Coletânea Livros Psi e Educação Técnica - Vol 1

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Reitor
José Arimatéia Dantas Lopes

Vice-Reitora
Nadir do Nascimento Nogueira

Superintendente de Comunicação
Jacqueline Lima Dourado

Editor
Ricardo Alaggio Ribeiro

EDUFPI - Conselho Editorial


Ricardo Alaggio Ribeiro (presidente)
Acácio Salvador Veras e Silva
Antonio Fonseca dos Santos Neto
Francisca Maria Soares Mendes
Solimar Oliveira Lima
Teresinha de Jesus Mesquita Queiroz
Viriato Campelo

FICHA CATALOGRÁFICA
Serviço de Processamento Técnico da Universidade Federal do Piauí
Clésia Barbosa - Bibliotecária CRB-3 /1056

Arte da capa produzida e desenvolvida por @Thais de Jesus Avelino

P384 Práticas em psicologia escolar: do ensino técnico ao superior / Fauston Negreiros,


Marilene Proença Rebello de Souza. [Organizadores]– Teresina: EDUFPI, [2017].
1 v. 213p.

ISBN: 978-85-509-0115-2 (obra completa)


ISBN: 978-85-509-0116-9 (v.1)

1. Psicologia Escolar. 2. Psicólogo. 3. Ensino Técnico e Superior. I. Negreiros,


Fauston. II. Souza, Marilene Proença Rebello de. III. Titulo.

CDD 370.15

Cabe aos autores a responsabilidade por seus respectivos textos, isentando o organizador e a editora
por Crime de Direito Autoral.

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PREFÁCIO ........................................................................................................................................ 6

APRESENTAÇÃO ........................................................................................................................... 11

CAPÍTULO 1.
História da Psicologia Escolar e a Rede Federal de Ensino
Profissional e Tecnológica, Solange Ester Koehler e Lourdes Mata ................. 16

CAPÍTULO 2.
Psicologia Escolar e Educação Profissional e Tecnológica: uma
prática em construção, Josiane de Paula Jorge .......................................................... 35

CAPÍTULO 3.
Interface entre a Psicologia e a Educação: notas para construção
de uma Psicologia Escolar crítica a partir da Pedagogia histórico-
crítica, Maraiza Oliveira Costa .............................................................................................. 53

CAPÍTULO 4.
Psicologia Escolar e Educação Superior nos Institutos Federais:
Perspectivas para a Atuação Profissional, Lígia Rocha Cavalcante
Feitosa e Claisy Maria Marinho-Araujo............................................................................. 68

CAPÍTULO 5.
A Psicologia no IFMA: do percurso histórico à atuação dos
psicólogos escolares, Breno de Oliveira Ferreira, Francisca Michelle
Duarte da Silva Campos e Thayara Ferreira Coimbra Lima .................................. 87

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CAPÍTULO 6.
O fazer do psicólogo escolar: algumas contribuições para a
qualidade do processo ensino aprendizagem, Camilla Corso
Silveira e Evylen Talita de Souza .......................................................................................... 99

CAPÍTULO 7.
O desenvolvimento de habilidades de estudo como possibilidade
de ampliação da aprendizagem, Caroline Torres ...................................................... 114

CAPÍTULO 8.
Promoção do aprender a aprender no ensino superior: um
caminho para o sucesso acadêmico, Emanuelly Pereira de Araújo e
Izabelly Maria Costa do Nascimento ................................................................................. 129

CAPÍTULO 9.
Estágio supervisionado em psicologia escolar/educacional no
contexto do Instituto Federal do Piauí Campus Parnaíba, Thais
Taila Lima de Freitas Dias e Erotides Romero Dantas Alencar ............................ 145

CAPÍTULO 10.
Orientação Profissional: escolhas possíveis, Ticiana Borges
Cardoso Lima , Erotides Romero Dantas Alencar e Silvana Teixeira de
Araújo Sousa ................................................................................................................................. 158

CAPÍTULO 11.
Trabalhando sexualidade na escola – relato de uma experiência
no IFPI- Campus Piripiri, Cristiana Galeno da Costa Pereira ................................ 171

CAPÍTULO 12.
O Psicólogo nas redes e bancas de jornal: uma análise da
representação social do sujeito psicólogo para os alunos de
Agropecuária do IFTO através do olhar do humor gráfico, Layane
Bastos dos Santos , Maria Aparecida e Silva Pereira Sobreira e Thays
Ribeiro Torres Magalhães Xavier ......................................................................................... 183

SOBRE AUTORES ................................................................................................... 209

5
O psicólogo atua mais diretamente no espaço educativo desde 1970. Desta
época para cá, nesses quase 50 anos, muitas intervenções foram realizadas, ora a
partir de uma visão tradicional, permeada por um atendimento clínico utilizando a
psicometria para avaliar alunos com dificuldades no processo de escolarização, ora
analisando os fatos e propondo ações que levem em conta os determinantes
históricos e a sociedade de classes. Não podemos aqui, deixar de mencionar que
Patto (1984), no início da década de 1980, fez várias reflexões sobre o modelo de
atuação adotado por psicólogos escolares demonstrando o quanto as ações
realizadas eram guiadas por uma ideologia liberal, comprometida com aquela classe
que detém os meios de produção e não a força de trabalho, como é o caso da classe
trabalhadora.
As ações realizadas no âmbito educativo, na atualidade, carregam marcas da
própria história da sociedade, da educação da psicologia. A maneira como os
homens foram transformando a natureza para suprirem suas necessidades, no
processo histórico, foram forjando determinadas formas de compreender o
desenvolvimento do psiquismo e de enfrentamento para os problemas que são
postos no cotidiano escolar tais como fracasso escolar, avaliação psicológica,
precária formação de professores, violência, indisciplina, desvalorização da escola,
pauperização das condições de trabalho, infraestrutura inadequada para a
transmissão e apropriação dos conhecimentos, entre outros.
Vários estudos foram e estão sendo realizados sobre a atuação do psicólogo
escolar. Souza, Silva e Yamamoto (2014), por exemplo, fizeram uma pesquisa nos
Estados de São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Rondônia, Santa Catarina, Acre e Paraná, e
com base em 278 questionários respondidos pelos psicólogos que atuam em

6
escolas públicas, criaram três categorias quanto à modalidade de atuação dos
profissionais: a primeira foi denominada “ [...] 1) clínica, por incluir as modalidades
de avaliação psicológica e atendimento clínico; a segunda foi denominada 2)
institucional, reunindo as opções formação de professores e assessoria às escolas.
Como em muitos casos os profissionais escolheram opções de ambas as categorias
anteriormente citadas, uma terceira categoria foi proposta e descrita como uma
atuação 3) clínica e institucional” (Souza, Silva e Yamamoto, 2014, p. 247, grifo dos
autores). Elas obtiveram os seguintes percentuais de modalidade de atuação: clínica
e institucional, 53%; institucional, 23%; e clínica, 24%. Pelos dados coletados, as
autoras concluíram que existe, na atualidade, um movimento dos psicólogos
escolares em busca de práticas mais críticas, fugindo do modelo exclusivamente
tradicional. Assim, se na história da Psicologia Escolar e Educacional tivemos forte
apelo da ideologia dominante para classificar e rotular os alunos e medir sua
inteligência para identificar os problema dos que apresentavam queixas no processo
de escolarização, na atualidade vemos várias práticas e posicionamentos que estão
na contramão desta visão.
Profissionais e estudiosos da área de psicologia escolar e educacional vêm
vislumbrando caminhos que compreendem o psiquismo humano como decorrente
de fatores objetivos e subjetivos, buscando superar dicotomias entre mente e corpo,
aprendizagem e desenvolvimento, afeto e cognição, por exemplo, na tentativa de
entender o homem como síntese de relações sociais, como propõe Vygotsky (1930)
e Seve (1979). Nessa análise, entende-se que relações sociais ultrapassam a mera
relação intersubjetiva, centrando-se nas formas de organização do trabalho, no
sistema de produção, na propriedade privada, em busca da essência do homem, e
considerando a alienação que permeia sociedade e o processo educativo.
Embora muito já se tenha dito, muito já se tenha pesquisado, de uma forma
geral, na nossa atividade docente, na supervisão de estágio e nas aulas ministradas,
observamos que os estudantes ainda continuam buscando compreender o que faz o
psicólogo na escola. No entanto, não são somente os alunos que se interrogam
sobre isso; alguns profissionais que estão atuando na educação também, em vários
eventos que participamos, entram em contato buscando sugestões de

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encaminhamentos da prática psicológica na escola. Nessas ocasiões, alguns
psicólogos que atuam nos institutos federais me questionaram sobre a atuação do
psicólogo nessas instituições, o que mostra a importância dessa obra que vai ser
socializada.
Com a psicologia se expandindo para o ensino superior e também nos
institutos federais, muitas dúvidas vão surgindo sobre como atuar nestes locais.
Nesse sentido, entendemos que este livro, intitulado “Práticas em Psicologia Escolar:
do ensino técnico ao superior”, organizado por Fauston Negreiros e Marilene
Proença Rebello de Souza, poderá se constituir em subsídios para muitos psicólogos
em formação na graduação e também para aqueles que estão exercendo atividades
nestes âmbitos. Os organizadores, na apresentação da coletânea, informam ao leitor
que o que gerou a ideia de propor essa obra foi a possibilidade de divulgar a
produção e a prática de psicólogos de variadas regiões do Brasil, do ensino
tecnológico ao superior. Experiências realizadas nos Estados como São Paulo,
Paraná, Goiás, Piauí, Tocantins, Distrito Federal, Maranhão e mesmo em outro país –
Portugal – são relatadas, explanando que os psicólogos fazem palestra para alunos,
pais e professores; realizam atendimentos individuais (alunos e servidores); fazem
orientação profissional; orientação aos professores; intervenção junto aos alunos
com dificuldades no processo de ensino-aprendizagem; orientação aos estudos;
orientação sexual; mediação de conflitos e muitas outras que são descritas no livro.
Atividades que competem aos profissionais da área da psicologia e que são
efetivadas, conforme relato dos autores, a partir de diferentes perspectivas teóricas.
Os capítulos escritos podem inspirar muitos projetos de intervenção e servir
de intercâmbio de informações e elementos que podem proporcionar o debate
sobre a inserção da psicologia tanto no ensino superior como nos institutos federais.
Demonstram como os conhecimentos da psicologia são importantes para a
reestruturação de políticas que auxiliem na formação humana daqueles que passam
pelas instituições nas quais o trabalho foi desenvolvido; apresentam o percurso
histórico da inserção do psicólogo nos institutos federais e nas universidades;
apresentam fundamentos sobre a educação e uma psicologia escolar crítica; tratam

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da pesquisa e tratam da prática; enfim, abordam temas candentes na área de
psicologia e educação.
Esperamos que as discussões realizadas pelos vários autores sejam
fortalecidas entre graduandos de psicologia e profissionais, o comprometimento
ético com as classes populares, a fim de desenvolverem um trabalho permeado pela
ética, e, como propõe Antunes (2008), que possibilite estabelecer um elo entre
psicologia, educação e a sociedade, para propor uma ação que possibilite aos filhos
da classe trabalhadora um acesso igualitário aos bens produzidos historicamente
pelos homens. Se a psicologia hoje chegou aos institutos federais e no ensino
superior, ela deve ter um compromisso com a transformação social, tem que
vislumbrar transformações na forma como os homens se organizam para suprir as
necessidades postas pelo capital, tem que questionar políticas vinculadas ao ensino
médio que desvalorizam os conhecimentos; tem que fazer enfrentamentos em
busca do desenvolvimento máximo das potencialidades de todos aqueles que estão
presentes no espaço escolar. O desafio de lutar pela emancipação de todos na
comunidade escolar em prol da transformação da consciência daqueles que passam
pelo processo de escolarização, estende desde a educação infantil, educação básica
até o ensino superior e desejamos que a coletânea possa contribuir nesse sentido.
Desejamos que o trabalho na organização desta coletânea, empreendido por
Fauston e Marilene, companheiros do GT e Psicologia e Políticas Educacionais da
Anpepp, da Abrapee e de tantas lutas na psicologia escolar e educacional, possa dar
muitos frutos e incentivar aqueles que estão na academia e no cotidiano da escola a
socializar suas práticas e pesquisas.

Marilda Gonçalves Dias Facci

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Antunes, M. A. M. A. (2008). Psicologia Escolar e Educacional: história, compromissos
e perspectivas. Revista Psicologia Escolar e Educacional, 12(2), 469-475.

Patto, M. H. S. Psicologia e ideologia: uma introdução crítica à psicologia escolar. São


Paulo: T. A. Queiroz, 1987.

Sève, L. (1979). Marxismo e a teoria da personalidade. Lisboa: Livros Horizonte, Vol.


II.

Souza, M. P. R.; Silva, S. M. C. & Yamamoto, K. (Orgs.) (2014). Atuação do psicólogo na


Educação Básica: concepções, práticas e desafios. Uberlândia: EDUFU.

Vygotsky, L. S. (1930). A transformação socialista do homem. URSS: Varnitso, 1930.


Tradução Marxists Internet Archive, english version, NilsonDória, jul. 2004.
Disponível em: <http//:www.marxistts.org/>. Acesso em: fev. 2007.

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No atual cenário educativo brasileiro, em que permeiam e insurgem diversos
movimentos que visam reavaliar e até mesmo reformar nosso sistema, convive-se
com o desencanto em relação aos rumos que podem tomar a educação ofertada em
nosso país. No entanto, é dever de todos avaliar os caminhos percorridos e
organizar-se, com vistas a aprender a viver junto nessa “aldeia global”. Coloca-se,
então, um dos maiores desafios à educação nacional: formar as pessoas para o
desenvolvimento sustentável do planeta, compreensão mútua entre os povos e a
vivência concreta e plena da democracia.
Nesse sentido, a educação é indispensável à formação das pessoas, na
construção dos ideais de paz, liberdade e justiça social, bem como em um maior e
pleno desenvolvimento humano, que pode ser fruto dela. Não apenas no sentido de
progresso econômico, mas como via ao desenvolvimento harmonioso e autêntico da
humanidade. Assim, considera-se a importância das modalidades educativas na
construção de um mundo melhor.
A Psicologia da Educação se atrela e fornece ricos elementos e subsídios a
esse objetivo, pois se constitui em um dos campos científicos em que se busca
refletir, intervir e propiciar práticas educativas para o alcance do pleno
desenvolvimento humano, vivenciado como uma prática concreta de libertação e de
construção da histórica do sujeito e da humanidade.
É nesse contexto ao mesmo tempo tortuoso, porém otimista, que a coleção
"Práticas em Psicologia Escolar: do Ensino Técnico ao Superior" emerge. É com
grande satisfação e zelo, que apresentamos o Volume I, concebido e organizado
pelos professores Fauston Negreiros e Marilene Proença.

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A ideia geradora do livro foi compartilhar com a comunidade acadêmica, a
produção e prática dos psicólogos atuantes em diversas regiões do Brasil, do ensino
Tecnológico ao Superior, em especial na Rede Federal de Ensino, que carecia de um
panorama acerca dos referenciais práticos e teóricos que vem sendo desenvolvidos,
construídos e efetivados, pelos profissionais de psicologia da educação nesses
locus.
Esse Volume I trata de textos que representam investigações e pesquisas
introdutórias, ou com caráter experimental, embrionário e teórico, bem como uma
retrospectiva histórica, dada ao caráter recente do profissional psicólogo inserido
nessas instituições.
O Capítulo inicial, "História da Psicologia Escolar e a Rede Federal de Ensino
Profissional e Tecnológica", de Solange Ester Koehler e Lourdes Mata, abre o
primeiro volume da coleção, versando sobre a historicidade da inserção do
psicólogo no contexto escolar da Educação Tecnológica. Há uma preleção
propedêutica acerca do percurso da Psicologia Escolar na maioria das Instituições
Federais de Ensino Profissional e Tecnológico, até a mesma se constituir como
integrante de relevância ímpar na Rede Federal de Educação Profissional, Científica
e Tecnológica.
Seguindo a linha de panoramizar inicialmente a Psicologia no contexto da
Educação Tecnológica e Superior, o Capítulo II "Psicologia Escolar e Educação
Profissional e Tecnológica: Uma Prática em Construção", de autoria de Josiane de
Paula Jorge, tem o intuito de contribuir teoricamente com os profissionais que estão
inseridos neste contexto de trabalho, buscando, através de uma pesquisa de
levantamento e reflexiva, fundamentar, embasar, compreender, analisar e
enriquecer a prática do Psicólogo Escolar neste contexto específico de intervenção.
Esse percurso, ainda que em um nível mais amplo, teórico e reflexivo, ainda
é o mote para o Capítulo seguinte "Interface entre a Psicologia e a Educação: notas
para construção de uma Psicologia Escolar crítica a partir da Pedagogia histórico-
crítica", de Maraiza Oliveira Costa, onde a autora almeja identificar princípios
norteadores de um ideário pedagógico que possam mediatizar a práxis do psicólogo
escolar a partir de uma perspectiva transformadora de Educação Escolar.

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Nesse contexto enriquecedor, as autoras Lígia Rocha Cavalcante Feitosa e
Claisy Maria Marinho-Araujo trazem, seguidamente, uma valorosa discussão sobre a
potencialidade da intervenção da Psicologia, dessa vez especificamente no nível
superior de ensino dos Institutos Federais, no capítulo intitulado "Psicologia Escolar
e Educação Superior nos Institutos Federais: Perspectivas para a Atuação
Profissional".
Posteriormente, trazendo uma discussão sobre as especificidades do
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA), na
constituição histórica da inserção e atuação do profissional psicólogo na Instituição,
temos o Capítulo V "A Psicologia no IFMA: do percurso histórico à atuação dos
psicólogos escolares" de Breno de Oliveira Ferreira, Francisca Michelle Duarte da
Silva Campos e Thayara Ferreira Coimbra Lima.
O Capítulo VI segue dando sequência e inserindo temas referentes a
contribuições pragmáticas do fazer do Psicólogo Escolar nas diversas modalidades
de ensino das presentes na rede federal de educação, com o estudo "O fazer do
psicólogo escolar: algumas contribuições para a qualidade do processo ensino
aprendizagem" de autoria de Camilla Corso Silveira e Evylen Talita de Souza. As
autoras trazem um relato das ações em desenvolvimento em sua instituição, que
visam colaborar para ampliar o repertório do fazer da psicologia escolar aplicada à
melhoria e eficácia do processo de ensino/aprendizagem.
Prosseguindo na temática de contribuições da prática do Psicólogo Escolar
na Rede Federal, no que concerne a potencializarão da aprendizagem, temos em
seguida, com a autoria de Caroline Torres, o capítulo: "O Desenvolvimento de
Habilidades de Estudo como Possibilidade de Ampliação da Aprendizagem". Tal
caput relatou a prática no projeto intitulado “Desenvolvendo Habilidade de
Estudos”, o qual buscou instrumentalizar o aluno para o desenvolvimento de
habilidades de estudo, as quais requerem o conhecimento de várias áreas
articuladas ao processo de ensino e aprendizagem.
Ainda sobre as colaborações do profissional de Psicologia na otimização do
processo educativo, porém aplicada dessa vez ao nível Superior, segue-se a obra
com Capitulo VIII, intitulado: "Promoção do aprender a aprender no ensino superior:

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um caminho para o sucesso acadêmico", de Emanuelly Pereira de Araújo e Izabelly
Maria Costa do Nascimento, que buscou entender os fatores fundamentais para o
desempenho acadêmico e a permanência do estudante no ensino superior.
Versando acerca das relações presentes na instituição escolar, os desafios e
avanços que o profissional de psicologia escolar/educacional enfrenta no exercício
da profissão, temos o Capítulo IX trazendo o relato de prática "O Estágio
Supervisionado em Psicologia Escolar/Educacional no contexto do Instituto Federal
do Piauí - Campus Parnaíba", de Thais Taila Lima de Freitas Dias e Erotides Romero
Dantas Alencar, colaborando com reflexões sobre a prática de estágio
supervisionado nessa área, revelando sob o ponto de uma estagiária, como a mesma
observou a atuação do psicólogo escolar/educacional, as relações presentes na
instituição escolar, os desafios e avanços que o profissional de psicologia
escolar/educacional enfrenta em sua profissão.
O capítulo X, vem colaborando ainda mais em desvelar o múltiplo cenário de
possibilidades práticas do profissional de Psicologia Escolar inserido na Educação
Tecnológica, com o relato "Orientação Profissional: Escolhas Possíveis", escrito por
Ticiana Borges Cardoso Lima, Erotides Romero Dantas Alencar e Silvana Teixeira de
Araújo Sousa. A prática revela como a atuação do psicólogo na Orientação
Profissional contribuiu para a diminuição do nível de ansiedade dos estudantes,
além de elevar o nível de autoconhecimento e a capacidade de autocontrole, que
são elementos essenciais para um processo de escolha bem conduzido.
Nessa perspectiva preliminar de práticas que vem construindo aos poucos e
consolidando a identidade e historicidade das práticas em psicologia escolar, no
ensino tecnológico e superior, não poderiam faltar as colaborações que tratam de
Temas Transversais. Esse lugar é ocupado pelo Capítulo XI do primeiro Volume,
intitulado: "Trabalhando sexualidade na escola – relato de uma experiência no IFPI-
Campus Piripiri", de Cristiana Galeno da Costa Pereira. O trabalho relatado pela
autora buscou promover a diversidade de valores, crenças e comportamentos
existentes e relativos à sexualidade, tão relevante e profícua é tal discussão para
formação de uma sociedade justa e igualitária, que seja capaz de respeitar o outro
em suas diferenças.

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Finalizando as produções desse volume, temos o capitulo XII, intitulado de
“O psicólogo nas redes e bancas de jornal: uma análise da representação social do
sujeito psicólogo para os alunos de agropecuária do IFTO através do olhar do humor
gráfico” de Layane Bastos dos Santos, Maria Aparecida e Silva Pereira Sobreira e
Thays Ribeiro Torres Magalhães Xavier. O construto analisa como as representações
do humor gráfico que revelam sentidos e redes de memória sobre a profissão do
psicólogo e seu perfil político e simbólico, desvendado a partir de sua posição e
situação marcada pelo histórico e pelo social, através do olhar de alunos do curso de
Técnico Integrado de Agropecuária Integrada ao Médio.
O recorte escolhido para este volume é uma espécie de "Crisálida".
Pormenorização quase inicial do nosso percurso de construção histórica e de
identidade profissional, em que a caracterização das práticas do psicólogo escolar
no contexto da Educação Tecnológica e Superior são relatadas, antes de "ganharmos
nossas asas" e alçar "voos mais complexos".
Podemos dizer que, embora existindo diversas escolhas teóricas e
conceituais, e mesmo autores de áreas diferentes de atuação e ênfases teóricas, nos
diferentes capítulos, observa-se um esforço comum para estabelecer vínculos entre
as temáticas e concepções teóricas e as suas aplicações da Psicologia na Educação,
criando os alicerces para uma prática de qualidade, colaborando para superar o
status desacreditado da educação brasileira.
O nosso objetivo maior inicialmente, através da divulgação do
conhecimento produzido com tanto esmero por nossos autores, será o de provocar
debates e estimular o leitor que está tendo contato com as experiências e estudos
aqui descritos, a criar novas ideias e instrumentos também em seu locus de atuação,
promovendo o crescimento e enriquecimento da Psicologia Escolar.

Os organizadores

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16
Solange Ester Koehler
Lourdes Mata

A
historicidade sobre a inserção do psicólogo no contexto escolar é o foco
inicial deste capítulo. Seguimos com uma preleção acerca do percurso que
a maioria das Instituições Federais de Ensino Profissional e Tecnológico
percorreu até se constituir como integrante da Rede Federal de Educação
Profissional, Científica e Tecnológica. Para compreender as práticas que a grande
maioria dos psicólogos relata, é necessário descrever o cargo de psicólogo,
explorando a diversidade de ações e possibilidades que lhe são permitidas executar
em seu ambiente de trabalho institucional. Encerramos com a proposta de estudo no
doutorado em Psicologia da Educação.
Inicialmente, é necessário perceber que a inserção do psicólogo no sistema
de ensino, no contexto brasileiro, foi marcada por práticas psicométricas e com
objetivos adaptacionistas que foram se modificando, passando por um processo de
revisão até a sua constituição atual, especificamente no âmbito do ensino médio-
técnico e superior ofertados nos Institutos Federais de Educação, Ciência e
Tecnologia.
É pertinente esclarecer que essa retomada histórica, com análise e
interpretação de alguns dados conjunturais, visa embasar as influências e
determinações históricas para a compreensão das práticas realizadas pelos
profissionais da área de saúde mental, bem como explanar sobre o espaço para o
qual esses servidores foram designados a atuar.

UM POUCO DA HISTÓRIA DA PSICOLOGIA

O nascimento da Psicologia Científica data aproximadamente de 1879, e


surge por meio da atuação de William Wundt, na Alemanha, por ocasião da criação
do primeiro Laboratório de Psicologia Experimental (Schultz, D. P. e Schultz, S.E.
2002). A opinião de Araújo (2010) reforça essa afirmação, explicando que esse

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laboratório, localizado em Heidelberg, se transformou no primeiro Centro
Internacional de Formação de Psicólogos, uma vez que serviu para orientação e
capacitação de toda uma geração de psicólogos experimentais oriundos de diversos
países. Esses profissionais, quando do retorno aos seus países de origem, fundavam
laboratórios de psicologia e disseminavam as ideias dos seus mestres.
Segundo Correia e Campos (2004), os primeiros trabalhos da Psicologia
relacionados à escola têm origem a partir da atuação de Francis Galton, na Inglaterra;
Alfred Binet, na França e James Castell, nos Estados Unidos. Em 1886, Francis Galton
(1822-1911) criou o primeiro Laboratório de Psicometria, onde mensurava a
capacidade mental dos alunos estabelecendo diferenças. Galton entendia que as
capacidades humanas eram herdadas, ou seja, de origem biológica, pois “[...] sua
tese é que homens eminentes têm filhos eminentes” (Schultz, D. P. e Schultz, S.E.
2000, p.133)
Os estudos do francês Alfred Binet (1857-1911) tinham como objetivo
principal contribuir com a educação das crianças que não alcançavam patamares de
aprendizagem iguais durante o processo de escolarização. A contribuição de Binet
que marcou mais fortemente a história da Psicologia foi a elaboração da Escala
Binet-Simon de Inteligência, publicada em 1905, junto do seu colega de pesquisas,
Théodore Simon (1873-1961). Essa escala serviu como instrumento para classificar
crianças em idade escolar na França, especialmente no período em que Binet foi
designado pelo Governo Francês para pesquisar o problema da lentidão na
aprendizagem, associado ao período em que houve a obrigatoriedade do ensino
primário. A Escala Binet-Simon foi então posteriormente traduzida e aplicada em
muitos países (Oakland e Stember, 1993).
O termo “testes mentais”, para Correia e Campos (2004), é usado com a
finalidade de designar os instrumentos de medida que possibilitam comparar as
capacidades das pessoas em diferentes domínios. Logo a difusão de testes adentrou
também as escolas para seleção e classificação de alunos, conforme especificado
por Oakland e Stember (1993). Esses autores afirmavam que na maioria dos países o
trabalho do psicólogo era diagnosticar crianças excepcionais, com a finalidade de
identificar e tratar as várias dificuldades educacionais. Com isso, ganhou

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reconhecimento e respaldo a ideia da separação entre bons e maus alunos, os aptos
e os não aptos, os capazes e os incapazes, os normais e os considerados anormais.
Para Barbosa (2011), com as ideias de Galton e Binet somadas ao crescimento do
movimento de testagem em todo o mundo, a Psicometria passou a ser o principal
instrumento no campo da relação entre a Psicologia e a Educação, tornando-se uma
ferramenta essencial da Psicologia como um todo.
Devido à necessidade de organização e sistematização de dados, os
pesquisadores propuseram dividir a história da Psicologia em períodos. Em se
tratando do Brasil, Antunes (2007; 2008) identifica cinco períodos da história da
Psicologia que podem ser sistematizados da seguinte forma: 1) pré-institucional
(período colonial); 2) institucional (século XIX); 3) autonomização (1890 a 1930); 4)
consolidação (1930 a 1962); e 5) profissionalização (1962 em diante), com a
ampliação dos campos de atuação e explicitação de seu compromisso social.
De acordo com Alberti (2008), a história da Psicologia brasileira está
interligada ao processo de inserção dos psicólogos nas escolas. Essa estreita relação
entre o surgimento da Psicologia Escolar e a aplicação de testes psicológicos,
voltados para a identificação de “dificuldades de aprendizagem”, marca a história da
Psicologia na Educação. Conforme Barbosa (2011; 2012), a História da Psicologia
Educacional e Escolar Brasileira pode ser compreendida por fases, assim
denominadas: 1) a colonização, saberes psicológicos e educação (1500 a 1906); 2) a
Psicologia em outros campos de conhecimento (1906 a 1930); 3) o
desenvolvimentismo – a Escola Nova e os psicologistas na educação (1930 a 1962);
4) a Psicologia Educacional e a Psicologia do Escolar (1962 a 1981); 5) o período da
crítica (1981 a 1990); 6) a Psicologia Educacional e Escolar e a Reconstrução (1990 a
2000); e 7) a virada do século: novos rumos? (2000-).
Apesar de Antunes (2006) e Barbosa (2011) denominarem de maneiras
diferentes cada período, observa-se que as características de seus estudos são
semelhantes. Além disso, Antunes (2006) define os períodos para a Psicologia em
Geral, e Barbosa (2011) para a Psicologia Educacional e Escolar. Assim, enquanto no
período colonial, ou pré-institucional, a Psicologia aparece basicamente em textos
com temas relacionados às questões do mundo interno, ela é tratada de modo muito

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filosófico. Barbosa (2011) menciona ainda que através dos relatos dos Jesuítas se
pode definir o período colonial entre 1500 e 1906.
Segundo Antunes (2006), no segundo período ocorre a fase institucional, em
que a Psicologia ainda se vincula a instituições como hospitais, escolas normais e
faculdades – basicamente de Medicina, Filosofia e Direito –, e onde aparecem as
primeiras publicações científicas. A Psicologia estava, então, atuando em outros
campos do conhecimento. Somado a isso, Barbosa (2011) relata que no século XIX
foram oferecidas as primeiras teorizações com foco nas práticas de higiene, visto
que as cidades cresciam desenfreadamente. Houve, inclusive, a entrada da
Psicologia nos cursos de formação de professores, estabelecendo a cátedra
denominada Pedagogia e Psicologia. Talvez seja por isso que Pfromm Netto (1996)
define a primeira fase da Psicologia Educacional Brasileira como fase normalista. Em
sua análise, a Psicologia Escolar passa por três fases: a primeira, entre 1830 e 1940,
que denominou o período normalista; a segunda, entre 1940 e 1962, que
corresponde à fase universitária; e a terceira fase que se inicia com o ensino da
Psicologia Escolar em cursos de Graduação em Psicologia, em 1962, a partir da
criação da profissão de psicólogo.
Conforme Antunes (2006), o período da história da Psicologia passa pela
terceira fase, denominada automatização, que compreende o intervalo entre os anos
de 1890 a 1930. Durante esse período, ocorre o processo de reconhecimento da
autonomia da Psicologia, em que Cruces (2010) constata o início das instalações dos
primeiros laboratórios de Psicologia no Brasil, sob orientação de pesquisadores
estrangeiros e com a utilização de equipamentos importados, nos quais se
reproduziam experimentos e se adaptavam testes desenvolvidos em outros países.
Assim, pode-se somente fazer referência a ideias psicológicas, já que não foram
desenvolvidas pesquisas ou investigações que expressassem preocupação com a
produção de conhecimento científico.
A quarta fase, consolidação, Antunes (2006) caracteriza como o período em
que a Psicologia está se consolidando como ciência autônoma, além de iniciar,
gradativamente, uma maior inserção no campo prático (profissionalização). Nessa
fase foram criadas muitas instituições e associações de Psicologia, facilitando a

20
consolidação das práticas e propiciando a criação da profissão de psicólogo no
Brasil. Nesse período, os profissionais eram denominados psicologistas ou
psicotécnicos, visto que não existia a formação específica em Psicologia. Talvez seja
por isso que Barbosa (2011) tenha denominado o terceiro período de
desenvolvimentismo, delimitando-o entre os anos de 1930 a 1962, tendo em vista
que no Brasil se vivia um momento de crescimento da economia e da produção
industrial.
Durante esse período da história, com a criação do Ministério da Educação,
iniciavam-se as reformas educacionais, a organização do ensino em níveis, abria-se a
possibilidade de criação de universidades, entre outras ações relacionadas à
educação. Segundo Barbosa (2011), tais fatos conduziram à necessidade de
convidar psicólogos para atender alunos diagnosticados com “problemas de
aprendizagem”. Logo em seguida, a Psicologia Educacional se estabelece como
campo do saber, a partir do momento em que define o objeto de estudo, as linhas
de pesquisa e a atuação específica em relação às crianças que possuem dificuldades
de aprendizagem. As atividades do psicólogo na escola se baseariam, então, em
auxiliar na resolução de dificuldades escolares e propor métodos especiais de
educação, de modo a inserir os alunos nos padrões de normalidade. Com isso, os
problemas eram sempre encarados como fenômenos individuais e de origem
orgânica, sobre os quais a atuação profissional se dava essencialmente por meios
clínicos e psicométricos.
Antunes (2006) enfatiza que esse período de consolidação foi de grande
importância para o desenvolvimento da Psicologia como ciência e profissão no
Brasil. Com a regulamentação da Lei nº 4.119/62 (Brasil, 1962) ocorre uma
estruturação e sistematização das associações e da atuação profissional dos
psicólogos, momento que marca o início de um período de “profissionalização”,
institucionalizando a profissão no Brasil. O autor, contudo, considera essa ação
precoce, uma vez que em outros países a institucionalização da profissão se deu
apenas no século XXI.
Falar da profissionalização, conforme a quinta fase determinada por Antunes
(2006), é fazer referência a dois fatos: 1) a criação da Associação Nacional de

21
Pesquisa e Pós-graduação em Psicologia (ANPEPP), fundada durante a XXXV Reunião
Anual da Sociedade para o Progresso da Ciência realizada em Belém do Pará em
1983 e, 2) a criação da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional
(ABRAPEE), ano de 1991, durante o Primeiro Congresso Nacional de Psicologia
Escolar.
Patto (1987), pesquisadora e professora da Universidade de São Paulo (USP),
sugere que se utilize o termo Psicologia Escolar em vez de Psicologia do Escolar. A
partir de então a denominação Psicologia Escolar começa a aparecer nos livros
didáticos. Patto (1981), anos antes, por ocasião da apresentação de sua tese de
doutorado, já avaliara o trabalho dos psicólogos escolares em São Paulo.
Assim, nos fins dos anos 1970 e início da década de 1980, instala-se no
Brasil um movimento de crítica ao modelo de atuação em Psicologia Escolar.
Contatou-se que o profissional inserido na escola era um aplicador de instrumentos
de segregação. Verificou-se, também, que a atuação dos psicólogos nas escolas era
focada nas incapacidades individuais dos sujeitos, encontrando, especialmente na
história de vida, explicações para culpabilizar o aluno pelos problemas de
aprendizagem, desconsiderando, na maioria das vezes, aspetos político-sociais e
intraescolas, participantes na produção dessas dificuldades. Observou-se que antes
do final da década de 1970 o modelo de atuação do psicólogo escolar era o
diagnóstico e o tratamento dos problemas de aprendizagem, configurando o modelo
médico de intervenção na escola e conduzindo a psicologização do espaço escolar,
que atribui ao aluno a culpa por suas dificuldades de aprendizagem (Tanamachi et
al., 2000; Neves e Almeida, 2003)

NOVOS RUMOS DA PSICOLOGIA ESCOLAR NO BRASIL

Para Tanamachi e pesquisadores (2000), a prática da Psicologia até então


adotada camuflava a verdadeira realidade dos problemas educacionais, de modo
que a atuação dos psicólogos escolares precisava passar pela compreensão da
origem do pensamento psicológico e pelas demandas sociais. Essa mudança na

22
Psicologia Escolar desencadeou a resignificação da atuação profissional e da
formação que a sustentava, já que se fazia necessária uma apropriação de
referenciais teórico-metodológicos que valorizassem a influência de múltiplos
elementos na conformação dos problemas escolares. Somado a isso, havia a
necessidade de reconhecer a dimensão histórica da realidade sobre a qual se
intervinha e o papel das interações sociais, além de privilegiar as ações coletivas
que contassem com a participação dos diferentes atores que faziam parte do espaço
educativo, assegurando, assim, a especificidade de cada um.
Durante o século XX ocorre a ampliação dos campos de atuação e o
compromisso social da Psicologia. Segundo Marinho-Araújo e Almeida (2014), a
Psicologia passa a levar em conta os fatores sociopolíticos e intraescolares na
produção do sucesso ou do fracasso escolar do aluno. Logo, a prática do psicólogo
escolar acabou por receber críticas, pois sua atuação individualizante,
adaptacionista e discriminatória escamoteava a multiplicidade dos fatores
envolvidos nos processos educativos e auxiliava na marginalização das classes
oprimidas. Segundo Barbosa (2012), esse é o período da crítica, ou o quinto período,
que ocorreu entre os anos de 1981 a 1990.
Torna-se necessário referendar fatos e movimentos que contribuíram para a
crítica ao modelo de atuação clínica na escola, durante os quais o psicólogo teria um
novo locus e um novo foco de trabalho na educação: deveria, também, atuar junto às
questões institucionais, garantindo sua autonomia de trabalho, permitindo analisar a
prática institucional e constituindo mecanismos de atuação (Marinho-Araújo e
Almeida, 2014).
A partir da ineficiência da atuação do psicólogo nas escolas, somada aos
ideários marxistas, as mudanças começaram a ocorrer, e o pensamento crítico sobre
a atuação do profissional começa a tomar forma, questionando também a formação
que é ofertada nos cursos de graduação. Logo, os modelos subjetivos perdem força
e o fenômeno educativo passa a ser entendido a partir de dimensões sociais,
históricas e culturais, associando-se à constituição de um sistema de pós-graduação
que impulsiona estudos e amplia a compreensão das questões escolares (Yamamoto
et al., 2007).

23
Para Souza (2010), os novos rumos da Psicologia Escolar concebem
determinadas concepções de homem e de mundo, que consideram a escolarização
como um bem universal, um direito de todos e que, por isso, precisa ser efetivada
com qualidade, mesmo no interior de uma sociedade de classes marcada pela
desigualdade social, reproduzida no próprio ambiente escolar.
Patto (1987) questiona os pressupostos teóricos alicerçados em abordagens
psicológicas e subjetivas a partir do psicólogo como adaptacionista, contrapondo
aos movimentos da Psicologia Institucional defendida por Bleger e de Pichon-
Rivière, e também aos trabalhos de Franco Basaglia, além de outros teóricos. A partir
daí, Patto inicia o Movimento Institucionalista da Psicologia, em que o foco do
trabalho seria a instituição escolar, e o locus deveria centrar em uma atuação
profissional, com a atuação do psicólogo como assessor da escola e não mais como
psicólogo da instituição onde trabalha, subordinando-se à direção escolar.
Para Guzzo (2001), levando em conta as práticas centradas no indivíduo com
foco em procedimentos curativos e com utilização irrestrita de testes, que não
atendiam às necessidades da escola, foi iniciado um movimento mais preventivo,
para antecipar e evitar que ocorressem problemas na escola. A presença do
psicólogo em instituições escolares e educativas há décadas vem sendo motivo de
debates, tanto científicas quanto profissionais. Guzzo (2001) compreende essa
como uma prática escolar preventiva, que implicaria em alterar a visão sobre a qual
o desenvolvimento do ser humano tem sido compreendido, ou seja, é necessário
conquistar a saúde e não atacar a doença. Em síntese: prevenir em vez de curar.

O PSICÓLOGO ESCOLAR NOS INSTITUTOS FEDERAIS DE EDUCAÇÃO,


CIÊNCIA E TECNOLOGIA.

