Fernão Cardim
Fernão Cardim
Fernão Cardim
E GENTE DO BRASIL
TRATADOS DA TERRA
E GENTE DO BRASIL
1NTRODUCES E NOTAS DE BAPTISTA
CAETANO,
CAPISTRANO DE ABREU
E RODOLPHO OARC1A
JUSTIFICAO
DA TIRAGEM
60 exemplares em. papel Verg,
numerados e rubricados.
1.000 exemplares em
papel commum
de livro.
INTRODUCO
A presidncia da Academia Brasileira de Letras, em l)2'. foi occupada por Afranio Peixoto.
Nesse posto, seu p r o g r a m m a era s i m p l e s : trabalhar
Expondo-o, em discurso inaugural, disse:
"A vossa direcco pensa, pois, este anno mesmo,
em comear a publicao de duas sries de o b r a s
r a r a s e preciosas, postas ao alcance do publico, enriquecidas de i n t r o d u c e o bibliographica, e de notas elucidativas, das q u a e s sero encarregados os
nossos confrades que tiverem p e n d o r por esse gnero de estudos e ainda aquelles sbios e letrados
de fora que, designados por nos. acudirem ao nosso
apello. (louvem l e m b r a r que a Academia no se
p r e s u m e mais que u m estado-maior da c u l t u r a nacional, mas que a victoria dessa cultura deve ser
conseguida t a m b m com o grosso do exercito, que
no est aqui. I n n u m e r o s especialistas, insubstituveis, fazem p a r t e desse q u a d r a g e s i m o p r i m e i r o logar da Academia, o mais numeroso e o mais rico
d o s postos a c a d m i c o s . "
FERNO
CAHDIM
Das duas sries de clssicos nacionaes Literatura e Historia, sairam a lume algumas obras
da primeira e apenas uma da segunda. Motivos conhecidos fizeram mangrar o promissor emprehendimento, no porque a ba vontade do seu director
lhe faltasse e seu apello deixasse de ser correspondido.
Das publicaes histricas fazia parte a obra do
Padre Ferno Cardim, que Afranio Peixoto houve
por bem, ou por mal, attribuir ao que abaixo se noma. Segundo o plano adoptado, a obra devia comprehender os trs tratados do jesuita: Do Clima e
Terra do Brasil, Do Principio e Origem dos ndios
do Brasil e Narrativa epistolar, ou Informao da
Misso do Padre Christovo de Gouva s partes
do Brasil, cabendo-lhe annotar o primeiro e terceiro, por isso que, em relao ao segundo, j o
fora, e superiormente, por Baptista Caetarid de
Almeida Nogueira.
A Afranio Peixoto pertence es|a primorosa
nota introductoria, indita, que, com seu consenso
para aqui se traslada:
"Pela primeira vez reunem-se, num s tomo,
com o seguimento que parece lgico, o apparelho
de notas eruditas elucidativas e o titulo a que tm
direito, os tratados do Padre Ferno Cardim sobre
o Brasil.
"Primeiro Do Clima e Terra do Brasil, manuscripto da Bibliotheca de vora, copiado de cdice do Instituto Histrico pelo Senador Cndido
Mendes, publicado em p a r t e por seu filho Dr. Fern a n d o Mendes, e. integralmente, em 1885, pelo erudito C a p i s t r a n o de Abreu, que o identificou com o
t r a t a d o q u e publicara em 1023 Samuel P u r c h a s : as
notas, s agora apposlas, so da competncia de
Rodolpho Garcia.
"Depois
Do Principio e Origem dos ndios
da Brasil, t a m b m m a n u s c r i p t o de vora, public a d o em inglcz, em 1625, na colleco P u r c h a s .
identificado por C a p i s t r a n o de Abreu, a quem se
deve. em 1881, a edio verncula, acerescentada
de notas pelo saldo Baptisla Caetano de Almeida
Nogueira.
" F i n a l m e n t e , depois da Terra e da Gente do
Brasil, aquelles que aqui vieram ter. para a posse, a colonizao, a cateehese e a civilizao
do Brasil e dos Brasileiros. a Narrativa
epistolar
de uma viagem misso jesuitica, copiada t a m b m
de um m a n u s c r i p t o de vora e por Francisco Adopho de V a r n h a g e n publicada em Lisboa, em 1817:
nem Varnhagen, ento. nem. posteriormente.
E d u a r d o P r a d o , na edio do Instituto Histrico,
de 15MI2. lhe p o d e r a m d a r as notas necessrias,
cabe agora esta honra a Rodolpho Garcia.
" P o r t a n t o , aos Ires tratados do P a d r e F e r n o
Cardim parece cxaclo o titulo, que lhe d a m o s , complexivo:
Tratados da Terra e Gente do Brasil, cjue so agora no s homenagem a u m g r a n d e
missionrio que amou, observou, soffreu e tratou o
Brasil primitivo, como contribuio do nosso recon h e c i m e n t o a essas misses jesuiticas. que educa-
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FERNO
CARDIM
TRATADOS DA TW.ISA E C I N T E DO B R S S I L
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II
Q u a n t o s estudem o passado brasileiro ho de
reconhecer que no acervo dos servios prestados s
nossas letras histricas existe em aberto g r a n d e divida de g r a t i d o p a r a com esse meritorio jesuta.
De faeto, entre os que em fins do sculo XVI tratar a m das cousas do Brasil, foi F e r n o Cardim dos
mais sedulos informantes, em depoimentos a d m i rveis, que muita luz t r o u x e r a m c o m p r e h e n s o
do p h e n o m e n o da p r i m e i r a colonizao do paiz.
Foi dos p r e c u r s o r e s da nossa Historia, q u a n d o ainda o Brasil, p o r assim dizer, no linha historia; por
isso mesmo, como a respeito de Gandavo j se
observou, a sua historia antes natural que civil,
ou uma e o u t r a cotisa ao mesmo tempo. Nelle ha o
gcographo, que estuda a terra, suas divises, seu
clima, suas condies de h a b i t a b i l i d a d e ; o c t h n o g r a p h o , que descreve os aborgenes, seus usos, costumes e c e r e m o n i a s ; o zologo e o botnico, por
egual a p p a r e l h a d o p a r a o e x a m e da fauna e da
flora desconhecida; mas ha t a m b m o h i s t o r i a d o r
diserlo, q u e discorre sobre as misses dos jesutas.
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F E R N O
C A R D I M
HO BUANIi.
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Gouva; passou a Lisboa em princpios de Outubro daquellc anno e alli esteve cinco mezes, at
que, a 5 de Maro de 1583, com o Governador Manuel Telles Barreto, o visitador e outros padres,
embarcou para o Brasil, chegando Bahia a 9 de
Maio seguinte. Daquella primeira data por deante,
emquanto durou a misso do Padre Gouva, podemos segui-lo, quasi dia a dia, atravez das paginas to animadas quo encantadoras da Narrativa
Epistolar, Na Bahia, nos Ilhos, Porto Seguro. Pernambuco, Espirito Santo, Rio de Janeiro e So
Paulo, esteve uma e mais vezes, em companhia do
visitador, que ordenava as cousas necessrias ao
bom meneio dos collegios e residncias existentes
naquellas partes. Da Bahia, em 1 de Maio de 15! 10.
datou a segunda e ultima carta da Narrativa: era
reitor do collegio, cargo que ainda tinha em 1305,
porque assignava em 29 e 31 de Julho e 2 de Agosto, logo aps ao visitador do Santo Officio Heitor
Furtado de Mcndoa. as determinaes que se assentaram em mesa sobre alguns casos especiaes,
conforme faz f a Primeira Visitao do Santo
Officio s Partes do Brasil (So Paulo, 1922) ps.
46. No Rio de Janeiro, como Reitor do Collegio de
So Sebastio, estava em 1590, e nessa qualidade
passava procurao, datada de 3 de Fevereiro, ao
Padre Estevam da Gr para demarcar e tomar
posse das terras de Guaratiba, que haviam pertencido a Christovo Monteiro e eram, por doao,
incorporadas ao patrimnio dos padres da Companhia, - segundo se verifica do Tombo ou copia
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neiro, volume XXIX (1907), ps. 183 e 184, precedendo quella hagiographia.
Em 1606, por sua ordem e com ajuda do Governador Diogo Botelho, foram os Padres Luiz
Figueira e Francisco Pinto encarregados da catechse dos ndios do Cear. Acompanhados de uma
escolta de sessenta ndios christos, deixaram os
padres o Recife em 20 de Janeiro de 1607 e por
mar chegaram ao porto de Jaguaribe, de onde,
aps curta demora, se dirigiram a p para a serra
da Ibiapaba. Funestos foram os resultados dessa
misso pelo trucidamento do Padre Pinto, em 11
de Janeiro de 1608, s mos dos Tapuias Tocarijs; o Padre Figueira, para escapar sanha dos
brbaros, foi forado a tomar o rumo do litoral,
depois de ter dado, com grandes perigos, sepultura
ao corpo do seu infeliz companheiro.
Passando o cargo de provincial ao Padre Manuel de Lima, que viera por visitador em 1607,
Cardim assumiu o de reitor, pela segunda vez, do
Collegio da Bahia, e de vice-provincial. Foi por
essa poca que chegou cidade do Salvador
aquelle que devia ser mais tarde o grande apstolo Antnio Vieira, gloria da raa e padro imperecivel das letras portuguezas. Ao aportar
quella Capital, criana ainda, foi acommettido de
muito grave doena. "O Padre Fernando Cardim,
da Companhia de Jesus, escreveu Andr de
Barros, na Vida do apostlico Padre Antnio Vieira (Lisboa, 1746), ps. 6 era na Bahia de particular agrado na casa de Christovo Vieira Ra-
TRATADOS DA TEKV E G E M E
DO B R A S I L
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CARDIM
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III
Dos escriptos de Ferno Cardim o que primeiro foi divulgado pela imprensa em lingua porlugueza e com a sua autoria declarada, foi a Narrativa epistolar de uma viagem e misso jcsuitica
pela Bahia, Illicos, Porto Seguro. Espirito Santo,
Rio de Janeiro, So Vicente (So Paulo), ele., desde o anuo de 1583 ao de 1590, indo por visitador o
Padre Christovo de Gouva. Escripta em duas
cartas ao P Provincial em Portugal, pelo Padre
Ferno Cardim, Ministro do Collegio da (Companhia
em vora, etc, etc.
Lisboa (Na Imprensa Nacional) 1817. in-8, 123 ps. Editou-o o benemrito
Francisco Adolpho de Varnhagen, que o dedicou
memria do Conego Janurio da Cunha Barbosa, o illustre fundador do Instituto Histrico e Geographico Brasileiro. No quella a epigraphe
com (pie occorre no Catalogo dos Manuscriptos da
fibliotlieca Eborense, ordenado pelo bibliothecario Joaquim Heliodoro da Cunha Rivra, tomo I
(Lisboa. 1850), ps. li), onde se iuscreve: Enformao da Misso do Padre Christovo de Gouva s
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' partes do Brasil no anno de 83 (duas cartas). Mudando-lhe o titulo, editor juntou um prlogo sem
assignatura e no fim, depois de uma folha falsa
com a palavra Notas uma Advertncia accidental, que subscreveu com a sigla V., explicando
o motivo por que no fez acompanhar a publicao das annotaes com que pretendia illustra-la,
e que quasi lhe duplicariam o volume.
Quando appareceu a Narrativa epistolar, dentre os que primeiro lhe louvaram as excellencias
preciso salientar o benemrito Ferdinand Denis,
que, publicando Une fte Brsilienne clbre
Rouen en 1550 (Paris, 1851), em nota (ps. 48|51)
no regateou encomios ao "petit livre crit dans
un style charmant et que l'on doit un missionaire jusqu'alors inconnu.
le P. Ferno Cardim." A este refere-se como "dou d'un sentiment
potique, d'une rare dlicatesse eo qui se rvle
comme son insu dans chacune des lettres confidentielles qu'il a crites un suprieur, il ne tarit
point sur les danses dramatiques des Indiens, sur
leurs chants naifs, sur Ia noble gravite de leurs
harangues." E a propsito das festas e cantos dos
indios, cita trechos da Narrativa, collocando o autor ao lado de Gabriel Soares.
Tempos depois, o D r . A . J. de Mello Moraes,
que to bons servios prestou s letras histricas
no Brasil, reimprimiu integralmente a Narrativa,
sob o titulo de Misses do P. Ferno Cardim, na
Chorographia Histrica, tomo IV, ps. 417 a 457
(Rio de Janeiro, 1860), que correspondem His-
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foria dos Jesutas, do mesmo autor, tomo II, idntica n u m e r a o de p a g i n a s (Rio de J a n e i r o , 1872).
P a r c i a l m e n t e , foi a Narrativa r e p r o d u z i d a , no
tocante ao Rio de J a n e i r o , pela revista mensal
Guanabara,
desta cidade, vol. II (1851). ps. 112115; com relao a P e r n a m b u c o , pela Revista do
Instituto
Areheologico
e Grographico
Pernambucano, n. 13 (1893), ps. 189-206, com a l g u m a s a n n o taes de F- A. Pereira da Costa; e a p a r t e referente Bahia inseriu o erudito Dr. Braz do Amaral, em nota s Memrias Histricas
e Polticas,
de Accioli, vol. I (Bahia, 1019). ps. 055-172.
Em 1001, achando-se c o m p l e t a m e n t e exgotada a edio de 1817 e sendo pouco accessiveis as
r e p r o d u c e s de Mello Moraes, entendeu o Instituto Histrico de r e i m p r i m i r a Narrativa e commetteu a E d u a r d o P r a d o a tarefa de fazer-lhe as
annotaes, que Varnhagen lhe no poder aditar.
Iniciava a p e n a s esse trabalho, q u a n d o subita e infelizmente falleeeu o bellissimo escriptor. Assim,
foi a Narrativa
impressa na Revista do
Instituto.
tomo 05, parte I (1902), ainda dessa vez desacomp a n h a d a de notas, que por certo tanto lhe haver i a m de accrescer e realar o valor.
A copia de que se utilizou Varnhagen em 1817,
e que serviu p a r a as reproduces subsequentes,
era asss incorrecta, como se verificou da collao
feita com o a p o g r a p h o eborense no e x e m p l a r que,
por diligencia do Dr. Capistrano de Abreu, posse o
b r i l h a n t e historiador Dr. P a u l o P r a d o . quella
cpia continha, de facto, alm de n u m e r o s o s er-
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ros, muitas outras omisses, que em diversos passos alteraram ou deixaram suspenso e incomprehensivel o sentido da narrao. Uma taboa de
erros seria aqui descabida, mas no nos furtaremos ao desejo de apontar alguns dos mais sensveis. Assim, quando o Padre diz que pregou na
capella da villa de Porto-Seguro no primeiro dia
do anno, versando sua narrativa por fins do mez
de Setembro, deve-se ler dia do Anjo, ou de So
Miguel Archanjo, que ce em 29 daquelle mez. 0
Padre Rodrigo de Freitas figura uma vez na edio Varnhagen e nas que se seguiram, como Rodrigo de Faria, e o indio christo Ambrosio Pires,
que elle levou a Lisboa, como Ambrosio Rodrigues. Por aquellas edies, o Collegio da Bahia tinha trs cubculos, em vez de trinta; em Pernambuco, pessoa houve que mandou ao Padre visitador passante de dez cruzados de carne, em vez de
cincoenta; senhores de engenho da mesma capitania tinham alguns dez e mais mil cruzados de seu,
em vez de quarenta e mais mil cruzados; a doao
que os moradores de Santos fizeram ao Visitador
para a mudana da casa de So Vicente para alli,
avaliou-se em quinhentos cruzados, e no em cem;
a capitania de Ilhos e do Espirito Santo substituiu-se por capital; obra por obedincia e misteres por ministrios, vm por diversas vezes; os
painis da vida de Christo apparecem uma vez
por painis das Divindades...
O tratamento que
o Padre attribe ao provincial de Portugal de
Reverencia, e no de Reverendissima,
como est.
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tes e na interpretao de seus factos nunca foram assaz exalados, foi esse de reivindicar para
Ferno Cardim a autoria de seus escriptos. Publicando, em 1881, o tratado Do Principio e Origem
dos ndios do Brasil, o Dr. Capistrano produziu
prova cabal de pertencer elle a Cardim, no somente pela circumstancia dos tratados de Purchas terem sido tirados em 1601 por um inglez a
um jesuta em viagem para o Brasil, como tambm
porque, em collao com a Narrativa
epistolar,
bem se evidencia que todos sahiram da mesma
penna. O tratado Dos ndios foi publicado, como
dissemos, pelo Dr. Capistrano de Abreu, em 1881,
s expensas do Dr. Ferreira de Arajo, para figurar na Exposio de Historia e Geographia do
Brasil, que ento se realizava no Rio de Janeiro,
com uma introduco do indefesso editor e importantes notas philologicas do sbio Baptista
Caetano de Almeida Nogueira.
Nesse mesmo anno de 1881 o Dr. Fernando
Mendes de Almeida eomeou a publicar na Revista
Mensal da Seco da Sociedade de Geographia de}
Lisboa no Rio de Janeiro (tomo I, nmeros 1 e 2),
que dirigia ento, o tratado Do Clima e Terra do
Brasil, sem nome de autor. Essa publicao alcanou apenas os dous primeiros captulos: em o n.
3 da Revista appareceu uma Advertncia,
assignada pelo Dr. Fernando Mendes, na qual estampou uma carta do Dr. Capistrano de Abreu, explicando a origem do manuscripto que servia para a
impresso, attribuindo sua autoria a Cardim, e
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eompromettendo-se a tratar mais desenvolvidamente dos pontos em que na occasio apenas tocou. Fe-lo, de facto, tempos depois, inserindo integralmente o tratado na mesma Revista, tomo III
(1885), precedido de esclarecido estudo bio-bibliographieo sobre o autor. Com a verso de Purchas
foi comparado o tratado, e em vrios pontos apparccem correces.
O manuscripto utilizado para a impresso
parcial de 1881 e integral de 1885, encontrou o Dr.
Fernando Mendes entre os papeis de seu pae, o
eminente geographo e historiador patrcio Senador Cndido Mendes de Almeida; procedia da copia, existente no Instituto Histrico, do cdice da
Bibliotheca de vora, citado no Catalogo de Rivra.
Em Purchas his Pilgrimes, volume IV ps. 1320
a 1325, insere-se ainda outro tratado, sob a epigraphe Arlicles touching lhe dutie of the Kings
Maiestie our Lord and to common good of ali the
eslate of Brazil,
provavelmente escripto por
Ferno Cardim, em que se oeeupa de providencias
de ordem poltica, "que o autor julgava conveniente para commedir os excessos dos colonos contra os indios", a serem postas em pratica no Brasil. Desse no ha traduco portugueza. nem
consta que exista o original, ou cpia.
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FERNO
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IV
Do retrato moral que de Ferno Cardim fez
Antnio Vieira, eis um dos traos principaes:
"Varo verdadeiramente religioso e de vida inculpavel; mui afavel e benigno, e em especial com
seus subditos. A todos parece queria metter
n'alma, de todos se compadecia e a todos amava".
Em seus escriptos esses dons de caracter bem se
reflectem: simples, naturaes, sem arificios de estylo, sem preoccupaes eruditas. No que minguasse ao autor a cultura geral de seu tempo e
de sua ordem, quer religiosa, quer profana. De
sua sciencia theologica avalia-se pela preeminencia que alcanou entre seus confrades: seria bom
orador, porque sempre assomava ao plpito nos
dias de grandes festas da egreja, ao lado dos Padres Quiricio Caxa, Manuel de Castro e Manuel de
Barros, os melhores pregadores que havia na provncia, conforme seu prprio testemunho; de outra parte, devia estar ao corrente do saber de seu
sculo, especialmente da sciencia medica, porque
os tratados de Monardes lhe eram familiares, como
seriam os de Clusius, Garcia da Orta e outros.
Suas descripes de plantas e animaes so perfeitas e acabadas, como diagnoses de naturalista.
O que, porm, nesses escriptos verdadeiramente nos encanta a nota de constante bom humor de que esto impregnados, a vivacidade da
Bn\siL
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FERNO
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Os escriptos de Ferno Cardim e as Informaes de Joseph de Anchieta tm entre si muitos pontos de contacto, que se verificam s vezes pela
conformidade dos conceitos e mesmo pela identidade de phrases. O Dr. Capistrano de Abreu, em
nota Informao de ultimo de Dezembro de 1585,
esclarece o facto desta maneira: "Comparando a
presente Informao com a de Ferno Cardim,
notam-se muitas similhanas, e natural que se
procure nella uma das fontes da Narrativa epistolar. Tal concluso tem, porm, contra si o facto
que a primeira carta de Cardim anterior pre-
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sente Informao, pois que c datada de 16 de Outubro de 1585. Dahi podem tirar-se duas conseqncias, ambas plausveis: ou que Anchieta, satisfeito com a vivacidade e tom alegre de Cardim,
o copiou insensivelmentc, ou que ambos se apoiaram na informao mandada em Agosto. Se nos
lembrarmos que no Treatise of Brazil writlen by a
Portugall which had long lived lherr. publicado
por Purchas em 1625, j se encontram muitas das
comparaes conununs a Cardim e Anchieta; se
se conceber que quella obra de Ferno Cardim, como por mais de uma vez tenho procurado
prova-lo, e que foi escripta em 1381, a primeira
hypothcse muito mais verosimil."
Em Notas appostas ao primeiro e terceiro tratados deste volume assignalarant-se por diversas
vezes as similhanas referidas.
Na presente edio da obra de Cardim visouse tanto possvel uniformidade orthographica,
respeitando-se quanto tolervel a feio antiga
dos vocbulos. Fnia melhor distribuio dos paragraphos, uma ou outra mudana de pontuao,
praticou-se tambm; mas essa liberdade no autorizou a substituio dos termos antiquados que
ella contm, nem to pouco a alterao do torneio
quinhenlista de seu phraseado.
Com relao escripta dos nomes tupis, conservou-se tal qual est nos tratados. A vogai especial da lingua vem alli invariavelmente como ig,
embora em outros escriptos jesuiticos apparea
ra como j , com um ponto em cima e outro em
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DO CLIMA E TERRA
DO BRASIL
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do Brasil
(Rio
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TRATADOS n\
T M A K GENTE DO BRASIL
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Sarigu. - Este animal se parece com as r a posas de E s p a n h a , m a s so mais p e q u e n o s , do tam a n h o de gatos; cheiro muito p e o r a raposinhos
que as m e s m a s de E s p a n h a , e so p a r d o s como
e l l a s . Tm h u m a bolsa das mos at as p e r n a s
com seis ou sete m a m a s , e ali trazem os filhos escondidos at que sabem buscar de comer, e p a r e m
de o r d i n r i o seis, sete. Estes animaes destruem as
gallinhas porque no a n d o de dia, seno de noite, e t r e p o pelas arvores e casas, e no lhes escap o pssaros, nem g a l l i n h a s .
Tamandu.
Este animal he de n a t u r a l
a d m i r a o : he do t a m a n h o de h u m g r a n d e co,
mais r e d o n d o (pie c o m p r i d o ; e o rabo ser de dous
(2) c o m p r i m e n t o s do corpo, e cheio de tantas sedas, (pie pela calma, e chuva, frio. e ventos, se
agusalha todo debaixo delle sem lhe a p p a r e c e r
n a d a ; a cabea he pequena, o focinho delgado,
nem tem m a i o r bocea que de h u m a almotulia, redonda, e no rasgada, a lingoa ser de grandes
trs palmos de c o m p r i m e n t o e com ella lambe as
formigas de que somente se s u s t e n t a : he diligente
em buscar os formigueiros, e com as unhas, que
so do c o m p r i m e n t o dos dedos da mo de h u m
homem o d e s m a n c h a , e deitando a lingoa fora p e gam-se nella as formigas, e assi a sorve p o r q u e
no tem bocea para mais que q u a n t o lhe cabe a
(2)
IV. l.;tgN.
his Pilijrimes,
vol.
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Ha outros mais pequenos do tamanho de gatos, e tambm tm espinhos amarellos e nas pontas pretos. Todos estes espinhos tm esta qualidade que entrando na carne, por pouco que seja, por
si mesmo passo a carne de parte a parte, e por
esta causa servem estes espinhos de instrumentos
aos ndios para furar as orelhas, porque mettendo
hum pouco por cilas em huma noite lhas fura de
banda a banda.
Ha outros mais pequenos, como ourios, tambm m espinhos, mas no nos despedem; todos
estes animaes so de boa carne, e gosto.
furara. Este animal se parece com gato de
Algalia: ainda que alguns dizem que o no he, so
de muitas cores, se. pardos, pretos, e brancos: no
comem mais que mel, e neste officio so to terrveis (jue por mais pequeno que seja o buraco das
abelhas o fazem tamanho que posso entrar, e
achando mel no no comem at no chamar os
outros, e entrando o maior dentro no faz seno
tirar, e dar aos outros, cousa de grande admirao e exemplo de charidade para os homens, e ser
isto assi affirmo os ndios naturaes.
Aquigquig. - Estes bugios so muito grandes
como hum bom co. pretos, e muito feios, assi os
machos, como fmeas, tm grande barba somente
no queixo debaixo, destes nasce s vezes hum
macho to ruivo (pie tira a vermelho, o qual dizem (pie he seu Rei. Este tem o rosto branco, e i
barba de orelha a orelha, como feita tesoura;
tm huma cousa muito para notar, e he, que se
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Surucucu. Esta cobra he espantosa, ei medonha; acho-se de quinze palmos; quando os ndios naturaes as mato, logo lhes enterro a cabea
por ter muita peonha; para tomar caa, e a gente,
mede-se com huma arvore, e em vendo pres,a se
deixa cair sobre ella e assi a mata.
Boicininga. Esta cobra se chama cascavel;
he de grande peonha, porem faz tanto rui do com
hum cascavel que tem na cauda, que a poucos toma : ainda que he to ligeira que lhe chamo a cobra que va: seu comprimento he de doze e treze
palmos.
Ha outra chamada Boiciningbba; esta 1 3 ^ ^
bem tem cascavel, mas mais pequeno, he preta, e
tem muita peonha.
Igbigracu. He to vehemente a peonha
desta cobra que em mordendo a huma pessoa, logo
lhe faz deitar o sangue por todos os meatos que
tem, se. olhos, narizes, bocea, orelhas, e por quantas feridas tem em seu corpo, e corre-lhe por muito
espao de tempo, e se lhe no aodem todo se vae
em sangue, e morre.
Igbigboboca. Esta cobra he muito formosa,
a cabea tem vermelha, branca e preta, e assi todo
o corpo manchado destas trs cores. Esta he mais ;
peonhenta de todas, anda de vagar, e vive em as
gretas da terra, e por outro nome se chama a cobra dos corais. No se pde explicar a grande vehemencia que tm estas cobras peonhentas sobreditas, nem as grandes dores que*causo, nem as
muitas pessoas que cada dia morrem dellas, e so
TnATADOS
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t a n t a s em n u m e r o , q u e n o s o m e n t e os campos, e
matos, m a s at as casas a n d o cheias dellas, achose nas camas, d e n t r o das botas, q u a n d o as q u e r e m
calar. Indo os I r m o s p a r a o r e p o u s o as acho
nelle, e n r o d i l h a d a s nos ps dos bancos, e se lhe
no aodem, q u a n d o m o r d e m , sarjando-lhe a ferida, sangrando-se, bebendo unicornio, ou carim, ou
gua do po de cobra, ou q u a l q u e r outro remdio,
efficaz, em 21 horas, e menos, m o r r e h u m a pessoa
com g r a n d e s gritos, e dores, e so to espantosas,
(jue como h u m a pessoa he m o r d i d a logo pede confisso, e faz conta q u e m o r r e , e assi dispem de
suas eousas.
Ha outras cobras, p r i n c i p a l m e n t e estas J a r a racas, que eheiro muito a almiscre, e onde quer
ipie esto do sinal de si pelo bom e suave cheiro.
Ha muitos Alacrs q u e se acho nas camas cada dia, e entre os livros nos cubculos; de o r d i n rio no m a t o , m a s d e n t r o de 21 horas no ha viver com d o r e s .
