MONAQUISMO Completo

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O MONAQUISMO

O objeto do presente estudo é o monaquismo, que constitui o grande alicerce para a expansão do cristianismo em escala
mundial. Não é nosso propósito desenvolver este tema relativamente ao período do seu grande apogeu - Idade Média -
, mas sim referir-nos às suas origens e seus antecedentes, de modo a podermos compreender melhor como se chegou
a um período tão áureo na vida monacal medieval. Debruçar-nos-emos, pois, sobre o tempo em que o Monaquismo
nasceu, à margem da Igreja oficial, que tinha dificuldade em reconhecer o valor e a utilidade que os mosteiros poderiam
ter na expansão e afirmação do ideal cristão, 1 por suspeitar que eles espalhavam doutrinas duvidosas, para depois ir
ganhando terreno no seu seio, transformando-se num meio imprescindível na afirmação da doutrina de Cristo.
Focaremos, igualmente, a evolução e o percurso do monaquismo, primeiro no Médio Oriente, seguindo-se o Norte de
África e, finalmente, a Europa Central e Ocidental. Tentaremos demonstrar a importância e o contributo das principais
Regras que ajudaram a fornecer bases bem precisas para "uma vida monástica mais consistente" 2.
Em capítulo detalhado, desenvolveremos com maior pormenor a questão do monaquismo nas Ilhas Britânicas, com
especial relevo para o monaquismo celta, que teve características próprias e bem definidas.
Tentaremos demonstrar que a cristianização das Ilhas Britânicas não foi um processo pacífico, e que a uma determinada
altura estabeleceu o caos e a confusão, devido à coexistência de várias correntes da vida monástica: a Celta e a de
Roma.
Deter-nos-emos no Sínodo da Whitby (673), do qual resultou "a unificação religiosa da Inglaterra sob a orientação de
Roma" 3, embora tenham persistido ainda alguns redutos do Monaquismo Celta, sobretudo na Irlanda.
Escolhemos este fato por considerarmos que ele culmina um período bem demarcado do Monaquismo Ocidental - o seu
nascimento e implantação, que será fundamental para o período de grande apogeu da vida dos mosteiros que se lhe
seguiu e que, inclusivamente, originou a criação e a difusão de novas ordens monásticas.
Quanto à metodologia de trabalho utilizada, a mesma teve por base bibliografia variada e que é indicada em secção
própria, de modo a possibilitar o confronto de ideais e a superação de lacunas que uma visão unilateral obrigatoriamente
teria.
Esperamos que o nosso estudo ajude a uma reflexão e a uma sistematização sobre a maneira que os homens
encontraram de chegar a Deus, tentando atingir a perfeição, meditando, alheando-se das coisas terrenas através da
oração, humildade e obediência. A esse modo de vida religiosa se chamou monaquismo.

CONCEITO DE MONAQUISMO
Ao depararmos com o temo monaquismo, de imediato nos surge a ideia de isolamento e de alheamento do mundo. Com
efeito, o monaquismo é um sistema de vida de consagração à causa divina, que tenta chegar a Deus passando pelo
recolhimento e uma vida de dedicação e interiorização.
A esta palavra associa-se uma outra - monge -, que deriva do grego monos, monachos (único, só). Etimologicamente,
designa aquele que vive solitário, dedicando a sua vida ao serviço de Deus, dedicação essa assumida livremente e que
pressupõe o cumprimento das normas estabelecidas numa Regra, baseando-se sempre nos conceitos de castidade,
pobreza e obediência.
Embora tenha assumido formas diferentes, como iremos verificar, o que é certo é que o monaquismo tem sido uma
constante na vida de várias religiões, à partida completamente díspares (ex: monaquismo budista versus monaquismo
cristão), revelando-se acima de tudo como "algo universal e inerente à condição dos fiéis que pretendem desenvolver a
sua vida espiritual no sentido da perfeição" 4.

ORIGENS DO MONAQUISMO CRISTÃO


Desde os primórdios da cristandade que os ideais livremente assumidos de virgindade e castidade em louvor do Reino
de Deus foram motivo de admiração. Essa escolha era feita "por fiéis de ambos os sexos que abraçaram uma vida de

1
Bruno Murray, - As Ordens Monásticas e Religiosas, Pág. 26
2
2 Jean Comby, - Para Ler a História da Igreja 1, Pág. 90
1

