Reflexoes em Ensino de Ciencias 2

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REFLEXÕES EM ENSINO DE CIÊNCIAS II

__________________________________________

Daniela Frigo Ferraz


Fabio Seidel dos Santos
Antonio Carlos de Francisco
(Organizadores)

1
Editora Chefe
Profª Drª Antonella Carvalho de Oliveira

Conselho Editorial
Prof. Dr. Antonio Isidro-Filho
Universidade de Brasília

Prof. Dr. Valdemar Antonio Paffaro Junior


Universidade Federal de Alfenas

Prof. Dr. Álvaro Augusto de Borba Barreto


Universidade Federal de Pelotas

Profª Drª Deusilene Souza Vieira Dall'Acqua


Universidade Federal de Rondônia

Prof. Dr. Antonio Carlos Frasson


Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Prof. Dr. Constantino Ribeiro de Oliveira Junior


Universidade Estadual de Ponta Grossa

Profª Drª Lina Maria Gonçalves


Universidade Federal do Tocantins

Prof. Dr. Takeshy Tachizawa


Faculdade de Campo Limpo Paulista

Profª Drª Ivone Goulart Lopes


Istituto Internazionele delle Figlie de Maria Ausiliatrice

Prof. Dr. Carlos Javier Mosquera Suárez


Universidad Distrital Francisco José de Caldas/Bogotá-Colombia

Prof. Dr. Gilmei Francisco Fleck


Universidade Estadual do Oeste do Paraná

2
2016 by FERRAZ, D. F.; SANTOS, F. S. dos; FRANCISCO, A. C. de.

Direitos de Publicação
ATENA EDITORA
Avenida Marechal Floriano Peixoto, 8430
CEP: 81.650-010, Curitiba, PR
[email protected]
www.atenaeditora.com.br

Revisão
Os autores

Edição de Arte
Geraldo Alves

Ilustração de Capa
Geraldo Alves

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(eDOC BRASIL, Belo Horizonte/MG)

R332
Reflexões em ensino de ciências [recurso eletrônico] / Organizadores
Daniela Frigo Ferraz, Fabio Seidel dos Santos, Antonio Carlos de
Francisco. – Curitiba (PR): Atena, 2016.
118 p.

ISBN: 978-85-93243-10-3
DOI: 10.22533/93243-10-3
Inclui bibliografia.

1. Ciências – Estudo e ensino. 2. Educação permanente.


3. Professores de ciências - Formação. I. Ferraz, Daniela Frigo.
II.Santos, Fabio Seidel dos. III. Francisco, Antonio Carlos. IV. Título.

CDD-370.71

O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de
responsabilidade exclusiva dos seus respectivos autores.

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APRESENTAÇÃO

A área de Pesquisa em Educação e Ensino de Ciências tem se ampliado


muito desde sua criação no Brasil no final da década de 50 e início da década
de 60 do século passado. Essa amplitude se reflete tanto no número de
programas de pós-graduação na área que cresceram muito nas últimas décadas,
quanto no número de pesquisas que se desenvolvem nesses programas e as
temáticas envolvidas que são diversas. O livro Reflexões em Ensino de
Ciências é uma tentativa de reunir algumas preocupações de pesquisadores da
área e também de pesquisadores de áreas afins que se debruçam sobre as
questões relativas ao Ensino e a Educação em Ciências, de diferentes regiões e
programas de pós-graduação do país (tanto de programas considerados
precursores na área, quanto programas já consolidados e ainda programas mais
jovens).
Os artigos foram divididos em dois volumes. No primeiro volume o livro
traz artigos que tratam sobre o Ensino de Ciências, nas subáreas de Ensino de
Física, de Ensino de Química e de Ensino de Biologia, como também estudos
da área de Educação em Saúde.
No segundo volume foram agrupados textos relacionadas a formação de
professores, tanto a formação inicial como a formação continuada e ainda
estudos de revisão da literatura sobre determinado tema, como por exemplo, o
ensino e a aprendizagem por modelagem; o livro didático; a formação de
professores, entre outros.
Os artigos apresentados nesse segundo volume, em sua primeira parte,
abordam diferentes problemáticas que afetam a formação docente e sua prática
pedagógica, a começar pela necessidade de domínio de saberes docentes
específicos e que são mobilizados de forma simultânea durante sua ação
docente, em especial os saberes disciplinares, já que o domínio insuficiente
desse tipo de saber influencia sobremaneira a possibilidade do desenvolvimento
de atividades práticas (Labarce, Bastos e Pedro). Dando seguimento o próximo
capítulo discute a necessidade da formação de professores para a expansão e
desenvolvimento da Educação em Ciências na Amazônia, para tanto, os autores
Matos e Gonçalves abordam as narrativas de professores formadores egressos
da pós-graduação na área, em cujos processos de formação ficaram evidentes
indícios dos movimentos de (trans) formação pessoal e profissional, pautados
no sentimento de incompletude do sujeito. Os autores Ramos, Lorencine Junior
e Silva demonstram a importância do desenvolvimento de uma sequência
didática fundamentada na perspectiva histórico-cultural do desenvolvimento
humano para a formação inicial de professores, já que possibilitou que
obtivessem uma referência teórica-metodológica para elaboração das atividades
pedagógicas que poderiam ser readequadas para outros contextos e outros
conteúdos. O livro didático tem sido historicamente um protagonista nas
pesquisas da área de Ensino de Ciências, as autoras Emmel e Pansera-de-
Araujo abordam a necessidade de que os professores em formação inicial

4
percebam o livro didático como mais um recurso a ser utilizado, de maneira não
linear, sintonizado com a realidade de seus alunos e não trate o conhecimento
expresso no material como pronto, estático e acabado.
A partir das experiências de formação trazidas pelos autores e que são
relatadas na forma de capítulos na presente obra, podemos identificar e
caracterizar referências para a docência na perspectiva da profissionalização,
cuja preocupação tem sido objeto central nas pesquisas sobre a temática, desde
sua expansão como campo de pesquisa que emergiu no cenário internacional a
partir da década de 1980.
A segunda parte da obra, traz artigos de revisão da literatura.
Consideramos que esse tipo de estudo é fundamental na área de Ensino de
Ciências, em que, devido ao crescente número de trabalhos sobre temas que
foram e continuam sendo recorrentes nas linhas de pesquisa, como a questão
da linguagem, da formação de professores, do livro didático, de atividades
experimentais, entre tantos outros temas, se faz necessário conhecer o que já
foi produzido de modo a analisar e avaliar o conhecimento acumulado,
possibilitando a integração da produção acadêmica nas mais diversas áreas de
investigação.
Sendo assim, os capítulos propostos versam sobre a revisão da literatura
nas seguintes áreas temáticas: a) Formação continuada de professores, onde
os autores Mesquita, Souza e Farias desenvolvem uma análise dos artigos
publicados na revista Ensaio no período de 1999 e 2014 e demonstram que o
número de pesquisas com esse tema tem aumentado no decorrer dos últimos
anos, sendo que as mesmas estão concentradas nas regiões sudeste e sul do
país, e estão voltadas principalmente para professores da Educação Básica; b)
A abordagem CTS foi alvo da revisão na revista Ciência & Educação pelos
autores Souza, Mesquita e Farias em que concluem que ainda são muitos os
desafios da educação na perspectiva CTS tanto no ensino como na formação do
professor; c) Ensino e aprendizagem por modelagem, em que, a partir da revisão
recente da literatura em periódicos nacionais e internacionais desenvolvida por
Gerolim e Trivelato, as autoras concluem que os artigos analisados mostram a
importância das atividades de modelagem como ferramenta para o entendimento
da construção de significados em sala de aula, para a compreensão de
professores e estudantes acerca da natureza da ciência, no processo de
formação de professores e outros campos da educação em ciências; d) Os
trabalhos desenvolvidos nos ENPEC sobre o tema Livro Didático são mapeados
por Schirmer e Sauerwein, mostrando que o tema tem sido um foco de pesquisa
bastante representativo no evento ao longo das nove edições; e) O Uso de
matérias didáticos alternativos é revisado na revista Química nova na escola, por
Mota, Mesquita e Farias, mostrando que os autores dos trabalhos analisados
mostram-se criativos na busca de alternativas ao ensino tradicional.
Esse é um livro relevante à comunidade acadêmica, em particular aos
professores formadores que atuam em cursos de licenciatura, para
compreensão do papel que desempenham na formação de futuros professores,

5
também aqueles professores que já atuam na educação básica nas áreas
científicas e os que ainda se encontram em vias de formação inicial. É indicado
ainda para acadêmicos de diferentes áreas científicas que iniciam seus estudos
na área de pesquisa em Ensino de Ciências e também pesquisadores
interessados nos temas abordados no livro.

Daniela Frigo Ferraz


Fabio Seidel dos Santos
Antonio Carlos de Francisco

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SUMÁRIO

PARTE I
ESTUDOS SOBRE FORMAÇÃO DE PROFESSORES

Capítulo I
SABERES DISCIPLINARES EM CIÊNCIAS E FORMAÇÃO DE
PROFESSORES
Eliane Cerdas Labarce, Fernando Bastos e Alessandro Pedro..........................10

Capítulo II
TEMPOS DE CONSTRUÇÃO... PERCURSOS DE FORMAÇÃO: A EDUCAÇÃO
EM CIÊNCIAS NA AMAZÔNIA LEGAL
Maria da Conceição Gemaque de Matos e Terezinha Valim Oliver Gonçalves..21

Capítulo III
CONTRIBUIÇÕES DE UMA SEQUÊNCIA DIDÁTICA COMO MODELO DE
REFERÊNCIA PEDAGÓGICA PARA FORMAÇÃO PRÁTICA DE
PROFESSORES DE CIÊNCIAS/BIOLOGIA
Fernanda Zandonadi Ramos, Álvaro Lorencini Junior e Lenice Heloísa de Arruda
Silva...................................................................................................................33

Capítulo IV
O LIVRO DIDÁTICO NO CONTEXTO DA FORMAÇÃO EM CIÊNCIAS
BIOLÓGICAS
Rúbia Emmel e Maria Cristina Pansera-de-Araújo.............................................46

PARTE II
ESTUDOS DE REVISÃO DA LITERATURA

Capítulo V
A FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DE CIÊNCIAS: UMA
REVISÃO NOS ARTIGOS DA REVISTA ENSAIO PESQUISA EM EDUCAÇÃO
EM CIÊNCIAS
Denny William de Oliveira Mesquita, Ana Cris Nunes de Souza e Sidilene Aquino
de Farias............................................................................................................58

7
Capítulo VI
REFLEXÕES E DESAFIOS ACERCA DA ABORDAGEM CIÊNCIA,
TECNOLOGIA, SOCIEDADE E AMBIENTE NA EDUCAÇÃO EM
CIÊNCIAS/QUÍMICA NA FORMAÇÃO DO CIDADÃO
Ana Cris Nunes de Souza, Denny William de Oliveira Mesquita e Sidilene Aquino
de Farias............................................................................................................70

Capítulo VII
ENSINO E APRENDIZAGEM POR MODELAGEM: UMA REFLEXÃO SOBRE A
LITERATURA RECENTE
Eloisa Cristina Gerolin e Sílvia Luzia Frateschi Trivelato....................................80

Capítulo VIII
UM MAPEAMENTO DOS TRABALHOS SOBRE LIVROS DIDÁTICOS NOS
ENPEC
Saul Benhur Schirmer e Inés Prieto Schmidt Sauerwein...................................91

Capítulo IX
USO DE MATERIAIS ALTERNATIVOS NO ENSINO DE QUÍMICA: O ALUNO
COMO SUJEITO ATIVO NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM
Fábio Alexandre Costa Mota, Denny William de Oliveira Mesquita e Sidilene
Aquino de Farias..............................................................................................102

8
PARTE I
ESTUDOS SOBRE FORMAÇÃO DE
PROFESSORES
__________________________________________

9
Capítulo I

SABERES DISCIPLINARES EM CIÊNCIAS E


FORMAÇÃO DE PROFESSORES
__________________________________________

Eliane Cerdas Labarce


Fernando Bastos
Alessandro Pedro

10
SABERES DISCIPLINARES EM CIÊNCIAS E FORMAÇÃO DE
PROFESSORES

Eliane Cerdas Labarce


Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
Coxim - MS
Fernando Bastos
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Faculdade de
Ciências
Bauru - SP
Alessandro Pedro
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Faculdade de
Ciências
Bauru – SP

RESUMO: Atividades de formação continuada, realizadas em uma escola


pública do estado de São Paulo, foram acompanhadas através de
procedimentos de pesquisa qualitativa, com o intuito de verificar como
discussões sobre atividades práticas poderiam contribuir para construção e
aperfeiçoamento de saberes de professores de ciências. Os referenciais teóricos
para condução da pesquisa incluíram literatura em saberes docentes e formação
de professores. Os resultados obtidos sugerem que (a) discussões em torno de
atividades práticas possibilitaram que saberes de diversas naturezas fossem
mobilizados pelos professores; (b) os professores apresentavam domínio
insuficiente dos conteúdos científicos, principalmente no que se refere à
realização de atividades práticas; (c) o domínio insuficiente dos conteúdos
científicos influencia a possibilidade de os professores pensarem atividades
práticas para o ensino de ciências.
PALAVRAS CHAVE: atividades práticas, formação continuada de professores,
saberes docentes

1. INTRODUÇÃO E QUESTÃO DE ESTUDO

Reconhece-se hoje, que os professores estruturam seu trabalho em aula


lançando mão de diferentes tipos de saberes. O saber disciplinar (TARDIF,
2002; GAUTHIER, 1998) ou conhecimento do conteúdo específico (SHULMAN,
1986), refere-se àquele corpo de conhecimentos a área ou assunto que se irá
ensinar, o qual inclui saber como se deu o desenvolvimento histórico daquela
área, seus desdobramentos atuais e as teorias científicas que o dão suporte. Em
outras palavras, o professor deve entender de forma satisfatória a matéria a ser
ensinada para tornar possível o ensino e a aprendizagem dos alunos.
Embora seja consensual a importância concedida a um bom
conhecimento da matéria a ser ensinada pelos professores, a literatura tem

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revelado que grande parte deles possui sérias deficiências nos conteúdos
científicos que necessita ensinar (FREITAS, 1988; BONANDO, 1994; MARIN,
2003; CONTI, 2003; CARVALHO, 2003). Tal situação acarreta dificuldades de
os professores inserirem atividades diferenciadas das tradicionalmente
realizadas, caso sintam que não dominam o conteúdo científico, segundo
apontam Carvalho (2003) e Mizukami et. al. (2002).
Assim, este trabalho pretende discutir o modo como conhecimentos do
conteúdo específico, ou saberes disciplinares se fizeram presentes em uma
dada situação de formação continuada de professores e foram então
aperfeiçoados pelos professores participantes. O objetivo de tal estudo é
promover discussões que contribuam para a melhoria das ações de formação
de professores desenvolvidas pela universidade.

2. A PESQUISA

Este trabalho destaca e analisa alguns dados obtidos no âmbito de um


projeto de formação continuada de professores. O referido projeto foi
desenvolvido em uma escola de ensino fundamental e médio vinculada à rede
pública do Estado de São Paulo. Participaram de determinadas atividades do
projeto três professoras, aqui nomeadas de acordo com a disciplina que
lecionavam (PB, biologia; PQ, química; PC, ciências). Em atendimento às
solicitações das professoras, o projeto iniciou-se com o estudo de atividades
práticas que pudessem ser articuladas aos tópicos de ensino previstos no
material curricular oficial, composto pelos cadernos do Aluno (ver, por exemplo,
SÃO PAULO, 2011). As atividades práticas selecionadas foram estudadas
através de sua realização e discussão durante as reuniões do projeto,
empregando-se, portanto, estratégias de “modelagem”, as quais proporcionam
a vivência dos procedimentos didáticos propostos (JOYCE, 1980, citado por
MARCELO GARCÍA, 1999, p.179-180). Em alguns casos, essas atividades
práticas foram também desenvolvidas em aula pelas professoras participantes,
e os resultados obtidos foram posteriormente discutidos. Numa segunda etapa
do projeto, com o intuito de aprofundarmos o debate sobre questões didático-
pedagógicas, foi feita uma análise coletiva sobre objetivos descritos e
comentados na literatura, quanto ao uso de atividades práticas no ensino de
ciências (GALIAZZI, 2001). Na terceira e última etapa do projeto, tendo sido
detectada uma dificuldade das professoras participantes em discutir as
atividades práticas em relação a conceitos como “observação”, “hipóteses”,
“experimentação”, “modelos” e, principalmente, “investigação” (CARVALHO,
2013), foram organizados estudos e discussões sobre características da
atividade científica (KNELLER, 1980; CHALMERS, 1993).
A metodologia de coleta de dados foi qualitativa, e incluiu a observação
participante, entrevistas semiestruturadas e análise documental (FLICK, 2009).
Não foram autorizadas gravações de áudio ou vídeo das reuniões do projeto,

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portanto, os acontecimentos que tiveram lugar em tais situações foram
posteriormente reconstituídos através da elaboração de relatórios de
observação afiançados por todos os pesquisadores envolvidos. Quanto à análise
de dados, esta foi feita mediante procedimentos de análise de conteúdo
(BARDIN, 1977).

3. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS

Do modelo de formação que surgiu com o movimento de


profissionalização da profissão docente nas décadas de 1980 e 1990, emerge a
questão dos saberes docentes, tendo em conta as ações e o contexto no qual
os professores intervêm, de modo que as pesquisas mais recentes em formação
de professores levam em consideração a existência de saberes ou
conhecimentos específicos que caracterizam o ato de ensinar.
Sobre esse aspecto, Gauthier et al (1998), adverte-nos de que o desafio
da profissionalização do ensino nos obriga a evitar dois erros: conceber o ensino
como um ofício sem saberes e conceber o saber sem ofício. A respeito do
primeiro erro, o autor mostra que ideias preconcebidas como as de que basta ter
talento para ensinar, ou basta bom senso e intuição, não favorecem a
formalização de saberes específicos do ensino. Embora expressem uma relativa
realidade, esses enunciados impedem a manifestação dos saberes profissionais
específicos, pois não relacionam a competência à posse de um saber próprio do
ensino, dão a impressão de que qualquer indivíduo que apresente tais
características possa ser professor, sem que receba formação adequada para
tal.
Ao mesmo tempo, em relação ao segundo aspecto, não se pode
identificar os saberes próprios do ensino na ausência do contexto real ao qual
ele evolui. Ao contrário, os saberes isolados corresponderão à formalização de
um ensino inexistente (GAUTHIER et al, 1998).
Nesse sentido, Gauthier et al (1998) apontam que a determinação dos
saberes específicos da profissão deve partir de dois postulados: existe um
repertório específico de conhecimentos no ofício de professor, e a validação
desses conhecimentos ocorre pela investigação do trabalho docente.
Tardif identifica os seguintes tipos de saberes, capazes de orientar as
formas de atuação do professor: (a) “saberes pessoais”, cujas fontes são a
família, o ambiente de vida etc.; (b) “saberes provenientes da formação escolar”
anterior à formação universitária; (c) “saberes da formação profissional”, no
âmbito dos quais destacaremos, para efeito das discussões aqui
apresentadas, os saberes construídos sob a influência dos resultados de
pesquisas na área de “didática das ciências naturais”; (d) “saberes
disciplinares”, que se referem basicamente ao conhecimento sobre a matéria a
ser ensinada; (e) “saberes curriculares”, que dizem respeito ao conhecimento
das propostas curriculares oficiais, dos livros didáticos etc.; (f) “saberes

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experienciais”, que são adquiridos “no âmbito da prática da profissão
docente”, e correspondem a saberes formados “de todos os saberes
retraduzidos e submetidos ao processo de validação constituído pela prática
cotidiana” (TARDIF, 2004, p.36-53, 61-63).
Com relação especificamente aos saberes disciplinares, Carvalho e Gil-
Perez (2006) nos advertem sobre o fato de que, em reposta à atenção exclusiva
que se dava tradicionalmente aos conteúdos científicos na preparação do
professor, emergiram propostas que relativizaram a importância desses
conhecimentos na formação inicial. Além disso, muitos projetos de formação
continuada tendem a deixar de lado o que se refere aos conteúdos científicos,
admitindo-se, implicitamente, que é suficiente a preparação proporcionada pela
formação inicial, neste aspecto.
Krasilchik (1987); Zalamea e París (1989); Raboni (2002); Carvalho e Gil-
Pérez (2006), entre outros pesquisadores, mostram que a formação inicial dos
professores é insuficiente no que se refere aos conteúdos específicos da matéria
e que essa carência transforma o professor em transmissor mecânico dos
manuais didáticos. O problema se agrava quando pensamos nos problemas
conceituais que muitos destes próprios livros apresentam.
De um ponto de vista didático, o domínio do conteúdo científico é
fundamental para que os professores se envolvam em atividades inovadoras e,
como mostra Carrascosa et al. (1990), os alunos são sensíveis a esse
domínio da matéria pelos professores, considerando-o como requisito
essencial de sua própria aprendizagem.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

No início do projeto, as professoras participantes mostraram-se


interessadas principalmente por sugestões de atividades práticas que pudessem
ser realizadas em aula e complementassem o currículo oficial do estado de São
Paulo (cadernos do aluno). Assim, por interesse compartilhado de
pesquisadores e professores, o trabalho colaborativo que então se desenvolveu
caracterizou-se por dois focos principais: (a) o estudo permanente de
possibilidades para a implementação do ensino prático; (b) a abordagem calcada
na discussão de determinados conteúdos e situações de aprendizagem
propostas pelo currículo oficial do Estado de São Paulo através dos cadernos do
aluno.
Embora, inicialmente, nosso interesse fosse que as discussões em torno
das atividades práticas se voltassem aos seus aspectos didático-
pedagógicos do ensino de ciências, essas discussões dificilmente ocorriam
durante as reuniões, pois esbarrávamos em dificuldades conceituais das
professoras e nosso trabalho se voltava, portanto para estratégias que
permitissem que essas lacunas, sempre que possível fossem sanadas.
Neste artigo, apresentamos alguns episódios em que lacunas conceituais

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nos saberes dos professores investigados foram evidenciadas por meio das
discussões em torno das atividades práticas realizadas, mostrando não
somente a potencialidade dessas atividades no levantamento de conceitos e
pré-conceitos de professores em processos de formação, como também
advertindo para o fato de que a formação inicial dos professores de ciências tem
se mostrado falha também no que se refere aos saberes científicos dos
professores.
Diante da profusão de descobertas científicas na qual estamos imersos
atualmente, e do fato de que conhecer profundamente todo esse conteúdo é
uma tarefa praticamente impossível, não estamos defendendo que o
professor de ciências deva dominar todo o conhecimento científico
produzido, mas é essencial que o professor domine os conceitos básicos
e estruturantes da sua disciplina, como por exemplo, a estrutura das células
e tecidos em Biologia ou os conceitos de átomos e moléculas em Química.
Conceitos a partir dos quais toda a produção científica nessas áreas foi
construída e que servem de suporte para a compreensão e aprendizagem de
novos conhecimentos.
Abaixo, apresentamos alguns eventos nos quais o conhecimento
científico dos professores investigados mostrou-se fragmentado ou falho,
principalmente, no que se refere à utilização didática de atividades práticas:
Durante uma atividade de microscopia de tecidos vegetais (Elódea e
epiderme de cebola), PB e PQ fizeram comentários e perguntas que
evidenciaram que elas apresentavam várias lacunas em seus conhecimentos
básicos sobre o tema em foco (estrutura da célula e dos tecidos), pelo menos no
que se refere aos saberes necessários ao trabalho prático. Não era esperado,
obviamente, que a professora PQ dominasse satisfatoriamente o assunto, já que
ela é formada em Química, mas foi significativo o fato de que a professora PB,
embora possuindo habilitação em Biologia, inicialmente não soubesse
localizar, nas imagens de cortes de órgãos vegetais, onde estavam as células
e os cloroplastos.
Em outra ocasião, realizamos uma demonstração prática da extração do
DNA de frutas segundo a descrição de um protocolo que PB havia conseguido e
depois nos repassado. Em discussão inicial sobre a estrutura da molécula de
DNA, ao nos contar sobre o tipo de explicações que havia dado aos alunos no
trabalho anterior, a professora PQ referiu-se às pentoses como “ácidos” que
possuíam o grupamento “álcool” (hidroxila). Essa fala, reunida a outras que
vieram depois, sugeriu que a professora enfrentava problemas de domínio da
matéria a ser ensinada, pelo menos na área de bioquímica.
Durante a preparação do material dessa atividade, a professora PB
perguntou sobre o porquê da adição de detergente, e a professora PQ explicou
que o detergente “destrói os lipídeos” das membranas celulares (não há, porém,
uma degradação química dos lipídeos, mas somente a solubilização em água do
complexo formado pelos lipídios e moléculas de detergente). Mais adiante, a
professora PQ usou a palavra “proteína” numa fala em que se referia ao DNA.

