Tradição Bon Po
Tradição Bon Po
Tradição Bon Po
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(Lei n. 9.610, de 19.2.98).
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Escrito no Templo da Ordem em
Anno IV: XV
Sol in Pisces, Luna in Aries
Dies Martis
20/03/2007 e.v.
Introduo
A Magia Bon-Po um Sistema de Magia originrio do Tibet. uma
Tradio religiosa e filosfica, ou seja, muito mais do que uma simples
seita. Pouqussimas Ordens e msticos beberam nas fontes de
Conhecimento Tradio Bon-Po. Mas o objetivo desse estudo
demonstrar que a Doutrina Bn no mais sinistra, nem mais perigosa do
que qualquer outro sistema mgicko ou filosfico existente no planeta.
Como qualquer sistema, ela tem dois lados numa mesma moeda.
Durante a era Nazista na Alemanha, acredita-se terem sido vistos
membros da seita Bon-Po freqentando a cpula do poder. Outro nome
pelo qual a seita Bon-Pa ou Bon-Po conhecida como "A Fraternidade
Negra ou Secreta numa tentativa de fazer uma associao a Ordem
Illuminati entre outras.
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Sabemos que muitos chefes de Estado, artistas famosos e pessoas
de destaque na sociedade de um modo em geral, so vinculados
Sociedades Verdadeiramente Secretas tais como: a Skull and Bones
(Caveira e Ossos); a FOGC - Freemasonic Order of Golden Centurion (
Ordem Manica da Centria Dourada); Ordo Illuminatti (antiga Ordem
dos Iluminados da Baviera), Nova Ordem do Sculo ou ainda Nova Era - e
que toda essas Ordens, seus membros so obrigados a juramentos,
atravs de "pactos" feitos com as Foras Telricas. Vale notar que, na
Alemanha Nazista, as Ordens Hermticas foram perseguidas e proscritas,
ficando somente aquelas consideradas secretas tais como a Ordem de
Vril ou ainda a Ordem de Thule, ou mesmo as famigeradas FOGC, que
falaremos mais adiante. Na China, aps a tomada do poder por Mao Tse
Tung, todas as seitas foram perseguidas e proscritas - exceto a Tradio
Bon-Po. Mas fato, como dissemos, que inmeros msticos e ocultistas
modernos e contemporneos estudaram sua filosofia e sistema, dentre
eles, Mme. Blavatsky, Eckart, Crowley, Franz Bardon, Alan Bennet (mestre
de Crowley que depois se converteu ao budismo), onde muita coisa lhes
foi revelada sobre suas prticas.
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A Tradio Bon-Po
A tradio espiritual mais antiga do Tibet a Bn. De acordo com
as explicaes Bon-Po, dezoito mestres iluminados aparecero neste
aeon e Tnpa Shenrab, o fundador da religio Bn, o mestre iluminado
desta era. Ele disse que nasceu na terra mstica de Olmo Lung Ring, cuja
localidade permanece ainda um mistrio. A terra tradicionalmente
descrita como dominada pelo Monte Yung-drung Gu-tzeg (Edifcio das
Nove Susticas), que muitos identificam como o Monte Kailash a oeste do
Tibet. Devido sacralidade de Olmo Lung Ring e da montanha, tanto a
sustica de sentido anti-horrio quanto o nmero nove so de grande
significado na religio Bn.
Acredita-se que Tnpa Shenrab primeiro estudou a doutrina Bn no
cu, no final do qual ele rogou aos ps do deus da compaixo, Shenla
Okar, para guiar o povo deste mundo. Conseqentemente, com a idade de
trinta e um anos ele renunciou ao mundo e tomou uma vida de
austeridades, disseminando a doutrina para ajudar os seres imersos em
um oceano de misria e sofrimento. Neste esforo de espalhar a doutrina,
ele chegou ao Tibet, na regio do Monte Kailash, que conhecido como a
terra de Zhang Zhung, historicamente o assento principal de cultura e
doutrina Bn. Registros sobre a vida de Tnpa Shenrab podem ser
encontrados nas trs principais fontes: mDo-'dus, gZer-migand gZi-brjid.
As duas primeiras so tidas como textos Tesouros (gTer-ma)
descobertos, de acordo com a histria Bn, no sculo X ou XI. O terceiro
pertence linhagem do sussurro (sNyan-brgyud) transmitida entre os
adeptos de boca ao ouvido.
As doutrinas ensinadas por Tonpa Shenrab so geralmente
classificadas em dois tipos:
Primeiro, os Quatros Portais e um Cofre (sGo-bzhi mDzod-lizga),
onde as quatro primeiras so:
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- A doutrina gua Branca(Chabdkar) que lida com assuntos
esotricos;
- A doutrina gua Negra (Chab-nag) que lida com narrativas,
magia, ritos funerais e ritos de resgate;
- A doutrina da Terra de Phan ('Phanyul) que contm as regras
monsticas e exposies filosficas;
- A doutrina do Mentor Divino (dPon-gasa) contendo
exclusivamente os ensinamentos da grande perfeio; e finalmente,
- O Cofre (mTho-thog) que engloba os aspectos essenciais de
todos os quatro portais.
A segunda classificao, os Nove Caminhos do Bn (Bn theg-pa
rim-dgu) so:
- O Caminho da Predio (Phyva-gshen Theg-pa), que descreve
sortilgio, astrologia, ritual e prognstico;
- O Caminho do Mundo Visual (sNang-shen theg-pa), que explica o
universo psicofsico;
- O Caminho da Iluso ('Phrul-gshen theg-pa), que d detalhes de
ritos para se dispersar foras adversas;
- O Caminho da Existncia (Srid-gshen theg-pa), que explica os
rituais de funeral e morte;
- O Caminho de um Seguidor de um Programa (dGe-bsnyen theg-
pa), que contm os dez princpios para uma atividade beneficiente;
- O Caminho de um Monge (Drnag-srnng theg-pa), no qual as regras
e regulamentaes monsticas so colocadas;
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- O Caminho do Som Primordial (Adkar theg-pa), que explica a
integrao de um praticante exaltado numa mandala de iluminao
superior;
- O Caminho do Shen Primordial (Ye-gshen theg-pa), que explica as
guias mestras para a procura de um verdadeiro mestre tntrico, e,
finalmente,
- O Caminho de Suprema Doutrina (Bla-med theg-pa), que discute
somente a doutrina da grande perfeio.
Os Nove Caminhos foram depois sintetizados em trs; os primeiros
quatro constituram os Caminhos Causais (rGyui-theg-pa), os quatro
subseqentes formaram os Caminhos Resultantes ('Brns-bu'i-theg-pa) e o
nono se tornou, o Caminho Insupervel ou o Caminho da Grande
Completude (Khyad-par chen-po'i-theg-pa or rDzogs-chen).
Tudo isto encontrado no cnone Bn compilados em mais de 200
volumes classificados em quatro sesses: os sutras (mDa), a perfeio
dos ensinamentos de sabedoria ('Bum), os tantras (rGyud) e o
conhecimento (mDzod). Alm deles, o cnone lida com outros assuntos
tais como os rituais, artes e trabalhos manuais, lgica, medicina, poesia e
narrativas. interessante notar que na sesso do Conhecimento (mDzod)
concernente cosmologia e cosmogonia bem particular do Bn, apesar
de haver especulaes acadmicas de que exista uma forte afinidade com
certas doutrinas Nyingma.
A histria nos mostra que com o aumento do patrocnio real ao
Budismo, a doutrina Bn foi desencorajada, e foi tambm perseguida e
banida de muitos locais. Praticamente nada se sabe a respeito do Bn no
perodo que vai do sculo VIII ao sculo XI. Entretanto, com a implacvel
devoo e esforo de verdadeiros seguidores como Drenpa Namkha
(sculo IX), Shenchen Kunga (sculo X) e muitos outros, a doutrina Bn, a
religio indgena de Tibet, foi resgatada do obscurantismo e re-
estabelecida ao lado do Budismo no Tibet.
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Desde o sculo XI, com o estabelecimento de mosteiros como Yeru
Ensakha, Kyikhar Rishing, Zangri e os ltimos Menri eYungdrung Ling no
Tibet Central; e Nangleg Gon, Khyunglung Ngulkar e outros, mais de
trezentos mosteiros Bn foram estabelecidos no Tibet antes da ocupao
Chinesa. Destes, os mosteiros de Menri eYungdrung foram as principais
universidades para o estudo e prtica da doutrina Bn.
Uma nova avaliao do Bn ocorreu no sculo XIX sob a
assistncia de Sharza Tashi Gyeltsen, cuja obra escrita compreendia em
dezoito volumes que deram tradio Bn um novo impulso. Seu
seguidor Kagya Khyungtrul Jigmey Namkha treinou muitos discpulos
no s na religio Bn, mas em todas as cincias Tibetanas. Entretanto,
com a invaso Chinesa no Tibet, como as outras tradies espirituais, o
Bnismo tambm sofreu irreparveis perdas.
Pelos esforos do Abade Lungtok Tenpai Gyeltsen Rinpoche, do
Venervel Sangyey Tenzin e outros poucos monges mais velhos, uma
pequena parte da comunidade Bn se restabeleceu com sucesso no
mosteiro de Tashi Menri Ling em Dolanji nas colinas perto de Solan em
Himachal Pradesh, ndia, com o aval de Sua Santidade o Dalai Lama e do
Conselho para Assuntos Religiosos e Culturais. Por algum tempo este
mosteiro foi o nico centro importante onde os monges mais jovens
podiam receber um treinamento completo dentro da filosofia Bn, mais
disciplinas monsticas, e rituais e danas religiosas. Completados ainda
com estudo de gramtica, medicina, astrologia e poesia, os monges so
ainda orientados com uma educao moderna.
Ao se concluir com sucesso o curso completo de estudos, que
acessado tanto por meios de exames escritos quanto dialticos, um
monge conquista o Grau Geshey (Doutorado em Bnismo). Este passa
ento a servir sua comunidade atravs de ensinamentos, de escritos e
assim por diante.
Alm do Mingye Yungdrungling existe tambm o Tashi Thaten Ling
e outros quatorze mosteiros Bn na ndia e Nepal. Esforos tm sido feito
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para se estabelecer um Instituto Internacional do Bn no Nepal para
fortalecer as atividades religiosas Bn e para apresentar sua doutrina
para o resto do mundo.
Atualmente o Bonismo, apesar de ter perdido sua posio
proeminente, possui muitos seguidores em muitas tribos Tibetanas e em
algumas reas isoladas. Os rituais e as crenas do Bonismo formam uma
parte integral da cultura Tibetana. A tradio Bn tem recebido apoio de
Sua Santidade o Dalai Lama, que recentemente fez uma visita de dois dias
Dolanji, onde ficou impressionado pelo grau de conquistas
educacionais. Alm disto, ele fez uma declarao em 1988 na Conferncia
Tulku em Sarnath onde enfatizava a importncia de se preservar a
tradio Bn, como representante das fontes indgenas da cultura
Tibetana, e reconhecendo o papel importante que teve na construo da
identidade XEGAR.
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O mais antigo Mosteiro Sakya principal dos mosteiros Bon-Po e o
mais importante do Tibet. O enorme mosteiro representa o antigo poder
da Seita Sakyapa fundada no sculo XI. Ele contm a mais valiosa
coleo de itens religiosos que ainda permanecem no Tibet.
Deus Darmapala
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Ordem Manica da Centria
Dourada
Uma Ordem ou Loja de carter puramente mgicka e mstica foi
fundada em 1840 em Munich por alguns ricos industriais alemes e
cidados bem situados financeiramente. Segundo informaes esta Loja
teria existido somente at 1933, mas outras fontes nos afirmam que ela
ainda exista em carter secreto. Assim consideramos ainda a sua
existncia e as informaes que passaremos aqui, ser at onde
pudemos chegar atravs de nossos contatos. Mas, para estabelecermos
um padro lingstico, consideremos as informaes que este grupo
ainda exista. Esta Loja Secreta era formada somente por 99 pessoas que
poderia ser de ambos os sexos. Ao todo na Ordem somam 99 Lojas
espalhadas pelo mundo.
Esta Sociedade Secreta no tem realmente ligao com a
Maonaria regular. No existem graus, sendo que o membro possui
somente nveis reais de realizao. O avano do aprendiz ao peregrino e
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do peregrino ao mestre somente de carter simblico. Todos os
segredos so passados durante a Iniciao. As outras classificaes
no representam nenhum nvel. Uma pedra negra fornecida com um
nmero e um nome mgicko de identificao. A inteno da Ordem
trabalhar com o domnio sobre foras elementais e demonacas (vide:
Magia de Abramelin), onde os membros so orientados a efetivar uma
aliana com foras espirituais reinantes, para obter a influncia, o poder e
fortuna pessoal. Um demnio de elevada grandeza (geralmente Bael,
Astaroth, Belial ou Asmodeus) era convidado a ocupar o centsimo lugar
na Loja e sua obrigao para com a Ordem era a proteo mgicka de
seus membros, a formao de um Egrgora para a proteo de seus
membros, alm da concesso de favores materiais ou espirituais e de um
servo espiritual, um demnio de menor grandeza designado para cada
servir a cada membro.
Conta lenda, que a cada cinco anos (caso nenhum membro da
Loja houvesse morrido) era feita uma votao para eleger o candidato da
morte que ocorria na noite (23 junho) antes do dia de So Joo. Este
candidato da morte serviria como o sacrifcio para os servios dos
poderes transcendentais em que a Loja acreditou. O candidato era
sorteado ao retirar uma esfera negra, numa caixa com 98 esferas brancas
e 1 negra. Aquele que extrasse a pedra ou esfera negra, de acordo com a
Constituio da Ordem, passaria ser de propriedade do suposto Demnio
da Loja, isto , teria que consumir um veneno mortal durante a reunio de
Loja. Suas posses passariam a ser propriedade da Loja que se
encarregaria de cuidar e zelar pela famlia do falecido membro. Outros
estudos sugerem que a Ordem executaria magickamente um desafeto do
membro que fosse sorteado com a esfera negra. Todas essas
informaes em verdade so duvidosas, e desprovidas de um senso de
maior lgica. Para efeitos, a Ordem cuida zela, de fato, da famlia de
qualquer membro que venha a faltar.
O Superior e fundador desta organizao, cujo nome sempre foi
mantido em sigilo, s sendo conhecido pelos membros mais elevados e
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antigos, balizou uma grande parte dos estudos mgickos da Ordem junto
aos Monges Bon-Po, aos Sufis, aos Hindus e a Qabalah Hebraica. Sua
autoridade superava uma votao contrria de at trs vezes se o fato
fosse contrrio a sua vontade. Um percentual da fortuna e do capital do
membro vinha para a Tesouraria da Loja. Quando um dos noventa e nove
membros morria, deveria ser imediatamente substitudo por um nefito
que passava por trs classificaes: aspirante, nefito e aprendiz-de-
mago, at que pudesse assumir de fato, a cadeira na Loja. Para conseguir
ocupar a cadeira, entretanto, o nefito deveria assimilar determinados
ensinamentos mgickos e domina-los na teoria e na prtica. Cada novo
membro era obrigado a assumir juramentos assinados com sangue
ritualisticamente. Seu juramento de fiel compromisso com a Ordem e com
seus Irmos era sagrado e caso ousasse a ir contra os preceitos da
Ordem ou ainda trasse qualquer irmo, este seria julgado e
eventualmente expulso ou at executado magickamente. Os rituais, os
mais importantes eram feitos atravs de trabalhos de magia cerimonial.
Instrumentos radinicos e eletromagnticos eram desenvolvidos e
usados para combates telepticos. Um desses instrumentos era
conhecido como Tepaphone, capaz de destruir uma pessoa distncia
causando a extrao do Prana, que levaria a pessoa a morrer como se o
seu corpo ficasse desidratado, ou ainda o Luxferion capaz de elevar a
temperatura corporal da vtima distancia, causando morte por
combusto espontnea.
Concluso: As Lojas da FOGC ainda existem nos dias de hoje. Mas
por uma razo especial eu assumi o compromisso de no revelar alm
dos fatos enumerados abaixo. Isto se d simplesmente porque qualquer
sociedade verdadeiramente secreta tem suas razes, de no quererem ser
notados, por motivos que so mais do que bvios. Apesar de tudo,
podemos dizer que os 99 membros de qualquer Loja dessa Organizao
deveriam ser polticos, e gente de finanas elevadas. Muitos de ns s
vezes supomos de como podem surgir do nada, polticos e dinheiro
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farto. Nem sempre esse dinheiro vem de meros apoios de empresrios,
ou de vias tortas. Muitas vezes este recurso advindo de alguma
Organizao Mgicka. Uma sociedade como essa, no cabe na mente de
uma sociedade moderna e informatizada, formada por gente de crebro
mecanizado, ou pela mdia ou pela grande massa de informaes. Tais
pessoas jamais pertenceriam a uma Loja ou Organizao sria. Por qu?
Porque a grande gama de Ordens e Organizaes modernas se afastou
daquilo que consideramos como termos, propsitos e finalidades
mgickas e so incapazes de acenderem os reatores msticos.
