A Chave de Jacob Boehme

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A Chave

De

Jacob Boehme

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A Chave de Jacob Boehme

Introdução

Jacob Böehme (1575 - 1624), "O Teósofo Alemão" cuja vida criativa abarcou o
período Rosacruciano; foi um místico cujo discernimento muito contribuiu para
estabelecer uma interpretação espiritual da alquimia. Embora tenha sido um sapateiro
sem instrução, Böehme possuía um alto grau de percepção mística dos mundos
espirituais e para expressar suas experiências interiores decidiu revesti-las de termos
alquímicos. Böehme teve uma profunda influência sobre idéias teológicas e esotéricas,
particularmente entre o fim do século XVII e início do século XVIII, contudo, o seu
sistema esotérico-filosófico da teologia continua inspirando a muitos nos dias atuais.

Böehme teve uma origem familiar relativamente humilde. Nasceu em 1575 em um


povoado da Antiga Seidenburg e foi trazido para a Lusatia Superior nas adjacências da
Bohemia nas últimas décadas do século XVI. Era um aprendiz de sapateiro,
estabelecendo-se posteriormente como um próspero cidadão perto da cidade de Gorlitz.

Quando ainda era um jovem aprendiz de sapateiro trabalhando na oficina de seu


mestre, encontrou um misterioso estranho que teve um profundo impacto em sua vida.

Palmer Hall assim conta esta história:

"Um dia enquanto tomava conta da oficina de seu mestre, um misterioso estranho
entrou. Embora parecesse ser possuidor de nada mais do que alguns pequenos objetos
mundanos, mostrava-se ser o mais sábio e nobre em dote espiritual. O estranho
perguntou o preço de um par de sapatos, mas o jovem Böehme não se atreveu a
estipular um preço com receio de desagradar seu mestre. O estranho insistiu e Böehme
finalmente estabeleceu um valor que considerava ser tudo que seu mestre possivelmente
esperaria obter pelos sapatos. O estranho os comprou imediatamente e partiu. A uma
pequena distância o misterioso estranho parou e gritou em alta voz "Jacob, Jacob, venha
para fora". Com surpresa e espanto, Böehme saiu da casa. O estranho homem fixou seus
olhos nos grandes olhos do rapaz que brilhavam e pareciam cheios de luz divina. O
estranho pegou a mão direita do menino e dirigiu-se a ele dizendo: "Jacob, tu és
pequeno, mas serás grande, e te tornarás um outro homem, tão grande que o mundo irá
admirar. Contudo seja piedoso, tema a Deus e reverencie sua Palavra. Leia
atenciosamente as Santas Escrituras, onde terás conforto e instrução, pois deves
enfrentar muita miséria, privações e perseguições, mas sejas corajoso e perseveres, pois
Deus te ama e tem misericórdia de ti". Profundamente impressionado pela profecia,
Böehme tornou ainda mais intensa sua busca pela verdade. Finalmente o seu trabalho
foi recompensado. Por sete dias ele permaneceu numa condição misteriosa, período em
que os mistérios do mundo invisível lhe foram revelados".

Böehme descreveu sua experiência visionária da seguinte maneira:

"Eu vi o Ser de todos os Seres, a Superfície e o Abismo; vi também o nascimento da


Santa Trindade; a origem e o primeiro estado do mundo e de todas as criaturas. Vi em
mim mesmo os três mundos - o mundo angélico ou Divino; o mundo das trevas, a
origem da Natureza; e o mundo externo, como uma substância manifestada dos dois
mundos espirituais... No meu interior vi isto muito bem, como em uma grande
profundidade; pois vi diretamente no caos onde tudo permanece envolto, mas não pude
fazer revelação alguma. De tempo em tempo tudo isto floresce em mim como o crescer
de uma planta. Por doze anos guardei tudo comigo, antes de poder manifestar de alguma
forma externa. Até então isto abateu-se sobre mim, como uma carga que mata o que
atinge. Escrevi tudo o que pude exteriorizar. A obra não é minha. Não sou mais do que
um instrumento do Senhor, com o qual Ele faz o que deseja".

A vida de Böehme foi altamente influenciada por dois Pastores Luteranos em Gorlitz.
O primeiro, Martin Möller, foi um homem notável, de vasto saber e de inclinações
místicas, que organizou dentro de sua paróquia um pequeno grupo, "Conventículo dos
Reais Servos de Deus", que tinha Böehme como membro. Parecia ser uma espécie de
grupo místico de meditação trabalhando no espírito da tradição mística Cristã; e Möller,
por meio de sua forte personalidade, foi capaz de dar continuidade a este grupo dentro
da esfera da ortodoxia Luterana. Sob sua tutela, Böehme adquiriu confiança em suas
próprias percepções espirituais e com o tempo começou a escrever, de início somente
para seu próprio aperfeiçoamento, o seu primeiro volume "A Aurora Nascente" foi
completado em 1612. Cópias desta obra circularam sem a permissão de Böehme e
afrontou o novo Pastor de Gorlitz, Gregory Richter, que havia então substituído Möller.
Richter era de uma disposição totalmente oposta a Möller, sendo limitado, ortodoxo e
temeroso de qualquer coisa que não estava de acordo com os ensinamentos Luteranos.
Ele denunciou Böehme como um herético e incitou tamanha corrente de oposição na
paróquia que Böehme foi temporariamente banido da cidade. Böehme teve que
prometer parar de escrever e, de fato, nos sete anos seguintes, trabalhou apenas
internamente com suas percepções. Contudo, mais tarde entrou para um círculo de
alquimistas Paracelsianos tendo como membro mais proeminente, Balthasar Walter que
havia viajado mugito, inclusive visitado a Grécia, Síria e Egito. Walter que era médico
do Príncipe de Anhalt, tinha muitos contatos entre pessoas importantes, tanto assim, que
ele estava ativamente envolvido no movimento Rosacruciano. Ele encorajou
constantemente Böehme a escrever e o inspirou apresentando-lhe idéias das tradições
esotéricas da Alquimia e da Cabala, que espelhavam as experiências internas de
Böehme e o habilitou a criar uma linguagem que as desse forma. De 1619 até sua morte,
Böehme trabalhou para escrever seus vastos volumes:

Os três Princípios da Essência Divina

A Signatura de Todas as Coisas

Mysterium Magnum

Sobre a Eleição da Graça

Quarenta Perguntas sobre a Alma

O Caminho para Cristo

A Tríplice Vida do Homem

Também durante este período, Böehme correspondeu-se com contatos feitos por
intermédio de Balthasar Walter, e sua reputação espalhou-se através destas cartas.
Alguns de seus escritos circularam, de forma privada, entre seus amigos, enquanto que
suas publicações tiveram que esperar a morte de Böehme, uma vez que o Pastor Richter
ainda via Böehme como um perigoso herético na sua paróquia e os amigos altamente
posicionados de Böehme não poderiam preservá-lo do fanatismo deste pastor.

Os escritos de Böehme foram, depois de sua morte em 1624, rapidamente publicados e


também traduzidos para o Holandês. Edições Inglesas foram editadas por John Sparrow
nos anos de 1650. As idéias oculto-filosóficas de Böehme começaram a ter influência
soabre os místicos britânicos do fim do século XVII, particularmente John Pordage
(1607-1681) e Jane Leade (1620-1704) que fundaria a "Sociedade Filadelfiana" de
influência Boehmiana, na última década do século XVII. Este movimento por uma
renovação religiosa através da experiência mística interna atraiu para si algumas almas
dedicadas e influentes: Richard Roach, Francis Lee e outros, embora o foco central
desta inspiração resida na personalidade forte e mística de Jane Leade, que seria justo
designar como a "Böehme Inglesa". Certamente seu trabalho não foi tão grande como o
de Böehme e nem suas habilidades em comunicar seus discernimentos tão abrangentes,
contudo ela compartilhou com Böehme uma comunhão mística direta com o mundo
espiritual.

Quase ao mesmo tempo, havia um pequeno grupo de Boehmistas na Alemanha


centrado em George Gichtel (1638 - 1710), que estava editando as obras de Böehme e
ilustrando-as com figuras emblemáticas. Um dos seguidores de Gichtel, Dionysius
Andreas Freher (1647 -1725) estabeleceu-se na Inglaterra, atraído pela fama de Jane
Leade e da Sociedade Filadelfiana. Freher reuniu á sua volta seu próprio grupo de
seguidores e trabalhou para modelar sua própria interpretação da filosofia de Böehme.
Assim, a filosofia Boehmista foi perpetuada como uma corrente viva alimentada por
estas personalidades: Gichtel, Pordage, Lade e Freher, cada um deles, a sua própria
maneira, possuíram algo de discernimento místico.

Eles utilizaram a filosofia de Böehme como um meio de focalizar sua percepção


mística e torná-la comunicável aos outros, pois Böehme encarnou um sistema de idéias
que capacitou as pessoas a descreverem e revestirem experiências místicas. Talvez seja
nisto que resida sua maior realização.

A influência de Böehme teve continuidade durante a metade do século XVIII através


da figura do Reverendo Willian Law (1686 - 1761). Law foi atraído pelos escritos de
Jacob Böehme quando ainda era jovem, entretanto ele tinha sua própria inclinação
mística. Tornou-se bastante conhecido como um teólogo independente o que levou o
jovem John Wesley (que mais tarde fundaria o Metodismo) em certo ponto a seguir os
conselhos de Law. Posteriormente Law começou a traduzir e editar todo o corpo de
escritos de Böehme para serem publicados em Inglês. A coleção "The Works of Jacob
Böehme, The Teutonic Teosopher", de quatro grandes volumes, foi publicado em 1764
e é a mais conhecida de todas as edições Inglesas de Böehme. Através desta publicação
a filosofia mística de Böehme continuou a influenciar vários escritores Britânicos, e em
particular Willian Blake.

O vasto sistema de Blake, de seres arquetípicos emanando em polaridades, reflete a


própria descrição de Böehme de um processo de Tese Antítese Síntese que ocorre até
mesmo no mais alto nível espiritual.

Finalmente, podemos reconhecer os pensamentos de Böehme nas primeiras


codificações da "Sociedade Teosófica" fundada por Madame Blavatsky no final do
século XIX, e assim sua filosofia oculto-mística penetrou e impregnou as principais
correntes esotéricas do século XX. Desta forma, observamos que a filosofia de Böehme
ainda vive nos dias de hoje, desenvolvida nas idéias formativas e nas formas de
pensamento do esoterismo atual. Seus escritos são uma importante fonte onde podemos
mergulhar e obter novas inspirações e discernimentos dentro das formas arquetípicas
das idéias esotéricas conhecidas.

Com Böehme, um ponto importante e decisivo na evolução do Esoterismo Ocidental é


alcançado, uma vez que ele contribuiu, indiretamente, para aumentar a distância entre a
operação puramente física da alquimia e a busca da alquimia como um sistema
espiritual- filosófico.

Esta distância existia no início do século XVII como uma semente que cresceu até o
nascimento de uma química puramente materialista no século XVIII. Böehme, contudo
extraiu de ambas, experiências místicas internas, e das experiências práticas dos
alquimistas daquela época (é preciso lembrar que por intermédio de Balthasar Walter,
Böehme esteve ativamente envolvido num círculo de alquimistas Paracelsianos
praticantes). Se formos sensíveis, poderemos notar em seus escritos os dois caminhos
que unem prática e teoria, assim como os dois caminhos que as separam em dois
campos distintos. Böehme trabalhou para encarnar a Alma Alquímica, e suas obras são
documentos profundos de um Esoterismo Protestante que coloca a idéia do
desenvolvimento interior perpendicularmente sobre a alma do indivíduo. Neste
Esoterismo Protestante, encontrava-se a tarefa do indivíduo de trabalhar para purificar e
exaltar as forças da sua própria alma se quisesse alcançar a plenitude da obra.

Os escritos de Böehme são de grande extensão e guarda um enorme sistema de idéias,


uma série de pensamentos espirituais que não surgiram da árida intelectualização, mas
de sua vivência em comunhão com o mundo espiritual.

Em seus volumes ele revela um Cristianismo esotérico que com certeza mantém
alguma conecção direta com a corrente esotérica do Rosacrucianismo que estava sendo
desenvolvida contemporaneamente com Böehme.

