valor das marcas: a besta imporá sua marca sobre seus seguidores.
Os judaizantes estavam querendo impor a marca da circuncisão como se esta fosse um valor cristão. Entretanto,
Paulo conduz os gálatas a um exame mais profundo da questão. O sinal exterior tem valor quando corresponde à
condição interior. Como disse aos Romanos, "a circuncisão é proveitosa se tu guardares a lei." (Rm.2.25). Então, o
que seria evidência fiel do interior humano? As obras da carne e o fruto do espírito. São marcas do caráter e se
revelam nas ações. Estas são as marcas mais importantes na vida de um ser humano. Entretanto, se os judaizantes
faziam mesmo questão de marcas físicas, Paulo possuía as "marcas de Jesus", sinais de todo o seu sofrimento pela
causa do evangelho (Gálatas 6.17).

ESBOÇO (GÁL.)
1 - Introdução 1.1-9
1 – Saudação – 1.1-5.
2 – A inconstância dos gálatas – 1.6-9.
2 - Paulo defende o seu apostolado - 1.10 a 2.10.
2.1 – As viagens de Paulo após a conversão e a origem do seu evangelho
3 - Paulo defende o seu evangelho - 2.11-21.
3.1 – O conflito com Pedro
4 - A salvação pela fé e os seus benefícios - 3.1 - 4.31.
4.1 – O evangelho e a lei.
4.2 – O exemplo de Abraão.
4.3 – A lei e a graça nas figuras de Hagar e Sara.
5 - A liberdade que Cristo nos dá - 5.1 a 6.18.
5.1 – As obras da carne.
5.2 – O fruto do Espírito.
5.3 - Conselhos práticos e saudações.

XIV - CARTA DE PAULO AOS EFÉSIOS

A cidade de Éfeso
Era uma das maiores cidades do Império Romano, capital da província chamada Ásia Menor, cujo território
pertence hoje à Turquia. Localizava-se às margens do rio Caístro. Entre suas construções, destacava-se o templo da
deusa Diana, também conhecida como Artêmis. Os cultos ali realizados incluíam a prostituição em seus rituais. Tal
edifício estava entre as sete maravilhas do mundo antigo. O templo foi incendiado no dia em que nasceu Alexandre
Magno. Posteriormente, o próprio Alexandre ofereceu-se para reconstruí-lo. Contudo, sua oferta foi recusada pelos
efésios, os quais reconstruíram o santuário, tornando-o mais esplêndido do que antes. Quando escreveu a primeira
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carta aos coríntios, Paulo estava em Éfeso. Talvez por isso, diante da grandiosidade daquela construção, o apóstolo
fala sobre a igreja de Cristo, comparando-a a um edifício. Ele menciona o processo de edificação, o fundamento, os
construtores e o material utilizado (I Cor.3.9-17). Mais tarde, quando escreve aos Efésios, Paulo volta a essa
comparação (Ef.2.19-22).
Havia em Éfeso uma grande biblioteca e um teatro com lugares para 25 mil pessoas assentadas. A cidade possuía o
principal porto da Ásia, colocando-se, assim, na rota comercial do Império. Foi construído naquela cidade um
templo para a realização de cultos ao imperador romano. Hoje, existem apenas ruínas daquele grande centro
urbano, entre as quais se destaca a fachada da antiga biblioteca.
Fundação da igreja
Paulo fundou a igreja em Éfeso por ocasião da sua primeira visita, durante a segunda viagem missionária
(At.18.19). Na segunda vez em que foi à cidade (At.19.1), permaneceu lá durante um período superior a dois anos.
Éfeso tornou-se o centro dos trabalhos missionários do apóstolo. Naquele período, toda a Ásia Menor foi
evangelizada (At.19.10). Pode ser que nessa ocasião tenham sido fundadas as sete igrejas mencionadas no
Apocalipse (2 e 3).
A permanência de Paulo em Éfeso foi interrompida por uma grande perseguição. Através de suas pregações, muitos
se converteram a Cristo. Com isso, o comércio das imagens da deusa Diana estava se enfraquecendo. Tomados de
ira, os fabricantes de ídolos provocaram grande tumulto, tentando fazer com que Paulo fosse publicamente
condenado por pregar uma doutrina que estaria "prejudicando" a cidade (At.19.21-40; I Cor.15.32). Afinal, o
turismo e o comércio estavam estabelecidos sobre a idolatria. Diante de disso, Paulo se retira. Depois de algum
tempo, mandou chamar os líderes da igreja de Éfeso para se encontrarem com ele em outra cidade, Mileto. Ali,
Paulo se despede deles, dizendo que não mais o veriam (At.20.16-38).
Timóteo, Apolo, Áquila e Priscila trabalharam na igreja de Éfeso (At.18.18,19,24; I Tm.1.3; II Tm.4.19). De
acordo com a tradição, o apóstolo João também exerceu ministério naquela cidade e ali morreu. A bíblia não
confirma isso. O que temos de concreto é que João escreveu uma carta à igreja de Éfeso assim como fez a outras
seis igrejas da Ásia (Apc.2.1).

A EPÍSTOLA AOS EFÉSIOS


Local de origem: Roma.
Data: entre 60 e 61 d.C.
Portador: Tíquico (Ef.6.21-22).
Tema: a unidade da igreja.
Texto chave – Ef.4.13.
Seqüência chave – Ef.1.10; 2.6, 14-22; 4.3-16.
Palavras e expressões em destaque: Mistério; "em Cristo"; graça; salvação; riqueza; igreja; unidade; vida;
armadura.

ESBOÇO
1 – A igreja e o plano de salvação – 1.1-23
Saudação – 1.1-2
A origem divina da igreja – 1.3-6.
O plano de salvação – 1.7-23.
2 – A ressurreição espiritual e a exaltação do salvo – 2.1-6.
Salvação pela fé e não por obras – 2.7-10.
Os gentios estão incluídos no propósito de Deus – 2.11-13.
Não há barreiras entre judeus e gentios – 2-14-22.
3 – Os mistérios e as revelações divinas – 3.1-13.
A oração de Paulo e o amor de Cristo – 3.14-21.
4 – A unidade dos cristãos – 4.1-16.
A vida cristã prática – 4.17-21.
Velha vida x Nova vida – 4.22-32.
5 – Valores da vida cristã – 5.1-21
Amor, pureza, luz, zelo, plenitude do Espírito.
Deveres da vida cristã – 5.22 a 6.9.
6 – A luta espiritual – 6.10-18.
7 – Palavras finais e bênção – 6.19-24.
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COMENTÁRIO
A carta que hoje conhecemos como "Epístola de Paulo aos Efésios", parece ter sido uma correspondência circular
destinada às diversas igrejas da Ásia Menor. Seu conteúdo não é pessoal nem trata de questões ou problemas
específicos de uma comunidade em particular. Não possui saudações pessoais, como seria natural em uma carta
dirigida a um grupo determinado. De acordo com os estudiosos dos manuscritos do Novo Testamento, a expressão
"que vivem em Éfeso" (1.1) não aparece em todas as cópias antigas. Supõe-se então que poderia se tratar de uma
carta circular e que, eventualmente, alguém tenha acrescentado essas palavras quando endereçou uma cópia para os
efésios. Alguns comentaristas sugerem que essa epístola possa ser a mesma que Paulo menciona em Colossenses
4.16, quando fala da carta enviada aos Laodicenses e que deveria ser lida também em Colossos.
Motivo de envio da carta
As igrejas cristãs estavam se estabelecendo em diversas cidades do Império Romano, começando dos principais
centros, onde Paulo procurava concentrar suas atividades evangelísticas. Nesses mesmos centros, encontravam-se
colônias judaicas, já que, por motivos diversos, milhares de judeus estavam espalhados por vários lugares. Eles se
estabeleciam com mais freqüência nas principais cidades, como seria natural, uma vez que nesses locais se
concentravam as atividades comerciais, culturais e religiosas, sendo os melhores campos para o trabalho e o
enriquecimento.
Desse modo, em todos os lugares Paulo encontrava uma sinagoga e ali pregava para os judeus. Assim, apesar dos
protestos e perseguições, alguns se convertiam. Logo estava estabelecida a igreja e sua formação incluía gentios e
judeus. Percebe-se então uma dicotomia imediata na comunidade. Além disso, como era natural, a igreja era
formada por homens e mulheres, servos e senhores, escravos e livres, ricos e pobres. Bem sabemos que esse
cenário não era uma particularidade de Éfeso, mas característica comum a diversas igrejas. Essa diversidade de
componentes da igreja, faz com que ela seja um organismo bastante eclético. Essa variedade se tornava, muitas
vezes, causa de divisão, partidarismo, dentro das igrejas. Por isso, Paulo escreve aos efésios, tendo como principal
tema a unidade da igreja. Seu foco está principalmente sobre a questão entre judeus e gentios. Por um lado, os
judeus se consideravam como a "nata" religiosa do mundo. Então, os gentios eram vistos por eles como uma
segunda categoria, até mesmo dentro da igreja. Os gentios, por sua vez, poderiam se sentir inferiorizados. Contudo,
nas cidades fora da Palestina, os gentios eram os "donos da casa". Então, os judeus poderiam ser vistos como
estrangeiros arrogantes que se achavam superiores aos próprios cidadãos do lugar.
Tudo isso nos mostra que era fácil que a igreja se dividisse internamente entre o grupo dos judeus e o grupo dos
gentios. Então, Paulo insiste na doutrina da unidade da igreja. Afinal, Cristo chamou pessoas tão diferentes e as
uniu em um corpo para que aprendessem o amor que supera todas as desigualdades e até mesmo ajuda a minimizá-
las ou eliminá-las quando possível.
Unidade da igreja
Paulo menciona a localização de gentios e judeus dentro do plano de salvação e da igreja. Seu objetivo é
demonstrar que no corpo de Cristo, esse tipo de diferença é irrelevante. Ele tenta fazer com que seus leitores vejam
que, no passado, todos eles eram pecadores (Ef.2.1-3) e que agora todos são salvos. Estes são os adjetivos que
importam. Não interessa saber quem é judeu e quem é gentio. Essas verificações só serviam para dividir a igreja.
Paulo diz que agora, após a conversão, ninguém era mais estrangeiro, como se tivesse um tratamento diferente
dentro da igreja. Somos todos concidadãos (Ef.2.19). Dizer isso para gentios e judeus era mostrar que não mais
importava o lugar onde nasceram nem a sua origem genealógica. Agora, somos cidadãos na mesma cidade, a Nova
Jerusalém. Afinal, nascemos de novo. Agora somos parte da mesma família.
Precisamos deixar de lado muitos conceitos plurais, que destacam nossas diferenças, e voltar para afirmações
singulares. Por isso, Paulo usa tanto a palavra "um" e seus derivados na epístola aos Efésios:
"de ambos (judeus e gentios) fez um" (Ef.2.14);
"um novo homem" – Ef. 2.15.
"um só corpo" – Ef.2.16.
"um Espírito" – Ef.2.18.
"unidade do Espírito"- Ef.4.3.
"um corpo" – Ef.4.4.
"um Espírito" – Ef.4.4.
"numa só esperança" – Ef.4.4.
"um só Senhor" – Ef.4.5.
"uma só fé" – Ef.4.5.
"um só batismo" – Ef.4.5.
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"um só Deus e Pai" – Ef.4.6.


"unidade da fé" – Ef.4.13.
"comunidade" - Ef.2.12.
"unirá" - Ef.5.31.
"uma só carne" - Ef.5.31 (fala sobre o casal e sobre Cristo e a igreja).
A palavra "todos" também demonstra o desejo pela unidade ou fala de uma situação comum: 1.15; 2.3; 3.8,9,18;
4.6,13; 6.18,24
A palavra "congregar" em 1.10, a preposição "com", o advérbio "juntamente" e outros termos semelhantes
reforçam a doutrina da unidade dos irmãos em torno da pessoa de Cristo. Ele é a base da nossa unidade.
"Com" - 1.15; 2.5,6; 2.16; 3.18; 4.25; 4.28 ("com o que tiver..."); 6.9.
Em 5.7, a preposição aparece mostrando "com" quem não devemos nos associar. Não existe unidade entre o cristão
e o mundano. Convivência, sim. Unidade, não.
"Co-herdeiros" e "co-participantes" - 3.6.
"Juntamente" - 2.5,6,22.
"Juntas" - 4.16.
A expressão "em Cristo", bastante freqüente nos escritos de Paulo, mostra a centralidade do Senhor Jesus no plano
de Deus, na igreja e na vida do cristão. Observe esta e outras expressões similares em Efésios:
"Em Cristo" - 1.1,3,6,10,12,15,20; 2.6,7,10,13; 3.11,21; 4.32.
"Em Jesus" - 4.21.
"Com Cristo" - 2.5.
Observe a relação entre 2.12 ("sem Cristo") e 2.13 ("em Cristo"), demonstrando a situação antes e depois da
conversão

A IGREJA - edifício de Deus


Continuando sua doutrina, Paulo mostra que somos parte do edifício de Deus, a igreja (Ef.2.20-22). Não podemos
criar divisões, como se o tijolo quisesse ser superior à pedra, ou a areia melhor do que o cimento. Se formos fazer
uma classificação por valor ou por importância na construção, veremos que, separado, cada item tem um preço
diferente. Contudo, enquanto não for utilizado na obra, cada tipo de material corre o risco de se contaminar, tornar-
se inútil e se perder. Depois de construído o prédio, este tem um valor único e muito elevado. Quando se pergunta o
preço de um prédio, ninguém quer saber o valor da areia ou do cimento. A construção vale mais do que a soma dos
valores nela aplicados. Juntos valemos mais do que separados. Juntos fazemos mais do que faríamos isoladamente.
Na construção, os elementos que parecem ser os mais fortes, encontram-se absolutamente dependentes dos que são
reputados como inferiores. O cimento é visto como aquele que dá firmeza. Contudo, o que faríamos com ele se não
tivéssemos a areia, que muitas vezes é vista como frágil e inconstante? Um vai suprir a fraqueza do outro e juntos
vão formar o sólido concreto. A pedra poderia se gabar de ser a mais forte. Contudo, não se constrói um prédio
usando apenas pedras. Os tijolos, apesar de mais frágeis, podem ser trabalhados com mais facilidade, podem ser
quebrados, cortados e posicionados com mais flexibilidade. Sua fragilidade será superada pelo uso da areia, do
cimento e da água. Os tijolos, para que fiquem mais resistentes, são submetidos à ação do fogo, o qual pode ser
comparado às dificuldades, tribulações e sofrimentos da vida, que vão nos tornando mais fortes e mais resistentes (I
Pd.4.12).
Depois de pronto o prédio, não se fala mais em areia, em cimento, em tijolos. Fala-se em um prédio. Apesar de
estarem ali presentes as características de cada material, todos eles "perderam" sua própria identidade e são agora
conhecidos como prédio. Até mesmo aquele ínfimo grãozinho de areia, agora é prédio. Assim somos nós na igreja.
Ainda que você se veja como o menor, como insignificante, como fraco, Deus o vê como igreja, como corpo de
Cristo. Nessa condição, consciente disso e vivendo de modo coerente, você estará revestido de uma armadura
(Ef.6.10-18) e, mesmo sendo fraco, você será invencível "Quando sou fraco, então é que sou forte" (II Cor.12.10).
As forças espirituais do mal não poderão tocá-lo (I Jo.5.18).
Quando o prédio está pronto, o que mais aparece não é o mais importante. Então, temos em posição de honra
aqueles elementos que mais precisam dela e não os que já a possuem naturalmente. Deus coloca em destaque os
mais humildes, enquanto que muitos que se julgam elevados, ficam encobertos. Isso não muda o valor de nenhum
deles, apenas a aparência. A tinta, que até não está entre os itens fundamentais, é a que mais aparece e torna-se
importante. A pedra, que é mais forte, torna-se invisível, colocada em lugares inferiores, fazendo parte do alicerce.
Estaria ela esquecida? Talvez sim, mas desvalorizada jamais.
Em toda construção em que se usem pedras, areia, tijolos e cimento, deverá ser usada a água, que é um símbolo da
Palavra de Deus (Ef.5.26). A água não fica retida na construção. Ela não faz parte do prédio, embora seja utilizada
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desde o alicerce até o acabamento. Da mesma forma, a bíblia não faz parte da igreja, mas sem ela a igreja não
existiria.
Unidade e individualidade
Apesar de ser comparado a um edifício, a igreja não tem a mesma rigidez. As pedras vivas que compõem a igreja (I
Pd.2.5) nem sempre querem ficar na posição e na função que receberam. O autor roga, suplica, aos irmãos de Éfeso
que eles adotem uma postura de humildade, mansidão, e amor uns para com os outros. Com tantas diferenças
dentro da igreja, essas atitudes eram imprescindíveis para que a igreja não se extinguisse (Ef.4.1-6).
Muitas vezes, os irmãos começam a promover disputas e contendas entre si. Isso, além de ser destrutivo, desvia o
cristão de seu papel espiritual. Paulo diz que "a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os
principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso e contra as forças espirituais do mal, nas
regiões celestiais" (Ef.6.12). Se os irmãos guerrearem entre si, estarão dando trégua na guerra contra Satanás e,
assim, só ele ficará satisfeito.
A unidade deve ser buscada mesmo que mediante o esforço. "Esforçai-vos diligentemente por preservar a unidade
do Espírito no vínculo da paz" (Ef.4.3). A palavra vínculo significa nó ou tudo o que estabelece ligação. Nós, como
cristãos, precisamos enfatizar os nossos vínculos acima das nossas diferenças. O mesmo Senhor, o mesmo Espírito,
o mesmo batismo, a mesma fé, a mesma esperança, tudo isso são vínculos que nos unem. São os fundamentos do
cristianismo. Não devemos nos separar por causa de questões tão menores do que o amor de Cristo. Seria correto
uma igreja se dividir por causa da forma de culto, ou por causa do tipo de roupa ou por causa da comida e outras
coisas semelhantes?
Em uma família, cada membro é diferente. Contudo, não vamos dispersar o grupo familiar por causa disso.
Apesar de unidos, não somos iguais. As diferenças existem e sempre existirão. Vivemos em unidade sem anular a
individualidade. Por isso Paulo fala, no capítulo 4.7-16, dos dons ministeriais: "uns para apóstolos, outros para
profetas..." Não devemos confundir unidade com igualdade. "A graça foi concedida a cada um de nós segundo a
proporção do dom de Cristo" (Ef.4.7). Afinal, a unidade existe para que as diferentes partes se auxiliem e se
completem (Ef.4.16). Assim, Paulo passa a usar o corpo humano como ilustração para a igreja. Cada cristão é
chamado de membro, tendo posição e função definidas.
O tema da unidade nos chama a atenção para a ajuda mútua. O tema da individualidade nos lembra da
responsabilidade pessoal. A obra de Deus é missão da igreja. Contudo, cada tarefa deve estar designada
individualmente, pois se um serviço é de todos, normalmente ninguém o executa.
Na igreja existem homens, mulheres, servos, senhores, etc. A doutrina da unidade poderia levar a crer que agora
todos são iguais. Até certo ponto, a afirmação é correta. Contudo, Paulo, no final da carta, fala diretamente às
mulheres, aos maridos, aos filhos, aos pais, aos servos e aos senhores, mostrando que cada um tem um papel
definido e que a situação individual deve ser respeitada (Ef.5.22 a 6.9).
Observe os textos de Efésios que tratam da individualidade por meio da expressão "cada um" ou "uns":
Ef.4.7 - Oportunidade individual.
Ef.4.11 - Dom individual.
Ef.4.25 e 5.33 - Deveres individuais.
Ef.6.8 - Recompensa individual.
Efésios – espiritualidade em alta
Havendo unidade dentro dos padrões divinos, haverá ambiente para que se desenvolva a espiritualidade. Esta
palavra caracteriza bem a epístola aos Efésios. Enquanto que, aos coríntios, Paulo não pode falar como a
espirituais, visto que eram carnais (I Cor.3.1), com os efésios foi diferente. O apóstolo falou sobre:
Os mistérios de Deus – Ef.1.9; 3.3; 4.9; 6.19.
Lugares celestiais – Ef.1.3,20; 2.6; 3.10; 6.12.
A graça de Cristo – Ef.1.6,7; 2.5,7,8; 3.2,7; 4.7,29; 6.24
As riquezas da sua graça – Ef.1.7; 2.7.
As riquezas de Cristo – Ef.3.8.
As riquezas da glória – Ef.1.18; 3.16.
A armadura de Deus – Ef.6.12-17.
A prática da doutrina
A espiritualidade deve se expressar na vida prática. Paulo tinha em mente essa preocupação. Vemos em algumas de
suas epístolas essa divisão: em primeiro lugar ele fala da doutrina, depois ele dá conselhos práticos. A parte
espiritual (Ef.1 a 3) se relaciona ao verbo "ser". A parte prática (Ef. 4 a 6) se relaciona aos verbos "andar" e
"combater". Embora não sejamos salvos pelas obras (Ef.2.8-9), fomos designados para executá-las (Ef.2.10). A
posição espiritual de qualquer pessoa vai produzir evidências visíveis. Ninguém poderia se esquivar dos
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ensinamentos do apóstolo dizendo que não tinha entendido a aplicabilidade de suas palavras. Depois de falar de
fatos espirituais e regiões celestiais, Paulo parte para situações do dia-a-dia.
Se ele dissesse apenas que os efésios deveriam se revestir do novo homem (Ef.4.24), eles poderiam questionar o
sentido dessas palavras. Mas o próprio Paulo explica na seqüência do texto, de 4.25 até 5.21: "Deixando a mentira,
fale cada um a verdade." "Aquele que furtava não furte mais; antes trabalhe." "Não saia da vossa boca nenhuma
palavra torpe". "Não vos embriagueis com vinho". A seguir, o autor fala sobre as relações entre marido e mulher,
pais e filhos, servos e senhores. Seu último assunto é a armadura de Deus, que é composta por convicções interiores
e práticas exteriores, (fé e obras). Ele adverte que tomemos "toda" a armadura de Deus (Ef.6.11). Tomar apenas
uma parte é inútil. De que adianta ao guerreiro proteger o coração e deixar a cabeça exposta? Que adiantará se,
estando a cabeça e o coração protegidos, as pernas forem quebradas pelo inimigo? Assim, precisamos da verdade,
da justiça, do evangelho, da fé, da salvação, da Palavra de Deus e da oração em Espírito. Se faltar um desses
elementos, esta pode ser a brecha por onde o inimigo tentará nos destruir.
Anísio Renato de Andrade

XV - EPÍSTOLA DE PAULO AOS FILIPENSES

A CIDADE DE FILIPOS
Filipos era a capital da província romana chamada Macedônia, localizada em território que hoje pertence à Grécia.
Seu nome significa "pertencente a Filipe". A cidade foi fundada por Filipe, pai de Alexandre Magno, em 358 a.C.
Era importante devido à sua localização junto à principal estrada que cortava a Macedônia no sentido leste-oeste,
servindo de caminho entre a Ásia e Roma. Além disso, a cidade possuía minas de ouro e prata.

A IGREJA EM FILIPOS
Foi a 1a igreja cristã na Europa. Foi fundada por Paulo durante a segunda viagem missionária - At.16.11-40. Ali
chegando, o apóstolo foi bem recebido juntamente com Silas. Os primeiros convertidos foram Lídia, vendedora de
púrpura, e uma jovem que adivinhava, da qual foi expulso um espírito imundo. Sendo liberta, cessaram os seus
prognósticos. Diante disso, cessou também o lucro dos seus senhores, os quais se enfureceram contra Paulo e Silas,
incitando contra eles as autoridades locais. Como resultado, aqueles irmãos foram espancados e lançados na prisão
(I Tss.2.2). Estando orando e louvando à meia-noite, Deus os libertou por meio de um terremoto que abriu as
cadeias. Diante de tão grande acontecimento, o carcereiro se converteu e também a sua família.
Algum tempo depois, os irmãos filipenses enviaram ajuda financeira para Paulo - II Cor.8.2 Fil. 4.10,15.

A SITUAÇÃO DE PAULO
Ao escrever a epístola aos filipenses, Paulo se encontrava preso, correndo risco de vida, distante de muitos irmãos e
amigos e em dificuldade financeira. Na carta, ele fala da morte várias vezes: 1.20; 2.8; 2.27; 2.30; 3.10. Entretanto,
a mesma epístola enfatiza a alegria, a gratidão (1.3; 4.6), e ainda admoesta contra a murmuração (2.14).
Isso é testemunho (2.15). Alegria e gratidão no meio do sofrimento é tão contrastante quanto a luz no meio da
escuridão, como uma estrela refulgente no meio do negro céu. Não dá para ignorar. Paulo compara os cristãos aos
luzeiros, aos astros, e não a uma vela ou a um pavio de lamparina (2.15). O luzeiro produz abundante luz, a qual
não se apaga com o vento nem com a tempestade.
Normalmente, se existe luz, existe fogo. Algo está se consumindo. Algo está queimando. Não seremos luz
gratuitamente. Não seremos luz sem sacrifício, sem dor, sem renúncia, sem sofrimento ou sem tribulações.
Até a sua própria morte é vista por Paulo como um meio pelo qual o Senhor Jesus seria glorificado (1.20). Segundo
a visão do apóstolo, sofrer pelo evangelho é um privilégio (1.29).

A EPÍSTOLA AOS FILIPENSES


Autor: Paulo (e Timóteo)
Portador: Epafrodito
Data: 60 ou 61.
Local: prisão em Roma.
Tema: Alegria no Senhor.
Motivo da carta: gratidão pelo auxílio enviado pelos filipenses.
Versos chave: 1.21 e 4.4

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ESBOÇO
I - Introdução e saudação - 1.1-2.
II - Conceito que Paulo tem sobre os filipenses e sua oração por eles - 1.3-11.
III - A prisão de Paulo contribui para o progresso do evangelho. - 1.12-26.
IV- Exortação à perseverança, unidade, humildade e santidade
conforme o exemplo de Cristo - 1.27 a 2.18.
V - Elogio a Timóteo e Epafrodito - 2.19-30.
VI - Confiança em Cristo e não na carne - 3.1-21.
VII - Exortação à vida santa - 4.1-9.
VIII - Gratidão de Paulo pelo auxílio dos filipenses - 4.10-20.
IX - Saudações finais - 4.21-23.

COMENTÁRIO
OS SANTOS FILIPENSES
Paulo usa a palavra "santos" para se referir aos filipenses (1.1). Esse termo na bíblia não se refere a cristãos mortos
e que, ainda assim, tenham poder para interferir no mundo dos vivos e fazer milagres. Nada disso. "Santo" significa
"separado", "consagrado". Todo cristão é santo, ou pelo menos deveria ser. Todo servo do Senhor é separado do
mundo e separado para Deus. Essa separação não significa alienação. O cristão não deve viver como um alienígena,
indiferente a tudo, longe de todos, isolado e estranho. Podemos e devemos participar de tudo o que acontece em
nossa volta, exceto daquelas coisas que podem interferir na nossa comunhão com Deus e contrariar o nosso
compromisso com Cristo. Quando a questão ameaça esse ponto, então nos separamos, pois somos santos.
"Santo" não significa perfeito ou alguém que esteja livre da possibilidade de pecar. Somente alcançaremos essa
condição quando deixarmos esta terra e formos para o nosso lar celestial. Antes disso, devemos viver num processo
de aperfeiçoamento. Pelas palavras de Paulo, vemos que os filipenses não eram perfeitos, mas estavam caminhando
nessa direção. Ele disse: "Estou plenamente certo de que aquele que começou a boa obra em vós há de completá-la
até o dia de Cristo Jesus." (1.6). O próprio apóstolo disse a respeito de si mesmo: "Não que eu o tenha já recebido
ou tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo
Jesus..." (3.12-14). Vejo nesse processo de aperfeiçoamento o desenvolvimento da salvação mencionado em
Fil.2.12. Não que sejamos "meio salvos". A obra está consumada no coração de Deus, mas, na prática, os efeitos da
salvação ainda se estabelecem gradativamente até que o nosso corpo seja transformado em um corpo incorruptível,
em semelhança do corpo ressurreto do nosso Senhor Jesus Cristo.

PERDAS E GANHOS
O evangelho envolve perdas e ganhos (3.7-8). Isso não combina com certas pregações de prosperidade. Paulo
estava preso, privado de muitas coisas, mas certo do seu ganho espiritual. Será que Paulo pensava em um
evangelho que lhe proporcionaria riqueza material, uma grande casa, um lindo carro, o seu próprio negócio, etc?
De modo nenhum. Ele assumia as tribulações e os sofrimentos como fatores naturais no caminho do cristão e que
tudo isso até contribuiria para o avanço do reino de Deus. "... As coisas que me aconteceram têm antes contribuído
para o progresso do evangelho." (1.12). Ele destacou ainda, de modo comemorativo, que sua prisão tinha se
tornado oportunidade para evangelizar os soldados romanos (1.13).
Quando, ao fim da epístola, Paulo diz: "Tudo posso naquele que me fortalece" (4.13), ele não estava ensinando uma
declaração do pensamento positivo, como se quisesse colocar o cristão numa posição de sucesso absoluto,
conforme a visão que o mundo tem de sucesso. Lendo 4.12, entendemos que Paulo estava dizendo que ele foi
capacitado por Deus para passar por qualquer situação, fosse de abundância ou escassez, de humilhação ou honra,
de fartura ou de fome. Certamente, o obreiro de Deus precisa estar pronto para tudo isso e não apenas para ser rico.
É verdade que Deus pode nos dar todo tipo de bens materiais. Entretanto, isso depende do plano dele para cada
pessoa. Não podemos colocar a riqueza material como conseqüência natural do evangelho. Isso não é bíblico. Na
parábola dos talentos, aquele senhor deu uma quantidade de dinheiro correspondente à capacidade de cada um. É
assim que Deus faz conosco. Ele não vai colocar em nossas mãos algo superior à nossa capacidade de administrar.
Precisamos focalizar o ganho espiritual, o galardão celestial e não o galardão terreno. Este, se vier, será bem-vindo.
Porém, não pode ser o nosso objetivo.

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OS INIMIGOS DA CRUZ
"Pois muitos andam entre nós, dos quais repetidas vezes eu vos dizia e agora vos digo até chorando, que são
inimigos da cruz de Cristo; O destino deles é a perdição, o deus deles é o ventre, e a glória deles está na sua
infâmia; visto que só se preocupam com as coisas terrenas. Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também
aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, o qual transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao
corpo da sua glória..." (Fil.3.18-21).
Cruz é renúncia, é entrega, é perda, é humilhação, é morte. Disse Jesus: "Se alguém quiser vir após mim, a si
mesmo se negue, tome cada dia a sua cruz e siga-me. Porque qualquer que quiser salvar a sua vida, perde-la-á, mas
qualquer que, por amor de mim, perder a sua vida, a salvará.". (Lc.9.23-24). Se não estivermos dispostos a perder
nada pelo evangelho e ainda quisermos fazer dele uma ferramenta para o enriquecimento material, estaremos
desvirtuando sua essência e negando a cruz.
Corremos o risco de colocar o ser humano como o centro do cristianismo, como se este existisse para atender a
todos os nossos desejos terrenos. Desse modo, muitas pessoas estão nas igrejas com a expectativa de que Deus
resolva todos os problemas delas e vêem nele apenas um solucionador de problemas e não um Senhor.
"Buscai primeiro o Reino de Deus." (Mt.6.33a). Muitos precisam corrigir a orientação de sua busca ao Senhor.
Precisamos buscá-lo, primeiramente, para sabermos a sua vontade para nós, e não para fazê-lo conhecer a nossa
vontade. Precisamos perguntá-lo sobre o que devemos fazer para ele antes de apresentar o que queremos que ele
faça para nós. Nós é que somos os servos. Ele é o Senhor.
Além disso, precisamos colocar os valores espirituais acima dos valores terrenos. Em sua oração pelos filipenses,
Paulo pede que eles tenham amor, conhecimento, discernimento e fruto de justiça para a glória de Deus (Fil.1.9-
11). São valores espirituais, os quais devem ser enfatizados, acima das nossas ambições materiais.
Colocando cada coisa no seu devido lugar e nível de importância, entenderemos a disposição de Paulo até para
sofrer e morrer pelo evangelho. Em algum tempo da nossa vida podemos estar vivendo na abundância. Em outro
tempo podemos estar sofrendo privações sem que isso signifique pecado nem fracasso espiritual. O cristão pode ser
rico (II Tm.6.17-19) e pode ser pobre (II Cor.8.1-2; Fil.4.11). O que não se pode é vincular o evangelho à riqueza
material. Afinal, Jesus disse que os ricos dificilmente se salvarão. E Paulo acrescentou que os que querem ser ricos
caem em muitas tentações. (Lc.18.24; II Tm.6.9-10).

DEUSES ESTRANHOS
Paulo disse que "andam entre nós" muitas pessoas "cujo deus é o ventre." Entre nós significa dentro da igreja. São
pessoas que não estão servindo ao verdadeiro Deus, mas estão procurando apenas seu próprio interesse. Eram como
aquela multidão que acompanhava Jesus apenas por causa dos pães e dos peixes que ele multiplicava (João 6.26).
Isso é até admissível por algum tempo. Muitos só vão atrás de Jesus motivados por uma necessidade pessoal.
Porém, chega um momento quando todos são desafiados a assumirem uma posição de compromisso com o Senhor.
Seguir a Cristo nos faz passar por momentos de milagres, de pão e peixe multiplicados, de cura, de libertação, etc,
mas nesse caminho também existe uma cruz.
O "deus" daquelas pessoas era o ventre. A alimentação estava acima de tudo para elas. Existem hoje tantos deuses
sendo adorados e servidos. Na sociedade atual, o futebol é um deus ou uma religião. Não é à toa que os grandes
jogadores são considerados "ídolos". Os estádios reúnem pessoas como não acontece em nenhum templo religioso
do mundo. Elas vão ali, pagam para entrar, nada ganham, e algumas chegam a matar ou morrer pelo seu time. As
copas do mundo reúnem povos de muitas nações num congraçamento jamais realizado por nenhuma religião.
Outro deus da atualidade que podemos mencionar é o sexo. A sexualidade extrapola as portas conjugais e se
manifesta nas músicas, nos comerciais, nos filmes, nas novelas, etc. Deixa de ser um componente do casamento e
passa a ser usado como produto comercial. Aqueles que servem a esse deus tornam-se escravos de suas práticas
extra-conjugais.
O dinheiro é também um deus da humanidade. Cristo mesmo já mencionou algo semelhante quando disse: "Não
podeis servir a Deus e a Mamom" (Mt.6).
Os exemplos que mencionamos não são coisas intrinsecamente más. O futebol não é algo mau. O dinheiro também
não. O sexo, por sua vez, foi criado por Deus e é correto desde que praticado dentro do matrimônio. O problema é
quando essas coisas são colocadas acima de Deus, como se fossem mais importantes do que ele. Se trocamos o
compromisso com Deus por uma outra coisa, então essa coisa é o nosso deus.
Através do jejum, das ofertas e da abstinência pelo tempo necessário, nós demonstramos, na prática, que o Senhor
Jesus está acima de tudo para nós.

