ESQUIZOFRENIA
ESQUIZOFRENIA
ESQUIZOFRENIA
Os sistemas classificatórios atuais dos transtornos mentais não nos levaram a um grande
avanço quanto à validade das categorias nosológicas (parte da medicina que se dedica ao
estudo e classificação das doenças), porém trouxeram algumas vantagens no que se refere à
fidedignidade do diagnóstico e ao desenvolvimento de uma linguagem comum.
Por exemplo, quando se diz que determinado paciente sofre de esquizofrenia de acordo
com os critérios da CID-10,1 isso é compreendido pelos psiquiatras do mundo inteiro,
mesmo que se discorde desses critérios ou que se conteste a própria existência desse
transtorno mental.
Por outro lado, na CID-101 – assim como no DSM-V,
embora sejam listados os critérios diagnósticos para
cada categoria nosológica, não há uma preocupação
em se definir precisamente os sinais e sintomas nem em
se explicar como eles devem ser reconhecidos na
SISTEMAS prática.
Em 1908, Bleuler propõe o conceito de esquizofrenia. Bleuler não apresentou um conceito oposto ao da
demência precoce; porém, ressaltou alguns sintomas que seriam fundamentais para o diagnóstico. Esses
sintomas seriam: "(...) distúrbio das associações do pensamento, autismo, ambivalência, embotamento
afetivo, distúrbios da atenção e avolição" (Elkis, H., 2000, 24).
Em sua descrição, Bleuler priorizava o processo
psicológico de desdobramento ou cisão ("Spaltung", em
alemão), motivo para a criação de um novo nome
para a demência precoce: esquizofrenia.
CRITÉRIOS PARA O Em 1948, Kurt Schneider propôs os "Sintomas de primeira
DIAGNÓSTICO DA ordem" (SPO) que são bastante significativos para o
ESQUIZOFRENIA E SUA diagnóstico da esquizofrenia. Os SPO são: a percepção
delirante; as alucinações auditivas características; o
EVOLUÇÃO eco do pensamento ou sonorização do pensamento; a
difusão do pensamento e roubo do pensamento e as
vivências de influência, que podem ser corporais,
afetivas ou volitivas.
CRITÉRIOS PARA O DIAGNÓSTICO DA ESQUIZOFRENIA E SUA
EVOLUÇÃO
O DSM-II, em 1968, apresentou um conceito amplo de esquizofrenia, que se tornou mais específico nos anos
posteriores. Nas últimas décadas, tem-se diferenciado a esquizofrenia em subtipos negativos e positivos, o que
foi proposto em 1974. Os sintomas negativos referem-se à perda de funções psíquicas relativas à vontade, ao
pensamento e à linguagem; e os sintomas positivos referem-se a manifestações novas que são produzidas pelo
processo esquizofrênico, dentre essas manifestações novas estão as alucinações.
As duas definições de esquizofrenia mais aceitas são as organizadas pela Organização Mundial da Saúde (a
CID-10) e pela American Psychiatric Association. Tais definições seguem, de forma sintética, abaixo:
CID-10: “Os transtornos esquizofrênicos são
caracterizados, em geral, por distorções fundamentais
e características do pensamento e da percepção e
por afeto inadequado ou embotado” (CID-10, 1993,
85).
*Flexibilidade cerácea: O indivíduo ,ou uma parte de seu corpo(braço, perna, cabeça), é
colocada em uma posição, mesmo muito desconfortáveis, permanecendo nessa posição
como se fosse um homem de cera.
Os sintomas são variados e o termo "indiferenciado" se refere
ao fato de que é possível diagnosticar a esquizofrenia, mas não
F20.3 ESQUIZOFRENIA o tipo dela: comportamento desorganizado, comprometimento
INDIFERENCIADA do repertório comportamental interpessoal e do desempenho
ocupacional, progressivos; ideias deliroides, achatamento da
vida emocional progressivo, algumas alucinações e atitudes
estereotipadas, ao longo de pelo menos seis meses.
Episódio depressivo eventualmente prolongado que
ocorre ao fim de uma afecção* esquizofrênica.
F20.4 DEPRESSÃO
PÓS-ESQUIZOFRÊNICA
*Condição mórbida caracterizada por alterações no
modo de perceber ou de interpretar; falta de
normalidade psíquica.
