A Importancia Do Radio No Estado Novo
A Importancia Do Radio No Estado Novo
A Importancia Do Radio No Estado Novo
VIEIRA, Erika2
Universidade Federal de Viosa/MG
Resumo: O presente trabalho tem por objetivo a anlise, atravs de pesquisas bibliogrficas, da utilizao
da propaganda e dos meios de comunicao durante o Estado Novo, bem como a atuao da censura
sobre os mesmos. Foi dado maior enfoque ao rdio e sua importncia para a poca, uma vez que teve
participao essencial na consolidao e manuteno da boa imagem e, consequentemente, do poder do
lder poltico em questo, Getlio Vargas. Tambm so apresentadas algumas semelhanas entre as
tcnicas adotadas por Vargas e aquelas adotadas pelos regimes ditatoriais na Europa. Alm da introduo
e concluso, este artigo foi dividido em quatro tpicos: o primeiro dedicado a uma explicao breve do
que foi o perodo conhecido como Estado Novo; o segundo refere-se s tcnicas de propaganda e censura;
o terceiro relaciona-se radiodifuso e o ltimo aborda a questo da utilizao da msica popular, com
breve exposio de dois temas mais especficos o samba-malandro e o carnaval.
Palavras-chave: Estado Novo. Rdio. Mdia. Propaganda.
Introduo
Este artigo analisa a importncia dos meios de comunicao de massa,
especialmente do rdio, para a propaganda governamental durante o Estado Novo. A
anlise se baseia na utilizao dos meios de comunicao, formadores de opinio, para
difuso da informao e a conseqente manipulao da massa. Em um regime
autoritrio esta funo torna-se indispensvel para a legitimao e manuteno do
poder, principalmente por se tratar de um meio sutil de manipulao, que dispensa a
violncia caracterstica desses governos.
Optei por primeiramente contextualizar o perodo que ficou conhecido como
Estado Novo. Mais adiante, ser apresentada com mais especificidade a questo da
propaganda, focalizando o rdio, com algumas referncias mdia impressa, principais
meios utilizados pelo regime. Alm disso, farei uma breve exposio sobre o papel
exercido pela msica e as modificaes sofridas pela mesma, muitas delas visveis at
mesmo na cultura musical da atualidade.
TrabalhoapresentadonoGTdeHistriadaMdiaSonora,integrantedoVIIIEncontroNacionalde
HistriadaMdia,2010.
2
GraduandaemComunicaoSocial/JornalismopelaUniversidadeFederaldeViosaMG.
[email protected]
A imprensa teve que desempenhar as atividades que lhe foram impostas sem
nenhuma independncia. Os jornais que se recusavam a realizar tais atividades foram
fortemente reprimidos e silenciados. Um exemplo foi o jornal O Estado de So Paulo,
que por tentar contrariar o governo foi expropriado e transformado em rgo oficioso,
tornando-se um dos principais rgos de propaganda do regime, assim como o jornal O
3. A radiodifuso
O rdio teve grande importncia para a propaganda poltica durante o Estado
Novo. Os idelogos nacionalistas da poca defendiam um projeto de radiodifuso
educativa, visando construo de uma conscincia nacional, considerada indispensvel
para a integrao nacional. Havia, na verdade, duas propostas: a utilizao do rdio para
a propaganda do regime e a utilizao do mesmo como instrumento de educao e
cultura. Destas duas propostas, surgiu um sistema misto.
Nesta poca, o rdio conseguiu prestgio devido aos programas de auditrio, humorsticos, musicais - ao radiojornalismo e s primeiras radionovelas, que,
financiadas pela publicidade, logo ganharam audincia, principalmente por abordarem
assuntos como os conflitos humanos de maneira sentimental, utilizando uma linguagem
coloquial, despertando maior identificao por parte do pblico.
interessante comentar que em pleno Estado Novo, a primeira radionovela
transmitidafoiEmbuscadafelicidade,deorigemcubanaecomplementeapoltica. J
o radioteatro era orientado pelo DIP a abordar fatos histricos, dando aos mesmos
aspecto romntico. Alguns,inclusive,foramescritosparatransmissoduranteAHora
doBrasil.
