Humanismo
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5. Segundo se depreende do que ele diz ao Anjo, o Fidalgo tinha-se preparado para
morrer (como, em princpio, deveria fazer todo bom cristo)? Justifique sua resposta.
No, o Fidalgo no estava preparado para morrer, pois diz que partiu "to sem aviso", isto , foi
colhido de surpresa pela morte, no contava com ela.
6. Qual o motivo que o Fidalgo apresenta para ser aceito na barca do Paraso?
O motivo que ele um "fidalgo de solar", ou seja, um fidalgo de casa rica e antiga, de famlia
poderosa e ilustre.
7. Qual a razo do Anjo para recusar entrada ao Fidalgo?
O Anjo diz: "No se embarca tirania / neste batel divinal"; "tirania" a palavra que resume a
crtica ao comportamento do Fidalgo: arrogante, impositivo, injusto.
8. Aponte alguns comportamentos do Fidalgo que justifiquem a restrio feita pelo Anjo.
O Fidalgo, com grande arrogncia, refere-se a si mesmo de forma solene: "minha senhoria" e
se espanta de que no se d tratamento mais corts a um homem de tal importncia ("senhor
de tal marca").
Outro sinal de vaidade est no grande rabo do casaco que veste, alm da cadeira que faz um
servo levar, para quando ele quiser sentar-se.
9. Mencione duas ironias do Diabo no dilogo final com o Fidalgo (vv. 110-180).
O Diabo bastante irnico com o Fidalgo, especialmente neste dilogo final.
Exemplos: o Diabo chama-o de vossa doura (v. 122); ironia que fica ainda mais saliente em
vista de sua rima com tristura (v. 121); o resto da fala tambm irnico (at o v. 127).
A parte do dilogo que se refere amante e mulher do Fidalgo igualmente carregado de
ironias.
[(v. 121) Venha essa prancha! Veremos esta barca de tristura. Embarque a vossa doura, que
c nos entenderemos... Tomars um par de remos, veremos como remais, e, chegando ao
nosso cais, (v. 127) todos bem vos serviremos.]
10. Qual o motivo de o Diabo no permitir que o Fidalgo leve a sua cadeira na Barca do
Inferno? Que pode representar Auto da Barca do Inferno a cadeira em relao vida do
Fidalgo?
A cadeira, que em vida representava o status social superior do Fidalgo, agora na morte,
representa do seu apego aos bens materiais da vida e a sua iluso de que, mesmo no inferno,
ele possa continuar a desfrutar de privilgios que o colocam acima dos demais homens.
Por esses motivos o Diabo veta a entrada da cadeira em sua barca.
13. A palavra bolso (Porque esse bolso / tomar todo o navio, v. 216) tem, no texto,
um sentido denotativo e outro conotativo. Quais so eles?
Bolso significa, denotativamente, bolsa grande (dentro da qual est o dinheiro do
Onzeneiro). Conotativamente, significa a grandeza da usura, censurada pelo Anjo versos
abaixo:
onzena, como s fea / e filha da maldio! (vv. 222-223).
14. De que maneira o Onzeneiro interpreta a negativa do Anjo em embarc-lo?
Pela fala do Onzeneiro (Aqueloutro marinheiro, / porque me v vir sem nada, / d-me tanta
borregada / como arraiz l do Barreiro), sabe-se que, no se no seu entender, ele maltratado
pelo Anjo porque vai ao barco do cu sem nada, isto , sem dinheiro.
15 A profisso do Onzeneiro, que era na poca severamente condenada pela Igreja,
corresponde, em nossa sociedade atual, a um ramo de atividades enorme e
importantssimo. De que se trata?
A atividade do Onzeneiro conhecida ento como usura, ou seja, o emprstimo de dinheiro a
juros corresponde hoje atividade do setor bancrio.
A Igreja mudou de opinio a respeito do assunto: deixou de condenar a usura e at envolveuse no mundo financeiro moderno.
16. Que representa o Parvo, do ponto de vista social?
Representa o agricultor pobre e oprimido, explorado pelos seus senhores, que eram os donos
da terra (os senhores feudais).
Em sentido mais amplo, representa os pobres, desvalidos e ignorantes em geral, vtimas da
injustia e da ambio desmedida das classes dominantes.
17. Como se justificam as agresses que o Parvo profere do verso 268 ao 295?
As agresses do Parvo se devem a sua reao descontrolada ao saber que o seu interlocutor
era o Diabo e que aquela embarcao se dirigia ao Inferno.
A violncia do Parvo sinal de sua religiosidade primria e de sua ignorncia; a confiana com
que ele ataca o Diabo sinal de sua segurana em relao a si mesmo, a seu comportamento
honesto, que seria reconhecido por Deus.
18. Por que, ao responder ao Anjo, o Parvo diz que era samica algum (verso 298)?
Porque, de to oprimido e humilhado socialmente, ele nem achava que pudesse ser algum:
achava-se um joo ningum. (Seu nome, a propsito, era Joane, forma antiga de Joo.)
