Apostila Engrenagens
Apostila Engrenagens
Apostila Engrenagens
Apostila da disciplina mecanismos I (ENG03316) ministrada pelo Prof. Patric Daniel Neis no curso de Engenharia Mecnica da UFRGS
Engrenagens so elementos de mquinas que transmitem o movimento por meio de sucessivos engates de dentes, onde os dentes atuam como pequenas alavancas. Um par de engrenagens , essencialmente, um dispositivo de troca de torque por velocidade e vice-versa. Historicamente, rodas de atrito so a forma mais comum e simples de transferir movimento entre eixos. Mas pode haver escorregamento medida que o torque comea a se tornar mais elevado. Atualmente, engrenagens so padronizadas pela AGMA (American Gears Manufacturer Association). A Figura 1 exemplifica um par de engrenamento (dentes retos ou spur gears) (a) externo e (b) um par de engrenagens interna.
Figura 1- Pares de engrenagens: (a) externo e (b) interno. Observaes importantes: Duas engrenagens acopladas so chamadas de par de engrenagens. A maior delas chama-se coroa e a menor pinho. Quando se tem mais de duas engrenagens acopladas, o sistema chamado de trem de engrenagens. Polias Versus engrenagens: a diferena que em engrenagens o prprio elemento faz o engrenamento (um par de elementos). Em polias, existe um terceiro elemento, que a correia. Elementos ligados por corrente (no caso da bicicleta, por exemplo) so considerados rodas dentadas. Ateno especial deve ser dada a nomenclatura dos diferentes componentes mecnicos utilizados na engenharia, conforme destaca a Figura 2.
Lei fundamental do engrenamento: a razo entre as velocidades angulares das engrenagens deve permanecer constante durante o engrenamento. Para isso, o ponto primitivo deve permanecer estacionrio , o que significa que a linha de ao para cada novo ponto de contato instantneo precisa sempre passar pelo ponto primitivo estacionrio. As primeiras engrenagens eram feitas de madeira e no possuam um engrenamento suave. Portanto, no obedeciam a lei fundamental do engrenamento. Atualmente, engrenagens possuem geometria especfica de dente, sendo os 2 perfis mais empregados o cicloidal (perfil de dente evolvente) e o perfil cicloidal. Ambos garantem a mesma relao de velocidade durante o engrenamento das engrenagens. Um par de engrenagens nestas circunstncias dito, portanto, par conjugado (mesma relao de velocidade angular entre os eixos). As curvas involutas de duas engrenagens so ditos perfis conjugados. Esse o perfil mais usado atualmente. O perfil de dentes cicloidal utilizado principalemente em alguns relgios de pulso e de parede.A curva normal em qualquer ponto de uma evolvente tangente circunferncia base (Fig. 3). O perfil evolvente vantajoso pois mantm a relao de velocidade mesmo se a distncia entre centros alterada.O custo de fabricao de dentes com esse perfil relativamente baixo. O perfil cicloidal no possui essa propriedade. Em outras palavras, nas engrenagens cujo perfil de dente evolvente, a distncia entre centros pode ser alterada sem violar a lei fundamental do engrenamento, ou seja, a velocidade de sada permanecer constante para uma velocidade de entrada tambm constante.
Figura 3- Perfil envolvente: curva involuta. O esquema da Figura 4 ilustra a mudana de distncia entre centros em engrenagens com perfil evolvente.
Figura 4 Ilustrao da mudana da distncia entre centros de duas engrenagens com perfil de dente envolvente [Adaptado: Norton, 2005].
O esquema da Figura 4 pode ser explicado por meio da Equao 1, que descreve a relao entre o dimetro primitivo (D) e o dimetro de base (Db) de uma engrenagem. Como D aumenta com o aumento da distncia entre centros e dado que Db um parmetro imutvel de uma engrenagem, o ngulo de presso aumenta.