Böehme tinha consciência da dificuldade de seus livros e conseqüentemente escreveu


a "Clavis" ou "Chave para suas obras", como um resumo das idéias principais contidas
em seu sistema. Aqui ele trabalha com a existência das polaridades, Tese, Antítese e
Síntese que residem no fundamento de uma visão Hermético-Alquímica do mundo; os
três Princípios: Sal, Mercúrio e Enxofre e suas manifestações como arquétipos em
vários campos; e as Sete Propriedades que se conectam com os arquétipos Planetários
que também contem em si a polaridade e os três princípios. A "Chave" de Jacob
Böehme, nos fornece uma introdução simples aos pontos mais importantes de sua
filosofia e deve simplificar nosso acesso à suas maiores obras.

Como apêndice para esta edição de Willian Law encontram-se as "Ilustrações dos
Princípios Ocultos de Jacob Böehme" de Dionysius Freher, que através de uma série de
treze figuras emblemáticas, oculta o quadro Boehmista da Criação. Aqui podemos
observar as várias emanações da Divindade participando na formação do reino da terra.
Este complemento contém a figura do Cristianismo Cósmico, mostrando a descida do
Ser Crístico à esfera humana e a realização de Sua tarefa nesta esfera.

Acreditamos que por trazer estas duas pequenas obras para a observação dos
estudantes do esoterismo de hoje, devemos ter-lhes dado a oportunidade de
aproximarem-se de uma compreensão do vasto sistema da filosofia esotérica que emana
do discernimento místico de Jacob Böehme.

CLAVIS

ou

Uma explicação de alguns Pontos Principais

e Expressões em seus Escritos.

por Jacob Böehme, o Teósofo Teutônico

Prefácio
Está escrito, o Homem Natural não recebe as Coisas do Espírito, nem o Mistério do
Reino de Deus, são Insensatez para ele e nem pode conhecê-los: portanto advirto e
exorto ao cristão amante dos mistérios, se pretende ler, estudar, pesquisar e
compreender estes Escritos Elevados, que não os leia apenas externamente, com uma
intensa especulação e meditação, pois se assim o fizer, permanecerá somente no terreno
imaginário exterior, e não obterá mais do que uma falsificação colorida de tais
mistérios.

A própria Razão do homem, sem a Luz de Deus, não pode entrar na Região dos
Mistérios, é impossível, pois sua razão, estando isolada, permite que seu entendimento
seja cada vez mais elevado e sutil, porém não o deixa perceber mais do que a sua
própria Sombra refletida num Espelho.

O Cristo disse "Sem mim tu não podes fazer nada", e ele é a Luz do Mundo e a Vida
do Homem.

Agora, se alguém pretende pesquisar o Campo Divino, ou seja, a Revelação Divina,


deve primeiro refletir consigo mesmo, com que finalidade deseja saber tais coisas; se
deseja praticar aquilo que eventualmente possa obter e fazer uso disto para a Glória de
Deus e para o Bem-estar do Próximo; e se deseja morrer para o Mundo Profano e para
sua Vontade própria, para viver naquilo que ele aspira e deseja e com isto tornar-se um
só espírito com a Revelação Divina.

Se não houver um propósito, para que Deus revele a Si mesmo e seus mistérios a ele,
tendo com este Homem um só Espírito e uma única Vontade, se o Homem não se
submeter sinceramente a Ele, a ponto de que o Espírito de Deus possa fazer com o
Homem e pelo Homem aquilo que quiser, e que Deus seja seu Conhecimento, Vontade
e Ação, este homem ainda não serve para tal Conhecimento e Compreensão.

Há muitos que aspiram aos Mistérios e aos Conhecimentos Ocultos, apenas para serem
respeitados e altamente estimados pelo mundo, para seu benefício e proveito próprio,
mas eles não atingem o Plano onde o Espírito penetra em todas as Coisas, como está
escrito, mesmo as coisas mais profundas de Deus.

A Vontade deve ser totalmente resignada, onde o próprio Deus penetre e atue;
Vontade que continuamente se rompe em Deus, em uma Humildade resignada e
permissível, buscando nada além de sua Região de Origem Eterna. Deve-se auxiliar o
Próximo com aquilo que obtiver, só assim o Homem poderá atingir tais Regiões.

Aquele que busca, deve começar com um efetivo Arrependimento, seguido de um


Aperfeiçoamento e Súplica (através da Oração), pois com isto sua Compreensão deverá
se abrir trazendo a sua vontade interna à tona.

Mas se ao ler tais Escritos, ainda não os compreender, não deve prontamente jogá-los
fora e pensar que é impossível compreendê-los, ao contrário, deve voltar sua mente para
Deus, suplicar sua Graça e Compreensão, ler outra vez, e então perceberá mais e mais
até ser atraído pelo poder de Deus para o mais profundo de si mesmo, e assim adentrar
ao Campo sobrenatural e supersensorial, ou seja, na Eterna Unidade de Deus, onde
deverá ouvir as eficazes e impronunciáveis Palavras de Deus que deverão trazê-lo de
volta e para fora novamente, pela Emanação Divina, à mais densa e desprezível matéria
da Terra e novamente de volta para o interior, para Deus, e então o Espírito de Deus
penetrará todas as Coisas, com ele e por ele, então o Homem estará diretamente tocado
e dirigido por Deus.

Uma vez que os amantes dos mistérios desejam uma Clavis, ou Chave de meus
Escritos, estou pronto e desejoso em satisfazê-los, e irei registrar uma curta Descrição
do Plano daquelas extraordinárias Palavras, algumas das quais são extraídas da Natureza
e da Percepção (Sentimento, Razão, Compreensão, Sabedoria e Inteligência) e outras
são as Palavras dos notáveis mestres, as quais eu investiguei de acordo com a percepção
e as considerei justas e apropriadas.

A razão irá falhar, quando ver termos pagãos e palavras usadas na explicação das
Coisas Naturais; supostamente deveríamos usar somente Frases das Escrituras (ou
palavras emprestadas da Bíblia); mas tais Palavras não irão se aplicar ou se ajustar
sempre à fundamental Explicação das Propriedades da Natureza, nem o Homem pode
expressar o Plano da Natureza com elas; além disso, os Sábios Pagãos e Judeus
esconderam o profundo Plano da Natureza sob tais Palavras por terem compreendido
bem que este Conhecimento não é para todos, mas pertence somente àqueles que Deus,
pela Natureza, escolheu para isso.

Mas ninguém precisa se desanimar diante disto, pois quando Deus revela seus
mistérios a algum homem, Ele também lhe dá uma Mente e uma Capacidade para
expressá-los, uma vez que Deus sabe o que é mais necessário e proveitoso em todas as
épocas. Sobre o estabelecimento das diferentes línguas e opiniões sobre o verdadeiro
Plano, os Homens não devem pensar que isto ocorreu por acaso, e que é produzido pela
Razão Humana.

As revelações das Coisas Divinas estão abertas pelo Plano Interno do Mundo
Espiritual e transformada em formas visíveis, da mesma forma que o Criador irá
manifestá-las.

Irei escrever nada mais do que uma pequena descrição da Manifestação Divina;
resumir o mais que eu possa, e explicar as notáveis palavras para uma melhor
compreensão de nossos livros; e ainda registrar aqui o teor daqueles Escritos, ou um
exemplo, ou uma Epítome deles por consideração e ajuda aos iniciantes: maiores
explicações sobre isto serão encontradas nos outros livros.

Jacob Böehme

A CHAVE

ou

Uma Explicação de alguns Pontos

principais e Expressões.

Como Deus pode ser considerado sem a


Natureza e a Criatura.

Moisés disse: "O Senhor nosso Deus é senão um único Deus". Em outra parte é dito:
"Dele, por Ele e Nele estão todas as coisas", e ainda: "Não sou eu, homem, que
preenche todas as coisas?" e mais, "Através de sua Palavra todas as coisas são feitas";
contudo pode-se dizer que Ele é a Origem de todas as coisas: Ele é a Eterna Imensurável
Unidade.

Por exemplo, quando penso o que poderia existir no lugar deste mundo se os quatro
Elementos, o estrelado Firmamento e a Natureza propriamente dita pudessem perecer e
deixassem de existir, e assim não mais se encontrasse nenhuma Natureza ou Criatura,
acredito que permaneceria esta Unidade eterna, da qual a Natureza e a Criatura
receberam sua Origem.

Da mesma forma, quando penso comigo mesmo o que existe a centenas de milhares de
milhas, acima do estrelado Firmamento, ou o que se encontra naquele lugar onde não há
Criaturas, acredito que a Eterna Imutável Unidade esteja lá, Unidade que é somente o
Bem, da qual não há nada, nem antes, nem depois, da qual não se pode acrescentar ou
retirar nada, nem mesmo de onde esta unidade pudesse ter sua Origem: Não há espaço,
tempo ou superfície, mas somente o Deus Eterno, ou aquele Único Bem, que um
homem não pode expressar.

Uma outra consideração: como este único Deus é triplo?

A Santa Escritura mostra-nos que este único Deus é triplo, isto é, uma única Essência
tripla, tendo três formas de atuação, e ainda sendo senão uma única Essência, como
pode ser visto na emanação do Poder e Virtude, presentes em todas as coisas, mas
especialmente representadas pelo Fogo, Luz e Éter, que são três diferentes formas de
atuação, e ainda assim dentro de um único fundamento e substância.

Assim como o Fogo a Luz e o Éter, surgem da vela (embora a vela não seja nenhum
dos três, mas a causa deles), da mesma forma a Unidade Eterna é a causa e o
fundamento da Trindade Eterna, que se manifesta a partir da Unidade, e gera-se a si
mesmo, Primeiro em Desejo ou Vontade, Segundo em Prazer ou Satisfação, Terceiro
em Ação ou Expansão.

O Desejo ou a Vontade é o Pai, ou seja, o ativo, a manifestação da unidade, é através


dele que a própria unidade quer ou deseja.

O Prazer ou a Satisfação, é o Filho que a Vontade quer ou deseja, ou seja, seu Amor e
Satisfação, como pode ser visto no Batismo de Nosso Senhor Jesus Cristo, quando o Pai
testemunhou dizendo: "Tu és meu Filho bem-amado, eu hoje te gerei!".

A satisfação é a compressão na vontade, é por esta compressão que a vontade da


unidade se manifesta em um espaço e atua; por seu meio a vontade atua e realiza e este
é o sentimento e a virtude da vontade.
A Vontade é o Pai, isto é, o desejo ativo, e a Satisfação é o Filho, ou a virtude e a ação
da vontade, é através desta satisfação que a vontade atua; e o Espírito Santo é o
procedimento da vontade através da Satisfação da virtude, ou seja, a vida da vontade, da
virtude e da satisfação.

Deste modo, há três tipos de atuação na Unidade Eterna a saber: a Unidade é a própria
vontade e desejo; a Satisfação é a substância atuante da vontade e um Eterno êxtase de
perceptibilidade na vontade; e o Espírito Santo é o procedimento do Poder: a similitude
que pode ser notada numa planta.

A Atração; que é o Desejo Essencial da Natureza, ou seja, a vontade do Desejo da


Natureza, se comprime dentro de uma insígnia ou substância, para se tornar uma planta;
e esta compressão do Desejo se transforma em sentimento ou atuação, onde surge o
Poder e a virtude, pelo qual o Magnético Desejo da Natureza, ou a vontade fluída de
Deus, atua de maneira natural.

Nesta perceptibilidade atuante, a vontade desejosa magnética é elevada e extasiada


saindo da Virtude e do Poder atuante; por esta razão ocorre o crescimento e o aroma da
planta: e assim, vemos uma representação da Trindade de Deus em tudo o que cresce e
vive.

Se não houvesse tal perceptibilidade do desejo e uma operação emanada da Trindade


na Eterna Unidade, esta seria nada além de um eterno silêncio, um nada; não haveria
natureza, nenhuma cor, forma ou figura; da mesma forma não haveria nada neste
mundo; sem esta atuação tripla não haveria mundo em absoluto.

Sobre o Verbo Eterno de Deus.

A Santa Escritura diz: "Deus fez todas as coisas por intermédio de seu Verbo Eterno",
e ainda: "Este Verbo é Deus" (João - 1), o que compreendemos assim:

O Verbo nada mais é do que a vontade exalada do Poder e da Virtude, uma variedade
distinguida do Poder em múltiplos Poderes; uma distribuição e um fluxo da Unidade por
onde surge o conhecimento.

