Razões Finais Memoriais
Razões Finais Memoriais
Razões Finais Memoriais
CURITIBA/PR
Autos n:
MEMORIAIS
Nos autos do processo em epigrafe, o que faz pelos poderes conferidos no instrumento
procuratrio em anexo com base nas disposies constantes no Estatuto da Advocacia e a
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), com supedneo ainda no art. 5, LV da Constituio
Federal, nos art. 403, 3, c/c art. 386, VI c/c art. 21 c/c art. 189 e 482 do Cdigo de Processo
Penal e Art. 27 c/c art. 59 c/c art. 44 c/c art. 65, II e art. 66 do Cdigo Penal.
DOS FATOS
Pgina 1 de 14
No dia 15/02/2017 a requerente foi presa em flagrante, por expor venda 3 (trs) CDs,
sendo um do Filme Os Dez Mandamentos e os outros dois, CDs musicais do cantor Luan
Santana.
A acusada neste mesmo dia foi levada delegacia e presa, contudo, aps os tramites
legais goza do benefcio da liberdade provisria, sendo-lhe aplicada a medida cautelar de
comparecimento mensal em juzo para justificar suas atividades.
Por ser pessoa em condio de rua, a requerente foi citada espontaneamente no balco
do frum, quando de seu comparecimento mensal para justificar suas atividades.
Pgina 2 de 14
presente em audincia, poderia corroborar todas as afirmaes expostas em seu interrogatrio,
tais como, a mentira da testemunha Jorge o desconhecimento da autora quanto a natureza
delitiva da conduta, informando no mesmo ato a qualificao da testemunha, qual seja: Sr.
Manoel Pereira, dono de uma padaria localizada na regio onde ocorreu a apreenso, que era
frequentada diariamente pela acusada, com intuito de comprar po e caf com leite para seus
filhos.
Tal pedido, de oitiva da nova testemunha, foi indeferido pelo juzo, que aduziu precluso
do prazo para apresentao do rol de testemunhas.
DO DIREITO
O direito penal como ultima ratio no deve tutelar atos aceitos como comuns
socialmente, devendo se preocupar apenas com atos que causem danos considerveis a
sociedade como um todo.
Pgina 3 de 14
Esse princpio deve ser observado diuturnamente por todos os responsveis pela
perseguio penal operada pelo Estado-Juiz, sob pena, de haver condenaes injustas,
desarrazoadas, dissonante da realidade social, e que poderiam ser resolvidos utilizando-se
outros ramos do direito, tais como: o direito civil, direito tributrio, direito do consumidor.
Indubitavelmente tal princpio deve ser aplicado no caso em tela, posto que a situao
enfrentada no se qualifica como merecedora da interveno estatal.
Ora excelncia, estamos falando de uma pobre moradora de rua, que mal consegue se
sustentar e ainda tem que sustentar dois filhos menores de idade, e para tanto, diariamente, de
sol a sol, faz a coleta de papelo, a fim de obter ao final do dia mseros trocados que so
transformados magicamente em alimento para si e para seus filhos, tal mister julgador,
certamente nunca foi conhecido por este patrono e por vossa excelncia, posto que certamente
nunca estivemos na situao que a acusada est.
Posto isso, pugna-se pela absolvio da acusada nos termos do art. 386, VI do Cdigo
de processo Penal, ou pelo indeferimento da denncia.
indubitvel que as leis foram criadas para serem cumpridas, isso fato, contudo,
algumas leis, tal como acontece nos pases que adotam o Common Law, somente podem ser
aplicveis quando recepcionadas pela sociedade e pelo direito, sob pena, de ter em vigor no
sistema jurdico, uma norma no aplicvel, pois no adequada a realidade da sociedade que
disciplina.
Era este por Ex. o caso do antigo crime adultrio, esculpido no revogado art. 240 do
Cdigo Penal, que por fora da habitualmente e inadequao social da reprimenda, tornou-se
efetivo ao objetivo esperado quando de sua edio, sendo por consequncia, expurgado da
tutela penal.
Tal como esse, o crime conhecido como pirataria cuja requerente foi denunciada, to
comum e frequentemente praticado no seio social, que sua criminalizao se tornou
inapropriada, ainda mais com o advento da internet e novas tecnologias de streaming e
downloads de contedo online, impossvel controlar a distribuio de obras artsticas, seja no
mundo virtual, seja no mundo fsico.
Tal princpio operado sob a regra de hermenutica, que visa viabilizar a excluso de
tipicidade, de condutas que, mesmo formalmente reprimidas pelo legislador, no so mais
reprovveis socialmente, a aplicao perfeita ao caso concreto em debate, posto que a
acusada praticou uma conduta que no reprovvel socialmente, conforme j demonstrado.
