Kyrios - Apostila - Brian Kibuuka
Kyrios - Apostila - Brian Kibuuka
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ESTUDOS PRELIMINARES
Brian Kibuuka
KÝRIOS ESCOLA TEOLÓGICA
1
CRITÉRIOS POLÍTICOS
O cristianismo começa como uma seita dentro do judaísmo que, por
sua vez, começou séculos antes, como a forma da religião hebraica
praticada em Judá, uma região que mais tarde será chamada de
Judeia.
É fundamental para entender a política da Palestina saber sobre a
influência romana e grega no território. Desde Alexandre, pressões
de helenização são feitas sobre a Palestina. O envolvimento romano
na Judeia começou como uma resposta às aberturas de Hircano II e
Aristóbulo, irmãos que estavam envolvidos em uma guerra civil pelo
controle do trono Asmoneu. Pompeu, o general romano que já estava
na vizinhança anexando a Síria, ficou muito feliz em intervir quando
Hircano o convidou a escolher um dos lados. Os seguidores de
Hircano e de Aristóbulo lutaram entre si enquanto Pompeu sitiava a
cidade por três meses. A Judeia se tornou um estado vassalo em 63
a.C. Hircano teve a permissão para o exercício do sumo-sacerdócio,
embora politicamente ele tenha recebido a tarefa de coletar o tributo
exigido por Roma, uma tarefa que desagradou todos os judeus. A
influência herodiana passou a aumentar na medida em que o poder
dos Asmoneus diminuía.
Herodes, o grande
Com o apoio de Antônio e Otávio, Herodes, o Grande, passou a
reinar sobre os judeus, e ocupou o trono entre 37 a 4 a.C. Durante o
seu reinado brutal, ele expandiu grandemente o Templo (cf. João
2.20), mas despojou o sumo-sacerdócio de qualquer poder
independente que esse possuía anteriormente.
Não há atestação independente de que Herodes tenha mandado
massacrar as crianças de Belém na época do nascimento de Jesus
(Mateus 2.16), mas tal brutalidade não seria de todo fora do seu
caráter segundo as outras fontes antigas, especialmente no
tratamento dos rivais.
A Palestina após a morte de Herodes
Após a morte de Herodes, o seu reino foi dividido entre os seus três
filhos, que governavam como clientes de Roma. A Judeia passou a
ser administrada diretamente como uma província romana a partir de
6 d.C. A região norte da Galileia foi governada até 39 d.C. pelo filho
de Herodes, Herodes Antipas, o “Herodes” que decapitou João
Roma e os judeus
Roma esteve envolvida em um século de guerra civil intermitente
quando se inseriu nos assuntos judaicos. Depois de derrotar Cartago
na terceira e última Guerra Púnica (149-146 a.C.), Roma
efetivamente dominou o Mediterrâneo.
A Crise da República Romana
A República Romana nunca se encerrou “oficialmente”, mas na
prática, ela deu lugar ao Império Romano em 27 a.C. O motim social,
político e militar tinha se acelerado 133 a.C. com as revoltas
populares de Tibério e Caio Graco. As décadas que se seguem
testemunham uma série de revoltas de escravos, agitação cívica e
confrontos sangrentos entre generais que buscam aumentar seu
próprio poder às custas do Senado. Júlio César derrotou Pompeu na
maior dessas guerras civis antes que os defensores medrosos da
moribunda República o assassinassem alguns anos depois, em 44
a.C.
O sobrinho de César, Otaviano (mais tarde ele passou a usar o título
de “Augusto”) derrotou Marco Antônio e Cleópatra em Actium em 31
a.C, tornando-se imperador em tudo, menos no nome. Há quem
tenha dificuldade em entender como escritores como Virgílio, em sua
Eneida, poderiam celebrar a ascensão de um ditador. Certamente,
muitos romanos viram o fim da República como uma realidade
agridoce.
A expansão territorial do Império Romano
Tribos e nações vizinhas deixaram de ver Roma como uma bênção
e passaram a resistir continuamente ao seu poder, enquanto Roma
expandia as suas fronteiras, atingindo sua maior extensão territorial
sob Trajano (98-117 d.C.). Tácito fez com que Calgaco, o líder
caledoniano, fizesse uma crítica feroz à propaganda que tenta tornar
a exploração dolorosa um despotismo esclarecido:
“Ao roubo, ao açougue e à pilhagem, eles dão o
nome mentiroso de 'governo' (imperium); eles
criam um deserto e chamam de "paz" (Agr. 30).
