!! Psiconeuroimunologia

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SUMÁRIO

1 EMOÇÕES E SISTEMA IMUNOLÓGICO ............................................................................................ 4

1.1 Estudo do Impacto dos Acontecimentos de Vida sobre a Saúde ........................................................................... 6

1.2 O Impacto dos Acontecimentos de Vida sobre a Saúde em função dE Fatores Psicológicos ..................... 7

2 ESTUDO DO EFEITO DO STRESS ...................................................................................................... 9

2.1 Estudo do efeito do stress em contexto naturalista .............................................................................................. 9

2.2 Estudo do efeito do Stress em contexto laboratorial .......................................................................................... 11

3 ESTUDO DO EFEITO DO HUMOR SOBRE O FUNCIONAMENTO DO SISTEMA


IMUNOLÓGICO............................................................................................................................................. 12

4 ESTUDO DO EFEITO DAS CARACTERÍSTICAS DA PERSONALIDADE SOBRE O


FUNCIONAMENTO DO SISTEMA IMUNOLÓGICO .............................................................................. 14

PÓS-GRADUAÇÃO 5 ESTUDO DO EFEITO DO SUPORTE SOCIAL SOBRE O SISTEMA IMUNOLÓGICO ............ 16

6 IMPACTO DOS ACONTECIMENTOS DE VIDA EM FUNÇÃO DOS SIGNIFICADOS E DO


TIPO DE PROCESSAMENTO ..................................................................................................................... 19

6.1 Acontecimentos de vida, construção de significados e saúde ............................................................................. 19


DISCIPLINA:
6.2 Acontecimentos de vida, expressão emocional e saúde ..................................................................................... 21

Psiconeuroimunologia 7 SOBRE A PSICONEUROIMUNOLOGIA .......................................................................................... 24

8 PSICONEUROIMUNOLOGIA E O CÂNCER .................................................................................... 35

8.1 Correlação entre o sistema nervoso central e o sistema imunológico ................................................................. 36

8.2 Estresse, Depressão e Câncer .............................................................................................................................. 37

8.3 Correlação entre Sistema Nervoso Central (SNC), Sistema Imunológico e O Câncer ............................................ 38

2
8.4 Estudos metodológicos em pacientes depressivos, ou sob condiçõesestressantes – possível correlação com o 1 EMOÇÕES E SISTEMA IMUNOLÓGICO
desenvolvimento de neoplasias................................................................................................................................... 39

9 A ESCRITA EXPRESSIVA .................................................................................................................. 41

10 TEXTO COMPLEMENTAR ................................................................................................................ 45

10.1 Controle do Estresse ...................................................................................................................................... 47

10.2 Estratégias de enfrentamento........................................................................................................................ 50

10.3 Apoio Social ................................................................................................................................................... 51

10.4 Hábitos e Estilos de vida ................................................................................................................................ 52

10.5 Síntese ........................................................................................................................................................... 53

10.6 Considerações Finais ...................................................................................................................................... 53


A concepção do sistema imunológico como sistema autônomo de funcionamento exclusivamente
11 BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................................... 55 químico deu lugar, especialmente a partir dos anos 80, a uma concepção integrada em que se reconhece
que o sistema imunológicoestá integrado com outros sistemas sendo sensível à regulação do sistema
nervoso. Reconhece-se assim o papel que as diferentes áreas do funcionamento humano,
nomeadamente cognitivo e emocional, pode ter sobre a sua eficiência. Deste modo nasceu uma
disciplina designada por Psiconeuroimunologia dedicada a estudar as relações entre os estressores
psicossociais, as emoções e os sistemas neuroimunológicos que organizam a resposta adaptativa ao
stress. A hipótese base deste modelo é que os estressores psicossociais diminuem a eficiência do
sistema imunológico o que leva ao aumento de sintomas médicos.

Uma das razões para o forte interesse que a psiconeuroimunologia desperta entre os profissionais
de vários domínios advém do seu contributo para compreenderporque razão os acontecimentos de vida
ou as emoções afetam a saúde. O estudo dafunção imunológica na relação com a experiência revelou-
se assim um campo promissor, onde têm ocorrido grandes avanços e onde se adivinham continuamente
novas descobertas.

A concepção do sistema imunológico como sistema fisiológico autônomo de funcionamento


exclusivamente químico com a tarefa de reconhecer o que é e não é do próprio organismo deu lugar,
especialmente a partir dos anos 80, a uma visão integrada em que se reconhece que o sistema
imunológico interage com outros sistemas sendo sensível à regulação dos sistemas nervoso e

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endócrino. modo a diminuir os efeitos nefastos sobre o sistema imunológico. A psicoterapia ou outras estratégias
poderão ser concebidas como formas de intervir nesta sequência, contribuindo para acelerar o processo
A disciplina designada por Psiconeuroimunologia é o campo científico que investiga as ligações de lidar com o trauma e prevenindo os potenciais efeitos nefastossobre a saúde de uma determinada
entre o cérebro, o comportamento e o sistema imunológico, bemcomo as implicações que estas ligações experiência.
têm para a saúde física e a doença. A hipótese base deste modelo é que os estressores psicossociais
diminuem a eficiência do sistema imunológico o que leva ao aumento de sintomas médicos (risco de Neste caso, é assumido que existe um processo fluído ao longo do qual os sujeitos vão elaborando
uma doença). os acontecimentos de vida mais difíceis, havendo tarefas quefacilitam esse trabalho. Nos pontos que a
seguir se apresentam serão descritos os estudos realizados no âmbito destas três perspectivas.
Assim, face a uma ameaça biológica com uma determinada potência, a imunocompetência, ou
seja, a capacidade de o sistema imunológico proteger o corpo num determinado momento estará
relacionada com os fatores psicossociais que afetam o sistema imunológico. Entre estes fatores contam- 1.1 ESTUDO DO IMPACTO DOS ACONTECIMENTOS DE VIDA SOBRE A SAÚDE
se os estados emocionais;o tipo e a intensidade de stress que a pessoa está a enfrentar, as características
de personalidade e a qualidade das relações sociais.
Os primeiros estudos sobre a ligação entre acontecimentos (positivos ounegativos) e o sistema

A relação entre stress e doença começou pelos estressores crônicos que contribuíam para um imunológico utilizaram medidas muito indiretas, sem especificar os mecanismos que poderiam

estado de exaustão do organismo pondo em causa o seu equilíbrio. Assim, as respostas que envolvem explicar os efeitos de determinados acontecimentos de vida sobre a saúde ou o tempo de vida. Um

as ligações entre cérebro, hormônios e sistema imunológico, passariam, ao fim de um determinado exemplo deste tipo deestudos foi realizado por Langer e Rodin (1976), que procuraram averiguar o

tempo, a ter dificuldades em lidar com o stress e as manifestações de doença ocorreriam num grau que efeito doenvolvimento em atividades com uma componente emocional e motivacional sobre asaúde de

poderia conduzir até à morte. um grupo de idosos. Para isso, estes autores pediram a idosos institucionalizados em lares para
tomarem conta de uma planta, tendo verificado meses depois que, quando comparados com um
grupo de controle, estes idosos tinham menos problemas de saúde e menor número de mortes. Assim,
Um segundo momento na conceitualização dos desafios colocados pelosacontecimentos de vida esta atividadesimples pareceu ser suficiente para dar sentido à vida destes idosos institucionalizados
sobre a saúde física e emocional começou a ter em conta ascaracterísticas psicológicas e as estratégias cuja possibilidade de estabelecer relações significativas é, em geral, bastante diminuta, e este
de confronto utilizadas pelos sujeitos paralidar com essas situações. Este desenvolvimento assume que acontecimento teve um impacto positivo sobre a saúde.
o impacto de uma situação no sujeito depende da avaliação que o sujeito faz dela, bem como das
estratégias que mobiliza de modo a fazer-lhe face.
Outros estudos realizados ao longo dos anos sessenta, setenta e início de oitenta estabeleceram
uma ligação entre alguns tipos de acontecimentos e saúde. Emalguns estudos clássicos foi verificado
Assim, enquanto alguns investigadores procuram averiguar o impacto deacontecimentos de vida que o ajustamento a acontecimentos de vida associado a stress prolongado, como casamento, divórcio,
na saúde e/ou no sistema imunológico; outros tentam diferenciar o efeito dos acontecimentos de vida problemas no emprego, morte, catástrofes naturais ou provocadas por erros humanos conduz a uma
em função das emoções envolvidas, do estilo cognitivo, ou das características de personalidade da diminuição da saúde dos protagonistas ou vítimas destes problemas. Apesar da importância destes
pessoa. estudos correlacionais, eles são omissos sobre os mecanismos que poderão estar envolvidos nestes
resultados.
Uma terceira abordagem sugere que o processamento dos acontecimentos devida, especialmente
das situações traumáticas, os significados que os sujeitos constroem, ou as estratégias de coping que
vão sendo utilizadas, passam por uma série de fases sobre as quais poderá haver uma intervenção de

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1.2 O IMPACTO DOS ACONTECIMENTOS DE VIDA SOBRE A SAÚDE EM
FUNÇÃO DE FATORES PSICOLÓGICOS

Depois do estabelecimento da relação global entre acontecimentos e problemas de saúde, muitos


estudos têm procurado analisar o impacto dos acontecimentos de vida sobre a saúde em função dos
fatores psicológicos.

Este modelo assume que a mudança imunológica é mediada por fatores comoa ativação do SNC,
a resposta hormonal e a mudança comportamental, em função das características e estados
psicológicos. As ligações entre o SNC e o sistema imunológico foram identificadas, nomeadamente
pela observação de que linfócitos como as NK têm receptores para os neurotransmissores. Vários
autores encontraramigualmente ligações entre o sistema imunológico e o endócrino através do efeito
de diferentes mediadores hormonais como catecolaminas (epinefrina e norepinefrina), cortisol,
prolactina, ACTH, TSH, hormônio do crescimento ou opiáceos endógenos, hormônios que estão
relacionados com a resposta ao stress. Além disso, existe enervação simpática e parassimpática dos
órgãos linfoides. Por seu lado, alguns comportamentos que são associados a características
Relação entre acontecimento de vida, características e estados psicológicos e mudança imunológica(Adaptado a
psicológicas ou são respostas ao stress podem influenciar o sistema imunológico: práticas de saúde más partir de Cohen & Herbert, 1996). Fonte: http://repositorium.sdum.uminho.pt
como fumar, dieta inapropriada e sono perturbadodiminuem a resposta imunológica.

Podemos dividir as investigações que analisaram a relação entre os fatores psicológicos e a saúde
e/ou a eficiência imunológica em quatro grupos: os que estudaram o efeito das situações de stress (quer
em condições naturalistas, quer emlaboratório); os que estudaram o efeito do afeto, nomeadamente o
humor triste e a depressão; os que estudaram o efeito das características de personalidade; e,
finalmente, os que estudaram a importância das relações interpessoais.

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2 ESTUDO DO EFEITO DO STRESS linfócitos NK e maior númerode anticorpos aos vírus herpes.

Para além do efeito do stress relacionado com as épocas de exames e com o cuidado de doentes,
foram igualmente avaliados os efeitos de uma variedade de acontecimentos que incluem situações tão
diversas como desastres naturais, desemprego, guerra, acidente nuclear ou conflitos conjugais. Por
exemplo, McKinnon,Weiss, Reynolds, Bowles e Baum (1989) verificaram que os residentes à volta de
umaCentral Nuclear em que houve uma ameaça de acidente tiveram mais doenças nos meses seguintes.
As análises sobre a função imunológica permitiram verificar uma diminuição das células B, Células T
CD3, CD4 e NK e menor produção de anticorposem reação à vacina de hepatite B. Por seu lado
Kiecolt-Glaser, Malarkey, Chee, Newton, Cacioppo (1993) verificaram que em casais com
comportamentos mais negativos e hostis, e que estão passando por momentos de mal-estar na relação,
têmmaiores diminuições nas NK e menor resposta de proliferação dos linfócitos.

