Ato Infracional Maria Da Penha
Ato Infracional Maria Da Penha
Ato Infracional Maria Da Penha
Isso é tão claro que foi reconhecido pela própria Lei Maria da Penha,
a qual teve de criar outro Juizado para tratar dos casos de Violência
Doméstica e Familiar contra a Mulher (art. 14, Lei n. 11.340/2006); teve de
criar um rito todo especial à autoridade policial, com incumbências tais
como garantir à mulher a proteção policial (art. 11, I); fornecer transporte
para a mulher agredida (art. 11, III), acompanhar a mulher à sua casa para a
retirada de pertences (art. 11, IV), como se a autoridade não tivesse carência
de meios, veículos e/ou combustível; como se a autoridade policial fosse
Oficial de Justiça, para recolher bens apontados unicamente pela mulher
para serem retirados da morada comum.
1
Saraiva, João Batista Costa. In: Criança e Direitos Humanos – O Adolescente em conflito
com a lei e sua responsabilidade. Apud: Faces do Multiculturalismo. Santo Ângelo:
EDIURI, 2007, p. 39.
2
Prefácio da obra: Comentários à Lei de Violência Doméstica e Familiar contra a mulher.
Lumen Juris, 2ª Ed., 2009, xxii.
3
Fenoli, Jordi Nieva. In: La instrucción y El enjuiciamento de delitos causados por La
violência de gênero. Revista do MPRS-65, P. Alegre: Suliani Ed., 2010, p. 154.
2
Veja-se que a Lei não criou normas de Direito Penal. Ela não é uma
norma penal incriminadora.
Sustenta-se a Lei Maria da Penha pode ser vista como uma ação
afirmativa que toma a diferença como princípio para atingir a igualdade
jurídica.9 Via de regra, quando falamos em ações afirmativas
automaticamente a associamos aos movimentos de libertação feminina, que
recusaram a banalização da condição sexual imposta pela ideologia sexista
dominante.10 Como já referimos, não se trata de ‘desigualdade jurídica’ entre
homem e mulher, mas de carência de meios para a aplicação da lei penal.
4
Arts. 6º, 10, caput, 12, 13 e 20, p. ex., mas há quem sustente o ‘caráter pedagógico’ desses
dispositivos.
5
Guilherme S. Nucci ‘lamenta’ a criação de sanção penal inexistente no art. 17: a pena de
cesta básica (Leis Penais e Processuais Penais Comentadas, 2ª Ed., RT, 2007, p. 1.053).
6
Como a garantia de proteção policial à mulher (art. 11), dando a entender que a polícia
tem condições de fazê-lo de forma eficiente a todas as mulheres agredidas.
7
No sentido: Nucci, op. cit. p. 1.051.
8
Pinto, Rodrigo Bossi. In: A aplicação analógica da Lei Maria da Penha. Revista AMERJ,
vol. 12, n. 46, 2009, p. 308.
9
Pasinato, Wânia. In: Violência contra as mulheres e legislação especial, ter ou não ter?
Eis uma questão. Revista Brasileira de Ciências Criminais-70, RT, 2008, p. 335.
10
Séguin, Elida. Minorias e Grupos Vulneráveis. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 77.
11
Dias, Maria Berenice. In: A Lei Maria da Penha na Justiça. 2ª Ed. RT, 2010, p. 129.
3
A Lei Maria da Penha não cria direito novo. Como consta no seu art.
1º, ela cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra
a mulher e estabelece medidas de assistência e proteção às mulheres em
situação de violência doméstica e familiar (art. 1º, Lei nº 11.340/2006).
12
Delgado, Mário Luiz. In: Codificação, Descodificação e Recodificação do direito civil
brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 55.
13
Dias, Maria Berenice. Op. cit. p. 64.
14
Bitencourt, Cezar Roberto. In: A abrangência da definição de violência
doméstica. Boletim IBCrim-198, 2009, p.8.
15
Prado, Luiz Regis. In: Curso de Direito Penal Brasileiro. Vol. 2. S. Paulo: RT, 2010, p.
154.
16
Dias, Maria Berenice. A Lei Maria da Penha na Justiça. 2ª Ed. São Paulo:RT, 2010, p. 51.
4
A Lei Maria da Penha faz referências ao gênero, como nos arts. 5º,
caput, 8º, incs. II, VII, VIII e IX, mas não diz o que é, pois gênero não é
conceito de direito penal ou processual penal. O conceito de gênero foi
produzido no campo das Ciências Sociais, criado com o intuito de separar
o fato de alguém ser fêmea ou macho, do trabalho de simbolização que a
cultura realiza sobre essa diferença sexual.20
17
Prado, Luiz Régis. Curso de Direito Penal Brasileiro. 9ª Ed São Paulo: RT, 2010, p. 154.
18
In: Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. 2ª Ed. S. Paulo: RT, 2007, p. 1042.