P a r e c e que este clima influe peonha, assi pelas infinitas cobras que ha, como pelos muitos Alacrs, a r a n h a s , e outros a n i m a e s immundos, e as
lagartixas so tantas (pie cobrem as p a r e d e s das
casas, e agulheiros dellas.
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juba, se, pssaro amarello; no fallo, nem brinco, antes so muito malenconizados, e tristes, mas
muito estimados, por se trazerem de duzentas, e
trezentas lguas, e no se acho, seno em casas
de grandes principaes, e tm-nos em tanta estima
que do resgate, e valia de duas pessoas por um,
deiles, e tanto o estimo como os Japes as trerhpes, e panellas, e qualquer outros senhores alguma
cousa de grande preo, como falco, girifalte, &&.
lap. Este pssaro he do tamanho de huma
pega, o corpo tem de hum preto fino, e o rabo todo
amarello gracioso; na cabea tem trs pennachosinhos, que no parecem seno cornitos quando os
levanta; os olhos tem azues, o bico muito amarello; he pssaro formoso, e tem um cheiro muito
forte quando se agasta; so muito sollicitos em
buscar de comer, no lhe escapa aranha, barata,
grillo, &, e so grande limpesa de huma casa, e ando por ellas como pegas, no lhes fica cousa que
no corro; he perigo grande terem-no na mo,
porque arremettem aos olhos e tiro-nos.
Guainumbig. Destes passarinhos ha varias
espcies, se, Guaracig, s e , frueta do sol, por outro
nome Guaracigoba, se, cobertura do sol, ou Guaracigaba, se, cabello do sol; nas Antilhas lhe chamo
o pssaro resuscitado, e dizem que seis mezes dorme e seis mezes vive; he o mais fino pssaro que
se pde imaginar, tem hum barree sobre sua cabea, a qual se no pode dar cor prpria, porque
de qualquer parte que a tomo mostra vermelho,
verde, preto, e mais cores todas muito finas, e res-
TRATADOS DA TERR\
I. GENTE DO BASIL
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ferro, e delles fazem os seus maracs, s e , cascavis; todo co que lhe come os ossos, morre, e aos
homens nenhum prejuzo lhes faz.
Ur. Nesta terra ha muitas espcies de perdizes que ainda que se no pareo em todo com as
de Espanha, todavia so muito semelhantes na
cr, e no gosto, e na abundncia.
/
Ha nesta terra muitas espcies de rolas, tordos, melros, e pombas de muitas castas, e todas
estas aves se parecem muito com as de Portugal;
e as pombas e rolas so em tanta multido que
em certos campos muito dentro do serto so tantas que quando se levanto empedem a claridade
do sol, e fazem estrondo, como de hum trovo;
pem tantos ovos, e to alvos, que de longe se
vem os campos alvejar com os ovos como se
fosse neve, e com servirem de mantimento aos ndios no se podem desenar, antes dali em certos
tempos parece que correm todas as partes desta
provncia.
1
Nhandugoa. Nesta terra ha muitas Emas,
mas no ando seno pelo serto dentro.
Anhigma. Este pssaro he de rapina, grande, e d brados que se ouvem meia lgua, ou mais;
he todo preto, os olhos tem formosos, e o bico
maior que de gallo, sobre este bico tem hum cornito de comprimento de hum palmo; dizem os naturaes que este corno he grande medicina para os
que se lhe tolhem a falia, como j aconteceu que
pondo ao pescoo de um menino que no fallava,
faliou logo.
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Neste Brasil ha muitos coqueiros, que do coquos excellentes como os da n d i a ; estes de o r d i n r i o se p l a n t o , e no se d o pelos matos, seno
nas hortus, e q u i n t a e s ; e ha mais de vinte espcies de p a l m e i r a e quasi todas d o frueto, m a s
no to bom como os c o q u o s ; com a l g u m a s destas
p a l m e i r a s cobrem as c a s a s .
Alem destas arvores de frueto ha m u i t a s out r a s (pie do vrios fruetos, de que se aproveito,
e sustento m u i t a s naes de ndios, j u n t a m e n t e
com t) mel, de que ha muita a b u n d n c i a , e com as
caas, p o r q u e n o tm o u t r o s m a n t i m e n t o s .
Pinheiro. No serto da Capitania de So
Vicente at ao P a r a g u a v ha muitos e g r a n d e s pin h a e s p r o p r i a m e n t e como os de Portugal, e d o
p i n h a s com p i n h e s ; as [linhas no so to comp r i d a s , m a s mais r e d o n d a s , e maiores, os pinhes
so maiores, e no so to quentes, m a s de bom
t e m p e r a m e n t o e sadios.
MEDI-
Cabureinba.
Esta arvore he muito estimada, e g r a n d e , por causa do b a l s a m o q u e t e m ; p a r a
se tirar este b a l s a m o se pica a casca da arvore, e
lhe pem h u m p e q u e n o d'algodo nos golpes, e
de certos em certos dias vo recolher o leo q u e
ali se estilla; c h a m a m - l h e os portuguezes balsamo por se parecer muito com o v e r d a d e i r o das
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--vinhas de Engaddi; serve muito para feridas frescas, e tira iodo sinal, cheira muito bem, e delle, e
das cascas do pao se fazem rosiros e outras cousas de cheiro; os maios onde os ha cheiro bem,
e os animaes se vo roar nesta arvore, parece
que para sararem de algumas enfermidades. A
madeira he das melhores deste Brasil, por ser
muito forte, pesada, eliada e de tal grossura que
dellas se fazem as gangorras, eixos, e fusos para
os engenhos. Estas so raras, acho-se principal
mente na Capitania do Espirito Santo.
Cupaigba. He huma figueira commumene muito alta, direita e grossa; tem dentro delia
muito leo; para se tirar a corto pelo meio, aonde tem o vento, e ahi tem este leo em tanta abundncia, que algumas do hum quarto, e mais de
leo; he muito claro, de cr d 5 azeie; para feridas he muito estimado, e tira iodo sinal. Tambm
serve para as candas e arde bem; os animaes,
sentindo sua virtude, se vm esfregar nellas; ha
grande abundncia, a madeira no vai nada.
Ambaigba. Estas figueiras no so muito
grandes, nem se acho nos matos verdadeiros, mas
nas copueras, onde esteve roa; a casca desta figueira, raspando-lhe da parte de dentro, e espremendo aquellas raspas na ferida, pondo-lhas em cima, e atando-as com a mesma casca, em breve sara. Dellas ha muita abundncia, e so muito estimadas por sua grande virtude; as folhas so speras, e servem para alisar qualquer po; a madeira
no serve para nada.
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Cl)
Enwnartlts.
na cnin nmniiscripta.
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rija como hum pao que he a semente; so das melhores contas que se podem haver porque so
muito eguaes, e muito pretas, e tem hum resplandor como de azevicbe; a casca que cobre estas contas amarga mais que piorno (1), serve de sabo,
e assi ensaboo como o melhor sabo de Portugal.
(D
1309.
Alves,
em Purchas
his Pilgrimes.
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para o figado que a elle se attribue no haver entre elles doentes de figado. Certo gnero de Tapuyas come a mandioca peonhenta crua sem lhe
fazer mal por serem criados nisso.
Os ramos desta erva, ou arvore so a mesma
*%emente, porque os paos delia se planto, as folhas, em necessidade, cozidas servem de mantimento.
Nan. Esta erva he muito commum, parece-se com erva babosa, e assi tem as folhas, mas
no to grossas, e todas em redondo esto cheias
de huns bicos muito cruis; no meio desta erva
nasce huma fructa como pinha, toda cheia de flores de varias cores muito formosas, e ao p desta
quatro, ou cinco olhos que se planto; a fructa he
muito cheirosa, gostosa, e huma das boas do mundo, muito cheia de sumo, e gostoso, e tem sabor
de melo, ainda que melhor, e mais cheiroso:
he boa para doente de pedra, e para febres muito
prejudicial. Desta fructa fazem vinho os ndios
muito forte, e de bom gosto. A casca gasta muito
o ferro ao aparar, e o sumo tira as nodoas da roupa. Ha tanta abundncia desta fructa que se cevo
os porcos com ella, e no se faz tanto caso pela
muita abundncia: tambm se fazem em conserva, e cruas desenjoo muito no mar, e pelas manhs com vinho so medicinaes.
Pacoba. Esta he a figueira que dizem de
Ado, nem he arvore, nem erva, porque por huma
parte se faz muito grossa, e cresce at vinte palmos em alto; o talo he muito molle, e poroso, as
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TRATADOS DA TEIUA E G E N T E DO B R A S I L
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zes lhes toco, tantas tornam a murchar-se, e tornam em seu ser como dantes.
Outras muitas ervas ha. como oregos, e poejos, e outras muitas,floras varias, porem parece
que este clima, ou pelas muitas guas, ou por causa do sol, no influe nas ervas cheiro, antes parece
que lh'o tira.
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como a de vacca, e assi se faz em traalhos e chacina, e cura-se ao fumeiro como porco, ou vacca,
e no gosto se se coze com couves, ou outras ervas
sabe vacca, e concertada com adubos sabe a carneiro, e assada parece no cheiro, e gosto, e gordura porco, e tambm tem toucinho.
Este peixe nas feies parece animal terrestre, e principalmente boi: a cabea he toda de boi
com couro, e cabellos, orelhas, olhos, e lingoa; os
olhos so muito pequenos em extremo para o corpo que tem; fecha-os, e abre-os, quando quer, o
que no tm os outros peixes: sobre as ventas tem
dous courinhos com que s fecha, e por ellas resfoega; e no pode estar muito ' tempo debaixo
dgua sem resfolegar; no tem mais barbatana
que o rabo, o qua he todo redondo e fechado; o
corpo he de grande grandura, todo cheio de cabellos ruivos: tem dous braos de comprimento de
hum covado com suas mos redondas como ps, e
nellas tem cinco dedos pegados todos huns conr
os outros, e cada hum tem sua unha como huma^
na; debaixo destes braos tm as fmeas duas mamas com que criam seus filhos, e no parem mais
que hum; o interior deste peixe, e intestinos' so:
propriamente como de boi, com fgados, bofes, &.
Na cabea sobre os olhos junto aos miolos tem;
duas pedras de bom tamanho, alvas, e pesadas;*
so de muita estima, e nico remdio para' dor de
pedra, porque feita em p e bebida em vinho, ou
gua, faz deitar a pedra, como aconteceu que darido-a a huma pessoa, deixando outras muitas exp-
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TRATADOS DA TL.IIRA I
G E N T E no
BRASIL
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ha muitos, s e tainhas em grande multido, e temse achado que a tainha fresca posta a carne delia
cm mordedura de cobra he outro unicornio. No
f ai to garopas, chicharros, pargos, sargos, gorazes, dourados, peixe agulha, pescadas, mas so
raras; sardinhas como as de Espanha se acho em
alguns tempos no Rio de Janeiro, e mais partes do
sul; cibas, e arravas; estas arrayas algumas dellas
tm na boca dous ossos to rijos que quebram os
bzios com elles.
Todo este peixe he sadio c nestas partes que
se come sobre leite, e sobre carne, e toda huma
quaresma, c de ordinrio sem azeite nem vinagre,
e no causa sarna nem outras enfermidades como
na Europa, antes se d aos enfermos de cama,
ainda que tenho, ou eslejo muito no cabo.
Bala.
Por esta costa ser cheia de muitas
bahias, enseadas e esteiros aodem grande multido de balas a estes recncavos, principalmente
de Maio at Setembro, em que parem, e criam seus
filhos, e tambm porque aodem ao muito tempo
que nestes tempos he nestes remansos; so tantas
as vezes (pie se vem quarenta, e cincoenta juntas,
querem dizer que cilas (leito o mbar que acho
no mar, e de que tambm se sustento, e por isso
se acha algum nesta costa; outros dizem que o
mesmo mar o deita nas praias com as grandes tempestades e commumente se acha depois d'algumH
grande Todos os animaes comem deste mbar, e
he necessria grande diligencia depois das tempestades para que o no achem comido. He muito
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grapho.
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DOS MARISCOS
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Polvos. O mar destas partes he muito abundante de polvos: tem este marisco hum capello*
sempre cheio de tinta muito preta; e esta he sua
defesa dos peixes maiores, porque quando vo*
para os apanhar, boto-lhes quella tinta diante
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FERNO
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1.316.
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C AR D I M
v a s ; e os p o r t u g u e z e s d a v o a n t i g a m e n t e hum
c r u z a d o p o r h u m ; so to alvos c o m o marfins, e
de largo m u i t o s delles t m dous p a l m o s , e hum
de c o m p r i m e n t o .
Piriguay. Estes se c o m e m t a m b m , e dasi
cascas fazem sua contaria, e p o r t a n t a s braas do
h u m a p e s s o a ; destes b o t a as vezes o m a r fora serras, cousa m u i t o p a r a v e r . De bzios e conchas
h a m u i t a q u a n t i d a d e n e s t a t e r r a , m u i t o galantes,
e p a r a estimar, e de v a r i a s espcies.
Coral branco. Acha-se m u i t a p e d r a de cor a l b r a n c o debaixo do m a r ; nasce como as arvof
r e z i n h a s t o d a e m folhas e c a n u d o s , como coral ver-.;
m e l h o d a n d i a , e se este t a m b m o fora, houvera 5
g r a n d e r i q u e z a nesta t e r r a p e l a m u i t a abundncia
q u e h a delle. H e m u i t o alvo, tira-se com difficulxlade, e t a m b m se faz cal d e l l e .
Lagostins. H a g r a n d e q u a n t i d a d e de lagos-;
tins, p o r esta costa estar q u a s i t o d a cercada de arrecifes, e p e d r a s ; t a m b m se a c h o muitos ourios e outros m o n s t r o s , p e l a s c o n c a v i d a d e s das mesm a s p e d r a s . . . (7) ou lagostas g r a n d e s , como as
da Europa, parece que no h a por c.
./.
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ros trazer novas dos navios terra, e so to certos nisto que raramente falto. porque como se
vem, de ordinrio dabi a dous ou trs dias chego
os navios.
Guar. Este pssaro he a prpria Gaivota
t!e Portugal; seu comer ordinrio so amejas, e
porque so duras, e as no podem quebrar, levonas no bico ao ar, e deixando-as cair muitas vezes
as quebro e comem. Destas gaivotas ha infinidade de espcies que coalho as arvores c praias.
Guigraioto. Esta ave se chama em portuguez Tinhosa, chama-se Guigratoo, s e pssaro que tem accidentes de morte, e (pie morre e torna a viver, como (piem tem gotla coral, e so to
grandes estes accidentes que muitas vezes os acho
os ndios pelas praias, os tomo nas mos, e cuidando que de todo esto mortos os boto por abi,
e elles em caindo se alevanto e se vo embora*
so brancos e formosos, e destes ha outras espcies que tm os mesmos accidentes.
Calcamar. - Estes pssaros so pardos do
tamanho de Rolas, ou Pombas; dizem os ndios
naturaes que pem os ovos, e abi os tiro, e crio
seus filhos; no voo, mas com as azas e ps nado sobre o mar mui ligeiramente e adivinho
muito calmarias e chuveiros, e so tantos nas calmaria:; ao longo dos navios que se no podem os
marinheiros valer e so a prpria mofina e n u lenol ia,
Ayaya. Estes pssaros so do tamanho de
Pega-, mai; brancos pie vermelhos, tm cr gra-
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(.H) Ao ms. falta o seguimento, que vem em Purchas his Pilurimcs, vol. IV, ps. 1.318: "Many others kinds
of snakes thiii' bc in the nvers of fresh water. which I
c m - for brevities sake, and because there is nothing in
particular that can be saicl of them.'
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muitas castas, como beboras, figos negraes, berjaotes, c,outras muitas castas: e at o Rio de Janeiro que so terras mais sobre quente do duas
camadas no anno.
Marmelleiros. No Rio de Janeiro, e So Vicenle, e no campo de Piratininga se do muitos
marmellos, e do quatro camadas huma aps outra, e ha homem que em poucos marmelleiros colhe dez, e doze mil marmellos, e aqui se fazem
muitas marmelladas, e cedo se escusaro as da
Ilha da Madeira.
Parreiras. Ha muitas castas d"uvas como
ferraes, boaes. bastarda, verdelbo, galego, e outrs muitas, at o Rio de Janeiro tem todo o anno
uvas se as querem ter, porque se as podo cada
mez, cada mez vo dando uvas successivas. No
Rio de Janeiro, e maxim em Piratininga se do
vinhas, e carrego de maneira que se vem ao cho
com ellas, no do mais que huma novidade, j
comeo de fazer vinhos, ainda (pie tm trabalho
fcm o conservar, porque em madeira fura-lha a
broca logo, e talhas de barro, no nas tm: porem
busco seus remdios, e vo continuando, e cedo
haver muitos vinhos.
Ervas. No Rio de .Janeiro, e Piratininga ha
niujtas roseiras, somente de Alexandria, destillo muitas guas, e fazem muito acar rosado
para purgas. e para no purgar, porque no tm
das outras rosas; cozem as de Alexandria n v agua,
o botando-lha fora fazem acar rosado mui'
bom com (pie no purgo.
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N OT A S
1 Neste capitulo trata Cardim dos mammifcros indgenas do Brasil. So os seguintes na ordem cru que vm
descriptos:
SUGOAU', ou suci, nome com que os tupis designavam o veado, composto de o animal, gua ou a
grande: o animal grande, a caa mais avultada. Suafuapra o Odtcuclus suaaupra, Kerr, o veado galheiro
ou dos mangues da synonymia vulgar; o Dicewnario
PortUfiuez, c Brasiliano consigua o vocbulo sutiufiara cora
a significao de veado de cornos; apara, como adjectivo,
quer dizer o que verga, vergado, curvo, contorto. - As
outras espcies :i que se reporta o autor referem-se ao gnero Mazama. Carios graphia usada pelos autores ospanhes para o nonie da tribu tupi-guarani dos Cnrijs,
que dominava o litoral brasileiro de Cananca para o Sul.
TADYRET. ou anta, ungulado perissodactylo da
famlia dos Tapirideos (Tapirus americanas, Briss.), o
maior animal terrestre da nossa fauna. Tapiiret em
Piso c M a regra v. O nome tupi susceptvel de varias
explicaes, mas nenhuma satisfactoria; o suffixo et
verdadeiro, legitimo, serviu para differenar o ungulado
do bovino, que os tupis s conheceram depois do c o n t a d o
europeu, c ao qual chamaram tapyra.
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SAHIU:. sarlgur, sarui-, mncra e gamb, nomes todos esses que na synonymia popular designam as
espcies maiores de marsupios da familia dos Didelphiideos. particularmente o Didelphis nurito, Linn. Serigo cm G. Soares; sarigueya em Marcagrav. A palavra
tupi vem de o-r-igu, animal de sacco ou bolsa, com refterenria particularidade anatmica que caracteriza essa
classe de mammifcros, e que o autor descreve. O sariguc foi assignalado desde o anno de 1 filio. Vicente Yanez
Pinzon, em sua viagem de princpios daqtelle anno, achou
nas costas da Guyana uma sarigti femea com seus filhotes, c levou-a para a Espanha. O facto foi referido por
(irinu-us, em seu Votais Orbis (1.~>.'J2); virdo, na Historia
natural y general de Ias ndias (1 f>.'f>), descreveu o animal,
que desde logo passou a figurar com o seu nome indgena
cm todos os tratados das regies americanas.
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COATI, cuati, carnvoro da familia dos Procyonideos, da qual habita o Sul do Brasil o Nasua naripa, Linn.,
e o Norte o Nasua nasua, Wied, bem pouco differentes entre si. Baptista Caetano explica o nome tupi por qua
ponta, e ti nariz: nariz de ponta, nariz pontudo, focinho.
GATOS BRAVOS, ou gatos do mato, designao collectiva para os Felideos menores do gnero Felis.
IAGUARUU',
jagura-gua,
ou simplesmente
guar, como por abreviao se diz no Brasil, o Canis jubatus, Desm., da familia dos Canideos, da qual o maior
dos representantes. Chamam-no tambm cachorro do
mato. Conforme o Catalogus Mammalium, de Trouessart;;
115
<Paris, 1898), alem da espcie citada, encontram-se no Brasil as seguintes: Canis eanrrioorus, Desm., C. microtis, Mivarl, C. azarar, Wied, C. urosliclus, .Mvart, C. parvidens,
Mivart. e C. venalicus, Lund. O nome tupi vem de jaguar co, ona, e u por au grande.
- TAPIT, roedor da familia dos Leporideos (Lepus
brasilirnsis, Briss.), tambm chamado impropriamente coelho ou lebre. Tapotim em G. Soares; lapeti era Piso e
Marcgrav. - - Na astronomia dos tupis maranhenses, segundo Abbevillc, era o nome de uma constellao, talvez
a constellao austral da Lebre. Etymologicamente,
difficil de explicar
I.VGUACI.VI, f/tiaxinim,
carnvoro da familia dos
Procyonideos (Proci/ait cancriuorus,
Cuv.). Tambm
chamado mopcllada. - T h . Sampaio explica o nome tupi
por gna-chini, o que rosnn, o roncador, alhiso ao habito
do animal de rosnar ou roncar quando se lhe toca na
cauda.
- BIARATACA, jaritalca. marilatca, carnvoro Ia
familia dos Mustcdeos (Conepatus suffaraus. Azara).
Tambm chamado cangamb e /.orillio. -- Em Piso, biaratacca. O nome especifico deve o animal secreo anal
que expclle para defender-se, de tal sorte nauseabunda.
que afugenta os perseguidores. Arthur Neiva e Belisario
Penna, em sua Viagem seientifica, publicada nas Memrias do Instituto Osiaaldo Cruz, t. VIII, 19115, referem
ter apanhado vivo um exemplar do Conepatus
suffocans,
que se defendia terrivelmente com as ejaculaes esverdinhadas que lanava distancia, afastando os ces e
obrigando a mais de unia pessoa a abandonar a luta; um
camarada pie mais se afanara em arrancar o anima! do
eo de uma emlnirana, onde se abrigara, teve de deitar-se
completamente nauseado. Verificaram aquelles naturalistas que a substancia que d secreo o repellente cheiro
116
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117
participio do verbo ;/, o que come. comedor. O vocbulo tupi desappareceu da nomenclatura popular
CANINNA, da familia dos Colubrideos
(Spilotes pullatus, Linn.). - - Em (i. Soares, caninam. Difficil de interpretar.
BOITIAPO, cobra tlc sijx',, da familia dos Colubrideos (Herpetorfryas
fuscas, I.inn.) Em (.. Soares.
Iiidtiapoia. Com essa cobra aoitavam os ndios as cadeiras das mulheres estreis, como refere Cardim c confirmam outros autores. O nome tupi. que no prevaleceu, seria bi-ti-apu, cobra de focinho redondo.
ou cobra-preta,
clactiu, Daud)
da familia
De boi
III
Entram neste capitulo as cobras que tm peonha. que so as seguintes:
.! \RARAI A. da familia dos Viperideos
(Lachesis
lanceolatus, I.acep.). Km (i. Soares, gereraca.
Para
Baptista. pode derivar-se o nome de yara-rog, que envenena a (piem agarra.
JARARACCI
raeu, Lacerda). -
[f.achesis
u grande.
jara-
118
FERNO
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IGBIGRACU, espcie tambm de difficil identificao, porque o nome desappareceu. G. Soares d ubiraco, que a Varnhagen parece a Natrix
punctalissima,
Spix. Martius, nos Glossrio, define: "serpens venenosus rufus, arbores scandens" O nome tupi.
;
IGBIGBOBOCA, ibibobca,
ou cobra-coral,
da familia dos Colubrideos (Elaps marcgravi, W i e d ) . Em
G. Soares ububoca. P a r a Martius, nos Glossaria: "serpens in terra babitans". Baptista Caetano deduz o nome de mbi-iby-pe
babac, cobra enroscada no cho. A
designao tupi caiu em desuso, substituda por cobracoral, ou bacor, como estropiam os caipiras do Sul.
119
Etymo duvidoso: se fr tupi, pde ser ara por guir pssaro, exprimindo o frequentativo ar-ra pssaro grande,
orno acontece muitas vezes na lingua; mas note-se que
no aymar arara significa fallador, palrador.
ANAPUIU
nome de Psiltacideo difficil de identificar. No vem mencionado cm G. Soares, nem em Piso
e Marcgrav; mas Gandavo a elle se refere, dizendo que
em commercio entre os indios valia cada um de dois a
trs escravo,.
120
FERNO
CARDIM
'-t
GUIGRANHENGET, guir-nheenget,
da familia:
dos Tyrannideos
(Taenioptera
hengeta, Linn.) De
guir pssaro, nheeng fallar, et m u i t o : pssaro que falia,
ou canta muito. O nome desappareceu para dar lugar a
gronhat ou grunhat, por agglutinao. Pombinha das
almas e Maria-branca so tambm nomes populares dessa
ave; nas republicas platinas chamam-na pepoas, do tupiguarani pep aza, e a atravessada, o que accorde com
o nome genrico Taenioptera.
-*- TANGAR, nome commum a diversas aves da fa-;
milia dos Piprideos, > especialmente applicados Chiroxiphia caudata, Sw., t a m o t m chamada danador. A
Goeldi parece que Linneu adoptou a palavra indgena
tangar, empregando-a com inverso de letras para formar o nome Tanagra. De at andar, cara em volta: o
que anda aos saltos, o que dana aos saltos, o pulador,
conforme T h . Sampaio.
QUEREIU, quiru, d familia dos Cotingideos
(Cotinga cineta, Kuhl). - Em G. Soares, quereju; Piso
a .Marcgrav guira-quere.
plicar.
121
122
FERNO
CARDIM
caju, frueto,e arvore da familia das Anacardiaceas (Anacardium oceidentle, Linn.) = Ha outras.
espcies. O nome acaj reserva-se hoje para a Cedrela
guyanensis, J., da familia das Meliaceas, que vejeta na
Amaznia. Do tupi ac caroo, e suffixo yu, por y-ub,
que d, que tem. Segundo Baptista Caetano, desconhecida
no Sul e no Paraguay, e por isso s usado em diecionarios
tupis, onde tambm designa estao, anno. Ao vinhoque faziam do sumo do caju chamavam cauim, que Lry
escreveu caou-in e Hans Staden kaawy;
a significao1
do vocbulo extende-se bebida fermentada feita do milho mastigado.
MANGBA, frueto e arvore da familia das Apocynaceas (Hancornia speciosa, Gomez) Arruda Cmara, que descreveu a arvore, denominou-a Riberia sorbis,
em honra ao padre Joo Ribeiro, da revoluo pernambucana de 1817. Em G. Soares, mangaba; em Piso e
Marcgrav, mangaiba e mangahiba. De m-guaba, cousa;
de comer T h . Sampaio.
Mucuo, mucug, macug, em Purchas his Pilgrimes, vol. IV, ps f 1307, mucuruje,
da mesma familia
(Couma rigida, Mll. Arg.) Caminho chamou-a Cou-
ma moetigc.
doso.
123
124
FERNO
CARDIM
Coniferas (Araucria
CUPAIGBA, COPAHIBA, da familia das Leguminosas, sub-familia das Caesalpinaceas (Copahiba langsdorffii, Desf.) Lery foi quem primeiro a descreveu, dandolhe o nome indgena: "Plus un qu'ils nomment copa-ii^
lequel outre que Farbre sur le pied ressembre aucuneniit
au noyer, sans porter noix toutesfois..." Em G. Soares, copiuba; em Marcgrav, copiiba. De etymo incerto.
AMBAIGBA, ambahiba, embaba, imbaba, da fa^
milia das Artocarpaceas (Cecropia adenops, Mart.) Ha
outras espcies. Em Piso e Marcgrav, ambaiba. De
amb co, yba arvore. Veja Baptista Caetano ndios i
do Brasil, verba figueira.
