Poder Judiciário BRASIL Sentenca 268

30/03/2017 Evento268SENT1
PoderJudicirio
JUSTIAFEDERAL
SeoJudiciriadoParan
13VaraFederaldeCuritiba
Av.AnitaGaribaldi,888,2andarBairro:CabralCEP:80540400Fone:(41)32101681
www.jfpr.jus.brEmail:[email protected]
AOPENALN505160623.2016.4.04.7000/PR
AUTOR:MINISTRIOPBLICOFEDERAL
AUTOR:PETRLEOBRASILEIROS/APETROBRS
RU:EDUARDOCOSENTINODACUNHA
SENTENA
13.VARAFEDERALCRIMINALDECURITIBA
PROCESSOn.505160623.2016.4.04.7000
AOPENAL
Autor:MinistrioPblicoFederal
Ru: Eduardo Cosentino da Cunha, brasileiro, casado, economista,

nascidoem29/09/1958,filhodeElzaCosentinodaCunhaedeElcyTeixeirada
Cunha,portadordaCIRGn3811353/RJ,inscritonoCPFsobon504.479.717
00,atualmenterecolhidonoComplexoMdicoPenalnoParan
I.RELATRIO
1.TratasededennciaformuladapeloMPFpelaprticadecrimes
de corrupo (art. 317 do CP), de lavagem de dinheiro, por trs vezes, (art. 1,
caput,incisoV,daLein.9.613/1998)eevasodedivisas,porcatorzevezes,no
mbito da assim denominada Operao Lavajato, contra o acusado acima
nominado(evento1,inic1,denuncia2edenuncia3).
2. A denncia tem por base o Inqurito 4146/DF, que tramitou

originariamente perante o Egrgio Supremo Tribunal Federal, e os processos
conexos. Todos esses processos, em decorrncia das virtudes do sistema de
processo eletrnico da Quarta Regio Federal, esto disponveis e acessveis s
partes deste feito e estiveram disposio para consulta da Defesa desde pelo
https://eproc.jfpr.jus.br/eprocV2/controlador.php?acao=acessar_documento_publico&doc=701490883637120940040547493602&evento=70149088363712 1/109
menos o oferecimento da denncia, sendo a eles ainda feita ampla referncia no

cursodaaopenal.Todososdocumentosnelesconstantesinstruem,portanto,os
autosdapresenteaopenal.
3. Em sntese, segundo a denncia, no mbito das investigaes da

assim denominada Operao Lavajato, foram colhidas provas de que empresas
fornecedoras da Petrleo Brasileiro S/A Petrobrs pagariam, de forma
sistemtica,vantagemindevidaadirigentesdaestatal.
4.Surgiram,porm,elementosprobatriosdequeocasotranscende
acorrupoelavagemdecorrentedeagentesdaPetrobrs,servindooesquema
criminoso para tambm corromper agentes polticos e financiar, com recursos
provenientesdocrime,partidospolticos.
5. Aos agentes polticos cabia dar sustentao nomeao e

permanncianoscargosdaPetrobrsdosreferidosDiretores.Paratanto,recebiam
remuneraoperidica.
6. Entre as empreiteiras, os Diretores da Petrobrs e os agentes

polticos,atuavamterceirosencarregadosdorepassedasvantagensindevidaseda
lavagemdedinheiro,oschamadosoperadores.
7.Apresenteaopenaltemporobjetoumafraodessescrimesdo
esquemacriminosodaPetrobras.
8. Em sntese, segundo a denncia apresentada, o contrato de

aquisio pela Petrobrs dos direitos de participao na explorao de campo de
petrleo na Repblica do Benin, pas africano, da Compagnie Beninoise des
HydrocarburesSarlCBH,teriaenvolvidoopagamentodevantagemindevidaao
ento Deputado Federal Eduardo Cosentino da Cunha de cerca de 1.311.700,00
franossuos,correspondentesacercadeUSD1,5milho.
9. A propina teria sido paga por Idalcio de Castro Rodrigues de

Oliveira, proprietrio da empresa vendedora, e acertada com o Diretor da rea
InternacionaldaPetrobrsJorgeLuizZelada.
10. Teria sido intermediada pelo operador Joo Augusto Rezende

Henriquesepagamediantetransfernciasemcontassecretasnoexterior.
11. Parte da propina teria sido destinada a contas no exterior em

nomedeoffshoresoutrustsquealimentavamcartesdecrditointernacionaise
queforamutilizadospeloexparlamentareseusfamiliares.
12.ConstaqueaDiretoriaExecutivaeoConselhodeAdministrao
da Petrobrs aprovaram, em 30/12/2010 e em 11/01/2011, respectivamente, a
aquisiopropostapelareaInternacionalde50%daparticipaonoBloco4,na
RepblicadoBenin,daempresaCompagnieBninoisedesHydrocarburesCBH.
13. Previstos USD 34.500.000,00 como valor bsico de aquisio

(bnus de assinatura e reembolso de custos pretritos) e outros pagamentos
posteriores.
14.RelatriodeauditoriadaPetrobrsconcluiu,posteriormente,que
a CBH tinha capacidade financeira ignorada na poca, fato este conhecido pela
rea Internacional, e o que tornava a associao temerria, e que os custos das
exploraodospoosforamsubdimensionados.
15.Posteriormente,em09/06/2015,foiaprovado,naPetrobrs,asua
sada do negcio, pela frustrao na explorao, j que no encontrado petrleo
(http://www.petrobras.com.br/fatosedados/esclarecimentosobreatividadesno
benin.htm).
16.ApsacelebraodocontratoentreaPetrobrsOilandGasBV
e a CBH, foi transferida, em 03/05/2011, a quantia de USD 34,5 milhes da
primeiraparaasegunda.
17. Em 03/05/2011, a CBH transferiu USD 31 milhes conta

mantidanoBSI,emLugano/Sua,daLusitaniaPetroleum(BC)Limited,que
umaholding,proprietria,entreoutrasempresas,daCBH.
18.Porsuavez,em05/05/2011,foramtransferidosUSD10milhes
da conta da Lusitania para a conta Z203217 no Banco BSI, em Zurique/Sua, e
quetitularizadapelaoffshoreAconaInternationalInvestmentsLtd.,constituda
em 25/09/2010 na Repblica de Seychelles. O beneficirio final da conta Acona
seriaJooAugustoRezendeHenriques.
19. Da conta em nome da offshore Acona Internacional, foram,

segundo a denncia, realizadas cinco transferncias, entre 30/05/2011 a
23/06/2011, no total de 1.311.700,00 franos suos, correspondentes a cerca de
um milho e quinhentos mil dlares, para a conta de n 4548.1602 no Banco
MerrilLynch,sucedidopeloBancoJuliusBaer,emGenebra,emnomedeOrion
SP.Foramcincotransferncias:
20.OutrosUSD7,86milhesforampulverizadosemdiversascontas
noexteriorcujostitularesnoforamaindaidentificados.
21. A Orion SP um trust com endereo formal em Edimburgo e

segundo a denncia, pertenceria ao acusado Eduardo Cosentino da Cunha,
DeputadoFederalaotempodosfatos.
22.Aindasegundoadenncia,em11/04/2014,dacontaemnomeda
Orion, foram efetuadas duas transferncias no montante de 970.261,34 francos
suosede22.608,37eurosparaconta4548.6752noBancoJuliusBaer(sucessor
doMerrillLynch),emGenebra,Sua,emnomedaNethertonInvestmentsPTE.
Ltd., constituda em Singapura. A conta em nome da Netherton tambm seria,
segundoadenncia,controladapeloacusadoEduardoCosentinodaCunha.
23. USD 165.000,00 teriam sido transferidos, em 04/08/2014, da

contaemnomedaNethertonparacontaden4547.8512,denominadadeKpek,
mantida na mesma instituio financeira, e que seria utilizada por Cludia
Cordeiro da Cruz, esposa de Eduardo Cosentino da Cunha. Os valores na conta
Kpekteriamsidoutilizadosparaopagamentodedespesasdecartodecrditodo
acusadoedeseusfamiliares,nomontantedeUSD156.275,49,entre05/08/2014a
02/02/2015.
24. Segundo a denncia, o recebimento da vantagem indevida em

contasecretanoexterior,astransfernciassucessivasaoutrascontassecretasea
ocultaodessascontasevaloresdasautoridadesbrasileirasconfigurariamcrimes
delavagemdedinheiro.
25. A denncia tambm imputa a Eduardo Cosentino da Cunha o

crime de evaso fraudulenta de divisas, do art. 22, pargrafo nico, da Lei n
7.492/1986, j que o acusado no informou a existncia das contas e dos ativos
nela mantidos, entre 31/12/2007 a 31/12/2014, ao Banco Central do Brasil e
ReceitaFederal.ReportaseadennciascontasemnomedaOrion,daNetherton
eaindaemnomedaTriumphSP,den466857,tambmmantidanoBancoJulius
Baer (sucessor do Merril Lynch Bank), em Genebra, na Sui, cujo beneficirio
finalseriaEduardoCosentinodaCunha.
26.Estaasntesedadenncia.
27.AdennciafoipropostaoriginariamentepeloExmo.Procurador
Geral da Repblica perante o Egrgio Supremo Tribunal Federal no Inqurito
4146, uma vez que o acusado exercia na poca mandato de Deputado Federal e
especificamenteocargodePresidentedaCmaradosDeputados.
28. A resposta do acusado foi apresentada perante o Egrgio

SupremoTribunalFederal,nasfls.1.1741.249doprocesso(evento2,inq7,inq8e
inq9).
29. A denncia foi recebida pelo Plenrio do Egrgio Supremo

Tribunal Federal em 22/06/2016, Relator, o eminente Ministro Teori Zavascki
(Inqurito4146,evento1,arquivosdecstjstf5adecstjstf7).Naocasio,porm,foi
excludadadennciaacausadeaumentoprevistanoart.327,2,paraocrimedo
art.317,todosdoCP,"incabvelpelomeroexercciodomandatopopular".
30.Em12/09/2016,foideclaradaaperdadomandatoparlamentarde
EduardoCosentinodaCunhapelaCmaradosDeputados.
31. Em 14/09/2016, foi determinada, pelo eminente Ministro Teori

Zavascki,aremessadosautosaesteJuzo(evento1,arquivodecstjstf10,fls.13),
pelo qual j tramitava a ao penal 502768535.2016.4.04.7000 proposta contra
outras pessoas envolvidas supostamente no mesmo fato e que resultado do
desmembramento do prprio Inqurito 4146, conforme autorizao do Supremo
Tribunal Federal (Cludia Cordeiro Cruz, Idalcio de Castro Rodrigues de
Oliveira,JooAugustoRezendeHenriqueseJorgeLuizZelada).
32. J perante este Juzo, por despacho de 13/10/2016 (evento 9),

aps manifestao do MPF de ratificao da denncia, salvo em relao
imputao do crime do art. 350 da Lei n 4.737/1965, que constava na denncia
originria, foi determinado o prosseguimento da ao penal, agora sob o n
505160623.2016.4.04.7000peranteesteJuzo.
33. Foi apresentada nova resposta preliminar pelo acusado,

representadopordefensoresconstitudos(evento23).
34.A resposta preliminar foi apreciada na deciso de 07/11/2016

(evento26),comcomplementaonadecisode16/11/2016(evento83).
35.Foramouvidasastestemunhasdeacusao(eventos112e146)e
dedefesa(eventos129,134,149,160,164,166,167,180,181,183,190e193).
36. A Petrobrs foi admitida como Acusao na audincia de

07/122016(evento166).
37.Oacusadofoiinterrogado(eventos197e243).
38. Os requerimentos das partes na fase do art. 402 do CPP foram

apreciadosnostermosdadecisode09/02/2016(evento201).
39.Nafasedoart.402doCPP,foiouvidaumatestemunhaadicional
porrequerimentodaDefesa(eventos242e253).
40. O MPF, em alegaes finais (evento 251), argumentou: a) que

nohnulidadesaseremreconhecidasb)querestouprovadaamaterialidadeea
autoriadoscrimesd)quefoiprovadoqueoacusadoEduardoCosentinodaCunha
solicitouerecebeu1.311.700,00francossuosemcontaocultanaSuaedepois
os transferiu para outras contas ocultas e) que foi provado que o dinheiro teve
origememcontratodeaquisiodoBloco4emBeninpelaPetrobrsdaempresa
CBHf)queopagamentoeraespciede"pedgio"emtrocadeapoioaoGoverno
g) que foram detectadas diversas irregularidades no processo de aquisio pela
PetrobrsdoBloco4emBeninh)queautilizaodecontasnoexterioremnome
detrustseafaltadedeclaraodessesativosconfiguralavagemdedinheiroi)que
oacusadoutlizoupartedosvaloresemgastosdecartesdecrditoparaaquisio
debenseserviosdeluxoj)queJorgeLuizZeladafoinomeadoemantidocomo
Diretor da rea Internacional da Petrobrs pelo apoio de agentes polticos do
PMDB, inclusive do acusado Eduardo Cosentino da Cunha k) que, em
contrapartida, os nomeados angariavam vantagem indevida em contratos da
Petrobrsequerepartiamcomosagentespolticos,nocasoEduardoCosentinoda
Cunha l) que o libi apresentado por Eduardo Cosentino da Cunha no est
acompanhado de provas m) que ainda que o exDeputado Federal Fenrnando
Diniztenhaalgumenvolvimentonoscrimes,issonoeliminaaresponsabilidade
criminal de Eduardo Cosentino da Cunha n) que tambm restou configurado o
crimedeevsodedivisaspornoteremsidodeclaradosossaldosdascontasno
exterioro)quenohconsunoentreocrimedelavagemeodeevasop)que
as vetoriais do art. 59 do CP so desfavorveis ao acusado q) que deve ser
considerada a agravante de violao de dever inerente ao cargo r) que deve ser
decretadaaperdadosvaloresbloqueadosnoexteriorequedeveserfixadovalor
mnimoparaodanodecorrentedocrimeemUSD77.500.000,00.
41. A Petrobrs, em sua alegaes finais, ratificou as razes do

Ministrio Pblico Federal (evento 254), requerendo ainda a correo monetria
dovalormnimododanoeaimposiodejurosmoratrios.
42. A Defesa de Eduardo Cosentino da Cunha, em alegaes finais

(evento 263), argumenta: a) que a inicial inepta relativamente aos crimes de
corrupo passiva, por falta da descrio do ato de ofcio, e de lavagem de
dinheiroporquenoteriahavidoocultaoedissimulaob)quehouvenulidade
na transferncia do processo da Suia para o Brasil por inexistncia de previso

legal desse procedimento na lei brasileira c) que houve nulidade por falta de
decretaodaquebrajudicialdosigilobancriodoacusadonaSuad)quehouve
nulidadeporviolaodoprincpiodaduplaincriminao,umavezqueocrimede
evasodedivisasnoestprevistonaleisuae)quehouvenulidadedasprovas
produzidas no procedimento de investigao 1.25.000.003027.201514 por
violao da prerrogativa de foro f) que houve cerceamento de defesa pelo
indeferimentodedilignciascomplementaresnafasesedoart.402doCPPg)que
houvecerceamentodedefesaemvirtudedoindeferimentoparcialdeperguntasao
Exmo. Sr. Presidente da Repblica Michel Temer h) que a denncia
improcedentei)queEduardoCunhanofoiresponsvelpelanomeaodeJorge
LuizZeladaj)quenohatodeofcioatribuvelaEduardoCunhanaaquisio
dosdireitosdeexploraodoBloco4emBenink)queEduardoCunharecebeu
na conta no exterior devoluo de emprstimo concedido a Fernando Alberto
Dinizl)queoacusadonotinhaodeverdedeclararascontasnoexterior,jque
seriamelastitularizadaspelostrustsm)quehouveapenasmovimentaolcitado
dinheiro nas contas e no lavagem n) que o montante repassado da conta
Netherton para a conta Kopek era proveniente da conta Triumph e no da conta
Orion (fl. 167) o) que no houve crime de lavagem de dinheiro, pois o acusado
apenas instituiu trusts com bens lcitos de sua titularidade p) que o mero
recebimentodevantagemindevidanoconfiguracrimedelavagemdedinheiroq)
que caso reconhecidos os crimes de lavagem de dinheiro, deve ser admitida a
continuidade delitiva r) que entre crime de lavagem e de evaso haveria
consuno e s) que o crime de evaso deve ser considerado nico. Pleiteia ao
finalqueapresenteaopenalsejajulgadaemconjuntocomaaopenalconexa
502768535.206.404.7000,afimdeevitarqueoJuzotornesesuspeitoparajulgar
osacusadosnooutroprocesso.
43. Ainda na fase de investigao, foi decretada, a pedido do

Ministrio Pblico Federal e em 17/10/2016, a priso preventiva de Eduardo
CosentinodaCunha(evento3doprocesso505221166.2016.4.04.7000).Apriso
cautelarfoiimplementadaem19/10/2016,remanescendopresoatomomentoo
acusado.
44. Na fase final do processo, a Defesa de Eduardo Cosentino da

Cunha, representada por outros advogados, apresentou a exceo de suspeio
501268206.2017.4.04.7000,quefoirejeitadaporestejulgador(evento262).
45.Osautosvieramconclusosparasentena.
II.FUNDAMENTAO
II.1
46.NohouvequestionamentosacercadacompetnciadesteJuzo.
47. De todo modo, cumpre esclarecer que, quanto competncia

absoluta,eladaJustiaFederalporvriosmotivos.
48. Embora a Petrobrs seja sociedade de economia mista, a

imputaotemporobjetocrimesdecorrupoedelavagemtransnacionais,com
depsitos no exterior de vantagem indevida e a ocultao e a dissimulao do
produtodocrimeemcontassecretasnoexterior.Emoutraspalavras,crimesquese
iniciaramnoBrasileconsumaramsenoexterior.OBrasilassumiuocompromisso
de prevenir ou reprimir os crimes de corrupo e de lavagem transnacionais,
conforme Conveno das Naes Unidas contra a Corrupo de 2003 e que foi
promulgada no Brasil pelo Decreto 5.687/2006. Havendo previso em tratado e
sendo os crimes de corrupo e lavagem transnacionais, incide o art. 109, V, da
ConstituioFederal,queestabeleceoforofederalcomocompetente.
49.Aimputaodocrimedoart.22daLein.7.492/1986tambm
determina a competncia da Justia Federal, conforme art. 109, VI, da
ConstituioFederal.
50.E,comoocasoenvolvepropinapagaapessoaqueentoexercia
omandatodeDeputadoFederal,acompetncia,apsaperdadomandato,passa
do Egrgio Supremo Tribunal Federal para a Justia Federal, j que tratase de
vantagemindevidapagaaagentepblicofederal.
51.QuantocompetnciaespecficadesteJuzo,inclusiveterritorial,
desnecessrias maiores consideraes, visto que no houve interposio de
exceodeincompetncia,comoquehouveprecluso.
52. De tomo modo, oportuno lembrar que o prprio Supremo

Tribunal Federal reconheceu, incidentemente, a competncia deste Juzo para a
presenteaopenalpormaisdeumavez.
53. Primeiro, quando desmembrou as investigaes em trmite no

referidoInqurito4146econexoseremeteuasaesteJuzoparacontinuidadedos
processos em relao aqueles destitudos de foro privilegiado (evento 1, arquivo
decstjstf2,doprocesso501407330.2016.4.04.7000),oquedeuorigempresente
aopenalconexa502768535.2016.4.04.7000.
54. E, segundo, como j adiantado, ao remeter o prprio Inqurito

4146, para continuidade da ao penal, com denncia recebida, contra Eduardo
CosentinodaCunha,apsesteperderoforoporprerrogativadefuno(evento1,
arquivodecstjstf10).
55.Emboranotenhasidoafirmadacategoricamenteacompetncia
deste Juzo, as decises inequivocadamente representam o entendimento,
incidental, da competncia, por conexo e preveno, deste Juzo para as duas
aespenais.
56. Havendo pertinncia ao esquema criminoso que vitimou a

Petrobrs e que objeto de investigao e persecuo na denominada Operao
Lavajato,acompertnciadesteJuzo.
II.2
57. Na ao penal conexa 502768535.2016.4.04.7000, imputou o

MPF o crime de corrupo ativa Idalcio de Castro Rodrigues de Oliveira,
proprietriodaCBH,tendoele,segundoadenncia,pagovantagemindevidaem
decorrncia do contrato de venda por sua empresa de 50% de participao no
campo de petrleo na Repblica do Benin Petrobrs. Tambm na ao penal
conexaimputouoMPFocrimedecorrupopassivaaJorgeLuizZeladaeaJoo
Agusto Rezende Henriques. O primeiro teria apresentado e defendido o negcio
perante a Diretoria da Petrobrs movido pela propina e negligenciado os
problemascomaoperao.JJooAugustoRezendeHenriquesteriaatuadocomo
intermediador do recebimento da propinas. Pela movimentao dos valores da
propina em diversas contas secretas no exterior, em transaes subreptcias que
buscavamdistanciarocrimeeseuproduto,imputouoMPFocrimedelavagemde
dinheiro a Idalcio de Castro Rodrigues de Oliveira e a Joo Augusto Rezende
Henriques.Aindanaaopenalconexa,imputouoMPFaCludiaCordeiroCruz
ocrimedelavagemdedinheiropelaocultaodosrecursosdepropinaemconta
secreta no exterior da qual era beneficiria final e a utilizao subreptcia desses
recursosparaarealizaodepagamentosegastosdeluxo.
58. Oportuno no olvidar que a ao penal conexa resultado de

deciso de desmembramento proferida no Inqurito 4146 pelo Egrgio Supremo
TribunalFederal.
59.Comefeito,apsooferecimentodadennciacontraoDeputado
Federal Eduardo Consentino da Cunha perante a Suprema Corte, houve
desmembramento do feito por ordem do eminente Ministro Teori Zavascki
(decisode11/03/2016,fls.331337doarquivoinq4,evento2,oufls.1.0321.038
danumeraooriginaldoinqurito),comaremessadecpiaaesteJuzoparaa
continuidade das investigaes e eventual persecuo contra os envolvidos
destitudosdeforoporprerrogativadefuno
60. Referida ao penal, com instruo concluda, ser julgada em

separado.
61. Apesar do pedido da Defesa para julgamento conjunto, aquela

aopenalaindanoestprontaparajulgamento,faltandoasalegaesfinais,e,
considerando o trmite separado, h algumas provas que no so comuns, o que
dificultariaojulgamentoconjunto.
62. No vivel ainda esperar, uma vez que o acusado Eduardo

CosentinodaCunharespondeaoprocessopresoeurgeojulgamento.
63. Quanto preocupao da Defesa de que este Juzo tornese

suspeitoparajulgaraquelaaopenal,cumpreressalvarquearesponsabilidade
sempre individual, envolvendo no s os elementos objetivos do crime, mas
tambm os elementos subjetivos. Alm disso, a prtica pelo juiz de atos de
jurisdioouoexercciodedeveresdefundamentaono,emprincpio,causa
desuspeio.Assim,ojulgamentodeaopenalconexanotorna,emprincpio,o
julgadorsuspeitoparaojulgamentosucessivodaaopenalemconexo,sobpena
de tornar sem sentido o prprio instituto da conexo. De todo modo, caso assim
noseentenda,caberaosacusadosnaqueleprocessoalegarasuspeioenoo
acusadoneste.
64. Assim, fica indeferido o pedido de suspenso da presente ao

penalparaojulgamentoconjuntocomaaopenal502768535.2016.4.04.7000.
II.3
65. A denncia no inepta como alega a Defesa. Descreve ela

adequadamente as condutas delitivas de corrupo e lavagem de dinheiro,
conformesntesenositens125,retro.
66.Seounoprocedente,questodemrito,quenodizrespeito
adequaoformaldadenncia.
67. Oportuno lembrar que o Plenrio do Egrgio Supremo Tribunal

Federal, ao receber a denncia em 22/06/2016, refutou, por unanimidade, a
alegaodeinpciadadenncia(Inqurito4146,PlenriodoSTF,Rel.Min.Teori
Zavascki, un., j. 22/06/2016, evento 1, arquivos decstjstf5 a decstjstf7).
Transcrevesetrecho:
"(...)
Temse como hbil a denncia que descreve todas as condutas atribudas ao

acusado,correlacionandoasaostipospenasdelinados.Ademais,'nolcitoao
Juiz, no ato de recebimento da denncia, quando faz apenas juzo de
admissibilidade da acusao, conferir definio jurdica aos fatos narrados na
pea acusatria. Poder fazlo adequadamente no momento da prolao da
sentena,ocasioemquepoderhaveremendatiolibelliouamutatiolibelli,se
a instruo criminal assim o indicar (HC 87324, Rel. Min. Carmen Lcia,
PrimeiraTurma,Djede18.5.2007)."
Ento, esta preliminar de nulidade, inpcia da denncia j foi

rejeitada,incidentemente,peloPlenriodoEgrgioSupremoTribunalFederalno
casoconcreto,antesdadeclinaodecompetncia.
II.4
68.Comoserdescrito,circunstanciadamente,adiante,asprincipais
provas do feito consistem na documentao vinda da Sua acerca de contas
mantidasnaquelepasemnomedaCompagnieBeninoisedesHydrocarbures,da
Lusitania Petroleum, ambas empresas controladas por Idalcio de Castro
Rodrigues de Oliveira, em nome da Acona International, controlada por Joo
Augusto Rezende Henriques, em nome de Orion SP, Netherton Investments e
TriumphSP,quetmporbeneficiriofinalEduardoCosentinodaCunha,almda
contaKpek.
69. O exame de tais contas permite o rastreamento financeiro de

valores originrios de aquisio pela Petrleo Brasileiros S/A de direitos de
explorao de leo e gs no Bloco 4 em Benin at contas que tinham por
beneficiriofinaloacusadoEduardoCosentinodaCunha,comodemonstrarse
adiante.
70. Tal material foi colacionado em investigaes instauradas pelas

prprias autoridades suas por suspeita de lavagem de dinheiro praticados pelo
entoDeputadoFederalEduardoConsentinodaCunha.
71. Tal investigao foi, supervenientemente, transferida pelas

autoridadesbrasileirasaoBrasil.
72. Os autos esto instrudos principalmente com cpias dos

documentos bancrios das contas secretas mantidas na Sua por Eduardo
ConsentinodaCunhaesuaesposaequeforamobtidaspelasautoridadessuas.
73. Os autos esto tambm instrudos com os documentos da

cooperaojurdicainternacional,comoosofciosdeencaminhamentodasprovas
pelasautoridadessuaseosdocumentosrelativosaorecebimentodessematerial,
inclusiveperanteoDepartamentodeRecuperaodeativoseCooperaoJurdica
Internacional(DRCI)doMinistriodaJustia.
74.PeloquesedepreendedacpiadoInqurito4.146emtrmiteno
SupremoTribunalFederal(evento2),aintegralidadedadocumentaorelativa
cooperaojurdicainternacionalfoienviadaaoBrasile,porcpia,aesteJuzo.
75. Nas fls. 8187 do arquivo eletrnico inq1, evento 2, consta,

traduzida,descriodoprocedimentoadotadonaSua.
76. Alm dos documentos juntados nos autos, consta material

adicionalquefoidisponibilizadospartesemmdiaeletrnica(evento2,apenso
2,fl.2).
77. Questiona a Defesa a legalidade do procedimento de

transferncia.
78.Nopadece,porm,eledequalquervcio.
79. As autoridades suas, como consta na documentao,

encaminharamaoBrasiloresultadodesuasinvestigaesemrelaoaoDeputado
Federal Eduardo Consentino da Cunha por entenderem que o processo no Brasil
teriamaischancesdexitojque,comonacional,noseriaeleextraditadodiante
deeventualdecretaodeprisooucondenaonaSua.
80.Oprocedimentodetransfernciadainvestigao,quenopassa
de uma transmisso da prova colhida na Sua para o Brasil, encontra apoio
expresso no s no artigo IV do Tratado de Extradio entre Brasil e Sua
promulgadopeloDecreto23.997,de13/03/1934,comonaslargasdisposiesdo
TratadodeCooperaoJurdicaemMatriaPenalentreBrasileSuapromulgado
peloDecreton6.974,de07/10/2009.
81.Transcrevooprimeiro:
"As Partes contratantes no so obrigadas a entregar, uma a outra, os seus

nacionais.
No caso de no extradio de um nacional, as autoridades do pas em que o

delito foi cometido, podero, apresentando as provas em que se fundarem,
denuncilo s autoridade judicirias do pas de refgio, as quais submetero a
pessoa processada aos seus prprios tribunais, nos casos em que as suas leis
respectivasopermitirem.
O inculpado no poder ser novamente processado no pas onde o fato

denunciado foi cometido, se, no pas de origem, le j tiver sido absolvido ou
condenadoemdefinitivo,e,nocasodecondenao,setivercumpridoapenaou
seestaestiverprescrita."
82.Quantoaosegundotratado,aprovidnciapoderiaestarabrangida
pelo art. 29 que prev a transferncia espontnea de informao ou prova.
Transcrevo:
"1.PorintermdiodasAutoridadesCentrais,enoslimitesdeseudireitointerno,
as autoridades competentes de cada Estado Contratante podem, sem que um
pedido tenha sido apresentado neste sentido, trocar informaes e meios de
prova envolvendo fatos penalmente punveis, se avaliarem que esse
encaminhamentopodepermitiraooutroEstadoContratante:
a)apresentarumpedidodecooperaojurdicanostermosdopresenteTratado
b)iniciarprocedimentopenal
c)oufacilitarodesenvolvimentodeumainvestigaopenalemcurso."
83. A previso ainda consistente com as normas de tratados

internacionais, inclusive da Conveno das Naes Unidas contra o Crime de
Corrupo, promulgado no Brasil pelo Decreto n. 5.687/2006. A esse respeito,
transcrevooart.46,pargrafos1,4e5:
"Art.46.
Assistnciajudicialrecproca
1. Os Estados Partes prestarseo a mais ampla assistncia judicial recproca

relativaainvestigaes,processoseaesjudiciaisrelacionadoscomosdelitos
compreendidosnapresenteConveno.
(...)
4. Sem menosprezo legislao interna, as autoridades competentes de um

Estado Parte podero, sem que se lhes solicite previamente, transmitir
informao relativa a questes penais a uma autoridade competente de outro
Estado Parte se crem que essa informao poderia ajudar a autoridade a
empreenderouconcluircomxitoindagaeseprocessospenaisoupoderiadar
lugar a uma petio formulada por este ltimo Estado Parte de acordo com a
presenteConveno.
5.Atransmissodeinformaodeacordocomopargrafo4dopresenteArtigo
se far sem prejuzo s indagaes e processos penais que tenham lugar no
Estado das autoridades competentes que facilitaram a informao. As
autoridades competentes que recebem a informao devero aquiescer a toda
solicitao de que se respeite seu carter confidencial, inclusive
temporariamente, ou de que se imponham restries a sua utilizao. Sem
embargo, ele no obstar para que o Estado Parte receptor revele, em suas
aes, informao que seja fator de absolvio de uma pessoa acusada. Em tal
caso, o Estado Parte receptor notificar o Estado Parte transmissor antes de

revelaramencionadainformaoe,seassimforsolicitado,consultaroEstado
Parte transmissor. Se, em um caso excepcional, no for possvel notificar com
antecipao, o Estado Parte receptor informar sem demora ao Estado Parte
transmissorsobreamencionadarevelao."
84.Apsapromulgao,ostratadostmforadelei.
85.Oportunolembrarqueoprincpioqueregeacooperaojurdica
internacional entre Estados de Direito a de que ela deve ser a mais ampla
possvel,notendolugarinterpretaoestreitasobreotema.
86. Portanto, no h nenhuma ilicitude a ser reconhecida na

transfernciapelasautoridadessuasdesuainvestigaocontraoexparlamentar
e que nada mais do que a disponibilizao da provas l colhidas para a
persecuopenalnoBrasil.
87. Releva destacar que esse questionamento ora feito pela Defesa,
acercadailegalidadedatransferncia,foitambmobjetodedecisopeloPlenrio
do Egrgio Supremo Tribunal Federal no recebimento da denncia no Inqurito
4146, Plenrio do STF, Rel. Min. Teori Zavascki, un., j. 22/06/2016, evento 1,
arquivosdecstjstf5adecstjstf7),tendoelerechaadooafirmadovcio.Transcreve
setrecho,defundamentaomaior,dovotodoeminenteMinistroTeoriZavascki
(fl.21doarquivodecstjstf5,fl.1.467doInqurito):
"A transferncia de procedimento criminal, embora sem legislao especfica

produzida internamente, tem abrigo em convenes internacionais sobre
cooperao jurdica, cujas normas, quando ratificadas, assumem status de lei
federal. Alm das Convenes citadas no precedente (Conveno das Naes
Unidas contra o Crime Organizado Transnacional Conveo de Palermo,
promulgadanoBrasilpeloDecreto5.015,de12.03.04,eConvenodasNaes
Unidas contra a Corrupo Conveno de Mrida, de 31.10.03, promulgada
pelo Decreto 5.687, de 31.01.06), h relativamente Repblica Federativa do
Brasil e Confederao Sua, o Tratado de Cooperao Jurdica em Matria
Penal, aprovado pelo Decreto 6.974, de 7.10.2009, como tambm a previso do
art.4doTratadodeExtradioentreSuaeBrasil,de23.7.1932,internalizado
peloDecreto23.997,de13.3.1934."
88. Ento, esta preliminar de nulidade, ilegalidade da transferncia

do processo j foi rejeitada, incidentemente, pelo Plenrio do Egrgio Supremo
TribunalFederalnocasoconcreto,antesdadeclinaodecompetncia.
89.QuestionaaDefesaaindaoprocessodetransfernciaporqueno
teriahavidoquebrajudicialdosigilobancriodoacusadoEduardoCosentinoda
Cunha na Sua, j que a quebra de sigilo bancrio no Brasil est submetida
reservadejurisdio.
90.Peloquesedepreendedadocumentao,asautoridadessuasdo
MinistrioPblicoforamcomunicadaspelasinstituiesfinanceirasdaquelepas,
especialmente do Banco Julius Baer (tambm escrevese Br), de operao
suspeitasdelavagemdedinheirodeEduardoCosentinodaCunha.
91. Seguiuse a instruo, com a requisio de documentos pelo

MinistrioPblicojuntosinstituiesbancrias.
92. Todo esse procedimento seguiu as regras legais vigentes na

Sua.
93.OquestionamentodaDefesaesbarraemdoisbices.
94. Primeiro, no cabe questionar no Brasil a validade de atos

jurdicospraticadosemoutropas.
95. No tem a Justia brasileira condies de averiguar a

conformidadedeatosjurdicospraticadosnaSuacomalegislaodaquelepas.
96. Ento, pretendendo a Defesa de Eduardo Cosentino da Cunha

questionar a validade dos atos praticados pelas autoridades suas, deveria
contratar um advogado naquele pas que poder questionar os atos perantes as
autoridadesouCortesdeJustiacompetentesdaquelepas.
97. Segundo, mesmo em cooperao jurdica internacional, os atos

jurdicosseguemasleiseregrasvigentesnopasnosquaissoproduzidos.
98. Em outras palavras e como bsico em Direito Internacional,

seguemseasleiseregrasdolocaldeproduodoato("locusregitactum").Por
todos,vejaseocomentriodeGuyStessens:
"A cooperao internacional em assuntos criminais desenvolvese, quase

invariavelmente, sob a base do princpio locus regit actum, segundo o qual os
Estados Requeridos aplicam suas prprias leis (processuais) para cumprir
requisies de cooperao. Este princpio estabelecido em tratados de
assistncia mtua, assim como nas leis locais de vrios Estados." (STESSENS,
Guy. Money Laundering: A new international Law Enforcement Model.
CambridgeUniversityPress,2000,p.301.)
99. Ento, no cabe pretender conferir efeito extraterritoriais

legislao brasileira para questionar a validade de atos jurdicos praticados na
Suacombasenaleisua.
100. Pelo mundo, variados pases conferem tratamento jurdico

diferenciadoproteodosigilobancrio.Emalguns,essaproteomaisrgida,
submetendoolevantamentoaumareservajudicial,ouseja,somenteojuizpode
autorizar a quebra. Em outros, a proteo mais fraca, com permisso para
quebras administrativa ou pelo Ministrio Pblico, em muitos pases tratatado
normativamentetambmcomoinstituiopertinentemagistratura.
101. A ttulo ilustrativo, nos Estados Unidos, a quebra do sigilo

bancrio no est sujeita a prvia deciso de autoridade judiciria em sentido
estrito,cabendotaldecisonoaojuizprofissional,massimaoGrandeJri,que
age atravs de subpoenas duces tecum, basicamente uma intimao para
apresentaodedocumentos.ASupremaCortenorteamericanatemprecedenteno
sentidodequetalprocedimentocompatvelcomaConstituionorteamericana,
poisnosetratadeumabuscaeapreenso,paraaqualserianecessriaadeciso
dejuizprofissionaledemonstraodecausaprovvel(UnitedStatesv.Miller,425
U.S. 1976). Caso se pretenda a obteno de documentos bancrios nos Estados
Unidos,porcooperaojurdicainternacional,asolicitaodeveserencaminhada
aquelepas,aonde,casoacolhida,aprovaserobtidaatravsdoGrandeJri.No
se pode exigir que a solicitao nos Estados Unidos seja submetida a uma
autoridadejudiciriaemsentidoestrito,ouseja,aumjuizprofissional,poisno
assimquetaltipodeprovaproduzidanaquelePas.Damesmaforma,sehouver
transferncia de processo e nele tiver sido realizada quebra de sigilo bancrio,
certoqueelaterseguidoasregrasdoPastransmitente,ouseja,semquebrapor
autoridadejudicialemsentidoestrito.
102. Certamente, h limites para aceitao da validade de provas

provenientes de outros pases, como, por exemplo, quando houver uma violao
bsicadedireitoshumanosoufundamentais.Assim,porexemplo,nopoderiao
Brasilaceitaratransfernciadeconfissoproduzidanoexteriormediantecoao
fsica ou moral, pois constituiria uma violao insuportvel da ordem jurdica
brasileiraeigualmentedaordeminternacional,jqueesta,demaneiraunssonae
salvoexceesextravagantes,repudiaatorturacomoformadecolheitadeprova.
103. No esse o caso, porm, da quebra de sigilo bancrio em

relao ao qual inexiste uma frmula nica de proteo jurdica no Direito
Comparado e no se pode afirmar que pases que conferem poderes de quebra
autoridadesadministrativasouaoMinistrioPblicoafrontamregrasuniversaisde
proteoaosdireitoshumanosoufundamentais.
104.QuestosimilarjfoisubmetidaaoEgrgioSuperiorTribunal
de Justia diante de questionamento da validade da tomada de depoimento de
testemunha no exterior, especificamente nos Estados Unidos, pelo procedimento
denominadode"deposition",noqualnoparticipadoatoautoridadejudicial.Na
ocasio, aquela Corte teve o ato por vlido, tendo presente a inviabilidade de
imporasregrasprocessuaisbrasileirasaatosjurdicospraticadosemoutrospas.
Transcrevesetrechodaementa:
"(...)
III.Violao do art. 157 do CPP por suposta prova ilcita consistente na tomada
dedepoimentodetestemunhapresanosEstadosUnidos.Adiligncia,realizada
via cooperao internacional disciplinada por acordo bilateral, observou as
disposies locais no constituindo ofensa a direito ou nulidade processual
consoanteajurisprudncia.Precedentes.
(...)(EDclnoRecursoEspecialn.1.133.944/PR2009/01509132Rel.Ministro
GilsonDipp,5TurmadoSTJ,un.,j.08/02/2011)
105.Dovoto,doeminenteMinistroGilsonDipp:
"Da mesma forma, com relao ao depoimento de Alejandro Bernal Madrigal

colhidoporautoridadenojudicial,masdeacordocomaorganizaolocalcom
admiteoajusteinternacionalentreospasesenvolvidos.Aprovadasurgidatem
a mesma legitimidade que outra sendo perfeitamente lcita e vlida posto que a
cooperao internacional pode regerse validamente por procedimentos
localmente estabelecidos (Edecl. n. HC 91.002RJ, Marco Aurlio, 1T, STF,
24.03.2009 Reclamao 2.645SP, Teori, CE STJ, 18.11.2009 Ag.RG. na SS
2.382SP,PresidenteSTJ,26.10.2010)."
106.Comasdevidasadaptaes,tratasedeprecedenteaplicvelao
presentefeito.
107. Portanto, no h qualquer invalidade a ser reconhecida nas

provas vindas da Sua, j que produzidas em conformidade com as leis ali
vigenteseinvivelatribuirleibrasileiraefeitosextraterritoriais.
108. Ainda a respeito da transferncia de processo, alega a Defesa

queteriahavidoilegalidadepoisnohtipificaodecrimedeevasofraudulenta
de divisas na Sua e, por conseguinte, as provas de l recebidas no poderiam
servirparaampararacusaoporessedelito.
109. Observo que a denncia contm imputao de crimes de

corrupo e lavagem em relao s quais inexiste dvida quanto dupla
incriminao.
110. Contm, porm, tambm imputao de crime de evaso

fraudulentadedivisasaEduardoCosentinodaCunha,emrelaoaoqualnoh
previsodeincriminaonaleisua.
111.Isso,porm,noconstituibice.
112. Quem define o alcance da cooperao e os limites dela so as

autoridadesdoPasaoqualelarequerida.
113.Ento,oBrasil,porexemplo,aoatenderapedidodeextradio,
podeimporcondies,comoasprevistasnoart.91daLein6.815/1980.
114.Acooperaojurdicainternacionalemoutrosformatos,comoo
detransmissooucompartilhamentodeprovas,segueamesmalgica.
115.Examinandooprocessodetransferncia,noseidentificacom
clarezaqualquercondicionamentoimpostopelasautoridadessuas.
116. No tendo sido impostos condicionamentos expressos, no

existe restrio utilizao do material probatrio para sustentar a acusao do
crimedeevasofraudulentadedivisas.
117. Caso esta interpretao esteja equivocada, poder haver

esclarecimentoporpartedasautoridadessuaseaquestopoderserretomada.
118.Aelas,alis,caberiaainiciativadequalquerreclamao,jque
a cooperao jurdica internacional envolve os Estados cooperantes e a suposta
violaodeumacondiospodeserinvocadapeloEstadoqueimpsacondio.
119. Esclarease ainda que no est sendo criminalizada conduta

queocorreuexclusivamentenaSua,massimcrimedeevasodedivisasquetem
cartertransnacional,compartedacondutadelitiva,nocasoafaltadedeclarao,
praticadanoBrasile,portanto,submetidoleibrasileira.
120.RelevadestacarqueessequestionamentoorafeitopelaDefesa,
acercadailegalidadedeutilizaodaprovaparaaacusaodeevasofraudulenta
de divisas, foi tambm objeto de deciso pelo Plenrio do Egrgio Supremo
TribunalFederalnorecebimentodadenncianoInqurito4146,PlenriodoSTF,
Rel. Min. Teori Zavascki, un., j. 22/06/2016, evento 1, arquivos decstjstf5 a
decstjstf7), tendo ele rechaado o afirmado vcio. Transcrevese trecho, de

fundamentao maior, do voto do eminente Ministro Teori Zavascki (fl. 24 do
arquivodecstjstf5,fl.1.468doInqurito):
"No caso, legtima a providncia da autoridade brasileira de, com base em

material probatrio obtido da Confederao Sua, por sistema de cooperao
jurdicainternacional,investigareprocessarodenunciadopelodelitodeevaso
dedivisas,jquesetratadefatodelituosodiretamentevinculadopersecuo
penal objeto da cooperao, que teve como foco central delitos de corrupo e
lavagem de capitais. Registrese que aquela autoridade estrangeira no imps
qualquer limitao ao alcance das informaes e aos meios de prova
compartilhados,comopoderiatlofeito,sefosseocaso.Dessmodo,exsurgindo
do contexto investigado, mediante o material compartilhado pelo Estado
estrangeiro, a suposta prtica de vrias condutas ilcitas, como a mencionada
evaso de divisas, nada impede a utilizao daquelas provas nas investigaes
produzidasnoBrasil,sendoirrelevante,paraesteefeito,enascircunstnciasdo
caso, qualquer questionamento sobre a dupla tipicidade ou o princpio da
especialidade,prpriosdoinstitutodaextradio."
121.Ento,estapreliminardenulidade,ilegalidadedautilizaoda
provaparaembasaradennciaporcrimedeevasofraudulentadedivisasjfoi
rejeitada,incidentemente,peloPlenriodoEgrgioSupremoTribunalFederalno
casoconcreto,antesdadeclinaodecompetncia.
122.Logo,adocumentaotambmpodeserutilizadaparainstruira
acusaoporcrimesdeevasofraudulentadedivisas.
II.5
123. Alega a Defesa que houve invalidade no procedimento de

investigao 1.25.000.003027.201514 instaurado pelo MPF, pois o acusado
EduardoCosentinodaCunhateriasidoinvestigado,peranteaprimeirainstncia,
enquantoaindaeradetentordocargodePresidentedaCmaradosDeputadosede
foroporprerrogativadefuno.
124.ApedidodaDefesa,oJuzodeterminouajuntadapeloMPFde
talprocedimentoinvestigatrio,oquefoifeitonoevento23.
125.Peloquesedepreende,ofocoaparentedasinvestigaesteriam
sido familiares de Eduardo Cosentino da Cunha, pelo crime de lavagem de
dinheiro,oqueteriasidoumprodutodojaludidodesmembramentodoInqurito
4146 por ordem do eminente e saudoso Ministro Teori Zavascki (deciso de
11/03/2016, fls. 331337 do arquivo inq4, evento 2, ou fls. 1.0321.038 da
numeraooriginaldoinqurito).
126. Ento no se vislumbra com facilidade que haveria prova

invlida decorrente da investigao de conduta direta de Eduardo Cosentino da
Cunhaenorelacionadasupostalavagemporseusfamiliares.
127. De todo modo, cumpre ressalvar que o procedimento em

questo foi juntado aos autos somente em decorrncia da requisio da Defesa e
nohqualquerelementoprobatrionelepresentequesejainvocadonapresente
sentenaparaaformaodaconvicodoJuzo.
128. Ento, eventual invalidade, ainda que fosse reconhecida, seria

incua,jqueasentenanosebaseianaprovaemquesto.
II.6
129. Alega a Defesa cerceamento de defesa pelo indeferimento de

partedasprovasporelarequeridanafasedoart.402doCPP.
130. A deciso judicial em questo, datada de 09/02/2017 (evento

