Olavo de Carvalho - A Nova Era e A Revolução Cultural PDF
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3a edio,
revista e aumentada.
3a edio,
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22/08/96
NOTAS
1. V. Os Gneros Literrios: Seus Fundamentos
Metafsicos ( Rio, Stella Caymmi / IAL, 1993 )
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3a edio,
revista e aumentada.
comear.
Por essas razes que este livro, aparentemente
constitudo de pedaos inconexos, comea a mostrar,
pela fora dos acontecimentos externos, a unidade
que, no plano literrio, o autor no teve o tempo ou
o engenho de lhe dar. Sob a aparncia comprometedora
de uma salada histrica que mistura Lnin, o I Ching,
Max Weber, Freud e o Comando Vermelho, ele aponta,
pela ordem e, segundo creio, com lgica, o sintoma e
a causa da doena da intelectualidade brasileira: a
origem ao menos parcial da nossa vulnerabilidade
falsa mensagem do sr. Capra est nas idias de
Antonio Gramsci, transformadas em prtica pela
gerao de intelectuais esquerdistas que, na Ilha
Grande, fez ofcio de parteira do Comando Vermelho, e
que agora d o tom da vida mental neste pas. Se, na
primeira edio, no consegui dar desse fenmeno uma
exposio seguida e coesa, tendo de adotar, em vez
disso, um enfoque prismtico e desnivelado, antes
sugerindo em fragmentos do que declarando por extenso
o sentido do conjunto, no foi por nenhuma inteno
profunda: foi por autntica incapacidade de fazer de
outro modo. Mas no creio, por isto, merecer censura:
afinal, aqui foi dito aos trancos e pedaos o que
ningum mais disse de maneira alguma. Do primeiro a
esboar a unidade de um quadro confuso, no se exige
que seja completo; e do primeiro a anunciar um perigo
terrvel, no se exige que fale claro e ordenado
segundo o bom estilo. Esbaforido e gaguejante,
semilouco e abstruso, ele afinal presta um servio de
emergncia. Como diz um provrbio rabe: "No repares
em quem sou, mas recebe o que te dou."5
NOTAS
1. V. Jos Arthur Gianotti, "Conversa com Richard
Rorty", Jornal do Brasil, 26 de maio de 1994.
no mnimo estranho que um homem como Gianotti,
to valente ao expor idias polticas mesmo
quando lhe atraiam a ira dos sumos-sacerdotes da
esquerda nacional, se cubra de cautelas ao
criticar um pensamento to vulnervel como o de
Rorty. Explica-se, talvez, pela crnica timidez
uspiana, inibio intelectual que se tornou, em
verso fetichizada, a caricatura tupiniquim do
"rigor" ensinado pelos primeiros mestres
franceses fundadores da USP. O "rigor" uspiano
na verdade moleza, tremor da gelia
terceiromundana ante a autoridade dos dolos da
moda compensao junguiana pela petulncia ante
o legado espiritual do passado. Mesmo em sua
verso original europia, herdeira de nobres
tradies filosficas, um rigorismo acadmico
inibitrio torna-se muitas vezes o refgio
comunitrio onde o intelecto mal dotado vai
abrigar-se contra os perigos da investigao
solitria vale dizer, contra o exerccio mesmo
da filosofia. O verdadeiro rigor filosfico, ao
contrrio, pura coragem interior, no se curva
seno ante a evidncia e no tem nada de temor
reverencial adolescente ( ou colonial ) ante os
prestgios acadmicos do dia. Com a ascenso da
intelectualidade paulista ao primeiro plano da
vida nacional, a inverso uspiana do rigor, que
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I
LANA
CAPRINA,
OU: A SABEDORIA DO SR. CAPRA
Adendo
H no livro do sr. Capra uma infinidade de erros e
contra-sensos, alm dos mencionados. Apont-los e
corrigi-los todos requereria um volumoso comentrio:
uma lei constitutiva da mente humana concede ao erro
o privilgio de poder ser mais breve do que a sua
retificao.
Mas vale a pena dar mais algumas amostras, para que o
leitor veja quanto um erro nas premissas pode ser
frtil em consequncias:
l. O sr. Capra combate o uso da energia nuclear,
mesmo para fins pacficos, mas, ao mesmo tempo, faz
da fsica moderna um dos fundamentos do "novo
paradigma" que prope. Ele separa a fsica enquanto
modalidade de conhecimento terico e a natureza das
suas aplicaes prticas, como se uma no decorresse
da outra necessariamente.