19. Qual a justificativa que o Anjo apresenta ao aceitar o Parvo em sua barca?
O Anjo afirma que o Parvo pode ir ao Paraso porque no pecou por malcia (maldade) e
porque uma pessoa de esprito simples e inocente (ou, numa expresso mais pejorativa, um
pobre de esprito).
20. Ao ver que o Frade portava um capacete na cabea, o Diabo exprime espanto
(Cuidei que tnheis barrete!). Qual o motivo desse espanto?
Seria de esperar que sob o capuz o Frade portasse um gorro (barrete), como os demais
padres. O Diabo, no tom irnico que lhe caracterstico, aponta uma vez mais a hipocrisia do
Frade em relao aos preceitos clericais.
21. Depois de dirigir-se ao batel do Anjo, o Frade no v outra alternativa seno enfim
concluir. A que concluso ele se refere e de que maneira chegou a ela?
O Frade percebe que no h outra alternativa seno embarcar para o Inferno (Vamos onde
havemos dir) depois de sequer obter resposta do Anjo e, pior, notar pela fala do Parvo que
todos o tm em pssima considerao: Senhora, d-me vontade / que este feito mal est.
22. Para convencer o Anjo a embarc-la, Brsida Vaz utiliza tanto argumentos quanto
formas de tratamento. Explique.
Brsida Vaz tenta persuadir o Anjo, atravs de argumentos, a lev-la consigo, aludindo aos
favores prestados aos cnegos da S, fornecendo-lhes meninas, moas delicadas e de boa
educao, para seu deleite, assim como sua boa ao de encaminhar as moas, jovens
prostitutas, a quem as sustentasse como esposas ou concubinas.
Quanto ao tratamento, ela dirige-se ao Anjo de forma sedutora, tecendo-lhe carinhosos elogios
como mano, meus olhos; minha rosa; meu amor, minhas boninas, olho de perlinhas finas.
23. Brsida compara a converso de moas por Santa rsula com a que ela prpria
exercera sobre suas cachopas. A que converso ela se refere?
Refere-se transformao das moas em prostitutas. H um jogo com a palavra converso,
que, no sentido religioso, significa conduzir de uma a outra religio e, no sentido profano,
significa fazer passar de uma a outra condio.
24. Em que a representao do Judeu, no Auto da Barca do Inferno, revela a presena de
preconceitos da poca?
Os preconceitos que se revelam na representao do Judeu so diversos e se encontram seja
na considerao do judasmo como se se tratasse de um crime (o bode que o Judeu carrega
simboliza o seu apego religio judaica), seja na crena que o Judeu teria no poder do
dinheiro (Passai-me por meu dinheiro, diz ele ao Anjo no verso 561), seja nos ataques do
Parvo, que acusa o Judeu de desrespeitar a religio catlica, seja finalmente na atitude de
rejeio que at o Diabo manifesta diante dele (verso 603).
25. Quais as crticas que, na pea de Gil Vicente, so dirigidas aos representantes da
Justia?
As crticas so basicamente de corrupo (o Corregedor vendia sentenas por dinheiro) e de
pretenso enganadora (todo o latinrio no passa de uma tentativa de induzir os outros ao
engano, com o uso indevido de regras e leis).
26. No Inferno da Divina Comdia, de Dante Alighieri (1265-1321), as almas dos
condenados se acham enredadas nos mesmos pecados que praticavam na vida: os
arrogantes esto afundados em sua arrogncia, os maldizentes esto envolvidos em
uma lngua de fogo, etc. No Inferno de Gil Vicente ocorre algo semelhante: os pecadores
no se desligam dos objetos de seus pecados. Explique e d exemplos.
Os condenados de Gil Vicente so, todos, de tal forma apegados aos objetos de seus pecados,
que os levam para o outro mundo. Assim, o Fidalgo chega acompanhado de um pajem, que
segura o rabo de sua luxuosa vestimenta e leva a cadeira de que ele se faz acompanhar ou
seja, vai para a morte cercado daquilo que caracterizou sua vida de altivez, arrogncia e
riqueza.
Da mesma forma, o Frade traz a moa, que representa sua devassido moral, e a espada, que
simboliza a sua vida cortes; o Sapateiro carrega as frmas e o avental que lhe serviram, em
seu ofcio, para explorar os seus clientes; o Corregedor chega ao cais das almas sobraando
os volumes dos processos que julgava de maneira corrupta, pois aceitava propinas em troca de
suas sentenas; a Alcoviteira vem provida de himens postios, todo um armrio de mentiras e
outros instrumentos de iluso; o Onzeneiro leva o seu bolso de dinheiro, e o Judeu carrega a
cabra que era tida como smbolo da sua religio.
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LEIA TAMBM:
SOBRE GIL VICENTE E AUTO DA BARCA DO INFERNO
APONTAMENTOS a respeito de Gil Vicente e o Auto da Barca do Inferno
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