A administração romana
A ordem foi mantida através de um extenso aparato, incluindo a
administração de censos como aquele que levou José e a grávida
Maria numa árdua jornada de cento e oitenta quilômetros de Nazaré
a Belém, em Lucas 2.1-5. Autoridades governamentais no mundo
antigo não realizavam censos com o objetivo de garantir a
participação justa e equitativa nas assembleias legislativas. Os
censos eram feitos para garantir a tributação, e não a representação.
Todas essas políticas geraram ressentimentos, os quais irromperam
em rebeliões, como no caso de Judas, o Galileu (Atos 5.37).
A Pax Romana e as suas vantagens
Há vantagens da Pax Romana que eram difíceis de ignorar. Uma
cena de uma comédia de 1979, Life of Brian, de Monty Python, capta
bem a ambivalência dos assuntos de Roma. O líder de um bando de
insurgentes judeus planejava a rebelião e perguntou, retoricamente:
“O que os romanos fizeram por nós?” Seus co-conspiradores, por sua
vez, podem pensar em várias coisas: estradas, aquedutos,
saneamento, vinho, medicina, educação, irrigação e ordem pública.
Quaisquer que tenham sido as desvantagens - e havia muitas,
incluindo os impostos pesados, a perda da autodeterminação
política, a escravidão e a ocupação militar - isso também poderia
trazer muitos benefícios, e muitos judeus e cristãos consideravam a
paz imperfeita. de Roma como algo perfeitamente aceitável.
Por causa dos romanos, Paulo e outros missionários cristãos
aproveitam o extenso sistema de estradas para difundirem a
mensagem cristã em toda parte. Sem a segurança por causa da
presença das legiões, Jesus poderia ter nascido em outro lugar que
não a cidade de seu ancestral Davi. Desta forma, de acordo com os
escritores dos evangelhos, até mesmo as autoridades imperiais que
eventualmente executarão Jesus durante o reinado de Tibério
involuntariamente promoverão o plano divino.
Ainda que o Império Romano fosse um poder ambíguo, muitos
judeus e cristãos do primeiro século sentiram que o Império Romano
não mostrava sinais de desmoronar a qualquer momento em um
futuro próximo. Logo, em vez de resistirem quixotescamente a essa
realidade política, eles se adaptavam a ela. Porém, o domínio
1
BECKER, Adam H., REED, Annette Y. (eds.). The Ways that Never Parted:
Jews and Christians in Late Antiquity and the Early Middle Ages. Texts and
Studies in Ancient Judaism 95. Tübingen, Germany: Mohr Siebeck, 2003.
2FELDMAN, Louis H. Jew and Gentile in the Ancient World. Princeton, NJ:
Princeton University Press, 1993.
CONTEXTOS SOCIAIS
Entre os contextos sociais mais importantes em que o cristianismo
tomou forma estão (1) o lar, (2) associações voluntárias e (3) o
sistema patrono-cliente. Vamos discutir no que segue o primeiro
deles.
A casa
A casa era a unidade básica da sociedade grega e romana. As
meninas geralmente se casavam na adolescência e normalmente se
supunha que a maternidade era sua principal vocação. Apesar das
altas taxas de natalidade, o crescimento populacional permaneceu
modesto devido às altas taxas de mortalidade infantil e à prática
generalizada de aborto e infanticídio. Em uma carta de papiro
sobrevivente, um pai egípcio, que está ausente, diz a sua esposa
grávida que cuide da criança se for um menino e que a abandone se
for uma menina.4
A partir de Augusto, uma legislação foi aprovada com a intenção de
encorajar o parto, embora Tácito observe que tais medidas legais não
alcançaram o efeito desejado.5 Por lei e por costume, o homem mais
velho das famílias romanas tinha poder quase absoluto sobre todos
os seus descendentes, incluindo as famílias de filhos adultos
Somente a morte, a emancipação formal, a adoção por outra família,
ou o pai sendo declarado incapaz suspendia esse poder, conhecido
como patria potestas.
As crianças não poderiam tecnicamente possuir propriedades ou
fazer testamentos legalmente válidos. O domínio masculino da
família romana pode ser vista na punição brutal imposta por
parricídio: os assassinos do pai eram submetidos à poena cullae -
amarrados em um grande saco com um macaco, um cachorro, uma
cobra e um galo, eles eram jogados no rio.
