Canto Gregoriano

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Canto Gregoriano

Fabio Jos Passini Oblato Cisterciense

O que Canto Gregoriano?

Uma resposta rpida e simplista seria: Palavra de Deus cantada. Apesar


dessa afirmao ser correta, ela est longe de definir de forma completa, o
que Canto Gregoriano, mas nos serve de ponto de partida.

O Canto Gregoriano segundo a letra.

Como j foi dito a Palavra de Deus, suas fontes so variadas, mas a


principal a Bblia, depois teremos hinos, antfonas etc. inspirados tambm
na Tradio. E aqui j fica uma diferena clara entre o Canto Gregoriano e
as outras formas de msicas. O Canto Gregoriano essencialmente um
canto litrgico, criado para os servios eclesisticos, seja as missas, os
ofcios, a adorao ao santssimo etc. Ele no segue um padro moderno de
ritmo fixo, ao contrrio, enquanto a msica moderna popular segue sempre
um andamento, um ritmo, e assim obrigando a letra a se encaixar no
compasso, o Gregoriano faz exatamente o contrrio, a Palavra de Deus tem
primazia sobre todos os elementos do canto, a palavra de Deus que d o
andamento, o rtmo do canto, muitas vezes as peas foram compostas sob a
influncia da experincia mstica ou um profundo estudo teolgico. Certas
partes da pea podem ser realadas com melismas, por exemplo, ou com
altura da nota, com a insistncia de um determinado padro etc. mas
sempre servindo de suporte para o Texto. Sua funo litrgica e seus
benefcios espirituais so to profundos, que o CVII afirma que o Gregoriano
o canto prprio da Igreja. Para tanto, basta ver que todas as vezes que
ouvimos um canto gregoriano em qualquer lugar, imediatamente lembramos
da Igreja, da missa etc. j outros estilos, precisamos parar e prestar a
ateno no que est sendo dito, pois pode ser qualquer outra coisa,
principalmente profana.
O Canto Gregoriano segundo a melodia.

Bem, se definir a fonte do texto simples, quanto a musicalidade, no. Esta,


teremos mais familiaridade conforme vamos estudando as peas. Algumas
coisas j podemos definir.

O Canto Gregoriano, quanto a melodia, propriamente dito, :

1 Unssono

2 Modal

3 Vocal

Unssono:

Todos os integrantes da Schola Cantorum, do coro, etc. cantam as notas


sempre na mesma altura(no confundir com volume), no mximo, pode
haver crianas, mulheres, ou homens com tessitura de baixo, que cantar
uma oitava acima ou abaixo, porm se a nota for R, por exemplo, todos
estaro cantando r. Assim, no Gregoriano no h polifonia, contraponto,
nota pedal etc. To pouco ter sincopa, contra tempo etc.

Modal

Chamamos de Modo a forma, o jeito que as notas se comportam dentro de


uma pea musical. H duas notas que devem ser procuradas na melodia
para classificar o Modo, a dominante e a final

Dominante:

Entendemos por dominante, aquela nota que est sempre presente na pea,
por mais que se use notas ornamentais, a melodia insiste em voltar para a
Dominante.

Estudos recentes indicam que essa forma de classificar uma pea musical,
no era observada no incio da formao de repertorio, pelo menos at a
poca do Papa Gregrio Magno, porm, j na poca dos nossos Pais
Cistercienses, a teoria dos modos era algo tido como absoluto. Ento,
quando foi feito a reforma Cisterciense, o Gregoriano tambm passou por
essa reforma, pelo menos se pensava que estavam reformando o canto,
quando na verdade estavam criando uma nova tradio do Gregoriano, isso
explica porqu uma melodia Cisterciense soa de forma diferente do
Gregoriano Romano, praticado por exemplo, pelos monges de Solesmes
(Beneditinos). que originalmente, a pea musical podia ter mais de uma
dominante, ou terminar com uma Final diferente da teoria dos modos,
tambm, certos arranjos de notas que no eram comuns em um modo,
apareciam no meio da pea, isso tudo foi modificado pelos Cistercienses para
que se ajustasse bem aos modos, assim, os Cistercienses acreditavam que
estavam voltando para a pureza do Canto Gregoriano, tirando aquilo que
ao longo do tempo foi acrescentado ou modificado. Isso foi assunto to certo
para a ordem, que podemos ler em no prefcio de um documento da Ordem:

O Canto em uso nas Igrejas da Ordem de Cister, mesmo gravemente alterado


por inmeras discordncias, foi durante muito tempo recomendado por causa
da autoridade daqueles que praticavam. Mas como parecia absolutamente
inadmissvel que pessoas que se haviam coprometido a viver segundo a Regra
cantassem o louvor a Deus abrindo mo de qualquer regra, ireis encontrar
aqui um canto corrigido, com o assentimento destas pessoas. Purificado do
que era inautntico, expurgado das licenas descabidas e ineptas, bem
fundado na plena verdade das regras...

Assim que entrarmos na interpretao das partituras, vamos ver um


exemplo do que dissemos aqui.

Os Modos so classificados em 8, dizemos 1 modo, 2 modo e assim


por diante. O Modo vem indicado logo no Incio da partitura, bem acima da
letra inicial.

comum encontrarmos o modo indicado por numeral Romano: I, II, III, IV ...
Tambm no incio da partitura pode vir indicado a funo da pea musical,
se ela uma antfona, um Gradual etc.