Ao apresentar a revisão teórica a respeito da educação no Brasil, com foco


na Educação Profissional, Científica e Tecnológica, uma das constatações mais
óbvias a que se consegue chegar, segundo Kuenzer (2001), é que a educação
brasileira tem sido marcada pela dualidade estrutural, ou seja, por diferentes tipos

24
de escolas para classes sociais distintas. Se de um lado existe uma educação básica
propedêutica e o ingresso aos cursos universitários, de outro existe a oportunidade
de realizar cursos técnicos, e atualmente também cursos superiores de tecnologia.
Convém ressaltar que entre 2003 e 2016 o Ministério da Educação construiu de
mais de 500 novas unidades referentes ao plano de expansão da educação
profissional, totalizando 644 campi em funcionamento,
(http://redefederal.mec.gov.br/expansao-da-rede-federal) representando uma
ampliação de 150% da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e
Tecnológica. Diante disso, é necessário responder às seguintes questões: de onde
surgiu a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica? Quais
foram as principais etapas que ocorreram na história da Educação Técnica no Brasil?
Quais os avanços e os retrocessos que houve na legislação da Educação
Profissional? Qual o papel do psicólogo ou, ao menos, quais os documentos que
norteiam sua atuação profissional junto a essa modalidade de formação acadêmica?
Para melhor compreensão, segue uma revisão histórica. Optou-se por
apresentar a história da Educação Profissional, Científica e Tecnológica, que
completa 107 anos de existência neste ano, em grandes fases. Para definir as cinco
grandes fases, levou-se em conta o contexto histórico e as oscilações das etapas
políticas em que o país viveu:
Os primeiros movimentos da Educação no Brasil ocorreram no período em
que houve a presença dos padres Jesuítas, seguido da vinda da Corte Portuguesa
para o Rio de Janeiro, até a Proclamação da República, em 1889. Segundo Batista e
Müller (2013), a partir de 1549 o ensino formal no Brasil passa a ser realizado pelos
Jesuítas, que proporcionam educação escolar a um número restrito de filhos de
homens da aristocracia rural, além de catequese para a população indígena. Assim
sendo, nessa fase inicial é constatada a inexistência do ensino técnico, e por esse
motivo ela não foi considerada uma fase. Opta-se por definir a primeira fase no início
dos anos de 1900, pois em 23 de setembro de 1909 foi assinado o Decreto nº
7.566, criando as Escolas de Aprendizes Artífices (Brasil, 1909). Já as décadas de 1930
e 1940 foram marcadas pelas reformas na Educação e pela criação de um ministério
específico para a Educação, durante o Governo de Getúlio Vargas. No ano de 1959,

25
as Escolas Industriais e Técnicas passaram à categoria de autarquias, e foram
denominadas Escolas Técnicas Federais.
A segunda fase começa a partir da Ditadura Militar, que foi o regime
instaurado em 1º de abril de 1964, e que durou mais de 20 anos. Para Arcary
(2015), entre 1968 a 1988 as Escolas Técnicas Federais consolidaram-se como as
instituições que ofereciam essencialmente (mas não exclusivamente) o melhor
ensino público de segundo grau. Tal fato se deve à qualidade das escolas na época e
a seleção criteriosa de seus estudantes através de processos seletivos, que
favoreciam tanto a saída profissional promissora como o ingresso nas universidades.
O início da terceira fase é marcado pelo fim da ditadura militar e pela
aprovação da Constituição Federal de 1988, em que ocorrem, inclusive, mudanças
significativas na “vida funcional dos servidores”, que deixaram de ser celetistas
(CLT- modo de contratação de trabalho) para serem regulados por um estatuto
jurídico único. Na mesma época, foi assinada a Lei nº 8.948/94 (Brasil, 1994) que
institui o Sistema Nacional de Educação Tecnológica, no qual as Escolas
Agrotécnicas e Tecnológicas (EAFs e ETFs) poderiam se transformar em CEFET
(Centro Federal de Educação Tecnológica). Ocorre outro avanço significativo: os
diretores passam a ser eleitos pela comunidade acadêmica e não mais por indicação
do Ministério da Educação.
A quarta fase está associada ao governo de Fernando Henrique Cardoso
(1995 a 2003), uma administração com claras tendências neoliberais e com várias
ocorrências de privatizações de empresas estatais. Nessa fase se dá a primeira
grande reforma da rede por meio do Programa de Expansão da Educação
Profissional (PROEP), é quando os cursos Superiores de Tecnologia se diversificaram,
iniciando, ainda, a implantação dos cursos Superiores de Licenciatura, isso a partir
do ano de 2000.
Na primeira década do século XXI, especificamente em 2003, com o então
presidente Luís Inácio Lula da Silva, ocorre a primeira fase do governo de coalizão
quando, de acordo com Arcary (2015), consolida-se a “Cefetização”, que se dá
fundamentalmente em virtude da ausência de outra política, mas também por

26
pressão dos Diretores Gerais das Escolas Técnicas e/ou Agrotécnicas; assim é
autorizada a retomada do ensino integrado, modalidade de destaque na rede.
Neste período, houve a reestruturação do Plano de Carreira dos Cargos
Técnico-Administrativos em Educação (PCCTAE), através da Lei 11.091/05 (Brasil,
2005a) . No segundo mandato de governo Lula, a Rede Federal de Ensino
Profissional e Tecnológica viveu a maior transformação de sua história. Segundo
Arcary (2015), não foram somentes mudanças quantitativas, pois ocorreu também
um investimento público nas instituições Federais de Ensino Profissionalizante,
fazendo com que surgissem, em 2008, os Institutos Federais de Educação, Ciência e
Tecnologia (IFs) por meio da Lei nº 11.892/08 (Brasil, 2008), que instituía a Rede
Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, que foi criada no âmbito
do Ministério da Educação, aproveitando o potencial dos CEFETs, das Escolas
Técnicas e Agrotécnicas Federais e das escolas vinculadas às Universidades Federais
(Pacheco, 2011). Esse período é considerado, por essa autora, como a quinta fase da
história da Educação Profissional e Tecnológica do Brasil.
A Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica cobre
atualmente todos os estados brasileiros e oferece cursos técnicos, cursos técnicos
integrados ao ensino médio, cursos superiores de tecnologia, licenciaturas,
bacharelados e pós-graduação (mestrados e doutorados). Além disso, há ainda os
cursos de PROEJA (Programa de Integração da Educação Profissional à Educação
Básica na modalidade de Educação de Jovens e Adultos), os cursos do PRONATEC
(Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego) e a modalidade EAD
(Ensino a Distância), gerando um total de 38 Institutos Federais, além da UTFPR
(Universidade Tecnológica Federal do Paraná) e dois CEFETs – um no estado do Rio
de Janeiro e outro em Minas Gerais. Também estão incluídas na Rede as Escolas
Técnicas vinculadas às Universidades Federais e o Colégio Pedro II, no Rio de
Janeiro.
Ainda com base na mesma lei (Brasil, 2008), especificamente no inciso I do
artigo 6º, é explicitada uma das finalidades e características da Rede Federal de
Educação Profissional, Científica e Tecnológica:

27
“oferta de educação profissional e tecnológica, em todos os
seus níveis e modalidades, formando e qualificando cidadãos,
tendo em vista a sua atuação profissional nos diversos setores
da economia, com ênfase no desenvolvimento socioeconômico
local, regional e nacional”.

Nesta época, a partir da rápida mudança no contexto educacional


brasileiro, muitas situações e atribuições totalmente novas com relação à formação
acadêmica do alunado surgem como um grande desafio. O país estava, até então,
habituado e focado quase que exclusivamente na formação universitária, que tinha
(e ainda tem) objetivos distintos daqueles propostos para os Institutos Federais de
Educação. De início, vivenciou-se, principalmente pela classe docente, uma grande
angústia e preocupação com relação à atuação na formação acadêmica de alunos de
cursos que até então não existiam no país. Desse modo, seria necessária a atuação
docente em todos os níveis de escolaridade propostos que em breve iniciariam as
atividades.
Os servidores técnico-administrativos em educação, apesar de possuírem
participação indireta em sala de aula, também se questionavam em relação a sua
atuação profissional no novo meio acadêmico dos Institutos Federais de Educação.
Uma reorganização de cargos e funções se iniciava, visando um atendimento melhor
e mais adequado das demandas educacionais que viriam a ocorrer. Novos concursos
públicos seriam deflagrados, dando início à contratação de milhares de novos
docentes e servidores técnico-administrativos das mais diversas áreas de formação
para atuação nos Institutos Federais em todo o país.
Em relação aos servidores técnico-administrativos em educação, foi em
2005, através da Lei nº 11.091 (Brasil, 2005a), que houve a (re) estruturação do
Plano de Carreira de seus cargos, no âmbito das Instituições Federais de Ensino
vinculadas ao Ministério da Educação. O Ofício Circular nº
015/2005/CGGP/SAA/SE/MEC (Brasil, 2005b) descreve a função dos cargos técnico-
administrativos em educação. Há, ainda, no documento que orienta as ações do
psicólogo nos Institutos Federais, e especifica as seguintes atribuições:

28
 Elaborar, implementar e acompanhar as políticas da instituição nas
áreas de Psicologia Clínica, Escolar, Social e Organizacional;
 Assessorar instituições e órgãos, analisando, facilitando e/ou
intervindo em processos psicossociais nos diferentes níveis da
estrutura institucional;
 Diagnosticar e planejar programas no âmbito da saúde, trabalho e
segurança, educação e lazer; atuar na educação, realizando
pesquisa, diagnósticos e intervenção psicopedagógica em grupo ou
individual;
 Realizar pesquisas e ações no campo da saúde do trabalhador,
condições de trabalho, acidentes de trabalho e doenças
profissionais em equipe interdisciplinar, determinando suas causas
e elaborando recomendações de segurança;
 Colaborar em projetos de construção e adaptação de
equipamentos de trabalho, de forma a garantir a saúde do
trabalhador;
 Atuar no desenvolvimento de recursos humanos, seleção,
acompanhamento, análise de desempenho e capacitação de
servidores;
 Realizar psicodiagnóstico e terapêutica com enfoque preventivo
e/ou curativo, e técnicas psicológicas adequadas a cada caso a fim
de contribuir para que o indivíduo elabore sua inserção na
sociedade;
 Preparar pacientes para a entrada, permanência e alta hospitalar;
 Atuar junto a equipes multiprofissionais, identificando e
compreendendo os fatores psicológicos para intervir na saúde
geral do indivíduo;
 Utilizar recursos de informática;
 Executar outras tarefas de mesma natureza e nível de
complexidade associadas ao ambiente organizacional.

Apesar da legislação reestruturar o plano de carreira dos servidores


técnico-administrativos em educação, incluindo o psicólogo, observa-se que há
necessidade de realizar pesquisas com foco nesse profissional, visto que a
legislação estabelece diretrizes gerais, e a necessidade da implantação pode estar
condicionada pelas características em contexto específico, pelas representações das
equipes, das chefias e dos próprios psicólogos. É pertinente desenvolver
investigação no Doutorado em Psicologia da Educação, de modo a elencar quem são
esses profissionais, como concebem a sua função, como procuram implementar sua
atuação e como são suas relações com a equipe gestora; e ainda de que modo essa

29
equipe alicerça seu trabalho, que dificuldade sente e quais são suas áreas
prioritárias de intervenção e que concepções tem sobre a sua intervenção. Essa
pesquisa está na fase de elaboração do instrumento para coleta de dados junto aos
profissionais envolvidos: psicólogos e equipe gestora.

30
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34
35
Josiane de Paula Jorge

“Porque eu só preciso de pés livres, de mãos dadas, e de olhos bem abertos.”


Guimarães Rosa

O
espaço escolar comporta em si uma função política. Deve permitir e
promover o exercício da cidadania e a luta pela transformação social.
Este espaço por si só, de forma dialética, forma e desafia a atuação do
psicólogo e da psicóloga na educação (MARINHO-ARAÚJO; ALMEIDA, 2010). O ponto
de interesse deste capítulo está em um aspecto ainda mais específico deste espaço:
a modalidade de educação profissional e tecnológica e sua relação com a prática da
psicologia escolar.
A educação profissional e tecnológica, no país, está em grande
desenvolvimento, o que gera amplo investimento nesta esfera da educação. Isto se
revela com a contratação de diversos profissionais, em que se inserem os psicólogos
e as psicólogas, os quais passam a adentrar e atuar neste novo e desafiante campo
de trabalho (PREDIGER, 2010). Diante deste cenário, e sendo também psicóloga
atuante nesta modalidade de educação, no Instituto Federal de Educação Ciência e
Tecnologia de São Paulo, Câmpus Itapetininga, nasce o anseio de analisar e
conhecer a atuação da psicologia na educação profissional e tecnológica no Brasil.
Pretende-se, com o desenvolvimento deste capítulo, conhecer e produzir
conhecimento acerca desta esfera de atuação da psicologia na educação, com o
intuito de contribuir teoricamente com os profissionais que estão inseridos neste
contexto de trabalho, tendo em vista a escassa produção teórica acerca deste tema.
Buscando-se assim, enquanto psicóloga de uma instituição de educação
profissional, embasar, fundamentar, compreender, analisar e enriquecer minha
prática neste contexto de intervenção.

36
Este capítulo está dividido em três partes que permitem uma melhor
organização e clareza da explanação do tema. As duas primeiras expõem um breve
panorama histórico da psicologia na educação e da educação profissional e
tecnológica no Brasil, respectivamente. O panorama da psicologia na educação está
descrito em sua interface enquanto psicologia escolar/educacional, embora o
psicólogo e a psicóloga possam atuar em instituições educacionais a partir de outras
faces da psicologia. Esta escolha e inevitável limitação foram realizadas em virtude
da delimitação necessária para a construção deste capítulo, não sendo possível uma
maior exploração de outras faces da psicologia neste momento. Na terceira parte,
por sua vez, também dividida em tópicos que permitem a clareza do discurso, se
concentram as articulações entre essas duas esferas, psicologia escolar/educacional
e educação profissional, suas especificidades, construções e transformações.

ARTICULAÇÃO ENTRE PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO NO BRASIL: BREVE


INTRODUÇÃO1

No Brasil, a psicologia se articula com a educação desde o fim do século XIX e


início do século XX, a partir de disciplinas referentes à psicologia que se faziam
presentes nos cursos de formação de professores, já neste período. O
reconhecimento da psicologia, no Brasil, como prática profissional e área do
conhecimento, no entanto se deu apenas em 1962 (MARINHO-ARAÚJO; ALMEIDA,
2010), quando ocorreu a ampliação desta prática profissional e houve o predomínio
do modelo de atendimento individual, baseado na psicoterapia, no psicodiagnóstico
e na psicometria (CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA DE SÃO PAULO, 2008).
A trajetória de articulação entre psicologia e educação passou por várias
transformações, influenciadas historicamente pelas mudanças sociais e políticas
ocorridas no Brasil. A figura do psicólogo e da psicóloga na educação emergiu com a
finalidade de resolver as situações-problemas provenientes da escola, possuindo
uma identidade pouco definida (MARINHO-ARAÚJO; ALMEIDA, 2010; OLIVEIRA,

1
Para um aprofundamento do tema, consultar Marinho-Araújo e Almeida (2010) e Souza (2009).

37
2013). Identidade profissional esta que, por muitas vezes, contribuiu para uma
prática de cunho curativo, estigmatizadora e classificadora dos sujeitos (CARVALHO;
MARINHO-ARAÚJO, 2010).
A psicologia se insere no espaço escolar, portanto, com uma atribuição
controversa. Espera-se que o aluno considerado “problema” passe a responder ao
sistema educacional após ter sido adaptado a aprender. Esta perspectiva carrega
em si a ideia de permanência dos modelos de ensinar e a primazia da adaptação do
aluno. Isto permitiu o desenvolvimento de uma prática psicológica com foco de
intervenção sobre o estudante: ajustá-lo aos padrões esperados e devolve-lo à sala
de aula (PREDIGER, 2010). O fazer psicológico, neste processo, legitima a
culpabilização do aluno pelo seu fracasso escolar (PATTO, 1997).
Foi desta forma que, a partir da década de 1960, a psicologia se tornou
presente nas escolas enquanto prática profissional. Houve, neste período, a
ampliação do sistema educacional e o consequente aumento de solicitações por
serviços de atendimento aos alunos (MARINHO-ARAÚJO; ALMEIDA, 2010). As
instituições escolares passaram a solicitar intervenções da psicologia frente às
dificuldades que emergiam no processo de ensino-aprendizagem dos alunos. Isto
contribuiu para o desenvolvimento de uma psicologia escolar promotora da
patologização de dificuldades de comportamento e aprendizagem, bem como para o
desenvolvimento de uma prática psicológica pautada em uma perspectiva clínica
dentro da escola. A atuação clínica da psicologia na educação se fortalecia
(PREDIGER, 2010).
Apenas mais recentemente é que estes modelos de atuação da psicologia na
educação começam a ser questionados e são pensadas novas formas de se fazer a
ciência e a prática psicológica (CONSELHO REGIONAL DE PSICOLOGIA DE SÃO
PAULO, 2008). A movimentação da sociedade civil, no Brasil, em busca de melhores
condições de vida caracterizou a década de 1980, quando ocorreram lutas sociais
por melhores condições na saúde, no trabalho e na educação. A participação dos
psicólogos e das psicólogas nesses movimentos sociais impulsionou mudanças nas
produções da psicologia, na relação desta com a educação e na busca por novas
práticas de atuação e intervenção (MARINHO-ARAÚJO; ALMEIDA, 2010).

38
Práticas estas pensadas e articuladas à necessidade de compreender a
psicologia enquanto profissão no âmbito de políticas públicas, que cumpram com o
papel de democratização do estado brasileiro e que prezem pela diminuição da
desigualdade social. Pensa-se no papel social da psicologia enquanto ciência e
profissão, incluindo sua finalidade no âmbito escolar (CONSELHO REGIONAL DE
PSICOLOGIA DE SÃO PAULO, 2008) e novos compromissos e posturas são então
colocados para o psicólogo e para a psicóloga em suas práticas (PREDIGER, 2010). A
prática psicológica na educação começa a se inserir como um agente de
transformação, estimuladora de reflexões e facilitadora de saberes e práticas dos
educadores. O caráter transformador do trabalho do psicólogo e da psicóloga surge
como um novo paradigma que orienta a prática profissional, em detrimento da
antiga perspectiva de prática voltada para a solução de problemas, individualizante,
classificatória e de cunho curativo (CARVALHO; MARINHO-ARAÚJO, 2010).
A terminologia que nomeia a área de articulação entre a psicologia e a
educação é um aspecto que também deve ser considerado. A compreensão do
termo Psicologia Escolar acaba por se confundir com os termos Psicologia
Educacional ou Psicologia da Educação. Algumas das produções teóricas que
procuram distinguir tais termos podem se tornar distorcidas ao se basearem em
concepções dicotômicas entre teoria e prática (MARINHO-ARAÚJO; ALMEIDA, 2010).
Historicamente, as psicologias Escolar e Educacional conservaram-se como
âmbitos distintos até recentemente, sendo a primeira referente à prática
profissional, enquanto a segunda estava ligada a área de pesquisa acadêmica em
psicologia (SOUZA, 2009). Para Meira (2000, apud MARINHO-ARAÚJO; ALMEIDA,
2010), estes são termos que designam aspectos diferenciados: a Psicologia Escolar
se refere a questões práticas e diz respeito ao âmbito do exercício direto da prática
psicológica na educação, enquanto a Psicologia da Educação ou Educacional está
vinculada aos aspectos teóricos e se ocupa da construção de conhecimentos que
embasam o processo educacional.
Tal dicotomia entre estes dois âmbitos da psicologia na educação começou a
ser questionada por uma perspectiva crítica, a qual passa a considerar teoria e
prática como elementos indissociáveis na construção de uma ciência humana

39
(SOUZA, 2009). Atualmente, a Psicologia Escolar compreende o espaço escolar
como fértil para o desenvolvimento tanto do pesquisador quanto do profissional
que coloca em prática as produções e conhecimentos construídos por essas
pesquisas (MARINHO-ARAÚJO; ALMEIDA, 2010). E é esta a concepção de Psicologia
Escolar adotada neste capítulo.
Observa-se, portanto, um quadro historicamente complexo entre psicologia e
educação, caracterizado por encontros e desencontros, visto as diferentes posições
práticas, conceituas e ideológicas da psicologia, influenciadas ainda por
problemáticas sociais e políticas da história do país (MARINHO-ARAÚJO; ALMEIDA,
2010). Encontramos-nos ainda em um período de reconfigurações neste processo
de articulação entre psicologia e educação. Buscamos rememorar o passado para
avaliar a situação presente a procura de novas práticas de atuação e intervenção. A
relação entre psicologia e educação está em contínuo processo de transformação
(OLIVEIRA, 2013).

EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA NO BRASIL: BREVE


INTRODUÇÃO2

A educação profissional no Brasil nasceu, historicamente, com uma


perspectiva assistencialista, para atender a população de crianças, jovens e adultos
socialmente marginalizados. Esta modalidade de educação carrega, no decorrer de
seu desenvolvimento histórico, a dualidade estrutural, que consiste na existência de
diferentes escolas e sistemas educacionais para atender classes sociais distintas
(TAVARES, 2012). Trata-se da dualidade que distingue a formação profissional e a
formação acadêmica (MOURA, 2010).
A educação associada à formação para o trabalho, tida como básica e precária
no decorrer da história do país, estava voltada as camadas mais pobres da
população, enquanto a educação básica propedêutica, que preparava o estudante e
possibilitava o acesso aos cursos universitários, era destinada a parte da população

2
Para um aprofundamento do tema, consultar Tavares (2012) e Wittaczik (2008).

40
que detinha a superioridade tanto cultural e econômica, como política (TAVARES,
2012). Como pontua Manfredi (2002, apud PREDIGER, 2010), um ensino profissional
que objetiva a formação da força de trabalho ligada a produção.
A educação profissional no Brasil teve seu início oficial em 1909, quando foi
sancionado o Decreto-Lei nº 7.566, de 23 de setembro de 1909, pelo Presidente da
República Nilo Peçanha. Esta educação profissional objetivava atender ao
desenvolvimento industrial crescente. Neste momento, o ensino profissional foi
confiado ao Ministério da Indústria e Comércio e houve a criação de 19 Escolas de
Aprendizes Artífices, que tinham como objetivo preparar novas gerações para a
continuidade dos ofícios, desenvolvendo profissionais oriundos das camadas pobres
da população (WITTACZIK, 2008). Isto oficializou o estabelecimento da Rede Federal
de Educação Profissional no Brasil (TAVARES, 2012) e se constituiu como uma inicial
estruturação para o desenvolvimento da educação profissional (PREDIGER, 2010).
O ensino profissional se expandiu no Brasil a partir da década de 1930,
quando se configurou o início do processo de industrialização no país. Houve, com
isso, a instalação de escolas superiores para a formação de recursos humanos
imprescindíveis ao processo produtivo em desenvolvimento (WITTACZIK, 2008).
A década de 1940 foi marcada pelo surgimento do Sistema S, composto pelo
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), pelo Serviço Nacional de
Aprendizagem Comercial (SENAC), pelo Serviço Social do Comércio (SESC) e pelo
Serviço Social da Indústria (SESI), os quais permitiram que a amplitude de
atendimento da educação profissional tomasse impulso no país (WITTACZIK, 2008).
O Sistema S apresentava uma formação profissional dirigida para o treinamento da
técnica e atualmente é reconhecido como grande referência de profissionalização.
Este sistema se desenvolveu paralelamente ao governo, o que permitiu a este a
diminuição, por vezes, de seu encargo sobre a educação profissional (PREDIGER,
2010).
No início do século XXI, com a composição de um governo democrático
popular, o país adota uma postura progressista referente à educação (TAVARES,
2012). A Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica é
expandida pela Lei 11.892/08 (Brasil, 2010), a qual cria os Institutos Federais de

41
Educação, Ciência e Tecnologia (IFs). Estes institutos integram o plano de expansão
da Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Brasil, 2010), que gera uma
interiorização e descentralização da educação profissional e tecnológica ao
estabelecer novas unidades (IFs) em todo território nacional (PREDIGER, 2010).
Os IFs passam a oferecer o ensino técnico-profissionalizante e o ensino
superior público e gratuito, concorrendo com as Universidades Federais (TAVARES,
2012). Enquanto política pública os IFs são afirmados, prevendo-se a formação
profissional de parcelas da população marcadas, historicamente, por desvantagens
econômicas e sociais. A educação promovida pelos IFs traz uma preocupação com o
público a quem se dirige; assume-se um compromisso para a transformação social e
desprende-se do caráter de amparo e assistencialismo, mas ainda se mantém como
uma educação para as camadas desfavorecidas da população. A proposta destes
institutos é a de se constituir como instrumento do resgate da cidadania e da
redução das desigualdades sociais, por meio da oferta de uma formação
humanística, além da preparação técnica (PREDIGER, 2010).
Atualmente, a formação profissional no Brasil se desenvolve, portanto, por
meio de instituições de educação profissional públicas e privadas, que objetivam
produzir saberes afinados com as novas formas de organização produtiva, baseadas
na produção e difusão de inovações tecnológicas, que caracterizam o final do século
XX e fundamenta a identidade do século XXI (WITTACZIK, 2008). Todavia, esta
modalidade de educação vem se transformando e tem também buscado, enquanto
política pública, a redução da desigualdade social, bem como a construção de um
espaço para a transformação social (PREDIGER, 2010).

PSICOLOGIA ESCOLAR E EDUCAÇÃO PROFISSIONAL: ARTICULAÇÕES


TRANSFORMADORAS

Os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFs) formam um


novo campo de atuação do psicólogo e da psicóloga. É crescente a contratação

42
destes/destas profissionais nesta instituição, o que abre espaço para o fazer
psicológico na educação profissional (PREDIGER, 2010).
Com a lei nº 11.352, de 11 de outubro de 2006, que dispõe sobre a criação
de cargos efetivos para a composição das instituições federais de ensino superior e
das instituições federais de educação profissional e tecnológica, o psicólogo e a
psicóloga passam a fazer parte das transformações que vem ocorrendo na educação
profissional. Em todo território nacional, foram criados 57 cargos para os psicólogos
e as psicólogas nas instituições de educação profissional e tecnológica (PREDIGER,
2010).
Assim como é novo o ingresso da psicologia na educação profissional,
também muitos dos psicólogos e das psicólogas que entram nos IFs vivenciam suas
primeiras experiências com a psicologia vinculada à educação. Advêm, assim, as
dificuldades dos/das profissionais em compreender quais são suas atribuições neste
campo de trabalho, o que gera insegurança a respeito do fazer psicológico na
educação profissional. Esta carência de experiência neste contexto está ligada tanto
a questão da formação, como das problemáticas da atuação da psicologia na
educação que percorrem todo seu desenvolvimento no decorrer da história,
gerando incertezas e fragilidades nesta prática em âmbito educacional (PREDIGER,
2010).
Com isso, ao ingressar na educação profissional e tecnológica, o psicólogo e a
psicóloga se encontram com escasso suporte teórico e prático para atender
demandas que se apresentam como urgentes pela instituição, havendo ainda a
dificuldade de definição do papel desse/dessa profissional frente à educação. Isto
gera a necessidade da construção de tais definições pelos psicólogos e pelas
psicólogas atuantes no espaço escolar (PREDIGER, 2010).
Veremos, a partir de agora, como esta construção está se estruturando. O
texto foi divido em tópicos apenas com a intenção de clarificar a explanação, sem o
intuito de esgotar as discussões, tendo em vista a necessidade de maiores
explorações e pesquisas sobre cada um destes, e outros, aspectos apresentados a
seguir.

43
 Psicologia Escolar e os IFs:
A ansiedade do psicólogo e da psicóloga frente a um campo distinto de
atuação, em que as dúvidas acerca do fazer psicológico permeiam a construção de
intervenções, podem ser sanadas a partir das parcerias estabelecidas com
profissionais de outros campos de conhecimento (EIDELWEIN, 2005). Estas angústias
e dúvidas também podem ser decorrentes da desvalorização dos/das profissionais
da psicologia dentro da instituição, que também existe em alguns locais de trabalho,
e dificulta a prática. Com a inserção dos psicólogos e das psicólogas nas equipes
multiprofissionais e nos trabalhos coletivos, dentro dos IFs, esta desvalorização
acaba perdendo força dentro da instituição (PREDIGER, 2010).
As parcerias com outros profissionais da educação, como assistentes sociais,
pedagogos, dentre outros, que ocorrem nos Institutos Federais, surgem como
potencialidades para o trabalho do psicólogo e da psicóloga no contexto escolar.
Criam novos espaços para a atuação, fortalecendo o trabalho interdisciplinar
(PREDIGER, 2010).
Os IFs configuram um espaço distinto das escolas de educação básica e
universidades, na medida em que oferecem cursos técnicos integrados ao ensino
médio, cursos técnicos para estudantes já formados no ensino médio, cursos
técnicos para Jovens e Adultos (PROEJA), bem como ensino superior. Isto também
possibilita a diversidade do público que compõe este espaço educacional, em que
há desde adolescentes até trabalhadores que retomam suas formações (PREDIGER,
2010).
Neste campo da educação profissional e tecnológica, as características do
processo evolutivo da ciência psicológica na educação aparecem e ainda marcam as
práticas atuais da psicologia escolar. Nos Institutos Federais, o fazer psicológico
gravita também em torno de problemas de indisciplina, comportamento e de
aprendizagem do discente, como inicialmente se construiu a demanda da psicologia
vinculada à educação (PREDIGER, 2010).
Historicamente, a psicologia manteve na educação uma atuação voltada para
os alunos considerados “problemas”, o que contribuiu para a crença na ideia de que

44
os problemas são próprios dos alunos e que as mudanças, consequentemente, só
poderiam ocorrer por meio da intervenção direta com o discente (PREDIGER, 2010).
Este é o local ao qual a psicologia está reduzida, por oferecer em excesso práticas e
formas de intervenções corretivas, contribuindo para a criação de um imaginário que
a restringe a esta compreensão do fazer psicológico na educação (PIRES, 2009).
Há, portanto, uma carência de conhecimento ou mesmo confusão sobre o
papel do psicólogo e da psicóloga escolar e suas atuações dentro da instituição
educacional, incluindo a educação profissional e tecnológica dos IFs (PREDIGER,
2010). Oliveira (2013) esclarece que a psicologia escolar tem como campo de ação o
processo de escolarização, com foco na escola em sua coletividade, incluindo as
relações estabelecidas neste espaço. A psicologia escolar pode oferecer um cuidado
para os processos educativos e delinear intervenções voltadas ao contexto
educacional com todo o conjunto de seus agentes e atores (OLIVEIRA, 2013).
Este escasso conhecimento é ainda acompanhado de fortes expectativas. O
que estes psicólogos e estas psicólogas têm procurado fazer para driblar esta
situação e criar seu espaço dentro da instituição profissional e tecnológica é
divulgar as possibilidades de atuação da psicologia na educação, bem como
construir uma definição de sua prática. Buscam desmitificar possíveis preconceitos
referentes à atuação da psicologia na escola, como também construir um espaço
para intervenção. Múltiplas práticas dos psicólogos e das psicólogas, na educação
profissional e tecnológica, são encontradas como modos de construção interventiva:
como projetos de orientação profissional; orientação sexual; orientação aos pais,
docentes e equipe pedagógica; trabalhos com grupos; atividades socioeducativas;
organização de eventos; participação em reuniões escolares e educacionais;
trabalhos integrados com outros profissionais; bem como as escutas
individualizadas (PREDIGER, 2010).

 Psicologia Escolar e a Demanda Clínica Psicológica:


Os psicólogos e as psicólogas, na educação como um todo, teriam a função,
como já explicitado, de resolver ou solucionar problemas concebidos como

45
individuais, próprios do aluno somente, consolidando um discurso patologizante.
Para responder a este papel atribuído socialmente, o atendimento individual emerge
como função própria do psicólogo e da psicóloga no ambiente escolar, sendo
também sua principal demanda (MARINHO-ARAÚJO; ALMEIDA, 2010).
Muitos dos psicólogos e das psicólogas que atuam nos Institutos Federais se
deparam com esta demanda por atendimento individual, pela intervenção
individualizante e por essa função de ajustamento. Precisam atender aquilo que a
escola não está conseguindo solucionar e, por vezes, pode lhes ser exigido que
atuem como agente de punição, principalmente frente a questões de indisciplina.
São conhecidos, no imaginário social e institucional, como capazes de resolver
qualquer problema ou, do contrário, são tidos como desacreditados (PREDIGER,
2010).
No imaginário social e institucional, a psicologia escolar reside como aquela
que prescreve como o sujeito deve agir ou se comportar (PIRES, 2009); possui a
tarefa de resolver os problemas de aprendizagem e comportamento e assume uma
função de ajustamento. Esta concepção é legitimada pelas problemáticas
articulações entre psicologia e educação que se desenvolveram no decorrer da
história do nosso país (PREDIGER, 2010). Santos (2013) ainda lembra que a
compreensão de psicologia na educação também está vinculada a concepção de
loucura, sendo o psicólogo e a psicóloga associados ao médico psiquiatra. Alerta,
portanto, para uma psicologia atrelada à doença mental e aos transtornos
psiquiátricos (SANTOS, 2013).
Apresenta-se assim uma psicologia classificadora do normal ou patológico, do
certo e do errado, em detrimento de uma psicologia como agente de transformação,
que possibilita a crítica e indagações quanto às demandas que lhe são atribuídas, e
que se afasta do exercício de uma prática normativa. Algumas formas de psicologia
atuantes nos ambientes escolares ainda potencializam e validam esta concepção
controversa de psicologia escolar ao promover a adaptação, a prescrição, a
normalização, em prejuízo da criação, da invenção, da resistência e da diferença
(PIRES, 2009).

46
O processo de construção das práticas de intervenção e atuação da psicologia
escolar nos IFs se dá, portanto, de modo lento, em decorrência destas fortes
estereotipias atribuídas a atuação da psicologia escolar, ao discente e à educação, as
quais são difíceis de desconstruir (PREDIGER, 2010). É preciso modificar estes
caminhos percorridos pelos processos tradicionais de ensino e aprendizagem que
tendem a priorizar as intervenções curativas e excludentes (PIRES, 2009).
A busca por esta superação está presente na educação profissional e
tecnológica dos Institutos Federais. Os/as profissionais da psicologia destas
instituições estão procurando transformar e desnaturalizar as demandas recebidas:
como a demanda clínica, volvida para o ajustamento do estudante. Demanda esta
que emerge do imaginário social e institucional sobre como deve ser o trabalho do
psicólogo e da psicóloga na educação (PREDIGER, 2010) e que pode ser criticada
sem deixar de considerar a importância de auxiliar o aluno com suas emoções,
sentimentos e conflitos. Tarefa esta de todos os educadores (PIRES, 2009).
O atendimento psicológico individual é uma demanda que precisa ser
problematizada e pensada a partir do contexto institucional, de forma coletiva e não
apenas enquanto individualidade. Esta forma de atendimento, enquanto
acompanhamento do aluno, pensado em seu contexto institucional, pode se tornar,
dentro da escola, um fator de potência da atuação do(a) psicólogo(a): algo que pode
contribuir e enriquecer este trabalho, desde que não atue como agente
patologizante ou de exclusão. Como acompanhamento e orientação do aluno, o
atendimento individual pode ser uma atuação a somar com outros modos de intervir
(PREDIGER, 2010).

 Uma Prática em Construção:


O espaço do psicólogo e da psicóloga dentro da educação profissional e
tecnológica ainda está sendo construído e transformado. Neste panorama de
construção de sua prática, o/a profissional se depara com um ambiente de trabalho
desafiador, por vezes desgastante, mas inevitável, visto os moldes equivocados que
a psicologia foi se inserindo neste contexto.

47
Constata-se que o imaginário social e institucional, acerca da prática da
psicologia escolar, dificulta significativamente as possibilidades de intervenção
desta área do conhecimento no contexto da educação. Há um notável esforço desta
categoria profissional em busca da construção de outras possibilidades de atuação
dentro do espaço escolar e do ensino profissionalizante. Novas práticas mais críticas
e que se direcionam para o espaço institucional em sua coletividade. Práticas que
incluem todos os educadores e agentes escolares; que abordam todas as relações
presentes neste ambiente e fora dele, com a comunidade, com a política
educacional, ou seja, todos os fatores que impliquem alcances no processo de
ensino-aprendizagem.
Antes de se encerrar uma resposta à demanda solicitada, a psicologia escolar
necessita indagar e atribuir possíveis sentidos tanto para esta demanda como para a
resposta. Pensar que condições originaram o aluno problema ou desadaptado, bem
como quais condições geraram a concepção da psicologia enquanto correção (PIRES,
2009). Para além disso, é válido que a prática da psicologia escolar não seja pensada
apenas como vinculada ou limitada ao espaço de atuação, mas este deve se tornar o
campo propulsor de novos saberes, de novas formas de intervenção. A atuação da
psicologia não se limita a “aplicar um conhecimento psicológico em locais distintos,
mas de construir outros conhecimentos psicológicos que emergem justamente da
prática profissional em vários campos” (EIDELWEIN, 2005, p. 65-66).
Nota-se também que a psicologia não esteve presente, em sua maioria, no
início do desenvolvimento da educação profissional e tecnológica propriamente, já
que sua maior inserção nesta modalidade de ensino se deu recentemente com a
ampliação dos Institutos Federais. Todavia, é possível perceber como esta área do
conhecimento vem contribuindo para as transformações da educação profissional e
tecnológica e como se coaduna com os objetivos de inclusão e transformação social
dos IFs, apesar de todos os entraves observados neste campo de atuação. A
psicologia na educação e a educação profissional e tecnológica compartilham
aspectos em comum: ambas estão em contínuo processo de transformação,
buscando melhorias em seus espaços de atuação e em suas práticas.

48
Assim como é nova a inserção do psicólogo e da psicóloga no campo da
educação profissionalizante, também são poucas as produções teóricas que
relacionam estas duas esferas. Torna-se necessário a realização de mais pesquisas
com relação à prática da/do profissional da psicologia na educação profissional e
tecnológica, que observe este fazer no ambiente em que se constrói, neste terreno
pouco explorado. Prática esta tão nova que lhe faltam ainda registros. Esta é a
sensação que fica. São necessárias produções que permitam adentrar e vivenciar
esta nova experiência, tanto da psicologia como da educação profissional e
tecnológica, já que os encontros, desencontros e articulações destas esferas
implicam novas transformações em ambas.

49
BRASIL. Expansão da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica. Ministério
da Educação. 2010.

_______. Lei nº 11.352, de 11 de outubro de 2006. Dispõe sobre a criação de cargos


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52
53
Maraiza Oliveira Costa

P
sicologia Escolar é uma área de atuação e de pesquisa que busca, dentre
outros desafios, o de “mediar os processos de desenvolvimento humano e
de aprendizagem, contribuindo para sua promoção” (OLIVEIRA; MARINHO-
ARAÚJO, 2009, p. 651). No entanto, percebe-se que nem sempre esse fazer auxilia
na formação crítica dos estudantes, configurando-se, às vezes, como instrumento de
dominação e ajustamento à lógica capitalista.
A necessidade de questionar o papel social da Psicologia Escolar norteou a
escolha pelo referencial teórico-metodológico deste estudo. A partir da Psicologia
histórico-cultural e do materialismo histórico-dialético visualiza-se, mesmo que
distante, a promessa de uma Psicologia diferente daquela que visa a adaptar os
indivíduos.
Para Vygotsky (2004), é necessária uma Psicologia nova para um homem
novo. Todavia, este só pode desenvolver-se em uma sociedade nova, que viabiliza a
libertação dos indivíduos ao invés de seu aprisionamento. Desse modo, para a
emergência de um homem novo, há que se transformar a sociedade. Nas palavras do
autor: “só uma elevação de toda a humanidade a um nível mais alto de vida social, a
liberação de toda a humanidade, pode conduzir à formação de um novo tipo de
homem” (VYGOTSKY, 1930, parágrafo 37).
A conjuntura atual, ditada pelo sistema capitalista, apresenta um cenário de
miséria, devastação da natureza, guerras, desigualdade social e de marginalização
das pessoas que não têm acesso aos meios de produção (MEIRA, 2003). Desse
modo, pensar em uma proposta crítica de atuação em Psicologia Escolar é considerar
todos esses aspectos e necessariamente pensar em uma sociedade diferente. É a
partir dessa premissa, da busca por uma Psicologia nova em uma sociedade nova, que
essa pesquisa propõe alguma contribuição, ainda que modesta, aos profissionais da

54
área de Psicologia Escolar, aproximando a prática em Psicologia Escolar a uma
práxis3 transformadora.
Saviani (2008) nos ensina que teoria e prática são polos opostos, mas se
constituem como unidades inseparáveis. A teoria só faz sentido se ajudar a desvelar
a prática. E a prática, por sua vez, é o que dá consistência a essa teoria. Tendo em
vista esses pressupostos, consideramos que a práxis é uma relação de construção e
desconstrução contínua a partir da reflexão teórica e dos fazeres de uma profissão,
de modo que uma não é mais importante que a outra; ambas se constroem mutua e
continuamente.
Tendo em vista a complexidade desse desafio, acreditamos que só é
possível construir uma perspectiva crítica em Psicologia Escolar se o profissional
dessa área ancorar sua práxis em uma concepção de Educação transformadora. Ou
seja, temos como hipótese que o estudo das teorias do ideário pedagógico a partir
da perspectiva marxista pode contribuir para a construção de uma atuação crítica
em Psicologia Escolar. Dessa forma, o objetivo central desse trabalho é identificar
princípios norteadores de um ideário pedagógico que possam mediatizar a práxis do
psicólogo escolar a partir de uma perspectiva transformadora de Educação escolar.