3
John Moorman, - A History of the Chruch in England, Pág. 21
Página

4
Jean Canu, - Les Ordres Religieux Masculins, Paris, Libr. Asthèmes Fayard, 1959, Pág. 10
plena imitação de Cristo e que, para além dos votos referidos, praticavam a oração e a mortificação paralelamente com
obras de misericórdia" 5.
Como causas deste procedimento, poderemos referir a "repugnância pela imoralidade reinante" 6 e, sobretudo para as
mulheres, o fato de esse tipo de vida lhes proporcionar uma certa emancipação, tendo em conta a servidão social que o
matrimônio assumiria na época.
É curioso realçar o fato de, na maior parte dos casos, estes votos serem feitos sem quaisquer solenidades públicas,
permanecendo as pessoas no seio das suas famílias, não tendo vestuário que os distinguisse das outras pessoas.
A partir do século IV começou a ser habitual a realização de um ritual de consagração das virgens, - o velario - 7 que
costumava ter lugar nas grandes festas litúrgicas e na presença de fiéis.
Este tipo de consagração a Deus foi-se generalizando cada vez mais, tornando-se quase numa moda, sobretudo nos
meios aristocráticos. A ilustrar esta afirmação, poderemos citar o exemplo de Paulino de Nola e Terásia, casal da nobreza
imperial romano-cristã, que "se desfizeram de patrimónios imensos e assumiram uma existência de fiéis discípulos de
Cristo, segundo os ensinamentos do Evangelho" 8. Importante se torna referir aqui a figura de são Jerónimo, que dirigiu
espiritualmente os círculos ascéticos de nobres senhoras romanas, primeiro em Roma e depois na Palestina 9.
As "virgens consagradas" terão sido, na nossa opinião, o embrião da vida monástica, uma vez que a sua práxis tinha a
ver com a renúncia do mundo pelo ideal de Cristo, para além do facto de já possuírem uma forma de vida consagrada,
ainda que muito incipiente.

MONAQUISMO ORIENTAL
Mas onde, e quando, terá sido a origem do fenômeno normalmente designado por monaquismo, ou monacato? 10
Ao certo, não se sabe. É comum designar-se monge aquele que segue uma Regra antiga, mas o que é certo é que,
muito antes de se terem estabelecido Regras, já havia formas de vida monástica baseadas na segregação do mundo -
o contemptus saeculi -, como condição prévia para a purificação interior, abrindo o caminho da contemplação divina 11.
João Cassiano, que depois de passar muitos anos entre os monges da Palestina, Egito e Constantinopla se estabeleceu
na Provença e fundou dois mosteiros em Marselha, onde permaneceu o resto da sua vida, considerava que o
monaquismo já vinha do tempo dos Apóstolos 12. Outros apontam para a época de Jesus. J. Allegro, no seu livro O mito
cristão e os Manuscritos do Mar Morto aponta para o estudo dos documentos encontrados já neste século nas margens
do Mar Morto e que dão testemunho da vida monástica (essênios e terapeutas) na época de Jesus Cristo, e que teriam
influenciado os primeiros Cristãos. Estas comunidades espalharam-se até à Tebaida e parece ter sido nessa região -
fronteira entre a Ásia e a África -, que a tradição diz ter nascido o Monaquismo Cristão 13.
Com a promulgação da liberdade de culto e religião decretada pelo edito de Milão de Constantino, ser cristão passou a
não comportar os riscos de outrora,
Alguns, desejando levar uma vida mais fervorosa, menos enredada nas preocupações do mundo, partiram para o deserto
praticando aí uma vida de pobreza e humildade de acordo com os preceitos do Evangelho, tendo sido designados por
padres do deserto.
A maior parte vivia isolada, por vezes com alguns discípulos à volta de um mestre, só voltando a encontrar-se com a
comunidade para a celebração da liturgia. Muito pouco se sabe sobre a sua vida, que apenas veio até nós através dos
Apotegmas 14 - textos que nos relatam os seus atos através das suas palavras e que nos apresentam homens submetidos
à tentação que se dedicam a viver o ideal de perfeição ensinado por Jesus 15.

5
José Orlandis, - História Breve do Cristianismo, Pág. 45
6
Jean Combi, - Para Ler a História de Igreja 1, Pág. 85
7
José Orlandis, - Historia de la Iglesia, Pág. 112
8
José Orlandis, - vide nota 5, Pág. 45
9
idem.
10
Fortunato Almeida, - História da Igreja em Portugal, Pág. 51
11
José Orlandis, - Historia de la Iglesia, Pág. 112
12
idem, Pág. 24
2

13
idem
Página

14
Como exemplo os Apotegmas de São Macário
15
José Orlandis, obra citada
Como expoente e símbolo deste tipo de vida monástica apelidada de anacoreta ou eremita, temos Santo António do
Egito, também conhecido por Santo Antão 16, que influenciou diretamente através do seu próprio exemplo, e
indiretamente através do espírito, muitos aderentes ao anacoretismo, o qual se revestia de duas formas: absoluto,
(solidão total) e temperado (sob a direção de um "pai" espiritual) 17.
Graças à sua ação, esta forma de Monaquismo espalhou-se pelo alto Egito, Palestina, indo até à Síria e à Mesopotâmia.
Mas o anacoretismo não foi a única forma de vida consagrada existente nesta época.
São Pacómio, contemporâneo de santo Antão do Egito, trouxe ao Monaquismo novos elementos de grande importância
- a vida em comum e a obediência a um superior religioso: o cenobitismo 18.
Ainda que considerada muito grosseira, a Regra de São Pacômio 19 indicava qual a natureza dos trabalhos dos monges,
dando indicações precisas sobre a alimentação, os jejuns, o sono, a oração, o silêncio, instaurando a autoridade de um
superior. Os discípulos começavam agora a juntar-se, a compartilhar uma vida mais comunitária, afastando-se dos
extremos dos anacoretas.

