TCC Pedro VF
TCC Pedro VF
TCC Pedro VF
Campus Maracanã
RIO DE JANEIRO
2011
I
Pedro Henrique Ribeiro de Souza
RIO DE JANEIRO
2011
II
Ficha Catalográfica elaborada por
Cristiane da Cunha Teixeira
Bibliotecária CRB7-5592
CDU 57/58(075.3)
III
Pedro Henrique Ribeiro de Souza
BANCA EXAMINADORA:
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
RIO DE JANEIRO
2011
IV
Dedico esta monografia a minha mãe, pela
compreensão e apoio.
V
AGRADECIMENTOS
Agradeço a...
Aos professores e alunos do Colégio Estadual Pedro Álvares Cabral, por justificarem
minha permanência no Magistério.
Aos professores do Colégio Pedro II, Unidade Humaitá, em especial a Conceição Leal,
Rosa Helena Arras e Bárbara Balzan, por acreditarem no meu potencial.
Aos amigos, que deixaram de ter minha companhia para a realização deste trabalho.
VI
“Somos filhos do mesmo lugar
A Árvore da Vida vamos preservar”.
Gugu das Candongas, Marquinhos do Banjo, João Paulo,
Márcio André Filho, Arlindo Neto e Ito Melodia. (Samba-
enredo do G.R.E.S. União da Ilha do Governador para o
carnaval 2011)
VII
SOUZA, Pedro Henrique Ribeiro de. A Sistemática Filogenética em Livros Didáticos de
Biologia. 94 p. Trabalho de Conclusão de Curso. Programa de Pós-Graduação lato sensu em
Especialização em Ensino de Ciências, com Ênfase em Biologia e Química. Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia, Campus Maracanã, Rio de Janeiro, RJ, 2011.
RESUMO
VIII
SOUZA, Pedro Henrique Ribeiro de. A Sistemática Filogenética em Livros Didáticos de
Biologia. 94 p. Trabalho de Conclusão de Curso. Programa de Pós-Graduação lato sensu em
Especialização em Ensino de Ciências, com Ênfase em Biologia e Química. Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia, Campus Maracanã, Rio de Janeiro, RJ, 2011.
ABSTRACT
The current work analyses the theme Phylogenetic Systematics in High School Biology
textbooks of one volume, recommended by PNLEM/2009. This theme is shortly explored in
Biology teaching, despite being important in biodiversity researches paradigm. While
teaching living beings is still attached to the linnean system of classification, now considered
obsolete, adopting Phylogenetic Systematics would contribute to an evolutive and less
descriptive focus in teaching fields such as Zoology. Based in the fact that the textbook is the
main tool in supporting the teachers, even if it‟s limited, this research analyzed five (05)
books of one volume approved and recommended by PNLEM/2009. An analytic card has
been developed to identify, evaluate and compare the books according to the following
parameters: presence and pertinence of the theme in the books, presence and quality of
important concepts to the theme understanding and identification and analyses of the existing
phylogenetic trees. This work verified that most of the books accost superficially the theme,
making it mainly through schemes of phylogenies. The Lopes & Rosso book (2005)
considered the one which most described the theme. The analyzed books showed phylogenies
which are nearest to the current accepted ones. The analyses intends to contribute to the state
of art researches of the theme and recommend an accosting more consonant to the importance
of the theme in present Biology.
IX
LISTA DE FIGURAS
XII
LISTA DE QUADROS
XIII
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 1
1.1. QUEBRA DE PARADIGMA E AS CONSEQUÊNCIAS NO ESTUDO
DA CLASSIFICAÇÃO DOS SERES VIVOS 1
1.2. A SISTEMÁTICA TRADICIONAL SEGUNDO A
CLASSIFICAÇÃO LINNEANA 3
1.3. O PENSAMENTO EVOLUCIONISTA E AS INADEQUAÇÕES DA
SISTEMÁTICA TRADICIONAL 5
1.4. A SISTEMÁTICA FILOGENÉTICA 7
1.5. A METÁFORA DA “ÁRVORE DA VIDA” 11
1.6. EVOLUÇÃO E SISTEMÁTICA FILOGENÉTICA NO ENSINO DE
BIOLOGIA 13
1.7. O PAPEL DO LIVRO DIDÁTICO E O LIVRO DIDÁTICO
DE BIOLOGIA 17
1.8. A SISTEMÁTICA NOS LIVROS DIDÁTICOS
DE BIOLOGIA 20
2. OBJETIVOS 21
2.1. OBJETIVOS GERAIS 21
2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS 21
3. METODOLOGIA 22
3.1. ESCOLHA DOS LIVROS DIDÁTICOS 22
3.2. FICHA DE DESCRITORES ANALÍTICOS 22
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 26
4.1. EM QUE CAPÍTULOS O TEMA APARECE? 26
4.2. DE QUE FORMA O TEMA É ABORDADO E QUAL RELEVÂNCIA É
DADA NO CONTEXTO DA BIOLOGIA? 28
4.3. PRESENÇA E PERTINÊNCIA DE CONCEITOS IMPORTANTES EM
SISTEMÁTICA FILOGENÉTICA 31
4.4. ANÁLISE DAS ÁRVORES FILOGENÉTICAS PRESENTES 32
4.4.1. Capítulos em que estão presentes e grupos biológicos
representados 32
XIV
4.4.2. Aspectos visual e didático 34
4.4.3. Comparação com filogenias recentes 51
4.4.3.1. Filogenia dos seres vivos 51
4.4.3.2. Filogenia das plantas terrestres 54
4.4.3.3. Filogenia dos animais 57
4.4.3.4. Filogenia dos primatas e origem da espécie humana 60
4.4.3.5. Outras filogenias 62
4.4.4. Manual de construção de árvores filogenéticas 63
4.5. ANÁLISE FINAL 65
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 67
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 73
ANEXOS 78
XV
1. INTRODUÇÃO
4
1.3.O PENSAMENTO EVOLUCIONISTA E AS INADEQUAÇÕES DA
SISTEMÁTICA TRADICIONAL
6
1.4.A SISTEMÁTICA FILOGENÉTICA
A Sistemática Filogenética surge a partir dos anos 1950, sendo desenvolvida pelo
entomólogo alemão Willi Hennig, como mencionado anteriormente. Embora a publicação
original sobre seu método fosse desenvolvida em 1950, na obra “Grundzüg einer Theorie der
Phylogenetischen Systematik” (Linhas gerais de uma Teoria da Sistemática Filogenética), seu
reconhecimento chegou a partir de 1966, ano da publicação de “Philogenetic Systematics”
(Sistemática Filogenética), versão traduzida para o inglês e amplamente difundida
(GUIMARÃES, 2005). De acordo com Amorim (2002, p. 95), “o centro da proposta de
Hennig é que as classificações biológicas devem ser um reflexo inequívoco do conhecimento
atual sobre as relações de parentesco entre os táxons.” Ou seja, as classificações devem se
basear em grupos monofiléticos, isto é, conjuntos de seres vivos que apresentam ancestrais
comuns e exclusivos.
O objetivo do estudo da Sistemática Filogenética, ou cladística, consiste na
identificação das relações de parentesco pela reconstrução da filogenia dos seres vivos. Para
tal, há de se verificar a existência de homologias, isto é, estruturas que apresentem a mesma
ontogenia, e se estas homologias correspondem a estruturas primitivas, também denominadas
plesiomorfias, ou derivadas, ou apomorfias. Se corresponder a uma característica
apomórfica exclusiva de um grupo, também denominada autapomorfia, é o suficiente para
constatar que este grupo é monofilético, pois apresenta um ancestral comum, o primeiro a
apresentar esta novidade evolutiva. Se a característica é compartilhada por vários grupos de
seres vivos, diz-se então que é uma sinapomorfia. Estes grupos, considerados naturais,
recebem um nome cientificamente válido e assume uma posição, dependendo da hierarquia do
grupo em questão (AMORIM, op. cit.).
A forma gráfica de se representar as relações evolutivas entre os seres vivos é o
cladograma ou árvore filogenética. Os cladistas produziram métodos matemáticos para a
construção de um cladograma, gerando dados a serem primariamente lançados em uma
matriz. Nesta, normalmente números são usados para definir a condição de um determinado
caráter, seja ele plesiomórfico (definido pelo número 0) ou apomórfico (definido
primariamente pelo número 1, podendo ser usado outros números, dependendo da série de
transformação em questão). Esta definição pode ser chamada de polarização dos caracteres
(AMORIM, op. cit.).