19
Cunha; Rogério Sanches; Pinto, Ronaldo Batista. In: Violência doméstica. Lei
Maria da Penha Comentada Artigo por artigo. 3ª Ed. São Paulo: RT, 2011, p.46.
20
Brauner e Carlos; Maria Claudia Crespo e Paula Pinhal de. In: A Família Democrática.
Violência de Gênero: a face obscura das relações familiares. Anais V Congresso Brasileiro
de Direito de Família. IBDFam, 2006, p. 642.
21
Nucci, Guilherme de Souza. Op. cit. p. 1.042.
22
In: Curso de Direito Penal Brasileiro. 9ª Ed. São Paulo: RT, 2011, pp. 155/6.
5
O Código Penal trata a lesão corporal do art. 129, § 9º, sob a rubrica
de violência doméstica, como uma qualificadora, sendo que a Lei Maria da
Penha apenas alterou a pena prevista no § 9º: que era de 06 meses a um (01)
ano de detenção, elevando a pena máxima para três anos de detenção, mas
reduzindo a pena mínima para três meses de detenção, com isso excluindo a
competência do Juizado Especial Criminal,27 afastando-se a consideração
de se tratar de infração de menor potencial ofensivo.28
23
Campos, Carmen Hein de. In: Lei Maria da Penha: mínima intervenção punitiva,
máxima intervenção social. Revista de Ciências Criminais-73, S. Paulo: RT, 2008, p. 251.
24
Bitencourt, Cezar Roberto. Boletim IBCCrim, op. loc. cit. p. 8.
25
In: A abrangência da definição de Violência Doméstica. Op. loc. cit. p. 10. Tratado de
Direito Penal. 11ª Ed., Vol. 2, S. Paulo: Saraiva, 2011, p. 212.
26
A expressão é de Cezar Roberto Bitencourt.
27
Bitencourt, Cezar Roberto. In: Tratado de Direito Penal. 11ª Ed. Vol. 2. São Paulo:
Saraiva, 2011, p. 208.
28
Nucci, Guilherme de Souza. Op. cit. p. 1.063.
29
Bitencourt, Cezar Roberto. Boletim IBCrim-198, loc. cit. p. 9.
30
In: Introduccion a la criminologia. 7ª Ed. Madrid: Dykinson. 1988, p. 316.
6
Contudo, não se pode ignorar que o texto da Lei Maria da Penha traz
‘comandos direcionados claramente ao adulto’, como observa Marcelo
Mairon Rodrigues.32
31
Neto, Ricardo Ferracini. A violência doméstica sob a Ótica da Criminologia. Estudo
publicado na obra: Criminologia e os Problemas da Atualidade. São Paulo: Atlas, 2008, p.
93.
32
In: Lei Maria da Penha em cotejo com o ECA. Juizado da Infância e da Juventude. TJRS.
Corregedoria-Geral de Justiça, Porto Alegre: Artes Gráficas do TJRS, a, IV, n. 10, 2006, p.
9.
33
Op. loc. cit. p. 96.
34
In: A vítima e o Direito Penal. RT, 1999, p. 99.
35
Leviski, David Léo. In: Adolescência pelos caminhos da violência. Org. São Paulo: Casa
do Psicólogo, 1998, p. 25.
7
36
Souza Neto. Manoel Onofre de Souza e Outros. In: Aplicabilidade da Lei Maria da
Penha no âmbito da Justiça Juvenil. Natal/RN, Publicado no site: WWW.abmp.org.br,
2008.
8
38
In: Inquirição da criança vítima de violência sexual: proteção ou violação de direitos?
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011, p. 82.
39
Loc. cit. p. 355.
40
Liberati, Wilson Donizeti. In: Direito da Criança e do Adolescente. 5ª Ed. São
Paulo: Rideel, 2011, p. 17.
10
Em conclusão:
41
In: A violência doméstica sob a Ótica da Criminologia. Publicado em: Criminologia
e os problemas da atualidade. Org. Alvino Augusto de Sá e Sérgio Salomão Shecaira.
São Paulo: Atlas, 2008, p. 80.
42
In: Comentários à Lei de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher. 2ª Ed.
Org. Adriana Ramos de Mello. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 68.
11
BIBLIOGRAFIA
43
In: Adolescentes e Responsabilidade Penal: Um debate latino-americano. Porto Alegre:
AJURIS/AMPRS/DPRS/TJRS, fev-2000, p. 18.
12
OLIVEIRA, Ana Sofia Schmidt de. A vítima e o Direito Penal. São Paulo:
RT, 1999.
PASINATO, Wânia. Violência contra as mulheres e legislação especial, ter
ou não ter? Eis uma questão. Revista IBCCRIM, n. 70, S. Paulo: RT, 2008.
PINTO, Rodrigo Bossi. A aplicação analógica da Lei Maria da Penha.
Revista da AMERJ, vol. 12, n. 46, 2009.
PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro. Vol. 2. 9ª Ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2010.
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