Db D cos( )
Relaes matemticas e conceitos importantes de engrenagens
(1)
Em um par de engrenagens a velocidade linear da engrenagem 2 igual a da engrenagem 1, conforme definido pelas equaes 2 e 3: (2) (3)
A razo da velocidade angular ou relao de transmisso a razo entre as velocidades. Tambm pode ser definido como a razo de qualquer medida geomtrica (raio r, dimetro d, nmero de dentes Z), desde que o par de engrenagens possua o mesmo mdulo (relao entre o dimetro primitivo e o nmero de dentes). A Equao 4 define a razo da velocidade angular: (4)
A razo de torque ou ganho mecnico o inverso da relao de transmisso: (5) A razo de engrenamento entedida como a razo de velocidade ou de torques, qualquer deles que seja maior do que 1. Pode ser entendida como a relao de velocidades da coroa sobre o pinho. Mdulo de uma engrenagem a relao entre o dimetro primitivo D e o nmero de dentes Z, conforme a equao (5). O mdulo medido em mm. (6) Passo diametral o oposto ao mdulo, ou seja, 1/m. uma medida padro americano. Passo circular (Figura 5) a distncia de um dente at o dente adjecente, medido sobre o dimetro ou crculo primitivo. (7)
Razo de contato: nmero de pares de dentes simultaneamente em contato. Em caso igual a 1 o contato ocorre na ponta do dente, onde tem-se o maior momento fletor. Em razes de engrenamento maiores do que 1, ainda assim haver momentos em que apenas 2 dentes estaro em contato. Porm, isso acontecer em uma regio abaixo da ponta do dente. Para um engrenamento suave, o nmero mnimo de dentes em contato de 1,2. A maior parte dos engrenamentos possui razo de contato entre 1,4 e 2,0. Pares de engrenagens podem at ter sido projetados para alta razo de contato. Mas se a qualidade de fabricao for baixa, a razo de contato verdadeira pode ser baixa devido s folgas. Uma razo de contato de 1,35 significa que sempre haver pelo menos 1 dente (ou par de dentes) em contato e que h 2 pares de dentes em contato por 35% do tempo. Ponto primitivo: o ponto de tangncia entre duas circunferncias primitivas e est sobre a linha de centro entre os eixos. Linha de ao: a linha imaginria que passa pela tangente das duas circunferencias de base e pelo ponto primitivo. O contato desloca-se por essa linha. A distncia entre os pontos de entrada e sada do contato ao longo da linha de ao da origem ao comprimento de ao. normal ao perfil da curva involuta dos dentes em contato. ngulo de presso: formado entre a linha de ao e a direo da velocidade no ponto primitivo. Engrenagens empregam ngulos de presso padronizados (14,5; 20 e 25). Uma engrenagem possui 4 diferentes circunferncias (Figura 6): i) Circunferncia de cabea ou circunferncia de adendo: circunferncia que passa pela cabea da engrenagem. uma medida fsica, que pode ser medida com um paqumetro. Em outras palavras, a circunferncia que coincide com o topo do dente. ii) Circunferncia de p ou circunferncia dedendo: circunferncia que passa pela pelo p da engrenagem. Em outras palavras a circunferncia que coincide com o fundo do dente. iii) Circunferncia primitiva ou de referncia: crculo imaginrio que passa pelo ponto primitivo. um crculo terico sobre qual os clculos so feitos. De acordo com a teoria, esse
crculo representa o dimetro sobre o qual o par de engrenagens gira sem escorregamento (substitui por roda de atrito). Para uma velocidade constante, o ponto primitivo P deve ser imutvel. Trata-se de uma circunferncia virtual e que no pode ser medida por instrumento. iv) Circunferncia de base: Da mesma forma que a circunferncia de referncia, trata-se de uma circunferncia virtual e que no pode ser medida por instrumento. A circunferncia de base est relacionada ao dimetro de base pelo ngulo de presso. necessariamente menor que a circunferencia primitiva.