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Assim, o conjunto de observações e explicações duvidosas, colocadas
pela professora PQ, nesse dia, mostrou-nos que ela, pelo menos na área de
bioquímica, possuía conhecimentos confusos, embora procurasse demonstrar
domínio dos assuntos.
Após ser visualizado o resultado do experimento, PB perguntou o que
veríamos se observássemos a “massa” de DNA ao microscópio, demonstrando
que acreditava que as moléculas individuais de DNA fossem visíveis. Em
resposta, propusemos que realizássemos essa observação. Solicitamos à PQ
que arriscasse uma hipótese sobre o que seria visto, e ela respondeu com
insegurança - “Nada?”.
Após realizar a observação, PB insistiu se, com um microscópio bem
poderoso, não seria possível ver o DNA. Notamos, portanto, a dificuldade de PB
em entender que a ciência trabalha com modelos. Percebemos, assim, lacunas
nas concepções epistemológicas de PB.
Alguns pesquisadores (GARCIA BARROS et al, 1998, GIL e PAYÁ, 1998,
HODSON, 1990) são unânimes ao reforçar as dificuldades de nível
epistemológico e conceitual dos professores, quando se trata de utilizar
atividades práticas no processo de ensino de ciências.
Ao longo do Projeto, várias falas colocadas pelos professores
participantes sugeriram que eles estavam pouco familiarizados com
determinadas noções epistemológicas que poderiam ser importantes para a
reflexão sobre o ensino escolar de ciências. PC e PB, por exemplo, (em outra
ocasião) relataram ter tido pouca ou nenhuma oportunidade de contato com
estudos de história e filosofia da ciência durante a sua trajetória como alunos
de graduação ou professores do ensino fundamental e médio; PQ afirmou
várias vezes, que “a maioria dos fenômenos químicos não são observáveis”,
e com isso pareceu atribuir realidade (caráter fenomênico) a entidades e
processos submicroscópicos que são postulados pela ciência na qualidade
de modelos; PB, PC e PQ não compreenderam, inicialmente, a crítica que
os pesquisadores apresentaram em relação a um trecho do Caderno do
Aluno, o qual faz confusão entre o que seria uma “hipótese” e uma “previsão”;
PB, PQ e PC mostraram não estarem familiarizadas com a expressão “natureza
das ciências” confundindo, inicialmente, a discussão sobre características da
atividade científica com uma discussão sobre aspectos relevantes do mundo
natural que a ciência investiga e desvenda (natureza da ciência
correspondendo não a uma descrição sobre o que a ciência é, mas sim a uma
descrição sobre objetos de estudo da ciência); entre outros.
Os vários dados sugestivos de que os professores participantes
possuíam lacunas em suas noções epistemológicas vieram à tona
gradativamente, mas logo os colaboradores externos se perguntaram se tais
dificuldades não prejudicavam um dos objetivos do projeto, que era o de discutir
o trabalho em aula com atividades práticas (dito de outro modo, se quero explorar
as várias possibilidades que se desdobram a partir de uma determinada
proposta de atividade prática, preciso ter uma noção mínima sobre como

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a observação e a experimentação se interligam com outros aspectos do
processo de produção de conhecimentos na ciência, tais como a formulação de
hipóteses, a elaboração de modelos e teorias, a influência do contexto
econômico, social e político etc.). As questões epistemológicas podem ser
consideradas como parte dos saberes disciplinares, já que estes últimos não se
referem apenas ao conhecimento dos produtos da ciência (teorias, leis etc.), mas
também ao conhecimento sobre o que são esses produtos e como eles se
originam e se sustentam.
Em uma atividade prática de cromatografia de folhas vegetais de cores
diversas, perguntamos às professoras se aquelas folhas realizavam
fotossíntese. PB opinou que não, pois “não são verdes, então não têm clorofila”.
Na continuidade, perguntamos à PB se achava que poderiam existir plantas que
não possuíam clorofila, e não realizavam a fotossíntese. Ela confirmou que sim,
isto é, que na opinião dela havia plantas “que não são verdes, e que não fazem
fotossíntese”. Questionamos, então, se a capacidade de realizar fotossíntese
não seria “uma característica geral de todas as plantas” ou, de outro modo, se a
fotossíntese não seria “um processo de nutrição típico das plantas”. Logo em
seguida, respondemos afirmativamente a tais perguntas, destacando que todas
as plantas realizavam fotossíntese, o que indicava que todas elas precisavam
de clorofila. Nessa mesma atividade, PB mostrou-se surpresa, e contou-nos que
“não sabia que a planta também tinha respiração”. No momento em que
realizávamos uma observação de flores de Lírio e de Hibisco, PB mostrou-se
surpresa: “Mas... o hibisco tem fruto?”. Respondemos que sim, e que o fruto era
semelhante ao “quiabo”, pois as duas plantas eram da mesma família.
Continuamos dizendo (por antecipar que esse ponto era uma dúvida dela) que
“todas as plantas angiospermas possuem flores e frutos”, sendo que os
segundos se desenvolvem a partir das primeiras. PB contou que não sabia disso,
que achava que muitas plantas “não tinham frutos”. PB e PC também
confundiram bastante os nomes das diversas partes da flor. Notadamente, PB
teve dificuldade em compreender o que era o gineceu (conjunto formado por
ovário, estilete e estigma) e o que era o androceu (conjunto de estames).
PB também quis saber o que aconteceria se fizéssemos a cromatografia
usando pétalas de hibisco ou fragmentos de “beterraba”. Pareceu-nos, naquela
altura, que as dúvidas colocadas pela PB decorriam do fato de que ela, talvez,
não estivesse analisando as questões propostas (pigmentos das folhas roxas,
das pétalas da flor de hibisco, da beterraba; presença ou não de frutos etc.) em
termos de conceitos sobre as funções dos órgãos vegetais.
Nessas discussões ficou claro sobre os saberes disciplinares de PB que,
ao entender que plantas que não são verdes não possuem clorofila e não
realizam a fotossíntese, que a clorofila pode eventualmente estar presente em
pétalas e raízes, que plantas angiospermas podem ou não apresentar frutos etc.,
mostra uma visão fragmentada do conteúdo biológico, isto é, uma falta de
percepção das relações entre as partes e entre as partes e o todo, uma
falta de percepção das ideias gerais, dos princípios, dos conceitos. As

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atividades práticas de cromatografia de folhas vegetais e de dissecação de
flores permitiu que levantássemos as concepções inadequadas de PB e
PC sobre os conteúdos de biologia vegetal. Ao expressar suas dúvidas e
incoerências, as professoras permitiram que promovêssemos uma discussão
voltada a sanar suas dúvidas.
Em certo momento PB fez menção a “plantas que não têm flores”,
utilizando, porém, um tom sugestivo de que flores e outras estruturas e
processos, que estávamos citando, são elementos de ocorrência casual - e não
elementos de ocorrência geral - nas plantas que predominam a nosso redor
(angiospermas). Reforçamos, então, que a presença de flores é uma
característica geral de todas as plantas angiospermas, muito embora, em
diversos casos, como o do capim, as flores não tenham “o aspecto típico das
flores ornamentais”.
Assim, conquanto não tenhamos tido sucesso na abordagem das
questões, didáticas envolvidas com a atividade proposta, por outro lado, as
discussões suscitadas foram ricas no que se refere aos saberes disciplinares
das professoras participantes. Isso sem contar a vivência de situações em que
suas hipóteses foram levantadas e colocadas em xeque por meio da
observação. Os debates emergidos, a partir da apresentação de diferentes
atividades práticas, possibilitaram que saberes de diversas naturezas fossem
mobilizados; no entanto, ficou claro que a maior contribuição das nossas
intervenções foi no âmbito dos saberes disciplinares, isso porque estes saberes
foram os que primeiramente afloraram nas discussões, mostrando que os
professores apresentavam domínio insuficiente dos conteúdos,
principalmente no que se refere à realização de atividades práticas.
Portanto, a necessidade de intervenção constante visando sanar as dúvidas
conceituais dos professores prejudicou a discussão de outros aspectos
relativos às atividades práticas, como é o caso dos saberes didático-
pedagógicos.
Enfim, constatamos que a implementação de uma abordagem prática em
aula, requer dos professores vários saberes, conhecimentos e atitudes que são
mobilizados de forma simultânea. Podemos considerar que o domínio
insuficiente dos conteúdos de ensino, a pouca familiaridade com discussões
sobre as características e componentes da atividade científica e a dificuldade em
relacionar os conhecimentos teóricos sobre os fenômenos com as
observações realizadas, influenciam a possibilidade de os professores
pensarem atividades práticas para o ensino de ciências, confirmando a hipótese
de Carvalho e Gil-Pérez (2003) de que a falta de conhecimentos científicos
constitui uma das principais dificuldades para que os professores se envolvam
em atividades inovadoras.

18
AGRADECIMENTOS E APOIO

Esta investigação foi financiada pelo CNPq e CAPES.

REFERÊNCIAS

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19
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TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. 4.ed. Petropolis:


Vozes, 2004. 325p.

DISCIPLINARY KNOWLEDGE OF SCIENCE AND TEACHER EDUCATION

ABSTRACT: Continuing education activities, held in a public school in the state


of São Paulo, were studied by mean of qualitative research procedures, in
order to see how discussions on practical activities could contribute to the
construction and improvement of teacher’s science knowledge. The theoretical
framework for research included literature on teacher knowledge and teacher
education. The results suggest that (a) discussions around practical activities
allowed knowledge of various kinds were mobilized by teachers; (b) teachers had
insufficient domain of scientific content, especially for the realization of
practical activities; (c) insufficient domain of content influencing the possibility
of teachers think for practical activities science education.
KEYWORDS: practical activities, teacher education and development, teacher
knowledge.

20
Capítulo II

TEMPOS DE CONSTRUÇÃO... PERCURSOS DE


FORMAÇÃO: A EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS NA
AMAZÔNIA LEGAL
__________________________________________

Maria da Conceição Gemaque de Matos


Terezinha Valim Oliver Gonçalves

21
TEMPOS DE CONSTRUÇÃO... PERCURSOS DE FORMAÇÃO: A
EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS NA AMAZÔNIA LEGAL

Maria da Conceição Gemaque de Matos


PPGDOC/IEMCI – UFPA
Belém – Pará
Terezinha Valim Oliver Gonçalves
PPGDOC/PPGECEM/IEMCI – UFPA
Belém – Pará

RESUMO: Este artigo tem como objetivo revelar o percurso de formação de


professores formadores egressos da pós-graduação em educação em ciências
na Amazônia Legal. Tratando com as narrativas desses professores passamos
através da pesquisa narrativa a estudar seus relatos memorialísticos referentes
à formação inicial e continuada, através dos desafios por eles enfrentados. As
manifestações dos percursos de formação dos sujeitos da pesquisa advindas da
percepção de incompletude de cada um, propiciam movimentos de (trans)
formação pessoal e profissional, demarcando novas posições no contexto
socioeducacional através da educação em ciências na Amazônia Legal.
PALAVRAS CHAVE: formação de professores, incompletude, educação em
ciências.

1. INTRODUÇÃO

A formação de professores tem sido um tema presente nas pesquisas em


educação. É possível entender que são necessários estudos, projetos e políticas
públicas, além de outras ações que foquem cada vez mais a temática, em vista
de superar o forte componente artesanal que ainda envolve a docência. Nesta
primeira década do século XXI a expansão da Pós-graduação em Educação, em
especial a Educação em Ciências, como lócus de pesquisa vem expandindo
investigação sobre formação docente. E, quando se trata da Pós-graduação em
Educação em Ciências - área em expansão - as necessidades investigativas
aumentam.
Este artigo traz a pesquisa narrativa desenvolvida na Tese titulada
Movimentos de (Trans)formação na Amazônia Legal: a educação em ciências e
matemática que tem como objeto de estudo os professores formadores,
egressos dos dois primeiros programas de Pós-graduação em Educação em
Ciências e Matemáticas na Amazônia, entre 2002 e 2012. Fazendo um recorte
nas entrevistas de 4 professores formadores, dos 13 entrevistados na área das
ciências, passamos a eleger um conjunto de relatos que objetivam revelar o
percurso de formação e barreiras vivenciadas em suas qualificações na referida

22
região, que como agentes modificadores do cenário educacional, destacam o
potencial que a formação continuada significa para reinventar a universidade do
século XXI. Todos os sujeitos entrevistados são egressos dos referidos
programas de pós-graduação.
Nas experiências pessoais, há conexões orgânicas inseridas na formação
docente de cada sujeito. Connelly & Clandinin (1997, p. 43) indicam que a
consolidação da pesquisa narrativa como método de investigação, propicia
reproduzir experiências de vida - pessoais e sociais - de forma relevante e plenas
de sentido. Para os referidos autores, ao contar nossas histórias, externalizamos
a forma pela qual experimentamos e falamos do mundo e de nós mesmos.
Temos a capacidade de representar e interpretar nosso contexto por meio de
palavras, gestos e atitudes que refletem nossas múltiplas interações. E assim,
rememoramos o passado que construiu o presente. Portanto, as narrativas aqui
apresentadas passaram a ser variantes das formas de expressão e registro das
experiências vividas pelos sujeitos da pesquisa.

2. O PERCURSO DE FORMAÇÃO

O processo de formação é uma construção de si próprio contendo história


de si e histórias dos outros (MOITA, 2007). Tais histórias são construídas por
percursos norteados das escolhas feitas, escritos e transcritos em nossas
histórias de vida. Narrar sua própria história de vida enseja transmitir
significados, valor e intenção, na medida em que nós, seres humanos, nos
encontramos como personagens de nossas próprias histórias e das histórias dos
demais (JOSSO, 2010). As manifestações dos percursos de formação dos
sujeitos da pesquisa advindas da percepção de incompletude de cada um,
propiciam movimentos de (trans) formação pessoal e profissional, demarcando
novas posições no contexto socioeducacional através da educação em ciências
na Amazônia Legal.
O contexto de formação docente é amplo, dinâmico e contínuo, no qual
vão se construindo a(s) identidade(s). Na perspectiva sociológica, a identidade
é constituída pela interação entre o eu e a sociedade, na interseção do “interior”
com o “exterior” – entre o mundo pessoal e o mundo público (HALL, 2006).
Podemos, pois, considerar que a identidade resulta das relações complexas
instauradas na tessitura da teia que compõe a definição de si e a percepção do
seu interior, do elo entre o objetivo e o subjetivo, entre os múltiplos “eus”
construídos pelas interações entre o pessoal e o social.
Na interação entre o pessoal e o social passamos a fazer escolhas ou
somos empurrados para uma escolha. Nem sempre a escolha é fácil. A escolha
da identidade profissional constitui uma etapa decisiva no desenvolvimento
profissional e um atributo para uma forte afirmação do eu (HUBERMAN, 2007).
A afirmação do que eu sou ou eu serei precisa estar clara quando escolhemos
nosso caminho profissional.

23
Para Samira, esse foi um fator determinante ao escolher a Licenciatura
em Biologia, e fez a opção em ser professora, que se confirma ao dizer:

Sempre gostei muito da interação entre colegas, aquela que todos


querem estar juntos e eu queria estar junto de todo mundo. E o gosto
por estudar. Acho que todo professor tem isso, gosta de estudar, gosta
de aprender. (SAMIRA, 2014)

Consideramos a forma pela qual Samira destaca querer estar junto com
pessoas, da interação entre colegas e gostar de estudar como um fator
importante para a sua escolha em ser professora. Samira coaduna-se com as
reflexões de Freire (1996, p.94) ao afirmar que: Me movo como educador porque,
primeiro, me movo como gente. Para ser professor é também necessário ser
gente, gostar de ser gente porque a História em que me faço com os outros e
de cuja feitura tomo parte é um tempo de possibilidades e não de determinismo
(FREIRE, 1996, p. 53).
Nesta perspectiva, Jorge faz destaque semelhante na tecitura do seu
relato:

Isso é fundamental. É você pensar que para ser professor tem que
gostar de gente, de qualquer classe social, de qualquer etnia. Às vezes
o aluno vem te dar um abraço e já está com o desodorante vencido,
está suado, o caderninho dele não é aquele que você queria com a
capa da Mônica, não vem na melhor mochila e sim dentro de um saco
de supermercado. Muitas vezes é esse o aluno que você vai ter, e se
você não gosta de gente não dá para ser professor. Eu tive uma
experiência com uma colega que trabalhou junto comigo em escola
particular, e ela dizia: eu gosto de aula na escola particular, e eu vou
dar aula na escola pública só para garantir, já que eu tenho estabilidade
que na particular eu não tenho. Mas na escola pública, quando chego
lá e vejo aqueles meninos todos suados e ainda vem abraçar a gente,
não me sinto bem. E eu ficava pensando como o professor está em
sala de aula e não gosta do contato com gente, é complicado, não sei
como consegue. (JORGE, 2013).

A voz de Jorge expressa um desabafo nas suas reflexões quando


questiona: como o professor está em sala de aula e não gosta do contato com
gente? O professor é gente, é um ser social, como não gostar de gente? Não
podemos separar o professor profissional do professor pessoa, como destaca
Nóvoa (2007). Essas duas identidades se confundem e se permeiam. O
professor é a pessoa; e uma parte importante do professor é a pessoa. Coaduno
com o destaque dado pelo autor: O professor é uma pessoa, portanto, é
importante entender o contínuo em que cada um faz sua escolha em ser
professor. Cuidamos de pessoas, somos responsáveis por nossos alunos que
convivemos, somos referências em suas vidas, portanto, precisamos gostar e
nos encantar pelo que fazemos.
A formação docente parte de uma escolha consciente ou induzida, mas,
é preciso querer ser professor, mesmo que esta não tenha sido sua primeira
opção de carreira, como foi o caso do Saulo, que mudou da engenharia para a
Licenciatura em Matemática, em busca de algo que o renovasse a cada dia: Eu

24
pensei, a matemática tem várias ramificações, se você hoje não quer trabalhar
com trigonometria amanhã trabalha com outro conteúdo. Tem assim muitas
variações, de tal forma que você não fica enjoado. A versatilidade de poder tratar
com múltiplos assuntos foi decisiva na escolha pela formação docente, acrescida
da sua ligação imaginária com o magistério, relatada a seguir:

Havia comigo uma ligação com a questão do magistério. Estava


pensando um dia desses, relembrando, que nos anos 80 quando eu
era graduando de elétrica colecionava uma revista chamada “sala de
aula”. Então, porque eu fazia isso? Eu não era professor na época e
nem imaginava essa possibilidade. No fundo sentia admiração pela
profissão. A docência estava adormecida em mim. (SAULO, 2013)

Saulo vai relembrando e tomando consciência de como a docência estava


prevista em suas atitudes. Confiante em seu potencial vai à busca de novas
competências. Uma história de vida possibilita perceber o modo pelo qual cada
pessoa se constitui e se transforma (JOSSO, 2010). Nas narrativas do Saulo
vamos perceber que a formação pode ser considerada como ação advinda de
uma intuição, com atitudes que passam a complementar o sujeito, de acordo
com a autora referida. As narrativas vão mostrando a constituição de
profissionais docentes e cada história de vida põe em evidência o modo como
cada pessoa mobiliza os seus conhecimentos, os seus valores, as suas
energias, para ir dando forma à sua identidade, num diálogo com os seus
contextos (MOITA, 2007).
Compreender a formação de cada pessoa é buscar a relação das
pluralidades que atravessam a vida de cada um. O processo de formação é
dinâmico e constrói a identidade das pessoas. A escolha da profissão docente
pode ser ou não a primeira escolha profissional, e como tal, poderá passar por
mudanças ou por afirmações no percurso da formação inicial, ou na inserção da
sala de aula (HUBERMAN, 2007).
As afirmações no percurso da formação inicial podem emergir a partir do
envolvimento e das experiências de convivências, tal como registra Laura ao
relatar que: no momento do curso eu fui me envolvendo, me envolvendo, fui
gostando. Fui gostando mais ainda quando comecei a trabalhar em sala de aula,
quando comecei a fazer o material para trabalhar com as crianças.
Há expressões de emoções na voz de Laura quando fala em ‘passar a
gostar do que ia fazer’. Esta mesma emoção identifiquei na voz do Jorge quando
revela:

Enfim, eu fiquei apaixonado pela docência quando eu entrei em sala


de aula no estágio e senti aquele frio na barriga, que eu sinto até hoje
quando entro para dar aula. Eu senti aquela emoção de ser professor
e ali eu disse: É isso que eu quero para minha vida! (JORGE, 2013).

Huberman (2007) caracteriza esta etapa da profissão como exploração,


podendo ser sistemática ou aleatória para, em seguida, poder emergir a
estabilização da escolha. A escolha do Jorge foi expressa da seguinte forma:

25
Aos poucos fui fazendo concurso na área do magistério, fui passando em uns e
ficando reprovado em outros e ai eu fui para a sala de aula, abandonei a minha
vida de vendedor e passei a viver exclusivamente do magistério.
Laura passou a assumir conscientemente sua escolha ao se identificar
com a profissão. Dá ênfase quando registra: O meu curso de magistério era
muito bom. Eu considero meu curso de magistério a base da minha formação. E
me apaixonei pela docência. Laura ressalta a importância da experiência vivida,
da base que fundamentou sua formação, ainda no magistério, e relembra como
começou seu envolvimento com a docência. Tal reflexão pode espelhar a
capacidade que a narrativa tem - como destaca Josso (2002) referindo-se a
recordações referência - não só de evocar lembranças, mas também de avaliar
a importância das representações sobre as práticas vividas e sobre as trajetórias
formativas vivenciadas.
Laura e Nina fazem destaque para a formação no magistério e para as
trajetórias formativas que vivenciaram. Tal formação foi referência durante a
graduação, ambas em Pedagogia. Nina destaca que: a formação docente
começou lá no magistério, pois eu acho que o meu curso de magistério foi muito
bom. Eu tive uma boa base com os professores em português, matemática,
geografia, ciências. Tal experiência possibilitou a Nina transitar em outros níveis
na educação básica quando relata: Eu dei aula desde a alfabetização até a 5 a
série e depois passei a dar aula na 6 a e na 7a, e depois assumi a 8a série.
Na continuidade de suas lembranças relativas aos primeiros anos da sua
docência em Itacoatiara (localiza-se a leste de Manaus - AM, capital do estado,
distando desta cerca de 180 quilômetros), Nina registra que o que lhe fez viver
essa experiência foi a carência local por professores com curso superior, e isso
me valeu uma grande experiência.
Quando se trata de educação no cenário como a Amazônia Legal, a
carência por professores com formação adequada para todos os níveis de
educação, esta claramente revelada nas pesquisas científicas e nas estatísticas.
As pesquisas apontam que muito se caminhou na melhoria da qualificação dos
professores, mas, muito ainda há que se fazer neste e em outros aspectos.
Nos relatos da Sandra, encontramos outro momento de revelação da
carência pela formação de professores, com a devida qualificação, na região.

Não fiz logo faculdade porque na época só tinha em Manaus, a capital,


e eu não tinha condições de ir para a capital. Logo em seguida, por
necessidade de professor, o diretor da escola me convidou para dar
aula na 6ª, 7ª e na 8ª série, mesmo eu tendo apenas o magistério. Eu
aceitei o desafio. [...] Eu gostava de ciências e não tinha grandes
dificuldades, eu sempre estudava para ir dar aula. Alguns anos depois
o convite foi para dar aula no ensino médio, aí o desafio era maior, mas
eu enfrentei, até porque se eu não aceitasse os alunos ficariam sem
aula. Em Tabatinga, na tríplice fronteira entre Brasil – Colômbia – Peru
e o. O acesso à cidade só se dá por barco ou por avião, não havia
professor graduado para ensinar nessas séries. Eu fazia assim:
procurava livros que pudesse estudar, estudava muito antes das aulas
e as dificuldades que eu tinha procurava de alguma forma esclarecer
e assim eu ia vencendo minhas dificuldades. (SANDRA, 2014)

26
Primeiro, na voz da Nina, agora na voz da Sandra fica evidente o quanto
é necessário expandir as oportunidades e cursos de formação de professores
de Ciências na Amazônia, não somente na formação inicial, mas também na
formação continuada diferenciada em nível stricto sensu. A formação de massa
crítica de professores e pesquisadores qualificados e diferenciados cria
possibilidades de desenvolvimento da educação científica com vistas às
transformações sociais e educacionais do século XXI e a preparação do cidadão
crítico e reflexivo (NARDI, 2003; SCHNETZLER e ARAGÃO, 2000, SCHÖN,
2000), considerando as perspectivas do novo perfil da universidade na Amazônia
(MELLO, 2007).
O gigantismo regional contribui sobremaneira para a dificuldade de
qualificação docente. É preciso muita determinação para ser professor na
Amazônia Legal. A falta de acesso à informação e ao conhecimento não se dá
pela falta de busca, muitas vezes é pela imposição da condição geográfica. Para
outras regiões flui com mais facilidade.
Dificuldade de acesso aos mais variados espaços da região é um fator
que dificulta o desenvolvimento regional, ficando muito mais evidente para os
que nela vivem, do que para aqueles que nunca nela estiveram. Falar das
distâncias e das formas de acesso que o povo que mora na Amazônia
experimenta torna-se real e concreto quando passamos viver essa experiência
e buscamos superar as dificuldades. Portanto, muitas vezes, tais fatores se
tornam elementos de negação para a população amazônica ter acesso à
qualificação profissional em nível de educação superior.
O comprometimento com o fazer docente de qualidade, a busca por
fundamentação epistemológica e também pela emancipação social se
apresentam como propulsores de superações das dificuldades que se impunham
aos entrevistados. É preciso muita determinação para ser professor na
Amazônia Legal. Outra evidência que emerge é de que a realidade geográfica
e a dificuldade de deslocamento na região precisam ser vividas para melhor
entender como elas se impõe aos que moram na região. As distâncias regionais
vão ao encontro do relativismo de Einstein, o que pode ser perto em linha reta,
se transforma em longe no traçado dos rios da região ou no trajeto de outras vias
de acesso.

3. MOVIMENTOS DE (TRANS) FORMAÇÃO

Para a expansão e desenvolvimento da educação em ciências na


Amazônia Legal revelam-se necessidades do aumento do quadro docente
diferenciado e devidamente qualificado, como um dos incrementos de
crescimento da educação superior e do desenvolvimento regional. Nos relatos
passam a se evidenciar a necessidade de forma professores e pesquisadores
na região e para a região, focando necessidades locais de investimento na
emancipação social do cidadão.

27
Dos relatos emergem reflexões sobre o processo de formação e tomando
como base o que diz Shön (2000) e Josso (2002), consideramos que a reflexão
também possibilita auto formação. Por meio das reflexões e na procura do
desenvolvimento de suas competências o professor poderá se tornar sujeito de
sua formação. Através dos relatos também emergem evidencias de
incompletudes quanto ao fazer docente, quanto à formação.
Freire (1996, p.38) destaca que:

É fundamental que, na prática da formação docente, o aprendiz de


educador assuma que o indispensável pensar certo não é presente dos
deuses nem se acha nos guias de professores que iluminados
intelectuais escrevem desde o centro do poder. Mas, pelo contrário, o
pensar certo que supera o ingênuo tem que ser produzido pelo próprio
aprendiz em comunhão com o seu professor formador. É preciso, por
outro lado, reinsistir em que a matriz do pensar ingênuo como a do
crítico é a curiosidade (Grifo do autor).

Consideramos que a curiosidade pode está apoiada na incompletude. Na


singularidade do sujeito que se constrói, e a mobilização da memória passa a
revelar as possíveis consequências do que é ir à busca de mais formação
(JOSSO, 2010; MOITA, 2007; NÓVOA, 1991. A insatisfação com o fazer
docente, não pela rejeição, mas pelo acolhimento da docência ou até pela paixão
pelo que faz, como fator determinante para que os sujeitos almejem outros níveis
de formação. A construção de novos conhecimentos é também uma função do
tempo, das experiências vivenciadas, que crescem e evoluem ao sabor daquilo
que se experimenta em novos contextos (JOSSO, 2010, p. 274). A incompletude
traz a busca pelo aprimoramento pessoal e profissional, mas, o seu maior valor
é quando esta se instaura de forma consciente no sujeito.
Para Freire (1996, p. 58) é na incompletude do ser, que se sabe como tal,
que se funda a educação como um processo permanente. Os seres humanos
tornam-se educáveis na medida em que se reconheceram inacabados. Tais
movimentos podem ser percebidos nos relatos de outros professores
entrevistados, que passam a dar indícios de futuras (trans) formações:

Eu precisava aprofundar cada vez mais o que eu utilizava em sala de


aula. Chegou o momento que eu sentir necessidade de progredir nos
estudos e então busquei o mestrado. (MARIA, 2013)
No início da minha profissão não havia cobranças quanto ao mestrado,
e eu não teria condição de ir fazer fora, já que não havia aqui cursos
de mestrado. (ELEN, 2013)
O mestrado poderia me afastar da forma mecânica em que minha
formação se deu, eu tinha obstáculo para a minha atuação profissional,
eu precisava de novos conhecimentos. (BIA, 2013).

Os relatos destacados confirmam a formação como um processo que


passa a se instaurar e se constrói pelo sentimento de incompletude que emerge
na vida dos sujeitos. A dinâmica dos movimentos de (trans) formação depende
das mudanças que o contexto em que o sujeito está inserido lhe proporciona, e
o sujeito sobreviverá no meio se adaptar-se às mudanças (MATURANA E

28
VARELA, 2001). Isto quer dizer, no caso da formação docente, incorporar novos
conhecimentos, novas práticas passa a constituir uma relação de inclusão.
Porém, isso só é possível se houver abertura do sujeito, permitindo e buscando
a transformação, mesmo que para isso muitos obstáculos tenham que ser
superados. Sandra, de forma clara, expressa que a sua determinação foi maior
que o gigantismo regional:

Em 2001, emendei a conclusão da licenciatura em um curso de


especialização. E foi uma grande aventura. Na minha cidade, reunimos
alguns colegas e fomos fazer um curso, também modular, de
especialização em metodologia e didática da educação superior em
Cacoal, em Rondônia. Foi outro grande desafio, não só pela distância
entre Tabatinga no Amazonas e Cacoal em Rondônia, mas, também
pelo fato de que na graduação eu não ter tido nenhuma leitura que não
fosse sobre os conteúdos específicos. Eu não tinha nenhuma leitura
dos teóricos da educação como Freire, Nóvoa e outros.
De Tabatinga pra Manaus pra Cacoal levávamos dois dias viajando,
em barco e depois em ônibus. E quando chegávamos dormíamos na
sala de aula da escola onde se realizava o curso, em colchonetes que
compramos. Fazer essa especialização foi um grande desafio, mas era
a opção que tínhamos. (SANDRA, 2014).

