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SILVA
RESUMO
ABSTRACT
para tratar os doentes psiquitricos. A nica pudessem, por exemplo, conversar com outras
soluo para esses pacientes era confin-Ios pessoas. Essas observaes levaram Delay e
em hospitais ou asilos pelo resto de suas outros psiquiatras, ainda em 1952, a administrar
vidas. a clorpromazina em pacientes psiquitricos,
O tratamento farmacolgico da os quais demonstraram considervel melhora
esquizofrenia iniciou-se com a descoberta dos sintomtica. Assim, a clorpromazina foi o
medicamentos chamados de antipsicticos, primeiro tratamento com ao relativamente
capazes de melhorar os sintomas dos especfica sobre sintomas psicticos (Graeff,
pacientes portadores dessa sndrome. A 1989; Graeff et al., 1999; Marder & Van Putten,
introduo dos antipsicticos resultou em uma 1995).
grande transformao na psiquiatria e ficou Embora produzisse alguns efeitos
conhecida como a revoluo farmacolgica colaterais, a clorpromazina passou a ser
da psiquiatria, porque permitiu que os doentes rapidamente utilizada em todo o mundo. O
mentais internados em manicmios pudessem principal fator para essa aceitao foi a falta
ser medicados em sua prpria casa, alguns de outros tratamentos eficazes para a
chegando a conviver normalmente em esquizofrenia. As vantagens produzidas no
sociedade (Graeff,1989; Graeff, Guimares, & tratamento das doenas mentais com a
Zuardi, 1999; Louz Neto, 1996). introduo da clorpromazina estimularam as
Porm, alm de produzirem efeitos indstrias farmacuticas a desenvolver outros
teraputicos, os compostos antipsicticos compostos teraputicos com o passar dos
tambm provocavam importantes efeitos anos. A tioridazina e a flufenazina, bem como
colaterais neurolgicos, e por essa razo novas classes de drogas como as butirofenonas
tambm ficaram conhecidos como (p. ex. haloperidol) e tioxantenas (p. ex.,
neurolpticos. Com a introduo das drogas tiotixeno), foram desenvolvidas logo aps o
antipsicticas atpicas, que produzem menos surgimentoda clorpromazina (Ashton, 1992;
efeitos colaterais motores do que os Buckley & Meltzer, 1995; Graeff et al., 1999;
antipsicticos tpicos ou clssicos, o termo Marder & VanPutten, 1995). Algumas delas
antipsictico passou a ser mais amplamente ainda hoje so bastante utilizadas. Alguns
usado para descrever a ao das drogas exemplos desses compostos antipsicticos
utilizadas no tratamento de psicoses (Graeff clssicos encontram-se na Tabela 2.
et aI., 1999; Marder &Van Putten, 1995).
A histria dos antipsicticos comeou
na Frana, em 1952, com a introduo da
clorpromazina. Henri Laborint, cirurgio francs
interessado em drogas que pudessem diminuir
a ansiedade pr-operatria, convenceu o
laboratrio Rhone-Poulenc da importncia de
identificar compostos que tranqilizassem os
pacientes em procedimentos de cirurgia.
Sintetizada por Paul Charpenter em 1950, a
clorpromazina atingiu os objetivos do cirurgio
francs. Laborint observou que essa
substncia, administrada intravenosamente em
doses de 50-100 mg, produzia nos pacientes
pr-operatrios um comportamento de
indiferena ao ato cirrgico, embora eles
os sintomas negativos e pudessem auxiliar os Reynolds, 1992). Mas muitos outros vm sendo
pacientes refratrios. Essa ao teraputica empregados na clnica psiquitrica: a sulpirida,
diferenciada levou praxe de se chamar a o remoxiprida, a tergurida, o rosindola, e a
esses novos antipsicticos de anfipsicficos risperidona, entre outros. Outros ainda
atpicos, em contraposio aos clssicos ou so objeto de pesquisa pr-clnica, como
tpicos (Buckley & Meltzer, 1995; Graeff, 1989). a amperozida. A diferena entre essas
substncias, no que diz respeito a seus efeitos
Na pesquisa desses antipsicticos, a
secundrios, esto condensado na Tabela 5.