Figura 6 Ilustrao de duas engrenagens, mostrando suas circunferncias. Folga: a distncia excedente da circunferncia de dedendo de uma engrenagem em relao a circunferncia de adendo do seu par de engrenagem. Existe ainda a folga de engrenamento, essa na direo circular. Ocorre devido as tolerncias entre a largura dos dente e vo dos dentes sob engranamento. Passa a ser um problema quando ocorre a reverso do torque durante um engrenamento, produzindo barulho e desgaste prematuro das engrenagens. Altura de adendo (ou altura de cabea ou salincia) : a altura correspondente a distncia radial entre a circunferncia primitiva e a circunferncia de adendo ou o topo de cada dente. Adendo = adicionar a Altura de dedendo (ou altura de p ou altura de raiz ou reentrncia) : a distncia radial entre a circunferncia primitiva e a circunferncia de dedendo, raiz ou p ou o fundo do dente. Dedendo = subtrair de A Figura 7 ilustra algumas das nomenclaturas mencionadas acima.
Figura 7 Nomenclaturas de engrenagens 2 (Norton, 2005). Passo frontal (p): comprimento de um dente e um espao medido na circunferncia primitiva. A literatura tambm chama de passo circular de referncia e calculado como: (8) Espessura do dente: Shigley chama de largura do dente. Portanto espessura e largura so confusos. Espao ou largura do vo: ligeiramente diferente da espessura do dente para permitir o encaixe. Essa pequena folga problema com reverso (rudo, desgaste, vibrao). Sem reverso, no h problema. A Figura 8 ilustra algumas das nomenclaturas mencionadas acima, incluindo o espao.
Classificao das Engrenagens As engrenagens podem ser classificadas de acordo com a posio relativa dos eixos de revoluo. Esses eixos podem estar: Paralelos; Intersecionados ou concorrentes; Nem paralelo nem intersecionados.
Eixos paralelos I) Engrenagens cilndricas de dentes retos: sempre classificada como eixos paralelos. Pode ser de engrenamento interno (mesmo sentido de rotao) ou externo (mudana no sentido de rotao)Esse tipo de engrenagens tem como vantagens baixo custo,montagem e dimensionamento mais fcil, baixo escorregamento e elevado rendimento (em torno de 95 a 99%). Alm disso, no transmitem cargas axiais, o que leva a uma baixa solicitao dos mancais. Como desvantagem esse tipo de engrenagem possui o contato em linha, o qual ocorre bruscamente, gerando rudo e vibrao. A Figura 9 apresenta algumas engrenagens cilndricas de dentes retos.
Figura 9 Exemplos de engrenagens cilndricas de dentes retos, as quais pertencem sempre a classificao de eixos paralelos. II) Engrenagens cilndricas heicoidais: podem ser configuradas em eixos paralelos, embora tambm podem ser usadas como eixos nem paralelos e nem intersecionados (engrenamentos cruzados). Essas engrenagens possuem um ngulo de hlice do dente em relao ao eixo. Caso o comprimento do eixo fosse grande suficiente, o dente daria uma volta completa (360).
Apresentam as seguintes vantagens em relao s engrenagens de dentes retos: maior capacidade de transmitir torque devido a maior rea de contato e tambm porque o dente mais grosso na direo da carga. Ocorre engrenamento deslizante (suave), sem choques entre os dentes, sendo, portanto, um engrenamento mais silencioso e suave do que engrenagens de dentes retos. O contato vai aumentando aos poucos durante o engrenamento, conforme ilustrao da Figura 10.
Figura 10 Caminho do contato sobre o dente de uma engrenagem helicoidal [Fonte: AGMA, 1990]. Como desvantagens, as engrenagens helicoidais tem um dimensionamento, fabricao e montagem mais difcil, alm de rendimento um pouco menor devido ao maior escorregamento. Engrenagens cilndricas helicoidais exigem mancais mais robustos, uma vez que transmitem cargas axiais, que tendem a separar os eixos (Figura 11). Esse problema pode ser contornado usando o engrenamento por um par de engrenagens cilndricas helicoidais duplas ou em V. Esse tipo de engrenagem nada mais do que uma engrenagem de mo esquerda e mo direita acopladas em um mesmo cilindro (disco).
