Apostila de Psicologia Da Educação
Apostila de Psicologia Da Educação
Apostila de Psicologia Da Educação
alcan-lo.
Birch)
ela obedea, a circunstncia de que todos os alunos da classe esto olhando em sua direo, a atmosfera da sala de aula etc. Mas a conduta de Marilene tambm depende de foras internas: o respeito que ela sente pela autoridade, seu desejo de agradar professora, de ser uma criana bem comportada, e tambm sua averso a ser o foco de ateno de toda a classe. Embora a tentativa de distinguir foras internas e externas parea introduzir uma nota artificial na nossa anlise do comportamento humano, ela nos auxilia no sentido de obtermos uma melhor compreenso do mesmo.
Uma das maneiras de encarar o comportamento consider-lo produzido por foras que atuam dentro do indivduo e foras exteriores
O que acontece quando o indivduo "age" quando se move ou executa uma seqncia de aes? s vezes, o indivduo literalmente empurrado para agir de determinada maneira. Outras, existe nele um sentimento que o leva execuo do ato, mas, o mais provvel que seu modo de agir seja o resultado da interao de vrias foras, tanto internas como externas. Por foras "internas" designamos nossas necessidades, desejos, ansiedades, interesses, sentimentos de culpa etc. Por foras "externas" compreendemos as exigncias da sociedade, recompensas, perigos, ameaas e as expectativas de outras pessoas. Muitas vezes difcil dizer onde termina a presso interna e onde comea a externa, e a distino entre foras internas e externas no muito clara ou precisa. Todas as foras so, at certo ponto, tanto externas como internas. Por exemplo, dona Alice pede pequena Marilene que preste ateno aula, advertindo-a de que as crianas no devem conversar quando a professora est falando. Marilene pra de falar e presta ateno professora. Em parte, ela o faz devido atuao de foras externas: o pedido da professora, o fato de a professora esperar que 72
O COMPORTAMENTO INSTRUMENTAL
O comportamento instrumental apresenta vrios elementos. Cronbach, psiclogo contemporneo, apresenta sete elementos fundamentais: Objetivo. Nvel de amadurecimento. Situao. Interpretao. Resposta. Conseqncia. Reao ao obstculo. Expliquemos cada um destes elementos: Objetivo. Qual seria o objetivo do comportamento daquela jovem que, de repente, levanta-se e diz: "Preciso falar urgentemente com o Dr. Silva"? Todo comportamento dirige-se para um objetivo, um alvo, uma finalidade qualquer. A funo do objetivo, no comportamento, dirigir a ao. Qual o objetivo deste comportamento que se chama "estudar"? Ou desta srie de comportamentos que se chama "fazer o curso secundrio, fazer o curso superior"? Haveria neles um s objetivo, ou vrios? Nvel de amadurecimento. Qualquer comportamento tem uma condio sine qua non: o amadurecimento para faz-lo. Snia, a moa que procura o Dr. Silva, capaz de se dirigir ao consultrio de um mdico porque j tem 23 anos. Aos quatro, seis, oito anos no ia, sozinha, ao centro da cidade consultar um mdico. Montar a cavalo, dirigir automvel, escrever mquina, cada uma dessas atividades exige amadurecimento. O nvel de amadurecimento consiste, pois, na soma total de padres de respostas e habilidades que possui o indivduo em determinada fase do seu desenvolvimento. Situao. Consiste no conjunto de elementos, tais como coisas, pessoas, smbolos, qualidades, tudo, enfim, que possibilite a consecuo do objetivo. Para Snia alcanar o Dr. Silva, tinha necessidade de um conjunto de elementos, sem os quais seria difcil chegar at l: um sistema de transportes, dinheiro, certos preparativos indispensveis etc. Outro exemplo: os romanos e os gregos desenvolveram pouco a Aritmtica, por no possurem smbolos apropriados. Tente fazer uma pequena conta de diviso com algarismos romanos. 75
O comportamento uma estrutura, isto , uma totalidade resultante da unio dos elementos que chamamos de situao. A polcia encontra um decorador morto com sete tiros, num. ponto turstico da cidade. O assassinato foi um comportamento. Houve, portanto, um conjunto de elementos, relacionados entre si, formando um todo, uma estrutura, da qual resultou a ao. Por exemplo, o decorador era pessoa de vida irregular, queria agora desquitar-se de uma senhora velha e rica com quem se casara, por interesse. Os parentes no aceitavam esta situao. Ora, tais elementos se estruturaram de tal modo que o assassinato resultou, de modo fcil, da situao. Interpretao. a anlise dos elementos da situao feita pela pessoa. Nem sempre os elementos a escolher (os meios) para alcanar o objetivo so to simples. Quantas vezes no ficamos perplexos entre este e aquele caminho a seguir! O ato interpretativo fundamentalmente um ato de inteligncia. Os que tm inteligncia intuitiva, rpida, num insight (vide glossrio) percebem os elementos adequados para o objetivo. Nos de inteligncia mais analtica, a interpretao se faz de maneira mais lenta, examinando cada elemento da situao de modo mais detalhado. Os que tm pouca inteligncia topam logo com um obstculo pela frente. Resposta. Quando Snia, no nosso caso, se levantou e partiu para o consultrio do Dr. Silva, tinha um objetivo, evidentemente. Interpretou os elementos da situao. Tinha amadurecimento mental e fsico e no ato de partir estava apenas desencadeando a ao dando a resposta. Esta significa tanto a prpria ao como a transformao interior que determina a ao. Resposta a execuo de acordo com a interpretao da situao. Quando algum duvida da sua interpretao, d sua resposta um carter de primeira tentativa. Esta passa a ser uma resposta provisria. Qualquer que seja a resposta, h sempre uma descarga da tenso acumulada anteriormente. Conseqncia. Tanto no campo da Fsica como no da Psicologia, a toda ao corresponde uma reao. Toda resposta ou ao do comportamento tem uma conseqncia que pode ser boa ou m, isto , favorvel ou no. Se a interpretao for bem feita, a pessoa alcanar o objetivo, advindo da satisfao. Se houver alguma falha, no se obter o alvo desejado, ocorrendo, ento, em maior ou menor grau, a decepo. Quando no se alcana o objetivo porque houve um obstculo. Reao ao obstculo. As reaes subjetivas, ante o fato consumado de no se haver alcanado o objetivo, podem ser vrias, de acordo com as diferenas individuais ou grau de maturidade ou de 76
normalidade psquica de cada um. O essencial, no caso, procurar descobrir qual a dificuldade que impediu a realizao da meta. A seguir, tentar uma nova interpretao. H quem, achando o objetivo alto demais, tente um mais modesto, como h quem desista, simplesmente. Algumas pessoas apelam para seus mecanismos internos de ajustamento, procurando sadas mentalmente normais como a sublimao, a compensao, a racionalizao etc. Sublimao o ato de substituir a frustrao por atividades mais elevadas de ordem artstica ou religiosa. Uma boa msica, um ato religioso, uma atividade artstica vivida intensamente, aliviam a conscincia traumatizada. H, finalmente, quem recalque as frustraes, extremando-se em comportamentos desajustados, como choro convulsivo, agressividade etc.
COMPORTAMENTO E HBITO
Todo comportamento pode se transformar, com a repetio, em um hbito. Assim, caminhamos, jogamos, escrevemos, comemos, levados por uma srie de comportamentos habituais ou simplesmente hbitos. Alguns hbitos se organizam em padres de comportamento, isto , em formas prvias de comportamento ou de respostas utilizadas para vrias situaes diferentes. Os padres de comportamento so, portanto, certas formas estabelecidas de agir e reagir, em casos parecidos. Uma adolescente aprende uma maneira geral de se comportar diante de rapazes. Um rapaz aprende uma forma geral (padro) de galantear as moas etc. Por padro de comportamento deve-se entender aquele modo geral, mais ou menos uniforme e estereotipado, de comportar-se, que se aplica sempre em certas ocasies ou como resposta a certos estmulos. Se um indivduo estiver numa festa, onde no conhea ningum e onde os participantes forem pessoas de nvel social muito diferente do seu, poder ficar intimidado e sem saber como agir. sinal de que no tem um padro de comportamento aprendido para estas circunstncias. Em semelhantes ocasies h trs sadas: descobrir, pela observao e por experincias passadas, um tipo especial de comportamento; perguntar a algum como se deve agir, ou, ento, por timidez, deixar o local. No primeiro caso, elabora um padro de comportamento; no segundo, prepara-se para assimilar um padro j aceito e, no ltimo, tem medo de enfrentar novos meios. tmido. A timidez pode ser medo (reflexo condicionado) de no se ajustar bem a circunstncias novas e inesperadas. Esse reflexo forma-se nos 77
primeiros anos de vida. Se, ao sair do crculo de suas interaes primrias e ao ter seus primeiros contatos com o meio externo, a criana no for bem sucedida (recebendo em troca frustraes e medo), poder criar um padro de cautela temerosa com respeito a situaes novas. Esses insucessos nos primeiros contatos sociais criam nos indivduos um padro de comportamento de timidez e insegurana. Um indivduo extremamente bem vestido, sem um fio de cabelo fora do lugar, cauteloso, moderado nas palavras, de gestos comedidos, do tipo que poderia ser considerado pedante ou afetado, pode ser, no ntimo, um tmido. Todo este aparato para evitar, a todo custo, algo de novo ou de inesperado ao qual se veja forado a se ajustar. H, tambm, outras causas e outras determinantes da timidez, mas como fogem ao nosso assunto, no podem ser tratadas aqui.
EXERCCIOS
1. "Se todo comportamento tem uma causa atual que o produz", ser verdadeira a afirmao de que o crime faz parte da histria presente do criminoso? 2. Uma maneira especial de praticar um crime, como uma srie de atos ou respostas estruturadas por certos criminosos, pode-se chamar de padro de comportamento? Por qu? 3. H uma lei do comportamento que afirma: "Depois do comportamento instrumental, que garante a posse do objetivo, segue-se o consumatrio". O que voc entende por isto?
Cada causa um agente produtor. Todo efeito um ser produzido. Uma vez surgido, o efeito tambm pode se converter em causa que dar seqncia a novos efeitos. Estabelecem-se assim longas sries de causas e efeitos que se transformam em causa. Mas. . . preciso olhos muito lcidos para ver os elos desta cadeia.
(Arthur Koestler)
Em 1982, um jornal do Rio noticiou que um menino de dez anos foi assassinado por um amigo com dois tiros de espingarda. O menino estava jantando quando seu amigo o chamou e atirou nele. No havia, comentou a famlia, nenhum motivo para o crime. Voc acredita mesmo que no havia nenhum motivo? Todo comportamento tem uma causa. Por isso, podemos afirmar: deve ter havido um ou vrios motivos que determinaram tal comportamento. Toda ao possui determinantes, que so seus antecedentes causadores. Estes podem ser histricos ou atuais. No caso do menino, os determinantes podem pertencer a seu passado, isto , s foras ambientais terrivelmente destruidoras que atuaram em sua formao. Mas alm dos determinantes histricos ou do passado, deveria haver causas ou motivos atuais bem significativos para a execuo do ato criminoso, do ponto de vista da pessoa criminosa, claro. A cada momento, cada um de ns poder estar na iminncia de fazer ou realizar a atividade A, B ou C. Qual a que ser empreendida?
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A atividade realizada ser aquela que corresponde ao motivo mais forte, isto , ao impulso mais forte, no sentido do vetor de ao mais atuante. Se, no momento, para determinado estudante, o motivo mais forte for a fome ou terminar o dever antes do jantar, ou ainda, escapar de casa para se encontrar com a namorada, antes de o pai chegar, s ele saber. Contudo, podemos afirmar que o estudante executar a ao que corresponder ao seu impulso mais forte. O organismo determinado por esse motivo mais forte, que est competindo com outros num dado momento. Uma mesma ao pode ser determinada por motivos diferentes, como tambm aes diferentes podem ser determinadas por um mesmo motivo. Temos o caso de trs estudantes universitrios. Possuem o mesmo grau de inteligncia e aptido. Contudo, um deles o primeiro aluno, o segundo tem notas mdias e o terceiro fracassa nos estudos. um caso tpico de motivao. Vejamos: O primeiro rapaz filho de imigrantes pobres e seus pais esperam muito dele. Est altamente motivado. O segundo filho de famlia rica. Tem lugar assegurado no negcio do pai. S est interessado em no tirar notas muito baixas. Acha-se pouco motivado para o estudo. O terceiro mais difcil de explicar, porque sua motivao est perturbada por um conflito. "O pai era de famlia pobre e subira na vida com grande esforo. Era, ento, advogado prspero e auto-suficiente. Esperava que o filho fizesse o mesmo. O rapaz, temperamento tmido, assustava-se, pois se convencera de que nunca chegaria a fazer carreira igual do pai. Assim, ia para os exames sob tenso. O corao pulava descompassadamente e as mos transpiravam. Seu conflito interferia em sua motivao e isto levava-o ao mau resultado e ao fracasso."
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MOTIVO E NECESSIDADES
As tentativas para entender o comportamento humano determinaram o aparecimento de vrias teorias da motivao. Vamos apresentar aqui a teoria de Abraham Maslow, que faz derivar os motivos das necessidades. Necessidade. Significa carncia, falta de algo. Se falta gua em seu organismo, voc afirma que necessita beb-la. Claude Bernard, fisiologista francs, descobriu em 1895 que cada ser vivo tem um meio interno que deve ser mantido em equilbrio. Nos mamferos, certas propriedades fsico-qumicas s podem variar dentro de determinados limites, alm dos quais quebra-se o equilbrio ideal. Walter Cannon (1929) restabeleceu este conceito fisiolgico e o transps para o campo da Psicologia. Todo organismo precisa manter-se num optimum de equilbrio interno e, em se tratando do homem, num optimum de equilbrio fisiolgico, social e humano. o que ele designou pelo nome de homoestasia (do grego homo, "igual", estasia, "estado"). Nesse fato alicera-se o fenmeno e o mecanismo das necessidades. Quando se rompe o equilbrio orgnico, cria-se uma necessidade. O organismo em desequilbrio cria tenses. Estas o impelem na direo do objetivo que, quando atingido, traz satisfao, restaurando-se o equilbrio.
Nem sempre conhecemos os motivos que nos impelem. Se voc fuma, poderemos fazer esta pergunta: qual o motivo que o leva a fumar? Provavelmente no saber responder. Nem sempre conhecemos to claramente os motivos de nossas aes. Sabemos que numericamente os maiores fumantes de 21 a 39 anos se encontram nas classes sociais ditas inferiores. So pessoas ansiosas, tensas, preocupadas com a maneira de vencer na vida. De outro lado, para os homens de 35 a 49 anos, o cigarro, charuto ou cachimbo pode representar uma espcie de cortina de fumaa que se eleva por cima de seu sucesso pessoal. Assim temos: quando jovem, fuma porque est ansioso e, quando envelhece, porque j deixou de estar ansioso. Temos, pois, dois motivos diferentes para um mesmo comportamento.
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1. A necessidade uma falta de algo. 2. Esta determina um desequilbrio. 3. Este provoca tenses que impelem ao. Estas tenses chamam-se motivos. 4. Estes motivos determinam a ao ou o comportamento na direo do objetivo. 5. Ao terminar a necessidade, surge a satisfao. XI
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H um provrbio rabe que diz: "Pode-se levar o cavalo fonte, mas no se pode faz-lo beber". Podemos mostrar-lhe a gua, estimul-lo a beb-la, mas s o far se algo interno o levar a isso. Esse algo interno a necessidade que vai gerar o impulso, o motivo gerador da ao de beber. Vejamos isso graficamente:
Barreiras externas. Situaes ou elementos externos pessoa e que no lhe permitem atingir o objetivo desejado. Falta de dinheiro, proibies sociais, propriedade alheia e t c , constituem alguns exemplos de barreiras externas.
objetivo atingido
tenso reduzida
Exemplificando:
Sempre que o indivduo se defronta com uma barreira, adota um comportamento de reao contra ela. Essas reaes se revestem dos aspectos mais variados, conforme a personalidade do indivduo. Assim, podemos ter como exemplos de reaes:
impulso e motivo sensao de sede
falta de gua
gua
satisfao
Comportamento agressivo. Diante de uma situao adversa, alguns tentam venc-la pela fora. Regresso. Outros reagem de maneira diversa, seja porque temem adotar o comportamento agressivo, seja porque a ele no se dispem. Tratam ento de adotar atitudes menos maduras, agindo como "crianas". Sublimao. Dedicam-se em troca a outras atividades de natureza artstica ou religiosa.
Incentivo. Corresponde situao, apresentao com que se mostra o objetivo. tudo aquilo que serve para aumentar ou diminuir o impulso interno (motivo), sendo assim positivo ou negativo.
As necessidades humanas esto organizadas em vrios nveis. Necessidades fisiolgicas. Esto no nvel mais baixo, mas no sem importncia. Perguntava um professor aos alunos: Qual a primeira condio para ser um heri, um santo, um grande pioneiro? Comer po responderam porque, sem isso, em breve estaramos diante do cadver de um ex-grande heri ou pioneiro.
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As necessidades fisiolgicas, alm de alimento, gua, ar, incluem descanso, exerccios fsicos, abrigo, proteo contra as intempries e tambm satisfao sexual. Uma necessidade satisfeita no mais elemento de motivao. Esse um fato que se deve levar em conta nas relaes humanas. Quando as necessidades fisiolgicas esto razoavelmente satisfeitas, so as necessidades de nvel imediatamente superior que passam a motivar: necessidade de segurana, de proteo contra o perigo, de segurana futura, de preparar-se para a vida etc. Necessidades sociais. Tornam-se importantes no comportamento quando as necessidades do primeiro nvel j esto satisfeitas. As necessidades sociais so aquelas de participao, de associao, de aceitao pelas pessoas, de dar e receber amizade e amor. Quando estas necessidades so frustradas, as pessoas se mostram resistentes, tmidas e no-cooperativas. Este comportamento uma conseqncia, no uma causa. Quando um indivduo de classe mdia compra um carro de luxo, na realidade no impelido, apenas, pelas necessidades de um meio de transporte prprio. Se fosse apenas isso, compraria um carro mdio, mais barato e mais econmico. a necessidade de prestgio, de auto-afirmao social, que o leva a investir mais alguns milhares de cruzados numa marca de luxo. H bastante diferena entre um motivo de ordem orgnica e outro de origem social, mas, na realidade, quase todo comportamento influenciado por aspectos motivacionais de um e de outro tipo. O comportamento de se alimentar no s fisiolgico. A maneira de o fazer, aquilo com que cada grupo humano se alimenta, a orao antes das refeies etc. atendem a necessidades orgnicas e sociais. Algumas tribos consideravam um dever penoso, mas sagrado, comer o corao, ainda palpitante, de seus contendores mortos em batalha. Eles o faziam por necessidade "social" ou cultural. Necessidades do ego. Surgem depois ou ao mesmo tempo que as necessidades sociais. So de dois tipos: 1. Necessidades que se relacionam com a auto-estima: necessidade de auto-respeito e autoconfiana, de autonomia, de competncia, de conhecimento. 2. Necessidades que se relacionam com a reputao: necessidades de status, de reconhecimento, de apreciao. Ao contrrio das anteriores, as necessidades do ego so raramente satisfeitas. O homem procura indefinidamente mais satisfao de tais necessidades, uma vez que elas lhe so excessivamente impor84
tantes. Entretanto, no aparecem de maneira significante at que as necessidades sociais, fisiolgicas e de segurana estejam razoavelmente satisfeitas. Necessidades de auto-realizao. Finalmente, no topo da hierarquia, existem as necessidades de auto-realizao. Estas so as necessidades de compreender as prprias potencialidades, de um contnuo autodesenvolvimento, de ser criativo no mais amplo sentido. Como bem difcil a satisfao plena das necessidades anteriores, e como no se empreende a realizao de uma categoria superior sem que as inferiores estejam satisfeitas, conclui-se que so poucas as pessoas que se dedicam auto-realizao. Agora, voltemos aos motivos.
Tipos de motivo
Se motivo tudo aquilo que leva algum a fazer alguma coisa, podemos supor que h bilhes deles, pois as pessoas so impelidas para as mais diferentes aes possveis: desde procurar um alfinete no cho at preparar astronautas para vos espaciais. A melhor maneira de 85
estudar to numerosos motivos agrup-los. No fundo, toda atividade humana, ou melhor, os motivos que orientam toda atividade humana se. concentram em quatro plos: 1. Sobrevivncia ) } 2. Segurana j 3. Realizao conservar a vida
) ) expandir a vida 4. Crescimento ) Continuar vivo, conservar-se protegido (autoprotegido), procurar satisfaes e experimentar novos estmulos constituem os plos para os quais confluem todos os motivos. O estudo mais profundo dos motivos e de sua atuao na conscincia (motivao) levou os psiclogos atuais a identificarem duas fontes produtoras de motivos: as necessidades e as foras de crescimento. Por exemplo, a sede pode ser encarada como a falta de gua no organismo. Essa falta provoca tenses. Um aluno sedento pode interromper a aula a fim de pedir ao professor para beber gua. Se, por acaso, o professor no atender seu pedido, a tenso poder aumentar a um estado tal, que levar o aluno, a todo custo, a procurar o lquido desejado. Quanto maior a necessidade, maior a tenso determinadora de ao. Igualmente, um aluno saudvel, cheio de energias, no capaz de ficar quieto por longo tempo. O acmulo de energia tambm pode levar a atividades de crescimento fsico ou psquico.
ninhada pela m e ) , a sede, a fome, o sexo e os motivos exploratrio!, isto , que levam os seres a conhecer os meios onde se encontram. A atividade de um animal est intimamente ligada motivao. H um pequeno aparelho (uma caixa ligada a um tambor rotativo) que serve para registrar qualquer atividade do animal, pois esta faz girar um tambor rotativo, cujas voltas so registradas por um registrador. A experincia original foi feita com ratas. Sua atividade era notavelmente acrescida de quatro em quatro dias. Este acrscimo correspondia ao aparecimento regular do estro (cio), que nas ratas ocorre a cada quatro ou cinco dias. O motivo determinava um acrscimo de atividade do organismo. Com a extirpao dos ovrios, a atividade especfica destes dias se reduziu, de imediato, de 60 para 95 por cento, at o desaparecimento total. Nesse modelo esto os elementos da motivao: necessidade, comportanto instrumental e extino da necessidade.
NECESSIDADES NO HOMEM
O homem no vive num simples plano homoesttico fisiolgico. Suas necessidades se realizam tambm num plano psicolgico superior. Uma pessoa pode ter relacionado comer, fumar, beber etc. como meio de reduzir suas tenses emocionais, suas ansiedades. A fome dessa pessoa, porm, nada tem a ver com a fome como carncia ou falta homoesttica. Igualmente, sua obesidade no ser homoesttica. Conhece-se o caso de uma pessoa que adormecia sempre que comeava a ficar com raiva. Na psicoterapia, descobriu-se que, quando criana, toda vez que comeava a se irritar, seus pais interpretavam a causa como fadiga e a mandavam para a cama. Seu sono, em tal ocasio, no era homoesttico. Era um condicionamento. O homem no vive somente num meio orgnico, mas igualmente num meio social. O meio social, isto , o convvio com os outros, determina novos planos de carncias, de dficits, de necessidades. Um objeto, uma situao qualquer que se introduz no contexto, para valorizar e determinar a ao, denomina-se incentivo. Uma galinha, depois de saciada, se colocada no meio de outras famintas, passa novamente a comer e pode comer at 607o a mais, alm do padro de saciedade. Neste caso, a presena de animais famintos devorando avidamente gros apresenta-se como um incentivo. Por exemplo, um prmio em dinheiro, a presena de uma iguaria, as notas escolares, os elogios, os distintivos, os ttulos honorficos, tudo 87
PESQUISAS EXPERIMENTAIS
A Psicologia, como cincia, procura como ideal a quantificao dos seus fenmenos. Assim, inmeras experincias foram feitas para medir o impulso, que a parte principal dos motivos. Um dos aparelhos mais simples para esta mensurao a "caixa de obstculos". Esta consta essencialmente de trs compartimentos. No primeiro, fica o animal; no segundo h um obstculo e um registro para medir o esforo despendido pelo animal: uma grade eltrica, por exemplo. O terceiro contm o incentivo. F. A. Moss foi aumentando e registrando a quantidade eltrica do choque a que se submetiam os ratos para alcanar vrios objetivos. Concluiu seu trabalho formando uma lista dos motivos mais fortes para esses animais. Os motivos mais fortes, medidos pela resistncia a choques eltricos, foram: "motivo maternal" (isto , a busca da 86
isso constitui incentivos positivos, pois apresentam-se como algo agradvel que resulta de determinada ao. Os incentivos podem ser positivos ou negativos. Incentivos negativos so aqueles que determinam um comportamento de afastamento. Uma grade eltrica colocada entre o rato e o alimento um incentivo negativo, assim como os castigos, as notas baixas, as reprovaes etc. Incentivos positivos so aqueles que determinam um comportamento de aproximao. Uma torta de sementes de girassol um incentivo positivo para ratos, assim como os elogios, prmios, tudo o que implica aprovao e aceitao social, o so para as pessoas. O incentivo pode aumentar a fora do motivo. Por exemplo, um prato de comida esteticamente arrumado mobiliza mais a vontade de comer. Assim, o impulso para a refeio passa a ser feito de duas partes, uma da necessidade (a fome) e outra do incentivo, isto , da bela disposio do alimento no prato.
A presso contnua a de criar anncios cada vez mais imagem dos motivos e desejos do
pblico.
(Marshall McLuhan)
EXERCCIOS
r
A propaganda, em ltima anlise, uma tcnica psicolgica a servio da produo e do consumo. A inteno do anunciante mobilizar uma ao, um comportamento. Portanto, vai atuar, despertar, criar necessidades, gerar impulsos para a ao. Na elaborao do anncio, h uma busca de motivos claros "ou ocultos, conscientes ou inconscientes que despertem o indivduo para a ao (a compra). Um anncio de seguro de vida, por exemplo, pretende levar o adulto a fazer um seguro para a famlia. A agncia pode apelar para vrios motivos. Nunca poder mostrar direta ou indiretamente a alegria dos beneficirios com a morte do segurado. Um motivo oculto, de grande efeito, no caso, "vender" e dar certa iluso de imortalidade e de superioridade para a pessoa que faz o seguro, pois continua protegendo e amparando a famlia, mesmo depois de desaparecido. O anncio, tal como o entendemos, texto e fotografia, ou texto e cena quando televisionado, uma mensagem comprimida e totalizada, com alta carga de impacto, para impressionar a conscincia, levando-a ao. O anncio est mais prximo dos desejos e das necessidades da pessoa do que do prprio produto anunciado. H, muitas vezes, um choque entre a imagem que voc faz do produto atravs da propaganda e o produto em si. 8Q
1. Quais seriam os motivos de vida? Em outras palavras, para que os indivduos vivem? Se observarmos as atividades das pessoas ou as metas a que dirigem suas aes, veremos o seguinte: a. A atividade de alguns est voltada totalmente para o trabalho e, assim, poderamos dizer que vivem para o trabalho. b. Outros se voltam para a beleza, para gozar a vida, para as atividades de divertimentos. Diramos que estes tm nas "artes" seu motivo de vida. c. Em terceiro lugar, aparecem aqueles poucos que elegeram fins ideolgicos, religiosos, humanitrios como fim de suas vidas. d. Finalmente, os que perdem ou no conseguem formular um motivo de vida, e se neurotizam. Na realidade, o trabalho, as "artes", os fins ideolgicos e religiosos so simples maneiras de se viver ou a prpria finalidade ltima de vida? 2. Ser que a sociedade moderna fracassa em satisfazer s necessidades mais profundas do homem? 3. Quais sero estas necessidades mais insatisfeitas? 4. Em que categoria voc colocaria os que vivem e pensam apenas em ganhar dinheiro? 5. Qual a diferena entre motivo e incentivo?
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As firmas nunca aconselham a emisso de um s anncio, porque no surtiria efeito. Trata-se de fazer uma campanha, isto , uma srie de anncios. A propaganda segue o princpio da bolinha de neve. Comea tmida e, com a repetio, se transforma em uma avalancha psquica.
