Modelo de Diário de Campo - 2

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VIDA SIMPLES, PENSAMENTO ELEVADO:

UM OLHAR ETNOGRÁFICO SOBRE O CONDOMÍNIO NAIMISHARANYA.

Campina Grande-PB
2015
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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO------------------------------------------------------------------------------------3

1 O “COMEÇO” DE TUDO...------------------------------------------------------------------4

2 O “MEDO” E A ADMIRAÇÃO DA INSERÇÃO NO CAMPO: NOSSO


PRIMEIRO CONTATO-------------------------------------------------------------------------4

3 CONHECENDO A ESTRUTURA FÍSICA DO CONDOMÍNIO--------------------5


3.1 O templo----------------------------------------------------------------------------------------6

4 RITUAIS: COM AMOR E POR AMOR, NA ALEGRIA REALIZAMOS--------6

5 LINGUAGEM-----------------------------------------------------------------------------------7

6 OS VALORES MORAIS NA HARE KRISHNA---------------------------------------10

7 COMIDA DOS “DEUSES”-----------------------------------------------------------------11

8 REFLEXÕES SOBRE A FILOSOFIA---------------------------------------------------13

9 UM MODELO DE VIDA--------------------------------------------------------------------14
9.1 Uma mudança de vida----------------------------------------------------------------------16

CONSIDERAÇÕES FINAIS------------------------------------------------------------------16

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS------------------------------------------------------17
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INTRODUÇÃO
Sempre que um indivíduo promove um trabalho de pesquisa, em particular no
campo das ciências humanas, é comum que surja a questão: “por que a escolha deste
tema?”. Se levarmos em conta o contexto cultural do Brasil, sua formação de
miscigenação (apesar de alguns grupos terem ganho maior notoriedade e aceitação), a
pluralidade de costumes e crenças, suponhamos, a priore, que seja relevante um estudo
sobre uma das muitas culturas que compõem o nosso país, como nos diz Malinowski
(1984) é necessário “perscrutar a cultura nativa na totalidade de seus aspectos.” Mas, o
que poderíamos definir como cultura? Geertz (1989), nos diz que o conceito desta é
semiótico. E, assim como Max Weber, acredita que o homem é um animal que está
amarrado a uma teia de significados tecidos por ele mesmo, sendo a cultura essas teias e
a sua análise.
Para a realização de um trabalho etnográfico é necessário à delimitação de um
lugar no espaço, observando as pessoas que frequentam e os eventos que ocorrem,
compreendendo e vivenciando assim a lógica cultural que governa. Diante disso, o
nosso foco voltou-se para uma cultura oriental em território ocidental: o movimento
Hare Krishna. Já que a cultura “está localizada na mente e no coração dos homens”
(GEERTZ apud GOODENOUGH, 1989) voltamo-nos mais precisamente, para um
condomínio composto por devotos de Krishna localizado no interior da Paraíba- o
Condomínio Naimisharanya-, e que está centrado, além das necessidades físicas, nas
necessidades espirituais, demonstrando assim a importância da religiosidade para a
existência e funcionamento do condomínio, bem como do templo que serve para prestar
seus cultos e adoração ao Deus Supremo.
O método utilizado no sentido de realizar o projeto foi descrever
etnograficamente o cotidiano no condomínio, baseado na inserção que tivemos neste
campo, juntamente com a observação e participação em alguns momentos e, entrevistas
com alguns devotos. Este trabalho será analisado a partir de duas bases; uma se refere à
contextualização destas práticas dentro da filosofia dos devotos de Krishna, e a outra é
um estudo reflexivo possibilitado pela literatura antropológica estudada em sala e que
trata acerca de temas como religião, ritual, simbolismo, linguagem e modernidade.
Deste modo, o centro da reflexão se dará ao destacar a prática do serviço devocional-
vida simples e pensamento elevado-, na qual se incluem os rituais e boas ações,
influenciando e direcionando o cotidiano dos devotos.
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1 O “COMEÇO” DE TUDO...
O Movimento para consciência de Krishna, inicialmente com o nome
“Sankirtana Yatra” (movimento purificatório do cantar dos santos nomes de Krishna)
foi concebido por Abhay Charanaravinda Bhakti-vendanta Swami, conhecido
mundialmente como Srila Prabhupada. Este que foi considerado um santo no século
XX, nasceu no ano de 1896, na cidade de Calcutá na Índia. Ainda criança teve seu
futuro revelado por um astrólogo, sendo declarado que ao completar 70 anos cruzaria o
oceano, se tornaria uma grande figura da religião e abriria 108 templos.
Após o ano de 1965, viaja para os Estados Unidos e trás consigo o culto da
bhakti-yoga, assim como praticado pelos vaisnavas. Os indianos não acreditavam que
ele cumpriria sua visão, ou seja, formar uma sociedade mundial para a consciência de
Krishna. Porém, na década seguinte, ele formaria e manteria a Sociedade Internacional
para a Consciência de Krishna- ISKON- e abriria mais de 100 templos. Vemos assim a
“profecia” se cumprir. Prabhupada traduziu e discutiu diversas obras sagradas, dentre
elas o Bhagavad-gita, é o livro que descreve a bhakti-yoga por excelência, e o Srimad-
Bhagavatam, onde os devotos de Krishna falam sobre Ele, suas atividades e
encarnações. No Brasil, a ISKON chegou ao ano de 1974 e ainda hoje mantem-se como
uma das mais firmes instituições de cunho oriental não vinculada a grupos étnicos
(GUERRIERO, 2001).
O foco do nosso trabalho, o Condominio Naimisharanya, foi criado na cidade de
Campina Grande (PB), no ano de 2004, e surgiu do interesse em construir um local
onde devotos pudessem conviver, adorar às suas deidades e estudar sobre a filosofia.
Assim, dez pessoas se reuniram e compraram um terreno no bairro de Novo Bodocongó
– que se localiza por trás do Seminário Hare Krishna de Filosofia e Teologia-Instituto
Jaladuta-, enfatizando ainda mais o serviço devocional.