Assim a fora que motiva a existncia de uma sociedade
verdadeiramente secreta, atingir a maestria da vida se tornando um
paradoxo vivo. Eu no penso que pertencer a uma dessas organizaes
seja um esnobismo. Os esnobes no entram em um territrio to perigoso
conscientemente. O que quer seja a motivao para existncia de uma
Sociedade como esta - no mais to importante na presente era
moderna cuja injustia social seja uma realidade, alm da criminalidade,
guerras e destruio em massa so manchetes corriqueiras. Tais
atrocidades da vida moderna sequer se nivelam a simples frmulas de
Magia Branca ou Negra. Entretanto, as Sociedades Secretas nos dias de
hoje tem sua funo, seus objetivos, alguns compreensveis outros no,
aos olhos do vulgo.
O que permitido dizer sobre esta Ordem eu farei agora. As razes
das FOGC no vo para muito longe no passado em termos de tradio
ritualstica ou histrica. Na O.T.O. (Ordo Templi Orientis), na Golden
Dawn, na AMORC, e tantas outras ordens modernas, vemos alguns leves
traos caractersticos das FOGC ou outras sociedades antigas, mas que
diferem, entretanto, pois alm de no poderem se considerar como
Ordens Secretas, nada exigem como pr-requisito para selecionar
membros e ministrar seus ensinamentos. A quantidade tomou conta da
qualidade.
O nmero da Sociedade FOGC era 3 x 33, conseqentemente 99,
isto , eram 99 classes, e cada classe era assumida por um nico
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membro. O 100 lugar pertencia assim ao que chamado de Egrgora de
Proteo da Loja, ou o demnio de elevada estirpe, com que cada
membro deve estar mentalmente ligado. O nefito assina o juramento sob
sua vontade, e doar parte de suas conquistas Loja.
No havia nenhuma classificao especial ou ttulos, cada membro
tinha um nmero. O Mestre de Loja tinha o nmero um.
Do nmero 1 aos 33 representa os graus de aprendiz, dos 34 aos 66
os graus de peregrino ou companheiro-ofcio e dos 67 aos 99 os graus
elevados e mestres.
O ornamento para os graus do aprendiz era: Uma tnica negra com
capuz e uma cinta azul, e uma corrente de ouro com um pentagrama
duplo, verso e inverso sobrepostos.
Do grau 34 aos 66 uma tnica negra com uma cinta vermelha, o
pentagrama acima descrito e um anel de ouro com inscries cabalsticas
tendo nele incrustado uma turmalina negra.
As classes de 67 99, tnicas pretas e douradas, cinta vermelha,
com punhal ou espada na cinta, um anel dourado com um pentagrama,
sinais cabalsticos e um rubi incrustado. O Mestre tem uma tnica
dourada, com manto negro e sinais tais como um pentagrama e um
hexagrama sobreposto, mas os demais ornamentos. No aperto de mo se
toca o pulso, com o dedo indicador.
Todos os rituais tm como seu objetivo alcanar nveis elevados de
conscincia espirituais, principalmente na iniciao, mas era sempre a
inteno dos membros obterem atravs destes ritos, obterem
magickamente a influncia, o poder e o mximo de riqueza acumulada
possvel. A observncia fiel s regras era absolutamente exigida. A
estrutura hierrquica requeria o reconhecimento da palavra do mestre.
Exigia-se tambm que o nefito fosse preferencialmente influente na vida
pblica, que fosse independente economicamente e que tivesse pelo
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menos alguns amigos prximos influentes. Como se pode ver que no era
fcil a entrada neste crculo.
Ao nefito era fornecido, aps sua admisso real, um demnio
chamado de familiar. Como o objetivo era o enriquecimento e uma ajuda
real era destinada ao nefito, em termos de favorecimentos em negcios
e abertura de caminhos.
A primeira coisa que o nefito devia aprender era os rituais de
adorao ritualstica aos deuses e suas prtica evocatrias.
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A Difuso Mgicka Bon-Po
E apenas recentemente, nos tempos vitorianos, que a cincia
arqueolgica estabeleceu o notvel fato de que as origens mgickas da
Alta sia influenciaram comunidades do outro lado do globo. Existe
tambm uma fascinante histria da migrao ao Ocidente dos pr-
histricos acdios, povo turaniano que trouxe os meios asiticos ao
Mediterrneo, encontrando as civilizaes assria e babilnia. Muitos dos
assustadores ritos taumatrgicos dos magos tibetanos durante o
desenvolvimento da era pr-semta foram preservados nos tabletes Maqlu
("Ardentes") e na vasta biblioteca do rei Assurbanpal.
O tipo de "curandeirismo" (xamanismo) praticado pelas tribos
tibetanas aliadas, tem suas razes, na China, Monglia e no Japo. Esses
rituais incluem fenmenos psquicos familiares a mdiuns ocidentais e
so repetidos novamente sob inspirao tibetano-monglica entre os
finlandeses e lapes e mesmo pelos ndios americanos das Amricas do
Norte e do Sul. Naturalmente no existem provas histricas da migrao
ao Ocidente desses povos. Penosas dedues foram feitas, dentro dos
limites de uma srie de cincias, para estabelecer que haja muitas
probabilidades de que tais migraes realmente tenham acontecido.
No entanto, no eram apenas os povos de origem tibetana que
praticavam as artes mgicas de seus antepassados. Conforme nossos
estudos e dedues os escandinavos pr-histricos, por exemplo,
herdaram desses povos uma considervel tradio. Outro fator
importante na descoberta da comunicao pr-histrica entre povos
estava mais prxima do que em geral se supe. comum imaginar-se que
essas sociedades antigas eram mais ou menos independentes e se
desenvolviam isoladas umas das outras: algumas em remotas
montanhas, desertos e plancies, outras em cidades e vilas. No
normalmente conhecido o fato de que alm do comrcio, as relaes
tanto intelectuais como sociais entre povos amplamente separados por
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cultura, lngua e distncia eram bastante considerveis. A diferena entre
esse contato, e o relacionamento entre povos familiares em nossos dias
era simplesmente que os fatores geogrficos tornavam a comunicao
mais lenta. As mesmas consideraes so talvez responsveis pela maior
simpatia entre os povos, pois parece que havia menos hostilidade
"inevitvel" entre os diferentes grupos.
Durante sculos, talvez milhares de anos, a magia fluiu
vagarosamente, mas com fora, atravs da raa humana. Em sua forma
ritualista, o fluxo era distintamente do Oriente para o Ocidente.
Em data alegadamente situada nos tempos do Velho Testamento,
depois das supostas migraes tibetanas, conta a lenda celta que as
migraes arianas da sia Central passaram pelo atual Oriente Mdio e
Egito, absorvendo certamente a mitologia e a mgicka em seu curso.
Os antigos gregos e romanos desempenharam tambm seu papel
na adoo da tradio mgicka semita e egpcia, transmitindo-a a Europa.
A magia latina e grega, mais recente, era uma mistura de frmulas e
encantamentos que podem quase sempre ser ligados a essas razes.
A inter-relao da magia do Egito e a dos pases circundantes so
menos claras. Pensa-se, entretanto (conforme se estudar mais adiante
neste material) que a frica e mais tarde a Arbia do sul influenciaram os
magistas do vale do Nilo.
Com a ascenso de sistemas de pensamento comparativamente
recentes, tais como o budismo, cristianismo e islamismo, as crenas
mgicko-religiosas dos cultos mais antigos sofreram uma rebaixa agora
familiar: suas divindades tornaram-se espritos inferiores e mesmo seu
sacerdotado assumiu carter mais marcadamente mgicko e secreto:
Religio pode suceder a religio, mas a mudana apenas multiplica
os mtodos pelos quais o homem procura suplementar sua impotncia de
conseguir controle sobre as foras sobrenaturais e proteger sua fraqueza,
levantando o vu do futuro. Os ritos secretos da crena suplantada se
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tornaram a magia proibida de sua sucessora. Seus deuses se tornaram
maus espritos, corno os Devas ou divindades de Beda se tornaram os
Devas ou demnios de Avesta, como o culto ao touro dos antigos
hebreus tornou-se idolatria debaixo dos profetas, como os deuses da
Grcia e de Roma eram diabos malignos para os padres cristos.
Em alguns casos, processos superados permaneciam apenas como
ritos mgickos, tolerados e mesmo adaptados aos novos cultos. Seria
isso devido ao fato de, conforme alguns acreditam, existirem segredos
conhecidos pelos sistemas mais antigos que realmente comprovavam
algumas provas estranhas da fora sobrenatural, que podia ser domada
pela humanidade para seu prprio uso? Ou, como supe a posio
contrria, 'seria isso porque a magia se tornara to supersticiosamente
enraizada na mente do homem que a nica maneira de control-la seria
desvi-la para canais "legalizados"?
As religies organizadas tendiam a absorver encantos e feitios,
cuja crena era muito profundamente enraizada. Entre grupos africanos
ou descendentes, verificamos que o cristianismo foi adotado lado a lado
com a magia tradicional: s em raros casos suplantou os demnios e
foras do sobrenatural. Quase sempre, tambm, milagres atribudos a
feiticeiras nativas mais antigas simplesmente foram atualizados e
acrescentados s novas crenas. Evidncias dessa psicologia so
abundantes e tm sido exaustivamente estudadas em outras partes.
Queiramos ou no a magia e a religio em todo o mundo esto
ligadas como poucos outros fenmenos humanos. Se voc acredita, por
exemplo, que curas podem ser efetuadas pelo toque, ento voc acredita
em magia, em suas definies mais amplas, e em algumas formas de
religio. Por outro lado, h um notvel desenvolvimento do pensamento
ocultista, que pode apenas ser discernido atualmente em suas origens.
Essa a terceira possibilidade. A magia um campo em que o estudo
intenso e criativo pode demonstrar que muitos dos chamados poderes
sobrenaturais so de fato reflexos de foras at agora pouco
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compreendidas, que podero muito possivelmente ser controladas para
vantagem individual e coletiva.
Se existiam de fato certas verdades conhecidas daqueles que so
nebulosamente chamadas de "antigos", s existe uma maneira para
redescobri-las: o mtodo cientfico. E o mtodo cientfico requer a
seleo de todo fato, toda sugesto, toda pista, ao longo da cadeia de
transmisso. No contexto mgicko isso significa que devemos ter nossa
disposio o material real do qual brota o ocultismo ocidental. Assim, um
rito que encontrado, digamos, na verso latina da Chave de Salomo
pode vir a ser meramente a transcrio de algum encanto destinado a
combater, talvez, uma enchente na Assria. Maiores investigaes
podero demonstrar que o encantamento se baseia em algo inteiramente
irrelevante, tal como invocar o nome de um suposto gnio cujas iniciais,
por alguma feliz coincidncia, correspondem palavra que quer dizer
"seca". E assim se comea de novo a busca. Portanto, seja voc um
estudante em geral, antroplogo ou apenas interessado no oculto, aqui
esto alguns dos materiais. Eles em geral no esto disponveis em
nenhum outro lugar.
Quanto mais fundo se vai ao estudo do sobrenatural e seus
devotos, mais claramente se percebe que diferentes tendncias de
pensamento fizeram as mentes humanas trabalharem de maneira
semelhante - entre comunidades to diversas, que poderiam mesmo
pertencer a mundos diferentes.
Segundo o prisma ocultista essa estranha identidade dos rituais e
crenas mgickas significa que existe apenas uma nica cincia arcana,
revelada aos seus adeptos e doada a todos os povos. Os que advogam a
teoria do fluxo cultural diro que o ocultismo uma daquelas coisas cuja
difuso acompanhou as naturais relaes entre povos.
Qualquer que seja a verdade, o estudo dos milagreiros em muitos
pases constitui uma das mais fascinantes ocupaes. No Tibet, viveu um
homem santo, que se acreditava ter poderes msticos. Ningum passava
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perto de sua cabana temendo que ele lanasse pragas sobre os invasores
- acreditava-se em geral que ele era parente do prprio sat. Algumas
vezes, salteadores de fronteira, cujas depredaes os levavam at
prximo de sua casa, chegaram a v-lo. Para esses, ele se tornou algum
cujos bons conselhos procuravam, para garantir seu sucesso no roubo.
A fora de seu nome se tornou tamanha que ele era chamado
diversamente de Esprito das Montanhas ou Esprito do Ar -, sendo que,
quando ele morreu, sua cova tornou-se um altar. O ninho do eremita me
foi mostrado quando passei por ali. Em comum com suas contrapartidas
ocidentais, ele colecionara estoques de serpentes secas, e uma pilha de
figuras de cera espetadas de alfinetes enchia um canto da caverna. Ainda
hoje devotos esperanosos oram ou expressam um desejo sobre um
trapo que ento amarrado a uma rvore solitria do lado de fora da casa
do santo. Enterrado de rosto para baixo a fim de que qualquer mal que
houvesse nele passasse diretamente para a terra, seu corpo jaz, segundo
o costume tibetano, sepultado no lugar onde foi encontrado.
Mais ou menos ao mesmo tempo, na fronteira tibetana, vivia uma
notvel bruxa, que poderia ter sado diretamente de Macbeth, florescia
como comerciante de encantos e mgicka em geral. Ela se tomava de
violentas e incontveis antipatias por pessoas. Dizia se que ela sabia tudo
sobre a vida privada das pessoas - o que pode ou no ter determinado
suas predilees. Seu maior prazer, no entanto, era punir aqueles que
haviam causado infelicidade a outros e por essa razo ela era venerada
por muitos, como santa. Diziam dizia ter ela mais de 150 anos. O mtodo
de convocar a bruxa era o seguinte: pessoas em dificuldades, maridos
dominados, esposas cujos maridos eram cruis, os doentes e
necessitados iam ao teto de sua prpria casa e chamavam o nome dela
trs vezes. As corujas locais, funcionando como seus espritos familiares,
levavam-lhe prontamente a mensagem. Na manh seguinte o ofensor
seria tomado de fortes dores de cabea. Ao mesmo tempo, um pouco de
boa sorte viria para aquele que a invocou. Aqui um relato:
.
22
Quando cheguei sua cabana de gravetos, armado do bolo de
frutas que parecia ser sua paixo, ela pareceu pouco diferente de
qualquer velha normal daquela parte do mundo. Falou a maior parte do
tempo, e com bastante liberdade, do valioso trabalho que estava sempre
fazendo ao prevenir as jovens contra o mau carter dos homens. Apesar
de parecer muito velha, seus olhos eram estranhamente claros. Em vez
dos ombros cados e das faces cavadas da bruxa clssica, ela era
bastante mais alta que a mdia e movia-se com surpreendente agilidade.
Algo de seu monlogo franco, entretanto, parecia confuso e quando lhe
perguntavam de que maneira se conseguia efeitos sobrenaturais ela me
olhou como uma criana perversa e disse que eu nunca entenderia.
Muitas vezes negado que o sucesso mgicko pudesse ser atribudo a
auto-sugesto por parte dos clientes, mas admitiu que isso era fenmeno
bastante conhecido. Dizia tambm ter recebido todos os seus
ensinamentos de sua me e ter repudiado livros do oculto e toda religio
formal como engodo fraudulento. No se podia dizer que sua
personalidade fosse magntica ou atraente ou que tivesse qualquer das
estranhas caractersticas sentidas pelos meros mortais na presena do
poder oculto. A nica coisa que impressionava as pessoas era o fato dela
ter descrito coisas que iriam acontecer com mincias e essas coisas
realmente terem acontecido depois.
Mais de uma autoridade aceita que pode muito bem haver uma
continuidade de tradio oculta transmitida entre os povos tibetanos. As
prticas xamansticas dos chineses, japoneses e outros magos do
Extremo Oriente, tm claros paralelos com os ritos dos esquims e de
algumas tribos monglicas de amerndios: notvel exemplo disso pode
ser visto, no estado de transe medinico que leva profecia e
clarividncia, comum a todos. Na ndia, Mxico e Egito antigo todos
tinham seu culto da serpente. A serpente , de fato, um dos mais
importantes smbolos partilhados pela alta tradio esotrica do Velho, e
do Novo, Mundo - o que tem sido usado como um argumento para
sustentar a teoria da Atlntida.
.
23
Quetzalcatl ou Kukulkan de Yaxchilan
O deus-serpente mexicano Quetzalcatl exigia no somente o
sacrifcio da vida humana, mas tambm que se bebesse seu sangue.
Quando uma serpente jovem, selvagem, era capturada, no se tornava
divindade at que seis sacrifcios humanos tivessem sido celebrados em
seu nome e presena. O sangue do sacrifcio tinha de ser bebido tambm
pela serpente, "potencializando-o" assim como um poder mgico. Na
ndia, atualmente, o culto serpente generalizado - os encantadores de
serpentes representam apenas uma faceta popularizada desse importante
culto. As serpentes trazem boa sorte, guardam as almas e os tesouros
escondidos, formam a via de escape para os desejos secretos. Tanto no
Uruguai - muito ao sul do Mxico - como em Konia que est bem longe da
ndia - encontramos traos distintos de cultos serpente. Como os
feiticeiros mexicanos, os xams-serpente do Tibet tm de se submeter a
um rgido treinamento antes de atingir o estgio em que podem manipular
e privar com cobras. Tanto no Mxico como no Tibet, o mesmo critrio
aceito para testar se uma pessoa est suficientemente desenvolvida para
se tornar mestre do ritual da serpente: os olhos precisam estar muito
abertos, as pupilas contradas em dois pontos minsculos. bastante
possvel que esse culto ao rptil tenha viajado com alguma migrao
humana da ndia e da frica para a Amrica Latina. Pode-se ainda
encontrar ndios guaranis (amerndios brasileiros) que ainda do muita
importncia escultura de uma cobra pintada de vermelho. O simbolismo
.