201), est longamente fundamentada. Transcrevese, ainda que longa a
fundamentao:
"1.Decidosobreosrequerimentosdaspartesnafasedoart.402doCPP.
Inicialmente,cumpreressalvarque,nafasedoart.402doCPP,nosereabrea
instruo, cabendo apenas "diligncias cuja necessidade se origine de
circunstnciasoufatosapuradosnainstruo".
Provas que no renam essas caractersticas deveriam ter sido requeridas na

dennciaounarespostapreliminareorequerimentosomentenafasedoart.402
doCPPintempestivo.
No presente caso, isso ainda mais pertinente, pois, como se demonstrar

abaixo,quasenenhumdosrequerimentosdaDefesaseenquadranessahiptese.
Rigorosamente, at pela quantidade de requerimentos da Defesa na petio do

evento 198, dezesseis ao todo, bem menos alis que os formulados na resposta
preliminar, percebese que a inteno foi reabrir toda a instruo, o que no
compatvelcomocartercomplementardafasedoart.402doCPP.
Alis, aqui, pela demora das diligncias requeridas pela Defesa, incluindo
requisies de documentos ao exterior e a oitiva de diversas testemunhas no
exterior, constatase um propsito aparente de retardar desnecessariamente o
julgamento da causa, quia a fim de questionar a priso provisria vigente sob
pretextodesuasupostalongadurao.
Observoaindaqueaampladefesa,direitofundamental,nosignificaumdireito
amplo e irrestrito produo de qualquer prova, mesmo as impossveis, as
custosaseasprotelatrias.Cabeaojulgador,comodispeexpressamenteoart.
400,1,doCPP,umcontrolesobreapertinncia,relevnciaenecessidadeda
prova.Conquantoocontroledevaserexercidocomcautela,nosejustificama
produo de provas manifestamente desnecessrias ou impertinentes ou com
intuito protelatrio. Acerca da vitalidade constitucional de tal regra legal,
transcrevooseguinteprecedentedenossaSupremaCorte:
"HABEAS CORPUS. INDEFERIMENTO DE PROVA. SUBSTITUIO

DO ATO COATOR. SMULA 691. 1. No h um direito absoluto
produo de prova, facultando o art. 400, 1., do Cdigo de Processo
Penal ai juiz o indeferimento de provas impertinentes, irrelevantes e
protelatrias. Cabveis, na fase de diligncias complementares,
requerimentos de prova cuja necessidade tenha surgido apenas no
decorrer da instruo. Em casos complexos, h que confiar no prudente
arbtrio do magistrado, mais prximo dos fatos, quanto avaliao da
pertinnciaerelevnciadasprovasrequeridaspelaspartes,semprejuzo
da avaliao crtica pela Corte de Apelao no julgamento de eventual

recursocontraasentena.2.Noseconhecedehabeascorpusimpetrado
contraindeferimentodeliminarporRelatoremhabeascorpusrequeridoa
Tribunal Superior. Smula 691. bice supervel apenas em hiptese de
teratologia. 3. Sobrevindo deciso do colegiado no Tribunal Superior, h
novo ato coator que desafia enfrentamento por ao prpria." (HC
100.988/RJRelatoraparaoacrdo:Min.RosaWeber1Turmapor
maioriaj.15.5.2012)
Assim,asprovasrequeridas,aindaquecomcautela,podempassarpelocrivode
relevncia,necessidadeepertinnciaporpartedoJuzo.
Isso especialmente relevante j que h acusado preso, urgindo o julgando, e

quando o processo j conta com significativo acervo probatrio, que incluiu
colheitadedocumentosemquebrasdesigilobancrioefiscaledepoimentos.
Destaco ainda, especificamente em relao a este caso, que as provas

principais constituem os documentos apresentados pelo MPF e que vieram
oriundasdaSuaarespeitodecontasmantidasnoexteriornasquaisoacusado
EduardoCosentinodaCunhaeraobeneficiriofinal.
Adocumentao,comoadmitiuoprprioacusadoemseuinterrogatrio,revela
que conta secreta no exterior que tinha como beneficirio final o acusado
Eduardo Cosentino da Cunha recebeu recursos milionrios, no total de
1.311.700,00 francos suos (cerca de USD 1.500.000,00 na poca), entre
30/05/2011 a 23/06/2011, da conta em nome da offshore Acona International
InvestmentsLtd.,quetinhaporbeneficirioJooAugustoHenriqueRezende.A
prova indica que, em princpio, a origem de tais recursos seriam comisso
recebida por Joo Augusto Henrique Rezende por intermediao de venda
PetrleoBrasileiroS/APetrobrsdepooemBenin.
2. O Ministrio Pblico Federal e o Assistente de Acusao informaram na

audinciadoevento197quenoteriamprovasarequerer.
3. A Defesa teve o prazo ampliado para manifestao e apresentou o

requerimento do evento 198. Depois ainda apresentou os documentos do evento
200.
3.1.PleiteaseareinquiriodatestemunhaFelipeDiniz.
Ora, Felipe Diniz j foi ouvido neste feito (evento 164), sob contraditrio,
ocasio na qual a Defesa pde formular todas as perguntas que entendeu
pertinentes.
Ofatodenoterconfirmadoolibidoacusadonojustificareinquirio.
Ento a prova deve ser indeferida, pois o depoimento j foi tomado e no h

nenhummotivoquejustifiqueareinquirio.
3.2. Pleiteia que seja requisitada cpia do processo de inventrio de Fernando

Diniz junto Justia de Braslia e ainda que seja solicitado a pessoa fsica
estrangeira se Felipe Diniz encontrase entre os beneficirios do extinto Fundo
Madoff.
Observoque,setaisprovasfossempertinentesourelevantes,deveriamtersido
requeridasnarespostapreliminarenonafasedoart.402doCPP.
Mxime quanto obteno de informaes do Fundo Madoff, o que requereria

cooperaojurdicainternacional,sendoabsolutamenteinapropriadorequerla
somentenafasedoart.402doCPP.
Agreguese que eventual confirmao de que Felipe Diniz ou seu pai

compuseram o Fundo Madoff no permite, em princpio, qualquer concluso
quantonaturezadosdepsitosefetuadosnacontasecretanoexteriorquetinha
porbeneficirioEduardoCosentinodaCunhaequesegundoolibidesteseriam
devoluodeemprstimo.
O mesmo pode ser dito, em princpio, da requisio do inventrio de Fernando

Diniz que teria por objetivo provar a existncia de suposto imvel dele
consistente em uma casa localizada no Lago Sul de Braslia e que estaria em
nomedeoffshorenoexterior.
Alis,oprprioEduardoCosentinodaCunhadeclarouemJuzoinexistirprova
documentaldesseemprstimo.
Detodomodo,emboradediscutvelrelevnciaenoseenquadrarnoconceito
deprovadoart.402doCPP,resolvoapenasporliberalidadedeferirarequisio
decpiadoinventriodeFernandoDinizsobon.2016.01.1.0710614junto2
VaraderfoseSucessesdeBrasliaDF.Oficiesecomurgnciasolicitando
os especiais prstimos para fornecimento de cpia do inventrio no prazo de
cindodias.
Ento indefiro a requisio de prova relativa ao Fundo Madoff pois no se

enquadracomodilignciacomplementar,seriaaindaprovadedifciledemorada
produo, nem ela relevante para o julgamento da causa. Defiro, por
liberalidadearequisiodecpiadoinventrio.
3.3. Requer a inquirio de "Walfrido Mares Guia" mencionado na fl. 41 da

dennciapara"confirmaracompletaausnciadequalquerinflunciadoacusado
Eduardo Cunha na nomeao de Jorge Luiz Zelada para a Diretoria
InternacionaldaPetrobrs".
RequereudamesmaformaainquiriodeJorgeLuizZelada.
Narespostapreliminar,aDefesaarrolouvinteeduastestemunhas,vriascoma
prerrogativadeseremouvidasnaformadoart.221doCPP.
SeonomedeWalfridoMaresGuiafoimencionadonadennciaeasuaoitivaera
relevante,deveriaaDefesatlaarroladonarespostapreliminar.
Da mesma forma, Jorge Luiz Zelada mencionado por diversas vezes na

denncia e se a Defesa pretendia sua oitiva, deveria tlo arrolado na resposta
preliminar.
Assim,nenhumadessasprovasseenquadramcomodilignciascomplementares,
prpriasdeseremrequeridasnafasedoart.402doCPP.
Almdisso,sobreanomeaodeJorgeLuizZeladaparaocargodeDiretorda
Petrobrs foram ouvidas diversas testemunhas, tendo este Juzo o fato como
esclarecido de maneira suficiente. No esclareceu a Defesa por qual motivo a
oitivadeWalfridoMaresGuiafariaalgumdiferencial.
Agreguese quanto ao ponto que a Defesa no cuidou de indicar o endereo da

testemunha,oqueserianecessrio,paraviabilizarsuaoitiva.
J quanto a Jorge Luiz Zelada ele acusado na ao penal conexa, de n.

502768535.2016.404.7000, e quando nela interrogado permaneceu em absoluto
silncio, recusandose a responder as questes dos Juzos e das partes (evento
286). Foi a mesma conduta adotada na ao penal 503947550.2015.4.04.7000
pelaqualjfoicondenadocriminalmente.
Embora pudesse ser ouvido como testemunha, j que nesta ao penal no

acusado, teria o direito de no responder a questes que poderiam levar a sua
auto incriminao e muito certamente ele no alteraria sua postura processual.
Assim,adilignciarequeridaintempestivamenteaindaseriaintil.
Ento indefiro tais oitivas pois no se enquadram como diligncias

complementares,nemsorelevantesparaojulgamentodacausa.
3.4. Requer a inquirio de Joo Augusto Rezende Henriques, Eduardo Costa

VazMusaedeIdalciodeCastroRodriguesdeOliveira.
EduardoCostaVazMusajfoiouvidocomotestemunhanopresentefeito(evento
112),noesclarecendoaDefesaporqualmotivodeveriaserreinquirido.
Joo Augusto Rezende Henriques e Idalcio de Castro Rodrigues de Oliveira

forammencionadospordiversasvezesnadennciaeseaDefesapretendiasua
oitiva,deveriatlosarroladonarespostapreliminar.
Evidentemente declaraes por eles prestadas em outros feitos no sero

consideradasemprejuzodoacusadoEduardoCosentinodaCunhanestefeito,j
quenoresguardadoocontraditrio.
Agreguese a dificuldade para oitiva de Idalcio de Castro Rodrigues de

Oliveira, residente no exterior, o que demandaria cooperao jurdica
internacional nessa fase, absolutamente incompatvel com a fase do art. 402 do
CPP. certo que na ao penal 502768535.2016.404.7000, na qual ele foi
acusado, ele veio ao Brasil por solicitao do Juzo, mas no tem este Juzo
condies de solicitar ou exigir a sua presena em ao penal da qual no
parte.
Ento indefiro tais oitivas pois uma j foi realizada e as demais no se

enquadramcomodilignciascomplementares,
De todo modo, caso a Defesa entenda que os depoimentos por eles prestados,
Joo Augusto Rezende Henriques e Idalcio de Castro Rodrigues de Oliveira,
naaopenal502768535.2016.404.7000beneficiamoseucliente,poderei,aseu
pedido, autorizar o seu uso neste feito, j que o MPF fez parte daquela ao
penal.Concedoprazodecincodiasparaeventualmanifestaoaesserespeito.
3.5. Requer a oitiva de Kayze Nunes Kaze, que, segundo quebra de sigilo
telemtico cujo resultado foi apresentado pelo MPF, teria utilizado o endereo
eletrnicoctrivoli0987@hotmail.comparareceberextratodascontasnoexterior
(evetno153).
Aqui tratarseia, de fato, de diligncia cuja necessidade surgiu no decorrer da

instruo,poisoselementosforamjuntadospeloMPFdeformasuperveniente
denncia(evento153).Anica,alis,detodasasrequeridasnoevento198.
Noobstante,oacusadoEduardoCosentinodaCunha,nointerrogatriojudicial,
esclareceu que Kayze Nunes Kaze no tinha relao com a conta e que ele,
EduardoCosentinodaCunhateriautilizadooaparelhodeinformticadeKayze
NunesKazeparacolher,comoendereoeletrnicoreferido,talinformao.
Tendo Eduardo Cosentino da Cunha assumido a responsabilidade pelo referido

endereoeletrnicoeesclarecidoqueKayzeNunesKazenotemrelaocoma
conta,nohqualquermotivoparaouviresteltimo,jquenoacusadonesta
aopenale,segundooacusado,sequerconheceosfatosdelitivos.
Assim, com base no art. 400, 1, do CPP, indefiro o requerido pela manifesta
irrelevncia.
3.6. Requer a Defesa que a Petrobrs providencie todas as atas referentes

nomeao do Diretor Jorge Luiz Zelada e sobre as negociaes relativas
compradocampodeBeninpelaPetrobrs.
Da mesma forma, tais requisies de documentos, se pertinentes, deveriam ter

sidorequeridasnarespostapreliminar.
Detodomodo,observoque,nadenncia,foramjuntadosdezenasdedocumentos
sobreacompraevendadocampodeBeninpelaPetrobrs
Almdisso,nodespachode07/11/2016(evento26),aindadeterminei,abemda
Defesa, a juntada a estes autos de dezenas de documentos a respeito desse
negcioequehaviamsidojuntadospeloMPF,pelaPetrobrsepelasDefesasna
aopenalconexa505160623.2016.4.04.7000:
"Desde logo, considerando o reclamado e apesar do que j consignei no

evento 9, quando viabilizei o acesso Defesa de todos os elementos
constantes na conexa ao penal 502768535.2016.4.04.7000, traslade a
Secretaria daqueles autos para estes todos os documentos constantes nos
eventos1,52,58,152,190,254,255,edosarquivosrelt9,relt10erelt11
noevento121,edoevento135,comafetaotambmaestefeitodamdia
ali apresentada pela Petrobrs. Em relao a esse material, concedo
cincodiasspartesparaeventualmanifestao."
ASecretariadesteJuzorealizouostrasladosnoseventos85a94destesautos.
EntoadocumentaorelativaaaquisiopelaPetrobrsdoCampodeBeninj
seencontranosautos.
Desdelogo,considerandooreclamadoeapesardoquejconsigneinoevento9,
quandoviabilizeioacessoDefesadetodososelementosconstantesnaconexa
aopenal502768535.2016.4.04.7000,trasladeaSecretariadaqueleautoscpia
da petio do evento 318 e com afetao tambm a este feito da mdia ali
apresentadapelaPetrobrs.
Ainda,considerandoafacilidadedeproduodosdocumentosconsistentesnaata
de nomeao de Jorge Luiz Zelada para o cargo de Diretor da Petrobrs e das
atas de negociao e de aprovao da compra do Campo de Benin e sua
posterior venda, defiro, por liberalidade o requerido. Dever a Petrobrs
apresentar tais documentos em separado (ata de nomeao de Jorge Zelada, e
atas de negociao e aprovaao do bloco em Benin), em cinco dias, j que h
acusadopreso.
3.7. A Defesa requer "seja oficiado PETROBRS para que a Companhia

encaminhe a este Juzo os lanamentos narrativos dos poos secos
(Impairment)noperodode2003a2014,comoquesedemonstrarqueesse
evento(superveninciadepoossecos)nopodeserconsideradoincomum".
Aprovadesnecessria.TemesteJuzopresentequeaprospecoeexplorao
de petrleo envolvem o risco de aquisio de poos secos e que isso por si s
nocrime.Indefiroaprovaporirrelevante.
3.8.RequeraDefesaaoitivacomotestemunhasdeEduardoTinoco,residentena
Holanda e Kaj. A. Themes, residente no Reino Unido, que seriam, segundo
respostadaShell,aspessoasresponsveispelaaquisiodepartedosdireitosda
PetrobrsdoCampodeBenin(evento184).
Ora,oqueestemquestooafirmadopagamentodepropinaemcontratoda
Petrobrs de aquisio de direito de explorao da CBH de poos em Benin e
noaposteriorvendaparcialdestesdireitospelaPetrobrsaShell.
Ento a prova irrelavante ou pelo menos no imprescindvel ao julgamento

como exige o art. 222A do CPP para expedio de cooperao jurdica
internacionalparaoitivadetestemunhas.
ademais absolutamente inapropriado na fase de diligncias complementares,

do art. 402 do CPP, pretender ouvir testemunhas no exterior, considerando a
demoradetalprova,mximeemprocessocomacusadopreso.
Assim, indefiro a prova em questo por sua inadequao para a presente fase,
bemcomopornoserimprescindvel.
3.9. Requer a Defesa a juntada de todos os extratos de movimentao da conta

emnomedaOrionapartirde23/06/2011aosautos.
Ocorre que toda a documentao relativa conta Orion j instrui a denncia e

as mdias que foram recebidas do Supremo Tribunal Federal, com a
movimentaodaconta.
Com efeito, conforme se verifica na mdia apresentada junto com a denncia e

arquivada em Secretaria (evento 2, arquivo apinqpol17, fl. 02), disponibilizada
s partes, constam os extratos completos da conta em nome da Orion (v.g.:
arquivos6_458.1602_2120.000.01_CHF_A).
Ento em princpio os documentos disponveis sobre as contas j foram todos

enviadosparaoBrasilpelasautoridadessuasejinstruemosautos,inclusive,
aparentemente,adocumentaopretendidapelaDefesa.
Alis, o acusado foi expressamente indagado sobre tais movimentaes no

interrogatrio.
Entoaprovapretendidajinstruiosautos,nohavendooquedeferir.
Na mesma oportunidade, requer a Defesa a oitiva de David Muino que seria

signatrio"docontratodeagenciamento"entreaLusitaniaPetroleumeaAcona
International,mencionadonasfls.10e11dadenncia.
ComoocontratoestmencionadonainicialecomoaDefesatinhaacessoaele
desdeoincio,deveriaterarroladotaltestemunhadesdeoinciosepretendiaa
suaoitiva.
No se trata por evidente de diligncia cuja necessidade surgiu no decorrer da

instruoe,portanto,cabvelnafasedoart.402doCPP.
Almdisso,aprovainvivelnaformarequerida,poisaparentementereferida
pessoa reside no exterior e sequer a Defesa indicou ou aparenta saber o seu
endereo.
Ento indefiro tal oitiva pois no se enquadra como diligncia complementar,

nemvivelnaformarequerida.
3.10. Requer que seja oficiado "os bancos respectivos para que encaminhema
este Juzo, o 'Portfolio Evaluation' das contas Triumph, Orion, Netherton e
Kopek".
Toda a documentao relativa conta Orion, Triumph, Netherton e Kopek j

instruiadennciaeasmdiasqueforamrecebidasdoSupremoTribunalFederal,
comamovimentaodaconta.
Conformeseverificanamdiaapresentadajuntocomadennciaearquivadaem
Secretaria (evento 2, arquivo apinqpol17, fl. 02), disponibilizada s partes,
constamosextratos,documentosdecrditoedbitoeatextratosqueretratam
aevoluodosinvestimentos(v.g.:arquivos6_4548.1602_2120.333.01_USD.pdf
e6_4548.1602_2120.814.01_Eur_A.pdf).
Ento em princpio os documentos disponveis sobre as contas j foram todos

enviadosparaoBrasilpelasautoridadessuasejinstruemosautos,inclusive,
aparentemente,adocumentaopretendidapelaDefesa.
Eventuais documentos adicionais, se que existente, demandariam cooperao

jurdicainternacionalcustosaedemorada.
Sepertinente,deveriaaDefesatlosrequeridosnarespostapreliminarenona
fasefinaldoart.402doCPP,nosetratandodeprovacujanecessidadesurgiu
nodecorrerdainstruo.
Entoreputoprejudicadoorequeridoeaindaqueassimnofosseseriaocasode
indeferirpornosetratardeprovapertinentefasedoart.402doCPP.
3.11. Requer a Defesa acareo entre Nestor Cuat Cerver e Jlio Gerin de
AlmeidaCamargoparasanarascontradiesexistentesentreosdepoimentos.
A Defesa, ao requerer a acareao, no esclareceu quais seriam as

contradies,inviabilizandoodeferimento.
De todo modo, Nestor Cuat Cerver foi ouvido como testemunha nesta ao
penal (evento 134), o mesmo no ocorrendo com Jlio Gerin de Almeida
Camargo.Eventualdepoimentoextrajudicial,quenoserconsideradoporeste
Juzojquenotomadosobcontraditrio,noautorizaacareao.
Enfim, sem que uma das pessoas citadas tenha igualmente sido ouvida como
testemunha,invivelaacareaopretendida.
3.12.RequeraDefesa:
"Considerando a meno deste d. Juzo, por ocasio do interrogatrio do

denunciado,acercadanecessidadedeproduoprobatriasobrearelao
financeira existente entre o denunciado e o falecido deputado Fernando
Diniz,verdadeiromotivododepsitonacontaORION,masreputadocomo
sendo produto decorrupo na denncia, requerse a oitiva do deputado
federal NELSON ROBERTOBORNIER DE OLIVEIRA, pessoa que pode
esclarecer o fato e que pode ser encontradona Av. Lucio Costa, 3600,
Bloco1,RiodeJaneiroRJ."
SeNelsonRobertoBornierdeOliveiratinhaconhecimentosobreofato,deveria
aDefesatlaarroladonarespostapreliminar.
Nosetrataeladetestemunhareferidaporqualqueroutratestemunha.
SomenteoprprioacusadoEduardoCosentinodaCunhamencionouonomedela
em seu interrogatrio. Isso siginifica que, desde o incio, o acusado, querendo,
poderiatloarrolado.
Assim, essa prova no se enquadra como diligncia complementar, prpria de

ser requerida na fase do art. 402 do CPP, pois no se trata de prova cuja
necessidadesurgiunodecorrerdainstruo.
A referncia, alis, na argumentao de que este Juzo teria mencionado da

necessidade de prova do emprstimo ou da relao financeira entre Eduardo
CosentinodaCunhaeFernandoDiniz,noestcorreta.Tallibifoiapresentado
pelo acusado e por sua Defesa desde o incio e evidente, durante a sua
instruo,queelestinhampresenteanecessidadedaprova,tantoqueaquesto
foi objeto de inquirio pela Defesa a diversas testemunhas, no tendo, porm,
nenhuma delas aparentemente confirmado o aludido emprstimo. No havia
necessidadeportantodenenhumaafirmaodesteJuzoaesserespeito.
Entoindefirotaloitivapoisnoseenquadracomodilignciacomplementarcuja
necessidadesurgiunodecorrerdainstruo.
Porliberalidadesomente,casoaDefesaseproponhaaapresentaratestemunha
peranteesteJuzoatoinciodoprazodasalegaesfinais,podereiouvila.
3.13ADefesarequerajuntadapelaPetrobrsdoRelatriodaComissoInterna
deApuraoden121/2013.
Considerando a facilidade de produo da prova, defiro. Translade a Secretaria

cpiaparaestesautosdoaludidorelatrio(cpianoevento1,anexo56,daao
penal503947550.2015.4.04.7000).
3.14. A Defesa requer que sejam promovidas diligncias para identificao de

"Rodolfo", proprietrio da empresa Construtora ARG, mencionado na nota de
rodapdadenncia(fl.43).
Se o nome de "Rodolfo" foi mencionado na denncia e sua oitiva era relevante,

deveriaaDefesatlaarroladonarespostapreliminar.
Alis, como teria sido mencionado em depoimento extrajudicial por Nestor

Cuat Cerver, fosse a oitiva relevante, deveria a Defesa ter indagado a este,
emseudepoimentojudicial(evento160),aidentificao.
Poroutrolado,nusdaDefesaindicarsuastestemunhascomnomecompletoe
endereopreciso.Aalusoa"Rodolfo"daARGnopermiteaoitiva.
Assim, o requerimento deve ser indeferido pois a prova no se enquadra como

dilignciacomplementar,prpriadeserrequeridanafasedoart.402doCPP,e
tambmnoviveldaformacomorequerida.
3.15.RequerquesejarequisitadodaPetrobrsofarmoutda"companhiacoma
CBHantesdavendaparaaShell",bemcomoatraduodofarmoutjanexado
aosautos.
Ora,adennciaenvolvesupostopagamentodepropinaaEduardoCosentinoda
Cunha na aquisio pela Petrobrs de direitos de explorao de petrleo em
blocodoBenin.
Osnegciosjurdicosposterioresaestesodeduvidosarelevncia.
Apesar disso, este Juzo, a bem da ampla defesa, deferiu requisio da Defesa
constante na resposta preliminar de informaes Shell Brasil Petrleo Ltda.
sobre o farm out celebrado pela Shell Benin Upstream Ltd com a CBH (evento
26eevento138),oquefoijuntadonoevento184.
Tambm deferiu a juntada do Farm Out celebrado entre a Petrobrs e a Shell

(evento138),oquefoijuntadonoevento158.
Agora pretende a Defesa, em novo requerimento, que seja juntado o farm out
entreaPetrobrseaCBHanteriorvendaparaShell.
No se compreendeu bem o requerido. Consta, nos autos, que em 09/06/2015 a

DiretoriaExecutivodaPetrobrsaprovouaassinaturadeacordosparaasada
da Petrobrs do bloco 4 em Benin. Isso foi bem depois da venda parcial dos
direitos da Petrobrs Shell. Ento precisaria a Defesa melhor esclarecer ao
quesereporta.
Detodomodo,setalprovafossepertinente,deveriaaDefesatlarequeridaj
respostapreliminar,nohavendomotivoparafazlonafasedoart.402doCPP,
poisnosetratadeprovacujanecessidadesurgiunodecorrerdainstruo.
Assim, o requerimento deve ser indeferido pois a prova no se enquadra como

dilignciacomplementar,prpriadeserrequeridanafasedoart.402doCPP,e
tambmhimprecisoquantoaoqueserequer.
Quanto traduo requerida, aplicase o disposto no art. 236 do CPP, "os

documentosemlnguaestrangeira,semprejuzodesuajuntadaimediata,sero,
senecessrio,traduzidos...".ADefesa,aorequereratraduodofarmout(no
especificou qual), no esclareceu a necessidada da medida, nem este Juzo v
com facilidade a necessidade, j que no se tratam do negcio jurdico que,
segundo a denncia, teria gerado o pagamento de propina. Portanto, tambm
esse requerimento deve ser indeferido, por falta de demonstrao da
necessidadedadilignciaeimprecisonorequerimento.
3.16. Reitera a Defesa o requerimento de oitiva de trs testemunhas residentes

no exterior, que seriam funcionrios dos bancos onde eram mantidas as contas
dos trusts, "em especial em virtude das contradies do compliance bancrio a
respeitodopatrimniodoacusado".
Antes, a Defesa j havia reiterado esse requerimento no evento 188, alegando

quepoderiamesclarecerainstituiodostrustsefuncionamentodeles.
Indeferiestaprovaconformedecisode07/11/2016(evento26):
"Arrolou trs testemunhas residentes em Genebra, na Sua. Assim

justificouaoitiva:
'Quantos s testemunhas de n. 14, 15 e 16, por terem participado da

instituiodostrusts,elaspodemesclarecerfatosrelativosconstituio,
funcionamento e atos praticados pelo defendente relativamente s
mencionadas estruturas. Assim, a produo da prova testemunhal em
questoimprescindvelparaesclarecerosfatosabordadosnadennciae
desconstituirasequivocadasconclusesaquechegouoParquet.'
Aoitivadetestemunharesidentenoexteriorcustosaedemorada.
Noraramente,apesardosavanosnacooperaojurdicainternacional
nasdcadasrecentes,pedidossoenviadossemquesejamcumpridosou
pelomenossemretornaremprazorazovel.
Envolvendo a presente ao penal acusado preso, demandando a

presuno de inocncia um julgamento em prazo razovel, de se
questionaraconveninciaemarrolarououvirtestemunhasnoexterior.
Aatualredaodoart.222AdoCPPclara,testemunhasresidentesno
exterior s sero ouvidas 'se demonstrada previamente a sua
imprescindibilidade'.
Noesteocaso.
Deferi, na ao penal conexa 502768535.2016.4.04.7000, a oitiva de

testemunhasresidentesnoexteriorequeforamarroladaspelaDefesade
Cludia Cordeiro Cruz, duas das quais, alis, coincidentes com as ora
arroladas.
Entretanto,naquelecaso,veiculadolibidenegativadeautoriadeCludia
CordeiroCruzquantoconstituiodostrusts,aberturaemovimentao
dascontas,oquejustificavaamedida,almdeelaestarrespondendoem
liberdade. H certo acusado preso naquele feito, mas j condenado em
outraaopenal.
J,nocasopresente,peloteordaacusao,orelevanteadefinioda
causa dos depsitos de cerca de 1.311.700,00 francos suos, o
correspondente a cerca de um milho e quinhentos mil dlares, da conta
em nome da offshore Acona Internacional, supostamente controlada por
Joo Augusto Rezende Henriques, para a conta Orion SP, supostamente
controladapelooraacusadoEduardoCosentinodaCunha.
Quem pode esclarecer a causa desses depsitos so os envolvidos, os

titulares dos valores, mas no as testemunhas arroladas, responsveis
segundo Defesa pela constituio dos aludidos trusts ou gerenciamento
dacontabancria.
Afinal, sem embargo das discusses levantadas pela Defesa acerca da

natureza jurdica dos trusts, no de se supor que o dinheiro veiculado
nascontaspertenciaaosresponsveispelaconstituiodostrustsenode
seubeneficirioeconmico,aparentementeoprprioacusado.
Emcomparao,emumaacusaoporcorrupoelavagemdedinheiro
envolvendo contas bancrias no Brasil, quem pode esclarecer os fatos,
especificamente a origem e natureza dos valores mantidos na conta, o
titular da conta e dos valores e no o gerente de banco ou quem
eventualmente foi o responsvel pela constituio formal da pessoa
jurdicatitulardaconta.
Portanto, em nada agregaria ao processo a oitiva dos gerentes do banco

na Sua ou o representante de empresa que auxiliou a constituio dos
trustsutilizadospeloacusado.
Ento a oitiva dessas testemunhas no pode ser considerada

imprescindvelnostermosdoart.222AdoCPP.
A ampla defesa, direito fundamental, no significa um direito amplo e

irrestrito produo de qualquer prova, mesmo as impossveis, as
custosaseasprotelatrias.
Cabeaojulgador,comodispeexpressamenteoart.400,1,doCPP,um
controle sobre a pertinncia, relevncia e necessidade da prova.
Conquantoocontroledevaserexercidocomcautela,nocasopresente,as
provas requeridas no so necessrias ou pertinentes e tampouco

imprescindveis. Acerca da vitalidade constitucional de tal regra legal,
transcrevooseguinteprecedentedenossaSupremaCorte:
'HABEAS CORPUS. INDEFERIMENTO DE PROVA. SUBSTITUIO

DO ATO COATOR. SMULA 691. 1. No h um direito absoluto
produo de prova, facultando o art. 400, 1., do Cdigo de Processo
Penal ai juiz o indeferimento de provas impertinentes, irrelevantes e
protelatrias. Cabveis, na fase de diligncias complementares,
requerimentos de prova cuja necessidade tenha surgido apenas no
decorrer da instruo. Em casos complexos, h que confiar no prudente
arbtrio do magistrado, mais prximo dos fatos, quanto avaliao da
pertinnciaerelevnciadasprovasrequeridaspelaspartes,semprejuzo
da avaliao crtica pela Corte de Apelao no julgamento de eventual
recursocontraasentena.2.Noseconhecedehabeascorpusimpetrado
contraindeferimentodeliminarporRelatoremhabeascorpusrequeridoa
Tribunal Superior. Smula 691. bice supervel apenas em hiptese de
teratologia. 3. Sobrevindo deciso do colegiado no Tribunal Superior, h
novo ato coator que desafia enfrentamento por ao prpria.' (HC
100.988/RJRelatoraparaoacrdo:Min.RosaWeber1Turmapor
maioriaj.15.5.2012)
Nomesmosentido,comrefernciaoitivadetestemunhanoexterior:
'AO PENAL. Prova. Inquirio de testemunhas residentes do exterior.