2 O “MEDO” E A ADMIRAÇÃO DA INSERÇÃO NO CAMPO: NOSSO


PRIMEIRO CONTATO
Na tentativa de melhor apresentarmos o nosso trabalho, faz-se necessário
algumas considerações sobre a nossa inserção no campo a ser estudado; o nosso
primeiro contato. Diante da “curiosidade” de todos- do grupo- em conhecer um
movimento e uma cultura diferentes, entramos em contato com o Seminário Hare
Krishna de Filosofia e Teologia (Instituto Jaladuta), na qual nos forneceu o contato de
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um de seus diretores, o Psicólogo Hernanes, conhecido no movimento como Hari.


Marcamos uma visita e assim cumprimos.
No domingo, dia aberto à visitação fomos ao local. Somos recepcionados por um
devoto vestido em trajes típicos que nos conduz ao templo e nos convida a adentra-lo,
mas antes que seria necessário retirar os calçados. O templo não era composto por
paredes, mas sim por uma planta trepadeira (Tumbeja), fazendo uma cerca viva. Na
dúvida de onde retirar os estes, retiramos antes mesmo de adentrar ao local. A entrada
era dividida no quesito gênero, onde de um lado, mulheres de outro. Porém, em nosso
primeiro contato adentramos todos pelo mesmo lado. Durante os rituais, neste mesmo
espaço fomos capazes de observar uma linha imaginária que dividia homens e mulheres.
O templo, de imediato, nos surpreendeu, duas imagens grandes em um altar na
qual era fechada com portas de vidro e, no começo do templo havia uma imagem de
Prabhupada sentado também em um altar semelhante. Aproximamo-nos das imagens,
porém “com medo”, pois não sabíamos se seria alguma ofensa aos ensinamentos da
religião (esta que segundo os devotos é preferível ser referida como filosofia milenar).
Nossas primeiras impressões sobre o local é de estranhamento. Devotos ao entrar no
templo se prostravam diante das imagens em adoração. Depois da breve visita ao templo
dirigimo-nos ao ambiente do restaurante onde conversarmos com Hari sobre o propósito
do trabalho e sobre o movimento. Apresentamos o projeto e discutimos um pouco sobre
o estilo de vida deles. Atenciosos em cada palavra proferida e também no
comportamento de alguns que passavam. Depois de alguns questionamentos feitos e
respondidos somos convidados a participar do ritual no templo.

3 CONHECENDO A ESTRUTURA FÍSICA DO CONDOMÍNIO


O condomínio Naimisharanya está localizado na Rua Emiliano Rosendo da
Silva, no bairro do Novo Bodocongó – Próximo ao Parque Tecnológico. Um local
meio afastado de tudo e todos. Um condomínio “padrão”. Atualmente, é composto por
diversas famílias. Cada uma construiu sua própria casa. Como já mencionado
anteriormente, há em comum, o templo e um restaurante.
Ao adentrarmos no condomínio percebemos um ambiente calmo e bem
harmonizado. Por ser um local mais afastado do centro da cidade o principal som que
ouvimos fora dos momentos de rituais, eram os cantos dos passarinhos. A sonoridade é
muito bem harmonizada com a paisagem do local, um lugar verde onde tudo remete à
vida; a grama adornando o laguinho de peixes sob a ponte; as disposições simétricas
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entre as árvores e as casas remontam um lugar paradisíaco que desperta o sentimento de


equilíbrio e ordem. É justamente o equilíbrio que Prabhupada ensinou durante a sua
vida, que buscam os devotos.