24
do sangue e a nota sacrifical, descendentes da inspirao mexicana so
muito bvias para escapar ateno.
No Mxico os ritos da serpente tinham suas prprias peculiaridades
particulares. Era to grande a competio pela honra de vir a ser um
sacrifcio serpente, que se tinha a maior dificuldade em evitar que as
filhas provocassem as serpentes a pic-las.
Certamente no faltavam vtimas aos sacerdotes. Em muitos casos
famlias que tinham assim perdido mais de uma filha compravam
encantos contra serpentes das prprias bruxas. Como os adoradores de
serpente indianos, os seguidores mexicanos do rito costumavam fazer
um guisado da carne desse rptil e com-lo. Em ambas as comunidades
acreditava-se que a ingesto da carne sagrada conferia todos os tipos de
bnos. O tabu e os ritos propiciatrios pode ser a origem de muitas
supersties que ainda hoje existem entre ns, no Oriente e Ocidente.
Nos antigos templos egpcios e gregos havia sempre um ponto que era
proibido de ser tocado ou pisado. Era dedicado aos deuses - e em
especial aos deuses maus (demnios?) - em troca de sua concordncia
implcita de no assolar provncias onde poderiam molestar os homens. A
mesma idia existe em partes da Esccia. Pedaos de terra eram
deixados no cultivados e chamados de sitio dos bons seguindo um
costume celta de chamar de bons queles que eram temidos. Folcloristas
tm tratado extensivamente a questo de que as fadas, ou "gente boa",
eram, na verdade, muito mais o oposto, sendo meramente espritos maus,
homenageados.
A instncia da Igreja, muitos desses lugares foram arados na
Esccia, Irlanda e Gales. Diz tradio que tempestades e m sorte seria
a conseqncia desse distrbio e conta-se que a lavra teve de ser
protegida por poderes ocultos. Os objetos de magia so conhecidos da
maioria das pessoas: por certo, pelo menos daqueles que estudam de
alguma forma o assunto. Os rituais tambm esto em muitas obras,
descritos por "adeptos" ou criticados por seus oponentes. J mencionei a
.
25
possvel importncia histrica e etnolgica de um estudo das razes das
prticas ocultas. Haver ainda certo nmero de pessoas que no estar
interessado no fluxo cultural, mas querer saber: "H alguma verdade na
magia?". A resposta a isso que, muito possivelmente, h bastante
"verdade" na magia. Qual e aonde pode levar, fica, no entanto para os
pesquisadores demonstrarem.
O que existia na alquimia foi aproveitado pela qumica moderna;
apesar de no ser de minha competncia dizer o que sobrou. A hipnose,
atualmente no apenas fato aceito, mas uma tcnica muito valiosa vem
diretamente da magia. O que existe no moderno espiritismo, descendente
do xamanismo tibetano, tambm no compete a mim dizer. Uma coisa, no
entanto certa: que a magia enquanto tal, na mera repetio dos rituais
disponveis ao leitor comum, de muito pouca valia para quem quer que
seja. Segundo os ocultistas hindus, conforme descrito nestas pginas,
muitas formas de magia e, portanto certos supostos e bem
documentados milagres so atribudos existncia de uma fora no-
descoberta (akasa) que parece ter alguma conexo com o magnetismo.
Autores arbico-islmicos (que deram ao mundo a cincia moderna)
tambm suspeitam a presena dessa fora. Se ela existe, tarefa de ns
experimentadores descobri-Ia.
O homem um "animal inventor de smbolos". Esse fato levou
antroplogos a concluir que a estranha similaridade entre ritos arcanos
de comunidades aparentemente sem nenhum contato social recproco
coincidente. O homem - argumentam eles, - limitado por sua prpria
definio. Seu mbito de experincias, suas esperanas e temores,
desejos e dios variam muito pouco aonde quer que se v. No
significaria isso que ele pode chegar a concluses similares a respeito de
assuntos sobrenaturais, independentemente do que se chama de
inspirao ou comunicao oculta?
.
26
O objetivo deste trabalho no procurar provar que toda magia tem
suas razes em alguma revelao nica e original. Na verdade, duvidoso
que se possa provar algum dia essa suposio. Porm, sepultada no
folclore oriental, em manuscritos e lendas no traduzidos, h uma enorme
quantidade de informao que lana uma luz considervel nas origens da
magia que floresceu na Europa at o comeo do sculo 19.
A prtica real da magia ainda existe, tanto na Europa quanto na
sia. No meu objetivo investigar quo difundida a prtica. Ao mesmo
tempo, amplamente aceito que o estudo da magia de considervel
interesse histrico, cultural e etnolgico.
A magia parte da Histria humana. Ela desempenhou algumas
vezes um papel decisivo, como no caso de Moiss diante da corte do
fara. Mais freqentemente ela tem sido de menor importncia, apesar de
ainda grande. Em ambos os casos, no pode ser ignorada.
Muitssimas das caractersticas da magia contidas em manuais
ocidentais foram atribudas por autoridades como tendo origem em
fontes orientais e particularmente mediterrneas. O crculo mgicko,
recurso pelo qual o mago pode invocar espritos, foi atribudo Assria e
as mandalas (crculos de proteo artisticamente desenhados em tapetes)
aos Tibetanos e Hindus, sendo importante em quase todas as operaes
ritualistas dessa natureza no Extremo Oriente. Saber o nome dos
espritos e a possesso de palavras mgicas, conhecidas at mesmo
.
27
pelos leitores juvenis de histrias de fadas, igualmente, seno mais,
difundido e tido em alta conta. As palavras mgicas pelas quais os DJins
ou gnios eram invocados por Salomo formam parte importante do
antigo ensinamento egpcio.
Mandala Tibetana do Despertar
A difuso do estilo de maldio da imagem de cera to grande
quanto de qualquer outro encantamento. Est em uso ainda hoje, e
importante em quase todas as operaes ritualsticas dessa natureza no
Extremo Oriente. Exemplo muito antigo preservado numa encantao
do tablete bilnge de Assurbanpal, de origem Acdia e provavelmente
derivado dos ritos das tribos tibetanas e monglicas da sia Central.
Esse tablete, do palcio real de Ninive, contm 28 encantos e
mesmo em 700 a.C. era considerado como perpetuador de ritos
extremamente antigos. Parte dele assim:
Aquele que forja imagens, aquele que enfeitia o aspecto malvolo, o
olho mau, A boca malvola, a lngua m, o lbio malvolo, a bruxaria mais
fina, Espritos dos cus, conjurai-o! Esprito da Terra, conjurai-os!
.
28
Todos esses termos proibidos ainda so constituintes bsicos de
processos mgickos.
A magia partilha com a religio mais aspectos do que se do ao
trabalho discutir. O inevitvel conflito baseado na suposio de que os
extremos se tocam mais marcado nas campanhas organizadas contra a
bruxaria, levadas a efeito por entidades tais como os tribunais da
Inquisio na Espanha. Talvez devido a isso, talvez por ter a Igreja
insistido em que os magos eram servos do diabo, a magia na Europa
assumiu uma caracterstica de mal, que no to marcada em outros
lugares. Os telogos cristos assumiram a posio de que a servido a
qualquer esprito ou deus, implicava uma automtica reduo da crena
que deveria ser reservada apenas a Deus. A partir dessa tese e de certas
referncias bblicas, tomou-se por certo que magia significava adorao
do diabo. Nessa atitude geral, o catolicismo seguiu o precedente rabino
em relao ao crescimento das atividades mgicas entre os judeus.
O segundo grande instrumento que, conscientemente ou no,
estimulou o estudo da magia no Ocidente foi a Igreja Catlica.
Compelidos por referncias no Velho e Novo Testamento a reconhecer a
realidade dos fenmenos sobrenaturais, inclusive o poder de bruxas e
feiticeiras, os telogos catlicos romanos tomaram posio contra a
bruxaria ("A feiticeira, no deixar que vivas") - xodo XXII, 18, o que fez
que o assunto fosse considerado digno de investigao. A atitude
referente s cincias ocultas continua, naquela Igreja, de forma muito
pouco alterada em relao que existia no tempo da Santa Inquisio.
Segundo a Enciclopdia Catlica, a bruxaria definitivamente existe, sendo
o fato provado pela Bblia. Muitos dos cdices da magia judaica e
salomnica que foram preservados at hoje em exemplos Iatinos e
franceses mostram traos distintos de interpolao crist. Muitos dos
ritos da Chave de Salomo, por exemplo, foram "cristianizados" - quase
que seguramente por mos de padres - para dar a impresso que
resultados taumatrgicos podem ser conseguidos atravs deles com as
adies crists.
.
29
Entre os muulmanos e outras grandes religies do Oriente, um
compromisso trouxe baila a teoria da diviso da magia em permitida e
proibida, ligeiramente paralela distino ocidental entre magia branca e
negra.
A magia, entretanto permaneceu, e ainda permanece, algo que a
religio organizada nem absorveu efetivamente, nem destruiu. Como a
religio, tem base sobrenatural: o apelo a uma fora maior que o homem.
Da crena nessa fora decorre o desejo de proteo, seguido da positiva
demanda de maior poder sobre os outros homens, sobre os elementos,
sobre o prprio destino. Em comum com as religies est a parafernlia
da magia: os instrumentos de arte, os mantos e vestimentas, as
fumigaes e repeties de palavras, frases e preces. Depois da f na
realidade do poder sobrenatural vem o desejo de estabelecer relaes
contratuais com o poder; da o pacto. H um contrato entre homem e
Deus, entre homem e esprito. Telogos da Idade Mdia e posteriores
gostavam de reclamar que os livros mgickos imitavam os ritos da Igreja;
que eles procuravam fazer tratados com o diabo, da mesma maneira que
Deus compactuava com os homens. Quando tudo precisamente o
contrrio. A Igreja imita a liturgia pag. O sacrifcio de sangue, o
exorcismo, etc. Pesquisas mais recentes demonstraram que o elemento
contratual da magia pelo menos to velho quanto a prpria magia e
data, portanto, de antes de muitas das grandes religies organizadas que
sobrevivem atualmente. Mesmo quanto ao local sagrado de
funcionamento, a magia e a religio operam paralelamente.
.
30
A influncia Bon-Po na Magia
dos Faquires
O homem perfeito ganha seu poder atravs do desenvolvimento da fora
mstica inerente a seu corpo. Isso se centraliza nos cinco rgos
secretos: o Lataif. So eles: o centro do corao, o centro do esprito, o
centro secreto, o centro oculto, o centro mais misterioso... - Xeque
Ahmed El-Abbassi: Segredos do Poder Sufi, desenvolvimento do livro do
Shah Muhammad Gwath, Segredos do Caminho Mstico (Asrar-ut-Tariqat,
da Ordem Naqshbandyya).
O Ocidente, que se orgulha com alguma razo de ter salvo do
esquecimento muitos aspectos da cultura e do conhecimento orientais,
foi profundamente influenciado pelo Tasawwuf a doutrina dos faquires.
No entanto, quantas pessoas alm de um punhado de orientalistas so
capazes de dizer o que isso? Ioga, Shinto, budismo, taosmo e
confucionismo, todos tm seus devotos na Europa e na Amrica. O
sufismo, no entanto - ltima das sanes msticas dos rabes, persas,
turcos e do resto do mundo muulmano - permanece como o ltimo livro
fechado do Oriente misterioso.
o sufismo uma religio? Um culto oculto? Um modo de vida? ,
em parte, todas essas coisas e em parte nenhuma delas. Dentre os 400
milhes de seguidores do islamismo, o tasawwuf detm um poder que
nenhum credo poltico, social ou econmico conhece ali ou em qualquer
outra parte. Suas origens ancestrais e similaridades a Religio Bn so
mais do que evidentes. Os transes nas danas circulares Dervixes so
idnticos s danas circulares dos monges Bon-po. Muito do seu
contedo filosfico se assemelha com a doutrina sufi.
.
31
Organizada de maneira semimonstica e semimilitar essa incrvel
filosofia era partilhada por elementos to distintos quanto os antigos
alquimistas rabes - os irmos da pureza - os guerreiros Mahdist do
Sudo e os grandes poetas clssicos da Prsia. Sob o nome de faquir
(literalmente: humilde) os dervixes do Imprio Turco assolaram Viena.
Estimulados pela poesia mstica sufi (e, diz-se, por seu poder
sobrenatural), os afegos conquistaram a ndia.
E, no reverso da moeda, a literatura e cultura sufis foram
responsveis por parte da notvel arquitetura e arte da sia.
Quais so as origens desse estranho culto que mesmo os
pesquisadores modernos reconhecem ser a maior fora individual do
Oriente Mdio atualmente? A despeito do fato de existir considervel
quantidade de obras em lnguas orientais, se sabe com absoluta certeza
que os primeiros passos do culto surgiram por influncia dos Bon-Po.
Historiadores sufis atribuem sua fundao ao prprio Maom, mas
j se disse que esse culto esotrico data das primeiras tentativas do
homem para liberar seu ego das coisas materiais. Esse , de fato, o
objetivo principal do movimento. O sufismo um modo de vida distinto e
muito completo, tendo como alvo a realizao do suposto papel do
homem (e da mulher) na vida.
O homem, dizem os santos sufis, parte do todo eterno, do qual
derivam todas as coisas e ao qual retornaremos. Sua misso preparar-
se para esse retorno. Isso s pode ser obtido atravs da purificao.
Quando a alma humana corretamente ligada ao corpo e obtm completo
controle sobre ele, ento o homem parece em sua forma perfeita: o
homem perfeito emerge, de fato, muito semelhante ao super-homem,
possuindo poderes notveis, que figuram tanto nas aspiraes do
ocultismo oriental quanto nas do ocidental.
.
32
So estes os passos pelos quais um devoto progride em direo a
seu fim. Organizado em ordens que lembram as ordens monsticas da
Idade Mdia (que segundo alguns foram moldadas no sufismo), a primeira
condio para aceitao do aspirante que ele esteja "no mundo, mas
no seja do mundo". Esse o primeiro aspecto importante em que o culto
difere de quase todas as outras filosofias msticas. Pois fundamental
que cada sufi devote sua vida a alguma ocupao til. Sendo seu objetivo
tornar-se um membro ideal da sociedade, conclui-se naturalmente que ele
no pode isolar-se do mundo. Na palavra de uma autoridade:
O Homem se destina a viver uma vida social. Seu papel estar
com outros homens. Ao servir ao sufismo ele est servindo ao infinito,
servindo a si mesmo e servindo sociedade. No pode se desligar de
nenhuma dessas obrigaes e continuar ou vir a ser um sufi. A nica
disciplina que vale a pena aquela que obtida em meio tentao. Um
homem que, como a anacoreta, abandona o mundo e se afasta das
tentaes e distraes no pode chegar ao poder. Pois o poder aquilo
que extrado do meio da fraqueza e da incerteza. O asceta vivendo uma
vida monstica est se iludindo!
Apesar de a palavra faquir ter vindo a ser usada no Ocidente para
indicar um acrobata ou mgico itinerante, seu sentido real meramente
"humilde". A humildade do que busca o primeiro requisito. Ele deve
renunciar sua luta por objetivos meramente mundanos at que tenha
sua razo de viver na perspectiva correta. Isso, na verdade, no
contraditrio. Pois um homem pode legitimamente gozar as coisas do
mundo, desde que tenha aprendido a humildade em sua aplicao.
O que deu aos sufis - em seus papis de faquires e dervixes - esse
elo de invulnerabilidade, infalibilidade e superioridade a aplicao dessa
doutrina. No h dvidas de que a concentrao mental conseguida pelos
sufis responsvel pelo que se poderia classificar como manifestaes
realmente sobrenaturais. H exemplos, registrados com tanta preciso
.
33
histrica quanto seria de esperar-se do estranho poder de alguns desses
homens. Abordando a questo de maneira to cientfica quanto possvel,
so muitos os exemplos de mistificadores sufis que brincam com a
ingenuidade das massas. Por outro lado, dezenas de milhares de pessoas
no predispostas esto convencidas do fato de que o tasawwuf pode dar
um grau inusitado de poder a alguns de seus seguidores.
necessrio apontar aqui, assim como em outras partes deste
material de estudo, que tais manifestaes podem ser verdadeiras, ser a
mera aplicao de segredos da natureza que ainda so imperfeitamente
compreendidos pela cincia ortodoxa.
Quais so os milagres e poderes atribudos aos santos sufis? Se
bem que quase no haja fenmenos taumatrgicos que no tenham sido
reivindicados por alguma autoridade como j realizados pelos dervixes,
alguns milagres so mais caractersticos do culto que outros. O primeiro
(conforme a crena de que o tempo no existe) a anulao do tempo
convencional. As histrias sobre esse fenmeno - algumas das quais
narradas por autoridades histricas meticulosamente acuradas - so
muitas e variadas.