Figura 11 Engrenagens helicoidais: (a) esforos em um par de engrenagens simples e (b) par de engrenagens de duplo V.
Uma aplicao tpica de engrenagens cilndricas helicoidais em caixa de cmbio de veculos (Figura 12). A exceo a marcha r do carro, que usa engrenagens de dentes retos (observem o rudo caracterstico).
Figura 12 Transmisso (caixa de cmbio) de um veculo. iii) Pinho e cremalheira de dentes retos: outra possibilidade de engrenamento por eixos paralelos. O par pinho e cremalheira (Figura 13) converte o movimento rotacional em retilneo e vice-versa. O raio de base da cremalheira infinito. Os dentes de uma cremalheira tambm possuem uma curva involuta, que uma linha reta.
Figura 13 Ilustrao do par cremalheira e pinho. Aplicaes tpicas de cremalheira e pinho so em sistema da barra de direo de veculos de direo no hidrulica (Figura 14-a) e posicionadores manuais de mquinas ferramenta (Figura 14-b). Pinho e cremalheira tambm pode ser encontrado em mecanismos de abertura eltrica de portes residenciais.
(a)
(b)
Eixos interseccionados ou concorrentes i) Engrenagens cnicas: so empregadas quando se deseja modificar o ngulo do eixo de sada em relao ao eixo de entrada. Para eixos interseccionados, so empregadas as engrenagens cnica espiral e a engrenagem cnica zerol (ambas so anlogos a engrenagens helicoidais) ou ainda a engrenagem cnica de dentes retos (Figura 15). As vantagens das primeiras em relao as segundas so as mesmas em relao as engrenagens cilndricas helicoidais com as cilndricas de dentes retos. So elas: engrenamento suave e maior capacidade de transmitir torque.
Figura 15 Ilustrao de engrenagens cnicas de dentes retos. De acordo com a distncia offset (distncia entre o eixo da coroa com relao linha de centro do pinho), as engrenagens podem ser: a) espiral, zerol ou cnica de dentes retos: quando o offset igual a zero. Reparem que nesse caso temos eixos interseccionados. b) hipide: quando h um offset pequeno. Neste caso, o par de engrenagens classificado segundo seus eixos como nem paralelos e nem interseccionados. c) espiride: quando o offset passa a ser de mdio a grande. O par de engrenagens continua classificado, segundo seus eixos, como nem paralelos e nem interseccionados. Sem-fim: possui o maior offset entre todas os pares de engrenagens. Tambm classificado, segundo a disposio de seu eixo, como nem paralelo e nem interseccionado. A distncia de fronteira que separa o offset da engrenagem hipide da engrenagem espiride no bem definida. A Figura 16 ilustra as diferentes distncias offset que podem ocorrer entre pinho e coroa.
As engrenagens espirais e zerol possuem a maior capacidade de velocidade entre as engrenagens cnicas. A Figura 17 ilustra alguns exemplos de engrenagens cnicas, as quais possuem um offset de zero.
Figura 17 Exemplos de par coroa e pinho cujos eixos so interseccionados: da esquerda para direita cnica de dentes retos, cnica espiral e cnica zerol.
Eixos nem paralelos e nem interseccionados Engrenagens hipides, espirides, sem fim e engrenagens cilndricas helicoidais reversas so exemplos tpicos de engrenagens cujos eixos esto dispostos de maneira nem paralela e nem interseccionados (Figura 18).