JUSTIFICATIVA

Defendemos que, ao fornecerem condições para se refletir sobre o papel da


Educação e da escola na sociedade, as teorias da Educação podem contribuir para
que reflitamos também sobre a contribuição da Psicologia nesse processo, ou seja,
podemos inferir, a partir da definição de Educação de cada uma das teorias do
ideário pedagógico, elementos com base nos quais a atuação dos psicólogos
escolares pode contribuir para o objetivo que tal teoria intenciona.

3
Entende-se práxis como uma atividade prático-crítica (MARX & ENGELS, 2007). Vázquez (1977) a
define como uma “atividade material do homem que transforma o mundo natural e social para fazer
dele um mundo humano” (p. 3). Diferente do praticismo e do utilitarismo, práxis é uma forma de
interpretar e de transformar o mundo, “atividade material do homem social [...], a passagem da teoria
à prática que assegura a íntima unidade entre uma e outra” (VÁZQUEZ, 1977, p. 6).

55
Na Pedagogia Tecnicista, por exemplo, assumem-se como pressupostos as
seguintes teses: a) a Educação é um processo operacional, neutro e produtivo; b) o
trabalho pedagógico deve ser formatado racionalmente; c) o professor e o aluno são
secundários no processo de ensino-aprendizagem; d) o eixo principal é a
organização dos meios de aprendizagem; e) a escola tem como objetivo principal
manter e aperfeiçoar o capitalismo, preparando, indivíduos ‘competentes’ para servir
ao mercado de trabalho. Aqui, a Psicologia, corresponde ao suporte teórico
necessário para minimizar as subjetividades que poderiam colocar em risco a
eficácia do processo educativo (LIBÂNEO, 1995).
Assim, a atuação do psicólogo escolar que ‘trabalha’ em prol de uma
Pedagogia Tecnicista deve ser de: a) orientar os professores a condicionar os alunos,
procurando os reforçadores corretos para se alcançarem as respostas adequadas; b)
controlar o comportamento do aluno a fim de adequá-lo ao seu lugar de receptador
de conteúdo; c) fiscalizar a programação eficaz da atividade instrucional na escola
(LIBÂNEO, 1995).
Com base nesse exemplo, podemos afirmar que a Psicologia pode servir de
base teórica a processos educacionais nem sempre comprometidos com uma
concepção crítica de Educação (LOUREIRO, 1997). Concordamos, ainda, com esse
autor na afirmação de que a Psicologia precisa atentar-se para os processos
educacionais aos quais tem servido como aporte teórico, bem como preocupar-se
com o tipo de Educação imbricado em sua atuação profissional.
Assim, para que seja realizado um rompimento com os modelos tradicionais
de Psicologia na escola é necessário que os profissionais dessa área se apropriem
de uma concepção de Educação direcionada para a emancipação 4. Dentro do ideário
pedagógico, procuramos uma teoria da Educação ancorada na perspectiva marxista.
A partir disso, chegamos à Pedagogia histórico-crítica.

4
Reconhece-se a complexidade imbricada na conceituação de emancipação. Dessa forma, não é
nosso objetivo defini-la nesse estudo, mas vale ressaltar que partimos do entendimento marxiano de
que a emancipação humana está relacionada à noção de ser humano genérico. Marx (2006) afirma
que a emancipação só será plena quando “o homem real e individual tiver em si o cidadão abstrato,
quando como homem individual, na sua vida empírica, no trabalho e nas suas relações individuais, se
tiver tornado um ser genérico” (p.37).

56
Esta escolha teórica se justifica a partir de três enfoques que ela permite, de
acordo com Meira (2003): o de compreender a Educação a partir de seu movimento
dialético e contraditório; o de entender a correspondência da Educação com as
relações de produção do capital; e o de reconhecer a escola como um espaço
privilegiado de socialização do saber produzido ao longo da história da humanidade.
Dessa forma, temos o objetivo de analisar de que modo a Pedagogia
histórico-crítica pode mediatizar a práxis do psicólogo na escola. Para tanto,
emergem as seguintes perguntas: qual é o conceito de Educação escolar da
Pedagogia Histórico-crítica? Quais são as possíveis interfaces dessa teoria com a
Psicologia?
Para a construção deste capítulo, de cunho teórico, realizou-se um estudo a
a partir de: a) produções que realizam um diálogo com a perspectiva crítica em
Psicologia Escolar e b) publicações do teórico Dermeval Saviani, fundador da
Pedagogia histórico-crítica, que fazem apontamentos à Psicologia.

A PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA E O PAPEL DA EDUCAÇÃO


ESCOLAR

Influenciada pelo materialismo histórico-dialético e por autores como


Antônio Gramsci, Georges Snyders e Mario Manacorda, a corrente teórica intitulada
Pedagogia histórico-crítica inicia-se no Brasil em meados da década de 70 como
uma proposta alternativa às teorias crítico-reprodutivistas5 que, por sua vez,
consideravam a Educação escolar simplesmente como reprodutora das
desigualdades sociais (SAVIANI, 2012b). Dermeval Saviani, explica que:

5
Saviani (2012b) explica que as teorias consideradas crítico-reprodutivistas acreditavam que “não é a
cultura que determina a sociedade. É, ao contrario, a sociedade que determina a cultura”, dessa
forma, “só se pode mudar a cultura mudando as bases da própria sociedade” (SAVIANI, 2012b, p.
112-114). Nesta perspectiva, a Educação também representa um instrumento de reprodução social
não existindo escapatória possível. Para essas teorias, “não há como ter uma atuação crítica, uma
atuação contrária às determinações materiais dominantes; o professor pode até desejar isso, mas é
um desejo inteiramente inócuo, porque as forças materiais não dão margem a que ele se realize”
(SAVIANI, 2012b, p. 59).

57
Diante da insatisfação com essas análises crítico-reprodutivistas, foi
avolumando-se a exigência de uma análise do problema educacional
que desse conta de seu caráter contraditório, resultando em
orientações com influxo na prática pedagógica, alterando-a e
possibilitando sua articulação com os interesses populares em
transformar a sociedade. [...] os críticos-reprodutivistas têm
dificuldade em dar conta das contradições exatamente porque elas
se explicitam no movimento histórico (SAVIANI, 2012b, p. 61).

A Pedagogia histórico-crítica, então, foi criada com a proposta de analisar a


Educação a partir da história e de seus aspectos contraditórios, admitindo ser ela
uma instituição determinada, mas também determinante e, por esse motivo, crucial
para a transformação da sociedade (SAVIANI, 2012a).
Para que a Educação escolar contribua para essa transformação, é
necessário que ela cumpra seu papel principal, qual seja o de elevar “o nível cultural
das massas” (SAVIANI, 1996, p. 6). Desse modo, Saviani (1996, 2012a) explica que o
compromisso social da escola passa pelo embate em prol dos interesses populares,
da transformação das relações de produção, da consciência de classe e da
organização social. Entretanto, a luta por Educação de qualidade para todos não é
uma batalha fácil, tendo em vista que a questão educacional passa pelos interesses
de classe. Para a classe dominante, por exemplo, é vantajosa uma Educação de má
qualidade para as massas, tendo em vista seu objetivo de conservar a estrutura
social e perpetuar seu domínio (SAVIANI, 1996).
Saviani (2012b) explica que no modo de produção capitalista os
conhecimentos produzidos pela humanidade são, por si só, força produtiva. Dessa
maneira, a classe dominante concede à classe dominada apenas o conhecimento
necessário para que se constitua como instrumento eficaz ao bom andamento do
sistema. Esse autor defende que seriam necessárias instituições completamente
diferentes das que existem hoje para que os conhecimentos produzidos pela
humanidade sejam acessados por todos. Mas, de todo modo, é preciso que, desde já,
iniciemos a luta por uma escola diferente (SNYDERS, 1977; SAVIANI, 1996).
Para Lombardi (2011), ao mesmo tempo em que seria necessária a
transformação social para que um sistema educacional novo emerja, a existência
desse sistema também pode contribuir para a revolução social. Daí a urgência de

58
iniciarmos esse processo a partir do presente. Ainda que a responsabilidade pela
revolução social não seja somente da Educação escolar, com certeza, o acesso de
todos aos conteúdos filosóficos, artísticos e científicos torna o caminho para
superação revolucionária do modo atual de produção mais curto (SAVIANI; DUARTE,
2012).
Desse modo, a Educação é um lócus privilegiado de luta tendo em vista sua
contribuição na “formação da consciência revolucionária, isto é, da consciência
ciente da sua missão de luta e transformação” (ROSSLER, 2012, p. 84). E a atividade
docente é muito importante nesse processo. É nesse sentido que Saviani destaca
que o professor também desempenha uma função política na escola quando sua
aula oportuniza o acesso aos conhecimentos que foram produzidos pela
humanidade aos estudantes, pois esse saber é histórico e pertence a todos e não a
uma parcela pequena da população (SAVIANI, 2012b).
A partir disso, o ato educativo pode ser definido como o “ato de produzir,
direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é
produzida histórica e coletivamente pelo conjunto de homens” (SAVIANI, 2012b, p.
13). Por meio dessa célebre definição, Saviani delimita a ação do educador como
aquela que democratiza o conhecimento.
Mas o que essa definição de Educação escolar e de ato educativo tem a ver
com a Psicologia? Em que essas discussões auxiliam na práxis do psicólogo escolar?
Antes de tentarmos responder a essas perguntas, é importante apontarmos algumas
críticas que a Pedagogia histórico-crítica faz a um modelo tradicional de atuação em
Psicologia.

APONTAMENTOS DA PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA PARA A


PSICOLOGIA

A relação entre a Psicologia e a Educação não é congruente e linear, ou seja,


trata-se de um movimento de avanços, contradições e rupturas. De acordo com
Santos (2015), o “embate entre a Psicologia e a Educação tem se instaurado, ao

59
longo do tempo, através de relações complexas e paradoxais, bem como de tensões
que marcam as esferas epistemológica, política e educativa” (p.17). Por exemplo,
desde 1976, Saviani e Goldberg denunciam que a Educação foi tomada por algumas
áreas do conhecimento, tal como a Psicologia, apenas como um “campo de testes
das hipóteses que, uma vez verificadas, [contribuíam para] o enriquecimento do
acervo teórico” dessas áreas (p. 73).
Para Saviani (1991), algumas áreas como a Psicologia defendem sua atuação
na escola com a finalidade de manter ou criar vagas de trabalho. Ele chega a dizer
que, muitas vezes, essa ciência ajuda a perpetuar determinadas “patologias” para
garantir o nicho profissional. Para além disso, Saviani (2012b) também demarcou
que “uma das limitações da contribuição da psicologia à Educação está no fato de
que a psicologia tem tratado principalmente do indivíduo empírico, não do
indivíduo concreto” (70-71). Ou seja, os psicólogos atuam a partir do modelo de
desenvolvimento humano proposto em seus manuais (indivíduo empírico) e não a
partir do indivíduo multideterminado e síntese de inúmeras relações sociais
(indivíduo concreto).
Tendo em vista todas essas críticas, ainda consideramos que a separação
entre a Psicologia e a Educação não é um caminho viável, pois nem todas as
Psicologias são comprometidas com a estigmatização dos indivíduos. Vygotsky
(1991) defende que seja possível uma relação entre essas duas áreas desde que
ambas trabalhem juntas em prol da transformação social. Para isso, é necessário que
seja empreendida uma proposta de Psicologia Escolar crítica, ou seja, uma Psicologia
que não esteja no contexto escolar para garantir um local de emprego, mas porque a
escola é um lugar privilegiado de luta por uma sociedade diferente.
Em busca disso, a Psicologia deve destacar seu posicionamento político-
epistemológico no sentido de descortinar o concreto, ou seja, partir de pressupostos
não-abstratos para a problematização de situações que envolvem o indivíduo no
contexto escolar, uma Psicologia que considere a dimensão concreta da realidade
dos indivíduos (SAVIANI, 2012b). Em outro texto, Saviani (2012c) faz considerações
que podem ser bastante significativas para uma proposta de Psicologia Escolar
crítica, sugerindo que:

60
em lugar de a Psicologia se colocar na posição de uma ciência já
constituída que se propõe a fundamentar a pedagogia enquanto
sistematização da prática educativa, [a ela] caberia partir da
Educação para se verificar as condições em que a Psicologia poderia
postular o estatuto da cientificidade (SAVIANI, 2012c, p.42).

Desse modo, o autor defende que a Psicologia deve partir da Educação para
pensar em processos educativos. A Educação deve constituir-se como o ponto de
partida e chegada para esse profissional. Dessa forma “ao invés de se considerar a
educação a partir de critérios psicológicos, sociológicos, econômicos, [...] são as
contribuições das diferentes áreas que serão avaliadas a partir da problemática
educacional” (SAVIANI, 1990, p. 6). Isso significa que o parâmetro que baliza a
contribuição dessas áreas para a Educação deve ser a concretude dos processos
educativos.
No texto Educação: do senso comum à consciência filosófica, Saviani (1996)
apresenta críticas e proposições acerca do trabalho do orientador educacional.
Embora entendamos as diferenças e as especificidades das atribuições desse
profissional em relação àquelas desempenhadas pelo psicólogo escolar,
apresentaremos alguns apontamentos do autor para que, a partir delas, possamos
inferir uma análise a respeito da Psicologia Escolar. Saviani (1996) explica que o
orientador educacional.

tanto pode desempenhar o papel de contornar acidentes da


estrutura, de impedir que as contradições estruturais venham à tona,
de segurar a marcha da História, de consolidar o status quo, quanto
pode desempenhar o papel inverso de, a partir dos elementos de
conjuntura, explicitar as contradições da estrutura, acelerar a marcha
da História, contribuindo, assim, para a transformação estrutural da
sociedade (p. 222).

Desse mesmo modo, acreditamos que a atuação do psicólogo no contexto


escolar também pode ser instrumento do capital ou instrumento de resistência,
perpetuando ou transformando a sociedade (SAVIANI, 1996). Tal relação se estabelece

61
também a partir do posicionamento político desse profissional em relação ao seu
papel social e à função da Educação que ele ajuda a promover.
Por fim, Saviani (1996) argumenta que para que a atuação do orientador
educacional promova mudanças “é necessário que ele tome consciência dos
condicionantes objetivos de sua ação” (p. 224). Da mesma forma, a Psicologia
Escolar deve analisar o efeito real que essa profissão pode produzir em um
determinado contexto social (MARTÍN-BARÓ, 1996).

POR ONDE PASSA A CONSTRUÇÃO DE UMA PSICOLOGIA ESCOLAR


CRÍTICA

Na busca por um fazer crítico em Psicologia Escolar, acreditamos que as


primeiras perguntas que o profissional dessa área deve fazer-se são: a serviço de
quem ou de quê tenho atuado? Tenho sido agente de manutenção ou de mudança
da realidade social? (MARTÍN-BARÓ, 1996; NOVAES, 2008).
Em se tratando da Psicologia Escolar, para que sejam apontadas novas
possibilidades de atuação é imprescindível que seja desconstruída a imagem de
profissional que atua com o foco nos problemas escolares. No entanto, isso só
ocorrerá quando essa ciência assumir um compromisso social voltado para a maioria
da população (GUZZO, 2007).
Sua função no contexto escolar, portanto, não é simplesmente mediar
conflitos e divulgar teorias psicológicas, mas sim, em conjunto com os demais
integrantes da escola, de “formar cidadãos por meio da construção de práticas
educativas que favoreçam processos de humanização e reapropriação da
capacidade de pensamento crítico” (TANAMACHI; MEIRA, 2003, p.43). Patto (1997, p.
8) afirma que, tendo em vista a complexidade da realidade educacional pública,
cabe à Psicologia “compreender as relações entre escola e sociedade, no marco de
uma formação social capitalista industrial num país do Terceiro Mundo”.
Assim, o trabalho da Psicologia Escolar deve pautar-se “no compromisso
com a luta por uma escola democrática, de qualidade, que garanta os direitos de

62
cidadania” (Souza, 2010, p. 144). De modo semelhante, Tanamachi e Meira (2003,
p.42-43) estabelecem que o foco principal da Psicologia em uma instituição
educacional deve ser o de “contribuir para a construção de um processo
educacional que seja capaz de socializar o conhecimento historicamente acumulado
e de contribuir para a formação ética e política dos sujeitos”.
A partir da contribuição desses autores podemos apontar que a construção
de uma Psicologia Escolar comprometida socialmente passa pelo cumprimento de
preceitos éticos da profissão e pela luta por uma Educação de qualidade para todos.
Reconhecemos, entretanto, que a construção dessa Psicologia é um grande desafio,
tendo em vista as expectativas sociais que existem em relação a esse profissional.
Desse modo, a primeira batalha que o psicólogo deve travar na escola é, a nosso ver,
desmistificar uma atuação clínica e pautada nos manuais individualizantes de
Psicologia tradicional.

CONSIDERAÇÕES (PARA LONGE DE) FINAIS

Este capítulo buscou problematizar a relação entre a Psicologia e uma teoria


da Educação para que, a partir disso, se possa pensar em novas possibilidades para a
atuação do psicólogo escolar. Por conseguinte, consideramos, com base nas
discussões realizadas, que não seja possível a construção de uma Psicologia (bem
como de uma Educação) para emancipação sem que haja uma mudança radical no
sistema econômico vigente. Entretanto, isso não quer dizer que não possamos
apontar, cotidianamente, caminhos alternativos para que, na atual conjuntura,
possamos encontrar lacunas de resistência e possibilidades de transformação.
Podemos afirmar, a partir das relações desenvolvidas neste trabalho, que a
construção de uma Psicologia Escolar crítica passa pela apropriação de uma
concepção também crítica de Educação e, portanto, a Pedagogia histórico-crítica é
uma das teorias do ideário pedagógico que nos auxilia nesse desafio. Para essa
teoria, a Educação escolar é um espaço de luta e de transformação real das
desigualdades sociais, sobretudo, por defender o acesso de todos aos

63
conhecimentos produzidos pela humanidade. Assim, o psicólogo que lute também
por isso pode, junto com os professores, intentar pequenas práticas
transformadoras.
Uma das defesas da Pedagogia histórico-crítica é de que o professor tem um
papel imprescindível no processo de ensino-aprendizagem, pois ele pode contribuir
com a conscientização dos indivíduos por meio da problematização dos conteúdos
científicos. Também fazemos essa defesa, mas também acreditamos que os outros
profissionais da escola exerçam, em alguma medida, um papel educativo. Para nós,
todos os atores do cenário escolar podem realizar um papel educativo na medida
em que sua intervenção contribua também para a autonomia dos indivíduos. Assim,
o próprio psicólogo escolar pode constituir-se como educador e agente de
mudanças no contexto escolar, desde que comprometido com o papel
transformador da escola na sociedade.
Todavia, é imprescindível considerar o caráter contraditório dessa
construção, pois ainda que a Pedagogia histórico-crítica oriente uma prática crítica
em Psicologia Escolar, a ação desse profissional será, por vezes, reprodutora da
ideologia dominante, tendo em vista a impossibilidade de uma atuação plenamente
emancipatória na conjuntura social em que vivemos. Tal contradição, no entanto,
não pode permitir que fiquemos de ‘braços cruzados’ esperando a revolução, pois
como afirma Valério Arcary (2011), o capitalismo não morrerá de morte natural, a sua
morte só ocorrerá mediante ações revolucionárias empreendidas por sujeitos
sociais.
Assim, por mais que a revolução pareça distante dos nossos fazeres
cotidianos precisamos direcionar nossas ações para ela, mesmo que seja a passos de
formiga.

64
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67
68
Lígia Rocha Cavalcante Feitosa
Claisy Maria Marinho-Araujo

A
psicologia escolar é uma área de produção de conhecimento, intervenção
e pesquisa que se consolidou como um campo de atuação para psicólogos
nos espaços educativos (MARINHO-ARAUJO, 2010). Ao longo das últimas
três décadas, os construtos teórico-metodológicos da área vêm criticando as
concepções deterministas e individualizantes acerca dos processos de
desenvolvimento humano, bem como a atuação desses profissionais quando esta é
focada, exclusivamente, no fenômeno do fracasso escolar (CRUCES, 2005; GUZZO;
MEZZALIRA, 2011; MARINHO-ARAUJO; ALMEIDA, 2005).
A defesa por uma psicologia escolar que privilegie mediações psicológicas
ampliadas e inovadoras fundamenta as novas possibilidades de atuação do
psicólogo escolar em diferentes contextos e modalidades de ensino. Para além dos
estudos que retratam a educação básica como importante cenário para a
intervenção psicológica, é necessário abordar o nível superior de ensino, seja
discutindo as trajetórias de desenvolvimento humano adulto, ressignificando ou
propondo processos de ensino e aprendizagem (MARINHO-ARAUJO, 2009, 2016).
No âmbito da educação profissional e tecnológica brasileira, a educação
superior apresenta-se como uma oferta emergente no contexto do ensino
profissionalizante público. Em 2008, com a criação dos Institutos Federais de
Educação, Ciência e Tecnologia (IFET’s), ocorreram novas oportunidades de formação
acadêmica qualificada no nível superior, fortalecendo o compromisso institucional
com o desenvolvimento econômico e social em diferentes regiões do país,
principalmente nas zonas com pouco crescimento e menor quantitativo de
instituições universitárias. As contribuições da psicologia escolar, inserida na
educação superior nos Institutos Federais, podem fortalecer os espaços formativos
como potencializadores do desenvolvimento humano de toda a comunidade
acadêmica.

69
Assumindo que o debate sobre a atuação dos psicólogos escolares na
educação superior constitui um cenário inovador e promissor para área e que tal
atuação precisa ser melhor evidenciada no âmbito da educação profissional e
tecnológica, este capítulo discutirá a potencialidade da intervenção desses
profissionais no nível superior de ensino dos Institutos Federais. Para tanto, são
apresentadas as características da educação superior nos IFET’s, a fim de destacar as
particularidades de seus cursos. Na sequência, por meio de consulta eletrônica aos
psicólogos escolares dos Institutos Federais acerca de sua atuação nessa
modalidade de ensino, são mapeadas as práticas desenvolvidas por esses
profissionais; e, por fim, são discutidas as novas perspectivas para a intervenção
psicológica especificamente no contexto da educação superior dos IFET’s.

PANORAMA DA EDUCAÇÃO SUPERIOR NOS INSTITUTOS FEDERAIS

Nas últimas quatro décadas, o sistema educacional brasileiro inseriu a


educação superior na pauta de importantes regulamentações. Dentre esses
dispositivos legais, destacam-se as políticas de expansão e de democratização do
acesso ao nível superior de ensino. Com o aumento do quantitativo de Instituições
de Ensino Superior (IES) e a ampliação da oferta de cursos nesses espaços,
produziram-se modelos organizacionais e institucionais repletos de concepções e
de interesses distintos acerca dos processos de formação acadêmica e profissional
(DIAS SOBRINHO, 2010).
Diante desse cenário, a modalidade educacional superior de caráter
profissionalizante foi o segmento que mais se destacou quanto às mudanças
políticas e estruturais no Brasil. No ano de 2008, a promulgação da Lei nº
11.892/2008 (BRASIL, 2008) desencadeou a reforma mais recente e complexa na
política da educação profissional e tecnológica. Por meio dessa Lei, ocorreu a
incorporação de algumas Escolas Técnicas Federais e a transformação da maioria
dos Centros Federais em Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia
(IFET’s).

70
A retomada pela reestruturação da articulação do ensino médio e do ensino
técnico na modalidade integrada, o aumento da oferta da educação superior, a
expansão do ensino através da implantação de novas instituições e o interesse pela
formação de professores constituíram-se como agendas de políticas institucionais
para os Institutos Federais (BATISTA; MULLER, 2013; FRIGOTTO; CIAVATTA, 2003;
RUIZ, 2010; KUENZER, 2006; KUENZER; LIMA, 2013; LIMA FILHO, 2010; OTRANTO,
2010, 2013; RAMOS, 2011). Nessa direção, os IFET’s apresentam-se como
instituições federais responsáveis pelo nível superior de ensino na modalidade da
educação profissional e tecnológica e na área da formação de professores em
espaços não-universitários. Os Institutos Federais têm como proposta proporcionar
trajetórias acadêmicas aos estudantes em articulação com as questões do trabalho,
promovendo espaços e recursos para desenvolver a autonomia reflexiva, teórica e
prática de sua comunidade (ANDRADE; KIPNIS, 2010) e, ainda, o desenvolvimento
socioeconômico e produtivo do país (MOURA, 2005).
Atualmente, em termos de organização administrativa, os Institutos Federais
estão reunidos em 38 unidades, constituídas pelo total de 603 campi distribuídos
em vinte seis Estados e no Distrito Federal (BRASIL, 2016). No âmbito da educação
superior, os IFET’s detêm 16% (56.295) das vagas públicas federais. Ainda que em
relação à organização administrativa e à oferta de vagas de cursos prevaleça o
domínio das Universidades no segmento público federal, a política de expansão e
implantação de instituições responsáveis pela educação profissional e tecnológica
garante às regiões espaços educativos de qualidade e de oportunidades no ensino
técnico e superior. Conforme o INEP (BRASIL, 2016), entre 2008 e 2015 o aumento
progressivo de matrículas (de 40.935 para 144.876) na educação superior dos
Institutos Federais proporcionou a escolarização e profissionalização de estudantes
que aguardavam por oportunidades para ingressar nessa modalidade de ensino.
Nos Institutos Federais prevalece a oferta de cursos de graduação
presenciais na área da Educação (formação de professor de matérias específicas) e
da Engenharia, Produção e Construção (eletrônica e automação) (BRASIL, 2016). O
investimento nessas áreas trouxe inovação ao caráter educativo nos IFET’s quanto à
proposta de integração do currículo acadêmico entre a formação docente e a

71
formação técnica em nível superior. Nesse contexto, a educação superior representa,
por um lado, a tentativa de romper com a valorização exacerbada da preparação de
mão de obra sob o cariz instrucional que, historicamente, fundamentou o ensino
profissionalizante; e, de outro, defender a articulação da ampla formação do sujeito
com a formação profissional qualificada.
De acordo com LEFOSSE (2010), a educação superior nos Institutos Federais
trouxe a discussão sobre a inclusão de oportunidades de formação, em que as
concepções educacionais voltadas para as competências e para as questões do
mundo do trabalho são necessárias para compor o perfil acadêmico e institucional.
Convém destacar que nos IFET’s a tentativa de associar a formação acadêmica à
formação profissional não se restringe ao compromisso de preparar o estudante
exclusivamente para o mercado de trabalho.
A modalidade da educação profissional e tecnológica em nível superior tem
problematizado a defesa de um ensino compreendido somente sob a ótica do
manejo da técnica e dissociada da formação e experiência humana no processo
formativo (FISCHER; FRANZOI, 2009; OTRANTO, 2013). De acordo com MARINHO-
ARAUJO e RABELO (2015), compreender o construto teórico da competência nos
processos de formação do sujeito requer contemplar, para além dos aspectos
cognitivos e das habilidades, os processos subjetivos, afetivos e socioculturais que
compõem a trajetória acadêmica. Nessa perspectiva, cabe aos Institutos Federais
viabilizar ações em favor da produção do conhecimento científico, profissional e
tecnológico no processo educativo, a fim de promover uma educação democrática,
inclusiva e emancipatória no âmbito do desenvolvimento humano em interface com
a educação profissional e tecnológica.
As trajetórias e expectativas quanto à formação; o novo perfil dos
estudantes (constituído por diferentes faixas etárias e alunos trabalhadores) e a
defesa pela articulação entre a formação acadêmica e a formação profissional
integraram a realidade da comunidade acadêmica no nível superior de ensino dos
Institutos Federais. Nesse contexto, entende-se que o conhecimento produzido na
educação superior pode desencadear nos indivíduos processos formativos
qualificados e comprometidos com as produções científicas e tecnológicas

72
necessárias para transformar e alavancar o cenário socioeconômico (DIAS
SOBRINHO, 2013; LIMA, 2013; MARINHO-ARAUJO, 2014).
Diante dessa conjuntura, as contribuições da Psicologia Escolar podem
fortalecer os espaços formativos potencializadores do desenvolvimento humano de
toda uma comunidade acadêmica. Para tanto, a intervenção desse profissional deve
mediar à mobilização de recursos cognitivos, técnicos, éticos e estéticos, na
construção e reconstrução de competências teórico-metodológicas para
instrumentalizar os atores educativos frente ao planejamento e concepção das
atividades acadêmicas (MARINHO-ARAUJO, 2014).

PSICOLOGIA ESCOLAR NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR

Nos últimos dez anos, as contribuições da psicologia escolar no contexto da


educação superior tornaram-se objeto de interesse de muitas produções
acadêmicas (BARIANI, BUIN, BARROS; ESCHER, 2004; BISINOTO; MARINHO-ARAUJO,
2011, 2014a, 2014b; CAIXETA; SOUSA, 2013; MARINHO-ARAUJO, 2009, 2014, 2016;
SAMPAIO, 2009, 2010; SERPA; SANTOS, 2001; ZAVADSKI; FACCI, 2012). Nesses
trabalhos são apresentadas temáticas que abordam desde a atuação do psicólogo
escolar para acompanhar os estudantes com dificuldades na trajetória acadêmica, o
apoio às ações afirmativas no contexto universitário, o planejamento e
desenvolvimento de ações de formação de professores até a proposição da
intervenção institucional desse profissional no cenário das Instituições de Ensino
Superior (IES).
Defende-se que o psicólogo escolar deva atuar em favor da construção e da
implementação de práticas coletivas. Essa atuação, de caráter preventivo, busca
propor ações para superar as concepções conservadoras de ajustamento e
individualização dos processos de desenvolvimento dos sujeitos integrantes de
contextos educativos. Nessa direção, a intervenção psicológica institucional e
coletiva emerge como proposta para a mobilização e a conscientização da
comunidade acadêmica acerca de seus papeis, das responsabilidades frente às

73
oportunidades de práticas pedagógicas de sucesso e das diversas estratégias
formativas favorecedoras da transformação social (MARINHO-ARAUJO, 2014).
Fundamentado pela psicologia crítica (MARTÍN-BARÓ, 1996; PARKER, 2014) e pelo
compromisso com as questões sociais e institucionais no contexto educativo
(GUZZO, 2003; MARINHO-ARAUJO, 2016; PETRONI & SOUZA, 2014), o trabalho desse
profissional deve promover a mediação intencional dos processos de aprendizagem
e de desenvolvimento dos atores educativos.
De acordo com MARINHO-ARAUJO (2009), no nível superior de ensino são
evidenciados e constituídos os processos de formação de sujeitos autônomos,
críticos, protagonistas e comprometidos ética e socialmente com sua realidade. Esse
contexto educativo torna-se fértil para que a atuação do psicólogo escolar promova
ações coletivas em favor do desenvolvimento psicológico complexo daqueles que
integram o espaço educativo, favorecendo mudanças no cotidiano institucional
(democratização do acesso, permanência e inclusão) e na formação qualificada
(MARINHO-ARAUJO, 2016).
Para essa autora, a intervenção do psicólogo escolar pode ser organizada em
cinco dimensões que são complementares, integradas e articuladas à realidade de
uma IES: (a) mapeamento institucional, (b) escuta psicológica, (c) gestão de políticas,
programas e processos educacionais, (d) propostas pedagógicas e funcionamento de
cursos e (e) perfil do estudante (MARINHO-ARAUJO, 2014, 2016). As práticas
desenvolvidas em cada um desses eixos de trabalho devem emergir a partir do
planejamento e das discussões mediadas pelo psicólogo junto à equipe pedagógica,
docentes, discentes, corpo técnico e gestores que compõem as instituições de
ensino.
O mapeamento institucional é uma ação que envolve a análise histórica,
política e social do cenário educativo, pelo qual o psicólogo escolar pode
compreender as especificidades de uma IES (MARINHO-ARAUJO, 2016). Por meio do
acesso aos projetos políticos pedagógicos, às resoluções institucionais, à proposta
pedagógica dos cursos ou disciplinas, ao regimento acadêmico e aos projetos
educacionais, esse profissional pode construir o panorama das concepções que

74
fundamentam os processos de ensino e de aprendizagem e identificar as
expectativas institucionais para a formação acadêmica.
A escuta psicológica, diferentemente do paradigma “clínico-médico”, é um
recurso de exclusividade do psicólogo voltado para recuperação e análise dos
aspectos intersubjetivos produzidos a partir das relações estabelecidas por todos
aqueles atores que compõem o contexto escolar. No âmbito da educação superior,
essa ação permitirá ao profissional o acesso às diversas vozes escolares, com vistas
à conscientização da comunidade institucional e a reconstrução e/ou construção de
processos de desenvolvimento ao longo das ações de ensino e aprendizagem
(MARINHO-ARAUJO, 2014, 2016).
A gestão de políticas, programas e processos educacionais é um eixo de
trabalho que permite o psicólogo escolar assessorar diferentes ações ligadas à
gestão de um IES. As ações que envolvam a participação na elaboração e revisão do
projeto de desenvolvimento institucional, o acompanhamento dos procedimentos
de auto-avaliação institucional, o envolvimento com a implementação de projetos
educacionais, o monitoramento de indicadores de compromissos educacionais, os
programas de formação continuada dos atores educativos são exemplos de ações
que podem ser desenvolvidas por esse profissional (MARINHO-ARAUJO, 2009,
2016).
Em relação às propostas pedagógicas e funcionamento de cursos, esse eixo
de atuação permite ao psicólogo colaborar com a análise dos documentos
institucionais, com a dinâmica dos cursos e outras iniciativas políticas e
educacionais em uma atuação conjunta com coordenadores e professores. No
tocante ao perfil do estudante, esse eixo de trabalho do psicólogo escolar é
constituído pelo acompanhamento e pela assessoraria de ações de mapeamento e
pesquisas voltadas para o desenvolvimento dos discentes (MARINHO-ARAUJO, 2009,
2016).
A proposta de intervenção institucional do psicólogo escolar na educação
superior pode ser considerada como uma importante referência para ampliar as
contribuições da psicologia escolar e promover debates teóricos acerca da sua
abrangência para outras realidades institucionais, tais como as que integram o

75
contexto da educação profissional e tecnológica. Embora sejam escassas as
produções destinadas à discussão da psicologia escolar na educação superior dos
Institutos Federais (FEITOSA; MARINHO-ARAUJO, 2016a), defende-se que nesses
espaços de formação existem oportunidades para que os psicólogos promovam
diversas estratégias formativas e a mediação de inúmeras possibilidades de
desenvolvimento dos atores educativos e, ainda, mobilizem intencionalmente a
comunidade acadêmica para a busca do conhecimento e da contínua formação.

ATUAÇÃO DE PSICÓLOGOS ESCOLARES NA EDUCAÇÃO SUPERIOR EM


INSTITUTOS FEDERAIS

A psicologia escolar comparece na estrutura administrativa das antigas


Escolas Técnicas e Centros Federais desde o final dos anos de 1980. Com o conjunto
de mudanças nas políticas do ensino profissionalizante e com a criação dos
Institutos Federais o quantitativo de psicólogos escolares foi aumentando
gradativamente nesses espaços educativos. Atualmente, registra-se o total de 453
psicólogos escolares distribuídos pelos 603 campi dos IFET’s no país (FEITOSA;
MARINHO-ARAUJO, 2016b).
Os psicólogos escolares dos Institutos Federais atuam nas áreas do
Apoio Acadêmico e da Assistência Estudantil, em setores denominados por
Coordenação de Apoio ao Estudante, de Assuntos Estudantis, de Núcleo Pedagógico,
de Assistência Estudantil, Pedagógica, Sociopedagógica e Núcleos de Atendimento
às Pessoas com Necessidades Especiais. Embora essas nomenclaturas possam variar
conforme a realidade de cada Instituto Federal, a intervenção desses profissionais
está pautada na proposição de ações envolvendo o ensino e a aprendizagem, bem
como os aspectos do bem-estar discente e da educação inclusiva ao longo da
formação acadêmica e profissional.
No âmbito da educação superior dos Institutos Federais, a atuação do
psicólogo escolar ainda não possui tamanha visibilidade quando comparada ao
conjunto de ações desenvolvidas por esse profissional junto ao ensino médio

76
integrado ao técnico. A intervenção psicológica no nível superior dos IFET’s, de
caráter emergente, tem se estruturado a partir de trocas de experiências entre os
profissionais e de consultas às produções acadêmicas que discutem as
contribuições da psicologia escolar nesses espaços.
A reestruturação da oferta da educação superior nos Institutos Federais é
um dos argumentos utilizados para justificar as ações mais residuais dos psicólogos
escolares. Desde a criação dos IFET’s, existem unidades acadêmicas que ainda se
planejam administrativamente para disponibilizar cursos de nível superior. Nesses
casos, a atuação dos profissionais destina-se majoritariamente para os cursos do
ensino básico e profissionalizante (FEITOSA; MARINHO-ARAUJO, 2016b).
Outro fator que pode contribuir para intervenções psicológicas pontuais é a
oferta simultânea do ensino médio ao ensino superior frente a um quantitativo
reduzido de psicólogos escolares em algumas unidades dos Institutos Federais.
Nessa circunstância, o volume de trabalho passa a requerer ações bem planejadas e
sistematizadas para o desenvolvimento de práticas favorecedoras de processos de
desenvolvimento humano em articulação aos interesses da formação acadêmica e
profissional para todos esses níveis de ensino (FEITOSA; MARINHO-ARAUJO, 2016b).
No entanto, o que tem ocorrido são análises de que uma determinada modalidade
de ensino pode demandar com maior frequência desses profissionais atividades
prioritárias e exclusivas.
Ainda que essas sejam uma das lacunas para a consolidação das práticas de
psicólogos escolares na educação superior dos Institutos Federais, existem ações
direcionadas para os estudantes desse nível de ensino e manifestações do interesse
desses profissionais pela estruturação de serviços destinados para esse público
específico. No levantamento realizado pelas autoras sobre quais são as ações
desenvolvidas por essa categoria nesse contexto, pode-se identificar uma
prevalência de intervenções psicológicas delineadas com apoio da equipe
multidisciplinar e destinadas para o acompanhamento dos processos de ensino e
aprendizagem dos estudantes.
No nível superior de ensino dos Institutos Federais, as “situações-
problemas” que são recorrentes para os psicólogos escolares dizem respeito às

77
dificuldades de aprendizagem dos alunos em determinadas matérias e períodos dos
cursos. Por meio de relatos de professores ou de demandas espontâneas dos
discentes, os profissionais buscam identificar quais são os componentes que
precisam ser melhores trabalhados na relação envolvendo o ensino, os professores
e os estudantes. Geralmente, esses psicólogos estão lotados em coordenações com
o pedagogo integrando a equipe de trabalho. Nesse caso, os profissionais discutem
possíveis ações que podem ser desenvolvidas para promover o melhor desempenho
acadêmico e, principalmente, contribuir para uma formação qualificada desse
estudante.
Dentre o conjunto de ações desenvolvidas atualmente por psicólogos
escolares dos IFET’s, destacam-se o atendimento individual e a formação de grupo
com os estudantes. Nessas situações, o psicólogo escolar utiliza-se do recurso da
escuta psicológica (MARINHO-ARAUJO, 2016). Nesse eixo de trabalho, esse
profissional tem a possibilidade de ampliar os espaços de fala, circular os
significados e sentidos que produziram acerca dos processos educativos e das
expectativas para a formação, por meio da mobilização de recursos cognitivos,
afetivos, práticos, éticos e criativos desses atores educativos.
Outra prática comumente desenvolvida nesse contexto pelo psicólogo
escolar, fruto da parceria com a equipe pedagógica, é o acompanhamento das
expectativas e do envolvimento do estudante no nível superior de ensino. Embora a
“queixa principal” seja o rendimento do discente, alguns profissionais têm relatado
o planejamento de ações com as turmas de diferentes cursos para identificar as
principais dificuldades enfrentadas no curso (aprendizagem, motivação, escolha do
curso) e mapear as características acadêmicas e profissionais que compõem a
trajetória da formação acadêmica.
Diante dos registros das respostas obtidas por meio de consulta eletrônica
sobre as práticas desenvolvidas por psicólogos escolares no nível superior de
ensino dos Institutos Federais, pode-se depreender que a escolha desses
profissionais por atendimentos individuais e intervenções em equipe de trabalho
ainda retroalimentam uma perspectiva de que a atuação destina-se exclusivamente
para o discente. Entende-se que a educação superior oferecida nos IFET’s atraem

78
estudantes em busca de uma melhor condição para a formação voltada para o
mundo do trabalho. Essa modalidade, por sua vez, compõe políticas institucionais
em favor da educação integral nesses espaços educativos e aproxima a formação
acadêmica de uma profissionalização qualificada. Nessa conjuntura, ampliam-se as
oportunidades para o psicólogo escolar propor práticas pautadas na intervenção
institucional (MARINHO-ARAUJO, 2016).
Nessa perspectiva, novas oportunidades profissionais podem ser
desenvolvidas no contexto da educação profissional e tecnológica de nível superior.
O mapeamento institucional pode auxiliar o trabalho do psicólogo escolar na
compreensão da historicidade das reformas no ensino profissionalizante e, por
conseguinte, na ampliação das oportunidades formativas. Em caráter complementar
a essa intervenção, no âmbito da gestão de políticas, programas e processos
educacionais, os psicólogos escolares dos Institutos Federais podem conduzir ações
que envolvam a participação conjunta dos coordenadores, docentes e técnicos
responsáveis pela elaboração e revisão de resoluções institucionais. Além disso,
podem assessorar a equipe do Departamento das Áreas Acadêmicas no
cumprimento dos indicadores de compromissos educacionais firmados em cada ano
letivo. Em relação às práticas pedagógicas e funcionamento de cursos, os psicólogos
escolares podem assessorar a equipe acadêmica na construção de ações que
garantam o sucesso acadêmico e a continuidade aos programas de formação dos
atores educativos no nível superior de ensino (FEITOSA; MARINHO-ARAUJO, 2016a).
Mesmo que se tenha apresentado proposições para a atuação de psicólogos
escolares na educação superior nos Institutos Federais, acredita-se que é necessário
promover novas discussões teóricas e metodológicas para o desenvolvimento de
suas práticas. Considerando que os IFET’s são espaços que contribuem para a
democratização do ensino e para a formação integral dos estudantes, cabe à
psicologia escolar revisitar práticas já institucionalizadas e promover o
desenvolvimento dos atores educativos em favor da formação dos estudantes no
contexto da educação profissional de nível superior e da defesa de um currículo
acadêmico integrado à práxis.