Uma única substância, onde não há variação ou divisão, que é somente única, não
pode conter conhecimento, e se houvesse seria uma única coisa, ela mesma; mas se a
Unidade se parte, então a vontade divisível entra na multiplicidade e variedade, tal
separação ocorre por si mesma. Ainda porque a Unidade não pode ser dividida e partida
separadamente, contudo a separação existe e permanece na vontade exalada da Unidade;
a separação da respiração origina a variedade diferenciada, pela qual a Vontade Eterna
juntamente com a Satisfação e o Procedimento, penetram no conhecimento ou
compreensão de infinitas formas, isto é, numa atuação perceptível e eterna,
conhecimento sensual dos poderes, onde na divisão ou separação da vontade, um
sentido ou forma da vontade sempre vê, sente, prova, cheira e ouve a outra. Isto não é
outra coisa senão que uma atuação sensual, ou seja, o grande jubiloso laço do amor e o
mais amável ser eterno único.

Sobre o Santo nome YEHOVA


Os antigos Rabinos judeus compreenderam, em parte, o Santo Nome, por terem dito
que este é o mais Elevado e mais Santo Nome de Deus, cujo sentido compreendiam
como sendo a Divindade Atuante: Isto é verdadeiro, pois neste sentido de atuação reside
a verdadeira vida de todas as coisas no Tempo e na Eternidade, na superfície e na
profundidade; este é o próprio Deus, ou a Divina Perceptibilidade atuante, Sensação,
Invenção, Ciência e Amor, ou seja, a verdadeira compreensão na unidade atuante, de
onde os cinco sentidos da verdadeira vida emergem.

Cada Letra neste Nome anuncia-nos uma virtude e uma atuação peculiar, ou seja, uma
forma (aspecto) do poder atuante.

Y é a emanação da eterna e indivisível Unidade, ou a doce graça e o conhecimento


pleno do Poder Divino de tornar-se algo.

E é um triplo Y, onde a Trindade se cala na Unidade. Y entra em E e unem-se, YE,


que é uma exalação da própria Unidade.

H é a palavra, ou a respiração da Trindade de Deus.

O é a circunferência, ou o sol de Deus, através do qual o YE e o H (respiração), falam


a partir do Deleite do Poder e da Virtude comprimidos.

V é emanação jubilosa da respiração, ou seja, o procedimento do Espírito de Deus.

A é o que procede do poder e da virtude, isto é, a sabedoria; é o objeto da Trindade, é


por seu intermédio que a Trindade atua e se manifesta.

Este Nome nada mais é do que a articulação ou expressão da atuação tripla da Santa
Trindade na unidade de Deus. Uma leitura complementar poderá ser encontrada na
explicação da tabela (quadro) dos três princípios da manifestação Divina.

Sobre a Sabedoria Divina.

A Santa Escritura diz que a sabedoria é a respiração do Poder Divino, um raio e um


sopro do Onipotente; também diz que Deus fez todas as coisas por meio de sua
sabedoria, o que compreendemos da forma que se segue.
A Sabedoria é a palavra emanada do Poder, Virtude, Santidade e Conhecimento
Divino; uma semelhança e um agente da infinita e insondável Unidade; uma Substância
através da qual o Espírito Santo atua, forma e modela, quero dizer, ele forma e modela a
compreensão Divina na Sabedoria; a Sabedoria é o Passivo e o Espírito de Deus é o
Ativo ou sua Vida, como a alma no corpo.

A Sabedoria é o Grande Mistério da Natureza Divina, por ela os Poderes, Aspectos e


Virtudes se manifestam; nela está a variação do poder e da virtude, ou, da compreensão:
ela é a compreensão divina, ou ainda, a visão divina, pela qual a unidade é manifestada.

Ela é o verdadeiro caos divino, onde todas as coisas repousam; é a Imaginação Divina,
onde as Idéias dos Anjos e das Almas têm sido vistas em Forma e Semelhança Divina
pela Eternidade, ainda que até então não como criaturas, mas em imagem, assim como
quando um homem observa sua face em um Espelho: portanto a Idéia Angelical e
humana fluiu da sabedoria, e foi formada em uma Imagem, como disse Moisés, "Deus
criou o Homem à sua Imagem", ou seja, ele criou o corpo, e soprou no seu interior o
sopro da Emanação Divina, do Conhecimento Divino, de todos os Três Princípios da
Manifestação Divina.

Sobre o Mysterium Magnum.

O Mysterium Magnum é um objeto da sabedoria através do qual a palavra viva (o


Poder da vontade atuante da compreensão Divina), e a unidade de Deus fluem para se
manifestarem.

Pelo Mysterium Magnum surge a natureza eterna. Duas substâncias e vontades são
sempre compreendidas como parte do Mysterium Magnum: a primeira substância é a
unidade de Deus, ou seja, a Virtude e o Poder Divino, a Sabedoria fluída.

A segunda substância é a vontade separável, que surge através do Verbo vivo e claro;
ela não tem sua base na unidade, mas na mobilidade da emanação e respiração, que se
transformam em uma vontade, em um Desejo para a Natureza, em qualidades tanto
quanto o fogo e a luz: no fogo, se compreende a Vida Natural, e na luz, a Vida Santa, ou
uma manifestação da unidade, pela qual esta unidade se torna um Fogo-Amor, ou Luz.

E neste ponto ou operação, Deus denomina a si mesmo um afetuoso, Deus


misericordioso, segundo o contundente Amor em combustão Ígnea da unidade, e um
Deus Desconfiado e Furioso segundo a Região Ígnea, conforme a Natureza Eterna.

O Mysterium Magnum é o Caos (de onde surgem a Luz e a Escuridão, ou seja, o


princípio do céu e do inferno), manifestado e derivado da Eternidade; este princípio que
agora chamamos de inferno, cuja existência tem origem no próprio Caos, é a base e a
causa do fogo na Natureza Eterna; este fogo em Deus é somente um amor ardente, onde
Deus não está manifestado em algo, de acordo com a unidade; existe ainda um
angustiante, doloroso e incandescente fogo.
Este fogo incandescente é a manifestação da vida e do Amor Divino, é por meio deste
fogo que o Amor Divino, ou a unidade arde e ilumina pela atuação ígnea do Poder de
Deus.

Esta etapa é chamada Mysterium Magnum, ou um Caos, pois o bem e o mal surgem
dele, a Luz e as Trevas, Vida e Morte, Alegria e Tristeza, Salvação e Condenação.

Esta é a região das Almas, Anjos e de toda Criatura Eterna, tanto boa quanto má; é a
região do céu e do inferno, também do mundo visível e de tudo que nele se encontra,
pois lá tudo repousa, em uma única região, assim como uma imagem repousa escondida
em um pedaço de madeira antes do artesão esculpi-la e modelá-la.

Não podemos dizer que o mundo espiritual tenha tido algum começo, mas foi
manifestado da Eternidade fora deste Caos; a Luz brilhou da Eternidade na escuridão, e
a escuridão não a compreendeu; como o dia e a noite estão um no outro, e são dois,
ainda que um.

Devo escrever claramente, como se tivesse um começo, para uma melhor consideração
e apreensão da região da manifestação Divina, e para melhor se distinguir a Natureza da
Divindade e também para uma melhor compreensão, de onde vem o bem e o mal e o
que é o Ser dos Seres.

Sobre o Centro da Natureza Eterna.

Pela palavra centro, compreendemos o início da natureza, ou a região mais íntima, de


onde a vontade auto-fortalecida se põe em ação natural; a natureza nada mais é do que
uma ferramenta ou Instrumento de Deus, com o qual a Virtude e o Poder de Deus
operam ainda que tenham movimento próprio a partir da vontade de Deus emanada:
assim o centro é o ponto ou região da auto-recepção, de onde algo se realiza e de onde
as sete propriedades procedem.

Sobre a Natureza Eterna e suas

Sete Propriedades.

A Natureza nada mais é do que as Propriedades da Capacidade e Poder de receber o


próprio desejo que surge na variação da palavra viva, ou seja, do Poder e Virtude vivos
de onde as Propriedades se transformam em substância; esta substância é chamada de
substância natural e não é Deus propriamente dito, embora Ele habite completamente na
natureza e ainda que a natureza o compreenda perfeitamente; isto ocorre porque a
unidade de Deus se produz em si mesmo e se comunica por uma substância natural
tornando-se substância, a saber, a substância da Luz, que rompe e penetra a natureza,
atuando por si mesma; se assim não fosse, a unidade de Deus seria incompreensível
para a natureza, isto é, para a recepção desejosa.

A Natureza surge na palavra fluída da percepção e do conhecimento Divino. A


natureza é a contínua criação e produção da percepção e das ciências; da mesma forma
que a palavra atua pela Sabedoria, a Natureza cria e produz em Propriedades. A
Natureza é como um carpinteiro que constrói uma casa que a mente anteriormente
imaginou e projetou; é assim que ela deve ser compreendida.

Assim como a mente eterna imagina na eterna sabedoria de Deus no Poder Divino e a
transforma em idéia, a natureza cria em propriedade.

A Natureza em seu primeiro plano, consiste em sete Propriedades que se dividem ao


infinito.

A Primeira Propriedade.

A primeira Propriedade é o Desejo que causa e produz aspereza, agudeza, dureza, frio
e substância.

A Segunda Propriedade.

A segunda Propriedade é o ativo, ou atração do Desejo; ela fere, quebra e divide a


dureza; corta em pedaços o desejo atraído; multiplica e varia a si mesmo; é o campo da
dor amarga, e também a verdadeira Raiz (Origem) da Vida; é o vulcão que lança fogo.

A Terceira Propriedade.

A terceira Propriedade é a perceptibilidade e sentimento na quebra da áspera dureza; e


este é o campo da Angústia e da vontade Natural, por onde a vontade Eterna deseja ser
manifestada; ou seja, será Fogo ou Luz, a saber, um lampejo, ou brilho por onde os
poderes, aspectos e virtudes da sabedoria podem aparecer: nestas três primeiras
Propriedades consiste o Fundamento da Ira, do Inferno e de tudo o que é colérico.

A Quarta Propriedade.

A quarta Propriedade é o Fogo, onde a Unidade aparece, e é vista na Luz, ou seja, no


Amor ardente (candente) e a Ira (cólera) na Essência do Fogo.

A Quinta Propriedade.

A quinta Propriedade é a Luz cuja Virtude do Amor, juntamente com a Unidade, atua
na substância Natural.

A Sexta Propriedade.

A sexta Propriedade é o som, voz, ou compreensão natural, por onde os cincos


sentidos trabalham espiritualmente, ou seja, numa compreensão natural da vida.

A Sétima Propriedade.

A sétima Propriedade é o Objeto, ou o teor das outras seis Propriedades, na qual elas
atuam, como a Vida atua na Matéria, e estas sete Propriedades são certa e
verdadeiramente chamadas de Região ou Ponto da Natureza, onde as Propriedades
permanecem em uma única região.
A Primeira SUBSTÂNCIA nas

Sete Propriedades.

Devemos sempre compreender duas Substâncias nas sete Propriedades: a primeira, de


acordo com a profundidade destas Propriedades, como sendo o Ser Divino, ou a vontade
Divina com a fluente Unidade de Deus que juntas fluem através da Natureza, tornando-
se receptoras da agudez, a fim de que o Amor Eterno possa se tornar atuante e sensível,
podendo ter algo que seja passivo por onde possa se manifestar e ser conhecido e
também ser desejado e amado novamente, isto é, a Natureza passiva Ativa, que no
Amor é trocada por uma Alegria Eterna; e quando o Amor no Fogo se manifesta na Luz,
então ele inflama a Natureza como o Sol inflama a planta e o Fogo inflama o Ferro.

A Segunda SUBSTÂNCIA.

A segunda Substância é a própria Substância da Natureza, que é Ativa e Passiva, é a


Ferramenta e Instrumento do Agente, onde não há passividade, também não há desejo
de Libertação (Redenção) ou de algo melhor, onde tudo repousa consigo mesmo.

E deste modo a unidade Eterna se produz por sua Emanação e separação dentro da
Natureza pois a unidade precisa ter um objeto no qual possa se manifestar; amar e ser
novamente amada por algo, pois assim poderá haver uma percepção ou uma vontade e
atuação sensível.

Uma explicação sobre as

Sete Propriedades da Natureza.