Figura 18 Exemplos pares de engrenagens cujos eixos so nem paralelos e nem interseccionados: da esquerda para direita engrenagens hipide, espiride, cilndricas helicoidais cruzadas e sem fim [Adaptado: AGMA, 1990). As engrenagens hipides so muito empregadas para conexo do eixo motriz do motor dos veculos (geralmente um cardan duplo) ao diferencial. Com isso, pode-se baixar a altura do cardan, contribuindo para a diminuio ou eliminando o tnel dos veculos. A Figura 19 mostra uma fotografia tirada de um diferencial veicular, onde possvel visualizar a engrenagem hipide e a coroa.
Nas engrenagens cilndricas helicoidais cruzadas ocorre deslizamento puro e contato pontual. Possuem baixa capacidade de torque comparadas as engrenagens helicoidais montadas sobre eixos paralelos. Com relao aos sem fins, existe uma ao de deslizamento muito pronunciada entre os dentes do parafuso sem fim e da coroa, ao que tende a remover pelcula produzida por lubrificante que no seja suficientemente resistente, do que resulta a tendncia de tais engrenagens funcionarem a temperaturas elevadas e de sofrerem considervel desgaste. As velocidades dominantes so de deslizamento entre os dentes. , por isso, dentre os sistemas de engrenagens, o menos eficiente. Consegue-se grandes redues, como de 360:1. Pode ou no possuir autotravamento da coroa, condio importante em elevadores de carro. Parafusos sem fim podem possuir 1 rosca nica ou entrada de mltiplas roscas ou mltiplas entradas. Quanto coroa usada conjuntamente com o parafuso sem fim, essa pode ser do tipo no envelopada e envelopada (Figura 20). O ltimo tipo possui maior capacidade de torque.
Figura 20 Diferentes tipos de coroas empregadas com parafusos sem fim [Fonte: AGMA, 1990]. Engrenagens sem-fim possuem princpios igualmente aplicveis a parafusos de potncia. Um parafuso sem fim ser dito autotravante quando o torque aplicado coroa no capaz de rodar o sem fim. Nessa aplicao um par coroa e sem-fim pode ser usado como elevador de carro. Isso ocorre quando o ngulo de avano do sem-fim for suficientemente pequeno (<6). Mos em engrenagens Mo em engrenagens refere-se ao sentido do perfil do dente. Mo esquerda: olhando no sentido axial, giro do perfil dente no sentido ANTI-HORRIO.Mo direita: olhando no sentido axial, giro do perfil do dente no sentido horrio. Engrenagens cilndricas e cnicas de dentes retos: no possuem mo. Engrenagem helicoidal externa em eixos paralelos: possuem mos opostas (Figura 21).
Figura 21 Engrenamento entre engrenagens cilndricas helicoidais com eixos paralelos: mos opostas.
O engrenamento entre engrenagens cilndricas helicoidais externas em eixos cruzados possui a mesma mo (Figura 22).
Figura 22 Engrenamento entre engrenagens cilndricas helicoidais externas com eixos cruzados: mesma mo [Adaptado: AGMA, 1990]. O engrenamento entre engrenagens cilndricas helicoidais internas possui a mesma mo (Figura 23).
Figura 23 Engrenamento entre engrenagens cilndricas helicoidais internas: mesma mo. Engrenagem espiral, zerol, hipide, espiride: engrenam SEMPRE em mos opostas entre o pinho e a coroa. Trens de engrenagens Os trens de enngrenagens pode ser de 2 tipos: simples ou compostos (Figura 24). Nos trens simples h apenas uma engrenagem por eixo. Trens compostos possuem 2 engrenagens conectadas em um mesmo eixo.
)(
)(
(9)
Um sinal negativo signifca que o eixo da engrenagem de sada vai girar em sentido contrrio ao da entrada. Um sinal positivo significa que ambos os eixos de entrada e de sada giram no mesmo sentido. No caso do trem composto da Figura 24-b, tem-se a seguinte relao de transmisso:
)( )(
(10)
Note que, primeiramente, a relao de transmisso colocada em funo da velocidade angular e depois colocada em funo de parmetros geomtricos, que podem ser Z, D ou R. Onde se tem as engrenagens ligadas sob o mesmo eixo, a relao de transmisso vale 1. Trem de engrenagens epicclico ou planetrio Consiste de uma ou mais planetas orbitando em torno de uma engrenagem solar. Pode ainda existir uma barra, haste ou brao para manter a engrenagem planeta em rbita. comum tambem o emprego de uma engrenagem anel como o quarto elemento. Existem catalogadas 12 diferentes configuraes de engrenagens planetrias.