3.1 O TEMPLO
Anteriormente, já começamos a definir um pouco de como é fisicamente o
templo. Neste não há paredes e a cerca viva exerce a função de tornar o ambiente
fechado e, ao mesmo tempo aberto, visto que, a estrutura esfria o local. Há dois altares,
um de fronte ao outro. Em um destes-que fica de costas para quem entra no templo- há
uma imagem de Prabhupada sentado. No outro altar há imagens também com formas
humanas, dois homens adornados com diversos objetos como brincos, colares,
pulseiras, cabelos longos, roupas coloridas e brilhantes, são elas, Sri Caitanya
Mahaprabhu e Sri Nityananda– conhecidas como Goura e Nitai. Estes são considerados
irmãos, sendo o primeiro a encarnação de Krishna e o segundo de Balarama.
Neste altar um objeto nos deixou curiosos. Havia um ar-condicionado. Ficamos
nos questionamos o porquê daquilo. Seria para as imagens ou para os devotos que
fossem fazer suas orações dentro do altar? Questionado, Hari, nos respondeu que servia
aos dois, imagens e devotos.

4 RITUAIS: COM AMOR E POR AMOR, NA ALEGRIA REALIZAMOS.


A vida devocional é composta por diversos ritos que seguem o padrão designado
por Prabhupada. É importante destacar que todos os dias faz-se basicamente as mesmas
coisas, porém, cada dia é diferente.
Segundo Mariza Peirano (2003), o conceito de ritual deve ser esclarecido dentro
do cenário pesquisado, dando uma menor ênfase ao “conteúdo explícito” e mais suas
características de possuir uma forma específica, repetição e algum grau de
padronização. Diante disso, afirmamos que no cenário etnográfico estudado, o rito, num
sentido antropológico, é o próprio padrão de adoração, se realizando através dele. “A
ação ritual produz resultados em virtude de ser realizado. O ritual é eficaz, o que
significa que não se trata apenas de representações, mas de propósitos que se realizam
por meio de um mecanismo analógico de eficácia simbólica” (PEIRANO, 1995, p. 84).
O ritual além de transmitir conhecimentos e valores, reproduz as relações
sociais. A vida dos devotos que giram em torno do serviço, na qual se inclui os rituais,
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estão fundamentados nos textos sagrados, gerando certo tipo de comportamento,


enquadrando assim os seus atos em “padrão” ritualmente fixado.
Em todas as nossas visitas participamos de rituais, sendo mais comum a “Festa
de domingo”. Esta que é realizada em todos os templos Hare Krishna no mundo e, é
composta de diversas partes. Nela primeiramente entoam-se mantras, em seguida é lida
um trecho das escrituras pelo guru ou Maharaj, uma pregação sobre os conceitos
filosóficos, valorizando-se a audição. Logo após é aberto um espaço rápido para
perguntas e respostas, e depois rituais de purificação, dança e o canto de mantras. Estas
últimas partes chamam-se Arati e Kirtana ( O Arati não acontece em todos os templos).
O Arati é a adoração às deidades; onde lhe são oferecidos cinco elementos: água, fogo,
incenso, presente e flor. Um devoto com segunda iniciação é quem oferece os
elementos. Enquanto os oferece com a mão direita, a mão esquerda toca-se um sininho.
Depois de oferecidos as deidades, os elementos são passados aos presentes. Este ritual
acontece às 5hs, 12hs e 19hs30. Nosso trabalho participou de três Festas de domingo
com Arati às 12hs e de um Arati às 5hs da manhã. Sendo este da manhã que nos causou
um maior estranhamento, pois eles adoravam uma planta, na qual acreditam que seja
uma encarnação de um semideus.
Nos rituais é opcional a participação dos moradores do condomínio. Enquanto
ocorre o Arati no altar, os devotos presentes vivem a Kirtana. Este ritual que é cantar e
glorificar a Deus. Um búzio é soado para três vezes para marcar o inicio e fim do Arati.
Para os devotos, o ritual é uma maneira formal e externa de oferecer a devoção a
Deus. Acreditam que ele não é um fim em si, mas um instrumento que dispõem para
elevarem a consciência material, normalmente aferrada nas atividades mundanas do dia-
a-dia, à consciência de Deus. A ideia da oferenda é que o devoto aproxima-se de Deus
não somente para pedir, mas para oferecer o amor.

5 LINGUAGEM
O movimento Hare Krishna na nossa cidade possui uma cultura situada em
preceitos religiosos de origem hinduísta, com base nas regras e práticas presentes nos
livros sagrados. Nele sustenta-se toda a base da comunidade, desde seus valores
religiosos até os valores morais e éticos. O Bhagavad Gita é um texto religioso Hindu,
que faz parte do épico Mahabharata, o mesmo se encontra em sânscrito, onde se relata o
diálogo entre Arjuna e seu mestre Krishna, uma das encarnações de Vishnu, o Deus
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supremo. Nele são empregados ensinamentos e lições onde Krishna repassa os