A Primeira Propriedade.

A primeira Propriedade é um Desejo, como aquele de um imã, a saber, a compressão


da vontade; a vontade deseja ser algo, mas ainda não tem nada do qual possa fazer, de
si, alguma coisa e por este motivo se produz uma recepção de si mesma comprimindo-
se em algo que nada mais é do que um Apetite (Anseio) Magnético, uma aspereza,
como uma dureza (solidez) onde surgem a substância, o frio e a própria dureza.

Esta compressão ou atração obscurece a si mesma e se faz escuridão tornando-se, de


fato, a região da eterna e temporária escuridão.

No começo do mundo, o sal, pedras, ossos e todo este tipo de coisas foram produzidos
por esta agudez.

A Segunda Propriedade.

A segunda Propriedade da Natureza Eterna surge da primeira e é a atração ou


movimento da agudez; o magneto produz a dureza, mas o movimento a rompe (divide)
novamente, é uma contínua luta em si mesmo.

A vontade que o Desejo comprime e faz se tornar algo, é cortada em pedaços e


dividida pelo movimento transformando-se em formas e imagens; entre estas duas
Propriedades surge a Aflição (Angústia), ou seja, a ferida (dor) da Percepção e da
Sensação; pois quando há um movimento na agudez, então a propriedade é a Dor que é
também a causa da sensibilidade e do sofrimento; pois se não houvesse agudez e
movimento não haveria sensibilidade. Este movimento é também uma região do Ar no
mundo visível, manifestada pelo fogo, como será mencionado adiante.

Assim, compreendemos que o Desejo é a região de algo e que este algo possivelmente
sai do nada, cremos também que o Desejo tenha sido o início deste mundo, por seu
intermédio Deus transformou todas as coisas em ser e substância, pois foi pelo Desejo
que Deus disse, Faça-se. O Desejo é o FIAT, Que produziu algo, naquilo que nada era
além de Espírito; o FIAT produziu o Mysterium Magnum, que é espiritual, visível e
substancial, como podemos ver pelos Elementos, Estrelas, e outras Criaturas.

A segunda Propriedade ou o Movimento, foi no começo deste mundo, o separador ou


divisor dos Poderes e Virtudes pelos quais o Criador, a saber, a Vontade de Deus,
transformou todas as coisas do Mysterium Magnum em forma, pois este é o mundo
mutante (mutável) e exterior pelo qual o Deus supernatural fez todas as coisas e as
trouxe para a forma, imagem (aparência) e configuração.

A Terceira Propriedade.

A terceira Propriedade da Natureza Eterna é a Angústia ou aquela Vontade que se


transformou em recepção para a Natureza e para ser algo; quando a própria Vontade
encontra-se no movimento agudo e se torna Angústia, ou seja, sensibilidade, pois sem a
Natureza ela não é capaz de tal coisa, mas na agudez móvel vem a ser uma sensação.

Esta sensação é a causa do Fogo, e também da mente e dos sentidos, pois por seu
intermédio a própria vontade natural se faz volátil e busca o repouso. Deste modo, a
separação da vontade sai de si mesma e se rompe através das Propriedades, surgindo o
sabor, uma vez que uma Propriedade prova e sente a outra.

A terceira Propriedade é também a região e a causa dos sentidos, na qual uma


propriedade penetra e incita a outra, é deste modo que a vontade sabe quando surge a
passividade; se não houvesse sensibilidade, a vontade não poderia saber nada sobre as
propriedades e estaria simplesmente só; e assim, a vontade recebe a Natureza em seu
seio, através de seu sentimento do movimento agudo. Tal movimento assemelha-se a
uma roda que gira, não que exista tal rotação ou giro, mas há nas Propriedades, pois o
Desejo atrai para si e o movimento empurra para frente e para fora do Desejo e assim a
vontade presente nesta angústia não pode ir nem para dentro, nem para fora, e ainda são
ambos puxados para dentro e para fora, e assim permanece em tal posição como se fosse
para dentro e para fora, ou seja, sobre e sob e ainda não pudesse ir a parte alguma, é a
Angústia, o verdadeiro fundamento do inferno e da Fúria de Deus, pois esta Angústia se
encontra no obscuro movimento agudo.

Na criação do mundo, o Enxofre-Espírito, com a matéria da Natureza Sulfúrica, foi


produzida desta região; o Enxofre-Espírito é a vida natural das criaturas terrenas e
elementares.
Os sábios pagãos compreenderam, até certo ponto, esta região, pois dizem que no
Enxofre, Mercúrio e Sal consistem todas as coisas deste mundo. Eles não observaram
somente a matéria, mas o Espírito de onde tal matéria procede, pois esta região não
consiste em Sal, Mercúrio e Enxofre, não é este o significado, mas sim o Espírito de tais
Propriedades; é nisto que tudo, de fato, consiste, o que quer que viva, cresça e possua
um ser neste mundo, seja espiritual ou material. Eles compreendem por Sal, o agudo
Desejo Magnético da Natureza; por Mercúrio, o Movimento e Separação da Natureza,
pelo qual tudo é assinalado marcado com sua própria signatura; e pelo Enxofre, a
vontade perceptiva (sensível) e a Vida crescente. No Enxofre-Espírito, onde a vida
ardente queima, reside o Azeite, e a Quinta-Essência reside no Azeite, a saber, o
Mercúrio ardente, que é a verdadeira Vida da Natureza, e que é uma Emanação da
palavra do Poder e Movimento Divino, pelo qual a região dos Céus é compreendida.

Na Quinta-Essência reside o Sabor (coloração), a saber, a região Paradisíaca, a palavra


fluída do poder e da virtude Divina, onde as propriedades repousam em igualdade
(uniformidade).

Assim, pela terceira Propriedade da Natureza, que é a Angústia, queremos dizer a


aspereza e dor do fogo, ou a queimação e consumição, pois quando a vontade é
colocada em tal aspereza, irá sempre consumir a causa desta, uma vez que a vontade
sempre luta para alcançar novamente a unidade de Deus, que é o repouso. A unidade se
impele com sua Emanação para este movimento e aspereza, havendo assim uma
contínua associação para a manifestação da vontade divina, uma vez que sempre
encontramos nestes três elementos, Sal, Mercúrio e Azeite um pouco do céu na terra e
quem quer que busque nada mais que a verdadeira compreensão e considere o Espírito,
assim acreditará.

A alma das coisas reside na aspereza, a verdadeira vida na Propriedade e da natureza


sensual reside no movimento e o espírito poderoso que surge da coloração (sabor)
permanece no Azeite do Enxofre. Assim, o que é celeste sempre reside escondido no
que é terrestre, pois o mundo espiritual invisível surge com e na Criação.

A Quarta Propriedade.

A quarta Propriedade da Natureza Eterna é o Fogo Espiritual, pelo qual a Luz ou a


Unidade, é manifestada, pois o raio de luz (reflexo) do fogo surge e procede da unidade
fluída que tem incorporado e unido a si o Desejo Natural; a propriedade ardente do
fogo, ou o calor procede da natureza devorante e áspera das três primeiras Propriedades,
como veremos a seguir.

A Unidade Eterna, que em alguns de meus escritos também chamo de Liberdade, é a


suave e silenciosa tranqüilidade, ser benevolente, como um suave e confortável bem
estar, não se pode expressar tão suave tranqüilidade sem a Natureza na Unidade de
Deus; mas as três Propriedades em sua Natureza são ásperas, dolorosas e horríveis
(terríveis). Nestas três dolorosas Propriedades a Vontade fluída consiste e é produzida
pela Palavra ou Respiração Divina (Sopro), assim como a Unidade, portanto a vontade
almeja seriamente a Unidade, e esta almeja a Sensibilidade, isto é, a região do fogo.
Assim, uma almeja a outra e quando há esta ânsia ocorre como um estalo ou clarão
(lampejo) de Iluminação assim como quando queimamos um ferro junto com uma
pedra, ou despejamos água no fogo.

Isto nós dizemos por meio da comparação.

Neste lampejo a unidade sente a sensibilidade e a vontade recebe a unidade tranqüila e


suave. A unidade se torna um brilhante raio de luz do fogo, e o fogo se torna um amor
ardente, pois recebe a insígnia e poder da unidade suave: nesta gentileza, a Luz penetra
as trevas da compressão magnética que não é mais conhecida ou discernida embora
permaneça contida eternamente na compressão.

Aqui, surgem dois Princípios Eternos, as trevas, onde residem a aspereza, a agudez, a
dor e o sentimento do poder e da virtude da unidade na Luz. Sobre isto a Escritura diz
que Deus, ou a Unidade Eterna, reside na Luz da qual ninguém pode aproximar-se.

A Eterna unidade de Deus manifesta-se na Luz, através do Fogo Espiritual, e esta Luz
é chamada de Poder Supremo, sendo Deus ou a Unidade Supernatural seu poder e sua
virtude.

O espírito deste Fogo recebe uma insígnia (ou virtude) para brilhar desde a unidade,
do contrário esta região ígnea não seria mais do que um desejo doloroso, ansioso,
horrível e atormentado; o mesmo ocorre quando a vontade se rompe da unidade e vai
viver de acordo com seu próprio desejo, como fizeram os anjos decaídos (Demônios), e
como ainda fazem as almas errantes.

Aqui pode-se perceber dois Princípios: o primeiro é a região da queimação do Fogo,


ou a escuridão áspera, móvel, perceptível e dolorosa; a segunda é a Luz do Fogo, por
onde a unidade torna-se mobilidade e satisfação, pois o Fogo é um objeto do grande
Amor da unidade de Deus.

O Deleite Eterno vem a ser perceptível e esta percepção da unidade é chamada de


Amor e é uma queimação ou vida na unidade de Deus; de acordo com este Amor
Ardente, Deus denomina-se a si mesmo um Deus amoroso e misericordioso, pois a
unidade de Deus ama e rompe através da vontade dolorosa do fogo que no início surgiu
no sopro da palavra, ou na emanação do Deleite Divino, transformando-a numa grande
Satisfação (Prazer).

É nesta vontade ígnea da natureza Eterna que permanece a alma do Homem, e também
os Anjos, esta é a região e o centro deles. Portanto, se alguma alma se rompe da Luz e
do Amor de Deus e entra no seu próprio desejo natural, então a região desta propriedade
escura e dolorosa nela se manifesta, como se pode verificar em Lúcifer.

O que quer que se imagine possui uma essência, na Criatura, fora da criatura em todo
lugar, pois a Criatura nada mais é do que uma Imagem e uma Aparência do separável e
variado poder, e virtude do Ser universal.

Entenda bem o que é a região do Fogo, Frio na Compressão, Quente na Angústia e


Vulcânico no Movimento. O Fogo consiste nos três, mas o brilho da Luz surge e
procede da conjunção da unidade na região do Fogo; toda esta região nada mais é do
que a vontade emanada.

Desta Forma, no Fogo e na Luz consiste a Vida de todas as coisas, isto é, a vontade de
todas as coisas que as impede de serem insensíveis vegetais ou racionais; todas as coisas
assim como o fogo tem a sua região que tanto pode ser da região eterna, como a Alma,
ou da região temporária como as coisas do Astral Elementar, pois o Eterno é um fogo e
o temporário é outro, como veremos mais adiante.

A Quinta Propriedade.

A quinta propriedade é o Fogo do Amor, ou o Mundo do Poder e da Luz, que habitou


nas Trevas e que as Trevas não a Compreenderam, como está escrito em João I "A luz
resplandece nas trevas e as trevas não a compreendem". A Palavra também está na Luz,
e na Palavra está a verdadeira compreensão da Vida do Homem, ou seja, o verdadeiro
espírito. Este fogo é a verdadeira Alma do Homem, o verdadeiro espírito que Deus
soprou dentro dele, a vida da criatura.

É preciso entender no fogo espiritual da Vontade, a Alma desejosa, fora da Região


Eterna; no poder e virtude da Luz, a verdadeira compreensão do espírito no qual a
unidade de Deus reside e está manifestada, como nosso Senhor Jesus Cristo disse:

"O Reino de Deus está em você" e Paulo: "Vós sois o templo do Espírito Santo, que
habita em ti", este é o lugar da Divina habitação e revelação.

A Alma também vem a ser condenada quando a vontade ígnea se rompe do Amor e da
Unidade de Deus e entra na sua própria Propriedade Natural, ou seja, em suas
Propriedades Demoníacas; o que será tratado mais adiante.