Expedio de rogatria. Indeferimento. Admissibilidade. Pessoas que,
segundo documentos dos autos, no conhecem os fatos objeto da prova
requerida. Admisso na empresa depois da prtica hipottica dos delitos
pelo scio gerente. Fundamentao suficiente e convincente. Exerccio
regular do poder de direo processual. HC denegado. Diligncia
requeridapeladefesapodeserindeferidapelojuzodoprocessocriminal,
desde que com fundamentao convincente sobre a impertinncia da
prova.' (HC 83.417/PR Rel. Min. Cezar Peluso 2 Turma un. j.
23/10/2007).
No tendo a Defesa demonstrado a imprescindibilidade da oitiva das

testemunhasresidentesnoexterior,ocasodeindeferiraprova,ademais
porque sua produo no se coaduna com o fato de que o acusado
encontrasepresocautelarmente,tornandourgenteojulgamento.
Detodomodo,querendo,facultoDefesaquetraga,assuasexpensas,as
referidas testemunhas para depoimento no Brasil ou que colha delas
depoimentos por escrito e que podero ser juntados aos autos para
avaliaoconjuntacomasdemaisprovas."
Ainstruoconfirmouqueaoitivadessastrstestemunhasnoimprescindvel
eigualmentesequerrelevante.
A questo central consiste nos depsitos efetuados na conta em nome da Orion

que tinha, como benefcio final, o acusado Eduardo Cosentino da Cunha, e era
mantida no Banco Julius Bar, em Genebra, no total de 1.311.700,00 francos
suos(cercadeUSD1.500.000,00napoca),entre30/05/2011a23/06/2011.
O prprio acusado, em seu interrogatrio judicial (ainda no degravado),

informouqueotrustnotinhaqualquerrelaocomessesdepsitosequeteria
sidoelequemtratoudoemprstimoemovimentouosrecursospertinentes.
A mesma afirmao teria sido feita em entrevista em 07/11/2015 ao Jornal da

Globo e que est disponvel nos autos (fls. 9295 do arquivo apinqpo29, evento
2) e na internet (http://g1.globo.com/jornaldaglobo/videos/t/edicoes/v/eduardo
cunhadizquedinheiroemcontasdasuicanaoedele/4592325/):
"O trust no aceitou o depsito e no o movimentou. Ns temos os

extratos,elecontinuanamoedalocal,semqualquertipodemovimentao
ou aplicao, ficou parado anos inteiros na mesma moeda colocado e
deposito porque o trust no tinha o contrato comigo de administrao
desseativo.Otrustnotendoesseativocontratado,elenooreconhecee
elenoreconhecendo,elenomexe."
certoque,aparentemente,aocontrriodoafirmadonaentrevista,oacusado,
em11/04/2014,encerrouacontaemnomedaOrionetransferiuosaldoparaa
contaemnomedaNetherton.Noobstante,nointerrogatriojudicial,admitiua
autoriadessamovimentaoequeateriafeitopororientaodobanco.
Se, como o prprio acusado afirma, os funcionrios do banco no tinham

conhecimentoouparticipaonosaludidosdepsitosounamovimentaodeles
e que consistem no ncleo da acusao, no h como ter o depoimento deles
como imprescindvel ou mesmo relevante, no ao ponto de justificar custosa e
demoradacooperaojurdicainternacionalemprocessodeacusadopreso.
Quanto s divergncias de informao no compliance da instituio financeiro,

no passam de uma questo colateral e que no tem relevncia ao ponto de
tornar imprescindvel a oitiva de funcionrios do banco que nada sabem e no
participaramdosfatosdelitivosnarradosnadenncia.
Mantenho,portanto,oindeferimentodestaprova."
131. Dos dezesseis requerimentos da Defesa, observase que foram

deferidos os dos itens 3.2, 3.6 e 3.13. Outros dois requerimentos foram
indeferidosporqueasprovaspretendidasjestavamnosautos(itens3.9e3.10).
Mesmo dos deferidos, deles no se resultou prova relevante, salvo uma nica,
especificamenteaobtenodecpiadoinventriodeFernandoAlbertoDiniz,mas
elafoidesfavorvelDefesa(item357,adiante).
132. Ainda depois deste despacho ainda acabou sendo deferida a

oitivadetestemunhaadicionalpretendidapelaDefesa(eventos229e242).
133. O que se percebe com clareza que a Defesa pretendeu nessa

fase reabrir completamente a instruo, o que inadequado para o carter
complementardoart.420doCPP.
134. Um breve comparativo entre a quantidade de requerimentos

probatrios por ela formulados nessa fase, dezesseis ao todo (evento 198),
comparados com dois nicos na resposta preliminar (evento 23), ilustrativo da
intenodereabrirtodaainstruo.
135. Destacase ainda as pretenses: de ouvir testemunhas que

poderiam ter sido arroladas desde o incio, uma delas arrolada sem endereo ou
identificao completa, somente pelo nome de "Rodolfo" de ouvir testemunhas
quejhaviamsidoouvidasdeouvirtestemunhasresidentesnoexterior,umadelas
indicada,alis,semendereoedepromoveracareaoentretestemunhaepessoa
quesequerfoiouvidanoprocesso.
136.ApesardainsurgnciadaDefesa,taisprovasforamrequeridas
intempestivamente, j que a sua necessidade no havia surgido no decorrer da
instruo,esequereramnecessrias,relevantesoupertinentesparaojulgamento
docaso.
137. A ilustrar, apesar da insistncia da Defesa em afirmar a

imprescindibilidade da oitiva dos agentes financeiros responsveis pela
constituio dos trusts e pela supostamente movimentao das contas, o prprio
acusado Eduardo Cosentino da Cunha afirmou expressamente, como verse
adiante(v.g.itens347376e390),queosrecursosprovenientesdacontaemnome
da offshore Acona Internacional no foram aceitos, movimentados ou
administradospelostrusts,sendoelemesmoporelesresponsveis.Tratandosedo
pontocentraldaacusaodecorrupoelavagemdedinheiro,jqueseriamesses
os recursos consistentes em vantagem indevida, impossvel caracterizar como
imprescindvelaoitivadetestemunhasestranhasaofatodelito.
138.Sobreessetpico,necessrioesclarecerque,comodemonstrar
se adiante, h prova documental, consistente em registros bancrios, de que
Eduardo Cosentino da Cunha recebeu e movimentou vantagem indevida
proveniente de contrato da Petrobrs e de que o libi, por ter recebido esses
valores,absolutamenteinconsistente,tornandodesnecessriasoutrasprovasalm
daquelasjpresentesaotrminodainstruoordinria.
139.Nohouve,portanto,qualquercerceamentodedefesa,somente
controle judicial fundamentado, com indeferimento de provas manifestamente
irrelevantes ou impertinentes e, no caso das testemunhas no exterior, ainda
prescindveis, requeridas todas as provas ainda em fase inadequada do processo
penal,doart.402doCPP,quedestinadoapenasinstruocomplementareno
reaberturadetodaainstruo.
II.7
140. Alega a Defesa que teria havido cerceamento de defesa pelo

indeferimentodepartedosquesitosporelaapresentadosparaoitivadoExmo.Sr.
PresidentedaRepblicaMichelTemer.
141. A Defesa arrolou o Exmo. Sr. Presidente da Repblica como

testemunha.
142. Diante da manifestao dele, de que preferia ser ouvido por

escrito,aDefesaapresentouosquesitosdoevento136.
143. Parte dos quesitos foram indeferidos nos termos da deciso

judicialde28/11/2016(evento138):
"ApresentouaDefesadeEduardoCosentinodaCunhaquesitosparaoitiva,por
escrito,doExmo.Sr.PresidentedaRepublicaMichelTemer.
Ressalvese, considerando o teor inapropriado de parte dos quesitos, que, nos

depoimentosextrajudiciaisdocolaboradorNestorCuatCerver,apesardesua
afirmaodequeteriaprocuradooentoDeputadoFederalMichelTemerpara
lograrapoiopolticoparapermanecernocargodeDiretordaPetrobrs,noh
qualquer referncia de que a busca por tal apoio envolveu algo de ilcito ou
mesmoqueaconversaentohavidatenhatidocontedoilcito.
Ressalvese,considerandooteorinapropriadodepartedosquesitos,quenoh
qualquer notcia do envolvimento do Exmo. Sr. Presidente da Repblica nos
crimesqueconstituemobjetodestaaopenal.
No tem ainda este Juzo competncia para a realizao, direta ou

indiretamente, de investigaes em relao ao Exmo. Sr. Presidente da
Repblica.
Nesses aspectos, merece censura a Defesa em relao a parte dos quesitos

apresentados.
Ento,dosquesitosapresentadospelaDefesa,indefiro,porsereminapropriados,
osden.os18,19,21,22,23,25,26,27,28,31,32,33e34.
Indefiroainda,porfaltadepertinnciacomobjetodaaopenal,osquesitos2,
3,5,6,10,35,36e37.
Forammantidososquesitosquetempertinncia,mesmoqueumpoucoremota,
comadefesadeEduardoCosentinoCunha.
Expea a Secretaria ofcio, a ser subscrito por este Juzo, com os quesitos
restantes."
144. Em que pese a reclamao da Defesa, fato que Eduardo

CosentinodaCunha,apretextodeinstruiraaopenal,apresentouvriosquesitos
dirigidosaoExmo.Sr.PresidentedaRepblicaquenadadiziamrespeitoaocaso
concreto. Destaquese em especial os seguintes e que no tm a mnima relao
comoobjetodaaopenal:
"35QualarelaodeVossaExcelnciacomoSr.JosYunes?
36 O Sr. Jos Yunes recebeu alguma contribuio de campanha para alguma

eleiodeVossaExcelnciaoudoPMDB?
37CasoVossaExcelnciatenharecebido,ascontribuiesforamrealizadasde
formaoficialounodeclarada?"
145.Taisquesitos,absolutamenteestranhosaoobjetodaaopenal,
tinham por motivo bvio constranger o Exmo. Sr. Presidente da Repblica e
provavelmentebuscavamcomissoprovocaralgumaespcieintervenoindevida
dapartedeleemfavordopreso.
146.Issosemolvidaroutrosquesitosinadequados.
147.AlmdenoteresteJuzocompetnciaparaapurarcondutasdo
Exmo. Sr. Presidente da Repblica, no se pode permitir que o processo judicial
seja utilizado para que a parte transmita ameaas, recados ou chantagens a
autoridadesouatestemunhasdeforadoprocesso.
148.Nosetrata,portanto,decerceamentodedefesa,masdecoibir
autilizaodoprocessoparafinsestranhoseescusospeloacusado.
II.8
149.Foramouvidosnestefeitocomotestemunhasoscolaboradores
Eduardo Costa Vaz Musa, arrolado pela Acusao, Nestor Cuat Cerver,
HamyltonPinheiroPadilhaJnioreDelcdiodoAmaralGomez,estesarrolados
pelaDefesa.
150.NestorCuatCervereDelcdiodoAmaralGomezcelebraram
acordos de colaborao premiada com a Procuradoria Geral da Repblica e que
foramhomologadospeloEgrgioSupremoTribunalFederal.Cpiasdoacordose
dasdecisesdehomologaoforamdisponibilizadasnaaopenal(evento218).
OdepoimentoextrajudicialcomalgumapertinnciasobreaaopenaldeNestor
CuatCerverfoiigualmentejuntado(evento85,anexo32,fls.143148).Quanto
ao depoimento extrajudicial de Delcio do Amaral Gomez sobre os fatos da
denncia,nofoielejuntadopoisinexistente.
151. Eduardo Costa Vaz Musa e Hamylton Pinheiro Padilha Jnior

celebraram acordos de colaborao premiada com o MPF e que foram
homologadosporesteJuzo.Cpiasdosacordosedasdecisesdehomologao
foram disponibilizadas na ao penal (evento 85, anexo32, fls. 195212, e
anexo33, fls. 415 e fls. 94106). Tambm foi juntada a cpia do depoimento
extrajudicial de Eduardo Costa Vaz Musa pertinente ao penal. Quanto ao
depoimento extrajudicial de Hamylton Pinheiro Padilha Jnior sobre os fatos da
denncia,nofoielejuntadopoisinexistente.
152.TodoselesforamouvidosemJuzocomotestemunhasecomo
colaboradores, com o compromisso de dizer a verdade, garantindose aos
defensoresdoacusadoEduardoCosentinodaCunhaocontraditriopleno,sendo
lhesinformadodaexistnciadosacordos(eventos112,134,146e160).
153.Nenhumdelesfoicoagidoilegalmenteacolaborar,porevidente.
Acolaboraosemprevoluntriaaindaquenoespontnea.
154.Nuncahouvequalquercoaoilegalcontraquemquerqueseja
da parte deste Juzo, do Ministrio Pblico ou da Polcia Federal na assim
denominada Operao Lavajato. As prises cautelares foram requeridas e
decretadas porque presentes os seus pressupostos e fundamentos, boa prova dos
crimeseprincipalmenteriscosdereiteraodelitivadadososindciosdeatividade
criminal grave reiterada, habitual e profissional. Jamais se prendeu qualquer
pessoabuscandoconfissoecolaborao.
155. As prises preventivas decretadas no presente caso e nos

conexos devem ser compreendidas em seu contexto. Embora excepcionais, as
prises cautelares foram impostas em um quadro de criminalidade complexa,
habitual e profissional, servindo para interromper a prtica sistemtica de crimes
contraaAdministraoPblica,almdepreservarainvestigaoeainstruoda
aopenal.
156.Ailustrarafaltadecorrelaoentreprisoecolaborao,dois
dos colaboradores relevantes no presente caso celebraram o acordo quando
estavamemliberdade.
157. Argumentos recorrentes por parte das Defesas, em feitos

conexos, de que teria havido coao, alm de inconsistentes com a realidade do
ocorrido, ofensivo ao Supremo Tribunal Federal que homologou parte dos
acordos de colaborao mais relevantes na Operao Lavajato, certificandose
previamentedavalidadeevoluntariedade.
158.Anicaameaacontraoscolaboradoresfoiodevidoprocesso
legalearegularaplicaodaleipenal.Nosetrata,porevidente,decoaoilegal.
159.AgreguesequenofazsentidoqueaDefesadedelatado,como
realizado em feitos conexos, alegue que a colaborao foi involuntria quando o
prpriocolaboradoresuaDefesanegamessevcio.
160. De todo modo, a palavra do criminoso colaborador deve ser

corroborada por outras provas e no h qualquer bice para que os delatados
questionem a credibilidade do depoimento do colaborador e a corroborao dela
poroutrasprovas.
161.Emqualquerhiptese,nopodemserconfundidasquestesde
validadecomquestesdevaloraodaprova.
162.Argumentar,porexemplo,queocolaboradorumcriminoso
um questionamento da credibilidade do depoimento do colaborador, no tendo
qualquerrelaocomavalidadedoacordooudaprova.
163. Questes relativas credibilidade do depoimento resolvemse

pelavaloraodaprova,comanlisedaqualidadedosdepoimentos,considerando,
por exemplo, densidade, consistncia interna e externa, e, principalmente, com a
existnciaounodeprovadecorroborao.
164. Como verse adiante, a presente ao penal sustentase em

prova independente, principalmente prova documental colhida em quebras de
sigilo bancrio e fiscal, bem como provas obtidas em cooperao jurdica
internacional.Rigorosamente,foioconjuntoprobatriorobustoquedeucausas
colaboraes e no estas que propiciaram o restante das provas. H, portanto,
robusta prova de corroborao que preexistia, no mais das vezes, prpria
contribuiodoscolaboradores.
165. No desconhece este julgador as polmicas em volta da

colaboraopremiada.
166.Entretanto,mesmovistacomreservas,nosepodedescartaro
valor probatrio da colaborao premiada. instrumento de investigao e de
prova vlido e eficaz, especialmente para crimes complexos, como crimes de
colarinho branco ou praticados por grupos criminosos, devendo apenas serem
observadas regras para a sua utilizao, como a exigncia de prova de
corroborao.
167. Sem o recurso colaborao premiada, vrios crimes

complexospermaneceriamsemelucidaoeprovapossvel.Arespeitodetodasas
crticas contra o instituto da colaborao premiada, tomase a liberdade de
transcrever os seguintes comentrios do Juiz da Corte Federal de Apelaes do
NonoCircuitodosEstadosUnidos,StephenS.Trott:
"Apesardissoeadespeitodetodososproblemasqueacompanhamautilizao
decriminososcomotestemunhas,ofatoqueimportaquepoliciaisepromotores
no podem agir sem eles, periodicamente. Usualmente, eles dizem a pura
verdadeeocasionalmenteelesdevemserusadosnaCorte.Sefosseadotadauma
poltica de nunca lidar com criminosos como testemunhas de acusao, muitos
processos importantes especialmente na rea de crime organizado ou de
conspirao nunca poderiam ser levados s Cortes. Nas palavras do Juiz
LearnedHandemUnitedStatesv.Dennis,183F.2d201(2dCir.1950)affd,341
U.S. 494 (1951): 'As Cortes tm apoiado o uso de informantes desde tempos
imemoriais em casos de conspirao ou em casos nos quais o crime consiste
em preparar para outro crime, usualmente necessrio confiar neles ou em
cmplices porque os criminosos iro quase certamente agir s escondidas.'
ComoestabelecidopelaSupremaCorte:'Asociedadenopodedarseaoluxode
jogar fora a prova produzida pelos decados, ciumentos e dissidentes daqueles
quevivemdaviolaodalei'(OnLeev.UnitedStates,343U.S.747,7561952).
Nosso sistema de justia requer que uma pessoa que vai testemunhar na Corte
tenha conhecimento do caso. um fato singelo que, freqentemente, as nicas
pessoasquesequalificamcomotestemunhasparacrimessriossoosprprios
criminosos.Clulasdeterroristasedeclssodifceisdepenetrar.Lderesda
Mfia usam subordinados para fazer seu trabalho sujo. Eles permanecem em
seus luxuosos quartos e enviam seus soldados para matar, mutilar, extorquir,
venderdrogasecorromperagentespblicos.Paradarumfimnisso,parapegar
os chefes e arruinar suas organizaes, necessrio fazer com que os
subordinados viremse contra os do topo. Sem isso, o grande peixe permanece
livre e s o que voc consegue so bagrinhos. H bagrinhos criminosos com
certeza, mas uma de suas funes assistir os grandes tubares para evitar
processos. Delatores, informantes, coconspiradores e cmplices so, ento,
armasindispensveisnabatalhadopromotoremprotegeracomunidadecontra
criminosos.Paracadafracassocomoaquelesacimamencionados,hmarcasde
trunfossensacionaisemcasosnosquaisapiorescriafoichamadaadeporpela
Acusao.OsprocessosdofamosoEstranguladordeHillside,aVovdaMfia,o
grupodeespionagemdeWalkerWhitworth,oltimoprocessocontraJohnGotti,
oprimeirocasodebombadoWorldTradeCenter,eocasodabombadoPrdio
FederaldacidadedeOklahoma,soalgunspoucosdosmilharesdeexemplosde
casos nos quais esse tipo de testemunha foi efetivamente utilizada e com
surpreendente sucesso." (TROTT, Stephen S. O uso de um criminoso como
testemunha:umproblemaespecial.RevistadosTribunais.SoPaulo,ano96,vo.
866,dezembrode2007,p.413414.)
168. Em outras palavras, crimes no so cometidos no cu e, em

muitos casos, as nicas pessoas que podem servir como testemunhas so
igualmentecriminosos.
169. Quem, em geral, vem criticando a colaborao premiada ,

aparentemente, favorvel regra do silncio, a omert das organizaes
criminosas, isso sim reprovvel. Piercamilo Davigo, um dos membros da equipe
milanesa da famosa Operao Mani Pulite, disse, com muita propriedade: "A
corrupo envolve quem paga e quem recebe. Se eles se calarem, no vamos
descobrir jamais" (SIMON, Pedro coord. Operao: Mos Limpas: Audincia
pblicacommagistradositalianos.Braslia:SenadoFederal,1998,p.27).
170. certo que a colaborao premiada no se faz sem regras e

cautelas, sendo uma das principais a de que a palavra do criminoso colaborador
devesersempreconfirmadaporprovasindependentese,ademais,casodescoberto
que faltou com a verdade, perde os benefcios do acordo, respondendo
integralmente pela sano penal cabvel, e pode incorrer em novo crime, a
modalidade especial de denunciao caluniosa prevista no art. 19 da Lei n.
12.850/2013.
171.Nocasopresente,agregueseque,comocondiodosacordos,
oMPFexigiuopagamentopeloscriminososcolaboradoresdevaloresmilionrios,
na casa de dezenas de milhes de reais. Ilustrativamente, o colaborador Eduardo
Costa Vaz Musa comprometeuse ao perdimento de USD 3.200.000,00 como
produto do crime e ao pagamento de multa de R$ 4.500.000,00, enquanto
HamyltonPinheiroPadilhaJniorcomprometeuseaopagamentodemultadeR$
70.000.000,00.
172. Certamente, por conta da colaborao, no recebem sanes

adequadas a sua culpabilidade, mas o acordo de colaborao pressupe
necessariamenteaconcessodebenefcios.
173. Ainda muitas das declaraes prestadas por acusados

colaboradores precisam ser profundamente checadas, a fim de verificar se
encontramounoprovadecorroborao.
174.Masissodizrespeitoespecificamenteacasoseminvestigao,
jque,quantopresenteaopenal,asprovasdecorroboraosoabundantes.
II.9
175. Tramitam por este Juzo diversos inquritos, aes penais e

processosincidentesrelacionadosassimdenominadaOperaoLavajato.
176.Ainvestigao,comorigemnosinquritos2009.70000032500
e2006.70000186628,iniciousecomaapuraodecrimedelavagemconsumado
emLondrina/PR,sujeito,portanto,jurisdiodestaVara,tendoofatooriginadoa
ao penal 504722977.2014.404.7000, posteriormente julgada (cpia no evento
206,arquivosent9).
177.Emgrandesntese,naevoluodasapuraes,foramcolhidas
provasdeumgrandeesquemacriminosodecartel,fraude,corrupoelavagemde
dinheironombitodaempresaPetrleoBrasileiroS/APetrobrascujoacionista
majoritrioecontroladoraUnioFederal.
178. Grandes empreiteiras do Brasil, entre elas a OAS, UTC,

CamargoCorrea,Odebrecht,AndradeGutierrez,MendesJnior,QueirozGalvo,
Engevix, SETAL, Galvo Engenharia, Techint, Promon, MPE, Skanska, IESA e
GDKteriamformadoumcartel,atravsdoqualteriamsistematicamentefrustrado
aslicitaesdaPetrobrasparaacontrataodegrandesobras.
179. Alm disso, as empresas componentes do cartel,

pagariamsistematicamentepropinasadirigentesdaempresaestatalcalculadasem
percentual,deumatrsporcentoemmdia,sobreosgrandescontratosobtidose
seusaditivos.
180. Tambm constatado que outras empresas fornecedoras da

Petrobrs,mesmonocomponentesdocartel,pagariamsistematicamentepropinas
a dirigentes da empresa estatal, tambm em bases percentuais sobre os grandes
contratoseseusaditivos.
181.Aprtica,detocomumesistematizada,foidescritaporalguns
dosenvolvidoscomoconstituindoa"regradojogo".
182. Na Petrobrs, receberiam propinas dirigentes da Diretoria de

Abastecimento, da Diretoria de Engenharia ou Servios e da Diretoria
Internacional,especialmentePauloRobertoCosta,RenatodeSouzaDuque,Pedro
JosBaruscoFilho,NestorCuatCerver,JorgeLuizZeladaeEduardoCostaVaz
Musa.
183. Surgiram, porm, elementos probatrios de que o caso

transcendeacorrupoelavagemdecorrentedeagentesdaPetrobrs,servindo
o esquema criminoso para tambm corromper agentes polticos e financiar, com
recursosprovenientesdocrime,partidospolticos.
184. Aos agentes e partidos polticos cabia dar sustentao

nomeaoepermanncianoscargosdaPetrobrsdosreferidosDiretores.Para
tanto,recebiamremuneraoperidica.
185. Entre as empreiteiras, os Diretores da Petrobrs e os agentes

polticos,atuavamterceirosencarregadosdorepassedasvantagensindevidaseda
lavagemdedinheiro,oschamadosoperadores.
186. Vrias aes penais e inqurito envolvendo esses crimes

tramitamperanteesteJuzo,partedelasjtendosidojulgada.
187. Destaco, dos casos j julgados, as sentenas prolatadas nas

aes penais 508325829.2014.4.04.7000 (Camargo Correa), 5013405
59.2016.4.04.7000 (Keppel Fels), 504524184.2015.4.04.7000 (Engevix),
502316214.2015.4.04.7000, 502313531.2015.4.04.7000, 5039475
50.2015.4.04.7000 (Naviosonda Titanium Explorer), 508383859.2014.404.7000
(Naviosondas Petrobrs 10.000 e Vitria 10.000), 506157851.2015.4.04.7000
(Schahin), 504722977.2014.4.04.7000 (lavagem em Londrina), 5036528
23.2015.4.04.7000 (Odebrecht) e 501233104.2015.4.04.7000 (Setal e Mendes).
Cpiasdessassentenasencontramsenoevento206daaopenal.
188.Emboraemtodaselashajaorelatodopagamentodepropinas
divididasentreagentesdaPetrobrseagentespolticos,estesltimosrespondem,
em sua maioria, a investigaes ou aes penais perante o Egrgio Supremo
TribunalFederalemdecorrnciadoforoporprerrogativaporfuno.
189.Emalgunspoucoscasos,relativamenteaagentespolticossem
mandatooucargoe,portanto,semforoporprerrogativadefuno,responderam
elesaaespenaisperanteesteJuzo,tendosidocondenados.
190.ocaso,porexemplo,deJosDirceudeOliveiraeSilva,ex
parlamentarfederaleexMinistroChefedaCasaCivil,condenadoporcorrupoe
lavagem de dinheiro envolvendo propinas acertadas em contratos da Petrobrs
(aopenal504524184.2015.4.04.7000,evento206,arquivosent3).
191.OmesmofatofoiverificadoemrelaoaoexDeputadoFederal
Joo Luiz Correia Argolo dos Santos condenado, pelo recebimento de vantagem
indevida em contratos da Petrobrs, na ao penal 502316214.2015.4.04.7000
(evento206,arquivosent4),eemrelaoaoexDeputadoFederalPedrodaSilva
Correa da Oliveira Andrade Neto, condenado na ao penal 5023135
31.2015.4.04.7000(evento206,arquivosent5).
192.Emoutrasaespenais,foiprovado,nojulgamento,queparte
da propina ajustada com agentes da Petrobrs em contratos da estatal foi
direcionada para o financiameno ilcito de campanhas eleitorais ou para
pagamentodedvidasdecampanha.
193. Isso foi constatado, por exemplo, na sentena da ao penal

501233104.2015.4.04.7000 (evento 206, arquivo sent13), na qual foi condenado
por crime de corrupo e lavagem de dinheiro Joo Vaccari Neto, Secretrio de
FinanasdoPartidodosTrabalhadores,pelodirecionamentodepartedepropinas
em contratos da Petrobrs com a Mendes Jnior e com a Setal Engenharia para
doaeseleitoraisaoPartidodosTrabalhadores.
194.Algoparecidofoiprovadonasentenadaaopenal5061578
51.2015.4.04.7000,quandoumemprstimoconcedidonointeressedeagentesdo
PartidodosTrabalhadoresfoiquitadofraudulentamentecomodirecionamentode
umcontratonaPetrobrsaoGrupoSchahin(evento206,arquivosent8).
195. Tambm verificado, na sentena da ao penal 5013405

59.2016.4.04.7000 (evento 206, arquivo sent2), que parte da vantagem indevida
acertadaemcontratosdaPetrobrscomoGrupoKeppelFelsfoidirecionadapara
remunerao de servios prestados por profissionais do marketing poltico ao
Partido dos Trabalhadores. Neste caso, um diferencial relevante foi o pagamento
dapropinamediantedepsitosemcontasecretamantidanaSua.
196. Todos esses casos confirmam o padro adiantado de que os

acertos de propinas em contratos da Petrobrs no serviam somente ao
enriquecimento ilcito dos agentes da Petrobrs, mas tambm ao enriquecimento
ilcitodeagentespolticosquedavamsustentaopolticaaosagentesdaPetrobrs
eigualmenteaofinanciamentocriminosodepartidospolticos.
197.Opresentecasoinsereseperfeitamentenomesmocontexto.
198. Como adiantado no relatrio, em contrato da Petrobrs de

aquisio dos direitos de explorao de rea de Petrleo, houve acerto de
vantagemindevida.Comoverseadiante,apesardenoteremsidoidentificados
todososbeneficirios,pelasdificuldadesnorastreamentofinanceironoexterior,o
ento Deputado Federal Eduardo Cosentino da Cunha recebeu 1.311.700,00

franos suos, correspondentes a cerca de um milho e quinhentos mil dlares,
comopartedavantagemindevidaacertadanoreferidocontrato.
199.Omotivoconsistirianoapoioqueoagentepoltico,doPartido
do Movimento Democrtico Brasileiro PMDB, concedeu a Jorge Luiz Zelada
para que ele se tornasse Diretor da rea Internacional da Petrobrs e assim
permanecesse.
200.NofoioprimeirocontratodaPetrobrsemrelaoaosquais
hprovasdedirecionamentoderecursosaagentesdoPMDB.
201.Nasentenaprolatadanaaopenal508383859.2014.404.7000
(evento 206, arquivo sent7), foram, entre outros, condenados criminalmente
Nestor Cuat Cerver, que precedeu Jorge Luiz Zelada no cargo de Diretor da
reaInternacional,eFernandoAntnioFalcoSoares,intermediadordepropinas,
por acerto de vantagem indevida em contratos de fornecimento Petrobrs dos
NaviosondasPetrobrs10.000eVitria10.000,havendoreferncianasentenaa
possveldestinaodepartedapropinaaagentespolticosdoPMDB,inclusiveao
prprioEduardoCosentinodaCunha.
202. Na sentena prolatada na ao penal 5039475

50.2015.4.04.7000(evento206,arquivosent6),foramcondenadoscriminalmente
Jorge Luiz Zelada, Eduardo Costa Vaz Musa, agentes da Petrobrs, Hamylton
Pinheiro Padilha Jnior e Joo Augusto Rezende Henriques, intermediadores de
propinas, por acerto de propinas em contrato de fornecimento Petrobrs do
NavioSonda Titanium Explorer, havendo referncia na sentena a possvel
destinaodepartedapropinaaagentespolticosdoPMDB,masquenoforam
especificamenteidentificados.
203.Apesardopadroconstatado,queserepetesentenaasentena,
certo que a responsabilidade criminal sempre individual e para superar a
presunodeinocncianecessriaprovacabaldaautoriaematerialidadedeum
crime.
204.Nopresentefeito,aprovaeminentementedocumental,vinda
daSua.
206.Comefeito,orastreamentofinanceiropermiteconcluirque,do
preopagopelaPetrobrsnocontratodeaquisiodosdireitosdeexploraoda
rea de Petrleo em Benin, na fica, cerca de USD 1,5 milho foi destinado ao
entoDeputadoFederalEduardoCosentinodaCunha.
207.Passaseaexaminartaisprovas.
208. Os negcios entre a Petrobrs e a Compagnie Bninoise de

Hydrocabures CBH esto descritos no Relatrio de Auditoria R05.E.003/2015
realizadopelaprpriaPetrobrs(evento85,anexo38).
209. Consta ali que a Diretoria Executiva e o Conselho de

Administrao da Petrobrs aprovaram, em 30/12/2010 e em 11/01/2011,
respectivamente, a aquisio proposta pela rea Internacional de 50% da
participao no Bloco 4, na Repblica do Benin, da empresa Compagnie

BninoisedesHydrocarburesCBH(evento85,anexo38).Aproposio,comose
verifica no documento, veio da rea Internacional da Petrobrs, que tinha ento
comoDiretorJorgeLuizZelada.
210. Importante ressaltar que no se trata de mera compra de parte

dosdireitos,aPetrobrstornousesciadaCBHnoempreendimento,comdiviso
doscustosparaexploraodarea,comocomaperfuraodospoos.
211. Previstos USD 34.500.000,00 como valor bsico de aquisio

(bnus de assinatura e reembolso de custos pretritos) e outros pagamentos
posteriores.
212.Em03/05/2012,aPetrobrsvendeu15%desuaparticipaono
Bloco4ShellBenin,enquantoaCBHvendeu20%empresa.Acomposio
societriaficou,apartirdeento,30%paraaCBH,35%paraaPetrobrse35%
paraaShell.
213. Posteriormente, em 09/06/2015, foi aprovado, na Petrobrs, a

sua sada do negcio, pela frustrao na explorao, j que no encontrado
petrleo (http://www.petrobras.com.br/fatosedados/esclarecimentosobre
atividadesnobenin.htm).
214. Alm do relatrio de auditoria, a denncia est instruda com

vriosdocumentosrelativosaosnegciosjurdicosemquesto(evento85,anexo2
aanexo10,anexo12aanexo14,anexo38,anexo39eanexo41,evento91),como
relatrio de auditoria com seus anexos no evento 87, e com tradues de
documentos relativos aos negcios jurdicos em questo (eventos 88 e 90). Foi
ainda disponibilizada mdia pela Petrobrs com cpia do relatrio final da
comisso interna de apurao sobre a aquisio do Bloco 4 em Benin, com os
respectivosanexos(evento92).
215. Tratandose de um empreendimento comum, relevante que

todos os participantes tivessem capacidade financeira para arcar com as suas
obrigaes.
216. Nessa linha, a principal crtica do relatrio de auditoria

aquisioefetuadapelaPetrobrsfoinosentidodequeaestatalteriaseassociado
empresaCBHsemquetivessehavido"anlisecriteriosasobreasuacapacidade
financeira,oqueresultouemdvidaaserassumidapelaPetrobrs".
217.Transcreveseaconclusodorelatriodeauditoria:
"Apesar de o farm in ser habitual na indstria petrolfera, o qual consiste na

aquisiodeparticipaoemativos,aequipedeauditorianoobteveevidncias
da existncia de um padro da rea Internacional, poca da negociao de
compra de participao no bloco 4 no Benin, que norteasse o processo a ser
seguido.
Nossaanliseidentificouasseguintesnoconformidades:
associaocomempresacomcapacidadefinanceirainsatisfatria
inconsistnciasnaanliseeconmicadoprojeto
envio de proposta no vinculante CBH sem aprovao da Diretoria

Internacional."
218. As concluses so melhores desenvolvidas no relatrio, sendo

ali informado que o principal problema era que a CBH, da qual a Petrobrs iria
adquirir50%dosdireitodeexploraodepetrleonareaemBenine,portanto,
da qual iria se tornar scia na explorao do empreendimento, era uma empresa
semtradionomercadoecomcapacidadefinanceirainsatisfatria,jqueoseu
nicoativoconhecidoeraoprprioBloco4noBenin.
219.Transcrevesetrecho:
"Antes da efetivao da aquisio, o Gapre realizou um levantamento sobre a

CBHedisponibilizourelatriodaempresaDun&Bradstreet,pormeiodoqual
foi possvel identificar o endereo e o telefone da CBH no Benin, o nmero de
empregados(6)eodiretordaempresa.
Importa destacar, que a rea de Inteligncia de Mercado da rea Internacional

(INTERDN/IM),emitiurelatrio(IM2010)ondeinformavaqueaempresano
possua dados financeiros divulgados e que, aps esgotar a busca nas
ferramentasdepesquisadisponveis,noerapossvelafirmarqueaCBHtinha
sadeecapacidadefinanceirasatisfatria.AAuditorianoobteveevidnciasde
queessainformaofoirepassadaD.E.eaoC.A.
Aassociaocomempresascomcapacidadefinanceiradesconhecidaaumentao
riscodenopagamento(default)pelosconsorciados.
No caso especfico do Benin, a CBH no efetuou a totalidade dos pagamentos

referentesaocustodopooperfuradopelaShelleacumulouumadvidadeUS$
46.857,623,58 com o consrcio, a qual, aps diversas tentativas de cobrana,
poderserassumidapelasPetrobras(PO&GBV)eShell.
Destacase,ainda,queopargrafo44doDIPE&PINTER01/2015,submetido
DEemjunho/2015paraencerramentodasucursalnoBenin,descreveque'tendo
em vista a existncia de dvida quanto a possibilidade de a CBH honrar seus
compromissos financeiros, a PO&GBV e a Shell contrataram a empresa FTI
ConsultingparafazerumainvestigaosobreosativospertencentesaoLusitania
Group, empresa qual a CBH est ligada, e aos seus acionistas no Brasil,
Portugal, Repblica Democrtica do Congo e Benin'. O relatrio desta
investigao aponta que eles no possuem ativos de valor nos pases
investigados.
220. Informa o relatrio que a aquisio dos direitos de explorao

do Bloco 4 em Benin foi submetida Diretoria Executiva da Petrobrs em duas
oportunidades, uma em 09/12/2010, sendo no entanto, na ocasio, determinado
que fossem melhor avaliadas as informaes de mercado e financeiras sobre a
CBH.
221. Ainda segundo o relatrio de auditoria, foram obtidas

informaesadicionaissobreaCBH,masaindaassim,"nofoipossvelafirmar
queaCBHtivessesadeecapacidadefinanceirasatisfatria".
222. Mesmo assim, na segunda oportunidade, em 30/12/2010, a

Diretoria Executiva aprovou a aquisio, no que foi seguida pelo Conselho de
AdministraodaPetrobrsem11/01/2011.
223. A auditoria concluiu que no foi possvel identificar que o

resultado da nova anlise sobre a situao financeira da CBH, apontando que
faltariam elementos para que se afirmasse a sua sade e capacidade financeira
satisfatrias, tenha sido submetido Diretoria Executiva ou ao Conselho de
Administrao.Transcrevese:
"Concluindo, apesar de na poca do farmin no existirem procedimentos que

determinassem o processo a ser seguido nem referncias quanto a critrios de
aceitao de requisito de avaliao comercialfinanceira de empresa parceira,
esteslevantamentosforamrealizados,conformeprticadapoca.Oassuntofoi
apresentado Diretoria em 09/12/2010 e permaneceu em pauta em virtude da
determinao dos Diretores de que fossem buscadas informaes
complementares. Levantamentos adicionais foram realizados e elaborado
relatriorevisado.Noentanto,noidentificamos,naapresentaopreparada,o
resultadodaanlisedasituaofinanceiradaCBHconformeconstanorelatrio
revisado. Tambm no identificamos, no DIP encaminhado Diretoria
Executiva,osanexoscontendoorelatriorevisado,bemcomoaapresentao.O
assunto foi novamente apresentado Diretoria (30/12/2010), que resolveu
submeteroassuntoaoCA,queaprovouomesmoem11/01/2011."
224. Foi ouvido como testemunha de acusao Rafael de Castro da