Uma outra forma de avaliar o efeito do stress sobre o sistema imunológico é pedir para os sujeitos
registarem o nível de stress percebido, relacionando esse relatocom medidas do sistema imunológico
ou medidas de infecção. Por exemplo, Jabaaij, Grosheid, Heijink, Duivenvoorden, Ballieux,
Vingerhoets (1993) utilizaram a medida da produção de anticorpo em reação à vacina de hepatite B
2.1 ESTUDO DO EFEITO DO STRESS EM CONTEXTO NATURALISTA
para analisar a relação entre stress percebido e resposta imunológica. Os seus resultados indicam que
quanto mais stress percebido, menor produção de anticorpo, um indicador de capacidade imunológica
diminuída.
Janice Kiecolt-Glaser é uma das investigadoras que mais tem procuradoaveriguar o efeito de
variáveis psicossociais sobre o funcionamento do sistema imunológico. Os seus primeiros estudos, em
De modo a avaliar a relação entre experiências de stress e vulnerabilidade à doença,
meados dos anos 80, procuraram observar, em contextos naturalistas, o efeito do stress durante a época
especificamente ao vírus da gripe, Cohen, Tyrrell e Smith (1991, 1993) realizaram um estudo
dos exames escolares sobre o funcionamento imunológico de estudantes universitários. Os resultados
extremamente rigoroso em termos metodológicos com mais de 400 sujeitos em que foi avaliada a
sugerem que em épocas de maior stress, em comparação com épocas após férias, existe uma
relação entre o relato de stress e a resposta à inoculação de vários tipos de vírus de gripe. Neste estudo
diminuição da atividade dos linfócitos NK; na proliferação de linfócitos; e na toxidade dos linfócitos.
verificou-se uma relação significativa entre o nível de stress sentido e a contração da doença,
mostrando bemque a resistência à doença estava diminuída nos sujeitos que sentiram mais stress.
Paralelamente foi verificado que durante estas fases de stress há um aumentona circulação de
anticorpos anti herpes vírus; bem como uma cura mais lenta de feridas após biópsias. Em suma, os resultados dos diferentes estudos sobre o efeito do stress em contexto naturalista
sugerem que, face a situações de stress, o sistema imunológico exibe sinais de diminuição de
Outra situação que tem mostrado estar relacionada com um aumento do stress a prestação de competência. Para além disso, os estudos em que foi realizado um desafio ao sistema imunológico
cuidados a doentes crônicos, nomeadamente doentes com Alzheimer.O estudo da resposta imunológica (com inoculação de vírus) revelaram de forma consistente que os processos infecciosos eram mais
de familiares cuidadores destes doentes tem mostrado uma resposta diminuída do sistema prováveis nos sujeitos commaior experiência de stress (para uma revisão dos estudos sobre o risco de
imunológico, incluindo diminuição do número de linfócitos totais e células T, menor reação dos infecçãorespiratória superior e stress).

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2.2 ESTUDO DO EFEITO DO STRESS EM CONTEXTO LABORATORIAL 3 ESTUDO DO EFEITO DO HUMOR SOBRE O FUNCIONAMENTO DO SISTEMA
IMUNOLÓGICO

De modo a avaliar, em contexto laboratorial, a resposta imunológica a situações de stress, os


investigadores pedem aos sujeitos para se envolverem em tarefas potencialmente estressantes,
avaliando depois a resposta imunológica. O contexto laboratorial é extremamente relevante em
psiconeuroimunologia uma vez que cria situações estandardizadas em que são controlados fatores
potencialmente mediadores (diferenças individuais em outras respostas fisiológicas; efeito do suporte
social, etc.,). Entre as tarefas utilizadas, contam-se exercícios de aritmética, tarefa destroop, exposição
pública ou exposição a ruídos intensos e incontroláveis. Os resultados dos estudos têm revelado que a
participação nestas situações altera o número e a função de um grande número de células do sistema
imunológico,diminuindo a imunocompetência.

Marsland, Bachen, Cohen e Manuck (2001) ao reverem a investigação sobre oefeito do stress
estudado em contexto laboratorial, chamam a atenção para o fato dealgumas das mudanças ocorrerem
apenas 5 minutos após o início do estressor; e ainda para a existência de aparentes inconsistências entre
os resultados de alguns estudos que utilizam a medidas dos linfócitos NK, uma vez que em alguns
estudos o seu número aumenta e em outros diminui. Estes resultados devem-se a uma característica de
resposta bifásica na produção destas células, cujo número começa por aumentar, e só depois diminui
para valores abaixo da baseline. Um terceiro aspecto relevado por Marsland, Bachen, Cohen e
Manuck. (2001) ao fazerem a revisão dos estudos realizados em laboratório, é o fato de haver uma A associação entre a depressão clínica e a imunossupressão foi estabelecida há muito tempo.
covariação entre a magnitude da ativação do Sistema Nervoso Simpático e a variação na resposta Herbert e Cohen (1993), numa meta-análise de 40 estudos sobre a relação entre depressão clínica e
imunológica. Os sujeitos com reação mais marcada a nível das respostas simpática eimunitária tornam- sistema imunológico, verificaram que os resultados são consistentes e permitem concluir que os
se assim naqueles que são mais vulneráveis aos desafios do dia adia. deprimidos exibem uma menor respostade proliferação dos linfócitos; menor atividade dos linfócitos
NK; e um menor númerode células NA, B, T, T auxiliadoras e T Supressoras / Citotóxicas. Estas
relações sãomais elevadas nos idosos e sujeitos hospitalizados; e os estudos têm verificado que quando
as pessoas recuperam da depressão a atividade dos linfócitos NK aumenta de novo. Atendendo a que
na depressão muitos comportamentos dos sujeitos ficam alterados, muitos estudos procuraram
controlar comportamentos potencialmente prejudiciais para o sistema imunológico. Quando foram
controlados os hábitos de exercício, dietas, fumo, medicamentos, etc., os resultados foram os mesmos.

Quando, em vez do efeito da depressão, foi avaliado o efeito do humor deprimido sobre o sistema
imunológico em amostras não clínicas, os resultados são muito semelhantes ao que acontece na
depressão: as meta-análises revelaram os mesmos efeitos que a depressão clínica, nomeadamente

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menor atividade dos linfócitos NK e menor proliferação de linfócitos; mas o efeito é menos 4 ESTUDO DO EFEITO DAS CARACTERÍSTICAS DA PERSONALIDADE SOBRE O
significativo. FUNCIONAMENTO DO SISTEMA IMUNOLÓGICO

A relação entre funcionamento imunológico e estados associados ao processo de luto foi


igualmente estudado, no contexto do estudo do efeito de estados emocionais negativos sobre o sistema
imunológico. Os estudos realizados compessoas em processo de luto permitiram concluir que o seu
sistema imunológico estáafetado: foi verificado que as mulheres que tinham ficado viúvas recentemente
tinhamuma diminuição na função das células T; ou uma atividade proliferativa inferior de NKdo que
as esposas de homens saudáveis.

Estudos realizados por Kemeny, Weiner, Duran, Taylor, Visscher e Fahey (1995); Irwin,
Daniels, Smith, Bloom e Weiner (1987b) e Linn, Linn e Jensen, (1984) encontraram resultados
semelhantes, sendo a imunossupressão maior quanto maiorfor o grau de humor negativo. As perdas
por separação ou divórcio resultam igualmente em imunossupressão.

Quando, em vez de olhar para efeito do humor negativo, se procura saber o efeito do humor Desde há muito tempo que se tem associado características da personalidadecom a saúde, mas
positivo sobre o sistema imunológico, verifica-se que existem poucosestudos sobre o efeito do humor não são muitos os estudos realizados diretamente sobre o efeito de características da personalidade
positivo no sistema imunológico. Num estudorealizado sobre a relação entre acontecimentos do dia a sobre o funcionamento do sistema imunológico.
dia e a quantidade de imunoglobulina A (IgA) em resposta a um antígeno, foi verificado que esta era
maior quando o humor do sujeito era positivo e menor quando o humor do sujeito era negativo. A tendência para o desânimo e o estilo pessimista foi relacionado com um piorfuncionamento
Curiosamente Futterman, Kemeny, Shapiro e Fahey (1994) verificaram que a indução de humor do sistema imunológico, mas a característica de personalidade mais estudada tem sido a
positivo e negativo tinha efeito diferenciado na resposta imunológica: após indução de humor positivo repressão/negação.
aumentava a proliferação de linfócitos eo contrário acontecia face à indução de humor negativo.
As estratégias inibitórias, repressivas ou de negação, têm sido associadas ao aumento de sintomas
Em suma, da revisão dos diferentes estudos que procuraram avaliar o efeito dadepressão ou humor físicos, com mais visitas médicas, a mais irregularidades do sistema nervoso autônomo e a mais
triste sobre o sistema imunológico, pode-se concluir que o afetonegativo está relacionado com uma perturbações do sistema imunológico. O efeito da repressão das emoções negativas tem vindo a ser
diminuição da sua competência. salientado nos modelospsicossomáticos. Schwartz (1990), por exemplo, relacionou a repressão de
emoçõesnegativas com a suscetibilidade à doença e vários autores sugeriram que a supressãode emoções
negativas potencia o risco de cancro. Por exemplo, Garssen e Goodkin (1999), verificaram que
repressão de emoções negativas e o baixo suporte social (dois fatores que podem ocorrer associados)
eram, para além da tendência parao desânimo, fatores de risco para o cancro.

Os sujeitos introvertidos são mais suscetíveis de contrair infecções respiratóriassuperiores após


uma exposição viral e têm mais infecções periodontais.

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Medidas diretas sobre o sistema imunológico revelaram que um nível elevado de repressão 5 ESTUDO DO EFEITO DO SUPORTE SOCIAL SOBRE O SISTEMA IMUNOLÓGICO
estava relacionado com a supressão da resposta imunológica nomeadamente observável num nível
mais elevado do anticorpo do vírus do herpes.

Cole e Kemeny (1997) verificaram que os homens soropositivos para HIV que utilizavam os
estilos de coping mais repressivos, evitantes ou de negação, eram aqueles que tinham uma progressão
mais rápida da doença.

Em suma, algumas características da personalidade, especialmente relacionados com a utilização


de estratégias repressivas para lidar com os problemase emoções parecem estar relacionadas com mais
problemas imunológicos. Este resultado é consistente com o efeito do suporte social sobre o sistema
imunológico, bem como a importância de elaborar as experiências negativas de modo a proteger este
sistema.

O estudo da relação entre suporte social e saúde tem uma longa história, e alguns estudos
prospectivos mostraram mesmo que a longevidade está relacionada com a pertença a grupos sociais
fortes, sendo a percepção de suporte social um fatorprotetor face a estressores.

Os sujeitos com mais suporte são mais saudáveis, têm menos probabilidade de ficar
emocionalmente perturbados e de ficar fisicamente doentes.

Este dado permite afirmar que o efeito do isolamento social em termos de saúdeé comparável ao
efeito de outros fatores de risco como fumar, pressão sanguínea, lipídios no sangue, obesidade e
atividade física.

Um dos estudos prospectivos que foi realizado no final dos anos setenta avalioua relação entre
algumas características dos sujeitos, e o efeito de vírus da gripe sobrea sua saúde, especificamente o
desenvolvimento de alguns tipos de infecções.

Para isso os autores inocularam sujeitos com um vírus de gripe e avaliaram os sintomas de
infecção respiratória nos 6 meses seguintes, tendo verificado que as perdas a nível da atividade social
nos três meses anteriores constituíam o melhor preditor do risco de infecção.

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Um outro estudo que avaliou a gravidade e a frequência de episódios de gripeem função da rede O que vamos analisar a seguir pode contribuir para explicar a efeito robusto dosuporte social
social encontrou um resultado que parece contradizer os modelosbiológicos: são os sujeitos com mais sobre a saúde e o sistema imunológico, bem como explicar porque é que alguns estilos de personalidade
e melhores contatos sociais (situações que normalmente são associadas a risco aumentado) que têm os em que predomina a negação ou repressão emocional estão associados a mais problemas de saúde.
episódios de gripe maisleves e menos frequentes.

Resultados que vão no mesmo sentido foram obtidos com outras populações. KiecoltGlaser,
Glaser, Williger, Stout, Messick, Sheppard, Ricker, Romisher, Briner, Bonnel, e Donnerberg, (1985)
e Kiecolt-Glaser, Garner, Speicher, Penn e Glaser, (1984) verificaram que os estudantes com mais auto
relato de solidão têm uma menoratividade de NK e um nível mais elevado de anticorpo antivírus
herpes; efeitosemelhante ao encontrado em doentes psiquiátricos internados, em que foi verificadoque
aqueles que relatavam mais solidão demonstravam uma menor atividade dos linfócitos NK.

Katcher, Brightman, Luborsky e Ship (1973); Friedman, Katcher e Brightman, (1977); Manne e
Sandler, (1984) e McLarnon e Kaloupek, (1988) verificaram igualmente que as pessoas com menos
competências sociais e/ou pouco suporte social têm mais episódios de herpes genital e oral; enquanto
Kiecolt et al. (1987) verificaram que as mulheres separadas e divorciadas têm nível mais elevado de
anticorpo antivírus herpes, menor percentagem de linfócitos NK e menor proliferaçãodos linfócitos.
Em outro estudo Kiecolt-Glaser, Kennedy, Malkoff, Fisher, Speicher, &Glaser (1988) encontraram
que os homens separados e divorciados têm um nível mais elevado de anticorpo antivírus herpes, e
mais infecções.

Outros estudos que deram resultados que vão no mesmo sentido foramrealizados por Baron,
Cutrona, Hicklin, Russel, & Lubaroff (1990) que observaram queos cônjuges de doentes com cancro
com mais apoio social têm uma melhor atividadedos linfócitos NK e melhor resposta de proliferação
dos linfócitos; Genest (1989) quepôde constatar uma relação entre suporte social e a diminuição da
probabilidade de artrite em situações de stress; Thomas, Goodwin, e Goodwin (1985) ao constatar que
idosos que relatam ter relações íntimas têm melhor resposta de proliferação dos linfócitos ou ainda
Glaser, Kiecolt-Glaser, Bonneau, Malarkey e Hughes, (1992) que verificaram que os estudantes
universitários com maior suporte social produziam maisanticorpo em resposta à vacina da hepatite B.

