Dinheiro: Sua Origem e Importância
Dinheiro: Sua Origem e Importância
Dinheiro: Sua Origem e Importância
1 Introdução
O dinheiro é algo que faz parte do dia a dia de muitas pessoas. Enquanto é tido
por muitos como o vilão por trás de todas as mazelas da sociedade, uma arma do mal
(CALIL, 2018), e encanta crianças que veem serem dados alguns pedaços coloridos
de papel para um vendedor enquanto se recebe em troca vários produtos
interessantes além de outros pedaços de papel, é uma das instituições mais
importantes de nossa sociedade tendo sido essencial para o desenvolvimento da
nossa economia.
Acontece que apesar de ser tão útil e importante, a maioria das pessoas o utiliza
sem nem se dar conta disto, muito menos questionar sua origem ou a forma como o
governo o manipula. Isto se deve, muito provavelmente, ao fato deste tema ser ligado
à Economia e esta disciplina ter se tornado um assunto intragável ao leitor comum,
como apresenta Mises em sua obra A Mentalidade Anticapitalista (2017), de forma a
ser senso comum que os inéditos progressos tecnológicos dos últimos duzentos anos
não tenham sido causados ou favorecidos pelas políticas econômicas da época, nem
sido uma conquista do liberalismo clássico, do livre comércio, do laissez-faire e do
capitalismo.
Diante disto se torna urgente a necessidade de se dourar a pílula, de forma a
apresentar este tema, sobretudo as questões ligadas ao dinheiro, em uma linguagem
mais acessível e compreensível, evidenciando e dando a devida importância a tudo
aquilo que acontece debaixo do nosso nariz todos os dias sem que percebamos.
não é possível avaliarmos desta forma ao falar de um vegetal como uma grande
melancia ou mesmo algum animal de corte. Uma vez repartida a fruta ou abatido o
animal, estes passam a se deteriorarem, prejudicando drasticamente a sua qualidade
e a capacidade de se trocá-los posteriormente ou mesmo consumi-los.
Ao considerar que somente este tipo de troca é realizado, as possibilidades de
obter aquilo que se deseja através das trocas são bem reduzidas. A consequência de
se estagnar no desenvolvimento como sociedade de forma que os indivíduos apenas
realizem trocas diretas faria com que a divisão do trabalho não abrangesse um grande
número de pessoas, limitando então a referida ideia de cooperação entre indivíduos.
A divisão, muito provavelmente, se estabeleceria apenas em pequenos núcleos de
indivíduos, inevitavelmente conectados, como por exemplo as famílias. Cada núcleo
buscaria ser autossuficiente, trocando apenas o excedente com os outros grupos.
Porém, não é assim que a sociedade e o mercado funcionam hoje, e chegar
neste estágio de desenvolvimento só foi possível devido à possibilidade das trocas
indiretas, por sua vez entendidas como realizar uma troca objetivando obter com ela
não o bem que se deseja de fato, mas sim um outro que seja do interesse de quem
possua o bem desejado em primeiro lugar, para que a troca com este seja realizada
posteriormente.
Agentes atuantes no mercado apreendem que certos bens possuem uma
demanda maior ao longo do tempo e em lugares distintos, sendo mais vendáveis,
enquanto outros não têm a mesma demanda em tantos lugares ou apresentam maior
sazonalidade. Diante disto, ao se usar o caminho indireto para obter seus bens
desejados no mercado, aquele o costureiro acabaria por trocar seus tecidos por
feijões, pois entende que seja mais fácil de encontrar um lenhador que deseje feijões
em troca de seus produtos ao invés de tecidos ou roupas, exatamente por ter
observado que ao longo do tempo e nos diversos lugares que visitou é mais fácil
encontrar quem demande feijões e não tecidos. Diante disto, indivíduos
autointeressados, sem convenção, sem compulsão legal, e, mesmo sem qualquer
consideração pelo interesse comum, acabam trocando bens destinados a troca por
outros bens destinados a troca, mas mais vendáveis, conseguindo os bens de que
necessitam com maior facilidade e menores perdas ao realizar trocas indiretas ao
invés de se privar desta alternativa e aceitar fazer somente trocas diretas (MENGER,
2009).