Um dia o filho, j formado, falou para o pai: "Pai, voc no ouve rdio? Voc no l jornais? H uma grande crise no mundo. A situao terrvel. E aqui no pas est ainda pior". O pai pensou: "Meu filho estudou, l jornais, ouve rdio e s pode estar com a razo." A partir da, foi diminuindo as compras, reduzindo os molhos e temperos, economizando cartazes de propaganda. J no mais forava as vendas em voz alta, nem conversava animado com os clientes, abatido pelas notcias de crises. E as vendas foram caindo. Algum tempo depois, derrotado pelo seu prprio desnimo, mais restou ao pai do que constatar a incmoda realidade: "Voc estava certo, meu filho. uma grande crise". nada
No podemos mais fazer como o homem dos sanduches. preciso confiar e manter acesa a chama do otimismo e esperana.
da
I satisfao de seus desejos. Uma boa soluo, segundo decidiu a pesquisa, foi oferecer a atrao do poder, mas acentuar que toda aquela maravilhosa potncia proporcionaria "a margem extra de segurana em uma emergncia". "Isso", explica o diretor da pesquisa, "oferece a iluso de racionalidade de que o comprador necessita". Para obter os objetivos, o anncio serve-se do princpio da repetio, das associaes inconscientes, bem de acordo, alis, com os processos de lavagem cerebral. A propaganda tende a homogeneizar os desejos, as necessidades e as satisfaes dos desejos e a criar as mesmas aspiraes. Assim, as pessoas condicionadas pela propaganda passam a ter os mesmos desejos, a ter as mesmas aspiraes de posse. A propaganda procura minar o consumidor de todos os modos. Uma das formas recorrer a motivos inconscientes. O inconsciente o grande destinatrio da propaganda. por isso que qualquer anncio lido e comentado, racionalmente, torna-se ridculo. Mas, deslocado para um novo cenrio, se torna, no mnimo, engraado, comenta McLuhan. Vejamos este anncio de televiso: Imagem: O marido chega perguntando: "Onde est ele?" A mulher, perplexa, confusa, interroga: "Ele, quem?" O marido insiste: "Eu sei que ele est a". Vai direto a um armrio, abre violentamente a porta, encontrando apenas vrias latas de presuntada Wilson, um nome de homem que "viria a perturbar as relaes do casal". Apresentado, assim, parece ridculo, mas, no contexto publicitrio, foi um bom anncio. A melhor prova disso que est sendo citado agora. Qualquer anncio cmico quando apreciado conscientemente. Grande parte deles no endereada ao consumo consciente. So mensagens subliminares para o subconsciente, devendo exercer um efeito meio hipntico e legalmente subliminar. Nos Estados Unidos gastam-se, em propaganda, tantos dlares quantos com a verba oficial destinada educao (mais de doze bilhes de dlares). O anncio geralmente dispendioso, pois representa a arte de muita gente e os meios de comunicao por onde veiculado so muito caros.
mao a ser comunicada deve ter uma fonte e um destinatrio, isto , um emissor e um receptor. Esta comunicao se faz atravs de um cdigo. Assim, o emissor tem que fazer uma codificao de sua informao. O receptor ou destinatrio tem que realizar a operao inversa: decodificar. Podemos exemplificar isso no caso do telgrafo. Algum pensa no contedo do telegrama e redige, entregando-o ao telegrafista. Este o codifica em sinais "morse" (sistema antigo) e o envia atravs de um veculo eltrico (o fio) a outro telegrafista que o decodifica e o faz chegar ao receptor, pessoa a quem o telegrama dirigido. Assim teramos:
fonte
codificao
veculo
decodificao
receptor
produtor
codificao
decodificao
consumidor
COMUNICAO E PROPAGANDA
O homem no pode viver limitado dentro da prpria pele. Da a necessidade de criar ampliaes das prprias faculdades interiores e pessoais para se estender, para se comunicar com outros. Para tanto, precisa de cdigos e de canais competentes de comunicao. A infor92
A primeira lei bsica da comunicao a da entropia: perda ou degradao do contedo primitivo da informao. Entre a fonte e o destinatrio h uma considervel perda. Para compensar essa lei temos uma regra ou lei bsica corretiva: a informao ou a mensagem tem de ser redundante. Em anncio, no podemos ser prolixos; por isso, ele deve ser o mais elaborado possvel: 1. Pode e deve ser repetitivo. 2. Deve ser rico de associaes. 3. Deve dirigir-se ao consciente e ao inconsciente, porque tanto um corrro outro governam as pessoas. Os homens, assim como os animais, s absorvem a informao de que sentem necessidade ou que lhes seja inteligvel. No o tamanho de um anncio e sim sua qualidade e freqncia que engatilham a ao. O anncio "mural", impresso ou televisionado, por suas associaes e segundas intenes, , em boa parte, uma investida contra o inconsciente. Muitos comportamentos passaram a se modificar em funo dos meios de comunicao e da publicidade. Os anncios de absorventes, por exemplo, amplamente difundidos pelos meios de comunicao, contriburam para que a menstruao fosse encarada com mais naturalidade pelas pessoas.
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EXERCCIOS
1. Selecionar de trs a cinco anncios. 2. Submet-los a um teste de associao. As associaes podem comear completando estas frases: "Quando vejo este anncio, esta figura, esta palavra, penso em (apresentar a palavra), vm-me mente . . . . (tais idias)". 3. Anotar as associaes favorveis e as desfavorveis: poro. 4. Pesquisar os motivos a que o anncio apela. repassar o captulo sobre motivao. ver a pro-
Evoluo do comportamento
5. Analisar o anncio de um ponto de vista crtico. Ver sua racionalidade, sua persuaso de venda, seu maior ou menor impacto emocional.
O tipo mais simples de comportamento denomina-se reflexo. Sua simbolizao : E (estmulo) R (resposta). O reflexo simples est presente em todos os seres vivos. Se num recipiente contendo gua e algas verdes acendermos uma vela, haver uma migrao das algas para o foco de luz. Na encosta de uma montanha verificava-se, em altitudes diferentes, a existncia de determinada variedade de insetos. A diviso entre os grupos de insetos era to rgida que no havia misturas entre eles. Por qu? Qual o motivo de sua ao se limitar a determinada altitude, nem mais para baixo nem mais para cima? A soluo era simples. Sua ao ou comportamento ( R ) estava determinada pelo teor de oxignio (E) existente em quantidade diferente em cada altitude. O comportamento reflexo estruturalmente simples em seu esquema bsico. Nos captulos seguintes voltaremos a falar sobre este tipo de comportamento.
O COMPORTAMENTO INSTINTIVO
O comportamento instintivo um padro de comportamento complexo, inato e invarivel no tempo. A vespa caadora imobiliza uma lagarta, injetando um lquido paralisante em seus gnglios nervosos.
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A seguir, pe seus ovos no animal vivo e paralisado, garantindo calor e alimento larva. Este comportamento inaltervel no foi aprendido. A vespa nasce com ele. Os psiclogos do fim do sculo passado e comeo deste exageravam a importncia do instinto. L. L. Bernard, em 1924, relacionou 1 046 atividades humanas at ento classificadas como "instinto" ou "tendncias instintivas", quer por algum cientista, quer pela tradio. Demonstrou que a maioria era constituda de comportamentos aprendidos. Primeiro, no havia duas autoridades que concordassem com uma lista de instintos e, segundo, o conceito de instinto era uma capa para encobrir a ignorncia dos fenmenos. O grfido abaixo mostra os diferentes tipos de comportamento entre as diferentes classes de seres vivos. Vemos a origem do comportamento, seu ponto mximo e a curva de ascenso ou declnio. Como exemplo, podemos ver o comportamento instintivo, que se inicia nos vermes, tem sua expanso mxima nos insetos, decaindo e extinguindo-se at certo ponto no homem, que tem apenas restos instintivos.
O salmo sobe o rio para desovar e depois morrer. Alguns pssaros, algumas vezes, migram sozinhos, sem a companhia dos mais velhos. Realmente, o primeiro comportamento no to instintivo como se pensava. Provas experimentais indicam que o salmo abandona as partes dos rios onde normalmente vive, porque na poca da desova perde pigmentao da pele e no agenta os raios do sol, na gua rasa, passando a procurar um abrigo nas guas mais fundas. Com isso, sua migrao passa a ser mais um comportamento reflexo. A migrao das aves se deve diminuio das horas do dia que influi no equilbrio endcrino do pssaro. H uma experincia de Z. K. Kno, a respeito de instinto e aprendizagem. Kno criou gatos juntamente com ratos. Quando cresceram, somente um pequeno nmero deles atacava seus tradicionais inimigos. Todos os gatinhos criados com suas mes que, de quatro em quatro dias, matavam um rato, se tornaram bons caadores de ratos. Deste modo, matar ratos, nos gatos, um comportamento aprendido, at certo ponto, pois o gato pode aprender a conviver pacificamente com suas "possveis" vtimas. Com quem os gatinhos aprendem a matar ratos? Com as prprias mes e com os restantes membros do grupo. O instinto apresenta-se como um tipo standard de ao que se repete ininterruptamente e sem alterao nas mesmas condies. O grande poeta romano Virglio fez, h quase dois mil anos, uma detalhada descrio das colmeias no seu livro De Apibus ("As Abelhas") e atualmente elas se comportam do mesmo modo, sem nenhuma alterao visvel. Desde o descobrimento do Brasil at hoje, os pssaros conhecidos como joo-de-barro fazem sua casa-ninho do mesmo modo. As respostas instintivas so: 1. Instrumentais. 2. Invariveis no tempo. 3. Profundas. Por profundidade, entendemos o alcance excepcional de alguns comportamentos instintivos. Andorinhas e patos de clima frio, chegado o inverno, viajam atravs de milhares de quilmetros para regies quentes ou temperadas, voltando depois, no comeo da primavera. O comportamento instintivo apresenta certa curiosidade. O Brasil o centro de vrias migraes de aves. O mais interessante que quando elas chegam, fazem um percurso sinuoso e longo, mas ac voltarem vo em vo direto e rpido. Ao chegarem em suas regies frias de origem, nidificam, pem ovos, criam os filhos e, na prxima chegada do inverno, voltam ao nosso clima tropical. Algumas viajam de noite e dormem de dia. Na viagem de retorno, sobretudo, algumas 97
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espcies chegam a voar mais de mil quilmetros por dia. Alguns anuns fazem ninhos coletivos onde todas as fmeas colocam seus ovos, mas o curioso que no aceitam, no ninho, mais do que certo nmero de ovos. Qualquer ovo excedente jogado fora.
zando umas varas, um caixote e o cacho de bananas, no teve mais dvida; levantou-se, encaixou um basto no outro, subiu no caixote e derrubou as primeiras bananas. Foi um ato inteligente. Assim como os mamferos superiores so capazes, s vezes, de comportamentos inteligentes, tambm ns temos, em comum com eles, no instintos, mas restos de comportamentos instintivos. Somos, juntamente com eles, seres territoriais e hierrquicos. Isto , assim como os animais, lutamos, seja para estabelecer domnio numa hierarquia social, seja para estabelecer os respectivos direitos territoriais em determinado campo. Algumas espcies so apenas hierrquicas, isto , cada um se preocupa em manter posies definidas de superior a inferior dentro do grupo. Outras so territoriais, sem problemas hierrquicos. Finalmente, algumas tm os dois instintos. O homem filia-se, em suas origens, a este grupo. A hierarquia, no reino animal, muito conhecida na chamada "ordem das bicadas", em que os gaios e as galinhas estabelecem suas posies (seus status) por meio de bicadas, criando uma hierarquia mais ou menos rgida. Os primatas so mais hierrquicos, estabelecendo graduaes de posies (status) dentro de seus grupos "territoriais". Provavelmente os antepassados homnidas, ao se transformarem em carnvoros, acentuaram o instinto do "territrio". Quando um bem-te-vi, no topo de uma rvore, canta o mais alto possvel, est delimitando o seu territrio. A vantagem humana. A natureza cooperativa da caa levou o homem primitivo a intensificar sua vida social. E foi graas a esta cooperao que ele pde sobreviver, pois no teria condies de viver isoladamente. Como animal social, possui impulsos para a defesa de um territrio comum. Ele traz ainda impulsos bsicos para a defesa patrimonial da unidade familiar que existe dentro do territrio grupai. Mas a origem mais importante de sua agressividade a luta pela manuteno e conservao individual, vindo, em plano subseqente, a luta pela hierarquia dentro do grupo: a busca de prestgio, de uma posio elevada, de status. A defesa territorial da unidade familiar faz com que se divida um edifcio em unidades repetitivas: uma mesma unidade culinria para cada apartamento. As casas so infalivelmente separadas por muros. Nos conjuntos residenciais de casas iguais, cada famlia pe a marca de sua individualidade em tudo que pode: pintura externa, decorao, jardim (quando h) etc. Na verdade, diz Morris, trata-se 99
dum equivalente rigoroso do que fazem outras espcies territoriais, quando pem seus cheiros pessoais nas proximidades ou nos principais pontos de seu territrio. Com isto, alertam aos outros membros da espcie que esto entrando em territrio alheio. com esta finalidade que os ces urinam nos postes da vizinhana, marcando-os. "Quando uma pessoa pe um nome na porta diz Morris ou pendura um quadro na parede, faz exatamente o mesmo que o co ou o lobo quando, por exemplo, alam a perna e deixam sua marca no territrio em que moram."
reflexo. Por esta ltima, o homem pode se debruar sobre si mesmo e conhecer-se, do mesmo modo que pode conhecer o mundo, de um ngulo e uma perspectiva nicos no nosso planeta. Para Pavlov, contudo, duas operaes fisiolgicas chamavam a ateno. Dentro do organismo, o sistema nervoso funciona ora excitando certos msculos, glndulas ou rgos, ora inibindo-os. por isto que a ao de pequenas doses de lcool provoca exaltao em algumas pessoas, pelo enfraquecimento dos processos inibitrios. A cafena, porm, fortalece os processos inibitrios. No sono se d uma inibio ou desligamento de conexes nervosas. Por isso, o caf serve para afugentar, um pouco, o sono. Um co, a que se ensinou que um tapa nas patas significa alimento e outro no dorso no tem nenhum significado, depois de uma injeo de cafena, apresentava uma confuso nos seus processos inibidores, de tal modo que o animal passava a salivar em resposta a qualquer tapa, seja no dorso ou nas patas. Em geral, se qualquer parte do crtex cerebral estiver sendo excitada, sua atividade tende a inibir a atividade das outras partes. O crebro, ao contrrio do que se poderia pensar, nunca repousa. Nele ocorrem continuamente pulsaes, verificveis sob a forma de atividades eltricas. curioso que as pulsaes so maiores quando se est em repouso, diminuindo quando se faz um esforo de pensa mento. Atividade do crebro. Utilizamos apenas um percentual baixo da nossa atividade mental, responsvel pelas atividades convencionais, assim como pelas no-convencionais: telepatia, pr-cognio (conhecimento do futuro), conhecimento de fatos ocorridos a grande distncia etc. Fisiologicamente, nossa atividade mental pode ser dividida em duas partes:- a atividade do estado de viglia e a do estado de sono. Assim, o crebro nunca repousa totalmente. O estado de viglia (acordado) inibe as atividades normais do estado de sono; estas atividades do estado de sono so importantssimas. Constituem-se em: 1. Elaborao da fantasia. 2. Interiorizao (uma espcie de digesto) de tudo o que se passou durante o perodo de viglia. O sonho exatamente a expresso desta realidade interna. , em suma, atravs da atividade cerebral durante o sono que organizamos nossa realidade interior, que digerimos toda a massa de informaes recebidas do meio exterior no estado de viglia. 101
NOSSO CREBRO
por ele que subimos, na escala zoolgica, ao status de Homo sapiens. A complexidade do seu funcionamento responsvel pela existncia do mundo maravilhoso da conscincia e pela capacidade de 100
Sem esta atividade no poderamos criar, em nosso mundo interior, o quadro imaginrio e esttico que embeleza as atividades prosaicas da viglia, do dia-a-dia. Esta dualidade de atividade do crebro pode explicar certos comportamentos, como a hipnose, transe, catalepsia etc. Estes estados podem ser explicados pelo fato de partes do crebro ficarem totalmente inibidas e partes totalmente ativadas. Se tomarmos uma lagosta e a acariciarmos com firmeza nas costas da carapaa, desde a extremidade posterior at a face, ela cair em estado catalptico. Ficar imvel e dura como uma pedra, podendo ser colocada nas mais variadas posies. Os encantadores de serpentes sabem que, ao se agarrar de repente uma cobra por detrs da cabea, comprimindoa no momento em que o animal se acha encolerizado, este cai em estado catalptico e fica imvel como um basto, devido fora da ao inibidora do sistema nervoso.
toda agir
pos(K.
EXERCCIOS
r
Se mantivermos um paramcio (micrbio formado de uma nica clula) durante certo tempo numa cuba triangular e outro numa quadrada, eles aprendero a percorrer seus espaos em percurso triangular e em forma de quadrado, conforme o recipiente onde esto. Mudados para um vaso redondo e um pouco maior, o primeiro continuar a fazer seu caminho de forma triangular e o segundo, seu percurso quadrangular. Ambos ficaram condicionados a caminhar naquelas direes.
1. Afirmamos que o casamento monogmico foi biologicamente uma conseqncia da neotenia. Que neotenia? 2. O que comportamento instintivo e como ele se apresenta no ser humano? 3. Existe comportamento inteligente entre os animais? D exemplos. 4. Aponte alguns sinais dos nossos impulsos territoriais e hierrquicos observados em nosso cotidiano. 5. Por que a competio hierrquica atenuada na espcie humana?
INTRODUO AO ASSUNTO
Davld Riesman dedicou uma parte do seu livro The Lonely Crowd anlise de um antigo best-seller infantil: Toodle, a locomotiva. Esta estria ilustra bem o que seja condicionamento, que o resultado final dos reflexos condicionados. "Toodle uma pequena locomotiva que vai a uma escola. Suas principais lies consistiam em aprender que se deve parar sempre diante de uma bandeira vermelha e nunca sair dos trilhos. Diziam-lhe que, executando estes dois ensinamentos, poderia crescer e tornar-se uma grande locomotiva de linhas aerodinmicas. Toodle, inicialmente, comportou-se de acordo com o aprendido, mas, depois, foi descobrindo o prazer de sair um pouquinho dos trilhos, de colher, por exemplo, umas flores pelo caminho. Estas fraudes foram logo descobertas pelo
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olho
pcrscrutador do limpa-trilhos. A desobedincia de Toodle cria uma crise na Cidade das Locomotivas: os professores e autoridades se renem para discutir meios de forar algo eficaz. Quando Toodle abandonou os trilhos, deu ento de frente com uma bandeira vermelha. Habituada a deter-se diante de uma bandeira vermelha, parou e voltou-se para outra direo. Mas eis que encontrou outra bandeira vermelha. Havia bandeiras vermelhas espalhadas por todo o campo. Toodle foi e voltou de um lado para outro, mas no conseguiu encontrar lugar onde brincar. Finalmente olhou em direo aos trilhos: l estava a bandeira verde e branca que lhe acenava com o sinal de siga. Voltou para os trilhos e prometeu ficar neles para sempre e ser uma boa locomotiva. Este sacrifcio custou menos por causa dos aplausos de todos os habitantes da Engineville (Cidade das Locomotivas)." Antes de vermos o que um reflexo condicionado, leiamos o que seja um reflexo simples.
ie ar esto vedadas, os msculos do peito se contraem. Simuliaiici mente abre-se a glote, e um pequeno furaco se desencadeia de dentro para fora, varrendo os elementos irritantes que estejam no m e i o . O espirro, como a tosse, reflexo simples, cuja finalidade 6 a limpeza da respectiva rea. No espirro, o elemento irritante est numa passagem nasal. O crebro manda ordens para expuls-lo. Comea, ento, uma srie de acontecimentos, muito semelhantes aos da tosse: inspirao de ar, compresso sbita dos msculos do peito e do abdmen. Quando a exploso est prestes a ocorrer, o crebro envia novas ordens: fecha os olhos, abre bem o vu palatino e, quando do ato explosivo, o indivduo se inclina para baixo para produzir melhor efeito de expulso do elemento estranho. Na tosse, o vu palatino se fecha para obstruir as passagens nasais, ao passo que no espirro, este fica inteiramente aberto para que o ar se precipite para fora tanto pela boca como pelo nariz. A criancinha espirra com muita freqncia. a maneira que ela tem de assoar o nariz. H uma particularidade no reflexo do espirro: s as irritaes ligeiras o provocam. As leses profundas como as cirrgicas no o desencadeiam. O bocejo, por sua vez, tambm um reflexo simples. Apresenta-se, s vezes, como algo de mais agradvel na vida, e em certas ocasies como algo excessivamente constrangedor. Uma explicao comum do bocejo que ele est relacionado com a falta de oxignio no crebro. Quando ficamos sonolentos (por qualquer motivo), a circulao sangnea do crebro se torna mais lenta e por isto diminui o suprimento de oxignio. Se quisermos ou se tivermos de ficar despertos, o oxignio precisa ser aumentado. No bocejo (mesmo nos traindo), a golfada de ar que o acompanha a soluo.
cachorro, podemos verificar o seguinte reflexo simples: cona boca elicia salivao. o estmulo ( E ) ? a resposta ( R ) ?
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2. Luz nos olhos elicia contrao pupilar. Quais so as letras-smbolo do reflexo correspondentes a "luz nos olhos" e "contrao pupilar"?
9. John Watson, psiclogo americano, aplicou os princpios do condicionamento pavloviano a seres humanos. Em um de seus estudos, condicionou uma criana de onze meses a ter medo de um rato branco, apresentando-lhe o animal ao mesmo tempo que fazia produzir um som extremamente forte. Neste exemplo, qual foi o EI para a resposta "medo"?
4. Associe: Estmulos a. alimento b. luz c. choque eltrico Respostas ( ) contrao pupilar ( ) aumento das batidas cardacas ( ) salivao
10. Antes da experincia, a criana nunca tinha visto um rato (considerado um estmulo neutro quanto ao medo). Ela no manifestou medo quando viu o rato. Nestas condies, o rato foi um estmulo para a resposta "medo".
11. Somente aps ser associado com o EI (rudo forte) fqi que o rato se tornou um ( )
5. Alguns estmulos eliciam respostas sem aprendizagem alguma, de forma inata. Este comportamento chamado de reflexo simples ou reflexo condicionado?
6. Um estmulo que elicia uma resposta sem treino prvio chamado incondicionado ( E I ) . Qual o estmulo incondicionado para a resposta "salivao"? a) alimento na boca; b) um menu.
12. Quando um estmulo neutro associado a outro estmulo j relacionado com uma resposta particular, de modo que a apresentao do estmulo neutro provoque a mesma resposta que o E I , aquele pode ser chamado estmulo ( )
7. Outros estmulos adquirem capacidade de eliciar respostas somente por meio de treino ou aprendizagem. So chamados estmulos condicionados ( E C ) . Na experincia de Pavlov, onde se tocava a campainha e se colocava p de carne na boca do co, qual o estmulo condicionado (EC) para a salivao? a) a campainha; b) o p de carne na boca.
13. Como so chamados os estmulos que adquirem a capacidade de eliciar respostas somente por meio de treino ou aprendizagem? a) reflexos simples; b) estmulos incondicionados; c) estmulos condicionados.
14. O Sr. X vai ao enterro do amigo que faleceu do corao. No dia seguinte, ao suspender um peso, contorce um msculo lombar e logo diz: "Estou doente do corao". A dor da contoro do msculo com referncia resposta "medo de enfarte" um: a) reflexo simples; b) estmulo incondicionado; c) estmulo condicionado.
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15. Se voc gritar para uma r, ela no reage. O som de uma suave castanheta (estalido produzido pela ponta do dedo mdio ao roar o polegar) obriga-a a fugir. Este som lembra o rudo de rs caindo na gua precipitadamente. O rudo da castanheta um ( ) para as rs.
22. Se dirijo um jato de luz para os olhos de um co, suas pupilas se contrairo; isto um O fato de que o co se empenha em vrias atividades para cuidar de seus filhotes j no considerado um
16. O marginal empalidecia toda vez que via um policial. Pode-se caracterizar, em termos cientficos, esta reao "empalidecer" como: a) reflexo condicionado; b) reflexo simples; c) resposta condicionada.
23. Uma lesma sobe, quando deve subir, sempre numa inclinao de 15 graus. Que tipo de ao esta?
EXERCCIOS
1. Qual a diferena entre um reflexo simples e um condicionado? 2. Voc vai dirigindo um carro; de repente surge uma pessoa na frente e este fato determina uma freada violenta. Estamos diante de um reflexo simples ou condicionado? 3. Qual o mecanismo psicolgico utilizado, de modo exaustivo, na fbula da "Locomotiva"? 4. Isto tem alguma semelhana com o que a sociedade faz conosco? (Comente um pouco sua resposta.)
18. Quando um estmulo previamente neutro provoca a mesma resposta que um estmulo incondicionado, dizemos que houve aquisio. O som da campainha para o co de Pavlov demonstra . . . . . . de resposta originariamente eliciada pela vista do alimento.
19. O condicionamento respondente principalmente relacionado com a substituio dos estmulos. Assim, ambos os estmulos provocam aproximadamente a mesma ( ).
I
20. O condicionamento respondente implica a associao de um estmulo incondicionado ( E l ) a um ( ) para obter com este a mesma resposta que com aquele.
21. O som do motor do dentista pode ser um estmulo para o medo e a ansiedade.
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Os dois reflexos simples, ou melhor, os dois estmulos dos dois reflexos determinam, aproximadamente, a mesma resposta; por isso. associam-se.
CONDICIONAMENTO OPERANTE
Tipos de condicionamento
Condicionar uma forma de aprendizagem na qual a capacidade de eliciar uma resposta transferida de um estmulo para outro. (Fred
S. Keller)
Existem dois tipos de condicionamento: o clssico ou respondente, sobre o qual j fizemos um estudo no captulo anterior, e o operante ou instrumental. O condicionamento clssico foi descoberto, estudado e detalhadamente pesquisado por Iv Pavlov (1849-1936), fisiologista russo. O condicionamento operante foi apresentado por Burrhus Frederic Skinner (1904), psiclogo americano que desenvolveu intensa atividade no estudo da psicologia da aprendizagem.
CONDICIONAMENTO CLSSICO
J vimos os elementos que constituem o condicionamento clssico: reflexo simples, cujo esquema ER, e que uma resposta ( R ) a um estmulo ( E ) ; reflexo condicionado, que , basicamente, a associao de dois reflexos simples funcionando dentro do esquema abaixo:
Para entendermos este tipo de condicionamento precisamos do conceito de reforo. Reforo qualquer coisa que serve para fortalecer ou extinguir a conexo ER. O reforo positivo fortalece a conexo ER. No negativo d-se o contrrio: a conexo debilita-se at sua extino. Assim, a aplicao de reforo negativo uma forma de descondicionamento. Descondicionar separar um estmulo de uma resposta ou um reflexo de outro. Assim como se associa, tambm se pode separar (descondicionar). Vejamos um exemplo onde se emprega o reforo negativo para descondicionar uma resposta de ira. Uma criancinha de um ano e nove meses aterrorizava sua famlia com iras persistentes na hora de dormir. O condicionamento recebido: durante os primeiros dezoito meses de vida estivera doente e inspirara cuidados constantes. Ao deitar-se ela era acompanhada por algum da famlia at dormir. Depois que ficou boa, perdeu alguns dos cuidados durante o dia, mas se apegou presena de um familiar at dormir. Os pais e uma tia se revezavam na tarefa de coloc-la na cama. Se o escalado deixava o quarto, a criana gritava e agitava-se at que o adulto retornasse. Se o pai comeava a ler, enquanto estava no quarto, chorava at que a ateno fosse voltada para ela. Os pais descobriram que ela gostava do domnio que exercia sobre eles e por isso demorava o mais que podia a dormir. Em resumo: um dos pais ou a tia estava gastando de meia at duas horas todas as noites, o que representava um consumo elevado e desnecessrio de tempo. Como resolver o problema? Era preciso descondicionar: separar hora de dormir (E) das respostas de excessivas atenes ( R ) . Separar este estmulo desta resposta. Como? Foi montado o seguinte esquema: 1. Um dos pais ou a tia colocava o garoto na cama, de maneira calma e amiga. 2. Depois de alguns carinhos, prprios da ocasio, despedia-se e fechava calmamente a porta. 3. Teria que deixar o garoto chorar o tempo que agentasse. Evidentemente, no primeiro dia ele chorou e gritou. Esse comportamento durou 45 minutos.
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No stimo dia, estava extinta a resposta de exigir mimos e atenes na hora de dormir. Colocado na cama, ficou s e no chorou, isso no trouxe nenhuma conseqncia. Aos trs anos e nove meses, o garoto era uma criana amvel, expressiva e socivel. O que ocorreu: 1. O reforo positivo dos mimos e agrados na hora de dormir foi suprimido. 2. Em seu lugar instalou-se um reforo negativo de choro, gritos etc.
Ri (pede simplesmente)
(pede, choramingando)
As trs primeiras respostas no foram reforadas e tendem a se extinguir. Na prxima vez, a criana ser levada a repetir a mesma resposta reforada. Se conseguir, ir, cada vez mais, incorporando este tipo de resposta, chegando ao ponto de. se transformar num trao de sua personalidade e num tipo de carter. Ser o "estourado", o "violento". Poderia ser exatamente o contrrio, se tivesse sido condicionado em outra direo. A diferena entre este tipo de condicionamento (o operante) e o condicionamento clssico est em que o primeiro ocorre espontaneamente. H vrias respostas e a que for gratificada a que tender a se refletir e depois se consolidar. Os pais, por exemplo, podem ou no exagerar a "oralidade", isto , o hbito de obter prazer pela boca, atravs da comida, bebida, fumo etc. Se em criana, a qualquer sinal de desconforto, a nica resposta recebida for uma recompensa ou reforo oral agradvel, como o seio, mamadeira, chupeta e t c , poder, mais tarde, continuar exigindo, para qualquer ansiedade, uma recompensa oral em forma de comida, bebida, cigarro ou qualquer outra coisa que lhe d prazer oral. Muitos comportamentos que parecem complexos so, na realidade, reflexos de estrutura simples. O caminhar exige apenas dois reflexos simples: a fora da gravidade exige uma resposta de equilbrio de vrios msculos, mantendo o corpo em p (o esquema, como vemos E R ) ; a locomoo se faz pela presso na planta de um p ( E ) , que determina a resposta de levantar e avanar o outro p ( R ) . Outros condicionamentos so mais complexos. Certa pessoa vai deitar-se com dor nas costas e liga a dor nas costas a seu velho medo do cncer. Sonha que est sofrendo de cncer. A dor nas costas foi o estmulo (E) que determinou a resposta (R) sonho de estar com cncer. Tirar a mscara do cncer e ver o simples medo, sem seu correspondente real da molstia, um trabalho de descondicionamento. Descondicionar no s entender as fantasias e desmascar-las, mas sentir-se livre delas. No basta saber que bicho-papo no existe: preciso sentir que ele no existe, mesmo quando se est num quarto escuro, sem nenhuma companhia. Por isso, interpretar as fantasias desconhecidas no basta. preciso sentir o que se interpretou.
