Direito Das Obrigações
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Direito Das Obrigações
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direito-obrigacional.html
SCRITO POR RICARDO MACELLARO VEIGA SÁBADO,
06 DE MARÇO DE 2010 20:57
Do Direito Obrigacional
Edição nº 5 ± Ano I
DA OBRIGAÇÃO EM GERAL
A obrigação é um vínculo jurídico por intermédio do qual o credor pode exigir uma
prestação do devedor; recaindo, sobre esse último, a pena de invasão no patrimônio, no caso
de não cumprimento.
No dizer de Silvio Rodrigues: ³É o vínculo de direito por meio do qual alguém (sujeito
passivo) se propõe a dar, fazer ou não fazer qualquer coisa (objeto da obrigação), em favor de
outrem (sujeito ativo)´ (p. 4, 2002).
Trazida do direito romano, onde as Institutas de Justiniano apregoavam: ³tratar-se de
um vínculo de direito que compele alguém (devedor) a fornecer uma prestação, segundo o
direito do país´. Note-se que, no texto justinianeu, alude-se que, no contexto ³obrigação´, é
importante realçar a importância social e não apenas a relação individual.
3. PRESTAÇÃO
Antigamente, pessoa que assinasse sem ler, sem tomar ciência, não redimira-se de
cumprir: cumpria a prestação, pois se se obrigou, há que se cumprir o acordo.
Diversamente disso, contemporaneamente o direito não conta com essa estática
obrigacional, visto que há circunstâncias que alteram o contrato, alterando, por conseguinte, o
equilíbrio entre as partes. Em assonância ao texto justinianeu, já aludido, há que se levar em
conta não o cunho econômico da avença, da obrigação, mas sim o aspecto social que assume.
Esse poder de exigir algo do outro não advém da propriedade (³só porque é dono´),
mas porque há uma relação obrigacional.
Há quem fale que ³só existe obrigação quando houver expressão patrimonial´; não há
que se olvidar, porém, que numa ação na qual o filho exige o dever de afeto do pai não há o
suposto semblante patrimonial (econômico); logo: existem obrigações não-patrimoniais.
Há uma corrente unitária, que explana que prestação (dever de dar, fazer ou não fazer)
só existe pois há responsabilidade (sanção prevista), pois não há cumprimento obrigacional
somente pela dívida. A teoria dualista, por outro lado, supõe tal prerrogativa (de existir o
cumprimento voluntário), logo, prestação é uma coisa que não decorre porque há sanção
prevista, mas decorre da vontade única duma pessoa (que assumiu ou contraiu a dívida) que
pode cumpri-la voluntariamente.
Diz-se real o direito que recai diretamente sobre a coisa; pessoal, o que depende de
uma prestação do devedor. Pois bem, o direito pessoal é, portanto, o objeto da obrigação. O
direito obrigacional atinge os bens (a coisa), mas dá-se, num primeiro momento, entre dois
sujeitos. O direito real, diversamente disso, é o que afeta a coisa direta e imediatamente.
O direito das obrigações cuida dos direitos pessoais, isto é, do vínculo ligando um
sujeito ativo (credor) a um sujeito passivo (devedor), por força do qual o primeiro pode exigir
do segundo o fornecimento de uma prestação consistente em dar, fazer ou não fazer alguma
coisa.
DA FONTE DAS OBRIGAÇÕES (ORIGEM DAS OBRIGAÇÕES)
Ressaltando que o domínio só se transfere com a tradição, antes dessa a coisa pertence
ao devedor. Todos os melhoramentos e acrescidos, como acessórios que são, seguem-lhe o
destino, incorporando ao patrimônio do titular, visto que esses bens supõem a existência do
bem principal; ³eles grudam´ na coisa principal (aderem de forma indissolúvel).
São pertenças os bens que, não constituindo partes integrantes, se destinam, de modo
duradouro, ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro (carteiras da faculdade); por
essas razões, resulta que, segundo o art. 237, o titular da propriedade (devedor) pode exigir o
aumento do preço. As benfeitorias podem ser voluptuárias, úteis ou necessárias. Se
voluptuárias, de mero deleite ou recreio, não aumentam o uso habitual do bem, ainda que o
tornem mais agradável (p.ex.: jardim paisagístico). São úteis as que aumentam ou facilitam o
uso do bem (v.g.: edícula, cobertura de garagem; ofendículas); quem faz a benfeitoria útil, tem
o direito ao jus retentionis(direito de retenção) ou de ser indenizado. Por último, são
necessárias, as benfeitorias que têm por fim conservar o bem ou evitar que se deteriore. São
obrigatoriamente indenizáveis (e.g.: conserto de um vazamento).
No que tange as obrigações, se o bem não tem determinados acessórios no momento
da avença e posteriormente, quando dar-se-á a tradição, os tem, fica a critério do adquirente
(credor) a decisão de aceitar ou não, i.e., tem ele o poder de resolver o contrato ou pagar o
acréscimo das benfeitorias (exemplo da vaca que, após vendida, fica grávida: tem o devedor o
direito de requerer o pagamento pelos bezerros).
Tal preceito abrange quaisquer acessórios e, por conseguinte, os frutos. No rastro do
legislador de 1916, o nosso art. 241 apregoa que, enquanto os frutos percebidos pertencem ao
devedor, os pendentes competem ao credor.
Se o acessório está vinculado à coisa principal, a Lei estipula que será obrigado a
repassar;e.g., quando se vende uma escola, há que se entregá-la com as cadeiras.
Vejamos mais algumas peculiaridades que o artigo 242 nos remete.
Esse é, quiçá, o tema mais importante tratado no presente capítulo; pois determina
quem, o devedor ou credor, deve sofrer o prejuízo ocorrido antes da tradição.
Afasta-se desde logo a hipótese de culpa do devedor; ocorrida, uma vez, essa, o sujeita
à responsabilidade pelas perdas e danos ocasionados.
A coisa se perdeu sem culpa do devedor, antes da tradição. Dado animal vendido,
antes da entre, foi baleado e morto por desconhecido. A obrigação se desfaz. O vendedor
devolve ao comprador o preço e sofre, por conseguinte, o prejuízo decorrente do perecimento
da coisa.
O depositário que recebeu o objeto para guardar deve devolvê-lo, ao lhe ser
demandada a coisa, pelo depositante. Se essa coisa perece antes da devolução, sem culpa do
devedor (depositário), o art. 238 do CC determina que sofrerá o credor a perda, e a obrigação
resolverá. O credor é o depositante, ou seja, o dono da coisa. Logo, ainda, quem sofre o
prejuízo é o dono.
Pois bem. A 2ª parte do mesmo artigo, não obstante, limita a liberdade da escolha,
dizendo que ao proceder à escolha não poderá o devedor da a coisa pior, nem será obrigado a
prestar a pior. Pretendeu, decerto, o legislador que o devedor escolhesse pela média, fugindo
tanto de dar o pior quanto de prestar o melhor; ao admitir a coisa incerta, admitem também
um bem mediano, com características intermediárias.
Tal solução só vige quando silente o contrato. Isso porque, se as partes decidiram ilidir
a incidência de lei supletiva (lei supletiva: admite alteração pelas partes; lei de ordem pública:
não admite a alteração pela simples avença entre as partes), para alterar a competência de
escolha, essa atitude adveio para favorecer o credor, permitindo que receba o que de melhor
encontrar, pois, se outro fosse o desejo, não utilizariam tal cláusula.
Assim, o momento de concentração do contrato é o momento que se cientifica a outra
parte; isto é, altera-se a coisa incerta para coisa certa (art. 245).
As obrigações de dar ou de não fazer consiste num ato humano realizado, donde
decorre uma vantagem para o credor. Podem elas constar de um trabalho físico ou intelectual,
como também de um ato jurídico. Assim, assume a obrigação de fazer o empreiteiro que
ajusta a construção; ou o escritor que promete a um jornal uma série de artigos; ou a pessoa
que propõe-se, num contrato preliminar, a outorgar um contrato definitivo.
Se distinguem das obrigações de dar, visto que nessa há prestação de coisa, nas
obrigações de fazer encontra-se uma prestação de fato. Por vezes se entrelaçam e, entre várias
teorias, há a lúcida de Washington de Barros Monteiro, no seu curso de Direito Civil, p. 99,
segundo a qual:
³O substractum da diferenciação está em verificar se o dar ou o entregar é ou não
consequência do fazer. Assim, se o devedor tem de dar ou de entregar alguma coisa, não
tendo, porém, de fazê-la, previamente, a obrigação é de dar; todavia, se, primeiramente, ter ele
de confeccionar a coisa, para depois entregá-la, se tem ele de realizar algum ato, do qual será
mero corolário o de dar, tecnicamente a obrigação é de fazer´. Consequência disso resulta
que, quando a obrigação é de dar e fazer, trata-se obrigatoriamente como obrigação de fazer.
Assim, há que se ir mais longe que isso e afirmar que a obrigação de fazer consiste no
mister imposto ao devedor de manter dado comportamento, atitude humana ativa; por outro
lado, ao menos em tese, pode esse comportamento constar de uma abstenção, daí
transformando-se num comportamento passivo, isto é, obrigação de não fazer.
DAS ESPÉCIES DE OBRIGAÇÃO
A doutrina lançou mão da noção de fungibilidade (também exposta sob outro prisma
no art. 85 do Código Civil) para distinguir duas espécies diferentes de obrigações de fazer:
aquelas em que a pessoa do devedor constitui preocupação essencial do credor ± infungíveis,
ou insubstituíveis ±, e as em que isso não ocorre ± fungíveis.
Nas primeiras, i.e., nas obrigações infungíveis, o negócio se estabelece intuitu
personae, pois a prestação avençada só terá validade de fato se prestada por aquele devedor,
cujas qualidades pessoais são queridas pelo credor. Assim, se alguém contrata com pintor
célebre a confecção de um retrato, supõe-se que o faz em vista das qualidades do artista, de
modo que a lei só considera adimplido o ajuste se a prestação for cumprida por aquele
devedor.
Por vezes o intuitu personae não se funda em qualidades pessoais, mas em condições
particulares. Quem anui em contrato de locação, se o fiador ± alguém que abona,
responsabilizando-se pelo cumprimento da obrigação do abonado ± do locatário for
determinado capitalista de honradez e reputação, não é obrigado a aceitar substituto.
Quanto às obrigações fungíveis, pode-se dizer que são aquelas em que a pessoa do
devedor não figura com relevância. Ao dono do automóvel que encomendou sua limpeza é, de
certo modo, indiferente que o veículo seja lavado por um ou outro oficial. De sorte que o
devedor se desincumbe da obrigação ou realizando o a tarefa prometida ou mandando que
outrem a faça em seu lugar.
Em tese, para que se considere infungível a obrigação de fazer, requer-se menção
expressa. Todavia, mesmo em caso onde não haja convenção expressa, poder-se-á reconhecer
a infungibilidade da prestação, em virtude das circunstâncias que rodearam o negócio, se, v.g.,
a intenção das partes é gritante ao considerar no contrato as condições peculiaridades de
determinada pessoa.
Fora revogado todo esse teor, que vinha exposto nos arts. 639 a 641 do CPC
(revogados pela Lei n. 11.232 de 22-12-2005).
Ainda aqui convém distinguir a existência de culpa ou não do devedor, tendo em vista,
por outro lado, a circunstância de a escolha caber ou não ao devedor ou ao credor.
Se todas as prestações tornarem-se impossíveis, sem culpa do devedor, aplica-se a
regra geral: a obrigação se extingue, pura e simplesmente; é o que apregoa o artigo 256.
Se, cabendo-lhe a escolha, não puder o devedor, por sua culpa, cumprir nenhuma,
ficará obrigado a pagar o valor da que por último se impossibilitou, acrescido das perdas e
danos (CC, art. 254).
Essa derradeira regra é absolutamente lógica, porque o perecimento antecipado de uma
fez com que a obrigação se concentrasse na outra, passando a constituir o objeto único da
obrigação, então simples. Ora, como visto, agora com prestação única, impossibilitada por
culpa do devedor, responde à regra do artigo 389.
Finalmente, a terceira hipótese de impossibilidade. Se as prestações se
impossibilitaram, por culpa do devedor, cabendo a escolha ao credor, pode este último
reclamar o valor de qualquer delas, adicionado de perdas e danos.
Como vimos, o credor tinha legítima expectativa de eleger qualquer delas; o mínimo
que se lhe pode deferir é o direito de pleito o valor de qualquer delas, mais indenização pelo
prejuízo experimentado; é o que revela o artigo 255, 2ª parte.
EFEITOS DA INDIVISIBILIDADE
Na hipótese de serem vários os devedores, cada um será obrigado pela dívida toda (art.
259); a ele, portanto, cumpre oferece-la por inteiro, pois, mediante a natureza do objeto,
mostra-se incapaz de ser prestado por partes.
Cumpre ressaltar duas circunstâncias relevantes: cada um dos devedores só deve parte
da dívida; todavia, em virtude do objeto, pode ser compelido a fazer por inteiro. Ora, a prova
da primeira encontra-se no parágrafo único do art. 259 que dispõe ao devedor que a pagou a
prerrogativa de sub-rogar-se no direito do credor. Alei, além de deferir o direito de cobrança,
o mune com as garantias que o credor original tinha. É compelido a prestá-la inteiramente
porque o artigo 263 fixa, somente em virtude do objeto, a prestação será indivisível, caso
contrário, não há, visto que, se resolvida em perdas e danos, adquire o caráter de divisível,
pois a reparação pecuniária é sempre suscetível de divisão.
Se a culpa adveio de todos os devedores, ainda que sejam responsáveis por frações
distintas do bem, haverá igualdade entre eles no que se refere ao pagamento da indenização.
Se, por outro lado, um só tenha culpa pelo dano causado, responderá sozinho pelas perdas e
danos, exonerando-se os demais apenas no tocante às perdas e danos, não à quitação de suas
cotas.
Na hipótese de pluralidade de credores, cada um deles pode exigir a dívida por inteiro,
porém, ao devedor, cumpre observar duas ressalvas: ele só se desobrigará se: pagar a todos
conjuntamente; ou a um, dando este caução de ratificação dos outros.
A todos os credores conjuntamente porque, se pagasse a um só, o outros cocredores
poderiam ficar privados da garantia representada pelo devedor solvável. Figure-se que pagasse
a dívida a credor insolvente, que furtasse de prestar contas aos cocredores.
A um, dando caução de ratificação dos outro. Desse modo, garante-se o direito dos
demais credores, que encontram na caução uma maneira de satisfazer a sua parte do crédito.
Tais regras vêm expostas no artigo 261.
A derradeira consequência figurada pela lei, em caso de pluralidade de credores, é a da
remissão, transação, novação e compensação; tratemos de uma apenas, pois os efeitos são
idênticos. Se são vários os credores e um deles perdoa a dívida, experimenta o devedor o
lucro. Ora, se houve liberalidade para o devedor, este tornou-se devedor de menos que
originalmente devia. Portanto, os outros deverão exigir o adimplemento descontada a quota do
credor remitente, caso contrário, haveria empobrecimento sem causa do devedor e
enriquecimento injustificado dos demais credores.
Por regra, são indivisíveis. Há a existência de vários em um lado que, para a outra
parte, é visto como um. Assim, a solidariedade constitui exceção à regra do art. 257, concursu
partes fiunt, porque, através dela, em vez de se dividir em tantos quantos forem os sujeitos,
continua enfeixada num todo, podendo, cada um dos vários credores exigir, do devedor
comum, a totalidade da prestação; ou devendo cada um dos vários devedores pagar ao credor
comum a dívida integral. Tal conceito vêm, de resto, formulado pelo próprio legislador, no
art. 264.
Na hipótese de vários credores, denomina-se solidariedade ativa; na segunda hipótese
fixada pelo artigo, de vários devedores, há a solidariedade passiva, mais frequente e
proveitosa hoje em dia. Aquela ocorre quando, havendo vários credores, cada um tem o
direito de exigir do devedor a prestação por inteiro (art. 267), caso contrário a obrigação do
devedor se dividiria em tantas obrigações autônomas quantos fossem os credores. A
solidariedade passiva destaca-se porque o credor tem direito de exigir, de um só, a totalidade
ou parcialidade da dívida em comum.
Por conseguinte, a solidariedade altera a feição das obrigações com pluralidade de
sujeitos, ativos e passivos, pois promove a reunião, em uma só, de relações jurídicas
autônomas.
CONSEQUÊNCIA DA SOLIDARIEDADE
FONTES DA SOLIDARIEDADE
DA SOLIDARIEDADE ATIVA
DA SOLIDARIEDADE PASSIVA
Com ela, como já aludido, o credor pode escolher qualquer um dos devedores para
cobrar-se. Como pode decidir cobrar parte de um (pagamento parcial), continuando credor do
restante, que remanescem ligados pela solidariedade (art. 275).
O Parágrafo único fixa que a solidariedade perdura. Vale dizer, se o credor aciona um
devedor, não renunciou o restante; assim, se obteve setenta por cento do valor, pode acionar
os demais, a fim de obter os restante.
Vale lembrar que a obrigação solidária reúne, numa só, tantas obrigações autônomas
quantos forem os devedores; em virtude disso, é evidente que um destes não pode agravar a
posição dos demais, pois é incapaz de incidir sobre a obrigação de outrem, que é autônoma,
embora sujeita à solidariedade. A regra encontra-se no artigo 278 do Código Civil; assim, se
após estabelecimento da relação jurídica um deles estipular cláusula aumentando taxa de juros
ou abreviando termo de vencimento, os outros não ficam vinculados a tal ajuste.
Essa problemática de autonomia talvez seja melhor compreendido com a explicação de
Ruggiero e Maroi, que separa os lados internos e externos da obrigação, vejamo-la. Se
encararmo-la do lado de fora, externo, o conjunto de devedores se apresenta como um só.
Todavia, encarado o problema sob seu ângulo interno, encontram-se vários devedores cujas
relações são relevantes; uns responsáveis para com os outros; conforme a exposição, ³as
obrigações são individuais e autônomas, mas se encontram enfeixadas numa relação unitária´.
Nessa ideia de autonomia que se justifica a regra do artigo 281 do CC, que veda, ao
devedor demandado, a possibilidade de opor exceções pessoais dos outros, embora podendo
opor as próprias (compensação ± cancelamento de débitos recíprocos) e as comuns a todos
(falsidade do título, de pendência de condição etc.).
A exceção é um meio de defesa de que lança mão o réu para ilidir ou suspender os
efeitos da ação. Ora, a circunstância de na solidariedade se encontrarem várias obrigações
autônomas faz com que a ação do credor, cobrando de um dos devedores, só possa ser sustada
por exceção comum a todos, ou pessoal do excipiente.
RENÚNCIA À SOLIDARIEDADE
O credor que apenas renuncia à solidariedade continua credor, ainda que despido das
prerrogativas já referidas. Se a renúncia for total, volta a militar a regra concusu partes fiunt.
Se a renúncia for parcial, por haver exonerado apenas algum dos devedores, a relação jurídica
biparte. Primeira, constituída pelo exonerado, transforma-se em obrigação simples; na
segunda, prendendo os demais devedores, persiste a solidariedade. O montante inicial
abrangido pela obrigação se reduz, obviamente, para demandar os demais devedores, deve
abater no débito a importância daquele que foi exonerado; é o que apregoa o art. 282.
Pode o credor que sem êxito exigiu de um devedor o pagamento voltar-se contra outro
para cobrá-la integralmente, e assim por diante. Tal preceito é defendido pelo parágrafo único
do art. 275.
Entretanto, é possível que a prestação se impossibilite; apresentam-se duas
hipóteses: 1. aimpossibilidade derivar de força maior; 2. resultar de culpa de um dos
obrigados.
No primeiro caso, a obrigação se extingue, ficando liberados os devedores. Na segunda
hipótese, o credor tem o direito de receber o valor da prestação, acrescido de perdas e danos.
O valor dela é por todos devido, continuando o credor com a prerrogativa de exigir de
qualquer um deles a totalidade do valor da prestação. Mas as perdas e danos o são por culpa
de apenas um; ora, se um devedor não pode agravar a situação do outro (art. 278), decerto que
a lei isso previu, não o permitindo fazê-lo por meio de ato ilícito; da mesma sorte, ele, e só
ele, é quem deve compor o prejuízo resultante, nesse sentido o art. 279 do Código Civil.
Ao lado do inadimplemento absoluto, mister se faz encarar a possibilidade de simples
mora; essa se caracteriza quando o devedor não efetua o pagamento no lugar, tempo e forma
convencionados. O legislador, aqui, adotou solução diversa do artigo anterior, talvez pensando
nos interesses tutelados dos credor; ora, segundo o art. 280, embora defira o direito de pleiteá-
la do culpado, sujeita todos os devedores ao pagamento dos juros.
Aqui, a obrigação ³já está viva´, vinda de um contrato, de um ato ilícito, enfim,
veremos a maneira de transmiti-la de uma das partes para um terceiro, ³troca subjetiva da
obrigação´.
DA CESSÃO DE CRÉDITO
DA ASSUNÇÃO DE DÍVIDA
É o modo pelo qual o titular da dívida a repassa. É o negócio jurídico pelo qual um
terceiro, estranho à relação obrigacional, assume a posição de devedor, responsabilizando-se
pela dívida, sem extinção da obrigação, que subsiste com seus acessórios.
Na assunção de dívida interessa saber sobre o patrimônio do devedor; logo, consiste
numa relação trilateral: devedor, assuntor e credor. Nesta hipótese, apesar da transferência
tratar da parte devedora, o credor deve anuir, por óbvio que é (i.e., porque lhe interessa a
solvência do devedor).
A aceitação do credor não implica uma nova relação obrigacional; transfere-se tudo ao
novo devedor; o mesmo crédito será exigido do novo devedor que assumiu a responsabilidade
por ele.
Se o devedor ignorava a insolvência do novo devedor, não fica desvinculado o antigo
devedor; logo, mostra-se como requisito a solvência do atual devedor. Porém, o credor pode
aceitar o novo devedor insolvente, se nele mais confiar que terá seu crédito satisfeito.
Contudo, tal consentimento deve vir expresso na transferência.
Pode ser, a assunção, cumulativa ou liberatória. Neste caso, ocorre a liberação do
primitivo devedor. Na cumulativa, dá-se o ingresso do terceiro no pólo passivo, sem que
ocorra a liberação do antigo devedor, que permanece na relação, com liame de solidariedade.
Tudo isso vem exposto nas breves palavras do caput do artigo 299.
O Parágrafo único do art. 299 fortifica a ideia de que se o credor notificado
permanecer silente, será tal ato entendido como recusa.
Art. 300 traz, notadamente, a diferenciação entre cessão de crédito e assunção de
débito. Pois bem. Diferente da cessão, onde os argumentos podem ser apresentados ao novo
credor, aqui, na assunção, tal ideia inexiste. Na assunção, não confere-lhe a prerrogativa de
garantias, pois o passado é apagado, do momento em que se celebra a cessão. Num primeiro
momento, todas as garantias tidas pelo devedor originário desaparecem; porém, pode
expressamente dispor o contrário, mas considera-se, via de regra, a primeira hipótese.
O problema de fundo consiste na anuência do devedor e, por vezes, de terceiros
garantidores; as garantias especiais não são da essência da dívida e foram prestadas em
atenção à pessoa do devedor (fiança, aval, hipoteca de terceiro); disso decorre a expressa
anuência do devedor primitivo e, em alguns casos, também do terceiro que tiver prestado a
garantia.
No art. 301 há o caso de a anulação do contrato de assunção; ele fixa que, nesses
casos, ocorre o ressarcimento da obrigação para o devedor originário, como todos os seus
privilégios e garantias, salvo aquelas que tiverem sido prestadas por terceiros, visto que estas
garantias especiais, que haviam sido exoneradas pela assunção, não podem ser restauradas, em
prejuízo do terceiro, salvo se ele tinha conhecimento do defeito que inquinava o negócio.