Silva,auditordaPetrobrsequeparticipoudaauditoriaacima,eque,emsntese,
confirmou os termos do relatrio e igualmente que no se logrou encontrar
petrleonospoosperfurados(evento146):
"Ministrio Pblico Federal: No relatrio de auditoria foram constatadas

algumas inconsistncias, o senhor pode nos relatar de forma sucinta no que
consistiram essas inconsistncias, no que se refere ao descumprimento de
normas de governana da companhia, do que se refere capacidade financeira
daempresaquevendeuosativos,dentreoutrasnuances?
RafaeldeCastro:Bom,deformasucinta,agenterelatouafaltadeevidnciade
ter sido repassado diretoria a falta de capacidade financeira da CBH. Que
desencadeariaempoderarcarcomoscustosexploratriosdoblocolnoBenin.
Areadeintelignciademercadodareainternacionalemitiaumrelatrioem
queelaestudavaumpoucodaempresaedareadenegciostambm,estudava
um pouco do pas, e emitia o relatrio. Esse relatrio era o chamado IM210,
nesserelatrioconstavaqueapsesgotartodososmeiosdebuscasobreaCBH,
jqueaCBHnoeraumaempresalistadaembolsa,elanopodiaafirmarque
a CBH tinha capacidade financeira para arcar com esses custos exploratrios.
No nosso relatrio a gente relatou isso e que isso no tinha sido, no tinha
evidncias que isso tinha sido passado para a diretoria e anexado aos dips que
voparaseremaprovados,paraoprojetoseraprovado.Bom,oprimeiroponto
eraesse,osegundoponto,senomeengano,erasobreapossvelsubavaliao
dospoosexploratrios,quandodaavaliaoeconmica,oprojeto.
Ministrio Pblico Federal: S pra esclarecer, ento, essas informaes

relativas capacidade financeira da empresa foram omitidas nas informaes
passadasdiretoriaexecutiva,noconstavamnasapresentaesemitidaspelaa
diretoriaexecutiva?
RafaeldeCastro:,noseiseomitidas.Agentenoobteveevidnciasqueelas
tinhamsidoefetivamenterepassadas.NotrmiteinternodaPetrobras,quandoa
genteenviaorelatrio,antesdeagenteemitirumrelatriofinalagenteemite
uma minuta. E essa minuta depois ela consta com comentrios da unidade
auditada. A gente relatou esse fato e eles comentaram que efetivamente no
encontraram essa informao sendo repassada para a auditoria oficialmente,
paraadiretoria.Ouseja,estandoescritoouemanexoemalgumdocumentoque
tenhasidoencaminhadoparaadiretoria.
MinistrioPblicoFederal:Ofatodessaempresaquevendeuocamponoter
uma capacidade financeira satisfatria no impactaria o negcio futuramente,
tendoemcontaqueelasetornariaumaparceiradaPetrobras?
RafaeldeCastro:Sim.
Ministrio Pblico Federal: Ela deveria aportar recursos de investimento

tambm nesse campo, a CBH, junto com a Petrobras, que foi vendido 50 por
centodocampo,correto?
RafaeldeCastro:Isso.Ento,nomomentoemquevoccriaumaparceriavoc
designaumadasempresascomooperadoradonegcioeaoutraempresaque
participante,ououtrasempresas,dependendodecadacaso,elassomentearcam
com o dinheiro para a conduo do negcio. Nesse caso a da CBH, quando a
empresa vai perfurar um poo ou mais de um poo, como estava previsto, ela
deveria arcar com grande parte desses recursos para cumprir com as suas
obrigaes.
MinistrioPblicoFederal:Eelaarcoucomalgumcusto?
Rafael de Castro: Ela arcou com algum custo, s que como o poo saiu muito
mais caro do que o previsto, ela no teve capacidade de pagar tudo. E acabou
que a Shell e a Petrobras, no sei se j foi pago, mas resolveuse por assumir
umadvidade46milhesdedlaresdedvidasnopagaspelaCBH.
(...)
Ministrio Pblico Federal: Certo. E essa empresa, a CBH, pela pesquisa era
uma empresa conhecida no mercado de petrleo internacional como dona de
vriospoosperfuratrios,eraumaempresacomknowhownarea?
RafaeldeCastro:ACBH,achoqueestatdescritonorelatrio.queonosso
relatrio descreve muitos fatos obtidos em outros documentos, documentos
internos da Petrobras. E tem um relatrio emitido por uma consultoria, Dan
Bredistit, se eu no me engano. Esse relatrio relata que a CBH tinha somente
seis funcionrios, sendo um diretor que era o senhor Idalcio, e no possua
dados sobre a capacidade financeira dela tambm, dados financeiros dessa
companhia.Eessacompanhiaonicoativodelaeraoprpriobloco,obloco4l
noBenin,elanotinhaoutrosativosforadoBenin.
MinistrioPblicoFederal:Masacontroladoradela,Lusitnia,tambmeraum
empresa da rea, conhecida por ser perfuradora ou ser dona de poos de
petrleo,oueraumaempresaqueningumsabedeondeveio?
Rafael de Castro: No, eu desconheo, no conheo a Lusitnia, conheci

duranteessaauditoria.E,deacordocomoutrorelatrio,temumdipnosso,acho
que o dip InterDN65/2012 se eu no me engano, eu me lembro ser InterDN.
Essediprelata,temumapartedessedip,quenapocafoicontratadaumaoutra
consultoriainternacional,senomeenganoFTIConsult.Equeelaconcluiuque
aps buscas em diversos ativos dentro do mundo afora da Lusitnia, acho que
contemplava Brasil, Portugal, Repblica do Congo e Benin, no havia sido
encontrados ativos garantidores ou de expressivo valor que pudessem garantir
esses valores, esses dbitos da CBH, de consequncia da Lusitnia, ento o
grupotambmnopossuaativosrelevantes.
(...)
MinistrioPblicoFederal:OsenhorJorgeZelada,qualfoiaparticipaodele
nesseprocesso?
RafaeldeCastro:Eleeraodiretordarea,teoricamenteapessoaresponsvel
pelaapresentaonadiretoriasobreoassunto.Apesardeelenoestarpresente
nodia30,elebotoualgumdelegadoemseunome.Ento,masteoricamente,ele
eraoresponsvel,porqueantesdeserlevadodiretoria,eralevadoaelepara
apreciaodonegcio.
MinistrioPblicoFederal:Ecabiaaelelevardiretoria?
RafaeldeCastro:Sim.
(...)
Juiz Federal: Um outro esclarecimento que pra mim no ficou muito claro, o
senhormencionouqueteveareuniodadiretoriaeadiretoriaficourelutanteem
aprovar,esolicitouesclarecimentos?
RafaeldeCastro:Isso.
Juiz Federal: Certo. Mas depois a diretoria aprovou o negcio, os

esclarecimentosforamprestadosounoforamprestados?
Rafael de Castro: Olha, acredito que no sei se foram prestados. Mas a

auditoria de fato aprovou, no sei com base em que. Porque uma das
justificativas para no terem sido aprovadas de cara era a solicitao daquele
relatrioqueeucomentei,doingbusiness.Elesfoientregue,sficouprontoem
fevereiro.LembrandoqueonossoCAjtinhaaprovadoaaquisioemjaneiro.
Ento...Eosdadosfinanceirosdaempresa,quetambmtinhasidoalgoquetinha
sidodebatidotambmnoconstamdasapresentaes.
JuizFederal:Entoaauditoriaemsinopdeconstatarseessasinformaes
foramapresentados,seosesclarecimentosforamapresentados?
RafaeldeCastro:Isso.
JuizFederal:Masaindaassimonegciofoiaprovado?
RafaeldeCastro:Foiaprovado.
JuizFederal:E,sprafinalizar,noseiseficoutotalmenteclaro,afinalfoiou
nofoiencontradopetrleonopoo?
RafaeldeCastro:No.
JuizFederal:Narea,querdizer?
Rafael de Castro: Foi poo, como a gente diz na Petrobras, poo seco, sem
petrleo. E houve esse pequeno problema junto com a CBH. Que a CBH no
conseguiuarcarcomtodososcustosdesuaresponsabilidade,queporfimforam
rateadosentrePetrobraseShell,queasim,elastinhamcapacidadefinanceira
dearcarcomotamanhodessesrecursosanecessrios."
225. Oportuno ainda destacar que a auditoria no identificou

qualquerparticipaononegciodeJooAugustoRezendeHenriquesque,como
verseadiante,recebeudacomissodaCBHporrepresentlajuntoPetrobrs.
Transcrevese:
"MinistrioPblicoFederal:EosenhorJooAugustoHenriques,oquetinhaa
vercomesseprocessotodo?
Rafael de Castro: No sei informar, no nos deparamos com o nome dele em

momentoalgum.
(...)
Juiz Federal: Foi indagado ao senhor, mas pra deixar claro, pelo Ministrio
Pblico, nessa documentao que foi possvel recuperar foi identificado algum
documento que possa ser relacionado ao senhor Joo Augusto Rezende
Henriquesouaempresasdele,aAconaouTrendEmpreendimentos?
RafaeldeCastro:No.
JuizFederal:Algumlaudodeavaliao,algumacorrespondncia?
RafaeldeCastro:No.
JuizFederal:Algumaatadereunioemqueeleestevepresente?
RafaeldeCastro:No,nonosdeparamoscomissono."
226. O Relatrio da Comisso Interna de Apurao da Petrobras

sobreaaquisiodoBloco4emBenin(DIPAGP130/2016),instauradoapartir
da auditoria, foi disponibilizado na ntegra em mdia s partes (evento 92). As
conclusesdelenodivergemdaquelasdorelatriodeauditoria.
227. Identificadas ainda outras possveis irregularidades, uma, a

omisso de relatrio relevante que no recomendava a realizao do negcio.
Transcrevesetrecho:
"Nodia17/12/2009,foienviadaumaequipedaPetrobrsNigriaemmissoao
Benin para participao de dataroom na CBH. Participaram desta equipe:
Daniel Zaine (membro da equipe da InterDN/EP/AOP) e Emka PhilEbosie da
rea de Explorao da Petrobrs Nigria (entre outros). A equipe da Petrobrs
Nigria emitiu um relatrio no recomendando a oportunidade [a aquisio],
hajavistaqueaCBHnohaviaapresentadodadossuficientes.Registresequeo
referidorelatrionofoimaiscitado."
228. Outra, constatouse que houve manipulao de dados por

empregados da Petrobrs na avaliao econmica do negcio, ou seja, das
expectativasdeganhodaPetrobrs,queimpactaram"positivamentenoresultado
econmicodoprojeto",comodetalhadonasfls.6673doRelatriodaComisso
InternadaPetrobrs.Transcreveseaconclusodestetpiconafl.89dorelatrio:
"Procedente em relao ao item: inconsistncias na anlise econmica do

projeto.
Osregistrossofalhos,nohrastreabilidadeecontrolerelativoaosinsumos
eanliseeconmicadoprojeto.
H indcios de que a INTERDN atuou para alterao do grau API. Foi

desconsiderandospreadparaoBrent(grauAPIinformadopelaINTERTEC/EP
foide32).
Prazo entre descoberta e Antecipao 1 leo era otimista e desafiador, no

poderiatersidoutilizadocomoocasomaisprovvel.
Evidenciouse uma manipulao dos insumos que suportaram a anlise

econmica do projeto, com o objetivo claro e manifesto de melhorar os
resultadosdoVMEparaaprovaonasinstnciassuperiores."
229. Ainda segundo o Relatrio da Comisso a manipulao dos

dadoseconmicosdoprojetoteriasidorelevanteparaaaprovaoequivocadado
negcio.Transcrevese:
"Considerando que as primeiras anlises econmicas apresentaram VME

negativo, o que provavelmente levaria a uma reduo da proposta de aquisio
departicipaodaPetrobrsnobloco4doBenin,nascondiesapresentadas,a
Comissoconcluiqueamanipulaaodedadoseinformaescomoobjetivode
melhoraroresultadoeconmicodoprojetotrouxeprejuzosPetrobrs."
230. Tambm o Relatrio da Comisso Interna relata mais

detalhadamenteanegociaoeotrmitedaaprovaonaPetrobrs.
231.OquemaischamaaatenoofatodaDiretoriaExecutivano
teraprovadoem01/12/2010aaquisiodoBloco4,soboargumentodequeseria
"arriscadoassociaraPetrobrsaalgumsemnenhumaligaocomaindstria"e
ter na mesma ocasio solicitado maiores informaes sobre a CBH, inclusive
relatrio "doing business" e parecer do Jurdico/JIN (fl. 14 do Relatrio da
Comisso),masposteriormente,em30/12/2010,teraprovadoonegcio,semque
esses elementos tivessem sido providenciados, e ainda sem que tivesse sido lhe
apresentadoorelatriodaINTERDN/IMnoqualconstavaainformaodeque
no seria "possvel afirmar que a CBH tenha sade e capacidade financeira
satisfatria".Transcrevese:
"ApesardaausnciadasconclusesdorelatriodaInterDN/IM[desfavorvel
CBH] e do parecer do JURDICO/JIN com o doing businesse no DIP INTER
DN 0231/2010, a Sra. Karine Firmo, poca integrante da equipe da INTER
DN/EP/AOP, em substituio informar do gerenete da INTERDN/EP/AOP
Pedro Augusto Xavier Bastos, e substituindo o coordenador da oportunidade
Daniel Zaine, reapresentou o tema Diretoria Executiva no dia 30/12/10 (Ata
4.581), onde a DE aprovou recomendao ao Conselho de Administrao (CA)
para aquisio de 50% do bloco 4 no Benin. No dia 11/01/2011, o Conselho de
Administrao aprova a aquisio de 50% de participao no Bloco 4 na
RepblicadoBenin."(fl.16dorelatriodacomisso)
232. Relativamente a essa aquisio, so possveis algumas

concluses.
233. O negcio foi desastroso para a Petrobrs, pois, nos poos

perfuradosnoBloco4deBeninnofoiencontradopetrleoougs.
234.Oprejuzofoiequivalenteaoscustosdeaquisiodosdireitos
de explorao, ou seja, USD 34.500.000,00, alm do prprio valor investido na
explorao.
235. A Comisso Interna de Apurao da Petrobrs calculou o

prejuzoemcercadeUSD77,5milhesdedlares,somandoaocustodeaquisio
o montante investido na explorao que ficaria a cargo da CBH, j que esta no
pdearcarcomeleporsuacapacidadefinanceirainsuficiente(fl.96dorelatrio
dacomisso).
236. Um mau ou mesmo desastroso negcio no , porm, um

negcio criminoso, sendo parte natural da atividade de explorao de petrleo a
frustraocompoossecos.
237. No obstante, no presente caso, o que se percebe so vcios

procedimentais consistentes em aodamento de agentes da Petrobrs para
aprovao da aquisio e a ocultao ou manipulao de dados de agentes da
PetrobrsparaaprovaodonegciopelaDiretoriaExecutivaepeloConselhode
Administrao.
238.TaisatossoimputveisaosetordaPetrobrsresponsvelpelo
negcio,especificamentereaInternacionalcomandadapeloDiretorJorgeLuiz
Zelada.
239.ApsacelebraodocontratoentreaPetrobrsOilandGasBV
eaCBH(evento85,anexo39),foitransferida,em03/05/2011,aquantiadeUSD
34,5milhesdaprimeiraparaasegundaempagamentodosdireitosadquiridosde
50%deexpoloraodoBloco4doBenin.Informaodessepagamentoencontra
senosnosaludidosrelatriosdeauditoriaedacomissointerna,mastambm
pode ser verificada nos documentos bancrios da conta mantida no Banco BSI,
agncia de Zurique, em nome da CBH (evento 2, arquivo apinqpol21, fl. 34,
apenso5doinqurito).
240.Em03/05/2011,aCBHtransferiu,destamesmacontanoBanco
BSI,USD31milhescontatambmmantidanoBSI,masemLugano/Sua,da
Lusitania Petroleum (BC) Limited, que uma holding, proprietria, entre outras
empresas, da CBH. Comprovante desta transao encontrase na fl. 3639 do
arquivoapinqpol21doevento2,apenso05doinqurito.Tratasedecartadirigida
pelo controlador da CBH e da prpria Lusitania Petroleum, Idalcio de Castro
Rodrigues de Oliveira, ao gerente da conta no BSI, solicitando a transferncia e
explicandoomotivo.
241. Por sua vez, em 05/05/2011, foram transferidos USD 10

milhes da conta da Lusitania para a conta Z203217 no Banco BSI, em
Zurique/Sua,equetitularizadapelaoffshoreAconaInternationalInvestments
Ltd.,constitudaem25/09/2010naRepblicadeSeychelles.
242. Segundo documentos da conta em Zurique, o controlador e o

beneficiriofinaldelaJooAugustoRezendeHenriques.
243. Documentos da conta Acona International encontramse no

evento 1, arquivo apinqpol21 do evento 2, apenso 05 do inqurito (fl. 1158 e
107197).Traduesdessesdocumentosencontramsenomesmoarquivo,fls.59
106e198288.
244.Destaquemse,dosdocumentosdacontaemnomedaoffshore
AconaInternational,asfls.112119e176178doarquivoapinqpol21doevento
2, apenso 05 do inqurito, com o apontamento de que Joo Augusto Henrique
Rezende o titular controlador, inclusive com cpias de documentos pessoais e

descriodoperfildocliente(nasreferidasfls.176178domesmoarquivo).
245. O comprovante do crdito de dez milhes de dlares

provenientedacontadaLusitainaencontrasenafl.32doarquivoapinqpol21do
evento2,apenso05doinqurito.Observasequeaprpriainstituiofinanceira
colheu informaes sobre a transao, sendo a ela informada que estaria
relacionadoaocontratoentreaPetrobrseaCBH(fl.3435domesmoarquivo).
Nadocumentaocolacionadajuntoconta,encontrasecontratodeagenciamento
entreaLusitaniaPetroleumeaAconaInternationalporintermediaodecontrato
entre a CBH, subsidiria da Lusitania, e a Petrobrs (fls. 4158 do mesmo
arquivo).
246. Em outras palavras, consta no contrato entre a Lusitania

Petroleum e a Acona International que esta ltimo receberia comisso por
representarosinteressesdaprimeirajuntoPetrobrsseavendadosdireitosde
explorao do Bloco 4 de Benin fosse bem sucedida. Os dez milhes de dlares
representam bnus devido Acona quando a Lusitania recebesse os pagamentos
daPetrobrs.
247. Presente, portanto, prova documental que, do preo de USD

34,5 milhes pagos pela Petrobrs CBH, pelo menos USD 10 milhes foram
destinadosaointermediadorJooAugustoRezendeHenriques.
248.ObservoaindaqueaLusitaniaPretoleumtransferiuaindamais
USD 10 milhes em 19/09/2012 para conta em nome da offshore Acona
International (fls. 15 e 16 do arquivo apinqpol21 do evento 2, apenso 05 do
inqurito),masofatonocompeadenncia.
249. Chama a ateno o montante dessa comisso. USD 34,5

milhes foram pagos pela Petrobrs CBH e, destes, USD 10 milhes foram
destinadosaointermediador,oquerepresentaumaparcelaconsidervelpormera
representaojuntoPetrobrs.
250. Seguindo a trilha do dinheiro, da conta em nome da offshore

Acona Internacional, no Banco BSI, em Zurique/Sua, foram realizadas
transfernciasnototalde1.311.700,00franossuos,correspondentesacercade
um milho e quinhentos mil dlares, para a conta de n 4548.1602 no Banco
MerrilLynch,depoissucedidopeloJuliusBaer,emGenebra,emnomedeOrion
SP.Foramcincotransferncias:
a)30/05/2011CHF250.000,00
b)01.06.2011CHF250.000,00
c)08.06.2011CHF250.000,00
d)15.06.2011CHF250.000,00e
e)23.06.2011CHF311.700,00.
251. Tais transferncias esto retratadas nos extratos da conta

examinados pelo Relatorio de Anlise 116/2015, em especial nas fls. 1215 do
relatrio(fls.335,doarquivoapinqpol24doevento2,apenso07doinqurito).
252. Outros USD 7,86 milhes foram pulverizados em diversas

contas no exterior cujos titulares no foram ainda identificados (fl. 16 do
relatrio).
253. Os documentos e extratos completos da conta em nome da

OrionSPforamdisponibilizadosspartesemmdiaeletrnica(evento2,apenso
2,fl.2).
254. Para facilitar o exame das provas, foi determinado, pelo

despacho de 09/02/2017 (evento 201), a juntada direta nos autos de parte destes
documentos.
255.Nosextratosconstantesnoarquivoextr3,evento205,encontra
se o extrato da conta em nome da Acona na qual constam os lanamentos de
dbitos,comtransfernciaparaacontaemnomedaOrion.
256. Por sua vez, nos extratos constantes no arquivo extr1, evento
205, encontrase o extrato da conta em nome da Orion na qual constam os
lanamentosdecrditos,comosrecebimentosprovenientesdacontaemnomeda
Acona. Os mesmos crditos, salvo o primeiro, tambm esto retratados nos
documentosbancriosdoarquivocomp2,doevento205.
257. Documentos da conta Orion SP encontramse no arquivo ap

inqpol20 do evento 2, apenso 04 do inqurito (fls. 3160). Tradues desses
documentosencontramsenasfls.161333domesmoarquivo.
258. A Orion SP um trust com endereo formal em Edimburgo e

teve a conta aberta, em 2008, no Merril Lynch da Sua, depois sucedido pelo
BancoJuliusBaer.
259. Como se verifica na fl. 10 do referido arquivo eletrnico

(arquivoapinqpol20doevento2,apenso04doinqurito),EduardoCosentinoda
Cunhafoinomeadoprocuradorresponsvelpelaconta.Jnodocumentodefl.11
do arquivo eletrnico, ele identificado como o proprietriobeneficirio dos
ativos a serem depositados na conta ("the beneficial owner of the assets to be
depositedwiththeBankisEduardoCosentinodaCunha").Juntoaosdocumentos
da conta, h cpias de documentos pessoais, como passaportes, de Eduardo
CosentinodaCunha(fls.3336doarquivo).
260.Nafl.39doarquivoeletrnico,constaaindicaodoendereo
[email protected],emdocumento
assinadoem08/06/2012porEduardoCosentinodaCunha.
261.Juntoconta,hdocumentosinternosdoBancodescrevendoo
cliente, para propsitos de compliance, sempre com referncia a Eduardo
Cosentino da Cunha, v.g. fls. 44, 48, 54, 67, 79, 82 e 99100 do arquivo
eletrnico.
262.NadocumentaodacontadaOrion,haindarefernciadeque
o cliente, Eduardo Cosentino da Cunha titular de quatro contas na instituio
financeira:
"ThisisanaccountopenedwiththewealthofMr.EduardoCunha.
(...)
He currently holds USD 5 million with MLBS (total) four accounts (principal
accountsbeingOrionandTriumph).KopekisacreditcardaccoutforMr.Cunha
and his wife. Netherton is for new business (barely funded as at date), expect
more revenue for investment 2012 when energy businesses develops." (p. 82 do
arquivoapinqpol20doevento2,apenso04doinqurito)
263.Emtraduo:
"EssaumacontaabertacomosrecursosdoSr.EduardoCunha.
(...)
Ele atualmente mantm cinco milhes de dlares em quatro contas no Merrill

Lynch(asprincipaissendoOrioneTriumph).Kopekumacontaparacartode
crdito do Sr. Cunha e esposa. Netherton para novos negcios (pouco
financiados at o momento), espera mais rendas para investimentos em 2012
quandonegciosdeenergiasedesenvolverem."
263.Apesardautilizaodaformajurdicadotrustparaaberturada
conta em nome da Orion, Eduardo Cosentino da Cunha foi nomeado procurador
para a conta, ainda identificado como o beneficirioproprietrio e todos os
documentosdecomplianceapontamEduardoConsentinodaCunhacomoocliente
dainstituiofinanceira.
264.NohnenhumdocumentoavaliandootrustOrioncomoalgo
independentedoclienteEduardoCosentinodaCunha.
265. A concluso bvia que Eduardo Cosentino da Cunha o

titular, controlador e beneficirio da conta em nome do trust Orion, apesar da
figurajurdicautilizadaparaaaberturadaconta.
266. Estabelecida a titularidade da conta, prosseguese no

rastreamento financeiro dos valores recebidos da conta em nome da offshore
AconaInternational.
267. Em 11/04/2014, da conta em nome da Orion, foram efetuadas

duas transferncias no montante de 970.261,34 francos suos e de 22.608,37
eurosparaconta4548.6752noBancoMerrilLynch,depoissucedidopeloBanco
Julius Baer, em Genebra, Sua, em nome da Netherton Investments PTE Ltd.,
constituda em Singapura (evento 86, anexo 37, fl. 7, da ao penal
conexa502768535.2016.4.04.7000).AcontaOrionfoientoencerrada.
268. Tais transaes esto descritas no Relatrio de Anlise n.

11/2016(evento86,anexo37)realizadopeloMinistrioPblicoFederalsobreos
extratosdascontasOrioneNethertoneencontramsuportenadocumentaodas
contasconstantenamdiaeletrnica,especificamentenoslanamentosnafl.43do
arquivo 6_4548.1602_2120.000.01_CHF_A e na fl. 75 do arquivo
6_458.1602_2120.814.01_EUR_A.
269. Documentos da conta Netherton encontramse no arquivo ap

inqpol22doevento2daaopenal,apenso06doinqurito(fls.586e158227).
270.SegueseomesmopadrodacontaemnomedaOrion.
271. A Netherton Investment um trust com endereo formal em

Singapura e teve a conta aberta, em 2008, no Merril Lynch da Sua, depois
sucedidopeloBancoJuliusBaer.
272. Como se verifica nas fls. 8 e 9 do arquivo eletrnico, o

escritrio de advocacia Posadas & Vecino, em Genebra, foi constitudo para a
aberturadaconta,inclusiveparaaassinaturadosdocumentoscorrespondentes.
273. H diversos documentos na conta que dizem respeito

constituiodaNethertonInvestments(v.g.fls.1164doarquivoeletrnico)
274. Entretanto, no documento de fl. 10 do arquivo eletrnico,

EduardoCosentinodaCunhaidentificadocomooproprietriobeneficiriodos
ativos a serem depositados na conta em questo, em nome da Netherton ("the
beneficialowneroftheassetstobedepositedwiththeBankisEduardoCosentino
daCunha").
275. Junto aos documentos da conta, h cpia do passaporte de

EduardoCosentinodaCunha(fls.67doarquivoeletrnico).
276.Emalgunsdocumentos,hrefernciaaNethertonInvestments,
masoportunodestacarqueopasderesidnciadoclienteapontadocomosendo
oBrasilenoSingapura(fl.78doarquivoeletrnico).
277. E, junto conta, h diversos documentos internos do Banco

descrevendo o cliente, para propsitos de compliance, sempre com referncia a
Eduardo Cosentino da Cunha como sendo o cliente, v.g. fls. 165, 168, 169, 170,
174,182,217e220,porvezescomrefernciaexplcitaaNethertonInvestments
como constituindo o nome da conta e a Eduardo Cosentino da Cunha como o
proprietriobenefcirio(v.g.fl.165doarquivoeletrnico).
278.ApesardaDefesaargumentarqueonomecorretodacontaseria
"GoldenTrust",ofatoquediversosdocumentosreportamseaonomedaconta
comosendoNetherton,assimcomoosprpriosfuncionriosdobanco,comovisto
noitem263.
279. Na documentao da conta da Netherton, h ainda os mesmos

documentosinternosdecompliancequeinstruemadocumentaodacontaOrion,
comoaquelemencionadonositens262e263,retro(fl.168doarquivoeletrnico).
280. Diferentemente da Orion, em relao a Netherton, a fraude

aparentatersidomelhorelaborada,jquepelomenosadocumentaodacontafoi
assinada pelos formais representantes do trust e no por Eduardo Cosentino da
Cunha.
281.Entretanto,apesardautilizaodaformajurdicadotrustpara
abertura da conta em nome da Netherton, Eduardo Cosentino da Cunha
identificado como o beneficirioproprietrio e todos os documentos de
complianceapontamEduardoConsentinodaCunhacomooclientedainstituio
financeira.
282. No h nenhum documento qualquer avaliando o trust

NethertoncomoalgoindependentedoclienteEduardoCosentinodaCunha.
283. A concluso bvia que Eduardo Cosentino da Cunha o

titular,controladorebeneficiriodacontaemnomedotrustNetherton,apesarda
figurajurdicautilizadaparaaaberturadaconta.
284. Estabelecida a titularidade da conta, prosseguese no

rastreamento financeiro dos valores recebidos da conta em nome da offshore
AconaInternational.
285. Em 04/08/2014, da conta em nome da Netherton, foi efetuada

umatransfernciadeUSD165.000,00paraacontan4547.8512,denominadade
Kpek, mantida na mesma instituio financeira, Banco Merril Lynch, depois
sucedidopeloBancoJuliusBaer,emGenebra,Sua.
286.TaltransaoestdescritanoRelatriodeAnlisen.11/2016
(evento 86, anexo 37, fl. 8) realizado pelo Ministrio Pblico Federal sobre os
extratos da conta Netherton e Kpek e encontra suporte na documentao das
contasconstantenamdiaeletrnica,especificamentenoslanamentosnasfls.3e
4doarquivo6_458.6752_2120.333.01_USD_B.Nolanamento,constaaseguinte
explicaoparaatransao:
"Thisisthecreditcartaccountthatperiodicallyreceivesincomingfundstopay
the bills and sustain the guarantee held in the account. Client is the wife of the
beneficialownerofthesender.Thereasonistopaythecreditcards."
287.Emtraduo:
"esta a conta do carto de crdito que periodicamente recebe fundos para o

pagamentodecontaseparasustentaragarantiamantidanaconta.Aclientea
esposa do beneficirio proprietrio da remetente. A razo [da transao]
pagarocartodecrdito."
288. A Kpek a denominao de conta de n. 478512 tambm

mantidanoBancoJuliusBaer(sucessordoMerryllLynchBanck),emGenebra,na
Sua, e tem por beneficiria final Cludia Cordeiro Cruz, esposa do acusado
EduardoCosentinodaCunha.Noestesclarecidoomotivodetaldenominao
paraaconta,jquenoidentificadaaexistnciadeumaestruturacorporativacom
onomeKpek.
289. Documentos da conta Kpek encontramse nos arquivos ap

inqpol24 e apinqpol23 do evento 2, apenso 07 do inqurito (fl. 44174).
Traduesdessesdocumentosencontramsenoarquivoapinqpol23doevento2,
apenso07,segundaparte,doinqurito,fls.4422.
290. Destaquemse em especial as fls. 4554, 8083 e 89 com o

apontamentodequeClaudiaCordeiraCruzatitularcontroladora,inclusivecom
assinaturas e cpias de documentos pessoais e diversas descries do perfil do
cliente(nasreferidasfls.8083e89).Nadocumentao,constainformaodeque
a conta foi aberta exclusivamente para alimentar cartes de crdito e est
vinculadas"contasmes"OrioneTriumph.
291. Conforme extratos da conta, recebeu ela recursos vultosos de

contascontroladaspeloacusadoEduardoConsentinodaCunha.Entre25/03/2008
a04/08/2014,acontaemnomedaKpekrecebeucercadeUSD1.275.229,16de
contas como as referidas Orion SP e Netherton e ainda da Triumph SP, da qual
falarseadiante.
292.IdentificouoMPFqueosrecursosdacontaKpekteriamsido
utilizados,entre20/01/2008a02/04/2015,paraarealizaodespesasdecercade
USD1.079.218,31e8.903,00librasesterlinas.CercadeUSD526.760,93teriam
sido gastos atravs de faturas dos cartes de crdito Corner Card vinculado
conta. Boa parte dos gastos referese a despesas luxuosas em viagens
internacionais,diriasemhotisdeluxo,aquisiesemlojasdegriffe.Partedos
gastos foi efetuado com carto de crdito diretamente vinculado a Eduardo
CosentinodaCunha.
293. As afirmaes do MPF encontram amparo nos extratos dos

gastos com os cartes de crdito vinculados s contas e que eram utilizados por
EduardoCosentinodaCunnhaeseusfamiliares.Elesencontramsenasfls.60126
do arquivo apinqpol25 do evento 2, apenso 08 do inqurito, e nas fls. 0256 do
arquivoapinqpol26doevento2,apenso09doinqurito.
294.Apesardovolumeexpressivoquecirculoupelacontaemnome
da Kpek, releva destacar que a imputao de lavagem de dinheiro constante na
denncia limitase referida transferncia em 04/08/2014 da conta em nome da
NethertonnomontantedeUSD165.000,00,jquepossvel,segundoadenncia,
relacionarcronologicamenteessevaloraopreviamenterecebidopelaNethertonda
Orione,poresta,daAcona.Adennciaaindareportaseaosgastosdecartesde
crditos correspondentes, de USD 156.275,49 havidos posteriormente a
04/08/2014.
295.Aqui,porm,assisterazodiligenteDefesaaoargumentar,na
fl.166daalegaesfinais,queosUSD165.000,00repassados,em04/08/2014,da
contaemnomedaNethertonparaacontaKpeknopodemserrelacionadosaos
prviosrepassesde970.261,34francossuosede22.608,37eurosrecebidospela
contaemnomedaNethertondacontaemnomedaOrione,porconseguinte,aos
1.311.700,00francossuosrecebidospelacontaemnomedaOriondacontaem
nomedaAcona.
296. Usualmente, se valores de procedncias diversas, lcitas ou

ilcitas, so misturados em uma nica conta bancria, h contaminao do todo,
poisdinheirofungveledinheirosujonosetornalimposemisturadoadinheiro
lcito,alis,essaumatcnicadelavagem.
297.Ocorreque,comoseverificanosextratosdascontasmantidas
no Merril Lynch depois sucedido pelo Banco Julius Baer, eram realizados
controles separados, no mbito das contas, para as diferentes moedas utilizadas,
francosuo,euroedlar.
298. Examinando os extratos da conta em nome da Netherton em

francos suos e em euros (arquivos 6_4548.6752_2120.001.01_CHFA e
6_4548.6752_2120.814.01_EURA),constatasequeos970.261,34francossuos
e os 22.608,37 euros provenientes da Orion foram depositados, em 11/04/2014,
mas permaneceram compondo os saldos em francos suos e em euros da conta
mesmodepoisdatransfernciadosaludidosUSD165.000,00em04/08/2014dela
realizadoparaaKpek.ExaminandoosextratosdacontaemnomedaNetherton
em dlares (6_458.6752_2120.333.01_USD_B), constatase que os USD
165.000,00 transferidos conta em nome da Kpek tm origem nos valores que
lheforamrepassadospelacontaTriumph,daqualtratarseadiante.
299. Logo, no rastreamento financeiro, os USD 165.000,00 no

fazempartedosvaloresprovenientesdacontaAconaInternational.atpossvel
que tenham alguma origem ilcita, j que, como verse adiante, o acusado no
logrouesclareceraorigemdeseusrecursosnoexterior,mascompemadenncia
somenteosvaloresrecebidospeloacusadoprovenientesdacomissonocontrato
deaquisiopelaPetrobrsdoBloco4deexploraodeleoegsemBenin.
300. possvel concluir, com base na prova documental, que, do

preo pago pela Petrobrs pela aquisio de 50% dos direitos de explorao do
Bloco 4 em Benin, no montante de USD 34.500.000,00, CBH, de Idalcio de
Castro Rodrigues de Oliveira, foram pagos, em 05/05/2011, USD 10 milhes
Acona International, de Joo Augusto Rezende Henriques, como comisso pelo
sucessodarepresentaoporestejuntoPetrobrsdosinteressesdaCBH,sendo
que USD 1.500.000,00 dos aludidos dez milhes foram sucessivamente
transferidos,entre30/05/2011a23/06/2011,paracontaemnomedaOrionSP,de
propriedade e controlada por Eduardo Cosentino da Cunha. Posteriormente, a
contaemnomedaOrionSPfoiencerradaeosaldo,de970.261,34francossuos
e de 22.608,37 euros, foi transferido, em 11/04/2014, para a conta em nome da
Netherton Investments, de propriedade e controlada por Eduardo Cosentino da
Cunha.
301. Da conta da Netherton, foram ainda transferidos, em

04/08/2014, USD 165.000,00 para a conta em nome da Kpek, da esposa de
Eduardo Cosentino da Cunha, recursos estes utilizados para gastos em carto de
crdito,masnosepodeafirmarqueosUSD165.000,0tmorigemnacontaem
nomedaAconaInternational.
302. Ento objetivamente cabe concluir que Eduardo Cosentino da

CunharecebeuemovimentouemcontassecretasnaSua,emnomedaOrionSP
e da Netherton Investments, USD 1.500.000,00 provenientes do preo pago pela
PetrobrsparaaquisiodoBloco4emBenin.
303.EduardoCosentinodaCunhaatuanavidapolticabrasileirah
tempoconsidervel.
304. Foi Deputado Estadual na Assemblia Legislativa do Rio de

Janeiro entre 2001 e 2002, tendo antes exercido cargos no Executivo Estadual,
comoPresidentedaTelerj,entre1991a1993.
305. Exerceu o mandato de Deputado Federal desde 01/02/2003,

sendoreeleitosucessivasvezes.
306. Exerceu a funo de Presidente da Cmara dos Deputados de

01/02/2015at07/07/2016.
307.Quando,portanto,entre30/05/2011a23/06/2011,recebeuUSD
1.500.000,00provenientesdocontratodaPetrobrs,eradeputadofederal.
308. Examinando suas declaraes de rendimento apresentadas

Receita Federal (fls. 898 do arquivo apinqpol17 do evento 2, apenso 02 do
inqurito), constatase que Eduardo Cosentino da Cunha no declarou qualquer
receita ou rendimento que poderia justificar o recebimento de um milho e
quinhentos mil dlares em 2011 da Acona International ou de qualquer outra
empresa.Emparticular,nadeclarao2012,anocalendrio2011,anicafontede
rendasignificativadeclaradasoosvencimentoscomoparlamentarfederal,deR$
358.001,74anuais(fls.6067doreferidoarquivoeletrnico).
309. Pelas declaraes para os anos de 2008 em diante, no h

tampoucodeclaraodossaldosmantidosnascontasnaSua,nohdeclarao
quanto existncia das contas, no h declarao quanto titularidade das
empresasnoexterior,OrioneNetherton,oumesmodaTriumphSP,daqualtratar
seadiante,nemarespeitodatitularidadedequalquerdireitooucrditojuntoa
trustsnoexterioroujuntoaqualqueroutraentidadecorporativa.
310.Tambmnohouvedeclaraodossaldosmantidosnascontas
naSuajuntoaoBancoCentraldoBrasil(fls.4e5doarquivoapinqpol18do
evento2daaopenal505160623.2016.4.04.7000,apenso03doinqurito).
311. E como notrio, Eduardo Cosentino da Cunha compareceu,

em 12/03/2015, perante a Comisso Parlamentar de Inqurito constituda na
CmaradosDeputadosparaapurarcrimescometidosemcontratosdaPetrobrs,e
negouquetivesse"qualquertipodecontaemqualquerlugarquenosejaaconta
que est declarada em meu imposto de renda". O depoimento est disponvel na
rede mundial de computadores (v.g.: https://www.youtube.com/watch?
v=gaRr6k2CeMw) e foi objeto de diversas reportagens jornalsticas (v.g.:
http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/10/cunhanegouemmarcocpida
petrobrastercontasnoexterior.html).
312. Embora ele tenha recebido um milho e meio de dlares

provenientes de contrato da Petrobrs sem causa declarada e ocultado os valores
emcontassecretasnoexterior,cumpreverificaromotivo.
313. A resposta bvia que o pagamento se insere no j adiantado

padro, de que os acertos de propinas em contratos da Petrobrs no serviam
somente ao enriquecimento ilcito dos agentes da Petrobrs, mas tambm ao
enriquecimento ilcito de agentes polticos que davam sustentao poltica aos

agentes da Petrobrs e igualmente ao financiamento criminoso de partidos
polticos.
314. Cumpre observar que, embora no tenham ainda sido

identificados pagamentos a agentes da Petrobras em decorrncia do contrato em
questo,h,porrastrear,dacontaAconaInternational,deJooAugustoRezende
Henriques,cercadeUSD7,86milhesdosdezmilhesrecebidosdaCBHeque
forampulverizadosemdiversascontasnoexteriorcujostitularesnoforamainda
identificados(item252,retro).
315.NestorCuatCerverantecedeuJorgeLuizZeladanaDiretoria
Internacional da Petrobrs. Foi condenado criminalmente por recebimento de
propinas e vantagem indevida na ao penal 508383859.2014.404.7000 (evento
206,arquivosent7).
316.ApsrealizaracordodecolaboraocomoProcuradorGeralda
RepblicaequefoihomologadopeloEgrgioSupremoTribunalFederal,admitiu
osseuscrimeserevelouinformaessobreoesquemacriminosonaPetrobrs.
317. Nesta ao penal, foi ouvido como testemunha arrolada pela

Defesa(evento160).
318.Declarou,emsntese,quefoinomeadoemjaneirode2003ao
cargo de Diretor da rea Internacional da Petrobrs com o apoio de agentes do
PartidodosTrabalhadores.Porvoltade2006,passouareceberapoiopolticode
agentes do Partido do Movimento Democrtico Brasileiro PMDB junto ao
Senado Federal. Admitiu que o apoio poltico dependia do direcionamento de
vantagem indevida para agentes polticos que lhe davam sustentao.
Transcrevemsetrechos:
"Juiz Federal: Esclarecimentos muito rapidamente do juzo, sinteticamente, o

senhorrelatou,haviacontratosdaPetrobrasnareainternacionalquegeravam
pagamentodevantagemindevidadepropinas,isso?
NestorCerver:Sim.
Juiz Federal: O senhor mesmo recebeu vantagens indevidas em seu prprio

benefciopessoal?
NestorCerver:Sim.
Juiz Federal: E parte desses valores eram destinados tambm a agentes

polticos,isso?
NestorCerver:Amaiorparteeradestinadaaagentespolticos."
"Defesa: Como que se deu a sua nomeao para a diretoria internacional da

Petrobras?
Nestor Cerver: Eu fui nomeado em janeiro de 2003, quando no novo governo

Lula, o Lula tinha sido eleito, e fui indicado pra ser diretor internacional da
Petrobrasem2003.
Defesa:HouveparticipaodoentosenadorDelcdiodoAmaraledoZecado
PTnasuanomeao?
Nestor Cerver: Sim, minha indicao formalmente foi feita pelo governador
Zeca,porindicaodosenadorDelcdio.
Defesa: Houve algum pagamento de vantagem indevida ao senhor Delcdio do

Amaral?
NestorCerver:Nonaocasio,houveposteriormente.
Defesa:OsenhorseaproximoudoPMDBquando?
NestorCerver:NarealidadenofuieuquemeaproximeidoPMDB,oPMDB
queseaproximoudemimem2006,logodepoisdomensalo.
Defesa:Atravsdequem?
NestorCerver:AtravsdoministroSilasRondeau,quefaziapartedogrupodo
PMDB,quenapocahaviaadivisodoPMDBdacmara,doPMDBdosenado.
Ento na realidade eu fui procurado pelo Silas, que me apresentou ao senador
Renan, ao senador ... na poca deputado Jader Barbalho, mas fazia parte do
grupo do senado e que me informaram que eles tambm passariam ... eu
passariaaserapoiadoporessegrupo.
Defesa: Se eu entendi nos seus termos de colaborao, o senhor afirmou em

2006, foi pago 6 milhes para os senadores Renan Calheiros, Jader Barbalho,
DelcdiodoAmaraleaoexministroSilasRondeau,attulodeparticipaonos
negciosdaPetrobraseissovisariaoapoiopracontinuaonocargo,isso?
Nestor Cerver: Foi pago ... realmente foi um acerto que houve com o
comando, esse comando PMDB. O Delcdio no fazia parte desse 6 milhes, o
Delcdiofoiumaoutracontribuio.Mashouveumadestinaode6milhesde
dlarespraessegrupoa.
Defesa:Ecomoquesedeuessepagamento?
Nestor Cerver: Esse pagamento se deu atravs de resultado obtido de

negociaes de propinas dos negcios ... basicamente da sonda ... da primeira
sonda que ns contratamos, que a Petrobras contratou, e de uma parte da
comisso...porque,comoeudisse,oDelcdionofezpartedesses6milhesde
dlares.Os6milhesdedlaresfoidirigidoparaoPMDB."
319. Em 2008, porm, foi substitudo por pessoa indicada por

agentes polticos do PMDB da Cmara dos Deputados, liderados pelo falecido
DeputadoFederalFernandoDiniz.Parasubstitulo,foiindicadoinicialmenteJoo
AugustoHenriquesRezendeediantedaoposiodoPoderExecutivocontraele,
foinomeadoemsubstituioJorgeLuizZelada.Chegouaserrealizadaparaele,
Nestor Cuat Cerver, uma proposta para que ele permanecesse no cargo, desde
quesedispusesseaprovidenciarcercade700mildlaresmensaisparaoreferido
grupo poltico. Nestor Cuat Cerver declarou que no concordou com esta
exigncia. Tambm declarou que desconhecia o envolvimento do Deputado
FederalEduardoCosentinodaCunhaemsuasubstituio.Entretanto,confirmou
quefoiinformadoqueeleteriarecebidopropinasnoscontratosdaPetrobrsque
foram objeto da ao penal 508383859.2014.404.7000 (evento 206, arquivo
sent7).Transcrevese:
"Defesa: E a um perodo depois o senhor foi substitudo na diretoria da