CONDICIONAMENTO
PM (grita, esperneia) ' consegue (reforo) Houve reforo deste tipo de resposta ( R 4 ) . 112
DO MEDO
Numa criana de pouca idade, o medo nem sempre se concentra no objeto amedrontador. Freqentemente "transborda" de tal maneira que os pais encontram dificuldade para acompanhar. 113
A criana pequena que foi derrubada por um cachorro grande aprende naturalmente a temer o cachorro. Mas seu medo transborda, passando a incluir todos os cachorros e, s vezes, todos os animais de quatro patas. compreensvel que os pais se espantem ao v-la ficar com medo do retrato de uma vaca. Isso ainda resposta do primeiro ttulo. Coragem imposta. A sociedade moderna d nfase falta de medo. "Seja um garoto corajoso." Isso leva freqentemente as crianas a disfarar e esconder seus temores. Vencer o medo. Os psiclogos concordam que trs mtodos muito utilizados para combater o medo causam mais mal do que bem. Eles so: ignor-lo sistematicamente, ridicularizar ou punir a criana por ter medo e forar a criana na situao temida. Outras maneiras devem ser experimentadas. Por exemplo: explique a situao, tentando convencer a criana de que no h nada a temer; d voc mesmo um exemplo de falta de medo; experimente um "recondicionamento positivo": apresente o objeto temido junto com um objeto de prazer, ou incorpore a coisa assustadora a um contexto maior reassegurador. O temido cachorro grande ser gradualmente aceito se fizer parte de um jogo divertido com a participao de vrias outras crianas. Finalmente, ajude a criana a ganhar confiana em si, mostrando-lhe como lidar ativamente com a situao temida. Se ela tiver medo do quarto escuro, examine com ela o quarto luz do dia e mostre como poder achar o interruptor eltrico. Ajudando a criana a lidar ativamente com um de seus temores, voc poder dar-lhe uma concepo mudada de suas prprias habilidades. Se ela for confiantemente a um lugar que antes temia, tornou-se, nesta exata medida, uma pessoa mais madura.
imagem do pai morto. Ento, lembrando-se da famlia que devia sustentar, das frias que queria gozar e t c , passou a comer uma salada com peixe cozido. 1. Que tipo de condicionamento foi empregado no exemplo acima? 2. A lembrana da famlia e das frias serviu como reforo, estmulo condicionado ou estmulo incondicionado? 3. O medo de enfarte que o filho passou a ter, aps a morte do pai, funcionou como estmulo incondicionado ou condicionado? 4. A morte de um cachorro de estimao causa profundo abalo em seu dono, um professor com cerca de trinta anos. Seu sofrimento poderia ter sido causado por algum condicionamento? Vejamos: "Em criana eu projetei toda a minha necessidade de amor, porque no o recebi dos meus pais, num cachorro que ganhei de presente. Mais tarde, j um adulto neurtico, voltei a ter um cachorro, e quando ele morreu, recentemente, senti todas as dores que haviam se acumulado na minha infncia. Isto , no sofri com o que de fato ocorreu, mas em virtude da sensao de abandono que eu sentira em criana, por ocasio da morte do meu primeiro cachorro."
EXERCCIOS
Pai e filho eram excessivamente gordos e tinham a mesma maneira tensa de trabalhar. O pai acabou morrendo de enfarte. Isso causou profunda impresso no filho que, imaginando ter o mesmo destino do pai, resolveu emagrecer. Um dia, ao entrar num restaurante, viu uma suculenta travessa com fritas e de repente veio-lhe cabea a 114 115
mente. Quanto mais ligarmos o ato de aprender resoluo de nni.i situao qualquer: "passar no vestibular deste ano", "ser um.i lio;i professora primria" e t c , tanto mais eficientemente aprenderemos. Isto serve de orientao para a motivao dos alunos. O que ocorre numa sala de aula? Numa sala de aula existe ensino, que algo diferente de aprendizagem. Ensino a transmisso ou apresentao de certas orientaes por parte de algum, no caso, um professor, que facilita a aprendizagem por parte do aluno. Muita gente aprende sem precisar de ensino. So os autodidatas. O ensino, contudo, ajuda a aprender. Numa experincia de tiro ao alvo na gua, comprovou-se a vantagem do ensino. Dividiram-se os candidatos em dois grupos: a um, em sala de aula, ensinou-se a lei de refrao (aquela que faz com que um pau dentro da gua parea quebrado) e outros clculos. claro que este ensino, s, era insuficiente, pois um ensino normalmente no se constitui em aprendizagem. Ao outro grupo, nada se ensinou, dando apenas as armas. Os que foram ensinados a atingir o alvo, precisaram de menos tentativas do que os outros, aprendendo muito mais depressa. Portanto, h uma relao entre aprender, ensinar e treinar.
A Educao a maior e mais ampla agncia criadora de comportamento e modeladora da pessoa. Est interessada em fazer nossas cabeas e orientar nossa ao presente e futura. ( D e u m a aluna d a terceira srie d o segundo grau)
Como seria um adulto que tivesse contado apenas com seu equipamento inato em todo seu desenvolvimento? Em outras palavras, como seria um adulto que no contasse com nenhum comportamento aprendido? Em primeiro lugar, em vez de falar (que algo que se aprende) teria gritos e grunhidos desarticulados. No saberia andar nas ruas, alimentar-se nossa maneira etc. Temos que aprender inmeras coisas. Quase todos os nossos comportamentos so aprendidos. Todas as vezes que nossas reaes inatas ou adquiridas se revelam insuficientes ou inadequadas para enfrentarmos situaes novas, temos que aprender algumas coisas at alcanar a resposta ou reao que convenha situao. Aprendemos ento novas respostas ou novas maneiras de agir, que incorporamos nossa conduta como formas progressivamente adaptadoras de comportamento. Chegamos, pois, concluso de que aprender , em ltima anlise, reagir de uma maneira favorvel a uma situao estimuladora, qual no podemos fazer face com nossos equipamentos hereditrios. H sempre uma situao estimuladora que nos leva sala de aula para aprender alguma coisa que nos habilite a reagir favoravel116
Um episdio de aprendizagem pode ser breve ou longo, conter muitas ou poucas idias. A durao de um ato de aprendizagem depende da motivao e das condies em que se encontra o aluno para sustent-lo. A principal destas condies a maturidade. Em termos prticos, aprendizagem a modificao da conduta interna ou externa mediante a experincia ou prtica. As modificaes no nosso comportamento, mediante a aprendizagem, no devem ser confundidas com aquelas que so determinadas pela maturao. H aprendizagem quando as transformaes no so e no podem ser explicadas pelo desenvolvimento natural do organismo. A aprendizagem a organizao feita pelo indivduo de um comportamento novo mediante a experincia. Quando voc soube o que aprendizagem, fez uma descoberta e uma incorporao para o futuro de uma nova maneira de comportar-se em relao a esta palavra, que representa uma situao a que se submete a pessoa. A aquisio de significado uma mudana na conduta interna.
Ensaio e erro. Consiste na eliminao sucessiva das respostas infrutferas. Quando se vai aprender a andar de bicicleta ou nadar, atravs de tentativas e erros se consegue eliminar os gestos errados e inteis at a obteno da pureza ou retido dos movimentos certos. Discernimento. Em geral, toda situao de aprendizagem constitui uma situao ou configurao (Gestalt, forma, campo). Toda configurao se compe de vrias partes constituindo um todo. Num ato de inteligncia possvel perceber, num relance, todas as partes, formando a soluo do problema. Com isto aprendeu-se a resolv-lo. O relacionamento inteligente entre as partes de um todo, com vista a uma soluo, chama-se insight. Transferncia de aprendizagem. um fato indiscutvel a transferncia de aprendizagem. Esta se d quando a pessoa reconhece a nova situao como semelhante outra para a qual tem comportamento aprendido. Alguns assuntos no podem ser estudados, diretamente, nas condies reais, tais como: cirurgia, pra-quedismo, pilotagem, astronutica etc. Nestes casos, aproveitam-se os benefcios da transferncia de aprendizagem. Esta, contudo, pode ser positiva ou negativa. Na transferncia positiva, h o deslocamento de habilidades e tendncias positivas de uma aprendizagem para a outra. A facilitao nervosa, adquirida na primeira, serve para encurtar e melhorar a aprendizagem seguinte. A transferncia negativa, por sua vez, desloca para uma atividade de aprendizagem similar atitudes negativas e bloqueios adquiridos anteriormente. Um segundo modo, pelo qual a aprendizagem anterior torna mais eficiente uma posterior, mesmo de natureza um tanto diferente, por meio do que se chama transferncia de princpios e atitudes. Consiste em se aprender uma idia geral, uma lei, a estrutura toda do fenmeno, de tal modo que passamos a reconhecer, com mais facilidade, os problemas subseqentes que forem casos especiais do conhecimento adquirido. Por exemplo, a boa compreenso da lei de Newton, a da gravitao universal, facilita a compreenso de inmeros fenmenos posteriores, como casos especiais dessa lei geral. O fenmeno que ocorre na memorizao se resume na aquisio de certas associaes numa seqncia fixa e predeterminada. A motivao, o reforo e o exerccio so fundamentais na atividade da memria. Nesta atividade, encontramos os seguintes fenmenos: fixao, reteno, evocao e reconhecimento.
MODOS DE APRENDER
Segundo a Psicologia atual, h trs modos de aprendizagem: condicionamento clssico, ensaio e erro, e discernimento (insight). Codicionamento. Faz-se atravs do mecanismo dos reflexos condicionados (ver captulo a respeito). Por exemplo, pelo mecanismo dos reflexos condicionados que a criana aprende a falar. A criana v a bola primeiro circuito; enquanto v a bola, ouve: isto se chama bola. Mais tarde, basta o rudo sonoro (palavra) para evocar a realidade vista (bola).
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Fixao o esforo para imprimir na mente a matria desejada. Reteno a manuteno do fixado na mente. Evocao o retorno do fixado mente consciente. O reconhecimento consiste no em evocar mas em identificar dados presentes na situao anterior memorizao. Quando vemos algum caminhando numa rua temos certeza de que o conhecemos (evocao), mas no sabemos quem (reconhecimento).
4. Os dois novos vermes ainda guardavam, de memria, o aprendizado. A memria exige elementos materiais de natureza qumica e isio lgica para fixar seus conhecimentos. Esses elementos so identificados com substncias especiais do ncleo das clulas. A diferena principal entre a memorizao e a aprendizagem a mesma que se encontra entre a memria mecnica e a soluo de problemas pelas tentativas. Na memria mecnica existe pouco ou nenhum uso de tentativas entre as vrias alternativas. O problema da memorizao consiste principalmente em adquirir certas associaes numa seqncia fixa e predeterminada. A motivao, o reforo e o exerccio so necessrios, quer se esteja aprendendo Matemtica, quer se tente decorar um poema ou uma srie de frmulas.
MEMRIA E ESQUECIMENTO
A causa principal do esquecimento a aprendizagem inadequada ou ineficiente. H contudo outras causas. Podemos citar em primeiro lugar o enfraquecimento progressivo dos elementos guardados no crebro. Assim se explica o esquecimento devido a certas doenas e por excessiva velhice. Muitos esquecimentos nascem da interferncia de matrias novas em dados antigos, da confuso de umas com outras ou ainda da inibio de dados antigos provocada por matrias novas. opinio geral que tudo que foi aprendido nunca esquecido totalmente, embora sua evocao seja muito difcil. Todos os seres vivos so capazes de aprender, desde que se utilizem recursos de ensino adequados. Para ilustrar isto, vanjos apresentar uma experincia feita com a planaria, verme primitivo e achatado que vive em rochas escuras de guas estagnadas e poludas. to primitivo que tem a propriedade surpreendente de, partido ao meio, regenerar cada metade num novo verme. Um pesquisador ensinou uma planaria a reagir luz, atravs do condicionamento. 1. O pesquisador acendia uma luz por cima da cabea da planaria e, ao mesmo tempo, transmitia-lhe um choque eltrico por meio da gua. 2. Depois de 250 tentativas de condicionamento, o vermezinho aprendeu que a luz significava choque, e assim, quando se acendia a luz, passou a se contrair. 3. Depois de ensinado, foi partido em dois. Quando as duas partes se regeneraram, transformando-se em dois vermes adultos, foram submetidas mesmo experincia. Qual teria sido o resultado? 120
INTERESSE E APRENDIZAGEM
Onde h interesse, so possveis faanhas extraordinrias. Arturo Toscanini, o maestro, sabia de cor partituras de centenas de sinfonias e peras. Em contraste, podia subir num nibus e esquecer seu nmero quase imediatamente. Estava interessado numa coisa e no na outra. Um interesse genuno pelas pessoas far com que seus nomes sejam conservados na memria. Quando Henry Clay, o estadista americano que foi um dos fundadores do Partido Republicano, estava progredindo na poltica, pensava tanto nos que o estavam ajudando, que chegou a saber de cor os nomes de 20 000 de seus partidrios. Tambm Napoleo Bonaparte e George Washington estavam to interessados em seus soldados, que podiam chamar qualquer um sob seu comando pelo nome. Saio Finkelstein, matemtico, certa vez espantou uma platia memorizando o nmero 02470684596183261841 em quatro segundos e trs quartos; um dos presentes observou: "Eu no poderia nem ter lido isso no mesmo tempo", ao que Finkelstein replicou: "Talvez no, mas ento o senhor no se interessa, realmente, pelos nmeros, no ?" No interesse, podemos descobrir dois aspectos bsicos: e gosto ou habilidade e afetividade. aptido
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soal
Este grfico de Albert Eiss ilustra bem o papel do interesse pese da motivao na aprendizagem.
1
4. Cognitivo. O processo de aprendizagem leva um fato ou aconiecimento desconhecido para a rea do conhecimento. Cria conhecimento. Se no se chega a um esclarecimento na rea cognitiva, no ocorre aprendizagem. 5. Psicomotor. O resultado final da aprendizagem abrange muito mais do que a parte cognitiva, atinge o indivduo como um todo. Da. referir-se o autor a esta rea como psicomotora. Depois que se aprende, h uma modificao na pessoa, por mnima que seja, pois a pessoa uma estrutura psicomotora. 6. Consciente. O processo da aprendizagem transforma algo desconhecido em conhecido. Dessa maneira h uma passagem do subconsciente (desconhecido) para o consciente (conhecido). 7. Comportamento aberto ou aprendido. Depois que se completa o processo e a partir desse momento, a reao psquica e motora da pessoa ocorre de modos diferentes. Vamos dar um exemplo simples. Antes, algum achava que o golfinho era um peixe, agora aprendeu que um mamfero. Com isto, incorporou uma resposta, dentro de si, que ao mesmo tempo psquica (consciente, clara) e motora. Por isso pode traduzir essa resposta em comportamento aberto ou manifesto. Este comportamento vai possibilitar a aquisio de novos comportamentos ou de novas entradas.
2. sensrio
EXERCCIOS
1. Subconsciente. Antes da aprendizagem, nossa conscincia esta, em relao quilo que se vai aprender, num estado de baixa conscincia ou de no conhecimento. 2. Sensrio. O que vamos aprender alguma coisa ligada a nosso interesse, direta ou indiretamente. Por isto, de alguma maneira, vai afetar nossa dimenso afetiva, ou melhor, vai entrar pelo lado afetivo e do interesse. 3. Afetivo. Tudo o que nos parece bom e nos agrada, assim como o que percebemos como ruim e nos desagrada, atinge nossa rea afetiva (veja Primeira Parte, Captulo 6). Se alguma coisa estiver absolutamente fora do nosso interesse e da nossa motivao, no ter entrada no nosso processo de aprendizagem.
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1. Que transferncia da aprendizagem? 2. Comente: "Motivao para aprender. Poderamos at chamar esta motivao de deciso de aprender. Se o aluno ou o aprendiz no est motivado ou, em outros termos, no est decidido a aprender, o esforo do professor ser muito grande e o resultado, certamente, mnimo." 3. D uma definio para "deciso de aprender". 4. Agora, voltemos questo fundamental: o que mesmo "aprender"? Se tiver alguma dificuldade em responder ou definir o que aprendizagem, passe para o captulo seguinte.
1968, p. 25.
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de aprendizagem cientficas e apropriadas. No seria com nossos me todos anacrnicos que iramos obter tais resultados. Um meio a l i . i mente estimulador fundamental na aprendizagem.
O processo da aprendizagem
H muitas causas que perturbam a realizao desse processo. Vejamos as principais: 1. Tenso, conflito, angstia e ansiedade so os fatores emocionais apontados como causadores de queda no rendimento escolar da criana, provocando distrbios intelectuais e at mesmo fsicos.
A criana, como qualquer um de ns, uma espcie de mquina de digerir novidades, assimilando mudanas do seu meio e partindo para novas experincias se o ambiente for propcio. (Jerome Kagan)
2. A carncia afetiva, como conseqncia do abandono dos pais e da falta de amor, uma das principais causas de baixo rendimento escolar. Pode fazer com que a criana apresente na escola uma atitude ambivalente. A necessidade de afeto faz com que solicite muito seus colegas e professores, na tentativa de obter uma compensao, mas tambm provoca atitudes hostis e agressivas em relao s mesmas pessoas. A criana, com medo de ser rejeitada, passa a ter comportamentos sociais pouco ajustados. 3. Podemos citar ainda causas religiosas, emocionais e culturais. Por exemplo: as crianas muulmanas, cuja religio probe que se reproduzam figuras, tm sua aprendizagem dificultada, pois a criana precisa de imagens e ilustraes concretas para aprender mais facilmente. 4. O meio familiar outra causa a ser apontada. A diferena entre bebs da classe mdia e dos lares pobres j ntida na idade de um ano e meio. At ento, os testes-padro revelam que todas as crianas normais se comportam de maneira muito semelhante. Inicialmente, no desenvolvimento motor, os bebs da classe pobre levam ligeira vantagem. L pelos dezoito meses, porm, os engatinhadores da classe mdia tomam a dianteira, investigando o excitante mundo dos brinquedos, da fala, dos jogos sob a orientao dos adultos interessados. Os filhos dos pobres, em seus lares superpovoados e desorganizados, aprendem que o melhor meio de no terem aborrecimentos ficarem quietos. Atendidos que sejam por alguma irm mais velha, uma vizinha indiferente ou pelos prprios pais exaustos e oprimidos, a lei a mesma: o prmio da curiosidade geralmente pancada. Coincidentemente comea a baixar o Q.I. Meios culturais pobres desenvolvem pouco a personalidade e a inteligncia.
A aprendizagem um processo, isto , uma atividade interior que tem um incio, um desenvolvimento e um fim. Nesse sentido, a aprendizagem algo muito pessoal, mas que pode ser influenciado, com xito, por pessoas habilitadas e atravs de estmulos e tcnicas. A aprendizagem a modificao que ocorre na conduta mediante a experincia ou a prtica. um processo dinmico, vivo, global, contnuo e individual. Exige como condio bsica o amadurecimento do indivduo para a referida modificao. A criana uma mquina pronta a desencadear este processo, a qualquer momento. No Centro de Estudos Infantis da Universidade de Yale constatou-se que uma criana normal de trs meses aprendeu que determinadas luzes se acendiam em certa ordem. Depois de ensinada, seus olhos se antecipavam s luzes que deviam acender. Nossos mtodos tradicionais de ensino s exploram uma parte mnima das aptides e da capacidade de aprender do ser humano. As ltimas pesquisas em Psicologia da Aprendizagem Infantil demonstraram que uma criana de quatro anos j podia escrever, ler e ser introduzida na lgebra. claro que esse ensino dependeria de formas 124
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Na sala de aula, o mais dramtico o seguinte: o aluno desassistido, rejeitado, sofrendo uma das vrias formas de abandono, chega escola e esta quase sempre no o ajuda. Omite-se, expulsa da sala de aula o aluno mal-comportado. Pe-no de castigo. Tudo isto muito cmodo. Em 1972, num colgio do Rio, um inspetor de alunos, por ordem do diretor, no deixou um aluno entrar no prdio porque estava com sapatos diferentes do uniforme. O aluno, que sabia estar ameaado por marginais, insiste. No foi atendido. Ficou vagando em torno do colgio e acabou sendo assassinado pelos marginais que temia. 5. Problemas de motivao e de comunicao tambm podem perturbar o processo de aprendizagem. Em primeiro lugar, a percepo de uma situao est ligada ao modo como se apresentam os dados do problema. Muitas vezes, estes dados so apresentados de modo a no favorecerem a aprendizagem. Vejamos um exemplo: trace trs fileiras de trs pontos cada uma, una estes nove pontos com quatro linhas retas, sem levantar o lpis do papel. Uma linha retraada considera-se como nova. Tente,a experincia antes de fazer esta leitura. Apenas com estas informaes, seremos levados forosamente a fazer um quadrado, unindo os oito pontos das extremidades. Mas devemos unir os nove com apenas quatro linhas. A seguir poderemos descobrir que seria fcil uni-los com cinco linhas. necessrio fazer novas associaes e ver o problema de outro ngulo. Por exemplo, as linhas podem estender-se alm dos limites dos pontos e a est uma informao importante que no foi dada. Comece, agora, a resolver, passando com as linhas alm dos pontos. A soluo certa depende de uma reestruturao dos dados, de modo que os componentes efetivamente necessrios ao resultado possam ser clara e adequadamente captados. 6. H casos em que o perceber mal corre por conta de fatores pessoais ligados a experincias passadas do indivduo, ou seja, por falta de conhecimentos anteriores. As pessoas trazem em si atitudes e expectativas que as ajudam a guiar e ordenar o modo pelo qual os estmulos sero percebidos. Muitas vezes, nossas "viseiras" (atitudes) e uma certa rigidez mental nos impedem de resolver os problemas, vendo-os de outro modo. Um professor de Fsica, do colegial, contava aos colegas, indignado, que seus alunos foram incapazes de resolver o seguinte problema que constava de uma prova parcial: 126
"Um automvel anda razo de 60 km por hora. Que distncia percorre em uma hora e 20 minutos?" Faclimo, no? No entanto, vinte alunos de uma turma de 33 no atinaram com a resposta. Por qu? O professor de Fsica, perplexo, argumenta: "E olhe que estes alunos acertaram problemas mais difceis!" Interrogando os alunos, descobriu-se que muitos deles eram perfeitamente capazes de resolver problema anlogo que lhes foi dado depois da prova. Que acontecera? Simples choque emotivo? Nervosismo devido situao de exame? Mas, por que motivo erraram justamente o problema mais fcil? A explicao pode novamente ser dada em termos de m percepo. Tendo-se defrontado com um certo nmero de problemas difceis, os alunos "esperavam" outros problemas de igual, ou maior dificuldade. Nada os fazia supor que iriam encontrar justamente um problema fcil. Quando este apareceu, "perceberam-no" como difcil ou insolvel. A questo fcil ficou envolvida por uma espcie- de atmosfera que fez com que fosse vista como difcil. A soluo certa foi, inclusive, rejeitada por desconfiana. Na realidade, os alunos no acreditaram que depois de uma srie de perguntas difceis ocorresse uma efetivamente fcil. Entre os fatores pessoais que interferem, prejudicando a adequada compreenso do problema e conduzindo a solues falsas, incluem-se os prprios sets ou estruturas mentais. Embora derivadas de situaes objetivas precedentes, acabam por se converter em condicionamentos subjetivos ou interiores.
APRENDIZAGEM E INTELIGNCIA
H uma correlao direta entre aprendizagem e inteligncia: quanto mais inteligente a pessoa, melhor ela aprende. Alm da m percepo dos elementos do problema, a falta de inteligncia dificulta a aprendizagem. imprescindvel a inteligncia para associar os vrios elementos numa interpretao pessoal e nica, pela qual penetramos na realidade do problema. Conta-se que Gauss, o famoso matemtico, foi uma criana precoce. Freqentava ainda a escola primria, quando seu professor, dando um exerccio de aritmtica, props turma o seguinte problema: "Qual de vocs capaz de achar, o mais depressa possvel, a soma d e 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10?" Subitamente, enquanto seus colegas ainda faziam contas a todo vapor, Gauss levanta a mo, anunciando 127
O resultado: 55. Estupefato, o professor o interroga: "Como pde chegar to depressa soluo?". O menino responde que tinha achado cmodo agrupar os pares 1 + 1 0 = 11; 2 + 9 = 1 1 , . . . etc. A soma era igual a 5 pares de 11, ou seja 55. Gauss descobrira, assim, um importante teorema: o valor da soma dos termos de uma progresso aritmtica. Que acontecera? Na linguagem dos gestaltistas, diramos que houve uma reestruturao do campo perceptivo. Em outras palavras, o menino passou a ver o problema de uma outra perspectiva. Neste discernimento, mais ou menos sbito, nesta nova maneira de apreenso dos elementos, que reside a principal caracterstica do comportamento criador. Inventar resolver um problema pela apreenso dos aspectos ou relaes que se apresentam, inicialmente, dispersos.
n EXERCCIOS
1. "O rudo da carrocinha de sorvete que se aproxima representa para a criana um sinal. H um nmero muito grande de respostas que ela poder exibir. Observando um grupo de crianas, veremos que algumas pedem ao homem da carrocinha que pare, outras correm para dentro de casa em busca de dinheiro, outras ainda continuam com sua brincadeira sem se perturbar. Se observarmos a mesma criana em vrios dias sucessivos, veremos que ela nem sempre apresenta as mesmas respostas; provavelmente porque em certos dias ela j tomou um sorvete anteriormente, ou porque sabe que a me no est de bom humor e no lhe dar dinheiro para comprar sorvete." Que tipo de aprendizagem este? 2. "A aprendizagem ocorre quando certas respostas se apresentam com freqncia cada vez maior em situaes repetidas." Comente. 3. O que "aprender"?
A presena de um problema determina em cada um de ns um modo de percepo de sua realidade. Se o percebermos bem, isto , de acordo com o que deve ser percebido, e se formos suficientemente inteligentes, estar resolvido. Se percebermos mal, conseqentemente no acertaremos. Nestes casos, h outros modos de aprender, como atravs do ensaio e erro. 128
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A resposta certa a de nmero dois. A vantagem desta sobre a primeira est em que especifica o critrio de como avaliar a mudana de comportamento. Observar o comportamento do aluno "diante de um mapa-mudo". O critrio est claro, concreto. Ele possibilita ao professor fazer a avaliao certa. Para uma avaliao correta tem que haver um critrio objetivo.
Objetivo no uma descrio, no o que voc vai dizer, no a "noo sobre". a modificao que voc quer produzir no aprendiz. o produto final, no o processo nem o mtodo, a maneira de explicar. O objetivo a modificao no comportamento, na mente, nas atitudes da pessoa: antes da sua aula, ela era, pensava e agia de determinada maneira; agora, depois da aula, ela pensa e age de outro modo. Modificou-se. Ao formular um objetivo, voc faz o relato (descrio) da modi^ ficao que espera produzir no aluno. Antes de comear uma aula com o assunto deste captulo, por exemplo, voc deve ter em mente: vou modificar a noo que eles tm ou vou criar a "noo de objetivo na aprendizagem". O critrio para saber se eles se modificaram a esse respeito o de responder s perguntas do questionrio do final do captulo, de forma correta. Se errarem sinal de que no entenderam e ento deve-se tentar alcanar o objetivo de outra maneira, com novo mtodo, novas explicaes etc. Como voc pode ver, a pergunta inicial era o assunto da aula. Exemplos. Numa classe de Estudos Sociais, qual destas duas formulaes especifica melhor um objetivo de aula? 1. Vamos ensinar os Estados e as capitais brasileiras. 2. O aluno deve ser capaz de identificar, num mapa, sem legenda, os Estados e as capitais brasileiras. 130
NOO DE CRITRIO
Critrio o padro que se estabelece para ver se o objetivo foi ou no alcanado. Algumas vezes, o critrio implica a escolha de mtodos adequados de ensino. Atravs do critrio, voc seleciona o melhor mtodo para ensinar determinado assunto. Formulando o objetivo, preciso estabelecer o modo concreto de como ele vai ser alcanado. Tradicionalmente, os exames parciais e finais funcionam como avaliao. Contudo, toda avaliao deve ser precedida de um critrio que determine como voc vai avaliar. O uso de dissertao, prova objetiva e observao do desempenho so considerados critrios de avaliao. 131
Nem sempre se pode usar o melhor critrio possvel. Por exemplo: numa aula de Zoologia, o professor quer ensinar aos alunos que 0 golfinho um mamfero; o melhor mtodo para se ensinar, bem como o melhor critrio para se verificar a aprendizagem, seria mostrar vrios animais aquticos (entre peixes e mamferos), todos do mesmo porte, para que os alunos identificassem entre eles o golfinho. Critrio foi a maneira, o mtodo, que o professor escolheu para atingir o objetivo, ou melhor, foi o mtodo escolhido para avaliar se o objetivo foi alcanado.