Sobre este programa, foi criado em 1931 e reestruturado em 1939, com a criao
do DIP. Possua trs principais fins: informativo, cultural e cvico. Atravs dele foi
iniciado o processo de utilizao poltica do rdio, pela divulgao dos discursos
oficiais e atos do governo, bem como a exaltao do patriotismo e o estmulo ao gosto
pela arte e cultura populares. Era, ainda, usado para estimular comportamentos, atitudes,
hbitos e valores.
No interior, a programao era transmitida atravs de alto falantes. Objetivavase a incluso do homem do interior coletividade atravs do rdio, levando-lhe
informao e valores urbanos, educao e cultura. Mas no somente isso: no se pode
esquecer que a obteno de apoio era tambm um objetivo do governo.
Dentro do DIP existia a Diviso de Rdio-Difuso, responsvel pela concesso
de registros de funcionamento para os servios pblicos de alto-falantes e som mvel, e
pelo controle de toda a programao radiofnica, proibindo, assim como fez com a
imprensa, todo e qualquer programa que fizesse oposio s ideias governamentais. As
letras de msica tambm podiam ser censuradas por essa Diviso, como veremos
adiante.
A Rdio Tupi do Rio de Janeiro foi aprimeirardioAssociada,inauguradaem
1935. No mesmo ano, foi inaugurada a Rdio Farroupilha, do Rio Grande do Sul, a
rdio mais potente da Amrica Latina. Em 1937 essa potncia foi ultrapassada por Assis
Chateaubriand, quando fundou a Rdio Tupi de So Paulo, que alcanava todo o pas e
at o exterior. Foi assim o incio dos Dirios e Emissoras Associados, que abrangeu no
s emissoras de rdio, mas tambm de TV, revistas, jornais, etc.
Em 1940 surge a principal concorrente da Rdio Tupi a Rdio Nacional, que,
apesar do controle estatal, seguiu a lgica de funcionamento privada, j que foi
financiada pela publicidade de empresas privadas, que priorizavam o entretenimento.
Foi ela, inclusive, que exibiu a primeira radionovela, j citada. Em contrapartida, a
Rdio Tupi apresentou o primeiro jornal falado brasileiro o Grande Jornal Falado
Tupi, em 1940. A concorrncia, porm, contava ainda com a Rdio Record, que
transmitia o Reprter Esso, considerado o mais importante e tambm o mais popular e
respeitado radiojornal.
Alm de todo esse carter noticioso e formador de opinio, o rdio tambm foi
muito utilizado para a divulgao de produtos de massa, sendo importante tambm para
o desenvolvimento industrial e comercial do pas, j que o momento era o de
consolidao do capitalismo.
O samba-malandro
O samba-malandro resultado de anos de modificaes no contexto histrico
brasileiro.Duranteaescravidoosnegrosviamnamsicaanicaformadefugada
realidade brutal que viviam. Com a abolio e o xodo rural provocado pela
industrializao, os ex-escravos foram em direo s cidades, em busca de trabalho nas
fbricas, passando a viver nas periferias. Vendo-se diante de uma rotina de trabalho
fabril semelhante que viviam enquanto escravos e em meio desqualificao oriunda
do passado escravocrata, deviam decidir entre a explorao e a ociosidade, optando,
portanto, pela ltima. O malandro passa, ento, a ser visto como uma espcie de heri,
smbolo de resistncia e transgresso. Da a exaltao do mesmo nas msicas.
Muitos crticos afirmavam que as msicas eram pobres e s se preocupavam
comoamoreavidafcil, no levavam intelectualidade e cultura a quem as ouvisse.
Tais crticas remetem-nos s de TheodorAdornoeMaxHorkheimernoartigosobreA
Indstria Cultural, onde discorrem sobre a transformao de instrumentos culturais,
inclusive a msica, em produto comercial.
Apesar das crticas, eles sabiam que no seria tarefa fcil eliminar esses gneros
populares, porque j se encontravam arraigados. Para control-los, ao menos, passaram
a utilizar a censura e a unio com os sambistas. Cerca de 370 msicas foram censuradas.
Em relao aos msicos, comearam a se moldar s exigncias do governo. Ary Barroso
um exemplo de sambista que sesofisticou. A msicaAquareladoBrasil,desua
autoria, foi marco inicial do chamado samba-exaltao. Ary, contudo, no o
reconheceu como um gnero especfico, mas como uma fase do samba tradicional, que
surgiu de modo natural.