Petrobras?
NestorCerver:Doisanos,quasedoisanosdepois.
Defesa:EosenhorfezalgumacobranadequeessessenadoresdoPMDBlhe
apoiassemparaosenhorsemanternocargo?
Nestor Cerver: Sim, eu conversei, porque a substituio no foi de uma hora

pra outra, foi um processo que levou uns 6 meses, uma coisa assim, se iniciou
com uma presso do PMDB da cmara, um grupo de ... foi dito depois nos
contatosqueeutivecomopessoalemBraslia,queeufuiprocurar,querdizer,
esse apoio do grupo do senado, que me disse isso, que havia um grupo muito
grandededeputadosdoPMDBlideradospelofalecidodeputadoFernandoDiniz,
doPMDBdeMinas,quepediamaminhasubstituionadiretoriainternacional.
A eu fui at com o (incompreensvel)cobrar o apoio do grupo do PMDB da
cmara,masnaquelemomentooPMDBdacmara...dosenadoestavamuito
enfraquecido,porquefoinaocasiodoqueosenadorRenantevequerenunciar
por conta da histria da filha dele, que era pago uma penso, e ele renunciou.
Ento esse grupo tinha perdido ... isso eu descobri nas negociaes que, quer
dizer,nastentativasdepermannciaetalqueduraramcoisasde6meses.
Defesa:EoentodeputadoFernandoDinizqueriacolocarquemnoseulugar?
Nestor Cerver: A primeira ... no foi... no foi ... no sei se foi o deputado
Fernando Diniz. Eu sei que esse grupo era, me foi dito, at pelo na poca
deputado Michel Temer, que eu estive com ele, que ele tinha que atender a
bancada,elefalouquetinhatidoasmelhoresreferncias,masqueelenopodia
deixar de atender a bancada. E a o primeiro nome que surgiu pra minha
substituio,foinofinalde2007,queeufuisubstitudoemmarode2008,foio
nomedoJooAugustoHenriques,quejhaviasidodiretordaBRnopassadoe
tal,masdevidoaumprocessoqueeletinha...tevenoTCU,onomedeleestava
impedidodeexercerqualquercargodedireoemempresasestatais.Entofoi
indicadoonomedomeusubstituto,doutorJorgeZelada.
Defesa:Nesseperodo,osenhoracabou...recebeualgumapropostafinanceira
prapermanecernocargodediretor?
Nestor Cerver: Sim, um representante desse grupo me procurou, era at um

deputadodeMinas,Vicente...eunomelembro,fazpartedo...maseunome
lembro o nome exatamente, atravs de um pequeno empreiteiro, uma
empreiteira que eu tinha conhecimento, trouxe pra falar comigo l de Belo
Horizonte e me deram esse recado, que se eu me dispusesse a estabelecer um
acordo,umpagamentomensaldaordemde700mildlares,queessegrupono
faria ... no havia nenhuma exigncia que fosse ... quem fosse, desde que fosse
atendido esse compromisso. A eu no concordei, porque no tinha como fazer
isso.
Defesa:Essegrupoqueosenhorserefereera...
NestorCerver:GrupodabancadadoPMDB.
Defesa:Daonde?
NestorCerver:No,aeram...aeradiverso.Alideranamefoiditoqueera
doFernandoDiniz,deputadoFernandoDiniz.
Defesa:Euperguntoporquerelevanteparaoprocessoissoa.
Nestor Cerver: Ah, bom. No ..., evidentemente no eram 50 deputados

(incompreensvel).EramdeputadosdoPMDB.
(...)
Juiz Federal: E o senhor mencionou que o senhor foi substitudo na direo

internacional,afimdeatenderosinteressesdoPMDBdacmara,foiisso?
NestorCerver:Isso.
JuizFederal:Especificamentedabancadamineira?
Nestor Cerver: No, da bancada mineira no, eu falei que, desculpe, esse
grupo, me foi informado pelos contatos que eu fiz, que quem tinha aglomerado,
feito,tomadoalideranadessegrupo,eraumdeputadoqueeralderdabancada
deMinasdoPMDB.
JuizFederal:Ahsim.
Nestor Cerver: Mas no era ... porque quem me esclareceu o nmero de

deputados,foinaconversaqueeutivecomodeputadoMichelTemer,napoca,
presidente do PMDB, que me disse que havia um grupo de cerca de 50
deputados, que ele sabia que tinham interesse em me substituir, e que ele no
podiacontrariarointeressedopartido.
Juiz Federal: E quem o lder desse grupo era esse deputado da bancada
mineira?
NestorCerver:EssedeputadoFernando,quefalecidojhalgunsanos.
Juiz Federal: E o senhor Joo Augusto Henrique Rezende, o senhor conhecia

ele?
Nestor Cerver: J, j conhecia, Joo Augusto foi diretor da BR, no final da

dcadade90.Umacoisaassim.
Juiz Federal: Ele acusado nesse processo de ter intermediado propinas em

contratos da Petrobras, tambm j foi acusado em outro processo, o senhor
chegouateralgumasituaodessaespciecomele?
NestorCerver:No,oJoonunca,ns...EuconhecioJoo,maseleno...eu
no tive nenhum negcio com o Joo durante a minha diretoria l, nem antes,
nemdepois.
Juiz Federal: Naquela ao penal que foi julgada relativamente aos navios
sondas Vitria 10.000 e Petrobras 10.000, naquele caso um dos casos que o
senhorrecebeudoscontratos?
Nestor Cerver: Na Petrobras 10.000. Foi a primeira sonda que ns

contratamosdaSamsung...asduasprimeirassondas,daPetrobras10.000eda
Vitria 10.000, foram com a Samsung, que o operador que trouxe foi o Jlio
Camargo.AgenterecebeuaparticipaonaPetrobras10.000enasegundaele
nuncapagouaparticipao.
JuizFederal:Etevetambmumcomponentepolticonessescontratos?
Nestor Cerver: Exatamente o que eu falei, parte ... a maior parte dessa
propina da Petrobras 10.000 foi destinada, compuseram esses 6 milhes de
dlaresquefoidestinadoaoPMDBdosenado.
Juiz Federal: Aquela outra ao penal h uma afirmao do senhor Fernando

Soares,...queoperavaessespagamentostambm,no?
NestorCerver:Sim.
Juiz Federal: H um afirmao do Fernando Soares que ele teria destinado

parte desses valores ao ento deputado Eduardo Cunha, o senhor tinha
conhecimentodissonapoca?
NestorCerver:Issofoidepois,issofoinasondavitriadez10.000.
JuizFederal:Ahsim.
NestorCerver:Quecomoeudisse,oJlioCamargonocumpriuopagamento
combinado e a o Fernando, anos depois, eu j estava fora da diretoria
internacional,medisseisso,quetinhapedidoapoiododeputadoEduardoCunha
equeteriahavidoumanegociaoondeoJlioCamargoteriapagopartedoque
eledeviadepropina.
Defesa:Pelaordem,essasquestesnosodessesautos,achoquesopartede
outroprocesso.
JuizFederal:Ahsim,masqueexisteumcontextoaqui,doutor,quepodeser
relevante. Isso o senhor ficou sabendo na poca, ou s depois agora com essas
investigaes?
NestorCerver:No,eufiqueisabendonapoca,porqueoFernandomedisse
isso,quetinhafeitoocontatocomodeputadoEduardoCunha,equeoEduardo
Cunha...elesteriampressionado...eleteriapressionadooJlioCamargo,eo
Jlio Camargo teria chegado a um acordo, um meio termo pra encerrar o
assunto."
320. Foi ouvido tambm em Juzo, desta feita como testemunha de

acusao, Eduardo Costa Vaz Musa (evento 146). Eduardo Costa Vaz Musa foi
gerentedareaInternacionaldaPetrobrssobadireodoDiretorNestorCuat
CerveretambmdeJorgeLuizZelada.Jfoicondenadocriminalmenteporeste
Juzo na ao penal 503947550.2015.4.04.7000 por crimes de corrupo e
lavagem de dinheiro. Celebrou acordo de colaborao com o MPF e que foi
homologado pelo Juzo. Confessou ter recebido propinas em contratos da
Petrobrs.
321.RelativamenteaquisiodoBloco4emBeninpelaPetrobrs,
jnoestavanareainternacionaldaempresaaotempodosfatos,comoqueno
pdeconfirmarsehouveounopagamentodepropinas.
322. Entretanto, confirmou, em sntese, que havia pagamento de

vantagem indevida em contratos da Petrobrs da rea Internacional tanto sob a
direodeNestorCuatCerver,comodeJorgeLuizZelada.Declarouaindaque
teve conhecimento, na poca dos fatos, que Jorge Luiz Zelada assumiu o cargo
pelo apoio poltico do PMDB de Minas Gerais, mas "que o deputado Eduardo
Cunha era quem sacramentava a opinio, era uma opinio fundamental para
realizar a nomeao dele". Admitiu que recebeu propinas no contrato de
afretamentodoNavioSondaTitaniumExplorerpelaPetrobrseque,naocasio,
Joo Augusto Henriques Rezende teria participado da intermediao do
pagamento das propinas e que Jorge Luiz Zelada seria outro beneficirio, assim
comoagentespolticosaelenoidentificados.Transcrevese:
"Ministrio Pblico Federal: Sei que j foi questionado em outros processos,

mas esse um novo processo, ns temos que perguntar novamente. O senhor
tem conhecimento, durante o perodo em que o senhor trabalhou na rea
internacionaldaPetrobras,osenhortinhaconhecimentodeumgrupodepessoas
que se reunia para angariar vantagens ilcitas em cima de contratos daquela
rea?
EduardoMusa:Sim.
MinistrioPblicoFederal:Podefalarumpoucosobreessegrupo?
EduardoMusa:Quandoeufuiparareainternacionalem2006,odiretorerao
Nestor Cerver. Foi quando eu tomei conhecimento de uma planilha em que
haviadistribuiodeobraseparticipanteserecebimentodecomisses.
MinistrioPblicoFederal:Epossodizerquenareainternacionalaregrado
jogoeraopagamentodepropinaparaobtercontratos?
EduardoMusa:Eudiriaquenoseriaaregradojogo,maserausual.
Ministrio Pblico Federal: O senhor Joo Augusto Henriques tinha contato

comareainternacional,osenhoroconhecia?
Eduardo Musa: Eu o conhecia da Petrobras, em outra poca, e voltei a ter

contatocomelequandoeujestavanareainternacional.
Ministrio Pblico Federal: Ele tinha alguma relao com esse grupo de
pessoasque...
EduardoMusa:Nesseprimeirocontato,oprimeirogrupoqueeufalei,aindaera
gesto do diretor Nestor. Quando eu tive contato com o Joo Augusto era a
gesto do diretor Zelada, e nessa ocasio, a primeira vez que eu tive contato
com ele, foi pra conversarmos sobre uma possibilidade de um negcio a ser
realizadonareainternacional.
MinistrioPblicoFederal:Quetipodenegcio?
Eduardo Musa: Era a contratao de uma sonda da empresa Vantage Titanium

Explorer,equeeletinhainteressequeissoacontecessefrenteasnecessidades
queeletinhadeatenderalgunscompromissos.
MinistrioPblicoFederal:Quecompromissosseriamesses?
EduardoMusa:Conformejfoifalado,querdizer,eledissequeeleteriafeitoo
diretorZeladacomoapoiodabancadamineira,equeporterfeitoessadiretoria
comesseapoio,eletinhacompromissosacumprirjuntoaessabancada.
Ministrio Pblico Federal: Esse compromisso seria ganhar recursos para

distribuirpraessabancada?
EduardoMusa:Sim.
MinistrioPblicoFederal:EosenhorJooHenriquestinharelaespolticas
compartidopoltico,ento?
Eduardo Musa: Nessa ocasio ele me disse que quem apoiou ele foi o PMDB
mineiro.
MinistrioPblicoFederal:Osenhoracaboudefalar,masspradeixarmais
claro,qualeraarelaoentreHenriqueseJorgeLuizZelada?
Eduardo Musa: Bom, eles se conheciam de muito tempo da Petrobras, tinham

uma certa intimidade. Pelo que o Joo Augusto me falou, ele mesmo se
candidatoupraserindicadopeloPMDBmineiroaopostodediretor.Mascomo
ele tinha tido problemas no TCU, devido a problemas da gesto dele quando
diretor da BR, o nome dele havia sido vetado, e pediram a indicao de outro
nome. Ele teria ento indicado o Jorge Zelada pra diretor, nome esse que teria
sidoaceito.
Ministrio Pblico Federal: E esse nome, Jorge Luiz Zelada, teria apoio do
PMDBdeMinas,osenhordeclarounoseudepoimento.Correto?
EduardoMusa:Sim,sim.
Ministrio Pblico Federal: E a palavra final caberia ao senhor deputado

EduardoCunha,doPMDBdoRiodeJaneiro?
Eduardo Musa: Sim, pelo que ele me disse na ocasio, a indicao era do
PMDB mineiro, mas que o deputado Eduardo Cunha era quem sacramentava a
opinio,eraumaopiniofundamentalpararealizaranomeaodele.
(...)
Defesa: Nesse contato que o senhor fez com o Joo Augusto, o senhor pode
detalharcomoelesedeu,quando?
Eduardo Musa: Tambm conta nos meus depoimentos, mas eu vou tentar
recapitular aqui. Acho que isso foi em 2008, eu fui procurado por telefone pelo
Joo Augusto, marcamos um almoo e nesse almoo comeou nossa conversa
comrelaoaesseassuntodessasonda,quefoiqueeledisse...OJooAugusto
umapessoa,semepermitetecerumpoucoocomentrioaqui.umapessoa
muitovaidosa,umapessoaquegostadesegabar,demostrarmuitopoder,muita
influncia, se julga uma pessoa superdotada, muito inteligente. E s vezes ele
chegaaseratagressivo.Masnessecasono,elefezumapproachcomigode
negcio,foiquandoeledissetodosessesdetalhesqueeuacabeiderelatar,que
ele havia feito o diretor, que ele tinha muitos compromissos a cumprir, que a
rea internacional era uma rea que estava difcil fazer negcio, que ele sabia
que tinha essa oportunidade dessa sonda. E que tinha interesse ento que esse
negcioacontecessecomessaempresaVantage...
Defesa:Eaqueminhapergunta,seeuentendioHamiltonPadilhainformou
que tinha um esquema, por assim dizer, na diretoria internacional. E o Padilha
repassava dinheiro a um grupo poltico atravs do senhor Joo Augusto. isso
queeuentendi?
EduardoMusa:Querdizer,satropelouumpoucoasequncia...
Defesa:Masemresumoisso?
EduardoMusa:Emresumoisso.
Defesa:Ea,oquemeimporta,quemeramospolticosdessegrupocitadopelo
HamiltonPadilha?
Eduardo Musa: Nunca foi declinado nome nenhum. Quer dizer, o nome de
polticoqueeuouvifoiesse,queeraapoiodoPMDBmineiroequeodeputado
EduardoCunha,emboranofossedoPMDBmineiro,tinhaumainfluncianessa
deciso,sisso.
Defesa:Nessepontoespecfico,temalgumacomprovaodessaverso?
Eduardo Musa: No, a gente teve conversas em diversas ocasies, a primeira

foinessealmoo,depoisvoltaemeiaelemeligava,tomvamosumcafalino
subsolo do edifcio central no Rio de Janeiro, em que ele pediu atualizao dos
acontecimentos,masnotemnenhumregistroformaldissono.
Defesa: O ato de nomeao no passava evidentemente por um deputado

federal,osenhorsabedisso?
EduardoMusa:Comcertezano,agentesabequeanomeaosempreerafeita
peloconselho,mastambmerasabidoqueparaalaradiretoriadaPetrobras,
sevocnotivesseumforteapoiopoltico,vocnochegarial.
Defesa:Nesseassuntoespecficodesteprocesso,queacompraqueenvolveo
campodeBenin,osenhortinhaconhecimento?
EduardoMusa:No,nenhum,inclusiveeunoestavamaisnaPetrobras.
Defesa:Nenhumaparticipao?
EduardoMusa:No,noeraminharea.
(...)
Juiz Federal: Certo. Alguns esclarecimentos do juzo aqui muito rapidamente.

FoimaisdeumareuniocomosenhorJooHenriques?
EduardoMusa:Foi,foramalgumas,talvezumameiadzia.
JuizFederal:Essasafirmaesqueeleteriafeitaaosenhorelefeznumanica
reuniooufezemmaisdeuma?
Eduardo Musa: No, ele repetiu em mais de uma. Como eu disse a

personalidade do Joo Henriques, ele uma pessoa que gosta de se gabar, de
mostrarinfluncia,de...
Juiz Federal: Embora se refira ao outro caso que j foi julgado, ele que
ofereceuvalores,comissoaosenhornocasodaVantage?
EduardoMusa:No,elefalouqueeuseriaprocuradopeloHamilton,queesse
assuntoeuiatratardiretamentecomoHamilton.
JuizFederal:Masele,emboraoHamiltoniacuidardisso,maseleofereceuao
senhor?
Eduardo Musa: Sim, ele disse que teria uma participao pra mim e que os
detalhesdessaparticipaoseriamtratadoscomoHamiltonPadilha.
Juiz Federal: O senhor mencionou tambm na resposta ao Ministrio Pblico,

quandooMinistrioPblicoperguntouseeraregradojogo,osenhorfalouque
era usual esse pagamento de vantagens indevidas em contratos da Petrobras,
isso?
EduardoMusa:Isso.
Juiz Federal: E tambm era usual essa diviso de parte para agentes da
Petrobraseparteparaagentespolticos?
EduardoMusa:Sim.
JuizFederal:Eosenhorafirmaissocombaseemque?
Eduardo Musa: Com base nas experincias que eu tive, tanto na poca do
Nestor,eessaperguntafoidirigidaespecificamentenareainternacional,tanto
na poca do Nestor com os contratos que eu participei l, como na poca do
Zelada,donicocontratoqueeuparticipei.
Juiz Federal: O senhor, embora se refira quele outro caso da Vantage, e o

senhorjdeclarouisso,osenhorchegouatrataresseassuntodiretamentecomo
senhorZelada?
EduardoMusa:Tivemosconversassobreoassuntosim.
JuizFederal:Sobreoassuntodavantagemindevida?
EduardoMusa:Sim."
323. H, portanto, dois depoimentos de agentes da Petrobrs que,

embora no tenham participado do contrato de aquisio do Bloco 4 em Benin,
declararam,deformaconvergente,queerausualacobranadevantagemindevida
emcontratosdareaInternacionaldaPetrobrs,queapropinaeradivididaentre
agentesdaPetrobrseagentespolticosequeJorgeLuizZeladaassumiuocargo
deDiretordareaInternacionaldaPetrobrsemdecorrnciadoapoiodeagentes
polticos do PMDB da Cmara dos Deputados. Alm disso, um deles, Nestor
Cuat Cerver declarou que perdeu a posio pois no conseguiria atender a
demanda de propinas do referido grupo poltico, enquanto Eduardo Costa Vaz
Musa confirmou que Joo Augusto Rezende Henriques intermediou propinas em
outrocontratodaPetrobrseJorgeLuizZelada,assimcomooprpriodepoente,
receberam propinas na ocasio. Tambm declarou que lhe foi informado que
EduardoCosentinodaCunhatevepapelfundamentalnanomeaodeJorgeLuiz
Zelada.Novamente,esteltimotrecho:
"Ministrio Pblico Federal: E esse nome, Jorge Luiz Zelada, teria apoio do
PMDBdeMinas,osenhordeclarounoseudepoimento.Correto?
EduardoMusa:Sim,sim.
Ministrio Pblico Federal: E a palavra final caberia ao senhor deputado

EduardoCunha,doPMDBdoRiodeJaneiro?
Eduardo Musa: Sim, pelo que ele me disse na ocasio, a indicao era do
PMDB mineiro, mas que o deputado Eduardo Cunha era que sacramentava a
opinio,eraumaopiniofundamentalpararealizaranomeaodele."
324. Joo Augusto Rezende Henriques e Jorge Luiz Zelada

respondemaopenalconexa502768535.2016.4.04.7000pelaintermediaoe
solicitaodevantagemindevidanocontratodeaquisiodoBloco4emBenin.
325. Como adiantado, foram condenados criminalmente por

corrupoelavagemnaaopenal503947550.2015.4.04.7000,masqueenvolve
propinasemoutrocontratodaPetrobrs.
326.Noforamouvidosnestefeito.
327. No entanto, h relevante elemento probatrio relevante a ser

invocadoemrelaoaJooAugustoRezendeHenriques.
328. Joo Augusto Rezende concedeu entrevista Revista poca,

gerandomatriaquefoipublicadaem09/08/2013(evento85,anexo16).
329. Na ocasio, em entrevista gravada, Joo Augusto admitiu ao

jornalista ter intermediado o pagamento de propinas em contratos da Petrobrs,
inclusiveapartidospolticos.
330.Noevento85,anexo19,encontraseadegravaodaentrevista.
Apesar da m qualidade da gravao, tornando a entrevista inaudvel em alguns
pontos,halgunstrechosnosquaiseleconfirmaaintermediaodepropinaspara
agentespblicosoupolticos.Transcreveseumnicotrecho:
"Jornalista: Mas e .. j tinha o pessoal do PMDB, j conhecia... o que voc

falou,polticovivedeeleio...
JooRezende:Doqueeuganhasse,eutinhaquedarparaopartido.
Jornalista:Notinhajeito?
JooRezende:Notinhajeito.Eateraocombinado.
Jornalista:Mastinhaumpercentual,umacoisacombina?
JooRezende:Eraumpercentual
Jornalista:Erade8%?
JooRezende:No,eraumpercentualquevocdependendodonegcio,voc
tem tanto, voc tem tanto para a eleio a empresa... realmente nunca mexi
comdinheiro,sefizessenegciocomempresabrasileira...Vaileacertacomo
partido,mesmo.Faziaatoficial,mesmo.
Jornalista:
JooRezende:Mas...
Jornalista:seacostuma,depoisdeumtempotambm..."
331. H outros trechos nos quais ele comenta sobre propinas pagas
em contratos da Petrobrs, mas que so relativos a outros casos, como o que foi
objetodaaopenal503947550.2015.4.04.7000jjulgada.
332.Nohfalarqueaprovaseriailcita.
333. No h ilicitude na gravao de conversa por um dos

interlocutores, quer tenham os demais participantes conhecimento ou no da
gravao.
334.Apessoaresponsvelpelagravao,quepodeserumcriminoso
colaborador, um agente policial ou mesmo terceiro, como um jornalista, poderia
inclusive servir como testemunha em um processo para revelar o contedo do
dilogo, consistindo a gravao em apenas um meio disponvel para se ter um
registromaisacuradodomesmo.
335. No se vislumbra um bom motivo para proteger o criminoso

incautoqueconfessasuaculpaaterceiro,acreditandoqueestenoirrevella.
336. Repetindo a Suprema Corte norteamericana em casos

envolvendogravaoporumdosinterlocutores,comoLopezv.US,373U.S.427,
1963,eHoffav.US, 385 U.S. 293, 1966, o devido processo legal no protege a
crena equivocada de um criminoso de que a pessoa, para a qual ele
voluntariamenteconfessaseuscrimes,noirrevellos.
337.AindarecorrendoaoDireitoComparado,encontraseaseguinte
deciso,entreoutras,daSupremaCortedaAlemanha,aplicvel,comasdevidas
adaptaes,agravaodeconversasambientais:
"Um agente policial, que, no contexto de uma investigao, acompanha uma

conversao telefnica com um dos interlocutores, no atua, como regra,
ilegalmente, se o usurio do telefone, que oferece a ele a chance de ouvir,
permiteissoissotambmseaplicaquandoeleouveaconversaomesmosem
o conhecimento do outro participante. (...) A proteo do segredo das
telecomunicaes no vai alm do alcance do segredo determinado pelos
participantes e segundo a discrio destes. A garantia constitucional desse
segredonolimitaqualquerdosparticipantesnacomunicaoemseudireitode
sozinhodecidirseeemqualextensoelevaimanteracomunicaofechadaou
ir garantir acesso a ela a um terceiro. (BHGSt 39, 335, at 33839, 34445,
deciso de 08.10.1993, citada em THAMAN, Stephen C. Comparative criminal
procedure: A casebook approach. Durham: Carolina Academic Press, 2002. p.
71.)
338. No Brasil, o Plenrio do Supremo Tribunal Federal, aps um

perododeamadurecimentodaquesto,firmouentendimento,emacrdolavrado
peloeminenteMinistroCarlosAyresBrito,pelavalidadedasgravaesefetuadas
porumdosinterlocutoreseindependementedoconhecimentodosdemais.
"QUESTO DE ORDEM. INQURITO INSTAURADO A PARTIR DE CARTA

DENNCIA E DE DEGRAVAO DE FITA MAGNTICA. GRAVAO
AMBIENTAL. CONVERSAS NO PROTEGIDAS POR SIGILO LEGAL.
AUSNCIA DE ILICITUDE. INDCIOS DE PARTICIPAO DE AGENTE
DETENTOR DE PRERROGATIVA DE FORO. COMPETNCIA ORIGINRIA
DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. QUESTO DE ORDEM RESOLVIDA,
POR MAIORIA, PARA DETERMINAR O PROSSEGUIMENTO DAS
INVESTIGAES NO STF . 1. lcita a prova obtida mediante a gravao
ambiental,porumdosinterlocutores,deconversanoprotegidaporsigilolegal.
Hiptese no acobertada pela garantia do sigilo das comunicaes telefnicas
(incisoXIIdoart.5daConstituioFederal).2.Sequalquerdosinterlocutores
pode, em depoimento pessoal ou como testemunha, revelar o contedo de sua
conversa,nohcomoreconhecerailicitudedaprovadecorrentedagravao
ambiental. 3. A presena de indcios de participao de agente titular de
prerrogativadeforoemcrimescontraaAdministraoPblicaconfereaoSTFo
poderdever de supervisionar o inqurito. 4. Questo de ordem resolvida no
sentido da fixao da competncia do Supremo Tribunal Federal para
supervisionar as investigaes e da rejeio da proposta de trancamento do
inqurito por alegada ilicitude da gravao ambiental que motivou a abertura
desse procedimento investigatrio." (Inq 2116 QO / RR Plenrio do STF,
RelatorparaoacrdoMin.AyresBrittopormaioriaj.15/09/2011DJe042,
de29/02/2012)
339. Apenas para argumentao, no h tambm que se falar em

violao do direito ao silncio, uma vez que este pertinente a interrogatrios
policiais ou judiciais, visando prevenir que o acusado ou o investigado seja
submetidocoaofsicaoumoralparaconfessar,notendolugar,portanto,em
conversas entre particulares quando ausente qualquer ambiente prprio
compulso.
340.Ofatodoresponsvelpelagravaoserumjornalistaemnada
altera o quadro. Poderia, eventualmente, se houvesse violao pelo jornalista do
sigilodefonte,masessaquestosteriapertinnciacasooentrevistado,nocaso
Joo Henriques, tivesse solicitado ao jornalista este sigilo. No h, porm,
nenhumaprova,mesmoindiciria,nessesentido.
341. Ento, de se concluir que a prova consistente na entrevista

gravadadeJooHenriquesnopadecedequalquerinvalidade.
342.JooAugustoRezendeHenriques,comovisto,eraocontrolador
e beneficirio final da conta em nome da Acona International da qual foram
realizadas as transferncias de USD 1,5 milho para a conta Orion SP da qual
EduardoCosentinodaCunhaeraoproprietriobeneficirioeprocurador.
343.Tambmcomovisto,constanosautosprovadocumentaldeque
foicontratadopelaCBHpararepresentarosinteressesdestajuntoPetrobrsna
aquisiodoBloco4emBenin,tendoporcontraprestaoinicialumpagamento
dedezmilhesdedlares.
344. Apesar desta contratao, no h na documentao relativa ao

contrato e a contratao nenhum elemento probatrio que faa aluso a algum
trabalho de representao ou tcnico realizado por Joo Augusto Rezende
HenriquesemproldaCBHjuntoPetrobrs,comojadiantadonoitem225,do
queseconcluiqueseutrabalhotinhacaractersticasubreptcia.
345. E, considerando o teor da entrevista gravada, fica clara a

admisso por Joo Henriques de que intermediava propinas em contratos da
Petrobrs,inclusiveaagentespolticos.
346. Ento, indo alm da concluso constante nos itens 300302,

retro,dequehprovadocumentaldequeEduardoCosentinodaCunharecebeue
movimentou em contas secretas na Sua, em nome de Orion SP e Netherton
Investments, USD 1.500.000,00 provenientes do preo pago pela Petrobrs para
aquisiodoBloco4emBenin,hosseguinteselementosprobatriosadicionais:
oDiretordareaInternacionaldaPetrobrsNestorCuatCerver
declarouqueerausualopagamentodevantagemindevidaemcontratosdosetore
quebeneficiavamnososagentesdaPetrobrs,mastambmagentespolticos,
entreelesagentesdoPMDB
oDiretordareaInternacionaldaPetrobrsNestorCuntCerver
declarou que perdeu o cargo para Jorge Luiz Zelada em decorrncia de presso
polticadeagentesdoPMDBdaCmaradeDeputadoseapsrecusarpropostade
arrecadaodepropinasdesetecentosmildlaresaomsparaogrupopolticoem
questo
o gerente da rea Internacional da Petrobrs Eduardo Costa Vaz

Musadeclarouqueerausualopagamentodevantagemindevidaemcontratosdo
setor e que beneficiavam no s os agentes da Petrobrs, mas tambm agentes
polticos,entreelesagentesdoPMDB,issotantonoperododagestodoDiretor
NestorCuatCervercomonadoDiretorJorgeLuizZelada
o gerente da rea Internacional da Petrobrs Eduardo Costa Vaz

Musa declarou que foi informado de que Jorge Luiz Zelada foi indicado como
Diretor por agentes do PMDB da Cmara, especialmente de Minas Gerais, mas
que "o Deputado Eduardo Cunha era quem sacramentava a opinio, era uma
opiniofundamentalpararealizaranomeaodele"
Joo Augusto Rezende Henriques, que foi contratado para

representar os interesses da CBH junto Petrobrs e que foi o responsvel por
transferirUSD1,5milhodacontaemnomedaAconaInternationalparaaconta
em nome da Orion SP, da qual Eduardo Cosentino da Cunha era procurador e
proprietriobeneficirio, revelou, em conversa gravada, que intermediava
vantagemindevidaemcontratosdaPetrobrsequeentreosbeneficiriosestariam
agentespolticosdoPMDB.
347. Embora a palavra dos criminosos colaboradores deva ser vista

com reserva, o restante do quadro probatrio, com a prova documental de que
EduardoCosentinodaCunharecebeuUSD1,5milhoemcontassecretasnaSuia
eprovenientesdopreopagopelaPetrobrsparaaaquisiodoBloco4deBenin
mais do que suficiente para corroborar as suas declaraes, isso sem olvidar a
aludida gravao de Joo Augusto Rezende Henriques na qual ele admite que
intermediavapropinasparaagentespolticosdoPMDBemcontratosdaPetrobrs.
348.DiantedessaprovarobustaeobjetivadequeEduardoCosentino
da Cunha recebeu vantagem indevida decorrente do contrato de aquisio pela
Petrobrs do Bloco 4 em Benin, cumpre examinar o libi apresentado pelo
acusado.
349. Em longo interrogatrio (evento 243), o acusado Eduardo

CosentinodaCunhaadmitiu,basicamente,querecebeu,em2011,oequivalentea
ummilhoequinhentosmildlaresnacontaemnomedaOrionSPnaSua,mas
alegouquesetratavadedevoluodeemprstimoquehaviaconcedidoantes,de
um milho e quinhentos mil dlares, ao exDeputado Federal Fernando Alberto
Diniz. Como ele faleceu 17/07/2009, a devoluo do emprstimo teria sido feita
porJooAugustoHenriquesRezendeapedidodofilhodoparlamentarfalecido,
FelipeBernardiCapistranoDiniz.
350.TambmargumentouqueaOrionSP,aNethertonInvestmentse
aTriumphSPeramtrustseque,portanto,elenoeraobrigadoadeclararascontas
emnomedeles,nemosativos.
351.Olibiinsustentvel.
352. As alegaes de que os depsitos provenientes da Acona

InternationalnacontadaOrionSPseriammotivadaspordevoluodeemprstimo
no encontram qualquer prova no processo. Transaes vultosas deixam rastros
documentais. No foi apresentado qualquer elemento probatrio a respeito de
qualquer transferncia financeira de Eduardo Cosentino da Cunha para Fernando
Alberto Diniz. Ou seja, nenhuma transferncia prvia que justificasse a
caracterizaodosdepsitosprovenientesdaAconacomodevoluodemtuo.
353.Emprstimosdevalorexpressivonormalmentesoreduzidosa
contratos,ouseja,documentados.Entretanto,nenhumcontratooudocumentofoi
apresentadopeloacusadoEduardoCosentinodaCunha.
354.Almdisso,osdepsitosefetuadosnacontadaOrionSPforam
provenientes da conta em nome da offshore Acona International. A Acona
InternationaldeJooAugustoHenriquesRezendeeosvalorestmsuaorigem
indiretaemcomissodecercade1/3dopreodocontratodeaquisiodoBloco4
emBeninpelaPetrobrsdaCBH.Emnenhummomentoouqualquerdocumento,
aparece qualquer meno ao nome de Fernando Alberto Diniz ou a algum
emprstimo.
355.NasdeclaraesderendimentosapresentadasReceitaFederal
por Eduardo Cosentino da Cunha (fl.s 898 do arquivo apinqpol17 do evento 2,
apenso 02 do inqurito), no existe qualquer meno titularidade por ele de
crdito junto Fernando Alberto Diniz decorrente de emprstimo. Tambm no
existequalquerregistrodepagamentodeemprstimo.
356. Fernando Alberto Diniz foi Deputado Federal por sucessivos

mandados, desde 1991, tendo atuado na liderana da bancada do PMDB na
Cmara dos Deputados. Faleceu em 17/07/2009, ainda durante mandato
parlamentar.
357.ApedidodaDefesadeEduardoCosentinodaCunha,tambm
foi juntada aos autos cpia do inventrio de Fernando Alberto Diniz, tanto do
original como do complementar (evento 211 da ao penal), ali no existindo
qualquer registro do emprstimo ou de um suposto dbito de Fernando Alberto
Dinizemfavordoacusado.
358.Pelofalecimento,FernandoAlbertoDiniznopdeserouvido
nopresentefeito.
359. Seu filho, Felipe Bernardi Capistrano Diniz foi ouvido, em

Juzo, como testemunha arrolada pela Defesa (evento 164). Negou conhecer os
fatosdoprocesso,negouterconhecimentodequeseupaitivessealgumarelao
financeiracomEduardoCosentinodaCunhaenegouterorientadoJooAugusto
HenriquesRezendearealizarqualquerdepsitonoexterior:
"Juiz Federal: Alguns esclarecimentos do Juzo aqui muito rapidamente, essa

acusao do Ministrio Pblico envolve supostos depsitos efetuados pelo Joo
Augusto Henriques numa conta chamada Orion, em 2011, ento essa conta que
supostamente pertence ao senhor Eduardo Cunha. O senhor tem algum
conhecimentoarespeitodessefato,tevealgumaparticipaonesseevento?
FelipeDiniz:Notive,notenhoconhecimentonenhumsobreisso,nenhum.
JuizFederal:OsenhorJooAugustoHenriquesdepondochegouaafirmarque
teria sido o senhor que teria repassado essa conta a ele para ele realizar o
depsito,osenhortem...issoverdadeiroouno?
FelipeDiniz:Noverdade,nuncarecebinada,issonoaconteceu,no.
Juiz Federal: O senhor recebeu algum auxlio financeiro do senhor Joo

Henriquesapsofalecimentodoseupai?
FelipeDiniz:No,no.
JuizFederal:Elenolhepassounenhumvalorattulodeauxlio,doao,aps
ofalecimentodoseupai?
FelipeDiniz:No,no,nenhum.
JuizFederal:Osenhortemconhecimentodealgumarelaofinanceiraentreo
senhorEduardoCunhaeoseufalecidopai?
FelipeDiniz:Notenhoconhecimento,notenho.
JuizFederal:Oseupaichegou,ouosenhortemconhecimentodosenhorJoo
Augustoterrealizadoalgumpagamentoaoseupaiemdecorrnciadessenegcio
relativoaquisiopelaPetrobrasdoCampodeBenin?
FelipeDiniz:Notenhoconhecimentodissono."
360.AsdemaisevriastestemunhasarroladaspelaDefesa,nenhuma
delas confirmou a existncia desse emprstimo ou que os depsitos no exterior
tinham qualquer relao com devoluo de emprstimo entre Eduardo Cosentino
daCunhaeFernandoAlbertoDiniz.
361. O mximo a que se chegou foi o reconhecimento em termos

vagos de que haveria algum relacionamento financeiro entre ambos, como no
depoimento do exdeputado federal Nelson Roberto Bornier de Oliveira (evento
253):
"Juiz Federal: S uns esclarecimentos do Juzo, o senhor falou sobre essas

aplicaesdofundo,noficouclaropramim,issoeraumemprstimooueram
aplicaesqueosenhorFernandoDinizhaviasugeridoaosenhorEduardo?
Nelson Bornier: Excelncia, eu no sei se foi emprstimo ou se ele pediu ao

Eduardo, mas eles falavam em finanas e falavam nesse fundo, e
consequentemente eu via o Fernando sempre querendo levar o Eduardo para
esse fundo, no sei se era aplicao ou se era emprstimo, mas eles falavam
constantementenessefundoenessesrecursos.
JuizFederal:Sobrequestodevaloresedetalhesdessasaplicaesoudesse...
NelsonBornier:No.
JuizFederal:Osenhornotemconhecimento?
NelsonBornier:Notenhoconhecimento."
362. certo que vrias testemunhas afirmaram que Jorge Luiz

ZeladateriatidooseunomeapresentadopeloentoDeputadoFederalFernando
AlbertoDinizparaaDiretoriaInternacionaldaPetrobrs,oqueteriacontadocom
a concordncia da bancada dos parlamentares da Cmara do PMDB, entre eles
EduardoCosentinodaCunha.
363.Entretanto,destefatoisolado,mesmotendoelecomoprovado,
no possvel extrair qualquer inferncia probatria em relao causa dos
depsitosrecebidospelaOrionSP.
364.Sobreaausnciadequalquerprovadocumentaldoemprstimo
ou de transferncias prvias de valores de Eduardo Cosentino da Cunha para
FernandoAlbertoDiniz,oacusadoprestoudeclaraesemJuzo(evento243).
365. Quanto ao contrato de emprstimo, alegou que tinha um

contrato"degarantiadessevalor",masqueoteriadestrudo:
"JuizFederal:Foipactuadoalgumataxadeinteresse?
Eduardo Cosentino: Zero. No houve taxa de interesse nenhuma pactuada,

simplesmenteodbito.FernandoDinizmorreu,eurecebiequandoeurecebieu
destru...enfim,numadasviagensqueeufiz,depoisde2013,noseise2013ou
2014,euefetivamentetirei...eoarquivo,elefoidesativado,depoisqueeuhouve
o bloqueio, que eu dei procurao ao advogado Suo, ele desativou o arquivo,
recuperouenfim,notinhapraticamentemaisnadal,masdesativouoarquivo.
JuizFederal:Enfim,ento,osenhornotemcontrato?
Eduardo Cosentino: No, eu tive com ele um contrato de garantia desse valor.
Eurecebieeudestru.Notinharazonenhumdeeumanter,eraumaobrigao
quejnomaisexistia."
366. Tampouco foi guardada prova documental da quitao do

emprstimo:
"Juiz Federal: E o senhor deu alguma quitao desse emprstimo, alguma

coisaformal?
EduardoCosentino:No,eudestruodocumentodegarantia.
JuizFederal:T,maseumaquitaodoemprstimo,umdocumento?
Eduardo Cosentino: No preciso quitar, porque se foi vetado, se eu executei...