O sr. Capra , nisto, perfeitamente inconsequente com
o mtodo holstico que advoga. Para o holismo, toda
separao estanque entre uma idia e suas
manifestaes prticas nada mais que um
abstratismo. Holisticamente falando, o efeito
benfico ou destrutivo dos engenhos nucleares tem de
estar arraigado no prprio modus cognoscendi que os
produziu. Se o sr. Capra enxerga ligaes at mesmo
entre o mecanicismo e a estrutura da famlia
patriarcal, como pode ser cego para as relaes,
muito mais prximas, entre o contedo teortico de
uma cincia e suas aplicaes prticas?
Sugestes de Leitura
Alm das obras citadas no texto, o leitor poder
consultar com proveito as seguintes:
l. Quem aprecie o holismo e deseje ter uma informao
sria a respeito, sem aberraes caprinas e com mais
ensinamento valioso, leia o livro de Jol de Rosnay,
Le Macroscope. Vers une Vision Globale ( Paris, Le
Seuil, l975 ). O prof. de Rosnay ensinou no MIT e
trabalha no Instituto Pasteur de Paris.
interessante ler tambm as obras de Edgar Morin, que
foi alis quem lanou a expresso "novo paradigma".
V. especialmente La Mthode, em dois tomos ( I, La
Nature de la Nature, Paris, Le Seuil, l977; II, La
Vie de la Vie, id., 1980 ).
NOTAS
7. Escrito em setembro de 1993. Voltar
8. Livro I, Cap. III. Voltar
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II
inconscientes.
Como o que interessa no tanto a convico poltica
expressa, mas o fundo inconsciente do "senso comum",
Gramsci est menos interessado em persuaso racional
do que em influncia psicolgica, em agir sobre a
imaginao e o sentimento. Da sua nfase na educao
primria. Seja para formar os futuros "intelectuais
orgnicos", seja simplesmente para predispor o povo
aos sentimentos desejados, muito importante que a
influncia comunista atinja sua clientela quando seus
crebros ainda esto tenros e incapazes de
resistncia crtica.
O senso comum no coincide com a ideologia de classe,
e precisamente a que est o problema. Na maior
parte das pessoas, o senso comum se compe de uma
sopa de elementos heterclitos colhidos nas
ideologias de vrias classes. por isto que, movido
pelo senso comum, um homem pode agir de maneiras que,
objetivamente, contrariam o seu interesse de classe,
como por exemplo quando um proletrio vai missa.
Nesta simples rotina dominical oculta-se uma mistura
das mais surpreendentes, onde um valor tpico da
cultura feudal-aristocrtica, reelaborado e posto a
servio da ideologia burguesa, aparece transfundido
em hbito proletrio, graas ao qual um pobre
coitado, acreditando salvar a alma, comete, na
realidade, apenas uma grossa sacanagem contra seus
companheiros de classe e contra si mesmo.
A que entra a misso providencial dos
intelectuais. Sua funo precisamente por um fim a
essa suruba ideolgica, reformando o senso comum,
organizando-o para que se torne coerente com o
interesse de classe respectivo, esclarecendo-o e
difundindo-o para que fique cada vez mais consciente,
para que, cada vez mais, o proletrio viva, sinta e
pense de acordo com os interesses objetivos da classe
proletria e o burgus com os da classe burguesa. A
este estado de perfeita coincidncia entre idias e
interesses de classe, quando realizado numa dada
sociedade e cristalizado em leis que distribuem a
cada classe seus direitos e deveres segundo uma clara
delimitao dos respectivos campos ideolgicos,
Gramsci denomina Estado tico. a escalao final
dos dois times, antes de comear o prlio decisivo
que levar o Partido ao poder. O pblico brasileiro
tem ouvido este termo, proferido num contexto de
combate corrupo e de restaurao da moralidade.
Mas ele um termo tcnico da estratgia gramsciana,
Adendos
1
O nmero dos adeptos conscientes e declarados do
gramscismo pequeno, mas isto no impede que ele
seja dominante. O gramscismo no um partido
poltico, que necessite de militantes inscritos e
eleitores fiis. um conjunto de atitudes mentais,
que pode estar presente em quem jamais ouviu falar de
Antonio Gramsci, e que coloca o indivduo numa
posio tal perante o mundo que ele passa a colaborar
com a estratgia gramsciana mesmo sem ter disto a
menor conscincia. Ningum entender o gramscismo se
no perceber que o seu nvel de atuao muito mais
profundo que o de qualquer estratgia esquerdista
concorrente. Nas demais estratgias, h objetivos
polticos determinados, a servio dos quais se
colocam vrios instrumentos, entre eles a propaganda.
