Apostila Engrenagens
Apostila Engrenagens
Apostila Engrenagens
A Figura 1 exemplifica um par de engrenamento (dentes retos ou spur gears) (a) externo e (b)
um par de engrenagens interna.
Observações importantes:
Correia Corrente
polias
cremalheira Engrenagens
Roda
dentada
Parafuso de potência par coroa e sem fim
Figura 4 – Ilustração da mudança da distância entre centros de duas engrenagens com perfil
de dente envolvente [Adaptado: Norton, 2004].
Db D cos( ) (1)
(2)
(3)
(4)
(5)
(6)
Passo diametral é o oposto ao módulo, ou seja, 1/m. É uma medida padrão americano.
(7)
Matematicamente a razão de contato (mc) é calculada como sendo a razão entre o arco de
contato (qt) dividido pelo passo circular de referência (Pc), conforme mostra Eq.(8). A Fig. 6
ilustra o arco de contato, que é a soma da aproximação mais afastamento.
(8)
Ponto primitivo: é o ponto de tangência entre duas circunferências primitivas e está sobre a
linha de centro entre os eixos.
Linha de ação: é a linha imaginária que passa pela tangente das duas circunferências de base
e pelo ponto primitivo. O contato desloca-se por essa linha. Supondo ausência de atrito, é o
linha por onde a força resultante aponta. A distância entre os pontos de entrada e saída do
contato ao longo da linha de ação da origem ao comprimento de ação. É normal ao perfil da
curva involuta dos dentes em contato.
iii) Circunferência primitiva ou de referência: círculo imaginário que passa pelo ponto
primitivo. É um círculo teórico sobre qual os cálculos são feitos. De acordo com a teoria, esse
círculo representa o diâmetro sobre o qual o par de engrenagens gira sem escorregamento
(substitui roda de atrito). Trata-se de uma circunferência “virtual” e que não pode ser medida
por instrumento.
Passo frontal (p): como já explicado na eq. (7), o passo frontal é a espessura de um dente e
um espaço medido na circunferência primitiva. A literatura também chama de passo circular de
referência e é calculado como:
(8)
Espessura do dente: Shigley chama de largura do dente. Portanto, espessura e/ou largura
são aceitos.
Atenção: Condições para engrenamento: mesmo módulo, mesmo ângulo de pressão, mesmo
perfil de dente e deve-se atentar a questão das mãos (esquerda ou direita).
Tamanhos de módulo padrão: 0,3; 0,4; 0,8; 1; 1,25; 1,5; 2,3; 4,5; 6; 8; 10; 12; 16; 20; 25
Tamanhos de passo diametral P padrão: 1; 1,25; 1,5; 1,75; 2; 2,5; 3; 4; 5; 6; 8; 10; 12; 14;
16;18;20;24;32;48;64;72;80;96;120;150;200.
Min=13 – Max=16
Min=14 – Max=26
Min=15 – Max=45
Min=16 – Max=101
Min=17 – Max=1309
Projete um par de engrenagens de relação de transmissão igual a 0,4. Critério é distância entre
centros menor do que 60mm, sem ocorrer adelgaçamento.
Pelo SI:
I=0,4
Como módulo é m=D/Z, para um mesmo diâmetro, quanto maior m, menos dentes na
engrenagem. Quanto menos dentes, maior é o tamanho dos mesmos. Módulo deve ser
pequeno para termos grande número de dentes.
Escolhemos módulo pequeno para que altura do dente seja pequena, m=0,3:
Z1=D/m = 10/0,3= 33,3 dentes (número quebrado de dentes, logo vamos aumentar um pouco o
diâmetro de forma a termos um número inteiro.
D1=34dentes*0,3mm/dentes = 10,2mm
D2=10,2/0,4 = 25,5mm
Logo, como temos que ter número de dentes inteiro, precisamos usar um módulo que
proporcione números inteiros. Tentaremos m=1:
m=1
Z1=1*10mm =10mm (temos que usar número de dentes de 12, logo aumentamos D1 para
12mm )
D1=12mm
Z1=12*1=12 dentes
Z1=16dentes e Z2=40dentes
R1=8mm e R2=20mm
a=1mm e d=1,25mm
M=1
Z1=34dentes e Z2=85dentes
Rb2=42,5*cos(20)=39,94mm (atende)
Rb1=17*cos(25)=15,40mm (atende)
Rb2=42,5*cos(25)=38,52mm (atende)
A título de curiosidade, vamos ver o que ocorre com módulo grande, m= 25:
O adendo e dedendo ficaram muito grandes. Iremos escolher um módulo pequeno, m=1:
Rb2=12,5*cos(25)=11,32mm
Engrenagem helicoidal: possui ângulo de hélice (β), que é o ângulo dos seus dentes em
relação ao eixo, um passo circular Pc (também chamado de passo circular), passo normal (Pn),
Mn e Mf são os módulos normal e frontal, respectivamente. A relação entre os passos circular e
normal é: Pn=Pc*cos(β).