Quanto ao artigo 302, é claro ao dizer que o novo devedor não oporá as exceções
pessoais do devedor anterior. Contudo, pode valer-se dos meios de defesa derivados da
relação estabelecida entre ele próprio e o credor. Os meios de defesa do antigo devedor
transferem-se ao assuntor, exceto aqueles que derivarem posteriormente à assunção ou que lhe
forem personalíssimos; o código civil veda apenas aquelas exceções pessoais, i.e., aquelas que
são diretamente ligada à pessoa do devedor, com causa distinta da dívida estabelecida entre as
partes (a compensação, por exemplo), pois aquelas que tiverem origem na própria dívida
assumida deverão ser admitidas (pagamentos, inadimplementos etc.).
O art. 303 afirma que, no caso que a garantia for hipotecária, permanecerá. Consiste
numa exceção àquela regra, que veda a aceitação tácita. Logo, o credor hipotecário ingressará,
com aceitação tácita, salvo se não impugnar em trinta dias, nessa assunção de dívida.
Neste caso, o imóvel é a garantia da dívida; se credor hipotecário nada disser, opera-se
a assunção da dívida automaticamente. Caso ele ache que a garantia da dívida é menor que o
seu valor, ilide a assunção, intervindo. Em melhores palavras, se dada pessoa adquire uma
imóvel, comprometendo-se paga a respectiva dívida, e este imóvel é a garantia, então
hipotecária, do pagamento, o credor não tem porque não aceitar a assunção, visto que está
garantido pela hipoteca, salvo se outras forem as objeções, que não poderão ser arbitrárias,
caso que o legislador lhe deferiu trinta dias para impugná-las.
DO PAGAMENTO
Conforme o art. 304, o terceiro tem direito de pagar, não podendo o credor, sem
justificativa, recusar o pagamento. Caso recuse, cabe ao credor a ação de consignação, onde
deposita a quantia em juízo. Pois bem. O terceiro do art. 304 é o terceiro juridicamente
interessado.
O credor pode se recusar recebimento advindo do terceiro não interessado
juridicamente, mas, se o terceiro efetuar o pagamento em nome e à conta do devedor, não
poderá; é a consagração do parágrafo único do artigo 304. Assim, se João tenta firmar o
seguinte recibo com o credor: ³recebi de João o pagamento referente a dívida de Maria´, o
credor tem o direito de recusar. Caso o credor aceite, haverá a sub-rogação em favor de José;
transferindo a divida de Maria para José, seu novo credor.
Se, porém, José celebrou o pagamento em nome e à conta de Maria, celebrou
pagamento com recibo nominal à Maria: ³recebi de Maria o pagamento da dívida´ , ao credor
não caberá a prerrogativa de recusar, visto que o parágrafo único contempla esse fato; todavia,
José não se sub-roga na posição credora, vindo o artigo 305 lhe subsidiar.
O art. 305 trata do terceiro que não é juridicamente interessado. Paga por interesse
afetivo, moral, só não é jurídico. Neste caso, haverá dois caminhos: a doação, liberando Maria
da dívida, ou o pleito da dívida, ³Maria estava abatida, paguei para reanimá-la, mas quero
meu dinheiro de volta´. Há doutrina que se presume a doação, visto que aceitou o pagamento
em nome de Maria; outrossim, há doutrina que apregoa que atos gratuitos não se presumem,
há que se provar.
Pois bem. A única diferença, que nos interessa de perto, são as vantagens que o antigo
credor tinha, vejamos. No caso de sub-rogação, José se mune de todas as garantias que o
antigo credor tinha contra Maria. Todavia, se o fez em nome e à conta de Maria, somente
poderá cobrar o montante e a respectiva atualização monetária.
A sub-rogação se reveste com o interesse jurídico, ou seja, se se provar que tinha
interesse jurídico se sub-roga nos direito do credor.
O art. 306 trata do pagamento feito com desconhecimento do devedor, ou contra sua
vontade, fixando que o devedor não ficará obrigado a reembolsá-lo. O devedor pode não
querer pagar porque tem interesse no não pagamento, pode ter sido vítima de assinatura falsa,
coação etc. Apresentará os motivos de resistência ao terceiro que efetuou o pagamento;
poderá, se for terceiro interessado, opor as suas exceções pessoais.
O artigo 307 traz a regra do pagamento feito com propriedade alheia, i.e., entrega de
um bem imóvel ao credor. Se dada pessoa entrega o que não é seu como forma de pagamento,
adimplindo sua dívida, e tal bem é infungível, o credor deverá devolvê-lo. Se for fungível, não
poderá reclamá-la ao credor que a recebeu de boa-fé. Neste último caso, considera-se a dívida
paga, cabendo ao terceiro, que era o verdadeiro proprietário, buscar as reparações cabíveis do
devedor que entregou o que não lhe pertencia, i.e., se resolverá em perdas e danos.
Segundo o art. 208, via de regra, quem recebe é o credor. Há hipóteses que não é-lhe
pago diretamente, mas a um representante; mister se faz, que demostre a representação
regularmente. O artigo 311, admite que o representante se mostre como tal com a
apresentação da quitação; ou seja, não tendo procuração, a quitação revela-se como
autorização válida para pagamento.
Há dois tipos de credor que são tratado pela lei: o putativo e o incapaz.
O credor putativo, exposto no art. 309, é aquela pessoa que se apresenta como legítima
credora; nesses casos, a aparência deve ser suficiente e o credor verdadeiro deve ter
contribuído para tal suposição. Se considerar-se de fato, o credor putativo não é o verdadeiro,
mas se o credor real contribuiu para que assim parecesse, o pagamento é válido. Se
determinado devedor entrega, habitualmente, a quantia para o irmão do verdadeiro credor,
autorizado, ainda que não se revista de solenidades, pelo credor, há um credor putativo. Note-
se: a habitualidade influiu, o fato e o comportamento aparentaram, notadamente, a ponto de
tornar válido os pagamentos.
O art. 310 trata do credor incapaz; se fez o pagamento ignorando o fato da
incapacidade e não havia meios como saber, faz pagamento válido; protege-se a boa-fé, pois,
notadamente, o incapaz que age naturalmente, com recibo, denota pagamento válido.
Se o paga por intermédio do seu representante, fez pagamento regular.
Se, porém, pagou diretamente ao incapaz, o respectivo artigo impõe ao devedor que
prove que o pagamento se reverteu em benefício do credor, visto que, ao pagar absolutamente
incapaz, assumiu um risco.
DO OBJETO DO PAGAMENTO
DO LUGAR DO PAGAMENTO
DO TEMPO DO PAGAMENTO
DO PAGAMENTO EM CONSIGNAÇÃO
DA IMPUTAÇÃO DO PAGAMENTO
DA DAÇÃO EM PAGAMENTO
Dação é derivação do verbo dar; temo-la prevista nos art. 356 a 359 do CC.
Regra consagrada, já vista, é aquela que ³não se pode pagar, ainda que mais valioso,
com outra prestação (objeto)´. Ora, se, porém, é convencionado que assim será (quitação da
dívida anterior com outro objeto de prestação), entra em cena a dação.
A dação livra as partes reciprocamente consideradas, i.e., extingue-se o vínculo entre
elas. Se faz-se novo acordo, extinguindo o anterior, temos a novação, i.e., a troca de um dívida
por outra, que continuará pendente; caminho diametralmente oposto da dação, que extingue o
vínculo entre as partes (a dação é satisfatória, a novação perdura, ainda que com outro
vínculo). Daqui surgi importante consideração, qual seja, casos em que mantém-se a mesma
prestação, embora de forma diferente, considera-se novação; v.g., ao financiar pagamento
atrasado, o ato de financiar é o animus que caracteriza a novação: a troca de um dívida
(pagamento à vista) por outra, que fica pendente (pagamento financiado).
Pois bem. Quando há prestação em aberto (dinheiro, p.ex.) e ela é trocada pelo bem
dado (imóvel, e.g.), se as partes foram silentes (não estipularem os valores remanescentes),
considera-se quite o pagamento, vale dizer, desfaz-se o liame obrigacional integralmente,
tanto para um como para outro (art. 357).
Se faz dação com vício (imóvel com pendência), que caracteriza evicção ou vício
redibitório, ela (a dação) se desfaz. No caso da evicção, vende-se o bem e perde-o por decisão
judicial; a evicção, em verdade, é a garantia que o vendedor dá, visto que contraiu processo
judicial do qual, após a venda, resultou em perda da coisa, total ou parcial, pelo adquirente
(comprador que recebeu a garantia da evicção). O vício redibitório é o vício ou defeito oculto
da coisa recebida, em razão de contrato comutativo, já existente antes da celebração do
negócio jurídico, que a impede que seja utilizada ou a torna desvalorizada (art. 206).
Nos dois casos se desfaz a dação; ora, se se aplica tal procedimento à compra e venda,
há que se aplicar à dação.
DA NOVAÇÃO
Substituição de dívida não cumprida por outra obrigação igualmente não cumprida,
firmado novo prazo para cumprir. Frise-se, não cumprirá de imediato. A primeira obrigação
desaparece; é, então, substituída por uma nova.
O primeiro requisito para a novação é que a dívida deve ser válida, sob o prisma do
art. 169. Anulidade dum negócio jurídico não prescreve, ele é nulo para sempre; um negócio
celebrado por incapaz é nulo para sempre, em virtude disso, não cabe novação sob negócio
nulo, visto que se estaria convalidando um negócio nulo. Todavia, se o negócio é anulável
(art. 171), cabe novação, tornando-o, de anulável, um negócio válido, segundo o art. 172 (de
acordo com a súmula 296, sobre o artigo 367).
Um segundo requisito, em consonância com o primeiro, recai sobre a dívida vindoura,
vale dizer, a nova dívida deve ser válida também.
Terceiro requisito evidencia-se com o animus de novar, expressa ou tacitamente
considerado. Isto é, se não vier expresso, pode constatá-lo implicitamente no instrumento pelo
qual se deu, se ele o evidenciar.
Por fim. A simples refixação de cláusulas no contrato não caracteriza novação; e.g.,
reforçar juros ou garantias não caracteriza novação, conforme a jurisprudência deste instituto.
Quanto à dívida prescrita, pode-se efetuar a novação. Ora, se pode se pagar uma dívida
prescrita, pode utilizar-se deste outro modo de adimplemento, qual seja, a novação.
Até agora vimos a novação objetiva. Há, entretanto, a novação subjetiva e a mista,
vejamos cada uma delas.
Numa novação subjetiva há a alteração de uma das partes; em face disso, há confusão
com a assunção de dívida e com a cessão de crédito.
Na novação mista, há, simultaneamente, a troca do objeto da prestação e de uma das
partes.
Novação, em verdade, é objetiva (alteração do objeto da prestação) ou mista (alteração
do objeto e de uma das partes, simultaneamente).
O art. 363 exige a má-fé do devedor antigo para que se tenha direito à ação de
regressão. Entretanto, o art. 299 possibilita a mesma ação (de regressão), sem a exigibilidade
da má-fé, somente requerendo que o credor ignore o estado de insolvência do atual devedor. É
inútil adentrar no estudo do art. 363, é inócuo.
O art. 364 estabelece que os acessórios e garantias, na novação, desaparecem, salvo no
caso que as partes estipularem contrariamente. Se a garantia envolve terceira pessoa, esta
deverá anuir, visto que a garantia é dada tendo a pessoa do devedor como pano de fundo,
portanto, fundada na confiança.
DA REMISSÃO
DA COMPENSAÇÃO
Consiste no meio de extinção das obrigações pelo encontro de dois créditos recíprocos
entre as mesmas pessoas. Uma dívida anula a outra. A compensação opera-se até o valor que
se aniquilam, se houver remanescente, perdura.
São requisitos da compensação a reciprocidade das obrigações (duas pessoas
devedoras uma da outra, art. 368, a liquidez (valor certo, manifesto quanto a sua existência e
delimitado quanto a sua extensão) e a exigibilidade das dívidas (vencidas; frise-se que o 372
admite o estabelecimento de novo prazo, a fim de compensar) e a fungibilidade dos créditos
(as dívidas devem ter a mesma natureza, e.g., compensar empréstimo com indenização), art.
369.
Há duas espécies de compensação, a legal, que se dá automaticamente, e a
convencional, que depende do acordo entre as partes. A automática está fixada no art. 368,
compensando-se de pleno direito. A compensação convencional se dá através dum contrato
entre as partes, ressalvando-se seus requisitos.
Há dívidas que não são compensáveis, trazidas pelo art. 373, em seus incisos. O inciso
I trata do dinheiro advindo de ato ilícito, não permitindo compensar dívida se obteve o
dinheiro para quitação subtraindo-o do credor. O inciso II obriga o contraente de comodato a
devolver a coisa, não imperando o dispositivo da compensação. Se umas das obrigações é de
alimento, não se compensa, pois que sua finalidade é a subsistência duma das partes. Por fim,
o inciso III remete ao art. 649, que fixa um rol de coisas incompensáveis, como, por exemplo,
os bens de família, os objetos de trabalho (a sua finalidade é sustentar o indivíduo) etc.
Quanto à renúncia, vem no art. 375, sendo admitida previamente à anunciação da
compensação (antes de celebrarem) ou se de outra forma convencionaram (no momento do
contrato, p.ex., vedam a possibilidade de compensar).
O art. 380 veda a compensação que seja prejudicial a terceira pessoa. Vale dizer, se o
bem adquirido pelo devedor, para compensar a dívida com seu credor, for objeto de penhora
por terceiro, não há que se vigorar isso, visto que o terceiro, exequente, estaria prejudicado.
Em suma, fica vedada a compensação desde o momento que o objeto adquirido pelo devedor
tenha sido penhorado contra o seu devedor, visto que, em face da penhora, não poderá efetuar
o pagamento ao seu credor nem opor a compensação ao exequente.
DA MORA
Do art. 402 ao 405 tratamos das perdas e danos, que figura o prejuízo injustificado.
Cumpre destacar, aqui, a figura do dano emergente e do lucro cessante, que integram o valor
correspondente às perdas e danos, trazidos no art. 402. Dano emergente é uma conta de
subtração, é a diminuição patrimonial experimentada injustificadamente pelo credor, aquilo
que ele efetivamente perdeu, seja porque teve seu patrimônio depreciado (não fora colocado o
telhado duma casa e, em virtude disso, teve que refazer o forro, que, por conta de chuva, se
molhou e apodreceu), seja porque teve aumento em seu passivo (não recebeu a casa na data
prevista e, em virtude disso, gastou com aluguel). Por lucros cessantes entende-se o bloqueio
duma soma, que é a diminuição potencial do patrimônio do credor, pelo lucro que deixou de
auferir, dado o inadimplemento do devedor; frise-se, os lucros cessantes só são devidos se
previsíveis no momento em que a obrigação foi contraída (se o dono da gráfica aventa o
recebimento duma nova máquina que substituiria uma que falhara há lucros cessantes se
ocorrer o inadimplemento do devedor, que deveria entregar a máquina, porque, como havia a
máquina anterior, é possível se calcular os lucros não auferidos a partir do momento que não a
recebeu; porém, se o comprador iria inaugurar a loja, não há falar-se em lucro cessante, pois
não houve lucro, é lucro hipotético, não indeniza).
O art. 404 fixa que juros são pagos independentemente de prejuízo, tendo como juros a
remuneração sobre o capital em questão. A atualização monetária corrige o poder de compra
da moeda. E os honorários advocatícios são indenizados também quando há inadimplemento
de obrigação pecuniária. Até, tudo bem, já vimos.
O parágrafo único do art. 404 inova ao permitir que o juiz conceda indenização
suplementar, comprovando que o juros de mora não são suficientes à cobertura dos prejuízos;
salvo se haver cláusula penal. Geralmente, não se paga além do 1%, a título de juros, somado
à atualização monetária; todavia, se os juros revelam-se insuficientes ao reestabelecimento
do statu quo ante, há que falar-se em indenização complementar.
DOS JUROS LEGAIS
O artigo 406, que abre este capítulo, é mal redigido. A regra que fixa os juros
correspondentes àqueles cobrados pela Fazenda Nacional (a União) é tormentosa. Pois bem. A
União cobra a taxa Selic, que traz somada nela a taxa de juros e a atualização monetária;
assim, a taxa Selic deve ser usada sozinha, porque, se cobrá-la com o acréscimo da atualização
monetária há dupla cobrança desta. Assim, se se cobrar atualização monetária há que se somar
aos juros trazidos pelo art. 161 do Código Tributário, fixados em 1 %. Frise-se, o STJ já
utilizou-se das duas maneiras de cobrança, tanto a taxa Selic quanto o art. 161 do CTN
acrescido de atualização monetária.
A súmula 596 exclui a incidência deste instituto, instituto da usura, sobre as
instituições financeiras.
O art. 407 fixa que o juros satisfazem o lesado e punem o inadimplente.
DA CLÁUSULA PENAL
A importância dos direitos das obrigações compreende as relações jurídicas que constituem as
mais desenvoltas projeções da autonomia privada na esfera patrimonial. Dotado de grande
influência na vida econômica, regula as relações da infra-estrutura social de relevância
política, as de produção e as de troca. Também é nos direitos das obrigações que percebemos
as limitações impostas à liberdade deação dos particulares retratando a estrutura econômica da
sociedade.
Dentro de nosso C.C. a palavra obrigação comporta vários sentidos. Podem designar-lhe o
lado ativo, também chamado crédito, e o lado passivo, denominado débito.
Obrigação é o crédito considerado sob ponto de vista jurídico; crédito é a obrigação sob ponta
de vista econômico. A mais antiga definição remonta das Institutas primando ser um vínculo
jurídico que necessita adstringir o devedor a cumprir a prestação ao credor.
Destaca que a obrigação é uma relação jurídica entre o credor e o devedor caracterizada pelo
vínculo jurídico, destacando o conteúdo como uma prestação e externar-lhe também a sua
peculiar coercibilidade. Há uma ressalva exagerada do devedor e, certo ostracismo do credor.
Segundo Clóvis não faz a distinção entre obrigação e qualquer dever juridicamente exigível.
Já a definição de Paulo não chega a definir obrigação, mas evidencia os seus elementos:
sujeitos prestação e vínculo jurídico. É através de tal definição que podemos abalisadamente
estabelecer a contraprestação entre direitos reais e direitos obrigacionais; descreve com maior
exatidão o conteúdo e o objeto do vínculo; revela a essência ou substância da obrigação
(vínculo entre duas pessoas).
O vocábulo obligatio é recente tanto que não foi utilizado na Lei das XII Tábuas, o vocábulo
primitivo empregado para externar o vínculo obrigacional, era nexum (advindo do verbo
nectere significando atar, unir, vincular).
A obligatio caracterizava-se como direito de garantia sobre a pessoa física do obrigado, tal
submissão do devedor ao credor só veio a cessar com a Lex Poetelia Papiria que no século IV
a.C., substituiu o vínculo corporal pela responsabilidade patrimonial onde os bens e, não o
corpo do devedor deveriam responder pelas suas dívidas.
Alguns Códigos definiram obrigação como o Código de Obrigações da Polônia (art. 2 º § 1º),
já o Código Civil (BGB) Alemão prefere conceituar a obrigação pelo lado oposto, ou seja, do
credor em relação ao devedor (art. 241).
O Código Civil Brasileiro escudou-se da tarefa definitória assim como o Código Civil
Francês.E o Novo Código Civil Brasileiro não ousou quebrar a tradição anterior.
Apreciemos algumas das definições sobre obrigações fornecidas pelos nossos melhores
doutrinadores:
Clóvis: ³Obrigação é a relação transitória de direito, que nos constrange a dar, a fazer ou não
fazer alguma coisa economicamente apreciável em proveito de alguém, que, por ato nosso ou
de alguém conosco juridicamente relacionado, ou em virtude de lei, adquiriu o direito de
exigir de nós essa ação ou omissão.´
Não alude tal definição ao elemento responsabilidade Washington de Barros Monteiro assim
definiu: obrigação é a relação jurídica, de caráter transitório, estabelecido entre devedor e
credor e, cujo objeto consiste numa prestação pessoal econômica, positiva ou negativa, devida
pelo 1 º ao 2 º, garantindo-lhe adimplemento através de seu patrimônio.
Como relação jurídica, o direito obrigacional sedia-se no campo jurídico e seu adimplemento
é devido à espontaneidade do agente que não pode ser compelido a qualquer prestação.
O caráter provisório evidencia que uma vez cumprida e satisfeita a prestação, quer
amigavelmente, quer pelos meios jurídicos disponíveis ao credor, exaure-se a obrigação, o
devedor resta liberado e ao credor cabe a extinção de seu direito.
Não há obrigações perpétuas nem mesmo as de direito família puro que quando muito
poderão perdurar enquanto vida tiver o alimentado.
Radbruch afirma que o direito do crédito traz em si o germe de sua morte. À obligatio sempre
se contrapõe, a solutio( do verbo solvere, desatar, soltar), ou seja, a exoneração do devedor
através do pagamento. A obligatio liga, ata e a solutio desata, libera.
Desta forma, a locação indefinida degenera em servidão, tanto assim que a lei fixa-lhe a
duração máxima (art. 1.220 CC/1916 vide art.598 do NCC) mesmo o contrato de sociedade
chega por alguns motivos legais de dissolução (art. 1.399 CC/1916 vide art. 1.033 do NCC).
O usufruto instituído para pessoa jurídica, extingue-se com esta.
A obrigação corresponde a uma relação pessoal que induz a responsabilidade patrimonial, mas
seria exagero concordar com Gaudemet e Polacco que vislumbraram na obrigação um vínculo
entre dois patrimônios sob uma ótica despersonalizada do vínculo.
Trabucchi assinalava que nos últimos tempos, quanto a essa tutela judicial, é visível a
aproximação entre os direitos reais e os direitos obrigacionais.
Dentre as inúmeras evoluções sofridas pelo direito das obrigações podemos destacar em
especial a que corresponde à viabilidade de indenização para o dano moral ainda que dele não
advenham prejuízos materiais em face da Constituição Federal de 1988.
Vínculo é qualificado como jurídico por ser disciplinado por lei e acompanhado de sanção.
Processualistas como Alfredo Buzaid fundados nesta diferença, sustentam que o elemento
dívida (schuld) é de direito privado e o elemento responsabilidade (haftung) é instituto do
direito processual.
A prestação consiste em dar, fazer ou não fazer. Ou seja, entrega de um bem, numa prestação
de serviço ou numa omissão ou abstenção.
Silvio Rodrigues ensaia uma definição de obrigação é o vínculo de direito pelo qual um
sujeito passivo fica adstrito a dar, fazer ou não fazer alguma coisa em favor de um sujeito
ativo, sob pena de se não o fizer, espontaneamente, seu patrimônio responder pelo
equivalente.
Quanto à distinção entre os reais e pessoais podemos dizer que os primeiros incidem
diretamente sobre a coisa; e a segue em poder de quem quer que a detenha (seqüela); é erga
omnes; é perpétua enquanto que os segundos dependem de uma prestação de um devedor.
Emilio Betti aduz que o direito real propõe um problema de atribuição, o direito pessoal
propõe um problema de cooperação (ou de reparação se advier obrigação de ato ilícito).
Fontes das obrigações são atos ou fatos nos quais estas encontram nascedouro. Gaio, no
direito romano diz que a obrigação vem do delito ou surge do contrato e, ainda, recorrem as
possíveis causas genéricas das obrigações. Justiniano enumera fontes, a saber: contrato, o
delito (atos ilícitos), o quase-contrato (atos lícitos tais como gestão de negócios) e o quase-
delito.
A formula das Institutas vai ser acolhida por Pothier que adiciona a lei às demais fontes.A
sistemática civil brasileira declaradamente nomeia três fontes de obrigações; o contrato, a
declaração unilateral da vontade e o ato ilícito.