A partir da elaboração da matriz, a árvore filogenética é construída por ramos e nós
representando as modificações dos seres vivos ao longo do tempo. O ramo corresponde ao
7
processo de anagênese, isto é, processo de modificação em apenas um grupo, seja por
mutação, recombinação, seleção, deriva gênica e fixação de alelos (AMORIM, 2002). As
sinapomorfias definem os diferentes ramos entre os nós e as autapomorfias representam os
ramos que terminam nas unidades taxonômicas analisadas. Os nós da árvore correspondem ao
processo de cladogênese, isto é, fragmentação em dois ou mais ramos – dicotomias e
politomias, respectivamente – que evoluem independentemente. Este processo normalmente é
causado por eventos de vicariância (surgimento de uma barreira geográfica entre populações
de uma mesma espécie) ou dispersão (AMORIM, 2002). Os nós são definidos quando dois ou
mais grupos apresentam uma ou mais sinapomorfias, porém apresentam autapomorfias
diferentes, que as tornam diferentes a ponto de serem grupos separados na árvore.
Em oposição aos grupos monofiléticos, estão os grupos merofiléticos, que podem ser
classificados pelo compartilhamento de características não sinapomórficas. Um grupo
definido por simplesiomorfias, isto é, uma característica plesiomórfica (ou primitiva)
compartilhada, denomina-se parafilético. Este tipo de grupo apresenta um ancestral comum a
todo o grupo, mas que não é exclusivo dele. Um táxon que apresenta uma condição derivada
em relação a esta simplesiomorfia, mas proveniente da mesma linhagem, estaria excluído
deste grupo, não configurando um grupo natural. Outro grupo merofilético pode ser definido
por homoplasias, isto é, características semelhantes em dois ou mais grupos que surgiram de
forma independente nestes. Este caso também é conhecido como convergência evolutiva (ou
adaptativa). Ao se agrupar táxons usando caracteres homoplásticos, o grupo resultante é
polifilético, pois resulta na reunião de seres vivos provenientes de diferentes ramos.
Um exemplo de uma filogenia conhecida é a dos insetos atuais (BRUSCA &
BRUSCA, 2002; Figura 1.2). Um inseto é característico pela presença de corpo divido em
cabeça, com olhos compostos, um par de antenas e boca com peças bucais, como mandíbulas,
maxilas e lábio; tórax com três pares de patas; e abdome, com onze segmentos, podendo ter
apêndices apenas no último (cercos). Poderíamos destacar a presença de dois pares de asas
torácicas como um fator importante para a reunião da grande maioria dos insetos no grupo
Pterygota, em detrimento das traças-de-livro (ordem Thysanura). Dentro de Pterygota, um
grupo de insetos possui formas imaturas aquáticas – Palaeoptera – e o outro apresenta a
capacidade de dobrar as asas sobre o abdômen – Neoptera. Dentre os Palaeoptera, estão as
ordens Odonata (libélulas) e Ephemeroptera (efeméridas). Em Neoptera, alguns grupos são
definidos pela forma de desenvolvimento das formas imaturas, podendo ser com metamorfose
completa – Holometabola – ou incompleta. Dentre insetos holometábolos, que apresentam
três estágios de desenvolvimento – larva vermiforme, pupa e adulto alado – destacam-se as
ordens Coleoptera (besouros), Lepidoptera (borboletas e mariposas), Diptera (moscas e
8
mosquitos), Hymenoptera (abelhas, vespas e formigas) e Siphonaptera (pulgas). As demais
ordens de insetos neópteros ainda possuem posições filogenéticas discutíveis, embora alguns
subgrupos possam ser formados, como os Dictyoptera (que englobam baratas, louva-a-deuses
e cupins).
Figura 1.2: Filogenia dos insetos, adaptada de Brusca & Brusca (2002).
9
(„crocodilianos‟), ou incluir o grupo das aves, podendo denominar este último táxon como
Sauropsida (Figura 1.4).
Figura 1.3: Filogenia dos vertebrados. Fonte: SAVADA et al. (2008); p. 723
Figura 1.4: Filogenia dos tetrápodes amniotas. Fonte: Savada et al. (2008); p. 731
10
1.5.A METÁFORA DA “ÁRVORE DA VIDA”
A metáfora da árvore como símbolo surge a partir de Darwin, em sua obra “A Origem
das Espécies”, em oposição ao modelo scala naturae. Este modelo, criado por Aristóteles e
seguido por naturalistas como Lineu e Leibniz, constituía-se em uma ordem linear, dos
organismos mais simples aos mais complexos (GUIMARÃES, 2005). A Árvore da Vida de
Darwin (Figura 1.5), que estabelece as relações de parentesco de espécies por meio de um
diagrama ramificado, é considerada como uma das propostas mais adequadas, podendo ser
considerada a ideia mais poderosa da Biologia (ROSE, 2000; apud MARCELOS, 2006;
grifo do autor). Ainda de acordo com o autor:
Tão boas são as provas que corroboram a Árvore de Darwin e tão vasto é o seu
poder explicativo, que a teoria da evolução pela modificação de ancestrais comuns
foi amplamente aceita pelos biólogos durante a vida de Darwin (...) a Árvore da
Vida darwiniana é um dos grandes alicerces sobre os quais se ergue a Biologia
moderna (ROSE, 2000, p. 98; apud MARCELOS, 2006).
Figura 1.5: Diagrama elaborado por Darwin, presente na obra "A Origem das Espécies".
Fonte: DARWIN, 2004 (original de 1859)
11
A árvore de Haeckel, publicada na obra “Generelle Morphologie der Organismen”
(Morfologia Geral dos Organismos), de 1866 (Figura 1.6), foi uma das primeiras a recuperar
a história evolutiva dos seres vivos, embora ainda exista a conotação de progresso na
evolução, pois coloca seres considerados mais desenvolvidos, como os mamíferos, no topo
(GUIMARÃES, 2005). Tal árvore, no entanto, possui uma forte ideia inovadora: a do
monofiletismo dos seres vivos, pois coloca um tronco único de onde partem os diferentes
grupos, representando uma ascendência comum a partir do grupo Monera.
Figura 1.6: Diagrama da árvore proposta por Haeckel em 1866. Fonte: GUIMARÃES (2005), p. 42
12
Nas árvores filogenéticas aceitas recentemente, todos os grupos biológicos atuais
aparecem em um mesmo nível, o que resolve a polêmica a respeito do conceito de evolução
como progresso, no sentido de atingir a perfeição, erroneamente metaforizado com o uso de
uma „escada‟ na evolução humana, por exemplo (BELLINI, 2006). Apenas os grupos
extintos, baseados nas descobertas do registro fóssil, podem ocupar diferentes alturas em um
cladograma, pois a distância da altura destes ramos à altura dos ramos de grupos atuais
corresponde ao tempo em que estão extintos.
Uma proposta recente de cladograma, a Moita Filogenética, tem sido adotada para
dividir o mundo em três grandes Domínios: Bacteria, Archaea e Eucarya (Figura 1.7). Os
seres vivos permanecem com uma descendência comum, porém os ramos não atingem a
mesma altura (WOESE et al., 1990).
Figura 1.7: Diagrama da "Moita" filogenética proposta por Woese et al. (1990) para os três domínios dos seres
vivos. Fonte: GUIMARÃES (2005), p. 45
O tema Evolução possui um importante papel no ensino de Biologia, pelo seu caráter
integrador e por facilitar a compreensão de diversos conteúdos biológicos, incluindo a própria
diversidade e classificação. Segundo Meyer & El-Hani (2005),
Esperamos [..] que a evolução assuma, no ensino médio brasileiro, um papel mais
central do que o tradicionalmente desempenhado. Não é apropriado tratar a evolução
como somente mais um conteúdo a ser ensinado, lado a lado com quaisquer outros
conteúdos abordados nas salas de aula de Biologia, na medida em que as idéias
evolutivas têm um papel central, organizador do pensamento biológico (MEYER E
EL-HANI, 2005, p. 10).