Oh Sião, observa esta região e tu serás livre de Babel.

O segundo Princípio ( ou o Mundo Angélico e os Tronos) é explicado pela quinta


Propriedade pois esta é o movimento da unidade, onde todas as Propriedades da
Natureza ígnea ardem no Amor.

Um exemplo ou comparação desta região pode ser observado numa vela acesa, onde
as Propriedades residem uma na outra e podemos encontrar o Fogo, o Azeite, a Luz, o
Ar e a Água do Ar, todos os quatro Elementos que anteriormente permaneciam em uma
única região aí se encontram manifestados; eles pertencem a região eterna, pois a
substância temporal flui do Eterno tendo, conseqüentemente, a mesma qualidade mas
com a diferença de que uma é eterna e a outra transitória, uma é espiritual e a outra
corpórea.

Quando a Luz e o Fogo Espiritual são acesos e, de fato iluminados da Eternidade (e a


própria Eternidade), então, sempre, todo o Mistério do Poder e do Conhecimento Divino
também se manifesta, pois todas as Propriedades da Natureza Eterna se tornam
espirituais no fogo (ainda que a natureza permaneça como é, interiorizada em si mesma)
e a atuação da vontade se torna espiritual.
No estalido ou claridade do Fogo, a negra receptibilidade é consumida e neste
processo, sai o brilho puro do Fogo-Espírito, rompido por um golpe de luz, e nesta saída
encontramos três diferentes Propriedades. A primeira é o impulso (energia) ascendente
da vontade ígnea; a segunda é o impulso (energia) descendente ou declínio do espírito
aquoso, a saber, a suavidade; a terceira é o procedimento avançado do espírito oleoso é
a insígnia da unidade de Deus, que se torna uma substância no desejo da Natureza;
ainda, tudo não passa de Espírito e Poder mas assim aparece na imagem da
manifestação, não como se fosse alguma divisão ou separação, mas como Espírito e
Poder.

Esta tripla manifestação está de acordo com a Trindade, pois o centro onde está, é o
Deus único, de acordo com sua manifestação; o ígneo e flamejante espírito do amor é a
energia ascendente; a suavidade que procede do Amor é a energia descendente; no meio
há o centro da circunferência, que é o Pai, ou o Deus Completo, de acordo com sua
manifestação. Sendo isto conhecido na manifestação Divina, também o é na Natureza
Eterna, de acordo com as propriedades da Natureza pois esta nada mais é do que uma
semelhança deste processo.

A Natureza pode ainda ser considerada como um lampejo da origem do fogo, é um


estalo, uma região salina, quando parte para divisões infinitas, isto é, para a
multiplicidade ou variedade do Poder e da Virtude; a multiplicidade dos Anjos e
Espíritos e seus aspectos e operações, também procederam dos quatro elementos no
início dos tempos.

A temperatura do Fogo e da Luz é o elemento santo, ou o movimento na Luz da


unidade; desta região salina (salitre espiritual e não o salitre terrestre) procedem os
quatro Elementos, sendo que na compressão do Mercúrio Ígneo, são produzidos a Terra
e as Pedras; na Quinta-Essência do Mercúrio Ígneo, o Fogo e o Céu; e no Movimento
ou impulso, o Ar; e na leitura ou interpretação do Desejo pelo Fogo, é produzida a
Água.

O Mercúrio Ígneo é uma água seca, que deu origem aos metais e pedras, mas o
Mercúrio partido ou dividido, produziu a água úmida, pela Mortificação no Fogo; e a
compressão produziu a total crueza na Terra, que é um puro Mercúrio Salítrico
Saturnino.

Pela palavra Mercúrio, deve se entender sempre, no sentido espiritual, a atuante,


natural e emanada palavra de Deus, que tem sido a Separadora, Divisora e Formadora
de toda substância; e pela palavra Saturno queremos dizer compressão.

Na quinta Propriedade, isto é, na Luz a unidade Eterna é substancial, isto é, um santo


Fogo Espiritual, uma Luz santa, um Ar santo, que nada mais é do que Espírito, também
uma água santa, que é o Amor emanado da unidade de Deus, e uma terra santa, que é a
virtude e a ação toda poderosa.

Esta quinta Propriedade é o verdadeiro mundo Angélico espiritual da satisfação


Divina, escondido neste mundo visível.

A Sexta Propriedade.
A sexta Propriedade da Natureza Eterna, é o som, ruído, voz ou compreensão, pois
quando o fogo clareia, todas as Propriedades juntas emitem som. O fogo é a boca da
Essência, a Luz é o espírito, e o som é a compreensão pela qual todas as Propriedades
compreendem umas as outras.

De acordo com a manifestação da Santíssima Trindade, pela emanação da unidade,


este som ou voz é a divina palavra atuante, ou seja, a compreensão na Natureza Eterna,
pela qual o conhecimento supernatural se manifesta, mas de acordo com a natureza e a
criatura, este som ou voz é o conhecimento de Deus, por onde a compreensão natural
conhece Deus, pois ela é modelo, semelhança e emanação da Compreensão Divina.

Os cinco sentidos permanecem na compreensão natural, no gênero espiritual e na


segunda Propriedade, ou ainda, no movimento, no Mercúrio Ígneo, e no gênero natural.

A sexta Propriedade atribui compreensão à voz ou som à palavra articulada; a segunda


propriedade da Natureza é a produtora e também a casa, ferramenta ou instrumento da
fala ou voz; na segunda Propriedade, o Poder-Virtude é doloroso, mas na sexta
Propriedade ele é prazeroso e satisfatório. A diferença entre a segunda e sexta
Propriedade, está na Luz e nas Trevas, elas estão uma na outra como o Fogo e a Luz,
não há outra diferença entre ambas.

A Sétima Propriedade.

A sétima Propriedade é a Substância, ou seja, o subjectum, ou a casa das outras seis,


onde todas estão substantivamente, como a alma no corpo; por isto compreendemos
especialmente o Paraíso ou o gérmen do poder atuante, pois toda Propriedade produz
em si mesma um Motivo ou Objeto para sua própria Emanação e, na sétima, todas as
Propriedades estão numa temperatura, como se estivessem em uma única substância.
Como elas todas foram produzidas da unidade, então todas retornam novamente para
uma única região.

Embora elas atuem de maneira diferente, ainda há aqui uma única substância, cujo
poder-virtude é chamado tintura (sabor) ou um primaveril, crescente, penetrante e santo
gérmen.

Não que as sete Propriedades são a Tintura, mas sim seu corpo; o Poder-Virtude do
Fogo e da Luz, é a Tintura no corpo substancial, mas as sete Propriedades são a
substância que a Tintura penetra e santifica, de acordo com o poder-virtude da
manifestação Divina. Como a Tintura é uma Propriedade da Natureza, é também a
substância do desejo atrativo de todas as propriedades.

Observe que a primeira e a sétima Propriedades sempre são contadas como uma, da
mesma forma que a segunda, a sexta, a terceira e a quinta, sendo a quarta somente um
marco divisor ou uma fronteira, pois segundo a manifestação da Trindade de Deus, não
há mais do que três Propriedades da Natureza. A primeira é o Desejo que pertence ao
Deus Pai, ainda que seja somente um espírito, mas na sétima Propriedade, o Desejo é
substancial. A segunda é o Poder-virtude Divino, e pertence ao Deus filho, na segunda
propriedade é somente um espírito, mas na sexta Propriedade é um Poder-Virtude
substancial. A terceira pertence ao Espírito Santo, no início da terceira Propriedade é
somente um espírito ígneo, mas na quinta Propriedade é a manifestação do grande
Amor.

Assim, a Emanação da Divina Manifestação, em três Propriedades no primeiro


Princípio perante a Luz, é Natural, mas no segundo Princípio, na própria Luz, é
Espiritual.

Bem, estas são as sete Propriedades em uma única região, e todas as sete são
igualmente Eternas, sem começo; nenhuma delas pode ser contada como a primeira,
segunda, terceira, quarta, quinta, sexta ou última, pois são igualmente Eternas, sem
princípio e possuem um princípio Eterno da unidade de Deus.

A enumeração foi uma forma simbólica de apresentá-las, para se compreender como


uma nasceu da outra, para melhor se conceber o que é o Criador e o que são a Vida e a
Substância deste mundo.

AS SETE FORMAS DOS ESPÍRITOS


Primeira Vontade Desejosa áspera Mundo Negro

uma similitude

Segunda Amargo ou Doloroso disto é uma vela.

Terceira Angústia até o clarão do Fogo

Quarta Fogo negro Mundo do Fogo

Forma Fogo uma similitude

Fogo iluminado disto é o fogo de

uma vela.

Quinta Luz ou Amor, onde flui a água Mundo de Luz;

da Vida Eterna. uma similitude

disto é a Luz de
uma vela.

Sexta Ruído, Som ou Mercúrio

Sétima Substância ou Natureza

O Primeiro Princípio O Segundo Princípio

Trevas ou Fogo da Ira Luz ou Fogo do Amor

O mundo de Trevas: conseqüentemente O Mundo de Luz: conseqüentemente

Deus o Pai é chamado de Deus Irado, Deus o Filho, o Verbo, o Coração de

Fervoroso e Ciumento, é um Fogo Deus é chamado de Deus Amoroso e

consumidor. misericordioso.

O Terceiro Princípio.

O Mundo dos quatro Elementos, produzido a partir dos dois Mundos interiores, e é um
espelho deles, onde Luz e Trevas, Bem e o Mal estão misturados, não é Eterno, mas tem
um Princípio e um Fim.

Sobre o Terceiro Princípio, a saber,

O Mundo Visível; sobre sua Origem;

e sobre o que é o Criador.

Este mundo visível surge do mundo espiritual mencionado anteriormente, ou seja, da


emanação do Poder Divino e da Virtude. O mundo visível é algo semelhante ao mundo
espiritual, que é a região interna do mundo visível. O visível subsiste no espiritual.
O mundo visível é somente uma emanação das sete Propriedades, pois procede a partir
das seis Propriedades atuantes, mas na sétima (ou seja, no Paraíso) ela repousa, e é este
o eterno Sabat do descanso onde o Poder e a Virtude Divina, descansam.

Moisés disse "Deus criou o Céu e a Terra, e todas as criaturas em seis dias, e
descansou no sétimo dia, e também ordenou que se guardasse repouso".

A compreensão permanece oculta e secreta nestas palavras: não poderia Ele ter feito
toda sua obra em um dia? Nós não podemos afirmar sequer que existiu algum dia antes
da existência do Sol, pois no fundo há não mais que um só dia (em todos). Mas a
compreensão permanece oculta nestas palavras, Moisés compreendeu por cada dia de
operação, a Criação ou Manifestação das sete Propriedades, pois disse: "No princípio
Deus criou o Céu e a Terra".

No Primeiro Movimento, o Desejo Magnético compressou e compactou o Mercúrio


Ígneo e aquoso com as outras Propriedades, e então a massa, o bruto se separou da
Natureza Espiritual. O que era ígneo se transformou em metais, pedras e, até certo grau,
Salitre, que é a Terra. O que era aquoso se transformou em água. Assim, o Mercúrio
Ígneo da operação tornou-se limpo, e Moisés o denominou Céu. A Escritura diz "Deus
reside no Céu", pois este Mercúrio Ígneo é o Poder e Virtude do Firmamento, ou seja,
uma Imagem e semelhança do mundo Espiritual, no qual Deus está manifestado.

Quando tal operação foi feita, Deus disse "Que haja a Luz", então o Interno impeliu-se
através do Céu Ígneo, surgindo assim, um brilhante poder e virtude no Mercúrio Ígneo,
e esta foi a Luz da Natureza externa nas Propriedades, onde consiste a vida vegetal.

O Segundo Dia.

No segundo dia de operação, Deus separou o Mercúrio Ígneo e aquoso um do outro, e


chamou aquele que era ígneo de Firmamento do Céu, que emergiu do centro das águas,
ou seja, do Mercúrio. Aqui surge a qualidade Masculina e Feminina, no espírito do
mundo emanado, isto é, o Masculino no Mercúrio Ígneo e o Feminino no Mercúrio
aquoso.