As letras originais passaram a ser modificadas, segundo exigncias do governo.
Um exemplo a famosa composio Bonde de So Janurio3, de Ataulfo Alves e
Wilson Batista. A verso original dizia O Bonde de So Janurio / Leva mais um
otrio / S eu no vou trabalhar. Aps modificao, a letra dizia O Bonde de So
Janurio/Levamaisumoperrio/Soueuquevoutrabalhar.Visivelmente,ainteno
difundir a ideologia trabalhista do regime.
Aps essas modificaes na letra e na estrutura o samba passou a ser
consumido tambm pelas camadas mais cultas da sociedade. Perdeu seu carter
regional, de periferia. O pblico deixou de ser o limitado grupo social dos bairros. Dizer
que perdeu o carter regional significa dizer que as grias e caractersticas exclusivas de
determinados grupos deixaram de participar das composies, demonstrando a
preocupao em integrar todas as regies do pas e alcanar uma unidade nacional. No
se pode dizer, porm, que perdeu totalmente as caractersticas do samba-malandro. As
msicas ainda apresentavam resqucios da rusticidade e ambigidades referentes
cultura popular e at mesmo o ritmo exerce seu efeito sobre a mensagem da letra. por
http://www.sambachoro.com.br/sc/tribuna/sambachoro.0205/0543.html
isso que no se pode afirmar, tambm, que o samba-exaltao desempenhou seu papel
de contribuio com a difuso da ideologia do Estado Novo com total eficincia.
O samba foi importante at para a insero do negro no mercado de trabalho,
ainda que modestamente:
Alm de a msica constituir-se na matria-prima da empresa radiofnica, o
agente cultural produtor dessa msica julga encontrar nas atividades
radiofnicas uma das raras tcnicas de infiltrao na estrutura global. (...)
medida que a estrutura socioeconmica da empresa vai criando condies de
profissionalizao ao redor da comercializao da msica, os negros vo por
sua vez, encontrando oportunidades favorveis de trabalho oportunidade
alm da rea que a tradio consagrava at os dias atuais como trabalho de
negro (servios domsticos e atividades domsticas em geral).
(CARVALHO, 1980 apud BISPO, 2009)
organizao das alas das escolas durante os desfiles tambm apresentam at hoje, em
parte, caractersticas da poca.
Concluso
Assim sendo, podemos afirmar que o rdio merece destaque ao discorrermos
sobre a influncia que os meios de comunicao exerceram sobre a opinio pblica
durante o Estado Novo. Acredito que, devido simplicidade de seu discurso e ao seu
amplo alcance, participou do processo de popularizao de Getlio Vargas, bem como
na criao de sua boa imagem entre o povo, garantindo o suporte necessrio para
sustentao de seu poder ao atingir tambm as camadas rurais, no s as urbanas.
Outra boa justificativa para se destacar a importncia do rdio a sua utilizao
na Alemanha nazista, onde Hitler teve resultados satisfatrios. Como Vargas seguiu o
exemplo dos vrios regimes ditatoriais existentes na poca ao redor do mundo, no seria
diferente em relao utilizao da mdia radiofnica, que tambm teve participao na
diminuio da violncia como meio de controle.
Mesmo com o fim do Estado Novo, a eficincia da propaganda da poca pode
ser percebida at mesmo na sociedade atual. A imagem do governante foi to
consolidadaqueathojeVargaslembradocomoopaidospobres,mesmodianteda
caracterstica autoritria e repressora de seu governo. Alm disso, a msica popular
tambm apresenta resqucios das influncias recebidas durante o perodo e se
mantiveram em gneros posteriores, como a Bossa Nova e o Tropicalismo. O ufanismo
continua sendo tema de msicas e at a organizao de algumas escolas de samba
permanecem de acordo com as tendncias da poca.
Referncias Bibliogrficas
ADORNO, Theodor W., HORKHEIMER, Max. A Indstria Cultural: O esclarecimento
como mistificao das massas. In: A Dialtica do Esclarecimento Fragmentos
Filosficos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor. 1985.
10
Michle.
Histria
das
Teorias
da
11