Depois de São Pacômio, o Monaquismo espalhou-se pelo Ocidente, não propriamente devido à divulgação feita pelos
Monges Egípcios, mas sobretudo devido às viagens que os padres do Ocidente (entre eles São Basílio de Cesarea, São
Jerônimo e João Cassiano) efetuaram ao Oriente, após o que difundiram o exemplo egípcio que tanto os marcou.

Importa, no entanto salientar que o Monaquismo Oriental, principalmente a corrente anacoreta, assentava num
cristianismo popular, "onde dominava uma mente animista que via demônios em toda a parte e que tinha tendência para

16
Antônio ou Antão, o «Pai» dos monges - Nascido por volta do ano 250, Antônio era de uma família de
cristãos abastados que viviam ao sul de Mênfis, no Egito. Aos 18 anos - depois de os pais terem morrido
- é atingido pela Graça, vende todos os seus bens, as suas terras, distribui tudo e abandona a sua cidade
natal. Mas não vai imediatamente para o deserto. Pelo que conta o seu biógrafo - Santo Atanásio,
patriarca da Alexandria - começa por se ir pôr sob a autoridade de um “velho”, para viver em
comunidade e aprender a partilhar o seu tempo entre a oração, a leitura da Bíblia e o trabalho manual. Em
seguida, retira-se num antigo túmulo escavado na rocha e acaba por se ir refugiar num castelo
abandonado, onde permanece durante perto de vinte anos sem por isso se isolar completamente do
mundo e da comunidade eclesial. Começa a receber discípulos, outros “padres”. Contudo, não cria
nenhuma comunidade; cada um desses homens vive numa célula separada e reúne-se com os seus
semelhantes para a oração e para a Eucaristia. No ano de 311, Antônio vai a Alexandria e, daí, segue para
o Sul, acabando por estabelecer-se no monte Quelzoum, num pequenino oásis que nunca mais deixará, a
não ser duas vezes: para combater contra os Arianos e para ir visitar os seus discípulos. Morreu em 356,
com 105 anos, segundo conta a lenda.
Santo Antônio - que levou uma vida de solitário embora nunca se tenha afastado completamente do
mundo, exerceu uma considerável influência no conjunto dos padres que viveram nessa época e nos
sucessores destes. Uma influência direta através do exemplo, e indireta pelo espírito. Certamente que não
foi o único ser excepcional daquele tempo, mas foi o mais célebre e simboliza a primeira corrente do
monaquismo: o anacoretismo. Muitos foram os discípulos que a sua qualidade espiritual atraiu. Os
apotegmas ali estão, para confirmar isso; vinham de muito longe, para o escutarem e pedirem conselho.
Depois de o fazer, muitos deles se retiraram para o deserto e passaram a viver como eremitas solitários.
Muitos outros se agruparam em redor de um velho (anacoreta), que se encarregou de os formar para a vida
evangélica e de os reunir para o ofício do Domingo.
Essas duas formas do anacoretismo - o eremitismo absoluto (solidão total) e eremitismo temperado
(praticado em conjunto, sob a direção de um “pai” espiritual) -, conheceu-as e experimentou-as Santo
Antônio, com as suas armadilhas e os seus excessos, viveu-as com perfeição e sede de absoluto, nesse
deserto do Nilo que virá a tornar-se o berço do monaquismo. Graças ao seu exemplo, o anacoretismo
espalhou-se pelos desertos de Sceté, de Pispir, de Hemopolis, da Nítria, no Alto e no Baixo Egito e para
além dessas regiões, na Palestina (Hilarion) até à Síria e à Mesopotâmia.
17
idem, Pág. 24
3