Esta separação foi feita em todas as coisas com a finalidade de que o Mercúrio Ígneo
desejasse e almejasse o Mercúrio aquoso, e vice-versa. Deste modo, existiria entre eles
um Desejo de Amor, na Luz da Natureza, surgindo a Conjunção. Contudo, o Mercúrio
Ígneo, ou o verbo emanado separou a si mesmo, de acordo com a natureza ígnea e
aquosa da Luz, e desta forma surge a qualidade masculina e feminina em todas as
coisas, tanto em Animais como Vegetais.

O Terceiro Dia.

No terceiro dia de operação, o Mercúrio Ígneo e o aquoso entraram novamente em


Conjunção ou Mistura, envolvendo-se um ao outro, fazendo com que o Salitre, ou seja,
o separador na terra manifestasse Pastos, Plantas e Árvores; esta foi a primeira geração
ou produção resultante da união entre Masculino e Feminino.

O Quarto Dia.
No quarto dia de operação, o Mercúrio Ígneo manifestou seu fruto, ou seja, a Quinta-
Essência, um poder e virtude da vida, maior do que aquele dos quatro Elementos, ainda
que seja encontrado nos Elementos. É desta substância que são feitas as estrelas.

Pelo fato da compressão do Desejo ter trazido a terra para dentro de uma Massa, a
compressão também a adentrou, assim o Mercúrio Ígneo foi impelido para o exterior
pela Compressão, circundando o espaço deste mundo por Estrelas e pelo Céu estrelado.

O Quinto Dia.

No quinto dia de operação, o Spiritus Mundi, ou seja, a alma do grande mundo


desdobrou-se na Quinta-Essência (queremos dizer, a Vida do Mercúrio Ígneo e aquosa);
lá Deus criou todos os animais, peixes, aves e répteis; cada espécie foi criada de uma
propriedade peculiar do Mercúrio dividido.

Aqui observamos como os Princípios Eternos movimentaram-se de acordo com o Bem


e o Mal, assim como todas as sete Propriedades e suas Misturas e Emanações, pois há
criaturas boas e más; todas as coisas como o Mercúrio (o Separador) se formaram e
estruturam numa Insígnia, como pode ser notado nas criaturas boas e más, ainda que
todo tipo de vida tenha sua Origem na Luz da Natureza ou no Amor da Natureza. É por
este motivo que todas as criaturas independente de seu tipo ou Propriedade, amam uma
as outras, de acordo com este Amor emanado.

O Sexto Dia.

No sexto dia de operação, Deus criou o homem, pois no sexto dia a compreensão da
Vida se desdobrou fora do Mercúrio Ígneo, isto é, fora da Região Interna.

Deus o criou à sua semelhança usando todos os três Princípios e o fez uma Imagem;
Deus soprou no seu interior a compreensão do Mercúrio Ígneo, de acordo com as
Regiões Interna e Externa, ou seja, segundo o tempo e a eternidade, tornando-o assim
uma alma de compreensão viva. Nesta região da alma, a manifestação da Santidade
Divina em movimento (o Verbo de Deus vivo e emanado) e a Idéia de conhecimento
Eterno, foram conhecidas da Eternidade na Sabedoria Divina como um agente ou Forma
da Imaginação Divina.

Esta Idéia tornou-se íntima da Substância do mundo seleste, passando a ser um


Espírito de compreensão e um Templo de Deus, uma imagem da visão Divina, cujo
espírito é dado à alma como esposo, assim como o Fogo e a Luz também se desposam.

Esta Região Divina brotou e transpassou a alma e o corpo do homem e este era seu
verdadeiro Paraíso, perdido pelo pecado, quando a região do mundo das trevas, com o
falso desejo, obteve a supremacia e dominou no homem.

O Sétimo Dia.

"No sétimo dia, Deus descansou de todas as obras que havia feito", disse Moisés,
ainda que Deus não necessite de nenhum repouso, pois ele é feito da Eternidade, e nada
mais é do que um mero Poder e Virtude atuante. Contudo, o sentido e compreensão
permanece ocultos na Palavra, já que Moisés disse que Ele ordenou que descansássemos
no sétimo dia.

O sétimo dia foi o verdadeiro Paraíso, o que deve ser compreendido espiritualmente
como a Tintura do Poder e Virtude Divino, que é um temperamento. Este transpassa
todas as Propriedades e é formado na sétima ou na substância de todas as outras.

A Tintura transpassa a Terra e todos os Elementos, e tinge tudo.

O Paraíso estava na terra e no homem, pois o mal estava oculto assim como a noite
está oculta no dia, do mesmo modo, a fúria da natureza também estava oculta no
primeiro Princípio, até a queda do homem, quando então a atuação Divina, com a
Tintura refugiaram-se em seu próprio Princípio ou na região interna do mundo de luz. A
ira surgiu nas alturas e predominou. Esta é a maldição, quando é dito "Deus amaldiçoou
a Terra", pois sua maldição parte e recai de sua operação, da mesma forma que quando
a virtude e o Poder de Deus atuam em algo em conjunto com a Vida e o espírito deste
algo e posteriormente afasta-se com sua operação. A partir de então aquele algo estará
amaldiçoado pois opera segundo sua própria vontade e não segundo a Vontade de Deus.

Sobre o Spiritus Mundi e

sobre os Quatro Elementos.

É preciso observar muito bem e considerar o mundo espiritual oculto, através do


mundo visível, pois sabemos que o Fogo, a Luz e o Ar, são continuamente produzidos
nas profundezas deste mundo. Não há descanso ou interrupção desta produção, e assim
tem sido desde o início do mundo.

Ainda que os homens não tenham encontrado uma causa para isto no mundo exterior,
ou descoberto em que região isto provavelmente ocorra, a razão diz que Deus assim o
fez, e assim continua sendo. De fato, isto é verdade, mas a razão não conhece o Criador,
que assim cria sem cessar, ou seja, o verdadeiro Archaeus, ou Separador, que é uma
Emanação do mundo Invisível ou a palavra de Deus emanada. Por esta palavra quero
dizer e compreendo o Mercúrio Ígneo do verbo, pois o que o mundo invisível é, numa
operação espiritual, onde Luz e Trevas estão uma na outra, ainda que uma não
compreenda a outra, isto é o mundo visível numa operação substancial. Quaisquer
poderes e virtudes do verbo emanado, devem ser compreendidos no mundo Espiritual e
Interno; o mesmo serve para o mundo visível, nas Estrelas e Elementos ou ainda em
outro Princípio de uma natureza mais santa.

Os quatro Elementos fluíram do Archaeus da região Interna, ou seja, das quatro


Propriedades da Natureza Eterna. No início dos tempos, foram aspirados da região
Interna, ou seja, das quatro Propriedades da Natureza Eterna e foram compressados e
formados numa substância atuante e em vida. É por este motivo que o mundo exterior é
chamado de um Princípio e é um agente do mundo Interno, ou seja, uma Ferramenta e
um Instrumento do Senhor Interno, Senhor que é o verbo e o Poder de Deus.

Como o mundo Divino Interior contém em si uma vida de compreensão proveniente


da emanação do conhecimento divino, por onde se explicam os Anjos e as Almas, da
mesma forma o mundo exterior contém em si uma Vida Racional que consiste nos
poderes e virtudes emanados do mundo interior. Esta vida (Racional) exterior não
contém nenhuma compreensão mais elevada e não pode alcançar nada além do que
aquilo que faz parte de sua esfera, que é a das Estrelas e dos quatro Elementos.

O Spiritus Mundi esta oculto nos quatro elementos, como a Alma no corpo, e nada
mais é do que um poder atuante e imanente, que procede do Sol e das Estrelas; ele
reside onde sua obra é espiritual, encerrado pelos quatro elementos.

A casa espiritual é, em primeiro lugar, um poder e virtude magnético-agudo da


emanação do mundo interior, que ocorre da primeira propriedade da Natureza Eterna;
esta é a esfera de toda virtude poderosa e salgada, também de toda virtude substancial e
formadora. Em segundo lugar, a casa Espiritual, é uma emanação do Movimento
Interno, emanado da segunda forma da Natureza Eterna. Consiste em uma Natureza
Ígnea, como uma espécie de fonte de água seca, compreendida como sendo a região de
todos os Metais e Pedras, pois é desta substância que foram criados.

Chamo este movimento interno de Mercúrio Ígneo, no espírito deste mundo, pois este
é o que movimenta todas as coisas, o separador dos poderes e virtudes, um formador de
todas as formas, uma região de vida externa como o Movimento e a Sensibilidade.

A terceira região é a percepção no Movimento e Aspereza, que é uma fonte espiritual


de Enxofre. Tem origem na região da vontade dolorosa da região interna: Assim surge o
Espírito com os cinco sentidos ou seja, visão, audição, tato, gosto e olfato. Esta é a
verdadeira Vida Essencial por onde o fogo, ou a quarta forma se faz manifestar.

Os antigos homens sábios chamaram estas três propriedades de Enxofre, Mercúrio e


Sal, assim como a seus materiais que foram produzidos por meio dos quatro Elementos
onde este espírito se coagula ou se faz substancial.

Os quatro Elementos também residem nesta região, de onde não há nada separado ou
diferente. Os quatro Elementos são apenas a manifestação desta região espiritual; o
espírito reside e opera neles.

A terra é a emanação mais densa deste espírito sutil; em seguida vem a Água, o Ar e o
Fogo. Todos procedem de uma única região, ou seja, do Spiritus Mundi, que tem sua
raiz no mundo interior.

A razão perguntará: Com que finalidade o Criador realizou esta manifestação? Eu


respondo, dizendo que não há outro motivo além da possibilidade do mundo espiritual
se tornar uma forma visível ou uma imagem, e para que os poderes e virtudes internos
pudessem ter uma forma e uma imagem.

Sendo isto admirável, a substância espiritual necessariamente deve se manifestar numa


região material, para que assim possa se caracterizar e se formar; deve haver tal
separação, uma vez que esta existência separada deve almejar continuamente a primeira
região. É o Interno que almeja o Externo e o Externo que almeja o Interno.
Assim, os quatro Elementos, que não mais estão interiorizados, mas em uma mesma
região, devem ansiar, desejar e buscar a região interna um no outro, pois os quatro
Elementos possuem o Elemento Interior dividido e são as propriedades deste elemento
dividido. É isto que causa esta grande ansiedade e desejo entre eles. Desejam
continuamente estarem novamente na primeira região, isto é, naquele elemento onde
possam repousar. As Escrituras se referem a este elemento assim: "Toda criatura sofre
conosco e anseia sinceramente livrar-se do orgulho, que é um agente contrário à sua
vontade".

Nesta ânsia e desejo, a emanação da virtude e do poder divino, através da atuação da


natureza, também são formadas e transformadas em imagem, para a Glória Eterna e
contemplação dos anjos, homens e todas as criaturas eternas. Podemos observar
claramente como a virtude e o poder divino se imprimem e se formam em tudo o que é
vivo e também nos vegetais, pois não há nada substancial neste mundo por onde a
imagem, semelhança e forma do mundo espiritual não se apresente, seja de acordo com
a ira da região interna ou com a boa virtude; e ainda que se encontre em sua região
interna, a mais maligna virtude ou qualidade, muitas vezes reside lá a maior virtude do
mundo interior. Mas onde há a Vida de Trevas, ou seja, um Azeite Negro, há pouco o
que se esperar dele, já que é o alicerce da ira, ou seja, um veneno, mal e falso a ser
terminantemente rejeitado. Ainda que a vida consista em veneno, se há uma Luz ou
Claridade brilhando no Azeite ou Quinta-Essência, o céu estará manifestado no inferno,
e uma grande virtude ali permanece oculta. Um bom exemplo disto são as nossas
próprias vidas.

Todo o mundo visível é uma mera região seminal atuante. Todas as coisas tem uma
inclinação e aspiração em relação à outra, o mais elevado sobre o menos elevado e vice-
versa, pois estão separados um do outro. Nesta ânsia eles se abraçam no desejo.

Pelo o que devemos saber sobre a terra, que está sempre ávida das estrelas (da
influência e virtude das estrelas) e sobre o Spiritus Mundi, ávido do espírito de onde no
princípio teve sua origem, não há repouso para esta ânsia. A ânsia da terra consome
corpos, de onde o espírito possa mais uma vez ser separado da condição elementar
expressa, e retornar novamente para o seu Archaeus.