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REGOZIJAI-VOS NO SENHOR
Paulo, mesmo preso, estava se regozijando (1.18). Possuía uma alegria sem motivo aparente (1.4,18,25). Ele usa
não apenas a palavra alegria, mas gozo e regozijo, que são termos ainda mais fortes, que falam de uma alegria
intensa, grande satisfação ou prazer (2.2; 2.17,18,28,29). A chave do contraste entre a prisão de Paulo e sua alegria
é a expressão: "Regozijai-vos no Senhor (3.1; 4.1,4,10). A alegria do cristão não vem de fora para dentro, mas de
dentro para fora. Alegria no Senhor não depende de circunstâncias mas depende do Senhor, e ele não muda. Um
cristão alegre no meio da tribulação? Isso é loucura para o mundo. Tal alegria provém de uma paz que excede todo
entendimento (4.7).
Em meio a tantas expressões de alegria, o texto de 2.28 menciona a "tristeza". Isso é bom para que não falemos do
cristianismo como se fosse algo irreal, utópico. Paulo esteve triste por causa da doença de Epafrodito. Nesse mundo
podemos passar por momentos de tristeza. Porém, ela não pode nos dominar, não pode ser nossa companheira
constante. Observe que, embora a tristeza tenha sido mencionada, ela não se tornou característica nem tema da
epístola. Da mesma forma como não se tornou característica de Paulo nem será nossa. Podemos ficar tristes por
alguns momentos ou até por alguns dias? Sim. Daniel esteve triste durante 21 dias (Dn.10.2). Podemos nos
entristecer pelo pecado cometido (I Cor.5.2; II Cor.7.8-10), por uma perda, pelo sofrimento próprio ou alheio.
Entretanto, não seremos pessoas tristes nem viveremos na tristeza. É verdade que Jesus chorou, conforme nos
informa o menor versículo da bíblia (João 11.35). Porém, Jesus não viveu chorando e nem nós podemos viver
assim. Paulo também chorou por causa daqueles que se perdiam (Fil.3.18). Que a tristeza em nossas vidas seja o
menor versículo e que a alegria preencha longos capítulos da nossa existência.
A expressão "alegrai-vos no Senhor" nos dá uma idéia de uma alegria que não depende de outros fatores, mas
depende do Senhor. Assim, temos também uma idéia de condicionamento. Nossa alegria depende da nossa relação
com Deus. Se esta relação estiver interrompida de alguma forma, então estaremos desligados da nossa fonte de
alegria. Ficaremos tristes. Precisamos então eliminar o que se pôs entre nós e Deus, seja um ídolo ou outro pecado
qualquer. Religados à fonte da alegria, nosso rosto volta a brilhar como uma lâmpada que se acende.

ALEGRIA X ANSIEDADE
Ao escrever aos filipenses sobre a alegria, Paulo estava consciente de que a ansiedade poderia ser um empecilho
nesse caminho (4.4-7). Talvez deixemos de usufruir em plenitude da alegria do Senhor (Neemias 8.10), porque
estamos ansiosos.
Algumas vezes, a ansiedade, ou preocupação, ocorre por um motivo legítimo. Estamos nos sentindo ameaçados,
então ficamos ansiosos. Entretanto, em muitos casos a ansiedade se manifesta sem fundamento real.
Podemos estar ansiosos porque buscamos algo e ainda não alcançamos. Pode ser algo necessário, mas, em muitos
casos, trata-se de uma busca ambiciosa pelo excesso, por aquilo que é supérfluo. Não seria melhor fazer calar a
nossa alma, como disse o salmista? (Salmo 131.2). "Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus", diz o Senhor. (Salmo
46.10). Ele está no controle da nossa vida. Ele nos dará o que precisamos e até o que não precisamos, se isso for
bom para nós. "Não andeis ansiosos", disse Jesus aos seus discípulos (Mat.6.25-34).
Em todas essas situações, a fé, a oração e a gratidão são os remédios prescritos pelo apóstolo Paulo. Se cremos em
Deus e no seu cuidado para conosco, isso já é um forte motivo para o nosso descanso. Em segundo lugar vem a
oração. Nossa fé se expressará através das nossas palavras. Estamos nos sentindo ameaçados por alguma coisa ou
oprimidos por alguma necessidade? Vamos levar tudo isso diante de Deus através da oração. Quando oramos,
dividimos a responsabilidade com Deus. Se você faz tudo na vida sem orar, então a responsabilidade é toda sua. Se
der errado, a culpa é sua. Quando oramos, estamos pedindo que Deus faça a parte que não está ao nosso alcance.
Contudo, continuamos responsáveis por aquilo que podemos fazer.
Tendo orado, temos mais um motivo para descansar. Em nossa oração, precisamos também agradecer. A gratidão,
mais do que uma expressão verbal, é um exercício. Precisamos, freqüentemente, olhar para tudo o que Deus já nos
deu e agradecer. É bom que agradeçamos por cada coisa, cada pessoa, cada conquista, cada realização, e até mesmo
pelo que não conseguimos, pois até isso foi livramento do Senhor, embora possamos não ter compreendido. Esse
exercício é um antídoto contra as ambições excessivas. Normalmente vivemos olhando para o que falta e nos
esquecemos de agradecer pelo que já temos. Valorizamos demasiadamente o que falta e desvalorizamos o que já
temos. Isso é um erro do ser humano que aumenta a ansiedade e diminui a alegria.
A ansiedade, seja por motivo legítimo ou não, é resultado dos nossos pensamentos. Paulo nos aconselha a
selecionar nossos pensamentos. Se podemos agir para resolver determinado problema, então devemos fazê-lo, mas
ficar apenas cultivando a preocupação não vai nos levar a nada. Precisamos então, pensar em coisas boas, positivas,
agradáveis, e isso será favorável ao nosso bem estar e à nossa alegria. Embora tais palavras possam parecer apenas
a valorização do pensamento positivo, Paulo coloca a pessoa de Deus como a fonte da nossa paz (4.9).
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UNIDADE E HUMILDADE (1.27; 2.2)


Os filipenses haviam mandado uma ajuda financeira para o apóstolo (4.16-18). Ele se regozijou muito pela
comunhão que os irmãos tiveram com ele naquele momento difícil. É na dificuldade que a comunhão e a unidade
se tornam mais necessárias e importantes. "Na angústia nasce o irmão" (Pv.17.17). É nessa hora que se descobre o
verdadeiro amigo. Os falsos desaparecem.
O tema da unidade também se apresenta na epístola quando Paulo fala de um "companheiro de jugo"
(provavelmente Síntique – 4.2-3,14) O jugo, também chamado "canga", "é uma peça de madeira que une dois bois
e os prende ao carro ou ao arado" (Aurélio). Companheiro de jugo é companheiro de trabalho. É um tipo de
sociedade num momento de dificuldade.
A unidade depende da humildade (2.3-4). O orgulho e o egoísmo trazem divisão. Para demonstrar o valor da
humildade, Paulo usa a pessoa de Cristo como exemplo (2.5-11). Afinal, não haveria exemplo melhor. O texto do
capítulo 2.5 a 11, nos mostra a trajetória de Jesus. É um quadro de humilhação progressiva até a morte na cruz. Em
seguida, vem sua exaltação acima de toda a criação.
"Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros." (2.4). Cuide
do problema do seu irmão como se fosse seu, desde que não esteja havendo abuso nem aconteça de você estar
atrapalhando o crescimento da outra pessoa. Ajude o seu próximo, mas, de preferência, ensine o seu próximo a
ajudar a si mesmo. Existe um momento em que devemos carregar a carga uns dos outros (Gál.6.2) e outro momento
em que cada um deve levar sua própria carga (Gál.6.5). É preciso sabedoria para discernir essas ocasiões e agir da
maneira correta.

XVI - EPÍSTOLA DE PAULO AOS COLOSSENSES

A CIDADE DE COLOSSOS
Colossos ficava a sudoeste da Frígia, na Ásia Menor, às margens do rio Lico. A cidade foi importante no século V
a.C.. Depois foi perdendo sua importância diante do crescimento de Laodicéia, a 18 km, e Hierápolis (Col.4.13). O
livro de Apocalipse confirma que Laodicéia era uma cidade rica (Ap.3.18).
Colossos perdeu sua importância devido à mudança no sistema de estradas. Isso passou a beneficiar Laodicéia.
A cidade dos colossenses foi destruída no século 12 d.C.. Escavações arqueológicas realizadas em 1835
descobriram um teatro e um cemitério da cidade.

FUNDAÇÃO DA IGREJA
A igreja em Colossos deve ter sido fundada por Epafras. Isso não está claro no Novo Testamento, mas parece ser
uma dedução coerente com as palavras de Paulo (Col. 1.7,8). É provável que Paulo nunca tenha estado em
Colossos. Isso é deduzido de Col. 2.1. Apesar de tantas questões incertas sobre a fundação da igreja, o que sabemos
com certeza é que a mesma estava sob a liderança de Epafras, como também ocorria com as igrejas de Laodicéia e
Hierápolis (Col. 4.12-13). O texto de Colossenses 4 e também o de Filemom 23 nos dão a entender que Epafras
estava preso juntamente com Paulo, quando este escreve as chamadas "epístolas da prisão": Efésios, Filipenses,
Colossenses e Filemom. Essa circunstância comum às quatro cartas faz com que haja algumas semelhanças entre
elas, principalmente entre Efésios e Colossenses (Exemplo: Ef.6.21-22 e Col. 4.7,9 e Fm.10,23,24.)

A EPÍSTOLA AOS COLOSSENSES


Autor: Paulo (e Timóteo). 1.1; 4.18.
Data: 60 ou 61 d.C.
Local: Prisão em Roma (4.3; 4.18).
Tema: A supremacia de Cristo
Classificação: cristologia (doutrina de Cristo).
Texto chave - 3.11.

ESBOÇO
I - Introdução - 1.1-8
II - Oração pelos colossenses - 1.9-12. (por riquezas espirituais)
III - A excelência da pessoa e da obra de Cristo. - 1.13-23
IV - Trabalhos, sofrimentos e cuidado de Paulo pelos colossenses - 1.24 a 2.7.
V - Exortação contra filosofias e heresias - 2.8-23.
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VI - Exortação à santidade e ao amor fraternal - 3.1-17.


VII - Exortação quanto aos deveres domésticos,
à oração, e às relações sociais - 3.18 a 4.6
VIII - Conclusão e saudações - 4.7-18.

COMENTÁRIO
DIVISÃO DO LIVRO
Como já é comum no estilo paulino, a epístola apresenta duas partes: doutrina (cap. 1 e 2) e aplicação prática (3 e
4). Paulo mostra de modo bastante consciente o valor do conhecimento e da experiência. Precisamos também
valorizar as duas coisas, as quais precisam andar juntas (Os.4.6; Tg.1.22). O conhecimento isolado é inútil. Na
oportunidade em que puder ser aplicado, então torna-se proveitoso. Se conhecermos a doutrina mas não a
colocarmos em prática, a mesma será inútil. Por outro lado, a busca da experiência por parte de quem despreza o
conhecimento, torna-se uma aventura perigosa. Quem busca apenas experiências espirituais e não quer aprender
nada sobre Deus e sobre a bíblia, poderá, eventualmente, ter uma experiência com o inimigo e ser enganado.
Observe em Colossenses 2.18, que as visões podem estar ligadas ao engano. Sabemos que Deus também dá visões
(Joel 2.28), mas estas estarão sempre coerentes com a bíblia. Portanto, o conhecimento será o filtro para a
experiência. O conhecimento é a base para o discernimento. Em Mateus 4, Jesus, ao ser tentado, combateu o
inimigo através da Palavra de Deus, à qual Cristo conhecia de cor, sabendo também o seu real significado.
Na parte prática, Paulo dá instruções para os pais, esposas, maridos, filhos, servos e senhores. Orienta também em
relação à oração, à pureza e liberdade cristã.

O PROBLEMA DOS COLOSSENSES


JUDAÍSMO E GNOSTICISMO
Epafras levou ao conhecimento de Paulo a situação dos Colossenses. O "relatório" apresentava dois aspectos
importantes. Em primeiro lugar, foi dado testemunho a respeito da fé, do amor e do crescimento daquela igreja
(1.4-8; 2.5). A outra informação dava conta de que alguns líderes estavam se infiltrando na comunidade e levando
influências judaicas e filosóficas (2.8). Esses elementos estavam se misturando e produzindo heresias. A parte
filosófica em questão era a doutrina dos gnósticos. Juntando tudo isso, os irmãos estavam sendo pressionados em
relação aos seguintes pontos:
Valorização dos mistérios do gnosticismo.
Adoração a anjos, aos quais os gnósticos atribuíam a obra da criação.
Ascetismo exterior: abstinência de comidas e bebidas (influência gnóstica e judaica).
Observância da lei mosaica (influência judaica).
- Prática da circuncisão.
- Comemoração das festas judaicas.
- Guarda do sábado.
Os gnósticos acreditavam que o mal estava ligado à matéria. Este conceito produzia outros bastantes perigosos.
Criam que, sendo a matéria má, então não foi Deus quem a criou, mas sim os anjos. Se a matéria é má, então a
encarnação divina não poderia ser considerada um fato nem uma possibilidade. Assim, estava criado um sistema
doutrinário que negava a divindade de Cristo e a obra da cruz.
Apesar de não ser diretamente responsável pela igreja em Colossos, Paulo reage energicamente contra aquelas
heresias que ameaçavam a sã doutrina. Em seu combate, Paulo destaca a supremacia de Cristo. A sua divindade e a
sua obra na cruz eram elementos plenamente suficientes para a refutação de todos aqueles ensinamentos judaicos e
filosóficos (2.8-10). Se forma incisiva, Paulo derruba todos aqueles sofismas. Ele destaca que o mistério que nos
interessa é Cristo, o qual já foi revelado a nós. Então, de nada importam os mistérios gnósticos (Col. 1.26-27; 2.2-3;
4.3). Se conhecemos a Cristo, não precisamos inquirir sobre nenhum outro mistério religioso ou filosófico. O nome
gnosticismo vem do termo "gnose", que significa conhecimento. Paulo usa a mesma palavra para mostrar que o
conhecimento de Deus através de Cristo é suficiente para suprir as necessidades espirituais do homem (Col. 1.9-
10,27-28; 2.2-3; 3.16)
O gnosticismo atribuía a criação aos anjos, colocando-os como objeto de culto (2.18). A isso, Paulo combate ao
dizer que Cristo, sendo Deus, é o criador de todas as coisas, inclusive dos anjos (1.13-17). Acrescenta ainda, que o
Senhor Jesus está acima de todos os poderes angelicais, sejam eles principados ou potestades, os quais estão
sujeitos ao senhorio de Cristo (2.10,15). Adorando anjos, os gnósticos estavam, de fato, adorando demônios, pois
os anjos de Deus não recebem culto. Paulo associa os "anjos dos gnósticos" aos demônios quando diz que Cristo
despojou os principados e potestades, expondo-os ao desprezo.
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Com relação às questões judaicas, Paulo insiste naqueles pontos já presentes nas outras epístolas. Cristo já nos
resgatou do domínio das exigências cerimoniais da lei. Ele a cravou na cruz (2.14). O significado de Cristo em nós
(1.27) supre totalmente o que poderíamos buscar através da circuncisão (2.11; 3.11), ou das festas, ou dos sábados
(2.16-17). Já temos Cristo. Então não precisamos mais desses elementos judaicos, os quais possuíram o seu valor
numa época em que Cristo não tinha vindo ao mundo. Paulo diz que aqueles elementos do judaísmo eram
"sombra". Cristo é a realidade. Não precisamos mais da sombra. O autor da carta aos Hebreus usa a mesma
linguagem para comparar a lei e o judaísmo com a realidade cristã (Hb.8.5; 10.1).
Os judaizantes e os gnósticos traziam um fardo de mandamentos exteriores para os gentios convertidos ao
cristianismo. Contudo, suas leis atingiam apenas questões superficiais e até supérfluas. Afirmando que a matéria é
má, os gnósticos impunham severas regras de alimentação e disciplina. Contudo, nada disso seria útil ao espírito.
Tal rigor poderia até ter utilidade para o corpo, mas era inútil para a alma e não poderia ser colocado como questão
espiritual, religiosa, ou relacionada à salvação eterna. No capítulo 3, Paulo fala do que realmente afeta a alma
humana: o pecado. De que adiantariam tantas ordenanças e rituais se o pecado continuasse ocorrendo livremente.
Então, o apóstolo toca no que realmente era importante para os colossenses e continua importante para nós. Ao
invés de ficar preocupados com questões de alimentação, eles deviam se preocupar em combater a prostituição, a
avareza, a impureza, etc, pois estes elementos atrairíam a ira de Deus sobre os homens (Col. 3.5-6). Falando assim,
Paulo mostra que, enquanto os gnósticos associavam o mal à matéria, o mal está é no pecado, na natureza
pecaminosa do homem, e não na matéria em si.

O ATAQUE DE PAULO CONTRA AS HERESIAS


DESTAQUE PARA A SUPREMACIA DE CRISTO
A natureza de Cristo – Sua divindade e usa unidade com o Pai - (Col. 1.15-19)
Imagem do Deus invisível – Col. 1.15.
Criador – Col. 1.16.
Mantenedor da criação – Col. 1.17.
A vinda de Cristo ao mundo e sua obra na cruz – (Col. 1. 20-23; 2.13-15).
Os colossenses precisavam ser conscientizados ou lembrados a respeito da pessoa de Cristo, sua natureza e sua
obra. A periculosidade de muitas correntes filosóficas e religiosas reside no fato de valorizarem muitos elementos,
personagens, práticas e conceitos, tirando assim a atenção e a fé que deveriam estar concentradas na pessoa de
Jesus. Ensinamentos, aparentemente inofensivos, estarão causando danos profundos na alma humana. Por exemplo,
se começarmos a fazer do "pensamento positivo" a causa do nosso sucesso, então estaremos, sutilmente, negando a
Cristo.
Assim acontece também com aquelas pessoas que dizem acreditar em Cristo, mas são devotas de uma série de
"santos" ou "guias". O acontece com elas? Fazem suas orações a Jesus? Não. Acabam por ignorá-lo. Assim, de uma
forma sutil, o diabo conseguiu o seu objetivo. Aparentemente, ele não quer substituir Cristo, apenas "acrescentar"
um "personagem" aqui e outro ali. No final, Cristo já foi substituído na vida de muitas pessoas.
Paulo colocou em destaque a natureza e a obra de Cristo. Sendo quem ele é e tendo feito o que ele fez por nós, não
precisamos de nenhum outro "personagem" espiritual que venha nos oferecer alguma coisa. Cristo é tudo o que
precisamos para a nossa salvação. Seus ensinamentos são os únicos que vão reger a nossa vida espiritual. Nele
estão todas as riquezas espirituais de Deus para os seus filhos. (1.27; 2.2; 3.16).

XVII - EPÍSTOLAS DE PAULO AOS TESSALONICENSES

PRIMEIRA EPÍSTOLA DE PAULO AOS TESSALONICENSES

Autor: Paulo
Data : 50 ou 51 d.C.
Local de origem: Corinto
Tema principal: segunda vinda de Cristo.
Textos-chave (no final de cada capítulo): 1.10; 2.19-20; 3.13; 4.13-18; 5.23.
Classificação: escatologia.
Fundação
A igreja dos tessalonicenses foi fundada por Paulo em sua 2ª viagem missionária. Tendo se levantado grande
perseguição contra Paulo, este fugiu para Corinto. Depois Timóteo voltou a Tessalônica para saber a situação da
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igreja afim de informar ao apóstolo. Alguns irmãos haviam morrido e isso preocupava a igreja. Será que os irmãos
mortos ficariam para trás quando Jesus voltasse? Para esclarecer o assunto, Paulo escreveu a primeira epístola aos
tessalonicenses.

Esboço
1 - Saudações, elogios e exortações - 1.1-10.
2 - O ministério de Paulo em Tessalônica – 2.1-20
3 - Alegria de Paulo com as notícias de Timóteo. 3.1-13
4 - Admoestações sobre questões morais - 4.1-12.
5 - A volta de Cristo, a ressurreição, o arrebatamento,
e a necessidade de vigilância. 4.13 a 5.24.
6 - Saudações finais - 5.25 -28.

Esboço comentado
1 - Saudações, elogios e exortações - 1.1-10.
Em sua introdução, Paulo elogia a igreja. Os motivos de elogio são: a fé, o serviço, a influência exemplar, o
abandono da idolatria, a esperança, a paciência e receptividade à palavra. Observe o destaque dado a questões
espirituais.
O serviço, ou trabalho, está em destaque. Vejamos os verbos empregados nos versículos 9 e 10 do capítulo 1:
"Convertestes .... para servirdes ..... e esperardes ..." 1.9-10. A preposição "para" nos dá idéia de objetivo. Nós nos
convertemos para servir e não para sermos servidos. Estamos neste mundo para fazer a vontade Deus e não para
que ele faça a nossa. A igreja espera a segunda vinda de Cristo (v.10), mas, não espera ociosa. Esperamos
trabalhando.
A questão do exemplo também está em destaque. Paulo seguia o exemplo de Cristo. Os tessalonicenses seguiam o
exemplo de Paulo e tornavam-se exemplo para as outras igrejas (1.6-8). Vemos então uma seqüência de modelos
que, assim como os tijolos de uma construção, se sobrepõem e se sustentam. Está aí a importância de nos
mantermos em posição de firmeza espiritual. Se cairmos, poderemos causar a queda de outros que se inspiram em
nosso exemplo.
2 - O ministério de Paulo em Tessalônica – 2.1-20
No capítulo 2, Paulo fala sobre seu ministério, irrepreensível e baseado em boas motivações. Em suas cartas,
muitas vezes o apóstolo fala de seu trabalho nas igrejas. Embora pareça que o autor está muito envolvido com sua
própria biografia, isso é de grande importância para nós pois, de outro modo, como teríamos acesso a essas
informações? A auto-apresentação de Paulo nos fornece muitos parâmetros para os ministérios eclesiásticos da
atualidade.
Sendo perseguido, o apóstolo não recuava, mas se tornava mais ousado ao evangelizar (2.2).
3 - Alegria de Paulo com as notícias de Timóteo. 3.1-13
Paulo saiu de Tessalônica em meio a uma grande perseguição. Ficou então preocupado com os novos convertidos
daquela cidade. Será que eles iriam permanecer firmes diante de tanta oposição? Timóteo trouxe então notícias da
firmeza espiritual dos tessalonicenses. Isso foi motivo de grande alegria para o apóstolo.
4 - Admoestações sobre questões morais - 4.1-12.
A epístola nos mostra que a igreja dos tessalonicenses estava bem. Contudo, Paulo diz que eles podiam alcançar um
estado ainda melhor (4.1,9,10). Sempre existe um nível superior a ser alcançado. Além disso, o autor admoesta
contra alguns riscos que poderiam ameaçar a estabilidade espiritual daqueles irmãos. Por isso, o capítulo 4 toca na
questão moral. A admoestação que se destaca é a que se refere à prostituição. Entre tantos pecados que poderiam
ser citados, por quê Paulo mencionou a prostituição? Esse pecado é mencionado de forma destacada em algumas
partes das escrituras porque, juntamente com o adultério, tem se mostrado uma das principais causas de quedas e
escândalos (Ap.2.14; I Cor.10.8; Jz.16.1,4; At.15.20; I Cor.7.2).
O capítulo 4 enfatiza a santificação (4.3) pela observância de alguns preceitos fundamentais.
- Abster-se da prostituição (4.3).
- Não enganar nem oprimir. (4.6).
- Amor fraternal (4.9).
- Cuidar dos próprios negócios (4.11).
- Trabalhar (4.11).
- Ser honesto (4.12).
Conseqüência: não ter necessidade (4.12).
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Depois de apresentar mandamentos aos tessalonicenses, Paulo diz: "Não quero, porém, irmãos, que sejais
ignorantes..." A parte dos mandamentos nos admoesta à obediência. O versículo 13 do capítulo 4 nos chama a
atenção para o valor do conhecimento. Sejamos obedientes mas não ignorantes. Os tessalonicenses eram obedientes
mas não se destacavam pelo exame das escrituras (At.17.11). Isso era um risco para aqueles irmãos. Quem é
obediente e ao mesmo tempo ignorante pode acabar obedecendo ordens contrárias à palavra de Deus. Nesse texto
específico, Paulo chama a atenção para o conhecimento a respeito da segunda vinda de Cristo e os fatos a ela
relacionados. O objetivo era mostrar que os irmãos que haviam morrido não ficariam para trás no dia do Senhor.
5 - A volta de Cristo, a ressurreição, o arrebatamento, e a necessidade de vigilância. 4.13 a 5.24.
Nessa parte, temos um quadro escatológico resumido. Apesar de breve, constitui-se uma passagem obrigatória para
os estudiosos do assunto. Paulo destaca a ordem cronológica dos fatos. A trombeta tocará anunciando a chegada de
Cristo. Nesse instante, os justos mortos ressuscitarão. Em seguida, todos os salvos serão arrebatados para
encontrarem com o Senhor nos ares.
Na seqüência, o apóstolo adverte a respeito da necessidade de vigilância enquanto Cristo não volta. Já que não se
sabe o dia da sua vinda, é necessário que a igreja esteja em constante vigilância para que seja achada preparada no
momento em que Jesus voltar. Assim, o autor prescreve um estilo de vida apropriado para quem está aguardando o
Senhor.
Nós não estamos nas trevas (5.5). As trevas caracterizam a condição daquele que é cego ou de quem está dormindo.
A cegueira representa a ignorância. O sono representa indiferença ou incredulidade. Se temos conhecimento sobre
os últimos dias, não sejamos indiferentes ou incrédulos, pois assim, o conhecimento não nos seria útil.
De acordo com o texto de I Tessalonicenses 4.13, precisamos saber, precisamos do conhecimento. Porém, não
saberemos tudo a respeito da segunda vinda de Cristo (5.2). Está então demonstrado o limite do nosso
conhecimento e também o limite da nossa pregação e da nossa profecia. Jamais poderemos dizer algo sobre uma
possível data da vinda de Cristo. Os que se atreveram a fazê-lo caíram em descrédito e vergonha.
Portanto, "quando disserem: Há paz e segurança, então lhes sobrevirá repentina destruição." (5.3). Muitos estão
dizendo muitas coisas por aí a respeito da vinda de Cristo e do fim do mundo. Alguns marcam datas, outros negam
que tais fatos venham ocorrer. Acreditaremos? Se temos conhecimento e conhecemos bem o limite do que
podemos conhecer, então poderemos discernir o erro ou identificá-lo.
O versículo 3 do capítulo 5 nos mostra ainda a impossibilidade da paz mundial até que Cristo volte. Isso pode estar
relacionado aos conflitos do Oriente Médio, principalmente a Israel, cuja menção é clara nas profecias dos
combates escatológicos.
6 - Saudações finais - 5.25 -28.

XVIII - SEGUNDA EPÍSTOLA DE PAULO AOS TESSALONICENSES

Autor: Paulo
Data : 51 d.C.
Local: Corinto.
Tema: 2a vinda de Cristo.

MOTIVO DA CARTA
Paulo escreveu a segunda epístola pouco tempo depois da primeira. Os tessalonicenses ainda estavam confusos e
perturbados sobre os fatos dos últimos dias, "como se o dia de Cristo já tivesse chegado." (2.2). Talvez tenham
recebido uma falsa carta com o nome de Paulo. Por isso, o apóstolo coloca sua assinatura em 3.17. Talvez tenha
havido um erro de interpretação dos ensinos da primeira epístola. Observe que nela, o próprio Paulo se incluía no
arrebatamento da igreja: "Nós, os que ficarmos vivos..."(I Tss.4.17).
Alguns membros da igreja parecem ter deixado o trabalho, considerando que a 2a vinda era iminente (3.6-12). Esse
problema pode ocorrer ainda hoje, e até de forma mais intensa. O cristão não pode usar a segunda vinda de Cristo
como uma desculpa para a preguiça. Espere a sua vinda, mas espere trabalhando, afim de que ele nos ache servindo
bem (Lc.12.43).
Na primeira epístola, Paulo falou sobre a segunda vinda de Cristo. Depois, escreveu a segunda para avisar que
antes deveriam ocorrer a manifestação do iníquo e a apostasia.

NOVO TESTAMENTO I E II 64
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ESBOÇO
I - Introdução e saudações - 1.1-2.
II - A igreja dos tessalonicenses e a 2a vinda de Cristo - 1.3-12.
III - Os eventos que devem preceder a 2a vinda - 2.1-17.
IV - Exortações éticas e práticas à luz da 2a vinda - 3.1-15.
V - Saudação final - 3.16-18.

COMENTÁRIO
Novamente, Paulo faz elogios à igreja em relação à sua fé, seu amor e firmeza no meio das tribulações. A
tribulação pode tê-los feito pensar que já se tratava da "grande tribulação" escatológica.
Capítulo 1 - A segunda vinda de Cristo
Ao introduzir o assunto da segunda vinda de Cristo, Paulo mostra que ele trará recompensa para os justos e ímpios
(1.6-10), os quais serão encaminhados aos seus destinos eternos. Não se assombre com a situação dos ímpios hoje
(Sal.73). Sua eventual prosperidade é passageira, mas sua perdição é eterna, a não ser que se convertam e se
salvem, motivos pelos quais a igreja deve trabalhar.
Capítulo 2 – A apostasia
Apostasia significa abandono da fé. O apóstolo sempre se preocupava com a saúde doutrinária das igrejas, temendo
que elas fossem desviadas do caminho cristão (II Cor.11.3; I Tm.4.1; II Tm.4.3). Afinal, não se tratava apenas de
um temor mas de uma certeza: a apostasia aconteceria. Mas.. que apostasia é essa? Em todos os tempos houve
quem se desviasse do caminho. Porém, o desvio mencionado por Paulo parece assumir características peculiares,
talvez em função de sua profundidade doutrinária e da quantidade de desviados. Há quem relacione tal apostasia ao
estabelecimento do catolicismo romano sobre as bases da verdadeira igreja. O desvio da fé teria ocorrido mediante
a imposição de doutrinas estranhas aos ensinamentos de Cristo. Tal hipótese é digna de reflexão.
Capítulo 2 – O iníquo
O homem da iniqüidade, mencionado por Paulo, é normalmente identificado como o Anticristo. Paulo mesmo
nunca usou essa expressão em suas epístolas. João foi o único que falou explicitamente em "anticristo" e
"anticristos" (I Jo.2.18-22; 4.3; II Jo.7). É bastante comum a posição dos comentaristas sobre a identificação do
anticristo no texto de II Tessalonicenses 2. Além disso, as próprias editoras que imprimem a bíblia colocam tal
entendimento no título do capítulo.
Anticristo é, antes de tudo, um espírito, ou uma atitude contra Cristo. Sob esse enfoque, João diz que "muitos
anticristos têm surgido". Uma forma de sua manifestação é a oposição a Cristo. Outra maneira é a tentativa de se
fazer passar por Cristo, tentando assumir o seu lugar e tomar a sua honra.
A expectativa a respeito do Anticristo vem do Velho Testamento. O reino do Messias deveria ser precedido por
uma grande manifestação maligna. Tal personagem é, muitas vezes identificado como um homem, um grande líder
político. Sob esse ponto de vista são interpretadas algumas profecias do VT. O mesmo indivíduo é simbolizado
através da figura de animais. Estaria então relacionado com pelo menos uma das bestas do Apocalipse. De acordo
com a visão escatológica pré-milenista, o Anticristo se manifestará e será aceito pela nação de Israel como se fosse
o Messias. Em seguida, haveria um curto período de paz. Seu governo incluiría um rigoroso controle econômico.
Na seqüência, viria a grande tribulação, ainda sob o domínio do Anticristo. Ao fim desse período haveria a segunda
vinda de Cristo e a destruição do iníquo.
Textos geralmente associados ao assunto: Ez.38 e 39; Dn. 7.9-12; Dn.9.24-27; Dn. 11.21,36 a 12.2; Mt.24.5-30;
Apc.13.1,11,12,13; 19.19-20; Jo.5..43.
Os títulos do Anticristo:
Homem violento - Is.16.4.
Homem do pecado - II Tss.2.3.
O príncipe que há de vir - Dn.9.26
O rei do norte - Dn.11.40.
O angustiador - Is.51.13.
O filho da perdição - II Tss.2.3.
O iníquo - II Tss.2.8.
O mentiroso - I Jo.2.22.
O enganador - II Jo.7
O anticristo - I Jo.2.18,22; 4.3.
A besta - Apc.11.7; 13.1,7.
O rei feroz - Dn.8.23-25.
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Muitas têm sido as tentativas de se identificar o Anticristo na história. Grandes líderes mundiais têm sido apontados
como possíveis anticristos. Podem realmente ter sido no sentido lato mas não no restrito. Se Hitler ou Napoleão
tivessem sido o Anticristo, então Jesus teria voltado naquela época.
O texto diz que algo ou alguém impede a manifestação do Anticristo. Quem ou o quê o detém? Ninguém sabe
dizer. As especulações a esse respeito são tão variadas que há quem diga que Satanás impede tal manifestação. Um
grupo bem maior acredita que o Espírito Santo o detém. No meio termo há quem proponha que o empecilho seja o
próprio Paulo, ou o Império Romano ou o Imperador.
Suas ações - sinais e injustiça. Ele mostrará o poder do diabo em ação. Embora muitos digam o contrário, o Diabo
tem poder. Ele pode fazer o que Deus permite que ele faça. O Diabo faz sinais. E é importante que se diga que a
realização de sinais não determinam a origem divina de um fato ou a autoridade divina de um líder. O Diabo faz
sinais mas não ensina a justiça. O objetivo dos seus sinais é manter o homem preso.
Assim aconteceu no Egito. O objetivo dos sinais dos magos de Faraó era perpetuar a escravidão dos israelitas.
Então, como vemos hoje, o maligno oferece "trabalhos" para cura e "trabalhos" para matar as pessoas; "trabalhos"
para o sucesso e "trabalhos" para tomar o cônjuge de outra pessoa.
Em II Tss. 2, temos a associação dos seguintes elementos: sinais (poder) + mentira + engano + injustiça +
iniqüidade. Daí a importância de relacionarmos: poder (eventual manifestação) + verdade (palavra / constante) +
justiça (ação / constante).
Os judeus querem sinal: I Cor.1.22. Então, terão sinais. João Batista não fez nenhum sinal mas tudo o que ele disse
era verdade. Os sinais são importantes, mas são secundários. Jesus falou sobre sinais que seguiriam os que cressem
(Mc.16). Não somos nós que vamos seguir os sinais. A verdade está em primeiro lugar.
A identificação do Anticristo: O sinal, o número 666 e o seu nome. Ap.13-16-17.
Sua destruição: aniquilado por Cristo, na sua 2a vinda.
Capítulo 3 – Exortações éticas e práticas
A ênfase nesse capítulo está sobre o trabalho. Não devemos usar a expectativa da segunda vinda de Cristo como
desculpa para a preguiça, a ociosidade e a negligência.
Existe nesse ponto o risco de se adotarem posições extremas.
1 - Viver como se Cristo não fosse voltar. Isso poderia levar a um comportamento errado como aconteceu com os
israelitas quando pensaram que Moisés não desceria mais do monte.
2 - Viver como se ele fosse voltar imediatamente.
É necessário que tenhamos uma postura equilibrada conjugando fé, trabalho e vigilância.