18
José Orlandis, - História Breve do Cristianismo, Pág. 46
Página

19
Bruno Murray, - As Ordens Monásticas e Religiosas, Pég. 25
exageros” 20. Assim, havia os que viviam em cima de colunas, sendo apelidados de estilistas, outros em cima de árvores,
etc., com o objetivo de reduzir a humanidade ao estado anterior ao do pecado original. Com São Pacômio nota-se já uma
certa evolução, sobretudo em termos de organização, o que aliás é provado pela grande influência que viria a exercer
posteriormente.
Ainda uma referência muito especial para o cristianismo copta que, de certa forma, foi uma consequência do monaquismo
egípcio 21. Graças à sua ação, O cristianismo penetrou amplamente nas populações de camponeses de língua copta,
principalmente porque os monges eram na sua maioria gente de condição humilde. Desde os tempos de são Atanásio,
eram apoiantes acérrimos dos Patriarcas de Alexandria, a quem apelidavam de chefes religiosos e nacionais. Após o
concílio de Calcedónia (451), os monges, desconhecedores das disputas teológicas, seguiram incondicionalmente os
seus patriarcas e caíram na heresia monofisista, surgindo assim outra corrente Cristã desvinculada de Roma e de
Constantinopla que se foi isolando cada vez mais, sobretudo desde a conquista islâmica do século VII, passando a ser
conhecida por cristianismo Copta 22.
MONAQUISMO OCIDENTAL
Herdeiro das tradições orientais, o Monaquismo Ocidental teve um papel de extrema importância na consolidação do
ideal cristão.
Na Grécia, foi são Basílio, bispo de Cesareia, quem desenvolveu e organizou a vida dos ascetas, tendo escrito algumas
"regras", que ainda hoje são observadas no mundo ortodoxo.
Aliás, a fundação de mosteiros no Ocidente está sempre ligada à elaboração de um conjunto de normas orientadoras na
organização dos Institutos de Vida Consagrada, utilizando a terminologia do atual código do direito canônico.
Santo Agostinho de Hipona foi outro nome deste período, escrevendo, igualmente, uma Regra que viria a obter grande
sucesso na Idade Média. São Martinho de Tours notabilizou-se também, através da fundação de mosteiros, entre os
quais se salientam os de Ligugé e Marmoutier. Referência ainda para os nomes de Columbano e Patrício, grandes
impulsionadores do monaquismo celta.
Primordial se torna falar de são Bento de Núrsia, - "por último, mas não menos importante"- cuja regra iria reger durante
vários séculos quase todos os mosteiros do Ocidente, tornando-se numa grande personagem, senão maior, entre
aqueles que fundaram mosteiros e escreveram Regras, sendo justamente chamado "Pai dos monges do ocidente" 23 e
designado Patrono da Europa.
Para além de se basear nas suas próprias experiências recolhidas nos mosteiros que fundou e onde viveu (Subiaco e
Montecassino), a sua Regra, estabelecida em meados do sec. VI, inspirou-se nas que então se praticavam: as de
Pacómio, Agostinho e Cassiano.
Contudo, segundo Souther, R.W., no seu livro A Igreja medieval, "parece hoje indiscutível que são Bento copiou quase
literalmente grande parte da sua Regra, incluindo algumas das passagens mais famosas acerca do ensino espiritual, da
Regra de um autor anterior conhecido como Mestre" 24. De acordo com a fonte citada, as duas Regras apresentam no
entanto algumas diferenças, entre as quais se salientam:

REGRA DO MESTRE - REGRA DE SÃO BENTO


1. muitas generalidades, com pouca prática; longas descrições da vida no Paraíso e de natureza monástica.
2. aspectos demasiado particularizados para serem significativos:
3. regulamentação acerca do tossir, cuspir e respirar pelo nariz por forma a não ofender os anjos.
revela espírito impetuoso e investigador do Mestre.
4. o abade parecia preocupar-se mais com os que se fingiam doentes.
5. a obediência absoluta era uma virtude apenas alcançável por uns quantos monges perfeitos.
6. omitiu-se tudo isto, conservando apenas o que tinha interesse prático, resumindo tudo o mais possível e
conferindo-lhe claridade.
7. deu grande ênfase à rotina exata dos ofícios diários.
8. prova-se a humildade que exigia aos próprios monges.

20
Jean Comby, - Para Ler a História da Igreja, Pág. 86
21
José Orlandis, - Historia de la Iglesia, Pág. 116/7
22
Copta - vem de "gobt", palavra árabe derivada do termo grego "aigyptios", designação dos antigos
habitantes do Egipto. In "Com Butros Ghali os Coptas saem da sombra" in D.N. Magazine, 19.01.92, Pág. 10
4