ensinamentos do hinduísmo e da filosofia indiana através de 18 capítulos.
Observando o movimento Hare Krishna e o lugar situado deparara-nos com
uma realidade de cultura diversificada a nossa, mas que não fugia totalmente da
realidade ocidental. Portanto, para entender o que consistia o movimento foi necessário
um olhar mais detalhado, onde encontramos preceitos orientais, advindos de preceitos
religiosos indianos, adaptados ao ocidente. Para explanar a linguagem é necessário não
observá-la apenas como um meio de comunicação, e sim, como conceitua Malinowski
(1984): “Seus estados mentais são marcados por um cunho específico, tornam-se
estereotipados pelas instituições onde vivem, pela influência da tradição e do folclore,
pelo próprio veículo do pensamento, ou seja, pela linguagem.”
Nas ocasiões em que o templo e o instituto foram utilizados observamos
primeiramente a troca da vestimenta, as roupas atuais são substituídas nas mulheres por
saris e nos homens a camisa chama-se kurta e o roupão de baixo dhotie. Em alguns dos
devotos observamos seus rostos pintados com uma argila, chamada de tilaka, e é
utilizada para designar os corpos como templos de Deus, que habita os corações de
todas as entidades vivas. A princípio, na primeira festa de domingo em que fomos,
percebemos que a linguagem está presente não só nas vestes, mas nas imagens das
deidades.
Aos mantras devemos dar uma atenção especial, tendo em vista, que são eles
que repetidas vezes invocam Krishna e garantem além da purificação, um estado
transcendental e o sucesso na vida espiritual. O principal mantra é: “Hare Krishna,
Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare, Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama,
Hare Hare.” Prabhupada traduziu este mantra como: “ó Senhor, por favor, permita-me
ser um instrumento de seu amor”. O mantra também objetiva leva-los através da
vibração transcendental, pelo cântico, a um estado de consciência de Krishna, que é
puro e original, eliminando a falsa ideia de que somos senhores de tudo. Tal ideia é
resultado de um estado carnal adulterado pela atmosfera material, chamada de maya,
que significa ilusão, e é alcançando a consciência de Krishna que o devoto liberta-se
desse estado.
Esse cântico dos mantras também pode ser realizado individualmente, atividade
essa chamada de Japa ou mantra yoga, onde o yogi, o individuo que irá cantar o mantra,
utiliza-se do Japa Mala, um cordão com 108 pontas. Nele cada ponta significa a
repetição de um mantra e a ele deve-se total respeito e zelo. Cada mantra está escrito em
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sânscrito védico ou língua dos deuses, uma língua indiana antiga que serviu como base
não só para as demais línguas indianas, quanto para a de outras nacionalidades, como
chinesa e tailandesa. O sânscrito védico possui dificultosa tradução para línguas que se
originam do latim, não só pela forma que suas letras são desenhadas ou pelo numero de
letras, mas também pela sua diferenciação, um exemplo disso é que nele temos três
tipos de “N”.
Outra característica é que o devoto deve ter cuidados extremos para não cometer
nenhuma das dez ofensas a Deus, no caso Krishna:
1)Blasfemar os devotos que dedicam suas vidas a propagarem o santo nome do Senhor.
2) Considerar os nomes dos semideuses iguais do nome do Senhor Visnu.
3) Desobedecer às ordens do mestre espiritual.
4) Blasfemar a literatura Védica ou literatura de acordo com a versão Védica.
5) Considerar as glórias do cantar de Hare Krsna como imaginárias.
6) Apresentar interpretações sobre o santo nome do Senhor.
7) Cometer “pecado” apoiando-se na potência do cantar dos santos nomes do Senhor.
8) Considerar o cantar do mantra Hare Krishna como uma das atividades ritualísticas
auspiciosas oferecidas nos Vedas como atividades fruitivas (karma-kanda).
9) Instruir uma pessoa sem fé acerca das glórias do santo nome.
10) Não ter fé completa no cantar dos santos nomes e manter apegos materiais mesmo
após a compreensão de muitas instruções sobre este assunto.
Outra importância é o nome devocional dado aos iniciados do movimento pelo
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Maharaj, o guru espiritual da comunidade, que observa características pessoais dos
3 iniciados e nelas se baseia. Muitos dos devotos possuem a palavras “das” em
futuros
seus4 nomes, e seu significado é servo. No entanto, salienta-se que tais nomes são
unicamente devocionais, e que civilmente o nome original (presente em documentação
legal) é apresentado nos outros âmbitos necessários da vida.
Outra identificação, desta vez não verbal, é o colar de Tulasi de três voltas, feito
da madeira Tulasi, considerada sagrada, e é utilizada por todos os devotos vaisnavas,
No movimento Hare Krishna é utilizado por todos que passaram pelo primeiro ritual de
iniciação, onde o devoto recebe também do guru o seu japa-mala prometendo cumprir
com o mínimo de voltas no mesmo por dia, e a seguir os quatro princípios regulativos.
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6 OS VALORES MORAIS NA HARE KRISHNA.