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Esta prática, exatamente por ser a mais vantajosa para quem a realizava,
acaba por ser cada vez mais praticada pelos agentes, ao passo que estes, enquanto
não satisfaziam seus fins, iam procurando bens que garantissem o que temos hoje
como “poder de compra”, podendo obter em outros momentos ou lugares a mesma
quantidade e qualidade de bens.
Paralelamente a esta atuação por parte dos agentes, acaba acontecendo uma
espécie de competição entre as mercadorias. Aquelas que são mais vendáveis,
acabam sendo cada vez mais desejáveis pelos agentes, enquanto aquelas que eram
usadas como meio indireto de troca enquanto eram menos vendáveis se tornam
menos desejáveis ou, até mesmo, indesejáveis. Até que as mais vendáveis acabam
sendo conhecidas e aceitas como tal por um número cada vez maior de indivíduos,
passando a ser o que temos hoje como “dinheiro”, ficando as outras mercadorias e
bens como simples produtos e não dinheiro.
Este hábito acaba por ser assumido por cada vez mais indivíduos porque é
simplesmente tido como o mais vantajoso. Por exemplo, se antes tanto o feijão, quanto
arroz, sal e prata eram tidos como meios de troca indiretos, porém a prata “vence”
esta competição e se torna o dinheiro local, qualquer um que aceite feijão, arroz ou
sal como meio indireto de troca acaba por estar assumindo um prejuízo. Assim sendo,
cada vez menos agentes aceitam tais bens como meios indiretos de troca e estas
mercadorias passam a ser somente bens, sendo indesejáveis para o outro fim.
Isto se tornou algo tão comum nas mais diversas sociedades, ao ponto de
termos diferenciações na nossa própria língua para o que um meio indireto de trocas
“universais”, sendo o “dinheiro”, e o que não é, sendo apenas uma “mercadoria”. Da
mesma forma, os termos para as ações de troca em que se fornece o dinheiro e
recebe a mercadoria é tido como “compra”, enquanto a simples transação entre
mercadorias é tido como “troca” (MENGER, 2009).
4 Conclusão
O advento do dinheiro permite que muitas mais trocas que outrora eram apenas
potenciais se efetivem de fato, porém, de maneira indireta. Há também, um efeito
catalizador sobre a própria divisão do trabalho, permitindo que cada vez mais as
pessoas se especializem e produzam aquilo que são mais capazes, uma vez que
possam trocas suas mercadorias com quem possua dinheiro para só depois trocar
este dinheiro com quem possua os bens que desejam, ao invés de sempre se
preocupar em produzir para si mesmo ou algo que os seus fornecedores desejem para
si. Portanto, ao invés de ser um problema, uma arma do mal, na verdade a instituição
do dinheiro é algo que beneficiou e beneficia toda a sociedade até os dias de hoje.
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Referências
CALIL, M. Dinheiro é uma arma do bem ou é uma arma do mal? EXAME, 2018.
Disponivel em: <https://exame.abril.com.br/blog/etiqueta-financeira/dinheiro-e-uma-
arma-do-bem-ou-e-uma-arma-do-mal/>. Acesso em: 28 fev. 2018.
MENGER, C. On the Origins of Money. Tradução de C.A. Foley. Auburn: Ludwig von
Mises Institute, 2009. 56 p. ISBN 978-1-933550-59-6. Disponivel em:
<https://mises.org/library/origins-money-0>. Acesso em: 23 fev. 2018.
VON MISES, L. Socialism: An Economic and Sociological Analysis. Tradução de J.
Kahane B.Sc. Indianapolis: LibertyPress/LibertyClassics, 1951.
VON MISES, L. A mentalidade anticapitalista. Tradução de Carlos dos Santos
Abreu. 3ª. ed. São Paulo: LVM, 2017. 256 p. ISBN 978-85-93751-05-9.
VON MISES, L. Sobre moeda e inflação: uma síntese de diversas palestras.
Tradução de Evandro Ferreira e Silva. 1ª. ed. São Paulo: LVM, 2017. 272 p. ISBN
978-85-93751-08-0.