4
AMBAIGTINGA, imbaba-branca,
da familia das
Artocarpaceas (Cecropia palmata, Willd.) Em Piso,
125
ambaiba-tinga. Monardes citado c o medico e naturalista espanhol Nicols Monardes, nascido em Sevilha em
1493 e fallecido na mesma cidade em 1588. Nunca atravessou o Oceano; mas dedicou-se com rapenho ao estudo
das produces naturaes da America, que obtinha por intermdio dos viajantes. Desse modo conseguiu formar
um pequeno museu de Historia Natural, que foi dos mais
antigos da Europa, pois j existia cm 15r>4 . A principal
de suas obras intitula-se: Primcra IJ segunda y lercera
partes de Ia Historia medicinal de Ias cosas que se traem
de nuestras ndias Oceidentales, que sirven en Medicina,
etc. (Sevilla, 157-1), onde se acham reunidos diversos tratados anteriormente dados estampa. A primeira parte
foi publicada em 15G5 e depois em 1569; a segunda em
1571. A' primeira refere-se Nicols Antnio, na Bibliotheeae
Hitpanae, vol. II, p s . 122, citando a <d>ra De Ias Droaas
de Ias ndias (Sevilla, 1569). A obra de Monardes foi vertida em latim por Clusius, sob o titulo Simplicium
medlcamentorum in ndia Xascentium
(Amberes, 1671). havendo outra lio de 1582. l.inneu, para honrar a memria do sbio espanhol, deu o nome de Monarda a uni
gnero de plantas. A referencia de Cardim encontrasc li fl. 6 v. da primeira parte do livro de Monardes,
fquando trata do azeite da figueira do inferno: "Tiene este
a/.eyte grandes virtudes, como se lia visto por ei uso dei,
assi en Ias ndias como en nuestras partes, y todo Io que
djre, cs con muy grande experincia, y mucho uso dei,
en diversas personas."
O exemplar consultado dessa
rarissima obra pertenci' bibliothcea do Instituto Historiro.
I(HA:AMLI:I, nrbor ignota, segundo Martins.
Em Marcgrav iba-ca/nuci. - De yb fmeta, cambucy ou
canmcy pote: pote de fructa, conforme descripo do
autor.
126
FERNO
CARDIM
CURUPICAIGBA,
binthacea, que no
mente.
127
arbusto
difficil
de
identificar
AiuuUATUiiiRA, arvore ou arbusto nas mesmas
condies.
AIARUTIPIGTA, jabotapila,
em Piso e Marcgrav.
Segundo Martius a Gomphia paruifloru, DC.
IANIIWHA, genipapo.
frueto e arvore da familia
das Hubinceas (Genipa americana, Linn.)
Km Marcgrav, janipaba. O nome tupi explica-se por nhandipab
ou jafxdipab, frueto de esfregar, ou que serve para pintar,
conforme Baptista Caetano e de ccordo com o destino
que davam ao frueto ainda verde
IKQUIGTIYC.OAU . que deve ser o saboeiro,
da
familia <las Sapindaceas (Sapindus
divaricatus, YVilI. &
Camb.) - A casca polposa do frueto, esfregada n"agua.
produz espuma, c c empregada como sabo para lavar
roupa; as sementes servem para botes. Segundo o texto,
serviram para contas, e eram das melhores por serem
muito eguaes. - Difficil de explicar o nome tupi da arvore; mus note-se que quity esfregar, limpar, e o participio quityca. podem applicar-se s arvores a que chamam
vulgarmente saponarias.
128
FERNO
CARDIM
129
De sua occurrencia no Brasil parece que informao singular a de Cardim. Segundo o Conde de Ficalho,
em nota aos Colloquios de Garcia da Orla. o nome aguilla
procede do hindi e deckani agar e aghir, e deu talvez
lambem o malyalam gil ou agila; essas palavras, adojgadas pelos portuguezes, foram por elles muito usadas
nas frmas aguila e pu de aguila; e convertida por engano aguila em aquila, deram depois os nomes modernos
francez e nglez de bois d'aigle e eagle-wood, sem que a
madeira tenha a mais remota relao com as guias.
CEDRO, da familia das Meaceas (Cabralea laevh, DC.) Na Flora brasileira contam-se 5 gneros e 130
espcies dessa familia.
PAu D'ANGI:I.IM, OU aiujclim, da familia das Leguminosas, sub-familia das Caasalpinaceas
(Machaerium
helcroptenium, Fr. AH.) Outras espcies se enquadram
nn sub-familia das Papilionaceas.
Noz MOSCADA, ou melhor noz mascada, especiaria de procedncia asitica, produzida pela Myristica
fragrans, Houtt., da familia das Myristicaceas. - O. Soares no a menciona entre as arvores de Espanha que se
do na Bahia.
X
Neste capitulo figuram, um pouco desordenadamente, alguns wgctacs teis. So os seguintes:
130
FERNO
CARDIM
131
Ic.rECACAYA, ipccaciicnha,
da ianiilia das Hubiaccas (l'sychotrin
ipecuanha, Baill.t tia outras espcies. De ypeg-aqui, an.seris penis, segundo Baptista
Caetano, pela forma que assume a raiz da planta.
CAYAPI, caapitt, cnpi. da familia das Artocarpaceas (DoTstenia brasiliensis, I.am.)
Ha outras espcies.
- Km G. Soares caapi. "como o gentio chama, e os portugueses malvaisco "; o maiimiseu, entretanto, e uma Piperacca.
De caa herva, apta testculos: herba testiculi, ob
fortnam radieis. - Martius - Glossrio, ps. 388. Como
antdoto de toda sorte de veneno, maxim Ia peonha de
cobra, o autor compara u eayapi s seguintes drogas
asiticas:
132
FERNO
CARDIM
133
GOEMBEGOAU', Quemb-gua.
imb-yiia.
da
134
FERNO
CARDIM
135
graveolens.
M\I.VAIS(O:
(Apium
caijupi.
136
FERNO
CARDIM
malcia
de mulher,
da fa-
milia das Leguminosas, sub-familia das Mimosaceas (Mimosa sp.) -^ Orego e poejo so plantas da familia das
Labiadas (Mentha piperita, e M. pnlegium, Linn.)
XIII Neste capitulo, referido s cannas indgenas,
trata somente da seguinte espcie:
TACORA, taquara, da familia das Grammineas
(Chusquea gaudichaudii,
Rtinth). o nome tupi explicase p o r t-quara, haste furada, ou cheia de buracos, conforme T h . Sampaio.
XIV Neste capitulo so descriptos os peixes de
mar, que so vrios e se seguem:
PEIXE-BOI, cetceo da familia dos Manatideos
(Manatus australis, Tilesius). A espcie amaznica, que
hoje a mais commum, M. inunginis, Natterer. Em G.
Soares, goarago, melhor guaragu, que se traduz por
gura-gura, come-come, comilo, ou ainda por ygu-rgu, morador em enseadas, do habito do cetceo.
137
Oi.no iE RO, da familia dos Carangidcos (Serola Mandei, Cuv. & Vai.), que attinge a grandes dimenses. Em G. Soares tapyrsi, que "quer dizer olho de
boi"
de tapyra boi, e olho.
CAMfiiteie,, camurupi ou eamarupim, da famlia dos Clupeideos (Megalops thrissoides, BI. & Schn.)
Em Gandavo, camburopim;
em G. Soares, camuropi; cm
Abbcvillc, ramouroupoug.
K' o pirapema do litoral do
Norte do Brasil.
Nome tupi difficil de explicar.
da familia dos Hcrmulideos
nobilis, Linn.) O nome tupi piramb signironcador, que ainda prevalece na s\nonymia
simplesmente roncador. Em Purchas bis
vol. IV. ps. 1313, vem piraembu.
PEIXE SI I.VAGKM,
(Cnnodon
fica peixe
vulgar, ou
Pllgrimes,
gladius,
TAHIAIUCA,
nhos, mal colioeado
espcie do gnero
propores; talvez a
exagero, quando diz
vantar do c h o . .
[Xiphius
138
FERNO
CARDIM
BOTOS E T U N I N H A S
(toninhas),
cetceos da fa-
ronectideos.
XV. Neste capitulo encontram-se os peixes peonhentos seguintes:
PEIXE SAPO
ou
guamayac,
139
- TEREPOMONGA.
Parece tratar-se aqui da sanguessuga, verme Ia familia dos Hirudinideos. - O adjeclivo tupi pomong quer dizer pi^ajoso, viscoso, que pega
h
ou gruda.
XVI.
Este capitulo oecupa-sc exclusivamente dos
hoWns marinhos, ou monstros do mar. A lenda pertence
ao mesmo cyclo de ideas que produziu os trites, as sereias, as mes d'iigua e outros seres phantasticos. Os autores antigos, que trataram do Brasil, Gandavo, Gabriel
Soares, frei Vicente do Salvador, padre Joo Daniel c
Barlaeus, referem-se ao homem marinho, que descrevem
similhantemcntc; delles, manifestam-lhe o nome indgena: Gandavo - Historia da Provncia Santa Cruz (Lisboa, 1576) fls. 32 - "os ndios <\.\ terra lhe chamam em
sua lingua Hipupira, pie per dizer demnio d'agua";
Gabriel Soares
Tratado dcscriplino do Brasil (Bio de
janeiro, 1851) ps. 280 - "no ha duvida seno que se
encontram na Bahia e nos recncavos delia muitos homens marinhos, a que os ndios chamam pela sua lingua
upupiara"; Barlaeus
Rerum per oeteninum in Braslia (Amsterdam, 1647) ps. 131 - "sunt Tritonis indigenis ypupiaprie dicti. rum humanos vultus aliqu referant, et femelln? esrsariem ostentent fluidani et faciem elegantiorem." - - O nome tupi serve de prova de que a idea
era familiar s gentes lesse grupo importante. Sua etymologia consigna
Baptista Caetano em upypeara. ou
y-pypira, em que apparcrem os elementos ;/ gua, e pypim de dentro, do intimo: > que c de dentro Pagua. o
que vive no fundo Pagua, o aqutico; o nome era tambm nttribuido a peixes, especialmente baleia.
Para o editor Ia tradueeo franeeza do livro de
Gandavo na collcero de llenri Ternaux, o monstro provocador das assaltadas, que narram os autores citados,
seria provavelmente alguma phoca de tamanho extraordinrio; para Varnhagen, o eommentador de Gabriel Soa-
140
! FERNO
CARDIM
Purchas
apula.
ARATU',
soni, M. E d w ) .
141
PIRAGCAY, perigoari ou pregoar, mollusco prosobranchio marinho da familia dos Strombideos (Strombus pugilis, Linn.) Km G. Soares, perigou.
CoRAL-HHANoo, assim se denominam os organismos formados por colnias de polypos sobre esjueIetos
calcareos em geral arborcscente.s.
LAGOS 11 NS, crustceos marinhos da familia dos
Scyllarideos.
XIX. Do conjunto vegetal formado pelos mangues, que o autor descreve neste capitulo, os component e s principais so: o mangue vermelho
(Rhizophora
\ttwngie, Linn.), da familia das Hhizophoraceas; o man[ Riic manso (Laguncularia
raccina.su, Gaertn.), da familia
i his Goinbretnceas; a siriba (Avicennia ntida, Jaeq.). da
familia das Verbenaceas.
A primeira espcie- a que
despede grand\s raizes adventieias cm frma de trempes,
a que ailude o texto, Nos mosquitos dos mangues, marijiuis, como escreve Cardim, temos o maruim,
meruim
ou nutriiim, da familia dos Chironomideos (Cutu odes
142
FERNO
CARDIM
SARAC'RA, nome commum a diversas aves da familia dos Rallideos. De cara espiga, cur comer, tragar:
o que come ou traga espiga.
GUAR, da familia dos Ibidideos (Eudocimus
ber, L i n n ) . Nome tupi, de etymo discutivel.
TU-
143
XXIV.
Vm neste capitulo os lobos tfagua, carnvoros pinnipedios, da familia dos Otariidcos, habitantes
da regio antaretica, pie de arribao chegam at o Rio
de Janeiro. Destes o Olaria jubata, Korst.. e commum
nas costas de Santa Catharina.
JAUUAIIUC'.
144
FERNO
CARDIM
CAGADOS,
...
145
146
FERNO
CARDIM
Peru; mas certo que a ultima prevaleceu, ao depois reduzida a peru, pela queda natural do determinante. 0
erudito Alfredo de Carvalho, discutindo a origem desse
nome, traou este lcido perodo com que damos por encerrada a digresso: " E ' certo que Portugal nunca teve
relaes directas com o P r ; mas como a introduco
alli da ave, procedente da America Espanhola, teve logarH
ao mesmo tempo em que as faanhas de Pizarro espalhavam pelo mundo o nome dado ao imprio dos Incas,
razovel suppr que proviesse dessa coincidncia a sua
denominao portugueza."
Os adens ou ganos e os ces completam a lista dos
animaes domsticos que vieram de Portugal, segundo
Cardim, aos quaes se devem juntar as pombas de Espanha, que G. Soares no esqueceu, embora lhes fizessem
muito nojo as cobras, que lhes comiam os ovos e os filhos,
pelo que se no podiam crear em pombaes.
Dos vegetaes aliengenas citam-se laranjeiras, cidreiras, limoeiros e limeiras; vm a seguir as figueiras, marmelleiros e parreiras. A mais de Cardim, d G. Soares as
romeiras, as tamareiras, as zambas, palmeiras ou coqueiros e a canna de assucar. Das roseiras havia apenas
a de Alexandria, a Rosa centifolia, de Linneu, a mais antiga que se conhece. O trigo e a cevada davam bem no i
Rio de Janeiro e Piratininga; os legumes do reino e as
hervas cheirosas egualmente vegetavam por toda parte.
E por tudo isso, o Brasil j era outro Portugal, ao
tempo em que escrevia o exceilente jesuta,
RODOLPHO GARCIA.
II
INTRODUCO
(1
edio
de
isxi)
150
FERNO
CARDIM
TRATADOS DA TERRA
E GENTE DO BRASIL
151
Estas d u v i d a s q u a n t o affirmao de P u r c h a s
sobre q u e m era o a u t o r do livro affirmao
alis feita em t e r m o s pouco positivos, - cresceram m e d i d a q u e conhecemos m e l h o r o opusculo
traduzido por elle. A cada instante e n c o n t r a v a mos phrases e locues f a m i l i a r e s ; a cada passo
nos parecia que j t n h a m o s lido cousa <;ue se
assemelhava ao que e s t v a m o s l e n d o .
0 autor de q u e m nos l e m b r v a m o s lendo Purchas era F e r n o C a r d i m . E e n t o veio-nos ao espirito uma i n t e r r o g a o : quem sabe se em vez
de Manuel T r s t o no ser F e r n o C a r d i m o autor deste o p u s c u l o ?
Para chegar a u m a soluo as provas intrnsecas eram sem duvida valiosas, porem no bastavam: era preciso recorrer antes s p r o v a s extrinsecas.
Felizmente estas no f a l t a v a m .
I. Diz P u r c h a s q u e o Mss que r e p r o d u z foi
tomado em 1 (>(H por Franeis Cook a um jesuta
que ia paru o B r a s i l . Ora, e x a e l a m e n t c neste
anno, como se pde vr na Synopsis de F r a n c o , o
padre F e r n o C a r d i m , que voltava para o Brasil
da viagem a Iioma, foi a p r i s i o n a d o por corsrios
inglezes e conduzido p a r a I n g l a t e r r a .
II. Pelu pagina 195 deste opusculo se v que
elle foi eseripto em I5S1. Ora, neste tempo estava
Ferno C a r d i m no Brasil, onde, como se v na
Surraiina epistolar
(ps. 285), elle chegou a 9 de
Maio de l8.'i, em c o m p a n h i a do p a d r e Christo-
152
FERNO
C A R D I M ,
. . p e l a s madrugadas ha
um principal em suas ocas,
que deitado na rede por
espao de meia hora, lhes
prega e admoesta que vo
trabalhar, como fazio seus
antepassados, e distribueIhes o tempo, e depois <le
alevantado continua a pregao, correndo a povoao toda.
(ndios, ps. 166-167).
153
no me
Nesta asa in o r a um
principal, ou mais, a que
todos obedecem e so, de
ordinrio, parentes: e em
cada lano destes pousa
uni casal com seus filhos e
familia, sem haver repartimento entre uns c outros,
e entrar em uma destas c
vr um labyrintlio, porque
cada lano tem seu fogo
suas rdc.s armadas c alfaias de uioilo que entrando nella se v tudo quanto tem; e casa ha que tem
duzentas e mais pessoas.
<Indit>s, ps. 169).
154
FERNO
CARDIM
Compare-se mais;
E' cousa no somente
nova, mas de grande espanto, vr o modo que tm
em agasalhar os hospedes,
os quaes agasalho chorando por um modo estranho, e a -cousa passa desta
m a n e i r a : Entrando-lhe algum amigo, parente ou parenta pela porta, se homem logo se vai deitar em
sua rede sem fallar palavra, as parentas tambm
sem fallar o cerco, deitando-lhes os cabellos soltos,
e os braos, ao pescoo, lhe
155
ainda:
156
FERNO
CARDIM
TATAI>OS DA TERRA
I: GENTE DO BRASIL
157
Destas arvores ha grande cpia, maxim na Bahia, porque nas outras partes so raras; na feio se
parece com maciira de
anafega c na folha com a
de freixo; so arvores graciosas, c sempre tm folhas verdes. Do duas vezes por anno, a primeira
de boto, porque no (leito ento flor, mas o mesmo boto v a fructa; acabada esta camada que dura
duus ou Ires mezes, d outra, tornando primeiro flor
a qual toda como de jasmim, e de to bom cheiro,
mas mais esperto, a fructa
158
F E R N o
madureiros; do no anno
duas camadas, a primeira
se diz do boto e d flor,
mas o mesmo boto a fructa. Estas so as melhores,
e maiores e vm pelo Natal, a segunda camada de
flor alva como neve, da
prpria maneira que a de
jasmim, assim na feio,
tamanho e cheiro.
(Narrativa, ps. 312).
CARDIM
do tamanho de abrics,
amarella e salpicada de ai
gumas pintas pretas, dea
tro tem algumas pevides
mas tudo se come ou,sorve
como sorvas de Portugal;
so de muito bom gosto/sadias e to leves que por
mais que como parecij
que no comem fructaj
no amadurecem na arvore, mas cahem no cho e
d'ahi as apanho j madui
ras, ou colhendo-as verdeil
as pem em .madureiros::.";
(Purchas, IV, ps. 1307.)
A esses trechos poderamos juntar muitos outros. Poderamos mostrar que na segunda-parte
do Tratado, o autor diz que viajava durante lguas e lguas de mangues, o que est de accrdr
com a Narrativa epistolar; que ainda na segunda
parte do Tratado elle refere-se a bichinhos que
atacam de preferencia aos Europeus chegados de
fresco, o que est de accordo com a Narrativa;
p. 337, onde se l que o padre Christovo de Gouva ficou cheio de postemas em conseqncia das
mordiduras de carrapatos que soffreu em Pernambuco. No o fazemos, porque uma. demo&
strao mais longa dispensvel. A melhor demonstrao s o leitor a pode fazer, comparando;
a encantadora Narrativa com este opusculo^ que
por nossa parte no achamos menos encantador
e aprazvel. Passaremos, pois, a dar conta do,
4
nosso trabalho de editor.
Desde que tomamos a responsabilidade desta,
159
160
FERNO
CARDIM
DE
ABREU.
Kste gentio parece que no tem conhecimento do principio do Mundo, do dilvio parece que
tem alguma noticia, mas como no tem eseripturas. nem caracteres, a tal noticia escura e confusa; porque dizem que as guas afogaro e mataro todos os homens, e que somente um escapou em riba de um Junipaba, com uma sua irm
me estava prenhe, e que destes dois t<"'in seu principio, e que dali comeou sua multiplicao.
(1) Atui they say tliat the Souies are convcrtcd into
ieviis. (Purchas, IV. 1290*.
162
FERNO
,
'
CARDIM
.
1.,
163
outras cousas similhantcs traz aps si todo o serto enganando-os c dizendo-lhes que no rocem,
nem plantem seus legumes, e mantimentos, nem
cavem, nem trabalhem, etc, por que com sua
vinda chegado o tempo em que as enxadas por
si ho de cavar, e os pnicas (3) ir s roas e
trazer os mantimentos, e com estas falsidades os
traz to embebidos, e encantados, deixando de
olhar por suas vidas, c grangear os mantimentos
que, morrendo de pura fome, se vo estes ajuntamentos desfazendo pouco a pouco, at que a
Santidade fica s, ou a mato.
No tem nome prprio com que expliquem
a Deus. mas dizem que Tup o que faz os troves (I) c relmpagos, e que este o que lhes
deu as enxadas, e mantimentos, c por no terem
outro nome mais propOo e natural, chamo a
.Deus Tup.
DOS CASAMENTOS
Entre elles ha casamentos, porm ha muita
duvida se so verdadeiros, assim por terem muitas mulheres, como pelas deixarem facilmente
por qualquer arrufo, ou outra desgraa, que
entre elles acontece.; mas, ou verdadeiros ou no.
164
FERNO
CARDIM
165
(li)
of wine
166
FERNO
CARDIM
167
moesta que vo trabalhar como fizero seus antepassados, e destribue-lhes o tempo, dizendo-lhes
as cousas que ho de fazer, e depois de alevantado continua a pregao, correndo a povoao
toda. Tomaro este modo de um pssaro que se
parece com os falces, o qual canta de madrugada e lhe chamam rei, senhor dos outros pssaros, e dizem elles que assim como aquelle pssaro canta de madrugada para ser ouvido dos outros, assim convm que os prncipaes faco aquellas falas e pregaes de madrugada para serem
ouvidos dos seus.
DO MODO QUE TM EM SE VESTIR
Todos andam nus assim homens como mulheres, e no tm gnero nenhum de vestido e
por nenhum caso nerccundanl, antes parece que
esto no estado de innoceneia nesta parte, pela
grande honestidade e modstia que entre si guurdo. e quando algum homem fala com mulher
vira-lhe ;?s costas. Porm paru sairem galantes,
uso de varias invenes, tingindo seus corpos
com certo sumo de uma arvore (9) com que ficam pretos, dando muitos riscos pelo corpo, braos, etc, a modo !e imperiaes (10).
168
FERNO
CARDIM
Vanitie.
(Purchas, ib.)
TRATADOS DA TERRA
E GENTE DO BRASIL
169
DAS CASAS
Uso estes ndios de umas ocas ou casas de
madeira cobertas de folha (12), e so de comprimento algumas de duzentos e trezentos palmos, e
tm duas e trs portas muito pequenas c baixas;
mostro sua valentia em buscarem madeira e esteios muito grossos e de dura, e ha casa que tem
cincoenta, sessenta ou setenta lanos de 2:1 ou
30 palmos (13) de comprido e outros tantos de
largo.
Nesta casa mora um principal, ou mais, a
que todos obedecem, e so de ordinrio parentes: e em cada lano destes pousa um casal com
seus filhos e familia, sem haver repartimento
entre uns e outros, e entrar em uma destas casas
ver (1 1) um lavarinto, porque cada lano tem
seu fogo e suas redes armadas, e alfaias, de modo
que entrando nella se v tudo quanto tem. casa
ha que tem duzentas e mais pessoas
DA CREAO DOS FILHOS
As mulheres parindo, (e parem no cho), no
levanto a ereanea, mas levanta-a o pai. ou al(12)
(13)
(141
170
FERNO
CARDIM
(Pur-
171
prprios, e agora estimo muito e amo os padres, porque HVos crio e ensina o a ler, escrever
e contar, cantar e tanger, cousas que elles muito
estimo.
(18)
()r w e h c m e .
172
FERNO
CARDIM
m o n i a s conto os h o s p e d e s ao q u e v m . Tan>
b e m os h o m e n s se c h o r o u n s aos outros, mas
e m casos alguns graves, como m o r t e s , desastres
de g u e r r a s , e t c ; t m p o r g r a n d e h o n r a agazaT
l h a r e m a todos e d a r e m - l h e todo o necessrio
p a r a s u a sustentao, e a l g u m a s peas, como arcos, frechas, pssaros, p e n n a s e o u t r a s cousas,
conforme a s u a p o b r e z a , s e m a l g u m gnero de
estipendio.
173
DO MODO QUE TM EM EAZER SUAS ROARIAS E COMO PAGO UNS AOS OUTROS
i
Esta nao n o tem dinheiro com que possuo satisfazer aos servios q u e se lhes fazem, mas
vivem commutalione
rerum e p r i n c i p a l m e n t e a
troco de vinho fazem q u a n t o q u e r e m ; c assim
quando ho de fazer a l g u m a s cousas, fazem vinho e avisando os visinhos, e a p e l i d a n d o toda a
povoao lhes rogo os q u e i r o a j u d a r em suas
roas, o q u e fazem de boa vontade, e t r a b a l h a n do at as 10 h o r a s torno para suas casas a beber
os vinhos, e se aiuelle dia se no a c a b a m as roaria, fazem o u t r o s vinhos e vo outro dia at as
10 horas a c a b a r seu servio; e deste modo uso
os brancos p r u d e n t e s (110. <" que sabem a arte e
maneira dos ndios, e q u a n t o fazem por vinho.
por onde lhes m a n d o fazer vinhos, e os c h a m o
s suas rocas e eanaveaes, e com isto lhes pago.
T a m b m uso de o r d i n r i o , por troco de algumas cousas (20), de contas b r a n c a s que se fazem cie bzios, e a troco de alguns r a m a e s d o
at as m u l h e r e s , e este o resgate o r d i n r i o de
que uso os b r a n c o s p a r a lhes c o m p r a r e m os escravos e escravas que tm p a r a comer
(19)
(20i
-"SI
174
FERNO
DAS JIAS E
CARDIM
'.; r * *
METARAS
Uso estes ndios ordinariamente, principalmente nas festas que fazem, de colares- de bzios,
de diademas de pennas e de umas metaras (21)
(pedras que meiem no beio de baixo) verdes,
brancas, azues, muito finas e que parecem esme-r
raldas ou cristal, so redondas e algumas to
compridas que lhe do pelos peitos, e ordinrio
em os grandes principaes terem um palmo e
mais de comprimento: tambm uso de maniIhas brancas dos mesmos bzios, e nas orelhas?
metem umas pedras brancas de comprimento',de
um palmo e mais, e estes e outros similhantes;
so os arreios com que se vestem em suas festas,
quer sejo em matanas dos contrrios, quer de
vinhos, e estas so as riquezas que mais estimo
que quanto tm.
175
176
FERNO
CARDIM
'
(Pur-
177
DOS SEUS E N T E R R A M E N T O S
So muito maviosos (23) e p r i n c i p a l m e n t e em
chorar os mortos, e logo eomo algum m o r r e os parefttes se Ianeo sobre elle na rede e to depressa
que s vezes os a fogo antes de m o r r e r , p a r e e e n d o lhcs que est morto, e os que se no podem deitar
com o morto na rede se (leito pelo cho d a n d o
grandes baques, q u e parece milagre no a c a b a r e m
com o mesmo morto,e destes b a q u e s e choros fico
to cortados (pie s vezes m o r r e m . Q u a n d o choro
dizem muitas lastimas e magoas, e se m o r r e a primeira noite, (21) toda cila em peso c h o r o em alta
voz, (pie ' espanto no e a n a r e m .
Para estas m o r t e s e choros c h a m o os vizinhos e parentes, e se principal, ajunta-se toda a
aldea a chorar, e nisto tm t a m b m seus pontos
de honra, e aos pie no c h o r o Ianeo pragas, dizendo que no ho de ser c h o r a d o s : depois de
morto o lavo, e pinto muito galante, eomo pinto os contrrios, e depois o cobrem de fio de
algodo (pie no lhe parece n a d a . e lhe m e t e m
uma euga (2) no rosto, assentado o m e t e m em
uni pote que para isso tm debaixo da terra, e o
cobre in de m a n e i r a pie lhe no chegue terra, e
(2;n
CM)
(ll
Wickeil ( P u r c h a s . ib.)
At aveninj ( P u r c h a s , ib.)
CniKTin.u (Purchas, ib.)