23
José Orlandis, - História Breve do Cristianismo, Pág. 47
Página

24
R.W. Southern, - A Igreja Medieval, Pág. 229-30
9. o abade destinava-se acima de tudo a cuidar dos doentes.
10. a obediência absoluta era uma virtude alcançável por todos os bem-aventurados.
Mas como e porque é que esta Regra se tornou o expoente máximo do monaquismo ocidental?
Em nosso entender, isso ficou a dever-se ao fato de a regra fornecer bases concretas e precisas para uma vida
monástica, conservando, todavia, uma certa flexibilidade, pretendendo indicar um caminho para uma nova ordem e
incluindo pormenores de vida diária, indicações sobre os salmos a recitar, quais os livros a ler e sobre as pessoas
responsáveis pelas várias atividades, entre outros aspectos da vida dos monges. Sendo abrangente, a Regra de são
Bento tem como princípio base da sua doutrina o ideal de obediência de corpo e alma:
• aos princípios espirituais contidos nos Evangelhos;
• à Regra;
• ao abade;
"Aqueles que cumprem, devem, pelo trabalho de obediência, regressar a Deus, que abandonaram devido ao pecado da
desobediência" 25.
A figura do abade tem grande peso na ordem beneditina, considerado o vigário de Cristo na comunidade. Logo, a sua
palavra tem que ser ouvida como se fosse a do próprio Deus. O abade vai ter na Regra beneditina um papel de consolador
e encorajador, sobretudo relativamente aos que incorrem na pena de excomunhão por cauda da desobediência 26. Aliás,
esta ternura tão pouco habitual em regras anteriores, vai ser uma das principais características da Ordem, conferindo-
lhe um sentido universal, destinada a todos os homens da Terra, misturando severidade e rigor com ternura, apoio e
compreensão.
A Regra de são Bento ajudou a diluir a ideia defendida no início do séc. VI, e suportada por santo Agostinho, segundo a
qual era difícil que um bom monge se tornasse um bom clérigo. "Ninguém pode exercer os deveres eclesiásticos
(clerical) e permanecer por ordem prevista sob o domínio monástico"27.
Com efeito, a Regra possibilitou a evolução e preparação dos monges, que inicialmente eram analfabetos na sua maioria,
não tendo formação adequada para exercerem funções de presbíteros. A insistência numa vida em comunidade fechada
- a estabilidade era um dos princípios bases da Regra-, produzia um tipo de monge mais civilizado que podia ser
aproveitado para o clero secular após uma preparação adequada.
Quando são Bento faleceu, apenas três mosteiros observavam as suas prescrições e trinta anos mais tarde o próprio
mosteiro de Montecassino era destruído pelos Lombardos.
Ao ser eleito papa, Gregório Grande, antigo monge beneditino, encarregou-se de propagar a Regra da sua Ordem tendo
em mente dois objetivos bem definidos 28:
1. favorecer o monaquismo, na medida em que era melhor para a expansão do Cristianismo;
2. desenvolver uma legislação unificada sobre a qual poderia exercer maior controle.
No final do seu pontificado já uma grande rede de mosteiros beneditinos cobria a Europa, entre os quais se salientaram
as abadias de Jarrow, Malmesbury e Westminster, na Inglaterra, bem como as fundações antigas reconvertidas de Lérins
e Marmoutier.
Gradualmente, e com o grande incremento dado por Gregório o Grande, o ideal beneditino foi-se espalhando e
alicerçando tendo absorvido até a Regra de Columbano, na Irlanda.
A península Ibérica foi também influenciada pela corrente monástica que então se vivia na Europa.
De imediato ressaltam dois nomes: são Martinho de Dume, que na segunda metade do séc. VI trouxe à Galécia a doutrina
do Monaquismo Oriental; de são Frutuoso de Braga, monge visigodo propulsor de um movimento ascético que sobreviveu
à invasão islâmica, tendo composto uma Regra para monges e que mais tarde originou uma Regra comum. 29
No reino visigodo cristão vários Padres hispânicos elaboraram Regras. Entre eles, salientaram-se são Leandro, com uma
Regra para virgens, dedicada a sua irmã Florentina, e santo Isidoro, cuja Regra se destinou ao mosteiro Honorianense,
na Bética.
A vida monástica na Hispânia estava subordinada aos prelados diocesanos-bispos, que tinham o direito não só de
escolher o abade dos mosteiros mas também o de corrigir os excessos cometidos contra a Regra.

25
idem, Pág. 226
26
idem, Pág. 227
27
Margaret Deanesley, - A History of the Medieval Church 590-1500, Pág. 40
5