R E L A O E N T R E CRITRIO E A V A L I A O
Quanto mais bem formulado o critrio, tanto melhor e mais facilmente se consegue avaliar. Um exemplo: um supervisor (encarregado de uma turma de empregados) era excessivamente rigoroso para com seu pessoal, tratando-os como se fossem nmeros de uma folha de pagamento, em vez de seres humanos. A chefia estabeleceu como objetivo alterar as atitudes desse supervisor, fazendo-o conhecer as condies de vida de seus subordinados. Assim, encarregou-o do levantamento daquelas condies, obrigando-o a visitar as famlias dos empregados. A deciso adotada pela chefia deve ser considerada como um mtodo "criativo" de ensino ou como um "critrio"? Trata-se mais de um mtodo do que de um critrio. Critrio so as normas prticas de como avaliar o objetivo proposto. O critrio para ajudar a avaliao deve: 1. Determinar as condies sob as quais o comportamento do aluno ser observado. 2. Estabelecer um padro determinado de respostas. Avaliao o modo empregado para verificar se o objetivo foi alcanado. Medir comparar uma coisa, um resultado qualquer, com um padro externo objetivo, por exemplo, um metro. Quando se trata de provas objetivas, chamamos este padro de "gabarito".
OBJETIVOS E V A L O R E S
H valores fundamentais que se devem incutir na escola. Dentre esses valores, destacamos: formao do carter, preparao para a vida no lar e na comunidade, preparao para o trabalho etc. Apresentamos a seguir um perfil de valores educacionais, organizado pela Prof. Riva Bauser, do magistrio estadual e da Fundao Getlio Vargas. O aluno poder registrar em cada coluna (enchendo-a com lpis de cor) quantos pontos confere a cada valor educacional. Cada um deles est representado por uma letra, na base do quadriculado. No se pode ultrapassar a soma total de 40 (quarenta) pontes. Depois de distribudos os 40 pontos pelos 10 valores, fica bem demonstrado quais os objetivos ou valores educacionais que cada um considera mais importante. Isto poder servir de tema de debate em sala de aula.
a
18 16 14 12 10 8 6 4 2 0
A B C D E F G H I
18 16 14 12 10 8 6 4 2 0
A. Cultura cientfica. Assim como em cada aula deve haver algo valioso (objetivo) para ser incorporado no universo das aes da pessoa, tambm os cursos e os currculos perseguem objetivos gerais que classificamos como valores educacionais. Cada reforma brasileira de ensino se apoiou em valores ou objetivos gerais a atingir. A atual est alicerada na preparao e habilitao dos jovens para o mundo do trabalho, dentro da realidade de um pas que est em ritmo crescente de desenvolvimento. B. Educao fsica e da sade. C. Educao cvica. D. Educao religiosa. E. Formao do carter. F. Educao formal e preparao para os exames.
G. Educao artstica. H. Preparao para o trabalho. I. J. Cultura humanstica. Preparao para a vida no lar e na comunidade.
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UMA PARBOLA
A histrinha que segue explica a origem da escola e faz-nos meditar sobre o valor dos currculos escolares. Vejamos: Conta-se que os bichos determinaram criar uma escola, porque o meio em que estavam vivendo comeava a se tornar cada vez mais complexo, e j no podiam viver socialmente bem com seus equipamentos inatos. Aqui temos a necessidade que deu origem escola. J no podiam, com seus instintos, enfrentar o meio que se havia complicado demais. Precisavam de uma escola para habilit-los e prepar-los convenientemente para as novas estruturas do ambiente. Foi escolhido um corpo docente timo: todo ele com grandes ttulos universitrios e boa experincia. De modo que isto envaideceu a todos. Para esta escola, sem muita pesquisa do meio ambiente, escolheram o seguinte currculo: nadar, correr, voar, galgar morros e superar obstculos. Os primeiros alunos foram: o cisne, o pato, o coelho, o gato e o cachorro. Comeado o curso, cada mestre, preocupado apenas com sua disciplina, dava matria a torto e a direito. Era assim que julgavam que estava certo e que faziam jus a seus ttulos acadmicos. Os alunos, contudo, ao contrrio, iam se desencantando com a to almejada escola. Vejamos o caso particular de cada aluno. O cisne, nas aulas de correr, de voar, de subir morro, apesar de todo esforo, era mau aluno. Tirava notas pssimas. E mostrava os ps ensangentados nas corridas e as asas com calos adquiridos na nsia de voar alto e veloz. O pior era que com o esforo nessas disciplinas comeara at a nadar pior do que antes, coisa em que era exmio. O coelho, por sua vez, padecia nas matrias de nadar e voar. Como poderia voar se no tinha asas? Em se tratando de nadar, a cbisa era igualmente difcil, se bem que um pouco menos que a anterior. O que o salvava eram as duas matrias restantes: correr e galgar obstculos, pois suas notas em nadar e voar eram de reprovao. Mas ningum era dispensado de nenhuma matria. O gato tinha o mesmo problema do-coelho em se tratando de nadar e voar. Com respeito a voar, ele insistia que se fosse o caso de voar de cima para baixo, ele poderia ter relativo xito. O professor, contudo, no podia aceitar esta condio, porque no estava de acordo com o programa oficial que devia ser cumprido, rigorosamente. 134
O pato, finalmente, era um aluno medocre em tudo; voava um pouco, corria mais ou menos, nadava at bem, muito menos que o cisne, claro; subia, at com certo desembarao. Sua mdia geral era a melhor. No tinha reprovao como o coelho e o gato. Por isso, sua mediocridade em todas as matrias o fazia sumamente brilhante na estatstica final. Foi, assim, escolhido como orador da turma, apesar da reclamao geral. O coelho se queixava de correr e galgar morros muito melhor do que ele. O cisne, de ser melhor nadador. Cada um tinha sua queixa justificada a fazer. Um nico fato deixou a todos calados: ningum tinha mdia superior dele e, por isso, estatisticamente era superior a todos.
EXERCCIOS
1. Esta fbula lembra, de alguma maneira, nosso ensino? 2. Uma escola assim preenche o valor real que deveria ter ou parece antes feita para conferir diplomas? 3. Se o professor dissesse: "O objetivo da aula de hoje dar uma noo do que seja objetivo de ensino", seria isso objetivo ou o assunto da aula? Qual a sua opinio? 4. Comente: "O que melhor e mais eficientemente distingue uma aula de qualquer tipo de comunicao o objetivo bem definido e elaborado."
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O objeto da Psicologia Social o comportamento humano no grupo. Temos que considerar dois tipos de grupos: os formais e os informais. Por grupos informais, entendemos aqueles que se formam espontaneamente, pelo relacionamento natural entre as pessoas. Grupo formal aquele organizado por determinada exigncia social, administrativa, funcional etc. Uma classe um grupo formal, organizado por exigncia administrativa e funcional. Nela formam-se vrios grupos informais: so aqueles grupinhos de amigos.
Comportamento social
( C a r l o s D r u m m o n d de A n -
Em nenhum texto de Psicologia podem faltar noes bsicas de Psicologia Social. Vejamos um exemplo: num colgio, um professor encontrou numa turma de adolescentes um aluno que perturbava seriamente as aulas com suas gracinhas. O professor o chamou, amistosamente, fez-se seu amigo e o garoto prometeu melhorar. Mas, na aula seguinte, a um sinal do lder, esqueceu sua promessa. No final da aula, o professor chamou-o novamente e ele lhe confessou: "Era meu maior desejo colaborar com o senhor, mas no posso. Se fico srio, eles vm me perguntar se estou doente, se me transformei, o que houve". As expectativas do grupo sobre ele eram fortes. Alis, em todo grupo, os indivduos executam papis que o grupo lhes confere. O professor, neste caso, estava diante de um grupo bem estruturado. Voltar-se para um membro de um grupo e querer que atue individualmente no surte efeito. Muitas vezes, o comportamento uma funo grupai. A soluo consiste em: ou pr o problema para o grupo resolver e debater, ou procurar tratar com o lder ou cabea natural deste grupo informal. O professor estava, pois, diante de um grupo, e no de uma reao individual. Aparentemente, s temos diante de ns indivduos, mas algumas vezes estamos lidando com grupos. 136
R.: A sociedade se apoia num sistema de trocas. Quando Joo foi perguntar a Pedro, com esta deferncia j prestou uma homenagem a ele. As normas sociais exercem controle para que as trocas sociais permaneam vlidas. A presso neste sentido obrigou Pedro a responder. O grupo o olharia de maneira crtica se no desse as explicaes pedidas. No v Joo explor-lo. Isto j outra realidade. 4. Um indivduo executa melhor uma tarefa sozinho ou tendo audincia (na presena de outros)? R.: A presena de outras pessoas melhora as respostas dominantes. Exemplo: uma dona-de-casa vai fazer compras, seu comportamento dominante gastar s determinada quantia o balconista refora esta resposta dominante e ela compra s o planejado. Este fato no se repete num auto-servio, onde a compradora se acha sozinha, sem ter seu comportamento perturbado pela presena do balconista. Acrescente-se, no caso, o sugestionamento que as embalagens e os produtos, nas prateleiras, exercem sobre a pessoa. 5. Por que em todos os grupos existe um membro que recebe maior quantidade de escolha, de atenes, sendo o preferido? R.: Em razo da lei das trocas: "Quem d mais recebe mais". Geralmente, em todos os grupos, h sempre um que est disposto a ajudar, comunica-se mais, mais simptico, enfim, d mais e- conseqentemente recebe mais. 6. Aqueles cinco homens sentam-se num nibus. O veculo demora a sair. Cada um se acha em atitude de defesa em relao aos outros: jornais abertos, olhar distante janela afora. De repente, Jos fecha o jornal e diz: "Parece que vai chover forte". Silva, que est ao lado, sente-se na obrigao de corresponder, falando qualquer coisa. Aquela observao, 'dentro do clima reinante, funcionou como um pequeno choque. Todos comearam a sair de suas defesas e comearam a interagir. Formou-se ento um grupo? R.: S pela comunicao no. Para haver um grupo, veja a resposta l. questo. Seria necessrio que os cinco se empenhassem numa tarefa comum. Se se unissem para acabar com os atrasos constantes do nibus por exemplo. O proponente desta operao, provavelmente seria o lder; alguns se encarregariam de telefonar, de agir em determinado setor em funo do objetivo comum (seria o desempenho de papis diferentes). O grupo duraria enquanto houvesse mais foras de coeso do que de repulso.
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INDIVDUO E SOCIEDADE
S O C I E D A D E
SEU COMPORTAMENTO
INDIVDUO
Para melhor entendermos este assunto vamos nos valer das coordenadas cartesianas, j que temos duas foras atuando inversamente uma sobre a outra: a sociedade e o indivduo. Comecemos com duas questes. Primeira: podemos considerar a sociedade e o indivduo, cada um como um tipo de fora diferente? Segunda: que tipo de fora a sociedade e que tipo de fora o indivduo? Caracterizemos, pois, estas duas foras. A sociedade se apresenta como uma fora que pressiona o indivduo. A sociedade tende a enquadrar os indivduos por fora dessa presso. Suas normas, suas leis, sua estrutura e seus objetivos exercem presso. Por isto, no possibilita a que o indivduo viva em estado de espontaneidade ou de liberdade absoluta. Por exemplo, o proprietrio de um grande banco nacional, se for seu presidente, no poder exercer sua liberdade ou espontaneidade de modo total. Ter obrigaes do cargo e, portanto, sofre alguma presso de sua prpria sociedade. No uma presso igual de um simples escriturrio de uma de suas agncias, mas no deixa de ser uma presso. Haver ocasies em que, gostando ou no, ter que presidir reunies e tomar decises. E o indivduo? Vamos consider-lo como uma fora que busca espontaneidade e liberdade, isto , como uma fora que se orienta para fazer aquilo que quer e gosta de fazer. Como vimos, indivduos e sociedade so foras aparentemente antagnicas. 139
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Na sociedade, podemos antecipar, como possveis, alguns choques entre as foras da espontaneidade do indivduo e a presso de sua organizao. Estes choques, de natureza sobretudo psicolgica, exprimem-se em graus diferentes de intensidade. Ningum pode negar que o indivduo, no seu ntimo, gostaria de ser uma pura e total espontaneidade, fazendo aquilo que seus impulsos lhe sugerem. Ora, isto impossvel em qualquer vida organizada. Por isso, dentro das organizaes vai ter que se adaptar, criando um tipo de comportamento que uma resultante das foras: presso da sociedade e espontaneidade pessoal. este comportamento social ou adaptado que a pessoa pe em ao por fora e presso da sociedade dentro da qual est ou vive. evidente que os comportamentos das pessoas se modificam e se conformam de acordo com o meio. Num salo de recepo, numa quadra de tnis, num estdio de futebol em final de campeonato, na empresa ou na igreja, nossa conduta se altera em funo destes meios sociais diferentes. Cada tipo de organizao pressiona e exige determinados padres de comportamento. Quais as presses que recairiam sobre uma pessoa que apresentasse, na igreja, um comportamento de torcedor num estdio de futebol? Para entendermos os mecanismos de presso da sociedade agindo sobre as foras da espontaneidade do indivduo, partimos das premissas: 1. Toda organizao, toda hierarquia , at certo ponto, uma forma de dominao sobre o indivduo. Assim, a vida social, quer dentro, quer fora do lar, apresenta-se como certa forma de dominao. 2. Ningum pode negar que o indivduo, no seu ntimo, gostaria de ser uma pura e total espontaneidade, fazendo aquilo que seus impulsos lhe sugerissem. Ora, isto impossvel na vida social. Logo, ele deve adaptar-se, adotando uma forma de comportamento que se situe como uma resultante entre estas duas foras: dominao e livre espontaneidade. Enfim, a adaptao um requisito fundamental sobrevivncia. Uma boa e autntica comunicao entre os membros do grupo indispensvel para a durao e o dinamismo grupai que facilita a adaptao. Os indivduos s se comunicam autenticamente a partir do momento em que as necessidades grupais so satisfeitas. Tais necessidades so: sentir-se aceito pelos membros do grupo, sentir no grupo seu lugar seguro e estvel. Sentir-se valorizado e valorizar os membros do grupo. 140
O tipo de comunicao mais comum nos grupos a filtrada, ou seja, aquela em que as pessoas no comunicam tudo entre si: transmitem uma parte e escondem outras; ou ento apresentam a mensagem distorcida. Diz-se que h bloqueio na comunicao quando as pessoas deixam de se comunicar, no se falando, por exemplo. Estes tipos dc comunicao se opem comunicao autntica, que aquela na qual o comunicador exprime tudo, sem omisso nem apresentaes distorcidas. Exprime a coisa, os fatos, a mensagem tal qual, visando apenas transmisso verdadeira do que realmente sente.
i EXERCCIOS
1. Quando, num grupo, os indivduos se sentem reciprocamente aceitos, seguros, valorizados, a comunicao mais natural pode tender a ser: a. Bloqueada. b. Filtrada. c. Autntica. 2. Qual a diferena entre a comunicao bloqueada e a comunicao filtrada? 3. Uma pessoa se comporta do mesmo modo quando est sozinha e quando est em companhia de outras pessoas? 4. A famlia uma organizao que exerce alguma presso sobre seus membros? O pai e a me tambm so pressionados pela estrutura da organizao familiar, ou apenas os filhos?
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O PODER DA TELEVISO
A participao ativa e crtica do aluno a prpria razo de ser de um sistema que pretende ser educacional e, neste ponto, a televiso falha. Mas, mesmo assim, educa e ensina. De qualquer maneira, uma realidade cada vez mais presente dentro de nossas casas, desempenhando um papel de grande importncia no desenvolvimento e na socializao da criana papel equiparvel ao da famlia, da escola ou da igreja. H quem acredite que, muitas vezes, se ataca injustamente a televiso, tornando-a o bode expiatrio de todos os males de um mundo cada vez mais complexo. A televiso uma fora e, s vezes, uma fora muito poderosa, que tem de ser levada em conta. uma fora entre muitas outras que interagem de modo complexo no desenvolvimento infantil. As crianas podem identificar-se com modelos propostos pela televiso, podem imitar o que vem na tela e podem, obviamente, aprender pela televiso, de modo direto ou indireto, assim, como aprendem de outras fontes. Por exemplo, o quadro de violncia mostrado pela televiso no , muitas vezes, visto como fonte de imitao ou como estmulo agresso, mas como um elemento fomentador de medo, apreenso e insegurana, sentimentos que podem traduzir-se num apoio decidido e talvez at excessivo s foras da lei e da ordem, e que podem tambm levar as pessoas submisso e subservincia ao Estado. No final, o bandido no sai vitorioso. Quem vence sempre a justia, a lei, a ordem, o bem. E com isto, est reafirmando e consolidando as regras do poder estabelecido, est sendo conservadora. A televiso pode ser encarada como o brao cultural da sociedade, que difunde smbolos culturais na conscincia do pblico e produz uma homogeneidade cultural muito mais ampla do que so capazes de detectar os pesquisadores.
Televiso e sociedade
A face do mundo foi transformada, nestes ltimos 25 anos, pelos modernos meios de co-
municao de massa.
(Marshall McLuhan)
A televiso pode desempenhar importante papel na vida da criana, transmitindo-lhe informaes, sugerindo-lhe idias e proporcionando-lhe entretenimento. Pode at se transformar no centro da vida domstica, eliminando conversas sobre problemas familiares e suprimindo costumes e passatempos tradicionais. Mas, no consegue substituir a escola. Os meios de comunicao, especialmente o rdio e a televiso, com o poder multiplicador de suas mensagens, se apresentaram como a soluo para as carncias educacionais dos pases pobres, no incio dos anos 60. A educao eletrnica, distncia, por ser abrangente, seria o substituto da escola. Hoje, infelizmente, sabemos que isto no a expresso da verdade. Para o fracasso desta expectativa inicial concorreram muitas causas: polticas, administrativas, econmicas, e ideolgicas. Contudo, o emprego do rdio e da televiso, na soluo dos problemas educacionais, no se mostrou to fcil devido sobretudo s deficincias do prprio meio, quando utilizado no processo educativo. Sua dificuldade bsica que o cinema, o rdio e a televiso so meios de grande impacto, de ilimitado poder de multiplicao da mensagem mas sem nenhuma interao com o ouvinte. A comunicao, enquanto processo, fica truncada porque se transforma numa via unilateral, impossibilitando a ao do receptor da mensagem. Em se tratando de educao, este receptor (que no caso se chama aluno, aprendiz) a pea principal. 142
Os comerciais de TV exercem excepcional atrao sobre as crianas. Os anncios trazem sempre "boas notcias", alm de serem insistentes e repetitivos. Enfatizam as virtudes do produto sem qualquer meno a seus pontos fracos. A publicidade leva s crianas a iluso de que existe uma infinidade de produtos e servios de que podem dispor: mas no encoraja absolutamente as crianas a controlarem seus desejos de comprar. Desta forma, ensina-as a se tornarem consumidores indiscriminados, excitando seus desejos de posse e aquisio. Os anncios veiculam meias verdades e inutilizam muitas lies de qumica e biologia que as crianas aprendem na escola.
EXERCCIOS
1. "Na maioria dos pases ocidentais, as crianas passam muito tempo diante do aparelho de televiso." Extraia duas concluses deste fato. 2. H dois tipos de educao: o formal, que se realiza nas salas de aula, e o informal, que existe em toda parte. Dentro desta dualidade, como podemos encarar a televiso? 3. Qual a maior mensagem da televiso? 4. Faa um estudo e uma anlise das mensagens transmitidas pelos principais programas da nossa televiso.
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TERCEIRA PARTE
AS PORTAS DO CONHECIMENTO
Se pudssemos limpar as portas da percepo, tudo se revelaria ao homem tal qual : infinito. (William Blake)
Os alunos, de imediato, responderam que era o acento grfico que no figurava na segunda palavra. preciso desmanchar este primeiro set (estrutura) perceptivo para se poder chegar ao contedo ideativo ou significao de cada palavra: "amssemos", do verbo amar, e "amassemos", do verbo amassar. Cada homem vive mais em funo de seu mundo interior, do que em funo da realidade objetiva. Muitas vezes o que uma pessoa sente, pensa e imagina, depende mais de sua experincia interior do que dos fatos e acontecimentos objetivos. Da a expresso: "Cada cabea, uma sentena".
Sentir , de imediato, uma comunicao vital com o mundo. Pensamento tudo quanto fazemos para sair da dvida em que camos e retornar certeza. ( O r t e g a y G a s s e t )
Se no fosse a percepo, seramos como uma pedra, que est ligada ao meio apenas fisicamente. A cada momento, estamos agindo sobre o meio exterior, em interao com tudo que nos rodeia, atravs da percepo. Os sentidos, que so nossas antenas para a captao do mundo exterior, colhem os estmulos no s do meio, mas tambm do nosso ntimo.
COMO OCORRE
P E R C E P O
Perceber organizar interiormente os elementos levados pelos sentidos. Perceber conhecer, atravs dos sentidos, objetos e situaes. H brincadeiras e jogos baseados nas falhas e na estrutura de nossa percepo. Por exemplo: Um professor pergunta aos alunos qual seria a diferena entre as duas palavras que acabara de escrever no quadro-negro:
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Perceber organizar os dados que os sentidos fazem chegar at o crebro. A estes dados so e se transformam em percepo.
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8. Apenas alguns elementos so suficientes porque a mente, ao organizar a percepo, supre os elementos que A est a explicao da lei da totalidade ou da Gestalt.
LIMITAO PERCEPTIVA
9. A mente humana, ou melhor, a razo humana, procura significados Assim, ao elaborar os dados transmitidos pelos sentidos, ela completa-os para ter um significado do objeto ou da situao. Mais uma vez, entrou em ao a lei da totalidade ou da Gestalt.
6. Como a percepo uma organizao, no necessrio que os elementos vindos atravs dos sentidos sejam completos. Em outros termos, no so necessrios todos os elementos para se ou ter uma percepo, bastam
7. Por limitao perceptiva queremos dizer que bastam . . . para se organizar a percepo do todo. um efeito da lei da totalidade ou Gestalt.
1 0 . Talvez por esse mesmo motivo, nunca h percepo de um objeto ou de um elemento isolado: percebemos um campo, num todo, isto , o objeto e o que est ao seu redor. O objeto e o que est ao seu redor.chamam-se um perceptivo.
Conte quantos traos foram necessrios para voc organizar a percepo de um cachorro. Em qualquer percepo, a primeira imagem salta vista como um todo e os pormenores vo-se destacando depois, devido lei da totalidade ou Gestalt. As linhas e pontos separados unem-se e organizam-se na mente formando a percepo do objeto.
11. Um campo perceptivo se constitui de duas partes essenciais: figura e fundo. Figura a parte central da percepo. Fundo a perspectiva, a moldura ou contorno do campo. O elemento mais importante do campo ; o de menor importncia
12. Nunca percebemos estmulos isolados; percebemos sempre totalidades, estruturas organizadas e com significao. Perceber conceber um campo total constitudo de e , em outros termos, de tema e campo temtico.
13. Algum que passa por uma sala de aula v professor e alunos. Tomando a classe como campo perceptivo, o que figura? O que perspectiva ou fundo?
Vide, do mesmo autor e editora, Introduo ao Estudo da Filosofia. cap. 13: "O Problema do Conhecimento Humano".
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Primeira parle,
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Os objetos no so percebidos isoladamente, mas sim om relao a outros. A prpria percepo de um objeto depende, em parte, do fato de vermos algumas relaes entre as partes que formam o todo. Assim, a estrutura percebida a maneira pela qual as partes se combinam para formar o todo. Veja a figura ao lado. O que voc v? Estrutura ambgua (reversvel) que pode ser apreendida sob duas perspectivas diferentes. Qual o tema? Qual o fundo ou perspectiva?
17. Enquanto voc olha para a Lua, passa uma nuvem sobre ela. Voc a v fugindo. um movimento aparente. Nesta percepo, a Lua era a do campo perceptivo. A nuvem era fundo ou perspectiva. Como a figura o elemento principal do campo perceptivo, percebe-se o movimento do fundo como sendo da esta a explicao desta iluso perceptiva.
14. Uma situao catica e confusa nem sempre pode ser percebida. Para que isto ocorra necessrio perceber seu significado de confuso ou ameaa. Contudo, numa confuso ou tumulto cada um percebe e descreve o ocorrido a Essas percepes ligeiramente diferentes se originam, como vimos, do fato de a organizao perceptiva ser marcada pelo subjetivismo de cada um.
15. Vejamos um exemplo: Um avio de passageiros decolou de um pas A rumo a um pas C. Para chegar at este deveria sobrevoar o pas B. Durante a viagem, espatifou-se justamente na fronteira dos pases B e C. O problema jurdico que se originou foi o de onde sepultar os sobreviventes. Deveriam ser sepultados no pas A, de onde provinham, ou em C, para onde iam? Ou deveriam, talvez, ser sepultados no pas B, por onde acabavam justamente de passar? Todos os passageiros eram naturais de um quarto pas, D. Resolveram? Difcil ou fcil? Houve alguma lacuna na organizao perceptiva?
FUNES DA PERCEPO
19. Funo informativa. Perceber uma forma de manter contato com o meio para sobreviver. A partir desse contato o ser vivo organiza seu comportamento, de acordo com o que percebido. A minhoca no tem olhos porque no precisa da viso para no meio subterrneo onde vive. As percepes tcteis so muito mais .-.. do que as
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20. Funo defensiva. Pela percepo, o indivduo se defende dos perigos. Assim, se um indivduo se percebe agredido, agride (mesmo que a outra pessoa no tenha nenhuma inteno de ofend-lo). Se A chega para voc e lhe diz que foi ofendido ou agredido por B, desta ou daquela forma, voc deve levantar duas hipteses bsicas: a) B agrediu porque foi primeiro agredido por A. Nesse caso, o problema central est em A ou em BI b) Na realidade, pode acontecer que A realmente nada fez que ofendesse a f i e mesmo assim B continua em sua campanha agressiva. Ento teremos a segunda hiptese:- B agride a A porque se percebe agredido. Nesse caso, o problema em quem est?
NECESSIDADES E PERCEPO
24. Muitas percepes so determinadas por nossas necessidades. Quando precisamos de agulhas, percebemos a existncia de bazares muito mais do que se no tivssemos essa necessidade.
25. Rapazes falam muito mais em moas e moas falam muito mais em rapazes por fora de suas necessidades internas. Deformamos a realidade em funo das tenses interiores que as geram em cada um de ns.
21. Se B percebe A como um agressor porque na personalidade de B h elementos que deformam tudo o que emana, de A. No caso de A no ser, em nenhuma hiptese, agressor, o enunciado certo ou errado?
26. Meninos de famlia pobre, quando pintam um bolo, desenham-no enorme. Quando pedimos para um empregado falar das pessoas com quem trabalha, fala muito mais dos chefes do que dos colegas ou subordinados. Os chefes so mais importantes sob o ngulo de suas
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Voc se percebe de uma maneira. No v pensar que seu pai, sua me, seus irmos, vizinhos, colegas o percebem da que
23. Deformamos nossas percepes segundo nossos estados internos. Se A acha que B est querendo prejudic-lo, distorcer todas as suas aes, mesmo aquelas bem intencionadas: se A fz um gesto de delicadeza, B pode perceber como hipocrisia; se A preocupado no lhe d toda ateno, B pode perceber aquilo como para com ele.
28. A relao de dependncia, como a de superiorIsubordinado, paiIfilho, professorIaluno, pode gerar hostilidade. Muitas vezes, o chefe quer se mostrar amigo, mas o empregado estruturado diferentemente pela hostilidade latente no o percebe como Pode haver em cada um enfoques Muitas vezes no nos apercebemos disto, com conseqncias desagradveis para . . . .
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29. Definir percepo como impresso mecnica na concincia de coisas do mundo exterior boa definio? Sim/No 30. Perceber antes organizar, reproduzir tal qual, imprimir na conscincia, reter o objeto, concluir sobre o objeto. Escolha o termo adequado. 31. Um revisor, lendo num texto sobre eletricidade a palavra "cheque", poder ler "choque", e num texto de moda poder ler "chique". a) possvel? b) No possvel? 32. A expectativa de algo agua a percepo naquele sentido. Assim, as necessidades, uma motivao em determinado sentido, o interesse, tudo isso altera ou distorce a 33. Pessoas com fome viram mais imagens de comida em borres de tinta do que outras depois de saciadas. Qual a interferncia sofrida nessa percepo? A percepo um fenmeno mental dinmico. Ao percebermos uma coisa, no a percebemos estaticamente, mas dentro de um processo dinmico de mudanas ou de novas reestruturaes. Vide figura.