13
Esta visão é corroborada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino
Médio – PCNEM (BRASIL, 2000). Vários são os trabalhos acadêmicos que analisam este
tema no ensino de Biologia e Ciências, embora ainda em número insatisfatório (AMORIM &
LEYSER, 2009; CASTRO & AUGUSTO, 2009). Porém o tema vem recebendo um destaque
coerente com a importância do tema, tanto em sala de aula (COSTA et al., 2009), na
formação de professores (GOEDERT, 2004), nas concepções de professores
(MEGHLIORATTI et al., 2006; MARTINS et al., 2009) e em livros didáticos (BELLINI,
2006; MARTINS et al., 2009; DIAS & BORTOLOZZI, 2009). Goldbach & Friedrich (2009)
questionam a adequação do olhar evolutivo no ensino da diversidade de seres vivos como
uma forma de organizar o conteúdo, correlacionando áreas como Evolução, Sistemática e
Zoologia.
Entretanto, o ensino da classificação dos seres vivos encontra-se associado a um
pensamento essencialista. Esta visão nega a continuidade das espécies, fundada em um
sistema Linneano, considerado obsoleto e incoerente com uma visão mais evolutiva e
integradora da Biologia (GUIMARÃES, 2005; LOPES et al., 2007). Adicionalmente, o
ensino da diversidade é em geral realizado de forma memorística, em parte pela dissociação
de uma abordagem evolutiva e também pelo excesso de nomes latinizados (GUIMARÃES,
2004). De acordo com os PCN+ (BRASIL, 2002),
Do mesmo modo, os estudos zoológicos (ou botânicos), para citar outro exemplo,
privilegiam a classificação, a anatomia e a fisiologia comparadas. Os animais (e os
vegetais) são abstraídos de seus ambientes e as interações que estabelecem com
outros seres vivos, geralmente, são ignoradas. Discute-se a evolução anatômica dos
aparelhos captadores de oxigênio (pulmões, brânquias), ou filtradores do sangue
(rins, nefrídios), desconsiderando o ambiente em que essa evolução se deu.
Trabalham-se as características dos grandes grupos de seres vivos, sem situá-los nos
ambientes reais, sem determinar onde vivem, com quem efetivamente estabelecem
relações, sem, portanto, tratar de questões essenciais como distribuição da vida na
Terra, uso sustentável da biodiversidade, expansão das fronteiras agrícolas, desafios
da sustentabilidade nacional. Com isso, deixam de ser desenvolvidos saberes
práticos importantes para o estudante exercer sua cidadania (BRASIL, 2002, p. 32).
15
(...) em uma aula voltada à citologia, por exemplo, a partir de um cladograma que
mostre as relações entre as bactérias, as arqueobactérias e os eucariotos, pode-se
mostrar a evolução da respiração celular nos eucariotos a partir dos processos de
fermentação já existentes nos procariotos (SANTOS & CALOR, 2007a, p. 3).
17
A pesquisa acerca dos LDs no Brasil teve início na década de 1970, com um enfoque
de natureza crítica, em especial relacionada aos LDs como „detentores de verdades‟, o que foi
estimulado pela sua importância historicamente construída nas escolas, entre os professores e
professoras e nos documentos públicos. Atualmente, busca-se uma análise dos conceitos
veiculados pelos LDs, no sentido de discuti-los e ressignificá-los (GÜLLICH et al., 2009). Os
programas de melhoria dos LDs, que consomem verbas significativas dos órgãos públicos,
não surtiam o efeito desejado, pois as editoras e os autores dos livros realizam melhorias na
estrutura visual e conceitual, como no caso dos LDs de Ciências, sem modificar “o habitual
enfoque ambiental fragmentado, estático, antropocêntrico, sem localização espaço-temporal.
Tampouco substituíram o aluno como ser passivo, depositário de informações desconexas e
descontextualizadas da realidade” (NETO & FRACALANZA, 2003).
O Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), regulamentado em 1985, só garantia
a compra e distribuição dos livros escolhidos pelos professores, porém a partir de 1995 o
Ministério da Educação (MEC) se esforçou para garantir que o material fosse adequado
(BIZZO, 2000). A princípio, isto não foi o suficiente para inibir erros frequentemente
cometidos por alguns autores de LDs de Ciências, seja de natureza conceitual (BIZZO, op.
cit.), ou textual, no uso de simplificações, linguagem infantilizada, discriminação,
generalizações, analogias, metáforas, dentre outros recursos (BELLINI, 2006; GÜLLICH et
al., 2009). Porém a nossa prática em docência afirma que estas avaliações tem sido muito
criteriosas e inibem a publicação de LDs com erros grosseiros e que facilitam o processo de
ensino-aprendizagem.
Os LDs são elaborados para um aluno genérico, que não existe (NUÑEZ et al., 2003),
cabendo aos professores e professoras o saber escolher a obra que melhor se insere no
contexto de sua realidade escolar, adaptando-a conforme sua necessidade. Entretanto, existe
uma escassez de indicações e testes de instrumentos que orientem o professor na escolha dos
LDs, bem como não há espaço para expor suas críticas a respeito das coleções
(VASCONCELOS & SOUTO, 2003). Alguns autores, como Nuñez et al. (2003) e Neto &
Fracalanza (2003), relacionam os principais elementos dos LDs que possam guiar a essa
escolha, minimizando equívocos. É consenso que as coleções didáticas devem expor seus
conceitos de forma clara e motivadora, introduzindo espaços para o aluno participar do
processo do ensino-aprendizagem mais como sujeito do que como objeto, bem como devem
ser isentas de erros conceituais, que possam ser uma barreira epistemológica para a
assimilação destes conceitos.
Os LDs tem sido escolhidos pelo seu apelo visual, privilegiando as imagens
disponíveis ao invés do conteúdo textual (NUÑEZ et al., 2003). Normalmente, são utilizadas
18
imagens didatizadas, isto é, simplificadas para facilitar a compreensão do aluno, de forma
clara e minimizando as limitações a sua interpretação, de modo a não apresentar ao leitor uma
visão errônea da realidade (VASCONCELOS & SOUTO, 2003). Considerando o texto
científico constitui-se em um híbrido semiótico (LEMKE, 1998; apud GOUVÊA &
MARTINS, 2001), por utilizar elementos verbais e recursos pictóricos no mesmo espaço, às
imagens podem ser atribuídas as seguintes funções, de acordo com Martins (1997): “atrair
atenção, provocar interesse, motivar; sinalizar e organizar o conteúdo por vir; ilustrar uma
ideia ou argumento; e (...) descrever um procedimento”. As imagens podem ser categorizadas
como classificações, ao organizar membros de uma mesma classe em arranjo simétrico de
imagens, com o intuito de compará-los; análises, ao relacionar partes e todo de um
determinado sistema; e narrativas, ao representar processos e ações que ocorrem ao longo do
tempo (MARTINS, 1997).
No caso específico dos LDs de Biologia, o Programa Nacional do Livro Didático de
Ensino Médio, o PNLEM/2009, recomendou as nove coleções didáticas que melhor
atenderam a critérios eliminatórios e classificatórios avaliados por professores de
universidades que foram convidadas pelo MEC (EL-HANI et al., 2007; BRASIL, 2008). As
nove coleções incluem cinco obras de Volume Único, no qual todo o conteúdo é condensado
em um livro, e quatro coleções de três volumes, no qual o conteúdo é dividido de acordo com
as três séries do Ensino Médio.
Através da observação destas coleções, é possível identificar que possuem qualidade
conceitual e didática, embora divirjam na abordagem de determinados assuntos. As obras de
três volumes normalmente se estendem mais em cada tópico importante da Biologia, enquanto
as obras de Volume Único são mais concisas, mas sem comprometer a abordagem mínima
necessária para a exposição e problematização de cada tópico relevante deste componente
curricular. É de praxe também organizar os conteúdos em unidades didáticas afins e
sequenciá-los de forma a partir de uma visão microscópica – associada às áreas de
Bioquímica, Citologia, Embriologia e Histologia –, passando por uma visão no nível dos
organismos – associada às áreas de Sistemática, Taxonomia, Microbiologia, Micologia,
Botânica, Zoologia, Anatomia e Fisiologia –, finalizando em uma visão macroscópica, global
– associada às áreas da Genética, Evolução e Ecologia. Neste trabalho, as coleções de Volume
Único, que são o objeto de estudo, serão analisadas de forma mais criteriosa, obras no sentido
de contribuir para o estado da arte da pesquisa sobre os LDs (ADOLFO, CROZETA &
LAGO, 2005; FAVARETTO & MERCADANTE, 2005; LAURENCE, 2005; LOPES &
ROSSO, 2005; LINHARES & GEWANDSZNAJDER, 2006).