A propaganda permanece, em todas elas, um meio
perfeitamente distinto dos fins. Por isto mesmo a
atuao do leninismo, ou do maoismo, sempre
delineada e visvel, mesmo quando na clandestinidade.
No gramscismo, ao contrrio, a propaganda no um
meio de realizar uma poltica: ela a poltica
mesma, a essncia da poltica, e, mais ainda, a
essncia de toda atividade mental humana. O
gramscismo transforma em propaganda tudo o que toca,
contamina de objetivos propagandsticos todas as
atividades culturais, inclusive as mais incuas em
aparncia. Nele, at simples giros de frase, estilos
de vestir ou de gesticular podem ter valor
propagandstico. esta onipresena da propaganda que
2
Gramsci jura que leninista, mas como ele atribui a
Lnin algumas idias de sua prpria inveno das
quais Lnin nunca ouviu falar, as relaes entre
gramscismo e leninismo so um abacaxi que os
estudiosos buscam descascar revirando os textos com
uma pacincia de exegetas catlicos. Uma dessas
idias a de "hegemonia", central no gramscismo.
Gramsci diz que ela foi a "maior contribuio de
Lnin" estratgia marxista, mas o conceito de
hegemonia no aparece em parte alguma dos escritos de
Lnin. Alguns exegetas procuraram resolver o enigma
identificando a hegemonia com a ditadura do
proletariado, mas isto no d muito certo porque
Gramsci diz que uma classe s implanta uma ditadura
quando no tem a hegemonia. As relaes entre Gramsci
e Marx tambm so embrulhadas, como se v no uso do
termo "sociedade civil": para Marx, sociedade civil
o termo oposto e complementar do "Estado", e, logo,
se identifica com o reino das relaes econmicas, ou
infra-estrutura. Em Gramsci, a sociedade civil,
somada sociedade poltica ou Estado, compe a
superestrutura que se assenta sobre a base econmica.
Essas e outras dificuldades de interpretao do
pensamento de Gramsci decorrem, em parte, do carter
fragmentrio e disperso dos seus escritos. Talvez
elas possam ser resolvidas, mas o que realmente
espantoso que, alguns anos aps revelada ao mundo a
maaroca dos textos gramscianos, e antes mesmo que
algum srio exame produzisse uma interpretao
aceitvel do seu sentido, ela j fosse adotada como
norma diretiva por vrias organizaes, comeando a
produzir efeitos prticos sobre os quais ningum,
nessas condies, poderia ter o mnimo controle. Essa
adeso apressada a uma idia que mal se compreendeu
assinala uma tremenda irresponsabilidade poltica, um
desejo vido de atuar sobre a sociedade humana sem
medir as consequncias. claro que ningum adere a
Gramsci com outro propsito que no o de implantar o
3
O termo "Estado tico" ele mesmo um dos primores de
ambiguidade que se encontram na mixrdia gramsciana.
Ora ele designa o Estado comunista, ora o Estado
capitalista avanado, ora qualquer Estado. De modo
mais geral, Gramsci denomina "tico" todo Estado que
procure elevar a psique e a moral de seus cidados ao
nvel atingido pelo "desenvolvimento das foras
produtivas", subentendendo-se que o Estado comunista
faz isto melhor do que ningum. A idia
intrinsecamente imoral: consiste em submeter a moral
s exigncias da economia. Se, por exemplo, um
determinado estgio do "desenvolvimento das foras
produtivas" requer que todos os habitantes de uma
regio sejam removidos para o outro extremo do pas,
como aconteceu muitas vezes na Unio Sovitica,
torna-se "tica" a conduta de um garoto que denuncie
o pai s autoridades por tentar fugir para uma cidade
prxima. A asquerosa admirao que os brasileiros vm
demonstrando nos ltimos tempos pelos irmos que
delatam irmos, pelas esposas que delatam maridos,
ndice de uma nova moralidade, inspirada em valores
gramscianos. No h dvida de que o novo critrio
"tico" no sentido gramsciano, isto , economicamente
til, j que a delao generalizada de pais, irmos,
maridos e amantes pode ressarcir alguns prejuzos
415
Em cursos e conferncias, venho falando do gramscismo
petista desde 1987 pelo menos, para platias em que
no faltaram jornalistas. Mas a imprensa brasileira,
refratria a tudo quanto seja novo, s em 1994
informou ao pblico a inspirao gramsciana do
petismo, quando ela no era mais uma tendncia
latente e j se havia externalizado no programa
oficial do partido. O primeiro a dar o alarma foi
Gilberto Dimenstein, na Folha de S. Paulo, logo aps
a publicao deste livro que alis nem sei se ele
leu; mas limitava-se a mencionar o nome do idelogo
italiano, sem nada dizer do contedo de suas idias.