178
FERNO
CARDIM
(26)
(27)
179
Antes de terem conhecimento dos Portuguezes usavo de ferramentas e instrumentos de pedra, osso, pau, cannas, dentes de animaes, etc, e
com estes derrubavo grandes matos com cunhas
de pedra, ajudando-se do fogo; assim mesmo cavavo a terra com uns paus agudos e fazio suas
metaras (28), contas de bzios, arcos e frechas to
bem feitos como agora fazem, tendo instrumentos
de ferro, porm gastavo muito tempo a fazer qualquer cousa, pelo que estimo muito o ferro pela
facilidade que sentem em fazer suas cousas com
elle, e esta a razo porque folgo com a communicao dos brancos (2!l).
f/
180
FERNO
CARDIM
181
(Purchas,
182
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CARDIM
trando sua victoria por onde quer que passo. Chegando sua terra, o saem a receber as mulheres
gritando e juntamente dando palmadas na boca,
que recebimento commum entre elles, e sem
mais outra vexao ou priso, salvo que lhes tecem,
no pescoo um colar redondo como corda de boa
grossura, to dura como pau, e neste colar comeo de urdir grande numero de braas de corda
delgada de comprimento de cabellos de mulher*
arrematada em cima com certa volta, e solta em
baixo, e assim vai toda de orelha a orelha por
detraz das costas e fico com esta coleira uma
horrenda cousa; e se fronteiro e pde fugir, lhe
pem em lugar de grilhes por baixo dos giolhos
uma pea de fio tecido muito apertada, a qual para?
qualquer faca fica fraca, se no fossem as guarda;
que nenhum momento se aparto delle, quer v
pelas casas, quer para o mato, ou ande pelo terreLn
ro, que para tudo tem liberdade, e commumente
a guarda uma que lhe do por mulher, e tambm para lhe fazer de comer, o qual se seus senho-.-?
res lhe no do de comer, como costume, toma
um arco e frecha e atira primeira gallinha ou
pato que v, de quem quer que seja, e ningum:
lhe vai mo, e assim vai engordando, sem por
isso perder o somno, nem o rir e folgar como os
outros, e alguns ando to contentes com haverem de ser comidos, que por nenhuma via consentirio ser resgatados para servir, porque dizem|
que triste cousa morrer, e ser fedorento e comido de bichos. Estas mulheres so commum-
183
184
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CARDIM
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FERNO
CARDIM
18?
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FERNO
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CARDIM
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.,j
(32)
(33)
BRASIL
189
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CIO
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FERNO
CARDIM
(37)
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FERNO
CARDIM
T I U T U I O S DA
11 niiA i. G E N T E DO B R A S I L
193
(411)
(41)
Hroiiiuerape ( P u r c h a s , ih.)
A m c n d u i n s ( P u r c h a s , ib.)
194
FERNO
CARDIM
DA DIVERSIDADE DE NAES E L I N G U A
M
Em toda esta provncia ha muitas e varias
naes de diffcrentes lnguas, porm uma a prinV
cipal que comprhende algumas dez naes de
ndios: estes vivem na costa do mar, e em uma
grande corda do serto, porm so todos estesde
uma s lingua ainda que em algumas palav^i
discrepo e esta a que entendem os Portuguezes;
fcil, e elegante, e suave, e copiosa, a difficuf|
dade delia est em ter muitas composies (42);
porem dos Portuguezes, quasi todos os que vmi
do Reino e esto c de assento e communicalbi
com os ndios a sabem em breve tempo, e os filhos
dos Portuguezes c nascidos a sabem melhor que
(42)
195
196
FERNO
CARDIM
que sendo elles amigos dos Potyguaras (44) e parentes os Portuguezes os fizero entre si inimigos,
dando-lhos a comer, para que desta maneira lhes
pudesse fazer guerra e te-los por escravos, e finalmente, tendo uma grande fome, os Portuguezes
em vez de lhes acodir, os captivaro e mandaro
barcos cheios a vender a outras Capitanias: ajuntou-se a isto um clrigo Portuguez Mgico, que
com seus enganos os acarretou todos a Pernambuco, e assim se acabou esta nao, e ficando os
Portuguezes sem vizinhos que os defendessem dos
Potyguaras (45), os quaes at agora que foro desbaratados, perseguiro os Portuguezes dando-lhes
de supito nas roas, fazendas, e engenhos, queimando-lhos, e matando muita gente portugueza,
por serem muito guerreiros; mas j pela bondade
de Deus esto livres deste sobroco.
Outros ha a que chamo Tupinaba: ejstes habito do Rio Real at junto dos Ilhos; estes entre
s i e r o tambm contrrios, os da Bahia com os do
Camamu e Tinhar (46).
Por uma corda do Rio de So Francisco vivia
outra nao a que chamavo Caat, e tambm
havia contrrios (47) entre estes e os de Pernambuco .
Dos Ilhos, Porto Seguro at Espirito Santo
(44)
(45)
(46)
(47)
197
(18)
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199
bifjfo
200
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Alem destes, para o serto e campos de Caatinga vivem muitas naes Tapuyas, que chamo
Tucanuo (52), estes vivem no serto do Rio Grande pelo direito de Porto Seguro; tm outra lingua,
vivem no serto antes que cheguem ao Aquitigpe e
chamo-se Nacai (53). Outros ha que chamo
Oquigtajuba. Ha outra nao que chamo Pahi;
estes se vestem de panno de algodo muito tapado);
e grosso como rede, com este se cobrem como com
saio, no tem mangas; tm differente lingua. No
Ari ha outros que tambm vivem no campo indo
para o Aquitigpe. Ha outros que chamo Parahi,
muita gente e de differente lingua.
Outros que chamo Nhandeju (54), tambm de
differente lingua. Ha outros que chamo Macula,
Outros Napara; estes tm roas. Outros que chamo Cuxar; estes vivem no meio do campo do
serto. Outros que vivem no mesmo campo que
chamo Nuhin. Outros vivem para a parte do
serto da Bahia que chamo Guayan, tm lingua
por si. Outros pelo mesmo serto, que chamo
Taicuy vivem em casas, tm outra lingua. Outros EO mesmo serto, que chamo Cariri (55), tm
lingua differente: estas trs naes e seus vizinhos}
so amigos dos Portuguezes. Outros que chamo'
Pigr, vivem em casas. Outros que chamam Obacoa(52)
(53)
(54)
(55)
201
liara, estes vivem e m ilhas no Rio de So F r a n c i s co, tm casas como cafuas d e b a i x o do c h o ; estes
quando os contrrios v m contra elles boto-sc
gua, e de m e r g u l h o escapo, e esto m u i t o debaixo
d'agua, tm frechas g r a n d e s como chueos. sem
arcos, e com cilas p e l e j o ; so m u i t o valenter,,
comem gente, tm differente lngua. Outros (pie
vivem muito pel<> serto a d e n t r o , que c h a m o
Anhehim (56), t m o u t r a lingua. Outros que vivem
em casas, que c h a m o Aracuaiati,
tm outra lingua. Outros q u e c h a m o Cayuara, vivem em covas, tm o u t r a lingua. Outros que c h a m o (itutranaguacu (57), vivem em covas, tm o u t r a lingua.
Outros m u i t o d e n t r o no sei to que c h a m o Camuuyara, estes tm m a m a s que lhes do por baixo
da cinta, e perto dos joelhos, e q u a n d o correm
cingem-nas na cinta, no deixo de ser muito
guerreiros, comem gente, tm outra lingua. Ha
1
((i)
(57)
i.r>X>
(59)
202
FERNO
CARDIM
.,,"*:
(60)
(61)
(62)
TI:\TADOS DA
TrzniA
E GENTE DO BRASIL
20'J
(ti.'tj
204
FERNO
CARDIM
205
os Guaimurs;
q u a n d o j u s t o com os contrrios
fazem grandes estrondos, d a n d o com uns p a u s
nos outros.
Outros que c h a m o Qniriamn, estes foro senhores das terras da Bahia e por isso se c h a m a a
B&hia Quigrigmur
(67). Os T u p i n a b a s os botaro de suas t e r r a s e ficaro s e n h o r e s dellas, e os
Tapuyas foro p a r a o S u l . l i a outros que c h a m o
Maribui; m o r o no serto em direito do Rio
Grande. Outros q u e c h a m o Culagu: esses vivem
em direito de .oquericar entre o Kspirilo-Santo
e Porto-Seguro. Outros ha que c h a m o
Tapuxerig;
so contrrios dos outros T a p u y a s , comem-lhes as
roas. Outros que m o r o pelo serto que vai p a r a
So Vicente, ehamo-se Amoea.ri, foro contrrios
dos Tupinaquins.
Outros que c h a m o Xonh (6N),
tm rostos muito g r a n d e s . Ha outros, e estes se
chamo Apmj, m o r o perto do c a m p o do serto,
so grandes cantores, tm differente lingua. Outros ha que c h a m o Panaquiri (69). differentes dos
acima ditos. Outros l a m b e u ifferentes que chamo Bigvorgga (70). Ha o u t r a nao que c h a m o
Piriji, e destes ha g r a n d e n u m e r o , Todas estas
setenta e seis naes de Tapuya.-,, que tm as mais
dellas differentes lnguas, so gente brava, silves-
!>7>
(fiN)
(fitll
(70)
206
FERNO
CARDIM
tre e indomita, so contrarias quasi todas do gentio que vive na costa do mar, vizinhos dos Portuguezes : somente certo gnero de Tapuyas que
vivem no Rio So Francisco, e outros que vivem
mais perto so amigos dos Portuguezes, e lhes
fazem grandes agazalhos quando passo por suas
terras. D'estes ha muitos christos que foro trai
zidos pelos Padres do serto, e aprendendo a l>
gua dos do mar que os Padres sabem, os batizaro
e vivem muitos delles casados nas aldeas dos Pa-
dres, e lhes servem de interpretes para remdio de
tanto numero de gente que se perde, e somente
com estes Tapuyas se pode fazer algum frucpl
com os mais Tapuyas, no se pode fazer converso por serem muito andejos e terem muitas e differentes lnguas difficultosas. Somente fica um
remdio, se Deus Nosso Senhor no descobrir outro;
e havendo s mos alguns filhos seus aprenderet
a lingua dos do mar, e servindo de interpreeil
l a r algum frueto ainda que com grande difficuldade pelas razes acima ditas e outras muitas. -
NOT AS
208
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CARDIM
THATADOS DA TECRA
E GENTE DO BHASIL
209
210
FERNO
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211
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FERNO
CARDIM
TRATADOS DA TERRA
K GENTE DO BRASIL
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FERNO
CARDIM
215
216
FERNO
CARDIM
TRATADOS DA T E R R A I-: G E N T E DO B R A S I L
217
-etc.
K outras mais.
218
FERNO
ABAET (pag.
CARDIM
194).
Tem duas significaes inteiramente contrarias; ambas vm no orno VII dos A. Bibl. e so: 1., aba-et (<hoS
mem real, verdadeiro, positivo" litteralmente, e "illustr&
distincto, h o n r a d o " , por translao; 2 ab-it "homnk
desfigurado, feio, descomposto, horrvel, temeroso". Este!
segundo tambm suppozemos poder interpretar-se a-bai-eti
ou a-mbai-et "pessoa m muito, homem muito ruim"i|
Cumpre-nos afinal notar que no s neste, como em m;u||
tos outros vocbulos, podem e parecem coincidir duas significaes antitheticas, dependendo s do tom, com qu|
se diz o vocbulo, a determinao do sentido, que se lhl
attribue. Nas lnguas cultas mesmo se diz: " um temiyra
podendo "temvel" ter significados oppostos. Diz-se ironii
camente "s um santo homem, s um anjo". No ironia'
mas a idia se enuncia do mesmo modo que na ironia||
quando se diz com ternura "s um diabrete, s um de-"
moninho".
ABAR (pag.
198)
):|
219
204)
220
FERNO
CARDIM
205)
(pag.
202).
;$
(pag.
203)
TRATADOS DA T E R R A E G E N T E no
ANHANG
(pag.
BIIASII.
221
102)
P a r e c e q u e l i t t e r a l m c n t e se p o d e e x p l i c a r p o r a-ang
(encosta a g e n t e , m e t l e a g e n t e e m esto, ou a p a n h a a g e n te) c assim se e x p o z n o T o m o VII d o s A n n a e s Ia Bibliotheca. C o n s i d e r a n d o - s e p o r m q u e . c o n f o r m e a s t r a d i e s .
Anattg ' ) o p p o s t o de Tup, e q u e a s s i m c o m o este e x p r i mia o espirito d o b e m ( q u e d i s p e n s a v a c u l t o s , d o n d e o d i zer los filhos da I b r i a , q u e elles n o t i n h a m D e u s , n e m
religio), p a r e c e q u e Anang e x p r i m i a o espirito do mal, (a
quem elles v o t a v a m o f f r e n d a s p a r a o s u b o r n a r )
Assim
pode-se i n t e r p r e t a r anang = ai-ung (a catla p a s s o se v le=/' = /i) AEMA Do MAE c m c o n t r a p o s i o Tup
Tubang ALMA DO r \ i
(pag.
2(ll)
222
FERNO
CARDIM
203)
205).
AQUIGUIRA (pag.
223
204).
I
Alm de no figurar nas listas de tribus, accrescc
que se no sabe si akiguira, akui ou akoiguira,
akiguira,
e ainda mais as variantes com guira formando muito lifferentes compostos. Em S. de Vasconccllos ha uma tribu
Aqunau com o thcma aqui, porm quid inde? Entretanto
nfo deixa de ter importncia este nome cm que entra
o tbema aqui, pois elle entra ainda nos trs nomes que
aqui se seguem. Ser akir (que pode deixar cair o r) que
significa "molle, fraco, e ainda covarde?" V. o resto?
$er guira abaixo de? E akiguira ultra-covarde? No lhe
aeho muito feitio porque neste caso seria mais prpria a
pospositura b de comparativo.
QUiiUN (pag. 203)
Veja-se o expendido no vocbulo precedente, e notese apenas que akir-i-n uma phrase "so covardes elles
tambm.'
AyiTTlGPE (pag. 20(1) .
Veja-se o 'xpendido cm Aajuguira. Quanto ao mais
de notai' que nos "ndios do Brasil" todos os sons habitualmente representados por um / especial eiu Montoya,
por y pelos portuguezes, apresenta-se ig, e que como este
/ jbrevissimo, elle se eontre freqentemente com a vogai que o segue ou o precede. Deste modo podia haver
ttku-teyi, "multido de fracos, scia de motleires
Fica,
porm, por explicar-se a prepositiva pr e ainda notarei
que em Icyi sendo / pronominal, no composto devia ficar
aku-regi. Cumpre ainda notar que no livro como est empregado Aguitigpc no designa " t r i b u " e sim "local" e
abi cabe a locativa pe.
Ayi ri i n (pag. 2(11)
Veja-se o e.xpendido em Ai/iiiguirti. Quanto ao mai*.
Do ser esta simples adulterao do nome precedente ou
vice-versa?
224
F E R N o
ARACUAIATI (pag.
CARDIM
201).
Primeiro que tudo notarei que araquaai haty litteralmente "o lugar freqentado pelos entendidos, o reri'
dez-vous dos sabidos" (a contraco dos dois a em uffil
est feita em paraguayo e a queda do h facilima);, depois ainda notarei que possvel araquai adj. cingdo,
com cinto, com facha, e aty as fontes da cabea, as tmporas. Como nome de tribu, porm importa-nos corisideral-o por outra face, e veja-se anca. Como deste thema,
auca se derivam o designativo arauca e araucano, no si,
mas por um metaplasmo simples e pelo augmento de um
suffixo v-se que de arauca podia se derivar aracuai s:
porventura existisse o termo em Abanenga e ento1
aracuaiaty se podia interpretar por "pousada ou poussil
dos Araucas". No deve ficar esquecido que com Arar
cuaiaty tem similhana Araguaya, nome do nosso grande/rio de Goyaz.
ARA, com accento j na primeira j na segunda, ;
thema que entra na composio de muitos vocbulos e
nos nomes de muitas t r i b u s . Este thema existe no Aba-j
fienga, mas de frma que por meio delle no se podem*
explicar as denominaes de tribus. Contemplo-o aqubj
para fazer as seguintes consideraes. Aro na lingua dos
Aymaras significa lingua, palavra, mandamento, licena,
e t c ; d muitos derivados como arara e arocmana fallar!
dor, parlador, notando-se ainda que Aymara aro (lingua|
do Aymara) synonimo de kaque-aro (lingua de gente)il
O Kechua aparentado e at parece que derivado d
Aymara, e os Aymars constituam o grosso da popla|
o do Peru e da Bolvia quando os Incas tomaram cont||
do paiz. Compare-se ainda o que se expende na palavrj
Guaymur. Parece-me que este thema ara reportado ao'
Aymara, assim como auca reportado ao Kechua e ao Chili',.'
podem explicar muitos nomes de tribus, mas faltam1 dados para se definirem as composies e derivaes. AfiV
225
que no
ARARAPE (pag.
197).
Conforme o que dissemos em ara, se licito o hybridismo de composio, podia-se decompor este nome indcrentcmcntc em ara-rap ou a rara-p (caminho dos
falladores ou dos p a r l a d o r r s ) . Mas v isso unicamente
por conta dos etymologistas. pois que tal explicao nem
pode servir propriamente para um nome de tribu. Pareci' que hoje j se no trepida em formar vocbulos compostos do thema latino com thema grego, de tlninas de
lnguas modernas com tbemas das outras duas, mas no
sei at que ponto isto nos autoriza compor ara ou arara
(do Aymara) com rape ou p ido Abanenga)
Al (pag. 200).
Como vem nos "ndios Io Brasil" no designa tribu
e sim logar. e em Abanenga ari simplesmente no tem
explicao nem para uma cousa. nem para outra. Arii
pfsardentos >u bexigosos" talvez pudesse ser appcldo
de tribu.
AitiMiiii, na nola Anuacuig (pag. 201).
A forma que vem em Purchas (a secunda) parece
ilida mais difficil de se interpretar Quanto primeira
I Hmitatno-nos a notar o thema aruac (tnmbcm nome de
tribu no norte) e reportamo-nos ao expendido em ara c
auca.
ATCHAIIY (pag.
203).
226
FERNO
CARDIM
que d (pag. 562) Ataynar ou Alurahi e traduz por korbflechtr. Em Abanenga, em Kechua, em Aymara, em
Chilli e outras ainda no vejo vocbulo algum parecido
com estes, que signifique "tecedor, fabricante de cestos,
de peneiras, etc." Em Abanenga temos atiriri pequenino, murcho, encolhido, e de alar em Tupi, atura curto,
breve, e t c , ainda se concebem outros derivados, para designar "os chatos, os pequeninos, os anes", Podia ainda
explicar-se por atirayb "chefes de topete" e por outras*
formas; mas tudo conjectural.
AUCA.
*;. ''.
Bn\siL
227
podem aparentar com elle as designaes de muitos outros povos da Sul-America como arauc, arauac, aroaki,
que embora prprias da parte norte da Sul-America, comtudo podiam ser provindas do Peru, de l trazendo o nome de arauca rebeldes ou fugidos, ou ainda uraycu descilos, no caso que proceda o <iue diz Martius na Ethnograp*hi:i, pag. 420. No Kechua ha ainda harcak (do verbo
harca) aquelle que impede, estorva, no Ayniar tambm
arcauil-.'\ niitayo dei Tantbo, rpie igualmente podiam fornecer designativos para tribus. Ainda em Aymara auqui
pai, senhor, em Kechua anki o primognito do In ca .ou rii.
AYAS.VI v (evidentemente uvasalp erro de escripta,
porque no lia / cm Abanenga! (pag. 102, nota), I" nome
inteiramente novo paia mim e. vendo-o applicado ao demo, parece-me quasi poder ivportal-o a duas Umologias
lifferentes, das mes a mais natural aba-hati (homem
chifrudo ou cornudo) no obstante fallar u suffixo de participio aba-hatibae. por que isio acontece mais vezes, e encontra-se o radical verbal empregado como adjectivo sem
esse suffixo bae ou o seu equivalente liara. A segunda etymologia daria abahattj (borra ou fezes de gente) ; mas alm
de no ter isio grande significao, acontece que rne no
parece natural a composio do vocbulo tornando aha
genitivo regido de hatij.
BIGVOIKYA (pag.
2o.") J .
Naturalmente est muito cs copiado este nome, e demais no figura nas listas de tribus. Parece-me por cniquanto impossvel tentar \piicai-o.
Cv\!,nc (pag. tHi) .
228
FERNO
CARDIM
200).
' "
229
CAJUAHA
na nota Caiuari.
230
FERNO
CARDIM
203).
201)
TRATADOS DA TERRA
K GI.NII; DO BRASIL
231
232
FERNO
CARDIM
203).
233
203)
Por ser lim nome genrico de Bromelias, que aqui parece entrar como thema na denominao de uma tribu. e
por no o termos includo no T. VII dos Annaes, no ser
mu examinal-o. Cuido que no procede a explicao que
d von Martius: caranhe radens, oat ambulante, por(rac no Abafienga quasi de regra geral nos compostos
preceder o complemento ao verbo, notando-se ainda que
har =guatu " a n d a r " e que "ambulantes" devia ser oataoat^guatahar,
e assim o composto seria guatah-cari.
0 nome parece-me ser ca-raquu-t herva de ponta dura,
folha de ponta aguda, que fere, etc
CARAGUATAJAIIA (pag.
204)
234
FERNO
CARDIM
TRATADOS DA TEIIHA K G E N T E DO B R A S I L
235
como? com o thema cari varo, < apiabae m a c h o ou cirCHICSO. ou que tem a glande d e s c o b e r t a ' ? ,- c o m o justificar a c o n t r a c o de apiabar
cm aba'.'
CARAJ ( p a g .
203).
Vem no "Tcsoro
de M o n t o y a , .significando " m o n o "
c fitttoposto de curar d c x l r o , h b i l , e s p e r t o , e ya suffixo.
A espcie d e s i g n a d a p o r este n o m e em Guarani, diz
Martins, e com elle o u t r o s , q u e <' a m e u m d e s i g n a d a p o r
gaariba em Tupi e bugio em m u i t a s p r o v n c i a s . No
fcil explicar a c o n c o r d n c i a dos d o n s n o m e s caraj
guariba. Como n o m e de t r i b u no a p p a r e r e em S. V.isconccllos nem n o u t r o s e s c r i p i o r e s a n t i g o s , nem se p u d e
diier si foi t r a n s f e r i d o d o s i m i o para a t r i b u ou viceversa; carui t a m b m n o m e d e o u t r a e s p c i e de m a c a c o ,
assim como a i n d a <:ii. Q u a n t o aos i i o u s , no ti xto os
Caraj, diz-se, " v i v e m no s e r t o da p a r t e d e S. V i c e n t e :
foram do n o r t e , c o r r e n d o p a r a l ; l'-m o u t r a l i n g u a " Isto
se applica e x a e t a m e n t i ' aos (Uirij de S. Vasconccllos. d e
G, S. S. e o u t r o s a n t i g o s , e a i n d a m a i s aos Carij d e s e r i ptos na pag. 107, pie " c o r r e m pela costa do m a r e s e r t o
at O P a r a g u a v " . Assim i meu ver C.arijo * Caraj so n o mes do m e s m o p o v o , c esie a i n d a c a b e aos C a r i j o s e Carajs de Goyaz e Io A r a g u a v a .
C.ari p a r e c e ser t h e m a d e v o c b u l o s do A b a n e n g a ,
ma.s no se a c h a d i r e c t a m e n c na l i n g u a . C o m o rio Amatonns a p a l a v r a earaib. curai t o m o u a forma earua, n o
M erraria m s u p p r cari e o n l r a e l o de curai, e talvez deste feilio c o n c o r r a na f o r m a o de v o c b u l o s c o m o carijo,
carioca, cariri c o u t r o s a s s i m c o m o p a r a n o m e s <p:c n p p a Wcem em o u t r a s l n g u a s e o m o catibi, galibi. carina,
colina, etc. Veja-se earayba
e c o m p a r e - s e com eeari varo. tambm " v a r o n i l " em K e c h u a , n o t a n d o - s e q u e " h o mem' em gerai nesta lingua e ruiut Ud> na lingua g e r a l ) .
Analogia de s i g n i f i c a o no s se v e n t r e varai o homem branco, o e u r o p e u , o s e n h o r , e <<<<:/ v a r o (em Kechua), mas ainda com cara = cari v e r d e , e s b r a n q u i a d o
236
FERNO
;
CARDIM
:
-^
197).
CATAGTJA (pag.
237
205)
pinte.
CiTiijpiv (pag. 203)
^Heporto-me ao expenddo no vocbulo precedente.
Pelo Abanenga era possvel, cm vista do vocbulo que se
tegue a este, suppor-se tim derivado com o suffixo r/<;r,
notando-se que freqente em composio cair o r final
(pi por pir, ytt por gar) e ento diramos curub-pir-tjur ou
carnpija com uma significao referente crub sarna.
Qttid ituic porm? tornamos a dizer
Cviil t"J);A (pag. 1021
Pode ser traduzido iitb ralmcnte por \sarnento" de
eurub (santa) pir (pelle). tanto mais quanto "> tinho-o"
'synonimo de "o demo' na Heguagem popular do Brasil
' e no me consta que tivesse este sentido em Portugal. En-
238
FERNO
CARDIM
200)
',:!,'
TnAY\Dos DA T E R A I. G E N T E DO B . A M I .
239
240
FERNO
CARDIM
/-j^
241
242
FERNO
CARDIM
171).
162)
T R V I A D O S D \ T I I U - V r. Gr.NTi; no P.nvsn.
243
e GCAVATUN
(pag.
201).
composio o /.
GlMiMii': ( p a g . 1!)) .
244
FERNO
C ARDI M
204).
v,|
202).
GCAKACMO (pag.
245
197).
201)
200)
246
FERNO
CARDIM
204).
TM\JAI>OS i,\
Ti.e.\ i: (F.VTF. no B R A S I L
247
(pai;,
204) .
P
Km vista d o pie vem n o texto t e m o s a q u i l i t t e r a l menle m u i t o e m r e g r a n o Abanenga ybyra-apihara
(ou
248
!' li I N A O
C A 1! D I M
187).
(png,
1!)7).
li' nome pie mio vem nos autores citados em (hiurncaio, etc. Como porem no texto vm ninhos CHLOS n0010(1'
para o mesmo povo e reporamos gtutrucayuc no KocIlU,
parece (pie com u mesma significao lem-sc em Abnuenga Itallig nlmr pedras, tomado como substantivo"*)
nlira-pedras"
.lAcirmu) (pag. 202).
Como o nome pie segue, este mio flgiirn lio rol <l(
tribus dos autores. Pelo Abaliciign no se iielm Immedtllfllamente uma explicao plausvel, < o mais baler ti campanha em conjecturas vagas. Alem pois de reporUtrmo
nos ao nome (pie segue, seja iipenas ponderado (pio tendo
TnATADOS DA TRHRA I
GlNII
DO BHA.NIL
249
jMOO.ifi ( p a g .
2(i2) ,
f e i a s m e s m a s ra/"ies e x p e n d i d u s no n o m e p r e c e d e n t e
pio possvel a r r i s c a r uma e x p l i c a o deste n o m e . qile
tambm n o figura nas listas d o s a u t o r e s . Veja-se
cuy.
Quanto ao m a i s le n o t a r - s e q u e Ya-ico-no
(nVs e s t a m o s
quietos) p h r a s e m u i r e g u l a r d o Abafiengn e pie por
meru v a r i a o p l n m e t i e a p o d e l o r n n r - s e Ya-ic-yu
ou como se p r o n u n c i a r i a a l g u r e s no A m a z o n a s ia-icii-ntt.
tina
phrase p o d e r i a d e s i g n a r t r i b u p o r esta forma','
b
,tVMI'AHA
.1 \MI'\.IIA
( pilg .
t lil )
Admittintlo se (pie haja e r r o o r l b o g r a p l i i i - o ou de c o tuii p possvel supp<">r-sc pie esteja esta lii-ao p o r Janipaba. o (pie nos r e p o r t a Yamhii>al< mm naititypab
(nome
legitimo d o Genipa brasiliensis
Matt.. em cuja f o r m a o
ptreee e n t r a r nandg Yandy
( a / e i t e ) , p o r ser o c a l d o
deste frueto n p p l i c n d o pelos n d i o s nas p i n t u r a s e friees do c o r p o . A ser, p o r e m , v e r d a d e i r a a t r a d i o , le
que re/a esta h i s t o r i a dos " n d i o s do B r a s i l " s o m o s levados ti uma o u t r a e x p l i c a o d o \ o c a b u l o : natide nll )and-apaba ( n o s s o lugar, nosso p o u s i o , nosso p o u s o , ou c o m
IBuis g e n e r a l i d m l e HO.WO lugar m m / d de estarmos).