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NOVO TESTAMENTO II

XIX - EPÍSTOLAS DE PAULO A TIMÓTEO

PRIMEIRA EPÍSTOLA DE PAULO A TIMÓTEO

Autor: Paulo
Texto chave – 3.15.
Local: Macedônia.
Data: 64 d.C. (datas prováveis variam entre 64 e 67) (entre as duas prisões em Roma).
Timóteo estava em Éfeso.
Essa foi uma das epístolas pastorais de Paulo (I Tm, Tt, II Tm.), escrita com o objetivo de animar, estimular e
instruir o jovem Timóteo a respeito de questões bastante práticas. Com Paulo surgiu o que poderíamos chamar de
uma "escola ministerial". Paulo ensinou a Timóteo que, por sua vez, deveria ensinar a outros e estes continuariam a
transmissão do ensinamento.
Timóteo
Seu nome significa: "que adora (ou honra) a Deus". Seu pai era grego. Sua mãe (Eunice) e avó (Lóide) eram judias
cristãs. Elas foram o exemplo e a origem dos primeiros conhecimentos que Timóteo recebeu a respeito de Deus.
Quando Paulo esteve em Listra, encontrou Timóteo, o qual passou a acompanhá-lo em suas viagens (At.16.1; II
Tm.1.5; 3.14-15).
Timóteo foi circuncidado por Paulo. Sua condição de filho de grego não favorecia seu livre curso na comunidade
judaica. Paulo então o circuncidou. Tal ato faria com que ele fosse tratado como se fosse um prosélito judaico
(At.16.3).
Paulo o chama de filho amado. Diz que ele é fiel. Além de ter sido companheiro de viagens de Paulo (2a e 3a
viagens missionárias), Timóteo foi enviado pelo apóstolo a vários lugares. (At.16.1-4; 17.13-15; 18.1,5; 19.22;
20.4; Rm.16.21; I Cor.16.10-11; II Cor.1.1,19; Col.1.1; Fp.1.1; 2.19; Fm.1; I Tss.1.1; 3.2; II Tss.1.1; II Tm.4.9,21).
Por fim, foi encarregado de cuidar da igreja em Éfeso – I Tm.3.2. Em alguma ocasião esteve preso e depois foi
solto – Hb.13.23. A tradição informa que Timóteo foi o 1o bispo de Éfeso. Se for verdadeira a informação, então
podemos vislumbrar a progressão daquele ministro, que começando como evangelista, tornou-se pastor da igreja de
Éfeso e acabou chegando ao bispado (I Tm.4.14; I Tm.1.3; II Tm.1.6; 4.5). Ainda, segundo a tradição, Timóteo foi
martirizado em Éfeso.

ESBOÇO
1 – Saudação – 1.1-2.
2 – A incumbência de opor-se aos falsos mestres – 1.3-11.
3 – O testemunho de Paulo – 1.12-17.
4 – Exortação a que se milite a boa milícia – 1.18-20.
5 – A oração – 2.1-8.
6 – Os deveres das mulheres cristãs – 2.9-15
7 – Oficiais da igreja – bispos e diáconos – 3.1-13.
8 – Admoestações contra a apostasia e as doutrinas de demônios – 3.14 a 4.5.
9 – Instruções sobre a conduta do ministro – 4.6 a 6.19.
10 – O tratamento com os transgressores, as viúvas, os anciãos, os escravos e os ricos. 5.1 a 6.19.
11 – Conclusão – 6.20-21.

Esboço comentado
1 – Saudação – 1.1-2.
2 – A incumbência de opor-se aos falsos mestres – 1.3-11.
Os gnósticos e os judaizantes estavam em plena atividade. Isso se constituía em problema para a igreja. Paulo
estava preocupado com as falsas doutrinas e a futura apostasia.
3 – O testemunho de Paulo – 1.12-17.
Destacado como exemplo para Timóteo.
4 – Exortação a que se milite a boa milícia – 1.18-20.
NOVO TESTAMENTO I E II 67
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A vida cristã e o ministério não são apresentados como meio de enriquecimento nem como um descanso
confortável. É uma milícia, um combate constante.
5 – A oração – 2.1-8.
6 – Os deveres das mulheres cristãs – 2.9-15
(veja 3.11 e Rm.16.1 – mulheres no serviço da igreja).
(Confira com I Cor.11.3-16 e 14.34-40 e I Pd.3.1-6.
7 – Oficiais da igreja – bispos e diáconos – 3.1-13.
Paulo especifica qualificações, requisitos, o caráter, as capacidades e os deveres dos líderes eclesiásticos. Isso era
extremamente necessário para que se evitasse a infiltração dos falsos mestres na igreja.
8 – Admoestações contra a apostasia e as doutrinas de demônios – 3.14 a 4.5.
Apesar de todo o cuidado de Paulo, o Espírito Santo já o tinha avisado que a apostasia seria inevitável. As doutrinas
de demônios seriam adotadas por muitos. Observe as estratégias do maligno. Em algumas circunstâncias ele quer
nos fazer acreditar que tudo é permitido. Em outros momentos, ele nos diz que não podemos fazer nada. É o tipo de
estratégia apresentada em I Tm.4.3: "Proibindo o casamento e ordenando a abstinência de alimentos que Deus criou
para os fiéis."
É preciso preservar a liberdade cristã. Sem manipulações (4.1-10). As necessidades básicas são legítimas, mas não
podem nos dominar através do excesso ou da licenciosidade.
9 – Instruções sobre a conduta do ministro – 4.6 a 6.19.
O valor do estudo e do ensino para combater o erro. (4.13).
Santidade pessoal. 4.11-16.
10 – O tratamento com os transgressores, as viúvas, os anciãos, os escravos, os ricos. 5.1 a 6.19. Confira com Tito
1.10 a 3.11.
11 – Conclusão – 6.20-21.

XX - SEGUNDA EPÍSTOLA DE PAULO A TIMÓTEO

Autor: Paulo
Data: Entre 64 e 66 d.C.

Esboço
I – Saudações – 1.1-5
II – Incumbência para Timóteo: desperte o dom – 1.6-18.
III – 2a incumbência – seja forte – 2.1-19.
IV – 3a incumbência – seja vigilante – 2.20 a 3.17.
V - 4a incumbência – pregue a palavra – 4.1-8.
VI – Saudações finais – 4.9-22.

Comentário
Paulo se encontrava preso novamente em Roma. Dessa vez, seria morto. Essa foi sua última epístola, embora não
esteja em último lugar na ordem adotada para o Novo Testamento. O apóstolo demonstra coragem, mesmo estando
consciente do seu destino (4.6-8). Ele não se entrega a murmurações. Apenas relata que foi abandonado por todos,
exceto por Lucas (1.15; 4.11). Encontra-se velho e teme pelo inverno que se aproxima. Pede que Timóteo vá ter
com ele levando sua capa e seus livros (4.13,21).
A segunda epístola tem muita semelhança com a primeira. Paulo se aplica a encorajar Timóteo, orientado-o no que
diz respeito à vida cristã e ao ministério. Lembrando os ensinamentos que o jovem pastor recebera na infância, bem
como as profecias a respeito de seu ministério e também sua consagração mediante a imposição de mãos, o
apóstolo o encoraja a assumir seu papel de obreiro de Deus. A epístola fala dos desafios e da postura determinada
do obreiro. Timóteo deveria despertar o dom ministerial (1.6) e defender a sã doutrina contra o erro (1.13).
Paulo compara o obreiro ao soldado (2.3). Na prisão, Paulo estava cercado por soldados. Assim, observava a
disciplina militar e aplicava tudo isso à sua própria vida espiritual. Como um soldado, o obreiro de Deus deve ser:
Forte (2.1).
Disciplinado.
Submisso.
Preparado para o combate.
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Firme e constante em seu objetivo, sem desistir.


Vestido com a armadura de Deus (Ef.6.12-17).
O ministro é ainda comparado ao atleta (2.5), o qual persegue um objetivo e para isso se aplica, se disciplina e de
muitas coisas de abstém (I Cor.9.24-27). A cultura grega havia valorizado muito o atleta. Foi desse contexto que
surgiram as olimpíadas em homenagem aos deuses mitológicos.
Paulo também compara o obreiro de Deus a um lavrador (2.6), com seu exemplo de trabalho e paciência na
expectativa dos frutos (Tg.5.7-8; Lc.9.62).
Utilizando de comparações, Paulo passa a Timóteo a orientação para que ele fosse um ministro fiel, cuidando do
rebanho, pregando e sendo, antes de tudo, exemplo. Deveria também ser vigilante e evitar contendas. De nada
adiantaria se Timóteo fosse forte mas não vigilante. Seria como um forte que está dormindo. Assim poderia ser
destruído.

XXI - A EPÍSTOLA DE PAULO A TITO

Local de origem: Macedônia.


Data: Entre 64 e 66 d.C. Após a libertação de Paulo de sua primeira prisão em Roma.
Essa é uma das epístolas pastorais. (Em ordem cronológica: I Tm. Tito e II Tm.)
Tema: Organização da igreja e comportamento cristão.
Texto chave: 1.5
Classificação: eclesiologia.

TITO
Embora fosse grego, seu nome vem do latim e significa "louvável". As referências a Tito no Novo Testamento
apresentam seu itinerário ministerial:
Tito 1.4 – Paulo o trata como "filho na fé", dando a entender que sua conversão se deu mediante a pregação do
apóstolo. Paulo demonstra ligação espiritual e fraternal com Tito.
Gálatas 2.1,3 – Tito acompanhou Paulo na viagem a Jerusalém e esteve presente no concílio de Atos 15, embora
não tenha sido mencionado naquele livro.
II Cor.2.13; 7.6-7; 7.13-15; 8.6; 8.16-18; 8.23-24; 12.18 – Tito trabalhou em Corinto e levou relatório para Paulo
sobre a situação da igreja.
Tito 1.5 – Trabalhou também em Creta.
Tito 3.12 – Foi encontrar-se com Paulo em Nicópolis.
II Tm.4.10 – Trabalhou também na Dalmácia.
De acordo com a tradição, Tito se estabeleceu em Creta, ficando ali até a sua velhice.

CRETA
É uma ilha do Mar Mediterrâneo, pertencente à Grécia e ao continente europeu.
Passagens de Paulo por Creta – At.27.7-13,21 (A caminho da prisão em Roma). Tito 1.5 (Fazendo trabalho
missionário após sua libertação).
Os cretenses eram imorais e preguiçosos. O Trabalho seria difícil para Tito.
Seu poeta famoso, Epimênides (600 a.C.), foi citado por Paulo (1.12).
Havia em Creta muitas cidades e, conseqüentemente, muitas igrejas (1.5), as quais podem ter sido fundadas por
Paulo, conforme nos parece pela epístola. Entretanto, algumas podem ter surgido pela ação de judeus convertidos
no dia de Pentecostes (At.2.11).

ESBOÇO
1-Introdução – 1.1-4.
2 – Deveres e qualificações dos ministros – 1.5-9.
3 – Os falsos mestres – 1.10-16.
4 – Instruções em relação ao comportamento cristão – 2.1-10.
5 – A salvação – 2.11-15.
6 – A vida cristã na sociedade – 3.1-11.
7 – Conclusão – 3.12-15

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ESBOÇO COMENTADO
1-Introdução – 1.1-4.
2 – Deveres e qualificações dos ministros – 1.5-9.
Essa parte é bastante semelhante à primeira epístola a Timóteo. Apresenta requisitos para os obreiros da igreja.
1.5 - "Por esta causa te deixei em Creta". Se em algum momento Tito se sentisse incomodado com os problemas
das igrejas e do povo de Creta, deveria então se lembrar das palavras do apóstolo. "Por esta causa te deixei em
Creta, para que pusesses em boa ordem o que ainda resta." Não devemos reclamar daquilo que faz parte do
propósito de Deus para nós. A situação em Creta poderia não ser muito confortável para Tito mas, se tudo estivesse
bem, sua presença não seria necessária.
Tito recebeu a incumbência de constituir ministros. Observamos nisso a capacidade de Tito e confiança de Paulo
em sua pessoa.
3 – Os falsos mestres – 1.10-16.
Paulo demonstra novamente sua constante preocupação com os falsos mestres e a saúde doutrinária das igrejas.
Entre esses, estavam "os da circuncisão" (1.10,14). Tal expressão designava os judaizantes, aqueles que queriam
impor a lei judaica sobre os gentios convertidos ao cristianismo. Em 3.10-11, Paulo instrui Tito a como tratar o
herege, o qual deveria ter oportunidade, através de admoestações. Contudo, isso também teria um limite: "Depois
da primeira e segunda admoestação, evita-o". Não devemos perder o nosso tempo com discussões infindáveis sobre
questões polêmicas. Se não chegarmos a um acordo rapidamente, então não permitamos que isso vire contenda
(3.9).
4 – Instruções em relação ao comportamento cristão – 2.1-10.
Assim como ocorre em várias epístolas, Paulo apresenta instruções práticas para a vida cristã. Ele se refere a várias
classes de pessoas que faziam parte da igreja. Sabendo que o povo de Creta era imoral e preguiçoso, os convertidos
deveriam ter um padrão de comportamento diferente.
5 – A salvação – 2.11-15.
Como sempre, Paulo dedica parte de sua epístola para reforçar o ensinamento a respeito dos fundamentos da fé
cristã.
2.11 – Universalidade da graça divina: "a todos os homens". Esse texto é um dos que derrubam a teoria da
predestinação absoluta para a salvação ou para a perdição.
2.13 – Divindade de Cristo.
2.14; 3.1,8,14 – Essas passagens destacam o valor das boas obras, ou frutos do cristão. Não se trata apenas de obras
de caridade, mas ações justas de modo geral. A salvação é pela graça e pelo amor de Deus (3.4-5), mas as boas
obras acompanham a salvação. É o testemunho diário do cristão.
6 – A vida cristã na sociedade – 3.1-11.
A epístola fala das relações na igreja, na família, no trabalho e na sociedade. Em todos esses lugares existe o
conceito de autoridade e governo. O evangelho afetará todas as áreas da vida do convertido.
7 – Conclusão – 3.12-15
Paulo parece apressado ao escrever essa epístola. Não especifica nomes na saudação e abrevia a benção final
(3.15).

XXII - EPÍSTOLA DE PAULO A FILEMOM

Data: 60 ou 61 d.C.
Local: Roma. Epístolas da prisão: Ef. Col. Fm. Fp.
Tema: Retorno do escravo Onésimo.
Epístola de caráter pessoal.

FILEMOM
Era um homem rico da cidade de Colossos. Seu nome grego significa "amável".
ESBOÇO
1 – Saudações e ações de graças – 1-7.
2 – Apelo de Paulo a favor de Onésimo – 8-21.
3 – Saudações finais – 22-25.

NOVO TESTAMENTO I E II 70
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TEOLOGIA SUPERIOR - BACHARELADO

ESBOÇO COMENTADO
v.1,9,10,13 – Paulo estava velho e preso em Roma.
v.2 – Na casa de Filemom se reunia uma igreja. De acordo com os comentaristas, Áfia seria o nome da esposa de
Filemom e Arquipo, seu filho.
v.8-20 – Retorno do escravo Onésimo.
Onésimo havia fugido para Roma. Era um escravo esperto e visionário. Foi logo para a capital do Império. Talvez
tenha furtado de Filemom antes de fugir. Em Roma, encontra-se com o apóstolo Paulo e se converte ao evangelho.
Em seguida retorna a Colossos junto com Tíquico, levando a carta a Filemom e também a epístola aos Colossenses
- Col.4.9.
O nome Onésimo significa "útil", exatamente o que não tinha sido para Filemom, mas passaria a ser (v.11).
A carta enfatiza a transformação de uma vida. O convertido precisa reparar o erro cometido, se isso for possível.
Para Onésimo, era possível voltar à casa do seu senhor. Portanto, devia fazê-lo. Restituir o dinheiro furtado,
entretanto, não era possível (v.18).
Nessa carta, chama-nos a atenção a questão da escravidão. Paulo não condenou tal prática. Afinal, estava
mandando o escravo de volta ao seu dono. Temos uma idéia de escravidão muito vinculada à prática portuguesa no
Brasil. Entretanto, podemos amenizar esse conceito quando estudamos a respeito da servidão entre os judeus. Um
judeu poderia se tornar escravo do outro como forma de pagar uma dívida. O contexto de Onésimo não era judaico,
mas devemos observar que Paulo aconselhou Filemom a tratar o escravo como um irmão amado. Então, o texto não
está endossando a prática de crueldades contra os escravos. Mesmo assim, a questão parece não estar ainda
resolvida. Talvez esperássemos que Paulo "proclamasse a liberdade" de Onésimo. Contudo, não o fez. O fato é que
o evangelho não é uma metodologia de revolução social, mas de revolução pessoal. Paulo não poderia
simplesmente dizer que Onésimo estava livre. Onde ele iria morar? Quem garantiria o seu sustento. Então, o
melhor a fazer era retornar à casa de Filemom.
Manter Onésimo como escravo é totalmente contrário à "teologia da prosperidade" e a "teologia da libertação".
Entretanto, o cristão só não pode ser escravo do pecado nem do Diabo. (I Cor.7.20-21). Escrevendo aos Coríntios,
Paulo mostra que não importa se o cristão é servo ou senhor. Contudo, se tiver oportunidade de se libertar, não
deve perdê-la. A libertação dos escravos era ideal e desejável. Contudo, isso não poderia ocorrer de modo
temerário, mas dependeria da situação de cada um. Do mesmo modo, muitos empregados hoje vivem em situação
semelhante à de escravos. É verdade que ganham o seu salário mensal, mas este é tão "mínimo" que talvez fosse
melhor morar na casa do patrão e ter roupa, comida e um teto. Proclamar a libertação de Onésimo seria como dizer
a um empregado de hoje: "Saia desse serviço. Deus tem algo melhor para você." Poderíamos fazer isso sem ter algo
a oferecer para a pessoa? Tal questão não pode ser definida através de uma regra, pois trata-se de algo pertencente
ao plano de Deus para cada cristão individualmente. Acima de todas essas considerações, Deus tem todo controle
sobre a história e pode permitir ou encerrar os períodos de escravidão de acordo com os seus soberanos e
inescrutáveis propósitos. Lembremo-nos de Israel, o povo de Deus, que foi escravizado no Egito durante 430 anos,
mas, no tempo certo foi liberto pelo Senhor. Nada disso acontece sem um propósito e sem uma razão, embora nem
sempre a conheçamos.
v.17-19 – A epístola a Filemom mostra o empenho de Paulo a favor de um escravo, a fim de que seu senhor o
recebesse pacificamente. O escravo convertido passa a ser chamado de irmão amado (v.16), filho (v.10) e fiel
(Col.4.9). É fácil ver alguém se empenhando a favor dos abastados. Entretanto, o amor de Cristo deve nos fazer
agir a favor dos menos favorecidos.

XXIII - EPÍSTOLA AOS HEBREUS

Autoria : incerta. Paulo é um dos mais prováveis nomes sugeridos.


Data : entre 60 e 70 d.C.
Local de origem: talvez Itália (Hb.13.24).
Tema principal: A superioridade de Cristo.
Palavra-chave: melhor (ou superior, ou mais excelente).
Classificação: cristologia
Destinatários: judeus cristãos que talvez residisssem em Jerusalém.

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O NOME DA EPÍSTOLA
"Hebreu" era o nome dados aos israelitas pelas nações vizinhas. Talvez tenha derivado de Éber ou Héber, que
significa "homem vindo do outro lado do rio" (Jordão ou Eufrates) (Gn.10.21,24; 11.14-26; 14.13 Js.24.2). Abraão
foi chamado de "hebreu".
Temos então várias designações para o mesmo povo:
- Hebreu: designa descendência.
- Israel: destaca o aspecto religioso.
- Judeu: da tribo de Judá ou habitante do reino de Judá.
Alguns desses termos foram mudando um pouco de sentido com o passar do tempo. O "judeu" do Velho
Testamento estava estritamente ligado à tribo de Judá. Depois do cativeiro, a maior parte dos que regressaram a
Canaã eram da tribo de Judá. Então, "judeu" tornou-se quase um sinônimo de israelita, já que quase todos os
israelitas eram judeus. O termo tem esse mesmo sentido genérico até hoje.
O "hebreu" do Velho Testamento era todo indivíduo israelita. No Novo Testamento, esse termo passa a designar
mais especificamente aquele israelita que fala aramaico e é mais apegado ao judaísmo ortodoxo, em contraposição
ao "helenista", que é o israelita que fala grego e está mais influenciado pela cultura grega. Nesse sentido, veja
Filipenses 3.5 e II Coríntios 11.22, nos quais o apóstolo Paulo cita com orgulho o fato de ser "hebreu" , assim como
eram seus pais.

OS DESTINATÁRIOS
A epístola aos hebreus nos mostra que seus destinatários eram judeus cristãos. Ao mesmo tempo em que o autor
está se dirigindo a pessoas convertidas a Cristo (Hb.10.19), ele dá a entender que elas tinham um passado de
vínculo com o judaísmo. Tais irmãos pertenciam a uma igreja, cujos líderes são anonimamente referenciados no
capítulo 13 (versos 7, 17 e 24). A localização de tal igreja é objeto de especulação por parte dos estudiosos e
comentaristas. As sugestões mais comuns são: Roma, Jerusalém, Antioquia, Cesaréia e Alexandria. Como se vê, as
possíveis cidades eram grandes centros. Jerusalém e Cesaréia eram cidades da Judéia. Nas outras localizavam-se
grandes colônias judaicas. Naturalmente, em todas elas havia igrejas locais que contavam com a presença de muitos
judeus cristãos.

AUTORIA
A epístola não apresenta o nome do seu autor. Muitos são os que atribuem a Paulo sua escrita. Em alguns
manuscritos antigos encontra-se o título: "Epístola de Paulo aos Hebreus". Evidentemente, o título traz a conclusão
de algum copista ou autoridade religiosa, visto que não faz parte do texto. Alguns "pais da igreja" atribuíam a
autoria a Paulo sem dificuldades. Os defensores dessa hipótese, utilizam as palavras de Pedro em sua segunda
epístola (3.15). A passagem nos informa que Paulo escreveu aos judeus. Contudo, isso não encerra a questão, pois
tal escrito pode ter sido a chamada carta aos hebreus, mas pode também ter sido outra. A referência que o autor faz
a Timóteo (Hb.13.23) também é usada como argumento. Além disso, a epístola está dividida em dois blocos:
doutrinário (capítulos 1 a 11), e prático (capítulos 12 e 13). Isso nos lembra o método paulino. No texto prático do
capítulo 13, temos uma lista de admoestações curtas, à maneira de Paulo. A doxologia (13.20-21) e a bênção final
(13.25) também reforçam a tese.
Os comentaristas que se opõem à autoria paulina, argumentam sobre a diferença de estilo da carta aos Hebreus
quando comparada às epístolas paulinas. Alguns creditam a autoria a Barnabé, Lucas, Apolo, ou Priscila.

DATA
A referência a Timóteo e ao fato de sua prisão fazem a datação do livro se projetar para o final dos anos 60 do
primeiro século. Já que as epístolas paulinas não dizem que Timóteo tenha sido preso, então é possível que a carta
aos Hebreus tenha sido produzida depois daquelas identificadas paulinas. O livro fala de um sacerdócio em
funcionamento no templo de Jerusalém (10.1,11; 9.6-8). Isso nos faz concluir que o livro não pode ter sido escrito
depois do ano 70, data da destruição do templo. Portanto, a datação, embora indefinida, fica entre 60 e 70 d.C.

CARACTERÍSTICAS
O livro tem teor cristológico, ou seja, apresenta um verdadeiro tratado sobre a pessoa de Cristo, principalmente no
que tange à sua obra vicária.
O livro é apologético. Seu discurso é um forte pronunciamento em defesa da fé cristã contra recuos ou desvios.
A carta aos Hebreus liga o Velho e o Novo Testamento de modo brilhante. Temos na obra os seguintes confrontos:
- Valores da lei X valores da graça
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- Símbolos X realidade
- Antiga aliança X nova aliança
- Passado X futuro (Hb.2.5)
TEMA
A superioridade de Cristo sobre os profetas, os anjos, a lei, sobre Moisés, Josué, Aarão e sobre os sacerdotes
(Hb.1.4; 6.9; 7.7,19,22; 8.6; 9.23; 10.34; 11.16,35,40; 12.24).

ESBOÇO
1 - A glória e a superioridade de Cristo - 1.1 a 4.13.
2 - O novo sacerdócio de Cristo - 4.14 a 8.13.
3 - Contraste entre o velho e o novo - 9.1 a 10.39.
4 - A glória da fé - 11.1-40.
5 - A vida de fé - 12.1 a 13.25.

O PROBLEMA - ENTRE O PASSADO E O FUTURO.


Lendo a epístola, podemos delinear o problema que deu ensejo à sua produção. Os hebreus, a quem a carta foi
destinada, eram judeus que, tendo se convertido ao cristianismo, se sentiam tentados a recuar, retornando ao
judaísmo. Estavam em uma situação de paralisação espiritual. Viviam em um dilema e, com isso, não cresciam
espiritualmente (Hb.5.11-14). O autor escreveu para mostrar a esses irmãos que eles estavam livres da antiga
aliança. Tal propósito era de grande envergadura. Se já era difícil provar aos gentios convertidos que eles não
precisavam observar a lei, quão árdua seria a tarefa de demonstrar o mesmo princípio para judeus cristãos! Eles
estavam presos ao passado, assim como acontece hoje com alguns cristãos que querem obedecer a lei de Moisés.
As realidades da graça já eram presentes. Contudo, ainda se encontravam no futuro para aqueles que hesitavam em
relação à apropriação das mesmas.

O PASSADO O PRESENTE / FUTURO


Lei Graça, evangelho
Valores da lei Valores da graça
Templo (material) Igreja (espiritual)
Personagens: Moisés, Aarão, profetas, anjos Jesus e o Espírito Santo
Símbolos Realidades
Sombras Realidades
O visível O invisível
Aparência Essência
Material Espiritual
Transitório Permanente
Temporário Eterno
Realidade física Realidade espiritual
Cópia Modelo original
Figura Verdadeiro
Antiquado, envelhecido Novo
Terreno Celestial

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Diversos elementos da Velha Aliança podem ser comparados à maquete de uma obra futura. Diante daquele
modelo, todos ficam entusiasmados e esperançosos. É o que existe de mais semelhante ao resultado almejado.
Depois que a obra é realizada, então o apego à maquete torna-se motivo de zombaria. A obra de Cristo está
consumada. Não precisamos mais ficar apegados aos símbolos do passado que apontavam para Cristo. Seria como
ficar extasiado diante de uma placa indicativa ao invés de se dirigir ao lugar que ela aponta. Paulo diz que a lei era
o aio que nos conduziu a Cristo. O aio era o servo que levava a criança para a escola. Lá chegando, o interesse se
voltava para o mestre. Se encontramos o Mestre Jesus, já não faz sentido o apego ao aio lei.
A situação dos hebreus foi ilustrada através de uma etapa de sua própria história. O autor demonstra que, assim
como seus antepassados estavam no deserto, hesitando diante de Canaã (Hb.4.1), os hebreus estavam hesitantes
diante da graça de Deus e seus benefícios. O livro admoesta radicalmente a respeito dos riscos representados pelo
retrocesso, pela apostasia (Hb.4.1; 6.1-6; 10.38-39). O desvio encontra-se relacionado à incredulidade,
desobediência e rebelião (Hb.2.1-3; 3.12,16-19; 4.11). Em lugar do desvio, os hebreus são aconselhados a avançar
com ousadia (Hb.10,19).
O aspecto cerimonial da velha aliança era algo grandioso. Como exemplo, podemos citar a grandeza do templo e os
belos trajes sacerdotais. Diante de tudo isso, a igreja aparece como algo muito simples. Ela não precisa de um
templo, embora possa utilizá-lo. Seus ministros não precisam de belas vestes para a direção do culto. A igreja do
Senhor Jesus encontra-se onde estiverem dois ou três reunidos em nome do Senhor. É tudo tão simples que poderia
parecer vazio aos olhos dos hebreus. Eles ainda estavam apegados ao templo judaico, mas precisavam se acostumar
a viver sem ele, pois sua destruição estava bem próxima (Hb.8.13 ?).

O VISÍVEL E O INVISÍVEL (Aparência x essência)


Os hebreus estavam muito apegados aos aspectos visíveis do judaísmo. Aliás, o ser humano, em geral, tem essa
tendência. Por isso é que muitos objetos acabam sendo incorporados à prática religiosa que, em princípio, é
essencialmente espiritual. Na igreja, podemos usar recursos visíveis, uma vez que a Bíblia nos dá exemplos disso.
Os lenços de Paulo curavam (At.) Contudo, precisamos ter cuidado para não elaborarmos doutrinas e
condicionamentos para a nossa fé.
No Velho Testamento, Deus usa recursos visíveis com restrições. Ele mandou fazer a arca da aliança, a serpente de
bronze e outros objetos, mas proibiu a fabricação de imagens de escultura como representação de Deus ou de
deuses (Dt 4.12, 15-19).
Deus pode usar o visível, mas "bem-aventurados os que não viram e creram" (João 20.29). A experiência de Tomé,
ao ver o Senhor Jesus ressuscitado, foi autêntica, maravilhosa, importante, mas melhor seria se ele não tivesse
dependido disso. Sua fé não foi suficiente.
Em Mateus 8.5-10, temos o elogio de Jesus ao centurião que não dependia nem da presença física do Mestre para
que seu servo fosse curado. Jesus disse que nem em Israel havia encontrado tanta fé. Quanto mais dependentes nós
formos de elementos visíveis para sermos curados ou abençoados, menor é a nossa fé. Recursos, tais como objetos
ungidos, podem até ser importantes para os neófitos na fé, mas devem ser abandonados na medida em que vai se
chegando à maturidade espiritual. Não podemos fazer de um objeto ungido um amuleto.
O autor aos hebreus se esforçava por conduzi-los a um novo nível, em que não dependeriam de objetos sagrados,
lugares físicos ou sacerdotes terrenos.
O autor coloca em destaque: a fé. O capítulo 11, tão utilizado quando se estuda sobre a fé, ali está com esse
objetivo: mostrar aos hebreus que até mesmo seus antepassados, os pais, juízes e profetas, viveram e serviram a
Deus e venceram pela fé e não por vista. Portanto, convinha que os hebreus seguissem tal exemplo e se
desvencilhassem de toda dependência visual contida no cerimonial judaico.
Hb.11.1 – A fé é a certeza das coisas que não se vêem. Os leitores precisavam entrar nessa nova realidade. Não
podiam mais depender da aparência. O autor enfatiza que tudo o que vemos foi feito do que não é aparente. Logo, o
invisível é anterior e superior ao visível. O visível é a aparência das coisas. É algo que impressiona as pessoas e
causa emoções e reações. Muitas religiões usam de grande pompa para impressionar seus fiéis. Com isso, passam a
idéia de uma essência que, de fato, não existe. As pinturas, esculturas, a arquitetura e a música são alguns
elementos que ajudam a montar um cenário impressionante, mas não constituem essência espiritual (Obs. II
Tm.3.5).
O mundo espiritual é invisível para nós hoje, mas um dia poderemos vê-lo. Hoje, podemos falar apenas de uma
"visão espiritual", como acontecia com os patriarcas (Hb.11.13,26,27). Pela fé, "vemos" o cumprimento das
promessas. Um dia porém, Cristo aparecerá (Hb.9.28). Então, o invisível se tornará visível.
TERRA E CÉU

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Utilizando os termos "terra" e "céu", o autor tenta fazer com que seus destinatários "mudem o foco" de sua
espiritualidade.
Jesus já havia apresentado essa ênfase em sua mensagem ao ensinar sobre o Reino dos céus, tesouro nos céus, Pai
nosso que estais no céu, assim na terra como no céu. Qual é a ênfase do nosso evangelho: a terra ou o céu? Valores
terrenos ou valores celestiais?
Hb. 1.10 - Terra e céu.
Hb. 4.14 - Penetrou nos céus
Hb. 7.26 - Mais sublime que os céus.
Hb. 8.1 - Assentou nos céus.
Hb. 9.23 - Figura das coisas que estão no céu.
Hb. 9.24 - santuário no céu.
Hb. 12.23 - Primogênitos inscritos nos céus.
Hb. 12.25 - Aquele que é dos céus.
Hb. 12.26 - Terra e céus.
A realidade celestial
3.1 - Vocação celestial (passado). Deus nos chama.
6.4 - dom celestial (presente). Deus nos capacita.
8.5 - coisas celestiais (embora já existam, são futuras para nós).
9.23 - coisas celestiais (futuras para nós).
11.16 - pátria celestial (futura para nós).
12.22 - Jerusalém celestial. (futura para nós).
Para o escritor aos hebreus, o céu não é um lugar vazio, envolto em névoa branca. Ele fala de uma cidade celestial,
de um santuário celestial e coisas celestiais, as quais se constituem em mistério para nós. Em destaque está o
santuário celestial, o qual foi visto por Moisés no monte e serviu de modelo para a construção do santuário terreno.
Portanto, os hebreus não deveriam ficar apegados ao terreno, mas sim ao santuário celestial, onde Cristo entrou
depois de oferecer sua própria vida como sacrifício.

A SOLUÇÃO
O problema dos hebreus consistia no apego a algo bom. Como disse o apóstolo Paulo em Romanos 7, "a lei é santa
e o mandamento é santo, justo e bom". O apego ao que é bom pode nos privar daquilo que é melhor. A epístola
vem mostrar "o melhor" para os hebreus. Esta é a palavra chave da carta. As expressões "superior", ou "tão
superior", ou "maior" ou "mais excelente", variando conforme a tradução, também são freqüentes e demonstram o
pensamento do autor no seu esforço por apresentar a superioridade de Cristo e do evangelho no confronto com a lei
e a velha aliança.
Melhor: Hb.1.1-4; 6.9; 7.4,19-22; 8.6; 9.23; 10.34; 11.16; 11.35; 11.40; 12.24;
Tão superior: Hb.1.4
Maior: Hb.3.3; 7.7; 9.11; 10.29; 11.26;
Mais excelente: Hb.1.4; 8.6; 11.4.
As expressões "tão superior" e "mais excelente" contém uma ênfase muito forte. Bastaria dizer que Cristo é
superior ou excelente. Contudo, o autor utiliza uma terminologia que demonstra a insuperabilidade do Senhor
Jesus.
A palavra de Deus nos convida à excelência (I Cor.12.31). Não devemos, pois, ter uma atitude comodista, mesmo
que nossa situação espiritual seja boa. "Quem é santo, seja santificado ainda." (Ap.22.11). Avance, suba, progrida.
Não existem limites para a nossa experiência com Deus.
Mostrar algo melhor para um povo que já tem um pacto com Deus é um desafio muito grande. Contudo, o autor se
saiu muito bem na produção de sua apologia. Seu argumento central é a apresentação da pessoa de Jesus. É verdade
que ele estava escrevendo para cristãos, pessoas que já conheciam a Cristo. Porém, ainda não haviam
compreendido plenamente sua personalidade e sua obra.
Os hebreus estavam ainda apegados aos personagens do Velho Testamento: Abraão, Moisés, Aarão, Josué, Davi,
profetas, anjos, etc. Então, a epístola apresenta afirmações contundentes sobre Cristo. Ele é apresentado como:
Filho de Deus – Hb.1.1; 4.14.
Sumo sacerdote – Hb.6.20
Autor da salvação – Hb.2.10.
Autor e consumador da fé. – Hb.12.2. etc.