Passo circular: Pc
Pc=Mf* π
Pn=Mn* π
Cp = Z.Pc
Dp = Cp/π
Dp = Z.Pc/ π
Mf = Dp/Z
Pc = Mf. π
Dp = Z.Mf
Como calcular o módulo a partir da distância entre duas engrenagens e diâmetros externos:
d=(Dp1+Dp1)/2 (a distância entre centros é no ponto de contato – primitivo- e por isso que é
igual a soma dos diâmetros primitivos)
De=Dp+2Mn (como módulo normal é a altura de adendo, logo deve ser somada para termos o
diâmetro externo)
Ângulo primitivo ou ângulo do cone de referência: δ, Usar subíndice “c” ou “pin” para designar,
respectivamente, coroa ou pinhão. R é o raio, ω é a velocidade angular.
De=Dp +2*M*cos δ
Dp = M.Z
De = M.Z + 2*M*cos δ
Exemplo: Calcule o módulo para um par de engrenagens cônicas com Zp=30, Zc=120,
Dep=63,88. Resp.: M=2
δpin
Dpin
δc
δp=14,03°
Dp=M.Z
As engrenagens podem ser classificadas de acordo com a posição relativa dos eixos
de revolução. Esses eixos podem estar:
• Paralelos;
• Intersecionados ou concorrentes;
Eixos paralelos
I) Engrenagens cilíndricas de dentes retos: é sempre classificada como eixos paralelos. Pode
ser de engrenamento interno (mesmo sentido de rotação) ou externo (mudança no sentido de
rotação). Esse tipo de engrenagens tem como vantagens baixo custo, montagem e
dimensionamento mais fácil, baixo escorregamento e elevado rendimento (em torno de 95 a
99%). Além disso, não transmitem cargas axiais, o que leva a uma baixa solicitação dos
mancais. Supondo ausência de atrito, a força ocorre sobre a linha de ação. Neste caso,
ocorrem 2 tipos de forças: força radial e tangencial. Como desvantagem esse tipo de
engrenagem possui o contato em linha, o qual ocorre bruscamente, gerando ruído e vibração.
A ré de transmissão de veículos utiliza engrenagens de dentes retos, pois isso do ruído
característico. A Figura 13 apresenta algumas engrenagens cilíndricas de dentes retos.
Dente
paralel
oà
direçã
o axial
Engrenagem
Direção axial interna
II) Engrenagens cilíndricas helicoidais: podem ser configuradas em eixos paralelos, embora
também podem ser usadas como eixos nem paralelos e nem interseccionados (engrenamentos
Figura 14 – Caminho do contato sobre o dente de uma engrenagem helicoidal [Fonte: AGMA,
1990].
Engrenagens cilíndricas helicoidais simples exigem mancais mais robustos, uma vez que
transmitem cargas axiais (além da tangencial e radial). A força axial tende a separar os eixos
(Figura 15).
Esse problema da força axial de separação pode ser contornado usando o engrenamento por
um par de engrenagens cilíndricas helicoidais duplas ou em V. Esse tipo de engrenagem nada
mais é do que uma engrenagem de mão esquerda e mão direita acopladas em um mesmo
cilindro (disco). Uma força anula a outra e a resultante axial é nula no caso da engrenagem
duplo V.
Força radial
Força axial
iii) Pinhão e cremalheira de dentes retos: é outra possibilidade de engrenamento por eixos
paralelos. O par pinhão e cremalheira (Figura 17) converte o movimento rotacional em retilíneo
e vice-versa. O raio de base da cremalheira é infinito. Os dentes de uma cremalheira também
possuem uma curva involuta, que é uma linha reta.
(a) (b)
De acordo com a distância offset (distância entre o eixo da coroa com relação à linha de centro
do pinhão), as engrenagens podem ser: a) espiral, zerol ou cônica de dentes retos: quando o
offset é igual a zero. Reparem que nesse caso temos eixos interseccionados. b) hipóide:
quando há um offset pequeno. Neste caso, o par de engrenagens é classificado segundo seus
eixos como nem paralelos e nem interseccionados. c) espiróide: quando o offset passa a ser de
médio a grande. O par de engrenagens continua classificado, segundo seus eixos, como nem
paralelos e nem interseccionados. Sem-fim: possui o maior offset entre todas os pares de
engrenagens. Também é classificado, segundo a disposição de seu eixo, como nem paralelo e
nem interseccionado.
Quanto maior o offset, maior o escorregamento entre os dentes, gerando menor rendimento.
Por isso que o par coroa e sem-fim deve sempre trabalhar lubrificado, pois o escorregamento
produz grande quantidade de calor.