No nosso primeiro dia na comunidade Hare Krishna, o contato com a visão dos
conceitos difundidos por Prabhupada, foram evidenciados em diversos momentos no
condomínio, onde a pratica da religião se demonstrava com maior crença e fervor.
Os devotos de Krishna seguem os princípios de conduta para estabelecer uma
relação plena com a sua comunidade e uma vida espiritual direcionada a consciência de
Krisna, e com isto, não se desvirtuar dos preceitos da religião que são:
1. Não comer peixe, carne e ovos ;
2. Não se intoxicar com drogas, bebidas, cigarros;
3. Não praticar jogos de azar ;
4. Não praticar sexo ilícito. No casamento, só com a finalidade de ter filhos.
Os ensinamentos de Prabhupada demonstravam como as impurezas da matéria e
os desejos terrenos, poderiam fazer com que um discípulo de Krishna se desvirtuasse
das praticas da religião. Durante o ritual da iniciação na vida devocional, os devotos
declaram que vão seguir os princípios de conduta para chegar a consciência de Krishna,
não podendo praticar atitudes contrarias a estes princípios.
A primeira regra moral de conduta Hare Krishna nos ficou exposta nas
principais refeições do dia, onde em nenhuma circunstância poderia se comer alimentos
derivados de animais devido aos devotos acreditarem que a morte do animal estaria
vinculada a violência, o que acabou por se tornar um choque cultural para nossa equipe
pela diversidade de alimentos utilizados para se fazer as refeições e também a muitas
comidas serem originarias da Índia, país onde o movimento Hare Krisna nasceu.
Durante os demais dias no condomínio, o segundo princípio de conduta de não
intoxicação, nos foi explicado por um devoto, afirmando que a intoxicação não seria
apenas com substâncias alucinógenas, mas também os seus variantes como o café que
podem alterar funções orgânicas. Desta forma, o segundo princípio estaria vinculado a
uma vida espiritual que não poderia sofrer interferências sejam elas de comportamento
ou alimentos, seguindo assim o caminho de uma vida espiritual baseada na austeridade.
Durante os dias no condomínio nossa equipe escutou em diversos momentos o
termo veracidade sendo, segundo os devotos, uma pratica atuante na Hare Krishna, e
também estaria correlacionada com o terceiro princípio de conduta de não praticar jogos
de azar, fazendo com que um devoto de Krishna não participe de ações que possam
colocar em duvida sua conduta devido à participação de práticas ilícitas sendo
influenciados pela ganância de bens materiais.
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Desta forma, a manutenção do condomínio se baseia na divisão de trabalho entre


todos os integrantes da comunidade onde as despesas do condomínio também são
partilhadas entre os devotos, fazendo assim com que as atividades básicas e valores
financeiros não se limitem apenas a uma pessoa, mas a toda a comunidade.
O último princípio da Hare Krishna é não praticar sexo ilícito, (entenda-se sexo
ilícito como fora do casamento e apenas para te filhos) foi uma supressa para a nossa
equipe devido à distanciação da religião hinduísta, à medida que o próprio livro Kama
Sutra de origem Hindu aborda a pratica sexual como uma energia corporal e de grande
importância.
Na religião Hare Krishna os devotos que escolhem não casar ou não ter filhos,
tornam-se monges e dedicam suas vidas a práticas e leitura dos livros sagrados dos
Vedas e aos ensinamentos de Bhaktivedanta.
A forma como os devotos seguem e baseiam-se nos princípios de conduta da
religião, demonstra como até os dias atuais as praticas religiosas ainda continua
fortalecidas na religião. As praticas religiosas dizem muito a respeito sobre a cultura de
um povo assim como suas crenças, sendo estes aspectos de grande importância em um
estudo etnográfico para compreender seus comportamentos e atitudes.
Um homem que se submete a várias obrigações costumeiras e que atua
segundo a tradição o fará impelido por certos motivos, acompanhados de
certos sentimentos, guiado por certas ideias. Estas ideias, sentimentos e
impulsos são moldados e condicionados pela cultura em que se encontra e,
como tal, são uma peculiaridade étnica dessa sociedade. Logo, devemos
esforçar-nos por estuda-los e registra-los. (MALINOWSKI, 1984, p.34)

7 COMIDA DOS “DEUSES”


O tema da alimentação sempre esteve presente em toda a trajetória
constitutiva do pensar socioantropológico. No entanto, ao contrário do
primeiro, que sempre foi visibilizado e valorizado, a alimentação, ainda que
presente, de fato pouca atenção mereceu; com frequência não ultrapassava o
plano descritivo. (MACIEL. GOMBERG. 2007)