eu destru o que tinha de documentao. No precisava quitar, equivale a uma
quitaoadestruio.
JuizFederal:Essastransaesdeummilhoemeio,ummilhoequinhentos
mildlares,tantoquantoosenhorrepassouodinheiro,quantoosenhorrecebeu
devolta,semcontrato,semdocumento?
Eduardo Cosentino: No, sem contrato no, tinha documento, tinha documento
degarantia,elanoerasemdocumento.
JuizFederal:Odocumentoosenhornoapresentoun?
Eduardo Cosentino: Eu no apresentei no, eu destru. Eu no fui instado a

apresentar, se tivesse instado a apresentar antes que eu tivesse recebido talvez
euapresentasse.
JuizFederal:Quandofoifeitooemprstimotambmnotinhacontrato?
EduardoCosentino:No,alino,porqueeletavamedando,eletavamedando
uma cesso de parte da sua aplicao. Era um outro tipo de documento que foi
obviamente..quandocessouissofoiencerrado.outrotipodesituao."
367.Almdafaltadeprovadocumental,asexplicaesdeEduardo
Cosentino da Cunha foram vagas a respeito de como os valores teriam sido
transferidos previamente a ele por Fernando Alberto Diniz. Segundo ele,
inicialmente teria repassado seiscentos mil dlares a Fernando Alberto Diniz e o
restanteteriasidotransferidoposteriormente.Transcreveseattuloilustrativo:
"JuizFederal:Indoagorapraquestodaconta,dosdepsitoserecebidospor
sua conta aqui, a Orion e Acona. Ento, constam documentos de que o senhor
teria recebido duzentos e cinquenta mil em 30/05/2011. Em 03/06/2011, mais
duzentos e cinquenta mil. Em 08/06/2011, mais duzentos e cinquenta mil. Em
16/06/2011, mais duzentos e cinquenta mil. Em 23/06/2011, trezentos e onze mil
setecentos,tudoissoemFrancos.Valoraproximadoemdlares,queocmbio
parecido.Senhorpodemeesclareceressesdepsitos?
EduardoCosentino:Ovalornoesse,eraummilho,ummilhodedlares.
Foiessainclusiveaatribuiodadenncia,aconversodeummilhoemeiode
dlares pra conta eu que transferi para conta. Ento no aproximado,
exatamente um milho de dlares. esse valor que eu, que eu tenho como
conhecimento. Bom, em primeiro lugar, eu quero dizer a Vossa Excelncia que
eu s tomei conhecimento exato do depsito em um perodo posterior. Segundo
lugar,euquerodizerqueporissoqueeutinhapedidoquefossedesdeoincio
da denncia, para que pudesse a gente contextualizar toda a situao
envolvendo.Porquefalarsomentesobreasituaodascontas,emfalarcomoa
gente diz, a seco, sobre um ponto, ela perde o histrico. Mas certamente se
Vossa Excelncia no fizer, os advogado podero fazer, o prprio Ministrio
Pblico. Mas a verdade que eu tinha uma operao em uma empresa privada,
com seu Fernando Diniz, que era deputado federal junto comigo, a qual eu
conheciem1994.DeputadoFernandoDiniz,em1994,napocapeloPMDBde
Minas Gerais, na poca eu no fazia parte do PMDB, mas em 1994, eu
participeiajudandoacampanhadegovernadordoentocandidatoHlioCosta,
quesetinhasidocandidatoaogovernodeMinasGerais,em1994.
(...)
EduardoCosentino:EntoeufuiparaoPMDBnesseperodocomumgrupode
parlamentares. Consequentemente, o Fernando Diniz, com a amizade que eu
tinha... o Fernando Diniz, ele detinha no s aplicaes no exterior, forte,
vultosas, o Fernando Diniz tinha uma aplicao muito forte. Naquela poca
montava assim, segundo poca me falaram, em torno de vinte milhes de
dlares, em fundo muito conhecido mundial, que era o Fundo MADOFF. Esse
Fundo MADOFF quebrou... foi uma espcie de... ficou famoso na mdia, ele
quebrounofimde2007...eacabouatacarretandoaprisodessegestor,desse
fundo,porfraude.Consequentementehouveuma...havianaquelemomentouma
perda.FernandoDiniz,ele,quandoagenteestavacomasrelaes,nsfizemos
muito estilo de natureza em conjunto, o qu? Ele precisou de um pouco de
dinheiro, num certo momento, no queria desaplicar o que ele tinha no
MADOFF, que iria perder o rendimento inteiro se ele desaplicasse, ento
emprestei pra ele, em torno de seiscentos mil dlares, em um perodo de... em

tornode2000,emtornode2003maisoumenos.Euempresteipraeleseiscentos
mildlares.Emcontrapartida,elemedeuumaparticipaodaposioqueele
tinhadeaplicaonoFundoMADOFF,comosendoaremunerao.Comoataxa
deretornoeramuitoelevada,pramimeraumasituaomuitointeressanteeele
precisavadodinheiro.
JuizFederal:Sei.
Eduardo Cosentino: Ento foi transferido pra ele nesse perodo, em torno de
seiscentosmildlaresDepoisoFernandoDiniz.
JuizFederal:Comoqueosenhortransferiuessesvalorespraele?
Eduardo Cosentino: Foram transferidos das contas que estavam, os meus

recursosnesseperodo.
JuizFederal:Quaiscontas?
EduardoCosentino:Dascontasqueforam,ascontasqueestavam...eunosei
exatamentequalfoi,masprovavelmentedoDeltaBankoudoMerryllLynchou
alguma conta que ele indicou, que tinha recursos que foi transferido pra essa
conta... e dessa conta foi pra dele. Mas foram transferido assim em torno de
seiscentosmildlaresnesseperodo.
Juiz Federal: Ento o senhor no sabe me especificar qual conta o senhor

utilizououqualcontaque....
Eduardo Cosentino: No... eu utilizei os recursos que detinha, tanto no Merrill

LynchounoDeltaBank.Efetivamentequalfoiacontaexataquetransferiupra
conta exata que a transferiu, uma informao que eu no consigo lhe deter
agora."
368. Em relao s outras transaes que teriam completado o

emprstimodeummilhoequinhentosmildlares,declarouqueseriamelasuma
dequatrocentosmildlares,eoutradequinhentosmildlares.Quantoaelas,foi
elemenosvago,mascomoseverificanoextratodacontaemnomedaOrionSP,
elereportasesomenteatransaespretritasdaprpriacontaemnomedaOrion
sem qualquer elemento documental que possa minimamente relacionlas a
FernandoAlbertoDiniz.Transcrevese:
"Eduardo Cosentino: Eu vou lhe explicar um conjunto inteiro, depois Vossa

Excelente pode detalhar o contrato. Depois desse perodo, de 2007, Fernando
Diniz, ele quis participar comigo de algum tipo de aplicao que eu estava
fazendo. Ele, de uma certa forma, aumentou a exposio dele comigo, para em
torno de um milho de dlares, quando eu transferi esses quatrocentos mil
dlaresqueeupegueiemprestadodobancodaSuo.Naquelaaltura,elejtinha
perdido o Fundo MADOFF, ento ele tinha um compromisso comigo desses
seiscentosmildlares,jtinhasidobloqueadooFundoMADOFF.Eleprecisava
deduascoisas.Eleprecisava,eletinhaentradocomigoemaplicao,entoeu
preferi,deumacertaforma,zeraraposioqueeletinha,porqueeunosabia
se ele tinha condies de poder continuar honrando naquele momento embora
sabiaqueeledariaumjeito.Euacabeizerandoaposioqueeutinhacomelee
eu transferi esses quatrocentos mil dlares que eu peguei, como um
emprstimo, no banco Suo, mandei pra Nova Iorque... Nova Iorque cobrir o
que ele tinha de aplicao devedora com relao a isso e ele ficou com uma
dvida comigo de um milho de dlares. Eu assumi compromisso com ele de
pagar,deajudloapagarosadvogados,paraqueelepudessebuscaroretorno
dessedinheiroeele...fizpraeleduastransfernciasdeduzentosecinquentamil
dlares.Euassumiocompromissodepagamentodeadvogadosqueforamfeitos
pelas transferncias do Posadas Y Vecino. Quando eu transferi, em 2008,
duzentosesessentaequatromildlares,PosadasYVecino,duzentosecinquenta
mildlaresforamprapagamentosdosadvogadosdele.
JuizFederal:Hum.
Eduardo Cosentino: E quando eu transferi, em 2010, duzentos e cinquenta mil

dlares, era um compromisso que j tinha obtido, de pagamentos de advogados
dele,ouseja,quinhentosmildlareseuassumidecompromissocomele,queele
diziaqueeradosadvogados,eutransferiaatravsdoPosadaYVecino.
JuizFederal:Osadvogadoseram...
Eduardo Cosentino: Internacionais, que ele contratou pra poder buscar os

recursosdeledevolta.
JuizFederal:Eporqueatravs...
EduardoCosentino:Eoquefezoseu...H?
Juiz Federal: Porque atravs do Posadas? S um minutinho, eu vou

interromperpelotamanhodoudio,jretomamosaqui.
(...)
Eduardo Cosentino: A princpio esse pagamento foi utilizado o Posadas pra

poder constituir os advogados que foram representlos. Eu utilizei a estrutura
doPosadasprapoderbuscarjuntocomeleasoluopraele.Entoporissofoi
utilizado o Posadas e por isso at que eu fiz o pagamento da segunda parte,
porque eu tinha o compromisso. Mesmo depois que ele j tinha falecido eu no
poderia me furtar ao compromisso e at mesmo porque o Posadas era
administradordeumTrustmeu.
Juiz Federal: E o senhor tem informao de qual conta do senhor Fernando

Diniz recebeu esses... essas transferncias que o senhor afirma aqui de
quatrocentosmil?
Eduardo Cosentino: Quatrocentos mil foi pra cobrir, que eu transferi, foi pra
cobrir aplicaes que ele fez comigo em cima da minha conta mesmo, que ele
tava comigo, com obrigao. Ento eu cobri prejuzo dessas aplicaes e ele
assumiuoprejuzo,seiscentosmildlaresfoioqueeletransferiupramim.
JuizFederal:Eosquatrocentososenhormandoupraumacontaqueera...
EduardoCosentino:Mandeipraminha...
JuizFederal:Prpriaconta.
Eduardo Cosentino: ... conta do Trust Orion, que estava em Nova Iorque, eu
pegueiemprestadoprapodercobriroprejuzo,depoisquandoeutransferitodoo
Trustpra,praSuaveioosativosqueeutinha.
JuizFederal:Queessesquatrocentosmilqueosenhortcobrindoentona
verdadeosenhortransferiupraumacontaqueeradosenhortambm?
Eduardo Cosentino: Era uma conta que era minha... que era minha no, que
doTrustquemepertencia.
JuizFederal:EissoeraemprstimopraoFernandoDiniz?
Eduardo Cosentino: No era emprstimo, eu fiz... veja bem, a minha relao

comoFernandoDiniz,noseufizaparticipaodessaaplicaoqueeletinha
como tambm ele comeou a se interessar em fazer aplicaes juntamente
comigo.Squeelefezaplicaes,quisfazeraplicaes,masestavacomperdas
eeunoquismanter.
Juiz Federal: O senhor tem alguma prova de alguma transferncia que o

senhorfezpraalgumacontadoFernandoDiniz?
Eduardo Cosentino: Sim. Se eu conseguir ter acesso a todos os extratos das

contaspretritasquediriam,certamentepoderiamcomprovar.
JuizFederal:Masnoseriaocasodessesquatrocentos?
EduardoCosentino:Quatrocentosfoitransferidopraprpriaconta.Omotivofoi
esse.Euquerialiquidaraposiocomeleeeunotinharecursodisponvel.Eu
peguei emprstimo de prprio banco e transferi pra Nova Iorque. No teria
muito sentido eu transferir quatrocentos mil dlares e depois receber de volta
ativos e dinheiro. Transferi porque era uma coisa especifica pra poder atender
umasituaoemergencial,parapoderzeraraposiodele.
Juiz Federal: Alguma dessas transferncias, da conta Orion, uma

transfernciaemfavordosenhorFernandoDiniz?
EduardoCosentino:No.
JuizFederal:Foraessesquatrocentos?
Eduardo Cosentino: No, no, no, esses quatrocentos foram pra Orion Nova
Iorque,apartirdaOrionNovaIorqueforamliquidadosoperaesdeaplicaes
queestavamdeficitriasasquaiseuquerialiquidarepraliquidareuprecisaria
pagar. Consequentemente, eu precisei utilizar isso. Ento, o senhor Fernando
Dinizficoumedevendoseiscentosmildlares,maisquatrocentosmildlarese
maisquinhentosmildlares,eleficoumedevendoummilhoemeiodedlares.
OququeaconteceucomosenhorFernandoDiniz?Elemedeuumagarantia.
Qualagarantia?SenhorFernandoDinizdetinhaumaOffshorequedetinhaum
imvelemBraslia.AOffshoresechamaCamliaHouse.EssaOffshoredele,a
Camlia House, proprietria de uma residncia no Lago Sul, na QL 10,
conjunto 5, casa 20. Consequentemente, ele me deu como garantia a
documentao referente a essa Offshore para que eu pudesse me ressarcir.
Fernando Diniz morreu, e essa garantia que ele me deu, eu deixei, naquele
momento, no exterior... eu detinha num cofre,mas eu detinha arquivo... que
inclusive se pegar as despesas, no sei da Orion ou da Triumph, tem o
pagamento de arquivo debitado Secure Archive e no arquivo eu deixei a
documentao,nosoqueeutinha...adocumentaoqueeutinhaeocontrato
de Trust, como tambm a documentao do seu Fernando Diniz, em garantia
daquiloqueeuhavia,quensdefinidoscomodbitoqueeletinha...quesefosse
calcular talvez o dbito fosse at maior, porque se eu fosse calcular os juros
daquiloquefoiperdido,daquelesvaloresdeMADOFF,teriasidomuitomaior."
369. Em outras palavras, o emprstimo seria composto por uma

transferncia inicial de seiscentos mil dlares para Fernando Alberto Diniz em
relaoaqual,almdeinexistirprovadocumentalmnimaoumesmoprovaoral,
no soube o acusado esclarecer detalhes, como a conta utilizada de origem do
repasseouacontadestinodomuturio.
370.OutraparceladerepassedomtuoparaFernandoAlbertoDiniz
seriarepresentadaporumatransfernciadedbitodequatrocentosmildlaresem
03/07/2008 da conta em nome da Orion SP. Essa transao est no extrato da
OrionSP,comoseverificanojreferidoRelatriodeAnlise116/2015(fl.9do
relatrio, fls. 335, do arquivo apinqpol24 do evento 2, apenso 7 do inqurito).
Entretanto, como se verifica na prpria explicao confusa do acusado em seu
interrogatrio,acontadestinodatransaodequatrocentosmildlaresseriaoutra
contadoprprioacusado!Emoutraspalavras,aprovadatransfernciadeUSD
400 mil para Fernando Alberto Diniz seria, segundo o acusado, uma transao
entreduascontascontroladaspeloprprioEduardoCosentinodaCunha.Noh,
portanto, qualquer transferncia para conta em nome ou controlada pelo prprio
FernandoAlbertoDiniz.Repetindoojadmitidopeloacusado:
"JuizFederal:Queessesquatrocentosmilqueosenhortcobrindoentona
verdadeosenhortransferiupraumacontaqueeradosenhortambm?
EduardoCosentino:Eraumacontaqueeraminha...queeraminhano,que
doTrustquemepertencia.".
371. Outras duas parcelas atravs do qual o mtuo teria sido

repassado a Fernando Alberto Diniz seriam, segundo o acusado, duas transaes
dedbitodacontaemnomedaOrionSP,deUSD264.000,00em04/08/2008ede
USD 250.000,00 em 09/06/2010. Segundo Eduardo Cosentino da Cunha,
conforme trecho j transcrito, seriam pagamentos de despesas de advogados de
Fernando Alberto Diniz junto ao escritrio Posadas Y Vecino Consultores.
Entretanto, o beneficirio destes dbitos a empresa Posada Y Vecino
Consultores,comotambmseverificanosextratosdacontaemnomedaOrionSP,
semqualquermenonosdocumentosaonomedeFernandoAlbertoDinizouque
opagamentoaeleserefira.
372. Relativamente essa transferncia de USD 264.000,00 para

PosadasYVecinoConsultoriaprovenientedacontaemnomedaOrionSP,releva
destacar que, na documentao da conta, consta a determinao de transferncia
respectiva, estando ela assinada pelo acusado Eduardo Cosentino da Cunha, sem
qualquer meno ao nome de Fernando Alberto Diniz como justificativa para a
transao(fl.148doevento1,apinqpol20).
373.Almdaabsolutaausnciademnimaprovaquecorroboreque
essas transaes tivessem algo a ver com Fernando Alberto Diniz, chamam a
atenoascontradiesnodepoimentodeEduardoCosentinodaCunha.
374. Primeiro, fica claro por seus depoimentos acima transcritos,

fornecendo explicaes, ainda que vagas, a respeito das transaes na conta da
OrionSP,queeraelequemcontrolavadbitosecrditosnacontaenoqualquer
entidadecorporativaindependente,comoumtrust.
375.Comefeito,astransaes,segundoaversodoprprioacusado,
teriam sido feitas para repassar valores do afirmado emprstimo a Fernando
AlbertoDinizedepoisparareceberomtuodevolta.Emnenhummomento,h
afirmao de Eduardo Cosentino da Cunha de que o trust ou qualquer entidade
corporativaindependenteteriamovimentadoessesvalores.
376. Ento a conta do trust independente era, de maneira

contraditria, utilizada para receber e movimentar valores do emprstimo de
Eduardo Cosentino da Cunha a Fernando Alberto Diniz, com ele, Eduardo
CosentinodaCunha,agindocomautonomia.
377.Outracontradioencontrasenotrechoseguinte:
"Juiz Federal: E o senhor lembrou de fazer a declarao desse emprstimo

comodvidadoseuimpostoderenda?
EduardoCosentino:EsseemprstimoeradvidacontraoTrust,noeradvida
contramim.EradvidacontraaOrion,noumadvidacontraEduardoCunha.
OpatrimniodaOrionelenomepertencia.
Juiz Federal: Uhum eh... as pessoas que constituram esses Trusts, eles
participaramdessanegociaodoemprstimo?
Eduardo Cosentino: As pessoas que constituram o Trust certamente elas... a

constituiodoemprstimoeunotenhocondiodelhedizer...massabiamdo
crdito porque efetivamente a documentao acabou sendo de conhecimento
deles.
Juiz Federal: Mas, a deciso de fazer esse emprstimo e receber foi do

senhor?
EduardoCosentino:No,adecisominha.
JuizFederal:Foidosenhor?
Eduardo Cosentino: At porque eu j tinha colocado os recursos antes de t o

Trust... do Trust Orion ter sido constitudo, lembrando que o Trust Orion foi
constitudoem08demaiode2007.
JuizFederal:EfoifeitoalgumcontratocomoTrustento?
Eduardo Cosentino: No, o Trust s tinha informao que eu detinha, que eu

detinhaumcrdito.
Juiz Federal: Uhum e isso era uma garantia, no era um contrato de

emprstimotambm?
EduardoCosentino:No,eraumagarantia.
JuizFederal:Certoeosenhortambmachouquenoprecisavadeclararisso
noseuimpostoderenda?
Eduardo Cosentino: Era uma garantia em nome do Trust, na realidade a

garantiapertenciaaoTrust."
378.Observasequeele,emboraafirmequeoemprstimoteriasido
porelemesmonegociadoequeastransaescorrespondentesteriamsidoporele
determinadas,emseguida,afimdejustificarafaltadedeclaraodoemprstimo
emseuimpostoderenda,invoca,contraditoriamente,aresponsabilidadedotrust
peloemprstimo.
379. Ou seja, o acusado faz o emprstimo, realiza as transaes

pertinentes,tantoderepassedomtuo,comoderecebimento,masotrustquem
seriatitulardoemprstimo!
380.Talafirmaoaindacontrastacomoutras,queseroexaminadas
adiante, na qual o acusado Eduardo Cosentino da Cunha, afirmou, em entrevista
jornalstica(item390),que"oTrustnoaceitouodepsitoenoomovimentou"e
queo"Trustnotinhaocontratocomigoeadministraodesseativo".
381. Ora, se o trust no movimentou ou aceitou os valores, como

poderiasertitulardoemprstimooudagarantia?
382.Ouseja,quandointeressaotrustinvocadopeloacusadocomo
titulardoemprstimoparajustificarafaltadedeclaraodoemprstimoReceita
Federal por Eduardo Cosentino da Cunha ou mesmo os valores correspondentes.
Jquandootrustnointeressaparaolibi,otitulardoemprstimoedosvalores
oprprioacusado.
383. Outra declarao pouco crvel do acusado Eduardo Cosentino

da Cunha a de que ele s teria tido conhecimento do reembolso do valor do
emprstimo,efetuadocomovistoentre30/05/2011a23/06/2011,em2012:
"Juiz Federal: Como que o senhor teve conhecimento desses depsitos feitos
nacontaOrion?
Eduardo Cosentino: Em 2012. A confirmao s em 2002 quando o Banco me

informou.Foiapartirdaquehouveadecisoeeurequeriemailparaqueeu
pudesse ser informado quando situaes como essa acontecesse.. e mais, se
Vossa Excelncia quebrou o sigilo desse email, e foi colocado como grande
mrito do Ministrio Pblico a obteno do anexo, com as quatro faturas, e a
transferncia desse valor, importante realar que esse email trinta dias
depoisdobloqueio.Eledemaiode2015.Nessemsdemaiode2015,huma
resposta a uma pergunta pedindo que se informe se teve mais transferncias...
no,sforamessaseforamnahora,ouseja,acorroboraoinclusivequeno
houveoutrodepsitonacontaquenofosseessedepsito.
Juiz Federal: O senhor mencionou a pouco, que o senhor Felipe Diniz teria
avisado o senhor quando houve esse pagamento, o senhor pode me explicar
comoqueosenhorficousabendosem2012?
Eduardo Cosentino: No, a confirmao do banco saiu em 2012. Ele avisou,

olhajfoiprovidenciado,jfoiprovidenciadaasoluodopagamento,acabou,
umacoisaquepramimeraumacoisaabsolutamente...eunotinha....
JuizFederal:Nodeudetalhesdenada?
EduardoCosentino:No,no,smeinformou...
Juiz Federal: Ento ele falou que pagou o senhor e o senhor no levantou os
detalhes?
Eduardo Cosentino: Excelncia eu no tinha como ter contato a no ser que

fosse atravs de uma das visitas pessoais que tinha, ento se ele disse que
efetuouopagamentoporqueele...
JuizFederal:Comoqueeledissequeefetuouopagamentoprosenhor?
EduardoCosentino:No,elemedissequeefetuouopagamento.
JuizFederal:Maspessoalmente,portelefone?
EduardoCosentino:Pessoalmente.Eleestavacomigovriaspessoalmente,pelo
menosassimumavezpormsouacadaquinzediaselemevisitavaoueleme
encontrava.Elefalavadosproblemas,inclusiveporquequandohouveamortedo
paidele,oMichelTemerentoerapresidentedaCmara,concedeuapensode
deputado pra Unio Estvel que ele estava, do pai dele, comeou uma briga
judicial.
JuizFederal:Devolveuessedinheirodeummilhoequintosmildlaresena
ocasioosenhornoperguntoucomofoifeito,ondefoifeito?
EduardoCosentino:No,ondefoifeitofoidito,no.Elefalouquefoifeito,ele
faloufoifeitoopagamentonacontaindicada.
JuizFederal:Naconta?
EduardoCosentino:Nacontaindicada.
JuizFederal:Ah,osenhorqueindicouaconta?
EduardoCosentino:Acontaelejsabia,elejsabia,quandoopaidelefaleceu,
nadocumentaoqueeleobtevedopaidelejtinhaessesdetalhes.
JuizFederal:Eosenhorlevouumanopraconfirmarda?
EduardoCosentino:Teveumanopramim,seelefalou...eunomepreocupei,
noprecisomepreocuparemconfirmar,atporqueExcelncia...
JuizFederal:Novalordeummilhoequintosmildlares.
Eduardo Cosentino: Excelncia, no mudaria em nada a situao, a aplicao

caberia ao Trust fazlo, se fizesse, eu tenho minha forma anual de fazer pra
mimnoalteravaemnada...
Juiz Federal: O senhor no preocupou em verificar se ele realmente tinha

passado?
Eduardo Cosentino: No. Eu verificava no momento que eu tinha a forma de

verificar...equaleraomomento?QuandoobancoassimprocuravaoTrustpra
prestarcontas.
JuizFederal:Isso,osenhornopoderiatomariniciativatambm?
EduardoCosentino:No.
JuizFederal:Algumdepositouummilhoequintosmilprosenhor...
EduardoCosentino:No.Eutinhacincomilhesdedlares,entonoeraesse
o... eu no tava precisando do dinheiro pra pagar nenhuma despesa, o dinheiro
pertenciaaumTrust,nopertenciaamim.Eleiaseraplicado,oobjetivoerao
objetivo outro, era patrimonial, ento no era um dinheiro que eu recebo na
conta e tenho que fazer o pagamento da conta de luz no outro dia, no era isso
que tava acontecendo... e mais, se Vossa Excelncia tambm pegar os extratos
paraverificarquenohouvequalqueraplicaodorecursopelobanco,nemno
chamadoMoneyMarket,porqueanofoimexidonodinheiro.Odinheirosfoi
mexido quando estava sob administrao do Jullios Bar, que mesmo assim o
banco, o Trust, eles no quiseram aplicar. Eles no aplicaram, mantiveram o

saldo.Geralmentequandovocmantmorecursoemcaixa,comosechama,e
se voc no t fazendo nenhuma aplicao, o mnimo que se faz manter no
BonieMart,queoantigoOpenNightaqui,quetememtodopascomosttulos
dasdvidaspblicas.Nemissofoifeito,derecurso.Amovimentaodelesse
deuquandotransferiupraNethertonem2014."
384. Em outras palavras, na verso do acusado, o filho do devedor

teriainformadoaEduardoCosentinodaCunhaqueteriadevolvidooemprstimo
deummilhoequinhentosmildlaresnacontadaOrionSP,issoem2011,maso
acusadopreocupouseemverificaroextratosomenteem2012,umanodepois.
385.Aindapresentesalgumascontradiesentreassuasdeclaraes
prestadas em Juzo e declaraes pretritas prestadas pelo acusado, ainda na
condiodePresidentedaCmaradosDeputados,ementrevistasjornalsticas.
386. Nas fls. 9295 do arquivo apinqpol29, evento 2, consta

entrevista por ele concedida ao Jornal da Globo em 07/11/2015. A entrevista foi
gravada e o vdeo correspondente encontrase disponvel na rede mundial de
computadores, no s no link apontado no referido documento, mas tambm em
outros (v.g.: http://g1.globo.com/jornaldaglobo/videos/t/edicoes/v/eduardo
cunhadizquedinheiroemcontasdasuicanaoedele/4592325/).
387.Comovisto,emJuzodeclarouqueofilhodeFernandoAlberto
Diniz, que com ele se encontrava quinzenalmente, lhe comunicou que havia
efetuadoadevoluodoemprstimomediantepagamentonacontanoexterior,ou
seja,queopagamentolhefoicomunicadoapsasuarealizao.
388. J na entrevista gravada, o acusado Eduardo Cosentino da

Cunha declarou algo bem diferente, de que deveria haver comunicao prvia
acercadopagamento:
"JN:Agora,presidente,osenhornuncachegouacobraressedinheiro?Porque,
defato,muitodinheiro,ummilhodedlares...
Cunha: Ele morreu! Quando ele estava vivo, sim, obviamente a gente falava
sobre isso. E ele tinha, sim, no momento antes dele morrer, ele tinha, sim, a
orientao, se porventura quando ele tivesse a condio de me pagar, de como
eledeveriafazlo.Eletinha,simaconta,eletinhaotrust,elesabiaquedeveria
previamenteavisarotrusteotrustdeveriaconcordar."
389. Confrontado com a contradio em Juzo, recusouse a

esclarecla sob o pretexto de que no reconheceria "a entrevista como parte
processual, ela no faz parte da denncia", muito embora o documento citado
instruaainicialdaAcusao.Transcrevese:
"Juiz Federal: O senhor naquele entrevista que o senhor deu ao Jornal

Nacional, o senhor foi indagado: '... agora presidente, o senhor nunca chegou a
cobraressedinheiro,porquedefatomuitodinheiro,ummilhodedlares?'O
senhor respondeu: '...ele morreu. Quando estava vivo sim, obviamente falava
sobre isso. Ele tinha sim, no momento antes dele morrer, ele tinha sim a
orientao se, por porventura, quando ele tivesse a condio de me pagar, de
como devia fazlo. Ele tinha sim a conta, ele tinha o Trust. Ele sabia que eu
deviapreviamenteavisaroTrusteoTrustdeveriaconcordar'.
EduardoCosentino:Excelnciaeudeivriasentrevistaseforammuitomaiores
asinformaesdoqueessaquesto.Eunotenhocondiodereconheceroque
eu falei ou deixei de falar numa entrevista. Certamente ela foi editada e no
contm a integridade do que eu falei. Ento eu no vou responder a entrevista,
euvouresponderaofato.Ofatoqueestaqui,porqueomomentoprocessual
esse,ainformaoqueeuestoulheprestando.
Juiz Federal: Essa informao que o senhor deu ela foi previamente passada
prosenhor?
Eduardo Cosentino: Eu no quero considerar a informao que a est porque

eunoseiseelaverdadeiraouno,seatranscrio,seeufaleimaiscoisae
elenocolocou...eoutracoisa,existeumasituaodaposiopolticaqueest
sendo colocada, que voc quando fala para um telespectador, quando voc fala
para um locutor, voc tem que falar numa linguagem mais ou menos que possa
sercompreensvel.Existeasituaojurdicaqueeutenhoquedaraexplicao
correta daquilo que aconteceu. Eu estou num momento responsabilizado
penalmenteetenhoquedaraexplicaojurdica,eunotenhoquerespondera
entrevista,eutenhoqueresponderaspeasprocessuais.
Juiz Federal: Certo, que existe aparentemente uma contradio aqui que o
senhordeu.
EduardoCosentino:Eunovouconsiderar,eunovouconsiderarExcelncia,
nofazpartedoprocessoaentrevista.
JuizFederal:Osenhordissequerecebia...
EduardoCosentino:Excelncia,nofazpartedadenncia.
JuizFederal:OsenhordissequedeveriapreviamenteavisaroTrust.
Eduardo Cosentino: Excelncia eu no reconheo a entrevista como parte

processual,elanofazpartedadenncia.Entoeunovounem,noqueronem
entrar em mrito da questo de se ou no , eu prefiro no responder a
entrevista.
JuizFederal:,eestinstruindoosautos,ento,svoulheinformaraqui.
EduardoCosentino:Nofazpartedadenncia.
JuizFederal:Noinquritopolicial29,evento2...
Eduardo Cosentino: A denncia no pode se basear em matria jornalstica, a

dennciatemquesebasearnosfatosqueestocolocados.
JuizFederal:No,sestoudandoaoportunidadeparaosenhoresclarecer,se
osenhornoqueresclarecernotemproblema.
EduardoCosentino:No,eunovouesclarecer."
390.Emoutrotrechodaentrevista,afirmou,comojadiantado,que
otrustnoteriaaceitadooumovimentadoosvaloresdoemprstimo,oqueentra
emcontradiocomsuasafirmaesemJuzodequenodeclarouoemprstimo
ouosativosoudvidacorrespondentesemsuadeclaraoderendimentosporqueo
emprstimoeradotrust(item377).Transcrevesedaentrevista:
"OTrustnoaceitouodepsitoenoomovimentou.Nstemososextratos,ele
continuanamoedalocal,semqualquertipodemovimentaoouaplicao,ficou
paradoanosinteirosnamesmamoedacolocadoedepositadoporqueotrustno
tinha o contrato comigo de administrao desse ativo. O trust no tendo esse
ativocontratado,elenooreconheceeelenoreconhecendo,elenomexe."
391.Essadeclaraoaindacontrastacomaprovadocumental,pois,
como visto nos itens 267268, depois dos depsitos provenientes da Acona
International,efetuadosentre30/05/2011a23/06/2011,acontaemnomedaOrion
SP foi, sim, movimentada para a transferncia do saldo, em 11/04/2014, para a
contaemnomedaNethertonInvestments.
392. Confrontado com a contradio na audincia, retificouse

parcialmentequantoafirmaodequenoteriamovimentadoosvalores:
"Juiz Federal: Ento, nessa Ao Penal aqui 505160623. Continuidade do

depoimento do senhor Eduardo Cosentino da Cunha, alguns esclarecimentos
adicionais ao Juzo, a partir das questes que foram colocadas e outras coisas
queocorreram.Osenhorfiquevontadepararesponderounooqueosenhor
j afirmou. Isso anteriormente. Mas naquela entrevista que o senhor teria dado
aoJornalNacional,osenhorfezalgumasafirmaes,euvoullasaqui.Temo
vdeo, n? Mas o senhor pode da esclarecer, ou se no quiser esclarecer, no
esclarea,fiqueavontade.
Eduardo Cosentino: , j a minha posio de no esclarecer. Eu respeito

VossaExcelncia,maseu,eunopretendofalarsobreaentrevista.
JuizFederal:Osenhormencionounessaentrevistasobreessesdepsitosvindo
dacontaAcona.Osenhordisseoseguinte:...oTrustnoaceitouodepsitoe
no o movimentou. Ns temos os extratos, ele continua na moeda local. Sem
qualquertipodemovimentaoouaplicao.Comparardanosinteirosnamesma
moeda,colocadoedepositado,porqueoTrustnotinhacontato,contratocomigo
de administrao desse ativo. O Trust no tendo sido assim contratado ele no
reconhece,noreconhecendoelenomexe...".Osenhorgostariadeesclarecer
essainformao?
Eduardo Cosentino:No, eu j falei sobre isso. Eu no vou falar sobre a

entrevista que eu no me lembro se eu falei isso. Eu falei, o que eu falei
claramente aqui e j falei que no houve aplicao desse recurso. E a prova
dissoquandoosenhorpegaroextratoosenhorvaivqueficousemaplicao
noMoneyMarket,emnenhummomento.Atporquenotinha,efetivamente,no
tinhaumcontrato.NoexistiaumcontratoeeunoseiporqueoTrustnoquis
movimentar,masumacoisaquetalveznodepoimentoasenhoraElisaMailhos
possaesclarecer.OudoTrust,deformaque...
JuizFederal:Osenhorfalouquenofoimovimentadamaisessa...
Eduardo Cosentino: No, no foi movimentada. Isso eu posso declarar porque

asfolhasdoextratomostraquenotevemovimento.
Juiz Federal: Certo. Mas quando o senhor deu essa entrevista em 2015, o
senhorjtinhaconstrudoesseativopraNetherton?
Eduardo Cosentino: quando eu dei entrevista, as entrevistas que eu dei que

foramvriasentrevistas.Tododia,trs,quatro,entrevistas.
JuizFederal:T.
Eduardo Cosentino:E certamente uma que saiu pode no ser o contedo da

outra.Ento,porissoqueeunovoucomentarentrevista.Oqueeufalosobreo
fato , quando eu dei entrevista, que eu j era presidente da Cmara nesse
momento,jtavaosrecursosbloqueados.Ento,nohaviamuitooquesefalar.
EntojobviamentesefoibloqueadoissojtavatransferidopraNetherton,que
atransfernciapraNethertonsedeuemabrilde2014.
Juiz Federal: que aqui o senhor t, teria declarado que no teria

movimentado.
Eduardo Cosentino: A Orion no movimentou este recurso, isso facilmente

comprovvel. Basta verificar todos os extratos da hora que fazem parte do
processo.Olhandomsams,tenhoelesaqui,nohmovimentao,anoser
em2014,quandovaipraNetherton.Daelesficaramigual.
JuizFederal:Antesde2015,n?Antesde...
Eduardo Cosentino: Sim, sim, sim. S foram movimentados quando foram pra
Netherton,quandoestavamnaiminnciadeirpraNetherton."
393. Alm das contradies, cumpre examinar outras declaraes

relevantes prestadas por Eduardo Cosentino da Cunha durante seu interrogatrio
judicial.
394. Eduardo Cosentino da Cunha afirmou que Jorge Luiz Zelada

teria sido indicado para o cargo de Diretor da Petrobrs pelo ento Deputado
Federal Fernando Alberto Diniz, que liderava a bancada do Rio de Janeiro do
PMDB.Admitiuquetinhaconhecimentodofato,queconheceunoprocedimento
Joo Augusto Rezende Henriques, que teria sido indicado previamente a Jorge
Luiz Zelada, mas que no foi aceito, mas afirmou que a sua bancada, do Rio de
Janeiro,preferiuindicarLuisPauloCondeparaFurnasequenoteverelaocom
anomeaodeJorgeLuizZelada.
"JuizFederal:Vocpodesermaisobjetivon?
EduardoCosentino:Temavercomocontexto.AbancadadoRiotinhapetrleo,
tinha royalties, mas, efetivamente, a bancada de Minas Gerais tinha interesse
por causa do envolvimento da Gasmig. de ter uma diretoria internacional, de
exploraodaPetrobrs.Consequentemente,elesoptaramporescolherocargo
dadiretoriadaPetrobrsepedir..foioqueDinizdefiniucomabancadadele.A
bancada a qual eu coordenava, que a bancada do Rio de Janeiro, preferiu
indicar o exprefeito Lus Paulo Conde, que era exvicegovernador, para
Furnas,porqueFurnasnoumaempresaqueerasediadanoRiodeJaneiroe
aabancadaresolveuindicarFurnas.AbancadadoCentroOeste,queeraoutra
grandecoordenao,quedepoisescolheuavicepresidnciadaCaixaeavice
presidnciadoBancodoBrasil.OFernandoDiniztinhaautonomiaprafazerda
formaqueabancadaassimqueria.EntoeleescolheuJooHenrique.Noque
tinhaqueterapoionossoouno.JooHenrique,onomenopassou...inclusive,
nadennciafala,eeupergunteimuitoissonasoitivas,adennciafalasobreuma
matriajornalstica,deumareuniodoPlanalto,sobreaCPMF,eopresidente
MichelTemernegouareunio,maselefalanamatria...oqueaconteceucom
aquelamatria?importanteexplicar...osacordoseramquetodososcargoss
fossem nomeados para o segundo escalo aps a votao da CPMF. O que
aconteceu que o PT nomeou na frente, a Graa Foster, para a diretoria de
Gs, no momento feito pela expresidente Dilma, e nomeou o Dutra na
presidnciadaPetrobras.AquiloirritouoCongressointeiro...seeraparadepois
da CPMF. Ento o pessoal teve uma revolta, no porque queria o cargo, a

revoltaporqueoPTestavaseaproveitandodasituaoeagerouessarevolta
noCongresso.
JuizFederal:Sei.
Eduardo Cosentino: E assumiram o compromisso para nomear tudo depois e

vetaramonomedoJooAugusto...foioqueeutiveoconhecimento.
JuizFederal:Temoconhecimentodequemvetoueoporqu?
EduardoCosentino:AinformaoquechegoupeloFernandoDinizpoca...o
prprio Michel... que quem cuidou disso, o interlocutor, foi o Michel Temer e o
HenriqueAlves,.AinformaotrazidapeloMichelTemerepeloHenriqueAlves
foideveto.Ovetofoiporcausadoprocesso,segundoqueteriaumprocessono
Tribunal de Contas. Se esse o motivo no sei, a ficha no teria passado por
essamotivao.
JuizFederal:ComoqueentrouoZeladaa?
Eduardo Cosentino: A foi o Fernando Diniz que trouxe o nome do Zelada. Eu

no sei dizer como, mas foi uma coisa assim muito rpida, porque havia
convicodoFernandoDinizdequeessanomeaosairia.Entoeletevemuito
pouco tempo pra poder construir uma substituio. Eu no sei como ele fez,
comoeleconheceuoZelada,daondevinhaarelaodelecomoZelada.
JuizFederal:OsenhorconheceuoZelada?
Eduardo Cosentino: No. Eu conheci s depois que ele virou diretor, em dois,
trseventosoficiais,semnenhumaintimidade,semnenhumarelao.Eleuma
pessoamuitofechadainclusive.Entonotivenenhumarelaocomele."
395. Oportuno ainda salientar que, alm dos USD 1.500.000,00

provenientesdaAconaInternational,ascontasnaSuadeEduardoCosentinoda
Cunha tinham outros valores provenientes de outras operaes. Com efeito, o
saldo bloqueados nas contas chegou a cerca de 2.348.000 francos suos em
17/04/2015,oequivalenteatualmenteaUSD2.365.532,63ouaR$7.286.313,60.
396. Tambm a respeito da origem desses outros valores, as

explicaes do acusado Eduardo Cosentino da Cunha foram vagas e
desacompanhadasdequalquerprovadocumentaloudeoutranatureza.Transcreve
setrechos:
"Juiz Federal: Certo. E a origem desses valores que o senhor tem

nessas...nessesTrusts,nessascontas,osenhormencionouosaldo,pelooqueeu
merecordo,chegouaterumasaldoquequatromilhes,foiisso?
EduardoCosentino:Quatromilhesduzentosedezesseisfazpartedadenncia,
comosaldodacontaTriumphem2007,comoevasodedivisasnoanode2007.
JuizFederal:Uhum.
EduardoCosentino:issoquetnadenncia.
JuizFederal:Edaondeveioessedinheiroqueosenhor...
(...)
Eduardo Cosentino: Efetivamente... eu trabalhei muitos anos com comrcio

exterior. Com comrcio exterior que eu trabalhava, eu fazia muita venda de
produtos no exterior e recebia no exterior. Comecei a construir os saldos a
partir da. Alm disso eu fazia aplicaes financeira de mercado. Basta
analisar... se pegar at qualquer saldo mnimo, vai ver que ele cresceu ou
diminuiuemfunodevalorizaodeativos.Essaprpriaoperaoqueeufalei,
que eu fiquei obrigado a dar as ordens sobre ela, uma operao de risco de
Bolsaequeproduziuumaperda.
JuizFederal:Certo.
EduardoCosentino:Comohouverammuitasqueproduziramganhos.Sendoque
essasqueproduziramganhosforamemnmeromuitomaiornumperodoemque
eu trabalhava com mercado de capitais pela minha especialidade. Ento eu
cresci, constitui esse patrimnio... em 1993 j detinha esse saldo, em torno de
trs, quatro milhes de dlares, j nesse perodo, chegando a isso. E no um
patrimnio...eu no tenho patrimnio agora, depois que eu entrei pra vida
pblica. Eu j tinha patrimnio em 1988, 1987, 1989. Ento, quando h essa
ao, que houve o trancamento da ao, pelo TRF do Rio de Janeiro, ns
estamos tratando de 1989, no estamos tratando de agora. Ento
consequentementeelevemda.Elevemdeganhosdecomrcioexterior,oqual
eu posso juntar os meus passaportes antigos onde vai ser ver o nmero de
viagens que eu detinha pra pases africanos naquele momento, onde eu fazia
comrcioemvriostiposdeprodutos.
JuizFederal:Uhum.
Eduardo Cosentino: E de aplicaes dos prprios produtos e recursos nos

prpriosbancos.
Juiz Federal: Eu tenho aqui uma entrevista que o senhor teria dado ao jornal
nacionalem7denovembrode2015.Osenhorchegouamencionarqueosenhor
comercializounafrica.
EduardoCosentino:Excelncia,eunoquero...eunoquero...eunoquerome
ateraqualquertipodeentrevistapblica,porqueelassoveiculadasdeforma
editadasemoconjuntodaminhafala.
JuizFederal:Aham.
Eduardo Cosentino: E s naquilo que tem o interesse da divulgao. Eu estou

aqui pra responder exatamente qualquer pergunta que me foi feita em cima da
denncia.Eudiriaque...
Juiz Federal: Mas o senhor pode esclarecer essas transaes de comrcio

internacional...
Eduardo Cosentino: Eu tive...eu tive transaes de comrcio internacional, ao

qual eu comprei muitos produtos... levava esses produtos pra frica, por minha
conta, recebia em recursos locais, e transferia de l atravs do cmbio do
prpriopas,...
JuizFederal:Quandoquefoiisso,aproximadamente?
EduardoCosentino:Operodobasicamentede1985a88.
JuizFederal:Equetipodeprodutoqueosenhorcomercializava?
Eduardo Cosentino: Produtos diversos. Produtos alimentares. No era s

produtosdoBrasil.produtosdeoutrospasesqueeulevavaprafrica.
JuizFederal:Eeraespecificamentecomafrica?
Eduardo Cosentino: Basicamente com a frica. Basicamente no pas Zaire, no

pasCongoBelga,eramosdoispases...aRepblicaPopulardoCongo,eramos
doispasesqueeucomercializava.
Juiz Federal: E eu no entendi bem qual era o seu papel. O senhor era
representantecomercialouoqu?
Eduardo Cosentino: No, eu no era representante comercial, era revendedor.