19
1.8.A SISTEMÁTICA NOS LIVROS DIDÁTICOS DE BIOLOGIA
20
2. OBJETIVOS
- Propor uma ficha de descritores analíticos que possa avaliar, de forma homogênea,
os livros didáticos selecionados;
- Analisar os conceitos apresentados, tendo como partida os preceitos da cladística;
- Analisar os cladogramas presentes nos LDs no que diz respeito a forma, táxons e
clados, apomorfias e a acuidade textual;
- Comparar as filogenias apresentadas nos LDs com filogenias aceitas atualmente;
21
3. METODOLOGIA
Para padronizar o olhar sobre a investigação e a análise do tema proposto nos LDs,
desenvolveu-se uma ficha analítica, contendo quatro (04) aspectos a serem investigados a
respeito da Sistemática Filogenética (Quadro 3.2 e Anexo I). Estes aspectos procuram
atender a diferentes tópicos da abordagem dos LDs sobre o tema, de forma prioritariamente
qualitativa, com focos geral e específico, a fim de tornar a análise mais criteriosa.
O primeiro aspecto relaciona-se com os possíveis capítulos e unidades didáticas nas
quais o assunto aparece, podendo se apresentar mais concentrado em um ou mais capítulos ou
de forma diluída por toda a obra. Nesta pergunta, apenas a menção de conceitos em cladística
e a presença de cladogramas de quaisquer grupos de seres vivos foi suficiente para listar
aquele capítulo e unidade a qual pertence, o que facilita uma futura consulta do tema no LD.
O segundo aspecto refere-se à forma como o tema é abordado, destacando sua possível
importância no entendimento e construção de filogenias, definindo suas aplicações na
classificação biológica e possíveis consequências do seu impacto na pesquisa em diversidade
biológica.
O terceiro aspecto está ligado, de certa forma, ao segundo, pois procura identificar se
importantes conceitos relacionados ao tema estão presentes e, em caso afirmativo, se estão de
acordo com os conceitos disponíveis em livro de referência de Nível Superior sobre o tema. O
livro adotado neste trabalho é “Fundamentos de Sistemática Filogenética”, de Dalton de
22
Quadro 3.1: Coleções recomendadas pelo guia PNLEM/2009.
Obra 102414
Obra 102472
Obra 102511
Obra 102559
Obra 102318
23
Souza Amorim (2002), professor do Departamento de Biologia da USP e pesquisador nas
áreas de Zoologia, Sistemática, Biogeografia e Evolução, e reconhecido por pesquisadores da
área no Brasil. Foram escolhidos doze conceitos por possuírem importante papel na
compreensão do tema, bem como fazem parte do vocabulário adotado pelos pesquisadores na
área de Sistemática Filogenética.
O quarto e último aspecto procura analisar a presença, quantidade e qualidade das
árvores filogenéticas disponíveis nos LDs. Para fins didáticos, utilizou-se uma codificação de
letras para cada subitem deste aspecto. Na letra „a‟, procura-se verificar em que capítulos e
respectivas unidades as árvores estão presentes, de forma similar à primeira pergunta. Na letra
„b‟, o aspecto visual-didático das árvores será investigado, através da análise da forma, cor,
legendas e de facilidade de sua leitura e interpretação. A letra „c‟ está destinada a comparação
com possíveis árvores mais recentes disponíveis e aceitas pelos pesquisadores do assunto. A
fonte recorrida para esta comparação é a coleção “Vida: a Ciência da Biologia”, de Sadava e
colaboradores (2008), por tratar-se de uma obra que compila informações atuais sobre as mais
diversas áreas da Biologia. Esta coleção é revisada por pesquisadores renomados destas
diferentes áreas, apresentando as filogenias mais aceitas dos diversos grupos de seres vivos.
Por fim, a letra „d‟ verifica a presença ou ausência de um manual para construção de árvores
e, se presente, considerações sobre seu potencial didático.
2- De que forma o tema é abordado? Comenta-se sobre a relevância do tema no contexto da Biologia?
24
4- Análise das árvores filogenéticas presentes:
25
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O tema esteve presente em todos os cinco LDs analisados. O Quadro 4.1 lista em que
capítulos e unidades o tema aparece em cada obra.
A maioria das obras aborda o tema em capítulos relacionados ao estudo dos seres
vivos e à Evolução. Este fato é previsto, pois são as principais áreas da Biologia na qual a
Sistemática Filogenética se insere. Muitas obras incluem o tema também em capítulos
relativos ao estudo de grupos de seres vivos em especial, principalmente em relação aos
animais, seres que receberam uma atenção especial no desenvolvimento e consolidação da
Sistemática Filogenética.
26
Quadro 4.1: Os capítulos e unidades em que o tema é identificado nos cinco LDs analisados.
27
Apenas uma obra (102559) não contemplou o tema em um capítulo a respeito da
diversidade e classificação dos seres vivos. A obra 102414 não abordou o tema em nenhum
capítulo específico de um grupo de seres vivos, sendo que os demais o fazem em capítulos
dedicados ao estudo dos animais e, em três obras, das plantas (obras 102511, 102559 e
102318). O reino Fungi somente aparece com algum elemento de filogenética na obra
102318.
28
Mais adiante, os mesmos autores explicam o que fundamenta a classificação com base
na Sistemática Filogenética de forma indireta, exemplificando de que forma os organismos
são agrupados e em que se baseiam as filogenias, conforme o trecho a seguir:
Ainda nesta obra, comenta-se sobre o papel das filogenias na compreensão das
relações de parentesco entre os seres vivos, como presente no seguinte trecho:
Os princípios da classificação – que são os mesmos para todos os seres vivos – são
arbitrários e baseiam-se em critérios estabelecidos por cientistas. A classificação
biológica é atualizada à medida que novas descobertas vão sendo feitas, e
organismos mudam de posição nas tabelas taxonômicas. Seres vivos que eram
considerados plantas estão atualmente entre os fungos; micro-organismos
classificados como algas incluem-se hoje entre as bactérias. (FAVARETTO &
MERCADANTE, 2005, p. 170)
29
A obra 102511 ressalta o impacto da Sistemática Filogenética para as classificações
atuais apenas no Livro do Professor, em uma seção de comentários a respeito do capítulo 13
(Os seres vivos e os vírus). Neste trecho, justifica a adoção de critérios bem estabelecidos para
suas construções, justificando o uso da classificação de Whittaker (1969), modificada por
Margulis & Schwartz (1998), a respeito dos 5 reinos de seres vivos, além de alertar sobre a
existência de outras propostas de classificações para os grupos de seres.
A sistemática filogenética é uma das áreas da Biologia que mais tem se desenvolvido
nos últimos anos. É importante que o aluno saiba que o critério de classificação
observa as relações de parentesco evolutivo entre os seres vivos, desmistificando a
ideia de que classificar é apenas dar nomes e criar agrupamentos baseando-se em
semelhanças.
A determinação do grau de parentesco entre grupos de seres vivos exige o estudo do
maior número possível de características, levando em consideração aquelas que
apresentam origem evolutiva comum (homologias). O que apresentamos neste
capítulo são apenas alguns aspectos que permitem distinguir os cinco reinos e que
refletem essas relações de ancestralidade comum.
Mesmo dentro da sistemática filogenética existem propostas diversas de
classificação, e o texto deixa claro para o aluno que ele pode encontrar outras
propostas em outros livros. (LAURENCE, 2005, p. 43 do livro do professor)
30
evolutivas entre os organismos.” (LOPES & ROSSO, 2005, p. 183). É importante ressaltar
que a primeira autora desta obra é pesquisadora na área de Zoologia da USP e possui um
especial interesse na área, como será comentado posteriormente. O Livro do Professor e o site
da editora na Internet (referência) possuem contribuições adicionais para professores, com
atividades didáticas sobre o tema que possam ser realizadas com os alunos em sala de aula.