Em nosso contato observamos que a alimentação vai além das necessidades


físicas e sim que elas também constituem uma alimentação espiritual. Claramente isso é
visto quando todo alimento preparado é primeiro oferecido a Krishna através de
mantras, a partir daí ao mesmo é dado o nome de Prasadam, que significa misericórdia.
Em nossas idas ao condomínio e ao instituto também nos alimentamos da
Prasadam durante as refeições que lá acompanhamos. Segundo o Bhagavad Gita os
alimentos são divididos em três tipos: Sattva, rajas e tamas. No entanto, para os
seguidores de Krishna apenas o alimento tipo Sattva pode ser utilizado, pois os demais
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atrapalham as meditações e devoções, por conseguinte não podem ser oferecidos a


divindade. Consistem a ele alimentos como frutas frescas, legumes, ervas aromáticos,
lácteos, grãos e legumes.
No primeiro dia em que lá almoçamos apreciamos uma comida saborosa que
muito coincidia com a que estamos acostumados em comer no nosso cotidiano, como
arroz, verduras, frituras, frutas e algumas especiarias que não provocaram tamanho
choque a nossa curiosidade em relação aquela cultura que para nós nos parecia de
origem estrangeira. No entanto, da segunda vez em que lá tomamos café e almoçamos,
experimentamos uma comida mais distante do que nosso paladar estava acostumado,
devido ao preparo de alguns alimentos, como a tapioca, de legumes com sabor mais
intenso e ervas mais picantes, a exemplo o cravo. Outro diferencial neste dia foi a
coincidência de que, o mesmo, era o dia do mês onde não se comia grãos. Então, vimos
o feijão ser substituído por amendoim.
Em uma dessas ocasiões tivemos a oportunidade de observar sua preparação,
onde quesitos como limpeza e preparo de alguns pratos são levados em consideração.
Salientamos que a cozinha também é um ambiente sagrado, nele deve entrar-se descalço
para que a ela não seja levado impurezas externas, até a forma de preparo deve ser
extremamente cautelosa da parte de quem está preparando, pois, antes de ser consumida
a mesma será oferecida e, também, não deve tornar-se impura para o corpo e para a
alma. Neste dia ficamos como mero observadores, e após o preparo, o devoto de
segunda iniciação que ali já orientava os cozinheiros a ofereceu a Krishna, antes que
pudesse ser consumida. Como tudo deve ser oferecido a Krishna, percebemos que tudo
resulta em uma Prasadam, pois reafirma o que a divindade prega no Bhagavda Gita em
relação a que tudo repousa e faz parte do mesmo. Outra observação é a atividade de
oferecer algo não se consiste apenas a devoção e o amor a esta divindade, mas também
o controle dos nossos desejos. Além disto, o alimento pode ser consumido por Krishna
ou semideuses, e que o mesmo pode diferenciá-lo, assim como qualquer outra devoção,
no quesito dever e amor. Pelo o dever de cumprir essa atividade, a divindade se coloca
numa posição que também possui o dever de aceitar determinado alimento, pois a
mesma também tem que cumprir as regras por ele criadas, no entanto no que é feito não
só por dever, mas também pelo amor, torna-se a atividade de transcendência superior.
A alimentação também influencia no cotidiano e na atividade da Yoga. No
Bhagavad Gita, Krishna ensina a Arjuna sobre os seus preceitos e de como pratica-la,
ele cita que o yogi não pode se alimentar pouco ou muito. No entanto, observamos que
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essa questão é bastante intima, tendo em vista que o alimento quando servido na
comunidade é deixado disponível para que o indivíduo consuma a vontade o que deseja
em um determinado horário de refeição, ou seja, o individuo não tem uma quantidade
controlada de alimento a ser consumido.