Em suma, como concluem McGuire e Kiecolt-Glaser (2000), as relações interpessoais positivas


estão relacionadas com menores níveis de hormônios de stress (cortisol, catecolaminas), melhor
resposta do sistema imunológico, ediminuição do risco de contrair vários tipos de infecção.

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6 IMPACTO DOS ACONTECIMENTOS DE VIDA EM FUNÇÃO DOS Bulman (1989) e Silver, Boon e Stones (1983) defenderam que as experiências traumáticas são uma
SIGNIFICADOS E DO TIPO DE PROCESSAMENTO ameaça aos esquemas com que a pessoa organiza o mundo e a si próprio, pondo em causa as suas
crenças básicas sobre a existência de um mundo previsível e a sua dignidade e eficácia comoparticipante
da sociedade. Para lidar com essa ameaça é necessário reformular estasideias e redefinir a si próprio e
ao seu mundo. Isto implica um trabalho ativo de pensarquer sobre o acontecimento, quer sobre os
pensamentos e sobre as emoções a ele associado.

Bower, Kemeny, Taylor e Fahey (1998) sugerem que pensar/elaborar sobre um acontecimento
estressante pode aumentar o sentido de mestria e a probabilidade dea pessoa sentir que tem controle
sobre a sua vida, aumentando a autoestima. Para estes autores encontrar um significado positivo para
as experiências difíceis é um dosresultados potenciais deste processamento. Exemplos desta construção
de significados são, segundo Taylor (1983) e Yalom (1980); uma redefinição das prioridades para a
vida; aumento da sensação de viver no presente; uma redefinição das relações interpessoais
especialmente pelo aumento de intimidade com os outrossignificativos; e uma maior apreciação pela
fragilidade e preciosidade da vida.

A ideia de que esta construção de significado aumenta a adaptação psicológicatem sido defendida
por vários autores; tendo Afflect, Tennen, Croog e Levine (1987) encontrado um efeitosobre a saúde:
os sujeitos que reorganizaram a vida e perceberam benefícios do fatode terem sido vítimas de um ataque
cardíaco (mudando os seus valores e filosofia devida) revelaram menos probabilidade de ter um novo

A ideia base de desenvolver uma investigação sobre o efeito do tipo de processamento das ataque e diminuíram a morbilidade num follow-up de 8 anos.

experiências de vida sobre o equilíbrio físico é a de que há formas de processamento das situações
(especialmente quando traumáticas) que são mais eficazes do que outras; e que este processamento Um estudo realizado por Bower, Kemeny, Taylor e Fahey, (1998) verificou queo processamento

passa por uma série de fases. Enquanto os estudos realizados no âmbito da primeira linha procuram cognitivo e a procura de significado após a morte de um amigo estãorelacionado com um menor declínio

averiguar de que modo a construção de significados sobre uma experiência afeta a saúde, na segunda das células CD4 T e maior sobrevida entre um grupo de sujeitos contaminados com HIV. Exemplos de

linha encontramos os estudos sobre o efeito da expressão emocional. indicadores de processamentocognitivo são frases como: “Eu tenho pensado muito nele como uma
pessoa, um amigo. Mais importante ainda, tenho pensado nele como uma vida”. Exemplos de
descoberta de significado encontram-se nas afirmações seguintes “Eu agora aprecio muito mais os

6.1 ACONTECIMENTOS DE VIDA, CONSTRUÇÃO DE SIGNIFICADOS E SAÚDE amigos que tenho e tornei-me um amigo mais íntimo” ou “de certa forma a sua morte levou-me a
acreditar mais firmemente na qualidade da vida e levou-me a procurar vivê-la de um modo mais
satisfatório”.
Alguns autores têm sugerido que os acontecimentos traumáticos confrontam o sujeito com
informação que é inconsistente com o modo como normalmente organizaa informação e exigem da
parte deste um trabalho para integrar a nova informação. Por exemplo Horowitz (1986), Janoff-

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Em suma, alguns estudos sugerem que face a experiências que desafiam as concepções com que interpessoal que não facilita porque a pessoa antecipa crítica ou punição por parte dos outros, ou há
o sujeito antes organizava o mundo, a capacidade de dar um significado positivo à experiência parece dificuldade em encontrar pessoas disponíveis para ouvir. Esta situação pode ocorrer pelo sofrimento
estar relacionada com efeitos positivos a nível da saúde e do sistema imunológico. que a situação produz no ouvinte, mas também pode verificar-se em situações de desastres naturaisem
que toda a comunidade é afetada e cada um está a tentar lidar com o seu própriosofrimento, estando,
por isso, pouco disponível para os outros. Nestes casos existe uma inibição que pode ser prolongada,
6.2 ACONTECIMENTOS DE VIDA, EXPRESSÃO EMOCIONAL E SAÚDE durando meses ou mesmo anos.

Como refere Pennebaker (1992), embora a inibição seja adaptativa e saudáveluma vez que para
Ainda que o trabalho individual de pensar e elaborar os significados dosacontecimentos viver socialmente aprende-se a inibir impulsos, emoções e comportamentos, este processo é
traumáticos seja uma dimensão importante ou mesmo suficiente paraalguns sujeitos, é na interação desadaptativo quando a pessoa precisa falar sobreum acontecimento e não tem condições para o fazer.
com os outros e na elaboração dessas experiênciasatravés da linguagem que as respostas fisiológicas Neste caso a inibição exige esforço, provoca ansiedade e ameaça à saúde, tornando-se um processo
e emoções podem ser melhorarticuladas e integradas. Ou seja, a forma mais natural de dar sentido altivo, que pode ser mais ou menos consciente e esforçado de modo a pôr de parte pensamentos,
e integrar osacontecimentos de vida é através da utilização da linguagem e da partilha com outros.Falar comportamentos ou emoções. Sabe-se que não falar aumenta a interferência cognitiva, sendo os
permite a comparação social, integrar pontos de vista alternativos e,especialmente, contribuir para processos intrusivos mais frequentes nos acontecimentos não adequadamente assimilados em que se
a organização das imagens e das respostas fisiológicase emocionais sob uma forma narrativa de modo mantém ativadas as respostas fisiológicas e emoções a ela associadas. Por exemplo, as pessoas que
a dar continuidade e assim assimilaras dimensões cognitivas com as emocionais num todo articulado. não podem falar pensam mais vezes, sonham mais e mantém o trauma mais tempo altivo. A
Deste modo asrespostas fisiológicas e emocionais relacionados com uma experiência, muitas vezes investigação demostrou mesmo que se se pedir a alguém para inibir um pensamento ele torna-se mais
repetidamente ativadas de forma caótica sob a forma de intrusão ou ativaçãoemocional ficam sob o frequente e a concentração diminui.
controlo do sujeito autor, e não apenas vítima, da experiência.

A relação entre inibição e perturbação física foi já estabelecida. A inibição exige trabalho
O estudo da relação entre expressão emocional e saúde física foi desenvolvido de uma forma fisiológico e está associada ao aumento da atividade do sistema nervoso autónomo como o aumento
sistemática desde o início dos anos oitenta por Pennebaker. Numa síntese agora publicada são da condutividade da pele, ativação do sistema nervoso central nas regiões do septo e hipocampo, e
sistematizados os resultados da investigação produzidos nos últimos vinte anos e que dão resposta à ativação nas áreas corticais. Quando a inibição ocorre por períodos de tempo muito longos, conduz a
questão que constitui o título do próprio trabalho: “What are the health effects of disclosure?”. É sobre mais episódios de doença e dificuldades imunológicas. Por exemplo, Pennebaker (1989) e Pennebaker
esses efeitos, bem como dos efeitos da inibição das experiências de vida, que trataremos de seguida. e Susman, (1988) verificaram que os sujeitos que tiveram um trauma na infância sobre o qual não
puderam falar têm maisprobabilidade de ficar doentes do que aqueles que passaram pelas mesmas
Sendo falar a forma mais natural de lidar com uma experiência traumática, há, no entanto, experiências, mas puderam partilhá-las. Este resultado está de acordo com o que antes vimos
situações em que por razões relacionadas com o tipo de experiência vividaou o contexto interpessoal, o acerca dos sujeitos com estilo de personalidade mais inibidos e/ou com menor rede de relações
sujeito não encontra condições para falar. Alguns traumas dificultam a partilha por causarem interpessoais, que têm mais problemas de saúde.
embaraço, humilhação, vergonha ou mesmo culpa ao próprio sujeito. Entre este tipo de experiências
contam-se, por exemplo, ser vítima de incesto, fazer um aborto voluntário, ou cometer um ato ilícito. Para testar o efeito da expressão sobre a saúde e mais exatamente sobre o sistema imunológico,
Pennebaker, Kiecolt-Glaser & Glaser (1988) pediram a sujeitospara escrever quatro dias seguidos sobre

Pode ainda acontecer que devido ao sofrimento associado à experiência, ela é inibidauma vez que situações traumáticas da sua vida, enquantooutros escreviam sobre situações triviais. Os sujeitos que

o sujeito não se sente capaz de lidar com as suas próprias emoções. Outras vezes é o contexto escreveram sobre situaçõestraumáticas não só diminuíram os valores de ativação do sistema nervoso

21 22
autónomoe o número de consultas médicas, como a avaliação da sua função imunológica revelou uma 7 SOBRE A PSICONEUROIMUNOLOGIA
melhoria da eficácia dos linfócitos T.

Num estudo realizado por Petrie, Booth, Pennebaker, Davidson e Thomas (1995) em que
existiram igualmente dois grupos com a tarefa de escreveram ou sobresituações traumáticas ou sobre
assuntos triviais, verificou-se que escrever sobre situações emocionalmente dolorosas estava associado
a uma resposta mais eficaz do sistema imunológico, medido por um maior número de anticorpos face
à vacina dahepatite B. Mais recentemente Petrie e Pennebaker (1998) verificaram que os sujeitosque
escreveram durante 3 dias seguidos acerca das suas emoções revelaram um aumento significativo de
linfócitos CD4, enquanto os que só puderam relatar os fatossem revelar pensamentos ou emoções
diminuíram os níveis de linfócitos CD3.

Em suma, este conjunto de estudos parece indicar que o processamento das situações traumáticas
passa por uma série de fases, havendo tarefas, como escreverou falar sobre os acontecimentos e as
emoções a eles associados, que parecem contribuir para amortecer o efeito potencialmente nefasto
associado a essas experiências.

Mas não podemos deixar de lembrar que sendo a relação entre partilha e saúde extremamente
importante, ela em alguns casos é independente do suporte social. Como Pennebaker afirma, ter uma
experiência traumática e não poder partilhá-la quando se tem amigos ainda é mais exigente do ponto As relações mais íntimas entre o cérebro e sistema imunológico começaram a ser melhor
de vista da inibição e, por isso, potencialmente mais perturbador. esclarecidas na década de 70, quando o psicólogo Robert Ader e o imunologista Nicholas Conhem,
realizaram um importante experimento, envolvendo a administração a ratos de uma droga
imunossupressora, junto com água adoçada com sacarina. O sistema imunológico dos ratos ficou
condicionado ao sabor da sacarina; por fim, a administração da água adoçada, isoladamente, levou à
supressão do sistema imunológico, a doenças e à morte. Dessa forma, houve provas irrefutáveis deque
o cérebro poderia influenciar diretamente na imunidade.

Naquela época, Ader juntou os dados psicológicos, neurológicos e imunológicosque obteve de


seus pacientes e os descreveu paralelamente, fornecendo assim, uma visão geral dos problemas
ocorridos nos diversos sistemas. Essa forma de apresentação dos dados sugeriu o estudo da correlação
entre essas variáveis e despertou o interesse de vários outros colegas da Rochester University, os quais
adotaram, então, o mesmo modelo para analisar outros sintomas e casos. Nascia, assim a
Psiconeuroimunologia.