28
Bruno Murray, - As Ordens Monásticas e Religiosas, Pág. 31
Página

29
José Orlandis, - Pequena História do Cristianismo, Pág. 47
Este fato demarcou o monaquismo da Espanha goda do ideal beneditino, que impunha que o abade fosse eleito pela
Congregação tendo a partir desse momento papel soberano sobre toda a comunidade.
No que se refere à província da Lusitânia, um dos seus mosteiros mais antigos foi o do Lorvão, segundo Fortunato de
Almeida 30, sendo provável que a sua fundação date de meados do séc. VI e que, a par dos mosteiros de Dume e de são
Martinho de Tibães, constitui um marco importante da vida monástica em território que posteriormente viria a ser
Portugal 31.
O MONAQUISMO NAS ILHAS BRITÂNICAS
A corrente monástica nas Ilhas Britânicas e, em especial, na Irlanda revestiu-se de características muito próprias que a
demarcaram relativamente a outras regiões.
Com efeito, quando o cristianismo espalhava a sua influência em ambas as margens do Mediterrâneo, a Inglaterra
encontrava-se ainda sob o domínio de Roma. A lenda e a tradição falam das viagens à Bretanha (hoje Grã-Bretanha) de
Paulo, Filipe e José de Arimateia, bem como da fundação cristã em Glastonbury. Contudo, tudo isto não passa de uma
mera hipótese, à qual se vem juntar a ideia de que até mesmo entre os romanos, que se encontravam na Bretanha
durante o período de ocupação, alguns podiam ter ouvido e aceitado a mensagem do Cristianismo 32. A primeira menção
a cristãos na Grã-Bretanha aparece no Tratado contra os Judeus (202), de Tertuliano, no qual se faz referência a zonas
da Bretanha inacessíveis aos Romanos, mas onde já vigoravam os ensinamentos de Cristo.
Em 314, por ocasião do Concílio de Arles, três bispos representaram a Bretanha, o que denota já um avanço considerável
da Igreja numa base diocesana. Anos mais tarde, em 359, alguns bispos britânicos estiveram presentes num dos maiores
concílios da Igreja - o de Rimini, ainda que com uma fraca representação.
Com exceção para santo Albano, que no dizer do venerável Beda, é o primeiro cristão digno de registro na Bretanha, é
a partir do séc. V que passa a ser possível distinguir as grandes personalidades no processo de cristianização das Ilhas
Britânicas, e em especial da Irlanda. São Patrício surge então como responsável pela chamada "conversão da Irlanda",
sendo reconhecido como herói nacional. Considerada uma ilha bárbara, a Irlanda nunca se integrou no Orbis Romanus 33.
São Jerónimo referia-se aos seus habitantes em termos pouco lisonjeiros e o espírito irlandês sempre se manifestou de
um modo muito particular, envolto numa auréola de mistério e magia.
Tendo passado alguns anos da sua juventude nesta ilha, para onde tinha sido levado como escravo aos quinze anos,
Patrício ficou sempre marcado pelo povo irlandês. Conseguiu escapar ao seu cativeiro e refugiou-se na Gália, onde
entrou em contato com o movimento monástico em Lérins, sob a jurisdição de são Martinho de Tours. Após ter sido
sagrado bispo em Roma, regressou à sua amada Irlanda, ouvindo e correspondendo ao "chamado das crianças que
ainda não tinham nascido" 34. Fixando residência em Armagh, Patrício passou o resto da sua vida a lutar contra o
paganismo das tribos irlandesas convertendo pessoas, batizando e ordenando membros do clero. O seu objetivo era
bastante ambicioso, pois pretendia implantar na Irlanda o sistema diocesano que tinha visto na Gália, o que não era fácil,
dada a inexistência de muitas cidades que pudessem ser centros de governo, para além do fato de Patrício ter de
"combater" a grande influência das escolas de bardos que proliferavam na ilha. O seu grande esforço missionário foi de
tal ordem que conseguiu converter a Irlanda sem choques nem violências servindo-se do jogo de concorrência com os
antagonistas e da manifestação de um poder espiritual superior 35. Tal fato foi de importância capital não só para a ilha
em causa, mas também para todo o cristianismo, pois realçou e provou o seu caráter de universalidade, dado que se
mostrou passível de adaptação a formas de culturas diferenciadas, dando-lhe uma nova vitalidade. A evolução da Igreja
Irlandesa foi tão rápida, sobretudo em relação às instituições monásticas, que pouco se nota nela a influência secular.
Aliás, consideramos ser este um ponto de oposição entre o monaquismo celta e o europeu e um dos seus traços mais
característicos. Senão, vejamos:

MONAQUISMO EUROPEU
MONAQUISMO CELTA
1. o bispo tinha a jurisdição dos mosteiros na sua diocese.
2. o bispo tinha plenos poderes.

30
Fortunato de Almeida, - História da Igreja em Portugal, (Vol. I), Pág. 52-3
31
idem, Pág. 52
32
John Moorman, A History of the Church in England, Pág. 4
33
Daniel Rops, A Igreja dos Tempos Bárbaros, Pág. 218
6