Eu...eu...
JuizFederal:Revendedor?
EduardoCosentino:...compravaamercadoriaerevendia.
JuizFederal:Eosenhortinhaumaempresapraisso?
EduardoCosentino:Tiveempresadecomrcioexterior,sim.
JuizFederal:Qualqueeraonomedela?
Eduardo Cosentino: Eu tive uma empresa.. HNB, comrcio exterior limitada...

tiveoutrasempresasnaquelemomento,masamaiorparteeufaziaporempresa
fora. Justamente no momento quando eu fui a Offshore fora naquele perodo. A
prpriaOffshorecomercializounaqueleperodo.
JuizFederal:EosenhorresidianessapocanoBrasil?
EduardoCosentino:ResidianoBrasil.Maseupassavaamaiorpartedotempo
viajando.
JuizFederal:Algumdocumentodosenhor...
Eduardo Cosentino: Alguma, alguma coisa eu tenho, por exemplo, eu consegui

recuperar alguma coisa que, tem contrato social, at esse prprio Habeas
Corpus, que foi trancada a essa ao que tem elementos dentro do Habeas
Corpus do processo que continha documentaes. Eu tenho transferncias
antigas feitas no perodo de 93 94 95 96 de recursos das prprias contas.
Consegui achar a cpia do Trust de 1993, desse Trust... alguns documentos que
euvoupediraminhadefesaprajuntar.
JuizFederal:Contratosdecompraevenda?
Eduardo Cosentino: No, isso ainda eu talvez, eu... o que me dificultou muito,
Excelncia,ofatodeeuestaraquiemcondiesabsolutamenteprecriasde...
de procura de mais documentos e com dificuldade inclusive de falar com meus
advogados, visto que o tempo muito restrito e atravs de parlatrio... foi
preciso muito esforo pra conseguirmos ter trs reunies de trinta minutos,
presenciais,prapoderdebaterinclusiveesseinterrogatrio.
JuizFederal:Hum.
Eduardo Cosentino: Consequentemente eu estou com minha defesa cerceada

pelo fato de eu no poder inclusive ter condies de debater com meus
advogadosaformacorretadetrazeradocumentao.
JuizFederal:Uhum.
EduardoCosentino:Entoissoprejudicoumuito,maiscertamente...
JuizFederal:Mas,porexemplo,osenhordeuessaentrevistaemnovembrode
2015eosenhorfoipresobemdepoisn...nodeupratirar...
Eduardo Cosentino: Mas eu tenho que fazer a procura dos documentos no

momento em que so instados. Eu achei coisas que eu no imaginava que eu
aindadetinha.Eutenhopeasquevoserjuntadasaquiinclusivequetem...faz
parteatdomeuprocessoseparaojudicialdomeuprimeirocasamento,onde
aminhaexesposafalavadasenhoraMaryKiyonaga,sobrecontasnoexteriore
juntouoextratodaconta.
JuizFederal:Certo.
JuizFederal:Certo.
Eduardo Cosentino: Do ano de 93, 94... ento eu tenho muitas peas aqui pra
serem juntadas. Consequentemente eu, apesar do prejuzo, eu vou conseguir
juntaralgumacoisa,mascertamenteeuteriacondies,seeutivesseomnimo
condies, de ter tempo pra orientar os advogado a procurarem... talvez
achassemmais."
397. Quanto alegao de que o acusado Eduardo Cosentino da

Cunha no teria conseguido levantar a documentao pertinente origem dos
saldos milionrios na Sua porque estaria preso, carece ela de qualque
verossimilhana,considerandoqueelefoipresopreventivamenteem19/10/2016e
a denncia contra ele foi oferecida muito antes, em 04/03/2016, alm dos fatos
serem de seu conhecimento muito antes, tanto que, por exemplo, concedeu a
referida entrevista sobre eles em 07/11/2015 (fls. 9295 do arquivo apinqpol29,
evento2)eteve,somenteconsiderandoestetermo,maisdeumanoparapreparar
suadefesaereuniradocumentao.
398.Tambmoportunaatranscriodaexplicaoqueforneceupor
no ter revelado Comisso Parlamentar de Inqurito da Petrobrs em 2014 a
existnciadascontas,dosativoseadostrusts:
"Juiz Federal: Quando o senhor foi espontaneamente naquela Comisso

Parlamentar de Inqurito, o senhor declarou expressamente que o senhor no
teria contas no exterior, o senhor no entendia que era relevante o senhor
revelaressetipodeinformao?
EduardoCosentino:Aperguntaquemefoifeita...nomefoifeitanosentidoque
eutinhaquedessaresposta.
JuizFederal:Hum.
EduardoCosentino:Tivessemefeitoaperguntaacompletaeuteriarespondido
averdadecompleta.
JuizFederal:Masosenhornoachaqueosenhornotinhaumaobrigaode
revelarisso?
EduardoCosentino:Euachoqueeufaleiaverdade.
JuizFederal:Hum.
EduardoCosentino:Ecomoeufaleiaverdadeconformeaperguntaquemefoi
feita.
JuizFederal:Uhum.
EduardoCosentino:Entoeunotinharazonenhumapramentir,atporque
eunominto.Consequentementeeufuilefaleiaverdade.
JuizFederal:Osenhor,nessecontexto,queosenhorvail...dissequenotem
contaetal,masosenhortemessesTrusts,quetemcontaqueosenhor...vamos
dizer...
EduardoCosentino:Seeudissessequetinhacontaeuestariamentindo,porque
acontadoTrust.
JuizFederal:Hum.Sei.
EduardoCosentino:Emsegundolugar,apropriedadedopatrimnionomeu.
Eaperguntaquemefoifeitafoimuitoespecfica.
JuizFederal:Uhum.
Eduardo Cosentino: E dentro da especificidade da pergunta, no meio de

cinquenta perguntas feitas dentro de uma Comisso Parlamentar de Inqurito,
que era reunida... os quesitos de grupos de cinco pra eu responder... os grupos
de cinco que eu anotava, eu respondi como me pareceu o correto naquele
momento. O correto que eu no detinha conta, se tivesse me perguntado se a
minhaesposadetinha,euteriafaladoaverdade.
JuizFederal:Hm.
EduardoCosentino:Nomeperguntaram.
Juiz Federal: E o senhor mesmo assim no entendeu nem pertinente prestar

esclarecimentosobreissonaocasio?
EduardoCosentino:Eu...euentendiquenocabia.Arespostaaperguntaqueeu
tinhaquederaaperguntaquemefoifeita.Ento...
Juiz Federal: O senhor tinha receio que se o senhor falasse poderia ter
consequnciassobre...
Eduardo Cosentino: No a questo de ter consequncia. A gente no...eu fui

espontaneamentenumaCPIpraprestaresclarecimento.Nofuiintimado.
JuizFederal:Uhum.
EduardoCosentino:Nofuiconvocado.Noestavasobjuramento....ningum
obrigado a produzir prova contra si mesmo... Vossa Excelncia sabe to bem
quantoeuisso.
JuizFederal:Uhum.
Eduardo Cosentino: Consequentemente eu fui l e respondi corretamente uma

pergunta que foi feita. Eu no tinha razo nenhuma pra dar informao alm
daquiloquemeperguntado.Nsestamosnomundodapoltica,noestamosno
mundodeumprocessojurdico.
JuizFederal:Uhum.
Eduardo Cosentino: No mundo da poltica, a gente no fala aquilo que no

perguntado. No d a informao que no seja a informao requerida pelo
momentoquetsendocolocado.
JuizFederal:Sei."
399. Em outras palavras, o acusado ocultou a existncia dos trusts,

dascontasedosativosnoexterioremseudepoimentonaComissoParlamentar
deInquritoporquenolhefoifeitaaperguntaespecfica!
400. O depoimento ainda deixou claro que o acusado Eduardo

CosentinodaCunhaagiucomdolodeocultaoedissimulaoaoabrirascontas
no exterior atravs dos trusts. Segundo suas declaraes, assim teria agido para
furtarse obrigao de declarar as contas e os valores ao Banco Central e
ReceitaFederal.Transcrevese:
"Defesa: Um segundo ponto relativo a questo das contas. O senhor tinha

contanoexterior?
EduardoCosentino:Ascontasnoexterior,queeujfalei,eudetinhaascontas.
Houvecontas,depoishouveTrusts.Ascontaselasadvmdeumperododemais
de vinte e cinco anos. Essas contas que eu detinha, elas foram apenas em duas
instituies financeiras, no Delta Bank e no Merrill Lynch. Merrill Lynch, que
depois virou Julius Bar, Merrill Lynch, banco suo. Nas contas que foram
colocadas, que detinham ,inicialmente estrutura de empresa e depois que
viraram estrutura de Trust, principalmente depois no momento que o Banco
Central assim regulamentou. bom deixar claro aqui que o Banco Central,
inclusive,mudouanormativacomrelaoaaplicaodepoisdesseepisdio.A
normativa de resoluo emitida pelo Banco Central pra tentar incorporar a
situao Trust, depois que esse caso se tornou pblico e que houve a
contestao. Isso era bom que Vossa Excelncia como a minha defesa pudesse
at juntar pra mostrar que tantos no tinham entendimento que eu no tinha
obrigaodedeclarar,queelesmudaramanormativa.Sdemudaranormativa
significaqueelesentendiamqueanormativaestavafraca.
(...)
JuizFederal:Quandoosenhorcomeouosenhorrespondeunocomeo,spra
retomar,quandoosenhorcomeouautilizaressesTrusts?
EduardoCosentino:EudisseExcelnciaqueapsaformaqueoBancoCentral
obrigouadeclarar,acimadecemmildlares,apartirdessemomentojestava
com Trusts. Ento eu comecei a usar Trust de verdade, eu tinha Trust, desde o
incio,desde90,pormTrustsendoproprietriodoativo,dopatrimnio,elefoi
apenasnadcada...noperodode2000e2001.
Juiz Federal: E contas no exterior que o senhor era o titular da conta ou

beneficirio,nonaformacomTrusta.
EduardoCosentino:Eujfaleiissoaquisim.Faleinadcadade80e90.
JuizFederal:Eessascontastambmmencionouquenuncadeclarou.
EduardoCosentino:Eununcadeclareinapoca.eufaleiissoaquij.
JuizFederal:Uhum.
Eduardo Cosentino: Na poca no declarei. J disse (ininteligvel), inclusive,

KolbnoMerrilLynch,realmente,(ininteligvel)efizo(ininteligvel)Trust,em
93,queeutenho(ininteligvel).
JuizFederal:Masaosenhorentendiatambmquenoprecisavadeclarar?
Eduardo Cosentino: No, naquele momento no. A obrigatoriedade, a

obrigatoriedade declarao se deu pela Medida Provisria 2224/2001 e pela
resoluo do Banco Central. S a partir da passou a ter obrigatoriedade de
declarao.
JuizFederal:Eantes...
EduardoCosentino:Antesdissono.
JuizFederal:Enesseperodoosenhornotinhacontanoexterior?
Eduardo Cosentino: Depois de 2000 eu tinha o Trust. Depois do advento da

medidaprovisria,resoluoeraapenasTrust,comopatrimniodoTrust.
JuizFederal:Entoosenhormudoupranoprecisardeclarar?
Eduardo Cosentino: Eu mudei, eu mudei por vrios motivos. Expliquei e j

respondiissoaquiaVossaExcelncia.Primeiro,porentenderqueoTrusteraa
melhor forma de administrao e segundo por causa disso eu no precisaria
declarar.Oqueeuquerodizer,quefoianterioraMedidaProvisria,querdizer
queduranteoperodo,aqualestandovigenteaMedidaProvisria2224/2001em
diante,equehouveaRresoluodoBancoCentral,eunodetinhaoutraforma
quenofosseTrust."
401.ComoacontaemnomedaKpeknoeradetrust,apresentou,
paraafaltadedeclarao,outrajustificativa:
"JuizFederal:Certo.SvoltandoaacontaKpek,osenhormencionou,essa
contaumacontadepessoafsica?
EduardoCosentino:Fsica.
JuizFederal:queelanofoideclaradaporcontadosaldo?
EduardoCosentino:...
JuizFederal:Elanuncatevesaldoessaconta?
EduardoCosentino:No,notevesaldosuperioracemmildlares.
JuizFederal:Hum.
Eduardo Cosentino: Uma obrigao de declarar ser superior a cem mil

dlares.oqueconstanadennciainclusive.
Juiz Federal: Sei. E na declarao de rendimentos Receita Federal?

(ininteligvel).
EduardoCosentino:NadeclaraoderendimentosdaReceitaFederal,agente
obrigado a declarar quando declara a conta, se no declarei a conta o Banco
CentraltambmnofoideclaradanaReceita,bvio.
JuizFederal:SenhortemquedeclarartodososativosaReceitaFederal,n?
Eduardo Cosentino: Sim, mas na tese no tinha ativo. Na tese o que tinha era
uma garantia do Trust para o limito do carto de crdito. Ento nosso
entendimentoquenotinhaativo.
JuizFederal:Uhum.
Eduardo Cosentino: O entendimento claro, o recurso pra existir como

garantia.
JuizFederal:Osenhormencionouqueelatinhaumsaldoagora?
EduardoCosentino:No,eudisse,eupergunteiaosenhorseeueraobrigadoa
declarar,eudissequeseraobrigadoadeclaraseosaldotivessemaisdecem
mildlares.
JuizFederal:T.
Eduardo Cosentino: Havia, momentaneamente, saldos... porque faturas de

carto de crdito chegavam e se fizeram transferncias do Trust Triumph pra
liquidar a fatura e manter a garantia intacta. Se no tivesse sido feita a
transfernciateriaqueserexecutadaagarantia,iacuidardafaturaeencerrado
aconta.
JuizFederal:Enuncaelatevesaldonecessriopradeclarar,nemnaReceita
Federal?
Eduardo Cosentino: Ela nunca teve saldo superior a cem mil dlares. O nosso
entendimento que ela no tinha saldo de propriedade da minha esposa, o que
existia ali era execuo da garantia do Trust, mesmo os recursos que foram
transferidos do Trust pra liquidar o carto de crdito, eu entendo que eram os
recursosdomeupatrimnio,noeraorecursodaminhaesposa."
402.Comoadiantado,olibidoacusadonosesustenta.
403. Est provado objetivamente que o acusado Eduardo Cosentino

da Cunha recebeu USD 1.500.000,00 na conta em nome da Orion SP, na Sua,
dinheiroesteprovenientedecomissopagaaJooAugustoRezendeHenriquesna
aquisiopelaPetrobrsdoBloco4emBenin.
404. Para justificar o injustificvel, Eduardo Cosentino da Cunha

afirmou que os valores seriam devoluo de emprstimo que havia concedido a
FernandoAlbertoDiniz.
405. O alegado no encontra um nico elemento probatrio

documental.Seriadeseesperarumcontratooualgumareferncianastransaes
ou pelo menos prova documental de que Eduardo Cosentino da Cunha repassou
algumdinheiropreviamenteaFernandoAlbertoDiniz,jque,ememprstimo,se
devolvesomenteoqueserecebeuantes.
406.Paracompletar,tambmnofoilocalizadaqualquerrefernciaa
esteemprstimoouaumdbitodeFernandoAlbertoDinizemfavordeEduardo
Cosentino da Cunha no inventrio do primeiro e que, a pedido da Defesa, foi
juntadonoevento211daaopenal.
407.Nosnohprovadocumental,comotambmnohprova
oral,umanicatestemunhaqueconfirmeaexistnciadesteemprstimo.
408.Aindamais,anicatestemunhaqueconheceriaosfatos,ofilho
deFernandoAlbertoDiniz,negou,ouvidoemJuzo(item359),negouaexistncia
doemprstimoouqualquerrelaocomosdepsitosefetuadosnacontaemnome
daOrionSP.
408. Por outro lado, as explicaes do acusado a respeito do

emprstimomostraramsevagas,comoquandonosoubeexplicarcomopassouo
valordeseiscentosmildlaresaFernandoAlbertoDiniz,estranhas,comoquando
pretendeu provar os repasses de quatrocentos mil dlares a Fernando Alberto
Dinizinvocandotransaesqueenvolvemsomenteascontasdoprprioacusado,
oucontraditriasquandoalega,aomesmotempo,queotrustnotemrelaocom
oemprstimo,masinvocaomesmotrustparajustificarquenoprecisavadeclarar
oemprstimo,advidaouosativosemsuasdeclaraoderendimentonaReceita
Federal.
409. Retomando as provas j expostas anteriormente e sintetizadas

nositens300,301e346,podeseconcluirquehprovaacimadequalquerdvida
razovel, inclusive documental, que a aquisio pela Petrobrs do Bloco 4 em
Benin gerou o pagamento de vantagem indevida ao ento Deputado Federal
410. provvel que existam outros vrios beneficirios, inclusive

agentesdaPetrobrs,jqueaindanoforamrastreados,porexemplo,USD7,86
milhes pulverizados a partir da conta em nome da Acona International (item
252).
411. Alis, como provado no julgamento da ao penal 5039475

50.2015.4.04.7000(evento206,arquivosent6),foiidentificadacontaemnomeda
offshore Rockfield International S/A no Banco Julius Baer, no Principado de
Mnaco,quetemoDiretordaPetrobrsJorgeLuizZeladacomobeneficiriofinal
e que tem o saldo, no declarado s autoridades brasileiras, de 11.586.109,66
euros.
412.Taispagamentosaoutrosbeneficirios,porm,noconstituem
objetodapresenteaopenal.
413. O fato configura crime de corrupo passiva e inserese no

quadro geral do esquema criminoso da Petrobrs, no qual agentes da Petrobrs
eramnomeadosemantidosemseuscargosdedireonaestatalgraasaoapoiode
agentespolticos,sendoqueestes,emcontrapartida,recebiampartedavantagem
indevidaacertadapelosmesmosagentesdaPetrobrsemcontratosdaestatal.
414. No importa que o ento Deputado Federal Felipe Alberto

Diniz, do PMDB, tenha sido o responsvel direto pela indicao de Jorge Luiz
ZeladaDiretoriadareaInternacionaldaPetrobrs.
415. Eduardo Cosentino da Cunha era figura importante no PMDB

nomesmoperodoeanomeaoemanutenodeJorgeLuizZeladacomoDiretor
da Petrobrs tambm teve o seu apoio, motivo pelo qual, em contrapartida,
recebeu parte da vantagem indevida acertada no contrato de aquisio pela

PetrobrsdoBloco4deBenin.
416.osuficienteparacaracterizarocrimedecorrupopassiva,j
que este se configura se o agente pblico solicita para si ou para outrem a
vantagemindevidaemdecorrnciadocargo.
417.Houveaprticadeatodeofciocominfraofuncionalemduas
perspectivas.
418.Porumlado,aaquisiopelaestataldosdireitosdeexplorao
sobreoBloco4emBeninfoiaprovadacomvciosprocedimentais,comefeito,de
formaaodadaecomaocultaoeamanipulaodadosporagentesdaPetrobrs
(itens 232239). Os agentes da Petrobrs que cometeram tais irregularidades
praticaramatodeofciocomviolaodedeverfuncional.
419. O recebimento de vantagem indevida pelo agente pblico

pblico ou por terceiro por ele indicado configura o crime de corrupo passiva.
Assim, quem recebeu, agente pblico ou terceiro por ele indicado, cometeu o
crimedoart.317doCP.
420. certo que, por exemplo, Eduardo Cosentino da Cunha no

pertenciaaosquadrosdaPetrobrs,massefoibeneficiriodeacertosdepropinas
entre agentes da Petrobrs e empresa fornecedora da estatal, passvel de
responsabilizao por crime de corrupo passiva a ttulo de participao e
considerandoodispostonocaputdoart.29enoart.30doCP:
"Art. 29 Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a
estecominadas,namedidadesuaculpabilidade."
"Art. 30 No se comunicam as circunstncias e as condies de carter

pessoal,salvoquandoelementaresdocrime."
421. Doutro, h tambm ato de ofcio, com infrao de dever

funcional,emumaperspectivaprpriaparaEduardoCosentinodaCunha.
422. Ele, Eduardo Cosentino da Cunha, utilizou o enorme poder e

influncia inerente ao cargo de deputado federal no para o fiel desempenho de
suas funes, de legislar para o bem comum ou de fiscalizar o Poder Executivo,
mas sim para enriquecer ilicitamente, fornecendo apoio poltico para nomear e
sustentarnocargoDiretordaPetrobrsqueestavaagindoaseuservioequide
outros,paraobterrecursosilcitosemcontratosdaPetrobrs.
423. O trabalho do deputado federal no se limita a aprovar ou

rejeitar projetos de lei, ou seja, a legislar. Essa a viso clssica da funo do
legislativo, mas no corresponde minimamente prtica corrente brasileira. No
Brasil, o Legislativo influencia a ao do Poder Executivo de uma maneira bem
mais ampla, inclusive interferindo na formao do Governo, especificamente na
composiodosMinistriosenasestatais.
424. Podese questionar, em uma viso clssica da separao dos

poderes se isso apropriado, mas negar que parlamentares federais influem,
utilizando seus mandatos, na composio do Executivo fechar os olhos para a
realidade.
425.Sendoassim,devemelesresponderpelodesviofuncionalepor
corruposeassimagemnoparacontribuirparaobomGoverno,massimpara
nomear e sustentar algum de sua confiana com o intuito de arrecadar
ilicitamenterecursosparasieparaoutrem.
426. Portanto, os valores da vantagem indevida negociados no

contratodaPetrobrsnosforamempartedirecionadosaEduardoCosentinoda
Cunha em razo de seu cargo, ento Deputado Federal, como tambm houve
prticadapartedosenvolvidos,dosagentesdaPetrobrsedelemesmo,deatosde
ofciocominfraodedeverfuncional.
427.Tambmhprovadocrimedelavagemdedinheiro.
428. A vantagem indevida acertada no contrato da Petrobrs foi

transferida para conta em nome da Orion SP mantida no Banco Merril Lynch,
depoissucedidopeloJuliusBaer,naSua.
429. Questo que se coloca se o repasse de propina atravs de

transaes internacionais subreptcias configura, alm de corrupo, conduta de
lavagemdedinheiro.
430. Poderseia alegar, como faz a Defesa, confuso entre o crime

delavagemeocrimedecorrupo,argumentandoquenohaverialavagemantes
daentregadosvalores.
431. Assim, os expedientes fraudulentos ainda comporiam o tipo

penaldacorrupo,consistindonorepasseindiretodosvalores.
432.VinhaesteJuzoadotandoaposiodequepoderseiafalarde
lavagem de dinheiro apenas depois de finalizada a conduta pertinente ao crime
antecedente.
433.Assim,porexemplo,shaverialavagemse,apsorecebimento
davantagemindevidadocrimedecorrupo,fosseoprodutosubmetidoanovas
condutasdeocultaoedissimulao.
434.ArealidadedosvriosjulgadosnaassimdenominadaOperao
Lavajatorecomendaalteraodesseentendimento.
435.Asofisticaodaprticacriminosatemreveladooempregode
mecanismos de ocultao e dissimulao j quando do repasse da vantagem
indevidadocrimedecorrupo.
436.Talsofisticaotemtornadodesnecessria,naprtica,aadoo
de mecanismos de ocultao e dissimulao aps o recebimento da vantagem
indevida,umavezqueodinheiro,aomesmotempoemquerecebido,ocultado
ouaeleconferidaaparncialcita.
437.Esteocaso,porexemplo,dopagamentodepropinaatravsde
transaesinternacionaissubreptcias.Adotadoessemtodo,apropinajchegaao
destinatrio,oagentepblicoouterceirobeneficirio,ocultadae,porvezes,jem
local seguro e fora do alcance das autoridades pblicas, tornando desnecessria

qualquernovacondutadeocultaooudissimulao.
438. No seria justificvel premiar o criminoso por sua maior

sofisticao e ardil, ou seja, por ter habilidade em tornar desnecessria ulterior
ocultao e dissimulao do produto do crime, j que estes valores j lhe so
concomitantemente repassados com a aparncia de licitude ou para receptculo
secreto.
439. No se desconsidera aqui o precedente do Egrgio Supremo

TribunalFederalnaAoPenal470.
440. No caso, quando do julgamento dos embargos infringentes, o

Egrgio Supremo Tribunal Federal condenou o exdeputado federal Joo Paulo
Cunhaporcorrupo,masoabsolveuporlavagem,porentenderqueoexpediente
deocultaoemquestoenvolviaorecebimentodavantagemindevidaporpessoa
interposta, no caso sua esposa que sacou em espcie a propina no banco. O
Supremo Tribunal Federal entendeu, acertadamente, naquele caso que o
pagamentodepropinaapessoainterpostaaindafaziapartedocrimedecorrupo
enododelavagem.
441. Salta aos olhos primeiro a singeleza da conduta de ocultao

naquele processo, a mera utilizao da esposa para recebimento em espcie da
propina.
442. Tambm necessrio apontar a relevante diferena de que,

naquelecaso,onumerrionofoirecebidopelaesposaesucessivamentepeloex
parlamentarjocultadooucomaparnciadelcito.Pelocontrrio,aodinheiroem
espcie,aindanecessrio,paraareciclagem,oempregodealgummecanismode
ocultaoedissimulao.
443. J no presente feito, no se trata de mero pagamento a pessoa

interposta, mas, com a utilizao de contas secretas no exterior, em nome de, de
um lado, uma offshore, doutro lado, um trust, da realizao de um transao
subreptcia,pormeiodaqualapropinacolocadaeocultadaemumlocalseguro.
Paraobeneficirio,desnecessriasulterioresprovidnciaparaocultarapropina,j
queascondutasenvolvidasnatransfernciaforamsuficientesparaessafinalidade.
444. O entendimento ora adotado, em evoluo da posio do

julgador, no representa contrariedade com o referido precedente do Egrgio
SupremoTribunalFederal,poisdistintasascircunstncias.
445. As condutas, embora concomitantes, afetam bens jurdicos

diferenciados,acorrupoaconfiananaAdministraoPblicaenoimprioda
lei,alavagem,aAdministraodaJustiaeodomnioeconmicoeatmesmoa
integridadedoprocessoeleitoral.
447. Assim, se no pagamento da vantagem indevida na corrupo,

so adotados, ainda que concomitantemente, mecanismos de ocultao e
dissimulao aptos a conferir aos valores envolvidos a aparncia de lcitos ou a
coloclosemcontassecretasnoexterior,configurasenoscrimedecorrupo,
mastambmdelavagem,umavezqueatribudaaoprodutodocrimedecorrupo
a aparncia de licitude ou ocultado o produto do crime em receptculo fora do
alcancedasautoridadespblicas.
448. Assim, as cinco transferncias, do equivalente a USD 1,5

milho, entre 30/05/2011 a 23/06/2011, caracterizam no s o exaurimento do
crimedecorrupo,comaentregadavantagemindevidaaEduardoCosentinoda
Cunha,mastambmcrimedelavagemdedinheiro,jqueocultadooprodutodo
crime em conta secreta na Sua, cujo controlador e beneficirio era Eduardo
CosentinodaCunha.
449. As transferncias ulteriores desse numerrio de origem

criminosa,em11/04/2014,dacontaemnomedotrustOrionSPparaacontaem
nomedotrustNethertonInvestments,nomontantede970.261,62francossuose
22.608,37 euros configuram novo crime de lavagem, pois houve nova ocultao
dos ativos criminosos em uma nova conta secreta na Sua, cujo controlador e
beneficirioeraEduardoCosentinodaCunha.
450.Registreseque,apesardadistnciatemporalentre2011e2014,
o extrato da conta Orion SP no revela outros crditos relevantes posteriores a
23/06/2011 alm daqueles provenientes da Acona International, com o que
possvel afirmar que, mesmo sendo dinheiro coisa fungvel, houve transferncia
dosativoscriminososdeumacontasecretaoutra.
451.Relativamenteaessastransfernciasem11/04/2014,alis,no
hqualquerpossibilidadedeconfusocomocrimeantecedentedecorrupo.
452. J a transferncia posterior, em 04/08/2014, de USD

165.000,00,dosativosdacontaemnomedaNethertonparaacontaemnomeda
Kpek,composteriorutilizaodosrecursosparasustentargastoscomcartesde
crdito de familiares, um do prprio acusado Eduardo Cosentino da Cunha, no
pode ser considerado novo crime de lavagem, j que, como visto nos itens 295
299, foi demonstrado que os aludidos USD 165.000,00 no se originam dos
valoresrecebidosdaAcona.
453.Emdecorrnciadadistnciatemporalentreosatosdelavagem,
invivelconsiderarocrimedelavagemcomonico.
454. Assim, foram dois, um quando do recebimento na conta em

nome da Orion SP, e outro quando da transferncia dos valores para a conta em
nomedaNethertonInvestments.
455. No h, por outro lado, dvidas acerca da caracterizao da

utilizaodecontasnoexterioreemnomedeestruturascorporativasparareceber
emovimentarpropinascomocondutastpicasdalavagemdedinheiro.
456. Tratase no s da conduta de constituir essas estruturas

corporativas ou de solicitar a sua constituio, mas tambm de abrir contas
secretasemnomedelasnoexterior,oudesolicitaraaberturadessascontas,ede
movimentarosativosoudesolicitarasuamovimentao,bemcomodefurtarse
dedeclarar,noBrasil,nosaexistnciadascontasedosativos,mastambmde
qualquerdireitojuntosestruturascorporativas.
457.Nesseponto,alis,possvelafirmarquetodoolibidoacusado,
dequeascontasseriamdostrustsenodeleeque,portanto,elenoteriaodever
dedeclarar,sequerrelevanteparafinsdecaracterizaodocrimedelavagemde
dinheiro, pois se os ativos criminosos tivessem sido ocultados em contas de
estruturas corporativas independentes, ainda sim seria lavagem, no se
confundindo as condutas de ocultao e dissimulao somente com a falta de
declarao.
458.Assim,aprpriaafetaodosativoscriminososatrusts,como
propsitodecontornaraobrigaodedeclarar,constituiria,porsis,lavagemde
dinheiro.
459.Repitase,portanto,seosativoscriminososfossemescondidos
em contas em nome de offshores ou em contas de estruturas corporativas
independentes, como os trusts, ainda assim haveria lavagem de dinheiro, sendo
incuoolibidoacusadoaessserespeito.
460. De todo modo, em realidade, conforme visto, os trusts, no

presentecaso,notinhamdefatoindependnciaemrelaoaoacusadoEduardo
Cosentino da Cunha, tratandose de meras estruturas de papel utilizadas como
subterfgioparaqueeleocultasseosvaloreseasuarealtitularidade.Almdisso,
quantoaosvaloresrecebidosdaAcona,oprprioacusadoafirmou,emJuzo,ser
responsvel pelo seu recebimento e movimentao e que os trusts no teriam
administradoessesvalores.
461. S no foi bem sucedido na ocultao e dissimulao porque

descobertososativoseascontasnaassimchamadaOperaoLavajatoegraas
fundamentalevaliosacooperaodasautoridadessuas.
462. Quanto ao dolo de ocultao e dissimulao, ele no s

infervel da prtica objetiva das condutas de ocultao e dissimulao, mas
tambm foi admitido pelo acusado em audincia que ele preferiu abrir as contas
em nome de trusts com o objetivo deliberado, mas equivocado, de furtarse s
obrigaeslegaisdedeclarao(itens400).
463.Portanto,foiumcrimedecorrupopassivaedoisdelavagem
dedinheiro.
464. Por fim quanto a esse tpico, fica claro que o recebimento
dessesvaloreseasuaocultaoedissimulaonoconstituemmerorecebimento
dedoaeseleitoraisinformais,ouseja,ocaixadoiseleitoral.Afinal,osvalores
tmorigememcontratodaPetrobrs,forampagosemcontassecretasnoexteriore
permaneceram no exterior ocultados at o sequestro, sem qualquer utilizao em
campanhaeleitoral.Alis,sequerfoiinvocadolibidaespcie.Ocasoilustraque
possvel separar corrupo e lavagem de dinheiro do caixa dois eleitoral e que
esta distino se realiza no campo probatrio, sendo sempre necessria prova
categrica.