O acesso ao processo de formação de cada sujeito revela vários


movimentos de (trans) formação sistematizados pelos acontecimentos
significativos do processo. O conjunto de relatos descrevem a vida e as
condições que a professora vivenciou procurando traçar caminhos para sua
qualificação, na região amazônica. Os registros memorialísticos da Sandra são
repletos de lembranças reveladoras das dificuldades, lutas e superações que ela
viveu na construção do seu eu docente.
A qualificação de professores de ciências na Amazônia reflete no ensino
e também na expansão das universidades. Para a universidade enfrentar novos
desafios, no caso da universidade na Amazônia que precisa se reinventar, como
propõe Mello (2007), a qualificação de seu corpo docente tem relevância social,
educacional e econômica. A qualificação docente nas universidades na
Amazônia é um desafio. Para a educação em Ciências, como uma área de
conhecimento em expansão nas duas últimas décadas, conforme registra Nardi
(2005), a pós-graduação na área passa a ter relevância estratégica para seu
desenvolvimento na região. Temos evidência da necessidade de expandir e
consolidar como área de pesquisa legítima a pós-graduação em Educação em
Ciências por ser o espaço formador de pesquisadores na área.
Cunha & Krasilchik (2000) evidenciam que os cursos de licenciatura
deixam de atender aos anseios que propõem na formação de professores de
Ciências. Essas formações apresentam lacunas no conhecimento dos
professores, falhas oriundas da amplitude e diversificação dos conteúdos e do
grande avanço do conhecimento nas últimas décadas. Concordando com os
referidos autores, e embasada em Mello (2007), consideramos que as pesquisas
voltadas para a Educação em Ciências na Amazônia Legal precisam revelar
matizes epistemológicos que, quando tratados no contexto regional, demarquem

29
compromisso de construção da cidadania por meio da educação, entendida
atualmente como forma de emancipação social.
“Reinventar a universidade na Amazônia” requer suprir a carência de
profissionais da educação, em especial dos que trabalham na educação
superior, com a devida qualificação, formando um leque de novos professores
formadores. Os movimentos que se instauram, instigando e realizando (trans)
formação, precisam de registro, e como afirma Morin (2009, p. 24), uma cabeça-
bem-feita é uma cabeça apta a organizar os conhecimentos e, com isso, evitar
sua acumulação estéril. O cognitivo dos professores das ciências, que vivenciam
a educação na Amazônia Legal, nos múltiplos níveis de aprendizagem, deve
estar inserido na proposição da cabeça-bem-feita, para enfrentarem a educação
do Século XXI.

4. SÍNTESE E PERSPECTIVAS

A formação docente é um processo que se constrói no decurso da vida


profissional e que vai além da formação formal. Nesta perspectiva passamos a
considerar relevante tratar o percurso de formação dos egressos dos programas
de pós-graduação que tratam da formação de professores. Os relatos dos
sujeitos indicaram o processo de formação docente a partir de uma escolha
pessoal ou induzida, por meio da qual vão se construindo identidades
profissionais que passaram a ser relembrados e revelados por meio do olhar
para si de cada entrevistado. Há um processo identitário construído em que,
cada um faz sua escolha em ser professor.
A procura pela formação stricto sensu pode ser consequência das
percepções de incompletude que se manifestam no professor durante o fazer
docente. Portanto, ao analisar o processo de formação dos sujeitos
entrevistados, ficaram evidentes indícios dos movimentos de (trans) formação
pessoal e profissional, pautados no sentimento de incompletude do sujeito. Ao
buscar compreender a formação docente de cada sujeito houve indícios da
pluralidade de experiências formativas referidas por Dewey (1979) que
atravessaram a vida de cada um, passando a produzir mudanças. Entretanto, a
possibilidade de produzir mudanças só ocorreu pelo fato do sujeito se permite
abertura ao novo.
As narrativas que registraram as histórias vivenciadas nas experiências
de formação permitiram reflexões durante a revisitação do passado como um
construtor do presente. Assim, o passado se tornou presente quando cada
sujeito narrador evocou suas lembranças para construir e reconstruir suas
histórias, e assim, realizaram um reencontro dos seus percursos de formação.
O ato de reler suas vidas foi trazendo elos simbólicos, permitindo a cada
entrevistado a construção de sentidos e significados. Através das reflexões
sobre o processo de formação, cada sujeito descreveu a tecitura do seu
desenvolvimento como docente, produzindo sentido para as suas experiências

30
e assim pode tornar-se sujeito da sua história de vida.
Naturalmente somos contadores de histórias (CONNELLY E CLANDININ,
1997) o que possibilita na voz dos entrevistados irmos encontrando indícios de
movimentos de (trans) formação. No processo de formação docente houve lugar
para mudanças, em busca do novo e das construções de utopias,
desconsiderando o senso comum, que entende serem inatingíveis. Reinventar a
universidade na Amazônia na proposição de Mello (2007) significa também
suprir a carência de profissionais da educação científica que, como sujeitos
qualificados e diferenciados poderão propiciar práticas e movimentos de (trans)
formação na docência e no desenvolvimento profissional de professores de
ciências nos diferentes espaços educacionais da Amazônia Legal.

REFERÊNCIAS

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narrativa In: LARROSA. J. (org.). Dejame que te cuente: Ensayos sobre
narrativa y educacion. – Barcelona: Editora Alertes 1997.

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ANPED: Caxambu – MG: set/2000.
http://23reuniao.anped.org.br/textos/0812t.PDF. Acesso em 19/04/2012.

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Guaracira Lopes Louro – 11. ed. – Rio de Janeiro: DP&A, 2006.

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JOSSO, M. C. Experiências de vida e formação. Lisboa: EDUCA, 2002.
______Caminhar para si. Tradução- Albino Pozzer; Coord. Maria Helena
Barreto Abrahão – Porto Alegre: EDIPUCRS, 2010.

MATURANA, H.; VARELA, F. A Árvore do Conhecimento: as bases biológicas


da compreensão humana. Tradução de Humberto Mariotti e Lia Diskin. São
Paulo: Palas Athena, 2001.

MELLO. A. F. de. Para construir uma universidade na Amazônia: realidade e


utopia. Belém: EDUFPA, 2007.

MOITA, M. da C. Percursos de formação e de Trans-formação. In: NÓVOA, A.

31
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MORIN, E. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento.


Tradução de Eloá Jacobina. 16a ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2009.

NARDI, R. Educação em Ciências: da pesquisa à prática docente. 3ª ed., São


Paulo: Escrituras, 2003.

NÓVOA, A. Os professores e as histórias da sua vida. In: NÓVOA, A. (Org.)


Vidas de professores. Porto Editora: Porto –Portugal, Maio/2007. P. 11 – 30.

SCHNETZLER, R. P. O Professor de Ciências: problemas e tendências de sua


formação. In ARAGÃO e SCHNETZLER, (Orgs.) R.M.R. de; R.P. Ensino de
Ciências: fundamentos e abordagens. Campinas, R.V. Gráfica e editora Ltda,
UNIMEP-CAPES, 2000.

SCHÖN, D. A. Educando o profissional reflexivo: um novo designer para o


ensino e a aprendizagem. Trad. Roberto Cataldo Costa. Porto Alegre: Artes
médicas Sul, 2000.

ABSTRACT: This article has as objective reveal the formation of professors who
were graduates of the graduate program in science education in the Legal
Amazon. In the narratives of these teachers spent through the research narrative
to examine their reports memorialísticos relating to initial and continuing training,
through the challenges they faced. The manifestation of the part of the subject of
the reseach of arising from the persection of incompleteness of each, provide
moviments of (trans) personal and professional training, dermacatingnew
posicion in sócio-educacional contexto through Science educacion in dLegal
Amazono.
KEYWORDS: teacher training, incompleteness, science educacion.

32
Capítulo III

CONTRIBUIÇÕES DE UMA SEQUÊNCIA


DIDÁTICA COMO MODELO DE REFERÊNCIA
PEDAGÓGICA PARA FORMAÇÃO PRÁTICA DE
PROFESSORES DE CIÊNCIAS/BIOLOGIA
__________________________________________

Fernanda Zandonadi Ramos


Álvaro Lorencini Junior
Lenice Heloísa de Arruda Silva

33
CONTRIBUIÇÕES DE UMA SEQUÊNCIA DIDÁTICA COMO MODELO DE
REFERÊNCIA PEDAGÓGICA PARA FORMAÇÃO PRÁTICA DE
PROFESSORES DE CIÊNCIAS/BIOLOGIA

Fernanda Zandonadi Ramos


Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS, Centro de Ciências
Biológicas e da Saúde. Campo Grande - Mato Grosso do Sul.
Álvaro Lorencini Junior
Universidade Estadual de Londrina – UEL, Centro de Ciências Biológicas.
Londrina - Paraná
Lenice Heloísa de Arruda Silva
Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD, Faculdade de Ciências
Biológicas e Ambientais. Dourados - Mato Grosso do Sul.

RESUMO: Este trabalho teve como propósito investigar a pertinência de uma


sequência didática, utilizada como modelo para abordar conteúdos de Biologia,
para servir de referência aos licenciandos na elaboração de tais conteúdos para
o ensino de Biologia na Educação Básica, em situação de Estágio
Supervisionado. Para tal, a sequência foi apresentada, compartilhada e discutida
com licenciandos em Ciências Biológicas, com o intuito de ser um modelo de
referência para planejarem e desenvolverem os conteúdos em situações de
práticas de ensino nas escolas. Por meio da análise textual discursiva dos
relatórios de estágio, os resultados evidenciaram que a sequência didática
utilizada como referência propiciou aos licenciandos o planejamento e
desenvolvimento de suas ações docentes. A contribuição desse trabalho
demonstra a pertinência de possibilitar na licenciatura referências pedagógicas
para a formação prática de professores de Ciências/Biologia.
PALAVRAS CHAVE: formação docente em Ciências/Biologia, imitação,
sequência didática.

1. INTRODUÇÃO

Os conhecimentos científicos/biológicos não são acessíveis e nem


apropriáveis de forma simples e direta pelos alunos, sendo imprescindível que
sejam (re)elaborados pedagogicamente em conteúdos de ensino. Cabe ao
professor, o papel de mediador entre os conhecimentos científicos /biológicos e
o aluno, possibilitando ao acesso e condições para que apropriar e (re)elaborar
tais conhecimentos (SILVA, 2004). Para que exerça esse papel mediador, o
professor de Ciências/Biologia precisa dominar os conteúdos que ensina. Tal
domínio envolve não somente os conhecimentos teóricos e conceituais de sua
disciplina, mas, também, áreas do saber-fazer relativas às estratégias e
procedimentos de ensino, assim como de saber justificar a prática assumida
(CARVALHO e GIL PÉREZ, 2006). Além do conhecimento dos conteúdos da

34
disciplina que ministra, o professor necessita saber como elaborar/reelaborar tais
conteúdos, tornando-os disponíveis para serem aprendidos por seus alunos.
Na formação inicial, tais conhecimentos precisam ser disponibilizados
pelos professores/formadores, por meio de seus processos de ensino, para
serem apropriados e (re) elaborados pelos licenciandos, tornando-se constitutivo
do seu pensar e agir docente (SILVA, 2004). Tal ideia se pauta em uma
perspectiva histórico-cultural do desenvolvimento humano, fundamentada no
pensamento de Vygotsky, que concebe que o conhecimento tem sua gênese na
dinâmica interativa das relações sociais, as quais são constitutivas do indivíduo
humano como sujeito. Em outros termos, o conhecimento é socialmente
constituído, sendo a relação sujeito-objeto de conhecimento sempre mediada
pelo outro, pelas práticas sociais e pela linguagem (SMOLKA, 1997, 2000;
GÓES, 1997, apud SILVA, 2004).
O papel mediador do outro se destaca não somente nos processos de
elaboração de conhecimentos pelo indivíduo, mas, especialmente, na sua
constituição como sujeito. Já a linguagem, especialmente a palavra como signo,
é principal agente de abstração e generalização assumindo um papel central
como mediadora na formação da consciência e na organização das ações, assim
como na compreensão e na interpretação de conceitos/conhecimentos por parte
dos sujeitos (VYGOTSKY, 2000; BAKHTIN, 1997, apud SILVA 2004).
Nesse sentido, Vygotsky (1993, apud SILVA 2004) argumenta que o
desenvolvimento dos conhecimentos sistematizados/científicos se produz nas
condições reais do processo de ensino, que constitui uma forma de interação
sistemática e deliberada do professor com o aluno. Nesta interação
desenvolvem-se as funções psicológicas superiores1 do aluno com a ajuda e
participação do professor. Esse desenvolvimento encontra sua expressão na
crescente utilização dos conceitos independente do contexto no qual foram
produzidos e, também, no fato de que o pensamento científico do aluno avança
até alcançar um determinado nível de desenvolvimento em relação à consciência
e ao uso deliberado dos mesmos.
Assumindo essa perspectiva histórico-cultural do desenvolvimento
humano, Silva (2004) argumenta que a formação docente inicial é um processo
deliberado, que acontece num contexto institucional específico, cujo objetivo tem
uma orientação explícita no sentido de aquisição de conhecimentos
sistematizados sobre a profissão docente pelos futuros professores. Desse
modo, as condições sociais de elaboração desses conhecimentos nessa
formação se diferenciam dos processos de elaboração de conhecimentos
cotidianos ou de “senso comum”, adquiridos em suas vivências diárias que,
neste caso, ocorre de maneira assistemática e não deliberada.
Nesse contexto, a interação entre os sujeitos, isto é, entre formador(es) e
licenciandos, se caracteriza como uma relação de ensino, cuja finalidade

1
Para Vygotsky (2000c) as funções psicológicas superiores referem-se à atenção voluntária, memória lógica, a
abstração, comparação, dedução, discriminação, etc.

35
imediata - ensinar/aprender ou formar/ser formado é explícita para ambos, os
quais ocupam lugares sociais diferenciados e hierarquicamente organizados
(SILVA, 2004). Ou seja, essa relação é assimétrica e os sujeitos têm consciência
do papel que cada um assume no local institucional (FONTANA, 1996).
Nessa relação de ensino, o papel dos formadores é o de mediar de forma
explícita e deliberada aos futuros professores aqueles conhecimentos
sistematizados, os quais envolvem tanto os conhecimentos da área específica,
no caso aqui os científicos/biológicos, quanto os profissionais da cultura escolar
do fazer docente. Nessa mediação, os formadores compartilham com os
licenciandos sistemas conceituais instituídos, linguagens, instrumentos,
estratégias, procedimentos, atitudes, valores e saberes próprios dessa cultura.
Isso tudo envolve os conhecimentos já dominados pelos licenciandos, as ações
e conhecimentos do(s) formador(es), imbricados nas condições sociais reais de
produção daqueles conhecimentos dentro do contexto institucional da formação
docente inicial (SILVA, 2004).
Nesse sentido, destaca-se a importância da colaboração do professor,
considerando que no processo de elaboração interpessoal, o aluno faz tentativas
de imitar a análise intelectual, ainda que não a tenha apreendido completamente.
Ao utilizar-se de tal análise, mesmo que pela via da imitação, o aluno inicia sua
elaboração, transformando e desenvolvendo sua atividade cognitiva (FONTANA,
1996).
Segundo Silva (2004), opondo-se à ideia de que a imitação é uma
atividade puramente mecânica, Vygotsky (1993) considera que o indivíduo só
pode imitar o que se encontra na zona de suas próprias potencialidades
intelectuais. Argumenta que com a colaboração do outro o indivíduo sempre
pode fazer mais do que faria sozinho. Com base nisso, ele formulou o conceito
de zona de desenvolvimento proximal, definindo-o como “a distância entre o
nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar por meio da solução
independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial,
determinado por meio da solução de problemas sob a orientação de um adulto
ou em colaboração com companheiros mais capazes” (VYGOTSKY, 2000, p.
112).
De acordo com o pensamento de Vygotsky, desenvolvimento e
aprendizagem são processos interdependentes, originando-se das interações
sociais que o indivíduo vivencia. O desenvolvimento decorrente da colaboração
via imitação traz à tona as características especificamente humanas da
consciência, e o desenvolvimento decorrente da aprendizagem leva o indivíduo
a novos níveis de desenvolvimento. A partir disso, considerando a imitação num
sentido mais amplo, Vygotsky (1993, p. 241) entende que ela é a forma principal
em que se realiza a influência da aprendizagem sobre o desenvolvimento, uma
vez que “o ensino da linguagem, o ensino na escola se baseia em alto grau na
imitação”. Para ele:

36
na escola o aluno não aprende a fazer o que é capaz de realizar por si
mesmo, e sim a fazer o que é, todavia incapaz de realizar, mas que
está a seu alcance em colaboração com o professor e sob sua direção.
O fundamental na escola é precisamente o fato que o aluno aprende o
novo (VYGOTSKY, 1993, p. 241).

Desse ponto de vista, as atividades compartilhadas entre professor e


aluno propiciam a este condições para que possa elaborar intelectualmente, de
modo próprio no futuro, as ações desenvolvidas com o auxílio e orientação do
professor. Vale reiterar que a conduta imitativa do aluno na visão de Vygotsky,
conforme esclarecem Valsiner e Van der Veer (1991 apud GÓES, 1997), não
remete à noção de cópia de modelos sociais, mas à recriação/reelaboração pelo
aluno com base neste modelo, de modo que se trata de ações reconstruídas na
interação do aluno com o professor. Em outros termos, a ideia de imitação tem
um sentido mais abrangente do que reprodução ou cópia. É um agir, um criar a
partir do que é observado. Ou seja, mesmo que o aluno não faça igual ao
professor, não deixa de ser imitação, pois ele vai recriar a partir do que foi
observado ou a partir do modelo. De acordo com Vygotsky (2009) no
desenvolvimento da autonomia do indivíduo nasce da atividade compartilhada.
A partir dessas ideias, esse trabalho teve por objetivo desenvolver uma
investigação para saber se uma sequência didática sobre conteúdos de Biologia,
utilizada como modelo para abordagem desses conteúdos pode propiciar aos
licenciandos uma referência para que (re)elaborem tais conteúdos em seus
processos de ensino com alunos da Educação Básica, em situação de Estágio
Supervisionado. Os procedimentos metodológicos dessa investigação são
apresentados a seguir.

2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS DA INVESTIGAÇÃO

A investigação aqui proposta foi realizada com uma turma de 23


licenciandos de um curso de Ciências Biológicas de uma Universidade Pública,
localizada no Estado de Mato Grosso do Sul, no contexto das disciplinas de
Prática de Ensino e Estágio Supervisionado em Biologia, que ocorriam
concomitantemente sob a orientação de um dos pesquisadores. Para o
desenvolvimento dessa investigação, primeiramente, na realização da disciplina
de Prática de Ensino, foi apresentada e discutida coletivamente uma sequência
didática, desenvolvida por Ramos e Silva (2013), referente aos conteúdos de
morfologia floral, fundamentada em uma perspectiva histórico cultural do
desenvolvimento humano, baseada nas ideias de Vygotsky.
A discussão coletiva foi pautada nas atividades constituintes de cada
etapa da sequência, enfocando o aporte teórico que a sustenta, bem como o
porquê e para que essas atividades foram propostas e desenvolvidas. Vale
ressaltar que a sequência de atividades apresentada, utilizou na mediação
pedagógica, primeiramente, a identificação dos conhecimentos que os alunos

37
possuíam sobre morfologia floral e, por meio de fotografias e imagens, o
confronto entre esses conhecimentos e os científicos e a sistematização dos
conceitos e, por fim avaliação da evolução conceitual nos alunos.
Os resultados e as contribuições que tal sequência propiciou no processo
de ensino e aprendizagem em nível médio, também, foram discutidos
coletivamente com os licenciados. Segundo Ramos e Silva (2013), a sequência
didática possibilitou aos alunos da educação básica a apropriação de
conhecimentos científicos, por meio da formação e evolução conceitual referente
ao conteúdo de morfologia floral, assim como o desenvolvimento de novas
representações simbólicas/mentais em relação ao conceito de flor, a partir da
síntese, abstração e generalização das terminologias que foram empregadas
funcionalmente na identificação e definição das estruturas presentes na imagem
representacional/fotografias.
Além dos aspectos acima, também foi discutido com os licenciandos a
possibilidade de essa sequência didática servir como referência para o
desenvolvimento de outros conteúdos e/ou readequada conforme as
possibilidades cognitivas de seus alunos, da realidade da sala de aula e do
contexto escolar em que os licenciandos estarão inseridos durante as atividades
do Estágio Supervisionado em Biologia.
Após as discussões e reflexões das etapas constituintes da sequência
didática e durante a disciplina de Estágio Supervisionado, no processo de
planejamento das atividades que seriam desenvolvidas na atividade de regência
de Biologia no ensino médio, três duplas de licenciandos organizaram atividades
utilizando como referência a sequência didática discutida coletivamente na
disciplina de prática de ensino. Tais atividades foram realizadas no âmbito
escolar e, posteriormente as discussões e análise de como ocorreu o processo
de ensino-aprendizagem durante o desenvolvimento das mesmas, foram
discutidas e registradas nos relatórios de estágio dos licenciandos.
Para este trabalho buscamos a produção dos resultados por meio de
análise do relatório de estágio de uma das duplas de licenciandos, pautada na
análise textual discursiva, pois as atividades propostas e desenvolvidas por eles
se enquadram em três categorias que consideramos como bases na sequência
apresentada, sendo elas: identificação do conhecimento cotidiano dos alunos,
sistematização do conteúdo e avaliação da apropriação do conhecimento.
Alguns dos resultados obtidos pelos mesmos serão apresentados para
demonstrar a análise que os licenciandos fizeram de tais dados.
Essa metodologia de análise é qualitativa e organiza o texto a partir de
alguns processos. Primeiramente se faz a unitarização e/ou desmontagem dos
textos, momento em que o pesquisador fragmenta o corpus e atinge unidades
e/ou enunciados referentes ao que se quer estudar. Posteriormente, é
necessário fazer a categorização e/ou estabelecimento de relações, como o
próprio nome diz, esse é o instante em que se estabelecem relações entre as
unidades de base, combinando-as e formando categorias. O outro processo se
refere à compreensão renovada do todo, resultando em um metatexto que se

38
constitui pela combinação dos elementos construídos nos processos descritos
anteriormente, demonstrando a nova compreensão que é comunicada e
validada, esse é denominado como a captação do novo emergente (MORAES,
2003).
Para Moraes (2003, p.192), a análise textual discursiva se faz necessária
quando as abordagens de análises requerem percorrer caminhos “entre
soluções proposta pela análise de conteúdo e a análise de discurso”. Ademais,
o autor relata que os textos que constituem o corpus da análise podem ser
aqueles produzidos para a pesquisa como, por exemplo, transcrições de
entrevistas, registros de observação, depoimentos por escrito, anotações,
diários, e/ou documentos já existentes como relatórios, publicações como
editorais de jornais e revistas, resultados de avaliações, entre outros.
Assim, os discursos presentes nos relatórios foram fragmentados,
categorizados e, posteriormente, reconstruídos expressando as principais ideias
que se pautaram na sequência didática utilizada como referencial, para saber se
uma proposta de ensino sobre conteúdos de botânica, compartilhada entre
formador e licenciandos pode propiciar a estes uma referência para que
(re)elaborem tais conteúdos em seus processos de ensino com alunos da
Educação Básica, em situação de estágio supervisionado.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A sequência didática apresentada e discutida com os 23 licenciandos na


disciplina de Prática de Ensino serviu como referência didático-pedagógica para
três duplas de licenciandos ao planejarem as atividades que desenvolveriam
durante o Estágio Supervisionado em Biologia, em nível médio, readequando as
atividades para trabalharem em outros contextos e com outros conteúdos como,
por exemplo, morfologia floral e o processo de polinização, divisões celulares e
caraterísticas morfológicas de peixes.
As atividades propostas e desenvolvidas por esses licenciandos durante
o Estágio Supervisionado, apresentadas e discutidas nos relatórios de estágio,
demonstram que os mesmos utilizaram como referência teórico-metodológica
quatro caracteríticas básicas da sequência didática proposta por Ramos e Silva
(2013), em relação ao processo de: i) identificação dos conhecimentos que os
alunos possuem sobre os conteúdos a serem trabalhados, para tal solicitaram
que os mesmos desenvolvessem desenhos representando o que eles sabiam
sobre a temática e, posteriormente, descrevessem o que representaram nas
estruturas desenhadas; ii) “confronto” entre os conhecimentos apresentados
pelos alunos e os científicos; iii) sistematização do conhecimento científico, por
meio de aulas teóricas dialogadas em que os conteúdos foram trabalhados de
forma lógica, sistemática e contextualizada, utilizando como recurso didático-
pedagógico imagens/fotografias projetadas no data-show para propiciar aos
alunos uma evolução conceitual e construção de novos significados e

39
representações simbólicas/mentais; iv) identificação da evolução conteitual, para
tal as atividades propostas pelos licenciandos foram diferentes, mas
apresentaram características em comuns, nesse caso duas duplas solicitou que
os alunos representassem o que aprenderam a partir de um novo desenho com
a descrição das estruturas e processos desenhados e a outra dupla utilizou um
desenho pronto para que os alunos pudessem identificar as estruturas
constituíntes do mesmo e descrevessem, posteriormente, em uma tabela as
características e funções dessas estruturas.
Observamos que a sequência discutida com os licenciandos serviu como
referência para a elaboração das atividades que seriam desenvolvidas durante
a realização dos estágios e, também, para que os mesmos compreendessem e
analisassem as contribuições da sua prática pedagógica na apropriação e
evolução conceitual dos alunos da Educação Básica, a partir das análises que
os licenciandos fizeram dos resultados obtidos pelos alunos com o
desenvolvimento das atividades.
Para exemplificar essas contribuições, apresentamos a seguir a
sequência de atividade, a análise e os resultados descritos em um dos relatórios
de estágios desses licenciandos.
Nesse estudo, optamos pela dupla que trabalhou o conceito de morfologia
floral e o processo de polinização. Como primeira atividade, para identificar o
que já sabiam sobre o assunto, os licenciandos solicitaram que os alunos
realizassem um desenho representando uma flor e o processo de polinização.
Analisaram as atividades dos alunos e relataram que:

Percebemos que a grande maioria deles [alunos] apresentava o


conceito da flor como planta, desenhando-a ligada diretamente ao solo,
com folhas, caule e raiz. Os desenhos também apresentavam o
conceito de “miolo” sem a associação com a polinização ou aos órgãos
reprodutivos. (Licenciandos).

A partir do que expressa esse relato, consideramos que essa atividade


propiciou aos licenciandos a percepção dos conceitos que os alunos possuem
em relação ao tema e a compreensão da necessidade de trabalhar os aspectos
morfológicos das estruturas constituintes de uma flor, visto que os alunos ainda
não possuem esse conhecimento e talvez, por isso, não estabeleceram relação
com os agentes polinizadores e/ou fizeram associação com os orgãos
reprodutivos.
Para demonstrar as representações simbólicas dos alunos, apresentamos
a seguir (Figura 1) alguns dos desenhos presentes nos relatórios de estágio dos
licenciandos.

40
Figura 1: Desenhos desenvolvidos pelos alunos do ensino médio para identificação dos
conhecimentos que os alunos já possuíam.