79
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A educação superior nos Institutos Federais configurou-se como uma das


iniciativas mais atuais no conjunto da reestruturação da política do ensino
profissionalizante. Essa modalidade de ensino revelou a urgência e a relevância em
se formar sujeitos tecnicamente qualificados como cidadãos e profissionais no
contexto da educação profissional e tecnológica. Por meio de oportunidades para o
aperfeiçoamento em diferentes percursos formativos (ensino, pesquisa, estágios,
extensão), inclusão escolar para muitos e construção de um currículo acadêmico
integrado à práxis, o nível superior de ensino exigiu aos IFET’s proposição de
políticas institucionais que envolvessem os diferentes atores educativos no desafio
de implementação de uma formação integral no escopo da educação profissional e
tecnológica.
Diante desse contexto, a contribuição da psicologia escolar tem sido cada
vez mais requerida nesses espaços formativos. Caracterizar a intervenção
psicológica na educação superior dos IFET’s, tomando como referência as
experiências de profissionais que promovem práticas nesse nível de ensino,
permitiram analisar os aspectos envolvendo o trabalho desse profissional nas áreas
de apoio aos processos de ensino e aprendizagem dos estudantes e apresentar as
articulações possíveis para uma atuação ampliada e institucional.
Os recortes da atuação de psicólogos escolares no nível superior de ensino
dos Institutos Federais revelou, inicialmente, uma tendência para o
desenvolvimento de ações pautadas em soluções de “situações-problemas”
provenientes das tradicionais queixas acadêmicas ou de demanda espontânea dos
estudantes. Por outro lado, as inserções desses profissionais nos setores
apresentados podem mobilizá-los a propor práticas fundamentadas nos processos
de desenvolvimento humano dos atores educativos e sinalizar abertura para
atividades que ampliem seu papel no contexto da educação superior. Na defesa por
uma intervenção coletiva e institucional do psicólogo escolar nos Institutos Federais,
espera-se que sejam aprofundadas discussões concernentes às inovações de sua

80
atuação nesse contexto, a fim de introduzir o debate sobre a formação e a
construção do perfil desse profissional.

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86
87
Breno de Oliveira Ferreira
Francisca Michelle Duarte da Silva Campos
Thayara Ferreira Coimbra Lima

C
ompete à educação profissional e tecnológica viabilizar a formação de
cidadãos para o mercado de trabalho, e com isso, o Ministério da Educação
tem (re) afirmado um compromisso de efetividade a partir da criação de
Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia no país.
No caso específico do Maranhão, a expansão da rede tem proporcionado
condições para o desenvolvimento da educação regional. Nesse âmbito, a Psicologia
tem acompanhado esse desenvolvimento, e diversos profissionais da área têm
assumido o compromisso de exercer suas atividades na instituição. A trilha desse
profissional se inicia numa prática, quase sempre solitária, onde a Psicologia,
enquanto ciência e profissão, é pouco difundida, ou por vezes, pouco
compreendida.
Nessa conjuntura, identificou-se um crescimento no quantitativo de campi
do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA) e,
acompanhando este cenário, também houve um crescimento no número de
profissionais da Psicologia que atuam na instituição.
Diante disso, constatou-se a existência de 28 psicólogos no Instituto,
espalhados em diferentes campi da capital e no interior do estado. Assim, neste
capítulo objetivou-se apresentar um breve percurso histórico do surgimento dos
serviços de Psicologia no IFMA, além de descrever como tem ocorrido a atuação
deste profissional na instituição.
Os psicólogos têm colaborado na efetivação de uma sociedade pautada na
justiça social, na igualdade política e econômica. Contudo, por vezes, têm
encontrado desafios que se manifestam em questões administrativas e de
infraestrutura.

88
NAS TRILHAS DA HISTÓRIA DA REDE FEDERAL DE EDUCAÇÃO
PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA

Diante da crise na esfera do capitalismo que vem ocorrendo nas últimas


décadas, própria dos processos de reestruturação da economia, as relações entre
educação e trabalho ficaram na centralidade desse contexto. Tavares (2012) aponta
que no Brasil, apesar de que no período final do Império e o início da República
terem referência ao modelo da agricultura com fins na exportação, o intuito maior
do país era a transformação desse modelo para a produção industrial, baseado na
industrialização.
O discurso ideológico de industrialização era uma proposta de alavancar o
país para o progresso, para emancipação da economia, para de fato alcançar a
independência política, e isso só era possível com a diminuição dos efeitos do
analfabetismo no Brasil. Dessa forma, a educação foi um dos grandes feitos do
governo Nilo Peçanha no Brasil República, entre os anos de 1909 a 1910 (BRASIL,
2010).
Durante o seu mandato, foram criadas 19 “Escolas de Aprendizes e
Artífices”. Essas escolas-fazendas eram coordenadas pelo Ministério dos Negócios
da Agricultura, Indústria e Comércio, e tinham por objetivo oferecer ensino
profissional gratuito de nível primário. Essas escolas enfrentaram inúmeras
dificuldades, no entanto, foi uma proposta de formar mão-de-obra para o mercado
de trabalho e que foi mantida em governos posteriores. Destaca-se que o
surgimento dessas escolas esteve fortemente relacionado ao controle social, como
prática governamental de uma política moral-assistencialista (BRASIL, 2010).
Segundo Nascimento (2012), data-se que a partir do ano 1942, as “Escolas
de Aprendizes Artífices” passaram a ser denominadas “Escolas Industriais e
Técnicas”, o que formalizou a educação profissional em nível secundário dando
inclusive acesso ao Ensino Superior. Nos anos seguintes, essa perspectiva de
formação de profissionais voltados para as metas de desenvolvimento do Brasil
ganharam ainda mais notoriedade, e em 1959, “Escolas Industriais e Técnicas” são

89
transformadas em “Escolas Técnicas Federais”, agora com autonomia de gestão e
planejamento pedagógico.
Foi somente em 1967, que as chamadas escolas-fazendas passam a ser
coordenadas pelo Ministério da Educação e Cultura, se tornando escolas agrícolas, e
em 1971 surge o I Plano Nacional de Desenvolvimento Econômico (PNDE), que se
propõe a tencionar mudanças na política de educação profissional, e com isso, a
urgência em formar profissionais. Assim, nesse contexto histórico, a Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Brasileira (LDB) de 1971 tornou obrigatória a profissionalização
dos alunos do ensino secundário (BRASIL, 2010).
Não obstante, com as inúmeras fragilidades para tal intento, ficou mais
evidente a diferença entre as escolas de “ricos” e “pobres”, bem como a distância
entre educação propedêutica e profissional. Diante desse modelo, mesmo sob
condições materiais críticas, surgiram em 1978 três “Escolas Técnicas Federais”, nos
estados do Rio de Janeiro, Paraná, e Minas Gerais, que posteriormente deram início
ao processo de transformação que originou os Centros Federais de Educação
Tecnológica (CEFET’s). Na realidade maranhense, a Escola Técnica Federal foi
transformada em Centro Federal de Educação Tecnológica do Maranhão (CEFET-MA)
apenas em 1989, por meio da Lei 7.863 de 30 de outubro de 1989 (TAVARES, 2012).
Ainda segundo o autor supracitado, foi em 1990 no governo de Fernando
Henrique Cardoso que ocorreram algumas alterações significativas nas políticas
educacionais do ensino profissionalizante, tendo em vista o cenário histórico de
retração do crescimento, da alta inflacionária, enfim, dos desajustes da economia, o
que fizeram com que a formação de mão-de-obra profissionalizante em grande
escala sofresse impactos reais. Com isso, a educação profissional e tecnológica é
novamente reformada em sua composição curricular, concomitante ao momento no
país de “Reforma do Estado”, onde as privatizações de instituições estatais
ganhavam poder de barganha, em detrimento do sucateamento dos órgãos públicos.
Com a Lei Federal nº 8.984 de 1994 que instalou o Sistema Nacional de
Educação Tecnológica, outras “Escolas Técnicas Federais” passaram de maneira
paulatina a serem transformadas em CEFET’s, que não apenas as “Escolas
Agrotécnicas Federais” (BRASIL, 2008). Nesse processo, Vidor et al. (2011) aponta

90
que em 1998, o governo federal passou a proibir a implantação de novas escolas na
Rede Federal de ensino, ao passo que os investimentos cresciam no fomento ao
Ensino Superior e as escolas de Ensino Médio regular.
Contudo, em 2004 as políticas educacionais passam por mudanças de
reorientação e iniciaram as retomadas às ofertas de cursos técnicos
profissionalizantes integrados ao Ensino Médio, e com posterior modificação no
artigo da lei que vedava a expansão da Rede Federal (VIDOR et al., 2011).
Já no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por meio da Lei
11.195 de 18 de novembro de 2005, deu-se início à primeira fase do Plano de
Expansão da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica. A segunda fase
ocorreu sob o governo do mesmo presidente, já em 2007. E em 2008 foi instituída a
Rede Federal de Educação Profissional e Científica que criou os Institutos Federais
de Educação, Ciência e Tecnologia (IF’s), através da Lei nº 11.892 de 29 de
dezembro de 2008. Durante o mandato da presidenta Dilma Rousseff, foi iniciada a
terceira fase, a qual o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Maranhão (IFMA) faz parte (NASCIMENTO, 2012).
Atualmente como resultado da expansão, o IFMA possui uma Reitoria, 26
Campi, 3 núcleos avançados, 3 Campi avançados e um Centro de Vocação
Tecnológica (IFMA, 2016). A expansão se processou de forma a descentralizar a
educação da capital, São Luís, de modo a garantir o viés público da educação
profissional e tecnológica e ampliar o desenvolvimento regional do estado.

A PSICOLOGIA ESCOLAR NA TRILHA DO IFMA

Por meio do resgate histórico institucional, foi possível identificar os


primeiros passos da Psicologia escolar na instituição. Em 1990, ingressou a primeira
psicóloga no CEFET-MA. Esta foi lotada na cidade de Imperatriz, na Unidade de
Ensino Descentralizada (UNED), que posteriormente tornou-se IFMA – Campus
Imperatriz.

91
Em meados de 1996 ingressa na Rede Federal a segunda psicóloga, a qual
foi lotada no CEFET- Monte Castelo, atual IFMA Campus São Luís - Monte Castelo.
Já no ano de 2004, a terceira psicóloga é lotada na Escola Agrotécnica
Federal de São Luís, atual IFMA Campus São Luís – Maracanã.
Como visto anteriormente, em 2008, foi implantada a Rede Federal de
Educação Profissional e Científica, que criou os Institutos Federais. Nesse novo
formato, em 2009, três novas psicólogas ingressaram no IFMA, lotadas em três campi
distintos, a saber: Campus Açailândia, Campus Santa Inês e Campus Zé Doca.
Em 2010 ocorreu nova ampliação do quadro de psicólogos na Rede Federal
maranhense com a entrada de mais seis servidores nos seguintes campi: Campus
Alcântara, Campus Bacabal, Campus Barreirinhas, Campus Codó, Campus Zé Doca e
Campus São Luís-Centro Histórico.
Um novo concurso foi realizado, e a partir de 2014 nove psicólogos foram
convocados para assumir os demais campi ao longo de todo Estado. Os servidores
foram lotados no Campus Alcântara, Campus Buriticupu, Campus Caxias, Campus
Codó, Campus Coelho Neto, Campus São João dos Patos, Campus São Raimundo das
Mangabeiras, Campus Santa Inês e Campus Zé Doca. Todos estes campi estão
localizados no interior do estado.
Em 2015 foram convocados sete novos psicólogos que entraram em
exercício nos campi: Campus Barreirinhas, Campus Barra do Corda, Campus Grajaú,
Campus Imperatriz, Campus Pedreiras, Campus Pinheiro e Campus Viana. Já em
2016, três psicólogos foram convocados para atuarem nos campi: Campus
Açailândia, Campus Bacabal e Campus Imperatriz. Aliado a isto, está em tramitação
um novo concurso, no qual consta mais uma vaga para o campus Açailândia.
Vale ressaltar que nesse período de inserção de novos servidores no IFMA,
ocorreram casos de vacância por aposentadoria, remoção e exoneração. Além disso,
alguns campi deram provimento de cargos por exercícios provisórios e remoção.
Como pode ser visto, a inserção dos psicólogos na Rede Federal de
Educação Ciência e Tecnologia do Maranhão seguiu o percurso histórico das
mudanças educacionais no país e das expansões na educação profissionalizante.

92
O QUE O PROFISSIONAL DE PSICOLOGIA FAZ NO IFMA?

Como visto anteriormente, o IFMA conta com 28 psicólogos, pertencentes à


categoria técnico-administrativos, os quais estão distribuídos em 21 municípios, a
saber: Açailândia, Alcântara, Bacabal, Barra do Corda, Barreirinhas, Buriticupu, Caxias,
Codó, Coelho Neto, Grajaú, Imperatriz, Santa Inês, São Luís, São José de Ribamar, São
João dos Patos, São Raimundo das Mangabeiras, Pinheiro, Pedreiras, Timon, Viana, Zé
Doca.
Estes profissionais estão lotados em 24 campi, isto é: Campus Açailândia,
Campus Alcântara, Campus Bacabal, Campus Barra do Corda, Campus Barreirinhas,
Campus Buriticupu, Campus Caxias, Campus Codó, Campus Coelho Neto, Campus
Grajaú, Campus Imperatriz, Campus Santa Inês, São Luís Monte Castelo, São Luís
Centro Histórico/ Itaqui Bacanga, São Luís Maracanã, São Luís Unidade-SIASS,
Campus São José de Ribamar, Campus São João dos Patos, Campus São Raimundo
das Mangabeiras, Campus Pinheiro, Campus Pedreiras, Campus Timon, Campus
Viana, Campus Zé Doca.
Deste quantitativo, apenas dois profissionais estão subordinados a Pró-
Reitoria de Gestão de Pessoas (PROGEPE) cedidos à unidade de Subsistema
Integrado de Atenção à Saúde do Servidor (SIASS), um subsistema de saúde ligado
ao Ministério do Planejamento com intuito de realizar perícias médicas, avaliações
psicológicas em situação periciais, acompanhamento de servidores que retornam ao
trabalho e orientações a servidores, seus familiares e também atividades de
promoção à saúde.
Ressalta-se que estes profissionais atuam com ênfase na Saúde do
Trabalhador, atendendo servidores em processo de adoecimento e desenvolvendo
atividades de promoção à saúde nas unidades em que possuem convênio SIASS, tais
como: Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), IFMA, Ministério do Trabalho,
Agência de Transporte Terrestres (ANTT) e Policia Federal.
Os demais profissionais, isto é, 26 psicólogos estão distribuídos ao longo de
todo estado, sendo subordinados à Direção de Desenvolvimento e Ensino (DDE) dos

93
seus respectivos campi, compondo a equipe multidisciplinar da Assistência
Estudantil. Atuam nos campi, desempenhando trabalho com ênfase em Psicologia
escolar e tendo como público-alvo a comunidade escolar.
Em estudo desenvolvido por Ferreira, Oliveira e Lima (2016), objetivando
investigar o perfil do psicólogo do IFMA, que contou com a participação de 24
psicólogos da instituição, foi possível observar que o ano de conclusão de curso
variou entre 1989 a 2014 e a maioria dos profissionais é do gênero feminino,
formados em Instituições Públicas de Ensino Superior, a saber, Universidade Federal
do Maranhão (UFMA) e Universidade Estadual do Piauí (UESPI), com faixa etária entre
24 a 52 anos.
Neste bojo, conforme Ferreira, Oliveira e Lima (2016), há sete psicólogos
desempenhando cumulativamente cargos de confiança, quatro exercendo função de
Chefe do Núcleo de Assistência ao Educando (NAE), três são Coordenadores do
Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades Educacionais Específicas
(NAPNE) e um desempenha a função de Chefe do Departamento de Extensão e
Relações Institucionais (DERI).
No tocante à prática profissional, os psicólogos escolares do IFMA
informaram desenvolver com regularidade: palestras, atendimentos individuais
(alunos e servidores), acompanhamentos, encaminhamentos, orientação profissional,
intervenções educativas, orientação aos professores, intervenção junto aos alunos
com dificuldades no processo de ensino-aprendizagem, aconselhamentos,
orientação sexual, mediação de conflitos entre docentes/alunos, dentre outros.
Nota-se que estas atividades são historicamente atribuídas aos psicólogos escolares,
possuem uma dimensão psicoeducativa e estão de acordo ao que Martinez (2010)
denomina de atuação tradicional em Psicologia escolar.
Além disso, os psicólogos escolares do IFMA realizam: pesquisas diversas,
mapeamento institucional, projetos de extensão, trabalhos na área organizacional
(workshops, palestras, intervenções grupais), acompanhamento da evasão, seleção
nos programas assistenciais, assessoramento às ações do ensino, participação em
reunião de pais e organização de eventos. Essas atividades visam fortalecer o elo da
comunidade escolar. Nota-se assim uma concepção mais abrangente da atuação, o

94
que sugere uma dimensão psicossocial, caracterizando uma atuação emergente,
conforme Martinez (2010).
Por fim, foram citados: visitas domiciliares, hospitalares e institucionais de
promoção da saúde; atuação no Núcleo de Qualidade de Vida; e preparação para
aposentadoria, as quais não foram encontradas na classificação feita por Martinez
(2010). No entanto estas atividades sugerem uma atuação em Psicologia escolar
com ênfase também na promoção de saúde nos campi do IFMA.
Reitera-se que a Política de Assistência Estudantil do IFMA é organizada em
Programas. No que tange à Psicologia, tem-se o programa de acompanhamento
psicológico que está dentro dos programas universais. Esse programa objetiva o
desenvolvimento integral do aluno e agrupa profissionais de diversas áreas, a saber:
psicólogos, enfermeiros, odontólogos, técnicos de enfermagem, médicos,
assistentes sociais e nutricionistas. Provavelmente tal concepção tem favorecido a
ênfase na saúde, contudo faz-se necessária a realização de novos estudos.
Os psicólogos informaram usar uma variedade de instrumentos, dentre eles:
instrumentais (protocolo de observação, anamnese, ficha de triagem, ficha de
atendimento, roteiros de entrevista); testes psicológicos; recursos lúdicos (jogos
educativos); e material audiovisual (vídeos, filmes, documentários, data show,
televisão).
Aliado a isto, desenvolvem regularmente atividades envolvendo dinâmicas
de grupo, orientação individual ou grupal, escuta clínica, aconselhamento breve,
grupos operativos, entrevistas, palestras, atendimentos, vivências, rodas de
conversa, projetos específicos e encaminhamentos.
O espaço físico utilizado para a atuação dos psicólogos escolares no IFMA é
diversificado, uma vez que segundo Ferreira, Oliveira e Lima (2016), apenas seis
informaram possuir sala exclusiva para uso do serviço de Psicologia. A maioria dos
profissionais ressaltou não possuir sala para uso exclusivo do setor, fato que os leva
a compartilhar salas com outros setores ou utilizar espaços livres do campus.

95
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do contexto apresentado, percebeu-se que a Psicologia


acompanhou o crescimento do IFMA, evidenciando um número significativo de
psicólogos. Atualmente, há uma proporção de praticamente 1 psicólogo para cada
campus. Dentro desse número de profissionais, pode-se dividir a categoria em dois
grupos, os que atuam enquanto psicólogos escolares e os que exercem atividades
voltadas à saúde do trabalhador.
Embora as atividades sejam diferenciadas, há, entre os grupos,
similaridades na atuação profissional e na busca pela consolidação de uma relação
efetiva entre Psicologia e Educação.
A discussão sobre os parâmetros utilizados nas diversas atividades da
Psicologia no IFMA tem sido reforçada para nortear as atividades realizadas. Essa
discussão não se propõe como tentativa reducionista ou restritiva a modelos pré-
estabelecidos, mas possibilita delimitar e clarificar os papéis intrínsecos do fazer e
quais as singularidades de cada realidade.
Apesar dos avanços, historicamente retratados no percurso da Psicologia
no IFMA, reitera-se a necessidade da constante formação crítica e o
aperfeiçoamento permanente desses profissionais no que tange à realidade do
sistema educacional brasileiro para que suas atuações sejam pautadas nas
necessidades da comunidade assistida e da realidade atual.

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98
99
Camilla Corso Silveira
Evylen Talita de Souza

D
e que maneira psicólogos podem contribuir para a qualidade do processo
educativo? Como vencer as dificuldades de aprendizagem às quais somos
convocados a tratar, prevenir ou mesmo remediar? Isto ainda sem ceder ao
lugar comum confiado à Psicologia, de “atender aos alunos e orientar os
professores”, mas trabalhar para mudança real na democratização educacional? As
referências teóricas (e no plano das ideias) são riquíssimas, porém orientações
práticas minguam. O presente trabalho repousa nesta inquietação e apresenta
alguns apontamentos sobre uma possibilidade de posicionamento do psicólogo
escolar frente às demandas relacionadas às dificuldades de aprendizagem, com o
objetivo de contribuir para a qualidade do complexo processo ensino-
aprendizagem. Para isso, traremos no decorrer no texto um relato linear de uma
experiência ainda em construção.
Qualidade é uma palavra polissêmica. Pode ser aplicada em contexto
mercadológico, de produtos e serviços, fenomenológico para fins de categorização,
transcendental indicando virtude, funcional, entre muitos outros. Isto reflete em um
falso consenso quando o termo é utilizado em contexto específico (SILVA, 2009).
Aqui, ao abordar o tema da educação, utilizaremos a noção de qualidade social.
Entendendo a educação como instrumento de transformação social, através
da emancipação dos indivíduos, qualidade está ligada à defesa radical da cidadania
para uma sociedade mais justa e igualitária (SILVA, 2009; PATTO, 1999). Educação de
qualidade, nesse sentido, é decidida em “superar os distanciamentos entre as
classes sociais” (SILVA, 2009, sp). Além das políticas de acesso e permanência,
dentro da escola isso significa o trabalho para o sucesso do estudante, criando
condições de aprendizagem e subjetivação (ANTUNES, 2008). Nesse sentido, a
democratização da escola deve ser entendida como

100
“[...] ampliação das oportunidades educacionais, difusão dos
conhecimentos e sua reelaboração crítica, aprimoramento da prática
educativa escolar visando à elevação cultural e científica das
camadas populares, contribuindo, ao mesmo tempo, para responder
às suas necessidades e aspirações mais imediatas (melhoria de vida)
e à sua inserção num projeto coletivo de mudança da sociedade [...]”
(LIBÂNEO, 2012, p. 12)

Essa ação transformadora da escola estará na possibilidade de apropriação


dos conhecimentos historicamente construídos pelos estudantes, visando o
desenvolvimento de suas potencialidades em um processo de humanização. Para
este processo deve-se considerar que as aptidões humanas não são dadas a priori,
por sua maturação biológica, mas sim desenvolvidas no curso da história individual
contextualizada; a “essência” do homem não é dada pela natureza ao indivíduo, mas
construída a partir das relações sociais (ASBAHR, 2014; FACCI e ALTA, 2011).
Nesse entendimento, a escola se insere na continuidade da vida social, mas
para alguns estudantes essa continuidade não faz sentido. Os conteúdos passados
não se ligam com a realidade social, ou há dificuldade em compreender o que é
apresentado dentro da sala de aula como continuidade de sua vida. Assim, para o
estudante não há uma produção de sentido sobre o conteúdo que é aprendido. Há a
necessidade de considerar a condição histórica e social do estudante para uma
prática ensino-aprendizagem mais efetiva, inserida na relação com a vida escolar e
social (LIBÂNEO, 2012; BOCK, 2002).
O psicólogo escolar, nesse contexto, estará debruçado sobre estas relações.
Referenciado por conhecimentos científicos sobre desenvolvimento emocional,
cognitivo e social, pode auxiliar na melhor compreensão dos processos e estilos de
aprendizagem e direcionar a equipe educativa na busca de constante
aperfeiçoamento desse processo, tornando-o mais democrático e realmente
direcionado à aprendizagem. A melhoria da qualidade do trabalho educativo se dará
quando a equipe estiver dedicada a uma escola concreta, não abstrata e ideal.
Para isso, é necessário compreender a complexa rede de elementos que se
materializam na queixa escolar. Queixa escolar aqui entendida como demandas
formuladas pela comunidade escolar a respeito do estudante que não aprende. O

101
psicólogo escolar que se baseia em uma concepção crítica de educação deve estar
comprometido com a finalidade emancipadora da educação. Isto significa um
engajamento com a democratização educacional a partir de um olhar sobre o
homem real, que rompe com práticas secundárias e adaptacionistas (FACCI e LESSA,
2009; PATTO, 1999). Ao receber as dificuldades de aprendizagem como centradas
no estudante, cabe ao psicólogo crítico considerar o papel da instituição escolar na
produção e solução dessas mesmas dificuldades (BRAGA e MORAIS, 2007; PATTO,
1999).
Assim, contribuir para a qualidade do processo ensino-aprendizagem,
representa investir na ideia de empoderamento e conscientização dos sujeitos com
vistas à emancipação social e à cidadania.
A emancipação do homem, sua humanização, está ligada propriamente a
esse processo de apropriação do conhecimento e uso desse conteúdo para seu
desenvolvimento e satisfação de suas possibilidades. O trabalho do profissional
psicólogo vem ao encontro dos objetivos da educação, na formação de cidadãos
participativos e críticos que tenham a habilidade de elaborar projetos e fazer
escolhas orientadas à concretização de suas potencialidades e desejos, bem como
de elaborar estratégias de enfrentamento a partir da reflexão sobre os elementos de
suas condições objetivas de vida.
A Psicologia tem o privilégio de estar envolvida nesse movimento e deve
comprometer-se sempre com processos educativos sólidos que promovam a
transformação da realidade social.

UM MANEJO POSSÍVEL DA DEMANDA

Há muito se discute a inserção da Psicologia no contexto escolar não como


um enquadramento do saber psicológico que se conforma e adapta a esse cenário,
mas a partir de reflexões profundas sobre práticas que pertençam a uma Psicologia
Escolar propriamente dita. Isso porque a eficácia do trabalho exige uma

102
compreensão clara dos propósitos e possibilidades da atuação, assim como dos
elementos intervenientes nessa prática.
Por muito tempo essa compreensão esteve orientada por um modelo
médico de atuação. Isto porque a Psicologia Escolar foi historicamente considerada
como uma área secundária da Psicologia, generalizada como um desmembramento
da área Clínica. A atuação tradicional no contexto escolar foi por muito tempo
guiada por modelo clínico-terapêutico com ações remediativas frente às queixas
escolares (MARTINEZ, 2009; ANTUNES, 2008; ANDALÓ, 1984).
A Psicologia Escolar tradicional, fundada na década de 1940,
caracteristicamente de ordem prática e descolada de fundamentação teórica
própria, tinha como exercício a resolução dos problemas dos escolares. Esse modelo
se mostrou limitado na medida em que centrava sua atenção no indivíduo
desajustado, não questionando os processos educativos, currículos, programas ou os
objetivos da escola; e ignorando o compromisso da atuação do psicólogo escolar
com a melhora da qualidade da educação (MARTINEZ, 2009; ANTUNES, 2008;
ANDALÓ, 1984).
Após muitos tensionamentos produzidos tanto pelos próprios psicólogos
quanto por outras figuras do contexto escolar, como pedagogos, que se elaborou
uma crítica radical ao reducionismo dos fatores educacionais e as interpretações
psicologizantes. O modelo médico estava alheio às práticas pedagógicas e era
necessário considerar práticas mais efetivas de intervenção. Ao abandonar a
perspectiva individualizante, inaugurou-se uma ideia revolucionária: para superar o
fracasso do estudante não adiantava apenas atender ao estudante que “fracassava”,
pois ele encarnava o fracasso de todo o sistema escolar. O sucesso escolar não era
mais visto por esses estudiosos como consequência do mérito pessoal, então, era
necessário, portanto, promover a transformação dos processos educativos
(MARTINEZ, 2009; PATTO, 1999; ANDALÓ, 1984).
Ainda hoje a visão remediativa do trabalho da Psicologia no contexto da
educação perdura. Esse entendimento do trabalho do psicólogo escolar é percebido
pela forma como se constrói e coloca a demanda. A aceitação desse entendimento
se dará no modo como o profissional acolhe e maneja as solicitações. No caso das

103
ações finais narradas neste trabalho, elas emergiram de problematizações a partir de
uma demanda também centrada no “indivíduo desajustado”, com intenção
remediativa.
Essa visão remediativa pode ser observada em situações do cotidiano. Nessa
experiência, em uma instituição pública de educação profissional, a solicitação foi
trazida por Coordenador de Curso, enquanto representante de seu Colegiado, e
abrangia a expectativa de uma intervenção sobre a dificuldade de aprendizagem de
seus estudantes adultos da Educação Profissional. A percepção era de que esse
público afastado dos bancos escolares há algum tempo se complicava na relação
com os conteúdos e dava mostras de desinteresse e pouco comprometimento com a
própria educação, "visando apenas o diploma" conforme relataram os docentes, e a
Psicologia era convocada a cooperar com a superação desse cenário.
Ao psicólogo escolar que reconhece a necessidade de superar o modelo
remediativo frente às queixas escolares pode parecer inaceitável consentir com uma
atuação que se guie pelo trabalho com estudantes com dificuldades de aprender.
Este, contudo, muitas vezes se mostra como nosso “passe de entrada” para intervir
sobre o processo educacional de um modo mais amplo.
Decidir por um trabalho crítico para que os educadores acessem uma escola
real - com a intenção de investir no potencial transformador da educação - significa,
antes de tudo, nós mesmos considerarmos a escola real em nosso trabalho. A escola
real traz determinantes histórico-culturais para seus fenômenos, que são datados e
servem a um modelo de sociedade que tem discursos e crenças específicos; traz
contradições e cristalizações; traz preconceitos.
Nesse sentido, no manejo da demanda, pensamos na importância de fazer
tensionamentos sem, contudo, provocar rompimentos que inviabilizassem o
trabalho. Para isso, em situações como a descrita, consideramos a solicitação inicial
e sugerimos uma atuação que também incluísse os docentes na superação daquele
tema posto.
Propusemos disponibilizar aos estudantes desses cursos técnicos
subsequentes um espaço de discussão sobre sua aprendizagem, incentivando sua
autonomia e posicionamento crítico frente aos elementos que interferem no

104
atingimento dos objetivos escolares. Os encontros tiveram frequência quinzenal,
organizados durante o período de aula dos estudantes, considerando a
impossibilidade de participação dos trabalhadores em contraturno. Foram realizadas
atividades de reflexão e discussão sobre algumas temáticas, entre elas: promoção de
retrospectiva e retomada da história pessoal, reflexão sobre projeto de vida e
aplicação da educação profissional técnica que vem recebendo; significado do
trabalho e possibilidade de satisfação pessoal com o trabalho; relação ativa com os
conteúdos; estruturação do tempo; possibilidades de gestão da própria
aprendizagem; etc.
Paralelamente, estabelecemos junto aos docentes a discussão de questões
percebidas na condução do grupo de estudantes sobre o curso, a escola, o contexto
social. Mensalmente, após as reuniões ordinárias de Colegiado, foram propostos
momentos de reflexão, discussão e proposição sobre as mesmas questões que
surgiam no grupo dos estudantes.
Ali começavam a ficar evidentes os processos dessubjetivantes -
engessamentos e entraves que produziam efeitos nos estudantes e na própria
equipe de professores, que necessitavam ser problematizados e discutidos para
superar coletivamente os desafios, para além da ideia de "aluno problema". Esses
debates fizeram emergir uma série de proposições que serão elencadas no percurso
deste trabalho.

UM OLHAR SOBRE A QUESTÃO DO DESINTERESSE

Debruçar sobre a questão dos estudantes adultos desinteressados sobre o


próprio processo formativo era como desvelar um enigma. Como seria possível não
estarem comprometidos com o curso que escolheram e do qual poderiam sair
quando bem quisessem? Estariam estes estudantes alienados de sua formação? A
formação em si era um processo alienante? Qual a implicação da escola e dos
professores nesse quebra-cabeça?

105
O conceito de alienação em Marx se refere "àqueles que não têm
consciência de sua própria situação, que não se sabem como sujeitos da história,
aqueles que perderam sua condição de sujeitos de seus próprios atos, de suas
próprias obras" (SAVIANI, 2004, p. 29 apud ALTA e FACCI, 2011, sp). O sentido
pessoal da atividade deixa de estar na satisfação da atividade em si, sendo que esta
passa a ser um meio para outro objetivo descolado dela. No caso do trabalho, em
Marx, passa da satisfação com o trabalho para a garantia da subsistência através de
um salário; o trabalho se torna exterior ao trabalhador Na mesma grandeza, na
educação alienada o estudo se torna exterior ao próprio estudante, descolado dos
objetivos de sua atividade; o motivo que estimula sua ação está descolada de sua
consequência se, ao invés de aprender, for apenas passar em uma prova, por
exemplo (ASBAHR, 2014).
A questão da alienação na educação se torna um impeditivo de alcançar a
qualidade, na medida em que a qualidade social é compreendida dentro da
possibilidade de uma aprendizagem significativa, que enfatiza o bem-estar dos
indivíduos e fomenta sua capacidade enquanto cidadãos potentes para produzir
outras formas de relações sociais (DIAS, 2011; SILVA, 2009). Nesses termos, a
alienação é aquela que ocorre dentro da própria escola quando falha na
democratização do acesso à cultura e ciência, além da instrumentalização para o
trabalho, para que o sujeito possa se enxergar inteiro na produção daquele trabalho.
É incontestável que um trabalho educativo que vise superar essa questão,
da alienação do estudo em si, visando uma aprendizagem significativa, é laborioso,
complexo, estrutural, permanente, progressivo e, principalmente, coletivo. No
processo de mudança do contexto educativo cooperam diversos profissionais com
seus conhecimentos técnicos específicos e psicólogos são apenas um pequeno
número deles. A proposição de trabalho nessa experiência incorporou a ideia do
profissional de Psicologia enquanto problematizador e mobilizador.

106
PROPOSIÇÕES PARA UMA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA

A constituição da subjetividade humana ocorre a partir do processo de


apropriação dos conhecimentos humanos, internalização das construções sociais,
sua ressignificação e mobilização. A escola serve à disseminação desses
conhecimentos acumulados historicamente; à socialização do saber sistematizado,
inscrevendo em cada indivíduo singular, a humanidade produzida histórica e
coletivamente. Uma educação transformadora permite então tornar o universal em
singular para que ele se desenvolva enquanto sujeito (FACCI e ALTA, 2011; LIBÂNEO,
2012).
O processo de apropriação do conhecimento, à qual denominamos
aprendizagem, é esse movimento de incorporação de significações sociais através
do sentido pessoal que ela tenha para o sujeito. O sentido é criado na relação entre
o motivo da ação e seu fim, por isso se modificam de acordo com a vida particular. A
aprendizagem consciente ocorre quando as ações de estudo têm sentido para o
estudante, quando os conhecimentos ocupam um lugar real na vida da pessoa. No
caso da atividade de estudo, a conscientização de um conteúdo depende do seu
lugar estrutural dentro da atividade do sujeito. Assim, a ocorrência da aprendizagem
está intimamente ligada com o sentido que o sujeito atribui a ela e, nesse
entendimento, as dificuldades de aprendizado necessitam ser consideradas também
dentro desse viés (ASBAHR, 2014).

“Não basta que os conteúdos sejam apenas ensinados, ainda que


bem ensinados; é preciso que se liguem, de forma indissociável, à
sua significação humana e social” (LIBÂNEO, 2012, p 41)

Se não estiver claro ao estudante o lugar ocupado por aquele objeto de


estudo dentro de sua atividade, não haverá tomada de consciência, pois sua
apropriação será alienada, fragmentada. Por isso, a atividade pedagógica deve
superar o fazer artificial: muitas vezes o grande motivo da dificuldade de
aprendizagem está no fato de os conteúdos estarem desarticulados de sua função
social, impedindo o estudante de conferir um sentido pessoal àquele conhecimento.