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Tais afirmações destroem qualquer tentativa de comparação ou desejo de exaltação de homens ou anjos. Todos se
reduzem drasticamente diante da grandeza do Senhor Jesus Cristo. Sendo assim, a graça por ele oferecida, a nova
aliança, o evangelho e a igreja, estão suficientemente afiançadas para que sejam aceitos sem hesitação. Jesus é o
fiador e o mediador da nova aliança (Hb.7.22; 9.15).
Na apresentação da superioridade de Cristo, apresenta-se um paradoxo. Os grandes, na concepção humana, são
exaltados, servidos, obedecidos e fazem sofrer. Jesus, o maior, foi humilhado, servo, obediente e sofredor.
Contudo, todo o seu sofrimento era necessário para ser nosso legítimo representante no exercício do seu sacerdócio
(Hb.2.14-18).
Ao se falar no sacerdócio de Cristo, os hebreus poderiam levantar o seguinte questionamento: Como Cristo poderia
ser sumo sacerdote tendo nascido da tribo de Judá? Os sacerdotes vinham da tribo de Levi. Por isso, o autor diz que
Cristo era sumo sacerdote da ordem de Melquisedeque, a qual é anterior e superior à ordem de Aarão, que
descendia de Levi.
Para que o impasse dos hebreus se resolvesse, eles deveriam entrar na nova realidade apresentada por Cristo: a
nova aliança com Deus. A nova realidade é acessada por meio da fé. De fato, sendo judeus convertidos, eles criam
em Cristo, mas ainda não usufruíam de todos os recursos da graça.

FUNDAMENTOS DA NOVA PROPOSTA


A fé e o invisível podem parecer propostas bastante vagas e propiciadoras de infinita especulação imaginativa. Já
que o objeto da fé é invisível, então qualquer sugestão pode ser aceita, mesmo que seja algo inexistente? De fato, é
o que ocorrido muitas vezes. Homens influentes acabam por convencer muitas pessoas a respeito de uma suposta
realidade espiritual. Assim, surgem muitas religiões e seitas. Outras vezes, tal realidade é um fato, mas pertence ao
domínio do mal.
Diante disso, perguntamos: qual é o fundamento da nossa fé? A fé é o fundamento das coisas que se esperam
(Hb.11.1) e o fundamento da fé é a palavra de Deus. "A fé vem pelo ouvir... a palavra de Deus". (Rm.10.17). O
autor da epístola aos Hebreus faz então um exame de toda a estrutura cristã, a qual poderíamos comparar a uma
construção, onde cada parte está firmada sobre a anterior, que, por sua vez, precisa ser sólida e bem fundamentada.
O fundamento da nossa fé é aquilo em que nós cremos. Pela fé aguardamos que um fato aconteça. Então vem a
questão crucial: o fato que se espera foi prometido por Deus? Se a resposta for positiva, então nossa fé está
fundamentada na promessa, na palavra de Deus. Se a resposta for negativa, então estamos esperando algo que não
virá.
Quando Pedro andou sobre as águas, seu passo de fé estava firmado na palavra de Jesus que lhe disse: Vem! O
mesmo ocorreu na pesca milagrosa. Pedro disse: "Sobre a tua palavra lançarei as redes." (Lc.5.5).
Muitas pessoas dizem crer em algo apenas porque isso corresponde ao seu desejo pessoal. Se tal realização estiver
no âmbito das possibilidades humanas, então pode mesmo acontecer, mas se depender de uma ação de Deus, então
precisa estar fundamentada na palavra de Deus. Além da palavra escrita na Bíblia, Deus pode nos falar de modo
específico, visando situações particulares da nossa vida.
Quando se faz um exercício de fé sem uma palavra de Deus como base, o resultado pode ser a frustração.
Havendo fé na palavra dita por Deus, ainda cabe, em muitos casos, a ação humana coerente com a palavra. É a
obediência. Algumas profecias divinas são absolutas e incondicionais. Vão acontecer de qualquer forma. Outras
vêm acompanhadas de uma ordem ou mandamento e estão condicionadas à obediência. Por exemplo, a promessa
de Deus a Abraão estava ligada a uma ordem: "Sai da tua terra e da tua parentela." Sobre esta palavra, Abraão
depositou sua fé e acrescentou a obediência. Abraão saiu sem saber para onde ia. Desse modo, "o que se espera"
(Hb.11.1) vem. "O que há de vir virá e não tardará." (Hb.10.37). Se, por outro lado, formos incrédulos e
desobedecermos à palavra, estaremos também juntando elementos que trarão o castigo, que também é um
cumprimento da palavra de Deus. Contudo, sempre há um tempo para o arrependimento e a retomada do rumo
certo.

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Para ilustrar o conceito dos fundamentos, construímos o quadro a seguir:

O que você espera... virá???


O que você não vê... existe??
Sua fé tem base na palavra de Deus ou base na imaginação humana?
Tem base na vontade de Deus ou na vontade humana?
Seu fundamento é rocha ou areia? Jesus comparou sua palavra à rocha (Mt.7.24). A obediência, que pressupõe fé,
seria a construção sobre a palavra. A desobediência também seria um tipo de construção, destinada a ruir sobre o
seu construtor.
A palavra é verdadeira, mas sem fé ou sem obediência não produz o efeito desejado (Hb.3,18,19; 4.1,2,11). Aqui
temos um lado positivo e um lado negativo. No esquema abaixo, temos o vazio de uma falsa fé ou uma falsa
palavra.

Poderíamos desenhar um esquema semelhante a este em representação de questões legítimas de execução da


vontade humana no mundo natural. Nesse caso não incluiríamos o diabo. O homem pode ter seus desejos, fazer
seus planos, empenhar sua palavra, promover suas ações e fazer com que o que se espera venha a se concretizar.
Contudo, isso não funciona do mesmo modo no mundo espiritual, a não ser que a vontade de Deus seja a base (I
Jo.5.14-15). Podemos aplicar fé sobre tudo que pedimos a Deus? Apenas quando o nosso pedido estiver coerente
com a sua palavra. Algumas vezes pedimos algo que não está contra a Bíblia, mas pode estar contra o plano
específico de Deus para cada um de nós. Por exemplo, se alguém pede que Deus lhe dê riqueza, isso não está contra
a Bíblia. Por outro lado, o Senhor nunca prometeu que todos os seus filhos seriam ricos materialmente. Se alguém
pede, deve fazê-lo com fé. Porém, se tal pessoa não tiver recebido uma palavra específica de Deus, então sua fé
pode ser como uma parede construída sobre a areia. Veja como foi diferente o caso de Salomão. Deus lhe disse:
"Pede-me o que quiseres." Então, se ele tivesse pedido riqueza, sua fé estaria totalmente fundamentada. Fez melhor
pedindo sabedoria. É o que precisamos para fazermos os próximos pedidos.

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Às vezes pensamos que estamos fundamentados na palavra quando, na realidade, trata-se de um falso entendimento
da mesma. Por exemplo, em Atos 16.31 Paulo disse: "Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e a tua casa." Muitos
usam esse versículo para esperar ou "cobrar" de Deus a salvação da família. Contudo, tal palavra foi dirigida
especificamente ao carcereiro de Filipos e não se trata de uma doutrina, a qual possa ser aplicada genericamente.
Um entendimento errado conduzirá à frustração. Toda a minha família pode se converter ao Senhor, mas isso não
tem nada a ver com Atos 16.31, pois aquele texto não traz uma promessa para nós. O própria Paulo escreveu aos
Coríntios: "Como sabes tu, ó mulher, se salvarás teu marido? ou, como sabes tu, ó marido, se salvarás tua mulher?"
(I Cor.7.16). No caso do carcereiro, creio que Paulo falou por uma revelação específica destinada àquela família. O
mesmo Deus pode revelar hoje. Só não podemos fazer uma regra a esse respeito.
Quando Pedro andou sobre as águas, a palavra de Jesus foi dirigida especificamente a ele. Os outros discípulos não
poderiam descer do barco. Nós também não estamos autorizados a fazer viagens a pé pelo oceano.
Muitos citam Mateus 6.33 da seguinte forma: "Buscai primeiro o reino de Deus e a sua justiça e as outras coisas
vos serão acrescentadas." Desse modo, poderíamos esperar de Deus tudo o que pudéssemos pedir e imaginar. Essa
distorção às vezes acontece quando se fazem músicas com os versículos. Para encaixar na melodia, o versículo é
mudado. Então as pessoas aprendem dessa forma. Contudo, a Bíblia diz: "Buscai primeiro o reino de Deus e a sua
justiça e todas estas coisas vos serão acrescentadas." O significado é bem mais restrito do que normalmente se diz.
"Estas coisas" são as que Jesus mencionou no versículo 25: comida, bebida e vestuário. É verdade que Deus pode
nos dar infinitamente mais. Contudo, o versículo não está prometendo isso. Não podemos ver ali casas luxuosas,
carros, navios, empresas, etc. Seria muita criatividade da nossa parte.
A fé precisa estar fundamentada na palavra. Precisamos, portanto, entender a palavra (Dn.10.1) e saber a quem ela
foi dirigida.
Observe que, em Hebreus, a "palavra", ou "promessa", ocupam lugar de destaque. A "fé" e a "esperança" do
mesmo modo. A "incredulidade" é condenada. Nesse caso, a fé na promessa é substituída pela fé no castigo, a qual
é chamada de "expectação terrível" (Hb.10.27).
Vejamos as ocorrências dessas palavras e outras derivadas no texto:
Palavra(s) - Hb.1.3; 2.2; 4.2,12; 5.13; 6.5; 7.28; 10.28; 11.3; 12.19,27; 13.7,22. Temos nessas passagens, quase
sempre, a palavra de Deus. Aparecem também as palavras dos anjos, das testemunhas e do próprio autor da carta.
Promessa(s) - Hb.4.1; 6.12,13,15,17; 7.6; 8.6; 9.15; 10.23,36; 11.9,13,17,33,39.
Prometido - Hb.11.11; 12.26.
Fé - Hb.4.2-3; 6.1,12; 10.22,38; 11.1,3,4-9,11,13,17,20-25,27,29-31,33,39; 12.2; 13.7.
Creia - Hb.11.6.
Esperança - Hb.3.6; 6.11,18; 7.19; 10.23.
Esperando - Hb.6.15
Esperam - Hb.9.28; 11.1.
Esperando - Hb.10.13.
Esperava - Hb.11.10.
Expectação - Hb.10.27.
Incredulidade - Hb.3.12,19
Obediência - Hb.5.8.
Desobediência e desobedientes - Hb.2.2; 3.18; 4.6,11; 11.31.
Para os irmãos do primeiro século, a palavra escrita de Deus era apenas o Velho Testamento. A carta aos hebreus
está bem fundamentada nessa porção das Escrituras. Afinal, não pretende negar o Velho Testamento, e sim mostrar
o seu cumprimento em Cristo e no evangelho.

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CITAÇÕES DO V.T. NA EPÍSTOLA AOS HEBREUS


Hebreus Velho Testamento
1.5 a Salmo 2.7
1.5 b I Samuel 7.14; I Crônicas 17.13
1.6 ?
1.7 Salmo 104.4
1.8-9 Salmo 45.6-7
1.10-13 Salmo 102.25-27
2.6-8 Salmo 8.4-6
2.12 Salmo 22.22
2.13 Isaías 8.17-18
3.7-11 Salmo 95.7-11
3.15 Salmo 95.7-8
4.3 Salmo 95.11
4.4 Gênesis 2.2
4.5 Salmo 95.11
4.7 Salmo 95.7-8
5.5 Salmo 2.7
5.6 Salmo 110.4
6.14 Gênesis 22.16-17
7.17 Salmo 110.4
7.21 Salmo 110.4
8.8-12 Jeremias 31.31-34
10.5-9 Salmo 40.6-8
10.16-17 Jeremias 31.33-34
10.30 Deuteronômio 32.35
10.37-38 Habacuque 2.3-4
11.4-37 Diversos episódios do VT
12.5-6 Provérbios 3.11-12
12.20 Êxodo 19.12-13
12.26 Ageu 2.6
13.5 Deut.31.6-8; Josué 1.5
13.6 Salmo 118.6

É digna de destaque a leitura messiânica que o autor faz dos textos citados. Temos, portanto, sólida base, para ver
Cristo no Velho Testamento. É bastante forte a expressão do autor ao escrever: "Assim, pois, como diz o Espírito
Santo." (3.7-11). As palavras seguintes são do Salmo 95, escrito por Davi. Notamos então que o autor reconhecia e
declarava claramente que o salmo foi inspirado pelo Espírito Santo, ou podemos até dizer, "ditado" por ele. Tal
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reconhecimento é óbvio, mas é bom sabermos que o texto está mostrando isso, de modo que temos uma prova
inequívoca de tal afirmação.

EXORTAÇÕES
O autor da epístola mostra o problema dos Hebreus e a solução necessária. Se conhecemos a doença e o remédio, o
que nos resta? O tratamento. Da mesma forma, o escritor apresenta diversas exortações aos seus leitores. Não basta
saber. É preciso fazer algumas coisas, enquanto outras são evitadas. As exortações são expressões imperativas que
pretendem induzir à ação, ao movimento, à iniciativa. Existem atitudes a serem tomadas e acões a serem
executadas em relação ao passado e ao futuro. O passado precisa ser abandonado. O futuro precisa ser focalizado,
crido e realizado.
Se alguém se encontra à beira de um abismo, diversas orientações podem ser dadas. Poderíamos dizer: "Não se
mova! Acalme-se! Vire-se lentamente! Dê um passo! Agora ande mais rápido! Corra!" A primeira preocupação é
evitar o pior, evitar a queda. Depois procuramos mudar a situação, eliminar o risco, colocando a pessoa a salvo.
Do mesmo modo, a epístola contém exortações que podem ser agrupadas da seguinte forma:

Para evitar o pior Para deixar o passado Para conquistar o presente /futuro
Não abandone – Hb.10.25 Deixemos – Hb.12.1 Esforcemo-nos por entrar – Hb.4.11
Não se endureça – Hb.3.8 Saiamos – Hb.13.13 Cheguemo-nos – Hb.4.16
Temamos – Hb.4.1 Tendo intrepidez para entrar –
Hb.10.19
Aproximemo-nos – Hb.10.22
Guardemos – Hb.10.23
Consideremo-nos – Hb.10.24
Corramos – Hb.12.1
Prossigamos – Hb.6.1
Sirvamos – Hb.12.28
Ofereçamos – Hb.13.15
Conservemos – Hb.4.14
Retenhamos – Hb.12.28
Apeguemos – Hb.2.1

Seja qual for a sua situação, "não abandone a congregação", "nem endureça o coração". Pior do que cair é desistir
de caminhar. Não fique indiferente, como se nada estivesse acontecendo. Pelo contrário, reconheça sua posição de
risco e "tema" pelo mal que pode vir. Até agora, estamos tratando com atitudes. Observadas tais admoestações,
outras atitudes devem ser tomadas. Existe um passado a ser deixado. O pecado e o embaraço precisam ser
abandonados a fim de que, livres de todo peso, possamos avançar na direção que o Senhor nos apresenta. Os
hebreus precisavam sair de uma situação indesejável e entrar na nova realidade proposta.
Os hebreus estavam um tanto quanto deslocados em relação ao propósito de Deus. Por isso são convidados a entrar.
Estavam distantes. São convidados a se aproximar do trono da graça. Não podemos seguir a Cristo de longe.
Estavam lentos (5.11-12) em sua jornada espiritual. O autor os convida a "correr" (12.1). O plano de Deus é
urgente. O Senhor não está limitado pelo tempo, mas nós estamos e, por isso, não podemos demorar.
O verbo "cheguemo-nos" encontra-se na voz reflexiva. Indica um tipo de ação em que nós somos, ao mesmo
tempo, sujeito e objeto. É uma ação que o indivíduo executa sobre si mesmo. Isso significa algo pessoal e
intransferível, como acontece com muitas atitudes humanas diante de Deus. Nosso posicionamento espiritual não
pode ser decidido ou resolvido por outra pessoa. Ninguém vai nos aproximar de Deus. O que ele decidiu fazer por
nós nesse sentido, ele já fez. Jesus já veio e já subiu "abrindo um novo e vivo caminho" (Hb.10.20). O caminho está
aberto. Entrar, caminhar, correr, aproximar, são ações que dependem de cada um.

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A observação dos verbos mencionados, seu tempo, modo e pessoa, muito nos ensina. A maioria dos verbos se
encontra conjugada na primeira pessoa do plural. Isso mostra que o autor se inclui em quase tudo o que diz, em
quase todas as propostas que faz. Temos aí uma nota de humildade. Ele não apenas aponta o caminho e o trabalho,
mas se coloca em posição de também fazer tudo o que está sendo comandado. É uma atitude desejável para os que
pregam, ensinam ou lideram.
Os verbos "retenhamos", "apeguemos", "guardemos" e "conservemos" nos mostram claramente que algo podia ser
perdido pelos hebreus. O risco da apostasia está evidente em todas essas expressões.

XXIV - A EPÍSTOLA DE TIAGO

ESBOÇO
1 - Prefácio e saudações - 1.1
2 - As provas e tentações - 1.2-18.
3 - A prática da palavra de Deus - 1.19-27.
4 - A acepção de pessoas - 2.1-13.
5 - A fé e as obras - 2.14-26.
6 - Os males da língua - 3.1-18.
7 - Várias exortações práticas - a oração e a paciência - 4.1 - 5.20.

AUTORIA
De acordo com o primeiro versículo da epístola, o nome do autor é Tiago, que se apresenta como "servo de Deus e
do Senhor Jesus Cristo". "Tiago" é a forma grega do nome hebraico "Jacó", que significa "suplantador". Em
princípio pode parecer que a autoria esteja clara e bem definida. Contudo, não é assim. Já que o Novo Testamento
menciona várias pessoas com o nome de "Tiago", surge a questão de qual deles teria sido o autor da carta. Temos,
no mínimo, três personagens distintos com o nome de Tiago:
1 - O maior, irmão de João, filho de Zebedeu (Mt.10.1-4)
2 - O menor, filho de Alfeu. (Mc.15.40).
3 - O irmão de Jesus (Mt.13.55; Mc.6.3).
Em Atos 1.13-14 os três estão presentes, mas o texto fala de um certo Judas, que era filho de Tiago. Não fica claro
se esse Tiago era um dos três já citados ou se poderia ser um quarto personagem. As passagens dos evangelhos que
citam Tiago, geralmente estão se referindo ao irmão de João. Sua morte é mencionada em Atos 12.2. Não sabemos
o que aconteceu com o filho de Alfeu. A partir daí, existem outras referências que citam Tiago, em Atos e nas
epístolas. Tais passagens são normalmente relacionadas à pessoa do irmão de Jesus. Em Gálatas, Paulo fala de seus
contatos com Tiago, irmão do Senhor, que estaria em Jerusalém. Com base nesse texto, os outros também são
associados, por dedução, à mesma pessoa. Tal associação é bastante aceita pelos críticos e parece muito coerente.
Quem segue essa ligação de textos acaba por atribuir ao irmão de Jesus a autoria da epístola em epígrafe. Alguns
comentaristas preferem não seguir essa tendência e se abstêm de apontar o autor.
Considerando que Tiago, irmão do Senhor Jesus, escreveu a carta, destacamos algumas informações sobre a sua
pessoa, conforme nos auxiliam o Novo Testamento, as conjecturas e a tradição eclesiástica.
Tiago não cria em Jesus antes da crucificação (João 7.5). É possível que sua conversão tenha se dado após a
ressurreição de Cristo, quando este lhe apareceu (I Cor.15.7). Juntou-se então aos discípulos (At.1.14), tornando-se
apóstolo (Gál.1.19) e uma das "colunas" da igreja em Jerusalém (Gál.2.9). Sua liderança obteve grande destaque,
conforme se observa em Atos 12.17; 15.13-29; 21.18 e Gálatas 2.12. Tiago veio a ser chamado "o justo", por sua
integridade, e "joelho de camelo" devido as marcas que possuía em virtude de suas constantes orações. Segundo
Flávio Josefo, o irmão de Jesus morreu em 63 d.C. Sendo pressionado pelos judeus para que negasse a Cristo e
tendo permanecido firme em suas afirmações, Tiago foi arremessado de um lugar alto nas dependências do templo.
Não tendo morrido com a queda, foi apedrejado até a morte.
Data – A data de produção da carta se situa entre os anos 45 e 48 d.C. Alguns comentaristas sugerem um período
ulterior às epístolas paulinas, na segunda metade do primeiro século.
Tema principal - A religião prática.
Textos chave - 1.27 e 2.26.

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CARACTERISTICAS
O livro tem teor prático, rigoroso, usa muitas ilustrações, é direto, tem estilo semelhante ao sermão da montanha.
Apresenta diversos preceitos morais. A carta contém 108 versículos, entre os quais temos 54 mandamentos.
Sobre seu rigor, destacamos: Tg.1.7; 1.26; 2.9; 2.10; 2.19; 3.6; 3.8; 3.14-15; 4.1-4; 4.8-9; 4.16; 5.1-6.
Paralelo entre o livro de Tiago e o Sermão da Montanha.

Assunto Tiago Sermão da Montanha


Juramento 5.12 Mt.5.34-37
Resposta à oração 1.5; 5.16-18 Mt.7.7
Prática da palavra 1.22 Mt.7.24-27
Julgamento 4.11 Mt.7.1

O uso de ilustrações
Tiago, como bom pregador, utiliza de forma magistral as ilustrações, como meio de representar, de modo claro, as
verdades ensinadas. Tal recurso ajuda a entender o ensinamento e também a fixá-lo na memória.
A epístola utiliza fatos reais, eventos hipotéticos, elementos da natureza e até obras das mãos humanas para
expressar suas idéias.
Fatos reais:
Abraão - Tg. 2.21-23.
Raabe – Tg.2.25
Jó – Tg.5.11.
Elias – Tg. 5.17-18
Eventos hipotéticos:
O pobre e o rico na sinagoga – Tg. 2.2-4.
O irmão necessitado – Tg.2.15-16.
O doente e os presbíteros – Tg. 5.14-15
Os planos de viagens e negócios – Tg.4.13.
Elementos da natureza:
O mar e as ondas – Tg.1.6.
A fonte e a água – Tg. 3.11-12
A figueira – Tg.3.12.
Os figos – Tg.3.12.
A videira – Tg.3.12.
As azeitonas – Tg.3.12.
O vapor – Tg.4.14.
A chuva e o fruto da terra – Tg.5.7.
O vento – Tg.3.4.
O bosque e o fogo – Tg.3.5.
Os cavalos – Tg.3.3.
Feras, aves, répteis, animais marinhos – Tg.3.7.
Frutos - Tg.3.17.
A erva, a flor e o sol – Tg.1.10-11.
Luz e sombra – Tg.1.17.
A traça – Tg.5.2.
Obras das mãos humanas:
O enxerto – Tg.1.21.
O espelho – Tg. 1.23.
Os navios e o leme – Tg.3.4.
Vestes e anel – Tg.2.2-3.
Estrado – Tg.2.3.
Figuras de linguagem:
A língua é um fogo – Tg.3.6.

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Está cheia de veneno mortal – Tg.3.8.


A cobiça concebe e dá à luz o pecado. Este gera a morte. – Tg.1.15.
Alimpai as mãos, pecadores – Tg.4.8.
Vossas riquezas estão apodrecidas – Tg.5.2.
Vossos vestidos estão comidos de traça – Tg.5.2.
Vosso ouro e vossa prata se enferrujaram – Tg.5.3.
Sua ferrugem dará testemunho contra vós – Tg.5.3.
E comerá como fogo a vossa carne – Tg.5.3.
O jornal dos trabalhadores... clama - Tg.5.4.
Engordaste os vossos corações – Tg.5.5 .
O juiz está à porta – Tg.5.9.
Em alguns textos, não é fácil saber se o autor usa determinada palavra com sentido figurado ou literal. Por
exemplo, as "guerras" em Tiago 4.1.
Destinatários
A carta é destinada às 12 tribos da diáspora (dispersão). São judeus cristãos que se encontravam dispersos entre
várias nações. (Tg. 1.1; 2.2).
Provas e tentações
Tiago introduz o assunto com palavras de impacto: "Tende grande gozo quando vos forem enviadas várias
provações." (Tg.1.2). Não faz parte do nosso pensamento moderno uma idéia como essa. Em nosso tempo, procura-
se o menor esforço e o maior prazer. A epístola nos mostra que as tentações e as provações são elementos presentes
e importantes na vida cristã. Por quê essa importância? Tiago responde: "sabendo que a prova da vossa fé produz a
paciência." (Tg.1.3). Precisamos saber isso para termos uma atitude positiva diante daquilo que Deus nos envia ou
permite. Tudo o que Deus permitir de negativo em nosso caminho terá um propósito e produzirá alguma virtude em
nós. Isso, evidentemente, se sairmos vencedores desse processo.
É importante discernir entre prova e tentação e suas respectivas origens. Tiago diz que ninguém pode dizer que é
tentado por Deus (Tg.1.13). Deus nos prova, nos coloca em teste. Ele não nos tenta. Entretanto, permite a tentação.
Esta vem de dentro de nós, atraída por fatores externos (Tg.1.14-17). A isca é exterior. A tentação está no apetite
do peixe. Casos diferentes foram as experiências de Adão, Eva e Cristo. Como não tinham pecado, a tentação foi
totalmente exterior (Gên.3; Mt.4).
Prova é teste. Tentação é indução ao erro. Toda tentação pode ser vista como prova. Contudo, nem toda prova é
tentação. Por exemplo, se Deus nos permite passar por uma situação de dificuldade financeira, isso pode ser uma
prova para demonstrar se continuaremos confiantes e fiéis ao Senhor ou não. Se, em meio a tudo isso, aparecer uma
oportunidade de ganho ilícito, isso será uma tentação. Estar no deserto é prova. Oferta de "pedras no lugar de pães"
é tentação (Mt.4.3).
A prova e a tentação revelam o que há em nossos corações. São formas de manifestar o que somos interiormente.
Tal demonstração não serve para que Deus nos conheça, pois ele já nos conhece plenamente. A prova e a tentação
mostram para nós mesmos a nossa natureza e fraquezas que talvez não conhecêssemos.
Além do auto-conhecimento, provas e tentações são oportunidades de aprendizagem, até mesmo quando
fracassamos. Tal conhecimento será útil para as próximas vezes.

A Religião Prática
Confrontando a epístola aos Hebreus com a de Tiago, verificamos que Hebreus contém uma ênfase sobre a fé. Os
destinatários precisavam se livrar da dependência que tinham em relação aos elementos visíveis do judaísmo. O
valores invisíveis e celestiais são enfatizados. Tiago também escreve aos hebreus. Porém, seu discurso tem uma
ênfase diferente. Ele está enfatizando o visível. Enquanto a epístola aos Hebreus fala do céu, Tiago "põe os pés no
chão" e nos convida a encarar necessidades e desafios do dia-a-dia. Não existe nisso nenhuma contradição. Os
hebreus não deviam depender de elementos visíveis, tais como o templo, os sacerdotes e os sacrifícios, para
estabelecer ou manter sua relação com Deus. Então, a fé no invisível é enfatizada. Entretanto, nosso cristianismo
não pode ser invisível. Ele precisa se manifestar através de ações no mundo físico. Nessa parte entra a ênfase de
Tiago sobre o valor das obras.
O invisível não depende do visível, mas precisa produzir evidências visíveis, sob pena de ser considerado
inexistente. Por isso Tiago diz: "mostra-me a tua fé sem as tuas obras." (Tg.2.18). Se a minha fé não produz obras,
então tenho uma fé tão "eficaz" quanto a própria incredulidade. Precisamos mostrar alguma coisa, pois o mundo
espera pra ver. E isso só é possível através de obras.

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Tiago enfatiza o valor do caráter cristão. Seu livro não se aplica à exposição doutrinária, mas ao apelo veemente à
prática de toda a doutrina cristã que já se conhece. O conhecimento da palavra é fundamental (Tg.1.18,21). Ouvir é
bom hábito (Tg.1.19). A fé é indispensável (Tg.1.6-7). Mas o processo não pode parar nesse estágio, pois crer, os
demônios também crêem. A insistência do autor é a fim de que seus leitores coloquem em prática a palavra de
Deus.
A epístola mostra o contraste que muitas vezes ocorre entre a fé e a prática. Conhecemos muito, cremos na palavra
de Deus, mas praticamos pouco e falamos uma palavra diferente da que ouvimos. Tiago expõe essa contradição e
exorta no sentido de corrigir tamanha distorção.

ALGUMAS CONTRADIÇÕES OBSERVADAS POR TIAGO

Ouve-se a palavra mas não se cumpre (Tg.1.23).


Considera-se religioso mas não se refreia a língua (Tg.1.26).
Reúne-se em nome de Cristo e comete-se a acepção de pessoas na mesma reunião (Tg.2.1-4).
Alguém tem fé mas não tem obras (Tg.2.14).
Deseja-se o bem ao próximo mas não se pratica esse bem (Tg.2.15-16).
De uma mesma boca procede bênção e maldição (Tg.3.10-12).
Alguém é considerado sábio mas tem inveja e sentimento faccioso (Tg.3.13-16).
"Cobiçais e nada tendes" (Tg.4.2). (Até no erro ficava evidente a contradição)
"Pedis e não recebeis" (Tg.4.3).
Deseja-se ser amigo de Deus e, ao mesmo tempo, amigo do mundo (Tg.4.4).
Sabe-se fazer o bem mas não se faz (Tg.4.17)

ALGUMAS EXORTAÇÕES CORRETIVAS


Pedi sabedoria a Deus (Tg.1.5)
Sede prontos para ouvir, tardios para falar e tardios para irar (Tg.1.19).
Rejeitando toda a imundície, recebei com mansidão a palavra (Tg.1.21)
Sede cumpridores da palavra e não somente ouvintes (Tg.1.22).
Mostrai pelo bom trato as obras em mansidão de sabedoria (Tg.3.13)
Sujeitai-vos a Deus (Tg.4.7).
Resisti ao Diabo (Tg.4.7)
Chegai-vos a Deus (Tg.4.8)
Alimpai as mãos (Tg.4.8)
Purificai os corações (Tg.4.8)
Senti as vossas misérias, lamentai e chorai (Tg.4.9)
Sede pacientes (Tg.5.7)
Orai (Tg.5.13)
Cantai louvores (Tg.5.13)
Confessai as vossas culpas uns aos outros (Tg.5.16)

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A prática proposta por Tiago pode ser traduzida pela expressão "boas obras". Isso inclui:
- Ações a favor do próximo. Exemplo: "visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações" (Tg.1.27).
- Bom comportamento: "guardar-se da corrupção do mundo" (Tg.1.27). Normalmente nos preocupamos em não
fazer mal ao próximo. Está certo, mas além disso precisamos fazer-lhe o bem, pois, se não fizermos, estaremos
pecando (Tg.4.17). Conhecimento da palavra, fé em Deus e rituais podem muito bem constituir uma religião falsa
se não estiverem associados à obediência, a qual se traduz em prática do que a palavra manda. A prática revela
sabedoria, que é o conhecimento introjetado, assimilado e aplicado. Tiago apresenta uma hipotética reunião
religiosa onde se peca pela acepção de pessoas. É a religiosidade desprovida de sabedoria, amor e obediência aos
preceitos divinos (Tg.2.1-4). Observe que em todos os capítulos do livro encontramos ocorrências do termos
"sabedoria", "sábio" ou conjugações do verbo "saber": Tg.1.3,5; 2.20; 3.1,13,15,17; 4.4,14,17; 5.20. Em algumas
passagens, o uso do verbo parece ser apenas com fim sintático. Em outras, torna-se evidente a questão do
conhecimento e da sabedoria. O livro de Tiago tem sido também considerado por alguns como o "livro de
sabedoria" do Novo Testamento, não apenas pelos versículos mencionados, mas pelo uso que faz dos conselhos
morais práticos, da mesma forma como se vê nos livros sapienciais do Velho Testamento, principalmente
Provérbios.

O CUIDADO COM AS PALAVRAS


Além das obras, Tiago coloca em evidência o que falamos. Se cremos na palavra de Deus precisamos falar de
acordo com essa palavra e também proceder desse modo (Tg.2.12). As admoestações em relação à língua são
diversas:
- Não falar precipitadamente. Seja tardio em falar (Tg.1.19). Uma vez falada, a palavra não pode ser recolhida.
Portanto, é bom que se reflita antes de se pronunciar algo. Assim, evitaremos ofensas, pedidos mal feitos (Tg.4.3),
planos incertos (Tg.4.13-15) e até mesmo votos que não podemos cumprir (Obs. Ec.5.4-6).
- Não falar demais. Tiago usa a expressões "frear", "refrear" e "domar" a língua. (Tg.1.26; 3.1-12).
- Não mentir (Tg.3.14).
- Não amaldiçoar (Tg.3.10).
- Não acusar a Deus (Tg.1.13).
- Não usar palavras vãs no lugar da ação necessária (Tg.2.16). Esse falar vão pode até ser uma oração. Existem
momentos em que não adianta orar. É preciso agir. Lembre-se de Moisés diante do Mar Vermelho. Deus disse:
"Por quê clamas a mim. Diga ao filhos de Israel que marchem" (Êx.14.15). - Não falar mal nem julgar os irmãos
(Tg.4.11). Se existe um problema a ser resolvido com uma pessoa, então não adianta comentar o fato com outros.
Talvez, o mal falado até seja verdade. Contudo, ainda assim trata-se de maledicência. Mesmo que o irmão esteja
errado, nós não devemos difamá-lo. Quando Noé se desnudou em sua tenda, seu filho Cão foi logo espalhar a
notícia e por isso foi amaldiçoado. Os filhos Sem e Jafé tomaram a providência de cobrir a nudez paterna e por isso
foram abençoados.
- Não reclamar dos irmãos (Tg.5.9).
- Não jurar (Tg.5.12).
Na seqüência do capítulo 5, versos 13 em diante, o autor nos indica o que devemos falar no lugar das queixas, ou
dos juramentos: Ore, cante louvores, confesse seus pecados. Sintetizando, Tiago relaciona:
A palavra de Deus, a qual deve ser ouvida e recebida;
A fé que depositamos em Deus e em sua palavra;
Nosso falar e nosso agir, os quais devem ser coerentes com a palavra, conseqüências e evidências indispensáveis da
nossa fé.