Podemos observar pelos desenhos presentes nos relatórios, que os


licenciandos apresentaram uma análise coerente sobre as concepções
cotidianas dos alunos em relação ao conceito de flor e essa atividade propiciou
subsídios necessários para que eles percebessem a necessidade de confrontar
os conceitos que os alunos possuem com os conhecimentos científicos, visando
que esses tenham a potencialidade de abrir caminho para a formação e
evolução conceitual científica.
Nesse caso, a aprendizagem de conceitos científicos não exclui os
conceitos cotidianos, mas eleva este para um nível de conhecimento mais
elaborado. Esse confronto se justifica pelo aporte teórico que sustenta a
sequência didática que serviu como referência para essa atividade, na qual
segundo Vygotsky (2009) os conceitos cotidianos e os científicos seguem
caminhos diferentes, mas se inter-relacionam e é no confronto entre esses
conhecimentos que se dá a evolução conceitual.
O uso do desenho para identificar o que os alunos sabem sobre o
assunto se apoia no fato de que, conforme Vygotsky (1984, p.127), ele é
considerado como uma linguagem gráfica que tem sua origem baseada na
linguagem verbal. Assim, este pode ser analisado como uma forma de o aluno
representar o que sabe sobre o conceito de flor e polinização, sem utilizar
palavras. Nesse sentido, Fontana e Cruz (1997) relatam que o desenho pode
servir como elemento de apoio para a compreensão de um conteúdo, bem como
indicador do nível de desenvolvimento cognitivo do aluno. Segundo essas
autoras, a criança não se preocupa com a representação da realidade
observada: “ela não começa desenhando o que vê, mas sim o que sabe sobre
os objetos” (FONTANA E CRUZ, 1997, p. 147), demonstrando certo grau de
generalização elaborado como os conceitos verbais.
No processo de sistematização do conteúdo, conceitos referentes às
estruturas morfológicas constituintes das flores, principalmente, em relação aos
órgãos reprodutores e sua associação com o processo de polinização foram
trabalhados com os alunos utilizando na mediação pedagógica, imagens

41
projetadas no Datashow e exemplos contextualizados, como podemos observar
no relato dos licenciandos a seguir:

A aula foi voltada para a associação dos agentes polinizadores e as


plantas; exemplificando a adaptação de ambos para o sucesso desse
processo (...) para isso caracterizamos sucintamente as partes da flor
(...) ressaltamos as diferenças de polinizadores, dando destaque para
importância desse processo no cotidiano, que está presente desde os
frutos que comemos, à beleza de um jardim. Observamos que os
alunos se interessaram pelos conceitos trabalhados e participavam e
interagiam nas discussões principalmente quando apresentávamos
curiosidades relacionadas ao processo de polinização e o cotidiano
dos mesmos. (Licenciandos)

No trecho acima podemos reforçar a concepção de que os resultados


obtidos na primeira atividade subsidiaram o planejamento da etapa de
sistematização dos conteúdos, pois os licenciandos demonstraram que
compreendem a necessidade de retomar os conceitos básicos das
características estruturais e morfológicas florais para, posteriormente, trabalhar
com os conceitos que envolvem o processo de polinização e sua relação com as
estruturas florais. Além disso, perceberam que ao relacionarem os
conhecimentos cotidianos com os científicos de forma contextualizada despertou
nos alunos o interesse pela aprendizagem desse conteúdo.
Tal interesse foi demonstrado nos relatórios dos licenciandos, a partir dos
diálogos e questionamentos estabelecidos pelos alunos durante a apresentação
de tais conceitos como, por exemplo: “Como é a polinização das plantas
carnívoras?; Por que a polinização das orquídeas é artificial?; Lá em casa tem
uma planta que tem um monte de florzinhas que abrem de tarde e logo depois
já caem. Por que acontece isso?”.
Para identificação da evolução conceitual dos alunos, esses licenciandos
optaram por realizar a mesma atividade proposta na sequência didática que
utilizaram como referência, ou seja, o desenvolvimento de um novo desenho
com a explicação das estruturas desenhadas e o processo de polinização.
Obtiveram os seguintes resultados (Figura 2):

42
Figura 2: Desenhos desenvolvidos pelos alunos do ensino médio demonstrando a evolução
conceitual.

Ao analisarem os desenhos desenvolvidos pelos alunos e os discursos


estabelecidos em sala de aula os licenciandos relataramm que:

Percebemos que os alunos compreenderam que a flor faz parte de uma


planta, e que a mesma é asseguradora da reprodução e
posteriormente da formação de frutos. (...) Os segundos desenhos
também apresentavam o conceito de reprodução. Um aluno pintou os
orgão reprodutivos masculinos de azul e os fenininos de rosa,
descrevendo a importãncia dos mesmos para a reprodução e
polinização. Outros ressaltaram os grãos de pólen no interior da flor, o
que antes era apenas chamado de “miolo”. (...) houve evolução no
conceito dos alunos, observamos que todos os alunos associaram o
agente polinizador às estruturas reprodutivas, descreveram o
polinizador entrando em contato com nectário da flor e
consequentemente com o órgão masculino. Posteriormente, citaram
que o inseto vai para outra planta, levando esse pólen, descrevendo
assim o processo de polinização. Assim, concluímos que as atividades
desenvolvidas foram significativas, visto que despertou muito
interesse, os objetivos foram alcançados, e ainda foi possível ressaltar
a importância dos agentes polinizadores na manutenção do equilíbrio
ecológico. (Licenciandos)

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir dos relatos desses licenciandos podemos observar que


compreenderam, analisaram e perceberam as contribuições que a sequência
de atividades propiciou no processo de ensino-aprendizagem dos alunos da
Educação Básica, em relação à formação conceitual e também a construção de
novos sígnos e/ou representações simbólicas/mentais. Nesse processo, os
licenciandos obtiveram subsídios para avaliarem sua própria prática
pedagógica.
Podemos considerar que a sequência didática apresentada e discutida
com os licenciandos, com o aporte teórico que a sustenta, propiciou uma
referência teórica-metodológica para elaboração das atividades pedagógicas, a

43
compreensão de como elaborar e/ou readequar uma sequência didática em
outros contextos educacionais e/ou com outros conteúdos. Consequentemente,
contribuiu tanto para a formação docente, quanto para a contituição e
reconhecimento dos licenciandos como professores pesquisadores da própria
prática educativa.
Nessa perspectiva, podemos considerar que o uso da sequência didática
pelos licenciandos como referência teórico-metodológica para elaboração de
outras atividades pedagógicas, em um enfoque histórico cultural do
desenvolvimento humano, pode ser visto como um processo de imitação, a
qual, segundo Vigotski (2009 p.331), “é a forma principal em que se realiza a
influência da aprendizagem sobre o desenvolvimento”. Em outros termos, “a
aprendizagem só é possível onde é possível a imitação”, pois o sujeito só é
capaz de imitar se tiver, pelo menos, possibilidade de passar do que já sabe
para algo que não sabe. Nesse sentido, vale ressaltar que o sujeito só imita
aquilo que está dentro de sua zona de possibilidade, então esta imitação não é
um simples imitar, mas um recriar a partir de um modelo, no qual o sujeito
começa a se apropriar do novo conhecimento para iniciar o processo de
desenvolvimento.

REFERÊNCIAS

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VYGOTSKY. L.S. A Construção do Pensamento e da Linguagem. Tradução:


Paulo Bezerra. – 2 ed. - São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2009.

ABSTRACT: This work had as purpose investigate the pertinence of a didactic


sequence. used as model to deal with Biology subjects, to serve as reference to
the graduates (re)elaborate in their teaching process of that subjects as students
of Basic Education, in situation of Supervised Internship situation. For such, the
sequence was presented, shared and discussed with the graduates in order to
be an model of reference to plan and develop their subjects in their teaching
practices in schools. By discursive textual analysis of internship reports, the
results showed that the didactic sequence utilized as reference propitiated to de
graduates, the planning and development of his teaching actions. The
contribution of this work demonstrate the relevance of enabling the teaching
qualification student references for practical training of Sciences/ Biology
teachers.
KEYWORDS: Teacher training in Science/Biology, Imitation, Didactic Sequence.

45
Capítulo IV

O LIVRO DIDÁTICO NO CONTEXTO DA


FORMAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
__________________________________________

Rúbia Emmel
Maria Cristina Pansera-de-Araújo

46
O LIVRO DIDÁTICO NO CONTEXTO DA FORMAÇÃO EM CIÊNCIAS
BIOLÓGICAS

Rúbia Emmel
Universidade Federal do Tocantins, Professora do Curso de Licenciatura em
Pedagogia
Arraias – Tocantins
Maria Cristina Pansera-de-Araújo
UNIJUÍ, Professora Doutora do Departamento de Ciências da Vida, do
Programa de Pós-Graduação em Educação nas Ciências
Ijuí - Rio Grande do Sul

RESUMO: Nesse estudo, discutimos os contornos do discurso de licenciandos


de Ciências Biológicas sobre livro didático, que no contexto educacional
brasileiro é uma política pública (PNLD -Programa Nacional do Livro Didático). A
partir das constatações empíricas, articuladas aos referenciais e pressupostos
teóricos da área, delimitamos a análise acerca da avaliação, escolha, formação
e uso do livro didático na formação inicial. Os 54 licenciandos matriculados e
presentes nas aulas do componente curricular: Prática de Ensino em
Ciências/Biologia II: Currículo e Ensino de Ciências e Biologia, do Curso de
Ciências Biológicas, que aceitaram participar da pesquisa de cunho qualitativo
(LÜDKE; ANDRÉ, 1986), responderam um questionário com seis questões. Nas
respostas obtidas, percebemos desconhecimento da temática, que pode
constituir caminhos formativos problematizadores das possibilidades de uso do
livro, na perspectiva de melhor conhecê-lo para repensar sua função e
estratégias de enfrentamento da realidade analisada.
PALAVRAS CHAVE: formação inicial de professores, ensino de ciências, livro
didático, curriculum.

1. INTRODUÇÃO

Esta investigação corrobora as ideias de Martins (2012), que considera o


livro didático como representante de uma instância articuladora de diferentes
vozes e horizontes sociais e conceituais, constituindo e materializando o
discurso científico-escolar. A autora afirma que “o texto didático materializa o
discurso sobre Ciência na escola, e que este se constitui em meio a tensões e
negociações entre a natureza da Ciência de referência, os objetivos do ensino
escolar e padrões de comunicação na sociedade” (p. 20).
Considerando que “o texto do livro didático de Ciências caracteriza
elementos dos gêneros de discurso científico, didático e cotidiano” (BRAGA;
MORTIMER, 2003, p. 59), cabe analisar os discursos dos licenciandos de
Ciências Biológicas, a fim de identificar como esta temática é desenvolvida, ou
não, na formação inicial de professores.

47
2. METODOLOGIA

A pesquisa ocorreu em um município da Região Noroeste do Estado do


Rio Grande do Sul (RS), numa Universidade Pública Federal, no Curso de
Licenciatura em Ciências Biológicas, no componente: Prática de Ensino em
Ciências/Biologia II: Currículo e Ensino de Ciências e Biologia, durante o primeiro
semestre de 2013.
Participaram da pesquisa 54 licenciandos matriculados e presentes nas
aulas deste componente, que responderam um questionário com seis questões,
a fim de estabelecer um diálogo acerca do Livro Didático, na formação inicial. Os
licenciandos, que aceitaram participar da pesquisa de cunho qualitativo (LÜDKE;
ANDRÉ, 1986), responderam questionário com um roteiro de perguntas abertas
e semiestruturadas para facilitar a análise e produção dos resultados. Foram
resguardados os princípios éticos da pesquisa, já que os licenciandos
concordaram em participar e assinaram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido. A fim de garantir a autoria e ao mesmo tempo o sigilo, eles foram
nominados L1, L2, L3, L4, L5, L6, L7, ..., L54; e suas respostas estão colocadas
em destaque tipográfico itálico, entre aspas.
Segundo Richardson (1999), os questionários cumprem pelo menos duas
funções: descrever as características e medir determinadas variáveis de um
grupo social, sendo que uma descrição adequada de um grupo beneficia a
análise a ser feita. Este autor ainda afirma que uma das grandes vantagens de
questionários com perguntas abertas é a possibilidade de o entrevistado
responder com mais liberdade.

3. O QUE DIZEM OS LICENCIANDOS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS SOBRE O


LIVRO DIDÁTICO?

No componente curricular, Prática de Ensino em Ciências/Biologia II:


Currículo e Ensino de Ciências e Biologia, após algumas problematizações
iniciais acerca do livro didático propostas pelo professor titular, foi solicitado aos
licenciandos que participassem da pesquisa sobre o livro didático, respondendo
a um questionário. Os licenciandos, que concordaram em participar da pesquisa,
posteriormente tiveram a oportunidade de problematizar essas questões em
aulas do componente, cujas respostas foram consideradas pelo professor titular
do componente curricular, como um diagnóstico. Em outros momentos das
aulas, as questões foram retomadas por meio das análises dos livros didáticos,
com base nos critérios do PNLD.
Na questão 1 “Você tem conhecimento dos critérios de análise dos livros
didáticos propostos pelo PNLD (Programa Nacional do Livro Didático)? Cite-os:”,
quarenta e seis licenciandos responderam que não e outros quatro não
souberam. O licenciando L32 respondeu “sim”, sem citá-los. Ainda outros três
licenciandos demonstraram insegurança: “muito pouco, mas sei que são critérios

48
bem rígidos” (L30); “algum conhecimento tenho, mas não o suficiente para fazer
citações” (L35); “tenho muito pouco conhecimento” (L40). Logo, fica evidente a
necessidade de tratar deste tema na formação inicial, de modo a propiciar a
constituição de um pensamento crítico sobre o mesmo.
Na questão 2 “Você acredita que estes critérios são suficientes para
avaliar os Livros Didáticos? Por quê?”, vinte e sete licenciandos responderam
“não”, sem explicações. Outros dezenove licenciandos não souberam
responder. E, apenas oito deles responderam “sim”. Novamente, a falta de
conhecimento do tema, que pode repercutir negativamente nos futuros
professores, quanto a análise da qualidade do livro didático.
Conforme Castellar (2003), o sistema de avaliação do livro didático,
instituído pelo governo a partir de 1996, provocou outra postura dos autores e
editoras em relação ao compromisso com a melhoria do ensino na escola
pública. Em áreas carentes, o livro didático poderá ser o único texto informativo
e qualificado a que o estudante terá acesso. Isto suscita atenção redobrada a
sua qualidade, pois, o entendimento público que os cidadãos terão sobre a
ciência e o conhecimento (LEYSER; CRUZ; ALVES FILHO, 2005) advém em
geral do livro didático.
A maioria dos licenciandos respondeu sem citar ou justificar as escolhas
feitas. Isto demonstrou que esta iniciativa propicia espaços de reflexão ou
problematização acerca dos livros didáticos desde a formação inicial.
A avaliação dos livros didáticos pelo PNLD resultou na elaboração do
Guia do Livro Didático (BRASIL, 1996), que apresentou quatro categorias:
excluídos, não recomendados, recomendados com ressalvas e recomendados.
A partir de 2005, o Guia do livro didático (BRASIL, 2006) extinguiu a
classificação, e os livros didáticos avaliados foram aprovados ou recomendados.
Já em 2010 (BRASIL, 2009), apresentou avaliação das coleções didáticas, num
quadro-síntese com uma convenção gráfica. Isto se manteve nas outras edições.
No processo de escolha do livro didático é importante que o professor
também faça a avaliação, considerando os Guias de livros didáticos e a crítica a
estes critérios por autores como Megid Neto; Fracalanza (2006). O professor
deveria analisar as bases teórico-metodológicas, o desenvolvimento dos
conceitos e conteúdos, considerando a possibilidade de facilitar a construção de
conhecimentos pelo aluno, a partir de sua realidade e saberes.
Cal (2003, p. 10) aponta que o professor precisa “verificar se as
informações, representações cartográficas e outros elementos de comunicação
visual apresentam-se corretos e se estão fundamentados em pesquisas e fontes
que as sustentem e as atualizem”. Preparar para este processo é uma das
funções da graduação, visto que a proposta do livro didático deve ser coerente
com o Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola.
A questão 3, “Você enquanto futuro professor/a (licenciando em formação
inicial), hoje, está preparado/a para escolher o Livro Didático? Como?”, foi
respondida por trinta e um licenciandos com “não”. Outros dezesseis
licenciandos responderam “sim”. Sete licenciandos “não souberam responder”.

49
Parece que a complexidade da profissão docente, no que tange ao contexto da
prática de ensino, constitui um lugar em que o licenciando compreende a
dinâmica de ser professor ao inserir-se na instituição escolar, e, gradualmente,
exercer a docência.
O fato de que alguns licenciandos não souberam responder denota
pensar o quanto ainda é complexo emitir concepções sobre o livro didático,
recurso disponível na escola. Por isto, na academia, espaços de discussão e
pesquisas sobre o livro didático são fundamentais. A possibilidade de visitar o
livro com olhos amadurecidos e experientes é a nova perspectiva projetada nas
pesquisas, no Brasil (FRACALANZA, 2006; AMARAL, 2006; LOPES, 2007).
Cabe ressaltar o fato que entre as respostas das professoras não houve
referências positivas em relação ao livro didático ou mesmo dos paradidáticos.
Conforme Megid Neto; Fracalanza (2006), os paradidáticos podem constituir-se
em “moduladores”, de maneira que o professor pudesse compor seu compêndio
escolar ao longo do ano letivo, a partir; da realidade das escolas onde atua; da
sua experiência profissional; das vivências e do contexto sociocultural de seus
alunos; e do processo de ensino-aprendizagem que permitam avaliar os
resultados parciais de seu trabalho e implementar as mudanças necessárias e
adequadas.
A questão do uso do livro é evidente e merece atenção especial na
formação dos professores, pois o resgate do valor e do papel do livro como fonte
de informações na escola não pode ser negado. É preciso provocar discussões
desde a formação inicial para não estigmatizar um instrumento extremamente
relevante para o processo de constituição do conhecimento escolar nos sujeitos.
Na questão 4, “Qual a finalidade do Livro Didático na escola, hoje? Por
que o livro didático é produzido e distribuído?”, vinte licenciandos referiram-se a
“material de apoio/ajuda/auxiliar”; dez licenciandos a “conhecimento”; oito a
“aprendizagem”; sete a “conteúdo”; seis a “ensino”; cinco a “estudo”; quatro a
“base”; três a “acesso”; outros três a “informações”; dois a “programas”; “leitura”;
“pesquisa”; “qualidade”; um a “oportunidade”. Apesar de todas estas afirmações,
três deles deixaram de responder.
Por sua vez, Freitag; Motta e Costa (1987) afirmam que, à luz dos estudos
feitos sobre o uso do livro didático pelo professor, nas condições atuais de
funcionamento da escola brasileira, o docente passa a ser o mediador dos
conteúdos ideológicos veiculados. Neste sentido, é imprescindível repensar a
postura do professor ao usar o livro didático. Assim, o livro didático não pode ser
visto como mero instrumento de trabalho auxiliar na sala de aula, nem como a
autoridade e o critério absoluto de verdade a ser adotado na aula, mas sim como
uma fonte de informações que pode ampliar as aprendizagens dos estudantes
ao propiciar ao leitor um texto com caminhos de sistematização organizados,
mas não fechados em si.
Sacristán (2000) define os livros didáticos como agentes apresentadores
do currículo pré-elaborado para os/as professores/as, em que, às vezes, o uso
de tais meios é inerente ao próprio exercício profissional. Este mesmo autor

50
destaca que os livros-textos no sistema escolar não são como outros produtos
culturais, nem são comuns numa sociedade de livre mercado, são peculiares em
sua concepção, em suas funções e nas leis de produção e consumo pelas quais
funcionam.
Bizzo (1998), por sua vez, contribui com a discussão ao relatar que o livro
didático pode ser um facilitador do processo de ensino e contribuir na melhoria
da prática docente. Porém, o professor não deve adotá-lo como única fonte de
pesquisa, selecionando os tópicos apresentados que estabeleçam interligações
com sua realidade.
Na questão 5, “Você usou o livro didático quando estudou na Educação
Básica? Como eram os livros didáticos?”, somente três licenciandos não
responderam, os demais responderam “sim”. Na mesma questão, ao descrever
os livros didáticos, vinte e um responderam “bom”; dez de “fácil leitura e
compreensão”; oito “conteúdo”; sete citaram “imagens, fotos, ilustrações,
figuras”; seis “informação”; quatro “pesquisa”; dois “sem qualidade”; outros dois
“conhecimento”; mais dois “dados atualizados”; um licenciando “não lembra”;
outro “precários”; um terceiro “erros”. Ainda, alguns licenciandos apontaram
aspectos singulares: “explicação”, “muito utilizados”, “amplos”, “bem
desenvolvidos”, “ótimo”, “boa qualidade”, “distribuídos pelo governo”. Ainda,
Freitag, Motta, Costa (1987) alertam para a existência de três categorias de
usuários ou consumidores do livro didático: o Estado, que compra o livro; o
professor, que o escolhe e o utiliza como instrumento de trabalho em suas aulas,
e, finalmente, o aluno que tem, no livro, o material considerado indispensável
para seu aprendizado em todas as áreas do conhecimento, num ou outro nível
de formação.
Muitas das questões suscitadas, anteriormente, podem estar
relacionadas com a maneira como a obra é produzida e avaliada, pelas
instâncias oficiais e professores. Além disso, para que se utilize essa ferramenta
com eficácia é importante que o docente considere os objetivos apresentados
nas unidades ou nos capítulos para se apropriar da proposta pedagógica
presente nela, “tornando os conteúdos mais significativos e menos descritivos”
(CASTELLAR, 2003, p. 6). A mesma autora ainda alerta para uma falta de
compreensão da interação que pode haver entre os fundamentos metodológicos
e as práticas docentes, não garantindo a aprendizagem e nem atingindo os
objetivos definidos pelos autores.
As mudanças em relação ao livro didático, não se restringem apenas a
alterações e adaptações de cunho pedagógico, pois que envolvem distintos
aspectos econômicos e sociais e deverão incidir sobre diversas circunstâncias,
tais como, entre outras, as citadas por Fracalanza (2006):

alternativas à seriação escolar vigente; ampliação do número de horas


diárias de escolaridade obrigatória para os alunos, mediante práticas
educativas diversificadas; melhoria de condições de trabalho dos
professores propostas de formação continuada dos docentes;
adequação e melhoria dos equipamentos públicos escolares com
espaços apropriados às práticas educativas diversificadas

51
(FRACALANZA, 2006, p. 185).

O uso do livro didático é produtivo quando ele não se torna o único meio
para o conhecimento. A sua contribuição para a aprendizagem está,
principalmente, na riqueza de textos, mapas, gráficos, que, muitas vezes, são
mais acessíveis aos alunos, tanto em qualidade como em quantidade, mas que
devem ser trabalhados de forma interpretativa, participativa, deixando no
passado as atividades passivas de apenas fazer a leitura e exercícios de fixação,
sem análise, comparação e interpretação dos temas. Conforme Lopes (2007),
os livros didáticos são simultâneos à construção de uma escolarização laica
seriada e se afirmam com a escolarização de massa, sendo ampliada sua
importância econômica, mas também cultural. “Os livros didáticos fazem parte
da memória coletiva, cruzam-se com as reminiscências afetivas da escola e
configuram concepções de conhecimentos, de valores, identidades, visões de
mundo” (LOPES, 2007, p. 208). Ainda merece destaque, o que a autora destaca
como estas concepções culturais não ficam cristalizadas em suas páginas, mas
são constantemente produzidas pelas múltiplas leituras realizadas.
A investigação quanto aos erros e problemas nos livros didáticos tende a
indicar o não questionamento do caráter produtivo de cultura escolar por
intermédio do livro. Nesta linha de pensamento é necessário que novos estudos
que venham a se realizar, tenham o entendimento da cultura escolar na qual o
livro está inserido, de forma a se compreender seu caráter produtivo por meio de
múltiplas leituras. A fim de representar o outro e novo papel que o professor pode
desempenhar como profissional confrontado com situações complexas, incertas
e conflitantes, este deve ser “profissional prático reflexivo” (SCHÖN, 2000).
Conforme Sacristán; Pérez Gómez (1998) a reflexão ao contrário de outras
formas de conhecimento, supõe um sistemático esforço de análise, como a
necessidade de elaborar uma proposta totalizadora, que captura e orienta a
ação. Implica no saber fazer e saber explicar o que fazemos e o conhecimento
e as capacidades que utilizamos quando atuamos de forma competente são, na
realidade, duas capacidades distintas.
O professor deve exercer a crítica ao usar, e com o aluno que ressignifique
os conceitos e as práticas, reelabore, desconstrua a imagem e o significado do
livro (GÜLLICH, 2004), mas que o utilize de outros modos– faça a reflexão na
ação, para além da ação-reflexão – ação (simplista) (SCHÖN, 2000). A reflexão
sobre a ação e sobre a reflexão na ação pode ser considerada como a análise
sobre as características e processos de sua própria atividade docente ou de
aprendizagem. Quando a prática por força do tempo torna-se repetitiva e
rotineira e o conhecimento na ação é cada vez mais tácito, inconsciente e
mecânico, “o profissional corre o risco de reproduzir automaticamente sua
aparente competência prática e perder valiosas e necessárias oportunidades de
aprendizagem ao refletir na e sobre a ação” (SACRISTÁN; PÉREZ GÓMEZ,
1998, p. 371). Assim, os professores na escola, por força de seus hábitos vão
tornando a docência também rotineira e copiada de modo a sugerir que tudo está

52
sabido, pronto e acabado, como nos livros, de maneira simples e fácil.
Como expõe Bizzo (1998), o livro didático, embora pareça um possível
vilão no ensino, é um recurso amplamente distribuído em todo território nacional,
principalmente após o ano de 1996, quando o Ministério de Educação iniciou as
avaliações contínuas dos mesmos, via PNLD. O autor relata que o material pode
ser facilitador do processo de ensino e inclusive contribuir na melhoria da prática
docente e da aprendizagem, porém, o professor não deve adotá-lo como sendo
exclusivo, selecionando os tópicos apresentados, que estabeleçam interligações
com sua realidade. Na questão 6, “Você já participou de algum seminário,
palestra, oficina ou trabalho de formação continuada sobre o Livro Didático?”,
quarenta e cinco licenciandos não participaram, cinco responderam “sim”, e,
ainda quatro deles não responderam.
Destacamos a importância dos cursos de formação de professores, que
podem atentar para a análise do livro didático e discussões sobre seu papel na
escola de modo a desconstruir a sua imagem (GÜLLICH, 2004), pois a formação
de professores pode ressignificar o uso em contexto educacional (GÜLLICH,
2013). Lopes (2007) atenta para o fato de que “um professor com deficiências
em sua formação tem dificuldade de escolher um “bom” livro didático ou trabalhar
adequadamente com o mesmo” (p. 209).
Neste sentido, os licenciandos podem ter conhecimento das
problemáticas que se estabelecem acerca do uso do livro didático, para tanto, é
preciso que o governo, as escolas, os municípios e os professores invistam em
cursos de formação continuada, que façam a avaliação dos livros didáticos e as
formas de utilização dos mesmos pelos professores e estudantes.
Em contexto de formação de professores de Ciências Biológicas, é
importante a reflexão para ressignificar o uso do livro didático em aula, apontar
os erros expostos, trocar informações com seus colegas acerca do mesmo.
Nesta pesquisa, a problematização do uso do livro didático, intima o professor
(licenciando em formação inicial) a colocar-se como sujeito, protagonista e autor
do currículo efetivado na escola.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A universidade, ao propor a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e


extensão, pode possibilitar que os pesquisadores sobre livro didático
compreendam mais ainda a realidade escolar cerceada pelo mesmo, buscando
estabelecer vínculos e diálogos com os professores, firmando parcerias e grupos
de estudo, que possibilitem reflexões sobre a prática. Possibilitando ainda, um
diálogo entre professores em formação inicial e continuada. Nesse sentido, é
fundamental que os licenciandos percebam o livro didático como mais um
recurso a ser utilizado, de maneira não linear, sintonizado com a realidade de
seus alunos e não trate o conhecimento expresso no material como pronto,
estático e acabado.

53
Considerando as perspectivas discursivas acerca do livro didático de
Ciências, concordamos com Martins (2012) que sugere uma agenda para a
pesquisa, no sentido de elaborar reflexões que permitam integrar diferentes
dimensões relativas ao ensino de Ciências, destacando: currículos, avaliação,
objetivos para o ensino de Ciências e formação de professores.
Sendo assim, a formação de professores pesquisadores e reflexivos
desde sua formação inicial e num continuum por toda sua trajetória e carreira
docente traz a tona a possibilidade de se discutir as concepções, perspectivas e
racionalidades de quaisquer temas relevantes para a escola e a educação de
modo geral.
Portanto a formação inicial pode propiciar caminhos formativos que
busquem problematizar as possibilidades e as responsabilidades no uso do livro,
na perspectiva de melhor conhecê-lo para repensar sua função e as estratégias
de enfrentamento da realidade analisada, bem como desenvolver a autoria na
produção do currículo cotidianamente.

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ABSTRACT: In this study, we discuss the licensees' speech contours of


Biological Sciences on textbook that in the Brazilian educational context is a
public policy (PNLD- National Textbook –Program). From the empirical findings,
linked to benchmarks and theoretical assumptions of the area, delimited the
analysis on the evaluation, selection and use of textbooks in the initial training.
The 54 undergraduates enrolled in the curricular component: Teaching Practice
of Science / Biology II: Curriculum and Teaching Science and Biology, in the
Biological Sciences Course, which agreed to participate in qualitative research
(LÜDKE; ANDRÉ, 1986), answered a questionnaire with six questions. In the
answers, we noticed lack of the theme, which can problematize of the textbook
usage possibilities, in the perspective of better know their function and coping
strategies of the analyzed reality.
KEYWORDS: initial teacher education, science education, textbook, curriculum.