No teve a menor repercusso. Mais tarde li duas ou
trs frases alusivas a Gramsci, em outros jornais e
em Veja. Tudo muito sumrio, num tom de quem contasse
com a compreenso de uma platia versadssima em
gramscismo. o velho jogo-de-cena do histrionismo
brasileiro: dar por pressuposto que o ouvinte sabe do
que estamos falando um modo de induzi-lo a crer que
sabemos do que falamos. Na verdade, fora dos crculos
do petismo letrado, s sabem de Gramsci uns quantos
acadmicos, entre os quais Oliveiros da Silva
Ferreira, que defendeu uma tese sobre o assunto numa
USP carregada de odores gramscianos, na dcada de 60.
Gramsci continua esotrico, lido s em famlia, a
salvo de qualquer crtica exceto amigvel uma
crtica dos meios, conivente com os fins, numa
atmosfera de culto e devoo que raia a pura e
simples babaquice. Mas pelo mundo civilizado circulam
crticas devastadoras, que provavelmente jamais
chegaro ao conhecimento do pblico brasileiro.
Assinalo as de Roger Scruton16 e Alfredo Senz17, que
tomam o assunto por lados bem diferentes daquele que
abordo neste livro, mas chegam a concluses no menos
reprobatrias.
Devo apontar como exceo notvel, ainda que tardia,
um artigo de Mrcio Moreira Alves18. Ele resgata
parcialmente a honra da imprensa brasileira,
mostrando que h nela pelo menos um crebro capaz de
saber de Gramsci algo mais do que o nome e pelo menos
um reprter que no foge da notcia. Ele explica em
linhas gerais a estratgia gramsciana e o estado
presente de sua aplicao pela liderana petista,
NOTAS
10. Para Karl Marx, aqueles que captam o sentido do
movimento da Histria e representam as "foras
progressistas" ficam ipso facto liberados de
qualquer dever com a "moral abstrata" da
burguesia; seu nico dever acelerar o devir
histrico em direo ao socialismo, pouco
importando os meios. Baseado nesse princpio,
Lnin codificou a moral partidria, onde o nico
dever servir ao partido. Esta moral, por sua
vez, deu origem ao Direito sovitico, que
colocava acima dos direitos humanos elementares
os deveres para com o Estado revolucionrio. A
delao de corruptos ou traidores, por exemplo,
era na Unio Sovitica uma obrigao bsica do
cidado. Mas no s na teoria que o comunismo
imoral. No Estado socialista, todos so
funcionrios pblicos, e basta isto para que a
corrupo se torne institucional. Na Unio
Sovitica ningum conseguia tirar um documento ou
consertar uma linha telefnica sem soltar
propinas: ao socializar a economia, socializa-se
a corrupo. A desonestidade desce das camadas
dominantes para corromper todo o povo. O mesmo
aconteceu na China, pas que ademais se
notabilizou por ser o maior distribuidor de
txicos deste planeta. A justificativa, na poca,
era que os txicos enfraqueceriam a "juventude
burguesa" e facilitariam o avano do socialismo,
sendo, portanto, benficos ao progresso humano.
As drogas s se tornaram um problema de escala
mundial graas ao comunismo chins, que, com
isto, se tornou culpado de um crime de genocdio
pelo qual, at hoje, ningum teve coragem de
acus-lo.
3a edio,
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III
A NOVA ERA E A REVOLUO CULTURAL
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Apndice I.
As esquerdas e o crime
organizado
mentiras da esquerda?
O que o dr. Trtima nos impinge como testemunho no
poderia mesmo valer nada, pois a "testemunha" saiu da
cadeia em 1971, antes, portanto, da fase decisiva de
formao do Comando Vermelho, sobre a qual ele sabe
s o que leu nos jornais, se que os leu. Isto alis
confirma o carter muito provavelmente calunioso de
insinuaes que o acusem de envolvimento pessoal no
ensino de guerrilha aos bandidos. Mas o fato de ele
estar inocente no o qualifica para inocentar outros,
dos quais nada sabe. Qual, no entanto, o esquerdista
brasileiro que recusar falar em pblico sobre um
assunto do qual ignora tudo, se o convite lhe servir
de ocasio para dar umas alfinetadas na "direita"?