Ouvir Crer Falar Agir


(a palavra) (fé) (O falar certo e o errado) (Boas obras)
(inclusive oração e louvor) (Em benefício do próximo)
(Manifestação da sabedoria)
1.18,21,25 1.6 1.5,13,19,26 1.4,22-27
2.14-26 2.3,12,14,16 2.12,14-26
3.1-12,14 3.13-17

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4.311-12,13-15 4.17
5.4,9,10,13,14,15,17,18 5.20

ARREPENDIMENTO E JUÍZO
Diante de uma realidade religiosa tão contraditória e tendo em vista o juízo divino, Tiago convida seus leitores ao
arrependimento.

Juízo, justiça e termos derivados Convite ao arrependimento, ao choro, à


confissão
Tg.1.20; Tg.4.7-10
Tg.2.4,9,12,13,21,23,24,25 Tg.5.1,15-16; 5.19-20.
Tg.3.1,18
Tg.4.11,12
Tg.5.6, 9,12, 16

A FÉ E AS OBRAS
Um dos assuntos mais polêmicos que envolvem o livro de Tiago é o confronto entre fé e obras. Tiago valoriza tanto
uma coisa (1.6) quanto a outra (2.14). Porém, sua carta fala mais das obras, já que o autor observou a gravidade da
ausência das mesmas na vida religiosa do povo. É como um médico que está indicando um reforço alimentar para
suprir a falta de determinado nutriente, sem, contudo, menosprezar os outros.
A fé é tão importante quanto fica demonstrado em Romanos e em Hebreus. Entretanto, se essa fé não produzir
evidências visíveis, ela será como um plano que nunca foi realizado e seremos como árvores infrutíferas. Obra é
fruto (Tg.3.13,17). O fruto do Espírito é amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão e
domínio próprio (Gálatas 5.22). Não obstante, tais virtudes precisam se manifestar através de atos e fatos. O fruto
não pode ser abstrato. Precisa ser concreto. De que adianta um amor não revelado, não transmitido por meio de
ações? (I João 3.18). A fé opera pelo amor (Gálatas 5.6). O amor é o canal por onde flui a fé. O resultado é obra.
A fé se mostra superior nessa questão porque a nossa salvação depende dela. "Pela graça sois salvos mediante a fé"
(Ef. 2.8). "Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado." (Mc.16.16). Crer é fé. Batismo
é obra, ato físico. Observe que ninguém será condenado pela falta do batismo e sim pela falta de fé. Entretanto,
aquele que tem fé deverá manifestá-la através de atos de obediência, inclusive batizando-se. As obras devem
ocorrer de acordo com os recursos e o tempo que Deus tiver nos concedido. Por exemplo, o ladrão que se converteu
na cruz ao lado de Cristo, não teve tempo de se batizar nem fazer obra alguma. Contudo, foi salvo. Nós porém, que
temos tempo e recursos devemos fazer boas obras, não para sermos salvos mas como fruto natural da nossa fé.
A fé é superior porque produz as obras e não o contrário. Tiago diz: "... se alguém disser que tem fé e não tiver as
obras... porventura a fé pode salvá-lo?" (Tg.2.14). O autor não está condicionando a salvação à prática de boas
obras. O sentido é o seguinte: se a fé de alguém não produz obras, pode-se concluir que essa mesma fé não
produzirá salvação, pois é ineficaz ou inexistente.

CONFLITO APARENTE ENTRE TIAGO E PAULO


"Vedes então que o homem é justificado pelas obras e não somente pela fé." -Tiago 2.24.
"Concluímos pois que o homem é justificado pela fé sem as obras da lei" – Paulo, em Romanos 3.28.
Lendo estes dois versículos, podemos pensar que Tiago e Paulo estão se contradizendo. Alguns comentaristas
afirmam que a contradição existe e que é inexplicável. O próprio reformador Martinho Lutero tinha essa posição e
chegou a usar a expressão "epístola de palha" para se referir ao livro de Tiago. Há quem diga que Tiago tenha
escrito para atacar Paulo e seus ensinamentos. Tais hipóteses atentam contra a inspiração divina das Sagradas
Escrituras. Outros teólogos apresentam a seguinte solução:
Ao escrever aos Romanos, Paulo apresentou argumentos que tinham por objetivo combater a tese judaizante
daqueles que exigiam dos gentios o cumprimento da lei mosaica. Diante disso, o apóstolo deixou claro que a
salvação não depende das obras da lei, não depende dos rituais judaicos. Em sua exposição, Paulo lembra aos
leitores que Abraão não foi justificado pelas obras da lei nem mesmo pela circuncisão, já que o patriarca teve sua
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experiência com Deus num tempo em que a lei mosaica não existia e até mesmo antes de ser circuncidado.
Portanto, sua experiência foi baseada na fé.
Paulo não estava falando de boas obras, de modo geral. Ele estava se referindo especificamente àquelas obras
exigidas pela lei.
Por sua vez, Tiago está preocupado com "o outro lado da moeda". Muitos cristãos estavam reduzindo o
cristianismo a uma religião teórica, apenas espiritual, sem efeitos visíveis. A estes, Tiago diz que as obras são
importantes. Abraão é usado novamente como exemplo. Depois de ter sua experiência pela fé, Abraão não cruzou
os braços. Abraão agiu. Ele saiu da sua terra, se dispôs a oferecer Isaque, e fez tudo aquilo que Deus queria que ele
fizesse.
Imagine que alguém entra no prédio de uma escola e queira logo apresentar trabalhos de pesquisa, fazer provas e
exercícios. Será que a direção acadêmica aceitará tudo isso? De maneira nenhuma. Se o indivíduo não está
matriculado, ainda não é aluno da escola. Então, não tem nenhum valor qualquer trabalho apresentado por ele. O
que é necessário? A matrícula, o compromisso, o vínculo. Então, depois de matriculado, imagine que esse novo
aluno resolva ficar em casa, totalmente alheio aos seus deveres escolares. Então a direção da escola irá procurá-lo
para cobrar tudo o que ele deveria estar fazendo. Assim, antes de sermos cristãos, de nada adiantam as nossas boas
obras. "Paulo está dispensando". Entretanto, agora que estamos salvos pela fé, precisamos executar as obras como
fruto normal de um cristianismo autêntico e sadio. "Tiago está cobrando".
Em Romanos 3, Paulo está apresentado a futilidade das obras da lei no plano de salvação. Em outros escritos seus,
o apóstolo deixa claro o quanto valoriza as boas obras de modo geral. Não que elas possam nos salvar. "Pela graça
sois salvos, por meio da fé, e isso não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se
glorie." (Efésios 2.8-9). Entretanto, devemos fazer boas obras, porque este é um dos motivos da nossa permanência
neste mundo. Caso contrário, poderíamos ter sido arrebatados no momento da conversão. "Porque somos feitura
sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas." (Efésios 2.10).
Observe que são palavras de Paulo, na continuação do texto mencionado anteriormente.
Quando escreveu a Tito, Paulo colocou nas boas obras a maior ênfase da carta (Tito 2.7,14; 3.1,8,14). Contudo, no
mesmo texto, o apóstolo deixa claro que as obras não salvam (Tito 3.4-5).
Considerando suas epístolas de modo geral, Paulo enfatiza a fé, sem desvalorizar as obras. Tiago enfatiza as obras,
sem desvalorizar a fé. De fato, ambas as coisas são importantes. A fé sem as obras é morta. Da mesma forma, as
obras sem fé são obras mortas (Hb.6.1).

Glossário de termos do livro de Tiago


Improperar – censurar (1.5).
Dobre - dupla face (versão católica); vacilante (Thompson). (1.8)
Andrajoso - esfarrapado (2.2).
Estrado – tablado ou piso acima do nível do chão (2.3).
Deferência - respeito. (2.3).
Régio - real (do reino). (2.8).
Argüido - censurado. (2.9).
Peçonha – veneno (3.8).
Jactância – orgulho (4.16).
Jornal – salário por um dia de trabalho (5.4).
Cevaste – engordaste (5.5).
Presbíteros – anciãos, pessoas maduras, pastores (5.14).

XXV - O APÓSTOLO PEDRO

A autoria da primeira epístola de Pedro não está envolta em dúvidas e questionamentos como acontece com outros
escritos bíblicos. O autor começa o texto se apresentando: "Pedro, apóstolo de Jesus Cristo" (I Pd.1.1). A seu
respeito, o Novo Testamento nos fornece muitas informações. Seu nome original era Simão, abreviatura de Simeão,
nome hebraico que significa "famoso".
Simão foi pescador (Mt.4.18), até o dia em que, conduzido por seu irmão André (João1.40), conheceu o Senhor
Jesus, o qual lhe chamou "Pedro" (Petros), nome grego que significa "pedra", o mesmo que "Cefas" em aramaico
(João 1.42). Era chamado também de "Simão Barjonas", ou seja, Simão, filho de Jonas (Mt.16.17), ou filho de João

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(Jo.21.15). Devido ao uso de mais de um idioma, era comum as pessoas possuírem mais de um nome. Um
hebraico, outro grego; ou um em latim, outro em aramaico, ou até mesmo dois nomes numa mesma língua.
O caso de Simão é bastante peculiar. Jesus lhe deu um novo nome: Pedro. Não lhe bastaria ser "famoso". Precisava
ser firme e inabalável. Afinal, firmeza era o que mais lhe faltava naqueles primeiros anos de serviço ao Mestre. Em
seus momentos de debilidade, era chamado de "Simão" (Lc.22.31; Mc.14.37; João 21.15-17). Era o "velho homem"
em ação, com toda a sua fraqueza natural.
Quando conhecemos o Senhor Jesus, ele muda o nosso nome. Muitos, antes de se converterem, eram chamados de
"mentirosos", "enganadores", etc. Depois, passam a ser conhecidos como honestos, trabalhadores, bons cidadãos,
etc. Quando o suposto convertido não vive à altura do evangelho, então fica conhecido como "crente desonesto",
"crente mentiroso", etc. Tornou-se o seu "último estado pior do que o primeiro".
Pedro era casado e morava em Cafarnaum, cidade situada ao noroeste do Mar da Galiléia (Mc.1.21,29,30). Jesus
exerceu nessa região uma parte considerável do seu ministério. Pedro se tornou discípulo e apóstolo de Jesus
(Mt.10.2). Seu ministério foi mais dedicado aos seus próprios compatriotas, os judeus. Foi considerado "apóstolo à
circuncisão" (Gál. 2.8). Foi grande o seu destaque entre os apóstolos quando andavam com Jesus e também na
igreja, depois da ascensão do Senhor.
Pedro pronunciou a mais célebre declaração dita por um discípulo: "Tú és o Cristo, o Filho do Deus vivo."
(Mt.16.16). E também: "Para quem iremos nós, Senhor. Tu tens as palavras da vida eterna." (João 6.68). Por outro
lado, cometeu grave erro ao repreender o Mestre dizendo: "Senhor, tem compaixão de ti. Isso de modo nenhum te
acontecerá." (Mt.16.22). Imediatamente, ouviu a mais severa repreensão de Cristo: "Para trás de mim, Satanás!"
(Mt.16.23).
Observamos que Simão Pedro saía na frente dos discípulos em qualquer situação, fosse para errar ou acertar. Com
isso, conseguia grandes elogios e também repreensões. Pedro teve experiências ímpares, maravilhosas, e também
fracassos vergonhosos. Vejamos alguns exemplos:

EXPERIÊNCIAS MARAVILHOSAS FRACASSOS VERGONHOSOS


Andou sobre as águas (Mt.14.29) Duvidou e começou a afundar (Mt.14.30).
* Testemunhou a ressurreição da Filha de Jairo Repreendeu o Senhor Jesus. (Mt.16.22).
(Lc.8.51)
* Testemunhou a transfiguração de Cristo Negou a Cristo três vezes (Mc.14.66-72).
(Mt.17.1).
* Testemunhou a agonia de Cristo no Cortou a orelha de Malco (João 18.10-11).
Getsêmani (Mt.26.37)
Pescou um peixe que tinha uma moeda na boca Foi temporariamente contrário à evangelização
(Mt.17.27). dos gentios (At.10).
Pregou no dia de Pentecostes (At.2). Apresentou duplo comportamento (Gál. 2.11-
12).
Curou um coxo na porta do Templo (At.3).
Talvez enfermos tenham sido curados sob a sua
sombra (At.5.15).
Mediante a sua palavra, morreram Ananias e
Safira (At.5.1-10).
Curou um paralítico (At.9.34).
Ressuscitou Dorcas (At.9.40).

* Alguns episódios da vida de Cristo foram testemunhados apenas por Pedro, Tiago e João. Até a ordem em que
esses nomes aparecem no texto nos mostra a preeminência de Pedro (Lc.8.51; Mt.17.1; Mt.26.37).
Durante algum tempo, sua vida foi muito contraditória. Se Pedro vivesse nos nossos dias e tivéssemos de formar
uma comissão na igreja, ou uma equipe para um trabalho especial, talvez não o escolheríamos. Contudo, Jesus o
escolheu. E não acontece assim também conosco? Num momento estamos "andando sobre as águas" e, "no
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próximo versículo" já começamos a afundar. Talvez também tenhamos muitas vezes negado a Cristo através das
nossas ações e palavras. Contudo, Jesus nos escolheu e já nos conhecia antes que pudéssemos acertar ou errar. O
mais importante é o conserto. Se caímos precisamos nos levantar rapidamente, seguir adiante, e procurar evitar
novas quedas. Pedro negou a Cristo três vezes. Confrontado por sua consciência e pelo olhar do Mestre, chorou
amargamente, arrependido do seu fracasso (Lc.22.61-62). Passados cinqüenta dias, Pedro estava pregando a
respeito da ressurreição de Cristo. Afinal, sua vocação não foi cancelada pelo pecado. No dia de Pentecostes, Pedro
estava entre os que foram cheios do Espírito Santo, inaugurando assim a igreja do Senhor Jesus.
O registro dos erros de Pedro são bastante oportunos pois, além de evidenciarem a sinceridade dos escritores
bíblicos, servem para derrubar a tese de uma suposta infalibilidade apregoada por alguns.
Tantas falhas deveriam ter sido suficientes para que Pedro não viesse a ser idolatrado por tantas pessoas. Contudo,
todos os seus erros não foram bastantes.
O escritor de Atos dos Apóstolos concentrou-se na pessoa e nas obras de Pedro até o capítulo 12. Afinal, foi
considerado como uma das "colunas da igreja" (Gálatas 2.9).
Além de ter trabalhado em Jerusalém, atuou também na Babilônia (I Pd.5.13). Não se sabe ao certo se Pedro esteve
na Babilônia que ficava às margens do Eufrates, ou se isso foi uma referência velada à cidade de Roma.
Segundo Orígenes, Pedro foi morto sob as ordens do Imperador Nero depois do incêndio em Roma. Sabendo que
seria crucificado, Pedro pediu que o fosse de cabeça para baixo, pois não se julgava digno de morrer na mesma
posição que o Mestre. A data de sua morte estaria situada entre os anos 64 e 68 d.C.

XXVI - PRIMEIRA EPÍSTOLA DE PEDRO


ESBOÇO
1 - Natureza da salvação - 1.1-21
2 - Crescimento do cristão - 1.22 - 2.10.
3 - Vida cristã prática - 2.11 - 3.22.
4 - Exortações diversas - 4.1-19
5 - Admoestações aos líderes - 5.1-14.

Texto chave - 4.1


Palavra chave - sofrimento (1.11; 2.20; 3.17; 4.19; 5.1,9,10)
Autoria
Apesar de ter sido considerado homem inculto e iletrado (At.4.13), Pedro escreveu uma epístola de alto nível.
Talvez aquele rótulo advenha do fato de Pedro não ter freqüentado as universidades gregas da época, nem ter sido
um escriba ou doutor da lei. Contudo, isso não significa que ele fosse analfabeto e ignorante. Se lhe faltava muito
da vasta cultura grega, o mesmo não se pode dizer quanto ao idioma, pois o grego era falado por todas as classes
sociais. Além disso, falava o aramaico e talvez o hebraico.
Como todo bom judeu, Pedro tinha todo o conhecimento da lei de Moisés e demais Escrituras do Velho
Testamento.
A forma do seu texto pode também ter sido influenciada pela mão de Silvano, que foi seu amanuense (I Pd.5.12).
A autoridade do autor fica evidente. Além de ser apóstolo (I Pd.1.1), Pedro foi "testemunha das aflições de Cristo"
(I Pd. 5.1). Seu ensino estava, portanto, bem fundamentado, sendo digno de aceitação.
Além de Silvano, também Marcos estava na companhia de Pedro quando escreveu a primeira epístola (I Pd.5.13).
Data - Os comentaristas sugerem datas entre 63 e 68 d.C. O ano mais indicado é 64.
Destinatários - cristãos dispersos na Ásia Menor (judeus e gentios) - 1.1; 2.10.
Durante algum tempo, Pedro foi contrário à evangelização dos gentios. Vemos, portanto que, por ocasião do envio
dessa epístola, tal problema já tinha sido superado. Agora Pedro já aceita os gentios e os considera tão dignos do
evangelho e do reino de Deus quanto os judeus.
O apóstolo chega a tomar palavras ditas a Israel no Velho Testamento, aplicando-as aos gentios que fazem parte da
igreja. "...Antes não éreis povo, mas agora sois povo de Deus...". (I Pd.2.9-10). Outros textos desenvolvem esse
paralelismo entre a igreja e Israel, citando o sacrifício e o templo numa nova perspectiva (I Pd.1.19; 2.4-5).
A epístola foi dirigida aos irmãos que moravam em regiões por onde Paulo passou e fundou igrejas. Por quê Pedro
escreveria para eles? Isso faz com que alguns entendam que, quando essa epístola foi produzida, Paulo já teria
morrido. O fato Silvano e Marcos, antigos companheiros de Paulo, estarem com Pedro também é usado como
argumento a favor dessa hipótese.

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Circunstância – A carta foi escrita numa época de grande perseguição imperial contra a igreja após o incêndio em
Roma. No livro de Atos, os principais perseguidores eram os judeus. No período em que Pedro escreveu, os
perseguidores passaram a ser os gentios (4.3,4,12).
Características – O livro é exortativo, consolador, cristológico, "cristocêntrico". Observamos que Tiago quase não
cita Jesus em sua carta. Pedro, porém, cita-o a todo momento. Aquele que o havia negado, agora tem no seu nome a
base de sua doutrina.
Pedro apresenta Jesus como:
Fonte de esperança - 1.3
Cordeiro do sacrifício - 1.19.
Pedra angular - 2.6
Exemplo perfeito - 2.21-23.
Aquele que levou nossos pecados - 2.24.
Sumo pastor - 2.25.
Bispo das nossas almas – 2.25.
Aquele que está assentado à destra de Deus - 3.22.
Coisas preciosas para Pedro
Provas - 1.7
Sangue - 1.19
Pedras - 2.4
Cristo - 2.6
Espírito manso - 3.4
Propósito da carta - firmar, orientar, confortar.
Para os irmãos atribulados, Pedro oferece uma palavra de esperança, menciona os fundamentos da fé cristã e o que
Deus tem para nós no futuro. Quando as tribulações se multiplicam, é bastante oportuno que essas verdades sejam
mencionadas para renovação da fé e do ânimo. A obra de Cristo no passado (1.3) e a herança cristã no futuro (1.4-
5) são mencionados como estímulo para se enfrentarem as dificuldades presentes (1.6).
Em tais circunstâncias, é necessário que nos lembremos de quem somos. Nossa identidade pode estar sendo
questionada pelos homens, pelo diabo (Mt.4.2) ou até mesmo por nós mesmos. Pedro então enfatiza essa realidade
espiritual que, muitas vezes, é desafiada por uma realidade aparente adversa. Ele utiliza enfaticamente o verbo ser:
"Não éreis povo..."; "Agora sois... povo de Deus, geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo adquirido..."
(2.9-10). "Sois guardados, mediante a fé, para a salvação." (1.5). "Sois edificados como casa espiritual." (2.5).
O autor lembra aos seus leitores o que Cristo fez por eles (1.2,3,19; 2.5,21; 3.18). Nos momentos difíceis é bom
lembrarmos o que Jesus fez por nós e qual é o nosso vínculo com ele. O inimigo procura colocar tudo isso em
dúvida na hora da tentação.

ESBOÇO COMENTADO
Podemos delinear uma seqüência de pensamento na epístola, embora os temas às vezes se intercalem.
1 - Natureza da salvação - 1.1-12
Salvos pela obra de Cristo
O autor começa sua epístola falando sobre a salvação e a herança no céu. Os irmãos que estavam padecendo
perseguições poderiam questionar sobre o efeito de sua conversão. Talvez alguns estivessem esperando uma
herança na terra, uma vida tranqüila e próspera. Deus pode nos dar todo tipo de bênção material, mas isso não é
uma promessa de Cristo para todo aquele que nele crê. Isso depende da vontade de Deus para cada pessoa. O que
ele promete a todos nós é a vida eterna, uma herança nos céus.
Não podemos esperar conquistas materiais como efeito obrigatório do evangelho. O resultado pode ser a frustração.
Por outro lado, nada impede que o cristão trabalhe para conseguir o que lhe for lícito, assim como também fazem
os não salvos. Entretanto, a busca material não se tornará o objetivo principal da nossa vida ou da nossa fé.
2 - Crescimento do cristão - 1.13 - 2.10.
O que somos e o que devemos ser
Tendo falado da salvação, Pedro poderia agora expressar palavras comemorativas e congratulatórias para seus
destinatários como se tudo estivesse resolvido. Contudo, não é assim. Agora que estamos salvos, precisamos do
crescimento espiritual, que só é possível mediante o legítimo alimento espiritual: a palavra de Deus (1.23-25; 2.1-
2). A palavra "portanto", de 1.13, liga as duas seções do texto. O "portanto" indica que considerando tudo o que foi
dito antes, seriam apresentadas, a seguir, admoestações que estariam relacionadas às conseqüências naturais ou
necessárias ao bom andamento da questão anterior. Como dissemos, Pedro utiliza bastante o verbo "ser".
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Observamos principalmente as conjugações: "sois" e "sede" em referência ao que já "somos" pelos méritos de
Cristo e por nosso compromisso com ele, e o que devemos "ser". Observe na palavra "sede" o modo imperativo
indicando uma ordem. Pedro já disse que somos salvos... portanto... precisamos ser:
- Santos (separados da corrupção do mundo) 1.15-16.
- Sóbrios (conscientes, atentos e vigilantes) (1.13).
- Obedientes (1.14).
Essas poucas palavras resumem tudo o que Deus espera de nós
3 - Vida cristã prática - 2.11 - 3.22.
O risco do pecado; vigilância; oração; serviço; comportamento; sofrimento e glória.
Após a conversão, temos um caminho pela frente: é a vida cristã prática. Pedro menciona situações e relações do
cotidiano. O pecado é mencionado como um risco constante (2.11-12; 4.1-6; 1.13-16). Pedro, que um dia disse que
não negaria a Cristo e acabou negando três vezes, está bem consciente de que o pecado pode acontecer, embora não
deva. Diante desse risco real, o autor nos aconselha a orar e vigiar (4.7; 5.8-9) .
Contudo, a vida cristã apresentada por Pedro não é apenas espiritual. Não se resume à oração e à vigilância. Ele
ensina o serviço cristão, exemplificado através da hospitalidade e do ministério (4.9-11). Não basta orar; é preciso
agir, trabalhar.
Outro item abordado é o comportamento. As falhas nesta área podem invalidar nossas orações (3.7) e nosso
serviço. Pedro menciona então a vida social e civil (2.12-17), familiar (3.1-7), profissional (2.18). Aconselha
maridos, esposas e servos.
O Sofrimento é o tema principal da epístola. Esse elemento também faz parte da vida cristã. Esta era a situação
vivida pelos destinatários da carta. O autor diz que não devemos estranhá-lo, como se fosse algo anormal (4.12).
Então, devemos concluir que o mesmo faz parte do plano de Deus para nós, pois ele assim o quer (3.17). Trata-se
de algo necessário (1.6). Tais afirmações podem ser chocantes. Por quê Deus quer que soframos? Não é que ele
queira o sofrimento em si, mas sim o resultado do processo. Existem virtudes que não serão adquiridas de outra
forma. O sofrimento tem grande força didática. "Te deixei ter fome... para te dar a entender que nem só de pão
viverá o homem..." (Dt.8.3).
Pedro menciona dois tipos de sofrimento: um pelo evangelho (perseguição, tentações e perseguições) e outro pelo
pecado (conseqüências e punições). O autor adverte que se sofremos como cristãos, sem culpa, então somos bem-
aventurados. Se sofrermos merecidamente, então nenhuma honra receberemos (2.19-20; 4.14-16). Lembremo-nos
do Calvário. Dois tipos de sofrimento ali aconteciam: Jesus morria inocente, enquanto que os ladrões morriam em
conseqüência dos seus próprios erros.
O sofrimento pela causa do evangelho trará como conseqüência a glória. Esta é outra palavra importante na
epístola, indicando glória presente na vida do cristão, glória futura e também a vanglória (1.24); (1.7,8,11,21;
2.12,20; 4.11,13,14,16; 5.1,4,10). O sofrimento é de pequena duração quando comparado com a glória eterna que
nos aguarda (1.6; 5.10. Veja também Rm.8.18).
Queremos a glória (e às vezes até mesmo a vanglória), mas sofrimento... jamais. Queremos colher o fruto sem
plantar sua erva. Queremos participar da glória de Cristo em sua vinda, mas não queremos participar dos seus
sofrimentos. Pedro vincula tais elementos (1.11; 4.13; 5.1). Para justificar a necessidade e a utilidade do
sofrimento, Pedro cita Cristo como exemplo (2.21; 3.18). O mesmo apóstolo se diz testemunha das aflições de
Cristo e participante da glória. Com isso, ele deixa subentendida sua própria participação nos sofrimentos pelo
evangelho.
Diante do sofrimento somos levados a procurar seus motivos. Perguntamos: por quê está acontecendo isso? O que
eu fiz para merecer isso? Assim, olhamos para trás em busca da causa. O sofrimento pelo pecado pode ser assim
compreendido. Podemos olhar para trás e reconhecer nossa falha. Muitas vezes, porém, não conseguimos ligar o
fato presente ao erro cometido. No caso do sofrimento permitido por Deus sem que tenhamos pecado, devemos
olhar para frente e perguntar: para quê está acontecendo isso? Mesmo que não possamos, em muitos casos, saber o
propósito específico, sabemos, de modo geral, que toda adversidade que nos ocorre vem para o nosso próprio
crescimento. Todo exercício físico, corretamente realizado, contribui para o desenvolvimento e manutenção da boa
forma muscular. Tais exercícios não são leves nem suaves. Se assim fossem, seriam inúteis. Assim são as
provações e adversidades que enfrentamos. São exercícios para o espírito e para o caráter. Por meio deles nossa fé
cresce, nossa paciência e nossa experiência se desenvolvem. O produto do sofrimento faz com ele se justifique e
seja até mesmo valorizado por escritores bíblicos como Pedro e Paulo (Rm.5.3-5).
O ouro é retirado da jazida em estado bruto, cheio de sujeira e deformidades. Contudo, não será rejeitado por isso.
Da mesma forma Deus nos resgata: sujos e deformados. Ele não rejeita a sua vida, por mais sujo que você esteja.
Podemos até lavar aquela pepita de ouro, mas isso não será suficiente. Algumas impurezas estão encrustadas no
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metal. Então, o ourives precisa levá-lo ao fogo (Malaquias 3.2). Pedro compara o fogo às tribulações e diz que
assim como o ouro precisa passar pelo fogo, da mesma forma nossa fé precisa ser provada para que sejamos
aprovados (I Pd.1.7). O fogo, por mais destruidor que seja, só destrói as impurezas do ouro. No final do processo, o
metal está limpo, brilhante, e muito mais valorizado. Assim acontece conosco.
Em sua primeira epístola, Pedro menciona muitos termos negativos e muitos outros positivos. Pode parecer conflito
ou paradoxo, mas não é. Nossa vida é assim. Todos os elementos negativos do processo são necessários para que os
positivos se manifestem. É uma relação necessária. Sem morte não haverá ressurreição. Primeiro vem o fogo,
depois o brilho e o valor. Só não é necessário o pecado nem o sofrimento que dele advém, já que não produz
nenhum benefício, exceto uma lição que deveria ter sido aprendida de outra forma.
Vejamos então as palavras negativas e positivas encontradas em I Pedro

NEGATIVAS
Sofrimento - 5.9
Fogo - 1.7.
Provação - 4.12
Tristeza - 1.6; 2.19.
Aflição - 4.13; 5.1
Vitupério - 4.14
Padecimento - 5.10

POSITIVAS
Fé - 1.21; 5.9
Glória, honra - 1.7,8,21; 2.17,20;
4.11,14; 5.1,10
Esperança - 1.21
Alegria, exultação, gozo inefável -
1.8; 4.13
Amor - 1.20,22; 2.17; 3.8; 4.8
Misericórdia - 1.3; 2.10
Paz - 1.2; 3.11; 5.14.
Graça - 1.2; 5.5,12
Louvor - 1.7; 2.14
Dias felizes - 3.10

Muitas vezes, as experiências negativas são presentes, enquanto que o benefício está indicado para o futuro (I
Pd.1.4-5; 4.13; 5.1,4,6,10). Contudo, já no tempo presente experimentamos a esperança, a paz, a alegria, o amor, a
misericórdia, etc. A glória, ou exaltação, é o principal elemento localizado no futuro, vinculado à segunda vinda de
Cristo.

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4 - Exortações diversas - 4.1-19


Nesse bloco são incluídos diversos conselhos sobre comportamento, amor mútuo, serviço e novamente sobre o
sofrimento.
5 - Admoestações aos líderes - 5.1-14.
Pedro se dirige especialmente aos anciãos, os presbíteros da igreja, dizendo que os mesmos deviam ser exemplo
para o rebanho e não dominadores. O líder não deve agir como se fosse dono das ovelhas, como se fosse senhor de
suas vidas. Liderança não é manipulação nem opressão, mas orientação amável. A ovelha deve ser vista como alvo
de cuidado e proteção e não como fábrica de leite e lã, embora ela os produza.

DESTAQUES DA CARTA
PEDRAS VIVAS
O texto de Mateus 16.16-18 tem sido objeto de muitas discussões. Seria Pedro a pedra fundamental da igreja? Em
sua primeira epístola, o apóstolo diz que todos os cristãos são "pedras vivas" e que Cristo é a principal pedra da
construção que é a igreja. Se é assim, então Pedro continua pedra, como é o significado do seu nome. A igreja está
firmada sobre o fundamento dos apóstolos e profetas. Eles foram as pedras fundamentais da igreja. Porém, Cristo é
a pedra principal. Sem ele, a construção não existiria.
Qual é a relação entre tais pedras e a igreja? Tal fundamento está diretamente ligado às vidas, obras e ensinamentos
desses homens, os apóstolos e profetas. Eles foram os primeiros a compor a igreja do Senhor. O próprio Jesus, por
sua vez, é a pedra principal pois deu sua própria vida para que a igreja existisse. Foi ele quem resgatou com seu
sangue todos aqueles que fariam parte dessa construção espiritual.
Voltando às palavras de Pedro, todos nós somos pedras vivas, fazendo parte da igreja. Não fazemos parte do
fundamento, pois a igreja já existia antes de nós. Porém, fazemos parte da obra, estando apoiados sobre os que nos
antecederam e servindo de base para os que se inspiram em nosso testemunho e palavra ( I Pd.2.4-8; I Cor.3.11;
Ef.2.20-22).

A PREGAÇÃO AOS MORTOS


"Porque também Cristo morreu uma só vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; sendo, na
verdade, morto na carne, mas vivificado no espírito; no qual também foi, e pregou aos espíritos em prisão; os quais
noutro tempo foram rebeldes, quando a longanimidade de Deus esperava, nos dias de Noé, enquanto se preparava a
arca; na qual poucas, isto é, oito almas se salvaram através da água." (I Pd.3.18-20).
Este é um dos textos mais misteriosos das Sagradas Escrituras. As polêmicas em torno do seu significado não têm
fim. Procuraremos expor resumidamente as principais linhas de interpretação do assunto em questão. Leia também
I Pd.4.5-6, Rm.10.7, Salmo 16.10 e Ef.4.9. Neste assunto, além dos católicos não concordarem com os protestantes,
estes últimos não concordam entre si. Encontramos posições diferentes de uma denominação evangélica para outra.
A pergunta inicial é: Jesus foi ao inferno? O texto de Pedro não está dizendo isso, mas esta tem sido, muitas vezes,
a interpretação adotada, principalmente por causa de outros textos bíblicos, dos credos da igreja católica e dos
livros apócrifos, alguns dos quais mencionam explicitamente a descida de Cristo ao inferno entre sua morte e sua
ressurreição. Por exemplo podemos citar o chamado "credo dos apóstolos" e os apócrifos: "Evangelho de
Bartolomeu" e "Evangelho de Nicodemos". Um paralelo entre tais escritos e os textos bíblicos mencionados
produzem a interpretação correspondente.