56
PARTE II
ESTUDOS DE REVISÃO DA LITERATURA
__________________________________________

57
Capítulo V

A FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES


DE CIÊNCIAS: UMA REVISÃO NOS ARTIGOS DA
REVISTA ENSAIO PESQUISA EM EDUCAÇÃO EM
CIÊNCIAS
__________________________________________

Denny William de Oliveira Mesquita


Ana Cris Nunes de Souza
Sidilene Aquino de Farias

58
A FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DE CIÊNCIAS: UMA
REVISÃO NOS ARTIGOS DA REVISTA ENSAIO PESQUISA EM
EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS

Denny William de Oliveira Mesquita


Doutorando em Química na Universidade Federal do Amazonas.
Manaus-AM
Professor na Universidade Federal de Rondônia, Campus de Cacoal
Cacoal-RO
Email: [email protected]
Ana Cris Nunes de Souza
Mestranda em Química na Universidade Federal do Amazonas
Manaus-AM
Email: [email protected]
Sidilene Aquino de Farias
Professora do Departamento de Química e do Programa de Pós-Graduação
em Química na Universidade Federal do Amazonas
Manaus-AM
Email: [email protected]

RESUMO: A formação continuada de professores tem sido um tema recorrente


em pesquisas realizadas no ensino de Ciências, bem como alvo de políticas
públicas nacionais, pois entende-se a relevância do papel do professor para
melhoria da educação. Portanto, neste trabalho será apresentado uma análise
de 24 artigos sobre essa temática publicados de 1999 a 2014 na Revista “Ensaio:
Pesquisa em Educação em Ciências”, disponível em formato eletrônico e com
boa visibilidade perante a comunidade científica. Realizou-se uma abordagem
qualitativa do tipo pesquisa bibliográfica e para análise das tendências
apresentadas nos artigos adotou-se a análise temática de Bardin. Observou-se
um maior número de publicações nas regiões sudeste e sul, estando esses
trabalhos mais voltados para professores de Ciências da educação fundamental.
A reflexão sobre a prática docente e o desenvolvimento profissional foram as
temáticas mais recorrentes na pesquisa, corroborando as sugestões de diversos
autores para ações de formação continuada de professores.
PALAVRAS CHAVE: formação continuada, professores de Ciências, “Ensaio
Pesquisa em Educação em Ciências”.

1. INTRODUÇÃO

A formação continuada de professores sempre esteve relacionada a


processos de atualização de conhecimentos científicos, atualmente é entendida
como um processo constante de desenvolvimento profissional, de atualização
permanente, e vai muito além de cursos de curta duração, treinamentos,

59
reciclagem, capacitação, aperfeiçoamento (Marin, 1995), pois envolve um
programa amplo de atividades formativas que os professores participam para um
melhor desempenho na realização de suas tarefas ou para realização de novas
funções, podendo ser pessoais ou profissionais, individuais ou coletivas, e
devem proporcionar: ação, reflexão, interação, aprimoramento da prática e
apropriação de saberes, podem estar associadas ou não aos cursos em nível de
lato ou stricto sensu (Ribeiro, 2006; Urzetta & Cunha, 2013).
Lima (1996) afirma que são muitas as exigências com relação ao que o
professor necessita “saber” e “saber fazer”, tornando-se necessário a
constituição e manutenção de grupos de estudo e pesquisa para que esses
profissionais possam adquirir instrumentos para superar os desafios práticos do
cotidiano escolar.
Três fortes justificativas que sustentam a linha de investigação a respeito
do pensamento do professor e sua formação continuada foram apresentadas por
Schnetzler & Aragão (1995): a primeira refere-se à melhoria do processo ensino-
aprendizagem que passa obrigatoriamente pela ação do professor, para isso é
necessário um contínuo processo de aperfeiçoamento profissional e de reflexão
crítica sobre sua prática; a segunda justificativa aponta a necessidade de
aproximação entre propostas de melhoria do ensino de química dos professores
e a sala de aula; por fim a terceira razão destaca que os professores, com
exceções, precisam melhorar a visão simplista que possuem da atividade
docente, de que para ensinar química “basta saber o conteúdo e utilizar algumas
estratégias pedagógicas”. Diversas produções apresentam características a
serem levadas em consideração em formação continuada.

1.1. Tendências atuais na formação continuada de professores

Imbernón (2009) aponta algumas tendências atuais na formação


continuada dos professores. Para o autor, as situações problemáticas dos
professores devem ser o ponto de partida para formação que deve ocorrer na
própria escola, assim os professores tornam-se protagonistas na formação em
seu próprio contexto de trabalho. É sugerido também que as formações atuais
devem se opor às características da racionalidade técnica e assumir uma
perspectiva crítica, que deve ir muito além da “atualização”, criando-se espaços
de colaboração para participação e reflexão e assim os professores possam
“aprender” refletindo e analisando situações problemáticas coletivas, criando
projetos de mudança.
Algumas direções para formação continuada de professores também são
consideradas por Demo (2006), como o abandono da formatação antiga de
formação, pois entende-se que se aprende durante a vida toda e que portanto,
a formação é um processo e não produto, logo, está sempre em andamento.
Para tanto, o professor necessita ser autor nesse processo formativo,
visando relacionar teoria e prática. De acordo com autor, se o processo formativo

60
focar apenas a teoria, nada acontece, por outro lado, centralizar apenas na
prática, na formação acontece apenas rotina.
Nesse sentido, faz-se necessário a integração entre saberes teóricos e
práticos, para desenvolver o saber pensar (questionar) essa prática à luz de
teorias e, assim produzir novos conhecimentos. Além disso, faz-se importante o
convívio saudável entre pessoas com diferentes formas de pensar; e por fim, a
habilidade de colocar em seus devidos lugares meios e fins.
Concernente à reflexão sobre a prática docente, Shulman (1986)
menciona que o desenvolvimento dos saberes disciplinares deve estar
associado aos pedagógicos, gerando assim práticas didáticas que possam
contribuir satisfatoriamente para o aprendizado dos alunos. Assim, propõe três
categorias de saberes que fazem parte da prática docente bem sucedida:
conhecimento da matéria ensinada ou saberes disciplinares - relaciona-se aos
conteúdos da matéria que serão ensinados pelo professor, e entende-se que o
conhecimento deve ir além dos conceitos e fatos, envolvendo a compreensão da
estrutura da disciplina; conhecimento pedagógico da matéria ou saberes
pedagógico–disciplinares - associam saberes disciplinares com a prática de
ensinar.
Diversas explicações, ilustrações e analogias devem ser incluídas para
tornar o conhecimento acerca de um conteúdo compreensível aos estudantes;
conhecimento curricular ou saberes curriculares - alcançado pelo entendimento
e análise de orientações curriculares, de variadas alternativas ao ensino de uma
dada disciplina, tais como: textos diversos, filmes, programas computacionais e
experimentos.
Carvalho e Gil-Pérez (2011) indicam algumas necessidades formativas
que podem ser ampliadas para outras áreas, mais são apresentadas para
professores de Ciências, as quais são: a ruptura com visões simplistas sobre o
ensino de Ciências; conhecer a matéria a ser ensinada; questionar as ideias
docentes de “senso comum” sobre o ensino e a aprendizagem das Ciências;
adquirir conhecimentos teóricos sobre a aprendizagem das Ciências; saber
analisar criticamente o ‘ensino tradicional’; saber preparar atividades capazes de
gerar uma aprendizagem efetiva; saber dirigir o trabalho dos alunos; saber
avaliar; e adquirir a formação necessária para associar ensino e pesquisa
didática.
A fim de compreender melhor as tendências da pesquisa acerca da
formação continuada de professores e contribuir na continuidade e ampliação
desses estudos, neste trabalho será apresentada uma análise temática e de
diferentes descritores dos artigos publicados até 2014 na revista “Ensaio
Pesquisa em Educação em Ciências”.

2. PERCURSO METODOLÓGICO

Na realização deste trabalho foi adotada a abordagem qualitativa do tipo

61
pesquisa bibliográfica, realizando-se um levantamento dos artigos sobre a
temática de formação continuada de professores publicados na revista “Ensaio
Pesquisa em Educação em Ciências”, desde a primeira edição no ano de 1999,
até o último número publicado, no momento da pesquisa, em 2014. Alguns
critérios para escolha desse periódico foi a sua relevância na área de Ensino de
Ciências, que pode ser constatada pela indicação A2 nas áreas de Educação e
de Ensino, na última avaliação do Qualis Periódicos da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), e também o fato de
estar disponível em formato eletrônico, com três números por ano (lançados
respectivamente em abril, agosto e dezembro). Esses critérios ainda contribuem
para visibilidade da mesma perante a comunidade científica.
Na seleção dos artigos que tratavam da temática escolhida, foi realizada
uma leitura do título, resumo e palavras-chaves, e uma posterior leitura de todos
os artigos selecionados, desse modo foram identificados 24 artigos para análise.
Neste estudo, utilizou-se os descritores apresentados por Megid Neto (1999)
como referência básica para aglutinar os dados levantados e organizar a
pesquisa, principalmente os descritores nível de escolaridade ao qual o trabalho
se refere, área de conteúdo do currículo escolar, outros descritores como ano de
publicação, região geográfica do Brasil em que foi desenvolvido e objetivos do
trabalho também foram levados em consideração.
Na perspectiva de identificar as principais características e tendências nos
artigos encontrados, a organização e análise dos dados pauta-se na Análise de
Conteúdo (AC) temática proposta por Bardin (2011). AC consiste em um
conjunto de técnicas de análise das comunicações que visam principalmente à
ultrapassagem da incerteza, ou seja, investiga se a leitura que realizamos de
uma mensagem é generalizável, aumentando sua produtividade e pertinência e
buscando o enriquecimento da leitura.

3. ANÁLISE DOS DADOS

A análise das publicações demonstrou que desde sua primeira edição até
o último número analisado de 2014 (vol. 16, n. 3), foram publicados um total de
317 artigos, 21 resenhas e 1 uma entrevista. Desse total, 24 artigos tratavam da
temática formação continuada, sendo constatada maior incidência de artigos
publicados em 2007 e 2014, com quatro e cinco textos respectivamente. Pode-
se verificar que são poucos artigos publicados por ano, inclusive em alguns anos
não houve publicação sobre o tema, entretanto em 2014 foram publicados 5
artigos o que acompanha uma evolução, um pouco inconstante, a partir de 2007.
A figura 1 evidencia a distribuição anual dos artigos.

62
Figura 1: Distribuição do total de artigos publicados por ano.

A maioria dos trabalhos foi desenvolvida na região sudeste (figura 2A) e


representam 63% do total, o que pode ser explicado, conforme trabalho de
Francisco (2006) pelo número elevado de Instituições de Ensino Superior (IES)
públicas e privadas concentradas nessa região. Vale ressaltar que na Região
Sudeste estão localizadas as IES que possuem maior tradição na pesquisa
como, por exemplo, a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG), entre outras.
A Região Sul concentra 17 % do total de artigos publicados, bem menor
que na Região Sudeste, mas aproximadamente o dobro das Regiões Nordeste
e Centro-Oeste, ambas com 8%. A Região Norte aparece com apenas 4% (1
trabalho) publicado. Esses números baixos para essa região podem ser
explicados pelos fatores contrários aos mencionados anteriormente para Região
Sudeste.
O nível de atuação dos professores em formação continuada também foi
identificado. Para identificação deste descritor, considerou-se levarmos em conta
a nomenclatura para cada segmento da educação escolar, de acordo com as
Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica (BRASIL, 2013).
Na figura 2B, pode-se observar que os artigos estão voltados principalmente
para Educação Básica, tendo o Ensino Fundamental (EF) e o Ensino Médio (EM)
um quantitativo de publicações aproximadas. Formação continuada para
professores de Educação Superior (ES) apareceu em apenas um artigo, assim
como para professores da Educação Infantil (EI) que apareceu junto com
professores do Ensino Fundamental, também foi evidenciado apenas um artigo
sobre professores da Educação de Jovens e Adultos (EJA).
Dois artigos foram encontrados e classificados como artigos de caráter
‘geral’, e não puderam ser avaliados quanto ao nível de atuação dos professores,
a disciplina escolar em que os professores lecionam e com relação ao local em
que se realizou a pesquisa.

63
Figura 2: Distribuição do total de artigos publicados por: A) Região geográfica do Brasil. B)
Nível de atuação dos professores em formação continuada.

Outro descritor utilizado nesse estudo teve como foco identificar as


disciplinas escolares em que os professores atuavam, sendo estas disciplinas
organizadas por área de conhecimento, considerando os domínios da educação
escolar. Na Figura 3A podem ser observados oito artigos que abordam
programas de formação voltados para professores de diferentes disciplinas,
(interdisciplinares - quando envolvia duas ou mais disciplinas), sete artigos que
apresentam perspectiva de formação para professores de Ciências, quatro
artigos que focalizam a formação continuada em Química, e três artigos que
abordam a formação de professores de Física. Em relação ao local onde foram
realizadas as ações de formação continuada (Figura 3B), constatou-se que 42%
foram realizados no próprio local de trabalho dos professores, o que está de
acordo com Imbernón (2009) que sugere que essas ações para professores
sejam realizadas em seu próprio contexto. Dos 29% que configuram como
cursos de extensão, em alguns não ficou claro onde foram realizadas as
atividades. E ainda, 17% dos artigos que compõem o corpus dessa análise
tratam da formação continuada de professores em cursos de pós-graduação e

64
4% são relacionados à formação de professores que não tinham graduação, mas
estão no exercício da docência. Nesta última categoria, nos artigos publicados
os autores denominaram de formação acadêmica em serviço.

Figura 3: Distribuição do total de artigos publicados por: A) Área de conhecimento. B) Local de


realização da formação continuada.

A partir da leitura e análise dos artigos constatou-se que todos adotaram


uma abordagem qualitativa de pesquisa, entretanto, apenas oito mencionam
claramente essa característica em seu texto. Os objetivos dos artigos também
foram analisados e apresentaram uma diversidade de enfoques e propostas, que
relacionam-se com os referenciais teórico-metodológicos adotados pelos
pesquisadores. A maioria dos artigos está voltada para análise de diferentes
ações de formação continuada, apresentando o potencial para outras formações
continuadas e/ou para práticas profissionais. Observou-se também que algumas
publicações investigam as mudanças nas formas de atuação e/ou nas
concepções relacionados aos saberes, valores, expectativas e também o papel
multiplicador dos professores envolvidos nessas ações.
Diversos focos temáticos (Figura 4) foram identificados, alguns

65
concomitantemente no mesmo trabalho: reflexão sobre a prática docente,
desenvolvimento profissional, fundamentos teóricos e metodológicos na
formação de professores, construtivismo, psicanálise e educação, informática no
ensino das Ciências, pesquisa colaborativa, competências na formação de
professores, políticas públicas, contextualização no ensino, e educação no/do
campo.

Figura 4: Artigos por focos temáticos apresentados.

Com relação aos procedimentos adotados para coleta de dados (figura


5), foram elaboradas nove categorias, algumas presentes simultaneamente no
mesmo artigo, sendo entrevista e gravação em áudio e/ou vídeo as mais comuns
aparecendo em nove artigos, seguidas de diário de campo e questionário
presentes em oito, relato de experiência e observação participante foram
técnicas adotadas em sete trabalhos, pesquisa bibliográfica e análise de
documentos aparecem em quatro vezes e registro via internet é o procedimento
menos adotado, apenas duas vezes nos artigos analisados.

Figura 5: Artigos por técnicas utilizadas para coleta de dados.


Levando-se em consideração a análise dos dados, observou-se a criação

66
de categorias como a técnica adotada em praticamente todos os trabalhos,
sendo uma característica mencionada em poucos artigos e na maioria não
explicitada.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise das publicações demonstra que o número de pesquisas em


formação continuada tem aumentado no decorrer dos últimos anos, que as
mesmas estão concentradas nas regiões sudeste e sul do país, e estão voltadas
principalmente para professores da Educação Básica, sendo observado poucos
trabalhos voltados para professores da Educação Infantil, Educação Superior e
Educação de Jovens e Adultos. Observou-se também nesse trabalho que
professores da disciplina de Ciências foram os maiores beneficiados, uma
tendência esperada, uma vez que a revista é voltada para essa área. A maioria
das ações foram realizadas na própria escola, o que é sugerido por diversos
autores como eixo fundamental na formação continuada de professores
(Imbernón, 2009; Carvalho e Gil-Pérez, 2011). Os objetivos dos artigos estavam
voltados em sua maioria para apresentação e análise de ações de formação
continuada contribuindo na carreira profissional dos professores, característica
também valorizada e mencionada anteriormente (Demo 2006; Shulman, 1986).
Esses resultados apontam indícios para necessidade de pesquisas em
ensino de Química nas regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste, regiões
indicadas em diferentes trabalhos (Megid Neto, 1999; Francisco, 2006) por
apresentarem pouca produção na área. Pode-se mencionar também a
necessidade que os professores da EI, ES e EJA no Brasil sejam mais
envolvidos em programas de formação continuada e também a necessidade de
se expandir esses programas na educação básica. É importante ressaltar que
os eixos norteadores para formação continuada de professores, como a prática
reflexiva, a valorização dos saberes docentes, a formação no local de atuação,
entre outros têm sido levados em consideração nos trabalhos desenvolvidos, e
têm colaborado para melhoria da qualidade no ensino das Ciências.

AGRADECIMENTOS

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior


(CAPES) pelas bolsas de doutorado e mestrado concedidas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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67
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Secretaria
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Educação Profissional e Tecnológica. Conselho Nacional da Educação.
Câmara Nacional de Educação Básica. Diretrizes Curriculares Nacionais
Gerais da Educação Básica / Ministério da Educação. Secretaria de
Educação Básica. Diretoria de Currículos e Educação Integral. Brasília: MEC,
SEB, DICEI, 2013.

CARVALHO, A. M. P.; GIL-PÉREZ, D. Formação de professores de Ciências


– tendências e inovações. 10 ed. São Paulo: Cortez, 2011.

DEMO, P. Formação Permanente e Tecnologias Educacionais. RJ: Vozes,


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FRANCISCO, C. A. A produção do conhecimento sobre o ensino de


química no Brasil: um olhar a partir das reuniões anuais da Sociedade
Brasileira de Química. Dissertação (Mestrado em Ciências - Química Analítica)
– Instituto de Química de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos.
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Escola Pública. Disponível em: <
http://www.cereja.org.br/site/_shared%5CFiles%5C_cer_old%5Canx%5Cklinge
re_ribeiro_formacao_contin_prof.pdf >. Acesso em: 13/06/2014, publicado em
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SCHNETZLER, R. P.; ARAGÃO, R. M. R. Importância, sentido e contribuições


de pesquisas para o ensino de Química. Química Nova na Escola, n. 1, 1995,
p. 27-31.

SHULMAN, L. Those Who Understand: Knowledge Growth in Teaching.

68
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URZETTA, F. C.; CUNHA, A. M. de O. Análise de uma proposta colaborativa


de formação continuada de professores de Ciências na perspectiva do
desenvolvimento profissional docente. Ciência & Educação. v. 19, n. 4, 2013,
p. 841-858.

ABSTRACT: The continuing education of teachers has been a recurring theme


in research conducted in the teaching of science and the subject of national public
policies, since it is understood the importance of the teacher's role to improve
education. Therefore, this work will be presented an analysis of 24 articles on this
topic published in 1999-2014 in the journal “Ensaio: Pesquisa em Educação em
Ciências”, available in electronic format and with good visibility in the scientific
community. We conducted a qualitative approach to the type bibliographic
research and for analysis of trends presented in the articles adopted the thematic
analysis of Bardin. There was a larger number of publications in the Southeast
and South regions, these being more focused work for science teachers of basic
education. Reflection on teaching practice and professional development were
the most recurrent themes in the research, supporting the suggestions of various
authors for continued training activities for teachers.
KEYWORDS: continuing education, teachers of Science, “Ensaio Pesquisa em
Educação em Ciências”.

69
Capítulo VI

REFLEXÕES E DESAFIOS ACERCA DA


ABORDAGEM CIÊNCIA, TECNOLOGIA,
SOCIEDADE E AMBIENTE NA EDUCAÇÃO EM
CIÊNCIAS/QUÍMICA NA FORMAÇÃO DO
CIDADÃO
__________________________________________

Ana Cris Nunes de Souza


Denny William de Oliveira Mesquita
Sidilene Aquino de Farias

70
REFLEXÕES E DESAFIOS ACERCA DA ABORDAGEM CIÊNCIA,
TECNOLOGIA, SOCIEDADE E AMBIENTE NA EDUCAÇÃO EM
CIÊNCIAS/QUÍMICA NA FORMAÇÃO DO CIDADÃO

Ana Cris Nunes de Souza


Mestranda em Química na Universidade Federal do Amazonas
Manaus-AM
Email: [email protected]
Denny William de Oliveira Mesquita
Doutorando em Química na Universidade Federal do Amazonas
Professor na Universidade Federal de Rondônia, Campus de Cacoal
Manaus-AM
Cacoal-RO
Email: [email protected]
Sidilene Aquino de Farias
Professora do Departamento de Química e do Programa de Pós-Graduação
em Química na Universidade Federal do Amazonas
Manaus-AM
Email: [email protected]

RESUMO: Neste trabalho é apresentado uma revisão da temática Ciência-


Tecnologia-Sociedade-Ambiente nos artigos publicados de 2004 a 2014 na
Revista Ciência e Educação (Qualis A1). Para tanto realizou-se um levantamento
dos artigos a partir das palavras chave e leitura dos resumos. Utilizando-se a
análise do conteúdo fez-se a leitura do texto completo, selecionando as unidades
de significação, pautando-se também nos descritores caracterizados por Megid
Neto. Encontrou-se um total de 16 artigos aonde verificou-se que os
pressupostos dessa abordagem dialogam com as orientações curriculares
nacionais, todavia, é importante que os professores da Educação Básica
vivenciem tais propostas. Embora tenham sido observadas poucas produções
referentes à abordagem CTSA na revista consultada, tal abordagem de
ensino/aprendizagem configura como um viés para a interdisciplinaridade e
contextualização do ensino das ciências da natureza e humanas, por meio de
estudos de temas sociais que possibilitem a formação do cidadão e da inclusão
social.
PALAVRAS CHAVE: CTSA; Revista Ciência e Educação; Educação das
ciências; Ensino de Química.

1. INTRODUÇÃO

Segundo Santos e Schnetzler (2003), com o avanço tecnológico da


sociedade, há tempos existe uma dependência muito grande em relação à
química, incluindo influências e impactos no desenvolvimento dos países, em

71
problemas gerais referentes à qualidade de vida das pessoas, gerando efeitos
ambientais provenientes das aplicações tecnológicas e das decisões individuais.
Nesta perspectiva, observa-se que a escola ainda tem desenvolvido um
ensino caracterizado pela fragmentação do conhecimento, visto que o currículo
desenvolvido na sala de aula baseia-se ainda em uma concepção tradicional de
educação, sinalizando a existência de uma dicotomia entre as disciplinas sociais
e naturais. Conforme as orientações curriculares nacionais para o ensino médio,
cada componente curricular tem sua razão de ser, seu objeto de estudo, seu
sistema de conceitos e seus procedimentos metodológicos, associados a
atitudes e valores, mas, no conjunto, a área corresponde às produções humanas
na busca da compreensão da natureza e de sua transformação, do próprio ser
humano e de suas ações, mediante a produção de instrumentos culturais de
ação alargada na natureza e nas interações sociais (BRASIL, 2006).
Mediante esta realidade, o enfoque Ciência, Tecnologia, Sociedade e
Ambiente (CTSA) tem como proposta a abordagem dos conteúdos, mediante o
ensino de temas sociocientificos, contextualizados, transversais e
interdisciplinares, associados com a formação para o exercício da cidadania, a
fim de introduzir o educando na reflexão e apropriação dos conhecimentos
científicos, tecnológicos e conectados ao contexto social dos mesmos.
O movimento mundial CTS teve seu início em 1970, tendo sido
introduzido no ensino de ciências em vários países, incentivando a capacidade
de tomada de decisão do estudante, e também o desenvolvimento do currículo,
a partir da interdisciplinaridade e desenvolvimento de temas sociais, que
possibilitem o ensino por meio da reflexão histórica e filosófica da ciência e
sociedade (Santos e Schnetzler, 2003). Dessa forma este trabalho objetivou
apresentar uma revisão literária da inter-relação Ciência-Tecnologia-Sociedade-
Ambiente nos artigos publicados na Revista Ciência e Educação, no período de
2004 a 2014.

1.1. Uma breve revisão do ensino CTSA e a educação escolar

Santos e Schnetzler (2003) apontam para a necessidade da participação


ativa dos indivíduos na sociedade. No qual os autores destacam que, além da
educação para o conhecimento e o exercício dos direitos, por meio do
desenvolvimento da capacidade de julgar, é necessário uma conscientização
dos educandos quanto aos seus deveres na sociedade. Portanto, uma educação
que leve em consideração os assuntos comunitários de forma que assuma uma
postura de comprometimento com a busca conjunta de solução para os
problemas existentes.
De acordo com estes aspectos do currículo desenvolvido na escola,
Morim (2000) explicita que as disciplinas têm sido trabalhadas de forma
fragmentada pelos sistemas de ensino, e aponta para a efetuação de progressos
gigantescos nos conhecimentos no âmbito das especializações disciplinares,

72
durante o século XX. Enquanto Chassot (2008) reforça que é preciso dizer o
quanto a divisão em Ciências Naturais e Ciências Humanas parecem
inadequadas, pois a Química, a Física, a Biologia e mesmo a Matemática são
também Ciências Humanas, porque são constructos estabelecidos pelos
homens, mesmo sabendo que não seja esse o cerne para o estabelecimento da
classificação.
Desse modo, Santos (2008) propôs um novo paradigma referente a
ciências, baseando-se em três questões centrais: a não distinção das ciências
naturais e das ciências sociais; todo conhecimento é local e total, tendo em vista,
o conhecimento tanto fazer parte do globo ou dos conhecimentos universais,
como de uma realidade em específico, ou seja, do transdisciplinar ao
individualizado; e por fim, a prática de um diálogo entre o conhecimento do senso
comum e o conhecimento científico, tendo em vista, a valorização e o
reconhecimento dos conhecimentos construídos no meio social que o sujeito
está inserido. Dessa forma, esse autor propõe a negação do conhecimento
científico como dogmático, mas algo construído historicamente, como uma
representação da realidade construído em um tempo e um espaço, algo possível
de ser questionado, de ser reconstruído de ser inovado.
Nessa perpectiva, o enfoque CTSA, também contribui para a inclusão dos
cidadãos por meio da promoção da alfabetização científica, para o exercicio da
cidadania. Chassot (2008) defende que quando se considera a ciência uma
linguagem, pode-se antecipar que, esta ralfabetizado cientificamente é saber ler
esta linguagem. Assim, um analfabeto científico é aquele que não sabe ler a
linguagem da natureza.
Segundo Brito e Purificação (2008), no contexto atual a educação, como
as demais organizações, está sendo muito pressionada por mudanças, portanto,
devemos todos (re)aprender a conhecer, a comunicar, a ensinar; a integrar o
humano e o tecnológico e integrar o individual, o grupo e o social. Para estes a
alfabetização e educação científica não acontece por meio do simples contato
coma natureza, mas por meio da mediação pedagógica do professor entre o
educando e o objeto de conhecimento, dando-se ênfase do papel dos sistemas
de ensino e a função da escola em uma perspectiva crítica e humana de
educação.

2. METODOLOGIA

Essa pesquisa foi realizada em uma abordagem qualitativa, por meio de


uma revisão de literatura, feita no banco de dados da Revista Ciência e
Educação (RCE). Esse periódico foi escolhido devido ser uma revista renomada,
e possuir conceito qualis A1 apresentando trabalhos com temas relevantes e de
impacto social referente ao Ensino de Ciências. Dessa forma, foi realizado um
levantamento dos artigos em relação à temática CTSA publicados nessa revista,
no período de 10 anos, de 2004 a 2014. Primeiramente foram analisados os

73
resumos de 491 artigos, em que foram selecionados 16 artigos. Para a seleção
dos artigos usou-se como critério de inclusão analisar os que contivessem os
termos CTS ou CTSA.
Utilizou-se para inferência de dados, o método de análise dos conteúdos
(AC), em que se extraem dos textos unidades de significação para a elaboração
de categorias de análise. Para Bardin (2011), a AC designa um conjunto de
técnicas de análise das comunicações visando a obter, por procedimentos
sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores
que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de
produção/recepção destas mensagens. Além da AC, os dados foram
organizados de acordo com a orientação dos descritores de Megid Neto (1999),
organizando-se as categorias em: ano de publicação; nível escolar abrangido;
focos temáticos metodologias de pesquisa; e concepções convergentes do
enfoque CTSA.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Mediante a análise das publicações, verificou-se que o número de


publicações referente à temática CTSA oscilou entre 1 a 2 por ano (Figura 1),
sendo que em 2006 não foi realizado publicações na temática, e em 2014 foram
publicados três artigos que tratavam desse tema. Evidenciando-se que a
pesquisa referente à temática CTSA, ainda está em processo de crescimento
nas publicações da revista, mesmo sendo uma temática bastante relevante. As
áreas de concentração abrangidas foram 4: ensino de Ciências (6); ensino de
Física (3); educação científica e tecnológica (5); ensino de Química (2) (Figura
2).