Talvez a mais famosa seja o caso do xeque Shahab-el-Din. Diz-se
que ele podia induzir a apario de frutas, pessoas e objetos
absolutamente segundo a sua vontade. Conta-se que uma vez ele pediu
ao sulto do Egito que mergulhasse a cabea num recipiente com gua.
Instantaneamente o sulto se viu transformado num marinheiro de um
navio naufragado, jogado praia de alguma terra inteiramente
desconhecida.
Ele foi recolhido por lenhadores, levado cidade mais prxima
(jurando vingana contra o xeque, cuja magia o havia colocado nessa
situao), e comeou a trabalhar como escravo. Depois de alguns anos
ganhou sua liberdade, comeou um negcio, casou-se e se estabeleceu.
Mais tarde veio a empobrecer outra vez e tornou-se carregador autnomo,
na tentativa de sustentar sua esposa e sete filhos.
.
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Um dia, acontecendo estar na praia de novo, mergulhou na gua
para banhar-se. Imediatamente encontrou-se de novo em seu palcio no
Cairo, novamente rei, rodeado de cortesos, com um xeque muito grave
sua frente. A experincia toda, que lhe pareceu ter durado anos, tinha
levado apenas alguns segundos. Essa aplicao da doutrina de que "o
tempo no sentido para os sufis" refletida no famoso exemplo da vida
de Maom. Conta-se que o profeta, quando se preparava para sua
milagrosa "marcha noturna", foi levado ao cu, ao inferno e a Jerusalm
pelo anjo Gabriel. Depois de quatro vintenas e dez conferncias com
Deus, retornou terra: a tempo de agarrar um copo de gua que tinha
sido derrubado quando o anjo o levou.
Alm da inexistncia do tempo, o espao quase no importa ao
adepto sufi que quer viajar. O transporte metafsico de muitos dos mais
famosos professores sufis tido como fato corriqueiro. Sufis j foram
vistos ao mesmo tempo em lugares separados por muitos milhares de
quilmetros. O xeque Abdul-Qadir Gelani, um dos mais celebrados santos
do sufismo, era capaz de viajar milhares de quilmetros num piscar de
olhos, a fim de estar presente ao funeral de algum amigo adepto.
Caminhar sobre a superfcie das guas e voar enormes distncias
vista das pessoas no solo so outras que se diz serem regularmente
feitas pelos iniciados.
Milagres, enquanto tais so tidos como possveis apenas para
profetas. Mas sustenta-se que as maravilhas (karmt) so possveis a
grande nmero de sufis. As atividades dos mgicos - que so geralmente
uma forma de engodo para a ingenuidade das pessoas - so classificadas
como istidraai, que quer dizer meros truques e trabalhos furtivos. A magia
propriamente dita, que significa taumaturgia atravs do auxlio de
espritos, um ramo inteiramente diferente da cincia oculta.
.
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Organizao das Ordens
Ordens mgickas desse tipo determinam rgidas regras de um dado
padro para os aspirantes ao poder sufi. parte aqueles que buscam
apenas o culto, todos os novos recrutas devem ser aceitos segundo uma
frmula de um pir, ou professor. Os filhos seguem os passos de seu pai
para entrar na ordem qual pertenciam seus pais, e s aqueles que foram
recomendados por certos patrocinadores podem ser aceitos como
discpulos no primeiro grau do salik, "buscador".
As ordens, que so batizadas em nome de seu fundador
(Naqshbandyya, Chishtyya, Odriyya etc.), so organizadas em grupos,
que estudam com mestres reconhecidos. A promoo de um grau para o
outro se d atravs de uma patente ou declarao do mestre do grupo a
que o aclito pertence. A fim de estudar um ramo particular da arte, os
estudantes podem viajar do Marrocos a Java ou at mesmo do Tibet
Lbia, para se juntar ao haIka (crculo) de um professor famoso. Depois,
se esse ltimo concordar, o candidato ser colocado em prova por alguns
meses. Vivendo com pobreza, vestindo apenas os mantos amarelos e
fazendo tarefas domsticas o "buscador" deve, durante o perodo de seus
estudos, ficar ligado ao seu mestre com uma devoo que excede, em
muito, mesmo a mais rigorosa disciplina de qualquer fora militar.
Deve participar de recitaes rituais de certos textos santos e
secretos, deve observar as cinco preces e ablues rituais, o ms anual
de jejum da manh at o pr do sol e ler as obras dos mestres.
As Ordens
So conhecidas vrias ordens ou tariqat (caminhos) distintas no
sufismo. Todas tm sua origem no prprio Maom e tambm em seus
companheiros. Afirma-se que elas so originrias de uma fraternidade
.
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mstica dos seguidores imediatos do Profeta - a AshbUs-Saf, ou
companheiros de banco. Esses homens, 'sobre os quais pouco se sabe
com certeza, mergulhavam em boas obras, contemplao, jejum e orao.
As teorias mais difundidas rezam que eles foram batizados por causa de
suas roupas de l (souf, l, em rabe) ou por causa da saf, pureza.
As principais ordens hoje em dia so a Naqshbandyya, Chishtiyya,
Qdriyya e Suharwardyya. So completas em si mesmas: nenhuma
inimiga da outra. Os santos e prticas so s vezes tidos em comum; os
objetivos da humanidade e particularmente dos sufis so quase idnticos
em cada uma delas.
H grande nmero de outras ordens, espalhadas do Marrocos a
Java, atravs da ndia, Tibet e do Afeganisto - na verdade, em toda parte
por onde se espalhou o islamismo. Em todos os casos, os ritos e escritos
so altamente simblicos.
Em todos os casos a admisso a uma ordem depende de patrocnio
e iniciao.
Os sufis tradicionalmente ocupam lugar importante, apesar de
indefinido, tanto na sociedade como na Histria. Os dervixes do Sudo
eram - e ainda so - de uma ordem sufi, organizados como uma sociedade
militante e atualmente filantrpica. Nos dias do Imprio otomano, as mui
temidas tropas janizaras eram uma fraternidade militar sufi, ligada ao que
atualmente conhecido como a Naqshbandyya. O atual rei da Lbia
chefe de uma ordem sufi e a maioria, seno todos de seus sditos se
consideram sufi. O faquir de lpi - essa Marca de Fogo da Fronteira
Nordeste da ndia" - um lder sufi. Esses breves fatos podem dar a
impresso de que outros aspectos do culto so menos conhecidos no
Ocidente, mas a referncia a eles fora de contexto serviria apenas para
confundir o leitor.
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Objetivos do Sufismo
A teoria do sufismo de que o homem, em seu estado normal,
parte animal, parte esprito, incompleto. Toda a doutrina e ritual sufis se
dedicam a purificar aquele que busca e transform-lo, portanto em Insni-
Kmil - homem perfeito ou homem completo. Considera-se que uma
pessoa pode estar apta a atingir esse estado de contemplao por si
mesmo ou mesmo atravs de outros meios que no o sufismo. Porm
est implcito que o sufismo o caminho estabelecido, com seu mtodo
prescrito e a orientao dos mestres que j trilharam o caminho.
Quando o aspirante atingiu o estado de integridade, que o
objetivo do culto, est ento com o infinito; e os conflitos e incertezas,
aos quais ele como mero mortal estava sujeito, j no mais existem. Esse
ltimo estgio de desenvolvimento conhecido como wasl - unio.
A vida monstica, no entanto, profundamente evitada por todos
os pensadores sufis. Seus motivos so que, se um homem priva a
sociedade de seus servios e atividade, est sendo anti-social. Sendo
anti-social, ele est indo contra o plano divino. Deve, portanto, nas
palavras do primeiro princpio do sufismo "estar no mundo, mas no ser
do mundo!" (Dar dunya bsh: az dunya mabsh!).
A hierarquia dos santos sufis muulmanos , portanto, conhecida
por suas ocupaes assim como por seus ttulos. Assim, um (Attr) era
qumico, outro (Hadrat Bahuddin Naqshband) era pintor, e assim por
diante. Certos reis da ndia e da Prsia ao se tornarem sufis assumiram
outras ocupaes extras para pagar por sua manuteno, permanecendo
como governantes e no tomando nada do tesouro por sua prpria conta.
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38
O Governo Invisvel do Sufismo
O chefe de todo o sistema sufi o Qutub: ele o mais iluminado de
todos os sufis, atingiu o grau de wasl ("unio com o infinito") e, segundo
alguns, detm o poder sobre todo o organismo sufi. Outros afirmam que o
Qutub tem tambm considervel poder poltico ou temporal. De qualquer
forma, sua identidade conhecida de muito poucos. Ele se comunica
apenas com os lideres das ordens. As conferncias so feitas
telepaticamente ou ento atravs da anulao do "tempo e espao". Diz-
se que o ltimo fenmeno significa que os sufis do grau de wasl podem
transportar-se a qualquer parte instantaneamente, fisicamente, pelo
processo de desmaterializao corprea.
O Qutub servido por quatro deputados, os awtd, ou pilares,
cujas funes so de manter o controle e o poder sobre os quatro cantos
da Terra e relatar-lhe constantemente o estado de coisas em cada pas.
Abaixo dos awtd esto os 40 abdal (aqueles que se transformaram
espiritualmente), e abaixo deles 70 nobres, que por sua vez comandam
300 senhores. Os santos sufis que no ocupam um posto determinado
nessa hierarquia so chamados santo: wal.
.
39
Evocao dos Espritos com a
influncia da cultura Bn
A crena na existncia de espritos e outras foras formidveis est
h apenas um passo do desejo de cham-los, obrig-los e faz-los efetuar
as ligaduras astrais do feiticeiro.
costume - pelo menos entre os velhos autores - dividir essa forma
de espiritualismo em grupos ou assuntos para fins de estudo. Pode-se
dizer que os espritos podem ser distinguidos em bons e maus, em almas
humanas e aqueles que nunca tiveram uma forma corprea (elementais,
demnios e anjos). E tambm alguns espritos aparecem com forma
humana, outros com forma animal e outros com formas mais alarmantes.
Mas esse mtodo de examinar os espritos, se bem considerado, pouco
contribui para o real conhecimento da arte.
Interessante que a evocao em si tibetana, crist, budista,
rabe, egpcia ou caIdia - est contida em limites aceitos de mtodo e
idias. H a consagrao do operador, seus instrumentos (se os h) e,
geralmente, o crculo mgicko ou mandala mgicka. H a invocao em si
e a evocao. Quando o esprito aparece, segue-se a fase de comando ou
inquisio. Finalmente vem a inevitvel licena para partir, sem a qual o
operador poder ser prejudicado pela apario. Duas coisas so
consideradas indispensveis: alguma conexo com a morte ou os
mortos, e a possesso de palavras mgickas ou mantras.
Muito da importncia e interesse da invocao de espritos, em
nossa opinio, devido ao fato de grande parte de toda a magia depender
de ajuda espiritual: seja ela maldio, cura ou meramente poder mgicko
acima e alm do que tido por outros. Pode-se mesmo definir magia
como a suposta arte de obter poder atravs de foras sobrenaturais
(espritas). Portanto os espritos - ou alguma outra fora no identificada,
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convenientemente chamada assim - formam o prprio corao da magia
cerimonial, popular ou supersticiosa.
Geralmente se subestima o fato de que o espiritismo - evocao do
esprito dos mortos - conforme conhecido na Europa e na Amrica
contemporneas, apenas um ramo da magia, um ramo que
tradicionalmente exercido pelos feiticeiros da frica, amerndios tribais e
operadores xamansticos na China, Tibet e Japo para no mencionar
grande nmero de outras comunidades.
Considera-se que a invocao de espritos, especialmente os de
parentes mortos, requer muita dedicao e preparao. Apesar de se
aceitar quase sempre que h algumas pessoas (como os mdiuns
modernos) para as quais esses poderes vm facilmente, algumas vezes
esquecido o fato de que os livros ou grimrios trazem relatos detalhados
dos procederes que podem assim ser seguidos por pessoas comuns.
s vezes se considerava necessrio, em processos atribudos aos
caldeus, saber a data de nascimento da pessoa a ser evocada. Se
pudesse ter um horscopo, tanto melhor. Isso queria dizer que o esprito
poderia ser chamado em nome dos planetas que presidiram seu
nascimento e na hora exata e em que se deu o nascimento.
Em seguida o invocador meditava em completa recluso por um
perodo de at 48 horas. Escolhia-se um dia claro e luminoso. Ento, em
algum lugar determinado pela prtica da magia (o mago geralmente usava
seu prprio quarto ou alguma caverna ou lugar santo em runas), era
descrito o crculo mgico. Dentro de seu dimetro de seis ps estava o
espao-tabu que protegia o mgico e que nenhum gnio do mal poderia
cruzar. No crculo, quase sempre dentro de um anel concntrico, era
escrito com giz, no solo, o nome de Deus.
Talvez o registro mais antigo de frmula para consagrar um crculo
ou uma mandala seja o tirado da srie de tbuas Tibetanas Bon-Po:
Guarde! Guarde! Barreira que ningum pode passar,
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Barreira dos deuses que ningum pode quebrar,
Barreira do cu e da Terra, que ningum pode mudar,
Que nenhum deus pode anular,
Nem deus ou homem pode relaxar,
Armadilha sem sada, armada para o mal,
Rede que ningum atirar, espalhada para o mal.
Seja mau esprito, ou mau demnio, ou mau fantasma,
Ou diabo mau, ou deus mau, ou gnio mau,
Ou demnio, ou vampiro, ou duende-ladro,
Ou fantasma, ou espectro da noite, ou criada do fantasma,
Ou praga m, ou molstia da febre, ou suja doena,
Que tenham atacado as guas brilhantes de Ea,
Possa a armadilha de Ea apanhar;
Ou que tenham assolado a comida de Nisaba,
Possa a rede de Nisaba prender;
Ou que tenham rompido a barreira, No permita a barreira dos deuses, A
barreira do cu e da Terra, que sigam livres; Ou que no reverenciam os
grandes deuses, Que os grandes deuses prendam, Que os grandes
deuses amaldioem; Ou que atacam a casa, Que num quarto fechado
entrem; Ou que circulam ao lu, Que a um lugar sem sada sejam levados;
Ou que vigiam porta da casa, A uma casa sem sada sejam levados a
entrar; Ou que passam a porta e G ferrolho, Com porta e ferrolho, uma
tranca imvel, possam ser fechados; Ou que sopram o limiar e a
dobradia, Ou que foram o caminho contra a tranca e a aldrava, Que
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como gua sejam vertidos, Como uma taa se partam em pedaos, Como
um ladrilho se quebrem; Ou que pulam o muro, Suas asas sejam
cortadas; Ou que jazem num quarto, Suas gargantas sejam cortadas; Ou
que se trancam num quarto lateral, Suas faces possa-se esbofetear; Ou
que resmungam numa cmara, Suas bocas possa-se fechar; Ou que
vagam num quarto superior, Com um "bason" sem abertura possa-se
cobri-los; Ou que escurecem ao amanhecer, Ao amanhecer sejam levados
a um lugar ensolarado.
E se nenhum esprito aparece mesmo depois de repetida
concentrao? A maioria dos livros no prev essa possibilidade. Um
deles, no entanto, nos diz que o fracasso significa que algum erro ou
omisso tem de ser remediada. A experincia pode ser repetida vezes e
vezes, at o sucesso. Os egpcios dinsticos (e provavelmente pr-
dinsticos), os babilnios e assrios acreditavam que a alma podia
retornar Terra. Sob certas circunstncias ela podia tambm re-habitar o
corpo. Elaboradas cerimnias mgicas eram praticadas para que a alma
fosse feliz e no precisasse voltar, tornando-se assim um esprito
inquieto. Esses espritos eram invocados e considerava-se que podiam
ser usados em rituais mgickos.
De maneira semelhante, os espritos de curandeiros reverenciados
e falecidos eram conjurados para aconselhar suas tribos em tempos de
privao em muitas partes da frica, especialmente a parte central do
continente. Seus ossos so preservados e embebidos no sangue de
recm-falecidos, misturados com mel, leite e perfumes. Supe-se que
isso faa que a alma retorne Terra. Assim como as cerimnias dos
espritos eram realizadas no Egito nos sepulcros das pirmides, outros
lugares, cemitrios, ptios de igrejas ou o local onde a morte teve forma
violenta, so stios especialmente bem vistos para esse tipo de
exorcismo.
Espritos que no os dos mortos podem tambm ser invocados de
maneira semelhante. A seguinte consagrao cristianizada do crculo
tpica dos ritos caldeu-semticos.
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Depois de feito o crculo o invocador entoa:
Em nome da santa, abenoada e gloriosa Trindade, procedemos
ao nosso trabalho neste mistrio para conseguir aquilo que desejamos:
ns, portanto, em nome dos acima ditos, consagramos este pedao de
solo para nossa defesa, de forma que esprito de nenhuma espcie possa
atravessar estas fronteiras, nem causar injria ou detrimento a qualquer
dos aqui reunidos.
(Era costume dos magos estarem acompanhados de um ou dois
ajudantes.)