23 24
A partir daí numerosos pesquisadores descobriram diversas conexões fisiológicas entre o cérebro O quadro a seguir demonstra uma síntese das áreas de estudo que é importante integrar:
e o sistema imunológico. Eles mostraram que as células do sistema imunológico podem reagir às
substâncias químicas e que as células nervosas reagem a mensageiros químicos secretados pelo sistema ÁREAS DA PSICONEUROIMUNOLOGIA
imunológico, estabelecendo uma comunicação plausível entre os dois sistemas.
CIÊNCIAS NATURAIS • Física
Essas descobertas fisiológicas, juntamente com vários estudos clínicos de doenças que vão do • Química
• Matemática
resfriado comum a AIDS, deram origem à área da psiconeuroimunologia.
CIÊNCIAS BIOLÓGICAS • Biologia
• Imunologia
A Psiconeuroimunologia propõe-se, portanto, a religação da mente com o corpo, na medida em • Neurofisiologia
que estuda a relação existente entre eles, sobre a perspectiva do Paradigma da Integração. • Neuroimunologia
• Virologia
• Cronobiologia
A Psiconeuroimunologia brasileira não busca a criação de um modelo, de umatécnica, mas o CIÊNCIAS MÉDICAS • Oncologia
desenvolvimento de um novo paradigma. Ela é, nesse sentido, uma espécie de movimento inverso, • Sorologia
que, no esforço por concepções mais abrangentes, estende-se da análise e da síntese do princípio e do • Infectologia
• Alergias
método científico para espaços,que poderíamos chamar de “zonas de sombras das teorias”. Ela tenta
• Síndromes Autoimunes
construir assim, um movimento pendular entre o geral e o particular, porém com a preocupação
• Medicina Oriental
permanente de não deixar de perceber que a vastidão do macrocosmoé formada pelo mesmo átomo que CIÊNCIAS PSICOLÓGICAS • Os Grandes Sistemas Psicológicos
encontramos nas profundezas do microcosmo. • Stress
• Coping
• Epistemologia Clínica
Ainda, segundo o Prof. Dr. Esdras, esse modelo encontra-se em constante revisão e a admissão
CIÊNCIAS FILOSÓFICAS • História da Filosofia
de novas áreas do conhecimento tem sido processada frequentemente. O conceito que se procura
• História da Ciência
desenvolver provoca, necessariamente, um sentido de interdisciplinaridade, na medida em que procura • Epistemologia Genética
não estabelecer a direção para a compreensão do fenômeno. Nele os fenômenos não são, portanto • Filosofia Oriental
puramente psicossomáticos ou somatopsíquicos, nem tambémpsiconeuroimunológicos, mas podem CIÊNCIAS ESPIRITUAIS • Histórias das Religiões

ser vistos como neuropsicoimunes ou imunoneuropsíquicos. Não importa a ordem dos fatores. A • Religião e Ciência
• Espiritualidade e Saúde
visão interdisciplinarconfere a cada dimensão a mesma relevância e o mesmo valor de importância na
CIÊNCIAS PÓS-MODERNAS • Cibernética
determinação do processo. Esse princípio constitui-se como a essência de um “Paradigma Inter
• Inteligência Artificial
ciências”. • Ciclos Neurais
• Medicina Ultra e Ortomolecular
• Psiconeuroimunologia Aplicada

A Psiconeuroimunologia, a área da ciência que relaciona o Psiquismo, Neurologia e Imunologia,


ou seja, é o campo de estudo que compreende a interação do psiquismo no sistema nervoso e sua
influência sobre a imunidade e, por consequência, da saúde do ser humano de uma forma geral.

25 26
tempo e assim, diante de um sofrimento ou um mal-estar, dirigem-se até a farmácia mais próxima,

Para compreender como se dá essa interação basta que você se recorde da última vez que ficou compram um remédio e pronto, lá estão novamente retomando suas atividades e sua rotina, sem se

doente. Procure lembrar-se dos fatos que antecederam a sua doença. Frequentemente, as doenças são conscientizarem que da sua participação na doença que foi manifestada em seu organismo.

precedidas de situações que geraram desgaste emocional, preocupações ou conflitos.


Entretanto, esta falta de conscientização tem seu preço, visto que inúmeraspesquisas veem

Então, como aponta Quilici (2001) quando achamos que tudo irá se acomodarvem à doença. demonstrando que os medicamentos atualmente são os grandesresponsáveis por ocasionarem danos

Pode ser uma gripe, uma alergia, uma gastrite, uma herpes, uma pneumonia, entre tantas outras. Isso no organismo, alguns até com efeitos colateraisbem pesados e permanentes. Os empresários, ao se

ocorre porque, frente uma tensão, o indivíduo fica abalado emocionalmente em menor ou em maior depararem com o desgaste, oestresse e, em alguns momentos, com as faltas dos funcionários, não

grau, então o organismo sofre um desgaste que interfere na imunidade a ponto de fazer cessar conseguindocontar muito com a eficiência do empregado, começam a perceber que, dependendodo

parcialmente ou totalmente uma de suas principais funções que é a proteção de nosso corpo. grau do estresse e das características de personalidade do indivíduo, não há um medicamento
específico que dê jeito. Por meio dessas constatações, as pessoascomeçam a fazer um movimento

Mesmo tendo consciência disso, dificilmente vemos um médico perguntando ao seu paciente em direção a tratamentos considerados alternativos.Contudo, logo surgem artigos na mídia, falando

sobre as circunstâncias que antecederam o surgimento de uma enfermidade. Por que a maioria dos sobre o perigo desses tipos de tratamento. É claro que devemos tomar cuidado com pessoas que usam

médicos agem assim? Descuido? Falta de interesse? Não, com certeza não se trata disso. O problema de má fé naárea da cura e da saúde, contudo também devemos lembrar que a grande maioriadesses

é que, a nossa cultura, bem como o Ocidente como um todo permaneceu estacionada entre os tratamentos alternativos, principalmente os que fazem o uso das ervas, estastambém são fonte primária

paradigmas cartesianos e biomédicos, cindindo corpo e mente. de muitos remédios e a humanidade conseguiu sobreviveraté agora, sem a presença dos laboratórios.
Basta relembramos sobre o paradigma primitivo. Além disso, nos ditos tratamentos alternativos

Vale lembrar que nem mesmo os gregos antigos consideravam esta visão dualista de que o corpo também se encontramterapias que partem do pressuposto biopsicossocial e até, mesmo o espiritual

e a mente fossem coisas separadas. Todavia, foi esta a ideiaque se conservou para nós e o que dominou (levando em conta crenças e valores de cada indivíduo), olhando-o de maneiraholística, como

toda cultura ocidental e, ainda hoje, permanece para o prejuízo de milhares de pessoas e dos campos um todo, que se adoeceu é porque os demais aspectos (psicológico, social e espiritual) também

que envolvem a área da Saúde. Por outro lado, muitas pessoas se “beneficiam" desse caráter dualista, adoeceram.

pois assim não precisam pensar muito. Porém correm o perigo de esgotarem o corpo, até não
conseguirem rever mais um quadro. A grande questão hoje, é que a medicina preventiva, deu lugar à medicina curativa e nesta, as
enfermidades são vistas de forma bélica, ou seja, precisam ser combatidas a todo custo, perdendo-se
Unir corpo e mente é, infelizmente, uma condição que não interessa a muitas pessoas, ainda que assim, a visão de que se há uma desarmonia,isto se deu porque o corpo e a mente foram influenciados
atinja a todos, sem exceção. Primeiramente, essa integração não interessa aos laboratórios por eventos, principalmenteaqueles que envolvem aspectos emocionais. Os profissionais das áreas da
farmacêuticos, em segundo lugar para os empresários e, por último, a população de um modo geral. saúde ainda brigam muito por espaço e com isto o cenário permanece quase que estagnado.Contudo,
Não precisamos discutir as razões dos laboratórios farmacêuticos por serem óbvias pelos lucros que pouco a pouco termos como: qualidade de vida, realização pessoal, responsabilidade social, entre
estas podem obter. Já o empresário partilha do ponto de vista do fabricante de remédios na medida em outros vão se inserindo no cotidiano das pessoas (infelizmente, após muita negligência com o impacto
queum medicamento diminui demasiadamente, o tempo de recuperação do seu funcionário doente e dos aspectos psicológicos e sociais).
permite que este volte ao trabalho mais rápido.

Como propõe Quilici (2001), é natural que o ser humano, através dos tempos, fossem observando
fatos e desenvolvendo remédios que lhe ajudassem a manter a saúde e a saúde da humanidade. E, ainda
A maioria das pessoas, por sua vez, não suporta desconfortos de qualquer espécie por muito

27 28
hoje, estes medicamentos funcionam. Muitagente se trata com eles e passa bem. No entanto, os modos identificam aquilo que não é do self (si mesmo) e é maligno e instituem defesascontra os componentes
de vida mudaram radicalmente e com essa mudança, surgiram diferentes níveis de desgaste emocional. malignos do mundo interno;
E isso veio com tal velocidade que, as pessoas não tiveram capacidade suficiente para se adaptarem, e) cérebro/psiquismo e sistema imune cometem “enganos” que podem favorecero surgimento
muito menos os medicamentos. de doenças e até mesmo levar à morte. Neste sentido, fatos ou organismos inócuos podem ser
percebidos como perigosos e provocar desde fobias a alergias. O verdadeiro self pode não ser aceito e
Muitas mudanças no cérebro humano levaram milhares de anos para ocorrer, porém somos então, a depressão se instala, conduzindo em muitos casos para tristes desfechos, como o suicídio. O
obrigados a nos adaptar em menos de uma década. Desse modo, muitas vezes não são os remédios mesmo acontece com as reações autoimunes que, algumas vezes podem sobrevir de forma fatal.
naturais que deixaram de fazer efeito, é aconstância quase que diária de nossos desgastes que nos
deixam em eterno estado de alerta, levando antes do surgimento das doenças, a manifestação da Sabe-se que as pessoas, de um modo geral, tornam-se mais propensas a apresentarem quadros
síndrome deadaptação. Então, talvez valha à pena conhecer uma ciência que vem procurando secolocar depressivos e autoimunes com o avanço da idade. Memórias recentes (não as de longo prazo) tendem
e que pode nos ensinar muitas coisas sobre as emoções e as doenças: a Psiconeuroimunologia, a falhar mais frequentemente com a idade e a senilidade imune é caracterizada pela pobreza das
conhecida também por PNI. respostas primárias ao nível dos novos antígenos e uma resposta secundária relativamente forte para
antígenos antigos.
A PNI significa a interação entre esses três sistemas, que podem causa danosao nosso organismo.
É importante ressaltar que não se trata de uma ciência nova. Afinal, através dos tempos e das culturas, Quilici (2001) descreve casos de doenças de pele em pacientes onde a deficiência com a
médicos e sábios, procuraram unificar o bem-estar físico buscando suas origens no psiquismo. Foi um autoestima era a regra. Relata que um paciente em especial, tinha sérios e variados problemas de pele
médico da Transilvânia,Papai Pariz, que praticamente reiterou Aristóteles e antecipou o surgimento da e muitos, eram autoimunes. O autor notou que, esse paciente tinha um nível de autoestima tão baixo
Psiconeuroimunologia (PNI), quando declarou no ano de 1680 que “Quando as partesdo corpo e seus que toda vez em que se pronunciava, reproduzia somente coisas que ele tinha ouvido. Em alguns
humores não estão em harmonia, então a mente se desequilibra e amelancolia aparece, mas por outro momentos ele parecia ter dupla personalidade porque surgia com formas completamente diferentes de
lado, uma mente calma e feliz faz com que todo corpo fique saudável”. Os mecanismos subjacentes a ser. Com um nível tão alto de rejeição a si mesmo, o paciente em questão desenvolvia alergias
essa ligação serão compreendidos a seguir. extremamente agressivas. Outros pacientes com alergias de pele, principalmente, aqueles com
dermatites resgataram sua autoestimae começaram a apresentar remissão definitiva dos sintomas.
Caso assumamos uma racionalidade adaptativa para o processo evolucionário,faz sentido crer
que o sistema nervoso e o sistema imune podem ser compreendidos como um sistema único e integrado Outros dois cientistas da Psiconeuroimunologia, Roger Booth e Kevin Ashbridge, afirmam: “Há
de adaptação defensiva. Ambos têm um comum: necessidade de reavaliar e talvez redefinir os conceitos, símbolos e a linguagem da imunologia e da
psicologia, de forma que permitam estabelecer uma relação entre os processos imunológicos e
a) senso de identidade, ou seja, sabem o que é o ser e o não ser; psicológicos. Esses processos devem ser expressos em termos de uma perspectiva teleológica coerente.
b) interferem no relacionamento do indivíduo com o ambiente e ignoram oselementos Para que as relações entre o psiquismo e a imunidade, façam sentido, seria
externos, independente de serem eles, amigáveis ou perigosos; necessário que nos livrássemos de alguns de nossos preconceitos no que diz respeito à natureza de
c) permitem ao organismo sobreviver em um ambiente hostil pelos mecanismos físicos de sistema imune e de nosso psiquismo”.
adaptação e também das defesas psíquicas, sendo que para fazer isso, esses dois sistemas, possuem
memória e aprendem por meio da experiência; Segundo Quilici (2001), a Psicossomática, que data do final da década de 1930 e começo da
d) monitoram o mundo interno e avaliam o que é ego-sintônico ou distônico, ou seja, década de 1940, foi antecipada por clínicos antigos que, já previam, através de suas ideias a
Psiconeuroimunologia; enquanto que, a área da Imunologiapré-contemporânea, não o fez. O campo