Posto isso, pugna-se pela absolvio da acusada nos termos do art. 386, VI do Cdigo
de processo Penal, ou pelo indeferimento da denncia.
Reprimir fatos nfimos, sem repercusso, sem danos diretos, operar uma injustia,
prestar um desservio sociedade e fomentar a descrena no judicirio e na lei, sendo tal
princpio rigorosamente observado pelos tribunais ptrios, notadamente os Tribunais Superiores,
como o STF e o STJ, que em casos semelhantes j decidiu pela correta e necessria aplicao
do referido princpio, a fim de isentar o ru de cumprimento de pena.
No caso em tela, a acusada est sendo processada por expor venda apenas 3 discos,
e que nem sequer foram vendidos, sendo o valor total, exatos R$ 4,50 (quatro reais e cinquenta
centavos) ou seja, insignificantes.
Pgina 5 de 14
Alternativamente, caso vossa excelncia no comungue do mesmo entendimento, traz-
se tona ainda uma causa extintiva da punibilidade, nos exatos termos do art. 21 do Cdigo
Penal e 386 do Cdigo de Processo Penal, colacionado abaixo, tendo em vista que restou
provado nos autos que a acusada desconhecia a ilicitude do fato.
(destacamos)
Pgina 6 de 14
(destacamos)
Menciona-se ainda, a norma contida no art. 397 do Cdigo de Processo Penal Ptrio.
(destacamos)
Desta forma, estando plenamente provado nos autos que a acusada no tinha
conscincia do ilcito, posto que comumente aceito socialmente, se aplica os dispositivos legais
mencionados, pugna-se, portanto, pela aplicao de causa excludente de culpabilidade do
agente, pela absolvio da requerente e a cessao da medida cautelar de comparecimento
mensal em juzo.
Subsidiariamente, caso no seja acolhido o pedido retro, que seja aplicado a causa de
diminuio da pena do art. 21 do Cdigo Penal, j transcrito.
Pgina 7 de 14
no Pas a inviolabilidade do direito vida, liberdade, igualdade,
segurana e propriedade, nos termos seguintes:
LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos
acusados em geral so assegurados o contraditrio e ampla
defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
(destacamos)
Pgina 8 de 14
Houve na verdade, uma espcie de representao comercial posto que a acusada
demonstrou em seu interrogatrio que os discos eram pertencentes a um terceiro (Jorge) e que a
mesma apenas est expondo o referido produto, a fim de obter no uma recompensa ou paga,
mas sim uma compensao monetria pelo trabalho de venda realizado, o que no se confunde
com recompensa, cuja caracterizao decorre da inexistncia de onerosidade na prestao do
servio, sendo como a prpria palavra diz um agrado a ttulo gratuito em gratido pela conduta
do agente.
Desta forma ntido que deve ser afastado a agravante requerida, posto que no houve
a sua correta caracterizao no caso em tela, o que na remota hiptese de condenao, desde
j se requer.
Pgina 9 de 14
notria a existncia de uma circunstncia relevante, posto que, diuturnamente so
comercializados sem nenhum tipo de represso estatal, milhares de milhares de CDs piratas
conforme fundamentao j exposto.
A acusada moradora de rua, catadora de papelo e possui dois filhos menores que
necessitam de seu cuidado e assistncia, o crime que consiste em expor venda 3 CDs, foi
cometido visando a subsistncia prpria da autora e de sua famlia.
Pgina 10 de 14
Condenar a requerente por tentar vender 3 discos operar uma injustia, por isso frisa-
se que no se acredita que este juzo decidira desta forma, contudo, por mero amor ao debate,
requer-se que na hiptese de condenao a pena seja aplicada no mnimo legal.
Tal benefcio decorre do simples comando lega esculpido no art. 44 do cdigo penal,
vejamos.
Pgina 11 de 14
expressa do autor, do artista intrprete ou executante, do produtor,
conforme o caso, ou de quem os represente: (Redao dada
pela Lei n 10.695, de 1.7.2003)
Pena recluso, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e
multa. (Redao dada pela Lei n 10.695, de 1.7.2003)
2o Na mesma pena do 1o incorre quem, com o intuito de lucro
direto ou indireto, distribui, vende, expe venda, aluga, introduz
no Pas, adquire, oculta, tem em depsito, original ou cpia de
obra intelectual ou fonograma reproduzido com violao do
direito de autor, do direito de artista intrprete ou executante ou do
direito do produtor de fonograma, ou, ainda, aluga original ou cpia de
obra intelectual ou fonograma, sem a expressa autorizao dos
titulares dos direitos ou de quem os represente. (Redao dada
pela Lei n 10.695, de 1.7.2003)
(destacamos)
Alm da pena no ser superior 4 (quatro anos) o que por si s j validaria a aplicao
do inciso I do art. 44, o fato tambm se encaixa na hiptese descrita no inciso III do mesmo
artigo, posto que, trata-se de uma moradora de rua, em situao de miserabilidade, que expos
venda 3 CDs buscando o sustento de si e de sua famlia.