Mas que eles sejam convencidos a ficar diante do crculo e
responder sinceramente nossas demandas, se isso agradar a Ele, que
viveu para todo o sempre e que diz: "Eu sou alfa e mega, o comeo e o
fim, que , foi e ser, o todo-poderoso. Eu sou o primeiro e o ltimo, o que
est vivo e foi morto; e eis que vivo para todo e sempre; e tenho as
chaves da morte e do inferno. Abenoai, Senhor! Esta criatura da terra
em que pisamos. . . " (A terra, como todos os outros elementos, tem seu
prprio esprito referido como a criatura da Terra.)
Confirmai, Deus, vossa fora em ns, para que nenhum
adversrio e nenhuma coisa m possam nos fazer fracassar, pelos
mritos de Cristo. Amm.
Um certo nmero de informaes tem de estar disposio do mago,
alm das invocaes e das palavras mgickas. De incio h os nomes das
horas. Estas, conforme dadas por um texto mgico ocidental formam uma
estranha mistura de nomes arbicos, semitas e egpcios junto com alguns
gregos. So os seguintes e provvel que sejam de fato os nomes dos
espritos das horas:
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Nomes das Horas
Dia Hora Noite
Yain 1 Beron
Janor 2 Barol
Nasina 3 Thami
Salla 4 Athar
Sadedali 5 Methon
Thamur 6 Rana
Ourer 7 Netos
Thamie 8 Tafrae
Neron 9 Sassur
Jayon 10 Agle
Abai 11 Calerva
Natalon 12 Salam
Esses nomes so memorizados e o apropriado inscrito no mais
externo crculo concntrico da evocao, junto com as palavras mgicas,
o nome da estao e o nome do arcanjo da hora. Considera-se que os
nomes das estaes so equivalentes aos nomes dos anjos das
estaes: primavera (caracasa), com Core, Amatiel, Commissoros. O
vero vem sob Gargatel, Tariel e Gariel. Dois anjos regulam o outono:
Tarquam e Guabarel. O inverno completa o ciclo com Anabael e o anjo
Cetatari.
A evocao ser feita na primavera? Ento, o signo da primavera
deve ser includo no crculo e nas invocaes; assim como o nome da
Terra na primavera e os nomes do Sol e da Lua nessa estao. Quatro
conjuntos de informao adicionais so agora necessrios:
nome do signo da primavera: Spugliguel
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nome da Terra na primavera: Amadai
nome do Sol na primavera: Abraym
nome da Lua na primavera: Agusita
no vero. no outono no inverno
Nome da Terra: Festativi Rabirmana Geremiah
Nome do Sol: Athenay Abragini Com-mutoff
Nome da Lua: Armatus Mastasignais Affaterin
Signo do vero: Tubiel Signo do outono: Torquaret
Signo do inverno: Attarib
Uma vez dominados esses importantes nomes, o mago purifica-se
com esta prece:
Vs me purificareis com Hyssop, senhor, e serei limpo: vs me
lavareis e serei mais branco que a neve.
O crculo ser ento borrifado com o perfume correto (que ser
descrito mais adiante) e o exorcista se enrola numa capa de linho branco
amarrada na frente e atrs. Enquanto se veste, diz:
Ansor, Amacon, Amides, Theodonias, Aniton: pelos mritos dos
anjos, senhor, eu vestirei o paramento da salvao; que aquilo que eu
desejo eu consiga realizar, por vosso intermdio, mais santo Adonai, cujo
reino dura para todo o sempre. Amm.
O texto cristianizado que estamos seguindo, apesar de reter a
maioria das marcaes ritualistas do sistema semita e outros, acrescenta
a admoestao de que aqueles que desejam riqueza e poder ou qualquer
coisa de material para si mesmos no conseguiro atrair espritos. Essa
no , no entanto, uma posio estabelecida. "Primeiro o corao e a
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mente devem ser limpos, de desejos e, se a habilidade for em qualquer
tempo usada para fins pessoais e egostas, o poder ento renunciado.
S aqueles com a habilidade de tocar as alturas sabem disso."
Na necromancia encontramos o crculo mgicko e as palavras
mgicas ainda em uso. Os procederes so exatamente os mesmos em
ambos os tipos de processo. Quando o feiticeiro Tibetano Chiancungi e
sua irm bruxa Napala invocaram maus espritos, ordenaram a Bokim que
aparecesse e lhes desse sua ajuda infernal. Cobriram de preto uma
profunda caverna e depois desenharam o crculo, com sete tronos e
nmero igual de planetas inscritos nele. Mesmo para esses notrios
feiticeiros passaram meses antes que Bokim aparecesse de verdade.
Quando o fez, garantiu-lhes 155 anos de vida extra e muitos outros
favores mais. Como a teoria de "vender a alma" no to conhecida no
Oriente, a nica penalidade que os feiticeiros tinham de pagar era servir o
demnio naquele perodo. Em seu trabalho, assim como na maioria dos
encantos de invocao, eles faziam livre uso de perfumes e outras
fumigaes.
Quando o planeta em questo era Saturno (isto , quando a
operao era na hora ou dia de Saturno), o perfume utilizado no
defumador era pimenta, com almscar e incenso. Enquanto isso
queimava, podiam-se ver espritos em forma de gatos e lobos. Jpiter
requeria oferendas de plumas de pavo, uma andorinha e um pedao de
lpis-lazli. Suas cinzas eram ento misturadas ao sangue de uma
cegonha. Os espritos de Jpiter tinham a aparncia de reis,
acompanhados de trombeteiros. Sob Marte o fogo era alimentado com
goma aromtica, sndalo e incenso, mirra e o sangue de um gato preto.
Para o Sol, almscar, incenso, mirra, aafro, trevos, louros e canela eram
misturados ao crebro de uma guia e ao sangue de um galo branco
informados em bolas e colocados nas chamas. Os espritos que surgiam
sob a gide de Vnus pediam espermacete, rosas, coral, alos,
misturados com o crebro e sangue de um pombo branco. Pode-se ver
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que muitos dos itens citados acima so familiares a vrias prticas
ocultas.
Mercrio pedia incenso misturado com o crebro de uma raposa.
Os fogos deviam ser feitos Ionge das habitaes dos homens. Os
espritos da Lua eram tidos como os mais difceis de propiciar. Eles
apareciam como fantasmas envoltos em tecidos muito finos, com rostos
plidos e luminosos. Para eles o fogo precisava de sementes de papoula,
sapos secos, cnfora, incenso e olhos de touro misturados com sangue.
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Influncia Bon-Po na Tradio
Vdica
Uma praga com mil olhos vem rolando: e ela procura aquele que me
amaldioa como um lobo procura a morada do dono dos carneiros...
Golpeia aquele que me amaldioa, maldio! ... A ele rogo a morte! - Veda
IV, 6:37. (Tharva Veda dos brmanes - a obra secreta).
O mais importante notar que o Tharva Veda no visto como uma
obra de bruxaria e feitiaria. Entre as frmulas nele includas encontram-
se vrias que na verdade amaldioam os feiticeiros e outras que
procuram munir o sacerdote brmane com eficazes defesas contra a
magia de outros. Assim, do ponto de vista brmane, o Veda magia
branca, ou legtima. A diferena usual entre as frmulas originalmente
memorizadas pelos sacerdotes brmanes e devendo ser usadas s
depois dos ritos de purificao e dedicao, as frmulas do mui mgicko
Alharva Veda eram tidas como eficazes por milhes de hindus. Chamado
originalmente de Brahma Veda (Livro para Brmanes), seu "status"
segundo a teologia hindu era inferior ao dos Trs Vedas; por isso o ttulo
de Quarto Veda se aplica a ele algumas vezes, duas sempre considerada
em termos do grau de mal que encorajado, mas o Atharva Veda toca a
raiz do problema mgico. Se um encantamento pode fazer bem ou mal,
dependendo do propsito para o qual usado, ele se constitui em magia
branca ou magia negra?
Segundo as crenas dos compiladores dos Vedas, a magia no s
verdadeira como legal quando aplicada pelos puros de corao. Essa a
principal razo por que durante sculos o Atharva Veda foi lido apenas
por seletos iniciados.
Os seguintes extratos formam um estudo interessante do mbito e
propsito das prticas mgickas entre os vedas brmanes.
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Encanto para a vda eterna:
Que a imortalidade esteja com ele! Ele partilha a vida eterna do Sol.
Indra e Agni o abenoaram e o levaram sua imortalidade. Bhaga e Soma
esto com ele, elevando-o para prolongar os seus dias.
No haver perigo de morte:
Este mundo te manter, para sempre, eia! O Sol, o vento, a chuva, todos
esto contigo! Teu corpo ser forte e imune a qualquer doena. A vida
ser tua, eu prometo; entra nessa carruagem Imorredoura e muito
antiga...
Teu corao ser forte, no te apartes dos outros. Esquece aqueles que
morreram, no so mais para ti. Os multicoloridos ces gmeos de Yama,
guardas da estrada, no te seguiro (para tomar tua vida). Segue o
caminho, que o fogo te guiar, a chama purificadora, e ela no te
molestar, esse calor celestial!
Se todas as esferas da ambio humana. Nos escritos secretos,
entretanto, seu uso geralmente limitado proteo, fecundidade,
virilidade, prosperidade e defesa contra bruxaria. Quando completado, o
talism atado ao brao direito. O hino dirigido ao encanto em si varia
segundo o efeito desejado, apesar de a simples possesso do talism
garantir muitos dos poderes associados com suas virtudes tradicionais.
Esta a frmula de proteo usada em conjunto com o talism.
Frmula de proteo do encanto sraktya tibetano:
Atado ao proprietrio, este encanto todo-poderoso. Faz o
possuidor forte e valente, mata inimigos, traz a fortuna ao que o tem.
potente, tambm, contra toda magia. Este encanto foi usado por Indra
para matar Vritra. Ele arrasou os Asuras e tornou-se senhor do cu e da
Terra e com sua ajuda superou as quatro esferas do espao. Sim, este
talism agressivo e vitorioso. Destruir o inimigo e nos proteger dele.
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Isso o que Agni e Soma disseram, Indra, Brihaspati e Savitar, todos
concorrem por ele. Aqueles que me atacarem sero repelidos e a mesma
fora que usarem recair sobre eles: pela fora deste talism! O cu, a
Terra, o Sol, os sbios, todos estaro entre mim e o inimigo. Sua fora
recair sobre eles: pela fora deste talism! Este talism para mim e
outros que o usam como uma armadura todo-poderosa. Ascende s
esferas como o Sol subindo no cu, destri toda mgica contra mim.
fora potente e os Rashas tombaro diante dele! Indra, Vishnu, Savitar,
Rudra, Agni, Prajapati, Parameshthin, Viraj, Vaysvanara, todos eles, os
espritos poderosos, estaro por trs do amuleto que ligado ao clima,
como uma poderosa armadura. mais poderosa das rvores, potente
como um lder entre feras, vs sois meu guardio e meu socorro, pois o
que precisei encontrei. E eu, usando este amuleto como um tigre, como
um touro, como um leo, nada pode tocar-me, portador deste
encantamento. Aquele que o usa pode tudo comandar e ser seu
dominador. Feito e produzido por Kassyapa, usado por Indra em suas
batalhas, ele era sem dvida um vencedor. o poder dos espritos que
faz este amuleto ter seu poder multiplicado mil vezes. Indra, com um
chicote de cem raios e relmpagos, golpeai aquele que quer me golpear,
por virtude deste encantamento! Que este grande e poderoso talism leve
vitria sempre que usado. Produz crianas, fecundidade, segurana,
fortuna! Aqueles que so contra ns no Norte, no Sul, no Oeste, no Leste,
prostrai-os, Indra! Minha proteo, como uma armadura o Sol, o dia e
a noite, os cus e a Terra. Minha proteo Indra e Agni. Dhatar me dar
essa proteo! Todos os espritos que existem no conseguem
atravessar as defesas de Indra e Agni: essa a fora que tenho entre mim
e meu inimigo. espritos! Deixai-me envelhecer e no ter cortada minha
juventude!
Nada pode acontecer ao portador deste amuleto. Ele o talism da
invulnerabilidade!
Se o talism estiver sendo dado a algum por um feiticeiro, o
mestre terminar sua fala com as palavras:
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Este o talism todo-poderoso! Indra, doador da prosperidade,
matador de Vritra, senhor supremo dos inimigos, conquistador,
salvaguarda em todos os perigos, protegei este homem e dai-lhe sua
ajuda, dia e noite!
Algumas vezes feita uma oferenda de manteiga. Se o amuleto
desejado para ser usado na guerra, acende-se um fogo de flechas
partidas diante dele para simbolizar a destruio do inimigo""
Medicina Oculta dos Vedas
Segundo o Atharva Veda a maioria das doenas pode ser curada
com encantamentos.
Encantos contra dores:
A dor no pescoo (ou qualquer que seja a dor) desaparecer. So
estas as 55 dores e as 77 dores e as 99 dores: todas elas desaparecero!
Enquanto continua a repetio - que deve ser feita 70 vezes - 55 folhas da
planta parasu so acesas com alguns pedaos de madeira em brasa. A
seiva que sai das folhas ento coletada, na medida do possvel, em uma
vasilha e aplicada s dores.
Mas talvez mais atraente ao pblico em geral que gosta de
encantamentos seja o seguinte, destinado a combater todos os males, a
banir todas as doenas de qualquer origem:
Encanto contra todos os males:
Livre-me, fora m; por favor, 'livre-me, vtima infeliz de sua
malcia! Deixe-me escapar dessa coisa m e ser feliz outra vez! Se no me
libertar, ento a abandonarei no prximo cruzamento, e voc seguir e
tomar um outro! V, siga outro: tome o homem que meu inimigo,
ataque-o!
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A manufatura desse encanto complicada pelo ritual que
suplementa as recitaes. Elas so repetidas noite, enquanto milho
seco peneirado e depois desprezado. No dia seguinte o invocador atira
trs oferendas de comida em gua corrente, como sacrifcio ao esprito
dos mil olhos. Numa encruzilhada ele ento espalha trs pores de arroz
cozido como isca para que entre o mal, antes de ir morar no corpo do
inimigo a quem se destina.
Venenos, diz o Veda, podem ser combatidos por meio deste ritual.
Primeiro recitado o encanto, em voz baixa, reverenciando um dolo que
representa o deus-serpente Takshaka. Enquanto isso, o paciente toma
uma pequena quantidade de gua, enquanto gua tambm borrifada
sobre ele. Essa gua deve ter sido especialmente preparada
mergulhando-se nela um pedao da rvore krimuka. Em seguida, uma
pea de roupa velha aquecida e mergulhada em outro recipiente com
gua que o paciente tem de beber tambm. Alguns misturam as duas
bebidas com manteiga clarificada e mexem a poo com lminas de
flechas envenenadas. Talvez no surpreenda o fato de se esperar que o
paciente fique doente depois dessas cerimnias. Este o encantamento a
ser recitado:
Brahmana, bebida do sagrado Soma, o de dez cabeas e dez
bocas, deixava os venenos sem efeito. Eu anunciei, por toda a amplido
dos cus e da Terra, por todo o espao, a fora deste encanto.
Garutamant, a guia, bebeu o veneno: mas no teve efeitos contra ela. Da
mesma forma eu desviei a fora do veneno, come uma flecha desviada.
flecha, tua ponta e teu veneno no tm poder: igualmente, todos
aqueles envolvidos na fabricao e uso deste veneno, eu deixei tambm
impotentes. Mesmo os penhascos onde crescem as plantas do veneno
tornaram-se sem poder diante de mim. Tudo deste veneno negativo.
Veneno, teu poder se foi!
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Encantos contra doena e demnios
O mago do Atharva tem de proteger contra doenas e demnios: as
primeiras em funo de seus clientes - muitas vezes reis antigos e suas
famlias - os ltimos porque podem afetar adversamente sua magia. O
seguinte encantamento tido como eficaz contra ambos os tipos de
ameaa e tambm contra doenas causadas por espritos malignos.
Primeiro feito um amuleto de madeira da rvore gngida e sobre ele
entoado o encantamento:
Os videntes, falando em nome de Indra, deram Gngida aos
homens. Ela foi feita remdio pelos deuses, desde o princpio, e
destruidora de Vishkandha. Protegei-nos, Gngida, pois cuidamos de
vossos tesouros; na verdade os deuses e os brmanes fizeram-na
proteo que anula as foras do mal! Eu me aproximei do mau-olhado do
inimigo; Mil Olhos, destru todos eles! Gngida, sois nosso refgio.
Gngida me proteger dos cus, da Terra, das plantas, do ar, do passado
e do futuro. Devo ser protegido em todas as direes! Possa a todo-
poderosa, protetora Gngida, deixar toda a magia dos deuses e dos
homens fraca e impotente!