QUANTIDADE DE ARTIGOS POR ANO


Quantidade de Artigos

2 2 2 2

1 1 1 1 1

2004 2005 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Ano de publicação

Figura 1: Publicação de artigos por ano.

74
Quantidade de Artigos
ARTIGOS POR ÁREA DE CONCENTRAÇÃO

6 5
3 2

Ensino de Ciências Educação Científica e Ensino de Física Ensino de Química


Tecnológica

Área de Concentração

Figura 2: Distribuição de artigos por área de concentração.

Ao analisar esses dados, percebeu-se um número maior de publicações


de artigos nas áreas de Ensino de Ciências e Educação Científica e Tecnológica.
Nessas áreas têm sido desenvolvidas pesquisas com foco na abordagem CTSA,
tendo essas pesquisas expandido no Brasil, visto que tais temáticas dialogam
diretamente com as propostas curriculares, como os Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCN) e as Orientações Curriculares Nacionais. Nessa perspectiva,
aprender ciências tem como finalidade reconhecer a natureza do conhecimento
científico e o desenvolvimento tecnológico, compartilhando e articulando
linguagens e modelos que compõem cada cultura científica, estabelecendo
mediações capazes de produzir o conhecimento escolar, na inter-relação
dinâmica de conceitos cotidianos e científicos diversificados que incluem o
universo cultural da ciência Química (BRASIL, 2006).
Em relação aos níveis de ensino abrangidos pelos artigos (Figura 3),
observaram-se mais pesquisas no ensino médio, com 06 publicações, seguido
do nível do ensino fundamental com 04 artigos publicados. Foram encontrados
03 artigos que eram resultados de pesquisa bibliográfica, no qual não focaram
nenhum nível de ensino.

ARTIGOS POR NÍVEL DE ENSINO


Quantidade de Artigos

6
4
3
2
1

Ensino Ensino Médio Educação de Educação Não informado


Fundamental Jovens e Superior
Adultos

Nível de Ensino

Figura 3: Artigos por nível de ensino abrangido.

75
Quanto aos focos temáticos (Figura 4), foram organizados da seguinte
forma: formação continuada; conteúdo e método; formação de conceitos;
currículo e programas; História e Filosofia das ciências. Os focos temáticos mais
abordados foram: conteúdo e método, que diz respeito ao ensino de temas
educativos na perspectiva CTSA, e a formação de conceitos por determinados
segmentos escolares e sociais. Para Pozo e Crespo (2009) aprender ciência é
um exercício de comparar e diferenciar modelos, não de adquirir modelos
absolutos e verdadeiros. O autor coloca que a ciência deve ser ensinada como
um saber histórico e provisório, tentando fazer com que os alunos participem.
Na forma de abordar o aprendizado como um processo construtivo, de busca de
significados e de interpretação.
Quantidade de Artigos

ARTIGOS POR FOCO TEMÁTICO

4 4
3
2 2
1

Contéudo e Formação de História das Formação Currículo e Filosofia das


Método Conceitos Ciências Continuada Programas Ciências

Focos Temáticos

Figura 4: Produção de artigos por foco temático.

Verificaram-se ao estudar os artigos diversos caminhos metodológicos


(Figura 5), sendo a abordagem qualitativa e bibliográfica as mais frequentes. A
entrevista foi o procedimento de coleta de dados (Figura 6) mais utilizado. Alguns
procedimentos metodológicos não foram possíveis de serem detectados nos
artigos, pois não estavam explícitos no texto.

ARTIGOS POR PERSPECTIVA DA PESQUISA


Quantidade de Artigos

4
3 3
2
1 1 1 1

Perspectiva da Pesquisa

Figura 5: Artigos por perspectiva da pesquisa.

76
ARTIGOS POR PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS

Quantidade de Artigos
6
4
3 3
2 2 2 2
1 1 1 1 1 1

Procedimento de Coleta de Dados


Figura 6: Produção de artigos por métodos de coleta de dados.

ARTIGOS POR ANÁLISE E APRESENTAÇÃO DE DADOS


Quantidade de Artigos

3
2 2
1 1 1 1

Análise de Perspectiva Análise Etnografia Modelagem Software Escala Likert Sem


conteúdo do discurso indutiva interacional de equações PAJEK descrição
estruturais
Análise e Apresentação de Dados

Figura 7: Produção de artigos por métodos de análise de informações.

No que diz respeito às concepções convergentes do enfoque CTSA


identificadas nas produções estudadas, essas acordavam em relação à
importância da abordagem do conteúdo de forma integrada e desenvolvimento
de temas sociais, relacionados com o cotidiano do educando. Santos e
Schnetzler (2003) esclarecem que os conteúdos dos cursos CTS implicam na
inclusão de temas sociais, que objetivam a contextualização do conteúdo e
permitem o desenvolvimento das habilidades essenciais do cidadão.
E por fim, a análise dos artigos evidenciou a relevância do papel do
professor para a consolidação da proposta CTSA, por meio da inovação de sua
prática pedagógica. Para Driver et al. (1999) as entidades ontológicas e
conceitos organizadores, assim como a epistemologia e as práticas das ciências
a eles relacionadas, dificilmente serão descobertas por indivíduos, através de
suas próprias observações do mundo natural, sendo necessária a atuação do
professor como intermediador nesse processo.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo evidencia, que a educação CTSA, tem se consolidado como

77
área de interesse para investigação nestes últimos anos, abrangendo diversos
focos temáticos, nos diferentes níveis de ensino. Os artigos estudados
apresentaram uma proposta de ensino das ciências por meio de uma concepção
divergente do currículo e estratégias de ensino. Como resultado verificou-se que
são muitos os desafios da educação CTSA, e que os pressupostos dessa
abordagem dialogam com as orientações curriculares nacionais. Sendo assim,
essas produções, de fácil acesso por meio da página eletrônica da revista
disponível na internet, são relevantes para o tratamento dessa temática e a
formação do professor, pois apresentam estratégias alternativas da abordagem
CTSA, mediante a contextualização e interdisciplinaridade dos conteúdos das
áreas das ciências para a formação da cidadania.
O estudo investigativo desta temática foi relevante, pois seu resultado
servirá como suporte teórico para o desenvolvimento de outras pesquisas
referente à proposta CTSA e também apontam para a necessidade da
capacitação contínua dos professores para a abordagem CTSA, para o domínio
de conhecimentos científicos e tecnológicos, pois o meio social está em
constante mudança, e a escola e os profissionais da educação não podem
estarem alheios a estas informações e competências.

AGRADECIMENTOS

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior


(CAPES) pelas bolsas de mestrado e doutorado concedidas.

REFERÊNCIAS

BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo. Ed. 70. São Paulo, 2011.

BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Orientações Curriculares para o


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pensar. 2ª Ed. Curitiba: Ibpex, 2008.

CHASSOT, A. Sete escritos sobre educação e ciência. São Paulo: Cortez,


2008.

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escola, n.9, p. 31-40, mai de 1999.
MORIN, E. Setes saberes necessários para a educação do futuro. 2ª ed.

78
São Paulo: Cortez, 2000.

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ciências do nível Fundamental. Campinas, 1999. Tese (Doutorado em
Educação). Universidade Estadual de Campinas.

POZO, J. I.; CRESPO, M. Á. G. A aprendizagem e o ensino de Ciências: Do


conhecimento cotidiano ao conhecimento científico. 5ª Ed. Porto Alegre:
Artimed, 2009.

SANTOS, B. S. Um discurso sobre as ciências. Ed. São Paulo: Cortez, 2008.

SANTOS, W. L. P.; SCHNETZLER, R. P. Educação Química: Compromisso


com a cidadania. 3ª ed Ijuí: Editora UNIJUÍ, 2003.

ABSTRACT: This work presents a review of the thematic Science-Technology-


Society-Environment in articles published from 2004 to 2014 in the Journal
“Ciência e Educação” (qualis A1). To this end we carried out a survey of articles
from key words and reading the abstracts. Using the content analysis was done
reading the full text, selecting the units of meaning, and are based on descriptors
also characterized by Megid Neto. Met a total of 16 articles where it was found
that the assumptions of this approach dialogue with national curriculum
guidelines, however, it is important that teachers of basic education to experience
such proposals. Although few productions related to the CTSA approach have
been observed in the reviewed journal, this approach to teaching / learning sets
as a bias for interdisciplinarity and contextualization of the teaching of natural
sciences and humanities through social themes studies for the formation of
citizen and social inclusion.
KEYWORDS: STSE, Magazine Science and Education, Science education,
Chemistry Teaching.

79
Capítulo VII

ENSINO E APRENDIZAGEM POR MODELAGEM:


UMA REFLEXÃO SOBRE A LITERATURA
RECENTE
__________________________________________

Eloisa Cristina Gerolin


Sílvia Luzia Frateschi Trivelato

80
ENSINO E APRENDIZAGEM POR MODELAGEM: UMA REFLEXÃO SOBRE
A LITERATURA RECENTE

Eloisa Cristina Gerolin


Universidade de São Paulo - Programa de Pós-Graduação Interunidades em
Ensino de Ciências - São Paulo-SP
Sílvia Luzia Frateschi Trivelato
Universidade de São Paulo - Faculdade de Educação - São Paulo-SP

RESUMO: Neste trabalho realizamos um levantamento da literatura recente que


utiliza o ensino e a aprendizagem por modelagem em suas pesquisas afim de
conhecer aspectos e tendências dos estudos dessa área e realizar uma reflexão
sobre estes. Identificamos trabalhos publicados entre 2011-2015 em periódicos
nacionais e internacionais, utilizando os termos de busca “modelagem” e
“modelling”. A busca foi realizada no Portal de Periódicos da CAPES, no Portal
de Revistas do SIBi (Sistema Integrado de Bibliotecas) da Universidade de São
Paulo e nas atas do IX ENPEC. Consideramos como objeto deste trabalho seis
artigos, dos quais fizemos uma breve síntese e discussão. Os artigos analisados
nos mostraram a importância das atividades de modelagem como ferramenta
para o entendimento da construção de significados em sala de aula, para a
compreensão de professores e estudantes acerca da natureza da ciência, na
formação de professores e em outros campos da educação em ciências.
PALAVRAS CHAVE: revisão da literatura, modelagem, ensino e aprendizagem

1. INTRODUÇÃO

O ensino e a aprendizagem por modelagem representa uma linha de


pesquisa relevante, assim, neste estudo, realizamos um levantamento da
literatura mais recente que utiliza o ensino e a aprendizagem por modelagem em
suas pesquisas e que o relaciona com diferentes áreas da educação em ciências
afim de conhecer aspectos e tendências dos estudos nesta área e realizar uma
reflexão sobre essas pesquisas. Nosso levantamento bibliográfico buscou por
estudos publicados entre 2011 e 2015 em periódicos e atas de eventos
relevantes da área. Considerando nossos objetivos e limitações, selecionamos
para essa revisão seis trabalhos, usando como principal critério de seleção
trabalhos que relacionassem a atividade de modelagem com outros aspectos da
educação em ciências, priorizando-se produções/autores nacionais, afim de
conhecer um pouco mais os estudos nessa área na educação em ciências no
Brasil. Assim, consideramos como objeto deste trabalho esses seis artigos, dos
quais fizemos uma breve síntese e discussão.

81
2. REFERENCIAL TEÓRICO

A aprendizagem pode ser compreendida como um processo que se dá


por meio de interações entre experiências e ideias dos estudantes, que podem
ser trabalhadas e comunicadas através da atividade de modelagem (LOUCA;
ZACHARIA, 2011). A modelagem é uma atividade própria das ciências da
natureza; na Física, temos modelos explicativos para fenômenos como a
gravidade, o calor, a dilatação; na Química utilizam-se modelos para representar
a estrutura de um átomo, de uma ligação química, de partículas, entre outros; no
caso da Biologia, temos os modelos de crescimento populacional, o modelo de
célula, os modelos de biodiversidade, do fluxo de energia, das teias e cadeias
alimentares etc.
Os modelos são recursos muito utilizados na ciência, pois possibilitam a
representação de objetos, sistemas, fenômenos e são usados para produzir
explicações e predições (SCHWARZ et al, 2009; LOUCA; ZACHARIA, 2011;
SVOBODA; PASSMORE, 2011). Para Gilbert, Boulter e Elmer (2000), os
modelos são representações parciais de um objeto, evento, processo ou ideia
que apresente uma finalidade específica. Para Tiberghien (2000), a atividade de
modelagem consiste em explicações, interpretações e previsões de situações no
mundo material elaboradas por uma pessoa ou por um grupo de pessoas. Essas
explicações, interpretações e predições envolvem, na maior parte do tempo, ou
eventos observáveis, e/ou parâmetros físicos, e/ou relações entre eles
(TIBERGHIEN, 2000).
Para Maia e Justi (2011) a modelagem é um processo que caracteriza-se
pelo ato de selecionar, interpretar, compreender e integrar aspectos relevantes
de fenômenos, eventos e ideias através da criação, teste e reformulação de
modelos afim de descrever, explicar e elaborar predições para estes. Assim, a
modelagem pode ser vista como uma atividade inerente do ser humano, pois
este constrói modelos para representar aspectos do mundo em que vive afim de
usar tais modelos para pensar, planejar e tentar explicar eventos desse mundo
(SOUZA; JUSTI, 2012).

3. METODOLOGIA

Visando nossos objetivos, fizemos uma identificação de trabalhos


publicados nos periódicos Revista Electrónica de Enseñanza de las Ciencias,
International Journal of Science Education, Science Education e Ciência &
Educação; também consideramos trabalhos publicados nas atas do IX ENPEC.
Para a identificação desses trabalhos, utilizamos em nossa busca os termos
“modelagem” e “modelling”. A busca foi realizada no Portal de Periódicos da
CAPES, no Portal de Revistas do SIBi (Sistema Integrado de Bibliotecas) da
Universidade de São Paulo e no site da ABRAPEC.O levantamento obtido
mostrou um número elevado de artigos, conforme apresentamos na tabela 1,

82
dos quais selecionamos seis afim de conhecer alguns aspectos e tendências das
pesquisas para a revisão de literatura deste trabalho.

Fonte Número tde trabalhos encontrados na


pesquisa pelos termos “modelling” ou
“modelagem” no período 2011-2015
Atas do IX ENPEC 4
International Journal of Science Education 531
Revista Electrónica de Enseñanza de las 9
Ciencias
Science Education 218
Ciência & Educação 5
Tabela 1: Total de artigos encontrados por periódico através dos termos “modelling” e
“modelagem no período 2011-2015.

Os critérios utilizados para a seleção dos seis artigos desta revisão estão
listados abaixo:
 Definição de modelagem compatível com as adotadas em nossos
referenciais teóricos;
 Trabalhos publicados entre os anos de 2011 e 2015;
 Artigos que utilizam a modelagem em diferentes áreas do
conhecimento das Ciências da Natureza e da educação em Ciências;
 Origem das produções: nacionais e internacionais; autores/produções
nacionais foram priorizados devido ao nosso interesse de conhecer
mais a fundo os estudos de ensino-aprendizagem por modelagem no
Brasil.
 Diferentes tipos de fontes: periódicos e trabalhos publicados em
eventos; ao menos um artigo de cada periódico selecionado.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após o levantamento da literatura, consideramos como objeto deste


trabalho seis artigos, listados abaixo, dos quais nós faremos uma breve síntese
e discussão. A escolha desses seis artigos justifica-se pelo fato de procurarmos
trabalhos que fizessem a relação da atividade de modelagem com outros
aspectos da educação em ciências e em diferentes áreas das Ciências da
Natureza. Os trabalhos aqui revisados representam um primeira seleção devido
à limitação de tempo e de espaço para a inclusão de outros estudos. Além disso,
priorizou-se a seleção de pelo menos um trabalho de cada periódico e a busca
por produções/autores nacionais, afim de conhecer um pouco mais os estudos
nessa área na educação em ciências no Brasil.
 CAMPBELL, T.; OH, P.S.; NEILSON, D. Discursive modes and their

83
pedagogical functions in model-based inquiry (MBI) classrooms.
International Journal of Science Education, v. 34, n. 15, 2012, p. 2393-
2419.
 MANZ, E. Understanding the codevelopment of modeling practice and
ecological knowledge. Science Education, v. 96, n. 6, 2012, p. 1071-
1105.
 MENDONÇA, P. C. C.; JUSTI, R. The relationships between modelling
and argumentation from the perspective of the model of modelling
diagram. International Journal of Science Education, v. 35, n. 14, 2013,
p. 2407-2434.
 PAGANINI, P.; JUSTI, R.; MOZZER, N. B. Mediadores na
coconstrução do conhecimento de ciências em atividades de
modelagem. Ciência & Educação, v. 20, n. 4, 2014, p. 1019-1036.
 SOUZA, V. C. A.; JÚNIOR, O. G. A. Mediação do conhecimento
científico em sala de aula e construção social de modelos no processo
de formação inicial dos professores de Química. In: Encontro Nacional
de Pesquisa em Educação em Ciências, Águas de Lindóia, 2013. Atas
do IX ENPEC.
 SOUZA, V. C. A.; JUSTI, R. Diálogos possíveis entre o ensino
fundamentado em modelagem e a História da Ciência. Revista
Electrónica de Enseñanza de las Ciencias, v. 11, n. 2, 2012, p. 385-
405.

Síntese dos artigos selecionados

No trabalho de Souza e Justi (2012), os autores utilizam aspectos


históricos na elaboração e análise de uma unidade didática baseada no
Diagrama Modelo de Modelagem (JUSTI; GILBERT, 2002), cuja temática foi a
energia envolvida nas transformações químicas. A pesquisa foi conduzida em
formato de estudo de caso e realizada em uma turma de 20 alunos com faixa
etária ente 16-19 anos. Os dados foram coletados através de filmagens e de
notas de campo. Os resultados do trabalho destacam que as atividades e as
discussões favoreceram a modificação de modelos substancialistas e
mecanicistas para o calor envolvido nos processos químicos e que foi possível
identificar etapas específicas das atividades de ensino que favoreceram a
expressão e modificação de elementos desses modelos.
Paganini, Justi e Mozzer (2014) utilizam atividades de modelagem na
temática de ensino de solubilidade para analisar como diferentes mediadores
podem favorecer a construção de conhecimento pelos estudantes por meio do
processo de co-construção. As atividades baseadas em modelagem foram
desenvolvidas a partir da perspectiva do Diagrama Modelo de Modelagem
(JUSTI; GILBERT, 2002), com alunos de faixa etária de 15-16 anos que
cursavam os níveis de Ensino Fundamental ou Médio. Os dados foram coletados

84
através de gravações e filmagens. Com essa pesquisa as autoras identificaram
como os mediadores contribuíram para o processo de co-construção do
conhecimento durante a realização das atividades de modelagem, ressaltando-
se a posição do professor, que favoreceu as interações em sala de aula ao
questionar as ideias prévias dos estudantes, reproduzir o experimento empírico
e questionar os estudantes sobre o entendimento de evidências empíricas.
Em sua pesquisa, Souza e Júnior (2013) empregaram atividades de
modelagem na formação inicial de professores de química, através da discussão
de uma sequência didática também baseada no Diagrama Modelo de
Modelagem (JUSTI; GILBERT, 2002), na qual os licenciandos se engajaram na
construção de modelos para explicar a energia envolvida nas transformações
químicas. Os dados foram coletados através de filmagem das aulas e de material
escrito pelos licenciandos, que posteriormente foram transcritos e analisados. As
conclusões desse estudo apontaram a importância de se abordar na formação
inicial de professores de ciências questões relativas à mediação pedagógica,
favorecendo assim uma melhor articulação do conhecimento científico em sala
de aula.
Campbell, Oh e Neilson (2012) investigaram os modos discursivos e suas
funções pedagógicas em aulas de ciências através de atividades de modelagem
baseadas em investigação (“model based-inquiry” - MBL). O estudo tratou do
módulo instrucional energia eletrostática, no qual o professor orientou os alunos
a criar modelos para explicar fenômenos de eletricidade estática. A pesquisa foi
realizada em duas salas de aula de física do ensino médio, com estudantes de
faixa etária entre 14-18 anos. As aulas foram gravadas em vídeo e as análises
visaram identificar os tipos mais presentes de sequências de modos discursivos
e interpretar as suas funções pedagógicas no contexto da modelagem baseada
em investigação. Os resultados desse estudo indicaram que “explorar” era um
dos modos discursivos mais utilizados nas aulas de modelagem baseada em
investigação. Os autores concluíram que as sequências discursivas de explorar-
recuperar e explorar-negociar foram utilizadas pelo professor para guiar os
alunos no processo de modelagem e para alinhar os seus modelos com o
conhecimento canônico da ciência, o que mostra a importância do papel do
professor na condução e mediação das atividades e conhecimentos trabalhados.
As relações entre argumentação e modelagem são objeto de estudo do
trabalho de Mendonça e Justi (2013). O estudo discutiu a relação entre
modelagem e argumentação através da análise de dados obtidos durante o
ensino baseado na modelagem de ligação iônica e interações intermoleculares,
em uma sequência didática que utilizou como abordagem o Diagrama Modelo
de Modelagem (JUSTI; GILBERT, 2002). As autoras tinham como objetivos
identificar em que fases do processo de modelagem os alunos são envolvidos
em situações argumentativas e quais são as funções das situações
argumentativas em cada uma das etapas. Os dados foram coletados por meio
de gravações em vídeo em uma sala de aula com 38 alunos entre a faixa etária
de 16-18 anos. As gravações foram transcritas, incluindo os gestos. As autoras

85
concluíram que situações argumentativas podem ocorrer em todas as etapas do
ensino baseado na modelagem, e que em atividades relacionadas com a
produção e expressão de um modelo, as situações argumentativas estão mais
relacionadas com a construção de explicações do que com a persuasão. Esta é
mais frequente em situações argumentativas que ocorreram em atividades
relacionadas com teste e avaliação de um modelo. As autoras também
concluíram que as representações foram importantes recursos no processo
argumentativo, principalmente nos momentos em que os alunos visavam
visualizar algo e construir explicações.
Com relação a trabalhos que utilizam a modelagem no ensino de biologia,
Manz (2012) apresenta um estudo em que relata uma co-construção de práticas
de modelagem e conhecimento ecológico. A concepção de atividade de
modelagem adotada neste estudo inclui 4 etapas: fazendo o modelo, elaboração
do sistema modelo, reivindicações no sistema modelo e compreensão das
implicações. Nessas etapas estão envolvidas várias atividades como a
proposição de perguntas, criação de analogias e argumentação. Nesse estudo,
Manz menciona que a argumentação faz parte do processo de modelagem,
principalmente na etapa de elaboração do sistema modelo. O estudo foi
realizado com 17 alunos durante cerca de 40 aulas com duração de 1h/1h30
cada. A metodologia de pesquisa consistiu em pré e pós-entrevistas
semiestruturadas que foram gravadas em áudio e transcritas. Os resultados da
investigação mostraram que alunos do ensino fundamental devem ser apoiados
para participar de práticas científicas relativamente complexas para desenvolver
a compreensão conceitual, ao invés de primeiro ser ensinado os conceitos de
forma isolada da prática. O autor também concluiu que por meio de ciclos
interativos de construção, implementação e avaliação do modelo, os alunos
podem desenvolver ideias mais sofisticadas sobre a temática estudada. Além
disso, o autor sugere que que o uso de modelos e representações pode facilitar
o desenvolvimento de conceitos disciplinares.

Discussão dos artigos selecionados

Em todos os trabalhos analisados nesta revisão, pudemos perceber que


a atividade de modelagem representa uma ferramenta importante nas atividades
de ensino-aprendizagem, funcionando como mediadora na construção do
conhecimento conceitual e epistemológico científico.
A concepção de modelagem expressa em 4 dos 6 estudos analisados
(SOUZA; JUSTI, 2012; MENDONÇA; JUSTI, 2013; SOUZA; JÚNIOR, 2013;
PAGANINI, JUSTI, MOZZER, 2014) está relacionada com o Diagrama Modelo
de Modelagem proposto por Justi e Gilbert (2002), no qual a modelagem
caracteriza-se por possuir quatro estágios principais: produção do modelo
mental, expressão do modelo, testes do modelo e avaliação do modelo. A
concepção de modelagem adotada por Manz (2012) também engloba 4 etapas,

86
sendo estas: fazendo o modelo, elaboração do sistema modelo, reivindicações
no sistema modelo e compreensão das implicações do modelo. Já o estudo de
Campbell, Oh, Nielson (2012) tem como concepção de modelagem o “model
based-inquiry” no qual os estudantes são envolvidos em atividades de
investigação através da exploração de fenômenos e construção e reconstrução
de modelos.
No contexto da modelagem no ensino por investigação, além do “model
based-inquiry” (MBI) adotado por Campbell, Oh e Nielson (2012), também
encontramos essa relação em outros dois trabalhos (MANZ, 2012; MENDONÇA;
JUSTI, 2013), o que nos mostra que as etapas dos processos de modelagem
podem vir a estabelecer relações e serem articuladas com abordagens didáticas
de caráter investigativo.
Ainda no contexto das abordagens investigativas, a modelagem
estabelece relações com a argumentação, seja em todas as etapas da atividade
(MENDONÇA; JUSTI, 2013) ou em uma etapa específica (MANZ, 2012). No
processo de modelagem os estudantes têm de justificar suas predições,
defender suas interpretações e outras competências relacionadas a seus
modelos, e isso muitas vezes envolve o engajamento com a argumentação.
Considerando que os modelos são muito utilizados na ciência, e que as
etapas do processo de modelagem trabalham com competências da prática
científica (elaboração de predições e testes, por exemplo), engajar os
professores e estudantes na participação das etapas das atividades de
modelagem representa um forma de fazer com que estes desenvolvam uma
maior compreensão sobre a natureza da Ciência. Além disso, conhecendo o
processo de modelagem e relacionando este com a História das Ciências, é
possível trazer para a sala de aula a historicidade da produção de vários modelos
científicos, promovendo uma maior compreensão sobre tais modelos. Vimos
estes aspectos no trabalho de Souza e Justi (2012).
Com relação ao papel do professor, seja atuando em sala de aula
(CAMPBELL; OH; NIELSON, 2012; PAGANINI; JUSTI; MOZZER, 2014) ou em
processos formativos (SOUZA; JÚNIOR, 2013), vemos que as ações destes
desempenham papel fundamental como mediadoras e condutoras no processo
de construção de significados em sala de aula.
Partindo para as metodologias de coleta de dados para pesquisa, nos
trabalhos deste levantamento foram utilizados os seguintes métodos: filmagem,
gravação de áudios, análise de materiais escritos, anotações de campo, pré e
pós testes entre outros. A filmagem foi o método mais utilizado na maioria dos
estudos.
De forma geral, os trabalhos analisados neste levantamento nos
mostraram que as atividades de modelagem podem ser articuladas e
contextualizadas com outras áreas e aspectos da educação em ciências como a
formação de professores, o ensino por investigação, o papel do professor e de
diferentes mediadores na condução da construção de significados e a
argumentação no ensino de ciências.