As obrigações sempre derivam da lei, sendo que nalguns casos, embora esta apareça como
fonte mediata, outros elementos despontam como causa imediata dos vínculos, como por
exemplo, a vontade humana ou o ato ilícito. Silvio Rodrigues classifica as obrigações como as
que têm fonte imediata à vontade humana; obrigações que têm fonte imediata o ato ilícito e as
obrigações que têm fonte direta à lei.
A causa genitrix da obligatio tanto pode ser autodeterminada como pode provir de uma
heterodeterminação. Toda obrigação há um liame, um laço entre os sujeitos, vínculo que o
Professor Serpa Lopes assinalava que não é de subordinação e, sim de coordenação porque
respeita a essência da liberdade humana.
Savigny: A obrigação consiste na dominação sobre uma pessoa estranha, não sobre toda
pessoa (pois que importaria em absorção da personalidade).
Caio Mário sucinto definiu a obrigação como o vínculo jurídico em virtude do qual uma
pessoa pode exigir de outra a prestação economicamente apreciável. Nela está caracterizado o
requisito objetivo (a prestação) que deverá ser dotada de patrimonialidade, e ainda é de
vislumbrar a dualidade de aspectos, o débito e a responsabilidade.
Nela está caracterizado o requisito objetivo (prestação) que deverá ser dotada de
patrimonialidade, e ainda é de vislumbrar a dualidade de aspectos, o débito e a
responsabilidade.
Dentro do quadro evolutivo histórico da obrigação ela ocorreu primeiramente com caráter
coletivo, ocorrendo o vínculo e a sanção comprometendo o grupo inteiro. Bem mais tarde, ela
se individualiza e surge o nexo obrigacional e sobrevive a punição do infrator dirigida ao seu
próprio corpo.
A Lex Poetelia Papiria 428 a.C. aboliu a execução sobre a pessoa do devedor, projetando-se a
responsabilidade sobre seus bens ± e constitui uma autêntica revolução no conceito
obrigacional.
No direito moderno atribui-se a vontade plena como força geradora do vínculo e também a
impessoalidade da obrigação.
A relação obrigacional é entre pessoas e, não entre pessoa e bens. Somente na execução da
obrigação que se atinge o patrimônio do devedor, como garantia geral do cumprimento.
Barassi salienta que a atividade pessoal ocupa o centro ativo do patrimônio mesmo.
O objeto da obrigação poderá variar, será positivo quando for um dare ou um facere e, será
negativo quando se fala que há obrigação negativa implica num não-fazer.
Finalmente, o objeto há de ter caráter patrimonial, revestida de cunho patrimonial, seja por
conter em si mesmo um dado valor, seja por estipularem as partes uma pena convencional
para o caso do descumprimento que é antecipação estimativa das perdas e danos.
Em prol da patrimonialidade erguemos dois fortes argumentos; o primeiro por que a lei o
admite implícito tanto assim que o converte em equivalente pecuniário, o devedor que
culposamente falta a cumprir a prestação.
Como argumento em contrário, invoca-se que a reparação do dano moral. Como fato
voluntário gera obrigações da prestação patrimonial, também o delito cria o dever de prestar
pecuniariamente (sem que se possa tecnicamente definir obrigação) de objeto patrimonial,
senão preexistia o dever negativo de respeitar a integridade jurídica alheia (o principio de não
lesar a ninguém).
Para alguns doutrinadores italianos como Pacchioni a patrimonialidade pode não significar o
valor de troca ou economicamente intrínseco. Porém subsiste o valor de afeição (o pretium
affectionis) e, nem por isso inábil a configuração da obrigação.
Apesar de se admitir que o interesse do credor possa ser apatrimonial, a prestação deve ser
suscetível de avaliação em dinheiro.
O débito (schuld) é o dever de prestar e que não deve ser confundido com o objetivo da
obrigação. O schuld é o dever que tem o sujeito passivo na relação obrigacional poderá ser um
facere ou um dare ou um non facere.
Betti ensina que a responsabilidade é um estado potencial de dupla função: preventiva visto
que cria uma situação de coerção, e a outra é de garantia, para assegurar a efetiva satisfação
do credor.
A obrigação natural é um tertium genus, uma entidade intermediária entre o mero dever de
consci6encia e a obrigação juridicamente exigível, por isto, no meio do caminho entre moral e
o direito.
É mais que um dever moral e menos que uma obrigação civil. Falta-lhe o poder de
exigibilidade. O traço de distinção mais visível entre a civilis e a naturalis era a actio, presente
na primeira e, ausente na segunda, e isto lhe retirava a qualidade de vínculo jurídico.
É uma obrigação civil degenerada. Era uma obrigação civil que perdia a actio e se convertia
em natural. Mas em compensação, o direito lhe conferia a soluti retentio, cujo principal efeito
era a retenção do pagamento não credenciando o devedor requerer a restituição.
O débito está contraído, mas não existe o haftung, porém, se o sujeito voluntariamente solve,
reconhecendo-lhe, portanto a responsabilidade, o outro (credor) é protegido pela soluti
retentio que não dá origem à obrigação, porém, consolida o seu efeito.
As obrigações propriamente ditas chamadas indevidamente de pessoais.É intruncada a questão
quanto a categorias de direitos para uns como Demogue (que negam uma diferenciação
fundamental entre os direitos de crédito e os direitos reais, afirmando ser uma só natureza de
todos os direitos, só distintos entre si, pela intensidade (direitos fracos e direitos fortes). E
outros, como Thon e Scholossman que entendem que a diversificação é artificial).
Outros, no entanto, filiados à corrente clássica (Vittorio Polacco) enxergam nos direitos uma
relação de subordinação da coisa mesma ao seu titular, traduzindo um assenhoreamento ou
dominação direta.
Alguns como Windscheid e Planiol situam a diferença respectiva da noção de relatividade dos
direitos de créditos e absolutismo dos direitos reais.
Ao revés, o direito real, com o sujeito ativo determinado tem por sujeito passivo uma
generalidade anônima de pessoas (pois é erga omnes).
A obrigação ius in re é devida pelo labor dos juristas canonistas conforme assinala Rigaud que
erige uma terceira categoria que corresponde à obrigação stricto sensu ou propter rem.
Situamos assim como uma obrigação acessória mista. Quando a um direito real acende uma
faculdade de reclamar prestações certas de uma pessoa determinada. Há uma relação jurídico-
real em que se insere, adjeto à faculdade de não ser molestado, o direito a uma prestação
específica.
Tem caráter acessória e mista, pois dotada de prestação especifica incrustada em um direito
real. São as chamadas obrigações híbridas (uma mistura de direito pessoal com direito real)
podem ser incluídas as com ônus reais e as com eficácia real. É também denominada de
obrigação ambulatorial.
As normas de direito de vizinhança, a de condomínio, o IPTU, a conservação de tapumes
divisórios, os ônus reais são obrigações que limitam o uso e gozo da propriedade, constituindo
direitos reais sobre coisas alheias, oponíveis erga omnes.
Já as de eficácia real transmitem-se e são oponíveis a terceiros que adquire o direito sobre
determinado bem, é o caso do art. 1.197 CC.
É bom lembrar que em nosso direito só se efetiva a transferência inter vivos da propriedade
com a tradição quando for coisa móvel, ou através da inscrição do imóvel (que é uma tradição
solene) quando se tratar de imóvel.
Na restituição, ocorre em todos os casos em que o detentor deve recambiar ao dono coisa
havida temporariamente em seu poder como se dá na locação ou no penhor.
A classificação das obrigações em divisíveis e indivisíveis não tem em vista o objeto, porém
este em atenção aos sujeitos, ou um deles, já que seu interesse somente se manifesta quando
ocorre pluralidade subjetiva (Clóvis Beviláqua, Hudelot et Metmann). Pode-se, em linhas
gerais, dizer que são divisíveis as obrigações suscetíveis de cumprimento fracionado, e
indivisíveis as que somente podem cumprir-se na sua integralidade. O que se fraciona é
prestação.
A divisibilidade jurídica corre em paralelo com o fracionamento que o objeto pode suportar. E
quando as partes em que se fracione não percam as características essenciais do todo e nem
sofrem depreciação acentuada, e indivisível, o justamente oposto.
Casos há em que o imóvel, a exemplo do módulo rural não pode suporte divisibilidade em
razão de lei, onde exista a fixação de um mínimo, temos aí a indivisibilidade jurídica, não
obstante a divisibilidade material, resultante da impropriedade da coisa ao preenchimento de
sua finalidade natural e sua destinação econômica.
A obrigação de restituir é, em regra, indivisível já que o credor não pode ser compelido a
receber pro parte a coisa que se achava na posse alheia, salvo se nisto consentir.
Também a obrigação de fazer poderá ser divisível ou indivisível, dependendo se a realização
do trabalho é por si mesmo friccionável.
A obrigação de não fazer é, via de regra, indivisível, pois sendo o devedor obrigado a uma
abstenção, deve-a por inteiro, não sendo cabível ser parcelada.
Qualquer credor tem o poder de demandar o devedor pela totalidade da dívida (devedores
solidários).
2º na solidariedade cada devedor pago por inteiro, porque deve por inteiro, enquanto que na
indivisibilidade solve a totalidade, em razão da impossibilidade jurídica de repartir em cotas a
coisa devida.
5º a solidariedade cessa com a morte dos devedores, mas a indivisibilidade subsiste enquanto
a prestação suportar;
O princípio consursu partes fiunt não se presume, a solidariedade convencional deve ser
expressamente ajustada.
Alguns sistemas como o francês e o belga, admitem uma extensão da solidariedade afora
legalmente previstos, a qual recebeu a denominação de solidariedade jurisprudencial ou
costumeira, e não se acha acolhida pelo sistema pátrio.
Para nós, a obrigação solidária possui uma só natureza: uma obrigação com unidade objetiva.
Na solidariedade existe unidade de prestação e unidade de vínculos. Mas há doutrinadores que
entendem pela pluralidade de vínculos.
Não é a qualquer tempo que o pagamento feito ao credor solidário exonera o devedor, pois
somente se ocorre antes da prevenção judicial.
A prevenção judicial tem sentido de exceção, sentida estritamente interpretada não pode ser
ampliada para fora do âmbito literal do dispositivo.
O direito das obrigações configura exercício da autonomia privada, pois os indivíduos têm
ampla liberdade em externar a sua vontade, limitada esta apenas pela licitude do objeto, pela
inexistência de vícios, pela moral, pelos bons costumes e pela ordem pública.
Direitos reais e direitos obrigacionais:
Direito real é aquele que afeta a coisa direta e imediatamente, sob todos ou sob certos
respeitos, e a segue em poder de quem quer que a detenha. Já o direito pessoal consiste num
vínculo jurídico pela qual o sujeito ativo pode exigir do sujeito passivo determinada prestação.
a) Sujeito ativo
b) A coisa
c) Relação do sujeito ativo sobre a coisa, chamado domínio
O direito obrigacional resulta da vontade das partes, sendo sua criação ilimitada (numerus
apertus), enquanto que o direito real só pode ser criado por lei, sendo, logo, limitado (numerus
clausus).
O direito obrigacional exige uma figura intermediária, que é o devedor. Já o direito real incide
diretamente sobre a coisa.
No direito obrigacional, a ação é dirigida somente contra quem figura na relação jurídica
como sujeito passivo. A ação real é exercida contra quem quer que detenha a coisa.
Figuras híbridas:
Na obrigação propter rem, a substituição do titular passivo opera-se por via indireta, com a
aquisição do direito sobre a coisa a que o dever de prestar se encontra ligado. A obrigação
propter rem é de caráter misto, pelo fato de ter a obligatio in personam objeto consistente em
uma prestação específica; e como a obligatio in re estar sempre incrustada no direito real.
São as obrigações que limitam o uso e gozo da propriedade, constituindo gravames ou direitos
oponíveis erga omnes.
A responsabilidade pelo ônus real é limitada ao bem onerado, não respondendo o proprietário
além dos limites do respectivo valor. Já na obrigação propter rem o devedor responde com
todos os seus bens, ilimitadamente.
Os ônus reais sempre implicam numa prestação positiva. A obrigação propter rem pode tanto
ser prestação positiva quanto negativa.
Nos ônus reais, a ação cabível é de natureza real (in rem scriptae), enquanto que nas
obrigações propter rem, é de índole pessoal.
Obrigações com eficácia real são as que, sem perder seu caráter de direito a uma prestação,
transmitem-se e são oponíveis a terceiro que adquira direito sobre determinado bem. Exemplo
de eficácia real é a que resulta de compromisso de compra e venda, em favor do promitente
comprador, quando não se pactua o arrependimento e o instrumento é registrado no Cartório
de Registro de Imóveis, adquirindo este direito real à aquisição do imóvel e à sua adjudicação
compulsória (CC, arts. 1417 e 1418).
Obrigação é o vínculo jurídico que confere ao credor (sujeito ativo) o direito de exigir do
devedor (sujeito passivo) o cumprimento de determinada prestação. Corresponde a uma
relação de natureza pessoal, de crédito e débito, de caráter transitório (extingue-se pelo
cumprimento), cujo objeto consiste numa prestação economicamente aferível.
A obrigação abrange a relação globalmente considerada, incluindo tanto o lado ativo (o direito
à prestação) como o lado passivo (o dever de prestar correlativo).
Os sujeitos da obrigação, tanto o ativo como o passivo, podem ser pessoa natural ou jurídica,
de qualquer natureza, bem como as sociedades de fato. Devem ser, contudo, determinados ou,
ao menos, determináveis.
O sujeito ativo pode ser individual ou coletivo, conforme a obrigação seja simples ou solidária
e conjunta. Pode a obrigação também existir em favor de pessoas ou entidades futuras, ou
ainda não existentes, como nascituros e pessoas em formação.
c) Licitude do objeto: O objeto não deve atentar contra a lei, a moral ou os bons costumes. A
jurisprudência não tem condenado as obrigações com objeto que atenta a moral, utilizando-se
do princípio de que ninguém pode valer-se da própria torpeza (nemo auditur propriam
turpitudinem allegans).
A impossibilidade deve ser real e absoluta para causar a nulidade da obrigação. "A
impossibilidade inicial do objeto não invalida a condição a que ele estiver subordinado" (art.
106).
f) Apreciação econômica do objeto: As prestações que não possuem conteúdo patrimonial são
excluídas do direito das obrigações. O interesse do credor pode até ser apatrimonial, mas a
prestação deve ser suscetível de avaliação em dinheiro. Caso não haja relação econômica com
a prestação, o juiz determinará valor equivalente em caso de reparação de danos. O objeto
mediato é sobre no que recai essa prestação.
g) Vínculo jurídico É o liame existente entre o sujeito ativo e o sujeito passivo e que confere
ao primeiro o direito de exigir do segundo o cumprimento da prestação.
É composto por dois elementos, quais sejam: Débito, que é o vínculo espiritual, abstrato ou
imaterial, pois representa a obrigação moral (na consciência do devedor) de satisfazer
pontualmente a obrigação; e responsabilidade, que representa o vínculo material, conferindo
ao credor não satisfeito o direito de exigir judicialmente o cumprimento da obrigação.
O caso da fiança é exemplo de responsabilidade sem obrigação, pois o fiador pode ser
responsabilizado pela obrigação de terceiro (o devedor).
No período clássico do direito romano, Gaio dividiu as fontes das obrigações em quatro
espécies: contrato (obligatio ex contractu), quase-contrato (obligatio quase ex contractu),
delito (obligatio ex delicto) e quase-delito (obligatio quase ex delicto).
Recentemente, Pothier acrescentou à lista de fontes tradicionais a lei. Fez-se isto pela
constatação de que certas obrigações emanam diretamente da lei, como as obrigações do
casamento.
Noção e conteúdo:
Não é a obrigação, em si, que transfere o domínio do objeto. É somente a sua tradição, (nos
móveis) ou registro (nos imóveis) que o faz. A obrigação é apenas o comprometimento de
realizar essa transferência de domínio.
Atualmente é possível o credor exigir o objeto, e não somente perdas e danos, caso o credor
não tenha ainda o domínio da coisa. Contudo, se o objeto foi transferido de domínio para
terceiro de boa-fé, só resta perdas e danos ao credor, pois seu direito pessoal não tem efeito
erga omnes.
"O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais
valiosa" (art. 313) Como o objeto da obrigação é algo certo, o credor não é obrigado a receber
outra coisa, mesmo que mais valiosa. Essa novação só pode ser feita com o consentimento de
ambas as partes. Da mesma forma, o credor não pode exigir outra coisa do devedor a não ser o
pactuado, mesmo que menos valiosa.
Caso a obrigação seja afetada, também será afetada a transferência de domínio. A tradição
pode ocorrer de três maneiras:
"Até a tradição pertence ao devedor a coisa, com os seus melhoramentos e acrescidos, pelos
quais poderá exigir aumento no preço; se o credor não anuir, poderá o devedor resolver a
obrigação" (art. 237, caput).
"Os frutos percebidos são do devedor, cabendo ao credor os pendentes" (art. 237, parágrafo
único). Os antecipadamente colhidos também não podem ser cobrados.
"Se, no caso do art. 238, sobrevier melhoramento ou acréscimo à coisa, sem despesa ou
trabalho do devedor, lucrará o credor, desobrigado de indenização" (art. 241). Os
melhoramentos, feitos pelo devedor de obrigação de restituir, devem ter sido realizados
através de seu trabalho para serem indenizados. "Se para o melhoramento, ou aumento,
empregou o devedor trabalho ou dispêndio, o caso se regulará pelas normas deste Código
atinentes às benfeitorias realizadas pelo possuidor de boa-fé ou de má-fé" (art. 242, caput).
"O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias necessárias e úteis, bem
como, quanto às voluptuárias, se não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem
detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias
necessárias e úteis" (art. 1219). "Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as
benfeitorias necessárias; não lhe assiste o direito de retenção pela importância destas, nem o
de levantar as voluptuárias" (art. 1220). "O reinvidicante, obrigado a indenizar as benfeitorias
ao possuidor de má-fé, tem o direito de optar entre o seu valor atual e o seu custo; ao
possuidor de boa-fé indenizará pelo valor atual" (art. 1222).
Os frutos civis tornam-se percebidos diariamente. Já "os frutos naturais e industriais reputam-
se colhidos e percebidos, logo que são separados; os civis reputam-se percebidos dia por dia"
(art. 1215).
"O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar, aos frutos percebidos" (art. 1214,
caput). "Os frutos pendentes ao tempo em que cessar a boa-fé devem ser restituídos, depois de
deduzidas as despesas de produção e custeio; devem ser também restituídos os frutos colhidos
com antecipação" (art. 1214, parágrafo único). Já o devedor de má-fé responde por todos os
frutos, até aqueles que deixou de colher. Quando a obrigação é de restituir, todos os frutos
devem ser devolvidos.
Abrangência dos acessórios:
"A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dela embora não mencionados, salvo se
o contrário resultar do título ou das circunstâncias do caso" (art. 233). Isto somente se aplica
às partes integrantes, e não às pertenças. As benfeitorias também são consideradas como
acessórios.
Obrigação de entregar:
Conceito e características
É aquela de dar coisa, como um contrato de compra e venda. Às vezes, a obrigação de dar não
é cumprida, por culpa ou sem do devedor. Esse inadimplemento pode advir do perecimento ou
deterioração da coisa.
Perecimento é a perda total do bem. "Se, no caso do artigo antecedente, a coisa se perder, sem
culpa do devedor, antes da tradição, ou pendente a condição suspensiva, fica resolvida a
obrigação para ambas as partes; se a perda resultar de culpa do devedor, responderá este pelo
equivalente e mais perdas e danos" (art. 234). Se não houver culpa do devedor, as partes
voltam à situação primitiva (statu quo ante), como se a obrigação não tivesse sido contraída.
Ocorre a extinção da obrigação. O prejuízo aqui fica a cargo de quem tinha o domínio, ou
seja, o credor (res perit domino).
Deterioração é a perda parcial do bem. "Deteriorada a coisa, não sendo o devedor culpado,
poderá o credor resolver a obrigação, ou aceitar a coisa, abatido de seu preço o valor que
perdeu" (art. 235). "Sendo culpado o devedor, poderá o credor exigir o equivalente, ou aceitar
a coisa no estado em que se acha, com direito a reclamar, em um ou em outro caso
indenização das perdas e danos" (art. 236). Caso haja deterioração, com culpa ou sem, a
resolução é a mesma do perecimento. A única diferença é que pode o credor escolher por
receber o objeto tendo abatido do preço o valor estimulado da deterioração.
Obrigação de restituir:
Conceito e características:
Caracteriza-se pela existência de coisa alheia em porte do devedor, que deve devolvê-la ao
dono (credor). O devedor não possui o domínio da coisa, que ainda persiste ao credor. O
devedor tem o direito apenas de usar a coisa. Exemplo de obrigação de restituir na lei civil:
coisa achada, sinal dado, recebimento de dívida não vencida em detrimento de outros credores
quirografários, bens dados em penhor, etc.
"Se a obrigação for de restituir coisa certa, e esta, sem culpa do devedor, se perder antes da
tradição, sofrerá o credor a perda, e a obrigação se resolverá, ressalvados os seus direitos até o
dia da perda" (art. 238). Quem sofre é o credor, porque é este que tem o domínio do objeto
(res perit domino). Caso o devedor esteja em mora, responderá pelo perecimento, mesmo que
não tenha o causado. "Se a coisa se perder por culpa do devedor, responderá este pelo
equivalente, mais perdas e danos" (art. 239).
"Se a coisa restituível se deteriorar sem culpa do devedor, recebê-la-á o credor, tal qual se
ache, sem direito a indenização; se por culpa do devedor, observar-se-á o disposto no art. 239"
(art. 240).
Obrigação pecuniária:
Conceito e características:
"As dívidas em dinheiro deverão ser pagas no vencimento, em moeda corrente e pelo valor
nominal, salvo o disposto nos artigos subseqüentes" (art. 315). Permite-se o uso de moeda
estrangeira nos contratos de importação e exportação de mercadorias e os que envolvem
pessoas residentes no estrangeiro.
A dívida é considerada de dinheiro quando tem por objeto o próprio dinheiro. Diferentemente
é a dívida de valor, na qual o objeto é algo que é representado pelo dinheiro.
Conceito:
Coisa incerta é a determinável, definida apenas pelo seu gênero e quantidade. O que se falta
definir é apenas a qualidade. "A coisa incerta será indicada, ao menos, pelo gênero e pela
quantidade" (art. 243).
Escolha e concentração:
"Cientificado da escolha o credor, vigorará o disposto na Seção antecedente" (art. 245). Após
o momento da escolha da qualidade, a obrigação torna-se de dar coisa certa, seguindo suas
ordens. Chama-se isto de concentração, que acontece na medida em que o sujeito exterioriza
sua escolha.
"Nas coisas determinadas pelo gênero e pela quantidade, a escolha pertence ao devedor, se o
contrário não resultar do título da obrigação; mas não poderá dar a coisa pior, nem será
obrigado a prestar a melhor" (art. 244). A escolha do devedor não é totalmente livre. Ela deve
buscar o meio termo. Evita-se assim que se escolha a pior qualidade. Porém, nada impede que
o devedor escolha a melhor qualidade. Caso haja somente duas variações, o devedor é livre
para escolher qualquer uma das duas.
A escolha pode ser feita por terceiro. Se for feita pelo credor, este será citado, sob pena de
perder esse direito.
"Antes da escolha, não poderá o devedor alegar perda ou deterioração da coisa, ainda que por
força maior ou caso fortuito" (art. 246). O devedor não pode alegar perda ou deterioração do
objeto antes de ter feito a escolha, pois o gênero não se deteriora.
Se certa qualidade pereceu antes dele ter feito sua escolha, acontecerá apenas o suprimento do
direito do devedor de escolher sobre aquela qualidade. A partir do momento em que há a
concentração, podem-se alegar perdas e danos, pois a obrigação tornou-se de dar coisa certa.
Entretanto não basta que o devedor tenha feito sua escolha, ele deve exteriorizá-la.