Notamos também nesta ânsia, a impregnação do Archaeus, ou Separador, vemos como


o mais inferior Archaeus da Terra atrai o mais afastado e sutil Archaeus da Constelação
acima da terra; a região compactada do mais superior Archaeus aspira novamente sua
região, inclinando-se ao mais elevado. É nesta inclinação que tem origem os Metais,
Plantas e Árvores. É que o Archaeus da Terra torna-se, nesta ocasião, extremamente
prazeroso, pois prova e sente novamente em si a sua primeira região, e neste prazer
todas as coisas brotam da terra. Disto também consiste o crescimento dos animais, é a
contínua conjunção entre o céu e a terra, onde a virtude e o poder divino também atuam,
como pode ser visto pela tintura dos vegetais em suas regiões internas.

Contudo, o homem, que é tão nobre em imagem e tem sua região no Tempo e na
Eternidade, deve refletir muito bem sobre si mesmo e não lançar-se precipitado e
cegamente em busca de seu lugar de origem longe de si mesmo, sendo que ele está
consigo mesmo, embora coberto com a espessura dos Elementos e pela luta entre eles.
Agora, quando a luta entre os Elementos cessar, pela morte do corpo espesso, então o
Homem Espiritual se manifestará. Ele pode nascer na Luz e para a Luz ou nas Trevas e
para as Trevas; Uma das duas exerce a influência e tem o domínio sobre ele; o Homem
Espiritual tem sua existência na eternidade, seja fundamentada no Amor ou na Ira de
Deus. O homem visível externo não é agora a Imagem de Deus, nada mais é do que uma
Imagem do Archaeus, ou seja uma casa (ou casca) do Homem Espiritual onde este
Homem Espiritual cresce, como o ouro na pedra espessa, e uma planta na terra
selvagem. Como diz a Escritura "Assim como temos um corpo natural temos também
um corpo espiritual: tal como é o natural também é o espiritual".

O corpo espesso externo dos quatro Elementos não vai herdar o Reino de Deus, mas
herdará sim aquele que nasceu do Elemento, ou seja, da manifestação e atuação divina.
Certamente este herdeiro não é o corpo de carne e da vontade do homem, mas aquele
formado pelo Archaeus celeste neste Corpo espesso que é sua casa, ferramenta e
instrumento. Quando a crosta for retirada, aparecerá a razão de sermos chamados, aqui,
de homens, ainda que alguns de nós não passamos de bestas, e mais ainda, alguns de
longe são piores do que bestas.

Devemos refletir corretamente sobre o que é o espírito do mundo externo. É uma casca
de casa, um instrumento do mundo Espiritual Interior que nele está oculto, que atua
através dele e assim se manifesta em Forma e Imagem.

Deste modo, a razão humana nada mais é do que a casa da verdadeira compreensão do
conhecimento divino. Ninguém deve confiar demais em sua razão e na inteligência
aguçada, pois isto nada mais é que a constelação das estrelas externas, que seduzem o
homem ao invés de levá-lo à unidade de Deus.

A razão deve se submeter completamente a Deus, para que o Archaeus possa ser
revelado e para que isto atue e atraia uma verdadeira região de compreensão espiritual,
uniforme com Deus, onde o Espírito de Deus será revelado e trará a compreensão até
Deus e então, nesta região, "O espírito investiga todas as coisas, mesmo as mais
profundas coisas de Deus" como disse São Paulo.

Penso ser bom expor isto a seguir, de maneira breve, para maiores considerações por
parte dos amantes dos mistérios.

Uma pequena explicação ou descrição da

manifestação divina.

Deus é a eterna, imensa e incompreensível unidade que se manifesta em si mesma, de


Eternidade em Eternidade, pela Trindade; e é Pai, Filho e Espírito Santo, numa atuação
tripla, como foi mencionado anteriormente.

A primeira emanação e manifestação desta trindade é o Verbo Eterno, ou o


pronunciamento da virtude e poder divino.

A primeira substância pronunciada deste poder é a sabedoria divina, que é a substância


através da qual o poder atua.
Da sabedoria flui o poder e a virtude da respiração que entra na separabilidade e
formação manifestando o Poder Divino em suas virtudes.

Estes Poderes e Virtudes separáveis transformam-se num poder de recepção para sua
própria perceptibilidade; e da perceptibilidade surge a própria vontade e o desejo; esta
vontade é a região da Natureza Eterna que invade com o desejo, as Propriedades tão
longe quanto o Fogo.

No desejo está a origem das trevas; no Fogo a unidade eterna se manifesta com a Luz,
na Natureza Ígnea. Os anjos e as almas têm sua origem nesta propriedade ígnea e na
propriedade da Luz, que é a divina manifestação.

O poder e virtude do Fogo e da Luz é chamado de Tintura e o movimento desta


virtude, de elemento santo e puro.

As trevas se tornam substancial em si mesma. A luz também se torna substancial no


Desejo Ígneo. Ambos formam dois Princípios, ou seja, a Ira de Deus nas trevas e o
Amor de Deus na luz; cada um trabalha por si mesmo e só há uma diferença entre eles,
aquela que há entre o dia e a noite. Ambos possuem uma única região e um é sempre a
causa do outro, um se faz conhecido e manifestado do outro, como a Luz do Fogo.

O mundo visível é o terceiro Princípio, ou seja, a terceira região e princípio; o mundo


visível é soprado da região interna ou dos dois primeiros Princípios, e foi produzido na
natureza e na forma de uma criatura.

A atuação Eterna Interna está oculta no mundo visível, está em todas as coisas, através
de todas as coisas e ainda não é compreendida pelo próprio poder das coisas; os poderes
e virtudes externos são passivos e a casa onde o interno atua.

Todas as outras criaturas mundanas nada mais são do que uma substância do mundo
exterior, exceto o homem, criado tanto do tempo como da Eternidade, do Ser de todos
os Seres, e feito uma imagem da manifestação divina.

A manifestação Eterna da Luz Divina é chamada o Reino dos Céus, e a Morada dos
santos Anjos e Almas. A Escuridão Ígnea é chamada de Inferno, ou Ira de Deus, onde
reside o diabo, juntamente com as almas condenadas.

Neste mundo, o céu e o inferno estão presentes em todo lugar, mas de acordo com a
região interna.

Internamente, a atuação divina está manifestada nas crianças de Deus; mas no que é
maligno manifesta-se a atuação das trevas dolorosas.

O Paraíso Eterno está oculto neste mundo, na região interna, mas se manifesta no
interior do homem, onde opera o poder e a Virtude de Deus.

Neste mundo só irão perecer os quatro Elementos juntamente com o céu estrelado e as
criaturas terrenas, ou seja, a vida grosseira e exterior de todas as coisas.
O poder e a virtude interna de toda substância permanece eternamente.

Uma Outra Explicação sobre o

Mysterium Magnum.

Deus manifestou o Mysterium Magnum do poder e virtude de seu verbo. Neste


Mysterium Magnum toda a criação permanecia em essência, sem forma, no
Temperamento. Por ele Deus pronunciou as formações espirituais na separabilidade
(variedades). Em tais formações as ciências dos poderes e virtudes no desejo, isto é no
FIAT permaneceram, onde cada ciência, no desejo de manifestação, transformou-se
numa Substância Corpórea.

Tal Mysterium Magnum também reside no homem, ou seja, na Imagem de Deus, e é o


Verbo Essencial do Poder de Deus, de acordo com o tempo e a eternidade, através do
qual a palavra viva de Deus se pronuncia, ou se expressa, tanto no Amor como na Ira ou
na concepção. Tudo, assim como o Mysterium, se encontra num desejo móvel para o
bem ou para o mal. Assim são as pessoas, assim é o Deus que elas possuem.

O Mysterium está despertado no homem, em qualquer propriedade que seja, deste


modo, seu verbo também se revela a partir de seus poderes. Estamos cansados de saber
que nada além da futilidade se revela do que é ruim. "Louvado seja o Senhor, e todas as
suas obras, halleluyah".

Sobre a Palavra CIÊNCIA.

A palavra Ciência não é tomada por mim da mesma forma que os homens
compreendem a palavra Scientia da Língua Latina como em outras Línguas; pois toda
palavra em sua impressão, formação e expressão, fornece a verdadeira compreensão
sobre o que uma determinada coisa é de tal forma denominada.

Os homens entendem por Ciência alguma habilidade ou conhecimento, onde se diz a


verdade mas não se explica completamente o significado.

A Ciência é a raiz do centro de impressão do nada em alguma coisa; como quando a


vontade da profundidade atrai a si mesma para si mesma e para um centro de impressão,
ou seja, para o Verbo, surgindo então a verdadeira Compreensão.

A vontade está na separabilidade da Ciência e aí separa-se da compactação impressa.


Os homens, antes de tudo, compreendem a essência onde a Ciência esta separada. Esta
separabilidade se imprime numa Substância.

A Essência é um poder e virtude substancial, mas a Ciência é um poder e virtude


móvel e incerto, assim como os sentidos, de fato ela é a Raiz dos Sentidos.

Ainda que se entenda por Ciência uma compreensão, não há uma percepção, mas uma
causa da percepção. Desta forma, quando a compreensão se imprime na mente,
necessariamente deve ter havido em primeiro lugar uma causa que deu origem a mente
por onde flui a compreensão até a sua contemplação. Depois disto podemos dizer que
esta Ciência é a Raiz da Mente Ígnea, e é em poucas palavras, a raiz de todos os
"Princípios Espirituais"; é a região de onde surge a vida.

Não poderia dar à Ciência um nome melhor. Este produz uma completa harmonia e
concordância nos sentidos, pois a Ciência é a causa pela qual a profunda vontade divina
se compacta e se imprime na natureza, para a separável (variada), inteligível e
perceptível vida da compreensão e distinção; na impressão da Ciência, por onde a
vontade a atrai para si, surge a vida natural, e o verbo de toda a vida original.

A distinção ou separação a partir do fogo deve ser compreendida da seguinte maneira:


A Ciência Eterna na vontade do Pai atrai a vontade (dentro de si mesma) que passa a ser
chamada de Pai e se fecha formando um Centro de Geração Divina da Trindade, e
através da Ciência que se articula num Verbo de compreensão; neste pronunciamento
encontra-se a separação da Ciência, e em toda separação há o desejo de impressão da
expressão; a impressão é essencial e é chamada de Essência Divina.

A partir desta Essência o verbo se expressa na segunda separação, isto é, na Natureza,


e nesta expressão (onde a Vontade Natural se separa no seu Centro) transforma-se num
preceito. Assim se explica a separação da Ciência Ígnea, pois aqui surgem a Alma e
todos os Espíritos Angélicos.

A terceira Separação ocorre segundo a Natureza externa do Verbo expresso e formado,


onde reside a Ciência Bestial, como pode ser vista na obra "Eleição da Graça", que
possui uma apurada compreensão e é um dos mais claros de nossos escritos.

FIM

UMA ILUSTRAÇÃO

DOS

PRINCÍPIOS OCULTOS

DE

JACOB Böehme, o Teósofo Teutônico

EM TREZE FIGURAS

por DIONYSIUS ANDREW FREHER

Deus, sem qualquer Natureza ou Criatura. O Verbo Informe na Trindade sem qualquer
Natureza. (Vid. et N.B. Mysterium Magnum, IV3).

Alfa e Omega; o Princípio Eterno e o Fim Eterno, o Primeiro e o último.

A maior Generosidade, Brandura, Tranqüilidade, etc.

Tudo e Nada. Liberdade Eterna.


Profundidade, sem nenhuma Esfera, Tempo, Lugar.

A Eternidade Tranqüila. Mysterium Magnum sem Natureza. Caos.

O Espelho das Maravilhas, ou o Maravilhoso Olho da Eternidade.

A primeira temperatura, ou Temperatura na Inexistência; uma Calma, Habitação


Serena, mas sem qualquer Esplendor ou Glória.

A Trindade Imanifesta, ou melhor, aquele Ser Trino e Insondável, que não pode ser
Objeto de qualquer compreensão criada.

II

Os três Primeiros (Sal, Enxofre e Mercúrio).

O Triângulo na Natureza.

A Parte inferior e agitada da Natureza.

As Propriedades das Trevas. A Raiz do Fogo.

A Roda da Natureza.

As três Propriedades à Esquerda, utilizáveis no Sentido do Pai, Filho e Espírito Santo.