O novo casamento não era excepcional - em parte devido à relativa
facilidade de obter um divórcio sob a lei romana - e muitas crianças
pertenciam a famílias com meio-irmãos e irmãs adotivas. O resultado
com demasiada frequência foi ainda maior atrito do que já existia
entre irmãos biológicos.
4 P. Oxy. 744.
5 Tácito, Ann. 3.25.
Testamento. São Paulo: Paulinas, 1986 (em inglês: According to the Scriptures:
The Sub-Structure of New Testament Theology. London: Nisbet, 1961). BEALE,
G. K. Manual do Uso do Antigo Testamento no Novo Testamento: Exegese e
Interpretação. São Paulo: Vida Nova, 2013 (em inglês: Handbook on the New
Testament Use of the Old Testament. Grand Rapids, Michigan: Baker Academic,
2012). Ver ainda: BRATCHER, R. G. Old Testament Quotations in the New
Testament. Londres: United Bible Societies, 1969. ELLIS, E. E. Prophesy and
Hermeneutic in Early Christianity: New Testament Essays. Grand Rapids:
Eerdmans, 1978. ELLIS, E. E. Paul’s Use of the Old Testament. Grand Rapids:
Baker Academic, 1981. EVANS, C. A.; SANDERS, J. A. (eds.). Early Christian
Interpretation of the Scriptures of Israel: Investigations and Proposals. Sheffield:
Sheffield Academic Press, 1997.
14 BASSER, H. W., “Approaching the Text: The Study of Midrash”. In: GARBER,
Z. (ed.). Methodology in the Academic Study of Judaism. Lanham: University
Press of America, 1986, p. 117-134. BASSER, H. W.; COHEN, M. The Gospel of
Matthew and Judaic Tradition. Leiden/Boston: Brill, 2015, p. 113.
15 A pesquisa sobre a judaicidade de Jesus é relevante, especialmente desde a
VERMES, G., Jesus the Jew: An Historian’s Reading of the Gospels. Londres:
Collins, 1967. A obra de Vermes renovou o interesse pela pesquisa a respeito
da judaicidade de Jesus, que se irradiou em muitas outras obras do mesmo autor
ou de outros, influenciados pela sua pesquisa. Ver: VERMES, G. Jesus and the
World of Judaism. Londres, SCM Press, 1983; idem, The Religion of Jesus the
Jew. Londres: SCM Press, 1993. Veja uma análise das pesquisas da época em:
HAGNER, Donald A. The Jewish Reclamation of Jesus. An Analysis & Critique
of the Modern Jewish Study of Jesus. Grand Rapids: Zondervan, 1984. O
renovado interesse pela judaicidade de Jesus provocou a retomada da
concepção de Rabbi Jacob Emden (1697-1776), das relações entre o farisaísmo
e o movimento de Jesus. Ver: FALK, Harvey. Jesus the Pharisee: A New Look
at the Jewishness of Jesus. New York: Paulist, 1985. A relação entre Jesus e os
targumim é explorada em CHILTON, Bruce D. A Galilean Rabbi and His Bible:
Jesus’ Use of the Interpreted Scripture of His Time. Wilmington: Glazier, 1984. A
escatologia de Jesus, que já havia sido tratada por Meyer, é investigada por
Sanders em SANDERS, E. P. Jesus and Judaism. Londres: SCM Press;
Philadelphia: Fortress, 1985. Horsley relaciona Jesus ao zelotismo do seu tempo
em HORSLEY, R. A. Jesus and the Spiral of Violence: Popular Jewish
Resistance in Roman Palestine. São Francisco: Harper & Row, 1987. O caráter
de Jesus como filósofo assemelhado aos cínicos foi proposto por Crossan em:
CROSSAN, J. D. The Historical Jesus: The Life of a Mediterranean Jewish
Peasant. São Francisco: HarperCollins; Edinburgh: T. & T. Clark, 1991. Meier
destaca, em oposição a isso, o rabinismo de Jesus e seu conhecimento das
Escrituras hebraicas em MEIER, J. P. A Marginal Jew. Rethinking the Historical
Jesus. New York: Doubleday, 1991. A relação entre Jesus e o templo é tratada
em CHILTON, Bruce D. The Temple of Jesus: His Sacrificial Program Within a
Cultural History of Sacrifice. University Park: Pennsylvania State University
Press, 1992.
(ed.). The Old Testament in the New Testament. Essays in Honour of J. L. North.
Sheffield: Sheffield Academic Press, 2000, p. 75-105.
22 SANDERS, E. P. Jesus and Judaism. Londres: SCM, 1985, p. 256-260.
23
VERMES, The Authentic Gospel of Jesus. Londres: Allen Lane, 2003, p. 56.