Obrigação de fazer:
Conceito:
Constituem uma prestação de fato, que pode ser tanto trabalho físico ou intelectual, como
trabalho determinado pelo produto/resultado.
Nas obrigações de fazer (obligatio faciendi), o credor pode não aceitar o cumprimento feito
por terceiros, já que na maioria das vezes a obrigação deu-se em decorrência das
características especiais do devedor.
Espécies:
As obrigações de emitir declaração de vontade são infungíveis, pois só podem ser feitas pela
determinada pessoa. Entretanto, do ponto de vista jurídico são fungíveis, pois podem ser
substituídas por sentença judicial que produzirá os mesmos efeitos. Efeitos estes que são
visados nessa obrigação, não a declaração em si.
Inadimplemento:
"Incorre na obrigação de indenizar perdas e danos o devedor que recusar a prestação a ele só
imposta, ou só por ele exeqüível" (art. 247). Atualmente, há dispositivos que forçam a pessoa
a cumprir a obrigação que não se realizou, como multa diária pelo inadimplemento. Mesmo
obrigando o devedor a cumprir a obrigação o credor pode, cumulativamente, exigir perdas e
danos.
"Se a prestação do fato tornar-se impossível sem culpa do devedor, resolver-se-á a obrigação;
se por culpa dele, responderá por perdas e danos" (art. 248). A impossibilidade deve ser
absoluta, não podendo ser meramente relativa.
"Se o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao credor mandá-lo executar à custa do
devedor, havendo recusa ou mora deste, sem prejuízo da indenização cabível" (art. 249,
caput). "Em caso de urgência, pode o credor, independentemente de autorização judicial,
executar ou mandar executar o fato, sendo depois ressarcido" (art. 249, parágrafo único). Isto
pode ser feito também quando a prestação já tenha começado a ser realizada, mas demora para
ser finalizada.
Noção e alcance:
Não se pode exigir sacrifício excessivo da liberdade do devedor ou algo que atente contra os
direitos fundamentais da pessoa humana. O devedor, por exemplo, não pode se negar a
atender uma autoridade competente por ter se comprometido a não fazer certa prestação.
"Extingue-se a obrigação de não fazer, desde que, sem culpa do devedor, se lhe torne
impossível abster-se do ato, que se obrigou a não praticar" (art. 250).
Inadimplemento da obrigação negativa:
"Praticado pelo devedor o ato, a cuja abstenção se obrigara, o credor pode exigir dele que o
desfaça, sob pena de se desfazer à sua custa, ressarcindo o culpado perdas e danos" (art. 251,
caput). Quando se é impossível retornar ao statu quo ante o que resta ao credor é apenas exigir
as perdas e danos.
Conceito:
Cumulativa ou conjuntiva:
Conceito:
Alternativa
Conceito:
É a obrigação que compreende vários objetos, mas se extingue com a prestação de apenas um
deles. Na obrigação alternativa, uma das partes faz a escolha de qual dos objetos possíveis
quer ela prestar. Feita a escolha, a obrigação torna-se simples, sendo devido somente o que se
foi escolhido.
Assemelha-se à obrigação de dar coisa incerta devido ao fato de haver indeterminação quanto
ao objeto. Contudo, na obrigação de dar coisa incerta, a escolha recai sobre a qualidade do
único objeto existente. Já na obrigação alternativa, a escolha é a respeito dos vários objetos in
obligatione.
Direito de escolha:
"Nas obrigações alternativas, a escolha cabe ao devedor, se outra coisa não se estipulou" (art.
252, caput). O direito de escolha se transmite aos herdeiros.
"Não pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma prestação e parte em outra" (art.
252, § 1°). O direito de escolha não é irrestrito. Ela deve recair inteiramente sobre apenas um
objeto.
"Quando a obrigação for de prestações periódicas, a faculdade de opção poderá ser exercida
em cada período" (art. 252, § 2°). Neste caso, o direito de escolha se renova a cada prestação.
"No caso de pluralidade de optantes, não havendo acordo unânime entre eles, decidirá o juiz,
findo o prazo por este assinado para a deliberação" (art. 252, § 3°).
"Se o título deferir a opção à terceiro, e este não quiser, ou não puder exercê-la, caberá ao juiz
a escolha se não houver acordo entre as partes" (art. 252, § 4°).
Concentração:
Feita a escolha, dá-se a concentração, reduzindo-se as prestações a uma só. Não é exigida
forma especial para se exteriorizar a escolha feita. Basta a simples declaração unilateral da
vontade. Deve haver prazo estabelecido no contrato para se fazer a escolha. Caso a parte que
possui o direito de escolher ultrapasse o prazo estabelecido, constituir-se-á em mora, podendo
a outra entrar ação para que se faça a concentração judicialmente.
Impossibilidade das prestações:
"Se uma das duas prestações não puder ser objeto de obrigação ou se tornada inexeqüível,
subsistirá o débito quanto à outra". (art. 253). A concentração dá-se automaticamente,
independente da vontade das partes. Entretanto, se uma das prestações não puder ser feita por
impossibilidade jurídica, toda a obrigação é contaminada pela nulidade, não podendo
nenhuma das prestações ser exigida.
"Se, por culpa do devedor, não se puder cumprir nenhuma das prestações, não competindo ao
credor a escolha, ficará aquele obrigado a pagar o valor da que por último se impossibilitou,
mais as perdas e danos que o caso determinar" (art. 254). Contudo, "se todas as prestações se
tornarem impossíveis sem culpa do devedor, extinguir-se-á a obrigação" (art. 256).
"Quando a escolha couber ao credor e uma das prestações tornar-se impossível por culpa do
devedor, o credor terá o direito de exigir a prestação subsistente ou o valor da outra, com
perdas e danos; se, por culpa do devedor, ambas as prestações se tornarem inexeqüíveis,
poderá o credor reclamar o valor de qualquer das duas, além da indenização por perdas e
danos" (art. 255).
Facultativa
Conceito:
Ocorre quando o credor exige o cumprimento de coisa certa, mas faculta ao devedor a
possibilidade de quitar a dívida realizando outra prestação. O credor não tem o direito de
exigir a prestação facultativa, pois a obrigação tem por objeto algo certo. Porém é obrigado a
aceitar a outra prestação caso o devedor opte por ela, pois essa foi uma liberdade concedida
pelo credor. É uma espécie sui generes de obrigação, pois é simples para o credor e alternativa
para o devedor.
Características:
Como o credor só pode exigir uma das prestações, não há necessidade do devedor exteriorizar
sua escolha. O credor é obrigado a aceitar qualquer uma que o devedor venha a cumprir.
Se houver impossibilidade da única prestação exigível pelo credor, sem culpa do devedor, a
obrigação se extingue, pois ainda sim não pode o credor exigir a prestação facultativa. Surge,
então, uma obrigação natural. Caso a impossibilidade ocorra devido culpa do devedor, este
pode escolher entre realizar a prestação facultada, ou pagar o valor da que se impossibilitou,
acrescidas as perdas e danos. Se a impossibilidade recair sobre a prestação facultada, o
devedor simplesmente perde o direito de escolha, sendo obrigado a realizar a outra.
A obrigação é indivisível quando o objeto da prestação não admite divisão. "A obrigação é
indivisível quando a prestação tem por objeto uma coisa ou um fato não suscetíveis de
divisão, por sua natureza, por motivo de ordem econômica, ou dada a razão determinante do
negócio jurídico" art. 258).
Espécies de indivisibilidade:
A indivisibilidade é natural quando não se pode fracionar o objeto da prestação sem que haja
prejuízo na sua substância ou valor. Esta é uma indivisibilidade absoluta
A indivisibilidade pode decorrer também da vontade das partes. Isso acontece quando estas
acertam na impossibilidade de se fracionar o objeto, mesmo que a sua natureza permita. Essa
indivisibilidade, diferentemente da natural, relativa, pois não há nada absoluto que a barre.
Obrigação de dar coisa certa é divisível se o seu objeto for. Se a coisa certa é fungível, a
obrigação sempre é divisível.
Obrigação negativa geralmente é indivisível, mas nada impede que sejam divisíveis.
Obrigações alternativas e de dar coisa incerta são indivisíveis, pois não se pode dividir a
escolha.
Efeitos da divisibilidade:
"Se, havendo dois ou mais devedores, a prestação não for divisível, cada um será obrigado
pela dívida toda" (art. 259, caput). O credor pode exigir a prestação indivisível por inteiro de
qualquer um dos devedores a sua escolha. "O devedor, que paga a dívida, sub-roga-se no
direito do credor em relação aos outros coobrigados" (art. 259, parágrafo único).
Se a pluralidade for de credores, poderá cada um destes exigir a dívida inteira; mas o devedor
ou devedores se desobrigarão, pagando:" (art. 260, caput)
"Se um só dos credores receber a prestação por inteiro, a cada um dos outros assistirá o direito
de exigir dele em dinheiro a parte que lhe caiba no total" (art. 261). Se a dívida for indivisível,
o credor que recebeu a prestação dará aos outros credos uma quantia estimulada das suas
quotas partes, já que não é possível fazer a divisão.
"Se um dos credores remitir a dívida, a obrigação não ficará extinta para com os outros; mas
estes só poderão exigir, descontada a quota do credor remitente" (art. 262, caput). Se a
obrigação for indivisível, os credores restituirão os devedores no valor remetido, após o
pagamento do todo. Caso não haja nenhum proveito extra com a remissão de um dos credores,
os demais não precisam restituir nada. "O mesmo critério se observará no caso de transação,
novação, compensação ou confusão" (art. 262, parágrafo único). Como cada sujeito responde
pela sua quota na obrigação divisível, a insolvência de um nada interfere nos outros.
Perda da indivisibilidade:
"Perde a qualidade de indivisível a obrigação que se resolver em perdas e danos" (art. 263,
caput). "Se, para efeito do disposto neste artigo, houver culpa de todos os devedores,
responderão todos por partes iguais" (art. 263, § 1°). "Se for de um só a culpa, ficarão
exonerados os outros, respondendo só esse pelas perdas e danos" (art. 263, § 2°).
A obrigação também pode se tornar divisível se houver novação, por todos os sujeitos, por
uma nova obrigação que seja divisível.
Os co-devedores não são representantes uns dos outros. Por isso, os vícios a uns não se
transmitem aos outros Caso a obrigação seja indivisível, o defeito do ato para um dos
devedores se propaga aos demais, tornando todo o ato nulo.
Obrigações solidárias:
Conceito e características:
Se um dos devedores torna-se insolvente, quem sofre são os demais devedores, que ainda
respondem pela dívida inteira.
Apesar de cada sujeito poder ser chamado para saldar toda a dívida, cada um responde apenas
pela sua quota-parte. Não há representação. Observa-se isto na medida em que pode haver
uma obrigação solidária com diferentes características para cada parte.
"A solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes" (art. 265). Exemplo
de solidariedade na lei: relação pai e filho e empregado patrão. O parentesco próximo não
induz solidariedade. A solidariedade é provada com a simples manifestação inequívoca das
partes.
"A obrigação solidária pode ser pura e simples para um dos co-credores ou co-devedores, e
condicional, ou a prazo, ou pagável em lugar diferente, para o outro" (art. 266). Há a
possibilidade da solidariedade ser de modalidades diferentes para cada um dos co-devedores
ou co-credores.
Caso uma condição seja imposta a um devedor e esta não se concretizar, o mesmo está
excluído da obrigação. Porém, responde por ela em caso de insolvência dos co-devedores.
Espécies de solidariedades:
Solidariedade ativa
Conceito:
É a obrigação na qual existem vários credores, todos podendo cobrar da dívida por inteiro.
"Cada um dos credores solidários tem direito a exigir do devedor o cumprimento da prestação
por inteiro" (art. 267). Não existe muito esse tipo de solidariedade, pois o credor pode não
pagar os demais co-credores, bem como ficar insolvente. Exemplo desse tipo é a conta
corrente com mais de um titular.
Características:
"Cada um dos credores solidários tem direito a exigir do devedor o cumprimento da prestação
por inteiro" (art. 267). Qualquer um dos credor pode tomar medidas assecutórias de
conservação dos direitos. Se um dos credores constituir o devedor em mora, a todos os demais
credores aproveitam seus efeitos. A interrupção da prescrição, solicitada por um, estende-se
aos demais.
Qualquer credor pode ingressar em juízo com uma ação para obter o cumprimento da ação.
Somente o credor-autor que entrou com ação adequada pode executá-la. O devedor é obrigado
a pagar a este, não podendo escolher outro. Se pagar outro credor que não o credor-autor, não
se exonera da obrigação e corre o risco de pagar mal. Se todos os credores entrarem com ação,
o devedor tem liberdade de escolher a quem pagar.
"Enquanto alguns dos credores solidários não demandarem o devedor comum, a qualquer
daqueles poderá este pagar" (art. 268). O devedor deve pagar àquele que lhe primeiro cobrar.
Se pagar ainda para segundo, correrá o risco de pagar em dobro a dívida.
"Se um dos credores solidários falecer deixando herdeiros, cada um destes só terá direito a
exigir e receber a quota do crédito que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a
obrigação for indivisível" (art. 270). Se houver apenas um herdeiro, ou todos agirem
conjuntamente, estes poderão cobrar a totalidade da dívida.
"A um dos credores solidários não pode o devedor opor as exceções pessoais oponíveis aos
outros" (art. 273). Se um dos credores é incapaz, de nada influencia no direito dos outros. Da
mesma forma, "o julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge os demais; o
julgamento favorável aproveita-lhes, a menos que se funde em exceção pessoal do credor que
o obteve" (art. 274). Como a obrigação solidária se desdobra em várias, a sentença contrária a
um dos credores não prejudica o direito dos outros, que possuem direitos próprios e diversos
para com o devedor. Todos os devedores se aproveitam de exceções gerais opostas, porém só
o específico pode aproveitar-se da sua pessoal.
Extinção da obrigação solidária e direito de regresso:
"O pagamento feito a um dos credores solidários extingue a dívida até o montante do que foi
pago" (art. 269). A dívida extingue-se totalmente quando o devedor paga a sua totalidade a um
dos credores. As quotas de cada credor se presumem iguais. Se o devedor pagou a mais que a
dívida, esta parte fica para aquele credor, não podendo os demais exigir a divisão.
Caso haja remissão, novação, transação ou compensação, entre um dos credor e o devedor, o
devedor fica livre somente da quota parte que foi indiretamente paga. Se a compensação,
novação, transação ou remissão foi da dívida toda, então o devedor exonera-se dela. "O credor
que tiver remitido a dívida ou recebido o pagamento responderá aos outros pela parte que lhes
caiba" (art. 272).
O credor que receber toda a dívida fará a divisão das quotas. O pagamento dessas não se dá
solidariamente. Se o credor cobrou apenas uma parte da dívida, mesmo que tenha sido a sua
quota parte, o rateio deverá acontecer proporcionalmente para cada co-credor.
Se um dos credores não puder receber sua parte (a obrigação é considerada nula quanto a ele),
o rateio acontece do mesmo jeito, só que o excluindo. Com isto, haverá desconto da quota
parte excluída para o devedor.
Solidariedade passiva:
Conceito e características:
"O credor tem direito a exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou
totalmente, a dívida comum; se o pagamento tiver sido parcial, todos os demais devedores
continuam obrigados solidariamente pelo resto" (art. 275, caput). O credor pode cobrar a
totalidade da dívida de qualquer um dos devedores, ou pode ainda cobrá-la parcialmente de
cada um. O devedor escolhido não pode invocar o beneficium divisionis, pretendendo pagar
apenas sua quota-parte.
Se a prestação tornar-se impossível por culpa de um ou de alguns dos devedores, são estes
quem bancarão as perdas e danos. A obrigação solidária passiva se assemelha à fiança, com a
diferença que esta é um contrato acessório.
"Se um dos devedores solidários falecer deixando herdeiros, nenhum destes será obrigado a
pagar senão a quota que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for
indivisível; mas todos reunidos serão considerados como um devedor solidário em relação aos
demais devedores" (art. 276).
Conseqüência do pagamento parcial e da remissão:
"O pagamento parcial feito por um dos devedores e a remissão por ele obtida não aproveitam
aos outros devedores, senão até a concorrência da quantia paga ou relevada" (art. 276). Caso
haja remissão de um dos devedores, a dívida será diminuída na sua parcela. O remetido ainda
é solidário com os demais em caso de insolvência de algum.
Qualquer cláusula estipulada entre um dos devedores e o credor não se transmitirá aos demais.
Ninguém pode ser obrigado a mais do que consentiu.
Renúncia da solidariedade:
"Se o credor exonerar da solidariedade um ou mais devedores, subsistirá a dos demais" (art.
282, parágrafo único). A renúncia de somente parte é a relativa. Com ela surgem duas
obrigações: a individual, do devedor renunciado quanto a sua quota, e a dos demais, que
persistem com a solidariedade, descontada a parcela a qual foi renunciada.
Impossibilidade da prestação:
"Impossibilitando-se a prestação por culpa de um dos devedores solidários, subsiste para todos
o encargo de pagar o equivalente; mas pelas perdas e danos só responde o culpado" (art. 279).
A impossibilidade de pagar a prestação é bancada pelo culpado.
O inadimplemento é sempre presumido como sendo culposo. Cabe ao devedor provar que o
ocorrido deveu-se à caso fortuito ou força maior. Caso assim seja provado, não responderá
pelos prejuízos. A impossibilidade, para invalidar deve ser absoluta, não cabendo a relativa. A
insolvência, por exemplo, é relativa, pois afeta somente um dos devedores, sendo os outros
ainda obrigados.
"Todos os devedores respondem pelos juros da mora, ainda que a ação tenha sido proposta
somente contra um; mas o culpado responde aos outros pela obrigação acrescida" (art. 280).
Todos os devedores podem ser exigidos a pagar os juros. Porém, na hora do rateio entre os
devedores, o culpado terá que bancar com este valor extra.
Os juros não seguem a mesma sorte das perdas e danos porque são acessórios da obrigação
final. Contudo, no final, em ambos os casos, somente o culpado é responsabilizado.
Meios de defesa dos devedores:
"O devedor demandado pode opor ao credor as exceções que lhe forem pessoais e as comuns
a todos; não lhe aproveitando as exceções pessoais a outro co-devedor" (art. 281). As
exceções comuns, que aproveitam todos os devedores, dividem-se em dois ramos:
a) Simplesmente pessoais: são as que o devedor demandado invoca pessoalmente, mas que
acaba aproveitando os demais devedores indiretamente. Exemplo: remissão subjetiva,
confusão, compensação, transação, novação, renúncia da solidariedade feita pelo credor a
favor de um dos devedores, dentre outros. Quanto à novação, o art. 365 leciona que "operada
a novação entre o credor e um dos devedores solidários, somente sobre os bens do que
contrair a nova obrigação subsistem as preferências e garantias do crédito novado. Os outros
devedores solidários ficam por esse fato exonerados". Em relação à confusão, segundo o art.
383, "a confusão operada na pessoa do credor ou devedor solidário só extingue a obrigação
até a concorrência da respectiva parte no crédito, ou na dívida, subsistindo quanto ao mais a
solidariedade".
O credor que sucumbiu em ação movida contra um dos devedores solidários não fica inibido
de formular novo pedido contra os demais coobrigados, que não podem argüir coisa julgada.
"O devedor que satisfez a dívida por inteiro tem direito a exigir de cada um dos co-devedores
a sua quota, dividindo-se igualmente por todos a do insolvente, se o houver, presumindo-se
iguais, no débito, as partes de todos os co-devedores" (art. 283). O pagamento do rateio é
exigido através da ação regressiva (I), que tem como pressuposto a liquidação total da dívida.
Na hora do rateio entre os devedores, a obrigação é divisível. As quotas de cada devedor,
salvo prova em contrário, presumem-se iguais.
Caso um devedor pague toda a dívida, mas não tenha avisado os demais e segundo também
efetue o pagamento, este segundo é que terá direito de cobrar o rateio. O primeiro arcará
sozinho com sua negligência.
"Se a dívida solidária interessar exclusivamente a um dos devedores, responderá este por toda
ela para com aquele que pagar" (art. 285). Isso acontece nos casos em que os co-devedores
são apenas avalistas necessários para a concessão de crédito. O devedor interessado somente é
obrigado a pagar toda a dívida na hora do rateio. O credor pode exigir o pagamento tanto deste
quanto de qualquer outro devedor, mesmo que não seja interessado. Se o único interessado
paga a dívida ao credor, não haverá ação regressiva. Os coobrigados não interessados, quando
na figura de fiadores, podem dividir e estipular entre si o quanto da dívida é de
responsabilidade de cada um. Estando isso no acordo, cada qual não pode ser exigido a mais
que sua parte.
Solidariedade mista:
Conceito:
Características:
O Código Civil não regula tal matéria. Como a solidariedade mista é a junção da solidariedade
ativa com a passiva, aplicam-se, a ela, as regras quanto a essas duas outras modalidades.
Obrigação natural:
Conceito e características:
Constitui relação de fato, não de direito. Não possui relação jurídica (não existe
responsabilidade), mas adquire eficácia jurídica quando no seu adimplemento (soluti retentio).
Se o devedor paga aquilo que deve, o credor têm o direito de reter o pagamento, pois o dever
de pagar existe, mas ele é meramente de ordem moral ou social, não podendo ser exigido
judicialmente. É um dever moral sem respaldo jurídico.
A teoria clássica ou tradicional, a mais aceita pela doutrina, considera a obrigação natural
imperfeita, justamente por carecer de ação judicial. A partir do momento que há o
cumprimento da obrigação, a natural equipara-se com a civil.
São exemplos de obrigações naturais as dívidas de jogo e dívidas prescritas. "As dívidas de
jogo ou de aposta não obrigam a pagamento; mas não se pode recobrar a quantia, que
voluntariamente se pagou, salvo se foi ganha por dolo, ou se o perdente é menor ou interdito"
(art. 814, caput). Aquele que empresta dinheiro no ato em que o devedor participa de jogo
ilícito carece de suporte jurídico. Contudo, aquele que empresta dinheiro, a posteriore, para o
devedor saldar suas dívidas de jogo, pode exigir o dinheiro. Nos jogos regulamentados pela
lei, como corrida de cavalos, a obrigação é civil.
"Não se pode repetir o que se pagou para solver dívida prescrita, ou cumprir obrigação
judicialmente inexigível" (art. 882). As dívidas (obrigações civis), ao prescreverem, tornam-se
obrigações naturais. São chamadas de obrigações civis degeneradas. O devedor não pode
repetir o pagamento, ou exigi-lo de volta alegando que só cumpriu a obrigação por achar que
ela era civil. O credor de obrigação natural que portar título de crédito ou cheque, não pode
exigir a restituição. Entretanto, terceiro dotado de boa-fé pode, se portar tais títulos. O CC
admite a extensão da classificação de obrigação natural para todos os casos análogos aos
inscritos nele. Toda obrigação que não permitir a repetição do que foi pago é obrigação
natural.
Os juros pagos, que não deveriam ser, podem ser recobrados, Porém, nos empréstimos sem
fins financeiros (muito raros), o pagamento de juros é obrigação natural. As gorjetas e
proprinas são doações remuneratórias por serviço prestado, sendo, portanto, obrigações civis.
O principal efeito da obrigação natural é que, dado o seu pagamento, não cabe a repetição
(soluti retentio). O CC só disciplina os efeitos das dívidas de jogo e das prescritas. Por isso, a
doutrina admite a existência de efeitos secundários.
A obrigação natural pode ser cumprida pela dação em pagamento. A novação de obrigação
natural é assunto muito controvertido. Alguns entendem que não é possível. Outros, que se as
partes assim concordarem, não há porque negar (pacta sunt servanda). A compensação não é
permitido na obrigação natural, porque está só pode ser feita entre dívidas líquidas, vencidas e
de coisas fungíveis (art. 369).