87
5. CONCLUSÃO

Todos os artigos têm como ponto em comum a concordância de que a


modelagem é uma atividade que contribui significativamente para a construção
de significados atuando como mediadora nos processos de ensino e
aprendizagem. Nos trabalhos de Mendonça e Justi (2013), Paganini, Justi e
Mozzer (2014), Souza e Júnior (2013) e Souza e Justi (2012) as atividades de
ensino aplicadas nas pesquisas basearam-se no diagrama Modelo de
Modelagem proposto por Justi e Gilbert (2002). Nas conclusões dos estudos de
Campbell, Oh e Neilson (2012) e de Paganini, Justi e Mozzer (2014) estes
destacam a importância do papel do professor na condução das atividades de
modelagem, visto que este traz para a sala de aula questões que propiciam a
discussão e a expressão dos modelos consolidados pelos alunos, além de
auxiliar no alinhamento de tais modelos com conceitos cientificamente válidos.
Já no estudo de Manz (2012) e Mendonça e Justi (2013) vemos as
relações entre a modelagem e a argumentação. Em ambos os trabalhos os
autores defendem que a argumentação faz parte do processo de modelagem.
Além disso, na coleta de dados dos estudos analisados neste trabalho,
encontramos uma diversidade de métodos como filmagem, gravação de áudios,
análise de materiais escritos, anotações de campo entre outros.
O método de coleta de dados mais utilizado nestes trabalhos foi a
filmagem. Os artigos analisados nos mostram a importância das atividades de
modelagem como ferramenta para o entendimento da construção de significados
em sala de aula, para a compreensão de professores e estudantes acerca da
natureza da ciência, no processo de formação de professores e outros campos
da educação em ciências. Neste primeiro levantamento encontramos menos
pesquisas em ensino por modelagem no ensino de biologia do que no de física
e química. Os referenciais apresentados neste estudo representam um primeiro
levantamento, assim ressaltamos que ainda estamos trabalhando na literatura
afim de ampliar e complementar nossa compreensão sobre aspectos da
modelagem na educação em ciências.

REFERÊNCIAS

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pedagogical functions in model-based inquiry (MBI) classrooms. International
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BOULTER, C. J. (Org) Developing models in science education. Dordrecht:
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MILLAR, R.; LEACH, J.; OSBORNE, J. (Ed.). Improving science education:
the contribution of research. Buckingham/Philadelphia: Open University
Press, 2000. cap 2, p. 27-47.

89
ABSTRACT: In this paper we conducted a survey of the recent literature that
uses the teaching and learning by modeling in their research in order to know
aspects and trends of studies in this area and carry out a reflection on these. We
identify studies published between 2011-2015 in national and international
journals, using the search terms "modelagem" and "modelling". The search was
conducted in the CAPES Journal Portal, the SIBi Journals Portal (Integrated
Library System), University of São Paulo and in the minutes of the IX ENPEC.
Considered as the object of this work six articles of which made a brief summary
and discussion. The articles analyzed have shown us the importance of modeling
activities as a tool for understanding the construction of meanings in the
classroom, to the understanding of teachers and students about the nature of
science, teacher education and other fields of science education.
KEYWORDS: literature review, modelling, teaching and learning.

90
Capítulo VIII

UM MAPEAMENTO DOS TRABALHOS SOBRE


LIVROS DIDÁTICOS NOS ENPEC
__________________________________________

Saul Benhur Schirmer


Inés Prieto Schmidt Sauerwein

91
UM MAPEAMENTO DOS TRABALHOS SOBRE LIVROS DIDÁTICOS NOS
ENPEC

Saul Benhur Schirmer


Universidade Federal de Santa Maria, Programa de Pós-Graduação em
Educação em Ciências
Santa Maria – Rio Grande do Sul
Inés Prieto Schmidt Sauerwein
Universidade Federal de Santa Maria, Departamento de Física
Santa Maria – Rio Grande do Sul

RESUMO: O presente trabalho apresenta um mapeamento dos trabalhos


relacionados a Livros Didáticos (LD) nas nove edições do Encontro de Pesquisa
em Educação em Ciências (ENPEC) realizadas até o ano de 2013. Para realizar
a pesquisa foram percorridas todas as atas e selecionados os trabalhos sobre
LD. Essas publicações compuseram o corpus da análise que se deu em duas
etapas. A primeira em termos dos níveis de ensino e das disciplinas
relacionados aos trabalhos. E a segunda da relação destes com o LD mediante
a composição de categorias de classificação a partir da análise dos trabalhos
selecionados. Os resultados apontam a prevalências de trabalhos relacionados
à educação básica e de análise de aspectos conceituais nos LD.
PALAVRAS CHAVE: Livro Didático, Enpec, Mapeamento.

1. INTRODUÇÃO

Para Munakata (2002) o Livro Didático (LD) faz parte da vida escolar
desde que a escola é escola. Segundo o autor, o surgimento da instituição
escola nos moldes que conhecemos, nos séculos XVI-XVII, trouxe consigo uma
generalização dos conteúdos a serem ensinados, que não estariam mais
ligados ao fazer. Nesse sentido o livro passa e ser peça fundamental na
instituição escola. E desde então constitui-se em uma peça intrínseca ao
empreendimento escolar. Essas ideias apresentadas por Munakata (2002)
resumem, em grande medida, a relação e a importância desse recurso no
processo educacional.
No Brasil, o LD ganhou um novo fôlego a partir da implementação do
Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), que instituiu a distribuição
universal dos livros para alunos de escolas públicas de educação básica, em
um processo que se iniciou na década de 1990 com livros para o ensino
fundamental e foi sendo gradativamente ampliado, até atingir a distribuição a
todos os alunos nas redes de ensino credenciadas ao programa.
Paralelamente a esse processo, muitos trabalhos têm apontado um
aumento do interesse da pesquisa educacional sobre LD e das publicações

92
sobre esse tema (Fernandes, Gouvêa, 2011; Maia, Villani, 2011; Munakata,
2012). Dessa forma, as discussões sobre LD têm presença constante em
eventos da área com mesas redondas, palestras, seminários, oficinas, entre
outras atividades.
Nesse sentido, o presente trabalho procura mapear os trabalhos
apresentados no Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências
(ENPEC) que chega a sua décima edição em 2015 e configura-se como o maior
evento da área de pesquisa em Educação em Ciências do país. Foram
percorridas todas as atas das nove edições do ENPEC realizadas até 2013 com
intuito de quantificar o número de trabalhos que tratam de LD e identificar as
disciplinas e níveis de ensino contemplados, bem como categorizá-los quanto
às ênfases em suas pesquisas.

2. LEVANTAMENTO NOS ENPEC

Para realizar o levantamento foram consultadas as atas das nove


edições do ENPEC, disponibilizadas em formato digital pela ABRAPEC. Nesses
registros foram selecionados trabalhos que mencionassem os termos “livro”
“didático”, “manua” “libro” “text” (alguns termos foram utilizados
propositadamente incompletos para abranger plurais como no caso de manual
e manuais, e também termos em inglês como textbook ou textbooks). A partir
destes dados, foram selecionados os trabalhos que fossem diretamente
relacionados a LD, mediante leitura de títulos, resumo, palavras-chave e
quando necessário o trabalho completo. A partir deste levantamento, foram
identificados os níveis de ensino relacionados ao trabalho realizado e a
disciplina ou área do conhecimento associada a pesquisa realizada.
Na análise das publicações dos ENPEC, chegamos a um total de 263
trabalhos relacionados a LD, em um universo de 5360 publicações registradas
nas atas de todas as edições do ENPEC (Tabela 1). O número de trabalhos
relacionados a LD denota a importância do tema dentro da área com
praticamente 5% do total.

Edição do Total de trabalhos Relacionados a % LD em


Ano
ENPEC ENPEC LD relação ao total
I 1997 128 3 2,3
II 1999 163 8 4,9
III 2001 233 9 3,9
IV 2003 451 23 5,0
V 2005 739 28 3,8
VI 2007 669 35 5,31
VII 2009 723 38 5,3
VIII 2011 1235 70 5,7

93
IX 2013 1019 49 4,8
Totais 5360 263 4,9
Tabela 1: Trabalhos sobre LD nos ENPEC.

O que se percebe nos dados da Tabela 1 é que a porcentagem de


trabalhos sobre LD em relação ao total de trabalhos apresentados nos ENPEC
não apresenta grandes variações, isso mostra que em grande medida o número
de trabalhos sobre LD nos ENPEC tem acompanhado as variações do número
total de trabalhos do evento. Os gráficos 1 e 2 representam, respectivamente,
as variações no número total de trabalhos no ENPEC e o número de trabalhos
sobre LD nos ENPEC.

Gráfico 1: Total de trabalhos nas atas dos Gráfico 2: Trabalhos sobre LD nos ENPEC.
ENPEC.

Esses dados mostram que o aumento nos trabalhos sobre LD, apontado
na literatura (Fernandes, Gouvêa, 2011; Maia, Villani, 2011; Munakata, 2012;
Salém, 2012), também se observa nas publicações dos ENPEC. No entanto,
nesse caso, há de se ressaltar que o aumento nos trabalhos sobre LD, em
grande medida, acompanha o crescimento do número de trabalhos em ENPEC
que por sua vez se deve à consolidação e crescimento da área de pesquisa em
Ensino a partir do início do século XXI.
Quanto ao nível de ensino relacionado aos trabalhos, constatou-se que
a maioria dos trabalhos estão voltados ao Ensino Médio (EM), como se pode
constatar na Tabela 2. Cabe salientar que alguns trabalhos tratam de analisar
mais de um nível de ensino (por exemplo: Messias e Salomão, 2009) portanto
a soma do número de trabalhos dos diferentes níveis será maior que os 263
trabalhos identificados inicialmente.
Na Tabela 2 percebe-se que o as publicações analisadas privilegiam
pesquisas relacionadas a livros da educação básica, em especial o EM.
Também pode-se depreender desses dados que não há um padrão de
crescimento, estabilidade ou diminuição no número de trabalhos de cada nível
de ensino. O que se percebe é um número reduzido de trabalhos que tratam de
LD relacionados ao Ensino Superior, o que no entanto parece estar sendo

94
superado já que nas últimas três edições já foram apresentadas 14 pesquisas
relacionadas a este nível de ensino.
Já a análise da(s) disciplina(s) relacionada(s) aos trabalhos sobre LD,
cuja distribuição se apresenta na Tabela 3, aponta Ciências (refere-se à
componente curricular Ciências Naturais associada ao Ensino Fundamental)
como a principal. Em relação ao EM, os dados mostram a Biologia, sucedida
de Química e Física como as disciplinas mais presentes nas pesquisas sobre
LD.

nº Nível de ensino
Ediçã
Ano trabalhos LD SD
o EF EM ES
ENPEC nível
I 1997 128 3 3 1 - -
II 1999 163 8 6 4 - -
III 2001 233 9 7 4 - -
IV 2003 451 23 13 9 1 1
V 2005 739 28 3 23 3 2
VI 2007 669 35 9 30 1 -
VII 2009 723 38 17 17 6 -
VIII 2011 1235 70 24 39 5 6
IX 2013 1019 49 14 28 3 5
Totais 5360 263 96 155 19 14
Tabela 2: Distribuição dos trabalhos sobre LD em relação ao nível de ensino. Legenda: EF –
Ensino Fundamental; EM – Ensino Médio; SD – Sem definição de nível de ensino.

Cabe salientar que, assim como nos dados da Tabela 2, alguns trabalhos
apresentam relações com mais de uma disciplina de forma que a soma dos
totais de trabalhos relacionados a cada disciplina não resultará no total de
trabalhos sobre LD (263).

Total
Ano LD FSC QMC BIO CIE Outros
ENPEC
1997 128 3 1 - - 3 -
1999 163 8 3 1 3 2 -
2001 233 9 - 1 3 5 -
2003 451 23 2 2 5 13 1-MTM
2005 739 28 7 9 10 3 1-MTM /1-GEO
2007 669 35 10 11 10 5 -
2009 723 38 3 12 8 13 1-BIOQMC
2011 1235 70 18 9 19 22 2-GEO/ 1-FISIO/ 4-SD
2013 1019 49 7 13 12 15 1-BIOQMC/ 1-MTM/ 3-SD

95
Total 5360 263 51 58 70 81 16
Tabela 3: Distribuição dos trabalhos sobre LD e a disciplina relacionada. Legenda: FSC –
Física; QMC – Química; BIO – Biologia; CIE – Ciências; MTM – Matemática; GEO – Geografia;
BIOQMC – Bioquímica; FISIO – Fisioterapia; SD – Sem definição de área ou disciplina.

O que se se percebe na Tabela 3 é uma distribuição que contempla de


forma bastante significativa as diferentes componentes das ciências naturais na
educação básica tanto do ensino médio quanto do fundamental. Além disso,
percebe-se que há poucos trabalhos sem definição de disciplina (SD) o que
pode indicar um baixo número de pesquisas que discutam aspectos teóricos de
caráter mais geral, comuns a todos os níveis e disciplinas – no entanto verificar
isso demandaria uma investigação específica.

3. O LIVRO DIDÁTICO NAS PESQUISAS

Após esse mapeamento inicial, foi realizada a leitura dos trabalhos onde
se identificou que tipos de pesquisas são priorizadas em relação ao LD. A partir
daí foram criadas categorias para caracterizar as pesquisas sobre LD.
Conforme Bardin (1977) as categorias são rubricas ou classes que agrupam
elementos em função caracteres comuns. Nesse trabalho as categorias foram
criadas de acordo com as ênfases que os trabalhos apresentam em relação ao
LD. A seguir são descritas e exemplificadas, com alguns trabalhos, suas
características principais:
• Aspectos conceituais: abarca trabalhos que apresentam pesquisas
sobre a presença (Jacques; Milaré; Alves Filho, 2009) a abordagem (Basso;
Peduzzi, 2003), a apresentação (Pereira; Cardozo, 2005), os erros (Gardelli;
Neves, 2011), a transposição (Silva et al, 2013), entre outras características de
determinados conteúdos (entendidos como sinônimos de assuntos ou tópicos
como, por exemplo, Mecânica, Equilíbrio Químico, Valência, Evolução, Física
Moderna, Calor, entre outros) em LD. Os trabalhos classificados nessa
categoria têm em comum o fato de a análise do conteúdo conceitual científico
ser predominante no trabalho.
• Inovações, recursos, estratégias e formas de abordagem nos LD:
apresenta trabalhos que analisam ou discutem a presença de recursos
didáticos e das tendências da área de ensino propostas em diferentes linhas de
trabalho como Experimentação, História e Filosofia da Ciência, Resolução de
Problemas, Analogias, Ciência Tecnologia e Sociedade, entre outras (Souza
Filho; Grandini, 2003; Silva; Neto; Malta, 2003; Nagem; Marcelos, 2005; Sepini;
Cabral; Maciel, 2013).
• Aspectos linguísticos: nessa categoria foram agrupados trabalhos sobre
análise de diversos aspectos relacionados a linguagem, tais como análises de
imagens, discurso, diagramas, gráficos e outras representações em LD. Além
desses, há trabalhos também sobre adaptação de LD para portadores de

96
necessidades especiais (Braga; Mortimer, 2003; Jotta; Carneiro, 2005; Martins;
Dickman, 2013; Pereira; Beltrán Núñez, 2013).
• Escolha, funções e papel do LD: engloba pesquisas sobre o processo de
escolha de LD e/ou uso do LD, pesquisas sobre o papel do LD no processo
educacional e pesquisas sobre concepções, opiniões ou práticas relacionadas
a LD de estudantes, professores ou outros atores do processo (Rosa, 2013).
• Aspectos avaliativos de LD: abrange trabalhos que propõem e analisam
critérios e roteiros para a avaliação ou analisam avaliação e avaliadores de LD
(Leão; Megid Neto, 2003; Santos; Mól, 2007).
• Levantamentos em publicações: abrange trabalhos que apresentam
pesquisas e mapeamentos sobre LD em publicações como periódicos, eventos,
dissertações e teses (Fernandes, Gouvêa, 2011).
• História e políticas do LD: Abarca trabalhos envolvendo relações entre
períodos históricos, políticas e livros ou projetos de ensino e os LD (Sampaio;
Santos, 2007).
Quanto a esta classificação cabe salientar que em alguns casos as
diferenças entre duas categorias é tênue. Um exemplo é o caso da História e
Filosofia da Ciência (HFC), que em alguns casos é tratada como conteúdo e
em outros como metodologia, acarretando em uma mudança nas categorias
apresentadas. Se for tratada como conteúdo será classificada em aspectos
conceituais e no segundo caso em Inovações, recursos, estratégias e formas
de abordagem nos LD. Dessa forma foi a análise de cada artigo possibilitou
classificá-lo de acordo com o cerne da pesquisa realizada. A distribuição dos
trabalhos nessas categorias é apresentada na Tabela 4.

Categoria Número de trabalhos


Aspectos conceituais 126
Inovações, recursos, estratégias e formas de abordagem nos LD 46
Aspectos linguísticos 35
Escolha, funções e papel do LD 30
Aspectos avaliativos de LD 11
Levantamentos em publicações 10
História e políticas do LD 5
Total 263
Tabela 4: Distribuição dos trabalhos sobre LD nos ENPEC nas categorias.

Como se percebe a grande maioria dos trabalhos relacionados a LD trata


de avaliar aspectos conceituais nos LD o que vem sendo apontado em diversos
trabalhos de revisão em pesquisas sobre LD na área de ensino (Souza; Garcia
2013; Maia e Villani 2011, Schirmer; Sauerwein, 2015). No entanto, também se
observa um número bastante significativo de pesquisas sobre outros aspectos
como Inovações, recursos, estratégias e formas de abordagem nos LD,
Aspectos linguísticos e Escolha, funções e papel do LD.

97
4. CONSIDERAÇÕES

O presente trabalho mostra que o tema Livro Didático tem sido um foco
de pesquisa bastante representativo no ENPEC ao longo destas nove edições.
Também aponta uma distribuição equilibrada em termos de disciplinas com
pesquisas relacionadas principalmente à Educação Básica. Pesquisas
relacionadas ao Ensino Superior ainda aparecem em menor número. Apesar
disso, há uma sinalização positiva já que dos 19 trabalhos relacionados a esse
nível, 14 foram apresentados nas três últimas edições do ENPEC, o que pode
representar um aumento no interesse por pesquisas relacionadas ao ensino
superior.
Além disso, há ainda um número bastante significativo de publicações
classificadas como “Inovações, recursos, estratégias e formas de abordagem
nos LD”, “Aspectos linguísticos” e “Escolha e funções do LD”. Isso é reflexo das
várias possibilidades que traz a pesquisa sobre LD, além de representar a
atenção dos pesquisadores da área em contemplar os diferentes aspectos
relacionados a este recurso, para além dos conceituais.
O predomínio da análise de aspectos conceituais constatado no
levantamento, que corrobora com outros tantos trabalhos da área de ensino, é
um resultado significativo, na medida em que os LD se constituem em uma base
conceitual muito importante para o trabalho em salas de aula de ciências, tanto
para professores quanto para alunos. E, apesar das avaliações no âmbito do
PNLD considerarem a necessidade da análise de vários outros aspectos como
as questões de imagens, de raça e gênero e de visões de ciência, ainda são os
conteúdos científicos específicos e conceituais que fazem do livro peça não
descartável no processo educacional.
Embora a categorização realizada acabe dividindo as pesquisas sobre
LD, independente do foco, todas as pesquisas têm como fim a compreensão do
LD e suas relações com o processo educacional. A partir do trabalho realizado
seria importante dar continuidade, investigando em que medida esses
diferentes olhares se articulam ou poderiam se articular para contribuir
efetivamente no trabalho de sala de aula e, consequentemente, para a melhoria
da educação no país.

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Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências. Florianópolis,
2007.

ABSTRACT: This paper presents a mapping of research related to textbooks


(LD) in the nine editions of the National Meeting of Science Education Research
(ENPEC) carried out until the year of 2013. To conduct the survey all the records
were covered, in order to identify researches concerning LD. These publications
formed the analysis corpus that took place in two stages. The first one in terms
of educational levels and disciplines related to the researches that were found.
The second one in terms of the connection of these researches with LD, through
the composition of classification categories based on the analysis of the selected
works. The results suggest the prevalence of research related to basic education
and to analysis of conceptual aspects of LD.
KEYWORDS: Textbook, Enpec, Mapping.

101
Capítulo IX

USO DE MATERIAIS ALTERNATIVOS NO ENSINO


DE QUÍMICA: O ALUNO COMO SUJEITO ATIVO
NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM
__________________________________________

Fábio Alexandre Costa Mota


Denny William de Oliveira Mesquita
Sidilene Aquino de Farias

102
USO DE MATERIAIS ALTERNATIVOS NO ENSINO DE QUÍMICA: O ALUNO
COMO SUJEITO ATIVO NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM

Fábio Alexandre Costa Mota


Doutor em Química, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Amazonas
Manaus-AM
E-mail: [email protected]
Denny William de Oliveira Mesquita
Doutorando em Química na Universidade Federal do Amazonas
Professor na Universidade Federal de Rondônia, Campus de Cacoal
Manaus-AM
Cacoal-RO
Email: [email protected]
Sidilene Aquino de Farias
Professora do Departamento de Química e do Programa de Pós-Graduação
em Química na Universidade Federal do Amazonas
Manaus-AM
E-mail: [email protected]

RESUMO: Sabe-se da necessidade do comprometimento de professores/alunos


com a qualidade na educação. Para Vygotsky, esse processo ocorre mediante
interação e mediação com inserção de materiais didáticos. Este trabalho
apresenta uma revisão de artigos sobre a temática materiais didáticos – uso de
materiais alternativos para construção de aparelhos/instrumentos, publicados na
revista Química Nova na Escola, de 1995 a 2015. A metodologia constou na
leitura dos resumos e leitura integral dos artigos selecionados, com posterior
descrição, categorização e análise. Percebe-se a necessidade de publicações
vindas das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. O Ensino Médio é o nível
escolar mais solicitado e o conteúdo mais utilizado é Eletroquímica. Este trabalho
mostra o nível de criatividade de pesquisadores/professores quando buscam
alternativas ao ensino tradicional que possam proporcionar ao aprendiz ser
protagonista no processo de ensino e aprendizagem.
PALAVRAS CHAVE: materiais didáticos, experimentos de baixo custo, ensino-
aprendizagem, Química Nova na Escola.

1. INTRODUÇÃO

A educação em Ciências no Brasil, na Educação Básica, tem sido objeto


de estudo de diversos pesquisadores brasileiros. De forma geral, esses estudos
destacam um perfil da educação científica nos últimos 20 anos (SCHNETZLER
E ARAGÃO, 1995; SILVA, 2003; SCHNETZLER, 2004; VIEIRA et al., 2007): o
ensino atual não tem atendido ao objetivo de formação da cidadania, o

103
tratamento dos conteúdos programáticos não tem sido adequado para propiciar
aprendizagem significativa, devido diversos fatores, os professores não têm
assumido uma postura comprometida com a formação da cidadania, o processo
de avaliação atual não está adequado e os alunos atualmente têm uma postura
passiva. De acordo com tais estudos, a forma atual do ensino de ciências
configura como acrítica, estanque, dogmática, distante e alheia às necessidades
da comunidade escolar. Concernente ao Ensino de Ciências/Química, muitas
vezes, as aulas são desenvolvidas por meio de atividades nas quais há
predominância de um verbalismo teórico/conceitual em que parece não haver
relação entre ambiente, ser humano e tecnologia, contudo muitas iniciativas têm
contribuído para motivar professores e alunos.
Como a necessidade, para mentes criativas, costuma ser muito
inspiradora, muitos professores usam de imaginação para realizar o seu trabalho
com qualidade. Nesse momento, materiais diversos podem servir para a
confecção de instrumentos ou aparelhos (calorímetros, digestores, etc),
similares em funções aos disponíveis comercialmente, apresentando muito
potencial para otimizar ou mesmo viabilizar suas aulas. Para Vygotsky (1996;
1998) as relações criadas entre o indivíduo e o ambiente não ocorre diretamente,
sendo necessários processos de interação e mediação. Trazendo os conceitos
de aprendizagem mediada e zona de desenvolvimento proximal, o autor mostra
o quão importantes são esses processos para o desenvolvimento dos processos
mentais superiores. Esses mecanismos nos distinguem dos outros animais.
Também traz os conceitos de elementos mediadores que são essenciais nos
processos de ensino e aprendizagem: instrumentos e signos, enquanto o
primeiro, sendo de natureza física, amplia as possibilidades de transformação
da natureza, o segundo, de natureza abstrata, é exclusividade humana, e
permite ao homem construir representações mentais que substituam os objetos
do mundo real, na ausência dos próprios objetos.

1.1. Materiais didáticos e a aprendizagem em Química

Se perguntarmos a educadores o que seriam materiais didáticos em


ciências, muitos citariam livro didático, objetos manipuláveis, softwares, jogos
educativos, etc. Então como se vê, existe uma pluralidade imensa dentro do
termo “materiais didáticos”.
Em uma conceituação mais antiga, antes da popularização de
computadores, Parra e Parra (1985) usam o termo “técnicas audiovisuais”, que
são usadas de modo especial para indicar aqueles materiais de instrução e
experiência que não dependem, basicamente, da leitura para transmitir
mensagens e que apelam, inicialmente, para os diversos sentidos. Apesar do
termo destacar apenas dois sentidos, não nega a importância dos demais que,
conforme o tipo de experiência oferecida, ganham realce sobre a visão e
audição. Assim, audiovisual inclui meios e procedimentos didáticos, como

104
televisão, dispositivos, ilustrações e outros. Todavia, entende-se que os
materiais que solicitem mais de um sentido são mais eficientes no processo
ensino e aprendizagem. Segundo Hennig (1998), a aprendizagem é mais
durável quando realizada através de mais de um dos sentidos e “ainda mais
promissora quando todos os sentidos entram em cena e quando, além disso, ela
for proposta com a participação ativa do aluno” (p.356).
Malheiros (2013) defende que o uso de materiais didáticos proporciona,
no processo de ensino e aprendizagem, alguns benefícios como a facilidade
para fixar a aprendizagem, simplicidade na apresentação de dados,
possibilidade de tornar os conteúdos mais concretos e estímulo à participação
dos alunos. Nesse sentido, faz-se necessário criar meios para que os
professores possam fazer a leitura e utilização adequada destes materiais
didáticos, bem como ter clareza acerca das suas possiblidades de uso e
coerência com os objetivos pretendidos.
É necessário entender o papel indispensável do material didático no
processo de ensino e aprendizagem, considerando o desenvolvimento da
criticidade e apropriação do conhecimento por parte do aluno. Finalmente, é
indiscutível o papel do material didático como recurso incentivador da
aprendizagem. Defendemos a importância dos materiais didáticos pautando-nos
em Vygotsky (1996; 1998), visto que o indivíduo aprende usando instrumentos e
criando signos, sendo assim o conhecimento não acontece apenas com a
presença de educadores.
Na perspectiva da teoria sociocultural vygotskyana, o processo de ensino
e aprendizagem é um trabalho global, não isolado, em que relações pautadas
em colaborações ocorrem, não só entre professor/alunos, como também
alunos/alunos. Nesse sentido, os materiais didáticos são ferramentas culturais
utilizadas na mediação da aprendizagem por professores e alunos.
Neste trabalho propõe-se apresentar uma revisão sobre a temática
materiais didáticos, tendo como foco artigos que abordam o uso de materiais
alternativos para construção de aparelhos/instrumentos. Para tanto, foi realizado
um levantamento na revista Química Nova na Escola no período de 1995 a 2015,
ou seja, englobando todos os números da revista, disponíveis no site da
Sociedade Brasileira de Química.
Vale ressaltar que os materiais alternativos são de fácil disponibilidade e
troca, assim como de baixo custo. Dessa maneira, destaca-se a compreensão
que materiais didáticos alternativos são aqueles que não são originalmente
fabricados para uso didático, como fios de nylon, multímetros, bombas de
aeração de aquários, etc, mas, que, nos artigos selecionados, são usados para
construção de tais aparelhos/instrumentos para finalidade didática.

2. METODOLOGIA

Este trabalho consiste em uma revisão de estudos que abordam a

105
temática materiais alternativos no ensino de química, considerando a utilização
destes materiais na mediação das aprendizagens em química que proporcionem
aos estudantes exercerem o protagonismo no processo de ensino e
aprendizagem. Nesse sentido, a metodologia adotada tem como aporte teórico
a abordagem qualitativa de pesquisa. O desenvolvimento da pesquisa foi
organizado em três etapas:
1) Leitura de todos os resumos e palavras-chave dos artigos da revista
Química Nova na Escola no período de 1995 até o primeiro número de 2015;
2) A partir das leituras dos resumos, os artigos que incluíam atividades
experimentais como sugestões foram pré-selecionados e foram feitas as leituras
de seus textos completos;
3) Após a leitura, foi realizada a etapa de unitarização e categorização
das unidades de significados, adotando-se como referencial os descritores e
focos temáticos descritos por Megid Neto (1999) e Francisco (2006).