farmacologia buscou dois objetivos principais:
identificar substncias com ao seletiva ou Os antipsicticos atpicos, com suas
especfica sobre o sistema dopaminrgico, e propriedades clnicas e farmacolgicas
identificar aes sobre outros receptores (no diferentes dos antipsicticos convencionais,
dopaminrgicos) que pudessem contribuir para tm sido responsveis por novas hipteses
o efeito teraputico, mas promovendo alguma sobre os mecanismos biolgicos de origem da
proteo contra os efeitos colaterais. Tal esquizofrenia. Os antipsicticos atpicos
procura resultou em drogas que so mudaram o conceito tradicional de que as
relativamente eficazes no tratamento tanto drogas antipsicticas eficazes atuam
dos sintomas positivos como dos negativos, bloqueando os receptores D2 do sistema
ao mesmo tempo que produzem menos efeitos
dopaminrgico mesolmbico. Estudos mais
colaterais do que os antipsicticos
recentes propem que a coexistncia dos
convencionais. Por exemplo, produzem pouca
sintomas positivos e negativos na esquizofrenia
ou nenhuma discinesia tardia e no elevam os
parece estar relacionada: a) ocorrncia
nveis de prolactina em seres humanos
conjunta de altas e baixas atividades de
(Buckley & Meltzer, 1995; Graeff et aI., 1999;
Pacheco-Hernndez, 1994). dopamina em diferentes reas do crebro
desses pacientes; b) interao entre
Desses novos antipsicticos, a clozapina diferentes sistemas de neurotransmissores; e
considerada o agente modelo (Buckley & c) a outros receptores de dopamina que no
Meltzer, 1995; Graeff et aI., 1999; Owens & D2. Esses estudos demonstram que o aumento
Risch, 1995; Pacheco-Hernndez, 1994; da dopamina no pode mais ser considerado
o nico fator relevante para o surgimento da & Meltzer, 1995; Caetano, Frota-Pessoa, &
esquizofrenia, e pedem uma reviso da Bechelli, 1993; Holmes, 1997).
hiptese dopaminrgica da esquizofrenia Em resumo, o texto acima apresentou
(Graeff, 1989; Graeff et aI., 1999; Owens & uma breve reviso sobre esquizofrenia e seu
Risch, 1995; Pacheco-Hernndez, 1994; tratamento farmacolgico. Em seguida,
Tallman, 2000). Em particular vm despertando analisou-se o envolvimento da dopamina e
interesse os antipsicticos que, alm de ao possivelmente de outros neurotransmissores
anti-dopaminrgica, tambm bloqueiam na esquizofrenia, enfatizando a importncia
receptores de serotonina, como a clozapina, a da descoberta de novos medicamentos cuja
risperidona e a amperozida. E h tambm utilizao produza menos efeito colaterais.
drogas desprovidas de ao dopaminrgica, Finalmente, abordou o uso da psicoterapia
como agonistas 5-HT1 (p.ex., buspirona); como tratamento coadjuvante da esquizofrenia.
antagonistas seletivos de 5-HT2 (p. ex.,
ritanserina); antagonistas 5-HT3 (p. ex., REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS:
ondansetron); drogas que atuam no receptor
de glutamato (p.ex., glicina e milacemida); e ANDREASEN, N. C. (2000). Schizophrenia:
drogas que atuam nos receptores GABA (p. the fundamental questions. Brain Research
ex., benzodiazepinas). Reviews, 31, 106-112.
Embora este texto tenha se proposto a ASHTON, H. (1992). Brain function and
analisar a esquizofrenia e seu tratamento psychatropic drugs. New York: Oxford
farmacolgico, importante lembrar que esse University Press.
tratamento no dispensa o acompanhamento BUCKLEY, P. F., & MELTZER, H. Y. (1995).
psicolgico. Ao contrrio fornece condies Treatment of schizophrenia. In A. F.
mnimas para a comunicao entre paciente e Schatzberg & C. B. Nemeroff (Eds.),
terapeuta. Assim como o tratamento Textbook of psychopharmacology (pp.615-
farmacolgico pode auxiliar a psicoterapia, 639). London: American Psychiatric Press.
esta tambm contribui no tratamento da
CAETANO, D. (1993). Classificaes e
esquizofrenia. Mesmo quando a droga alivia os
critrios - Diagnsticos. In D. Caetano, O.
sintomas psicticos, o paciente esquizofrnico
Frota-Pessoa, & L. P. C. Bechelli (Eds.),
tem extrema dificuldade em estabelecer Esquizofrenia - Atualizao em diagnstico
contatos sociais e sua formao profissional e tratamento. Rio de Janeiro: Atheneu.
se encontra tambm prejudicada devido
idade de inicio da doena (final da adolescncia CAETANO, D., FROTA-PESSOA, O., &
e inicio da fase adulta). A psicoterapia de BECHELLI, L. P. C. (1993). Esquizofrenia
enfoque social pode melhorar o desempenho -Atualizao em diagnstico e tratamento.
Rio de Janeiro: Atheneu.
psicossocial, ajudando o paciente em seus
relacionamentos pessoais, profissionais e CROW, T. J. (1980). Positive and negative
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pode tomar vrias formas: terapia de suporte dopamine. British Journal Psychiatry, 137,
individual, terapia de grupo, terapia educativa, 383-386.
terapia familiar, treinamento social e DSM-IV. (1995). Manual diagnstico e
treinamento vocacional. Todas elas tm como estatstico de transtornos mentais
objetivo o treinamento de habilidades para Associao Psiquitrica Americana
facilitar a vida em sociedade dos pacientes (Batista, D., Trans.). (4 ed.). Porto Alegre:
diagnosticados como esquizofrnicos (Buckley Artes Mdicas.