Os conceitos foram identificados nos LDs de duas formas: ao longo do corpo do texto
das obras, em especial nos capítulos onde há abordagem do tema, e em glossários ao final do
livro, se presentes. Os únicos conceitos identificados em todas as obras foram os de analogia e
homologia, devido ao seu uso bem estabelecido em noções de Evolução dos seres vivos. A
obra 102318 contempla o maior número de conceitos, apresentando dez e excluindo apenas
dois conceitos, os de homoplasia e parcimônia.
O Quadro 4.2 resume de que forma os conceitos foram encontrados em cada obra.
31
Quadro 4.2: Presença e qualidade de conceitos relacionados a Sistemática Filogenética
Dos cinco LDs investigados, quatro ilustraram com cladogramas a filogenia dos
grandes grupos de plantas (obras 102414, 102511, 102559 e 102318), existindo, ainda, uma
filogenia das angiospermas na obra 102511. A filogenia dos vegetais mostra-se útil, pois é de
fácil entendimento, pois são poucos os grupos de plantas citados (briófitas, pteridófitas,
gimnospermas e angiospermas) e cada grupo apresenta características bem visualizáveis,
como as a aquisição de vasos condutores, sementes e flores.
32
O relacionamento dos filos de animais é contemplado em três obras (102472, 102511 e
102318), embora existam, em algumas obras, filogenias de grupos mais específicos de
animais, como artrópodes, aves e peixes. As figuras dos diferentes filos de animais ressaltam
a evolução dos padrões corporais, dentre as quais cavidades, simetria, metameria e destino do
blastóporo, como determinantes para o entendimento de sua filogenia. Quanto aos grupos de
vertebrados, é importante ressaltar que apresentam visões de que os peixes não formam um
grupo monofilético e que as aves se originam de grupos de répteis.
A evolução dos grandes grupos de seres vivos é visualizada em duas obras (102472 e
102318), nesta última estando presente em um texto para leitura complementar que narra o
processo de construção das diferentes teorias a respeito da filogenia dos seres vivos.
Esperava-se que a maioria das obras abordassem as relações de parentesco entre os diferentes
reinos, inclusive indicando as outras pesquisas, como de Woese et al. (1990), a respeito da
existência de três domínios da vida – Bacteria, Archaea e Eukarya. A origem dos vegetais,
animais e fungos a partir de diferentes linhagens de eucariotos microbianos, conhecidos como
protistas, também não é esclarecida por meio de cladogramas.
33
25- ECHINODERMATA E Cordados (pag. 437). Figura 17
Obra 102511 INTRODUÇÃO AO FILO
CHORDATA
31- EVOLUÇÃO HUMANA; Primatas (pag. 522). Figura 18
FISIOLOGIA HUMANA I:
COORDENAÇÃO NERVOSA E
LOCOMOÇÃO
Unidade 6, Capítulo 1: Plantas (pag. 128). Figura 19
CLASSIFICAÇÃO DOS
VEGETAIS
Unidade 9, Capítulo 1: Tentilhões de Darwin (pag. 288).
Obra 102559 AS TEORIAS EVOLUTIVAS Figura 20
Unidade 9, Capítulo 4: Peixes (pag. 300). Figura 21
EVOLUÇÃO DOS Répteis (pag. 301). Figura 22
VERTEBRADOS Hominídeos (pag. 303). Figura 23
Nos aspectos visual e didático das árvores filogenéticas ilustradas, as obras apresentam
diferenças significativas entre os modelos de árvores adotados se considerarmos a coloração,
as figuras dos táxons e a presença de apomorfias nos ramos. A obra 102414 é um exemplo
disso, pois as únicas duas árvores identificadas são diferentes em diversos aspectos: a árvore
sobre os primatas, que ilustra como seria uma árvore filogenética didática, possui ramos
diagonais, sem apomorfias nos ramos (Figura 4.1); já a árvore sobre a evolução das plantas
apresenta figuras nos terminais dos ramos, ilustrando detalhes das estruturas reprodutivas de
34
cada grupo de vegetais, possuindo ramos em forma de chave e a identificação das novidades
evolutivas de cada grupo (Figura 4.2).
Figura 4.1: Filogenia dos primatas Fonte: Linhares & Gewandsznajder (2006); pag. 141
Figura 4.2: Filogenia das plantas terrestres Fonte: Linhares & Gewandsznajder (2006); pag. 443
Figura 4.3: Diagrama mostrando as relações de parentesco entre os cinco Reinos de seres vivos.
Fonte: Favaretto & Mercadante (2005); pag. 172
Figura 4.4: Chave dicotômica que identifica os cinco Reinos de seres vivos e os vírus.
Fonte: Favaretto & Mercadante (2005); pag. 173
36
Figura 4.5: Filogenia dos animais. Fonte: Favaretto & Mercadante (2005); pag. 211
37
Figura 4.6: Filogenia com a origem e evolução dos elefantes. Fonte: Laurence (2005); pag. 18
Figura 4.7: Diagrama que classifica os grupos de vegetais terrestres. Fonte: Laurence (2005); pag. 286
38
Figura 4.8: Filogenia das angiospermas. Fonte: Laurence (2005); pag. 305
Figura 4.9: Filogenia dos filos de animais. Fonte: Laurence (2005); pag. 356
39
Figura 4.10: Filogenia dos cordados. Fonte: Laurence (2005); pag. 437
Figura 4.11: Filogenia dos primatas. Fonte: Laurence (2005); pag. 522
40
A obra 102559 apresenta esquemas que se assemelham pouco com cladogramas, mas
possuem o significado de uma relação evolutiva. Como exemplos, a evolução das plantas
(Figura 4.12), na qual os ramos são setas que indicam a divergência dos grupos de vegetais,
de forma similar ao presente na obra 102511. Há uma filogenia do processo de diversificação
dos tentilhões, semelhante ao elaborado por Darwin, em capítulo relacionado à teorias
evolucionistas (Figura 4.13). A evolução dos peixes (Figura 4.14), no qual as novidades
evolutivas são dispostas de forma sequencial, mostrando as transformações que os peixes
sofreram até gerar os peixes atuais e tetrápodes. As figuras que representam as filogenias dos
répteis (Figura 4.15) e dos hominídeos (Figura 4.16) são muito semelhantes, pois mostram a
evolução dos grupos com a escala de tempo e os grupos extintos divergindo ao longo de um
ramo que termina nos grupos atuais (répteis atuais e aves no primeiro e ser humano no
segundo).
Figura 4.12: Diagrama com os principais grupos de plantas. Fonte: Adolfo, Lago & Crozeta (2005); pag. 128
Figura 4.13: Filogenia dos tentilhões de Darwin. Fonte: Adolfo, Lago & Crozeta (2005);pag. 288
41
Figura 4.14: Diagrama com a evolução dos peixes. Fonte: Adolfo, Lago & Crozeta (2005); pag. 300
Figura 4.15: Diagrama com a evolução dos répteis. Fonte: Adolfo, Lago & Crozeta (2005); pag. 301
Figura 4.16: Diagrama com a evolução dos hominídeos. Fonte: Adolfo, Lago & Crozeta (2005); pag. 303
42
A maior quantidade de cladogramas é observada na obra 102318, no qual a maioria
das figuras possuem as mesmas características e são mais próximas das representações de
filogenia da literatura especializada. A maioria apresenta ramos na diagonal, com as
apomorfias indicadas na maioria dos ramos e grande parte apresentando figuras dos
representantes de cada ramo terminal. No capítulo de introdução ao estudo dos seres vivos, no
qual apresenta os fundamentos da Sistemática Filogenética, a obra traz filogenias hipotéticas
para explicar as partes de um cladograma (Figuras 4.17, 4.18 e 4.19), os processos de
cladogênese e anagênese (Figuras 4.19 e 4.20), a construção de uma filogenia a partir de uma
matriz de caracteres (Figuras 4.21 e 4.22) e as diferenças entre dicotomia e politomia (Figura
4.23). A obra também apresenta filogenias de diversos grupos biológicos, tais quais grandes
grupos de seres vivos (Figuras 4.24-28), fungos (Figura 4.29), plantas (Figura 4.30),
animais (Figura 4.31), artrópodes (Figura 4.32), deuterostomados (Figura 4.33), cordados
(Figura 4.34), dinossauros (Figura 4.35), tentilhões (Figura 4.36) e primatas (Figura 4.37).