Desta forma, pela simples exegese dos dispositivos normativos mencionados, constata-
se que na hiptese remota de condenao, deve a pena privativa de liberdade ser convertida em
pena restritiva de direitos, o que desde j se requer.
DOS PEDIDOS
Pgina 12 de 14
reais e cinquenta centavos) sendo, portanto, no merecedores da tutela penal que
se finalizada perpetuara um estado de injustia social, com base tambm no art.
386, VI do Cdigo Penal.
d) Alternativamente, A absolvio da acusada e a cessao da medida cautelar de
comparecimento mensal em juzo, aplicando-se a excludente de punibilidade do art.
21 do Cdigo Penal, posto que, plenamente provado nos autos que a acusada no
tinha conscincia do ilcito, posto que comumente aceito socialmente, com base no
art. 386, VI e 397 do Cdigo de Processo Penal.
e) Subsidiariamente, a reabertura da instruo criminal (anulao do ato que indeferiu
a diligncia de testemunha, somente descoberta em audincia de instruo),
objetivando a oitiva na condio de testemunha do Sr. Manoel Pereira, dono de uma
padaria localizada na regio onde ocorreu a apreenso, que era frequentada
diariamente pela acusada, com intuito de comprar po e caf com leite para seus
filhos, que poder elucidar com preciso os fatos que ensejaram a propositura da
ao penal, com base no Art. 5, LV da Constituio Federal e arts. 189 e 482 do
Cdigo de Processo Penal.
f) Cumulativamente, na remota hiptese de condenao, que seja afastada a
agravante do art. 62, IV do Cdigo Penal, posto que, houve na verdade, uma
espcie de representao comercial tendo em vista que a acusada demonstrou
em seu interrogatrio que os discos eram pertencentes a um terceiro (Jorge) e que a
mesma apenas est expondo o referido produto, a fim de obter no uma
recompensa ou paga, mas sim uma compensao monetria pelo trabalho de venda
realizado, o que no se confunde com recompensa, cuja caracterizao decorre da
inexistncia de onerosidade na prestao do servio, ou seja: a recompensa uma
gratificao de gratido por algo excepcional realizado pelo recompensado.
g) Cumulativamente, na remota hiptese de condenao, que seja aplicada a
atenuante do art. 62, II do Cdigo Penal, tendo em vista que est devidamente
comprovado nos autos que a acusada desconhecia a natureza delitiva do ato
praticado, o que lhe garante o direito atenuante de pena requerida.
h) Cumulativamente, na remota hiptese de condenao, a aplicao da atenuante do
art. 66 do Cdigo Penal, posto que, notria a existncia de uma circunstncia
relevante, pois diuturnamente so comercializados sem nenhum tipo de represso
estatal, milhares de milhares de CDs piratas conforme fundamentao j exposta e
de conhecimento comum de qualquer homem mdio.
i) Cumulativamente, na hiptese de condenao, que seja aplicada a pena no mnimo
legal, com base no art. 59, II e IV, tendo em vista que a acusada moradora de rua,
Pgina 13 de 14
catadora de papelo e possui dois filhos menores que necessitam de seu cuidado e
assistncia, levando em conta ainda que o crime que consiste em expor venda 3
CDs, foi cometido visando a subsistncia prpria da autora e de sua famlia.
j) Cumulativamente, a converso da pena privativa de liberdade em pena restritiva de
direitos, ainda na remota hiptese de condenao, o que no se acredita, mas por
preciosismo se argumenta, posto que a acusada est sendo processada por crime
cuja pena mxima, j aplicando-se as disposies de atenuao da pena, no
superior 4 (quatro) anos, (Art. 184 2 do Cdigo Penal) com base no art. 44, I e
III do mesmo diploma, considerando ainda que trata-se de uma moradora de rua, em
situao de miserabilidade, que expos venda 3 CDs buscando o sustento de si e
de sua famlia.
k) Reitera-se o pedido de absolvio da acusada, com base em toda a fundamentao
j exposta, tendo em vista o disposto no art. 386, VI do Cdigo Penal, por ser
medida necessria a garantia de JUSTIA.
Nestes termos,
Pede deferimento.
Advogado
OAB/UF
Pgina 14 de 14