8 REFLEXÕES DA CULTURA E CRENÇAS EMBASADAS EM GEERTZ


Com o objetivo de melhor compreender e vivenciar a cultura e crenças estudadas
relacionaremos as informações etnográficas apresentadas aos conceitos de Geertz
(1989). A religião, para ele, é compreendida como visões herdadas, expressas em
formas simbólicas, nas quais os homens se comunicam e, desenvolvem os exercícios em
relação a vida. Para ele, os símbolos religiosos atuam de forma a combinar a práxis e a
metafísica de um povo, e desta maneira sintetizam o ethos e a visão de mundo deste
povo (GEERTZ, 1989, p. 103). Acredita ainda que a religião tem dentre algumas
funções, a de regular as ações do homem a uma ordem cósmica.
No trabalho em questão, podemos perceber que o grupo estudado tem dentre as
suas principais atividades as práticas religiosas, sendo possível perceber de que forma
são executadas algumas ideias de Geertz. Como por exemplo, o cuidado as deidades que
estão enredadas a uma série de concepções.
Os sistemas simbólicos agem de duas maneiras integradas, pois ao mesmo
tempo em que significam e transformam a realidade, são transformados eles mesmos
por ela. Percebemos que um conjunto de símbolos produz no devoto o desejo e
disposição do serviço, ao modo que este serviço produz os símbolos.
É no ritual que surge a crença de que compreensões religiosas são verdadeiras.
Estes rituais religiosos, ao unir o modo se ser -ethos- com a visão de mundo, são
responsáveis por (re)formar a consciência espiritual de um grupo, modelando-a de
acordo com a realidade presente. Ou seja, é através do comportamento determinado pelo
rito que a visão de mundo deles se une no modo de ser de cada indivíduo assim como de
todo o grupo. Geertz (1989) ainda afirma que o sagrado trás consigo um sentido de
obrigação. E esta obrigação notamos em comportamentos do dia a dia dos devotos
como reverência as deidades e cantar o japa, dentre outros. Essa obrigação está
conectado a interiorização dos valores. Devemos relembrar como destaca Geertz, que o
simbólico não se opõe ao real.
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9 UM MODELO DE VIDA
Uma das perguntas que nos deparamos ao chegar a campo foi “O que mobiliza
essas pessoas a renunciar costumes e aderirem a uma cultura diferente?”. Percebemos
que talvez não conseguíssemos obter essa resposta, pelo menos nesses termos.
Procuramos, então, responder “Como a adesão a um novo modelo de conduta baseado
na religião afeta a vida do indivíduo?”. Para isso, analisamos considerando conceitos de
autores como Hanna Arendt e René Girard. As teorias foram relacionadas com os dados
coletados através de conversas com devotos do movimento no condomínio
Naimisharanya.
A metáfora de Parabhupàda sobre o “encontro de culturas” nos fez entender que
ao ter contato com outra cultura esta seria afetada e daria origem a uma nova forma de
vivência. Tentamos entender como é seguido o modelo de devoto Hare Krishna
atualmente.
Hanna Arendt afirma que “tudo que adentra o mundo humano torna-se parte da
condição humana”. A cultura elaborou meios para manter o controle sobre o indivíduo
inserido nos grupos sociais. Os homens foram impondo condições à sua sobrevivência.
Dentre estas agências encontra-se a religião. Ao classificar os comportamentos em
"bons" ou "maus" a religião mantém o controle verbal sobre o indivíduo.
A religião faz parte da ação, uma atividade política que busca preservar o
mundo para os que ainda estão por vir. Como atividade política ela também busca
manter o controle sobre o indivíduo. O controle na doutrina Hare Krishna é baseado na
ideia de "livre-arbitrio", ou seja, o devoto pode escolher se comportar de forma virtuosa
ou pecaminosa, o seu parâmetro de avaliação será a "consciência de Krishna". Para
obter tal julgamento a doutrina introjeta modelos.
Nas escrituras sagradas dos Vedas existem vários modelos de ideal de homem
realizado e iluminado, na prática, assim como nos explicou o devoto Harí, a sua
linhagem se mantém fiel à filosofia Vaishnava e na posição de "buscadores de conhecer
à Deus" o objetivo maior não é atingir o nível de perfeição moral ou religiosa por si só,
mas cultivar uma relação de amor puro com o próprio Deus.
O processo de construção de uma consciência baseada nos ensinamentos de
Krishna promove em seus adeptos um senso de responsabilidade consigo e com o meio.
O percurso em busca da evolução espiritual produz uma adesão de modelos que se
concretizam em posturas, atitudes e práticas capazes de orientar a vida cotidiana -
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questões de ordem ética e existencial- e promover mudanças nas formas de relações


com o mundo.
É pela devoção diária que os devotos buscam aumentar a alteridade através do
amor. A ideia que todas as ações devem ser ofertadas à Krishna, conduz os devotos a
uma postura ética, levando-os a refletir sobre o impacto de suas ações. Todas as
atividades feitas com o pensamento em Krishna são consideradas devocionais, sendo
assim a ritualização do comportamento se faz necessária para não desencadear energias
karmicas negativas.
O objetivo do devoto de Krishna é libertar a alma dos condicionamentos sociais
e kármicos. A vida cotidiana, os pensamentos e a alimentação devem ter sentidos de
bondade afim de purificar a energia do devoto para que ele possa entrar em sintonia
com Deus. “Cabe assim, ao Guru ensinar como transformar um corpo tido como animal
quando descontrolado em um corpo que permita o florescer a centelha divina e extra a
vida diária (as ações), a cadeia de pensamentos (mente) e a alimentação devem estar
nessa plataforma de bondade a fim de produzir uma energia pura no próprio corpo do
devoto que possibilite a conexão com Deus.”
O devoto Harí nos explicou que conforme a necessidade dos devotos manterem
uma vida fora do templo, e o Guru precisar viajar para iniciar outros à missão
vocacional, é comum os mestres escolherem um devoto com maior tempo de
experiência como orientador. A interação é benéfica à manutenção da introjeção dos
modelos, é uma forma muito reforçadora na modelagem do comportamento do
indivíduo pois possibilita a identificação e troca de experiências, chamada Sadhu. Ela é
descrita no livro dos Vedas como a associação dos indivíduos com o interesse comum
de desenvolver o amor por Deus. Por último, e não menos importante forma de
apreensão dos modelos do movimento, é através do estudo da filosofia. A fala do
devoto Harí sublinha a importância da Sastra: “A religião sem a razão é fanatismo”.
O controle do comportamento e das emoções na doutrina Hare Krishna é muito
valorizado. Ao adentrarmos no condomínio Naimisharanya nos deparamos com um
ambiente convidativo ao autocontrole. O controle do tom de voz, um jeito de falar
calmo e sereno foi uma característica encontrada na maioria dos devotos de Krishna que
tivemos contato. A maioria são pessoas discretas. As roupas usadas também procuram
preservar a intimidade dos devotos; assim como os pensamentos, as roupas devem ser
castas. O controle do corpo é uma das formas de mediar à relação entre Deus e o
homem.
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9.1 Uma mudança de vida