Figura 4.17: Cladograma de exemplificação. Fonte: Lopes & Rosso (2005); pag. 182
43
Figura 4.19: Cladograma de exemplificação. Fonte: Lopes & Rosso (2005); pag. 183
Figura 4.20: Cladograma de exemplificação. Fonte: Lopes & Rosso (2005); pag. 183
Figura 4.21: Matriz de caracteres para exemplificação. Fonte: Lopes & Rosso (2005); pag. 184
44
Figura 4.23: Filogenias que Diferenciam dicotomia de politomia em um cladograma.
Fonte: Lopes & Rosso (2005); pag. 185
Figura 4.24: Representação da primeira proposta de filogenia dos seres vivos. Fonte: Lopes & Rosso (2005);
pag. 187
Figura 4.25: Filogenia dos seres vivos por Whittaker. Fonte: Lopes & Rosso (2005); pag. 187
45
Figura 4.26: Filogenia dos seres vivos de acordo com Woese (1990). Fonte: Lopes & Rosso (2005); pag. 188
Figura 4.27: Filogenia dos seres vivos adotada pela obra. Fonte: Lopes & Rosso (2005); pag. 189
Figura 4.28: Filogenia que mostra a teoria da endossimbiose. Fonte: Lopes & Rosso (2005); pag. 189
46
Figura 4.29: Filogenia dos fungos. Fonte: Lopes & Rosso (2005); pag. 229
Figura 4.30: Filogenia dos vegetais. Fonte: Lopes & Rosso (2005);pag. 239
47
Figura 4.31: Filogenia dos filos de animais. Fonte: Lopes & Rosso (2005); pag. 284
Figura 4.32: Filogenia dos artrópodes. Fonte: Lopes & Rosso (2005); pag. 326
48
Figura 4.33: Filogenia com as relações entre equinodermos e cordados. Fonte: Lopes & Rosso (2005); pag. 345
Figura 4.34: Filogenia com as relações entre os cordados atuais. Fonte: Lopes & Rosso (2005); pag. 347
49
Figura 4.35: Filogenia com as relações entre os principais grupos de dinossauros e aves.
Fonte: Lopes & Rosso (2005); pag. 366
50
Figura 4.37: Filogenia com as relações de parentesco entre os primatas e o ser humano .
Fonte: Lopes & Rosso (2005); pag. 530
As filogenias recentes que lidam com todos os grandes grupos de seres vivos os
posicionam e classificam em três domínios: Archaea, Bacteria e Eukarya (SADAVA et al.,
2008, p. 562; Figura 4.38). Todos descendem de um ancestral comum, provavelmente um
51
procarioto que viveu há mais de 3 bilhões de anos, porém Archaea e Eukarya apresentam um
ancestral comum mais recente entre si do que com Bacteria. Desta forma, um grupo formado
apenas por procariotos seria considerado parafilético, portanto sem valor científico. Este é o
caso do extinto Reino Monera, formado exclusivamente por organismos procariotos e que foi
proposto por Whittaker em 1969 (WHITTAKER, 1969; WOESE, 1990).
Figura 4.38: Filogenia dos 3 domínios da vida. Fonte: Savada et al. (2008).
52
Figura 4.39: Filogenia dos eucariotos. Fonte: Savada et al. (2008).
A obra 102472 apresenta dois diagramas que representam filogenias dos grupos de
seres vivos em cinco reinos, incluindo procariotos no Reino Monera, embora indique
reconhecer a existência dos 3 domínios de seres vivos nas modernas classificações, e
protozoários e algas no Reino Protista. O primeiro diagrama (Figura 4.3) dispõe os seres
vivos em conjuntos onde percebe-se claramente a intenção de posicionar os procariotos como
organismos ancestrais dos outros e os protistas como ancestrais de fungos, plantas e animais,
semelhante às propostas de filogenia de Haeckel e baseada numa ótica gradista. O segundo
diagrama (Figura 4.4) inclui os vírus em uma chave dicotômica de caráter didático, mas que
se assemelha a um cladograma ao agrupar reinos pela presença de características
compartilhadas (sinapomorfias), como a presença de parede celular nas plantas e fungos
(embora as classificações recentes distanciem estes dois grupos).
53
A obra 102318 apresenta um texto para leitura complementar na qual apresenta um
histórico das diferentes classificações dos grupos de seres vivos (Figuras 4.24 a 4.28), a partir
da dicotomia entre os reinos animal e vegetal, proposta por Aristóteles e mantida por Lineu.
Em seguida, expõe as propostas de Herbert Copeland, desta vez com quatro reinos: Monera,
incluindo os procariotos; Protista, com protozoários, algas e fungos; Metaphyta, reino dos
vegetais; e Metazoa, reino dos animais, e de Whittaker, finalizada em 1969, desta vez criando
o Reino Fungi para os fungos. Na sequência, cita as contribuições de Margulis e Schwartz
(1988), alterando a classificação mantendo os cinco reinos, e de Carl Woese em 1990, criando
a “moita” filogenética a partir da análise de RNAr, criando a nova classificação dos 3
domínios. Por fim, o texto encerra com uma proposta adotada pelo livro, semelhante à
filogenia adotada por Savada et al. (2008), tornando os reinos Monera e Protista claramente
parafiléticos, porém mantendo-os apenas por ser mais didático. O texto ainda revela os casos
mais conhecidos de endossimbiose, que originaram as organelas mitocôndria e cloroplasto a
partir de grupos de procariotos.
As plantas terrestres possuem uma das filogenias mais bem estabelecidas dentre os
diferentes grupos de seres vivos. Isto é identificado pelo surgimento de características que
propiciaram a gradual invasão dos vegetais no ambiente terrestre, como os embriões
protegidos, o tecido vascular e as sementes, cada uma surgindo apenas uma vez em cada
linhagem. Com isso, são monofiléticos os grupos das embriófitas, das plantas vasculares e das
plantas com sementes (SADAVA et al., 2008, p. 617; Figura 4.40).
54
Figura 4.40: Filogenia das plantas terrestres. Fonte: Savada et al. (2008).
Figura 4.41: Filogenia das plantas com sementes. Fonte: Savada et al. (2008).
55
Dentre as angiospermas, as dicotiledôneas e as monocotiledôneas, junto com os
magnolídeos, formas um grupos mais derivado, baseado na fusão do carpelo, enquanto alguns
grupos basais não o possuem (SAVADA et al., 2008, p. 644; Figura 4.42).
As quatro obras que representaram, de alguma forma, a filogenia das plantas terrestres
foram muito semelhantes em suas abordagens, sendo as obras 102414 e 102318 mais
próximas da filogenia recente (Figuras 4.2 e 4.30). Porém, estas obras mantêm os grupos
briófitas e pteridófitas como monofiléticos, embora a obra 102318 reconheça que são grupos
não monofiléticos (também tratando as gimnospermas desta forma). As demais obras incluem
as briófitas e pteridófitas no grupo das criptógamas, em oposição ao das fanerógamas. A
característica que une as criptógamas seria a ausência de órgãos reprodutivos evidentes,
tratando-se de um caráter considerado plesiomórfico, logo as criptógamas formam um grupo
parafilético. A obra 102511 aborda a filogenia das angiospermas de forma bem similar à
proposta usada como referência, apenas não coincidindo na posição dos magnolídeos como
grupo-irmão das monocotiledôneas (Figura 4.8).
56
4.4.3.3. Filogenia dos animais
Os animais possuem uma classificação com certa estabilidade em alguns grupos e que
também reflete o surgimento de certas características evolutivas, envolvendo diferentes
padrões de simetria, camadas celulares, destino do blastóporo, dentre outras (SADAVA et al.,
2008, p. 672; Figura 4.43).
Nas propostas mais recentes, o filo das esponjas é considerado parafilético, e os filos
dos animais bilatérios são separados em protostomados e deuterostomados. Alguns
protostomados são agrupados no grupo dos lofotrocozoários, formado por anelídeos,
moluscos, vermes chatos, nemertinos, rotíferos e filos de lofoforados, pela presença de
lofóforo, um sistema de tentáculos para alimentação, larva trocófora e clivagem espiral na
vida embrionária, entretanto os filos não compartilham todas essas características. Os
57
ecdisozoários completam os protostomados e são filos de animais que trocam a cutícula
periodicamente, como os artrópodes, onicóforos, tardígrados, nematoides e outros vermes
(SADAVA et al., 2008, p. 692; Figura 4.44).