A característica vencida significa que ela deve poder ser exigida, o que não ocorre nas
obrigações naturais Mais uma vez, há autores que entendem que somente a compensação legal
não pode ser efetuada, sendo que a convencional (estipulada entre as partes) é permitida
(pacta sunt servanda).
A fiança, assim como o penhor, não podem ser feitos, pois são obrigações acessórias que
seguem o destino da principal, devendo esta, logo, ser válida e exigível. A execução parcial da
obrigação natural não permite ao credor cobrar o restante, pois a inexistência de
responsabilidade persiste.
Obrigação de meio:
Obrigação de meio é aquela a qual o devedor está obrigado a empregar seus conhecimentos e
meios com diligência, não se responsabilizando pelo resultado alcançado. É exemplo o
trabalho do advogado e do médico. O advogado, se trabalhar com empenho provado, receberá
seus honorários mesmo que a causa tenha sido perdida. Da mesma forma, o médico.
Obrigação de resultado:
Quando a obrigação visa atingir um resultado específico, diz-se que ela é de resultado. Um
transportador é um exemplo. Sua obrigação não é somente de transportar os passageiros ou a
carga, mas sim o fazer com segurança, até chegar ao destino prometido.
Obrigação de garantia:
O devedor não se exonera da obrigação por ter ocorrido caso fortuito ou força maior,
justamente porque a característica da obrigação é a de assumir todos os riscos, não importando
sua natureza. Esta prestação geralmente protege bens suscetíveis de aferição econômica.
São exemplos: segurador e fiador, garantias bancárias, etc.
É aquela que se esgota num ato realizado na seqüência de sua constituição (quae unico actu
perficiuntur). Encaixam-se nessa classificação as obrigações que são prestadas num período
curto de tempo, tão pequeno que é, na prática,reduzido a um instante.Exemplo: compra e
venda à vista, entrega de coisa certa, transporte de táxi ou ônibus, etc.
É também executada num ato só, mas este tem seu tempo num momento futuro. O
diferemento pode ser tanto do comprador (paga num prazo futuro), como do vendedor
(entregar coisa certa num prazo futuro).
É tanto a obrigação com prestação que se prolonga no tempo, sem solução de continuidade,
como aquela mediante prestações periódicas ou reiteradas. No primeiro caso a prestação não
tem um fim premeditado. Ela estende-se indefinidamente pelo tempo. É o que acontece com o
fornecedor de energia, do representante judicial, etc.
O negócio jurídico é formado por elementos essenciais (essentialia negotii), que formam a
existência do ato; os elementos naturais (naturalia negotii), correspondendo as conseqüências
ou efeitos decorrentes da natureza do negócio; e os elementos acidentais (accidentalia
negotii), sendo as estipulações acessórias, criadas pelas partes e adicionadas facultativamente
ao negócio, como por exemplo as condições, os termos e os encargos.
Obrigações condicionais:
Conceito:
São aquelas nas quais a ocorrência de determinado evento futuro e incerto acarreta no
nascimento ou na extinção do direito. "Considera-se condição a cláusula que, derivando
exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e
incerto" (art. 121). Não é condição aquilo imposto por lei (conditio iuris).
O evento futuro não pode ser decorrente da natureza do próprio negócio para que seja
considerada condição. Exemplo: não é condição uma cláusula que exige a morte de uma
pessoa para que se cumpra seu testamento.
O evento deve ser obrigatoriamente futuro. Exemplo: se a pessoa promete certa quantia se seu
bilhete foi premiado num concurso passado, duas situações podem ocorrer. Se o bilhete não
foi premiado a declaração é ineficaz. Se o bilhete foi, a obrigação é simples e pura, não
havendo nenhuma condição.
O evento deve ser incerto. Caso seja certo, o que há é um termo. A incerteza deve ser
absoluta, isto é, não basta que as partes acreditem que o evento seja incerto, ele realmente
deve ser. Diz-se que tais condições são impróprias.
"São lícitas, em geral, todas as condições não contrárias à lei, à ordem pública ou aos bons
costumes; entre as condições defesas se incluem as que privarem de todo efeito o negócio
jurídico, ou o sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes" (art. 122).
São ilícitas as que contrariam a lei, a ordem pública e os bons costumes. Também são as
cláusulas que afetem a liberdade das pessoas de modo absoluto, as que privem de todo efeito o
ato (perplexas), as que sujeitem a parte ao puro arbítrio da outra (puramente potestativas), as
que sejam fisicamente ou juridicamente impossíveis e as incompreensíveis ou contraditórias.
Quando não houver nenhum problema em sua existência, a condição é tida por possível. Se
houver, ela é impossível. A impossibilidade é jurídica quando a obrigação esbarra no
ordenamento jurídico; e física quando a obrigação implica em algo que não pode ser
humanamente cumprido.
"Tem se por inexistentes as condições impossíveis, quando resolutivas, e as de não fazer coisa
impossível" (art. 124).
Quando a condição depende exclusivamente do acaso, ela é casual. Exemplo: dar algo caso
chova. Entretanto, se decorrer da vontade de uma das partes, ela é potestativa. Se a vontade da
parte for a única coisa a qual a condição depende, a mesma é chamada de puramente
potestativa. Exemplo: darei algo se eu quiser. Esta é proibida. Se ocorrer algum evento, ao
acaso, que dificulte a realização de uma condição puramente potestativa diz-se que a mesma
tornou-se prosmícua. Exemplo: darei algo caso escales essa montanha. Caso a pessoa venha a
ficar paraplégica, a obrigação é promíscua. Quando a condição depende tanto da vontade
quanto de um eventual acaso, ela é classificada como sendo simplesmente potestativa.
Exemplo: darei algo caso viajes a Roma.
As condições que dependem tanto da vontade da parte quanto a de terceiro são tidas como
mistas. Exemplo: darei algo caso se cases com tal pessoa. Diferem-se das simplesmente
potestativas, pelo fato de que, nestas, o acaso é elemento não proposital, enquanto que na
mista, a vontade do terceiro é algo definido.
Se a condição impede a aquisição do direito até que ela se suceda, ela é suspensiva.
"Subordinando-se a eficácia do negócio jurídico à condição suspensiva, enquanto esta se não
verificar, não se terá adquirido o direito, a que ele visa" (art. 125).
Se, no entanto, a condição cessa o direito a partir do evento condicional, ela é resolutiva. "Se
for resolutiva a condição, enquanto esta se não realizar, vigorará o negócio jurídico, podendo
exercer-se desde a conclusão deste o direito por ele estabelecido" (art. 127). "Sobrevindo a
condição resolutiva, extingue-se, para todos os efeitos, o direito a que ela se opõe; mas, se
aposta a um negócio de execução continuada ou periódica, a sua realização, salvo disposição
em contrário, não tem eficácia quanto aos atos já praticados, desde que compatíveis com a
natureza da condição pendente e conforme aos ditames de boa-fé" (art. 128). A condição
resolutiva pode ser expressa ou tácita. Porém, em ambos os casos, ela precisa ser
judicialmente pronunciada.
Características e disposições legais:
"Invalidam os negócios jurídicos que lhes são subordinados" (art. 123, caput):
"Reputa-se verificada, quanto aos efeitos jurídicos, a condição cujo implemento for
maliciosamente obstado pela parte a quem desfavorecer, considerando-se, ao contrário, não
verificada a condição maliciosamente levada a efeito por aquele a quem aproveita o seu
implemento" (art. 130).
Obrigação a termo:
Conceito:
Quando o período do termo é apenas determinável, sendo que a data de sua verificação não é
precisa, o termo é incerto. Exemplo: darei tal coisa quando tal pessoa morrer.
Quando o tempo do termo é fixado numa data ou num lapso de tempo determinado, o mesmo
é certo. Exemplo: darei algo quando for 6 de junho.
O termo inicial ou suspensivo (dies a quo) quando indica o início do exercício do direito. "O
termo inicial suspende o exercício, mas não a aquisição do direito" (art. 131). Este se difere da
condição da condição suspensiva porque não suspende a aquisição do direito, apenas o seu
exercício. Como o termo é algo certo, a aquisição também é. O que ocorre é apenas a
protelação de seu exercício até que o seu uso seja possível.
Já quando o termo indica o término do direito, ele é final ou resolutivo (dies ad quem).
Conceito de prazo:
§ 1°: "Se o dia do vencimento cair em feriado, considerar-se-á prorrogado o prazo até o
seguinte dia útil".
§ 2°: "Meado considera-se, em qualquer mês, o seu décimo quinto dia".
§ 3°: "Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual número do de início, ou no
imediato, se faltar exata correspondência".
§ 4°: "Os prazos fixados por hora contar-se-ão de minuto a minuto".
Efeitos e disposições legais:
Se o devedor quiser abdicar do prazo, nos contratos a seu favor, para evitar juros, por
exemplo, ele pode antecipar o pagamento do negócio. Contudo, se o prazo foi estabelecido a
favor do credor, ou de ambos, tal renúncia não pode ser feita sem o consentimento do outro.
"Os negócios jurídicos entre vivos, sem prazo, são exeqüíveis desde logo, salvo se a execução
tiver de ser feita em lugar diverso ou depender de tempo" (art. 134). O contrato de empreitada
para a construção de uma casa é um exemplo de negócio entre vivos que tem sua execução a
prazo.
Conceito:
São as obrigações nas quais existe certa cláusula que impõe um ônus ao detentor do direito
adquirido na resolução jurídica. Encargo é este ônus, esta limitação do direito de exercício do
bem. Geralmente caracteriza-se pela imposição de um modo de usufruir tal direito ou fim a
atingir. Exemplo: dou esse terreno ao município para que ele construa uma escola.
"O encargo não suspende a aquisição nem o exercício do direito, salvo quando expressamente
imposto no negócio jurídico, pelo disponente, como condição suspensiva" (art. 136). Aos
herdeiros transmite-se a obrigação modal, tendo tais que ainda respeitar o encargo imposto.
"O donatário é obrigado a cumprir os encargos da doação, caso forem a benefício do doador,
de terceiro, ou do interesse geral" (art. 553). Somente o instituidor pode propor ação
revogatória pela inexecução do encargo. Porém, esta não é obrigatória. A sentença também
não terá efeito retroativo. "A doação onerosa pode ser revogada por inexecução do encargo, se
o donatário incorrer em mora. Não havendo prazo para o cumprimento, o doador poderá
notificar judicialmente o donatário, assinando-lhe prazo razoável para que cumpra a obrigação
assumida" (art. 562). Na morte do instituidor, seus herdeiros só podem exigir o cumprimento
do encargo, não podendo propor ação revogatória, cabendo esta somente ao MP. "Se desta
última espécie for o encargo, o Ministério Público poderá exigir sua execução, depois da
morte do doador, se este não tiver feito" (art. 553, parágrafo único).
Conceito:
São consideradas líquidas as obrigações que tenham sua existência certa e o seu objeto
avalorado. Quando se trata de dinheiro, a avaloração é dada em cifras. Quando tratar de coisa
certa é o próprio objeto.
As obrigações ilíquidas são as que têm existência certa, porém seu valor é incerto. Isso
impossibilita ao devedor solvê-la. Para que se possa solver a obrigação ilíquida, é preciso que
ocorra a sua avaloração. Isso ocorre através do processo de liquidação. A dívida ilíquida é
certa, ou seja, o devedor sabe que tem que pagar. Porém ele não sabe qual é a quantia, o que o
impossibilita de cumprir com a obrigação
Características da liquidação:
A liquidação visa apurar o quantum devido. "Quando a sentença não determinar o valor
devido, procede-se à sua liquidação" (art. 475-A, caput, CPC). Ela pode se dar por
arbitramento ou por artigos.
Arbitramento é quando o juiz nomeia um perito com conhecimento técnico para apurar a
avaliação de uma coisa, serviço ou prejuízo. As partes podem formular quesitos e indicar
assistência técnica. A liquidação é processo autônomo da sentença, cabendo apelação com
efeito dedutivo.
Liquidação por artigo é quando fato novo é alegado em processo sentenciado, devendo-se,
então, apurar o valor da condenação. O rito dessa nova liquidação respeita a do processo
anterior que a gerou. Se o credor não conseguir provar os fatos novos, o juiz julgará não
provados os artigos de liquidação. Porém, isso não impede que o credor reproponha a
liquidação. Exemplo de liquidação por artigo: Pedido de dano material pela morte de chefe de
família à réu condenado em sentença penal. O credor deve provar os rendimentos do falecido,
bem como a dependência da família para requisitar a pensão.
Aplicação da distinção nos dispositivos legais:
"O inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no seu termo, constitui de pleno direito
em mora o devedor" (art. 397, caput). Não havendo termo, a mora se constitui mediante
interpelação judicial ou extrajudicial (art. 397, parágrafo único, CC). É a mora ex persona. O
devedor é obrigado a pagar os juros da mora desde que este seja líquido. Quando ela for
ilíquida, "contam-se os juros de nora desde a citação inicial" (art. 405).
A compensação só pode ser feita se as dívidas forem líquidas. Da mesma forma, o fiador só
responde a obrigação quando esta se tornar líquida.
Conceito:
Obrigação principal é aquela que existe por si só, não dependendo de qualquer outra.
Obrigação acessória é a que tem existência subordinada à obrigação principal e, logo, segue a
sorte deste. O caráter acessório ou principal é atribuído pela vontade das partes ou pela lei
Quando pelas partes, pode ter sido convencionada em conjunto com a obrigação principal ou
posteriormente. Exemplo de obrigação acessória: fiança, penhor, juros, cláusula penal, etc.
Efeitos:
"A invalidade da obrigação principal implica a das obrigações acessórias, mas a destas não
induz a da obrigação principal" (art. 184, segunda parte).
"A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios, mesmo não mencionados, salvo se o
contrário resultar do título ou das circunstâncias do caso" (art. 233).
Noções gerais:
As relações obrigacionais admitem alterações no conteúdo do seu objeto e nos seus sujeitos
(ativos e passivos). A transferência de sujeito pode dar-se por mortis causa, como na sucessão
hereditária, ou por atos inter vivo. A mudança de sujeitos não acarreta nenhuma alteração nas
características objetivas da obrigação. Elas se preservam como se nada tivesse acontecido. O
ato que determina a transmissão chama-se cessão.
Cessão do crédito:
Conceito:
É a mudança do sujeito ativo da obrigação. Acontece entre o credor e terceiro, alheio ao
negócio jurídico inicial. O devedor (cedido) não participa necessariamente da cessão. Sua
anuência é dispensada. Ele tem apenas o direito de ser informado da cessão.
Características e requisitos:
"O credor pode ceder o seu crédito, se a isso não se opuser a natureza da obrigação, a lei, ou a
convenção com o devedor; a cláusula proibitiva da cessão não poderá ser oposta ao
cessionário de boa-fé, se não constar do instrumento da obrigação" (art. 286). A convenção
das partes pode impedir que se faça uma cessão de crédito, mas não pode ser alegada para
anular a cessão ao cessionário de boa-fé caso não esteja constado no instrumento da
obrigação.
A cessão de crédito pode ser feita gratuitamente ou onerosamente (mais comum). É como uma
venda, com a diferença de que o objeto é um bem incorpóreo. Na cessão onerosa, o cedente é
responsável pela existência e titularidade do crédito no momento da transferência. Quando a
cessão é gratuita, este só será responsável se tiver agido de má-fé.
O cedente deve ser pessoa capaz e legitimada para praticar atos de alienação. O cessionário de
ser pessoa plenamente capaz. Em alguns casos, a capacidade não é requisito suficiente para se
ter a legitimação. O tutor e o curador, por exemplo, não podem ser cessionários de créditos
contra seus pupilos e curatelados, respectivamente. Da mesma forma, os pais, ao administrar
os bens dos filhos menores, não podem cedê-los se, prévia autorização judicial (art. 1691).
Nos créditos envolvendo direito real de garantia, deve haver consentimento do cônjuge.
Espécies de cessão de crédito:
"Na cessão por título oneroso, o cedente, ainda que não se responsabilize, fica responsável ao
cessionário pela existência do crédito ao tempo em que lhe cedeu; a mesma responsabilidade
lhe cabe nas cessões por título gratuito, se tiver procedido de má-fé" (art. 295). Responder
pela existência é garantir que o crédito não seja prejudicado por exceções ou qualquer outro
tipo de impugnação, ressarcindo o cessionário caso o haja.
A cessão do crédito pode abranger a totalidade da dívida ou não. Quando sim, diz-se que ela
foi total. O cedente é excluído da obrigação por não fazer mais parte dela. Na cessão parcial
do crédito, o cedente persiste com parte do crédito, estando incluso ainda na obrigação. O
cedente pode ainda transmitir a sua parcela do crédito para pessoa diversa. O crédito cedido a
mais de um cessionário é independente para cada um.
A cessão pode constituir-se pelo simples acordo entre as partes. Nestes casos a cessão é
convencional. Para valer entre as partes, não se exige forma especial, salvo se o objeto tiver
por substância do ato escritura pública. Porém, "é ineficaz, em relação a terceiros, a
transmissão de um crédito, se não se celebrar mediante instrumento público, ou instrumento
particular revestido das solenidades do § 1° do art. 654" (art. 288).
A cessão do crédito é legal quando ocorre por determinação da lei (ipso juri). São exemplos
de cessão legal: as sub-rogações do art. 346, inc. II; o devedor solidário que paga toda a dívida
(art. 283), o fiador que também paga toda a dívida (art. 831); o mandante, em favor de quem
são transferidos os créditos adquiridos pelo mandatário (art. 668); as cessões dos acessórios
(art. 287); etc. Quando a cessão é legal, o cedente não responde pela existência do crédito,
pois ele não concorreu com a transferência. Esta foi imposta pela lei. Sendo assim, seria
ilógico obrigá-lo por algo que não foi feito por ele.
A cessão pode ainda ser judicial. Ela o é sempre que for determinada pelo juiz. A cessão legal
e a judicial não necessitam de nenhuma exigência a mais do que as que naturalmente dispõe.
Quando o cedente responde apenas pela existência do crédito e não pela solvência do devedor,
a cessão é chamada de pro soluto.
Porém, se o cedente, além de responder pela existência, deve cobrir a dívida em caso de
insolvência do devedor, a cessão é pro solvendo. Esse tipo de cessão deve estar expressamente
estipulada no contrato, nunca podendo ser presumida. "Salvo estipulação em contrário, o
cedente não responde pela solvência do devedor" (art. 296).
"O cedente, responsável ao cessionário pela solvência do devedor, não responde por mais do
que daquele recebeu, com os respectivos juros; mas tem de ressarcir-lhe as despesas da cessão
e as que o cessionário houver feito com a cobrança" (art. 297). Exemplo: se o cedente
vende um crédito de R$ 10.000 que possui com terceiro para o cessionário no valor de R$
8.000, responsabilizando-se pela insolvência, caso esta aconteça, o cedente irá reembolsar o
cessionário em R$ 8.000, acrescidas as despesas. O que se indeniza é apenas o interesse
contratual negativo, e não o crédito do cessionário. A situação do cedente não se confunde,
por exemplo, com a do fiador ou a do devedor solidário. Entretanto, pelo princípio do pacta
sunt servanda, podem as partes convencionar que o cedente deve responder pela quantia total
do crédito, e não somente a negociada.
Notificação do devedor:
"A cessão do crédito não tem eficácia em relação ao devedor, senão quando a este notificada;
mas por notificado se tem o devedor que, em escrito público ou particular, se declarou ciente
da cessão feita" (art. 290). Isto não significa, porém, que a notificação seja elemento essencial.
"Fica desobrigado o devedor que, antes de ter conhecimento da cessão, paga ao credor
primitivo, ou que, no caso de mais de uma cessão notificada, paga ao cessionário que lhe
apresenta, com o título de cessão, o da obrigação cedida; quando o crédito constar de escritura
pública, prevalecerá a prioridade da notificação" (art. 292). Se o devedor foi notificado e
mesmo assim paga ao credor primitivo não se desobrigará quanto ao cessionário, pois quem
paga mal, paga duas vezes. Tanto o cedente quanto o cesionário podem notificar o devedor.
Caso a obrigação seja solidária, todos os co-devedores dever ser notificados. A notificação
pode ser expressa ou presumida. A expressa é a comunicada pelo credor. A presumida é a que
resulta da espontânea declaração de ciência do devedor. Alguns crédito não exigem
notificação da cessão, pois sua transmissão dá-se de forma especial, a qual presume o
consentimento do devedor, como os títulos ao portador. A citação inicial para ação de
cobrança equivale à notificação.
"O devedor pode opor ao cessionário as exceções que lhe competirem, bem como as que, no
momento em que veio a ter conhecimento da cessão, tinha contra o cedente" (art. 294). Se
nada opôs na hora contra o cedente, não poderá mais fazer. Já as exceções cabíveis ao
cessionário ou à natureza da obrigação podem ser opostas a qualquer momento, mesmo que
não tenham sido feitas na altura da notificação. Num contrato bilateral, caso o cedente não
tenha cumprido a obrigação, pode o devedor exigir o cumprimento pelo cessionário para que,
então, efetue o pagamento.
"O crédito, uma vez penhorado, não pode mais ser transferido pelo credor que tiver
conhecimento da penhora; mas o devedor que o pagar, não tendo notificação dela, fica
exonerado, subsistindo somente contra o credor os direitos de terceiros" (art. 298). Uma vez
penhorado, o crédito deixa de fazer parte do patrimônio da pessoa. Por isso, não pode ser
objeto de cessão.
Cessão do débito:
Conceito:
É a alteração do sujeito passivo da obrigação, também conhecida como assunção de dívida. "É
facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor, com o consentimento expresso do credor,
ficando exonerado o devedor primitivo, salvo se aquele, ao tempo da assunção, era insolvente
e o credor o ignorava" (art. 299, caput). A assunção da dívida acarreta somente na mudança do
polo passivo obrigacional. Todos os encargos e acessórios são mantidos, sendo repassados
para o novo devedor.
Características:
Só pode ser feita com a anuência expressa do credor. O terceiro, que recebe a dívida, responde
pelos encargos obrigacionais, inclusive os acessórios. A anuência do credor é indispensável,
pois se presume que ele vê na figura do devedor a certeza de que este tem idoneidade
patrimonial para solver a dívida. Uma troca de devedor pode representar, para ele, uma
incerteza quanto ao seu cumprimento.
"Qualquer das partes pode assinar prazo ao credor para que consinta na assunção da dívida,
interpretando-se o seu silêncio como recusa" (art. 299, parágrafo único). Somente no caso do
adquirente de imóvel hipotecado é que o silêncio do credor interpreta-se como sua anuência.
"O adquirente de imóvel hipotecado pode tomar a seu cargo o pagamento do crédito
garantido; se o credor, notificado, não impugnar em trinta dias a transferência do débito,
entender-se-á dado o assentimento" (art. 303). Esse artigo torna mais fácil a venda de imóveis
hipotecados, pois dispensa a homologação do credor de forma direta. Torna mais rápida a
transferência, preservando, do mesmo modo, a segurança do negócio.
Qualquer dívida pode ser objeto de assunção, exceto as que devem ser cumpridas
pessoalmente pelo devedor.
Semelhança com institutos afins:
b) Assunção da dívida e novação subjetiva por substituição do devedor: Nas duas há na figura
do devedor. A diferença é que, na novação, acontece a criação de nova obrigação,
extinguindo-se a antiga. Na assunção, apesar de haver mudança do devedor, a obrigação
persiste. A conseqüência prática dessa distinção é que na novação as garantias e os acessórios
se extinguem, pois a obrigação se extinguiu. Já na assunção, elas continuam, tendo em vista
que a obrigação persiste. É a interpretação do contrato, muitas vezes, que possibilita a
identificação da categoria.
Quando há acordo entre o devedor primário e o terceiro, com a anuência do credor, a assunção
é feita por delegação. O devedor primário é o delegante, o credor é o delegatário e o terceiro é
o delegado.
