Modelo de Diário de Campo - 2
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Modelo de Diário de Campo - 2
Campina Grande-PB
2015
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO------------------------------------------------------------------------------------3
1 O “COMEÇO” DE TUDO...------------------------------------------------------------------4
5 LINGUAGEM-----------------------------------------------------------------------------------7
9 UM MODELO DE VIDA--------------------------------------------------------------------14
9.1 Uma mudança de vida----------------------------------------------------------------------16
CONSIDERAÇÕES FINAIS------------------------------------------------------------------16
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS------------------------------------------------------17
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INTRODUÇÃO
Sempre que um indivíduo promove um trabalho de pesquisa, em particular no
campo das ciências humanas, é comum que surja a questão: “por que a escolha deste
tema?”. Se levarmos em conta o contexto cultural do Brasil, sua formação de
miscigenação (apesar de alguns grupos terem ganho maior notoriedade e aceitação), a
pluralidade de costumes e crenças, suponhamos, a priore, que seja relevante um estudo
sobre uma das muitas culturas que compõem o nosso país, como nos diz Malinowski
(1984) é necessário “perscrutar a cultura nativa na totalidade de seus aspectos.” Mas, o
que poderíamos definir como cultura? Geertz (1989), nos diz que o conceito desta é
semiótico. E, assim como Max Weber, acredita que o homem é um animal que está
amarrado a uma teia de significados tecidos por ele mesmo, sendo a cultura essas teias e
a sua análise.
Para a realização de um trabalho etnográfico é necessário à delimitação de um
lugar no espaço, observando as pessoas que frequentam e os eventos que ocorrem,
compreendendo e vivenciando assim a lógica cultural que governa. Diante disso, o
nosso foco voltou-se para uma cultura oriental em território ocidental: o movimento
Hare Krishna. Já que a cultura “está localizada na mente e no coração dos homens”
(GEERTZ apud GOODENOUGH, 1989) voltamo-nos mais precisamente, para um
condomínio composto por devotos de Krishna localizado no interior da Paraíba- o
Condomínio Naimisharanya-, e que está centrado, além das necessidades físicas, nas
necessidades espirituais, demonstrando assim a importância da religiosidade para a
existência e funcionamento do condomínio, bem como do templo que serve para prestar
seus cultos e adoração ao Deus Supremo.
O método utilizado no sentido de realizar o projeto foi descrever
etnograficamente o cotidiano no condomínio, baseado na inserção que tivemos neste
campo, juntamente com a observação e participação em alguns momentos e, entrevistas
com alguns devotos. Este trabalho será analisado a partir de duas bases; uma se refere à
contextualização destas práticas dentro da filosofia dos devotos de Krishna, e a outra é
um estudo reflexivo possibilitado pela literatura antropológica estudada em sala e que
trata acerca de temas como religião, ritual, simbolismo, linguagem e modernidade.
Deste modo, o centro da reflexão se dará ao destacar a prática do serviço devocional-
vida simples e pensamento elevado-, na qual se incluem os rituais e boas ações,
influenciando e direcionando o cotidiano dos devotos.
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1 O “COMEÇO” DE TUDO...
O Movimento para consciência de Krishna, inicialmente com o nome
“Sankirtana Yatra” (movimento purificatório do cantar dos santos nomes de Krishna)
foi concebido por Abhay Charanaravinda Bhakti-vendanta Swami, conhecido
mundialmente como Srila Prabhupada. Este que foi considerado um santo no século
XX, nasceu no ano de 1896, na cidade de Calcutá na Índia. Ainda criança teve seu
futuro revelado por um astrólogo, sendo declarado que ao completar 70 anos cruzaria o
oceano, se tornaria uma grande figura da religião e abriria 108 templos.