II.10
465. Alm desses crimes, imputase ao acusado o crime de evaso

fraudulentadedivisas,modalidadedapartefinaldopargrafonicodoart.22da
Lein7.492/1986,porqueelenoteriadeclaradoaoBancoCentraldoBrasiloua
Receita Federal os saldos existentes nas contas em nome da Orion S/P, da
NethertonInvestmentsedaTriumphSP,entre31/12/2007a31/12/2014.Ascontas
emnomedaOrionSPedaNethertonInvestmentsjforamexaminadasnositens
253284,retro.
466. A Triumph SP, titular de outra conta, igualmente um trust,

comendereoformalemEdimburgo,naEsccia,quetemEduardoCosentinoda
Cunha como seu beneficirio final, conforme documentos juntados aos autos
relativamenteconta466857mantidanoBancoJuliusBaer(sucessordoMerrill
LynchBank),emGenebra,naSua(fls.94286,arquivoapinqpol18doevento2
daaopenal505160623.2016.4.04.7000,apenso03doinqurito).Destaquemse
em especial as fls. 97, 99100, 142, 158, 171 e 176209, com o apontamento de
queEduardoCosentinodaCunhaotitularcontrolador,inclusivecomcpiasde
documentos pessoais e diversas descries do perfil do cliente (nas referidas fls.
176e209).
467. Segue ela o mesmo modelo que a Orion SP e a Netherton

Investments.
468. Por outro lado, o MPF, com base nos extratos bancrios das
contas,identificouossaldosnelamantidosentre31/12/2007a31/12/2014(fls.80,
81,87e88dadenncia),todossuperioresacemmildlares.
469. Por outro lado, como visto nos itens 308310, Eduardo
CosentinodaCunhanodeclarouascontas,nodeclarouosativosnelamantidos
enodeclaroudireitosqueteriaemrelaoaostrusts.
470.Tambmcomovisto,nohfalarquenohaveriaobrigaode
declarar, uma vez que os trusts, no caso concreto, no tinham personalidade
jurdica independente do prprio acusado, que no s era o beneficirio
proprietrio dos ativos, como consignado expressamente nos documentos das
contas,mastambmcontrolavaasuamovimentao,comoficouevidenciadonos
ativosrecebidosdaAconaInternational.
471. A conta em nome da Orion SP teve os seguintes saldos no

perodo delitivo, USD 1.146.792,00 em 31/12/2008, USD 2.402.913,00 em
31/12/2009, USD 1.661.123,00 em 31/12/2010, USD 2.522.520,00 em
31/12/2011, USD 2.445.835,00 em 31/12/2012 e USD 2.226.181,00 em
31/12/2013,correspondenteavaloreseaes.
472. A conta em nome da Netherton Investments teve o saldo de

31/12/2014em31/12/2014.
473. A conta em nome da Triumph teve os seguintes saldos no

perodo delitivo, USD 4.216.599,00 em 31/12/2007, USD 1.438.104,00 em
31/12/2008, USD 1.900.783,00 em 31/12/2009, USD 2.182.988,00 em
31/12/2010, USD 1.688.159,00 em 31/12/2011, USD 1.098.776,00 em
31/12/2012eUSD892.546,00em31/12/2013
474.Apesardacaracterizaodoselementostpicosdocrimedoart.
22,pargrafonico,daLein7.492/1986,amesmacondutatpicaemrelaoao
crimedelavagem,poisosativossecretostmorigemenaturezacriminosa,jque
constituem vantagem indevida decorrente do crime de corrupo e que foi
recebidadaAconaInternational
475.Nessecaso,amelhorinterpretaoreputarocrimedeevaso
absorvidopelodelavagem.
476. No atual contexto econmico de flexibilizao do cmbio, no

qual brasileiros, salutarmente, podem remeter, livremente, valores ao exterior,
desde que cumpridos os deveres de declarao, o art. 22 da Lei n. 7.492/1986,
no mais protege o bem jurdico "divisas", mas sim a transparncia nos fluxos
internacionaisderecursos.Nessacondio,hconfusocomocrimedelavagem,
quecompreendecondutasdeocultaoedissimulao,tambmprotegendo,entre
outros bens jurdicos, a transparncia das transaes finaceiras. Tratandose o
crimedelavagemdecondutamaisgravosaeapenadomaisrigorosamente,ocrime
de evaso deve ser reputado como absorvido pelo de lavagem, quando os ativos
nodeclaradostenhamorigemenaturezacriminosa.
477.EntodaimputaoemrelaoscontasemnomedaOrionSP,
a partir de 2011, pois os ativos criminosos foram recebidos, entre 30/05/2011 a
23/06/2011, e da Netherton Investments, que recebeu os valores da Orion SP,
Eduardo Cosentino da Cunha deve ser absolvido, pela absoro da evaso pela
lavagem.
478.Deve,pormsercondenado,pelafaltadedeclaraodosativos
mantidos na conta em nome da Orion SP entre 31/12/2008 a 31/12/2010, e dos
ativosmantidosnacontaemnomedaTriumphSPentre31/12/2007a31/12/2013.
479.Reputopresentesumcrimedeevasofraudulentadedivisasem
relaoacadaconta,jqueossaldosultrapassavam,emcadaumadelas,olimites
apartirdosquaiseraobrigatriaadeclarao.OprecedenteinvocadopelaDefesa
na fl. 184 das alegaes finais s pertinente se, em cada conta, no for
ultrapassadoolimitecujadeclaraoobrigatria.
480.Considerandoadescriotpicadoart.22daLein7.492/1986
("mantiverdepsitosnodeclarados"),ocasodereconhecer,emrelaoaosaldo
de cada conta, crime permanente, ainda que a omisso em declarar ocorra ano a
ano.
481.Foram,portanto,doiscrimesdeevasofraudulentadedivisas,
emrelaoaosquaisdeveserreconhecidaacontinuidadedelitiva.
482.Entreoscrimesdeevasofraudulenta,corrupoelavagemh
concursomaterial.
III.DISPOSITIVO
483. Ante o exposto, julgo PARCIALMENTE PROCEDENTE a

pretensopunitiva.
484.AbsolvoEduardoCosentinodaCunha:
a) da imputao de crime de lavagem de dinheiro em relao

transfernciadeUSD165.000,00em04/08/2014dacontaemnomedaNetherton
paraacontaemnomedaKpek,jqueessesvaloresnoforamprovenientesde
vantagemindevidadecorrentedocontratodeaquisiopelaPetrobrsdosdireitos
deexploraodoBloco4emBenin
b) da imputao dos crimes de evaso de divisas em relao

omissoemdeclararosaldodacontaemnomedaNethertoneossaldosdaconta
em nome da Orion entre 2008 a 2010, por reputlos absorvidos pelo crime de
lavagemdedinheiro.
485.CondenoEduardoCosentinodaCunha:
a)porumcrimedecorrupopassivadoart.317doCP,comacausa
deaumentonaformado1domesmoartigo,pelasolicitaoerecebimentode
vantagem indevida no contrato de aquisio pela Petrobrs dos direitos de
exploraodoBloco4emBenin
b)portrscrimesdelavagemdedinheirodoart.1,caput,daLein.
9.613/1998, pelo recebimento e movimentao posterior de produto de crime de
corrupo,mediantecondutasdeocultaoedissimulao,envolvendoascontas
emnomedaOrionSPeNethertonInvestmentse
c) por dois crimes de evaso fraudulenta de divisas do art. 22,

pargrafonico,partefinal,daLein7.492/1986,pelamanutenodedepsitos
nodeclaradosnoexterior
486.Atentoaosdizeresdoartigo59doCdigoPenalelevandoem
considerao o caso concreto, passo individualizao e dosimetria das penas a
seremimpostasaocondenado.
487.EduardoCosentinodaCunha
Crime de corrupo passiva: Eduardo Cosentino da Cunha

responde a outras aes penais (ao penal 6020383.2016.4.01.3400 em trmite
perantea10VaraCriminalFederaldeBraslia,eantigaaopenal982peranteo
Supremo Tribunal Federal enviada ao Tribunal Regional Federal da 2 Regio),
mas no foi ainda por elas julgado. Ento ser considerado como tendo bons
antecedentes. Conduta social, motivos, comportamento da vtima so elementos
neutros. Circunstncias devem ser valoradas negativamente. A prtica do crime
corrupo envolveu o recebimento de cerca de um milho e quinhentos mil
dlares,considerandoapenasaparteporelerecebida,oqueumvalorbastante
expressivo, atualmente de cerca de R$ 4.643.550,00. Consequncias tambm
devemservaloradasnegativamente,poisosvciosprocedimentaisnaaquisiodo
Bloco 4 em Benin geraram um prejuzo estimado Petrobrs de cerca de 77,5
milhes de dlares, conforme clculo realizado pela Comisso Interna de
ApuraodaPetrobrs(item235).Acorrupocompagamentodepropinadeum
milhoequinhentosmildlaresetendoporconsequnciaprejuzoaindasuperior
aos cofres pblicos merece reprovao especial. A culpabilidade elevada. O
condenado recebeu vantagem indevida no exerccio do mandato de Deputado
Federal,em2011.Aresponsabilidadedeumparlamentarfederalenormee,por
conseguinte,tambmasuaculpabilidadequandopraticacrimes.Nopodehaver
ofensa mais grave do que a daquele que trai o mandato parlamentar e a sagrada
confianaqueopovoneledepositaparaobterganhoprprio.Agiu,portanto,com
culpabilidade extremada, o que tambm deve ser valorado negativamente. Tal
vetorialtambmpoderiaserenquadradacomonegativaattulodepersonalidade.
Considerando trs vetoriais negativas, de especial reprovao, fixo, para o crime
decorrupoativa,penadequatroanoseseismesesderecluso.
Nohatenuantesouagravantesaseremreconhecidas.Aagravante
pretendidapeloMPF,doart.61,II,g,doCP,inerenteaocrimedecorrupo.
Tendo havido a prtica de atos de ofcio com infrao do dever

funcional, aplico a causa de aumento do 1 do art. 317 do CP, elevandoa para
seisanosderecluso.
Fixomultaproporcionalparaacorrupoemcentoecinquentadias
multa.
Considerando a dimenso dos crimes e especialmente a capacidade

econmica de Eduardo Cosentino da Cunha ilustrada pelos recursos de mais de
dois milhes de dlares que mantinha no exterior, fixo o dia multa em cinco
salriosmnimosvigentesaotempodoltimofatodelitivo(06/2011).
Crimesdelavagem:EduardoCosentinodaCunharespondeaoutras
aespenais(aopenal6020383.2016.4.01.3400emtrmiteperantea10Vara
CriminalFederaldeBraslia,eantigaaopenal982peranteoSupremoTribunal
FederalenviadaaoTribunalRegionalFederalda2Regio),masnofoiaindapor
elas julgado. Ento ser considerado como tendo bons antecedentes. Conduta
social, motivos, comportamento da vtima so elementos neutros. Circunstncias
devem ser valoradas negativamente. A lavagem, no presente caso, envolveu
especial sofisticao, com a utilizao de no uma, mas duas contas secretas no
exterior, em nome de trusts diferentes, com transaes entre elas, inclusive com
fracionamento quando do recebimento do produto do crime para dificultar
rastreamento.Talgraudesofisticaonoinerenteaocrimedelavagemedeve
ser valorado negativamente a ttulo de circunstncias (a complexidade no
inerenteaocrimedelavagem,conformeprecedentedoRHC80.816/SP,Rel.Min.
SeplvedaPertence,1TurmadoSTF,un.,j.10/04/2001).Consequnciasdevem
servaloradasnegativamente.Alavagemenvolveaquantiasubstancialdecercade
um milho e quinhentos mil dlares. A lavagem de significativa quantidade de
dinheiromerecereprovaoattulodeconsequncias.Aculpabilidadeelevada.
O condenado realizou condutas de ocultao e dissimulao, entre 2011 a 2014,
quandonoexercciodomandatodeDeputadoFederal.Aresponsabilidadedeum
parlamentar federal enorme e, por conseguinte, tambm a sua culpabilidade
quando pratica crimes. No pode haver ofensa mais grave do que a daquele que
traiomandatoparlamentareasagradaconfianaqueopovoneledepositoupara
obterganhoprprio.Agiu,portanto,comculpabilidadeextremada,oquetambm
deve ser valorado negativamente. Tal vetorial tambm poderia ser enquadrada
comonegativaattulodepersonalidade.Considerandotrsvetoriaisnegativas,de
especialreprovao,fixo,paraocrimedelavagemdedinheiro,penadecincoanos
derecluso.
Nohatenuantesouagravantes.
Fixomultaproporcionalparaalavagememcentoedezdiasmulta.
Entre todos os crimes de lavagem, reconheo continuidade delitiva.

Considerandoaquantidadedecrimes,dois,elevoapenadocrimemaisgraveem
1/6,chegandoelaacincoanosedezmesesdereclusoecentoevinteesetedias
multa.

Crimedeevasodedivisas:EduardoCosentinodaCunharesponde
aoutrasaespenais(aopenal6020383.2016.4.01.3400emtrmiteperantea
10VaraCriminalFederaldeBraslia,eantigaaopenal982peranteoSupremo
TribunalFederalenviadaaoTribunalRegionalFederalda2Regio),masnofoi
ainda por elas julgado. Ento ser considerado como tendo bons antecedentes.
Condutasocial,motivos,consequncias,comportamentodavtimasoelementos
neutros. Circunstncias devem ser valoradas negativamente, considerando o
montante elevado dos valores cuja declarao foi omitida (itens 471 e 472). A
culpabilidadeelevada.Ocondenadorealizourealizouascondutasdelitivas,entre
2007 a 2014, quando no exerccio do mandato de Deputado Federal. A
responsabilidadedeumparlamentarfederalenormee,porconseguinte,tambm
asuaculpabilidadequandopraticacrimes.Nopodehaverofensamaisgravedo
que a daquele que trai o mandato parlamentar e a sagrada confiana que o povo
nele depositou para obter ganho prprio. Agiu, portanto, com culpabilidade
extremada,oquetambmdeveservaloradonegativamente.Talvetorialtambm
poderia ser enquadrada como negativa a ttulo de personalidade. Considerando
duas vetoriais negativas, de especial reprovao, fixo, para o crime de evaso
fraudulentadedivisas,penadetrsanosderecluso.
Nohatenuantesouagravantes.
Fixo multa proporcional para a lavagem em noventa e cinco dias

multa.
Entre todos os crimes de evaso, reconheo continuidade delitiva.

Considerandoaquantidadedecrimes,dois,elevoapenadocrimemaisgraveem
1/6,chegandoelaatrsanoseseismesesdereclusoecentoesetediasmulta.

Entreoscrimesdecorrupo,delavagemedeevasofraudulentade
divisas,hconcursomaterial,motivopeloqualaspenassomadaschegamaquinze
anosequatromesesderecluso,quereputodefinitivasparaEduardoCosentinoda
Cunha.Quantospenasdemulta,devemserconvertidasemvaloresomadas.
Considerando as regras do art. 33 do Cdigo Penal, fixo o regime

fechado para o incio de cumprimento da pena. A progresso de regime para a
penadecorrupofica,emprincpio,condicionadaefetivadevoluodoproduto
docrime,nocasoavantagemindevidarecebida,nostermosdoart.33,4,doCP.
488.Emdecorrnciadacondenaopelocrimedelavagem,decreto,
combasenoart.7,II,daLein9.613/1998,ainterdiodeEduardoCosentinoda
Cunha, para o exerccio de cargo ou funo pblica ou de diretor, membro de
conselho ou de gerncia das pessoas jurdicas referidas no art. 9 da mesma lei
pelodobrodotempodapenaprivativadeliberdade.
489.Operodoemqueocondenadoficoupresodevesercomputado
parafinsdedetraodapena(item43).
490. Considerando que a vantagem indevida recebida por Eduardo

CosentinodaCunhafoidepositadanacontaOrionSP,depoisfoitransferidaparaa
contaemnomedaNethertonSP,decretooconfiscodosvaloresbloqueadospelas
autoridades suas na conta em nome da Netherton SP e que corresponde aos
valoresqueforamrecebidosdaOrionSP,acrescidosdosinteresseserendimentos
deaplicaesfinanceiras,issonomontantedecercade2.348.000francossuos
em 17/04/2015, o equivalente atualmente a USD 2.365.532,63 ou a R$
7.286.313,60.Aefetivaodoconfiscodependerdacolaboraodasautoridades
suasemcooperaojurdicainternacional.
491. Necessrio estimar o valor mnimo para reparao dos danos

decorrentes do crime, nos termos do art. 387, IV, do CPP. Apesar da Comisso
Interna de Apurao da Petrobrs ter apontado um prejuzo de cerca de 77,5
milhes de dlares, reputo mais apropriado fixar um valor mais conservador,
correspondente ao montante da vantagem indevida recebida, de um milho e
quinhentosmildlares.Trataseaquidovalordaindenizaomnima,oqueno
impede a Petrobrs ou o MPF de perseguirem valores, no cvel, adicionais. Os
USD1,5milhodevemserconvertidospelocmbiode23/06/2011(1,58)eaeles
agregados juros de mora de 0,5% ao ms. Os valores so devidos Petrobrs.
Evidentemente, no clculo da indenizao, devero ser descontados os valores
efetivamenteconfiscados.
492.Deverocondenadotambmarcarcomascustasprocessuais.
493. No curso da ao penal, foi decretada, a pedido do Ministrio

Pblico Federal, a priso preventiva do condenado Eduardo Cosentino da Cunha
(deciso de 17/10/2016, evento 3, do processo 505221166.2016.4.04.7000). A
prisofoiimplementadaem19/10/2016eeleremanescepreso.
494. A Defesa impetrou habeas corpus perante o Egrgio Tribunal

RegionalFederalda4RegioequefoidenegadounanimidadepelaColenda8
Turma,RelatoroilustreDesembargadorFederalJooPedroGebranNeto:
"OPERAO LAVAJATO'. HABEAS CORPUS. CDIGO DE PROCESSO

PENAL. PRISO PREVENTIVA. ANTERIOR INDEFERIMENTO DA PRISO
PELO STF. INEXISTNCIA. DECISO QUE JULGOU PREJUDICADA A
PROMOO MIISTERIAL. MATERIALIDADE E INDCIOS DE AUTORIA.
PRESENA DOS REQUISITOS. CRIMES CONTRA A ADMINISTRAO
PBLICA.COMPLEXOENVOLVIMENTODOCRIMINOSO.
1. No se h de falar em violao deciso anterior do Supremo Tribunal

Federal que julgou prejudicada a promoo ministerial em razo da perda do
mandato parlamentar do paciente. Hiptese em que se verifica que a Corte
Supremanoenfrentouomritodaprisopreventivarequerida,oqueautorizaa
apreciaopelojuzodeprimeirograuaoqualfoiremetidooprocesso.
2. A priso provisria medida rigorosa que, no entanto, se justifica nas

hiptesesemquepresenteanecessidade,realeconcreta,paratanto.
3.Paraadecretaodaprisopreventivaimprescindvelapresenadofumus
commissidelicti,ouseja,provadaexistnciadocrimeeindciossuficientesde
autoria,bemcomodopericulumlibertatis,riscoordempblica,instruoou
aplicaodaleipenal.
4.Emgrupocriminosocomplexoedegrandesdimenses,aprisocautelardeve
ser reservada aos investigados que, pelos indcios colhidos, possuem o domnio
do fato, como os representantes das empresas envolvidas no esquema de
cartelizao,ouqueexercempapelimportantenaengrenagemcriminosa.
5. Havendo prova da participao do paciente em crimes de corrupo e

lavagem de capitais, todos relacionados com fraudes em contratos pblicos dos
quaisresultaramvultososprejuzosasociedadedeeconomiamistae,namesma
proporo,emseuenriquecimentoilcitoedeterceiros,justificaseadecretao
daprisopreventiva,paraagarantiadaordempblica(STJ/HCn302.604/RP,
Rel.MinistroNEWTONTRISOTTO,QUINTATURMA,julg.24/11/2014).
6. Materialidade e indcios suficientes de autoria caracterizados pela

transferncia de significativo numerrio entre contas situadas no exterior, em
nome de offshores das quais o paciente figura como controlador e beneficirio,
inclusivenocursodainvestigaoeapsasuanotoriedade.
7.Atentativarecentedeopacientedeobstruirinvestigaoemseudesfavorna
Cmara Federal, conjugada com relatos de intimidao de testemunhas e
tentativas de cooptao de parlamentares, revela o comportamento do paciente
tendenteaembaaroprocessopenal.
8. A existncia de depsitos no exterior ainda no integralmente identificados

reforam a necessidade da priso preventiva com a finalidade de frustrar a
reiteraodelitivaeeventualintenodedesfazimentopatrimonial.
9.Ateordoart.282,6,doCdigodeProcessoPenal,indevidaaaplicao
demedidascautelaresdiversas,quandoasegregaoencontrasejustificadana
probabilidade efetiva de continuidade no cometimento da grave infrao
denunciada (RHC 50.924/SP, Rel. Ministro JORGE MUSSI, QUINTA TURMA,
DJe23/10/2014).
10. Ordem de habeas corpus denegada." (HC 504679738.2016.4.04.0000, Rel.

Des.FederalJooPedroGebranNeto,un.,j.30/11/2016)
495.Deformasemelhante,noEgrgioSuperiorTribunaldeJustia,
foi impetrado o HC 382.493, que foi negado, por unanimidade de votos, pela
Colenda 5 Turma, Relator o eminente Ministro Felix Fischer. Transcrevese a
ementa:
"OPERAO LAVAJATO. PRISO PREVENTIVA DECRETADA COM

FUNDAMENTONAGARANTIADAORDEMPBLICA,NACONVENINCIA
DA INSTRUO CRIMINAL, E PARA ASSEGURAR AAPLICAO DA LEI
PENAL. ORDEM DE HABEAS CORPUS DENEGADA NA INSTNCIA
INFERIOR,SENDOMANTIDAAPRISO.
IMPETRAO DE NOVO HABEAS CORPUS, EM SUBSTITUIO AO

RECURSOCABVEL(ART.105,II,"a",daCF),PARAANULARODECRETO
PRISIONAL. NO CABIMENTO. AUSNCIA, NO MAIS, DE ILEGALIDADE
MANIFESTA A JUSTIFICAR A CONCESSO DE OFCIO DA ORDEM ( 2
DO ART. 654 DO CPP). HABEAS CORPUS NO CONHECIDO. DECISO
DEVIDAMENTEFUNDAMENTADA.PRISOREVENTIVAMANTIDA.
I Sedimentouse o entendimento no sentido de no se admitir a impetrao de

Habeas Corpus em substituio ao recurso previsto em lei, prestigiandose,
assim, o sistema recursal vigente e a prpria eficincia da prestao
jurisdicional, que fica prejudicada com o uso desmedido e abusivo de Habeas
Corpusimpetradoemsubstituioaorecursocabvel.
II Priso preventiva devidamente fundamentada, no havendo flagrante

constrangimento ilegal, hbil a justificar a atuao, de oficio, deste Superior
TribunaldeJustia,nosentidodeconcederaordem(2doart.654doCPP).
III A existncia de aes penais e de vrios inquritos policiais para apurar

supostoscrimespraticadoscontraaAdministraoPblicafundamentoidneo
parasustentardecretodeprisopreventivacomafinalidadedegarantiraordem
pblica,evitandoseoriscodehaverreiteraodelitiva.
IVAmenoadiversosfatospraticadospeloPacientecomofimdeatrapalhar
investigaesfundamentovlidoparasedecretaraprisopreventivacombase
naconveninciadainstruocriminal.
VHavendoindciosdaexistnciadecontassecretasnoexterior,cujasquantias
ainda no foram rastreadas nem sequestradas, e receio de que, estando em
liberdade, o Paciente possa dissimular, desviar ou ocultar a origem de tais
quantias, justificase o decreto de priso preventiva, pois tal possibilidade
impedeosequestroeprejudica,assim,aaplicaodaleipenal.
VI Habeas Corpus no conhecido, ficando mantida a priso preventiva

decretada. " (HC 382.493 Rel. Min. Felix Fischer 5 Turma do STJ un. j.
21/03/2017)
496. Perante este Juzo, houve pedido de revogao da priso

preventivaequefoidenegadopeladecisode10/02/2017noprocesso5004111
46.2017.4.04.7000(evento6).
497. Com a prolao da sentena, reforamse os pressupostos da

preventiva. No h mais somente boa prova de autoria e de materialidade, mas
certeza,aindaqueasentenaestejasujeitarecursos.
498.Quantoaosfundamentos,remetoaolongamenteexpostonos
nadecisodedecretaodapreventiva,mastambmnadecisoquedenegouasua
revogao.
499.Sintetizando,comoalifundamentado,nohexagero,comose
afirma equivocadamente, nas prises preventivas decretadas na assim chamada
Operao Lavajato. Atualmente, h oito pessoas submetidas a priso preventiva
semjulgamento.Comaprolaodapresentesentena,agorasomentesete.
500. A medida necessria para proteger a ordem pblica da

reiterao delitiva em um contexto de corrupo sistmica e que, de forma
surpreendente, envolvia at mesmo o exPresidente da Cmara dos Deputados,
agentepolticodeenormepodereinflunciaeterceironasucessodaPresidncia
daRepblica.
501. Por outro lado, persiste o risco de dissipao de ativos, com a

prtica de novos crimes de lavagem de dinheiro pelo condenado, uma vez que o
confiscoordenadoporesteJuzoaindanofoiefetivado,estandoasuaefetivao
a depender dos desdobramentos do processo em outro pas, e ainda no houve
aindaidentificaocompletadetodosospossveiscrimesdocondenadoEduardo
CosentinodaCunha,nemdetodooseupatrimnio.
502.Ilustrativamente,nadecisodapreventiva(item121),jhavia
consignado relato de dirigente de empreiteira que teria pago propina em outras
contas no exterior em favor de Eduardo Cosentino da Cunha, isso inclusive
quandojestavaemandamentoasinvestigaesdaassimdenominadaOperao
Lavajato:
"121. Tambm nela apontado [na deciso de afastamento de Eduardo Cosentino

daCunhadomandatoparlamentar]queoenvolvimentodeEduardoCosentinoda
CunhaemcrimesenvolvendorecursosdoFIFGTSeobrasnoPortoMaravilha
foiobjetodedepoimentosdedirigentesdaCariocaEngenhariaequerelataram
nosopagamentodepropinas,masarealizaodelaemduascontassecretas
no exterior, uma no Israel Discount Bank, outra aparentemente no Banco BSI,
embenefciodoentoparlamentar:
"EssesindciossocorroboradospelosempresriosRicardoPernambuco
e Ricardo Pernambuco Jnior, no mbito de colaborao premiada, em
que declararam a realizao de pagamentos de vantagens indevidas a
EduardoCunharelacionadasaoFIFGTS:
'QueoPortoMaravilhaumaParceriaPblicoPrivada(PPP)daregio
porturia do Rio de Janeiro, visando revitalizar a regio (...) QUE seu
pailhecomunicouqueLEOPINHEIRO,daOAS,eBENEDITOJUNIOR,
daODEBRECHT,nareuniodoHotelSOFITEL,comunicaramquehavia
umasolicitaoeumcompromissocomoDeputadoEDUARDOCUNHA,
em razo da aquisio, pelo FIFGTS, da totalidade das CEPAC's QUE
ovalordestinadoaEDUARDOCUNHAseriade1,5%dovalortotaldas
CEPAC's, o que daria em torno de R$ 52 milhes de reais devidos pelo
consrcio,sendoR$13milhesdereaisacotapartedaCARIOCAQUE
este valor deveria ser pago a EDUARDO CUNHA em 36 parcelas
mensais(...)'
'QUE,emboranoconheaafundocomofuncionaoFIFGTS,odepoente
temapercepoqueEDUARDOCUNHAeraumapessoamuitofortena
CEF QUE, do contrrio, inclusive, as empresas OAS e ODEBRECHT
no aceitariam pagar tais valores QUE a empresa do depoente deveria
arcar com 25% do valor, proporcional sua participao no consrcio
QUE referido percentual equivalia a aproximadamente R$ 13 milhes de
reais [] QUE EDUARDO CUNHA deu uma conta de um banco
chamado ISRAEL DISCOUNT BANK para fazer a transferncia de parte
dosvaloresQUEestaprimeiratransfernciarealmentefoifeitaQUEo
depoente preparou uma tabela, com data, conta de onde saiu e do
destinatriodosvalores,nomontantetotaldeUS$3.984.297,05QUEem
relaoaestastransfernciastemabsolutacertezaqueforamdestinadas
para EDUARDO CUNHA [] QUE os valores foram pagos at
setembrode2014(...)QUE,comefeito,odepoenteefetuoutransferncia
no valor de 181 mil francos suos em 24.04.2012, dois dias antes do
referido email, da conta 206 266409.011, no banco UBS, para conta da
offshore PENBUR HOLDINGS, que o depoente acredita ser mantida
noBancoBSIQUEnatabelaanexaovalorde181milfrancossuoso
equivalenteaUS$198.901,10dlaresamericanos(...)'"
503. Sobre essas contas, no houve, desde a deciso, qualquer

esclarecimento do condenado ou de sua Defesa, havendo, portanto, fundada
suspeita de que ele tenha outros ativos no exterior, ainda fora do alcance das
autoridades brasileiras e que podem ser dissipados, atravs de novos atos de
lavagem, impondose a priso preventiva como mecanismo dissuassrio, como
muitobemfundamentadonovotodoeminenteMinistroFelixFischernoaludido
HC382.493/PR.
504.Issosemolvidaralistaexpressivadeaespenaiseinquritos
aosquaisocondenadoresponde,tambmindicadosnareferidadeciso(itens114),
a ilustrar indcios de seu envolvimento na prtica serial e profissional de crimes
contra a Administrao Pblica e de que possui muito mais ativos criminosos
ocultadosdoqueosoraconfiscados.Novamente:
Inqurito 4.207 para apurar suposta solicitao e recebimento de

propinasnoprojetoPortoMaravilha,noRiodeJaneiro,elavagemdedinheiro
Inqurito4.231paraapurarsupostoabusodepoderconsistentena
apresentao de requerimentos no parlamento para extorquir adversrios do
intermediadordepropinasLcioBolonhaFunaro
Inqurito 4.232 para apurar supostos crimes de corrupo passiva

no favorecimento de instituio financeira por emendas parlamentares
apresentadaspeloentodeputadofederal
Inqurito 4.245 para apurar supostos crimes de corrupo passiva

emcontratosdeFurnase
Inqurito4.266paraapurarsupostoscrimesenvolvedodesviosde
fundosdeinvestimentosadministradospelaCaixaEconmicaFederal.
505.Algunsdessesinquritosjderamorigemaaopenais,comoa
ao penal 6020383.2016.4.01.3400 em trmite perante a 10 Vara Criminal
Federal de Braslia (Operao Spsis) e a ao penal 982 que foi enviada pelo
Supremo Tribunal Federal ao Tribunal Regional Federal da 2 Regio e mais
recentementedesteaesteJuzo(aindasemrecebimentodosautos).
506.Tambmhriscoinstruo,nasaespenaiseinvestigaes
penaisemandamento,e,deumaformamaisampla,prpriaconclusoregulardo
presenteprocesso,considerandoopodereainflunciapolticadocondenadoeo
comportamento pretrito por ele adotado de turbar procedimentos que poderiam
levarasuaresponsabilizao.
507.Oportunolembrarque,aoserdecretadaapreventiva,reportei
me,nareferidadeciso,noaconstruesprprias,mas,emsuagrandemaioria,a
argumentos que foram utilizados pelo eminente Ministro Teori Zavascki na
decisode04/05/2016naAoCautelar4070/DF,naqualfoideferidopedidodo
Exmo.ProcuradorGeraldaRepblicadeafastamentocautelardoentoDeputado
FederalEduardoCosentinodaCunhadaPresidnciadaCmaradosDeputados.
508.Alisorelatados,peloeminenteMinistroTeoriZavascki,nos
o carter serial, em cognio sumria, das atividades criminais de Eduardo
CosentinodaCunha,comatuaodiretaoucomautilizaodeterceiros,inclusive
de outros parlamentares federais (segundo o Ministro Teori Zavascki), para
extorquireintimidarempresrioseterceiros,paraobtervantagemindevida,para
pressionarouretaliartestemunhas,inclusivecolaboradoresnaOperaoLavajato,
eatmesmoadvogadosdetestemunhasoudecolaboradores.
509.Noocasoaquiderepetirolongorelatoconstantenadeciso
dapreventiva.
510.Alitambmconsigneiqueaperdadomandatoparlamentarno
excluaoriscodacontinuidadedecrimes,decorrupo,extorseseintimidaes:
"NoessaacompreensodesteJuzo,considerandooprpriomodusoperandi
doacusado.ComexceodoepisdiodademissodoDiretordeInformticada
Cmara, em todos os demais, o acusado Eduardo Cosentino da Cunha agiu
subrepticiamente, valendose de terceiros para obstruir ou intimidar. Embora a
perda do mandato represente provavelmente alguma perda do poder de
obstruo,essenofoitotalmenteesvaziado,desconhecendoseatomomentoa
total extenso das atividades criminais do exparlamentar e a sua rede de
influncia. Ilustrativamente, no episdio envolvendo a intimidao do relator do
processo no Conselho de tica, no foi um terceiro parlamentar o portador da
ameaa.
O exparlamentar ainda tido por alguns como algum que se vale, com
frequncia, de mtodos de intimidao. O prprio Jlio Gerin de Almeida
Camargo,umdosprimeirosquerevelouaparticipaodeEduardoCosentinoda
Cunha no esquema criminoso da Petrobrs, afirmou em Juzo que ocultou os
fatos em seus primeiros depoimentos por medo das consequncias (ao penal
508383859.2014.4.04.7000)."
511.OcursodaaopenaldeuaindamaisrazoaesteJuzoeaos
argumentosemprestadosdoeminenteMinistroTeoriZavascki.
512. Nem mesmo a priso preventiva de Eduardo Cosentino da

Cunhaoimpediudeprosseguircomomesmomodusoperandi,japontadopelo
eminenteMinistroTeoriZavascki,deextorso,ameaaeintimidaes.
513. Sequer se sentiu tolhido de utilizar, para tanto, o processo

judicial, como fazia anteriormente, segundo os indcios relatados pelo eminente
Ministro Teori Zavascki, no processo legislativo, com requerimentos
parlamentares de mo prpria ou de terceiros e que veiculavam simuladas
extorsesouameaas.
514. Afinal, essa interpretao cabvel em relao parte dos

quesitos que ele apresentou nesta ao penal para serem dirigidos ao Exmo. Sr.
PresidentedaRepblica(evento136).
515. A pretexto de instruir a ao penal, Eduardo Cosentino da

CunhaapresentouvriosquesitosdirigidosaoExmo.Sr.PresidentedaRepblica
quenadadiziamrespeitoaocasoconcreto.Destacoemespecialosseguinteseque
notmamnimarelaocomoobjetodaaopenal:
"35QualarelaodeVossaExcelnciacomoSr.JosYunes?
36 O Sr. Jos Yunes recebeu alguma contribuio de campanha para alguma

eleiodeVossaExcelnciaoudoPMDB?
37CasoVossaExcelnciatenharecebido,ascontribuiesforamrealizadasde
formaoficialounodeclarada?"
516.Taisquesitos,absolutamenteestranhosaoobjetodaaopenal,
tinham por motivo bvio constranger o Exmo. Sr. Presidente da Repblica e
provavelmentebuscavamcomissoprovocaralgumaespcieintervenoindevida
dapartedeleemfavordopreso,oquenoocorreu.
517.Issosemolvidaroutrosquesitosdecarterintimidatriomenos
evidente.
518. Evidentemente, tais quesitos, entre outros, foram indeferidos

poresteJuzonadecisode28/11/2016(evento138),jquenosepodepermitir
queoprocessojudicialsejautilizadoparaessafinalidade,ouseja,paraqueparte
transmitaameaas,recadosouchantagensaautoridadesouatestemunhasdefora
doprocesso.
519. A conduta processual do condenado Eduardo Cosentino da

Cunhanoepisdioapenasrevelaquesequeraprisopreventivafoisuficientepara
fazlo abandonar o modus operandi, de extorso, ameaa e chantagem, que foi
objetodelongadescrionapreventivaeaindanadecisode04/05/2016naAo
Cautelar4070/DFdoeminenteMinistroTeoriZavascki.
520. Portanto, remanescem ntegros e, alis, reforados os

pressupostos e fundamentos da preventiva decretada em 17/10/2016 e mantida
peladecisode10/02/2017.
521. Agregamse aqui, portanto, novos fatos priso preventiva

anteriormente decretada, com novos fundamentos para o seu reforo e
fundamentao,pois,comoexposto,ocondenado,mesmopresopreventivamente
erespondendopresenteaopenal,buscouintimidareconstrangeroExmo.Sr.
Presidente da Repblica e com isso, aparentemente, provocar alguma espcie
intervenoindevidadapartedeleemfavordopreso.
522.Paraevitarqualquermalentendido,nohqualquerregistrode
que o Exmo. Sr. Presidente da Repblica tenha cedido a essa tentativa de
intimidao.
523.IgualmentenopodeoJudiciriocederaqualquertentativade
chantagem..
524. Esse comportamento incomum, de tentativa de utilizao do

processo judicial para constranger e chantagear autoridade pblicas, um fato
novoemrelaoprisopreventivadecretadae,comonovofundamento,reforaa
necessidadedesuamanuteno.
525. Na mesma linha, oportuno lembrar que o eminente Ministro

TeoriZavasckinosdecretouaprisopreventivadocmpliceesubordinadode
EduardoCosentinodaCunha,especificamenteLcioBolonhaFunaro,masteve
pelo menos duas oportunidades para revogar a priso preventiva de Eduardo
Cosentino da Cunha, mas assim no agiu. Com efeito, negou, em 04/11/2016,
seguimentoreclamaointerpostaporEduardoCosentinodaCunha,naqualse
pleiteava a cassao da priso preventiva por inexistente contrariedade deciso
doprprioMinistro,edenegou,em05/12/2016,aliminarenegouseguimentono
HC139.042noqualEduardoCosentinodaCunhapleiteavaliberdade.
526. Tais decises revelam que o Ministro Teori Zavascki tinha a

priso preventiva de Eduardo Cosentino da Cunha como necessria e s no a
decretou porque, em um primeiro momento, estava ele protegido pelo estatuto
peculiar do parlamentar federal, que probe a priso cautelar do parlamentar
federal salvo em casos de flagrante delito por crime inafianvel (art. 53, 2 da
Constituio Federal de 1988), e, em um segundo momento, aps a perda do
mandato, em decorrncia da consequente perda da competncia pelo Supremo
TribunalFederal.
527. Portanto, com reforo de fundamentao da priso preventiva

anterior,deverEduardoCosentinodaCunharesponderpresocautelarmente
eventualfaserecursal.
528.Umaltimaconsideraonessasentena.
529. A apurao e a definio das responsabilidades de Eduardo

Cosentino da Cunha, exPresidente da Cmara dos Deputados, s foi possvel
devidoacorageminstitucionaldaProcuradoriaGeraldaRepblicaedoEgrgio
SupremoTribunalFederal.
530. Especial destaque merece a deciso de 04/05/2016 de

afastamentocautelardoentoDeputadoFederalEduardoCosentinodaCunhada
Presidncia da Cmara dos Deputados. No s representou o afastamento de
pessoa envolvida em srias condutas criminais da Presidncia da Cmara, com
toda a gravidade desta circunstncia, mas igualmente possibilitou o andamento
normaldoprocessodecassaodeseumandatoparlamentar.
531. Necessrio reconhecer tambm o mrito posterior da prpria

Cmara dos Deputados que, sucessivamente, cassou o mandado parlamentar de
533.ApesardomritoinstitucionalecoletivodaProcuradoriaGeral
daRepblica,doEgrgioSupremoTribunalFederale,posteriormente,daprpria
Cmara dos Deputados, necessrio destacar o trabalho individual do eminente e
saudoso Ministro Teori Zavascki, relator da aludida ao cautelar. Por essa
deciso e por outras, o legado de independncia e de seriedade do Ministro
TeoriZavasckinoseresquecido.
534. A presente sentena e a priso consequente de Eduardo

Cosentino da Cunha constituem apenas mais uma etapa de um trabalho que foi
iniciadoeconduzidopeloeminenteMinistroTeoriZavascki.
535. No h melhor momento para recordar o legado de

independncia do Ministro Teori Zavaski do que agora, quando discutese a
aprovao de nova lei de abuso de autoridade que, sem as salvaguardas
necessrias,teroefeitoprticodecriminalizarainterpretaodaleiecomisso
colocar em risco a independncia judicial, subordinandoa ao interesse dos
poderosos.EsperaseeconfiasequeoCongressosaberprocedercomsabedoria
paraaadoodesalvaguardasexplcitaseinequvocas.
536.Transitadaemjulgado,lancemonomedocondenadonoroldos
culpados.Procedamsesanotaesecomunicaesdepraxe(inclusiveaoTRE,
paraosfinsdoartigo15,III,daConstituioFederal).
Curitiba,30demarode2017.
DocumentoeletrnicoassinadoporSRGIOFERNANDOMORO,JuizFederal,naformadoartigo1,
incisoIII,daLei11.419,de19dedezembrode2006eResoluoTRF4Region17,de26demarode
2010. A conferncia da autenticidade do documento est disponvel no endereo eletrnico
http://www.trf4.jus.br/trf4/processos/verifica.php, mediante o preenchimento do cdigo verificador
700003162910v51edocdigoCRCf10747dc.

Informaesadicionaisdaassinatura:
Signatrio(a):SRGIOFERNANDOMORO
DataeHora:30/03/201711:29:53

505160623.2016.4.04.7000 700003162910.V51SFMSFM

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30/03/2017 Evento268SENT1

Ru: Eduardo Cosentino da Cunha, brasileiro, casado, economista,

2. A denncia tem por base o Inqurito 4146/DF, que tramitou

menos o oferecimento da denncia, sendo a eles ainda feita ampla referncia no

3. Em sntese, segundo a denncia, no mbito das investigaes da

5. Aos agentes polticos cabia dar sustentao nomeao e

6. Entre as empreiteiras, os Diretores da Petrobrs e os agentes

8. Em sntese, segundo a denncia apresentada, o contrato de

9. A propina teria sido paga por Idalcio de Castro Rodrigues de

10. Teria sido intermediada pelo operador Joo Augusto Rezende

11. Parte da propina teria sido destinada a contas no exterior em

13. Previstos USD 34.500.000,00 como valor bsico de aquisio

17. Em 03/05/2011, a CBH transferiu USD 31 milhes conta

19. Da conta em nome da offshore Acona Internacional, foram,

21. A Orion SP um trust com endereo formal em Edimburgo e

23. USD 165.000,00 teriam sido transferidos, em 04/08/2014, da

24. Segundo a denncia, o recebimento da vantagem indevida em

25. A denncia tambm imputa a Eduardo Cosentino da Cunha o

28. A resposta do acusado foi apresentada perante o Egrgio

29. A denncia foi recebida pelo Plenrio do Egrgio Supremo

31. Em 14/09/2016, foi determinada, pelo eminente Ministro Teori

32. J perante este Juzo, por despacho de 13/10/2016 (evento 9),

33. Foi apresentada nova resposta preliminar pelo acusado,

34.A resposta preliminar foi apreciada na deciso de 07/11/2016

36. A Petrobrs foi admitida como Acusao na audincia de

38. Os requerimentos das partes na fase do art. 402 do CPP foram

40. O MPF, em alegaes finais (evento 251), argumentou: a) que

41. A Petrobrs, em sua alegaes finais, ratificou as razes do

42. A Defesa de Eduardo Cosentino da Cunha, em alegaes finais

na transferncia do processo da Suia para o Brasil por inexistncia de previso

43. Ainda na fase de investigao, foi decretada, a pedido do

44. Na fase final do processo, a Defesa de Eduardo Cosentino da

47. De todo modo, cumpre esclarecer que, quanto competncia

48. Embora a Petrobrs seja sociedade de economia mista, a

52. De tomo modo, oportuno lembrar que o prprio Supremo

53. Primeiro, quando desmembrou as investigaes em trmite no

54. E, segundo, como j adiantado, ao remeter o prprio Inqurito

56. Havendo pertinncia ao esquema criminoso que vitimou a

57. Na ao penal conexa 502768535.2016.4.04.7000, imputou o

58. Oportuno no olvidar que a ao penal conexa resultado de

60. Referida ao penal, com instruo concluda, ser julgada em

61. Apesar do pedido da Defesa para julgamento conjunto, aquela

62. No vivel ainda esperar, uma vez que o acusado Eduardo

63. Quanto preocupao da Defesa de que este Juzo tornese

64. Assim, fica indeferido o pedido de suspenso da presente ao

65. A denncia no inepta como alega a Defesa. Descreve ela

67. Oportuno lembrar que o Plenrio do Egrgio Supremo Tribunal

Temse como hbil a denncia que descreve todas as condutas atribudas ao

Ento, esta preliminar de nulidade, inpcia da denncia j foi

69. O exame de tais contas permite o rastreamento financeiro de

70. Tal material foi colacionado em investigaes instauradas pelas

71. Tal investigao foi, supervenientemente, transferida pelas

72. Os autos esto instrudos principalmente com cpias dos

73. Os autos esto tambm instrudos com os documentos da

75. Nas fls. 8187 do arquivo eletrnico inq1, evento 2, consta,

76. Alm dos documentos juntados nos autos, consta material

77. Questiona a Defesa a legalidade do procedimento de

79. As autoridades suas, como consta na documentao,

"As Partes contratantes no so obrigadas a entregar, uma a outra, os seus