Ser
tdmissivel esta ili-rivao p a r a o \ o e a b u l o com pie di-siIMvani a a r v o r e Io jenipapo,
q u e era d e p r i m e i r a imporl.UK i.i nos usos dos indii>s d e toil> o P r a s i l ?
JKQIKHH;AIU': ( p a g .
2t>.">)
250
FERNO
CARDIM
200)
251
M A I N C M A (|>ag.
20,'l).
( p a g . 202)
Militan4o as m e s m a s razes d a d a s n o s d o i s n o m e s
precedentes, escusa b u s c a r vagas i n t e r p r e t a e s , c limitemo-nos a p o n d e r a r pie l i t t e r a l m e n l e inhuruc-yua
significa-o m a r a c ( i n s t r u m e n t o d e g u e r r a ) g r a n d e 1'de
este nome p u r o e s i m p l e s d e s i g n a r uma tribu'? m.uiln ao
nome tnbaruc veja-se Animes da HibL. T V I I .
MAIIIHUI ( p a g .
2()5)
No h a v e n d o n a d a q u e n o s sirva de i n d i c a o p a r a
buscar a e x p l i c a o d e s l e n o m e . (pie temais n o ic.ura
nas listas los a u t o r e s , Ijmitcmo-'ios a r e p o r t a - l o pyrgbi
COm o suffixo //o talvez i r r e g u l a r m e n t e , m a s c o n s i d e r a n d o
(|Ue ijo, custa d e t a n t o a p p a r c c c : ' cm d i v e r s o s c o m p o s tos (Carijo, t e . ) , pixlc-.se t o m a r p o r u m suffixo t a m b m
no Abanenga. C o i n t u d o a t t e n t a a s i g n i f i c a o d o suffixo
go, seria m e l h o r r e p o r t a In ao K e c h u a , o n d e se l h e p d e
dar melhor i n t e r p r e t a o .
MKNDOIU ( p a g .
1!).'!)
Ou m a i s geral mamlubg.
q u e , e o m o vem no t o m o Vil
dos Ann. ,1a Bibl., se e x p l i c a p o r yba-lijhy
(frueto e n t e r rado ou s e p u l t a d o ) , b e m a p p l i c a v e l a o Araehis
hypogaea
1252
FERNO
CARDIM
L. O demonstrativo pronominal t de tyby por estar intercalado no estranho que se mude em nd, a mudani
de y ora em u, ora em i natural e freqente, e a queda
da inicial y muito usual.
.u
METARAS
; ;|
194).
'.$$
busca-fructas.
253
busca-vve-
jOic
254
FERNO
CARDIM
na nota
NACIJ
(pag. 200).
Deve dispensar-nos de qualquer tentativa de explicao o simples facto de duvida no verdadeiro modo d'e
dizer este nome, tanto mais quanto no figura na lista'
de nomes de tribus dos autores.
;
NAPARA (pag.
200).
->
Nem nome que figure nas nomenclaturas de tribus, nem de fcil explicao pelo Abanenga.
NHANDEJU,
na nota
MANDEIU
(pag. 200).
TRATADOS DA TERRA
I: GKNTK DO BIUSH.
255
qucnl, Cuvalloni, untnni, e t c , uno que ticne plata, cavallo, padre, etc. Algunas vezes significa "ser --.limado,
O valer per Io que tiene" : ah anoni de buen rostro, isini
de buen vestido, umparani, aroni que tiene buenas manos
.1 lengna, refiir, e t c " De conformidade com isto mesmo
em portuguez se concebem adjectivos, designativos, em
*geral epithetos formados por um substantivo e a preposio de; assim homem ou perna <le pau, homem <le olh>>
oivu, homem de calas ou perni-vestido,
collqneni (A>niar) homem de dinheiro ou dinlieiraso ou rico, etc.
Em Chilli-dugu existe tambm a partcula ni. a qual
se emprega j po.spo.sitivamente como no Abanenga, j
como preposio nossa moda, exprimindo a mesma relao genrica que tle portuguez.
No Abanenga existe a posposio i, susceptvel lese tornar ni ou ,ii intercalando um n euphonieo, e esta
posposio nas suas diversas formas hoinoinma com o
verbo radical ;' "s-r ou estar" (em geral), incluindo ainda o sentido de " t e r " A significao da posposio /
"em"", mas ainda assim notemos que mesmo em portuguez a preposio " e m " pode exercer funees equivalentes a " d e " , como: em chinelas ou de chinelas dia eslava sentada. le
NnoMi (pag. 2()f>)
Nem nome de tribu que figure nos autores, nem e
fcil de explicar-se de qualquer modo. Dizendo o texto
que os ndios assim designados tinham "rostos muito
grandes", aeode-nos a dico loba >l ou tobaya cara
aberta, cara larga, e si tal era a denominao, quanto se
alli-rou para se tornar noi.a e quanto v e fulil a tentativa de explicar nomes por tal forma estropiados!
NUHlx (pag. 200).
Tambm nome te tribu que no figura nos autores.
Pelo facto de se designarem por este nome "ndios to
256
FERNO
CARDIM
200).
160).
200).
TttAYMXis DA THIIIIA E G E N T E DO B m s a .
257
Is',o n; q u e r d i z e r n a d a . Si o q u e vem no t e x t o .
logo em seguida r e f e r i n d o - s e a)S Pahi, fosse d i t o c m relao aos (tyuiglujub/.
podia isto s u g g c r i r algurn c o m posto de attb r o u p a , / rija. ub f o r r a r , m a s p e r m a n e c e n do ainda a difficuldafle de c o m p o r a p h r a s e r e g u l a r m e n te. Demais, n o m e de t r i b u , q u e n o v e m n o s a u t o r e s .
PAU
v i e ( p a g . 202) .
No vem n o s a u t o r e s , m a s a s s e m e l h a - s e i o u t r o s pie
nelles vm. Na falta d e i n d i c a e s q u e g u i e m a i n t e r p r e tao, fica i n t e i r a m e n t e no a r P e l o suffixo ju p o d e ser
comparado o u t r o s q u e vem n o texto, conto Jaicuju,
Jocuruju, Piracuju,
Ta/uinju,
e a i n d a com o u t r o s q u e t e r m i nam em }<>, c o m o 'lapijo,
Gitajo, d e P o r o u t r o lado lembra o nome d o s Vacaj d a s b o c e a s d o A m a z o n a s , e t c , e t c .
1'AIII ( p a g . 200)
No figura nos a u t o r e s assim s i m p l e s m e n t e c o m o
nome de t r i b u . m a s em n o m e s m a i s c o m p o s t o s , c o m o
Payttgtia. Paicoucea,
Payana.
Paipocoa.
etc Pahi, si for
por Pag ou a n t e s Pai. significa p r o p r i a m e n t e " p a i " c foi
applicado e s p e c i a l m e n t e aos p a d r e s (Vede a nota seguinte), e differe de Paye. T e m alguma analogia c o m Paya
adj. velho, velha e m K e c h u a , e a p l i c a d o
i significar
"av", n o t a n d o - s e a i n d a pie ha o p r o n o m e pay elle. cila.
No Aymara mio ha c o r r e s p o n d e n t e com esti' t h e m a e
pay (lesei to I cousa d i v e r s a . No Chilli p o r m ha d u m
lailo paye a p p l i c a d o a o s " p a d r e s ' e d e o u t r o cluui p a i ,
tigniicando panaii. e a i n d a pag a " m i " em geral e a
"matrona ' C o m o t h e m a ! o u t r o s s i g n i f i c a d o s vai ter
a radieaes li \ i s u s .
I'\i ( p a g . l*,S i
No T o m o Vil d o s \nn,:es tia Biidiutiwca
i-xpciidcmos
;* duvida si a d i c o g e n u n a d o Abam-nga, ou si v i n h a
do lies|ianhol ou d o p o r t u g u e z . La t a m b m vem a e x p l i -
258
FERNO
CARDIM
cao de Montoya que diz: Pay palavra de respeito comque fallavam aos seus velhos, e feiticeiros e pessoas grifes. Nas Beduces usavam da expresso Pay-abar para]
designar "o vigrio" do aldeamento, e dahi ainda outro!
compostos, como Payguqu bispo, etc. Beporto-me ao;
mais que vem no vocabulrio citado, inclusive s refefl
rencias ao kechua e chilli, p a r a aqui apresentar mais ma
considerao.
,
O vocbulo paye ou paj, que tambm significa "sa-;
cerdote", inclue os sentidos de "orculo", feiticeiro, met;
dico, mezinheiro" e repare-se que os catechistas nobi^l
taram a expresso pai a ponto de a applicarem aos pa^
dres, bispos, e t c , e rebaixaram paye a designar excius|t|
vmente " o feiticeiro". Lembra diabolus, que remontanl
do- fonte etymologica vai ter ao mesmo radical de z e | |
jupiter, jovis, etc.
,-\3
Por outro lado, ha tambm mbai adj., mu, ruim, et|
'" -l
PANACUJU (pag.
202).
205).
No vindo nos autores nome similhante, nem havendo indicaes que guiem a 'interpretao, referimonos simplesmente ao que se diz no vocbulo precedente,
2m relao ao thema Pana e Quirig.'
PANICU' ou mais correctamente panaca
(cesto). Re-
259
203)
172).
-DO .
260
FERNO
CARDIM
neste livro corresponde ao y do Abafenga, ahi temos desde logo pyr, dous verbos significando um "mudar, substituir", outro "pisar", podendo este tomar a frma pyry,
que tambm significa " c o m e a r " (em vez de ypyr). SeJ
fosse piru teramos adjectivo "^ecc" e pir, "couro negro", etc. e t c Supondo-se alterado de por temos outroverbo "usar, exercer" e ainda outro em absoluto, donde
aba-poru comedor de gente, anthropophago, do qual pos^
sivel derivar-se mburu ou mbor malvado, perverso, mal1-'
dito, e ainda o nome Puru, applicado a tribu' e rio'no
Amazonas. Ainda ha na Abanenga outros vocbulos com
o qual tem analogia este, mas apenas notaremos que ainda
seria possvel que Pigru se reportasse mesma fonte qufe;
Puri (quod vide)
,,,j
No Kechua, no Aymara ha vocbulos analogos> ;msj
apenas observamos que Peru o nome actual da regio I;
onde existiam os Kechuas. Ainda notaremos que no Chilli-
dugu pire significa "neve e a- cordilheira", pireu nevar,.
piru gusano, carcoma, e pirun carcomer.
PIGTANGUA
(pag. 162 n o t a ) .
Como nome dado ao diabo no muito conhecido; sobas formas pitgua, pitangua, pitaoo, e t c , o nome dado
a diversos pssaros do gnero Lanius, dos quaes um vulr;';
garmente conhecido pelo nome de Bem-te-vi, onomatopaico,',
do grito que elle solta. Acho difcil a interpretao do nome deste pssaro, attento o grande numero de significadosque tm os themas pyt, pyt, e ainda os outros gua, qua,
e t c , e portanto muito arriscada qualquer explicao.
Do nome do pssaro passar a ser um dos designativos
do " d e m o " parece-me natural, em vista dos hbitos do
pssaro, que parece um espia ou espio, que grita quando
v gente bem-e-vi.
-PINACUJU' (pag.
203).
TRATADOS
DA T E R R A
K GENTE
DO B R A S I L
261
( p a g . 2(1."))
262
FERNO
CARDIM
Na frma que d G. Soares de Sousa, temos substantivo Pytaguar o po para conduzir carga sobre os
hombros de dois pees, e tambm verbo "conduzir, car^
regar, transportar dois" Si este no d p a r a nome de
tribu, ha ainda Pitagua ou pitgua, nome de vrios La-,
nius (que podia applicar-se a tribus) e hoje em Parati
guayo significando "estrangeiro" Como ha exemplos de;
guar em vez de har como suffixo de participio, podia ahv
da ser pytaguar por pytahar os firmes, os quedos, os que.
ficam, Pyteguar, pr Pytehar os chupadores, etc. Afinal,
com guar suffixo contracto de tequar ainda se tem Potyb-
263
E' thema de numerosssimos nomes, que pde reportar-se diversos radieaes e que, de mais a mais, por si s
apparece como nome de tribu. Pelo Abanenga, mediante
alu, ac, mbya, e t c , como substantivos seguidos de puri
adjectivo, podiam se explicar muitos nomes, c da mesma
maneira se concebe que empregassem simplesmente o
ailjectivo elidindo o substantivo. A significao mais
prpria ento seria a de Pyrgb mesquinho, b- pouca valia, miservel, e ainda de 1'yrybi triste, tristonho; teimoso: tacanho; contumaz, sanhudo. Com esta ultima significao apresenta-se mais usado na forma mbur, que
lambem significa o maldito, mau, ruim. etc. Cumpre porm notar pie este thema figura em outras lnguas cora
significaes anlogas e para no me estender apontarei
apenas no Kechua pura falso, pttrik amlejo. viajeiro. vianlante (de puri andar), e mais outras prprias para designar tribus. No Chilli muru-che estrangeiro, pie suggere um vocbulo da mesma significao com /* adv. l,
lima {topusio > alie sujeito.
Qi
KUIA.ICHK
tpag. 2(i.'l)
264
FERNO
CARDIM
203)
Vejam- se os dois nomes precedentes. Para mais embaraar ahi temos grande differena no nome como vem
no texto, do que vem na nota. Cuip vaso chato, em geral
no Abanenga. Se em vez de g se achasse no nome g\\
feriamos talvez Quypyi irm mais moa, e ainda se podia
suppr alterado de Quybyr irmos mais moos ou primos.
QUIRIIGUIG (pag.
204)
,'j
205)
205).
TRATADOS
DA T E R R A
K GENTE
DO B R A S I L
265
T,U;IAI<;II\ ou T a g u a i n
(pag.
102l
O r t h o g r a p h i a s a r b i t r a r i a s de layaaib
em t u p i , m a s
que no G u a r a n i a p r e s e n t a d o sob a f r m a tatibaib.
Este
ultimo v o c b u l o l i t e r a l m e n t e lab-aib
(viso m. p h . m -
tasma ruim i
TAicuie
No c n o m e pie figure no rol de t r i b u s d o s a u t o r e s
' apenas p o d e m o s p o n d e r a r q u e c o r r e s p o n d e u m a
phrase em A b a n e n g a : la-i-ic-i':. ou tab-i-iieeo-c
os q u e
em aldeia e s t o q u e d o s .
I
T \ M I VA
( p a g . 107 )
266 \
FERNO
CARDIM
TRATADOS DA T E R R A K G K X T E DO B R A S I L
267
T u - n v (pag. 198).
2(i2i
268
FERNO
CARDIM
205).
";
204).
197)
TRATADOS n \
TiPE (pag.
TKrm\ E G I XTF. no
BHVM.
269
2H2).
Ha a l g u n s n o m e s p a r e c i d o s com este, d o s q u a e s p o d e
elle ter .iido a l t e r a d o , p o r m l i t e r a l m e n t e nelle t e m o s tiprb nariz c h a t o , q u e se c o s i u m a a d o e a r em timbb e q u e
podia s e r v i r p a r a d e s i g n a r p o v o . Signil i c a o q u e t e n h a
raferencia ao " m o r a r e m nos c a m p o s " ou ao u s a r e m d e
"frechas h e r v a d a s " s'i se p o d e a c h a r a l t e r a n d o m u i t o o
nome.
T e c A N i o ou 'I"i i . w t M i , na nota ( p a g . 2u0i
I
No n o m e q u e figure n o s a u t o r e s , nem ha ( o u s a alguma que possa g u i a r na i n t e r p r e t a o , t a n t o m a i s q u a n t o
se apresenta sob d u a s f r m a s d i f f e r e n t e s .
\
Para que t e n h a e x p l i c a o o s i g n i f i c a d o a t t r i b u i d o a o
VOCabulo Ttlp p r e c i s o r c p o r t a - l o ao v e r b o p ( b a t e r ) ,
(},: na t e r c e i r a pessoa do m o d o p e r m i s s i v o faz (o-p (elle
|iir b a t a ) ; m a s c o m o d e s i g n a t i v o de um ser era n a t u r a l q u e
empregassem uma frma p a r t i c i p a i c o m o ,,-p-h<:e no o
permissivo. T a l v e z se p u d e s s e s u p p r q u e o / d e n u m .tralho geral (aipielle pie), m a s seria p r e c i s o ver isso confirmado p o r m a i o r n u m e r o d e c o m p o s t o s i d n t i c o s . Como
se v no 1'omo VII dos A n n a e s da B i b l i o t h e c a , Montoya
explica o v o c b u l o p o r tu i n t e r j e i o , c pany i n t e r r o g a l i v o .
Ns, pelo c o n t r a r i o , e n t e n d e m o s ser um c o m p o s t o de tub
(pai) e any ( a l m a ) , p a r e c e n d o - n o s q u e assim o v o c b u l o
satisfaz ao s e n t i d o q u e lhe d a v a m os i n d i o s ( s e g u n d o a
tradio) e a i n d a m a i s forma a n t i t h e s c com uuny (o espirito do m a l ) , l a m b e m c o n o n m - a t r a d i o . C o m p a r a d a
esta dico com a n l o g a s cm o u t r a s l n g u a s a m e r i c a n a s ,
no deixa de ter i n t e r e s s e
"Dios fue t e n i d o di-stos n d i o s (os A j m a r s i u n o
itiieii Ilaimivam 'l'i:tit;ufe:, d e q u i e n c u e n t a n i n f i n i t a s c o s a s
(Bertonio
Vocabulrio)"
270
FERNO
CARDIM
Em Kechua Tupa cousa real, excellente, principb servia tambm para exprimir "senhor, cavalheiro".
Ha em Chilli dices anlogas, porm, cuja.forma no
to connexa.
.>,--'-';.,(s
Por outro lado cumpre notar que "demnio, diabpf
em Kechua supay, e em Aymara supyo. Sem a minimain:
teno de fazer aqui applicao da regra dos prefixos pronominaes do Abaenga, por demais notamos que o dep
monstrativo geral t se transforma em r, h, gu e que o a por
vezes se torna c ou ,s. Em Abaenga supay e supayo seriam os relativos das formas absolutas tupa, tupayo.,
Em Kechua ha ainda supan sombra de pessoa o dei
animal.
Veja-se na palavra Tamuja o que bom deus Tamoi
reconhecer-se- que Tupany corresponde ao bom ,Dcus;
destes indios, qUe no precisava de cultos. Elles fazia||
offrendas ao " d i a b o " para que lhes no fizesse mal. - |
TUPI.
:.r;
271
/
272
FERNO
CARDIM
197).
- \
203).
TRATADOS DA T E R R A
I. G I . N I I ; DO BI-.ASI:.
273
274
FERNO
CARDIM
197)
.&.
275
radical.
m
i
VIAT (pag.
195).
YOK.
O Sr. fr. Honorio Mossi no seu vocabulrio do Kechua, logo depois de definir nesta lingua
"cales"
(huara panetes o zaraguelles estrechosi, diz "huarai/tie oi que los trac (se. estos panetes o zaraguelles)", C
em Seguida declara: "de aqui ei noinbre de los indios
Guannjos Guarani tomado esto segundo dei Aymara;
ni em Aymara eqivale ai ;/;< de Ia Quehua: Huarani e
Huuragoc son Io nisino y convieue muy propsito los
indios. que vivian desnudos y no llevaban mas pie ei
tapo-rabo panetes bajos."
A composio Huara-yoc em Kechua est exaeta. visto como ambos os themas pertencem a lingua. Porm, sem
embargo de ser o Aymara muitssimo connexo com o
Kechua, com tudo j no licito tanta liberdade de composio. Em Aymara lutara thema de um vocbulo que
significa "estrella" e de um verbo que significa "espantar'' No conheo bem o modo de composio para affirmar que huara-ni pudesse exprimir "brilhante" (como
ettrelIaV) ou "espantoso'
Adiuittida porm a explicao dada por Mossi, te-
276
FERNO..
CABDIM.
NOTA ADDITIVA
Sobre o clrigo portuguez mgico, como chama Cardim, ou nigromatico, segundo Anchieta Informaes e
fragmentos histricos, ps. 5, ou padre do ouro, conforme
frei Vicente do Salvador Historia do Brasil, liv. III,
cap. XV, a documentao que possumos j copiosa,
graas publicao dos processos da Inquisio, que levaram o erudito Dr. Capistrano de Abreu a identifica-lo
com Antnio de Gouva, ilhu da Terceira, clrigo de
missa, pertencente por algum tempo Companhia de-Je-:
TRATADOS DA TI.RIIA F. G E N T E no
BKASIL
III
INFORMAO DA MISSO
DO P CHRISTOVO DE GOUVA
A'S PARTES DO BRASIL
ANNO DE 83,
ou
NARRATIVA EPISTOLAR
DE UMA VIAGEM E MISSO JESUITICA
Pela Bahia, Ilhos, Porto Seguro, Pernambuco, Espirito Santo, Rio de Janeiro, S. Vicente, (S. Paulo), etc, desde o anno de 1583 ao de 1590, indo
por visitador o P. Christovo
de Gouva
Escripta em duas Cartas ao P. Provincial em Portugal
NARRATIVA EPISTOLAR
>E UMA VIAGEM E MISSO JESUITICA
282
FEBNO
CARDIM
TnATADos DA TEHRA
K GKNTE DO BRASIL
283
aconnnodados em u m a c m a r a g r a n d e e bem providos do necessrio. Aos 5 de Marco de 83 levmos anchora, e com bom t e m p o , em !) dias a r r i b mos ilha da Madeira, o n d e fomos recebidos Io
padre Rodrigues, Reitor, e dos mais p a d r e s e irrJBos, com g r a n d e alegria e c a r i d a d e . O governador saindo em terra, se agasalhou em o collegio
e foi bem servido, etc. O p a d r e visitou aquelle
(Uegio como V. R e w tinha o r d e n a d o , declaroulhe as regras novas, e com p r t i c a s o eolloquios familiares ficaram todos mui c o n s o l a d o s : foi por
vezes visitado do Sr Bispo e mais principaes da
terra. Passados dez dias nos fizemos vella aos
24 de Maro, vspera de N. Senhora da Anntinciao, e com tal guia e estrella do m a r c u r s a n d o as
Ifyrisas, que so os Nordestes L>eracs daquella paragem, nem t o m a n d o o Cabo Verde em breve nos
achmos em 1 g r a u s da equinoeial. aonde por
cinco ou seis dias tivemos g r a n d e s ealinarias. trovoadas, e chuveiros to escuros e medonhos, e to
fortes ventos, que era cousa dVspanto, e no meio
dia ficvamos n u m a noite mui escura. Neste tempo
(pelas grandes c a l m a s , faltas de bons m a n t i m e n tos, e a b u n d n c i a de pescado (pie se tomava e comia, por no ser muito sadio) a d o e c e r a m muitos
dumas febres to colricas, e agudas que em breve
<* punham em perigo manifesto da vida. E r a m
estes doentes de nos a j u d a d o s em suas necessidades, os quaes com confisses, prticas, lio das
vidas dos santos, e a n i m a d o s de dia. e de noite. e
o temporal a j u d a d o s com medicinas, e outros
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FERNO
CARDIM
TlIATADOS DA Tl.IHN
K GENTE DO BtUSIL
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FERNO
CARDIM
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fiei, relquias e contas bentas, de que ficaram agradecidos. Dahi a dous ou trs dias, vindo o Sr. governador casa. os e s t u d a n t e s o r e c e b e r a m com
[t mesma festa, recitando-lhe muitos e p i g r a m a s ; o
padre Manuel de B a r r o s lhe teve uma orao
cneia de muitos louvores, o n d e e n t r a r a m todos os
troncos, e avoengos dos Monizes, com as mais maravilhas que tm feito na n d i a , de (pie ficou muito
satisfeito (IX).
Trouxe o p a d r e u m a cabea das Onze mil virsjjens, com o u t r a s relquias e n g a s t a d a s em um meio
corpo de p r a t a , pea rica e bem a c a b a d a . A idade e os estudantes lhe fizeram um grave e alegre
ecebimenlo: t r o u x e r a m as santas relquias da S
ao Collegio em procisso solemne, com frautas,
rfeoa musica de vozes e danas. A S, que era um
^ estudante r i c a m e n t e vestido, lhe fez u m a falia do
contentamento que tivera com sua vinda; a CidaIdelhe entregou as c h a v e s ; as o u t r a s duas virgens,
' cujas cabeas j c t i n h a m , a receberam porta
de nossa igreja; alguns anjos as a c o m p a n h a r a m ,
Iporque tudo foi a m o d o de dialogo. Toda a festa
causou grande alegria no povo, que concorreu
quasi todo (X).
A Buhia cidade dT.I-Rei, e a corte do Brasil:
i nella residem os Srs. Bispo, governador, ouvidor
geral, com o u t r o s officiaes e justias de Sua Mu^JCStade: dista da equinoeial treze graus. No esta
.muito bem situada, mas por ser sobre o m a r de
fvida a p r a z h c l p a r a a terra, e para o m a r : a burra
fiem quasi trs lguas de bocea, e uma enseada com
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seja Jesus Christo" Outros sairam com uma dana d'escudos portugueza, fazendo muitos trocados e-danando ao som da viola, pandeiro e tam- j
boril e frauta, e juntamente representavam um
breve dialogo, cantando algumas cantigas pastoris. Tudo causava devoo debaixo de taes bos- :,r;
qus, em terras estranhas, e muito mais por no se
esperarem taes festas de gente to barbara. Nm |
faltou um Anhang (XVII) se. diabo, que saiu do ''%
mato; este era o ndio Ambrosio Pires, que a Lis- ; |
ba foi com o padre Rodrigo de Freitas. A esta
figura fazem os indios muita festa por causa da \
sua formosura, gatimanhos e tregeitos que faz; em ;
todas as suas festas mettem algum diabo, para ser ,;;|
delles bem celebrada.
Estas festas acabadas, os indios Murubixa- ,
ba (XVIII), se. principaes, deram o Ereiupe (XIX)
ao padre, que quer dizer Vieste? e beijando-lhe a ,'/s
mo, recebiam a beno. As mulheres nuas (cousa *
para ns mui nova) com as mos levantadas ao
Co, tambm davam seu Ereiupe, dizendo em portuguez, "louvado seja Jesus Christo". Assim de
toda a alda fomos levados em procisso igreja
com danas e b/)a musica de frauta, com Te Deum
laudamus. Feita orao lhes mandou o jiadre fazer uma falia na lingua, de que ficaram muito consolados e satisfeitos; quella noite os indios principaes, grandes lnguas, pregavam da vinda do padre a seu modo, que da maneira seguinte: come-';,-*
am pregar de madrugada deitados na rede por
espao de meia hora, depois se alevantam, e cor-
TRATADOS
DA TEIUA
E GENTE
DO B I : \ M L
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FERNO
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que todo o anno esto verdes e cheios de formosssimos pssaros, que em sua musica no do muita
avantagem aos canrios, rouxinoes e pintasilgosde Portugal, antes lh'a levam na variedade e formosura de suas pennas. Os indios caminham muito
por terra, levando o padre sempre de galope, passando muitos rios e atoleiros, e to depressa que,
os de cavallo os no podiam alcanar. Nunca entre elles ha desavena nem peleja sobre quem levou mais tempo ou menos, etc, mas em tudo so
muito amigos e conformes. Outra cousa me espantou no pouco, e foi que samos de casa ai-,
gumas quarenta pessoas, sem cousa alguma deco-s
mer, nem dinheiro; porm, onde quer que chegvamos, e a qualquer hora ramos agasalhados com
toda a gente de todo o necessrio de comer, carnes, >
pescados, mariscos, com tanta abundncia, que
no fazia falta a ribeira de Lisboa. Nem faltavam;
camas, porque as redes, que servem de cama, levas,
vamos sempre comnosco, e este c o modo de peregrinar, sine pena, mas Nosso Senhor a todos sus-
tenta nestes desertos com abundncia.