O CID-10 define a Esquizofrenia Residual como: “Estado
crônico da evolução de uma doença esquizofrênica, com uma
progressão nítida de um estado precoce para um estado tardio,
o qual se caracteriza pela presença persistente de sintomas
"negativos", tais como lentidão psicomotora; hipoatividade;
embotamento afetivo; passividade e falta de iniciativa;
F20.5 ESQUIZOFRENIA pobreza da quantidade e do conteúdo do discurso; pouca
comunicação não-verbal (expressão facial, contato ocular,
RESIDUAL modulação da voz e gestos), falta de cuidados pessoais e
desempenho social medíocre.”
Percepção delirante. Uma percepção absolutamente normal recebe uma significação delirante, que
ocorre de modo simultâneo ao ato perceptivo, em geral de forma abrupta, como uma espécie de
“revelação”.
Alucinações auditivas características. São as vozes que comentam e/ou comandam a ação do
paciente.
Difusão do pensamento. Neste caso, o doente tem a sensação de que seus pensamentos são ouvidos
ou percebidos claramente pelos outros, no momento em que os pensa.
SINTOMAS DE PRIMEIRA ORDEM DE KURT SCHNEIDER
Roubo do pensamento. Experiência na qual o indivíduo tem a sensação de que seu pensamento é
inexplicavelmente extraído de sua mente, como se fosse roubado.
Vivências de influência na esfera corporal ou ideativa. Aqui, dois tipos de vivências de influência são
mais significativos: • Vivências de influência corporal. São experiências nas quais o paciente sente que
uma força ou um ser externo age sobre seu corpo, sobre seus órgãos, emitindo raios, influenciando as
funções corporais, etc. • Vivências de influência sobre o pensamento. Referem-se à experiência de
que algo influencia seus pensamentos, o paciente recebe pensamentos impostos de fora,
pensamentos feitos, postos em seu cérebro, etc. Também as vivências corporais ou ideativas têm a
qualidade de serem experimentadas como feitas, como impostas de fora.
Os sintomas de primeira ordem indicam a profunda alteração da relação Eu-mundo, o dano radical
das “membranas” que delimitam o Eu em relação ao mundo, uma perda marcante da dimensão da
intimidade. Ao sentir que algo é imposto de fora, feito à sua revelia, o doente vivencia a perda do
controle sobre si mesmo, a invasão do mundo sobre seu ser íntimo.
OS SINTOMAS DE SEGUNDA ORDEM DE SCHNEIDER
São menos importantes para o diagnóstico de esquizofrenia. Apenas em certos contextos (nos quais
outros aspectos do quadro clínico e o todo da história clínica indicam esquizofrenia) eles devem ser
considerados contributivos para tal diagnóstico.
Os sintomas negativos das psicoses esquizofrênicas caracterizam-se pela perda de certas funções
psíquicas (na esfera da vontade, do pensamento, da linguagem, etc.) e pelo empobrecimento global
da vida afetiva, cognitiva e social do indivíduo. Os principais sintomas ditos negativos ou deficitários nas
síndromes esquizofrênicas são:
Negligência quanto a si mesmo, que se revela pelo descuido consigo mesmo, pela falta de higiene, por
desinteresse em relação à própria aparência, própria saúde e vestimentas, etc.
Agitação psicomotora
*As parafasias são tradicionalmente definidas como a troca de uma palavra ou de um som que se quer
enunciar por outra palavra/som.
SÍNDROME DESORGANIZADA, COM PREDOMÍNIO DE
DESORGANIZAÇÃO MENTAL E COMPORTAMENTAL
Em relação ao futuro, Van Der Berg (1994, p. 21) afirma que "( ... ) O futuro está aberto á sua frente. Mas,
quando é perguntado a respeito, não tem plano para o futuro. Não sabe o que vai acontecer com ele e
receia o pior. Todas as esperanças, tão boas, tão corretas e tão verdadeiras, são afogadas pelas suas
lamentações ( ... )" Em relação ao tempo, Van Der Berg (1994) acrescenta que o individuo via tudo ao
seu redor com alegria e muita disposição. Entretanto, o presente se lhe apresenta como um
descontentamento sem igual. O paciente está confuso quanto ao seu passado e inseguro quanto ao
futuro, representado para o paciente como um rabugento padrasto. Seu pensamento o impede de
prosseguir. Essa forma de pensar esta intimamente relacionada ao paciente portador de esquizofrenias.
