Cobra Norato
Cobra Norato
Cobra Norato
) Foi um poeta modernista e diplomata brasileiro. Participou da Semana de Arte Moderna ao lado dos amigos Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade. CARACTERSTICAS DO AUTOR Sua experincia no Movimento Antropofgico foi fundamental para que escrevesse Cobra Norato. O movimento antropofgico propunha uma devorao ritual da cultura estrangeira e primitiva. Em Cobra Norato percebemos a incorporao de elementos do mundo civilizado ao mundo da selva e at mesmo a presena do Cubismo e do Futurismo (o trem e rvores passando telegrama). O autor busca um Brasil pr-cabraliano, primitivo, mgico, selvtico e aqutico; um mundo em gestao, puro. Aproximao com Macunama: ambos so mitos, saga telrica; valorizam o folclore, o heri mtico, aspectos ilgicos e simblicos. Macunama simboliza mais o povo enquanto Cobra Norato enfatiza a terra, as gua e a floresta. CONFLUNCIA DE GNEROS LITERRIOS LRICO ELEMENTOS DA POESIA: Texto em verso; Figuras de Linguagem, sobretudo a personificao e outras de efeito sonoro; Versos livres; Rimas e sonoridade. PICO ELEMENTOS DA PROSA (NARRAO): Presena dos elementos bsicos da narrativa (personagem; enredo; tempo; espao;). Protagonistas e Antagonistas; Trajetria pica. DRAMTICO ELEMENTOS DA LINGUAGEM TEATRAL: Estrutura de dilogo; Linguagem fragmentada/ cinematogrfica; Utilizao do Discurso Direto.
COBRA NORATO (Nhengatu da margem esquerda do Amazonas) Mito original: A ndia tapuia sentiu a gravidez quando se banhava nas guas do rio Claro. Teve os filhos nas margens do Cachoeiri, entre os rios Amazonas e Trombetas. Vieram ao mundo na forma de duas serpentes escuras. A me lhes deu os nomes cristos de Honorato e Maria. Eram gmeos. No podiam viver na terra. Criaramse nas guas. O povo os chamava Cobra Norato e Maria Caninana. Cobra Norato era forte e bom. No fazia mal a ningum. Pelo contrrio, salvou muita gente de morrer afogada. Lutou contra peixes grandes e ferozes. Passava o dia nadando, esperando a chegada da noite. Quando a lua surgia no cu, ele saa da gua, arrastando o corpo pela areia. Ento, Cobra Norato se desencantava. Deixava o couro da cobra na margem do rio, e se transformava num belo rapaz. Adorava festas. Ia danar, ver as moas, conversar com os outros rapazes. Pela madrugada, enfiava-se novamente no couro da cobra que deixara na margem e mergulhava nas guas do rio. Sua irm, Maria Caninana, era m e violenta. Jamais visitou a me. Afundava embarcaes, feria peixes pequenos. Por isso, Cobra Norato a matou, depois de uma luta terrvel. As duas serpentes se engalfinharam no meio do rio Madeira, transformando suas guas calmas num imenso rodamoinho. Para virar homem de uma vez por todas, Cobra Norato precisava de algum que ajudasse a desencant-lo. Antes de mais nada, era necessrio encontr-lo dormindo. Depois, deveriam se jogar trs pingos de leite de mulher na boca da cobra e dar uma cutilada de ferro virgem na sua cabea. Ela, ento, fecharia a boca e da ferida na cabea sairiam trs gotas de sangue. Assim, Honorato ficaria homem para o resto da vida. Mas a cobra assombrava. Todos tinham medo. Demorou para aparecer algum que quisesse ajudar. Certo dia, a cobra nadou pelo Tocantins. Deixou o corpo na beira do rio e foi danar. Fez amizade com um soldado e pediu que o desencantasse. O soldado topou e fez tudo o que era preciso. Honorato suspirou descansado. Queimou o couro da cobra. As cinzas voaram. Nas terras e rios do Par no h quem ignore a vida da Cobra Norato. Canoeiros apontam para l e para c, mostrando os locais por onde passava a Cobra Norato.
COMENTRIO O livro composto por 33 partes ou cantos. Os versos so, em sua maioria, livres e brancos. No h pontos finais. Foco narrativo: primeira pessoa. O eu lrico chama a Cobra Norato e, depois de estrangul-la, enfia-se na sua pele e sai procura da filha da Rainha Luzia com quem deseja se casar. A narrativa ocorre durante a noite. H um evidente carter flico na narrativa. Como em qualquer texto pico, o heri deve ultrapassar obstculos (sete portas ver sete mulheres brancas guardadas por um jacar beber trs gotas de sangue). H uma antagonista (a Cobra Grande) e um parceiro (Tatu-de-bunda-seca). Cobra Norato consegue enganar a Cobra Grande e encontra a filha da rainha Luzia. No casamento, estaro convidados pessoais do prprio autor: Augusto Meyer, o casal Portinari (Xicos), Tarsila Amaral e o personagem Joo Ternura de Anbal Machado. A Cobra Grande (Alegoria do Mal) termina com a cabea sob os ps de Nossa Senhora, em Belm. O mito da serpente smbolo do poder criador, de fecundao. O erotismo fica evidente quando percebemos que todos os movimentos do heri tendem para o casamento. H muitas imagens erticas: ilhas decotadas, ventres despovoados, carobas (rvore amarga) sujas levantam os vestidos, ventres da floresta gritam: Enche-me!. Idia de sonolncia: o heri afirma que est mussangul (sonolento). Essa sonolncia intensificada pela escurido do rio e da selva. Por isso, ele busca Luzia (lux latim luz). A linguagem do poema marcada por oraes coordenadas, onomatopias, uso constante do diminutivo, sinestesias, personificaes, coloquialismos, termos indgenas e africanos. Smbolo: o casamento com a filha da rainha Luzia seria uma maneira simblica de insinuar o cruzamento da raa e da cultura indgena americana com a cultura europia.