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da imunologia estabeleceu na época que osistema imune era autônomo e autorregulável, respondendo resolver os problemas até mecanismos mais primitivos de negação, repressão e fuga psíquica, ou ainda
somente aos desafiosantigênicos, ou seja, só reage se um invasor entra no organismo e provoca uma de desprendimento e retraimento.
ação.O autor cita que em um encontro de um grupo de estudos de Psiconeuroimunologia, David
Felten, lembrou-se de uma famosa crítica, que foibatizada como: “Folha Rosa”. Nesse documento, A Psicossomática tem se preocupado com estes tipos especiais de padrões de vigilância e a
afirmava-se com humor: “Ainervação dos órgãos imunes obviamente, não devem ter nada a ver com as indicação de que determinadas características, podem estar associadas com algumas doenças em
respostasimunes, uma vez que essas reações podem ocorrer em tubos de ensaio, que, por usavez, não particular. Como apontam algumas pesquisas que vimos anteriormente, indivíduos que apresentam um
tem nervos”. Todavia, no início da década de 1940, Franz Alexander observou que a patologia padrão mais competitivo e hostil têm sido associados, por causa de muitas evidências, com as doenças
psicossomática era o resultante fisiológico de emoções conscientes ou mesmo, daquelas que coronarianas e é rotulado como padrão tipo A. As pesquisas mostraram que tais indivíduos estão mais
estariam reprimidas. Os alemães, ThorwaldDethlefsen e Rudiger Dahlke, que escreveram “A Doença propensos a terem doenças cardíacas. Flavio Rotman em “A prevenção do Infarto para nervosos”
Como Caminho” (1983) e“A Doença Como Símbolo” (1996) têm vários trabalhos na área de (1985) faz importantes referência a estudos com esses tipos de pessoas.
psicossomática,nos quais se referem as doenças como um fenômeno que possui sentido e que o
entendimento deste proporciona uma conscientização sobre os conflitos ainda nãosolucionados pelo Em uma série de estudos controlados, de pessoas com doenças autoimunes como artrite
indivíduo. Abaixo vamos discutir a questão da ligação entre doenças e emoções. reumatoide, Rudolf Moos e seus parceiros, concluíram que os artríticos, em comparação com seus
irmãos não artríticos, mostravam características como submissão, dificuldade de expressão da raiva,
sensibilidade para a raiva alheia, conservadorismo e autossacrifício, além de serem pessoas mais
Na década de 1940, Selye começa a conceitualizar o stress como uma influência perturbadora e
ansiosas e deprimidas. Na ótica de Quilici (2001), pacientes com outras doenças autoimunes talcomo
não especifica, fazendo um paralelo com o conceito de homeostase (equilíbrio interno) de Cannon.
Lupus Erimatoso Sistêmico e Tireoidites parecem ter padrões similares.
Dessa maneira, um evento estressante, mobiliza um comportamento adaptativo do organismo,
implicando em inúmeras e rápidas alterações fisiológicas. Sua resolução depende de moderadores
Porém há alguma causa e, qual o efeito da personalidade e stress x doença? Quilici (2001) aponta
externos tal como suporte social e amoroso ou, de moderadores internos tais como habilidade de
que em um dos melhores trabalhos sobre psicossomática, feitosna atualidade, cientistas compararam
vigilância, e nos mostram, que podem auxiliar para o crescimento psicossocial, ou para uma mudança
dois grupos de pacientes e seu status de saúde.Um dos grupos eram de pessoas com artrite reumatoide
extremamente prejudicial da saúde, que muitas vezes pode conduzir à morte em caso de exaustão
(grupo 1), e o outro grupo depessoas sem artrite reumatoide (grupo 2). Do grupo 1, todos tinham
extrema.
“disponibilidade genética”. Cerca de 20% eram portadores da doença e os outros 80% apresentam
ausência de anticorpos característicos de Artrite Reumatoide, um anti IgG ou anticorpos contra os
Selye apontou o eixo hipotálamo-hipofisário, adrenal cortical como os determinantes dos efeitos
anticorpos envolvidos no surgimento da doença.
do stress sobre a saúde do organismo. Na década de 1960, o psiquiatra George Angel estabeleceu seu
modelo biopsíquico social para todas as doenças. Dependendo da eficácia dos mecanismos psíquicos,
Observou-se que, no primeiro grupo, as pessoas com auto anticorpos, estavam em condições
que compreendem uma variedade de reações, reflexões e atitudes, a homeostase psíquica (ou equilíbrio)
emocionais perfeitas, sem ansiedade, depressão ou alienação, relatando estarem satisfeitos com o
pode se restabelecer, mas, caso isso não se suceda, o stress, pode funcionar como um alarme para uma
trabalho e com as relações pessoais. Para o autor,isso pode ser um indício de que o bem-estar psicológico
fase mais perigosa.
provavelmente funciona comouma proteção diante da determinação genética, a qual os predispunha a
uma doençaimune. Sabe-se que pessoas com artrite reumatoide, e que são assintomáticas, têm grandes
chances de desenvolverem a artrite na medida em que, um padrão fixo de doenças autoimunes,
Os mecanismos psíquicos de vigilância tendem a ser relativamente estáveis ecaracterísticos de
relativamente frequentes se seguem a um evento de vida extremamente estressante, tal como a morte de
cada indivíduo, mas podem variar de muitas maneiras. Desde modos mais maduros e eficientes de
alguém que significava muito do pontode vista emocional.

31 32
sozinha produz imunossupressão,o cérebro, obviamente, está envolvido.
Quilici (2001) menciona outro estudo realizado com crianças que eram filhos de pais psicóticos,
nele as crianças que foram adotadas por casais equilibrados e que lhes propiciaram um ambiente Estudos realizados em seres humanos demonstram que estresse e imunidadebaixa têm estreita
saudável, não demonstraram indícios da doença até aidade adulta, mas nos casos em que as crianças ligação. Trabalhos mostram continuadamente a comprovação dessas hipóteses, observadas em
foram adotadas por famílias com situações complicadas do ponto de vista emocional, todos acabaram situações naturais tais como, luto, brigas conjugais,exames, e naqueles que cuidam de pacientes com
por apresentar,um quadro psicótico. Para o autor, os ambientes podem favorecer ou não a manifestação doença de Alzheimer e até mesmocom estressores experimentais como é o caso da aritmética mental.
de uma doença. Dessa forma, a seguinte questão é levantada: ambientes saudáveis e amorosos podem Há inúmeras referências desse tipo de experiências no livro já citado de Fábio Rotman.
funcionar como uma proteção contra a determinação genética?

Quidici (2001) cita que David Felten e a seu colega Jeffrey Fessel, ambospesquisadores de
PNI, ficaram impressionados com um trabalho realizado em numaclínica de doenças reumatoides. Lá
foi observado o fato de que, a condição, A. A. A. (anticorpos antinucleares associados), podem
produzir sérias doenças psiquiátricas,com frequência, semelhantes à esquizofrenia, algumas vezes
como um sintoma inicial. Em função dessa associação imunopsiquiátrica, alguns cientistas,
começaram a procurar por níveis anormais de imunoglubulinas e a presença de vários anticorpos
naqueles pacientes que sofriam de esquizofrenia e os encontraram em alguns deles.Rudy Moos e David
Felten publicaram em 1964 um trabalho que foi denominado: “Teoria Especulativa de Integração:
Emoções, Imunidade e Doenças”,que tratava da regulação neuroendócrina da Imunidade e os
efeitos experienciais sobre o sistema imunológico.

Nota-se que muitos dos experimentos foram iniciados em animais com a finalidade de conhecer
as reações da imunidade. Os cientistas tinham por objetivo observar a interação entre Sistema Nervoso
Central e Imunidade, bem como os efeitos do estresse sobre a resistência imunológica e sua mediação
nas doenças. Muitos experimentos antigos foram retomados e iniciados no Laboratório de
Psiconeuroimunologia, em Stanford, que era filiado ao Hospital VA de Palo Alto. A primeira grande
pesquisa foi efetuada com fundos privados da fundação, porque houve uma impossibilidade inicial de
obter verba com o NIH (Departamento de Saúdedos Estados Unidos) e com o próprio VA, porque,
segundo eles, tal pesquisa estava muito distante do que seria considerado, uma disciplina médica e
comportamental. Naverdade, a Psiconeuroimunologia é sentida como uma quebra dessas disciplinas.

Entretanto, o que colocou a Psiconeuroimunologia no campo científico, mesmo com tanto


ceticismo à sua volta, foi realmente, um relatório de 1975, de Bob Ader e Nick Cohen. Neste são
relatados experimentos sobre paladar e aversão que condicionavam a imunossupressão. Se a sacarina

33 34
8 PSICONEUROIMUNOLOGIA E O CÂNCER o stress e a depressãocausam respectivamente um aumento de interleucina 1 beta (IL-1 β) e necrose
tumoral alfa (TNF- α), desregulando o sistema imunológico levando a casos de câncer.

Baseados nos resultados obtidos dos diferentes artigos, concluímos que estressores psicossociais
afetam diretamente o sistema imunológico, diminuindo suaeficiência e levando ao aparecimento de
doenças e do câncer. Isso vem a estimular entre os profissionais da saúde e de várias áreas o fato de se
estender essa relação.A função imunológica com relação as experiências da vida mostram sempre
novas descobertas.

A medicina Psicossomática revelou o papel importante da mente na manutenção da saúde física.


A combinação entre emoções e as doenças vem sendoexplicada durante décadas devido aos progressos
em biologia molecular e celular, genética, neurociências e estudos na imagem cerebral. Estes avanços
divulgaram as inúmeras ligações entre os sistemas neuroendócrino, neurológico e o sistema
imunológico.

Corpo e mente fazem parte de um indivíduo, sendo a saúde, o resultado desseequilíbrio que
impreterivelmente reage com o meio ambiente. Tais observações também foram propostas por
Hipócrates e Galeno (por volta de 380 a.C.). Na décadade 70 com a publicação da Journal of Behavior
Medicine, houve a criação das áreas denominadas Medicina Comportamental e Psicologia
Comportamental, havendo uma iniciação nas pesquisas das Ciências Sociais e Biomédicas, sendo
A Psiconeuroimunologia é um campo científico que pesquisa a relação entre cérebro, indicado a sua aplicação nos tratamentos médicos. Ainda os autores apontam que a ligação entre stress,
comportamento humano e sistema imunológico, bem como as conexões para com a saúde física e a depressão e consequentemente o enfraquecimento do sistema imunológico podem favorecer a
doença. Noentanto, em diversos quadros patológicos este equilíbrio é rompido e neste contexto,alguns formação e desenvolvimento de tumores.
autores propõem que mulheres deprimidas apresentavam uma maior incidência de câncer, apontando
um possível impacto causado por variações no sistema nervoso central e no sistema imunológico. A
autora analisou o impacto dos fatores de stress e depressão com relação ao sistema imunológico e como 8.1 CORRELAÇÃO ENTRE O SISTEMA NERVOSO CENTRAL E O SISTEMA

a mente pode interferir no estado mental, bem como físico das pessoas. Ainda, o objetivo do estudo IMUNOLÓGICO

foi de auxiliar a sociedade e aos profissionais da saúde na maior compreensãodas consequências do


stress e da depressão no sistema imunológico, bem como a maior propensão ao câncer em indivíduos
que apresentam estas patologias. De acordo com Holden, Pakula e Mooney (1998) os resultados, O sistema imunológico exerce um papel importante no sistema nervoso central (SNC) com

baseados na análise de cerca de 360.000 casos através de pesquisas em Banco de Dados, mostraram relação a conservação e a morte neuronal. As citosinas podem atuar no SNC como fatores de

que em pessoas viúvas com mais de 65 anos e aposentados, a mortalidade aumentou em48% em homens crescimento neuronal e como neurotoxinas exercendo um papelem várias doenças. As citosinas pró-

viúvos e 22% em mulheres viúvas, num curto período de três mesesde luto, tendo possivelmente como inflamatórias como a interleucina 1 (IL-1), interleucina-6 (IL-6), interferons (IFNs) e fator de necrose

consequência o carcinoma de mama e doenças cardiovasculares. Outros estudos indicam também que tumoral alfa (TNFα), liberados durante uma infecção, conduzem um conjunto de mudanças no