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Foram encontrados um total de 96 artigos que abordam a temática. Esses


artigos foram encontrados, quase que exclusivamente, na seção
“Experimentação no Ensino de Química” que descreve experimentos cuja
interpretação e implementação contribuem para a construção de conceitos
científicos por parte dos alunos. Há uma única exceção, o artigo de Reis et al.
(2009) presente na seção “Relatos de sala de aula”. Dos 96 artigos, 12 (cerca
de 12,5% do total) apresentam sugestões de aparelhos/instrumentos para uso
didático construídos pelo professor/aluno usando materiais alternativos. Estes
foram os artigos considerados para esta revisão e estão relatados brevemente
na seção “Trabalhos que usam materiais alternativos para construção de
aparelhos/instrumentos para uso didático” presente adiante.
Apesar da importância já conhecida da experimentação no processo de
ensino e aprendizagem, a maior parte dos trabalhos tratam de experimentos em
que se usam exclusivamente vidrarias e reagentes químicos, todos de fácil
acesso e disponibilidade, mas, a manipulação necessária para a construção dos
aparelhos/instrumentos é um recurso a mais para motivação e construção de
signos que, pela perspectiva vygotskyana, é essencial para a aprendizagem,
além do fator lúdico e atrativo inerente a esse recurso. Percebe-se, pelo número
de trabalhos, que é uma linha de materiais didáticos que necessita avançar, pois,
no decorrer dos 20 anos considerados, apresenta uma média de menos de 1
trabalho publicado por ano. As análises feitas a partir da
leitura dos artigos permitem citar algumas características comuns:
- não existe a concomitância de sugestão do material didático e dados
informativos de uso do mesmo em salas de aula, exceto Reis et al. (2009) que
descrevem procedimentos de explanação de conteúdos usando o material
didático proposto e disponibiliza um modelo de plano de aula. Essa ausência de

106
dados informativos sugere que nenhum trabalho com uma turma de alunos foi
realizado com o material didático proposto, perdendo-se a oportunidade de
coleta de uma série de informações que poderiam otimizar ou modificar o
material em questão. Levando em consideração que o trabalho de Vygotsky
(1996) está mais preocupado com o processo sugerimos ser de fundamental
importância, para melhor compreensão das propostas apresentadas, que os
alunos estivessem envolvidos na elaboração e construção dos materiais
didáticos, para que assim pudessem ser estudados o desenvolvimento do
processo.
- não se forma uma vinculação do texto apresentado no artigo com
nenhuma teoria de aprendizagem, preocupando-se exclusivamente em expor a
confecção do material didático. Muito brevemente, alguns citaram a importância
da contextualização e interdisciplinaridade ao se expor tais conteúdos. Essas
questões parecem ser característica dos trabalhos publicados na seção
“Experimentação em Ensino de Química”, pois até trabalhos que sugerem
experimentos de baixo custo, que não fazem parte do escopo desta revisão,
também não fazem essa vinculação. Sabe-se que, se essa vinculação tivesse
ocorrido, os trabalhos teriam sido enriquecidos grandemente nas suas
propostas, no entanto, não se pode menosprezar o caráter criativo, inovador e
lúdico das mesmas. Nada impede que o professor complemente da forma que
julgar adequada os trabalhos analisados, usando de toda vertente teórica
disponível no que se refere a processos de ensino e aprendizagem.
Os descritores nível escolar abrangido no estudo, conteúdo temático e
estado brasileiro em que o trabalho foi desenvolvido foram categorizados e estão
expostos na Tabela 1.

Tabela 1: Trabalhos selecionados que utilizaram materiais alternativos na construção de


aparelhos/instrumentos para uso didático.

DESCRITORES E FOCOS TEMÁTICOS


REFERÊNCIA Aparelhos/instrumen Materiais
Estado da Nível escolar Conteúdo
tos de construção alternativos
federação abrangido temático
sugeridos utilizados
Ferreira et al., Bexigas, giz
Teor de álcool em
1997, n. 05, p. MG Não cita Bafômetro escolar,
bebidas
32-33 algodão, etc.
Salsicha, fio
Hioka et al., de nylon,
Eletroquímica Pilhas Daniell/seca
1998, n. 08, p. PR Ensino médio placas de
(Pilhas) modificadas
36-40 cobre e zinco,
papelão, etc.
Barras de Mg,
Hioka et al., fio de cobre,
Eletroquímica
2000, n. 11, p. PR Ensino médio Pilhas Cu/Mg frutas,
(Pilhas)
40-44 refrigerantes,
etc.
Marconato e Voltímetro,
Eletrodo referência
Bidóia, 2003, n. SP Não cita Eletroquímica pilhas usadas,
não convencional
17, p. 46-49 lixas, etc.
Tintura de
Machado Junior iodo, sacolas,
Termômetro de Iodo
et al., 2006, n. MG Não cita Equilíbrio químico água
adaptado
26, p. 33-36 oxigenada 10
V, etc

107
Ensinos Garrafões
Kondo e Rosa, Química ambiental Reator anaeróbico
fundamental, plásticos,
2007, n. 24, p. MG (Tratamento de para tratamento de
médio e peneiras,
35-38 resíduos) efluentes
superior bexigas, etc
Recipientes de
Braathen et al., Ensinos isopor,
Termoquímica
2008, n. 29, p. MG fundamental e Calorímetro fermento
(Calor de reação)
42-45 médio biológico,
termômetros,
Cimento cola
Reis et al.,
Química ambiental tipo epóxi,
2009, V. 31, n. PB Ensino médio Digestor anaeróbico
(Gases) canos de
4, p. 265-267
PVC, etc
Sartori e Loreto, Espectroscopia
Ensino Medidor de LEDs, LDRs,
2009, V. 31, n. RS (Interações
superior fluorescência multímetro, etc
2, p. 150- 154 radiação/matéria)
Sartori et al., Separação de Recipientes de
2009, V. 31, n. RS Não cita misturas Destilador vidro, fios de
1, p. 55-57 homogêneas cobre, etc
Arruelas, fios
Merçon et al., Eletroquímica Sistemas de nylon,
2011, Vol. 33, n. RJ Não cita (Corrosão de experimentais para bomba de
1, p. 57-60 metais) estudos de corrosão aeração para
aquário, etc
Recipientes
Sartori et al.,
Eletroquímica plásticos,
2013, V. 35, n. RS Não cita Célula eletrolítica
(Eletrólise) multímetro,
2, p. 107- 111
estiletes, etc.

Como trata-se de uma revista com enfoque no Ensino de Química, e


sendo a mesma uma disciplina de Ensino Médio, apesar de conteúdos da
disciplina estarem incluídos em Ciências, disciplina do Ensino Fundamental, é
esperado essa preferência. Como os trabalhos são desenvolvidos em IES,
abordagens de conteúdo desse nível escolar poderiam estar sendo auxiliados
com o uso destes tipos de materiais, o que não vem ocorrendo, logo,
comprometimento é necessário para preencher essa lacuna.

3.1. Trabalhos que usam materiais alternativos para construção de


aparelhos/instrumentos para uso didático

Ferreira et al. (1997) descrevem a construção de um modelo simples de


bafômetro, que pode ser utilizado para determinar qualitativamente os teores
relativos de álcool em algumas bebidas alcóolicas. A proposta é adequada para
a abordagem desde temas como bebidas alcóolicas fermentadas e destiladas e
até relação entre consumo de bebidas alcóolicas e acidentes de trânsito.
Eletroquímica é um dos temas mais utilizados em experimentos na
Educação Básica, talvez, devido à facilidade em se interrelacionar o que se
aborda em sala de aula ao cotidiano dos alunos e também serem experimentos
muito atrativos visualmente. Diversos meios eletrolíticos são sugeridos, desde
soluções de NaCl e HCl até sucos de frutas, ou mesmo a própria fruta. Os
equipamentos operam por tempo suficiente para proporcionar boas
apresentações e despertar bastante curiosidade nos alunos de ensino médio.
Marconato e Bidóia (2003) fazem a montagem de um eletrodo de referência
usando laranja e cilindro de grafita, enfatizando a natureza arbitrária e relativa

108
dos valores de potenciais de eletrodo.
Machado Junior et al. (2006) propuseram a montagem de um termômetro
de iodo, proposto inicialmente por Ramette (2003), mas com materiais e
reagente mais acessíveis que a proposta original. Os autores sugerem a
abordagem de equilíbrio químico, temperatura e pressão de vapor, por exemplo,
devido adequação desses temas com os fenômenos ocorrentes.
Por que não começar a aula perguntando aos alunos sobre a necessidade
de tratar o esgoto doméstico antes de descartá-lo em um corpo de água
receptor? Kondo e Rosa (2007) propõem a construção de um reator anaeróbico
para tratamento de esgoto doméstico nas escolas. Materiais como garrafas PET,
peneira de plástico, cola quente, arame, etc são os materiais usados para a
confecção do reator. Devido ao modelo utilizar materiais recicláveis, seu custo é
baixo, podendo ser facilmente construído.
Braathen et al. (2008) descrevem a construção de um calorímetro simples
para medida da entalpia molar de reações químicas. Cálculos envolvendo
densidade, calor específico, constante calorimétrica podem ser usados para
abordagem quando da confecção e uso do calorímetro. Reis et al. (2009)
desenvolveram um digestor anaeróbico adequado para abordagem de um dos
temas mais teóricos e de maior dificuldade de assimilação por parte dos alunos:
gases. Segundo os autores, uma experimentação ou visualização de fenômenos
envolvendo gases é algo quase extraordinário na maioria das escolas e, quando
ocorre, é totalmente desvinculado da realidade dos alunos, sem
contextualização.
A maior parte dos trabalhos que fazem sugestões de montagem de
aparelhos se referem a atividades para o Ensino Médio, talvez pelo fato de se
relacionar o ambiente lúdico de confecção e montagem usando materiais
coloridos e baratos ao perfil adolescente. Entretanto, há exceções. Sartori e
Loreto (2009) desenvolveram um medidor de fluorescência de configuração
simples que permite uma análise quantitativa do fenômeno. Tal instrumento
simula, por exemplo, o funcionamento de fluorômetros e clorofilômetros usados
em laboratórios de pesquisa. Temas como fotoquímica, níveis de energia,
orbitais moleculares, interação entre radiação e moléculas são sugeridos pelos
autores. Sartori et al. (2009) sugerem a montagem e uso de um destilador para
separação de misturas homogêneas simples, sendo que o destilador comercial
já é extensivamente usado em aulas de química geral e orgânica, sendo, então,
de uso familiar dos alunos.
A corrosão é um fenômeno químico presente em diversos ambientes,
havendo implicações sociais, tecnológicas e ambientais. Merçon et al. (2011)
desenvolveram sistemas experimentais adequados para acompanhamento de
corrosão de metais, assim como fatores que a afetam, sem a necessidade de
um laboratório para sua utilização. Industrialmente, processos de galvanoplastia
são muito frequentes, principalmente nos setores de veículos duas e quatro
rodas e joias e folheados. Sartori et al. (2013) desenvolveram uma célula
eletrolítica para o ensino de eletrólise. Os autores abordam a necessidade da

109
contextualização, interdisciplinaridade e postura construtivista nas aulas de
química para um desenvolvimento cognitivo do aluno.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho não teve o objetivo de esgotar a exposição de trabalhos


publicados com este tema, apenas mostrar a concepção de muitos
pesquisadores/professores quando se propõem a incrementar aulas, priorizando
materiais que sejam acessíveis a todos que leem os artigos, independente dos
recursos materiais disponíveis no ambiente de trabalho, ou seja, adequados até
mesmo a escolas com infraestrutura carente. Esta foi uma das preocupações de
todos os autores dos artigos selecionados, além da preocupação em fazer do
aluno um participante ativo nos processos de manipulação, fabricação e
abstração dos instrumentos propostos. Nada impede que o leitor faça uso
dessas informações para usar, adequar, experimentar novas propostas.
Malheiros (2013) cita quatro critérios que podem ser considerados para
seleção de recursos didáticos instrucionais: 1) adequação ao objetivo de ensino;
2) funcionalidade, ou seja, facilmente utilizado em sala de aula; 3) simplicidade,
trazendo fluidez à aula e 4) qualidade do recurso, trazendo de forma clara a ideia.
E os materiais didáticos apresentados parecem respeitar tais critérios.
Vygotsky (1996) destaca a importância da aprendizagem mediada para o
desenvolvimento dos processos mentais superiores. Os elementos usados
nessa mediação, instrumentos e signos, estão mostrados nas propostas
apresentadas, pois todos os materiais didáticos citados nos trabalhos são
instrumentos adequados à formação de signos, necessários ao aprendizado. A
interação tem uma função central no processo de internalização, e a mesma
ocorre naturalmente quando da construção dos aparelhos/instrumentos
propostos na sala de aula, tanto na direção professor-alunos como alunos-
alunos. A aprendizagem é uma atividade conjunta em que relações colaborativas
entre alunos podem e devem ter espaço.

AGRADECIMENTOS E APOIO

À agência financiadora CAPES pelas bolsas concedidas e à UFAM pelas


instalações.

REFERÊNCIAS

FRANCISCO, Cristiane Andretta. A produção do conhecimento sobre o


ensino de Química no Brasil: Um olhar a partir das Reuniões Anuais da
Sociedade Brasileira de Química. São Carlos, 2006. Dissertação (Mestre em

110
Ciências). Universidade de São Paulo.

HENNIG, G. J. Metodologia do Ensino de Ciências. Mercado Aberto. Porto


Alegre – RS. 3° Edição. 1998.

MALHEIROS, B. T. Didática Geral. LTC. Rio de Janeiro – RJ. 2012.

MEGID NETO, J. Tendências da pesquisa acadêmica sobre o ensino de


ciências do nível Fundamental. Campinas, 1999. Tese (Doutorado em
Educação). Universidade Estadual de Campinas.

PARRA, N.; PARRA, I. D. da C. Técnicas audiovisuais de educação.


Biblioteca Pioneira de Ciências Sociais. São Paulo – SP. 5° Edição. 1985.

SCHNETZLER, R. P. A pesquisa no ensino de química e a importância da


Química Nova na Escola. Química Nova na Escola, v. 20. 2004.

SCHNETZLER, R. P.; ARAGÃO, R. M. R. Importância, sentido e contribuições


de pesquisas para o ensino de química. Química Nova na escola, v. 1. 1995.

SILVA, R., M., G. DA. Contextualizando aprendizagens em química na


formação escolar. Química Nova na escola, v, 18. 2003.

VIEIRA, H. J.; FIGUEIREDO-FILHO, L. C. S.; FATIBELLO-FILHO, O. Um


experimento simples e de baixo custo para compreender a osmose. Química
Nova na escola, v. 26. 2007.

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. Rio de Janeiro: Martins


Fontes, 1996.

VYGOTSKY, L. S. Pensamento e Linguagem. Rio de Janeiro: Martins Fontes,


1998.

ABSTRACT: It is known the need for commitment of teachers/students with


quality education. For Vygotsky, this process occurs through interaction and
mediation, and the didactic use of materials included in this process. This paper
presents a review of articles on the subject teaching materials - use of alternative
building materials equipment/instruments published in the journal “Química Nova
na Escola” from 1995 to 2015. The methodology consisted in reading the
abstracts and full reading of the articles, with subsequent description,
categorization and analysis. We see the need for publications coming from the
North, Northeast and Midwest. The High School is the most requested grade level
and the most commonly used content is Electrochemistry. This work shows the
level of creativity of researchers/teachers when they seek alternative to
tradicional Education that can provide the learner be protagonist in the

111
educational processs.
KEYWORDS: Didactic materials, low cost experiments, teaching and learning,
Química Nova na Escola.

112
SOBRE OS ORGANIZADORES

Antonio Carlos de Francisco Mestre em Tecnologia pela Universidade


Tecnológica Federal do Paraná (1999) e doutor em Engenharia de Produção
pela Universidade Federal de Santa Catarina (2003). É Bolsista Produtividade
em Pesquisa pela Fundação Araucária de Apoio ao Desenvolvimento Científico
e Tecnológico do Estado do Paraná. Atualmente é Professor Titular do Ensino
Básico, Técnico e Tecnológico da Universidade Tecnológica Federal do Paraná
(UTFPR) e professor e coordenador do Programa de Pós-Graduação em
Engenharia de Produção (Mestrado e Doutorado) e professor do Programa de
Pós-Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia (Mestrado Profissional) da
UTFPR, Campus Ponta Grossa. Avaliador do INEP. Atua na área de Engenharia
de Produção, principalmente nos seguintes temas: sustentabilidade, gestão do
conhecimento, gestão da inovação, ensino de engenharia, qualidade de vida e
qualidade de vida no trabalho; na área do Ensino de Ciência e Tecnologia na
produção de metodologias e equipamentos para a melhoria da qualidade de
ensino.

Daniela Frigo Ferraz Professora da Universidade Estadual do Oeste do Paraná.


Graduação em Ciências Biológicas pela Universidade da Região da Campanha
(URCAMP). Mestrado em Educação pela Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM). Doutorado em Ensino de Ciência e Tecnologia pela Universidade
Tecnológica Federal do Paraná (em andamento). Atua na linha de pesquisa:
Educação em Ciências, Ensino de Biologia, Formação de Professores. Grupo de
pesquisa: membro do Grupo de Pesquisa em Educação em Ciências e Biologia
(GECIBIO).

Fabio Seidel dos Santos Graduação em Psicologia pela Universidade Estadual


do Centro-Oeste do Paraná. Mestrado em Ciências Biológicas (Biologia
Evolutiva) pela Universidade Estadual do Centro-Oeste. Doutorado em Ensino
de Ciência e Tecnologia pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná (em
andamento).

113
SOBRE OS AUTORES

Alessandro Pedro Licenciado em Química pelo Instituto de Química da UNESP,


Campus de Araraquara. Possui especialização em Ética, Valores e Cidadania
na Escola pela Universidade de São Paulo em parceria com a UNIVESP. Possui
mestrado em Educação para a Ciência pela Faculdade de Ciências da UNESP,
Campus de Bauru. Doutorando em Educação para a Ciência pela faculdade de
Ciências da UNESP, Campus de Bauru e professor de Química na rede
SESI/SP.

Álvaro Lorencini Junior Licenciado e Bacharel em Ciências Biológicas pela


Faculdade de Educação e Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo
(USP - São Paulo). Mestrado e Doutorado em Educação, área de Didática pela
Faculdade de Educação da USP (FEUSP). Professor do Depto. de Biologia
Geral do Centro de Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Londrina
(UEL/PR) da disciplina: Didática das Ciências Naturais. Professor e Orientador
do Programa de Pós-Graduação: Mestrado e Doutorado em Ensino de Ciências
e Educação Matemática da UEL e do Programa de Pós-Graduação: Mestrado e
Doutorado em Educação para a Ciência e Matemática da Universidade Estadual
de Maringá (UEM/PR).

Ana Cris Nunes de Souza Mestranda em Química pelo Programa de Pós-


graduação em Química (PPGQ/UFAM, 2014) possui Licenciatura dupla em
Ciências: Biologia e Química pela Universidade Federal do Amazonas (2013),
graduação em Pedagogia (UFAM, 2004) e especialização em Metodologia do
Ensino Superior. Tendo também experiência profissional docente na área de
Química no Ensino Médio, no qual participou de diversas atividades
complementares como: conferências, congressos, palestras, oficinas e projetos
de extensão relacionados ao Ensino de Química.

Denny William de Oliveira Mesquita Professor Adjunto da Universidade


Federal de Rondônia (UNIR), Campus Cacoal. Atualmente cursando o
Doutorado em Química, na linha de Pesquisa em Ensino de Química, na
Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Mestre em Química com ênfase
em Produtos Naturais pela UFAM, Licenciado e Bacharel em Química pela
UFAM e Técnico em Química pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Amazonas (IFAM). Atuando na área de Ensino de Química e
Química de Produtos Naturais.

Eliane Cerdas Labarce É graduada Licenciatura em Ciências Biológicas pela


Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP/Bauru (2003).
É Mestra em Educação para a Ciência pelo PPG em Educação para a Ciência
da Faculdade de Ciências da Unesp/Bauru (2009) e Doutora em Educação para
a Ciência pela mesma universidade (2014). Atua como docente na Universidade

114
Estadual de Mato Grosso do Sul - UEMS/ Coxim, nas áreas de Didática das
Ciências, Estágios Supervisionados, Atividades Práticas no Ensino de Ciências
Naturais e Formação de Professores de Ciências.

Eloisa Cristina Gerolin Graduada em Licenciatura em Ciências com habilitação


em Biologia pela Universidade Federal de São Paulo (Campus Diadema).
Atualmente está com mestrado acadêmico em andamento no Programa
Interunidades em Ensino de Ciências da Universidade de São Paulo, onde
pesquisa aspectos relacionados à caracterização da cultura científica, à
identificação de como essa cultura é veiculada na escola e diferentes espaços
sociais e às características das linguagens utilizadas na veiculação dos
conhecimentos biológicos, com enfoque no estudo da modelagem e das práticas
epistêmicas na Educação em Biologia e Ciências.

Fábio Alexandre Costa Mota É professor do Instituto Federal de Educação,


Ciência e Tecnologia do Amazonas - IFAM. Possui Doutorado e Mestrado em
Química Analítica pela Universidade Federal do Amazonas e
Bacharelado/Licenciatura em Química pela Universidade Federal do Amazonas.
Ênfase em Química Ambiental.

Fernanda Zandonadi Ramos Licenciada em Ciências Biológicas pela


Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD – MS). Mestre em Ensino de
Ciências, pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS - MS).
Doutoranda no programa de Ensino de Ciências e Educação Matemática da
Universidade Estadual de Londrina (UEL-PR). Professora no Centro de Ciências
Biológicas e da Saúde da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS
– Campo Grande/MS). Atua na área de Ensino de Ciências, com ênfase em
formação de professores e Ensino-aprendizagem de Ciências e Biologia.

Fernando Bastos Possui licenciatura e bacharelado em Ciências Biológicas


pela Universidade de São Paulo (1984), mestrado em Educação pela
Universidade de São Paulo (1991) e doutorado em Educação pela Universidade
de São Paulo (1998). É professor assistente doutor da Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho, Campus de Bauru (SP). Desenvolve e orienta
pesquisas na área de Ensino de Ciências Naturais, atuando no âmbito dos
seguintes temas: didática das ciências naturais, formação de professores,
história da ciência e ensino de ciências e atividades práticas para o ensino de
ciências. É autor de diversos artigos, trabalhos, livros e capítulos de livros sobre
os temas de sua especialidade.

Inés Prieto Schmidt Sauerwein Possui graduação em Licenciatura Plena Em


Física pela Universidade de São Paulo (1989), mestrado em Ensino de Ciências
(Modalidade Física e Química) pela Universidade de São Paulo (1996) e
doutorado em Educação Científica e Tecnológica pela Universidade Federal de

115
Santa Catarina (2008). É professora adjunta da Universidade Federal de Santa
Maria, trabalhando com diversas disciplinas do Curso de Licenciatura Plena em
Física desde 1997. Tem experiência na área de Física, com ênfase em
Formação de Professores, atuando principalmente nos seguintes temas:
formação de professores, ensino de física, ensino de ciências, autonomia
docente. É professora do Programa de Pós-Graduação em Educação em
Ciências - Química da Vida e Saúde da Associação Ampla formada pela
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS) e da Universidade de Rio Grande (FURG) orientando
projetos de mestrado e doutorado voltados para os três níveis de ensino.

Lenice Heloísa de Arruda Silva Licenciada em Ciências Biológicas pela


Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, concluiu o doutorado em
Educação pela Universidade Metodista de Piracicaba em 2004. Atualmente é
professora Associada da Universidade Federal da Grande Dourados,
orientadora no Programa de Mestrado em Ensino de Ciências da Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul. Publicou livro em co-autoria, capítulos de livros,
artigos em periódicos especializados e trabalhos em anais de eventos científicos.
Coordenou projetos de pesquisa financiados pela FUNDECT e pelo CNPq. Atua
na área de Educação em Ciências, com ênfase em formação de professores e
Ensino-aprendizagem de Ciências e Biologia.

Maria Cristina Pansera-de-Araújo Licenciatura em Ciências Biológicas pela


Universidade do Vale do Rio dos Sinos (1978), Mestrado (1981) e Doutorado
(1997) em Genética e Biologia Molecular pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul Atualmente é professora titular da Universidade Regional do
Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, Departamento de Ciências da Vida e
Pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Educação nas Ciências. Tem
experiência na área de pesquisa em Educação: currículo; ensino de Biologia,
Ciências e Genética; Educação Ambiental e em Saúde; Formação Docente;
Biodiversidade; Interações Insetos Plantas e biologia do desenvolvimento animal
e humana.

Maria da Conceição Gemaque de Matos Licenciada em Física e Ciências


Naturais, pela UFPA; Especialização em Física Contemporânea e em Educação
a Distância; Mestre em Educação e Doutora em Educação em Ciências e
Matemática pela UFPA, área de concentração Conhecimento Científico e
Espaços de Diversidade da Educação das Ciências. Professora Titular Escola
de Aplicação da UFPA e Coordenadora de Física. Atua principalmente nas linhas
de pesquisa: ensino e formação de professores de Ciências, pesquisa narrativa.
É pesquisadora dos Grupos de Pesquisa (Trans) Formação (CNPq) e Núcleo de
Estudos e Pesquisas em Currículo – NEPEQ (CNPq). Professora do Programa
de Mestrado e Docência em Educação Ciências e Matemática - Mestrado
Profissional – IEMCI-UFPA.

116
Rúbia Emmel Licenciatura Plena em Pedagogia (SETREM, 2008), Especialista
em Educação Infantil e Alfabetização (SETREM, 2009), Mestre em Educação
nas Ciências/UNIJUÍ (2011); Doutorado em Educação nas Ciências/UNIJUÍ
(2015). Atualmente é professora do Curso de Licenciatura em Pedagogia da
Universidade Federal do Tocantins, Câmpus Arraias. Tem experiência na área
de metodologias do ensino de Ciências, pesquisa em educação, livro didático,
currículo, formação de professores.

Saul Benhur Schirmer Possui graduação em Física Licenciatura Plena pela


Universidade Federal de Santa Maria (2009) e mestrado (2012) e doutorado
(2016) no Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências pela
Universidade Federal de Santa Maria. Tem experiência na área de Ensino de
Ciências, em especial de Física, atuando no ensino médio e na formação inicial
de professores, com especial dedicação a temas relacionados à história e
filosofia das ciências e análise e escolha de livros didáticos.

Sidilene Aquino de Farias Possui graduação em Bacharelado e Licenciatura


em Química, mestrado em Química de Produtos Naturais pela Universidade
Federal do Amazonas (UFAM). É doutora em Ciências (área de concentração:
Química) pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Docente no
Magistério Superior da Universidade Federal do Amazonas. Tem experiência na
área de Química, com: cromatografia, separação e identificação de classes
lipídicas, ácidos graxos (peixes e óleos vegetais), análise de combustíveis.
Atualmente desenvolve pesquisas na área de Educação Química,
principalmente nos seguintes temas: formação de professores, ensino médio,
materiais didáticos e experimentação no ensino.

Silvia Trivelato Doutora em Didática pela Faculdade de Educação da USP,


onde é Professora desde 1982 na área de Metodologia do Ensino nos cursos de
Pedagogia e de Licenciatura em Ciências Biológicas. Atua nos programas de
Mestrado e de Doutorado em Educação da FEUSP e no Programa de Pós-
Graduação Interunidades em Ensino de Ciências – Modalidade Biologia, da
USP.

Terezinha Valim Oliver Gonçalves Licenciada em História Natural e Ciências


Biológicas, pela UFRGS; Especialização em Ecologia Humana pela Unisinos;
Mestre em Ensino de Ciências e Matemática e doutora em Educação pela
UNICAMP, na linha de pesquisa “Ensino, Avaliação e Formação de
Professores”. Professora Titular da Universidade Federal do Pará. Criou o Clube
de Ciências da UFPA, em 1979. É pesquisadora da área de Educação em
Ciências e Educação Ambiental, atuando principalmente nas linhas de pesquisa:
formação de professores, ensino de ciências, formação inicial, pesquisa
narrativa e ensino com pesquisa. É líder do grupo de pesquisas (Trans)

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Formação (CNPq). Participou da criação e coordenou vários programas de pós-
graduação. Foi Diretora do IEMCI/UFPA.

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