Questão Respostas encontradas nos comentários


Jesus foi ao Sim Não
inferno?
Como ele foi? Em seu em carne e espírito Através do Espírito Santo De jeito
espírito nenhum.
humano
A quem ele Aos justos Aos ímpios (todos A justos e Aos anjos A
pregou? ou só aos da época ímpios. caídos. ninguém
de Noé)
O que ele O evangelho Sua vitória O evangelho e sua vitória Nada
pregou?
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Com que Salvar os Salvar os ímpios Salvar a Declarar Sofrer Nenhum


objetivo? justos todos sua (batismo
vitó-ria de
fogo?)
Qual foi o Salvação e Salvação dos Salvação Conde- Nenhum
efeito? ressurreição ímpios. de todos. nação
dos justos. dos ím-
pios

O quadro apresentado assemelha-se a uma prova de múltipla escolha onde existem alternativas para todos os
gostos, inclusive para quem não gosta de nenhuma. Contudo, trata-se apenas da exposição das diversas
interpretações do texto de I Pedro 3.18-20, juntamente com uma série de pressupostos considerados em cada caso.
Cada alternativa traz uma série de conseqüências naturais (?) ou teologicamente necessárias, formando assim um
intrincado conjunto de perguntas intrigantes, respostas incertas e dúvidas crescentes. Uma vez que o próprio texto
bíblico não foi claro sobre o assunto, torna-se muito improvável que possamos sê-lo. Contudo, tal exposição poderá
ajudar o estudante a tirar suas próprias conclusões.
Algumas alternativas apresentadas podem ser refutadas pelo simples retorno ao texto de I Pedro. A passagem não
diz que ele foi pregar aos justos e nem que teria sido a todos os mortos ou a todos os ímpios. São mencionados
apenas os ímpios que viveram nos dias de Noé. Alguns comentaristas estendem tal pregação a todos os mortos,
utilizando o texto de I Pedro 4.5-6, onde isso fica mais evidente.
Dizer que Cristo foi em carne e espírito ao inferno, seria o mesmo que ele estava vivo antes da ressurreição. Se
carne e espírito estão juntos, então não estamos falando de Cristo durante seus três dias em estado de morte.
Dizer que o Espírito Santo foi ao inferno resgatar alguém é fazer uma grande confusão entre as funções das pessoas
da trindade. Tal equívoco se dá pelo fato de que algumas traduções usam a palavra "Espírito" com letra maiúscula
em I Pd.3.18.
Aqueles que dizem que Cristo não foi ao inferno, afirmam que ele foi se apresentar ao Pai após sua morte.
Mencionam como argumento as palavras de Jesus ao ladrão crucificado: "Hoje estarás comigo no paraíso."
(Lc.23.43 e 46). Como explicariam então o texto de Pedro? Calvino chegou a afirmar que a cruz foi o "inferno"
experimentado por Cristo. Para os anabatistas, este mundo foi o "inferno" ao qual Cristo desceu ao encarnar.
Pelo que ficou registrado nos livros, até o século IV d.C. era plenamente aceita a idéia de que Cristo tenha mesmo
descido ao inferno, assim identificado como o "lugar dos mortos". Somente a partir do século V é que passou-se a
questionar tal sentido. Nesse tempo, Agostinho propôs o seguinte entendimento para o texto de Pedro: o evangelho
teria sido anunciado aos mortos no tempo em que os mesmos estavam vivos. Assim, os contemporâneos de Noé
teriam ouvido a pregação antes do dilúvio. O espírito de Cristo, mencionado em I Pd.3.18, estaria agindo através de
Noé, o pregoeiro da justiça. Tal interpretação, bastante inteligente, não explica o texto de I Pd.4.5-6, onde todos os
mortos parecem estar envolvidos. Além disso, o texto de I Pd.3.18-20 fala que a pregação foi dirigida a "espíritos
em prisão" e não a pessoas vivas.
O texto de Atos (2.27-31) talvez seja o mais claro para que se conclua que Cristo foi ao inferno. O autor utiliza a
palavra Hades. Esta palavra estaria sendo usada em referência a um lugar espiritual? ou simplesmente à sepultura?
(2.29) ou apenas ao estado de morte? (2.31). Algumas versões usam a palavra "hades" (A.R.C.) enquanto outras a
traduzem como "morte" (Thompson e A.R.A). A versão católica dos Monges de Maredsous menciona "região dos
mortos", o que não indica um sentido estritamente físico ou espiritual. A bíblia das Edições Loyola utiliza a
expressão "mansão dos mortos". A versão do padre Antônio Pereira de Figueiredo traduz "hades" como "inferno".
A palavra "hades" é grega e se origina da mitologia dos gregos, sendo utilizada para identificar o lugar espiritual
para onde vão os mortos. O hades estaria divido em duas partes: O "elísio" para os bons e o "tártaro" para os maus.
Os hebreus tinham uma concepção semelhante sobre a região dos mortos. Chamavam-na de seol, ou sheol, também
com um lugar para os justos e outro para os ímpios. Entretanto, sheol também significa sepultura. Como o Novo
Testamento foi escrito em grego, então foram usadas as palavras gregas que mais se aproximavam do conceito
hebraico. Assim, a dúvida sobre lugar físico ou espiritual prevalece.
Sheol (ás vezes traduzido como inferno ou sepultura): Gn.37.35; Nm.16.30; Jó 21.13; Salmo 9.17; Pv.5.5; 7.27;
9.18; 15.24; 23.14; Dt.32.22; Jó 26.6; Pv.15.11; 27.20; II Sm.22.6; Salmo 18.5; 116.3; Os.13.14.
Hades (às vezes traduzido como inferno): At.2.27,31; Mt.11.23; 16.18; Lc.10.15; Lc.16.23; Ap.1.18; 6.8; 20.13-14.
Geena (às vezes traduzido como inferno): Mt.5.22,29,30; 10.28; 18.9; 23.15; 23.33; Lc.12.5; Tg.3.6; Mc.9.43-48.
Tártaro (às vezes traduzido como inferno): II Pd.2.4.
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O Velho Testamento passa a idéia de que o Sheol é um lugar para onde vão todos os mortos, bons e maus. É
normalmente identificado com o hades do Novo Testamento. Veja que em Atos 2, a citação do Salmo 16, troca
Sheol por Hades.
Os luteranos interpretam hades como sinônimo de inferno e seio de Abraão como paraíso. Utilizam a passagem de
Lucas 16.22-25. O paraíso seria o lugar para onde o cristão iria imediatamente após a morte, a encontrar-se com
Cristo (Filipenses 1.23).
Os católicos romanos dividem o hades em: inferno, purgatório, limbus patrum e limbus infantum. Eles entendem
que Cristo tenha ido ao limbus patrum ou seio de Abraão, onde estariam os justos do Velho Testamento
aguardando a salvação cristã. Apesar da boa organização de idéias, tal teoria não tem apoio bíblico, já que a Bíblia
não menciona purgatório nem limbus.
É bastante antiga a idéia de que alguém pudesse descer ao hades com alguma missão. De acordo com a mitologia
grega, Hércules teria ido até lá. Histórias semelhantes são encontradas na literatura babilônica, egípcia, e romana.
Conforme Orígenes, houve entre os judeus a crença de que os profetas do Velho Testamento tenham ido ao seol,
onde continuariam seu ministério de pregação. Tal suposição aparece também no Talmude. Assim, a crença de que
Cristo teria ido ao inferno não seria de difícil aceitação. Alguns, como Clemente de Alexandria, chegaram a dizer
que os apóstolos também teriam ido ao hades após suas mortes para pregar e que também os demais cristãos teriam
essa missão. Isso seria usado por alguns para justificar mortes de pessoas jovens (J.Paterson Smith). Afinal,
segundo essa tese, essas pessoas teriam grande trabalho a executar na região dos mortos.
Apresentamos, a seguir, outro quadro comparativo sobre o assunto, destacando a posição denominacional e de
alguns líderes e teólogos.
Cristo foi e Cristo foi e Cristo não foi ao Cristo foi mas Cristo salvou
salvou os justos salvou a todos inferno. não salvou apenas algumas
ninguém pessoas
Defendido por Algumas igrejas Anabatistas Luteranos Lutero, mais
católicos reformadas tarde assumiu
essa posição.
Algumas igrejas Arminianos * Calvinistas Flacius
reformadas.
Zwínglio Agostinho Calov
Marcion Wolf
Tertuliano Buddeus
Aretius
* Calvino

Encontramos duas posições distintas atribuídas a Calvino em relação à ida de Cristo ao inferno. Não sabemos se ele
mudou de idéia como ocorreu com Lutero. Uma das fontes consultadas foi escrita por um calvinista e nega a ida
literal de Cristo ao inferno.
Alguns livros apócrifos afirmam que Cristo esvaziou o inferno, salvando todos os que ali estavam. Essa idéia serve
bastante aos que pregam o "universalismo", que consiste na crença em uma salvação universal. Tais teólogos
afirmam que ninguém escapará do alcance da graça de Deus e, finalmente, todos serão salvos, até mesmo os anjos
caídos. Se assim fosse, então não precisaríamos pregar o evangelho.
Para o melhor entendimento possível a respeito desse assunto é fundamental que consideremos o ensino geral da
Bíblia. Qualquer suposição deve ser confrontada com outros textos das escrituras para que se conclua sobre sua
prevalência ou não.
Jesus teria ido pregar aos mortos para que estes se salvassem? Tal entendimento não parece coerente com outras
passagens das escrituras. Se, depois de viverem e morrerem no pecado, todos os ímpios ainda pudessem se salvar,
então de nada teria valido a vida de justiça dos justos, já que todos acabariam no mesmo lugar e na mesma situação:
salvos.
É bem provável que Jesus tenha anunciado o evangelho aos justos do Velho Testamento, embora o texto de I Pedro
3.18-20 não os mencione. O fato é que muitos deles ressuscitaram após a ressurreição de Cristo, conforme está em
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Mateus 27.51-53. Davi disse: "Não deixarás minha alma no hades." Além de estar profetizando sobre Cristo, ele
não poderia também estar falando sobre sua própria alma, conforme uma interpretação literal do Salmo?
Os ímpios mortos também teriam ouvido a respeito do evangelho mas não poderiam ser salvos. Contudo, tal
conhecimento serviria para legitimar a autoridade de Cristo para julgá-los no último dia. "... Áquele que está
preparado para julgar os vivos e os mortos. Pois é por isto que foi pregado o evangelho até aos mortos..." (I Pd.4.5-
6).
Jesus teria descido para tomar as chaves da morte e do inferno das mãos do Diabo? Os calvinistas dizem que isso
não faz sentido, já que o Diabo nunca teve tais chaves. Por outro lado, podemos também questionar: quem disse
que o Diabo mora no inferno? Pelo que sabemos, ele habita o planeta terra e circula pelas regiões celestiais. Muitas
vezes o inferno é mencionado pelas pessoas como um lugar onde o Diabo mora e faz suas reuniões estratégicas
com os seus demônios. Em algumas dessas supostas reuniões, eles estão eufóricos com seus planos e realizações.
Não estaríamos alimentando um folclore religioso com tudo isso? Afinal, a bíblia mostra o inferno como um lugar
de tormento e não de reuniões satânicas. Se o Diabo lá estivesse, estaria sofrendo tormentos e não fazendo planos.

XXVII - SEGUNDA EPÍSTOLA DE PEDRO


Autoria
No primeiro versículo, o autor já se apresenta como "Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo." Pouco
adiante, Pedro menciona que presenciou o episódio da transfiguração (I Pd.1.16-18; Mt.17.5). No capítulo 3,
versículo 1, o autor se refere à primeira epístola.
Data – 64 d.C.
Destinatários – por 3.1 entendemos que os destinatários são os mesmos da sua primeira carta: cristãos dispersos na
Ásia Menor. O primeiro versículo do livro parece sugerir que o autor pretendia que seu escrito tivesse um alcance
maior: ele se dirige "aos que conosco alcançaram fé igualmente preciosa..."
Temas e Objetivos – Animar os irmãos (cap.1); Denunciar os falsos mestres (cap.2); Falar sobre a segunda vinda de
Cristo.
Textos chave – 2.1 e 3.1-4.

ESBOÇO
Caminho 1 - A vida cristã - uma palavra de estímulo – 1.1-21.
Caminho 2 – Os falsos mestres – denúncia - 2.1-22.
3- A segunda vinda de Cristo e o juízo – 3.1-18.

A segunda epístola de Pedro nos fala de dois caminhos. O primeiro, apresentado no capítulo 1, é chamado de
"caminho da verdade" (2.2), "caminho direito" (2.15) e "caminho da justiça" (2.21). Embora essas expressões
estejam no capítulo 2, é no início da carta que o autor fala sobre o procedimento do cristão. O outro caminho, o dos
falsos mestres, é apresentado no capítulo 2 e chamado "caminho de Balaão" (2.15). É interessante notarmos que, ao
falar do caminho de Balaão, Pedro não está se referindo àqueles que nunca conheceram o Senhor, mas ele fala de
pessoas que foram resgatadas (2.1), mas desviaram-se das veredas da justiça (2.15,20,21,22). O próprio Balaão era
um profeta verdadeiro até que, pelo interesse financeiro, desviou-se da verdade.
Em cada um desses caminhos temos: ponto de partida, modo de caminhar e ponto de chegada, conforme fica
evidente na epístola.
1 - Caminho 1 - A vida cristã - uma palavra de estímulo – 1.1-21.
O capítulo 1 está falando da trajetória cristã. O ponto de partida está em 1.4: "...havendo escapado da corrupção que
pela concupiscência há no mundo". Trata-se da conversão. Quem se converte não pode achar que já tem tudo o que
Deus pode oferecer. A partir do versículo 5, o autor apresenta uma lista de qualidades ou capacidades que devem
ser alcançadas pelo cristão. Aquele se converte tem fé. A fé foi alcançada (1.1), mas ela não é um fim em si mesma.
Pelo contrário, é o início de uma jornada. Com diligência (ou zelo) (1.5), o cristão deve buscar: virtude (bondade
ou bom procedimento), conhecimento, temperança (ou domínio próprio), paciência (ou perseverança), piedade,
amor fraternal (fraternidade), amor (ágape).
Essas qualidades são mutuamente dependentes e complementares. Pedro está propondo um plano de crescimento, o
qual deve ser o alvo de todo cristão. É desse modo que a natureza divina se desenvolve em nós (1.4).
A fé sem conhecimento pode resultar em fanatismo e heresia. O conhecimento sem fé é intelectualismo ou
legalismo. Imaginemos que alguém tem fé, conhecimento, mas não tem amor. Tal pessoa pode ser perigosa,
tornando-se um manipulador e até mesmo agressor. Quando Tiago e João quiseram pedir fogo do céu para destruir
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os samaritanos, eles demonstraram que tinham conhecimento e muita fé, mas nenhum amor ao próximo, nenhuma
bondade, nenhuma paciência, nenhum domínio próprio. Felizmente, Jesus impediu aquela tragédia e, mais tarde,
aqueles discípulos aprenderam a amar.
No relato de toda essa experiência cristã, Pedro utiliza diversas palavras que podem ser divididas em dois grupos:
ações divinas e ações humanas. O início da nossa caminhada se dá pela operação do "divino poder" do Senhor
(1.3). A partir daí, o homem tem muito a fazer.

PARTE DIVINA PARTE HUMANA


Seu poder (1.3) Empregando diligência (zelo) (1.5)
Seus dons (1.3) - ele nos deu tudo. Acrescentai bondade, conhecimento, temperança,
paciência, piedade, amor fraternal, amor ágape.
(1.5)
Sua glória (1.3) Procurai confirmar vossa vocação e eleição (1.10)
Sua virtude (1.3)
Suas promessas (1.4)
Sua natureza (1.4)
Sua vocação (1.10) – ele nos chamou
Sua eleição (1.10) – ele nos elegeu

Se Pedro estava exortando (1.12-15) os irmãos a fazerem a sua parte no que diz respeito ao crescimento espiritual,
é porque eles poderiam, depois de tudo o que Deus fez, ter cruzado os braços e parado no meio da estrada. Nesse
caso, o resultado seria: a visão curta ou mesmo a cegueira espiritual, o esquecimento das primeiras experiências
com Deus e o tropeço que poderia levar à queda (1.9-10; 3.17).
Os tempos e modos dos verbos encontrados no texto nos ajudam a ver uma trajetória traçada e uma ordem de
avanço. Alguns verbos estão no passado, indicando o lugar de onde saímos e aquilo que Deus já fez por nós.
Alguns deles, no pretérito perfeito, indicam ações consumadas por Deus. È algo que foi feito e não se vai se repetir.
Outros verbos estão no gerúndio e indicam uma ação constante. É presente, mas ainda não foi encerrada. São ações
contínuas de Deus a nosso favor e ações contínuas da nossa parte em busca do alvo. Outros verbos estão no futuro e
apontam para o resultado desejado. Destacam-se também aqueles que estão no modo imperativo e indicam ordem
para que avancemos em nosso caminho com Deus.

PASSADO PRESENTE IMPERATIVO FUTURO


CONTÍNUO
Alcançaram fé (1.1) Nos tem dado Acrescentai (1.5) Não vos deixarão
promessas (1.4) ociosos (1.8).
Nos deu tudo (1.3) Empregando diligência Procurai (1.10) Jamais tropeçareis
(1.5) (1.10)
Nos chamou (1.3) Vos será concedida
entrada no reino (1.11).
Havendo escapado da
corrupção (1.4)

Lendo o quadro anterior, cada coluna, da esquerda para a direita, percebemos a idéia de movimento, de progresso
com o passar do tempo.
No caminho da vida cristã, o modo de caminhar se define por alcançar, praticar e manter as qualidades e
capacidades já mencionadas. Esse deve ser o nosso modo de vida (3.11).

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O ponto de chegada ou objetivo a ser alcançado pode ser compreendido através das expressões: "para que por elas
vos torneis participantes da natureza divina" (1.4), ".. não vos deixarão ociosos nem infrutíferos" (1.8) e "vos será
amplamente concedida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo" (1.11).
2 - Caminho 2 – Os falsos mestres – denúncia - 2.1-22.
No capítulo 2, o autor muda para um assunto extremamente oposto ao que estava sendo tratado até então. Seu
conteúdo é muito semelhante à epístola de Judas.
Enquanto que no capítulo 1, Pedro falava a respeito dos cristãos fiéis, agora ele passa a se referir aos falsos mestres,
seu caráter, suas obras e o conseqüente castigo. Esses são os que andam pelo "caminho de Balaão" (2.15). Sabendo
de sua morte iminente (1.14), o autor está preocupado com aqueles que talvez o sucederão e aos demais apóstolos
na liderança da igreja.
Os falsos mestres:
Foram resgatados mas desviaram-se (2.1,15,19,20,21,22).
Contudo, continuam dentro das igrejas (2.1,13).
Estão na liderança (2.2 – muitos os estão seguindo).
Seu interesse primordial é o dinheiro. Assim como Balaão (2.3,14,15).
São comparados aos anjos caídos, aos contemporâneos de Noé e aos habitantes de Sodoma e Gomorra (2.4,5,6).
O ponto de partida desse caminho é o mesmo daqueles mencionados no primeiro capítulo. Já que foram resgatados
(2.1), o lugar de onde saíram está identificado como as "contaminações do mundo", de onde escaparam mediante o
conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo (2.20). Contudo, desviaram-se da rota traçada pelo Senhor (2.15),
sendo envolvidos e vencidos pelo mundo, terminando por se afastarem do santo mandamento de Deus (2.20-21).
O seu modo de caminhar é identificado através de seu comportamento. O texto apresenta verbos e adjetivos que
nos fazem compreender o caráter desses homens:
- Falsos, dissimulados, hereges, destruidores, negam a Cristo, libertinos, avarentos, mentirosos, fazem comércio de
vidas, são carnais, seguem paixões imundas, são rebeldes, atrevidos, obstinados, como animais irracionais,
blasfemos, injustos, luxuriosos, enganadores, adúlteros, insaciáveis, malditos, vaidosos, arrogantes, inconstantes,
escravos da corrupção (2.1,2,3,10,12,13,14,18,19; 3.3). Tais palavras variam um pouco de uma versão bíblica para
outra.
- Apesar de todo esse conteúdo maligno, tais homens apresentam uma aparência positiva. Afinal, são líderes, são
mestres, e prometem liberdade aos seus seguidores (2.1,2,19). São fontes... sem água. São nuvens .... também sem
água (II Pd.2.17; Jd.12). O aspecto é promissor mas não produzem nada de positivo.
Dentre tantas características apresentadas, percebemos que se destacam as atitudes desses falsos mestres em relação
à autoridade, ao dinheiro e ao sexo. Eles são rebeldes, avarentos e adúlteros, entre outros adjetivos a estes
relacionados.
O ponto de chegada desse caminho está demonstrado pelas expressões:
"... a sentença..." (2.3).
"... a perdição..." (2.3).
"... inferno..." (2.4).
"... cadeias da escuridão..." (2.4).
"... juízo.." (2.4).
"... destruição..." (2.6).
"... o dia do juízo, para serem castigados." (2.9).
"... a negridão das trevas" (2.17).
"... o último estado pior do que o primeiro" (2.20).
"... juízo e destruição..." (3.7).
3 - A segunda vinda de Cristo e o juízo – 3.1-18.
Pedro encerra sua obra com um capítulo escatológico. Após ter falado sobre dois caminhos, dois tipos de vida, o
apóstolo fala sobre a segunda vinda de Cristo (3.4) e, novamente, trás à tona o tema do juízo, comparado ao dilúvio
dos dias de Noé (3.7). Está em destaque a aparente demora da "parousia".
Pedro adverte que o tempo de Deus é diferente do nosso. "Um dia para Deus é como mil anos e mil anos como um
dia". (3.8).
Sobre a segunda vinda precisamos de duas atitudes: fé e paciência. A aparente demora de Deus é manifestação da
sua misericórdia. Ele está dando tempo para muitos ainda se arrependam e se convertam (3.9).
Enquanto que o dilúvio foi a destruição dos ímpios e suas obras através da água, Pedro nos diz que o fim desta
nossa era se dará por meio de um "dilúvio de fogo". O apóstolo "desenha" um cenário "apocalíptico" iluminado
pelas chamas da ira divina. O fogo abrasará (3.10,12), destruirá (3.7) e fará derreter (3.12). Serão atingidos: os céus
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(3.7,10,12), a terra (3.7,10) e todas as coisas que nela há (3.10-11). Semelhantemente ao texto de Apocalipse 21.1,
Pedro também fala de novos céus e nova terra (II Pd.3.13; Is.65.17).

XXVIII - EPÍSTOLAS DE JOÃO

PRIMEIRA EPÍSTOLA DE JOÃO


AUTORIA – João, o apóstolo. Seu nome não é mencionado em suas três epístolas. Não obstante, sua autoria foi
confirmada por Policarpo, Papias, Eusébio, Irineu, Clemente de Alexandria e Tertuliano. O nome "João" significa
"graça de Deus". Era judeu, pescador (Mt.4.21), irmão de Tiago, filho de Zebedeu e Salomé (Compare Mt.27.56 e
Mc.15.40). Foi chamado de discípulo amado – Jo.13.23; 19.26; 21.20. Foi o discípulo mais íntimo do Mestre. Até
no momento da crucificação, João estava presente. Isso mostra sua disposição de correr risco de vida para ficar ao
lado de Jesus. Apesar de ter fugido no momento da prisão de Cristo, João voltou pouco tempo depois.
Jesus chamou João e Tiago de boanerges, "filhos do trovão", referindo-se ao seu temperamento indócil,
tempestuoso, violento (Mc.3.17; Mc.9.38; Lc.9.54).
São várias as citações a respeito de João nos evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas. Seu nome é omitido no seu
evangelho (João 20.2; 19.26; 13.23; 21.2). Encontram-se referências ao apóstolo também em At.4.13; 5.33,40;
8.14; Gl.2.9; 2 Jo.1; 3 Jo.1; Apc.1.1,4,9. Na segunda e na terceira epístola, ele se apresenta como "o presbítero".
Podendo se apresentar como apóstolo, demonstrou humildade ao utilizar título mais simples. Em Apocalipse,
apresenta-se como "servo".
Após o exercício do seu ministério em Jerusalém, João foi pastor em Éfeso, onde morreu entre os anos 95 e 100.
Policrates (ano 190), bispo de Éfeso, escreveu: "João, que se reclinara no seio do Senhor, depois de haver sido uma
testemunha e um mestre, dormiu em Éfeso."
Palavras chave: Conhecimento (ou saber) , amor e comunhão.
Data de escrita da primeira epístola – Final do primeiro século, entre os anos 95 e 100.
Local de origem – Éfeso
Destinatários – Por não conter saudações, despedidas ou menção de nomes, tem-se considerado que a carta foi
destinada à igreja em geral. O apóstolo trata carinhosamente os destinatários como "meus filhinhos" (2.1,18,28;
3.7,18; 4.4; 5.21) e "amados" (3.2,21; 4.1,7,11). Isso parece indicar que, embora não tenha vinculado a epístola a
uma comunidade específica, o autor tem em mente pessoas conhecidas, as quais seriam as primeiras a receberem
aquela mensagem.

CARACTERÍSTICAS
A carta apresenta denúncia contra os falsos e incentivo aos verdadeiros cristãos. O autor é incisivo, direto,
totalmente convicto. Sua afirmações são muito fortes no sentido de apontar o erro e a verdade.
O propósito da carta está bem definido com também vimos no evangelho (João 20.31). A epístola foi escrita:
1 - "Para que a nossa alegria seja completa" - 1.4
2 - "Para que não pequeis" - 2.1.
3 - Para advertir contra os enganadores - 2.26.
4 - "Para que saibais que tendes a vida eterna" - 5.13.
Entendemos que o autor estava bastante preocupado com a igreja, em seu estado presente e futuro. Os demais
apóstolos já haviam morrido e falsos mestres apareciam por toda parte. Alertando os irmãos, o apóstolo ficaria mais
tranqüilo e sua alegria seria completa (1.4). Seu alerta é contra o pecado (2.1) e contra as heresias (2.26). São duas
portas para o diabo entrar nas vidas e nas igrejas. Embora as duas coisas estejam intrinsicamente ligadas, as
heresias apresentam um elemento muito perigoso. Todo tipo de pecado deve ser evitado, mas se, eventualmente,
cometermos algum, confessaremos e seremos perdoados (1.7,9; 2.1). A heresia entretanto, constitui-se num
caminho de afastamento de Deus. A heresia, do tipo mencionado por João, leva à apostasia. Então, tem-se uma
situação muito perniciosa em que a pessoa está errada mas pensa que está certa. Trata-se de um estado de pecado
sem reconhecimento, sem confissão, sem arrependimento e, consequentemente, sem perdão. Aquele que passa a
crer numa doutrina contrária à cruz, como pode ser perdoado? Não é que Deus se recuse a perdoá-lo, mas a própria
pessoa não acredita na única solução divina, que é o sacrifício de Cristo. A reversão desse quadro é possível, mas
muito difícil. O melhor é a prevenção contra as heresias e isso se faz através do conhecimento e apego à Palavra de
Deus.

NOVO TESTAMENTO I E II 99
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ENÁRIO OBSERVADO POR JOÃO


A situação da igreja inspirava cuidados. Notamos isso pelo que se lê nas cartas às sete igreja da Ásia (Apc.2 e 3).
As heresias grassavam em muitas comunidades. Em Apocalipse, livro escrito na mesma época, João menciona as
expressões "sinagoga de Satanás" (Ap.2.9), "nicolaítas" (Ap2.6,15), "doutrina de Balaão"(Ap.2.14), etc.
O gnosticismo, sistema que mistura idéias filosóficas, crenças judaicas e cristãs, era uma das principais fontes de
heresias da época. Assim, muitos cristãos se tornaram gnósticos. Criam em Jesus mas negavam a realidade de sua
encarnação e morte. O fato de se denominarem cristãos criava uma situação confusa. Quem eram os verdadeiros
cristãos? Os que criam de uma forma ou os que criam de outra?
João observou a necessidade de identificação, discernimento, definição e posicionamento. Observemos as
perguntas-chave que autor apresenta:
1 – "Quem é o mentiroso senão aquele que nega que Jesus é o Cristo?" (I Jo.2.22).
2 – "Quem é o que vence o mundo senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus?" (I Jo.5.5).
O autor se mostra bastante interessado em mostrar "QUEM É O QUÊ". São usados pronomes demonstrativos e
indefinidos para apresentar especificações bem definidas que permitem identificar os indivíduos em relação a
Cristo. João usa repetidamente a fórmula: "Quem não faz isso não é aquilo". ou "Quem faz tal coisa é outra coisa".
Aquele - 2.6,11,17,22,23,26,29; 3.4,6,17; 5.1,5,16,18 (Veja também II João 1.9).
Alguém – 2.1,15,27; 4.20; 5.16.
Quem – 4.7,8,9,10.
O mentiroso e o verdadeiro precisam ser identificados. Essa é a missão de João em sua primeira epístola. O autor
ajuda a identificar os personagens do cenário e a situação dos próprios leitores no contexto da verdade e da mentira.
O exemplo clássico utilizado é o de Caim e Abel (I Jo.3.11-12), representando dois grupos de pessoas que estavam
dentro da igreja. O autor identifica quem está em comunhão com Deus e quem não está. No quadro a seguir,
listamos diversas expressões da epístola através das quais se traça uma linha divisória entre os dois grupos. Vamos
chamá-los, alegoricamente, de "grupo de Abel" e "grupo de Caim".
"Grupo de Abel" "Grupo de Caim"
Vida (1.1,2; 2.16,25; 3.14,15,16; Morte (3.14; 5.16-17)
5.11,12,13,16,20)
Verdade – 1.6,8; 2.4,5,8,21,27; 3.18,19; 4.6; Mentira – 1.6,10; 2.4,21,22,27; 4.20; 5.10
5.7,20. Erro – 4.6 Engano - 1.8; 2.26; 3.7
Verdadeiro (2.8,27; 5.20) Falso ou mentiroso (2.22)
Espírito da verdade (4.6) espírito do erro (4.6)
Cristo (1.3, etc) Anticristo (2.18,22)
Amor ao irmão (2.10) Amor ao mundo (2.15)
Sofre ódio do mundo (3.13) Ódio ao irmão (2.11; 3.15)
Luz - 1.5,7; 2.8,9, 10. Trevas – 1.5,6; 2.8,9,11.

É possível passar de um lado para o outro. Esse trânsito pode ser chamado conversão ou, no sentido contrário,
apostasia. João disse que "passamos da morte para a vida." (3.14). E o seu cuidado era para que não acontecesse o
processo contrário com alguns irmãos que, envolvidos pela heresia, pudessem passar da verdade para a mentira.

IDENTIFICANDO A DOUTRINA, O MESTRE E O ESPÍRITO


A heresia é uma doutrina errada, mas isso pode não estar tão claro no início. O que chega até nós é simplesmente
uma doutrina. Esta deve ser então identificada. Por meio dos parâmetros encontrados na epístola, o autor identifica
a doutrina, o mestre e o espírito que está por trás (2.22-23, 4.1-6). As chaves identificadoras são:
Relação com Cristo (2.22-23);
Relação com os irmãos. (3.10,17).
Relação com o mundo (2.15).
Estes são os "instrumentos" que nos farão identificar a verdade e a mentira. Tais indicadores são complementares
entre si. Se alguém negar que Cristo é o Filho de Deus, estará reprovado. Não está na verdade. Se alguém afirma
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que Cristo é o Filho de Deus mas nega sua encarnação e morte, estará reprovado. Se alguém diz ter uma fé correta a
respeito de Cristo, então o próximo teste é a relação com os irmãos. Se a pessoa odeia os irmãos ou lhes nega
auxílio nas necessidades, então estará reprovada. Se a pessoa ama o mundo, anda segundo o mundo, vive de modo
agradável ao mundo, pecando habitualmente, então está do lado da mentira. A relações com os irmãos e com o
mundo constituem evidências visíveis do tipo de relação que temos com Cristo, uma vez que esse vínculo é
espiritual e invisível.
O objetivo dessas colocações não é sairmos julgando as pessoas dentro da igreja. Em primeiro lugar, cada um deve
julgar e purificar a si mesmo (I Jo.3.3; 5.10; I Cor.11.28,31; II Cor.13.5; II Jo.1.8). Depois, é preciso que saibamos
julgar as profecias e as doutrinas que recebemos (I Cor.14.29; I Tess.5.20-21; I Cor.10.15). Se uma doutrina é
contrária a Cristo, contrária à comunhão dos irmãos ou favorável ao mundanismo, então deverá ser rejeitada.
Finalmente, a vida de um mestre deverá ser avaliada para que se decida sobre a sua doutrina. "Pelos seus frutos os
conhecereis." (Mt.7.15-16). Muitos irmãos podem apresentar uma série de erros e até mesmo pecados por uma
questão de imaturidade, fraqueza, ignorância, etc. Não devem ser alvos de julgamentos mas de orientação. O
objetivo de João era alertar contra aqueles que se colocavam como mestres da igreja.

ESTAR E PERMANECER - POSIÇÃO E PERSEVERANÇA


No cenário da verdade e da mentira precisamos nos localizar. Onde estamos? João usa diversas vezes o verbo
"estar". Em algumas delas, ele se preocupa em "localizar" espiritualmente as pessoas. Se guardamos a palavra e
amamos os irmãos, isso indica que "estamos" em Cristo. Quem não ama seu irmão, "está" nas trevas. Finalizando, o
autor diz que "estamos" em Cristo, que é o verdadeiro Deus. (I Jo.2.5,6,9; 5.20).
Podemos ter nossa posição muito bem definida. Entretanto, vamos mantê-la? Um outro verbo muito importante
para João é "permanecer". Lembre-se do capítulo 15 do evangelho de João: "Permanecei em mim e eu
permanecerei em vós". "Se alguém permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto." "Se alguém não permanecer
em mim, será lançado fora." "Se vós permanecerdes em mim e as minhas palavras permanecerem em vós pedireis o
que quiserdes e vos será feito." "Permanecei no meu amor...", etc.
Na primeira epístola, a ênfase continua nos seguintes textos: 2.10,14,17,19,24,27,28; 3.6,9,14,15,17,24;
4.12,13,15,16. Em todos esses versículos aparece o verbo "permanecer". Isso demonstra a preocupação do autor
com a perseverança dos irmãos no caminho da verdade. (Veja também II João 1.2,9).

COMBATE AO GNOSTICISMO
João se mostrou bastante combativo em relação ao gnosticismo. Esta palavra vem do termo grego "gnosis" que
significa "conhecimento". Os gnósticos criam e ensinavam que a salvação da alma dependia do conhecimento de
alguns mistérios só revelados aos que participavam de seus rituais de iniciação. O apóstolo usou então a mesma
palavra, "conhecimento", para combater as heresias gnósticas. Tanto no evangelho como na primeira epístola, ele
mostrou o que realmente importa conhecer: A verdade, que é o próprio Cristo e o amor, que é o próprio Deus.
O conhecimento sem amor pode causar tragédias. A bomba atômica é um exemplo clássico.
O verbo "conhecer" aparece nos seguintes versículos: I Jo. 2.3,13,14,18,20; 3.1,6,16,19,20,24; 4.2,6,7,8,13,16;
5.2.20. (II João 1.1).
A carta destaca também a palavra "luz", que também é um símbolo do conhecimento: 1.5,7; 2.8,9, 10.
Outro verbo similar é o "saber". Essa palavra tem um sentido muito forte, pois não admite dúvida, insegurança,
medo nem ignorância. O comentário da Bíblia Thompson chama a primeira epístola de João de "a carta das
certezas". O autor usa o verbo "saber" de uma forma bastante clara e determinada. (I Jo.2.3,5,11,21,29; 3.2,5,14,15;
5.15). Ele diz: "Sabemos que somos de Deus." Não estamos perdidos nem confusos. SABEMOS quem somos,
onde estamos e para onde vamos.
O gnosticismo afirmava que o mal residia na matéria. Portanto, negavam que Deus pudesse se encarnar. Em relação
a Cristo, João escreveu: "nós ouvimos, vimos, contemplamos, nossas mãos tocaram..." (I Jo.1.1-3). Ou seja, o
apóstolo estava afirmando insistentemente que o corpo de Cristo era matéria, pois poderia ser tocado, como de fato
o foi. Não se tratava de um espírito, uma aparição, como os gnósticos afirmavam. (I Jo.4.2; 5.6)

OUTRAS PALAVRAS, EXPRESSÕES E CONCEITOS EM DESTAQUE


VIDA - 1.1,2; 2.16,25; 3.14,15,16; 5.11,12,13,16,20
Vida de Deus para nós por meio de Cristo.