34. Dinamismo perceptivo a capacidade de reestruturar um campo perceptivo, percebendo-o sob novas 35. A rigidez perceptiva o fenmeno oposto ao dinamismo. As personalidades autoritrias, fanticas, sofrem de certa rigidez perceptiva. So incapazes de perceber novos nas situaes. 36. A percepo determinada muito mais pela relao que se estabelece entre seus elementos contguos, prximos ou constitutivos, do que pela existncia e presena de seus elementos. No basta a presena, mas sim a relao que se estabelece entre os elementos. Um limo mais azedo se for provado depois de um pedao de doce. Uma rosa num campo percebida de maneira diferente do que num jarro, dependendo dos que vo formar, com ela, um campo perceptivo.
HS: histria do estmulo. S: estmulo. ANP: atividade neural perifrica. DNC: depsito neural central. ANC: atividade neural central. F.: experincia fenomenolgica (percepo interna). R.: resposta percepo: resposta perceptiva Exemplifiquemos. Um rapaz, que nunca havia sado do prprio bairro, foi, um dia, visitar uma fazenda de um colega. L, ele se deparou com um "monstruoso" touro zebu que nunca havia visto. Diante daquele estmulo (S) desconhecido, procurou na sua histria passada dos animais (HS) algo igual quilo e no encontrou. Recorreu ao depsito neural central ( D N C ) , sua memria, e encontrou animais semelhantes: camelos, cavalos e t c , mas igual, no. Diante disso, teve de 156 157
tomar uma deciso na atividade neural primria ( A N P ) , decidindo perceber aquilo como um touro; aprofundou mais seu ato perceptivo na atividade neural central (ANC) e confirmou a percepo como de um touro. Assim, firmaram-se dentro da conscincia dois fenmenos ( F ) : um de um touro provisrio, isto , podendo ser outro bicho, e outro de um touro definitivo. Finalmente, a resposta (R) a projeo de (F) como se estivesse fora, ocupando um espao idntico ao do animal real. Esta descrio puramente didtica: essas fases se completam com tremenda rapidez. Muitas vezes, quando esperamos algum numa esquina movimentada, por exemplo, temos a iluso de ver a pessoa aparecer ao longe ( A N P ) , mas levando esta imagem a um exame ( A N C ) , vemos que houve engano. Em muitos atos perceptivos h um processo decisrio: temos que decidir se tal coisa percebida realmente tal coisa ou pessoa real.
Que inteligncia?
EXERCCIOS
1. Eis uma prova de como as pessoas organizam diferentemente os dados dos sentidos. Voc tem diante de si um nico desenho. Voc pode perceber nele mais de uma figura?
Todos concordam que, de todas as qualidades humanas, a inteligncia uma das mais desejveis. Mas nem todos se referem mesma coisa quando falam dela. Plato afirmava que, ao sabermos em que consiste a inteligncia, de certa maneira ficaramos mais inteligentes.
(William Stern)
At o final do captulo veremos se Plato tinha ou no motivo para sua afirmao. Vamos comear discutindo o seguinte caso "L era, realmente, inteligente?"
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" L " tinha onze anos. Era sadio e aparentemente sem perturbaes neurolgicas. Tinha uma estranha variedade de capacidades mentais. Era capaz de dizer o dia da semana de qualquer data entre 1880 a 1950. Dava o total correto de dez a doze parcelas de duas casas assim que acabava de ouvi-las. Soletrava muitas palavras de trs para diante e de diante para trs. Tocava de ouvido composies musicais tais como o "Largo" de Dvorak. Cantava do comeo ao fim a ria "Credo" e o dueto "Si pel ciei" da pera Otelo. Em suma, era formidvel. Mas ia mal na escola. Em conhecimentos gerais, estava muito abaixo de seus colegas. Conhecia o sentido de pouqussimas palavras, apesar de soletr-las at de trs para frente. Era quase incapaz de raciocnio lgico e se perdia em qualquer problema abstrato. Era inteligente?
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2. Quais ou qual a figura que voc percebe e que seus colegas, ao lado, percebem? 3. Este exemplo demonstra que a realidade vista por um pode no ser a mesma realidade experimentada por outro. Explique melhor este fato. 158
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Depois do debate ou da reflexo sobre esse caso, poderemos nos aproximar da conceituao de inteligncia. Um professor diz que um aluno inteligente quando compreende prontamente sua explicao. Um chefe de oficina diz que o operrio inteligente quando descobre rapidamente os defeitos mecnicos e os conserta com propriedade. O gerente de loja acha inteligente o vendedor que faz o fregus comprar. O que h de comum nestas trs situaes que justifique inteligncia? Tente resolver antes de prosseguir. Seria: a) O ato de agir em funo de um objetivo? b) A capacidade de pensar racionalmente? c) A capacidade de lidar eficazmente com seu meio em forma de hbitos adquiridos? d) A capacidade de resolver adequadamente situaes novas e difceis? Qual a melhor das quatro opinies? Talvez a explicao do professor fosse difcil, o defeito mecnico srio e o fregus da loja um comprador dificlimo. Diante disto, teramos em cada situao um problema, e o comportamento inteligente teria sido resolv-lo adequada e rapidamente. Assim, a melhor resposta a "d". Devemos encarar a inteligncia como uma capacidade de resolver, de maneira criativamente nova e original, os problemas da situao, isto , do meio em que vive. Nem todos os nossos comportamentos exigem uma atividade inteligente. Nossos hbitos so estruturas mecnicas de comportamento que acionamos para a consecuo de muitos objetivos, sem precisar mobilizar a inteligncia. Quando surge um problema, uma situao difcil que no pode ser resolvida por meio de nosso equipamento aprendido, por reaes e hbitos automticos, ento apelamos para as foras superiores da inteligncia.
Vemos, no grfico a seguir, a estrutura da inteligncia. O primeiro ponto a considerar na figura que a inteligncia se liga capacidade de realizar operaes mentais com eficcia. Ela uma atividade, isto , a mobilizao de um conjunto de operaes mentais. Conforme mostra a figura, essas operaes mentais so as seguintes: cognio, memria, produo convergente, produo divergente e avaliao.
Esclareamos os itens: Cognio. Na soluo de um problema ou situao difcil, preciso, em primeiro lugar, reconhecer os elementos disponveis e constitutivos da situao. Essa operao a cognio (do latim cognoscere = conhecer). Memria. Alm de levantar os dados do problema preciso ret-los na memria ou evocar outros elementos para o processamento da soluo. Reter e evocar so funes da memria. Produo convergente. uma forma de atividade intelectual que processa os elementos mentais de conformidade com os padres convencionais. 161
ESTRUTURA DA INTELIGNCIA O que mais caracteriza o ato inteligente o fato de utilizar vrios elementos da situao de maneira original ou criadoramente nova. No fundo, em todo ato inteligente h uma pequena descoberta.
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Produo divergente. uma forma de atividade intelectual que processa os elementos mentais de modo no-convencional. As descobertas e invenes so produtos divergentes, no-convencionais da mente. Por exemplo, o ar condicionado apareceu quando o inventor, no satisfeito com o ventilador, lembrou-se da geladeira e associou os dois princpios: o do resfriamento e o da ventilao. Avaliao. uma forma de atividade mental em que a mente elabora pesos e valores diferentes, julgando a respeito da correo, adequao, desejabilidade, melhor convenincia. Quando um administrador pensa sobre os empregados para saber qual o que merece promoo, est avaliando mentalmente. Est processando elementos mentais que so valores, pesos, reaes comportamentais adequadas etc. Em todo processo decisrio, cada informao tem uma relevncia e um peso prprios. Nem todos os elementos se apresentam com o mesmo valor. um ato tpico de avaliao. As atividades de mente s existem sobre determinados contedos. Ningum pensa a respeito de nada. O pensamento consiste em elaborar, processar mentalmente algum contedo. claro que podemos raciocinar sobre inmeras coisas. H um nmero infinito de assuntos sobre os quais podemos pensar; contudo, Guilford, psiclogo norte-americano, reduziu-os a quatro categorias: contedos contedos contedos contedos figurativos; simblicos; semnticos; comportamentais.
Contedos comportamentais so reaes, atitudes, formas de pr ceder, ao, padro de aes das pessoas. A mente que processa de forma altamente criativa esses elementos comportamentais possui o que se chama de inteligncia social. Tem a capacidade de tratar com reaes humanas e com as pessoas como tais, tirando efeitos novos e surpreendentes. O produto final a soluo do problema. Muitas vezes, a soluo est em incluir o elemento numa classe, em encontrar suas relaes, em descobrir o sistema ou qual a sua parte ou funo no sistema. A soluo tambm pode estar na transformao ou numa nova arrumao da estrutura problemtica. Algumas vezes, a soluo no sai por falha na capacidade de concluir corretamente a partir dos elementos existentes na questo.
Contedos figurativos so elementos concretos num espao limitado. Um jogador de futebol, um arquiteto, um urbanista ou um grande pintor esto elaborando elementos concretos num espao limitado, realizando maravilhas, muitas vezes. Alguns tipos de inteligncia tm maior facilidade de processar elementos figurativos. o tipo de inteligncia concreta, espacial, mecnica. Contedos simblicos so sinais sem significao por si mesmos: nmeros, letras, notas musicais ou qualquer outro elemento de cdigo. H tipos de inteligncia que so estruturados para processar melhor e mais facilmente esses elementos. tipo de inteligncia simblica a dos matemticos, dos lgicos e talvez dos musicistas. (A nota e a notao musical j so elementos simblicos.) Contedos semnticos so essencialmente as palavras e seus signicados. A inteligncia com maior aptido para processar esses contedos chama-se inteligncia verbal. Os grandes oradores, escritores, filsofos devem possuir esse tipo de inteligncia. 162
QUE PENSAR?
Pensar processar elementos mentais ou do meio ambiente para a obteno de determinados objetivos ou para nossa prpria recreao. Se algum lhe pede para resolver algumas tarefas, tais como: Procurar todos os sinnimos de: "casa", "vida", "jogo", "mar", "espao", "ave". 163
Procurar, num teste de lacuna, as palavras que completam o significado da frase. Escrever o maior nmero possvel de palavras com a letra r, num perodo de dez minutos. Dizer esta sentena numa frase bem mais simples: "O rato foi comido pelo gato que foi morto pelo co". Evidentemente, na soluo destas questes, voc ter de processar elementos mentais da sua experincia, isto , ter de pensar. Podemos distinguir, no homem, dois tipos de pensamento: o operativo e o simblico. O primeiro dirigido para objetivos a alcanar, visa ao xito e controlado pela coerncia. O segundo, no tem estas limitaes. mais solto e livre. at "onipotente" porque trabalha com elementos da fantasia. O pensamento operativo usa raciocnio lgico-dedutivo e hipottico-dedutivo. Est preso aos fatos e Lgica, exigindo mais coerncia e rigor. Se uma pessoa ocupar seus processos mentais unicamente com o pensamento operativo pode chegar neurose ou quem sabe psicose ou loucura. Para a sade mental importante alternar formas de pensamento simblico com formas de pensamento operativo. O pensamento simblico proporciona uma pausa na pesada busca de objetivos e, assim, libera um pouco a pessoa de suas frustraes e limitaes. Da a importncia das distraes. Jogos e divertimentos so atividades afins do pensamento simblico. A criana dispe apenas do pensamento simblico. S atravs da maturao e por exigncia das necessidades que ela chega ao pensamento operativo. Atravs do pensamento simblico, o homem chegou s artes, criou festas, rituais mgicos e religiosos. Com o pensamento operativo criou formas de caa, instrumentos de trabalho, mquinas e novas formas de produo. Os problemas da sobrevivncia mobilizam de tal maneira o pensamento operativo, que pode chegar a inibir o simblico, subvertendo a velha sabedoria que diz: "o trabalho faz bem a todos, mas um pouco de sonho e fantasia no faz mal a ningum". Este fato tanto verdade individual como coletiva. "Da existirem comenta o professor Lauro de Oliveira Lima 'civilizaes prometicas' (dominadas pela compulso do trabalho) e 'civilizaes dionisacas' (levadas pelo sopro da festa e da alegria)." O animal adulto absorve grande parte de seu tempo de viglia na busca do alimento, e o homem, no trabalho. Por isso no se percebem neles atividades ldicas. De um modo geral, s brincam enquanto pe164
quenos e, nessa fase, so sustentados pelos pais. O grau de ludilttO (jogos) do ser humano depende da abundncia ou escassez de recursos em que vive. Se o ambiente pobre, a maior parte de seu tempo 6 gasta na busca de meios de manuteno. Foram a agricultura e a criao de animais que, permitindo a acumulao de bens excedentes, abriu espao para as festas e os jogos. A apropriao, contudo, destes excedentes da riqueza dividiu a humanidade em ociosos e trabalhadores. Segundo alguns tericos, a histria tem sido a luta entre estes dois tipos de homens, isto , tem sido a luta pela "ociosidade". Esta "ociosidade" permitiu a expresso do pensamento simblico, das artes, das cincias e a criao de uma vida econmica e administrativa desenvolvida. Algumas pessoas estranham que famlias mais pobres se privem de bens essenciais para comprar um aparelho de televiso. bom, contudo, no esquecer que a televiso, at certo ponto, realiza uma aspirao do ser humano: "viver de suas fantasias." Por que, afinal, se trabalha? Uma das finalidades de tal esforo ter oportunidade de divertir-se, fantasiar, festejar. A televiso antecipa, pois, este objetivo.
EXERCCIOS
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1. Estivemos estudando a inteligncia. Um professor diz que um aluno inteligente quando compreende facilmente sua explicao. Um chefe de oficina diz que o operrio inteligente quando descobre facilmente os defeitos e os conserta. O gerente de loja acha inteligente o vendedor que faz o fregus comprar. O que h de comum nestas trs situaes que justifique inteligncia? 2. A inteligncia de algumas pessoas processa certos elementos mentais com mais facilidade do que a de outros. Que tipo de elemento simblico um jogador de futebol, no limitado espao de um campo, mais mobilizado a processar? 3. Como voc define inteligncia? 4. O que pensar? Voc certamente est pensando enquanto tenta resolver estes exerccios. Em que consiste essa atividade mental?
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A inteligncia cresce tanto durante os quatro primeiros anos de vida como durante os quinze anos seguintes, quando termina praticamente seu desenvolvimento. A seguir comea a declinar lentamente, mas em compensao o adulto enriquece em experincias. Ao entrar para a escola, com seis anos, a criana j alcanou dois teros da inteligncia que ter aos quinze. O desenvolvimento entre os quatro e os treze anos , em grande parte, determinado pelo desenvolvimento anterior idade de quatro anos. Piaget o grande responsvel por esses novos estudos. Observando sua filha aos trs meses, notou quando ela descobriu que, ao espernear no bercinho, as bonecas de pano nele penduradas comeavam a danar. No momento em que compreendeu que ela as tinha feito mexer s com o movimento das pernas, sorriu. Depois, tentou outras vezes. Foi esse o seu primeiro sinal de "inteno": fazer, propositadamente, com que alguma coisa emocionante acontecesse de novo. Essa uma operao mental importante: a inteno de prolongar ou de repetir certas cenas, ou determinados sons. Piaget diz que quanto mais coisas novas uma criana vir e ouvir, mais querer ver e ouvir. O problema bsico no enriquecimento do meio para desenvolver a inteligncia da criana o "problema da adequao", isto , de como encontrar as circunstncias mais estimulantes para cada criana, em cada ponto do seu desenvolvimento. Se lhe derem qualquer coisa inadequada, a criana a desprezar. Se lhe derem algo muito conhecido, ela no ficar motivada e, portanto, no desenvolver seu pensamento. A questo encontrar situaes um pouco alm do que a criana j acumnlou em seu crebro. Se lhe oferecerem isso, ensina a Psicologia atual, as crianas aprendero s por aprender. Essa aprendizagem se tornar um esporte, to absorvente como o tnis ou o futebol, e no ser necessrio obrig-las a estudar.
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O desenvolvimento da inteligncia
A maioria das pessoas acreditava que a inteligncia da criana era fixada ao nascer, herdada geneticamente. Hoje a cincia nega esta crena. Um meio altamente estimulante e rico de experincias pode aumentar a inteligncia das crianas nos decisivos primeiros anos, quando ela mais malevel.
O que uma criana v, ouve e aprende antes da idade de quatro anos afeta, em grande parte, sua inteligncia mais tarde. Numa escola maternal de Nova York, um grupo de crianas de trs e quatro anos de idade recebia aulas individuais de linguagem, quinze minutos por dia. Um segundo grupo da mesma classe recebia quinze minutos de ateno individual, mas sem ensino. Passados quatro meses, as crianas que haviam sido ensinadas tinham obtido mais de catorze pontos de Q.I., enquanto o grupo no ensinado ganhava apenas um ou dois pontos. A nova pesquisa descobriu trs linhas principais de atividades que podem ajudar a inteligncia de uma criana a expandir-se: estmulo na infncia, exerccios de linguagem desde cedo e preparao precoce para a leitura. Benjamin S. Bloom, em seu livro Stability and Change in Human Characteristics (Estabilidade e Alteraes das Caractersticas Humanas), descobriu que cada trao humano possui uma curva de crescimento caracterstico. Com respeito inteligncia, no final do quarto ano de vida, esta curva (a inteligncia) j alcanou a metade do seu desenvolvimento. 166
Eis uma lio de Piaget: ensinar a criana a aprender brincando. O chocalho colocado sob um cobertor enquanto o beb est olhando. Em seguida, os pais verificam se ele consegue encontrar o chocalho escondido. O psiclogo acredita que as brincadeiras de esconder tm enorme valor para o desenvolvimento mental da criana, na primeira infncia. claro que o meio infantil altamente enriquecido no garante a genialidade, mas que eleva, de muito, o Q.I. de uma criana, no resta dvida. Os gmeos, que dividem o tempo de seus pais, atingem em mdia menos cinco pontos de Q.I. do que os filhos nicos, segundo revela
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uma pesquisa escocesa. Irmos nascidos com menos de um ano de intervalo alcanam uma cifra igualmente baixa. Quanto maior o tempo decorrido entre o nascimento dos filhos, mais tempo a me ter para o seu beb e mais alto ser seu Q.I. mdio. Isso explica por que as crianas intelectualmente privilegiadas so quase sempre primognitas.
APRENDIZAGEM PRECOCE
As crianas alfabetizadas antes dos seis anos geralmente conservam o seu lugar de destaque na escola e s vezes apresentam resultados excelentes. Um estudo revelou que muitas crianas alfabetizadas cedo tiveram interesse pela leitura j na idade de quatro ou cinco anos, sem terem sido foradas a isso por pais ou professores.
O AMBIENTE VERBAL
Alguns psiclogos acham que o ambiente verbal da criana ainda mais importante do que o seu meio fsico. A linguagem que um beb ouve pode fazer progredir ou deixar estacionaria sua capacidade bsica de pensar. H vantagem em ler estrias para crianas, desde cedo, mesmo antes de elas completarem um ano ou aprenderem a falar. Numa experincia recente, algumas mes residentes em bairros de baixo nvel econmico receberam dinheiro para ler, em voz alta, para seus bebs, durante quinze a vinte minutos por dia. Com a idade de um ano e meio, as crianas dessa experincia apresentavam progressos expressivos no desenvolvimento da linguagem em comparao com outras crianas do bairro. Segundo pesquisas recentes de psiclogos soviticos, as crianas aprendem muito mais depressa quando podem dar um nome s coisas, ou conversar sobre os problemas no momento em que eles surgem. A experincia sovitica parece provar que quando as crianas no tm nomes para dar s coisas, elas no as percebem adequadamente. Estes pesquisadores mostraram a algumas crianas colees de borboletas, pedindo-lhes que encontrassem uma cujas asas fossem iguais s de uma borboleta que haviam recebido antes. A princpio, as crianas s conseguiram combinar as borboletas pela cor. No prestavam ateno aos desenhos das asas. Mas, quando ensinaram a um grupo nomes para as "manchas" ou "listras", at mesmo as menores passaram a combinar as borboletas por esta semelhana. As crianas do outro grupo no foram alm da cor na sua classificao. Mais significativas ainda do que os nomes e as classificaes so as regras de linguagem. Aqui tambm o papel dos pais da maior importncia. Eles costumam falar com as crianas em frases completas, ou limitam-se a frases curtas e gestos? Os pesquisadores descobriram que a criana aprende com maior rapidez quando a linguagem ao redor dela mais rica. Um ambiente cultural e verbalmente rico muito importante para a inteligncia das crianas, pois as ajuda a compreender adequadamente seu mundo. 168
A inteligncia superior
Acima de Q.I. 1 2 0 temos: muito inteligente, talento, gnio. Vejamos agora, os feitos de uma criana cujo quociente de inteligncia chegava a 1 8 7 . Aos oito anos, Eduardo estava acima da mdia em altura e peso. Enquanto as crianas normais de sua idade cursavam a segunda srie, Eduardo j fazia a quinta srie. Aos doze anos entrou para o segundo grau. Sua classificao no exame vestibular foi o segundo lugar entre 4 8 3 rapazes que, em mdia, eram seis anos mais velhos do que ele. Formou-se em quatro anos, tendo sido eleito para membro da fraternidade honorria PHI B E T A K A P P A (Sociedade que congrega os talentos universitrios nos Estados Unidos). Possua um conhecimento razovel de doze lnguas. Concluiu depois o curso da Faculdade de Filosofia aos vinte e poucos anos, abraando a carreira de ministro protestante. O professor americano Lewis M. Terman fez uma exaustiva pesquisa entre-escolares americanos e chegou a identificar mais de dois mil de Q.I. igual ou superior a 1 4 0 . Eles constituam 1 7 o do grupo estudado. Dezesseis anos depois, quando estes participantes deviam ter entre 25 e 30 anos, voltou a entrevist-los. Quase 9 0 % dos rapazes e 8 0 7 o das moas tinham cursado a Universidade com notas elevadas e com dois anos de dianteira sobre os outros. Cerca de 5 0 7 o dos rapazes optaram pelas carreiras liberais, principalmente de advogado, engenheiro, mdico, professor universitrio, pesquisador cientfico, sacerdote, nesta ordem de preferncia. Alguns deles, j nesta ocasio, apresentavam sucessos comprovados. Trinta destes portentos no concluram o curso universitrio e cerca de 1 / 5 estava trabalhando em escritrios, em empregos comuns no comrcio ou em outros servios. Entre estes, havia um martimo, um msico de "jazz", um policial e um motorneiro de bonde. Nestes casos, os problemas domsticos, os defeitos da personalidade ou do carter, os fatores desfavorveis do meio ambiente foram de grande importncia, se no de importncia crucial, na falta de sucesso. Pelos dados colhidos, o pesquisador chegou ' concluso de
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que alm do nvel intelectual so necessrios para o sucesso outros fatores, tais como ajustamento social, estabilidade emocional e impulso para as realizaes'. O estudo da inteligncia, hoje. Como vimos, poder-se medir a inteligncia e h muitas vantagens nisto. Durante a Segunda Grande Guerra Mundial, a Fora Area Americana testou 160 000 jovens em treinamento de vo. Dos que haviam obtido a maior nota, apenas quatro em cem fracassaram, ao passo que entre os classificados em ltimo lugar a proporo chegava a ser de 75 em cem que no conseguiram terminar o treinamento ou caram com os avies. Os testes eram de trs tipos: de inteligncia geral, de aptides intelectuais especficas e de aproveitamento, que sonda o que foi aprendido. Demos, anteriormente, uma definio de inteligncia. Vamos, agora, compar-la com estas outras definies: "A inteligncia uma capacidade geral do indivduo para ajustar conscientemente seu pensamento a novas exigncias; a adaptabilidade geral da mente a novas situaes e problemas" (William Stern). "A inteligncia a capacidade conjunta ou global do indivduo de agir em funo de um objetivo, de pensar racionalmente e de lidar eficazmente com seu meio" (David Wechsler). "Inteligncia a capacidade de julgar" (Alfred Binet). Associadas inteligncia, que se apresenta como capacidade de realizar operaes mentais com eficincia, temos algumas atividades psquicas importantes, tais como a memria, a capacidade de raciocinar, a criatividade e outras. No se deve tomar nenhuma delas isoladamente para caracterizar a inteligncia. Que dizer das pessoas com boa memria mas que so estpidas em tudo o mais?
INTELIGNCIA E CRIATIVIDADE
Getzels e Jackson procuraram estabelecer certas relaes entre Q.I. elevado e criatividade. No era obrigatria a presena de um Q.I. elevado junto a uma grande criatividade. Num teste de criatividade, o que se conta so as inovaes, a variedade das respostas e a originalidade das mesmas. Mostrou-se a foto de um homem reclinado confortavelmente numa poltrona de um avio e pediu-se que inventassem uma histria sobre ele. O candidato de Q.I. bem elevado escreveu o seguinte: "O Sr. Smith est voltando para casa, de uma viagem em que fez bons negcios. Est muito contente, pensa em sua maravilhosa famlia e em como ficar feliz por rev-la. Pode antever que daqui a uma hora
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o avio estar aterrissando no aeroporto sua esposa e seus trs filhos, todos l estaro, saudando-o pela volta ao lar". Um testado do grupo criativo expressou-se da seguinte maneira: "Este homem est voltando da cidade de Reno, onde acaba de conseguir divrcio da mulher. No podia mais viver com ela disse ao juiz porque ela, antes de dormir, passava tanto creme no rosto que sua cabea escorregava do travesseiro e batia na cabea dele. Agora pensa em inventar um novo creme facial que no seja escorregadio". Ser criativo deixar que a intuio ajude a inteligncia a resolver problemas. H no ato criativo o mximo de pensamento divergente. No de acordo com o convencional que se vai inovar ou descobrir algo. O problema deslocar um caixote de lugar: o menos inteligente iria agarr-lo com as mos; o inteligente usaria alavanca e deslocaria o caixote sobre dois paus rolios; o criativo tentaria descobrir um novo processo. Um velho exemplo de esprito criativo. Arquimedes, fsico grego, tentava certa vez resolver um problema srio: descobrir se a coroa do rei era ou no de ouro. Sua majestade suspeitava que o ourives o havia enganado, substituindo parte do ouro por um metal mais barato. A inteligncia do sbio j se debatera em vo, muitas horas, at que, durante o banho, encontrou o comeo da soluo, descobrindo que todo corpo imerso sofre um impulso de baixo para cima. Depois notou que o volume do lquido deslocado igual ao volume do corpo. Assim, se mergulhar um pequeno seixo de rio de 2 cm , vai deslocar 2 cm de gua. Lembrou-se tambm que dois corpos do mesmo peso, mas de matria diferente, tero necessariamente volumes diversos. Um quilo de algodo e um quilo de chumbo tm volumes bem diferentes. Arquimedes pde descobrir se a coroa era mesmo de ouro da seguinte maneira: tomou um recipiente com abertura para recolher o excesso de gua. Encheu-o de gua at a borda da abertura lateral. Introduziu cuidadosamente a coroa. Recolheu, num vidro, a gua derramada. Voltou a encher o recipiente, nas condies anteriores. Repetiu a operao com um pedao de ouro puro, do mesmo peso da coroa.
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Viu que OS volumes de gua extravasados eram iguais. Estava confirmado. A coroa era de ouro. Parece razovel supor que esta no era a primeira vez que o fsico Arquimedes tomava banho e observava que a gua subia quando nela se submergia um corpo slido. Mas era a primeira vez que pensava a respeito de um problema como este e que ambas as coisas ocorriam ao mesmo tempo. Uma mente preparada, predisposta, capaz de boas descobertas. Arquimedes associou o volume de gua deslocada ao peso especfico do corpo. Assim sendo, o ouro deslocar mais ou menos gua do que madeira ou lato. A capacidade para perceber conexes remotas tarefa especfica da inteligncia.
QUARTA PARTE
Os empecilhos criatividade
Todos tm capacidade de criar, sobretudo as crianas, que so espontaneamente originais em suas formas de percepo e experincias de vida. O aumento do potencial criador depender das oportunidades que a criana tiver de utilizar as solues no "oficiais". Cada indivduo possui mil impulsos para criar, para se libertar. E se resolvesse liber-los estaria se esquecendo do princpio da realidade, que reprime o comportamento das pessoas, colocando-as dentro de um "determinado" esquema. Da a represso "oficial" contra o criativo. O ato de criar surge a partir do momento em que a pessoa transcende os padres vigentes. Condies para o indivduo criar: ter segurana quem inseguro tem muita dificuldade para criar; no ser rgido ser sensvel s mudanas; ser autntico pensar pela prpria cabea; ser flexvel no ver as solues de uma mesma maneira.
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EXERCCIOS
1. Comente: "A criatividade depende muito da coragem do indivduo de dizer ou fazer coisas no convencionais at acertar. a possibilidade de o sujeito se jogar todo em qualquer experincia sem se 'moldar' ou sem temer o costumeiro, o convencional". 2. Como se chama a capacidade conjunta ou global do indivduo de agir em funo de um objetivo, de pensar racionalmente e de lidar eficazmente com o meio e com os problemas? 3. Qual a diferena entre inteligncia e criatividade? 4. O meio exerce alguma influncia no desenvolvimento da inteligncia? Explique.