Dentre os artrópodes, filo mais diversificado dos animais, os quatro principais grupos
– quelicerados, crustáceos, miriápodes e hexápodes – possuem relações bem-entendidas,
embora a posição dos miriápodes ainda seja a mais duvidosa (SADAVA et al., 2008, p. 705;
Figura 4.45).
58
Figura 4.46: Propostas de filogenias dos artrópodes. Fonte: Savada et al. (2008).
A obra 102318 é a única a apresentar uma proposta de filogenia dos artrópodes que
atualmente não é a mais aceita atualmente, pois inclui os miriápodes e os hexápodes em um
grupo denominado Uniramia, unido por possuírem um par de antenas (Figura 4.32).
Os grupos de amniotas são formados por dois grupos principais: os répteis, cuja
filogenia irradia para diversos linhagens recentes, como das tartarugas, tuataras, escamados e
crocodilianos, e linhagens extintas que originaram as aves, e os mamíferos. Portanto, o grupo
dos répteis só é monofilético se as aves forem consideradas neste grupo (SADAVA et al.,
2008, p. 731; Figura 1.4).
59
Figura 4.46: Filogenia dos deuterostomados. Fonte: Savada et al. (2008).
A filogenia dos primatas se bifurca na base em duas linhagens: a dos prossímios e dos
antropoides. Neste grupo estão os társios, primatas do Novo Mundo, primatas do Velho
Mundo, gibões, orangotangos e macacos antropoides africanos, onde estão inclusos
chimpanzés, gorilas e humanos (SADAVA et al., 2008, p. 738; Figura 4.47). As filogenias
60
propostas pelas obras 102414, 102511 e 102318 seguem com a filogenia descrita (Figuras
4.1, 4.11 e 4.37).
A filogenia atual da espécie humana e dos parentes próximos extintos revela que as
linhagens que surgem a partir de Australopithecus afarensis originaram a espécie Homo
habilis e, desta, as linhagens do H. erectus e do H. ergaster. As espécies H. neanderthalensis
e H. sapiens surgiram de H. ergaster (SADAVA et al., 2008, p. 740; Figura 4.48). A obra
102559 especifica esta mesma filogenia, porém tratando H. erectus como espécie que origina
H. sapiens e desta surgem H. sapiens sapiens e H. neanderthalensis (Figura 4.16).
61
Figura 4.48: Filogenia da espécie humana a partir de Australopithecus afarensis. Fonte: Savada et al. (2008).
A obra 102318 é a única a fazer uma representação da filogenia dos grupos de fungos
(Figura 4.29), sendo similar à disponível em Savada et al. (2008, p. 652; Figura 4.49).
Entretanto, a filogenia mais recente indica que os grupos Chytridiomycota, formados por
fungos aquáticos e com esporos flagelados, e Zygomycota, que apresentam zigósporo como
célula sexual, são parafiléticos. As posições de Basidiomycota e Ascomycota, unidos pela
presença de um corpo de frutificação, são as mesmas.
63
Figura 4.50: Filogenia descrita por Darwin sobre a diversificação dos tentilhões, pássaros estudados no
arquipéLago de Galápagos. Fonte: SADAVA et al., 2008, p. 512
64
4.4. ANÁLISE FINAL
Figura 4.51: Gráfico com a relação do número de capítulos no qual o tema é identificado por obra.
10
0
102472 102511 102559 102318
Quanto à relevância dada ao tema, as obras 102414, 102511 e 102318 são as que
mencionam a Sistemática Filogenética, diretamente ou indiretamente, explicando seus fins e
dificuldades. Neste contexto, a obra 102318 é a que mais explora o tema, pois destina quatro
páginas para explicar os fundamentos e a história da Sistemática Filogenética no Livro do
Aluno, explorando-o ainda mais no Livro do Professor. Esta obra também foi a que
apresentou a maior quantidade dos conceitos pertinentes ao tema que foram investigados nas
obras, sendo sete destes completos, três incompletos e apenas dois ausentes. As demais obras
apresentaram, no máximo, dois conceitos completos (Figura 4.52).
65
obra 102318 é a que apresenta árvores na maior quantidade de capítulos, num total de nove,
seguida da obra 102511, no qual se identificam árvores em cinco capítulos, e 102559, em três
capítulos. As obras restantes possuem árvores em dois capítulos cada (Gráfico 4.53). Quanto
aos grupos biológicos abordados nas árvores, os vegetais e os animais foram os que mais
apareceram, sendo estes disponíveis em filogenias de todos os animais ou de grupos
específicos de animais. Isto comprova que é dada maior ênfase a estas filogenias por se tratar
de grupos biológicos mais presentes no cotidiano dos alunos e professores, logo possuindo
características evolutivas bem evidentes, tais como a evolução das estruturas reprodutivas dos
vegetais. Também é a obra 102318 a única a apresentar um guia demonstrando como se dá a
construção de árvores filogenéticas.
Figura 4.52: Gráfico com a relação da presença de conceitos importantes em Sistemática Filogenética.
10
9
8
7
6
Completos
5
Incompletos
4
Ausentes
3
2
1
0
102414 102472 102511 102559 102318
Figura 4.53: Gráfico com a relação de capítulos nos quais aparecem árvores filogenéticas por obra.
25
20
0
102414 102472 102511 102559 102318
66
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho, trata-se a Sistemática não só pela ciência que nomeia e classifica os
diferentes grupos de seres vivos, como também pelo estudo em separado de cada grupo de
organismos, em especial do estudo dos vegetais (Botânica) e dos animais (Zoologia),
estabelecendo uma unidade didática dos Seres Vivos. A maioria das coleções apresenta os
fundamentos da Sistemática e da Taxonomia, privilegiando as regras estabelecidas por Lineu,
em seguida explicando a classificação dos seres vivos em cinco reinos, como na proposta de
Whittaker. Os capítulos seguintes são destinados aos vírus (no qual se estabelece o paradoxo
de sua classificação como ser vivo ou não vivo), às bactérias e afins (“Reino” Monera), aos
protozoários e algas (“Reino” Protista), fungos (Reino Fungi), plantas (Reino Plantae ou
Metaphyta) e animais (Reino Animalia ou Metazoa). É frequente o aparecimento da
explicação sobre a anatomia e a fisiologia das plantas e dos animais nesta unidade didática,
normalmente após o(s) capítulo(s) que aborda(m) as principais características dos referidos
grupos.
Os LDs em questão não estão sendo julgados em virtude da exploração da Sistemática
Filogenética, cuja abordagem no Ensino Médio é recente, face à sua importância consolidada
no meio acadêmico. Os livros são desenvolvidos por autores com formação em Biologia ou
em área afim, porém, investigando um pouco da formação de cada autor de LDs, é possível
perceber uma tendência na sua abordagem das diferentes áreas da Biologia. Entretanto,
existem muitos pontos comuns com relação à forma como as obras tendem a apresentar os
conteúdos voltados para o estudo dos seres vivos.
A obra 102472, de Favaretto & Mercadante (2005), é considerada uma obra com
muitos atrativos visuais, texto mais bem detalhado no que se refere aos processos, porém com
uma visão menos integrada da Biologia. Ainda de acordo com os comentários do
PNLEM/2009, “essa característica é traduzida, pela obra, em uma opção mais voltada para
conteúdos de anatomia, fisiologia, genética e biologia celular, e menos centrada em temas
como ecologia e diversidade” (BRASIL, 2008, p. 28). Em outro trecho, destaca que “os
grupos de organismos são apresentados de maneira descritiva, sem que as relações de
68
parentesco filogenético entre eles sejam estabelecidas” (BRASIL, 2008, p. 32). De fato, na
leitura da obra, percebe-se uma forte abordagem de interesse médico, priorizando áreas como
saúde pública, genética, anatomia e fisiologia humanas. Esta característica pode ser explicada
pelo fato de um dos autores ter formação em Medicina – José Arnaldo Favaretto. Recomenda-
se que o uso do livro pelo professor e professora seja acompanhado de um material adicional
para cobrir as lacunas de conteúdo. Apesar disso, a obra aborda as relações de parentesco
entre os diferentes grupos de seres vivos, embora de forma gradista, ao representar um
diagrama na qual o Reino Monera “origina” o Reino Protista, que por sua vez “origina” os
demais reinos. Em uma chave dicotômica, considera os organismos do Reino Plantae como
pluricelulares dotados de parede celular, carioteca e cloroplastos, embora existam organismos
com estas características que não pertencem a este reino. A filogenia dos animais apresenta
alguns caracteres plesiomórficos indicados como apomórficos definindo certos filos, como é o
caso da ausência de tecidos verdadeiros para os poríferos e a não-segmentação para os
moluscos.