MUNDO - nosso posicionamento: não amamos o mundo; somos odiados por ele; haveremos de vencê-lo (I
Jo.2.2,15,16,17; 3.1,13,17; 4.1,3,4,5,9,14,17; 5.4,5,19).
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VERDADEIRO - Mandamento – 2.8. Luz – 2.8. Unção – 2.27. Jesus – 5.20. Deus – 5.20.
AMOR ( e verbo amar) 2.5,10,12,15; 3.1,10,14,16 (x Jo.3.16). 3.17,18,23; 4.7,8,9,10,11,12,16,17,18,19,20,21;
5.1,2,3. (Obs. II Jo.1,3,6 III Jo.1,6,7 Apc.2.3,4,19; 3.9,19). São da autoria de João alguns dos mais famosos
versículos bíblicos sobre o amor: "Deus é amor" e "Porque Deus amou o mundo de tal maneira..."
Na primeira epístola, o autor usa o verbo amar em diversas conjugações: ama, ameis, amamos, amemo-nos, amado,
amados, amou, amar-nos, amo, amar, ame, amemos.
O amor vem de Deus, através de Jesus. "Ele nos amou primeiro". Daí em diante, o amor deve ter livre curso em
direção aos irmãos, mas não em direção ao mundo. O amor deve "circular como sangue" no Corpo de Cristo, que é
a igreja.COMUNHÃO - 1.3,6,7.
MANDAMENTO(s) - 2.3,4,7,8; 3.22,23,24; 4.21; 5.2,3.
O QUE SE DIZ E O QUE SE É - 1.6,8,10; 2.4,6,9; 4.20;
MANDAMENTOS NEGATIVOS
NÃO AMEIS o mundo - 2.15.
NÃO CREIAIS a todo espírito – 4.1.
O amor e a fé só são positivos quando bem direcionados.

XXIX - SEGUNDA EPÍSTOLA DE JOÃO

Autor: Apóstolo João


Data: entre 90 e 95 d.C.
Propósito: Alertar contra os enganadores; combater a mentira.
Palavra-chave: verdade.

ESBOÇO
1 – Saudações – 1-3.
2 – O caminho da verdade e do amor – 4-6.
3 – Os enganadores e como tratá-los – 7-11.
4 – Saudações – 12-13.
O autor não menciona seu próprio nome. Apresenta-se como "presbítero", que significa "ancião", conforme já
consta em algumas versões bíblicas. Os anciãos, desde os tempos do Velho Testamento, eram os homens mais
velhos, mais experientes, e, por conseqüência, líderes do povo (Êx.3.16,18; 4.29; 12.21 etc.). Ao escrever seu
evangelho e epístolas, o apóstolo João já era idoso.
Estando já familiarizados com os escritos do apóstolo, logo reconhecemos sinais de sua autoria na segunda epístola.
Por exemplo, a ênfase sobre os temas: "verdade", "amor", "mandamento", "permanecer", e o combate às falsas
doutrinas. Tudo isso constitui marca de João em seu evangelho, na primeira epístola, e também na segunda. Afinal,
dos 13 versos da segunda epístola, 8 se encontram quase idênticos na primeira.
Destinatária – A segunda epístola é dirigida a uma senhora e seus filhos. Tal mulher não é identificada pelas
escrituras. Há quem defenda a tese de que a "senhora eleita" seja Maria, irmã de Marta, a qual estaria mencionada
no versículo 13. Há quem tome o termo "senhora" em grego, kuria (kuria), considerando-o como nome próprio.
Outras hipóteses sugerem que João estivesse chamando de "senhora eleita" a uma igreja específica ou à igreja em
geral. Nada disso se comprova. Seguindo a mais rigorosa interpretação, não podemos afirmar qual tenha sido essa
mulher. Apenas entendemos tratar-se de uma senhora que, provavelmente era viúva. Caso tivesse marido, não seria
natural que o apóstolo lhe dirigisse diretamente uma carta. O texto parece indicar que em sua casa aconteciam
reuniões da igreja (vs.10). De qualquer forma, trata-se de uma mulher amada e respeitada por todos os irmãos que a
conheciam (vs.1).
Tema – todas as epístolas de João foram escritas na mesma época. Nota-se na segunda, que os assuntos da primeira
ainda persistem na mente no apóstolo. Ele ainda se mostra combativo em relação aos enganadores. Seu esforço é a
favor da verdadeira doutrina de Cristo.

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NOSSA RELAÇÃO COM A DOUTRINA DE CRISTO

Cristo veio e nos deu sua doutrina, seu mandamento, que consiste no amor a Deus e ao próximo. O amor determina
nosso vínculo com Deus e com os irmãos. Já recebemos a sua doutrina. A questão agora é: vamos andar nesse
mandamento? O verbo "andar" é muito utilizado por João e também por Paulo, indicando nosso modo de vida,
nossas decisões, nossos rumos, nossas ações. Se praticamos a vontade de Deus, então estamos andando em espírito
(Gál. 5.16), andando com Deus (Gn.5.22,24), no caminho que é Cristo (Jo.14.6). Contudo, de nada adianta
estarmos no caminho por algum tempo se sairmos dele antes de chegarmos ao lugar onde ele nos levaria. Portanto,
precisamos permanecer no caminho, por mais difícil que isso possa ser. Aos que permanecerem, Deus dará a
devida recompensa.
Os enganadores ameaçam o êxito desse processo (vs.7 a 10). Isso ocorre com aqueles que abandonam o caminho da
verdade e do amor, não permanecendo na doutrina de Cristo (vs.9). Os que se desviam perdem a recompensa,
perdem o fruto do seu trabalho e fazem perder-se o fruto do trabalho daqueles que os conduziram a Cristo (vs.8).
João disse que alguns "vão além" da doutrina. Esta é uma forma sutil da heresia:
Exigir mais do que o que Deus exigiu.
Esperar mais do que o que Deus prometeu.
Precisamos ser cuidadosos no sentido de não criarmos doutrinas extra-bíblicas, como se a palavra de Deus
precisasse de complemento. Os que lideram precisam estar atentos em relação ao que exigem de seus liderados.
Estaremos indo além da palavra de Deus? Vemos em Gênesis que, ao repetir o mandamento divino, Eva lhe
acrescentou as palavras: "nem nele tocareis" (Gn.3.3). Paulo profetizou que nos últimos dias, surgiriam doutrinas
de demônios, proibindo o casamento e determinando a abstinência de manjares que Deus criou para os fiéis (I
Tm.4.1-3).
A bíblia fala em dízimo, que significa 10%. Se alguém quiser dar 100%, fique à vontade. Será uma oferta
voluntária. Entretanto, se algum líder exigir 100%, estará indo além, muito além, da doutrina bíblica.
Esperar mais do que aquilo que Deus prometeu pode ser uma atitude inofensiva ou não, dependendo da situação. Se
alguém espera que Deus lhe dê uma casa na praia, isso não é pecado. Contudo, não sabemos se Deus fará isso.
Pode ser que sim e pode ser que não, uma vez que a bíblia nunca nos prometeu esse tipo de coisa. Então, se Deus
não der, qual será a reação daquele que pediu e esperou? O problema se agrava quando esse tipo de expectativa é
alimentada por formas doutrinárias, como as que temos ouvido hoje em dia, e que estão destituídas de fundamento
bíblico. Esta é uma das formas de "ir além" da doutrina de Cristo. A palavra do Senhor nos ensina que ele atende
aos nossos pedidos desde que estejam coerentes com a sua vontade (I Jo.5.14; Tg.4.3).
A doutrina gnóstica, tão influente nos dias de João, negava a humanidade de Cristo, atribuindo-lhe apenas caráter
espiritual. Era então um ensinamento espiritualista, o que, aparentemente, demonstrava elevação, desapego em
relação à matéria. Estavam indo muito além da espiritualidade bíblica, a qual não nos nega o provimento às nossas
legítimas necessidades físicas (I Tm.4.1-3; Col.2.16-23). O cristianismo mostra o espiritual se encontrando com a
matéria. "O verbo se fez carne e habitou entre nós" (João 1.14). E este era o principal ponto negado pelos
enganadores a quem João combatia (II João 7). O próprio batismo e a ceia do Senhor fazem com que os nossos
corpos participem das nossas experiências com Deus. Palavras de João: "vimos com os nossos olhos... e as nossas
mãos tocaram..." (I João 1.1). Era uma experiência física com o verbo encarnado.
Uma espiritualidade exagerada, que vai além dos parâmetros bíblicos, é algo que deve ser questionado. Como
exemplos podemos mencionar certas abstinências alimentares ou o celibato. Tudo isso pode ser praticado, desde
que seja voluntário. Se for doutrina, será humana.

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Sobre os enganadores, aqueles que não trazem a doutrina de Cristo, João diz: "Não os recebais em casa nem
tampouco os saudeis." Está estabelecido o limite para a hospitalidade cristã, tão valorizada pelos escritores do
Novo Testamento. Não devemos ser tão bons ao ponto de acolher os lobos que vêm para ameaçar nossa firmeza na
fé. O apóstolo não está nos aconselhando a sermos rigorosos contra os fracos na fé, mas sim contra aqueles que nos
procuram com o objetivo de corromper a doutrina que recebemos do Senhor. Não trate bem uma serpente. Ela te
matará na primeira oportunidade.
Deduzimos que a "senhora eleita" era uma viúva. Seria mais um motivo para que ela ficasse atenta em relação
àqueles que desejassem entrar em sua casa. Muitos exploradores, disfarçados de mensageiros de Deus, "devoravam
as casas das viúvas" (Mt.23.14; II Tm.3.6).

PALAVRAS EM DESTAQUE
Verdade – II João 1,2,3,4.
Mandamento – II João 4,5,6.
Amor – II João 3,6 Ensino (doutrina) – II João 9,10.
Permanecer – II João 2,9. Anticristo – II João 7.

XXX - TERCEIRA EPÍSTOLA DE JOÃO

Autor: Apóstolo João


Data: entre 90 e 95 d.C.
Tema: Caráter cristão.
Palavra-chave: verdade.
ESBOÇO
1 – Saudações – 1-4.
2 – O bom exemplo de Gaio - 5-8.
3 – Diótrefes - o ambicioso - 9 - 11.
4 - Demétrio - o cristão fiel - 12.
4 – Considerações finais e saudações – 13-15.
A epístola em estudo é de autoria do apóstolo João. Para confirmação compare os versículos:
III João 1 II João 1
III João 13-14 II João 12
III João 11 II João 9
A terceira epístola de João é uma correspondência particular dirigida a um irmão chamado Gaio. Este nome era
bastante comum naquela época. Temos sua ocorrência em At.19.29, At.20.4, Rm.16.23, I Cor.1.14, além de III
João. Contudo, tais passagens não se referem sempre à mesma pessoa.
Não temos muitas informações sobre Gaio, a quem João escreve. Entendemos que ele não era o líder de sua igreja
local. O versículo 9 indica que o líder é outro.

A QUESTÃO DA PROSPERIDADE
O verso 2 diz: "Amado, desejo que te vá bem em todas as coisas, e que tenhas saúde, assim como bem vai à tua
alma." Este talvez seja o versículo mais conhecido dessa pequena carta, o qual é muitas vezes utilizado como apoio
para a doutrina da prosperidade. Devemos observar que a única certeza do texto está relacionada à alma do
destinatário, ou seja, seu bom estado interior. No mais, o verso expressa apenas o desejo de João no sentido de que
Gaio tivesse boa saúde e fosse próspero em todas as coisas. Não temos ali uma promessa nem uma doutrina sobre
prosperidade material. Tal êxito depende do propósito de Deus para cada pessoa.
Gostaríamos de ser bem sucedidos em tudo e em todo o tempo. Porém, essa trajetória certamente será muitas vezes
interrompida por tribulações, as quais fazem parte da nossa experiência cristã.

ANDAR NA VERDADE (vs.3-4).


Tal expressão, tão importante para João, significa praticar, viver de acordo com a verdade. O verbo andar foi
também muito utilizado pelo apóstolo Paulo em seus ensinamentos sobre a vida cristã (Gál. 5.16,25; Ef.4.1; 5.15;
etc.). Trata-se do "procedimento" mencionado no verso 5.
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PROCEDIMENTO, TESTEMUNHO E EXEMPLO (vs.3,4,6,10,12)


A palavra testemunho tem destaque em todos os escritos de João, desde o evangelho até o Apocalipse. Como
cristãos, damos testemunho a respeito do Senhor Jesus, e isso vai gerar um outro testemunho que será dado a nosso
próprio respeito. O procedimento será observado e produzirá um testemunho positivo ou negativo.
João se alegrou pelo testemunho dado pelos irmãos a respeito de Gaio. Contudo, os estranhos também dão
testemunho. Nesse contexto, os "estranhos" são irmãos vindos de outros lugares. No verso 12, todos dão
testemunho, inclusive o próprio apóstolo e a própria verdade. Parece que a verdade, nesse contexto, está
relacionada à doutrina, a qual serviria como parâmetro para confirmar determinado testemunho.
Vemos portanto, que as nossas obras geram testemunhos a nosso respeito e essas mensagens circulam rapidamente
e estruturam ou derrubam nossa reputação.
A epístola destaca o procedimento de Gaio, Diótrefes e Demétrio. Daí surgiram testemunhos positivos e negativos,
fazendo com que essas pessoas se tornassem bons ou maus exemplos, a serem imitados ou evitados.
Gaio e Demétrio são apresentados como cristãos fiéis (vs.3-6,12). Diótrefes é visto como ambicioso. Estava na
liderança, mas João não o reconhece como tal. O apóstolo diz que Diótrefes "gosta de ter entre eles a primazia."
(v.10). Ele gostava de ser líder, contudo não era vocacionado para aquele trabalho. Seu caráter se manifesta por
suas palavras e ações:
- Profere palavras maliciosas.
- Não recebe o apóstolo João na igreja. É rebelde contra as autoridades espirituais.
- Proíbe que os irmãos o recebam.
- Exclui da igreja quem o faz. (v.10).
Gaio, que já andava na verdade, deveria se inspirar nos bons exemplos (v.11).

XXXI - EPÍSTOLA DE JUDAS

Autor: Judas, irmão de Jesus.


Data: entre 64 e 70 d.C.
Tema: Defesa da fé cristã.
Palavra-chave: guardar.
Texto chave - 3,4.
ESBOÇO
1 – Saudações – 1-2.
2 – Defesa da fé cristã - 3-4.
3 – Os deturpadores do evangelho - 5-16.
4 - Instruções práticas - 17-23.
4 – Doxologia - 24-25.

GUARDADOS EM CRISTO JESUS (v.1)


Estar em Cristo, expressão importante na teologia de Paulo, é uma realidade espiritual que expressa nosso vínculo
com Jesus e nossa posição espiritual. Trata-se de uma união mística. Estamos ligados a ele como os membros se
ligam ao corpo e este à cabeça ou como os ramos se ligam à videira. Judas diz que estamos guardados em Cristo.
Ele é o nosso refúgio, nossa fortaleza.
Lendo apenas o versículo 1 e o 24, poderíamos pensar que a nossa situação e futuro dependem unicamente de
Deus. Se assim fosse, não precisaríamos de tantas palavras de advertência como temos na bíblia. Contudo, o verso
20 muda a conjugação verbal e nos exorta dizendo: "Guardai-vos no amor de Deus" (ou conservai-vos). O autor
nos repassa uma grande responsabilidade no sentido de nos mantermos na posição que obtivemos em Cristo
mediante a salvação. Nosso estar em Cristo pode ser comparado à condição da família de Noé dentro da arca, a
qual representou a salvação daquelas pessoas.
O problema central apresentado pela epístola de Judas é o caso daqueles que não guardaram suas posições e se
perderam, tornando-se exemplos do juízo divino (v.6). O autor cita como exemplos: o povo de Israel no deserto, os
anjos, Sodoma, Gomorra, Caim, Balaão e Coré. Ele fala de experiências coletivas e individuais. Menciona desde
pessoas que conheciam bem pouco sobre Deus, passando por aquelas que conheciam muito e chegando a
mencionar os anjos, que viam a Deus face a face. O que todos tiveram em comum foi a corrupção e a conseqüente
destruição. É impressionante observarmos que o povo de Israel, por sua rebelião e incredulidade, entra para uma
lista de exemplos ao lado de Sodoma e Gomorra. Da mesma forma, um profeta ganancioso, Balaão, é listado
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juntamente com Caim, o irmão homicida. Isso mostra que, seja qual for a nossa posição, devemos ser cuidadosos
para não entrarmos nas listas daqueles que não guardaram sua condição original e se corromperam. "Guarda o que
tens, para que ninguém tome a tua coroa" (Apc.3.11).

HERESIA - CAMINHO DA PERDIÇÃO


Por quê alguém deixaria sua posição de obediência a Deus para se tornar um infiel? Tal pergunta fica muito difícil
de ser respondida se indagarmos a respeito da queda de Satanás. Daí em diante, um dos meios mais utilizados foi a
persuasão. Assim, os anjos foram levados, e também Adão e Eva. O infiel vai propagando a infidelidade. Judas
estava preocupado com essa prática, pois os hereges se manifestavam dentro da igreja e ameaçavam a firmeza dos
irmãos através de doutrinas erradas.
A epístola diz que eles "convertem em dissolução a graça de Deus" (v.4). Aqueles falsos mestres transformavam a
graça de Deus em libertinagem, como se a misericórdia de Deus representasse conivência em relação ao pecado. O
fato de Deus não punir imediatamente o pecador significa que este tem oportunidade para se arrepender. Contudo,
isso não significa que o juízo foi esquecido. Caso não haja arrependimento, haverá o castigo.

OS MENSAGEIROS DO MAL
Tais elementos são muito perigosos porque entram nas igrejas (v.12) e conseguem posições de liderança e ensino
(v.8,12). A sua aparência não é ameaçadora. Pode até ser agradável. Contudo, seu procedimento denuncia seu
caráter. O autor utiliza muitas figuras de linguagem para mostrar tal realidade.

APARÊNCIA CARÁTER
Nuvens sem água
Árvores sem fruto, sem vida, sem raiz firme
Ondas bravias
Estrelas errantes
Rochas submersas
Pastores que apascentam a si mesmos

A aparência pode ser muito boa, mas o conteúdo deixa a desejar. Apresentam um potencial muito grande, mas não
utilizado como deveria. Por exemplo, a rocha, que poderia servir como base em uma construção, encontra-se
submersa, representando um perigo oculto e fatal.
As figuras de linguagem utilizadas nos falam de elementos que não se encontram fixos, não têm firmeza,
encontram-se em movimento constante: nuvens levadas pelo vento, árvores que não estão presas por suas raízes,
ondas do mar, estrelas cadentes. Os falsos mestres não conseguem se firmar dentro da verdadeira igreja do Senhor.
Por isso é que acontecem os escândalos e eles se vão. Vemos no texto também a questão da inutilidade de tais
pessoas. Uma estrela cadente não serve como ponto de referência. Ondas bravias só causam destruição. Nuvem
sem água não produz chuva. Além disso, é levada pelo vento e nem sombra produz. O mesmo acontece com a
árvore que, além de não ter frutos, foi arrancada. Nesse caso, o que não é útil pode se tornar uma ameaça. Então,
nada lhe resta senão o fogo, que representa o juízo divino.
Assim, Judas apresenta o caráter dos falsos mestres, o perigo de sua mensagem e o destino que lhes cabe, a
exemplo do que aconteceu com os rebeldes israelitas do deserto, e Sodoma, Gomorra, etc.
Não devemos olhar para os fracos na fé e vê-los como falsos na fé. Por isso, Judas adverte que devemos ter
compaixão daqueles que estão em dúvida (v.22). Devemos salvá-los (v.23), tomando cuidado para não sermos
contaminados com seus erros práticos ou doutrinários.
Judas adverte a respeito dos falsos, mas tem uma expetativa positiva em relação aos verdadeiros irmãos. "Mas vós,
amados, lembrai-vos das palavras que foram preditas pelos apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo; " (v.17). "Mas
vós, amados, edificando-vos sobre a vossa santíssima fé, orando no Espírito Santo, conservai-vos no amor de Deus,
esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo para a vida eterna". (v.20-21). A conjunção "mas" introduz
um texto com teor contrário ao anterior. Depois de falar sobre a mensagem, a vida e o destino dos falsos mestres, o
autor exorta que os destinatários se firmassem na palavra ensinada pelos apóstolos de Cristo. Desse modo, teriam

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uma vida livre da corrupção e, consequentemente, seriam apresentados imaculados diante de Deus para a vida
eterna. Por essa razão, Judas encerra sua epístola de modo tão exultante, com uma expressão de louvor a Deus.

PARALELO ENTRE JUDAS E II PEDRO

II PEDRO ASSUNTO JUDAS


2:1 Falsos mestres 1:4
2:4 Anjos que pecaram 1:6
2:6 Sodoma e Gomorra 1:7
2:10 Contaminados e atrevidos 1:8
2:11 Contenda de anjos 1:9
2:15 Animais irracionais 1:10
2:17 Caminho de Balaão 1:11
2:18 Nuvens levadas pelo vento 1:12,13
3:2-5 Falando coisas arrogantes 1:16
3:2 Lembrai-vos das palavras 1:17
3:3 Escarnecedores dos últimos tempos 1:18

XXXII - APOCALIPSE

O Apocalipse desperta interesse em quase todas as pessoas, principalmente nos últimos anos, por ocasião da
mudança de milênio. Cristãos ou não, religiosos ou não, muitos são os que têm grande curiosidade em relação ao
livro. Entretanto, o medo e a falta de compreensão acabam por afastar o interessado. O que resta, normalmente, são
informações obscuras e bastante distorcidas. Apocalipse, Armagedom, Anticristo, Juízo Final e fim do mundo são
temas reincidentes nos filmes de Hollyood, que vão dando sentido lendário e fantasioso aos assuntos extraídos das
Escrituras.
Neste estudo, temos o objetivo de conhecer o livro sem a pretensão de desvendá-lo completamente. Trata-se de
uma introdução ao estudo do Apocalipse. Apresentaremos, porém, algumas hipóteses de interpretação em linhas
gerais. Quando mencionarmos teorias a respeito de determinado ponto, não significa que adotamos esta ou aquela
posição, exceto quando declararmos nossa postura.
O Apocalipse contém, logo no início, uma mensagem de bênção para os seus leitores. "Bem-aventurado aquele que
lê, e bem-aventurados os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas, porque
o tempo está próximo." (Ap.1.3). O texto nada diz sobre a compreensão, mas sobre o conhecimento. É desejável
que entendamos o Apocalipse. Se, porém, não entendermos, este não deve ser o motivo para que o abandonemos.
Precisamos ler, ouvir, estudar, guardar o seu conteúdo. Pode ser que muitas de suas profecias não possam ser
compreendidas antes de se cumprirem. Contudo, se as conhecemos, poderemos reconhecê-las quando se cumprirem
e, reconhecendo, poderemos tomar as atitudes certas no momento certo. Jesus disse: "... quando virdes... a
abominação da desolação... então, os que estiverem na Judéia fujam para os montes." (Mt.24.15). Portanto, quando
certos fatos ocorrerem, nós poderemos identificá-los, caso estejamos munidos do conhecimento profético.

O GÊNERO APOCALÍPTICO
Esse foi um estilo literário que se destacou principalmente entre os anos 210 a.C. e 200 d.C. Seu ambiente de
origem era uma época de tribulação para povo de Deus. Diante de circunstâncias que incluíam opressão,
perseguição, exílio ou domínio estrangeiro, os escritos apocalípticos traziam uma mensagem de esperança através

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de uma linguagem enigmática. Seu objetivo era reanimar judeus ou cristãos, trazendo-lhes profecias a respeito da
futura intervenção divina para libertar o seu povo, restituindo-lhe a glória usurpada.
Muitos "apocalipses" surgiram, tendo como principal modelo o livro de Daniel. Este foi escrito durante o exílio
Babilônico e trazia uma mensagem sobre o Reino de Deus que viria destruindo todos os reinos opressores. Daí em
diante, muitos livros apocalípticos foram produzidos. Um dos momentos de opressão vividos por Israel foi o
domínio romano, produzindo assim mais uma ocasião propícia a esse tipo de literatura, que muitas vezes incluía
profecias messiânicas. Diversos escritos desse tipo não foram reconhecidos como canônicos. Como exemplos
podemos citar o Apocalipse de Baruque, Apocalipse de Pedro, O Pastor de Hermas, A Assunção de Moisés, A
Ascensão de Isaías, O livro de Jubileus, Os Salmos de Salomão, Os Testamentos dos Doze Patriarcas, I Livro de
Enoque, II Livro de Enoque, II Esdras e IV Esdras.
O Apocalipse de João se encaixa perfeitamente nessa corrente literária. Contudo, seu messianismo não se encontra
vago como em outros escritos. Nele, o Messias é claramente identificado como sendo o nosso Senhor e Salvador
Jesus Cristo. Este é o único livro desse gênero no Novo Testamento. Contudo, existem blocos apocalípticos em
outras partes da bíblia. Por exemplo: Daniel 7 a 12, Isaías 13,14, 24, 25, Ezequiel 1, 28 a 39, Zacarias 9 a 14,
Mateus 24, Marcos 13, Lucas 21, I Tessalonicenses 5 e II Tessalonicenses 2. .

CARACTERÍSTICAS, CONTEÚDO E AUTORIA DOS LIVROS APOCALÍPTICOS


Características e conteúdo: Mensagem de esperança, escatologia, intervenção divina, visões, símbolos, criaturas
estranhas, mensagem oculta, uso de pseudônimos, profecias e apelo à imaginação.
O Apocalipse de João só não se encaixa no quesito pseudônimo. Os escritores apocalípticos normalmente não
assinavam suas obras. Muitos colocavam algum outro nome famoso e reconhecido, como Enoque, Salomão, etc.,
para darem mais credibilidade ao livro. João, porém, colocou seu próprio nome, conforme vemos no livro
(Ap.1.1,4,9-11). Tal autoria é reconhecida pela maior parte dos críticos e comentaristas. Há quem diga que alguém
usou o nome de João, mas essa hipótese não tem muitos adeptos.
Alguns detalhes do livro reforçam a crença na autoria joanina. Jesus é apresentado como o Verbo de Deus e o
Cordeiro (Ap.19.7,13), exatamente como acontece no evangelho de João (1.1,29). A palavra "testemunho" se
destaca assim como acontece no evangelho e na primeira e terceira epístolas. Notamos assim "a mão" de João no
Apocalipse.

O QUE É APOCALIPSE?
Esta palavra, de origem grega, significa "revelação". Revelar é mostrar, tirar o véu, desvendar. Falamos do
Apocalipse como algo oculto. Porém, trata-se de uma revelação. O livro revela que Deus tem um plano, cujo
desfecho é a vitória de Cristo. Podemos não saber o que é a besta, mas sabemos que ela será vencida pelo poder de
Deus. Esta revelação está clara e evidente no Apocalipse.

DADOS GERAIS
Autor – O apóstolo João - 1.1,4,9-11;
Destinatários – As 7 igrejas da Ásia (em geral, fundadas por Paulo).
Data – 95 ou 96 d.C.
Local - Patmos - ilha vulcânica, rochosa e estéril, localizada a 56 km da costa da Ásia Menor (Turquia). Para lá
eram enviados os prisioneiros na época do imperador romano Domiciano (81 a 96). Outra hipótese defendida por
alguns é a de que João tenha estado lá em algum momento do governo de Nero (54-68).
Idioma - Grego (Ap.1.8; 21.6; 22.13).
Tema - Conflito entre o bem e o mal. A vitória de Cristo e a implantação do seu Reino.
Versículo-chave - Apc.1.7.
Versículo-esboço – Apc.1.19.
Características particulares - Único livro bíblico com bênção e maldição relacionadas ao seu uso (1.3 e 22.18-19).
Classificação - livro profético. (único do NT embora haja blocos proféticos em outros livros como em Mt.24,
Mc.13, Lc.21, etc.).
Personagem central - O Cordeiro.
Destaques - Verbo vencer (Apc. 2 e 3; 12.11; 15.2; 17.4; 21.7); Testemunho (Apc.1.2,9; 6.9; 12.11,17; 19.10; 20.4;
22.18,20). Verbo vir (referente à vinda de Cristo) (Apc. 1.4,7,8; 2.5,16; 3.3,11; 4.8; 22.20).

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GÊNESIS X APOCALIPSE
Existe um paralelo evidente entre Gênesis e Apocalipse, conforme se observa pelos itens a seguir:
GÊNESIS APOCALIPSE
Início Fim
Criação da terra Nova terra
Criação do céu Novo céu
Criação do sol A Nova Jerusalém não precisa do sol
Vitória de Satanás Derrota de Satanás
Adão Cristo
Eva Igreja (noiva)
Entrada do pecado Fim do pecado
Maldição Fim da maldição
Bloqueado caminho à árvore da vida. Acesso à árvore da vida.

CIRCUNSTÂNCIAS E OBJETIVO
Na época em que o Apocalipse foi escrito, a igreja estava sofrendo muito por causa da perseguição do Império
Romano. João estava preso em Patmos e todos os outros apóstolos do primeiro grupo haviam morrido. Seria natural
que muitos começassem a questionar se aquele não seria o fim do cristianismo. Será que a igreja resistiria àquela
fúria das forças do mal?
O livro de João vem mostrar o futuro: o castigo dos ímpios, a volta de Cristo, seu triunfo juntamente com a igreja e
o estabelecimento do Reino de Deus. O Império Romano não prevaleceria contra os desígnios divinos.

A LINGUAGEM SIMBÓLICA
A linguagem direta tem suas limitações. A transmissão de uma mensagem complexa pode exigir uma infinidade de
palavras e ainda assim ficar obscura. Alguns fenômenos, experiências e elementos naturais não podem sequer ser
explicados de modo compreensível. Como podemos explicar a um cego de nascença o que seja cor? Qualquer
explicação, por mais correta e científica que seja, não lhe dará nenhuma idéia a respeito do assunto.
Como explicar um sabor, um cheiro ou um som? Nenhuma informação substituirá a experiência. As palavras serão
inúteis. Nesses momentos de dificuldade, sempre procuramos um elemento de comparação. Buscamos algo que já
seja do conhecimento do ouvinte e usamos para dar uma idéia a respeito do que queremos dizer sem ter encontrado
palavras adequadas.
Se temos esse problema em relação a elementos naturais, o que dizer dos espirituais, cuja essência nem sabemos
definir? O espírito é uma realidade bíblica. Contudo, sua definição ou identificação de "substância" é algo fora do
nosso alcance. O que dizer então de Deus, da trindade, do céu e das realidades celestiais? Por isso, a bíblia usa
tanto a linguagem simbólica. Por outro lado, como se diz, "uma imagem vale mais que mil palavras". Então, até
mesmo lições relativamente simples são transmitidas através de figuras, propiciando assim um recurso poderoso
que leva a mensagem de forma concentrada, fixando-a na mente do receptor.
Por exemplo, quando Jesus disse que era o "pão da vida" (Jo.6.35), ele buscou um elemento do cotidiano dos seus
ouvintes para mostrar que ele vinha suprir a necessidade espiritual do homem. Quando a bíblia fala em "reino de
Deus", está buscando na monarquia, sistema de governo comum naquela época, uma série de princípios existentes
na relação rei-súdito que deveriam existir na nossa relação com Deus. A linguagem simbólica traz muito conteúdo
em poucas palavras. Assim, se usamos o leão como símbolo, logo nos vem a mente sua ferocidade, sua coragem,
sua força, sua fome, sua beleza, sua "majestade", etc. Se falamos em cordeiro, estamos destacando sua cor e sua
índole como símbolos de pureza, inocência, docilidade, submissão, etc.
Todos nós estamos bastante acostumados à linguagem simbólica. Utilizamos diariamente tais recursos para
enriquecer nossa fala. Estamos sempre fazendo comparações implícitas ou explícitas de modo automático.

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Os escritos apocalípticos têm ainda um motivo a mais para usar a linguagem simbólica: era a necessidade de
criptografar a mensagem, de modo que os inimigos nada compreendessem a respeito da mesma. Só os destinatários
poderiam decifrá-la.

QUESTÕES DE INTERPRETAÇÃO - TEXTO SIMBÓLICO OU LITERAL?


Este é um dos maiores dilemas que envolvem o estudo bíblico. O que é literal e o que é simbólico? Encontramos
ambos os casos dentro das Escrituras. Então o problema se torna maior: como discernir o literal do simbólico? Tal
tarefa nem sempre é fácil. Muitas vezes é difícil e, em algumas situações, parece impossível, a não ser que
tenhamos uma iluminação divina.
A história de Adão e Eva é literal ou simbólica? Tais personagens são reais ou fictícios? O profeta Jonas foi mesmo
engolido por um peixe ou trata-se de uma parábola? Entendemos como literais ambos os casos, uma vez que o
próprio Jesus citou a história de Jonas como fato e Paulo citou Adão e Eva da mesma forma. Contudo, isso não
convence àqueles que vêem toda a bíblia como algo figurativo. Se todo o conteúdo bíblico for simbólico, então
anula-se o seu aspecto concreto. A bíblia seria então comparável a qualquer obra de ficção e o cristianismo seria
lendário. Por outro lado, se todo o seu conteúdo for considerado literal, então muitas passagens se tornarão
inexplicáveis ou absurdas. Por exemplo: "Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna." (João
6.54). Logicamente, Jesus estava utilizando linguagem simbólica. Muitos dos seus ouvintes o interpretaram
literalmente e o resultado foi o escândalo (João 6.52). Da mesma forma, quando Jesus disse que Nicodemos
precisava nascer de novo, aquele doutor da lei tomou suas palavras de modo literal. O mesmo entendimento foi
aplicado sobre "derrubar o templo e reconstrui-lo em três dias". Precisamos de discernimento para não cairmos no
mesmo erro.
Muitas vezes, é a falta de fé que faz com que algumas pessoas considerem como simbólico um texto literal. Por
exemplo, a ressurreição de Cristo pode ser tão inacreditável para alguns, que podem acabar considerando-a um
símbolo.
Encontramos na bíblia diversas situações que envolvem o literalismo e o simbolismo:
Texto literal
É aquele que se refere a fatos. São histórias ou profecias. Se desconsiderarmos seu caráter literal, estaremos
anulando as palavras de Deus. Por exemplo, a crucificação de Jesus está relatada em um texto literal (Mt.27).
Texto simbólico
É aquele que utiliza linguagem figurada. Por exemplo, a parábola do filho pródigo (Lc.15).
Termo literal e simbólico alternadamente
Uma palavra pode ser usada literalmente em uma passagem bíblica e como símbolo em outra. Por exemplo, as
estrelas no Salmo 8.3 são literais. Em Apocalipse 1.20, as estrelas são simbólicas, representam anjos. Em
Apocalipse 9.1, a estrela é simbólica e parece representar uma pessoa ou um anjo. Em Apocalipse 8.10-12, a estrela
pode ser simbólica ou literal. Nesse caso, não podemos afirmar com certeza. Vemos, portanto, que uma palavra
pode ser usada de várias formas na bíblia. Isso mostra que não podemos fazer uma regra e achar que toda estrela na
bíblia seja um símbolo.
Texto literal e simbólico simultaneamente
A história de Abraão é literal. O povo de Israel está aí para comprovar isso. Aquele episódio de Abraão levando
Isaque para ser sacrificado é literal. Foi um fato histórico. Mas, ao mesmo tempo, usando de alegoria, Abraão pode
representar Deus, Isaque pode ser visto como um símbolo de Jesus e o sacrifício pode representar a crucificação.
Assim, um texto literal pode ter um aplicação simbólica. Desse modo podemos ver inúmeros fatos no Velho
Testamento. É possível, numa visão simbólica, extrair-lhes as lições sem negar-lhes o aspecto literal.
O batismo e a ceia mencionados na bíblia são literais e ao mesmo tempo simbólicos. São fatos ocorridos mas
sempre representando uma realidade espiritual. O mesmo acontece com a ceia do Senhor.
Símbolo com mais de um sentido alternadamente
Alguns termos, quando usados como símbolos, podem ter um sentido em um texto e sentido diferente ou até
contrário em outra passagem. Por exemplo, o leão representa Cristo em um texto (Ap.5.5) e Satanás em outro (I
Pd.5.8). A "estrela da manhã" representa Cristo em um texto (Apc.22.16) e o Diabo em outro (Is.14.12). Não temos
nisso nenhuma confusão. Um símbolo é usado na bíblia como um recurso didático e não de forma mística, como se
aquele animal estivesse "consagrado" para representar sempre determinada pessoa. Não podemos, portanto, fazer
uma regra. Cada texto pode apresentar uma situação diferente. Existem porém, elementos na literatura ou na
tradição judaica que nos permitem enxergar alguns padrões de simbologia, conforme veremos na seqüência.