107
Nesse sentido, se faz necessário que o saber esteja vinculado à realidade social; que
o conteúdo proposto pelo professor se relacione com a prática vivida pelos
estudantes, permitindo que a experiência destes se organize em um saber superior
através da mediação do docente (ASBAHR, 2014; LIBÂNEO, 2012).
Para que o professor possa dar acesso aos estudantes a conteúdos
elaborados, a partir da problematização da realidade social destes, há que conhecê-
los e considerá-los. Nesse sentido, toda a equipe do setor pedagógico cooperou
para 1) mobilizar a participação da representação discente em reuniões de
Colegiado de Curso, para uma aproximação entre as perspectivas de um e de outro;
2) estimular a participação dos professores, especialmente os Coordenadores, em
trabalhos antes exclusivos da equipe pedagógica, como o acompanhamento aos
estudantes com as ditas dificuldades de aprendizagem; 3) realizar pesquisas no
início do ano com estudantes ingressantes para compreender as características e
expectativas desse público e colaborar para que os Colegiados façam o mesmo com
questões específicas de seus cursos.
Em se tratando especificamente do trabalho da psicologia escolar junto ao
curso demandante, no que diz respeito à apresentação dos objetos de estudo,
atualmente estamos trabalhando junto aos docentes a importância de estabelecer
relações claras dos conteúdos trabalhados aos objetivos do curso e à prática
profissional, auxiliando os estudantes no processo de construir sentido pessoal aos
objetos estudados. A temática foi apreendida durante o encontro com os estudantes
ao trabalharmos projeto de vida e aplicação da formação profissional: as narrativas
dos estudantes apontavam para um descolamento da formação em relação às suas
vidas, e alguns relatos puderam ilustrar e fomentar a discussão posterior com os
professores.
Nesse processo foram estruturadas algumas propostas em conjunto, de
ações simples e imediatas que poderiam colocar em prática: 1) estabelecer
antecipadamente quais competências serão desenvolvidas durante os componentes
curriculares e de que maneira elas se articulam com os objetivos do curso; 2)
verificar a aprendizagem prévia destes estudantes e, a partir disso, elaborar um
plano de estudos que os estudantes possam acompanhar e sugerir

108
aprofundamentos; 3) auxiliar os estudantes na organização dos conteúdos,
realizando uma retomada do que foi trabalhado na aula anterior e uma síntese ao
final da aula, para que os estudantes tenham clareza e maior domínio sobre o que
foi transmitido; 4) oferecer feedbacks constantes baseados nas competências
estabelecidas para o componente curricular. Em médio prazo, os professores
também vislumbraram rever a organização dos componentes curriculares, de modo
que possam trabalhar por projetos integrados em alguns períodos da formação, para
a produção de trabalhos práticos que congreguem os componentes.
Junto aos estudantes, tem sido trabalhada a relação ativa com os conteúdos.
Compreendendo que aprender não é algo que simplesmente acontece, mas que há a
necessidade de um comportamento intencional. O trabalho em desenvolvimento
busca estimular a síntese, participação e consciência crítica sobre os objetos de
estudo.
Com essas ações busca-se descentrar ideia das dificuldades de
aprendizagem como resultantes de um “aluno-problema”, e conduzir para uma
perspectiva de corresponsabilidade em um processo de ensinagem aprendizagem.
Nessa relação o papel do professor deve estar muito bem delimitado em sua função
de ensinar, em conduzir o estudante à compreensão sistematizada; assim como do
estudante em um compromisso com a própria aprendizagem, para que os conteúdos
tenham ressonância em sua vida particular.
Outro aspecto a ser considerado, para além do trabalho referente à
qualidade do trabalho com os conteúdos dos conteúdos, está a qualidade dos
conteúdos em si. A escolha dos conteúdos e a disseminação desse saber escolar
está lá para romper com a destinação social desses estudantes: ao visarem uma
transformação social de fato, não podem se encerrar no objeto técnico mas devem
sim promover o contato dos estudantes com as contradições sociais e a crítica sobre
elas.
A escola, como instituição social, faz o intermédio entre o homem e a
sociedade. É um importante espaço de troca social, onde se transmite o saber, não
apenas científico mas também moral; conteúdos vivos e não refratários à realidade
social. Para que essa apropriação aconteça, a relação professor e aluno são

109
fundamentais, é através dessa dialética, que a experiência confusa e fragmentada se
transforma em uma visão unificada. Assim a escola prepara o estudante para outras
realidades sociais, e o estudante por sua vez elevado dos conteúdos apropriados na
escola, permitindo que ele se torne um sujeito ativo e democrático em outros meios
sociais. (LIBÂNEO, 2012).
Para além de ser caracterizado como informações que serão colocadas para
os alunos, o saber escolar é conhecimento dos bens culturais, um patrimônio de
todos, empregado com intenção formativa e instrumental; esse conjunto de
informações busca a elevação do aluno, não apenas sua inserção como ser social e
crítico, mas seu fortalecimento para transformação social de fato. (LIBÂNEO, 2012;
PATTO, 1999).
Nesse sentido, o trabalho com os docentes tem sido absolutamente rico e
potente: mostram-se comprometidos em estimular uma atitude investigativa e
curiosa dos estudantes promovendo o exercício da competência técnica em uma
atitude política de intervenção social, através de projetos de pesquisas e ações em
comunidades; também pensando na possibilidade de ampliar a participação desses
estudantes adultos trabalhadores, reservarão horário de aula para que isto aconteça
de maneira mais acessível.

EM SÍNTESE

A distância entre o conteúdo aprendido nas Universidades e a prática


escolar se mostra como a mais grave limitação do ensino da Psicologia escolar
(LIBÂNEO, 2012). Muitas das publicações são sobre a escola e não sobre o fazer na
escola, muitas vezes deixando o profissional da Psicologia afastado de professores e
pedagogos, sem saber exatamente como contribuir.
O relato das ações em desenvolvimento visa colaborar para ampliar o
repertório do fazer da psicologia escolar. Foram soluções encontradas junto aos
demais profissionais, em uma atuação coletiva, em que o psicólogo escolar se
colocou como mobilizador e problematizador. Contribuímos, dessa maneira, com a

110
análise dos condicionantes sociais da experiência individual e do ato pedagógico
que implicam para um fracasso escolar e estimulamos outras formas de pensar esse
fracasso para que novas atuações pudessem emergir.
Mesmo sem saber exatamente qual deve ser o fazer ideal do psicólogo
escolar, acreditamos que prestigiar a escola em sua função primordial de
disseminação de conteúdos elaborados, de mediação para a apropriação do saber, é
interceder pela diminuição da seletividade social. Este é o papel transformador da
escola e pensamos que, de uma modo geral, lutar pelo bom ensino para todos é o
compromisso social sobre o qual a ação do psicólogo escolar deve repousar.

111
AITA, Elis Bertozzi; FACCI, Marilda Gonçalves Dias. Subjetividade: uma análise
pautada na Psicologia histórico-cultural. Psicol. rev. (Belo Horizonte), Belo Horizonte
, v. 17, n. 1, p. 32-47, abr. 2011 .

ANTUNES, Mitsuko Aparecida Makino. Psicologia Escolar e Educacional: história,


compromissos e perspectivas. Psicol. Esc. Educ. (Impr.), Campinas, v. 12, n. 2, p. 469-
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ANDALÓ, Carmem Silvia de Arruda. O papel do psicólogo escolar. Psicol. cienc. prof.,
Brasília, v. 4, n. 1, p. 43-46, 1984 .

ASBAHR, Flávia da Silva Ferreira. Sentido pessoal, significado social e atividade de


estudo: uma revisão teórica. Universidade Estadual Paulista. Revista Quadrimestral
da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, SP. v. 18, n. 2,
Maio/Agosto, 2014.

BOCK, A. M. B. Psicologias. Uma introdução ao estudo de Psicologia. São Paulo:


Saraiva, 2002. cap. 18, p. 263-276.

BRAGA, Sabrina Gasparetti; MORAIS, Maria de Lima Salum. Queixa escolar: atuação
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FACCI, Marilda Gonçalves Dias; LESSA, Patrícia Vaz de. O psicólogo escolar e seu
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São Paulo, 2009.

LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da escola pública: A pedagogia crítico-social


dos conteúdos. 27. ed. São Paulo: LOYOLA, 2012.

112
MARTINEZ, Albertina Mitjáns. Psicologia Escolar e Educacional: compromissos com a
educação brasileira. Psicol. Esc. Educ. (Impr.), Campinas , v. 13, n. 1, p. 169-177,
June 2009 .

PATTO, Maria Helena Souza. A produção do fracasso escolar: histórias de submissão


e rebeldia. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999.

SILVA, Maria Abádia da. Qualidade social da educação pública: algumas


aproximações.Cad. CEDES, Campinas , v. 29, n. 78, p. 216-226, Aug. 2009 .

113
114
Caroline Torres

A DIFÍCIL TAREFA DE APRENDER:


INQUIETAÇÕES DE ALUNOS E PROFESSORES

“Estudei muito, mas não consegui aprender nada”, “O aluno estuda, presta
atenção na aula, mas não está conseguindo aprender”. Falas como essas são comuns
dentro do contexto educacional. Discutir sobre o processo de aprendizagem é
primeiramente entender, tal como afirma Chabanne (2006), que aprender é uma
tarefa difícil e os que defendem o contrário, questionando os aspectos didático-
pedagógicos, os fatores intrínsecos como a motivação e o interesse, ou que
priorizam a dimensão lúdica desse trabalho, apenas colocam em foco as condições
de aprendizagem, não abordando em nenhum aspecto o ato de aprender, que é
difícil por definição.
As dificuldades em aprender podem envolver inúmeros fatores, um deles
corresponde à forma, ou a maneira como se estuda. Poucas são as escolas que
compreendem que o ato de estudar é um comportamento que também deve ser
aprendido, pois o aluno não nasce sabendo qual a melhor maneira de estudar, nem
como utilizar seus recursos pessoais para ter um melhor aproveitamento nos
estudos. O aluno não entende como ele aprende, qual a estratégia utilizar para
ampliar seus rendimentos escolares, ou seja, não dispõem de alguns conhecimentos
e habilidades que poderiam otimizar o seu processo de aprendizado.
Deste modo, uma das transformações que parecem urgentes dentro das
escolas é a de ajudar o aluno a pensar, a estudar e produzir conhecimentos,
valorizando o seu papel ativo no processo de aprendizagem. Assim, entende-se que
o ambiente escolar deve instrumentalizar o aluno a aprender a aprender, saber como
estudar melhor, como ampliar seus rendimentos, criando as condições necessárias
para que o aluno desenvolva essa habilidade.

115
Partindo desse pressuposto e também das observações e escutas realizadas
pelo Serviço de Psicologia, a alunos, professores e equipe pedagógica, identificou-
se que uma das principais causas do baixo rendimento escolar dos alunos
encontrava-se também na dificuldade em saber como estudar. Desta forma, o
Serviço de Psicologia juntamente com outros profissionais da Instituição,
desenvolveram um projeto visando melhorar o processo de aprendizado dos alunos.
O projeto intitulado “Desenvolvendo Habilidade de Estudos” foi realizado
com alunos do 1° ano do ensino Médio das três áreas de formação profissional
(Administração, Eletrotécnica e Informática) do Instituto Federal de Educação,
Ciências e Tecnologia do Piauí - Campus Picos. Para a consolidação dos seus
objetivos, primou-se pelo trabalho interdisciplinar planejado e estratégico, por
entender que instrumentalizar o aluno para o desenvolvimento de habilidades de
estudo requer o conhecimento de várias áreas articuladas ao processo de ensino e
aprendizagem.

A ESCOLA E O DESENVOLVIMENTO DAS HABILIDADES DE ESTUDO

A aprendizagem é processo complexo que envolve fatores emocionais,


neurológicos, relacionais, ou seja, refere-se às mudanças permanentes de
comportamento provocadas pela experiência, cuja principal finalidade é a aquisição
de alguma habilidade ou competência.
Numa perspectiva cognitivista, aprendizagem é entendida como aquisição
de novas informações e sua integração no repertório de conhecimentos já existe.
Nesta concepção, além do processo de aquisição de novas informações, a
aprendizagem também alarga, aprofunda e reorganiza o repertório de
conhecimentos pré-existentes. Assim, tal ideia, apresenta claramente a relação entre
aprendizagem e processos mentais como atenção, memória e raciocínio. (PINTO,
1998).
A aprendizagem que ocorre de maneira planejada e sistematizada é o
alicerce do sistema escolar. No entanto, sabe-se atualmente, que uma escola ao

116
limitar-se apenas a disseminar conteúdos curriculares, acaba negligenciando um dos
seus principais objetivos cognitivos que é o de instrumentalizar o aluno para que
este se torne autônomo, nas dimensões do aprender, do estudar e do pensar, pois o
ambiente escolar ainda é lócus privilegiado para a concretização dessas três
dimensões.
As dificuldades em enfrentar as tarefas e exigências escolares,
principalmente num contexto atualmente definido como sociedade da informação e
do conhecimento, poderá acarretar aos alunos, problemas em avançar no sistema
escolar, se este não detiver algum conhecimento adequado e preciso sobre o
funcionamento dos seus processos mentais, como a atenção, a aprendizagem, a
memória e o raciocínio; ou não ter conhecimento sobre como obter e sintetizar uma
informação ou como organizar e planejar o seu estudo (PINTO, 1998).
Assim, criar as condições para que o aluno desenvolva a habilidade para
estudar cada vez melhor, pode ser a chave para o sucesso escolar. Nesta
perspectiva, compreende-se habilidade como uma série de procedimentos mentais
que o indivíduo aciona para resolver uma situação real, onde ele precise tomar uma
decisão (PERRENOUD, 2001).
Dentre habilidades que o indivíduo pode desenvolver ao longo da vida,
Demo (2010), defende que uma das principais é a de aprender a aprender, pois esta
envolve a construção do conhecimento e a capacidade de utilizá-lo para intervir e
fazer história.
Diante das considerações apresentadas, presume-se os motivos pelos quais
as investigações sobre as estratégias de estudo ou aprendizagem, dentro e fora da
sala de aula, têm sido objeto de interesse crescente por parte de um número
considerável de pesquisadores. Além disto, sua correlação com o desempenho e o
sucesso escolar mostra-se evidente. Autores como Almeida (2002), Torres e Gomes
[s.d.], Pinto (1998) e Rosário (1999 apud ALMEIDA, 2002) vêm discutindo por
algumas décadas sobre essa questão, e apresentando formas de desenvolver
programas capazes de levar o aluno a desenvolver formas cada vez mais eficazes de
aprender.

117
Os programas que vêm investindo na promoção de habilidades de estudo
podem ser concebidos como atividades que ajudam os alunos a desenvolver
estratégias que proporcionam o aprendizado, pois se pressupõem que existem
certos procedimentos pessoais que, uma vez adquiridos, melhoram esse
aprendizado, tornando-o mais eficaz (SILVA; SÁ, 1997).
Ainda nessa linha de compreensão, Almeida (2002) afirma que para
aprender, o aluno precisa entender, organizar, armazenar e evocar a informação.
Assim, além de desenvolver funções cognitivas básicas como atenção, concentração
e memória, o autor ainda defende que os programas de capacitação destinados aos
alunos em prol do estudo devem voltar-se para:

[...] comportamentos habituais de busca de informação


complementar ou de aprofundamento (consulta de outros livros,
registros ou materiais), organização da informação (esquematização,
sequencialização, definição dos termos e ideias-chave), retenção de
registros (visualização repetida de anotações, listagens, códigos ou
fórmulas), estruturação dos ambientes de trabalho (arranjo dos
espaços e dos horários, eliminação ou controle de distratores,
definição de intervalos), comportamentos de busca de apoio e de
esclarecimento nos outros (professores, pais ou colegas) e hábitos
de revisão de notas e de sistematização das matérias na preparação
dos testes (produção e consulta de pequenos textos, de notas curtas)
(ALMEIDA, 2002, não paginado).

Desta forma, os programas de desenvolvimento das competências de


estudos não devem ser entendidos como um mero exercício técnico de instrução ou
ensino, muito menos um receituário aplicado a todo e qualquer tipo de aluno.
Almeida (2002) defende que a questão principal na instrumentalização do aluno
para o aprendizado é habilitá-lo a escolher, entre várias estratégias disponíveis,
aquelas que melhor se adequa às suas características pessoais e às exigências das
tarefas escolares.

118
HABILIDADES DE ESTUDO: UMA CONSTRUÇÃO POSSÍVEL

Para o desenvolvimento desse projeto, foi realizado num primeiro momento,


a fim de identificar as dificuldades em aprender dos alunos, uma pesquisa
documental tomando como referencial teórico-factual os relatórios elaborados pelo
Serviço de Psicologia do Instituto Federal do Piauí – Campus Picos, acrescentando ao
levantamento das informações, os relatos dos docentes e de outros profissionais
vinculados ao ensino.
Na fase de análise das dificuldades em aprender dos alunos foram avaliados
os relatórios disponibilizados pelo Serviço de Psicologia. Nestes observou-se que
grande parte da demanda atendida pelo Serviço, correspondiam a dificuldade de
concentração/atenção, memória, leitura e interpretação de textos, planejamento e
organização do tempo de estudo.
Nas escutas aos docentes e aos outros profissionais da instituição tais como
pedagogos e técnicos em assuntos educacionais, as informações obtidas no
relatório foram ratificadas, obtendo-se também novos dados referentes as
dificuldades do aluno em relação à escrita, apresentação de seminários e realização
de pesquisas.
Num segundo momento, considerando as informações obtidas na etapa
anterior, foi construído o projeto “Desenvolvendo Habilidades de Estudo”, cuja
operacionalização iniciou a partir da aprovação da gestão institucional, seguida de
ações de divulgação que consistiram em apresentar sucintamente o projeto para
todas as turmas de primeiro ano, clarificando as regras e os critérios estabelecidos
para participação no projeto.
O projeto foi desenvolvido a partir de 10 (dez) oficinas temáticas, com
duração de 2 (duas) horas. Inscreveram-se no projeto 45 (quarenta e cinco) alunos,
divididos em dois grupos de 22 e 23 alunos, onde cada grupo dispunha de um
encontro semanal. Essas oficinas foram ministradas por dois mediadores que
escolheram as temáticas de acordo com o seu perfil de formação e suas respectivas

119
áreas de interesse. Os mediadores eram profissionais ligados ao ensino com
formação nas áreas de pedagogia, psicologia e biblioteconomia.
Na primeira oficina, na qual esteve presente toda a equipe multidisciplinar,
foram desenvolvidas atividades voltadas para a apresentação do projeto,
esclarecendo para os alunos os objetivos, a metodologia de trabalho e o cronograma
de atividades, ressaltando que este cronograma poderia ser modificado de acordo
com as necessidades observadas pelos discentes ou pela própria Equipe
Multidisciplinar. Posteriormente, foram discutidas questões referentes à motivação
nos estudos e ao final foi aplicada uma pesquisa utilizando como instrumental um
questionário fechado, onde cada aluno identificou os hábitos de estudos e
habilidades presentes (ou não) no repertório de aprendizado.
O questionário apresentava itens referentes ao ambiente de estudo,
organização e planejamento do tempo e das disciplinas para estudar, concentração
e memória, habilidades de escrita, de leitura e compreensão de textos, preparação
para exames e testes e formas de organização do conhecimento.
Os dados da pesquisa realizada com os 45 (quarenta e cinco) alunos que
participaram das oficinas apontaram que 83,8% dos alunos não tem um ambiente
de estudo adequado; 89,2% apresentam problemas de concentração e memória;
97,3% não conseguem realizar apontamentos na sala de aula de maneira adequada
e compreensível; 91.9% apontaram problemas referentes à leitura e compreensão
de textos; 86,5% indicaram não conseguir organizar os conhecimentos; 89,2%
revelaram ter problemas nas habilidades de escrita; 89,2% evidenciaram
dificuldades em se preparar para as avaliações e 65% afirmaram ter motivação para
os estudos.
As informações obtidas neste questionário foram discutidas com os alunos e
cada participante teve a oportunidade de avaliar a(s) área(s) que precisava(m)
desenvolver/potencializar. Essa análise inicial permitiu que cada aluno pensasse
sobre o seu próprio processo de aprendizado dando a ele condições de refletir
sobre aspectos que poderiam se configurar como um entrave para um estudo eficaz,
e consequentemente, para o sucesso escolar.

120
Compreender como ocorrem os processos cognitivos de atenção e
concentração constituiu-se como temática da segunda oficina do projeto. Queixa
constante nos atendimentos realizados pelo Serviço de Psicologia, buscou-se iniciar
por essa temática, pela sua função primordial no desenvolvimento da aprendizagem.
A atenção, juntamente com a percepção, encontram-se na base das demais
capacidades psíquicas, ou seja, sem o desenvolvimento da atenção e da percepção,
a memória, o raciocínio, a imaginação, o pensamento, dentre outros, não se
desenvolvem.
Segundo Rubinstein (1973) a atenção pode ser definida como uma forma de
representação vinculada à ação consciente e dirigida a um determinado objeto.
Podendo ser de dois tipos: involuntária e voluntária. A atenção involuntária está
diretamente relacionada com os instintos, necessidade ou interesses imediatos,
caracterizando-se como uma forma primitiva de atenção. Enquanto a atenção
voluntária tem sempre um caráter mediado e o sujeito tem consciência da direção
orientada de sua atenção. Foi essa atenção voluntária, na qual o indivíduo exerce
controle sobre o seu direcionamento, que se buscou discutir com o alunado nas
oficinas. Nestas além de fomentar discussões sobre os processos de atenção e
concentração, os alunos também realizaram atividades práticas com o intuito de
ampliar o desenvolvimento dessa função psíquica.
A memória é o alicerce da aprendizagem. Partindo dessa premissa, a terceira
oficina, objetivou mostrar ao aluno como a memória se desenvolve, seus tipos e
estratégias para otimizar o seu funcionamento. Segundo Izquierdo (1989),
a memória consiste no armazenamento e evocação de informação adquirida através
de experiências e sua aquisição denomina-se aprendizado. Nesse processo de
aquisição de conhecimento, problemas referentes ao seu armazenamento e
evocação podem trazer prejuízos ao aprendizado.
Durante as oficinas os alunos puderam compreender o que pode favorecer e
o que pode comprometer o funcionamento da memória, como também às situações
de “branco”, bloqueios, esquecimentos, dentre outros. Atividades que podem
potencializar o funcionamento da memória também foram desenvolvidas com os

121
discentes, enfatizando a importância do treino dessa função cognitiva para melhora
do aprendizado.
Saber administrar e organizar o tempo é uma das peças-chave para o bom
andamento dos estudos. O plano de estudo é uma das ferramentas bastante
utilizadas para ajudar o aluno na organização e gestão do seu tempo, devendo ser
elaborado levando em conta suas prioridades e objetivos. Focando-se nisto, a quarta
oficina proporcionou um momento de discussão para que os alunos refletissem
sobre suas prioridades e seus objetivos de estudo. Esse momento também permitiu
apresentar aos discentes aspectos que são imprescindíveis para a construção de um
plano de estudo eficaz.
González (2009) afirma que ao se elaborar um plano de estudo este dever
pensado para atender os seguintes aspectos: ser pessoal (elaborado pelo aluno
sozinho ou com auxílio), realista (que possa ser cumprido e que se ajuste as suas
necessidades), flexível (permitir reservar tempo para imprevistos), revisável
(modificar a cada semana, ou 15 dias aquilo que não funcionou em seu plano) e
exposto (colocar em lugar visível, para ampliar seu compromisso com o
cumprimento do plano).
Após as discussões realizadas, apresentou-se a proposta de cada aluno
elaborar seu plano de estudo semanal com o auxílio da equipe mediadora a fim de
que os mesmos pudessem ter um aproveitamento mais dinâmico de seu tempo e
foco nas prioridades e objetivos de estudo a serem atingidos.
Além do planejamento do estudo, outras estratégias são fundamentais para
que o aluno possa estudar mais em menos tempo, aprendendo cada vez mais e
melhor. Algumas técnicas que podem auxiliar nesse processo são as de análise,
síntese e manejo da informação. (GONZÁLEZ, 2009).
As técnicas de análise ajudam o aluno a localizar as ideias e conceitos
importantes em um texto. Dentre as quais se podem destacar a leitura. Esta pode ser
entendida como uma das habilidades mais importantes a ser desenvolvida pelo ser
humano. É a partir da leitura que o aluno pode compreender a realidade, entender
aspectos importantes sobre o mundo, constituindo-se assim, como uma habilidade

122
fundamental, visto que também dá suporte para o estudo de outras áreas do
conhecimento.
De acordo com Santos (2004), várias pesquisas têm constatado que a falta
de compreensão tem sido um obstáculo para muitos estudantes que apresentam
dificuldades na leitura e no aprendizado de textos, o que tem levado muitos deles, a
apresentar um desempenho aquém do esperado para seu nível de escolaridade.
Objetivando auxiliar o aluno nesse processo de análise e compreensão
textual, a quinta oficina primou pela discussão sobre estratégias de leitura, cujo
objetivo foi auxiliar no desenvolvimento das habilidades linguísticas dos alunos na
interação com os textos, com a possibilidade de analisar criticamente a linguagem
em seus múltiplos sentidos. As atividades desenvolvidas enfatizaram a leitura e
interpretação, apresentando aos alunos estratégias para ampliar sua compreensão
sobre os textos.
Além da leitura, outra habilidade essencial para o processo de aprendizagem
são as técnicas de síntese da informação. Estas permitem ao aluno organizar as
ideias, aprendendo a destacar as informações que são importantes num texto para
uso posterior, auxiliando assim na otimização das atividades de estudo e assimilação
do conteúdo. (SANTOS, 2009).
Diante do exposto, as técnicas de síntese constituíram-se como uma das
atividades da sexta oficina do projeto. Nela, buscou-se trabalhar as técnicas de
representações conceituais, como elaboração de glossários, fichamentos e resumos
e técnicas de representações gráficas, como elaboração de esquema e mapa
conceitual. Concluindo os trabalhos desta oficina, os alunos realizaram atividades
práticas de esquematização e resumo como ferramentas para ordenação dos dados,
exercendo a capacidade de síntese, precisão e clareza na representação de um
conteúdo.
O manejo da informação foi uma das técnicas apresentadas na sétima
oficina que explorou as estratégias de investigação científica, cujo foco foi a
pesquisa. Para Demo (2009), a pesquisa é um princípio educativo, sendo um dos
caminhos mais vantajosos para se chegar a “aprender a aprender”.

123
Durante essa oficina, foram abordados os tipos de pesquisas mais utilizadas
no ambiente escolar: a pesquisa bibliográfica e a pesquisa de campo, apresentando
as etapas concernentes a cada uma, tais como: delimitação do tema, formulação do
problema, exploração prévia de informações, construção das hipóteses, elaboração
de esquema e busca das fontes.
Na execução desta atividade, os alunos puderam conhecer as fontes de
informação existentes além de serem orientados a realizar pesquisas em suportes
informacionais impressos, como livros, revistas, enciclopédias e suportes
informacionais digitais, como base de dados, metabuscadores e diretórios, tomando
como subsídios para estas atividades as informações apontadas ao longo da oficina.
Conhecer as técnicas de análise, síntese e manejo da informação auxiliam
no processo de estudo e consequentemente no aprendizado do aluno, porém
desenvolver essas habilidades não é suficiente para o aluno ter sucesso escolar. O
preparo emocional para lidar com situações de avaliações é imprescindível para o
bom aproveitamento acadêmico.
Ansiedade e situação de avaliação estabelecem uma estreita relação que
pode afetar a performance do aluno e em muitos casos levar a dificuldades na sua
realização. Ribeiro (1998) entende a ansiedade nos testes como um estado afetivo a
uma situação específica, caracterizada por sentimentos de tensão e apreensão,
inquietação auto-centrada e ativação do sistema nervoso autônomo.
Sabendo dessa relação entre ansiedade e situações de avaliação, a oitava
oficina do projeto buscou discutir questões referentes aos medos, incertezas e
ansiedades decorrentes desse processo, objetivando também compreender o
significado da avaliação escolar para o aluno e estabelecendo um diálogo entre
essas concepções e a proposta da Instituição acerca da avaliação.
Estratégias e orientações para minimizar os aspectos acima mencionados
foram discutidas, segundo o modelo de intervenção sugerido por Seco et.al (2012)
que propõem atividades a serem realizadas antes e durante as provas, como
técnicas de relaxamento, elaboração de horário de estudo, técnica de alteração dos
pensamentos negativos e fortalecimento da autoconfiança, além de outras

124
atividades de auxílio para a leitura correta do enunciado, gerenciamento do tempo
para responder as questões e estratégia de resolução de problemas.
Uma das formas de avaliação bastante empregada no ambiente educacional
são os seminários, sendo utilizados, neste contexto educacional, como uma técnica
de ensino socializado que requer a participação de todos os integrantes. (VEIGA,
1996). Observa-se que muitos docentes solicitam dos alunos este tipo de atividade,
sem contudo, discutir com eles como um seminário deve ser construído e
apresentado.
Veiga (1991) destaca ainda que num processo de elaboração de um
seminário o aluno deve: escolher o tema ou subtema (se este não for já pré-
determinado pelo professor), coletar informações, ler a bibliografia sugerida e
estudar previamente, escolher os relatores e comentaristas e providenciar os
materiais necessário para a execução desta atividade.
Utilizando as etapas supracitadas como referência, a nona oficina do projeto
apresentou ao alunos, técnicas que auxiliam na preparação de um seminário,
enfatizando também procedimentos de comunicação, escuta, participação,
planejamento e estruturação da exposição oral. Outro aspecto discutido nesse
momento foi a importância da adequação da linguagem à situação formal e aos
interlocutores, a elaboração do roteiro, o domínio sobre o tema a ser trabalhado e
utilização adequada de recursos audiovisuais.
A avaliação constitui-se como etapa importante em qualquer processo de
construção do conhecimento. Partindo desse pressuposto, a décima oficina voltou-
se para a avaliação das atividades realizadas ao longo do projeto. Oportunidade em
que foram aplicados questionários mistos, no qual cada oficina foi avaliada
individualmente, como também todo o projeto. Os dados revelaram que os alunos
participantes do projeto, qualificaram todas as oficinas como ótima (utilizando como
padrão a escala ótimo, bom, regular e ruim). Relataram também conseguir
estabelecer interlocução entre as estratégias e orientações trabalhadas nas oficinas
e os estudos desenvolvidos em casa e na escola.

125
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, pode-se afirmar que a generalidade do ensino escolar


ainda se situa muito na transmissão da informação. Neste sentido, empreender
esforços para promover o desenvolvimento de habilidades de estudos e processos
cognitivos pelos quais o conhecimento é adquirido, torna-se oportuno e cada vez
mais necessário na atual conjectura educacional, que exige do aluno uma postura
ativa e construtiva frente ao seu processo de aprendizagem.
O projeto “Desenvolvendo Habilidades de Estudo” levou ao cenário escolar
do IFPI – Campus Picos uma proposta inovadora, ao envolver profissionais de
diferentes áreas do conhecimento. Buscou, através de estratégias de aprendizado,
auxiliar o aluno na sua tarefa de “aprender a aprender”, planejar e monitorar o seu
desempenho escolar. A avaliação do projeto, realizada com os alunos participantes,
permitiu concluir que as orientações e técnicas apresentadas configuraram-se como
importantes ferramentas para obtenção de um maior sucesso escolar, uma vez que
tais procedimentos possibilitam a identificação das dificuldades pessoais e
ambientais e os respectivos meios para superá-las.
Os objetivos propostos por esta iniciativa foram alcançados, já que incidiram
diretamente sobre a construção da autonomia do aluno, no que se refere à
capacidade de estudar e aprender. Assim, pretende-se consolidar o projeto
apresentado neste trabalho como uma prática contínua do Instituto Federal do Piauí
– Campus Picos, incorporando-o à grade permanente de programas oferecidos à
comunidade discente, contribuindo assim para resgatar o compromisso e a
responsabilidade da escola, valorizando a expressão da inteligência humana e
fornecendo os subsídios necessários para o efetivo ato de aprender.

126
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128
129
Emanuelly Pereira de Araújo
Izabelly Maria Costa do Nascimento

A
educação superior brasileira vem passando por processo significativo de
desenvolvimento, principalmente a partir da publicação dos seguintes
dispositivos legais, como parte integrante de um conjunto de ações do
Governo Federal para o Plano de Desenvolvimento de Educação do Ministério da
Educação: lei nº 7.853/1989, que dispõe sobre o apoio às pessoas com deficiência;
lei nº 11.096/2005, que institui o Programa Universidade para Todos – PROUNI;
decreto presidencial nº 6.096/2007, que instituiu o Programa de Apoio a Planos de
Reestruturação e Expansão das Universidades Federais Brasileiras (REUNI); lei nº
12.711/2012, que versa sobre a obrigação de as instituições federais de educação
superior reservarem vagas para estudantes oriundos de escolas públicas, para
estudantes cujas famílias tenham renda igual ou inferior a um salário mínimo e meio
per capita e para estudantes autodeclarados pretos, pardos e indígenas.
O processo de democratização no ensino superior não poderia se efetivar
apenas com a criação de tais dispositivos legais, tampouco com a reestruturação e
expansão das Instituições de Ensino Superior (IES). Nesse sentido, torna-se
imperativo criar mecanismos que venham garantir as devidas condições de
permanência dos jovens na educação superior pública federal. Em função disso, o
Governo Federal regulamenta o Decreto nº 7.234/2010, o qual estabelece o
Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES).
Dessarte, ações que tinham como foco principal a assistência estudantil
começaram a ser desenvolvidas, sendo, portanto, reestruturados serviços e
benefícios aos universitários, principalmente nas seguintes áreas: psicológica, social
e pedagógica.
Registre-se que as exigências de qualificação profissional e de
aprendizagem contínua somadas à expansão e à democratização do acesso ao
ensino superior no Brasil (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2007) têm estimulado o

130
ingresso de um número cada vez maior de estudantes nas universidades. Em razão
desse contexto, verifica-se que o perfil dos estudantes universitários é
marcadamente heterogêneo em termos de idade, classe social e procedência
geográfica (MACEDO et al., 2005).
Constata-se, dessa forma, a indispensabilidade de suporte e orientação aos
universitários no decorrer de seus anos de formação/graduação, a fim de colaborar
com sua aprendizagem, sucesso escolar e desenvolvimento psicossocial (ALMEIDA;
SOARES, 2004). Pois, se por um lado, a educação superior brasileira tem passado por
uma robusta expansão no que se refere aos números de IES’s e de matrículas,
ampliando as possibilidades de acesso da população a este nível educativo e
viabilizando a formação profissional, por outro, tal crescimento, sem o compromisso
fundamental com a qualidade da formação, pouco colabora para o desenvolvimento
e transformação social (BISINOTO; MARINHO-ARAÚJO, 2014).
Nesse sentido, um dos mecanismos que operaria com o objetivo de otimizar
o processo educativo seria a atuação do profissional de Psicologia nas IES’s. Por ser
contemporânea, a existência de serviços de apoio psicológico na educação superior
brasileira é considerada por alguns autores um contexto ainda pouco explorado
(BARIANI et al., 2004; BISINOTO; MARINHO-ARAÚJO, 2014; MARINHO-ARAÚJO, 2009;
SAMPAIO, 2010). Diante do exposto, Oliveira (2011, p. 55) esclarece que,

[...] vem crescendo no mundo o número de instituições de educação


superior com o intuito de oferecer auxílio psicológico aos estudantes
na perspectiva de favorecer sua transição e adaptação à vida
universitária, colaborando para o sucesso acadêmico e motivando
seu desenvolvimento integral como cidadão e profissional.

O atual desafio que se apresenta à Psicologia Escolar, com vistas a ampliar e


fortalecer suas perspectivas de trabalho na educação superior é o da definição de
um modelo de atuação que esteja pautado em fundamentos, objetivos e atividades
harmoniosamente articulados. De forma a garantir que haja coerência e qualidade
nas intervenções diferenciadas, as práticas dos psicólogos escolares devem se
basear em uma clara e consistente fundamentação teórica e conceitual, que auxilie

131
na organização do trabalho dos profissionais e na sistematização das ações
(BISINOTO; MARINHO-ARAÚJO, 2014; MARINHO-ARAÚJO, 2009).
Segundo Marinho-Araújo (2009), a área da Psicologia Escolar passa por uma
transição de paradigmas na qual o foco da abordagem se desloca do individual para
uma compreensão do coletivo da instituição. Tal mudança é abordada em três
dimensões interconectadas: uma dimensão micro – em que se trata de
características individuais e profissionais dos psicólogos que compuseram o setor
ao longo dos anos; uma dimensão meso – em que se procura relacionar a ocorrência
das práticas na área escolar e educacional com questões de gestão; por fim, uma
dimensão macro – referente a políticas públicas para a educação superior e à
visibilidade da ciência e da profissão Psicologia Escolar no Brasil.
Nesse diapasão, o cenário literário da Psicologia Escolar reforça a
necessidade de investir em práticas preventivas e em ações com outros agentes que
também participam do processo formativo das IES’s, embora, tradicionalmente, a
atuação da Psicologia Escolar tenha privilegiado a intervenção direta com o
estudante em uma perspectiva individualizada e em resposta ao problema que ele
vivencia (BISINOTO; MARINHO-ARAÚJO, 2014; MARINHO-ARAÚJO, 2009; OLIVEIRA,
2011).
A produção acadêmica identifica duas grandes vertentes, organizando as
ações dos psicólogos escolares nas seguintes formas de atuação: tradicional e
emergente. Ações tradicionais continuam efetuando a crítica e apresentando os
alertas com relação ao modelo de atuação pautado no viés clínico, e a outra relata
novas experiências na atuação do psicólogo escolar com o intuito de oferecer
caminhos aos profissionais da área (MALUF, 2003).
Noutras palavras, é possível citar ações tradicionais como atendimento,
orientação e encaminhamento de alunos, e orientação profissional, que passam a
dividir espaço com as ações emergentes: formação continuada dos professores;
atendimento a funcionários; recepção aos calouros; acompanhamento do processo
de ensino e aprendizagem; apoio a coordenadores de curso; oficinas e palestras
formativas (direcionadas ao desenvolvimento integral dos estudantes);

132
acompanhamento dos alunos egressos da IES e avaliação institucional (BISINOTO;
MARINHO-ARAÚJO, 2014).
Feitosa e Marinho-Araújo (2016), ao descreverem os cenários institucionais
destinados à atuação dos psicólogos escolares no ensino superior, evidenciam o
acompanhamento do estudante em sua trajetória acadêmica e o apoio aos
processos de aprendizagem e desenvolvimento junto ao trabalho docente e às
políticas de assistência estudantil. A partir do momento em que o enfoque recai na
mediação intencional dos processos de aprendizagem e de desenvolvimento da
comunidade acadêmica, ocorre a possibilidade de sensibilizá-la sobre seus papéis e
responsabilidades diante da promoção das práticas pedagógicas de sucesso e
promotoras de transformação social (MARINHO-ARAÚJO, 2014).
Ao lançar o olhar para o estudante que ingressa nas IES’s em tempos de
REUNI, o psicólogo escolar pode ajudar a alcançar os objetivos de democratização
da educação mediante pesquisas que permitam compreender as dinâmicas dos
indivíduos no ambiente universitário. Um estudo realizado por Prestes, Jezine e
Scocuglia (2012) concluiu que, após cinco anos de REUNI, o perfil dos estudantes
mudou e as dificuldades em garantir a permanência e o sucesso discente na
instituição aumentaram, o que a coloca diante de uma crise. As questões acadêmicas
podem interferir no sofrimento dos estudantes e predispô-los ao risco acadêmico:
reprovação, evasão e jubilamentos.
Do ponto de vista das práticas escolares (de estudo e de aprendizagem), a
ação do psicólogo escolar poderia facilitar a transição de uma realidade escolar mais
simples, a do nível médio e fundamental, para uma realidade mais complexa, a
acadêmica. Uma vez que as práticas de estudo para a construção do conhecimento
dependem de instrumentos incomuns nos níveis elementares: a pesquisa
sistemática, a produção intelectual intensa, a independência entre professor e aluno,
e assim por diante (GEBRIN, 2014).
Nesses termos, Moffat (2011) realizou uma análise em que buscou entender
os fatores fundamentais para o desempenho acadêmico e a permanência do
estudante no ensino superior. O resultado revelou alguns fatores importantes,
dentre os quais: apoio emocional, suporte tangível ou amparo em forma de

133
informação e avaliação; motivação pessoal e determinação; sucesso na
aprendizagem (tendo como foco uma aprendizagem profunda da qual possa se
beneficiar e aplicar em sua vivência cotidiana).
Posto isso, este artigo apresenta modelos e práticas de equipes
multiprofissionais de alguns serviços de atendimento ao estudante de instituições
de ensino superior que visam a promoção do sucesso acadêmico. Essa descrição
ajuda a delinear os caminhos prospectivos para a atuação nessa área cuja missão é
garantir aos estudantes não só o acesso, mas também a permanência e a conclusão
do curso.