A obra 102559, de Adolfo, Crozetta & Lago (2005), é considerada, pelos comentários
do PNLEM/2009, como mais concisa e contextualizada, porém com muitos desacertos,
principalmente no que diz respeito a imprecisões e pouca integração entre as áreas da
Biologia. Faltam, ainda, atualizações em conteúdos como zoologia e anatomia e fisiologia
69
humanas e existem erros conceituais e omissões com relação a conceitos importantes em
evolução. Os comentários recomendam que o professor e professora preencham as lacunas da
obra com sua experiência profissional e seus conhecimentos, de modo a não tornar o livro
como única referência, embora tenha linguagem adequada para o Ensino Médio. Na
observação, percebi claramente a simplificação dos textos e imagens, para não inflar a obra
com conteúdos por vezes desnecessários. Entretanto, algumas figuras, embora construídas
com interesse puramente didático, são deficientes em atualização e apresentam uma visão
puramente gradista em lugar de uma visão cladística. Exemplo disso são as imagens
representando a evolução dos vegetais, considerando também a existência de um grupo de
criptógamas, tal qual a obra anteriormente citada, e a evolução dos vertebrados, na qual
linhagens de peixes existentes, como os agnatos e os peixes de nadadeira lobadas “originam”
outros grupos, negando as linhagens atuais.
Outro motivo que norteou esta análise foi a observação e identificação de questões de
Vestibular de universidades públicas e do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) que
abordam o tema. Isto significa que faz parte dos critérios de seleção para ingresso nestas
universidades a interpretação e o conhecimento básico de conceitos relacionados à
Sistemática Filogenética, bem como a leitura e interpretação de filogenias. A análise destas
questões será feita em outro momento.
Neste trabalho, foram analisadas somente as coleções de Volume Único, que são
elaboradas com uma abordagem mais concisa para cada tema em Biologia. Isto favorece para
um uso menos engessado do LD em relação à série do Ensino Médio com a qual está se
trabalhando, porém prejudica no sentido de que alguns assuntos podem ser mais
aprofundados, dependendo da realidade de cada sala de aula. Falta, por isso, analisar as obras
de três volumes, nas quais é possível verificar um desenvolvimento mais aprofundado para
cada tema da Biologia e, portanto, da Sistemática Filogenética.
72
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMORIM, D.S.; MONTAGNINI, D.L.; NOLL, F.B.; CASTILHO, M.S.M.; CORREA, R.J.
Diversidade biológica e evolução: uma nova concepção para o ensino de Zoologia e Botânica
no 2º Grau. In: BARBIERI, M.R.; SICCA, N.A.L.; CARVALHO, C.P. (Org.). A construção
do conhecimento do professor: uma experiência da parceria entre professores do ensino
fundamental e médio da Rede Pública e a universidade. 1ª edição. Ribeirão Preto/SP: Editora
Holos, p. 41-49, 2001.
AMORIM, M.C.; LEYSER, V. A Evolução Biológica e seu ensino nos Encontros Nacionais
de Pesquisa em Educação em Ciências (ENPEC). In: Atas do VII Encontro Nacional de
Pesquisa em Educação em Ciências (ENPEC). Florianópolis/SC: ABRAPEC, 2009.
BIZZO, N. Falhas no ensino de Ciências. Revista Ciência Hoje, Rio de Janeiro/RJ, v. 27, n.
159, p. 26-31, 2000.
BRASIL. MEC. PCNEM - Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio, Parte III
– Ciências da Natureza, Matemática e suas tecnologias. Brasília, MEC/SEB, 2000. 58 p.
BRASIL. MEC. Biologia: catálogo do Programa Nacional do Livro para o Ensino Médio:
PNLEM/2009. Secretaria de Educação Básica, Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação. Brasília : Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2008. 110 p.
COSTA, L.O.; MELO, P.L.C.; TEIXEIRA, F.M. Evolução – Tensões e desafios no Ensino
Médio. In: Atas do VII Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências
(ENPEC). Florianópolis/SC: ABRAPEC, 2009.
DIAS & BORTOLOZZI, 2009. Como a Evolução Biológica é tratada nos Livros Didáticos do
Ensino Médio. In: Atas do VII Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências
(ENPEC). Florianópolis/SC: ABRAPEC, 2009.
DOBZHANSKY, T. Nothing in biology makes sense except in the light of evolution. The
American Biology Teacher, p. 125-129, 1973.
EL-HANI, C. N.; ROQUE, N.; ROCHA, P. L. B. da. Livros Didáticos de Biologia do Ensino
Médio: Resultados do PNLEM/2007. In: Atas do VI Encontro de Pesquisa em Educação
em Ciências (ENPEC). Belo Horizonte/MG: ABRAPEC, 2007.
GOUVÊA, G.; MARTINS, I. Imagens e Educação em Ciências. In: ALVES, N. & SGARBI
(Org.) Imagens e espaços da escola. Rio de Janeiro/RJ: D P & A, p. 41-57, 2001.
74
GÜLLICH, R.I.; EMMEL, R.; PANSERA-DE-ARAÚJO, M.C. Interfaces da pesquisa sobre o
livro didático de Ciências.. In: VII Encontro Nacional de Pesquisa em Educação nas
Ciencias (ENPEC). Florianópolis/SC: ABRAPEC, 2009.
KUHN, T.S. A estrutura das revoluções científicas. 9ª edição. São Paulo/SP: Editora
Perspectiva, 1962. 64 p.
LEMKE, J. Multiplying meaning: visual and verbal semiotics in scientific texts. In:
MARTIN, I.R., VEEL, R. (Org.). Reading Science. London: Routledge, 1998. Apud:
GOUVÊA, G.; MARTINS, I. Imagens e Educação em Ciências. In: ALVES, N. & SGARBI
(Org.) Imagens e espaços da escola. Rio de Janeiro/RJ: D P & A, p. 41-57, 2001.
LOPES, W.; FERREIRO, M.; STEVAUX, M.. Propostas Pedagógicas para o Ensino Médio:
filogenia de animais. Solta a voz, América do Norte, v. 18, n. 1, p. 263-286, 2008.
MARGULIS, L. & SCHWARTZ, K.V. Five kingdoms: an illustrated guide to the phyla of
life on Earth. Nova Iorque: W. H. Freeman and Company, 1988. 520 p.
75
NÚÑEZ, I.B.; RAMALHO, B.L.; SILVA, I.K.P.; CAMPOS, A.P.N. A seleção dos livros
didáticos: um saber necessário ao professor: O caso do ensino de Ciências. OEI- Revista
Iberoamericana de Educación, 2003.
SAVADA, D.; HELLER, H.C.; ORIANS, G.H.; PURVES, W.K.; HILLIS, D.M. Vida: A
Ciência da Biologia, vol. II. Porto Alegre/RS, Ed. Artmed, 8ª edição, 2008. 1252 p.
WOESE, C.R. et al. Towards a natural system of organisms: proposal for the domains
Archaea, Bacteria, and Eucarya. Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 87, p.
4576-4579. 1990.
76
LIVROS DIDÁTICOS ANALISADOS:
ADOLFO, A.B.; CROZETTA, M.A.S.; LAGO, S.R. Biologia. 2ª edição. São Paulo/SP:
Editora IBEP, 2005. 344 p.
LAURENCE, J. Biologia. 1ª edição. São Paulo/SP: Editora Nova Geração, 2005. 696 p.
LOPES, S.; ROSSO, S. Biologia. Volume único. 1ª edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2005.
608 p.
77
ANEXO
79