Tivemos a oportunidade de ouvir uma visitante da cidade de João Pessoa sobre
as suas vivências na doutrina. Graça, uma senhora de aproximadamente 60 anos,
psicóloga, relatou estar conhecendo melhor o movimento Hare Krishna. Ela conta que
por toda a vida seguiu a religião ensinada por seus pais e parentes, mas carregava um
sentimento de inadequação e dúvidas existenciais. Em uma viagem à Índia conheceu um
templo onde se sentiu em paz consigo mesma. Ao retornar ao Brasil procurou um
templo Hare Krishna onde estava participando de atividades de estudo. Graça finalizou
sua fala apontando mudanças na forma com que tem lidado com os probemas da vida
cotidiana, segundo ela, tem ficado menos ansiosa e mais tolerante após conhecer o estilo
de vida Hare Krishna.
Sobre o alcance da influência dos efeitos do estilo de vida Hare Krishna
podemos perceber que está relacionado com o envolvimento do discípulo em atividades
reguladas pela doutrina. Para o devoto Harí, o nível de consciência sobre a ação é o que
determina o resultado. Ele afirma caso de pessoas que conseguiram superar transtornos
como ansiedades e toxicomania através da “ligação” com Deus. Ele é enfático quando
diz que os efeitos na mudança do comportamento são secundários e não se deve
abandonar a terapia, pois a finalidade principal da consciência de Krishna é a
“religação” do homem com Deus.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A cultura é modelada pelo homem e dentro dos seus agrupamentos sociais


criam-se modelos que são capazes de gerar uma nova identidade social através de
mudanças nos comportamentos. Ao encontro de duas culturas diferentes resulta em uma
nova cultura prevalecendo a essência daquela que melhor descreve o seu objetivo, ou
seja, propõe maior realização.
A forma mais eficaz de se introjetar um novo modelo é através do exemplo.
Parabhupada é um exemplo de determinação para os devotos de Krsna, e até mesmo
leigos, de quanto um modelo pode moldar características da personalidade e condutas.
Não tivemos prestensão em nosso trabalho de questionar sobre a existência de Deus,
mas de analisar a sua influência social através de uma representação de homem.
A nossa experiência no condomínio nos evidenciou uma religião extremamente
devocional e disciplinada em relação as suas praticas religiosas, demonstrando como os
devotos possuem uma forte relação com suas crenças e conceitos. Desta forma, o
serviço devocional a Krishna na comunidade nos evidenciou ser o grande elo de ligação
entre os devotos da religião, onde as práticas religiosas assim como os costumes, são
reflexos de uma filosofia de vida baseada na fé e na adoração.
Diante da cultura em estudo e de nosso atual cenário mundial (este marcado pela
violência) cabe um questionamento feito por Hannan Arendt, “o que estamos fazendo?”,
O que estamos fazendo conosco e com o mundo? Assim como Conrad em “Coração das
trevas” problematiza a condição humana, tentamos também refletir sobre esta neste
trabalho. Devemos recordar que a condição humana é uma marca que deixamos quando
nos relacionamos com as pessoas e o mundo. E, que o homem têm tornado-se arrogante
e soberbo; um ser miserável, o que gera um mundo de caos e dor. Como afirma Arendt
(1958) a nossa era tornou-se uma era dos consumidores, onde ferramentas e o próprio
homem tornaram-se descartáveis. Para os devotos Hare Krishna, estes sofrimentos da
vida humana são ocasionados pela ganância do homem, por um objetivo de vida
profano. “Os gigantescos empreendimentos são produtos de uma civilazação sem Deus,
e causam a destruição dos nobres objetivos da vida humana” (Prabhupada). Para eles,
uma vida simples com pensamento elevado é fórmula espiritual que pode transformar o
mundo. “Viva bem. Coma bem. Mas leve uma vida simples, para que você possa
poupar tempo para avançar em consciência de Deus” (Prabhupada).
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REFERÊNCIAS
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Universitária, 2000;

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