As abreviaes comuns so:

Intr. Introitus, Intritos, ou canto de entrada

GR. Gradualia, Graduais, ou Salmo Gradual

AL. Alleluiatici, Aleluias

SEQ. Sequentiae, Sequncias

OF. Ofertoria, Ofertrios

CO. Communiones, Comunhes

ANT. Antiphonae, antfonas

Cada modo tem seu Tom Salmdico correspondente.

Os Tons Salmdicos foram pensados de forma precisa para adaptarem bem


os Salmos s Antfonas, portanto, tambm existem 8 Tons salmdicos com
suas variaes, e mais um tom com duas cordas de Recitaes, que veremos
mais frente.

Vocal

Isso nos parece obvio, j que se trata da Palavra de Deus cantada, mas o que
eu quero fixar que qualquer outra interveno musical que haja no canto,
ele algo Moderno, portanto, estranho aos medievais. O uso de rgos,
sintetizadores, emuladores etc. so adies contemporneas, que se
adaptam aos tempos modernos. Portanto, o Canto Gregoriano, praticado
pela Igreja no seu perodo autntico no existia acompanhamento algum.

Partitura

Antes de dar continuidade aos conceitos, vamos falar um pouco sobre a


partitura.

Aps vrias tentativas de grafar o Canto Gregoriano, chegou-se a um padro


que usamos ainda hoje. Vejamos os seus elementos.
Pauta

No canto Gregoriano usamos 4 linhas e seus espaos

Clave

As Claves usadas so a de Do e a de F

Clave de Do

A linha em que estiver a clave de Do, ser esta toda a nota que nela estiver, e
todas as outras ser a nota em relao a este Do, como no Exemplo:

5 modo Do L Bemol Barra dupla Guio

F ponto pausa breve

Aqui, vemos o b, bemol, o nico acidente no Gregoriano o S bemol.

O Guio nos indica a nota que vir na prxima pauta, ou pgina, como
antecipando a nota, para no haver quebra na leitura da partitura.

Barra dupla Indica final da pea musical, ou passagem de um coro para


outro.
Se mudarmos de posio a clave, mudamos tambm todo o arranjo de notas
na pauta.

8 modo Clave Do R S Quarto de barra Guio

Quarto de Barra delimita um raciocnio meldico-verbal, tambm h a

Meia Barra divide um membro de frase.

Grande Barra ou barra inteira, essa indica o fim da frase

A correta interpretao das barras dependem de uma anlise tanto da


melodia, quanto do texto, como j dissemos anteriormente, o Canto
Gregoriano no tem compasso, seu ritmo ditado pelo texto e algumas
particularidades musicais. Iremos notar que essas barras, quando bem
colocadas, coincidem com alguma pontuao do texto (,.;?:)Recentemente
alguns pontos e o quarto de barra foram retiradas da partitura, pois no
faziam sentido sua colocao.

Quando for a Clave de F, as notas se comportam da mesma forma, porm


em relao ao F.

Episema

Clave de F F R

Bem, dito tudo isso, vamos passar s notas. No canto gregoriano


chamamos as notas de neumas.

Os Neumas so grafias de um ou mais sons, e a durao o mesmo que a


silaba que representa, a no ser que haja pontuao ou qualquer tipo de
episema, ou quelisma.
Exemplo:

Ro,o, ra,a,a te cae,e,e,e, li,i de,e,e su,u,u,u,u,u, per,er

Eis uma tabela com o nome, o desenho das notas e a forma de sua execuo
musical. H muitos outros, porm esses so os mais comuns, e dominando
esses, todos os outros sero intuitivamente entendidos.

Repare que o Punctun uma nota que representa um som, j o Scandicus


uma nota que representa trs sons, portanto no so trs notas, mas uma
nica nota que soa trs sons diferentes.
Vamos dar um pequeno exemplo de execuo quanto ao ritmo e a
intensidade da pea.

O arco indica que a pea comea com uma fraca intensidade porm
crescente procurando o cume da frase-meldica, mas termina sempre com
uma fraca intensidade. Aps o Crdo in num Dum, vem uma Barra Dupla,
indicando que acabou a entonao, logo a seguir vem o chantre ou o coro,
que como sempre comea a primeira slaba do Ptrem em baixa intensidade
e vai aumentando em direo ao o do omnipotntem, de baixando
lentamente at o tem, tendo a preocupao de acentuar com a voz o
para no sair uma pronuncia errada, todo cuidado para que o texto seja bem
interpretado.

Como j dissemos, cada modo tem um Tom salmdico. Ele pode vir para
acomodar a antfona em um salmo, ou mesmo uma pea da missa, muito
usado no Intrito ou no Gradual. Aqui temos um exemplo de como ler e
interpretar um Tom Salmdico.
Funciona assim:

Perceba que a antfona j vem indicando qual o final do Tom deve ser
cantado, pois cada tom tem sua mediante, porm a final pode variar.

Ento, canta-se a antfona, em seguida comea o Salmo com a entonao,


depois o salmo todo feito sem a entonao, comeando sempre na corda
de recitao.

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