Acreditar que o "testemunho" do dr. Trtima baste
para absolver algum alm dele mesmo exigiria que a
nossa f removesse montanhas. Destitudos da f,
faamos algo que, no Brasil de hoje, se tornou sinal
de impiedade: raciocinemos.
Raciocnio I - O livro de Carlos Amorim informa que
os militantes esquerdistas, uma vez encarcerados,
procuraram fortalecer a unidade disciplinar de suas
organizaes, para poderem resistir ao ambiente
hostil. De outro lado, o mesmo livro deseja que
acreditemos que homens assim afeitos a uma disciplina
espartana deixaram escapar, em amenas conversas
informais com os detentos comuns, todos os segredos
de tcnica militar e de organizao poltica que
constituam o sangue e os nervos da revoluo. Quer
que acreditemos que esses homens de ferro, capazes de
resistir tortura fsica e psicolgica para no
entregar nenhum segredo aos policiais, deram tudo aos
bandidos, de mo-beijada, por mera desateno; que de
conversa em conversa foram deixando vazar teoria
marxista, princpios de agitprop, tcnicas militares,
mtodos de organizao, enfim todo o conhecimento de
guerrilha urbana ento disponvel, sem jamais se dar
conta de que estavam ensinando guerrilha nem ter a
mais mnima inteno de faz-lo. Nunca ouvi uma coisa
mais doida na minha vida.
Raciocnio II Se, ao contrrio dos presos comuns,
individualistas anrquicos, os militantes eram
socializados, politizados e disciplinados, ento
certamente nada faziam de importante sem prvia
consulta ao "coletivo". Logo, das duas uma: ou a
transmisso de ensinamentos de guerrilha aos bandidos
foi autorizada pelo coletivo, ou foi feita em
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Apndice II.
O Brasil do PT
do adversrio.
Nasce, por outro lado, da iluso de que o comunismo
est morto. um excesso de ingenuidade ou, talvez,
medo de ter medo supor que o fracasso do comunismo
no Leste europeu liquidou de vez as ambies dos
comunistas em toda parte. O ressentimento move
montanhas, dizia Nietzsche. Particularmente no
Brasil, muito profunda nas esquerdas a aspirao
mtica de alcanar uma vitria local que, pelo seu
prprio carter inesperado e tardio, possa resgatar a
honra do movimento comunista humilhado em todo o
mundo. Permitir que o PT realize seus planos de
"democracia popular", sob o pretexto de que o
comunismo um cavalo morto, arriscar-se a um coice
que provar a vitalidade do defunto.
Ademais, o movimento das idias no Brasil no
acompanha pari passu a evoluo do mundo, mas fica
sempre atrs. Em 1930, quando o positivismo de
Augusto Comte j era pea de museu no seu pas de
origem, uma revoluo tomou o poder no Brasil
inspirada no modelo positivista do Estado. O
espiritismo, moda europia que morreu por volta da
Primeira Guerra sem nunca mais reencarnar, ainda no
Brasil quase uma religio oficial. Nossos
intelectuais ainda esto empenhados no combate ao
lusitanismo em literatura, quase um sculo depois de
rompido o intercmbio literrio entre Brasil e
Portugal. As velhas religies africanas, que os
negros de todo o mundo vo abandonando para aderir ao
islamismo, aqui vo conquistando novas massas de
crentes entre os brancos. Enfim, o tempo nesta parte
do mundo corre ao contrrio. Por que o comunismo,
morto ou moribundo em toda parte, no poder
ressurgir neste pas, fiel ao atraso crnico do nosso
calendrio mental? Pelo menos o que nos promete a
entrevista de Marco Aurlio Garcia: se depender dele,
no falharemos em nossa misso csmica de coletores
do lixo refugado pela Histria.
Homens de formao arraigadamente marxista,
insensveis durante toda uma vida a quaisquer outras
correntes de idias, simplesmente no podem, no breve
prazo decorrido desde a queda do Muro de Berlim, ter
feito uma reviso profunda e sria de suas
convices. Mudanas, se houve, foram epidrmicas,
para no dizer simuladas. A fora atrativa do
messianismo comunista no acabou: refluiu para a
obscuridade, de onde, vitalizada pelo apelo
Nota
Aos que, lido este apndice, enxergarem no autor um
hidrfobo antipetista, advirto que votei em Lula para
presidente e o faria de novo, com prazer, se ele
tomasse as seguintes providncias:
3a edio,
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Observaes finais