Essa citao, alm de seu interesse como tpico encanto de
proteo hindu, revela que tal o poder da rvore gngida que mesmo
encantos lanados pelos deuses no tm efeito contra ela. Notamos aqui
a magia surgindo com um poder quase prprio, fora que parece existir
parte ds meramente "emprestadas" de deuses e homens. Esse um
ponto, penso eu, que tem sido insuficientemente notado por muitos
cronistas da prtica mgica. J se disse que o feiticeiro tpico primeiro
apela para os deuses, depois repudia-os ou os ameaa se o
encantamento no funciona. Isso ocorre tambm em conjuraes dos
judeus. Ser isso certamente uma extenso da idia de que o deus ou ser
a que se dirige no o mais alto poder invocado? Em cdices mais
recentes em que as frmulas crists foram submetidas s mais primitivas,
isso muito claro. Igualmente, tambm, se poderia sustentar que s
deuses ou espritos pagos invocados para servir o feiticeiro agem
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meramente como intermedirios ou agentes do poder por cujo mandato a
magia exercida. Qual esse poder maior? Pode ou no se referir ao
desejo unitrio subconsciente do homem? Isso levanta questes
teolgicas, mas pode resultar um campo de estudos frtil, se pelo menos
os ocultistas ou mesmo os antroplogos se aventurassem alm das
trilhas conhecidas; isto , se eles parassem de se contentar com
meramente catalogar as observaes de outros.
Em ltima anlise deve-se notar que encantos e frmulas sozinhos
nem sempre so suficientes para efetuar uma cura. Isso explica por que
vrios encantamentos para o mesmo fim so prescritos nos registros
mgickos. Se, portanto, um encanto no funciona, outro experimentado
e assim por diante at que se encontre a cura? Fizemos essa pergunta a
um sacerdote brmane sobre cdigos mgickos do hindusmo. Ele
respondeu que esse era um mtodo ocidental, emprico, de colocar o
carro na frente dos bois. Segundo posies estabelecidas a cura no s
possvel, mas certa. Pode ser, entretanto, que certas influncias
planetrias sejam apropriadas a um tipo de encantamento e no a outro.
Ou pode ser que um tipo de demnio cause uma doena e outro tipo,
outra. Esses fatos deveriam ser conhecidos de todos os praticantes da
medicina oculta.
Da a variedade de encantos e amuletos empregados em vrias
circunstncias. Esse praticante citou ento a seguinte alternativa de
exorcismo para a doena:
Exorcismo da rvore varana
Esta doena deve ser cortada pela divina fora da rvore Varana;
assim tambm os deuses terminaro esta doena! Estou curando esta
doena a comando de Indra, a comando de Mitra, e por Varuna e todos os
deuses. Assim como Vritra suspendeu o fluxo destas torrentes eteinas,
assim encerro esta doena nesta pessoa, com o poder de Agni
Vaisvanara.
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Certas plantas, assim como a gua e a cevada, so adjuntos
importantes ao poder dos encantamentos e amuletos. A fim de expor o
poder latente desses objetos, eles tm de ser consagrados e
"sensibilizados".
O prprio fato de o mago ter em sua casa esses elementos mgicos
atrair o poder oculto, que aumentar de intensidade dia a dia. Esta a
orao geral feita diante de gua fresca e cevada:
Esta cevada foi arada com fora e foi usada em ramos de oito e de
seis. Doenas sero curadas com ela. Assim como os ventos sopram
para baixo, o Sol brilha para baixo, para baixo sai o leite da vaca, que se
v assim doena (que pode ser curada com isto)! A gua cura; a gua
leva a doena; a gua cura todos os males; estas guas faro uma cura
para vs!
Hino s plantas:
Quando plantas mgicas so colhidas frescas com propsitos
curativos este hino entoado sobre elas:
Invocamos as plantas marrons, brancas, pintadas, coloridas e
pretas; elas devem proteger esta pessoa dos males mandados pelos
deuses: seu pai o cu, sua me, a Terra, razes e oceano. Plantas
celestiais expelem doenas pecaminosas. As plantas que se espalham,
plantas que crescem em arbustos, algumas de uma s vagem, e aquelas
que so trepadeiras; essas invoco. Chamo as plantas que tm brotos,
plantas que tm caules, aquelas que dividem seus membros, as que
foram feitas pelos deuses, as fortes, que do vida ao homem. Com a fora
que sua, poderosas, com o poder e a fora que so seus, com isso,
plantas, livrem este homem de sua m sade! Agora estou fazendo um
remdio. As plantas gvala, naghrisha, givanti e a planta arundhati, que
curam (doenas), esto florindo e eu as chamo para ajud-lo. As plantas
sbias devem vir aqui, elas entendem o que estou dizendo e podemos
nos juntar para em segurana levar este homem boa sade. So os
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bens do fogo, as filhas da gua, elas crescem e recrescem, fortes,
curativas, plantas curadoras, com mil nomes, todas trazidas aqui. Plantas
espinhosas, expulsem o mal. Plantas que agem contra a bruxaria devero
vir aqui, plantas que foram compradas, que protegem animais e homens,
elas viro. Os topos, os fins, os meios de todas essas plantas so
embebidos de mel e todas elas devem, mesmo aos milhares, ajudar
contra a morte e o sofrimento. O talism feito de plantas como um tigre;
proteger contra a hostilidade, curar todas as doenas. Doenas
correro com os rios...
Essas invocaes continuam por muitas linhas. Invocando todos
os tipos de deuses e poderes, falando de exemplos clssicos da mitologia
indiana, onde grandes batalhas foram vencidas e perdidas, a trovejante
voz do mago prossegue implacavelmente em seu esforo de juntar todos
os poderes que pode invocar. Ao oscilar levando os quadris para frente e
para trs, o brmane tem de marcar com a cabea o ritmo da recitao e
deve sentir o poder derivado das plantas crescerem perceptivelmente no
interior de seu corpo. Isso me foi descrito como uma sensao fsica real.
.
57
A Magia Bon-Po
Seus Ritos
Dedico-me a obter o poder e o conhecimento neste mundo e a
promoo no outro mundo... - Rito da Invocao da rvore Asuvata.
Apesar da pouca pesquisa comparativa sobre os fundamentos da
tradio oculta oriental e ocidental que tem sido feita por estudiosos
imparciais, certos princpios importantes a esse estudo j foram
estabelecidos. Talvez o mais surpreendente deles seja a estranha
similaridade entre a escola grega antiga, os ritos dos cabalistas judeus e
os discpulos arcanos do veda na ndia e os Cdices Tibetanos.
Resultantes de uma abordagem mstica s maravilhas conseguidas
por meio da magia, todas essas escolas abarcaram em comum os ritos de
purificao, vestimentas cerimoniais, encantamentos e ascetismo. A
santidade do nome divino, cuja simples enunciao era reservada para
ocasies especiais, e trs graus de iniciao constituem outra pedra de
toque de sua prtica oculta.
Que so as escolas mgickas orientais e como atingem seus
objetivos? Em primeiro lugar, a ndia, China, Tibet, como qualquer outro
pas, est cheia de charlates cujo principal objetivo na vida meramente
sobreviver atravs de prestidigitao ou truques, alguns dos quais
extremamente engenhosos. Mas grande parte da populao se d
crena, seno prpria prtica, da magia. Aqueles cuja nica ocupao
.
58
o estudo e a tentativa de utilizar a cincia oculta - como os sadhus e os
faquires - se preparam com uma das mais rgidas e austeras disciplinas
da histria humana.
Ao mesmo tempo, seus "milagres" - que eu mesmo presenciei e
tentei testar como cientificamente possveis - parecem superar em
mbito, todo o resto.
Em resumo, a cincia oculta hindu repousa na crena de que o
poder sobre toda e qualquer coisa da Terra pode ser obtido por meio de
espritos benignos. Assim como com os chineses, tais seres podem ser
as almas dos falecidos ou simplesmente entidades sem corpo sob cuja
superviso esto as leis da natureza. Se, por exemplo, se deseja interferir
com a lei da gravidade, o esprito que guarda essa lei deve ser invocado e
pedida a sua ajuda. Esse tipo de experincia considerado dos mais
elementares; to surpreendentes so os resultados obtidos por esses
sadhus que sou quase levado concluso de que deve haver alguma lei
natural ainda no descoberta no Ocidente, a qual permite que aparentes
milagres sejam realizados por aqueles que sintonizam suas mentes nesta
faixa.
Eis um caso interessante: nosso instrutor, um mago, iria
demonstrar alguns truques a um grupo de pessoas do nosso crculo de
estudos. Vestindo um traje comum, camiseta e jeans e trazendo apenas
um basto com sete anis - o emblema ou varinha mgica dos ocultistas.
Foram feitos vrios testes. Primeiro foi pedido que fizesse uma cadeira
levitar e flutuar no espao. Franzindo as sobrancelhas em profunda
concentrao, ele fechou os olhos e estendeu ambas as mos na direo
da maior cadeira da varanda. Em dez segundos - marcados num
cronmetro - a cadeira pareceu subir e, oscilando ligeiramente, flutuar
realmente no espao, a uma altura de cinco ps. Pessoas se aproximaram
e a puxaram pelas pernas. Ela desceu para o cho; mas assim que
soltaram subiu de novo. Perguntei se ele podia fazer-me flutuar com a
cadeira. Ele assentiu com a cabea. Puxando-a para baixo de novo - e a
coisa agora parecia ter vida prpria - sentei-me na cadeira e flutuei no ar.
.
59
Convencido de que havia alguma espcie de hipnose por trs disso, fiz
com que ele elevasse toda a moblia do lugar. Depois lhe pedi que
trouxesse flores de um jardim prximo - e elas apareceram. No tnhamos
uma cmara fotogrfica, seno essa teria sido uma oportunidade de testar
o assunto de uma vez por todas. Mas eu no podia acreditar que a
hipnose, tal como ns a conhecemos, pudesse existir ali. Em primeiro
lugar, a induo ao estado hipntico teria sido incrivelmente rpida; em
segundo lugar, mesmo enquanto os fenmenos estavam ocorrendo, eu
no podia me fazer acreditar que eles fossem genunos. Eu no parecia
estar de forma alguma en rapport com o mago, pois podia facilmente
voltar minha lista prvia de fenmenos e pedir-lhe que me fizesse mais
alguns. Mas o que finalmente dissipou minha suspeita de que a hipnose
enquanto tal estivesse sendo usada foi o seguinte: pedi que me
descrevesse o contedo das prximas duas cartas que eu recebesse e ele
o fez corretamente. Em seguida, pedi-lhe que me trouxesse
imediatamente um objeto pertencente a minha namorada, uma corrente
com um smbolo egpcio do olho de Horus. E o objeto apareceu. Na
manh seguinte, enquanto eu tomava o caf da manh, ela me ligou me
contando sobre sua perda, no que imediatamente eu disse que no se
preocupasse porque estava comigo. Ela estava um pouco confusa. Disse
ele ter sonhado comigo na noite anterior que me tinha emprestado a
corrente. Que pensar? Meu instrutor veio, conforme disse, "para
demonstrar os poderes que vm a um homem que segue genuinamente o
caminho da virtude". Hipnose, materializao e vidncia.
Essa experincia representativa de grande nmero de
experimentos que eu e vrios outros estudiosos da tradio oculta
realizamos durante um perodo de quase 8 anos. Alguns traos gerais da
minha prtica mgicka surgiram desse estudo.
Em primeiro lugar, parece possvel, se no provvel, que certo
nmero de magos pode induzir de fato fenmenos que seriam
classificados como sobrenaturais. Qual a natureza de seu poder, qual a
sua fonte? Em conjunto com vrios investigadores ocidentais, fui forado
.
60
concluso de que temos de conceber a existncia de alguns princpios
cujo controle se torna possvel atravs das disciplinas dos sacerdotes
magos orientais em geral. Pode ser oculto, desde que qualquer coisa no
compreendida pode ser chamada de oculto: muito mais provvel que
sejam foras, talvez afins ao magnetismo ou eletricidade, ou formas
disso, cujas funes ainda no compreendida pela cincia. Afinal
sabemos muito pouco sobre a natureza da eletricidade ou do
magnetismo, ainda hoje. Sabemos como usar essas foras e sabemos o
que elas podem fazer. No entanto, foram conhecidas durante sculos
antes de serem controladas. O que coloca essa "fora oculta" numa
posio ligeiramente diversa o aparente fato de que seu uso feito
atravs de controle mental.
Notem que na minha narrativa existem trs tipos de fenmenos
mgickos em ao. possvel que houvesse uma espcie de hipnose de
estalar os dedos e que isso pudesse ser induzido em questo de
segundos ou minutos, vontade do operador. Entre uma e outra (isto ,
quando liberado pelo mago) se sente bastante normal, como eu. Em
segundo lugar, a previso quanto ao contedo das cartas. Isso difcil de
avaliar mas no faculdade desconhecida - suspeito que apenas no
reconhecida. Depois h o problema de "projeo da matria": quando a
corrente foi aparentemente trazido duma distncia sob circunstncias
misteriosas e por meio de um poder desconhecido. interessante
tambm que minha namorada parecia estar sob a impresso de que eu o
emprestara.
Por outro lado, pode muito bem ser que um dia se inventem
mquinas capazes de controlar esse estranho poder ou fora. De minhas
observaes pessoais dos estados de transe dos praticantes, concluo
que a maior barreira para o estudo objetivo desse poder a carncia de
cientistas dispostos a se submeter ao rigoroso treinamento necessrio
aos adeptos.
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61
verdade que os sadhus dizem que seu poder vem diretamente
dos espritos, que eles no possuem em seu ntimo nenhuma habilidade
especial, exceto a de concentrao. Ao mesmo tempo um homem pode
acreditar que o fogo seja um esprito e mesmo assim ser capaz de us-lo
a seu bel-prazer. Isso parece indicar a possibilidade real de algum
principio ou fora, cuja natureza no inteiramente compreendida, usado
por parte dos magos hindus.
Seja qual for verdade desses fenmenos, a seguinte dissertao
d detalhes da iniciao e disciplina do sacerdotado Bon-Po, segundo o
seu tratado mgicko.
Ritos e invocaes, segundo o
Bn theg-pa-rim-dgu
A primeira parte desse tratado secreto das cincias ocultas
tibetanas trata dos ritos que devem ser observados pelos pais de uma
criana, desde o nascimento, at que tenha idade suficiente para receber
o grau inicial de noviciado. O treinamento nos poderes mgicos no se
inicia, porm, antes da terceira parte do trabalho, cujo estudo comea na
idade de cerca de 20 anos, quando o jovem tibetano abandona seu guru
(mestre) e se lana ao que poderia ser chamado de estudo individual.
Portando agora o titulo de bongrihasta, o jovem mgico comea
uma austera vida de rituais e tabus, de invocaes e jejum, de oraes, e
sacrifcios. Para sua tranqilidade, todos os detalhes de sua vida futura
so meticulosamente planejados pelo livro, e qualquer omisso da menor
observncia que seja punida co m o atraso de seu desenvolvimento
espiritual.
.
62
Dormindo no cho, sobre uma simples esteira, ele tem de se
levantar antes do amanhecer. Assim que est de p deve falar o nome de
Dorje Naljorma o deus da sabedoria, invocando aquela divindade para
ajuda e bno. Segue-se ento a frmula suprema, em voz baixa:
Dorje Naljorma, vs, e o Esprito dos espritos das sete esferas:
Invoco a todos pedindo que o dia nasa. A isso se segue a invocao a
Bn: Bn, vem a mim, entra em mim, Bn, a tranqilidade e as bnos
estejam comigo... Tsho-gyalma (deus da felicidade) est comigo, estou
calmo.
Srid-pa-chags-po-lha-dgu
Conjurao de Dorje Naljorma:
Isto dito imediatamente depois da prece a Srid-pa-chags-po-lha-dgu
Criador dos nove deuses:
Senhor, maior de todos, base de tudo e poder alm de tudo,
Senhor do universo, iniciador de toda a vida: vs me instrustes, vs me
comandastes, para que me levante e tome meu rumo nisto, minha vida
cotidiana.
.
63
Segue-se ento um perodo de contemplao, Uma hora devotada
exclusivamente a pensar o bem; e ao planejamento da amabilidade e de
atos piedosos que devem ser feitos durante o dia. Depois que a mente
est assim assentada e calma, "diga ento o nome de Dorje Naljorma, mil
vezes".
Isso leva o mago s suas ablues rituais, que so feitas num
recipiente de cobre ou bronze, com a mente concentrada em Dorje
Naljorma,
Terminado o banho, ele gira lentamente, nove vezes, repetindo os
nomes: Dorje Naljorma, depois mais nove vezes e depois trs vezes.
A parte seguinte do ritual a invocao ao Sol:
Sois o Sol! Sois o olho de Srid-pa-chags-po-lha-dgu, o olho de
Dorje Naljorma: de manh, ao meio-dia e noite. Mais precioso que tudo,
sois a jia das jias, vigilante sem preo sobre todas as coisas, suspenso
no cu'. Esse vosso poder: fertilizador da vida, vara do prprio tempo -
de dias, noites, semanas, anos, estaes - todo o tempo. Dos planetas
sois o lder, o mais alto. Destruidor das trevas, poder que se estende por
incontveis milhes de milhas, carro dourado do universo, aceitai minha
orao!
Rito da rvore
Os ritos continuam com uma invocao diria rvore uma
figueira. O mago se senta sua sombra, repetindo as seguintes palavras:
vs, yar-lha-sham-po (deus do espao infinito), rei das selvas,
representao dos espritos! Em vossas razes vejo luz, em vosso tronco,
energia, vossos ramos so dedicados a fora. Isso significa que sois em
vs mesma a trindade dos deuses!