Contudo se ocorrer acordo entre terceiro e o credor, sem a participação do devedor primário, a
assunção é por expromissão. Exemplo: Pai assume dívida do filho. Não há no que se falar em
anuência do credor na expromissão, pois é o próprio que participa na alteração. Não há
necessidade da anuência do devedor primário na expromissão.
Se o novo devedor assume apenas uma parte da dívida, a assunção é cumulativa. O antigo
devedor ainda responde por uma parcela. Como essa assunção não exclui totalmente a
responsabilidade do devedor primitivo, diz-se que ela é imperfeita.
Efeitos da assunção da dívida:
"O novo devedor não pode opor ao credor as exceções pessoais que competiam ao devedor
primitivo" (art. 302). Só pode opor aquelas que dizem respeito ao vínculo obrigacional.
"Se a substituição do devedor vier a ser anulada, restaura-se o débito, com todas as suas
garantias, salvo as garantias prestadas por terceiros, exceto se este conhecia o vício que
inquinava a obrigação" (art. 301). Se uma garantia especial dada pelo devedor primitivo
(como a fiança), foi extinguida com a cessão da dívida, essa garantia não pode ser restaurada
caso haja a anulação da cessão. Só poderá ser se o devedor primitivo tiver conhecimento
prévio do vício que anularia a cessão, ou seja, se agisse de má-fé.
Cessão de contrato:
Conceito:
Características e efeitos:
O cedido pode consentir com a cessão e, ao mesmo tempo, impor, a não liberação do cedente.
Desta forma, este figura na obrigação também, tendo que cumpri-la caso o cessionário não o
faça. Como não existe algo expresso na legislação brasileira a respeito, não há nada que defina
qual dos dois (cedente ou cessionário) deve ser cobrado primeiro, podendo o cedido argüir
contra qualquer um.
Venosa entende diferente, que essa solidariedade não pode ser presumida. De qualquer forma,
é a interpretação do disposto pelo cedido que tornará possível saber quais são as
características da cessão.
Para ser objeto de cessão, a obrigação deve ser de execução duradoura. As instantâneas não
podem ser objeto de cessão, pois se extinguem na hora. As obrigações de execução
instantânea só podem ser objeto de cessão quando o cumprimento foi apenas parcial, ou
quando há ainda conseqüências jurídicas a serem produzidas.
O cedente responde pela existência da relação contratual cedida sempre que a cessão for
onerosa ou quando o mesmo age de má-fé na cessão gratuita. Como a cessão do contrato não
está disciplinado no Código Civil, faz-se analogia com a cessão do crédito quanto à
responsabilização pela existência.
O cedido não pode alegar ao cessionário nenhuma exceção pessoal do cedente, somente
aquelas relacionadas ao objeto. Da mesma forma, o cessionário quanto ao cedido. Não pode
nem impor aquelas fundadas no contrato de cessão. As exceções pessoais do cedente não se
transmitem ao cessionário. Se aquele descobre que foi vítima de vício depois da cessão, não
poderá o cessionário protestar a anulação, somente o cedente.
A cessão do contrato não se confunde com o contrato derivado ou subcontrato. Neste, o que
há é a criação de um novo contrato da mesma natureza com terceiro, enquanto que na cessão,
o contrato é o mesmo, muda-se apenas a parte.
Pagamento:
O pagamento é norteado por dois princípios. O primeiro é o princípio da boa-fé, que implica
em que as partes ajam de forma correta. O devedor não se obriga somente ao estipulado no
contrato, mas em tudo aquilo mais conseqüente aos seus atos. O segundo princípio é o da
pontualidade, estabelecendo que a prestação deve ser cumprida em tempo e de forma
completa.
Pode haver pagamento de forma direta, como na prestação do contrato, como de forma
indireta, como no pagamento por consignação e na dação em pagamento. Quando não há
pagamento, mas a obrigação se extingue, diz-se que ela a foi por meios anormais. Ex:
impossibilidade de execução sem culpa do devedor, nulidade, novação, etc. A obrigação é
cumprida quando é realizada espontaneamente pelo devedor ou voluntariamente quando
interpelado. Dessa forma, não há cumprimento quando a realização é feita por meios
coercitivos.
Natureza jurídica do pagamento:
"Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos
meios conducentes à exoneração do devedor" (art. 304, caput). Por interesse, entende-se o
jurídico. O principal interessado é o devedor. Porém, aqueles que se interessam pelo
cumprimento da obrigação, como os fiadores, avalistas, adquirentes de imóvel hipotecado,
podem pagar a dívida. Fazendo isto, subrogam-se como credores (art. 346, III). Têm, então, o
direito de cobrar a dívida do devedor, com todos os privilégios e garantias do negócio (art.
349). Quando a obrigação é contraída intuitu personae, ou seja, só o foi graças às
características do devedor, só o mesmo pode cumpri-la (art. 247).
"Igual direito cabe ao terceiro não interessado, se o fizer em nome e à conta do devedor, salvo
oposição deste" (art. 304, parágrafo único). Terceiro não interessado judicialmente pode
também realizar o pagamento em nome e à conta do devedor. Este terceiro pode até consignar
(art. 334 e seguintes) o credor que não aceita o pagamento, desde que aja em nome e à conta
do devedor, nunca em nome próprio. Exemplo: terceiro possui interesse moral na resolução da
obrigação, como um pai que paga a conta do filho.
Caso o devedor se oponha ao pagamento do terceiro, pode o credor alegar motivo justo para
não aceitar o pagamento. Contudo, esta oposição do devedor não configura proibição, estando
o credor livre para aceitar o pagamento. Se o devedor não quiser que o terceiro pague sua
dívida, só há uma maneira de impedi-lo: efetuar o pagamento antes dele. "O terceiro não
interessado, que paga a dívida em seu próprio nome, tem direito a reembolsar-se do que pagar;
mas não se sub-roga nos direitos do credor" (art. 305, caput).
"O pagamento feito por terceiro, com desconhecimento ou oposição do devedor, não obriga a
reembolsar aquele que pagou, se o devedor tinha meios para ilidir a ação" (art. 306). Ilidir a
ação é provar que não se devia ela, como quando o devedor alega compensação, decadência,
etc. Contudo, se o devedor ilidir apenas parcialmente a ação do credor, não precisará
reembolsar o montante que lhe aproveita, sendo obrigado pelo resto. Ex: o devedor devia R$
100,00. Houve compensação entre as partes, sendo que a dívida caiu para R$ 30,00. Se o
terceiro pagou a dívida inicial de R$ 100,00, o devedor terá que reembolsá-lo apenas na
quantia de R$ 30,00.
"Só terá eficácia o pagamento que importar transmissão da propriedade, quando feito por
quem possa alienar o objeto em que ele consistiu" (art. 307, caput). Quando é feita a dação em
pagamento, a mesma só pode ser realizada por aquele que possa alienar o objeto, ou seja,
aquele que é titular do direito real. Não basta ter capacidade genérica, deve-se ter a específica.
Ex: Um tutor não pode dar em pagamento o imóvel do tutelado sem autorização judicial (art.
1748, IV). Contudo, se o alienante (o devedor) efetuar a dação, mas só receber o domínio da
coisa dada posteriormente ao pagamento, a transferência se convalidará, se o credor estiver de
boa-fé (art. 1268, § 1°).
"Se se der em pagamento coisa fungível, não se poderá mais reclamar do credor que, de boa-
fé, a recebeu e consumiu, ainda que o solvente não tivesse o direito de aliená-la" (art. 307,
parágrafo único). Nesse caso, caberá ao verdadeiro proprietário da coisa fungível somente
voltar-se contra o devedor.
A quem se deve pagar:
"O pagamento deve ser feito ao credor ou qualquer um que o represente, caso contrário só
valerá a partir da ratificação deste" (art. 308). O credor não é somente o originário. Pode ser o
herdeiro, o legatário, o cessionário, ou seja, aquele que possui a titularidade do direito de
crédito no momento da cobrança.
Quando a representação é legal ou judicial, o pagamento só pode ser destinado a esta pessoa.
Caso seja convencional, o pagamento pode ser dado tanto ao representante quanto ao credor
original.
Se o solvens pagar alguém que não o credor, este ainda terá o direito de exigir o pagamento,
pois quem paga mal, paga em dobro. O pagamento a terceiro será válido, no entanto, se for
ratificado pelo credor. Essa ratificação retroage até o dia do pagamento a terceiro para
produzir todos os efeitos do mandato. O credor ratifica o pagamento quando obtiver proveito
direto (o terceiro lhe dá a quantia) ou indireto (o terceiro utiliza o dinheiro a favor do credor)
deste ato. Pode o credor, contudo, optar por não ratificar se esse proveito lhe tolher a liberdade
de decisão sobre o pagamento da dívida.
"O pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é valido, ainda provado depois que não era
credor" (art. 309). Exemplo de credor putativo é o único sobrinho de um falecido rico que se
presume ser o herdeiro, mas que na verdade não o é. Outro exemplo é o do locador aparente,
que se intitula como sendo o proprietário do imóvel. Nesses casos, o que resta ao credor é se
voltar contra o accipiens, ou seja, o credor putativo, pois o devedor exonera-se da obrigação.
Além da boa-fé do devedor, é requerido a escusabilidade do erro, pois não se justifica proteger
aquele que agiu com negligência.
"Não vale o pagamento cientemente feito ao credor incapaz de quitar, se o devedor não provar
que em benefício dele efetivamente reverteu" (art. 310) O pagamento será válido, contudo, se
o devedor desconhecer da incapacidade do credor por erro escusável ou por dolo daquele
(ocultar a idade, por exemplo).
Revertido é o pagamento que chega ao poder do representante do credor, ou aquele que gera
enriquecimento patrimonial daquele. Qualquer ato que aumente o patrimônio do incapaz,
como a compra de imóvel, etc; é proveitoso.
"Se o devedor pagar ao credor, apesar de intimado da penhora feita sobre o crédito, ou da
impugnação a ele oposta por terceiros, o pagamento não valerá contra estes, que poderão
constranger o devedor a pagar de novo, ficando-lhe ressalvado o regresso contra o credor"
(art. 312) Quando o título é penhorado ou impugnado, o devedor é notificado e instruído a
depositar em juízo. Sendo assim, o pagamento feito ao credor demonstra o não seguimento
com o que foi estabelecido, o que implica, logo, na sua invalidação. Para que não haja
enriquecimento ilícito do credor, o mesmo deve devolver ao devedor o valor pago.
Do objeto do pagamento:
"As dívidas em dinheiro deverão ser pagas no vencimento, em moeda corrente e pelo valor
nominal, salvo o disposto nos artigos subseqüentes" (art. 315). A dívida de dinheiro é aquela
que tem por objeto o próprio dinheiro, como quando se faz um empréstimo. Diferentemente,
dívida de valor é aquela em que o dinheiro não é o objeto, mas ele representa o valor
monetário deste. É o caso da indenização.
"São nulas as convenções de pagamento em ouro ou em moeda estrangeira, bem como para
compensar a diferença entre o valor desta e o da moeda nacional, excetuados os casos
previstos na legislação especial" (art. 318). O Brasil adotou o curso forçado da moeda para o
pagamento em dinheiro, ou seja, só se pode pagar com a moeda interna.
A Lei n. 10.192 vai ao encontro do estipulado no art. 318 e estabelece as exceções em que se
pode usar a moeda estrangeira, quais sejam:
"Se o pagamento se houver de fazer por medida, ou peso, entender-se-á, no silêncio das
partes, que aceitaram os do lugar da execução" (art. 326).
Prova do pagamento:
O pagamento exonera o devedor e lhe atribui o direito de exigir a quitação da dívida pelo
credor. Quitação é a declaração unilateral escrita pelo credor declarando que a prestação foi
efetuada. É o vulgo recibo. "O devedor que paga tem direito a quitação regular, e pode reter o
pagamento, enquanto não lhe seja dada" (art. 319).
"A quitação, que sempre poderá ser dada por instrumento particular, designará o valor e a
espécie da dívida quitada, o nome do devedor, ou quem por este pagou, o tempo e o lugar do
pagamento"(art. 320, caput).
"Ainda que sem os requisitos estabelecidos neste artigo valerá a quitação, se de seus termos
ou das circunstâncias resultar haver sido paga a dívida" (art. 320, parágrafo único). Retira-se
desse parágrafo único, de forma indireta, o princípio da relativização do recibo. O devedor
não se exonera de uma obrigação só porque o credor lhe aferiu um recibo. Caso este contenha
valor menor do que a da prestação, o devedor só fica livre desta parte, respondendo ainda pelo
restante.
Presunções do pagamento:
a) "A entrega do título ao devedor firma a presunção do pagamento" (art. 324, caput). Porém,
"ficará sem efeito a quitação assim operada se o credor provar, em sessenta dias, a falta do
pagamento" (ar. 324, parágrafo único). Esse tipo de presunção é relativa, pois pode o credor
provar, no prazo legal, que o título foi furtado, ou qualquer outro motivo, invalidando assim o
suposto pagamento.
b) "Nos débitos, cuja quitação consista na devolução do título, perdido este, poderá o devedor
exigir, retendo o pagamento, declaração do credor que inutilize o título desaparecido" (art.
321) Essa solução é pouco usual, pois não é oponível ao terceiro de boa-fé que detenha o
título. Sendo assim, a saída mais utilizada é a entrada das partes com uma ação de anulação e
substituição de títulos ao portador, tornando ineficaz o título perdido.
"Quando o pagamento for em quotas periódicas, a quitação da última estabelece, até prova em
contrário, a presunção de estarem solvidas as anteriores" (art. 322). Isto porque o natural é
que se o credor aceitou o último pagamento é porque tenha recebido os anteriores.
Essa presunção é relativa, contudo. Há casos como, por exemplo, o do condômino que paga as
despesas do último mês do condomínio, mas entra em ação para discutir outras contas
anteriores. Outro exemplo é o caso das contas de fornecimento de energia elétrica, nas quais
consta expressamente que a quitação da última não faz presumir a quitação de contas
anteriores.
c) "Sendo a quitação do capital sem reserva de juros, estes presumem-se pagos" (art. 323) A
quitação do capital presume a dos juros. Como os juros são obrigação acessória, presume-se
que esta foi paga quando a principal foi.
Local do pagamento:
"Designados dois ou mais lugares, cabe ao credor escolher entre eles" (art. 327, parágrafo
único). Esta situação é usual nos contratos de locação, nos quais se estabelece o domicílio das
duas partes como local do pagamento. É a reiteração do pagamento num dos lugares que
acaba definindo qual das opções é a escolhida.
"Ocorrendo motivo grave para que se não efetue o pagamento no lugar determinado, poderá o
devedor fazê-lo em outro, sem prejuízo para o credor" (art. 329). Como o CC não definiu
precisamente o que seria essa "motivo grave", a identificação do mesmo cabe ao juiz.
Tempo do pagamento:
O art. 333 estabelece os 3 casos em que há antecipação do vencimento. Nos 3 casos o que há é
uma ameaça ao credor de não receber seu crédito, daí a necessidade de antecipá-lo para cobrá-
lo:
b) Inciso II: "Se os bens, hipotecados ou empenhados, forem penhorados em execução por
outro credor". A garantia real corre o risco de não encontrar mais o objeto.
Nos contratos, geralmente o prazo é estipulado em favor do devedor (art. 133). Sempre que
assim for, poderá o mesmo abrir mão desse direito, antecipando o pagamento, para que assim
possa evitar algum juro, por exemplo. Se o prazo for a favor do credor, pode este não aceitar
o pagamento antecipado, pelos mesmos motivos (que para ele interessa). Contudo, se o
contrato for regido pelo CDC, não lhe cabe tal direito (art. 52, § 2°, do CDC). Deverá aceitar o
pagamento com a redução proporcional dos juros,
"Salvo disposição legal em contrário, não tendo sido ajustada época para o pagamento, pode o
credor exigi-lo imediatamente" (art. 331). O bom senso, nesses casos, é aplicado, sendo
permitido ao devedor satisfazer a obrigação em tempo razoável, sem que fique constituído em
mora. Quando não há prazo, o devedor deve ser informado (judicialmente ou
extrajudicialmente) da intenção do credor de cobrá-lo para que ele fique caracterizado em
mora. Os atos sem prazo podem ser praticados desde logo, a não ser que sua execução esteja
subordinada a determinado local ou tempo, sendo então exeqüíveis na medida do possível (art.
134). Há certos prazos especiais para o pagamento, como no comodato, no qual o tempo será
o necessário para o uso concedido (art. 581).
Pagamento em consignação:
Conceito:
Se a recusa do credor é justa não se pode consignar o pagamento, pois essa recusa caracteriza
que o devedor não esta apto para se exonerar da obrigação. A consignação comprova a mora
accipiendi, o que não acontece quando a recusa é justa. Se não houver recusa não há no que se
falar em consignação, pois o credor irá aceitar o pagamento quando lhe oferecido.
Objeto da consignação:
O art. 334 não especifica o que se pode depositar ou não. Sendo assim, entende-se que pode
ser tanto dinheiro quanto bens móveis ou imóveis. O objeto pode ser ainda certo ou incerto. O
depósito só é possível nas obrigações de dar. É ilógico pensar neste instituto nas obrigações de
fazer e de não fazer. "Se a coisa devida for imóvel ou corpo certo que deva ser entregue no
mesmo lugar onde está, poderá o devedor citar o credor para vir ou mandar recebê-la, sob
pena de ser depositada" (art. 341).
"Se a escolha da coisa indeterminada competir ao credor, será ele citado para esse fim, sob
cominação de perder o direito e de ser depositada a coisa que o devedor escolher; feita a
escolha pelo devedor, proceder-se-á como no artigo antecedente" (art. 342). Não é lógico
prejudicar o devedor pela mora accipiendi. Se o credor não determina o objeto do pagamento,
não ficará o devedor eternamente a espera da escolha, fará ele a mesma.
a) Inciso I: "Se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar
quitação na devida forma". Este inciso refere-se à hipótese de obrigação portável. Cabe ao
devedor provar que efetivamente ofertou o pagamento. Ao credor, por sua vês, cabe
apresentar causa justa para a recusa.
b) Inciso II: "se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição
devidos". Este inciso refere-se à dívida quesível. Neste caso, basta o devedor apenas
demonstrar que o credor não foi em busca de seu pagamento.
c) Inciso III: "Se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou
residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil". A simples incapacidade não é
motivo suficiente para que se faça a consignação. Deve ser impossível também efetuar o
pagamento ao representante do credor. Só assim é possível a consignação, pois, nesse caso,
fica comprovada a impossibilidade de se pagar diretamente. O caso da ausência é difícil de ser
observado, pois tal instituto só pode ser decretado por sentença, que estabelece um curador
para o ausente. Existindo um curador não há porque não fazer o pagamento diretamente para
ele.
d) Inciso IV: "Se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do
pagamento". "Quando a consignação se fundar em dúvida sobre quem deva legitimamente
receber, não comparecendo nenhum pretendente, converter-se-á o depósito em arrecadação de
bens de ausentes; comparecendo apenas um, o juiz decidirá de plano; comparecendo mais de
um, o juiz declarará efetuado o depósito e extinta a obrigação, continuando o processo a correr
unicamente entre os credores; caso em que se observará o procedimento ordinário" (CPC, art.
898). Se a residência do credor é em local perigoso ou desconhecido, quando a dívida é
portável, o devedor não tem a obrigação de arriscar a sua vida para efetuar o pagamento. Nas
três hipóteses, o devedor não é prejudicado por não se saber quem é o verdadeiro credor. Seu
depósito é suficiente para que seja exonerado da obrigação, não participando da discussão
sobre quem receberá seu pagamento Se a dúvida quanto quem é o credor não for razoável, o
juiz fará o indeferimento da petição inicial, por falta de interesse de agir do autor.
e) Inciso V: "se pender litígio sobre o objeto do pagamento". Estando as partes disputando em
juízo o objeto do pagamento é ilógico pensar que uma delas pode se exonerar da obrigação em
disputa.
"Para que a consignação tenha força de pagamento, será mister concorram, em relação às
pessoas, ao objeto, modo e tempo, todos os requisitos sem os quais não é válido o pagamento"
(art. 336).
Requisito pessoal ou subjetivo para a validade da consignação:
O pagamento deve ser feito pelo devedor capaz ao verdadeiro credor, também capaz. Tem
legitimidade ativa para a ação consignatória o devedor, bem como terceiro interessado, ou
não, que o faz em nome do devedor. A legitimidade passiva (réu da ação consignatória) recai
sobre aquele que pode receber o pagamento e exonerar o devedor. Se esta pessoa for
desconhecida, será citada por edital (CPC, art. 231, I) com intervenção, a seu favor, de
curador especial (CPC, art. 9°, II).
O pagamento deve ser efetuado em sua integralidade. "O depósito requerer-se-á no lugar do
pagamento, cessando, tanto que se efetue, para o depositante, os juros da dívida e os riscos,
salvo se for julgado improcedente" (art. 337). O devedor deve incluir no depósito a correção
monetária referente ao período entre o vencimento da dívida e o efetivo depósito. Se o
deposito for de entrega de coisa, devem ser entregues também os acessórios, frutos e produtos
que o credor tem direito A jurisprudência tem admitido a discussão em torno do valor
depositado, pelas partes. Isto significa que o princípio de que o depósito deve ser líquido e
certo não é mais válido. Se o devedor oferecer objeto que não seja o devido, ou descumprir
alguma cláusula contratual, poderá o credor, legitimamente, recusar a consignação.
Modo do pagamento:
O modo será o mesmo que o estabelecido, ou seja, se a obrigação poderia ser paga em várias
prestações, também poderá o seu depósito.
Tempo do pagamento:
O tempo do depósito respeitará o fixado no contrato, ou seja, só pode ser feito após o
vencimento da dívida. Se o prazo foi estipulado a favor do devedor, poderá este retirar o
depósito a qualquer momento (art. 333). Verificada a condição a que o débito estava
subordinado, pode o credor efetuar o depósito (art. 332) A mora do devedor não impede a
consignação do pagamento por si só. Se ela não tiver causado nenhuma conseqüência
irreversível, poderá o devedor fazer o depósito. Porém, se neste período o credor tiver
demandado o devedor, a consignação não poderá mais ser feita.
Lugar do pagamento:
O depósito será feito no lugar o qual foi estabelecido para ser o do pagamento (art. 337).
Levantamento do depósito:
"Enquanto o credor não declarar que aceita o depósito, ou não impugnar, poderá o devedor
requerer o levantamento, pagando as respectivas despesas, e subsistindo a obrigação para
todas as conseqüências de direito" (art. 338).
"O credor que, depois de contestar a lide ou aceitar o depósito, aquiescer no levantamento,
perderá a preferência e a garantia que lhe competiam com respeito à coisa consignada, ficando
para logo desobrigados os co-devedores e fiadores que não tenham anuído" (art. 340). Se o
credor recusar o depósito e contestar a ação, o levantamento do pagamento só poderá ser feito
com a sua anuência. Se assim aceitar, o levantamento corresponderá a um novo crédito, pois o
credor permitiu que a quantia lhe fosse tomada após ter sido assegurado o resgate do seu
crédito. Ou seja, ele confirmou com a outra parte nova obrigação. Sendo a obrigação nova,
ficam desobrigados dela todos aqueles que não compactaram com sua criação, como os co-
devedores e os fiadores.
"Julgado procedente o depósito, o devedor já não poderá levantá-lo embora o credor consinta,
senão de acordo com os outros devedores e fiadores" (art. 339). O julgamento da procedência
do depósito implica na afirmação da exoneração da parte ativa. Por isso um levantamento da
quantia depositada representaria a volta da obrigação em questão. Como tal ato afeta os co-
devedores e fiadores, que têm interesse em ver a obrigação extinta, o levantamento só pode
ser feito com suas anuências.