CORPO
( ... ) os sintomas, que tanto estão a perturbar o paciente, resultam inexistentes quando submetidos a
cuidadoso exame, isto é, depois de objetiva e conscienciosa pesquisa clinica. O paciente, portanto,
deve estar errado; deve estar iludindo-se a si mesmo, sem o saber: pois quem pode duvidar do resultado
de um exame médico, moderno, objetivo e cientifico. (VAN DER BERG. 1994, p. 54). Mesmo com a
confirmação dos resultados , o individuo não é convencido, pois sente totalmente o contrário, de modo
que suas ações confirmam o que sente.
PESSOAS
O contato inapropriado com as outras pessoas acarreta uma maneira diferente de observar os objetos
ao redor, assim como, uma mudança em seu corpo, consequentemente, sente que as outras pessoas
representam um obstáculo entre ele e o mundo. A perturbação nos cantatas transforma um simples
tapa em ato nocivo. Desse modo. um sorriso transforma-se em riso de escárnio, uma observação trivial
em áspera censura, tornando difícil a comunicação entre o paciente portador de esquizofrenia e as
demais pessoas.
Descrições Clínicas e Diretrizes Diagnósticas (Organização
Mundial de Saúde, 1992)
O indivíduo acredita que seus pensamentos, sentimentos e atitudes mais íntimos são conhecidos ou
compartilhados por outras pessoas, podendo haver delírios explanatórios, onde forças naturais ou sobrenaturais
agiriam sobre os pensamentos e atitudes atormentadas do indivíduo de formas geralmente bizarras. A pessoa
pode se ver como o pivô de tudo o que acontece.
A perplexidade também é comum e frequentemente leva à crença de que as situações cotidianas têm um
significado especial, geralmente sinistro, direcionado unicamente para a pessoa.
Descrições Clínicas e Diretrizes Diagnósticas (Organização
Mundial de Saúde, 1992)
O curso do transtorno mostra uma variação igualmente grande tornando-se inevitavelmente crônico ou pior a cada
dia. Em alguns casos, que pode variar em diferentes culturas e populações, ocorre uma recuperação completa ou
quase completa. Os sexos são afetados aproximadamente da mesma forma, mas o início tende a ser mais tardio
nas mulheres.
¹ Existem dois tipos de negativismo: o passivo – quando se pede ao paciente para que faça algo, ele simplesmente não o faz; e, o
ativo – quando se pede algo ao paciente, e ele faz exatamente o contrário. É tudo de modo estereotipado, onde não entra quetão
da intencionalidade
Terapia individual
A psicoterapia pode ajudar a normalizar os padrões de
pensamento. Além disso, aprender a lidar com o estresse e
INTERVENÇÕES identificar os primeiros sinais de alerta de recaída pode
ajudar as pessoas com esquizofrenia a controlar a doença.
PSICOSSOCIAIS
Terapia de Grupo
Tipo de psicoterapia na qual o terapeuta trabalha com o
paciente em grupo, em vez de sessões individuais.
Treinamento de habilidades sociais
Isso se concentra em melhorar a comunicação e as
interações sociais e melhorar a capacidade de participar das
atividades diárias.
Terapia familiar
INTERVENÇÕES Isso fornece suporte e educação para famílias que lidam com
PSICOSSOCIAIS esquizofrenia.
Terapia Cognitiva
INTERVENÇÕES Psicoterapia que se concentra na substituição de pensamentos
PSICOSSOCIAIS negativos e distorcidos, típicos de quem tem alucinações, por
pensamentos positivos e precisos.
Psicoeducação
Experiência em que se aprende sobre saúde mental, a qual
também serve para apoiar, valorizar e dar autonomia aos
pacientes.
Antipsicóticos
Reduz ou melhora os sintomas da esquizofrenia e de outros
transtornos mentais, evitando psicoses.
MEDICAMENTOS Anti-tremor
Ajuda a controlar tremores, estremecimento e
desequilíbrio.
Paroxetina, clomipramina e fluoxetina são exemplos.
1. Durante os períodos de crise ou momentos de sintomas
graves, a hospitalização pode ser necessária para garantir
segurança, nutrição adequada, sono adequado e higiene
básica.