35 36
comportamento e mal-estar ligados às enfermidades. classificação foi imperfeita, porque muitos antígenos que se acreditava serem tumor-específicos
revelaram ser identificados em algumas células normais. Porém, um importante avanço nesse campo
foi o desenvolvimento de técnicas para identificar os antígenos tumorais, que foram reconhecidos por
8.2 ESTRESSE, DEPRESSÃO E CÂNCER linfócitos T citotóxicos (CTL), pois o CTL é o principalmecanismo imunológico de defesa contra os
tumores. Eles identificam os peptídeos decorrentes das proteínas citoplasmáticas que são ligadas às
moléculas do complexode histocompatibilidade principal de classe I (MHC I).
Alguns estudos apontam o aparecimento de ligações bidirecionais entre o SNC,o eixo hipotálamo-
pituitária-adrenal (HPA) e o sistema imunológico. O sistema imunológico modula os sistemas No entanto, por processos externos que afetam o sistema imunológico relacionados
alostáticos através das citosinas que exercem resultados estimulatórios sobre sistema nervoso principalmente aos mecanismos de escapes tumorais, o sistema imunológico reconhece as células
autônomo e o eixo HPA, e outras exercem resultados inibitórios. Assim, é sabido que a IL-1 predispõe anormais como integrantes da sua estrutura. Com isso não haveria reações imunológicas e as células
a liberação de corticotrofina (CRF) no hipotálamo e significativo para a evolução da resistência dos tumorais não são efetivamente eliminadas. Esse mecanismo neoplásico ocorre na comunicação entre
receptores de glicorticoides ao cortisol no decorrer do estresse crônico. Em se tratando de mecanismos o SNC e o sistema imunológico.
fisiológicos envolvidos na depressão, o ácido γ-aminobutírico (GABA), o principal neurotransmissor
inibitório, aparece como o principal mediador doSNC. De fato, estudos concordam em dizer que na
depressão, ocorre diminuição do sistema GABAérgico, resultando na alteração da resposta dos 8.3 CORRELAÇÃO ENTRE SISTEMA NERVOSO CENTRAL (SNC), SISTEMA
receptores das catecolaminas (adrenalina e noradrenalina). IMUNOLÓGICO E O CÂNCER

Sobre o câncer, o oncologista britânico Willis desenvolveu uma definição maisadequada sobre
neoplasma, “o neoplasma é uma massa anormal de tecido, ocrescimento é excessivo e não Em termos de fisiologia, a emoção não é abstrata, a emoção é concreta e isto se expressa nas

coordenado com aquele dos tecidos normais, e persiste da mesma maneira excessiva após modificações fisiológicas do corpo humano. O corpo consegue identificar uma situação de stress

a interrupção do estímulo que originou asalterações”. No que diz respeito ao tumor benigno, ele intenso, depressão ou de perigo e recebendo essa informação desencadeia-se todo um processo

permanece localizado, não sedisseminando para outros tecidos e geralmente é removido por cirurgia. neuroimunologico.

Já o tumor maligno (cânceres), invadem e aderem outras estruturas adjacentes e se espalham para
outros tecidos (metástases), levando à morte. As células anormais, e oplásicas ou não, surgem durante Assim, a associação entre neurotransmissores, neuropeptídios e neuro- hormonais e a função
a vida, no entanto estas são combatidas pelo sistema imunológico. imunológica pode ser bidirecional, ou seja, o sistema imunológico pode, através de citosinas criar um
feedback negativo, sobre o sistema nervoso central e vice-versa. Alguns agentes estressantes

O termo imunoedição tumoral, no câncer atualmente vem sendo utilizado paraexplicar os efeitos podem alterar a imunocompetência do ser humano e levar a uma imunodeficiência do mesmo,

do sistema imunológico para prevenir a formação de tumores. Os antígenos tumorais que iniciam uma podendo exercer uma ação como se fosse um “gatilho” para o desenvolvimento do câncer.

resposta imunológica foram encontrados em muitos tumores induzidos em experiências no laboratório


e em alguns cânceres humanos. Taxas de prevalência de depressão clínica em pacientes com câncer são: 50%nos cânceres de
pâncreas, 40% orofaringe, 10% - 32% de mama, 13% - 25% cólon do útero, 23% ginecológica, 17%
Linfomas e 11% gástrico. De fato, num estudo realizado na Suécia entre os anos de 1968 a 1978, entre
Desta forma, foram classificados em duas categorias por padrões de expressão: antígenos
pessoas viúvas com idade acima de 65 anos e pessoas aposentadas (por volta de 360.000 casos),
tumor-específico, presentes em células tumorais e não em qualquer célula normal e antígenos
descobriu-seque a mortalidade aumentou em 48% em viúvos e 22% em viúvas, em um prazo de três
associados ao tumor, presentes nas células tumorais e algumas células normais. No entanto essa

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meses de luto. As mortes tiveram como consequência o carcinoma de mama e doenças deficiências e anormalidades imunológicas peculiares na sua resposta endócrina ao stress. Estudos
cardiovasculares. Da mesma forma em outro estudo relatado, o aumento daincidência de mortes em clínicos documentados combinaram a depressão, o apoio social e as atividades das células NK em
pessoas depressivas e sob forte estresse tinham como causacarcinomas de mama, gástricos, colo retal e pacientes com câncer de mama. Outros grupos de pesquisa observados apresentaram desconforto,
pulmão. estresse e deficiências agregadas ao isolamento social na função imunológica.

Ao final, avaliou-se que estressores psicossociais afetam diretamente o sistema imunológico,


8.4 ESTUDOS METODOLÓGICOS EM PACIENTES DEPRESSIVOS, OU SOB diminuindo sua eficiência e levando ao aparecimento de doenças e do câncer. Isso vem a estimular
CONDIÇÕES ESTRESSANTES – POSSÍVEL CORRELAÇÃO COM O entre os profissionais da saúde e de várias áreas o fato de se entender essa relação. A função
DESENVOLVIMENTO DE NEOPLASIAS imunológica com relação as experiências da vida mostram sempre novas descobertas. Estudos
apontaram modificações contextuais importantes para estudos da Psiconeuroimunologia e o Câncer,
uma transição literalmente alinhada aos avanços na biologia da célula cancerosa e a valorização
Estudos em pacientes portadores de neoplasias malignas, indicam que não foi encontrado resultante para tecidos-alvo e do contexto em que os tumores prosperam.
nenhum caso em que o fator emocional não estivesse associado à origem da doença. Ressalta-se a
necessidade de se saber lidar com os fatores estressantesao longo da vida das pessoas, com intuito de
impedir o desencadeamento de doençasa partir de um sistema imune comprometido.

Dos estudos realizados no Instituto Nacional de Câncer, observou-se que de um total de 250
pacientes com câncer, 76,8% apresentaram um estado depressivo prévio à eclosão da doença. A
metodologia é encarada de modo diferente para cada indivíduo, podendo variar no mesmo indivíduo,
em inúmeros momentos, como é constatado e avaliado.

Em 2002, o National Cancer Institute (NCI), em colaboração com outrosinstitutos e com os


Centros dos Institutos Nacionais de Saúde, convocou uma reunião de peritos científicos para debater
sobre o comportamento humano, a respeito do sistema nervoso, endócrino e a relação do sistema
imunológico na saúde e na doença. Desenvolveu-se uma linha de pesquisa biobehavioral (bio-
comportamental) no controle do câncer. Estudos foram extraídos dos mecanismos neuroimunes de
experiências subjetivas (por exemplo, estresse, solidão e dor), processos biológicos (por exemplo,
ritmicidade circadiana, sono, cicatrização de feridas, doençacomportamental e apoptose) e resultados
das doenças (por exemplo, vírus da imunodeficiência humana, depressão e transtorno de stress pós-
traumático).

As investigações clínicas introdutórias concentraram-se tão somente em módulos psicossociais


sobre a resposta imunológica humoral e celular e, em certa extensão, na reparação do DNA. Assim,
como resultado deste estudo mulheres com um aumento do risco genético para o câncer apresentaram

39 40
9 A ESCRITA EXPRESSIVA Desde então, a área da psiconeuroimunologia tem explorado a ligação entre o que agora é
conhecido como "escrita expressiva" e o funcionamento do sistema imune.

Os estudos seguintes examinaram o efeito dessa escrita em tudo, de asma e artrite até câncer de
mama e enxaqueca. Por exemplo, em um estudo pequeno, conduzido no Kansas (EUA), foi descoberto
que mulheres com câncer de mama tinham menos sintomas incômodos e iam a menos consultas
médicas relacionadas ao câncer nos meses seguintes ao experimento.

O objetivo do estudo não era observar o diagnóstico de câncer a longo prazo eos autores não
sugerem que o câncer poderia ser afetado. Mas a curto prazo, outrosaspectos da saúde da mulher
pareciam melhores que aqueles nos grupos de controleque escreveram sobre outra coisa além de seus
sentimentos em relação ao câncer. No entanto, isso nem sempre funciona. Uma meta-análise de
Joanne Fratarolli, daUniversidade da Califórnia em Riverside, apontou que há um efeito em geral, mas
queeste é pequeno. Para uma intervenção livre e positiva, é um benefício que vale a pena.Alguns estudos
tiveram resultados decepcionantes, mas há uma área em que osresultados são mais consistentes: a
da cura de ferimentos.

Nesses estudos, voluntários corajosos fazem a escrita expressiva e alguns diasdepois recebem um
Em 1986, o professor de Psicologia James Pennebaker descobriu algo extraordinário, que
anestésico local e, então, uma biópsia no braço. O ferimento geralmente mede 4 milímetros e cura em
inspirou uma geração de pesquisadores a fazer centenas de experimentos. Ele pediu a estudantes que
algumas semanas. Essa cura é monitoradarepetidamente e é mais rápida se os voluntários escrevem
passassem 15 minutos escrevendo sobre o maior trauma de suas vidas ou, caso não tivessem passado
sobre seus pensamentos mais secretos.
por um, sobre o momento mais difícil que viveram.

O ato de colocar palavras no papel faz o que, afinal? Inicialmente se assumia que isso estava
Eles tinham que se soltar e incluir seus pensamentos mais profundos, mesmo que nunca os
ligado à catarse, ao fato de que as pessoas se sentiam melhor porquecolocavam seus sentimentos para
tivessem compartilhado antes. Eles realizaram essa mesma tarefa por quatro dias consecutivos. Não
fora. Mas então Pennebaker começou a olhar comatenção para a linguagem usada pelas pessoas na
foi fácil. Pennebaker disse que, em média, um a cada 20 alunos acaba chorando, mas, quando
escrita.
questionados se queriam continuar o experimento, sempre disseram que sim. Enquanto isso, um grupo
de controle passouo mesmo número de sessões escrevendo descrições de coisas neutras, como uma
Ele descobriu que os tipos de palavras usadas mudam no transcorrer das quatro sessões. Aqueles
árvore ou seus quartos.
cujos ferimentos curavam mais rápido começaram a usar mais a palavra "eu", mas nas últimas sessões
usavam "ele" ou "ela" com maior frequência, sugerindo que eles estavam olhando para o acontecido
O pesquisador então passou seis meses monitorando a frequência com que osestudantes iam ao
com outrasperspectivas. Eles também usaram palavras como "porque", implicando que estavamdando
médico. No dia em que viu os resultados, ele saiu do laboratório, encontrou um amigo que o esperava
sentido aos acontecimentos e os colocando em uma narrativa. Pennebaker
no carro e lhe disse que havia descoberto algo grande. Os estudantes que escreveram sobre seus
sentimentos secretos foram muitas vezes menos ao médico nos meses seguintes. acredita que o simples ato de rotular seus sentimentos e colocá-los em uma história pode afetar o
sistema imune de alguma forma.

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Mas há uma descoberta curiosa sugerindo que pode haver outra coisa acontecendo. Imaginar um por uma operação, poderemos ir para casa com instruções sobreescrita expressiva. Como diz Kavita
acontecimento traumático e escrever uma história arespeito dele pode fazer a ferida curar mais rápido, Vedhara, o efeito "é de curto prazo, mas poderoso".
então talvez a diferença esteja menos relacionada com a resolução de questões passadas e mais com
encontrar umamaneira de regular suas próprias emoções.

Após o primeiro dia de escrita, a maioria das pessoas disse que remoer o passado as fez se sentir
pior. Será que o stress fez as pessoas liberarem hormônios de stress como o cortisol, que também é
benéfico a curto prazo e pode fortalecer o sistema imune? Ou será que é a melhora do humor depois de
vários dias escrevendoque traz os benefícios para a imunidade? Até agora, ninguém sabe.

Seja qual for o mecanismo, apesar de várias décadas de pesquisa mostrando que funciona, a
técnica raramente é usada clinicamente. Dá até para imaginar uma situação em que pessoas com
cirurgia marcada sejam instruídas a praticar a escrita expressiva nas semanas anteriores ao
procedimento, mas poucos estudos usaram populações clínicas com ferimentos reais e cirúrgicos em
vez de aplicar ferimentos artificialmente em estudantes saudáveis.

Também funciona melhor para algumas pessoas em relação a outras e tudo depende do quanto
elas se engajam no processo. Além disso, o efeito é a curto prazo,então você teria que calcular bem o
tempo. Escrever sobre seus sentimentos não aumenta sua imunidade para sempre. Se as mesmas
pessoas se machucarem de novo alguns meses após o estudo inicial, elas não vão se curar mais rápido
que outrapessoa qualquer.

Agora, uma pesquisa recente da Nova Zelândia sugeriu que não é necessário realizar a escrita
antes de você se machucar. Pode funcionar do mesmo jeito se vocêfizer a escrita expressiva depois.
Isso abre um leque de possibilidades para a práticanão apenas quando a cirurgia é planejada, mas para
ferimentos que não podemos prever.