Figura 25 Trem de engrenagens epicicloidal. A equao que descreve o movimento de uma engrenagem epicicloidal mostrado a seguir:
Onde D e so dimetros e velocidade angular e os subndices e e s correspondem a entrada ou sada, respectivamente. O sinal usado da seguinte forma: negativo para engrenamentos externos e positivo para internos.A relao de dimetros tambm pode ser substituda pela relao de raios ou nmero de dentes (engrenagens de mesmo mdulo). Exemplo 1: No conjunto planetrio abaixo, so dados: Z2=36 dentes Z4=18 dentes 2=0 4=30rpm. Qual a velocidade da barra?
=10rpm Exemplo 2: Considere o sistema palnetrio abaixo, no qual a engrenagem h travada e a entrada do movimento ocorre pelo brao. As dimenses do anel h, planeta j, sol k e brao A valem Rh=200mm, Rj=50mm, Rk=100mm e RA=150mm, respectivamente. Se a entrada angular de velocidade vale A=10rad/s, determine as velocidades angulares do planeta j e do sol k.
Figura 27 Esquema engrenagem planetria do exemplo 2. Primeiramente, calculamos k, fazendo a relao da primeira a ltima engrenagem (do sol ao anel): (o sinal negativo pois (-).(+) = (-), onde (-) sol com planeta e (+) planeta com anel. -0,5 (k-10)=-10 =-0,5k + 5=-10 k=30rad/s (sinal positivo, ento a engrenagem solar gira no mesmo sentido do brao) Agora para calcular j, faz-se a relao da primeira a ltima engrenagem considerada (do sol ao planeta):
(o sinal negativo, pois engrenamento externo do sol com planeta. -2 (20)= j - 10 =-40 = j - 10 k=-30rad/s (sinal negativo, ento a engrenagem planeta gira em sentido contrrio ao brao, que a entrada) Rendimento de engrenagens: relao entre a potncia de sada e a potncia de entrada. A seguir alguns dados de rendimento de engrenagens. Cilndricas de dentes retos e helicoidais: = 98% Cnica zerol: =98% Cnica hipide: =92 a 95% Cnica Espiride: =86 a 94% Par coroa e sem-fim: =80%
Falha de Engrenagens Engrenagens podem apresentar 2 tipos de falha (Figura 28): falha superficial (craterao) da superfcie do dente e falha por fadiga devido as flexes cclicas na raiz do dente. No existe um limite de vida infinito para as falhas por fadiga superficial. A craterao o modo de falha superficial mais comum, especialmente se no lubrificadas em servio. Esse um tipo de falha por fadiga superficial entre superfcies que rola. Mas como tambm h deslizamento entre os dentes (na verdade em engrenagens h uma combinao de deslizamento e rolamento), pode tambm ocorrer a falha por desgaste abrasivo e adesivo.