34
idem, Pág. 219
Página

35
idem
3. tinha funções administrativas.
4. o abade era a entidade soberana e muitas igrejas tinham alguns bispos entre os seus monges.
5. o bispo não tinha jurisdição territorial
6. o monge ascendia ao episcopado por causa da santidade da sua vida e eram-lhe atribuídos os poderes de:
7. ordenação;
8. confirmação;
9. não tinha funções administrativas, as quais eram exercidas por um abade.
À medida que são Patrício viajava, eram fundados novos mosteiros, alguns deles tão grandes que incluíam alguns
milhares de monges que aí se recolhiam com o principal objetivo de se prepararem para aumentarem o seu grupo
batizando novos monges 36. É a época do monge missionário, traço característico do monge celta, que quer levar o
Evangelho a toda a parte, fazendo da sua vida uma "peregrinação" por Cristo.
Quanto à existência de Regras, não se seguia nenhuma em especial, podendo cada mosteiro adoptar a que achasse
mais conveniente. Contudo, continham todas a mesma filosofia de base, que se apoiava numa grande rigidez para
disciplinar e controlar o grande número de pagãos recém-convertidos. A austeridade e a rigidez tornaram-se, deste modo,
numa terceira característica do monaquismo celta, apontando para a total renúncia da vida mundana, bem como de todos
os prazeres dos sentidos, a favor de uma vida contemplativa de oração, com uma tendência para a vida de eremita,
ainda que integrada numa comunidade. Apesar de parecer uma contradição com o que atrás referimos, não nos podemos
esquecer da influência que o monaquismo oriental exerceu no monaquismo celta. Esta questão do fomento de vida
contemplativa no seio da austeridade é ainda outro ponto distanciado entre este tipo de monaquismo e o beneditino,
mais flexível e mais virado para a vida comunitária.
A finalidade dos dois casos era atingir a perfeição tendo Cristo como modelo, "divergindo basicamente no modo de
atuação e implementação das Regras" 37
Enquanto o cristianismo na Irlanda ia progredindo, na Inglaterra tinha sido obrigado a retroceder devido às invasões
anglo-saxónicas. Nas zonas conquistadas, o Cristianismo foi destruído e praticamente extinto, tendo persistido apenas
em zonas mais recônditas, como as montanhas do País de Gales, para sermos fiéis ao relato de Gilda 38. Tornando-se,
todavia, limitado e insular, parece não ter feito grande coisa para converter os Saxões, o que para alguns historiadores,
entre os quais se salienta Bede, foi um aspecto negativo da situação vivida em Gales. Mesmo assim, aparece no séc. VI
como modelo de missionarização, a par da Irlanda.
Após o falecimento de são Patrício, a vida monástica continuou a ser uma constante na Irlanda, com o mosteiro a ser o
centro irradiador da organização e do trabalho. Segundo Southern 39, o maior mosteiro celta era o de Bangor, em Belfast
Lough. Daqui saiu São Columbano que, acompanhado por doze companheiros, atravessou a Grã-Bretanha e a Gália,
indo fundar um grande mosteiro celta nos Vosgues. Posteriormente, fundou outros em Fontaines e nos Apeninos
(Bobbio), onde passou grande parte da sua vida. A disciplina nestes mosteiros celtas era severa, sendo obrigatório jejuar,
rezar, trabalhar e ler todos os dias.
"Um monge deve viver sob o domínio do pai e na sociedade de muitos irmãos, ele pode aprender humildade
de um, paciência de outro, silêncio de um terceiro, gentileza de um quarto. Ele não deve fazer o que quiser.
Ele é para comer o que lhe é dito para comer, ele é ter apenas o que lhe é dado, ele deve fazer o trabalho que
lhe é definido, ele deve estar sujeito àqueles que ele não gosta. Ele deve ir para a cama tão cansado que ele
vai dormir no caminho, e ele deve se levantar antes que ele tenha dormido o quanto quiser. Quando ele é
maltratado, ele deve ficar em silêncio. Ele deve temer o antes de seu mosteiro como um mestre e ainda amá-
lo como pai: ele deve acreditar que qualquer ordem que ele dá como bom". 40
Este tipo de vida austera e dura, levando o monge a não passar o dia confinado ao claustro, é uma das características
do monaquismo celta que permite distingui-lo do europeu continental. Aliás, já Columba, que fundou o mosteiro de Iona
numa pequena ilha do extremo setentrional da Escócia, tinha defendido este tipo de vida monástica. Iona converteu-se
num viveiro de bispos, de onde a Boa-Nova irradiou para as ilhas Orkney, Shetland, Faeroe, e até para a Islândia 41
tornando-se também o centro de partida para a evangelização de zonas da Europa Central.

36
idem, Pág. 217
37
S.W. Southern, A Igreja Medieval,
38
John Moorman, A History of the Church in England, Pág. 4
39
S.W. Southern, A Igreja Medieval, Pág. 36
7