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Dedico-me a conseguir o poder e o conhecimento neste mundo e a
promoo no outro mundo. Todos os que honram a vs, circulando em
torno de vs, conseguiro esses objetivos!
Comeando com o nmero sagrado, sete, o mago gira ento em
torno da figueira sagrada com voltas somando sempre um mltiplo de
sete. Deve fazer isso pelo menos 84 vezes.
Isso conclui a cerimnia da rvore e seguido do vestir de roupas
limpas, mais um perodo de meditao e dedicao ao sacrifcio que o
operador realizar ento.
Ritos de sacrifcio do mago
O quarto que foi especialmente separado para o rito, ou
especialmente limpo em preparao, ento escurecido. Um vaso de
gua e uma pequena tigela contendo arroz cozido so colocados na
mesa, que serve de altar. Acima disso, uma lmpada pendurada queima
incenso e um pouco de pigmento amarelo, geralmente aafro ou
sndalo.
O operador ento bate palmas ou estala os dedos diante das portas
e janelas, "selando-as" contra maus espritos. Um crculo imaginrio
tambm desenhado diante da porta.
Duas pequenas imagens - uma do mgico, outra para abrigar os
espritos do sacrifcio em sua apario - so ento feitas de lama e gua,
e colocadas um pouco diante de uma chama. Elas compreendem assim
os elementos fogo, terra, gua e ar.
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65
Evocao do esprito
O mago se senta no cho diante do altar em que colocou as figuras.
Cruza as pernas e passa alguns minutos em reflexo. Com o polegar
direito ele tapa a narina direita. A palavra mgicka yoom (inhm)
ento pronunciada em voz alta 16 vezes. A cada repetio da palavra, o
invocador deve se concentrar no esprito que se quer invocar. Deve inalar
profundamente pela narina esquerda, imaginando tambm que seu corpo
est desintegrando e que ele est se tornando to puro e incorpreo
como um esprito. Quando 16 ou mais repeties da palavra se
completaram ele fecha ambas as narinas com o polegar e indicador da
mo direita. Segurando a respirao tanto quanto possvel ele entoa a
slaba mgica room seis vezes. Teoricamente ele dever ter atingido o
estgio em que no lhe necessrio respirar. Na verdade, "o esprito
aparece mesmo que se respire".
O prximo passo a pronncia da palavra todo poderosa loom 32
vezes. "Sua alma deixar ento o corpo. Ela se fundir ao esprito lunar e
depois retornar ao corpo. Ao recobrar sua conscincia, voc descobrir
que o esprito invocado apareceu e se localizou em sua morada
temporria na figura de barro preparada para ele."
Cuidando de no fazer nenhum erro no ritual sai o mgicko do
transe, repetindo trs vezes oom e nove vezes yoom. Olhando a
fumaa do incenso o estudante invoca o esprito:
poderoso esprito de Darmapala! Grande e nobre! Eu vos
invoquei e vs aparecestes! Eu providenciei um corpo para vs - um
corpo feito de meu prprio corpo. Estais a? Vinde, manifestai-vos nessa
fumaa; partilhai daquilo que ofereci como sacrifcio por vs!
O livro prossegue contando como aparecer a forma do esprito na
fumaa e tomar um pouco da oferenda de arroz. Ele trar ento qualquer
esprito que se queira, inclusive o de antepassados. Daro conselhos e
responder qualquer pergunta que lhes seja feita.
.
66
Quando "respostas devidas sobre assuntos naturais e
sobrenaturais" j foram recebidas, o mago apaga a lmpada. Os espritos,
continua o livro, ficaro ainda um pouco, conversando entre si, e muita
sabedoria se pode aprender de sua conversao. Depois de partirem, o
operador pode reacender a lmpada e levantar-se.
Ele ento remover as cobertas das portas e janelas e informar os
maus espritos (que foram obrigados a permanecer nos crculos mgicos)
que esto livres de novo. S depois disso ele pode comer.
Depois de terminar sua refeio o sbio lava as mos, gargareja 12
ou mais vezes e come nove folhas de hortel. Depois disso preciso
praticar uma ao piedosa. E isso assume geralmente a forma de ser
caridoso com os pobres.
O mestre, entre os monges Bon-Po tibetanos tido como possuidor
- por meio de observncias como essas - de poderes supremos e
surpreendentes.
Para ele no existem deuses: pois todos os deuses e espritos
esto abaixo dele. Ele recebe seu poder do Ser Supremo. Ele pode,
usando apenas sua voz, mudar o curso de rios, transformar cordilheiras
de montanhas em desfiladeiros, produzir granizo, fogo, chuva e
tempestades. Seu poder est em seu basto: o basto com sete anis (ou
ns). Ele comanda todos os espritos do mal do mundo para dentro do
crculo mgico, por meio de seu basto. At as estrelas esto sob seu
comando.
O crculo mgicko do mestre - que pode ser desenhado na areia ou
simplesmente descrito no ar com seu basto - um duplo crculo. Entre
os dois h uma sucesso de tringulos entrelaados.
A estranha e desconhecida doutrina hindu do akasa (esprito da
vida ou esprito do poder) est na base de todos os fenmenos ocultos
descritos ou tentados pela escola tibetana.
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67
Em resumo - se possvel resumir-se tal assunto - akasa significa a
fora de que todos os espritos fazem parte. tambm fonte de todo
poder. Existe, segundo afirmam os iogues, apenas uma substncia da
qual derivam todas as coisas. Leis naturais, tais como a gravidade ou o
processo vital do homem ou vegetal, obedecem a certais leis. Essas leis
no 'so fenmenos distintos ou diferentes: so apenas fases do akasa.
Um mago oriental sustentaria que matria e energia so a mesma coisa:
apenas aspectos diferentes de akasa, que o princpio de que so ambas
compostas. Pesquisas recentes confirmaram essa convico. Akasa num
estado origina a vida animal. Em outro determina o movimento dos
planetas. Uma forma ou estado dele pode ser transformado em outro.
Assim para anular a fora da gravidade basta carrega-lo com uma forma
mais leve de akasa. Se voc quer levantar uma carga de dez toneladas
necessrio mudar o tipo de akasa presente na carga. Se as dez toneladas
so de ao, voc ter de transformar "akasa ao" em alguma outra coisa.
A cincia moderna admite com a teoria atmica que toda matria
composta da mesma matria-prima - eletricidade. Onde esta teoria
oriental difere da cincia ocidental no ponto em que os orientais
afirmam que essa matria-prima - akasa - pode ser mudada por meio da
mente e no por mtodos mecnicos. Incidentalmente, muito semelhante
o argumento filosfico rabe sobre a transformao dos metais.
Sustentavam os alquimistas rabes que o ouro s podia ser feito pela
concentrao de um intelecto mstico maduro e apropriado. Podia ser
feito de qualquer coisa, mas transformar um metal em outro era mais fcil
do que, digamos, tirar ouro da madeira.
Magia do Amor
Um dos ramos mais populares da magia no Tibet o da magia
venrea. Esse termo (conhecido como anyesrmachen) cobre todas as
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68
formas conhecidas de associao com o sexo oposto. Os homens vo
aos prticos para obter o amor de uma mulher que pretendem desposar;
as mulheres que querem filhos compram amuleto com essa finalidade;
aqueles que j so casados invocam os espritos para apascentar
discrdias ou garantir -a reconciliao.
Rito para conquistar o amor apaixonado de uma mulher:
Esta frmula repetida tantas vezes quantas possvel, durante o
crescente da Lua e tido como universalmente funcional:
Com a flecha todo-poderosa do amor, penetro seu corao,
mulher! Amor, amor que perturba, surgir em ti, amor por mim!
Essa flecha, voando reta e certeira, lhe far arder de desejo. Tem a ponta
do meu amor, sua lmina minha determinao em possuir-te!Sim, teu
corao est ferido. A flecha chegou certo. Por estas artes subjuguei tua
relutncia, ests mudada! Vem a mim, submissa, sem orgulho, como eu
no tenho orgulho, mas apenas querer! Tua me no ter foras para
impedir tua vinda, nem teu pai conseguir deter-te. Ests completamente
em meu poder. Bstanma-bcu-gnhyis deusa rainha das nove deusas -
despi-a de sua fora de vontade! Eu, apenas eu, tenho poder sobre o
corao e a mente de minha amada!
Essa frmula acompanhada da manufatura e manuseio de uma
flecha que a contrapartida fsica da flecha imaginria mencionada no
texto. Assim como com outros encantos desse tipo, o rito pode ser
realizado pelo amante ou por uma feiticeira contratada por ele.
Frmula para conquistar a paixo de um homem:
Existe grande nmero destes encantos. Em geral, eles seguem
padro similar aos empregados pelo sexo oposto. A maior diferena
parece residir no fato de que eles devem ser praticados pelo menos sete
.
69
vezes e as mulheres so sempre aconselhadas, por alguma razo, a no
confiar suas atividades mgicas a outras mulheres. Estou possuda do
abrasador amor por esse homem e esse amor me vem de Bstanma-bcu-
gnhyis, que vence sempre. Que o homem pense em mim, que me deseje,
que seu desejo queime por mim! Que esse amor venha do esprito e o
envolva! Que ele me deseje como nunca antes! Eu o amo, quero-o: ele
tem de sentir o mesmo desejo por mim! Que ele se encha de amor;
esprito do ar, enche-o de amor; que ele arda em amor por mim!
.
70
O Mago Bon-Po, seus
atributos e seus Poderes.
O Tibet, mais do que qualquer outra parte do mundo, sofreu uma
onda de deturpaes, distores e deslavadas invenes na literatura
ocidental quase sem paralelo em qualquer poca. Ao ler as supostas
viagens de escritores que nunca saram da cadeira, as estranhas lendas
de magia, mistrio e maravilhas espirituais que se supe formarem a vida
tibetana, a gente se lembra dos caprichosos mapas, dos antigos
gegrafos. Quando no estavam seguros dos contornos de um ou outro
lugar eles enchiam o espao com lendas tais como "aqui vivem drages".
Na verdade, o Tibet um dos ltimos pases onde floresceu o
budismo sem muita interferncia de estrangeiros. Sua histria budista,
entretanto, demonstra que em desenvolvimento cultural ele est bastante
atrasado em relao a lugares como Bamiyan no Afeganisto, onde, antes
que o islamismo o substitusse, muito do desenvolvimento extra-indiano
da arte e teologia budista teve lugar. E tambm o Tibet certamente no
impenetrvel. muito mais fcil entrar e ganhar a confiana dos lamas do
que entrar em Meca ou tirar fotografias do tmulo de Mahdi no Sudo.
O segundo ponto a se lembrar a respeito do Tibet seu tamanho.
Os ocidentais que l estiveram, em quase todos os casos, passaram a
maior parte de seu tempo em Lhasa ou na parte que os tibetanos
chamariam de "acessvel". Vieram da ndia, Nepal e China. Alguns
chegaram pela rota de Kashmir. Muito poucos, talvez nenhum, foram s
reas leste e nordeste, ao Turquesto Oriental e Monglia. No entanto,
so nessas partes que prevalecem os aspectos mais importantes do
lamasmo e bonismo.
.
71
O budismo uma importao relativamente recente no Tibet.
Existem, na verdade, mosteiros grandes e ricamente dotados, milhes de
devotos. Nas partes ocidentais do pas, diz-se que uma de cada oito
pessoas monge, freira ou aclito da jia do Itus. Essa parte da
populao foi profundamente afetada pelas idias religiosas atravs da
propaganda budista durante os mil e quinhentos e poucos anos da
chegada da religio da ndia e desde ento seu nmero cresceu com a
migrao de monges afegos durante e depois da conquista muulmana
do Afeganisto.
Todavia, apesar de o Tibet ser chamado de "o pas mais religioso
do mundo", isso tambm um exagero. Duma posio meramente
antropolgica o pas est longe de ser urna unidade. Em primeiro lugar,
existe a luta constante entre trs elementos da parte budista: os budistas
puros, que constituem o sacerdotado estabelecido, o pblico leigo e os
tantras, que tm ganhado poder nos ltimos 30 anos.
A Igreja budista estabelecida, tanto aqui como em todos os pases
que professam essa f, no tem tempo para a taumaturgia mgicka e
sobrenatural. A vida dedicada contemplao e ao aperfeioamento da
alma como pr-requisito para a reencarnao. No h atalhos para o
Nirvana e as ambies deste mundo no so para o devoto budista
ortodoxo. Por que ento deveria ele se permitir a magia? Pelo contrrio, a
magia em todas as suas formas no s mal vista entre o clero
estabelecido do Tibete, como tambm claramente proibida. E o verdadeiro
budista leva muito a srio sua religio. por isso que se deve descontar
resolutamente todas as alegadas histrias de maravilhas dos lamas de f
budista do Tibete.
O laicado, por outro lado, ainda est permeado at certo ponto de
crenas derivadas em parte do animismo pr-budista do pas (bonismo) e
em parte da forma tantra de lamasmo, afluente do rito ortodoxo.
.
72
Os lamas, de qualquer tendncia, se inclinam a olhar com
superioridade os no-iniciados, deixando-os seguir as prticas mgickas
contidas nos poucos livros disponveis. O acesso a livros de aprendizado
mais eleva do e significado mais esotrico , restrito no apenas por sua
escassez, mas pelo obtuso de seu sentido.
Provavelmente, a maior parte do pas est dominada grandemente
pelo ministrio "espiritual" do Iamasmo no-ortodoxo e particularmente
do bonismo. Pode-se dizer que o bonismo, se parece intimamente com a
religio taosta e xamansticas que foi tratada neste livro. Acreditando na
possibilidade de atrair demnios, nos poderes das trevas e no bem, na
importncia das palavras mgickas e nos poderes sobrenaturais de seus
sacerdotes, o bonismo talvez o culto mgicko mais bem organizado do
mundo. Iguais aos budistas, contra os quais se empenham numa guerra
fsica e psicolgica, os bonistas tm seus prprios grandes lamas, seus
exrcitos e seus templos.
Muitos de seus lugares santos, seus mosteiros e palcios so
embelezados com um luxo que faria at o prprio palcio do dalai lama
parecer comum. Ao contrrio dos budistas, eles repetem o credo (Om
Mani padme hum) de trs para a frente: Muh-em-padmi-mo! E tambm
diferentes de seus vizinhos eles acreditam na invocao da alma e desde
tempos imemoriais praticaram isso e o sacrifcio humano em seus ritos
propiciatrios. Seu sacerdotado emite talisms contra a doena e
demnios, e at mesmo para fazer a colheita aumentar ou minguar, para
provocar ou anular o amor, para tornar o portador invencvel e rico. Estes,
.
73
como com os outros povos selvagens da Alta sia, so quase sempre
pedaos consagrados de ossos, cabelo, dente e metais comuns. A
adivinhao e augrio so amplamente praticados, tanto pelos iniciados
como pelos leigos. H uma estranha semelhana entre seus ritos de
propiciao ao esprito do Hades (Yama) e culto do drago com os ritos
da missa negra da bruxaria europia.
Num ritual tpico dos sacerdotes Bn, o chefe se senta numa
clareira solitria, cercado de seus associados menores. No centro do
local, cercado de pequenas vasilhas de incenso queimando, levanta-se o
altar, oferecendo-se carne, l e pele de iaque ao esprito que se quer
invocar. A corneta de osso tocada trs vezes. A congregao canta a
invocao ao demnio e seus companheiros, chefiada por seu alto
sacerdote: Yamantaka! - repetida trs vezes e depois mais tres. Todos
devem se concentrar na imagem da divindade que pode geralmente ser
vista em esttuas enormes e assustadoras nos templos bn: um monstro
com cabea de touro, presas e chifres, pisando corpos humanos, com
ornatos de crnios e cabeas humanas, cercado de lnguas de fogo.
Acreditam os bonistas que a divindade aparecer e partilhar do
alimento, o que sinal de que aceitou sua homenagem. O chefe ento
dirige uma prece ao esprito, contando-lhe os desejos de sua gente, e
esses sero realizados. Aqueles que no do o mximo de si para
contribuir com sua parte individual de fora espiritual para a reunio,
sofrero dores terrveis e podero at mesmo perder a viso ou alguma
outra faculdade.
O bonismo, assim como o lamasmo e o budismo, em geral no
procura converter. Se algum no dos iniciados, no importa a mnima.
Existe um interessante relato de uma reunio bn original do sculo 6 da
era crist, que tpico daqueles ritos negros:
Os oficiais (tibetanos) se renem uma vez por ano para os votos
menores de fidelidade. 'Eles sacrificam carneiros, ces e macacos,
.
74
primeiro quebrando suas pernas e depois os matando... Tendo sido
convocados feiticeiros eles invocam os deuses do Cu e da Terra, rios e
montanhas, o Sol, a Lua, as estrelas e planetas...