(a)
(b)
Figura 28 Falha em engrenagens: (a) craterao ou pitting e (b) desgaste adesivo. A falha por tenso de flexo a mais catastrfica, at porque a quebra do dente promove a parada da mquina. A falha por craterao vem gradualmente e d aviso audvel e visvel. As engrenagens podem funcionar por um tempo depois que o processo de craterao se iniciar. Ambos so tipos de falha por fadiga. O adelgaamento ocorre quando a circunferncia de base est muito prxima a circunferncia primitiva. Acontece que na regio abaixo da circunferencia de base, o perfil de dente no
uma curva involuta. Se for assim, a poro do dente abaixo da circunferencia de base interferir com a ponta do dente da engrenagem acoplada. Em ouras palavras, o contato entre os dentes ocorre antes de das curvas serem involutas (antes da circunferncia de base), que onde os perfis dos dentes no so tangentes. O adelgaamento enfraquece o dente pela remoo de material em sua raiz. Isso poder levar a falha prematura do dente. Esse problema pode ser evitado aumentando o nmero de dentes de uma engrenagem.Por isso, existe um nmero mnimo de dentes para se evitar o problema de adelgaamento. Outra soluo para o adelgaamento transladar o perfil das engrenagens, fazendo o adendo mais longo no pinho e mais curto na coroa. Uicker et al, 2011, expem uma simples soluo: tornar os dentes menores. Porem, os atores mencionam que essa soluo dificulta a reposio, uma vez que torna a engrenagem fora dos padres. Um benefcio secundrio da tcnica de transladar que o pinho fica mais grosso em sua base, e dessa forma mais forte. A Figura 29 apresenta as tenses que ocorrem em dentes de engrenagens.
Figura 29 Tenses em dentes de engrenagens. Qualidade da engrenagem AGMA define ndices de qualidade de 3 a 16, os quais so funo do processo de fabricao. Obviamente, maior a qualidade, cresce o custo. Imprecises no espaamento dos dentes causar impactos entre os dentes e as foras de impacto aumentam com o aumento da velocidade. Por isso, o ndice de qualidade aumenta com a velocidade da aplicao do par de engrenamento. A razo de engrenamento pode ser afetada pelas tolerncias de fabricao tambm. Quando uma alta qualidade requerida, operaes de acabamento podem ser realizadas, tais como polimento, retificao, lapidao, entre outros.
Materiais para uso em engrenagens Ferros fundidos: possuem fcil usinabilidade, possuem amortecimento interno devido s incluses de grafite e so, portanto, mais silenciosos do que ao. Possuem alta resitncia ao desgaste. A desvantagem fica por conta da menor resistncia trao, o que requer dentes maiores. Aos: possuem resistncia trao maior do que ferro fundido e competem em custo. Porm, necessitam de tratamento trmico para aumentar a resistncia superficial ao desgaste (Figura 30). Em aplicaes de baixa solicitao ou quando a longevidade no um fator importante, no feito o tratamento trmico. Engrenagens no-metlicas: tem baixo rudo, mas so limitadas em sua capacidade de torque devido a baixa resistncia do material.
Junta universal Embora possua aparncia simples, a junta 4 pontos, tambm chamada junta cardan (Figura 31), junta U, junta de Hooke, junta hardy-spier, mais complexa do que aparenta. O primeiro a registr-la em 1545 (desenhos apenas) foi Gerolamo Cardano, posteriormente foi equacionada e construda por Robert Hooke em 1676. A complexidade do mecanismo ocorre devido variao de velocidade de sada quando esse acionado em ngulo de inclinao.
Como a cruzeta presa a 4 pontos, a junta tambm chamada de junta de 4 pontas. Figura 31 Esquema de uma junta universal.
A variao no ngulo do plano da cruzeta que causa a variao na velocidade de sada. Considerando o desenho, onde a ligao 1 o motor, a 3 a movida e a 2 a cruzeta que conecta os cabeotes (garfos), apesar de ambos os eixos completarem uma volta no
mesmo tempo, a velocidade angular do eixo de sada no constante durante a revoluo. Esta varia em funo do ngulo de rotao e do ngulo . ( ) (
Este efeito causa vibrao e deve-se cuidar para que a frequncia de vibrao de W2 no seja igual a Wn, o que pode levar a ressonncia e quebra do mecanismo. Para no ocorrer vibraes, deve-se ter duas juntas universais de mesmo (Figura 33).
Nesta condio, a junta cardan passa tambm a ser considerada como homocintica.