24 Êxodo 22.11; Números 5.19,21; 30.2,10,13.
25 Deuteronômio 6.23; 7.8; 8.1; 9.5; 29.12,15,19; 31.20,21.
26 TAN, K. H. The Zion Traditions and the Aims of Jesus. Cambridge: Cambridge
University Press, 1997, p. 86-96.
27 HOLMÉN, T. Jesus and Jewish Covenant Thinking. Leiden: Brill, 2001, p. 176-
187.
28 LOADER, W. R. G. Jesus’ Attitude to the Law. Grand Rapids: Eerdmans, 1997,
20022, p. 177.
29 CROSSLEY, J. G. The Date of Mark’s Gospel: Insight from the Law in Earliest
& EVANS, C. A. Studying the Historical Jesus. Leiden: Brill, 1994, p. 290-291.
6.14; 2 Coríntios 1.9; 4.14; Gálatas 1.1; Colossenses 2.12; 1 Pedro 1.21.
37 1 Coríntios 6.14; 2 Coríntios 4.14; Ef 2.6.
38 “Remontam a uma época primitiva as manifestações estereotipadas da
Testamento. 2ª Ed. Trad. Benôni Lemos. São Paulo: Teológica, 2004. p. 22.
44
Tese de SCHILLE, G. “Das Leiden des Hern. Die evangelische
Passiontradition und ihr ‘Sitz im Leben’”, Zeitschrift für Theologie und Kirche 52,
1955, p. 161-205.
45Compare: Marcos 1.25, Malaquias 3.1 e Isaías 40.3; Marcos 2.25 e 1 Samuel
21.1-7; Marcos 7.6-7 e Isaías 29.13; Marcos 11.17, Isaías 56.7 e Jeremias 7.11;
Marcos 12.1-12 e Salmo 118.22s; Marcos 6.34, Números 27.17 e Ezequiel 34.5);
46 Conferir as relações que Paulo faz de si mesmo utilizando passagens do
Antigo Testamento (Romanos 1.17, Gálatas 3.11 e Habacuque 2.4) ou as
alusões aos Salmos (Romanos 3.4-18) ou a Abraão (Gênesis 15.6, Romanos
4.3, Gálatas 3.6).
Macmillan, 1930.
50 SANDERS, E. P. Judaism: Practice and belief 63 BCE-66 CE. Londres: SCM,
1992.
51 SANDERS, E. P. Paul and Palestinian Judaism: A Comparison of Patterns of
52 DUNN , J. D. G. Jesus, Paul and the Law: Studies in Mark and Galatians.
London: SCM, 1990. p. 27.
53 THORSTEINSSON, R. M.Roman Christianity and Roman Stoicism: A
Ver ainda, do mesmo autor: Paul and the Jews. Peabody: Hendrickson, 2003;
‘Paul and the Law: Pressure Points in the Debate’. In: GIVEN, M. D. (ed.). Paul
Unbound: Other Perspectives on the Apostle. Peabody: Hendrickson, 2009, p.
99-116. GASTON, L. Paul and the Torah. Vancouver: University of British
Columbia Press, 1987.
57 CHILTON, B. D. Rabbi Paul: An Intellectual Biography. New York: Doubleday,
2007.
59 REY, Jean-Sébastien (ed.). The Dead Sea Scrolls and Pauline Literature.
Londres: Brill, 2014. Para uma perspectiva das concepções de salvação em
Qumran, ver: BOCKMUEHL, M. ‘1QS and Salvation at Qumran’. In: CARSON,
D. A.; O’BRIEN, Peter T.; SEIFRIED, Mark A. (eds.). Justification and Variegated
Nomism, Volume I: The Complexities of Second Temple Judaism. Grand Rapids:
Baker Academic, 2001, p. 381-414.
60 ROWLAND, C. C. & MORRAY-JONES, C. R. A. The Mystery of God: Early
Jewish Mysticism and the New Testament. Leiden: Brill, 2009. Ver,
especialmente, o capítulo 6.
61 PEARSON, Birger A. Gnosticism, Judaism, and Egyptian Christianity.
Minneapolis: Fortress, 1990. SCHMITHALS, W. Gnosticism in Corinth. Nashville:
Abingdon, 1971.