INICIATIVAS DE PROJETOS DE INTERVENÇÃO DE PROMOÇÃO DO


SUCESSO ACADÊMICO

Ao ingressar no ensino superior, o aluno depara-se com inúmeras


exigências, das quais nem sempre se encontra preparado para enfrentá-las. Tais
exigências requerem do estudante habilidades para lidar satisfatoriamente com
questões pessoais, sociais e acadêmicas. No sentido acadêmico, a transição do
ensino médio para o ensino superior é marcada por diversos fatores, dentre os quais
as novas formas de avaliação de desempenho e métodos de ensino diferentes
daqueles a que os estudantes estavam acostumados, o que implica na modificação
da sua rotina e, especialmente, dos seus hábitos de estudos (RAMOS et al., 2011).
De acordo com Zimmerman (1990), espera-se que o estudante universitário
possua práticas de estudo autônomas, sustentadas pela motivação para aprender e
por iniciativas de busca de ajuda quando se fizer necessário. O grande problema é
que uma parcela significativa da população universitária encontra-se despreparada
para assumir com autonomia e responsabilidade seus processos de aprendizagem.
Isso se deve, em grande parte, ao pouco preparo das instituições do ensino básico,
fundamental e médio, em ensinar aos alunos estratégias que de fato possam
estimulá-los a serem mais autônomos e comprometidos com o ato de aprender. O
fato é que a escola cobra certas competências acadêmicas, mas falha por não criar

134
oportunidades para que os alunos possam aprendê-las, pois geralmente não
enxergam o “ensinar a estudar” como uma das suas grandes responsabilidades.
A falta ou a frágil formação de hábitos de estudos durante o ensino básico
repercute quando o aluno entra no ensino superior. Ou seja, quando o aluno, por
algum motivo, não conseguiu se comprometer com sua aprendizagem durante os
anos do ensino fundamental e médio, onde as exigências eram menos complexas,
dessa forma, terá mais dificuldade em estabelecer uma rotina de estudos no ensino
superior, uma vez que as exigências e responsabilidades são mais complexas. Com
efeito, a formação de hábitos de estudos auxilia o aluno a autorregular-se quanto
aos seus processos de aprendizagem. O aluno autorregulado se torna capaz de
selecionar as estratégias de estudo que melhor se adequam a cada tipo de
disciplina, garantindo maior compreensão e aprendizagem dos conteúdos
acadêmicos (ZIMMERMAN, 1990).
Watanabe et al. (2001) realizaram uma pesquisa com estudantes do 1º ao 5º
ano do curso de psicologia na qual observaram que a população investigada não
tinha repertório de hábitos de estudo eficiente. As maiores dificuldades desses
alunos foram: manter certo grau de atenção concentrada durante as explicações, o
que compromete a compreensão do conteúdo da aula e, percentuais de
insuficiência quanto às categorias método de estudo e apontamentos. Os resultados
dessa pesquisa, segundo os referidos autores, apontaram para a necessidade de as
instituições de ensino superior investir em intervenções psicopedagógicas de cunho
preventivo e remediativo, que contribuam para a adoção de uma metodologia de
estudo eficiente, focada na formação de hábitos de estudo, que provejam os
estudantes de competências para que possam encarar as novas exigências do
ensino superior.
Os alunos com deficit na formação de hábitos de estudos e que, por sua vez,
adotam uma abordagem superficial quando o assunto é estudar, estão mais
vulneráveis a experimentar o insucesso acadêmico, podendo inclusive levá-los à
evasão escolar. Alunos universitários com experiência de insucesso na universidade
geralmente investem pouco tempo e esforço durante seu estudo pessoal, fazem
leituras e apontamentos de forma ineficiente, escrevem com muita dificuldade e se

135
preparam para as avaliações sem um método adequado. A falha na sistematização
de métodos de estudo pode comprometer seriamente o progresso desses alunos
para os anos seguintes e a própria manutenção na universidade (ROSÁRIO et al.,
2010).
Atualmente, no intuito de evitar o insucesso acadêmico e a possível evasão
do estudante do ensino superior, algumas universidades brasileiras têm investido
em programas de promoção das competências de estudo, visando potencializar o
sucesso acadêmico e diminuir as dificuldades dos alunos. Em seguida, pode-se
observar a descrição de algumas dessas iniciativas, como o programa de
Capacitação Discente para o Estudo (ProEstudo) 6, realizado pela Pró-Reitoria de
Graduação e pelo Departamento de Psicologia da Universidade Federal de São
Carlos. O guia teórico que fundamenta as intervenções do ProEstudo é baseado na
Análise do Comportamento; a Oficina de Autorregulação da Aprendizagem 7,
oferecida através de uma disciplina eletiva que integra o Programa Saiba Mais
Oficinas, é realizada pelo Serviço de Apoio ao Estudante da Universidade Estadual
de Campinas. A roupagem teórica desse programa de intervenção tem como base a
Teoria Social Cognitiva e o Projeto “Desenvolvendo competências para Estudar”,
realizado pelo Núcleo de Assistência Estudantil da Universidade Federal do Piauí.

PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO DISCENTE PARA O ESTUDO

O Programa de Capacitação Discente para o Estudo surgiu para apoiar os


alunos de graduação da Universidade Federal de São Carlos no desenvolvimento de
suas competências para estudar, com o objetivo de prepará-los não apenas para um
melhor aproveitamento das atividades didáticas, mas para tornar o estudar uma
ação gratificante, que perdure para além das exigências acadêmicas.

6
A descrição desse programa foi realizada através das informações encontradas no site
www.proestudo.ufscar.br.
7
As informações sobre essa intervenção foram extraídas do site
https://www.orientacao.sae.unicamp.br/.

136
A finalidade desse programa é ajudar os estudantes a obterem o máximo de
aproveitamento em seus momentos de estudo, nas mais variadas circunstâncias,
através de um conjunto de ações que englobam os seguintes produtos e serviços:

 palestras sobre como estudar;


 orientações impressas sobre como estudar adequadamente;
 oficinas de capacitação para o estudo;
 agenda da UFSCar para calouros;
 balcão de orientações de Estudo;
 o próprio site;
 atividades de levantamento de necessidades da comunidade
universitária em relação ao estudar e implementações destinadas a
atender tais necessidades.

As orientações impressas sobre como estudar de maneira eficiente e


gratificante estão organizadas a partir de aspectos que os idealizadores do programa
julgaram relevantes, como: sala de aula: estudar começa aqui, com dicas sobre o
local estratégico para se sentar na sala de aula, estar informado sobre o assunto que
será abordado, rever anotações da aula anterior, consultar o programa da disciplina
ou um colega caso tenha faltado à aula anterior; onde estudar, com dicas sobre
escolher sempre um mesmo local ou lugares com características propícias para
estudar ou que tenha semelhanças; que tenha boa iluminação, pouco ruído etc.;
quando estudar, com dicas como estudar com regularidade e em função de um
plano de estudos; planejar, propor e avaliar o plano de estudo; prever atividades
que deverão ser realizadas a curto, médio e longo prazo; mantendo um bom
rendimento no estudo, com orientações sobre como manter um bom rendimento de
estudo e como fazer intervalos e o que fazer nos intervalos; material ao estudar, com
dicas sobre o material necessário para estudar e como organizá-lo; como estudar,
com orientações sobre como organizar unidades de informações fáceis e pequenas
para o estudo e sobre a importância de assumir um papel ativo ao estudar;

137
enfrentando provas e exames, com dicas sobre saber a hora de parar de estudar
quando uma prova ou exame se aproxima, evitar receitas milagrosas para se acalmar
e preparar com antecedência todo o material que irá necessitar; por fim, um alicerce
para o comportamento de estudar, que oferece dicas sobre a resolução de
problemas que possam aparecer quando se trata do comportamento de estudo,
tomada de decisão para um estudo eficaz e saber identificar as próprias dificuldades
etc.
O ProEstudo também oferece as oficinas temáticas, como o uso de agenda e
rotina de estudos, que objetiva capacitar os participantes a identificar, dentre os
vários modelos de agendas disponíveis, aquele que melhor atende as suas
necessidades, bem como a utilizá-la de maneira a ajudá-lo a se planejar
adequadamente, contribuindo para um estudo mais produtivo; planejamento e
condução adequada de sessões de estudos, em que os alunos aprendem a
estabelecer as disciplinas que serão estudadas durante uma sessão de estudos, bem
como a definir a sequência de tais disciplinas, selecionar o melhor período do dia
para isso, decidir a duração da sessão de estudos, estabelecer intervalos e avaliar o
plano de estudos; local de estudos, onde o objetivo é capacitar os estudantes a
identificar aspectos favoráveis e desfavoráveis no ambiente de estudos e modificar
os aspectos desfavoráveis, de forma adequada, visando melhor
aproveitamento/rendimento nos estudos bem como avaliar a modificação; trabalho
em grupo, em que o objetivo da oficina é ensinar os estudantes universitários, por
meio de atividades, a descobrir formas mais eficazes de realizar trabalhos em grupo
e, por último, é oferecida a oficina de Apresentação oral, a qual tem como objetivo
capacitar o estudante, através de apresentação de informações e atividades, a
melhorar seu desempenho em seminários, palestras e outros tipos de apresentações
orais.
O ProEstudo também oferece ao aluno suporte através de plantões,
realizados de segunda a sexta, no Balcão de Orientações de Estudo. Os
agendamentos para atendimentos individualizados podem ser feitos por e-mail ou
diretamente na sala onde funciona o programa. No próprio site
(www.proestudo.ufscar.br) existem diversas orientações e informações sobre as

138
atividades do programa, assim como dicas em áudio, tirinhas e downloads de
arquivos que podem ser úteis para o estudo como: folha de planejamento mensal,
grade de compromissos fixos, orientações sobre apresentações orais etc. Todas as
atividades do programa de capacitação discente são realizadas por alunos da pós-
graduação em psicologia.

OFICINA DE AUTORREGULAÇÃO DA APRENDIZAGEM

A intervenção intitulada Oficina de Autorregulação da Aprendizagem


desenvolvida pelo Serviço de Apoio ao Estudante (SAE) da Unicamp é oferecida
através da Disciplina eletiva multidisciplinar, disponibilizada aos estudantes de
graduação. As oficinas são realizadas semanalmente, através de 15 encontros ao
longo de um semestre, com duração de duas horas de atividades presenciais e, as
demais, online. As atividades são desenvolvidas por uma pedagoga e uma psicóloga
que trabalham no setor de Orientação Educacional do SAE, com o apoio de um
docente da Faculdade de Educação da Unicamp e estudantes de Pós-Graduação da
mesma faculdade.
O referido programa de intervenção é baseado nos pressupostos teóricos da
Teoria Social Cognitiva, desenvolvida por Albert Bandura. Um dos constructos
teóricos que compõem essa teoria é a autorregulação, que pode ser aplicada a
diversas atividades, dentre elas a acadêmica. A autorregulação da aprendizagem,
segundo Zimmerman (2001), é considerada um processo autodiretivo, através do
qual os aprendizes transformam suas capacidades mentais em competências
acadêmicas referentes às tarefas acadêmicas por meio do monitoramento, controle
e regulação dos comportamentos e atividades cognitivas.
A intervenção é fundamentada no livro Cartas do Gervásio ao seu umbigo:
comprometer-se com o estudar no ensino superior (ROSÁRIO et al., 2012), composto
por cartas temáticas em que o estudante Gervásio descreve suas observações,
dúvidas e experiências, estabelecendo diálogos consigo mesmo por meio de um
componente metacognitivo – o seu umbigo. Essa ferramenta fornece um conjunto

139
alargado de atividades com os seguintes temas: autorregulação da aprendizagem,
estratégias de aprendizagem, organização e gestão do tempo, estabelecimento de
objetivos, formas de anotações de aulas, estudo diário e para avaliações, e
ansiedade frente às provas.
Assim, cada carta do livro é orientada para a implementação de uma ou mais
estratégias de aprendizagem, que podem ser organizadas de acordo com as fases
que compõem as fases do processo autorregulatório: Planejamento, Execução e
Avaliação (PLEA). As cartas escolhidas para cada oficina dependem do objetivo do
tema a ser trabalhado. Por exemplo, quando o objetivo é trabalhar a definição de
objetivos acadêmicos, é utilizada a carta nº 2. Quando a proposta é organizar o
gerenciamento do tempo, é usada a carta nº 4, onde se discutem as formas de
organizar e escolher a melhor hora de estudo, bem como distratores internos e
externos que afetam o processo de estudar e assim por diante.

DESENVOLVENDO COMPETÊNCIAS PARA ESTUDAR

A proposta do Ciclo de Oficinas Desenvolvendo Competências para Estudar do


Núcleo de Assistência Estudantil (NAE) da Universidade Federal do Piauí / Campus
Senador Helvídio Nunes de Barros, na cidade de Picos-PI, é realizada a partir da
identificação das demandas referentes ao processo de ensino-aprendizagem dos
acadêmicos que compareceram ao NAE espontaneamente ou por encaminhamento
de coordenadores de curso e docentes. Tem como objetivo principal estimular o
desenvolvimento de competências básicas nos universitários para melhor regularem
seus comportamentos disfuncionais frente aos estudos.
O ciclo tem como embasamento teórico a perspectiva da Análise do
Comportamento. É implementado por duas profissionais da equipe multidisciplinar
do NAE (psicóloga e pedagoga) e por uma profissional convidada (psicóloga) de
outra instituição de ensino superior. Tem carga horária final de oito horas e são
abordados três módulos centrais da proposta: Planejamento de estudos, Ansiedade
diante de processos avaliativos e Técnicas de apresentação oral.

140
Os resultados das avaliações realizadas junto aos acadêmicos que
participaram do ciclo evidenciaram a importância desse espaço na universidade e a
eficácia desse formato de intervenção. Sob o ponto de vista dos estudantes, as
oficinas foram consideradas uma estratégia essencial na melhoria do seu
desempenho acadêmico. Atividades com este enfoque apontam para uma
possibilidade de potencializar o desenvolvimento dos estudantes e oferecer um
espaço de reflexão e de ressignificação de suas práticas acadêmicas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do que foi exposto, é inegável a importância das Instituições de


Ensino Superior envidar esforços para a implantação de programas que ajudem o
estudante universitário a fortalecer e exercer sua autonomia diante das suas
aprendizagens e das novas exigências advindas com o ingresso no ensino superior.
Intervenções nesse sentido, realizadas com estudantes que estão iniciando o ensino
superior, podem auxiliar na prevenção do insucesso acadêmico. Para isso, é
necessário reconhecer que os alunos nem sempre chegam ao ensino superior
munidos de conhecimentos para encarar as diferentes vivências oportunizadas por
esse nível de ensino, especialmente aquelas referentes à aprendizagem, ou seja,
nem todos sabem estudar com maestria. Aprender as melhores estratégias para
aprender é, sem dúvida, um dos caminhos viáveis para o sucesso acadêmico.
Criar oportunidades para que o aluno universitário possa aprender a
aprender é, portanto, um dos grandes desafios das Instituições de Ensino Superior.
Destarte, acredita-se que a prevenção do possível insucesso acadêmico do aluno do
ensino superior contribui também para a prevenção do insucesso social. E uma
trajetória acadêmica marcada por diversas situações de insucesso pode afetar
profundamente a vida social e profissional do sujeito, uma vez que a crença na sua
capacidade de superar obstáculos ficará comprometida.

141
ALMEIDA, L. S.; SOARES, A. P. Os estudantes universitários: sucesso escolar e
desenvolvimento psicossocial. In: MERCURI, E; POLYDORO, S. A. J. Estudante
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144
145
Thais Taila Lima de Freitas Dias
Erotides Romero Dantas Alencar

“A teoria sem a prática vira verbalismo, assim como a prática sem


teoria, vira ativismo. No entanto, quando se une a prática com a
teoria tem-se a práxis, a ação criadora e modificadora da realidade”
(FREIRE, 2005).

O
presente capítulo foi escrito com o intuito de relatar a experiência de
estágio supervisionado em psicologia escolar/educacional no âmbito do
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí – IFPI, Campus
Parnaíba. A instituição em questão está localizada a 320 quilômetros da capital
Teresina. Este município é o segundo maior do Estado do Piauí, ocupando uma área
de 436 km², está situado na macrorregião do Baixo Parnaíba, na região Nordeste do
Brasil. Segundo dados da contagem da população 2010 (IBGE, 2010) a cidade de
Parnaíba registra uma população de 145.705 habitantes. No Estado do Piauí o IFPI -
Campus de Parnaíba está se consolidando como uma instituição de referência no
ensino profissionalizante, atuando como elemento aglutinador da inclusão social e
de desenvolvimento econômico. Veio a funcionar a partir do dia 16 de abril de
2007, e foi inaugurado em 14 de novembro de 2007, com três cursos técnicos:
Edificações, Eletrotécnica e Informática.
Atualmente o IFPI, Campus Parnaíba, funciona nos três turnos e possui 898
alunos matriculados: 328 na modalidade Médio Integrado ao Técnico (Edificações,
Eletrotécnica e Informática); 318 nos cursos Técnicos Concomitante/Subsequente
(Edificações, Eletrotécnica, Informática e Administração); 231 nas Licenciaturas
(Química e Física) e 21 no Proeja (Comércio).
A instituição conta com o serviço de psicologia desde 2009, sob os cuidados
da psicóloga Erotides Romero Dantas Alencar, CRP-21/00760. A mesma
supervisionou a prática de estágio extracurricular em psicologia
escolar/educacional, objeto do presente capítulo, realizado pela estudante de

146
psicologia Thais Taila Lima de Freitas Dias, no período de fevereiro de dois mil e
quinze a fevereiro de dois mil e dezesseis, com duração de vinte horas semanais.
Coadunando com o pensamento de Paulo Freire para uma práxis da
psicologia escolar/educacional, necessário se faz a união entre a teoria e a prática.
Na primeira parte deste capítulo apresentaremos alguns aspectos teóricos
pertinentes à prática do profissional de psicologia no contexto escolar;
posteriormente apresentaremos reflexões sobre a prática de estágio supervisionado
nessa área revelando sob o ponto de vista da estagiária, como a mesma observa a
atuação do psicólogo escolar/educacional, as relações presentes na instituição
escolar, os desafios e avanços que o profissional de psicologia escolar/educacional
enfrenta no exercício da profissão.

A TEORIA SE FAZ NECESSÁRIA

A psicologia e a educação se aliaram na segunda metade do século XIX,


época em que houve no Brasil a expansão dos cursos de Ensino Superior, bem como
das Escolas Normais de formação de professores. A psicologia passou a ser
compreendida como uma disciplina importante para entender o processo
pedagógico (ANTUNES, 2003).
Com a legalização da profissão de psicólogo, em 1962, ela ganhou destaque
na educação. Uma área específica da Psicologia voltava o olhar sobre a escola.
Inicialmente destacaram-se os conhecimentos advindos da psicometria (CORREIA,
2000), baseada em testes psicológicos que por inúmeras vezes eram interpretados
de modo incorreto ou limitado (PATTO, 1984).
Sobre a forma de atuação dos primeiros psicólogos escolares, Antunes
(2003) alerta que um grande número de alunos foi afetado pelo uso desta prática,
sendo rotulados como incapazes de aprender e colocados em classes especiais,
provocando a ideia de que o aluno era o único responsável por seu fracasso escolar.
Por conta dos procedimentos utilizados pelos primeiros psicólogos
escolares, por muito tempo manteve-se a ideia de que a psicologia escolar era
alicerçada na psicometria, separando os alunos aptos dos que não eram aptos, um

147
modelo excludente e linear. Esta prática, voltada para a inclusão do aluno através da
aplicação de testes, é decorrente do modelo clínico (ANDRADA, 2005).
Atualmente, o psicólogo escolar encontra-se na situação de consolidar
outros modos de atuar na escola, revendo essas demandas individualizantes
marcadas por perspectivas baseadas na adaptação e no ajustamento, tão fortemente
enraizadas no papel atribuído ao psicólogo no contexto escolar (PREDIGER, 2014).
No mesmo pensamento, Fernandes (2007) afirma que eliminar esse método
(individualizante, patologizante, excludente) é um caminho que pede a afirmação do
compromisso pela transformação social e contra a injustiça. Assim, urge desfazer
práticas focalizando os mecanismos que se projetam no cotidiano escolar para, a
partir de sua renúncia, inventar novos acordos com outros conhecimentos.
Concordamos que:

O homem se constrói socialmente, a partir de suas relações com a


realidade. Neste movimento ele se apropria de forma subjetiva e
particular do social, transforma-o ao interiorizá-lo e, assim, se
transforma e se singulariza. (ROSA, 2002, p. 272).

Tendo isso em mente, não cabe a psicologia escolar/educacional utilizar


métodos que individualizam e que culpabilizam o aluno pelo seu fracasso escolar.
Schruber e Cordeiro (2010) atentam que é preciso entender as relações sociais
presentes no espaço escolar e a relação entre elas, ou seja, quais são as
subjetivações e objetivações produzidas e valorizadas ali. Andrada (2005)
compartilha deste mesmo pensamento, pois a autora propõe que o trabalho do
psicólogo no ambiente escolar possa ser feito através do pensamento sistêmico, ou
seja, o problema deve ser visto como um conjunto, no qual o todo é maior que a
soma das partes. Um aluno que apresenta alguma dificuldade na aprendizagem deve
ser visto em seu contexto, em seus sistemas relacionais. Sistemas esses que
interagem entre si, levando em consideração que o indivíduo afeta e é afetado.
É nesse contexto sistêmico, onde não há a individualização, nem
culpabilização do fracasso escolar do aluno que a psicologia deve estar situada

148
atualmente, bem como em um ambiente que entende o indivíduo com um todo,
como um ser sócio-histórico-cultural.
Correia e Campos (2000) entendem por psicologia educacional a área
voltada basicamente para a pesquisa, enquanto a psicologia escolar estaria voltada à
prática profissional do psicólogo. Descrevendo a psicologia educacional como o
conhecimento psicológico e a psicologia escolar a técnica. Essa divisão começou a
ser discutida a partir dos anos de 1980 por um pensamento crítico que considera
que teoria e prática são elementos que não podem se dissociar na construção de
uma ciência humana (SOUZA, 2009).
Outra realidade da psicologia escolar/educacional está relacionada com o
que se aprende dentro do ambiente acadêmico e as demandas que são
apresentadas posteriormente no mercado de trabalho. Existe uma lacuna entre essa
perspectiva teórico-prática, provocando o desconhecimento das possibilidades de
atuação desse profissional (SOUZA FILHO, 2006). A psicologia, vista como ciência e
profissão é ainda muito recente; algumas vezes alunos, professores e funcionários
ou até mesmo psicólogos desconhecem ou confundem suas possibilidades de
atuação com a de outros profissionais do ambiente escolar.
Sobre como deve ser a atuação do psicólogo escolar educacional, Martins
(2003) afirma que o psicólogo no ambiente da escola deve assumir o papel de
promover mudanças, tendo como eixo principal a instituição, suas relações que se
estabelecem nos diferentes grupos e contextos. Para esse autor o psicólogo escolar
deve possibilitar a escuta, com o intuito de investigar, refletir, experienciar o que
acontece dentro do ambiente escolar e assim ter um maior contato com os atores
sociais da escola, tendo sensibilidades a aspectos que poderiam ser passados
despercebidos sem a mesma.

Tal lugar – o da escuta – possibilita ao psicólogo criar situações


coletivas, espaços de construção de conhecimentos sobre si mesmo
– sobre a escola, sobre as experiências dos envolvidos no processo
educacional etc. – de tal forma que os problemas vividos sejam
amplamente discutidos e a busca de soluções para os mesmos,
compartilhada (MARTINS, 2003, p. 7).

149
São diversas as possibilidades de atuação do psicólogo escolar/educacional,
desde intervenções coletivas ou individuais com alunos, professores, pais e
funcionários da instituição, palestras, orientação profissional; atuar como mediador
de conflitos, em todas as esferas da escola, bem como pesquisas e intervenções
sobre as queixas escolares.
O psicólogo dentro da escola deve inteirar-se dela, criar espaços de escuta e
manifestação das demandas; participar juntamente a equipe multiprofissional;
auxiliar os docentes e a família no processo educacional. Além de estar presente
com o olhar técnico nos conselhos de classe, na elaboração do projeto político
pedagógico da escola e onde se fizer necessário, baseando sempre seus trabalhos
nos princípios fundamentais de seu código de ética8. Zanella (1998) acrescenta
ainda que o psicólogo deve auxiliar a escola a resgatar a cidadania das pessoas que
ali atuam, da mesma forma ele irá contribuir para que estes sujeitos reflitam os
modos de agir e de interação no espaço escolar.
Em se tratando do estágio supervisionado encontramos em uma de suas
definições que o mesmo se relaciona ao período de trabalho por tempo
determinado para formação e aprendizagem de uma prática profissional; de
aprendizagem profissional9. Diante desta definição compreendemos o estágio como
essa fase crucial no desenvolvimento acadêmico, pois é nele que o acadêmico
poderá observar a prática profissional de um determinado curso, assim como atuar
de forma orientada na sua futura área de trabalho, além de permitir ao acadêmico
estar sempre fazendo conexões entre a teoria e a prática.
O estágio supervisionado permite que o estudante tenha alguém para
orientá-lo no exercício de sua aprendizagem prática já que o mesmo não possui
ainda conhecimentos suficientes para atuar de forma independente. A presença de
um psicólogo que o supervisione na instituição em que irá ocorrer a prática é muito
importante, se faz necessário um profissional atuante naquele ambiente,
conhecedor de toda a dinâmica que o cerca, atributo deficiente quando se trata de
uma supervisão promovida por um docente que disponha de conhecimentos

8
http://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2012/07/codigo-de-etica-psicologia.pdf
9
http://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa-aao/estágio

150
diversos sobre a psicologia escolar/educacional, mas falta-lhe a intimidade com a
instituição onde será realizado o estágio.
Muitas vezes, a tarefa de orientar os estagiários sobre o funcionamento da
escola fica a cargo da diretoria de ensino da instituição. O Projeto de Lei 3.688/2000
entrando em vigor no Brasil garantiria assim, que todas as escolas públicas
dispusessem em seu quadro de funcionários pelo menos de um psicólogo e um
assistente social, podendo estes supervisionar os estudantes que tanto necessitam
vivenciar na prática o que aprendem na academia.
A relação entre supervisionado e supervisor é muito enriquecedora, uma vez
que os dois se permitem experienciar novos aprendizados, mantendo sempre uma
relação de respeito, confiança, comunicação e empatia. É durante o estágio
supervisionado que o estudante irá conhecer de perto a realidade da sua profissão
futura, experimentando desafios, limitações e possibilidades; não raro serão as
vezes em que a prática efetiva irá se contrapor aos conhecimentos teóricos
adquiridos na universidade.
O estágio permite também que o educando exerça de forma supervisionada
a prática de psicólogo. Leal, Facci, Albuquerque, Tuleski e Barroco (2005)
apresentam algumas intervenções importantes que o estagiário de psicologia
escolar pode realizar em suas práticas de estágio: sondagem diagnóstica da
instituição; observações dos alunos no ambiente escolar (dentro ou fora da sala de
aula); grupos de conversas com alunos sobre temas como adolescência, relações
humanas, orientação profissional, sexualidade, drogas e outros temas pertinentes ao
processo de educação e cidadania.
Com os professores podem ocorrer encontros temáticos de formação e
treinamento com temas específicos como: indisciplina, regras e limites,
aprendizagem, atuação docente e adolescência. O estagiário pode auxiliar a equipe
pedagógica no desenvolvimento das atividades pedagógicas utilizando-se de seus
conhecimentos da psicologia. Os autores versam, além disso, que podem ser
realizadas reuniões, palestras ou orientações aos pais trabalhando temas solicitados
pela escola ou pelos próprios pais.

151
DAS REFLEXÕES SOBRE O ESTÁGIO SUPERVISIONADO EM PSICOLOGIA
ESCOLAR/EDUCACIONAL NO IFPI CAMPUS PARNAÍBA

O estágio supervisionado extracurricular no IFPI iniciou-se através de uma


entrevista de seleção realizada pela própria psicóloga do campus. No início do
estágio, a psicóloga e supervisora deste estágio, forneceu orientações sobre o
funcionamento do campus, sobre o público da instituição, bem como quais práticas
eram executadas no campus pelo serviço de psicologia. Foi fornecido para a
estagiária material impresso sobre psicologia escolar, dentre os quais o Manual de
Psicologia Escolar-Educacional disponibilizado pelo Conselho Regional de Psicologia
8ª Região10.
Como descrito na introdução, o campus funciona nos três turnos. No turno
da manhã encontramos alunos do ensino técnico integrado ao médio (eletrotécnica,
software e edificações). O turno da tarde é destinado ao contra turno do ensino
técnico integrado ao médio, às licenciaturas, aos cursos técnicos
concomitante/subsequentes. Já na noite o público da escola é formado pelos
discentes das licenciaturas e PROEJA.
O serviço de psicologia é disponível a todos os alunos, servidores e pais, no
que diz respeito ao processo de ensino-aprendizagem; porém, o público alvo são os
estudantes, principalmente aqueles do médio integrado ao técnico, visto que
existem em torno de mil alunos matriculados, o que ultrapassa a capacidade de
atendimento por somente uma psicóloga.
A ampliação de conhecimento da abrangente extensão de atuações do
psicólogo escolar/educacional se deu através da experiência de trabalhos
multiprofissionais. Muitas atividades são realizadas em conjunto com a equipe
pedagógica, serviço social e setor de saúde do campus. A psicologia se faz presente
nos encontros pedagógicos, conselhos de classe, reuniões de pais, na Política de
Assistência Estudantil – POLAE e nas campanhas e projetos institucionais.

10
http://www.portal.crppr.org.br/download/157.pdf

152
A participação nos encontros pedagógicos permitiu que a estagiária
compreendesse que a função da psicóloga é aliar seus conhecimentos de psicologia
ao contexto de ensino e aprendizagem, trabalhando a cada encontro pedagógico um
tema diferenciado baseado no contexto vivenciado pela instituição à época do
encontro. Nos conselhos de classe, observamos inúmeros encaminhamentos ao
setor de psicologia, pois é nesse espaço que são relatadas diversas queixas
escolares: problemas de aprendizagem, de comportamento, de infrequência, entre
outros.
As reuniões com os pais foram compreendidas como um momento de
contato dos pais com a escola (professores, coordenadores, pedagogos, assistente
social e psicóloga), o qual geralmente se aproveitasse para discutir o desempenho
acadêmico dos alunos e sobre a parceria família-escola. A atuação da psicóloga na
POLAE foi vista como de extrema importância, tanto por auxiliar a psicóloga na
compreensão dos fenômenos que estão envolvidos no processo de fracasso escolar
(reprovação ou evasão) quanto por minimizar esses fenômenos.
Mensalmente, o setor de saúde do campus, onde o serviço de psicologia
está inserido, realiza campanhas preventivas com enfoque na educação para a
saúde. As mesmas foram absorvidas como um movimento que tem como objetivo a
promoção da saúde e prevenção de doenças através da divulgação de informações
sobre temas diversos
Uma das primeiras atividades executadas no estágio consistiu na entrada em
sala de aula juntamente com a psicóloga para uma atividade de acolhimento aos
alunos ingressantes dos primeiros anos do ensino técnico integrado. Essa
intervenção de acolhimento foi intitulada “Boas Vindas Técnico” e trabalhou o
processo de mudança e adaptação pelo qual esses alunos estavam passando, a
saída do ensino regular para o ensino integrado; bem como o fato de muitos serem
oriundos de outras cidades. Nesse mesmo momento foi abordado o tema do
bullying, seus conceitos e consequências, enfatizando o respeito às diferenças e
rejeição a qualquer forma de discriminação. Na oportunidade os alunos novatos
também foram informados acerca dos serviços realizados pela psicologia do campus

153
como, por exemplo: aconselhamento, orientação para estudos, elaboração de
quadro para horário de estudos, orientação profissional e projetos coletivos.
Uma atividade de extrema importância desenvolvida pela psicóloga do
campus é o grupo de apoio aos alunos repetentes. Objetiva compreender quais os
fatores que contribuíram para a reprovação e auxiliar os alunos na superação desse
evento. Também é realizado o atendimento aos alunos aprovados pelo conselho de
classe com objetivo de compreender o que contribuiu para o baixo desempenho,
assim como orientá-los sobre a necessidade ou não de mudanças a fim de se obter
resultados desejados pelos mesmos.
A respeito da evasão de alunos, foi observado que a localização do campus
dificulta bastante o acesso, já que a cidade de Parnaíba não possui transporte
coletivo adequado. A estagiária observou que não é realizada terapia no campus,
uma vez que não caberia no universo da escola onde as demandas são mais
coletivas e primam pelo processo de ensino-aprendizagem. A escuta individual é
realizada pautada no aconselhamento psicológico, por livre demanda ou por
encaminhamento. Caso haja a necessidade de acompanhamento terapêutico a
conduta adequada é de encaminhamento à rede de apoio do município.
Percebemos que na maioria das vezes os alunos procuram o serviço de
psicologia sobre o pretexto de orientação para estudo ou elaboração de horário de
estudo, mas quando é estabelecido o contato do aluno com a psicóloga ou na
anamnese psicológica surgem outras demandas a serem trabalhadas. Para o
coletivo são desenvolvidas também palestras com temas transversais (ética, meio
ambiente, pluralidade cultural, saúde, educação sexual e temas locais), nas quais a
escolha do tema vai depender da demanda que o campus está precisando naquele
momento.
Já é programa consolidado anualmente a orientação profissional com os
alunos das últimas séries. A proposta é realizada com um conjunto de atividades
(dinâmicas, entrevistas, testes psicológicos, inventários) que auxiliam os alunos na
percepção de quais profissões ou cursos eles se identificam mais, já que a escolha
profissional é um fenômeno que percorre a adolescência, do mesmo modo que é
uma questão que envolve muitas variáveis; é de fato um projeto de vida.

154
CONSIDERAÇÕES FINAIS

“Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens


se educam entre si, mediatizados pelo mundo” (FREIRE, 2005).

Com a experiência desse estágio supervisionado ampliaram-se e


modificaram-se os conhecimentos prévios sobre a psicologia escolar/educacional da
estagiária. A ideia pré-concebida era de que a psicologia escolar seria aquela voltada
para o trabalho de temas transversais, sendo o papel do psicólogo na escola
principalmente o de palestrar sobre as demandas trazidas pela gestão acerca destes
temas e fazer clínica na escola.
Nesse período de estágio, psicóloga e estagiária puderam vivenciar
dialogicamente a experiência teórica e prática da psicologia escolar/educacional. Foi
amplamente oportunizado à estagiária executar as mesmas atividades realizadas
pela psicóloga, obviamente, sob olhar criterioso da profissional habilitada. O
objetivo desse modo de atuação insere a estagiária não como um suporte, mas,
como presença indispensável mutuamente.
O estágio supervisionado, com a presença do profissional na instituição na
qual o aluno estagia torna-se infinitamente mais rico caso o oposto acontecesse.
Faz-se rico não apenas para o discente que procura a instituição, mas, para o
profissional que por meio do compartilhar de suas experiências apreende um pouco
mais de seu fazer diário e o torna mais dinâmico e com possibilidades criativas de
uma geração que inicia sua carreira ávida pelo conhecimento e prática.

155
ANDRADA, Edla Grisard Caldeira de. Novos paradigmas na prática do psicólogo
escolar. Psicologia: Reflexão e Crítica, v. 18, n. 2, p. 196-199, 2005.

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157
158
Ticiana Borges Cardoso Lima
Erotides Romero Dantas Alencar
Silvana Teixeira de Araújo Sousa

E
ste capítulo tem por objetivo apresentar um relato de experiência referente a
um Programa de Orientação Profissional desenvolvido com alunos do
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí, campus Angical
do Piauí.
Atualmente, conforme dados coletados no Controle Acadêmico do campus,
existem 788 alunos matriculados no IFPI, campus Angical do Piauí. Destes, 254 são
da modalidade Técnico Integrado ao Médio (Informática e Administração); 235 são
da modalidade Técnico Concomitante/ Subsequente (Administração, Alimentos e
Informática); 260 cursam Licenciatura (Física e Matemática) e 39 cursam
especialização (Atividades Físicas para Ciclos Iniciais da Vida).
De acordo com dados de um levantamento sobre o perfil do alunado do
Campus realizado no ano de 201211, temos que 35% dos alunos tem idade entre 13
a 15 anos, 49% entre 16 a 20 anos, 8%entre 21 a 25 anos e 9% tem idade acima
de 25 anos. Sobre o sexo, temos que 48% declararam ser do sexo masculino e 52%
declararam ser do sexo feminino.Em relação à naturalidade, 19% são do município
de Água Branca, 16% de Teresina, 14% de Amarante, 14% de Regeneração, 11%
de Angical e 10% de São Pedro. Os outros 16% correspondem a outros pequenos
municípios e povoados próximos à cidade de Angical do Piauí. Sobre a escola de
origem, 92% eram de escola pública antes de ingressar no IFPI e 8% de escola
particular. No que diz respeito à renda mensal familiar, 1% declararam não possuir,
18% declararam receber menos que 1 salário mínimo, 24% recebiam 1 salário
mínimo, 35% de 1 a 2 salários mínimos, 16% de 2 a 3 salários mínimos, 2%
recebiam de 3 a 4 salários e 4% declararam ter renda acima de 4 salários mínimos.

11
Dados coletados através de relatório técnico emitido pelo Serviço Social do Campus

159
Sobre conciliar estudo e trabalho, 87% não trabalham e 13% trabalhavam e
estudavam.
Diante desses dados, é possível traçar em linhas gerais que os discentes
matriculados no IFPI, campus Angical do Piauí são jovens, com número equilibrado
de homens e mulheres, solteiros, naturais de cidades vizinhas, dependentes
financeiramente dos pais e cuja renda familiar gira em torno de 1 a 2 salários
mínimos. A maioria dos alunos são oriundos de escola pública e não conciliam
trabalho e estudo.
A realização do Programa de Orientação Profissional integra o plano de ação
semestral do Serviço de Psicologia da instituição. O objetivo das atividades
desenvolvidas é proporcionar aos jovens uma reflexão sobre o momento da escolha
profissional, considerando o contexto social, a influência cultural e os demais
aspectos que exercem influência sobre este processo. Além disso, os objetivos
específicos são: fortalecer a autoestima, promover a autonomia dos alunos e,
sobretudo, utilizar o produto dos debates e discussões para enriquecer o trabalho
com grupos dos semestres seguintes.
Bruno (1997) afirma que para as classes populares e para a classe média, a
escolarização sempre esteve ligada ao desejo de ascensão profissional e social.
Pode-se considerar que a escola, para ambas as classes encontra-se ligada
diretamente ao ingresso no mercado de trabalho, visto que as melhores
oportunidades profissionais encontram-se à disposição de quem ascende
educacionalmente, ou seja, entende-se que para maioria da população, a ascensão
profissional e social está condicionada à escola.
Atualmente, é evidente que o propósito da escola é preparar as pessoas
para o mercado de trabalho, principalmente, no que se diz respeito a uma instituição
de educação profissionalizante como o Instituto Federal do Piauí, porém, esta
preparação deve ir além dos conhecimentos científicos; deve ser efetuada através
de um processo no qual o aluno irá construir desde o ingresso e ao longo da sua
vida acadêmica uma identidade profissional.
A construção dessa identidade passa, obviamente, pelo processo de escolha
da profissão. De acordo com Teodoro (2006), esse é um momento de grande

160
importância na vida do jovem, pois é um dos aspectos que constituirá a identidade
adulta e proporcionará a inserção deste jovem no mundo produtivo. Apesar da sua
importância, tal escolha é uma das maiores geradoras de conflitos no jovem,
implicando numa das decisões mais importantes de sua vida. Ela transcende a
própria pessoa, pois repercute e sofre diversas influências, inclusive da família e da
sociedade. Imaginemos como se sente um adolescente com seus 12, 13 anos tendo
que escolher de já uma carreira a estudar e seguir.
A importância de se trabalhar a questão da Orientação Profissional na escola
relaciona-se ao fato do jovem está efetuando essa escolha profissional cada vez
mais cedo, como dissemos anteriormente, e muitos deles encontram-se
despreparado para assumir tal compromisso.
Desta forma, a Orientação Profissional objetiva contribuir para a diminuição
do nível de ansiedade dos estudantes, além de elevar o nível de autoconhecimento
e a capacidade de autocontrole que são elementos essenciais para um processo de
escolha bem conduzido.