Passados ires mezes de visita depois da nossa
chegada, aos 18 d'Agosto partimos para Pernambuco: se. o padre visitador, padre provincial, padre Bodrigo de Freitas, os irmos Francisco
Dias (XXI) e Barnab Tello e outros padres'-;,
e irmos; e logo no dia seguinte com vento
contrrio, por mais no podermos, arribmos ,
Bahia. Tornando a partir o dia seguinte com o
mesmo vento contrrio, lanmos anchora em a
TRA-IADOS DA TI-.MIIA F G E N T E DO B R A S I L
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TRATADOS
IA T E R R A
I; G I . N T E
DO B R A S I L
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TRATADOS DA T E R R A E G I . V T K DO B R A S I L
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A capilauia de P o r t o Seguro do D u q u e
[fAveiro (XXXIII): dista da Bahia GO lguas: a
lia est situada entre dois n O S c a u d a e s em um
innte alto. mas to cho, e largo que p u d e r a ter
Jma grande cidade.
A b a r r a perigosa, toda
heia de arrecifes e ter q u a r e n t a vizinhos com
l vigrio. Na misericrdia tem um crucifixo de
atura de um h o m e m , o mais bem acabado, p r o rcionado e devoto que vi, e no sei eomo a tal
[terra veio to rica cousa. A gente pobre, por
[estar a (erra j gastada, e eslo a p e r t a d o s dos
Jtiuaimurcs: as vaccas lhe morr<-m por causa de
aberta herva. de que ha copia, e comendo-:;, logo
fapehenlam. Tem um engenho de assucar; foi
[frtil de algodo e farinhas, mas lambem estas
[duas causas lhe vo j faltando, pelo que se desRjovit u t e r r a .
W Aqui lemos casa em que residem de o r d i n r i o
quatro: tem igreja bem ncommndndn, e o r n a d a ; o
jlti mui largo eom unia formosa cerca de todas
as arvores dYspnhos. coqueiros. < outras da terra,
[hortalia, etc. T o d a a casa anrasivel por estar
Cdifiada sobre o mar. Os padres lm a seu cargo
duas aldas de indios, que ero passante duzentas pessoas e visitam outras eineo ou seis. eom
muito perigo dos C u a i m u r e s .
I Junto a Porto Seguro q u a t r o lguas, est a villa
phamadu Santa Cruz. situada sobre um formoso
rio; ter q u a r e n t a vizinhos eom seu vigrio:
lgum tanto mais a b a s t a d a que Porto Seguro. De
Sinta Cruz p a r t i m o s aos dois de Outubro com um
r
300
FERNO
CARDIM
camboeiro, que em um dia e noite nos deitou sessenta lguas, e tornado a calmar, corremos com
nordeste franco toda a tarde para a Bahia, j determinados de no ir naquellas mones, que se
iam acabando, a Pernambuco, e tambm porque se
chegara o tempo da congregao, que se havia de
comear a 8 de Dezembro.
Chegados Bahia, vendo o padre visitador
que todo aquelle anno e o seguinte, at Junho, no
podamos ir a Pernambuco, comeou de tratar
muito mais de propsito dos negcios de toda a
provncia, tomando mais noticia das pessoas deHa,
e das mais cousas que nella occorrem. Occupouse muito tempo com os padres Ignacio Tolosa (XXXIV), Quiricio Caxa (XXXV), Luiz da Fonseca (XXXVI), e outros padres superiores e theologos, em concluir algumas duvidas d casos de
conscincia; e fez fazer um compndio das principaes duvidas que por c occorrem, principalmente nos casamentos e baptismos dos indios e
escravos de Guin, de que se seguiu grande frueto;
e os padres ficaram com maior luz para se poderem haver em semelhantes casos. Fez tambm
cpmpilar os privilgios da Companhia, declarando
os que estavam mal entendidos, e fez que os confessores tivessem a parte distineta dos que lhes
pertencem, para que entendessen os poderes que
tm. E de tudo se seguiu muito frueto: gloria ao
Senhor.
Chegado o tempo da congregao, se comeou
a 8 de Dezembro estando presentes o padre pro-
101
vineia! com os piofessos de (juatro voos que estavam no collegio. qu- eram somente q u a t r o , o
superior dos Ilhus, com o padre A n t n i o Comes ( X X X V I I ) . p r o c u r a d o r da p r o v n c i a , porque
aos mais no chegaram as cartas a tempo, nem
poderam v i r por falta das mones e embarcaes. Foi (deito o p a d r e A n t n i o Comes por procurador
No t e m p o da congregao se n-colheu o padre v i s i l a d o r em Nossa Senhora
da
Freada,
( X X X V I I I ) e r m i d a do collegio. que dista duas lguas da cidade. Acabada a congregao por ordem do padre v i s i l a d o r foi por r e i t o r <!o eolb-gio
do Rio de J a n e i r o o padre lgnaeio de Tolosa eom
Ires padres e alguns i r m o s ; f o r a m bem aeommodados em nosso navio. T a m b m deu profisso de
quatro votos ao padre L u i z da Fonseca, companheiro do p a d r e p r o v i n c i a l , e q u a t r o p.-uin -s
coadjutores espirituaes. i i v s irmos p mpo-aes.
entre os (juaes e n t r o u o i r m o liarnabe IVilo. Ku
fiquei uns quinze dias com o cuidado dos novios
ein lugar do padre Toiosa. em quanto no vinha
de uma misso o padre Vicente Conealves,
( X X X I X ) que lhe havia d sueeeder.
T i v e m o s pelo natal um devoto prespio na
povoaco, aonde algumas w / c s nos ajuntavanios
com boa e devota musica, e i i m o Barnahc mis
alegrava eom seu b e r i m b a u , l u a de Jesus, precedendo as confisses gera.es. que quasi todos fizeram com o padre v i s i l a d o r , se r e n o v a r a m os votos:
pregou em nossa i e n ja o Sr B i s p o : l i n h a o padre
.302
FERNO
CARDIM
303
u m a fresca r a m a d a . q u e t i n h a u m a f o n t e p o r t t i l ,
q u e p o r fazer c a l m a , alm da ha graa, refrescava
o l u g a r . D e b a i x o d a r a m a d a se r e p r e s e n t o u p e l o s
i n d i o s u m d i a l o g o p a s t o r i l , e m l i n g u a brasilii a.
p o r t l l g u c z a e e a s h l h a n a , e t m dles m u i t a g r a a
c m fallar linguas peregrinas, maxim a castelhan a . H o u v e b a m u s i c a d e vozes, f r a u l a s , d a n a s ,
e d ' a l l i e m p r o c i s s o f u m o s a t e a igreja, com v r i a s
i n v e n e s ; e feita o r a o l h e s d e i t o u > p a d r e visit a d o r s u a b e n o , e o m (pie e l l e s c u i d a m pie f i c a m
santificados, pelo m u d o q u e e s t i m a m unia bein-m
d o Abar-guaci
(XLI).
D i a d o s Heis (G le J a n e i r o d e S I ) r e i i o s a r a m
os v o t o s a l g u n s i r m o s
O p a d r e visitador and-s
d a m i s s a r e v e s t i d o e m c a p a 1'asperges de d a m a s c o
b r a n c o e o m d i a e o n o e s u b d i a i o n o v'-iidi> d o
mesmo
d a m a s c o , baplisoti a l g u n s trinla adtillos.
E m l o d o o l e m p o d o b a p l i s m o h o u v e boa m u s i c a e
m o t e i e s . d e ((liando e m q u a n d o se t o c a v a m as
frailtas.
D e p o i s d i s s e m i s s a s o l e i u n e eom d i a c o i i o
e s u b d i a e o n o . ol'li i a d a e m c a n t o ( f u r g o p e l o s ndios, c o m s u a s f r a u l a s , c r a v o e d e s e a n l e : 'fJiitmi
na m i s s a u m i n a n c e h o e s t u d a n t e a l g u n s p s a l m o s e
moteies. com extraordinria devoo.
O p a d r e na m e s m a m i s s a a s o u a l g u n s e m lei
d a g r a a , p r e c e d e n d o na m e s m a m i s s a >s b a n h o s ;
d e u a c o m m u n h o a e e i o o i t e n t a i n d i o s e i m b a s ,
dos q u a e s vinte e q u a t r o , por ser a p r i m e i r a ve/.
e o u i m u n g a r u i n primeira mesa, com capclla de
f l o r e s n a c a b e a ; d e p o i s d a e o m m u n b o l h e s d .l o u o p a d r e a o p e s c o o a l g u m a s v e r n i c a s e n.ni-
304
FERNO
CARDIM
nas com Agnus Dei de vrias sedas, com seus cordes e fitas, de que todos ficaram mui consolados.
Um destes era um grande principal por nome Men
de S (XLII) que havia vinte annos que era chriso; foi tanta a consolao, que teve de ter commungado, que no cabia de alegria. Todo o dia
trouxe a capella na cabea e a guardou, dizendo
que a havia de ter guardada at morrer, para se
lembrar da merc que Nosso Senhor lhe fizera em
o chegar a poder commungar.
E' muito para ver e louvar Nosso Senhor a
grande devoo de fervor, que se v nestes indios,.
quando ho de commungar; porque os homens
quasi todos se disciplinam noite antes, por es-:
pao de um Miserere, precedendo ladainha e sua
exhortao espiritual na lingua: do em si cruelmente; nem tm necessidade de esperar pela noite,
porque muitos por sua devoo, acabando-se de
confessar ainda que seja de dia, se disciplinam na
igreja, diante de todos, e quasi todos tm disciplina, que sabem fazer muito boas.
As mulheres por sua devoo jejuam dois ou
trs dias antes, e todos ao commungar tm muita
devoo, e choram alguns muitas lagrimas: con- '
fessam-se de cousas mui midas, e ao dia da communho se tornam a reconciliar, por levssima que
seja a matria da absolvio. Se lhes dizem que
no nada, que vo commungar, respondem: pai,,
como hei de commungar sem me absolveres?
No meio da missa houve pregao na lingua,
e depois procisso solemne com danas e outras in-
Bn\*u,
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CARDIM
,-;' - j -
TRATADO*
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FERNO
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TRATADOS DA TERRA
I. G E N T E DO B-.ASIL
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todos os padres e irmos a um rio caudal que estava perto de casa, aonde cemos. Iam comnosco
alguns sessenta meninos nusinhos, como costum a m . Pelo caminho fizeram grande festa ao padre, umas vezes o cercavam, outras captivavam,
outras arremedavam pssaros muito ao natural;
no rio fizeram muitos jogos ainda mais graciosos;'
e tm elles n*agua muita graa em qualquer cousa,
que fazem. Estas cousas de ordinrio faziam de;
si mesmos, que no to pouco em brasis e meninos ahar-se habilidade para saberem festejar e
agasalhar o Paygua. (L)
Desta alda fomos de S. Joo, dali sete lguas, tornando a dar volta para o mar. E' caminho de grandes campos e desertos; antes da alda
uma grande legu vieram os indios principaes, os
quaes revesando-se levaram o padre em uma rede,
e pelo caminho ser j breve, a cada passo se revesavam para que no ficasse algum delles sem levar o padre, e no cabiam de contentes tendo
aquillo por grande honra e favor. Fomos recebidos
com muitas festas, etc. Ao domingo seguinte
baptisou o padre 30 adultos, casou na missa outros
tantos em lei de graa e deu a communho a 120..
Houve missa cantada, pregao com muita' solemnidade, e depois das festas espirituaes tiveram
outro jantar como os passados, e toda a tarde gastaram em suas festas.
*
'
Em quanto aqui estivemos fomos bem servidos de aves, rolas e faises, que tm trs titelas
315
316
FERNO
CARDIM
lheres, mais ladinos, resam o rosrio de Nossa Senhora; confessam-se a mido; honram-se muito
de chegarem a comniungar, e por isso fazem extremos, at deixar seus vinhos a que so muito dardos, e a obra mais herica que podem fazer';:
quando os incitam a fazer algum peccado de vingana ou deshonestidade, etc. respondem que so
de communho, que no ho de fazer a tal cousafl
Enxergam-se entre elles os que commungam no
exemplo da ba vida, modstia e continuao das
doutrinas; tm extraordinrio amor, credito e respeito aos padres, e nada fazem sem seu conselho, e
assim pedem licena para qualquer cousa por pequena que seja, como se fossem novios. E at
aos do serto dahi duzentas, trezentas e mais lguas, chega a fama dos padres e igrejas, e.se'no-'
fossem estorvos, todo o serto se viria para s
igrejas, porque os que trazem os portuguezes iodos vm com promessa e titulo que os poro nas,
igrejas dos padres, mas em chegando ao mar nada
se lhes cumpre.
Trs festas celebram estes indios com grande
alegria, applauso e gosto particular. A primeira
as fogueiras de S. Joo, porque suas aldas ardem em fogos, e para saltarem as fogueiras no os
estorva a roupa, ainda que algumas vezes chamusquem o couro. A segunda a festa de ramos, porque cousa para ver, as palmas, flores e boninas
que buscam, a festa com que os tm nas mos ao
officio, e procuram que lhes caia gua benta nos
ramos. A terceira que mais que todas festejam,
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E GENTE DO BRASIL
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varas, dois a imagem de Nossa Senhora, que tambm ficava debaixo do p a l l i o ; trs, as Ires cabeas
das Onze mil virgens e o u t r o s o u t r a s relquias; os
mais levavam suas velas de cera branca nas mos,
e seguia-se a cruz de p r a t a , v Ihuribulo. Comer an*do a procisso a e n t r a r pela sachristia, a gente
arrombou a g r a d e , e e n t r a n d o os h o m e n s somente
a c o m p a n h a r a m as relquias, porque no soffriam
bem p a r t i c i p a r m o s sem elles de t a m a n h a alegria
e consolao. A capella e corredores estavam mui
bem o r n a d o s de vrias sedas, alcatifas, g u a d a m e cins, p a l m a s com outros r a m o s frescos. Na procisso houve ba musica de vozes, fraulas e rfos. Em alguns passos estavam certos estudantes, com seus descanles e cravos, a (pie diziam
psalmos, e alguns moteies. e lambem recitaram
epigramas s s a n t a s relquias. Com esta sob umidade e devoo, chegmos capella, aonde houve
completas solemnes. Foi tanla a devoo dos cidados (pie se no fartavam de vir muitas vazes
visitar as relquias, e os estudantes c o n t i n u a r a m
muitos dias, g a s t a n d o muitas horas em orao, resando seus rosrios. Os p a d r e s e irmos tm nesta
capella muita devoo, orao continua, e assim
as relquias como os painis da paixo le que esta
cercada a capella o pedem. Algumas pessoas de
fura fizeram a l g u m a s esmolas, se. um frontal, vestimenta e sobreeo de veludo verde, uma caixa de
prata, em q u e est a relquia de S. Christovo, outros d e r a m a l g u m a s sedas, e botijas de azeite para
a a l a m p a d a ; as m u l h e r e s j q u e no gosavam da
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THATADOS
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TERRA
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O a n n o de 8.'? houve lo g r a n d e secca e esterilidade nesta provncia (cousa r a r a e desacostumada, p o r q u e terra de c o n t n u a s chuvas) que os engenhos (Tagua no m o e r a m muito tempo. As fazendas de c a n n a v i a c s e m a n d i o c a m u i t a s se secearain, por onde h o u v e g r a n d e fome, p r i n c i p a l m e n t e
no serto de P e r n a m b u c o , pelo que desceram do
serto a p e r t a d o s pela fome. soecorrendo-sc aos
brancos q u a t r o ou cinco mil indios. Porm passado aquelle t r a b a l h o da fome, os que p o d e r a m
se t o r n a r a m ao s e to, excepto os que ficaram em
casa dos b r a n c o s ou por sua. ou sem sua vontade
Tambm ficou um principal c h a m a d o Mitaguaya,
(LX) de g r a n d e nome entre os indios do serto,
por ser g r a n d e lingua e fallador. Este eom intento
e desejo de ser chrislo entregou um seu filho ao
padre l.uiz da Cr, o qual em l n v \ e tempo soube
fallar poriuguez, a j u d a r missa, e a p r e n d e u a ler.
escrever e contar. T a n t o que o p a d r e visilador
chegou a P e r n a m b u c o logo o sobredito Mitaguaya
visitou por vezes o p a d r e , vestido de d a m a s c o mu
passamanes (Touro, e sua espa<ia na cinta, pedindo-lhe com g r a n d e instncia qui/esse ir a sua aldeia e d a r - l h e p a d r e s , (pie se queria baptisar com
Iodos os seus. Dando-lhe o p a d r e boas esperanas (pie o visitaria, fizeram-lhe caminhos por m a ios, e serras aitissimas mais de unia lgua. Quando l fomos nos vieram recebei- quasi duas lguas
da aldeia, e p a r a g a s a l b a d o do p a d r e fizeram uma
casa nova, mas por ser em p a r a g e m de g r a n d e perigo por causa dos contrrios, o p a d r e l.uiz da
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res. e os guies e sellas dos cavallos eram das mesmas sedas de q u e iam vestidos. Aquelle dia correram touros, j o g a r a m c a n n a s . pato, argolinha, e vieram d a r vista ao collegio p a r a os ver o p a d r e visilador; e por esla festa se pde julgar o que faro
nas mais. que so c o m m u n s e o r d i n r i a s . So sobretudo d a d o s a b a n q u e t e s , em que de o r d i n r i o
andam c o m e n d o um dia dez ou doze senhores de
engenhos j u n t o s , e revezando-se desta maneira
gastam q u a n t o tm, e de o r d i n r i o bebem cada
anno O mil c r u z a d o s de vinhos de P o r t u g a l ; alguns annos b c b e r a m oitenta mil cruzados dados
em rol. Emfim em P e r n a m b u c o se acha mais vaidade que em Lisboa. Os viannezes so senhores
de P e r n a m b u c o , e q u a n d o se faz algum a n u d o
contra algum viannez dizem em lugar d e : ai que
(Feirei, ai (pie de Vianna, etc
A villa esl bem situada em lugar eminente
de g r a n d e vista p a r a o mar, e p a r a a i e r r a ; tem
ba casaria de p e d r a e cal, tijolo e telha. Temos
aqui collegio a o n d e residem vinte e um dos nossos;
suslentam-se bem. ainda que tudo vai trs dobro
d o q u e em P o r t u g a l . O edifcio velho, mal acommodado, a igreja pequena (I.NIV)
Os p a d r e s
lem uma lio de casos, outra de latim, e escola
de ler e escrever, pregam, confessam, c com os indios. e negros de Cuin s- faz muito frueto: dos
portuguezes so mui a m a d o s e todos lhes tm
grande respeito. Nesta terra esto bem empregados, e por seu meio faz No-.so Senhor muito, louvado si ja elle por l u d o .
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Acabada a visita de Pernambuco (aonde estivemos trs mezes), e chegadas as mones dos
Nordestes, aos dezeseis de Outubro partimos par|
a Bahia, nove padres e trs irmos, acompanhan-^
do-nos o padre Luiz da Gr, reitor, com alguns parares do collegio, at barra, que uma lega.
Houve muitas lagrimas e saudades despedida, e;
no se podiam apartar do padre visitador, to con-i;
solados e edificados os deixava, e com estas sauv
dades se tornaram cantando pela praia as ladainhas, psalmos e outras cantigas devotas. Estava
j neste tempo o nosso navio fora da barra, e, por?
o tempo ser algum tanto contrrio para sair, andmos at alta noite aos bordos, no podendo tomar
o navio, e quando j o tommos foi ta, e com
chir o padre Rodrigo de Freitas ao mar, entre o
navio e barca, donde o tirmos meio afogado,-mas
Nosso Senhor servido que no chegasse o desastre
a mais. quella noute levmos a anchora, e com
um vento galerno, aos vinte chegmos Bahia.
Ao dia seguinte, por ser dia das Onze mil virgens, houve no collegio grande festa da confraria
das Onze mil virgens, que os estudantes tm a seu
cargo; disse missa nova cantada um padre com
diacono e subdiacono. Os padrinhos foram o padre Luiz da Fonseca, reitor, e eu com nossas capas
d'asperges. A missa foi officiada com ba capella
dos indios, com frautas, e de alguns cantores da
S, com rgos, cravo e descantes. E ella acabada, se ordenou a procisso dos estudantes, aonde
levmos debaixo do pallio trs cabeas das Onze
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movei que valeria tudo passante de oito mil cruzados; e no quiz aceitar ser provisor e adaio da
S, que o Sr. Bispo lhe mandou aceitasse sob pena
d'excommunho.
Aos 14 de Novembro partimos para as partes
d o Sul oito padres e quatro irmos. E quella tarde e dia seguinte navegmos sessenta lguas com
bom tempo, e logo nos deu tal vento pela proa, que
as tornmos quasi iodas a desandar. E tornando
Nosso Senhor continuar com sua misericrdia, nos
favoreceu de maneira que aos 21 tommos a capitania do Espirito Santo, que dista 120 lguas da
Bahia. Fomos recebidos dos padres com muita
caridade, e do Sr. Administrador, que estava na
nossa cerca esperando o padre visitador, com
grande alvoroo e alegria; e logo mandou dous
perus, e os da terra mandaram vitellas, porcos,
vaccas e outras muitas cousas, conforme a possibilidade e caridade de cada um. Logo aos 25se
celebrou em casa a festa de Santa Catharina; disse
missa nova um dos padres que vinha de Pernambuco, filho do governador do Paraguay (LXV); o
qual sendo nico e herdeiro daquella governana,
fugiu ao pai, e entrou na Companhia. O Sr. Administrador foi seu padrinho, e fez officiar a missa
pelos de sua capella, e os indios tambm ajudaram v
com suas frauas. Toda a manh houve muitas
confisses, communhes e pregao.
Em quanto aqui estivemos foram os nossos
mui ajudados com a visita e exhortaes do padre
visitador; fizeram com ellcsuas confisses geraes.
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disse missa cantada officiada pelos indios em cantj
d'orgo com suas frautas; casou algun em lei ide
graa, e deu a communho a outros poucos. Eu
baptisei dois adultos smenie, por os mais sereiti
todos christos.
Esta capitania do Rio dista da Equinocial 2$
graus para o Sul, e da Bahia 130 lguas. E' mu|<|
sadia, de muitos bons ares e guas. No vero/tenjl
boas calmas algumas vezes, e no inverno mui boisl
frios; mas em geral temperada. O inverno se parece com a primavera de Portugal: tem uns dias
formosssimos to aprazveis e salutiferos que p-)
rece esto os corpos bebendo vida. E' terra mui
fragosa e muito mais que a Serra da Estrella; tudo
so serrarias e rochedos espantosos, e tem algunss
penedos to altos que com trs tiros de frecha no
chega um homem ao cho e ficam todas as frechasi!
pregadas na pedra por causa da grande altura;
destas serras descem muitos rios caudaes que de
quatro e sete lguas se vem alvejar por entre matos que se vo s nuvens, e do p de algumas destas:
serras at riba ha uma grande jornada; so todas
estas serras cheias de muitas e grandes madeiras '
de cedros., de que se fazem canoas to largas de '
um s pu, que cabe uma pipa atravessada; e de
comprimento que levam dez, doze remeiros por '
banda e carregam cem quintaes de qualquer ou- '
sa, e outras muito mais. Ha muitos paus de san- J
dalos brancos, aquila e noz muscada e outros paus
reaes muito para vr. Agora se descobriu' um pu'
que tinge de amarello (LXXVI), como o brasil v e r ]
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do m u n d o , e esta fructa colheram c p o r estes m a tos sem pratica n e m conferncias, e so um espelho de toda v i r t u d e , e muito temos os que de l
viemos p a r a a n d a r , se h a v e m o s de chegar a tanta
perfeio da solida e v e r d a d e i r a virtude da Companhia.
Nas oitavas do Natal ouviu o p a d r e visilador
as confisses geraes, o r e n o v a r a m - s e os votos dia
de Jesus, o aquelle dia preguei em nossa igreja.
houve m u i t a s confisses o c o m m u n h e s por causa
da festa e j u b i l e u . P o r se irem a c a b a n d o as mones dos Nordestes quiz o p a d r e visitar primeiro a
casa de S. Vicente o Piratininga para na volta estar
D*este collegio de v a g a r : daqui partimos dejiois
dos Reis p a r a S. Vicente (pie disia daqui '<) lguas,
e a d e r r a d e i r a capitania. Fizemos o caminho
vista de t e r r a , e toda cheia de ilhas mui formosas, cheias de pssaros o pescado. Chegmos em
seis dias p o r lermos s e m p r e culinrias a barra do
Rio, n o m e a d o da liuriquioca
(I.XXIX), se ova
dos bogios, c p o r o n o m e corrupto Berlioga. aonde
est a n o m e a d a fortaleza para (pie a n t i g a m e n t e
degradavam os m a l f e i t o r e s : a fortaleza e cousa
formosa, parece-se ao longe com a de Belm e Um
outra m a i s p e q u e n a defronte, e a m b a s se ajudavam uma o u t r a no tempo das g u e r r a s . Daqui a
villa de Santos so q u a t r o egua.s. Sabendo o padre Pedro Soares (LXXX), superior daquella casa, veio pelo rio d u a s lguas com outro padre, o
Chegando villa j de noite. O capito eom os
principaes da terra estavam e s p e r a n d o o p a d r e
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cam, demos logo em uns campos cheios de mentrastos; quella noute nos agasalhou um devoto*
com gallinhas, leites, muitas uvas e figos de Portugal, camarinhas brancas e pretas e umas*fructas
amarellas da feio e tamanho de cerejas, mas no
tem os ps compridos. Ao dia seguinte vieram os
principaes da villa trs lguas receber o padre.
Todo o caminho foram escaramuando e correndo
seus ginetes, que os tm bons, e os campos so formosssimos, e assim acompanhados com -alguns 20
de cavallo, e ns tambm a cavallo chegmos a
uma Cruz, que est situada sobre a villa, adonde
estava prestes um altar debaixo de uma fresca ramada, e todo o mais caminho feito um jardim de
ramos. Dalli levou o padre visitador uma cruz de
prata dourada com o Santo Lenho e outras relquias, que o padre deu quella casa; e eu levava,
uma grande relquia dos santos Thebanos. Fomos
em procisso at igreja com uma dana de homens de espadas, e outra dos meninos da escola;
todos iam dizendo seus ditos s santas relquias.
Chegando igreja demos a beijar as relquias ao
povo. Ao dia seguinte disse o padre visitador
missa com diacono e subdiacono, officiada em
canto d'orgo pelos mancebos da terra. Houve
jubileu plenrio, confessou-se r e commungou muita gente: prguei-Ihe da converso do Apstolo.
E em tudo se viu grande alegria consolao no
povo. E muito mais nos nossos, que com grande
amor no meio daquelle serto e cabo do mundo,
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nos r e c e b e r a m o a g a s a l h a r a m com e x t r a o r d i n r i a
-alegria e c a r i d a d e .