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O SIMBOLISMO NO APOCALIPSE
João viu realidades espirituais indescritíveis. Notamos seu esforço para explicar o que estava vendo, ouvindo e
sentindo. Ele faz diversas comparações na tentativa de transmitir aos leitores suas impressões. Assim, os termos
"como", "semelhante" e o verbo "parecer" são utilizados para dar uma idéia das extraordinárias visões do autor. Em
outros momentos ele não faz comparações explícitas mas usa as figuras de forma direta, fazendo comparações
implícitas.
Algumas ocorrências de "como" - 1.10,14,15; 2.18,27; 4.1,6,7; 6.1,6,12,13.
Algumas ocorrências de "semelhante" - 1.13; 2.18; 4.3,6,7.
Verbo "parecer" - 9.19.
Os símbolos usados pelo autor eram bem familiares para os seus destinatários. Livros selados, trombetas, carros
puxados por cavalos, letras gregas, tudo isso era do conhecimento das pessoas que receberiam o Apocalipse. Ao
lermos, precisamos saber o que cada coisa significa e qual era o seu sentido naquela época. Talvez não consigamos
isso para todos os itens envolvidos, mas este é o caminho a ser trilhado pelo intérprete.
Quando pensamos em livros, logo imaginamos blocos de páginas de papel envolvidas por capas protetoras. Os
livros mencionados em Apocalipse, porém, eram rolos de pergaminho, peles de animais. Eram livros selados.
Quando pensamos em selo, logo imaginamos pequenos adesivos utilizados pelos correios. Porém, os selos do
apocalipse são lacres, a exemplo daqueles que os reis usavam para fechar suas correspondências, de modo que as
mesmas não pudessem ser violadas no meio do caminho. O selo tinha a marca do anel do rei. Portanto, se alguém o
quebrasse, não poderia fazer outro igual para substituí-lo.
Estes são apenas alguns exemplos para mostrar que a interpretação do Apocalipse, como também de outras
passagens bíblicas, depende muito do conhecimento sobre a antigüidade, principalmente do que se refere ao povo
judeu, sua história, seus costumes e tradições. Sem esse conhecimento, sempre correremos o risco das
interpretações anacrônicas. Não podemos interpretar o texto bíblico apenas com o sentido atual das palavras ou
com base no gosto ou na opinião pessoal. A hermenêutica agradece.
O simbolismo do Apocalipse utiliza como figuras: fenômenos naturais, cores, minerais (pedras preciosas), animais,
relações humanas e até nomes significativos da história judaica como Jezabel e Balaão.
Fenômenos ou elementos naturais e seus significados

ELEMENTO SIGNIFICADO OBSERVAÇÃO


Ar Vida É nossa necessidade mais
urgente
Tempestade (raios, Perturbações na vida
trovões, relâmpagos,
saraiva)
Fogo Purificação ou destruição
Pedras preciosas Algumas vezes representa
pessoas.
Mar Insegurança, perigo, algo oposto da terra firme.
sinistro.
Cores e seus significados
COR SIGNIFICADO OBSERVAÇÃO
Preto Luto, sofrimento
Vermelho (sangue) Morte ou redenção relacionado a Cristo às vezes
Vermelho (púrpura) Realeza roupa dos reis
Amarelo pálido Fome
Amarelo ouro Santidade de Deus Obs. elementos do
tabernáculo

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Verde Esperança
Branco Pureza, justiça Trono, vestes, cabelos, etc.

NUMEROLOGIA
A numerologia tem sido bastante valorizada atualmente devido à onda crescente de misticismo que envolve nossa
sociedade. Os números têm sido considerados elementos de sorte e azar, e, por meio deles, muitos adivinhadores
tentam prever o futuro das pessoas. Alguns povos utilizaram as próprias letras do alfabeto como algarismos,
atribuindo-lhes valor numérico. Assim, um nome pode ser transformado em números e ter seu valor totalizado. Isso
ocorreu, por exemplo, com algumas letras do alfabeto romano e também com o hebraico. O fato de se obter um
valor para um nome não nos diz nada, a não ser que os números representem algum valor moral ou espiritual, uma
bênção ou uma maldição.
A tradição judaica relaciona alguns números a determinados conceitos religiosos ou cósmicos:
NÚMERO SIGNIFICADO SENTIDO REFORÇADO
1 Unidade
2 Fortaleza, confirmação
3 Divindade
4 Mundo físico
5 Perfeição humana
6 Homem, falha humana 666
7 Perfeição, plenitude
40 Provação
70 Sagrado
12 Religião organizada. 24, 144 mil
1000 Grande quantidade

A bíblia utiliza muito o simbolismo numérico. O livro de Apocalipse usa tal recurso de forma intensa,
principalmente o número 7. Temos 7 igrejas, 7 candeeiros, 7 selos, 7 anjos, 7 trombetas, 7 taças, 7 espíritos, 7
estrelas, etc.

ALGUNS PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO


Para entender um livro, precisamos lê-lo por completo. Assim, teremos uma visão geral do mesmo. Perceberemos a
intenção do autor e a sua mensagem geral. Caso contrário, se lermos um verso aqui e outro lá de modo
desordenado, terminaremos com uma coleção de retalhos desconexos. Lendo todo o livro, vamos descobrir que ele
é auto-explicativo em alguns pontos, como se vê em Apocalipse 1.20.
Podemos ler o capítulo 12, verso 5, onde o autor menciona o "filho varão", aquele que "regerá as nações com vara
de ferro". A comparação com 19.13 a 16 nos fará compreender que aquele que "regerá as nações com vara de ferro"
chama-se "Verbo de Deus", "Rei dos reis" e "Senhor dos Senhores". Logo, o próprio texto já nos mostrou quem é o
"filho varão": o próprio Senhor Jesus. Tal conclusão também se utiliza do conhecimento geral que temos da bíblia.
O Salmo 2 chama de "Filho" aquele que "regerá as nações com vara de ferro". O livro de Hebreus, no capítulo 1,
nos informa que esse "Filho" é o Senhor Jesus. Além disso, o evangelho de João (1) nos diz que Cristo é o Verbo
que se fez carne.
Fizemos então um rastreamento de várias expressões que nos possibilitam uma interpretação inequívoca sobre o
"filho varão" de Apocalipse 12.
Outro exemplo: que dragão será aquele mencionado em Apocalipse 12.3? Se lermos até o versículo 9, teremos a
resposta. No capítulo 20, verso 2, a explicação é repetida. O próprio texto diz que o dragão é o Diabo, também
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conhecido como "antiga serpente". Que serpente é essa? Aquela de Gênesis 3. Observa-se então que existe uma
"linguagem bíblica" que muitas vezes permite que o texto de um livro possa ser interpretado por outro livro bíblico.
Quem é o Cordeiro de Apocalipse 5? Não existe nenhum mistério sobre tal figura, uma vez que João Batista
apresentou Jesus como "o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" (João 1.29), sendo ele o definitivo
sacrifício tantas vezes representado pelos cordeiros mortos durante as páscoas realizadas desde a saída de Israel do
Egito (Êx.12).
O mesmo Jesus é chamado "Leão da Tribo de Judá" (Ap.5.5). A origem de tal expressão encontra-se em Gênesis
49, quando Jacó, próximo da morte, abençoou cada um dos seus filhos. Ao falar de Judá, Jacó profetizou sobre a
vinda do Messias (Gn.49.8-12).
É conclusivo também que, se alguém não conhece a bíblia de modo geral, não deve se arriscar no terreno das
interpretações apocalípticas. Precisa começar por Gênesis.
Outros exemplos:
A ceifa – Compare Ap.14.16-20 e Mt.13.39-43.
Muitas águas – Ap.17.1 e 17.15
Noiva – Ap.19.7; 21.9-10; 22.17 e Ef.5.25-27.
O fundamento da Nova Jerusalém – igreja - Ap.21.14 e Ef.2.20-21.

PRINCIPAIS CORRENTES DE INTERPRETAÇÃO DO APOCALIPSE


1 – Pretérita.
Afirma que todo o apocalipse já se cumpriu. Seus defensores vêem o Império Romano como a representação dos
inimigos descritos no livro. A queda do Império teria sido então o ápice do juízo divino profetizado por João. A
destruição de Jerusalém, no ano 70, também é vinculada ao Apocalipse por aqueles que localizam sua escrita
durante o período de Nero (54-68).
2 – Futurista.
Os futuristas projetam todo o cumprimento do Apocalipse para os últimos dos últimos dias, às vésperas da
consumação dos séculos. Afirmam que nada se cumpriu nem está se cumprindo, mas tudo se cumprirá
repentinamente no futuro e em um curto espaço de tempo. Esta é a mais escatológica das interpretações, no sentido
mais extremo da palavra.
3 – Histórica.
Essa corrente defende a tese de que o Apocalipse vem se cumprindo desde os dias de João até o fim dos séculos.
São muitos os que concordam com essa posição. Entretanto, surgem muitas dificuldades e divergências quando se
tenta uma identificação entre os fatos ou personagens históricos e os relatos apocalípticos.
4 – Simbólica, ou espiritual.
Os adeptos dessa visão se abstêm de fazer ligações entre as profecias e os fatos. Procuram apenas extrair do
Apocalipse as lições e os princípios morais ou espirituais ali contidos.
Não devemos tomar uma postura extremista nessa questão, mas buscar uma visão equilibrada, que pode levar em
conta todas as quatro correntes de interpretação. Cremos em um cumprimento histórico que, automaticamente,
engloba a visão pretérita e a futurista. Por exemplo, as cartas às 7 igrejas se referiam a problemas existentes nos
dias de João. Está cumprido. Entretanto, os princípios espirituais ali presentes são perfeitamente aplicáveis aos
nossos dias. Pela sua infinita sabedoria, Deus nos deixou uma Palavra que não perde sua validade.
Devemos nos lembrar que um relato sobre fatos ocorridos nos dias de João pode também ser uma profecia para
outra época. Por exemplo, quando escreveu o Salmo 22, o autor estava falando de suas próprias experiências e, ao
mesmo tempo, estava profetizando sobre os sofrimentos de Cristo. Vistas sob este ângulo, várias profecias
apocalípticas podem ter se cumprido na queda do Império Romano e terem ainda outro cumprimento mais amplo
nos últimos dias. A profecia de Jesus em Mateus 24 parece estar ligada à destruição de Jerusalém e também aos
últimos dias. "Os que estiverem na Judéia fujam para os montes... Não passará esta geração sem que todas estas
coisas aconteçam." (Mt.24,16,34).

ESBOÇO DO APOCALIPSE
Introdução e saudações - 1.1-8
Visão de Jesus glorificado - 1.9-20
Cartas às 7 igrejas - 2.1 a 3.22
Visão do trono no céu - 4.1-11
O livro selado e o cordeiro - 5.1-14.
Abertura dos 6 primeiros selos - 6.1-17.
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Os 144 mil selados - 7.1-8.


Visão dos santos na glória - 7.9-17
Abertura do sétimo selo. As quatro primeiras trombetas - 8.1-13.
A quinta e a sexta trombetas - 9.1-21.
O anjo e o livrinho - 10.1-11.
As duas testemunhas - 11.1-14.
A sétima trombeta - 11.15-19.
A mulher e o dragão - 12.1-18.
A besta que subiu do mar - 13.1-10.
A besta que subiu da terra - 13.11-18.
O cordeiro e os remidos no monte Sião - 14.1-5.
Os 3 anjos e suas mensagens - 14.6-13.
A ceifa sobre a terra - 14.14-20.
As 7 taças - 15.1 a 16.21.
A grande Babilônia - 17.1-18
A queda da Babilônia - 18.1-24.
As bodas do Cordeiro - 19.1-10.
O cavaleiro do cavalo branco - 19.11-21.
O milênio - 20.1-6.
A derrota de Satanás - 20.7-10.
Juízo Final - 20.11-15.
Novo céu e nova terra - 21.1-8.
A Nova Jerusalém - 21.9 a 22.5.
Encerramento e saudação final - 22.6-21.

COMENTÁRIO GERAL
APRESENTAÇÃO DE JESUS NO APOCALIPSE
1.5 - Fiel testemunha, primogênito dentre os mortos, soberano dos reis da terra.
1.13 - Semelhante a filho de homem.
2.18 - Filho de Deus.
3.14 - Amém, testemunha fiel e verdadeira, princípio da criação de Deus.
5.5 - Leão da Tribo de Judá, Raiz de Davi.
5.6 - Cordeiro
6.1 - Cordeiro (e em muitos outros versos).
12.5 - Filho varão
17.14 - Cordeiro, Senhor dos senhores, Rei dos reis.
19.11 - Fiel e verdadeiro.
19.13 - Verbo de Deus.
19.16 - Rei dos Reis, Senhor dos senhores.
22.16 - Raiz, geração de Davi, brilhante estrela da manhã.

CARTAS ÀS 7 IGREJAS
Esta é a parte mais simples e, consequentemente, a mais citada do Apocalipse. O livro foi enviado às 7 igrejas da
Ásia e para cada uma delas havia uma mensagem específica. As cartas seguem quase sempre este esboço:
Destinatário
: o anjo da igreja (seu líder).
Autor
: o Senhor Jesus.
Conhecimento
do Senhor sobre a igreja.
Elogio
em relação às qualidades da igreja..
Repreensão
contra os erros da igreja.
Aviso
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sobre a vinda do Senhor e o juízo divino.


Conselho
para solução dos problemas mencionados.
Promessa
aos vencedores.
A igreja de Filadélfia não foi repreendida. A de Laodicéia não recebeu nenhum elogio. Curiosamente, um sínodo
realizado em Laodicéia no século IV negou reconhecimento ao Apocalipse como livro canônico [Champlin].
Em algumas das cartas, percebemos uma relação direta entre a apresentação que o Senhor faz de si mesmo e o
conteúdo da mensagem.

Éfeso Candeeiro em 2.1 e 2.5


Esmirna Morte e vida em 2.8 e 2.10-11
Pérgamo Espada em 2.12 e 2.16
Filadélfia Porta aberta ou fechada em 3.7 e 3.8.

Nas outras cartas, essa relação não está tão clara. Talvez, tenhamos perdido um pouco das características originais
quando o texto foi traduzido.
Entre as teorias existentes sobre as 7 igrejas destacam-se as seguintes:
Teoria 1 – As 7 igrejas representam a história judaica. Observe a citação de Balaão, Jezabel, sinagoga, etc. Não nos
parece razoável essa suposição.
Teoria 2 – As 7 igrejas representam a história eclesiástica. Cada igreja representaria um período da história da
igreja desde o seu nascimento até a vinda de Cristo. Alguns defensores dessa idéia chegam a dividir a história entre
as igrejas. Uma das divisões sugeridas é a seguinte: Éfeso (até o ano 100 d.C.); Esmirna (100-316); Pérgamo (316-
500); Tiatira (500-1500); Sardes (1500-1700); Filadélfia (1700-1900); Laodicéia (1900 - fim). Tal possibilidade é
bastante interessante, mas não encontramos fundamentos suficientes para comprová-la. Por outro lado, a colocação
de datas é bastante temerária. Por mais razoável que possa ser tal interpretação, não podemos perder de vista o fato
de que a mensagem de Deus é para nós hoje.
Teoria 3 – As 7 igrejas são apenas aquelas da Ásia, às quais o Apocalipse foi endereçado. Essa posição é literal e
perfeita em sua afirmação. Contudo, se a aplicabilidade das cartas fosse restrita àquelas igrejas, então não haveria
motivo para que tais mensagens chegassem às nossas mãos. Enfim, todo o livro de Apocalipse nos seria estranho e
inútil, pois foi originalmente destinado às 7 igrejas da Ásia. O entendimento literário está exato, mas não podemos
desconsiderar o peso simbólico do texto. O próprio número 7, significando perfeição, totalidade ou plenitude, faz
com que as 7 igrejas representem a totalidade da igreja de Cristo em todos os tempos e em todos os lugares.

A ADORAÇÃO NO APOCALIPSE
A adoração é elemento de grande destaque no Apocalipse. O tema central é o combate entre o bem e o mal. Os
seres humanos ou celestiais demonstram seu posicionamento nesse conflito através da adoração que prestam. Um
dos grandes desejos de Satanás é conseguir para si a adoração que é devida a Deus (Mt.4.9).

TEXTO ADORAÇÃO A
Apc.4.10 Deus
Apc.5.12-14 Deus e o Cordeiro
Apc.9.20 Demônios e ídolos
Apc.11.1,16 Deus
Apc.13.4 O dragão e a besta.
Apc.13.12 A besta
Apc.13.15 A imagem da besta

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Apc.14.2 Deus
Apc.14.9,11 A besta e sua imagem.
Apc.16.2 A imagem da besta
Apc.19.4 Deus
Apc.19.10 Um anjo (recusada) e Deus
Apc.19.20 A imagem da besta
Apc.20.4 A besta e sua imagem
Apc.22.8-9 Um anjo (recusada) e Deus

Em Apocalipse 8.1 verificamos que houve silêncio no céu durante meia hora. Isso nos faz deduzir que existe um
som de louvor e adoração constante no céu. João viu os 24 anciãos e os seres viventes que adoravam a Deus e ao
Cordeiro. As impressionantes profecias do livro estão intercaladas com manifestações de adoração e cânticos. Em
sua visão do céu, João viu um santuário e peças que nos lembram o tabernáculo e o templo do Velho Testamento.
Existe no céu um lugar de culto utilizado pelas hostes celestiais. Ali também adoraremos a Deus e ao Cordeiro
pelos séculos dos séculos.

AMOR E JUÍZO
João, o discípulo amado, fez do amor um de seus principais temas, seja no seu evangelho ou em suas epístolas. Em
Apocalipse, porém, o amor de Jesus e da igreja é mencionado apenas até o capítulo 3. Ao falar à igreja de
Filadélfia, Jesus declara: "Eu te amo." (Apc.3.9). Filadélfia significa "amor fraternal".
A partir do capítulo 4, o tom da mensagem muda completamente. Não mais se menciona o amor de Deus mas
apenas sua justiça. A santidade divina foi afrontada pelo pecado. Sua ira manifesta sua justiça através de guerras,
pestes e catástrofes naturais.
Sabemos, porém, que o amor de Deus é eterno e sua manifestação ocorre através das bodas do Cordeiro e da
recepção dos salvos na glória.

VISÃO GERAL - uma hipótese de interpretação


A experiência pessoal de João pode representar a experiência da igreja. No início do livro ele se encontra vivendo
sua própria tribulação, preso e exilado. Então o Senhor Jesus vem até ele. No capítulo 4, João é arrebatado ao céu e
passa a ver o derramamento da ira divina sobre a terra. Assim, a vinda de Cristo proveria socorro à igreja
atribulada, levando-a consigo no arrebatamento. Em seguida, a terra ficaria submersa na Grande Tribulação. Tal
interpretação é frágil em sua consistência pois o texto bíblico não diz que João possa estar representando a igreja.
Os que defendem o paralelo na questão do arrebatamento de João, chamam a atenção para o fato de que a partir do
capítulo 4 a igreja não é mais mencionada com este nome dentro do ciclo de visões do Apocalipse. Supostamente,
teria sido encerrado seu período histórico terreno representado pelas 7 cartas. Os fatos apresentados em relação à
igreja são bíblicos. A dificuldade está em localizá-los em determinados símbolos e estabelecer-lhes a ordem de
ocorrência.
De acordo com esta hipótese, que é muito aceita e essencialmente futurista, a abertura do primeiro selo seria o
início da Grande Tribulação (Ap.7.14), que incluiria os selos, as trombetas, as taças e todos os flagelos destinados
aos ímpios e às forças do mal. No meio da cena encontram-se o dragão e as duas bestas tentando usurpar a glória
que é devida ao Cordeiro. O dragão é Satanás. As duas bestas são o Anticristo e o Falso Profeta.
Durante a Grande Tribulação muitos seriam salvos e morreriam por sua fé. Enquanto isso, estaria acontecendo no
céu as bodas do Cordeiro. Ao fim desse período, Cristo desceria do céu para aniquilar a besta e o falso profeta. O
dragão seria preso por mil anos e nesse período Cristo reinaria com todos os santos sobre a terra. Estaria encerrada
a Grande Tribulação e inaugurado o milênio, ao fim do qual, Satanás seria solto e tentaria novamente uma reação
contra Cristo. Entretanto, seus agentes seriam consumidos antes de iniciarem a batalha.
Na seqüência ocorre o juízo final, que será o julgamento de todos os homens. Aqueles cujos nomes não se
encontram no livro da vida serão lançados no lago de fogo, onde serão atormentados eternamente. Em seguida,
João vê a Nova Jerusalém. Essa passagem é vista como uma descrição do estado eterno dos salvos. A cidade seria o
lugar onde viveremos para sempre com Cristo
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QUESTIONAMENTOS E OBSERVAÇÕES
Algumas dessas afirmações são amplamente aceitas. Tal arranjo escatológico pode parecer bastante apegado ao
texto. Contudo, observamos que essa interpretação contém alguns pontos questionáveis e incertos. Outros parecem
perfeitos.
A primeira dificuldade é entender o arrebatamento de João como arrebatamento da igreja, conforme já
mencionamos. O arrebatamento de João se deu antes de se tocarem as 7 trombetas. Paulo, escrevendo aos
Tessalonicenses, disse que o arrebatamento da igreja aconteceria quando a última trombeta fosse tocada. Disse
também que a ressurreição dos santos acontecerá antes do arrebatamento. Encaixando isso no quadro apocalíptico,
teríamos o arrebatamento da igreja junto com a ressurreição no capítulo 20. Sendo assim, a igreja teria participado
ou, pelo menos, presenciado a Grande Tribulação. Em Mateus 24, Jesus menciona a Grande Tribulação (v.21) antes
do fato que parece ser o arrebatamento (v.31). No meio da tribulação estarão os escolhidos (v.22). Estes podem
indicar toda a igreja, mas alguns comentaristas dizem que são apenas os que forem salvos durante o período.
Outro problema ocorre em relação à Nova Jerusalém do capítulo 21. Considerando a hipótese de que o livro
apresenta os fatos em ordem cronológica, então, ao chegarmos ao capítulo 21, já passamos pelo milênio e pelo
juízo final. A Nova Jerusalém descreve então o estado eterno dos salvos. Contudo, o texto cita ainda nações que
vivem fora da cidade santa, às quais se destinam as folhas da árvore da vida, afim de que sejam curadas. Esses
detalhes parecem ameaçar o quadro escatológico descrito. Se os ímpios já estão no lago de fogo e os salvos estão
na Nova Jerusalém, que nações são essas que o autor cita? Uma solução proposta é que o relato sobre a Nova
Jerusalém se refira ao milênio e não ao estado eterno. Sendo assim, o texto não se encontraria em ordem
cronológica.
Observamos que o Apocalipse não contém as expressões: "juízo final", "Anticristo", "milênio" ou "arrebatamento".
Então, de onde tiramos tal vocabulário? Das interpretações correntes, que, de tanto serem faladas, já se confundem
com o próprio texto bíblico. Sabemos que a idéia de "milênio" e "juízo final" encontra-se em outras palavras no
capítulo 20. O verbo "arrebatar" é encontrado em Ap.1.10; 4.2; 12.5,15, podendo ser substituído dependendo da
versão utilizada. Trata-se dos arrebatamentos de João, do Filho Varão, e uma tentativa de Satanás no sentido de
arrebatar a mulher. Outra situação semelhante, mas com verbo diferente, trata da subida das duas testemunhas ao
céu. Não obstante, cremos no arrebatamento da igreja, o qual ser encontra de forma mais clara em I
Tessalonicenses 4.17. Sobre o Anticristo falaremos de modo mais específico.
Todo esse questionamento, feito por comentaristas e teólogos, cria uma série de correntes de interpretação
designadas como: milenistas, pré-milenistas, amilenistas, pré-tribulacionistas, pós-tribulacionistas, etc.

O ANTICRISTO E O FALSO PROFETA


O único autor bíblico que usa a palavra "anticristo" é João, mas não no Apocalipse. A citação é nas epístolas. Tal
personagem escatológico é normalmente entendido como sendo o "iníquo" ou "homem do pecado" ou "filho da
perdição" mencionado por Paulo (II Tss.2.3,8). Da mesma forma, a besta que sobe do mar, em Apc.13, é
identificada pelos intérpretes como o Anticristo. Embora o texto não diga isso, o modo de agir da besta parece dize-
lo. Sua ação é sobretudo anti-cristã. A besta quer para si a adoração que é devida ao Cordeiro. Então, encaixa-se no
perfil traçado por Paulo.
Quem é o Anticristo? Alguns dizem que é um sistema político, mas a maioria dos estudiosos o vêem com sendo um
homem. Isto é bastante coerente com as citadas palavras de Paulo. O texto de II Tessalonicenses não é
essencialmente simbólico. Então, quando o apóstolo diz que é um homem, devemos entender literalmente. Afinal,
aquela igreja já estava com muitos problemas de entendimento escatológico e Paulo precisava ser o mais claro
possível.
Se o Anticristo é um homem, quem é ele? Não nos arriscaremos a responder tal pergunta, mas muitos já se
arriscaram no decorrer da história. Sempre há quem queira "eleger" um Anticristo. Quando João escreveu, ele
poderia estar se referindo a Nero ou a Domiciano, sem prejuízo do sentido escatológico da profecia. O culto ao
imperador era uma prática oficial no Império Romano. Domiciano, aquele que provavelmente mandou João para
Patmos, considerando-se um deus, mandou que imagens suas fossem espalhadas pelo Império. Os que se
recusavam a adorá-las eram condenados à morte. Portanto, aquele imperador se encaixou no perfil do Anticristo.
O próprio João disse que muitos "anticristos" tinham se levantado (I João 2.18,22; 4.3; II João 7). Contudo, é
bastante aceita a crença numa personificação do mal através de um Anticristo escatológico, aquele que estará no
mundo no dia da segunda vinda de Cristo (II Tss.2.8). Hitler, alguns líderes religiosos e outros malfeitores da
história foram apontados como sendo o Anticristo. Porém, Jesus não voltou em suas épocas e o "cargo" ficou para
outra pessoa.

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Conquanto não possamos identificar o Anticristo, sabemos contudo as linhas gerais do seu caráter e atuação.
Através das interpretações mais aceitas, compreende-se que ele poderá ser um líder político de projeção mundial. O
atual fenômeno da globalização seria ideal como preparação para um governo mundial. Os conflitos internacionais
e a fome seriam solucionados por algum tempo mediante um plano econômico extraordinário. A besta que sobe do
mar (Ap.13.2) receberá o poder do dragão (Satanás) e em seu nome dominará sobre toda tribo, povo, língua e nação
(13.7). A interpretação desse texto é feita normalmente em relação com a profecia das setenta semanas de Daniel
(9).
Em todas as épocas da história, o poder político teve alguma ligação com o poder religioso. Os déspotas eram
avalizados pelo clero. Assim, o povo reconhecia o origem divina da autoridade absoluta e permanecia submisso. Da
mesma forma, o Anticristo precisará do Falso profeta, que é a besta que sobe da terra. O Falso Profeta parece
representar o poder religioso que fará parceria com o Anticristo, talvez numa manifestação ecumênica.

BABILÔNIA X NOVA JERUSALÉM


A Babilônia do Apocalipse parece ser a "sede de governo do Anticristo". Nos dias de João, era uma referência a
Roma (Ap.17.9,18), capital do Império, lugar onde se encontrava Domiciano, que se fazia passar por deus.
A Babilônia representa a independência humana em relação a Deus, e isso significa rebeldia. A origem de
Babilônia foi Babel, lugar onde Ninrode, descendente de Cão, construiu sua cidade, tornou-se célebre, e projetou
uma torre para alcançar o céu por suas próprias forças. Babilônia tem sua própria organização. Sua política
(Ap.17.12) e seu comércio funcionam muito bem.
O comércio, prática tão comum na vida humana, toma aspectos malignos quando se comercializa o que não deveria
ser vendido. Por exemplo, podemos mencionar o episódio quando Esaú vendeu seu direito de primogenitura.
Assim, o comércio da grande Babilônia inclui uma abominável troca de valores. O ápice de tal negociação é
expresso através do comércio de almas humanas (Apc.18.13). A mais clara forma de comércio de almas é através
de uma falsa religião que se pratica apenas por motivos financeiros.
O que será a Grande Babilônia? Uma hipótese é que a cidade com esse nome, às margens do Rio Eufrates, hoje
reduzida a ruínas, venha a ser reconstruída e volte a ter projeção mundial. Outra teoria associa a cidade a uma
religião de alcance mundial.
Como religião mundial, alternativa plausível, a Grande Babilônia poderia ser vista como uma falsa igreja, em
contraposição à Nova Jerusalém, que desce do céu. João viu as duas cidades e seus destinos. A Nova Jerusalém é a
noiva. Babilônia é meretriz. A Grande Babilônia será destruída pelos juízos divinos, enquanto que a cidade santa
será a morada de Deus e do Cordeiro.
A Nova Jerusalém muitas vezes é tomada de forma literal. É vista como uma cidade onde os salvos vão morar.
Contudo, o texto é carregado de símbolos, levando a crer que própria cidade é apenas um símbolo da igreja
triunfante. Veja o paralelo.

NOVA JERUSALÉM IGREJA


Chamada noiva e esposa do Cordeiro (Ap.19.7; Chamada noiva de Cristo (Ef.5.25-26).
21.2,9; 22.17)
Possui 12 fundamentos (Ap.21.14) Fundada sobre os 12 apóstolos (Ef.2.19-21)

OS PARÊNTESES DO APOCALIPSE
O relato de João parece apresentar uma série de fatos que vão ocorrendo de modo consecutivo, embora exista uma
hipótese de que as várias visões apocalípticas se refiram aos mesmos fatos históricos. Assim, as 7 trombetas, as 7
taças e os 7 selos seriam diferentes versões dos mesmos juízos. Uma base para esse tipo de visão está em Gênesis
41, onde "vacas" e "espigas" eram dois símbolos para um só fato.
De qualquer forma, o texto apresenta uma seqüência e esta parece interrompida em alguns pontos. João interrompe
a narrativa sobre as catástrofes mundiais para falar sobre o anjo e o livrinho no capítulo 10, as duas testemunhas no
capítulo 11, e a mulher e o dragão no capítulo 12.
- Comer o livrinho significa tomar conhecimento das profecias acerca dos últimos dias. O livro é doce na boca mas
amargo no ventre. A mensagem apocalíptica fala de esperança e glória, mas também de grande tribulação.
- As duas testemunhas são objeto de muita polêmica. Eis algumas interpretações sugeridas: "Moisés e Elias",
"Enoque e Elias ". Os fatos mencionados no capítulo 11 nos fazem lembrar as experiências de Moisés e Elias

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narradas no Velho Testamento. Contudo, tais testemunhas serão mortas. Os melhores candidatos então seriam
pessoas que nunca experimentaram a morte. Logo, são mencionados Enoque e Elias.
Alguns eruditos se recusam a ver as duas testemunhas como dois homens. Daí surgem outras hipóteses. Seriam elas
o Velho e o Novo Testamento? Tal sugestão não parece razoável. Há quem entenda que as testemunhas sejam
apenas um símbolo da igreja em seu papel de evangelização.
- O dragão do capítulo 12 é Satanás. A mulher representa a nação de Israel. O Filho Varão é Cristo. O resto da
semente parece representar a igreja.
As menções a Israel no Apocalipse constituem pontos de dúvida. Elas podem se referir à nação de Israel ou
simplesmente à igreja, o "novo Israel". Assim acontece com os 144 mil eleitos de Deus (Apc.7.4). São 12 mil de
cada uma das tribos. Como sabemos, tais números têm valor simbólico. Portanto, não faz sentido pensarmos que
144 mil seja o número final dos salvos. Na seqüência do mesmo capítulo, João vê os remidos de toda tribo, língua,
povo e nação, cujo número era incontável (Apc.7.9).

XXXIII - CONCLUSÃO
O Apocalipse trata dos últimos lances da guerra histórica entre o bem e o mal. Satanás usa suas últimas armas
durante o tempo que lhe resta. Contudo, a vitória divina é inevitável. Em meio a todo esse combate estão os
homens, servindo a um dos lados.
A mensagem apocalíptica é um aviso divino para a humanidade. Não existe esperança para as forças demoníacas,
mas para os homens sim. Ignorar o Apocalipse seria como rasgar uma notificação judicial sem tê-la lido. O prazo
está se esgotando. Ainda que o mundo dure mais 1000 anos, é o nosso tempo de vida que determina nossa chance
de deixar o mal e escolher o bem.
O arrependimento é também um tema em destaque no Apocalipse (2.5,16,21,22; 3.3,19; 9.20,21; 16.9,11). Deus
poderia extinguir a raça humana em um instante. Porém, ele manda seus castigos aos poucos, esperando que os
homens sintam a culpa pelo pecado e se arrependam. Devemos ouvir a sua voz enquanto temos tempo. Antes que o
juízo venha, existe uma porta aberta para o Reino de Deus através do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
"O Espírito e a noiva dizem: Vem. Quem ouve diga: Vem. Quem tem sede, venha; e quem quiser, tome de graça da
água da vida." (Ap.22.17).

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BIBLIOGRAFIA

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PACKER, J.I., TENNEY, Merril C., WHITE JR., William, O Mundo do Novo Testamento - Ed. Vida.
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BOYER, Orlando S., Pequena Enciclopédia Bíblica – Ed. Vida.
Conciso Dicionário Bíblico – Imprensa Bíblica Brasileira
Bíblia de Referência Thompson - Tradução de João Ferreira de Almeida - Versão Contemporânea - Ed. Vida
Estudo do Novo Testamento - Neusa Rocha de Souza
Bíblia Sagrada – Tradução de João Ferreira de Almeida – Versão Revista e Atualizada - Sociedade Bíblica do
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