REFERENCIAL TEÓRICO

Conforme Sparta (2003), a Orientação Profissional surge como uma prática


cujos objetivos estavam diretamente relacionados ao aumento da eficiência
industrial. Tem-se como marco inicial do seu surgimento a criação do Primeiro
Centro de Orientação Profissional norte-americano, o Vocational Bureau of Boston, e
a publicação do livro Choosing a Vocation, ambos sob responsabilidade de Frank
Parsons entre os anos de 1907 e 1909.
Em seu livro, Parsons recomenda que o processo de Orientação Profissional
seja dividido em três etapas: a análise das características do indivíduo, a análise das
características das ocupações e o cruzamento destas informações. Desse modo, a
Orientação Profissional baseava-se na promoção do autoconhecimento e no
fornecimento de informação profissional.

161
Nas décadas de 1920 e 1930 a Orientação Profissional recebeu forte
influência da Psicologia Diferencial e da Psicometria, passando a ser um processo
fortemente diretivo, em que o orientador tinha como objetivo realizar diagnósticos e
prognósticos do orientando e, com base nesses procedimentos, indicar as profissões
ou ocupações apropriadas. Ainda assim, não havia uma teoria propriamente dita que
embasasse a prática de Orientação Profissional.
É nesse mesmo período que Abade (2005) aponta o início da aplicação da
Psicologia às relações de trabalho no Brasil, devido à regulamentação dos cursos
destinados à profissionalização para o comércio, indústria e agricultura. De modo
que a primeira aplicação sistemática da Psicologia à organização do trabalho ocorreu
no ano de 1924 no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, sob a direção do
engenheiro suíço Roberto Mange e consistiu na seleção de alunos para o curso de
Mecânica Prática da referida escola.
No ano de 1947 foi criado o Instituto de Seleção e Orientação Profissional
(ISOP) com o objetivo de contribuir para o ajustamento entre o trabalhador e o
trabalho, considerando as aptidões e vocações do primeiro e os requisitos
psicofisiológicos do segundo. Este instituto também foi responsável pela formação
dos primeiros especialistas na área da Psicologia.
No ano de 1962 ocorreu a regulamentação dos cursos de Psicologia no
Brasil e na sua orientação predominou inicialmente a perspectiva técnica e uma
significativa influência da perspectiva positivista.
Para Sparta (2003), os cursos de Psicologia influenciaram a Orientação
Profissional ao vincular esta atividade à Psicologia Clínica e ao transferir o processo
de intervenção para consultórios particulares.
Ressalta ainda que a Orientação Profissional brasileira realizada por
psicólogos foi influenciada diretamente pela Psicanálise e, especialmente, pela
Estratégia Clínica de Orientação Vocacional do psicólogo argentino Rodolfo
Bohoslavsky, que foi introduzida no Brasil na década de 1970 por Maria Margarida
de Carvalho, primeira professora da disciplina de Seleção e Orientação Profissional
do curso de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP).

162
No ano de 1970, houve a abertura do Serviço de Orientação Profissional
(SOP) da USP e, devido à grande demanda, surgiu a necessidade de adaptação do
processo de Orientação Profissional oferecido por este órgão. Nestas condições, a
professora Maria Margarida de Carvalho propôs os processos grupais como forma de
supri-la.
A Estratégia Clínica de Bohoslavsky e o processo de intervenção grupal
desenvolvido pela professora Maria Margarida de Carvalho deram origem a um
modelo brasileiro de Orientação Profissional, que vem sendo largamente utilizado
até os dias de hoje por todo o país.
Bock (2013) aponta as teorias críticas como aquelas que surgiram no Brasil
no final da década de 1970 e início da década de 1980. Mais do que propostas,
estas teorias propõe-se a analisar, de forma radical, as teorias até então existentes,
desvelando as concepções, quase nunca explícitas de ser humano e sociedade nelas
contidas.
Luiz Antonio Cunha, com seu importante livro "Educação e desenvolvimento
social no Brasil", publicado originalmente em 1977, deu grande impulso à análise
crítica da função da educação escolar e, por consequência, da orientação
profissional.
Ele examina a escola sob os princípios da visão liberal, de que a política
educacional se diz defensora. Na ótica liberal, o indivíduo pode almejar ascender
socialmente e enriquecer, não em função de condições advindas de prerrogativas de
nascimento, mas também em virtude de trabalho e talento pessoal.
A escola é pretendida pela teoria liberal e pela prática educacional como
responsável pela equalização de oportunidades. Entretanto, Luiz Antonio Cunha
desmascara tal visão, ao apontar que esta escola da forma como está, é incapaz de
agir segundo os próprios princípios que estabelece, apontando que a análise do
papel atribuído à educação de instrumento de equalização de oportunidades, pela
doutrina liberal, pela pedagogia da escola nova e pelo estado, mostrou ter essa
atribuição a função ideológica de dissimular os mecanismos de discriminação da
própria educação, bem como os da ordem econômica.

163
Carvalho e Marinho-Araújo (2010) citam Celso Ferreti como outro autor que
faz uma análise semelhante quando criticava, por exemplo, a tendência de se
atribuir ao indivíduo a responsabilidade por sua “desorientação” frente à escolha de
uma profissão, como se ela fosse fruto de um desajustamento psicológico. Tende-se
a não se considerar, nessa perspectiva, que a falta de orientação é mais efeito da
complexidade do sistema produtivo do que de dificuldades relacionadas à decisão.
O autor sugere que a OP se proponha criar condições para que a pessoa a ela
submetida reflita sobre o processo e o ato de escolha profissional no contexto mais
geral da sociedade onde tais ações se processam. Considera-se que essa é uma
premissa fundamental ao psicólogo escolar dedicado à intervenção de carreira,
tendo em vista seu compromisso com a autonomia e fortalecimento de indivíduos e
grupos por meio de conscientização e acesso ao conhecimento construído pela
humanidade. Desenvolver um conceito de si e definir uma trajetória de carreira de
forma consciente implica a possibilidade da pessoa se posicionar ativa e
criticamente no contexto em que está inserida, reconhecendo-se como sujeito da e
na história.
Bock (2013) destaca as teorias para além da crítica, cujo objetivo é superar a
dicotomia entre o indivíduo e a sociedade apontada anteriormente. É por isto que se
propõe uma nova abordagem denominada “sócio-histórica”, aceitando as
formulações desenvolvidas pelas teorias críticas, mas apontando que é necessário
um avanço na compreensão da relação indivíduo – sociedade, de forma dialética, e
não idealista ou liberal; isto é, deve-se caminhar para a compreensão do indivíduo
como ator e ao mesmo tempo autor de sua individualidade.

RELATO DE EXPERIÊNCIA

Para divulgação do Programa de Orientação Profissional, foram anexados


cartazes no mural do Serviço de Psicologia. Foi proposta a realização de uma oficina,
através de inscrição prévia para limitar o número de participantes em cada grupo,
uma vez que os encontros seriam realizados na sala do Serviço de Psicologia, onde

164
só seria possível receber o máximo de oito alunos. Os alunos interessados
procuraram a psicóloga para a realização da inscrição e não havia restrição em
relação ao curso ou turma. Foram formados cinco grupos: dois grupos de oito
participantes e três grupos de seis participantes. Os encontros eram semanais e
tinham duração de 40 minutos.
No primeiro encontro, a proposta foi abordar a expectativa dos alunos sobre
a oficina e avaliar o nível de conhecimento dos mesmos em relação a temática.
Acerca das expectativas, alguns se fizeram presentes pelo fato de acreditarem se
tratar de um momento de testagem psicológica, da qual seria possível deduzir a área
de interesse profissional. Outros compareceram sem conhecimento sobre o que
aconteceria de fato nos encontros, atribuindo interesse por mera curiosidade em
relação a temas de psicologia, de uma forma geral.
Diante disso, o procedimento foi expor a proposta da intervenção e
esclarecer que não haveria aplicação de testes psicológicos individuais. Foi
ressaltada a escolha pela formação de grupos, uma vez que a mesma proporciona
uma maior desinibição e uma maior troca de ideias e experiências. Além disso, foi
esclarecido que por se tratar de uma oficina, era esperada uma participação ativa
dos alunos em todas as etapas do processo.
Ainda neste primeiro momento, foi aplicado um pré-teste com o objetivo de
avaliar o conhecimento prévio dos alunos acerca de questões que seriam discutidas
durante a oficina.
No segundo encontro, foram lançadas perguntas a fim de gerar discussões e
reflexões acerca da relação entre o estudo formal e a escolha profissional. As duas
perguntas escolhidas foram: "Por que tenho que estudar para ter uma carreira?"; "O
que é ter sucesso profissional?". Foi solicitado que cada aluno apresentasse sua
opinião e um debate foi proposto.
Em relação a primeira questão, observou-se que os alunos relacionaram
facilmente a escolha profissional ao estudo e à avaliação por meio de provas e
testes: "Tem gente que só escolhe a profissão que os pontos derem!"; "Nunca vai ter
vaga suficiente para todos"; "Só através do estudo conseguimos ser alguém na vida";
"O IFPI não é focado no ENEM e isso traz insegurança.". Ainda assim, outros alunos

165
discordaram afirmando: "O dono do aplicativo de mensagens instantâneas é rico e
nunca estudou".
Quando foram indagados sobre o que era ter sucesso profissional, todos o
associaram à condição financeira e à remuneração: "A pessoa só consegue ser
alguém na vida se ganhar dinheiro"; "Ser alguém na vida é ter dinheiro e ter
sucesso"; "Bem sucedida é uma pessoa que recebe bem e gosta do que faz".
No terceiro encontro, foi realizada a leitura de uma ilustração que
proporcionava a reflexão sobre as condições econômicas e suas influências no
desempenho escolar e sucesso profissional. Foi disponibilizada a ilustração, em
formato de história em quadrinhos e, após a leitura, os alunos foram encorajados a
falar sobre sua identificação com um dos dois personagens principais.
Deste modo, os alunos reconheceram que nem todas as famílias tinham
condições de investir na educação de seus filhos: "Nem todo mundo tem dinheiro
para pagar um bom cursinho para seu filho"; "Situação financeira influencia muito".
Sobretudo, em relação à família, foi destacada a expectativa que os pais têm sobre a
escolha profissional: "A família da gente vê nos nossos estudos uma chance de
retorno e isso dá muita pressão". Outra situação apontada foi a necessidade de
conciliar trabalho e estudo: "Tem gente que não só estuda, trabalha também.”.
Em relação à identificação com um dos personagens da história em
quadrinhos, todos reconheceram situações de vida semelhantes as da personagem
que vinha de uma família de baixa renda. Neste momento, refletiram sobre suas
dificuldades concretas e admitiram que suas escolhas profissionais não poderiam
ignorar a situação econômica de sua família, ou seja, reconheceram que a escolha
profissional não seria realmente livre: "Tem gente que quer ser médico e não tem
condição financeira"; "Tudo sendo difícil, você tem que pegar o que aparecer
(profissão)".
No quarto encontro, os alunos foram convidados a preencher uma cartolina
com todos os nomes de profissões que viessem à cabeça. Mais uma vez, foi
constatado que a maioria das profissões citadas estava relacionada à formação por
algum curso superior. Ao serem questionados, responderam que o estudo
proporcionava melhores salários: “Pessoas que estudam muito são bem

166
remuneradas; “Só com estudo que a pessoa consegue dinheiro”. Foi feita então, uma
diferenciação entre estudo formal e empenho para exercer a profissão. Eles
reconheceram que existem profissões que para serem exercidas não necessitam de
educação formal, mas destacaram que nesses casos deve haver muita vocação e
dedicação, o que caracteriza um empenho semelhante ao esperado nas profissões
que exigem formação superior.
Ao final do quarto encontro, foi solicitado que eles escolhessem uma das
profissões que foram apontadas na cartolina para realizar uma entrevista semi
estruturada com um profissional que a exercesse. A escolha das perguntas seriam
realizadas pelos próprios alunos, conforme o que eles julgassem relevante saber.
No quinto encontro, os alunos apresentaram os dados coletados com os
profissionais. Para a realização da entrevista eles utilizaram também a internet,
através das redes sociais. Eles ficaram livres para escolher as perguntas e os
principais questionamentos foram em relação à remuneração e ao mercado de
trabalho. Não perguntaram aos entrevistados sobre seu processo de escolha
profissional e nem sobre sua satisfação em relação à profissão. Ao serem
questionados, afirmaram que estes aspectos também eram importantes, mas que a
prioridade seria o retorno financeiro.
No sexto encontro, o pré teste foi novamente apresentado aos alunos e foi
solicitado que eles verificassem a opinião anterior aos encontros e fizessem uma
comparação sobre o que já havia sido discutido.
Inicialmente, reconheceram que associavam o estudo formal à escolha
profissional, de modo que admitiam que pensar numa profissão futura era
considerar o rendimento escolar, a pontuação no ENEM e, sobretudo, a oferta de
cursos disponíveis nas proximidades de sua cidade. Por falta de condições
financeiras de estudar em outros centros, viam-se obrigados a eleger essas variáveis
como determinantes de suas escolhas. O estudo foi considerado como uma
oportunidade única de modificar a situação financeira dos jovens, mas, ao mesmo
tempo, a atual realidade econômica de suas famílias restringia de modo substancial
suas opções.

167
Assim, ter sucesso profissional era ter um bom retorno financeiro, era
escolher uma profissão que permitisse a recompensa pelos anos dedicados ao
estudo e que atendesse as expectativas de seus familiares em relação à mudança da
situação financeira.
Nesse contexto, fizeram referência a história em quadrinhos na qual a
maioria identificou-se com a personagem que pertencia a uma família de baixa
renda. Salientaram que a partir de então, ao julgar os seus resultados fariam
consideração a todos os obstáculos que os determinantes econômicos
representaram e, sendo assim, julgavam-se como vencedores a partir de então.
Sobre os profissionais entrevistados, constataram que haviam tido uma
maior preocupação com o retorno financeiro e avaliaram que seria necessário
também um maior conhecimento sobre a rotina das profissões para que fosse
realizada uma escolha mais consciente.
Ao final, reconheceram que para ter autonomia sobre sua escolha era
necessário admitir que existiam muitas influências e que era importante conhecê-las
para decidir o que poderia ser modificado e o que deveria ser realmente
considerado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A formação de grupos para a realização da oficina mostrou-se como um


método adequado para o enriquecimento da discussão sobre a temática, uma vez
que encontramos no alunado do IFPI, campus Angical um perfil tão diversificado.
Apesar de conservar um direcionamento em relação aos temas abordados
em cada encontro, as discussões foram enriquecedoras, já que demonstraram a
relação de significado que os alunos tinham com o estudo formal, com o sucesso
profissional, com as influências econômicas, com as profissões, dentre outros
determinantes da escolha profissional.
Portanto, proporcionar aos alunos esse momento de debate também
colaborou para uma maior clareza em relação ao processo, o que contribui de forma

168
positiva para uma escolha profissional mais consciente e gera respeito sobre suas
singularidades, o que incrementa a autoestima e a autonomia dos jovens.
Além disso, as discussões possibilitaram o levantamento de questões que
serão acrescentadas a trabalhos posteriores, o que permite um aprimoramento do
trabalho com os grupos.

169
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170
171
Cristiana Galeno da Costa Pereira

O
Instituto Federal do Piauí- IFPI, como instituição de educação básica,
profissional e superior, com ação pluricurricular e multicampi, atua no
desenvolvimento de programas e projetos de ensino, nos níveis básicos,
por meio dos cursos de nível médio integrado e técnico subsequente, no nível
superior, através dos cursos de tecnologia, licenciatura e bacharelado, e, no nível de
pós-graduação, com cursos de especialização e mestrado. Atua ainda na pesquisa e
na extensão, sob a forma de atividades presenciais e a distância, em todas as áreas
do conhecimento (IFPI, 2015).
O IFPI chegou à cidade de Piripiri, num momento histórico, quando a cidade
comemorava o seu centenário, em 2010. Entrou em funcionamento dia 20 de
fevereiro de 2010, com duas turmas de Técnico Integrado ao Médio: em
Administração e Vestuário e duas turmas de Técnico Concomitante-subsequente:
Administração e Vestuário. Localiza-se no bairro Germano e tornou-se ao longo
desses 6 anos, uma instituição de referência e de relevante contribuição na
formação de profissionais capacitados a promover o crescimento e o
desenvolvimento social do município de Piripiri.
O IFPI oferece cursos em diversas modalidades: técnico integrado ao médio,
concomitante/ subsequente, licenciatura e pós-graduação; atendendo alunos na
faixa etária correspondente à adolescência (a partir de 13 anos) até a idade adulta.
Atualmente oferece os seguintes cursos: Vestuário (integrado e técnico),
Administração (integrado, técnico e superior); Informática (integrado e técnico);
Matemática (licenciatura e PARFOR); Design de Moda (Tecnólogo); e as pós-
graduações em Docência do Ensino Superior (início em 2011), Educação Matemática
(início em 2016), Educação Básica (início em 2016). Em 2016 iniciaram os cursos
superiores em Administração e em Design de Moda.
Atualmente, o IFPI Campus Piripiri funciona nos três turnos e possui 919
alunos matriculados: 323 na modalidade Técnico Integrado ao Médio

172
(Administração, Vestuário, Comércio e Informática); 242 nos cursos Técnicos
Concomitante/ Subsequente (Vestuário, Informática e Administração); 235 nos
cursos superiores (Licenciatura em Matemática, PARFOR, Tecnólogo em Moda,
Bacharelado em Administração) e 119 alunos matriculados na Pós graduação.
Possui um corpo técnico e docente composto por: professores (com
titulação variando de especialistas, mestres e doutores), psicóloga, médica, dentista,
enfermeira, assistente social, técnicos em assuntos educacionais, pedagoga e
técnicos administrativos em diversas áreas. O campus conta com serviço de
Psicologia desde a sua fundação, em 2010.
O presente capítulo tem o intuito de relatar uma experiência do trabalho
com a temática sexualidade no IFPI- Campus Piripiri voltado aos alunos do Ensino
Técnico Integrado ao Médio. O projeto para a abordagem da temática referida foi
pensado de forma conjunta com o professor de Biologia, os alunos do 4º ano do
Ensino Médio Integrado em Administração e com o serviço de Psicologia e de
Enfermagem do campus.
Teve como objetivo geral: discutir a diversidade sexual na escola em uma
proposta de inclusão e de direito, através da problematização de conceitos, pré-
conceitos, estereótipos e paradigmas referentes aos sujeitos LGBT, além da reflexão
sobre os discursos circundantes dos sujeitos LGBT tanto negativos quanto positivos.
Como objetivos específicos: Discutir os principais conceitos no tocante a
sexualidade; Apresentar de forma contextual os métodos contraceptivos aos
participantes; Respeitar a diversidade de valores, crenças e comportamentos
existentes e relativos à sexualidade, desde que seja garantida a dignidade do ser
humano; Refletir sobre a base legal do direito a diversidade.

REFERENCIAL TEÓRICO

A adolescência, fase da vida em que acontecem muitas mudanças, tanto


físicas quanto psíquicas, tem sua construção da forma como a consideramos hoje,
devido às mudanças sociais, culturais e econômicas acontecidas na virada do século

173
XIX para o XX, sendo firmada como o processo de transição entre a infância e idade
adulta.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (1988), e com base nesse
processo de construção sócio-histórica do conceito de adolescência, atualmente, a
adolescência congrega as seguintes características: (1) desenvolvimento
maturacional, que compreende o amadurecimento sexual e reprodutivo; (2)
desenvolvimento cognitivo e emocional, relacionado às características culturais da
população na qual o adolescente se encontra inserido; (3) uma crescente
independência econômica em relação ao seu grupo familiar. (CARVALHO ET ALL,
2005)
A sexualidade humana é um tema que gera polêmicas e muitas
controvérsias, uma vez que envolve questões afetivas, papéis esperados e
desempenhados em uma sociedade, e também comportamentos. Logo, a
sexualidade diz respeito a uma noção das mais recentes na prática e na legislação
dos direitos humanos e uma das mais controvertidas na política. Preconceitos,
estereótipos negativos e discriminação estão profundamente arraigados em nosso
sistema de valores e padrões comportamentais.
A discussão e a educação em sexualidade com adolescentes tem sido
justificada pelos meios biomédicos a partir de uma naturalização da adolescência,
tomando-a como fase de crises e explosão hormonal, que tornam os adolescentes
susceptíveis aos riscos de DSTs, AIDS e gravidez não planejada e, por conseguinte,
os tornam também um problema de saúde pública. (CARVALHO, ET ALL, 2005.)
Existem na legislação brasileira, diversas normativas que respaldam o
trabalho com a promoção e ações educativas em prol da igualdade, equidade de
gênero, identidade de gênero e orientação sexual e enfrentamento ao sexismo e à
homofobia, a citar: Constituição Federal, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (Lei 9394/96); nos Parâmetros Curriculares Nacionais (1996), no Programa
Nacional de Direitos Humanos II (2002), no Plano Nacional de Educação em Direitos
Humanos (2003), no Plano Nacional de Políticas para as mulheres (2004), no
Programa Brasil sem Homofobia (2004). (JUNQUEIRA, 2008)

174
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) colocam que o trabalho de
orientação sexual, compreende a ação da escola como complemento à educação
alicerçada pela família, ao passo que o diálogo entre essas duas partes é sumamente
importante para que haja coerência dentre os princípios básicos. O educador é uma
ponte, um facilitador do conhecimento, um incentivador. Tão logo, deve estimular os
alunos a procurar sempre ler sobre assunto que tiver a respeito da sexualidade,
tendo assim mais pontos de vistas e venha a criar a sua própria forma de pensar,
refletir e agir (BRASIL, 1997).
Segundo Haltmann (2001) e Brasil (1997), a escola depara-se com situações
nas quais busca intervir, seja no cotidiano da sala de aula, quando proíbe e/ou
permite certas manifestações, ou quando opta por informar aos pais sobre
manifestações de seu filho, está sempre transmitindo certos valores, a depender dos
profissionais envolvidos naquele momento. A proposta desse projeto foi tratar do
tema da sexualidade como algo relacionado à vida e à saúde, visto que o mesmo se
expressa desde cedo no ser humano, engloba o papel social do homem e da mulher,
respeito aos gêneros, prima pela não-discriminação e os estereótipos atribuídos e
vivenciados em seus relacionamentos, o avanço da AIDS e da gravidez na
adolescência, entre outros problemas atuais e preocupantes.
Para tanto, segundo Libâneo (2011), a escola precisa deixar de ser
meramente uma agência transmissora de informação e transformar-se num lugar de
análises críticas e produção de informação, onde o conhecimento possibilita a
atribuição de significado à informação. Ou seja, a escola precisa articular sua
capacidade de receber e interpretar informação com a de produzi-la, a partir do
aluno como sujeito do seu próprio conhecimento.
Outro ponto a ser objeto de reflexão no ambiente escolar é a questão de
gênero. Para Teixeira et al (2010) não cabe mais, neste Terceiro Milênio, que “a
educação oscile entre uma posição ingenuamente reprodutivista e
panfletariamente, oposicionista”. Para tanto:

175
Há que forjar um posicionamento reflexivo, construindo outras
competências, destruindo tabus, vícios ou uma pseudoneutralidade
acadêmica. È preciso dialogar com os “sinais do tempo” que
permeiam a realidade da emancipação feminina, o respeito às
alteridades e às diversidades para além do “politicamente correto”.
(TEIXEIRA, et al, 2010.pag.20)

A construção de novos posicionamentos frente aos temas relacionados à


sexualidade dentro do ambiente escolar, envolvem a participação de diversos
atores: alunos, professores, gestão, técnicos administrativos.
Dentre eles é importante citar o papel da psicologia, dentro do contexto
escolar ao trabalhar com questões dessa natureza. Para tanto, leva-se em conta a
sensibilidade deste profissional em sua leitura sobre o ambiente escolar e as
situações que nele se desenrolam, pautando-se sempre pelas normas éticas
inerentes à sua profissão, a citar a resolução CFP 001/99, que em seus artigos 1º e
2º, pontuam:

Art. 1° - Os psicólogos atuarão segundo os princípios éticos da


profissão notadamente aqueles que disciplinam a não discriminação
e a promoção e bem-estar das pessoas e da humanidade.
Art. 2° - Os psicólogos deverão contribuir, com seu conhecimento,
para uma reflexão sobre o preconceito e o desaparecimento de
discriminações e estigmatizações contra aqueles que apresentam
comportamentos ou práticas homoeróticas.

(Resolução CFP 001/99)

Nessa construção, é ponto fundamental que na educação falemos de


diversidade e reconheçamos a sua presença dentro da escola, de forma legítima e
com postura acolhedora. Segundo Junqueira (2008) a educação deve trabalhar na
diversidade, para a diversidade e pela diversidade, pois elas dizem respeito ao
aprendizado da convivência social, cidadã e democrática, além de possuírem um
papel estratégico na promoção da igualdade de oportunidades, na inclusão e na
integração social. Para ele:

176
A educação na diversidade trabalha na perspectiva de incluir o outro
(visa o seu pertencimento a todos os espaços sociais). A educação
para a diversidade volta-se para a abertura em relação ao novo, o
reconhecimento da legitimidade da diferença (e a reflexão acerca de
sua produção). A educação pela diversidade vale-se das
potencialidades oferecidas pela diversidade. (…) Ao educarmos na
/para/pela diversidade, buscamos transformar a relação pedagógica:
de algo tradicionalmente autoritário e conformista em um processo
vivo, criativo e desafiador, dotado de alta dimensão dialógica, crítica
e transformadora. (JUNQUEIRA, 2008. p217-218)

Junqueira (2008) afirma ainda que as discussões sobre a diversidade sejam


ambientadas no “plano da ética democrática e dos direitos humanos, a partir de uma
perspectiva de inclusão social, do reconhecimento, da emancipação e da produção e
democratização de conhecimento”.

RELATO DA EXPERIÊNCIA

Este projeto foi pensado da seguinte forma: o professor da disciplina


Biologia fez o convite ao serviço de Psicologia e Enfermagem do campus para que se
trabalhassem os seguintes temas: Conceitos sobre sexualidade; a sexualidade na
infância e na adolescência; orientação sexual na escola; conhecendo os métodos
contraceptivos; relações de gênero; prevenção às Doenças Sexualmente
Transmissíveis/AIDS.
Para a construção da proposta, aconteceu inicialmente uma investigação
exploratória no sentido de identificar os questionamentos dos adolescentes
relacionados às temáticas da sexualidade e DST/AIDS, orientação sexual/relações de
gênero, uma vez que, de acordo com Lourencini Júnior (1997), as questões a serem
abordadas em relação à sexualidade devem surgir do interesse e do cotidiano dos
jovens.
Para tanto foram confeccionadas caixas lacradas, colocadas no pátio da
escola, na qual os alunos deixaram por escrito, sem a necessidade de identificação,
questionamentos e dúvidas referentes a estas temáticas. Foram feitas duas caixas de
perguntas: uma sobre as questões de orientação sexual/relações de gênero e outra

177
referente a métodos contraceptivos e prevenção DST/AIDS. Os alunos participantes
da organização do evento (4º ano integrado em Administração) ficaram incumbidos
de fazer a arte e divulgação do projeto, bem como as inscrições de participantes
(foram disponibilizadas 40 vagas, em virtude da disponibilidade de sala) além de
assessorar durante sua realização; o projeto foi pensado para ser trabalhado com
alunos adolescentes e foi inscrito na Coordenação de Extensão do campus sob o
título:“Diversidade sexual na escola - problematização, práticas e discurso”.
O primeiro tema a ser debatido foi sobre Prevenção às Doenças
Sexualmente Transmissíveis/AIDS; conhecendo os métodos contraceptivos: feitos
pela Enfermeira do Campus, Patrícia Santos. Foram utilizadas imagens sobre os
temas e os alunos participaram ativamente das atividades, como por exemplo, a
colocação de preservativo feminino em modelo pélvico feminino e colocação de
preservativo masculino em modelo peniano. Foram respondidas ao longo da
exposição do tema as dúvidas dos participantes e as que foram recolhidas das
caixas pra perguntas.
O outro tema: Conceitos sobre sexualidade; a sexualidade na infância e na
adolescência; orientação sexual na escola; foi trabalhado pela psicóloga Cristiana
Galeno. Para início das discussões foi realizada uma dinâmica (Afinal, o que é
sexualidade?) onde os participantes diziam palavras relacionadas à sexualidade e
suas dimensões (biológica, sociocultural, psicológica) e em grupo montavam frases,
com as palavras citadas, criando um conceito sobre sexualidade. Essa foi a base para
as discussões, sendo trabalhados como a sexualidade se expressa durante o ciclo de
vida e as mudanças que ocorrem durante esse processo. Ao se falar acerca da
orientação sexual, alguns participantes relataram sua experiência sobre o seu
processo de descoberta/revelação de sua orientação; momento rico de troca. Cabe
salientar a importância da participação de uma docente, de Língua Portuguesa, na
construção dos debates e diálogos sobre o tema.
No tema das Relações de gênero foram debatidas acerca da construção do
ser homem e ser mulher, como essa construção perpassa as experiências na vida
dos participantes e como eles observam esses comportamentos femininos e
masculinos na sua vivência diária. Foi um importante momento de escuta e troca

178
significativa, visto a presença de dois alunos (um ex-aluno/uma aluna), transgêneros,
que compartilharam com o grupo sobre a sua experiência. Foi trabalhado acerca da
homofobia, preconceito e diferenciação de conceitos como orientação/sexo
biológico/gênero. Momento muito produtivo de questionamentos e de abertura para
observar situações que tocam à realidade da escola.
Ao final foi pedido feedback aos participantes que se colocaram a respeito
da importância de participar destes momentos de construção de novos olhares
sobre a sua sexualidade e sobre as situações nessa temática que acontecem na sua
vivência diária, principalmente a necessidade de maior diálogo na família.

CONSIDERAÇÕES PARA REFLEXÃO

A realidade escolar é plural, permeada pelas histórias de muitos sujeitos e


muitas construções sociais e culturais. Principalmente, quando se trabalha com o
público adolescente, cheio de questionamentos e percepções acerca do seu
processo de desenvolvimento permeado por muitas questões, que inevitavelmente
se manifestam no contexto escolar. É premente que a escola comece a olhar de fato
para essas situações, com o olhar crítico e acolhedor.
Trabalhar o tema da sexualidade é propiciar novos olhares; rever conceitos e
práticas no intuito de construir e promover o diálogo, a defesa e a garantia de
direitos de homens e mulheres para exercer sua cidadania em todos os espaços.
Promover essa compreensão junto ao público adolescente é incentivar a construção
de novos comportamentos onde o respeito e a convivência com as diferenças faça
parte do cotidiano.
Citando Junqueira (2008):

“Se desejamos construir um modelo substantivamente


democrático de escola e de sociedade, encontramo-nos todos,
Estado e sociedade civil, cada instituição, cada organização,
cada cidadão e cidadã, diante da responsabilidade de
reconhecer e promover os direitos de lésbicas, gays,
bissexuais, transgêneros, travestis e transexuais e, ao mesmo
tempo, problematizar todas as formas de preconceito,

179
discriminação e violência, dentro da escola e fora dela.”
(Junqueira, 2008. p. 224-225).

A possibilidade de vivenciar a diversidade das relações afetivas e sociais


provocada pela educação sexual contribui para a compreensão e uma
experimentação de novas possibilidades do exercício da alteridade em contextos
mais amplos que os familiares, e é dessa forma que “o indivíduo se humaniza
quando a cultura impregna a biologia, e um novo ser, assim redefinido, se eleva
como pessoa” (Brasil, 1994, p. 11). E essa deve ser, por fim, a principal justificativa
para que o tema seja discutido e trabalhado na escola e nos cursos de formação
docente. (DINIS, N.; LUZ, A. A., 2007).

180
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Projetos Educacionais
Especiais. Diretrizes para uma política educacional de sexualidade. Brasília: MEC/
Sepespe, 1994. Série Educação Preventiva Integral. v. 1.

BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais: ensino médio (PCN's): orientação Sexual.


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CARVALHO, A. M; RODRIGUES, C.S.; MEDRADO, Kelma S. Oficinas em sexualidade


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DINIS, N.; LUZ, A. A. Educação sexual na perspectiva histórico-cultural. Educar,


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GENTLE, I.M.; ZENAIDE, M.N. T.; GUIMARÃES, V. M. G. (Orgs). Gênero, diversidade


sexual e educação: conceituação e práticas de direito e políticas públicas. João
Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2008. 355p.

HALTMANN, H. Orientação sexual nos parâmetros curriculares nacionais. Estudos


Feministas. Ano 9. 2º semestre de 2001. Págs. 575-585.

IFPI. Plano de Desenvolvimento Institucional 2015-2019. Teresina, 2015.

JUNQUEIRA, R. D. O reconhecimento da diversidade sexual e o enfrentamento da


homofobia no contexto escolar. IN: GENTLE, Ivanilda M.; ZENAIDE, Maria de Nazaré T.;
GUIMARÃES, Valéria Maria G. (Orgs). Gênero, diversidade sexual e educação:
conceituação e práticas de direito e políticas públicas. João Pessoa: Editora
Universitária da UFPB, 2008. 355p.

181
LIBÂNEO, J.C. Adeus professor, adeus professora?: novas exigências educacionais e
profissão docente. 13.ed. São Paulo: Cortez, 2011. (Coleção questões da nossa
época; v.2)

LOURENCINI JÚNIOR, A. Os sentidos da sexualidade: natureza, cultura e educação. In:


AQUINO, J. G. Sexualidade na escola: alternativas teóricas e práticas. 3. ed. São Paulo:
Summus, 1997. p. 87-95.

MAGALHÃES,C. Dinâmicas de Grupo sobre Sexualidade – atividades para trabalhar


com adolescentes. Rio De Janeiro, Wak Editora, 2011.

TEIXEIRA, A.B.M; ALCÂNTARA, F.(Orgs).Conversando na Escola Sobre Elas e Eles – para


além do politicamente correto. São Paulo, Ideias & Letras, 2010.

182
183
Layane Bastos dos Santos
Maria Aparecida e Silva Pereira Sobreira
Thays Ribeiro Torres Magalhães Xavier

A
s charges, cartuns e tirinhas se caracterizam como desenhos ou
representações gráficas de cunho humorístico, normalmente, de caráter
crítico, estando presentes na sociedade desde a antiguidade clássica.. Vindo
a se consolidar como gênero jornalístico popular a partir do século XVIII, se
efetivando em jornais e em revistas. A partir da década de 90, o cartum também
invadiu a internet e, mais recentemente, as redes sociais. Atualmente, a charge,
cartum, tirinhas e afins, afirmaram o seu lugar de importância por sua capacidade de
atrair a atenção do leitor, usando humor e crítica.
Esse gênero pois, historicamente se transforma em algo mais do que uma
imagem. Se constitui em gênero textual, de forma discursiva e que possui relevante
caráter histórico e político. Sua função é, pois, satirizar e/ou problematizar com
humor e/ou ironia situações específicas e reais enfrentadas por uma determinada
sociedade.
Na web, esse produto midiático atinge as mais diversas esferas, possuindo
diferentes temáticas e níveis de criticidade. Especialmente, na educação, esse
gênero do humor gráfico é usada como recurso didático eficaz. A onda de charges,
tirinhas e cartuns, que se propagou pelos diferentes meios de comunicação se
explica pelo caráter de representação: as pessoas não só se identificam com esses
desenhos, mas costumam construir seus estereótipos e representações de
fenômenos e pessoas, através da visão desse gênero.
A considerável expressividade e capacidade de diálogo com o leitor que o
humor gráfico cotidianamente possui, juntamente com a sua grande capacidade de
captar e sintetizar o momento histórico vivido, fazem dele uma interessante e
relevante fonte de estudo, em especial para compreender a formação de conceitos e

184
opiniões que se ancoram nas imagens que eles passam de situações, pessoas,
conceitos e profissões.
Ao ingressar no Instituto Federal do Tocantins em 2011, percebemos que
muito das representações que os alunos tinham da profissão e da atuação do
psicólogo, perpassavam pela visão propagada pelas tirinhas, cartuns e charges. Em
especial, as que eram veiculadas pelas redes sociais, como Facebook e Instagram.
Nesse sentido, pretende-se analisar como as representações do humor
gráfico que revelam sentidos e redes de memória sobre a profissão do psicólogo e
seu perfil político e simbólico, desvendado a partir de sua posição e situação
marcada pelo histórico e pelo social, através do olhar de alunos do curso de Técnico
Integrado de Agropecuária Integrada ao Médio. Tais alunos, ao receber a nova
profissional de psicologia em 2011, revelaram que, muito da visão e da opinião
acerca do psicólogo foram mediadas através do contato com as charges, tirinhas e
memes.
Nesse capítulo, pretende-se analisar como a representação está presente no
fenômeno de tirinhas e “memes” da internet, que são responsáveis pela grande
exploração de diferentes situações cotidianas, bem como pela formação de opiniões
e representações sobre fenômenos e pessoas, o que é o caso de profissional
Psicólogo. Para isso, foram selecionadas algumas dessas tirinhas, apontadas pelos
alunos, como basilares e propedêuticas para a formação do seu conceito de
Psicólogo, afim de que estas sejam analisadas de forma a contrapor com os
conceitos construídos dentro das áreas de Estudos Culturais e da Psicologia Social.
Nesse ínterim, o presente estudo tem como objetivo analisar o conteúdo que
circula na mídia e sua influencia na formação de conceitos dos alunos de
agropecuária. Através do que é circulado na esfera social sobre o perfil político e
simbólico do sujeito psicólogos, verificaremos os possíveis efeitos de sentido e a
memória discursiva que são manifestados e acessados para interpretarmos charges
que revelam a representação social e (des)construção identitária do “ser psicólogo”,
tendo em vista os estereótipos estabelecidos socialmente sobre este profissional no
Brasil.

185
UM PERCURSO SOBRE O HUMOR GRÁFICO

Embora não seja difícil rir das piadas veiculadas por quaisquer formas de
humor gráfico, as definições delas não são muito precisas. Para Paulo Ramos (2007,
p. 245), a imprecisão “pode criar expectativas diferentes de leitura, o que pode
trazer confusão no processo de compreensão...”. Além do próprio Ramos (2007),
outros autores como Ramos (2007), e Arbach (2007) definem, a partir de seus
estudos, o que é humor gráfico e como ele se apresenta. Estes concordam em citar,
como formas do humor gráfico:

 caricatura,
 charge,
 cartum,
 desenho de humor e
 tira cômica/quadrinhos.

Arbach ainda as enquadra todas como jornalismo.


Para Ramos (2007, p. 253) humor gráfico são “desenhos que destacam o
exagero das figuras ou da situação, com tom crítico (embora nem todos de forma
explícita), com diálogo com o ridículo”. O humor gráfico são desenhos que causam
“ruptura, o final inesperado, a quebra da lógica na estruturação do discurso,
especialmente a que ocorre ao final de grande parte das obras humorísticas,
incluindo especificamente aquelas do humor gráfico”.
Joaquim da Fonseca (1999) engloba todas essas manifestações (caricatura,
charge, cartum...) como variações da caricatura. Ele não fala em “humor gráfico”
literalmente. Mas, por falta de algo que englobe a caricatura, quando, ao falar em
“representação gráfica” “burlesca”, “satírica” ou “grotesca”, ele define a caricatura.
Então, é possível concluir que o faz também para o que considera humor gráfico,
embora não com essa denominação.
Para Arbach:

186
"Diariamente os leitores dos principais jornais se deparam com
grande volume de informações textuais sobre os mais variados
temas. Há, no entanto, um elemento dentro dos periódicos que
mostra de forma não- textual os assuntos que estão na pauta do dia.
É o desenho de humor...' (2007, p. 208).

Assim ele situa o humor gráfico no seu hábitat de excelência, a imprensa, e


demonstra a função desse tipo de ilustração: mostrar, de forma não-textual, os
assuntos que estão na pauta do dia. E ele continua:

“O desenho de humor pode ser considerado mais como uma forma


narrativa do que um meio de expressão estética. Podemos dizer que
nele o objetivo estético sempre ocupa um espaço secundário, pois é
a idéia quem ocupa o ponto principal” (2007, p. 201).