E m P i r a t i n i n g a esteve o p a d r e visitador quasi
todo o mez de F e v e r e i r o , consolando e a n i m a n d o
os nossos; ouviu as confisses geraes, foi visitado
*<los p r i n c i p a e s da terra m u i t a s vozes. Foi a uma
alda de Nossa Senhora dos Pinheiros da Conceio (LXXX1V) . Os indios o receberam com muita
festa c o m o o c o s t u m a m , m a n d a n d o de sua pobreza. T a m b m foi a o u t r a alda dahi duas lguas;
parte do c a m i n h o fomos n a v e g a n d o por uns campos, por ter o rio e s p r a i a d o muito, c s vezes ficvamos cm secco. Nesa alda baptisou > padre
trinta adultos e casou em lei da graa outros tantos; no fim do F e v e r e i r o se partiu para S. Vicente.
aonde esteve quasi todo o mez de .Maro, e eu fiquei cm Piratininga at ao segundo domim;o da
quaresma, p r e g a n d o o confessando, e q u a n d o parti
para S. Vicente e r a m tantas as lagrimas das mulheres o h o m e n s m o r a d o r e s , que me c o n f u n d i a m :
m a n d a r a m - m e gallinhas para a matolagem, caixas
de m a r m e l a d a , e o u t r a s cousas. a e o n i p a n h a n d o llio alguns de cavallo as trs lguas ate o rio, <l ram e a v a l g a d u r a s para os c o m p a n h e i r o s . Nosso
Senhor lhes pague tanta c a r i d a d e e amor
Piratininga villa da invocao da e o n w t s a o
de So P a u l o ; esta do m a r pelo serto dentro doze
lguas; (erra muito sadia, ha nella grandes frios
e geadas e boas calmas, cheia <!e velhos mais que
centenrios, p o r q u e cm q u a t r o j u n t o s e vivos s<a c h a r a m q u i n h e n t o s annos. Vtem-se de ' :-e 1 . o
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na viagem trinta e dois dias, e quiz-nos Nosso Senhor mortificar, e dar a entender quam trabalhosa*
era a navegao desta costa, porque at ento todas as viagens que o padre visitador fez foram, mui
bem assombradas e mar bonana, mas esta como
era a derradeira, foi tal, to contrrios os ventos e
taes as tempestades, que vindo embocar na Bahia
e estando vista de terra, nos deu to forte tempo
que estivemos perdidos uma noite com o navio
meio alagado, e o traquete desaparelhado, e ns
confessados nos aparelhamos para moner, e se
daquella foramos, l ia a maior parte da provncia, no em numero, mas em qualidade (LXXXIX).
Eu no no havia por mim, porque j me offerecia
que me deitassem s ondas como Jonas, mas queria acabar juntamente com os padres visitador,
provincial, Ignacio Tolosa, e outros irmos de boas
habilidades e virtude, para ajudarem esta provncia: certamente que isto me desconsolava. Porm
foi Nosso Senhor servido consolar esta provncia
com de novo lhe conceder os sobreditos. Chegados Bahia nos achmos sem os padres, que no
foi pequena mortificao, e eu em extremo me
consolei com saber que o padre Loureno Cardim
com tanto animo acabara por obedincia em to
gloriosa empresa (XC). Tive-lhe grande inveja,,
pois vai diante de mim, e em tudo sempre me levou avantagem.
Chegados Bahia mandou o padre visitador
recado ao padre Luiz da Gr, que viesse a este
collegio, e foi o recado em to ba conjunco que
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todos por suas cartas secretamente, que se guardasse assim como estava, o que se faz com ba
satisfao, e assim mesmo approvou outra visita
particular do collegio da Bahia, de que se no
seguiu menos frueto.
Depois disto teve o padre visitador carta de
nosso padre geral, em que lhe dizia que havia de
ir para Portugal, e eu havia de ser companheiro
do padre provincial Marcai Belliarte (XCI); porm se no partisse para esse reino at chegada
do padre Marcai Belliarte. Dahi a um mez, ou
pouco mais, recebeu outra do nosso padre, pela
qual lhe ordenava que me encarregasse deste collegio da Bahia. Veja Vossa Beverencia qual eu
ficarei com um peso to sobre minhas foras, mas
supriro, como espero da caridade de Vossa Beverencia, seus santos sacrifcios, em que muito me
encommendo, etc.
Algumas cousas fez o padre dignas de memria, e muito aceitas aos deste collegio: a primeira
foi um poo de noventa palmos de alto, e sessenta
em roda, todo empedrado, de boa gua, que deu
muito allivio a este collegio, que por estar em um
monte alto, carecia de gua sufficiente para as
officinas; e tambm fez um eirado sobre columnas
de pedra, aberto por todas as partes, e fica eminente ao mar, e vaus que esto no porto que servem
de repousos; e toda a recreao deste collegio,
porque delle vem entrar as naus, descobrem ba
parte do mar largo, e ficamos senhores de todo este
recncavo, que uma excellente, aprazvel e des-
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r a m vella p a r a esse r e i n o ; tiveram s e m p r e prospera viagem at altura de Portugal, em que foram t o m a d o s u m a m a n h de um brechote francez.
sem h a v e r a l g u m a resistncia, por a nu ser desa r m a d a sem n e n h u m a defensa, G de Setembro.
E posto q u e Vossa Reverencia l ter plena
informao dos p a r t i c u l a r e s que nella acontecer a m , n o deixarei de a p o n t a r alguns mais principaes, assim como nos relatou o mesmo p a d r e por
sua carta, o o p a d r e Francisco Soares (XCII) seu
c o m p a n h e i r o . T a n t o que a nu foi entrada de
sete ou oito francezes, o p a d r e se foi ao capito o
lhe disse, q u e lhe d a r i a algumas cousas pie trazia
em seu escriplorio, que lhe pedia por merc lhe
deixasse alguns papeis que nelle tinha, pois lhe
no s e r v i a m ; foi com isso contente o capito, e o
p a d r e m a n d o u vir o escriplorio. e Iho deu, pie era
uma pea de estima, de m a d e i r a de varias cores
e obra b e m a c a b a d a por um irmo nosso, o insigne
c a r p i n t e i r o e m a r e i n e i r o . e j u n t a m e n t e alguns rosrios de cheiro, pelo q u e lhe deixou todos os papeis e lhe deu p a r a os metter. um bal do mesmo
padre, que j o u t r o francez tinha pilhado, o > capito lhe p r o m c l l e u de lho satisfazer
Nova- dias
os t r o u x e r a m os francezes comsigo. nos quaes padeceram m u i t a sede, fome o frio, o mu agasalhado. com (pie ao p a d r e deu u m c a t a r r o rijo com
febre que o tratou muito mal o poz em risco da
vida, m a s esta t i n h a m elles to a r r i s c a d a que cada
dia e s p e r a v a m pela morte a pie estavam o e i v cidos. A n d a n d o com elles appareceu uma for-
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mosa nu ingleza, aqui de todo cuidaram no escapar, mas livrou-nos Nosso Senhor, porque se contentou o inglez com perguntar, que porta a nu e
respondendo-lhes os francezes que bacallu, passou; mas no passou a fria dos francezes, que
vendo ir pela gua uns papeis, que por serem de
segredo o padre os mandou lanar ao mar, e como
elles so desconfiados, cuidaram que ia alli alguma
traio ou cartas para El-Rei, em que por isso os
lanaram ao mar; saltou a fria nelles, e 0 capito
com outros tomaram as achas de fogo, e deram
uma ba a cada um dos nossos, ao irmo Barnab
Tello pelo rosto, ao padre Francisco Soares pelas
costas, e ao padre por uma coxa, estas so boas
piculas sem post pasto: mas no faltou este para
o padre visitador, porque, no satisfeito, um delles
achou uma tijella de fogo, e lha arremessou cabea com tanta fora que lhe tratou muito mal um
olho; acudiu logo outro francez, e de um rolo que
tinha tomado aos padres lhe fez uma pasta e lha
poz nelle. Veja vossa Reverencia que caridade
esta, ho esperada de gente que lhe tinham tomado
at as vestes; e porque o padre sem ellas por causa
do muito frio e catarro padecia muito, rogaram ao
capito que lhe desse um manto para se abrigar
por causa do muito frio; mas pouco lhe durou,
porque indo o padre para cima tomar ar e aquentar-se um pouco ao sol, quando tornou se achou
sem o manto, que nunca mais appareceu. Outra
tribulao grande padeceram espiritual, e foi desta
maneira: lanou o padre Francisco Soares uns
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NOTAS
I O p a d r e p r o v i n c i a l eni P o r t u g a l , a qui-ut F e r n o
Cardim se d i r i g i a , era t p a d r e S e b a s t i o le Moraes, q u e
exerceu o c a r g o le 1580 a l.S8 e foi na o r d e m c h r o n o iogiea o n o n o p r o v i n c i n l la|uella p r o v n c i a ,
Delle era
SOCo ou s e c r e t a r i o o p a d r e C h r i s t o v o d e Gouva, q u a n d o
foi n o m e a d o ])elo geral C l u d i o Aqtiaviva p a r a v i s i t a d o r
(Io Brasil. S e b a s t i o de Moraes n a s c e u em F u n c h a l , na
ilha da M a d e i r a , em 1 5 3 1 ; e n t r a n d o p a r i a C t a n p a n h i a de
Jesus em P o r t u g a l , p a s s o u p a r a o d u c a d o d e P a t i n a , c o m o
confessor d a p r i n c e z a d. Maria, v o l t a n d o ao r e i n o -m
1577. d e p o i s d e fallecida a|uella p r i n c e z a .
Kra p r o v i n cial q u a n d o fui n o m e a d o b i s p o d o J a p o p e r Filippi- II,
c o n f i r m a d o p o r S i x t o V, em 15.S7, e s a g r a d o em Lisboa
eni M a r o d o a n n o s e g u i n t e ; e m b a r c a n d o logo p a r a o
O r i e n t e com sete c o m p a n h e i r o s , n o c h e g o u ao seu destino, p o r q u e falleeeil cm M o a m b i q u e , a 7 de .lulho de
1588, v i c t i m a d o p o r d o e n a c o n t a g i o s a q u e assaltou a
nu cio q u e viajava.
C.onf. Ayiolixiio
Lusitttn,
t. IV.
ps. 8 1 . letra A.
II
C h r i s t o v o de Gouva n a s c e u na c i d a d e tio
P o r t o a 8 d e J a n e i r o d e 15-12: e n t r o u p a r a a C o m p a n h i a
374
FERNO
C AR D I M
TRATADOS
DA /TERRA
F. G K N T K
TO
BRASIL
375
(Ire, e n d e d e s e m b a r c a r a m .
Em Portugal o padre ainda
exerceu c a r g o s e m i n e n t e s da C o m p a n h i a ; falha u em
Lisboa, a 13 d e F e v e r e i r o d e 1(522, c o m o i t e n t a a n n o s de
e d a d e e s e s s e n t a e seis d e r o u p t a . O u t r o s d a d o s s u m m a rios p a r a a sua h i o g r a p h i a c o n s i g n a B a r b o s a M a c h a d o
Bibliotheca
Lusitana
( L i s b o a , 1741), t. I, ps. 578 5711.
* Das o b r a s q u e e s c r e v e u ha alli r e f e r e n r i a s seguintes :
Historia do Brasil. ' costumes
de seus
babiladores.
0 m s . se c o n s e r v a v a n o collegio d e C o i m b r a , o n d e o viu
Gcorge C a r d o s o , c o n f o r m e se infere Io Ayioloyio
Lusitano, t. I, ps. 120, Cotumentario
a 25 de F e v e r e i r o , letra /'.
No foi i m p r e s s o t i n f e l i z m e n t e p o d e ser c o n s i d e r a d o
perdido.
- Commeulario
das oceapaoens
que leve. e do que
tiellas fez.
' l a m b e m n o foi i m p r e s s o ; faz delle mcn;o
o p a d r e A n t n i o F r a n c o Imagem da Virtude em o Xociadu do Collcyio de Coimbra,
liv, I. e a p . 3 1 . S 7. A C h r i s tovo d e Gouva a t t r i b u i u i n a d v e r t i d a m e n t e Barbosa Mac h a d o o Summario
das Armadas
que se fizero,
e Guerras que se dero na Conquista
/" Bi" da Paruhyba.
ct..
le q u e viu c p i a s n i a u u s e r i p l a s nas l i v r a r i a s de seu
irRio d. J o s B a r b o s a , c l r i g o regular, e d o e u n d e d e
Vimieiro.
V a r n h a g e n . n a s Reflexes
,-ritieas
(Lisboa.
1837), n o t o u q u e a a u t o r i a laquclle e s c r i p t o no p o d i a
p e r t e n c e r ao v i s i l a d o r , a q u e m s o m e n t e era d i r i g i d o ; na
Historia Geral do Brasil C2.m .-diro) t. I. ps. 318, conferiu-a ao p a d r e . l e r o n y m o M a c h a d o , pie fora t e s t e m u n h a
presencial dos acontecimentos relatados, eomo Cunha
Hivara
Catalogo dos Mauuscriplos
da Bihliolhccu
Publica Eborcnsc
( L i s b o a , 185DL t. L ps. 19 20. havia p r o posto, e C n d i d o M e n d e s <<>/>. ei!., ps. 507. nota t) tacitainente a c e i t a r a .
P a r a C a p i s t r a n o te Abreu
Proleyomenos . a l a d o s , ps. 137, p o d e ter s i d o a u t o r do
Summario
o p a d r e S i m a o T a v a r e s , q u e l a m b e m assistiu p a r t e los
Miccessos. Alm d a s c p i a s m a i i u s c r i p t a s a q u e se refere
Barbosa M a c h a d o , c o n h e c e m - s e a i n d a a da B i b l i o t h e c a
376
FERNO
CARDIM
TnviADos DA T E R R A F: GK.VTE DO B R A S I L
377
378
FERNO
CARDIM
TOATADOS
DA T E R R A
F. G E N T E
DO B R A S I L
379
t r o s p a d r e s c i r m o s a r r i b o u a; E s p i r i t o S a n t o c a h i falIcceu o p a d r e G r c g n r i o S e r r o , a 25 de N o v e m b r o de
1580, c o m t r i n t a seis a n n o s d e C o m p a n h i a e t r i n t a e trs
de B r a s i l . F o i e n t e r r a d o na c a p e l l a d e S a n f l a g o . o n d e
m a i s t a r d e foi s e p u l t a d o o c o r p o d e A n c h i e t a , o p r o v i n cial q u e , s e g u n d o a s c h r o n i c a s , a o o r d e n a r - l h e s e g u i s s e
v i a g e m , lhe d i s s e r a p r o p h e t i c a m e n t e :
" V a d e , frater.
quia p o s t e a n o s c o n j u n g i t l o c u s . "
Na America
Abreviada,
d o p a d r e J o o d e Sousa 1-Vr1
r e i r a , i n s e r t a na Revista do Instituto
Histrico,
t. 57, p a r t e
1 ( 1 8 9 4 ) , v e m a r e s o l u o , que assigaoti com o b i s p o t d .
Antnio d e B a r r e i r o s ) e o o u v i d o r - g e r . d Gosme H a n g i l ,
s o b r e o s i n j u s t o s e a p t i v e i r o s los iniios. nu piai se c r i t i cam a s d e t e r m i n a e s nesse s e n t i d o t o m a d a s pelos govern a d o r e s L u i z d e B r i t o e A n t n i o ! S a l e m a , e se i n d i c a m
os r e m d i o s p a r a o a u g m e n t o e c o n s e r v a o tio e s t a d o tio
Brasil.
VIII - - O p a d r e Manuel de B a r r o s c h e g o u ; Bahia
com a g r a n d e leva q u e t r o u x e o p a d r e G r e g o r i o S e r r o c m
1578.
E r a d o s m e l h o r e s p r e g a d o r e s que havia na p r o vncia,
i n f o r m a C a r d i m , q u e a elle se refere tnais de
u m a vez. Manuel de B a r r e s falleeeti na Bahia em 1587
IX
Dos .Moniz.es d e Portugal t r a t a B r a a n c a m n F r e i re
Brases da Sala de Contra ( L i s b o a . 188!)). vol. 11, ps.
234J202. No r e i n a d o de d. J o o 1 viveu Vasco .Martins
Moniz, filho ile B r a n c a L o u r e n o e le Martim F a g u n d e s .
q u e p e l a s e r a s le 1415 a 1417 foi e n c a r r e g a d o da g u a r d a
e a r r e c a d a o los e g r e j a i r o s r c a e s de Beja. S e r p a . Moura.
Mutiro e O l i v e n a . Casou Vasco M a r t i n s com Brites Per e i r a e foi o p r o g e n i t o r dos a l c a i d e s m o r e s de Silves, dos
s e n h o r e s d e Angeja e d e v r i o s r a m o s no c o n t i n e n t e e n a s
i l h a s . O u t r o Moniz. Fe bus Moniz. flori secu no r e i n a d o
de d. M a n u e l . Nas c o r t e s c e l e b r a d a s em Lisboa, d e Fev e r e i r o a M a r o le 1494, em pie se d e l i b e r o u s o b r e a jorn a d a (Io rei e Ia r a i n h a p a r a s e r e m j u r a d o s os p r n c i p e s
380
FERNO
CARDIM
herdeiros de Castella e Arago, se encontra nomeado Febos Moniz entre os officiaes mores e fidalgos. Damio
de Ges Chronica do Serenssimo
Rei D. Emanuel
(Coimbra, 1790), parte I, cap. XXVI, ps. 54.
O governador Manuel Telles Barreto era filho do capito Henrique Moniz Barreto, que no anno de 1529, a 1
de Setembro, seguiu para a ndia commandando a nu
Concepam, uma das quatro da armada do capito-mr
Diogo da Silveira. Henrique Moniz falleceu no mar, e
levava comsigo dois filhos de pouca edade, Antnio Moniz, que depois foi governador da ndia, e Ayres Moniz.
Diogo do Couto Dcadas (Lisboa, 1778), t. I, parte II,
ps. 39; Frei Luiz de Sousa Annaes de Elrei Dom Joo
Terceiro (Lisboa, 1844), ps. 258; Manuel Xavier Compndio Universal (Nova Ga, 1917), ps. 18.
X Segundo Cardim, existiam no collegio da Bahia,
quando chegou o visitador Christovo de Gouva, duas
cabeas das Onze mil virgens; o padre trouxe mais outra.
At 1584, conforme Anchieta Informaes
citadas, ps.
25, havia em todo o Brasil seis dessas relquias, que o
texto assim distribe: trs no collegio da Bahia, uma em
Pernambuco, uma no Rio de Janeiro; quanto restante
estaria talvez em Piratininga. Naquelle anno foi creada
na Bahia a irmandade das Onze mil virgens. Dos Annales
Litterarii, excerptados por A. Henriques Leal Apontamentos citados, t. II, p s . 165, consta referencia ao facto:
"Faltando chuvas e havendo muita secca, fizeram preces
e procisso nocturna, indo nella tun andor com a cabea
de uma das Onze mil virgens, e logo se toldou o co, e
comeou a chuver." Representaram os padres por essa
oceasio um mysterio ou auto das Onze mil virgens: "o
publico chorava (dizem os Annales), e ho se pde significar quanto comemos a ser procurados e concorridos
depois desta solemnidade."
A' irmandade das Onze mil virgens dispensou o bispo
TRATADOS DA T E L H A E G E N T E DO B R A S I L
1S1
382
FERNO
CARDIM
383
No
le
si
XIX Ereiupe dico tupi. que assim se decompe: cr tu, jr, do verbo air, vieste. t pc partcula interrogativa: tu vieste'' Era a frma le saudao commum aos povos da familia Tupi, o salamalh da raa. na
comparao apropriada de Varnhagen. - - Conf. Baptista
Caetano
indios do Brasil, verba
XX
Ver nota XIII. Nesse passo a informao de
Cardim no combina com a de Anchieta, pie faz listar a
alda de S. Joo quatorze lguas da Bahia
XXI
O irmo Francisco Dias foi um dos que
vieram na leva do padre Gregorio Serro. em 1578. Faltam noticias a seu respeito.
384
FERNO
CARDIM
TRATADOS DV T E R R A E G E N T E DO B R A S I L
385
J u n h o Io a n n o s e g u i n t e .
f!ess<- d o n a t r i o d i z frei Vicentt tio S a l v a d o r - - Historia
do Brasil, c i t a d a , ps. 100.
" q u e nella m e t t e u g r a n d e c a b e d a l , c o m o q u e veio a t e r
oito e n g e n h o s , a i n d a q u e os feitores ( c o m o co^tim ani fazer rij B r a s i l ) l h e lavam em conta a despesa p o r r e c e i t a .
m a n d a n d o - l h e m u i p o u c o ou n e m u m a s s u c a r
Pelo q u e
lie e s c r e v e u a um flo-a-ntino c h a m a d o T l a a i n z . que H v
pagava c o m c a r t a s le m u i t a e l o q n c i a : T h o m a z o . piiere
que te d i g a , m a n d a Ia a s u e r e , deixa Ia p a r o l l e . e a s s k m o u se sem e s c r e v e r m a i s l e t r a . " P a d e c e n d o Lucas G a a l d . - s ,
veio a c a p i t a n i a ter s m o s de seu filho F r a n c i s c o Gir.ddes, c o n f i r m a d o p o r c a r t a d e 10 tle Agosto de 1500.
F r a n c i r c o Girahle-: foi n o m e a d o p a r a succcd-.-r Manuel Telles B a r r e t o no ;..-ovenio geral do Brasil, em 9 de
Maro d e 1 5 8 8 .
V i n d o a s s u m i r suas func-t-s, i nu cm
que viajava a n d o u m a t r o c a d r r a n t e piarenta d i a s tia
Madeira p a r a a cosia tia G u i n , sem c o n s e g u i r t r a n s p o r a
linha, a r r i b a n d o afinal p a r a as A n t i l h a s sem t o c a r no
continente.
D e p o i s de um a n o e meio de n a v c a c o .
Voltou a Lisboa, em fins d e S e t e m b r o de 1580. O c o n t r a t e m p o a r r e f e c e u o a n i m o Io iovernador, tpn- ao cabo desistiu Io c a r g o .
Ainda neste passo o pie d i z C a r d i m c o n c o r d a c o m o
que se l em A n c h i e t a
informaes
c i t a d a s , ps. 39, com
a d i f e r c n a de e-iHi-riin estas mais m i n c i a s .
XXVI
) a d m i n i s t r a d o r , i tjue l . a r d i m se refere,
B a r t h o l o m e u S i m e s P e r e i r a , p u e chegou a o Brasil nos
ultimo-, d i a s d e 577. com o g o v e r n a d o r Lourem. o da Veiga. O p a p a Grc.-orio XIII, pelo b r e v e ,V/;>i (irtds. de 19
d e J u l h o d e 1570, d e s m e m b r o u d> b i s p a d o d o Brasil o
t e r r i t r i o d o Bio d e . l a n e e o e c a p i t a n i a s v i z i n h a s , p a r a
nelle e i v a r uma p r e l a s i a com j u r i s t l i e o o r d i n r i a e i n d e p e n d e n t e , ad-ius!ar
d a s d e (Vniuz, M o a m b i q u e . Sofala e
Maluca; No b r e v e se d e c l a r o u e x p r e s s a m e n t e que a nom e a o Io a d m i n i s t r a d o r c o m p e t i . , a el-rei e devia caber pessta e x a m i n a d a e a p p r o w t . l a pelo t r i b u n a l da
386
FERNO
CARDIM
397
388
FERNO
CARDIM
I
T R A T A D O S DA T E R R A V. G E N T E DO B R A S I L
3S9
versidadc
de Coimbra
- C o i m b r a , 19n4 (Nota d o d r .
C a p i s t r a n o de A b r e u ) . Ahi a p p a r e c e o nome do irmo
Manuel T r i s t o , e n f e r m e i r o d o collegio da B a h i a , a q u e m
P u r c h a s p r e t e n d e u a t t r i h u i r a a u t o r i a d o s e s c r i p t o s de
Cardim.
XXX Befere-se a o p a d r e J o s e p h de A n c h i e t a , q u e foi
o s e x t o p r o v i n c i a l d o B r a s i l , e o era ao t e m p o da visitao do p a d r e Christovo de Gouva.
XXXI
A a l d a d e S a n t o Antlr m a n d o u f u n d a r o
p r o v i n c i a l L u i z ria G r e m N o v e m b r o d e 1501, i t r i n t a
lguas d a B a h i a , e j estava p o v o a d a em 1502. Ver Trabalhos dos primeiros
Jesutas
no Brasil, c i t a d o s , ps. 219.
XX\Ii
Dia d o Anjo (e no 1. dia do a n n o , c o m o
leu V a r n h a g e n ) d e v e ser o le 29 de S e t e m b r o , de S. Miguel
Archanjo.
XXXIII
Da c a p i t a n i a de P o r t o S e g u r o o p r i m i t i v o
d o n a t r i o foi P e r o d o C a m p o T o u r i n h o . q u e em 1535
a s s e n t o u a p r i m e i r a villa n o m o n t e v i z i n h o ao sitie cm
que C a b r a l fizera p l a n t a r a cruz. Fsse d o n a t r i o teve no
Brasil a e x i s t n c i a a t t r i b u l a d a q u e se c o n h e c e
Fm P o r t o
S e g u r o , a 2-1 tle N o v e m b r o d e 1540. foi p r e s o , logo sulim c t l i d o a l o n g o p r o c e s s o e afinal r e m e t t i i t o a c o r r e n t a d o
ao T r i b u n a l ia I n q u i s i o d e Lisboa, por c r i m e th- h e r e sia e b l a s p h e m i a ,
e s c r e v e C a p i s t r a n o de Abreu, nos
Prolcyoinenos
c i t a d o s , ps. 8 1 . P a r a o facto e n c o n t r o u o
m e s t r e e x p l i c a o no q u e d e n u n c i o u o s e x a g e n r i o d a s
p a r Dias B a r b o s a mesa do S a n t o Officio na Bahia, emb o r a c o m seus d i z e r e s n o c o n c o r d e m em t u d o os d o p r o cesso a i n d a e x i s t e n t e , de q u e tem sitio d i v u l g a d o s alguns
Ncerptos: " n a c a p i t a n i a d e P o r t o S e g u r o A n d r tio Campo e G a s p a r F e r n a n d e s , e s c r i v o , e u n s frades Ia o r d e m
d e S. F r a n c i s c o o u t r a s pessoas q u e lhe no l e m b r a m ,
o r d e n a r a m autos e tiraram testemunhas e prenderam a
390
FERNO
CARDIM
TRATADOS DA T E L H A L G E N T E DO B R A S I L
391
392
FERNO
CARDIM
Ainda vivia na Bahia ao tempo em que Heitor Furtado de Mendoa l esteve como visitador da Inqpisio:
em Agosto de 1591 advertia ao dr. Ambrosio Peixoto de
Carvalho, desembargador e provedor-mr dos.defuntos e
ausentes, de certa heresia proferida em sua presena, que
este se apressou em confessar mesa do Santo Officio
Primeira visitao citada, p s . 54. Em Janeiro do anno
seguinte, devia ter ouvido em confisso os peccados escabrosos de Marcos Barroso, passando recibo para a mesa
ver. Ibi., p s . 153.
XXXVI Luiz da Fonseca nasceu em Alvalade, villa
do Alemtejo, em 1550; entrou para a Companhia em 1569
e nesse mesmo anno foi enviado para o Brasil, aqui recebendo as quatro ordens, conforme narra Cardim no texto.
Foi vice-reitor do collegio da Bahia durante o impedimento por ausncia e enfermidade do padre Gregorio
Serro, e reitor quando este no poude mais fazer seu
officio. Em 1589 era scio ou secretario do provincial e
em 1591 ou princpios de 1592, reunida a congregao da
provncia para a eleio do procurador que devia ser
mandado a Roma, a escolha nelle recaiu. Sabe-se sque
desempenhou bem sua misso. Presume-se de sua autoria a memria anonyma sobre os Trabalhos dos primeiros Jesutas no Brasil, citados. Uma sua carta, escripta
por commisso do provincial Ignacio de Tolosa, datada
da Bahia em 17 de Dezembro de 1577 e dirigida ao geral
Everardo Mercuriano, primeiro divulgada atravs da traduco franceza das Lettres da lappon, Perv et Brasil
(Paris, 1578), p s . 73|79, documento nico sobre a expedio do d r . Antnio de Salema a Cabo-Frio, em que desbaratou os Tamoyos alli fortificados. Uma verso italiana
dessa mesma carta publicou o meritorio baro de Studart
nos Documentos para a Historia do Brasil, vol. II, p s .
17! 73. Da traduco franceza utilizou-se o dr. Capistrano
de Abreu para reconstituir magistralmente a narrao
daquella trgica jornada, em artigo publicado na Gazeta
TIUTADOS
DV TERRA
E GENTE
DO BRASIL
393
de Noticias,
d e 0 de N o v e m b r o le 1882, s o b o titulo de
Grani los da Historia Ptria, t r a n s c r i p t o cm boa h o r a p o r
Macedo S o a r e s , cm n o t a s e g u n d a e d i o do
Regimento
das Cumarus Municipaes,
d e C o r t i n e s L a x e ( R i o de J a n e i ro, 18851. p s . 1-13,446, e p o r A u g u s t o de C a r v a l h o , nos
Apontamentos
para a Historia
da capitania
de S.