Kavita Vedhara, da Universidade de Nottingham, e sua equipe na Nova Zelândia fizeram um


experimento com 120 voluntários saudáveis e pediram a eles para escrever ou sobre um evento
estressante ou sobre o que fizeram no dia anterior.Isso foi feito antes ou depois de uma biópsia no
braço. As pessoas que estavam no grupo da escrita expressiva (que escreveram sobre o evento
estressante) tinham umatendência seis vezes maior de ter o ferimento curado em 10 dias na comparação
comas outras.
Ainda é preciso realizar mais estudos com pacientes reais, mas talvez um dia,quando passarmos

43 44
10 TEXTO COMPLEMENTAR mas foram ampliando seu campo de conhecimento quase sem ter em conta as relações entre o sistema
estudado e o restante dos sistemas do organismo, desenvolvendo suas pesquisas fundamentalmente

PSICONEUROIMUNOLOGIA E INFECÇÃO POR HIV: REALIDADE OU FICÇÃO? sobre a estrutura, a fisiologia ou as alterações do sistema e órgãosdiretamente implicados. Ainda que o
conhecimento sobre estes sistemas tenha sido, sem dúvida, fundamental para o desenvolvimento das
Sara UllaUniversidad de Castilla La Mancha, Espanha ciências da saúde, o achado de vias anatômicas, fisiológicas e bioquímicas que conectam os sistemas
Eduardo Augusto RemorUniversidad Autónoma de Madrid, Espanha nervoso, imunológico e endócrino permitiu concluir que os diferentes componentes do organismo não
são estruturas isoladas. Ao contrário, estabeleceu-se uma complexa trama de relações, tanto
anatômicas como funcionais, que conectam os diferentes sistemas e órgãos entre si, em particular, os
A introdução em 1996 da terapia antirretroviral de inibidores da protease e suacombinação com
sistemas neuroendócrino e imunológico.Tais inter-relações adquirem uma importância singular devido
os inibidores da transcriptase (também conhecida como HAART Highly Active Antiretroviral
às funções de proteção, homeostase e controle que desenvolvem dentro do organismo e das quais
Therapy) supôs uma mudança radical no prognóstico de muitos dos afetados com o HIV, tendo
dependemo bom funcionamento e a adaptação dos indivíduos ao ambiente.
produzido entre 1996 e 1997 um decréscimo de 44% do número de falecimentos por AIDS nos Estados
Unidos (Bartlet & Moore, 1998) e de aproximadamente 50% no Reino Unido. Dados similares foram
A PNI possui um caráter interdisciplinar e ocupa-se essencialmente do estudodas relações que
encontrados em outros países desenvolvidos (Aalen, Farewell, De Angelis, Day & Gil,1999).
existem entre o sistema nervoso, o imunitário e o endócrino. Igualmente, o comportamento, as emoções
ou outras variáveis de caráter psicológico são elementos fundamentais no estudo desta disciplina,
Porém, neste artigo, não centraremos nossa atenção sobre o âmbito da medicina e da devido basicamente a dois fatores diferenciados. Por um lado, encontra-se o interesse que suscitam os
farmacologia, uma vez que nos últimos anos também têm-se produzidoimportantes achados em campos efeitos que puderam exercer os sistemas mencionados sobre variáveis psicológicas. Por outro, o
afins relacionados ao HIV e à AIDS. Tais estudos permitem caracterizar, de modo progressivamente empenho pelo estudo das influências que podem exercer o comportamento ou as emoções sobre
mais detalhado, os tipos de intervenções apropriadas para as pessoas afetadas com este vírus. Entre os variáveis imunitárias, neuroendócrinas ou sobre o estado de saúde. Neste sentido, uma questão
resultados encontrados, derivados de diversas disciplinas, focalizaremos nosso interesse sobre os que frequentemente abordada se refere às possíveis relações entre fatores psicossociais e parâmetros
procedem da psiconeuroimunologia (PNI), onde foram descritos, em diversos estudos, uma forte imunológicos. Sobre tal relação, escreveram Ader, Cohen e Felten (1987), no editorial do primeiro
relação existente entre o sistema nervoso,o sistema endócrino e o sistema imunológico (Ader, Cohen número da revista Brain, Behavior and Immunity:
& Felten, 1987; Miller & Cohen, 2001).

Nosso conhecimento imunológico não é suficiente para explicar-nos porquê estímulos


Neste artigo apresentar-se-á uma breve revisão sobre as pesquisas em PNI envolvendo as pessoas imunologicamente neutros, mas emocionalmente intensos, são capazes deproduzir reações
que convivem com o HIV. A seguir, descreveremos como alguns fatores psicossociais, como o alérgicas; porquê se pode fazer desaparecer as berrugas sob hipnose; porquê o ambiente
controle do estresse, as estratégias de enfrentamento (coping), o apoio social, e os hábitos e estilos de social pode determinar a resposta individual a doenças infecciosas; por quê vírus latentes
vida, podem estar associados com o processo de evolução da infecção por HIV. Finalmente, dão lugar a doenças manifestadas sob circunstancias estressoras para o organismo
enfocaremos a discussão sobre a implicação destes dados na progressão da infecçãopor HIV e AIDS e infectado; ou por quê ao ser expostos aos mesmos agentes infecciosos, somente ficam
seu tratamento psicológico complementar. doentes alguns indivíduos (p. 8).

A PNI constitui um novo campo interdisciplinar que vem sanar a lacuna existente entre as
neurociências e a imunologia, devido à falta de interdisciplinaridade que predominou até poucas Este tipo de vínculo entre determinados fatores de natureza psicológica e as possíveis variações
décadas atrás. Ambas foram áreas com um importante desenvolvimento nos últimos cinquenta anos, na competência imunitária, que deixariam o indivíduo mais suscetível à ação de agentes patogênicos,

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é de especial relevância quando falamos da infecção pelo HIV. Podemos dizer, de acordo com os imunológico, observou-se, em numerosas pesquisas, que um altonível de estresse pode derivar em uma
estudos realizados nesta direção, que um pior estado de ânimo, um maior nível de estresse ou menor competência imunitária, seja por uma diminuição na quantia de diferentes subtipos celulares ou
estratégias de enfrentamento não destinadas à solução ativa dos problemas se relaciona com uma por uma maior ou menor atividade dos mesmos (Dorian, Garfinkel, Brown, Shore, Gladman &
progressão viral mais veloz e, portanto, com um pior prognóstico. Por esta razão, intervenções Keystone, 1982;Fawzy e cols., 1990; Glaser, Kiecolt-Glaser, Speicher & Holliday, 1985; Locke &
psicológicas destinadas a estabelecer um bom ajuste psicológico do indivíduo, hábitos de vida Heisel, 1977; McKinnon, Weisse, Reynolds, Bowles & Baum, 1989).
apropriados ou um adequado controle do estresse estariamcolaborando com a terapia farmacológica na
manutenção de níveis imunológicos adequados, evitando na medida do possível, as consequências Um tipo de intervenção dirigida ao controle do estresse foi o treinamento em relaxamento. Um
advindas da progressão viral. dos primeiros trabalhos que abordou a influência de uma intervenção psicológica sobre certos
parâmetros imunológicos foi desenvolvido por Kiecolt-Glaser e colaboradores (1985). Selecionou-se
Será neste aspecto que nos centraremos a partir de agora, isto é, no conhecimento que temos até uma amostra de idosos, e comparou-se três grupos: um treinado em relaxamento, um em que se
o momento a respeito da influência de diferentes intervenções psicológicas sobre a evolução de introduziu o contato social, e um grupo controle. A intervenção teve duração de um mês, no qual
marcadores imunológicos e da progressão do HIV. Neste sentido, distinguiremos entre diferentes ocorreram três contatos por semana, com 45 minutos cada.
aspectos emocionais ou comportamentais que foram sendo abordados nas pesquisas e que sevincularam
com certas variações na função imunológica. Tal distinção tem unicamenteum objetivo didático, já que Os resultados revelaram que no grupo de relaxamento produziu-se um aumento na atividade das
entre as variáveis abordadas, existem fortes interações e, portanto, a intervenção em algum dos campos células natural killer (NK), assim como uma diminuição dos anticorpos ao vírus de Herpes simples.
tem alta probabilidade de repercussõesnos outros. Não se encontraram diferenças quanto à resposta aos mitógenos (Kiecolt-Glaser e cols., 1985). O
relaxamento foi usado em diversos estudos e sob diferentes formas, como por exemplo, no estudo de
Green e Green (1987), no qual se mediu a quantidade de Imunoglobulina A salivar (s-IgA). Dentre
outras intervenções, usou-se também visualização, massagem e permanecer deitado com os olhos
10.1 CONTROLE DO ESTRESSE
fechados. Em todas estas situações, observou-se um aumentoda concentração da s-IgA, à exceção da
situação de permanecer deitado com os olhosfechados, na qual apesar de existir um aumento de s-IgA,
Em numerosas ocasiões e sob diversos enfoques, realizaram-se trabalhos nosquais se tratava de este não foi estatisticamentesignificativo. Green, Green e Santoro (1988) realizaram um estudo no qual
esclarecer as relações existentes entre a saúde dos indivíduos e algumas de suas características observou-se um aumento significativo da concentração de s-IgA em intervenções com treinamento em
psicológicas. Também na sabedoria popular, encontramos a ideia de que a situação emocional de uma relaxamento.
pessoa pode influir em seu estado de saúde. Atualmente, esta crença, que prima facie pudesse
considerar-se ingênua, foi sustentada por um grande corpo de conhecimento sobre a interação entreos Em uma pesquisa posterior, realizada por Antoni e colaboradores (1991), implementou-se uma
sistemas que compõem os organismos vivos. intervenção de tipo cognitivo-comportamental de manejo do estresse. Seus resultados mostraram dados
positivos em favor da possibilidade de modulação dos parâmetros imunológicos mediante intervenções
comportamentais.
Provavelmente o estresse é um dos fatores psicológicos mais amplamente abordados dentro deste
âmbito de estudo, e sobre o qual se possui mais dados a favorda interação da que falamos. Em relação
Em outro trabalho (Goodkin, Fuchs, Feaster, Leeka & Dickson-Rishel, 1992), contrastou-se a
ao estresse, um nível de ativação mantido no tempo com forte intensidade, ou ainda, com alta
hipótese da relação entre o nível de estresse e a progressão do HIV. Observando-se que, nos
frequência, pode levar aodesequilíbrio de diversos sistemas ou órgãos. Este nível obriga o organismo a
participantes com maiores níveis de estresse, existia uma diminuição dos linfócitos T CD4+3,
manteruma ativação acima de suas possibilidades e dá lugar a um desgaste excessivo compossíveis
indicativos da progressão viral. Nesta mesma direção, apontam os resultados de outro trabalho,
alterações ou deterioração no funcionamento dos órgãos ou sistemas alvo. No caso do sistema

47 48
realizado neste caso sobre uma amostra de soropositivos sintomáticos (Lutgendorf e cols., 1997). de menor intensidade que o nível tido como adaptativo, também podemos encontrar alterações
Depois da implementação de uma intervenção cognitivocomportamental de manejo de estresse,não se orgânicas. Portanto, não é somente a intensidade da resposta que determina a possível alteraçãoorgânica,
observaram mudanças significativas em relação à contagem de linfócitos T CD4+ e CD8+. Porém, senão que seriam as respostas não adaptativas (por hipo ou hiper-ativação)as que estariam relacionadas
pode-se constatar que no grupo experimental produziu-se umdecréscimo significativo no número de com maiores sequelas imunológicas. (Solomon, Segerstrom, Grohr, Kemeny & Fahey, 1997).
anticorpos do vírus do herpes simples tipo 2 (VHS-2), assim como uma diminuição no nível de disforia, Sabemos também que o estresse podeinfluir na produção de citosinas (Bonneau, 1996), que é um grande
comparado ao nível do grupo controle. grupo de moléculas que intervêm nos sinais produzidos entre as células durante as respostas
imunológicas e que asseguram o correto funcionamento do sistema. Observou-se que
Posteriormente, voltou-se a identificar a relação entre um elevado nível de estresse e uma mais o estresse pode afetar processos inflamatórios locais (Solomon, 1981), reativar víruslatentes (Glaser,
rápida progressão do HIV (Leserman e cols., 1999). Calculou-se que, depois de 5,5 anos, a KiecoltGlaser, Speicher & Holliday, 1985), afetar a imunidade local da pele e incrementar a
probabilidade de desenvolver AIDS seria entre duas e trêsvezes maior nos participantes cujo nível de susceptibilidade a infecções cutâneas (Husoi, Murphy & Egan,1993). Todos estes dados, indicam que
estresse estava acima da média, comparada àquele cujo nível de estresse estava abaixo da média. altos níveis de estresse também poderiam atuar como aceleradores da progressão viral e
desenvolvimento da sintomatologia daAIDS. Se uma adequada competência imunológica protege aos

Ainda que, em diversos estudos iniciais (para uma revisão ver Miller & Cohen,2001), não se indivíduos de agentespatogênicos, tanto internos como externos, no caso de portadores do HIV, seria

observaram relações significativas entre um nível de estresse elevado e uma menor competência especialmente relevante, podendo-se chegar a incrementar de maneira significativa operíodo de latência

imunológica, atualmente, na maior parte dos estudos realizados, observa-se tal vínculo. No entanto, assintomática prévia ao desenvolvimento da AIDS.

falta caracterizar, de maneira pormenorizada, a natureza de tal relação.