Com a enorme presso desse tipo de propiciao ao diabo,
corrente por quase todo o pas, o budismo comum, devoto, do tipo de
Lhasa, est cercado pelos ritos tntrcos e mgickos. Tem havido vrias
tentativas de combater essa ameaa, que comeou, segundo se diz, com
Asanga, durante o sculo 6 e est condensada num livro muito lido,
Yogachara Bhumi Sastra. Diabos e deuses menores dos cus inferiores
so invocados e adaptados do budismo ortodoxo para servir como
gnios dos tantras. A reencarnao, conforme entendida pelo devoto e
inculto leigo do Tibete budista, est quase sempre muito longe do ideal
de seus seguidores ocidentais. Encontra-se freqentemente com alguma
pessoa em vias de agir hostilmente (e, portanto contra a lei) contra a
outra, baseada em sua crena de que no teria tido esse pensamento
pouco caridoso se o outro indivduo no o tivesse ofendido de alguma
maneira na vida anterior.
A contribuio do budismo ortodoxo magia oriental na medida em
que afeta nosso estudo bastante mais filosfica do que os ritos
familiares de pensamento mgico de outras partes do Oriente - com
exceo do sufismo. J de incio, a dedicao tida tanto pelos budistas
tibetanos quanto pelos ocultistas como essencial para se conseguir a
concentrao mental que todos desejam. Como outros pensadores
sobrenaturais os tibetanos enfatizam a higiene mental.
O buscador deve sempre se purificar antes de assumir qualquer
operao mgica. Algumas vezes ele tem de se assegurar de que esse
passo seja dado at mesmo por seus empregados. s vezes por nove
dias que inclui o tabu de contato com mulheres e a abstinncia de peixe e
veado.
.
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A mente deve ser sempre purificada at que possa receber as
impresses que lhe permitiro tornar-se cada vez mais prpria para a
eventual absoro ao Nirvana ou absoro pelo esprito do Todo. De onde
vem esse poder? Parte vem de dentro, daquela enjaulada pecinha de
fora psquica da misteriosa "estao sem fios" de alguma montanha
distante, qual devem retornar todos os espritos e da qual eles esto
destinados a reencarnar, na forma de seres encarnados, at que o
processo de purificao se complete e ento o Nirvana perptuo a
recompensa.
Essas vibraes que devem guiar o anacoreta so perceptveis em
todo o mundo. Elas guiam o iniciado, deixando o ignorante em sua
ignorncia. No realmente papel do homem dedicado espalhar essa
doutrina ou mesmo refor-la, a menos que sua posio na vida seja tal
que assim o exija.
Os que atingem a quase-perfeio recebem dos lamas um anel de
alta graduao - doutores do budismo. Eles no devem pensar, no
entanto que atingiro a perfeio em apenas uma vida: isso s aconteceu
no caso do prprio Gautama. Nesse ponto possvel solicitar dispensa
da vida monstica a fim de se desenvolver para conquistar o mrito que
contrabalana o pecado.
Geralmente ele avisado antes de deixar o mosteiro que
certamente retornar triste e alquebrado, para reaprender muito do que
perdeu no contato com os simples mortais. Aqui a filosofia esotrica do
lamasmo difere radicalmente do sufismo apesar de orientalistas
superficiais se deliciarem em afirmar a ntima identidade entre os dois
sistemas.
Quando ele "retorna da vida de perfeio para a vida de
imperfeio" so retiradas duas Pedras de seu anel pelo mentor. A
primeira significa a perda que ele sofrer, conforme j relatado, a segunda
porque ele "duvidou do conselho dado" para que permanea no
.
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lamastrio. Quando a lio foi aprendida e o monge retorna, as pedras
so recolocadas e depois nunca mais so tiradas do dedo - "mesmo no
fogo da cremao".
Se, no entanto, o lama chega a tal perfeio que embalsamado e
preservado, colocado por trs de uma veneziana para todo o sempre, o
anel colocado acima dele. E ento "todos os que olham os gloriosos
restos mortais e principalmente o anel, tm de piedosamente baixar a
cabea diante de tal poder e tal grandeza e dizer uma prece que gira a
roda da orao para que a alma possa continuar tendo aquilo que
conseguiu to penosa e lentamente no mais cruel de todos os mundos,
comparados ao qual os primeiros 12 anos de estudo monstico foram
leves como uma pena".
Existe mais do que uma mera insinuao da idia de um
sacerdotado secreto mundial na explicao do caminho dos grandes
mestres que foi transcrito por Morag Murray Abdullah de um original
tibetano que se encontra num convento visitado por ela e que cito aqui:
Os mestres de poderes msticos que escolhem viver afastados do
mundo podem ajudar, atravs da contemplao, os negcios de outros
povos distantes. Enquanto que aqueles que retornaram como
missionrios e falharam, por qualquer razo, e retornaram assim fonte
de todo conhecimento terreno, so quase sempre impedidos de continuar
auxiliando o mundo. Para eles s existe o ouvido. E eles se contentam,
devem se contentar com as inconsistncias do mundo. Tendo trilhado
.
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com sucesso o caminhe do esquecimento, que pode levar muitos anos, o
viajante pode ver todo o mundo colocado sua frente. Ele poder
enxergar aquilo que se desenvolvero em terremotos, guerras, fomes e
pode comear adiantadamente a mitigar com seus pensamentos os
sofrimentos humanos assim engendrados ...
Parte do treinamento para esse tipo de diagnstico espiritual dos
males do paciente consiste em ficar ao relento na encosta de uma
montanha, dia e noite, durante uma semana - exposto na montanha,
durante o inverno. Trs vezes ao dia o aprendiz obrigado a mergulhar
um lenol em gua gelada e envolver-se nele. At que ele seque pelo
"calor interno gerado por suas concentraes". Se o lenol no seca ou o
lama sente frio, porque sua concentrao foi falha e o processo tem de
ser repetido. Os rigores desse treinamento no so do tipo que atrairia
nossos impacientes magos ou mesmo filsofos de cultos mais
ocidentalizados. Nos lugares onde reina essa pacincia e rigidez, por seu
lado, no h espao para os rituais mais breves que se destinam a
produzir o poder rapidamente, o treinamento tem como resultado urna
criatura doce e muito diferente do feroz feiticeiro que pode estar
escondido a algumas milhas de distncia.
"Os verdadeiros lamas do Tibete contam entre eles com alguns dos
ltimos seguidores reais ds ensinamentos de seu mestre." Seria de se
esperar que eles no aceitassem estrangeiros e se encerrassem nas suas
reclusas montanhas, insensveis a gestos cordiais. Ao contrrio, eu os
achei semelhantes a crianas amigveis, crdulos e desejosos de ouvir o
que eu tinha a dizer sobre o mundo de alm. A princpio, originrio do
Ocidente, onde a diplomacia no se confina apenas ao servio
diplomtico, duvida-se de sua sinceridade; eles parecem ao mesmo
tempo confiantes demais, como se a polidez superficial escondesse
alguma coisa menos recomendvel por baixo. Isso, evidentemente, era
uma opinio pessoal, at que descobri que no ntimo assim como no
exterior eles pareciam no ter nenhum pensamento desairoso a respeito
de ningum. Refiro-me a monges com uma dcada de servios. Ao
.
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ouvirem falar das maravilhas de nosso mundo, que nunca vero, no
demonstram sinais de inveja, ou mesmo descrena: apesar de terem,
como vim a saber, idias muito definitivas a respeito do Ocidente. Em
minha experincia pessoal eles nunca pensariam em quebrar uma
promessa ou em serem pouco hospitaleiros - atitude que mantida quase
como uma religio, como entre os afegos e rabes.
"Os lamas tibetanos acreditam que podem, pelo simples poder da
orao, afastar uma invaso, seja espiritual ou material: o poder das
palavras mgicas Om Mani Padme Hum." Quando lhes falei de guerra eles
disseram que s os espritos infelizes vo para a guerra e que, portanto
eles a merecem e algo que lhes est destinado sofrer: "Se ns que
temos to pouco conseguimos o pouco que conseguimos, vocs, povos
de alm-mar, que tm todas as coisas materiais, como voc diz, sem
dvida podem criar a beleza".
Uma das coisas mais absorventes das maravilhas tibetanas, do
ponto de vista mgicko, sem dvida o rito de caminhar sobre o fogo. A
aparente habilidade de caminhar sobre carves em brasa demonstrada
na ndia, Polinsia e outras partes do Extremo Oriente. Mas desde que
minha experincia pessoal se limita ao ocultismo em geral, e no s aos
tibetanos comentarei apenas. Tanto o sacerdotado bonista quanto o
lamasta encaram o caminhar sobre fogo como importante parte de seus
ritos. - Porque essa atividade figura nos crculos budistas onde a magia
no encorajada? Porque ela tenta demonstrar as alturas de
autodisciplina que os iniciados podem atingir. J disseram que caminhar
sobre brasas deixa espaos de ar, bolhas de ar, tal como, se
passssemos a mo na vela. Entretanto, se voc mantm a mo no fogo
queima, e se voc para em meio s brasas queimaria tambm. Um homem
capaz de superar suas limitaes naturais a ponto de pisar carves em
brasa comprova claramente que conseguiu estabelecer o domnio da
mente sobre a matria. A teoria - seno a prtica - bonista muito
diferente. Em primeiro lugar e antes de mais nada, caminhar sobre o fogo
uma cerimnia propiciatria. feita porque o deus do fogo exige
.
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homenagem em troca da qual ele concede o poder de suportar o calor
para aqueles que acreditam nele.
Em ambos os casos provvel que algum tipo de dissociao
mental afim com a hipnose seja induzida, apesar de parecer a mim que h
algum outro fator em questo. Uma pessoa hipnotizada da maneira
convencional poderia, talvez, suportar a dor do fogo, independente do
ferimento fsico real. Nenhum sacerdote lama ou bonista que caminhou
sobre o fogo sob minhas vistas pareceu sofrer qualquer dor ou ferimento.
Isso s deixa a possibilidade de hipnose de massa, da qual muito se ouve
falar, mas pouco se prova - como no caso do truque da corda, na ndia.
Num ritual bonista, alm dos sacerdotes passarem por entre as
chamas, vrios candidatos s "ordens sagradas" foram levados atravs
do fogo sem qualquer dano fsico. Evidentemente, pode haver algum
truque pelo qual se consiga isso. Comum aos ritos paralelos de outros
lugares isso significa um teste aos candidatos ordenao: uma forma
de tese de exame.
Outro pequeno fato que pode ser de interesse aqui que se contam
inmeros casos de que quem caminha sobre o fogo fica com as mos,
rosto e cabelos chamuscados - ms sem nenhuma marca nas solas dos
ps. Um outro caso da mesma pessoa que citei acima:
O experimento a que eu assisti foi realizado numa grande clareira,
com uma vala de trs ps de profundidade por 30 ps de comprimento e
cerca de dez de largura, Pedras redondas e lisas foram colocadas ali e
depois grande quantidade de madeira e galhos empilhada em cima, acesa
e queimada por cerca de seis horas. Depois o carvo foi amontoado e a
superfcie varrida e alisada. Havia uma multido de cerca de duzentas
pessoas assistindo demonstrao. Um sacerdote bonista, seco, cheio
de amuletos pendurados e caracterizado principalmente pelos trapos que
usava e a aparente sujeira de seu rosto, mos e capa de pele de ovelha,
deu um passo frente. Sob as peles, que ele despiu, usava sua tanga
.
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amarrada na cintura e entre as pernas. Na mo levava um basto, uma
vara de cerca de 15 centmetros, que terminava num tufo de penas
pequenas. Ele caminhou em volta do fogo, primeiro trs vezes no sentido
horrio, depois cinco vezes na direo oposta, enquanto levantava e
baixava as mos sobre as brasas que ainda estavam muito quentes.
Resmungando preces ou encantamentos ele comeou a golpear as
pernas, primeiro uma, depois a outra, com o basto. Ao sinal de uma
buzina de osso, dez homens avanaram lentamente por entre a multido e
se alinharam em frente do mago. medida que cada um se curvava era
tocado, primeiro num ombro, depois no outro, com a varinha. No se
ouviu um rudo. Parecia quase haver algo de sobrenatural no ar. O calar
da fogueira e do sol era destruidor. Vrias pessoas da platia, vencidas
pelo calor ou pela emoo, caam ao cho. Ningum dava maior ateno a
isso e todos os olhos estavam presos na sinistra figura do sacerdote. Em
fila simples, enquanto o feiticeiro entoava um agudo canto nasal, os
homens cruzaram a brilhante massa ardente, pisando no outro lado numa
pequena bacia de gua ao terminar sua marcha. Depois o feiticeiro
continuou e efetuou uma dana no centro da vala. Depois chamou
pessoas, no iniciadas, que quisessem participar do rito, enumerando os
vrios e numerosos grandes poderes que eram conferidos pelo deus Sol
a esse ato de devoo. Apenas trs homens e duas mulheres aceitaram o
desafio, sendo um de cada sexo de feies bem mais claramente indianas
que monglicas. A mesma cerimnia de correr em torno do fogo, as
mesmas saudaes e gestos de mos, os encantamentos e dessa vez os
primeiros dez homens juntavam sua voz do feiticeiro. Liderados pelas
duas mulheres, que foram quase empurradas pelo feiticeiro, os cinco
cruzaram o fogo sem danos. Notei que seus rostos estavam cobertos de
suor e que pareciam mortalmente amedrontados. Ao sarem da trilha
examinei seus ps: no havia como no faz-lo, pois eles os mostravam a
todos e tal era seu alvio que chegava a ser tocante. No havia sinais de
queimaduras nem em seus ps nem em nenhuma parte de suas roupas de
algodo ou de pele de iaque.
.
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Outra pessoa, que viu o ritual ser celebrado de maneira semelhante
num Estado indiano, onde quatro britnicos participaram, escreveu:
Um quarteto de britnicos - um escocs, dois irlandeses e um
ingls - mostrou seus ps aos outros hspedes durante muitos dias. Eles
suplicaram ao velho que lhes contasse o segredo e eu me juntei s
splicas. Ele no aceitou nem quinhentas libras esterlinas pelo
ensinamento, mas disse que se os quatro se ligassem a seu templo ele
lhes ensinaria tudo. . . Nenhum dos quatro teve coragem de aceitar. A
nica coisa que o velho lhes confiou foi que somente, aqueles com poder
psquico desenvolvido poderiam fazer a experincia sem se ferir a si
mesmos. Esse poder era, algo que voc" aceitaria um dia como natural,
apesar de esperar que seu corao no venha a ser obrigado a faz-lo.
Esse poder era praticamente desconhecido na maioria dos lugares
especialmente na ''ndia materialista" como ele dizia devido a uma falta de
f real, em oposio hipocrisia. Encantamentos e talisms podiam, dizia
ele, ser dados queles que no tinham poder e esses lhes permitiriam
caminhar sobre o fogo e fazer muitas outras coisas: mas para que t-los
se no beneficiam a alma?
.
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Evidentemente esse sacerdote em especial pertencia ao culto
budista estabelecido do Tibete. Com esses talisms os ignorantes, sendo
ento capazes de concentrar suas mentes inferiores em algo tangvel,
porque no podiam se absorver realmente em coisas espirituais, podiam
conseguir poder dos smbolos e segredos (dos talisms porque havia
algumas espcies de espritos que os ajudaria). Interrogado sobre 'o
poder "real" que no necessita desses talisms, essa autoridade disse:
A concentrao e meditao podiam, a seu tempo, conseguir tudo
que era necessrio. A mente primeiro tem de ser ensinada a no pensar
em nada. Essa outra maneira de dizer que no deve haver nenhum
pensamento consciente. Essa a parte mais difcil. Quando era
conseguida, vinha o auxilio ao estudioso. Muitas pessoas nesse estgio
tinham impresses mentais, que nada mais eram que fantasias de suas
mentes tentando restabelecer o processo de pensamento. Se essas no
fossem identificadas e afastadas, permaneceriam para sempre com a
pessoa e matariam seu esprito. Pareceriam tambm dar mensagens e
essas poderiam at ser de maus demnios.
Quando interrogado sobre como se sabe que se est iluminado ele
respondeu que isso se v e se sente e que assim o mundo invisvel se
torna algo que de fato realidade, apenas uma realidade diferente
daquela em que vivem os leigos: mas tem substncia e grande nmero de
analogias.
Contrrio idia corrente em alguns crculos no Ocidente, no
existe no Tibete prtica paralela ao "espiritismo". Existe, verdade, uma
forma de xamanismo (curandeiros) entre os bons ou propiciadores
animistas de quem j falei. Suas sesses so semelhantes em alguns
aspectos s taostas e de fato se dedicam a invocar espritos. Mas o
contedo das revelaes espritas geralmente inteiramente diverso
daquelas que se produzem no Ocidente. H muito menos materializao
dos mortos e mais contato com as chamadas "entidades espirituais" que
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aparentemente nunca tiveram forma encarnada. E tambm a comunicao
com espritos usada com finalidades diferentes: para a melhoria de
colheitas e expulso de demnios da doena tais como a peste; para a
realizao de ambies mundanas e para conselho sobre o que fazer na
carreira. No h nunca nenhuma sugesto do tipo de bons votos e
saudaes geralmente insignificantes que so trocadas no Ocidente por
parentes e aqueles que "j partiram". Uma razo para isso que a crena
na reencarnao e transmigrao to universal que se acredita que os
parentes mortos j esto provavelmente num processo de outra vida na
Terra e fora de contato por meios espirituais.