Thom
( C a m p o s , 1888), p s . 81J85.
XXXVII
O p a d r e A n t n i o Gomes devia ter v i n d o
ao Brasil a n t e s le 1585, p o r q u e em fins desse anno ou
p r i n c p i o s d o s e g u i n t e voltava c o m o p r o c u r a d o r para trat a r em R o m a e P o r t u g a l . F a l t a m d e p o i m e n t o s a seu respeito. Na Synopsis
de F r a n c o , r e f e r e n t e i 10119, o c c o r r e
um h o m o n y m o , q u e n a o d e v e ser o p r p r i o , p o r q u e no
vem q u a l i f i c a d o e o m o p a d r e .
XXXVIII
Gabriel S o a r e s
Tratado
descriptivo
c i t a d o , p s . 152, e s c r e v e :
. . . e vai c o r r e n d o esta r i b e i r a
( P i r a j ) d o m a r da Bahia com esta f o r m o s u r a at Nossa
S e n h o r a da F s c a d a , que uma formosa igreja dos p a d r e s
Ia C o m p a n h i a , q u e a tem, m u i t o bem c o n c e r t a d a ; o n d e s
vezes vo c o n v a l e s c e r a l g u n s p a d r e s le suas e n f e r m i d a des, p o r ser o lugar p a r a i s s o ; a qual igreja est uma lgua Io Rio d e Piraj c d u a s da c i d a d e . "
WXIX
Vicente G o n a l v e s c h e g o u ao Brasil cm
1578, na g r a n d e t u r m a d o p a d r e G r e g o r i o S e r r o ; na Bahia r e c e b e u as q u a t r o o r d e n s . N a d a m a i s s o b r e elle se
consegue a p u r a r
t
\!.
() s a c e r d o t e cm cuja casa foi a g a s a l h a i i o na
n o i t e d e II p a r a I te J a n e i r o de 158-1 o v i s i t a d o r com a
sua c o m i t i v a , p a r e c e ter s i d o o p a d r e G o n a l o tle Oliveira, pie d e p o i s e n t r o u p a i a a C o m p a n h i a .
\ cila post e r i o r m e n t e fez. r e c l a m a o p o r m o t i v o de c e r t a s d o a e s
d e s e u s b e n s , e foi d e s p e d i d o .
Uma c a r t a de A n c h i e t a .
sem d a t a , m a s d e 1590. i n f o r m a o u n i l a t e r a l s o b r e o
394
FERNO
CARDIM
do Rio de Ja-
XLI Abar-gua vocbulo tupi que significa p a dre grande, bispo. O nome abar compe-se de aba homem, r differente, diverso, como era o p a d r e ds outros
homens, no conceito do indio. Em Luiz Figueira
Grammatica Brasilica (Lisboa, 1687), ps. 6, vem Abar
gua. ogoat, o padre grande passa. Pay, que se encontra tambm no texto, outro synonimo de p a d r e : no>
Diccionario Portuguez Brasiliano citado, o padre da Companhia era pay-abuna; o de Santo Antnio pay-tucrar.
etc. Pay-gua o mesmo que abar-gua. - Conf.
Baptista Caetano ndios do Brasil, verba abar.
XLII Era de uso tomarem os indios que se b a p t i savam nomes de personagens importantes. Com o de
Martim Affonso de Sousa dois passaram historia: Ararybia e Tibyri; Men de S chamou-se esse de que
Cardim faz meno; Vasco Fernandes, Antnio de Salema e Salvador Corra foram outros do Rio de Janeiro.
Muitos foram os que adoptaram os nomes de portuguezes.
que os levaram pia baptismal.
,
XLIII A confisso da gente da terra, que no sabia
falar a lingua dos padres, foi objecto de duvida, que opadre Manuel da Nobrega, em carta da Bahia, depois de
15 de Agosto de 1552, ao padre-mestre Simo, submeeu
disputa no Collegio de Coimbra, pedindo o parecer dos
principaes letrados da Universidade. No dizer de Nobrega, "parece cousa nova, e no usada em a Christandade, posto que Cazer. in summam, 11." condit, e os que
allega Nau. c. fratres n. 85, de penit. dest. 5.a digam que
pde, posto que no seja o b r i g a d o " . Nobrega Cartas
do Brasil citadas, p s . 104. A duvida foi solvida pela affirmativa, porque Cardim confessava por interprete. Esse;
devia prestar o juramento de sigillo sacramentai.
TRATADOS DA T E R R A E G E N T E DO BI.VSJL
395
XLIV
A p h r a s e t u p i - x ruir tup lo de hirumano, t r a d u z i d a n o t e x t o p o r - - filho, Deus v . . m t i c o .
p o d e s e r assim a n a l y s a d a :
x, p r o n o m e p a c i e n t e : m e , m i m , a m i m , de m i m , meu,
minha;
rair, ruyru. p o r tayra, filho, m u d a d o o / em r na comm
posio;
tup p o r Tup, D e u s ;
to, d o v e r b o a ir. s u b j u n c t i v o p r e s e n t e ;
de p o r ntle, p r o n o m e p a c i e n t e : te. ti. de ti. etc
hirunaino,
p o r yrunumo,
junto com.
Do q u e , e s c r i p t a c o r r r e c t a m e n t e , d e a c c o r d o c o m
Anchieta e F i g u e i r a , resulta a p h r a s e :
xcrayra,
lupa
lo nde yrunumo,
(pie se t r a d u z l i t e r a l m e n t e : m e u filho,
Deus v j u n t o c o m t i g o .
XLV O c a b a o c h e i o de p e d r i n h a s o
murara.
i
XLVI
nca. n o m e t u p i . de oy c o b r i r , t a p a r , r e s g u a r d a r : o q u e c o b r e , t a p a , ou r e s g u a r d a , a casa, a h a b i t a o
commum, que L c r \ . llans Staden e outros descrevem mais
OU m e n o s n o s m e s m o s t e r m o s .
Conf. Baptista C a e t a n o
ndios do Brasil, verba ocas.
XLVII - - Neste p a s s o , e o m o nos ndios do Brasil, no
capitulo que trata
!)<> costume
que lem tle agasalhar
os
hospedes,
refere-se C a r d i m s a u d a o l a c r i m o s a tios ndios.
F r a c o s t u m e m u i t o g e n e r a l i z a d o e n t r e os a b o r g e nes d o Novo M u n d o , em a l g u m a s p a r t e s e e r e m o n i a rigorosa i i n d i s p e n s v e l ,
P e r o Lopes de Sousa foi talvez o
p r i m e i r o e u r o p e u q u e > o b s e r v o u e delle nos d e i x o u n o t i cia m a i s ou m e n o s c i r e u m s t a n c i a d a . em seu Dirio da Navegao.
File e s e u s c o m p a n h e i r o s , d u r a n t e quasi tlois
mezes d e r e c o n h e c i m e n t o s e f f e c t u a d o s no e s t u r i o tio r i o
Ia P r a t a , t i v e r a m f r e q e n t e s c o n t a d o s eom os C h a r r n a s
Ou s e u s o n s a n g u i n e o s , os M i n u a n o s ou V a r a s ; ao d e s e m b a r c a r e m n a s i m m c d i a e s d o c a b o de Santa Maria, fo-
396
FERNO
CARDIM
TRAYVDOS DA TERRA
E G E N T E DO B R A S I L
397
XLIX
P a r e c e r e f e r i r - s e a Garcia uVwila o pie se
l no t e x t o , c o m b i n a n d o - s e c o m o pie dizem A n c h i e t a
Informaes
c i t a d a s , p s . 17, e G a b r i e l S o a r e s
Tratado
descriptivo,
p s . 48. Era G a r c i a PAvila dos m a i s r i c o s
h a b i t a n t e s da Bahia n n q u e l l c t e m p o , p o s s u i d o r d e m u i t o s
c u r r a e s d e g a d o cm t o d a a costa d o rio Real at a l e m d e
* T o t u a p r a , eom g r a n d e s e d i f c i o s de c a s a s tle v i v e n d a ,
capellas e e r m i d a s .
Veio p a r a o Brasil em 1549 c o m o
c r i a d o tio g o v e r n a d o r geral Thonu- le Sousa, e foi o fund a d o r da casa da T o r r e . A esse, q u a n d o n o era m a i s gov e r n a d o r , em c a r t a da Bahia, de 5 de J u l h o tle 15.V.I, q u e i xava-se o p a d r e Manuel da N o b r e g a
Cartas do Brasil
(Rio de J a n e i r o , 1886), p s . 161 : "Agora e n t r a m os pieixumes q u e eu t e n h o de G a r c i a FAvila: elle um h o m e m
com q u e m eu m a i s me a l e g r a v a e c o n s o l a v a nesta t e r r a ,
p o r q u e a c h a v a nelle um r a s t o d o e s p i r i t o e b o n d a d e le V.
Merc d e q u e eu s e m p r e m u i t o me c o n t e n t e i , com > ter
ai me a l e g r a v a , p a r e e e i i d o - m e e s l a r a i n d a T h o m e de Sousa nesta t e r r a .
T i n h a elle uns n d i o s p e i t o le sua fazenda. G u a n d o o g o v e r n a d o r os a j u n e t a v a , p e d i u - m e lhe
a l c a n a s s e Io G o v e r n a d o r q u e lh'os dt ixasse, p r o m e t t e n d o
elle d e os m e n i n o ; ; i r e m c a d a dia eschola de S. P a u l o ,
que estava m e i a lgua delle, e os m a i s iriam aos d o m i n gos e festas missa c p r e g a o . C i m e e d e r a m - I h e ; mas
elle teve m a u c u i d a d o d e o c u m p r i r , s e n d o de m i m
a d m o e s t a d o , a n t e s d e i x a v a viver e m o r r e r a t o d o s c o m o
(ienlios; t t i n h a alli um h o m e m q u e lhe d a v a p o u c o p o r
elle m i n os e s c r a v o s , e m u i t o m e n o s o Gentio i r e m a
m i s s a . P e l o pie fui f o r a d o tle m i n h a c o n s c i n c i a a ped i r q u e os a j u n e t a s s e m c o m os o u t r o s em S. P a u l o , e p o s t o
que a i n d a l h ' o s n o t i r a r a m , c o m l u d o elle m u i t o se escaiidalisou tle m i m . assim q u e , nem a elle, n e m a o u t r o nen h u m j t e n h o n e m q u e r o m a i s q u e a Deus Nosso S e n h o r
a r a z o e j u s t i a , si a eu t i v e r . '
Fm 28 de J u l h o de 1591 cvr, o v e r e a d o r m a i s velho
Ia C m a r a d a B a h i a , e nessa q u a . i d a d e p r e s t a v a j u n i
nu-li to p u b l i c o ia e na frma d o r e g i m e n t o que t r o u x e r a
398
ERN Q
C A R Dl M.
399
LU - O numero de engenhos do Beeoncavo combina com o que d Gabriel Soares: trinta e seis, dos quaes
vinte um que moiam com gua, e quinze que moiam
com bois. Ao tempo em que Gandavo compunha seu
Tratado da Terra do Brasil eram apenas dezoito, "e alguns se fazem novamente".
LIIJ O padre Manuel de Castro no figura na Synopsis de F r a n c o ; um Craslo, que alli vem como portuguez, sem declarao do primeiro nome. aportou ao Brasil em 1559 e era ainda irmo. Manuel de Castro, cm
fins le 1573, foi mandado com Pantaleo Gonalves da
Bahia para Pernambuco, c fez por mar jornada tormentosa, em que gastou quarenta dias; em Pernambuco escapou de morrer afogado, atravessando um rio a nado: na
casa que alli existia, veio cm Agosto de 1575 o irmo Gabriel Gonalves ler a classe de latim em seu logar. Vr
a Historia de Ia Fundacion de! Cotlc/i,, de Ia Cumpahia
de Pernambuco,
publicada na Collec,, de
manuscritos
inditos da Bibliotheca Publica Municipal tio porto. vol.
VI (Porto, 1923), ps. 19 e 44.
LIV
Ahaeic significa homem verdadeiro, homem
de bem, de //</ homem, e etc verdadeiro, legitimo, bom.
de bem. li' Iranslata a aceepo do texto.
Conf. Baptista Caetano
ndias do Brasil, verba
LV Teig-upaba ou teyupba. dico tupi, iue no
Diccionuria Portuguez ' Brasiliano tem o equivalente de
cahana, derivado le tcytj do povo. da gentalha, upb sitio, conforme Baptista Caetano. No lxico francez penetrou o njoiipa, a que Bochefort
Histoire Saturelle, e
Monde des lies Antilles de rAmriyuc
(BoUcrdam. 10581.
ps. 522. attribe origem caraiba. significando "un appenty, un ouvert, ou un auvent" e pie corresponde perfeit.utiente ao tejupba tupi. graphado aioupuue por (.lande
(PAbbeville e Vves tt'1-.v r.-ux. Ajoiipu consigna Littr em
400
FERNO
CARDIM
401
402
FERNO
CARDIM
TRATADOS DA T E R R A E G E N T E DO BRS I L
403
404
E R NO
CARD
IM
405
LXV No foi possvel apurar qual fosse esse padre, a que se refere Cardim. De 1581 a 1586 foi governador do Paraguay o licenciado Juan Torres de Vera;
precedeu-o, de 1574 a 1581, Juan Ortiz de Zarate. o succedeu-o, de 1586 a 1592, Alonzo de Vera y Aragon, sobrinho do primeiro. Destes s o ultimo exerceu suas funces como governador effectiv), substituindo nesse carter Domingo Martincz Irala; os outros, apezar Ia dilao
de seus governos, foram provisrios ou interinos. Nos
Annales Lilterarii citados, allude-se entrada para o collegio de Pernambuco, em 1584, de um moo, bom disrursador e engenho a r d e n t e : "ut omnia de o sperari jam
liceat."
LXVI - A phrase tupi
Pay, marpe,
guarinime
nande popeoari'.'
vem livremente traduzida no texto.
Decompondo-a e coi rigindo-a, temos:
Pay, padre;
marpe, advrbio interrogativo: como;
guarini-me, na guerra;
nde. tua, tuas;
p, mo, mos;
pea, verbo a ir: vaes;
ari, pospositiva: sobre, em cima, uma sobre a outra,
desoceupadas, vazias.
Do que resulta a traduco literal:
Padre, como na guerra vaes com tuas mos vazias'.'
I.XVI1
O padre lvaro Lobo. ao que se infere Io
texto, no veio ao Brasil; seu nome no consta da Synopsis de F r a n c o .
LXVIII
O feito de Vasco Fernandes Coutinho. pae to
donatrio do Espirito Santo, a que Cardim alludc. vem
descripto por Joo le Barros
Dcadas, he. II. liv. VI,
eap. IV. - Balthazar da Silva Lisboa
Annaes do Rio
406
FERNO
CARDIM
T R A T A D O S DA T E R R A E G E N T E DO B R A S I L
407
408
F- R N o
CARDIM
409
Guarani.
LXXV - A alda de S Barnab foi primeiro estabelecida no Cabu; depois, verificada a impropriedale do
togar, foi transferida para as vizinhanas do rio Ma. a. u
A data le sua fundao leve orar por 1578, que a da
sesmaria concedida pelo governador Salvador Corra. Fm
410
FERNO
CARDIM
TRATADOS
DA TERRA
E GENTEADO B R A S I L
411
-412
"/FE^JO
CARDIM
Burton, em 1865. ^ " V e j a a erudita dissertao de Theodoro Sampaio," m nota edio brasileira de Hans Staden (S. Paulo, 1900).
LXXX O padre Pedro Soares chegou ao Brasil com
o padre Gregorio Serro, em 1578, quando este voltava
de sua commisso em Roma e Portugal, como j se disse
mais de uma vez. Era o superior da casa de Santos por
oceasio da visita do padre Christovo de Gouva.
LXXXI Paran-piacaba
tem correcta etymologia
no texto: logar donde se v o m a r . De facto, paranapiacaba no tupi vista do mar, donde se v o mar, miramar.
LXXXII Tijuco,
ma, brejo.
do tupi ty-yuc,
T R A T A D O S DA T E R R A
I: G F T E DO B R A S I L
^_
41 i
__
LXXXV
"A casa d e S. P a u l o d e P i r a t i n i n g a (escreveu Anchieta
Informaes
i t a d a s , ps. 2 2 ) , c o m o
foi p r i n c i p i o d e c o n v e r s o , assim l a m b e m o foi d o s Collegios <io B r a s i l . " E m J a n e i r o " d e 1554 os p a d r e s p a s s a r a m
a P i r a t i n i n g a ; m a s e m fins de 1560. c o m o j se disse, foi
o collegio t r a n s f e r i d o p a r a S. V i c e n t e . Com as i n f o r m a e s d e C a r d i m c o n c o r d a m as tle A n c h i e t a (ibiclem,
ps.
45), em t e r m o s q u a s i i d n t i c o s .
LXXXVI
O forte foi m a n d a d o c o n s t r u i r p o r Diogo
F l o r e s d e Valdez, logo d e p o i s d o assalto d a d o s villas d e
S a n t o s e S. V i c e n t e pelos c o r s r i o s inglezes C a v e n d i s h e
F e n t o n , p e l o s a n n o s tle 1580 a 1581
Ao t e m p o cm pie
o visitou o p a d r e C h r i s t o v o d e Gouva devia c o m e a r - s e
a c o n s t r u c o , q u e levou d e 1584 i 1500.
LXXXVII
Com a d e s c r i p a o tle C a r d i m c o n c o r d a
a d e A n c h i e t a Informaes
c i t a d a s , ps. 4 4 : " F " s i t u a d a
(a c a p i t a n i a d e S. V i c e n t e ) cm u m a ilha pie ter seis
m i l h a s MU l a r g o e n o v e em c i r c u i t o ; a n t i g a m e n t e era p o r t o
le m a r e nelle e n t r o u Martim Affonso de Sousa a p r i m e i r a vez. i-om sua frota, m a s d e p o i s com a c o r r e n t e tias
gua-, c t e r r a do m o n t e se tem f e c h a d o o c a n a l , nem podem c h e g a r as e m b a r c a e s p o r causa dos b a i x o s e a r r e cifes; ter 5(1 fogos de P o r t u g u e z e s com seu vigrio, p o r
e s t a r e m a s t e r r a s g a s t a s e no ter p o r t o se vai tlesp
v o a n d o p o u c o a pouco.'*
M a r t i m Affonso le Sousa, de volta tio Sul, e n t r o u no
p o r t o d e S. V i c e n t e na s e g u n d a feira. 21 d e J a n e i r o d e
1532, e o m o se v d o Dirio da Xaucyao,
de P e r o Lopes
de S o u s a .
LXXXVIli
Anchieta
informaes
c i t a d a s , ps. 44.
d i z : " F m S . Vicente t e m o s casa, m a s ha licena Io p a d r e
E v e r a r t l o , tle ba m e m r i a , p a r a inutlar-.se p a i a a villa d e
S a n t o s , pie esta, c o m o t e n h o d i t o , seis m i l h a s tle S. Vic e n t e , c a g o r a o p a d r e v i s i t a d o r C h r i s t o v o de Guuvea a
414
FERNO
CARDIM
415
IttiUii-iiu Gvntav.
AP P KXSO
(D'
*-0 Jornal*,
418
FERTAO
CARDIM
muros, nos luxuosos engenhos de assucar, nos stios modestos, nos curraes de gado vaccum. Por
todos elles escaxoou a populao espavorida. A
confuso era inevitvel e foi enorme, mas havia
espao, alimento, caridade, o equilbrio restabeleceu-se. Recursos faltavam para grandes movimentos bellico*s; os pequenos no tardaram. A guerra
transformou-se em guerrilhas, as guerrilhas em
combates singulares. Dois commandantes inimigos succumbiram em tocaias. Emquanto no vinham soccorros de outras capitanias ou de almmar, o programma limitava-se a tolher ao inimigo
qualquer avano para o interior. Foi cumprido.
Os dias do Espirito Santo correram amargurados para o velho reitor. "Nesta desgraa da
Bahia, escreve Antnio Vieira, seu pupillo, que j
na adolescncia prometia os grandes destinos que
lhe reservava o futuro era reitor e por isso quebravam nelle todas as ondas da adversidade, mas
como rocha viva sempre se conservou em paz e esteve muito firme e conforme com a vontade de
Deus"
Deviam ter-lhe suavisado os ltimos momentos os triumphos exiguos, mas constantes, dos compatriotas, os auxilios vindos das capitanias, o ncleo forte desde logo preparado por Mathias de
Albuquerque, as grandes armadas reunidas almmar, a que nao poderia resistir nem resistiu o poder batavo.
Quando morreu, Ferno Cardim passara quasi
meio sculo em terras brasileiras, interrompido
TRATADOS DA TKIIR I
G E N T E DO B R A S I L
419
apenas por uma viagem, como procurador de provncia, a Boma, e alguns mezes ou annos de priso
na Inglaterra. Filho de Gaspar Clemente e de sua
mulher Ignez C a r d i m , nasceu em Yianna de Alvito
(no do Minho, como escapou na terceira edio
de " V a r n h a g e n " ) em anno pouco certo. Sabe-se
que e n t r o u no noviciado da C o m p a n h i a a < de Fevereiro de ir>()(i, e sua familia deu mais <l< um religioso .
Antes de lf>82, consta, foi ministro em Kvora,
e n o m e a d o mais tarde para a c o m p a n h a r Christovo de Gouva na visitao provncia do Brasil.
Ambos os cargos i m p u n h a m srias responsabilidades. Ao ministro incumbia a ordem, a economia
interna. As afaniadas riquezas dos .Icsuilas, Lio
p r o c l a m a d a s , to cuhiadas, to p r o c u r a d a s e afinal tantnlisantes, exp!ieam-se pela obra dos ministros, a d m i n i s t r a d o r e s ineomparavei.,. Por outro
lado, eom a plenitude de pnderes delegados ao Visitador, r e p r e s e n t a n t e dreelo do Geral, seu comp a n h e i r o devia possuir muitos requisitos le lucidez e m e t h o d o p a r a r e s u m i r e condensar os resultados da visitao.
P a r t i r a m do Tejo o Visitador e sen companheiro em f> de Marco de l.~S:i. O Visitador trazia
calorosas r e c o m m e n d m es para todas as autoridades da colnia, e m a n a d a s do novo rei, Philippe
II de E s p a n h a , suceessor do cardeal D. Henrique.
Na mesma nu. Chagas S. Eranci.^-o, e m b a r c o u Manuel Telles Barreto, primeiro governador geral do
Brasil nomeado sob domnio espanhol.
420
.F..BN-/;;'- Sy.'C A R D I M
"'"<" '
'
Chegado em; 9 de Maio capital do paiz, o Visitador comeou!; sem demora a sua misso cmplexa, e para orientar-se fez uma rpida excurso!
s aldeias geridas pelos padres da Companhia. - s
Em Agosto resolveu sair para Pernambuco,;
Resoluo pouco acertada. Na Bahia as guas do
mar e correntes areas cursam do S. para q N.
desde Abril a Julho; de Agosto a Maro agitas e
ventos de N.E e E.N.E, ,puxam para o S. Os naviosordinrios sujeitavam-se a este regimen e da conformidaveis saiam os proventos do frete e viagens.
O barco do Visitador, pertencente Companhia de
Jesus, no se levava por intuitos opportunistas.
Que a razo estava com os primeiros, Christovo de Gouva houve de reconhecer. Partindo em
Agosto, aportaram em Camam, em Ilhus, em
Porto Seguro. No se perdeu tempo com as arribadas; em todos estes logares havia Jesuitas, havia
aldeamentos a visitar; com elles o Visitador se
occupou at Outubro, quando desistiu de continuar
e preferiu atender a casos mais importantes na capital. Escarmentado com as mones, o Visitador ficou na Bahia at que chegassem. Foi
novamente e com mais vagar s aldeias, esteve em
todos ou quasi todos os trinta e seis engenhos do
recncavo. O golfo admirvel divide-se em esteiros sem conta, quasi todos navegveis. Numa embarcao do collegio fizeram-se as excurses que
tomaram dois mezes.
Em fins de Junho de 84 o Visitador partiu para
Pernambuco. Cardim bem poderia referir alguns
421
422
FERNO
CA R D I M
423
R i o - C o m p r i d o p a r a o m o r r o de S. Loureno. na
outra b a n d a . Ordens de a l m - m a r a b r e v i a r a m a
estada no Rio < ida p a r a a Bahia. A 10 de Outubro de 1580 estava finda a visitao e Cardim ultimava a p r i m e i r a e m a i o r parte de sua n a r r a t i v a .
A volta do Visitador ao reino dilatou-se por
v a r i a s i n c u m b n c i a s que lhe vieram de Boma, e
pela c a p t u r a por corsrios do navio a que se confiou. P o r S e t e m b r o de 158 desembarcou em Sant a n d e r e viajando p o r Burgos e Valladold alcanou terra portugueza .
C a r d i m ficou no Brasil. D u r a n t e algum tempo exerceu a reitoria do Bio. Anchieta, acostum a d o a viver debaixo da obedincia, antes de ir
p a r a a capitania do Espirito Santo, onde falleceu,
preferiu lazcr-lhe c o m p a n h i a . Talvez a instncias
do reitor, escreveu os a p o n t a m e n t o s sobre a primitiva historia da C o m p a n h i a , de cuja perda ou extravio n o podem consolar os excerptos contidos
nos livros de Simo de Vasconcellos e Antnio
F r a n c o . Delles houve no collegio de Coimbra u m a
cpia feita pelo p u n h o de C a r d i m ; seu p a r a d e i r o
desconhecido.
O m o m e n t o era nico p a r a o fcilio dos Apontamentos.
Dos c o m p a n h e i r o s de Nobrega vindos
em 151! restava ainda Vicente B o d r i g u e s ; das levas seguintes havia mais de um sobrevivente
A
todos conhecera Anchieta, ou chegada, ou nas
visitas o b r i g a t r i a s do provineialato
nem p a r a
o u t r o fim a C o m p a n h i a possua e m b a r c a o p r p r i a . Pelos fragmentos conservados revela-se An-
424
'wkiiti''&U,
CARDIM
i'
BnAsu.
425
426
FERNO
CARDIM
"
Ferno Cardim nada destinou ao prelo, e ficaria bem sorprehendido si soubesse que no prprio
anno de 1625, quando j se despedia ou despedira
deste vai de lagrimas, uns informes apontados
pouco depois de sua chegada a esta terra corriam
ou iam correr mundo, trajados ingeza. De facto
Francis Cook, de Dartmouth, um dos corsrios de
1601, tomara-lhe um manuscripto, vendera-o por
20 xellins a um mestre Hacket, que o fez traduzir.
A traduco, em geral fiel, saiu no 4." volume da
"Pilgrimages" de Purchas, correspondente ao 16.
da reimpresso moderna sob o titulo: "A Treatise
of Brazil written by a Portugall which had long
lived there"
O tratado citado por hollandezs,
entre os quaes Laet; parece at que foi traduzido
integralmente em outros idiomas.
A importncia do Treatise de Purchas saltou aos olhos quando foram com elle comparados
dois manuscriptos existentes na bibliotheca de
427
428
F"E:"ti;;r' o
. i
CARDIM
-' \ \
'.
'',
429
430
FERNO
CARDIM
431
432
FERNO
CARDIM
433
434
FERNO
GBBIM
NDICE
PAU.
Introtluco
3ii
111
119
101
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XAHHATIVA KPISTOL.v! f
parle
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Segunda pente
Xotas, tle I>)< 1 o11) 1 ui Gareia
^'3
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APPKNSO
Artigo,
de Capistrano le Abreu
417
ACABOU DE IMPRJMIR-SE
aos 16 de novembro de 1925,
nas offcinas da Editora LUX.
Av. domes Freire, 101.
Rio de faneiro.
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