62 WATSON, N. H. “Some Observations on the Use of dikaioo in the LXX”. Journal
of Biblical Literature, LXXIX, 1960, p. 255-257.
em: 1 Samuel 22.6-19; Jeremias 26; 1 Reis 3; 21. O Novo Testamento apresenta,
por sua vez, o julgamento de Jesus (Marcos 14-15 e paralelos). É preciso,
porém, ter reservas com a reconstrução da ordem jurídica rabínica a partir do
tratado judaico Sanhedrin, visto que ele é muito tardio e contraditória, não
fornecendo uma imagem do procedimento utilizado na época dos profetas. Para
uma descrição das práticas jurídicas seguidas em Israel, veja PEDERSEN, J.
Israel, Its Life and Culture. Londres: Oxford University Press, 1954, p. 406-408;
DE VAUX, R. Ancient Israel. New York: McGraw-Hill, 1961, p. 155-157.
67
O livro dos Jubileus reconta Gênesis e Êxodo (até a metade). As partes do
livro são: parte 1 - Introdução, estrutura narrativa; parte 2 - histórias sobre Adão
e Noé (História Primordial), capítulos 2-10; parte 3 - histórias sobre Abraão,
capítulos 11-23.8; parte 4 - apêndice após a morte de Abraão, capítulo 23.9-32;
parte 5 - histórias sobre Jacó e seus filhos, capítulos 24-45; parte 6 - escravidão
no Egito e no Êxodo, capítulos 46-49; parte 7 – Conclusão, capítulo 50. O livro
de Jubileus não começa com a criação do mundo, mas sim com a estrutura
narrativa do 16º dia do terceiro mês (1.1), no dia seguinte ao pacto sinaítico
segundo o calendário dos Jubileus. A abertura é paralela a Êxodo 24.12-18,
quando Moisés subiu ao Sinai pela segunda vez e o Senhor deu a ele
revelações. O seu contexto é o período do Segundo Templo, que Sanders
identificou como o meio judaico dos escritos paulinos. Ver: SANDERS, E. P. Paul
and Palestiniam Judaism. Minneapolis: Fortress Press, 1977, p. 362-386.
68 Baruque afirma que Deus dará a seus homens arrependidos “um coração que
quanto em Paulo, sendo uma das poucas obras pré-Sanders que enfatiza
fortemente a importância da graça no pensamento de ambos os autores. Ver:
MOFFATT, J. Grace in the New Testament. Londres: Hodder & Stoughton, 1931,
ser encontrada: no hino final da Regra da Comunidade (1QS XI), que trata da
questão da justificação em termos semelhantes aos de Gálatas 2.16; na citação
de Deuteronômio 21.22-23 em 4Q196 3-4 I 6-8 e 11Q19 LXIV 6-13, que tem
relações com Gálatas 3.13; a citação de Gênesis 15.6 em 4Q225 2 i 7-8 e
4QMMT (4Q398 14-17 ii 7), que tem relações com Gálatas 3.6-9; a citação de
Habacuque 2,4 em 1QpHab VIII 1-3, que se assemelha ao uso do mesmo texto
em Gálatas 3.11. Ainda é possível encontrar semelhanças entre o catálogo de
vícios e virtudes de Gálatas 5.16-26 em 1QS IV 6-8.11-14; e relações entre o
uso da expressão “obras da lei” em Gálatas 2.16 e em 4QMMT C 27. O tema da
aliança da graça, presente em 1QS I 1-15, 22, II 1,4, e no hino final em 1QS X
4-13 tem relações com ideia de graça presenta em Gálatas. 1QS IV 6-8, em
particular, se assemelha a Filipenses 3.21. Em relação a 1 Tessalonicenses, há
vários paralelos: 1 Tessalonicenses 1.4 // 1QS IV 22 ; XI 7; 1 Tessalonicenses
1.5 // 1QH XV 9-10 (= 1QH VII 6-7); 1 Tessalonicenses 2.7-8,11 // 1QH XV 23-
25 (= 1QH VII 20-22); 1 Tessalonicenses 2.16 e 5.9 // 1QS II 11-15 ; IV 12-13; 1
Tessalonicenses 3.5 // 1QS III 20-25; 1 Tessalonicenses 3.13 // 4Q400 1 i
2,3,19,24; 4Q400 1 ii 6; 4Q403 1 i 24.31; 1 Tessalonicenses 4.4 // 4Q416 2 ii 21;
1 Tessalonicenses 4.13-17 // 4Q521 7.1‒8 + 5 ii 7-16; 1 Tessalonicenses 5.4-9
// 1QS III 13-IV 26; e 1 Tessalonicenses 5.15 // 1QS X 17-18.