Se consideramos os postulados de Solomon (1999) sobre as interações entre o sistema 10.2 ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO
imunológico e o nervoso, podemos realizar uma série de afirmações relativas à influência dos fatores
psicológicos sobre a competência imunológica. Podemos afirmar que o estresse tanto experimental
(Solomon, 1969) como natural (Kiecolt-Glaser e cols., 1987) estão associados à imunossupressão. Sob um paradigma de trabalho similar ao utilizado nos estudos sobre a influência do estresse na

Seguindo essa linha, se especificamos o tipo de resposta de estresse, podemos observar que competência imunológica, realizou-se diversas pesquisas com objetivo de identificar, se houvesse, os

acontecimentos que produzem uma ativação específica, vulgarmente conhecida como estresse agudo, estilos de enfrentamento que pudessem estar relacionados com alterações na imunocompetência, assim

induzem uma elevação da função imunológica. Já o estresse crônico, induziria uma diminuição da como aqueles mais adaptativos, que não derivaram em diminuição da competência imune. Nesta linha,

competência imunológica (Dhabhar & McEwen, 1996; Naliboff e cols.,1991). verificou-se que mudanças adaptativas no estilo cognitivo de enfrentamento predizem mudanças
positivas na resposta de anticorpos EBV (Epstein Barr Virus) após um evento estressante em uma

Este dado vem a apoiar a necessidade de especificar o tipo de resposta de estresse quanto à amostra de estudantes (Lutgendorf, Antoni, Ironson & Klimas, 1994). Temoshok (1993) encontrou, em

duração, frequência ou intensidade da resposta de ativação. Quando falamos do estresse crônico, pacientes soropositivos sintomáticos,uma relação positiva e estatisticamente significativa entre um alto

poderíamos encontrar alterações de órgãos ousistemas devido a intensa e prolongada ativação. Esta número de células NK e baixa preocupação com a infecção por HIV, baixo nível de fadiga e a prática

resposta não seria adaptativa,já que pode levar a danos orgânicos funcionais e estruturais. Por outro correta de autocuidados. Portanto, um estilo de enfrentamento ativo e uma confrontação adequada das

lado, o mesmonão ocorre, geralmente, com o denominado estresse agudo, considerado como uma próprias emoções estaria relacionada com um melhor nível da função imunológica (Esterling, Antoni,

resposta adaptativa perante uma situação de ameaça. Nestes casos após a ativação,se produziria uma Fletcher, Margulies & Schneiderman, 1994; Sephton, Dhabhar, Classen & Spiegel, 1997).

recuperação espontânea dos níveis normais de funcionamento orgânico. Quando a resposta à situação
de ameaça é desproporcional, pode afetar órgãos específicos. De modo similar, quando tal resposta é Uma perspectiva diferente, apresentada por Reed, Kemeny, Taylor, Wang e Vissher (1994),

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observa que a aceitação realista conceito até então entendido como uma atitude adaptativa (Kubler- procedentes de estudos realizados com sujeitos humanos também nos indicam a importância dos
Ross, 1969, 1987) como estilo de enfrentamento, prediz um decréscimo no tempo de sobrevivência fatores sociais, e de sua possível influência sobre parâmetros imunológicos. Com base em diversos
em homossexuais com AIDS, lançando a hipótese de que ilusões positivas (positive illusions) podem estudos realizados com pessoas afetadas de câncer (Chacko, Harper, Gotto & Young, 1996;
ser mais adaptativas que crenças realistas (realistic beliefs). Portanto, a implementação de Molassiotis, Van Der Akker, Milligan & Goldman, 1997), podemos dizer que os fatores psicossociais
intervenções para fornecer estas estratégias de enfrentamento adaptativas a pessoas possuem certo valor preditivo do êxito de transplantes de medula óssea ou outros órgãos, assim como

soropositivas ao HIV poderia estar, da mesma forma que no caso do estresse, atuando como protetor do restabelecimento dacompetência imunológica depois de um tratamento de quimioterapia. O apoio

contra uma aceleração da progressão viral mediada por fatores psicológicos. social estaria atuando como modulador da resposta de estresse diante de eventos ameaçadores para a
pessoa, de modo que os possíveis efeitos imunossupressores do estresse também ficariam amortecidos.
Assim, comportamentos de afiliação e fortes redes sociais estariam favorecendo uma competência
imunitária eficaz e um adequado estado de saúde (Berkman & Sime, 1979; Cohen, Doyle, Skoner,
10.3 APOIO SOCIAL
Rabin & Gwaltney, 1997).

O apoio social parece ter um importante papel na mediação do impacto que osacontecimentos
negativos produzem nas pessoas, e na posterior aparição do estresse. Se hipotetiza que os indivíduos 10.4 HÁBITOS E ESTILOS DE VIDA
que dispõem de uma rede social, da qual podem obter ajuda material e emocional, são menos
vulneráveis a sofrer alterações mediadas por um alto nível de estresse (Newfeld, 1989). As diferentes
tentativas de definir esta variável foram, em ocasiões, causas de uma nova discórdia, em lugar de lançar Outra variável relacionada com a possível oscilação na imuno-competência serefere aos hábitos

luz sobre o termo. Apesar da existência de uma ampla variedade de definiçõese descrições, um aspecto e estilos de vida. Um dos aspectos mais frequentemente abordadosé a prática de exercício físico e, em

tem permanecido claro: a estrutura multifatorial do apoio social. Thoits (1982) identifica várias particular, o exercício aeróbico.

dimensões que vão definir as características davariável, tais como a quantidade de apoio, tipos de apoio
(emocional x instrumental), fontes de apoio (amigos, familiares, etc.) e estrutura da rede. O apoio social Estudos realizados nesta direção mostraram resultados diversos (Antoni e cols., 1990; Fletcher
atuaria em relação com o nível de estresse, através da modulação da percepção do indivíduosobre o e cols., 1988; Laperriere e cols., (1990); Laperriere, Schneiderman, Antoni & Fletcher, 1989).
caráter ameaçador das situações e a possibilidade de controle das mesmas. Porém, continua a Diferenças significativas foram observadas em certos parâmetros imunológicos dos sujeitos
controvérsia sobre os resultados obtidos, a conceituação e a operacionalização, destacando a enorme soronegativos (HIV), mas não em sujeitos soropositivos (HIV+) (Fletcher & cols., 1988).
complexidade desta variável.
Laperriere e colaboradores (1989) observaram resultados imunológicos significativos numa
Os dados procedentes da experimentação animal contrastam a hipótese da influência social na amostra de portadores de HIV, depois de um período de prática de exercício aeróbico. Em 1990, Antoni
competência imunológica. Mencionaremos, por exemplo, o estudorealizado por Capitaonio e Mendoza e colaboradores realizaram outro estudo utilizando dois grupos experimentais nos quais comparavam
(1999), no qual depois da inoculação do SIV (Simian Imunodeficiency Virus), numa amostra de a efetividade da prática do exercício aeróbico, com a de uma intervenção psicossocial. Conseguiu-se
macacos Rhesus, encontraram uma importante diminuição da progressão viral naqueles primatas, que efeitos imunológicos positivos para ambos os grupos depois de um período de treinamento. Laperriere
mostraram um maior nível de interação na medida de sociabilidade. Por outro lado, a perspectiva e colaboradores (1990) desenvolveram outro estudo, no qual se manipulava experimentalmente a
adaptacionista propõe que os efeitos imunossupressores da derrota, depois de uma luta em animais, prática de exercício físico. Nesta pesquisa, os participantes desconheciam se eram soropositivos ou
pudessem estar relacionados com os efeitos imunossupressores da depressão humana, sob uma não ao HIV ao iniciar o experimento, e realizavam exercício aeróbico durante um intervalo de cinco
explicação baseada na competência social (Pierce, Sloman, Gardner, Gilbert & Rhode, 1994). Os dados semanas,durante o qual se realizava a prova de anticorpos ao HIV, e ao finalizar o programa senotificava

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o resultado. Observou-se que no grupo que fazia exercício, ocorreu uma crescente evidência. Os estudos com animais, in vitro e in vivo revelam que a influência do estresse

atenuação do mal-estar afetivo, assim como uma diminuição da diferença entre as análises anteriores em enfermidades infecciosas está mediada pela interação entre os sistemas neuroendócrino e

e posteriores à notificação dos resultados. imunológico (Sheridan, Dobbs, Brown & Zwilling, 1994). Com estes avanços, a imagem de um
sistema imunológico funcionalmente autônomo foi severamente questionada pelos pesquisadores nos

Outro aspecto relativo aos hábitos de vida, abordado pela PNI, foi o sono, já que certas últimos 15 anos. Portanto, a ideia do sistema imunológico de defesa integrado, no qualtambém tomam

substancias próprias do sistema imunológico podem induzir determinadasfases do sono. Neste sentido parte os sistemas nervoso e neuroendócrino, parece ser mais ajustada às evidências disponíveis (Ader,

pode-se comprovar, em condições experimentais, que uma ausência de sono parcial relacionava-se Cohen & Felten, 1995). Se aceitamos que as variáveis ambientais, atuando através de vias e

com uma diminuição da atividade das células NK (Irwin e cols., 1994; Irwin, 1999). mecanismos puramente psicológicos, são capazes de alterar a bioquímica de nosso organismo (Bayés,
1995),é tentador pensar que, nos pacientes de evolução lenta (long-term survival), possamos encontrar
variáveis psicológicas como cofatores na evolução natural da infecção por HIV que expliquem parte
da variação na sobrevivência. Neste sentido, oproblema consiste em identificar de que fatores depende
10.5 SÍNTESE
a vulnerabilidade de um organismo infectado, no qual o vírus começa a multiplicar-se. Seria razoável
postularque determinadas variáveis psicológicas estariam atuando como cofatores na progressão viral,

A influência dos fatores psicossociais sobre a função imunológica é, atualmente, uma evidência. através da modulação da competência do sistema imunológico que determinaria as possibilidades de

Como vimos, elevações no nível de estresse podem modular a função imunológica. Em caso de estresse êxito da proliferação viral.

agudo, observa-se uma elevaçãona competência imunológica, por ser esta uma resposta adaptativa.
Porém, quando se trata de estresse crônico, a competência imunológica pode ser comprometida, Uma das atuais linhas de pesquisa dirige-se à identificação de possíveis variáveis diferenciais
havendo um decréscimo tanto na atividade como na proliferação de determinadas subpopulações de em pacientes HIV+ que não evoluíram a AIDS (pacientes long- term survival). Postula-se que o
linfócitos. determinante para que estas pessoas se mantenhamassintomáticas seja provavelmente um conjunto
complexo de interações entre variáveis do organismo e características do vírus (Rutherford, 1994).

Estreitamente relacionado com o estresse estaria o apoio social. Este mostra- se como um forte Entre estes fatores, cremos que se encontram as variáveis psicológicas influindo como cofator na

fator modulador da percepção de ameaça, que têm os sujeitos dassituações nas quais se encontram, e, progressão. Portanto, em resposta à pergunta que dá título a este artigo, podemos dizer que as

portanto, modulador também da resposta de estresse do sujeito. Por outro lado, com relação as interações psiconeuroimunológicas em relação a infecção por HIV são, hoje, uma realidade, apoiadas

estratégias de enfrentamento, observaram-se diferenças significativas em função do tipo de estratégia em diversos dados empíricos advindos da literatura internacional.

utilizada. Estabeleceu-se uma certa generalização nos estudos, na qual um estilo ativo de
enfrentamento seria mais adaptativo e favoreceria uma elevação na competência imunológica. Por No entanto, é importante destacar que seria falso estabelecer relações de causalidade, sem

último, fazendo uma alusão aos hábitos de vida, ressaltam-se os estudos desenvolvidos sobre a prática especificar os diversos fatores que poderiam estar implicados. Ainda falta muito por se pesquisar e

de exercício aeróbio, que se apresentam comoum fator de modulação de parâmetros imunológicos. comprovar na interação dos sistemas nervoso, endócrino e imunológico. Devemos dirigir nossos
esforços, utilizando uma combinação de metodologia experimental com análises imunológicas, com o
objetivode saber como se produzem essas mudanças. A partir de uma perspectiva otimista, acreditamos
que o longo caminho por percorrer só vem a enriquecer a reflexão e crítica deste campo
10.6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
interdisciplinar, ainda que relegue à ficção a ideia de uma unanimidade científica quanto à
influência dos fatores psicossociais comocoadjuvantes na progressão da infecção por HIV.

A noção de que fatores psicossociais influem no sistema imunológico está baseada em uma

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