Disposições processuais:
O depósito judicial deverá ser feito no prazo de cinco dias. Se se tratar de prestações
periódicas, sendo a primeira consignada, as demais não precisam seguir toda a formalidade,
tendo apenas que ser feitas no prazo de cinco dias do vencimento de cada uma. Isso só pode
ser feito até o deferimento da sentença. Essa possibilidade só se estende até a prolação da
sentença. Os depósitos futuros não estão sujeitos ao decidido. Caso o credor recuse as novas
prestações, mesmo com a sentença proferida obrigando-o a aceitar aquelas que foram
depositadas, não pode o devedor aproveitar-se da sentença, devendo ajuizar nova demanda O
prazo de resposta do credor é de quinze dias.
O credor pode alegar que: "I - não houve recusa ou mora em receber a quantia ou coisa
devida; II - foi justa a recusa; III - o depósito não se efetuou no prazo ou no lugar do
pagamento; IV - o depósito não é integral (CPC, art. 896, caput). Se o credor alegar que o
valor depositado não é integral, pode o devedor depositar o restante no prazo de dez dias
(CPC, art. 896, parágrafo único). A alegação de que o valor não é o integral não impede que o
credor levante o pagamento parcial e libere o devedor neste montante (CPC, art. 899, caput e
§ 1°).
Conceito:
Sub-rogação é a substituição de uma parte da obrigação, sendo que esta nova preserva todas as
características da antiga. O terceiro que toma o lugar do credor preserva todos os direitos
daquele, como os acessórios da obrigação e suas garantias. A sub-rogação pode ser real ou
pessoal. É real quando a substituição é do objeto. O novo toma o lugar do antigo, preservando
todos os ônus e atributos deste primeiro. Exemplo: Substituição da coisa gravada pelo testador
ou doador com vínculo de inalienabilidade. Já a pessoal ocorre com a substituição do credor
por terceiro. Ocorre quando este terceiro solve a dívida do devedor para com o credor,
tornando-se, assim, o detentor do direito de ser ressarcido da quantia paga, pelo devedor. A
sub-rogação pessoal é uma figura jurídica anômala, pois extingue a obrigação para o credor,
que não pode mais exigir nada do devedor depois de ter recebido o pagamento do terceiro,
mas preserva a obrigação ao devedor, que passa a dever ao terceiro.
Apesar de ser instituto semelhante à cessão de crédito, há certas diferenças para com este. Na
cessão, visa-se o lucro, pois o objetivo é transformar o crédito em patrimônio, negociando-o.
Por isto, o valor pago é diverso, geralmente, da dívida. Já na sub-rogação, ocorre a exata
proporção entre o pagamento efetuado e o valor da dívida, pois o objetivo não é lucrar, mas
sim livrar o devedor primário da obrigação com o credor.
Espécies:
a) Inciso I: "do credor que paga a dívida do devedor comum". São os casos em que o credor
percebe que o seu devedor também é sujeito passivo de outras obrigações e que se estes outros
credores executarem seu crédito, o adimplemento da sua prestação, pelo devedor, corre o risco
de não acontecer. Acontece geralmente quando este credor tem menos garantias que os
demais. "Comprando" todas as dívidas do devedor ele tem certeza de que irá receber seu
pagamento preferencialmente, já que não há nenhum outro para receber.
b) Inciso II: "do adquirente do imóvel hipotecado, que paga a credor hipotecado, bem como
do terceiro que efetiva o pagamento para não ser privado de direito sobre o imóvel". Quando
há mais de uma hipoteca, aquela estabelecida primeiro terá preferência numa eventual
execução. Por isso, é interessante para aquele que se utiliza do imóvel comprar a primeira
hipoteca, pois caso o imóvel seja executado, o adquirente do mesmo não o perderá para outro.
Essa hipótese não se restringe ao caso da hipoteca. O inciso cita também qualquer relação
contratual que dê ao credor qualquer direito sobre o imóvel. A jurisprudência tem ampliado
esse entendimento para os casos de anticrese e aos adquirentes de coisa móvel.
c) Inciso III: "do terceiro interessado, que paga a dívida pela qual era ou podia ser obrigado,
no todo ou em parte". Terceiro interessado é aquele que tem seu patrimônio afetado caso a
dívida não seja paga pelo devedor. Para que isso não aconteça, ele pode exonerar o devedor e,
conseqüentemente, a si mesmo, pagando a dívida. É o caso do avalista, do fiador, do devedor
solidário, do co-devedor de dívida indivisível, etc. O terceiro não interessado que paga a
dívida não se sub-roga como credor, apenas tem o direito ao reembolso.
b) Inciso II: "Quando terceiro empresta ao devedor a quantia precisa para solver a dívida, sob
a condição expressa de ficar o mutuante sub-rogado nos direitos do credor satisfeito". É a
opção do devedor de trocar de credor. Não precisa haver anuência do credor, pois não tem ele
como impedir que o terceiro empreste o valor da prestação. Os financiamentos regulados pelo
sistema financeiro de habilitação são exemplos deste tipo de sub-rogação.
Efeitos da sub-rogação:
b) Translativo: é o efeito contido no art. 349, segundo o qual "a sub-rogação transfere ao novo
credor todos os direitos, ações, privilégios e garantias do primitivo, em relação à dívida,
contra o devedor principal e os fiadores". O efeito translativo aplica-se às duas modalidades
de sub-rogação (legal e convencional). Na convencional, entretanto, este efeito pode ser
limitado, graças à autonomia especulativa das partes.
"Na sub-rogação legal o sub-rogado não poderá exercer os direitos e as ações do credor, senão
até a soma que tiver desembolsado para desobrigar o devedor" (art. 350). Se o sub-rogado
pagou apenas uma parcela da dívida, terá direito sobre esta, e não sobre a integralidade do
valor. Na sub-rogação convencional essa limitação não ocorre, pois as partes podem estipular
de forma diversa.
Sub-rogação parcial:
Pode haver casos em que o terceiro paga apenas uma parte da dívida, sub-existindo o restante.
Sendo assim, surgem dois credores: o antigo e o novo sub-rogado. "O credor originário, só em
parte reembolsado, terá preferência ao sub-rogado, na cobrança da dívida restante, se os bens
do devedor não chegarem para saldar inteiramente o que a um e outro dever" (art. 351).
O CC nada fala sobre quem tem preferência quando há mais de um sub-rogado, ou seja,
quando mais de um terceiro pagou parcialmente a dívida. Entende-se que, neste caso, todos
sujeitam-se à regra de igualdade de credores, não importando a data, origem ou montante de
cada um. Sobre todos estes, porém, ainda prevalece o credor originário.
Imputação do pagamento:
Conceito:
Imputação do pagamento é quando o devedor possui mais de uma dívida com o mesmo
credor. Pode ocorrer que este devedor não tenha dinheiro suficiente para pagar todas as
dívidas, mas apenas uma ou algumas delas. Dá-se o nome de impugnação à escolha de quais
dívidas serão pagas.
"A pessoa obrigada, por dois ou mais débitos da mesma natureza, a um só credor, tem o
direito de indicar a qual deles oferece pagamento, se todos forem líquidos e vencidos" (art.
352). É ao devedor que, primeiramente, compete escolher qual dos débitos será pago. Entre o
capital e os juros, por exemplo, deve-se pagar obrigatoriamente os juros primeiro, pois os dois
débitos são de naturezas diferentes, não podendo o devedor escolher qual quer pagar.
Requisitos:
a) Pluralidade de débitos, pois se não há opção de escolha não há no que se falar sobre
impugnação. Somente é cabível a imputação em dívida única quando ela se desdobrar, como
quando há juros. Mesmo assim, nesse caso, os juros seriam pagos por primeiro.
b) Identidade das partes, ou seja, a figura do devedor e do credor deve ser a mesma para todas
as obrigações. Estas figuras, porém, não precisam ser uma pessoa só. Pode haver pluralidade,
como no caso da solidariedade.
c) Igual natureza das dívidas. Os objetos devem ser fungíveis de idêntica espécie e qualidade.
Não há imputação quando uma das dívidas é de entregar dinheiro e a outra é de realizar uma
prestação. Não basta a simples fungibilidade das prestações. Elas devem ser fungíveis entre
si, ou seja, homogêneas. Não há imputação quando uma das dívidas é de entregar dinheiro e a
outra de entregar sacas de café. Apesar dos dois objetos das prestações serem fungíveis, eles
não o são entre si.
As dívidas ainda devem ser líquidas (certas, quanto às suas existências, e determinadas,
quanto aos seus objetos) e vencidas (exigível pelo advento do termo prefixado). Esse requisito
é um tanto quanto inútil, já que a maioria das dívidas é estipulada em favor do devedor,
podendo este antecipar o vencimento a bel prazer. A lei permite a imputação do débito
vincendo e do ilíquido se assim o credor assentiu.
O art. 352 assegura ao devedor o direito de impugnar seu pagamento. Porém, essa escolha
sofre algumas limitações:
a) Não pode a dívida vincenda ser paga se o prazo foi estipulado em favor do credor.
b) Não se pode pagar parcialmente uma dívida se o credor assim não consentiu.
"Havendo capital e juros, o pagamento imputar-se-á primeiro nos juros vencidos, e depois no
capital, salvo estipulação em contrário, ou se o credor passar a quitação por conta do capital"
(art. 354).
"Não tendo o devedor declarado em qual das dívidas líquidas e vencidas quer imputar o
pagamento, se aceitar a quitação de uma delas, não terá direito a reclamar contra a
impugnação feita pelo credor, salvo provando haver ele cometido violência ou dolo" (art.
353). Pode, porém, o devedor se opor a esta escolha, desde que não tenha aceitado a quitação,
ou se a tiver sob violência e não havendo dolo.
"Se o devedor não fizer a indicação do art. 352, e a quitação for omissa quanto à impugnação;
esta se fará nas dívidas líquidas e vencidas em primeiro lugar. Se as dívidas forem todas
líquidas e vencidas ao mesmo tempo, a impugnação far-se-á na mais onerosa" (art. 355). A
ordem para o pagamento das dívidas quando nenhuma das partes se manifesta é esta:
a) Havendo capital e juros, primeiro se paga os juros, como estipula o art. 354.
b) Sendo todas as dívidas da mesma natureza, primeiro são pagas as líquidas e vencidas.
c) Se todas forem líquidas e vencidas, paga-se a mais onerosa primeiro.
A dívida é onerosa ao credor quando, por exemplo, rende juros, há algum gravame, pode ser
cobrada pelo rito executivo ou é garantida por cláusula penal. Ou seja, quanto mais
conseqüências negativas resultarem do não adimplemento de uma dívida, mas onerosa ela é.
O CC não esclarece o procedimento quando todas as dívidas são onerosas no mesmo grau.
Nesses casos, faz-se analogia ao art. 433, IV, do Código Comercial, dividindo o pagamento
proporcionalmente entre todas as dívidas.
Dação em pagamento:
Conceito e características:
Dação em pagamento é o acordo feito entre as partes no qual o credor aceita em receber
prestação diversa da que lhe é devida, liberando assim o devedor. As prestações devem ter
natureza diferente. Não caracteriza dação em pagamento o depósito bancário para pagar
dívida de dinheiro. A dação pode ser feita, se o credor assentir, para a quitação parcial,
quando o objeto oferecido é de menor valor que a dívida. Nesses casos, o credor deve
esclarecer o débito remanescente. Não precisa haver coincidência exata entre o valor da
dívida e o do objeto da dação. Pode o credor, logo, receber valor superior ao da dívida sem ter
que reembolsar o devedor. A dação em pagamento é uma forma indireta de pagamento. É um
contrato liberatório.
Espécies:
Disposições legais:
"Se for título de crédito a coisa dada em pagamento, a transferência importará em cessão" (art.
358). Sendo uma cessão de crédito, a dação do título deve ser notificada ao cedido.
Novação:
Conceito:
Novação é a criação de obrigação nova para extinguir uma anterior. A novação não produz
satisfação imediata do crédito. É, na verdade, modo extintivo não satisfatório, pois o credor
não recebe a prestação devida, mas sim adquire outro direito de crédito.
Requisitos da novação:
A nova dívida pode ser pura e simples ou também condicionada. Sendo pela segunda opção, a
novação dá-se com o implemento da condição estabelecida A grande maioria dos
doutrinadores permite a novação da dívida prescrita.
Constituição de nova dívida (aliquid novi). A inovação pode recair tanto sobre o objeto quanto
sobre o sujeito passivo ou ativo. Alterações secundárias na dívida, como exclusão de garantia,
alongamento do prazo, estipulação de juros, etc; não constituem novação.
Intenção de inovar (animus novandi). O credor deve ter a intenção de novar, pois renuncia o
crédito e todos os seus acessórios. Sendo assim, a novação não é presumida. "Não havendo
ânimo de novar, expresso ou tácito mas inequívoco, a segunda obrigação confirma
simplesmente a primeira" (art. 361). A novação tácita é observada sempre que a nova
obrigação for diversa na substância ou na forma da obrigação anterior.
Espécies de novação:
a) Novação objetiva ou real: Ocorre novação objetiva ou real "quando o devedor contrai com
o credor nova dívida para substituir a anterior" (art. 360, I). A mudança incide sobre a dívida.
A novação objetiva pode decorrer da mudança no objeto principal da obrigação, na natureza
desse objeto ou na sua causa jurídica. É necessário o animus novandi, caso contrário o que
ocorre é a dação em pagamento.
b) Novação subjetiva ou pessoal: Ocorre "quando novo devedor sucede ao antigo, ficando este
quite com o credor" (art. 360, II). A novação do devedor pode ocorrer sem a anuência deste,
ou seja, num acordo entre o credor e terceiro. Este caso denomina-se expromissão. Quando há
ordem ou consentimento do devedor, denomina-se delegação.
Pode o credor, na delegação, aceitar o novo devedor, mas não abrir mão de seus direitos para
com o devedor primitivo. Neste caso a delegação é imperfeita e não há novação. Também se
dá "quando, em virtude de obrigação nova, outro credor é substituído ao antigo, ficando o
devedor quite com este" (art. 360, III).
c) Novação mista: Novação mista é quando ocorre, ao mesmo tempo, mudança do objeto da
prestação e dos sujeitos da obrigação.
Efeitos da novação:
"Se o novo devedor for insolvente, não tem o credor, que o aceitou, ação regressiva contra o
primeiro, salvo se este obteve por má-fé a substituição" (art. 363). Como a nova obrigação
extinguiu a antiga não há no que se falar em se voltar contra o antigo devedor que se encontra
totalmente exonerado. Somente far-se-á isto se este devedor agiu de má-fé, pois ninguém pode
se aproveitar de sua torpeza.
"Operada a novação entre o credor e um dos devedores solidários, somente sobre os bens do
que contrair a nova obrigação subsistem as preferência e garantias do crédito novado. Os
outros devedores solidários ficam por este fato exonerados" (art. 365). Como a novação
extingue a obrigação anterior, todos os co-devedores são exonerados. O acordo feito entre um
dos co-devedores e o credor não se estende aos demais que não consentiram.
"A novação extingue os acessórios e garantias da dívida, sempre que não houver estipulação
em contrário, Não aproveitará, contudo, ao credor ressalvar o penhor, a hipoteca e a anticrese,
se os bens dados em garantia pertencerem a terceiro que não foi parte na novação" (art. 364).
A extinção da obrigação antiga atinge suas garantias e seus acessórios.
"Importa exoneração do fiador a novação feita sem seu consenso com o devedor principal"
(art. 366).
Compensação:
Conceito:
"Se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra, as duas obrigações
extinguem-se, até onde se compensarem" (art. 368). A compensação acontece quando duas
pessoas são credoras e devedoras entre si de obrigações diferentes. Uma obrigação é paga pela
outra, e as duas são então extintas.
Espécies de compensação:
A compensação é total quando o valor das dívidas for igual. Nesses casos, as duas dívidas se
compensam mutuamente por inteiro, não restando nada após.
Quando o valor das dívidas for desigual, a compensação é parcial. A dívida maior irá
compensar a dívida menor, que não existirá mais. Porém, a parcela da maior excedente
continua sendo devida pela outra parte.
A compensação é legal quando decorre da lei. Ela produz efeitos ipso iure. Opera de forma
automática, de pleno direito. O juiz apenas a reconhece, declarando sua configuração, desde
que provocado, pois não pode proclamar de ofício. Os efeitos retroagirão ao momento em que
foi constituída a segunda obrigação.
a) Reciprocidade dos créditos: As duas pessoas devem ser credoras e devedoras entre si. "O
devedor somente pode compensar com o credor o que este lhe deve; mas o fiador pode
compensar sua dívida com a de seu credor ao afiançado" (art. 371). Como o patrimônio do
fiador corre o risco de ser afetado caso o devedor não pague a dívida, é permitido que ele
efetue compensação com este débito que não é seu.
Terceiro não interessado que paga em nome do devedor não pode compensar uma dívida sua
com a do devedor nem com a do credor, pois são partes diversas. Aquele que se obriga em
favor de terceiro também não pode compensar esta dívida com uma que tenha com o devedor,
pois a obrigação que contraiu foi com o credor, pessoa diferente. Ele pode compensar essa
obrigação com uma que tenha com o credor, pois são dívidas entre as mesmas partes.
b) Liquidez das dívidas: "A compensação efetua-se entre dívidas líquidas, vencidas e de
coisas fungíveis" (art. 369).
c) Exigibilidade das prestações: Todas as obrigações devem ser exigíveis, ou seja, devem estar
vencidas. Isto porque só assim pode o credor impor a realização coativa do contracrédito.
Dívidas prescritas não podem ser alvo de compensação, a menos que a parte beneficiada não a
tenha alegado, pois assim a dívida é exigível. As dívidas condicionais só podem ser
compensadas com o implemento da condição. As à termo, só após o vencimento deste.
"Os prazos de favor, embora consagrados pelo uso geral, não obstam a compensação" (art.
372). As obrigações alternativas só podem ser compensadas caso a escolha feita pelo devedor
cumpra os requisitos.
d) Fungibilidade dos débitos: Os débitos devem ser fungíveis entre si, ou seja, devem ser
coisas fungíveis de mesma espécie. Exemplo: dívida de sacas de café não se compensa com
de sacas de milho. Se o contrato especificar a qualidade, a compensação só pode se dar entre
produtos da mesma. "Embora sejam do mesmo gênero as coisas fungíveis, objeto das duas
prestações, não se compensarão, verificando-se que diferem na qualidade, quando
especificada no contrato" (art. 370). É convencional quando estipulada pelas partes.
"Não haverá compensação quando as partes, por mútuo acordo, a excluírem, ou no caso de
renúncia prévia de uma delas" (art. 375). É a chamada exclusão bilateral. Pode haver renúncia
unilateral do direito de compensar. Porém, esta só pode ser feita após o surgimento do crédito
que seria compensado e antes de todos os requisitos da compensação estarem presentes. De
qualquer forma, os direitos de terceiros são preservados da renúncia.
Não havendo interesse público envolvido, nada impede que a renúncia seja feita previamente.
A renúncia não precisa ter fórmula específica, basta apenas ser clara, podendo tanto ser
expressa quanto tácita. A diversidade de causa devendi (o por quê de ter se constituído o
crédito) não é motivo para a incompatibilidade de compensação.
"A diferença de causa nas dívidas não impede a compensação, exceto:" (art. 373, caput).
a) Inciso I: "Se provier de esbulho, furto ou roubo". Como constituem atos ilícitos, não podem
ser objeto de compensação. Exemplo: aquele que empresta dinheiro a terceiro não compensa
seu crédito roubando a mesma quantia deste. Contudo, pode a vítima de tais atos optar por
uma compensação do que pela devolução do valor subtraído. A não possibilidade poderia
beneficiar o autor do ato infracional.
c) Inciso III: "Se uma for coisa não suscetível de penhora". A impossibilidade de se penhorar
significa que o objeto não pode ser alienado. A compensação de tal objeto resultaria
justamente na sua alienação à outra parte.
O efeito extintivo estende-se aos acessórios, pois cessa a dívida principal. O art. 1020 do CC
de 1916 dispunha que "o devedor solidário só pode compensar com o credor o que este deve a
seu coobrigado, até ao equivalente da parte deste na dívida comum". Como o novo Código
nada fala sobre o assunto, o mesmo entendimento é utilizado, chamado de princípio da
reciprocidade.
"O devedor que, notificado, nada opõe à cessão que o credor faz a terceiros dos seus direitos,
não pode opor ao cessionário a compensação, que antes da cessão teria podido opor ao
cedente. Se, porém, a cessão lhe não tiver sido notificada, poderá opor ao cessionário
compensação do crédito que antes tinha contra o cedente" (art. 377). Depois não há
compensação porque não existe reciprocidade entre o cedido e o cessionário, no caso.
"Quando as duas dívidas não são pagáveis no mesmo lugar, não se podem compensar sem
dedução das despesas necessárias à operação" (art. 378). A contrariu sensu, entende-se que
quando as dívidas são pagas no mesmo lugar, o desconto dessas despesas é permitido.
"Sendo a mesma pessoa obrigada por várias dívidas compensáveis, serão observadas, no
compensá-las, as regras estabelecidas quanto à imputação do pagamento" (art. 379).
Confusão:
Conceito e características:
Espécies de confusão:
³A confusão pode verificar-se a respeito de toda a dívida, ou só de parte dela" (art. 392). Pode
ocorrer confusão parcialmente ou de modo total. Se for parcial, só libera o devedor no
montante da quota, como na compensação.
"A confusão operada na pessoa do credor ou devedor solidário só extingue a obrigação até a
concorrência da respectiva parte no crédito, ou na dívida, subsistindo quanto ao mais a
solidariedade" (art. 383). Caso haja pluralidade de credores, se um deles morrer, sendo o
herdeiro o devedor, a confusão será parcial ou imprópria, tendo o devedor que pagar a quota
parte dos outros co-credores. Já no caso de pluralidade de devedores, se o credor morrer,
sendo um dos co-devedores o único herdeiro, a confusão é total ou própria para este, que não
precisará pagar nada a si mesmo. Entretanto os outros co-devedores continuam a dever, tendo
agora que pagar esse devedor que se tornou credor.
Efeitos da confusão:
A confusão da dívida principal extingue seus acessórios, mas a recíproca não é verdadeira. Se
o credor morrer e o herdeiro for o fiador, a garantia da dívida se extinguirá, mas a mesma
permanecerá, tendo o devedor agora que pagar para seu antigo fiador.
Cessação da confusão:
"Cessando a confusão, para logo se restabelece, com todos os seus acessórios, a obrigação
anterior" (art. 384). Exemplo de cessão da confusão: o credor torna-se ausente, dando início à
sucessão provisória e depois reaparece. Nesses casos, não houve uma extinção da obrigação,
mas apenas uma neutralização ou paralisação. As partes podem convencionar a não produção
dos efeitos da confusão. Isso, porém, somente vale entre elas, não se estendendo a terceiros.
Remissão de dívidas:
O art. 386 impõe como requisitos para a remissão a capacidade do remitente (credor) de
alienar e a do remitido (devedor), de adquirir. Qualquer crédito, desde que não contrarie o
interesse público ou de terceiro, é suscetível à remissão. A natureza da remissão é contratual.
Espécies de remissão:
A remissão é considerada total quando exonera o devedor por completo, extinguindo a dívida
completamente. Quando exonera o devedor de somente uma parcela da dívida, diz-se que a
remissão foi parcial.
A remissão pode ser concedida sob condição ou a termo inicial. Nessas hipóteses, a extinção
dá-se no complemento do estipulado.
Presunções legais:
"A devolução voluntária do título da obrigação, quando por escrito particular, prova
desoneração do devedor e seus coobrigados, se o credor for capaz de alienar, e o devedor
capaz de adquirir" (art. 386). Não basta a simples entrega, deve haver a efetiva e voluntária
devolução do título. Se o devedor estiver com a posse do escrito da dívida e alega que a
pagou, presume-se que assim foi feito (art. 324). Não há necessidade de se provar de que o
credor entregou-lhe o título. Agora, se o devedor alega que a dívida foi remitida, deve provar
a entrega espontânea do título pelo credor.