O Mundo Infernal, se em uma criatura separada dos três da Direita.

N. B. Virgem... Oposto àquilo que no Mundo da Luz é chamado de Sabedoria Virgem.


III

A Quarta Propriedade da Natureza Eterna.

O Fogo Mágico. O Mundo Ígneo.

O Primeiro Princípio.

A Geração da Cruz.

O Vigor, a Força e o Poder da Natureza Eterna.

A Introdução da Profundidade ou da Liberdade Eterna no Mundo de trevas, quebrando


e consumindo toda forte Atração das Trevas.

A Marca Distintiva que permanece no meio, entre três e três, ocasionada pela primeira
terrível Ruptura (feita na primeira áspera e grosseira Solidez) no Mundo de Trevas e
pela segunda prazerosa Ruptura (feita na segunda suave, aquosa ou conquistada
Solidez) no Mundo da Luz; resultando em cada um o que é capaz, ou seja, Vigor, Força,
terror, etc., na primeira e Luz, Esplendor, Brilho e Glória na segunda.
IV

As três Propriedades Exaltadas, Tingidas e transmitidas à Direita. O Reino do Amor,


da Luz e da Glória.

O Segundo Princípio.

A Segunda Temperatura ou a Temperatura na Substancialidade.

A Trindade manifestada e que somente agora pode ser Objeto de uma Compreensão
criada.

Sabedoria. Tintura.

As quatro primeiras Figuras, de alguma forma, mostraram a geração da Natureza


Eterna (de acordo com a profunda e maravilhosa Manifestação do Espírito Divino dada
a Jacob Böehme) que tem um Princípio sem Princípio, e um Fim sem Fim.

Esta quinta Figura representa agora, que aquela grande Residência Real ou a Divina
Habitação da Glória, do Deus o Pai, Deus o Filho e Deus o Espirito Santo, foi
imediatamente suprida com inumeráveis habitantes. Todos são chamas Gloriosas do
Fogo, Crianças de Deus, Espíritos Representativos, divididos em três Hierarquias (cada
qual uma Extensão onde nenhum Limite pode ser percebido, embora não sejam
infinitas) de acordo com o Santo Número três. Mas nós sabemos os Nomes de apenas
duas delas, que são Michael e Uriel, porque apenas estas duas, com todos os seus
Exércitos, mantiveram suas Habitações na Luz.
VI

Aqui, um daqueles Hierarcas, porque não dizer o mais glorioso de todos, pois foi o
Representante Criado de Deus, o Filho, que comete uma Alta Traição.

Rebela-se, deixa-se entrevar, sua magnífica Vontade-Espírito por uma falsa Magia e
sem qualquer Motivo, fora de seu próprio Centro, tenta alcançar as alturas, acima de
Deus e de todos os Exércitos do Céu, para ser ele mesmo Tudo em Tudo; contudo, ele é
detido, precipitado e cai através do Fogo das Trevas eternas, onde é um poderoso
Príncipe de sua própria Legião. Na Realidade ele não passa de um pobre Prisioneiro, e
um infame Executor da Ira de Deus; e agora pode ser questionado: "Por qual arte caístes
do Céu, Oh! Lúcifer, Filho da Manhã?". A esta questão é dada uma profunda prolixa,
distinta e a mais particular e circunstancial resposta, na Aurora, para a sua confusão e
vergonha eterna, por ele escondida e coberta desde o Princípio do Mundo.

VII
Quando Lúcifer pela sua Rebelião levou toda a Extensão de seu Reino a tal desolada
condição descrita por Moisés, como sendo vazia e desprovida de Forma, e as Trevas
cobriram a Face da Profundidade, toda aquela Região foi simplesmente tirada de seu
Domínio, e transformada numa condição temporária que não podia mais ser de nenhum
uso para ele. Quando isto foi completamente estabelecido, no período de Seis Dias, de
acordo com os Seis Espíritos Ativos da Natureza eterna, houve a necessidade de um
Príncipe e Soberano e ao invés de Lúcifer que havia abandonado sua Habitação na Luz,
foi criado Adão à Imagem e Semelhança de Deus, uma Epítome ou Compedium de todo
o Universo, pelo Verbum Fiat, que era o Verbo Eterno, em conjunção com a primeira
Fonte-Espírito Adstringente da Natureza Eterna.

VIII

Este ADÃO, embora tenha sido, de fato, criado num Estado de Inocência, Pureza,
Integridade e Perfeição, ainda não podia ocupar aquele Topo de Perfeição para o qual
havia sido designado e que poderia ter alcançado se tivesse resistido à sua Prova que foi
de absoluta Necessidade. Três coisas foram apresentadas a Adão, e embora estas
encontravam-se com ele numa mesma Temperatura, elas não existiam sem ele pois,
Lúcifer havia provocado uma Ruptura.

Estas três coisas eram (1) acima dele a Sophia, chamada (mal ii. 14) sua companhia e
a Esposa de sua Juventude. (2) SATÃ, aquela Raiz incriada das trevas no Primórdio
Princípio da Natureza eterna. (3) O ESPÍRITO DESTE MUNDO. E aqui reside a Esfera
da necessidade da TENTAÇÃO DE ADÃO.

Nestas considerações, o Demoníaco ainda não surgiu, embora não esteja muito longe;
também não surgiu a árvore do Conhecimento do Bem e do Mal porque esta não foi
senão uma conseqüência necessária da vacilação de Adão e de sua conduta traiçoeira
em relação à Esposa de sua Juventude.
IX

Aqui está o pobre Adão realmente caído de toda sua prévia Felicidade e Glória. Ele
perdeu tudo o que era bom e desejável tanto em si mesmo como ao seu redor. Ele
permanece como morto na mais remota Extremidade do Espírito deste Mundo. A
SOPHIA o abandonou, ou melhor ele tendo uma conduta traiçoeira a abandonou, e o
Santo Laço do casamento-Pacto que havia entre eles foi dissolvido: Ele está todo sobre
as trevas, e permanece até mesmo sob a Terra sobre a qual havia que dominar: Todas as
Estrelas lançam suas Influências sobre ele, das quais as melhores nada mais são do que
a Morte e o Veneno para aquela Vida para a qual foi criado. Adão nada mais podia
esperar além do exato momento de ser completamente lançado e tragado no Ventre de
Satã. Este era seu Estado e Condição após sua Transgressão e antes de ouvir o Verbo da
Graça da Libertação, "Que a Semente da Mulher esmague a Cabeça da Serpente".

X
Aqui Adão, enriquecido em seu Coração pelo Verbo da Graça, cujo Nome é Jesus,
eleva-se novamente, a ponto de permanecer acima do Globo Terrestre, na Base do
Triângulo Ígneo .´. que é um perfeito Emblema de sua própria Alma e o Santo Nome
Jesus permanece sobre ele no Topo do Triângulo aquoso `.´ . Estes dois Triângulos que
com a Queda de Adão se separam, tocam-se novamente, embora (neste Início) em um
só Ponto; o Desejo da Alma pode precipitar em si mesma o `.´ e aquele Santo Nome
pode precipitar em si mesmo cada vez mais o .´. até ambos formarem um completo * , a
qualidade mais significativa em todo o Universo, pois só então a Obra de Regeneração e
Reunião com a SOPHIA será absorvida. Embora, durante esta Vida mortal, tal Perfeição
do Homem como um todo não possa ser concluída, ela está sendo realizada na Parte
interior e qualquer coisa que pareça ser uma Obstrução (até mesmo um Pecado não
Expiado) devem, por esta finalidade, TRABALHAR JUNTOS PARA O BEM DE
AQUELES QUE AMAM DEUS. Louvado seja sua Santa Trindade, Santo, Nome
Santo, neste Tempo e através de toda Extensão e Duração da Eternidade.

XI

Aqui, ADÃO, no mesmo Lugar que antes, aparece novamente, mas em União com
Cristo, que se refere à Pessoa de Jesus Cristo, ou do Segundo Adão na nossa
Humanidade sobre a Terra. Ele nos mostra a absoluta Necessidade de sua Santa
Encarnação e imaculado Sacrifício por todo Gênero Humano sem o qual, a grande Obra
da nossa Regeneração e Reunião com a SOPHIA não poderia estar sendo elevada à
Perfeição. Em sua encarnação ele trouxe novamente para a humanidade, aquela
significativa Qualidade, que o Primeiro Adão havia perdido. Esta Qualidade estava em
princípio, em sua própria Pessoa Humana, embora não tenha sido visível, enquanto era,
sobre a Terra, um Homem como nós em todas as coisas, exceto em Pecados.
Conseqüentemente, Ele, mesmo sozinho, era capaz e suficiente para Morrer por nós,
matar a morte com sua própria morte, quebrar em sua Passagem a Armadilha e Ferroada
de Satã, penetrar em seu Território de trevas, esmagar a Cabeça da Serpente e ascender
às alturas para tomar posse de seu Trono, fazendo-se cumprir a profecia de Miqueías
2:13, que Lutero traduziu: Es Wird ein Durchbrecher fur ihnen Herauf fahien" Aria
Montanus, Ascendit Effractar: A Vulgata, Pandens iter ante eos: e o Inglês. O
Transgressor surgiu antes deles.

XII

Do Tempo em que o Transgressor, profetizado por Miqueías surgiu antes de nós, o


Portão permaneceu aberto, e as crianças do Primeiro Adão puderam segui-lo e entrar no
Paraíso, o que não podia ser feito por nenhuma Alma, antes daquele Tempo. Almas
Santas, tanto antes como depois do Dilúvio, de acordo com os Preceitos do Verbo
enriquecido em seus corações, puderam em suas Partidas deste mundo, ir tão longe
quanto ao Portão do Paraíso, mas a Entrada não seria permitida a ninguém, até que o
primogênito dos Mortos tivesse introduzido ali SUA própria Pessoa.

Ainda há uma vasta Diferença entre as Almas no que se refere a suas Partidas deste
mundo e esta Diferença depende completamente do real Estado e condição daquela
significante Qualidade, mencionada anteriormente; pois as Almas que alcançaram esta
Qualidade de Perfeição nesta Vida, ou em outras Palavras, aquelas que aqui fixaram a
Substancialidade Celeste de Jesus Cristo, não encontra nenhum Obstáculo em sua
Passagem. Aquelas em que tal Qualidade é mais ou menos imperfeita, depara-se com
mais ou menos Impedimentos; e aquelas que, de fato não tem nem um pouco desta
Qualidade, não pode ir mais além do que aquela Região, que de forma mais significativa
é chamada de Triângulo na Natureza.

Oh! que não haja nenhuma em tal situação afinal!


XIII

Quando a terceira Hierarquia destruída e despovoada por Lúcifer for novamente


completada pelos habitantes oriundos das crianças de Adão, o Bem e o Mal serão
separados; o Tempo não mais existirá e DEUS será Tudo em Tudo. Esta terceira
Hierarquia, que por boas Razões, foi sempre, até então, representada como inferior
àquelas de Michael e Uriel, é neste momento, novamente colocada acima das outras, no
Lugar mais Supremo. Isto porque o Hierarca Jesus Cristo, sendo o brilho de DEUS, a
Glória do Pai, e a Imagem explícita de sua Pessoa, supera todos os Anjos e recebeu por
herança um Nome mais esplêndido do que o dos Anjos, criados para venerá-lo e a quem
ELE sempre disse, da mesma forma que Jesus: "Sente-se ao meu Lado Direito, até que
eu faça seus Inimigos teus escabelo".

Do mesmo modo, todos os seus Agentes, nesta Hierarquia, superam todos os Anjos
Santos neste ponto, pois são Imagens de DEUS, (Como manifestado em todos os três
Princípios) enquanto que os Anjos Santos são apenas as Imagens destes Agentes, assim
como DEUS estava manifestado em dois deles. Por esta razão, tais agentes também são
distinguidos dos Anjos por esta Qualidade peculiar * que não é construída por
Especulação humana, mas está escrita no Livro da Natureza pelo Dedo de Deus; Isto
indica claramente não só a Criação deste terceiro Princípio em seis Dias, mas também a
queda e o divórcio da Reunião de Adão com a Divina Virgem SOPHIA.

Para aqueles que, neste mundo, estão mais para Animais do que para Homens (apesar
de suas formas exteriores) nada há para ser dito sobre estas coisas, pois elas são
Espirituais e desta forma devem ser discernidas.

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