. Se
, calcule
)( (
) )( )
Tipicamente, diferenas de at 5 so aceitveis entre e caso rotao seja bsica (<500rpm). Em altas rotaes, essa diferena limitada a 1,5. O mximo ngulo de deflexo de um cardan duplo est limitado a 44 por junta. Essa varivel depende da velocidade de rotao (Figura 34) e do comprimento L da barra intermediria (Figura 35). Se for cardan simples e for admitida vibrao, pode-se empregar ngulos prximos a 90 em baixssimas rotaes.
Especificaes fora destas faixas podem diminuir a vida til do mecanismo devido a vibraes e calor.
Figura 35 Relao entre a velocidade e o comprimento da barra intermediria. Aplicaes do cardan: Trem, guindastes, brinquedos de parques de diverses, navios, veculos, mquinas em geral, barra de direo. Ingls: Cardan shaft, U-joint. Junta homocintica A primeira homocintica foi desenvolvida por Alfred H. Rzeppa em 1927. uma junta de 6 esferas e permite ngulos mximos de ~45 e em condies especiais de 52. Tipos: I) Rzeppa: Possui 6 esferas, posicionadas com auxlio de uma gaiola. II) Bendix-Wein: Movimento transmitido por 4 esferasmais uma esfera central. III) Tripide ou Trizeta: Emprega rolamentos no lugar de esferas Dentre os tipos aqui apresentados, Rzeppa permite a maior deflexo. As demais permitem ngulos por volta de 20 e o cardan duplo em 44. Aplicaes: Trao dianteira de praticamente todos veculos, nas suspenses traseiras independentes de certos carros, maquinas de usinagem. Ingls: CV joints, constant velocity joints. Quadro comparativo com cardan (Quadro 1):
Quadro 1 Comparativo entre homocintica e Cardan. Homocin. I, Cardan duplo Cardan simples II, III Custo Capacidade de Carga Deflexo Capacidade de rotao Resist. a ambientes hostis Espao (dimens.) requerido Alto Mdia Mdia (max 52) Alta Mdia Pequeno Mdia Alta Alta (max 44x2=88) Menor que homocintica Alta Grande. Requer eixo intermed. Baixo Alta Alta (~90) Menor que homocintica Alta Pequenos
Exerccio: O que voc indicaria para um implemento agrcola (roadeira) que trabalha sob rotaes <500rpm, torques baixos e deflexes de no mx 30. Embase bem sua resposta considerando custos, simplicidade, vida til, etc.
Lista de exerccios de engrenagens, cardan e homocintica 1. Como podem ser classificadas as engrenagens? Cite 2 exemplos para cada um dos trs casos. 2. Deseja-se projetar um redutor com relao de 10 (entrada) para 1 (sada),utilizando apenas 4 engrenagens e acoplando duas delas solidariamente no mesmo eixo. Dimensione pelo nmero de dentes o conjunto. O usurio deseja utilizar engrenagens com nmero de dentes maior do que 12. 3.Do trem de engrenagens mostrado na figura, determine a velocidade angular da engrenagem 7. Dados: 1 = 3.600 r.p.m.; Z1 = 12; Z2 = 41; Z3 = 28; Z4 = 79; Z5 = 23; Z6 = 32; Z7 = 11; Z8 = 50;
4.Considere os seguintes dados de uma engrenagem epicicloidal: Engrenagem solar: 20 dentes Engrenagem planeta: 10 dentes Engrenagem anelar: 40 dentes Entrada pelo brao: 200 rpm, anti-horrio Entrada pela engrenagem solar: 100 rpm, anti-horrio Calcule a velocidade angular absoluta de sada da engrenagem anelar: 5. Um cardan simples conectado a um ngulo =30. A mxima velocidade medida no eixo de sada de 200 rpm. Qual a velocidade do eixo de entrada?
6.Dados um par de engrenagens, com pinho 16 dentes e coroa 40 dentes, ngulo de presso 20 e mdulo 10 mm, calcule: a) a distncia entre centros; b) o novo ngulo de presso caso a
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