"A restituição voluntária do objeto empenhado prova a renúncia do credor à garantia real, não
a extinção da dívida" (art. 387). A entrega do objeto penhorado ao devedor não faz com que
este fique desobrigado a pagar a dívida, apenas transforma a garantia real do credor em
pessoal.
Em regra, as obrigações são cumpridas voluntariamente, seja pelo devedor ou por terceiro.
Quando a prestação devida não é efetuada, diz-se que houve o inadimplemento da obrigação.
Quando a inexecução da obrigação advém de culpa latu sensu do devedor, diz-se que o
inadimplemento é culposo, cabendo ao credor o direito de acionar os mecanismos para
pleitear o cumprimento forçado. Quando a inexecução decorre de evento impossível de evitar
ou impedir, o inadimplemento é fortuito.
Inadimplemento absoluto:
"Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização
monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado"
(art. 389).
Responsabilidade contratual e extracontratual:
Os absolutamente capazes são os únicos que podem ser partes de um contrato. Por isso, a
responsabilidade contratual só atinge essa figura. Já o dever genérico de não lesar a outrem
pode ser inobservado tanto por capazes quanto por incapazes. Sendo assim, a responsabilidade
extracontratual também atinge tais figuras.
"Nas obrigações negativas o devedor é havido por inadimplemento desde o dia em que
executou o ato de que se devia abster" (art. 390). Nas obrigações constituídas por uma série de
abstenções, o credor pode mover ação de cunho cominatório para impedir o reiteramento do
devedor de uma dessas abstenções. Se a obrigação for de prestação única, pode o credor, além
das perdas e danos, exigir o desfazimento do que foi realizado (art. 251).
Responsabilidade patrimonial:
"Pelo inadimplemento das obrigações respondem todos os bens do devedor" (art. 391).
Quando as perdas e danos são decretadas e o pagamento não é feito, a execução será forçada,
sendo que todos os bens do devedor respondem pelo inadimplemento, ou seja, uma eventual
penhora pode recair sobre qualquer bem do devedor. Contudo, ninguém pode ser preso por
dívida civil, exceto o depositário infiel e o devedor de pensão de direito de família.
Contratos benéficos e onerosos:
"Nos contratos benéficos, responde por simples culpa contratante, a quem o contrato
aproveite, e por dolo aquele a quem não favoreça. Nos contratos onerosos, responde cada uma
das partes por culpa, salvo as exceções previstas em lei" (art. 392). Contrato benéfico é o
gratuito, ou seja, somente a uma parte este é vantajoso, cabendo a outra apenas os deveres,
como a doação. Aquele que não se aproveita em nada com o contrato não deve ser penalizado
por agir culposamente. Porém, o não cumprimento doloso gera indenização, pois ninguém
pode descumprir deliberadamente uma obrigação contraída livremente. No contrato oneroso,
as duas partes estão em igualdade, com direitos e deveres recíprocos. Sendo assim, ambos
respondem da mesma forma pela culpa e pelo dolo.
Inadimplemento fortuito da obrigação:
"O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se
expressamente não se houver por eles responsabilizado" (art. 393, caput). As partes podem,
porém, estabelecer a responsabilização do devedor mesmo que o inadimplemento ocorra sem
sua culpa (pacta sunt servanda). As circunstâncias que causaram a impossibilidade de
prestação pela parte do devedor, podem ser provocadas por ato de terceiro, do credor, por caso
fortuito ou força maior ou por até mesmo ato do devedor, quando não houver culpa do
mesmo.
Conceito:
"Considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e o credor que não quiser
recebê-lo no tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção estabelecer" (art. 394). Embora a
mora também se constitua quando o devedor tenta pagar de forma diferente do estipulado, o
seu retardamento é o modo mais comum no qual ela se dá. Não é só pelo descumprimento da
convenção que a mora acontece. O cometimento de infração à lei também a caracteriza.
A súmula 54 do STJ dispõe que "os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso
de responsabilidade extracontratual. Na contratual, entretanto "contam-se os juros de mora
desde a citação inicial" (art. 405).
Nas obrigações de não fazer, não há o instituto da mora, pois "o devedor é havido por
inadimplemento desde o dia em que executou o ato de que se devia abster" (art. 390).
Quando o retardamento da prestação torna a mesma inútil ao credor, não há mais mora, mas
sim o inadimplemento absoluto. Exemplo: de nada adianta ao credor receber o bolo que
encomendou para seu casamento um dia depois da festa.
A prestação que não interessa mais ao credor é tida como impossível. Não basta que o credor
alegue que a prestação não lhe é mais útil, as circunstâncias devem demonstrar isto.
Quando o devedor está em mora, ele é notificado pelo credor, para que esteja ciente da sua
situação e possa purgá-la. No inadimplemento absoluto a notificação não é necessária, já que
o cumprimento da obrigação é inviável.
Mora ex re:
É a declarada pela lei (o credor não precisa fazer nada para caracterizá-la). Há três casos nos
quais a mora é ex re. Nos demais, ela é ex persona. São elas:
a) "O inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no seu termo, constitui de pleno direito
em mora o devedor" (art. 397, caput). Todavia, "Não havendo termo, a mora se constitui
mediante interpelação judicial ou extrajudicial" (art. 297, parágrafo único). É caso que se
refere o parágrafo único do art. 297 é de mora ex persona, pois depende de providência do
credor.
b) "Nas obrigações provenientes de ato ilícito, considera-se o devedor em mora, desde que o
praticou" (art. 398). É desnecessária a notificação, pois a indenização é evidente. A mora é,
pois, presumida.
Mora ex persona:
O decreto lei n. 58/37, art. 14, protegendo as pessoas que adquirem imóveis loteados em
prestações, dispõe que só incorrerão em mora tais pessoas depois de serem notificadas com o
prazo de trinta dias, mesmo que a parcela seja positiva e líquida, com termo certo. É o
legislador transformando uma mora ex re em mora ex persona.
O decreto lei n. 745/69 impede a rescisão do compromisso de compra e venda de imóvel não
loteado, mesmo que haja cláusula resolutiva expressa, sem a notificação no prazo de 15 dias.
Tanto no caso do decreto n. 58 quanto no n. 745, a notificação deve ser feita judicialmente ou
pelo cartório de registros de imóveis. Nessas hipóteses, a simples citação não é suficiente para
constituir a mora, é necessária a interpelação judicial. A jurisprudência, no entanto, tem
entendido que a citação feita na própria causa principal produz mesmo efeito.
Mora do devedor:
a) Exigibilidade da prestação: A dívida deve ser líquida e certa. Além disso, a realização
tardia deve ainda ser proveitosa ao credor Caso a condição que sujeitava a obrigação não se
verificou, ou não houve a escolha a qual o pagamento da obrigação dependesse, não haverá
mora, pois não se pode afirmar se o devedor efetivamente devia ou o que devia.
c) Constituição em mora: Este requisito é somente para os casos de mora ex persona, que
dependem da ação do credor, pois nos casos ex re, a mora já é constituída desde o fato.
"Responde o devedor pelos prejuízos a que sua mora der causa, mais juros, atualização dos
valores monetários segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de
advogado" (art. 395). Caso a prestação torne-se inútil ao credor, ou seja, haja o
inadimplemento absoluto, o credor pode exigir a rescisão do contrato, reclamando as perdas e
danos.
"O devedor em mora responde pela impossibilidade da prestação, embora essa
impossibilidade resulte de caso fortuito ou força maior, se estes ocorrerem durante o atraso,
salvo se provar isenção de culpa, ou que o dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse
oportunamente desempenhada" (art. 399). Isto significa que, na mora, o devedor responde por
todos os riscos da coisa. A parte do artigo que isenta o devedor caso ele prove não ter culpa é
ilógico, pois se assim provar não haverá mora em si.
Mora do credor:
Conceito:
Requisitos:
b) Oferta da prestação: É através dela que fica revelada a tentativa do devedor de satisfazer a
obrigação. Deve-se ter claro que o pagamento foi oferecido, mas o credor o recusou ou não
prestou a necessária colaboração para a sua efetivação. A mora accipiendi supõe que o
devedor fez o que lhe competia.
Efeitos:
"A mora do credor subtrai o devedor isento de dolo à responsabilidade pela conservação da
coisa, obriga o credor a ressarcir as despesas empregadas em conservá-la, e o sujeita a recebê-
la pela estimação mais favorável ao devedor, se o seu valor oscilar entre o dia estabelecido
para o pagamento e o da sua efetivação" (art. 400). A lei exige que o devedor tenha o mínimo
de cuidado com a coisa que forçadamente deve reter. Se o devedor agir com dolo,
abandonando a coisa, por exemplo, responderá pela deteriorização desta. Esta solução é
tomada porque o direito que o devedor tem de abandonar a coisa colide com o interesse da
comunidade, sendo preferível exigir que este cuide da coisa, mesmo que por motivo alheio à
sua vontade. As despesas que o credor deve ressarcir são somente as necessárias, previstas no
art. 96, § 3°.
A mora simultânea de ambos as partes (nem o devedor comparece ao local para efetuar o
pagamento, nem o credor vai para recebê-lo) faz com que a situação permaneça como se nada
tivesse ocorrido. Há o cancelamento mútuo das moras. Ninguém pode exigir da outra parte
perdas e danos.
Se as moras são sucessivas (primeiro o credor não quer receber e depois é o devedor que se
rejeita em pagar, ou vice-versa) os prejuízos de cada mora, contabilizados separadamente,
serão de responsabilizadade das respectivas partes. Os danos de cada mora não se cancelam,
porém nada impede que ocorra uma compensação convencional das perdas e danos.
Purgar ou emendar a mora é neutralizar seus efeitos. Ela só é possível se a prestação ainda for
proveitosa ao credor, pois se não for, haverá inadimplemento absoluto, não tendo o que se
falar em mora. A purgação produz efeitos futuros que neutraliza os produzidos, mas não os
apaga.
I - "Por parte do devedor, oferecendo este a prestação mais a importância dos prejuízos
decorrentes do dia da oferta".
II - "Por parte do credor, oferecendo-se este a receber o pagamento e sujeitando-se aos efeitos
da mora até a mesma data".
As partes podem aceitar a oferta sem a incidência dos juros da mora, renunciando-os. Porém,
este ato não significa propriamente a purgação da mora.
Entende-se, hoje, que a purgação pode dar-se a qualquer momento da mora, desde que não
tenha causado dano à outra parte. O devedor em mora pode até consignar o pagamento, caso o
credor não tenha extraído os efeitos jurídicos de tal atraso.
A cessação da mora é diferente da purgação. Nela, o efeito não depende daquele que agiu em
mora, mais sim da outra parte. Ela decorre da extinção da obrigação. A cessação produz
efeitos pretéritos, pois afasta os já produzidos.
Perdas e danos
Conceito:
É toda a lesão de qualquer bem jurídico, seja o dano material ou moral. O dano é material
quando atinge e diminui o patrimônio do lesado. O dano é moral quando atinge bem jurídico,
mas que não tenha repercussão na órbita financeira. A indenização de dano material mede-se
pelo prejuízo ao patrimônio da parte. Já a de dano moral é arbitrada judicialmente. A apuração
do dano, ou prejuízo, é feita por meio da liquidação determinada na lei processual (art. 946).
A finalidade da liquidação é tornar prático e possível a efetiva reparação do prejuízo.
"As perdas e danos, nas obrigações de pagamento em dinheiro, serão pagas com atualização
monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, abrangendo juros, custas e
honorários de advogado, sem prejuízo da pena convencional" (art. 404, caput). Se o credor
teve que ingressar em juízo, além de pagar as custas do atraso, o devedor deve pagar as custas
do processo (art. 20, CPC).
As perdas e danos têm como objetivo restituir o dano causado pela lesão do bem, logo,
"provado que os juros da mora não cobrem o prejuízo, e não havendo pena convencional,
pode o juiz conceder ao credor indenização suplementar" (art. 404, parágrafo único). Quando
a responsabilidade é contratual, "contam-se os juros de mora desde a citação inicial" (art.
405).
Juros legais
Conceito:
Juros são os rendimentos do capital. São os frutos civis da coisa. Representam o pagamento
pela utilização do capital alheio.
Espécies:
Os juros são considerados convencionais quando são ajustados pelas partes, de comum
acordo. Quando os juros são previstos ou impostos pela lei, são chamados de legais.
Os juros moratórios podem ser tanto convencionais quanto legais. Quando legais, são
definidos pela Fazenda Nacional. "Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou
o forem sem taxa estipulada, ou quando provierem de determinação da lei, serão fixados
segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à
Fazendo Nacional" (art. 406). Quando convencionais, podem assumir qualquer valor, porém,
nunca superior ao limite legal.
"Ainda que se não alegue prejuízo, é obrigado o devedor aos juros da mora que se contarão
assim às dívida em dinheiro, como às prestações de outra natureza, uma vez que lhes esteja
fixado o valor pecuniário por sentença judicial, arbitramento, ou acordo entre as partes" (art.
407). Os juros moratórios são incluídos também na liquidação.
Juros simples são os que são sempre calculados sobre o capital inicial. Já os juros compostos
são capitalizados anualmente, integrando o capital. É o chamado juros sobre juros.
Regulamentação legal:
Segundo o art. 405, nos casos de responsabilidade contratual, "contam-se os juros de mora
desde a citação inicial".
A Lei de Usura (Dec. n. 22.626/33) limita os juros a 1% ao mês. Essa lei também proíbe a
cobrança dos juros compostos. Porém, o art. 591 do novo CC permite os juros compostos. O
art. 406 estipula que a taxa máxima não mais fixa, mas sim variável, conforme o estabelecido
pela Fazenda Nacional.
A Fazenda vem adotando a taxa SELIC como meio de aferição dos juros legais. Contudo, o
STJ não aceita a utilização da taxa SELIC não para esse fim, pois ela não é juridicamente
segura, já que além de determinar os juros trás embutida a correção monetária. O
entendimento dominante da jurisprudência é de que deve ser imposto o determinado na Lei da
Usura, juntamente com o estabelecido no Código Tributário Nacional, ou seja, 12% ao ano.
Entende-se que o novo CC, por ser lei geral posterior, não revoga a lei especial anterior (Lei
da Usura).
Cláusula Penal
Conceito:
É uma obrigação acessória, na qual se estipula uma pena ou multa com o objetivo de evitar o
inadimplemento da obrigação principal. Representa reforço ao pacto obrigacional através da
ameaça de uma sanção civil, caso a obrigação não seja cumprida. Chama-se também de pena
convencional ou multa contratual.
"Incorre de pleno direito o devedor na cláusula penal, desde que, culposamente, deixe de
cumprir a obrigação ou se constitua em mora" (art. 408).
Natureza jurídica:
A cláusula penal é meio de coerção para que o devedor cumpra a obrigação É também meio
de ressarcimento dos danos causados pelo inadimplemento da obrigação. A cláusula penal
constitui modo de cobrir os prejuízos que dificilmente poderiam ser provados, bem como
livrar-se de sua liquidação.
"Para exigir a pena convencional, não é necessário que o credor alegue prejuízo" (art. 416,
caput). O caput do artigo 416 mostra porque a cláusula penal é utilizada. Sem ter o ônus de
provar o prejuízo sofrido, o credor apenas demonstra que houve o inadimplemento da
obrigação. O devedor não pode eximir-se da pena alegando ser ela excessiva, ou
desproporcional com o dano causado, pois assim foi fixado o acordo.
"Ainda que o prejuízo exceda ao previsto na cláusula penal, não pode o credor exigir
indenização suplementar se assim não foi convencionado. Se o tiver feito, a pena vale como
mínimo da indenização, competindo ao credor provar o prejuízo excedente" (art. 416,
parágrafo único). O parágrafo único do art. 416 fala dos casos em que a cláusula não é
suficiente para cobrir todos os prejuízos. Nessas hipóteses, cabe ao credor provar o valor das
perdas para ser indenizado. Contudo, essa indenização não é imposta em conjunto com a
cláusula penal. O valor dessa segunda é descontado no da primeira, pois se busca apenas o
ressarcimento dos danos, e não um enriquecimento ilícito do credor.
"O valor da cominação imposta na cláusula penal não pode exceder o da obrigação principal"
(art. 412). Caso haja excesso, o juiz determinará a redução do valor, não chegando a declarar a
ineficácia absoluta da cláusula.
"A penalidade deve ser reduzida eqüitativamente pelo juiz se a obrigação principal tiver sido
cumprida em parte, ou se o montante da penalidade for manifestamente excessivo, tendo-se
em vista a natureza e a finalidade do negócio" (art. 413). Quando a prestação foi cumprida em
parte, usa-se o princípio da eqüidade, reduzindo-se proporcionalmente o valor. A redução do
excesso não possui uma medição fixa. O juízo é de ponderação, observando-se fatores
subjetivos como a natureza e a finalidade do negócio, para se chegar ao valor final. Tal
disposição é de ordem pública, podendo a redução ser determinada de ofício pelo juiz.
Há diversas leis que estipulam o valor máximo da cláusula penal em situações específicas.
Nesses casos, o juiz observa os limites especiais fixados.
Espécies:
"A cláusula penal estipulada conjuntamente com a obrigação, ou em ato posterior, pode
referir-se à inexecução completa da obrigação, à de alguma cláusula especial ou simplesmente
à mora" (art. 409).
A cláusula penal pode ser compensatória, quando estipulada na hipótese de inadimplemento
da obrigação; ou moratória, quando aplicada nos casos de mora do devedor.
A cláusula penal compensatória geralmente possui valor elevado, pois representa a
recompensa do grande prejuízo que é o não cumprimento da prestação.
"Quando se estipular a cláusula penal para o caso de total inadimplemento da obrigação, esta
se converterá em alternativa a benefício do credor" (art. 410). O dispositivo da a oportunidade
para o credor escolher entre pleitear a pena compensatória, exigir o ressarcimento das perdas e
danos ou exigir o cumprimento da prestação. Tanto a cláusula penal quanto o ressarcimento
das perdas e danos tem como objetivo impedir que o credor saia prejudicado com o
inadimplemento. Em qualquer uma das hipóteses, o credor tem seu patrimônio
preservado. Por isso só é permitido ao credor escolher uma das soluções. A escolha de mais
de uma representaria um enriquecimento ilícito do credor.
Nos casos de cláusulas penais moratórias o valor da multa é geralmente pequeno, pois os
prejuízos são referentes a um pequeno atraso, não ao total inadimplemento. Por isso a
aplicação da multa conjuntamente com a exigência da prestação da obrigação não caracteriza
enriquecimento ilícito do credor. É, na verdade, o modo para ele não sair prejudicado dessa
relação obrigacional.
Sendo assim, uma mesma obrigação pode ter até 3 cláusula penais diferentes (1
compensatória e 2 moratórias, uma para o caso de atraso e outra para o caso de cumprimento
de forma diversa).
Quando não há certeza sobre qual é a hipótese estipulada no contrato, costuma-se observar o
valor da cláusula para relaciona-la à hipótese provavelmente correspondente.
Há certa distinção entre pena convencional (imposta na cláusula penal) e multa cominatória
ou astreinte: Na pena convencional, o juiz condena a parte ao pagamento da multa da cláusula
penal observado o limite do art. 412 do CC. Já na multa cominatória em obrigação de fazer,
decorrente de título judicial para garantir a efetividade do processo, o art. 644 é que a regula,
instituindo que não há limite para o valor da cominação
A diferença entre a cláusula penal e a multa simples é que a cláusula penal é uma importância
a ser paga caso haja uma infração, com o objetivo de ressarcir o prejuízo do credor, objetivo
este que não é o da multa simples.
A multa penitencial se aproxima da cláusula penal. Entretanto, a cláusula penal é atribuída em
favor do credor. Este escolhe se quer acioná-la ou prefere o adimplemento da obrigação,
acrescido as perdas e danos (somente no caso da multa por mora). Já a multa penitencial é
estipulada em favor do devedor. É quando se permite que ele, ao invés de cumprir a
obrigação, irá pagar tal multa.
Há várias distinções entre cláusula penal e arras penitenciais. A cláusula penal é uma coerção
para se evitar o inadimplemento, enquanto que as arras facilita o descumprimento da avença,
pois as partes sabem qual será a conseqüência do inadimplemento: perda do valor dado, ou
sua restituição em dobro dependendo do caso. A cláusula penal pode ser reduzida pelo juiz
quando em excesso, o arraz não. A cláusula penal é exigível apenas no inadimplemento ou na
mora, já as arras são pagas por antecipação. A cláusula penal existe apenas pela estipulação no
instrumento, enquanto que as arras necessitam da entrega de dinheiro ou objeto.
Entretanto, após pagar o credor, "aos não-culpados fica reservada a ação regressiva contra
aquele que deu causa à aplicação da pena (art. 414, parágrafo único). Dessa forma, é somente
o devedor culpado que arca com as conseqüências de sua falta.
Se a obrigação for divisível, "só incorre na pena o devedor ou o herdeiro do devedor que a
infringiu, e proporcionalmente à sua parte na obrigação" (art. 415).
Arras ou sinal
Conceito:
É a quantia ou coisa entregue por uma parte a outra simbolizando a confirmação do acordo
entre as partes e, em certos casos, assegurando o não prejuízo de uma das partes pelo direito
de arrepender que a outra tem. Cabe apenas nos contratos bilaterais. É o pacto acessório,
dependendo da existência de um principal. É impossível imaginar a existência das arras
isoladas. Têm caráter real, pois o simples acordo entre as partes não é suficiente para
caracterizá-lo. É necessária a entrega de quantia de dinheiro ou objeto.
Espécies:
As arras são confirmatórias quando sua função é apenas confirmar o contrato pactuado.
Nesses casos, "se a parte que deu as arras não executar o contrato, poderá a outra tê-lo por
desfeito, retendo-as; se a inexecução for de quem recebeu as arras, poderá quem as deu haver
o contrato por desfeito, e exigir sua devolução mais o equivalente, com atualização monetária
segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, juros e honorários de advogado" (art.
418).
Caso a parte prejudicada não se contentar com o valor recebido, achando que não foi
totalmente ressarcido, pode "pedir indenização suplementar, se provar maior prejuízo, valendo
as arras como taxa mínima", ou pode ainda "exigir a execução do contrato, com as perdas e
danos, valendo as arras como o mínimo de indenização" (art. 419).
Percebe-se que as arras não têm nenhuma função específica quando confirmatória. É apenas
uma quantia estipulada inicialmente que ajudará no ressarcimento de eventual prejuízo.
As arras são chamadas de penitenciais quando têm por função resguardar o direito de
arrependimento das partes. Pode a parte infratora decidir por liberar esse valor à outra ao invés
do cumprimento da obrigação. O objetivo não é ressarcir os prejuízos da parte afetada, mas
sim representar uma pequena punição pelo descumprimento da outra.
"Se nos contratos for estipulado o direito de arrependimento para qualquer das partes, as arras
ou sinal terão função unicamente indenizatória. Neste caso, quem as deu perdê-las-á" em
benefício da outra parte; e quem as recebeu devolvê-las-á, mais o equivalente. Em ambos os
casos não haverá direito a indenização complementar" (art. 420). A devolução em dobro é
imposta porque se a devolução fosse simples, estar-se-ia apenas restabelecendo o statu quo
ante, sem nenhuma punição à parte que descumpriu com a obrigação. Como a função das
arras penitencial não é de ressarcir os prejuízos, não é necessário a prova do prejuízo real para
que possam ser exigidos.
A jurisprudência estabeleceu certas hipóteses nas quais a devolução das arras é apenas
simples, e não dupla, são elas:
"Se, por ocasião da conclusão do contrato, uma das partes der à outra, a título de arras,
dinheito ou outro bem móvel, deverão as arras, em caso de execução, ser restituídas ou
computadas na prestação devida, se do mesmo gênero da principal" (art. 417). Quando a
obrigação se dá normalmente, sem o arrependimento de nenhuma das partes, as arras
funcionam como princípio do pagamento.