Engrenagens hipóides, espiróides, sem fim e engrenagens cilíndricas helicoidais reversas são
exemplos típicos de engrenagens cujos eixos estão dispostos de maneira nem paralela e nem
interseccionados (Figura 22).
Figura 22 – Exemplos pares de engrenagens cujos eixos são nem paralelos e nem
interseccionados: da esquerda para direita engrenagens hipóide, espiróide, cilíndricas
helicoidais cruzadas e sem- fim [Adaptado: AGMA, 1990).
As engrenagens hipóides são muito empregadas para conexão do eixo motriz do motor dos
veículos (geralmente um cardan duplo) ao diferencial. Graças a seu offset, pode-se baixar a
altura do cardan, contribuindo para a diminuição ou eliminando o túnel dos veículos. A Figura
23 mostra uma fotografia tirada de um diferencial veicular, onde é possível visualizar a
engrenagem hipóide e a coroa.
Com relação aos sem fins, existe uma ação de deslizamento muito pronunciada entre os
dentes do parafuso sem fim e da coroa, ação que tende a remover película produzida por
lubrificante que não seja suficientemente resistente, do que resulta a tendência de tais
engrenagens funcionarem a temperaturas elevadas e de sofrerem considerável desgaste. As
velocidades dominantes são de deslizamento entre os dentes. É, por isso, dentre os sistemas
de engrenagens, o menos eficiente. Consegue-se grandes reduções, como de 360:1. Pode ou
não possuir autotravamento da coroa, condição importante em elevadores de carro. Parafusos
sem fim podem possuir 1 rosca única ou entrada de múltiplas roscas ou múltiplas entradas.
Quanto à coroa usada conjuntamente com o parafuso sem fim, essa pode ser do tipo não
envelopada e envelopada (Figura 24). O último tipo possui maior capacidade de torque.
Figura 24 – Diferentes tipos de coroas empregadas com parafusos sem fim [Fonte: AGMA,
1990].
Mãos em engrenagens
Engrenagem helicoidal externa em eixos paralelos: possuem mãos opostas (Figura 25).
Figura 25 –Engrenamento entre engrenagens cilíndricas helicoidais com eixos paralelos: mãos
opostas.
Mão Mão
direita direita
Engrenagem espiral, zerol, hipóide, espiróide: engrenam SEMPRE em mãos opostas entre o
pinhão e a coroa.
Na Figura 28, a mão da engrenagem de uma engrenagem cilíndrica e de uma cônica está
representada.
Trens de engrenagens
Os trens de enngrenagens pode ser de 2 tipos: simples ou compostos (Figura 30). Nos trens
simples há apenas uma engrenagem por eixo. Trens compostos possuem 2 engrenagens
conectadas em um mesmo eixo.
Composto
(9)
Um sinal negativo signifca que o eixo da engrenagem de saída vai girar em sentido contrário ao
da entrada. Um sinal positivo significa que ambos os eixos de entrada e de saída giram no
mesmo sentido.
(10)
Consiste de uma ou mais planetas orbitando em torno de uma engrenagem solar. Pode ainda
existir uma barra, haste ou braço para manter a engrenagem planeta em órbita. É comum
também o emprego de uma engrenagem anel como o quarto elemento. Existem catalogadas
12 diferentes configurações de engrenagens planetárias.
=10rpm
(o sinal é negativo pois (-).(+) = (-), onde (-) é sol com planeta e (+) é planeta com
anel.
Agora para calcular ωj, faz-se a relação da primeira a última engrenagem considerada (do sol
ao planeta):
Falha de Engrenagens
Engrenagens podem apresentar 2 tipos de falha (Figura 34): falha superficial (crateração) da
superfície do dente e falha por fadiga devido as flexões cíclicas na raiz do dente. Não existe um
limite de vida infinito para as falhas por fadiga superficial. A crateração é o modo de falha
superficial mais comum, especialmente se não lubrificadas em serviço. Esse é um tipo de falha
por fadiga superficial entre superfícies que rolam. Mas como também há deslizamento entre os
dentes (na verdade em engrenagens há uma combinação de deslizamento e rolamento), pode
também ocorrer a falha por desgaste abrasivo e adesivo. A falha superficial ou fadiga
superficial é a preferida e esperada em uma engrenagem, pois ela avisa por meio de ruído. A
falha por flexão no dente geralmente ocorre em casos de sobrecarga ou sobretorque, que
acontecem de maneira repentina.