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O MECANISMO DA HERANA
A vida das pessoas ou dos seres vivos superiores comea no momento em que uma clula germinal ou reprodutora masculina K une a uma outra feminina, formando uma clula-ovo ou zigoto. Esta nova clula traz em si todas as qualidades fundamentais do indivduo: cor dos olhos, tipo de sangue, constituio fsica, sexo, inteligncia etc, do mesmo modo que um gro de milho ou feijo contm em si todos os elementos que iro surgir mais tarde na planta adulta. Isso acontece porque o ncleo de cada clula germinal traz no seu ntimo certos filamentos em forma de rosrio os cromossomos , contendo nos seus ns o que se chama de genes. Estes genes que determinam todas as caractersticas essenciais do indivduo. A clula germinal s possui a metade dos cromossomos da espcie. A clula comum ou somtica do homem contm 46 cromossomos, 23 recebidos do pai e 23 recebidos da me.
Hereditariedade significa aquelas tendncias herdadas para desenvolver-se em certas direes: tornar-se branco ou preto, alto ou baixo, vivaz ou pacato.
Hereditariedade e meio so os dois elementos bsicos formadores da pessoa. Para explicar o sucesso ou fracasso de uma pessoa, inconscientemente descemos a essas fontes. Ante o insucesso escolar de uma criana podero dizer: " inteligente, mas no teve um bom curso primrio" ou "freqentou timo curso, mas no inteligente". Nessas duas opinies, sobressaem: hereditariedade, capacidade inata a inteligncia que se herda atravs de determinados mecanismos genticos , e meio bom ou mau curso primrio. De h muito tempo, se discute o problema da hereditariedade e do meio como fatores determinantes na formao da pessoa. Ser nossa carga gentica que decide se seremos ricos ou pobres ou sero as oportunidades do meio a razo do xito ou do fracasso econmico? As opinies foram sempre muito discordantes. Thomas A. Edison, o inventor da lmpada eltrica, afirmava que a genialidade era uma questo mais de transpirao que de inspirao. certo, contudo, que se no fora sua capacidade mental extraordinria, suas viglias at altas horas, estudando, Edison no teria chegado at onde chegou. 174
Uma campe de lanamento de peso no teve permisso para participar dos Jogos Olmpicos de 1972 porque um fio do seu cabelo, ao ser examinado ao microscpio, revelou a existncia de clulas que continham cromossomos masculinos. Na realidade era fisicamente feminina, ou seja, uma mulher; sendo assim, esse exame tem sentido? Todas as atletas inscritas nas Olimpadas foram submetidas a esse teste de cromossomos. Todas as clulas do organismo apresentam a mesma formao caracterstica de cromossomos que se desenvolvem da matria nuclear de cada clula. Os cromossomos contm os genes que determinam as caractersticas hereditrias da pessoa.
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Normalmente, a clula, no importa de que parte do organismo, contm 44 cromossomos regulares mais dois cromossomos sexuais. Os homens tm cromossomos sexuais X e Y, mas as mulheres tm dois cromossomos X. Quando as clulas de uma mulher apresentam os cromossomos Y, ela considerada como portadora de caractersticas masculinas suficientes para desclassific-la de jogos competitivos com outras mulheres. Todas as clulas reprodutoras tm 22 cromossomos regulares e um sexual. No vulo, esse cromossomo sempre X, ao passo que no espermatozide, pode ser X ou Y. Assim, se o vulo for fecundado por um espermatozide Y, a clula-ovo vai ser X Y , ou seja, do sexo masculino; se o espermatozide for X, o resultado da fecundao ser uma clula-ovo X X , isto , do sexo feminino. Vez por outra a natureza mostra-se caprichosa dando a bebs a aparncia externa de mulheres quando internamente lhes falta ovrio ou tero. Ao crescerem adquirem um forte fsico masculino e mesmo o rosto se assemelha muitas vezes ao de homem. em pessoas assim que encontrado o padro de cromossomos masculinos e que so, por isso, desclassificadas nos Jogos Olmpicos. Tambm pode ocorrer a presena de um cromossomo feminino extra no ordenamento gentico dos homens. Esse fato at mais freqente do que supunha a cincia chega a 0 , 4 5 7 o dos nascimentos. As conseqncias, em geral, so relativamente benignas. O homem tem nvel de inteligncia normal, ou quase normal, assume todas as responsabilidades masculinas, inclusive o servio militar. sexualmente ativo, embora estril.
tica, so sempre do mesmo sexo e muito parecidos. As diferenas que posteriormente ocorrem neles so devidas ao meio. Estudos feitos em gmeos univitelinos, criados num mesmo ambiente e em ambientes diferentes, revelaram o seguinte: os cinqenta gmeos criados no mesmo ambiente apresentavam uma diferena mdia de 2 , 5 cm em altura e de 1,8 kg em peso; apresentavam tambm o mesmo quociente de inteligncia, aproximadamente; por sua vez, o estudo em dezenove pares de gmeos univitelinos criados em separado, apresentou maiores discrepncias em altura, peso e, o que mais interessante, em inteligncia. H uma diferena de trs pontos mdios entre os indivduos da mesma herana e de meio diferente. De acordo com esta alterao, chegou-se concluso de que 2 0 7 o das diferenas de inteligncia entre as crianas deve-se atribuir ao meio ambiente. Os 8 0 7 o restantes so devidos hereditariedade. A maior diferena ocorreu no caso de duas gmeas, uma das quais havia sido criada numa casa de gente rica, cursava a Universidade e tornara-se professora, enquanto a outra se criara no interior e recebera apenas dois anos de instruo primria. O quociente intelectual da primeira era de 1 1 6 , enquanto o da segunda era de 92 apenas. Houve igualmente muitas experincias, partindo do ponto de vista oposto: meio ambiente constante e hereditariedade variada. Se o meio o mesmo, temos que atribuir as variaes hereditariedade. Contudo, dificlimo manter o meio ambiente igual. Todas as influncias exteriores, como ataques dos vrus, infeces, doenas etc. que podem atingir a um e no a outro, alteram o meio para cada um, mesmo que vivam num mesmo teto. Para as crianas que vivem na mesma cidade, freqentam a mesma escola, assistem aos mesmos filmes, divertem-se com as mesmas coisas, o meio parece apresentar-se homogneo e constante, mas no o realmente. A infeco que um pode receber e outro no, um rgo que, por isto, fica mais fraco em um que em outro, determinam diferenas. Os principais traos da personalidade e o carter so quase totalmente produtos do meio. O homem mais do que nenhum outro animal sofre as influncias do seu meio. Estudos experimentais a respeito disso so freqentemente feitos em animais, onde possvel manter um meio experimental homogneo. O meio ambiente, no seu sentido lato, compreende todas as influncias que afetam o ser em crescimento, bem como o adulto j maduro. Neste sentido, uma experincia interessante foi feita com ratos, onde se variou o mais que se pde a hereditariedade, deixando-se contudo sempre constante o meio. Utilizaram os pesquisadores inicialmente 177
O MEIO E A HERANA
Os cientistas vm se dedicando a estudos experimentais da hereditariedade e do meio ambiente desde o comeo deste sculo. O campo mais frtil quando se parte do ponto hereditariedade constante versus meio ambiente variado feito com os gmeos. H dois tipos de gmeos: os fraternos e os univitelinos. Os primeiros resultam da fecundao de duas clulas germinais femininas. So como dois irmos quaisquer. Podem, em 5 0 7 o dos casos, ser de sexos opostos. Apenas participam da simultaneidade de vida, de gestao, de nascimento etc. Os gmeos que interessam aos pesquisadores so os univitelinos. Estes se desenvolvem de um mesmo ovo que, na sua primeira diviso em clulas, em vez de continuarem unidas, separam-se, dando origem cada uma a um indivduo. Cada um deles tem assim a mesma carga gen176
142 ratos. O principal teste era aprender a andar num labirinto. Os ratos demonstraram grandes diferenas na capacidade de resolver o problema. Enquanto uns cometeram sete erros, outros chegaram a somar 214. Selecionaram-se sucessivamente os mais espertos e os mais estpidos, fazendo-se cruzamentos exclusivamente entre eles, durante 22 geraes. A diferena entre a capacidade dos descendentes dos espertos e dos estpidos era muito grande. Alguns dos primeiros, depois de sete erros acertavam o problema, enquanto muitos dos do segundo grupo cometiam at 214 tentativas falhas. Procedeu-se, depois, ao cruzamento de descendentes dos mais espertos com os mais estpidos. Estes, ao fazerem a experincia, obtiveram o mesmo resultado que seus 142 antepassados que iniciaram a pesquisa. Havia poucos ratos espertos e poucos ratos estpidos e uma grande maioria de ratos de capacidade mediana. Qualquer populao se comporta desse modo como se fosse gerada do cruzamento de "espertos" com "estpidos".
Desenvolvimento humano
EXERCCIOS
1. Qual a opinio de T. A. Edison a respeito da influncia do meio e da hereditariedade na formao dos grandes talentos? 2. Quais das afirmativas abaixo so verdadeiras e quais so falsas? a) A carga hereditria de um indivduo 5 0 % paterna e 50% materna. b) A hereditariedade est ligada ao sangue. c) A Gentica a cincia que estuda a hereditariedade. d) Devido gestao, herdamos mais fatores hereditrios da me do que do pai. 3. Nossa personalidade sofre mais influncia do meio ou da hereditariedade?
Quando voc esperava seu filho, certamente tinha planos para ele. Nesses sonhos, conscientemente ou no, fazia de seu filho um prolongamento de si mesma, projetando tudo aquilo que gostaria de ter sido. Mas quem nasceu de voc um outro indivduo, cuja realidade nada tem a ver com a sua, embora tenha se alimentado de seu sangue e tenha sido gerado de suas clulas. Ele ter caractersticas prprias, outros anseios, outro temperamento. No justo que voc transfira para ele suas frustraes. Deixe que ele se desenvolva. (Karen Horney)
O desenvolvimento se origina de duas fontes: das energias do prprio organismo, isto , de suas potencialidades, e dos recursos do meio em que o organismo est imerso. O organismo, como um processo dinmico, vai se ajustando ao meio externo, para sobreviver, prosperar e realizar-se. Cada fase de desenvolvimento possui marcas e caractersticas diferentes das outras. A maneira de pensar, por exemplo, diferente e tem caractersticas prprias em cada fase do desenvolvimento. Uma criana no pensa do mesmo modo que um adulto.
CARACTERSTICAS
No desenvolvimento h duas caractersticas principais: crescimento e modificao de estrutura e de funo. Tanto o crescimento como as modificaes de estrutura acarretam transformaes de comportamento. 178 179
impossvel fazer com que uma criana de dois anos e meio de idade deixe de pr as coisas na boca ou de mexer em tudo que v. Isso porque, de acordo com seu desenvolvimento, ela se encontra em fase de descoberta de um mundo novo, horizontal. Acabou de adquirir a posio ereta e o seu melhor sentido o paladar. Da a necessidade de testar as coisas pela boca. O desenvolvimento, que um processo dinmico do organismo, vai se completando em diferentes nveis de amadurecimento. Os comportamentos de um jovem, de um adulto e de uma criana apresentam padres bem diferentes porque resultam de um nvel de amadurecimento diferente. A parte da Psicologia que estuda a gnese e a estrutura dessas fases chama-se Psicologia Evolutiva.
5. Durante as quatro primeiras semanas depois do parto a criana recebe a denominao de recm-nascido. Este tempo o suficiente p a i a ela se recuperar do trauma do nascimento. Seu comportamento fundamental o de semi-sono. Dorme dezoito horas por dia. Possui alguns comportamentos reflexos e algumas sensaes vagas. Durante estas semanas predominam reaes como choros, gritos, agitao. Neste perodo, a criana est quase que exclusivamente em rbita materna. Dessas suas relaes iniciais com a me, vai depender o tipo de pessoa humana que ela ser. A primeira pessoa que a criana conhece a me. Se esta for excessivamente autoritria, a criana pode crescer medrosa, tmida e introspectiva. Se a me for excessivamente negligente, o filho poder ficar indiferente, triste e desconsolado. Mas se, ao contrrio, a me for segura, dcil e compreensiva, poder ter um filho com personalidade saudvel. O que acabamos de dizer serve apenas para mostrar a importncia do amor, da aceitao e do respeito que pais e adultos devem ter para com as crianas. Do ponto de vista da Psicologia do Inconsciente (Psicanlise), ao contrrio do que se pensa, as relaes de famlia (que se passam entre me-pai-filhos-irmos) so as mais densas e as mais tensas da condio humana. Nelas imperam noes e impulsos inconscientes de incesto, posse, rejeio, agresso, inveja, amor e dio, sempre muito marcados por aspectos traumticos.
CARACTERSTICAS DA INFNCIA
Durante a infncia, em geral dominam os comportamentos de explorao do meio, do mundo e do prprio corpo. uma fase egocntrica em que os interesses giram em torno do pequeno mundo da criana. O contato com o mundo verbal. Um beb j percebe todos os sons que a voz humana pode produzir e, durante quatro ou cinco meses, aprende a organiz-los no balbuciar. As primeiras palavras surgem mais ou menos aos doze meses. Com um ano e meio a maioria das crianas usa cerca de trinta palavras. Nos 1 8 0 dias que se seguem, duzentas ou trezentas, sendo que nas meninas o processo mais rpido que nos meninos. Durante este ltimo estgio, a criana comea a fazer ligaes entre duas ou trs palavras. A maioria, descobrindo a regra geral de que cada coisa tem um nome, comea a falar e rapidamente aumenta seu vocabulrio. Com trs anos sabe mais de mil palavras e com quatro e meio cerca de duas mil. 181
Do ponto de vista infantil, a parte mais difcil da linguagem a pronncia correta dos sons. Um adulto encontrar dificuldade parecida ao aprender uma lngua estrangeira. James J. Thompson, autor do livro Educating your Baby, afirma: "Pai e me podem ajudar seu filho, repetindo consoantes e vogais devagar e apenas uma de cada vez. Devem deixar a criana observar os movimentos labiais. Ensinar sons de todas as vogais e consoantes apressa a maturidade para a fala". .
Desenvolvimento da criana
Sabe-se que, mesmo antes de falar, a criana j percebe o que seus pais dizem. Assim, se a me tocar parte do seu corpo e disser o nome, ela pode sentir e compreender o significado. Se isso comear bem cedo, com um ano ela j poder apontar vrias partes no seu corpo quando lhe for perguntado. No vai demorar muito e ela identificar membros do corpo das pessoas e os objetos sua volta. A me que conversa com o filho est mostrando a ele que todas as aes podem ser traduzidas em palavras. A mudana de tom e sentido mostra que falar no apenas um rudo, e a criana passa a olhar a fala como uma coisa importante. E isto traz grandes benefcios a sua inteligncia. O estmago foi feito para digerir, assim como o crebro para relacionar-se, exercitar-se, desde que de forma espontnea e no forada nestes primeiros meses e anos. Com dezoito meses, o beb j repete os nomes dos objetos familiares, com alguma insegurana. Um cavalo poder ser confundido com um cachorro. Os pais devero ensinar simplesmente o certo. vital no forar quando a criana no est interessada. O ensino deve ter caractersticas de um divertimento e sempre que citar algo de novo, relacionar com alguma coisa j conhecida. Pouco adianta abrir diretamente um livro de animais e dizer: "Este um leo". A palavra "leo" pouco significa para um beb. Deve-se comear mostrando caractersticas particulares, como a juba; orelhas grandes e tromba, no caso do elefante; pescoo comprido, no caso da girafa, mostrando simplesmente. Isto muito proveitoso para o desenvolvimento mental da criana. As famlias de pouca cultura usam um vocabulrio pobre com os filhos e isto desenvolve menos suas inteligncias. Qualquer criana normal quebra vrios tabus sociais durante o dia: caa o gato, bate no menino do vizinho, puxa o rabo do cachorro, faz o irmo chorar. Se para cada delito deve receber uma reprovao sem maiores explicaes, ela acumular noes vagas do que no deve fazer. 182
Se, ao contrrio, cada uma das aes for explicada, ter oportunidade de aprender princpios de comportamento moral. Aprender que Seu direito termina onde comea o do vizinho, que as pessoas humanas devem ser respeitadas, que ningum faz aos outros o que no quer que se faa a si etc. Tudo depende de se aproveitar a ocasio e falar apropriadamente. O psiclogo americano Courtney Cazden fez a seguinte experincia: escolheu um grupo de meninos e meninas de trs anos de uma creche e gastou uma mdia de quarenta minutos dirios conversando com eles, usando o que convencionou chamar de expanso sistemtica. Este mtodo consiste em expandir a frase de uma criana, num sentido correto. Assim, quando uma criana dizia "mama t papando", Courtney desenvolvia a frase replicando: "Sim, mame est comendo". Como controle, o psiclogo selecionou mais dois grupos com as mesmas caractersticas do anterior. Ao primeiro, no foi aplicada nenhuma experimentao e o segundo foi submetido a experincia parecida. Chamou-se este segundo grupo de figurativo. O psiclogo completava e ampliava o pensamento da criana, em vez de repetir corretamente como fazia no primeiro grupo. Assim, quando o menino comentava que "o cachorro late", o adulto replicava: "Sim, ele est zangado com o gato". Courtney esperava que o grupo de expanso reagisse melhor, mas ficou surpreendido com os resultados mais positivos do grupo figurativo. Procurou saber a razo e encontrou a resposta ao observar que quando um adulto usava apenas o sistema de expanso, a conversa terminava rapidamente. O mesmo no acontecia com o sistema figurativo, onde o adulto contribua com idias complementares introduzindo na mente da criana recursos gramaticais prprios da idade, mas abordando assuntos novos. bom lembrar que linguagem mais do que um cdigo de pensamentos: o prprio pensamento. Neste plano, a simples aquisio do vocabulrio bsico ativa novas reas da mente. E quanto mais cedo se adquire um vocabulrio, maior ser o desenvolvimento intelectual.
idade adulta. Esta caracteriza-se pela estabilidade e pelo ritmo de produo. Deve devolver sociedade pelo menos o que dela recebeu. Deve ser um perodo de dinamismo construtivo. Deve apoiar-se nestes fundamentos: ao, expanso, estabilizao, conservao. Perto dos sessenta anos comeam a ocorrer os primeiros sinais de velhice. Tem incio, ento, um declnio nas atividades orgnicas e mentais. a volta ou a regresso biolgica. O homem se torna conservador, saudosista e, por acordo com as circunstncias, um tanto reacionrio, pela falta de participao e certo temor pelo destino que toma a dinmica social. A morte um complemento natural da vida. Quando a vida foi vivida com sabedoria e bom-senso, esta contingncia natural se assemelha a um sono simples e suave sem um amanhecer no tempo. Em todas as fases e aspectos da pessoa humana podemos verificar estgios sucessivos de desenvolvimento que vo de um mnimo at um mximo. Existe uma lei da evoluo que afirma: "A ontognese (desenvolvimento do indivduo) repete a filognese (desenvolvimento do grupo zoolgico)". O estudo e a anlise do grfico da pgina 187 e do quadro das pginas 188/189 completaro, a seu modo, o assunto deste captulo.
o prazer de apelidar os colegas. Aproveita-se dos mais fracos. A t i r ou ao c h o a t a m p a do linteiro que se q u e b r o u . Vendo-se o b s e r v a d o pela professora, diz: 'Fiz c o m conscincia'. E acrescenta: ' N o faz mal. eu p a g o , posso p a g a r, eu g a n h o d i n h e i r o ' . Explica e n t o q u e a p a n h a bolas de tnis nos jogos e ganha assim a l g u m dinheiro. T e m sido s u r p r e e n d i d o a t i r a n d o p e d r a s nas casas e nos colegas". Qual a idia q u e voc faz deste m e n i n o ? 3 . O b s e r v e u m a criana d u r a n t e u m a s e m a n a , n u m h o r r i o determin a d o ou sob d e t e r m i n a d o a s p e c to do seu desenvolvimento . A n o t e suas o b s e r v a e s p a r a d e b a t e em classe.
Curva
do
desenvolvimento
humano
(segundo
Charlotte
Bhler)
EXERCCIOS
1. Desenvolva estes temas: "As crianas de um ano; terrveis aos dois e trs anos; ativas aos quatro e cinco; sociveis aos seis; barulhentas aos nove. Os jovens de hoje". 2. Leia este caso relatado por Arthur Ramos no seu livro A criana problema: "Menino de doze anos. Pai falecido. Quando vivo castigava muito o filho com pancadas. Me cozinheira. Tem quatro irmos. Moram com a av paterna que no gosta do menino, castigando-o muito. Moram por favor e vivem de esmolas de associaes de caridade. O menino acusa subalimentao. plido e magro. Curso do desenvolvimento: aparecimento de gagueira; ri unhas. Comportamento na escola: brinca com os companheiros; tendncia a dominar; atormenta os colegas, fanfarro, mente, furta. agitado, agressivo, barulhento, com comportamentos alternados de bondade e perversidade. Ateno deficiente, boa memria, imaginativo. Tem 186
187
PLAN1FICAO
DO
HUMANO, BHLER
DE
ACORDO
PERODOS E ESTGIOS
/ Antes do nascimento
DURAO Concepo: 280 dias 0 8 semanas 40 semanas Labor do parto Bero sepultura Nascimento 14 anos Recm-nascido 18 meses 18 meses 6 anos
CARACTERSTICAS PRINCIPAIS Predominncia de processos acelerados de crescimento e amadurecimento em todos os sistemas e rgos.
1. Ovo-embrio 2. Feto
// III Nascimento Aps o nascimento NASCIMENTO e amadurecimento
Trauma do nascimento. Predominam os processos de aprendizagem. rpido o desenvolvimento fsico, mental, emocional e social. Contato com o mundo atravs da figura materna. Domina a subjetividade. Termina quando a criana aprende a falar e a andar. Curiosidade objetiva crescente. Ligao afetiva familiar. Explorao do ambiente social. Egocentrismo. Pensamento mgico-simblico. Algum controle emocional. Conhecimento dos fatos. Interesses intelectuais construtivos. Operaes lgicas concretas. Participao na dinmica do grupo escolar e do bando infantil.
DEPOIS 1
DO
Crescimento
l.
infncia
2. infncia ou pr-escolar
a
3. infncia ou escolar
a
7 anos 12 anos
Pr-adolescncia
// Adolescncia Penetrao nos vida social quadros da
Incio da crise da adolescncia. O indivduo descobre-se a si mesmo (descoberta do eu), explorando, ao mesmo tempo, o mundo revelado pelo trabalho, pela associao com pessoas do sexo oposto etc. O trmino depende da soluo dos problemas fundamentais: escolha de um lugar social pelo trabalho, formao de uma famlia etc, assumindo, enfim, a personalidade adulta. O indivduo assume um papel na comunidade e ocupa um lugar na vida profissional, passando a concretizar as idias e objetivos escolhidos. 0 trmino est mais ou menos ligado ao declnio sexual (climatrio). As realizaes decrescem em nmero e a atividade se mantm dentro das conquistas j realizadas. Surge forte tendncia para a rotina. O indivduo no se interessa tanto por novas amizades, repousando sobre os "louros colhidos". Considervel estreitamente no campo dos interesses, acompanhado de reduo da fora fsica, vivacidade mental etc, como conseqncia do desgaste orgnico. Quando a vida foi toda vivida com sabedoria, a morte se avizinha como algo natural e simples.
III
21 anos 40 a 45 anos
IV
Meia-idade Conservao
45 anos 65 anos
65 anos morte
oo
Personalidade e' uma organizao dinmica de partes interligadas, que vo evoluindo do recm-nascido biolgico at o adulto biossocial, em um ambiente de outros indivduos e produtos culturais.
A personalidade
Impresso de pessoa. Ao sermos apresentados a algum, formamos, de imediato, o que se chama, em Psicologia, uma impresso de pessoa, seis ou sete caractersticas, s vezes menos, da pessoa apresentada e, com elas, formamos uma imagem ou um conceito subjetivo em ns. Muitas vezes, basta um trao mais berrante para, com ele, organizarmos a impresso de pessoa. A formao desta imagem de natureza essencialmente subjetiva. Se algum tem predileo por morenas e se a jovem apresentada morena, isto j contribui bastante para a organizao de uma impresso de pessoa favorvel. Para se formar uma impresso de pessoa no preciso ter contato com ela. Se algum lhe dissesse: "Aqui esto, em poucas palavras, alguns termos que definem certa pessoa: altivo, otimista, bom conversador, frio, irnico, convincente". Qual a impresso que esta pessoa lhe causaria? Voc a quereria ter como amiga ou como scia? "Joo tem um amigo cuja descrio a seguinte: altivo, otimista, bom conversador, afetuoso, irnico, convincente".
191
comum ouvirmos estas expresses: "Ele uma personalidade", "fulano tem pouca personalidade". A personalidade ser uma espcie de fluido que as pessoas possuem em maior ou menor quantidade? Estas e outras expresses a respeito da personalidade no tm valor cientfico. Queremos, com elas, significar auto-afirmao, fora de vontade, deciso, liderana etc. O termo "personalidade" deriva do latim persona, que designava as mscaras usadas no teatro. Essa palavra latina tambm significava "aparncia", "aquilo que parecemos ser aos outros". Realmente, algumas pessoas entendem dessa forma a personalidade, confundindo os "papis" sociais que representamos em pblico com nosso "eu" verdadeiro. Personalidade tampouco a imagem que fazemos de ns mesmos com base na nossa vaidade, ou aquele "eu" idealizado que julgamos ser. Ela se apresenta mais como a identidade de um "eu" que a integrao das partes que nos compem. Conhecer a possoa o objetivo final da Psicologia. O ponto bsico da pesquisa cientfica da personalidade parte de certos padres habituais de comportamento, isto , das vrias dimenses de nosso .ser passveis de serem observadas com objetividade. O resultado vai dar aquilo que realmente somos, isto , nossa personalidade, em termos cientficos. 190
Qual dos dois o mais simptico? A primeira impresso, depois de confirmada no trato direto, tende a durar. A personalidade como algo extremamente complexo no pode, claro, ser reduzida a uma simples impresso de pessoa.
til se sente rejeitado. O ato de nascer j pode se apresentar como uma rejeio bsica e inicial. Diante disto, a personalidade vai procurar uma sada que supere a rejeio e sua angstia bsica. Karen Horney apresenta trs sadas que geralmente as pessoas criam, em suas fantasias, para compensar a imagem do "eu-rejeitado": 1." Eu-orgulhoso. A pessoa desenvolve suas energias de crescimento no sentido de "mostrar ao mundo do que capaz". (Este "mundo" , sobretudo, os pais.) 2. Eu-resignado. Nasce da aceitao da presso que cria um "eu" idealizado, onipotente, uma espcie de deus (deusa) de bondade.
iL
3. Eu-indiferente. Nasce da fuga para o interior, a fim de se defender das presses do meio externo. Em vez de se revoltar ou de se submeter, a pessoa foge para dentro de si mesma onde encontra um "eu" idealizado, onipotente, que no precisa de nada. Acha que encontra tudo em seu interior. Trabalha e procura realizar apenas para ganhar estritamente o necessrio, o suficiente para manter a si mesma e a famlia. No ambiciona realizao pessoal. Para que fazer ou realizar grandes coisas se ele tudo? esta a sua lgica.
a
Se uma criana percebeu que mostrar-se afetuosa com o irmozinho lhe granjeia a aceitao materna, pode ocorrer que ela jamais permita que um restinho de cime aflore no nvel da conscincia. Passa a ser incompatvel com a condio necessria de seu eu-bonzinho. Neste caso, ela estaria coibindo sua capacidade de elaborar convenientemente uma experincia natural, por causa de sua auto-imagem e, na defesa desta, passa a reprimir aquilo que seria espontneo. Vai inibir como mal algo natural. Carl Rogers admite que para uma criana se desenvolver normalmente preciso que ela se sinta aceita incondicionalmente. Com isto, claro, no se vai permitir que ela faa tudo. A criana deve sentir-se como uma pessoa aceita, independentemente da falta e da ao a corrigir. Isto quer dizer que ela deve ser castigada e corrigida, sempre que necessrio, bem comi) deve ser dirigida para a socializao, mas sempre aceita e respeitada como pessoa. claro que este "eu" idealizado, de natureza fantstica e onipotente, uma criao da fantasia infantil, que, percebendo-se como rejeitado, sente-se compensado com esta criao onipotente e todo-poderosa. Tudo se passa dentro de uma lgica: "Se meu 'eu' no for fantstico, diyino, onipotente, ser algo rejeitvel, desprezvel, sem valor". Uma garota de dez anos preferia ficar cega a no ser a primeira aluna de sua classe. Este era o nico lugar possvel para seu "eu" idealizado. 193
Uuanto mais sensvel a pessoa, mais sente esta realidade e mais exagera esta compensao. Pode exagerar a ponto de se julgar um ser excepcional e se desajustar no meio social porque as outras pessoas no a consideram como tal. Tratam-na como se fosse uma pessoa normal e ela, em seu ntimo, est se julgando, est crendo que um ser fantstico, fora de srie. Se, com a idade, for se aproximando do seu "eu" real, estar caminhando na direo da sade mental. Se se afastar demasiadamente deste "eu" real e verdadeiro e perder contato com a realidade circundante, estar se aproximando da psicose ou loucura. Esta realidade descrita existe em nvel inconsciente ou num estado de conscincia diretamente inacessvel pessoa. S suas manifestaes ou conseqncias aparecem na vida prtica.