40
idem, Pág. 36/7
Página

41
Daniel Rops, A Igreja dos Tempos Bárbaros, Pág. 221
Daniel Rops chama a tal fato o "milagre irlandês" 42 que consistiu numa arrancada do Cristianismo a partir de um país
que acabava de ser convertido e que em pouco tempo mostrou ser fiel ao espírito de missionarização. Segundo o autor
citado, a Irlanda foi, nos tempos obscuros do cristianismo, como que uma segunda Palestina, como que um novo berço
de fé.
Pode-se dizer que no que se refere à Inglaterra, o grande impulsionador da sua conversão foi são Gregório, numa fase
de instabilidade político-religiosa a que o país estava sujeito. Na verdade, os invasores germânicos tinham estabelecido
núcleos isolados sobretudo na zona leste do país, que cerca de cinquenta anos mais tarde se tinham reduzido a sete -
heptarquia. 43 A Igreja ia sobrevivendo, embora de forma precária, e o encontro de Gregório com os jovens anglos no
Forum romano foi um "ponto de virada na História da Cristianidade Latina"44 . Ao tornar-se papa, dedicou parte
do rendimento do papado a comprar rapazes da Anglia como escravos, tendo em mente a sua educação na fé cristã e o
seu posterior reenvio para a Inglaterra, já na qualidade de embaixadores de Cristo. Assim começou a interferência da
Igreja de Roma em terras saxónicas. Para reforçar essa interferência, Gregório enviou um dos seus monges, Agostinho,
para o convento de Célio. Ao chegar a Kent, Agostinho teve a agradável surpresa de ser muito bem recebido por parte
do rei Ethelbert, cuja esposa, Berta, filha de um rei franco, já era cristã. As conversões foram tão rápidas que Agostinho
foi sagrado bispo na Gália e no dia de Natal batizou 10.000 convertidos "dentro e ao redor de Canterbury" 45, que se
tornou na mais antiga sede episcopal da Inglaterra.
O entusiasmo foi tão grande que Gregório conferiu demasiada autoridade a Agostinho, passando por cima dos bispos
britânicos que tinham mantido acesa a chama do cristianismo durante os anos em que a Inglaterra tinha regressado ao
ateísmo .
"Nunca iremos pregar a nossa fé a essa raça cruel de estrangeiros, que à traição nos despojaram da nossa terra natal"
- deste modo reagia o abade de Bangor ao pedido de santo Agostinho no sentido de praticar a caridade com os anglos.
Recusando-se então os bispos-monges celtas a cooperar com a missão de Roma e a tentar chegar a acordos sobre
assuntos que distinguiram as duas correntes: celta e romana, "a chance de uma igreja unida na Grã-Bretanha foi
perdida por séculos"46
Será preciso então lutar, entrando-se num período de fracassos e de êxitos, com avanços e recuos, de homens violentos
e de figuras santas, como Paulino, chefe da missão romana em Northumbria, e Aidan, fundador de muitos mosteiros,
entre os quais se destaca o de Whitby, sob a direção de Hilda. Aidan deslocava-se a pé por toda a diocese pregando,
batizando, confirmando e ordenando, sempre acompanhado por monges e pelo próprio rei Oswaldo, que lhe servia de
intérprete numa manifestação de declarada aliança entre a Igreja e o Estado.
Como atrás referimos, as duas correntes - celta e romana - coexistiram nas Ilhas Britânicas, ora conseguindo posições,
ora perdendo-as num "combate" em nome de Deus e com duas diferenças de fundo que iam desde a celebração da data
da páscoa à tonsura, passando pelo próprio ritual ou liturgia.
Em meados do séc. VI, punha-se a questão de saber se a Igreja de Northumbria deveria obedecer a Roma ou a Iona,
que continuava a ser base da Igreja Celta. Tal divergência impedia a unidade religiosa da Inglaterra.
Perante tal situação, o rei Oswaldo, de Northumbria, decidiu convocar uma reunião em Whitby em 664, com
representantes das duas correntes, de modo a tentar chegar a um possível acordo, partindo da questão há muito
polêmica da marcação da data da páscoa. Tal reunião seria de importância capital, uma vez que dela resultou a unificação
religiosa da Grã-Bretanha, subordinando-a a Roma. Esta decisão ficou a dever-se sobretudo ao próprio rei, que, segundo
Moorman 47 agiu sensatamente pois, caso tivesse tomado outra posição, a Igreja de Inglaterra teria ficado isolada e não
teria acompanhado a corrente da Igreja católica que se espalhava pela Europa.
"O rei disse: Pedro é o guardião dos portões do céu e não o contradizo. Obedecerei aos seus comandos em
tudo, com o melhor do meu conhecimento e habilidade; caso contrário, quando eu chegar aos portões do
céu, pode não haver ninguém para abri-los, porque aquele que detém a chave se afastou." 48

42
idem, Pág. 225.
43
idem, Pág. 237.
44
R.H. Hodgkin, History of the Anglo-Saxons, in Moorman, op. cit. Pág. 259.
45
in Moorman, op. cit., Pág. 240.
46
idem, Pág. 268.
8

47
idem, pág. 21.
Página

48
in Bede, Ecclesiastical History of the English People, Pág. 193.
A missão escocesa de Iona cessou funções tendo os monges celtas retirado para regiões mais afastadas da Irlanda onde
continuaram ainda a defender os seus princípios.
O Sínodo de Whitby não pôs ponto final às divergências nem tão pouco garantiu a estabilidade religiosa imediata. Seguiu-
se um período de transição, com nomes de relevo como são Cuthbert e são Teodoro de Tarso, mas importante foi o fato
de, com o Cristianismo Romano, terem penetrado em Inglaterra o Latim e os elementos do Direito Romano, que
libertaram o país do seu isolamento. Os mosteiros anglo-saxões serão, com efeito, os reservatórios a partir dos quais se
espalharão mais tarde os valores culturais sobre o continente.
Por outro lado, ao conquistar esses povos radicalmente estranhos à civilização latina, o catolicismo romano estendia
para além dos antigos limites da Europa uma nova autoridade que já nada devia ao imperador e em que o papa aparecia
como único soberano.
Libertada de qualquer ligação com os poderes civis, essencialmente por ser fundação direta do papado, a Igreja Inglesa
conduzirá os seus destinos mais livremente do que as do continente europeu, mantendo-se fiel à Santa Sé até ao período
da reforma.
Tudo isto, devido a esse movimento ímpar na história ao qual se chamou monaquismo.
Maria Ester Vargas
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ROPS, Daniel A Igreja dos Tempos Bárbaros. Col. História da Igreja de Cristo, Quadrante, São Paulo, 1991
SOUTHERN, R.W. A Igreja Medieval. Col. História da Igreja II, Ulisseis, Lisboa, 1970

* Retirado da página http://www.ipv.pt/millenium/15_arq1.htm e da Revista Milleniun


Instituto Superior Politécnico de Viseu (Portugal).
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