Após o ano de 1965, viaja para os Estados Unidos e trás consigo o culto da
bhakti-yoga, assim como praticado pelos vaisnavas. Os indianos não acreditavam que
ele cumpriria sua visão, ou seja, formar uma sociedade mundial para a consciência de
Krishna. Porém, na década seguinte, ele formaria e manteria a Sociedade Internacional
para a Consciência de Krishna- ISKON- e abriria mais de 100 templos. Vemos assim a
“profecia” se cumprir. Prabhupada traduziu e discutiu diversas obras sagradas, dentre
elas o Bhagavad-gita, é o livro que descreve a bhakti-yoga por excelência, e o Srimad-
Bhagavatam, onde os devotos de Krishna falam sobre Ele, suas atividades e
encarnações. No Brasil, a ISKON chegou ao ano de 1974 e ainda hoje mantem-se como
uma das mais firmes instituições de cunho oriental não vinculada a grupos étnicos
(GUERRIERO, 2001).
O foco do nosso trabalho, o Condominio Naimisharanya, foi criado na cidade de
Campina Grande (PB), no ano de 2004, e surgiu do interesse em construir um local
onde devotos pudessem conviver, adorar às suas deidades e estudar sobre a filosofia.
Assim, dez pessoas se reuniram e compraram um terreno no bairro de Novo Bodocongó
– que se localiza por trás do Seminário Hare Krishna de Filosofia e Teologia-Instituto
Jaladuta-, enfatizando ainda mais o serviço devocional.
3.1 O TEMPLO
Anteriormente, já começamos a definir um pouco de como é fisicamente o
templo. Neste não há paredes e a cerca viva exerce a função de tornar o ambiente
fechado e, ao mesmo tempo aberto, visto que, a estrutura esfria o local. Há dois altares,
um de fronte ao outro. Em um destes-que fica de costas para quem entra no templo- há
uma imagem de Prabhupada sentado. No outro altar há imagens também com formas
humanas, dois homens adornados com diversos objetos como brincos, colares,
pulseiras, cabelos longos, roupas coloridas e brilhantes, são elas, Sri Caitanya
Mahaprabhu e Sri Nityananda– conhecidas como Goura e Nitai. Estes são considerados
irmãos, sendo o primeiro a encarnação de Krishna e o segundo de Balarama.
Neste altar um objeto nos deixou curiosos. Havia um ar-condicionado. Ficamos
nos questionamos o porquê daquilo. Seria para as imagens ou para os devotos que
fossem fazer suas orações dentro do altar? Questionado, Hari, nos respondeu que servia
aos dois, imagens e devotos.
5 LINGUAGEM
O movimento Hare Krishna na nossa cidade possui uma cultura situada em
preceitos religiosos de origem hinduísta, com base nas regras e práticas presentes nos
livros sagrados. Nele sustenta-se toda a base da comunidade, desde seus valores
religiosos até os valores morais e éticos. O Bhagavad Gita é um texto religioso Hindu,
que faz parte do épico Mahabharata, o mesmo se encontra em sânscrito, onde se relata o
diálogo entre Arjuna e seu mestre Krishna, uma das encarnações de Vishnu, o Deus
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sânscrito védico ou língua dos deuses, uma língua indiana antiga que serviu como base
não só para as demais línguas indianas, quanto para a de outras nacionalidades, como
chinesa e tailandesa. O sânscrito védico possui dificultosa tradução para línguas que se
originam do latim, não só pela forma que suas letras são desenhadas ou pelo numero de
letras, mas também pela sua diferenciação, um exemplo disso é que nele temos três
tipos de “N”.
Outra característica é que o devoto deve ter cuidados extremos para não cometer
nenhuma das dez ofensas a Deus, no caso Krishna:
1)Blasfemar os devotos que dedicam suas vidas a propagarem o santo nome do Senhor.
2) Considerar os nomes dos semideuses iguais do nome do Senhor Visnu.
3) Desobedecer às ordens do mestre espiritual.
4) Blasfemar a literatura Védica ou literatura de acordo com a versão Védica.
5) Considerar as glórias do cantar de Hare Krsna como imaginárias.
6) Apresentar interpretações sobre o santo nome do Senhor.
7) Cometer “pecado” apoiando-se na potência do cantar dos santos nomes do Senhor.
8) Considerar o cantar do mantra Hare Krishna como uma das atividades ritualísticas
auspiciosas oferecidas nos Vedas como atividades fruitivas (karma-kanda).