Para o psiclogo Carl Rogers, o crescimento humano exige reorientao. A psicoterapia consiste, ento, para ele, em criar condies que possibilitem esta reorganizao da estrutura da personalidade. A personalidade devia ser um sistema ordenado, cujas estruturas centrais dirigissem sua atividade por rumos coerentes e consistentes. As foras ou necessidades de crescimento so responsveis pela integrao da personalidade. Os elementos da estrutura da pessoa devem estar intimamente ligados. O que o indivduo faz numa esfera no devia estar em contradio com o que faz em outra. Isto ajudaria a integrao, que sintoma de normalidade. Elementos destoantes impedem a integrao e desorganizam a personalidade, tornando-a doente. A personalidade se apresenta como a integrao dinmica de vrios sistemas, que recebem a designao de dimenses ou reas da personalidade. As principais so: Dimenso fsica. a constituio individual resultante da herana gentica e das foras do meio. Dimenso do temperamento ou emocional. Compreende as caractersticas emotivas resultantes do complexo fisiolgico e da construo somtica de cada um. , em suma, o temperamento que faz as pessoas serem apticas, emotivas, agitadas, ativas, vagarosas, instveis etc. Dimenso subjetiva. Compreende os interesses, os ideais, os desejos e aspiraes, bem como a inteligncia, as aptides gerais e especficas. Inclui o mundo subjetivo e ntimo de cada um. . uma rea de vivncias e aprendizagens passadas, bem como do autoconceito de cada um. Dimenso do carter. Corresponde ao conjunto de qualidades que se fazem necessrias para o indivduo adaptar-se ao meio em que vive. Os traos de carter tais como a honradez, a honestidade, a sinceridade etc. resultam do meio em que vive o indivduo e da cultura dentro da qual formou sua personalidade. Apesar disso, porm, uma das dimenses mais estveis em cada pessoa. Por carter, em Psicologia, entende-se principalmente um certo tipo de conduta que possa ser tida como certa ou errada por se enquadrar ou deixar de ser enquadrada nos padres de comportamento socialmente aceitos. O carter se compe de vrios traos. Basta recordar os adjetivos da lngua portuguesa para vermos que uma boa parte deles revela traos de carter: bondoso, perverso, amigo, afvel, caridoso, honesto etc. O carter representa o conjunto desses traos, que pode ser designado como certo ou errado de um ponto de vista social. Assim: 195
honesto, desonesto, afvel, indelicado, correto, perseverante, inconstante c trabalhador revelam traos de carter porque so socialmente aceitos ou repudiados e so tidos como certos ou errados.
Introverso extroverso. Segundo Jung, a extroverso consiste na tendncia em focalizar interesse no mundo exterior, em estar mais centrado fora do que dentro do "eu". A introverso, por outro lado, consiste em concentrar interesse e atribuir valores primordialmente aos pensamentos, sentimentos e idias da prpria pessoa. O extrovertido viveria mais no presente, dando mais valor s pessoas e ao xito social, enquanto o introvertido visualizaria mais o futuro. O extrovertido, mais prtico; o introvertido, mais imaginoso e intuitivo. como se o centro da personalidade do introvertido (locus of control) estivesse dentro da pessoa. O locus of control o local imaginrio a partir do qual se produz a orientao de vida e de ao da pessoa. No neurtico, e muito mais no psictico, este locus inferno, isto , subjetivo. Nas pessoas extrovertidas, e de certa maneira nas pessoas normais, este locus tem uma tnica externa. A conscincia se apoia na realidade que est fora. O extrovertido o faz de um modo e a conscincia normal de outro. O real externo, para o extrovertido, pode no ser um real objetivo. Trao. uma caracterstica duradoura do indivduo e que se manifesta na maneira consistente de comportar-se numa ampla variedade de situaes. Por exemplo, ser calmo, ponderado e seguro, ou agressivo e instvel. Allport e Odbert, analisando um dicionrio da lngua inglesa, notaram que 7 953 adjetivos servem para descrever formas diferentes e pessoais de comportamento das pessoas. Desses termos, 4 500 designam claramente, segundo suas pesquisas, modos consistentes e estveis de ajustamento de uma pessoa a seu meio, isto , indicam traos de personalidade. Pela eliminao de sinnimos, reduziram este ltimo nmero a apenas 171 termos que, por sua vez, foram posteriormente reduzidos a 35 grupos de traos. Contudo, fez-se necessria uma nova reduo, pois notaram que uma caracterstica como a timidez tende a ser seguida de outras caractersticas, tais como certa inclinao para ser introspectivo, facilmente susceptvel e t c , podendo ser includa num agrupamento mais amplo: o da introverso. Finalmente, Cattell notou que aqueles 35 grupos de traos decorrem de apenas 16 fatores, que so medidos no teste 16 P. F. de Raymond B. Cattell e Herbert Weber.
EXERCCIOS
1. Compare estas duas definies de personalidade, ressaltando os pontos comuns e as diferenas entre elas: "Personalidade a organizao dinmica daqueles sistemas psicofisiolgicos que determinam a maneira nica pela qual o indivduo se ajusta ao ambiente" (G. W. Allport). "Personalidade a organizao mais ou menos estvel e contnua do carter, do temperamento, do intelecto e do fsico de uma pessoa que determina seu ajustamento nico ao ambiente" (Eisenck). 2. Teste sua personalidade Avaliao de caractersticas de sua prpria pessoa. D uma nota de 1 a 10 em cada coluna. Na primeira coluna ( 1 ) devem figurar as notas que voc atribui a voc mesmo. Na segunda coluna (2) devem figurar as notas que as outras pessoas atribuiriam s suas qualidades.
' E s t e no um teste psicolgico, no seu sentido pleno, mas um simples teste didtico de assunto psicolgico; porm interessante faz-lo. A avaliao e o resultado uestc teste encontram-se na p. 227.
Os pais vo moldando a personalidade dos filhos por meio de instrumentos de natureza psicolgica, os mais variados e simples. Um deles o dilogo. Como voc fala com seu filho? Em primeiro lugar, renuncie s suas demonstraes de autoridade. Utilize novas tticas para permitir que ele assuma suas responsabilidades, atravs do uso de sua prpria liberdade. Assim pode crescer como uma semente, desabrochando espontaneamente, e no puxada de fora, como suas ordens e gritos sugerem. Exemplifiquemos. Voc quer que seu filho de quatro anos lave as mos. Olhe para suas prprias mos e para as dele e diga: "Puxa, como estamos com as mos sujas! melhor lavar. Voc quer ir antes de mim ou eu vou na frente?". Em outro caso, ao constatar que o garoto no escovou os dentes: "Puxa, nem me lembrei de que precisava escovar os dentes. Voc tambm esqueceu? Que cabea a nossa, hem? Ento vamos agora. Um, dois e j: eu vou chegar primeiro". A criana dever correr para alcanar a escova antes que voc chegue. Nesta brincadeira de "quem chega primeiro" voc pode conseguir muita coisa. 199
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O que acontece nesses casos que a criana, mesmo tendo todas as condies para segurar o sorvete, vai deix-lo cair. Ela entra num conflito. Se no deixar cair, o pai se torna um mentiroso. E para ela muito cruel admitir que o pai mentiroso. No seria muito melhor o pai comprar um sorvete menor e ter confiana em que a criana no o deixar cair? O importante no acusar ningum, mas procurar as solues.
no precisa exigir um azul especial, ou que muitas crianas no diipu nham nem de um lpis, ou que a gente deve-se contentar com aquilo que tem. Mas nada disso adianta. Em vez de procurar justificativas, o psiclogo comeou a escrever, vista do garoto de quatro anos, "um pedido especial para algum trazer o azul especial". E lhe disse, para estimular, que realmente paia o desenho a que se propunha era preciso o azul especial. Essa tcnica, evidentemente, funciona melhor com as crianas menores que vivem, naturalmente, num mundo infantil de fantasias. No dia seguinte, quando o garoto voltou, mostrei o lpis azul diferente. E, ao insistir, veio a resposta esperada: "No quero mais".
6. Realidade e fantasia.
Deve-se dar criana em fantasia o que no se pode dar na realidade. O caso acima de Vanda explica o enunciado. Vejamos outro. O errado tentar explicar criana por que no se pode dar alguma coisa que ela deseja "j que ela no est interessada em explicaes. O que lhe interessa apenas um desejo momentneo", diz Ginott. Uma vez, no consultrio, uma criana no quis nenhum dos 75 lpis de cor que coloquei sua disposio. S lhe interessava um azul especial. Eu podia dizer a ela que quem tem 75 lpis sua disposio 202
Um pai no pode estar sempre vigiando o que elas vem. Crianas mais velhas muitas vezes assistem a programas que apavoram crianas menores. Uma senhora tentou resolver tal problema dizendo a seu filho Carlos, de quinze anos: "Eu preciso que voc me ajude. Temos apenas um aparelho de TV. E eu preferia que Flvio, que s tem oito anos. no visse o programa de filmes de terror desta noite. Ser que voc no podia ir v-lo na casa de um amigo?" A Flvio, que insistiu em ver tal programa, disse a me: "Gostaria que esse programa fosse menos violento e assustador, porque ento eu no teria receio de que
20.1
voc assistisse". Flvio: "Quer dizer que eu no posso assistir?" Me: " violento demais". Flvio: "Como que o Carlos pode?" Me: "Que que voc acha?" Flvio: "Eu no sei". Me: Acho que voc pode imaginar". Flvio: " por que ele mais velho?" Me: "Acertou". Flvio: "Mas eu tambm quero ver". Me: "Eu sei que vai ficar desapontado e que gostaria de ser mais velho." Flvio: "Acertou". E quanto mais ele se queixava, mais a me dizia: "Eu compreendo".
e a bater em seu filho, disse: " isso. Vejo que as palavras no adiantam. Vou ter que bater em voc. Portanto, trate de fugir, se no quiser apanhar!" O garoto desapareceu. Quinze minutos depois, perguntou: "Papai, posso voltar sem apanhar?" A resposta foi: "Pode. Minha raiva j passou. Agora, vamos discutir o que se passou e vamos chegar a algumas concluses".
11. Como ajudar as crianas a vencer o medo. 9. Como demonstrar zanga com as crianas.
Quando zangado, descreva o que v, o que sente, o que espera. Mas nada diga criana sobre ela prpria. Aprenda a externar sua zanga sem prejudic-la. Mesmo quando provocado, no insulte nem humilhe seus filhos. No ataque o carter de uma criana, no ofenda a sua personalidade ou fira a sua dignidade. Proteja-a contra isso, usando de preferncia a palavra "eu" em suas mensagens: "Eu estou aborrecido", "Eu estou desanimado", "Eu estou zangado", "Eu estou furioso". Isso mais aconselhvel do que dizer: "Voc ' u m idiota. Veja o que voc fez! Que diabo que h com voc?" Quando estamos zangados, as crianas ficam atentas. E nos ouvem. O melhor antdoto para o medo ensinar a seu filho que ele livre para sentir, pensar e sonhar, sem perder seu amor e seu respeito. As crianas precisam aprender que seus sentimentos so legtimos: os positivos, os negativos e os ambivalentes. Podemos poupar a nossos filhos muitos sentimentos de culpa e ansiedade simplesmente encarando tudo isso como coisas normais. No fcil para ns esta atitude. Fomos educados na convico de que os sentimentos negativos so maus e que devemos nos envergonhar deles. Mas somente a conduta pode ser "boa" ou "m". Os sentimentos e as fantasias, no. Nunca diga a uma criana atemorizada que no h nada de que ela deva ter medo. Isso aumentar seu temor. Alm do medo original, ela ter tambm medo de ter medo. O medo no desaparece quando a sua existncia no reconhecida. O melhor admitir abertamente o medo da criana, reconhecendo a sua existncia. Quando Rosa, de dez anos, revelou invencvel medo dos exames que teria de enfrentar, seu pai no recorreu a negativa, ou a expresses tranqilizadoras como esta: "Ora, que h nisso para lhe meter medo? Voc estudou as matrias e no tem razo para se preocupar". Em vez disso, ele respondeu: "Exames sempre metem medo gente, principalmente quando so exames finais". O maior medo que uma criana experimenta o de no ser mais amada e ser abandonada. Nem brincando, nem no auge de uma zanga, ameace abandonar uma criana. Algumas delas se assustam muito at mesmo quando voltam das aulas e no encontram os pais em casa. conveniente deixar um recado, dizendo aonde foram. Isso faz com que as crianas fiquem aliviadas, temporariamente, de sua ansiedade.
a estiver realmente em apuros e pedir ajuda, os pais devem d-la. E sem exagerar, porque o excesso de ajuda significa: "Voc, sozinho, no sairia dessa". Quando uma criana se queixa do trabalho escolar feito em casa, deve ser ouvida atentamente e o papel dos pais demonstrar compreenso. Lus, de dez anos, tinha uma poro de trabalho escolar para fazer em casa. E gritou: "Odeio a minha professora! No vou fazer trabalho nenhum aqui!" A me concordou: "Realmente, voc traz muito trabalho para preparar". E no disse mais nada. Bastou, porm, essa frase, que importava no reconhecimento do seu problema, para a raiva de Lus diminuir. E duas horas depois, ele tinha dado conta do seu trabalho. Um carta chegou da escola, queixando-se de que Arnaldo, de dez anos, estava se atrasando em seus estudos. O primeiro impulso do pai foi o de lhe dizer: "Olhe aqui, menino, de agora em diante voc vai ter que dar duro nos estudos todos os dias, inclusive nos domingos e feriados. E acabou-se o cinema e a televiso!" Esse discurso j tinha sido feito vrias vezes. E sempre numa atmosfera de zanga. Dessa vez, porm, o pai apelou para o brio do filho. Numa conversa s entre os dois, mostrou a carta recebida e disse: "Meu filho, ns estvamos esperando que voc ganhasse uma bolsa de estudos. O mundo precisa de pessoas capazes. H muitos problemas que esto esperando soluo". Arnaldo ficou impressionado com as srias preocupaes de seu pai. E passou a ser melhor estudante.
Mas outras vezes, vai dar muito o que fazer. Vai abrir um berreiro daqueles, vai sujar as fraldas a toda hora. E voc tambm vai ter que ajudar a cuidar dele. Algumas vezes voc pode achar que est sei ido desprezado e ficar com cimes. Quando isso acontecer, venha e fale comigo. A voc vai ganhar tantos beijos e abraos que no ter mais com que se preocupar. E ficar sabendo quanto ns o amamos". So estas algumas maneiras de tratar os filhos e de diminuir a presso no lar a ponto tal que no sufoque a auto-realizao das suas personalidades.
Mecanismos de ajustamento
EXERCCIOS
1. A criana derrama um pouco de leite na mesa. A me reage: "Quantas vezes j lhe disse para ter cuidado". O pai acrescenta: "Esse menino um desastrado". Com esse tipo de reao, o que pode sobrar para o desenvolvimento da personalidade? 2. Um garoto de quatro anos pede ao pai, na rua, um sorvete duplo. O pai responde: "Eu compro este sorvete imenso e voc logo deixa cair. Ser que voc no v que no tem jeito para segurar isso?". Qual uma possvel repercusso desta resposta na sua personalidade? 3. Srgio, de seis anos, deixa cair seu sanduche, no restaurante, e comenta: "Eu sou um desajeitado, mesmo!". Como o pai pode usar este fato e seu comentrio para demonstrar afeto a seu filho? 4. O que dizer aos filhos quando um casal se separa?
Dificilmente transcorre um dia sem que ocorram conflitos e frustraes, alguns graves, outros triviais. Aprendemos a lutar contra eles de vrias maneiras, porm, mais freqentemente, desenvolvendo algum tipo de reao defensiva. Nesta luta, pode-se formar, na personalidade, ncleos neurticos e at psicticos que podem perturbar a pessoa durante toda a
A personalidade uma organizao mais ou menos estvel. Esta organizao, contudo, no uma fortaleza inexpugnvel, inacessvel aos ataques. Sofre contnuos reveses e algumas vezes desorganiza-se, como no caso das psicopatias graves ou loucuras. Todo fracasso, toda frustrao, todo conflito , no fundo, uma ameaa integridade da nossa personalidade. Por esse motivo, criamos mecanismos para proteg-la. So os mecanismos de ajustamento. Estes mecanismos no so, entretanto, panacias universais. Quando so excessivamente empregados podem deixar traos neurticos. So salutares quando usados normalmente. A vida seria bem diferente se cada desejo e cada estmulo fossem satisfeitos. Entre, porm, o desejo e seu alvo, entre o estmulo e o objetivo que o satisfaz, muitas vezes se antepe um obstculo. Os desejos sexuais, aquisitivos e agressivos, so quase sempre frustrados. A frustrao ocorre quando alguma pessoa, objeto ou situao bloqueia o caminho que leva o indivduo ao objetivo desejado. A um empregado pode ser recusada uma promoo merecida, em seu trabalho, por um superior que o persegue. A adolescente pode perder o seu programa
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favorito lie televiso porque o aparelho enguiou. As suas frias podem ter arruinadas por causa do mau tempo. Todos esses so exemplos de frustraes oriundas do ambiente. Outras fontes de frustraes podem ser encontradas dentro do prprio indivduo. As limitaes pessoais podem impedir uma pessoa de alcanar determinados objetivos. O desejo de reduzir a sua desvantagem no jogo pode ser frustrado por sua falta de habilidade. O desejo de ser bem-sucedido no emprego pode ser frustrado por lhe faltarem conhecimentos suficientes ou inteligncia, ou ainda porque no pode trabalhar tanto quanto desejava. Que acontece em ns quando surge um obstculo? H inmeras espcies de obstculos e nem sempre nosso esforo capaz de venc-los. Podemos dividir esses obstculos em dois tipos: frustradores e conflituosos. Em Psicologia, frustrao significa a reao de natureza emocional ante um obstculo qualquer. Uma pessoa feliz e tranqila reage a um obstculo de modo diferente de outra j perturbada e insegura. A reao emocional frustrativa varia de indivduo a indivduo, de acordo com sua constelao interna. As frustraes podem ser simples e passageiras ou, ento, srias e prolongadas, no caso de um motivo intenso e persistente no poder ser satisfeito apesar dos melhores esforos. Os obstculos frustrantes so variados. Tudo aquilo que se antepe plena realizao dos desejos ou objetivos obstculo. Ante o obstculo, ocorre, de imediato, um aumento de tenso. Esta tenso pode desencadear novas tentativas na procura de outros caminhos para uma sada. Quando, porm, o obstculo se torna invencvel, resulta em frustrao. A primeira manifestao da frustrao tende a ser a agressividade. Esta pode ser definida como uma reao de propsitos destrutivos. Muitas vezes, porm, a agressividade tem que ser reprimida, dando lugar a outros mecanismos que estudaremos a seguir. A frustrao, quando ocorre em quantidade e intensidade normais, resulta numa experincia necessria ao bom desenvolvimento individual. A ausncia de obstculos obrigaria o indivduo a se manter medocre, tolo e destitudo de imaginao. Por sua vez, como comenta J. F. Brown, no seu livro Psychology and Social Order, excesso de situaes frustrativas pode determinar efeitos profundamente desfavorveis. De fato, diz ele, as frustraes representam a condio bsica para a neurose. E se isso acontecer, na primeira infncia, as conseqncias sero mais graves ainda, ocasionando a formao de ncleos psicticos. 210
FRUSTRAO E AGRESSO
A primeira tentativa de reao ante um obstculo destru-lo. Quantas vezes chutamos um objeto inanimado que estava no nosso caminho ou rtos causava aborrecimento? A agresso preferentemente praticada por crianas. Elas agridem seus brinquedos, seus pais, irmos ou irms, ou o que quer que percebam estar contrariando-as. A agresso pode ser desviada contra outras pessoas ou objetos, como se estes fossem a causa da dificuldade. A sade e o ajustamento mental so, em grande parte, uma questo do tipo de conduta seguida pelo indivduo para expressar os seus sentimentos agressivos. O jardineiro que, levado pela frustrao, "investe" contra as ervas daninhas do jardim, est agindo de forma construtiva e aceita pela sociedade. Se, em vez disto, espancar os filhos, poder ser at preso. No deve descarregar sua agresso desta maneira. Em toda frustrao h energias psquicas recalcadas que devem ser liberadas, de um modo ou de outro. Os impulsos e desejos recalcados e reprimidos continuam buscando satisfao. Estas energias recalcadas podem ser liberadas e utilizadas na realizao de outros comportamentos sociais. As energias emocionais de origem ertica, como as agressivas e as dos nossos desejos aquisitivos recalcados, podem determinar o que em cincias sociais so chamados motivos sociais derivados. por fora destes que podemos explicar feitos e realizaes sociais que se apresentam como excepcionais. Por que um jovem abastado dedica toda sua vida a uma causa ideolgica, humanitria e t c ? Para descobrir os motivos disto, seria necessrio descer ao inconsciente. L encontraramos as energias derivadas de frustraes que impulsionam e motivam tal comportamento. A diferena fundamental entre a conscincia normal e a neurtica est em que a normal encontra derivativos para os recalques, ao passo que a conscincia neurtica no encontra sada para os mesmos, acumulando uma quantidade tal de energias conflituosas que leva a personalidade pane total ou parcial.
CONFLITOS INTERNOS
O indivduo deixa de satisfazer uma necessidade porque no capaz de escolher entre duas ou mais alternativas que lhe so oferecidas. H muitas ocasies de conflito na nossa vida. Quando se tem de escolher entre economizar dinheiro e o desejo igualmente forte de comprar novas roupas, est-se diante de um pequeno 211
OOnflitO. Se esses desejos so da mesma intensidade e se a realizao de um implica o abandono do outro, passam a perturbar pela dificuldade de escolha. Como voc classifica o conflito em que se encontra esta moa? "Meu namoro uma priso. Sinto que no tenho muita escolha: ou perco meu namorado ou desisto de minha realizao intelectual. Estou entrando numa faculdade, mas sei que no vou encontrar tudo nela. E se eu perder as oportunidades de me realizar sob o aspecto profissional por causa de uma vida afetiva e esta no der certo? No posso negar que tenho medo, e muito, de no me realizar afetivamente com meu namorado." Ocorrem conflitos quando lutam na conscincia motivos em choque. Assim, h trs tipos de conflitos: 1. Conflitos entre motivos positivos. Uma normalista deseja terminar seu curso e ser professora, mas ao mesmo tempo deseja casar-se com um rapaz que no lhe d oportunidade de terminar o curso. Temos a dois motivos positivos em choque, incompatveis. 2. Conflito entre motivos negativos. Um menino tem medo de subir numa rvore e ao mesmo tempo tem medo de ser chamado de covarde pelos amigos. Desta forma, medida que sobe, mais forte fica o medo de cair. No entanto, medida que recua, aumenta o medo de ser chamado de covarde. O segundo medo aumenta medida que o primeiro diminui. Depois de algumas vacilaes, pode subir um pouco e fixar-se numa altura baixa. 3. Conflito entre um motivo positivo e um negativo. Ao pensarmos em nos candidatar a um novo emprego, podemos ser atrados pelas melhores oportunidades que o empregador em perspectiva oferece e, ao mesmo tempo, ser repelidos pela ameaa de sermos testados e entrevistados para sermos afinal recusados. Um indivduo pode querer voltar para casa e temer enfrentar a ira da mulher por no ter pedido aumento. No pediu o aumento porque estava entre o motivo positivo do aumento e o motivo negativo de ser desconsiderado, perder prestgio etc. Quando enfrentamos um desses problemas e no conseguimos resolv-los com sucesso, criamos dentro de ns um sentimento de perturbao e desconforto. Numa tentativa de aliviar a tenso podemos nos comportar de vrias maneiras diferentes. Uma delas o que se chami de deslocamento. Deslocamento a capacidade do organismo de orientar respostas e impulsos para um novo objeto, j que o objeto origimil lhe foi vedado. 212
Um conflito de determinada durao pode deixar a pessoa num estado de neurose, capaz de perturbar toda a estrutura da personalidade.
Os conflitos atuais
H muito mais conflito na conscincia do homem moderno do que existia na do homem primitivo. Nas sociedades primitivas, a pobreza de bens e sua homogeneidade de distribuio favoreciam o equilbrio psicolgico. A sociedade ocidental, dado seu sistema de produo altamente competitivo, leva as conscincias a muitas situaes conflituosas. A psicanalista americana Karen Horney, no seu livro A personalidade neurtica do nosso tempo, indica-nos algumas dessas contradies. Apresenta inicialmente possveis conflitos entre as exigncias de competio e de lutas impostas pelo sistema capitalista de um lado, e o apelo fraternidade e ao amor ao prximo que nos vem do ideal cristo. A seguir enumera a crescente e poderosa estimulao que a propaganda lana de todos os lados na conscincia e as limitaes impostas pelos nossos recursos individuais. No deixa de lado, tambm, o conflito decorrente das afirmaes sobre nossa liberdade e as reais limitaes que nos so impostas. Como vivemos numa era conflituosa, o homem moderno conhece perfeitamente o fenmeno da angstia e da ansiedade. A ansidedade e seu termo mais elevado e obsessivo, a angstia, podem ser definidas como uma desordem emocional produzida pela perspectiva de uma frustrao. A experincia ansiosa ou de angstia, at certo ponto, anloga do medo. Este uma resposta imediata a uma situao presente de perigo. A angstia se apresenta como uma experincia de antecipao, no sentido de que a situao de perigo em face da qual surge futura. O medo uma reao emocional a um objeto determinado. Na ansiedade, este objeto sempre vago e difuso.
Neurose da incerteza
Segundo os cardiologistas, um agente de tenso capaz de provocar enfartes denomina-se neurose da incerteza: Os meios de comunicao, particularmente a televiso e os jornais, so os transmissores dessa "doena", que produzida pelo insistente focus (noticirios, filmes etc.) a respeito de dramas humanos de qualquer espcie, mormente aqueles relacionados com a iminncia da morte. Agrava-se no pblico a imagem da sombra em lugar da luz. 213
Aliviar a tenso humana, ao invs de exacerb-la, deveria ser tambm funo social dos meios de comunicao.
CONFLITOS NEURTICOS
Todo conflito cria determinada perturbao no indivduo. Se o conflito permanece em regies superficiais da conscincia, pode robustecer a personalidade. Torna-se, contudo, mais grave quando atinge a estrutura da personalidade. O fenmeno atravs do qual alguns conflitos, ou muito fortes ou muito persistentes, convertem uma grande parte da angstia em comportamento ou ao fsica chamado de reao de converso. Por exemplo: um soldado, relutando em entrar em batalha corporal, pode ter um ataque de paralisia ou cegueira. No fingimento. Fica cego ou paraltico, at que a tenso causadora do fenmeno desaparea ou diminua. Quando apenas uma funo alterada chama-se somatizao. A tenso conflituosa pode atingir"vrias regies do organismo, criando perturbaes fisiolgicas ou disfunes. Antes de atingir determinado rgo, afeta primeiro uma rea do sistema nervoso. Se a parte atingida a regio lmbica do crebro, a vida psquica pode ser dominada por emoes de medo, de insegurana, de angstia e de depresso. Se a tenso conflituosa se volta para a zona hipotalmico-hipofisria, que rege o funcionamento das glndulas internas, surgiro distrbios funcionais da tireide, perturbaes das supra-renais afetando a presso arterial e a distribuio dos lquidos do corpo e alteraes do pncreas modificando a taxa de acar no sangue, para mais ou para menos. Se esses projetores se voltam para a zona do diencfalo, ento os centros vegetativos sero incomodados com perturbaes da circulao, palpitaes, hiperacidez, falta de ar e sufocao, elicas hepticas etc. Se os projetores se voltam para os centros sexuais, hever uma inibio desse campo. A Reflexologia, em 1945, formulou o princpio da dominncia cerebral. Como uma fora poderosa, muitas vezes ditatorial, o conflito se constitui num foco de excitao, criando em torno de si raios de inibio. Esses raios de inibio, dirigidos em vrios sentidos, controlam de modo todo-poderoso as reas atingidas. Essas' reas j foram vistas anteriormente. Onde caem as projees ocorre uma escravizao ao foco dominante. A terapia visa a criar uma nova dominncia cerebral que se exprima em comportamentos ajustados. Os medos irracionais, as manias obsessivas, os tiques nervosos, os surtos de agressividade ou de timidez sem razo aparente, os lapsos 214
inexplicveis da linguagem, os esquecimentos, primeira vista sem importncia, podem caber numa s categoria, a do equilbrio emocional precrio, perturbado por um conflito srio que cabe pessoa pesquisar e enfrentar para poder dele se livrar e comear a viver.