Ou seja, humor gráfico é qualquer desenho em que a graça, o bom humor


ou, no mínimo, a descontração predominam, em oposição aos desenhos ditos
“sérios”, como os técnicos, manuais explicativos ou plantas. Mas nem sempre o
objetivo é fazer rir. Josimey da Silva, no artigo “O humor nada objetivo e um
jornalismo muito sério” (citado por Arbach, 2007, p. 203), salienta o humor satírico,
cujo objetivo é causar rejeição do objeto de ridicularização, e o irônico, no qual se
expressa algo com intenção de significar o inverso.
Com base nesses estudos, podemos dizer que o riso provocado com a
leitura da charge constitui-se na sátira a pessoas simples e famosas, representantes
políticos, fatos e acontecimentos sociais servindo ao mesmo tempo para afirmar e
para subverter.
Fonseca (1999, p. 17) esclarece que a caricatura e a charge não são
excludentes, sendo a primeira um dos elementos constituintes da charge, do cartum
, da tira cômica, da história em quadrinhos e dos desenhos animados. O mesmo
autor (1999, p. 26) diz que o termo charge é francês, vem do verbo charger (carregar,
exagerar, atacar), uma forma de representação pictórica de caráter bulesco e
caricatural em que se satiriza um fato específico, tal qual uma idéia, situação ou
pessoa, em geral de caráter político e do conhecimento público.

187
O termo cartum é uma forma aportuguesada do termo inglês cartoon
(cartão), que tem sua origem no termo italiano, cartone . Em sua composição
incorpora elementos da história em quadrinhos, como os balões, as cenas e as
onomatopéias. Mendonça (2003, p. 197) ressalta que distinguir esses gêneros é
difícil mesmo para os profissionais da área. O cartunista Fernando Moretti (2001)
define o cartum como uma crítica mordaz, irônica, satírica e humorística do
comportamento humano, de seus hábitos e costumes.
Por isso, exige maior habilidade do leitor por se tratar de um gênero em que
os detalhes devem ser bem delineados e planejados para dar, ao mesmo tempo, o
humor e a veracidade ao tema escolhido. Enquanto a charge discute questões
sociais e políticas que são exploradas observando os recursos linguísticos,
discursivos e gráfico-visuais.
Acerca do conceito de Cartum, Edgar Silveira Franco (2004, p. 23), o define
como uma “imagem geralmente cômica e universal e matriz da charge”. Segundo o
autor, a palavra é originária de cartoon, ou seja, cartão, “suporte onde eram feitos os
desenhos ingênuos e descompromissados de humor, para serem inseridos nos
jornais” (FRANCO, 2004, p. 34).
Todo desenhista acaba utilizando uma pequena dose de cartum, mesmo em
trabalhos realistas, pois ele permite um envolvimento maior do público em função
da identificação. Para McCloud (2005, p. 42), “já que a identificação do espectador é
uma especialidade do cartum, este tem penetrado com facilidade na cultura popular
do mundo”. Por isso, o autor considera que o cartum vai além do que parece ser. O
cartum está presente nos diferentes meios de comunicação. Atualmente, os cartuns
tomaram conta da internet. Existem sites e blogs espalhados pela rede que surgiram
com o único objetivo de publicar cartuns e charges.
A tira cômica, por sua vez, é uma forma de humor gráfico que pertence às
histórias em quadrinhos. É uma tira de quadrinhos cuja temática é o humor. Paulo
Ramos (2007) mostra que é o tipo de tira mais publicada no Brasil. A continuidade é
variável, podendo se basear apenas nos personagens, na história deles ou na
temática. Há tiras com continuidade apenas no título.

188
Pela dificuldade em se categorizar ou conceitualizar as manifestações e
gêneros humorísticos veiculados nos mais diversos canais midiáticos da atualidade,
trabalharemos com o conceito universal e abrangente do humor gráfico e sua
influência na (des)construção identitária do “ser psicólogo”, tendo em vista os
estereótipos estabelecidos socialmente sobre este profissional no Brasil.

HUMOR GRÁFICO NA ESCOLA

O filosofo russo Mikhail Bakhtin nos mostra que os textos podem ser
agrupados em diferentes gêneros do discurso:

“O emprego da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e


escritos) concretos e únicos, proferidos pelos integrantes desse ou
daquele campo de atividade humana. Esses enunciados refletem as
condições específicas, as finalidades de cada referido campo não só
por seu conteúdo (temático) e pelo estilo da linguagem, ou seja, pela
seleção dos recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais da língua,
mas, acima de tudo, por sua construção composicional. Todos esses
três elementos – o conteúdo temático, o estilo, a construção
composicional – estão indissoluvelmente ligados no todo do
enunciado e são igualmente determinados pela especificidade do
campo da comunicação” (BAKHTIN, 2003, p. 261-262).

É fundamental contemplar o ensino com a diversidade de gêneros do


discurso não apenas em função de sua relevância social, mas também pelo fato de
que todo texto se organiza dentro de determinado gênero, em função das intenções
comunicativas que partem das condições de produção, as quais geram usos sociais
que as determinam.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental (1998, p. 21-
24), propõe que a unidade básica para ampliar a competência linguística e
discursiva deve ser o texto e os gêneros do discurso objetos de
ensino/aprendizagem. Um ensino tradicional que prioriza a gramática não propicia
aos alunos a leitura, a análise linguística e nem a produção de bons textos.
Confunde-se o ensino de língua com o ensino de gramática, resultando numa prática

189
metalinguística, com exercícios mecânicos e reprodutivos que só contribuem para o
fracasso escolar.
No entanto, trabalhar com a diversidade de gêneros pressupõe não ignorar a
diversidade sócio-cultural encontrada na escola pública. Para os PCN (1998, p. 54),
ensinar a língua significa possibilitar acesso a usos de linguagens mais formais e
convencionais, tendo em vista a importância que o domínio da palavra pública tem
no exercício da cidadania.
Por isso, o uso do recurso do humor gráfico é relevante não só
didaticamente, mas também no âmbito da formação de conceitos e discussões
críticas, pois o poder político se concentra na disputa entre representações do
mundo social, que procuram se investir de veracidade e legitimidade.
O Humor gráfico se configura como um gênero que lida com o repertório
disponível nas práticas sócio-culturais e imediatas ligando-se sempre ao modo como
um determinado grupo vê o outro. Na sua forma atual, as charges, cartuns e tirinhas,
mantém viva as tradições expressivas que a compuseram historicamente, definindo-
se pela apropriação e reatualização de diferentes linguagens: a pictórica e a teatral.
O humor gráfico se dá pela rapidez, pelo exagero dos traços e pela síntese
dos fatos, mostrando além da imagem, do alvo que pretende atingir, uma crítica à
realidade política, seja sobre um fenômeno, pessoa, profissão. Apresenta
julgamentos e compreensões que influenciam na opinião do leitor, estabelecendo
uma cumplicidade cotidiana entre autor e leitor num mesmo contexto social. A
compreensão construída a partir desse plano interindividual passa para o plano
intraindividual, fornecendo as bases para a compreensão.

REPRESENTAÇÃO SOCIAL DO PSICÓLOGO NO HUMOR GRÁFICO

Existe em cada um a necessidade de encaixar cada coisa nova com que se


toma contato em uma determinada categoria conceitual. Os traços culturais, sociais,
de personalidade de cada um dos habitantes de um país, além dos arquétipos,

190
personagens do imaginário coletivo e literário, conseguem ser resumíveis a algumas
dezenas de adjetivos.
E a premissa vale mesmo para as qualificações mais subjetivas ou até para
correlações entre duas ou três palavras desse pequeno grupo que tragam
semelhanças de significado. O fato novo vai ganhar contornos a partir do rótulo que
lhe for imposto. Ao mesmo tempo, um rótulo novo precisa encontrar fundamento na
realidade – e o faz, invariavelmente, mesmo quando se trata de um fenômeno,
pessoa, profissão.
Nesse contexto, a Representação social se constitui como um conjunto de
conceitos, explicações e afirmações que se originam na vida diária, no curso de
comunicações interindividuais, na necessidade de contextualizar (Moscovici, 1981).
É a versão contemporânea do senso comum.
Moscovici (2003) focou a questão das representações sociais, a partir dos
conceitos propostos por Émile Durkheim, que falou em representações coletivas.
Essas representações coletivas, de caráter estático, seriam aquilo que conserva o
todo da sociedade contra a fragmentação. Moscovici discorda dessa estaticidade e
propõe, como ponto básico de seu estudo, a discussão da construção dessas
representações, tratando como fenômeno o que era tido como conceito. Para
reforçar a mesma idéia:

“As representações sociais são entidades quase tangíveis. Elas


circulam, se entrecruzam e se cristalizam continuamente, através
duma palavra, dum gesto, ou duma reunião em nosso mundo
cotidiano. Elas impregnam a maioria de nossas relações
estabelecidas, os objetos que nós produzimos ou consumimos e as
comunicações que estabelecemos. Nós sabemos que elas
correspondem, dum lado, à substância simbólica que entra na sua
elaboração e, por outro lado, à prática específica que produz essa
substância, do mesmo modo como a ciência ou o mito correspondem
a uma prática científica ou mítica” (DUVEEN, 2003, p. 10).

Moscovici aponta a razão pela qual as pessoas se escoram nas


representações sociais: “a finalidade de todas as representações sociais é tornar
familiar algo não familiar, ou a própria não-familiaridade ” (MOSCOVICI, 2003, p. 54,

191
grifo do autor). Ou, em outras palavras: “Em seu todo, a dinâmica das relações é uma
dinâmica de familiarização, onde os objetos, pessoas e acontecimentos são
percebidos e compreendidos em relação a prévios encontros e paradigmas”
(MOSCOVICI, 2003, p. 55).
Nessa explicação ele resume hipóteses dadas anteriormente, segundo ele
“não totalmente desprovidas de verdade”, de que as representações sociais
poderiam “responder a determinada necessidade”, “a um estado de desequilíbrio”,
ou “favorecer a dominação impopular, mas impossível de erradicar, de uma parte da
sociedade sobre outra”.
A teoria das representações sociais reside na idéia de que os sujeitos
buscam explicações, criam teorias próprias sobre uma série infindável de assuntos
que prendem a atenção e a curiosidade, demandando compreensão e
pronunciamentos quotidianos a respeito de temas sociais contemporâneos como a
escola, a moral, a religião, a política, a cultura, a saúde, a doença, a violência, a
tecnologia, as desigualdades sociais, econômicas etc. Tais explicações não são
simples opiniões, mas possuem uma lógica própria, baseada nas mais diferentes
informações e julgamentos valorativos adquiridos por diferentes fontes, além de
fundamentarem-se também em experiências pessoais e grupais.
Para maior entendimento da teoria, é importante destacarmos a existência
de duas classes distintas de universo de pensamento: os universos consensuais e os
reificados. Nos universos reificados, encontramos as ciências e o pensamento
erudito em geral. Nos consensuais, viajam os pensamentos e ideias que,
frequentemente, tiveram origem nos universos reificados, mas foram reapropriados
pelos demais integrantes da sociedade de uma forma particular, através de uma
lógica diversa daquela em que se produzem os conhecimentos científicos,
colaborando, portanto, para a existência das representações sociais. Portanto,
representar algo não é simplesmente repeti-lo, mas, sim, reconstituí-lo,
modificando-lhe o texto.
É o caso das representações apropriadas pelo humor gráfico que, através de
chavões, caricaturas, trejeitos já ressignificadas e interpretadas do universo

192
científico da psicologia, vão permitir novas representações e reformulações quando
em contato com seus leitores:

"O resultado das representações reificadas (inicialmente estranhas),


amalgamadas com os conhecimentos prévios, é altamente criativo e
inovador no seio da vida quotidiana. As representações sociais de
objetos sociais são, assim, produtos do comportamento criador do
homem" (MOSCOVICI, 2003).

"Em todos os intercâmbios comunicativos, há um esforço para


compreender o mundo através de ideias específicas e de projetar
essas ideias de maneira a influenciar outros, a estabelecer certa
maneira de criar sentido, de tal modo que as coisas são vistas desta
maneira, em vez daquela . Sempre que um conhecimento é expresso,
é por determinada razão; ele nunca é desprovido de interesse. [...] O
conhecimento toma aparência e forma através da comunicação e, ao
mesmo tempo, contribui para a configuração e formação dos
intercâmbios comunicativos (DUVEEN, 2003, p.28)"

Portanto, é através dos intercâmbios comunicativos que as representações


sociais são estruturadas e transformadas” (DUVEEN, 2003, p.28). E nesse processo
de intercâmbios comunicativos que o humor gráfico predomina como ponte entre o
conceito científico da atuação profissional do psicólogo e a representação social da
profissão para seus leitores.
A Psicologia enquanto profissão foi regulamentada em 27 de agosto de
1962, por meio da Lei nº 4.119, há exatamente 50 (cinquenta) anos. A profissão de
psicólogo, portanto, é algo relativamente novo, diferentemente da Psicologia
enquanto ciência, que, com a fundação do primeiro laboratório de Psicologia
Experimental, no final do século XIX, teve o seu estopim do desenvolvimento
científico. Ainda mais quando se trata do contexto do Tocantins, em que a primeira
turma de profissionais psicólogos apenas saiu ao mercado de trabalho no ano de
2010.
Deste modo, há essa real necessidade do publico de equilibrar um conceito,
formar uma opinião, quando o assunto é o profissional de psicologia. O profissional,
até então desconhecido pela comunidade acadêmica do Instituto Federal do

193
Tocantins, suscitou muita curiosidade e indagação, principalmente dos alunos, que
proferiram uma série de conceitos e discursos sobre a profissão a profissional recém
empossada, muitas vezes, em dissonância sobre as atribuições reais da profissional
psicólogo.
Daí onde surgiu a curiosidade de se indagar de onde veio a principal fonte
de significação desse profissional para esses alunos. Ao se iniciar a pesquisa,
deparamo-nos com o Humor Gráfico como principal fonte de 'informação" e
formador de opinião, de conceitos, que tais alunos tinham da profissão, já que ele
está presente de forma massificada e crescente a esta geração através das redes
sociais e Novas Tecnologias da Informação.

PERCURSO METODOLÓGICO

A investigação constituiu-se numa pesquisa de natureza qualitativa,


realizada mediante um estudo exploratório em profundidade, desenvolvido junto ao
setor de Assistencia Estudantil, do Instituto Federal do Tocantins, entre os anos de
2011 e 2014.
Para que se consiga atingir os objetivos do estudo, buscamos embasamento
teoricamente na Análise de Conteúdo de base francesa e, como pressuposto de
análise, apresentados pelos seguintes autores: Bardin (1999), Pêcheux (1999),
Foucault (1979; 1987) e Hall (2006), Pimenta (2008), Orlandi (2007), Fernandes
(2008), entre outros.
A estudo foi composto por várias charges selecionadas pela amostra de cem
(100) alunos do curso Técnico Médio Integrado de Agronomia (do primeiro ao
terceiro ano), que afirmaram durante a entrevista semi-estruturada acerca do papel
do psicólogo, nos antendimentos pela psicóloga da Instituição, que formaram seus
conceitos da profissão de psicólogo apartir do seu contato com o humor gráfico da
internet e de jornais. Após o recebimento das charges, tirinhas e cartuns
selecionadas pelos alunos, obteve-se um banco de dados de imagens de humor

194
gráfico sobre o psicólogo e sobre a psicologia de 92 imagens de humor gráfico,
dentre charges, tirinhas, cartuns, etc.
Tais imagens em conjunto com o discurso dos alunos sobre a profissão
formetaram as bases para utilização da análise de conte údo para elaboração das
categorias e subcategorias (Bardin, 1977) que emergiram espontanemanete durante
a analise do material coletado nas imagens e entrevistas.
Esta técnica trata da análise de comunicação (no caso específico desta
pesquisa, o conteúdo trazido pelos participantes ao responderem aos
questionários), para chegar aos indicadores que permitam conhecer determinada
realidade (a caracterização da Representação Social do psicólogo e de sua prática na
comunidade local mediadas através das charges). Bardin (1977) afirma que se faz
uso desta técnica quando o interesse é conhecer aquilo que está por trás das
palavras sobre as quais se debruça, ou seja, é uma busca de outras realidades
através das respostas expressas pela amostra .
A primeira fase da análise de conteúdo compreendeu a leitura geral das
informações das entevistas semi-estruradas, de modo a destacar e selecionar
aspectos mais relevantes relacionados aos objetivos da pesquisa. Após uma pré-
análise, prepararam-se as informações para a etapa seguinte, que foi correlacionar o
discuros apresentado nas entrevistas com as charges, tirinhas, cartuns trazidos pelos
proprios participantes da pesquisa, que, segundo os mesmos, ajudaram a formar
seus conceitos da profissão de psicólogo.
Logo após, fez-se um estudo exploratório do material levantado, separando
as informações em termos de unidades de análise de acordo com os conteúdos
temáticos, e selecionando trechos mais significativos para compor as categorias.
Dando continuidade à análise, as unidades de registro foram inventariadas e
agrupadas de acordo com o tema e núcleo de significação das palavras e imagens
entre as categorias, constituindo assim um conjunto se subcategorias. Por fim,
realizou-se a análise e a interpretação das informações categorizadas.
Segundo Spink (1998), a leitura flutuante do material coletado, mapeando
temas emergentes, atentando para características que podem dar pistas valiosas
quanto à natureza da construção é de extrema importância para a análise dos dados.

195
Depois disso, foi necessário retornar aos objetivos da pesquisa e definir claramente
o objeto da representação.
Em síntese, o material coletado nesta investigação foi analisado
qualitativamente, explorando os elementos trazidos nas pesquisas de campo, a fim
de relacioná-los com os achados bibliográficos, interpretar os dados e compor os
resultados de modo a analisar a caracterização histórico-social do sujeito psicólogo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No que se refere à significação das unidades de análise de conteúdo obtidas


nas entrevistas e imagens, foram criadas três categorias, que correspondem às tres
questões compreendidas e emergidas no instrumento de coleta de dados. Os
resultados, então, são apresentados com excertos representativos, relacionando
algumas respostas elucidativas dos participantes à caracterização das categorias, as
falas dos participantes do estudo em conjunto com as representações do humor
gráfico por eles escolhidas e levadas á pesquisadora.

 Categoria 1 - Caracterização do Psicólogo como profissional "Místico”/


"Magico":
Durante as entrevistas, no item referente as atribuições do profissional
psicólogo junto a comunidade acadêmica, os alunos revelaram achavam que o
psicólogo era um ser "místico" , "sobrenatural", com poderes quase religiosos, como
se pode ver na charge selecionada por eles na rede social "Facebook", abaixo:

196
Figura 1: Psicopatos. MONTENEGRO, 2012.

Nesse sentido, essa atribuição de significado corrabora com a afirmação de


Mostazo e Kirschbaum (2003), em que colocam que o sujeito constrói significados
para o tratamento de acordo com os sentidos ou símbolos atribuídos pela história
social, no caso a história social repassada pela charge acima, que coloca o lugar do
psicólogo no mesmo patamar de um padre.
Quando solicitados para descrever o que significa psicólogo, antes da
seleção de charges que os ajudaram a construir esse sentido, alguns alunos
apontaram expressões como “abençoado” (sic) e “um anjo” (sic), alguém que
encontra “coisas ocultas que só ele consegue chegar, entender” (sic). Até mesmo um
"leitor de mentes", como nas figuras abaixo:

Figura 2: Psicopatos. MONTENEGRO, 2012.

197
Figura 3: Psicopatos. MONTENEGRO, 2012.

Segundo Praça e Novaes (2004), cabe observar a roupagem onipotente


presente na representação da figura do psicólogo por parte dos alunos, demostra
como por vezes se veste a Psicologia e, consequentemente, aqueles que trabalham
com ela. Para estes autores, a ideia da Psicologia como uma ciência capaz de mudar,
melhorar, resolver a vida e as relações estabelecidas contribui fortemente para que
o profissional da área (e o estudante também) tenha o estereótipo comum e antigo
de adivinhar o que os outros pensam.

 Categoria 2- A atuação do "Esteriótipo" do Psicólogo:


Essa categoria evidencia que os alunos percebem a atuação do profissional
psicólogo relacionada ao auxílio em diversos âmbitos e a situações vivenciadas, em
especial as de crise ou até mesmo as consideradas "fúteis" (Sic.). Além de percepções
acrescidas de elementos que sugerem expectativas quanto à compreensão, ao
entendimento e à resolução de problemas e/ou conflitos das mais diversas ordens, e
uso de diversos "clichês" e Estereótipos propagados pelas redes sociais, como
relatam os alunos nas frases "como está se sentindo", "tem problemas com a mãe",
"como você se sente com isso?" (Sic). As assertivas se notam no Cartum abaixo:

198
Figura 4:Via Ordinária. DOUG SAVAGE, 2010.

Outras representações emergem com relação ao psicólogo enquanto


profissional da saúde, que lida com o emocional, que fornece suporte, estuda (a
mente, o comportamento, inconsciente) ou ainda, sua prática é vista como sinônimo
de “terapia” (sic). Coisa que, quando explicado que não faz parte da atuação do
Psicólogo Escolar, causou muita surpresa. Estes significados ficam evidenciados
também nas frases obtidas na entrevista, tais como : “ajuda em nossa vida” (sic) ou
ainda “ajuda a me entender melhor” (sic); “ajuda a resolver conflitos”(sic), e na tirinha a
seguir:

Figura 5: Facebook. ZÉ da SILVA, 2014.

199
Tais descrições vão ao encontro das contribuições dadas por Weber (1991),
em sua pesquisa realizada no Paraná. No intuito de identificar a imagem do
psicólogo e da psicologia com pessoas provenientes de diversos níveis culturais e
socioeconômicos da cidade de Curitiba, o autor constatou que os entrevistados
possuíam um conhecimento maior sobre a atuação do psicólogo na área clínica. A
maioria dos entrevistados indicou a Psicologia como o estudo da mente, referindo o
psicólogo como um solucionador de problemas em geral.
Também são recorrentes várias referências como atribuições da identidade
profissional do psicólogo, os rituais da Psicanálise e da Psicologia Transpesssoal,
bem como seus conceitos, que foram relacionados como usufrutos de qualquer
psicólogo, independente da Abordagem Teórica do profissional, como fica patente
nas frases "o psicólogo tem um Divã"(sic), "Agente deita para falar com o
psicólogo"(sic), "Faz Regressões"(sic), "Vê nossas vidas passadas"(sic) e na tirinha
abaixo:

Figura 6: Site Psicologia Universitária. Autor Desconhecido, 2013.

Nessa categoria, nota-se que as representações conferem com os


pressupostos da afirmação de Wagner (1998) em que "o ponto de interesse nos
estudos em representações sociais, é o conjunto de elementos constantes em uma
representação" os quais se constituem dos elementos comuns do conhecimento
produzido pelos sujeitos das investigações. No grupo de alunos participantes deste
estudo, os elementos apontados na categoria descrita, reflete o agrupamento de

200
aspectos que configuram o conhecimento destes indivíduos, no que tange a sua
representação sobre o psicólogo, perpassado nas charges, como divãs, chavões, etc.

 Categoria 3 - O Psicólogo enquanto profissional "desnecessário":


Com relação à terceira categoria, que tratou de livre opiniões acerca da
importância do trabalho do psicólogo, de um modo geral, houve a tendência de
caracterizar a atuação do profissional no Instituto do como "Desnecessário" (Sic.) e
"Dispensável" (Sic), que lida com questões que "cerveja ou igreja resolveria"(Sic.).

Figura 7: Facebook. NANDO, 2014.

Através das pesquisas de Praça e Novaes (2004) sobre as representações


sociais, observa-se que as assertivas obtidas nas entrevistas e nas charges
relacionadas pelos estudantes, corroboram para fornecer um enquadre que
contextualiza os sistemas de categorização que representam o psicólogo como um
profissional "Frívolo" (Sic.), "que ganha dinheiro fácil ouvindo os problemas
alheios"(Sic.) , "finge que escuta os doidos" (Sic.). Quando um entrevistado diz que o
todo psicólogo é "maluco" (Sic.) ou "problemático"(Sic.), isso deve ser entendido a
partir de uma rede de significações provenientes das representações sociais sobre o
psicólogo.

201
Figura 8: Facebook. EDGAR ARGO, 2013.

Para Hartmann (1999), a relação interpessoal desenvolvida no processo


psicoterapêutico ocorre entre dois seres distintos (de um lado, o paciente e, de
outro, o profissional) e que essa relação é permeada por conteúdos imaginários –
mágicos ou trágicos – símbolos e mecanismos de defesa. Nesse sentido,
expectativas mágicas relacionadas à cura, ao esbatimento de sintomas ou resolução
de conflitos e problemas de diferentes ordens podem estar associadas a esses tipos
de conteúdos imaginários, símbolos e mecanismos de defesa perpassado em nossa
sociedade como sendo típicos do papel e da identidade do psicólogo como
profissional. Bem como, relacionar a figura do psicólogo como um alguém também
"problemático"(Sic.), que "quer resolver seus problemas e cursou psicologia"(Sic.).
Representações estas também presentes nas imagens:

Figura 9: Site Psicologia Universitária. Autor Desconhecido, 2014.

202
Figura 10: Facebook. Ricardo Borges, 2011.

Os alunos entrevistados são provenientes de população campesiana,


público alvo do curso de Tecnico em questão e possuem, em sua maioria, situação
de alta vulnerabiliadade social. Tal quadro reflete em suas reperesentaçãoes, pois o
acesso a conteudo que verse sobre o a atuação e importancia do profissional de
psicologia é pouco. Sendo sua maior fonte de informação para formar opinião, o
humor gráfico presente nas redes sociais.Como constataram Souza e Trindade
(1990), na cidade de Vitória ES.
Os autores supracitados, objetivando identificar as representações sociais
do psicólogo e de suas atividades profissionais, focaram seus estudos em dois
segmentos sociais distintos (classe baixa e classe média), indica que o modelo
clínico de atuação profissional serve como elemento básico na pro- dução de
representações dos dois segmentos investigados. Nesta pesquisa, a maioria dos
participantes de classe baixa (73,3%) não possuía qualquer representação do que
fosse um psicólogo, e quando o representava, eram representações negativas,
esteriótipos jocosos, retratados na mídia de entretenimento. Por outro lado, todos os
participantes da classe média demonstraram algum tipo de informação sobre o
profissional da psicologia, apontando, novamente, que o psicólogo serve para
aconselhar e orientar, tendo portando uma representação mais positiva da atuação
do psicólogo.

203
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo em vista o objetivo inicial de identificar e analisar as Representações


Sociais do psicólogo por alunos do curso de agronomia do IFTO, através do olhar do
humor gráfico, pode-se considerar que as referidas Representações Sociais, apesar
das devidas ressalvas por se tratar do olhar do "humor", ainda configuram e refletem
muito do que é de estereótipos e visão negativa, deturpada do que vem a ser e fazer
um psicólogo que permeiam de maneira, por vezes implícita, na nossa cultura e
sociedade.
Os principais resultados do estudo apontam que os sujeitos pesquisados
atribuíram ao profissional da psicologia um conjunto de habilidades que podem ser
sintetizadas (apesar das capacidades algumas vezes imbuídas ao profissional de
analisar e de entender os comportamentos, sentimentos e problemas dos outros),
como um profissional de atuação limitada, mística, por vezes desnecessário e
frívolo.
Boa parte dessas representações é fruto da nossa ainda inacessibilidade
profissional a certos segmentos sociais mais vulneráveis, como a população do
campesionato, que tem mais acesso ao "conceito" de psicólogo passado pelas redes
sociais (ratifica-se novamente: através do vies humorístico do humor gráfico), do que
do profissional "real", in loco, atuando junto a sua comunidade, ao seu grupo social.
Assim, o humor presente nas redes sociais, também reflete um problema, uma crítica
social e econômica, inerente a nossa profissão, que é a falta de acesso negada a
população mais pobre, menos informada, a qual, apesar dos esforços conquistados
nos últimos anos, ainda é pouco alcançada pela nossa atuação.
Essa situação de profissional limitado a atuação junto a clinicas, consultórios
particulares, longe da população mais vulnerável, tem contribuído para uma
consolidação da Representação Social do psicólogo marcada exclusivamente pelo
seu caráter terapêutico/ clínico, dificultando a construção de uma visão em que o
profissional da psicologia possa atender em diferentes âmbitos, como o institucional
e comunitário, bem como na própria escola onde eles estão presentes todos os dias,
fazendo um trabalho efetivo e não segregador.

204
Desta forma, é relevante a necessidade de identificar as Representações
Sociais presentes nos mais diversos âmbitos, canais, espaços publicos. As redes
sociais são uma realidade recente, pouco pesquisada. Seu conteudo propagado,
quase sempre relacionado com o humor, pode vir a subsidiar ações para uma nova
ressignificação do profissional psicólogo junto as populações que não tem ainda
acesso a este profissional. Vê-se, então, que estudar a Representação Social do
psicólogo no contexto do humor gráfico pode contribuir para o entendimento do
papel social no qual o profissional exerce seu trabalho e onde sua atuação requer
mudanças. Segundo Spink (1988), "os limites da atuação do psicólogo são
socialmente estruturados e dependem não apenas dos modelos de prática
adotados, mas das demandas e expectativas da população".
Diante de tais resultados, estudos posteriores poderão ser conduzidos com
o intuito de se entender mais as Representações Sociais presentes em canais tão
recentes e ainda pouco explorados, mas que estão fornenecendo as bases para
formação de conceitos distantes, por vezes, das nossas verdadeiras possibilidades
de atuação. Nas palavras de Bergman e Luckmann (2004): "é importante de
conhecer as formas de produção do conhecimento como principal fonte da ação
humana na sociedade, pois esta se refere àquilo que os indivíduos conhecem como
real na vida cotidiana e orienta as práticas humanas no mundo".

205
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Argumento. Curitiba: udufpr, 2011.

208
FAUSTON NEGREIROS
Psicólogo, Mestre e Doutor em Educação pela UFC. Professor Adjunto III da
Universidade Federal do Piauí/UFPI, no qual é professor-pesquisador dos Programas
de Pós-Graduação (Stricto Sensu) de Psicologia, Ciência Política e de Sociologia.
Coordenador do Núcleo de Pesquisas e Estudos em Psicologia Educacional,
Desenvolvimento Humano e Queixa Escolar/ PSIQUED. Membro da Associação
Brasileira de Psicologia Escolar Educacional/ABRAPEE. Membro do Fórum sobre a
Medicalização da Educação e da Sociedade. Membro do GT Psicologia e Política
Educacional da ANPEPP. E-mail: [email protected].

MARILENE PROENÇA REBELLO DE SOUZA


Psicóloga com Mestrado, Doutorado e Livre-Docência em Psicologia Escolar e do
Desenvolvimento Humano pela USP. Professora Titular da USP. Docente e
pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Escolar e do
Desenvolvimento Humano no Instituto de Psicologia da USP. Coordena o
Laboratório Interinstitucional de Estudos e Pesquisas em Psicologia Escolar – LIEPPE
e é líder do Grupo de Pesquisa do CNPq “Psicologia Escolar e Educacional: processos
de escolarização e atividade profissional em uma perspectiva crítica”. Membro do
Fórum sobre Medicalização da Educação e da Sociedade. Presidente da ABRAPEE
(Associação Brasileira de Psicologia Escolar Educacional). E-mail:
[email protected].

BRENO DE OLIVEIRA FERREIRA


Graduado em Psicologia pela Universidade Estadual do Piauí (2013). Especialista em
Psicologia da Educação pela Universidade Estadual do Maranhão (2015), mestre em
Ciências e Saúde pela Universidade Federal do Piauí (2016) e doutorando em Saúde
Coletiva pela Universidade Estadual do Ceará. Psicólogo do Instituto Federal de
Educação Ciência e Tecnologia - IFMA/ Campus Coelho Neto. E-
mail: [email protected]

209
CAMILLA CORSO SILVEIRA
Graduada em Psicologia pela Universidade Federal do Paraná (2013), especialista
em Gênero e Diversidade na Escola pela UFPR, cursa especialização em Psicologia
Corporal pelo Centro Reichiano. É colaboradora do Núcleo de Estudos
Interdisciplinares de Gênero, Diversidade e Inclusão do Instituto Federal do Paraná
(IFPR - campus Curitiba). Atualmente é psicóloga no IFPR, atuando na área de
Psicologia Escolar/Educacional. E-mail: [email protected].

CAROLINE DA SILVA TORRES


Graduada em Psicologia pela Universidade Estadual do Piauí (2002). Especialista em
Psicologia Educacional pela Universidade Federal do Piauí (2008). Atualmente
Psicóloga do Instituto Federal do Piauí Campus Picos. E-mail: [email protected]

CLAISY MARIA MARINHO-ARAUJO


Professora do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília. Mestrado e
doutorado em Psicologia pela Universidade de Brasília. Pós-doutorado e estágio
sênior pela Universidade do Minho, Portugal. Possui interesse nos seguintes temas:
psicologia escolar, educação superior, formação de psicólogos. E-mail:
[email protected].

CRISTIANA GALENO DA COSTA PEREIRA


Psicóloga do IFPI- Campus Piripiri; Especialista em Psicologia Clínica – Faculdade
Santo Agostinho -FSA (Teresina-PI); Formação em Tanatologia – Centro de Estudos
em Tanatologia – CETAN (Fortaleza-Ce). Especialista em Docência do Ensino Superior
(IFPI-Campus Piripiri). E-mail: [email protected].

EMANUELLY PEREIRA DE ARAÚJO


Possui graduação em Psicologia pela Facid-Devry Brasil. É Mestra em Educação
na área de Psicologia Escolar/Educacional pela Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP). Possui experiência na área de Psicologia Escolar. É associada à
Sociedade Brasileira de Psicologia Escolar/Educacional (ABRAPEE). E-mail:
[email protected].

EROTIDES ROMERO DANTAS ALENCAR


Mestranda do MINTER em Educação entre o Instituto Federal do Piauí/IFPI e a
Universidade Nove de Julho/UNINOVE. Especialista em Ciências Criminais pelo
Centro Unificado de Teresina/CEUT (2008). Formada em Psicologia pela
Universidade Estadual do Piauí UESPI (2007). Psicóloga do Instituto Federal do Piauí
– Campus Parnaíba. E-mail: [email protected].

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EVYLEN TALITA DE SOUZA
Graduada em Gestão de Processos Gerenciais pela Faculdade de Tecnologia
Internacional (2011), estudante de Psicologia no Centro Universitário UniBrasil.
Atualmente é estagiária de Psicologia Escolar/Educacional no Instituto Federal do
Paraná (IFPR - campus Curitiba). E-mail: [email protected].

FRANCISCA MICHELLE DUARTE DA SILVA CAMPOS


Graduada em Psicologia pela Universidade Estadual do Piauí (2005). Especialista em
Psicopedagogia Institucional e Clínica pelo Instituto Superior de Educação
Programus-ISEPRO (2010). Psicóloga do Instituto Federal de Educação Ciência e
Tecnologia - IFMA/Campus Timon. E-mail: [email protected].

IZABELLY MARIA COSTA DO NASCIMENTO


Possui graduação em Psicologia pela Facid-Devry Brasil. Mestra em Psicologia pela
Universidade da Integração das Américas (UNIDA). Pós-graduada em Docência do
Ensino Superior pela Faculdade Integrada do Brasil. É psicóloga da Universidade
Federal do Piauí / Campus Senador Helvídio Nunes de Barros, Picos/PI.

JOSIANE DE PAULA JORGE


Psicóloga no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo,
Campus Itapetininga. E-mail: [email protected].

LAYANE BASTOS DOS SANTOS


Psicóloga, Professora e Pesquisadora. Mestre em Psicologia. Bacharel e Licenciada
em Psicologia. Tecnóloga em Publicidade e Propaganda. Especialista em Gestão de
Pessoas, em Gestão Educacional e Escolar e em Psicologia e Saúde, além de possuir
MBA em Marketing e Recursos Humanos. Atualmente, Trabalha como Psicóloga com
vinculo efetivo no Instituto Federal do Tocantins - IFTO, mas em exercício provisório
no Instituto Federal do Piauí - IFPI. Atua como professora na Universidade Estadual
do Maranhão e como professora colaboradora do Instituto Nordeste de Educação
Superior e Pós-Graduação-INESPO. E-mail: [email protected].

LÍGIA ROCHA CAVALCANTE FEITOSA


Psicóloga do Instituto Federal de Goiás/IFG, campus Luziânia e doutoranda em
Processos de Desenvolvimento Humano e Saúde pela Universidade de Brasília.
Possui interesse em produções acadêmicas ligadas às áreas da Psicologia Escolar,
Educação Profissional e Tecnológica e Educação Superior. E-mail:
[email protected].

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LOURDES MATA
Graduada em Psicologia Educacional pelo ISPA e com o doutoramento em Estudos
da Criança pela Universidade do Minho. É Professora Auxiliar no ISPA - Instituto
Universitário de Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida – Portugal. É também
membro do Centro de Investigação em Educação (CIE-ISPA). E-mail: [email protected].

MARAIZA OLIVEIRA COSTA


Possui graduação em Psicologia pela PUC-Goiás, em Pedagogia pela UFG e é mestre
em Psicologia pela UFG. Já trabalhou na Secretaria Estadual de Educação, na
Secretaria Municipal de Educação e na Secretaria Municipal de Assistência Social.
Atualmente é psicóloga escolar no Campus Goiânia do Instituto Federal de Goiás. E-
mail: [email protected].

MARIA APARECIDA E SILVA PEREIRA SOBREIRA


Atua como Técnica em Assuntos Educacionais na Coordenação Pedagógica do
Instituto Federal do Piauí, Campus Teresina Zona Sul e como professora na
Universidade Estadual do Piauí. Mestranda em Educação. Possui graduação em
Licenciatura Plena em Pedagogia. Tem experiência na área de Educação, com ênfase
em Educação, atuando principalmente no seguinte tema: Coordenação Pedagógica,
Ensino, Avaliação. E-mail: [email protected].

SILVANA TEIXEIRA DE ARAÚJO SOUSA


Graduada em Psicologia pela Universidade Estadual do Piauí (2008), especialista em
Gestão de Pessoas pelo Centro de Ensino Unificado de Teresina – CEUT (2009) e em
Terapia Cognitivo Comportamental pelo Centro de Formação e Aperfeiçoamento
Profissional do Piauí – CFAPI (2013). Atua como psicóloga escolar do Instituto
Federal do Piauí - Campus Teresina Zona Sul. E-mail: [email protected].

SOLANGE ESTER KOEHLER


Psicóloga do Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia Farroupilha,
Doutoranda em Psicologia da Educação pelo ISPA - Instituto Universitário de
Ciências Psicológicas, Sociais e da Vida - Lisboa - Portugal. E-mail:
[email protected].

THAYARA FERREIRA COIMBRA LIMA


Graduada em Psicologia pela Universidade Federal do Maranhão (2008), especialista
em Saúde Mental (2009) pela mesma instituição e Mestra em Turismo e Hotelaria

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pela Universidade do Vale do Itajaí-UNIVALI-SC (2015). Psicóloga do Instituto
Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Maranhão - IFMA/ Campus São Luís -
Centro Histórico. E-mail: [email protected].

THAIS TAILA LIMA DE FREITAS DIAS


Estudante de Psicologia do 6º Bloco da Faculdade Maurício de Nassau, Parnaíba/PI;
Estagiária em Psicologia Escolar/Educacional do Instituto Federal do Piauí- Campus
Parnaíba. E-mail: [email protected].

THAYS RIBEIRO TORRES MAGALHÃES XAVIER


Atua como Técnica em Assuntos Educacionais na Coordenação Pedagógica do
Instituto Federal do Piauí, Campus Teresina Zona Sul. Possui Graduação em História
pela e Especialização em História e Historiografia do Brasil pela Universidade
Estadual do Piauí. E-mail: [email protected]

TICIANA BORGES CARDOSO LIMA


Graduada em Psicologia pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI), especialista em
Neuropsicologia pelo Centro Universitário Internacional (UNINTER). Psicóloga Escolar
no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí (IFPI), membro da
Comissão de Assistência Estudantil do IFPI. E-mail: [email protected]
.

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