Outra solução para o adelgaçamento é transladar o perfil das engrenagens, fazendo o adendo
mais longo no pinhão e mais curto na coroa. Esse procedimento se chama correção. Uicker et
al, 2011, expõem uma simples solução: tornar os dentes menores. Porém, os autores
mencionam que essa solução dificulta a reposição, uma vez que torna a engrenagem fora dos
padrões. Um benefício secundário da técnica de transladar é que o pinhão fica mais grosso
em sua base, e dessa forma mais forte. Uma terceira solução simples é empregar um ângulo
de pressão maior. Com isso, a circunferência de base fica menor, pois Db=D*cos(ɸ), onde Db é
o diâmetro de base, D é o diâmetro primitivo e ɸ o ângulo de pressão.
Qualidade da engrenagem
AGMA define índices de qualidade de 3 a 16, os quais são função do processo de fabricação.
Obviamente, maior a qualidade, cresce o custo. Imprecisões no espaçamento dos dentes
causarão impactos entre os dentes e as forças de impacto aumentam com o aumento da
velocidade. Por isso, o índice de qualidade aumenta com a velocidade da aplicação do par de
engrenamento. A razão de engrenamento pode ser afetada pelas tolerâncias de fabricação
também. Quando uma alta qualidade é requerida, operações de acabamento podem ser
realizadas, tais como polimento, retificação, lapidação, entre outros.
Aços: possuem resistência à tração maior do que ferro fundido e competem em custo. Porém,
necessitam de tratamento térmico para aumentar a resistência superficial ao desgaste (Figura
38). Em aplicações de baixa solicitação ou quando a longevidade não é um fator importante,
não é feito o tratamento térmico.
Engrenagens não-metálicas: tem baixo ruído, mas são limitadas em sua capacidade de torque
devido a baixa resistência do material.
Junta universal
Embora possua aparência simples, a junta 4 pontos, também chamada junta cardan
(Figura 39), junta U, junta de Hooke, junta hardy-spier, é mais complexa do que aparenta. O
primeiro a registrá-la em 1545 (desenhos apenas) foi Gerolamo Cardano, posteriormente foi
equacionada e construída por Robert Hooke em 1676.
A complexidade do mecanismo ocorre devido à variação de velocidade de saída
quando esse é acionado em ângulo de inclinação.
Graficamente
(Figura 40):
Este efeito causa vibração e deve-se cuidar para que a frequência de vibração de W2 não seja
igual a Wn, o que pode levar a ressonância e quebra do mecanismo.
Para não ocorrer vibrações, deve-se ter duas juntas universais de mesmo (Figura 41).
Tipicamente, diferenças de até 5° são aceitáveis entre e caso rotação seja básica
(<500rpm). Em altas rotações, essa diferença é limitada a 1,5°.
O máximo ângulo de deflexão de um cardan duplo está limitado a 44° por junta. Essa
variável depende da velocidade de rotação (Figura 42) e do comprimento L da barra
intermediária (Figura 43). Se for cardan simples e for admitida vibração, pode-se empregar
ângulos próximos a 90° em baixíssimas rotações.
Junta homocinética
A primeira homocinética foi desenvolvida por Alfred H. Rzeppa em 1927. É uma junta
de 6 esferas e permite ângulos máximos de ~45° e em condições especiais de 52°.
Tipos:
I) Rzeppa: Possui 6 esferas, posicionadas com auxílio de uma gaiola.
II) Bendix-Wein: Movimento transmitido por 4 esferasmais uma esfera central.
III) Tripóide ou Trizeta: Emprega rolamentos no lugar de esferas
Dentre os tipos aqui apresentados, Rzeppa permite a maior deflexão. As demais
permitem ângulos por volta de 20° e o cardan duplo em 44°.
Aplicações: Tração dianteira de praticamente todos veículos, nas suspensões traseiras
independentes de certos carros, maquinas de usinagem. Inglês: CV joints, constant velocity
joints.
Média (max
Deflexção Alta (max 44x2=88°) Alta (~90°)
52°)
Menor que Menor que
Capacidade de rotação Alta
homocinética homocinética
Exercício:
O que você indicaria para um implemento agrícola (roçadeira) que trabalha sob
rotações <500rpm, torques baixos e deflexões de no máx 30°. Embase bem sua resposta
considerando custos, simplicidade, vida útil, etc.
1. Como podem ser classificadas as engrenagens? Cite 2 exemplos para cada um dos três
casos.
6.Dados um par de engrenagens, com pinhão 16 dentes e coroa 40 dentes, ângulo de pressão
20° e módulo 10 mm, calcule: a) a distância entre centros; b) o novo ângulo de pressão caso a
distância entre centros seja aumentada em 4 mm.
American National Standard Gear Nomenclature (AGMA) 1012-F90. Definitions of Terms with
Symbols, Estados Unidos, 1990.
SHIEGLEY, J.; Mischke, E.; Budynas, C.R. Projeto de Engenharia Mecânica, Bookman, 7ª
edição, 2005.
Uicker, J.J.; Pennock, G. R.;J.; Shigley, J. E. Theory of Machines and Mechanisms, Oxford
University Press.