O ajustamento da personalidade
Os conflitos, as frustraes, as inferioridades etc. apresenlam-se como uma ameaa integridade da pessoa. Para se manter ajustada, a pessoa busca modos e formas de ocultar, compensar, minimizar e fugir dos conflitos. So os mecanismos de ajustamento. O ajustamento da pessoa, muitas vezes, se faz atravs de mecanismos internos q u e se desenvolvem no sentido de proteg-la de suas deficincias reais ou imaginrias. Se a pessoa ficasse fixada em suas deficincias e inferioridades, perderia sua prpria estima e terminaria desintegrando sua personalidade. Esses mecanismos so uma forma de a pessoa compensar inferioridades e fraquezas e recriar-se perante si mesma. O conflito ou o problema que mais mobiliza as defesas da pessoa o complexo de inferioridade. Eis alguns sintomas que revelam a presena ainda muito forte deste complexo e dos mecanismos de defesa para super-los: 1. Sentimentos acentuados de incapacidade e de inferioridade. 2. Super-sensibilidade crtica. 3. Isolamento ou falta de sociabilidade. 4. Excessiva valorizao da bajulao. 5. Atitudes supererticas com relao aos outros. Vejamos, agora, os principais mecanismos que usamos para compensar nossa "inferioridade" real ou imaginria. Compensao. Com ele pretende-se sempre superar uma desvantagem fsica ou mental. interessante notar que esta pode ser simplesmente imaginria. Constatada a inferioridade em determinado setor, mobilizam-se esforos para sua superao em outro. Por exemplo, um rapaz franzino sente aumentar sua auto-estima adotando atitudes de boxeador. A moa pouco atraente que se veste e caminha de modo provocante faz isto numa tentativa de superar esse problema. Racionalizao. Caracteriza-se pela criao "convincente" de explicaes vantajosas para os fracassos decorrentes da nossa inferioridade. O objetivo visado a defesa do nosso "eu" perante ns mesmos e perante a crtica social. O Sr. Peanha diz que precisa comprar um carro maior, para dar mais conforto famlia. Ser que ele est, realmente, querendo dar 215
este conforto famlia, nos seus" passeios de fins de semana, ou est procurando melhorar de status, obter mais prestgio? O motivo, no caso, seria uma racionalizao. Projeo. , de certa maneira, uma racionalizao. Consiste em localizar em terceiros e em atribuir a estes os sentimentos que so nossos. Lyriss, uma garotinha de trs anos que no teve boas experincias nos seus primeiros banhos de mar, comentava com seu pai: "A Chiquita (uma bruxa de pano) no gosta da praia. Ela tem medo do mar. Ela no gosta de tomar banho de mar. Ela chora". H realmente projeo em casos como este: "No sou to mau assim. No tenho dio de ningum, mas tenho plena convico de que me odeiam". Na realidade esta pessoa poder estar projetando seus sentimentos nos outros. Nesses casos, ocorrem dois mecanismos psicolgicos : a) descarregar seus sentimentos negativos nos outros; b) possibilitar a tomada de atitudes agressivas, sem sentimento de culpa, j que ele o "perseguido" ou o "odiado". Identificao. Ocorre quando o indivduo que se sente inferiorizado assume mentalmente a identidade de uma pessoa forte e vitoriosa. Nas crianas muito comum a identificao com heris de televiso. O mecanismo de identificao, quando bem dosado, salutar para a formao da personalidade. Milhes de pessoas, obrigadas a levar uma vida medocre, realizam-se na identificao com os heris fornecidos pela cultura do nosso tempo, tais como personagens de histrias da televiso e do cinema bem como dos esportes. Regresso. Etimologicamente vem do latim: regressione "ato ou efeito de caminhar para trs". Consiste em adotar formas de comportamento caractersticas de pessoas muito mais jovens, geralmente de crianas. assim uma volta a nveis infantis de reao, produzida por situaes de fracassos intensos e repetidos. Kurt Lewin e Tamaro Dembo, em seus trabalhos sobre nvel de aspirao, chegaram concluso de que a regresso ocorre depois de severas e seguidas frustraes, determinando, geralmente, um abaixamento nos nveis de aspirao e de expectao da pessoa. Crianas de dez e mais anos, que tenham sofrido frustraes muito srias, chupam o dedo, falam como se fossem bebs ou criancinhas. Num estudo experimental sobre frustraes, verificou-se que crianas postas a brincar com seus brinquedos comuns, habituais, ao mesmo tempo que viam, atravs de uma grade, uma coleo de 216
brinquedos novos e atraentes, regrediam a formas mais infantis de comportamento. As frustraes internas ou seguidas costumam baixar o nvel de aspirao das pessoas. Fixao. semelhana da regresso, muitas pessoas que sofreram, excessivamente, srias frustraes podem: 1. Criar um comportamento estereotipado, rgido e excntrico, que no leva em considerao os padres comuns, habituais de vida. 2. Parar seu desenvolvimento, fixando-se em determinada fase. o caso da moa ou do rapaz que mantm a mesma dependncia afetiva e comportamental para com a me, como se ainda fossem crianas. Idealizao. A energia emocional recalcada utilizada para a criao e elaborao de um mundo mais justo, mais gratificador, "mais ou menos utpico". Eleva e sustenta o comportamento individual em prol de sua criao concreta. Simbolizao. Neste mecanismo, as energias emocionais de origem ertica so utilizadas num processo de elevao e quase adorao de personalidades que se sobressaem no meio social. Exemplo: criao dos dolos do cinema, da televiso etc. Podemos, ainda, citar outros mecanismos importantes no ajustamento das pessoas. Represso. Consiste em rechaar para o inconsciente os estados emocionais de frustraes que se apresentam incmodos e dolorosos. Quando a lembrana do malogro surge, atormenta a conscincia; esta cuida de reprimi-la e de afogar sua memria. Contudo, o conflito reprimido pode continuar atuando, mesmo de maneira inconsciente, no comportamento do indivduo. Muitos atos falhos ou esquecimentos sbitos e inexplicveis podem nascer do bloqueio inconsciente que estas frustraes reprimidas determinam na conscincia plena ou no comportamento consciente do indivduo. Sublimao. Freud reserva este nome para as atividades geralmente artsticas que se criam ou se realizam como compensao dos impulsos sexuais reprimidos. A sublimao se caracteriza pela utilizao da energia sexual recalcada em atividades artsticas ou religiosas. Fantasia ou devaneio. Muitas vezes, a fantasia ou devaneio serve para encobrir uma situao frustradora, ou melhor, para fugir mentalmente lembrana desta ou prpria realidade da situao frustradora. Com este mecanismo vivemos, pelo menos em imaginao, aquelas situaes e naquela espcie de mundo em que gostaramos de viver. Algumas pessoas, em vez de se entregarem prpria imagina-
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o, para encontrar esta fuga, preferem um bom filme que lhes possibilite identificar-se com o heri que enfrenta mil perigos, luta arrojadamente e consegue finalmente chegar ao triunfo desejado. Quando as tenses frustradoras so totalmente descarregadas, diz-se que houve uma catarse, termo que em grego significa "banho", "limpeza". A catarse o ato de descarregar tenses atravs de diferentes atividades. O devaneio e a fantasia fazem parte do mecanismo de ajustamento. uma fuga de uma situao incmoda. Os mecanismos, quando empregados com medida, so no s normais, como tambm necessrios para se manter o equilbrio emocional. Para ficar com uma viso global de todos esses mecanismos de ajustamento, leia o quadro da pgina 219.
> EXERCCIOS r
1. H problemas ou situaes conflituosas que rompem o equilbrio psquico. Nesse momento, entram em ao as foras adaptadoras e assimiladoras da pessoa. Se estas foras vencerem os problemas, a situao estar resolvida e o organismo voltar ao equilbrio. Quando isto, porm, no ocorre, de que modo a personalidade entra em campo ou em defesa de sua integridade? 2. Muitas doenas nascem na mente, havendo mesmo os que defendem a tese de que quase todas as doenas tm suas origens em conflitos emocionais. Talvez no se possa chegar a este exagero, pois h doenas em que patente a causa fsica, mas no resta dvida de que uma boa profilaxia evitar conflitos emocionais. Na sua opinio, pode-se evitar um conflito emocional? 3. Comente, concordando ou discordando: "Depois de criado um problema, com danos psicolgicos para as pessoas, no fcil voltar situao pr-problema. Com.boa vontade, consegue-se apenas o retorno a uma situao semelhante anterior. As experincias traumticas no permitem a volta ao mesmo ponto".
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entra no banheiro, onde examina a arma, volta depois ao corredor. V a porta do quarto dos pais entreaberta, e d o primeiro tiro. A bala se encrava na porta. A me, assustada, levanta-se da cama. Neste momento, o rapaz aponta-lhe o revlver e atira em sua cabea. Nisto, o pai acorda e, ao se erguer, alvejado. A seguir, recua um pouco e esconde-se atrs da porta. A irm, com o barulho dos estampidos, vem para o quarto dos pais e alvejada com um tiro na cabea, caindo perto do corpo da me. Depois de algum tempo, dirige-se ao quarto dos dois irmos e dispara o revlver na cabea de cada um. Pe os cinco corpos no carro do pai, cobre-os com um cobertor, leva o veculo at uma rua mais distante, estaciona e abandona o carro. Voha para casa e comea a lavar o sangue. Nesta tarefa preso pela polcia.
em cada um
loucura
pode
estar
embutida
PERTURBAES DA PERSONALIDADE
Neste exemplo, vemos graves perturbaes da personalidade. Podemos classificar esses distrbios em cinco tipos bsicos: oligofrenias, demncias, psicoses, psicopatias e neuroses. Oligofrenia. Nesse tipo de distrbio, a personalidade no atinge determinado nvel de desenvolvimento. O crescimento pra em determinado estgio da maturao. Por exemplo, a inteligncia atinge somente o estgio de cinco ou seis anos. Espera-se em toda cultura que um adulto chegue a certo nvel de desenvolvimento. Este nvel passa a ser socialmente o padro ou a medida da normalidade. Se no obtm tal desenvolvimento, se o que falta pouco relevante, diz-se que imaturo; se, contudo, a distncia for grande, considerado oligofrnico. A oligofrenia tambm conhecida como deficincia mental, ou subnormalidade mental. "Mental" refere-se inteligncia, contudo, a deficincia de toda a personalidade. O oligofrnico sofre de deficincia na rea da afetividade, maturidade, inteligncia e conao. Entenda-se por conao a deficincia na rea de vontade, desejo, objetivo e motivao. Uma criana que, nos seus primeiros anos de vida, no foi suficientemente alimentada de protenas (carne, ovos, leite etc.) pode deixar de desenvolver normalmente seu crebro, transformando-se assim num oligofrnico. Demncia. um declnio patolgico da personalidade. H o declnio normal, cujos sinais comeam por volta dos sessenta anos, de forma lenta e suave. Se, contudo, esses sinais se acentuarem e se
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Um jovem de dezoito anos, de uma famlia de classe mdia, mata, ^m So Paulo, toda a famlia: a me, o pai, um irmo, a irm e mais o irmo caula, de oito anos. Ao chegar em casa, 1 h 30 min do domingo, vindo da casa da namorada, o rapaz ainda encontra a me acordada, pois assistia a um filme na televiso. O pai e os irmos j tinham ido dormir. A me, vendo-o entrar, desliga o televisor e fala para ele: So horas de chegar em casa? Voc um vagabundo que no faz nada. O jovem assassino confessou depois, polcia, que esta repreenso "tocou fundo", mas nada respondeu me. Esta sobe para o quarto e deita-se ao lado do marido. O rapaz tira os sapatos, troca de roupa e deita-se no sof da sala, ligando o rdio num volume muito alto. A me desce apressadamente as escadas do andar superior, desliga o rdio e novamente o censura: Voc est incomodando! Voc s incomoda. A seguir, ela retorna ao seu quarto. Ele permanece deitado no escuro, por alguns momentos. Depois sobe, descalo, sem fazer barulho, entra no quarto dos pais, silenciosamente, e comea a procurar o revlver. Encontra-o, sai do quarto, 220
avolumarem rapidamente, sintoma de demncia, que distrbio da . personalidade. Os sintomas demenciais podem ser qualitativa ou quantitativamente diferentes. Vejamos alguns exemplos: Sintomas quantitativamente diferentes: a pessoa idosa normalmente um pouco teimosa, apegada a seus hbitos, um tanto desconfiada e egocntrica. Transformar, porm, esta pequena dose de desconfiana em idia de perseguio e de ameaas sintoma de doena. Achar que querem que morra, que vo envenen-la, que querem abandon-la e t c , um sentimento que se afasta da faixa da normalidade. A pessoa idosa apegada a seus objetos, mas entre este apego e o hbito de colecionar ou guardar tudo o que pega h uma diferena quantitativa que indica perda da normalidade. Sintomas qualitativamente diferentes: so aqueles que no tm analogia ou semelhana com as caractersticas da idade, como ter alucinaes, ouvir vozes, sentir-se alvo de perseguio, atacar parentes, crianas etc. Transformar-se em agressivo, impertinente, quando antes era exatamente o contrrio, calmo, ponderado, sinal de perturbao da personalidade. Psicose ou loucura. Durante o seu desenvolvimento, a personalidade chega a determinada estrutura que a torna nica e diferente de todas as outras pessoas. Isto determina a maneira de cada um se ajustar e proceder com relao realidade exterior. Enquanto a personalidade permanecer estruturada e reagir adequadamente ao meio, normal. A psicose a perda dessa estruturao, deixando de ser a personalidade um todo harmnico. Seus componentes deixam de se articular adequadamente. O psictico pode encontrar-se ora em estado de depresso, ora em estado de extrema euforia e agitao. Em dado momento age de um modo e em outro se comporta de maneira totalmente diferente. Houve uma desestruturao da sua personalidade. O dado clnico fundamental para se aferir a psicose a alterao dos juzos de realidade. O psictico passa a perceber a realidade de maneira diferente. Por isso, faz afirmaes e tem percepes no apoiadas nem justificadas pelos dados e situaes reais. Nas psicoses ou loucuras, alm da alterao do comportamento e do pensamento, so comuns as alucinaes (ouvir vozes, ter vises e delrios). O psictico pode ser possudo por intensas fantasias de grandeza ou perseguio. Pode igualmente sentir-se vtima de uma conspirao internacional ou familiar assim como julgar-se um milionrio, um ser divino, um salvador da humanidade etc. Psicopatia. a falta de estruturao de determinadas dimenses da personalidade. H ncleos psicticos que podem perdurar por pouco 222
ou muito tempo, sem contudo levar loucura tpica. O que se verifica uma espcie de falha na construo da personalidade. As principais deficincias da personalidade psicoptica so: No tem conscincia moral ou a apresenta em grau muito reduzido. O certo e o errado, o permitido e o proibido no fazem sentido para ela. Desta maneira, simular, dissimular, enganar, roubar, assaltar, matar no causa sentimentos de repulsa ou remorso em sua conscincia. Busca estimulaes fortes. incapaz de adiar satisfao. N o tolera um esforo rotineiro e no sabe lutar por um objetivo distante. No aprende com os prprios erros, pelo fato de no reconhecer estes erros. Em geral, tem bom nvel de inteligncia e baixa capacidade afetiva. Parece incapaz de se envolver emocionalmente. No entende o que ser socialmente produtivo. Neurose. Determina uma modificao, mas no uma desestruturao da personalidade e muito menos perda dos juzos de realidade. A existncia de tenso excessiva e prolongada, de conflito persistente ou de uma necessidade longamente frustrada, sinal de que na pessoa se instalou um estado neurtico. Suponhamos que a figura ao lado represente a personalidade. As partes P,, P , P , P e Y Y so partes da estrutura normal ou sadia da personalidade; P e Y so reas sob tenso e conflito. claro que a existncia dessas reas deixa toda a estrutura da personalidade sob presso, mas no h, conseqentemente, nenhuma desestruturao da personalidade, que continua integrada. Se fosse removida a rea de tenso, a normalidade estaria restabelecida. Numa neurose fbico-obsessiva, por exemplo, o paciente apresenta alterao de comportamento: lava as mos cinqenta vezes por dia. Com esta ao, est descarregando suas tenses acumuladas. A cada aumento de tenso, corresponde a ao de lavar as mos. So muito variados os comportamentos provocados por tenses neurticas.
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EXERCCIOS
1. A personalidade do jovem citado no incio do captulo efetivamente doente. Algum comentou que sua destrutividade to grande e to sem controle que provavelmente tentar o suicdio, "to logo se esgote a impulso heterodestrutiva". No suicdio, voltar esta destrutividade contra si mesmo, e agora, com o reforo de uma autopunio, este fato poder se tornar mais provvel. Que comentrio voc pode fazer sobre isto? 2. "O mecanismo de destrutividade tomou conta daquele ser, h muito tempo. A destrutividade caracterstica quase exclusiva do homem, pois este o nico animal que tortura, mutila e mata outra criatura da mesma espcie, sem nenhuma razo relacionada com a sobrevivncia." Comente. 3. Voc v no comportamento criminoso do exemplo sinais de psicopatia? 4. Que psicose?
RESPOSTAS
Respostas da p. 21
a) Figura 4. (Todas as demais figuras tm pontas.) b) Figura 5. (Todas as demais figuras podem ser divididas em duas partes por uma linha vertical, menos a n. 5.)
Nota: Nesta parte final, valemo-nos de alguns itens do captulo "Personalidade perturbada e sob tenso", do nosso livro Psicologia Organizacional (mesma editora, 1981), onde o assunto mais extensamente desenvolvido. Recomendamos aos nossos leitores.
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aquisio resposta (R) estmulo condicionado (EC) condicionado reflexo reflexo 23. Reflexa, isto , uma resposta a um estmulo. 24. Estmulo condicionado (EC)
Respostas da p. 149
sentidos elementos; organizar; sentidos meio exterior desinteressantes; boa (agradvel) elaborados organizar; alguns alguns elementos faltam completo campo figura; fundo figura; fundo Depende do foco da ateno: se o primeiro a ser observado for o professor, ser ele a figura. 14. seu modo 15. O leitor induzido a um erro (no se sepultam sobreviventes), pois todos os demais fatos esto corretamente organizados, formando um todo coerente. 16. de negro 17. figura; figura 18. A arredondada, por analogia, recebe mais comumente a designao de maluma. 19. sobreviver; necessrias; visuais 20. a) em A b) em B 21. certo 22. perceber; agir 23. indelicadeza 24. facilmente 25. necessidades 26. necessidades 27. mesma maneira; voc 28. amigo; diferentes; as pessoas 226 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13.
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GLOSSRIO
Agressividade: qualidade do temperamento ou mecanismo de defesa do eu, que se caracteriza pelo modo destrutivo de reao. H ntima ligao entre agresso e frustrao. As energias da a g r e s s o so as m e s m a s que se mobilizam para a obteno de um objetivo, havendo, contudo, uma barreira [humana ou fsica, dentro ou fora do indivduo) que o torna inalcanvel. Desta maneira, as energias se voltam contra a barreira. A agressividade no deve ser confundida com a destrutividade. Ansiedade: estado emocional decorrente de a p r e e n s e s , incertezas e medo diante de um perigo real ou imaginrio. Assemelha-se ao estado emocional do medo. Neste, a fonte ameaadora est p r e s e n t e. Na ansiedade, porm, a fonte ameaadora algo difuso, ausente, contra o que no possvel uma reao concreta de ataque ou fuga. A pessoa fica num estado de tenso depressiva e angustiante. Na ansiedade, alguns estmulos ameaadores so tipicamente imaginrios, irreais, sem nenhuma existncia concreta. Atitudes: tendncias para responder positiva ou negativamente a certos objetivos, p e s s o a s e situaes. So predisposies de natureza emocional diante de coisas, p e s s o a s ou idias. Alqumas vezes, algum pode ser impelido a realizar certo comportamento contrrio s suas atitudes e opinies, mediante alguma recompensa ou a fim de man-
indivduo no consegue, por forte trauma, manifestar certas aes ou pensamentos. s vezes, os movimentos ficam total ou parcialmente tolhidos. Uma parte do crebro e da atividade psquica fica inibida pelo trauma. Complexo: conjunto de idias carregadas de afetividade que foram reprimidas pela censura para o inconsciente, acarretando, s vezes comportamentos neurticos ou desvios psquicos. Os complexos manifestam-se atravs de vrios mecanismos e atos falhos. Crise: mudana brusca ou perturbao sria na marcha de determinado processo. Depresso: estado emocional de baixa atividade psicomotora. Ocorre nor, enfados de perda ou de declnio de poder. Acompanham-na o abatimento, a tristeza e uma sombria perspectiva de futuro. Neste estado, a vida se exprime dentro de um contexto restrito e limitado. Destrutividade: uma fora que se instala no indivduo como resultado de t e n s e s internas. Essa fora se volta contra o prprio indivduo, servindo como agente de auto-destruio, de modo lento e indireto ou, algumas vezes, como no suicdio, de maneira frontal e fulminante. A destrutividade
recebeu de Freud a denominao de tanatos (palavra grega que significa "morte"). O homem o nico ser vivo portador de destrutividade, que no deve ser confundida com agressividade. A destrutividade tende a minar e a acabar com eros. isto , a vida, a alegria, o prazer, a realizao, a auto-realizao. Dimenso subjetiva: conjunto de atributos referentes ao pensamento: inteligncia, raciocnio, imaginao, crtica, abstrao, conceituao etc. Corresponde ao quadro imaginrio e ao mundo interior da pessoa. Dislexia: do grego dis = difcil, e lexia = leitura. a dificuldade que algumas crianas sentem em ler e aprender a ler, embora sejam normais e algumas vezes mais inteligentes do que a mdia. No conseguem perceber o significado das palavras. s vezes, escrevem ao contrrio, em espelho, da direita para a esquerda. Precisam de tcnicas especiais para superar e s s e defeito. Ego: a conscincia em atuao. a parte correspondente ao conhecimento atual, do momento presente . a resposta s perguntas: Quem sou? O que estou fazendo? Suas funes principais s o : resolver problemas, pensar, planejar e proteger a si mesmo.
Ego-ideal. Eu-idealizado. (Ideal de Ego):
voltada para fora. O termo extrovertido foi usado por Jung para designar
aquele eu que a pessoa quer atingir um dia. Em algumas p e s s o a s, esta formao subjetiva substitui o eu-verdadeiro um "eu" formado na infncia para compensar e substituir o "eu" real, que a criana fantasia como algo rejeitvel, inferior e desprezvel. Elao: estado de excitao emocional que se caracteriza por uma euforia e animao decorrente do aumento de poder no indivduo. So correlatos deste estado a alegria e o prazer. Empatia: estado emocional no qual algum s e n t e a mesma coisa que outrem, havendo certa comunho de ordem mental e emocional. uma capacidade de sentir o que outra pessoa est sentindo ou pensar o que outm est pensando. Para a Psicanlise, significa projeo objetiva de uma situao emocional em algo externo. (V.
Simpatia.)
um padro de comportamento caracterizado por um grau extremo de soclabilidade, de averso meditao e Interiorizao. Caracteriza-se tambm pela inconsistncia dos afetos e do comportamento. Em Psicanlise, o termo designa a direo externa, para fora, que toma a libido recalcada. Filosofia de vida: conjunto de princpios, viso do mundo e das coisas que cada um adota para seu uso pessoal. Fobia: medo doentio. Freud divide as fobias em duas c l a s s e s : 1) as que so uma exacerbao de medos comuns (fobias referentes a fatalidades solido, a s e r p e n t e s , morte, t d e s a s t r e s e t c ) ; 2) as que s:> explicveis apenas como fixao* de outros medos neurticos da pessoa. Vejamos algumas: mesofobia: medo de contagiar-se; nictofobia: medo de escurido; claustrofobia: medo de lugares fechados; acrofobia: medo das alturas; climacofobia: medo de cair de escadas; agorafobia: medo de lugares abertos (praas). Gabarito: o padro de resposta s objetivas que serve para medir e atribuir o grau ou nota das provas. Contm os itens certos e o valor de cada um. Gagueira: um fenmeno de base emocional provocado pelo fato de a regio da garganta e reas adjacentes ficarem t e n s a s . Costuma comear por volta dos trs ou quatro anos, quando a criana inicia a enunciao de fras e s mais longas. Inibio: ocorre quando uma fora psquica ou emocional maior freia outra ou evita s e u s modos de expresso. a interrupo parcial ou completa de uma atividade mental ou psquica por interferncia de outra. Insight (discernimento): percepo rpida de relaes diversas, que permitem descobrir a soluo para um problema. uma atividade tipicamente inteligente.
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dana de e s t a d o s emocionais com grande freqncia. O indivduo passa do estado de excitao para o de inibio, do estado de elao para o de depresso, dificultando, assim, as expectativas das outras p e s s o a s a seu respeito. Introverso: qualidade da personalidade voltada para dentro de si. Ope-se extroverso. O termo introvertido usado para designar aquelas p e s s o a s que vivem dentro do seu subjetivismo e que do, no t e s t e de Rorschach, um nmero excessivo de respostas em termos de movimentos, ante os borres padronizados. A palavra deriva do latim intro = para dentro e vertere = voltar-se. H muitas classificaes tipolgicas da personalidade baseadas nesta dicotomia. Freud constatou certa relao entre tendncias esquizides e introverso. O grau de introverso varia muito nas p e s s o a s . Freud usa o termo para designar o estado da conscincia que, j no podendo tirar satisfao imediata da realidade objetiva, gratifica-se com a elaborao de outro tipo de subjetividade. Maturao: designa a srie de transformaes morfolgicas, funcionais e de comportamento que vo chegando sua plenitude em cada fase. A maturidade pode ser antecipada ou retardada. Tudo depende da preparao anterior. Modelo: a estrutura cognitiva (na rea do conhecimento) formada por pontos ou elementos que vo sendo tirados do real e colocados no plano terico, at chegar-se a uma teoria consistente. Motivao: um processo de ativao de um organismo, iniciado por uma necessidade e que tem por alvo um objetivo que vem satisfaz-la. Motivo: tudo aquilo que leva o indivduo ao. Neurose: desordem parcial, de natureza psquica, que perturba a organizao da personalidade sem desintegr-la.
(V. Psicose).
mental orientada de acordo com a lgica, mas operando melhor com dados e elementos concretos da vida e da realidade externa. uma espcie de ensaio e erro no qual as manipulaes mentais substituem as aes e os comportamentos externos.
Pensamento mgico-simblico: o pro-
c e s s o mental dominado por fantasias mas que, apesar disso, se referem a realidades externas. Simblico significa esta referncia a p e s s o a s e objetos externos; mgico a natureza fantstica d e s t e pensamento que constri o imaginrio infantil ou psictico. Personalidade: uma organizao mais ou menos estvel das vrias dimens e s de que se compe a pessoa: dimenso fsica, temperamento, carter, dimenso subjetiva, inteligncia etc. A organizao d e s t a s dimenses, numa pessoa, no forma uma estrutura inexpugnvel. Muito pelo contrrio, sofre contnuos a t a q u e s e, por isso, para se defender, a conscincia se arma de mecanismos de ajustamento.
Psicodlico (em ingls, psychodelic):
Q.I. (quociente de inteligncia): um ndice numrico usado para quantificar a inteligncia. Para medir a inteligncia divide-se a idade mental da criana, apurada segundo os t e s t e s , por sua idade cronolgica e multiplica-se e s s e quociente por 100 para eliminar os decimais. Se uma criana de quatro anos de idade tiver uma idade mental de cinco, o seu Q.I. ser 125 e poder prever-se que sua idade mental continuar cerca de um quarto acima de sua idade real. Simpatia: deriva-se do grego sym = com e pathein = sofrer. sentir com algum o que ele s e n t e . a capacidade de exteriorizar afeto e valor para com as p e s s o a s . O contrrio da simpatia, a antipatia, surge do fato de a pessoa exteriorizar para com outra sentimentos negativos, de pouco valor. Jennings mostrou que as crianas consideradas simpticas eram aquelas capazes de mostrar que gostavam d a s outras pessoas.
Temperamento: conjunto de qualidades individuais de natureza afetiva que abrangem: reao, estmulos mais ou menos rpidos, emocionalidade, flutuaes de humor, predisposio ao etc. Desde Hipcrates (400 a.C.) at hoje se fizeram as mais variadas classificaes do temperamento. Hipcrates classifica-o em: colrico, melanclico, fleumtico e sangneo. Segundo Ren Le Senne, existem trs caractersticas fundamentais do psiquismo que determinam os vrios temperamentos. Estes elementos fundamentais so: emotividade, atividade, ressonncia, isto , prontido com que os diversos acontecimentos repercutem na conscincia. Em algumas p e s s o a s, a ressonncia imediata e rpida, enquanto em outras a reao se faz em segundo plano. De acordo com e s t e s t r s elementos fundamentais, Ren Le Senne estabelece os seguintes t e m p e r a m e n t o s :
Composio
Frmula
Nomes
Onlcofagia (hbito de roer unhas): a forma de exprimir t e n s e s contidas ou recalcadas, manifestando-se de preferncia quando a ateno se acha
trata-se de um neologismo formado do grego psyqu = alma, mente e delein = destruir, abalar. Significa um estado mental caracterizado por percepes sensveis de intensa vibrao e variedade, levando a conscincia a profundos momentos de prazer, a t r a n s es estticos e impulso criativo. Tenta-se chegar a e s t e e s t a d o por meio de efeitos externos de fortssimo jogo de elementos perceptivos e sensitivos especiais, como atravs de drogas que levam a conscincia a e s t e estado especial de t r a n se ou "viagem" como o chamam. Por meio d e s t e estado, pretende-se uma fuga do quotidiano quando ele se apresenta banal e contraditrio. Psicose: insanidade mental, permanente ou peridica, que age como desintegradora da personalidade. Revela-se tanto pela desorganizao do pensamento como pelo comportamento totalmente desajustado s circunstncias. Por isso, o psictico no pode viver com as p e s s o a s normais.
Emotivos, no-ativos, primrios Emotivos, no-ativos, secundrios Emotivos, ativos, primrios Emotivos, ativos, secundrios No-emotivos, ativos, primrios No-emotivos, ativos, secundrios No-emotivos, no-ativos, primrios No-emotivos, no-ativos, secundrios
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