9) Instruir uma pessoa sem fé acerca das glórias do santo nome.
10) Não ter fé completa no cantar dos santos nomes e manter apegos materiais mesmo
após a compreensão de muitas instruções sobre este assunto.
Outra importância é o nome devocional dado aos iniciados do movimento pelo
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Maharaj, o guru espiritual da comunidade, que observa características pessoais dos
3 iniciados e nelas se baseia. Muitos dos devotos possuem a palavras “das” em
futuros
seus4 nomes, e seu significado é servo. No entanto, salienta-se que tais nomes são
unicamente devocionais, e que civilmente o nome original (presente em documentação
legal) é apresentado nos outros âmbitos necessários da vida.
Outra identificação, desta vez não verbal, é o colar de Tulasi de três voltas, feito
da madeira Tulasi, considerada sagrada, e é utilizada por todos os devotos vaisnavas,
No movimento Hare Krishna é utilizado por todos que passaram pelo primeiro ritual de
iniciação, onde o devoto recebe também do guru o seu japa-mala prometendo cumprir
com o mínimo de voltas no mesmo por dia, e a seguir os quatro princípios regulativos.
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essa questão é bastante intima, tendo em vista que o alimento quando servido na
comunidade é deixado disponível para que o indivíduo consuma a vontade o que deseja
em um determinado horário de refeição, ou seja, o individuo não tem uma quantidade
controlada de alimento a ser consumido.
9 UM MODELO DE VIDA
Uma das perguntas que nos deparamos ao chegar a campo foi “O que mobiliza
essas pessoas a renunciar costumes e aderirem a uma cultura diferente?”. Percebemos
que talvez não conseguíssemos obter essa resposta, pelo menos nesses termos.
Procuramos, então, responder “Como a adesão a um novo modelo de conduta baseado
na religião afeta a vida do indivíduo?”. Para isso, analisamos considerando conceitos de
autores como Hanna Arendt e René Girard. As teorias foram relacionadas com os dados
coletados através de conversas com devotos do movimento no condomínio
Naimisharanya.
A metáfora de Parabhupàda sobre o “encontro de culturas” nos fez entender que
ao ter contato com outra cultura esta seria afetada e daria origem a uma nova forma de
vivência. Tentamos entender como é seguido o modelo de devoto Hare Krishna
atualmente.
Hanna Arendt afirma que “tudo que adentra o mundo humano torna-se parte da
condição humana”. A cultura elaborou meios para manter o controle sobre o indivíduo
inserido nos grupos sociais. Os homens foram impondo condições à sua sobrevivência.
Dentre estas agências encontra-se a religião. Ao classificar os comportamentos em
"bons" ou "maus" a religião mantém o controle verbal sobre o indivíduo.
A religião faz parte da ação, uma atividade política que busca preservar o
mundo para os que ainda estão por vir. Como atividade política ela também busca
manter o controle sobre o indivíduo. O controle na doutrina Hare Krishna é baseado na
ideia de "livre-arbitrio", ou seja, o devoto pode escolher se comportar de forma virtuosa
ou pecaminosa, o seu parâmetro de avaliação será a "consciência de Krishna". Para
obter tal julgamento a doutrina introjeta modelos.
Nas escrituras sagradas dos Vedas existem vários modelos de ideal de homem
realizado e iluminado, na prática, assim como nos explicou o devoto Harí, a sua
linhagem se mantém fiel à filosofia Vaishnava e na posição de "buscadores de conhecer
à Deus" o objetivo maior não é atingir o nível de perfeição moral ou religiosa por si só,
mas cultivar uma relação de amor puro com o próprio Deus.
O processo de construção de uma consciência baseada nos ensinamentos de
Krishna promove em seus adeptos um senso de responsabilidade consigo e com o meio.
O percurso em busca da evolução espiritual produz uma adesão de modelos que se
concretizam em posturas, atitudes e práticas capazes de orientar a vida cotidiana -
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ARENDT, Hannah. A Condição Humana. 10º ed. Rio de Janeiro: Ed. Forense
Universitária, 2000;
PEIRANO. Mariza. Rituais ontem e hoje. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. , 2003.